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CIDADES MDIASE PEQUENAS:TEORIAS, CONCEITOS
E ESTUDOS DE CASO Srie
Estudo
se
Pesqui
sas
15anos
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Sri
eEstudosePesquisas
87
S A L V A D O R 2 0 1 0
CIDADES MDIASE PEQUENAS:
TEORIAS, CONCEITOSE ESTUDOS DE CASO
Diva Maria Ferlin Lopes, Wendel Henrique(orgs.)
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Governo da Bahia
Governo do Estado da BahiaJaques Wagner
Secretaria do PlanejamentoAntnio Alberto Valena
Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da BahiaJos Geraldo dos Reis Santos
Diretoria de PesquisasThaiz Braga
Ficha Tcnica
Coordenao de Pesquisas SociaisLaumar Neves
OrganizadoresDiva Maria Ferlin Lopes (SEI)
Wendel Henrique (UFBA)
Coordenao de Biblioteca e DocumentaoNormalizaoRaimundo Pereira Santos
Coordenao de Disseminao de InformaesMrcia SantosPadronizao e EstiloEditoria de ArteElisabete Cristina Teixeira Barretto
Aline Santana (estag.)
Reviso de LinguagemLaura Dantas
Projeto GrficoElisabete Cristina Teixeira Barretto
Julio Vilela
EditoraoLudmila Nagamatsu
FotoLourival Custdio
Av. Luiz Viana Filho, 435, 2 andar CAB CEP 41750-002 Salvador BahiaTel.: (71) 3315-4822 / 3115-4707 Fax: (71) 3116-1781
www.sei.ba.gov.br sei@ba.gov.br
Cidades mdias e pequenas: teorias, conceitos e estudos de caso. /Diva Maria Ferlin Lopes, Wendel Henrique (organizadores). Salvador: SEI, 2010.
250 p. il. (Srie estudos e pesquisas, 87).
ISBN 978-85-85976-84-2
Planejamento urbano Bahia. 2. Desenvolvimento urbano Bahia. I. Lopes, Diva Maria Ferlin. II. Henrique, Wendel. III. Srie.
CDU 711.4(813.8)
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Foto:Retha
Scholtz/StockXchng
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9 APRESENTAO
ABERTURA
13 CIDADES MDIAS E PEQUENAS DO NORDESTE: CONFERNCIA DE ABERTURADoralice Styro Maia
13 AS CIDADES MDIAS E PEQUENAS NOS ESTUDOS GEOGRFICOS
16 EM BUSCA DO ENTENDIMENTO DE CIDADES MDIAS E PEQUENAS
21 CIDADES MDIAS E PEQUENAS NO NORDESTE BRASILEIRO: APRESENTANDO UM QUADRO GERAL
36 PARA DAR CONTINUIDADE...
37 REFERNCIAS
PARTE I
PENSANDO AS MDIAS E PEQUENAS CIDADES DO BRASIL
45 DIFERENAS E REPETIES NA PRODUO DO ESPAO URBANO DE CIDADES PEQUENASE MDIASWendel Henrique
45 INTRODUO
46 OS ESTUDOS SOBRE CIDADES MDIAS E PEQUENAS
47 A DIFERENCIAO DA CIDADE MDIA E PEQUENA DAS DEMAIS CIDADES
54 O PONTO DE INFLEXO DO AGRRIO PARA O URBANO NAS CIDADES PEQUENAS E MDIAS
55 CONSIDERAES FINAIS: PARA RECONHECER OS MOMENTOS CRTICOS NAS CIDADES MDIAS EPEQUENAS
57 REFERNCIAS
59 A NATUREZA CONTRADITRIA DA URBANIZAO EM UM CONTEXTO DE MAIORCOMPLEXIDADE NA PRODUO DAS CIDADES BAIANAS
Janio Santos
60 O PONTO DE PARTIDA: EM BUSCA DE UMA DISCUSSO EPISTEMOLGICA SOBRE A URBANIZAO
62 URBANIZAO E BARBRIE SOCIAL: UM OLHAR SOBRE AS CIDADES BAIANAS
66 A URBANIZAO: REVELANDO SUA NATUREZA CONTRADITRIA
73 CONSIDERAES FINAIS
74 REFERNCIAS
77 CIDADES PEQUENAS DO SEMIRIDO: DINMICAS SOCIODEMOGRFICAS E
MARGINALIZAODiva Maria Ferlin Lopes
81 CIDADES PEQUENAS DO SEMIRIDO: DIFERENCIAIS DE CRESCIMENTO DEMOGRFICO, IDE E IDS
87 CIDADES PEQUENAS DO SEMIRIDO: SUA INSERO NOS ESTUDOS SOBRE REDE URBANA
89 CONSIDERAES FINAIS
90 REFERNCIAS
PARTE II O PAPEL DAS CIDADES MDIAS E PEQUENAS: REDESCUTINDO OS AGENTES E SUAS
PRTICAS NA INTERFACE LOCAL/REGIONAL
93 CIDADES PEQUENAS E MDIAS: REFLEXES TERICAS E APLICADAS
Sylvio Bandeira de Mello e Silva
SUMRIO
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94 DISCUTINDO OS FUNDAMENTOS DAS ANLISES URBANOREGIONAIS NA GEOGRAFIA
97 APLICAES DO EMBASAMENTO TERICO URBANOREGIONAL
99 EFICINCIA E EQUIDADE ESPACIAIS COMO DESDOBRAMENTOS IMPORTANTES NO DEBATE SOBRECIDADES PEQUENAS E MDIAS
105 CONCLUSO
105 REFERNCIAS
109 A PROPOSIO DO CONCEITO DE CENTRALIDADE CULTURAL E A PROMOO DEEVENTOS FESTIVOS COMO ESTRATGIA DE TURISTIFICAO DE PEQUENAS CIDADES:REFLEXES A PARTIR DE ALGUNS ESTUDOS DE CASOSJanio Roque Barros de Castro
109 INTRODUO
110 CULTURA E ESPAO URBANO: UMA APRECIAO PRELIMINAR
113 AS PROPOSIES DE TURISTIFICAO E A QUESTO DA CENTRALIDADE CULTURAL: O CASO DACIDADE DE CACHOEIRA
116 A RETRICA INSTITUCIONAL E VALORIZAO DA QUESTO CULTURAL NAS CIDADES DE AMARGOSA ECRUZ DAS ALMAS
118 A ESPETACULARIZAO DAS FESTAS JUNINAS NO ESPAO URBANO E AS PROPOSIES DETURISTIFICAO DE PEQUENAS CIDADES DO RECNCAVO BAIANO
121 REFLEXES FINAIS
122 REFERNCIAS
125 URBANIZAO E MODERNIZAO INDUSTRIAL DAS CIDADES MDIAS DA BAHIA: UMOLHAR SOBRE FEIRA DE SANTANANacelice Barbosa Freitas
125 REFLEXES INICIAIS
127 FORMAO TERRITORIAL DE FEIRA DE SANTANA: A CONSOLIDAO DA CIDADE MDIA129 URBANIZAO E DINMICA POPULACIONAL DAS CIDADES MDIAS: FEIRA DE SANTANA COMO FOCO
DA ANLISE
135 MODERNIZAO INDUSTRIAL, DESENVOLVIMENTO E DINMICA TERRITORIAL EM FEIRA DE SANTANA
139 CONSIDERAES FINAIS
141 REFERNCIAS
PARTE III PROCESSOS DE URBANIZAO E O PLANEJAMENTO/GESTO DAS CIDADES MDIAS E
PEQUENAS DA BAHIA
145 A ELABORAO DE PLANOS DIRETORES MUNICIPAIS COMO POLTICA PBLICA DE
DESENVOLVIMENTO: QUATRO EXPERINCIAS RECENTES EM MUNICPIOS BAIANOSFbio Moura Costa
145 INTRODUO
147 PARTICIPAO POPULAR E O PROCESSO DE ELABORAO DOS PLANOS
154 O CONTEDO DOS PLANOS: PRINCIPAIS ASPECTOS
160 CONSIDERAES FINAIS
162 REFERNCIAS
163 URBANIZAO E GESTO URBANA NO SUL DA BAHIA: O PREDOMNIO DAAGLOMERAO DE ITABUNAILHUS NA REDE URBANA REGIONALGilmar Alves Trindade
163 CONSIDERAES INICIAIS
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166 CIDADE, REDE E REGIO NO SUL DA BAHIA: A GNESE DO PREDOMNIO REGIONAL DE ILHUS EITABUNA
169 FIXOS E FLUXOS RELACIONADOS PRODUO DE CACAU E GNESE DA REDE URBANA REGIONAL
171 A CONSOLIDAO DE ITABUNA COMO O MAIS IMPORTANTE ENTROCAMENTO RODOVIRIO NA REGIO
174 ADOTANDO UM CONCEITO DE CIDADE MDIA PARA AMPLIAR A ANLISE DAS FUNES EXERCIDASREGIONALMENTE POR ITABUNA E ILHUS NO SUL DA BAHIA
179 UM BREVE AGENDAMENTO SOBRE GESTO URBANA E PLANEJAMENTO NA MICRORREGIOITABUNAILHUS: AO SE CONSIDERAREM O NVEL E A QUANTIDADE DE INFORMAES DISPONVEISATUALMENTE, PERCEBESE QUE AS PRTICAS RECENTES INDICAM MAIS RECUOS QUE AVANOS
181 REFERNCIAS
PARTE IV AS RELAES CAMPOCIDADE: POSSIBILIDADES DE ANLISE E METODOLOGIAS
187 CAMPO E CIDADE. CIDADES MDIAS E PEQUENAS. ALGUMAS PROPOSIES PARA A
PESQUISA E O DEBATEArthur Magon Whitacker
187 APRESENTAO
187 PARA INICIAR O DEBATE187 Proposies analticas189 Recortes
190 POSSIBILIDADES DE ANLISE E METODOLOGIAS190 Cidade e Campo192 As cidades mdias e pequenas
193 PARA FINALIZAR
194 REFERNCIAS
195 RELAO CAMPOCIDADE: EM BUSCA DE UMA LEITURA DIALTICA PARA ACOMPREENSO DESSES ESPAOS NA ATUALIDADESuzane Tosta Souza
206 REFERNCIAS
209 QUESTES INICIAIS PARA O ESTUDO DAS RELAES CAMPOCIDADE NA BAHIA:PROCESSOS E INDICADORESPatricia Chame Dias
209 OBSERVAES PRELIMINARES
212 INDUSTRIALIZAO, URBANIZAO E RELAES CIDADECAMPO: PROCESSOS GERAIS
214 ALGUMAS CARACTERSTICAS DO URBANO DA BAHIA: PROCESSOS E INDICADORES
224 PARA FINALIZAR...225 REFERNCIAS
ENCERRAMENTO
229 CIDADES MDIAS E PEQUENAS: REFLEXES SOBRE OS DESAFIOS NO ESTUDO DESSASREALIDADES SOCIOESPACIAISBeatriz Ribeiro Soares e Ngela Aparecida de Melo
229 INTRODUO
232 O ESTUDO DAS CIDADES MDIAS NO BRASIL: EVOLUO E APONTAMENTOS PARA SUA ANLISE
236 PEQUENA CIDADE: UMA NOO EM CONSTRUO
246 CONSIDERAES FINAIS
247 REFERNCIAS
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APRESENTAO
Em novembro de 2009, realizou-se em Salvador o I Simpsio Cidades Mdias e Pequenas da
Bahia, numa promoo conjunta entre o Departamento de Geografia e o Mestrado em Geo-grafia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Departamento de Geografia da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o Departamento de Cincias Humanas da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB) e a Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia
(SEI). O sucesso do evento, resultante das parcerias estabelecidas para sua realizao, culmina
agora com a publicao, pela SEI, dos textos apresentados nas conferncias e mesas-redondas
daquele simpsio. , portanto, com satisfao que a SEI, cumprindo sua misso de informar,
entrega ao pblico mais um nmero da Srie Estudos e Pesquisas, este dedicado ao tema
cidades mdias e pequenas da Bahia.
As pesquisas sobre cidades mdias e pequenas vm ganhando repercusso na produo
acadmica brasileira, fruto da interiorizao dos cursos de graduao e ps-graduao, bem
como do prprio processo nacional de urbanizao, no qual tais cidades apresentam desta-
ques significativos nas dinmicas econmicas, demogrficas e culturais.
Na Bahia, alguns professores e pesquisadores j trabalhavam isoladamente com a temtica
dessas cidades, com destaque para os grupos de pesquisa CiTePlan, da UFBA; Urbanizao e
Produo de Cidades da Bahia, da UESB; Recncavo, da UNEB, e da Coordenao de Pesquisas
Sociais, da SEI. De modo a integrar essas instituies, pessoas e pesquisas, surgiu a ideia da
organizao do simpsio como proposta de diagnosticar a produo das instituies baianas
sobre diversas temticas que tivessem locusnas cidades mdias e pequenas da Bahia, para,
a partir desta visualizao inicial, serem pensadas conjuntamente, estratgias de pesquisas
em rede, integrando esses diversos grupos e instituies.
Em um primeiro diagnstico, o evento superou todas as expectativas, recebendo mais de 110
trabalhos para serem avaliados, originrios de 23 diferentes instituies, no s da Bahia, mas
de outros quatro estados. Do material recebido, 54 trabalhos completos foram aceitos pela
comisso cientfica, para apresentao em espaos de dilogo, e 31 trabalhos em andamento
foram apresentados como painel. Assim, iniciou-se um dialgo no apenas estadual, mas
tambm no mbito regional e nacional, buscando inclusive contatos com os participantes
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da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Mdias (ReCiMe), que j possuem uma produo
acadmica consolidada no pas.
A publicao deste nmero da Srie Estudos e Pesquisas, pela SEI, se configura como umimportante passo para a constituio de uma rede de pesquisadores de diversas disciplinas
sobre as cidades mdias e pequenas da Bahia, bem como lana vrios desafios para estes
grupos, partindo do aprofundamento das questes tericas e metodolgicas que perpassam
estes estudos, at a articulao e discusso com pesquisadores de todo o pas e, no futuro,
do exterior.
A organizao da publicao segue a estrutura do simpsio, que teve duas conferncias
proferidas por professoras e pesquisadoras da ReCiMe e quatro mesas-redondas com 11
professores e pesquisadores das instituies baianas e um convidado de So Paulo.
Inicia-se a publicao com o texto relativo conferncia de abertura, Cidades mdias e
pequenas do Nordeste, de Doralice Styro Maia, no qual a professora resgata os conceitos de
cidades mdias e pequenas no contexto geogrfico, bem como apresenta as controvrsias
que envolvem as discusses sobre elas, buscando superar a ideia de contingente populacional
como indicador determinante para as funes que desempenham. Ademais, com o auxlio
de cartogramas e dados da ReCiMe, apresenta um quadro geral das cidades do Nordeste,
destacando as pequenas cidades, bem como, a partir da anlise do trabalho Regies de influ-
ncia das cidades, tambm conhecido como Regic (IBGE, 2007), apresenta suas respectivas
reas de influncia.
Trs textos fizeram parte da primeira mesa-redonda do evento (Parte I), intitulada Pensando
as mdias e pequenas cidades da Bahia. O primeiro, A inflexo ruralurbano e a zona crtica.
Diferenas e repeties na produo do espao urbano de cidades pequenas e mdias, de Wendel
Henrique, apresenta, a partir das contribuies de Henri Lefebvre, uma discusso terica sobre
as repeties e singularidades no processo de produo do espao urbano em cidades mdias
e pequenas, buscando compreender, no mesmo perodo histrico, como diversas cidades
coexistem em diferentes planos do processo de urbanizao da sociedade, finalizando com
uma proposta metodolgica conceitual para os estudos referentes produo do espao
urbano nas cidades mdias e pequenas, com destaque para a expanso do sistema de edu-
cao superior presencial e a distncia.
Janio Santos, em seu texto A natureza contraditria da urbanizao no contexto de maior
complexidade na produo das cidades baianas, trata das transformaes que esto ocor-
rendo na produo do espao das cidades baianas a partir do processo de urbanizao. O
autor tambm discute questes referentes aos espaos intraurbanos das cidades mdias e
pequenas baianas, como os processos de verticalizao e de proliferao de condomnios
fechados, entre outros aspectos.
O texto de Diva M. Ferlin Lopes, Cidades pequenas do semirido: dinmicas sociodemogrficas
e marginalizao, traz para o debate uma caracterizao de cidades baianas localizadas na
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regio do semirido, colocando em foco as ideias de isolamento, pobreza e carncia, mas que
so situaes criadoras do que a autora denomina de urbano possvel para essas cidades.
Como o ttulo O papel das cidades mdias e pequenas: rediscutindo os agentes e suas prticasna interface local/regional, a segunda mesa-redonda (Parte II) tambm contou com trs
participantes. O primeiro texto, Cidades pequenas e mdias: reflexes tericas e aplicadas, de
autoria de Sylvio Bandeira de Melo e Silva, discute os fundamentos tericos dos estudos
sobre as cidades e suas articulaes regionais, com destaque para as contribuies de Walter
Christaller e suas repercusses sobre os temas das centralidades e redes urbanas, articuladas
hierarquicamente. O autor ainda contempla em seu texto os desdobramentos e aplicaes
das teorias no pensamento geogrfico brasileiro, mais especificamente nos estudos sobre a
cidade e a regio, bem como nos estudos sobre a Bahia.
J o texto de Janio Roque Castro,A proposio do conceito de centralidade cultural e a promoode eventos festivos como estratgia de turistificao de pequenas cidades: reflexes a partir de
alguns estudos de caso, trata da inverso da estrutura hierrquica dos estudos, denominados
pelo autor como tradicionais, trazendo para o centro da discusso os acontecimentos das
cidades pequenas e as centralidades culturais que estas passam a desempenhar nos novos
desenhos das redes urbanas, finalizando seu texto com um estudo de caso sobre a turistifi-
cao da cultura em Cachoeira/BA.
O terceiro texto deste bloco o de Nacelice Barbosa Freitas intitulado Urbanizao e moder-
nizao industrial das cidades mdias da Bahia: um olhar sobre Feira de Santana. A autora parte
de uma anlise das discusses sobre as cidades mdias para caracterizar os processos atuaisem Feira de Santana e sua articulao regional e estadual, motivados e consolidados por sua
industrializao.
Os textos seguintes (Parte III) se referem mesa-redonda Processos de urbanizao e o plane-
jamento/gesto das cidades mdias e pequenas da Bahia. O primeiro, A elaborao de planos
diretores municipais como poltica pblica de desenvolvimento: quatro experincias recentes em
municpios baianos, de autoria de Fbio Moura Costa, trata da elaborao de planos diretores
de alguns municpios da Bahia, com destaque para os elementos obrigatrios definidos pelo
Estatuto da Cidade, dentre os quais: a participao popular, gesto democrtica da cidade e
contedos inerentes aos planos de Barra do Choa, Tremedal e Morro do Chapu.
O texto de Gilmar Alves Trindade, com o ttulo Urbanizao e gesto urbana no sul da Bahia: o
predomnio da aglomerao de ItabunaIlhus na rede urbana regional, trata da insero regional
de Ilhus e de Itabuna na rede urbana regional do sul baiano, destacando os fluxos que pos-
sibilitaram e possibilitam os papis de articulao exercidos pelas duas cidades, entendidas
como os ns da rede urbana regional. O autor finaliza com uma discusso sobre a gesto do
territrio nestas localidades, a qual permanece centrada nas aes do Poder Executivo.
A ltima mesa-redonda (Parte IV) teve como ttulo As relaes campocidade: possibilidades
de anlise e metodologiase o primeiro texto foi elaborado por Arthur Magon Whitacker,
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versando sobre Campo e cidade. Cidades mdias e pequenas. Algumas proposies para a
pesquisa e o debate. Nesse texto, o autor apresenta, a partir de ideias trabalhadas por Henri
Lefebvre, uma discusso sobre os conceitos de urbano e rural e de campo e cidade, especifi-camente relacionados s cidades mdias e pequenas, os quais se apresentam como distintos
e complementares.
O texto de Suzane Tosta Souza, Relao campocidade: em busca de uma leitura dialtica para a
compreenso desses espaos na atualidade, discute a dialtica existente entre estes dois pares,
buscando superar a dicotomia de algumas anlises que colocam a cidade como lugar do
desenvolvimento e o campo como o locusdo atraso, partindo das caractersticas intrnsecas
ao modo de produo capitalista e sua ao tanto na cidade quanto no campo, tendo como
objetivos de anlise o trabalho/trabalhador e o Estado.
O texto Questes iniciais para o estudo das relaes campocidade na Bahia: processos e indi-cadores, de Patricia Chame Dias, trata, a partir de indicadores, do processo de urbanizao
da Bahia e das relaes entre a cidade e o campo, destacando as definies de cidade e de
urbanizao para analisar a evoluo da urbanizao da Bahia, a distribuio dos municpios
por tamanho de populao e por ocupao em setores produtivos, entre outros processos.
Para finalizar, o texto de Beatriz Ribeiro Soares e Ngela Aparecida de Melo, da conferncia de
de encerramento, intitulado Cidades mdias e pequenas: reflexes sobre os desafios no estudo
dessas realidades socioespaciais, busca sintetizar os processos e transformaes do espao
urbano brasileiro nas ltimas dcadas, destacando a incorporao dos estudos sobre as
cidades mdias e pequenas nas agendas das pesquisas brasileiras. As autoras ainda elaboramuma memria da estruturao da ReCiMe e a importncia desses estudos para a discusso e o
amadurecimento de conceitos ainda to polmicos quanto os de cidade mdia e pequena.
Assim, com esta coletnea de textos, espera-se contribuir para estimular ainda mais as pesqui-
sas que tm como base emprica as cidades mdias e pequenas, bem como indicar caminhos
para o avano das proposies tericas e metodolgicas dos estudos sobre essas cidades.
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ABERTURA
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CIDADES MDIAS E PEQUENAS DO NORDESTE:CONFERNCIA DE ABERTURA
Doralice Styro Maia*
Casas entre bananeirasmulheres entre laranjeiraspomar amor cantar.Um homem vai devagar.Um cachorro vai devagar.Um burro vai devagar.Devagar... as janelas olham.Eta vida besta, meu Deus.
Carlos Drummond de Andrade.Cidadezinha qualquer (1930)
As linhas que se seguem no foram escritas em um nico momento, resultam de uma srie de
fragmentos de ideias que foram se somando em funo das pesquisas realizadas e tambm
das oportunidades em apresentaes em eventos diversos. Como j escrito em artigo anterior
(MAIA, 2009), o presente interesse pelo estudo das cidades mdias e pequenas decorre tanto de
trabalhos anteriores a este, como da orientao de pesquisas para concluso de monografias do
curso de Geografia e, ainda, de dissertaes de mestrado do Programa de Ps-Graduao em
Geografia da Universidade Federal da Paraba. Assim, a soma dessas prticas que impulsiona
este olhar e esta reflexo sobre as cidades mdias e pequenas do Nordeste brasileiro.
Uma observao treinada ou um olhar domesticado teoricamente acontece quando nos
sentimos preparados para a investigao emprica e o objeto, sobre o qual dirigimos nosso
olhar, j foi previamente alterado pelo prprio modo de visualiz-lo (OLIVEIRA, 1998, p.17).
Pelo exposto, procura-se, neste artigo, expor algumas ideias anteriormente apresentadas,
agora reunidas a outras experincias e observaes. Inicialmente sero resgatados alguns
trabalhos realizados por gegrafos que abordaram a temtica aqui central: a das cidades
mdias e pequenas no Brasil. Em seguida sero expostas as ideias que fundamentam a pes-
quisa sobre este tema para, posteriormente, se apresentarem alguns dados e informaes a
respeito das cidades mdias e pequenas no Nordeste brasileiro.
AS CIDADES MDIAS E PEQUENAS NOS ESTUDOS GEOGRFICOS
O tema central deste estudo traz tona abordagens bastante conhecidas no fazer geogrfico
e principalmente nos estudos de Geografia Urbana. Desde relatrios e descries de viagens e
* Ps-doutora em Geografia Humana pela Universidad de Barcelona; doutora em Geografia Humana p ela Universidadede So Paulo (USP); professora do Programa de Ps-graduao em Geografia e do Programa de Ps-graduao em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraba (UFPB). doralicemaia@hotmail.com
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CIDADESMDIASEPEQUENASDABAHIA:TEORIAS, CONCEITOSEESTUDOSDECASO
trabalhos de campo a interpretaes sobre sistema e rede urbana, as cidades mdias e peque-
nas so objeto de interesse para o conhecimento geogrfico. Pode-se acordar que, no Brasil,
o trabalho precursor O estudo geogrfico das cidades, de Pierre Monbeig (1957), que seconstitui em uma matriz metodolgica, dando origem s denominadas monografias urbanas.
Dessa forma, o estudo geogrfico das cidades deveria ser o resultado final da superao de
uma srie de etapas metodolgicas, cada uma direcionada observao e obteno (in loco
ou a partir de fontes secundrias) dos dados exigidos para a elaborao de cada segmento
da monografia (ABREU, 1994, p. 208).
Os resultados da pesquisa elaborada por Mauricio de Abreu mostram uma srie de trabalhos
que seguem a metodologia das monografias urbanas proposta por Monbeig que foram
apresentados e aprovados em reunies da Associao dos Gegrafos Brasileiros. Trabalhos
sobre diversas cidades brasileiras em todas as regies, tais como os estudos sobre Diamantina,por Bernardes; So Luiz do Maranho, por Azevedo; Londrina, por Prandini; Cataguases, por
Cardoso; Crato, por Petrone; Ponta Grossa, por Santos; Teresina, por Moreira; Marab, por
Dias; Aracaju, por Diniz (e tambm por Castro), entre outros (ABREU, 1994, p. 221). H ainda
trabalhos que no se constituram em monografias, mas que primam pelo estudo das cidades
brasileiras, alguns priorizando a funo, a exemplo dos trabalhos de Azevedo sobre Juazeiro
e Petrolina e dos de Peluso Jnior sobre as vilas do estado de Santa Catarina e tambm um
outro sobre Lajes (SC). Esses estudos revelam, mesmo que em perspectivas diferentes, a
diversidade das cidades, que pontuavam o territrio brasileiro. Tais pesquisas so de grande
valor para se entender o processo de urbanizao brasileiro e em especial a dinmica do
quadro das cidades mdias e pequenas.
Alm desses estudos, no se pode deixar de registrar os clssicos da Geografia Urbana Bra-
sileira: o artigo Vilas e cidades do Brasil Colonial, de Aroldo de Azevedo (1957); as vrias
publicaes na Revista Brasileira de Geografia, com textos de Fany Davidovich, Pedro Pinchas
Geiger, Sperido Faissol, Roberto Lobato Corra, entre outros; o captulo Cidades locais, do
livro Espao e Sociedade, de Milton Santos (1979); a obra O Brasil: territrio e sociedade no incio
do sculo XXI, de Santos e Silveira (2003); o livro A Rede Urbana(1989) e os vrios artigos de
Roberto Lobato Corra, alm do captulo Uma tcnica de pesquisa no estudo de pequenas
cidades, do livro O Espao Fora do Lugar, de Armando Corra da Silva (1978).
Na histria do pensamento da Geografia Urbana Brasileira, segundo Abreu (1994) e Vasconcelos
(1994), h, a partir dos anos 1950 e com maior intensidade na dcada de 1970, uma srie de estu-
dos que priorizam as redes urbanas, conduzindo a ateno dos estudiosos para o interurbano
em detrimento do intraurbano. As razes para esse interesse foram apresentadas por Roberto
Lobato Corra (1989), que destaca a demanda das instituies de planejamento territorial e
regional. Posteriormente, com o advento da Geografia Crtica, os estudos geogrficos urbanos
adotaram outra perspectiva metodolgica, passando para a anlise da produo do espao
urbano, dos agentes produtores do espao, das contradies socioespaciais, dos movimentos
sociais urbanos, da especulao imobiliria, entre outros. Nesse perodo de intensificao do
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CIDADESMDIASEPEQUENASDONORDESTEABERTURA
processo de urbanizao brasileiro, as disparidades, as desigualdades e tambm as concen-
traes ganham maiores propores, o que ir despertar maior interesse pela anlise da rede
e hierarquia urbana, bem como pelo processo de metropolizao. Urge a necessidade por sedesvendarem as contradies do espao urbano. Assim, vrias so as pesquisas, teses, disser-
taes e diversos artigos que se produzem fundamentados na perspectiva crtica ou com base
no Materialismo Histrico e Dialtico. Tais estudos modificam por completo a perspectiva de
anlise e, neste movimento, as contribuies de autores estrangeiros como Castells e Harvey
foram fundamentais. Entretanto, todo esse iderio ganha forte dimenso na Geografia Urbana
Brasileira que, a partir de autores como Milton Santos, Roberto Lobato Corra, Ariovaldo Umbe-
lino de Oliveira, Ana Fani A. Carlos, Arlete Moyss Rodrigues, Odette Seabra, entre outros, ganha
uma outra dimenso e, mais recentemente, aporta-se em outras perspectivas metodolgicas
sem perder de vista a anlise crtica, como bem o faz Marcelo Lopes de Souza.Toda a riqueza dos estudos realizados pelos autores acima elencados teve como principal
objeto de anlise a metrpole, o que se revela nos simpsios de geografia urbana que passam
a ocorrer a partir de 1989. Do conjunto de discusses apresentadas e do aparecimento de um
maior nmero de pesquisadores sobre realidades no metropolitanas, comea-se a indagar
se todo o conhecimento ou as ideias e reflexes feitas a partir da metrpole podem ser tra-
duzidas para as cidades de escalas diferentes. H ento, a partir dos anos 1990, um acmulo
de trabalhos sobre cidades no metropolitanas que comeam a instigar pesquisadores a pen-
sarem sobre outras realidades, a exemplo dos trabalhos de Maria Encarnao Beltro Sposito
(1993) e de Tnia Maria Fresca (2001) e de vrias teses defendidas nos primeiros programas
de doutorado do Brasil, tanto na Universidade de So Paulo como na Universidade Federal
do Rio de Janeiro. O fato que as metrpoles tm provocado grandes discusses tericas e
metodolgicas, mesmo porque os novos acontecimentos e os grandes problemas normalmente
surgem e esto sempre ocorrendo nestes espaos. Como afirma Sposito (2009, p. 30),
[...] as metrpoles so entidades espaciais to complexas que, em si, o
dentro to pleno j de questes, ele to depositrio do conjunto da
realidade econmica social e poltica, que ele quase se basta, no sentido
de oferecer elementos em quantidade e qualidade suficientes para com-
preender o quadro nas macro e nas micro determinaes.
Alm disso, no h como contestar a importncia destacada dos estudos sobre a metrpole,
no s pelo maior nmero de trabalhos desenvolvidos, pela maior concentrao de programas
de ps-graduao localizados nas metrpoles, como tambm pelo fato de que os problemas
se evidenciam nas metrpoles e geram muito mais pesquisas sobre elas (SPOSITO, 2009,
p. 40). Contudo, uma pergunta se faz presente em alguns fruns: ser que as teorias e as
metodologias utilizadas nos estudos das metrpoles cabem na anlise das mdias e peque-
nas cidades, ou mesmo das cidades no metropolitanas? Ou, o estudo das cidades mdias
e pequenas merece uma discusso particular sem, no entanto, perder de vista a noo de
totalidade do fenmeno urbano?
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Assim, sentimos necessidade de compreender as cidades mdias e pequenas brasileiras no
como um conhecimento parte do processo de urbanizao, ou da totalidade, mas sim como
particularidades e singularidades. Para tanto necessitamos dissec-las, decomp-las e analis-las, sem perder de vista a forma e o contedo. Portanto, o que se pretende contribuir com o
debate e com o conhecimento do Brasil urbano, partindo do que est na outra extremidade
desse processo, ou seja, do que se configura como pequenas e mdias cidades, ou do que
no se configura como grandes aglomeraes urbanas.
EM BUSCA DO ENTENDIMENTO DE CIDADES MDIAS E PEQUENAS
Ao se adjetivar o substantivo cidade com a palavra mdia e/ou pequena faz-se meno aotamanho da cidade que, por sua vez, conduz ao estudo das redes e hierarquias urbanas1. Cidade
pequena se contraporia cidade grande. E cidade mdia seria aquela que est entre uma e
outra, ou seja, teria uma dimenso intermediria. Ao se pretender averiguar o tamanho seja
da malha urbana, seja do contingente populacional, necessita-se fazer uma medio, uma
aferio do tamanho da cidade e/ou do contingente populacional. Tais dados so fornecidos
pelas instituies de estatsticas. Geralmente os estudos funcionais ou que priorizam o sistema
hierrquico das cidades usam terminologias similares s de cidades pequenas, mdias e gran-
des. Para tanto, tomam como base os dados referentes a seus contingentes populacionais.
Assim, na classe de cidades pequenas inserem-se aquelas que possuem at 20 mil habitantes;
acima deste montante so classificadas como cidades mdias e aquelas com mais de 500 milhabitantes so consideradas cidades grandes. Este critrio, com algumas variantes, tem sido
adotado pelas instituies de estudos estatsticos.
De fato, a adjetivao como mdia e pequena conduz escala de grandeza. Sendo este o
entendimento, nada mais significativo do que o contingente populacional. Porm, como
expressa Maria Encarnao Sposito (2009), h que se empreender um esforo para superar
a adoo desses adjetivos de pequenas e mdias, cidades pequenas e cidades mdias, uma
vez que no so suficientes para caracterizar as cidades no metropolitanas. Complementa
a autora: a realidade das cidades pequenas e mdias extremamente plural para que se
continue adotando, no plano terico-conceitual, esses dois adjetivos. Portanto, precisorepensar essas expresses para que se chegue a denominaes que traduzam o contedo das
realidades analisadas. Sposito (2009, p. 13-14) questiona: Ser que essas duas expresses so
boas para designar um tipo, um padro, um conjunto de cidades que desempenham vrios
e diferentes papis numa diviso de trabalho que se estabelece?.
Assim, no se pode deixar de considerar a contagem populacional quando se quer pensar
sobre o que se denomina de pequenas e mdias cidades, mas o que se afirma que este
1 Como mencionado anteriormente, vrios so os estudos sobre rede e hierarquia urbana, destacando-se aqueles
produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.
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dado no traduz a dinmica do conjunto de cidades estudadas ou mesmo no sinnimo de
uma dada realidade. Pois, mesmo que se considere um intervalo de nmero de habitantes, h
ainda muita discrepncia entre estes espaos, em outras palavras, considerando-se o territriobrasileiro, uma cidade com 100 mil habitantes no interior do estado da Bahia no igual a
uma cidade com o mesmo contingente populacional no estado de So Paulo, por exemplo.
Tais discrepncias e dificuldades metodolgicas, que se traduzem inclusive no conceito de
cidade, j foram discutidas por Marcelo Lopes de Souza (2003, p. 30-31):
[...] Uma cidade mdia em uma regio pobre, como o Nordeste brasileiro,
tender a no apresentar comrcio e servios to diversificados e sofisticados
quanto uma cidade de mesmo porte em uma regio mais prspera, com
uma presena bem mais expressiva de estratos de renda mdios, como o
interior de So Paulo ou o Sul do pas, por exemplo.
A partir dos dados populacionais, sem dvida esses aglomerados estariam na posio inferior
dentro da hierarquia urbana. Porm, os estudos sobre rede urbana tm apontado para outros
itens fundamentais para a anlise da rede e da hierarquia urbana. Roberto Lobato Corra
destaca algumas linhas de diferenciao para o estudo da rede urbana: origem, tamanho e
funes. A origem inclui o contexto econmico e poltico e os agentes sociais das criaes
urbanas, o tamanho varia de acordo com o nmero de habitantes ou segundo agregados
econmicos distintos, como o valor da produo industrial e da receita do comrcio e ser-
vios e a renda de seus habitantes (CORRA, 2003, p. 134-135).
Milton Santos (1982) em Espao e Sociedadeescreve um captulo intitulado As cidades locais
no Terceiro Mundo. O autor inicia argumentando que a maioria dos estudos urbanos em
pases subdesenvolvidos se interessa de preferncia pelas grandes cidades, principalmente
pelo fenmeno da macrocefalia. Porm, se prestssemos ateno s estatsticas, bem como
realidade, diz o autor, vemos perfilar-se outro fenmeno urbano, o das cidades locaisque, a
nosso ver, merece tanto interesse quanto o precedente (SANTOS, 1982, p. 69). O autor continua
afirmando que essas cidades so mais comumente denominadas na literatura especializada
por cidades pequenas, mas que ele opta pela nomenclatura cidades locaispor uma srie de
motivos. Seu primeiro argumento exatamente o critrio do nmero de populao. Aceitar
um nmero mnimo, como o fizeram diversos pases e tambm as Naes Unidas, para carac-terizar diferentes tipos de cidade no mundo inteiro, incorrer no perigo de uma generalizao
perigosa (SANTOS, 1982, p. 69-70). Santos, ento, passa a discutir a possibilidade de se falar
em verdadeiras cidades e pseudocidades. Sobre estas ltimas ter-se-ia que distinguir as
suas relaes com o meio ambiente e assim haveria
[...] pseudocidades inteiramente dependentes das atividades de produo
primria, como as cidades mineiras ou as grandes aldeias, e mesmo de ativi-
dades no primrias, como algumas cidades industriais ou cidades religiosas,
universitrias, balnerias, de montanha (serranas) etc. Mas tambm existem
as pseudocidades engastadas em zonas de influncia imediata de grandes
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cidades e que fazem parte de sua aglomerao, com parques industriais
ou cidades-dormitrio (SANTOS, 1982, p.70).
Mas essas pseudocidades, para Santos, no seriam as cidades locais. Pois, as cidades locais dis-pem de uma atividade polarizante e, dadas as funes que elas exercem em primeiro nvel,
poderamos quase falar de cidades de subsistncia. Com esta conclusiva, o autor resolve melhor
defini-las. Assim, Santos utiliza o termo cidades locais para designar os aglomerados popula-
cionais com uma dimenso mnima, que deixam de servir s necessidades da atividade primria
para servir s necessidades inadiveis da populao com verdadeiras especializaes do espao
e que apresentam um crescimento autossustentado e um domnio territorial, respondendo s
necessidades vitais mnimas, reais ou criadas de toda uma populao, funo esta que implica
em uma vida de relaes (SANTOS, 1982, p.71). Ao aprofundar a discusso, Milton Santos explica
que o fenmeno da cidade local acha-se ligado s transformaes do modelo de consumo domundo, sob o impacto da modernizao tecnolgica, da mesma forma que as metrpoles so
o resultado dos novos modelos de produo (SANTOS, 1982, p. 72). Aps esta explanao fica
evidente o uso do termo cidade localpara aquela localizada em regies que se modernizaram
ou que apresentam transformaes espaciais em funo dos avanos tecnolgicos.
A perspectiva apontada por Milton Santos em Espao e Sociedade, qual seja a da anlise das
cidades em regies modernizadas, especialmente aquelas que atendem s solicitaes da
agricultura tecnolgica, torna-se mais evidente quando lemos outra obra do referido autor,
publicada em 1993,A Urbanizao Brasileira. Nesta, Santos analisa o processo de urbanizao
brasileira a partir do movimento do meio tcnico-cientfico, esclarecendo que
[...] proporo que o campo se moderniza, requerendo mquinas, im-
plementos, componentes, insumos materiais e intelectuais indispensveis
produo, ao crdito, administrao pblica e privada, o mecanismo
territorial da oferta e da demanda de bens e servios tende a ser subs-
tancialmente diferente da fase precedente (SANTOS, 1993, p. 50).
Com esse entendimento afirma haver a modificao do sistema urbano, dada pela presena
de indstrias agrcolas no urbanas, freqentemente firmas hegemnicas, dotadas no s da
capacidade extremamente grande de adaptao conjuntura, como da fora de transformao
da estrutura, porque tm o poder da mudana tecnolgica e de transformao institucional(SANTOS, 1993, p.50). Como resultado de todo este processo transformador, haver, para
Santos, tambm mudanas no contedo das denominadas cidades locais.
Antes, eram as cidades dos notveis, hoje se transformam em cidades
econmicas. A cidade dos notveis, onde as personalidades notveis
eram o padre, o tabelio, a professora primria, o juiz, o promotor, o
telegrafista, cede lugar cidade econmica, onde so imprescindveis
o agrnomo (o que antes vivia nas capitais), o veterinrio, o bancrio, o
piloto agrcola, o especialista em adubos, o responsvel pelos comrcios
especializados (SANTOS, 1993, p. 51).
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Dessa forma, afirma o referido autor, A cidade torna-se o locusda regulao do que se faz no
campo. ela que assegura a nova cooperao imposta pela nova diviso do trabalho agrcola,
porque obrigada a se aperfeioar s exigncias do campo, respondendo s suas demandas cadavez mais prementes e dando-lhes respostas cada vez mais imediatas (SANTOS, 1993, p. 51).
As reflexes e constataes acima expostas trazem novos elementos para a compreenso da
urbanizao brasileira, inclusive para o entendimento das cidades locais, ou mesmo das cidades
pequenas.Houve sim grandes transformaes no espao agrrio brasileiro em decorrncia
das inovaes tecnolgicas, das alteraes nas relaes de produo e de trabalho provo-
cando, por sua vez, mudanas no quadro urbano brasileiro. Milton Santos d continuidade a
suas anlises em outra obra que publica mais recentemente em co-autoria com Maria Laura
Silveira2. Neste livro, ao abordar o processo recente de urbanizao, os autores afirmam que
o nmero de cidades locaise sua fora aumentaram desde os anos 50 do sculo XX, masaprofundam a discusso a respeito das cidades com populao entre 20 e 500 mil habitantes,
por eles, denominadas de cidades mdias. Ainda no mesmo livro, os autores utilizam outra
denominao que merece destaque para nossa reflexo: cidade do campo. Santos e Silveira
(2003) atribuem a gradativa importncia dessas cidades ao papel por elas desempenhado ao
servirem de ponte entre o global e o local. As cidades passam a se especializar na oferta de
servios e bens necessrios produo regional.
Uma das tarefas da cidade no campo modernizado , pois, a oferta de
informao imediata e prxima a uma atividade agrcola que, nos
dias atuais, j no pode ser feita sem esse insumo, tornado indispens-
vel. s vezes a cidade produtora dessa informao, o que o caso, por
exemplo, das aglomeraes onde h instituies de ensino e de pesquisa
pura e aplicada. Todavia, na maior parte dos casos, cabe somente cidade
transferir para o mundo agrcola informaes especializadas, selecionadas
pelos interessados na sua difuso (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 281).
Merece ateno a utilizao da terminologia cidade do campo para tratar aquela cidade
que atende s demandas do campo modernizado. Explicam os autores:
De maneira geral, na cidade do campo, a produo regional acaba
por influir sobre as iniciativas dos agentes urbanos. As atividades defabricao e servios so, em geral, tributrias da atividade regional e,
desse modo, relativamente especializadas a partir dessa inspirao. Tal
especializao liga-se sobretudo s necessidades de resposta imediata
e prxima s necessidades da produo, da circulao, do intercmbio,
da informao dos agentes.
A produo urbana da resultante formada, de um lado, por agrcolas
que so urbano-residentes e por pessoas empenhadas em permitir a
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Livro O Brasil territrio e sociedade no incio do sculo XX.
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vida de relao. De um modo geral, tais localidades renem atividades e
profisses tradicionais e novas, abrigando tambm formas de burguesia
e de classes mdias tradicionais e modernas.
O tamanho da cidade do campo est em relao com a importncia da
demanda criada pelas circunstncias acima enumeradas e pela forma
como se d, numa rea mais ampla, a diviso territorial do trabalho
(SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 282.).
H, portanto, elementos tericos para a reflexo sobre as cidades pequenas brasileiras, mas
especialmente para aquelas situadas em reas modernizadas ou, como afirmou Santos,
cidades no campo modernizado (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 282). No que diz respeito s
cidades pequenas ou s localidades denominadas cidades, mas que apresentam pouca ou
quase nenhuma dinmica econmica, que no conseguem nem mesmo desempenhar umacentralidade em uma microrregio, as anotaes feitas por Santos so escassas. No livro A
Urbanizao Brasileira, o autor diz que onde a diviso do trabalho menos densa, em vez
de especializaes urbanas, h acumulao de funes numa mesma cidade e, consequen-
temente, as localidades do mesmo nvel, incluindo as cidades mdias, so mais distantes
umas das outras. O que mais fundamental nas suas assertivas sobre esta questo que
h, cada vez mais, uma grande diferenciao entre os tipos urbanos, no se podendo mais
entender a rede urbana a partir do tamanho das cidades, j que cada cidade diferente da
outra (SANTOS, 1993, p.53).
De fato, cada cidade se apresenta com caractersticas prprias e isto vem se tornando maisevidente principalmente nas regies que absorvem maior incremento das novas tcnicas,
informaes etc. Mas h tambm um grande nmero de cidades que pouco apresenta de
inovaes e, mesmo, de capacidade de suprir a populao do prprio municpio com a
oferta de servios e produtos necessrios. Estes ncleos estariam mais prximos da categoria
povoado do que cidade. A partir da exposio das ideias de Santos, fica a interrogao:
como caracterizar estes espaos? Pois eles no se inserem naquilo que o autor denominou
de cidades locaise nem mesmo naspseudocidades, caso se queira acostar em suas definies.
Como ento denomin-los e principalmente, como entend-los?
Nos ltimos anos, algumas pesquisas, inclusive teses e dissertaes, foram realizadas e reve-laram a diversidade do que se pode caracterizar como cidades pequenas e mdias. O esforo
em se superar tais nomenclaturas tem sido realizado, entretanto, ainda no se pode apontar
para outra denominao que caminhe para um conceito. Da a manuteno dos nomes clas-
sificatrios. Beatriz Soares e Ngela Aparecida de Melo (2009, p. 36) expem as contribuies
de diversos autores sobre os estudos das cidades pequenas e concluem:
Em sntese, as pequenas cidades no Brasil, entendidas enquanto espa-
cialidades que compem a totalidade do espao brasileiro, na condio
de partes integrantes e interagentes, so marcadas pela diversidade. Tal
caracterstica pode ser entendida a partir do contexto regional em que
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esto inseridas, pelos processos promotores de sua gnese, bem como
no conjunto de sua formao espacial.
J no que se refere s denominadas cidades mdias, vale ressaltar a distino feita a cidade deporte mdio, pois reafirmando o que j se exps, embora o tamanho demogrfico seja um dado
importante, ele por si somente no caracteriza o que aqui se entende por cidade mdia. Maria
Encarnao Sposito e outros (2007) destacam o papel que a cidade desempenha regionalmente,
exercendo forte relao com a rea na qual est situada e pela concentrao e centralizao
econmica, tendo em vista a realidade regional. No mesmo sentido, Roberto Lobato Corra
(2007) chama a ateno para a concentrao da oferta de bens e servios para uma hinterlndia
regional e com atividades especializadas destinadas ao mercado nacional (CORRA, 2007).
Assim, destacam-se enquanto caractersticas de uma cidade mdia
[...] o papel de intermediao entre as pequenas e as grandes, ento so
cidades que comandam uma regio, que polarizam uma regio, que cres-
cem em detrimento da sua prpria regio ou crescem em funo da sua
prpria regio, as duas coisas acontecem. Cidades mdias que ampliam
seus papis, porque diminuem os papis das cidades pequenas a partir de
uma srie de mecanismos econmicos, ou cidades que, em funo do tipo
de atividade que tm, das lideranas que ali se encontram, so capazes de
crescer e propor um projeto ou desempenhar um papel poltico, econmico
e social de crescimento para toda uma regio (SPOSITO, 2009, p. 19).
Dessa forma, a noo de cidade mdia aqui adotada corresponde s cidades que apresentam
uma concentrao e centralizao econmicas expressivas, provocadas pela confluncia do
sistema de transporte, podendo ser reconfiguradas pela incorporao de novas atividades
do setor agropecurio que, por sua vez, redefinem a indstria, o comrcio e os servios. No
quadro urbano brasileiro, as cidades ora consideradas mdias, embora apresentem similari-
dades, revelam diferenas tanto em sua estrutura como em sua dinmica.
A intermediao uma das caractersticas do que se pode entender como cidade mdia;
a forte relao entre campo e cidade, que se torna evidente na cidade mdia e que se revela
como caracterstica intrnseca da cidade pequena, o que ser mostrado no ltimo tpico deste
artigo. Todavia, preciso agora expor as particularidades das cidades mdias e pequenas do
Nordeste brasileiro, tema central do debate proposto.
CIDADES MDIAS E PEQUENAS NO NORDESTE BRASILEIRO:APRESENTANDO UM QUADRO GERAL
No campo da Geografia Urbana, j se podem encontrar alguns estudos sobre cidades mdias
e pequenas no Nordeste brasileiro, desde pesquisas monogrficas e dissertaes a teses que
versam sobre temticas diversas. H, entretanto, um maior nmero de trabalhos que tratam
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especialmente das capitais nordestinas e, em seguida, das cidades que se destacam, como
Vitria da Conquista, Feria de Santana, Caruaru, Mossor, Campina Grande e Juazeiro. So
estudos que oferecem uma base fundamental para o entendimento dessas realidades par-ticulares, bem como do que se pode entender como cidade mdia na Regio Nordeste que,
embora apresente similaridades com outras cidades de outras regies brasileiras, apresenta
diversidades e, ao mesmo tempo, caractersticas singulares, que podem ser entendidas como
regionais. Tal afirmativa parece ultrapassada, j que, na contemporaneidade, as relaes entre
as escalas local, regional, nacional e global no se estabelecem hierarquicamente, como foi
bastante discutido pela literatura geogrfica at os anos 1970. Desde as ltimas dcadas do
sculo XX, novas formas de organizar a produo e o desenvolvimento das redes de fluxos vm
produzindo novos arranjos e dinmicas territoriais. Dentre esses arranjos, emerge a diluio
da separao entre a cidade, de um lado, e a regio de outro (LENCIONI, 2006, p. 69). O queno significa dizer, como alerta a autora, que j no tenha sentido a anlise da cidade e sua
regio, mas que emergiram novos arranjos territoriais. Ultimamente o poder da regio tem se
esvaziado em detrimento da nova diviso do trabalho e do processo de acelerao econmica
que ultrapassa as fronteiras regionais e nacionais. Contudo, os estudos revelam ainda o que se
pode chamar de fora da regio que no necessariamente tem que corresponder s regies
oficialmente delimitadas pelas instituies governamentais. Mas, para pensar na proposta
do debate, aqui ser apresentado um quadro geral da rede urbana nordestina com base nos
dados do Sidra (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2000).
Como dito anteriormente, no Brasil oficialmente se considera cidade toda sede de munic-
pio. Assim, ao se extrarem as cidades localizadas no Nordeste brasileiro com menos de mil
habitantes, encontra-se um total de 88 ncleos dispersos pelo interior da regio, conforme
mostra o Mapa 1.
Observa-se que a localizao desses ncleos corresponde no exatamente ao extremo oeste
do recorte regional, mas s extremidades dos respectivos territrios estaduais. Ao passarmos
para a segunda classificao, a das cidades com uma populao de mil a cinco mil habitantes,
consegue-se visualizar uma grande diferena no nmero de ncleos com uma populao
ainda bastante pequena se considerado o quadro geral de populao urbana brasileira. So,
na verdade, as pequenas cidades, ou mesmo cidades locais, como expressou Milton Santos,
que pouco oferecem de servios e de estrutura urbana, que mantm relao intrnseca
com o campo, bem como com o ncleo em nvel superior da hierarquia urbana (Mapa 2).
Este quadro perfaz um total de 716 localidades, distribudas por todo o territrio regional,
inclusive no litoral, coincidindo na maioria das vezes, com as pequenas localidades utilizadas
como segunda residncia, ou como cidades que integram a regio metropolitana da cidade
hierarquicamente superior.
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Mapa 1 Cidades com at mil habitantes na Regio Nordeste
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Mapa 2 Cidades com mil a 5 mil habitantes na Regio Nordeste
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O grande nmero de ncleos com populao entre 5.001 e 20 mil habitantes, um total de
748, est prximo ao total da escala anterior e que tambm se distribui por toda a regio,
havendo alguns vazios na faixa extremo oeste do territrio regional. Observa-se tambmmaior concentrao nas proximidades da faixa litornea, o que ainda se mostra como resultado
do processo de ocupao territorial brasileiro. Este quadro pode ser mais bem visualizado a
partir do Mapa 3.
A respeito das localidades sedes de municpios com at 20 mil habitantes, os autores Anieres
Barbosa da Silva, Rita de Cssia da Conceio Gomes e Valdenildo Pedro da Silva analisaram
a realidade do Rio Grande do Norte, denominando-as de pequenas cidades. Estas somam
155 localidades, representando 92,6% dos centros urbanos do estado. Os autores afirmam
que tal
[...] quadro revela uma realidade expressa numa diviso social do trabalho
de maneira simples, mantendo uma vinculao com o setor primrio
agricultura de subsistncia e pecuria , uma vez que essas cidades, sedes
administrativas dos municpios, tm uma economia que se expressa em
atividades tercirias que so, na maioria das vezes, de pouca qualificao.
Em alguns desses municpios podemos encontrar a agricultura irrigada
(SILVA; GOMES; SILVA, 2009, p. 63).
A realidade constatada por Silva, Gomes e Silva (2009) no Rio Grande do Norte similar
dos outros estados do Nordeste, guardadas algumas particularidades socioeconmicas, a
exemplo da presena da produo do sal que uma atividade bem presente no Rio Grande
do Norte e que movimenta a economia de alguns municpios e, por conseguinte, de algumas
cidades, entretanto tais implicaes se do mais fortemente nas cidades mdias, a exemplo de
Mossor. Outra atividade tambm extrativa que se revela na economia norte-rio-grandense
o petrleo que, apesar de gerar royalties,pouco aquece os investimentos nas pequenas
cidades. Isto ocorre no s no Rio Grande do Norte, mas de modo geral nos estados de onde
se extrai o produto. o que afirma a matria seguinte:
Os royaltiesdo petrleo no tm sido suficientes para melhorar a qualidade
de vida da populao nos principais municpios produtores, mostra um
levantamento que vem sendo coordenado pelo professor Cludio Paiva,
do Departamento de Economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Segundo ele, os royaltiestrouxeram a corrupo, diante da falta de um
marco regulatrio sobre a aplicao dos recursos. (FEDERAO DOS
MUNICPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010).
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Mapa 3 Cidades com 5.001 a 20 mil habitantes na Regio Nordeste
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Alm das atividades extrativas, destaca-se, como citado pelos autores acima, a presena
da agricultura irrigada voltada para a exportao que caracteriza alguns centros, em espe-
cial os de maior centralidade, como Mossor e Petrolina, que aqui so considerados comocidades mdias.
A partir de 20.001 habitantes, verifica-se uma reduo destacada no nmero de ncleos
citadinos, o que demonstra que, em termos numricos, h uma predominncia de ncleos
com populao entre mil e 20 mil habitantes que, em princpio, se configuram como peque-
nas cidades. Ao se considerarem as aglomeraes com mais de 20 mil at 50 mil habitantes
percebe-se uma forte reduo (Mapa 4), o que se acentua nas classificaes subsequentes,
entre 50.001 e 100 mil habitantes; entre 100.001 e 500 mil e acima de 500 mil habitantes
(mapas 5, 6 e 7).
O total de cidades com populao entre 20.001 e 50 mil habitantes de 156; j, na faixa
seguinte, entre 50.001 e 100 mil, reduz-se para 38, o que se equipara com o nmero de
cidades entre 100.001 e 500 mil habitantes que somam 31 ncleos. Portanto, o nmero
de cidades com populao na faixa de 50 mil a 500 mil habitantes totaliza 69. O que
bastante significativo, considerando o processo de ocupao territorial e a diversidade
econmica.
Destarte as particularidades econmicas pontuais, percebe-se uma similaridade entre as
denominadas cidades pequenas do Nordeste, em especial a forte relao campocidade,
que se revela na economia municipal, em que a agricultura e a pecuria aparecem como os
principais componentes econmicos, assim como a incipiente oferta de ser vios e ainda
um comrcio bastante restrito, especialmente naquelas de menor contingente popula-
cional. Nas cidades acima de 50 mil habitantes, tanto os servios como o comrcio so
mais diversificados, sendo reveladores da centralidade desses ncleos. Dessa forma, como
bem constataram Silva, Gomes e Silva (2009, p. 93), a economia frgil uma caracterstica
das cidades pequenas e estas dependem quase que exclusivamente apenas dos recursos
oriundos do Fundo de Participao dos Municpios (FPM). Vale acrescentar que parte da
economia dos municpios cujas sedes apresentam contingente populacional inferior a 20
mil habitantes provm da gesto da economia rural ou de recursos da Unio.
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Mapa 4 Cidades com 20.001 a 50 mil habitantes na Regio Nordeste
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Mapa 5 Cidades com 50.001 a 100 mil habitantes na Regio Nordeste
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Mapa 6 Cidades com 100.001 a 500 mil habitantes na Regio Nordeste
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Mapa 7 Cidades com mais de 500 mil habitantes na Regio Nordeste
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Clementino (1996) esclarece que os pequenos municpios do Nordeste brasileiro, em sua
grande maioria, no possuem base econmica agrcola ou industrial que lhes favorea na
gerao de emprego e renda ou que lhes propicie uma base tributvel prpria para reduzirsua dependncia da Unio (CLEMENTINO, 1996, p. 6). A referida autora afirma ainda que
so os gastos pblicos atravs da conta dos aposentados e pensionistas do Funrural ou
das transferncias de receitas governamentais constitucionais, basicamente do Fundo de
Participao Municipal que propiciam a circulao monetria e garantem o funcionamento
do pequeno comrcio existente.
J nas faixas com maior nmero de habitantes de 100.001 a 500 mil habitantes e acima
de 500 mil habitantes percebe-se um decrscimo significativo do nmero de cidades.
O primeiro grupo totaliza 31 cidades e no segundo, aquele acima de 500 mil habitantes,
encontram-se apenas nove cidades, das quais oito so capitais de estado So Lus,Teresina, Fortaleza, Natal, Joo Pessoa, Recife, Macei e Salvador e uma no: Jaboato
dos Guararapes, que integra a regio metropolitana de Recife. Entre estas h tambm uma
grande diversidade, j que Fortaleza, Recife e Salvador constituem metrpoles regionais
(Mapa 7). As demais apresentam uma centralidade que vem se intensificando princi-
palmente em funo dos servios administrativos e, mais recentemente, pelo atrativo
turstico e mesmo pela expanso das empresas comerciais e prestadoras de servios que
se estendem s cidades com maior capacidade de consumo, mas que no se constituem
enquanto metrpoles. Entre os servios destacam-se desde os de sade (hospitais e clnicas
especializadas) e educao (com a maior oferta de cursos do ensino superior) s redes de
restaurantes e de hotis.
J na faixa entre 100 e 500 mil habitantes, das 31 cidades, aquelas que apresentam maior
contingente populacional, correspondem s que exercem historicamente uma centralidade
regional, a exemplo de Campina Grande, Caruaru, Feira de Santana e Vitria de Conquista.
No processo de reordenamento territorial, verifica-se uma mudana do papel exercido por
Juazeiro da Bahia e Petrolina em que, em funo da implementao da agricultura para
exportao na segunda e do declnio das atividades agrcolas tradicionais na primeira,
houve uma inverso na convergncia da centralidade entre essas duas cidades fronteirias.
As demais, como anteriormente ressaltado, mostram uma centralidade intrarregional que
permanece ao longo do perodo histrico.
Para melhor compreenso das centralidades exercidas pelas cidades acima apontadas, merece
ateno o estudo realizado pelo IBGE, Regies de Influncia das Cidades, que as classifica
como Capital Regional B (mapas 8, 9 e 10).
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Mapa 8 Campina Grande Capital Regional B
Fonte: IBGE Regies de Influncia das Cidades, 2007.
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CIDADESMDIASEPEQUENASDABAHIA:TEORIAS, CONCEITOSEESTUDOSDECASO
Mapa 9 Feira de Santana Capital Regional B
Fonte: IBGE Regies de Influncia das Cidades, 2007.
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CIDADESMDIASEPEQUENASDONORDESTEABERTURA
Mapa 10 Vitria da Conquista Capital Regional B
Fonte: IBGE Regies de Influncia das Cidades, 2007.
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CIDADESMDIASEPEQUENASDABAHIA:TEORIAS, CONCEITOSEESTUDOSDECASO
Os trs exemplos revelados pelos mapas 8, 9 e 10 mostram tanto o raio da centralidade das
cidades mdias ou, como o IBGE classifica, capitais regionais B , como a direo em que
se d sua influncia. Percebe-se visivelmente que, nos trs casos, seu raio de influncia sedireciona mais fortemente para o interior dos estados, ou seja, no sentido oeste. H tambm
uma influncia sobre os municpios circunvizinhos em todas as direes, abrangendo uma
distncia mdia de 50 a 100 km. Entretanto, tanto no caso de Campina Grande como de
Feira de Santana, pela proximidade com as capitais do estado, observa-se nitidamente que
a influncia dessas cidades sobre os municpios localizados a leste bastante restrita, j que
so cobertos pela centralidade exercida pelos centros maiores, isto , Joo Pessoa, no caso
de Campina Grande, e Salvador, no caso de Feira de Santana. Desta forma, a demanda tanto
pelos servios como pelo comrcio dessas cidades se d pelos habitantes dos municpios
localizados principalmente a oeste deles, portanto, so voltados para o interior dos terri-
trios. Tais cidades exercem um importante papel na rede urbana nordestina, uma vez quecentralizam os principais servios mdicos e educacionais, alm de prover a populao inte-
riorana dos produtos necessrios, bem como daqueles mais diversificados, industrializados
em reas distantes e que reproduzem o mercado global. Destaca-se tambm que, nestas
cidades, encontram-se representaes de estabelecimentos comerciais de rede nacional
e internacional, a exemplo da Arezzo (calados), C&A (confeces); Riachuelo (confeces);
Atacado (da rede de supermercados Carrefour), entre outras. Tais ofertas de mercadorias
favorecem, especialmente, a camada de maior renda da populao residente, nestas ou nas
cidades circunvizinhas, incluindo-se a zona rural.
PARA DAR CONTINUIDADE...
A despeito do significado do que cidade e do que urbano, no se pode negar a importncia
dos estudos sobre os ncleos que compem a rede urbana brasileira. Tratando-se da realidade
brasileira e mais exatamente da nordestina, sabe-se que as pequenas sedes de municpios
muito pequenos, pouco ou mesmo nada representam para se entender a dinmica urbana,
salvo rarssimas excees. No Brasil, o contingente populacional um dado significativo
embora no suficiente da dimenso e da importncia das cidades no contexto regional e
nacional. Como afirmado anteriormente e tambm expresso por vrios autores, uma cidadede 10 mil habitantes no Brasil diferente, a depender de onde esteja localizada, se no Norte,
no Nordeste ou no Sudeste. Da mesma forma, se com o mesmo tamanho populacional, estiver
situada em um pas europeu, para citar um exemplo. A concentrao de capitais, a dinmica
econmica, a oferta de servios, entre outros, compem o conjunto das diferenas. No Nor-
deste brasileiro, a maioria das pequenas cidades tm como principal funo a administrao
da economia rural. Diante mesmo da escassez inclusive de uma economia rural significativa, a
dinmica dessas pequenas cidades d-se unicamente pelo recebimento dos recursos federais
de benefcios sociais. fato que a ausncia de atividades econmicas capazes de gerar receita
nesses municpios diz respeito no s s atividades industriais, comerciais e de servios, mas
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tambm s atividades primrias. Alm disso, vale notar que o pouco movimento encontrado
nessas localidades d-se nos dias das feiras locais no somente nos espaos onde ocorrem as
feiras, mas nos estabelecimentos comerciais, principalmente naqueles que vendem produtosvoltados para a agropecuria.
Os estudos realizados mostram que, alm dos dados fornecidos pelas instituies de estudos
estatsticas e planejamento, a pesquisa em campo imprescindvel: observar, conhecer e colher
informaes dessas realidades o melhor recurso metodolgico se se quiser ir alm das infor-
maes genricas, que homogenezam o que se mostra to distinto e, ao mesmo tempo, to
semelhante. Se isto se faz necessrio para a compreenso das pequenas cidades, o mesmo se
aplica s mdias. Apesar de essas oferecerem mais possibilidades de informaes atravs das
instituies gestoras, estatsticas e de pesquisa, o levantamento de dados, de informaes, a
anotao das observaes e das impresses, a realizao de entrevistas, a coleta de depoimentose ainda o registro fotogrfico tambm so indispensveis. Os estudos desenvolvidos pela Rede
de Pesquisadores sobre Cidades Mdias (ReCiMe) tm demonstrado que as cidades mdias
brasileiras apresentam sim similaridades, mas tambm muitas singularidades e particularidades
s possveis de serem desvendadas com o trabalho em campo. Alm disso, sabido que, se
a anlise das atividades econmicas fundamental, cada vez mais se reafirma a necessidade
de se investigarem os costumes, os hbitos, a vida cotidiana dos habitantes e ainda o tempo
que rege essas localidades. Como afirma Lefebvre (1999), vivemos em uma sociedade na qual
o tecido urbano no se restringe aos aglomerados de ruas e edifcios, mas se estende sobre
os espaos, pois ele designa o conjunto das manifestaes do domnio da cidade sobre o
campo (LEFEBVRE, 1999, p.17). Por conseguinte, mesmo naqueles pequenos centros que nocorrespondem ao que entendemos por cidade, encontram-se indcios da realidade urbana, pois
esta se manifesta na disperso da cidade atravs da centralizao do comrcio, do encontro,
da reunio, da informao. Tais elementos compem a dinmica da vida nas pequenas e nas
mdias cidades e, se a proposta compreender o urbano no Brasil, faz-se necessrio dissecar
todas suas dimenses, inclusive aquelas que aparentemente so sua negao. Portanto,
preciso dar continuidade anlise desse universo que compe o territrio brasileiro.
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Sri
eEstudosePesquisas
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PARTE I
PENSANDO AS MDIAS E PEQUENAS
CIDADES DA BAHIA
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DIFERENAS E REPETIES NA PRODUO DO ESPAOURBANO DE CIDADES PEQUENAS E MDIAS
Wendel Henrique*
INTRODUO
O tema aqui proposto est relacionado produo do espao urbano em cidades mdias e
pequenas. Logo de incio uma questo se coloca: afinal, existe produo do espao urbano
em cidades mdias e pequenas? No, a produo do espao urbano um processo que
se realiza em diversas escalas e cidades de diferentes portes. A essncia do processo e suaaparncia materializada se mantm. Isto leva a outra questo: existe alguma particularidade/
singularidade nas cidades mdias e pequenas que, por exemplo, justifique os estudos e even-
tos a respeito delas? Sim, existe e nestas particularidades/singularidades/especificidades
ou repeties e diferenas entre as cidades pequenas, mdias, grandes e metrpoles que
est centrada esta anlise. Portanto, no objeto desta reflexo a classificao de cidades
da Bahia, o que se busca a compreenso do processo de produo do espao urbano no
mundo contemporneo.
A utilizao da teoria lefebvriana da produo do espao se justifica na busca pela compreenso
do espao inteiro, ou seja, dos processos que participam da produo e, por conseguinte,
do uso do espao, e que se constituram em uma totalidade, o prprio espao geogrfico.
Tambm no se parte da ideia de oposio entre vrias cidades, mas sim do entendimento de
usos distintos da cidade (forma), complementada (nunca de maneira excludente) por conte-
dos especficos que se instalam em pontos tambm especficos (predefinidos e produzidos
para este fim), constituindo contedos rurais ou urbanos tambm distintos, especficos e
complementares e, em alguns momentos, coexistentes.
Entretanto, essas coexistncias no so pacficas, elas se elaboram e se estruturam a partir
de contradies e conflitos, de incluses (em determinados pontos e momentos) e de exclu-
ses. Segundo Lefebvre (1973, p. 12), [...] a era urbana no faz desaparecer as contradies
e os conflitos da era industrial [...], a cidade, a sociedade urbana e o urbano em emergncia
sobrepem suas contradies s da era industrial a s da era agrcola. Lefebvre (1973) tambm
cita a integrao e a segregao; as formas de centralidade (formas e contedos); o urbano
e o Estado como exemplos desses conflitos. Da mesma forma, pode-se ampliar a discusso
do contedo rural ou urbano para a prpria noo de cidade e os atuais debates sobre as
diferentes cidades: metrpoles, cidades grandes, mdias ou pequenas. E aqui outro alerta:
* Ps-doutorando em Geografia Urbana pela Universidade de Passau (Alemanha). professor adjunto do Departamentode Geografia e Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). wendelh@ufba.br wendel_henrique@hotmail.com
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no se buscam a classificao e a hierarquizao de cidades, no interessa a rotulao de uma
cidade como, por exemplo, cidade mdia, mas sim compreender como se realiza o processo
de intermediao que toma corpo, que se concretiza nas chamadas cidades mdias. Assim, oobjetivo desta pesquisa o entendimento dos processos que esto acontecendo em cidades
especficas, notadamente as mdias, diferenciando-as das demais.
OS ESTUDOS SOBRE CIDADES MDIAS E PEQUENAS
O estudo geogrfico das cidades mdias no Brasil vem recebendo destaque cada vez maior,
por um grupo consolidado de pesquisadores, em virtude das especificidades que essas cida-
des desenvolvem e que as caracterizam, como nos trabalhos de Sposito (2006a, 2006b, 2007,2009), Maia (2006, 2009), Cardoso e Maia (2007), Soares (2007, 2008) Arajo e Soares (2009),
Sanfeliu (2009), Santos e Silveira (2001). Alguns destes trabalhos tambm tratam da temtica
das cidades pequenas, mas estes estudos ainda no esto difundidos na mesma proporo.
Entre os trabalhos sobre cidades pequenas, destacam-se os de Endlich (2007, 2008) e Wan-
derley (2001), sendo que este, estudando as pequenas cidades pernambucanas, coloca como
fundamental o estudo de cinco dimenses: 1) o exerccio das funes propriamente urbanas;
2) a intensidade do processo de urbanizao;3) a presena do mundo rural; 4) o modo de
vida dominante; 5) a dinmica da sociabilidade local. Os estudos sobre as pequenas cidades
retratam espaos ainda dominados pelo cotidiano rural1 e que, em grande parte, esto
margem do avano do agronegcio e da agricultura modernizada.
Para as cidades mdias e pequenas, mais do que a classificao populacional em mdia
ou pequena (que apenas as definiria como cidades de porte mdio ou de pequeno porte),
cabe o entendimento sobre suas caractersticas, seus cotidianos, suas funes e suas formas.
No Brasil, seguindo o que prope Sposito (2006b), so chamadas cidades de porte mdio
aquelas que tm entre 50 mil e 500 mil habitantes, porm, no se pode conceituar essas
cidades como mdias apenas empregando o elemento demogrfico. A populao de uma
cidade, como critrio preponderante e isolado, no apresenta, nos novos estudos, consistn-
cia na definio do papel de uma cidade e as funes que ela desempenha na rede urbana
na intermediao regional. A leitura e a anlise de uma cidade mdia, bem como de umapequena, devem estar articuladas em diferentes escalas de anlise, a partir de combinaes
particulares entre o tamanho demogrfico, o plano morfolgico e as funes e usos urbanos
que as colocam em diferentes papis e posies/situaes (no hierarquicamente rgidas) na
1 Segundo Wanderley (2001), [...] o rural uma categoria de pensamento do mundo social, que , ao mesmo tempo,uma categoria poltico-ideolgica e transacional. Por ela, possvel compreender a sociedade, classificar e distinguiras pessoas e as coisas e construir uma representao do mundo social em torno do espao e do tempo. Representaosocial que, sem dvida, gera fatos sociais, faz emergir identidades sociais, mobiliza e organiza socialmente pessoas e
grupos sociais em torno de reivindicaes especficas e ressignifica a histria das sociedades.
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rede urbana2. Nesta direo, a viso espacial hierrquica e classificatria dos estudos sobre
as redes urbanas deve ser convertida em outra possibilidade de leitura, conforme a proposta
de Dias (2007), considerando os fluxos e a conexidade (propriedade de conexo), fazendo dealgumas cidades mdias os ns das novas redes, lugares de conexo, de poder e referncia.
Cabe fazer um alerta, a partir da ideia de Harvey (2001), uma vez que, com a insero das cida-
des em uma rede urbana mundializada, com fluxos intensos de informaes, mercadorias e
pessoas, existe uma tendncia visualizao e estruturao da cidade como uma empresa,
que incorpora processos e diversificaes (divises do trabalho, de funes de estilo de vida
e valores), na qual a produo dos ambientes construdos, do espao, passa a ser relacionada
com espacialidades e temporalidades divergentes daquelas estabelecidas localmente.
Acrescentam-se a essa ideia de cidades mdias e pequenas, as modificaes na morfologia
das prprias cidades, as quais recebem formas, objetos, contedos e problemas (violncia,drogas, presso imobiliria) at ento exclusivos de ncleos maiores. Como exemplo, podem-se
citar os 21 loteamentos e condomnios fechados no municpio de Santo Antonio de Jesus. Nos
espaos intraurbanos das cidades mdias e em algumas cidades pequenas, o condomnio e o
edifcio com vrios andares, mesmo que nicos na paisagem urbana, representam a moder-
nidade e se apresentam como forma de realizao da vida. Seu consumo e sua consumao
incorporam as novas formas de vida urbana e constrangem os antigos e tradicionais marcos
simblicos dessas cidades, como os prdios e os espaos pblicos, especialmente a rua e a
praa. Assim, o consumo se realiza com uma base material (o condomnio, o apartamento),
mas tambm com uma base simblica (o poder, o status, a modernidade) em que, seguindo
a ideia de Lefebvre (2006, p. 63-64), [...] consomem-se tantos signos quantos objetos: signos
da felicidade, da satisfao, do poder, da riqueza, da cincia, da tcnica etc.
Cabe ressaltar na definio das cidades, como afirma Soares (2007), a importncia e a necessidade da
anlise do contexto territorial e das diferentes realidades socioespaciais nas quais as cidades esto inse-
ridas. Nesta direo, apresenta-se o contexto espacial regional tomado como foco desta pesquisa.
A DIFERENCIAO DA CIDADE MDIA E PEQUENA DAS DEMAIS CIDADES
Tome-se uma figura j clssica dos estudos urbanos. Em A Revoluo urbana, Henri Lefebvre
(2001) nos apresenta um eixo temporal que representa a sociedade urbana rumo urbani-
zao completa.
2 Dentro de outro escopo metodolgico, mas na mesma direo de novos estudos sobre a rede urbana, cabe apresentaro referencial terico-metodolgico desenvolvido por Pred (1979, p. 13), que trata das propriedades fundamentais aossistemas regionais de cidades, a partir das unidades urbanas individuais e seus padres, extenses e composiesde interdependncia, bem como as ligaes de informaes/fluxos de bens, servios, capital e pessoas e o graude abertura e fechamento desse sistema de cidades. Pred (1979, p. 17) afirma que, atualmente a regra tamanho-hierarquia no mais que uma regularidade emprica desprovida de fundamentao terica aceita. [...] na literaturaconvencional geogrfica e de planejamento relativa a sistemas de cidades, coloca-se excessiva nfase na estrutura
hierrquica das interdependncias.
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Cidade
poltica
Cidade
comercial
Cidade
industrial
Zona
crtica
inflexo
do agrrio
para o urbano
0 100%
imploso-exploso
(concentrao urbana, xodo rural,
extenso do tecido urbano, subordinao
completa do agrrio ao urbano)
Figura 1 Rumo sociedade urbana
Fonte: Lefebvre, 2001.
Na tentativa de uma reflexo, busca-se avanar nesta discusso propondo uma possibilidade
de interpretao desta figura. Parte-se da ideia de que a ponta da flecha representa 100% ou
a realizao completa do processo de urbanizao, conforme nos explica o prprio Lefebvre
(2001), mas, o que se quer discutir a passagem da flecha por diversos espaos em diversos
tempos. Ou seja, os lugares, as pores de espaos no se localizam no tempo presente no
mesmo ponto do eixo horizontal.
Existem diversas coexistncias espaciais e temporais dentro do mesmo processo. O que
significa dizer que agora, neste instante, existem lugares, mais especificamente cidades,
distribudos ao longo do eixo urbanizao, entendida como a possibilidade de realizao
do urbano (sociedade urbana). Tomado na escala mundial, o urbano uma abstrao cient-
fica, um objeto virtual e potencial, uma vez que sua realizao no est acabada. Ele est em
realizao e em temporalidades diferentes, em diferentes espacialidades.
Apesar de algumas cidades estarem na ponta da flecha, realizando potencialmente a sociedade
urbana, o processo, aqui representado pela ponta da flecha, no toca o espao totalmente,
mas, sim, alguns espaos especficos em tempos especficos, possibilitando sua realizao
diferenciada e repetida. Neste sentido de entendimento, no tempo atual h cidades poten-
cialmente 100% urbanas, cidades que esto no ponto de inflexo do agrrio para o urbano
e cidades que esto no ponto de implosoexploso.
Aqui est o foco, a diferena temporal e espacial da realizao do urbano. As grandes cidades
e as metrpoles tendem a se localizar na ponta da flecha. As cidades mdias e pequenas
podem at estar na ponta da flecha, mas, de maneira geral, estas cidades esto recuadas
no eixo horizontal do processo de urbanizao. Nelas podemos observar estes dois pontos
crticos realizando-se, o processo de mudana/ruptura acontecendo, como nunca antes
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DIFERENASEREPETIESNAPRODUODOESPAOURBANODECIDADESPEQUENASEMDIASPARTEI
observado. Pois a grande cidade e a metrpole passaram por estes pontos atravs de uma
vinculao especfica, um objeto definido: a indstria. As cidades mdias tambm passaram
por este eixo, mas em tempos diferentes, fazendo com que os processos de urbanizao eindustrializao acontecessem de forma independente.
Nas cidades mdias e muito mais nas pequenas, o que ocorre agora a sociedade urbana
realizando-se praticamente em sua completude. O processo muito mais violento e confli-
tuoso, no existem passagens, a revoluo patente!
A passagem do ponto de inflexo para o de implosoexploso, para a zona crtica e para o 100%
urbano, enquanto virtualidade, ocorre nestas cidades mdias e pequenas em altssimas velocidades.
O presente nas cidades pequenas que esto neste processo uma mistura entre a acelerao do
tempo rumo ao futuro que se realiza ainda hoje e um passado tambm vivo e marcado.Com o urbano liberto dos confinamentos que a cidade impunha, ou seja, com a expresso do conte-
do sobre a forma, a reali
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