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Revista de Sociologia e Política ISSN: 0104-4478 [email protected] Universidade Federal do Paraná Brasil Neves Costa, Paulo Roberto; Roks, Tiago Junior; de Oliveira Santos Filho, Guatimozin RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL Revista de Sociologia e Política, vol. 20, núm. 43, octubre, 2012, pp. 221-246 Universidade Federal do Paraná Curitiba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23825528010 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista de Sociologia e Política

ISSN: 0104-4478

[email protected]

Universidade Federal do Paraná

Brasil

Neves Costa, Paulo Roberto; Roks, Tiago Junior; de Oliveira Santos Filho, Guatimozin

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

Revista de Sociologia e Política, vol. 20, núm. 43, octubre, 2012, pp. 221-246

Universidade Federal do Paraná

Curitiba, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23825528010

Como citar este artigo

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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 221-246 OUT. 2012

RESUMO

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃOPOLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 43, p. 221-246, out. 2012Recebido em 29 de dezembro de 2011.Aprovado em 14 de maio de 2012.

Paulo Roberto NevesCosta

Tiago Junior Roks Guatimozin de OliveiraSantos Filho

O objetivo deste artigo é analisar as características da elite empresarial no Paraná. O uso de metodologiastípicas dos estudos sobre elites e sobre cultura política, articuladas à análise da forma como se daria aação política, permitiu uma melhor caracterização dos representantes políticos do empresariado e, emparticular, no que diz respeito à sua relação com a democracia e o funcionamento de suas instituições. Talrelação é considerada em um nível fundamental do funcionamento da política brasileira, o estadual. Entre2010 e 2011, foram realizadas entrevistas com os principais dirigentes das entidades mais importantes narepresentação do empresariado paranaense. Além das informações sobre as trajetórias social, educacionale política, o questionário buscou levantar também as justificativas das opiniões, das avaliações e dospadrões de ação política. Constatamos que, de um lado, existe certa homogeneidade no que diz respeito àstrajetórias e certa coesão em relação aos valores políticos, à avaliação sobre as instituições democráticase aos padrões de ação política por parte da elite empresarial paranaense. Além da total adesão àdemocracia, há um relativo grau de satisfação com suas instituições, o que revela algumas característicasdas relações dessa elite e de seus representados com a política e a democracia, e como, nesse aspecto, elatambém se distingue da população em geral.

PALAVRAS-CHAVE: empresariado; elite empresarial do Paraná; instituições democráticas; culturapolítica; comportamento político.

I. INTRODUÇÃO1

A questão sobre a qual se apóia a pesquisasubjacente a este artigo é a relação entreempresariado e regime político democrático.Tomamos como objeto aqueles que dirigem asentidades de representação empresarial, a elitepolítico-representativa do empresariado, aquichamada de elite empresarial. Levamos em contaos processos de representação política e de açãopolítica como critérios de recorte para a análisedo empresariado. Tal elite é, então, considerada

não apenas um agente econômico, mas,sobretudo, político, em suas relações com ademocracia e suas instituições2. Para tanto,articulamos problemas e métodos característicosdos estudos de elites políticas, cultura política eação política.

Em suma, pretendemos analisar a formação eo comportamento de representantes políticos doempresariado e a sua relação com a democraciabrasileira, estabelecida por meio de parte de seusrepresentantes formalmente estabelecidos. Emparalelo, pretendemos contribuir, assim, para umaSociologia Política da democracia brasileira.

Consideramos três dimensões fundamentais eainda não suficientemente estudadas: (i) a relaçãoentre elites políticas e democracia; (ii) a relaçãoentre empresários e o regime democrático e (iii)

1 A pesquisa subjacente a este artigo faz parte dasatividades relacionadas à Bolsa Produtividade em Pesquisa(PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq), para o qual expressamos nossosagradecimentos, e também do Núcleo de Pesquisa emSociologia Política Brasileira (NUSP) da UniversidadeFederal do Paraná (UFPR). Agradecemos fortemente aosentrevistados pela disposição em participar de nossapesquisa. Também agradecemos aos pareceristas anônimosda Revista de Sociologia e Política por sua contribuiçãopara este artigo.

2 Os fundamentos dessas proposições foram desenvol-vidos em trabalhos anteriores. Para maiores detalhes sobresuas implicações teóricas e metodológicas, ver Costa(2005a; 2005b; 2007; 2012) e Costa e Engler (2008).

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um âmbito específico do funcionamento desseregime político no Brasil, ou seja, o nível estadual.Além disso, pelo fato de tratar-se de dirigentes deentidades de representação, pretendemos contribuirtambém para a análise do funcionamento dasentidades de representação empresarial, um objetofundamental para o tratamento de questões relativasà ação coletiva e à organização institucional dosmercados (OFFERLÉ, 2009).

Verificamos que, de um lado, a elite empresarialparanaense é homogênea em seus atributosadstritos e adquiridos, coesa em relação aos valorespolíticos relacionados à democracia e coesatambém em relação aos padrões de ação políticaem dados processos decisórios concretos3;ressalvando-se, desde já que, no empresariado, acoesão em relação aos padrões de ação políticanão é sinônimo de ação conjunta ou convergente.Por outro lado, ao lado da alta adesão à democracia,essa elite encontra-se relativamente mais satisfeitacom as instituições da democracia brasileira e,embora pouco interessada em atuar efetivamenteno aperfeiçoamento da democracia no país, coloca-se entre as bases sociais desse regime político, emespecial no âmbito local (estadual) de seufuncionamento.

Após breves comentários sobre os aspectosmetodológicos, as características gerais daeconomia paranaense nos últimos anos e asentidades contempladas pela pesquisa,apresentaremos os dados sobre o processo derecrutamento, os valores políticos e os padrõesde ação política da elite empresarial paranaense.Em seguida, faremos a análise dos dados eapresentaremos nossas principais conclusões.

II. BREVES NOTAS METODOLÓGICAS

Os dados que sustentam este artigo referem-se à pesquisa “Elite empresarial e democracia noBrasil: questões de teoria e método”, vinculada

ao Núcleo de Pesquisa em Sociologia PolíticaBrasileira da UFPR, realizada em 2010 e 2011,que tratou de questões relativas à elite empresarialbrasileira, nos níveis nacional e estadual, emespecial no Paraná. O questionário utilizado (verAnexo 1) continha questões fechadas e abertas,e buscou mobilizar variáveis de natureza qualitativa,ou seja, não apenas as opiniões e declarações,mas também as justificativas que as sustentariam,dando um rendimento analítico nem sempreencontrado nas pesquisas que utilizam o surveycomo metodologia.

O questionário foi dividido em três blocos: (i)perfil e trajetória política; (ii) cultura política eatitudes e (iii) ação política e comportamento.No bloco de perfil e trajetória foram analisadositens relativos aos estudos sobre recrutamento,elaborado a partir das seguintes questões: data elocal de nascimento, religião, cor ou raça,ocupação, nível de escolaridade, ocupação e nívelde escolaridade do pai, ocupação de cargospúblicos (eletivos ou não), se é ou foi presidenteou membro de outras entidades e se é ou foi filiadoa partidos políticos. No bloco sobre culturapolítica, os seguintes pontos foram abordados:concepção sobre os aspectos gerais dademocracia, avaliação do funcionamento dasinstituições democráticas, grau de confiança nasrelações políticas e empresariais, consolidação dademocracia no Brasil e a reforma política. Oúltimo bloco voltou-se para os padrões de açãopolítica, abordando questões que nos permitissemcaptar alguns aspectos do comportamento políticodas entidades. Abordamos, nesse ponto, questõessobre representação dos interesses, relações entreas entidades e as instituições estatais, incluindo olobby, e a forma de ação das entidades no contextodas eleições de 2010. Ainda em relação aospadrões de ação política, averiguamos os aspectosgerais de suas estratégias de defesa de interessesfrente ao conjunto do empresariado e ao Estado,mas também de sua atuação em processosdecisórios concretos. Apresentaremos os dadosde maneira agregada, sem a identificação dosentrevistados, conforme foi assegurado aosparticipantes.

Quanto ao objeto, o uso do método posicional(MILLS, 1981) pela pesquisa subjacente a esteartigo levou-nos a identificar os membros da eliteempresarial a partir da posição que ocupam nasentidades. Dessa forma, contemplamos osprincipais dirigentes (presidentes e diretores) das

3 Estamos referindo-nos às semelhanças em relação aosaspectos que Suzanne Keller chama de “atributosadstritos” as “características que diferenciam os indivíduose que [...] permanecem continuamente vinculadas a eles”,por exemplo, gênero, etnia e religião, e de “atributosadquiridos”, aqueles que são conquistados ou valorizadosao longo da vida, por exemplo, a profissão e as trajetóriaseducacional e política (KELLER, 1971, p. 160). Por“coesão” estamos referindo-nos às proximidades esemelhanças que podem dar-se tanto em relação aos valoresquanto aos padrões de ação política.

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mais importantes entidades de representação deinteresses de diversos setores empresariais doestado do Paraná, tanto de caráter sindical quantoassociativo, e as características da economialocal4. Além das entidades mais convencionais,acrescentamos as Câmaras de Comércio, dadasua importância em relação às atividades voltadaspara o comércio exterior (importação eexportação) e à internacionalização da economiaparanaense (investimentos estrangeiros no estadoe investimento nacional em outros países). Porfim, além da diversidade das entidadescontempladas, conseguimos contemplar cinco dasoito que compõem o grupo de atuação empresarialchamado de “G8”5.

Quando consideramos a economia paranaensenos últimos 40 anos, verificamos que houve umprocesso de profunda transformação em suaestrutura produtiva. A Companhia deDesenvolvimento Econômico do Paraná(Codepar), posteriormente transformada no Bancode Desenvolvimento Econômico do Paraná(Badep), estimulou a industrialização no estado,porém, concentrando seus investimentos emsetores nos quais a indústria paranaenseapresentava-se competitiva, assim como naabertura de espaços para a instalação de grandesempresas ligadas a oligopólios e ao capitalestrangeiro. Outras iniciativas, como aconsolidação da Cidade Industrial de Curitiba(CIC), o primeiro grande projeto dedesenvolvimento no Paraná, que uniu interessesda classe política dirigente e do empresariado local,foram também fundamentais para que o governoestadual pudesse consolidar uma agressiva agendafocada na atração de investimentos (OLIVEIRA,2001).

Ocorreu também uma diversificação na baseprodutiva do setor industrial, o que implicou umamudança de direcionamento da agroindústria, pormeio da atuação em mercados externos. A

produção industrial adotou também um carátermais dinâmico, buscando gerar produtos commaior conteúdo tecnológico, como materiaiselétricos, comunicações, transporte e mecânica(CASTRO & VASCONCELOS, 1999). Talperíodo caracterizou-se como o momento deconsolidação do parque industrial do Paraná, oqual serviu como base para a sua reestruturaçãoeconômica ocorrida na década de 1990(MIGLIORINI, 2006). Essa época ficou marcadatambém por uma maior integração da produçãoparanaense junto a mercados nacionais einternacionais (TRINTIN, 2001). Além disso, osetor industrial paranaense é responsável porpouco mais de 20% do produto interno bruto(PIB) estadual (IPARDES, 2011).

Em relação ao setor de serviços, nos últimosanos, a evolução do crescimento da produçãointerna bruta foi mais constante e estável do queaquela verificada nos outros setores econômicos.Como indica a Tabela 1, o setor de serviços noParaná compõe cerca de 70% do PIB estadual e,

4 Além das entidades contempladas pela pesquisa, outrasinicialmente previstas não se dispuseram a participar, asaber, Associação Comercial do Paraná, Associação dosDirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Estadodo Paraná, Associação Paranaense de Supermercados eFederação das Empresas de Transporte de Cargas doEstado do Paraná. Em relação a esse aspecto, vale a penalembrar o que Offerlé fala sobre este tipo de pesquisa, ouseja, que o afastamento dos sociólogos em relação à

realidade das empresas é equivalente à ignorância doschefes de empresa da realidade das pesquisas em CiênciasSociais (OFFERLÉ, 2009).

5 Existe no Paraná um grupo informal de entidades derepresentação empresarial identificado como “G8”. Nãoexiste nenhum acordo formal ou legal que sustente aexistência dessa coalizão. Porém, o grupo reúne-sefrequentemente para discutir assuntos relacionados ao setorprodutivo paranaense, como infraestrutura e tributação,junto ao governo estadual, sendo composto por Faciap(Federação das Associações Comerciais e Empresariaisdo Paraná), Ocepar (Organização das Cooperativas doEstado do Paraná), Faep (Federação da Agricultura doEstado do Paraná), Fecomércio (Federação do Comérciodo Paraná), Fiep (Federação das Indústrias do Estado doParaná), Fetranspar (Federação das Empresas deTransporte de Cargas do Estado do Paraná), AssociaçãoComercial do Paraná (A CP) e Fampepar (Federação dasAssociações de Micro e Pequenas Empresas). Além disso,tais entidades alternam o comando do Conselho deAdministração do Sebrae no Paraná, o que representa umorçamento de R$ 160 milhões por biênio, sendo que oSebrae, não só por sua capilaridade, mas também pelo seupróprio escopo de atuação, é um dos programas com maiorpenetração junto ao pequeno empresário paranaense ebrasileiro, com óbvias implicações econômicas e políticasno estado. O G8 tem não apenas ações reativas, mastambém propositivas, em âmbito estadual. Mobilizou-seem torno da criação do Conselho de Desenvolvimento doParaná, da proposta de auditoria sobre as empresas depedágio, e tem tido atuação importante no debate sobre oreajuste anual do salário mínimo regional.

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portanto, está muito bem assentado,representando a maior parte das riquezasproduzidas no estado.

A agropecuária paranaense diversificou aprodução e aumentou a produtividade em funçãoda sua modernização e dos bons preçosinternacionais praticados. Outro ponto importante

TABELA 1 – COMPOSIÇÃO DO PIB DO PARANÁ

FONTE: IBGE (2011).

No começo do ano de 2011, as vendas docomércio no Paraná aumentaram 11,98%, umcrescimento maior do que o registrado pelaeconomia do estado como um todo (idem). Trêssubsetores destacam-se:

TABELA 2 – SERVIÇOS: SUBSETORES MAISDINÂMICOS (%)

FONTE: Ipardes (2011).

diz respeito à força econômica e políticaconsolidada pelas cooperativas desse setor noestado, nos últimos 20 anos. Com umaparticipação média de 10% no agronegóciobrasileiro, o Paraná é o maior exportador mundialde grãos e o maior produtor de bens florestais nopaís. A agroindústria do estado está baseada emalimentos e bebidas, e sua participação em taissegmentos é em média de 9,2% da produção detodo o país (idem).

Desde 1971, o estado conta com a Organizaçãodas Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar),que representa esse ramo de atividade econômica.Atualmente, existem 238 cooperativas no estado,das quais 82 são cooperativas do ramoagropecuário. O número de cooperados no ramoé muito próximo de 300 000 produtores rurais. Eas cooperativas agrícolas são responsáveis por56% da produção agrícola do Paraná (OCEPAR,2011).

Em relação à economia nacional, o Paraná é oquinto estado com maior produção industrial, e osegundo na região Sul do país, à frente de estadoscomo Santa Catarina, Espírito Santo e Amazonas.O crescimento médio da indústria paranaense éde uma taxa de 2,7% ao ano, uma média superiorao nível nacional para o ano de 2011, que foi de1,8% (IPARDES, 2011). Em 2010, o Paraná foio quinto estado brasileiro em exportação, quandoas exportações contabilizaram cerca de US$ 14,2bilhões, um crescimento de 26,3% em relação a2009 e que representa 7% do total nacional. Osprincipais parceiros comerciais são China,Argentina, Alemanha, Países Baixos e EstadosUnidos (BRASIL. MDIC, 2011).

Levando em consideração os dados acimaapresentados, procuramos selecionar para este

TABELA 3 – EXPORTAÇÃO DO PARANÁ: PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

FONTE: BRASIL. MDIC (2011).

trabalho um grupo de entidades empresariais querepresentassem historicamente importantes

SETOR PARTICIPAÇÃO (%)

Serviços 68,62

Indústria 21,76

Agricultura 9,62

TOTAL 100

Comércio e serviços de reparação 30

Administração, saúde e educação públicas 17

Atividades imobiliárias e de aluguel 12

Outros 41

PRODUTO VALOR EXPORTADO (US$ MILHÕES FOB)

PARTICIPAÇÃO NAS EXPORTAÇÕES (%)

TONELAGEM (1 000 000 KG)

Grãos de soja 2 372,6 16,74 6 280,5

Açúcar de cana 1 057,5 7,46 2 509,3

Bagaço e resíduos de soja 1 042,6 7,35 2 907,6

Carne de frango 873,4 6,16 510,0

Automóveis 770,8 5,44 83,1

Outros produtos 8 059,2 56,85 8 031,6

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setores e atividades econômicas do estado doParaná, no caso, indústria, serviços, e agricultura.O primeiro setor foi contemplado por meio daanálise dos dados referentes à entidade patronal aele relacionada

Da mesma forma, em relação à agricultura,levamos em consideração não só a entidadepatronal que representa o interesse dosagricultores, mas também a força e a dimensãoque as cooperativas representam no Paraná. Emrelação ao processo de internacionalização daeconomia paranaense, que tomou grandesproporções ao fim da década de 1980,selecionamos duas entidades que sãoconsideradas as mais representativas em relaçãoao comércio exterior e atração de capitalestrangeiro. O setor de serviços, em grande medidarepresentado pelo comércio, mas que tambémengloba outras atividades como os seguros, foitambém contemplado em nossa pesquisa. E,apesar da grande concentração do PIB paranaenseem Curitiba e Região Metropolitana (Tabela 4),procuramos contemplar entidades localizadasnessa região que também tivessem capilaridadeem outras partes do estado.

Fonte: IBGE (2011).

TABELA 4 – CONCENTRAÇÃO DO PRODUTOINTERNO BRUTO PARANAENSE,POR REGIÃO (2010)

Abaixo seguem as entidades contempladasatravés de seus dirigentes, por ordem alfabética.Cabe ressaltar que a caracterização das mesmasseguiu a maneira pela qual cada uma oficialmentese define em termos de atuação e representação.

– AHK: Câmara de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha. As câmaras de comércio e indústriaBrasil-Alemanha atuam há quase 90 anos no país,promovendo a colaboração entre as economiasda Alemanha e do Brasil. Aproximadamente 1 500empresas são associadas às Câmaras. A AHKcontempla tanto firmas de capital e know-howalemães quanto empresas brasileiras ligadas aocomércio exterior, além de empresas e instituiçõesradicadas na Alemanha. A proximidade com

empresas, órgãos públicos e associações no Brasile na Alemanha faz com que as câmaras possamprestar serviços importantes, que facilitam oacesso aos mercados brasileiro e sul-americano,bem como ao alemão e europeu.

– Amcham: Câmara Americana de Comércio.A Amcham é considerada a maior câmara decomércio do mundo. Fundada em 1919 e com maisde cinco mil empresas associadas espalhadas emonze unidades regionais, procura oferecer aos seusassociados espaços de relacionamento,oportunidades de capacitação e representação diretados interesses das empresas associadas junto aogoverno. No Paraná, é considerada a maior entidademultisetorial do Estado e conta com mais de 400empresas em sua base de associados.

– Apeop: Associação Paranaense dosEmpresários de Obras Públicas. A Apeop é umasociedade civil sem fins lucrativos, fundada em1960, e representa o setor de empreiteiras einfraestrutura junto ao Estado.

– Faciap: Federação das AssociaçõesComerciais e Empresariais do Estado do Paraná.Fundada em 1959, representa 288 associaçõescomerciais às quais estão vinculadas mais de 40mil empresas em todo o estado. A entidade é umadas maiores instituições do sistema no Brasil, comatuação em 75% dos municípios paranaenses. Asassociações comerciais e empresariais filiadas àFaciap estão presentes nas principais cidades, querepresentam juntas 95% do PIB paranaense.

– FAEP: Federação da Agricultura do Estadodo Paraná. A FAEP tem como objetivo acoordenação, a defesa e a representação legal daagricultura e da pecuária, com 178 sindicatos emtodo o estado. Mantida pelos produtores rurais,faz parte do Sistema Sindical Rural e estáintegrada à Confederação Nacional da Agricultura.

– Fecomercio: Federação do Comércio doEstado do Paraná. Fundada em 1948, aFecomercio administra os serviços sociais e deaprendizagem comercial no Paraná, o SESC e oSenac. Atualmente possui 51 sindicatos filiados,que correspondem a aproximadamente 400 000estabelecimentos comerciais existentes no estadodo Paraná.

– FIEP: Federação das Indústrias do Estadodo Paraná. A FIEP é a quinta maior federaçãoregional do Brasil, conta com 107 sindicatos aosquais estão ligadas mais de 42 mil indústrias. A

REGIÃO PARTICIPAÇÃO (%)

Região Metropolitana de Curitiba 44,24

Interior e Litoral 55,76

Total 100

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entidade ocupa papel relevante na composição daCNI e atua em várias frentes, inclusivedesenvolvendo projetos inovadores relacionadosà mobilização e à valorização da participaçãopolítica da população em geral6.

– Ocepar: Sindicato e Organização dasCooperativas do Estado do Paraná. A Ocepar éuma cooperativa criada em 1971, integrante daOrganização das Cooperativas do Brasil (OCB) eque visa desenvolver, representar e defender osinteresses do sistema cooperativista paranaense.A Ocepar passou também a exercer funções desindicato patronal das cooperativas paranaensesdesde 1997. Possui, em sua estrutura, 238cooperativas registradas, que reúnem mais de 535mil associados.

– Sindiseg: Sindicato das Empresas de SegurosPrivados, Resseguros, de PrevidênciaComplementar e de Capitalização nos Estados doParaná e do Mato Grosso do Sul. Filiado àFederação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg),o Sindiseg PR-MS tem como objetivo oferecersuporte às empresas seguradoras do Paraná erepresentar os interesses das empresas filiadasjunto ao poder público. Possui, em sua base defiliados, mais de 20 grandes seguradoras da região,tanto brasileiras como multinacionais.

III. OS ATRIBUTOS ADSTRITOS E ADQUI-RIDOS NO RECRUTAMENTO DA ELITEEMPRESARIAL PARANAENSE

Os atributos adstritos funcionam como umprimeiro filtro pelo qual os indivíduos passam, efuncionam mais no sentido de favorecer do que dedeterminar o acesso dos indivíduos às posições deelite. A análise dos dados indicam-nos algunsaspectos importantes. Em primeiro lugar, a eliteempresarial paranaense é formada predominan-temente por homens, brancos, católicos e com umafaixa etária média de 67 anos7. Quanto ao local denascimento, sete dos nove entrevistados nasceram

na cidade de Curitiba e apenas um entrevistado nãonasceu no estado do Paraná.

Quando comparamos nossos entrevistadoscom a população paranaense ou mesmo comoutras elites dentro desse estado, observamosalgumas diferenças. Em relação ao sexo, a divisãoda população paranaense é muito equilibradahavendo 50,47% de homens e 49,53% demulheres. Já em nossa elite, ocorre a total ausênciade mulheres. Outro ponto é em relação à raça.Apesar do estado do Paraná não ter uma taxa altade negros (2,84%) e pardos (18,25%), nessa eliteocorre exclusivamente a presença de brancos8.

O grau de escolaridade dessa elite também édiscrepante quando comparado ao restante dapopulação do estado e também com as outraselites. Apenas 9% da população possui altaescolaridade, com 46% média escolaridade e 45%baixa escolaridade. Ao compararmos com asoutras elites, a empresarial também é a maisescolarizada, pois a político-administrativa,composta pelos secretários de estado, tem 90,4%dos seus membros com alta escolaridade, apartidária, composta pelos presidentes dospartidos políticos, com 71,4% e a parlamentar,composta pelos deputados estaduais, com 59,4%.

Quanto aos atributos adquiridos da eliteempresarial paranaense, em primeiro lugar, aescolaridade indica um índice de educaçãoaltamente elevado. Todos os entrevistadospossuem ensino superior completo, sendo que trêspossuem pós-graduação. Em relação à formaçãoacadêmica, o curso de Engenharia consta daformação de quatro dos nove entrevistados,seguido por Direito, com dois, e CiênciasEconômicas ou Ciências Contábeis, com três

6 A FIEP desenvolve projetos como a Rede deParticipação Política e “Vigilantes da democracia”, quesão inovadores na promoção da participação política emâmbito local e no acompanhamento da ação dos políticoseleitos, em âmbito estadual e nacional. Sobre essaexperiência, ver Costa e França (2012).

7 A religião é uma variável considerada um atributo adstritopor Suzanne Keller (1971) e corrobora a homogeneidadeem termos desse tipo de atributo da elite empresarialparanaense.

8 Os dados populacionais foram retirados de IBGE (2011),censo de 2000. Em relação ao sexo e à raça, a eliteempresarial paranaense aproxima-se muito da elitepartidária paranaense, composta pelos presidentes dospartidos mais importantes na política estadual, dado queambas caracterizam-se por serem exclusivamentecomposta por homens brancos, enquanto que em outraselites políticas do estado, como a parlamentar, compostapelos deputados estaduais, há ocorrências de mulheres(4,3%). A presença feminina é ainda maior na elite político-administrativa, composta por aqueles que ocuparam cargosnas secretarias estaduais e em algumas empresas estatais,com 16,4%. Os dados sobre as elites políticas paranaensesforam retirados das pesquisas realizadas no NUSP-UFPRe constam dos trabalhos apresentados em Perissinotto etalii (2007).

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entrevistados. Por último, no que diz respeito àsinstituições de ensino freqüentadas, a UniversidadeFederal do Paraná predomina com cincoentrevistados, sendo os demais distribuídos porinstituições privadas. Quando relacionado ao nívelde educação dos entrevistados em relação aosseus pais, percebemos que praticamente nãohouve mobilidade educacional, visto que apenaso pai de um deles não possuía grau universitário.

Já em relação à ocupação profissional, caberessaltar a diferença entre formação e diploma deocupação real, pois as duas coisas podem nãocoincidir. Ao analisarmos a trajetória da eliteempresarial paranaense a partir da ocupação realque os entrevistados exerceram por mais tempoantes de chegarem à presidência da entidade derepresentação em que se encontravam, os dadosindicam que os dirigentes das instituiçõesencontravam-se nas seguintes ocupações: diretore executivo de empresa, com cinco entrevistados,seguidos de dois proprietários urbanos e doisprofissionais liberais.

Considerando a natureza da elite aqui estudada,obviamente as ocupações de executivo de empresae proprietário urbano aparecem como atributosmais do que fundamentais para chegar-se aposições de representação empresarial, maspodemos notar que a profissionalização é o dadomais relevante nesse processo, ou seja, poucostinham a condição de ser exclusivamenteproprietários.

Em relação à trajetória política, trata-se de umelemento fundamental do estudo sobrerecrutamento, em particular em função danatureza política da elite empresarial, e permite-nos descobrir se existe um caminho que favoreçao indivíduo a alcançar a posição de dirigente, ouseja, as experiências que contribuem positivamentepara alcançar a posição de elite.

Entre os nove entrevistados, cinco ocuparamcargos públicos, em especial nas secretariasestaduais. Quanto ao pertencimento a partidospolíticos, quatro foram filiados, três nuncapertenceram a partidos políticos e dois nãoresponderam. Mas o mais relevante é que nenhumdos entrevistados atualmente pertence a algumpartido político. Outro ponto a ser destacado é aparticipação dos dirigentes das entidades nadireção de clubes e sociedades tradicionais deCuritiba. Dos entrevistados, cinco participaramou participam da direção dessas instituições.

Por último, no que se refere à ocupação decargos de direção de entidades de representaçãoempresarial, todos os entrevistados ocuparam taiscargos em outras ou nas mesmas entidades emdiretorias anteriores, ou como presidentes dasinstituições sindicais locais. Isso sugere que atrajetória dentro de setores de representaçãoempresarial é importante na medida em que fazparte do recrutamento de postos de comando maisaltos, como é o caso da presidência das entidades.

IV. A CULTURA POLÍTICA DA ELITE EMPRE-SARIAL PARANAENSE

Tratados os aspectos gerais sobrerecrutamento e trajetória política, apresentaremosagora os dados sobre os valores políticos que aelite empresarial compartilha, especialmenteaqueles relacionados aos seguintes temas: (i)concepção sobre os aspectos gerais dademocracia; (ii) funcionamento e confiança nasinstituições democráticas; (iii) consolidação dademocracia no Brasil e (iv) a reforma política9.

Os dados sobre os aspectos gerais dademocracia são interessantes para perceber o graude coesão dessa elite. Os entrevistados foramperguntados sobre algumas características geraisdo sistema democrático e em que medida essascaracterísticas seriam importantes para o bomfuncionamento da democracia.

A participação da população nos processosdecisórios é vista pelos entrevistados comoessencial e necessária à democracia. Asjustificativas foram as seguintes: a participação éum princípio democrático fundamental; é papeldos cidadãos acompanhar as ações dosgovernantes; a participação seria um meio deconsolidar a democracia e as decisões maisimportantes deveriam ser compartilhadas, aomáximo possível, por toda sociedade. As ressalvasque foram feitas referiam-se apenas à dificuldadede submeter todos os temas à discussão coletiva.

Outro ponto importante foi a adesão dapopulação aos valores democráticos, vista comoessencial e necessária, justificada pela idéia deque isso poderia levar a uma maior participaçãoda população na vida política. Já em relação àcompetência administrativa por parte dosgovernos, também é vista como essencial e

9 Os resultados relativos aos valores políticos estão noAnexo 2.

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necessária. As justificativas basearam-se, por umlado, no entendimento de que a competênciaadministrativa deve ser uma obrigação por partedos governantes para com o bem público, e poroutro, que a falta desse tipo de competência levariaa um enfraquecimento da democracia, acabandoaté por criar terreno para soluções nãodemocráticas.

A importância do respeito às autoridadesconstituídas também é unânime e baseia-se naidéia de que se trata de um princípio hierárquicoque mantém a ordem e faz a democracia funcionar.Contudo, houve a ressalva de que esse respeitosó deveria ser mantido enquanto as autoridadesconstituídas forem dignas disso. Quando nãomerecessem mais tal respeito, elas devem serdestituídas, o que deveria ocorrer sempre dentrodo devido processo legal.

Outro aspecto analisado foi a liberdade demercado e de iniciativa. Esse item aparece comoalgo essencial e necessário à democracia, e osargumentos são de que se trata de um princípiofundamental da sociedade capitalista e que oEstado deveria cuidar apenas dos setores básicos,como saúde, educação e habitação. Mas, há aressalva de que essa liberdade não deve serilimitada, mas estar sempre sobre o controle dosdispositivos legais.

Por último, questionou-se a importância doequilíbrio entre os poderes Executivo eLegislativo. As justificativas foram de que oequilíbrio seria essencial e necessário, já queevitaria possíveis crises políticas, mantendo assima harmonia entre os poderes. A falta desseequilíbrio foi exemplificada pelo fato de o poderExecutivo legislar cada vez mais, sendo que essaseria uma atribuição específica das instituiçõeslegislativas, o que comprometeria o bomfuncionamento do sistema democrático.

A adesão à democracia por parte da eliteempresarial situa-se em níveis muito altos. Quandoperguntados se a democracia é a melhor formade governo para solucionar crises, as respostasafirmativas foram unânimes. Apesar dosproblemas que o sistema democrático possui, eleé considerado a melhor forma de governopossível. As justificativas foram de que ademocracia permite a conciliação das partes pormeio do entendimento e que os problemaspolíticos sempre tiveram saídas políticas.

Ainda em relação às instituições democráticas,confrontamos os entrevistados com a seguintequestão: se fosse necessário optar entre o bomfuncionamento das instituições políticas ou o bomfuncionamento das instituições econômicas, qualo senhor escolheria? As respostas na sua totalidadeforam pelo bom funcionamento das instituiçõespolíticas, justificadas pelo fato de que o bomfuncionamento das instituições políticas é o pré-requisito para a estabilidade e o bomfuncionamento das instituições econômicas.Houve, por parte, de um entrevistado a afirmaçãode que, em uma eventual situação que envolveriaescolher entre o bom funcionamento dasinstituições econômicas ou políticas, o bomfuncionamento apenas das instituiçõeseconômicas poderia funcionar como uma portaque levaria a um estado autoritário, no qualpoderiam ser garantidas as condições econômicaspara a população, mas suprimidas as suasliberdades individuais e políticas.

Quanto à possibilidade de uma reforma nasinstituições políticas representativas e disso mudara forma como o governo toma as decisõeseconômicas, os entrevistados mostraram-sebastante confiantes10. A reforma política foi vistacomo extremamente necessária. Segundo osempresários, essa mudança poderia facilitar acobrança sobre os eleitos, bem como contribuirna solução de erros, levando assim a um maioraperfeiçoamento das instituições.

Quando perguntados se a democracia brasileiraestaria consolidada e, por isso, pouco sujeita acrises que poderiam levar ao seu abandono, asrespostas dos empresários foram de que ademocracia brasileira está sim consolidada e quehá problemas pontuais relacionados à qualidadedos representantes, mas as justificativas foramque a sociedade em geral está atenta aos rumosdo país e que nem o quadro institucional interno

10 A reforma política, embora não tenha se efetivado, estásempre presente no horizonte do cenário político nacional.Portanto, deve ser tomada não apenas como elementopara avaliação da coesão no âmbito dos valores políticos,mas também como elemento constitutivo de uma eventualação política, embora tenhamos verificado que poucosentrevistados declararam que suas entidades possuíamações no intuito de aperfeiçoar as instituiçõesdemocráticas.

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e nem o cenário mundial permitiriam mudançasautoritárias nos rumos da democracia brasileira.

Feitas as considerações sobre alguns aspectosgerais da concepção de democracia, verificaremosagora questões relativas ao grau de confiança doempresariado frente às instituições democráticas.Embora tal questão remeta à vasta literatura sobreinstituições políticas, observa-se que pouco temsido verificado em relação à posição dos grupossociais específicos frente a elas. Nesse sentido,são dois os pressupostos que regem essa parteda pesquisa: o primeiro é a cultura política, noque diz respeito à confiança e sua relação com aconsolidação e a estabilidade do regimedemocrático. O segundo é a cultura política,entendida como um fator que diminuiria aincerteza provocada pelos riscos da ação coletiva,o que sem dúvida é interessante quando se estudaum grupo com ações articuladas constantes(ALMOND & VERBA, 1989; PUTNAM, 2002).

Quanto ao grau de confiança da eliteempresarial paranaense em relação às instituiçõespolíticas do poder Executivo, a Presidência daRepública recebeu avaliações entre confiável epouco confiável e as justificativas foram de que aeconomia brasileira vai bem, mas que há umdesequilíbrio entre os setores da economia, unsrecebendo mais atenção por parte do poderExecutivo federal do que outros. O governo doestado foi mal avaliado por quase a totalidade dosentrevistados. As justificativas foram de que a suaatuação não foi satisfatória e, em certo sentido,até mesmo de caráter “populista”, embora umentrevistado tenha uma avaliação positiva,argumentando que o governo do estado teria semostrado um parceiro do empresariado. Porúltimo, as respostas indicam a satisfação com opoder Executivo municipal, no sentido de queCuritiba teria um histórico de bons prefeitos, queas demandas continuavam sendo atendidas e quea prefeitura estaria atuando com seriedade etomando boas decisões.

No que tange às instituições jurídicas (poderJudiciário federal e estadual, Ministério Públicofederal e estadual), foram bem avaliadas pelaquase totalidade dos entrevistados. As justificativasforam de que as instituições estão cumprindo seusobjetivos, mas alguns entrevistados informaramque não possuem conhecimentos suficientessobre essas instituições. As ressalvas a essaavaliação foram de que as instituições jurídicas

são pouco efetivas e que freqüentemente aplicamsentenças equivocadas.

Por sua vez, as instituições do poderLegislativo não partilharam da mesma avaliaçãopositiva que as instituições do poder Executivo edo poder Judiciário. O Senado Federal e a CâmaraFederal foram avaliados como pouco confiáveisou, no máximo, confiáveis. As justificativas foramde que o Senado Federal e a Câmara Federal estãopartidarizados e que as decisões são tomadas maisem função dos objetivos individuais e partidáriosdo que em função das necessidades da nação, eque o legislativo federal possui pouca efetividadeno cenário político. Há também uma avaliaçãonegativa em relação à qualidade dos políticos e,conseqüentemente, da representação política.Ainda em relação às instituições legislativas, aAssembléia Legislativa recebeu uma avaliaçãodispersa, mas predominantemente negativa. Asjustificativas dos entrevistados deram-se emfunção da instituição possuir inúmeros problemasinternos e não ter uma boa atuação.

Quanto ao grau de confiança nos partidospolíticos, as avaliações dos entrevistados foramdispersas, mas predominantemente negativas. Asjustificativas foram de que, em sua maioria, ospartidos possuem plataformas muito vagas, nãopossuem estrutura e geralmente as alianças entreos partidos são incoerentes com as suas propostasoriginais. Por último, em relação às própriasentidades de representação empresarial, foramavaliadas com um alto grau de confiança.

Como vimos anteriormente, a maneira comoos indivíduos avaliam o desempenho dasinstituições acaba por influenciar diretamente ograu de confiança ou desconfiança nessasmesmas instituições. Veremos, agora, a avaliaçãodo empresariado frente ao desempenho dasseguintes instituições: Presidência da República,governo do estado, Banco do Brasil, BancoNacional do Desenvolvimento (Bndes), BancoCentral, sistema partidário e sistema eleitoral.

Com relação à Presidência da República, seudesempenho foi predominantemente consideradocomo satisfatório. Os entrevistados avaliaram apresidência a partir de seu desempenhoeconômico, que, apesar de positivo, teria sidofruto de ações de governos anteriores. Embora apresidência tenha sido criticada por que teria seaproveitado de propagandas de programasassistenciais como meio de obter popularidade,

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assim confundido a população e deixando projetosnacionais de lado, ela foi bem avaliada no sentidode ter sido uma administração acima da média. Jáo desempenho do governo do estado foi avaliadoquase na sua totalidade como ruim. Asjustificativas foram de que o governo foi tambémpopulista e com uma administração letárgica.

Sobre as instituições econômicas, o Banco doBrasil teve seu desempenho avaliado entre bom esatisfatório e é visto como um banco parceironas demandas empresariais, muito fortalecido pelapolítica financeira brasileira. O Bndes foi avaliadode maneira relativamente positiva e foi defendidopor ser a única agência de fomento do Brasil.Houve, entretanto, críticas quanto ao fato de obanco favorecer determinados setores emdetrimento de outros. O Banco Central é bemavaliado pelo fato de desempenhar bem o seu papelde controle da inflação, mesmo que a partir damanipulação dos juros altos.

O funcionamento do sistema partidário e dosistema eleitoral recebeu avaliações dispersas,mas que ficaram entre satisfatório e ruim. Ascríticas foram de que os partidos políticos nãopossuem nenhum tipo de ideário e que estão maispreocupados com seus ganhos do que com oEstado como um todo. Houve uma avaliaçãopositiva em relação ao aspecto operacional dosistema eleitoral, como um processo bom, seguro,rápido e eficiente. A insatisfação em relação aosistema eleitoral por parte dos entrevistados foiseguida pela indicação da necessidade de umareforma política, sugerindo, por exemplo, aadoção do sistema distrital.

Perguntados sobre a reforma política, osentrevistados mostraram-se coesos com relaçãoaos temas fundamentais que permeiam o debate,como voto obrigatório, financiamento público decampanhas, constituinte exclusiva, entre outros.A seguir, trataremos dos pontos levantados, bemcomo das justificativas das posições tomadas.

Com relação ao financiamento público decampanha, a maioria dos entrevistados mostrou-se a favor e as justificativas foram de que issopoderia dar mais transparência aos partidospolíticos. As duas avaliações que se posicionaramcontra afirmaram que já existe, por exemplo, ohorário gratuito de campanha, e que os partidosdevem buscar doações a partir da mobilização doseu eleitorado e não nos cofres públicos.

No que tange ao debate sobre voto distrital,os entrevistados, na sua totalidade, mostraram-se a favor, e as justificativas indicam que o votodistrital poderia levar a uma maior responsividadee representatividade por parte dos eleitos. Afidelidade partidária é vista por todos osentrevistados como uma obrigação, por parte doscandidatos, em relação aos partidos. Osentrevistados também entendem que o fim dareeleição para cargos do poder Executivo énecessário, argumentando que os segundosmandatos são sempre ruins. Os entrevistadostambém são, em sua totalidade, a favor do fim dovoto obrigatório. As justificativas foram de que oBrasil está preparado e sua democraciaconsolidada, e por isso o voto deve ser livre, casocontrário, a obrigação tiraria a liberdade dosindivíduos. Por último, quanto à necessidade deuma constituinte exclusiva para votar a reformapolítica, os entrevistados mostraram-se a favor.A justificativa foi que, atualmente, nem a oposição,nem a situação desejam fazer a reforma política.

V. OS PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DAELITE EMPRESARIAL PARANAENSE

Quanto às formas de representaçãoempresarial, os resultados podem ser encontradosno Anexo 3. Perguntamos aos entrevistados sehaveria a necessidade de uma entidade querepresentasse o conjunto dos interesses de todoos setores do empresariado brasileiro frente aogoverno e à sociedade. As posições dividiram-se.O argumento dos favoráveis refere-se à integraçãoentre os setores diferentes, o que daria mais forçaao empresariado brasileiro; já os contrários,acreditam que, diante da multiplicidade deinteresses, a representação única não seriainteressante. Todos os entrevistados concordamque há necessidade de o empresariado formularum projeto seu para o Estado e a sociedadebrasileiros, o que indica a importância a que elesse atribuem nesse projeto envolvendo o Estado eo desenvolvimento econômico.

Em relação aos padrões de ação política,averiguamos os aspectos gerais das estratégiasdas entidades na defesa de seus interesses frenteao conjunto do empresariado e ao Estado. Emprimeiro lugar, a grande maioria dos entrevistadosdeclarou que as ações davam-se de maneiraarticulada com outras entidades. Os entrevistadosafirmaram que o lobby é mais eficaz que ofinanciamento de campanha na defesa dos

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interesses da entidade. Já no que se refere às açõesque as entidades adotariam em relação às eleiçõesde 2010, a maioria dos entrevistados afirmou quese preocuparia prioritariamente com os candidatosa cargos do poder Executivo.

Perguntamos também como se dariam asrelações da sua entidade com algumas instituiçõesestatais, levando em conta as formas de contatos,o grau de sucesso e os principais assuntostratados. Verificamos que praticamente todas asentidades têm ação intensa no poder Executivoestadual e avaliam tal ação como bem sucedida,utilizando todos os canais disponíveis,predominando os contatos pessoais. Já em relaçãoao poder Legislativo estadual, a avaliaçãopraticamente inverte-se, mas tambémpredominam os contatos de natureza pessoal.

Já no que se refere ao âmbito nacional, hátambém uma intensa relação com o poderExecutivo, seja com o Presidente da República,seja com o seu Vice, com o Ministro da Fazendaou ministros mais próximos politicamente, comofoi o caso de Paulo Bernardo da pasta doPlanejamento, além de outros órgãos do GovernoFederal. Os temas geralmente estão relacionadoscom a defesa do setor que a entidade representa,em especial projetos de lei contrários ao segmentoempresarial representado. Em relação ao Bancodo Brasil e ao Bndes, poucas entidades atuam,mas, as que o fazem, julgam suas ações comobem sucedidas. Os temas tratados, o que nãopoderia deixar de ser, são especificamenteeconômicos, predominantemente relacionados aofinanciamento dos setores representados.

Em relação ao poder Legislativo federal,praticamente todos possuem algum tipo derelação, tanto no Senado Federal quanto naCâmara dos Deputados, e os contatos são maisformais, embora poucas entidades realizem essaatividade freqüentemente, já que essas relaçõesdão-se por meio de entidades nacionais. Quantoàs formas de contato, geralmente dão-se por meioda bancada paranaense na Câmara e no Senado edo que se definiu como frente parlamentar damicro-empresa no Congresso Nacional.

VI. ANÁLISE DOS DADOS

Considerando os resultados obtidos, emprimeiro lugar, aqueles relacionados aorecrutamento, podemos dizer que ahomogeneidade da elite empresarial paranaense em

relação aos seus atributos adstritos e adquiridosmais do que comprova a diferenciação em relaçãoà população brasileira ou paranaense, e, também,indica um padrão de recrutamento fechado elocalista, ou seja, concentrado na cidade deCuritiba. Se fizermos uma comparação com osresultados de pesquisas anteriores, percebemosque entre os anos de 1995 a 2005 (COSTA &ENGLER, 2008) e os anos de 2010 e 2011, a eliteempresarial paranaense mostrou-se altamentehomogênea, o que sugere que praticamente nãohouve mudanças quanto ao padrão derecrutamento mantido ao longo desses quase 15anos contemplados pelas duas pesquisas.

Em suma, os atributos adstritos e adquiridossugerem menos que a sua posse torna o acesso àelite empresarial mais fácil, e mais umasemelhança no que tange as experiências de vida.Tal semelhança sugere que os processos deascensão aos cargos, que sempre passam peladisputa eleitoral, favorecem os indivíduos quepossuem tais características, dada a suainequívoca predominância. Mas, verificamos que,embora a homogeneidade social seja importante,está longe de ser suficiente, ou seja, ela é parte deum conjunto de semelhanças.

Daí a importância da questão da trajetória. Osdados indicam que a elite empresarial paranaensepouco ocupou cargos públicos ou partidários. Emcontrapartida, observamos um alto grau departicipação em entidades de representaçãoempresarial. O que ocorre aqui é o afastamentoda atividade política pública e uma grandeexperiência anterior em entidades sociais, umaespecialização ou quase profissionalização naocupação de cargos de direção desse tipo deentidade. Assim, ao lado da homogeneidade oudas semelhanças em relação aos atributos adstritose adquiridos, as vias de acesso tendem a favoreceraqueles que tiveram experiências anteriores dedireção de entidades, em especial as propriamenteempresariais, sendo, portanto, mais relevantes doque a experiência em cargos públicos. Esse é umdado que reforça a constatação de que houvepoucas mudanças quanto à trajetória da eliteempresarial paranaense. Para isso, bastacompararmos novamente os dados obtidos aquicom aqueles que já indicavam uma predominânciado distanciamento dos cargos políticos e umamaior ocupação de cargos de direção de entidadesempresariais, em especial o de presidente (idem).

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Ao compararmos a elite empresarial tratadaneste trabalho com o estudo realizado porPohlmann et alii (2010) sobre o caso alemão,algumas observações podem ser feitas. Emboratal estudo trabalhe com o conceito de “eliteeconômica”, considerada a partir do critério daocupação dos postos principais em grandesempresas industriais, indica que uma grande partedos empresários é recrutada nas altas camadassociais, tendo uma origem social comum, alémde ter uma trajetória familiar ligada à atividadeempresarial. Entretanto, tal estudo constatatambém que, apesar do recrutamento socialmentefechado, há um peso muito maior da trajetória eda carreira, sendo esses os atributos maisimportantes para ingressar naquela elite. Tambémverificou-se que a educação é uma característicamuito importante, e com destaque para os cursossuperiores de Ciências Econômicas e Engenharias,também evidenciados por nossas pesquisas.

Em suma, a trajetória dos entrevistados indicaque, embora haja homogeneidade em relação aosatributos adstritos e adquiridos, a elite empresarialparanaense caracteriza-se por uma alta capacidadepolítica e uma especialização, seja ela relacionadaà experiência na obtenção dos votos dos filiados,seja na própria gestão e administração desse tipode entidade. Por fim, essa experiência pode serverificada por meio do período em que osentrevistados estiveram à frente de entidades derepresentação empresarial, que é, em média, de24 anos11.

Quando consideramos os valores políticos,verificamos que a elite aqui estudada possui umalto grau de coesão, expresso em aspectos comoa grande adesão à democracia, a consideração deque a participação popular é um princípio cívicoe também em relação à consolidação dademocracia no Brasil.

Em relação a esses aspectos, em primeirolugar, pudemos perceber que há umacorrespondência entre as avaliações sobre ademocracia e sobre as instituições, de um lado, eo grau de satisfação e os padrões de ação políticada elite empresarial paranaense, de outro.Voltaremos a esse ponto mais adiante. Em segundolugar, as justificativas mostraram que, nomomento da avaliação e da expressão das

opiniões, os respondentes tendem a ser maisrigorosos do que de fato o são no dia a dia dasrelações com os valores e instituições avaliados,o que nos mostra que a insatisfação muitas vezesexpressa não é o que de fato guia a condutaconcreta dos agentes, mas sim os seus projetos edesejos, tanto que isso não os leva a uma açãoefetiva, seja de afastamento e crítica, seja demobilização e esforço, para o aperfeiçoamento dasinstituições, estas como concretização e expressãode valores e metas políticas.

Isso reforça a constatação que fizemos nadimensão nacional dessa mesma pesquisa(COSTA, 2012), ou seja, em relação à eliteempresarial paranaense também não se dá a“situação paradoxal” apontada por Moisése Carneiro (2010) e Meneguello (2010),considerando a população brasileira em ge-ral, entre, de um lado, a crescente adesão à demo-cracia e, de outro, a alta taxa de descontentamentoe a insatisfação com as instituições democráticas.Essa elite, assim como seus pares em âmbitonacional, possui total adesão à democracia e umrelativo grau de satisfação com as instituiçõesdemocráticas e, em função disso, tende a não atuarno sentido de promover alterações nos aspectosinstitucionais da democracia brasileira. E o quemerece destaque é o fato de que verificamos que,também no âmbito mais propriamente local, nocaso, estadual, essa relação favorável dá-se tantocom a democracia quanto com suas instituições.

Vimos acima os aspectos que indicam essatendência à coesão, embora isso não possa sertomado como consenso, nem permitedesconsiderar a importância sociológica daseventuais divergências. Enfim, a idéia de coesãonão remete a consenso, seja em relação a aspectosda cultura política, seja em relação ao desempenhodas instituições e da questão do seuaperfeiçoamento, no caso, a reforma política. Emrelação a isso, dois pontos chamam a atenção pelofato de mostrarem uma diferença entre asposições da elite empresarial paranaense emrelação à nacional. De um lado, a reeleição paracargos do poder Executivo, que é avaliadapositivamente no âmbito nacional, favorável àmanutenção da reeleição para os cargos dessemesmo poder (COSTA, 2012). Não há elementospara concluirmos, mas talvez isso se deva ao fatode que, na opinião da elite empresarial, odesempenho dos presidentes da república tem sidomais satisfatório do que aquele dos governadores,

11 Houve casos de presidentes que possuíam mais de 35anos à frente de entidades de representação empresarial.

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em particular no Paraná, o que os levaria a umaavaliação negativa da reeleição no âmbito estadual.E, de outro, a constituinte exclusiva para areforma política, que, inversamente, é vista nesseâmbito como desnecessária pela elite empresarialnacional.

Quanto à questão da confiança, no que tangeàs instituições representativas, os partidos e ascasas do poder Legislativo são mais mal avaliadosdo que aquelas do poder Executivo. Ou seja, asinstituições ligadas ao dia a dia da administraçãoda coisa pública e da implementação das políticaspossui uma avaliação mais positiva do que aquelas,por excelência, de representação12. Assim, háindícios que a insatisfação dá-se mais em relaçãoao processo de representação do que de gestãoda coisa pública.

Sobre esse ponto, nossos dados indicam outradiferença em relação ao que Moisés e Carneiro(2010) verificaram em relação à populaçãobrasileira. Em primeiro lugar, a elite empresarialpossui maior capacidade de distinguir aquilo queEaston (2005) chama de apoio difuso e apoioespecífico, ou seja, maior capacidade de distinguiras instituições dos que, em um dado momento,ocupam-nas. Em segundo lugar, e correlatamentea esse primeiro aspecto, não há sinais de que osmembros dessa elite desejariam ou pensariam apossibilidade de uma democracia no CongressoNacional ou nos partidos políticos.

Em relação ao alto grau de confiança entre aspróprias entidades de representação empresarial,comparado com o que ocorre em relação a outrasinstituições, por exemplo, os partidos políticos,devemos considerar que estamos tratando de umgrupo limitado, formado por um processo desocialização e trajetórias semelhantes e que, dentrodas suas atribuições de dirigentes de entidades derepresentação, ao menos declaram que possuemações articuladas entre si, o que exige e fomentaa confiança mútua. Não se trata de desconsideraras divergências e disputas que podem ocorrerentre os setores do empresariado pela definiçãodas políticas públicas, mas sim da existência deuma atitude favorável à confiança, à ação conjuntae à busca da concertação.

E os dados sobre a avaliação do desempenhodas instituições e da questão da reforma políticaindicam também, além da coesão, umapreocupação com a qualidade da democracia.Isso é bastante relevante quando se considera aimportância dos laços entre a democracia e osgrupos sociais, no âmbito mais local e próximodas atividades e da vida dos indivíduos que oscompõem. Em suma, verificamos que não apenasas semelhanças em relação, de um lado, aosatributos adstritos e adquiridos e, de outro, detrajetória política, como também as semelhançasem relação às atitudes e valores políticos sãoimportantes nas vias de acesso à elite aquiestudada.

Os valores políticos da elite empresarialparanaense permitem-nos as seguintes conclusões:(i) quanto à aceitação do princípio da participação,a democracia não se restringiria à representação;(ii) a alta adesão aos valores democráticos, porum lado, vem acompanhada, de outro, doposicionamento de que a adesão aos valoresdemocráticos por parte da população em geral éuma condição para o funcionamento e o sucessoda democracia; (iii) a democracia seria o melhorcaminho político para solucionar as crises e osproblemas, políticos ou não; (iv) o desempenhoadministrativo dos governantes é justificadomenos por uma visão pragmática ou gerencialistade política e mais como uma condição para osucesso da democracia13; (v) o respeito àsautoridades, assim como na questão dacompetência administrativa dos governantes,possuem um teor republicano, ou seja, o princípiofundamental é o do controle dos governantes pelosgovernados, sempre fundado em regrasestabelecidas; (vi) se há uma visão liberal emrelação à liberdade de mercado, ela é bastanteliberal em relação à adesão aos valores políticosliberais no que diz respeito à adesão à democracia,como é observado na primazia atribuída àsinstituições políticas frente às econômicas. Issoque nos permite considerar que há uma maiorinclinação a aspectos relacionados às liberdadese igualdades políticas do que simplesmente à

13 Esse aspecto é importante, pois em outras pesquisasrelativas à década de 1990, verificamos que tal visãogerencialista, ou seja, a política como algo que dizia respeitoà boa capacidade de administrar recursos e pessoas, erapresente entre os representantes do empresariado(COSTA, 2005; 2008).

12 Já em O dezoito brumário de Luís Bonaparte, Marx(s/d) chamava a atenção para o fato de o poder Legislativoestar em relação metafísica com a sociedade, enquanto opoder Executivo estava em relação direta com ela.

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igualdade e à liberdade no sentido estritamenteeconômico, no âmbito do mercado. Essaconstatação é reforçada pela importância que sedá à reforma política e à confiança na consolidaçãoda democracia no país.

Quando consideramos os padrões de açãopolítica indicados pelos entrevistados, em primeirolugar, podemos acrescentar outro aspecto denatureza teórica e metodológica da nossa pesquisa,ou seja, a tentativa de articular a análise de aspectosrelacionados ao recrutamento, às característicasdos membros e aos valores políticos de uma dadaelite, com a sua ação concreta nas instituiçõesque eles dirigem. Isso permite agregar, ao métodoposicional, a consideração das conseqüências daocupação dos cargos sobre o funcionamento e aação da instituição na qual tais cargos estãoinseridos, ou seja, a ação da elite é considerada, econsiderada como ação de uma instituição, e nãode um indivíduo.

Em segundo lugar, os dados indicam que aação política tende a ser mais intensa no poderExecutivo federal, que, por sua vez, é muito bemavaliado e recebe um alto grau de confiança, bemcomo tem seu desempenho avaliado entre bom esatisfatório. O poder Legislativo, independente donível, não foi bem avaliado, mas associado aproblemas, e foi muito pouco procurado na açãodas entidades. Isso é corroborado pela maiorpreocupação com os cargos do poder Executivonas eleições de 2010. Tais aspectos indicam umacorrelação entre cultura política e ação por partedessa elite. Isso reforça a importância dos estudosdos valores políticos, não como variáveisindependentes, mas como componentes de umametodologia de análise da ação.

Nesse sentido, mesmo sem a pretensão deavaliar ou indicar coerências e incoerências nocomportamento político, verificamos que, emborahaja a declaração de que a ação conjunta épreferível, no dia a dia as ações isoladaspredominam. Isso pode ser observado tambémem relação à proposta de uma entidade querepresentasse o conjunto dos interesses dosempresários, pois, ainda que haja uma divisão dasposições em relação à necessidade deste tipo deentidade, não há necessariamente uma açãocontundente no sentido de fortalecer, consolidare institucionalizar o “G8”, grupo de entidades derepresentação empresarial acima mencionado, eque teria exatamente esse papel de fortalecimento

das ações conjuntas, dado que tal grupo atua demodo esporádico e pontual.

O fato de que o entendimento, por parte dosentrevistados, de que seria necessário um projetodo conjunto do empresariado frente ao Estado eà sociedade, convive com a ausência de açõesconcretas nesse sentido, indica, de um lado, queas entidades estão mais voltadas para o dia a diada representação dos interesses de seus filiados,ficando as questões de longo prazo em segundoplano na agenda de ações das entidades, mas deoutro, que o grau de insatisfação não é alto nemsuficiente para levá-los à mobilização pela reformadas instituições políticas.

Quanto às relações com as instituições doEstado, em primeiro lugar, estamos analisandoentidades de representação empresarial de nívelregional, portanto, mais próximas dos centros dedecisões estaduais, o que favorece apredominância dos contatos pessoais. Emsegundo lugar, assim como indicam as declaraçõessobre a ação que as entidades pretendiamdesenvolver nas eleições de 2010, observamos apredominância do poder Executivo, nos níveisestadual e nacional, na agenda de ações dasentidades, evidenciado também pelo fato de quea ação relativa aos projetos de lei volta-se maispara o poder Executivo do que para o própriopoder Legislativo.

O que mais se destaca são as declarações deque as ações, de um modo geral, têm sido bemsucedidas. Como vimos acima, isso indica certograu de satisfação dessa elite com ofuncionamento de tais instituições, portanto, coma institucionalização da democracia no Brasil, emâmbito nacional e, em especial, estadual.Entretanto, entendemos que isso deve serentendido menos como uma alta responsividadedo Estado em relação aos interesses doempresariado, e mais como um amadurecimentode seus representantes em relação ao que se podeesperar do processo decisório nas democracias,ou seja, que se trata de um processo complexode articulação de interesses no qual o atendimentopleno das demandas não pode ser o critérioabsoluto para uma avaliação positiva dasinstituições. Enfim, a elite empresarial está maissatisfeita menos porque suas preferências estãosendo consideradas pelos governantes e maisporque parece estar mais consciente,em comparação com as “massas”, dos limites e

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das vicissitudes da democracia, ou seja, que oatendimento das demandas está sujeito aoscomplexos processos políticos típicos dademocracia.

Constatamos que há uma homogeneidade entreas entidades, independentemente da sua naturezae do setor representado, em relação aos padrõesde ação política por ela adotadas. Conformeconstatado anteriormente (COSTA, 2005a), asentidades aqui contempladas costumam adotar asmesmas estratégias para defender seus interessese, além disso, possuem uma avaliação semelhanteem relação aos resultados de suas ações.

Outro ponto que merece destaque em nossapesquisa reside também na utilização do lobby porparte de todas das entidades empresariaisparanaenses pesquisadas, no processo de defesade seus interesses. Esses dados corroboram a tesede Aragão (1994), que previa uma maiorparticipação e institucionalização dos grupos depressão no Brasil após a Constituinte de 1988.Os padrões de ação política e o amplo consensosobre a legitimidade do lobby por parte dasentidades consideradas sugerem também certasemelhança em relação aos grupos de interessenorte-americanos (cf. MANCUSO, 2007).

Por fim, a temática das articulações com osórgãos do Estado gira quase exclusivamente emtorno dos interesses imediatos das entidades,ficando de fora as questões relacionadas aprocessos de longo prazo que ultrapassem ocotidiano das atividades empresariais, como, porexemplo, a reforma política. Em relação a esteaspecto, a iniciativa da Rede de ParticipaçãoPolítica, criada e sustentada pela FIEP e pelaFaciap é uma exceção que confirma a regra (cf.COSTA & FRANÇA, 2012; REDEEMPRESARIAL, 2012).

Enfim, a análise dos valores e dos padrões deação política dessa elite empresarial indica queela tende a constituir-se como uma importantebase social da democracia nos dias de hoje, o quenão é irrelevante, dada a participação dosempresários na sustentação de regimes políticosautoritários na história brasileira recente. E, comofoi dito acima, isso é também relevante pelo fatode dizer respeito a um âmbito mais local dofuncionamento da democracia brasileira. A idéiade que os padrões de ação política em relação aospoderes Executivo e Legislativo decorreriam das

diferenças de importância desses poderes noprocesso decisório, não permite desconsiderar quea ação das entidades empresariais não tende e nempretende alterar, mas, ao contrário, reforça umaspecto institucional da democracia brasileira, ouseja, o desequilíbrio entre os poderes Legislativoe Executivo.

Embora esse importante papel na sustentaçãoda democracia brasileira não tenha tendido adesembocar em ações firmes e concretas quantoao aperfeiçoamento das suas instituições políticas(a reforma política), restringindo-se ao processocotidiano de articulação com as autoridades eórgãos governamentais para articular interessesespecíficos e de curto prazo, nosso estudomostrou que isso se deve, ao menos parcialmente,ao grau de satisfação do empresariado com ofuncionamento das instituições democráticas e àavaliação positiva das ações junto a essasinstituições.

Portanto, por meio dos dados apresentados,podemos verificar uma homogeneidade por partedo empresariado paranaense em relação à formacomo eles agem e aos caminhos utilizados para aconsecução de seus objetivos na arena decisória,ou seja, em relação ao seu padrão de ação política.Normalmente são utilizados contatos pessoais,reuniões, audiências e o lobby para atingir seusobjetivos. Por situarem-se em uma esferaregional, o contato do empresariado paranaenseé normalmente direcionado aos tomadores dedecisão locais (em maior incidência, o poderExecutivo estadual), deixando para asconfederações (caso a natureza da entidade sejasindical) ou às entidades superiores a discussãode temas e o exercício de pressão, no que serefere a questões nacionais e que envolvem oGoverno Federal. Em relação aos assuntosabordados, estão geralmente em pauta questõesregionais relacionadas ao setor e ao mercado comoum todo e que podem influenciar diretamente aatuação dos representados por esse grupo. Alémdisso, os pleitos normalmente reivindicados são,em sua grande maioria, avaliados como bemsucedidos, o que indica certa semelhança tambémem relação à responsividade na relação com ogoverno.

VII. CONCLUSÕES

As implicações teóricas e metodológicas denossa pesquisa foram tratadas em outros trabalhos(COSTA & ENGLER 2008; COSTA 2012). A

236

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

contribuição teórica deu-se no sentido de articular,no estudo do empresariado, um grupo de variáveisrelacionadas a três dimensões, recrutamento,cultura política e padrões de ação política, desseque é um ator fundamental para o desenvolvimentoe as perspectivas da democracia no Brasil, e queestá aqui sendo considerado menos como umagente econômico, mas, sobretudo politicamenterelevante. Isso não significa, entretanto, quedeixamos de lado atributos como poder ourepresentação de interesses de naturezaeconômica, o que seria um tanto quantocontraditório, já que estamos falando de um grupoque possui ou controla os meios de produção, ocapital. Nossa análise buscou contribuir para acompreensão da formação e do comportamentodos indivíduos que são membros da eliteempresarial e por isso, atores políticos queassumem a direção de entidades de representaçãopolítica na sua relação com o funcionamentoconcreto das instituições políticas, remetendo auma Sociologia Política da democracia no Brasil(COSTA, 2005a; 2005b; 2007; 2012; COSTA &ENGLER, 2008).

O segundo ponto a ser destacado é o que diferenosso trabalho da maioria dos estudos correlatos,ou seja, a consideração da dimensão qualitativadas respostas. As justificativas das avaliações eposicionamentos permitem abordar as motivaçõessubjetivas dos entrevistados, dando maior riquezade detalhes a respeito das atitudes e comporta-mentos verificados, o que possibilita chegar mais

perto dos motivos de seus posicionamentos eações.

Em terceiro lugar, o entendimento de como oempresariado relaciona-se com estruturagovernamental contribui não só para acompreensão do processo de formulação depolíticas públicas, como, também, permite oentendimento do processo de interação entre asociedade organizada e o setor público, na buscada representação dos interesses sociais na formade grupos de pressão.

Por último, os resultados permitem tambémalgumas especulações com importantesimplicações teóricas, a serem desenvolvidas emestudos posteriores. De um lado, a consideraçãoda elite como representante não apenas no sentidoformal da ocupação dos cargos de representantes,mas como uma manifestação ou uma projeção docoletivo que está sendo representado. De um lado,a elite como representante não apenas no sentidoformal da ocupação dos cargos de representantes,mas enquanto uma manifestação ou uma projeçãodo coletivo que está sendo representado, e deoutro, permitindo especular sobre a questão daclasse social subjacente a esta elite, menos nosentido de ser uma amostra fidedigna do coletivo,mas sim das suas contraditórias, complexas eefetivas formas de expressão e ação.. Correlata-mente, isso nos leva à consideração do estudo deuma elite como forma de analisar a classe ou gruposocial específico do qual essa elite decorre.

Paulo Roberto Neves Costa ([email protected]) é Doutor em Ciências Sociais pela UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp) e Professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná(UFPR).

Tiago Junior Roks ([email protected]) é Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federaldo Paraná (UFPR).

Guatimozin de Oliveira Santos Filho ([email protected]) é Mestrando em CiênciaPolítica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

PRIMEIRO BLOCO: PERFIL E TRAJETÓRIA

1- Qual é a sua data de nascimento?

2- Qual o seu local de nascimento?

3- Por favor, olhando as opções contidas neste anexo, o (a) Sr (a) poderia responder qual é a suareligião?

1. Católica romana 7. Protestante

2. Católica ortodoxa 8. Mulçumana

3. Religiões evangélicas 9. Sem religião

4. Religiões de origem africana 10. Outra. Qual? : _________________

5. Espírita 11. NS

6. Judaísmo 12. NR

4- Utilizando os critérios do IBGE, o (a) Sr (a) poderia informar qual é a sua cor ou raça?

1. Branca 4. Amarela

2. Preta 5. Indígena

3. Parda 9. NR

5- Por favor, observe as opções contidas neste anexo e indique a ocupação que o (a) Sr (a) exerceu pormais tempo?

1. Proprietário rural com até 50 hectares

2. Proprietário rural entre 50 e 200 hectares

3. Proprietário rural com mais de 200 hectares

4. Proprietário urbano (comércio, serviço e indústria) com até 9 empregados

5. Proprietário urbano (comércio, serviço e indústria) entre 10 e 49 empregados

6. Proprietário urbano (comércio, serviço e indústria) com 50 ou mais empregados

7. Advogado atuante

8. Profissional liberal (engenheiro, médico etc. com escritório próprio)

9. Altos cargos do setor público (diretor de empresa/banco estatal, delegado da receita estadual,desembargador, juiz etc.)

10. Funcionário público de médio ou baixo escalão

11. Professor universitário de instituição pública

12. Professor universitário de instituição privada

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 221-246 OUT. 2012

13. Professor de outros níveis de instituição pública

14. Professor de outros níveis de instituição privada

15. Comunicador (radialista, apresentador de programas de TV)

16. Jornalista (imprensa escrita ou falada)

17. Trabalhador assalariado de empresa privada (manual ou qualificado, registrado ou informal, temporárioou permanente)

18. Executivo de empresa privada

19. Político

20. Militar

21. Não exerceu nenhuma atividade

22. NR

6- O (a) Sr (a) exerceu alguma outra ocupação durante o exercício do cargo?

1. Sim, Qual? 2. Não 9. NR

7- Qual é seu nível de escolaridade?

1. Sem instrução

2. Fundamental incompleto

3. Fundamental (1a à 8a série; antigo primário/ginásio)

4. Médio incompleto

5. Médio (1o-3o colegial; antigo secundário/científico)

6. Superior incompleto Qual? ___________________ Instituição: ___________ Ano de conclusão_______

7. Superior (3o grau) Qual? Instituição: Ano de conclusão:

8. Especialização incompleto: Qual? _____________ Instituição: ___________ Ano de conclusão_______

9. Especialização completo: Qual? Instituição: Ano de conclusão:

10. Mestrado incompleto: Qual? __________________ Instituição: ___________ Ano deconclusão_______

11. Mestrado completo: Qual?____________________ Instituição: ___________ Ano deconclusão_______

12. Doutorado incompleto: Qual? _________________ Instituição: ___________ Ano deconclusão_______

13. Doutorado completo: completo: Qual?___________Instituição: ___________ Ano deconclusão_______

14. NR

8- Por favor, observe as opções contidas neste anexo e indique a ocupação que o seu pai exerceu pormais tempo?

1. Proprietário rural com até 50 hectares

3. Fundamental (1a à 8a série; antigo primário/ginásio)

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RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

4. Médio incompleto

5. Médio (1o-3o colegial; antigo secundário/científico)

6. Superior incompleto

7. Superior (3o grau; universitário)

8. Especialização

9. Mestrado

10. Doutorado

11. NS 12. NR

10- O Sr. já assumiu algum cargo político ou administrativo público, eletivo ou não?

1. Não.

2. Sim, Qual? Em que ano?

11- O Sr. já assumiu algum cargo ou foi membro de outras entidades, sejam de representação empresarialou de qualquer outra natureza (instituições religiosas, culturais, Rotary, Lyons, maçonaria etc.?).

12- Atualmente o Sr. ocupa cargo ou é membro de outras entidades, sejam de representação empresarialou de qualquer outra natureza (instituições religiosas, culturais, Rotary, Lyons, maçonaria etc.?)

13- Em relação à filiação a partidos políticos, qual (is) o Sr. já foi ou está filiado, em ordem cronológicadecrescente:

SEGUNDO BLOCO: CULTURA POLÍTICA E ATITUDES

14- A seguir, serão indicados alguns ASPECTOS GERAIS DA DEMOCRACIA e nós gostaríamos que o Sr.

nos dissesse se cada um dele é: I- essencial, ou seja, necessário à democracia; II- Não é essencial,

mas é desejável; III- É dispensável ou não desejável, e por quê ?:

É essencial

e necessário

Não é essencial,

mas é desejável

Dispensável ou não

desejável Por quê?

A participação da população nos processos decisórios fundamentais

A adesão da população aos valores democráticos

A competência administrativa por parte dos governos

O respeito às autoridades constituídas

A liberdade de mercado e de iniciativa

Equilíbrio entre o poder Executivo e o poder Legislativo na gestão da sociedade

241

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15- No caso brasileiro, se tivéssemos que optar, o que seria mais importante: o bom funcionamento dasinstituições ECONÔMICAS ou o bom funcionamento das instituições POLÍTICAS? Justifique:

16- A democracia é uma forma eficaz de solucionar crises que ocorrem na sociedade e na política?

SIM NÃO Justifique

17- O Sr. acredita que reformas nas instituições políticas representativas poderiam alterar a forma comoo Governo toma as decisões relacionadas aos rumos gerais da economia?

SIM NÃO Justifique

18- Algumas pesquisas indicam que a população brasileira avalia positivamente a democracia enegativamente instituições por excelência democráticas, tais como o poder Executivo, o Poder Legislativo,os partidos etc. O Sr. compartilha desta avaliação por parte da população?

SIM NÃO Justifique

19- Em sua opinião, a democracia brasileira está ou não fortalecida e consolidada, portanto poucosujeita a crises que possam levar ao seu abandono?

SIM NÃO Justifique

20- Em suas atividades especificamente empresariais, o Sr. acredita que exista um nível de confiançaalto ou baixo entre agentes envolvidos (stakeholdes, fornecedores, clientes, trabalhadores etc.)?

ALTO BAIXO Justifique

21- Em relação ao grau de confiança, avalie as seguintes instituições:

22- Enquanto instituições e não apenas em relação aos mandatos atuais, como o Sr. avalia o desempenhodas instituições abaixo:

Bom Satisfatório Ruim Justifique

Presidência da República

Governo do seu estado

Banco do Brasil

Bndes

Banco Central

Sistema Partidário

Sistema eleitoral

242

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

23- Considerando os principais temas do debate sobre a reforma política, gostaríamos de saber se o Sr.é a favor ou contra das seguintes propostas, e porque.

24- O principal fator para a alta taxa de juros básica (Selic), em sua opinião, é:

1- O controle da inflação

2- A pressão política do setor financeiro

3- Falta de ousadia da equipe econômica

4- Outra. Qual?: _______________________________

25- É positiva a presença de bancos públicos no sistema financeiro para a oferta de crédito e o crescimentoda economia.

0- Discorda 1- Concorda

26- Nas ações governamentais de incentivo à economia, como por exemplo, a concessão de créditospelos bancos públicos, deve ser dada prioridade às empresas de controle acionário nacional.

0- Discorda 1- Concorda

27- As alianças políticas com os sindicatos de trabalhadores são importantes para a expansão do setorprodutivo.

0- Discorda 1- Concorda

TERCEIRO BLOCO: AÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO

28- Qual é segmento do setor empresarial representado pela entidade que é mais atuante?

29- O Sr. entende que há a necessidade do empresariado de formular um projeto seu para o Estado e asociedade brasileiros?

SIM NÃO JUSTIFIQUE

30- Na defesa dos interesses de sua entidade/empresa predominam as ações isoladas ou articuladascom outras entidades/empresas?

1. Articuladas 2. Isoladas

Favor Contra Justifique

Financiamento público de campanha

Voto distrital

Fidelidade partidária

Fim da reeleição para cargos do poder Executivo (presidente, governador e prefeito)

Voto obrigatório

Constituinte exclusiva para fazer a reforma política

Outro. Qual?

243

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 221-246 OUT. 2012

31- Em sua opinião, haveria a necessidade de uma ENTIDADE que representasse o conjunto dosinteresses de todo os setores do empresariado brasileiro frente ao Governo e à sociedade?

1. Sim 2. Não

32- Sua entidade/empresa possui alguma atuação em relação a questão do aperfeiçoamento dasinstituições políticas ou da reforma política?

1. Sim 2. Não

33- Nesta questão estamos interessados em saber SE EXISTEM e COMO SE DÃO as relações da suaentidade/empresa com algumas INSTITUIÇÕES ESTATAIS, levando em conta os contatos de MAIORIMPORTÂNCIA, a FREQÜÊNCIA, a FORMA ou o MEIO utilizado para contato com as instituições, o grau deSUCESSO e os principais ASSUNTOS tratados.

34- Como o senhor vê a disputa entre as entidades de classe que representam o empresariado pelodirecionamento dos investimentos do Estado brasileiro?

244

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL

35- Considerando que o lobby e o financiamento de campanha são práticas regulares e importantes nasdemocracias, qual das duas se mostrou mais eficaz em relação aos interesses de sua ENTIDADE?

( ) Lobby

( ) Financiamento de campanha

( ) Nenhuma das duas. Qual? __________________________

36- Considerando as eleições gerais de 2010, quais serão as ações que, de fato, sua entidade/empresatomará em relação aos seguintes candidatos:

Presidente da República

Governador

Senador

Deputado Federal

Deputado Estadual

Muito obrigado pela participação

ANEXO 2

TABELA DE VALORES POLÍTICOS

TABELA DE GRAU DE CONFIANÇA

245

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 43: 221-246 OUT. 2012

TABELA DE GRAU DE SATISFAÇÃO

TABELA DE REFORMA POLÍTICA

246

RECRUTAMENTO, VALORES E PADRÕES DE AÇÃO POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIALA

NE

XO

3

TAB

EL

A D

E P

AD

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ÃO

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