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Cyberbullying
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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLNICA
Linha de pesquisa: Processos de Sade e Doena em Contextos Institucionais
CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS
Guilherme Welter Wendt
Mestrando
Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa
Orientadora
So Leopoldo, Dezembro de 2012
2
CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS
GUILHERME WELTER WENDT
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, como requisito parcial para a obteno do Grau de Mestre em Psicologia Clnica.
Orientadora: Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa
So Leopoldo, Dezembro de 2012
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4
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLNICA
CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS
Elaborada por
Guilherme Welter Wendt
Comisso Examinadora
_____________________________________
Dr. Ana Maria Faraco de Oliveira (UFSC)
_____________________________________
Dr. Christian Haag Kristensen (PUC-RS)
_____________________________________
Dr. Silvia Pereira da Cruz Benetti (UNISINOS)
_____________________________________
Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa (UNISINOS)
Orientadora
So Leopoldo, Dezembro de 2012
5
Esse trabalho inteiramente dedicado aos meus pais, que sempre
forneceram especial incentivo ao que mais gosto de fazer: aprender.
Minha me, Tereza Welter Wendt, junto de meu pai,
Guido Aloysio Wendt (in memorian),
com muito sacrifcio, no mediram esforos
para que este e futuros estudos pudessem ser concretizados na minha vida.
6
H sonhos que devem permanecer nas gavetas,
nos cofres, trancados at o nosso fim.
E por isso passveis de serem sonhados a vida inteira
Hilda Hilst
7
AGRADECIMENTOS
Essa dissertao fruto de um trabalho conjunto de intensas e esforadas pessoas que,
no dia a dia das atividades do grupo de pesquisa, problematizaram e cooperaram para que se
tornasse possvel a conduo dos estudos que seguem. Assim, impossvel no citar,
primeiramente, a valiosa contribuio de minha orientadora, Dr. Carolina Saraiva de Macedo
Lisboa, que amavelmente me acolheu e serviu como estmulo em diversos momentos. Foi
atravs de seu perspicaz conhecimento que descobri as nuances que perpassam o estudo
sistemtico das relaes entre pares e, em especial, do comportamento agressivo em crianas
e adolescentes.
Em nome dela, agradeo tambm a todos os amigos e integrantes do grupo de
pesquisa, e, especialmente, aos bolsistas de iniciao cientfica Dbora Martins de Campos,
pelo seu brilhantismo, dedicao inabalvel e competncia indiscutvel; Taynah Prestes Iarto
e Cristian Schwartz, que, para alm das boas risadas e ideias compartilhadas, foram
fundamentais na coleta, tabulao e anlise crtica dos dados que sero apresentados a seguir;
Jssica de Conti e Gibson Weydmann que, embora tenham integrado o estudo em sua etapa
final, dedicaram-se com entusiasmo, curiosidade e energia. E, ainda, aos colegas do curso de
mestrado em Psicologia Clnica, Tatiane de Oliveira Dias, pelos sorrisos dirios e sempre
alegre convivncia, Edilson Pastore, por servir de modelo de integridade e compromisso
tico, Renata Klein, cintilante e sincera amiga, Silvana Magayevski, pela energia positiva e
torcida constante.
s escolas, devo tambm agradecimentos pela colaborao incansvel durante a
exaustiva etapa de coleta dos dados, uma vez que tiveram de mobilizar seu corpo docente,
ceder horrios preciosos de aprendizagem para receber nossa equipe de pesquisa, inmeras
vezes, para o debate e reajustes necessrios; aos pais/responsveis, agradeo pela autorizao
de seus filhos para a participao nessa investigao. Alm disso, sou igualmente grato aos
adolescentes, que dedicaram tempo e empenho no fornecimento de suas respostas para que
pudssemos avanar no conhecimento cientfico sobre a temtica em anlise na presente
dissertao.
Devo ainda mencionar a inestimvel gratido ao corpo de docentes e colaboradores do
Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
8
(UNISINOS). Durante o perodo de concepo, maturao e desenvolvimento do projeto, as
opinies e sugestes recebidas, as ideias trocadas tanto em sala de aula como nos corredores e
cafs da universidade foram de grande valia. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal
de Nvel Superior (CAPES) e International Society for the Study of Behavioural
Development (ISSBD) devo tambm agradecimentos. Essas duas instituies, juntas, foram
fundamentais para a concluso desse estudo.
9
SUMRIO
1. Apresentao........................................................................................................... 16
2. Seo 1 - Artigo terico Compreendendo o fenmeno do cyberbullying........ 18
2.1 Introduo........................................................................................................... 20
2.2 Cyberbullying - definies e estudos................................................................. 23
2.3 Prevalncia do Cyberbullying............................................................................. 26
2.4 Cyberbullying: impactos, fatores de risco e de proteo.................................... 30
2.5 Consideraes finais........................................................................................... 32
2.6 Referncias.......................................................................................................... 36
3. Seo 2 - Artigo emprico Cyberbullying entre adolescentes: prevalncia, diferenas de gnero e relaes com sintomas de depresso.............................
43
3.1 Introduo........................................................................................................... 46
3.2 Mtodo................................................................................................................ 50
3.2.1 Delineamento................................................................................................... 50
3.2.2 Amostra............................................................................................................ 50
3.2.3 Instrumentos..................................................................................................... 50
3.2.4 Procedimentos.................................................................................................. 53
3.3 Resultados........................................................................................................... 55
3.3.1 Prevalncia do cyberbullying e associaes com variveis do estudo............. 57
3.3.2 Preditores do cyberbullying............................................................................. 61
3.4 Discusso............................................................................................................ 63
3.5 Referncias.......................................................................................................... 68
4. Consideraes finais da dissertao................................................................................ 74
4.1 Referncias.......................................................................................................... 77
Anexos.................................................................................................................................... 78
Anexo A - Questionrio biossociodemogrfico.................................................................... 79
Anexo B - Revised Cyberbullying Inventory.......................................................................... 82
Anexo C - Inventrio de Cyberbullying Revisado (Portugus)............................................. 84
10
Anexo D - Inventrio de Depresso Infantil.......................................................................... 86
Anexo E - Aprovao do Comit de tica em Pesquisa........................................................ 90
Anexo F - Carta de Anuncia................................................................................................. 91
Anexo G - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................................... 92
11
LISTA DE TABELAS
Artigo terico
Tabela 1 - Critrios utilizados para definio de bullying x cyberbullying.............................25
Tabela 2 - Estudos de prevalncia do cyberbullying em distintos pases................................27
Artigo emprico
Tabela 1 - Papeis relativos ao envolvimento com cyberbullying............................................59
Tabela 2 - Correlaes entre as variveis do estudo................................................................60
Tabela 3 - Preditores do cyberbullying....................................................................................61
12
LISTA DE SIGLAS
ANOVA - Anlise de Varincia
APA - American Psychiatric Association
APA - American Psychological Association
BVS - Biblioteca Virtual em Sade
CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CDI - Inventrio de Depresso Infantil
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
DSM-IV-TR - Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
ISSBD - International Society for the Study of Behavioural Development
OR - Odds Ratio
PEPSIC - Peridicos Eletrnicos em Psicologia
RCBI - Inventrio de Cyberbullying Revisado
SCIELO - Scientific Electronic Library Online
SMS - Short Message Service
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
TICs - Tecnologias de Informao e Comunicao
UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
13
RESUMO
O cyberbullying entendido como uma forma de comportamento agressivo que ocorre
atravs dos meios eletrnicos de interao (computadores, celulares, sites de relacionamento
virtual), sendo realizado de maneira intencional por uma pessoa ou grupo contra algum em
situao desigual de poder e, ainda, com dificuldade em se defender. Os estudos disponveis
at o presente momento destacam que o cyberbullying um fator de risco para o
desenvolvimento de sintomas de ansiedade, depresso, ideao suicida, abuso de substncias
psicoativas, dentre outras situaes potencialmente danosas ao desenvolvimento. Todavia,
pouca ateno tem sido dada em relao ao fenmeno no Brasil e na Amrica Latina. Assim,
o objetivo dessa dissertao foi investigar o cyberbullying, atravs de dois estudos distintos,
sendo um de natureza terica e outro emprico. O estudo terico, apresentado na seo 1, traz
dados sobre a prevalncia do fenmeno em distintos pases, alm de discutir as consequncias
e aspectos conceituais que diferenciam o bullying do cyberbullying. Do mesmo modo, fatores
de risco e de proteo em relao ao cyberbullying so tratados e estudos atuais sobre o tema
so amplamente revisados e discutidos. J a investigao emprica, que compe a seo 2, foi
realizada com adolescentes com idades variando entre 13 a 17 anos (N=367), provenientes de
escolas pblicas e privadas da regio metropolitana de Porto Alegre, RS. O objetivo principal
foi de analisar a prevalncia do cyberbullying e suas relaes com sintomatologia depressiva,
verificando possveis diferenas entre meninos e meninas e as diferenas em relao a faixa
etria dos participantes. Um percentual elevado de adolescentes referiu estar envolvido com o
processo (72,7% com cyber agresso e 75,6% com cyber vitimizao), no havendo diferena
significativa entre meninos e meninas. Associaes positivas e significativas entre o
envolvimento com cyberbullying com a idade dos participantes, o tempo gasto na internet e
sintomas de depresso foram identificadas. Constatou-se tambm que os adolescentes
caracterizados como vtimas-agressores do processo de cyberbullying apresentaram nveis
mais elevados de depresso quando comparados aos estudantes no envolvidos com o
fenmeno. Dados sociodemogrficos e relacionados interao dos adolescentes com as
ferramentas tecnolgicas e virtuais so descritos e discutidos. Foi possvel verificar que o
cyberbullying um fenmeno de extrema relevncia e que ainda necessita ser largamente
estudado no contexto brasileiro. Estudos apontam o quanto este processo pode ser fator de
risco para o desenvolvimento de jovens e ressaltam a importncia de pesquisas que subsidiem
intervenes. Dados do estudo emprico corroboram achados da literatura, assim como
14
apontam para diferenas culturais no que tange a este fenmeno. Tambm se apresentam, ao
final dessa investigao, sugestes para estudos futuros, bem como so ressaltadas as
limitaes da mesma.
Palavras-chave: adolescncia, bullying, cyberbullying, depresso.
rea conforme classificao do CNPq: 7.07.00.00-1 (Psicologia).
Subrea conforme classificao do CNPq: 7.07.07.00-6 (Psicologia do Desenvolvimento
Humano).
15
ABSTRACT
Cyberbullying is understood as an intentional subtype of aggressive behavior that occurs
through interactive electronic media (computers, mobile phones, social network sites), held
by one or more persons against other in an unequal power relationship, where the victims
often cant defend her or himself. Recent studies points that cyberbullying is a risk factor for
anxiety symptoms, depression, suicide ideation, substance abuse, among other risky
development situations. Therefore, little attention has been given to this phenomenon in
Brazil and Latin America. In this sense, this thesiss aim was to investigate the cyberbullying,
through two different studies, a theoretical and an empirical study. The theoretical study,
described in section 1, brings evidences about the phenomenon prevalence in different
countries, besides discussing consequences and conceptual aspects that differ bullying from
cyberbullying. As well as, risk and protection factors related to cyberbullying are treated and
actual studies about this topic are deeply revised and discussed. The empirical investigation,
in section 2, was held with adolescents aged from 13 to 17 years-old (N=367), from Public
and Private schools from Porto Alegre area, South Brazil. The main objective was to analyze
cyberbullying prevalence and its relation with depression symptoms, verifying possible
differences between boys and girls and between participants age differences. A high percent
of adolescents referred to be involved in cyberbullying (72.7% cyber aggression and 75.6% in
cyber victimization), and no gender differences were found. Significant and positive
associations between cyberbullying participants age, time spent in internet and depression
were identified. Adolescents who were victims and/or aggressors in cyberbullying showed
higher levels of depression compared to cyberbullying uninvolved youth. Sociodemographic
data related to adolescents interaction with technological and virtual tools are also described
and discussed. It was possible to verify that cyberbullying is extremely relevant phenomenon
that still needs to be largely studied in Brazilian context. Studies point to how much this
process can represent a risk factor to youth development and emphasize the importance of
researches that may support interventions. Data from the empirical study confirmed
evidences found in literature, as well as showed cultural differences related to this process.
Also is presented, at the end of this investigation, suggestions for future studies, as well as the
study limitations.
Keywords: adolescence, bullying, cyberbullying, depression.
16
1. Apresentao
A presente dissertao est inserida na linha de pesquisa Processos de Sade e
Doena em Contextos Institucionais, do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Em especial, situa-se no grupo de
pesquisa coordenado pela professora Dr Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, que tem se
dedicado ao estudo da agressividade, em especial do fenmeno bullying em profundidade, e
demais fenmenos correlatos s relaes entre pares e scio-cognies desde seus estudos de
doutoramento. Assim, o presente trabalho tem, como objetivo principal, investigar o
fenmeno do cyberbullying, um tipo especfico de bullying, identificando sua prevalncia,
caractersticas e relaes existentes com sintomas de depresso em adolescentes. Alm disso,
buscou-se comparar os resultados em relao ao sexo e tambm com relao faixa etria
dos participantes. O fenmeno contemporneo e associado s alteraes observadas no
campo das tecnologias de informao e comunicao (TICs), sendo descrito como uma nova
forma de bullying ou de agresso entre iguais.
O tema dos comportamentos e aes agressivas entre pares, como o processo de
bullying, tem sido amplamente investigado na rea da Psicologia. A partir de diversas
investigaes longitudinais, se conhece os significativos impactos negativos do bullying no
curso desenvolvimental de crianas e adolescentes. Todavia, em relao ao cyberbullying ou
o bullying virtual, ainda existem inmeros fatores a serem estudados e compreendidos. Dessa
maneira, considerando o exposto, inicialmente apresentado o estudo terico, que compe a
seo 1 da presente dissertao. Neste artigo de reviso no-sistemtica intitulado
Compreendendo o fenmeno do cyberbullying so debatidos em profundidade os conceitos
relativos ao objeto de investigao, bem como so apontados e discutidos estudos e achados
da literatura nacional e internacional que apresentam e discutem os possveis fatores de risco
e proteo envolvidos no processo de cyberbullying. Optou-se por uma reviso terica no-
sistemtica por tratar-se de uma temtica emergente e, assim, a compilao de estudos
indexados em bases nacionais e internacionais resulta em um nmero restrito de artigos1 (a)
1 Por exemplo, utilizando os descritores cyberbullying e risk factors foi possvel recuperar apenas 13 estudos, sendo que, destes resultados, observa-se a ausncia de investigaes realizadas por grande parte dos pesquisadores de referncia no tema. Do mesmo modo, os dados que estes 13 estudos apresentam no abordam, em sua maioria, informaes como prevalncia, discusses conceituais que fazem meno distino em relao ao bullying, etc.
17
e, ainda, por se tratar de um fenmeno atual e novo, apresenta implicaes conceituais
qualitativamente distintas quando comparado ao processo de bullying escolar ou
tradicional, que merecem ser analisadas com profundidade (b).
Na seo 2, apresentado o artigo emprico, cujo ttulo Cyberbullying entre
adolescentes: prevalncia, diferenas de gnero e relaes com sintomas de depresso. A
investigao, de natureza quantitativa e transversal, explora a frequncia com a qual os
participantes envolveram-se com o fenmeno, tanto na forma de perpetradores como no papel
de vtimas. E, alm disto, so analisadas tambm as relaes entre o cyberbullying com
sintomas de depresso, bem como so investigadas diferenas entre os sexos e faixa etria
dos participantes.
Finalmente, nas consideraes finais da dissertao, os subsdios tericos so
discutidos em conjunto com os achados da investigao emprica. Do mesmo modo, so
apontadas as limitaes da pesquisa, bem como direes para estudos futuros.
18
2. Seo 1 - Artigo terico Compreendendo o fenmeno do cyberbullying
Compreendendo o fenmeno do cyberbullying
Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa21
Resumo: O subtipo especfico de violncia denominado de bullying constitui-se em um
problema srio e recorrente nas instituies escolares atualmente, trazendo consequncias
negativas para o processo de desenvolvimento humano em curto, mdio e longo prazo.
Considerada uma questo de sade pblica, esta e outras formas de agressividade entre pares
vm atraindo significativa ateno por parte da mdia, dos pais, professores, cientistas e
tambm dos responsveis pela elaborao de polticas pblicas. Entretanto, em um mundo
digital, o advento das novas tecnologias da informao e comunicao acaba tambm
impulsionando a emergncia de um novo tipo de bullying, que se situa no ciberespao e se
apoia nas ferramentas tecnolgicas de interao, denominado cyberbullying. Assim, o
presente artigo objetiva analisar e discutir os aspectos que tangenciam a ocorrncia dessa
forma eletrnica de comportamento agressivo e intencional, com o foco em questes
conceituais que o diferenciam do bullying tradicional. Para tal, sero apresentados e
discutidos estudos sobre prevalncia, caractersticas e consequncias do cyberbullying
selecionados nas seguintes bases de dados: Pepsic, Science Direct, BVS, PsychInfo, Scielo e
PubMed. Tratou-se de uma reviso no-sistemtica da literatura internacional e nacional
sobre cyberbullying que permitiu uma reflexo acerca desse tipo de violncia e possveis
caminhos para uma melhor compreenso de estratgias para o manejo das situaes de
cyberbullying na atualidade. A importncia de pesquisas sobre esta temtica no Brasil e
Amrica Latina reforada no sentido de aprofundar-se a compreenso e gerar subsdios para
o desenvolvimento de intervenes focais e preventivas.
Palavras-chave: cyberbullying, agressividade, adolescncia, tecnologias de informao e
comunicao.
21
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Centro de Cincias da Sade, Programa de Ps-Graduao em Psicologia.
19
Abstract: The subtype of violence behavior named as bullying is a serious problem recurrent
in schools nowadays, bringing negative short, medium and long term consequences to
development process. Considered as a public health issue, this and other forms of peer
aggression are attracting media, parents, teachers and scientists attention as well as attention
from responsible for public policies. Therefore, in a digital world, the new information and
communication technologies allow a new kind of bullying to take place, a violence that
situates in cyberspace and is supported by interactive technological tools, called
cyberbullying. In this sense, the present paper aims to analyze and discuss aspects that are
related to this electronic, intentional aggressive behavior, focusing in conceptual differences
from bullying. To that, studies selected from Pepsic, Science Direct, BVS, PsychInfo, Scielo
and PubMed about prevalence, characteristics and cyberbullying consequences are presented
and discussed. The result was an unsystematic international and national literature revision
toward cyberbullying that allowed an adequate reflection about this kind of violence and
possible ways to a better comprehension and effective strategies to deal with cyberbullying
nowadays. The importance of the researches about this topic in Brazil and Latin America is
reinforced to provide a broader understanding about this process and to generate data that
support the development of focus and preventive interventions.
Keywords: cyberbullying, aggression, adolescence, information communication
technologies.
20
2.1 Introduo
A agressividade humana pode ser definida como um comportamento que motivado e
que tem por objetivo causar algum tipo de sofrimento a outro indivduo ou grupo (Anderson
& Bushman, 2002). Os atos de agressividade, inseridos em contexto cultural especfico,
repercutem negativamente nas mais distintas esferas da sociedade (famlia, trabalho, lazer,
educao, etc). Nos ltimos anos, a comunidade cientfica tem concentrado esforos para o
entendimento mais aprofundado das diferentes manifestaes da agressividade e de seus
impactos na vida das pessoas (DeWall, Anderson, & Bushman, 2011; Little, Henrich, Jones,
& Hawley, 2003).
Quando se considera especificamente as crianas e os adolescentes, observa-se que a
agresso pode resultar em consequncias ainda mais graves. Ou seja, para alm do impacto
psicolgico imediato da agressividade - considerando-se que no caso dos jovens pode no
existir, ainda, maturidade suficiente para adequado manejo - os jovens podem interiorizar a
noo de que somente atravs do uso da agressividade que se torna possvel a resoluo de
conflitos (Garaigordobil, 2011). De acordo com essa perspectiva de compreenso, a vivncia
de agressividade pode gerar comportamentos e crenas especficas acerca das relaes
interpessoais. Assim, indivduos que agridem ou so agredidos podem aprender que esta a
forma de reagir em situaes de estresse ou como um meio para atingir seus objetivos
(Dodge, Bates, & Pettit, 1990).
O bullying, palavra de origem estrangeira e sem traduo especfica para a lngua
portuguesa, refere-se a um processo que pode ser circunscrito dentro do rol de
comportamentos entendidos como agressivos ou violentos (Hong & Espelage, 2012). Em
geral, o uso do termo no contexto brasileiro alude a comportamentos de intimidao,
violncia e humilhao, embora o processo no se restrinja somente a essas aes (Wendt,
Campos, & Lisboa, 2010). Em termos conceituais, entende-se que o processo de bullying
ocorre na medida em que uma pessoa ou um grupo busca, sistematicamente, excluir,
intimidar, molestar ou maltratar outra pessoa ou mesmo um grupo de pessoas, levando a
excluso social (Olweus, 1993).
Cabe mencionar tambm que se observa um demarcado desequilbrio de poder nos
casos de bullying, em que a vtima se encontra em uma situao com escassos ou nenhum
21
recurso de defesa, alm do carter sistemtico de agresso (Lisboa, Braga, & Ebert, 2009).
Alm disso, o bullying pode ocorrer tanto de modo direto, atravs de atos envolvendo
agresses fsicas e ataques verbais, ou ainda de modo indireto e relacional, como nas
situaes de isolamento, chantagem, ameaas, difuso de rumores e fofocas, furtos, entre
outros (Rigby, 2004).
Em relao sua ocorrncia, sabe-se que o processo de bullying um fenmeno que
se manifesta principalmente no contexto escolar, envolvendo crianas e adolescentes, e
encontra-se presente em praticamente todas as culturas (Berger & Lisboa, 2009). Do mesmo
modo, o bullying ocorre no cotidiano tanto de escolas pblicas e privadas como tambm em
instituies localizadas no mbito urbano e rural, sendo, portanto, um desafio recorrente em
praticamente qualquer escola (Binsfeld & Lisboa, 2010).
Para a Kandersteg Declaration Against Bullying in Children and Youth (2007), o
bullying um problema social que viola os direitos humanos bsicos. Esta mesma declarao
afirma que, em termos globais, cerca de 200 milhes de crianas e adolescentes esto
expostas ao fenmeno. No Brasil, conforme a investigao de Malta et al. (2010), os ndices
apontam que o percentual de vtimas de bullying atinge aproximadamente 30% dos alunos
regularmente matriculados em escolas de ensino fundamental, sendo resultado de um
processo complexo de interaes recprocas entre aspectos individuais e familiares das
crianas e adolescentes, do contexto imediato e da sociedade em geral.
Por ser uma situao deletria sade psicolgica em curto, mdio e longo prazo,
tanto para os protagonistas do processo de bullying como tambm para os demais envolvidos,
como professores, colegas e pais, o fenmeno tem recebido expressiva ateno por parte de
estudiosos do campo da psicologia e tambm dos profissionais responsveis pela
implementao de polticas pblicas de proteo aos direitos fundamentais da infncia e
adolescncia (Binsfeld & Lisboa, 2010; Hansen, Steenberg, Palic, & Elklit, 2012; Smith,
Smith, Osborn, & Samara, 2008a). Todavia, alguns pesquisadores vm destacando um novo
tipo de manifestao de agressividade entre pares, conhecido por cyberbullying (Law,
Shapka, Hymel, Olson, & Waterhouse, 2012; Shariff, 2011; Smith, 2012; Smith et al.,
2008b), que apresenta impactos no menos severos que os do bullying e que ainda muito
pouco conhecido na sua especificidade (Garaigordobil, 2011; Sourander et al., 2010; Ybarra,
Boyd, Korchmaros, & Oppenheim, 2012).
22
A variedade de investigaes j conduzidas sobre a temtica situa o cyberbullying
como um fator de risco significativo para o desenvolvimento subsequente de crianas e
adolescentes. Entendido como um tipo de bullying que utiliza a tecnologia (Shariff, 2011,
p. 59), estudos reportam a associao desse tipo de violncia com nveis elevados de
ansiedade, uso e abuso de psicotrpicos, maior severidade de transtornos emocionais, como a
depresso, ideias ou tentativas de suicdio, prejuzos na escola, dentre outros (Hinduja &
Patchin, 2010; Patchin & Hinduja; 2010; Ybarra, 2004). Alm disso, no somente as vtimas,
como tambm os protagonistas dos atos de cyberbullying tm maiores chances de
estabelecerem relaes permeadas por conflitos, instabilidade e agresso (Shariff, 2011).
Logo, faz-se urgente e necessrio uma maior compreenso acerca desse fenmeno
para que seja possvel o desenho de aes preventivas e interventivas eficazes. Conforme
observam Wang, Nansel e Iannotti (2011), as pesquisas sobre o cyberbullying ainda
encontram-se em uma etapa preliminar. Essa mesma constatao foi feita por Couvillon e
Ilieva (2011), que sublinham a necessidade de esforos para o mapeamento dos mecanismos
que favorecem o surgimento e a manuteno desse tipo de agresso entre pares.
Nesse sentido, a presente reviso crtica da literatura busca discutir o cyberbullying
em relao s suas consequncias ao desenvolvimento humano, bem como almeja apresentar
dados de prevalncia do fenmeno, refletindo sobre seu impacto, especificidades em
diferentes contextos e possveis formas de manejo. A reviso crtica que ser apresentada
assumiu um carter no-sistemtico, uma vez que pretende ampliar a compreenso deste
novo tipo de comportamento agressivo entre pares e discutir aspectos que fazem a distino
entre o bullying praticado na escola daquele que ocorre no ciberespao.
Estudos disponveis nas bases de dados nacionais e internacionais (Scielo, Pepsic,
BVS, PubMed, PsychInfo e ScienceDirect) foram recuperados atravs de descritores-alvo
variados (cyberbullying, adolescentes, bullying virtual, por exemplo, bem como os
respectivos equivalentes na lngua inglesa e espanhola) e passaram ento por uma anlise
qualitativa seletiva em relao sua relevncia e adequao aos propsitos do presente artigo.
Do mesmo modo, buscou-se contato com autores internacionais para a aquisio de materiais
no disponveis em meio eletrnico, como captulos de livros e artigos no indexados nas
bases de dados consultadas. Tambm foi realizada uma extensa busca por informaes
complementares a partir das referncias dos estudos utilizados.
23
2.2 Cyberbullying - definies e estudos
Diversos so os autores que buscam definir o fenmeno do cyberbullying (Agatston,
Kowalski, & Limber, 2007; Campbell, 2005; Hinduja & Patchin, 2007, 2008, 2009;
Kiriakidis & Kavoura, 2010; Li, 2006; Mishna, Khoury-Kassabri, Gadalla, & Daciuk, 2012;
Smith, 2010). Contudo, no h consenso, ainda, em relao aos aspectos tericos e tambm
conceituais que apreendam o fenmeno em sua complexidade (Langos, 2012). Uma hiptese
plausvel para a ausncia de uma definio precisa do cyberbullying diz respeito ao fato de
que, na medida em que se observa uma significativa proliferao de novas tecnologias,
emergem novos comportamentos e modos de agir diante de tais inovaes (Spears, Slee,
Owens, & Johnson, 2009).
Em termos gerais, o processo de cyberbullying pode ser compreendido como um tipo
especfico de bullying que ocorre atravs de instrumentos tecnolgicos e, sobretudo, telefones
celulares e internet (Slonje & Smith, 2008). Para Shariff (2011), importante contextualizar o
fenmeno, ou seja, considerando o tipo de ato realizado (por exemplo, violao de senhas,
acesso e roubo de dados pessoais, piadas e comportamentos de humilhao, entre outros) e o
meio onde ocorre (sites de redes sociais, e-mails, torpedos SMS, entre outros). Tal
perspectiva, de acordo com a autora, evita restringir o conceito de cyberbullying a uma viso
simplista e reducionista, auxiliando tambm a precisar a etiologia e os respectivos impactos
desses comportamentos praticados entre pares no ambiente virtual.
Outra definio amplamente aceita na literatura internacional a de Hinduja e Patchin
(2009). Estes autores descrevem o cyberbullying como um processo no qual algum executa,
proativa e repetidamente, atitudes como piadas acerca de uma pessoa em contextos virtuais
ou quando um indivduo assedia algum atravs de e-mails ou mensagens de texto ou ainda
atravs de postagem de tpicos sobre assuntos que a vtima no aprecia (Hinduja & Patchin,
2009, p. 48). A intencionalidade tambm uma questo destacada pelos pesquisadores para
que determinado comportamento seja caracterizado como cyberbullying e no apenas como
uma brincadeira aleatria.
O fenmeno consiste em uma relao que presume, pelo menos, dois papis: vtima e
agressor (Ortega et al., 2012). Entretanto, quando um adolescente exerce tanto um papel de
agressor como de vtima, pode ser delineado um perfil que o caracteriza como vtima-
24
agressor. Do mesmo modo como ocorre nas situaes de bullying, os indivduos que
acompanham - ou assistem - aos episdios de agresso podem ser caracterizados como
espectadores e, alm disso, aqueles que por ventura se divertem ou mesmo compartilham os
episdios podem ser compreendidos como apoiadores ou incentivadores do processo.
Muitos pesquisadores tm apontado aspectos que distinguem a vitimizao entre pares
que ocorre no contexto real (face a face) e o cyberbullying (Langos, 2012; Shariff, 2011;
Smith, 2010). Nas agresses que ocorrem intramuros da escola, a vtima capaz de prever em
quais situaes se encontra em risco potencial (recreio, na ausncia de figuras de autoridades,
como professores e tutores, entre outros). Porm, quando a agresso ocorre por meios
eletrnicos, escapar/evitar torna-se uma tarefa praticamente impossvel (Smith, 2010). Isso
ocorre uma vez que o agressor pode enviar mensagens para o aparelho celular ou para o e-
mail da vtima, bem como lhe possvel, a qualquer hora ou momento do dia, postar vdeos e
imagens constrangedoras em blogs, sites de relacionamento social, entre outros (Menesini et
al., 2012).
Alm disso, muitas vezes, as pessoas percebem o ciberespao como impessoal, ou
seja, como sendo um espao no qual as ideias podem ser livremente expostas, ditas e
compartilhadas (Li, 2006). Na vida real, porm, a situao difere-se uma vez que o agressor
pode limitar suas aes ou repensar cautelosamente antes de agir em funo da reao da
vtima ou do grupo de pares que presencia os atos agressivos, temendo a retaliao imediata
(Shariff, 2011).
Na Tabela 1, apresentada a seguir, encontram-se sumarizados e discutidos os aspectos
que distinguem a agresso entre pares por meio eletrnico daquela realizada face a face. Os
critrios avaliados so os de agressividade, desequilbrio de poder, audincia (espectadores),
intencionalidade e repetio. A mesma tabela traz, ainda, informaes e subsdios que
suportam os motivos pelos quais o fenmeno do cyberbullying tem sido compreendido por
um nmero cada vez maior de cientistas como uma forma peculiar e sem antecedentes de
vitimizao entre iguais, impactando severamente a vida de crianas e adolescentes em
diversas partes do mundo e de modos cada vez mais diversificados.
25
Tabela 1
Critrios utilizados para definio de bullying x cyberbullying
Critrios Bullying Cyberbullying Agressividade Pode ser expressa com uso de violncia e
insultos verbais. A vtima sabe qual a pessoa ou o grupo que lhe agride fisicamente. So comuns casos extremos, como lutas corporais, ferimentos srios, entre outros
Em seu formato eletrnico, o cyberbullying ou bullying virtual no fere a pessoa fisicamente. A agressividade majoritariamente dirigida a denegrir a imagem da pessoa, espalhar rumores, roubar senhas e nicknames, excluir de um grupo de discusso, entre outros. Os impactos da agressividade atingem, assim, aspectos emocionais e relacionados ao self da vtima
Desequilbrio de poder
Um dos aspectos centrais do conceito de bullying e que o diferencia de outros comportamentos agressivos o de que existe um desequilbrio de poder entre agressor e vtima, sendo que este poder pode ser mantido atravs de ameaas e agresses fsicas, sociais e/ou psicolgicas
Diferentemente do bullying, em que a situao de desequilbrio de poder decorre em funo de distines como fora, persuaso ou status, em sua manifestao eletrnica, o cyberbullying representa uma desvantagem em termos de habilidades tecnolgicas (um usurio mais avanado pode vitimizar outra pessoa em decorrncia de certos conhecimentos especficos). Alm disso, o agressor pode recorrer ao anonimato, deixando a vtima sem possibilidades de identificar o autor das agresses e restringindo, assim suas formas de ao para combate desta violncia
Audincia No processo de bullying, comum que o grupo de pares reforce os atos dos agressores. Alm disso, quando o processo ocorre em situaes como recreio ou durante as aulas, os colegas presentes compem a audincia. Esta passa a ser restrita e limitada ao contingente de estudantes que presenciam os atos
No cyberbullying, todavia, a audincia pode ser nula (como nas situaes em que o agressor dirige seus atos diretamente vtima) ou infinita (como na postagem de vdeos, fotos ou outro material em sites e redes sociais)
Intencionalidade O bullying no se refere a um ato ocasional. O agressor apresenta a inteno de ferir, magoar ou humilhar a vtima
Do mesmo modo, tal critrio aplica-se ao cyberbullying, pois, ao enviar um e-mail ofensivo diretamente ou ainda ao postar uma foto indesejvel da vtima em uma rede social constata-se que o ato proativo, motivado
Repetio Um dos principais critrios para bullying de que o fenmeno seja recorrente, sistemtico; H uma permanncia, ao longo do tempo, das atitudes agressivas
No cyberbullying, uma nica ao realizada pode ser replicada inmeras vezes por um nmero extenso de espectadores, no exigindo que o agressor repita o seu ato (ex: postar uma foto em um site ou um vdeo no Youtube, uma nica vez, pode ser visualizado, salvo em um computador e compartilhado para uma ampla audincia)
Nota. Conforme Dooley, Pyalski e Cross (2009), Conforme Langos (2012), Conforme Smith et al. (2008a), Conforme Shariff (2011).
26
Como se pode observar a partir da Tabela 1, o cyberbullying no uma experincia
face a face, ocorrendo sempre por meio da mediao de algum recurso tecnolgico. Assim,
possibilita ao agressor ficar annimo, diferentemente da maior parte dos casos tpicos de
bullying (agresses fsicas, insultos verbais, chantagem). A opo pelo anonimato pode ser
compreendida a partir do chamado efeito da desinibio. Ou seja, as pessoas podem sentir
confiana e coragem diante da possibilidade de serem annimas, achando que nunca sero
surpreendidas (...) e experimentam uma dificuldade maior em conter seus impulsos online do
que em situaes sociais no espao real (Palfrey & Gasser, 2011, p. 108).
Ainda em relao aos aspectos semelhantes entre os dois processos, pode-se inferir
que o desequilbrio de poder, a inteno de causar dano ou sofrimento e a repetio se
encontram presentes. Todavia, nos atos de cyberbullying, o pblico pode chegar a um nmero
muito mais expressivo de espectadores em comparao com os grupos pequenos que,
normalmente, presenciam o bullying praticado na escola e/ou em pequenos grupos (Smith,
2010).
2.3 Prevalncia do Cyberbullying
Quando um novo fenmeno emerge e ocupa grande parte das discusses da agenda
cientfica internacional, um dos primeiros movimentos que se observa a busca por dados de
prevalncia. Com o cyberbullying no foi diferente. Cientistas de vrias partes do mundo tm
buscado mensurar a ocorrncia dessa forma de vitimizao entre pares e, do mesmo modo,
compreender as associaes entre cyberbullying e demais variveis (Buelga, Cava, & Musitu,
2010; Buelga, & Pons, 2012; Dehue, Bolman, & Vllink, 2008; Di Lorenzo, 2012; Juvonen
& Gross, 2008; Li, 2006; Popovic-Citic, Djuric, & Cvetkovic, 2011; ahin, 2012; Wang et
al., 2011; Williams & Guerra, 2007).
Nesse sentido, com o propsito de apresentar um panorama das referidas
investigaes sobre a prevalncia do cyberbullying, organizou-se a Tabela 2. Os artigos
foram arranjados levando-se em considerao o pas no qual foi conduzido o estudo, a
amostra, medidas e instrumentos utilizados, dados de prevalncia e principais achados.
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30
Observa-se que os estudos descritos na Tabela 2 priorizam o uso de instrumentos de
autorrelato e algumas investigaes incluram, ainda, questionrios aos pais e ou responsveis
dos adolescentes. Percebe-se ainda que comum a mensurao do cyberbullying
considerando a forma de expresso, ou seja, via internet e telefones celulares, bem como
comparando este fenmeno e seus impactos as j reportadas consequncias associadas com o
processo de bullying. Essa perspectiva de analisar os diferentes contextos (fsico ou virtual),
nos quais ocorrem e perpetuam as problemticas de relacionamento entre pares, encontra
respaldo terico e emprico nos estudos atuais em Psicologia, principalmente envolvendo a
Psicologia do Desenvolvimento (Sumter, Baumgartner, Valkenburg, & Peter, 2012), mas
sendo relevante tambm para rea da pesquisa em Psicologia Clnica.
No tocante prevalncia, no se identifica um padro entre os achados. Uma possvel
explicao para tais diferenas encontradas refere-se ao perodo de tempo que os autores dos
estudos delimitaram para a investigao do cyberbullying - ltimo ms, ltimos seis meses,
ltimo ano, entre outros - e a faixa etria investigada. Outro aspecto que pode justificar
resultados dspares diz respeito aos instrumentos utilizados em cada pesquisa, uma vez que
medidas mais sensveis podem detectar com maior acurcia as diferentes formas pelas quais o
cyberbullying pode ocorrer (Garaigordobil, 2011; Lam & Li, 2013).
2.4 Cyberbullying: impactos, fatores de risco e de proteo
Alm de buscar verificar a prevalncia do cyberbullying, estudos tm focado em
questes relacionadas aos impactos e aos fatores de risco e proteo em relao ao fenmeno
(Di Lorenzo, 2012; Heim, Brandtzg, Endestad, Kaare, & Torgersen, 2007; Mishna et al.,
2012; Valcke, Bonte, De Wever, & Rots, 2010; Valcke, Schellens, Van Keer, & Gerarts,
2007). Diversas investigaes associam o envolvimento no cyberbullying com nveis
elevados de sintomas de depresso (Baker & Tanrkulu, 2010; Hinduja & Patchin, 2012;
Mishna, Mclukie, & Saini, 2009), isolamento social (ahin, 2012), problemas na esfera
educacional (Shariff, 2011), queixas somticas (Sourander et al., 2010), entre outros.
Di Lorenzo (2012) discute um caso clnico de uma adolescente de 13 anos, vtima de
cyberbullying via mensagens de texto (torpedos SMS), que apresentava sintomas depressivos
31
graves, culminando em uma tentativa de suicdio. Alm disso, o pesquisador relatou a
presena de sintomas relacionados ao Transtorno de Estresse Ps-Traumtico na jovem, que
tambm era vtima de bullying na escola. O autor apresenta hipteses possveis para a
compreenso da vulnerabilidade da vtima, dentre as quais destaca o relativo descaso dos pais
em relao ao sofrimento experienciado pela adolescente, alm das caractersticas individuais
apresentadas pela jovem, como timidez significativa e poucas relaes de amizade e de baixa
qualidade.
Outro fator pertinente para a anlise de situaes que possivelmente colocam os
adolescentes em situao de risco foi destacado por Agatston et al. (2007). Os pesquisadores
realizaram estudos de cunho qualitativo, por meio de grupos focais, com o intuito de
compreenderem os motivos que sustentam a no comunicao aos pais e ou responsveis
sobre a ocorrncia de vitimizao online. Na viso dos adolescentes, o medo de perder certos
privilgios, como o uso de telefones celulares e at mesmo a restrio do acesso internet,
so algumas das principais razes para que silenciem quando algum ato de cyberbullying
ocorre. Alm disso, os estudantes reportaram que no creem que os adultos, incluindo
professores e pais, possam lhes ajudar no que tange a esse tipo peculiar de vitimizao
(Agatston et al., 2007).
Em relao aos fatores protetivos, estudos sugerem que filhos que experenciam
adequado controle parental no que se refere ao uso da tecnologia apresentam tambm menos
comportamentos de risco no ambiente virtual (Ayohama, Barnard-Brak, & Talbert, 2011;
Fleming, Greentree, Cocotti-Muller, Elias, & Morrison, 2006; Heim et al., 2007; Mesch,
2009). Na medida em que os adolescentes se desenvolvem e adquirem cada vez maior
independncia com relao aos pais, estes costumam ajustar as prticas de superviso,
permitindo maior liberdade ao adolescente. Nesse sentido, a nfase e ateno deve ser voltada
qualidade da relao estabelecida entre pais e filhos, bem como coerncia entre as prticas
parentais utilizadas e a abertura para o dilogo e negociao (Stattin & Kerr, 2000).
O monitoramento parental, isto , imposio de limite de tempo ou restrio de acesso
a determinado(s) contedo(s) foi investigado e comparado ao uso da internet por parte dos
filhos no estudo de Lee e Chae (2011). Esses autores encontraram associaes significativas
entre o tempo gasto na internet e uma diminuio da convivncia familiar. Alm disso, os
autores verificaram que, quando os pais apresentavam prticas como recomendar um site
positivo ao filho ou navegar junto do filho, os filhos acabaram gastando mais tempo
32
envolvidos em atividades educativas online e, portanto, menos propensos experincia do
cyberbullying.
Conforme ressaltam Hinduja e Patchin (2009, p. 148), o desenvolvimento de hbitos
relacionados ao uso seguro de tecnologia deve ser estimulado desde muito cedo na vida das
crianas na atualidade, de modo a garantir a efetiva internalizaao desses comportamentos.
Nesses casos, cabe ressaltar que a postura dos pais deve ser assertiva, envolvendo dilogo e
negociao (Valcke et al., 2010). Ou seja, ao invs de os pais adotarem posturas intrusivas,
tais como as referidas por Kowalski, Limber e Agatston (2012), envolvendo a checagem e
leitura dos e-mails de seus filhos, prefervel a adoo de uma postura prxima, com
adequada comunicao. Recomenda-se que sejam estabelecidas regras sobre o uso das TICs
dentro de cada domiclio - consentimentos relativos importncia de reportarem aos pais
quando na ocorrncia de incidentes graves online, reserva de um espao especfico para o
debate do uso da internet em casa, na escola e atravs de telefones celulares, entre outros. Por
fim, enfatiza-se que cabe aos pais o fornecimento de instrues precisas sobre como agir caso
seu filho envolva-se com cyberbullying, bem como importante que se informe s crianas e
adolescentes que no apaguem os registros ou provas dos casos deste processo (Kowalski et
al., 2012).
2.5 Consideraes finais
No se pode negar, nos dias atuais, a influncia das novas tecnologias da informao e
comunicao. Vive-se em um mundo globalizado e virtual. Esse cenrio contemporneo
apresenta inmeras alternativas que se descortinam quando um sujeito capaz de, em um
nico clique, entrar em contato e interagir com as mais diversas possibilidades de expresso
de opinies, sentimentos e desejos. Assim, j relativamente consenso que as crianas e
adolescentes, hoje, se desenvolvem com uma conscincia global, sendo tal movimento
impulsionado pelas TICs. Com efeito, os jovens nascidos em um mundo permeado por estas
tecnologias so chamados de nativos digitais (Palfrey & Gasser, 2011). A interao dos
indivduos com estas novas tecnologias da informao e comunicao transformou inmeros
aspectos do relacionamento interpessoal e, por consequncia, dos processos de representao
da identidade, formas de aprendizagem e de relacionamento (Arnett, 2002).
33
O entendimento sobre as influncias do mundo virtual no desenvolvimento humano
ainda necessita ser aprofundado. Observa-se que o uso e contato com as TICs no se
restringe ou afeta jovens de uma cultura ou nvel socioeconmico especfico e tampouco se
limita a uma faixa etria - infncia, pr-adolescncia ou adolescncia. Muito se discute
tambm com relao aos riscos e vantagens destes novos recursos. Ou seja, o uso de muitos
recursos tecnolgicos ao mesmo tempo (media multitasking) pode ser benfico e estimulante
aos jovens, mas, por outro lado, pode gerar irritao, baixa produtividade, aumento de
ansiedade e problemas atencionais (Uhls et al., 2011). No que se refere aos comportamentos
agressivos, como possvel inferir atravs dos estudos anteriormente descritos, o processo
no diferente e ainda necessita ser mais estudado.
O cyberbullying pode ocorrer em paralelo ao processo do bullying, razo pela qual
diversas naes tm se empenhado na elaborao de polticas focadas especificamente no
combate destes dois fenmenos em conjunto (Raskauskas, & Stoltz, 2007; Smith et al.,
2008a; Soutter & Mckenzie, 2000). Assim como as diferentes formas de interao
interpessoal no contexto virtual, ainda se desconhece todas as caractersticas do
cyberbullying, suas consequncias em curto, mdio e longo prazo, bem como o impacto nas
crenas e comportamentos dos jovens (Olweus, 2012).
A reviso de estudos realizada permite inferir que se trata de um fenmeno que pode
acarretar em srios prejuzos sociais, emocionais e cognitivos aos envolvidos, principalmente
pelo seu carter atemporal e pela magnitude de seu alcance. Uma vtima de cyberbullying, em
geral, no tem para onde ir e se esquivar dessa violncia. O cyberbullying constitui uma
realidade da era digital (Langos, 2012, p. 285) que, de acordo com Smith (2010), um
fenmeno decorrente ou relacionado s diversas transformaes que ocorreram no sculo
XXI.
Resultado ou consequncia do avano das TICs, o cyberbullying especialmente
frequente entre crianas e adolescentes. Isso ocorre porque os nativos digitais (Palfrey &
Gasser, 2011) so usurios vidos e familiarizados com as tecnologias e internet. Entretanto,
os mesmos no possuem plenas condies de distinguir entre aquilo que a tecnologia pode
representar de positivo do que traduz-se como risco (Li, 2006). As pesquisas sobre
cyberbullying sugerem que os jovens tm dificuldades de adequadamente dimensionar as
reais consequncias de seus atos agressivos e possvel pensar que estas dificuldades sejam
mais acentuadas e graves que nos casos de bullying. Investigaes enfatizam o papel do
34
monitoramento parental, das prticas educativas saudveis, intervenes clnicas que possam
psicoeducar adequadamente com relao ao fenmeno, alm de estmulos variados para uma
vinculao ajustada entre pais e filhos (Hinduja & Patchin, 2009; Lee & Chae, 2011; Valcke
et al., 2010).
Pode no ser novidade que a superviso e limites dos pais favoream o
desenvolvimento saudvel dos filhos, mas diante desse novo cenrio virtual constata-se que
os pais necessitam de informaes sobre o cyberbullying e TICs de um modo geral. Assim,
estes pais estaro mais capacitados para auxiliar, efetivamente, seus filhos na resoluo de
conflitos e na preveno de eventos adversos neste cenrio que possam impactar e prejudicar
o desenvolvimento saudvel de crianas e adolescentes. Governo e empresas que atuam no
ramo de tecnologia compartilham igualmente a responsabilidade em prover aes que
garantam segurana ao uso das mais variadas TICs por parte de populaes mais vulnerveis
(Palfrey & Gasser, 2011).
No que diz respeito Psicologia e, em especial Psicologia Clnica, torna-se
importante compreender os fatores de risco e proteo para a ocorrncia do cyberbullying,
assim como crenas e comportamentos relacionados a este novo fenmeno, visando o
desenvolvimento de alternativas para a preveno e interveno psicolgica (Patchin &
Hinduja, 2010). importante salientar que identificar fatores de risco e proteo implica em
uma anlise aprofundada dos processos de desenvolvimento cognitivo e social dos jovens na
atualidade. Investigaes enfatizam que o cyberbullying pode prejudicar ou mesmo
interromper o curso de desenvolvimento normativo dos jovens, como em casos de suicdio
relacionados experincia de vitimizao online (Hinduja & Patchin, 2010, 2012). Ademais,
pesquisas que constataram a associao entre o cyberbullying e nveis elevados de sintomas
de depresso e ansiedade reforam a ideia de que experenciar o fenmeno, tanto como vtima
como na qualidade de agressor, pode impactar negativamente o curso desenvolvimental
(Baker & Tanrkulu, 2010; Sourander et al., 2010).
Em um futuro prximo, muitos questionamentos ainda surgiro sobre esta temtica,
pois, na medida em que as TICs avanam e adentram mais e mais na vida dos indivduos e
nas instituies sociais, novas modalidades de interao, desenvolvimento e, por conseguinte,
de agresso entre pares podem surgir. Assim, no se pretende esgotar o assunto, mas o
presente estudo teve, primordialmente, a inteno de alertar e debater criticamente para a
complexidade do processo de cyberbullying na atualidade. Abordagens focadas em investigar
35
efeitos das tecnologias nos comportamentos dos jovens precisam ser substitudas por
abordagens construtivistas e assertivas, que questionem e investiguem sobre os contextos de
interao que os jovens vm optando para si mesmos. Acredita-se que, na medida em que
pais, educadores, responsveis pela elaborao de polticas pblicas voltadas para crianas e
adolescentes e a sociedade de um modo geral tiverem adequada conscincia dos aspectos
positivos e negativos do uso das TICs pelos mais jovens, assim como acerca do
cyberbullying, atitudes preventivas e intervenes mais eficicazes podem ser propostas.
36
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