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Paróquia Santo Agostinho Apostila de formação de catequistas

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Paróquia Santo Agostinho

Apostila de formação de catequistas

PARÓQUIA: SANTO AGOSTINHO - FORMAÇÃO DE CATEQUISTA – PASTORAL CRISMA

Objetivo: Formar novos catequistas de acordo com as diretrizes Arquidiocesana,

bem como adaptar os catequistas ao modo de trabalhar na pastoral de nossa

paróquia.

Duração: De acordo com o cronograma de caminhada.

Modo de aplicação: A turma de formação será separada das demais turmas, de

modo que, ao longo da caminhada, possam participar de alguns encontros, apenas

para ganhar experiência.

Atividades extras: É necessário que um catequista de Crisma em formação passe

pelos graus menores da catequese de Crisma – sendo catequistas de Pré-Crisma ou

Pós-Crisma enquanto estão na formação.

Material de Apoio: Catecismo da Igreja Católica (CIC), Código de Direito Canônico

(CDC), Didaquê, Bíblia Sagrada, Filmes diversos, Material extra (Livros, textos, etc.).

O curso é dividido em módulos, com temas devidamente separados, que podem ter

seu estudo ampliado com outros materiais e temas:

Módulo I - Ser Catequista

Módulo II - Bíblico – Cristológico

Módulo III - Núcleo Eclesial – Litúrgico

Módulo V - Núcleo Sacramental

MÓDULO I - SER CATEQUISTA

A VOCAÇÃO DE SER CATEQUISTA

ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

FALANDO EM PUBLICO

METODOLOGIA CATEQUÉTICA

SER LÍDER

MÓDULO II - BÍBLICO – CRISTOLÓGICO

A BÍBLIA

O REINO DE DEUS ANUNCIADO NOS TEMPOS DE HOJE

MESTRE ENSINA-NOS A ORAR

AMAR AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO

MÓDULO III - NÚCLEO ECLESIAL – MARIANO

O QUE É A IGREJA

O QUE É UM SANTO?

IGREJA CATÓLICA, 24 IGREJAS AUTÔNOMAS

MARIA - DOGMAS MARIANOS

MÓDULO V - NÚCLEO LITÚRGICO - SACRAMENTAL

A LITURGIA

OS SACRAMENTOS

“Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma missão que me foi imposta. Então em que consiste a minha recompensa? Em que, na pregação do Evangelho, o anuncio gratuitamente, sem usar do direito que esta pregação me confere. Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei. Para os que não têm lei, fiz-me como se eu não tivesse lei, ainda que eu não esteja isento da lei de Deus - porquanto estou sob a lei de Cristo -, a fim de ganhar os que não têm lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante.” (I COR 9, 16-23).

MÓDULO I - SER CATEQUISTA - A VOCAÇÃO DE SER CATEQUISTA

Ser catequista

Em primeiro lugar, a catequese não é um trabalho ou uma tarefa externa à pessoa

do catequista, mas se “é” catequista e toda a vida gira em torno desta missão. De

fato, “ser” catequista é uma vocação de serviço na Igreja, que se recebeu como dom

do Senhor para ser transmitido aos demais. Por isso, o catequista deve

constantemente regressar àquele primeiro anúncio ou “kerygma”, que é o dom que

transformou a própria vida.

Este anúncio deve acompanhar a fé que já está presente na religiosidade do povo.

Com Cristo

O catequista caminha a partir de Cristo e com Ele, não é uma pessoa que parte de

suas próprias ideias e gostos, mas se deixa olhar por Ele, porque é este olhar que

faz arder o coração.

Quanto mais Jesus toma o centro da nossa vida, mais nos impulsiona a sair de nós

mesmos, nos descentraliza e nos faz mais próximos dos outros.

Catequese “mistagógica”

Podemos comparar este dinamismo do amor com os movimentos cardíacos: sístole

e diástole, se concentra para se encontrar com o Senhor e imediatamente se abre

para pregar Jesus. O exemplo fez do próprio Jesus, que se retirava para rezar ao

Pai e logo saía ao encontro das pessoas sedentas de Deus.

Daqui nasce a importância da catequese “mistagógica”, que é o encontro constante

com a Palavra e os sacramentos e não algo meramente ocasional.

Ser catequista não é uma profissão nem um passatempo, mas uma vocação que

precisa de toda dedicação.

Papa Francisco,

Simpósio Internacional sobre Catequese em Buenos Aires.-julho de 2017

De onde vem o chamado para ser catequista?

Os que seguem Jesus e são batizados formam a Igreja.

É assim o povo de Deus que se reuni e esse povo tem uma missão:

“Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do pai, do filho e do espírito santo”. (Mt 28,19)

Assim desde o inicio da Igreja existem os ministérios:

Ordenados – Bispos

Padres (presbíteros)

Diáconos

Bispo: Chefe da Igreja particular ou Diocese. É uma pessoa chave na Igreja, recebe

o sacerdócio em plenitude e a ele são dados todos os ministérios.

Padre: Colaborador direto do Bispo na evangelização e na distribuição dos

ministérios. Pode ser: Diocesanos e Religiosos. Devem: Pregar o evangelho; presidir

a eucaristia; exercer o ministério dos sacramentos a eles confiados; animar,

coordenar e orientar a comunidade.

Diácono: do grego (diakonia) – serviço

Podem ser: Permanente – como ministério permanente ou Provisório em preparação

para ser Padre.

Não ordenados – (Leigos) – toda a comunidade Igreja, todos aqueles que,

recebendo o Batismo, resolvem assumir o seu papel na comunidade. Entre esses,

nós, catequistas.

“A Igreja para cumprimento de sua missão, conta com a diversidade de ministérios.

Ao lado dos ministérios hierárquicos, a Igreja reconhece o lugar dos ministérios

desprovido de ordem sagrada. Portanto, também os leigos podem sentir-se

chamados ou ser chamados a colaborar com os seus pastores a comunidade

eclesial, para o crescimento e vida da mesma, exercendo ministérios diversos,

conforme a graça e os carismas que o senhor aprouver conceder-lhes.”

(Puebla 804).

Cristo é o centro da Catequese

No centro da Catequese encontramos essencialmente a pessoa de Jesus de

Nazaré, filho do Pai. Que morreu por nós e agora ressuscitado vive conosco para

sempre (catecismo IC 426).

Quem é o catequista?

O Catequista é antes de tudo alguém que escuta e atende o chamado de Deus (Mt,

9, 37-38). Ele é um profundo conhecedor da doutrina religiosa, que enviado por

Deus, vai despertar e cultivar a fé dos catequizados (catecúmenos).

O Catequista é alguém de muita vocação (Ef, 4,1. 2Ts, 1,11).

Virtudes do catequista:

• Catequista é um mestre de oração

• O Catequista é um mediador, que facilita a comunicação entre Deus e o Homem.

• O Catequista é um intérprete da igreja junto aos catequizandos.

• O Catequista é alguém que catequiza em nome de Deus e da comunidade

profética. Em comunhão com os pastores da igreja.

• O Catequista é testemunha ativa do evangelho em nome da igreja.

Missão do catequista

A missão primordial da igreja é anunciar a Deus e testemunhá-la diante do mundo.

Anunciar o reino de Deus como o próprio Jesus o fez sendo enviado.

Transmitir aos crismandos a viva experiência que ele tem dos evangelhos.

Conservar fielmente o evangelho a todos aqueles que decidiram seguir Jesus.

O Catequista dedica-se de modo específico ao serviço da palavra tornando-se porta-

voz da experiência cristã de toda a comunidade.

A Catequese é um ministério, portanto um serviço.

Catequese é uma prioridade em toda a Igreja, “A Catequese é uma urgência. Só

posso admirar os pastores zelosos que em suas Igrejas procuram responder

concretamente a essa urgência, fazendo da Catequese uma prioridade” (João Paulo

II encontro com os Bispos em Fortaleza 10/07/1980).

A Igreja precisa de catequistas, porém, catequistas conscientes com a missão de:

Catequizar, ensinar e evangelizar.

Características de um bom catequista

• Espiritualidade profunda – rezar e testemunhar o cristianismo, não perder nunca

a intimidade com Deus.

• Integração na comunidade – Participar ativamente de toda a vida da Igreja. O

catequista deve exercer o ministério de forma contínua e permanente.

• Senso crítico – ler, estudar, e analisar coerentemente os fatos da Igreja do

mundo. A alienação é um mal que jamais deve tomar o catequista.

• Animação – saber ouvir e dialogar, buscar não mostrar dúvidas e insegurança,

animar de tal forma o encontro de Crisma, que leve o crismando a um conhecimento

gostoso da doutrina da Igreja.

• Qualidades humanas – didática, psicológicas, equilíbrio, carinho.

• Formação doutrinária – buscar conhecer a doutrina católica, estudar sobre seus

diversos aspectos, através de leituras, cursos etc.

Ser catequista não é ser professor.

Aulas são dadas na escola. Os encontros de Crisma têm a preocupação de anunciar

Jesus e levar o crismando a uma aproximação maior com a Igreja.

Por ser considerado pelos crismandos como modelo, o catequista deve dar

testemunho daquilo que prega, de viver o que anuncia.

O essencial a um bom catequista é o AMOR, daí emana:

- Compreensão

- Carinho

- Dedicação

- Atenção

- Preparação

- Serviço

MÓDULO I - SER CATEQUISTA - ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

A espiritualidade cristã é a fé recebida que passa a ser exercida na prática pessoal.

Esse é o ponto central que faz a fé cristã ser uma fé viva.

A vida espiritual, isto é, a vida conforme o Espírito de Deus é algo multifacetado. O

grande desafio é deixar-nos imbuir de seus contornos vivificantes e descobrir-nos

dentro de suas diversas formas. Os cinco seguintes aspectos são os principais

pontos que definem a espiritualidade cristã:

A relação pessoal e dialógica com Deus (ou seja, Deus é pessoa com quem

devemos nutrir uma profunda amizade);

Seu caráter integral (essa relação de amizade deve ser patente em todos os

aspectos de nossas vidas: nas relações interpessoais, na família, no trabalho, etc.);

Seu caráter processual (nenhuma amizade surge e se consolida da noite para o dia.

Trata-se de um longo processo);

Sua referência ao mundo (devemos ser ativos tanto na manutenção e defesa da

criação como no anúncio e implantação do Reino);

Sua intrínseca ligação à Igreja (a amizade com Deus não deve ser algo fechado em

si mesmo, mas deve se efetivar com a comunidade, pela comunidade e na

comunidade dos fiéis).

 

Se esses pontos são fundamentais para a caracterização da espiritualidade cristã,

isso não quer dizer, todavia, que eles são encontrados somente no cristianismo e

que os cristãos devem reclamá-los exclusivamente para si. Eles possuem,

entretanto, um significado típico e essencial para a caracterização da espiritualidade

cristã, servindo, por conseguinte, de critério. Para saber, portanto, quão próximos ou

distantes estão outros caminhos espirituais (como o sufismo, o zen-budismo ou a

antroposofia) da espiritualidade cristã, devem-se analisar tais caminhos e medir o

quanto eles se aproximam ou se distanciam desses cinco pontos supracitados. Em

outras palavras, os elementos de outros caminhos espirituais (como a yoga ou a

zen-meditação) se integram melhor no caminho caracteristicamente cristão na

medida em que sejam mais compatíveis e próximos dos princípios da espiritualidade

tipicamente cristã.

Por outro lado, voltando-se para as diferentes formas de espiritualidade dentro do

próprio cristianismo, pode-se sempre verificar se uma determinada prática se

harmoniza com todos esses cinco critérios e assim com o essencial da

espiritualidade cristã. Um determinado caminho que, em geral, negligencia um ou

outro ponto tem, no mínimo, a necessidade de uma complementação. Isso não

impede, entretanto, que em nosso caminho pessoal, durante certo tempo, um

determinado ponto seja mais presente enquanto outros, ao mesmo tempo, sejam

considerados menos importantes. De maneira mais geral, uma comunidade ou

movimento espiritual pode, sem dúvida nenhuma, focar um determinado ponto,

desde que a abertura para o todo sempre esteja presente.

Baseado nisso, sempre é válido, de tempos em tempos, analisarmos nosso próprio

caminho a partir dos critérios acima apresentados, para sabermos se nossas ações

estão realmente de acordo com a fé e a espiritualidade cristã.

A espiritualidade cristã

Sempre temos dificuldade diante das palavras espírito, espiritualidade, vida

espiritual. E as parcas noções que temos delas não nos proporcionam a clareza

necessária à construção de uma vida cristã sólida. Por isso temos que retomar

sempre esses temas para melhorar nossa compreensão, de tal maneira que

possamos agarrá-la e, a partir daí, começar a moldar melhor nossa vida.

Nossa dificuldade começa com a palavra espírito que na modernidade recebe

diversos sentidos. 

Segundo o conhecimento filosófico, o ser humano tem duas maneiras de conhecer:

os sentidos, pelos quais captamos o mundo sensível, e o intelecto, pelo qual

captamos o mundo inteligível ou suprassensível. A partir disso, entendemos as

palavras espírito e espiritual como sendo os entes não materiais, os valores e as

coisas culturais e os valores ético-humanistas. Com o tempo, na nossa cultura

ocidental, a compreensão filosófica da palavra espírito e a compreensão da fé se

misturaram, pelo que espiritual passou a significar valores ético-humanistas. Isso faz

pensar que por espiritual o cristianismo entenda a busca desses valores. Essa

busca, porém, é própria de todas as religiões.

Essa mistura da experiência filosófica e da experiência cristã leva a distorções que

nos dificultam o viver espiritual. Por exemplo: distinguimos o "fazer coisas materiais"

e o "fazer coisas espirituais". A partir dessa distinção, um mecânico que conserta

carros, busca ampliar sua oficina, ele faz coisas materiais, é materialista, não

entende de coisas espirituais.

Já um professor de literatura, que leciona na faculdade, lê bastante, participa de

congressos, este faz coisas espirituais, é espiritualista e entende de coisas

espirituais.

Partindo dessa concepção, pessoas como mães de família, operários, lavradores

não teriam vida espiritual. O analfabeto também não poderia ter acesso a ela.

Se quisermos entender o que é espírito, espiritualidade, vida espiritual, devemos

deixar de lado esse modo de pensar. Surge a pergunta: mas então, quando falamos

de espiritualidade cristã, o que entendemos por espírito? 

A tradição cultural do Ocidente entende por espírito o modo de existir próprio do ser

humano, modo que o distingue dos outros níveis de ser, tais como o vegetal e o

animal. Espírito não é, portanto, algo oposto ao corpo.

Espírito é o modo de existir que tem como apanágio deixar-se atingir e abrir-se à

dimensão originária que chamamos de Deus-mistério. Mas o Deus-mistério não é o

que está além do nosso alcance, não é o estranho longínquo, o misterioso, o

enigmático, o abstraio.

Ele é, pelo contrário, o aquém, isto é, a intimidade mais íntima da interioridade de

nós mesmos. As palavras deus, transcendência, ser, psique são definições pelas

quais a teologia, a filosofia, a psicologia tentam dizer algo acerca do Deus-mistério.

Assim ser espírito é a experiência maior do ser humano, experiência que constitui

sua identidade. Esta experiência busca compreender-se, organizar-se, tematizar -

se.

Dessa elaboração surge o que chamamos de espiritualidade que não é outra coisa

do que o cuidado, a cura, o amor disso que somos espírito. Espiritualidade não é

disciplina de ensino, não é ciência do saber. Ela é, porém, verdadeiro saber, saber

comprovado por evidências vitais; por isso a espiritualidade é uma verdadeira

ciência, numa compreensão da palavra ciência diferente da usual e comum, própria

do nosso sistema de ciências físicas, matemáticas, biológicas e humanas.

Se o espírito é a experiência mais radical, então a espiritualidade exige radical

conversão do nosso modo de ser. Essa conversão no Ocidente recebeu o nome de

mística, entendida não como atividade privilegiada de alguns contemplativos, nem

como vivência sentimental da alma piedosa, mas como busca radical do Deus-

mistério. 

Por ser radical, ela exige o total engajamento da nossa liberdade. A essência da

mística cristã é, pois, esse engajamento de busca do Deus-mistério.

A crise da sociedade atual provém do total esquecimento do espírito. Esquecimento

que relegou a espiritualidade e a mística a um plano secundário. 

É preciso resgatar o sentido profundo da mística, não como uma atividade piedosa

do homem, mas como um empenho vital que se concretiza na realidade do dia-a-

dia. O pensamento, a arte, a ciência, até o esporte, quando atingidos pela seriedade

radical da mística, abrem-se em diferentes vias à acolhida incondicional do Deus-

mistério, lá onde se acha o manancial do espírito, a espiritualidade.

O Deus-mistério, porém, ultrapassa nossas duas possibilidades de conhecimento, os

sentidos e o intelecto. Ele é inacessível a partir de nós mesmos. Mas Deus se

revelou no Evangelho (a boa nova!) de Jesus Cristo, em suas belas e sábias

palavras e em nas atitudes que comprometiam seu próprio viver. 

Assim, tudo de espiritual que é aprendido no âmbito da fé não vem de nossas

experiências intelectuais, mas da dimensão de Deus. A esse mundo inacessível a

tradição eclesial ocidental chamou de sobrenatural, diferenciando-o do natural

(mundo sensível e inteligível).

Portanto, na experiência cristã, as palavras espiritual, espiritualidade têm o sentido,

pura e simplesmente, de empenho de dinamizar o espírito, a existência que somos a

partir e iluminados pelo discipulado (aprendizagem) do seguimento de Jesus Cristo,

feito a dinâmica maior de nossa vida. Por isso, para nós cristãos, a verdadeira

espiritualidade é o seguimento radical de Jesus Cristo.

MÓDULO I - SER CATEQUISTA – FALANDO EM PUBLICO

As pessoas que sentem medo de falar em público, a grande maioria não está

relacionado com situações em que se tem de falar perante multidões. Pelo contrário,

muitas pessoas ficam temerosas em situações menores do dia-a-dia. Sentem receio

a falar frente a frente, num pequeno grupo de pessoas.

O SEU CORPO E A ANSIEDADE

Dado que as pessoas que sofrem de medo de falar em público ficam usualmente

muito preocupadas com o que está acontecendo no seu corpo, é importante a

prática de estratégias para diminuir os sintomas físicos.  O primeiro passo é parar de

temer as reações físicas, pois esse medo aumenta ainda mais a intensidade  dos

sintomas. Observe essas sensações sem se exaltar, aceite os sintomas e aguente a

onda de ansiedade. Para que possa conseguir fazer isso é preciso relembrar-se que

embora o sintomas sejam desagradáveis, eles não lhe podem causar dano nenhum,

não irão prejudicá-lo. Depois de um pico de intensidade máxima dos seus sintomas,

eles têm inevitavelmente de reduzir.

A RESPIRAÇÃO

A respiração é outro fator importante a ter em consideração. Muitas pessoas nas

situações agudas prendem a respiração ou respiram muito rápido, de forma irregular

e superficial. Essas sensações criam uma reação de emergência no corpo. Aprender

algumas técnicas respiratórias de forma controlada e voluntária é um recurso

importante para a diminuição dos sintomas físicos desagradáveis.

EXEMPLO PRÁTICO:

““ Respire, inspire e expire enquanto pensa em algumas imagens ou pensamentos

que induzam uma palavra como, “estou calmo” ou” relaxa”, ou “ok descontrai”.

Expire lentamente e expire totalmente. À medida que inspira pense na palavra

escolhida, e quando expira tente livrar-se da tensão, stress ou medo.

A técnica de respiração agregada às sensações de relaxamento minimizam a tensão

no seu corpo. Quando estamos com medo, os nossos músculos ficam mais

contraídos e tensos, porque estamos em guarda, ficamos prontos na iminência que

algo aconteça. Quando você está tenso, o seu corpo pressente o perigo. Quanto

mais consciente tiver desse estado, mais facilmente e de forma deliberada irá

conseguir relaxar a tensão no corpo, ao descontrair o corpo, mais ele dá a

mensagem para  si mesmo que já não existe necessidade de proteger-se contra o

perigo inicial.

A EXPRESSÃO CORPORAL

A sua postura e expressões faciais jogam um papel importante na expressão do seu

medo. Quando uma pessoa está relaxada e confiante, os seus ombros estão

abertos, a sua postura é ereta e esboça-se um sorriso suave. Mas, quando você

está com medo, a sua postura é mais fechada, todo o corpo colapsa, você quer ser

invisível. O seu rosto  expressa tensão, sobrolho franzido, testa enrugada, maxilares

fechados. Em vez disso, consciente e deliberadamente adote uma postura confiante

e relaxada, enviando mensagens para o seu corpo de que tudo irá correr bem e que

está capaz de lidar com o desafio entre mãos.  Desta forma você aciona a parte

mais primitiva do seu cérebro, enviando a mensagem para si mesmo: “não há perigo

aqui”.

O MEDO

O medo, na grande maioria das vezes distorce a realidade. Se for um medo

construído nas suas inseguranças, você vai acreditar que aquilo que está sentido

não o deixa realizar o que pretende e pode conduzi-lo a pensamentos do tipo “se eu

perder a noção do que estou dizendo, eu vou parecer um idiota e perder a

credibilidade e o respeito de todos.” Na realidade, embora seja desagradável perder

a sua linha de pensamento, “não é uma catástrofe” e a probabilidade de perder a

sua credibilidade e respeito pode revelar-se muito baixa. Mesmo que possa

temporariamente esquecer algo, as pessoas nem sempre são castradoras, com

calma e foco é possível  recuperar de novo a linha de raciocínio. Na pior das

hipóteses, mesmo que perante esse pequeno incidente algumas pessoas possam

julgá-lo, você teve a oportunidade de fazer o que tinha de ser feito, seguir em frente

e comprovar que mesmo com algum sentimento de medo e um ou outro pequeno

percalço é possível cumprir aquilo a que se propôs.

PODER DE FOCO

Concentre-se em coisas que façam parte do processo de interação ou de exposição

física e verbal. O seu foco depende de si. Foque-se em alguns dos seus pontos

fortes, faça com que eles se expandam. Visualize-se numa situação difícil e como os

seus pontos fortes o ajudariam a ultrapassar essa dificuldade. Posteriormente

construa um cenário de sucesso e o que seria necessário fazer para que você fosse

bem sucedido. Simule mentalmente o seu desempenho. Simule e visualize-se

a ultrapassar os seus receios e relembre-se daquilo que usou para o ajudar. Essa

será a sua estratégia de eficácia e segurança.

O SEU ESPÍRITO

Espírito significa a relação que você estabelece consigo mesmo, como os outros e

com o mundo, e não ser-se religioso. Isto numa perspectiva psicológica. O nosso

medo está relacionado com as preocupações do ego, expressando autofoco e

proteção a nós mesmos. Se pretendemos dar uma boa impressão de nós mesmos e

preocuparmo-nos com o que os outros irão pensar acerca de nós, poderá inflamar o

medo. Como a forma de nos relacionarmos passa pelo contato com os outros

através da nossa linguagem verbal e não verbal, cada vez que temos de interagir e

falar com outros, é quase como se a nossa autoestima estivesse na linha de fogo.

Se o nosso espírito, ou estado mental for receoso, então o que descrevi

anteriormente faz sentido. O nosso espírito será tomado pelo medo, e a nossa

autoestima passa a estar na linha da frente da batalha que pretendemos enfrentar. E

o resultado, como podemos imaginar, é levar uns tiros nos próprios pés.

Uma ótima maneira de elevar o seu espírito é conectar-se às pessoas e ao seu

propósito. Isto porque  quando estamos com medo, tudo gira em torno de nós, e

como os acontecimentos nos irão afetar, fazendo-nos esquecer do verdadeiro

propósito de querer efetuar o nosso objetivo. Lembre-se que na interação com os

outros, você está lá para compartilhar informações, e não para colocar o seu

ego à prova. Em vez de resistir e afastar-se dessas situações, desenvolva um

espírito aberto.  Além disso, quanto mais você humanizar as pessoas, menos

medo terá delas. Por vezes, o seu medo é igual ao medo dos outros. Eles são tão

humanos quanto você.

MÓDULO I - SER CATEQUISTA – METODOLOGIA CATEQUÉTICA.

COMO FAZER UM ENCONTRO COM OS CRISMANDOS

Ao prepararmos o Encontro de Crisma, devemos nos preocupar com o crismando:

sua vida, suas expectativas.

LOCAL DO ENCONTRO

• Deverá está em ordem, limpo e agradável. Os catequistas podem convidar os

crismandos para ajudar na arrumação.

• A Bíblia deve ocupar lugar de destaque no local do encontro.

• Os crismandos deverão sentar-se em círculo, para que todos possam ver todos.

Essa é uma maneira de discernir sobre sala de aula e sala de encontro de Crisma.

ACOLHIMENTO

• Para acolher bem os crismandos, o catequista deverá chegar um tempo antes do

horário de inicio do encontro para receber a todos com igual atenção, sem

demonstrar preferências.

• Ter um momento de diálogo com os crismandos, questionando-os sobre o que

fizeram durante a semana, como estão se sentindo, o que desejam receber na

Crisma. Não deve ser um relatório mais sim uma conversa espontânea.

• O ponto de vista do crismando deve ser respeitado e sua opinião ser ouvida com

bastante atenção.

• O catequista deve dizer sempre a verdade. Se não souber responder a alguma

pergunta, deverá se comprometer em procurar a resposta e trazer no próximo

encontro.

• Não chamar a atenção dos crismandos na frente de outras pessoas.

• Se o crismando tiver algum problema, o catequista deve procurar ser amigo dele

para ajudá-lo a superar suas dificuldades.

• Criar dinâmicas de acolhimento e no decorrer do encontro, que deixem os

participantes a vontade.

LINGUAGEM

• A linguagem deve ser clara, coerente e simples:

• Nunca falar em tom infantil, mas naturalmente, com firmeza e simplicidade;

• Ter atenção com determinadas palavras que costumamos usar: Crisma não é um

curso, nem escola. Em vez de “aula” falar “encontro”. Não fazer “provas” nem dar

“notas” nem castigos. Que o relacionamento não seja de “professor” e “aluno”.

• Essas coisas existem na escola, mas não na Crisma, que é o encontro do

crismando com Jesus Cristo e com a comunidade.

• Evitar levar cadernos para a sala, mais do que anotação, a catequese precisa ser

vivida, por isso a importância de sempre promover o debate, o raciocínio, a leitura

bíblica e a perfeita sintonia com todos estes pontos sobre o tema.

MÓDULO I - SER CATEQUISTA – SER LÍDER

Sete características do líder

Todos nós somos líderes. Bom ou ruim somos líderes. Vou falar das sete

características de um líder. Pode ser líder na família, na Igreja, no país, mas ele tem

sete características muito importantes.

A característica principal de um líder é a visão.

Ele sabe olhar, olha e descobre coisas novas, caminhos novos porque tem visão.

Um líder se identifica pela sua visão. O líder que tem visão olha além dos outros, é

capaz de descobri aquilo que os outros não descobrem. Ele tem como um telescópio

para olhar longe aquilo que os outros não podem olhar. Enquanto muitos caminham

com os olhos no chão, ele olha para o céu para descobrir novas estrelas. Ele sabe

olhar o final do caminho, não fica parado para ver o que acontece. Sabe aproveitar

tudo, também nos erros, e aprende com eles.

Quero falar de um líder que se chamava Saul, diz a Escritura que a estatura de Saul

era maior que os demais, ele era capaz de olhar aquilo que os outros não olhavam.

Os líderes são capazes de olhar aquilo que os outros não podem. Primeira

característica do líder é olhar além.

Segunda característica de um líder: líder não olha para trás, olha para frente.

O líder é aquele que diz: “olha para frente”. O marinheiro quando deixa o mar não

olha para trás, mas para frente. Não olha para o passado, mas para o futuro e sabe

ver adiante. Se você caminha olhando para trás, você vai ter torcicolo. O grito do

líder é sempre: “bola para frente”. Tem um otimismo para ver para frente.

Paulo de Tarso era um líder que sempre dizia: “bola para frente”. Não é a pessoa

que te escraviza você mesmo é quem se escraviza quando vive no passado e não

vive o presente e nem vê o futuro.

Segunda característica do líder é aquele que sempre diz “bola para frente”. Diga isso

para seus filhos, dê coragem para eles.

Terceira característica do líder: o líder dá boas notícias, é aquele que descobre e grita: “terra a vista”.

O líder não anuncia coisas ruins, anuncia boas novas. Terceira característica do

líder anuncia boas novas. Por que temos essa visão negativa de estar sempre

dizendo coisas ruins? O líder acredita na visão e compartilha com os outros

Quarta característica do líder: o líder partilha sua visão com outros, contagia os outros com sua visão, acredita na sua visão, naquilo que ele pode sonhar.·.

A visão não é para você, mas para compartilhar com os outros. O líder acredita na

visão e compartilha com os outros, não esconde a luz debaixo da mesa, compartilha

a luz para que outros tenham a mesma visão. Esse é um passo importantíssimo, o

líder faz os outros olhar de perto aquilo que ele olhou de longe.

Quinta característica do líder: o líder define um objetivo.

O objetivo deve ser um, se você tem dois objetivos, começa a se dividir. Os loucos

são aqueles que têm muitos objetivos na vida. O líder é aquele que é capaz de

definir um objetivo. Paulo de Tarso era um líder fantástico, pois definiu um único

objetivo, evangelizar. Paulo tinha muito claro o objetivo de sua vida. Você tem claro

um objetivo na sua vida? Fomos criados para sermos felizes, esse é o objetivo da

vida cristã, ser feliz neste mundo e no outro. Se eu tenho claro esse objetivo eu não

vou fazer nada para perder essa felicidade. Você é feliz fazendo feliz o outro.

Sexta característica do líder: o líder contagia, é aquele que tem fonte de energia positiva para os outros, ele dá coragem.

O líder sempre diz que é possível, ele dá coragem aos outros para caminhar por

caminhos virgens, nas fronteiras. Você dá coragem para seus filhos fazer coisas

novas? Ele não tira a coragem dos outros, ele dá coragem. Você dá coragem ou tira

coragem dos outros?

Sétima característica do líder: o líder faz aterrissagem.

Não basta navegar é preciso saber atracar. Um líder é aquele que sabe fazer a

estratégia para conseguir o objetivo, não basta ter um sonho, é necessário também

fazer aterrissagem. Não basta dizer lá está o objetivo, mas um plano para alcançar

esse objetivo.

Concluindo, líder é aquele que tem visão. Sabe olhar à esquerda e à direita,

descobre aquilo que os outros não veem, ele olha além. Anuncia boas notícias.

Partilha sua missão com os outros, define objetivos, ele contagia e sabe aterrissar.

"Quero ser Senhor um bom líder para meus filhos, dando coragem para eles, quero

ser um bom líder em minha família, seguindo a Jesus meu único líder".

MÓDULO II - BÍBLICO – CRISTOLÓGICO

A BÍBLIA

Um pouco da história da Bíblia

A Bíblia começa a ser comentada por volta de 2 mil anos antes de Cristo, quando

Abrão (lembra dele? - Gn 12,1-9) começa sua peregrinação pela terra, até então, o

conhecimento a cerca das coisas de Deus era passado de pai para filho, como

ensinamento. Eis aí um motivo para que as pessoas vivessem tanto tempo (Abraão

mesmo viveu 175 anos - Gn 25,1s).

Dele, damos um grande salto no tempo, mais ou menos 600 anos após Deus ter

falado a primeira vez com Abrão, já no tempo de Moisés (Ex 1s), a Bíblia começa a

ser planejada, gestada exatamente quando Deus aparece a ele e o impõe a missão

de libertar os hebreus do Egito, por volta de 1.200 anos AC. Daí em diante, por

cerca de 750 anos, a única coisa que havia sido escrita eram as Tábuas Decálogo

ou dos Dez mandamentos (EX 20; 34), todo o resto era passado em forma de

tradição, ou seja, era contado de geração em geração.

Somente por volta do ano 450 AC, com o exílio na Babilônia, o povo Hebreu passou

então a escrever os relatos que eram passados, escreviam em papiros, pele de

animais, e outras fontes de escrita. Aí vem a importância da tradição, que foi

mantida por mais de mil anos até que fosse escrita.

Os autores

A Bíblia é o único livro que possui centenas de autores, muitos deram seus nomes

aos títulos dos livros, ou foram usados como referencias.

Antigo e Novo Testamento

Bíblia Judaica

A Bíblia possui duas grandes divisões, a Bíblia Cristã e a Judaica, a judaica se

encerra junto com o fim do antigo Testamento, já que para os judeus, ali termina

todos os relatos importantes para o seu povo.

Em toda sua concepção não se sabe ao certo quais livros vieram primeiros, embora

os acontecimentos estejam datados corretamente, se subdivide em temas principais,

como:

Pentateuco: livro da lei, formada pelos 5 primeiros livros da Bíblia, todas as outras

leis do povo judaico, saíram desses livros. Exemplo o Êxodo.

Livros Históricos: são livros voltados para contar a história do povo hebreu, são

neles que encontraremos narrações de batalhas, vitórias, quedas, conquistas, a

história dos maiores reis e assim por diante. Exemplo o Livros dos Reis que conta a

história dos reis Davi e Salomão.

Livros Sapienciais ou de Sabedoria: são livros voltados para a reflexão e a

oração, sempre usados até os nossos dias em celebrações. Exemplo, o livro dos

Salmos e os Provérbios do Reis Salomão.

Livros Proféticos: esses livros contam a história dos homens que tinham a missão

de guardar o pacto entre Deus e os homens, eles que anunciam a salvação,

denunciam as injustiças e cobram mudanças, dentro desses livros, podemos dividir

ainda em profetas maiores. Exemplos: Isaías e Daniel. E profetas menores.

Exemplos: Oséias e Jonas.

Bíblia Cristã

A Bíblia Cristã, além do Antigo, possui também o chamado Novo Testamento, antes

de falar do Novo Testamento, é preciso falar de algo extremamente importante.

A Bíblia Cristã se difere e acordo com as correntes religiosas, então existem ainda a

Bíblia Católica e a Bíblia Protestante.

- Se são cristãs, por que se diferem?

Voltemos no tempo, em plena Diáspora,quando parte dos judeus estavam dispersos

pelo mundo, alguns judeus viviam no Egito onde se falava a língua grega, houve

então a ideia de traduzir a Bíblia para o grego, para assim as gerações futuras, que

começavam a perder a origem de sua língua poderiam guardar também os

ensinamentos sagrados. Quando essa tradução foi então descoberta, já próxima a

época de Cristo, percebe-se que mais 7 livros foram acrescentados, livros que em

sua concepção, seguem a mesma linha de ensinamentos das outras escrituras e

receberam o nome de deuterocanônicos.

Os livros deuterocanônicos foram escritos entre Malaquias e Marcos, ou seja, numa

época em que segundo o historiador judeu Flávio Josefo, cessara por completo a

revelação divina. Entretanto segundo os Evangelhos a revelação do AT durou até

João Batista (cf. Mt 11,12-13 e Lc 16,16).

Os textos deuterocanônicos chegaram até nós apenas em grego (alguns escritos

originalmente nessa língua, outros traduzidos duma versão hebraica, que se

perdeu), fazendo parte da chamada Bíblia dos Setenta, ou Septuaginta, a tradução

da Bíblia em grego, feita por volta do séc. III a.C, para uso dos judeus da Diáspora, e

adaptada pelos cristãos desde o início como seu texto bíblico de referência. Tais

textos não se encontram, pois, na Bíblia Hebraica ou Tanakh.

Os judeus que viviam em Jerusalém, em um sinal de patriotismo, usando como

desculpa de que só que sai de lá poderia ser obra de Deus, recusaram-se a aceitar

esses livros.

A Igreja Católica, quando escreveu então a Bíblia para os Cristãos, aceitou esses

livros, como sendo também inspirados pelo Espírito Santo, deixando de lado a

divergência dos patriotas, usando então as Sagradas escrituras que estavam

escritas em Hebraico, em grego, e ainda usando os novos relatos, o Novo

Testamento, que contava a história de Jesus e recomendações para povo cristão.

A dúvida levantada pelo sínodo de Jâmnia, alguns cristãos passaram a questionar a

inspiração divina dos livros deuterocanônicos. Os Concílios regionais de Hipona

(393), Cartago III (397) e IV (419), e Trulos (692), bem como os Concílios

Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870), confirmaram a

validade dos deuterocanônicos do Antigo Testamento, baseando-se na autoridade

dos Apóstolos e da Sagrada Tradição.

A primeira tradução da Nossa Bíblia foi a chamada Vulgata, feita por são Jerônimo,

por volta do ano 400 DC, e assim foi até por volta do ano de 1500/1600, com a

Reforma protestante, Lutero e seus seguidores decidiram basear sua Bíblia como a

judaica. Ele então resolveu tirar esse sete livros. Mas não acrescentou nenhum.

Todos os livros são do Antigo Testamento, são eles:

- Tobias

- Judite

- Sabedoria

- Eclesiástico

- Macabeus I

- Macabeus II

- Baruc

- Existem livros deuterocanônicos do Novo Testamento?

É importante dizer que também no Novo Testamento existem livros

deuterocanônicos. São eles Tiago, Hebreus, Apocalipse, 2 Pedro e 2 e 3 João.

Assim como os livros deuterocanônicos do AT, estes também tiveram sua

canonicidade contestada por muitos séculos.

Lutero chegou até mesmo não considerar canônicos Hebreus, Tiago, Judas e

Apocalipse, que na sua tradução da Bíblia para o Alemão deixou-os num apêndice

sem numeração de páginas. Depois os demais reformadores decidiram que estes

livros deveriam voltar à Bíblia, pela larga utilização nas comunidades cristãs, mas

não fizeram o mesmo com os deuterocanônicos do AT.

Então esse é o motivo dessa divergência de Bíblias, a Católica possui 73 livros, 46

no AT e 27 NT, enquanto que a protestante possui 66 +27.

O Novo Testamento

Se a Bíblia Cristã se difere muito no Antigo Testamento, não há nenhuma

divergência no Novo Testamento, e somente os Cristãos possuem essa nova parte

da Bíblia, que vem contar a história de Jesus Cristo e de como as escrituras do

Antigo Testamento se cumprem, além de cartas de recomendações. Apesar da

forma em que está escrito, Não significa que a NT foi escrito nessa ordem. A

primeira referencia do Novo Testamento que foi escrito são as cartas de São Paulo

aos Tessalonicenses, por vota do ano 50 DC, os outros, não possuem uma data

específica sobre sua origem, havendo certas divergências.

Evangelhos

Evangelho significa Boa Nova, constituem a 1ª parte do NT. Narram a vida de Jesus

Cristo, principal pilar do Cristianismo, não reconhecidos pelos judeus que não

acreditam na pessoa de Jesus.

Por contarem a vida de Jesus, são colocados em primeiro lugar no NT, são 4

Evangelhos, que contam a mesma história, mas cada um com sua riqueza particular

de fatos e de detalhes mostram a missa de Jesus, por isso o três primeiros são

chamados de Evangelhos sinóticos, por serem idênticos Mt, Mc e Lc, já que um

possui praticamente a mesma matéria do outro, repetindo até palavras. Mas é

importante colocar suas particularidades, embora Mt e Lc possuírem elementos de

Marcos, contem elementos não citados nesse.

O primeiro Evangelho a ser escrito foi o de Marcos, Mateus veio em seguida, depois

Lucas, que escreveu ainda os Atos dos Apóstolos. João foi o último de todos

- Quantos apóstolos escreveram os Evangelhos?

Embora existam 4 Evangelhos na Bíblia, somente 2 apóstolos relataram sua

vivencia com Jesus.

Na ordem, eles foram escritos assim, e esses são seus autores:

Mateus: Chamado antes de Levi, o cobrador de impostos, Mateus é um dos

apóstolos que convivem desde o começo com Jesus, usando como base, referencia

do Evangelho de Marcos. A ideia de Mateus é levar a Boa Nova aos Judeus da

Palestina

Marcos: escrito por João Marcos, que era primo de Barnabé, discípulo de Pedro e

companheiro de viagens de Paulo. Baseia-se nos ensinamento de Pedro em Roma

e trás uma enorme riqueza de detalhes. Dirigido aos pagãos, mostrando Jesus como

redentor.

Lucas: outro companheiro de Paulo escreveu ainda os Atos dos Apóstolos, que é

considerado a continuação desse Evangelho, mas não recebe este nome, por não

contar a vida de Jesus. De todos os Evangelhos, Lucas é o mais científico, embora

não tenha convivido com Jesus, ele era médico e antes de escrevê-lo, usou de seu

vasto conhecimento e estudos para colocar a melhor narração possível, baseando-

se nos dois primeiros, ele se destina aos pagãos, mostrando a riqueza de detalhes

que foi a Vida de Cristo.

João: filho de Zebedeu, irmão de Tiago, era o discípulo que Jesus mais amava,

sendo o último dos apóstolos a morrer e ainda de causa naturais, escreve seu

Evangelho quando muito dos outros já havia sido martirizados, por volta do ano 70

DC. João preocupa em mostrar a divindade de Jesus, como os sinais mostram que

era Ele o Filho de Deus. É ainda autor do livro do Apocalipse.

Além dos Evangelhos, o Novo Testamento possui ainda:

Atos dos Apóstolos 14 cartas ou epistolas de São Paulo Sete cartas ou epistolas Universais (escritas por outros apóstolos, como Tiago

Menor e seu irmão Judas Tadeu, Pedro e novamente João Evangelista).

Apocalipse - o mais intrigante livro da Bíblia, escrito também por João Evangelista,

sendo este de fato o ultimo livro a ser escrito, trazendo profecias que em parte já se

cumpriram.

- Apenas estes livros foram escritos?

Não, dezenas de outros livros foram escritos e supostamente atribuídos ao Novo

Testamento, porém, por serem livros que divergem entre si e com os outros já

citados anteriormente, a Igreja viu que não poderiam passar de fontes sem nexos de

pessoas que não estavam intimamente ligadas a Cristo ou aos apóstolos, e foram

escritos por quem ouviu falar deles e assim criou sua própria versão. Esses livros

recebem o nome de livros apócrifos, embora não estejam inseridos na Bíblia, são

abertos a quem quiser estudá-los. São exemplos de livros apócrifos: Evangelho de

Pedro, Evangelho de Maria, Evangelho de Judas Iscariotes.

Vamos à prática

Até aqui, respondemos muitas questões sobre a história e a concepção da Bíblia,

mas vamos ao mais importante, vamos então aprender a lê-la.

Lembre-se que só em meados do ano 450 AC, que Ela passou a ser escrita em

pergaminhos e que só por volta do ano 400 DC, já com o NT que foi traduzida para

outra língua mais divulga.

Mas, aí vem um pequeno grande detalhe, por mais de mil anos, desde que foi

escrita pela 1ª vez, não havia divisões nas escrituras a não ser a referencia dos

títulos. Ou seja, não havia capítulo e muito menos versículos, então, se, por

exemplo, você quisesse ler o versículo 1 do salmo 91 “aquele que habita no esconderijo do altíssimo, á sombra do onipotente descansará”, precisaria ler os

98 salmos anteriores inteirinhos. Por isso desde o princípio, e leitura da Bíblia ficou

restrita aos mais velhos e mais sábios e é claro, de boa memória. Por isso toda vez

que Jesus cita alguma passagem do antigo Testamento, Ele da o nome de

Escrituras, e não faz outra referencia.

- Quando essa vida dura acabou?

Só na Idade Média, por volta de 1.200, que a divisão que conhecemos hoje foi então

feita, e por conta disso, algumas Bíblias Católicas se divergiram um pouco devido a

numeração dos Salmos, do livro do Eclesiástico e outros, mas tal divergência não

diferencia tanto assim, pois o que ocorre é apenas a união de um ou mais capítulos.

Então, após algum tempo de trabalho, chegamos a conclusão que a Bíblia Católica

possui exatamente:

- 1334 capítulos

- 35.568 versículos

Lendo a Bíblia

Vamos aprender a ler a Bíblia então, antes disso, é importante saber alguns

detalhes importantes:

- As citações dos livros são feitas abreviadamente, ou seja, poucas vezes veremos o

nome completo do livro. Existem algumas formas de abreviações, a mais conhecida,

e a que usa como referencia a 1ª letra + 1ª consoante (em alguns casos, usa-se a

ainda 2ª consoante ou se for preciso, a ultima vogal do nome).

Exemplos:

Mateus = Mt

Isaías = Is

Eclesiastes = Ecl

Eclesiástico = Eclo

- Dentro de alguns livros ou cartas, pode haver subdivisões em outros livros, nesse

caso, antes das abreviações, usa–se, em algarismo romano ou numeral referente à

ordem do livro.

Exemplos:

O livro de Samuel é subdividido em dois livros:

I Samuel = I Sm

II Samuel = II Sm

As Cartas de João, subdividida em 3:

I João = I Jo

II João = II Jo

III João = III Jo

- Com esta subdivisão, evitamos confundir livros que por esta abreviação, ficaram

com a mesma forma.

Exemplos:

O Evangelho de Marcos e o Livro dos Macabeus, este ultimo é subdividido em 2

livros, então, saberemos de quem se trata quando vier uma dessa abreviações:

I Macabeus = I Mc

Marcos = Mc

- Sabendo então dessas abreviaturas, partimos para o próximo passo, como já foi

falado, cada livro é dividido em capítulos, então, além da referencia abreviada,

colocamos também o capítulo requerido:

Exemplo:

O Evangelho segundo Mateus possui 28 capítulos, eu quero encontrar a referencia

do capítulo 18, então escreverei a abreviação seguida do numero:

Mateus 18 = Mt 18

- Sabendo o capítulo, o passo seguinte é acrescentar uma vírgula ( , ), indicando que

o capítulo já foi encontrado.

Exemplo:

Mateus 18 = Mt 18,

- Cada capítulo é subdivido em versículos, assim, após a abreviatura, a numeração

e a vírgula, colocasse o numero do versículo:

Exemplo:

Desejo achar, dentro de Mateus, capítulo 18, o versículo 12:

Mateus cap. 18, vers. 12 = Mt 18, 12

- Em quase todos os casos, a indicação do versículo será procedida ( depois) de

outros sinais para indicar ou não sua continuidade.

- São eles:

- o ponto ( . ), que indica que um versículo deve ser lido e então saltar para o outro

versículo citado.

Exemplo:

O Evangelho de Mateus, cap. 18, vers. 12 e 14 = Mt 18, 12.14

- o hífen ( - ), que indica a continuidade de um versículo até o outro

Exemplo:

O Evangelho de Mateus, cap. 18, vers. 12 até 14 = Mt 18, 12-14

- o ponto e vírgula ( ; ), que indica um salto entre os capítulos do livro.

Exemplo:

O Evangelho de Mateus, cap. 18, vers. 12; e cap. 20, vers. 1 = Mt 18, 12; 20,1

- ( s ) ou (ss), são usados para indicar a continuidade do versículo, no caso de (s),

usado para indicar que a leitura segue para o versículo seguinte, já (ss) indica que a

leitura segue até o final do capítulo.

O Evangelho de Mateus, cap. 18, vers. 12 e seguinte = Mt 18, 12s

O Evangelho de Mateus, cap. 18, vers. 12 e seguintes = Mt 18,12ss

- Como conseguir compreender a Bíblia?

De princípio, ninguém consegue, logo na primeira experiência, decorar ou entender

completamente o que alguns livros dizem daí outra dica importante: comece a ler a

Bíblia por uma livro pequeno e fácil, como as 3 cartas de São João, que se tratam de

um resumo do Evangelho do autor. Em seguida passando para outros Evangelhos.

Nota* = Toda Bíblia possui notas do canto inferior, ao ler um capítulo, basta ler a

nota do rodapé para saber de uma referencia, ou ainda de sua explicação.

- Tente descobrir, se necessário escreva ou marque, toda vez que encontrar

citações que indicam promessas, ordem, proibição, exaltação etc.

MÓDULO II - BÍBLICO – CRISTOLÓGICO

O REINO DE DEUS ANUNCIADO NOS TEMPOS DE HOJE

“Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel, este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus: Pois a palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois, por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe.” (CIC§§ 543)

(Mateus 13,44-46) - “O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro

escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de

alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. O Reino dos céus é

ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma

de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.”

Aprofundamos

Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos

de Israel, este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as

nações. Para ter acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus. Pois a palavra

do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e

são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino;

depois, por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe.

O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um

coração humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os

bem-aventurados, pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que

o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos.

Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a

fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os

tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino.

Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas

pecadores" (Mc 2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no

Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai

por eles e a imensa "alegria no céu por um único pecador que se arrepende" (Lc

15,7). A prova suprema de este amor ser o sacrifício de sua própria vida "em

remissão dos pecados" (Mt 26.28).

Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu

ensinamento. Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção

radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo; as palavras não bastam, são

necessários atos As parábolas são como espelhos para o homem: este acolhe a

palavra como um solo duro ou como uma terra boa? Que faz ele dos talentos

recebidos. Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no

coração das parábolas. E preciso entrar no Reino, isto é, tomarem-se discípulos de

Cristo para "conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13,11). Para os que

ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático.

Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At

2,22) que manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o

Messias anunciado.

Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e

da morte, Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos

os males da terra, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do

pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas

escravidões humanas.

O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de

Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt

12,28). Os exorcismos de Jesus libertam homens do domínio dos demônios.

Antecipam a grande vitória de Jesus sobre "o príncipe deste mundo". E pela Cruz de

Cristo que o Reino de Deus ser definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus

- Deus reinou do alto do madeiro.

Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para

estar com Ele e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua

autoridade "e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar" (Lc 9,2).

Permanecem eles para sempre associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a

Igreja por intermédio deles. Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para

mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em

tronos para julgar as doze tribos de Israel.(CIC§§ 543-51).

Concluímos

O Reino dos céus é a solução apresentada para as desigualdades do mundo, a

violência, a corrupção, a miséria e a dominação dos poderosos. Jesus não veio para

acabar com elas, que sempre estarão no mundo, mas Ele veio propor uma

alternativa, um fundamento e para a esperança, de que após toda a dificuldade, nos

é dada a chance de buscar algo maior, o seu Reino.

Somos convidados a então tentar viver esse Reino, a todo o momento, e quem for

capaz de encontrá-lo, encontrará seu tesouro.

MÓDULO II - BÍBLICO – CRISTOLÓGICO

"Grande é o Mistério da fé." A Igreja o professa no Símbolo dos Apóstolos (Primeira Parte) e o celebra na Liturgia sacramental (Segunda parte), para que a vida dos fiéis seja conforme a Cristo no Espírito Santo para a glória de Deus Pai (Terceira parte). Esse Mistério exige, pois, que os fiéis nele creiam, celebrem-no e dele vivam numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Essa relação é a oração... A oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria. (CIC§§ 2558).

(Lucas 11,1-4) - Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a

oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também

João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai,

santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino, dai-nos hoje o pão necessário

ao nosso sustento, perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos

àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação.

Aprofundamos

“Ao orar, Jesus já nos ensina a orar. O caminho teologal de nossa oração é a oração

a seu Pai. Mas o Evangelho nos dá um ensinamento explícito de Jesus sobre a

oração. Como pedagogo, ele nos toma onde estamos e, progressivamente, nos

conduz ao Pai. Dirigindo-se às multidões que o seguem, Jesus parte daquilo que

elas já conhecem da oração, conforme a Antiga Aliança, e as abre para a novidade

do Reino que vem. Depois lhes revela em parábolas essa novidade. Enfim, falará

abertamente do Pai e do Espírito Santo a seus discípulos, que deverão ser

pedagogos da oração em sua Igreja.” (CIC§§ 2607).

“No Sermão da Montanha, Jesus insiste na conversão do coração: a reconciliação

com o irmão antes de apresentar uma oferenda no altar, o amor aos inimigos e a

oração pelos perseguidores, a oração ao Pai "em segredo" (Mt 6,6), a não

multiplicação das palavras, o perdão do fundo do coração na oração, a pureza do

coração e a busca do Reino. Essa conversão é inteiramente orientada para o Pai; é

filial.

O coração assim decidido a se converter aprende a orar na fé. A fé é uma adesão

filial a Deus, acima daquilo que sentimos e compreendemos. Tomou-se possível

porque o Filho bem-amado nos abre as portas para o Pai. Este pode pedir-nos que

"procuremos" e "batamos", uma vez que Ele mesmo é a porta e o caminho.

Assim como Jesus ora ao Pai e dá graças antes de receber seus dons, Ele nos

ensina essa audácia filial: "Tudo quanto suplicardes e pedirdes crede que já

recebestes" (Mc 11,24). "Tudo é possível para quem crê" (Mc 9,23), com uma fé

"que não hesita”. Tal é à força da oração. Se por um lado Jesus se entristece pela

"falta de fé" de seus parentes (Mc 6,6) e pela "fraqueza na fé" de seus discípulos,

por outro lado fica admirado com a "grande fé" do centurião romano e da Cananéia.

A oração de fé não consiste apenas em dizer "Senhor, Senhor", mas em levar o

coração a fazer a vontade do Pai. Jesus convida os discípulos a terem, na oração, a

preocupação de cooperarem com o plano divino.

Em Jesus, "o Reino de Deus está próximo" (Mc 1,15) e convoca à conversão e à fé,

como também, à vigilância. Na oração, o discípulo vigia atento Aquele que É e que

Vem na memória de sua primeira Vinda à humildade da carne e na esperança de

sua segunda Vinda à Glória. Em comunhão com o Mestre a oração dos discípulos é

um combate, e é vigiando na prece que não se cai em tentação.” (CIC§§ 2608-

2612).

“No Novo Testamento, o modelo perfeito da oração encontra-se na prece filial de

Jesus. Feita muitas vezes na solidão, no segredo, a oração de Jesus implica uma

adesão amorosa à vontade do Pai até a cruz e uma confiança absoluta de ser

ouvido.

Jesus ensina seus discípulos a orar com um coração purificado, uma fé viva e

perseverante, uma audácia filial. Incita-os à vigilância e convida-os a apresentar a

Deus seus pedidos em seu Nome. Jesus Cristo atende pessoalmente às orações,

que lhe são dirigidas.

A oração da Virgem Maria, em seu "Fiat" e em seu "Magnificat”, caracteriza-se pela

oferta generosa de todo seu ser na fé. (CIC§§ 2620 – 2622).

“A oração é dirigida, sobretudo ao Pai; também é dirigida Jesus, sobretudo pela

invocação de seu santo nome: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende piedade

de nós, pecadores!"

"Ninguém pode dizer: 'Jesus é Senhor', a não ser no Espírito Santo" (1 Cor 12,3). A

Igreja nos convida a invocar o Espírito Santo como o Mestre interior da oração cristã.

Em virtude da cooperação singular da Virgem Maria com a ação do Espírito Santo, a

Igreja gosta de rezar em comunhão com ela, para exaltar com ela as grandes coisas

que Deus realizou nela e para confiar-lhe súplicas e louvores. (CIC§§ 2680 -2682).

“A Igreja convida os fiéis a uma oração regular: orações diárias, Liturgia das Horas,

Eucaristia dominical, festas do ano litúrgico.

A tradição cristã compreende três expressões maiores da vida de oração: a oração

vocal, a meditação e a oração mental. Estas têm em comum o recolhimento do

coração.

A oração vocal, fundada na união do corpo e do espírito na natureza humana,

associa o corpo á oração interior do coração, a exemplo de Cristo, que reza a seu

Pai e ensina o "Pai-Nosso" a seus discípulos.

A meditação é uma busca orante que põe em ação o pensamento, a imaginação, a

emoção, o desejo. Tem por finalidade a apropriação crente do assunto meditado,

confrontado com a realidade de nossa vida.

A oração mental é a expressão simples do mistério da oração. E um olhar de fé fito

em Jesus, uma escuta da Palavra de Deus, um silencioso amor. Realiza a união à

oração de Cristo na medida em que nos faz participar de seu Mistério.” (CIC§§ 2720- 2724).

A Oração Do Pai Nosso

“Na liturgia romana, a assembleia eucarística é convidada a rezar o Pai-Nosso com

ousadia filial; as liturgias orientais utilizam e desenvolvem expressões análogas:

"Ousar com toda a segurança", "torna-nos dignos de". Diante da sarça ardente, foi

dito a Moisés: "Não te aproximes daqui; tira as sandálias" (Ex 3,5). Este limiar da

Santidade divina só Jesus podia transpor, Ele que, "depois de ter realizado a

purificação dos pecados" (Hb 1,3), nos introduz diante da Face do Pai: "Eis - me aqui

com os filhos que Deus me deu" (Hb 2,13). (CIC§§ 2777).

A confiança simples e fiel, a segurança humilde e alegre são as disposições que

convêm a quem reza o Pai-Nosso.

Podemos invocar a Deus como "Pai" porque o Filho de Deus feito homem no-lo

revelou, Ele, em quem, pelo Batismo, somos incorporados e adotados como filhos

de Deus.

A oração do Senhor nos põe em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.

Ao mesmo tempo, ela nos revela a nós mesmos.

Rezar ao Pai "nosso" deve desenvolver em nós a vontade de nos assemelhar a Ele

e (fazer crescer em nós) um coração humilde e confiante.

Dizendo Pai Nosso, invocamos a Nova Aliança em Jesus Cristo, a comunhão com a

Santíssima Trindade e a caridade divina que se estende, pela igreja, às dimensões

do mundo.

"Que estais nos céus" não designa um lugar, mas a majestade de Deus e sua

presença no coração dos justos. O céu, a Casa do Pai, constitui a verdadeira pátria

para onde nos dirigimos e à qual já pertencemos.

No "Pai-Nosso", os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a

santificação do Nome, a vinda do Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os

quatro seguintes apresentam-lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa

vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate

visando à vitória do Bem sobre o Mal.

Ao pedir: "Santificado seja o vosso Nome" entramos no plano de Deus, a

santificação de seu Nome - revelado a Moisés, depois em Jesus - por nós e em nós,

bem como em todas as nações e em cada ser humano.

Com o segundo pedido, “Venha a nós o vosso reino”, a Igreja tem em vista

principalmente a volta de Cristo e a vinda final do Reino de Deus, rezando também

pelo crescimento do Reino de Deus no "hoje" de nossas vidas.

No terceiro pedido, “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”,

rezamos ao nosso Pai para que una nossa vontade à de seu Filho, a fim de realizar

seu plano de salvação na vida do mundo.

No quarto pedido, ao dizer "Dai-nos", exprimimos, em comunhão com nossos

irmãos, nossa confiança filial em nosso Pai do céu. "Pão Nosso" designa o alimento

terrestre necessário à subsistência de todos nós e significa também o Pão de Vida:

Palavra de Deus e Corpo de Cristo. É recebido no "Hoje" de Deus como o alimento

indispensável, (super) essencial do Banquete do Reino que a Eucaristia antecipa.

O quinto pedido, “Perdoai-nos as nossas ofensas”, implora a misericórdia de Deus

para nossas ofensas, misericórdia que só pode penetrar em nosso coração se

soubermos perdoar nossos inimigos, a exemplo e com a ajuda de Cristo, “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Ao dizer "Não nos deixeis cair em tentação", pedimos a Deus que não nos permita

trilhar o caminho que conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de

discernimento e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final.

No último pedido, "Mas livrai-nos do mal", o cristão pede a Deus, com a Igreja, que

manifeste a vitória, já alcançada por Cristo, sobre o "Príncipe deste mundo", sobre

Satanás, o anjo que se opõe pessoalmente a Deus e a seu plano salvação.

Pelo "Amém" final exprimimos nosso 'Fiat" em relação aos sete pedidos: "Que

assim seja!".

Concluímos

A oração é a expressão da alma, o contato que temos com Deus e a oportunidade

de expor nossas vontades, suplicas e pedidos. Quem ora tem um dia melhor, pedir e

buscar ser atendido é o que nos impulsiona a ter fé.

MÓDULO II - BÍBLICO – CRISTOLÓGICO

AMAR AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO

“Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do

homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade de sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos, e, portanto os herdeiros de sua vida bem-aventurada.” (CIC§§ 1)

(João 13,34-35) - “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como

eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto

todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

Aprofundamos

O Amor

A palavra Amor é um substantivo masculino, usado para definir algo que nos faz

aproximar, proteger outra pessoa a qual sentimos afeto ou atração. Os antigos

gregos tinham duas formas de amor, para cada uma davam um nome: Eros e Philia

(Filia).

Enquanto que o Eros explicava o sentimento de paixão, de atração que os amantes

tinha um pelo outro, o Filia era sua evolução, ou seja, o sentimento que se tem pelo

frutos do Eros, ou seja, um amor paternal, de pai para filho, ou o contrario. E durante

muito tempo não se falava de outra forma de amor.

Então surgem os cristãos com um novo termo para o amor, Ágape. O Ágape é o

amor sem medidas, sem troca, sem motivos para se amar, algo que no Eros e Filia

são necessários (como amar alguém que não nos ama ou não tem nenhuma ligação

conosco – algo que o Ágape Poe em pratica, amar o próximo sem querer nada em

troca, apenas o bem dessa pessoa. Mais tarde, o Ágape foi traduzida para Caridade.

A Caridade

A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por

si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1),

manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos

imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como

o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda:

"Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12).

Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus

e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos,

permanecereis no meu amor" (Jo 15,9-10).

Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimigos" (Rm 5,10). O Senhor

exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o

próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres. O

apóstolo S. Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: "A caridade é

paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de

orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se

irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a

verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (l Cor 13,4-7).

Diz ainda o apóstolo: "Se não tivesse a caridade, nada seria...". E tudo o que é

privilégio, serviço e mesmo virtude... "se não tivesse a caridade, isso nada me

adiantaria". A caridade superior a todas as virtudes. E a primeira das virtudes

teologais "Permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas,

porém, é a caridade" (1 Cor 13,13).

O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o

"vinculo da perfeição" (Cl 3,14); é a forma das virtudes, articulando-as e ordenando-

as entre si; é fonte e termo de sua prática cristã. A caridade assegura purifica nossa

capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor divino.

A prática da vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade espiritual

dos filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem

como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao

amor daquele "que nos amou primeiro" (1 Jo 4,19): Ou nos afastamos do mal por

medo do castigo, estando assim na posição do escravo; ou buscamos o atrativo da

recompensa, assemelhando-nos aos mercenários; ou é pelo bem em si mo e por

amor de quem manda que nós obedecemos... e estaremos então na posição de

filhos.

A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia exige a beneficência e a

correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e

liberal; é amizade e comunhão: A finalidade de todas as nossas obras é o amor.

Este é o fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez

chegados, é nele que repousaremos. (CIC§1822-29)

Concluímos

Amar sem medidas é a maior virtude de um cristão, fazer o bem a todos

independente de quem seja, e praticar a caridade além de necessária, nos deixa

com um sentimento de dever cumprido.

MÓDULO III - NÚCLEO ECLESIAL – LITÚRGICO

O QUE É A IGREJA

“A palavra "Igreja" ["ekklésia", do grego "ekkaléin" "chamar fora"] significa "convocação". Designa assembleias do povo, geralmente de caráter religioso. É o termo frequentemente usado no Antigo Testamento grego para a assembleia do povo eleito diante de Deus, sobretudo para a assembleia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus como seu Povo santo. Ao denominar- se "Igreja", a primeira comunidade dos que criam em Cristo se reconhece herdeira dessa assembleia. Nela, Deus "convoca" seu Povo de todos os confins da terra. O termo "Kyriakà", do qual deriva "Church", "Kirche", significa "a que pertence ao Senhor".

Na linguagem cristã, a palavra "Igreja" designa a assembleia litúrgica, mas também a comunidade local ou toda a comunidade universal dos crentes. Esses três significados são inseparáveis. "A Igreja" é o Povo que Deus reúne no mundo inteiro. Existe nas comunidades locais e se realiza como assembleia

litúrgica, sobretudo eucarística. Ela vive da Palavra e do Corpo de Cristo e se torna, assim, Corpo de Cristo. (CIC §§ 751-752)

(Mateus 16,18-19) - “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a

minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves

do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que

desligares na terra será desligado nos céus.

Aprofundamos

O QUE É A IGREJA CATÓLICA?

É o maior e mais antigo ramo do cristianismo. O termo deriva do grego Katholicos,

que quer dizer universal. Exprime a ideia de uma igreja que pode levar o evangelho

a qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Um dos pontos histórico da

doutrina é a canonização (conversão em santos) dos cristãos que a Igreja acredita

terem sido mártires, ou que tenham sido instrumentos de Deus em operar milagres.

Os fiéis católicos veneram, não adoram os santos com sendo exemplos de fé e vida

cristã e como intercessores junto a Deus. Maria, a mãe de Jesus, é considerada a

maior intermediária entre os fiéis e seu filho.

A história do catolicismo esta associada principalmente ao fim do Império Romano,

onde, diante do êxodo em que os imperados romanos faziam em meio às invasões

bárbaras, e com a transferência do império para o oriente, os cidadãos romanos

buscavam na Igreja, através de seus sacerdotes, alguém a quem os guiassem, que

se colocariam para administrá-los, e como a Igreja já fazia isso espiritualmente,

também passou a fazê-lo socialmente. Um grande equívoco histórico é dizer que a

Igreja Católica é uma continuação do império romano, pois os próprios historiadores

confirmam que a igreja do ocidente jamais esteve associada o império, tendo em

vista de que quando foi liberada a prática do cristianismo em Roma, o imperador

Constantino transferiu a sede do império para Bizâncio, na Turquia, fundando

Constantinopla. E a partir do século XVI, sua difusão se acentua com a colonização

europeia da Ásia e da América. A administração está estruturada em regiões

geográficas autônomas, as dioceses, dirigidas por bispos subordinados ao papa.

Desde a Idade Média, os papas são eleitos por u m colégio especial de cardeais. O

primeiro papa. Ou seja, o primeiro homem a administrar a Igreja depois de Jesus, foi

o apóstolo Pedro. Desde então, a Igreja Católica já teve 265 papas, sendo que o

polonês Karol Wojtyla, teve seu papado como sendo o mais longo da história, 26

anos, adotando o nome de João Paulo II. Atualmente, o papa eleito atende pelo

nome de Bento XVI. Um fato curioso, é que todo papa eleito não será chamado pelo

seu verdadeiro nome, mas sim deve adotar um nome de um antecessor, cuja vida

religiosa serve como exemplo, por isso Bento XVI se inspirou nos seus 15

antecessores. Outro ponto interessante a ser notado na Igreja Católica, são as

chamadas ordens religiosas, como as dos Franciscanos, Beneditinos, Dominicanos

e tantas outras também muito importantes, essa ordens foram fundadas por pessoas

de grande influência na igreja, e cada um mostra a mensagem cristã de uma forma

concreta, realizando obras em benefícios aos mais desprovidos.

MÓDULO III - NÚCLEO ECLESIAL – LITÚRGICO

O QUE É UM SANTO?

Os homens e as mulheres que a Igreja Católica chama de “santos” são milhares,

mais de vinte e sete mil, como afirma René Fullop Muller, em seu livro “Os Santos

que abalaram o mundo”. São de todas as condições de vida, raças, cores, culturas,

países, etc. Porém, uma coisa é comum a todos: eles foram heroicamente bons;

basta analisar a vida deles. A santidade é basicamente a estreita união do homem

com Deus; desse contato resulta a perfeição moral. Deus é santo por natureza; os

homens são santos na medida em que se aproximam d’Ele.

No céu todos os bem-aventurados estão intimamente unidos a Deus pela visão

imediata d’Ele. Isso é chamado de “visão beatífica”. Todos os que estão no céu

atingiram a santidade perfeita. Aqui na terra os homens são unidos a Deus por meio

da graça divina. Essa graça é um dom, livremente dado por Ele, por meio do qual

nos tornamos “participantes da natureza divina”, como São Pedro afirma (cf. 2 Pd 1,

4). Quanto mais graça um homem tem, tanto mais semelhante a Deus se torna. Um

santo canonizado foi alguém que na terra praticou a bondade heroica em todas as

suas ações. Um homem ou uma mulher não é canonizado por ter uma só virtude.

Não é suficiente que ele não tenha faltas salientes. Mesmo uma pequena fraqueza é

uma grande falta num santo. Um santo tem um controle perfeito de todas as

virtudes. O santo não faz da sua vida espetáculo. Começa pelas virtudes sólidas,

comuns da vida cristã, e depois as desenvolve até um grau extraordinário. São

Vicente de Paulo costumava dizer que “um cristão não deveria fazer coisas

extraordinárias, mas sim fazer extraordinariamente bem as coisas ordinárias”.

Alguns pensam que são atribuídos rótulos aos Santos, como se fossem mercadorias

de consumo espiritual. Mas, não é assim. Os santos são pessoas humanas que

viveram neste mundo como verdadeiros modelos de cristãos, seguindo o Evangelho

de Cristo e colocando-o em prática em suas vidas. Viveram conforme a vontade de

Deus; por essa razão, conquistaram o céu.

A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, depois de um rigoroso processo de

beatificação e canonização – nos quais são exigidos no mínimo dois milagres,

confirmados pela medicina – declara, por intermédio do Papa, que eles estão no céu

gozando da comunhão com vida e da visão beatífica do Senhor.

E as imagens de santos na Igreja Católica?Desde os primeiros séculos os cristãos pintaram e esculpiram imagens de Jesus, de

Nossa Senhora, dos Santos e dos Anjos, não para adorá-las, mas para venerá-las.

As catacumbas e as igrejas de Roma, dos primeiros séculos, são testemunhas

disso.

Só para citar um exemplo, podemos mencionar aqui o fragmento de um afresco da

catacumba de Priscila, em Roma, do início do século III. É a mais antiga imagem da

Santíssima Virgem, uma das mais antigas da arte cristã, sobre o mistério da

Encarnação do Verbo. Mostra a imagem de um homem que aponta para uma estrela

situada acima da Virgem Maria com o Menino nos braços. O Catecismo da Igreja

traz uma cópia dessa imagem (Ed. de bolso, Ed. Loyola, pag.19).

Este exemplo mostra que desde os primeiros séculos os cristãos já tinham o salutar

costume de representar os mistérios da fé por imagens, em forma de ícones ou

estátuas. É o caso de se perguntar, então: Será que foram eles idólatras por

cultuarem essas imagens? É claro que não? Eles foram santos, mártires,

derramaram muitos deles, o sangue em testemunho da fé. Seria blasfêmia acusar os

primeiros mártires da fé de idólatras.

No século VIII, sob influência do judaísmo e do islamismo, surgiu um movimento

herético que se pôs a combater o uso das imagens. Eram os iconoclastas. O grande

e principal defensor do uso das imagens na época foi o santo e doutor da Igreja S.

João Damasceno (de Damasco), falecido em 749, o qual foi muito perseguido por se

manter fiel e defensor dessa santa Tradição cristã. A fim de dirimir as dúvidas sobre

a questão, o Papa Adriano I (772´795) convocou o II Concílio Ecumênico de Nicéia,

que se realizou de 24/09 a 23/10/787. Assim se expressou o Concílio, resolvendo

para sempre a questão: “Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos

santos Padres, e da Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do

Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as

veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e

vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria

apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e

as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a

imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto à de Nossa

Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os

santos e dos justos” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1161).

Essas palavras, por serem de um Concílio da Igreja, são ensinamentos oficiais e

infalíveis, e não podemos colocá-los em dúvida. O grande S. João Damasceno dizia:

“A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus

olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a

Deus” (nº 1162). O nosso Catecismo explica que: “A imagem sacra, o ícone litúrgico,

representa principalmente Cristo.

Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do

Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens “(1159).

S. Tomás de Aquino (1225´1274) também defendia o uso das imagens, afirmando:

“O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as

considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus

encarnado.

Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende

para a realidade da qual é imagem “(2131). Muitos querem incriminar a Igreja

Católica, afirmando que ela desrespeita a ordem que Deus deu a Moisés: “não vos

pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo...” (Dt 4,15

´16). Os cristãos, desde os primeiros séculos, entenderam, sob a luz do Espírito

Santo, que Deus nunca proibiu fazer imagens, e sim “ídolos”, deuses, para adorar. O

povo de Deus vivia na terra de Canaã, cercado de povos pagãos que adoravam

ídolos em forma de imagens (Baals, Moloc, etc). Era isso que Deus proibia

terminantemente.

A prova de que Deus nunca proibiu imagens, é que Ele próprio ordenou a Moisés

que fabricasse imagens de dois Querubins e que também pintasse as suas imagens

nas cortinas do Tabernáculo. Os querubins foram colocados sobre a Arca da Aliança.

“Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da

tampa, um de um lado e outro de outro... Terão esses querubins suas asas

estendidas para o alto e protegerão com elas a tampa...” (Ex. 25,18s, Ex 37,7; 1 Rs.

6,23; 2 Cr. 3,10). “Farás o tabernáculo com dez cortinas de linho fino retorcido, de

púrpura violeta sobre as quais alguns querubins serão artisticamente bordados” (Ex.

26,1. 31).

Que fique claro de uma vez por todas, Deus nunca proibiu imagens, e sim, “fabricar

imagens de deuses falsos”. O mesmo Deus mandou que, no deserto, Moisés fizesse

uma imagem de uma serpente de bronze (Nm 21, 8´9), que prefigurava Jesus

pregado na cruz (Jo 3,14). Também o rei Salomão, quando construiu o templo,

mandou fazer querubins e outras imagens (I Rs 7,29).

O culto que a Igreja Católica presta a Deus, e só a Deus, é um culto chamado

“latria”, isto é, de adoração. Aos anjos e santos é um culto chamado “dulia”, de

veneração. Maria, como Mãe de Deus recebe o culto de “hiper dulia”, super

veneração digamos, mas que está muito longe da adoração devida só a Deus. São

Pedro, ao terminar a segunda Carta falava do perigo daqueles que interpretavam

erroneamente as Escrituras: “Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo

sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria

ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2 Pe 3,16). Infelizmente

isto continua a acontecer com aqueles que querem dar uma interpretação individual

à Palavra de Deus, sem autorização oficial da Igreja, levando multidões ao erro. Só

a Igreja é a autêntica intérprete da Bíblia (cf. Dei Verbum, 10), pois foi ela que,

inspirada pelo Espírito do Senhor (Jo 16,12), a compôs.

As imagens, sempre foram, em todos os tempos, um testemunho da fé. Para muitos

que não sabiam ler, as belas imagens e esculturas foram como que o Evangelho

pintado nas paredes ou reproduzido nas esculturas. E assim há de continuar a ser. É

claro que o culto por excelência é prestado a Deus, mas isto não justifica que as

imagens sejam retiradas das nossas igrejas. Ao contrário, elas nos lembram que

aqueles que elas representam, chegaram à santidade por graça e obra do próprio

Deus. Assim, as imagens, dão, antes de tudo, glória a Deus.

Muitas vezes, os católicos são acusados de idolatria e de prestarem um culto

indevido aos Santos, aos Anjos e à Virgem Maria, bem como às suas imagens e

relíquias. A intercessão dos Santos e sua mediação por nós em nada substituem a

ação única e essencial de Jesus; mas sim, a valorizam ainda mais, pois dependem

dela para ter eficácia.

Uma das orações Eucarísticas da Santa Missa diz que “os Santos intercedem no Céu por nós diante de Deus, sem cessar”. Que maravilha! Essa intercessão leva-

nos mais a fundo no plano de Deus, porque promove a glória de Deus e o louvor de

Jesus Cristo, uma vez que os Santos são “obras-primas” de Cristo, os quais nos

levam, por suas preces e seus exemplos, a reconhecer melhor a grandeza da nossa

Redenção.

O culto aos Santos tem ao menos três sentidos profundos:

1 – Dar glória a Deus, de quem os Santos são obras-primas de sua graça; pois são

Santos pela graça de Deus;

2 – Suplicar-lhes a intercessão por nós e pela Igreja;

3– Mostrar que os Santos são modelos de vida a serem imitados, uma vez que

amaram e serviram a Deus perfeitamente.

Deus nunca proibiu ao povo fazer imagens dos Santos, mas proibiu fazer “imagens de ídolos”. E isso a Igreja nunca fez. Os Santos não são ídolos, nem são adorados, mas sim, venerados, o que é completamente diferente. As imagens são um meio e não um fim em si. Aristóteles, sábio filósofo grego, já dizia: “Nada está na mente que não tenha passado pelos sentidos”. É que o homem em sua vida sensitiva depende das coisas que o cercam. A visão de uma imagem desperta na alma pensamentos salutares, o anseio de imitar o Santo de sua devoção, a se sacrificar por Jesus crucificado.

MÓDULO III - NÚCLEO ECLESIAL – LITÚRGICO

IGREJA CATÓLICA, 24 IGREJAS AUTÔNOMAS

Você sabia que a Igreja Católica é atualmente constituída por 24 Igrejas autônomas “sui juris”?

Pois é! A Igreja Católica não se limita ao rito romano. Ela é uma grande comunhão

de 24 Igrejas, sendo 1 ocidental e 23 orientais.

O ramo ocidental é representado pela tradição latina da Igreja Católica Apostólica Romana. É chamado “ocidental” por conta da localização geográfica de Roma e não

porque a sua presença se restrinja a países do Ocidente: na verdade, a Igreja

Católica de rito romano está presente no mundo inteiro e tem dioceses em todos os

continentes, de Portugal ao Japão, do Brasil à Rússia, de Angola à China, do

Canadá à Nova Zelândia.

As Igrejas católicas orientais também têm fiéis espalhados pelo mundo, mas, por

razões históricas, estão mais fortemente presentes nos lugares onde surgiram.

Possuem tradições culturais, teológicas e litúrgicas diferentes, bem como estrutura e

organização territorial própria, mas professam a mesma e única doutrina e fé

católica, mantendo-se, portanto, em comunhão completa entre si e com a Santa Sé.

Todas as 24 Igrejas que compõem a Igreja Católica são consideradas Igrejas “sui

juris”, ou seja, são autônomas para legislar de modo independente a respeito de

seu rito e da sua disciplina, mas não a respeito dos dogmas, que são universais e

comuns a todas elas e garantem a sua unidade de fé – formando, na essência,

uma única Igreja Católica obediente ao Santo Padre, o Papa, que a todas preside

na caridade.

A legislação de cada Igreja “sui juris” é estudada e aprovada pelo seu

respectivo sínodo, ou seja, pela reunião dos seus bispos sob a presidência do

seu arcebispo-maior ou patriarca. Por exemplo, a Igreja Melquita é presidida por

Sua Beatitude o Patriarca Gregório III; a Igreja Greco católica Ucraniana, por Sua

Beatitude o Arcebispo-Maior Dom Sviatoslav Shevchuk. O rebanho dos fiéis

católicos de rito latino é guiado diretamente pelo Papa Francisco, bispo de Roma,

que é também o líder de toda a grande comunhão da Igreja Católica em suas

diversas tradições.

É muito comum até hoje, em especial no Ocidente, confundir a Igreja Católica com o

rito latino, um erro que vem acontecendo há séculos e que, ao longo da história, já

causou sérios prejuízos aos católicos de ritos orientais. O que é preciso entender é

que todos os católicos latinos são, obviamente, católicos; mas nem todos os católicos são católicos latinos. E esta é mais uma das tantíssimas riquezas do

infinito tesouro da Igreja que é Una, Santa, Católica e Apostólica!

O Concílio Vaticano II reconheceu que todos os ritos aprovados pelas Igrejas que

formam a Igreja Católica têm a mesma dignidade e direito e devem ser preservados

e promovidos.

Aliás, por falar em rito, outra confusão frequente é feita entre o rito latino e o rito

romano: os termos costumam ser usados como sinônimos, mas, tecnicamente, além

do rito romano, também existem outros ritos latinos de certas Igrejas locais, como o

ambrosiano, e os de algumas ordens religiosas, além do rito tridentino. Mas eles não

estão vinculados a Igrejas autônomas “sui juris“, sendo diferentes ritos dentro da

mesma tradição latina da Igreja Católica. Quanto aos ritos orientais, as diferenças

são mais marcadas pela diversidade de tradições e há vínculos históricos entre os

ritos e as Igrejas “sui juris” específicas que os adotam: são eles o alexandrino ou

copta, o bizantino, o antioqueno ou siríaco ocidental, o caldeu ou siríaco oriental, o

armênio e o maronita.

Mas quais são, afinal, as Igrejas “sui juris” que formam a Igreja Católica? Eis a impressionante lista:

DE RITO OCIDENTAL

Tradição litúrgica latina ou romana:

1. Rito latino da Igreja Católica Apostólica Romana (sede em Roma)

DE RITOS ORIENTAIS

Tradição litúrgica alexandrina:

2. Igreja Católica Copta (patriarcado; sede no Cairo, Egito)

3. Igreja Católica Etíope (metropolitanato; sede em Adis Abeba, Etiópia)

4. Igreja Católica Eritreia (metropolitanato; sede em Asmara, Eritreia)

Tradição litúrgica bizantina:

5. Igreja Greco católica Melquita (patriarcado; sede em Damasco, Síria)

6. Igreja Católica Bizantina Grega (eparquia; sede em Atenas, Grécia)

7. Igreja Católica Bizantina Ítalo-Albanesa (eparquia; sede na Sicília, Itália)

8. Igreja Greco católica Ucraniana (arcebispado maior; sede em Kiev, Ucrânia)

9. Igreja Greco católica Bielorrussa (também chamada Católica Bizantina Bielorrussa)

10. Igreja Greco católica Russa (sede em Novosibirsk, Rússia)

11. Igreja Greco católica Búlgara (eparquia; sede em Sófia, Bulgária)

12. Igreja Católica Bizantina Eslovaca (metropolitanato; sede em Prešov, Eslováquia)

13. Igreja Greco católica Húngara (metropolitanato; sede em Nyíregyháza, Hungria)

14. Igreja Católica Bizantina da Croácia e Sérvia (eparquia; sedes em Križevci, Croácia,

e Ruski Krstur, Sérvia)

15. Igreja Greco católica Romena (arcebispado maior; sede em Blaj, Romênia)

16. Igreja Católica Bizantina Rutena (metropolitanato; sede em Pittsburgh, Estados

Unidos)

17. Igreja Católica Bizantina Albanesa (eparquia; sede em Fier, Albânia)

18. Igreja Greco católica Macedônica (exarcado ou exarquia; sede em Escópia,

Macedônia)

Tradição litúrgica armênia:

19. Igreja Católica Armênia (patriarcado; sede em Beirute, Líbano)

Tradição litúrgica maronita:

20. Igreja Maronita (patriarcado; sede em Bkerke, Líbano)

Tradição litúrgica antioquena ou siríaca ocidental:

21. Igreja Católica Siríaca (patriarcado; sede em Beirute, Líbano)

22. Igreja Católica Siro-Malancar (arcebispado maior; sede em Trivandrum, Índia)

 Tradição litúrgica caldeia ou siríaca oriental:

23. Igreja Católica Caldeia (patriarcado; sede em Bagdá, Iraque)

Igreja Católica Siro-Malabar (arcebispado maior; sede em Cochim, Índia)

MÓDULO III - NÚCLEO ECLESIAL – LITÚRGICO

MARIA – DOGMAS MARIANOS

"Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas, para "formar-lhe um corpo [a51]” quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27): Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida.

Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa de uma descendência que será vitoriosa sobre o Maligno e a de ser a mãe de todos os viventes. Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda expectativa humana, Deus escolheu o era tido como impotente e fraco para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel, Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria "sobressai entre (esses) humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia" (CIC §§ 488-89)

(Jo 19, 25-27) - Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua

mãe, e Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Ora, Jesus, vendo ali sua mãe,

e ao lado dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu

filho. Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a

recebeu em sua casa.

Dogmas Marianos

São quatro os dogmas marianos:

Maternidade Divina,

Perpétua Virgindade

Imaculada Conceição

Assunção ao Céu

 A MATERNIDADE DIVINA (THEOTOKOS)

A partir do século III começaram a surgir algumas heresias que negavam a

divindade de Cristo, sob influência do gnosticismo.  A Igreja se pronunciou dizendo

primeiramente que Jesus era filho de Deus por natureza e nãopor adoção. (Concilio

de Antioquia).

No Concilio de Niceia ano de 325, ainda combatendo as heresias tais como o

arianismo, que professava que Cristo nasceu do nada e de outra substancia, a Igreja

professou que Jesus é consubstancial ao Pai. Também o herético Nestório,que via

em Cristo uma pessoa humana, unida a pessoa divina, em que São Cirilo de

Alexandria vai combater no terceiro Concilio de Éfeso em 431 afirmando, que “a

humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus,

que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida.” Por isso, o Concíliode Éfeso

proclamou, em 431, “que Maria se tornou, com toda a verdade.Mãe de Deus, por ter

concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: Mãe de Deus, não porque o

Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o

corpo sagrado, dotado duma alma racional,unido ao qual, na sua pessoa, se diz que

o Verbo nasceu segundo a carne. (DS251)”

Outras heresias ainda foram levantadas sobre a divindade de Cristo e sua

humanidade,como os monofisistas, que diziam que a humanidade de Jesus, foi

suprimida por sua divindade, a que o Concílio de Calcedónia em 451, proclamou:

Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só

e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e

perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente

homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua

divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, semelhante a nós em

tudo,menos no pecado: gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a

divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem

Mãe de Deus segundo a humanidade.

Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas

naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A

diferençadas naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de

cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase.

(DS 301-302)

Ainda surgiram outras heresias, questionando, ora a divindade, ora a natureza, mas

o que vemos a Igreja definindo que Jesus é verdadeiramente Deus e

verdadeiramente homem e Maria mãe de Jesus, logo ela é Mãe de Deus.

Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e

Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as

mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a

mãe de meu Senhor? (Lc 1, 41-43)

Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e

que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o

Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa

que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus (Theotokos) (DS 251)

MARIA SEMPRE VIRGEM “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz

um filho, e o chamará Deus Conosco. (Is 7,14)

Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-

lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com

a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.

(Lc 1, 34-35)

Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi,

não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito

Santo. (Mt 1,20)

O aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a

virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem.

Com efeito, o nascimento de Cristo não diminuiu, antes consagrou a integridade

virginal da sua Mãe. (CIC §499)”

Em outubro de 649, o Concílio do Latrão chegou a esta definição de fé: “Seja

condenado quem não professar, de acordo com os santos Padres, que Maria, mãe

de Deus em sentido próprio e verdadeiro, permaneceu sempre santa, virgem e

imaculada quando, em sentido próprio e verdadeiro, concebeu do Espírito Santo,

sem o concurso do sêmen de homem, e deu à luz Aquele que é gerado por Deus

Pai antes de todos os séculos, o Verbo de Deus, permanecendo inviolada a sua

virgindade também depois do parto”.

Na encíclica Redemptoris Mater de João Paulo II “Maria consente na escolha divina

para se tornar, por obra do Espírito Santo, a Mãe do Filho de Deus. Pode – se dizer

que este consentimento que ela dá à maternidade é fruto da doação total a Deus na

virgindade. Maria aceitou a eleição para ser mãe do Filho de Deus, guiada pelo amor

esponsal, o amor que consagra totalmente a Deus uma pessoa humana. Em virtude

desse amor, Maria desejava estar sempre e em tudo ‘doada a Deus’, vivendo na

virgindade. As palavras ‘Eis a serva do Senhor’ comprovam o fato de ela desde o

princípio ter aceitado e entendido a própria maternidade como dom total de si, da

sua pessoa, a serviço dos desígnios salvíficos do Altíssimo. E toda a participação

materna na vida de Jesus Cristo, seu Filho, ela viveu-a até o fim de um modo

correspondente à sua vocação para a virgindade.”

No mistério da obra de salvação da humanidade, quis Deus encarna se no seio de

uma virgem, por obra do Espírito Santo, aquele que é Deus de Deus, Luz da Luz... e

no seu nascimento sua mãe continua intacta quanto a sua virgindade e permanece

virgem em sua vida, ou seja não tem relação conjugal com seu legitimo esposo

José, e Jesus é o único filho da família de Nazaré. Mas a maternidade espiritual de

Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: “Ela deu à luz um Filho

que Deus estabeleceu como "primogênito de muitos irmãos" (Rm 8, 29), isto é, dos

fiéis para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe. (LG 63) Os

argumentos protestantes que se baseiam nas escrituras em relação aos “irmãos de

Jesus”,são tão refutáveis, quanto ridículos no campo da exegese bíblica. Quanto à

permanência da virgindade durante o parto, Deus é Luz e a luz é partícula, e

consegue atravessar o vidro sem que o mesmo se quebre.

MARIA A IMACULADA CONCEIÇÃO Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se

ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.

O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. (Lc

1,28-30)

 

Nesta saudação do anjo, que chama Maria de “cheia de graça” encontra se a

identidade de Maria, ela é filha de seu Filho. A saudação do anjo não foi Maria...

mas cheia de graça. Ela pelos méritos de Cristo e para a aceitação livre de fé ao

anúncio do anjo de sua vocação era preciso estar totalmente sob moção da graça de

Deus.

Maria não é para Deus simplesmente uma função, mas antes de tudo uma pessoa, e

é como pessoa que é tão cara a Deus desde toda a eternidade.

É o que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo

Papa Pio IX:

Por uma graça e favor singular de Deus onipotente e em previsão dos méritos de

Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi

preservada intacta de toda a mancha do pecado original no primeiro instante da sua

conceição. (DS 670)

Maria foi redimida de uma forma mais sublime por seu Filho, ela é cheia de graça

antes mesmo da Encarnação. A santidade de Maria tem também uma característica

que a coloca acima de qualquer pessoa do Antigo e Novo Testamento. É uma graça

incontaminada. A Igreja Latina a chama de “Imaculada” e a Igreja Oriental de “Toda

Santa” (Panaghia).

Como diz Santo Ireneu, "obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação, para si e

para todo o gênero humano". Eis porque não poucos Padres afirmam, tal como ele,

nas suas pregações, que "o nó da desobediência de Eva foi desatado pela

obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade,

desatou-o a Virgem Maria com a sua fé"; e, por comparação com Eva, chamam

Maria a "Mãe dos vivos" e afirmam muitas vezes:"a morte veio por Eva, a vida veio

por Maria”.

Nas aparições de Nossa Senhora em Lourdes à Santa Bernadete no ano de 1858,

apenas quatro anos após o dogma de 1854, quando indagada pela menina de qual

era seu nome, ela respondeu: - Eu sou a Imaculada Conceição!

MARIA ASSUNTA AO CÉU 

A Assunção de Maria foi o último dogma a ser proclamado, por obra do papa Pio XII,

a 1o de novembro de 1950. Na Constituição Apostólica “MunificentissimusDeus”, o

Pontífice afirmou que, depois de terminar o curso terreno de sua vida,ela foi assunta

de corpo e alma à glória celeste.

Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa

original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e

exaltada pelo Senhor como rainha, para assim se conformar mais plenamente com o

seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte. (DS 3903)

Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal

memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato

esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte

venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado,

sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por

lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte,

quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-

se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa. Mas

Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio

inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por

esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve

de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos. Quando se definiu

solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção

de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança

de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da

assunção corpórea da virgem Maria ao céu.(Munificentissimus Deus)

O profeta Elizeu antes de Elias ser arrebatado por uma carruagem de fogo pediu

que uma porção redobrada do “espírito” de Elias recaia sobre ele conforme as

escrituras.

Tendo passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me algo antes que eu seja arrebatado de

ti:que posso eu fazer por ti? Eliseu respondeu: Seja-me concedida uma porção do

brada do teu espírito. (2Rs 2,9)

Quanto mais nós à Virgem devemos pedir que o Espírito que a fez ser cheia de

graça,nos faça a imitação de dela, cheios de Maria.

“Esteja em cada um de nós a alma de Maria para glorificar o Senhor, esteja em cada

um de nós o espírito de Maria para exultar em Deus”. (Santo Ambrósio)

O maior fruto de amor a Maria é imitá-la, pois antes de um belo quadro ela é um

belíssimo espelho.

MÓDULO IV - NÚCLEO LITÚRGICO - SACRAMENTAL

A LITURGIA

No símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e seu

“desígnio benevolente (Ef 1,9) sobre toda a criação: o Pai realiza o Mistério de sua

vontade” entregando seu Filho bem- amado e seu Espírito para a salvação do

mundo e para a glória de seu nome. Este é o mistério de Cristo, revelado e realizado

na história segundo um plano, uma “disposição” sabiamente ordenada que S. Paulo

denomina “a realização do mistério” (Ef 3,9) e que a tradição patrística chamará de

“Economia do Verbo Encarnado” ou” a Economia da Salvação”

Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual forma

prelúdio as maravilhas divinas, operada no povo do Antigo Testamento, completou-a

Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua bem-aventurada paixão,

ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério, Cristo, 'morrendo,

destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa vida'. Pois do lado de Cristo

adormecido na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja. Esta é a razão

pela qual, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal pelo qual

Cristo realizou a obra de salvação.

“Com efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, “se

exerce a obra de nossa redenção”, contribui do modo mais excelente para que os

fiéis, em sua vida, exprimam e manifestem ao outros o mistério de Cristo e a

genuína natureza da verdadeira Igreja”

A palavra “Liturgia” significa originalmente “obra pública” “serviço da parte do povo e

em favor do povo”. Na tradição cristã, ela quer significar que o povo de Deus toma

parte na “obra de Deus”. Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote,

continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa redenção.

A palavra “Liturgia” no Novo Testamento é empregada para designar não somente a

celebração do culto divino, mas também o anúncio do Evangelho e a caridade em

alto. Em todas essas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na

celebração litúrgica, a Igreja é serva à imagem do seu Senhor, o único “liturgo”,

participando de seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio (serviço da

caridade).

Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também uma ação de sua Igreja. Ela realiza e

manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão entre deus e os homens por meio

de Cristo. Empenha os fiéis na vida nova da comunidade. Implica um participação

“consciente, ativa e frutuosa” de todos.

“A liturgia não esgota toda a ação da Igreja”: ela tem de se precedida pela

evangelização, pela fé e pela conversão; pode então produzir frutos na vida dos

fiéis; a vida nova segundo o Espírito, o compromisso com a missão da Igreja e o

serviço de sua unidade. A liturgia é também a participação da oração em Cristo,

dirigida ao Pai no Espírito Santo. Nela, toda a oração cristã encontra sua fonte e seu

termo. Pela liturgia, o homem interior é enraizado e fundado no “grande amor como

o qual o Pai nos amou” (Ef 2,4) em sue Filho bem-amado. É a mesma “maravilha de

Deus” que é vivida e interiorizada por toda a oração, “em tempo de Espírito.

Na liturgia, Pai é bendito e adorado como a fonte de todas as bênçãos da criação e

da salvação, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito de

adoção filial. A obra de Cristo na liturgia é sacramental porque seu mistério de

salvação se torna presente nela mediante o poder de seu Espírito Santo; porque seu

corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento (sinale instrumento) no qual o

Espírito Santo dispensa o mistério da salvação; porque por meio de suas ações

litúrgicas a Igreja peregrina já participa, por antecipação, da liturgia celeste.

A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembleia para

encontra-se com Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembleia. Tornar

presente e atualizar a obra salvícia de Cristo por seu poder transformador e fazer

frutificar o dom da comunhão na Igreja. A Missa é uma reunião da grande família de

Deus, que agradece e louva ao Senhor, pede perdão por seus pecados e se

alimenta com o corpo de Jesus, que nos revigora e dá forças ao Espírito para

levarmos avante nossa missão de católicos.

Tamanha é a importância da liturgia que podemos dizer que se trata da mais perfeita

obra de Deus para seus filhos por intermédio do Espírito Santo. Pois dentro dela

realizamos tudo aquilo que o Senhor nos ordenou. Dentro de suas partes divididas,

a Missa, não pode ser comparada ao culto, que se realiza em outras igrejas, não

desprezando o rito dela, mas o rito realizado em nossa Igreja nos leva a uma

perfeita comunhão se seguido conforme orientado.

A Missa é divida em algumas partes, cada uma com sua devida importância:

Ritos iniciais

Canto de entrada: o canto de entrada tem o objetivo de nos ajudar a rezar. Ele

manifesta a Deus nosso louvor e adoração.

Saudação: o padre saúda a comunidade reunida anunciando a presença de Jesus.

Ato penitencial: em uma atitude de profunda humildade, pedimos perdão de nossos

pecados.

Glória: já perdoados, cantamos para louvar e agradecer.

Coleta: o padre coloca todas as intenções, e no final da oração responde com a

palavra Amém (que quer dizer “assim seja”)

Liturgia da Palavra

Primeira leitura: passagem tirada do Antigo Testamento (parte que prepara a vida

do Messias)

Salmo de resposta: é um canto ou um salmo que nos ajuda a entender melhor a

mensagem da primeira leitura.

Segunda leitura: passagem tirada do Novo Testamento, de uma das cartas dos

Apóstolos.

Aclamação do Evangelho: nessa hora, ouvimos o padre anunciar a Mensagem de

Jesus, por isso se canta o Aleluia.

Evangelho: Jesus nos fala apresentando-nos o Reino de Deus.

Homilia: o padre explica as leituras e sua relação com o Evangelho.

Profissão de Fé (Credo): momento em que professamos tudo àquilo que como

cristãos devemos acreditar.

Oração dos fiéis: a comunidade reunida pela Igreja e por todas as pessoas do

mundo.

Liturgia Eucarística

Preparação para as oferendas: momento em que oferecemos a nossa vida, ou

seja, tudo o que somos ao Senhor. Logo depois ocorre a oração sobre as oferendas,

que por intermédio do sacerdote, Jesus consagra o Pão e o Vinho.

Oração Eucarística: momento principal da Missa, onde recordamos a morte e

ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Não é apenas uma lembrança de um

fato que aconteceu, mas sim algo que acontece hoje, aqui, agora na Eucaristia.

Comunhão: momento em que vamos em direção do banquete do Senhor receber o

seu corpo e o seu Sangue.

Ritos Finais

Avisos: o padre ou algum leigo da comunidade anuncia algum evento ou informa

algo de interesse á comunidade.

Bênção: o padre dá a bênção à comunidade. Bênção significa o bem que alguém

quer para outra pessoa.

Despedida: o padre se despede da comunidade recorda que este momento não é

mera despedida apressada, mas um novo envio para realizar a missão do cristão no

mundo, isto é, anunciar ao mundo co Cristo Vivo.

CATEQUESE E LITURGIA

“A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte

donde emana toda a sua força.” Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do

povo de Deus. “A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e

sacramental, pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus

age em plenitude para a transformação dos homens.”

A catequese litúrgica tem em vista introduzir no mistério de Cristo (ela é

“mistagogia”), procedendo do visível para o invisível, do significaste para o

significado, dos “sacramentos” para os “mistérios”. Tal catequese é da competência

dos catecismos locais e regionais. O presente Catecismo, que pretende servir para a

Igreja inteira, na diversidade de seus ritos e de suas culturas, apresentará o que é

fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia como mistério e como

celebração, e em seguida os sete sacramentos e os sacramentais. (CIC§1076-77).

*A palavra ‘Mistagogia' é de origem grega e composta de duas partes: ‘mist' +

‘agogia'.  ‘Mist' vem de ‘mistério' e ‘agogia' significa ‘conduzir', ‘guiar'.  Podemos

definir a palavra como: a ação de guiar, conduzir para dentro do mistério.

AS CORES DO ANO LITÚRGICO

Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital

importância, respeitado a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é

conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz

respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros

símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:

As cores litúrgicas estão presentes na maioria dos paramentos e em algumas das

alfaias para simbolizar a diversidade dos mistérios celebrados ao longo do Ano

Litúrgico:

“As diferentes cores das vestes sagradas visam a manifestar externamente o caráter

dos mistérios celebrados e também a consciência de uma vida cristã que progride

com o desenrolar do ano litúrgico”

Atualmente só permitem-se mudanças nas cores litúrgicas nos casos em que uma

determinada cor não possui significado para um determinado povo. Porém, uma

mudança só pode ser feita se autorizado pela Santa Sé:

“No que se refere às cores litúrgicas, as conferências dos bispos podem determinar

e propor à Sé Apostólica adaptações que correspondam às necessidades e ao

caráter de cada povo” (IGMR, n. 346).

Cumpre notar que as cores litúrgicas só podem ser empregadas onde são

prescritas: nos paramentos e em algumas alfaias. Não se utilize as cores litúrgicas

nas toalhas do altar, nas velas, em vestes usadas por ministros leigos, entre

outros. Da mesma forma, não se usem paramentos de várias cores, cuja cor própria

não seja claramente identificada.

Cor roxa – O roxo é uma cor mista: une quantidades iguais de vermelho e azul. Se

o vermelho indica nossa humanidade (cor do sangue) e o azul recorda a divindade

(cor do céu), o roxo surge como a cor do equilíbrio entre divino e humano. Por isso

esta cor é ligada à penitência, pois chama à conversão, buscando transformar nossa

fragilidade humana assumindo os gestos de santidade de Cristo.

Usa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de

manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.

Cor branca – Síntese de todas as cores, o branco recorda primeiramente a luz

divina. Eis porque Cristo, em sua Transfiguração, aparece em vestes brancas

Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na

Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos.

Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.

Cor vermelha – A cor vermelha é, antes de tudo, símbolo da vida, pois é a cor do

sangue. Por isso, está associada ao sacrifício de Cristo e de todos aqueles que

morrem pela fé, é também a cor do Espírito Santo.

Usa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da

Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e

evangelistas.

Cor rosa – O simbolismo da cor rosa é análogo à cor roxa, da qual deriva: o convite

à penitência e à conversão. Porém, o rosa une o roxo ao branco, recordando que o

tempo de penitência está perto do fim e um novo tempo se aproxima: o tempo da

festa e da alegria.

Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto

Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados,

na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.

Cor preta - Enquanto ausência de cor, o preto recorda imediatamente o vazio e a

morte. Eis porque é a cor tradicionalmente usada para indicar luto, tristeza pela

morte de alguém querido. Pode-se usar na celebração de Finados (pode-se usar o

Roxo em seu lugar).

Cor verde – O verde simboliza a criação, pois é a cor das plantas em seu vigor.

Recorda a ação de Deus em favor do homem: “em verdes prados me faz repousar”.

Usa-se: Em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas,

quando a cor litúrgica é o branco.

Cor azul – (não oficial) - O azul é a cor do céu, simbolizando por isso as realidades

divinas e a santidade. Tradicionalmente é associada à Virgem Maria, Rainha do céu.

Usa-se: Em festas Marianas.

MÓDULO V - NÚCLEO LITÚRGICO - SACRAMENTAL

OS SACRAMENTOS

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO

Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o

Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem

e o Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos

importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento,

cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da

vida espiritual. ( CIC §1210).

Pelos sacramentos da iniciação cristã; Batismo, Confirmação e Eucaristia são

lançados os fundamentos de toda vida cristã. “A participação na natureza divina, que

os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa

analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. Os fiéis,

de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e,

depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito

destes sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez

mais os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade.”

(CIC § 1212)

OS SACRAMENTOS AO SERVIÇO DA COMUNHÃO ( SERVIDÃO)

O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã.

São o fundamento da vocação comum de todos os discípulos de Cristo – vocação à

santidade e à missão de evangelizar o mundo. E conferem as graças necessárias

para a vida segundo o Espírito, nesta existência de peregrinos em marcha para a

Pátria.

Dois outros sacramentos, a Ordem e o Matrimonio, são ordenados para a salvação

de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do serviço

aos outros que o fazem. Conferem uma missão particular na Igreja, e servem a

edificação do povo de Deus.

Nestes sacramentos, aqueles que já foram consagrados pelo Batismo e pela

Confirmação (1) para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem

receber consagrações particulares. Os que recebem o sacramento da Ordem

são consagrados para serem, em nome de Cristo, “com a palavra e a graça de

Deus, os pastores da igreja” (2). Por seu lado, “os esposos cristãos são fortalecidos

e como que consagrados por meio de um sacramento especial em ordem ao digno

cumprimento dos deveres do seu estado” (3). (CIC § 1533 – 1535)

OS SACRAMENTOS DE CURA (PLENITUDE)

Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora,

esta vida, nós trazemo-la “em vasos de barro”. Por enquanto, ela está ainda “oculta

com Cristo em Deus” (Cl 3, 3). Vivemos ainda na “nossa morada terrena” (1), sujeita

ao sofrimento à doença e à morte. A vida nova de filhos de Deus pode ser

enfraquecida e até perdida pelo pecado.

O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que perdoou

os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo (2) quis que a sua Igreja

continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação,

mesmo para com os seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois

sacramentos de cura: o sacramente da Penitência e o da Unção dos enfermos. (CIC

§ 1420-1421).

NÚCLEO SACRAMENTAL

No Núcleo Sacramental, estudamos os sete sacramentos da Igreja Católica, desde

sua origem até sua importância, baseando principalmente no CIC §, somos

convidados a entender o significado de cada um deles na economia da salvação.

OS SACRAMENTOS

Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o

Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem

e o Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos

importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento,

cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da

vida espiritual. ( CIC §1210).

Pelos sacramentos da iniciação cristã; Batismo, Confirmação e Eucaristia são

lançados os fundamentos de toda vida cristã. “A participação na natureza divina, que

os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa

analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. Os fiéis,

de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e,

depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito

destes sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez

mais os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade.”

(CIC § 1212)

OS SACRAMENTOS DE CURA (PLENITUDE)

Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo.

Ora, esta vida, nós trazemo-la “em vasos de barro”. Por enquanto, ela está ainda

“oculta com Cristo em Deus” (Cl 3, 3). Vivemos ainda na “nossa morada terrena” (1),

sujeita ao sofrimento à doença e à morte. A vida nova de filhos de Deus pode ser

enfraquecida e até perdida pelo pecado.

O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que

perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo (2) quis que a sua

Igreja continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação,

mesmo para com os seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois

sacramentos de cura: o sacramente da Penitência e o da Unção dos enfermos. (CIC

§ 1420-1421)

PENITÊNCIA

Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da

misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são

reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua

conversão com caridade exemplo e orações.(CIC § 1422).

“Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. Os fariseus

e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida!

Então lhes propôs a seguinte parábola: Quem de vós que, tendo cem ovelhas e

perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da

que se perdeu, até encontrá-la? E depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio

de júbilo, e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-

vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá

maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e

nove justos que não necessitam de arrependimento (Lucas 15,1-7)

Jesus ensina o caminho da conversão, que mesmo perdidos no pecado,

somos convidados a ir encontro de nosso Pai, confessando-os e reconciliando com

Deus.

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – CIC

COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?

É chamado sacramento da conversão, porque realiza sacramentalmente o

apelo de Jesus à conversão (4) e o esforço de regressar à casa do Pai (5) da qual o

pecador se afastou pelo pecado.

É chamado sacramento da Penitência, porque consagra uma caminhada

pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação por parte do

cristão pecador.

É chamado sacramento da confissão, porque o reconhecimento, a confissão

dos pecados perante o sacerdote é um elemento essencial deste sacramento. Num

sentido profundo, este sacramento é também uma “confissão”, reconhecimento e

louvor da santidade de Deus e da sua misericórdia para com o homem pecador.

E chamado sacramento do perdão, porque, pela absolvição sacramental do

sacerdote. Deus concede ao penitente “o perdão e a paz” (6).

E chamado sacramento da Reconciliação, porque dá ao pecador o amor de

Deus que reconcilia: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20). Aquele que

vive do amor misericordioso de Deus está pronto para responder ao apelo do

Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5, 24). (CIC § 1423-1424)

PORQUÊ, UM SACRAMENTO DE RECONCILIAÇÃO DEPOIS DO BATISMO?

“Vós fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados pelo nome do

Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Cor 6, 11). Precisamos de

tomar consciência da grandeza do dom de Deus que nos foi concedido nos

sacramentos da iniciação cristã, para nos apercebermos de até que ponto o pecado

é algo de inadmissível para aquele que foi revestido de Cristo (7). Mas o apóstolo

São João diz também: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós

mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1, 8). E o próprio Senhor nos ensinou

a rezar: “Perdoai-nos as nossas ofensas” (Lc 11, 4 ), relacionando o perdão mútuo

das nossas ofensas com o perdão que Deus concederá aos nossos pecados.

A conversão a Cristo, o novo nascimento do Batismo, o dom do Espírito

Santo, o corpo e sangue de Cristo recebidos em alimento, tornaram-nos “santos e

imaculados na sua presença” (Ef 1, 4), tal como a própria Igreja, esposa de Cristo, é

“santa e imaculada na sua presença” (Ef 5, 27). No entanto, a vida nova recebida na

iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a

inclinação para o pecado, a que a tradição chama concupiscência, a qual persiste

nos batizados, a fim de que prestem as suas provas no combate da vida cristã,

ajudados pela graça de Cristo (8). Este combate é o da conversão, em vista da

santidade e da vida eterna, a que o Senhor não se cansa de nos chamar (9). (CIC §

1425-1426)

A CONVERSÃO DOS BATIZADOS

Jesus chama à conversão. Tal apelo é parte essencial do anúncio do Reino:

“O tempo chegou ao seu termo, o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e

acreditai na boa-nova”(Mc 1, 15). Na pregação da Igreja, este apelo dirige-se, em

primeiro lugar, àqueles que ainda não conhecem Cristo e o seu Evangelho. Por isso,

o Batismo é o momento principal da primeira e fundamental conversão. É pela fé na

boa-nova e pelo Batismo (10) que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto

é, a remissão de todos os pecados e o dom da vida nova.

Ora, o apelo de Cristo à conversão continua a fazer-se ouvir na vida dos

cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que

“contém pecadores no seu seio” e que é, “ao mesmo tempo, santa e necessitada de

purificação, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e de

renovação” (11). Este esforço de conversão não é somente obra humana. É o

movimento do “coração contrito” (12) atraído e movido pela graça (13) para

responder ao amor misericordioso de Deus, que nos amou primeiro (14).

Testemunho disto mesmo, é a conversão de Pedro, depois de três vezes ter

negado o seu mestre. O olhar infinitamente misericordioso de Jesus provoca-lhe

lágrimas de arrependimento (15) e, depois da ressurreição do Senhor, a tríplice

afirmação do seu amor para com Ele (16). A segunda conversão tem, também, uma

dimensão comunitária. Isto aparece no apelo dirigido pelo Senhor a uma Igreja

inteira: “Arrepende-te!” (Ap 2, 5-16).

Santo Ambrósio diz, a respeito das duas conversões que, na Igreja, “existem

a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da Penitência” (CIC § 1427-

1429)

 A PENITÊNCIA INTERIOR

Como já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à conversão e à

penitência não visa primariamente as obras exteriores, “o saco e a cinza”, os jejuns

e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior: Sem ela, as

obras de penitência são estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão interior

impele à expressão dessa atitude cm sinais visíveis, gestos e obras de penitência

(18).

A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso,

uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma

aversão ao mal, com repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo

tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da

misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça. Esta conversão do coração

é acompanhada por uma dor e uma tristeza salutares, a que os Santos Padres

chamaram animi cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (compunção do

coração) (19).

O coração do homem é pesado e endurecido. É necessário que Deus dê ao

homem um coração novo (20). A conversão é, antes de mais, obra da graça de

Deus, a qual faz com que os nossos corações se voltem para Ele: “Convertei-nos,

Senhor, e seremos convertidos” (Lm5, 21). Deus é quem nos dá a coragem de

começar de novo. É ao descobrir a grandeza do amor de Deus que o nosso coração

é abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e começa a ter receio de ofender a

Deus pelo pecado e de estar separado d'Ele. O coração humano converte-se, ao

olhar para Aquele a quem os nossos pecados trespassaram (21).

“Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo e compreendamos quanto Ele

é precioso para o seu Pai, pois que, derramado para nossa salvação, proporcionou

ao mundo inteiro a graça do arrependimento” (22).

Depois da Páscoa, é o Espírito Santo que “confunde o mundo no tocante ao

pecado”, isto é, faz ver ao mundo o pecado de não ter acreditado n'Aquele que o Pai

enviou (23). Mas este mesmo Espírito, que desmascara o pecado, é o Consolador

(24) que dá ao coração do homem a graça do arrependimento e da conversão (25).

(CIC § 1430-1433)

AS MÚLTIPLAS FORMAS DA PENITÊNCIA NA VIDA CRISTÃ

A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A

Escritura e os Padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a

esmola que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. A

par da purificação radical operada pelo Batismo ou pelo martírio, citam, como meios

de obter o perdão dos pecados, os esforços realizados para se reconciliar com o

próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo (27),

a intercessão dos santos e a prática da caridade “que cobre uma multidão de

pecados” (1 Pe 4, 8).

A conversão realiza-se na vida quotidiana por gestos de reconciliação, pelo

cuidado dos pobres, o exercício e a defesa da justiça e do direito (28), pela

confissão das próprias faltas aos irmãos, pela correção fraterna, a revisão de vida, o

exame de consciência, a direção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem

de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e

seguir Jesus é o caminho mais seguro da penitência (29).

Eucaristia e Penitência. A conversão e a penitência quotidianas têm a sua

fonte e alimento na Eucaristia: porque na Eucaristia torna-se presente o sacrifício de

Cristo, que nos reconciliou com Deus: pela Eucaristia nutrem-se e fortificam-se os

que vivem a vida de Cristo: “ela é o antídoto que nos livra das faltas quotidianas e

nos preserva dos pecados mortais” (30).

A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai

Nosso, todo o ato sincero de culto ou de piedade reavivam em nós o espírito de

conversão e de penitência e contribuem para o perdão dos nossos pecados.

Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da

Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes

da prática penitencial da Igreja (31). Estes tempos são particularmente apropriados

para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de

penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna

(obras caritativas e missionárias).

O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por

Jesus na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é “o pai misericordioso” (32): o

deslumbramento duma liberdade ilusória e o abandono da casa paterna: a miséria

extrema em que o filho se encontra depois de esbanjar a fortuna: a humilhação

profunda de se ver obrigado a guardar porcos e, pior ainda, de desejar alimentar-se

das bolotas que os porcos comiam: a reflexão sobre os bens perdidos: o

arrependimento e a decisão de se declarar culpado diante do pai: o caminho do

regresso: o acolhimento generoso por parte do pai: a alegria do pai: eis alguns dos

aspectos próprios do processo de conversão. O fato novo, o anel e o banquete

festivo são símbolos desta vida nova, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do

homem que volta para Deus e para o seio da família que é a Igreja. Só o coração de

Cristo, que conhece a profundidade do amor do seu Pai, pôde revelar-nos o abismo

da sua misericórdia, de um modo tão cheio de simplicidade e beleza. (CIC § 1434-

1439)

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇÃO

O pecado é, antes de mais, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao

mesmo tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a

conversão traz consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com

a Igreja, o que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência

e Reconciliação (33). (CIC § 1440)

SÓ DEUS PERDOA O PECADO

Só Deus perdoa os pecados (34). Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si

próprio: “O Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados” (Mc 2, 10)

e exerce este poder divino: “Os teus pecados são-te perdoados!” (Mc 2, 5) (35). Mais

ainda: em virtude da sua autoridade divina, concede este poder aos homens para

que o exerçam em seu nome.

Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na

sua atividade, sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos adquiriu

pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de absolvição ao

ministério apostólico. É este que está encarregado do “ministério da reconciliação” (2

Cor 5, 18). O apóstolo é enviado “em nome de Cristo” e “é o próprio Deus” que,

através dele, exorta e suplica: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20). (CIC

§ 1441-1442)

RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA

Durante a sua vida pública. Jesus não somente perdoou os pecados, como

também manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na

comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os tinha afastado ou mesmo

excluído. Sinal bem claro disso é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa,

e mais ainda: de se sentar à mesa deles, gesto que exprime ao mesmo tempo, de

modo desconcertante, o perdão de Deus (37), e o regresso ao seio do povo de Deus

(38).

Ao tornar os Apóstolos participantes do seu próprio poder de perdoar os

pecados, o Senhor dá-lhes também autoridade para reconciliar os pecadores com a

Igreja. Esta dimensão eclesial do seu ministério exprime-se, nomeadamente, na

palavra solene de Cristo a Simão Pedro: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus;

tudo o que ligares na terra ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra

ficará desligado nos céus” (Mt 16, 19). “Este mesmo encargo de ligar e desligar,

conferido a Pedro, foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unidos à sua

cabeça (Mt 18,18; 28, 16-20)” (39).

As palavras ligar e desligar significam: aquele que vós excluirdes da vossa

comunhão, ficará também excluído da comunhão com Deus; aquele que de novo

receberdes na vossa comunhão, também Deus o acolherá na sua. A reconciliação

com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus. (CIC § 1443-1445)

O SACRAMENTO DO PERDÃO

Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores

da sua Igreja, antes de mais para aqueles que, depois do Batismo, caíram em

pecado grave e assim perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. É a

eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de se

converterem e de reencontrarem a graça da justificação. Os Padres da Igreja

apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de salvação), depois do

naufrágio que é a perda da graça” (40).

No decorrer dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu

este poder recebido do Senhor variou muito. Durante os primeiros séculos, a

reconciliação dos cristãos que tinham cometido pecados particularmente graves

depois do Batismo (por exemplo: a idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada

a uma disciplina muito rigorosa, segundo a qual os penitentes tinham de fazer

penitência pública pelos seus pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de

receberem a reconciliação. A esta “ordem dos penitentes” (que apenas dizia respeito

a certos pecados graves) só raramente se era admitido e, em certas regiões, apenas

uma vez na vida. Durante século VII, inspirados pela tradição monástica do Oriente,

os missionários irlandeses trouxeram para a Europa continental a prática “privada”

da penitência que não exigia a realização pública e prolongada de obras de

penitência, antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento processa-

se, a partir de então, dum modo mais secreto, entre o penitente e o sacerdote. Esta

nova prática previa a possibilidade da repetição e abria assim o caminho a uma

frequência regular deste sacramento. Permitia integrar, numa só celebração

sacramental, o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Nas suas

grandes linhas, é esta forma de penitência que a Igreja tem praticado até aos nossos

dias.

Através das mudanças que a disciplina e a celebração deste sacramento têm

conhecido no decorrer dos séculos, distingue-se a mesma estrutura fundamental.

Esta inclui dois elementos igualmente essenciais: por um lado, os atos do homem

que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a

satisfação: por outro, a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por

meio do bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos

pecados e fixa o modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência

com ele. Assim, o pecador á curado e restabelecido na comunhão eclesial.

A fórmula de absolvição, em uso na Igreja latina, exprime os elementos

essenciais deste sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo o perdão.

Ele realiza a reconciliação dos pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do

seu Espírito, através da oração e do ministério da Igreja:

“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho,

reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos

pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo

dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (41). (CIC §

1446-1449)

OS ATOS DO PENITENTE

“Poenitentia cogit peccatorem omnia libenter sufferre; in corde eius contritio, in

ore confessio, in opere tota humilitas vel fructifera satisfactio – A penitência leva o

pecador a tudo suportar de bom grado: no coração, a contrição; na boca, a

confissão; nas obras, toda a humildade e frutuosa satisfação” (42). (CIC § 1450)

A CONTRIÇÃO

Entre os atos do penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar. Ela é “uma dor

da alma e uma detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar

no futuro” (43).

Quando procedente do amor de Deus, amado sobre todas as coisas, a

contrição é dita “perfeita” (contrição de caridade). Uma tal contrição perdoa as faltas

veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados mortais, se incluir o propósito firme

de recorrer, logo que possível, à confissão sacramental (44).

A contrição dita “imperfeita” (ou “atrição”) é, também ela, um dom de Deus,

um impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração da fealdade do pecado ou do

temor da condenação eterna e das outras penas de que o pecador está ameaçado

(contrição por temor). Um tal abalo da consciência pode dar início a uma evolução

interior, que será levada a bom termo sob a ação da graça, pela absolvição

sacramental. No entanto, por si mesma, a contrição imperfeita não obtém o perdão

dos pecados graves, mas dispõe para obtê-lo no sacramento da Penitência (45).

É conveniente que a recepção deste sacramento seja preparada por

um exame de consciência, feito à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados

para este efeito devem procurar-se no Decálogo e na catequese moral dos

evangelhos e das cartas dos Apóstolos: sermão da montanha e ensinamentos

apostólicos (46). (CIC § 1451 – 1454)

A CONFISSÃO DOS PECADOS

A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo de um ponto de vista

simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliação com os outros.

Pela confissão, o homem encara de frente os pecados de que se tornou culpado;

assume a sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a Deus e à

comunhão da Igreja, para tornar possível um futuro diferente.

A confissão ao sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da

Penitência: “Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais

de que têm consciência, após se terem seriamente examinado, mesmo que tais

pecados sejam secretíssimos e tenham sido cometidos apenas contra os dois

últimos preceitos do Decálogo (47); porque, por vezes, estes pecados ferem mais

gravemente a alma e são mais perigosos que os cometidos à vista de todos” (48):

“Quando os fiéis se esforçam por confessar todos os pecados de que se

lembram, não se pode duvidar de que os apresentam todos ao perdão da

misericórdia divina. Os que procedem de modo diverso, e conscientemente ocultam

alguns, esses não apresentam à bondade divina nada que ela possa perdoar por

intermédio do sacerdote. Porque, "se o doente tem vergonha de descobrir a sua

ferida ao médico, a medicina não pode curar o que ignora"“ (49).

Segundo o mandamento da Igreja, “todo o fiel que tenha atingido a idade da

discrição, está obrigado a confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma

vez ao ano” (50). Aquele que tem consciência de haver cometido um pecado mortal,

não deve receber a sagrada Comunhão, mesmo que tenha uma grande contrição,

sem ter previamente recebido a absolvição sacramental (51); a não ser que tenha

um motivo grave para comungar e não lhe seja possível encontrar-se com um

confessor (52). As crianças devem aceder ao sacramento da Penitência antes de

receberem pela primeira vez a Sagrada Comunhão (53).

Sem ser estritamente necessária, a confissão das faltas quotidianas (pecados

veniais) é contudo vivamente recomendada pela Igreja. (54) Com efeito, a confissão

regular dos nossos pecados veniais ajuda-nos a formar a nossa consciência, a lutar

contra as más inclinações, a deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida do

Espírito. Recebendo com maior frequência, neste sacramento, o dom da

misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos como Ele (55):

“Aquele que confessa os seus pecados e os acusa, já está de acordo com

Deus. Deus acusa os teus pecados; se tu também os acusas, juntas-te a Deus. O

homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades distintas. Quando ouves

falar do homem, foi Deus que o criou: quando ouves falar do pecador, foi o próprio

homem quem o fez. Destrói o que fizeste, para que Deus salve o que fez. [...]

Quando começas a detestar o que fizeste, é então que começam as tuas boas

obras, porque acusas as tuas obras más. O princípio das obras boas é a confissão

das más. Praticaste a verdade e vens à luz” (56). (CIC § 1455-1458)

A SATISFAÇÃO

Muitos pecados prejudicam o próximo. Há que fazer o possível por reparar

esse dano (por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputação

daquele que foi caluniado, indemnizar por ferimentos). A simples justiça o exige.

Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, assim como as suas

relações com Deus e com o próximo. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia

todas as desordens causadas pelo pecado (57). Aliviado do pecado, o pecador deve

ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma coisa

para reparar os seus pecados: “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” os seus

pecados. A esta satisfação também se chama “penitência”.

A penitência que o confessor impõe deve ter em conta a situação pessoal do

penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve corresponder, quanto possível, à

gravidade e natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, num

donativo, nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações

voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de

levar. Tais penitências ajudam-nos a configurar-nos com Cristo, que, por Si só,

expiou os nossos pecados (58) uma vez por todas. Tais penitências fazem que nos

tornemos coerdeiros de Cristo Ressuscitado, “uma vez que também sofremos com

Ele” (Rm 8, 17) (59):

“Mas esta satisfação, que realizamos pelos nossos pecados, não é possível

senão por Jesus Cristo: nós que, por nós próprios, nada podemos, com a ajuda

"d'Aquele que nos conforta, podemos tudo" (60). Assim, o homem não tem nada de

que se gloriar. Toda a nossa “glória” está em Cristo [...] em quem nós satisfazemos,

"produzindo dignos frutos de penitência" (61), os quais vão haurir n'Ele toda a sua

força, por Ele são oferecidos ao Pai, e graças a Ele são aceites pelo Pai” (62). (CIC

§ 1459-1460)

O MINISTRO DESTE SACRAMENTO

Uma vez que Cristo confiou aos Apóstolos o ministério da reconciliação (63)

os bispos, seus sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos bispos, continuam

a exercer tal ministério. Com efeito, os bispos e os presbíteros é que têm, em virtude

do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados, “em nome do Pai e

do Filho e do Espírito Santo”.

O perdão dos pecados reconcilia com Deus mas também com a Igreja. O

bispo, chefe visível da Igreja particular, é justamente considerado, desde os tempos

antigos, como o principal detentor do poder e ministério da reconciliação: é o

moderador da disciplina penitencial (64). Os presbíteros, seus colaboradores,

exercem-no na medida em que receberam o respectivo encargo, quer do seu bispo

(ou dum superior religioso), quer do Papa, através do direito da Igreja (65).

Certos pecados particularmente graves são punidos pela excomunhão, a

pena eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos sacramentos e o

exercício de certos atos eclesiásticos (66) e cuja absolvição, por conseguinte, só

pode ser dada, segundo o direito da Igreja, pelo Papa, pelo bispo do lugar ou por

sacerdotes por eles autorizados (67). Em caso de perigo de morte, qualquer

sacerdote, mesmo que careça da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de

qualquer pecado e de toda a excomunhão (68).

Os sacerdotes devem exortar os fiéis a aproximarem-se do sacramento da

Penitência; e devem mostrar-se disponíveis para a celebração deste sacramento,

sempre que os cristãos o peçam de modo razoável (69).

Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o ministério do

bom Pastor que procura a ovelha perdida: do bom Samaritano que cura as feridas;

do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu regresso; do justo juiz que

não faz acepção de pessoas e cujo juízo é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso.

Em resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus para

com o pecador.

O confessor não é dono, mas servidor do perdão de Deus. O ministro deste

sacramento deve unir-se à intenção e à caridade de Cristo (70). Deve ter um

conhecimento comprovado do comportamento cristão, experiência das coisas

humanas, respeito e delicadeza para com aquele que caiu; deve amar a verdade,

ser fiel ao Magistério da Igreja, e conduzir o penitente com paciência para a cura e a

maturidade plena. Deve rezar e fazer penitência por ele, confiando-o à misericórdia

do Senhor.

Dada a delicadeza e a grandeza deste ministério e o respeito devido às

pessoas, a igreja declara que todo o sacerdote que ouve confissões está obrigado a

guardar segredo absoluto sobre os pecados que os seus penitentes lhe

confessaram, sob penas severíssimas (71). Tão pouco pode servir-se dos

conhecimentos que a confissão lhe proporciona sobre a vida dos penitentes. Este

segredo, que não admite exceções, é chamado “sigilo sacramental”, porque aquilo

que o penitente manifestou ao sacerdote fica “selado” pelo sacramento. (CIC §

1461-1467)

OS EFEITOS DESTE SACRAMENTO

“Toda a eficácia da Penitência consiste em nos restituir à graça de Deus e em

unir-nos a Ele numa amizade perfeita” (72). O fim e o efeito deste sacramento são,

pois, a reconciliação com Deus. Naqueles que recebem o sacramento da Penitência

com coração contrito e disposição religiosa, seguem –se -lhe “a paz e a

tranquilidade da consciência, acompanhadas duma grande consolação espiritual”

(73). Com efeito, o sacramento da reconciliação com Deus leva a uma verdadeira

“ressurreição espiritual”, à restituição da dignidade e dos bens próprios da vida dos

filhos de Deus, o mais precioso dos quais é a amizade do mesmo Deus (74).

Este sacramento reconcilia-nos com a Igreja. O pecado abala ou rompe a

comunhão fraterna. O sacramento da Penitência repara-a ou restaura-a. Nesse

sentido, não se limita apenas a curar aquele que é restabelecido na comunhão

eclesial, mas também exerce um efeito vivificante sobre a vida da Igreja que sofreu

com o pecado de um dos seus membros (75). Restabelecido ou confirmado na

comunhão dos santos, o pecador é fortalecido pela permuta de bens espirituais

entre todos os membros vivos do corpo de Cristo, quer vivam ainda em estado de

peregrinos, quer já tenham atingido a pátria celeste (76):

“É de lembrar que a reconciliação com Deus tem como consequência, por

assim dizer, outras reconciliações, que trarão remédio a outras rupturas produzidas

pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no mais profundo

do seu ser, onde recupera a própria verdade interior: reconcilia-se com os irmãos,

que de algum modo ofendeu e magoou: reconcilia-se com a Igreja; reconcilia-se com

toda a criação” (77).

Neste sacramento, o pecador, remetendo-se ao juízo misericordioso de Deus,

de certo modo antecipa o julgamento a que será submetido no fim desta vida

terrena. É aqui e agora, nesta vida, que nos é oferecida a opção entre a vida e a

morte. Só pelo caminho da conversão é que podemos entrar no Reino de onde o

pecado grave nos exclui? (78). Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o

pecador passa da morte à vida “e não é sujeito a julgamento” (Jo 5, 24). (CIC §

1468-1470)

AS INDULGÊNCIAS

A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas

aos efeitos do sacramento da Penitência.

O QUE É A INDULGÊNCIA?

“A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos

pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém

em certas e determinadas condições, pela ação da Igreja, a qual, enquanto

dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das

satisfações de Cristo e dos santos” (79). “A indulgência é parcial ou plenária,

consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena temporal devida ao pecado”

(80). “O fiel pode lucrar para si mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos

defuntos” (81). (CIC § 1471)

AS PENAS DO PECADO

Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, deve ter-se presente

que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da

comunhão com Deus e, portanto, torna-nos incapazes da vida eterna, cuja privação

se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo o pecado, mesmo venial,

traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual precisa de ser purificado,

quer nesta vida quer depois da morte, no estado que se chama Purgatório. Esta

purificação liberta do que se chama “pena temporal” do pecado. Estas duas penas

não devem ser consideradas como uma espécie de vingança, infligida por Deus, do

exterior, mas como algo decorrente da própria natureza do pecado. Uma conversão

procedente duma caridade fervorosa pode chegar à total purificação do pecador, de

modo que nenhuma pena subsista (82).

O perdão do pecado e o restabelecimento da comunhão com Deus trazem

consigo a abolição das penas eternas do pecado. Mas subsistem as penas

temporais. O cristão deve esforçar-se por aceitar, como uma graça, estas penas

temporais do pecado, suportando pacientemente os sofrimentos e as provações de

toda a espécie e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte: deve aplicar-

se, através de obras de misericórdia e de caridade, bem como pela oração e pelas

diferentes práticas da penitência, a despojar-se completamente do “homem velho” e

a revestir-se do “homem novo” (83). (CIC § 1472-1473)

NA COMUNHÃO DOS SANTOS

O cristão que procura purificar-se do seu pecado e santificar-se com a ajuda

da graça de Deus, não se encontra só. “A vida de cada um dos filhos de Deus está

ligada de modo admirável, em Cristo e por Cristo, à vida de todos os outros irmãos

cristãos, na unidade sobrenatural do corpo Místico de Cristo, como que numa

pessoa mística” (84).

Na comunhão dos santos, “existe, portanto, entre os fiéis – os que já estão na

pátria celeste, os que foram admitidos à expiação do Purgatório, e os que vivem

ainda peregrinos na terra – um constante laço de amor e uma abundante permuta de

todos os bens” (85). Nesta admirável permuta, a santidade de um aproveita aos

demais, muito para além do dano que o pecado de um tenha podido causar aos

outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador contrito ser

purificado mais depressa e mais eficazmente das penas do pecado.

A estes bens espirituais da comunhão dos santos, também lhes chamamos

o tesouro da Igreja, ”que não é um somatório de bens, como quando se trata das

riquezas materiais acumuladas no decurso dos séculos, mas sim o preço infinito e

inesgotável que têm junto de Deus as expiações e méritos de Cristo, nosso Senhor,

oferecidos para que a humanidade seja liberta do pecado e chegue à comunhão

com o Pai. É em Cristo, nosso Redentor, que se encontram em abundância as

satisfações e os méritos da sua redenção (86)”.

“Pertencem igualmente a este tesouro o preço verdadeiramente imenso,

incomensurável e sempre novo que têm junto de Deus as orações e boas obras da

bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos, que se santificaram pela graça

de Cristo, seguindo as suas pegadas, e que realizaram uma obra agradável ao Pai;

de modo que, trabalhando pela sua própria salvação, igualmente cooperaram na

salvação dos seus irmãos na unidade do corpo Místico” (87). (1474-1477)

OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA

A indulgência obtém-se mediante a Igreja que, em virtude do poder de ligar e

desligar que lhe foi concedido por Jesus Cristo, intervém a favor dum cristão e lhe

abre o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos, para obter do Pai das

misericórdias o perdão das penas temporais devidas pelos seus pecados. É assim

que a Igreja não quer somente vir em ajuda deste cristão, mas também incitá-lo a

obras de piedade, penitência e caridade” (88).

Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são membros

da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos,

obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas temporais

devidas pelos seus pecados. (CIC § 1478-1479)

A CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

Tal como todos os sacramentos, a Penitência é uma ação litúrgica.

Ordinariamente, os elementos da sua celebração são os seguintes: saudação e

bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e

suscitar a contrição e exortação ao arrependimento: a confissão que reconhece os

pecados e os manifesta ao sacerdote; a imposição e aceitação da penitência; a

absolvição do sacerdote; o louvor de ação de graças e a despedida com a bênção

do sacerdote.

A liturgia bizantina tem várias fórmulas de absolvição, em forma deprecativa,

que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: “Deus, que pelo profeta Natan

perdoou a David, quando ele confessou os seus próprios pecados, a Pedro depois

de ele ter chorado amargamente, à pecadora depois de ela ter derramado lágrimas a

seus pés, ao publicano e ao pródigo, este mesmo Deus vos perdoe, por intermédio

de mim pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer, sem vos condenar

no seu temível tribunal: Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém” (89).

O sacramento da Penitência pode também ter lugar no âmbito

duma celebração comunitária, na qual se faz uma preparação conjunta para a

confissão e conjuntamente se dão graças pelo perdão recebido. Neste caso, a

confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são inseridas numa liturgia

da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de consciência feito em comum,

pedido comunitário de perdão, oração do Pai Nosso e ação de graças em comum.

Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da

penitência. No entanto, seja qual for a forma da sua celebração, o sacramento da

Penitência é sempre, por sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial

e pública (90).

Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer à celebração comunitária

da reconciliação, com confissão geral e absolvição geral. Tal necessidade grave

pode ocorrer quando há perigo iminente de morte, sem que o sacerdote ou os

sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A

necessidade grave pode existir também quando, tendo em conta o número dos

penitentes, não há confessores bastantes para ouvir devidamente as confissões

individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes, sem culpa sua, se

vejam privados, durante muito tempo, da graça sacramental ou da sagrada

Comunhão. Neste caso, para a validade da absolvição, os fiéis devem ter o

propósito de confessar individualmente os seus pecados graves em tempo oportuno

(91). Pertence ao bispo diocesano julgar se as condições requeridas para a

absolvição geral existem (92). Uma grande afluência de fiéis, por ocasião de

grandes festas ou de peregrinações, não constitui um desses casos de grave

necessidade (93).

“A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo

ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com

a Igreja: somente a impossibilidade física ou moral o escusa desta forma de

confissão” (94). Há razões profundas para que assim seja. Cristo age em cada um

dos sacramentos. Ele dirige-Se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Meu filho,

os teus pecados são-te perdoados” (Mc2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre

cada um dos doentes com necessidade d'Ele (95) “ para os curar: alivia-os e

reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais

significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja. (CIC § 1480-1484)

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO – CDC

Cânon 959

No sacramento da penitência, os fiéis que confessem os seus pecados ao

ministro legítimo, estando arrependidos de os terem cometido, e tendo também o

propósito de se emendarem, mediante a absolvição dada pelo mesmo ministro,

alcançam de Deus o perdão dos pecados cometidos depois do batismo, ao mesmo

tempo que se reconciliam com a Igreja que vulneraram ao pecar.

A CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO

Cânon 960

A confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo

ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com

a Igreja; somente a impossibilidade física ou moral o escusa desta forma de

confissão, podendo neste caso obter-se a reconciliação também por outros meios.

Cânon 961

§ l. A absolvição simultânea a vários penitentes sem confissão individual

prévia não pode dar-se de modo geral, a não ser que:

1.° esteja iminente o perigo de morte, e não haja tempo para um ou mais

sacerdotes poderem ouvir a confissão de cada um dos penitentes;

2.° haja necessidade grave, isto é, quando, dado o número de penitentes, não

houver sacerdotes suficientes para, dentro de tempo razoável, ouvirem devidamente

as confissões de cada um, de tal modo que os penitentes, sem culpa própria,

fossem obrigados a permanecer durante muito tempo privados da graça sacramental

ou da sagrada comunhão; não se considera existir necessidade suficiente quando

não possam estar presentes confessores bastantes somente por motivo de grande

afluência de penitentes, como pode suceder nalguma grande festividade ou

peregrinação.

§ 2. Emitir juízo acerca da existência das condições requeridas no § 1, n. 2,

compete ao Bispo diocesano, o qual, atendendo aos critérios fixados por acordo com

os restantes membros da Conferência episcopal, pode determinar os casos em que

se verifique tal necessidade.

Cânon 962

§ 1. Para o fiel poder usufruir validamente da absolvição concedida

simultaneamente a várias pessoas, requer-se não só que esteja devidamente

disposto, mas que simultaneamente proponha confessar-se individualmente, no

devido tempo, dos pecados graves que no momento não pôde confessar.

§ 2. Instruam-se os fiéis, quanto possível, mesmo por ocasião de receberem a

absolvição geral, acerca dos requisitos mencionados no § 1, e antes da absolvição

geral, ainda em caso de perigo de morte, se houver tempo, exortem-se a que pro-

cure cada um fazer o ato de contrição.

Cânon 963

Mantendo-se a obrigação referida no Cânon 989, aquele a quem forem

perdoados pecados graves em absolvição geral, aproxime-se quanto antes,

oferecendo-se a ocasião, da confissão individual, antes de receber nova absolvição

geral, a não ser que surja causa justa.

Cânon 964

§ 1. O lugar próprio para ouvir as confissões sacramentais é a igreja ou o

oratório.

§ 2. No que respeita ao confessionário, a Conferência episcopal estabeleça

normas, com a reserva porém de que existam sempre em lugar patente confessio-

nários, munidos de uma grade fixa entre o penitente e o confessor, e que possam

utilizar livremente os fiéis que assim o desejem.

§ 3. Não se ouçam confissões fora dos confessionários, a não ser por causa

justa.

O MINISTRO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

Cânon 965

O ministro do sacramento da penitência é somente o sacerdote.

Cânon 966

§ 1. Para a absolvição válida dos pecados, requer-se que o ministro, além do

poder de ordem, possua a faculdade de o exercer sobre os fiéis a quem concede a

absolvição.

§ 2. Esta faculdade pode ser dada ao sacerdote, quer pelo próprio direito,

quer por concessão da autoridade competente nos termos do Cânon 969.

Cânon 967

§ 1. Além do Romano Pontífice, pelo próprio direito os Cardeais têm a

faculdade de ouvir as confissões dos fiéis em toda a parte; o mesmo se diga dos

Bispos, que também dela usam licitamente em toda a parte, a não ser que o Bispo

diocesano, nalgum caso particular, se tenha oposto.

§ 2. Quem possui a faculdade de ouvir habitualmente confissões, quer em

razão do ofício, quer por concessão do Ordinário do lugar da incardinação ou do

lugar em que tem o domicílio, pode exercer essa mesma faculdade em qualquer

parte, a não ser que o Ordinário do lugar, nalgum caso particular, se tenha oposto,

ressalvadas as prescrições do Cânon 974, §§ 2 e 3.

§ 3. Pelo próprio direito, têm a mesma faculdade, relativamente aos membros

do instituto ou da sociedade, e às pessoas que dia e noite residem na casa das mes-

mas instituições, aqueles que, em razão do ofício ou por concessão do Superior

competente, nos termos dos cânones. 968, § 2 e 969, § 2, receberam a faculdade de

ouvir confissões; os quais dela usam também licitamente, a não ser que algum Su-

perior maior, relativamente aos próprios súbditos, nalgum caso particular, se tenha

oposto.

Cânon 968

§ 1. Em razão do ofício, para o respectivo território têm a faculdade de ouvir

confissões o Ordinário do lugar, o cônego penitenciário, e ainda o pároco e os outros

que estão em lugar do pároco.

§ 2. Em razão do ofício, têm faculdade de ouvir as confissões dos seus

súbditos e das outras pessoas que dia e noite habitam na casa, os Superiores do

instituto religioso ou da sociedade de vida apostólica, se forem clericais e de direito

pontifício, que desfrutem, segundo as normas das Constituições, do poder executivo

de governo, sem prejuízo do prescrito no Cânon 630, § 4.

Cânon 969

§ l. Só o Ordinário do lugar é competente para conceder a quaisquer

presbíteros a faculdade de ouvir confissões de quaisquer fiéis; os presbíteros que

sejam membros dos institutos religiosos, não usem tal faculdade sem licença, ao

menos presumida, do seu Superior.

§ 2. O Superior do instituto religioso ou da sociedade de vida apostólica, a

que se refere o Cânon 968, § 2, é competente para conceder a quaisquer

presbíteros a faculdade de ouvir as confissões dos seus súbditos e das pessoas que

habitam na casa dia e noite.

Cânon 970

Não se conceda a faculdade de ouvir confissões a não ser a presbíteros que

tenham sido considerados idôneos mediante exame, ou de cuja idoneidade conste

por outra via.

Cânon 971

O Ordinário do lugar não conceda a faculdade de ouvir confissões de forma

habitual a um presbítero, posto que tenha domicílio ou quase domicílio no seu

território, sem primeiro, na medida do possível, ouvir o Ordinário do mesmo

presbítero.

Cânon 972

A faculdade de ouvir confissões pode ser concedida pela autoridade

competente, referida no Cânon 969, por tempo indeterminado ou determinado.

Cânon 973

A faculdade de ouvir confissões de forma habitual conceda-se por escrito.

Cânon 974

§ 1. O Ordinário do lugar e bem assim o Superior competente não revoguem

a faculdade concedida de ouvir confissões de forma habitual, a não ser por causa

grave.

§ 2. Revogada a faculdade de ouvir confissões pelo Ordinário do lugar que a

concedeu, referido no Cânon 967, § 2, o presbítero perde em toda a parte a mesma

faculdade; revogada a mesma faculdade por outro Ordinário do lugar, perde-a

apenas no território de quem a revogou.

§ 3. O Ordinário do lugar, que tiver revogado a faculdade de ouvir confissões

a determinado presbítero, informe do fato o Ordinário próprio do presbítero em razão

da incardinação ou, se tratar de um membro dum instituto religioso, o Superior

competente do mesmo.

§ 4. Revogada a faculdade de ouvir confissões pelo próprio Superior maior, o

presbítero perde a faculdade de ouvir confissões em toda a parte relativamente aos

membros do instituto; revogada porém a mesma faculdade por outro Superior

competente, perde-a relativamente apenas aos súbditos deste na respectiva cir-

cunscrição.

Cânon 975

A faculdade referida no Cânon 967, § 2, cessa não só por revogação, mas

ainda por perda do ofício, por excardinação e por perda do domicílio.

Cânon 976

Qualquer sacerdote, ainda que careça da faculdade de ouvir confissões,

absolve válida e licitamente quaisquer penitentes que se encontrem em perigo de

morte, de todas as censuras e pecados, ainda que esteja presente um sacerdote

aprovado.

Cânon 977

A absolvição do cúmplice em pecado contra o sexto preceito do Decálogo é

inválida, exceto em perigo de morte.

Cânon 978

§ l. Ao ouvir confissões lembre-se o sacerdote de que exerce as funções

simultaneamente de juiz e de médico, e de que foi constituído por Deus ministro ao

mesmo tempo da justiça e da misericórdia divina, a fim de procurar a honra divina e

a salvação das almas.

§ 2. O confessor, uma vez que é ministro da Igreja, na administração do

sacramento, atenha-se com fidelidade à doutrina do Magistério e às normas dadas

pela autoridade competente.

Cânon 979

O sacerdote, ao fazer perguntas, proceda com prudência e discrição,

atendendo à condição e à idade do penitente, e abstenha-se de inquirir o nome do

cúmplice.

Cânon 980

O confessor, se não duvidar da disposição do penitente e este pedir a absolvição,

não lha negue nem a difira.

Cânon 981

O confessor imponha ao penitente penitências salutares e convenientes, em

conformidade com a qualidade e o número dos pecados, tendo em conta a condição

do penitente; este tem a obrigação de as cumprir por si mesmo.

Cânon 982

Quem se confessar de ter denunciado falsamente à autoridade eclesiástica

um confessor inocente do crime de solicitação ao pecado contra o sexto preceito do

Decálogo, não seja absolvido antes de ter retratado formalmente a falsa denúncia e

de estar preparado para reparar os danos, se os houver.

Cânon 983

§ 1. O sigilo sacramental é inviolável; pelo que o confessor não pode

denunciar o penitente nem por palavras nem por qualquer outro modo nem por

causa alguma.

§ 2. Estão também obrigados a guardar segredo o intérprete, se o houver, e

todos os outros a quem tiver chegado, por qualquer modo, o conhecimento dos

pecados manifestados em confissão.

Cânon 984

§ 1. É absolutamente proibido ao confessor o uso, com gravame do penitente,

dos conhecimentos adquiridos na confissão, ainda que sem perigo de revelação.

§ 2. Quem for constituído em autoridade, de modo nenhum pode servir-se,

para o governo externo, do conhecimento adquirido em qualquer ocasião dos

pecados ouvidos em confissão.

Cânon 985

O mestre de noviços e o seu auxiliar, o reitor do seminário ou de outro

instituto de educação não ouçam as confissões sacramentais dos seus alunos que

habitam na mesma casa, a não ser que eles, em casos particulares, espontane-

amente o peçam.

Cânon 986

§ 1. Todo aquele que, em razão do ofício, tem cura de almas, está obrigado a

providenciar para que sejam ouvidas as confissões dos fiéis que lhe estão confiados

e que de modo razoável peçam para se confessar, a fim de que aos mesmos se

ofereça a oportunidade de se confessarem individualmente em dias e horas que lhes

sejam convenientes.

§ 2. Em caso de necessidade urgente, qualquer confessor tem obrigação de

ouvir as confissões dos fiéis; e em perigo de morte, qualquer sacerdote.

O PENITENTE

Cânon 987

Para alcançar o remédio salutar do sacramento, o fiel deve estar de tal

maneira disposto que, arrependido dos pecados cometidos e com o propósito de se

emendar, se converta a Deus.

Cânon 988

§ 1. O fiel tem obrigação de confessar, na sua espécie e número, todos os

pecados graves, de que se lembrar após diligente exame de consciência, cometidos

depois do batismo e ainda não diretamente perdoados pelo poder das chaves da

Igreja nem acusados em confissão individual.

§ 2. Recomenda-se aos fiéis que confessem também os pecados veniais.

Cânon 989

Todo o fiel que tenha atingido a idade da discrição, está obrigado a confessar

fielmente os pecados graves, ao menos uma vez ao ano.

Cânon 990

Não se proíbe que alguém se confesse por meio de intérprete, desde que se

evitem os abusos e os escândalos e sem prejuízo do prescrito no Cânon 983, § 2.

Cânon 991

É lícito a qualquer fiel confessar os pecados ao confessor legitimamente

aprovado, que preferir, ainda que seja de outro rito.

O PECADO SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA

A MISERICÓRDIA E O PECADO

O Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da misericórdia de Deus para

com os pecadores (86). O anjo assim o disse a José: “Por-lhe-ás o nome de Jesus,

porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1, 21), o mesmo se diga da

Eucaristia, sacramento da Redenção: “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança,

que vai ser derramado por todos para a remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

“Deus, que nos criou sem nós, não quis salvar-nos sem nós” (87). O

acolhimento da sua misericórdia exige de nós a confissão das nossas faltas. “Se

dizemos que não temos pecado, enganamo-nos, e a verdade não está em nós. Se

confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados

e para nos purificar de toda a maldade” (1 Jo 1, 8-9).

Como afirma São Paulo: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”

(Rm 5, 20). Mas para realizar a sua obra, a graça tem de pôr a descoberto o pecado,

para converter o nosso coração e nos obter “a justiça para a vida eterna, por Jesus

Cristo, nosso Senhor” (Rm5, 21). Como um médico que examina a chaga antes de

lhe aplicar o penso, Deus, pela sua Palavra e pelo seu Espírito, projeta uma luz viva

sobre o pecado:

“A conversão requer o reconhecimento do pecado. Contém em si mesma o

juízo interior da consciência. Pode ver-se nela a prova da ação do Espírito de

verdade no mais íntimo do homem. Torna-se, ao mesmo tempo, o princípio dum

novo dom da graça e do amor: "Recebei o Espírito Santo". Assim, neste "convencer

quanto ao pecado". descobrimos um duplo dom: o dom da verdade da consciência e

o dom da certeza da redenção. O Espírito da verdade é o Consolador” (88). (CIC §

1846- 1848)

DEFINIÇÃO DE PECADO

O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a reta consciência. É uma

falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa

dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e atenta contra a

solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo

contrários à Lei eterna” (89).

O pecado é uma ofensa a Deus: “Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o

mal diante dos vossos olhos” (Sl 51, 6). O pecado é contrário ao amor que Deus nos

tem e afasta d'Ele os nossos corações. É, como o primeiro pecado, uma

desobediência, uma revolta contra Deus, pela vontade de os homens se tornarem

“como deuses”, conhecendo e determinando o que é bem e o que é mal (Gn 3,

5). Assim, o pecado é “o amor de si próprio levado até ao desprezo de Deus” (90).

Por esta exaltação orgulhosa de si mesmo, o pecado é diametralmente oposto à

obediência de Jesus, que realizou a salvação (91).

É precisamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo o vai vencer, que

o pecado manifesta melhor a sua violência e a sua multiplicidade: incredulidade,

ódio assassino, rejeição e escárnio por parte dos chefes e do povo, cobardia de

Pilatos e crueldade dos soldados, traição de Judas tão dura para Jesus, negação de

Pedro e abandono dos discípulos. No entanto, mesmo na hora das trevas e do

príncipe deste mundo (92), o sacrifício de Cristo torna-se secretamente a fonte de

onde brotará, inesgotável, o perdão dos nossos pecados. (CIC § 1849-1851)

A DIVERSIDADE DOS PECADOS

É grande a variedade dos pecados. A Sagrada Escritura fornece-nos várias

listas. A Epístola aos Gálatas opõe as obras da carne aos frutos do Espírito: “As

obras da natureza decaída ("carne") são claras: imoralidade, impureza, libertinagem,

idolatria, feitiçaria, inimizades, discórdias, ciúmes, fúrias, rivalidades, dissensões,

divisões, invejas, excessos de bebida e de comida e coisas semelhantes a estas.

Sobre elas vos previno, como já vos tinha prevenido: os que praticam ações como

estas, não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5, 19-21) (93).

Os pecados podem distinguir-se segundo o seu objeto, como todo o ato

humano; ou segundo as virtudes a que se opõem; por excesso ou por defeito; ou

segundo os mandamentos que violam. Também podem agrupar-se segundo outros

critérios: os que dizem respeito a Deus, ao próximo, à própria pessoa do pecador;

pecados espirituais e carnais: ou, ainda, pecados por pensamentos, palavras, obras

ou omissões. A raiz do pecado está no coração do homem, na sua vontade livre,

conforme o ensinamento do Senhor: “do coração é que provêm pensamentos

malévolos, assassínios, adultérios, fornicações, roubos, falsos testemunhos,

maledicências – coisas que tornam o homem impuro” (Mt 15, 19). Mas é também no

coração que reside a caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado

ofende. (CIC § 1852-1853).

A GRAVIDADE DO PECADO: PECADO MORTAL E PECADO VENIAL

Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A distinção entre

pecado mortal e pecado venial, já perceptível na Escritura (94), impôs-se na

Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a.

O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração

grave à Lei de Deus. Desvia o homem de Deus, que é o seu último fim, a sua bem-

aventurança, preferindo-Lhe um bem inferior. O pecado venial deixa subsistir a

caridade, embora ofendendo-a e ferindo-a.

O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, torna

necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do

coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da Reconciliação:

“Quando [...] a vontade se deixa atrair por uma coisa de si contrária à

caridade, pela qual somos ordenados para o nosso fim último, o pecado, pelo seu

próprio objeto, deve considerar-se mortal [...], quer seja contra o amor de Deus

(como a blasfêmia, o perjúrio, etc.), quer contra o amor do próximo (como o

homicídio, o adultério, etc.) [...] Em contrapartida, quando a vontade do pecador por

vezes se deixa levar para uma coisa que em si é desordenada, não sendo todavia

contrária ao amor de Deus e do próximo (como uma palavra ociosa, um risco

supérfluo, etc.), tais pecados são veniais” (95).

Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo, três

condições: “É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido

com plena consciência e de propósito deliberado” (96).

A matéria grave é precisada pelos dez Mandamentos, segundo a resposta

que Jesus deu ao jovem rico: “Não mates, não cometas adultério, não furtes, não

levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, honra pai e mãe” (Mc 10, 18). A

gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo.

A qualidade das pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência

cometida contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida

contra estranhos.

Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido com plena consciência e

total consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, da

sua oposição à Lei de Deus. E implica também um consentimento suficientemente

deliberado para ser uma opção pessoal. A ignorância simulada e o endurecimento

do coração (97) não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado.

A ignorância involuntária pode diminuir, ou mesmo desculpar, a

imputabilidade duma falta grave. Mas parte-se do princípio de que ninguém ignora

os princípios da lei moral, inscritos na consciência de todo o homem. Os impulsos da

sensibilidade e as paixões podem também diminuir o caráter voluntário e livre da

falta. O mesmo se diga de pressões externas e de perturbações patológicas. O

pecado cometido por malícia, por escolha deliberada do mal, é o mais grave.

O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, tal como o

próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça

santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo

arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a

morte eterna no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade para fazer

escolhas definitivas, irreversíveis. No entanto, embora nos seja possível julgar se um

ato é, em si, uma falta grave, devemos confiar o juízo sobre as pessoas à justiça e à

misericórdia de Deus.

Comete-se um pecado venial quando, em matéria leve, não se observa a

medida prescrita pela lei moral ou quando, em matéria grave, se desobedece à lei

moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento.

O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um afeto desordenado aos

bens criados, impede o progresso da pessoa no exercício das virtudes e na prática

do bem moral; e merece penas temporais. O pecado venial deliberado e não

seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para cometer o pecado

mortal. No entanto, o pecado venial não quebra a aliança com Deus e é

humanamente reparável com a graça de Deus. “Não priva da graça santificante, da

amizade com Deus, da caridade, nem, portanto, da bem-aventurança eterna” (98) .

“Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar totalmente o

pecado, pelo menos os pecados leves. Mas estes pecados, que chamamos leves,

não os tenhas por insignificantes. Se os tens por insignificantes quando os pesas,

treme quando os contas. Muitos objetos leves fazem uma massa pesada; muitas

gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem um monte. Onde, então, está a

nossa esperança? Antes de mais, na confissão...” (99).

“Todo o pecado ou blasfêmia será perdoado aos homens, mas a blasfêmia

contra o Espírito não lhes será perdoada” (Mt 12, 31) (100). Não há limites para a

misericórdia de Deus, mas quem recusa deliberadamente receber a misericórdia de

Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e a salvação

oferecida pelo Espírito Santo (101). Tal endurecimento pode levar à impenitência

final e à perdição eterna. (CIC § 1854 – 1864)

RESUMINDO PECADO

PECADOS LEVES (VENIAIS): 

São ofensas leves a Deus e ao próximo. Embora ofendam a Deus, não

destroem a amizade entre Ele e o homem. Quem morre em pecado leve não merece

a morte eterna. “Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte” (1

Jo 5, 17 ).

PECADOS GRAVES (MORTAIS): 

São ofensas graves à Deus ou ao próximo. Apagam a caridade no coração do

homem; desviam o homem de Deus. Quem morre em pecado grave (mortal) sem

arrependimento, merece a morte eterna, conforme o testemunho da Escritura: “Há

pecado que leva à morte” (1 Jo 5,16b).

CONDIÇÕES PARA SER OU COMETER UM PECADO

- Ciência do ato errado e de suas consequências.

- Desejo de cometê-lo por uma razão ou outra.

- Desejo de prejudicar ou ofender a si próprio ou outra pessoa.

- Desejo de ofender a Deus ou um de seus mandamentos.

Para ser considerado pecado, são necessários esses quatro elementos

juntos, a ausência de um deles se caracteriza como erro leve ou grave, mas não se

aplica como pecado se cometido apenas uma vez, a reincidência, já com a ciência

dos fatos constitui um pecado de acordo com sua gravidade.

OS 7 PECADOS CAPITAIS

1 - A GULA

Gula é o desejo insaciável, além do necessário, em geral por comida, bebida.

Segundo tal visão, esse pecado também está relacionado ao egoísmo

humano: querer ter sempre mais e mais, não se contentando com o que já tem, uma

forma de cobiça. Ela seria controlada pelo uso da virtude da temperança. Do latim

gula

2 - A AVAREZA

É o apego excessivo e descontrolado pelos bens materiais e pelo dinheiro,

priorizando-os e deixando Deus em segundo plano. É considerado o pecado mais

tolo por se firmar em possibilidades.

Na concepção cristã, a avareza é considerada um dos sete pecados capitais,

pois o avarento prefere os bens materiais ao convívio com Deus. Neste sentido, o

pecado da avareza conduz à idolatria, que significa tratar algo, que não é Deus,

como se fosse deus.

3 - A LUXÚRIA

A luxúria (do latim luxuriae) é o desejo passional e egoísta por todo o prazer

sensual e material. Também pode ser entendido em seu sentido original: “deixar-se

dominar pelas paixões”.

Consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade

extrema, lascívia e sensualidade. Do latim luxuria

4 - A IRA

A Ira é o intenso e descontrolado sentimento de raiva, ódio, rancor que pode

ou não gerar sentimento de vingança. É um sentimento mental que conflita o agente

causador da ira e o irado.

A ira torna a pessoa furiosa e descontrolada com o desejo de destruir aquilo

que provocou sua ira, que é algo que provoca a pessoa. A ira não atenta apenas

contra os outros, mas pode voltar-se contra aquele que deixa o ódio plantar

sementes em seu coração. Seguindo esta linha de raciocínio, o castigo e a

execução do causador pertencem a Deus. Do latim ira

5 - A INVEJA

A inveja é considerada pecado porque uma pessoa invejosa ignora suas

próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento

espiritual.

É o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo que outra pessoa

tem e consegue. O invejoso ignora tudo o que é e possui para cobiçar o que é do

próximo.

A inveja é frequentemente confundida com o pecado capital da Avareza, um

desejo por riqueza material, a qual pode ou não pertencer a outros. A inveja na

forma de ciúme é proibida nos Dez Mandamentos da Bíblia. Do latim invidia, que

quer dizer olhar com malícia.

6 - A PREGUIÇA

A Igreja Católica apresenta a preguiça como um dos sete pecados capitais,

caracterizado pela pessoa que vive em estado de falta de capricho, de esmero, de

empenho, em negligência, desleixo, morosidade, lentidão e moleza, de causa

orgânica ou psíquica, que a leva à inatividade acentuada. Aversão ao trabalho,

frequentemente associada ao ócio, vadiagem. Do latim prigritia

7 - A ORGULHO OU VAIDADE

Conhecida como soberba, é associada à orgulho excessivo, arrogância e

vaidade.

Em paralelo, segundo o filósofo Santo Tomás de Aquino, a soberba era um

pecado tão grandioso que era fora de série, devendo ser tratado em separado do

resto e merecendo uma atenção especial. Aquino tratava em separado a questão da

vaidade, como sendo também um pecado, mas a Igreja Católica decidiu unir a

vaidade à soberba, acreditando que neles havia um mesmo componente de

vanglória, devendo ser então estudados e tratados conjuntamente. Do latim

superbia, vanitas.

AS INDULGÊNCIAS

Desde os primórdios da Igreja, ela vem recebendo criticas e elogios a cercas

de seus dogmas, um deles, o uso das indulgências, para redimir os pecados, vem

provocando uma profunda confusão histórica, como não deixar de citar a questão

envolvendo Martinho Lutero, usando principalmente a elas como desculpa para se

separar da Igreja. Neste tópico, colocamos o que a Igreja Católica nos conta sobre a

prática desse rito tão antigo e preciso.

Antes de explicarmos suas origens, lembremos que o Catecismo da Igreja

Católica define “a indulgência como sendo uma remissão, diante de Deus, da pena

temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa,(remissão) que o fiel

bem disposto obtém, em condições determinadas, ela intervenção da Igreja que,

como dispersora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das

satisfações(isto é, dos méritos) de Cristos e dos santos.”

“a indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial ou totalmente

devida pelos pecados” (CIC § §1471).

Com isso, entendemos que as indulgências servem para recolocar o fiel no

caminho da fé. Elas são praticadas desde os primeiros séculos da Igreja, naquele

tempo, sabemos que a absolvição dos pecados só era dada a quem reconhece seu

erro, e se comprometesse a uma pesada penitência publica, essa prática tinha o

objetivo de extirpar todo resquício do pecado cometido. Que pode também ser

concedida a aqueles que já deixaram esse mundo.

Lembrando que foi nessa mesma época, que as perseguições aos mártires

estavam se fortalecendo, e com isso, já presos, muitos cristãos escreviam ao bispo,

pedindo a remissão de seus pecados antes de sua morte, pois muitos não tinham

condições físicas de praticar alguma penitência publica, começou assim o uso das

indulgências.

POR QUE AS INDULGÊNCIAS?

Já vimos que as indulgências é a remissão dos pecados diante de Deus, que

pode ocorrer de forma parcial, ou seja, por uma parte das culpas, ou plenária,

perdoando totalmente.

A Palavra de Deus nos ensina que se nos arrependermos de nossas faltas,

somos perdoados de nossos pecados, porém, as vezes não basta apenas o perdão,

é necessário também a aplicação de uma penitência pelo resto da vida, assim como

Nosso Senhor Jesus Cristo, após perdoar cada pecador, sempre o alertava “vá e

não tornes a pecar”. As indulgências são penitências concedidas aos fiéis, pois se o

pecado esta perdoado, suas culpa e consequências podem não estar, lembremos o

que aconteceu com Moisés, que recebeu uma ordem de Deus, e por um momento

duvidou, esse foi seu pecado, que foi perdoado por Deus, sem dúvida, mas teve

como consequência. De após guiar o povo de Israel por quarenta anos pelo deserto,

não pode entrar na terra prometida, o que coube a Josué realizar.(Livro do Números,

cap.20), por isso a Igreja recomenda ao fiel uma penitência de acordo com sua

possibilidade.

O papa Paulo VI, escreveu que quando um fiel busca uma indulgência, ele

compreende como é ruim ficar longe de deus, a media que a vai cumprindo, ele se

sente se aproximar do Senhor. E ainda a crença nas indulgências faz o fiel acreditar

no pastores da Igreja, naqueles que o Senhor escolheu como guia. Paulo Vi afirma

ainda, que o principal objetivo das indulgências, é de preparar os fiéis para o reino

do Senhor, pois a carne é fraca, com uma indulgência, ele se prepara em espírito e

em corpo para a vida de Jesus que pode ocorrer a qualquer momento.

Mas é preciso colocar e que apenas a indulgência não irá salvar a pessoa, é

preciso que ela compreenda o que recebeu, e porque recebeu, muitas vezes, ao

ganhar uma indulgência, o fiel recebe uma penitência que o mesmo acha fácil, mas

não é, pois o sacerdote que a concede, movido pela sua sabedoria eclesial, faz com

que a pessoa tente buscar o que lhe falta.

Então a Igreja, por meio disso, reconheceu antes de tudo o empenho

daqueles, que do seu jeito, buscava servia-la. Como por exemplo, no Concílio de

Clermont (1095), os que partiram para s cruzadas a fim de defenderem o Santo

Sepulcro, recebiam o perdão pleno de suas faltas.

E assim a Igreja, inspirada pelo Espírito Santo, soube aplicar o uso das

indulgências.

MARINHO LUTERO E AS INDULGÊNCIAS.

Vimos até aqui o que são as indulgências, por quem e para quem são

concedidas. Um detalhe que não pode ser passado despercebido é o fato de que a

Igreja concedia as indulgências de acordo com o que seus fiéis podiam praticá-las,

tanta forma os cavaleiros que as receberam por servirem a Igreja nas batalhas da

Terra Santa, ou ainda quem passou a trabalhar nas igrejas como penitência

aplicada. A Igreja também passou a concedê-las a quem praticasse algumas obras,

como orações, visitam a santuários, esmolas, etc., ensinado e incentivando a pratica

da caridade entre os cristãos. Porém, algumas pessoas, não entendiam o valor

sagrado delas, e começaram a acusar a Igreja de vendê-las em troca de um favor,

uma grande mentira contada até hoje nos livros de histórias.

Daqueles que mais se opuseram a elas, foi o monge Martinho Lutero, que

estava já insatisfeito com alguns erros cometidos por pessoas na Igreja, e no ano de

1507, o Papa Júlio II, estava construindo a nova Basílica de São Pedro, concedeu a

indulgência a quem de boa fé oferecesse uma doação para a obra, que foi repetido

pelo Papa Leão X, Lutero entendeu e acusou a Igreja de vender a remissão dos

pecados no céu, e com isso desencadeou uma verdadeira guerra dentro do clero.

Em 31 de outubro de 1517, no dia das bruxas, Lutero escreveu uma carta

com 95 teses contra as indulgências, pois para ele, elas não tinham nenhum valor

divino, e sim algo imposto pela Igreja, não podendo ser aplicada aos defuntos.

Recusando ainda a autoridade do Papa, hoje, estudando mais um pouco essa tese

de Lutero, vimos que sua ira era contra alguns clérigos que não cumpriam o que a

Igreja pregava. A Igreja reagiu, analisou todas as tese, aceitou 54 as 95, mas não

alterou nenhuma, Lutero então revoltado com isso, recusou publicar uma nova tese,

a pedido do papa, e foi excomungado, mas não porque era contra apenas com as

indulgências, mas principalmente contra alguns membros que poluíam a Santa Sé.

Mesmo com isso tudo, a Igreja permaneceu firme no uso das indulgências,

sempre esclarecendo seus principais objetivos, e não aceitando que eles fossem

tratada de qualquer forma.

A indulgência é antes de tudo, uma forma concreta de fazer o cristão lembrar

que devemos sempre nos doar a deus, mesmo que isso nos valha sacrifícios,

penitências e orações.

Como podemos ver, as indulgências é um tesouro da Igreja, inspiradas pelo

Espírito Santo, podemos ressaltar, que qualquer pessoa, que reconhecendo suas

faltas, possa recebê-las, de forma que pode ser concedido a quem pratica certos

rituais ou ainda reza as orações como:

RECITAR OS ATOS DE VIRTUDES TEOLOGAIS E DE CONTRIÇÃO

( indulgência parcial) exemplos:

o ATO DE FÉ

o ATO DE ESPERANÇA

o ATO DE CARIDADE

o ATO DE CONTRIÇÃO

ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO (indulgência plenária)

Ó DEUS VERDADEIRO (indulgência parcial a quem recitar de forma piedosa)

AQUI ESTAMOS (indulgência parcial)

A VÓS, SÃO JOSÉ ( indulgência parcial)

AÇÃO DE GRAÇAS PELOS BENEFÍCIOS (indulgência parcial)

SANTO ANJO (indulgência parcial)

ANJO DO SENHOR E RAINHA DO CÉU (indulgência parcial)

ALMA DE CRISTO (indulgência parcial)

VISITAR AS BASÍLICAS DE ROMA (indulgência plenária)

BÊNÇÃO PAPAL (indulgência plenária)

COMUNHÃO ESPIRITUAL (indulgência parcial)

CREIO (indulgência parcial)

ADORAÇÃO DA CRUZ (indulgência plenária)

DAS PROFUNDEZAS (SALMO 129, indulgência parcial)

DOUTRINA CRISTÃ ( aqueles que se dedicam e ensinar ou aprender a

doutrina cristão, indulgência parcial)

CONGRESSO EUCARÍSTICO ( indulgência plenária)

EXTREMA UNÇÃO (indulgência plenária)

LADAINHAS (indulgência parcial)

MAGNIFICAT ( indulgência parcial)

NOVENAS (indulgência parcial)

VENI CREATOR (Ó VINDE, ESPÍRITO CRIADOR, indulgência parcial se for

recitado devotamente, e plenária, se recitado no primeiro dia do ano e na solenidade

de Pentecostes.)

VINDE, ESPÍRITO SANTO, (indulgência parcial)

VIA-SACRA (indulgência plenária a quem participara de forma piedosa de

toda a via-sacra.)

VISITAI, SENHOR ( indulgência parcial)

VISITAR A Igreja PAROQUIAL ( indulgência plenária)

VISITAR A Igreja OU ALTAR NO DIA DA DEDICAÇÃO (indulgência plenária

a quem visitar a Igreja ou o altar no dia da dedicação e rezar um Pai-Nosso e o

Creio

VISITAR A Igreja OU ORATÓRIO NO DIA DE FINADOS ( indulgência

plenária a alma dos defuntos)

RENOVAR AS PROMESSAS DO BATISMO (indulgência plenária).

O BATISMO

O Batismo é o primeiro e o principal sacramento para o perdão dos pecados:

une-nos a Cristo morto e ressuscitado nos dá o Espírito Santo (CIC § 985)

Como era no princípio:

“Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do Jordão..Eu vos

batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais

poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no

Espírito Santo e em fogo. (Mateus 3,6;11)

“Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água disse-me: Sobre

quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo.(João

1,33).”

João batista iniciou o batismo por imersão, ou seja, mergulhar nas águas de

um rio ou lago a fim de converter os pecadores e de ser revelado quem era o Filho

de Deus.

O BATISMO SEGUNDO A DIDAQUE

A doutrina dos apóstolos, escrita nos primeiros anos do cristianismo, ensina o

rito original do batismo:

“VII – Quanto ao batismo, procedam assim: depois de ditas todas essas

coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Se

não houver água corrente, batize em outra água, não puder batizar em água fria,

faça-o em água corrente. Na falta de uma ou outra, derrame três vezes água sobre

a cabeça, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A doutrina dos apóstolos simplificava o ato do batismo, que era precedido de

um catecumenato que durava cerca de 3 anos, ensinando a doutrina cristã baseada

na vida em comunidade e no amor ao próximo, se recomendava o jejum de todos os

envolvidos para reforçar a penitencia pela conversão.

O rito do batismo era feito preferencialmente em um rio ou lago (sempre água

doce que representa a vida, enquanto que a água do mar representa a morte), com

o tempo, em cidades afastadas, construíam piscinas em forma de cruz, com uma

entrada e uma saída do lado oposto – simbolizando que o homem velho entrava nas

águas para se limpar do pecado e saia um homem novo do outro lado. Hoje é

comum quem seja feita em uma pia batismal derramando a água 3 vezes sobre a

fronte e invocando a Trindade Santa.

O BATISMO SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA- CIC

“O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito (“vitae spiritualis janua”) e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamos - nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: “Baptismus está sacramentum regenerationis per aquam in verbo O Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra” (CIC § 1213).

“Ele é denominado Batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar (“baptizem”, em grego) significa “mergulhar”, “imergir”; o

“mergulho” na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da

qual com Ele ressuscita como “nova criatura” (2Cor 5,17; Gl 6,15).

Este sacramento é também chamado “o banho da regeneração e da

renovação no Espírito Santo” (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a

partir da água e do Espírito, sem o qual “ninguém pode entrar no Reino de Deus” (Jo

3,5). (CIC § 1214-15).

“O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. (...) chamamo-lo de dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho

de regeneração, selo, e tudo o que existe de mais precioso. Dom, porque é

conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados; Batismo,

porque o pecado é sepultado na água; unção, porque é sagrado e régio (tais são os

que são ungidos); iluminação, porque é luz resplandecente; veste, porque cobre

nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é o sinal do

senhorio de Deus. (CIC § 1216).

O BATISMO NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO AS PREFIGURAÇÕES DO BATISMO NA ANTIGA ALIANÇA

Na liturgia da noite pascal, quando da bênção da água batismal, a Igreja faz

solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que já

prefiguravam o mistério do Batismo: Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos

realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvação, vós vos servistes da

água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo.

Desde a origem do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a

fonte da vida e da fecundidade. A Sagrada Escritura a vê como “incubada” pelo

Espírito de Deus: Já na origem do mundo, vosso Espírito pairava sobre as águas

para que elas recebessem a força de santificar.

A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguração da salvação pelo Batismo. Por

ela, com efeito, “poucas pessoas, isto é, oito foram salvas da água” (1Pd 3,20): Nas

próprias águas do dilúvio prefigurastes o nascimento da nova humanidade de modo

que a mesma água sepultasse os vícios e fizesse nascer a santidade.

Se a água de fonte simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte,

razão pela qual o mar podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o

Batismo significa a comunhão com a morte de Cristo.

É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel da

escravidão do Egito, que anuncia a libertação operada pelo Batismo: Concedestes

aos filhos de Abraão atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto, para que, livres da

escravidão, prefigurassem o povo nascido na água do Batismo.

Finalmente, o Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o povo

de Deus recebe o dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da

vida eterna. A promessa desta herança bem-aventurada realiza-se na nova aliança.

(CIC §1217-1222)

O BATISMO DE JESUS

Foi em sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo.

Com efeito, já tinha falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um

“batismo” com o qual devia ser batizado. O sangue e a água que escorreram do lado

traspassado de Jesus crucificado são tipos do Batismo e da Eucaristia, sacramentos

da vida nova: desde então é possível “nascer da água e do Espírito” para entrar no

Reino de Deus (Jo 3,5). (CIC § 1225)

O BATISMO NA IGREJA

A partir do dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo

Batismo. Com efeito, São Pedro declara à multidão impressionada com sua

pregação: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus

Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito

Santo” (At 2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem o Batismo a todo

aquele que crer em Jesus: judeus, tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece

sempre ligado à fé: “Crê no Senhor e serás salvo, tu e a tua casa”, declara São

Paulo a seu carcereiro de Filipos. O relato prossegue: “E imediatamente [o

carcereiro recebeu o Batismo, ele e todos os seus” (At 16,31-33).

Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de

Cristo; é sepultado e ressuscita com ele: Batizados em Cristo Jesus, em sua morte é

que fomos batizados. Portanto, pelo Batismo fomos sepultados com ele na morte

para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim

também nós vivamos vida nova (Rm 6,3-4). Os batizados “vestiram-se de Cristo”.

Pelo Espírito Santo, o Batismo é um banho que purifica, santifica e justifica.

O Batismo é, pois, um banho de água no qual “a semente incorruptível” da

Palavra de Deus produz seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo:

“Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum - Une-se a palavra ao elemento,

e acontece o sacramento”. (CIC § 1226-1228).

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO

O significado e a graça do sacramento do Batismo aparecem com clareza nos

ritos de sua celebração. É acompanhando, com uma participação atenta, os gestos

e as palavras desta celebração que os fiéis são iniciados nas riquezas que este

sacramento significa e realiza em cada novo batizado.

O sinal da cruz no limiar da celebração, assinala a marca de Cristo naquele

que vai pertencer -lhe e significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou

por sua cruz.

O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos

e a assembleia, e suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo. Com efeito, o

Batismo é de maneira especial “o sacramento da fé”, uma vez que é a entrada

sacramental na vida de fé.

Visto que o Batismo significa a libertação do pecado e de seu instigador, o

Diabo, pronuncia-se um (ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido

com o óleo dos catecúmenos ou então o celebrante impõe-lhe a mão, e o candidato

renuncia explicitamente a satanás. Assim preparado, ele pode confessar a fé da

Igreja, à qual será “confiado” pelo Batismo.

A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese (seja no

próprio momento, seja na noite pascal). A Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o

poder do Espírito Santo desça sobre esta água, para que os que forem batizados

nela “nasçam da água e do Espírito” (Jo 3,5).

Segue então o rito essencial do sacramento: o Batismo propriamente dito, que

significa e realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade por

meio da configuração ao mistério pascal de Cristo. O Batismo é realizado da

maneira mais significativa pela tríplice imersão na água batismal. Mas desde a

Antiguidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três vezes, a água

sobre a cabeça do candidato.

Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada das palavras do ministro:

“N..., eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Nas liturgias

orientais, estando o catecúmeno voltado para o nascente, o ministro diz: “O servo de

Deus, N..., é batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. E à invocação

de cada pessoa da Santíssima Trindade o ministro mergulha o candidato na água e

o retira dela.

A unção com o santo crisma, óleo perfumado consagrado pelo Bispo, significa

o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, “ungido”

do Espírito Santo, incorporado a Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e rei.

Na liturgia das Igrejas do Oriente, a unção pós-batismal é o sacramento da

Crisma (Confirmação). Na liturgia romana, porém, esta primeira unção anuncia

outra, a do santo Crisma, que será feita pelo Bispo: o sacramento da Confirmação,

que, por assim dizer, “confirma” e encerra a unção batismal.

A veste branca simboliza que o batizado “vestiu-se de Cristo”: ressuscitou

com Cristo[ag61] . A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o

neófito. Em Cristo, os batizados são “a luz do mundo” (Mt 5,14). O novo batizado é

agora filho de Deus no Filho único. Pode rezar a oração dos filhos de Deus: o Pai-

Nosso.

A primeira comunhão eucarística. Uma vez feito filho de Deus, revestido da

veste nupcial, o neófito é admitido “ao festim das bodas do Cordeiro” e recebe o

alimento da vida nova, o Corpo e o Sangue de Cristo. As Igrejas orientais mantêm

uma consciência viva da unidade da iniciação cristã dando a Santa comunhão a

todos os novos batizados e confirmados, mesmo às crianças, lembrando-se da

palavra do Senhor: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais” (Mc 10,14). A

Igreja latina, que reserva a Santa comunhão aos que atingiram a idade da razão,

exprime a abertura do Batismo para a Eucaristia aproximando do altar a criança

recém - batizada para a oração do Pai-Nosso.

A bênção solene conclui a celebração do Batismo. Por ocasião do batismo de

recém nascidos, a bênção da mãe ocupa um lugar especial.

“É capaz de receber o Batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente

ela.” (CIC § 1234 - 1246).

O BATISMO DOS ADULTOS

Desde as origens da Igreja, o Batismo dos adultos é a situação mais normal

nas terras onde o anúncio do Evangelho é ainda recente. O catecumenato

(preparação para o Batismo) ocupa então um lugar importante. Sendo iniciação à fé

e à vida cristã, deve dispor para o acolhimento do dom de Deus no Batismo, na

Confirmação e na Eucaristia.(CIC § 1247)

O BATISMO DAS CRIANÇAS

Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado

original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de

serem libertadas do poder das trevas e serem transferidas para o domínio da

liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados. A

gratuidade pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das

crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça inestimável de tomar-

se filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do nascimento.

Os pais cristãos hão de reconhecer que esta prática corresponde também à

sua função de alimentar a vida que Deus confiou a eles.

A prática de batizar as crianças é uma tradição imemorial da Igreja. É

atestada explicitamente desde o século II. Mas é bem possível que desde o início da

pregação apostólica, quando “casas” inteiras receberam o Batismo[, também se

tenha batizado as crianças. ( CIC § 1250 – 1252)

FÉ E BATISMO

O batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade

dos crentes. Cada um dos fiéis só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se

requer para o Batismo não é uma fé perfeita e madura, mas um começo, que deve

desenvolver-se. Ao catecúmeno ou a seu padrinho é feita a pergunta: “Que pedis à

Igreja de Deus?”. E ele responde: “A fé!”. (CIC § 1253).

FUNÇÃO DOS PADRINHOS

Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos

pais. Este é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos

firmes, capazes e prontos a ajudar o novo batizado, criança ou adulto, em sua

caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial

(“officium”). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no

desenvolvimento e na conservação da graça recebida no Batismo. (CIC § 1255)

QUEM PODE BATIZAR?

São ministros ordinários do Batismo o Bispo e o presbítero e, na Igreja latina,

também o diácono. Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não

batizada, que tenha a intenção exigida, pode batizar, utilizando a fórmula batismal

trinitária. A intenção requerida é querer fazer o que a Igreja faz quando batiza. A

Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de Deus e na

necessidade do Batismo para a salvação. ( CIC § 1256).

“Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (CIC § 1284)

A NECESSIDADE DO BATISMO

O Senhor mesmo afirma que o Batismo é necessário para a salvação.

Também ordenou a seus discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem

todas a nações. O Batismo é necessário, para a salvação, para aqueles aos quais o

Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento. A

Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bem

aventurança eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu

do Senhor, de fazer “renascer da água e do Espírito” todos aqueles que podeis ser

batizados. Deus vinculou a salvação ao sacramento do Batismo, mas ele mesmo

não está vinculado a seus sacramentos.

Desde sempre, a Igreja mantém a firme convicção de que as pessoas que

morrem em razão da fé, sem terem recebido o Batismo, são batizadas por sua morte

por e com Cristo. Este Batismo de sangue, como o desejo do Batismo, acarreta os

frutos do Batismo, sem ser sacramento.

Para os catecúmenos que morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito

de recebê-lo, juntamente com o arrependimento de seus pecados e a caridade,

garante-lhes a salvação que não puderam receber pelo sacramento.

OS QUE MORREM SEM O BATISMO

“Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocação última do homem é

realmente uma só, a saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece

a todos, sob forma que só Deus conhece, a possibilidade de se associarem ao

Mistério Pascal.” Todo homem que, desconhecendo o Evangelho de Cristo e sua

Igreja, procura a verdade e pratica a vontade de Deus segundo seu conhecimento

dela pode ser salvo. Pode-se supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente

o Batismo se tivessem tido conhecimento da necessidade dele.

Quanto às crianças mortas sem Batismo, a Igreja só pode confiá-las à

misericórdia de Deus, como o faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a

grande misericórdia de Deus, “que quer que todos os homens se salvem” (1Tm 2,4),

e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: “Deixai as crianças

virem a mim, não as impeçais” (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um

caminho de salvação para as crianças mortas sem Batismo. Eis por que é tão

premente o apelo da Igreja de não impedir as crianças de virem a Cristo pelo dom

do santo Batismo. (CIC § 1257 – 1261).

TODOS OS PECADOS SÃO PERDOADOS

Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os

pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que

foram regenerados não resta nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem

o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as sequelas do pecado, das quais a

mais grave é a separação de Deus. (CIC§ 1263)

SEQUELAS DO PECADO ORIGINAL

No batizado, porém, certas consequências temporais do pecado

permanecem, tais como os sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades

inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc., assim como a propensão ao

pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou, metaforicamente, o “incentivo

do pecado” (fomes peccati”): “Deixada para os nossos combates, a concupiscência

não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com

coragem pela graça de Cristo. Mais ainda: 'um atleta não recebe a coroa se não

lutou segundo as regras' (2Tm 2,5).

O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do

neófito “uma criatura nova”, um filho adotivo de Deus que se tornou “participante da

natureza divina”, membro de Cristo e coerdeiro com ele, templo do Espírito Santo.

A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da

justificação, a qual :

- torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das

virtudes teologais;

- concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus

dons;

- permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.

Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo

Batismo. (CIC § 1264-1266)

DIREITOS E DEVERES DO BATIZADO

Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo, mas

àquele que morreu e ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter -se aos

outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser “obediente e dócil” aos chefes da

Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Batismo é a fonte de

responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da

Igreja: de receber os sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de Deus e de

ser sustentado pelos outros auxílios espirituais da Igreja.

“Tornados filhos de Deus pela regeneração (batismal], (os batizados) são

obrigados a professar diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus” e

a participar da atividade apostólica e missionária do povo de Deus. (CIC § 1269 -

1270)

O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos,

também com os que ainda não estão em comunhão plena com a Igreja católica:

“Com efeito, aqueles que creem em Cristo e foram validamente batizados acham-se

em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. (...) Justificados

pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são honrados

com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja

católica como irmãos no Senhor”. “O Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental

da unidade que liga todos os que foram regenerados por ele.” (CIC §1271)

UM SINAL ESPIRITUAL INDELÉVEL...

Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O

Batismo sela o cristão com um sinal espiritual indelével (“character”) de sua pertença

a Cristo. Pecado algum apaga esta marca, se bem que possa impedir o Batismo de

produzir frutos de salvação. Dado uma vez por todas, o Batismo não pode ser

reiterado.

Incorporados à Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental

que os consagra para o culto religioso cristão. O selo batismal capacita e

compromete os cristãos a servirem a Deus em uma participação viva na sagrada

liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma

vida santa e de uma caridade eficaz.

O “selo do Senhor” (“Dominicus character”) é o selo com o qual o Espírito

Santo nos marcou “para o dia da redenção” (Ef 4,30). “O Batismo, com efeito, é o

selo da vida eterna.” O fiel que tiver “guardado o selo” até o fim, isto é, que tiver

permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá caminhar “marcado pelo

sinal da fé”, com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus - consumação

da fé - e na esperança da ressurreição. (CIC § 1272-1274)

O BATISMO SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO –CDC

Cânon 849

O batismo, porta dos sacramentos, necessário na realidade ou ao menos em

desejo para a salvação, e pelo qual os homens se libertam do pecado, se regeneram

tornando-se filhos de Deus e se incorporam à Igreja, configurados com Cristo

mediante caráter indelével, só se administra validamente através da ablução com

água verdadeira, usando-se a devida fórmula das palavras.

A CELEBRAÇÃO DO BATISMO

Cânon 850

O batismo se administra segundo o ritual prescrito nos livros litúrgicos

aprovados, exceto em caso de urgente necessidade, em que se deve observar

apenas o que é exigido para a validade do sacramento.

Cânon 851

A celebração do batismo deve ser devidamente preparada; assim:

1° - o adulto que pretende receber o batismo seja admitido ao catecumenato

e, enquanto possível,

percorra os vários graus até a iniciação sacramental, de acordo com o ritual de

iniciação, adaptado pela

Conferência dos Bispos, e segundo normas especiais dadas por ela;

2° - os pais da criança a ser batizada, e também os que vão assumir o

encargo de padrinhos, sejam convenientemente instruídos sobre o significado desse

sacramento e aos obrigações dele decorrentes; o pároco, por si ou por outros, cuide

que os pais sejam devidamente instruídos por meio de exortações pastorais, e

também mediante a oração comunitária reunindo mais famílias e, quando possível,

visitando- as.

Cânon 852

§ 1. O que se prescreve nos cânones acerca do batismo dos adultos aplica-se

a todos os que chegaram ao uso da razão, ultrapassada a infância.

§ 2. No que se refere ao batismo, deve equiparar-se à criança também aquele

que não está em seu juízo.

Cânon 853

A água a ser utilizada na administração do batismo, exceto em caso de

necessidade, deve ser benzida segundo as prescrições dos livros litúrgicos.

Cânon 854

O batismo seja conferido por imersão ou por infusão, observando-se as

prescrições da Conferência dos Bispos.

§ 1. Os ministros católicos só administram licitamente os sacramentos aos

fiéis católicos que, por sua vez, somente dos ministros católicos licitamente os

recebem, salvas as prescrições dos §§ 2, 3 e 4 deste cânon e do Cânon 861, § 2.

Cânon 855

Cuidem os pais, padrinhos e pároco que não se imponham nomes alheios ao

senso cristão.

Cânon 856

Embora o batismo possa ser celebrado em qualquer dia, recomenda-se,

porém, que ordinariamente seja celebrado no domingo ou, se for possível, na vigília

da Páscoa.

Cânon 857

§ 1. Exceto em caso de necessidade, o lugar próprio para o batismo é a igreja

ou oratório.

§ 2. Tenha-se como regra geral que o adulto seja batizado na própria igreja

paroquial e a criança na igreja paroquial dos pais, salvo se justa causa aconselhar

outra coisa.

Cânon 858

§ 1. Toda a igreja paroquial tenha sua pia batismal, salvo direito cumulativo já

adquirido por outras igrejas.

§ 2. Para comodidade dos fiéis, o Ordinário local, tendo ouvido o pároco do

lugar, pode permitir ou mandar que haja pia batismal também noutra igreja ou

oratório dentro dos limites da paróquia.

Cânon 859

Por causa da distância ou de outras circunstâncias, se o batizado não puder ir

ou ser levado, sem grave incômodo, à igreja paroquial ou a outra igreja ou oratório,

mencionados no Cânon 858, § 2, o batismo pode e deve ser conferido em outra

igreja ou oratório mais perto, ou mesmo em outro lugar conveniente.

Cânon 860

§ 1. Exceto em caso de necessidade, o batismo não seja conferido em casas

particulares, salvo permissão do Ordinário local, por justa causa.

§ 2. Exceto em caso de necessidade ou por outra razão pastoral que o

imponha, não se celebre o batismo em hospitais, salvo determinação contrária do

Bispo diocesano.

O MINISTRO DO BATISMO

Cânon 861

§ 1. Ministro ordinário do batismo é o Bispo, o presbítero e o diácono,

mantendo- se a prescrição do Cânon 530, n. 1.

§ 2. Na ausência ou impedimento do ministro ordinário, o catequista ou outra

pessoa para isso designada pelo Ordinário local pode licitamente batizar; em caso

de necessidade, qualquer pessoa movida por reta intenção; os pastores de almas,

principalmente o pároco, sejam solícitos para que os fiéis aprendam o modo certo de

batizar.

Cânon 862

Exceto em caso de necessidade, a ninguém é lícito, sem a devida licença,

conferir o batismo em território alheio, nem mesmo aos próprios súditos.

Cânon 863

O batismo dos adultos, pelo menos daqueles que completaram catorze anos,

seja comunicado ao Bispo diocesano, a fim de ser por ele mesmo administrado, se o

julgar conveniente.

QUEM PODE SER BATIZADO

Cânon 864

É capaz de receber o batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente

ela.

Cânon 865

§ 1. Para que o adulto possa ser batizado, requer-se que tenha manifestado a

vontade de receber o batismo, que esteja suficientemente instruído sobre as

verdades da fé e as obrigações cristãs e que tenha sido provado, por meio de

catecumenato, na vida cristã; seja também admoestado para que se arrependa de

seus pecados.

§ 2. O adulto, que se encontra em perigo de morte, pode ser batizado se,

possuindo algum conhecimento das principais verdades da fé, manifesta de algum

modo sua intenção de receber o batismo e promete observar os mandamentos da

religião cristã.

Cânon 866

A não ser que uma razão grave o impeça, o adulto que é batizado seja

confirmado logo depois do batismo e participe da celebração eucarística, recebendo

também a comunhão.

Cânon 867

§ 1. Os pais têm a obrigação de cuidar que as crianças sejam batizadas

dentro das primeiras semanas; logo depois do nascimento, ou mesmo antes, dirijam-

se ao pároco a fim de pedirem o sacramento para o filho e serem devidamente

preparados para eles.

§ 2. Se a criança estiver em perigo de morte, seja batizada sem demora.

Cânon 868

§ 1. Para que uma criança seja licitamente batizada, é necessário que:

1° - os pais, ou ao menos um deles ou quem legitimamente faz as suas

vezes, consintam;

2° - haja fundada esperança de que será educada na religião católica; se essa

esperança faltar de todo, o batismo seja adiado segundo as prescrições do direito

particular, avisando-se aos pais sobre o motivo.

§ 2. Em perigo de morte, a criança filha de pais católicos, e mesmo não -

católicos, é licitamente batizada mesmo contra a vontade dos pais.

Cânon 869

§ 1. Havendo dúvida se alguém foi batizado ou se o batismo foi conferido

validamente, e a dúvida permanece depois de séria investigação, o batismo lhe seja

conferido sob condição.

§ 2. Aqueles que foram batizados em comunidade eclesial não - católica não

devem ser batizados sob condição, a não ser que, examinada a matéria e a forma

das palavras usadas no batismo conferido, e atendendo-se à intenção do batizado

adulto e do ministro que o batizou, haja séria razão para duvidar da validade do

batismo.

§ 3. Nos casos mencionados nos §§ 1 e 2, se permanecerem duvidosas a

celebração ou a validade do batismo, não seja este administrado, senão depois que

for exposta ao batizando, se adulto, a doutrina sobre o sacramento do batismo; a

ele, ou aos pais, tratando-se de crianças, sejam explicadas as razões da dúvida

sobre a validade do batismo.

Cânon 870

A criança exposta ou achada, seja batizada, a não ser que, após cuidadosa

investigação, conste de seu batismo.

Cânon 871

Os fetos abortivos, se estiverem vivos, sejam batizados, enquanto possível.

OS PADRINHOS

Cânon 872

Ao batizando, enquanto possível, seja dado um padrinho, a quem cabe

acompanhar o batizando adulto na iniciação cristã e, junto com os pais, apresentar

ao batismo o batizando criança. Cabe também a ele ajudar que o batizado leve uma

vida de acordo com o batismo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes.

Cânon 873

Admite-se apenas um padrinho ou uma só madrinha, ou também um padrinho

e uma madrinha.

Cânon 874

§ 1. Para que alguém seja admitido para assumir o encargo de padrinho, é

necessário que:

1° - seja designado pelo batizando, por seus pais ou por quem lhes faz as

vezes, ou, na falta deles, pelo próprio

pároco ou ministro, e tenha aptidão e intenção de cumprir esse encargo;

2° - Tenha completado dezesseis anos de idade, a não ser que outra idade

tenha sido determinada pelo Bispo diocesano, ou pareça ao pároco ou ministro que

se deva admitir uma exceção por justa causa;

3° - seja católico, confirmado, já tenha recebido o santíssimo sacramento da

Eucaristia e leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir;

4° - não tenha sido atingido por nenhuma pena canônica legitimamente

irrogada ou declarada;

5° - não seja pai ou mãe do batizando.

§ 2. O batizado pertencente a uma comunidade eclesial não católica só seja

admitido junto com um padrinho católico, o qual será apenas testemunha do

batismo.

AUSÊNCIA DE PADRINHO - PROVA E ANOTAÇÃO DO BATISMO

Cânon 875

Se não houver padrinho, aquele que administra o batismo cuide que haja pelo

menos uma testemunha, pela qual se possa provar a administração do batismo.

Cânon 876

Para provar a administração do batismo, se não advém prejuízo para

ninguém, é suficiente a declaração de uma só testemunha acima de qualquer

suspeita, ou o juramento do próprio batizado, se tiver recebido o batismo em idade

adulta.

Cânon 877

§ 1. O pároco do lugar em que se celebra o batismo deve anotar

cuidadosamente e sem demora os nomes dos batizados, fazendo menção do

ministro, pais, padrinhos, testemunhas, se as houver, do lugar e dia do batismo,

indicando também o dia e o lugar do nascimento

§ 2. Tratando-se de filhos de mãe solteira, deve-se consignar o nome da mãe,

se consta publicamente da maternidade ou ela o pede espontaneamente por escrito

perante duas testemunhas; deve-se também anotar o nome do pai, se sua

paternidade se comprova por algum documento público ou por declaração dele, feita

perante o pároco e duas testemunhas; nos outros casos, anote-se o nome do

batizado, sem fazer menção do nome do pai ou dos pais.

§ 3. Tratando-se de filho adotivo, anotem-se os nomes dos adotantes e pelo

menos os nomes dos pais naturais, de acordo com o §§ 1 e 2, se assim se fizer

também no registro civil da região, observando-se as prescrições da Conferência

dos Bispos.

Cânon 878

Se o batismo não for administrado pelo pároco ou não estando ele presente, o

ministro do batismo, quem quer que seja, deve informar da celebração do batismo

ao pároco da paróquia em que o batismo tiver sido administrado, para que este o

anote, de acordo com o Cânon 877, § 1.

A EUCARISTIA

A Santa Eucaristia conclui a iniciação cristã. Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmação, estes, por meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor. (CIC § 1322)

Como era no princípio:

“Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos,

dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e

deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova

Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. (Mateus 26,26-

28)

Jesus institui a Eucaristia antes de sua Paixão, sinal de comunhão fraterna,

de amor ao próximo e de perfeita sintonia com o Pai.

A EUCARISTIA SEGUNDO A DIDAQUE

SANTIFICAÇÃO DO DOMINGO PELA EUCARISTIA

“Reuni-vos no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei (celebrai a

eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso

sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se

junte a vos antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja

profanado. Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: Em todo o lugar e em todo o

tempo se me oferece um sacrifício puro, porque sou um grande rei - diz o Senhor - e

o meu nome e admirável entre todos os povos.

INSTRUÇÃO SOBRE A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira:

Primeiro sobre o Cálice, dizendo: Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso

Pai, pela santa vinha de Davi, vosso servo, que vós nos revelastes por Jesus, vosso

Servo;

a Vós, a Glória pelos séculos! Amém.

Sobre o Pão a ser quebrado:

Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela Vida e pelo

Conhecimento que nos revelastes por Jesus, vosso Servo;

a Vós, a Glória pelos séculos! Amém.

Da mesma maneira como este Pão quebrado primeiro fora semeado sobre as

colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da Terra seja

unida a Vós vossa Igreja em vosso Reino; pois vossa é a Glória e o Poder pelos

séculos! Amém.

Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em

Nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: "Não deis as coisas santas

aos cães!".

AÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA CEIA

Mas depois de saciados, bendizei (agradecei) da seguinte maneira:

Nós vos bendizemos (agradecemos), Pai Santo, por vosso Santo Nome, que

fizestes habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade

que nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.

Vós, Senhor Todo-poderoso, criastes todas as coisas para a Glória de Vosso

nome e, para o gozo deste alimento e a bebida aos filhos dos homens, a fim de que

eles vos bendigam; mas a nós deste uma Comida e uma Bebida espirituais para a

vida eterna por Jesus, vosso Servo.

Por tudo vos agradecemos, pois sois poderoso; a Vós, a Glória pelos séculos.

Amém.

Lembrai-vos, Senhor, de vossa Igreja, para livrá-la de todo o mal e

aperfeiçoá-la no vosso Amor; reuni esta Igreja santificada dos quatro ventos no

vosso Reino que lhe preparaste, pois vosso é o Poder e a Glória pelos séculos.

Amém.

Hosana à Casa de Davi.

Venha aquele que é santo! Aquele que não é (santo) faça penitência:

Maranatá! Amém.

Deixai os profetas bendizer à vontade.

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA - CIC

 “O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o

sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos

séculos, até voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o

memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade,

vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de

graça e nos é dado o penhor da glória futura” (CIC § 1323)

A EUCARISTIA – FONTE E CUME DA VIDA ECLESIAL

A Eucaristia é “fonte e cume de toda a vida cristã” (146). “Os restantes

sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado,

estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na

santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio

Cristo, nossa Páscoa” (147).

“A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a

Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o

cume, ao mesmo tempo, da ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e do

culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai” (148).

Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e

antecipamos a vida eterna, quando “Deus for tudo em todos” (1 Cor 15, 18 ).

Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: “A nossa

maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia

confirma a nossa maneira de pensar” (149). (CIC § 1324-1327)

COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?

A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diferentes nomes que

lhe são dados. Cada um destes nomes evoca alguns dos seus aspectos. Chama-se:

Eucaristia, porque é ação de graças a Deus. As palavras” eucharistein”

(Lc 22, 19; 1 Cor11, 24) e “eulogein” (Mt 26, 26; Mc 14, 22) lembram as bênçãos

judaicas que proclamam – sobretudo durante a refeição – as obras de Deus: a

criação, a redenção e a santificação.

Ceia do Senhor (150), porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os

discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do

Cordeiro (151) na Jerusalém celeste.

Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado

por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família (152),

sobretudo a quando da última ceia (153) . É por este gesto que os discípulos O

reconhecerão depois da sua ressurreição (154) e é com esta expressão que os

primeiros cristãos designarão as suas assembleias eucarísticas (155). Querem com

isso significar que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em

comunhão com Ele e formam um só corpo n'Ele (156).

Assembleia eucarística (“sýnaxis”), porque a Eucaristia é celebrada em

assembleia de fiéis, expressão visível da Igreja (157).

Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.

Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui

a oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, “Sacrifício de louvor”

(Heb 13, 15) (158),Sacrifício espiritual (159) Sacrifício puro (160) e santo, pois

completa e ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.

Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro

e a sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; no mesmo sentido

se lhe chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se igualmente

do Santíssimo Sacramento,porque é o sacramento dos sacramentos. E, com este

nome, se designam as espécies eucarísticas guardadas no sacrário.

Comunhão, pois é por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual nos

torna participantes do seu corpo e do seu sangue, para formarmos um só corpo

(161); chama-se ainda as coisas santas (“tà hágia”; “sancta”) (162) – é o sentido

primário da “comunhão dos santos” de que fala o Símbolo dos Apóstolos – , 

Pão dos anjos, pão do céu, remédio da imortalidade (163), viático...

Santa Missa, porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação

termina com o envio dos fiéis (“missio”), para que vão cumprir a vontade de Deus na

sua vida quotidiana. (CIC § 1328-1332).

A EUCARISTIA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas

palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o sangue

do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em memória

d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão: “Tomou o

pão...”, “Tomou o cálice com vinho...”. Tornando-se misteriosamente o corpo e o

sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a

bondade da criação. Por isso, no ofertório [apresentação das oferendas], nós damos

graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164), fruto “do trabalho do homem”, mas

primeiramente “fruto da terra” e “da videira”, dons do Criador. A Igreja vê no gesto de

Melquisedec, rei e sacerdote, que “ofereceu pão e vinho”(Gn 14, 18), uma

prefiguração da sua própria oferenda (165).

Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as

primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem

uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos

os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egito; a

lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra

de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra

prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O “cálice de

bênção” (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria

festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do

restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido

novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.

Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção,

partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão,

prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia (167). O sinal da

água transformada em vinho em Caná (168) já anuncia a “Hora” da glorificação de

Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde

os fiéis beberão do vinho novo (169) tornado sangue de Cristo.

O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da

paixão os escandalizou: “Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode

escutar?” (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo

mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. “Também vos quereis ir

embora?” (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como

convite do seu amor a descobrir que só Ele tem “palavras de vida eterna”(Jo 6, 68) e

que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê - o a Ele próprio. (CIC § 1333-

1336)

A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era

chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma

refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor (170). Para lhes

deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para os tornar

participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua morte e da

sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem até ao seu

regresso, “constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento” (171).

Os três evangelhos sinópticos e São Paulo transmitiram-nos a narração da

instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus na

sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia: Cristo

designa-se a si próprio como o pão da vida, descido do céu (172).

Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em

Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue:

“Veio o dia dos Ázimos, em que devia imolar-se a Páscoa. [Jesus] enviou

então a Pedro e a João, dizendo: "Ide preparar-nos a Páscoa, para que a possamos

comer" [...]. Partiram pois, [...] e prepararam a Páscoa. Ao chegar a hora, Jesus

tomou lugar à mesa, e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes então: "Tenho desejado

ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer. Pois vos digo que

não voltarei a comê-la, até que ela se realize plenamente no Reino de Deus". [...]

Depois, tomou o pão e, dando graças, partiu-o, deu-lho e disse-lhes: "Isto é o Meu

corpo, que vai ser entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim". No fim da ceia,

fez o mesmo com o cálice e disse: "Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue,

que vai ser derramado por vós"“ (Lc 22, 7-20) (173).

Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete

pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem

de Jesus para o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é

antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa judaica

e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino. CIC § 1337-1340)

“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”

Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, “até que Ele venha” (1

Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem

em vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de

Cristo, da sua vida, morte, ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.

Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor. Da Igreja de Jerusalém

está escrito:

“Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e

às orações. [...] Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só

alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e

simplicidade de coração” (At 2, 42.46).

Era sobretudo “no primeiro dia da semana”, isto é, no dia de domingo, dia da

ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam “para partir o pão” (At 20, 7).

Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuou-se,

de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma

estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da Igreja.

Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus

“até que Ele venha” (1Cor 11, 26), o Povo de Deus em peregrinação “avança pela

porta estreita da cruz” (174) para o banquete celeste, em que todos os eleitos se

sentarão à mesa do Reino. (CIC § 1341-1342)

A CELEBRAÇÃO LITÚRGICA DA EUCARISTIA

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as

grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas

até aos nossos dias, em todas as grandes famílias litúrgicas.

A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura

fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias.

Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:

– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração

universal;

– a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a ação de

graças consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um  só e mesmo

ato de culto" (177). Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo

tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor (178).

Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado

com os seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras;

depois, pondo-Se à mesa com eles, “tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e deu-

lho” (179). (CIC § 1345-1347)

O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO

Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a assembleia

eucarística. A sua cabeça está o próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia.

Ele é o Sumo-Sacerdote da Nova Aliança. É Ele próprio que preside invisivelmente a

toda a celebração eucarística. E é em representação d'Ele (agindo “ in persona

Christi capitis – na pessoa de Cristo-Cabeça”), que o bispo ou o presbítero preside à

assembleia, toma a palavra depois das leituras, recebe as oferendas e diz a oração

eucarística. Todos têm a sua parte ativa na celebração, cada qual a seu modo: os

leitores, os que trazem as oferendas, os que distribuem a comunhão e todo o povo

cujo Amém manifesta a participação.

A liturgia da Palavra comporta “os escritos dos Profetas”, quer dizer, o Antigo

Testamento, e “as Memórias dos Apóstolos” ou seja, as suas epístolas e os

evangelhos. Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como o

que ela é na realidade, Palavra de Deus(180), e a pô-la em prática, vêm as

intercessões por todos os homens, segundo a palavra do Apóstolo: “Recomendo,

antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças, por todos

os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade” (1 Tm 2, 1-2).

A apresentação das oferendas (ofertório): traz-se então para o altar, por

vezes procissão, o pão e o vinho que vão ser oferecidos pelo sacerdote em nome de

Cristo no sacrifício eucarístico, no qual se tornarão o seu corpo e o seu sangue. É

precisamente o mesmo gesto que Cristo fez na última ceia, “tomando o pão e o

cálice”. “Só a Igreja oferece esta oblação pura ao Criador, oferecendo-Lhe em ação

de graças o que provém da sua criação” (181). A apresentação das oferendas no

altar assume o gesto de Melquisedec e põe os dons do Criador nas mãos de Cristo.

É Ele que, no seu sacrifício, leva à perfeição todas as tentativas humanas de

oferecer sacrifícios.

Desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem

as suas ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre atual,

da coleta (182) inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos

enriquecer (183):

“Os que são ricos e querem, dão, cada um conforme o que a si mesmo se

impôs; o que se recolhe é entregue àquele que preside e ele, por seu turno, presta

assistência aos órfãos, às viúvas, àqueles que a doença ou qualquer outra causa

priva de recursos, aos prisioneiros, aos imigrantes, numa palavra, a todos os que

sofrem necessidade” (184).

A anáfora: Com a oração eucarística, oração de ação de graças e de

consagração, chegamos ao coração e cume da celebração:

No prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas

as suas obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une,

então, as suas vozes àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e

todos os santos – cantam ao Deus três vezes Santo:

Na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua

bênção)(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e o

sangue de Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só

corpo e um só espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da

anamnese);

Na narração da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder

do Espírito Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do

vinho, o corpo e o sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de

uma vez por todas;

Na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e

regresso glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que

nos reconcilia com Ele:

Nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em

comunhão com toda a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na

comunhão com os pastores da Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério

e os seus diáconos, e todos os bispos do mundo inteiro com as suas Igrejas.

Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fração do pão, os fiéis

recebem “o pão do céu” e “o cálice da salvação”, o corpo e o sangue de Cristo, que

Se entregou “para a vida do mundo” (Jo 6, 51):

Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga,

“eucaristizados” (186), “chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar

parte nela se não acreditar na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu

o banho para a remissão dos pecados e o novo nascimento e se não viver segundo

os preceitos de Cristo” (187). (CIC § 1348-1355)

O SACRIFÍCIO SACRAMENTAL: AÇÃO DE GRAÇAS, MEMORIAL, PRESENÇA

Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que,

na sua substância não mudou através da grande diversidade dos tempos e das

liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na véspera

da sua paixão: “Fazei isto em memória de Mim” (1 Cor 11, 24-25).

Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu

sacrifício. E fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da

sua criação, o pão e o vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e pelas

palavras de Cristo, no corpo e no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo torna-se

real e misteriosamente presente.

Temos, pois, de considerar a Eucaristia

– como ação de graças e louvor ao Pai,

– como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,

– como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito. (CIC §

1356-1358)

A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é

também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No

sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai, através

da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de

louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e justo, na criação e

na humanidade.

A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual

a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por

tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia

significa, antes de mais, “ação de graças”.

A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a glória

de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através

de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de

maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo, para

ser aceite em Cristo. (CIC § 1359-1361)

O MEMORIAL SACRIFICIAL DE CRISTO E DO SEU CORPO, A IGREJA

A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferenda

sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em todas

as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma

oração chamada anamneseou memorial.

No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a

lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que

Deus fez pelos homens (188). Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles

tomam-se de certo modo presentes e atuais. É assim que Israel entende a sua

libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo

tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles a sua

vida.

O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja

celebra a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o

sacrifício que Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre atual

(189): “Todas as vezes que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo,

nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra da nossa redenção” (190).

Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um

sacrifício. O caráter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da

instituição: “Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós” e “este cálice é a Nova

Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós” (Lc 22, 19-20). Na

Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele

mesmo sangue que “derramou por muitos em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o

sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto:

Cristo “nosso Deus e Senhor [...], ofereceu-Se a Si mesmo a Deus Pai uma

vez por todas, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, para realizar em

favor deles [homens] uma redenção eterna. No entanto, porque após a sua morte

não se devia extinguir o seu sacerdócio (Heb 7, 24-27), na última ceia, "na noite em

que foi entregue" (1 Cor 11, 13). [...] Ele [quis deixar] à Igreja, sua esposa bem-

amada, um sacrifício visível (como o exige a natureza humana), em que fosse

representado o sacrifício cruento que ia realizar uma vez por todas na cruz,

perpetuando a sua memória até ao fim dos séculos e aplicando a sua eficácia

salvífica à remissão dos pecados que nós cometemos cada dia” (191).

O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: ”É

uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos

sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira

de oferecer é que é diferente” (192). E porque “neste divino sacrifício, que se realiza

na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de modo

cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo incruento [...],

este sacrifício é verdadeiramente propiciatório” (193).

A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de

Cristo, participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida

integralmente. Ela une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os

homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos

membros do seu corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua

oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo

assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre o altar proporciona a

todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua oblação.

Nas catacumbas, a Igreja é frequentemente representada como uma mulher

em oração, de braços estendidos em atitude orante. Como Cristo, que estendeu os

braços na cruz, assim, por Ele, com Ele e n'Ele, a Igreja oferece-se e intercede por

todos os homens.

Toda a Igreja está unida à oblação e intercessão de Cristo. Encarregado do

ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a toda e qualquer celebração

da Eucaristia, na qual é nomeado como sinal e servidor da unidade da Igreja

universal. O bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando

presidida por um presbítero; o seu nome é citado nela para significar a sua

presidência da Igreja particular, no meio do presbitério e com a assistência

dos diáconos. A comunidade intercede também por todos os ministros que, por ela e

com ela, oferecem o sacrifício eucarístico:

“Seja tida como legítima somente aquela Eucaristia que é presidida pelo bispo

ou por quem ele encarregou” (194).

“É pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis se

consuma em união com o sacrifício de Cristo. Mediador único, que é oferecido na

Eucaristia de modo incruento e sacramental, pelas mãos deles, em nome de toda a

Igreja, até quando o mesmo Senhor voltar” (195).

À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste

mundo, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a

santíssima Virgem Maria e fazendo memória d'Ela, assim como de todos os santos e

de todas as santas, que a Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na Eucaristia, a

Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de

Cristo.

O sacrifício eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos, ”que

morreram em Cristo e não estão ainda de todo purificados” (196), para que possam

entrar na luz e na paz de Cristo:

“Enterrai este corpo não importa onde! Não vos dê isso qualquer cuidado!

Tudo o que vos peço é que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde

quer que estejais” (197).

“Depois [na anáfora], nós rezamos pelos santos padres e bispos falecidos, e

em geral por todos aqueles que morreram antes de nós, certos de que isso será de

grande proveito para as almas em favor das quais tal súplica se faz, enquanto está

presente a vítima santa e temível [...]. Apresentando a Deus as nossas súplicas

pelos que morreram, tenham embora sido pecadores, nós [...] apresentamos Cristo

imolado pelos nossos pecados, tornando assim propício, para eles e para nós, o

Deus que é amigo dos homens” (198).

Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma

participação cada vez mais perfeita no sacrifício do nosso Redentor que celebramos

na Eucaristia:

“Toda esta cidade resgatada, ou seja, a assembleia e sociedade dos santos,

é oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo-Sacerdote que, sob a

forma de servo, foi ao ponto de Se oferecer por nós na sua paixão, para fazer de nós

corpo duma tal Cabeça [...] Tal é o sacrifício dos cristãos: "Nós que somos muitos,

formamos em Cristo um só corpo" (Rm 12, 5). E este sacrifício, a Igreja não cessa

de o renovar no sacramento do altar bem conhecido dos fiéis, em que lhe é

mostrado que ela própria é oferecida naquilo que oferece” (199). (CIC § 1362-1372)

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DA SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO

“Jesus Cristo, que morreu, que ressuscitou, que está à direita de Deus, que

intercede por nós” (Rm 8, 34), está presente na sua Igreja de múltiplos modos (200):

na sua Palavra, na oração da sua Igreja, “onde dois ou três estão reunidos em Meu

nome” (Mt 18, 20), nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros (201), nos seus

sacramentos, dos quais é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro.

Mas está presente ”sobretudo sob as espécies eucarísticas” (202).

O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele

eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela “como que a perfeição

da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos” (203). No

santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos, verdadeira, real e

substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de

nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte,Cristo completo” (204). “Esta

presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras presenças não

fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna

presente Cristo completo, Deus e homem” (205).

É pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo que Ele

Se torna presente neste sacramento. Os Padres da Igreja proclamaram com firmeza

a fé da mesma Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da ação do Espírito Santo,

para operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:

“Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem corpo e

sangue de Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote,

figura de Cristo, pronuncia estas palavras, mas a sua eficácia e a graça são de

Deus.Isto é o Meu corpo, diz ele. Esta palavra transforma as coisas oferecidas”

(206).

E Santo Ambrósio diz a respeito da mesma conversão:

Estejamos bem convencidos de que “isto não é o que a natureza formou, ruas

o que a bênção consagrou, e de que a força da bênção ultrapassa a da natureza,

porque pela bênção a própria natureza é mudada” (207). “A Palavra de Cristo, que

pôde fazer do nada o que não existia, não havia de poder mudar coisas existentes

no que elas ainda não eram? Porque não é menos dar às coisas a sua natureza

original do que mudá-la” (208).

O  Concílio de Trento resume a fé católica declarando: “Porque Cristo, nosso

Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente o

seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de novo

declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a

substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a

substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica

chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação**” (209).

A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura

enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo em cada

uma das espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira que a fração do

pão não divide Cristo (210).

O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na

presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras,

ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. “A

Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é

devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da

sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas,

apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em

procissão” (211).

A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de

maneira digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da

missa. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a

Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob

as espécies eucarísticas, por isso que o sacrário deve ser colocado num lugar

particularmente digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e

manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento.

É de suma conveniência que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja

deste modo único. Uma vez que estava para deixar os seus sob forma visível, Cristo

quis dar-nos a sua presença sacramental; e visto que ia sofrer na cruz para nos

salvar, quis que tivéssemos o memorial do amor com que nos amou “até ao

fim” (Jo 13, 1), até ao dom da própria vida. Com efeito, na sua presença eucarística,

Ele fica misteriosamente no meio de nós, como Aquele que nos amou e Se entregou

por nós (212), e permanece sob os sinais que exprimem e comunicam este amor:

“A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus

espera-nos neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele

na adoração, na contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os

pecados do mundo. Que a nossa adoração não cesse jamais” (213).

“A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste

sacramento, "não a apreendemos pelos sentidos, diz São Tomás, mas só pela

fé, que se apoia na autoridade de Deus". É por isso que, comentando o texto de São

Lucas 22, 19 "Isto é o Meu corpo que será entregue por vós", São Cirilo de

Alexandria declara: "Não vás agora perguntar-te se isso é verdade; mas acolhe com

fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não mente"“ (214): (CIC §

1373-1381)

O BANQUETE PASCAL

A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em

que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e

sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada

para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o

próprio Cristo, que Se ofereceu por nós.

O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia,

representa os dois aspectos dum mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do

Senhor, e isto tanto mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente

no meio da assembleia dos seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima oferecida para

a nossa reconciliação e como alimento celeste que se nos dá. “Com efeito, o que é o

altar de Cristo senão a imagem do corpo de Cristo?” – pergunta Santo Ambrósio

(216); e noutro passo: “O altar representa o corpo [de Cristo], e o corpo de Cristo

está sobre o altar” (217). A liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da comunhão

em numerosas orações. Assim, a Igreja de Roma reza na sua anáfora:

“Humildemente Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que esta nossa

oferenda seja apresentada pelo vosso santo Anjo no altar celeste, diante da vossa

divina majestade, para que todos nós, participando deste altar pela comunhão do

santíssimo corpo e sangue do vosso Filho, alcancemos a plenitude das bênçãos e

graças do céu”“ (218) (CIC § 1382-1383)

“TOMAI TODOS E COMEI”: A COMUNHÃO

O Senhor dirige-nos um convite insistente a que O recebamos no sacramento

da Eucaristia: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho

do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 53).

Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento tão

grande e santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: “Quem comer o pão

ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do

Senhor. Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e então coma desse pão e beba

deste cálice; pois quem come e bebe, sem discernir o corpo do Senhor, come e

bebe a própria condenação” (1Cor 11, 27-29). Aquele que tiver consciência dum

pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar

da Comunhão.

Perante a grandeza deste sacramento, o fiel só pode retomar humildemente e

com ardente fé a palavra do centurião (219) : ”Domine, non sum dignus, ut intres sub

tectum meum, sed tantum dic verbum, et sanabitur anima mea – Senhor, eu não sou

digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei salvo”

(220). E na divina liturgia de São João Crisóstomo, os fiéis oram no mesmo Espírito:

“Faz-me comungar hoje, ó Filho de Deus, na tua ceia mística. Porque eu não

revelarei o segredo aos teus inimigos, nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o

ladrão, eu te suplico: Lembra-Te de mim, Senhor, no teu Reino” (221).

Para se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os fiéis

devem observar o jejum prescrito na sua Igreja (222). A atitude corporal (gestos,

traje) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo

Se torna nosso hóspede.

É conforme ao próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as

disposições requeridas (223), recebam a Comunhão quando participam na missa

(224): “Recomenda-se vivamente aquela mais perfeita participação na missa em que

os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem, do mesmo sacrifício, o corpo

do Senhor” (225).

A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de “participar na divina liturgia nos

domingos e dias de festa” (226) e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em

cada ano, se possível no tempo pascal (227) preparados pelo sacramento da

Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos

domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.

Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a

comunhão apenas sob a espécie de pão permite receber todo o fruto de graça da

Eucaristia. Por razões pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se

legitimamente como a mais habitual no rito latino. “A sagrada Comunhão tem uma

forma mais plena, enquanto sinal, quando é feita sob as duas espécies. Com efeito,

nesta forma manifesta-se mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico” (228).

É a forma habitual de comungar, nos ritos orientais. (CIC § 1384 - 1390)

OS FRUTOS DA COMUNHÃO

A Comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na

comunhão traz consigo, como fruto principal, a união íntima com Cristo Jesus. De

fato, o Senhor diz: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em

Mim e Eu nele” (Jo 6, 56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete

eucarístico: “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o

que Me come viverá por Mim” (Jo 6, 57):

“Quando, nas festas do Senhor, os fiéis recebem o corpo do Filho, proclamam

uns aos outros a boa-nova de que lhes foram dadas as arras da vida, como quando

o anjo disse a Maria de Magdala: "Cristo ressuscitou!". Eis que também agora a vida

e a ressurreição são conferidas àquele que recebe Cristo” (229).

O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a

Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de

Cristo Ressuscitado, “vivificada pelo Espírito Santo e vivificante” (230), conserva,

aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo. Este crescimento da vida

cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa

peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático.

A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos na

Comunhão é “entregue por nós” e o sangue que nós bebemos é “derramado pela

multidão, para remissão dos pecados”. É por isso que a Eucaristia não pode unir-nos

a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos

preservar dos pecados futuros:

“Sempre que O recebemos, anunciamos a morte do Senhor (231). Se nós

anunciamos a morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, de cada

vez que o seu sangue é derramado, é derramado para remissão dos pecados, eu

devo recebê-lo sempre, para que sempre Ele perdoe os meus pecados. Eu que peco

sempre, devo ter sempre um remédio” (232).

Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas, assim

também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a

enfraquecer-se; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais (233). Dando-

Se a nós, Cristo reaviva o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações

desordenadas às criaturas e de nos radicarmos n'Ele.

“Uma vez que Cristo morreu por nós por amor, quando nós fazemos memória

da sua morte no momento do sacrifício, pedimos que esse amor nos seja dado pela

vinda do Espírito Santo; suplicamos humildemente que, em virtude desse amor pelo

qual Cristo quis morrer por nós, também nós, recebendo a graça do Espírito Santo,

possamos considerar o mundo como crucificado para nós e sermos nós próprios

crucificados para o mundo; [...] tendo recebido o dom do amor, morramos para o

pecado e vivamos para Deus” (234).

Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia preserva-nos dos

pecados mortais futuros. Quanto mais participarmos na vida de Cristo e

progredirmos na sua amizade, mais difícil nos será romper com Ele pelo pecado

mortal. A Eucaristia não está ordenada ao perdão dos pecados mortais. Isso é

próprio do sacramento da Reconciliação. O que é próprio da Eucaristia é ser o

sacramento daqueles que estão na plena comunhão da Igreja.

A unidade do corpo Místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a

Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo. Por isso mesmo, Cristo une

todos os fiéis num só corpo: a Igreja. A Comunhão renova, fortalece e aprofunda

esta incorporação na Igreja já realizada pelo Batismo. No Batismo fomos chamados

a formar um só corpo (235). A Eucaristia realiza esta vocação: “O cálice da bênção

que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos

não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós,

embora muitos, somos um só corpo, porque participamos desse único pão” (1

Cor 10, 16-17):

“Se sois o corpo de Cristo e seus membros, é o vosso sacramento que está

colocado sobre a mesa do Senhor, é o vosso sacramento que recebeis. Vós

respondeis “Amém” [“Sim, é verdade!”] àquilo que recebeis e, ao responder, o

subscreveis. Tu ouves esta palavra: “O corpo de Cristo”; e respondes: “Amém”,

Então, sê um membro de Cristo, para que o teu “Amém” seja verdadeiro” (326).

A Eucaristia compromete-nos com os pobres: Para receber, na verdade, o

corpo e o sangue de Cristo entregue por nós, temos de reconhecer Cristo nos mais

pobres, seus irmãos (237):

“Saboreaste o sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão.

Desonras esta mesa, se não julgas digno de partilhar o teu alimento aquele que foi

julgado digno de tomar parte nesta mesa. Deus libertou-te de todos os teus pecados

e chamou-te para ela; e tu nem então te tornaste mais misericordioso” (238)

A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Perante a grandeza deste mistério,

Santo Agostinho exclama: ”O sacramentum pietatis! O signum unitatis! O vinculum

caritatis! – Ó sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da caridade!”

Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a comum

participação na mesa do Senhor, tanto mais prementes são as orações que fazemos

ao Senhor para que voltem os dias da unidade completa de todos os que creem n'

Ele. (CIC § 1391-1398)

A EUCARISTIA FORA DA IGREJA CATÓLICA

As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja Católica

celebram a Eucaristia com um grande amor. “Essas Igrejas, embora separadas, têm

verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o

sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam unidos a nós por vínculos

estreitíssimos” (240). Portanto, “uma certa comunhão in sacris é não só possível,

mas até aconselhável em circunstâncias oportunas e com aprovação da autoridade

eclesiástica” (241).

As comunidades eclesiais saídas da Reforma, separadas da Igreja Católica,

“não [conservaram] a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico,

sobretudo por causa da falta do sacramento da Ordem” (242). É por esse motivo que

a intercomunhão eucarística com estas comunidades não é possível para a Igreja

Católica. No entanto, estas comunidades eclesiais, “quando na santa ceia fazem

memória da morte e ressurreição do Senhor, professam que a vida é significada na

comunhão com Cristo e esperam a sua vinda gloriosa” (243).

Se urgir uma grave necessidade, segundo o juízo do Ordinário os ministros

católicos podem ministrar os sacramentos (Eucaristia, Penitência, Unção dos

Enfermos) aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja

Católica, mas que os pedem por sua livre vontade: requer-se, nesse caso, que

manifestem a fé católica em relação a estes sacramentos e que se encontrem nas

devidas disposições (244) (CIC § 1399-1401)

A EUCARISTIA DOMINICAL

A celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da

vida da Igreja. “O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição

apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de

preceito” (95).

“Do mesmo modo devem guardar-se os dias do Natal de Nosso Senhor Jesus

Cristo, Epifania, Ascensão e santíssimo corpo e sangue de Cristo, Santa Maria Mãe

de Deus, sua Imaculada Conceição e Assunção, São José e os Apóstolos São

Pedro e São Paulo, e finalmente o de todos os Santos” (96).

Esta prática da reunião da assembleia cristã data dos princípios da idade

apostólica (97). A Epístola aos Hebreus lembra: “Sem abandonarmos a nossa

assembleia, como é costume de alguns, mas exortando-nos mutuamente” (Heb 10,

25).

A Tradição guarda a lembrança duma exortação sempre atual: “Vir cedo à

igreja. aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se

deles na oração [...], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair

antes da despedida [...]. Muitas vezes o temos dito: este dia é-vos dado para a

oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de

alegria” (98).

“A paróquia é uma certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na

Igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do bispo diocesano, está

confiada ao pároco, como a seu pastor próprio”(99). É o lugar onde todos os fiéis

podem reunir-se para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo

cristão na expressão ordinária da vida litúrgica e reúne-o nesta celebração; ensina a

doutrina salvífica de Cristo; e pratica a caridade do Senhor em obras boas e

fraternas (100):

“Podes também rezar em tua casa; mas não podes rezar aí como na igreja,

onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. [...] Há lá

qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da

caridade, as orações dos sacerdotes” (101). (CIC § 2177-2179)

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO - CDC

A SANTÍSSIMA EUCARISTIA

Cânon 897

O augustíssimo Sacramento é a santíssima Eucaristia, na qual o próprio

Senhor Jesus Cristo se contém, se oferece e se recebe, e pela qual continuamente

vive e cresce a Igreja. O Sacrifício eucarístico, memorial da morte e ressurreição do

Senhor, em que se perpetua através dos séculos o Sacrifício da Cruz, é a

culminância e a fonte de todo o culto e da vida cristã, pelo qual se significa e se

realiza a unidade do povo de Deus e se completa a edificação do Corpo de Cristo.

Os demais sacramentos e todas as obras eclesiásticas de apostolado relacionam-se

com a santíssima Eucaristia e para ela se ordenam.

Cânon 898

Os fiéis tenham em suma honra a santíssima Eucaristia, participando

ativamente na celebração do augustíssimo Sacrifício, recebendo com grande

devoção e com frequência este sacramento, e prestando-lhe a máxima adoração; os

pastores de almas, ao explanarem a doutrina sobre este sacramento, instruam

diligentemente os fiéis acerca desta obrigação.

A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

Cânon 899

§ 1. A celebração eucarística é uma ação do próprio Cristo e da Igreja, na

qual Cristo nosso Senhor, substancialmente presente sob as espécies do pão e do

vinho, pelo ministério do sacerdote, se oferece a Deus Pai e se dá como alimento

espiritual aos fiéis associados na sua oblação.

§ 2. Na Assembleia eucarística, o povo de Deus é convocado e reunido, sob a

presidência do Bispo ou, sob a sua autoridade, do presbítero, que faz as vezes de

Cristo, e todos os fiéis presentes, quer clérigos quer leigos, com a sua participação

para ela concorrem, cada qual a seu modo, segundo a diversidade de ordens e de

funções litúrgicas.

§ 3. Ordene-se a celebração eucarística de modo que todos os participantes

dela aufiram os maiores frutos, para cuja obtenção o Senhor Jesus Cristo instituiu o

Sacrifício eucarístico.

O MINISTRO DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA

Cânon 900

§ l. O ministro que, atuando na pessoa de Cristo, tem o poder de celebrar o

sacramento da Eucaristia, é somente o sacerdote validamente ordenado.

§ 2. Celebra licitamente a Eucaristia o sacerdote não impedido pela lei

canônica, observados os preceitos dos cânones seguintes.

Cânon 901

O sacerdote tem a faculdade de aplicar a Missa por quaisquer pessoas, tanto

vivas como defuntas.

Cânon 902

Se a utilidade dos fiéis não exigir ou aconselhar outra coisa, os sacerdotes

podem concelebrar a Eucaristia, permanecendo no entanto inteira a liberdade de

cada um de celebrar individualmente, mas não durante o tempo em que na mesma

igreja ou oratório haja concelebração.

Cânon 903

Admita-se a celebrar o sacerdote, ainda que desconhecido do reitor da igreja,

contanto que apresente carta comendatícia do seu Ordinário ou Superior, datada de

há menos de um ano, ou que prudentemente se possa julgar que não está impedido

de celebrar.

Cânon 904

Os sacerdotes, tendo sempre presente que no mistério do Sacrifício

eucarístico se realiza continuamente a obra da redenção, celebrem com frequência;

mais, recomenda-se instantemente a celebração quotidiana, a qual, ainda quando

não possa haver a presença de fiéis, é um ato de Cristo e da Igreja, em que os

sacerdotes desempenham o seu múnus principal.

Cânon 905

§ 1. Excetuados os casos em que, segundo as normas do direito, é lícito

celebrar ou concelebrar a Eucaristia várias vezes no mesmo dia, não é lícito ao

sacerdote celebrar mais que uma vez por dia.

§ 2. Se houver falta de sacerdotes, o Ordinário do lugar pode permitir que, por

justa causa, os sacerdotes celebrem duas vezes ao dia, ou mesmo, se as

necessidades pastorais o exigirem, três vezes nos domingos e festas de preceito.

Cânon 906

A não ser por causa justa e razoável, o sacerdote não celebre o Sacrifício

eucarístico sem a participação ao menos de algum fiel.

Cânon 907

Na celebração eucarística não é permitido aos diáconos nem aos leigos

proferir as orações, em especial a oração eucarística, ou desempenhar as funções

que são próprias do sacerdote celebrante.

Cânon 908

É proibido aos sacerdotes católicos concelebrar a Eucaristia juntamente com

sacerdotes ou ministros das Igrejas ou comunidades eclesiais que não estejam em

plena comunhão com a Igreja católica.

Cânon 909

O sacerdote não deixe de se preparar devidamente com a oração para a

celebração do Sacrifício eucarístico, nem de, no fim, dar graças a Deus.

Cânon 910

§ l. O ministro ordinário da sagrada comunhão é o Bispo, o presbítero e o

diácono.

§ 2. O ministro extraordinário da sagrada comunhão é o acólito ou outro fiel

designado nos termos do Cânon 230, § 3.

Cânon 911

§ 1. O dever e o direito de levar a santíssima Eucaristia, em forma de Viático,

aos doentes pertencem ao pároco e aos vigários paroquiais, aos capelães e ainda,

relativamente aos que se encontram na casa, ao Superior da comunidade nos

institutos religiosos ou nas sociedades clericais de vida apostólica.

§ 2. Em caso de necessidade ou com licença, ao menos presumida, do

pároco, do capelão ou do Superior, ao qual depois se deve dar conhecimento do

fato, deve fazê-lo qualquer sacerdote ou outro ministro da sagrada comunhão.

A PARTICIPAÇÃO NA SANTÍSSIMA EUCARISTIA

Cânon 912

Qualquer batizado, que não esteja proibido pelo direito, pode e deve ser

admitido à sagrada comunhão.

Cânon 913

§ l. Para que a santíssima Eucaristia possa ser administrada às crianças,

requer-se que estas possuam conhecimento suficiente e preparação cuidadosa, de

forma que possam compreender, segundo a sua capacidade, o mistério de Cristo e

receber o corpo do Senhor com fé e devoção.

§ 2. Pode administrar-se a santíssima Eucaristia às crianças que se

encontrem em perigo de morte, se puderem discernir o Corpo de Cristo do alimento

comum e comungar com reverência.

Cânon 914

Primeiramente os pais, ou quem fizer as suas vezes, e ainda o pároco têm o

dever de procurar que as crianças, ao atingirem o uso da razão, se preparem

convenientemente e recebam quanto antes este divino alimento, feita previamente a

confissão sacramental; compete também ao pároco vigiar por que não se

aproximem da sagrada comunhão as crianças que não tenham atingido o uso da

razão ou aquelas que julgue não estarem suficientemente preparadas.

Cânon 915

Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos,

depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente

perseverem em pecado grave manifesto.

Cânon 916

Quem estiver consciente de pecado grave não celebre Missa nem comungue

o Corpo do Senhor, sem fazer previamente a confissão sacramental, a não ser que

exista uma razão grave e não tenha oportunidade de se confessar; neste caso,

porém, lembre-se de que tem obrigação de fazer um ato de Contrição perfeita, que

inclui o propósito de se confessar quanto antes.

Cânon 917

Quem tiver recebido a santíssima Eucaristia pode voltar a recebê-la de novo

no mesmo dia, mas somente dentro da celebração eucarística em que participe,

salvo o prescrito no Cânon 921, § 2.

Cânon 918

Muito se recomenda aos fiéis que recebam a sagrada comunhão na própria

celebração eucarística; no entanto, seja-lhes administrada fora da Missa, quando a

pedirem por justa causa, observados os ritos litúrgicos.

Cânon 919

§ 1. Quem vai receber a santíssima Eucaristia, abstenha-se, pelo espaço de

ao menos uma hora antes da sagrada comunhão, de qualquer comida ou bebida,

exceto água ou remédios.

§ 2. O sacerdote, que no mesmo dia celebrar duas ou três vezes a santíssima

Eucaristia, pode tomar alguma coisa, antes da segunda ou terceira celebração,

mesmo que não medeie o espaço de uma hora.

§ 3. As pessoas de idade provecta e as que padecem de alguma doença, e

ainda quem as trata, podem receber a santíssima Eucaristia, mesmo que dentro da

hora anterior tenham tomado alguma coisa.

Cânon 920

§ l . Todo o fiel que tenha sido iniciado na santíssima Eucaristia está obrigado

a receber a sagrada comunhão, ao menos uma vez por ano.

§ 2. Este preceito deve cumprir-se durante o tempo pascal a não ser que, por

justa causa, se cumpra noutra ocasião durante o ano.

Cânon 921

§ l. Os fiéis, que, por qualquer causa, se encontrem em perigo de morte,

sejam confortados com a sagrada comunhão em forma de Viático.

§ 2. Mesmo que já tenham comungado nesse dia, aos que se veem em perigo

de vida, recomenda-se que comunguem de novo.

§ 3. Perdurando o perigo de morte, recomenda-se que se lhes administre a

sagrada comunhão várias vezes em dias distintos.

Cânon 922

Não se adie demasiado o sagrado Viático aos doentes; os que têm cura de

almas velem cuidadosamente por que os doentes sejam com ele confortados,

quando ainda se encontrem plenamente conscientes.

Cânon 923

Os fiéis podem participar no Sacrifício eucarístico e receber a sagrada

comunhão em qualquer rito católico, sem prejuízo do prescrito no Cânon 844.

OS RITOS E CERIMÔNIAS DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

Cânon 924

§ l. O sacrossanto Sacrifício eucarístico deve celebrar-se com pão e vinho, a

que se há de juntar uma pequena quantidade de água.

§ 2. O pão deve ser de trigo puro e recentemente confeccionado, de modo

que não haja nenhum perigo de corrupção.

§ 3. O vinho deve ser natural, do fruto da videira e não corrompido.

Cânon 925

Distribua-se a sagrada comunhão apenas sob a espécie de pão ou, nos

termos das leis litúrgicas, sob as duas espécies; em caso de necessidade, somente

sob a espécie de vinho.

Cânon 926

Na celebração eucarística, segundo a antiga tradição da Igreja latina, o

sacerdote utilize o pão ázimo, onde quer que celebre.

Cânon 927

Não se pode, nem mesmo em caso de urgente necessidade, consagrar uma

matéria sem a outra, ou consagrá-las ambas fora da celebração eucarística.

Cânon 928

Realize-se a celebração eucarística na língua latina ou em outra língua,

contanto que os textos litúrgicos estejam legitimamente aprovados.

Cânon 929

Na celebração e administração da Eucaristia, os sacerdotes e os diáconos

revistam-se com os paramentos sagrados prescritos pelas rubricas.

Cânon 930

§ 1. O sacerdote doente ou de idade avançada que não puder permanecer de

pé, pode celebrar sentado o Sacrifício eucarístico, observando as leis litúrgicas, mas

não perante o povo, a não ser com licença do Ordinário do lugar.

§ 2. O sacerdote cego ou que padeça de qualquer outra enfermidade celebra

licitamente o Sacrifício eucarístico utilizando qualquer texto dos aprovados para a

Missa, e assistido, se o caso o requerer, por outro sacerdote, ou por um diácono, ou

mesmo por um leigo devidamente industriado, que o auxilie.

O TEMPO E LUGAR DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

Cânon 931

A celebração e a distribuição da Eucaristia podem realizar-se em qualquer dia

e hora, exceto nos que são excluídos segundo as normas litúrgicas.

Cânon 932

§ 1. A celebração eucarística realize-se em lugar sagrado, a não ser que a

necessidade exija outra coisa; neste caso, deve realizar-se em lugar decente.

§ 2. O Sacrifício eucarístico deve realizar-se sobre altar dedicado ou benzido; fora

do lugar sagrado, pode utilizar-se uma mesa apropriada, mas sempre com toalha e

corporal.

Cânon 933

Por justa causa e com licença expressa do Ordinário do lugar, e removido o

escândalo, o sacerdote pode celebrar a Eucaristia no templo de outra Igreja ou

comunidade eclesial não em plena comunhão com a Igreja católica.

A CONSERVAÇÃO E VENERAÇÃO DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA

Cânon 934

§1. A santíssima Eucaristia:

1.° deve conservar-se na igreja catedral ou equiparada, em todas as igrejas

paroquiais e ainda na igreja ou oratório anexo à casa de um instituto religioso ou de

uma sociedade de vida apostólica;

2.° pode conservar-se na capela do Bispo e, com licença do Ordinário do

lugar, nas demais igrejas, oratórios e capelas.

§ 2. Nos lugares sagrados em que se conserva a santíssima Eucaristia, deve

haver sempre quem dela tenha cuidado, e, quanto possível, um sacerdote aí celebre

a Missa, ao menos duas vezes por mês.

Cânon 935

A ninguém é permitido conservar a santíssima Eucaristia em casa ou levá-la

consigo em viagem, a não ser por necessidade pastoral urgente e observadas as

prescrições do Bispo diocesano.

Cânon 936

Nas casas dos institutos religiosos ou noutras casas pias, conserve-se a

santíssima Eucaristia apenas na igreja ou oratório principal anexo à casa; contudo,

por justa causa, o Ordinário pode permitir que se conserve também noutro oratório

da mesma casa.

Cânon 937

A não ser que obste uma razão grave, a igreja em que se conserva a

santíssima Eucaristia esteja todos os dias, ao menos por algumas horas, aberta aos

fiéis, para que eles possam consagrar algum tempo à oração diante do santíssimo

Sacramento.

Cânon 938

§ l. Habitualmente, a santíssima Eucaristia conserve-se apenas num único

tabernáculo da igreja ou oratório.

§ 2. O tabernáculo, em que se conserva a santíssima Eucaristia, há de situar-

se nalguma parte da igreja ou oratório que seja insigne, visível, decorosamente

adornada e apta para a oração.

§ 3. O tabernáculo, em que habitualmente se conserva a santíssima

Eucaristia, seja inamovível, construído de matéria sólida não transparente e fechado

de tal modo que se evite ao máximo o perigo de profanação.

§ 4. Por causa grave, é lícito conservar a santíssima Eucaristia, sobretudo du-

rante a noite, noutro lugar mais seguro e que seja decoroso.

§ 5. Quem tiver o cuidado da igreja ou oratório providencie para que a chave

do tabernáculo, em que se conserva a santíssima Eucaristia, seja guardada com

toda a cautela.

Cânon 939

Conservem-se na píxide ou num vaso as hóstias consagradas, em quantidade

suficiente para as necessidades dos fiéis, e renovem-se com frequência,

consumindo-se devidamente as antigas.

Cânon 940

Diante do tabernáculo em que se conserva a santíssima Eucaristia esteja

acesa continuamente uma lâmpada especial, com que se indique e honre a

presença de Cristo.

Cânon 941

§ l. Nas igrejas e oratórios em que é permitido conservar a santíssima

Eucaristia, podem fazer-se exposições quer com a píxide quer com a custódia,

observadas as normas prescritas nos livros litúrgicos.

§ 2. Durante a celebração da Missa, não haja exposição do santíssimo Sacra-

mento no mesmo recinto da igreja ou oratório.

Cânon 942

Recomenda-se que nas referidas igrejas e oratórios se faça todos os anos

uma exposição solene do santíssimo Sacramento, durante o tempo conveniente,

mesmo não contínuo, para que a comunidade local medite mais profundamente o

mistério eucarístico e o adore; só se faça tal exposição, se previr uma afluência

razoável de fiéis e observando-se as normas estabelecidas.

Cânon 943

O ministro da exposição do santíssimo Sacramento e da bênção eucarística é

o sacerdote ou o diácono; em circunstâncias especiais, exclusivamente para a

exposição e a reposição, mas sem a bênção, é o acólito, o ministro extraordinário da

sagrada comunhão, ou outrem designado pelo Ordinário do lugar, observadas as

prescrições do Bispo diocesano.

Cânon 944

§ l. Onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar

publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia faça-se uma procissão

pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo.

§ 2. Compete ao Bispo diocesano estabelecer normas sobre as procissões,

com que se providencie à participação e dignidade delas.

A TRANSUBSTANCIAÇÃO

A Igreja chama de transubstanciação a mudança da natureza do pão no corpo

de Cristo, e a mudança da natureza do vinho no seu sangue.

O termo transubstanciação, na linguagem teológica, só se tornou corrente a

partir do séc. XII, embora a realidade por ele expressa já fosse professada pela

Sagrada Escritura e pelas subsequentes gerações cristãs. No séc. XI um concílio

regional de Roma (1079), recolhendo os dados da tradição teológica anterior, redigiu

a seguinte profissão de fé:

“Intimamente creio e abertamente confesso que o pão e o vinho colocados

sobre o altar, mediante o mistério da oração sagrada e as palavras do nosso

Redentor, se convertem substancialmente (subs-tantialiter converti) na verdadeira,

própria, carne e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; e (…) que, depois da

Consagração, há o verdadeiro corpo de Cristo, o qual nasceu da Virgem, foi

oferecido para a salvação do mundo, pendurado na cruz e ora está assentado a

direita do Pai; há também o verdadeiro sangue de Cristo, que jorrou do seu lado; na

propriedade da sua natureza e na realidade da sua substância” (DS 700).

No séc. XIII o Concílio do Latrão IV (1215), retomando a constante doutrina

da Igreja, exprimiu-a com a palavra que se achava esboçada pelos textos anteriores:

transubstanciação. Os subsequentes Concílios de Constança (1415-1417) e

Florença (1438-1444) repetiram, em suas definições, o termo que assim se tornara

clássico na teologia.

Santo Agostinho († 430) já dizia a mesma coisa em outras palavras: “O que

vedes, caríssimos, na mesa do Senhor, é pão e vinho; mas esse pão e esse vinho,

acrescentando-se-lhes a palavra, tornam-se corpo e sangue de Cristo (…). Tira a

palavra, e tens pão e vinho; acrescenta a palavra, e já tens outra coisa. E essa outra

coisa que é? Corpo e sangue de Cristo.

Tira a palavra, e tens pão e vinho; acrescenta a palavra, e tens um

sacramento. A isso tudo vós dizeis: “Amém”. Dizer “Amém” é subscrever Amém; em

latim significa: É verdade” (Sermão 6,3).

Quando Lutero pôs em dúvida a presença real e permanente de Cristo na

sagrada Hóstia, o Concílio de Trento, em 1551, professou:

“Uma vez que Cristo nosso Redentor disse que aquilo que oferecia sob a

espécie de pão era verdadeiramente o seu corpo (Mt 26,26; Mc 14,22; Lc 22,19;

1Cor 11,24), sempre houve, na Igreja de Deus, esta mesma persuasão que agora

este Santo Concílio passa a declarar: pela consagração do pão e do vinho efetua-se

a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo Nosso

Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue. Esta

conversão foi com muito acerto e propriedade chamada pela Igreja Católica

transubstanciação” (DS 1642; cf. DS 165).

O corpo de Cristo pode simultaneamente estar presente em diversas hóstias

consagradas e em vários lugares, pois Jesus não está presente na Eucaristia pela

localização no espaço; mas pela presença do pão.

A mesma presença do Cristo eucarístico se multiplica, com as muitas Hóstias

consagradas, sem que o corpo de Cristo se multiplique. Não há bilocação nem

multilocação do corpo de Cristo, porque simplesmente não há locação do mesmo,

mas apenas locação e multilocação do pão consagrado.

O corpo de Cristo não se parte nem se divide quando se divide a sagrada

Hóstia; quando o pão consagrado é partido, só se parte a quantidade do pão, não o

corpo de Jesus. Assim, muitas Hóstias e muitos fragmentos de Hóstia não

constituem muitos Cristos, o que seria absurdo, mas muitas “presenças” de um só e

mesmo Cristo. Uma comparação se pode fazer com os espelhos. A multiplicação

deles não multiplica o objeto original, mas multiplica a presença desse objeto.

Quando você olha para um espelho, nele você vê uma imagem do seu rosto inteiro;

se quebrá-lo em duas ou mais partes, a sua imagem não se quebrará com o

espelho, mas continuará uma imagem inteira em cada pedaço.

Outra comparação é a de uma música ouvida por muitos ouvintes; isto não

multiplica a música, mas apenas a presença da mesma (Dom Estevão Bettencourt).

Quando o pão eucarístico se deteriora por efeito do tempo, dos sucos

digestivos ou de um agente corruptor, o que se estraga são apenas os acidentes do

pão (quantidade, cor, figura…); então, o corpo de Cristo deixa de estar presente sob

os véus eucarísticos desde que estes sejam alterados. Cristo claramente quis que a

sua presença eucarística fosse garantida pelas espécies, ou as aparências, de pão e

vinho, não as de algum outro corpo.

É importante notar que para o físico, a substância de um corpo é algo

material, que ele pode medir e pesar, mas para o filósofo ou o teólogo, a substância

das coisas materiais é uma entidade muito real, mas só perceptível pela inteligência.

O que para o físico é substância, para o filósofo é aparência, ou acidente. Assim, na

Eucaristia, há mudança de substância ou essência do pão e do vinho, mas as

aparências acidentais permanecem as mesmas.

Explicando melhor: em todo ser há um conjunto de coisas que podem mudar,

como o tamanho, a cor, o peso, o sabor, etc., e um substrato-permanente que,

conservando-se sempre o mesmo, caracteriza o ser, que não muda. Esse substrato

é chamado substância, essência ou natureza do ser. Em qualquer pedaço de pão,

há coisas mutáveis: a cor, tamanho, gosto, o sabor, a posição, sem que a substância

que as sustenta mude; esta substância ninguém vê; mas é uma realidade. Assim, há

homens de cores diferentes, feições diferentes, etc.; mas todos possuem uma

mesma substância: uma alma humana imortal, que se nota pelas suas faculdades

que os animais não têm: inteligência, liberdade, vontade, consciência, psiquê, etc.

Quando as palavras da Consagração são pronunciadas sobre o pão, a

substância (essência, natureza) deste se muda ou se converte totalmente em

substância do corpo humano de Jesus (donde o nome “transubstanciação”), ficando,

porém, os acidentes externos (aparências) do pão (gosto, cor, cheiro, sabor,

tamanho, etc.); sendo assim, sem mudar de aparência, o pão consagrado já não é

pão, mas é substancialmente o corpo de Cristo.

Evidentemente Cristo manteve as aparências do pão, a fim de que

pudéssemos recebê-lo como alimento. O mesmo se dá com o vinho; ao serem

pronunciadas sobre ele as palavras da Consagração; sua substância se converte na

do sangue do Senhor, pelo poder da intervenção da Onipotência divina. As palavras

do sacerdote já não são mais dele, mas de Cristo mesmo que, pelo sacramento da

Ordem, age por meio dele.

A fé católica, no Concílio de Trento, rejeitou a doutrina de Lutero, que admitia

a “empanação” de Cristo: isto é, permaneceriam a substância do pão e a do vinho

junto com a do corpo e a do sangue de Cristo; o pão continuaria a ser realmente pão

(e não apenas segundo as aparências), o vinho continuaria a ser realmente vinho (e

não apenas segundo as aparências), de tal sorte que o corpo de Cristo estaria como

que “revestido” de pão e vinho.

Assim como na criação acontece o surgimento de todo o ser, também na

Eucaristia há a conversão de todo o ser. Esta “conversão de todo o ser” é

“conversão de toda a substância” ou “transubstanciação”.

Assim como só Deus pode criar (tirar um ser do nada), só Deus pode

“transubstanciar”, ambas as atividades supõem um poder infinito que só Deus tem.

O Papa Paulo VI, na encíclica “Mysterium Fidei”, em 1965, disse:

“Todavia, para que ninguém entenda mal este modo de presença que supera

as leis da natureza (…) é necessário escutar com docilidade a voz da Igreja docente

e orante. Esta voz, que repete continuamente a voz de Cristo, ensina-nos que neste

Sacramento Cristo se torna presente pela conversão de toda a substância do pão no

seu Corpo e de toda a substância do vinho no seu Sangue; conversão admirável e

sem paralelo, que a Igreja Católica chama, com razão e propriedade,

‘transubstanciação’ (Cf. Conc.Trid., Decr. De Ss. Euchar., cân. 4 e cân. 2). Depois

da transubstanciação as espécies do pão e do vinho tomam nova significação e

nova finalidade, deixando de pertencer a um pão usual e a uma bebida usual, para

se tornarem sinal de coisa sagrada e sinal de alimento espiritual; mas só adquirem

nova significação e nova finalidade por conterem nova ‘realidade’, a que chamamos

com razão ‘ontológica’. Com efeito, sob as ditas espécies já não há o que havia

anteriormente, mas outra coisa completamente diversa: isto não só porque assim

julga a fé da Igreja, mas porque é uma realidade objetiva, pois, convertida a

substância ou natureza do pão e do vinho, no Corpo e no Sangue de Cristo, nada

fica do pão e do vinho, além das espécies; debaixo destas, está Cristo completo,

presente na sua ‘realidade’ física, mesmo corporalmente, se bem que não do

mesmo modo como os corpos se encontram presentes localmente” (MF 47).

Prestamos uma grande honra a uma pessoa quando cremos em sua palavra,

suspeitá-la de mentira é uma grande injúria.

Quem confia na palavra do amigo não lhe pede provas e garantias. Se

cremos na palavra dos nossos pais, irmãos e amigos, por que não crer na Palavra

de Jesus: “Isto é o meu corpo”, “Isto é o meu sangue?”.

Crer em Jesus na Eucaristia é honrar a sua Pessoa divina, é respeitar o

mistério que o envolve, e nosso mérito é grande e alegra o coração do Senhor. Crer

“contra o que nos dizem os sentidos”, apoiando-se unicamente na Palavra do

Mestre, é dar-lhe grande glória.

Crer que neste Sacramento estão presentes o Corpo e o Sangue de Cristo,

“não é coisa que se possa descobrir com os sentidos, diz Santo Tomás, mas só com

a fé, baseada na autoridade de Deus. Por isso, comentando a passagem de São

Lucas, 22,19:

“Isto é o meu corpo que será entregue por vós”, diz São Cirilo: “Não ponhas

em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com  fé as palavras do Salvador; sendo

Ele a Verdade, não mente” (Summa Theol. III, q. 75, a. I.).

A CRISMA (CONFIRMAÇÃO)

Juntamente com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos “sacramentos da iniciação crista cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é necessária à consumação da graça batismal. Com efeito, “pelo sacramento da Confirmação [os fiéis] são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras. (CIC § §-1285).

Como era no princípio:

“Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera

a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram

oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que não havia

descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome

do Senhor Jesus. Então os dois apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o

Espírito Santo.” (Atos 8,14-17)

Já tendo recebido o Batismo e participando da Eucaristia, a fim de concretizar a

iniciação cristã, os discípulos chamavam os apóstolos para concluir com a imposição

de mãos e assim serem confirmados com o Espírito Santo.

A CRISMA SEGUNDO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – CIC

A CONFIRMAÇÃO NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor

repousaria sobre o Messias esperado (92), em vista da sua missão salvífica (93). A

descida do Espírito Santo sobre Jesus, quando do seu batismo por João, foi o sinal

de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (94).

Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se

realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá “sem

medida” (Jo 3, 34).

Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no Messias:

devia ser comunicada a todo o povo messiânico (95). Repetidas vezes, Cristo

prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de Páscoa

(97) e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes (98). Cheios do

Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar “as maravilhas de Deus” (At

2, 11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos tempos

messiânicos (99). Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e se

fizeram batizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo (100).

“A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo,

comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para

completar a graça do Batismo (101). É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se

menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os

Batismos e também sobre a imposição das mãos (102). A imposição das mãos é

justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do sacramento

da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do Pentecostes”

(103).

Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se acrescentou à

imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o

nome de “cristão”, que significa “ungido”,e que vai buscar a sua origem ao próprio

nome de Cristo, aquele que “Deus ungiu com o Espírito Santo” (At 10, 38). E este

rito da unção mantém-se até aos nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. É

por isso que, no Oriente, este sacramento se chama crismação (= unção do crisma),

ou myron, que significa “crisma”. No Ocidente, o nome de Confirmação sugere que

este sacramento confirma o Batismo e, ao mesmo tempo, consolida a graça

batismal. (CIC § 1286-1289)

DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE

Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única

celebração com o Batismo, formando com ele, segundo a expressão de São

Cipriano, um “sacramento duplo” (104). Entre outras razões, a multiplicação dos

batismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das

paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do bispo

em todas as celebrações batismais. No Ocidente, porque se desejava reservar ao

bispo o completar do Batismo, instaurou-se a separação, no tempo, dos dois

sacramentos. O Oriente conservou unidos os dois sacramentos, de tal modo que a

Confirmação é dada pelo sacerdote que batiza. Este, no entanto, só o pode fazer

com o “myron” consagrado por um bispo (105).

Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental,

graças a uma dupla unção com o santo crisma, depois do batismo: a unção já feita

pelo sacerdote ao neófito ao sair do banho batismal é completada por uma segunda

unção, feita pelo bispo na fronte de cada um dos novos batizados (106). A primeira

unção com o santo crisma, feita pelo sacerdote, ficou ligada ao rito batismal e

significa a participação do batizado nas funções profética, sacerdotal e real de

Cristo. Se o Batismo é conferido a um adulto, há apenas uma unção pós - batismal:

a da Confirmação.

A prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A

da Igreja latina exprime, com maior nitidez, a comunhão do novo cristão com o seu

bispo, garante e servidor da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da sua

apostolicidade; e assim, a ligação com as origens apostólicas da Igreja de Cristo.

(CIC § 1290-1292)

OS SINAIS E O RITO DA CONFIRMAÇÃO

No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que essa

unção designa e imprime: o selo espiritual.

A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o

óleo é sinal de abundância (107) e de alegria (108), purifica (unção antes e depois

do banho) e torna ágil (unção dos atletas e lutadores): é sinal de cura, pois suaviza

as contusões e as feridas (109) e torna radiante de beleza, saúde e força.

Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida

sacramental. A unção antes do Batismo, com o óleo dos catecúmenos, significa

purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A unção

com o santo crisma depois do Batismo, na Confirmação e na Ordenação, é sinal

duma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, quer dizer, os que são ungidos,

participam mais na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito Santo de que

Ele está repleto, a fim de que toda a sua vida espalhe “o bom odor de Cristo” (110)

Por esta unção, o confirmando recebe “a marca”, o selo do Espírito Santo. O

selo é o símbolo da pessoa (111), sinal da sua autoridade (112), da sua propriedade

sobre um objeto (113). Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu

chefe e também os escravos com o do seu dono. O selo autentica um ato jurídico

(114) ou um documento (115) e, eventualmente, torna-o secreto (116).

O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai (117). O cristão

também está marcado com um selo: “Foi Deus que nos concedeu a unção, nos

marcou também com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos corações”

(2 Cor 1, 21-22) (118). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, a

entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa da proteção divina na

grande prova escatológica (119). (CIC § 1293-1296)

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas

que, de certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo que,

em Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo crisma para

toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é mesmo reservada

ao Patriarca:

A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo

crisma (myron, em grego): “[Pai (...), envia o Teu Espírito Santo] sobre nós e sobre

este óleo que está diante de nós e consagra-o, para que seja para todos os que com

ele forem ungidos e marcados, myron santo, myron sacerdotal, myron real, unção de

alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das

almas e dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé, o

capacete invencível contra todas as obras do Adversário” (120).

Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Batismo, como

acontece no rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das

promessas do Batismo e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se evidencia

claramente que a Confirmação se situa na continuação do Batismo (121). No caso

do Batismo dum adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e participa na

Eucaristia (122).

No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos confirmandos,

gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do Espírito. E o bispo

invoca assim a efusão do Espírito:

“Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, pela água e

pelo Espírito Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do

pecado, enviai sobre eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de

sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de

ciência e de piedade, e enchei-os do espírito do vosso temor. Por nosso Senhor

Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo” (123).

Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, “o sacramento da

Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a

imposição da mão, e por estas palavras: ”Accipe signaculum doni Spiritus Sancti

– Recebe por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus” (124). Nas Igrejas

orientais de rito bizantino, a unção do myron faz-se depois duma oração de epiclese,

sobre as partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos,

os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés, sendo cada unção acompanhada da

fórmula: “Σφραγίζ δωραζ Πυεύματζ Άγίoυ” (“Signaculum doni Spiritus Sancti – Selo

do dom que é o Espírito Santo” ) (125).

O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e manifesta

a comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis (126). (CIC § 1297-1301)

OS EFEITOS DA CONFIRMAÇÃO

Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é uma

efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no

dia de Pentecostes.

Por esse fato, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento da

graça batismal:

– enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer “

Abba! Pai!” (Rm 8, 15);

–  une-nos mais firmemente a Cristo;

– aumenta em nós os dons do Espírito Santo;

– torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja (127);

– dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e

defendermos a fé, pela palavra e pela ação, como verdadeiras testemunhas

de Cristo, para confessarmos com valentia o nome de Cristo, e para nunca

nos envergonharmos da cruz (128):

“Lembra-te, pois, de que recebeste o sinal espiritual, o espírito de sabedoria e

de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de

piedade, o espírito do santo temor, e guarda o que recebeste. Deus Pai marcou-te

com o seu sinal, o Senhor Jesus Cristo confirmou-te e pôs no teu coração o penhor

do Espírito” (129).

Tal como o Batismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só

vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével,

o ”caráter” (130), que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o selo do

seu Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua testemunha (131).

O “caráter” aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Batismo, e

“o confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo publicamente e como em

virtude dum encargo oficial (quasi ex officio)” (132). ( CIC 1302 – 1305)

QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?

Todo o batizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da

Confirmação (133). Uma vez que Batismo, Confirmação e Eucaristia formam uma

unidade, segue-se que “os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no tempo

devido” (134), porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do Batismo

é, sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã fica incompleta.

O costume latino, desde há séculos, aponta “a idade da discrição” como ponta

de referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte, porém, devem

confirmar-se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido a idade da

discrição (135).

Se por vezes se fala da Confirmação como “sacramento da maturidade

cristã”, não deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade adulta

do crescimento natural, nem esquecer-se que a graça batismal é uma graça de

eleição gratuita e imerecida, que não precisa duma “ratificação” para se tornar

efetiva. São Tomás recorda isso mesmo:

“A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Por isso, mesmo na

infância, o homem pode receber a perfeição da idade espiritual de que fala a

Sabedoria (4, 8): “A velhice honrada não é a que dão os longos dias, nem se avalia

pelo número dos anos”. E foi assim que muitas crianças, graças à fortaleza do

Espírito Santo que tinham recebido, lutaram corajosamente e até ao sangue por

Cristo” (136).

A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a uma

união mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o Espírito Santo,

com a sua ação, os seus dons e os seus apelos, para melhor assumir as

responsabilidades apostólicas da vida cristã. Desse modo, a catequese da

Confirmação deve esforçar-se por despertar o sentido de pertença à Igreja de Jesus

Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade paroquial. Esta última tem uma

responsabilidade particular na preparação dos confirmandos (137).

Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém

recorrer ao sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do dom do

Espírito Santo. E uma oração mais intensa deve preparar para receber com

docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo (138).

Tanto para a Confirmação, como para o Batismo, convém que os candidatos

procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É conveniente que

seja o mesmo do Batismo, para marcar bem a unidade dos dois sacramentos (139).

(CIC § 1306-1311)

O MINISTRO DA CONFIRMAÇÃO

O ministro originário da Confirmação é o bispo (140).

No Oriente, é ordinariamente o sacerdote que batiza quem imediatamente

confere a Confirmação, numa só e mesma celebração. Fá-lo, no entanto, com o

santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo bispo, o que exprime a unidade

apostólica da Igreja, cujos laços são reforçados pelo sacramento da Confirmação.

Na Igreja latina aplica-se a mesma disciplina nos batismos de adultos ou quando é

admitido à plena comunhão com a Igreja um batizado de outra comunidade cristã,

que não tenha recebido validamente o sacramento da Confirmação (141).

No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo (142). Mesmo que

o bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de

administrar a Confirmação (143), é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la,

não se esquecendo de que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi

separada, no tempo, da do Batismo. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos e

receberam a plenitude do sacramento da Ordem. A administração deste sacramento

feita por eles, realça que ele tem como efeito unir mais estreitamente aqueles que o

recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar testemunho de

Cristo.

Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode conferir-

lhe a Confirmação (144). De fato, é vontade da Igreja que nenhum dos seus filhos,

mesmo pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição pelo Espírito

Santo com o dom da plenitude de Cristo. (CIC § 1312-1316).

O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO - CDC

Cânon 879

O sacramento da confirmação, que imprime caráter, e pelo qual os batizados,

prosseguindo o caminho da iniciação cristã, são enriquecidos com o dom do Espírito

Santo e se vinculam mais perfeitamente à Igreja, robustece-os e obriga-os mais

estritamente para serem testemunhas de Cristo pela palavra e pelas obras, assim

como para difundirem e defenderem a fé.

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

Cânon 880

§ 1. O sacramento da confirmação é conferido mediante a unção do crisma na

fronte, a qual se realiza pela imposição da mão e pelas palavras prescritas nos livros

litúrgicos aprovados.

§ 2. O crisma a utilizar no sacramento da confirmação deve ser consagrado

pelo Bispo, ainda que o sacramento seja administrado por um presbítero.

Cânon 881

É conveniente que o sacramento da confirmação se celebre na igreja e

mesmo dentro da Missa; todavia, por uma causa justa e razoável, pode celebrar-se

fora da Missa e em qualquer lugar digno.

O MINISTRO DA CONFIRMAÇÃO

Cânon 882

O ministro ordinário da confirmação é o Bispo; administra validamente este

sacramento também o presbítero dotado de tal faculdade, em virtude do direito

universal ou por concessão especial da autoridade competente.

Cânon 883

Pelo próprio direito gozam da faculdade de administrar a confirmação:

1.° dentro dos limites do seu território, os que pelo direito se equiparam ao

Bispo diocesano;

2.° relativamente à pessoa de que se trata, o presbítero que, em razão do

ofício ou por mandato do Bispo diocesano, batiza alguém saído da infância, ou

recebe o já batizado na comunhão plena com a Igreja católica;

3.° relativamente aos que se encontram em perigo de morte, o pároco e

mesmo qualquer presbítero.

Cânon 884

§ 1. O Bispo diocesano administre a confirmação pessoalmente ou diligencie

que seja administrada por outro Bispo; se a necessidade, porém, o exigir, pode

conceder a um ou vários presbíteros determinados a faculdade de administrarem

este sacramento.

§ 2. Por causa grave, o Bispo e também o presbítero que, por direito ou pecu-

liar concessão da autoridade competente tenha a faculdade de confirmar, podem em

cada caso associar a si presbíteros que também administrem o sacramento.

Cânon 885

§ 1. O Bispo diocesano tem obrigação de providenciar para que o sacramento

da confirmação seja conferido aos seus súbditos que devida e razoavelmente o

peçam.

§ 2. O presbítero, que goza desta faculdade, deve usá-la em relação àqueles

em cujo favor tal faculdade foi concedida.

Cânon 886

§ 1. O Bispo, dentro da sua diocese, administra legitimamente o sacramento

da confirmação mesmo aos fiéis não seus súbditos, a não ser que obste a proibição

expressa do Ordinário próprio dos mesmos.

§ 2. Para administrar licitamente a confirmação em diocese alheia, o Bispo

necessita, a não ser que se trate de súbditos seus, de licença, ao menos

razoavelmente presumida, do Ordinário do lugar.

Cânon 887

O presbítero dotado da faculdade de administrar a confirmação confere-a

licitamente, dentro do território que lhe está designado, mesmo a estranhos, a não

ser que obste a proibição do Ordinário próprio dos mesmos; mas em território alheio,

não administra validamente este sacramente a ninguém, salvo o prescrito no Cânon

883, n.º 3.

Cânon 888

Dentro do território, em que lhes é permitido administrar a confirmação, os

ministros podem administrá-la mesmo em lugares isentos.

OS CONFIRMANDOS

Cânon 889

§ 1. Tem capacidade para receber a confirmação todo e só o batizado, ainda

não confirmado.

§ 2. Fora de perigo de morte, para alguém receber licitamente a confirmação,

requer-se que, se tiver o uso da razão, esteja convenientemente instruído, devida-

mente disposto e possa renovar as promessas do batismo.

Cânon 890

Os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no tempo devido;

procurem os pais, os pastores de almas, especialmente os párocos, que os fiéis

sejam devidamente instruídos para o receberem e dele se aproximem em tempo

oportuno.

Cânon 891

O sacramento da confirmação administre-se cerca da idade da discrição, a

não ser que a Conferência episcopal determine outra idade, ou exista perigo de

morte, ou, a juízo do ministro, causa grave aconselhe outra coisa.

OS PADRINHOS

Cânon 892

Ao confirmando, quanto possível, assista um padrinho, cujo múnus é procurar

que o confirmado proceda como verdadeira testemunha de Cristo e cumpra

fielmente as obrigações inerentes a este sacramento.

Cânon 893

§ 1. Para alguém exercer o múnus de padrinho, é necessário que satisfaça às

condições referidas no Cânon 874.

§ 2. Convém que se escolha para padrinho quem desempenhou essas

funções no batismo.

A PROVA E ANOTAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

Cânon 894

Para provar a administração da confirmação, observem-se as prescrições do

Cânon 876.

Cânon 895

Inscrevam-se no livro das confirmações da Cúria diocesana os nomes dos

confirmados, fazendo-se menção do ministro, pais e padrinhos, do dia e lugar da

confirmação ou, onde tal for prescrito pela Conferência episcopal ou pelo Bispo

diocesano, no livro a conservar no arquivo paroquial; o pároco deve comunicar ao

pároco do lugar do batismo a confirmação recebida, para que se faça o averbamento

no livro dos batismos, nos termos do Cânon 535, § 2.

Cânon 896

Se o pároco do lugar não tiver estado presente, o ministro, por si ou por

outrem, informe-o quanto antes da confirmação administrada.

OS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO

Somente pela ação do Espírito Santo em nós é que podemos conquistar a

santidade. É ele, que desde o Batismo vem habitar em nós para fazer-nos “templos

do Deus vivo”; ou, como disse São Pedro, “pedras vivas, vós também vos tornais os

materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, a oferecer vítimas espirituais

agradáveis a Deus, por Cristo” (1Pe 2,5).

O Espírito de Jesus habita em nós para fazer-nos imagens de Jesus, o

Homem perfeito, o Santo.

“Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em

vós? … Porque o templo de Deus, que sois vós é santo” (1 Cor 3,16). “Ou não

sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual vos

foi dado por Deus? (1 Cor 6,19).

Desde o Batismo o Espírito habita em nós com a Trindade Santíssima e nos

dá os dons de santificação: Sabedoria, Ciência, Entendimento, Conselho, Fortaleza,

Piedade e Temor de Deus. A Igreja nos ensina que mediante esses dons o Espírito

nos dirige para a santificação, na medida em que a nossa disposição coopera com a

graça.

SABEDORIA

Pelo dom da Sabedoria, o Espírito nos capacita a conhecer a Deus na

intimidade e também nos leva a conhecer a Sua vontade. Faz-nos perceber a mão

de Deus em nossa vida, guiando os nossos passos.

ENTENDIMENTO (INTELIGÊNCIA)

Pelo Entendimento, ou Inteligência, nos leva a ver as pessoas e o mundo com

os olhos de Deus,  e não com a nossa “miopia humana”, que mais enxerga os

defeitos e os erros do que as qualidades e as belezas das pessoas e das criaturas.

Por esse dom somos levados a querer penetrar os mistérios de Deus e o seu

conhecimento. Ainda menino no Mosteiro de Monte Cassino, São Tomás de Aquino

já surpreendia os monges com essa pergunta: “Quem é Deus”?

CIÊNCIA

O dom da Ciência nos leva a compreender e aceitar os planos de Deus

revelados na Sagrada Escritura. Por esse dom muitos santos, embora quase

analfabetos, tinham a ciência infusa das coisas de Deus. Santa Bernadete, a quem

Nossa Senhora disse: “Eu Sou a Imaculada Conceição”,  menina ainda, soube com

grande ciência e acerto responder as perguntas capciosas que lhe faziam. Santa

Catarina de Sena, embora analfabeta, nos deixou riquíssimos ensinamentos de

doutrina, a ponto de ser declarada pela Igreja, Doutora, em 1970, pelo Papa Paulo

VI.

CONSELHO

O dom do Conselho nos faz sábios diante da vida e nos impulsiona a procurar

a Deus e a levar os outros a Deus. Dom Bosco, quando ainda menino, fazia mil

peripécias para divertir os seus amiguinhos, desde que depois eles rezassem juntos

o Terço.

FORTALEZA

O dom da Fortaleza nos prepara para lutar contra as tentações e o pecado.

Nos faz corajosos na defesa da fé, da “sã doutrina” (1 Tm 1,10) da Igreja, e nos

ajuda a vencer as zombarias e o respeito humano. Houve na época do império

romano um menino cristão chamado Tarcísio, que levava o Santíssimo Sacramento

aos doentes; preferiu ser apedrejado e morto por meninos pagãos do que lhes

entregar a Hóstia sagrada, para ser profanada. A Fortaleza também nos é dada para

termos força e paciência para carregar a cruz de cada dia. Sem esse dom nos

desesperamos diante do sofrimento e da dor.

PIEDADE

A Piedade produz em nós o amor a Deus acima de tudo, afastando-nos de

toda forma de idolatria (prazeres, amor ao dinheiro, status, fama, vanglória, poder,

superstições, ocultismo, etc.) para adorar e servir somente a Deus. Faz-nos também

vivermos como verdadeiros filhos de Deus, que ama o Pai com toda a sua vida:

pensamentos, palavras e obras.  É também o dom que nos leva e capacita à oração

permanente e humilde que tudo alcança. Faz-nos curvar a cabeça e o coração

diante das coisas sagradas. Move-nos a adorar a Deus e venerar os seus santos e

anjos, e de modo especial a Nossa Senhora, Mãe de Deus.

TEMOR DE DEUS

O Temor de Deus não consiste em ter medo de Deus. Jesus nos revelou o

grande amor de Deus na parábola do filho pródigo; o Pai sempre pronto a acolher e

a perdoar o  filho que o abandonou. Esse Temor é o receio de ofender a Deus por

ser Ele tão  bom e Santo. Não é medo de ofendê-lo e ser castigado, e sim receio de

decepcioná-lo com o nosso pecado. Então, por amor a Deus, nos leva a fugir do

pecado, já que este entristece a Deus, o decepciona.

UNÇÃO DOS ENFERMOS

Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja

toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os

alivie e salve. Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte

de Cristo e contribuam para o bem do povo de Deus.” (CIC § 1499)

Como era no princípio:

“Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé

daquela gente, disse ao paralítico: "Meu filho, coragem! Teus pecados te são

perdoados." Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem

blasfema." Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que

pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são

perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem

na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -, toma a

tua maca e volta para tua casa." Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.

(Mateus 9,2-7)

Jesus instituiu o Sacramento da Unção dos enfermos junto do Sacramento da

Reconciliação, todos os doentes tinham os seus pecados perdoados e seguida era

curados de suas doenças.

A UNÇÃO DOS ENFERMOS SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – CIC

OS SEUS FUNDAMENTOS NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

A DOENÇA NA VIDA HUMANA

A doença e o sofrimento estiveram sempre entre os problemas mais graves

que afligem a vida humana. Na doença, o homem experimenta a sua incapacidade,

os seus limites, a sua finitude. Qualquer enfermidade pode fazer-nos entrever a

morte.

A doença pode levar à angústia, ao fechar-se em si mesmo e até, por vezes,

ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também pode tornar uma pessoa mais

amadurecida, ajudá-la a discernir, na sua vida, o que não é essencial para se voltar

para o que o é. Muitas vezes, a doença leva à busca de Deus, a um regresso a Ele.

(CIC 1500-1501)

O DOENTE PERANTE DEUS

O homem do Antigo Testamento vive a doença à face de Deus. É diante de

Deus que desafoga o seu lamento pela doença que lhe sobreveio (97) e é d'Ele.

Senhor da vida e da morte, que implora a cura (98). A doença torna-se caminho de

conversão (99) e o perdão de Deus dá início à cura (100). Israel faz a experiência de

que a doença está, de modo misterioso, ligada ao pecado e ao mal, e de que a

fidelidade a Deus em conformidade com a sua Lei restitui a vida: “porque Eu, o

Senhor, é que sou o teu médico” (Ex 15, 26). O profeta entrevê que o sofrimento

pode ter também um sentido redentor pelos pecados dos outros (101). Finalmente,

Isaías anuncia que Deus fará vir para Sião um tempo em que perdoará todas as

faltas e curará todas as doenças (102). (CIC 1502)

CRISTO-MÉDICO

A compaixão de Cristo para com os doentes e as suas numerosas curas de

enfermos de toda a espécie (103) são um sinal claro de que “Deus visitou o seu

povo” (104) e de que o Reino de Deus está próximo. Jesus tem poder não somente

para curar, mas também para perdoar os pecados (105): veio curar o homem na sua

totalidade, alma e corpo: é o médico de que os doentes precisam (106). A sua

compaixão para com todos os que sofrem vai ao ponto de identificar-Se com eles:

“Estive doente e visitastes-Me” (Mt 25, 36). O seu amor de predileção para com os

enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção particular dos

cristãos para aqueles que sofrem no corpo ou na alma. Ele está na origem de

incansáveis esforços para os aliviar.

Frequentemente, Jesus pede aos doentes que acreditem (107). Serve-se de

sinais para curar: saliva e imposição das mãos (108), lodo e lavagem (109). Por seu

lado, os doentes procuram tocar-Lhe (110), “porque saía d'Ele uma força que a

todos curava” (Lc 6, 19). Por isso, nos sacramentos, Cristo continua a “tocar-nos”

para nos curar.

Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos

doentes, como também faz suas as misérias deles: “Tomou sobre Si as nossas

enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mt 8, 17) (111). Ele não curou

todos os doentes. As curas que fazia eram sinais da vinda do Reino de Deus.

Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte,

mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o peso do mal (112) e

tirou “o pecado do mundo” (Jo 1, 29), do qual a doença não é mais que uma

consequência. Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo sentido ao

sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão

redentora. (CIC §1503-1505)

“CURAI OS ENFERMOS...”

Cristo convida os discípulos a seguirem-no, tomando a sua cruz (113).

Seguindo-O, eles adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus

associa-os à sua vida pobre e servidora. Fá-los participar no seu ministério de

compaixão e de cura: E eles “partiram e pregaram que era preciso cada um

arrepender-se. Expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo numerosos doentes,

e curavam-nos” (Mc 6, 12-13).

O Senhor ressuscitado renova esta missão (“em Meu nome... hão de impor as

mãos aos doentes, e estes ficarão curados”: Mc 16, 1 7-18) e confirma-a por meio

dos sinais que a Igreja realiza invocando o seu nome (114). Estes sinais manifestam

de modo especial, que Jesus é verdadeiramente “Deus que salva” (115).

O Espírito Santo confere a alguns o carisma especial de poderem curar (116)

para manifestar a força da graça do Ressuscitado. Todavia, nem as orações mais

fervorosas obtêm sempre a cura de todas as doenças. Assim, São Paulo deve

aprender do Senhor que “a minha graça te basta: pois na fraqueza é que a minha

força atua plenamente” (2 Cor 12, 9), e que os sofrimentos a suportar podem ter

como sentido que “eu complete na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em

benefício do seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1, 24).

“Curai os enfermos!” (Mt 10, 8). A Igreja recebeu este encargo do Senhor e

procura cumpri-lo, tanto pelos cuidados que dispensa aos doentes, como pela

oração de intercessão com que os acompanha. Ela "crê na presença vivificante de

Cristo, médico das almas e dos corpos, presença que age particularmente através

dos sacramentos e de modo muito especial da Eucaristia, pão que dá a vida eterna

(117) e cuja ligação com a saúde corporal é insinuada por São Paulo (118).

Entretanto, a Igreja dos Apóstolos conhece um rito próprio em favor dos

enfermos, atestado por São Tiago: “Alguém de vós está doente? Chame os

presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do

Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido

pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Ts; 5, 14-15). A Tradição reconheceu neste rito um

dos sete sacramentos da Igreja (119). (CIC § 1506-1510)

UM SACRAMENTO DOS ENFERMOS

A Igreja crê e confessa que, entre os sete sacramentos, há um,

especialmente destinado a reconfortar os que se encontram sob a provação da

doença: a Unção dos enfermos:

“Esta santa unção dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como

sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por São

Marcos (120), mas recomendado aos fiéis e promulgado por São Tiago, apóstolo e

irmão do Senhor” (121).

Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, temos, desde os

tempos antigos, testemunhos de unções de doentes praticadas com óleo benzido.

No decorrer dos séculos, a Unção dos enfermos começou a ser conferida cada vez

mais exclusivamente aos que estavam prestes a morrer. Por causa disso, fora-lhe

dado o nome de “Extrema-Unção”. Porém, apesar dessa evolução, a liturgia nunca

deixou de pedir ao Senhor pelo doente, para que recuperasse a saúde, se tal fosse

conveniente para a sua salvação

A Constituição Apostólica ”Sacram Unctionem Infirmorum”, de 30 de

Novembro de 1972, na sequência do II Concílio do Vaticano (123), estabeleceu que,

a partir de então, se observasse o seguinte no rito romano:

“O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido aos que se encontram

enfermos com a vida em perigo, ungindo-os na fronte e nas mãos com óleo de

oliveira ou, segundo as circunstância, com outro óleo de origem vegetal,

devidamente benzido, proferindo uma só vez, as palavras: "Por esta santa unção e

pela sua infinita misericórdia o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito

Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os

teus sofrimentos"“ (124). (CIC § 1511-1513)

QUEM RECEBE E QUEM ADMINISTRA ESTE SACRAMENTO?

EM CASO DE GRAVE ENFERMIDADE...

A Unção dos Enfermos “não é sacramento só dos que estão prestes a morrer.

Por isso, o tempo oportuno para a receber é certamente quando o fiel começa, por

doença ou por velhice, a estar em perigo de morte” (125).

Se um doente que recebeu a Unção recupera a saúde, pode, em caso de

nova enfermidade grave, receber outra vez este sacramento. No decurso da mesma

doença, este sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. É conveniente

receber a Unção dos Enfermos antes duma operação cirúrgica importante. E o

mesmo se diga a respeito das pessoas de idade, cuja fragilidade se acentua. (CIC §

1514-1515)

“... CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA”

 Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos

Enfermos (126). É dever dos pastores instruir os fiéis acerca dos benefícios deste

sacramento. Que os fiéis animem os enfermos chamarem o sacerdote para

receberem este sacramento. E que os doentes se preparem para o receber com

boas disposições, com a ajuda do seu pastor e de toda a comunidade eclesial,

convidada a rodear, de um modo muito especial, os doentes, com as suas orações e

atenções fraternas. (CIC § 1516)

COMO SE CELEBRA ESTE SACRAMENTO?

Como todos os sacramentos, a Unção dos Enfermos é uma celebração

litúrgica e comunitária (127) quer tenha lugar no seio da família, quer no hospital ou

na igreja, para um só doente ou para um grupo deles. É muito conveniente que seja

celebrada durante a Eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor. Se as

circunstâncias a tal convidarem, a celebração do sacramento pode ser precedida

pelo sacramento da Penitência e seguida pelo da Eucaristia. Enquanto sacramento

da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria ser sempre o último sacramento da

peregrinação terrestre, o “viático” da “passagem” para a vida eterna.

Palavra e sacramento formam um todo inseparável. A liturgia da Palavra,

precedida dum ato penitenciai, abre a celebração. As palavras de Cristo e o

testemunho dos Apóstolos despertam a fé do doente e da comunidade, para pedir

ao Senhor a força do seu Espírito.

A celebração do sacramento compreende principalmente os seguintes

elementos: “Os presbíteros da Igreja” (128) impõem em silêncio - as mãos sobre os

enfermos; rezam por eles na fé da Igreja (129); é a epiclese própria deste

sacramento; então, conferem a unção com óleo, benzido, se possível, pelo bispo.

Estes atos litúrgicos indicam a graça que este sacramento confere aos

doentes. (CIC § 1517-1519)

OS EFEITOS DA CELEBRAÇÃO DESTE SACRAMENTO

Um dom particular do Espírito Santo. A primeira graça deste sacramento é

uma graça de reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias

do estado de doença grave ou da fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do

Espírito Santo, que renova a confiança e a fé em Deus, e dá força contra as

tentações do Maligno, especialmente a tentação do desânimo e da angústia da

morte (130). Esta assistência do Senhor pela força do seu Espírito visa levar o

doente à cura da alma, mas também à do corpo, se tal for a vontade de Deus (131).

Além disso, “se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5, 15) (132).

A união à paixão de Cristo. Pela graça deste sacramento, o enfermo recebe a

força e o dom de se unir mais intimamente à paixão de Cristo: ele é, de certo

modo, consagrado para produzir frutos pela configuração com a paixão redentora do

Salvador. O sofrimento, sequela do pecado original, recebe um sentido novo:

transforma-se em participação na obra salvífica de Jesus.

Uma graça eclesial. Os doentes que recebem este sacramento, “associando-

se livremente à paixão e morte de Cristo, concorrem para o bem do povo de Deus”

(133). Ao celebrar este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos, intercede

pelo bem do doente. E o doente, por seu lado, pela graça deste sacramento,

contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens, pelos quais

a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.

Uma preparação para a última passagem. Se o sacramento da Unção dos

Enfermos é concedido a todos os que sofrem de doenças e enfermidades graves,

com mais forte razão o é aos que estão prestes a deixar esta vida (“in exitu vitae

constituti (134)): de modo que também foi chamado ”sacramentum exeuntium

– sacramento dos que partem” (135). A Unção dos Enfermos completa a nossa

conformação com a morte e ressurreição de Cristo, tal como o Batismo a tinha

começado. Leva à perfeição as unções santas que marcam toda a vida cristã: a do

Batismo selara em nós a vida nova: a da Confirmação robustecera-nos para o

combate desta vida; esta última unção mune o fim da nossa vida terrena como que

de um sólido escudo em vista das últimas batalhas, antes da entrada na Casa do Pai

(136). (CIC § 1520-1523)

O VIÁTICO, ÚLTIMO SACRAMENTO DO CRISTÃO

Àqueles que vão deixar esta vida, a Igreja oferece-lhes, além da Unção dos

Enfermos, a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o

Pai, a comunhão do corpo ,e sangue de Cristo tem um significado e uma importância

particulares. É semente de vida eterna e força de ressurreição, segundo as palavras

do Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna: e

Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6, 54). Sacramento de Cristo morto e

ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida,

deste mundo para o Pai (137).

Assim, do mesmo modo que os sacramentos do Batismo, da Confirmação e

da Eucaristia constituem uma unidade chamada “os sacramentos da iniciação

cristã”, também pode dizer-se que a Penitência, a Santa Unção e a Eucaristia, como

viático, constituem, quando a vida do cristão chega ao seu termo, “os sacramentos

que preparam a entrada na Pátria” ou os sacramentos com que termina a

peregrinação. (CIC § 1524-1525).

O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS DOENTES SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO

Cânon 998

A unção dos doentes, pela qual a Igreja encomenda ao Senhor, sofredor e

glorificado, os fiéis perigosamente doentes, para que os alivie e salve, confere-se

ungindo-os com o óleo e proferindo as palavras prescritas nos livros litúrgicos.

A CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO

Cânon 999

Além do Bispo, podem benzer o óleo a utilizar na unção dos doentes:

1.° os que por direito são equiparados ao Bispo diocesano;

2.° em caso de necessidade, qualquer presbítero, mas só na própria celebra-

ção do sacramento.

Cânon 1000

§ 1. Façam-se cuidadosamente as unções com as palavras, e segundo a

ordem e o modo prescritos nos livros litúrgicos; todavia, em caso de necessidade,

basta uma única unção na fronte, ou mesmo noutra parte do corpo, com a fórmula

pronunciada integralmente.

§ 2. O ministro faça as unções com a própria mão, a não ser que uma razão

grave aconselhe o uso de um instrumento.

Cânon 1001

Procurem os pastores de almas e os parentes dos doentes que estes sejam

confortados em tempo oportuno com este sacramento.

Cânon 1002

Pode realizar-se, em conformidade com as prescrições do Bispo diocesano, a

celebração comum da unção dos doentes, simultaneamente para vários enfermos,

que estejam convenientemente preparados e devidamente dispostos.

O MINISTRO DA UNÇÃO DOS DOENTES

Cânon 1003

§ 1. Todos os sacerdotes, e só eles, administram validamente a unção dos

doentes.

§ 2. O dever e o direito de administrar a unção dos doentes competem aos

sacerdotes, a quem foi confiada a cura de almas, em relação aos fiéis entregues aos

seus cuidados pastorais; por causa razoável, qualquer outro sacerdote pode admi-

nistrar este sacramento, com o consentimento, ao menos presumido, do sacerdote

acima referido.

§ 3. Todos os sacerdotes podem trazer consigo o óleo benzido, para, em caso

de necessidade, poderem administrar o sacramento da unção dos doentes.

AQUELES A QUEM SE HÁ-DE ADMINISTRAR A UNÇÃO DOS DOENTES

Cânon 1004

§ 1. A unção dos doentes pode administrar-se ao fiel que, tendo atingido o

uso da razão, por motivo de doença ou velhice, começa a encontrar-se em perigo de

vida.

§ 2. Pode reiterar-se este sacramento, se o doente, depois de ter

convalescido, recair em doença grave ou se, durante a mesma enfermidade,

aumentar o perigo.

Cânon 1005

Em caso de dúvida se o doente atingiu o uso da razão, ou se está

perigosamente enfermo, ou se já está morto, administre-se o sacramento.

Cânon 1006

Administre-se o sacramento aos doentes que, quando estavam no uso da

razão, ao menos implicitamente o teriam pedido.

Cânon 1007

Não se administre a unção dos doentes àqueles que perseveram

obstinadamente em pecado grave manifesto.

OS SACRAMENTOS AO SERVIÇO DA COMUNHÃO ( SERVIDÃO)

O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação

cristã. São o fundamento da vocação comum de todos os discípulos de Cristo –

vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. E conferem as graças

necessárias para a vida segundo o Espírito, nesta existência de peregrinos em

marcha para a Pátria.

Dois outros sacramentos, a Ordem e o Matrimonio, são ordenados para a

salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do

serviço aos outros que o fazem. Conferem uma missão particular na Igreja, e servem

a edificação do povo de Deus.

Nestes sacramentos, aqueles que já foram consagrados pelo Batismo e pela

Confirmação (1) para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem

receber consagrações particulares. Os que recebem o sacramento da Ordem

são consagrados para serem, em nome de Cristo, “com a palavra e a graça de

Deus, os pastores da igreja” (2). Por seu lado, “os esposos cristãos são fortalecidos

e como que consagrados por meio de um sacramento especial em ordem ao digno

cumprimento dos deveres do seu estado” (3). (CIC § 1533 – 1535)

Matrimonio

A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma

comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à

geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de

sacramento por Cristo Senhor. (CIC § 1601)

Como era no princípio:

“Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não

são mais que uma só carne. (Gênesis 2,24)”

Já no ato da criação, Deus institui o sagrado matrimônio, homem e mulher se

unem numa só carne, num só espírito.

O SACRAMENTO DO MATRIMONIO SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – CIC

O MATRIMÔNIO NO DESÍGNIO DE DEUS

A Sagrada Escritura começa pela criação do homem e da mulher, à imagem e

semelhança de Deus (94), e termina com a visão das “núpcias do Cordeiro” (Ap 19,

9) (95). Do princípio ao fim, a Escritura fala do matrimonio e do seu “mistério”, da

sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade,

das suas diversas realizações ao longo da história da salvação, das suas

dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação “no Senhor” (1 Cor 7, 39), na

Nova Aliança de Cristo e da Igreja (96). (CIC § 1602)

O MATRIMÔNIO NA ORDEM DA CRIAÇÃO

“A íntima comunidade da vida e do amor conjugal foi fundada pelo Criador e

dotada de leis próprias [...]. O próprio Deus é o autor do matrimonio” (97). A vocação

para o matrimonio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, tais

como saíram das mãos do Criador. O matrimonio não é uma instituição puramente

humana, apesar das numerosas variações a que esteve sujeito no decorrer dos

séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Tais

diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns e permanentes. Muito

embora a dignidade desta instituição nem sempre e nem por toda a parte

transpareça com a mesma clareza (98), existe, no entanto, em todas as culturas, um

certo sentido da grandeza da união matrimonial. Porque “a saúde da pessoa e da

sociedade está estreitamente ligada a uma situação feliz da comunidade conjugal e

familiar” (99).

Deus, que criou o homem por amor, também o chamou ao amor, vocação

fundamental e inata de todo o ser humano. Porque o homem foi criado à imagem e

semelhança de Deus (100) que é amor (1 Jo 4, 8.16). Tendo-os Deus criado homem

e mulher, o amor mútuo dos dois torna-se imagem do amor absoluto e indefectível

com que Deus ama o homem. É bom, muito bom, aos olhos do Criador (101). E este

amor, que Deus abençoa, está destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra

comum do cuidado da criação: “Deus abençoou-os e disse-lhes: "Sede fecundos e

multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a"“ (Gn 1, 28).

Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, afirma-o a

Sagrada Escritura: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18). A mulher, “carne

da sua carne” (102), isto é, sua igual, a criatura mais parecida com ele, é-lhe dada

por Deus como uma ,auxiliar” (103), representando assim aquele “Deus que é o

nosso auxílio” (104). “Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir

à sua mulher: e os dois serão uma só carne” (Gn 2, 24). Que isto significa uma

unidade indefectível das duas vidas, o próprio Senhor o mostra, ao lembrar qual foi,

“no princípio”, o desígnio do Criador (105): “Portanto, já não são dois, mas uma só

carne” (Mt 19, 6). (CIC § 1603-1605)

O MATRIMÔNIO SOB O REGIME DO PECADO

Todo o homem faz a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta

experiência faz-se também sentir nas relações entre o homem e a mulher. Desde

sempre, a união de ambos foi ameaçada pela discórdia, o espírito de domínio, a

infidelidade, o ciúme e conflitos capazes de ir até ao ódio e à ruptura. Esta desordem

pode manifestar-se de um modo mais ou menos agudo e ser mais ou menos

ultrapassada, conforme as culturas, as épocas, os indivíduos. Mas parece, sem

dúvida, ter um caráter universal.

Segundo a fé, esta desordem, que dolorosamente comprovamos, não

procede da natureza do homem e da mulher, nem da natureza das suas relações,

mas do pecado. Ruptura com Deus, o primeiro pecado teve como primeira

consequência a ruptura da comunhão original do homem e da mulher. As suas

relações são distorcidas por acusações recíprocas (106); a atração mútua, dom

próprio do Criador (107), converte-se em relação de domínio e de cupidez (108): a

esplêndida vocação do homem e da mulher para serem fecundos, multiplicarem-se e

submeterem a terra (109) fica sujeita às dores do parto e do ganha-pão (110).

No entanto, a ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada.

Para curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça

que Deus, na sua misericórdia infinita, nunca lhes recusou (111). Sem esta ajuda, o

homem e a mulher não podem chegar a realizar a união das suas vidas para a qual

Deus os criou “no princípio”. (CIC § 1606-1608)

O MATRIMÔNIO SOB A PEDAGOGIA DA LEI

Na sua misericórdia, Deus não abandonou o homem pecador. As penas que

se seguiram ao pecado, “as dores do parto” (112), o trabalho “com o suor do

rosto” (Gn 3, 19), constituem também remédios que reduzem os malefícios do

pecado. Depois da queda, o matrimonio ajuda a superar o auto - isolamento, o

egoísmo, a busca do próprio prazer, e a abrir-se ao outro, à mútua ajuda, ao dom de

si.

A consciência moral relativamente à unidade e indissolubilidade do

matrimonio desenvolveu-se sob a pedagogia da antiga Lei. A poligamia dos

patriarcas e dos reis ainda não é explicitamente rejeitada. No entanto, a Lei dada a

Moisés visa proteger a mulher contra um domínio arbitrário por parte do homem,

ainda que a mesma Lei comporte também, segundo a palavra do Senhor, vestígios

da “dureza do coração” do homem, em razão da qual Moisés permitiu o repúdio da

mulher (113).

Ao verem a Aliança de Deus com Israel sob a imagem dum amor conjugal,

exclusivo e fiel (114), os profetas prepararam a consciência do povo eleito para uma

inteligência aprofundada da unicidade e indissolubilidade do matrimonio (115). Os

livros de Rute e de Tobias dão testemunhos comoventes do elevado sentido do

matrimonio, da fidelidade e da ternura dos esposos. E a Tradição viu sempre no

Cântico dos Cânticos uma expressão única do amor humano, enquanto reflexo do

amor de Deus, amor “forte como a morte”, que “nem as águas caudalosas

conseguem apagar” (Ct 8, 6-7). (CIC § 1609-1611)

O MATRIMÔNIO NO SENHOR

A aliança nupcial entre Deus e o seu povo Israel tinha preparado a Aliança

nova e eterna, pela qual o Filho de Deus, encarnando e dando a sua vida, uniu a Si,

de certo modo, toda a humanidade por Ele salva (116), preparando assim as

“núpcias do Cordeiro” (117).

No umbral da sua vida pública, Jesus realiza o seu primeiro sinal –a pedido

da sua Mãe – por ocasião duma festa de casamento (118). A Igreja atribui uma

grande importância à presença de Jesus nas bodas de Caná. Ela vê nesse fato a

confirmação da bondade do matrimonio e o anúncio de que, doravante, o matrimonio

seria um sinal eficaz da presença de Cristo.

Na sua pregação, Jesus ensinou sem equívocos o sentido original da união

do homem e da mulher, tal como o Criador a quis no princípio: a permissão de

repudiar a sua mulher, dada por Moisés, era uma concessão à dureza do coração

(119): a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel: foi o próprio Deus

que a estabeleceu: “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19, 6).

Esta insistência inequívoca na indissolubilidade do vínculo matrimonial pôde

criar perplexidade e aparecer como uma exigência impraticável (120). No entanto,

Jesus não impôs aos esposos um fardo impossível de levar e pesado demais (121),

mais pesado que a Lei de Moisés. Tendo vindo restabelecer a ordem original da

criação, perturbada pelo pecado, Ele próprio dá a força e a graça de viver o

matrimonio na dimensão nova do Reino de Deus. É seguindo a Cristo, na renúncia a

si próprios e tornando a sua cruz (122), que os esposos poderão “compreender”

(123) o sentido original do matrimonio e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do

Matrimonio cristão é fruto da cruz de Cristo, fonte de toda a vida cristã.

É o que o Apóstolo Paulo nos dá a entender, quando diz: “Maridos, amai as

vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, a fim de a

santificar” (Ef 5, 25-26): e acrescenta imediatamente: “"Por isso o homem deixará o

pai e a mãe para se unir à sua mulher e serão os dois uma só carne". É grande este

mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 31-32).

Toda a vida cristã tem a marca do amor esponsal entre Cristo e a Igreja. Já o

Batismo, entrada no povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o

banho de núpcias (124) que precede o banquete das bodas, a Eucaristia. O

Matrimonio cristão, por sua vez, torna-se sinal eficaz, sacramento da aliança de

Cristo com a Igreja. E uma vez que significa e comunica a graça desta aliança, o

Matrimonio entre batizados é um verdadeiro sacramento da Nova Aliança (125).

(CIC § 16012-1617)

A VIRGINDADE POR AMOR DO REINO

Cristo é o centro de toda a vida cristã. A união com Ele prevalece sobre todas

as outras, quer se trate de laços familiares, quer sociais (126). Desde o princípio da

Igreja, houve homens e mulheres que renunciaram ao grande bem do matrimonio,

para seguirem o Cordeiro aonde quer que Ele vá (127), para cuidarem das coisas do

Senhor, para procurarem agradar-Lhe para saírem ao encontro do Esposo que vem

(128). O próprio Cristo convidou alguns a seguirem-n'O neste modo de vida, de que

Ele é o modelo:

“Há eunucos que nasceram assim do seio materno; há os que foram feitos

eunucos pelos homens; e há os que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do

Reino dos céus. Quem puder entender, entenda!” (Mt 19, 12).

A virgindade por amor do Reino dos céus é um desenvolvimento da graça

batismal, um sinal poderoso da preeminência da união com Cristo e da espera

fervorosa do seu regresso, um sinal que lembra também que o matrimonio é uma

realidade do tempo presente, que é passageiro (130).

Quer, o sacramento do Matrimonio, quer a virgindade por amor do Reino de

Deus, vêm do próprio Senhor. É Ele que lhes dá sentido e concede a graça

indispensável para serem vividos em conformidade com a sua vontade (131). A

estima pela virgindade por amor do Reino (132) e o sentido cristão do matrimonio

são inseparáveis e favorecem-se mutuamente:

“Denegrir o Matrimonio é, ao mesmo tempo, diminuir a glória da virgindade:

enaltecê-lo é realçar a admiração devida à virgindade [...] Porque, no fim de contas,

o que só em comparação com um mal parece bom, não pode ser um verdadeiro

bem: mas o que ainda é melhor do que bens incontestados, esse é que é o bem por

excelência” (133) (CIC § 1618-1620)

A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO

No rito latino, a celebração do Matrimonio entre dois fiéis católicos tem lugar

normalmente no decorrer da santa Missa, em virtude da ligação de todos os

sacramentos com o mistério pascal de Cristo (134). Na Eucaristia realiza-se o

memorial da Nova Aliança, pela qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua

esposa bem-amada, por quem se entregou (135). Por isso, é conveniente que os

esposos selem o seu consentimento à doação recíproca pela oferenda das próprias

vidas, unindo-a à oblação de Cristo pela sua Igreja, tornada presente no sacrifício

eucarístico, e recebendo a Eucaristia, para que, comungando o mesmo corpo e o

mesmo sangue de Cristo, “formem um só corpo” em Cristo (136).

“Enquanto ação sacramental de santificação, a celebração litúrgica do

Matrimonio [...] deve ser por si mesma válida, digna e frutuosa” (137).  Por isso, é

conveniente que os futuros esposos se preparem para a celebração do seu

Matrimonio, recebendo o sacramento da Penitência.

Segundo a tradição latina, são os esposos quem, como ministros da graça de

Cristo, mutuamente se conferem o sacramento do Matrimonio, ao exprimirem,

perante a Igreja, o seu consentimento. Nas tradições das Igrejas orientais, os

sacerdotes que oficiam – Bispos ou presbíteros – são testemunhas do mútuo

consentimento manifestado pelos esposos (138), mas a sua bênção também é

necessária para a validade do sacramento (139).

As diversas liturgias são ricas em orações de bênção e de epiclese, pedindo a

Deus a sua graça e invocando a sua bênção sobre o novo casal, especialmente

sobre a esposa. Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito

Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja (140). É Ele o selo da aliança

de ambos, a nascente sempre oferecida do seu amor, a força pela qual se renovará

a sua fidelidade. (CIC § 1621-1624)

O CONSENTIMENTO MATRIMONIAL

Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher

batizados, livres para contrair Matrimonio e que livremente exprimem o seu

consentimento. “Ser livre” quer dizer:

– não ser constrangido;

– não estar impedido por nenhuma lei natural nem eclesiástica.

A Igreja considera a permuta dos consentimentos entre os esposos como o

elemento indispensável “que constitui o Matrimônio” (141). Se faltar o

consentimento, não há Matrimonio.

O consentimento consiste num “ato humano pelo qual os esposos se dão e se

recebem mutuamente” (142): “Eu recebo-te por minha esposa. Eu recebo-te por meu

esposo” (143). Este consentimento, que une os esposos entre si, tem a sua

consumação no fato de os dois “se tornarem uma só carne” (144).

O consentimento deve ser um ato da vontade de cada um dos contraentes,

livre de violência ou de grave temor externo (145). Nenhum poder humano pode

substituir-se a este consentimento (146). Faltando esta liberdade, o matrimonio é

inválido.

Por este motivo (ou por outras razões, que tornem nulo ou não realizado o

casamento) (147),  a Igreja pode, depois de examinada a situação pelo tribunal

eclesiástico competente, declarar “a nulidade do Matrimonio”, ou seja, que o

Matrimonio nunca existiu. Em tal caso, os contraentes ficam livres para se casarem,

salvaguardadas as obrigações naturais resultantes da união anterior (148).

O sacerdote (ou o diácono), que assiste à celebração do Matrimonio, recebe o

consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença

do ministro da Igreja (bem como das testemunhas) exprime visivelmente que o

Matrimonio é uma realidade eclesial.

É por esse motivo que, normalmente, a Igreja exige para os seus fiéis a  forma

eclesiástica da celebração do Matrimonio (149). Muitas razões concorrem para

explicar esta determinação:

– o Matrimonio sacramental é um ato litúrgico. Portanto, é conveniente que

seja celebrado na liturgia pública da Igreja;

–  o Matrimonio introduz num ordo eclesial, cria direitos e deveres na Igreja,

entre os esposos e para com os filhos;

–  uma vez que o Matrimonio é um estado de vida na Igreja, é necessário que

haja a certeza a respeito dele (daí a obrigação de haver testemunhas);

–  o caráter público do consentimento protege o “sim” uma vez dado e ajuda a

permanecer-lhe fiel.

Para que o “sim” dos esposos seja um ato livre e responsável, e para que a

aliança matrimonial tenha bases humanas e cristãs sólidas e duradoiras, é de

primordial importância a preparação para o matrimonio:

O exemplo e o ensino dados pelos pais e pelas famílias continuam a ser o

caminho privilegiado desta preparação. O papel dos pastores e da comunidade

cristã, como “família de Deus”, é indispensável para a transmissão dos valores

humanos e cristãos do Matrimonio e da família (150), e isto tanto mais quanto é

certo que, nos nossos dias, muitos jovens conhecem a experiência de lares

desfeitos, que já não garantem suficientemente aquela iniciação:

“Os jovens devem ser conveniente e oportunamente instruídos, sobretudo no

seio da própria família, acerca da dignidade, missão e exercício do amor conjugal.

Deste modo, educados na estima pela castidade, poderão passar, chegada a idade

conveniente, de um noivado honesto para o matrimonio” (151). (CIC § 1625-1632)

CASAMENTOS MISTOS E DISPARIDADE DE CULTOS

Em muitos países, a situação do matrimonio misto (entre um católico e um

batizado não católico) apresenta-sede modo bastante frequente. Tal situação pede

uma atenção particular dos cônjuges e dos pastores. O caso dos casamentos

com disparidade de culto(entre um católico e um não batizado) exige uma atenção

ainda maior.

A diferença de confissão religiosa entre os cônjuges não constitui um

obstáculo insuperável para o Matrimonio, quando eles conseguem pôr em comum o

que cada um recebeu na sua comunidade e aprender um do outro o modo como

cada um vive a sua fidelidade a Cristo. Mas as dificuldades dos matrimônios mistos

nem por isso devem ser subestimadas. São devidas ao fato de a separação dos

cristãos ainda não ter sido superada. Os esposos arriscam-se a vir a ressentir-se do

drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode

agravar ainda mais estas dificuldades. As divergências em relação à fé, o próprio

conceito do Matrimonio e ainda as diferentes mentalidades religiosas podem

constituir uma fonte de tensões no Matrimonio, principalmente por causa da

educação dos filhos. Pode então surgir uma tentação: a indiferença religiosa.

Segundo o direito em vigor na Igreja latina, um Matrimonio misto precisa da

permissão expressa da autoridade eclesiástica (152) para a respectiva liceidade. Em

caso de disparidade de culto, é requerida uma dispensa expressa do impedimento

para a validade do Matrimonio (153). Tanto a permissão como a dispensa supõem

que as duas partes conhecem e não rejeitam os fins e propriedades essenciais do

Matrimonio: e também que a parte católica confirma os seus compromissos, dados

também a conhecer expressamente à parte não católica, de conservar a sua fé e de

assegurar o Batismo e a educação dos filhos na Igreja Católica (154).

Em muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as respectivas

comunidades cristãs puderam organizar uma pastoral comum para os casamentos

mistos. O seu papel consiste em ajudar os casais a viver a sua situação particular à

luz da fé. Ela deve também ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações dos

cônjuges um para com o outro e para com as respectivas comunidades eclesiais.

Deve estimular o desenvolvimento do que lhes é comum na fé e o respeito pelo que

os divide.

Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma tarefa

particular a cumprir, “porque o marido não crente é santificado pela sua mulher e a

mulher não crente é santificada pelo marido crente” (1 Cor 7, 14). Será uma grande

alegria para o cônjuge cristão e para a Igreja, se esta “santificação” levar à

conversão livre do outro à fé cristã (155). O amor conjugal sincero, a prática humilde

e paciente das virtudes familiares e a oração perseverante, podem preparar o

cônjuge não crente para receber a graça da conversão. (CIC § 1633- 1637).

OS EFEITOS DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

“ Do Matrimonio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo de sua

natureza perpétuo e exclusivo: no matrimonio cristão, além disso, são os cônjuges

robustecidos e como que consagrados por um sacramento peculiar para os deveres

e dignidade do seu estado” (156). (CIC § 1638)

O VÍNCULO MATRIMONIAL

O consentimento, pelo qual os esposos mutuamente se dão e se recebem, é

selado pelo próprio Deus (157). Da sua aliança “nasce uma instituição, também à

face da sociedade, tornada firme e estável pela lei divina” (158). A aliança dos

esposos é integrada na aliança de Deus com os homens: “O autêntico amor conjugal

é assumido no amor divino” (159).

O vínculo matrimonial é, portanto, estabelecido pelo próprio Deus, de maneira

que o matrimonio ratificado e consumado entre batizados não pode jamais ser

dissolvido. Este vínculo, resultante do ato humano livre dos esposos e da

consumação do matrimonio, é, a partir de então, uma realidade irrevogável e dá

origem a uma aliança garantida pela fidelidade de Deus. A Igreja não tem poder para

se pronunciar contra esta disposição da sabedoria divina (160). (CIC § 1639-1640)

A GRAÇA DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

Os esposos cristãos, “no seu estado de vida e na sua ordem, têm, no povo de

Deus, os seus dons próprios” (161). Esta graça própria do sacramento do

Matrimonio destina-se a aperfeiçoar o amor dos cônjuges e a fortalecer a sua

unidade indissolúvel. Por meio desta graça, “eles auxiliam-se mutuamente para

chegarem à santidade pela vida conjugal e pela procriação e educação dos filhos”

(162).

Cristo é a fonte desta graça. ”Assim como outrora Deus veio ao encontro do

seu povo com unia aliança de amor e fidelidade, assim agora o Salvador dos

homens e Esposo da Igreja vem ao encontro dos esposos cristãos com o

sacramento do Matrimonio” (163). Fica com eles, dá-lhes a coragem de O seguirem

tomando sobre si a sua cruz, de se levantarem depois das quedas, de se perdoarem

mutuamente, de levarem o fardo um do outro (164), de serem “submissos um ao

outro no temor de Cristo” (Ef 5, 21) e de se amarem com um amor sobrenatural,

delicado e fecundo. Nas alegrias do seu amor e da sua vida familiar, Ele dá-lhes, já

neste mundo, um antegosto do festim das núpcias do Cordeiro:

“Onde irei buscar forças para descrever, de modo satisfatório, a felicidade do

Matrimonio que a Igreja une, que a oblação eucarística confirma e a bênção sela?

Os anjos proclamam-no, o Pai celeste ratifica-o [...] Que jugo o de dois cristãos,

unidos por uma só esperança, um único desejo, uma única disciplina, um mesmo

serviço! Ambos filhos do mesmo Pai, servos do mesmo Senhor; nada os separa,

nem no espírito nem na carne; pelo contrário, eles são verdadeiramente dois numa

só carne. Ora, onde a carne á só uma, também um só é o espírito” (165). (CIC §

1641-1642)

OS BENS E AS EXIGÊNCIAS DO AMOR CONJUGAL

“O amor conjugal comporta um todo em que entram todas as componentes da

pessoa – apelo do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade,

aspiração do espírito e da vontade –; visa uma unidade profundamente pessoal –

aquela que, para além da união numa só carne, conduz à formação dum só coração

e duma só alma –; exige a indissolubilidade e a fidelidade na doação recíproca

definitiva; e abre-se à fecundidade. Trata-se, é claro, das características normais de

todo o amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e

consolida, mas as eleva ao ponto de fazer delas a expressão de valores

especificamente cristãos” (166). (CIC § 1643)

A UNIDADE E A INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO

Pela sua própria natureza, o amor dos esposos exige a unidade e a

indissolubilidade da sua comunidade de pessoas, a qual engloba toda a sua vida:

“assim, já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 6) (167). “Eles são chamados a

crescer sem cessar na sua comunhão, através da fidelidade quotidiana à promessa

da mútua doação total que o Matrimonio implica” (168). Esta comunhão humana é

confirmada, purificada e aperfeiçoada pela comunhão em Jesus Cristo, conferida

pelo sacramento do Matrimonio; e aprofunda-se pela vida da fé comum e pela

Eucaristia recebida em comum.

“A igual dignidade pessoal, que se deve reconhecer à mulher e ao homem no

amor pleno que têm um pelo outro, manifesta claramente a unidade do Matrimonio,

confirmada pelo Senhor” (169). A poligamia é contrária a esta igual dignidade e ao

amor conjugal, que é único e exclusivo (170). (CIC § 1644-1645)

A FIDELIDADE DO AMOR CONJUGAL

Pela sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade

inviolável. Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos

fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser “até nova ordem”. “Esta

união íntima, enquanto doação recíproca de duas pessoas, tal como o bem dos

filhos, exigem a inteira fidelidade dos cônjuges e reclamam a sua união indissolúvel”

(171).

O motivo mais profundo encontra-se na fidelidade de Deus à sua aliança, de

Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimonio, os esposos ficam habilitados a

representar esta fidelidade e a dar testemunho dela. Pelo sacramento, a

indissolubilidade do Matrimonio adquire um sentido novo e mais profundo.

Pode parecer difícil, e até impossível, ligar-se por toda a vida a um ser

humano. Por isso mesmo, é da maior importância anunciar a boa-nova de que Deus

nos ama com um amor definitivo e irrevogável, de que os esposos participam neste

amor que os conduz e sustém e de que, pela sua fidelidade, podem ser testemunhas

do amor fiel de Deus. Os esposos que, com a graça de Deus, dão este testemunho,

muitas vezes em condições bem difíceis, merecem a gratidão e o amparo da

comunidade eclesial (172).

No entanto, há situações em que a coabitação matrimonial se torna

praticamente impossível pelas mais diversas razões. Em tais casos, a Igreja

admite a separação física dos esposos e o fim da coabitação. Mas os esposos não

deixam de ser marido e mulher perante Deus: não são livres de contrair nova união.

Nesta situação difícil, a melhor solução seria, se possível, a reconciliação. A

comunidade cristã é chamada a ajudar estas pessoas a viverem cristãmente a sua

situação, na fidelidade ao vínculo do seu Matrimonio, que continua indissolúvel

(173).

Hoje em dia e em muitos países, são numerosos os católicos que recorrem

ao divórcio,em conformidade com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova

união. A Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo (“quem repudia a

sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma

mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério”: Mc 10, 11-12),

que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro Matrimonio foi

válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objetivamente

contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística,

enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo, ficam impedidos de exercer

certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação, por meio do sacramento da

Penitência, só pode ser dada àqueles que se arrependerem de ter violado o sinal da

Aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometerem a viver em continência

completa.

Com respeito a cristãos que vivem nesta situação e que muitas vezes

conservam a fé e desejam educar cristãmente os seus filhos, os sacerdotes e toda a

comunidade devem dar provas duma solicitude atenta, para que eles não se sintam

separados da Igreja, em cuja vida podem e devem participar como batizados que

são:

“Serão convidados a ouvir a Palavra de Deus, a assistir ao sacrifício da Missa,

a perseverar na oração, a prestar o seu contributo às obras de caridade e às

iniciativas da comunidade em prol da justiça, a educar os seus filhos na fé cristã, a

cultivar o espírito de penitência e a cumprir os atos respectivos, a fim de implorarem,

dia após dia, a graça de Deus” (174). (CIC § 1646-1651)

A ABERTURA À FECUNDIDADE

“Pela sua própria natureza, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão

ordenados à procriação e à educação dos filhos, que constituem o ponto alto da sua

missão e a sua coroa”

“Os filhos são, sem dúvida, o mais excelente dom do Matrimonio e contribuem

muitíssimo para o bem dos próprios pais. O mesmo Deus que disse: "não é bom que

o homem esteja só" (Gn 2, 18) e que "desde o princípio fez o homem varão e

mulher" (Mt 19, 4), querendo comunicar-lhe uma participação especial na sua obra

criadora, abençoou o homem e a mulher dizendo: "Sede fecundos e multiplicai-vos"

(Gn 1, 28). Por isso, o culto autêntico do amor conjugal e toda a vida familiar que

dele nasce, sem pôr de lado os outros fins do Matrimonio, tendem a que os esposos,

com fortaleza de ânimo, estejam dispostos a colaborar com o amor do Criador e do

Salvador, que, por meio deles, aumenta continuamente e enriquece a sua família”

(176).

A fecundidade do amor conjugal estende-se aos frutos da vida moral,

espiritual e sobrenatural que os pais transmitem aos filhos pela educação. Os pais

são os principais e primeiros educadores dos seus filhos(177). Neste sentido, a

missão fundamental do Matrimonio e da família é estar ao serviço da vida (178).

Os esposos a quem Deus não concedeu a graça de ter filhos podem, no

entanto, ter uma vida conjugal cheia de sentido, humana e cristãmente falando. O

seu Matrimonio irradiar uma fecundidade de caridade, de acolhimento e de sacrifício.

(CIC § 1652 – 1654)

A IGREJA DOMÉSTICA

Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família de José e de Maria.

A Igreja outra coisa não é senão a “família de Deus”. Desde as suas origens, o

núcleo aglutinante da Igreja era, muitas vezes, constituído por aqueles que, “com

toda a sua casa”, se tinham tornado crentes” (179). Quando se convertiam,

desejavam que também “toda a sua casa” fosse salva (180). Estas famílias, que

passaram a ser crentes, eram pequenas ilhas de vida cristã no meio dum mundo

descrente.

Nos nossos dias, num mundo muitas vezes estranho e até hostil à fé, as

famílias crentes são de primordial importância, como focos de fé viva e irradiante. É

por isso que o II Concílio do Vaticano chama à família, segundo uma antiga

expressão, ”Ecclesia domestica –Igreja doméstica” (181). É no seio da família que

os pais são, “pela palavra e pelo exemplo [...], os primeiros arautos da fé para os

seus filhos, ao serviço da vocação própria de cada um e muito especialmente da

vocação consagrada” (182).

É aqui que se exerce, de modo privilegiado, o sacerdócio batismal do pai de

família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, “na recepção dos

sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade de vida, na

abnegação e na caridade efetiva” (183). O lar é, assim, a primeira escola de vida

cristã e “uma escola de enriquecimento humano” (184). É aqui que se aprende a

tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre

renovado, e, sobretudo, o culto divino, pela oração e pelo oferecimento da própria

vida.

Não podem esquecer-se, também, certas pessoas que estão, em virtude das

condições concretas em que têm de viver, muitas vezes sem assim o terem querido,

particularmente próximas do coração de Cristo, e que merecem, portanto, a estima e

a solicitude atenta da Igreja, particularmente dos pastores: o grande número

de pessoas celibatárias. Muitas delas ficam sem família humana, frequentemente

devido a condições de pobreza. Algumas vivem a sua situação no espírito das bem-

aventuranças, servindo a Deus e ao próximo de modo exemplar. Mas a todas é

necessário abrir as portas dos lares, “igrejas domésticas”, e da grande família que é

a Igreja. “Ninguém se sinta privado de família neste mundo: a Igreja é casa e família

para todos, especialmente para quantos estão "cansados e oprimidos" (Mt 11, 28)”

(185). (CIC § 1655-1658)

AS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÔNIO

O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois

parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação

sexual, mesmo efêmera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de

simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem

absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E veem no

adultério a figura do pecado da idolatria (133).

O adultério é uma injustiça. Aquele que o comete, falta aos seus

compromissos. Viola o sinal da Aliança, que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do

outro cônjuge e atenta contra a instituição do matrimonio, violando o contrato em

que assenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos que têm

necessidade da união estável dos pais. (CIC § 2380-2381)

O DIVÓRCIO

O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um

matrimonio indissolúvel (134). E ab-rogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na

antiga Lei (135).

Entre batizados, “o matrimonio rato e consumado não pode ser dissolvido por

nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte” (136).

A separação dos esposos, permanecendo o vínculo matrimonial, pode ser

legítima em certos casos previstos pelo direito canônico (137).

Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos

legítimos, tais como o cuidado dos filhos ou a defesa do patrimônio, pode ser

tolerado sem constituir falta moral.

O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato

livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio

é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimonio sacramental é sinal.

O fato de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a

gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de

adultério público e permanente:

“Não é lícito ao homem, despedida a esposa, casar com outra; nem é legítimo

que outro tome como esposa a que foi repudiada pelo marido”(138).

O caráter imoral do divórcio advém-lhe também da desordem que introduz na

célula familiar e na sociedade. Esta desordem traz consigo prejuízos graves: para o

cônjuge que fica abandonado; para os filhos, traumatizados pela separação dos pais

e, muitas vezes, objeto de contenda entre eles; e pelo seu efeito de contágio, que

faz dele uma verdadeira praga social.

Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio

declarado pela lei civil; esse, então, não viola o preceito moral. Há uma grande

diferença entre o cônjuge que sinceramente se esforçou por ser fiel ao sacramento

do matrimonio e se vê injustamente abandonado, e aquele que, por uma falta grave

da sua parte, destrói um matrimonio canonicamente válido (139). (CIC § 2382-2386)

OUTRAS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÔNIO

É compreensível o drama daquele que, desejoso de se converter ao

Evangelho, se vê obrigado a repudiar uma ou mais mulheres com quem partilhou

anos de vida conjugal. Contudo, a poligamia não está de acordo com a lei moral.

“Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal: porque nega, de modo direto, o

desígnio de Deus, tal como nos foi revelado no princípio e é contrária à igual

dignidade pessoal da mulher e do homem, os quais, no matrimonio, se dão um ao

outro num amor total que, por isso mesmo, é único e exclusivo”(140). O cristão que

anteriormente foi polígamo é gravemente obrigado, por justiça, a honrar as

obrigações contraídas para com as suas antigas mulheres e respectivos filhos.

O incesto designa relações íntimas entre parentes ou afins, num grau que

proíbe o matrimonio entre eles (141). São Paulo estigmatiza esta falta

particularmente grave: “É voz corrente que existe entre vós um caso de imoralidade

[...] ao ponto de certo homem viver com a mulher de seu pai! [...] Em nome do

Senhor Jesus [...], que esse homem seja entregue a Satanás [...] para ruína do seu

corpo” (1 Cor 5, 1. 4-5). O incesto corrompe as relações familiares e representa uma

regressão à animalidade.

Podem relacionar-se com o incesto os abusos sexuais cometidos por adultos

em relação a crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. Nesse caso a culpa

é dupla por se tratar dum escandaloso atentado contra a integridade física e moral

dos jovens, que assim ficarão marcados para toda a sua vida e duma violação da

responsabilidade educativa.

Há união livre quando homem e mulher recusam dar forma jurídica e pública a

uma ligação que implica intimidade sexual.

A expressão é falaciosa: que pode significar uma união em que as pessoas

não se comprometem uma para com a outra, testemunhando assim uma falta de

confiança na outra, em si mesmas, ou no futuro?

A expressão tenta camuflar situações diferentes: concubinato, recusado

matrimonio como tal, incapacidade de se ligar por compromissos a longo prazo

(142). Todas estas situações ofendem a dignidade do matrimonio; destroem a

própria ideia de família; enfraquecem o sentido da fidelidade. São contrárias à lei

moral: o ato sexual deve ter lugar exclusivamente no matrimonio; fora dele constitui

sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.

Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de ”direito à

experiência”, quando há intenção de contrair matrimonio. Seja qual for a firmeza do

propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, “estas não

permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum

homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique

protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos”(143). A união carnal só é

legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o

homem e a mulher. O amor humano não tolera o “ensaio”. Exige o dom total e

definitivo das pessoas entre si (144). (CIC § 2387- 2391)

A VIDA SEXUAL É PARA O CASAL

 ”Os atos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos

e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a

mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão” (106). A

sexualidade é fonte de alegria e de prazer:

“Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração],

os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto,

os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o

que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites

duma justa moderação” (107). (CIC § 2362)

A FECUNDIDADE DO MATRIMÔNIO

A fecundidade é um dom, uma finalidade do matrimonio, porque o amor

conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora juntar-se ao

amor mútuo dos esposos; surge no próprio coração deste dom mútuo, do qual é

fruto e complemento. Por isso, a Igreja, que “toma partido pela vida” (112), ensina

que ”todo o ato matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida” (113).

“Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, funda-se sobre o nexo

indissolúvel estabelecido por Deus e que o homem não pode quebrar por sua

iniciativa, entre os dois significados inerentes ao ato conjugal: união e procriação”

(114).

Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da

paternidade de Deus (115). “No dever de transmitir e educar a vida humana – dever

que deve ser considerado como a sua missão própria – saibam os esposos que são

cooperadores do amor de Deus e como que os seus intérpretes. Cumprirão, pois,

esta missão, com responsabilidade humana e cristã” (116).

“Aliás, todos devem ter bem presente que a vida humana e a missão de a

transmitir não se limitam aos horizontes deste mundo, nem podem ser medidas ou

compreendidas unicamente em função dele, mas estão sempre relacionadas com o

destino eterno do homem” (123).

O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo

que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante

uma informação objetiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e

obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos,

primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos (124). Neste

domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral. (CIC §

2366-2372)

O DOM DO FILHO

A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem nas famílias

numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais (125).

É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. “Que me

dareis, Senhor Deus?” – pergunta Abraão a Deus. “Vou-me sem filhos...” (Gn 15, 2).

– “Dá-me filhos ou então morro!” – grita Raquel ao seu marido Jacob (Gn 30, 1).

As pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser

encorajadas, com a condição de serem colocadas “ao serviço da pessoa humana,

dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade

com o projeto e a vontade de Deus” (126).

O filho não é uma dívida, é uma dádiva. O ”dom mais excelente do

matrimonio” é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto

de propriedade, conclusão a que levaria o reconhecimento dum pretenso “direito ao

filho”. Neste domínio, só o filho é que possui verdadeiros direitos: o de “ser fruto do

ato específico do amor conjugal dos seus pais, e também o de ser respeitado como

pessoa desde o momento da sua concepção” (130). (CIC § 2373- 2378)

O MATRIMÔNIO SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO

Cânon 1055

§ 1. O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o

consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos

cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os batizados foi elevado por

Cristo Nosso Senhor à dignidade de sacramento.

§ 2. Pelo que, entre batizados não pode haver contrato matrimonial válido que

não seja, pelo mesmo fato, sacramento.

Cânon 1056

As propriedades essenciais do matrimonio são a unidade e a

indissolubilidade, as quais, em razão do sacramento, adquirem particular firmeza no

matrimonio cristão.

Cânon 1057

Origina o matrimonio o consentimento entre pessoas hábeis por direito,

legitimamente manifestado, o qual não pode ser suprido por nenhum poder humano.

§ 2. O consentimento matrimonial é o ato da vontade pelo qual o homem e a

mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem mutuamente, a fim de cons-

tituírem o matrimonio.

Cânon 1058

Podem contrair matrimonio todos aqueles que não estejam proibidos pelo

direito.

Cânon 1059

O matrimonio dos católicos, posto que só uma das partes seja católica, rege-

se não só pelo direito divino mas também pelo direito canônico, salva a competência

do poder civil sobre os efeitos meramente civis do mesmo matrimonio.

Cânon 1060

O matrimonio goza do favor do direito; pelo que, em caso de dúvida, se há de

estar pela validade do matrimonio, até que se prove o contrário.

Cânon 1061

O matrimonio válido entre batizados diz-se somente comprovado, se não foi

consumado; comprovado e consumado, se os cônjuges entre si realizaram de modo

humano o ato conjugal de si apto para a geração da prole, ao qual por sua natureza,

se ordena o matrimonio, e com o qual os cônjuges se tornam uma só carne.

§ 2. Celebrado o matrimonio, se os cônjuges tiverem coabitado, presume-se a

consumação, até que se prove o contrário.

§ 3. O matrimonio inválido diz-se putativo se tiver sido celebrado de boa fé ao

menos por uma das partes, até que ambas venham a certificar-se da sua nulidade.

Cânon 1062

§ 1. A promessa de matrimonio, quer unilateral quer bilateral, chamada

esponsais, rege-se pelo direito particular, que tenha sido estabelecido pela

Conferência episcopal, tendo em consideração os costumes e as leis civis, se

existirem.

§ 2. Da promessa de matrimonio não se dá ação para pedir a celebração do

matrimonio; dá-se porém para reparação dos danos, se para ela houver lugar.

O CUIDADO PASTORAL E DOQUE DEVE PRECEDER A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO

Cânon 1063

Os pastores de almas têm obrigação de procurar que a própria comunidade

eclesial preste assistência aos fiéis, para que o estado matrimonial se mantenha no

espírito cristão e progrida em perfeição. Tal assistência deve prestar-se

principalmente:

1.° com a pregação, a catequese adaptada aos menores, jovens e adultos,

mesmo com a utilização de meios de comunicação social, para que os fiéis sejam

instruídos acerca do matrimonio e do papel dos cônjuges e dos pais cristãos;

2.° com a preparação pessoal para contrair matrimonio, pela qual os noivos

se disponham para a santidade e deveres do seu novo estado;

3.° com a frutuosa celebração litúrgica do matrimonio, pela qual se manifeste

que os cônjuges significam e participam o mistério da unidade e do amor fecundo

entre Cristo e a Igreja;

4.° com o auxílio prestado às pessoas casadas, para que, guardando fiel-

mente e defendendo a aliança conjugal, consigam levar em família uma vida cada

vez mais santa e plena.

Cânon 1064

Compete ao Ordinário do lugar procurar que se organize devidamente essa

assistência, ouvidos mesmo, se parecer oportuno, homens e mulheres de

comprovada experiência e competência.

Cânon 1065

§ 1. Os católicos que ainda não receberam o sacramento da confirmação,

recebam-no antes de serem admitidos ao matrimonio, se o puderem fazer sem

grave incomodo.

§ 2. Para que recebam com fruto o sacramento do matrimonio, recomenda-se

vivamente que os noivos se aproximem dos sacramentos da penitência e da santís-

sima Eucaristia.

Cânon 1066

Antes de se celebrar o matrimonio, deve constar que nada obsta à sua válida

e lícita celebração.

Cânon 1067

A Conferência episcopal estabeleça normas acerca do exame dos noivos e

das publicações matrimoniais ou outros meios oportunos para as investigações que

se devem realizar e são necessárias antes do matrimonio; a fim de que, depois de

tudo observado cuidadosamente, o pároco possa proceder a assistir ao matrimonio.

Cânon 1068

Em perigo de morte, se não for possível obter outras provas, e a não ser que

haja indícios em contrário, basta a afirmação dos nubentes, mesmo com juramento

se for conveniente, de que são batizados e não têm impedimento algum.

Cânon 1069

Todos os fiéis estão obrigados a manifestar ao pároco ou ao Ordinário do

lugar, antes da celebração do matrimonio, os impedimentos de que, porventura,

tenham conhecimento.

Cânon 1070

Se as investigações forem feitas, não pelo pároco a quem compete assistir ao

matrimonio, mas por outrem, este comunique quanto antes ao pároco, em

documento autêntico, o seu resultado.

Cânon 1071

§ 1. Fora do caso de necessidade, sem licença do Ordinário do lugar,

ninguém assista:

1.° ao matrimonio dos vagos;

2.° ao matrimonio que não puder ser reconhecido ou celebrado civilmente;

3.° ao matrimonio de quem tiver obrigações naturais para com outra pessoa

ou para com filhos nascidos de uma união precedente;

4.° ao matrimonio daquele que tiver rejeitado notoriamente a fé católica;

5 ° ao matrimonio daquele que tiver incorrido nalguma censura;

6° ao matrimonio do filho-família menor, sem conhecimento ou contra a

opinião razoável dos pais;

7.° ao matrimonio a contrair por procurador, referido no Cânon 1105.

§ 2. O Ordinário do lugar não conceda licença para assistir ao matrimonio

daqueles que tenham rejeitado notoriamente a fé católica, senão depois de obser-

vadas as normas do Cânon 1125, devidamente adaptadas.

Cânon 1072 — Procurem os pastores de almas dissuadir os jovens de

contrair matrimonio antes da idade em que, segundo os costumes recebidos na

região, é habitual celebrá-lo.

OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES EM GERAL

Cânon 1073

O impedimento dirimente torna a pessoa inábil para contrair validamente o

matrimonio.

Cânon 1074

Considera-se público o impedimento que se pode provar no foro externo; no

caso contrário, é oculto.

Cânon 1075

§ 1. Compete exclusivamente à autoridade suprema da Igreja declarar

autenticamente quando é que o direito divino proíbe ou dirime o matrimonio.

§ 2. Também só a autoridade suprema tem o direito de estabelecer outros im-

pedimentos para os batizados.

Cânon 1076

Reprova-se o costume que introduza algum impedimento novo ou que seja

contrário aos existentes.

Cânon 1077

O Ordinário do lugar, por causa grave e enquanto ela durar, em casos

particulares pode proibir, mas só temporariamente, o matrimonio dos seus súbditos,

onde quer que se encontrem, e de todos os que atualmente se encontrem no seu

território.

§ 2. Só a autoridade suprema da Igreja pode acrescentar à proibição uma

cláusula dirimente.

Cânon 1078

§ 1. O Ordinário do lugar pode dispensar os seus súbditos, onde quer que se

encontrem, e todos os que atualmente se encontrem no seu território, de todos os

impedimentos de direito eclesiástico, excetuados aqueles cuja dispensa esteja

reservada à Sé Apostólica.

§ 2. Os impedimentos cuja dispensa está reservada à Sé Apostólica, são:

1.° o impedimento proveniente de ordens sacras ou do voto público perpétuo

de castidade num instituto religioso de direito pontifício;

2.° o impedimento de crime, referido no Cânon 1090.

§ 3. Nunca se concede dispensa do impedimento de consanguinidade em

linha reta ou em segundo grau da linha colateral.

Cânon 1079

§ 1. Em perigo de morte, o Ordinário do lugar pode dispensar os seus

súbditos, onde quer que residam, e todos os que atualmente se encontrem no seu

território, quer da forma prescrita para a celebração do matrimonio, quer de todos e

de cada um dos impedimentos de direito eclesiástico, sejam públicos ou ocultos,

excetuando o impedimento proveniente da sagrada ordem do presbiterado.

§ 2. Nas mesmas circunstâncias do § 1, mas só nos casos em que não se

possa recorrer ao Ordinário do lugar, dispõem da mesma faculdade de dispensar

não só o pároco mas também o ministro sagrado devidamente delegado, e ainda o

sacerdote ou diácono que assiste ao matrimonio, em conformidade com o Cânon

1116, § 2.

§ 3. Em perigo de morte, goza o confessor da faculdade de dispensar, para o

foro interno, dos impedimentos ocultos, quer dentro quer fora do ato da confissão

sacramental.

§ 4. No caso referido no § 2, considera-se que não se pode recorrer ao

Ordinário do lugar, quando apenas se puder fazê-lo por telégrafo ou telefone.

Cânon 1080

§ 1. Quando se descobrir um impedimento no momento em que já tudo está

preparado para as núpcias, nem se possa diferir o matrimonio sem perigo provável

de mal grave até se obter a dispensa da autoridade competente, gozam da

faculdade de dispensar de todos os impedimentos, com exceção dos referidos no

Cânon 1078, § 2, n.° 1, o Ordinário do lugar e, contanto que o caso seja oculto,

todos os referidos no Cânon 1079, §§ 2-3, observadas as condições aí prescritas.

§ 2. Esta faculdade vale também para convalidar o matrimonio, se existir o

mesmo perigo na demora e não houver tempo para recorrer à Sé Apostólica ou ao

Ordinário do lugar, no concernente aos impedimentos de que este pode dispensar.

Cânon 1081

O pároco ou o sacerdote ou o diácono referidos no Cânon 1079, § 2,

informem imediatamente o Ordinário do lugar da dispensa concedida para o foro

externo; a qual deve anotar-se no livro dos matrimônios.

Cânon 1082

A não ser que o rescrito da Penitenciaria diga o contrário, a dispensa

concedida no foro interno não sacramental de um impedimento oculto, anote-se no

livro, que se deve guardar no arquivo secreto da cúria, e não é necessária outra

dispensa no foro externo, se depois o impedimento se tornar público.

OS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES EM ESPECIAL

Cânon 1083

§ 1. O homem antes de dezesseis anos completos de idade e a mulher antes

de catorze anos também completos não podem contrair matrimonio válido.

§ 2. As Conferências episcopais podem estabelecer uma idade superior para

a celebração lícita do matrimonio.

Cânon 1084

§ 1. A impotência antecedente e perpétua para realizar o ato conjugal, por

parte quer do marido quer da mulher, tanto absoluta como relativa, dirime o

matrimonio, pela própria natureza deste.

§ 2. Se o impedimento de impotência for duvidoso, com dúvida quer de direito

quer de fato, não se deve impedir o matrimonio nem, enquanto durar a dúvida,

declarar-se nulo.

§ 3. A esterilidade não proíbe nem anula o matrimonio, sem prejuízo do pres-

crito no Cânon 1098.

Cânon 1085

§ 1. Atenta invalidamente contrair matrimonio quem se encontrar ligado pelo

vínculo de um matrimonio anterior, ainda que não consumado.

§ 2. Ainda que o matrimonio anterior tenha sido nulo ou dissolvido por qual-

quer causa, não é permitido contrair outro antes de constar legitimamente e com

certeza da nulidade ou dissolução do primeiro.

Cânon 1086

§ 1. É inválido o matrimonio entre duas pessoas, uma das quais tenha sido

batizada na Igreja católica ou nela recebida e não a tenha abandonado por um ato

formal, e outra não batizada.

§ 2. Não se dispense deste impedimento a não ser depois de se encontrarem

cumpridas as condições referidas nos cânones. 1125 e 1126.

§ 3. Se uma parte, ao tempo em que contraiu matrimonio, era tida

comummente por batizada ou o seu batismo era duvidoso, deve presumir-se, nos

termos do Cânon 1060, a validade do matrimonio, até que se prove com certeza que

uma das partes era batizada e a outra não.

Cânon 1087

Atentam invalidamente o matrimonio os que receberam ordens sacras.

Cânon 1088

Atentam invalidamente o matrimonio os que estão ligados por voto público

perpétuo de castidade emitido num instituto religioso.

Cânon 1089

Entre um homem e a mulher raptada ou retida com intuito de com ela casar,

não pode existir matrimonio, a não ser que a mulher, separada do raptor e colocada

em lugar seguro e livre, espontaneamente escolha o matrimonio.

Cânon 1090

§ 1. Quem, com intuito de contrair matrimonio com determinada pessoa, tiver

causado a morte do cônjuge desta ou do próprio cônjuge, atenta invalidamente tal

matrimonio.

§ 2. Também atentam invalidamente o matrimonio entre si os que por mútua

cooperação física ou moral, causaram a morte do cônjuge.

Cânon 1091

§ 1. Na linha reta de consanguinidade é inválido o matrimonio entre todos os

ascendentes e descendentes, tanto legítimos como naturais.

§ 2. Na linha colateral é inválido o matrimonio até ao quarto grau, inclusive.

§ 3. O impedimento de consanguinidade não se multiplica.

§ 4. Nunca se permita o matrimonio, enquanto subsistir alguma dúvida sobre

se as partes são consanguíneas em algum grau da linha reta ou em segundo grau

da linha colateral.

Cânon 1092

A afinidade em linha reta dirime o matrimonio em qualquer grau.

Cânon 1093

O impedimento de pública honestidade origina-se no matrimonio inválido após

a instauração da vida comum ou de concubinato notório ou público; e dirime as

núpcias no primeiro grau da linha reta entre o homem e as consanguíneas da

mulher, e vice-versa.

Cânon 1094

Não podem contrair matrimonio válido os que se encontram vinculados por

parentesco legal originado na adoção, em linha reta ou no segundo grau da linha

colateral.

O CONSENTIMENTO MATRIMONIAL

Cânon 1095

São incapazes de contrair matrimonio:

l.° os que carecem do uso suficiente da razão;

2.° os que sofrem de defeito grave de discrição do juízo acerca dos direitos

e deveres essenciais do matrimonio, que se devem dar e receber mutuamente;

3° os que por causas de natureza psíquica não podem assumir as obrigações

essenciais do matrimonio.

Cânon 1096

§ 1. Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os

contraentes pelo menos não ignorem que o matrimonio é um consórcio permanente

entre um homem e uma mulher, ordenado à procriação de filhos, mediante alguma

cooperação sexual.

§ 2. Tal ignorância depois da puberdade não se presume.

Cânon 1097

§ 1. O erro acerca da pessoa torna inválido o matrimonio.

§ 2. O erro acerca da qualidade da pessoa, ainda que dê causa ao contrato,

não torna inválido o matrimonio, a não ser que direta e principalmente se pretenda

esta qualidade.

Cânon 1098

Quem contrai matrimonio enganado por dolo, perpetrado para obter o

consentimento, acerca de uma qualidade da outra parte, que, por sua natureza,

possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai-o invalidamente.

Cânon 1099

O erro sobre a unidade, a indissolubilidade ou a dignidade sacramental do

matrimonio, contanto que não determine a vontade, não vicia o consentimento

matrimonial.

Cânon 1100

A certeza ou a opinião acerca da nulidade do matrimonio não exclui

necessariamente o consentimento matrimonial.

Cânon 110l

§ 1. O consentimento interno da vontade presume-se conforme com as

palavras ou os sinais empregados ao celebrar o matrimonio.

§ 2. Mas se uma ou ambas as partes, por um ato positivo de vontade, excluí-

rem o próprio matrimonio ou algum elemento essencial do matrimonio ou alguma

propriedade essencial, contraem-no invalidamente.

Cânon 1102

§ 1. Não se pode contrair validamente matrimonio sob condição de um fato

futuro.

§ 2. O matrimonio contraído sob a condição de um fato passado ou presente

é válido ou não, consoante existe ou não o objeto da condição.

§ 3. A condição referida no § 2 não se pode apor licitamente, a não ser com

licença do Ordinário do lugar, dada por escrito.

Cânon 1103

É inválido o matrimonio celebrado por violência ou por medo grave, incutido

por uma causa externa, ainda que não dirigido para extorquir o consentimento, para

se libertar do qual alguém se veja obrigado a contrair matrimonio.

Cânon 1104

§ 1. Para contraírem validamente matrimonio é necessário que os contraentes

se encontrem simultaneamente presentes, por si mesmos ou por procurador.

§ 2. Os nubentes expressem por palavras o consentimento matrimonial; mas

se não puderem falar, por sinais equivalentes.

Cânon 1105

§ 1. Para se celebrar validamente o matrimonio por meio de procurador requer-

se:

1.° que exista um mandato especial para contraí-lo com determinada pessoa;

2.° que o procurador seja designado pelo mandante e desempenhe pessoal-

mente o seu múnus.

§ 2. Para a procuração ser válida, requer-se que seja assinada pelo mandante

e ainda pelo pároco ou Ordinário do lugar onde se passa a procuração, ou por um

sacerdote delegado por um dos dois, ou pelo menos por duas testemunhas; ou deve

ser feita por documento autêntico, segundo as normas do direito civil.

§ 3. Se o mandante não puder escrever, indique-se o fato na procuração e

acrescente-se outra testemunha que também assine; de contrário, a procuração é

inválida.

§ 4. Se antes de o procurador ter contraído matrimonio em nome do mandante,

este tiver revogado a procuração ou caído em amência, o matrimonio é inválido,

mesmo que o procurador ou a outra parte ignorem o fato.

Cânon 1106

Pode contrair-se matrimonio por meio de intérprete; mas o pároco não assista

a tal matrimonio, a não ser que esteja seguro da fidelidade do intérprete.

Cânon 1107

Ainda que o matrimonio tenha sido celebrado invalidamente, devido à

existência de impedimento ou por um defeito de forma, presume-se que o

consentimento prestado persevera, até que conste da sua revogação.

DA FORMA DA CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO

Cânon 1108

§ 1. Somente são válidos os matrimônios contraídos perante o Ordinário do

lugar ou o pároco, ou o sacerdote ou o diácono delegado por um deles, e ainda

perante duas testemunhas, segundo as regras expressas nos cânones seguintes e

salvas as exceções referidas nos cânones. 144, 1112, § 1, 1116 e 1127, §§ 1-2.

§ 2. Entende-se por assistente ao matrimonio apenas aquele que, estando

presente, solicita a manifestação do consentimento dos contraentes, e a recebe em

nome da Igreja.

Cânon 1109

O Ordinário do lugar ou o pároco, a não ser que por sentença ou decreto

tenham sido excomungados ou interditos ou suspensos do ofício ou como tais

declarados, assistem validamente, em virtude do ofício, dentro dos limites do próprio

território, aos matrimônios não só dos seus súbditos mas também dos não súbditos,

contanto que um destes seja do rito latino.

Cânon 1110

O Ordinário e o pároco pessoal, em virtude do ofício, só assistem validamente

ao matrimonio quando ao menos um dos nubentes seja seu súbdito, dentro dos

limites da sua jurisdição.

Cânon 1111

§ 1. O Ordinário do lugar e o pároco, durante todo o tempo que

desempenharem validamente o ofício, podem delegar a sacerdotes e a diáconos a

faculdade, mesmo geral, de assistir a matrimônios dentro dos limites do seu

território.

§ 2. Para que seja válida a delegação da faculdade de assistir a matrimônios,

deve ser dada expressamente a pessoas determinadas; se tratar de delegação

especial, deve ser dada para um matrimonio determinado; se tratar de delegação

geral, deve ser dada por escrito.

Cânon 1112

§ l. Onde faltarem sacerdotes e diáconos, o Bispo diocesano, obtido

previamente o parecer favorável da Conferência episcopal e licença da Santa Sé,

pode delegar leigos para assistirem a matrimônios.

§ 2. Escolha-se um leigo idôneo, capaz de instruir os nubentes e apto para

realizar devidamente a liturgia matrimonial.

Cânon 1113

Antes de ser concedida uma delegação especial, providencie-se a tudo

quanto o direito estabelece para comprovar o estado livre dos nubentes.

Cânon 1114

O assistente ao matrimonio procede ilicitamente se não lhe constar do estado

livre dos contraentes, segundo as normas do direito, e, se possível, da licença do

pároco, sempre que assiste em virtude de delegação geral.

Cânon 1115

Celebrem-se os matrimônios na paróquia, onde qualquer das partes tem o

domicílio ou quase domicílio ou residência durante um mês, ou, tratando-se de

vagos, na paróquia onde atualmente se encontram; com licença do Ordinário próprio

ou do pároco próprio podem celebrar-se noutro lugar.

Cânon 1116

§ 1. Se não for possível, sem grave incomodo, encontrar ou recorrer a um

assistente constituído segundo as normas do direito, os que pretendam contrair

matrimonio verdadeiro podem contraí-lo lícita e validamente, só perante

testemunhas:

1.° em perigo de morte;

2.° fora de perigo de morte, contanto que se possa prever prudentemente que

as condições referidas hajam de perdurar por um mês.

§ 2. Em ambos os casos, se encontrar outro sacerdote ou diácono, que possa

estar presente, deve ser chamado para, juntamente com as testemunhas, assistir à

celebração do matrimonio, salva a validade do matrimonio só perante duas teste-

munhas.

Cânon 1117

Deve observar-se a forma acima estabelecida, se ao menos uma das partes

contraentes tiver sido batizada na Igreja católica ou nela recebida, e dela não tiver

saído por um ato formal, sem prejuízo do prescrito no Cânon 1127, § 2.

Cânon 1118

§ 1. O matrimonio entre católicos ou entre uma parte católica e outra não

católica mas batizada celebre-se na igreja paroquial; pode celebrar-se noutra igreja

ou oratório com licença do Ordinário ou do pároco.

§ 2. O Ordinário do lugar pode permitir que o matrimonio se celebre noutro

lugar conveniente.

§ 3. O matrimonio entre uma parte católica e outra não batizada pode cele-

brar-se na igreja ou noutro local conveniente.

Cânon 1119

Fora do caso de necessidade, na celebração do matrimonio observem-se os

ritos prescritos nos livros litúrgicos, aprovados pela Igreja, ou recebidos por

costumes legítimos.

Cânon 1120

A Conferência episcopal pode elaborar um rito próprio para o matrimonio, que

deverá ser revisto pela Santa Sé, consentâneo com os usos dos lugares e dos

povos, e ajustado ao espírito cristão, sem prejuízo da lei de que o assistente,

presente ao matrimonio, solicite e receba a manifestação do consentimento dos

contraentes.

Cânon 1121

§ 1. Depois de celebrado o matrimonio, o pároco do lugar da celebração ou

quem fizer as suas vezes, ainda que nenhum deles tenha assistido, anote quanto

antes, no livro dos matrimônios, os nomes dos cônjuges, do assistente e das

testemunhas, o dia e o lugar da celebração do matrimonio, segundo o modo

prescrito pela Conferência episcopal ou pelo Bispo diocesano.

§ 2. Quando o matrimonio se celebrar em conformidade com o Cânon 1116, o

sacerdote ou o diácono, se tiver estado presente à celebração, de contrário as tes-

temunhas solidariamente com os contraentes, estão obrigados a comunicar quanto

antes ao pároco ou ao Ordinário do lugar que o matrimonio foi celebrado.

§ 3. No concernente ao matrimonio celebrado com dispensa da forma

canônica, o Ordinário do lugar, que conceder a dispensa, providencie para que essa

dispensa e a celebração se inscrevam no livro dos matrimônios não só da cúria

como também da paróquia própria da parte católica, cujo pároco tenha feito as

investigações acerca do estado livre; o cônjuge católico está obrigado a informar

quanto antes o mesmo Ordinário e o pároco da celebração do matrimonio, indicando

ainda o lugar da celebração e a forma pública observada.

Cânon 1122

§ 1. O matrimonio contraído averbe-se também no livro dos batismo, em que

se encontra inscrito o batismo dos cônjuges

§ 2. Se o cônjuge tiver contraído matrimonio em paróquia diversa daquela em

que foi batizado, o pároco do lugar da celebração comunique quanto antes ao

pároco do lugar do batismo a celebração do casamento.

Cânon 1123

Todas as vezes que o matrimonio for convalidado para o foro externo ou

declarado nulo, ou for legitimamente dissolvido, excetuado o caso de morte,

comunique-se o fato ao pároco do lugar da celebração, para ser devidamente

averbado no livro dos matrimônios e dos batismo.

DOS MATRIMÔNIO S MISTOS

Cânon 1124

O matrimonio entre duas pessoas batizadas, uma das quais tenha sido

batizada na Igreja católica ou nela recebida depois do batismo e que dela não tiver

saído por um ato formal, e outra pertencente a uma Igreja ou comunidade eclesial

sem plena comunhão com a Igreja católica, é proibido sem a licença expressa da

autoridade competente.

Cânon 1125

O Ordinário do lugar pode conceder esta licença se houver uma causa justa e

razoável; todavia não a conceda se não se verificarem as condições seguintes:

1.° a parte católica declare estar disposta a evitar os perigos de abandonar a

fé, e faça a promessa sincera de se esforçar para que todos os filhos venham a ser

batizados e educados na Igreja católica;

2.° dê-se oportunamente conhecimento à outra parte destas promessas feitas

pela parte católica, de tal modo que conste que se tornou consciente da promessa e

da obrigação da parte católica;

3.° ambas as partes sejam instruídas acerca dos fins e das propriedades

essenciais do matrimonio, que nenhuma delas pode excluir.

Cânon 1126

Compete à Conferência episcopal estabelecer tanto as normas sobre o modo

como se devem fazer estas declarações e promessas, que se exigem sempre, como

determinar o modo pelo qual delas conste no foro externo e como a parte não

católica delas tome conhecimento.

Cânon 1127

§ 1. Quanto à forma a utilizar no matrimonio misto, observem-se as

prescrições do Cânon 1108; todavia, se a parte católica contrair matrimonio com

outra parte não católica de rito oriental, a forma canônica só é necessária para a

liceidade; mas para a validade requer-se a intervenção de um ministro sagrado,

observadas as demais prescrições exigidas pelo direito.

§ 2. Se surgirem graves dificuldades relativamente à observância da forma

canônica, o Ordinário do lugar da parte católica tem, para cada caso, o direito de

dispensar da mesma, depois de consultado o Ordinário do lugar onde o matrimonio

se celebra, e salvaguardada, para a validade, alguma forma pública de celebração;

compete à Conferência episcopal estabelecer normas para se concederem tais

dispensas de modo uniforme.

§ 3. Proíbe-se que, antes ou depois da celebração canônica realizada nos

termos do § 1, haja outra celebração religiosa do mesmo matrimonio para se prestar

ou renovar o consentimento matrimonial; do mesmo modo, não se realize nenhuma

celebração religiosa em que o assistente católico e o ministro não católico simultane-

amente, executando cada qual o próprio rito, solicitem o consentimento das partes.

Cânon 1128

Cuidem os Ordinários dos lugares e os demais pastores de almas de que não

faltem ao cônjuge católico e aos filhos nascidos dum matrimonio misto o auxílio

espiritual para poderem cumprir as suas obrigações, e ajudem os cônjuges a

promover a unidade da vida conjugal e familiar.

Cânon 1129

As prescrições dos cânones. 1127 e 1128 devem aplicar-se também aos

matrimônios a que obsta o impedimento de disparidade de culto, referido no Cânon

1086, § 1.

A CELEBRAÇÃO SECRETA DO MATRIMÔNIO

Cânon 1130

Por causa grave e urgente o Ordinário do lugar pode permitir que o

matrimonio se celebre secretamente.

Cânon 1131

A permissão de celebrar secretamente o matrimonio importa que:

1.° se façam secretamente as investigações pré-matrimoniais;

2.º o Ordinário do lugar, o assistente, as testemunhas e os cônjuges guardem

segredo acerca da celebração do matrimonio.

Cânon 1132

A obrigação de guardar segredo, referida no Cânon 1131, n.° 2, cessa por

parte do Ordinário do lugar, se da sua observância se originar a iminência de grave

escândalo ou grave injúria contra a santidade do matrimonio; do que se dê

conhecimento às partes antes da celebração do matrimonio.

Cânon 1133

Inscreva-se o matrimonio celebrado secretamente só no livro especial que se

deve guardar no arquivo secreto da cúria.

OS EFEITOS DO MATRIMÔNIO

Cânon 1134

Do matrimonio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo de sua natureza

perpétuo e exclusivo; no matrimonio cristão, além disso, são os cônjuges

robustecidos e como que consagrados por um sacramento peculiar para os deveres

e dignidade do seu estado.

Cânon 1135

Ambos os cônjuges têm iguais deveres e direitos no concernente ao

consórcio da vida conjugal.

Cânon 1136

Os pais têm o dever gravíssimo e o direito primário de, na medida das suas

forças, darem aos filhos educação tanto física, social e cultural, como moral e

religiosa.

Cânon 1137

São legítimos os filhos concebidos ou nascidos de matrimonio válido ou

putativo.

Cânon 1138

§ 1. O pai é aquele que o matrimonio legal demonstra, a não ser que se prove

o contrário com argumentos evidentes.

§ 2. Presumem-se legítimos os filhos nascidos ao menos 180 dias depois de

celebrado o matrimonio, ou até 300 dias a partir da dissolução da vida conjugal.

Cânon 1139

Os filhos ilegítimos legitimam-se por matrimonio subsequente dos pais, tanto

válido como putativo, ou ainda por rescrito da Santa Sé.

Cânon 1140

Os filhos legitimados, no concernente aos efeitos canônicos, equiparam-se

em tudo aos legítimos, a não ser que expressamente outra coisa se determine no

direito.

A SEPARAÇÃO DOS CÔNJUGES

A DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO

Cânon 1141

O matrimonio ratificado e consumado não pode ser dissolvido por nenhum

poder humano nem por nenhuma causa além da morte.

Cânon 1142

O matrimonio não consumado entre batizados ou entre uma parte batizada e

outra não batizada pode ser dissolvido pelo Romano Pontífice por justa causa, a

pedido de ambas as partes ou só de uma, mesmo contra a vontade da outra.

Cânon 1143

§ 1. O matrimonio celebrado entre duas partes não batizadas dissolve-se pelo

privilégio paulino em favor da fé da parte que recebeu o batismo, pelo mesmo fato

de esta parte contrair novo matrimonio, contanto que a parte não batizada se afaste.

§ 2. Considera-se que a parte não batizada se afastou, quando não quer

coabitar com a parte batizada ou coabitar com ela pacificamente sem ofensa do

Criador, a não ser que esta parte, após a recepção do batismo, lhe tenha dado justa

causa para se afastar.

Cânon 1144

§ 1. Para que a parte batizada contraia validamente novo matrimonio, deve

interpelar-se sempre a parte não batizada sobre:

1.° se também ela quer receber o batismo;

2.° se, ao menos, quer coabitar pacificamente com a parte batizada, sem

ofensa do Criador.

§ 2. Esta interpelação deve fazer-se depois do batismo; mas o Ordinário do

lugar, por causa grave, pode permitir que a interpelação se faça ainda antes do

batismo, e mesmo dispensar dela, quer antes quer depois do batismo, contanto que

por meio de um processo, ao menos sumário e extrajudicial, conste não se poder

fazer a interpelação, ou que ela seria inútil.

Cânon 1145

§ 1. A interpelação faça-se regularmente com a autoridade do Ordinário do

lugar da parte convertida; o qual deve conceder ao outro cônjuge, se ele o pedir, um

prazo para responder, mas advertindo de que, transcorrido inutilmente esse prazo, o

seu silêncio será interpretado como resposta negativa.

§ 2. A interpelação, feita mesmo privadamente pela parte convertida, é válida

e até lícita, se não se puder observar a forma acima prescrita.

§ 3. Em qualquer dos casos, deve constar legitimamente, no foro externo de

que foi feita a interpelação e do seu resultado.

Cânon 1146

A parte batizada tem direito de contrair novo matrimonio com uma parte

católica:

1.° se a outra parte tiver respondido negativamente à interpelação, ou se esta

tiver sido legitimamente omitida;

2.° se a parte não batizada, interpelada ou não, perseverando primeiramente

em pacífica coabitação sem ofensa do Criador, depois sem justa causa se tiver

afastado, sem prejuízo do prescrito nos cânones. 1144 e 1145.

Cânon 1147

O Ordinário do lugar, todavia, por causa grave, pode permitir que a parte

batizada, utilizando o privilégio paulino, contraia novo matrimonio com outra parte

não católica, batizada ou não, observadas além disso as prescrições dos cânones

relativas aos matrimônios mistos.

Cânon 1148

§ 1. O não batizado que possuir simultaneamente várias esposas não

batizadas, ao receber o batismo na Igreja católica, se lhe for difícil permanecer com

a primeira de entre elas, pode reter qualquer uma, despedindo as demais. O mesmo

se diga da mulher não batizada que possua simultaneamente vários maridos não

batizados.

§ 2. Nos casos referidos no § 1, o matrimonio, depois de recebido o batismo,

deve contrair-se sob a forma legítima, observadas também, se for o caso, as pres-

crições relativas aos matrimônios mistos e demais disposições do direito.

§ 3. O Ordinário do lugar, tendo em consideração a condição moral, social e

econômica dos lugares e das pessoas, procure que se providencie suficientemente

às necessidades da primeira ou das outras esposas despedidas, segundo as

normas da justiça, da caridade cristã e da equidade natural.

Cânon 1149

O não batizado que, recebido o batismo na Igreja católica, não puder refazer

a coabitação com o cônjuge não batizado por motivo de cativeiro ou perseguição,

pode contrair outro matrimonio, mesmo que entretanto a outra parte tenha recebido

o batismo, sem prejuízo do prescrito no Cânon 1141.

Cânon 1150

Em caso de dúvida, o privilégio da fé goza do favor do direito.

A SEPARAÇÃO COM PERMANÊNCIA DO VÍNCULO

Cânon 1151

Os cônjuges têm o dever e o direito de manter a convivência conjugal, a não

ser que uma causa legítima os escuse.

Cânon 1152

§ 1. Ainda que se recomende muito que o cônjuge, movido pela caridade

cristã e solícito do bem da família, não recuse o perdão ao cônjuge adúltero e não

interrompa a vida conjugal, no entanto se, expressa ou tacitamente não perdoar a

culpa do mesmo, tem o direito de interromper a vida comum conjugal, a não ser que

tenha consentido no adultério ou lhe tenha dado causa, ou ele próprio também tenha

cometido adultério.

§ 2. Considera-se que há perdão tácito, quando o cônjuge inocente, depois de

tomar conhecimento do adultério, continua espontaneamente a viver com o outro

cônjuge com afeto marital; presume-se que houve tal perdão, se durante seis meses

tiver mantido a vida conjugal, sem interpor recurso perante a autoridade eclesiástica

ou civil.

§ 3. Se o cônjuge inocente dissolver espontaneamente a comunhão de vida

conjugal, proponha, no prazo de seis meses, a causa de separação à competente

autoridade eclesiástica, a qual, ponderadas todas as circunstâncias, veja se é

possível levar o cônjuge a perdoar a culpa e a não prolongar perpetuamente a

separação.

Cânon 1153

§ 1. Se um dos cônjuges provocar grave perigo da alma ou do corpo para o

outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura,

proporciona ao outro causa legítima de separação, quer por decreto do Ordinário do

lugar, quer também, se houver perigo na demora, por autoridade própria.

§ 2. Em todos os casos, cessando a causa da separação, deve ser restaurada

a vida conjugal comum, a não ser que a autoridade eclesiástica determine outra

coisa.

Cânon 1154

Efetuada a separação dos cônjuges, deve acautelar-se de forma oportuna a

sustentação e a educação dos filhos.

Cânon 1155

O cônjuge inocente pode louvavelmente admitir de novo o outro cônjuge à

vida comum, renunciando neste caso ao direito de separação.

A CONVALIDAÇÃO DO MATRIMÔNIO

A CONVALIDAÇÃO SIMPLES

Cânon 1156

§ 1. Para convalidar um matrimonio inválido por motivo de impedimento

dirimente, requer-se que o impedimento cesse, ou seja, dispensado, e renove o

consentimento ao menos a parte conhecedora do impedimento.

§ 2. Esta renovação é exigida pelo direito eclesiástico para a validade da con-

validação, ainda que inicialmente ambas as partes tenham prestado o consenti-

mento e depois não o tenham revogado.

Cânon 1157

A renovação do consentimento deve ser um novo ato de vontade em ordem a

contrair matrimonio, que a parte renovante saiba ou opine ter sido nulo desde o

início.

Cânon 1158

§ 1. Se o impedimento for público, o consentimento deve ser renovado por

ambas as partes em forma canônica, salvo o prescrito no Cânon 1127, § 2.

§ 2. Se o impedimento não puder provar-se, basta que o consentimento seja

renovado privada e secretamente, e só pela parte conhecedora do impedimento,

desde que a outra persevere no consentimento prestado, ou por ambas as partes,

se o impedimento for conhecido de uma e outra.

Cânon 1159

§ 1. O matrimonio inválido por defeito de consentimento convalida-se, se a

parte que não tinha consentido, já consinta, contanto que persevere o consentimento

prestado pela outra parte.

§ 2. Se o defeito de consentimento não puder provar-se, basta que a parte

que não tinha consentido preste o consentimento privada e secretamente.

§ 3. Se a falta de consentimento se puder provar, é necessário que se preste

o consentimento sob a forma canônica.

Cânon 1160

O matrimonio nulo por falta de forma, para se tornar válido, deve contrair-se

de novo sob a forma canônica, salvo o prescrito no Cânon 1127, § 2.

A SANAÇÃO NA RAIZ

Cânon 1161

§ 1. A sanação na raiz de um matrimonio inválido é a convalidação do

mesmo, sem a renovação do consentimento, concedida pela autoridade competente,

e importa a dispensa do impedimento, se o houver, e da forma canônica, se não

tiver sido observada, e ainda a retrotração ao passado dos efeitos canônicos.

§ 2. A convalidação opera-se desde o momento da concessão da graça; e a

retrotração considera-se referida ao momento da celebração do matrimonio, se não

se disser expressamente outra coisa.

§ 3. Não se conceda a sanação na raiz, a não ser que haja probabilidade de

que as partes queiram perseverar na vida conjugal.

Cânon 1162

§ 1. Se faltar o consentimento de uma ou de ambas as partes, o matrimonio

não se pode sanar na raiz, quer o consentimento tenha faltado desde o início, quer

tenha sido prestado inicialmente mas depois tenha sido revogado.

§ 2. Se o consentimento tiver faltado no início, mas tiver sido prestado depois,

a sanação pode ser concedida a partir do momento em que o consentimento foi

prestado.

Cânon 1163

§ l. O matrimonio inválido por impedimento ou por falta de forma legítima pode

ser sanado, contanto que persevere o consentimento de ambas as partes.

§ 2. O matrimonio inválido por impedimento de direito natural ou divino-posi-

tivo somente pode ser sanado desde que tenha cessado o impedimento.

Cânon 1164

A sanação pode ser concedida validamente mesmo sem conhecimento de

uma ou de ambas as partes; não se conceda, porém, a não ser por causa grave.

Cânon 1165

§ 1. A sanação na raiz pode ser concedida pela Sé Apostólica.

§ 2. Também pode ser concedida pelo Bispo diocesano em cada caso, ainda

que concorram vários motivos de nulidade no mesmo matrimonio, observadas as

condições referidas no Cânon 1125 para a sanação do matrimonio misto; mas não

pode ser concedida pelo mesmo Bispo, se existir impedimento cuja dispensa está

reservada à Sé Apostólica nos termos do Cânon 1078, § 2, ou se tratar de

impedimento de direito natural ou divino-positivo que já tenha cessado.

OS SACRAMENTOS AO SERVIÇO DA COMUNHÃO ( SERVIDÃO)

O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação

cristã. São o fundamento da vocação comum de todos os discípulos de Cristo –

vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. E conferem as graças

necessárias para a vida segundo o Espírito, nesta existência de peregrinos em

marcha para a Pátria.

Dois outros sacramentos, a Ordem e o Matrimonio, são ordenados para a

salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do

serviço aos outros que o fazem. Conferem uma missão particular na Igreja, e servem

a edificação do povo de Deus.

Nestes sacramentos, aqueles que já foram consagrados pelo Batismo e pela

Confirmação (1) para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem

receber consagrações particulares. Os que recebem o sacramento da Ordem

são consagrados para serem, em nome de Cristo, “com a palavra e a graça de

Deus, os pastores da igreja” (2). Por seu lado, “os esposos cristãos são fortalecidos

e como que consagrados por meio de um sacramento especial em ordem ao digno

cumprimento dos deveres do seu estado” (3). (CIC § 1533 – 1535)

ORDEM

A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus

Apóstolos continua sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é, portanto, o

sacramento do ministério apostólico. Comporta três graus: o episcopado, o

presbiterado e o diaconato. (CIC § 1536)

Como era no princípio:

Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo a glória de ser pontífice. Esta lhe

foi dada por aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Sl 2,7),como

também diz em outra passagem: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de

Melquisedec .(Hebreus 5,5-6)

Sendo Jesus o Filho de Deus, não tomou para si a função de sacerdote

supremo, e sim, incumbiu a seus discípulos a missão de guiar seu rebanho e servir

com plenitude a Deus e sua Igreja.

O SACRAMENTO DA ORDEM SEGUNDO O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – CIC

PORQUÊ ESTE NOME DE SACRAMENTO DA ORDEM?

A palavra Ordem, na antiguidade romana, designava corpos constituídos no

sentido civil, sobretudo o corpo dos que governavam, Ordinatio designa a integração

num ordo. Na Igreja existem corpos constituídos, que a Tradição, não sem

fundamento na Sagrada Escritura (4), designa, desde tempos antigos, com o nome

de táxeis (em grego), ordines (em latim): a liturgia fala assim do ordo episcoporum

– ordem dos bispos –,do ordo presbyterorum - ordem dos presbíteros – e do ordo

diaconorum –ordem dos diáconos. Há outros grupos que também recebem este

nome de ordo: os catecúmenos, as virgens, os esposos, as viúvas...

A integração num destes corpos da Igreja fazia-se através dum rito

chamado ordinatio,ato religioso e litúrgico que era uma consagração, uma bênção

ou um sacramento. Hoje, a palavra ordinatio é reservada ao ato sacramental que

integra na ordem dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos, e que ultrapassa a

simples eleição, designação, delegação ou instituição pela comunidade, pois confere

um dom do Espírito Santo que permite o exercício dum “poder sagrado” (sacra

potestas) (5) que só pode vir do próprio Cristo, pela sua Igreja. A ordenação também

é chamada consecratio consagração –, porque é um pôr à parte e uma investidura

feita pelo próprio Cristo para a sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a

oração consecratória, constituem o sinal visível desta consagração. (CIC § 1537-

1538)

O SACRAMENTO DA ORDEM NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

O SACERDÓCIO DA ANTIGA ALIANÇA

O povo eleito foi constituído por Deus como “um reino de sacerdotes e uma

nação consagrada” (Ex 19, 6) (6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu

uma das doze tribos, a de Levi, segregada para o serviço litúrgico (7) o próprio Deus

é a sua parte na herança (8). Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da

Antiga Aliança (9). Nela, os sacerdotes são “constituídos em favor dos homens, nas

coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados” (10).

Instituído para anunciar a Palavra de Deus (11) e para restabelecer a

comunhão com Deus pelos sacrifícios e a oração, aquele sacerdócio é, no entanto,

impotente para operar a salvação, precisando de repetir sem cessar os sacrifícios,

sem poder alcançar uma santificação definitiva (12)  a qual só o sacrifício de Cristo

havia de conseguir.

Apesar disso, no sacerdócio de Aarão e no serviço dos levitas, assim como

na instituição dos setenta “Anciãos” (13), a liturgia da Igreja vê prefigurações do

ministério ordenado da Nova Aliança. Assim, no rito latino, a Igreja pede, na oração

consecratória da ordenação dos bispos:

“Senhor Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo [...] por vossa palavra e

vosso dom instituístes a Igreja com as suas normas fundamentais, eternamente

predestinastes a geração dos justos que havia de nascer de Abraão, estabelecestes

príncipes e sacerdotes, e não deixastes sem ministério o vosso santuário...” (14).

Na ordenação dos presbíteros, a Igreja reza:

“Senhor, Pai santo, [...] já na Antiga Aliança se desenvolveram funções

sagradas que eram sinais do sacramento novo. A Moisés e a Aarão, que pusestes à

frente do povo para o conduzirem e santificarem, associastes como seus

colaboradores outros homens também escolhidos por Vós. No deserto,

comunicastes o espírito de Moisés a setenta homens prudentes, com o auxílio dos

quais ele governou mais facilmente o vosso povo. Do mesmo modo, as graças

abundantes concedidas a Aarão. Vós as transmitistes a seus filhos, a fim de não

faltarem sacerdotes, segundo a Lei, para oferecer os sacrifícios do templo, sombra

dos bens futuros...” (15).

E na oração consecratória para a ordenação dos diáconos, a Igreja confessa:

“Senhor, Pai santo, [...] é o novo templo que se edifica quando estabeleceis

os três graus dos ministros sagrados para servirem ao vosso nome, como já na

primeira Aliança escolhestes os filhos de Levi, para o serviço do templo antigo” (16).

(CIC §1539 – 1543)

O SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO

Todas as prefigurações do sacerdócio da Antiga Aliança encontram a sua

realização em Jesus Cristo, “único mediador entre Deus e os homens” (1 Tm 2,

5). Melquisedec, “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14, 18), é considerado pela

Tradição cristã como uma prefiguração do sacerdócio de Cristo, único “Sumo-

Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec” (Heb 5, l0; 6, 20), “santo, inocente,

sem mancha” (Heb 7, 26), que “com uma única oblação, tornou perfeitos para

sempre os que foram santificados” (Heb 10, 14), isto é, pelo único sacrifício da sua

cruz.

O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. E no

entanto, é tornado presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo se diga do

sacerdócio único de Cristo, que é tornado presente pelo sacerdócio ministerial, sem

diminuição da unicidade do sacerdócio de Cristo: “e por isso, só Cristo é verdadeiro

sacerdote, sendo os outros seus ministros” (17). (CIC § 1544-1545)

DUAS PARTICIPAÇÕES NO SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO

Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um reino de

sacerdotes para Deus seu Pai” (18). Toda a comunidade dos crentes, como tal, é

uma comunidade sacerdotal. Os fiéis exercem o seu sacerdócio batismal através da

participação, cada qual segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo,

sacerdote, profeta e rei. É pelos sacramentos do Batismo e da Confirmação que os

fiéis são “consagrados para serem [...] um sacerdócio santo” (19).

O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o

sacerdócio comum de todos os fiéis – embora “um e outro, cada qual segundo o seu

modo próprio, participem do único sacerdócio de Cristo” (20) – são, no entanto,

essencialmente diferentes ainda que sendo “ordenados um para o outro” (21). Em

que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento

da vida batismal – vida de fé, esperança e caridade, vida segundo o Espírito – o

sacerdócio ministerial está ao serviço do sacerdócio comum, ordena-se ao

desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos

quais Cristo não cessa de construir e guiar a sua igreja. E é por isso que é

transmitido por um sacramento próprio, que é o sacramento da Ordem. (CIC § 1546-

1547)

NA PESSOA DE CRISTO CABEÇA...

No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente

à sua Igreja, como Cabeça do seu corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote

do sacrifício redentor, mestre da verdade. É o que a Igreja exprime quando diz que o

padre, em virtude do sacramento da Ordem, age in persona Christi Capitis – na

pessoa de Cristo Cabeça (22):

“É o mesmo Sacerdote, Jesus Cristo, de quem realmente o ministro faz as

vezes. Se realmente o ministro é assimilado ao Sumo-Sacerdote, em virtude da

consagração sacerdotal que recebeu, goza do direito de agir pelo poder do próprio

Cristo que representa 'virtute ac persona ipsius Christi' (23).

“Cristo é a fonte de todo o sacerdócio: pois o sacerdócio da [antiga] lei era

figura d'Ele, ao passo que o sacerdote da nova lei age na pessoa d'Ele” (24).

Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e padres, a presença de

Cristo como cabeça da Igreja torna-se visível no meio da comunidade dos crentes

(25). Segundo a bela expressão de Santo Inácio de Antioquia, o bispo é týpos toû

Patrós, como que a imagem viva de Deus Pai (26).

Esta presença de Cristo no seu ministro não deve ser entendida como se este

estivesse premunido contra todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio,

contra os erros, isto é, contra o pecado. A força do Espírito Santo não garante do

mesmo modo todos os atos do ministro. Enquanto que nos sacramentos esta

garantia é dada, de maneira que nem mesmo o pecado do ministro pode impedir o

fruto da graça, há muitos outros atos em que a condição humana do ministro deixa

vestígios, que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e podem, por

conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.

Este sacerdócio é ministerial. ”O encargo que o Senhor confiou aos pastores

do seu Povo é um verdadeiro serviço” (27). Refere-se inteiramente a Cristo e aos

homens. Depende inteiramente de Cristo e do seu sacerdócio único, e foi instituído

em favor dos homens e da comunidade da Igreja. O sacramento da Ordem

comunica “um poder sagrado”, que não é senão o de Cristo. O exercício desta

autoridade deve, pois, regular-se pelo modelo de Cristo, que por amor Se fez o

último e servo de todos (28). “O Senhor disse claramente que o cuidado dispensado

ao seu rebanho seria uma prova de amor para com Ele” (29). (CIC § 1548-1551)

...”EM NOME DE TODA A IGREJA”

O sacerdócio ministerial não tem somente o encargo de representar Cristo.

cabeça da Igreja, perante a assembleia dos fiéis; age também em nome de toda a

Igreja, quando apresenta a Deus a oração da mesma Igreja (30) e, sobretudo,

quando oferece o sacrifício eucarístico (31).

“Em nome de toda a Igreja” não quer dizer que os sacerdotes sejam os

delegados da comunidade. A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da

oração e da oferenda de Cristo, sua cabeça. É sempre o culto de Cristo na e pela

sua Igreja. É toda a Igreja, corpo de Cristo, que ora e se oferece, “por Cristo, com

Cristo, em Cristo”, na unidade do Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o corpo, caput et

memora – cabeça e membros –, ora e oferece-se; e, por isso, aqueles que, no

corpo, são de modo especial os ministros, chamam-se ministros não apenas de

Cristo, mas também da Igreja. É porque representa Cristo, que o sacerdócio

ministerial pode representar a Igreja. (CIC § 1552-1553)

OS TRÊS GRAUS DO SACRAMENTO DA ORDEM

“O ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas

por aqueles que, desde a antiguidade, são chamados bispos, presbíteros e

diáconos” (32). A doutrina católica, expressa na liturgia, no Magistério e na prática

constante da Igreja, reconhece que existem dois graus de participação ministerial no

sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O diaconato destina-se a

ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo “sacerdos” designa, no uso atual, os bispos

e os presbíteros, mas não os diáconos. Todavia, a doutrina católica ensina que os

graus de participação sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o grau de serviço

(diaconato), todos três são conferidos por um ato sacramental chamado

“ordenação”, ou seja, pelo sacramento da Ordem.

“Reverenciem todos os diáconos como a Jesus Cristo e de igual modo o bispo

que é a imagem do Pai, e os presbíteros como o senado de Deus e como a

assembleia dos Apóstolos: sem eles, não se pode falar de Igreja” (33). (CIC § 1554)

A ORDENAÇÃO EPISCOPAL – PLENITUDE DO SACRAMENTO DA ORDEM

“Entre os vários ministérios, que na Igreja se exercem desde os primeiros

tempos, consta da Tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no

episcopado através de uma sucessão que remonta às origens, são os transmissores

da semente apostólica” (34).

Para desempenhar a sua sublime missão, “os Apóstolos foram enriquecidos

por Cristo com uma efusão especial do Espírito Santo, que sobre eles desceu: e

pela imposição das mãos eles próprios transmitiram aos seus colaboradores este

dom espiritual que foi transmitido até aos nossos dias através da consagração

episcopal” (35).

O II Concílio do Vaticano “ensina que, pela consagração episcopal, se

confere a plenitude do sacramento do Ordens, à qual o costume litúrgico da Igreja e

a voz dos santos Padres chamam sumo sacerdócio e vértice ["summa"] do sagrado

ministério” (36).

“A consagração episcopal, juntamente com a função de santificar, confere

também as funções de ensinar e governar [...] De fato, pela imposição das mãos e

pelas palavras da consagração, a graça do Espírito Santo é dada e é impresso o

caráter sagrado, de tal modo que os bispos fazem as vezes, de uma forma eminente

e visível, do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e atuam em vez d'Ele [“ in Eius

persona agant”]” (37). Por isso, pelo Espírito Santo que lhes foi dado, os bispos

foram constituídos verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores”

(38).

“É em virtude da consagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a

cabeça e os membros do colégio que alguém é constituído membro do corpo

episcopal” (39).O caráter e a natureza colegial da ordem episcopal manifestam-se,

entre outros modos, na antiga prática da Igreja que exige, para a consagração dum

novo bispo, a participação de vários bispos (40). Para a ordenação legítima dum

bispo requer-se, hoje, uma intervenção especial do bispo de Roma, em virtude da

sua qualidade de supremo vínculo visível da comunhão das Igrejas particulares na

Igreja una, e de garante da sua liberdade.

Cada bispo tem, como vigário de Cristo, o encargo pastoral da Igreja

particular que lhe foi confiada. Mas, ao mesmo tempo, partilha colegialmente com

todos os seus irmãos no episcopado a solicitude por todas as Igrejas: ”Se cada

bispo é pastor próprio apenas da porção do rebanho que foi confiada aos seus

cuidados, a sua qualidade de legítimo sucessor dos Apóstolos, por instituição divina,

torna-o solidariamente responsável pela missão apostólica da Igreja” (41).

Tudo o que acaba de ser dito explica porque é que a Eucaristia celebrada

pelo bispo tem uma significação muito especial como expressão da Igreja reunida

em torno do altar sob a presidência daquele que representa visivelmente Cristo, bom

Pastor e Cabeça da sua Igreja (42). (CIC § 1555-1561)

A ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS – COOPERADORES DOS BISPOS

“Cristo, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, por meio dos seus

Apóstolos tornou os bispos, que são sucessores deles, participantes da sua

consagração e missão; e estes, por sua vez, transmitem legitimamente o múnus do

seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos na Igreja” (43). O seu cargo

ministerial foi transmitido em grau subordinado aos presbíteros, para que,

constituídos na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores da Ordem

episcopal para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo”

(44).

“O ofício dos presbíteros, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da

autoridade com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo. Por

isso, o sacerdócio dos presbíteros, embora pressuponha os sacramentos da

iniciação cristã, é conferido mediante um sacramento especial, em virtude do qual os

presbíteros, mediante a unção do Espírito Santo, ficam assinalados com um caráter

particular e, dessa maneira, configurados a Cristo-Sacerdote, de tal modo que

possam agir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça” (45).

“Os presbíteros, embora não possuam o pontificado supremo e dependam

dos bispos no exercício do próprio poder, todavia estão-lhes unidos na honra do

sacerdócio; e, por virtude do sacramento da Ordem, são consagrados, à imagem de

Cristo, sumo e eterno sacerdote (46), para pregar o Evangelho, ser pastores dos

fiéis e celebrar o culto divino como verdadeiros sacerdotes do Novo

Testamento (47).

Em virtude do sacramento da Ordem, os sacerdotes participam das

dimensões universais da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual

que receberam na ordenação prepara-os, não para uma missão limitada e restrita,

“mas sim para uma missão de salvação de amplitude universal, "até aos confins da

terra"“ (48), “dispostos, no seu coração, a pregar o Evangelho em toda a parte” (49).

“É no culto ou sinaxe eucarística que, por excelência exercem o seu múnus

sagrado: nela, agindo na pessoa de Cristo e proclamando o seu mistério, unem as

preces dos fiéis ao sacrifício da cabeça e, no sacrifício da Missa, tornam presente e

aplicam, até à vinda do Senhor, o único sacrifício do Novo Testamento, o de Cristo,

o qual de uma vez por todas se ofereceu ao Pai, como hóstia imaculada” (50). É

deste sacrifício único que todo o seu ministério sacerdotal tira a própria força (51).

“Cooperadores esclarecidos da Ordem episcopal, sua ajuda e instrumento,

chamados para o serviço do povo de Deus, os presbíteros constituem com o seu

bispo um único presbyterium com diversas funções. Onde quer que se encontre uma

comunidade de fiéis, eles tornam de certo modo, presente o bispo, ao qual estão

associados, de ânimo fiel e generoso, e cujos encargos e solicitude assumem,

segundo a própria medida, traduzindo-os na prática do cuidado quotidiano dos fiéis”

(52). Os presbíteros só podem exercer o seu ministério na dependência do bispo e

em comunhão com ele. A promessa de obediência, que fazem ao bispo no momento

da ordenação, e o ósculo da paz dado pelo bispo no final da liturgia de ordenação,

significam que o bispo os considera seus colaboradores, filhos, irmãos e amigos e

que, em contrapartida, eles lhe devem amor e obediência.

“Os presbíteros, elevados pela ordenação à Ordem do presbiterado, estão

unidos entre si numa íntima fraternidade sacramental. Especialmente na diocese, a

cujo serviço, sob o bispo respectivo, estão consagrados, formam um só presbitério”

(53). A unidade do presbitério tem uma expressão litúrgica no costume segundo o

qual, durante o rito da ordenação presbiteral, os presbíteros impõem também eles as

mãos, depois do bispo. (CIC § 1562-1568)

A ORDENAÇÃO DO DIÁCONO – “EM VISTA DO SERVIÇO”

“No grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais foram impostas

as mãos, "não em vista do sacerdócio, mas do serviço"“ (54). Para a ordenação no

diaconato, só o bispo é que impõe as mãos, significando com isso que o diácono

está especialmente ligado ao bispo nos encargos próprios da sua “ diaconia” (55).

Os diáconos participam de modo especial na missão e na graça de Cristo

(56). O sacramento da Ordem marca-os com um selo (“caráter”) que ninguém pode

fazer desaparecer e que os configura com Cristo, que se fez “diácono”, isto é, o

servo de todos (57). Entre outros serviços, pertence aos diáconos assistir o bispo e

os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia,

distribuí-la, assistir ao Matrimonio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar,

presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade (58).

A partir do II Concílio do Vaticano, a Igreja latina restabeleceu o diaconato

“como grau próprio e permanente da hierarquia” (59), enquanto as Igrejas do Oriente

o tinham sempre mantido. Este diaconato permanente, que pode ser conferido a

homens casados, constitui um enriquecimento importante para a missão da Igreja.

Com efeito, é apropriado e útil que homens, cumprindo na Igreja um ministério

verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas obras sociais e

caritativas, “sejam fortificados pela imposição das mãos, transmitida desde os

Apóstolos, e mais estreitamente ligados ao altar, para que cumpram o seu ministério

mais eficazmente por meio da graça sacramental do diaconato” (60). (CIC § 1569-

1571)

A CELEBRAÇÃO DESTE SACRAMENTO

A celebração da ordenação dum bispo, de presbíteros ou de diáconos, dada a

sua importância na vida duma Igreja particular, requer o concurso do maior número

possível de fiéis. Terá lugar, de preferência, ao domingo e na Sé catedral, com

solenidade adequada à circunstância. As três ordenações – do bispo, do presbítero

e do diácono – seguem o mesmo esquema. O lugar próprio de sua celebração é

dentro da liturgia eucarística.

O rito essencial do sacramento da Ordem é constituído, para os três graus,

pela imposição das mãos, por parte do bispo, sobre a cabeça do ordinando, bem

como pela oração consecratória específica, que pede a Deus a efusão do Espírito

Santo e dos seus dons apropriados ao ministério para que é ordenado o candidato

(61).

Como em todos os sacramentos, ritos anexos envolvem a celebração.

Variando muito nas diversas tradições litúrgicas, tem todos um traço comum:

exprimem os múltiplos aspectos da graça sacramental. Assim, os ritos iniciais, no

rito latino – a apresentação e a eleição do ordinando, a alocução do bispo, o

interrogatório do ordinando, as ladainhas dos santos – atestam que a escolha do

candidato se fez em conformidade com o costume da Igreja e preparam o ato solene

da consagração depois da qual vários ritos vêm exprimir e completar, de modo

simbólico, o mistério realizado: para o bispo e para o sacerdote, a unção com o

santo crisma, sinal da unção especial do Espírito Santo, que torna fecundo o seu

ministério; entrega do livro dos Evangelhos do anel, da mitra e do báculo ao bispo,

em sinal da sua missão apostólica de anunciar a Palavra de Deus, da sua fidelidade

à Igreja, esposa de Cristo, do seu múnus de pastor do rebanho do Senhor: para o

presbítero, entrega da patena e do cálice, “a oferenda do povo santo” (62) que ele é

chamado a apresentar a Deus; para o diácono, entrega do livro dos Evangelhos,

pois acaba de receber a missão de anunciar o Evangelho de Cristo. (CIC § 1572-

1574)

QUEM PODE CONFERIR ESTE SACRAMENTO?

Foi Cristo quem escolheu os Apóstolos e lhes deu parte na sua missão e

autoridade. Depois de ter subido à direita do Pai, Cristo não abandona o seu

rebanho, antes continuamente o guarda por meio dos Apóstolos com a sua proteção

e continua a dirigi-lo através destes mesmos pastores que hoje prosseguem a sua

obra  (63). É pois Cristo “quem dá”, a uns serem apóstolos, a outros serem pastores

(64). E continua agindo por meio dos bispos (65).

Uma vez que o sacramento da Ordem é o sacramento do ministério

apostólico, pertence aos bispos, enquanto sucessores dos Apóstolos, transmitir “o

dom espiritual” (66), “a semente apostólica” (67). Os bispos validamente ordenados,

isto é, que estão na linha da sucessão apostólica, conferem validamente os três

graus do sacramento da Ordem (68). (CIC § 1575 -1576)

QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?

“Só o varão (vir) batizado pode receber validamente a sagrada ordenação”

(69). O Senhor Jesus escolheu homens (viri) para formar o colégio dos Doze

Apóstolos (70), e o mesmo fizeram os Apóstolos quando escolheram os seus

colaboradores (71) para lhes sucederem no desempenho do seu ministério (72). O

Colégio dos bispos, a que os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente

e atualiza, até que Cristo volte, o Colégio dos Doze. A Igreja reconhece-se vinculada

por essa escolha feita pelo Senhor em pessoa. É por isso que a ordenação das

mulheres não é possível (73).

Ninguém tem direito a receber o sacramento da Ordem. Com efeito, ninguém

pode arrogar-se tal encargo. É-se chamado a ele por Deus (74). Aquele que julga

reconhecer em si sinais do chamamento divino ao ministério ordenado, deve

submeter humildemente o seu desejo à autoridade da Igreja, à qual incumbe a

responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber as Ordens. Como toda

e qualquer graça, este sacramento só pode ser recebido como um dom imerecido.

Todos os ministros ordenados da Igreja latina, à exceção dos diáconos

permanentes, são normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem

celibatários e têm vontade de guardar o celibato ”por amor do Reino dos céus”

(Mt 19, 12). Chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às “suas coisas”

(75) dão-se por inteiro a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta vida nova,

para cujo serviço o ministro da Igreja é consagrado: aceite de coração alegre,

anuncia de modo radioso o Reino de Deus (76).

Nas Igrejas orientais vigora, desde há séculos, uma disciplina diferente:

enquanto os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens

casados podem ser ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há

muito tempo, considerada legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso

nas suas comunidades (77). Mas, por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em

muita honra nas Igrejas orientais e são numerosos aqueles que livremente optam

por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no Oriente como no Ocidente, aquele

que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se. (CIC § 1577-1580)

OS EFEITOS DO SACRAMENTO DA ORDEM

O CARÁCTER INDELÉVEL

Este sacramento configura o ordinando com Cristo por uma graça especial do

Espírito Santo, a fim de servir de instrumento de Cristo em favor da sua Igreja. Pela

ordenação, recebe-se a capacidade de agir como representante de Cristo, cabeça

da Igreja. na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.

Tal como no caso do Batismo e da Confirmação, esta participação na função

de Cristo é dada uma vez por todas. O sacramento da Ordem confere, também ele,

um caráter espiritual indelével, e não pode ser repetido nem conferido para um

tempo limitado (78).

Uma pessoa validamente ordenada pode, é certo, por graves motivos, ser

dispensada das obrigações e funções decorrentes da ordenação, ou ser proibido de

as exercer (79): mas já não pode voltar a ser leigo, no sentido estrito (80), porque o

caráter impresso pela ordenação fica para sempre. A vocação e a missão recebidas

no dia da ordenação marcam-no de modo permanente.

Uma vez que é Cristo, afinal, quem age e opera a salvação através do

ministro ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir (81). Santo

Agostinho di-lo numa linguagem vigorosa:

“Quanto ao ministro orgulhoso, deve ser contado juntamente com o diabo. E

nem por isso se contamina o dom de Cristo: o que através de tal ministro se

comunica, conserva a sua pureza: o que passa por ele mantém-se límpido e chega

até à terra fértil. [...] De fato, a virtude espiritual do sacramento é semelhante à luz:

os que devem ser iluminados recebem-na na sua pureza, e ela, embora atravesse

seres manchados, não se suja” (82). (CIC § 1581- 1584)

A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO

A graça do Espírito Santo própria deste sacramento consiste numa

configuração com Cristo, Sacerdote, Mestre e Pastor, de quem o ordenado é

constituído ministro.

Para o bispo, é, em primeiro lugar, uma graça de fortaleza (“Spiritum

principalem –Espírito soberano”, isto é, Espírito que faz chefes, pede a oração de

consagração do bispo, no rito latino (83)): a graça de guiar e defender, com força e

prudência, a sua Igreja, como pai e pastor, com amor desinteressado para com

todos e uma predileção pelos pobres, os enfermos e os necessitados (84). Esta

graça impele-o a anunciar o Evangelho a todos, a ser o modelo do seu rebanho, a ir

adiante dele no caminho da santificação, identificando-se na Eucaristia com Cristo

sacerdote e vítima, sem recear dar a vida pelas suas ovelhas:

“Ó Pai, que conheceis os corações, concedei ao vosso servo, que escolhestes para

o episcopado, a graça de apascentar o vosso santo rebanho e de exercer de modo

irrepreensível, diante de Vós, o supremo sacerdócio, servindo-Vos noite e dia: que

ele torne propício o vosso rosto e ofereça os dons da vossa santa Igreja: tenha, em

virtude do Espírito do supremo sacerdócio, o poder de perdoar os pecados segundo

o vosso mandamento, distribua os cargos segundo a vossa ordem e desligue de

todo o vínculo pelo poder que Vós destes aos Apóstolos: que ele Vos agrade pela

sua doçura e coração puro, oferecendo-Vos um perfume agradável, por vosso Filho

Jesus Cristo...” (85).

O dom espiritual, conferido pela ordenação presbiteral, está expresso nesta

oração própria do rito bizantino. O bispo, impondo as mãos, diz, entre outras coisas:

“Senhor, enchei do dom do Espírito Santo aquele que Vos dignastes elevar ao grau

de presbítero, para que seja digno de se manter irrepreensível diante do vosso altar,

de anunciar o Evangelho do vosso Reino, de desempenhar o ministério da vossa

Palavra de verdade, de Vos oferecer dons e sacrifícios espirituais, de renovar o

vosso povo pelo banho da regeneração; de modo que, ele próprio, vá ao encontro

do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, vosso Unigênito, no dia da sua

segunda vinda, e receba da vossa imensa bondade a recompensa dum fiel

desempenho do seu ministério” (86).

Quanto aos diáconos, “fortalecidos pela graça sacramental, servem o povo de

Deus na "diaconia" da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o bispo

e o seu presbitério” (87).

Perante a grandeza da graça e do múnus sacerdotais, os santos doutores

sentiram o apelo urgente à conversão, a fim de corresponderem, por toda a sua

vida, Àquele de Quem o sacramento os constituiu ministros. É assim que São

Gregário de Nazianzo, ainda jovem presbítero. exclama:

“Temos de começar por nos purificar, antes de purificarmos os outros: temos

de ser instruídos, para podermos instruir: temos de nos tornar luz para alumiar, de

nos aproximar de Deus para podermos aproximar d'Ele os outros, ser santificados

para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com inteligência” (88). “Eu sei de

Quem somos ministros, a que nível nos encontramos e para onde nos dirigimos.

Conheço as alturas de Deus e a fraqueza do homem, mas também a sua força” (89).

[Quem é, pois, o sacerdote? Ele é] “o defensor da verdade, eleva-se com os

anjos glorifica com os arcanjos, faz subir ao altar do Alto as vítimas dos sacrifícios,

participa no sacerdócio de Cristo, remodela a criatura, restaura [nela] a imagem [de

Deus], recria-a para o mundo do Alto e, para dizer o que há de mais sublime, é

divinizado e diviniza” (90).

E diz o santo Cura d'Ars: “É o sacerdote quem continua a obra da redenção

na terra”... “Se bem se compreendesse o que o sacerdote é na terra, morrer-se-ia,

não de medo, mas de amor”. [...] “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus” (91).

(CIC § 1585- 1589)

A ORDEM SEGUNDO O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO - CDC

Cânon 1008

Mediante o sacramento da ordem, por instituição divina, alguns de entre os fiéis,

pelo caráter indelével com que se assinalam, são constituídos ministros sagrados,

isto é são consagrados e deputados para que, segundo o grau de cada um,

apascentem o povo de Deus, desempenhando na pessoa de Cristo Cabeça as

funções de ensinar, santificar e reger.

Cânon 1009

§ 1. As ordens são o episcopado, o presbiterado e o diaconato.

§ 2. Conferem-se pela imposição das mãos e pela oração consecratória, que

os livros litúrgicos prescrevem para cada grau.

A CELEBRAÇÃO E MINISTRO DA ORDENAÇÃO

Cânon 1010

Celebre-se a ordenação dentro da Missa, em dia de domingo ou de festa de

preceito; mas, por motivos pastorais, pode também celebrar-se em outros dias, sem

excluir os feriais.

Cânon 1011

§ l. A ordenação celebre-se de ordinário na igreja catedral; todavia, por

motivos pastorais, pode celebrar-se noutra igreja ou oratório.

§ 2. Para a ordenação convidem-se os clérigos e os demais fiéis, para que à

celebração assistam no maior número possível.

Cânon 1012

O ministro da sagrada ordenação é o Bispo consagrado.

Cânon 1013

Não é permitido a nenhum Bispo consagrar outro Bispo, a não ser que

previamente lhe conste do mandato pontifício.

Cânon 1014

O Bispo consagrante principal, a não ser que haja dispensa da Sé Apostólica,

associe a si pelo menos dois Bispos consagrantes na consagração episcopal; é até

muito conveniente que todos os Bispos presentes, juntamente com estes,

consagrem o eleito.

Cânon 1015

§ 1. Os candidatos ao presbiterado ou ao diaconato sejam ordenados pelo

Bispo próprio ou com cartas dimissórias legítimas do mesmo.

§ 2. O Bispo próprio, quando não impedido por justa causa, ordene por si

mesmo os seus súbditos; não pode todavia ordenar licitamente sem indulto

apostólico um súbdito de rito oriental.

§ 3. Quem pode dar dimissórias para a recepção de ordens, pode também

conferir por si mesmo as ordens, se gozar de caráter episcopal.

Cânon 1016

O Bispo próprio, no concernente à ordenação diaconal dos que pretendem

inscrever-se no clero secular, é o Bispo da diocese, em que o candidato tem

domicílio, ou o da diocese a que o candidato quer dedicar-se; no concernente à

ordenação presbiteral dos clérigos seculares, é o Bispo da diocese em que o can-

didato foi incardinado pelo diaconato.

Cânon 1017

Fora do próprio território, o Bispo não pode conferir ordens sem licença do

Bispo diocesano.

Cânon 1018

§ 1. Podem dar cartas dimissórias para os seculares:

1.° o Bispo próprio, referido no Cânon 1016;

2.° o Administrador apostólico e, com o consentimento do colégio dos con-

sultores, o Administrador diocesano; com o consentimento do conselho referido no

Cânon 495, § 2, o Pró-vigário e o Pró-prefeito apostólico.

§ 2. O Administrador diocesano, o Pró-vigário e o Pró-prefeito apostólico não

concedam cartas dimissórias àqueles a quem o acesso às ordens tiver sido negado

pelo Bispo diocesano ou pelo Vigário ou Prefeito apostólico.

Cânon 1019

§ 1. Ao Superior maior de um instituto religioso clerical de direito pontifício ou

de uma sociedade clerical de vida apostólica de direito pontifício compete conceder

cartas dimissórias para o diaconato e para o presbiterado aos seus súbditos que,

segundo as constituições, estejam perpétua ou definitivamente junto ao instituto ou

sociedade.

§ 2. A ordenação de todos os outros membros de qualquer instituto ou

sociedade rege-se pelo direito dos clérigos seculares, revogado qualquer indulto

concedido aos Superiores.

Cânon 1020

Não se concedam cartas dimissórias sem que previamente se obtenham

todos os testemunhos e documentos exigidos pelo direito, nos termos dos canons.

1050 e 1051.

Cânon 1021

As cartas dimissórias podem expedir-se a qualquer Bispo em comunhão com

a Sé Apostólica, exceto apenas, salvo indulto apostólico, a um Bispo de rito diverso

do rito do candidato.

Cânon 1022

O Bispo ordenante, depois de ter recebido as cartas dimissórias legítimas,

não proceda à ordenação sem estar inteiramente seguro da autenticidade dessas

cartas.

Cânon 1023

As cartas dimissórias podem ser restringidas a certos limites ou revogadas

por quem as concedeu ou pelo seu sucessor; mas, uma vez concedidas, não se

extinguem por ter cessado o direito de quem as concedeu.

OS ORDINANDOS

Cânon 1024

Só o varão batizado pode receber validamente a sagrada ordenação.

Cânon 1025

§ 1. Para alguém ser licitamente ordenado de presbítero ou de diácono,

requer-se que, além das provas realizadas nos termos do direito, possua, a juízo do

Bispo próprio ou do Superior maior competente, as devidas qualidades, não esteja

incurso em nenhuma irregularidade ou impedimento, e tenha preenchido os

requisitos, em conformidade com os cânones. 1033-1039; deve ainda possuir os

documentos referidos no Cânon 1050, e ter-se realizado o escrutínio referido no

Cânon 1051.

§ 2. Requer-se ainda que, a juízo do mesmo Superior legítimo, seja

considerado útil para o ministério da Igreja.

§ 3. O Bispo, que ordenar um súbdito próprio destinado ao serviço de outra

diocese, deve estar ciente de que o ordenado irá de fato ficar junto a essa diocese.

OS REQUISITOS NOS ORDINANDOS

Cânon 1026

Para alguém ser ordenado, deve gozar da liberdade devida; ninguém pode,

por qualquer motivo ou por qualquer forma, coagir alguém a receber ordens ou

afastar delas quem seja canonicamente idôneo.

Cânon 1027

Os aspirantes ao diaconato e ao presbiterado sejam formados com esmerada

preparação, segundo as normas do direito.

Cânon 1028

Procure o Bispo diocesano ou o Superior competente que os candidatos,

antes de serem promovidos a alguma ordem, sejam devidamente instruídos acerca

do que se refere a essa ordem e às obrigações a ela inerentes.

Cânon 1029

Somente se promovam às ordens aqueles que, segundo o prudente juízo do

Bispo próprio ou do Superior maior competente, ponderadas todas as

circunstâncias, tenham fé íntegra, sejam movidos de reta intenção, possuam a ci-

ência devida, boa reputação, integridade de costumes, virtudes comprovadas e bem

assim outras qualidades físicas e psíquicas consentâneas com a ordem a receber.

Cânon 1030

O Bispo próprio ou o Superior maior competente, não pode, a não ser por

uma causa canônica, ainda que oculta, impedir aos seus súbditos diáconos,

destinados ao presbiterado, o acesso a esta ordem, salvo o recurso nos termos do

direito.

Cânon 1031

§ 1. Não se confira o presbiterado a não ser a quem tenha completado vinte e

cinco anos de idade e goze de maturidade suficiente e observado além disso o

intervalo, ao menos de seis meses, entre o diaconato e o presbiterado; os que se

destinam ao presbiterado somente se admitam à ordem do diaconato depois de

terem completado vinte e três anos de idade.

§ 2. O candidato ao diaconato permanente, que não seja casado, não se

admita ao mesmo diaconato antes de ter completado pelo menos vinte e cinco anos

de idade; o que for casado, só depois de ter completado pelo menos trinta e cinco

anos de idade, e com o consentimento da esposa.

§ 3. É permitido às Conferências episcopais estabelecer normas que exijam

idade mais elevada para o presbiterado e para o diaconato permanente.

§ 4. Reserva-se à Sé Apostólica a dispensa superior a um ano da idade

requerida em conformidade com os §§ 1 e 2.

Cânon 1032

§ 1. Os candidatos ao presbiterado só podem ser promovidos ao diaconato

depois de terem completado o quinto ano do curso filosófico teológico.

§ 2. Depois de terminado o currículo de estudos, os diáconos, antes de serem

promovidos ao presbiterado, participem na vida pastoral, exercitando a ordem dia-

conal durante o tempo conveniente, a definir pelo Bispo ou pelo Superior maior

competente.

§ 3. O aspirante ao diaconato permanente não seja promovido a esta ordem

antes de ter completado o tempo da formação.

OS PRÉ-REQUISITOS PARA A ORDENAÇÃO

Cânon 1033

Só é promovido licitamente às ordens quem já tenha recebido o sacramento

da sagrada confirmação.

Cânon 1034

§ 1. Nenhum aspirante ao diaconato ou ao presbiterado seja ordenado sem

previamente ter sido incluído entre os candidatos, com o rito litúrgico da admissão,

pela autoridade referida nos cânones. 1016 e 1019, depois de ter feito o pedido

escrito pela própria mão e assinado, e ter sido aceite por escrito pela mesma

autoridade.

§ 2. Não está obrigado a obter esta admissão quem já estiver cooptado pelos

votos num instituto clerical.

Cânon 1035

§ 1. Antes de alguém ser promovido ao diaconato, permanente ou temporário,

requer-se que tenha recebido os ministérios de leitor e de acólito, e os tenha

exercitado por tempo conveniente.

§ 2. Entre a recepção do acolitado e do diaconato medeie o intervalo mínimo

de seis meses.

Cânon 1036

O candidato, para poder ser promovido à ordem do diaconato ou do

presbiterado, entregue ao Bispo próprio ou ao Superior maior competente uma

declaração escrita pela própria mão e assinada, na qual ateste que vai receber

espontânea e livremente a ordem sagrada e que pretende dedicar-se perpetuamente

ao ministério eclesiástico, e ao mesmo tempo peça para ser admitido a receber a

ordem.

Cânon 1037

O candidato ao diaconato permanente que não seja casado, e também o

candidato ao presbiterado, não se admita à ordem do diaconato, sem antes, com rito

próprio, ter assumido publicamente perante Deus e a Igreja a obrigação do celibato,

ou ter emitido os votos perpétuos num instituto religioso.

Cânon 1038

O diácono que se recusar a ser promovido ao presbiterado, não pode ser

proibido de exercer a ordem recebida, a não ser que tenha surgido algum

impedimento canônico ou outra causa grave, a juízo do Bispo diocesano ou do

Superior maior competente.

Cânon 1039

Todos os que vão ser promovidos a alguma ordem dediquem ao menos cinco

dias a exercícios espirituais, no lugar e do modo determinados pelo Ordinário; o

Bispo, antes de proceder à ordenação, deve ser informado de que os candidatos

fizeram devidamente estes exercícios.

AS IRREGULARIDADES E OUTROS IMPEDIMENTOS

Cânon 1040

Sejam excluídos de receber ordens aqueles que estão sujeitos a algum

impedimento, quer perpétuo, a que se dá o nome de irregularidade, quer simples;

não se contrai nenhum outro impedimento além dos mencionados nos cânones que

se seguem.

Cânon 1041

São irregulares para receber ordens:

1.° quem sofrer de alguma forma de amência ou de outro defeito psíquico,

pelo qual, ouvidos os peritos, se considere inábil para desempenhar devidamente o

ministério;

2.° quem tiver cometido o delito de apostasia, heresia ou cisma;

3.° quem tiver atentado casamento, mesmo só civil, quer ele próprio esteja

impedido de contrair matrimonio pelo vínculo matrimonial ou por ordem sacra ou por

voto público e perpétuo de castidade, quer o faça com mulher ligada por matrimonio

válido ou vinculada pelo mesmo voto;

4.° quem tiver cometido homicídio voluntário ou procurado o aborto, tendo-se

seguido o efeito, e todos os que cooperaram positivamente;

5.° quem se mutilou a si próprio ou mutilou outrem, grave e dolosamente, ou

tentou suicidar-se;

6 ° quem realizou um ato de ordem reservado aos que estão constituídos na

ordem do episcopado ou de presbiterado, se dela carecer, ou estiver proibido de a

exercer por alguma pena canônica declarada ou aplicada.

Cânon 1042

Estão simplesmente impedidos de receber as ordens:

1.° o homem casado, a não ser que se destine legitimamente ao diaconato

permanente;

2.° quem desempenhe um ofício ou uma administração interdita aos clérigos

nos termos dos cânones. 285 e 286, de que tenha de prestar contas, até que,

deixado o ofício e a administração e prestadas as contas, seja considerado livre;

3.° o neófito, a não ser que, a juízo do Ordinário, já esteja suficientemente

provado.

Cânon 1043

Os fiéis estão obrigados a revelar ao Ordinário ou ao pároco, antes da

ordenação, os impedimentos para as ordens sacras, de que tenham conhecimento.

Cânon 1044

§ 1. São irregulares para exercerem as ordens já recebidas:

1.° quem tiver recebido ilegitimamente as ordens, quando se encontrava

atingido por irregularidade para as receber;

2.° quem tiver cometido o delito referido no Cânon 1041, nº 2, se o delito for

público;

3.° quem tiver cometido algum dos delitos referidos no Cânon 1041 ns. 3, 4, 5

e 6.

§ 2. Estão impedidos de exercer as ordens:

1.° quem, estando impedido de receber ordens, as tiver recebido ilegitima-

mente;

2.° quem sofrer de amência ou de outro defeito psíquico referido no Cânon

1041 n.° 1, até que o Ordinário, consultado um perito, lhe permita o exercício

da mesma ordem.

Cânon 1045

A ignorância das irregularidades e dos impedimentos não escusa dos

mesmos.

Cânon 1046

As irregularidades e os impedimentos multiplicam-se quando provêm de

diversas causas; mas não pela repetição da mesma causa, a não ser que se trate de

irregularidade por homicídio voluntário ou por aborto procurado, tendo-se seguido o

efeito.

Cânon 1047

§ 1. Reserva-se exclusivamente à Sé Apostólica a dispensa de todas as

irregularidades, se o fato em que se fundamentam tiver sido levado ao foro judicial.

§ 2. À mesma se reserva ainda a dispensa das irregularidades e dos

impedimentos para a recepção de ordens, que se seguem:

1.° das irregularidades pelos delitos públicos, referidos no Cânon 1041 ns. 2 e

3;

2.° da irregularidade por delito quer público quer oculto, referido no Cânon

1041, n.° 4;

3.° do impedimento referido no Cânon 1042, n.° 1.

§ 3. Reserva-se também à Sé Apostólica a dispensa das irregularidades para

o exercício da ordem recebida, referidas no Cânon 1041, n.º 3, somente nos casos

públicos, e no mesmo cânon, n. 4, ainda nos casos ocultos.

§ 4. O Ordinário pode dispensar das irregularidades e impedimentos não

reservados à Santa Sé.

Cânon 1048

Nos casos ocultos mais urgentes, se não for possível recorrer ao Ordinário

ou, quando se tratar das irregularidades referidas no cânones 1041, ns. 3 e 4, à

Penitenciaria, se houver perigo iminente de dano grave ou de infâmia, o que está

impedido de exercer a ordem por irregularidade, pode exercê-la, mantendo-se

contudo a obrigação de recorrer quanto antes ao Ordinário ou à Penitenciaria,

ocultando-se o nome e por meio do confessor.

Cânon l049

§ 1. Nas preces para se obter a dispensa das irregularidades e dos

impedimentos, devem mencionar-se todas as irregularidades e impedimentos;

contudo a dispensa geral vale mesmo para os casos ocultados de boa fé,

excetuadas as irregularidades referidas no Cânon 1041, n.° 4, ou outras levadas ao

foro judicial, não porém para os casos ocultados de má fé.

§ 2. Se tratar de irregularidades por homicídio voluntário ou de aborto pro-

curado, para a validade da dispensa deve-se exprimir o número de delitos.

§ 3. A dispensa geral das irregularidades e impedimentos para receber

ordens, vale para todas as ordens.

DIACONATO

Cânon 236

Segundo as prescrições da Conferência episcopal, os aspirantes ao diaconato

permanente, sejam formados sobre o modo de cultivar a vida espiritual e preparados

para cumprirem devidamente os deveres próprios dessa ordem:

1.° os jovens, ao menos durante três anos, permanecendo nalguma casa

apropriada, a não ser que o Bispo diocesano por motivos graves determine outra

coisa;

2.° os homens de idade mais madura, solteiros ou casados, com uma prepa-

ração prolongada por três anos e determinada pela mesma Conferência episcopal.

Cânon 266

§ 1. Pela recepção do diaconato torna-se alguém clérigo e é incardinado na

Igreja particular ou Prelatura pessoal para cujo serviço foi promovido.

§ 2. O membro professo de votos perpétuos de um instituto religioso, ou incor-

porado definitivamente numa sociedade clerical de vida apostólica, pela recepção do

diaconato incardina-se como clérigo no respectivo instituto ou sociedade, a não ser

que, no concernente às sociedades, as constituições disponham outra coisa.

A ANOTAÇÃO E DO CERTIFICADO DA ORDENAÇÃO

Cânon 1053

§ 1. Terminada a ordenação, anotem-se os nomes de cada um dos

ordenados e do ministro ordenante, o lugar e o dia da ordenação, no livro especial

da cúria do lugar da ordenação, o qual deve ser guardado diligentemente; além

disso, conservem-se cuidadosamente todos os documentos de cada uma das

ordenações. § 2. O Bispo ordenante dê a cada um dos ordenados um certificado

autêntico da ordenação recebida; os quais, se tiverem sido ordenados por um Bispo

estranho com cartas dimissórias, apresentem aquele certificado ao Ordinário próprio

para a anotação da ordenação no livro especial a guardar no arquivo.

Cânon 1054

O Ordinário do lugar, se tratar de seculares, ou o Superior maior competente,

se tratar dos seus súbditos, comunique a notícia de cada uma das ordenações

realizadas ao pároco do lugar do batismo, para que este a averbe no seu livro dos

batismos, em conformidade com o Cânon 535, § 2.

A PERDA DO ESTADO CLERICAL

Cânon 290

A sagrada ordenação, uma vez recebida validamente, nunca se anula. No

entanto, o clérigo perde o estado clerical:

1.° por sentença judicial ou por decreto administrativo, em que se declara

inválida a sagrada ordenação;

2.º por pena de demissão, legitimamente imposta;

3.° por rescrito da Sé Apostólica; o qual só é concedido pela Sé Apostólica

aos diáconos por causas graves, e aos presbíteros por causas gravíssimas.

Cânon 291

Excetuando o caso referido no Cânon 290, n.° 1, a perda do estado clerical

não acarreta consigo a dispensa da obrigação do celibato, a qual é concedida

exclusivamente pelo Romano Pontífice.

Cânon 292

O clérigo que, segundo as normas do direito, perder o estado clerical, perde

com ele os direitos próprios desse estado, e não fica sujeito às obrigações do estado

clerical, sem prejuízo do prescrito no Cânon 291; fica proibido de exercer o poder de

ordem, salvo o prescrito no Cânon 976, e pelo mesmo fato fica privado de todos os

ofícios e cargos bem como de qualquer poder delegado.

Cânon 293

O clérigo que tiver perdido o estado clerical não pode ser reintegrado entre os

clérigos, a não ser por rescrito da Sé Apostólica.