Consciência Fonológica

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Desenvolvimento da Consciência Fonológica

FR Cristina Queiroz Pinto

Psicogenese da Aprendizagem da Leitura e da Escrita

A consciência fonológica no ensino da leitura e da

escrita1. Por onde começar a ensinar a ler e a escrever? Oficina2 1.1 - “Psicogénese da aprendizagem da leitura e da escrita”

- leitura simbólica

- distribuição dos símbolos fonéticos - (20m)

- Exercício sobre Oralidade / Escrita - ( 20m)

1.2 – Sistema oral versus sistema escrito - (20m) Oficina3

28 /10 / 082. O que é a consciência fonológica? - Filme: “A Psicogenese da aprendizagem da leitura e da escrita”

3. Quais são as unidades fonológicas relevantes para treinar a

consciência fonológica? >> Exercícios de auto-reflexão sobre as propriedades fonológicas do Português

Se conseguir ler as primeiras palavras o cérebro decifrará automaticamente as outras...

3M D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NC45 8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35, P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45. QU4ND0 3575V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3 35PUM4. 4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45 CR14NC45 C41R14M N0 CH0R0, C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40; G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3 M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4 C0N57RU1R. M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R! S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3, 0 4M0R 3 C4R1NH0.

0 R3570 3 F3170 D3 4R314

Aprender a ler e a escrever:

- transferência entre dois modos de comunicação diferentes (oral vs. escrito)

- processo não natural (vs. aquisição da linguagem oral)

- processo muito complexo (competências cognitivas, psicolinguísticas, perceptivas, espácio-temporais, grafo-motoras, afectivo-emocionais)

Sistema oral vs Sistema escrito (língua) ortografia (representação da oralidade)

Diferenças visíveis em vários exemplos

(1) Pausas: A tua amiga inglesa / é muito simpática.

(2) Reformulações:Esses papéis não têm nenhuma, nenhum interesse especial.

(Duarte 2000)

(3) Diferentes versões fonéticas para uma palavra: telefone / telfon / tlfon

Conclusão

- A fala não existe para ser escrita, e da mesma forma, muito textos escritos não são apreciáveis na fala; quando se tenta reproduzir um texto escrito como se fosse conversação, esse texto pode parecer estar mal formado.

- Assim a característica fundamental da linguagem oral é o facto dela ser produzida pela boca e recebida pelos ouvidos, a linguagem escrita se caracteriza fundamentalmente por ser escrita, ou seja, pelo facto de ser ela produzida pela mão e recebida pelos olhos.

- A particularidade de maior importância da escrita é a correcção gramatical, sob a qual estão a objectividade, a clareza e a precisão.

Resposta comum: 5 (vogais gráficas)

Resposta correcta: 14 vogais (no sistema linguístico)

dá da de lãdó dor do som umsé lê ri sente fim

linho = 4 sons (4 sons e cinco caracteres)

manta = 4 sons (4 sons e cinco caracteres)

chuva = 4 sons (4 sons e cinco caracteres)

Resposta comum: música, máscara, útil

Resposta correcta: todas

(em todas há uma sílaba proeminente relativamente às restantes sílabas da palavra: chinelo, cegonha, raposa, bem como em música, máscara e útil)

Resposta comum: car-ro mas-sa

Resposta correcta: ca-rroca-rro ma-ssama-ssa

A ausência de distinção entre divisão silábica

e translineação mostra a primazia da escrita

sobre a oralidade, formatada pela orientação

adoptada no percurso escolar.

Sistema oral vs Sistema escrito

Diferenças visíveis em vários exemplos-> Dois sistemas autónomos mas estabelecendo

relações entre si

Consequências a reter:

abordar cada sistema isoladamente porque se trabalham competências linguísticas distintas

abordar o modo como a oralidade é representada na escrita para criar consciência das especificidades de cada sistema e das relações estabelecidas entre eles

Sistema oral vs Sistema escrito

Maior riqueza da oralidade

(e.g. fogo!, 14 vogais) -> partir das unidades do oral implica explicitar relações menos complexas do que partindo da escrita

Exemplo máximo de complexidade a partir da escrita: Grafema <e>

1 – ele 5 - teatro ([ j ] oral)

2 - ele 6 - lenha

3 - festa 7 - escola ([Ø])

4 - teatro ([ i ]) 8 - mãe([ j ] nasal)

Partindo do som da fala, não há nenhuma relação tão complexa a registar como a acima descrita.

Sistema oral vs Sistema escrito

maior riqueza da oralidade natureza primária da oralidade

Consequências a reter:

partir da oralidade para a escrita, ao trabalhar a relação entre ambas (sobretudo na iniciação à leitura e à escrita)

unidade de partida unidade de chegada SEQUÊNCIA SONORA SEQUÊNCIA GRÁFICA  

pré-requisitos importantes para a iniciação à leitura e à escrita:

.um bom domínio da linguagem oral (produção e percepção)

.um certo desenvolvimento da capacidade de identificar e manipular as unidades sonoras – sílabas: constituintes silábicos, sons da fala [consciência fonológica]

A investigação comprova que:

• existe uma relação recíproca entre um bom nível de consciência fonológica e o sucesso na iniciação à leitura e à escrita (relação de dependência mútua sobretudo quanto à consciência fonémica)

• o treino fonológico tem efeitos positivos no nível de consciência fonológica e na iniciação à leitura e à escrita em crianças com diferentes níveis de desempenho na aprendizagem (sendo usado como forma de prevenção dos problemas na leitura e na escrita e como forma de remediação em programas de intervenção personalizada)

Consequência a reter:

necessidade de estimular a consciência fonológica em contexto lectivo, antes e durante o processo de iniciação ao uso do código alfabético

PORQUE…

• A aprendizagem do princípio alfabético, seguida das regras de correspondência grafema-fonema, permite-lhe elaborar uma representação cada vez mais precisa do sistema fonológico, que se enriquecerá através do contacto com a escrita, desenvolvendo a sua competência ortográfica.

• A aquisição da Leitura efectua-se por etapas, durante as quais os procedimentos de tratamento se vão organizando. Não corresponde, assim, a um fenómeno linear, onde ocorre simplesmente um aumento das habilidades, mas em que há igualmente modificações qualitativas do tratamento da informação.

•Para ler e escrever precisamos de nos aperceber que as palavras podem ser divididas em sílabas e fonemas, e que o fonema é a unidade mais pequena da cadeia falada que pode ser representada por símbolos num sistema alfabético, os grafemas.

•A capacidade metafonémica refere-se assim à capacidade de aprender e manipular os sons individuais das palavras.

Uso do código alfabético - Capacidade dos sujeitos (crianças ou adultos) para analisarem e manipularem as estruturas sonoras da sua língua.

Alguns exemplos

(1) fogo = incêndio vs fogo = interjeição

» Joana, 5 anos

…a mãe arregaça as mangas do casaco:

Laura: Não, regaçare.

Mãe: a//rre//ga//çar

Laura: Não, re//ga//ça//re Laura, 2 anos

2. O que é a consciência fonológica?

NOTA: Fases da aprendizagem (Feetz) : Conceptual / Domínio / Automatização

Manifestações gráficas de escrita :Fase 1 – Tentativa da reprodução dos traços básicos da escrita (Garatuja) Fase 2 - Procura combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de

reproduzir (Pré-silábica)

Fase 3 - escrita silábicaGato C H 2 sílabas = 2 caracteresGata M A 2 sílabas = 2 caracteresGatinho I A A 3 sílabas = 3 caracter Freitas & Santos (2001)

Fase 5 - escrita alfabética com fonetização: Frumiga* o zamigos* derepente*

NOTA:"A relação entre escrita e linguagem não é um dado inicial. A criança não parte dela, mas, chega a ela". Passa de uma correspondência lógica (uma letra para cada sílaba) para uma correspondência mais estável (não mais qualquer letra para qualquer sílaba.

Três dimensões da consciência fonológica1. Consciência silábica (sílaba)

plu.mas cro.mar

2. Consciência intrassilábica (constituintes silábicos)

pl.u] [m.as cr.o] [m.ar

3. Consciência fonémica (fonemas, segmentos, sons da fala)

p.l.u.m.a.s c.r.o.m.a.r

Desenvolvimento da consciência fonológicaNão é sinónimo de desenvolvimento fonológico

- O desenvolvimento fonológico está associado ao conhecimento gramatical implícito e inicia-se a partir do momento em que a criança é exposta a enunciados de uma língua, num percurso de aquisição das suas estruturas fónicas (normalmente terminado à entrada na escola).

A consciência fonológica relaciona-se com a capacidade de manipular explicitamente unidades do oral e tem manifestações mais tardias, estando o seu desenvolvimento longe de estar terminado à entrada na escola.

3 anos - sensibilidade fonológica (e.g. corrigindo sequências não permitidas na sua língua e apreciando rimas e jogos de palavras)

4 anos - identificação de palavras e segmentação silábica

6 anos - consciência fonémica (emergindo com treino fonológico ou com a escolarização num sistema

de escrita alfabética)

Ordem de desenvolvimento: Sílaba

constituinte silábico

fonema

3. Quais são as unidades fonológicas relevantes para treinar a consciência

fonológica?

1. SÍLABA – unidade fonológica

2. FONEMA – Sons da fala ou segmentos; unidade mínima da língua

Consoantes Vogais Semivogais

1. SÍLABA

Constituintes da sílaba:

Ataque = consoante(s) à esquerda da vogal

Rima = vogal ou ditongo + consoante à sua direita

Núcleo = vogal ou ditongo

Coda = consoante à direita da vogal ou ditongo

3. Quais são as unidades fonológicas relevantes para treinar a consciência

fonológica?

2. Fonemas (ou sons da fala ou segmentos)

Classificação articulatória:

- Ponto de articulação – local de aproximação ou do toque dos orgãos na cavidade bocal

- Modo de articulação - forma como o fluxo de ar atravessa as cavidades supraglotais ( cavidade faríngea, nasal e oral)

- Vozeamento – Vibração ou não da cordas vocais

Aparelho Fónico

Bilabiais

Labiodentais

Linguadentais

Alveolares

Palatais

Velares

PONTO DE ARTICULAÇÃO

Concluindo:

- Uma criança que compreenda a riqueza do oral e que a saiba manejar em contextos distintos, estará mais preparada para, de forma natural, atentar na especificidade da língua

- A criança apercebe-se de que quando falamos depressa as palavras soam de forma diferente do que quando falamos mais devagar, o que conduzirá a uma discriminação auditiva mais eficiente durante todos os exercícios de treino da consciência fonológica.

-No espaço e tempo dado ao oral, as crianças vão também perceber que nem todos falamos da mesma forma

. A riqueza das variedades do português

. Preservação da diversidade linguística e correcção ortográfica

Por isso:

-O aluno deverá ser conduzido:

- Ao manejamento das unidades da fala, ou seja, ao treino gradual da consciência fonológica

1º - Unidades suprassegmentais palavra (fronteira de palavra)>sílaba>fonema

2º - As unidades silábicas são de aquisição precoce (desde a lalação)

.Nota: O processo de divisão silábica é o mais imediato

- a participar em actividades que enfatizem a unidade sílaba e os seus constituintes:

. jogos de rimas,

. construção de palavras por acréscimo e supressão silábica

. A presença/ausência da sílaba é geradora de significados (ex: pato / sapato)

- A criança deve treinar as unidades intrassilábicas de aquisição mais tardia:

- o ataque ramificado (grupo de consoantes antes do núcleo da sílaba: pr em pra-to)

- a coda (consoante a seguir ao núcleo r em flor).

Actividades de treino - Sílaba

- travalínguas

-Frases recursivas

- Identificação e criação de Rimas com coda

Actividades de treino - Fonema

-Da sílaba ao fonema: a pequena unidade indivisível criadora da língua

- A língua faz-se pela diferença- Jogos de produção fónica- Discriminação auditiva

- A relação não unívoca oral/escrito

- A oralidade e a escrita são dois mundos diferentes

- Domínio do oral;

- Melhor acesso ao código escrito

Muito Importante

Do fonema ao grafema… considerações a não esquecer:

Por isso é muito importante:

- É importante o reconhecer e escrever formatos diferentes de sílabas: CV; CCV; VCV

- É importante o reconhecimento das diferentes correspondências entre FONEMA> GRAFEMA:

- Um grafema pode representar um som; p> p

- Dois grafemas podem representar um som ch, lh, nh

- Um grafema pode representar mais do que um som c

- Vários grafemas podem representar mais do que um som

s, z, x, e.

-Treinar o manuseamento de unidades da fala contribui para formar crianças mais seguras, mais conscientes daquilo que é o seu património linguístico e das inúmeras possibilidades que já têm à entrada na escola. Melhorá-las, estimulá-las vai ser também uma ferramenta para que a aprendizagem da lectoescrita seja não um mundo penoso, mas o mundo mágico de que são feitas as histórias…

É que na verdade…

‘(...) as pessoas não prestam atenção aos sons (...) ao produzirem ou escutarem a fala. Em vez disso, processam esses fonemas automaticamente, dirigindo [a] sua atenção ao significado e à força do enunciado como um todo.’

In Adams et al (1998/2006: 19-20)

Por que razão é tão difícil desenvolver consciência fonémica, crucial para o sucesso nas tarefas de leitura e de escrita?

Pois, então:

Então…“Aprender a ler,

será apenas uma questão de método?”

BIBLIOGRAFIA:

Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da Linguagem. Lisboa: Universidade Aberta.

Sim-Sim, I. (2004). Avaliação da linguagem oral: Um contributo para o conhecimento do desenvolvimento linguístico das crianças portuguesas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian [3ª ed.; 1ª ed. 1997].

Sim-Sim, I., I. Duarte & M.J. Ferraz (1997). A Língua Materna na Educação Básica. Competências Nucleares e Níveis de Desempenho. Lisboa: Ministério da Educação – DEB.

Smith, S.B., D.C. Simmons & E.J. Kameenui (1995). Synthesis of research on phonological awareness: Principles and implications for reading acquisition (Technical Report no. 21, National Center to Improve the Tools of Education). Eugene: University of Oregon.

Veloso, J. (2003). Da influência do conhecimento ortográfico sobre o conhecimento fonológico. Estudo longitudinal de um grupo de crianças falantes nativas do Português Europeu. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Viana, F.L. (2002). Da Linguagem oral à leitura. Construção e validação do Teste de Identificação de Competências Linguísticas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia.