A estrutura do texto artístico Iuri Lótman

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Iuri Lotman

Contextualização De acordo com artigo de Américo (2012)

intitulado “Iúri Lotman: entre biografia e obra” o livro “A estrutura do texto artístico” (1970) surgiu não apenas como resultado dos estudos pessoais de Lótman, como também de suas atividades como professor da Universidade de Tártu.

No período de publicação dessa obra, década de 70, o autor ampliou o horizonte semiótico.

Visão geral da obraO livro “A estrutura do texto artístico” (1970)

aborda vários problemas ligados ao estudo da estrutura do texto artístico:

a arte enquanto linguagema especificidade da informação artística a inter-relação do texto com estruturas

extratextuaisos princípios construtivos do texto e toda uma

série de questões (p. 23)

FOCO DA OBRA

O problema da significação no texto artístico.

O autor visa revelar o caráter funcional da estrutura artística, a semantização da forma da arte.

IntroduçãoA importância da arte é ressaltada

Ao longo de toda existência historicamente estabelecida da humanidade, a arte é seu companheiro de viagem. (p. 25)

O homem sente necessidade da atividade artística.

Temos a arte para não morrer da verdade Friedrich Nietzsche

Em diferentes etapas da histórias, sempre houve aqueles que defenderam a inutilidade da arte

No entanto, a arte renascia e nunca deixava de fazer parte da existência do homem.

A arte não representa uma parte da produção e a sua existência não é condicionada pela exigência do homem de renovar incessantemente os meios de satisfazer as suas necesidades materiais. (p. 25)

Por que a sociedade não poderia existir sem arte?

Cada sociedade elabora formas determinadas de organização sociopolítica, é possível explicar por que razão não poderia haver uma sociedade sem qualquer organização interna, no entanto explicar por que não poderia existir uma sociedade sem arte é bem mais difícil. (p. 26)

A resposta para a pergunta mencionada é habitualmente substituída por uma nota, uma referência ao fato de não se conhecerem, na história da humanidade, sociedades que não possuem a sua arte. (p. 26)

As artes se diferenciam de outros aspectos das estruturas ideológicas. Cada homem, tomado separadamente, pelo simples fato de pertencer a uma coletividade histórica, é posto perante a rigorosa necessidade de fazer parte deste ou daquele agrupamento, de entrar num dos subconjuntos existentes de um dado conjunto social (p. 26)

Mas a sociedade, que impõe por vezes limitações rigorosas à arte, nunca exige dos seus membros uma atividade artística.

Produzir ou utilizar valores artísticos é sempre uma marca facultativa

Apesar de não ser uma necessidade imediata, a arte é uma necessidade essencial. Como destaca o autor “a necessidade da arte assemelha-se a necessidade do saber e que a própria arte é uma das formas de conhecimento da vida” (LOTMAN, 1978, p. 27).

A arte na obra será estudada sob a perspectiva da organização interna do texto artístico e ao seu funcionamento social. (p. 29).

Nas palavras de Lotman:“O mundo que rodeia o homem fala

linguagens múltiplas e que o apanágio da sabedoria está em compreendâ-las” (p. 30)

Nesse sentido, o autor considera que a arte é um gerador notavelmente bem organizado de linguagens de um tipo particular. (p. 29)

Nesse contexto, a arte é um gerador notavelmente bem organizado de linguagens de um tipo particular. Dessa forma, as obras de arte, ou seja, as comunicações nessa linguagem, podem ser consideradas um texto pelo autor. (p. 32)

Dessa forma:

Da mesma forma:

Uma informação artística particular é inseparável das Uma informação artística particular é inseparável das particularidades estruturais dos textos artísticos particularidades estruturais dos textos artísticos

A arte como linguagemLotman trata da arte como linguagem, por

utilizar signos e resultar em uma interação entre emissor/receptor

Todo sistema que serve os fins da comunicação entre dois ou mais indivíduos pode ser definido como uma linguagemlinguagem. (p. 33/ p. 34)

Linguagem do cinemaLinguagem do teatro Linguagem da pinturaLinguagem da música (p. 34)

Caramujo Flor

A arte é então uma linguagem, pois possui signos e regras definidas para a combinação desses signos. Assim como representa uma determinada estrutura, e essa estrutura possui a sua própria hierarquia. (p. 34)

Nesse sentido o autor aborda a arte sob dois pontos de vista diferentes: primeiro, extrair da arte o que a assemelha a

qualquer linguagem e tentar descreve-la a partir da teoria geral dos signos;

segundo, extrair da arte o que lhe é próprio

enquanto linguagem particular e que o diferencia de outros sistemas (p. 35)

As linguagens estudadas pelo autor:1) Os sistemas que não servem de meio de

comunicação – Não se ligam diretamente. Objetivo para acumulação e transformação de uma informação

2) Sistemas que servem de meio de comunicação, mas não utilizam signos (p. 35)

3) Sistemas de signos pouco ou quase nada ordenados Línguas naturais - como o russo, o francês, o checo Línguas artificiais - linguagens dos sinais convencionais (placas

de transito, por exemplo) Linguagens secundárias (sistemas de modelização secundários)

- caracterizadas como as “estruturas de comunicação que se sobrepõe ao nível linguístico natural. (p. 37).

A arte é um sistema modelizante secundário. (p. 37)

Utiliza a língua natural enquanto material.

A arte como sistema modelizante secundário constrói-se sobre o tipo de linguagem. No entanto, não reproduz todos os pontos de vista das línguas naturais (p. 37)

(CD “Crianceiras – Poesias de Manoel de Barros musicadas por Márcio de Camillo”)

A determinação de ligações sintagmáticas e paradigmáticas permite ver objetos semióticos nas seguintes artes:

Pintura

Cinema

Sistemas construídos sobre o tipo das línguas. (p. 37)

Purgatório de William Blake

A arte pode ser descrita como uma linguagem secundária e a obra de arte, como um texto nessa linguagem. (p. 38)

O discurso poético representa uma estrutura de grande complexidade. Em relação à língua natural, ele é consideravelmente mais complexo. (p. 39)

Daí resulta que uma dada informação (um conteúdo) não pode existir nem se transmitida fora de uma dada estrutura. (p. 39)

O pensamento do escritor também se realiza numa determinada estrutura artística.

Modelização do mundo do autor, estrutura da obra não podem ser separadas da ideia artistica. É necessário que eu conheça toda a estrutura da obra.

A ideia artística é inconcebível fora da estrutura. (p. 41)

A arte entre os outros sistemas semióticosCada sistema de comunicação pode realizar

uma função modelizante, e inversamente, cada sistema modelizante pode desempenhar um papel de comunicação (p. 46)

Se uma obra de arte comunica alguma coisa e serve os objetivos da comunicação entre um emissor e um receptor, distingue-se nela:A mensagemA mensagemA linguagem (p. 45)A linguagem (p. 45)

A verdade na arte

A arte é inseparável da procura da verdade. (p. 46)

A arte, ao longo do seu desenvolvimento, se liberta das mensagens envelhecidas, mas conserva na memória, com uma extraordinária constância, linguagens artísticas das épocas passadas.

A história da arte transborda de renascimentos das linguagens artísticas do passado recebidos como inovadores (p. 47)

Ex: Peça Crianceiras

No entanto, na arte aparece uma tendência constante de formalizar os elementos portadores de conteúdo, para os condensar, para os transformar em banalidades, para os fazer passar totalmente do domínio do conteúdo para o domínio convencional do código. (p. 48)

Outra tendência é o para tudo interpretar num texto artístico como significativo, que estamos bem fundamentados para considerar que numa obra não há nada de contingente. (p. 49)

A linguagem de um texto artístico é um modelo artístico do mundo e neste sentido, por toda a sua estrutura ao conteúdo traz uma informação. (p. 50)

O estudo da linguagem artística das obras de arte não nos dá apenas uma certa norma individual de relação estética, mas reproduz um modelo do mundo nos seus contornos gerais. (p. 50)

A linguagem não modeliza só uma determinada estrutura do mundo, mas também o ponto de vista do observador. (p. 51)

A linguagem da arte modeliza os aspectos mais gerais do mundo (os seus princípios estruturais, em uma série de casos, será o conteúdo fundamental da obra). (p. 52)

Relação da linguagem e da mensagem da arteO valor informativo da linguagem e da mensagem

num texto muda segundo a estrutura do código do leitor, segundo suas exigências e expectativas. (p. 52)

No momento da percepção de um texto artístico, somos inclinados a tomar numerosos aspectos da sua linguagem como mensagem (p. 53)

O conceito de linguagem na arte verbal

A literatura deve possuir a sua linguagem

Significa ter um determinado conjunto fechado de unidades significativas e de regras para a sua combinação, que permitem transmitir certas informações. (p. 53)

A literatura se debruça sobre um dos tipos de linguagem – a língua natural. (p. 53)

A literatura fala uma linguagem particular que se sobrepõe à língua natural como sistema secundário. Por esta razão é definida como um sistema modelizante secundário. (p. 55)

Nas línguas naturais os signos distinguem-se com relativa facilidade. (p. 55)

Os signos em arte não têm um caráter convencional.

Os signos icônicos constroem-se segundo o principio de uma ligação de dependência entre a expressão e o conteúdo. (p. 56)

O signo modeliza o seu conteúdo.

Cada texto artístico é elaborado como signo único de um conteúdo particular.

Um signo único aparece como um resumo de elementos tipos e a um nível definido segundo regras tradicionais. (p. 57)

A arte verbal, apenas se baseia na língua natural para a transformar na sua própria linguagem, secundária, a linguagem da arte. (p. 58)

A pluralidade dos códigos linguísticosA arte apresenta o aspecto da pluralidade de

principio de leituras possíveis de um texto artístico.

O receptor do texto não só deve decifrar a comunicação com a ajuda de um determinado código, mas também estabelecer em que linguagem o texto foi codificado. (p. 60)

O autor destaca que se o auditor tenta decifrar um texto utilizando outro código que não o do seu autor duas relações são possíveis:

O receptor impõe ao texto a sua linguagem artística

O receptor tenta perceber o texto segundo cânones já seus conhecidos. (p. 61)

A grandeza da entropia nas linguagens artísticas do autor e do leitorPara que um ato de comunicação artística em

geral exista, é necessário que o código do autor e do leitor formem conjuntos de elementos estruturais que se cruzem. (p. 62)

A entropia de uma linguagem é formada por duas grandezas:

De uma carga com sentido determinado (p. 64)Flexibilidade da linguagem (p. 64)

O discurso poético impõe ao texto uma série de limitações sob o aspecto de um dado ritmo, de rimas, de normas lexicais. (p. 64)

Kolmogorov faz a distinção de três componentes fundamentais da entropia de um texto artístico verbal:

A diversidade de conteúdo nos limites de um texto

A diversidade da expressão diferente de um mesmo conteúdo

Limitações formais impostas à flexibilidade da linguagem (p. 65)

Para o criador do texto se esgota a entropia da flexibilidade da linguagem, para o receptor pode ser de um modo diferente. (p. 66)

O poeta sabe que teria podido escrever de outro modo, já o leitor recebe o texto como artisticamente perfeito e não considera que ele poderia ter sido escrito de outro modo.

A poesia é um meio de dizer em verso o que se pode comunicar também em prosa de forma a formular uma verdade particular. (p. 66)

O escritor, esgotando a carga significativa da linguagem, construiria e escolheria sinônimos para a exprimir. (p. 67)

O escritor é livre para substituir palavras ou frases do texto.

O leitor considera que o texto que lhe é proposto é o único possível. (p. 67)

A flexibilidade da linguagem passa a uma carga significativa complementar, elaborando uma entropia particular do conteúdo poético. (p. 67)

Num caso limite, pode-se dizer que na linguagem poética, qualquer palavra pode tornar-se sinônima de qualquer outra palavra. (p. 68/ p. 70)

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