Raízes Caiçaras

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RAÍZES CAIÇARAS

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RAÍZES CAIÇARAS

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RAÍZES CAIÇARAS

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Realização:

Ribeiro Filmes

RAÍZES CAIÇARAS

01: Benedito | Paranapuã..........................................1802: Gilmar | Paranapuã.................................................2603: Avelino | Guarauzinho...........................................3404: Jorge | Guaraú..........................................................4005: Edilaine | Guaraú..................................................4806: João Paulo | Cachoeira do Paraíso......................5807: Patrícia | Cachoeira do Paraíso...............................7208: Beatriz, Jaqueline e Kauane | Cachoeira do Paraíso........................................................86

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01: Benedito | Paranapuã..........................................1802: Gilmar | Paranapuã.................................................2603: Avelino | Guarauzinho...........................................3404: Jorge | Guaraú..........................................................4005: Edilaine | Guaraú..................................................4806: João Paulo | Cachoeira do Paraíso......................5807: Patrícia | Cachoeira do Paraíso...............................7208: Beatriz, Jaqueline e Kauane | Cachoeira do Paraíso........................................................86

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Sumário

09: Bruno | Vila Barra do Una.......................................9610: Thiago | Vila Barra do Una.....................................10711: Lamarca | Vila Barra do Una..................................11612: Ciro | Cachoeira do Guilherme...................................118

13: Nerci | Cachoeira do Guilherme................................140

14: Neco | Cachoeira do Guilherme.................................146

15: Maria Lúcia | Rio Verde....................................158

16: Francisco | Rio Verde..........................................170

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09: Bruno | Vila Barra do Una.......................................9610: Thiago | Vila Barra do Una.....................................10711: Lamarca | Vila Barra do Una..................................11612: Ciro | Cachoeira do Guilherme...................................11813: Nerci | Cachoeira do Guilherme................................14014: Neco | Cachoeira do Guilherme.................................14615: Maria Lúcia | Rio Verde....................................15816: Francisco | Rio Verde..........................................170

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Apresentação sol se põe atrás do Dedo

de Deus, e a noite refl ete na água escura do rio Una o clarão da lua cheia que desperta os caranguejos nos manguezais da planície aluvial. Reza a lenda que em noites assim, no alto do Pogoçá, surge um tucano dourado que ergue vôo em busca de seu par na Ilha Queimada Grande. Os dois quando se encontram no ar ecoam num relampejo pela Juréia até o alto do Itatins.

Na linguagem tupi-guarani, Juréia signifi ca “ponto saliente” e Itatins, “nariz de pedra”. O Dedo de Deus e o Pogocá são os morros batizados pelos moradores desta região. Este retrato desenhado pela fala dos caiçaras que sobrevivem há inúmeras gerações na área que hoje constitui a Estação

Ecológica Juréia Itatins (EEJI), revela a intrínseca relação desta cultura tradicional com a natureza. O caiçara tem suas raízes culturais constituídas na lida com a mata, a terra, o rio, o mangue, e o mar.

O projeto “Raízes Caiçaras” apresenta um documentário elaborado na região da Estação Ecológica de Juréia-Itatins (EEJI), entre as cidades de Peruíbe e Iguape no litoral sul paulista, com uma narrativa construída a partir da memória dos seus moradores tradicionais, os caiçaras.

Esta memória traz alguns períodos bem marcados na história da região pelos ciclos econômicos e as políticas conservacionistas, e remonta desde a época da colonização no Vale do

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Ribeira até os dias atuais. Desde o “tempo dos antigos”, “do palmito e da caxeta”, passando pelo “tempo da Nucleobrás”, até o “tempo da ecologia” nos dias atuais, o caiçara se adapta e resiste as inúmeras difi culdades para exercer seu modo de vida tradicional e promover sua cultura.

A Estação Ecológica Juréia-Itatins é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral à natureza localizada no litoral sul paulista. Foi criada em 1986, com 80 mil hectares, e depois expandida em 2006 com a criação de outras UC’s como parques e reservas de desenvolvimento sustentável, com território distribuído pelos municípios de Iguape, Miracatu, Itariri, Pedro de Toledo e Peruíbe. Mais recentemente A Lei ordinária Nº 14.982, de 08 de abril de 2013, veio expandir a área da estação para 84 379,33 ha, delimitando e reclassifi cando novas áreas em reservas de desenvolvimento sustentável.

Apesar de muitos moradores da região serem considerados tradicionais, e residirem por várias gerações antes da criação da EEJI no local, são impossibilitados de permanência na região. Com as difi culdades para exercer suas atividades agrícolas ou pesqueiras, a precariedade das condições de moradia, somadas a outros fatores locais, muitas comunidades se dispersaram e os indivíduos migraram de uma comunidade à outra e para as cidades próximas, exercendo outras atividades urbanas.

Este projeto buscou documentar e promover as tradições culturais que ainda persistem no tempo, e também aquelas que foram reinterpretadas e incorporadas ao modo de vida atual. O resultado é esta história que se apresenta aqui na voz do caiçara acompanhada pelos sons da mata e do mangue, das ondas na praia e da canoa de guapiruvu pelo rio, da viola no fandango e a farinha no tacho, do vento batendo nas serras e as raízes fi ncadas nas terras, da Juréia.

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A palavra caiçara no tupi quer dizer cercado.

oi sempre a comunidade que preservou isso aqui, a vida inteira. O meu avô morreu aqui com 105 anos de idade. O avô da minha mãe morreu com 118 anos. Tiravam alimento do mar, faziam pequena agricultura.

E não era coisa para derrubar a mata, porque roçava aqui e no outro ano roçava alí, deixava recompor aqui. Caçavam, mas a caçada deles não era predatória, era uma caçada para a subsistência. Só de olhar para o animal já sabia que estava na época gorda, não estava criando.

Eles faziam os cercados, que era tudo de bambu. Cercado para galinha, de horta, de mundéu para caça, os encanamentos de água, era tudo de bambu.

Por isso que fi cou a palavra caiçara. Porque existe no tupi guarani. A palavra caiçara no tupi quer dizer cercado.

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uando o mar tava bravo e não dava para sair para pescar eles usavam esse rio aqui para tirar peixe. Tem tainha, parati. Aqui na costeira tem muito salgo de dente, salgo de beiço, pampo. O saraminguá, a corvina, e vários bagres. Bagre cangatan, sassarari, pararê e família. Tem caratinga, carapeva, caraputanga. Robalo tem o peva, o fl echa, o branco e os robalinhos de cachoeira.

Guapuruvu é usado pelo caiçara para fazer canoa. Nós cavava com uma ferramenta chamada inchó. Nós usavamos o machado, o inchó, e usávamos a goiva e uma plaina. Formão às vezes, e uma ferramenta que na nossa linguagem chamamos de

alegre. Eu mesmo tive uma canoa dessa. Eu, meu irmão e meu pai que fi zemos.

Quando eu soube o que é ser monitor passei a amar. A natureza foi sempre a minha mãe. Eu sempre amei aquilo que fi z, segui os passos dos meus avós que sobreviviam da natureza, mas tinham um respeito forte por ela. Eles ensinaram isso para a gente. Hoje tenho vontade que um fi lho meu faça isso também, conseguir continuar os meus passos.

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Pesca é a minha sobrevivência

ontinuo morando aqui no

parnapuã, sou um dos nativos que continuam seguindo a tradição. Pesca é a minha sobrevivência!

Aqui quase não se usava covo, cerco. Era mais tarrafa, rede e picaré. Picaré principalmente, na época da tainha era o que mais se usava. É uma rede que tem dois calão que um ia puxando lá no fundo e o outro mais aqui pela beira da praia. Aí bate o peixe lá, você cerca e tira na praia.

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á vendo aqui o meu quintal, eu tenho tudo natural aqui, o coentro ou a gente chama língua de vaca, a alfavaca, a pimenta cumbari. Na casa do caiçara que gosta de peixe não pode faltar.

Cobertura de antigamente que a gente tinha aqui era de sapé, ou tinha uma palha no mato chamada de guaricana que nós trançava ela e colocava nas casas para cobrir. Hoje já estamos com telha né, mas a maior parte aqui é de madeira. Madeira que caiu e nós vai lá e aproveita, mas nem isso tá podendo mais.

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inha um português que morava aqui, e nós já morava por aqui e trabalhava com pesca. Aí meu pai passou a trabalhar pra ele. Minha mãe já tava buchuda e ganhou eu aqui. Dia 1º de maio de 1928 fui nascido aqui. Eu me considero neto daqui.

Plantavam arroz, plantava feijão, plantava o milho, cará, batata doce, tinha de tudo. Comprava do armazém só gordura, alho, cebola, pimenta do reino, negócio de cheiro.

Pra fazer canoa cortava tora, aprumava ela, nivelava, metia o machado, depois entalhava

ela. Entalhar é cavocar com o machado. Virava ela e aí era a inchó que trabalhava. Juntava todo mundo pra tirar do mato. O povo antigo era unido, mexia com um, mexia com todos.

O povo antigo era unido, mexia com um, mexia com todos.

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esde a infância eu vinha para cá, apesar de ser de Santos, nas minhas férias eu me lembro mais daqui. Em 2009 tive uma oportunidade de voltar a trabalhar por aqui, e é aqui que eu pretendo fi car, criar os meus fi lhos.

Peruíbe, na linguagem nativa, tupi guarani, signifi ca rio de tubarão. A grafi a mudou um pouco mas o signifi cado é o mesmo. Aqui tem uma espécie de tubarão que sobe no rio e entra no mangue para se reproduzir.

Quando a estação ecológica foi criada em 84, por causa da

pressão na época, que iam fazer duas usinas nucleares, a Iguape I e Iguape II, foi feito um estudo muito rápido e superfi cial.

E a primeira impressão que eles tiveram é que existiam 50 famílias de caiçaras só dentro da Juréia e que seria fácil retirar e indenizar. Quando na verdade existiam mais de 500 famílias residentes aqui dentro, uma população de 3000 a 4000 pessoas.

Peruíbe, do tupi guarani, signifi ca rio de tubarão.

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isso está gerando confl ito há quase trinta anos, desde que ela foi criada. Quase todos saíram, alguns indenizados, a grande maioria não. Os poucos que conseguiram se manter, foram os contratados pela própria secretaria do meio ambiente para ser guardas parque. Eles conseguiram se manter porque tinham o salário. Outros tiveram que partir para a clandestinidade, como cortar palmito, levar caçador lá para dentro, para poder subsistir, já que eles não podiam mais roçar, não podiam mais caçar.

Na verdade isto está aqui assim desse jeito porque eles é que souberam fazer o manejo do

E lugar. Estes povos estão aí, desde o século XVI e XVII, os estudos antropologicamente comprovam. Essas famílias de caiçaras que se estabeleceram aqui, já é a 5ª ou 6ª geração de cada família. Ou seja, já estão aqui a três ou quatro séculos, então eles tem o total direito pela terra.

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qui é a continuação da trilha do telégrafo que é a Trilha do Imperador. Saía desde São Vicente, atravessava o litoral, passava aqui e saía dentro da estação ecológica lá do Grajaúna, rio Verde, até lá embaixo. Na verdade, até Paranaguá.

A gente usa aqui bastante com educação ambiental para as crianças. Por conta tanto do histórico, como da mata de encosta, a questão dos manguezais e do rio aqui.

O mangue é o berçario do mar, vários peixes grandes entram aqui, desovam, deixam os peixinhos alí, eles se alimentam e depois saem. A gente só preserva aquilo que a gente conhece.

A gente só preserva aquilo que a gente conhece

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gente pode observar aqui o palmito Jussara que é a espécie símbolo da Mata Atlântica. O palmito Jussara tem algumas características diferentes do Pupunha, uma delas é que a espécie leva 8 anos para dar frutos que se reproduzem, e ele não perfi la.

Quando a gente corta acaba com a árvore. E a gente tem 68 espécies de animais da Mata Atlântica que se alimentam diretamente do palmito Jussara.

Cada árvore dessa que a gente corta, dá, mais ou menos, só 800 gramas de palmito. O interessante que os caiçaras, quando faziam o manejo alí em volta da casa deles,

A eles aproveitavam até o tronco do Jussara, que eles dizem que é tão forte e resistente quanto o mogno.

Hoje em dia, as pessoas já estão aproveitando os frutos do Jussara, fazendo sucos. Os frutos são, mais ou menos, parecidos com o açaí.

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qui descendo é o rio Comprido, e vai sair na praia da Barra do Una, lá ele encontra com o mar. Aí subindo vai pro Paial, que é onde o pessoal tem sítio lá pra cima.

Lá tem o Canela, o Casqueiro, tem bastante vilinha dos moradores antigos, caiçaras. Tem poucos moradores agora. Morador tradicional daqui pode vir pescar. Tem a época certa de pescar, e tem a época que é proibida, época da desova.

Eu já tenho 29 anos que moro aqui, eu sou a quarta geração , meu bisavô e vô, meu pai e minha mãe.

Então quando tá vazando assim, tá bom porque o mangue tá vazio, então dá pra pegar caranguejo, quando a maré sobe, não tem condições de pegar caranguejo, porque fi ca tudo alagado.

Duas ou três vezes por dia a maré sobe e desce, agora é maré de quarta, por causa da força da lua, mas prá semana que vem ela já tá boa. Aí que vai ter caranguejo andando. Tem morador daqui que só vive disso, é pescador, tem carteirinha. A gente só pega prá comer e fazer pros amigos.

Morador tradicional daqui pode pescar. Tem a época certa.

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qui o pessoal mexia mais com banana, saia dois caminhões por semana de banana direto pro CEASA, passava o rio, subia e pegava as bananas, era todo mundo organizado, um tinha um bananal maior que o outro. Tinha sítio dos moradores alí do outro lado , aqui atrás tem bastante moradores aqui do outro lado do rio. Tem uma vila mesmo, tem uns 4km de estrada, tem bastante sítio de moradores.

O que acontece, muitos fi caram de idade, já faleceram e os fi lhos, por causa de emprego foram para a cidade, nessa aí, o sítio fi ca abandonado e uma vez por ano vem aí, eles ainda vem aí ver o sítio, aproveita pra fazer uma roça.

A Pode fazer roça, só não pode derrubar a área, onde já tem desmatado você pode plantar banana, cana, mandioca. Pra fazer a farinha a gente colhe a mandioca, lava, raspa ela, rala, leva para a prensa pra tirar a água e depois leva pro forno pra fazer a farinha.

Pode fazer farinha grossa, farinha fi na, fazer torrada, fazer bijú e tapioca. Da própria água da mandioca dá prá tirar a massa pra fazer o bijú, pode tirar também da tapioca. Tem que ralar umas 50 mandiocas pra dar dois quilos de farinha.

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aiçara para mim é quem nasceu e mora no local. Tem aqueles caiçaras também que já tá cansado de viver no sítio e vai para a cidade, mas ele tem toda a experiência de andar na mata, no rio, porque caiçara mesmo ele tem que saber pilotar um barco, tem que saber remar, tem que saber pegar um caranguejo, tem que saber pegar um camarão no rio, aí é um caiçara mesmo. Conhecer os tipos de espécies que tem, não é preciso conhecer todas, a gente conhece o nome delas, mas o nome científi co delas já é outro.

Se Deus quiser eu quero dar para as minhas crianças o que eu não tive. Eu já falei prá elas,

C a casinha, mesmo se eu não tiver condições de comprar um terreno, porque terreno lá em Peruíbe tá caro, eu não quero comprar um terreno numa favela, prá colocar as minhas fi lhas.

Quero comprar num local bom e se eu não puder comprar eu alugo prá elas fazer faculdade. Eu falo prá elas direto, meu sonho é elas serem biólogas, trabalhar na mata Atlântica. É a experiência que elas tem. Prá elas eu quero dar o que eu não tive, mesmo que é pouco, é simples, mas eu vou tentando.

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eu tio já estava aqui, a minha vó estava aqui, e eles me pegaram pra criar. Minha família é toda de Peruíbe, eu fi quei o tempo todo com eles, quando eu vim pra cá eu tinha uns dois anos e ela criou eu até uns 8 anos.

A gente foi criado como antigamente mesmo. Onde a gente morou não tinha luz, não tinha essa de ir no mercado comprar nada, era mandioca, era peixe, era totalmente diferente de hoje. A gente estudava naquela escola, a gente descia e vinha quando não chovia, porque

quando chovia, o rio enchia e não dava para atravessar, então a gente faltava.

Quando o rio enche, a água vai até perto de casa, em novembro dá tromba dágua e no inverno também, só que é mais fraca.

A difi culdade do pessoal lá de cima é o rio. Quando o rio enche as pessoas fi cam presas lá em cima, durantes dias, sem poder descer pra cá. Há muito tempo disseram que iam fazer uma passarela mas até hoje nada.

A difi culdade do pessoal lá de cima é o rio

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uando saio de barco com ele, eu falo pra ele, a sensação que eu tenho é que eu consigo sentir a natureza, não é só você olhar e dizer que é bonito, que é legal, você tem que sentir, eu consigo sentir até a enegia daqui.

A gente vai pescar juntos, a gente sai às 7 horas da noite e volta às 6 horas da manhã, a gente vai catar caranguejo e quando é pra pescar no molinete eu pesco também, agora, quando é pra pescar na fi sga, aí eu fi co só no remo, e ele só pegando os peixes.

A vantagem de morar aqui é que é muito bom pra criar fi lhos, elas fazem tudo que a gente fazia, vão pro sítio, elas não param,

Q tem liberdade, a gente vê. Tem parente que mora fora, eles falam quando vem aqui e vê o dia a dia delas: suas fi lhas estão no paraiso.

A experiência que a gente tem aqui não tem como explicar, a gente vai guardar pro resto da vida. Eu me considero uma caiçara sim e vou fi car nervosa se alguém me disser que eu não sou.

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inha muita família aqui, meu tio contava que o meio de sobrevivência deles era trabalhar com banana. Meu tio plantou de tudo e eu ajudei, plantou arroz, plantou feijão, plantou mandioca.

Plantou banana também, mas o arroz e feijão era pra gente comer, pra gente sobreviver e deu muito, a gente sobreviveu de lá, a gente não comprava nada fora. Agora mudou bastante, tem pouca família, a maioria foi embora, não tinha mais como sobreviver. As famílias foram tendo mais fi lhos, foi fi cando mais difícil.

Agora não é mais sítio onde a gente plantava e comia o que plantava, agora a gente tem que

T trabalhar pra gente ir lá comprar. Muita gente se iludiu com isso aqui, deixou de morar lá em cima, achando que ia ganhar dinheiro, só que não ganhou e a maioria em vez de voltar, desistiram e foram lá pra fora. Os que fi caram voltaram pro sítio de novo, fi caram os barraqueiros que moram aqui mesmo.

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u gosto daqui. Eu gosto por causa dos animais e da fl oresta. A gente brinca bastante, a gente pesca, a gente escorrega na pedra, tem várias frutas, a gente nada e tudo o que a gente descobre aqui é brincando.

Olha o coquinho, ele cresce no palmito, você estoura ele, ele é duro pra caramba, muito duro, muito duro. Você descasca a laranja e tem um negocinho branco dentro parece um talinho. Quem come isso é o tucano, só o tucano consegue comer isso.

Todo dia a gente vai catando as varias e aí o tucano vem. Para ser uma boa caiçara, eu não devo matar nenhum bicho, cuidar da fl oresta, não deixar nada que queime, não jogar lixo.

Para ser uma boa caiçara eu devo cuidar da fl oresta

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u vou contar a história do

bicho preguiça. É assim: o bicho preguiça em cima da árvore, ele estava andando e caiu.

Ele caiu e foi se afogando, e afundando e foi parar lá embaixão. Meu pai encontrou ele lá embaixo e levantou ele assim , ele era todo cinza e tinha as unhas pretas.

Levou ele pro mato e colocou ele lá, porque a onça come, ele tava morto já.

E Um dia passou uma onça aqui, todo mundo tava nadando, todo mundo fi cou desesperado, o guarda tava aqui, aí o guarda mandou todo mundo sair e todo mundo saiu correndo.

Eles pegaram uma corda e quando eles iam jogar a corda nela, ela saiu correndo pro mato.

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em aqui a Barra do Una, o Caramborê, a Desertinha, onde encalhou a baleia, tem também Juquiazinho, Brava, Parnapoa, Arpoador, Guarauzinho, rio do Guaraú e depois Guaraú, são essas praias que tem da Barra do Una pra cá.

Barra do Una pra lá tem mais três praias: Grajaúna, Itacolumi e Rio Verde. Tem o cemitério, tem o lugar histórico também onde fi ca o Bom Jesus de Iguape. Aqui no Una é onde eu moro, com meu pai e meus irmãos.

Tudo o que eu sei, tudo o que eu entendo,a maior parte eu aprendi com meu pai: pescar os peixes no rio, subir o rio e pescar traíra na água doce,

pescar curvina, pescar nas pedras, na praia, cuidar da natureza, conhecer os nomes dos bichos, imitar, ouvir também, saber os dias da reprodução deles, saber respeitar tudo.

Saber respeitar os palmitos, onde tem uns dez tirar um palmito prá consumo próprio não tem problema, o que não pode é se tiver uns dez você tirar os dez e não deixar nada.

Tem duas nascentes que a gente cuida, não desmatamos nada perto da nascente, tudo bem preservado. Quanto mais conscientização trouxer pra nós mais evolução vai ter, melhor pra natureza e prá todo mundo. Mais conscientização e menos repreensão.

Quanto mais conscientização trouxer pra nós mais evolução vai ter, melhor Quanto mais conscientização trouxer pra nós mais evolução vai ter, melhor pra natureza e prá todo mundo. Mais conscientização e menos repreensão.

Tudo que eu sei eu aprendi com meu pai

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em reserva que funciona, aqui também podia funcionar. A gente tem um objetivo futuro, seria de esperar o conselho da comunidade aprovar, o conselho deliberativo, pra poder tá fazendo pedido de melhoria pra comunidade.

Escolinha de surf para os moradores daqui mesmo, não seria só para os meninos fi car surfando, mas sim desenvolver um trabalho de conscientização ambiental, uma ou duas vezes por mês ir à praia tirar o lixo, ensacar o lixo da rua.

Conscientizar turistas que vierem aqui também, trabalhar de guia para as pessoas que vem

T aqui, guia local, para gerar uma renda também pros meninos. Através disso, trazer cursos e vários outros projetos que tem pro conselho.

Os meninos e moradores daqui aprovam a ideia, acham legal, só que não tem como, a gente só tem ideia, tem que ter pessoas capacitadas para colocar em prática e capacitar o povo também.

Sustentável não é só reaproveitar, reutilizar, sustentável todo mundo ganha junto, é um ciclo , se não tiver assim perfeito não vira.

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u surfo bastante, eu gosto de surfar pra caramba, eu ajudo em casa, estudo, acordo todo dia 4 horas da manhã pra ir pra escola. É longe pra caramba, lá no Guaraú.

Saio de casa umas 4h40, chego lá na vila porque o busão não faz mais essa linha, tenho que ir lá na vila, andar quase um kilômetro, de lá mais 1 hora e meia de estrada até o Guaraú. Na volta, saio do busão a 1 hora e chego aqui 2 e meia da tarde.

Quero fazer faculdade de biológo marinho. Eu nasci em Santos, tudo que eu sei sobre os bichos e sobre o mar foi meu pai que me ensinou, meu irmão, vi a vida inteira vendo

eles fazerem isso. A gente tem a casa faz um bom tempo e nós viemos morar pra cá faz uns 4 anos, mais ou menos. Eu acho que sou um caiçara porque sei o que precisa saber.

Sou um caiçara porque sei o que precisa saber

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u nasci em Miracatu que é logo perto daqui, eu nasci no meio do matão, não tinha a Regis Bitencourt, não tinha nada, era tudo mais difícil, mas era gostoso.

Pra buscar açúcar e sal a gente ia buscar em Iguape, era uma semana pra ir, aqui da Serra do Cafezal, que é perto de Miracatu, levava uma semana em cima de burro, cavalo não existia, o burro come mato, ele entra no meio do mato, aguenta vários dias sem se alimentar.

A gente cortava esses assentão, atolando que nem não sei o que, pra ir trocar porco, galinha...levava um monte de coisa pra trocar por açúcar cristal e sal. O sal aqui era sal grosso, era só em pedra, o açúcar era aquele

açúcar mascavo, que nem caco de vidro, era o doce de antigamente, a gente chupava que nem bala.

Aqui o palmito é alimentação pra vários bichos, macuco, jacú, sabiá preto, tucano, vários tipos de passarinho, roedor... Quando cai, as pacas, o porco do mato, o macaco, vários bichos, até o próprio veado do mato come os frutos.

Tenho fi lho casado, tenho neto, tudo aqui na região, tudo vivendo aqui no mato. Mesmo vivendo no sufoco, a luta nossa é pra continuar aqui, somos preservadores que cuidam de tudo que tem na mata, se a gente vê alguém caçando, alguma armadilha, ceva, a gente vai lá e destrói tudo.

somos preservadores que cuidam de tudo que tem na mata, se a gente vê alguém caçando, alguma armadilha, ceva, a gente vai lá e destrói tudo.

somos preservadores que cuidam de tudo que tem na mata, se a gente vê alguém caçando, alguma armadilha, ceva, a gente vai lá e destrói tudo.

Somos preservadores de tudo que tem na mata

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E u nasci na cachoeira do Guilherme, meu avô veio do Momuna, eles eram espíritas. A comunidade da Cachoeira do Guilherme se formou através do líder religioso espírita que se chamava Henrique Tavares e era pai de Sátiro Tavares.

Ele era de Pariquera Mirim, e o pessoal acompanhava ele. Ele veio pro Guilherme, gostou do lugar e disse que quem quisesse podia acompanhar ele. Ele curava e o pessoal prestava todo respeito e sentimento por aquele homem e seguiam ele.

Os avós de meu pai, tinham três sesmarias de terra no Momuna, são 3000 alqueires. Ensacaram tudo, colocaram na canoa, cada um tinha uma canoa de 80cm de

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boca que eles vendiam farinha e lenha, e deixaram tudo lá. Roçaria de mandioca, cafezal, casa de telha. Meu pai com 11 anos, ele e os irmãos, tio Paulo e tio Miguel.

Chegando no Rio Comprido, o pessoal que veio junto com eles se espalharam, e aí fi cou o bairro do Palhal que faziam baile também e mutirão, o Minero que morava os parentes dos Martins e o Guilherme que era onde meu pai morava.

De cada grupo, fi cou um que trabalhava com ele (Seu Henrique Tavares) na mesa. Essa mesa ainda existe. Aqui não tinha um pé de banana plantado, era

mata virgem, tinha pegada de onça pintada que escorregava na cachoeira, meu pai contava.

Peixe e caça tinha bastante, dava pra pegar com a mão. Aí, eles eram tudo trabalhador, família de gente raçudo, começaram a plantar, fi zeram roçaria de mandioca e começaram a fazer fandango. Então, veio nascendo a comunidade do Guilherme.

Chegando no Rio Comprido, eles se espalharam

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música tinha a dança, na viola Iguapeana dá pra ver melhor a diferença entre o bailado, o passadinho e o balanço.

A viola Iguapeana foi trazida pelos portugueses, mas essa viola tem de Parati a Trindade e até Guaraqueçaba. A viola de Iguape é grande, tem uma corda aqui que eles chamam de piriquita, na nossa aqui também tem, mas é aqui em cima, emparelhada.

As violas de Cananeia são bem grandes, muda muito, até o cordeamento é diferente. A Iguapeana é feita de caxeta, a viola é boa, mas a verdadeira

N ossa casa era casa de fandango, tinha todos os instrumentos pendurados e meu pai deixava a viola afi nada. Eu tinha oito ou nove anos e eu pegava a viola dele quando ele ia pra roça e eu fi cava em casa com meu irmão Pradel.

Só, que eu era canhoteiro e ele era destro, e eu não podia mudar o encordamento porque o velho era bravo, meio alemãozão, porque nós era descendente de alemão, índio e italiano e minha mãe era índia. Quando eu comecei tocar viola, eu tinha 13 anos. Cada toque ou cada

Cada toque ou cada música tinha a dança

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viola boa mesmo não existe mais! O fundo da viola e o tampo era feito de pinho de riga e o aro de caxeta e sempre o cavalete de canela, que é madeira dura. Hoje não acha mais pinho de riga.

Eu creio que se faz a viola inteira de caxeta, fi ca boa também, mas a viola que é feita o fundo dela e o tampo também de pinho é a melhor que tem. Tem até o verso: “viola tampo de pinho e o cavalete de canela, chora no meu braço e eu choro no braço dela”.

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fandango, o passadinho, veio dos quilombolas, dos escravos. Os portugueses casavam com índias e também com as africanas e essa dança (fandango) veio dos africanos.

Você vê por aí o catira, que parece bem, e o forró, mas o batido, passadinho, recortado, balanço, é uma dança exótica que você só vê aqui, eu danço, mas pouca gente sabe hoje em dia.

Único bairro que tinha essas dança que você não via e não vê até hoje, era a Cachoeira do Guilherme e depois o Aguapeú que dividiu a turma. Hoje, ainda

Essa dança do pica-pau tem uns 60 anos

O dançam o bailado, mas é diferente.Aqui tem engenho, chapéu,

pica-pau. Essa dança do pica-pau tem mais ou menos uns 60 anos, meu pai tocava em casa e minha mãe dançava, essa música é da tradição caiçara.

Quando chegava do serviço, eu tomava banho na cachoeira, tomava café e depois ia, eu, Miguel, Aparecido, Pradel meu irmão que já morava na casa, todo dia reunia e fazia aquela música até às 10 horas da noite e sábado a gente fazia o dia inteiro.

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Depois ele virou evangélico e começou se distanciar da música. Eu tô fazendo aquilo que eu gosto e que eu vi meu pai fazendo. Nasci vendo o velho fazer isso, eu dormia na sala de fandango dentro de um coxo de coar farinha.

Minha mãe levava uma panela de carne de porco, outra panela de arroz com feijão, que a gente chamava de mimestre, arroz da lavoura, feijão da lavoura, porco também do quintal, torresmo, bolo caipira, bolo de rolo, aquilo era uma delícia. Eu vim dessa cultura e não vou jogar minha cultura fora.

T inha muito compositor do lugar, esse João Romão era compositor, ele era violeiro e compunha música. Tem música que fala de coisa que acontecia no bairro, o cara transformava em música e ponhava o batido, ponhava o passadinho.

A música caiçara era feita em algum lugar, ela era feita em Guapeuzinho, o povo cantava e a gente aprendia e levava pro Guilherme ou era feita no Guilherme e acontecia o contrário. Depois Pradel mudou pra Peruíbe, em 83, mas ainda ia lá de vez em quando e a gente tocava junto.

Eu vim dessa cultura e não vou jogar minha cultura fora.

quintal, torresmo, bolo caipira, bolo de rolo, aquilo era uma delícia. Eu vim dessa cultura e

quintal, torresmo, bolo caipira, bolo de rolo, aquilo era uma delícia. Eu vim dessa cultura e não vou jogar minha cultura fora.

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plantava, depois não podia mais cortar palmito, não podia mais plantar, a gente veio morar pra cá, pro Guaraú, as crianças também precisavam ir à escola.

No começo tinha uma escolinha lá, mas acabou, porque não tinha mais aluno, os pais foram saindo e levando seus fi lhos. O que eu mais gostava lá era de pescar.

Palmito era muito difícil pra arrancar, mas colher arroz, plantar feijão, plantar mandioca, fazer farinha era bom. Lá a gente faz arroz macadami. É feito assim: você tempera o feijão, coloca o arroz e cozinha junto, deixa a água secar e ele fi ca sequinho, é o macadami.

D ançava no carnaval, nacolheita do arroz dançava também, toda festa que fazia. Em setembro, 29 de setembro, era dia de São Miguel Arcanjo, que era o padroeiro do bairro, tinha uma reza e depois à noite a gente dançava. Tinha também a fogueira de Santo Antonio, fogueira de São João, tudo com fandango. Juntava todo mundo, os primos, era muito bom.

A gente se conheceu no baile, eu morava no Rio Verde, ele morava na Cachoeira do Guilherme, fi camos namorando e depois casamos e depois de casada fui morar na Cachoeira do Guilherme. No começo a gente cortava palmito,

No Guilherme é o mimestre e no Rio Verde é o macadami

tempera o feijão, coloca o arroz e cozinha junto, deixa a água secar e tempera o feijão, coloca o arroz e cozinha junto, deixa a água secar e ele fi ca sequinho, é o macadami. 140

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(da mandioca), espremia e aí eles pegava lá e jogava aqui, ponhava fogo e ia secando até a farinha fi car torrada, fi cava bom.

Lá onde eu tô tinha cem mil pés de banana, ela ia pelo mar pra Santos, hoje para plantar um quilo de feijão eles não deixam, nós estamos destruindo. Depois que começaram a proibir, a turma foi desanimando e teve que sair.

E ssa é a Cachoeira do Guilherme. Aqui tem onça das grandes, eu já vi uma lá em baixo do tamanho de um boi, ela vê você antes de você vê ela, ela sente você, por isso é difícil você ela. Eu vi só duas vezes, uma no caminho do Prelado e outra alí em baixo, na cachoeira alí. Uma era pintada e a outra não. Aqui tem bicho que você nem pode imaginar.

Aqui o pessoal plantava mandioca, arroz, feijão, milho, tudo quanto é coisa o pessoal tinha. Aqui é o forno, onde faziam a farinha nele, todo mundo tinha forno. O pessoal ralava a massa

Lá onde eu tô tinha cem mil pés de banana

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seu Sátiro era o líder daqui,

ele reunia o pessoal aqui pra fazer uma reza, e fazia nessa mesma hora uma festa, tinha uma mesa aí e tinha uns santos, ele ensinava o remédio, usava a maior parte era erva, ele não usava remédio de farmácia.

Tinha escola nessa casa mesmo, escola caiçara, tinha professor do Estado, mas acabou porque o pessoal teve que sair, não ganhavam nada. O pessoal era animado pra tudo, a maioria era daqui e não saía pra fora, tudo que era feito era feito aqui.O pessoal fazia forró (fandango) direto, era pandeiro, cavaquinho, violão... agora acabou.

O A festa de São Miguel Arcanjo era em 29 de setembro, juntava todo mundo pra fazer a festa, dois dias de festa, vinha gente de tudo que era lugar, vinha de Iguape e de outros lugares, vinha de Registro, de Pariquera. Eles fretavam barcos, aqueles barcos de pesca e vinham dois, três barcos chapado de gente, eles enchiam essa casa. Tinha comida, menos a bebida, bebida ele não aceitava, só refrigerante.

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eu avô, pai do meu pai, era João Maurício do Prado e a minha avó era o mesmo nome de eu, Maria Lúcia do Prado. Ele (o avô) era passageiro do rio Verde, atravessava uma pessoa numa canoa, pra lá e pra cá, e todo mundo viveu lá.

O meu avô tinha cerco dentro do rio do Rio Verde. Quando ele via que tinha o peixe, que tava espumando a água, vinha com a rede e tirava. Nós limpava tudo aquele peixe, minha mãe defumava, tinha balaio de peixe e carne salgada em cima do

fogo, porque a gente não não tinha mercado, o mercado nosso era o rio e o mato.

Meu pai plantava arroz. Quando era cedinho e não tinha nada de tempo, chuva, ele passava a mão no canivete e ia lá, o dia inteiro, com o canivete catando aqueles cachinhos de arroz e a família toda, né. Onde nós moramos, agora fi cou tudo reserva.

O meu avô tinha cerco dentro do rio do Rio Verde

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o tempo do meu pai, do meus avós, eles plantavam roça, nós ia pra roça, quando queimavam nós ia limpar, cuidar da roça e... quando era pra plantar ia todo mundo, a turma com a enchadinha lá fazendo a cova, outro cortando rama, e a gente plantando alí prá aquela rama nascer e de dois anos já fazia a farinha.

E nós se criamo assim, com farinha, com torrada no sítio, lá não tinha padaria, não tinha mercado, não tinha nada e o pão do pobre era o bijú e as coisas que nois fazia lá.

Quando a gente tava terminando de fazer a farinha eles já tavam fazendo a roda do bolo.Aí pegava aquela fornalha que a

N gente arrumava fogo pra fazer a farinha, limpava bem limpinho, aí pegava uma pazinha, colocava a roda do bolo tudo naquela fornalha.

Era gostoso de vê, gostoso o ambiente, era a vida do sítio. Os nove fi lho meu, foi tudo no sítio que eu ganhei, minha mãe era parteira, minha vó era parteira, a minha tia era parteira e eu ganhava tudo lá.

Pra pessoa ganhar eles tinham um vidrinho de banha de raposa, e alí antes uma semana da mulher ganhar, esfregavam bem na barriga da mulher e aí eles viam que o neném estava tudo direitinho. As parteiras sabiam tudo.

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história do tucano é o seguinte, vinha voando lá do Itatins, do Rio Verde, lá no alto da serra, no alto da madrugada, a gente tava pescando no rio à noite, vinha voando o tucano, com toda a clareza do bicho, que nem fogo, quando veio outro tucano lá da ilha da queimada grande, do mar de fora, voando também, quando veio os dois tucanos e bateram um no outro, foi só um clarão, daí um voou lá pra serra e o outro pra cá, pro mar. Foi assim...os dois tucanos...muito lindo.

foi só um clarão, daí um voou lá pra serra e o outro pra cá, pro mar. Foi assim...os dois tucanos...muito lindo.

Vinha voando o tucano com toda a clareza do bicho...

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Direção Geral | 1º Câmera | Edição | Fotografi a still - Dalmir Ribeiro Lima

Produção local - Elaine Ribeiro Lima

Fotografi a still | 2º Câmera - Peter Neri

Desenhos - Viviam Schmaichel

Projeto gráfi co | Diagramação - Maíra Chichurra

Créditos

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Desenhos - Viviam Schmaichel

Projeto gráfi co | Diagramação - Maíra Chichurra

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Realização:

Ribeiro Filmes

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