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PENTAGRAMA LECTORIUM ROSICRUCIANUM Dezembro 1999 - ano vinte e um nº 6 Revista bimestral do A CRIANÇA, UMA CRIANÇA, MEU FILHO CADA CRIANÇA É SEU PRÓPRIO E ÚNICO MISTÉRIO O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A PROTEÇÃO DO CORAÇÃO A CANÇÃO DA ALMA DO MUNDO OS JOVENS EM UM MOMENTO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES SERÁ QUE UM DIA ELE VAI ENCONTRAR A LUZ? AS ESCOLAS JAN VAN RIJCKENBORGH A CRIANÇA E A PÉROLA A CONVENÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM POR...

PENTAGRAMA · PENTAGRAMA LECTORIUM ROSICRUCIANUM Dezembro 1999 - ano vinte e um nº 6 Revista bimestral do A CRIANÇA, UMA CRIANÇA, MEU FILHO CADA CRIANÇA É SEU PRÓPRIO E ÚNICO

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PENTAGRAMAL E C T O R I U M R O S I C R U C I A N U M

D e z e m b r o 1 9 9 9 - a n o v i n t e e u m n º 6

R e v i s t a b i m e s t r a l d o

A CRIANÇA, UMA

CRIANÇA, MEU FILHO

CADA CRIANÇA É

SEU PRÓPRIO E ÚNICO

MISTÉRIO

O DESENVOLVIMENTO

DA CRIANÇA

A PROTEÇÃO

DO CORAÇÃO

A CANÇÃO DA

ALMA DO MUNDO

OS JOVENS EM UM

MOMENTO DE GRANDES

TRANSFORMAÇÕES

SERÁ QUE UM DIA ELE

VAI ENCONTRAR A LUZ?

AS ESCOLAS JAN VAN

RIJCKENBORGH

A CRIANÇA E A PÉROLA

A CONVENÇÃO

INTERNACIONAL DOS

DIREITOS DA CRIANÇA

O QUE

OS ROSA-CRUZES

ENTENDEM POR...

ÍNDICE

2 A CRIANÇA, UMA CRIANÇA,MEU FILHO

7 CADA CRIANÇA É SEU

PRÓPRIO E ÚNICO MISTÉRIO

12 O DESENVOLVIMENTO DE UMA

NOVA PERSONALIDADE

19 A PROTEÇÃO DO CORAÇÃO

25 A CANÇÃO DA ALMA

DO MUNDO

30 OS JOVENS EM UM

MOMENTO DE GRANDES

TRANSFORMAÇÕES

34 AS ESCOLAS JAN VAN

RIJCKENBORGH

38 SERÁ QUE UM DIA ELE VAI

ENCONTRAR A LUZ?

41 A CONVENÇÃO

INTERNACIONAL DOS

DIREITOS DA CRIANÇA

43 O QUE OS ROSA-CRUZES

ENTENDEM POR...

44 A CRIANÇA E A PÉROLA

1999 ANO VINTE E UM

NÚMERO 6

A revista Pentagrama propõe-se a atrair

a atenção de seus leitores para a nova era

que já se iniciou para o desenvolvimento da

humanidade.

O Pentagrama tem sido, através dos tempos,

o símbolo do homem renascido, do novo

homem. Ele também é o símbolo do universo

e de seu eterno devir, por meio do qual o plano

de Deus se manifesta.

Entretanto, um símbolo somente tem valor

quando se torna realidade. O homem que

realiza o Pentagrama em seu microcosmo,

em seu próprio pequeno mundo, consegue

permanecer no caminho da transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor a operar

esta revolução espiritual em seu próprio interior.

© Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

PENTAGRAMA

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As crianças sempre são “uma pro-

messa que se renova”, pois elas têm

uma chance de realizar todos os

sonhos e todas as possibilidades. O

mistério da criança é muito mais

profundo do que pode supor a

Psicologia. Neste número da revista

Pentagrama vamos tentar mostrar o

que a infância tem de especial, pois

a criança, cada criança, é um ser

totalmente diferente do adulto, em-

bora o adulto tenha começado sua

vida como criança.

O universo, nosso universo, não passade uma parte de um universo maior. Onúmero de sistemas estelares é incalcu-lável e infinito, em um espaço que nãopassa de uma pequena parte de umcorpo incomensurável. Sóis, luas, plane-tas, estrelas, todos formando um con-junto coerente, coexistem em conformi-dade absoluta com as leis do universo.

Neste sistema, o planeta Terra nãopassa de um grão de areia que carre-ga milhões de vidas diferentes. O uni-verso contém todos os princípios vitaise sempre encontramos o que é grandenaquilo que é pequeno, mesmo emnosso minúsculo grão de areia que é aterra. As medidas e as dimensões,grandes ou pequenas, distantes oupróximas, são determinadas pelo sen-tido do observador, pelos pontos deobservação e pelas experiências quedaí resultam.

Até o século XIX, nosso globo aindaera uma região desconhecida e indizi-velmente grande. As explorações eramaventuras perigosas, com descobertas

revolucionárias. Mas, em geral, o únicomundo conhecido era o lugar ondemorávamos. Para as mulheres, a famíliageralmente representava a única regi-ão em que elas exerciam sua autorida-de. Os laços familiares encerravam atodos. Princípios tirânicos e opressoresconstituíam, geralmente, a argamassaque consolidava a estrutura habitual davida familiar. Eles garantiam a seguran-ça e ofereciam certas chances na vidaem sociedade.

A HUMANIDADE VISTA COMO UM

SÓ CORPO

Hoje, este mesmo mundo tornou-sebem menor. A eletrônica, o rádio, a tele-visão e a rapidez dos transportes fize-ram com que os habitantes da terratomassem consciência do grande mun-do que os envolve. Todos os dias, reve-lam-se condições de vida desconheci-das, particulares a culturas e a paísesestrangeiros. Os diferentes climas, com-portamentos e religiões criaram por toda parte normas distintas. Os huma-nos não estão exclusivamente restritosa um pequeno grupo: agora, eles vêemque a humanidade forma um todo, “umsó corpo”.

Há dois tipos de seres humanos:homens e mulheres. De acordo com aBíblia, assim como o Alcorão, primeirovieram os homens e depois, as mulhe-res. Mas alguns textos orientais dizemque a “Mãe” surgiu antes. Na narrativagnóstica da Gênese, Deus criou um ser“homem e mulher, a sua semelhança”.A consciência humana não consegueconceber esta semelhança com Deus,

A CRIANÇA, UMA CRIANÇA, MEU FILHO

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pois o Ser cósmico universal, o Pai-Mãede todas as coisas, escapa ao podersensorial dos seres humanos. Sua gran-deza ultrapassa infinitamente a peque-nez humana.

Entretanto, esta “grandeza” está es-condida na “pequenez”, porque o princí-pio vital está justamente na “semelhan-ça” do princípio criador original. A pala-vra semelhança deveria ter, certamente,mais significação na narrativa original.Aquilo que “é semelhante a Deus” é oveículo do homem original. Era umcorpo criador e realizador, dotado deforças inimagináveis. À criatura humanaoriginal estava ligado um princípio vitalirradiante que vivia em perfeita uniãocom ela.

O CAMINHO DAS EXPERIÊNCIAS

A segunda narrativa da criação naBíblia é o mito do paraíso, que dá uma

imagem completamente diferente, umaimagem de um outro tempo e de umoutro lugar. Não se trata mais do homemcriador, feito à imagem de Deus.Também já não se trata de uma unida-de, mas de uma dualidade, de umhomem que quer aprender e tem deaprender, e que tem diante de si muitasexperiências a vivenciar. A históriaexaustiva do homem do Antigo Tes-tamento já não é a primeira imagem, bri-lhante, da criação. Portanto, o ser cós-mico original nada tem a ver com esteshomens e todas estas mulheres cujossofrimentos, lutas e expiações consti-tuem a história da humanidade. O podercriador destes homens e mulheres nãoconfere a eles nenhuma semelhançacom Deus. O homem cria unicamentehomens. E aí está um novo mistério: ohomem, separado de Deus e mergulha-do na dualidade, gera filhos, em umfenômeno maravilhoso que o faz partici-par da epopéia da criação. A criançaparece ter sido seu bem mais precioso.

A contemplação do mundo, cuja coesão é imutável, fará com que opensador sensato conclua que existeuma ligação eterna e inexorável coma divindade que mantém todo o conjunto. No entanto, o que se vê éque o inexorável e o mutável tambémestão no mundo material, da mesmaforma que o imutável está no mutá-vel. O homem pode reconhecê-lo.Mas, para tanto, é preciso que elepossua algo que lhe permita perceberisto. Este algo é a luz interior ouAlma-Espírito, do mesmo modo que a luz exterior é o algo que torna tudo visível.A Alma-Espírito, enquanto luz, é des-conhecida pelo homem que aindanão nasceu de Deus, ou seja, queolha as coisas com seu próprio espí-rito da natureza, e não com o

Espírito Santo.Se ele começar a ver Deus em seuespírito, então ele verá que Deus estáfora do espaço, do tempo, dos luga-res e do movimento; e que, entretan-to, há algo em Deus que está emmovimento e que organiza este espa-ço, este tempo, estes lugares e o universo. Este “algo” é a palavra [o verbo], a sabedoria e a glória deDeus. E esta palavra [verbo] não ésomente uma idéia, mas algo de físi-co, que faz com que o divino e ohumano, assim como o supra-senso-rial e o sensorial, o espiritual e o cor-poral exerçam uma influência sobre areceptividade humana ao divino;sobre o poder do homem exterior dese elevar até o supra-sensorial; sobreo poder de sublimação do que ématerial em espiritual.”

TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO “AS FORÇAS MÁGICAS DANATUREZA”, DE KARL VON ECKARTSHAUSEN

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Abraão deve sacrificar seu filho comoprova de extrema fidelidade a seu Deus.E Raquel chora amargamente por nãoter tido um filho. Relacionamos com acriança a expectativa do perdão e doretorno ao paraíso, um futuro de abun-dância e dignidade. Envelhecemos,morremos, mas a criança representa acontinuação da vida. Raquel quer umfilho: não o filho de uma escrava, masum filho “seu”.

LEMBRANÇA DE UMA LONGA VIAGEM

Apesar de desconhecermos atual-mente a vida pré-natal, há muitas crian-cinhas que dizem que “vieram de muitolonge”. Elas têm a lembrança de “umaviagem muito longa”. Estas lembrançastípicas fazem parte do mundo meio-real,meio-fantástico da criança pequena. Énotável como crianças de três ou quatroanos sempre estão falando a respeitodestes “fantasmas”. Parece até que obebê, em seu berço, está se comuni-cando diretamente com seus pais, ape-sar de nem sempre se fazer entender.

Qualquer um que observe as crian-ças de hoje tem muitas vezes a impres-são de que os pensamentos e a imagi-nação destes seres jovens ainda têmalgo de belo, de novo, de precioso, deoriginal, e ao mesmo tempo tambémtêm a impressão de que deles emanauma maturidade e uma sabedoria depessoas já velhas. De fato, todas ascrianças, e até mesmo os recém-nasci-dos, mostram de tempos em temposeste aspecto duplo. Neles, a marca dopassado primordial, o mistério da cente-lha criadora, está visível como acontece

depois de uma grande “faxina”; e, aomesmo tempo, eles continuam com orastro das experiências acumuladasdesde um tempo imemorial.

NOVO TESTEMUNHO DA PROMESSA

A centelha original e o princípiomicrocósmico começam juntos umanova série de experiências. O plano desalvação (que é a possibilidade do res-tabelecimento do ser original) está liga-do à alma humana sob a forma de livrearbítrio desta última. A cada nascimentode uma personalidade, a alma é vivifica-da pelo sistema microcósmico e pelacentelha de luz original, o que faz nas-cer possibilidades inteiramente inéditas,pois a criança é a nova manifestação, onovo testemunho da promessa.

Mas a personalidade (que é o tercei-ro elemento deste conjunto) logo mostranesta criança suas características dis-tintivas. É inegável que uma criança chi-nesa, africana ou indiana traz a vesteque o microcosmo recebeu no momen-to em que se ligou ao corpo. Os traçosparticulares herdados do sangue e dafamília podem ser reconhecidos. Todasestas correntes que provêm de váriasfontes reúnem-se e influenciam a vidada criança. Assim o esquema de cadavida humana é único no mundo e jamaisexistiu no passado. O ser humano é umser único entre milhares e milhares deseres únicos.

Para que a vida se cumpra, é precisoque existam todos estes fatores grava-dos na matriz da criança pequena, parasua felicidade ou infelicidade. Qualquerque seja o caso, a maravilhosa criatura

original, “semelhante a Deus” está ocul-ta em cada destino.

OS DIREITOS DA CRIANÇA

Se mergulharmos seriamente emtudo isto, chegaremos invariavelmente auma conclusão: a criança é preciosa.Muitos já destacaram isto. Até foramestabelecidos critérios internacionais,sob o nome de Direitos da Criança. Umdeles é o “direito à dignidade”: a mani-festação de sua própria personalidade.

O começo do século XX foi marcadopor fatos espirituais e grandes esperan-ças que diziam respeito à vida social,uma nova arquitetura, uma literatura ins-pirada, projetos educacionais e sobretu-do, contatos espirituais internacionais. AEuropa estava vendo a chegada daIdade de Ouro. A experiência mostrouque se tratava de um movimento ascen-dente de rotação sem fim da vida dahumanidade.

Nestes anos cheios de otimismo doinício do século, entretanto, o poetaRabindranath Tagore (1846-1941) es-crevia que a educação ocidental dada

nas escolas indianas era totalmentefalha quanto ao amor verdadeiro. “Aeducação indiana está sob a influênciado Ocidente, onde este amor desapare-ceu. A educação ocidental está voltadapara os interesses e vantagens mate-riais, enquanto o aspecto espiritual estátotalmente negligenciado. Deveriam serinstituídas escolas nacionais que res-pondessem às condições nacionais,sem livros e ensino escolar, mas feitaspara a alma, que aspira à verdade. Estainstrução não deve somente comunicarconhecimentos: ela deve também vivifi-car a alma.”

ESFORÇOS DESENVOLVIDOS PARA QUE A

ALMA CONTINUE DESPERTA

Tagore começou instituindo as “Esco-las das Florestas”, que seguiam o mo-delo das antigas escolas de sabedoriaindianas perdidas no silêncio e na pro-fundidade da floresta. Em 1914, pertode Calcutá, a escola já reunia muitascentenas de jovens. O poeta indonesia-no Noto Sïroto seguiu esta experiênciaconvincente esforçando-se para manter

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desperta a alma da criança e não deixarque ela perecesse por falta de alimento.

Na Europa, estes mesmos impulsosde renovação e de aperfeiçoamentofizeram-se sentir: renovação da instru-ção, atenção dada ao indivíduo, à natu-reza, à psicologia da criança. Esta jánão era considerada como um “pequenoadulto”, mas como um ser em simesma, um ser de um tipo especial. Emconseqüência das novas idéias, houvereações exageradas, que resultaram emuma sub-cultura de um terceiro tipo.

Este número temático de Pentagra-ma certamente não quer adicionar nadaa todos estes ideais de ontem e de hoje segundo os quais os pais são res-ponsáveis por seu filho, esta criançaque, uma vez adulta, vai determinar aimagem da sociedade.

Uma alma indiana e uma alma chine-sa são diferentes pela herança milenarde suas raças e de suas culturas. Mas oque pode manifestar-se em uma criança–– um jovem ser primordial perfeitamen-te puro e belo –– não depende de temponem de lugar. Este ser requer somenteo benefício das condições necessáriaspara poder expressar-se aqui e agora.

Quem reconhece e compreende estanecessidade de expressão, toma sobresi uma nova responsabilidade diante detodas as crianças da terra.

Neste número, trataremos da questãoda origem e da finalidade de todos osseres humanos. Cada uma das novasvidas humanas que surgem tem a pos-sibilidade de receber e de seguir osimpulsos do princípio divino do coração;então, o homem divino pode ressuscitarno homem biológico, vivificado peloEspírito divino. Em seu livro A GnosisChinesa Jan van Rijckenborgh diz:

“O filho de Deus possuiu um vasocheio, a rosa de sete pétalas, o cáliceem forma de lírio de sete pétalas, o cáli-ce do Graal, do coração. O filho de Deusé, portanto, um filho de Deus porquepossuiu este santo cálice. Ele represen-ta o Reino de Deus em nós. O átomooriginal esconde um universo. O univer-so inteiro está aí contido. [...] Viemos deum microcosmo que encerra o ser divi-no. Não devemos dizer ´eu sou um filhode Deus´ destacando o ´eu´. Estamossomente próximos dele. O filho de Deusestá conosco no mesmo microcosmo. O´Outro´ existia muito antes de nós. Eleestá conosco e existirá depois de nós.”

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No universo infinito do qual não conhe-

cemos nem o começo nem o fim, nem a

extensão, nem a profundidade, vivem

por volta de seis bilhões de seres huma-

nos. Sua origem também é desconheci-

da. A maioria deles nem conhece o obje-

tivo de sua viagem. Cada um brilha por

um curto instante, como luzinhas na noi-

te. Alguns se apagam ao final de alguns

anos; outros, duram quase um século.

Todos acabam desaparecendo no des-

conhecido. E às vezes, durante um curto

instante, eles se perguntam: “Quem

sou? Sou realmente alguém? Como

cheguei a viver?

Eles olham para o alto, para todasestas estrelas e pensam: “Será quevenho de lá?” Eles observam a água emperpétuo movimento e se dizem: “Seráque minha origem vem daí?” Eles sevêem a si mesmos e imaginam: “Penso,sinto, quero, faço, mas... por que vivo?Será que há alguém me esperando?”

No final do século XIX, foi encontradaem uma floresta, na França, uma moci-nha que jamais havia tido contato com acivilização. Ela não falava: era incapazde falar. De tempos em tempos, ela emi-tia ruídos semelhantes a gritos de ani-mal. Ela andava com os pés e as mãos,muito depressa. As pessoas que a reco-lheram e a mostravam na feira tinhamdificuldade em vesti-la. Ela jamaisaprendeu a andar de pé ou falar. Masnão foi o único caso. Rudyard Kipling,em seu Livro da Selva fala de Mogli, omenino lobo, o caso mais conhecido.Ainda houve Rômulo e Remo, os funda-dores de Roma, que foram amamenta-

dos por uma loba. E Kaspar Hauser.No final do século XX não é fácil ser

jovem. Se você tem 14, 15 ou 16 anos,tem de ser capaz de fazer muitas coi-sas. Tem de ser jovem e bonito. Tem desaber o que está na moda ou não. Temde falar depressa, abreviando tudo, apartir de olhares e gestos rápidos.Inventar palavras e expressões novasque parecem vir de um outro universo.Tem de saber andar de skate ou patins,ou não. Tem de achar que a agressivida-de é normal, ou o contrário. Tem desaber dançar super bem, mas jamaisfazer isto. Tudo isto você aprende naescola, mas não durante as aulas. Aescola é “qualquer coisa”, ela é “chata”,tipo: os “profs” são “zero à esquerda”.Você “não está nem aí” para o conselhodos “velhos”.

QUEM REALMENTE COMPREENDE AS

CRIANÇAS?

Isto não é novidade. Os educadoresreclamam dos jovens há séculos! Quemrealmente compreende as crianças?Quem compreende uma que seja, umpouquinho só, quem ousa compreendê-la, está se preparando para ver de pertoseus próprios problemas: enigmas!

Entre 1920 e 1940, um médico tinhafundado em Varsóvia um orfanato quevivia graças a donativos. Como o anti--semitismo já existia na Polônia naquelaépoca, muitas crianças judias foramadmitidas neste orfanato. O doutor Ja-nusz Korzack era uma personalidadeúnica. Quase todo o trabalho do orfana-to era assegurado pelas crianças quetomavam conta umas das outras e pre-

CADA CRIANÇA É SEU PRÓPRIO E ÚNICO MISTÉRIO

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paravam as refeições. Elas tinham seupróprio tribunal, a mais alta instância nointerior do orfanato. As crianças se reve-zavam no cargo de juízes, queixosos ouadvogados. As sentenças eram respei-tadas por todos.

Tanto no país como no estrangeirovinham comissões para estudar estainstituição e havia observadores quesaíam muito impressionados. As crian-ças tinham um grande respeito pelo“doutor”, como elas o chamavam. Amaior parte do tempo ele estava viajan-do para buscar alimento, couro para cal-çados, combustível para a cozinha epara o aquecedor, e também para acharcolocação para “suas crianças” comartesãos, camponeses ou comercian-tes. Ele não se metia no andamento docotidiano do orfanato. As criançastinhas suas próprias leis. Elas eramduras mas sinceras, naturais e adapta-das à rude existência na terra. Elas seeducavam umas às outras em tudo oque dizia respeito a seu relacionamen-to, geralmente muito melhor e de formabem mais eficaz do que um adulto ofaria, apesar de não terem aprendido,talvez, boas maneiras. De onde vinhaeste respeito pelo doutor Korzack? Arazão era simples: ele reconhecia ovalor delas! Ele ousava admitir que ascrianças têm o seu próprio mundo. Eleas respeitava e elas o respeitavam.

“VAMOS ACORDAR PARA NOVOS

TEMPOS”

Quando o gueto de Varsóvia foi fe-chado e tudo terminou em um banho desangue para esta população que resis-

UM TEMPO BOM PARA TODOSOS “FLORESCERES”

Depois do terceiro mês, o número de células cerebrais quase já nãoaumenta. As ramificações não cres-cem muito mais. Somente as célulasdo centro da palavra ainda vão sedesenvolvendo durante alguns anos.Experiências com gatos e ratos mos-traram que as influências exterioresestimulam as células cerebrais,desenvolvem suas ramificações demodo diferente e permitem fazer aescolha de um certo número dentreas milhares que existem para estabe-lecer contatos precisos. Os gatinhos aquem são dirigidos a cada doissegundos certos impulsos luminosos,sem nenhuma apresentação de ima-gens em movimento, não são capa-zes, logo em seguida, de perceberqualquer movimento. Observou-seque, nas primeiras semanas depoisdo nascimento, cada célula nervosado centro cerebral da visão dos ratostinha cerca de catorze contatos comoutras células nervosas. Quando abri-ram os olhos, este número chegouaté oito mil contatos por células emduas semanas. Se os ratos fossemmantidos cegos, o número de conta-tos não aumentava. Se seus olhosfossem abertos um mês mais tarde, o atraso da visão não seria recupera-do: e eles ficariam cegos por toda a vida.Dados extraídos de Denken, vegessen,Frederic Vester, Deutsche VerlagsAnstald GmH, Stuttgart, 1975.

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tia, os sobreviventes, assim como ascrianças do orfanato, foram conduzidospara um campo de concentração.Korzak, o célebre médico e psicólogoinfantil, estava livre, mas preferiu ficarao lado de seus pupilos que confiavamnele. Depois de vestirem suas roupasmais bonitas, tendo o doutor à frente,eles fizeram filas na câmara de gás. Aíele pediu que fizessem um círculo aoseu redor e contam que lhes disse:“Agora vamos dormir e depois vamosacordar em um mundo livre, para novostempos.”

Uma outra maneira de viver, e desobreviver, acontece nas ruas de algu-mas metrópoles da América do Sul,onde vivem grupos de jovens e criançasque fugiram ou que foram abandona-

dos, não porque já sejam quase adultosou muito difíceis de se lidar, mas porqueatingiram uma idade em que, nos paí-ses desenvolvidos, ainda são protegi-dos, cuidados, aquecidos, alimentadose penteados. Estas crianças acordamna rua.

Ineke Holtwijk fala a respeito delasem um livro impressionante: Anjos doAsfalto, nome dado a um destes grupos.Os anjos do asfalto procuram uns aosoutros, se protegem. Eles têm leis espe-ciais que todos eles respeitam. Àsvezes, o mais velho é o chefe. Mas qualé a finalidade deles? Sobreviver! Rou-bando, escapulindo o mais rápido possí-vel, passando droga. A vida deles é umjogo novo a cada dia, mesmo se elesnão fizerem nada.

Diante daextrema violênciada vida (W. HeathRobinson, A songof the English,Rudyard Kipling,1915).

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O código deles inclui uma regra fér-rea: não dar confiança a nenhum adulto,e naturalmente menos ainda à polícia.“Não deixe nenhum adulto entrar no seumundo, nem deixe que ele lhe dê a mão! Senão, você está perdido, perdea sua liberdade, perde o respeito por si mesmo.”

Jan van Rijckenborgh escreveu: “Ima-ginem: uma criança é concebida, umacriança dotada de uma alma original.Quando esta alma é ligada ao corpo,ela encontra o mal inerente à naturezadialética. Agora, a questão é: quandoesta criança crescer e ficar mais velha,quando ela precisar aceitar a vida, seráque ela vai lutar contra o mal ou seráque simplesmente o admitirá, seguindoo caminho do mínimo esforço? Todosnós, na qualidade de entidades dotadasde uma alma, passamos pela ditadurado corpo, o que faz com que a almacorra o risco de se perder, de morrer.”

A criança que ainda não foi perverti-da nem corrompida pela atmosferageral, que vive de uma centelha de luzinterior, é receptiva, aberta, curiosa. Elapensa que não sabe nada e que vaiaprender tudo. Mas, se ela não forenvolvida por seus pais com muitoamor, compreensão e dedicação, elamorrerá, tanto interiormente como exte-riormente. Por sua própria natureza, acriança se vê no centro de uma família,não como indivíduo, mas como parteintegrante da família que é o seuambiente cotidiano. “Há um tempo paranascer e um tempo para morrer; umtempo para plantar e um tempo paraarrancar o que foi plantado.”(Eclesiastes, 2).

É preciso aprender o que é necessá-rio no momento certo. Se a criança nãoaprender a falar durante seus primeirosanos porque não lhe deram o exemplo,ela não conseguirá aprender a falarmais tarde e sua escolha de palavrasserá muito limitada. O mesmo acontecepara andar, ver, ouvir e principalmentecom relação ao altruísmo e a vidasocial. O que é aprendido tarde demaisé um verniz e realmente não faz parte

de seu ser. Se a criança não tiver oexemplo de almas realmente vivas etiver como ponto de referência apenasos ídolos que estão na moda da TV edos CDs, esta criança deverá lutar muitopara não sucumbir interiormente à dita-dura da vida material.

Não se trata de um fracasso em rela-ção ao plano social, mas de um funcio-namento insuficiente com relação aoplano humano. Trata-se de manter aconsciência desperta e viva na criança:ela, que busca o contato com a Vida ver-dadeira! Desde pequena, ela viveu a experiência desta energia poderosa e viva, sempre diferente, que sempre está ensinando alguma coisa nova, que a guia para que ela não se machu-que contra o muro da ignorância. Elasente a ignorância como uma tempesta-de que não lhe dá descanso, que asacode e que sempre a está empurran-do para compreender a vida. Viver éaprender sempre, a fim de encontrar,um dia, o caminho desta Única Vidasem alternância dos contrários, semdualidade. Todas as crianças têm direitoa esta Vida.

Cada criança é um mistério e se diri-ge para um objetivo único que lhe é pró-prio. Os adultos devem deixar de tentarmudá-las e sim envolvê-las com amiza-de, compreensão e amor.

O grande segredo(Foto de JanetDelaney).

O homem terrestre é um “ser

decaído”. A unidade entre o poder

criador e o poder realizador per-

deu-se, e a vida deslocou-se para

o domínio material. Os pólos cria-

dor e realizador se separaram e a

unidade da cabeça e do coração já

não existe.

Desta forma, um microcosmo mutila-do não pode se expressar. Antes,quando ele não estava danificado,podia formar um corpo para manifes-tar-se na matéria. Hoje, é necessárioum casal, um homem e uma mulher,para constituir um corpo como este, eisto a partir de um plano de desenvolvi-mento dos futuros aspectos da perso-nalidade. O campo de manifestação (omicrocosmo) é ligado a um casal que éjulgado capaz de dar à criança a assis-tência necessária.

O desenvolvimento da criança geral-mente é submetido à influência docarma inscrito no microcosmo e daspossibilidades dos pais. A participaçãoativa destes é necessária para construira jovem personalidade e formá-la deacordo com as sugestões do microcos-mo. Os átomos etéricos penetram osátomos materiais para lhes dar vida. Éo corpo etérico que regulamenta espe-cialmente o crescimento, o ritmo devida e as percepções sensoriais. Estasfunções não estão submetidas à in-fluência direta da vontade. É por issoque o metabolismo, por exemplo, seefetua harmoniosamente. Entretanto,uma influência indireta da vontade pode

perturbar o metabolismo, o crescimentoe o ritmo de vida. Podemos dizer que ocorpo etérico também tem uma vontadeprópria. Como princípio cósmico, eletem uma função de organização e ga-rante o funcionamento do sistema neu-rovegetativo; ele liga a criança à terra eao cosmo que a determina.

Durante muito tempo os psicólogospartiram da idéia de que a criança, aonascer, era como uma película fotográ-fica que não tinha ainda sido exposta, eque era o seu ambiente que condicio-nava o desenvolvimento de sua alma.Mas hoje, nos perguntamos se a crian-ça já não dispõe de um substrato pré--condicionado. A Psicologia encontra,assim, a idéia esotérica de que estacriança é dotada de um microcosmo,que é como um tema sobre o qual seuspais e educadores devem desenvolvervariações – freqüentemente sem saberdisto. Desde os primeiros dias, fica cla-ro que o recém-nascido apresenta cer-tas atitudes. Sabemos que sua manei-ra de comunicar-se desde o início comseus pais – por meio dos olhos, demodo rudimentar – já está estruturada.As impressões são ordenadas e esto-cadas logicamente, de tal modo que seconstitui uma memória de curta dura-ção. Em seguida, vem a aprendizagemda linguagem, que é feita em algunsmeses. Os métodos atuais de ensinode língua inspiram-se quase semprenas maneiras pelas quais as criançaspequenas aprendem a falar.

O ambiente tem de poder vivificar todasestas capacidades de modo significativo, afim de que elas se desenvolvam. De fato,nos três primeiros anos, estabelecem-seligações entre as células cerebrais, e istovai determinar o poder mental futuro.

O DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA

PERSONALIDADE

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O MUNDO ASTRAL E O CORPO ASTRAL

As forças astrais agem por meio doschakras, principalmente sobre a secre-ção interna. Elas também permitem aaquisição de conhecimentos e de suaassimilação. O corpo astral original échamado de “manto sideral do Homem--Espírito”. Mas, ligando-se cada vezmais à matéria, o corpo astral do ho-mem terrestre teve de se submeter aosinstintos, às paixões, aos desejos, àsimpatia e à antipatia – a todos estesfenômenos da vida que têm como eixo asobrevivência, e da qual fazem parte odesejo de adquirir bens materiais e o dedesenvolver a ciência e a cultura.

Saber é poder, e o homem tem ne-cessidade de poder para dominar todasas outras formas de vida, para sobrevi-ver fora do Paraíso. Como o corpo astralatrai, como se fosse um ímã, tudo o queo homem tem necessidade, ele é tam-bém chamado de “corpo de desejos”, oque não significa que todos os desejossejam inferiores. As aspirações maisnobres, os ideais individuais e coletivos,também provêm do corpo de desejos. Eé a partir deles que o ser humano tentadar uma certa forma a sua vida e a seuambiente.

O crescimento do corpo de desejos,ou corpo astral, faz nascer um novoaspecto na criança que está crescendo.“É como se de repente, eu olhasse poruma outra janela”, diz uma menina emquem está despertando o corpo astral.A substância astral que envolve a hu-manidade – e portanto todas as pes-soas – passa a ser, portanto, o objetode uma experiência muito particular emuitas vezes se trata de uma percep-

A INDIVIDUALIZAÇÃO

A individualização se opera naescola, isto logo se vê. Na escola“primária” [ensino fundamental atéa 4ª série] as crianças se sociabili-zam em função de seu meioambiente. Logo que entram no“ginásio” [ensino fundamental até a8ª série], isto muda bastante. Empouco tempo elas se tornam “maisduras”. Na 6ª série, por exemplo,vemos a separação entre as crian-ças sociáveis e as que já estão“endurecidas”. Na 5ª, a separaçãoé evidente; muitos perdem suaabertura e se tornam duras emrelação a si mesmas e às outras.Na 4ª série, as que continuamsociáveis se distinguem bem nitida-mente. Elas seguem sua própriadireção, enquanto outras vão-sevoltando cada vez mais para asnormas e opiniões que estão emvigor. O processo de delimitação ede individualização continua defini-tivamente e os princípios a que ojovem se entrega não são questio-nados a não ser quando ele atingeuma certa maturidade e sua visãode vida fica mais tolerante.Esta tolerância é o resultado detudo o que foi oferecido a eledurante o seu crescimento: amor,sabedoria, compreensão.As crianças que não tiverem“juventude feliz” geralmente terãodificuldade em ultrapassar o instinto de conservação.

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ção. A criança admite e assimila tudo oque é correspondente ao seu estadointerior e rejeita o que não é.

Desta maneira, o corpo astral clas-sifica suas percepções: elas são aceitá-veis ou não. Ele passa a julgar. Faz umatriagem na universalidade das coisasque sempre envolveram o corpo etérico.Traça fronteiras. A criança começa aguardar distância das coisas, a for-mar sua compreensão. Ela coloca seuser no interior dos limites do espaço edo tempo.

O corpo etérico da criança experi-menta, como já dissemos, a universali-dade das coisas, mesmo que o faça in-conscientemente, a maioria das vezes.Algumas crianças têm visão etérica.Elas observam os movimentos dos éte-res sob a forma de correntes de luz, decores, ou de imagens concretas. Mas,geralmente, elas não sabem nem inter-pretá-las nem o que fazer com elas. Seos pais não demonstrarem compreen-são, elas acabarão não falando maisdisso. Entretanto, elas sofrem, pois nãocompreendem por que os outros nãovêem o que elas vêem.

A partir do momento em que o corpoastral desperta, a criança começa a jul-gar e a condenar. Que tempo difícil paraseus pais! No começo da puberdadesurge, portanto, uma divisão. O corpoetérico guarda a lembrança melancólicade uma existência sem responsabilida-de pessoal. O corpo de desejos impul-siona a criança a tomar iniciativas pes-soais. Enquanto esta vida jovem se voltacompletamente para o mundo exterior ese abre para a boa influência da luz, docalor, do ar e da terra, o corpo astral criaum espaço interior que não é acessíveldo exterior. O mundo interior e o mundoexterior já não estão em concordância,e é preciso fazer uma escolha. Surge,então, aquilo que é próprio da criança, oque é pessoal, assim como a dissimula-ção e o sentimento de vergonha. O queainda não pode ser exteriorizado ficaoculto, muitas vezes inconscientemente.

Uma fenda aparece no mundo fami-liar de antes, e a liberdade se apresen-

ta de muitas formas. Os laços com a família e com os pais se afrouxam, às vezes abruptamente, às vezes aospoucos e de modo racional. Mas não há ruptura se eles se apresentaremmuito fortes.

A HERANÇA DO SANGUE E O INDIVÍDUO

O novo habitante do microcosmo teveque se ligar a seus futuros pais, e rece-ber a herança de seu sangue: e isto fazcom que ele participe do próprio serdeles! Este fenômeno parece uma gran-de injustiça da natureza, pois o indiví-duo fica, assim, obrigado a concluir umcompromisso com a alma de seus paispelo sangue. Esotericamente falando,diz-se que o carma dos ancestraisrepercute na criança, que acaba rom-pendo este laço em um dado momento,para seguir seu próprio caminho.

A herança sangüínea dos pais e dosancestrais cria também um laço cármicocom aqueles com quem estes esta-vam ligados na época. Esta rede soci-al permite ao indivíduo aprender inúme-ras lições, mas tudo isto deve tam-bém desaparecer um dia para que eletenha a liberdade de seguir o seu pró-prio caminho.

Se os pais mantêm relações estreitase sadias com seu filho, podem guiar oprocesso de individualização em suapuberdade. Apesar dos conflitos gera-dos pela diferença de idade e de opi-niões, este acompanhamento é aprecia-do muito especialmente pela criança,mas nem sempre de modo explícito.

Nunca seria demais ressaltar como éséria a imensa tarefa dos pais nestestempos de desagregação e de indivi-dualização cada vez mais crescentes.Os laços de família estão se afrouxan-do. A mídia impulsiona o corpo astralpara atividades para as quais a criançaainda não está pronta, nem em nívelsentimental, nem em nível mental. Alémdisso, como a criança se tornou um fator

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econômico, é arrastada, sem ter expe-riência, a fazer compras, a possuir, aconsumir.

A ONISCIÊNCIA DOS PAIS É COLOCADA

EM DÚVIDA

Lá pelos 8 ou 9 anos de idade, as pri-meiras dúvidas sobre a onisciência dospais vão aparecendo. Esta fase é muitoperceptível na puberdade – a descober-ta de si mesmo. “Geralmente eu mesinto tão só!” ou : “Por que meus paisnão continuam juntos?” ou “Por que oshomens vivem brigando ou fazendoguerra?” A vida tranqüila dos primeirosanos se desvanece logo sob a influênciada escola, ou pelo fato de freqüentar umclube esportivo ou qualquer coisa dogênero, onde reinam princípios e valo-res diferentes que o de sua casa. Neste

momento, muitas crianças são teimo-sas e sempre querem ter razão porqueestão buscando uma segurança interior.A atitude dos pais é então preponderan-te, pois estes anos constituem um tram-polim para sua puberdade, que é operíodo em que, por definição, a crian-ça fica “impossível”. O que acabamos defalar mostra, entretanto, que será maisfácil se sua bússola interior estiver bemregulada.

No decorrer das fases mencionadas,o eu se desenvolve – ele vai manter ogoverno de sua personalidade. É asoma das experiências feitas em todosos estágios do processo de maturação.O eu já estocou diversas informaçõesrecebidas e fez a triagem delas de acor-do com a sua utilidade ou nocividade.Sua escolha é determinada por seusimpulsos e seu instinto de conservação,pois o eu não dispõe de uma razãosuperior. Ele somente fica buscando oequilíbrio entre os impulsos interiores e

Brincar de “guerra”para afastar omedo. (Des En-fants, Sabine Wiesse Marie Nimier,1997).

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exteriores, e, neste sentido, ele é guiadopelo intelecto.

Neste momento, o ser aural, que go-verna o homem pela mediação de seueu, não é fundamental. Cada microcosmorepresenta um pensamento do Criador.Este pensamento está depositado noarquétipo: o plano individual específicoque está na base do desenvolvimento deum ser humano, o plano que um dia de-verá fazer nascer a ligação entre oEspírito, a Alma-vivente e o Homem origi-nal. Nem o ser aural, nem o eu fazemparte deste plano. Estes dois seguem seucurso em seu próprio caminho, que geral-

mente é um círculo vicioso.O arquétipo se expressa no coração

pelo átomo-centelha-do-Espírito. Estenúcleo central contém o plano de cons-trução tal como ele pode ser executadona matéria. As sugestões deste princípiooriginal falam claramente em muitosjovens e crianças que estão buscandoum mundo melhor, sem doenças, semmorte, sem tristeza e injustiça. Mascomo eles não sabem como atingir estemundo, assim como os adultos quegeralmente sabem tanto quanto eles,estes impulsos vão logo desaparecendo.

No entanto, cada um deve contar com

A personalidadeencerra muitosaspectos desco-nhecidos do pas-sado e do pre-sente. (JacekMalcewski, BledneKolo, 1895-1897,GalerieRogalinskaEdwardaRaczynkiego,Poznan, Polônia).

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No entanto, cada um deve contar comeste princípio original em um dadomomento de sua vida. Cada um sente aoposição flagrante que existe entre aunidade perdida e o despedaçamento ea divisão em que ele precisa viver.

Este sentimento pode fazer nascer aaspiração pela Vida original. Então, épreciso que alguém lhe mostre o cami-nho e que ele o compreenda: ou então,ficará frustrado e mergulhará cada vezmais profundamente na matéria, sobqualquer forma em que ela se apresen-te, pois a corrida pelo dinheiro, pelasposses, pelo consumo, são aspectos davida na matéria, e também não serão osideais espirituais, religiosos, artísticos ecientíficos que irão fazer ultrapassarestes limites.

A FINALIDADE DA VIDA NÃO É

NADA DISTO!

Esse confronto faz nascer, na puber-dade, uma perturbação interna e umaprofunda incerteza. O mundo, que pare-cia tão perfeito, apresenta-se agoracomo um campo de batalha em quedominam a injustiça, o ódio, o assassi-nato e a crueldade. A finalidade da vidanão é nada disto! A criança sente estainconseqüência muito intensamente.Os adultos já tomaram seu partido edizem: “O mundo é assim mesmo! Épreciso saber conviver com isto! Eutambém fui obrigado a viver assim. Vocêvai sofrer golpes bem duros, mas isto vai fazer você ficar grande e forte.Você vai aprender por si mesmo a pas-sar um outro para trás. Faça o melhorque você puder.”

É aparentemente uma visão realista,mas, de fato, ela revela a atitude endu-recida de uma pessoa desiludida quenão seguiu os impulsos do princípio ori-ginal de seu coração. Uma decepçãocomo esta não vai acontecer se a edu-cação for voltada para o pensamentocorreto e para a ação espiritual correta.

A natureza do homem terrestre éimperfeita e está dividida. Geralmente,ele é incapaz de agir sobre os ritmos eas leis etéricas que determinam suaexistência. Seu poder mental, sobre oqual se apoia o seu eu, permite-lhefazer certas associações, é verdade,mas não pode providenciar para ele asolução duradoura. O homem atualencontra-se no ponto de perder total-mente o controle de sua “cultura”: tantoa exterior como a interior.

O ser humano está gastando suaenergia, a energia para acumular, man-ter a matéria em bom estado e paradefender suas fronteiras. Não podemosculpá-lo! É preciso um enorme esforçode vontade para se elevar do estado deanimal solitário para o estado de um sersocial. Ele aspira à paz e à harmonia,mas ele somente colhe discórdia e mas-sacres em massa!

Entretanto, os tempos estão mudan-do e ele também precisa mudar! Ele éobrigado a procurar outros caminhos.Voltar-se para o seu bem-estar nomundo não é suficiente: ele precisavisar o renascimento do Homem--Espírito. Somente um adulto que dis-põe de todos os aspectos de sua perso-nalidade pode decidir de forma autôno-ma se irá ou não seguir este caminho.Não se deve jamais forçar uma criançanesta direção. Se a educação e a apren-dizagem desenvolvem a autonomia, o

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mia, o chamado da Gnosis será enten-dido quando a consciência estiver sufi-cientemente madura. As disposiçõesprotetoras e inspiradoras judiciosas porparte de pais e educadores podem con-tribuir para o desenvolvimento harmo-nioso da personalidade, e para a recep-tividade aos valores espirituais. Quandoo corpo material e o corpo etérico sedesenvolvem harmoniosamente, a orga-nização etérica da criança faz o mesmo.Assim as emoções são mais bem assi-miladas e o “corpo” mental floresce semsobrecarregar-se.

A partir do que já falamos, parece quenão se trata de “meu” filho, “minha” crian-ça, mas somente de uma criança, de umindivíduo que foi confiado por um tempodeterminado a estes pais. Não se tratade conservar as posses materiais defamília ou de satisfazer os votos e dese-jos dos pais. Há um plano para o desen-volvimento da vida de cada criança.Cada criança tem seu próprio objetivo navida. A tarefa dos pais e educadores é ade dar as melhores bases possíveis.

O QUE A CRIANÇA QUER TRANSMITIR

PARA O SEU AMBIENTE?

O microcosmo é uma individualidade.Em sua base está um arquétipo particu-lar. Esta individualidade se expressadesde o início. Infelizmente, os adultossempre estão ocupados consigo mes-mos e com seus projetos para captarcorretamente os sinais da criança queestá crescendo. Educar é comunicar. Oque é que a criança está nos querendodizer? De que ela precisa em cada fasede sua vida? Quais são as influências

que convêm e quais as que não con-vêm? Como ela reage às diferentesinfluências, e quais são as lições que ospais e as crianças podem tirar destasexperiências?

Educar significa também desenvolverpais e guias. Os métodos que antiga-mente estavam em vigor podem estarperfeitamente ultrapassados hoje. No-vos métodos estão se apresentando. Épreciso que os pais e os educado-res estejam bem orientados espiritual-mente para poderem dar à criança umalimento suficiente e correto, pois aalma, apesar de ainda estar modesta-mente em segundo plano, tem fome doalimento espiritual.

A criança tem este direito espiritualde passar por altos e baixos em suavida a fim de que isto possa contribuir,se Deus quiser, para a libertação do seroriginal em seu próprio microcosmo.

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Em nossa época, os que querem

trabalhar pela juventude devem ter

alguma coisa para proporcionar a

ela. Hoje, a juventude está emanci-

pada e também o será no ano 2000!

Os jovens são completamente capa-

zes de formular o que querem e

nem sempre estão prontos para

escutar os adultos.

A Escola Espiritual da Rosacruz Áureaconstruiu um “Campo de TrabalhoInternacional da Mocidade”, uma orga-nização que foi especialmente criadapara a juventude, a fim de acompanharas crianças que lhe são confiadas. Estetrabalho repousa na atenção e no amorde todos para todos. Mas isto não é sufi-ciente. Esta atividade provém da neces-sidade interior da Escola, dos trabalha-dores e adultos que a compõem, de ofe-recer às crianças este amor, este afetoque os pais conscientes e responsáveisnutrem por seus filhos; a necessidadede dar às crianças que lhes são confia-das a alegria, a proteção e uma pers-pectiva de vida. E que perspectiva! OTrabalho da Mocidade da Escola daRosacruz Áurea respira este amor. Senão fosse assim, este trabalho não teriadireito à existência.

Toda criança tem necessidade daatenção e do amor de seus pais, edu-cadores e monitores para se desenvol-ver de modo natural e harmonioso.Depois, ela tem a necessidade de com-preender a vida, o porquê e o como detodos os fenômenos.

São estas as bases do TrabalhoInternacional da Mocidade. A relaçãoentre jovens e adultos é aberta. Isto não

significa que a Direção feche os olhospara a realidade. Sua visão da realidadeprovém da doutrina gnóstica, assimcomo de sua colocação em prática emtodos os aspectos da vida cotidiana. Daíemana uma visão do mundo em quetodas as coisas e todos os fenômenossão colocados em seu lugar correto.Tudo isto porque os jovens estão nomeio do mundo e sentem que têmnecessidade deste esclarecimento.

A CRIANÇA É CHEIA DE ESPERANÇA

A criança vive de esperança. Ela vê oseu futuro sem preconceituá-lo, comple-tamente voltada para o que vai aconte-cer. Por definição, a criança é cheia deesperança na vida: ama todas pessoasque estão ligadas a ela e acredita nelas.O mundo onde adultos e crianças vivemjuntos geralmente está cheio de contra-dições. O mundo dos adultos mostra,sob múltiplos aspectos, o modo peloqual a vida se precipita rumo ao fim ine-vitável, a tristeza de uma existência divi-dida, o declínio do corpo e, em muitoscasos, o declínio das capacidades men-tais. Quantas vezes as crianças não tra-zem um pequeno raio de sol nesta vida!Ao mesmo tempo em que elas têmnecessidade de ser abraçadas, mima-das, elas estão aí para amortecer nos-sos sofrimentos.

A ação em favor da mocidade naEscola da Rosacruz Áurea não está vol-tada para a vivificação da vida biológica,mas para a coragem necessária paraencontrar o caminho interior nestes tem-pos agitados, pois será preciso ter cora-gem, neste século que está chegando.

A PROTEÇÃO DO CORAÇÃO

O que a juventude está esperando, neste início do século XXI?

O macaquinhoaceita a mãe arti-ficial coberta detecido de esponjae rejeita aboneca de metal.A falta de afetomaternal podeprovocar a agres-sividade em umaidade maisavançada(Comportamentos singulares decertos animais,NationalGeographicSociety/De Haan,1976).

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A TERRA É UM SER VIVO

As crianças estão atentas à realida-de da vida. Por exemplo: elas se preocu-pam com a integridade da terra em quevivemos. Para a maioria, é uma expe-riência particular quando ouvem dizerque a terra é um ser vivo, que tem umaconsciência própria e um ciclo de vida particular no interior do siste-ma solar.

Elas ficam espantadas quando per-cebem um pouco do problema da sobre-vida da terra e de seus habitantes: prin-cipalmente de seu aniquilamento perpe-trado pelos próprios homens. O traba-lho junto aos jovens consiste em ten-tar simplesmente estabelecer uma dis-tinção entre as causas e as conseqüên-cias. É claro que reconhecemos o inte-resse que eles têm em proteger o nosso

meio ambiente. Mas a causa do proble-ma es-tá no meio ambiente interior dohomem: aí está a chave, a solução!

A realidade é muito mais do que oambiente externo, o planeta no qual vive-mos. Também existe a realidade social,que é representada pela escola, pelafamília, pela sociedade, pelos esportes,pelos divertimentos, enfim, tudo o quepreenche os dias de um jovem. É magní-fico ver como desde pequenos, aindadesajeitados e de forma incrivelmenteoriginal, eles dão os seus primeiros pas-sos nesta grande comunidade que é asociedade. Como os monitores fazemcom que eles abordem esta realidadesocial? Por meio de jogos, esportessadios e bastante variados, por meio decenas rápidas de teatro, às vezes realis-tas e picantes, que colocam com humoros aspectos impressionantes da nature-za humana. Mas trata-se, principalmente,da realidade do coração, afim de que,deste coração, o Homem verdadeiropossa ressuscitar nestes jovens.

É POSSÍVEL QUE O CORAÇÃO

SE FECHE

O que impulsiona as pessoas quecolocam a sociedade em discussão (eas crianças fazem isto!) é, na maiorparte do tempo a sua busca de umasolução concreta para sair de umasituação difícil, e isto não por meioseconômicos ou políticos, mas com ba-se em seu estado de ser interior. É poresta razão que muitos jovens estãoabertos a novas possibilidades. En-tretanto, seu coração também pode sefechar se eles tiverem que enfrentar

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muitos problemas insolúveis e experiên-cias traumatizantes. A vida escolar correo risco de ser também uma influêncianegativa com relação à auto-confiança eauto-imagem em geral, e até podematar a esperança de um futuro aceitá-vel e pleno de significado.

Além disso, pode acontecer que,durante a puberdade e a pré-adolescên-cia, os jovens façam escolhas que irãointervir profundamente em seu estadofísico ou psicológico, ou nos dois. Estasescolhas geralmente são impostas poruma motivação interior muito frágil, ouporque o terreno de seu crescimento épouco harmonioso. Estas crianças sãoconsideradas “desadaptadas” e devemser cuidadas com métodos cientifica-mente reconhecidos. Mas, de fato, sãovítimas da educação e da aprendiza-gem. Seu coração já não é capaz dereagir aos impulsos da Nova Vida.Assim, o sofrimento de inúmeros jovensno mundo foi-se tornando tão grandeque não há palavras para descrevê-lo.

O PRINCÍPIO INTERIOR

Os monitores da mocidade não ensi-nam nenhum código de conduta, maspartem de um princípio interno que, narealidade, está presente em todos osjovens que têm um comportamento“normal”. É preciso naturalmente que oscomportamentos continuem normais,que a higiene seja respeitada, e que aqualidade do ambiente seja adequada.O objetivo do trabalho com jovens émanter sua liberdade de fazer escolhasque determinarão seu rumo na vida semmuita confusão. Se esta escolha for feita

pelo coração, sempre será boa.Portanto, trabalharemos de maneira

correta para mocidade se for possível ofe-recer para ela uma proteção para o cora-ção da criança, que ainda é tão sensível.Cada núcleo da Escola da RosacruzÁurea dispõe de um local de trabalho, pormínimo que seja. Na Holanda tambémtemos um núcleo especial, criado para osjovens, em Doornspijk.

A partir da rica literatura gnóstica queconstituem os textos de Jan vanRijckenborgh e Catharose de Petri, jásabemos que não devemos esperar queum contato com a Escola Espiritualtenha um reconhecimento espontâneo epositivo. Enquanto o coração estivercentrado no eu, o jovem talvez estaráinteressado durante algum tempo portudo o que está sendo dito no Templo,pelos jogos e divertimentos e tambémpelo contato com os amigos. Mas che-gará um momento em que isto já nãoserá suficiente para ele. Então, ele vaibuscar novos estímulos, que sejam maisfortes para seu eu do que os que aEscola Espiritual lhe oferece. Para amaioria dos jovens, os encontros nacio-nais e internacionais de Noverosa aindacontinuam sendo inesquecíveis. E se,um dia, quiserem sair da Escola Espiri-tual, eles sabem que foi aí que criaramamizades sólidas, que podem durar portoda a vida.

Mas, entre todos os jovens, nenhumescapa destes estados de alma queconstituem, de fato, uma forma deexpressão pela qual o coração se fazconhecer – e pela qual eles aprendem aconhecer seu próprio coração. Sãofases de desenvolvimento que o cora-ção tem de atravessar antes de poderse manifestar completamente.

A EMOÇÃO DO CORAÇÃO ABERTO

Quando refletimos no verdadeiroHomem interior que temos a possibilida-de de ressuscitar dentro de nós – este éo ponto culminante de qualquer traba-lho com jovens – apresenta-se um dile-ma: sentimos nossa imperfeição, nos-sa impotência, nossas falhas. Estasfalhas são fundamentais, psicológicas,mas também são físicas e concretas.Isto aparece bem claramente paraaqueles que estão buscando o cami-nho gnóstico da transfiguração. Quempode, na realidade, responder ao cha-mado: “Sede perfeitos como meu Pai nocéu é perfeito”?

Este exemplo de uma altura vertigino-sa faz tremer o coração que tem umareminiscência longínqua, uma certareminiscência de uma época áurea, deum período solar que já desapareceu hátanto tempo, de uma vida suprema. Aomesmo tempo, ele sente profundamen-te suas falhas, que pesam em sua cons-ciência. Aí está o dilema: quem tem acapacidade de passar sobre este abis-mo? E como?

Este é o momento em que o discipu-lado de uma escola espiritual gnósticapode ser aceito. Afinal é em uma escolacomo esta que o buscador sério encon-tra uma saída para as contradições davida e escapa à dualidade da qual ele éprisioneiro em sua existência material.O coração vai-se transformando: deuma consciência inteiramente voltadapara si mesma, ele vai-se transforman-do em um órgão capaz de sofrer, eassim acabará aprendendo que:“O homem é algo que deve ser ultra-passado.”

Platão diz que o sofrimento de queaqui se trata é a conseqüência da “cruzda criação divina, a cruz do mundo”. Oraio vertical re-liga a consciência àregião da Alma imortal. Assim vãosendo despertadas no coração as pri-meiras impressões eventuais daquiloque a humanidade perdeu e esqueceuno decorrer de seu andar sem rumo na

matéria. Com a idade, estas impressõesjá não são experimentadas com inge-nuidade – da mesma forma que osjovens durante um encontro de algunsdias – mas como um convite, uma exi-gência que deve despertar o ser interiore fazê-lo crescer até tornar-se umaAlma imortal.

QUE EIXO O JOVEM ESCOLHERÁ?

O raio vertical que vem do alto cruzao eixo horizontal ao longo do qual,desde tempos imemoriais, a humanida-de se arrasta lamentavelmente, em umrecomeço sem fim, em uma existênciasem perspectiva. Ora, o importante sepassa em um destes cruzamentos notempo! O jovem que se encontra nestecruzamento tem a possibilidade de diri-gir o curso de sua vida de acordo comsua própria compreensão. Que eixo eleescolherá? Nesta intersecção se encon-tra também o coração. A explosão pro-vocada pelo choque dos dois mundospode fornecer a pura energia vital quelhe dará o impulso. É unicamente destefogo, desta espécie de sofrimento, quealguma coisa completamente nova sur-girá. É o único sofrimento que servepara um objetivo superior, e a ele não secompara nenhum sofrimento humanoterrestre.

ONDE O JOVEM BEBE UM POUCO DE

ESPERANÇA?

No coração que se tornou pleno dehumildade, o ser humano vai aprenden-do aos poucos que seu estado interior, ea dor eventual que ele sente, é a conse-qüência da impureza. Uma pesquisacomeça no coração: pesquisa das ten-dências instintivas, das motivações.Pela primeira vez nada está mais oculto,dissimulado, vestido, minimizado. Nãose empreende nada a fim de mudaralguma coisa disso. Nesta fase, somos

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O jovem príncipearranca umapena da caudado pássaro defogo e durantetoda a sua vidaprocura fazercom que o mila-gre se cumpra(conto russo,Iaque, MuseuEstadual dePalekh, naRússia).

extremamente sinceros em relação anós mesmos, e somos inteligentes deuma forma nova e diferente. Vemos pro-fundamente que a personalidade, nestemomento, não tem nenhum poder defazer mudanças para o bem. Não queela observe passivamente. Não: poisestá sendo realizada uma transforma-ção. A partir deste momento, tudo o quefazemos tem um objetivo único, umaúnica direção: a Nova Vida.

O pesquisador-buscador não empre-ende nenhuma ação para atingir objeti-vos pessoais diferentes. Assim, ele sobeo degrau seguinte. O autoconhecimen-to, recentemente adquirido, faz com queele descubra um mundo novo. E, muitoparadoxalmente, não no interior de simesmo, mas no exterior: o mundo dosoutros. Os outros já não são “o inferno”,como diz Sartre, por impedi-lo de sedesenvolver segundo sua própria ima-gem. Não: há uma reviravolta de todosos valores e assim vai surgindo um novoe imenso campo de trabalho. O busca-dor aprende a conhecer seus semelhan-tes, a conhecer suas necessidades e ossofrimentos do próximo de uma formatotalmente nova. Ele pode fazer isto por-que já adquiriu o autoconhecimento,que é um saber real; e agora ele vai tero conhecimento de seu próximo – e vaisentir compaixão por ele. Este altruísmonão é um poder que escraviza ou tornadependente. Ao contrário: ele consola ealivia de modo impessoal. Este homemjá não deseja sua própria salvação, quedesaparece em segundo plano, comonegligenciável: ele aspira ter o poder deajudar o próximo. Ele está a serviço deDeus e do mundo, na intersecção dovertical e do horizontal, a cruz. Ohomem interior encontra seu lugar no

caminho da cruz! Em nome da Rosa,nasce um novo heroísmo. Mais umavez, na história do mundo, aí está a“imagem de Cristo”, mais belo do quena pintura de um grande mestre, queseu rastro indelével vai deixando atrásde si. Para este homem, o conflito entreos dois mundos opostos já desapare-ceu: foi aniquilado. E o Homem interior,o verdadeiro Homem, encontrou seulugar original no microcosmo restaura-do.

Em seguida, vem a última fase naterra: a poderosa união da sabedoria edo conhecimento, do coração e da ca-beça, sem nenhuma oposição ou divi-são, confere ao coração a força originalque conduz à vida eterna.

É com a finalidade de atingir esta uni-dade interior que foi criada a ação queempreendemos junto à Mocidade. É istoo que determina todas as atividades.Assim, esta ação está em perfeita uni-dade com a Grande Obra atual, empre-endida para a realização do caminhognóstico da libertação. Aí, os jovenssão ligados a todos os que seguem esteprocesso há muito tempo. Nesta unida-de interior que oferece imensas pers-pectivas, todos vão-se desenvolvendolivremente. No horizonte de um encon-tro entre jovens, a amizade vai-se dese-nhando como um signo precursor daverdadeira fraternidade dos homens.Uma fraternidade que, na criação, nas-ce e floresce no coração do Pai. Afinal,o Homem interior, o verdadeiro Homem,não está nem separado nem dividido. E,em um eterno presente, ele vive no co-ração daqueles que atravessaram aGrande Revolução.

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(Algumas palavras para fechar o en-

contro noturno em Noverosa, por o-

casião de uma Conferência da Mo-

cidade, de jovens de 15 a 18 anos).

CAROS AMIGOS:

Aqui, em Noverosa, vocês compreen-dem, talvez ainda melhor do que emqualquer outro lugar, que a atenção devocês sempre está sendo atraída paradois lados diferentes.

De um lado, há uma atenção eviden-te, que o corpo de vocês pede todos osdias. A consciência dirige este corpo,mas ela também é prisioneira dele. Comeste corpo, que é o instrumento daconsciência, vocês se manifestam pormeio de tudo o que fazem durante o diainteiro: cuidando da aparência pessoal;da roupa, de tudo o que fazem e detodos os gestos; de seus pensamentose palavras. Neste corpo, também háaspectos que fazem com que vocês sesintam humilhados ou orgulhosos; hásimpatias e antipatias, desejos ou repul-sas. É um jogo que não acaba nunca eque coloca à prova o instrumento que éo corpo de vocês. São experiências quevocês sentem como felizes ou doloro-sas, luzes ou sombras.

Por outro lado, vocês estão se encon-trando duas vezes por dia, durante umahorinha, no Templo. Aqui, nós atraímos aatenção de vocês para o que chamamosde “lado mais espiritual de nossa exis-tência”. Isto exige de vocês um certoesforço, que é diferente do esforço exigi-do pelo esporte, ou pelos jogos. De fato,

tudo o que vocês fazem desde que acor-dam (este barulho incrível de pensamen-tos, vontades, ações, assim como asemoções que o acompanham) é precisoser deixado de lado. É preciso parar, e,na medida do possível, calar tudo isto.

É preciso acionar o equipamento quemuda os trilhos de direção e passarpara um outro trilho, durante esta hori-nha. Isto pede um certo esforço de von-tade, uma certa energia. A consciênciaque está por detrás da energia instintivade vocês deve entrar em estado derepouso por um instante. Se realmentevocês tiverem a intenção de mudar derumo, então vocês já estarão aceitandoisto, a partir deste momento, bem ládentro de sua consciência.

Mas a consciência do corpo, que estávoltada para o exterior, não facilita ascoisas! Talvez até sem querer, vocêspossam sentir neste momento algumaoposição, alguma impaciência ou irrita-ção. E isto, vocês sentem concretamen-te. Vocês sentem esta oposição no pró-prio corpo, pois as emoções se espa-lham através dele pelo sistema nervoso.Aí está a prova da intensa relação entreo corpo e a consciência.

Se vocês conseguirem acalmar estasreações tumultuadas de seus órgãosdos sentidos, então poderá surgir umaspecto de sua consciência que chama-remos de “a face da consciência queestá voltada para o interior”. Desteaspecto também pode nascer uma outrareação: uma alegria maravilhosa, umsentimento de calma, reflexo da paz queexiste no mais profundo de seu coração.Portanto, esta reação também pode serpercebida pelo corpo! Aqui tambémvocês estão vendo a relação entre aconsciência e o corpo.

A CANÇÃO DA ALMA DO MUNDO ENVOLVE

TODA A TERRA

Refletindo bem a respeito disto, vo-cês poderão constatar que estamossempre dialogando dentro de nossaconsciência com nossa consciência.Este diálogo surge principalmente quan-do queremos fixar nossa atenção nolado espiritual de nossa vida, nestaparte de nossa vida que tem maior rela-ção com o aspecto interior de nossaconsciência.

O QUE É A CONSCIÊNCIA?

A consciência da qual dispomos é opoder de adquirir conhecimentos sobreo mundo e seus fenômenos, o mundoem que vivemos e do qual fazemosparte. Nós percebemos que existimos.Nós dizemos “eu sou”, “você é”. Nósvivenciamos um certo relacionamentoconsciente com o mundo que nos cerca,com as coisas no meio das quais nós

nos encontramos. A maior parte denossa consciência está voltada para oque se encontra fora de nós, mas tam-bém sobre o que nós vivenciamos inte-riormente logo depois de nossas per-cepções exteriores.

Muitos pensam que isto é a vida espi-ritual. Muitos crêem que os pensamen-tos, sentimentos e desejos imateriaissão espirituais porque é a representa-ção interior de tudo o que estão vendo eexperimentando, pois o homem poderaciocinar e julgar logicamente, pormeio do pensamento, tudo o que ele vêe experimenta.

Mas o que o homem define destamaneira como “vida espiritual” é, de fato,muito superficial e limitado. Quandodurante esta Conferência nós estivemosfalando de vida espiritual, nós nos liga-mos a uma visão de vida que ultrapassade longe o que acabamos de descrever,pois a única coisa que tem qualquerrelação com o “espírito e o “espiritual” é

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“espiritual” é o microcosmo, que inclui oser humano. É por ele que nós estamosligados a um “núcleo” espiritual.Infelizmente, há relativamente pou-cas pessoas conscientes a partir des-te aspecto espiritual. No máximo elasvivenciam uma lembrança vaga e lon-gínqua deste aspecto, algo obscuro a respeito do qual elas não têm nenhumconhecimento.

De onde vem esta palavra “espírito”?É a tradução da palavra hebraica“ruach”, que queria dizer, em sua ori-gem, “vento”, “sopro”. Desde tempos re-motos, o vento simboliza o Sopro dosdeuses. O sopro é a imagem da vida.Quem respira, vive. Esta é a razão pelaqual o Espírito também é chamado“Sopro de Vida”. Esta palavra “ruach”também foi traduzida por “alma”.

A alma é o princípio fundamental davida, que é alimentada pelo sopro. Oshindus chamam o Sopro de “Canção doMundo”, os gregos o chamam de “Almado Mundo”.

A antiga sabedoria hindu fala de“akasha”, ou “éter”, ou também as seteharmonias do universo. Quando esta-mos aqui, em Noverosa, falando da“semente espiritual”, do microcosmo,nós estamos visando a alma, o princípiode alma do microcosmo. A palavra“alma” vem do conceito “Adão”.

Estávamos falando que a consciênciaesta em perpétuo diálogo.Trata-se de umdiálogo entre a parte da consciência queestá voltada para a vida dos sentidos e aque está voltada para o interior. Este diá-logo pode limitar-se ao domínio estreitodo que é bom e agradável para o eu, oumau e desvantajoso. Nos dois casos,trata-se de interesse: o interesse do eu.

Mas este diálogo poderia ser diferen-te, ou tornar-se diferente um dia: pode-ria aprofundar-se, ser profundamenteinfluenciado pela semente espiritual,pela alma do microcosmo.

Às vezes, esta influência impregna odiálogo cotidiano comum. E isto aconte-ce principalmente com a juventude. Este

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A BANDEIRA DE NOVEROSA

Flutuas ao vento, Bandeira de Noverosa,Mostrando ao mundo o teu símbolo:O coração aberto, a Rosa sagrada,A Estrela de Ouro: é a nossa Escola!Aí está o vento, que faz flutuar esta bandeira,Carregando para longe a sua Mensagem de Paz.Que nossos ouvidos escutem a Voz deste Mistério:A Voz do Silêncio! A Senda da Liberdade...

Flutuando, flutuando, Bandeira de NoverosaVai saudar a humanidade!E teu símbolo, cheio de AlegriaProclamará a Verdade.E nós queremos, Juventude de Noverosa,Com todos os que irão seguir os teus passos,Partilhar o Tesouro desta Nova VidaFormando, desde já, um círculo fraternal!

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trespassamento da alma, este “jorrar”pode provocar o despertar da consciên-cia do coração.

A consciência do coração nada tem aver, ou tem muito pouco a ver, com avida dos órgãos dos sentidos. É comouma consciência completamente dife-rente da consciência de todos os dias.Quando a consciência do coração surgeda semente espiritual, passa a aconte-cer um novo diálogo, muito profundo,entre a consciência comum e a cons-ciência do coração. A consciência docoração dá acesso ao microcosmo doqual vocês são habitantes. Então podemser revelados os segredos desta casa(da qual vocês são os habitantes): sãoos tesouros que aí estão ocultos hámilhões de anos e a respeito dos quaisperdemos a lembrança.

É por esta razão que, na realidade,somente a consciência do coração é umpoder espiritual! Quando ela desperta,começa uma nova relação, não maisentre dois aspectos da consciênciaopostos um ao outro, mas um diálogoque une um e outro. É assim que, ládentro, vai-se desenvolvendo uma trocade informações. Estas palavras sutis,trocadas entre a consciência do coraçãoe a consciência do corpo, dão uma novacor à vida. Os pensamentos e os senti-mentos passam a ser de ordem comple-tamente diferente. Esta troca entre aconsciência de todos os dias e a cons-ciência do coração é de uma riquezainterior inestimável, e ultrapassa todosos tesouros da terra.

POR QUE AFIRMAMOS ISTO COM TANTA

INSISTÊNCIA?

Porque esta riqueza interior vai condu-zindo pouco a pouco até a FonteOriginal. A Fonte de todas as coisas seencontra no ser humano, na sementeespiritual, na alma do microcosmo. E nósprecisamos voltar a esta Fonte originalque está oculta dentro de nosso coração.

A origem da vida, esta origem que osastrônomos, arqueólogos, filósofos eteólogos estão buscando há séculos,está escondida no próprio centro docoração humano. Quando a consciênciado coração, que vem do centro, começaa despertar, vai surgindo ao mesmotempo uma visão interior que penetra overdadeiro significado e o verdadeirovalor de todas as coisas. Começamos aver interiormente o mundo de mododiferente; e o ouvido interior começa aperceber a Canção do Mundo de akas-ha. Então, a lâmpada interior que nosmostra o caminho certo através do labi-rinto da vida cotidiana começa a seacender diante de nossos pés.

Talvez vocês pensem que tudo istoainda está muito longe, muito longe devocês. Que seja algo completamenteirreal, que vem de um mundo romântico,de um espírito fantástico. Mas o drama davida não é a história de um chamado quenão se realizou? Estas inúmeras fanta-sias que germinam no cérebro humanonão vêm, por acaso, de uma profunda einfinita nostalgia de algo que o homemum dia perdeu? Esta é a nostalgia deuma vida que continua profundamenteoculta na memória do mundo. A misterio-sa canção do mundo desperta esta nos-talgia. Como resultado, surge uma imen-sa miragem: a miragem do desejo de rea-lizar um sonho, um fantasma, um segre-do; e este desejo inacessível pertenceu ainúmeras gerações.

Entretanto, meus amigos, este segre-do da Origem não está nem no passadonem no futuro: a canção da alma domundo envolve a terra inteira e suasharmonias tentam despertar a lembran-ça perdida, que se tornou quase umsonho. Não é mais tarde, um dia, nofuturo: é agora, já!

É por isso que recomendamos quevocês, que são jovens da Mocidade daRosacruz Áurea, desçam até as profun-dezas de seu coração no momento emque surgir esta nostalgia, esta insatisfa-ção. Logo vocês irão notar que esta nos-talgia pode se transformar em uma ale-gria profunda que continua oculta! Uma

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Uma vibração ainda muito sutil vaiabrindo o coração de vocês. Sem ela,este coração continuaria fechado. Estavibração interior, tão sutil, é o começodo despertar da consciência do cora-ção, com a qual vocês podem entrar emcontato. É então que vocês vão começara perceber alguma coisa a respeito dasabedoria original e do conhecimentooriginal, que estavam dentro de vocês,esperando para ser vivificados. A Fonteoriginal está dentro de vocês e sempreestará.

Se a consciência de vocês começar ase dar conta disto, então irá nascer algode inexprimível dentro de cada um: algoque não tem nome, que é impossível dedefinir por palavras, que não pode ser

descrito e nem sequer imaginado.E, no entanto, caros amigos, isto é

bem real! Oramos para que todos vocêsque estão reunidos neste Templo, assimcomo todos os pesquisadores e busca-dores do mundo todo, cheguem enfim aencontrar dentro de seu coração aFonte original de todas as coisas.

Todas as almas dimanaram da alma--única, a alma universal. Elas revolu-teiam no mundo todo, como quesemeadas nos lugares que lhesforam atribuídos. Essas almas experi-mentam muitas mudanças, umas emascensão plena de graça, outras aocontrário disso.Uma alma nada mais é que ummicrocosmo. A Gnosis ensina que arosa-do-coração, o núcleo-alma, é oponto central do microcosmo. Essarosa-do-coração não é esse ou aquele órgão secretíssimo do corpo,porém, o ponto matemático exato correspondente ao centro da esferamicrocósmica. Em volta desse pontocentral, desse núcleo-alma, encontra--se um campo de manifestação, umespaço livre que, por sua vez, éenvolvido pelo ser aural sétuplo.Pensai tão somente num átomo.Todos os átomos contém um núcleo e em volta desse núcleo movimen-tam-se inúmeros elétrons, como os planetas em torno do sol. Assim, o átomo microcósmico possui umnúcleo e um campo de radiaçãodesse núcleo, o campo de manifesta-

ção em volta do qual se movimentamo que se poderia denominar sete pla-netas microcósmicos, o ser auralsétuplo. A personalidade desenvolve-se nesse espaço livre, no campo deirradiação em torno do núcleo doátomo microcósmico. O núcleo ou aalma do microcosmo une-se com ocoração da personalidade, e assim,pode-se também falar da alma dapersonalidade ou da alma que estáno sangue, pois a força de radiaçãoda rosa não se desenvolve somenteno coração, mas também no sangue.Tudo isso tem dado, freqüentemente,motivo à confusão. Na realidade, há uma força animadora em nossapersonalidade; todavia, essa forçaprovém do núcleo do microcosmo.Além disso, os fatores hereditáriostambém têm influência no sangue ena secreção interna. E tudo o queestá armazenado no microcosmocomo carma provém do ser auralsétuplo e nos penetra.( Jan vanRijckenborgh, A Arquignosis Egípcia,tomo III, capítulo XX, páginas 167 e 168, Lectorium Rosicrucianum, São Paulo,1989)

O NASCIMENTO DA ALMA

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“Os jovens se encontram diante de

inúmeros problemas neste mundo.

O futuro se apresenta cada vez mais

complexo, sombrio e desesperador”.

É por estas palavras que Jan vanRijckenborgh iniciou uma série de alocu-ções, em 1950, durante uma semana deverão, em Noverosa, na Holanda. Portan-to, estas palavras já têm 50 anos e osacontecimentos deste meio século lhederam razão total. A sociedade tornou--se de uma complexidade inimaginável.Tudo está ameaçado de se perder emuma infinita diversidade e multiplicidade.E é neste contexto que o ser humanojovem deve se preparar para a vida que oespera. Ele deve escolher uma direção,enquanto que de todos os lados elesomente vê armadilhas e se enrosca emestruturas emaranhadas. Entretanto, eletem a vontade e o dever de se desfazerdestes valores falidos que a sociedadelhe impõe, e sai em busca de seu próprioe novo princípio de vida.

A puberdade é o período em que ocorpo astral se separa, por assim dizer,da matriz do corpo astral macrocósmico.É como se surgisse uma fenda pela qualjorrassem, do lado mais profundo do ser,explosões de sentimentos e de emoções,uma onda de desejos e de arrebatamen-tos difíceis de dominar. Muitos, nãoencontrando saída em si mesmos nemnos outros, colocam uma máscara impe-netrável. Eles se escondem por detrás depropósitos bizarros, de gritos desespera-dos, para encontrar o contato profundocom o verdadeiro ser humano.

Os pais reconhecem este período emque seu filho está em transformação,revelando sua própria identidade. O ego

se manifesta. E, para muitos pais, esteperíodo é ainda mais difícil que para acriança, pois sua força de vontade ficatensa como um arco, dirigida para o uni-verso para encontrar nele a liberdade,pois a vida cotidiana vai-se fechandosobre ele como uma rede. O ego experi-menta um aprisionamento insuportável. Ofrio corrosivo da matéria e de tudo o quedepende dela se opõe à eternidade e àinfinidade que se apresentam no coraçãoimpetuoso. Estes sinais de uma outravida, ainda misteriosa, vão jorrando daalma, mas o eu os despreza porque elenão os compreende. A vida do jovem serestá despedaçada entre dois mundos.

ABRE-SE UMA JANELA

A puberdade é um período particular-mente importante. O escritor alemãoKarl Graf Dürkheim diz: “Ela é o fio con-dutor de nosso ser original. De repente,um sentimento novo sobressai das pro-fundezas de nós mesmos e das profun-dezas do mundo.”

Nesta fase, pode acontecer que osimpulsos do princípio divino situado nocoração cheguem ao corpo astral aindaindeterminado e obscuro. Uma recepti-vidade como esta é possível porqueneste momento o eu não domina total-mente a personalidade.

A puberdade provoca mudanças pro-fundas nos níveis físico, afetivo, intelec-tual, social e espiritual. Pouco a pouco, ojovem vai perdendo as certezas que osadultos inculcaram dentro dele. Ele vaiperdendo o equilíbrio de sua infância; asmudanças físicas vão impondo proble-mas que ele mal compreende e domina,

OS JOVENS EM UM MOMENTO DE GRANDES

TRANSFORMAÇÕES

apesar de todas as informações que eletem sobre a sexualidade. Crianças quesempre foram muito sensatas já não têminteresse pela sociedade comum, ecomeçam a buscar o exemplo em estre-las da música rap, do cinema, da televi-são e do esporte, que lhe dão uma ima-gem “sublime” da condição humana.

UM ÍDOLO COMO PONTO DE

REFERÊNCIA

O divórcio e suas conseqüênciassempre foram difíceis de serem viven-ciados para quase todas as crianças ejovens. Os pais deveriam refletir sobreisto e agir menos por interesse pessoal,pois são eles os primeiros ídolos deseus filhos e os primeiros pontos dereferência! Este desmoronamento que éo divórcio traz para eles um golpe muitoduro, que terá repercussões em suavida e jamais será compensado poruma certa tranqüilidade, por novas ativi-dades ou diversões apaixonantes. Acriança vê, de repente, para que servemtodos estes esforços e participa delespara não ferir seus pais; mas logo queesta fase passa, pode acontecer queela se volte violentamente contra elespor causa de seu fracasso, e escolhauma direção nada desejável em suaangústia interior.

UMA VISÃO POSITIVA DA

PUBERDADE

A puberdade pode também ser umprimeiro passo muito positivo, um enca-

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Perdido na cidade do futuro (São Paulo,Courrier da Unesco, nº 141, 1985).

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deamento de descobertas apaixonantese de perspectivas que prometem muito.É a fase em que o jovem percebe queexiste sua vida interior pessoal e aexplora. É um período que começa mui-tas vezes muito antes dos catorze anos,ou muito depois. É um período de pro-fundas transformações; é um períodoque se basta a si mesmo. Alguns pais,educadores ou especialistas que têmuma visão antiquada ou muito modernaestão inclinados a colocar barreirasmuito estritas: ou “firmam as rédeas”, oufazem o contrário. O resultado é muitaincompreensão e sofrimento de ambasas partes.

Nas sociedades ocidentais moder-nas, a passagem da infância ao estadoadulto dura alguns anos. Em certassociedades tradicionais, este processodura apenas alguns dias, ou até mesmoalgumas horas. A metamorfose dalagarta em borboleta dá um exemploclaro do que se passa. A lagarta já atin-giu seu objetivo e ao mesmo tempo

passa por uma completa metamorfoseno interior do casulo que ela constituiuao seu redor. O inseto rastejante trans-forma-se na elegante e colorida borbo-leta, que é capaz de se descolar daterra e voar livremente.

O JOVEM QUE ESTÁ DESCOBRINDO

A SI MESMO

O jovem ser humano também sefecha em um casulo, enquanto uma ou-tra natureza, um mundo diferente, vaisendo anunciado no mais profundo deseu ser. Neste momento, ele sabe queexiste uma outra coisa diferente domundo material no qual ele se senteestrangeiro. Simultaneamente, ele é im-portunado por sua vida instintiva e des-cobre a sexualidade. Fisicamente, eleainda não pode tomar uma responsabi-lidade tão grande. Os adultos observamseu comportamento e tiram suas con-clusões, enquanto eles não têm nenhu-ma idéia do milagre que se realizou den-tro do casulo. O jovem segue seus pró-prios centros de interesse. As velhasimagens e os princípios impostos vãoperdendo seu valor e ele vai escolhen-do, ou criando, novos princípios para simesmo. Ele vai alargando seu raio deação e procura ultrapassar os limites noqual os adultos o haviam prendido. Eleparticipa da vida social a sua maneira.

Os adultos que não conheceramestes processos por experiências ficaminquietos. Eles buscam proteger e res-guardar seus filhos a todo preço. Todasas gerações de pais e de educadoresfizeram isso, cada qual no seu tempo. Equantos não se dedicaram a divulgar

Cinderela (DesEnfants, SabineWeiss e MarieNimier, 1997).

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suas belas idéias sobre educação e,infelizmente, em contradição com a ver-dadeira evolução interior do homem!Grandes educadores foram sendo leva-dos pelo tempo, enquanto as diretrizesdaqueles que beberam da Fonte eternasempre serão atuais.

A vida afetiva da criança e do jovemque sempre estamos reprovando porseu modo de ser desajeitado corre orisco de ser retardada, e isto para sem-pre. Podem acontecer muitas perturba-ções na época de sua maturidade espi-ritual. Felizmente o adulto jamais paroude se formar. Um plano de desenvolvi-mento está inscrito dentro de todos oscorações humanos e vai-se realizan-do através de múltiplas metamorfoses.Por infelicidade, muitas pessoas ten-tamobstaculizar estes processos porquenão conhecem o seu objetivo e nemquerem conhecer. Elas estão liga-das aos curtos instantes de felicidadeem que experimentaram uma certasegurança, como se isto fosse a finali-dade da vida!

SAIAM DO CASULO!

Atualmente, a maioria dos sereshumanos parece estar seguindo cega-mente seus desejos egocêntricos. Suainteligência está submetida ao seu eu,enquanto poderia estar servindo de guiapara encontrar o caminho certo. O mun-do está povoado de falsos adultos quejamais ultrapassaram a puberdade eque jamais saíram de seu casulo! Nestemundo perturbado e confuso, o jovemser que está crescendo tem de encon-trar a Verdade. Este é o objetivo de sua

vida! E principalmente que ele não setorne como estes adultos que conside-ram a vida material como bem supremo:que ele conserve seu ideal interior, queele logo poderá colocar a serviço deseus semelhantes.

É por isso que o jovem de nossosdias não tem necessidade que alguémvenha lhe dar lições de moral: é preciso,somente, escutá-lo e auxiliá-lo com ocoração aberto. É preciso acompanhá--lo e até ir a sua frente com toda a sin-ceridade, neste difícil caminho da buscado Objetivo e da Fonte da Vida.

Vitória sobre a serpente dos desejosinferiores (JohnBauer).

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Nos anos cinqüenta, a televisão

estava sendo lançada em grande

escala na cultura ocidental. Um im-

portante fabricante encorajava a

venda com o slogan: “A televisão

enriquece a vida familiar”. Nesta

época, um humorista holandês re-

trucava: “A televisão empobrece a

vida familiar”. O olhar frio do tubo

catódico representava uma ameaça

para a educação e nem todos se en-

cantaram com esta novidade.

A televisão surgiu com força no mundo,e os espectadores foram colocados dian-te de problemas difíceis de serem trans-postos, o que provocou esta visão alar-mante. Os especialistas nem sempreestão de acordo sobre a influência nega-tiva da televisão. Segundo eles, ela nãoexerceria nenhuma influência nociva.Mas o fato é que crianças e adultos têm

a tendência de imitar realmente os atosdelinqüentes que ela apresenta. Apesarde todos os parentes e educadoressaberem que as crianças e jovens apren-dem por imitação, a ciência descartafacilmente esta lei fundamental e sempreestá achando que a telinha é inofensiva.Entretanto, há vozes que se elevam paraacabar com a violência da tela; enquantoisso, muitas cenas estúpidas são apre-sentadas aos espectadores para ocupá-los, e o mal até hoje não foi afastado.

Os pioneiros do Lectorium Rosicru-cianum previram muitas coisas e subli-nharam, na época, que uma educaçãoespecial poderia neutralizar a influênciaexercida pela televisão (influência,segundo eles, que somente poderia tor-nar o coração mais frio e matar o espíri-to, o que ameaçava seriamente o de-senvolvimento espiritual de jovens eadultos!) “Será preciso lutar por cadacriança”, dizia Jan van Rijckenborgh emsua alocução de fundação das escolasda Rosacruz Áurea.

AS ESCOLAS JAN VAN RIJCKENBORGH

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HARMONIA, PAZ, AFETO E AMOR

Uma das diretrizes mais importantesera a criação de um campo de vida pro-tetor onde as crianças poderiam apren-der as lições da existência, um encami-nhamento consciente da vida. EmHaarlem e em Hilversum, escolas pri-márias, ainda não subvencionadas,começaram seu trabalho com uns trin-ta alunos e dois educadores, membrosdo Lectorium Rosicrucianum. Elesaspiravam criar uma atmosfera em quereinasse a harmonia, paz, atenção eamor. De fato, estas são as colunassobre as quais o desenvolvimento dacriança deve tomar forma nos primeirosanos escolares.

Em uma carta à direção da escola,Catharose de Petri escreve: É impor-tante que, desde cedo, na vida dacriança, sejam desenvolvidos dois esta-dos sensoriais. De um lado, uma orien-tação pura sobre a futura vida mental

que deve se manifestar como ‘alma’ ou‘consciência da alma’; de outro, a mani-festação e a atividade do átomo docoração, ou átomo original. A partir deuma base como esta, podem surgirimensas possibilidades na criança”.

ABERTURA PARA O FUTURO

Esta educação tem como finalidademanter abertos (e até necessariamenteestimular) estes poderes e qualidadesque são o pensamento e os sentimentosverdadeiros, a intuição, a compreensão,o saber, a sabedoria e a liberdade inte-riores. O programa de estudos obrigató-rios repousa na doutrina transmitida naEscola Espiritual da Rosacruz Áurea. Éevidente que a intenção não é fazer decada criança um aluno da Escola Es-piritual. Mas o fato é que nessas escolasos educadores tentam manter intactostanto a receptividade ao apelo interior

Escolas Jan vanRijckenborgh, emHeiloo e emHilversum, naHolanda.

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como o desejo pela vida superior,enquanto a personalidade está flores-cendo e o eu consciente está tomandoseu rumo. A voz da alma pode continuara falar. Não é uma utopia e muitosjovens que foram à escola Jan vanRijckenborgh hoje encorajam em seusfilhos este desejo profundo de liber-dade espiritual. “A escola Jan vanRijckenborgh foi, para mim, o momentomais lindo da minha mocidade”, disseum antigo aluno em uma reunião.

Todos os jovens têm o direito de rece-ber este auxílio e todos os pais e educa-dores são obrigados a agir da melhormaneira neste sentido.

O PRÓPRIO JOVEM DÁ O FIO

CONDUTOR

Não é uma tarefa fácil e isto vai sur-gindo nas perguntas que os educadoresfaziam a Jan van Rijckenborgh: “O se-nhor poderia nos descrever como ima-gina que seja esta forma de ensinar?” Eele respondia: “Se vocês estiverem emligação com o campo de irradiaçãomagnético gnóstico do Lectorium Rosi-crucianum, vocês jamais verão sua mis-

são como uma tarefa comum. Não que-remos que nossas palavras sejamtransformadas em leis ou em esquemasculturais. A conseqüência disto seria aesclerose. Tentem criar uma esfera am-biente em que os veículos superioresestejam sempre ativos, até o dia em queo jovem possa determinar sua vida demodo autônomo. Utilizem como fio con-dutor as perguntas fundamentais quecada criança irá fazendo em determina-do momento.”

UM SÓ NOME PARA TODAS

AS MATÉRIAS

Ao lado dos métodos educativos dis-poníveis, foi desenvolvido um materialespecífico. Quando havia apenas aescola de Hilversum, todos a chamavamde “Escola Jan van Rijckenborgh”. Aí seagrupavam matérias como Bio-logia,História, Geografia, Matemática eLínguas sob um só nome: Biosofia.Trata-se de um método de caracterís-tica universal, que tem base esotérica emostra da melhor forma possível asrelações que existem entre todos os elementos do universo. O sentido deesforço e atividade pessoais que osjovens destas escolas demonstram lhesdá uma grande vantagem no cur-so médio, onde estas habilidades sãomuito apreciadas.

Para saber um pouco mais, os inte-ressados poderão entrar em contadocom o estabelecimento de Hilversum(Gravesandelaan 15, NL-1222 SX Hilver-sum), ou também com a escola deHeiloo (Trompenburg, 49, NL-1852 CCHeiloo), na Holanda.

“Como nem umadelas quisesserecuar, as duascaíram no ria-cho”. Fábulas deLa Fontaine,1695), ilustraçãode Gustave Doré(1832-1883).

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O microcosmo é gerado a partir da natureza fundamental a que jános referimos. A natureza divina,como vimos, é semelhante a uma corrente dupla, uma correntede ser e vontade, de desejo e atividade. Essa corrente não éDeus, todavia provém dele. Essacorrente dupla, onipresente, onia-barcante da natureza fundamental éum campo astral poderoso e ígneoque preenche todo o universo.O homem, com seu pensamentoracional, inflama o próprio corpoastral. Quando gerais imagens--pensamento, estas desenvolvemdeterminadas atividades astrais emvosso corpo. Esse abrasamentoprovoca uma centelha no corpoastral com todas as conseqüênciasdo movimento retrógrado.Talvez possais perceber agoracomo o pensamento divino, quepermanece fora da natureza fundamental, faz vibrar e arder opoderoso campo astral da naturezafundamental com seus pensamen-tos. Assim, desenvolvem-se cente-lhas, flamas astrais, na naturezafundamental. Dessa forma, umaonda de vida é chamada à existên-cia, despertada e manifestadamediante o pensamento divino.Por isso, os microcosmos tambémsão denominados “centelhas divi-nas” ou “centelhas do Espírito”.Um microcosmo é, portanto, umacentelha astral desprendida danatureza fundamental. Estamos ligados mui intimamente com a

natureza fundamental.Um microcosmo, uma centelhaespiritual, traz consigo todas asqualidades da natureza fundamen-tal, pois dela provém. Mediante odesejo e a vontade do campomaterno, os éteres são liberadosdentro dessa centelha, pois portrás da centelha age o pensamentodivino que inflama o campo mater-no. Uma onda de vida surge, comoexplosão, do fogo astral na onima-nifestação, e cada uma dessascentelhas arde com o pensamentodivino. Os éteres liberados dessacentelha concentram-se em tornodo núcleo do átomo microcósmico,da rosa, da alma do microcosmo.Nessa concentração etérica emvolta da rosa, surge uma manifes-tação da forma, um sistema de linhas de força, que se estruturasegundo uma forma humana.O pensamento de Deus é reveladoem volta da rosa mediante todo o processo. A nuvem etérica estrutura-se segundo uma reflexãoda idéia fundamental presente no campo materno.E assim aparece a figura glorifica-da e etérica do verdadeiro homem-alma original, em quem a alma ou núcleo da naturezamaterna se reflete.

(extraído de Arquignósis Egípcia, tomo III, cap. XX de Jan vanRijckenborgh, 1ª ed. 1989 - LectoriumRosicrucianum, São Paulo - Brasil).

DE ONDE VEM O MICROCOSMO?

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Uma criança está para nascer: é

um ser humano, um herdeiro de

seus pais, mas também de algo

completamente diferente de tudo o

que é conhecido! Um ser que de-

verá seguir um caminho na terra

para aí vivenciar suas experiências.

Um ser que até tem traços da famí-

lia, mas cujas experiências passa-

das farão com que tome um rumo

muito pessoal.

Será que ele irá encontrar um dia asenda gnóstica da Luz? E como podere-mos ajudá-lo? Como esta alma jovemque está buscando poderá ser protegidapor pessoas que ainda estão na obscu-ridade também?

Obrigá-lo está completamente fora decogitação: trata-se de seguir livrementeo caminho da Gnosis. Somente quandodesejamos, quando aspiramos por nósmesmos a Luz é que podemos comuni-car alguma coisa a alguém. Não é ver-dade que é necessário começar a serreceptivo à Luz antes de podermostransmiti-la?

Que maravilha é o santuário do cora-ção! Ele é chamado a reagir de modosétuplo às sete pétalas da Rosa daAlma: o centro do microcosmo que cola-bora com o coração biológico desde oseu nascimento. Desde que o coraçãonão esteja endurecido, ele tem a possi-bilidade de dar um rumo à alma, o quereforça os poderes desta.

O QUE VEM A SER O ENDURECIMENTO

DO CORAÇÃO?

É a partir do nascimento que vão sedemonstrando as qualidades de almados pais a partir do modo pelo qual elesvão seguindo e educando seu filho.Seus primeiros anos são da maiorimportância para a formação de seucorpo etérico ou corpo vital. Este pro-cesso se completa sob a influência eté-rica de seus pais. A alma dos dois teminfluência direta sobre o desenvolvimen-to da jovem vida.

Se o coração dos pais for verdadeira-mente receptivo ao toque gnóstico daLuz e se os dois desejam confiar a dire-ção de suas vidas a suas Almas imor-tais e não somente a seu sangue (que édecisivo para a formação do jovemcorpo etérico), então isto não só abrirá ocoração da criança para a Luz, mastambém preparará o santuário da cabe-ça para o renascimento da alma, pois oséteres do corpo etérico formam o san-gue e o fluido nervoso, mas também osórgãos dos sentidos, que são governa-dos pela cabeça.

Depois da formação do corpo etéricodurante os sete primeiros anos, a vidaprópria da criança pode começar.Assim, é evidente que a influência dospais é fundamental durante estes pri-meiros anos: tanto para o bem comopara o mal! A criança está entrando naexistência dotada de um corpo etéri-co forte, bem orientado, receptivo àGnosis, voltado espontânea e intuitiva-mente para o único objetivo de vida?Então esta criança receberá uma luzmuito brilhante. Ou será que ela estáorientada para a vida material ou social,

SERÁ QUE UM DIA ELE VAI ENCONTRAR A LUZ?Reunião de pais na Escola Jan van Rijckenborgh, em fevereiro de 1982

Menina najanela (IgnacePienlowski,GalerieRogalinskaEdwardaRaczynskiego,Poznan,Polônia).

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a fim de participar cada vez maisdepressa na luta pela existência? Nestecaso, ela será marcada por isto durantea vida toda. Um destes dois aspectosvai constituir um dos traços da criançaem seus primeiros anos.

O CARMA TEM LIBERDADE DE AÇÃO?

Quando o corpo etérico está sendoformado, a situação se apresenta da se-guinte forma: ou a alma pode se mani-festar sustentando e dirigindo podero-samente a época difícil do nascimentodo corpo astral, que é o segundo perío-do; ou então a herança sangüínea dospais e avós mantém a alma prisioneira.Neste caso, o carma terá toda facilidadepara se fixar no corpo astral.

Semelhante atrai semelhante. Em ou-tras palavras, os pais atraem seu filhopor ser uma entidade que é semelhantea eles e que eles deverão acompanhare guiar.

Geralmente, conhecemos de verda-de somente as fases de crescimento docorpo físico. Mas as dos outros corpostambém são importantes. É durante ossete primeiros anos que vai-se prepa-rando o nascimento do corpo etérico,que deverá assumir diretamente as fun-ções vitais do corpo físico. A criançaainda não tem autodomínio: ela vaicrescendo espontaneamente no interiorda esfera de influência de seus pais.Somente na idade adulta ela poderádesenvolver-se integralmente e resolveras dificuldades provocadas porque ospais, de forma totalmente inconscien-te, deixaram que entrassem correntesde éteres nocivas em seu campo de

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desenvolvimento. Entretanto, se os pais forem conscientes deste fato,podem descartar ou dirigir estas influên-cias, o que exige uma compreensão euma experiência reais do caminhognóstico libertador.

OS DOIS PRIMEIROS VEÍCULOS

Se eles conseguirem fazer isto, ocorpo etérico da criança vai-se desen-volvendo de maneira correta. A primeirafase acaba quando surge o primeirodente permanente, quando o envoltóriode matéria etérica que encerrava ocorpo etérico é descartado, o que per-mite que a criança possa receber asimpressões a partir do exterior. Agora,ela dispõe de dois veículos e estáentrando na fase em que o educadorpode agir sobre o corpo etérico e a me-mória. É o momento em que a criançaaprende a razão das coisas. Que privilé-gio, para ela, poder passar esta primei-ra fase em uma escola Jan van Rijcken-borgh como existe na Holanda!

Os cuidados atentos dados ao nasci-mento e ao desenvolvimento do corpofísico deveriam ser os mesmos para apreparação, para o nascimento docorpo astral. Ou seja: seria importantefazer a distinção entre as influênciasastrais boas e más. A força astral é omaterial de construção fundamental.Ora, este material está muito poluídopor causa da vida corrompida da huma-nidade, desde tempos imemoriais. Atu-almente, muitas correntes ecológicasestão inquietas com a poluição ambien-tal, mas ela é bem menos grave do quea do campo astral, que está piorando a

cada dia! A humanidade está presaneste círculo vicioso e não pode esca-par à poluição. Neste mundo de ilusão, épreciso que o jovem ser humano possadispor de um corpo astral que, emseguida, o ligará o menos possível aestas ilusões, orientando-o para outrosvalores. É por isso que as condições devida em casa são importantíssimas.

UMA ORIENTAÇÃO ESPONTÂNEA

Logo que os dois primeiros veículosda criança estejam formados, (ou seja,o corpo físico e o corpo etérico), elesestarão funcionando de modo autôno-mo e a criança terá uma independênciamaior. Mas existe um perigo: quemseguia espontaneamente os pais agorasegue espontaneamente tudo o que omundo astral apresenta. Os pais deve-rão fazer tudo para ajudar a formar umveículo astral o mais puro possível. Estecorpo, ou corpo de desejos, que impul-siona à ação, surge lá pelos catorzeanos, ou mais cedo. É uma época cheia

A vida nãopassa de cálcu-los e fórmulas?(pôster de SergeJ. Warow, 1988).

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de perigos e é essencial que a persona-lidade não caia na armadilha dos inú-meros desejos.

É prudente observar em que ambien-tes a criança está evoluindo durante aformação de seu corpo astral, ou seja:a escola, os amigos (tanto meninoscomo meninas), a música, a leitura, ocinema, a televisão, a droga. Os pais eeducadores devem protegê-la de muitascoisas enquanto ela ainda não podeescolher conscientemente. Os paisdeverão tentar fazer com que a atmosfe-ra reinante em casa seja a mais pura

possível: não um ambiente exaltado,devoto ou sonhador, mas um ambientecompletamente mergulhado em umasincera aspiração.

COOPERAÇÃO E AFETO

Desta maneira, o jovem ser que estácrescendo vai entrando em uma faseem que o corpo astral vai criando cadavez menos problemas. É neste momen-to que surge a importância do compor-

Às vésperas do Ano Internacional da Infância, o governo polonês enviou às Nações Unidas o projetode um acordo que diz respeito aos diretos da criança. Este acordodeveria substituir a Declaração dosDireitos da Criança de 1959, que nãocomporta nenhum compromisso. Asnegociações duraram cerca de dezanos antes que esta convenção de 20 de novembro de 1989 fosse aceita. Dos 180 países independentes que participaramdela, cerca de dois terços a assinaram. Esta convenção garantiuà criança os mesmos direitos dosadultos:

• Direito a alimentação, a cuidadosmédicos, a educação, a ativida-des recreativas e a proteçãosocial;

• Direito a proteção contra a discri-minação, os maus tratos, a negli-gência, a tortura, o tráfico de crianças, o trabalho infantil, aexploração sexual e a droga;

• Direito à liberdade de religião, de opinião e de informação;

• Direito a cuidados especiais emcaso de deficiência física ou mental; no caso de criança semfamília, adotada, órfã ou presa,refugiada, vítima de conflitosarmados.

Assim, vemos que os direitos dealguns implicam nos deveres de outros. Os signatários se obrigam a garantir os direitos da criança najurisdição competente e de manter as Nações Unidas a par do queacontece.

CONVENÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA

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tamento dos pais nos anos anteriores.Até então, eles tinham o poder de con-tribuir com o crescimento harmoniosode seu filho; agora, eles precisam pas-sar a cooperar, tentando guiá-lo com umgrande afeto, para que o poder mentalse forme de maneira correta; pois, semeste poder, o homem ainda está incom-pleto e tem dificuldades em manter oleme na direção correta.

Uma amizade positiva e segura, quese mantém inalterada em todas as cir-cunstâncias e é inabalável como umarocha poderá tornar esta fase muitomais leve para a criança.

O EU VAI TOMANDO FORMA

Fisicamente, vão-se efetuando gran-des transformações. O funcionamen-to desta glândula misteriosa que sechama timo vai-se modificando. O cor-po vai produzindo seu próprio sangue e os laços de sangue, que uniam à famí-lia vão-se afrouxando. O eu vai tomandoforma. Ele quer verificar tudo por simesmo e ter suas próprias opiniões.Durante este período, os pais e edu-cadores precisarão provar que têmmuita tolerância.

Entre 14 e 21 anos, o adolescente,cujos desejos não são nem dominadosnem limitados tem realmente necessi-dade de muita simpatia. É preciso queele ultrapasse suas dificuldades comsua própria força interior, até tornar-seadulto. Por volta de 21 anos, nasce opoder mental, o que lhe permite condu-zir sua própria vida.

ENXERGAR COM OUTROS OLHOS

Durante este período, ele tem deadquirir uma certa soma de experiên-cias. O que determina os limites destasexperiências é o tipo e o estado domicrocosmo, que é completamente dife-rente de um jovem para outro. Neste

momento, é importante compreendereste jovem e estar ao seu lado comoamigo e conselheiro. Proibir bobamentenão tem nenhum sentido e pode trazerefeitos contrários. O único modo de deli-mitar o terreno em que a vida está acon-tecendo é explicar, sem rodeios, como oser humano é formado, quais são osprocessos que acontecem dentro dele equal é a finalidade deste processo. Des-ta maneira, muitas tensões e mágoaspoderão ser evitadas.

Enfim, o jovem aprende a ver o mun-do com outros olhos. Ele percebe o lu-gar que ele pode ocupar neste mundo esua ambição de ocupar altos cargos,seu desejo de ter poder e dinheiro desa-parecem. Ele também aprende que odesejo sexual é absolutamente normal enatural. E é muito importante para seudesenvolvimento harmonioso que elepratique esporte, que aproveite a liber-dade que sua idade permite, que eletenha amigos com quem trabalhar, falare relaxar. Aprendendo a ver todas estasatividades em sua proporção correta,ele poderá manter seu rumo nas águastumultuadas da vida em sociedade. Emseu navio, onde “ele dirige, mas Deusconduz”, ele chegará ao bom porto. Elejá não lutará em vão contra os baixosdesejos de seu ser, e também não sedeixará levar pelas correntes sensuaisque se derramam sobre ele. Ele vaisaber. Ele vai reconhecer cada coisa ecolocá-la em seu lugar certo.

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Alma: geralmente são diferentes as-pectos do ser humano: a consciência, aafetividade, a inteligência. Estes aspec-tos da alma são mortais e se dissolvemdepois da morte biológica. Mas, quan-do os rosa-cruzes falam de Alma, trata-se da “Alma imortal” que forma o laçoentre o Espírito divino e o ser humano.Na maioria das pessoas, esta “Almaimortal” é apenas um princípio latenteque deve ser dinamizado e desenvolvi-do.

Campo de respiração: é o campo demanifestação que envolve a personali-dade, que vive deste campo.

Corpo astral: este corpo envolve epenetra o corpo material e o corpoetérico. Ele faz parte do corpo astralda humanidade, como uma gota deágua faz parte do oceano. Assim, o

corpo astral do homem é sensível atudo o que se passa no corpo

astral de toda a humanida-de e geralmente está sub-metido a ele, pois o ho-mem não tem nenhum do-mínio sobre ele. Portanto,

o homem pode ser facilmen-te manipulado a partir deseu corpo astral.

Corpo etérico: é o corpo no qualse manifesta a energia vital. É amatriz do corpo físico edificada deacordo com as linhas de força atraí-das pelos diversos corpos sutis. Ocorpo etérico regenerado é a vesteda Alma imortal.Corpo mental: é o quarto corpo doser humano, no qual deve ser de-senvolvido o pensamento. Na maio-

ria dos casos, o corpo mental ainda estámal desenvolvido e até mesmo nemestruturado. O pensamento é principal-mente associativo e não criativo. Ele éproduzido por reações aos impulsos domundo astral. O pensamento puro so-mente será possível quando o santuárioda cabeça for purificado e já não estiversob a influência da natureza dialética.

Ser aural: é a totalidade das forças,valores e ligações estabelecidas nomicrocosmo no decorrer das vidas pas-sadas. É o “livro” em que está inscrito ocarma. Estes núcleos magnéticos cár-micos formam a constelação do firma-mento microcósmico. Sua naturezadetermina a qualidade das forças emateriais que são atraídos da atmosfe-ra e admitidos na personalidade. Umatransformação da personalidade devecomeçar obrigatoriamente pela trans-formação do ser aural. E isto somenteserá possível se a personalidade liber-tar-se do ser aural, não alimentá-lomais e não sustentá-lo. Este proces-so é chamado de “endura” ou enfraque-cimento do eu.

Microcosmo: é o ser humano, enquan-to “pequeno mundo”, sistema vital es-férico que compreende, do interior pa-ra o exterior, a personalidade, o campode manifestação, o ser aural, um cam-po magnético sétuplo. No centro domicrocosmo encontra-se inscrito o planocompleto do desenvolvimento do ho-mem terrestre em Homem-Espírito.

O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM POR...

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A CRIANÇA E A PÉROLA

Em algum lugar, muito longe,existe um país maravilhoso,minha Pátria.Ah, que saudade,ah, que dor de exílio.Ah, que terra estrangeira,deserto sem fim

Assim suspira tristemente o coração dojovem que contempla com atenção asdunas de areia com reflexos de ouro. Souum estrangeiro nascido em um país que nãoconheço. Meu coração não pertence a estemundo, mesmo que eu sinta que os homense a linguagem deles são familiares. Estoumais ou menos adaptado, mas sempre soujogado de um lado para outro. Pertenço adois povos, moro em dois mundos: esteonde estou morando agora e o mundo deminha primeira pátria. Como habitante doprimeiro, é o meu sangue que fala; comohabitante do segundo, é o meu coração.

Em algum lugar, no Orienteexiste um país maravilhoso,minha Pátria.Lá eu era o filho do rei,e vivia perto de meu pai.

Mas, um dia,recebi a missão de partir,sem meu manto real,para o Egito tão distante,lá onde mora a serpente,que guarda o Tesouro Perdido que brilhava outrora,magnífico, em meu reino.

A Pérola está esperandoo Príncipe que vai levá-la de volta.Mas eu estou perdidono País do Egito.

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Aspirando por outravida (bronze de JosOehlen, Noverosa,Doornspijk).

Duas culturas coexistem em mim: e nãoé sem sofrimento! Uma está profunda-mente escondida e oculta dentro demeu ser. A outra, está na superfície edirige meus pensamentos, meus senti-mentos e meus atos. Mas, quando meucoração está silencioso, percebo as har-monias do país de meu primeiro nasci-mento. Enquanto isso, agora vivo emuma cidade onde preciso lutar para con-quistar um lugar tirando o lugar de outro.Uma cidade onde preciso me compararaos outros, submeter-me às leis paraviver como homem livre. Uma cidadeonde tenho que estar bem informadosobre as leis e hábitos locais para podersobreviver.

Sou um estrangeiro: eu me sinto dife-rente dos outros. E, no entanto, perten-ço a este povo e uso as mesmas rou-pas deste país. Apesar de tudo, conser-vei meus pensamentos profundos eposso ainda seguir meus próprios senti-mentos. Estou integrado com os outros.Apesar de saberem que eu conheço um outro mundo, diferente do mundodeles, eles estão acomodados em seupróprio mundo.

E você? Você também se sente umestrangeiro, um estranho, mesmo noslugares onde conhece todo mundo? Atéperto dos amigos em quem você confiae a quem você respeita? Até mesmo nopaís onde você vive? Até no próprio pla-neta terra? Você está adaptado a suacondição de ser humano e está se sen-tindo “empurrado na parede” por siste-mas de princípios e valores que oshomens determinaram a fim de se man-terem na terra. Você estava se sentindoadaptado até o momento em que sedesencadeou uma crise interna, quandoo chamado da origem se impôs e o obri-

gou a perguntar onde, afinal, você podeencontrar a sua verdadeira pátria? En-tão, um desejo que até este momentoestava inconsciente, jorrou dentro devocê como uma correnteza forte.

Diz quem sou eu, de verdade!Será que pertenço mesmoa este povo, a este país?Será que vou encontraraqui o ideal que estou buscando?

O homem foge de si mesmo e deseus semelhantes. Ele está buscandouma saída em seu mundo limitado, masnão a encontra. Neste vasto mundo, eleestá sempre procurando novas sensa-ções que vão revelar para ele a verdade(isto é o que ele pensa), mas não con-segue encontrar nada. Ele viaja pelomundo inteiro, mas volta ao seu peque-no mundo dos problemas que ele crioupara si mesmo. Ele foge para longe daFonte de Vida, na esperança de encon-trá-la. Ele emigra, buscando um novoalimento para sua alma atormentada.Como ele mesmo iniciou a viagem, nãoacha que está fugindo. Ele tem nasmãos o leme de sua própria vida (pelomenos é isso que ele acha). Mas, se eleé um joguete das mudanças políticas,ele é um indivíduo entre milhões queestão andando sem rumo, à deriva,esperando uma vida melhor. A histórianos ensina que já houve muitas migra-ções, organizadas ou não. Elas deixa-ram traços profundos, que apareceramno amálgama das culturas e foram oresultado destas migrações.

Alguns povos somente buscavamregiões mais férteis, populações maishospitaleiras. Outros, eram impulsiona-dos pelo instinto de destruição, como os

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Hunos, dos quais se dizia: “Por ondepassou Átila, nem a grama cresce!” Fu-gitivos, como os que emigraram para aAmérica, afirmaram que tinham sidoimpulsionados por um desejo obscu-ro, por uma força desconhecida quetinha agarrado seu pescoço, ou que oshavia chutado.

Assim, as culturas vão-se empurran-do, destruindo ou reforçando certas nor-mas e valores. As cruzadas que visa-vam libertar Jerusalém dos “pagãos”fizeram nascer uma corrente cultural doOriente Médio em direção à Europa daIdade Média. Os que eram chamadosde “pagãos” tinham uma civilização bemmaior do que a dos “cristãos”, e a cultu-ra árabe estimulou poderosamente aevolução da Europa. Estes processossempre estão acontecendo. O PlanoMarshall que deveria recuperar a Eu-ropa em 1947 fez com que ela se condi-cionasse ao modelo americano.

Por que o homem sempre está sendoexpulso ou perseguido no mundo? Porque cada civilização, mesmo a maismagistral, é atacada e degradada?Umas são centenárias, outras são mile-nares, enquanto que algumas não temnem chance de se desenvolver. O quefaz com que os seres humanos se mo-vam e que os impulsionem à ação?Será a sua condição de estrangeiros nomundo? Será o profundo desejo docoração que sempre está sendo reavi-vado? Ou será o sentimento de que elesrealmente não pertencem a essa nossaterra resplandecente?

Estas perguntas os levam até a fron-teira que separa o que eles percebemdo que eles sentem muito vagamente.Elas os colocam diante da porta dogrande mistério da vida. Seus pensa-mentos e suas idéias acabam sendototalmente virados de cabeça parabaixo. O que é visível parece como olado exterior da vida, a conseqüênciados acontecimentos do passado, odesenvolvimento do destino determina-do pelos próprios homens.

Como age este destino? Para teralguma idéia sobre ele, é preciso voltaràs origens do homem, antes de seunascimento. Todas as experiências devidas passadas estão gravadas na lipi-ka do microcosmo, assim como a remi-niscência da Pátria original. Portanto,quando o microcosmo recebe uma novapersonalidade, pode acontecer que estacomece a buscar o caminho que conduzà Pátria original.

Antes de partir,antes que a verdade da Palavrafosse transmitida por meu Pai para mim,estava escrito em meu coraçãoque esta viagem me levariaa sete caminhos que me conduziriampara começar da ravina mais profunda.

É aí que a Pérola esperao filho do rei.E assim começa o caminhode volta à Pátria,onde a púrpura real

As histórias emquadrinhos sãotão antigas quan-to a civilização esão realidade emtodas as culturas(Milou, o cachor-rinho de Tin-Tin,dá um tombo emNestor, em As 7Bolas de Cristal,Hergé).

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está pronta para o herdeiro,quando a tarefa for cumprida.

Desde sua primeira respiração, acriança traz para dentro de si a atmosfe-ra e as constelações magnéticas de seuambiente. As vibrações do ambienteque a cerca, da região em que ela veioao mundo, do ar que ela respira, das cir-cunstâncias, da vegetação local, tudoisto se imprime dentro dela e forma abase de seu futuro desenvolvimento.Assim, a voz e o olhar de sua mãe, deseu pai, da família e dos amigos que aacolhem se gravam em seus corpossutis. Paz, tensão, conflitos armados oufuga ficam gravados em tudo o que vaiconstituir a base desta nova vida. Éassim que vão sendo tecidos os primei-ros fios, que vão sendo traçadas as pri-meiras linhas de sua vida.

O ambiente domina e dá colorido à telade fundo da existência, sobre a qual vaicrescendo o novo ser que floresce, atéque sejam introduzidos outros valores.

Assim, sigo minha viagemdescendo até o Egito,onde descubro uma serpenteenrodilhada na areia.Esperava poder me aproximarà noite, da pérola tão desejadaquando a serpente dormisse.

Mas, numa pousada os habitantes da cidadederam-me comida e bebidamisturadas com brigas e vilezas.

E então esqueci a missão que me foi confiada.

Se não houver nenhuma mudançadramática ou inesperada que venha aatrapalhar o percurso de sua viagemexploratória, a criança se sente segura esegue a direção normal. Mas se elasofrer um choque, ou se passar por umatransformação repentina, ou passar pormedo, violência, constrangimento oudominação, a criança sofre e não com-preende. O resultado é um sentimentode separação, de abandono e de exílio.

Estas coisas ficam gravadas em suaconsciência, seja porque a criança tenhapassado por tudo isto consciente ouinconscientemente. Arrancada de suafamília, de seu país e de sua cultura, seuslaços podem se relaxar, mas a alma dacriança também pode fechar-se diante dafrieza que surge e endurecer-se para vol-tar-se, em seguida, contra seus “proteto-res” e os encher de reprovação. Seuspoderes interiores, entretanto, ainda estãosuficientemente intactos para que se dêuma brecha.Então ela terá a possibilidadede despertar para uma nova visão da vida.

Apesar de todos os seus esforços esuas boas intenções, a humanidade estácada vez mais cristalizada em problemasquase insolúveis e conflitos interioresinsustentáveis. Populações que viviampacificamente ao lado das outras, derepente começam a matar-se. Violência,tortura, exclusão e destruição sem escrú-pulos são moeda corrente: exatamentecomo na Idade Média, na Europa, quando

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como na Idade Média, na Europa, quandoas autoridades, de propósito, impediam apopulação de chegar até a Luz. O resulta-do desta degradação de consciência foiuma crueza desumana. O mesmo aconte-ce atualmente, quando muitos seres es-tão se desviando do chamado que res-soa dentro de seus corações e entãopõem a culpa nos outros. O aniquilamentodo pretenso adversário parece não termais solução. Mas será que não está nahora de haver uma reviravolta da humani-dade, para dar lugar a valores mais eleva-dos do que o dinheiro, o poder, a posse...e a “paz armada”?

O homem está fugindo de algu-ma coisa que o agarra com as formasmais sutis.

Para onde vai a humanidade?Para onde ela deve ir?Onde é o refúgio?Onde reina a verdadeira paz?

Profundamente tocado, o coração estábuscando. Ele está buscando a fim denão ficar mais tão desesperado, de nãoser mais estilhaçado. Ele está na fronteirado deserto, em silêncio. Será que ele vaiatravessar esta desolação imensa? Seráque ele vai perceber a voz interior?

Eles me deram suas vestes.Eu as vesti.Dormi e esqueci de onde vinha.Meu Pai-Mãe ficou preocupado,mas uma águia saiu voando,mensageira da Luz,mara me trazer uma cartae a consciência da realidade“ah, tu que és filho de rei,neste país tão distante,desperta! Levanta!Lembra-te da Palavra!A Pérola te esperapara ser libertada.Cumpre tua missão,veste novamenteteu manto real.

No silêncio, quando a atração dacivilização, o peso dos hábitos e doslaços de sangue vão diminuindo ou

são profundamente sacudidos, a vozda alma ressoa, pois quem é estran-geira nesta terra é ela! Ela está vagan-do sem rumo, no exílio, neste desertoda vida, sem seu sentido profundo. Anostalgia do Reino original a atormen-ta: este País onde o Pai-Mãe esperaque seu filho rompa, finalmente, ascorrentes que o prendem e volte.

Como uma voz interior,a carta me despertoue me deu novo impulsopara realizar a tarefa.Minha alma suspiravade saudadesda casa de meu Pai,no Oriente.Pus-me a caminhopara encontrar a Pérola.E simplesmenteinvocando a Luzconsegui rompero poder da serpentee então peguei a Pérola.Depois, subie, guiado pela voz,segui, no céu,o caminho das estrelas.

Joguei foraminhas roupas sujas,e comecei a caminhar,sem medo, de volta.Quando a viagem terminou,recebi o mantoque toda alma errantedeseja ardentemente.

Tendo voltado ao meu reino,meu Pai-Mãe me acolheu.A Pérola brilhavacomo um novo sol.Esta luz resplandecepelas portas abertas,e toca toda criançaque, no fundo de seu coração,também descobriu a Pérola.

“A educação ocidental está voltada unicamente para os interesses e vantagens materiais, enquanto

que o aspecto espiritual está totalmente negligenciado.”

Rabindranath Tagore

(A criança, uma criança, meu filho, p. 5)