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COORDENAÇÃO

ROGÉRIO SANCHES CUNHA

RICARDO DIDIER

4ª ediçãorevista, ampliada e atualizada

2016

ColeçãoColeção

RERE IISAÇOSAÇO

MAGISTRATURA ESTADUAL

Juiz de Direito

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Direito Civil

Ronaldo Vieira Francisco

QUESTÕES

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS

DO DIREITO BRASILEIRO

1. EQUIDADE

(Vunesp – Juiz de Direito – MS/2015) Assinale a alter-nativa correta sobre a possibilidade de aplicação da equidade como critério de julgamento, no direito bra-sileiro.

(A) Na arbitragem, é vedada a utilização da equidade como critério de julgamento.

(B) Nos casos de injúria, difamação ou calúnia, o valor da indenização será fixado por equidade sempre que o ofendido não puder provar prejuízo material.

(C) Nas ações de reparação por danos materiais, em re gra, o arbitramento da indenização se dará por equi dade quando o credor não demonstrar a exten-são do dano.

(D) É vedada a utilização da equidade como critério de julgamento, na medida em que não constitui fonte do direito.

(E) A excessiva desproporção entre a gravidade da cul-pa e o dano não permite que o magistrado reduza a indenização por equidade.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: considerando as disposições do CC/art. 413 e NCPC/art. 40, parágrafo único, podemos con-ceituar a equidade como o juízo de razoabilidade e equi-líbrio baseado no bom-senso com que o caso concreto é apreciado; é a justiça do caso concreto; classifica-se em equidade legal e judicial, sendo a primeira com pre-visão em texto de lei (CC/art. 413, 738, 944, 953, p. ex.) e a segunda como uma ordem ao juiz para que aplique as disposições legais a respeito da equidade para a situação posta em juízo (CPC/art. 140, parágrafo único, c/c CC/413 x 479, p. ex); não podemos deixar de classificar as fontes do direito, que são material (diz respeito ao organismo

do qual emana, merecendo destaque a parcela de poder para elaborar a norma, como a União que legisla privativa-mente sobre direito civil, CF/art. 22, I, o que afasta o Estado como fonte dessa ciência) e formal (manifestação do direito, sendo principal, direta ou imediata a lei e acessó-ria, mediata ou indireta a analogia, os costumes e os prin-cípios gerais de direito); a lei, como fonte do direito, tem as características da generalidade, imperatividade, perma-nência, obrigatoriedade e autorizante; fala-se, ainda, em fontes informais como sendo a doutrina e a jurisprudên-cia; a equidade não é fonte do direito e nem mesmo meio de suprir lacuna, sendo mero recurso de auxilio segundo os critérios acima para solução de conceitos vagos.

Alternativa correta: letra “b”.

Alternativa “a”: incorreta; segundo o art. 2º, caput, da Lei 9.307/96, a arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.

Alternativa “b”: ccorreta; a equidade não constitui meio supletivo de lacuna da lei, mas recurso que auxilia a aplicação desta. Em sentido estrito, a equidade é aplicada quando a própria lei cria espaços ou lacunas para que o juiz formule a norma mais apropriada ao caso concreto; logo, só será empregada quando a lei expressamente permitir. É o que diz o art. 127 do CPC: “O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. O Novo CPC manteve o mesmo conteúdo no art. 140, pará grafo único. Assim, quando a lei deixa espaços vagos, escolhas ou alternativas, o juiz decidirá “por equidade”, caso em que o fará sem se ater à legalidade estrita, mas apenas à sua convicção íntima, devidamente autorizado pelo legisla-dor. Decidir “com equidade” é aplicar o ideal de justiça, acepção lata do termo. A equidade pode ser (i) legal: é prevista no texto da lei, que prevê várias possibilidades de solução do caso concreto; (ii) judicial: o legislador, de maneira explicita ou implicitamente, comete ao juiz deci-dir por equidade, criando espaços para que formule a regra mais adequada à situação concreta. Segundo o art. 953, parágrafo único, do CC: “Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitati-vamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso”. Por conseguinte, se o ofendido não puder comprovar o prejuízo material, caberá ao juiz fixar, por equidade, o quantum indenizatório, atendendo às circunstâncias do caso concreto.

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Alternativa “c”: incorreta; a extensão do dano deve ser comprovada nas ações de reparação de danos mate-riais – o dano emergente e o lucro cessante, art. 402 do CC – permitindo o diploma civil, no art. 944, parágrafo único, que o juiz decida por equidade quando a extensão do dano for desproporcional a gravidade da culpa.

Alternativa “d”: incorreta; a equidade pode ser utilizada como critério de julgamento. A posição da equidade como fonte do direito não é unanime entre os juristas: ex: Carlos Roberto Gonçalves, não é fonte; Silvio de Salvo Venosa, é fonte mediata ou secundária.

Alternativa “e”: incorreta; o art. 944, parágrafo único, do CC, expressamente consigna: “Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a inde-nização”.

(Cespe – Juiz Substituto – AL/ 2008) Considerando as alusões à equidade pelo ordenamento jurídico bra-sileiro, revela-se importante identificar a posição dessa figura em face do quadro das fontes do direito. A res-peito dessa relação, é correto afirmar que a equidade

a) não se revela como fonte do direito, pois a autori-zação de seu emprego apenas permite ao juiz criar normas para o caso concreto com base em precei-tos de justiça.

b) não se revela como fonte do direito, pois a autoriza-ção de seu emprego apenas permite ao juiz aplicar ao caso concreto normas gerais de justiça previa-mente positivadas no ordenamento.

c) não se revela como fonte do direito, pois a autoriza-ção de seu emprego apenas permite ao juiz buscar uma melhor compreensão hermenêutica das nor-mas particulares que se aplicam ao caso concreto.

d) se revela como fonte do direito, pois ela se compõe de um conjunto de valores e normas preexistentes ao ordenamento positivo, os quais incidirão sempre que autorizadas por este.

e) se revela como fonte do direito, pois ela prescreve parâmetros para a decisão judicial que não se apóiam nas normas positivadas no ordenamento.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; é exatamente a epítome da equidade, afastando-a como fonte do direito, mesmo informal, e admitindo o seu emprego como a justiça do caso concreto.

Alternativa “b”: incorreta; o erro dessa alternativa está na parte final da asserção, quando coloca a equidade como a possibilidade de aplicação de normas de justiça previamente “positivadas” (escritas), quando sua essência resulta na aplicação do juízo do bom-senso do juiz.

Alternativa “c”: incorreta; aqui novo erro, por-que a equidade não abre ao juiz a busca por melhor hermenêutica das normas particulares; permite-lhe, se

prevista em lei, conferir o tratamento razoável e justo ao caso posto, baseado no bom-senso.

Alternativa “d”: incorreta; a equidade não é fonte do direito nem um conjunto de valores e normas.

Alternativa “e”: incorreta; porque além de não ser fonte do direito, não delimita os parâmetros do direito aplicável pelo juiz.

2. VIGÊNCIA DA LEI

(FCC – Juiz de Direito – PE/2015) O negócio jurídico celebrado durante a vacatio de uma lei que o irá proibir é

(A) anulável, porque assim se considera aquele em que se verifica a prática de fraude.

(B) nulo, por faltar licitude ao seu objeto.

(C) inexistente, porque assim se considera aquele que tiver por objetivo fraudar lei imperativa.

(D) válido, porque a lei ainda não está em vigor.

(E) ineficaz, porque a convenção dos particulares não pode derrogar a ordem pública.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: as disposições sobre a vigên-cia e a eficácia das leis no tempo são disciplinas pelos arts. 1º e 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; a lei só é obrigatória a partir do momento em que passa a vigorar. Antes desse instante, após publicada, tem-se o início de sua vigên-cia. Os negócios praticados durante a vacatio legis de uma lei que os proíba, assim, são validos.

Alternativa “b”: incorreta; não se cogita da inva-lidade de um negócio praticado se a lei que o proibira ainda não entrou em vigor, ante a inexistência de obri-gatoriedade.

Alternativa “c”: incorreta; a fraude a lei impera-tiva é causa de nulidade do negócio jurídico (CC, art. 166, VI), e não de inexistência do mesmo. Acresça-se, ainda, que a lei só adquire força vinculante depois de entrar em vigor.

Alternativa “d”: correta; enquanto a lei não entra em vigor falta-lhe força vinculante, obrigatoriedade de cumprimento. Assim, durante a vacatio legis de uma lei que irá proibir um negócio, este será válido.

Alternativa “e”: incorreta; o vigor e a vigência não se confundem com a eficácia da lei, qualidade de uma norma que se refere à sua adequação, em vista da produção dos efeitos concretos. A lei publicada, e assim vigente, mas ainda em período de vacância, não entrou em vigor; portanto, não tem força vinculante. Desse modo, se o negócio foi celebrado mesmo contra a proi-bição da nova lei sem imperatividade, tem-se a validade da convenção.

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(Cespe – Juiz de Direito – PB/2015) Acerca da eficácia da lei no tempo e no espaço, assinale a opção correta.

A) O direito brasileiro veda o denominado efeito repris-tinatório das normas, mesmo que previsto expres-samente, de modo que uma lei nova não pode prever a recuperação da vigência de lei já revogada.

B) Caso uma lei cujo prazo de vigência não se tenha iniciado seja novamente publicada para correção de erro material constante da publicação anterior, o prazo da vacatio legis será contado a partir da primeira publicação, salvo se outra data nela vier expressa.

C) A contagem do prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância deve ser feita nos termos da regra geral do direito civil, de modo a se excluir a data da publicação da lei e se incluir o último dia do prazo.

D) No que se refere à eficácia espacial da lei, o ordena-mento pátrio adotou o sistema da territorialidade moderada, de forma a permitir a aplicação de lei brasileira dentro do território nacional e, excepcio-nalmente, fora, sem, contudo, admitir a aplicação de lei estrangeira nos limites do Brasil.

E) Em razão da denominada ultratividade da norma, mesmo revogado, o Código Civil de 1916 tem apli-cação às sucessões abertas durante a sua vigência, ainda que o inventário tenha sido proposto após o advento do Código Civil de 2002.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “e”.

Alternativa “a”: incorreta; a repristinação, desde que prevista de maneira expressa, é admitida no direito nacional (LINDB, art. 2º, § 3º).

Alternativa “b”: incorreta; a respeito da lei corre-tiva dispõe o art. 1º, §§ 3º e 4º da LINDB. Se a correção da lei ocorrer antes de sua entrada em vigor, ainda na vacatio legis, o prazo desta passará a ocorrer da nova publicação de seu texto, e não da primeira.

Alternativa “c”: incorreta; conta-se o prazo para a entrada em vigor das leis na forma do art. 8º, § 1º, da Lei Complementar 95/98: “A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publica-

ção e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral”.

Alternativa “d”: incorreta; em decorrência da soberania nacional, as leis têm aplicação dentro dos limites do território do Estado. Esse princípio da territo-rialidade, contudo, não é absoluto, pois há situações que a lei estrangeira tenha eficácia em seu território, sem que comprometer a soberania nacional, admitindo-se a extraterritorialidade. O Brasil acolhe o sistema da territo-rialidade moderada, admitindo-se a aplicação da norma alienígena no território nacional, por exemplo, no art.

7º, caput, da LINDB, que adota como estatuto pessoal a lex domicilii.

Alternativa “e”: correta; a lei é ultrativa quando aplicada após a cessação de sua vigência. Segundo o art. 1.787 do CC/2002: “Regula a sucessão e a legitima-ção para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela”. Também prevista a regra no art. 1.577 do CC/1916, ambos os dispositivos determinam que disci-plina a sucessão a lei vigente ao tempo em que aberta a sucessão, ainda que outro venha a ser o momento da ação de inventário. Segundo decidiu o STJ, “Não há direito adquirido à sucessão, que se estabelece por oca-sião da morte, pois é nesse momento em que se dá a transferência do acervo hereditário aos titulares, motivo pelo qual é regulada pela lei vigente à data da abertura (art. 1.577 do Código Civil de 1916 e art. 1.787 do Código Civil de 2002)” REsp 1477498 / SP, Ministro João Otávio De Noronha). Para colocar cobro à questão, preceitua o art. 2.041 do CC de 2002: “As disposições deste Código relativas à ordem da vocação hereditária (arts. 1.829 a 1.844) não se aplicam à sucessão aberta antes de sua vigência, prevalecendo o disposto na lei anterior (Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916)”.

(FCC – Juiz de Direito Substituto – PE/2013) No caso de publicação para corrigir texto de lei publicado com incorreção,

a) não haverá novo prazo de vacatio legis depois da nova publicação, se ocorrer antes de a lei ter entra do em vigor.

b) tratando-se de lei já em vigor, as correções consi-deram-se lei nova.

c) não se considerarão lei nova as correções, tenha ou não já entrado em vigor o texto incorreto.

d) deverá, necessariamente, ser estabelecido um prazo para sua nova entrada em vigor, além de dis-ciplinar as relações jurídicas estabelecidas antes da nova publicação.

e) deve o conflito entre os textos ser resolvido pelo juiz por equidade, porque a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro não regula os efeitos da nova publicação de texto de lei.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “b”.

Alternativa “a”: incorreta; pelo art. 1º, § 3º, da LINDB, se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo desse artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.

Alternativa “b”: correta; dispõe o art. 1º, § 4º, da LINDB, que as correções a texto de lei já em vigor consi-deram-se lei nova.

Alternativa “c”: incorreta; são duas as regras sobre correção a texto de lei (errata), conforme o momento que ocorra, se antes ou depois de entrar em vigor: 1ª

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regra: se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo desse artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação; 2ª regra: as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova (LINDB, art. 1º, §§ 3º e 4º).

Alternativa “d”: incorreta; a vacatio legis, quando prevista, consiste no prazo razoável fixado no texto de lei para que dela se tenha amplo conhecimento, antes que tenha vigor, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena reper-cussão (Lei Complementar 95/98, art. 8º, caput). Além disso, salvo disposição contrária, omitindo o texto legal o prazo de vacatio legis, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada. No caso de errata, se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, os prazos de vacatio legis começam a correr da nova publi-cação. As correções a texto de lei já em vigor conside-ram-se lei nova, e nessa outros prazos de vacatio legis poderão ser previstos, ou não (LINDB, art. 1º, §§ 3º e 4º).

Alternativa “e”: incorreta; a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro regula no art. 1º, §§ 3º e 4º, os efeitos da correção ou errata de texto lei, tanto antes quanto depois de entrar em vigor.

(Vunesp – Juiz Substituto – SP/ 2011) Assinale a alter-nativa correta.

a) Se durante a vacatio legis ocorrer nova publica-ção de texto de lei, destinada a correção, o prazo da obrigato riedade, com relação à parte corrigida, começará a correr da nova publicação.

b) Os direitos adquiridos na vigência de lei publicada com incorreções são atingidos pela publicação do texto corrigido.

c) As correções a texto de lei em vigor consideram-se lei nova, tornando-se obrigatórias de imediato.

d) A lei nova que estabelece disposições gerais a par das já existentes revoga a lei anterior.

e) A lei nova que estabelece disposições especiais a par das já existentes revoga a lei anterior.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; no Brasil, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada (vacatio legis); nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasi-leira, quando admitida, se inicia em 3 meses; se houver novo texto legal de correção, antes da vigência, os prazos mencionados começarão a correr da nova publicação; já o novo texto de correção, depois da vigência, mesmo que destinado a correção, consideram-se lei nova (LINDB/art. 1°, §§ 1° ao 4°).

Alternativa “b”: incorreta; segundo a LINDB/art. 6°, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, res-

peitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; como a lei que corrige outra já em vigor é considerada lei nova (LINDB/art. 1°, § 4°), terá ela que respeitar o direito adquirido, assim reconhecidos “os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré--fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem” (LINDB/art. 6°, § 2°); lembramos ao candidato que a CF/art. 5°, XXXVI, é expressa, em cláusula pétrea, que a “lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Alternativa “c”: incorreta; estabelece a LINDB/art. 1°, § 4°, que “as correções a texto de lei já em vigor conside-ram-se lei nova”. O efeito imediato pode ocorrer ou não, dependendo de eventual vacatio legis que venha a ter. A lei nova seguirá as disposições gerais quanto ao prazo de vigência. De acordo com a LINDB/art. 1°, caput, “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente”. Lembramos ao candidato que a Lei Complementar nº 95, de 26 de

fevereiro de 1998, dispõe sobre a elaboração, a reda-ção, a alteração e a consolidação das leis, conferindo eficácia ao parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal. De acordo com seu art. 8°, “a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar

prazo razoável para que dela se tenha amplo conheci-mento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão”.

Alternativa “d”: incorreta; a lei nova que estabe-leça disposições gerais ou especiais a par das já exis-tentes não revoga nem modifica a lei anterior (LINDB/art. 2°, § 2°).

Alternativa “e”: incorreta; a lei nova que estabe-leça disposições gerais ou especiais a par das já exis-tentes não revoga nem modifica a lei anterior (LINDB/art. 2°, § 2°).

(FCC – Juiz Substituto – RR/ 2008) Com a nova publica-ção da lei, destinada a correção,

a) em nenhuma hipótese haverá novo prazo para entrar em vigor.

b) se depois de entrar a lei em vigor, a correção não se considerará lei nova.

c) se antes de ela entrar em vigor, a vacatio legis começará a correr da nova publicação.

d) se depois de entrar em vigor, será retroativa à data da primeira publicação.

e) se antes de ela entrar em vigor, a vacatio legis con-sistirá do prazo restante contado desde a primeira publicação.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “c”.

Alternativa “a”: incorreta; o novo texto legal de correção, publicado antes da vigência de uma lei,

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importa no reinicio dos prazos de vacatio legis a contar da nova publicação (LINDB/art. 1°, § 3°).

Alternativa “b”: incorreta; pela LINDB/art. 1°, § 4°, as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Alternativa “c”: correta; a correção antes da vigên-cia da lei repercute quanto à recontagem dos prazos da vacatio legis.

Alternativa “d”: incorreta; preceitua a LINDB/art. 1°, § 4°, que “as correções a texto de lei já em vigor consi-deram-se lei nova”.

Alternativa “e”: incorreta; em relação ao prazo da vacatio legis em caso de correção do texto de lei ocor-rido antes de sua vigência, abre-se nova contagem do prazo, com reinicio por inteiro.

3. EFEITO REPRISTINATÓRIO

(Cespe – Juiz de Direito Substituto-PB/ 2011) À luz das disposições legais e da jurisprudência acerca da vigência e da eficácia da lei, assinale a opção correta.

a) A norma declarada inconstitucional é nula ab ori-gine e, em regra, não se revela apta à produção de efeito algum, sequer o de revogar a norma anterior, que volta a viger plenamente nesse caso.

b) As regras de direito intertemporal, segundo as quais as obrigações devem ser regidas pela lei vigente ao tempo em que se constituíram, não são aplicáveis quando a obrigação tiver base extracontratual.

c) O fato de, antes da entrada em vigor de determi-nada lei, haver nova publicação de seu texto para simples correção não é capaz, por si só, de alterar o prazo inicial de vigência dessa lei.

d) Como, em regra, a lei vigora até que outra a modi-fique ou revogue, lei nova que estabeleça dispo-sições especiais a par das já existentes revoga ou modifica a lei anterior.

e) A repristinação ocorre com a revogação da lei revo-gadora e, salvo disposição em contrário, é ampla-mente admitida no sistema normativo pátrio.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: a repristinação não se con-funde com o efeito repristinatório. Segundo o art. 2º, § 3º, da LINDB “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigên-cia”. O preceito em tela dispõe a respeito da repristina-ção, que é admitida e reconhecida no sistema brasileiro, não como regra geral, mas por exceção. É necessário disposição legal expressa para que ocorra. A outro giro, a inconstitucionalidade de uma lei faz com as leis even-tualmente revogadas sejam restauradas. Dessa forma, a lei anterior revogada por lei posterior declarada inconstitucional tem a vigência restabelecida, porém, nessa situação, fala-se que houve “efeito repristinatório”, conforme já decidiu o STJ (STJ: REsp. 445.455 – BA, DJ

5/12/2005). Para o STF, “...declaração de inconstitucio-nalidade de uma lei alcança, inclusive, os atos pretéritos com base nela praticados, eis que o reconhecimento desse supremo vício jurídico, que inquina de total nulidade os atos emanados do Poder Público, desampara as situações constituídas sob sua égide e inibe – ante a sua inaptidão para produzir efeitos jurídicos válidos... A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de exclu-são, que, fundado numa competência de rejeição deferida ao Supremo Tribunal Federal, consiste em remover do ordenamento positivo a manifestação estatal inválida e desconforme ao modelo plasmado na Carta Política, com todas as consequências daí decorrentes, inclusive a plena restauração de eficácia das leis e das normas afetadas pelo ato declarado inconstitucional” (STF: ADIn 652-5 – MA). Para o Ministro Celso de Mello (ADIn 2.215/PE), “Já se afirmou, no início desta decisão, que a declaração de inconstitucionalidade in abstracto, de um lado, e a suspen-são cautelar de eficácia do ato reputado inconstitucional, de outro, importam – considerado o efeito repristinatório que lhes é inerente – em restauração das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstrato. Esse entendimento – hoje é expres-samente consagrado em nosso sistema de direito positivo (Lei nº 9.868/99, art. 11, § 2º) ...”. Por fim, há exceção ao efeito repristinatório. Para o STF, tal efeito será afastado se a norma anterior padecer do mesmo vício de incons-titucionalidade (STF: ADIn nº 2.574/AP).

Alternativa correta: letra “a”

Alternativa “a”: correta; a revogação, que poderá ser expressa ou tácita, é gênero das espécies ab-roga-ção (revogação total) e derrogação (revogação parcial). A declaração de inconstitucionalidade, no controle con-centrado, possui efeito retroativo (ex tunc) e erga omnes, pelo que desfaz o instrumento normativo desde a ori-gem, assim como as consequências dele advindas, já que o reconhece por nulo, sem qualquer carga jurídica; dentre os efeitos, portanto, a norma nula não revoga; lembramos ao candidato as disposições da Lei 9.868/99, permitindo ao STF, por 2/3 de seus Ministros, de acordo com o art. 27, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que sua eficácia ocorra a partir do trânsito em jul-gado ou outro momento a ser fixado.

Alternativa “b”: incorreta; as obrigações extra-contratuais, entre as quais os atos ilícitos, se sujeitam de igual forma à lei vigente. (tempus regit actum).

Alternativa “c”: incorreta; antes do atual Decreto 4.657/42, se adotava o critério progressivo da vacatio legis, ou seja, pelo qual há vários prazos de vigência diversos, para cada Estado, dependendo de sua locali-zação com a Capital. Esse critério vigorava na revogada Lei de Introdução. Pelo princípio da vigência sincrônica, a lei terá vigência no respectivo território do país no mesmo momento, firmando-se, assim, o critério do

prazo único. Por outro lado, se houver novo texto legal de correção, antes da vigência, o prazo da vacatio legis começará a correr da nova publicação. Consequente-mente, altera-se o prazo de vigência da lei.

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Alternativa “d”: incorreta; a lei nova que estabe-leça disposições gerais ou especiais a par das já existen-tes não revoga nem modifica a lei anterior. (LINDB/art. 2, § 2°).

Alternativa “e”: incorreta; salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência; assim, não conhece o sistema normativo pátrio a repristinação como fenô-meno natural da revogação. Todavia, admitir-se-á desde que expressamente prevista (LINDB/art. 2°, § 3°).

(Vunesp – Juiz Substituto – SP/ 2009) O denominado efeito repristinatório da lei

a) segundo entendimento majoritário, foi adotado como regra geral no direito brasileiro e implica res-tauração da lei revogada, se extinta a causa deter-minante da revogação.

b) segundo entendimento majoritário, não foi ado-tado como regra geral no direito brasileiro e implica restauração da lei revogada, se extinta a causa determinante da revogação.

c) foi adotado como regra geral no direito brasileiro, não comporta exceção e implica restauração da lei revogada, se extinta a causa determinante da revo-gação.

d) foi adotado no direito brasileiro como regra geral e im plica incidência imediata da lei revogadora.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “b”.

Alternativa “a”: incorreta; a repristinação é exce-ção representada no termo “salvo disposição em contrá-rio” (LINDB/art. 2°, § 3°).

Alternativa “b”: correta; extinta a causa que deter-minou a revogação da lei, ocorre a restauração de sua vigência. Nesse caso, a lei anterior revogada por lei posterior declarada inconstitucional tem a vigência restabelecida, porém, nessa situação, fala-se que houve “efeito repristinatório”, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF: ADIn 652-5-MA).

Alternativa “c”: incorreta; o efeito repristinatório não é regra geral do sistema jurídico brasileiro.

Alternativa “d”: incorreta; novamente o examina-dor coloca a regra para o instituto de exceção expressa. Ademais, a incidência imediata da lei revogadora não guarda pertinência com o efeito repristinatório, que importa a restauração das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstrato, hoje expressamente consagrado em nosso sis-tema de direito positivo (Lei nº 9.868/99, art. 11, § 2º).

4. REPRISTINAÇÃO

(FCC – Juiz Substituto – PE/ 2011) No Direito brasileiro vigora a seguinte regra sobre a repris tinação da lei:

a) não se destinando a vigência temporária, a lei vigo-rará até que outra a modifique ou revogue.

b) se, antes de entrar em vigor, ocorrer nova publica-ção da lei, destinada a correção, o prazo para entrar em vigor começará a correr da nova publicação.

c) as correções a texto de lei já em vigor consideram--se lei nova.

d) salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

e) a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou es peciais a par das já existentes, não revoga nem mo difica a lei anterior.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: a repristinação é admitida como exceção no ordenamento jurídico, pois, salvo disposi-

ção em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Não se trata de um fenômeno natural da revogação. Exige pronun-ciamento legal expresso. Assim, é vedada a repristina-ção, como regra, significando que a lei antiga não se revalidará pelo aniquilamento da lei revogadora, uma vez que não restitui a vigência da que ela revogou. A outro giro, admitida a repristinação, a restauração da lei antiga possui efeitos ex nunc, desde que haja disposição expressa nesse sentido (Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, 16ed, São Paulo, Saraiva, 2012).

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; pelo princípio da conti-nuidade das leis, a norma que não se destina a vigência temporária tem vigência indeterminada, até que uma lei posterior venha a modificá-la ou revogá-la. É o que o diz a LINDB, art. 2º, caput, instituto que não se confunde com a repristinação.

Alternativa “b”: incorreta; a menção é referente à correção de texto de lei antes da vigência, tema afeto a vigência e a vacatio legis. (CC/art. 1, § 3°).

Alternativa “c”: incorreta; de igual forma, a dispo-sição segundo a qual as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova, não se confunde com a repristinação (LINDB/art. 1, § 4°).

Alternativa “d”: correta; diz a LINDB, art. 2º, § 3º, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se res-taura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Posto isso, a repristinação é prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Não se trata de regra ou fenômeno natural do sistema jurídico normativo, mas de exceção.

Alternativa “e”: incorreta; não tem a ver com a repristinação o preceito segundo o qual a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior (LINDB, art. 2º, § 2º).

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5. INTEGRAÇÃO DAS LEIS

5.1. ANALOGIA

(FCC – Juiz de Direito – AP/2014) Baseado em antiga parêmia – ubi eadem ratio, ibi eadem dispositio – escreve Miguel Reale: “É de presumir-se que, havendo correspondência de motivos, igual deve ser o preceito aplicável” (Filosofia do Direito. V. 1, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1975. p. 128). Esse texto refere-se

a) à eficácia da lei no tempo e no espaço.

b) à aplicação das leis segundo sua hierarquia.

c) aos princípios gerais do Direito.

d) à analogia.

e) à equidade.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: o ordenamento jurídico deve-ria ser perfeito e pleno, não havendo nele contradições, lacunas ou falhas. Todavia, em sua aplicação prática, a lei poderá ser omissa. Por melhor que seja, por mais pre-vidente que sejam seus preceitos, a lei não conseguirá regular todos os fatos que surgirão no meio social. Por outro lado, o princípio da inafastabilidade da jurisdição e da regra do art. 126 do CPC, que veda ao juiz pronun-ciar o non liquet, impõe ao magistrado o dever de julgar a demanda a ele submetida, não lhe sendo uma opção deixar de decidi-la sob a justificativa de que não existe lei para a resolução da contenda que lhe foi submetida. O Novo CPC, no art. 140, caput, também dispõe a res-peito, afirmando que “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. Para superar eventual lacuna ou omissão da lei, o operador do direito deve se valer dos mecanismos de integra ção indicados no art. 4º da LINDB, quais sejam: analogia, costumes e princípios gerais de direito. A ana-logia é o mecanismo de aplicação, ao caso não contem-plado de modo direto e específico na lei, de uma norma prevista para um caso semelhante à hipótese omissa. Em relação às espécies, a analogia legis consiste na apli-cação de uma norma existente, destinada a reger e caso semelhante ao previsto, é a analogia propriamente dita. Na analogia iuris não uma norma, mas um conjunto delas ou o próprio sistema normativo, ou de parte dele, é que fornecem os elementos que possibilitam a integração do caso concreto não contemplado. Os costumes são suple-tivos, subsidiários, e de plano secundário em rela ção à lei e à analogia. Caracterizam-se pelo prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com con-vicção de necessidade. São os usos ou práticas reiteradas de um comportamento (elemento externo ou material) que diferente da lei, que tem a forma escrita, o costume é direito não escrito. Os princípios gerais do direito são reconhecidos como as máximas ou regras não ditadas de forma expressa nas normas, mas contidos de forma inse-parável no ordenamento jurídico, tratando-se da terceira via no preenchimento das lacunas, quando falhas a ana-logia e os costumes.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; a eficácia da lei no tempo e no espaço referem-se à vigência, à obrigato-riedade, à continuidade e ao campo de aplicação das normas (territorialidade). Desse modo, o brocardo é inaplicável aos institutos acima.

Alternativa “b”: incorreta; segundo a hierarquia, as normas classificam-se em constitucionais, comple-mentares, ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções e normas internas. Sendo assim, a parêmia não encontra correspondência nesta classificação.

Alternativa “c”: incorreta; os princípios gerais do direito, nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, “são as regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo que não escritas. Tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídas no direito positivo” (Direito Civil Brasi-leiro, Parte Geral, vol. 1, 11ª, 2013, pág. 75). Para Washin-gton de Barros Monteiro, “embora não estampados em textos expressos, tais princípios existem [...] seu enun-ciado é a manifestação do próprio espírito de uma legis-lação”, citando Boulanger [...] “Dentre outros, podem ser mencionados os seguintes princípios gerais de direito: (a) ninguém pode transferir mais direitos do que tem; (b) nin-guém deve ser condenado ser ouvido; (c) ninguém pode invocar a própria malícia; (d) quem exercita o próprio direito não prejudica a ninguém; (e) pacta sunt servanda; (f) quod initio vitiosum est non potest tractu temporis canva-lescere – “O que no princípio é vicioso, não pode ganhar força com o decurso do tempo”. (Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. 1, 44ª edição, Saraiva, São Paulo, 2012).

Alternativa “d”: correta; segundo o art. 4º da LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. A analogia figura em primeiro lugar entre os mecanismos para a solução das lacunas de lei. Isto é assim porque o sistema brasileiro consagra a supremacia da lei escrita. A analogia, segundo Carlos Roberto Gonçalves (Direito Civil Brasileiro, vol. 1, Parte Geral, Saraiva, São Paulo, pág. 72), “consiste em aplicar a caso não previsto a norma legal concernente a uma hipótese análoga pre-vista e, por isso mesmo, tipificada. O seu fundamento encontra-se no adágio romano ‘ubi eadem ratio, ibi idem jus’ (quando se verifica a mesma razão da lei, deve haver a mesma solução ou mesma disposição legal). “Para o emprego da analogia requer-se a presença de três requi-sitos: (a) inexistência de dispositivo legal prevendo e dis-ciplinando a hipótese do caso concreto; (b) semelhança entre a relação não contemplada e outra regulada na lei; (c) identidade de fundamentos lógicos e jurídicos no ponto comum às duas situações” (Monteiro, Washington de Barros, Curso de Direto Civil, Parte Geral, vol. 1, Saraiva, São Paulo, 2012, pág. 50). A analogia pode ser legal (legis) ou jurídica (juris). Enquanto a primeira consiste na aplica-ção de uma norma existente, isolada e individualizada, destinada a reger caso semelhante ao previsto, a segunda encontra fundamento em um conjunto de normas, que

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fornecerão os elementos necessários a sua aplicação ao caso sob julgamento e sem previsão legal, mas similar. Convém lembrar que a analogia e a intepretação exten-siva não se confundem, porque esta consiste na “extensão do âmbito de aplicação da mesma norma a situações não expressamente previstas mas compreendidas pelo seu espírito, mediante intepretação menos literal” (Gonçalves, Carlos Roberto, op. cit, pág. 73). Não admitem a analogia e intepretação extensiva os negócios jurídicos benéficos e a renúncia, pois interpretam-se “estritamente” (CC, art. 114), como ocorre em relação à transação, que “interpre-ta-se restritivamente” (CC, art. 843). A fiança “não admite interpretação extensiva” (CC, art. 819).

Alternativa “e”: incorreta; equidade, segundo Washington de Barros Monteiro, “é a mais nítida mani-festação do idealismo jurídico. Mais sentida (COGLIOLO), personifica sinteticamente a justiça do caso concreto, a humanidade no direito (BUTERA). Ela corresponde ao que os romanos chamavam de benignitas, bumanitas” (Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. 1, 44ª edição, Saraiva, São Paulo, 2012). Para Carlos Roberto Gonçal-ves, “não considerada em sua acepção lata, quando se confunde com o ideal de justiça, mas em sentido estrito, é empregada quando a própria lei cria espaços ou lacu-nas para o juiz formular a norma mais adequada ao caso. É utilizada quando a lei expressamente o permite [...] Agostinho Alvim classifica a equidade em: (a) legal: que é contida no texto da norma, que prevê várias possibili-dades de soluções (Ex. CC, art. 1.584, § 5º); (b) judicial: aquela em que o legislador, explicita ou implicitamente, incumbe o magistrado de decidir por equidade, criando espaços para que este formule a norma mais adequada ao caso (Ex. CC, art. 1.740, II)” (Direito Civil Brasileiro, vol. 1, Parte Geral, Saraiva, São Paulo, pág. 77). Assim, o insti-tuto não se confunde com a analogia.

(Cespe – Juiz Substituto – AL/ 2008) Podem-se encon-trar diversos argumentos para justificar a aplicação da analogia no direito, entre os quais a busca pela vontade do legislador ou a imperiosa aplicação da igualdade jurídica, demandando-se soluções semelhantes para casos semelhantes. Com referência a essa aplicação, é correto afirmar que

a) a analogia tem como principal função descobrir o sentido e o alcance das normas jurídicas.

b) a analogia legis se caracteriza por recorrer à síntese de um complexo de princípios jurídicos.

c) a analogia juris ocorre quando se formula regra nova, semelhante a outra já existente.

d) a analogia pressupõe que casos análogos sejam estabelecidos em face de normas análogas, mas não díspares.

e) a analogia afasta a criação de regra nova, mas exige interpretação extensiva de regras já existentes.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; a analogia não tem por função o sentido e o alcance das normas, tarefa que per-tence à hermenêutica.

Alternativa “b”: incorreta; a analogia legis, daí o erro da asserção, se apresenta como a integração por uma norma existente, mas voltada a resolver situação semelhante, à lacunosa; nela não há síntese ou conjunto de normas; é a analogia propriamente dita; o conceito conferido pertence à analogia jurídica ou juris.

Alternativa “c”: incorreta; na analogia jurídica

ou juris não se formula regra nova, mas se completa a lacuna com um conjunto de normas existentes.

Alternativa “d”: correta; a alternativa correta

reflete a essência da analogia.

Alternativa “e”: incorreta; interpretação exten-siva difere da analogia, na medida em que esta é meca-nismo de integração de lacuna, e aquela voltada ao alcance do conteúdo de uma norma existente.

5.2. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

(Cespe – Juiz de Direito Substituto-PB/ 2011) Com relação aos institutos da interpretação e da integração da lei, assinale a opção correta.

a) Segundo a doutrina, os princípios gerais do direito expressam – se nas máximas jurídicas, nos adágios ou brocardos, sendo todas essas expressões fórmu-las concisas que representam experiência secular, com valor jurídico próprio.

b) A interpretação histórica tem por objetivo adaptar o sentido ou a finalidade da norma às novas exi-gências sociais, em atenção às demandas do bem comum.

c) Implícito no sistema jurídico civil, o princípio segundo o qual ninguém pode transferir mais direi-tos do que tem é compreendido como princípio geral de direito, podendo ser utilizado como meio de integração das normas jurídicas.

d) No direito civil, não há doutrina que admita a hie-rarquia na utilização dos mecanismos de integração das normas jurídicas constantes no Código Civil.

e) Não há distinção entre analogia legis e analogia juris, uma vez que ambas se fundamentam em um conjunto de normas para a obtenção de elementos que permitam sua aplicação em casos concretos.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: os princípios gerais do direito são reconhecidos como as máximas ou regras não ditadas de forma expressa nas normas, mas contidos de forma inseparável no ordenamento jurídico, tratando-se da terceira via no preenchimento das lacunas, quando falhas a analogia e os costumes.

Alternativa correta: letra “c”.

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Alternativa “a”: incorreta; os princípios gerais do direito são regras universais, mesmo que não escritas, mas que em regra se originam do sistema, como a de que “a ninguém é dado valer-se da própria torpeza”; adá-gios e brocardos não ingressam no conceito desses princípios.

Alternativa “b”: incorreta; a interpretação histó-rica é centrada na investigação dos antecedentes da norma, as discussões legislativas; as novas exigências sociais são objeto da interpretação sociológica ou teleo-lógica.

Alternativa “c”: é correta; “ninguém poderá trans-ferir mais direitos do que tem” é um princípio geral do direito, implícito no sistema jurídico civil, que pode ser utilizado como meio de solução das lacunas das normas jurídicas.

Alternativa “d”: incorreta; os mecanismos de integração são hierárquicos, iniciando-se pela analogia, de acordo com a LINDB/art. 4°.

Alternativa “e”: incorreta; a analogia legis ou propriamente dita se difere da analogia júris, reservado a esta o conjunto de normas, e àquela a norma única prevista.

6. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS

LEIS.

(Cespe – Juiz de Direito Substituto-PI/ 2012) O fato de um juiz, transcendendo a letra da lei, utilizar de racio-cínio para fixar o alcance e a extensão da norma a partir de motivações políticas, históricas e ideológicas carac-teriza o exercício da interpretação

a) teleológica.

b) sistemática.

c) histórica.

d) lógica.

e) doutrinária.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: interpretar é buscar o sentido e o alcance da norma jurídica. As normas jurídicas nor-malmente são gerais e impessoais, não se referindo a casos concretos. Diante do fato concreto e do universo das normas em abstrato, o interprete deve buscar a jus-taposição entre um e outro. Quanto o fato se enquadra perfeitamente à norma, ocorre o fenômeno da subsun-ção. Contudo, nem sempre a subsunção ocorre, por falta de norma aplicável ao caso concreto. Neste caso, deve-se proceder à integração normativa, mediante o emprego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. Sendo assim, o processo de busca da norma aplicável pode resultar o emprego da subsunção, ou dos mecanismos de integração ou colmatação (ana-logia, costumes e princípios gerais do direito). Os méto-dos de interpretação são: (1) quanto às fontes ou ori-

gem: (A) autêntica; (B) jurisprudencial; (C) doutrinário; (2)

quanto aos meios: (A) gramatical; lógico; (B) sistemático; (C) histórico; (D) sociológico; (3) quantos ao resultados: (A) intepretação declarativa; (B) extensiva; (C) restritiva.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; pelo processo socioló-gico ou teleológico de interpretação objetiva-se adaptar a finalidade da norma a novas exigências sociais.

Alternativa “b”: incorreta; já em relação à técnica sistemática, é a que considera o sistema em se insere a norma, relacionando-a com outras normas concernen-tes ao mesmo objeto.

Alternativa “c”: incorreta; a interpretação sob a técnica ou processo histórico baseia-se na investigação dos antecedentes da norma, o histórico do processo legislativo, do projeto de lei, sua justificativa ou expo-sição de motivos, emendas, aprovação, promulgação, às circunstâncias fáticas que a precederam e deram ori-gem.

Alternativa “d”: correta; pelo processo lógico busca-se o descortinamento do sentido e alcance da norma, estudando-a por raciocínios lógicos, que pas-sam pela busca do significado dos fatos e motivos polí-ticos, históricos e ideológicos que culminaram na sua criação. Se na interpretação literal fica-se preso à lei, na lógica desprende-se dela, transcendendo do conteúdo meramente escrito, busca-se, por meio de um raciocínio lógico, o porquê das normas.

Alternativa “e”: incorreta; a intepretação doutriná-ria é aquela feita por mestres, juristas e especialistas do Direito. Esse tipo de interpretação normalmente é encon-trada em livros, obras científicas e pareceres jurídicos.

7. ANTINOMIAS OU LACUNAS DE CON-

FLITO.

(Cespe – Juiz Substituto – AL/ 2008) Um postulado fundamental à teoria do ordenamento jurídico propõe que o direito seja considerado como um conjunto que forma entidade distinta dos elementos que o compõem, em razão de sua unidade, coerência e completude. Com base nessa ordem de idéias, assinale a opção correta.

a) A idéia de que o direito se organiza em um orde-namento jurídico remonta à época justiniana do direito romano, que, no corpus juris civilis, propôs um sistema completo de direito formado pelas Constituitiones, Digesto, Institutas e Codex.

b) É essencial, para que o direito seja coerente e com-pleto, que suas normas decorram de uma única fonte ou origem primária, capaz de solucionar definitivamente questões sobre a identificação de todas as normas jurídicas.

c) A unidade é uma característica exclusiva do positi-vismo jurídico, já que este propõe uma igualdade mínima quanto ao conteúdo substancial das nor-mas, por compartilharem valores que assim as uni-ficam como sistema.

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d) A ideia de coerência do sistema jurídico é conce-bida pela negação de que nele possam permanecer antinomias entre normas de igual ou diferente hie-rarquia, afirmando que duas normas antinômicas não poderão ser simultaneamente válidas.

e) O ordenamento jurídico é completo porque, ainda que se verifiquem lacunas normativas, ele oferece um conjunto de fontes primárias e secundárias de direito capazes de produzir as normas necessárias para preenchê-las.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: antinomia é a presença de duas ou mais normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso con-creto – “lacunas de colisão” (Flávio Tartuce). O estudo das antinomias não está relacionado à revogação das leis. As normas são vigentes, mas estão em choque, pois regulam o mesmo caso, imputando-lhe soluções logicamente incompatíveis. Os critérios utilizados para a solução dos conflitos são: 1) cronológico; 2) especia-lidade; 3) hierárquico. Se um dos critérios for utilizado para a solução do conflito de normas, a antinomia é de 1º grau. Se dois forem os critérios, a antinomia é de 2º grau. Se os critérios resolverem o conflito, a antinomia é aparente. Se o conflito não for resolvido pelos critérios acima, a antinomia é real. Neste caso, a solução para a antinomia será a utilização dos mecanismos de integra-ção das lacunas da lei, previstos no art. 4º da LINDB.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; o corpus juris civilis (Corpo de Direito Civil) é dividido em quatro partes: as Institutas (manual escolar); o Digesto ou Pandectas (juris-prudência ou compilado dos julgados); Código (compi-lação das leis) e Novelas (reunião das constituições pro-mulgadas depois de 535 d.c por Justiniano).

Alternativa “b”: incorreta; a identificação das nor-mas aplicáveis é pertencente ao campo da aplicação ou interpretação das normas.

Alternativa “c”: incorreta; as normas devem ter conteúdo mínimo de igualdade substancial, o que se traduz em uma teratologia, pois cada instrumento nor-mativo é autônomo e distinto dos demais.

Alternativa “d”: correta; as antinomias ou con-flitos de normas devem ser solucionados por critérios segundo os quais se define qual instrumento normativo é valido, afastando-se a incidência dos demais.

Alternativa “e”: incorreta; os mecanismos de inte-gração não produzem normas, mas completam lacunas (LINDB/art. 4°).

8. CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO

(FCC – Juiz de Direito – RR/2015) Considere o seguinte texto: Conforme foi visto, em regra, uma lei só se revoga por outra. Dificilmente, entretanto,

se poderá traçar de imediato a linha divisória entre o império da lei antiga e o da lei nova que a tenha revogado ou derrogado. Relações jurídicas existirão sempre, de tal natureza, que, entabuladas embora no regime do velho estatuto, continuarão a surtir efei-tos quando o diploma revogador já esteja em plena vigência. Outras, de acabamento apenas começado, terão sido surpreendidas por nova orientação inau-gurada pelo legislador. Por outro lado, tal pode ser o teor do estatuto novo, que as situações que pretenda abranger mais parecerão corresponder ao império do diploma revogado. Ora, é exatamente a esse entrecho-que dos mandamentos da lei nova com os da lei antiga, que se denomina conflito das leis no tempo.

(FRANÇA, R. Limongi. Manual de Direito Civil. v.

1. p. 37. 4. ed. Revista dos Tribunais, 1980).

A legislação brasileira sobre essas questões dispõe que

(A) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurí-dico perfeito e a coisa julgada, salvo nas matérias de ordem pública, em que sempre prevalecerá a lei nova.

(B) a lei em nenhuma hipótese terá efeito retroativo, embora nada disponha sobre sua aplicação às situa-ções pendentes.

(C) cabe ao juiz decidir por equidade, nada prescre-vendo sobre elas.

(D) a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeita-dos o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

(E) a lei terá efeito imediato e geral, proibindo, em qualquer circunstância, sua retroatividade.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; a retroatividade da lei é admitida como exceção. Contudo, ainda que atue em situações consumadas, ou pretéritas, a lei não pode ofen-der o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, conforme a CF de 1988, art. 5º, XXXVI, e a LINDB, art. 6º.

Alternativa “b”: incorreta; a lei nova pode ser retroativa, como exceção. A regra é a irretroatividade da norma. A lei nova aplica-se aos casos pendentes e aos futuros. Em tais situações não há retroatividade. A retroatividade, quando houver, atinge fatos consuma-dos, pretéritos.

Alternativa “c”: incorreta; o texto apresentado não se relaciona a equidade, mas ao conflito de leis no tempo, previsto os métodos de solução no art. 6º da LINDB, e no art. 5º, XXXVI, da CF de 1988.

Alternativa “d”: correta; as leis são elaboradas para, em regra, valer para o futuro. Todavia, relações jurí-dicas podem ter se formado na vigência da lei anterior, podendo surgir conflito das leis no tempo, e a dúvida a respeito de qual lei aplicar às situações anteriormente

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constituídas, a lei à época vigente ou a nova. Para solu-ção destes conflitos, são utilizados dois critérios: (i) das disposições transitórias; (ii) da irretroatividade das nor-mas. O primeiro é temporário, e elaborado pelo legis-lador. O segundo estabelece que a lei não se aplica às situações já constituídas ao tempo da lei antiga, como regra, podendo atingir os efeitos dos atos jurídicos pra-ticados anteriormente, admitindo-se a retroatividade em determinados casos. Portanto, a CF de 1988, no art. 5º, XXXVI, e a LINDB, art. 6º, acolheram a Teoria Subjetiva de Gabba, em que a irretroatividade é a regra, e a retroa-tividade a exceção, respeitado o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. A lei nova aplica-se, portanto: (a) aos casos pendentes; (b) aos futuros. A retroatividade atinge fatos consumados, desde que: (a) não ofenda o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; (b) o legislador mande aplicar a nova lei aos fatos pretéritos.

Alternativa “e”: incorreta; admite-se, excepcio-nalmente, a retroatividade da norma, desde que: (a) não ofenda o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; (b) determine o legislador sua aplicação aos fatos pretéritos.

9. EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO

(FMP – Juiz de Direito – MT/2014) Assinale a alterna-tiva CORRETA.

a) A sucessão por morte obedece, quanto aos bens situados no Brasil, à lei brasileira.

b) A sucessão por morte obedece à lei de naciona-lidade do de cujus, mesmo que os bens estejam situados no Brasil.

c) A sucessão por morte obedece, quanto aos herdei-ros brasileiros, à lei de seu domicílio, desde que lhe seja mais benéfica, desimportando a localização, situação ou natureza dos bens.

d) A sucessão por morte obedece à lei do domicílio do de cujus, quanto à capacidade de suceder dos her-deiros e legatários.

e) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: em função da soberania, a norma possui aplicação dentro dos limites territoriais do Estado, ou seja, os marcos de incidência são as fronteiras do ente que editou a norma; a este contorno do âmbito de emprego das leis confere-se o nome de princípio da terri-torialidade. Não só os limites físicos do Estado sujeitam-se ao princípio, estendendo-se aos consulados, embaixadas, navios de guerra e mercantes que estejam em águas terri-toriais ou alto-mar etc. Outro princípio relacionado às leis no espaço surgiu para regulas as situações que envolvam o intercâmbio de relações entre nacionais e estrangeiros, para permitir que uma lei exterior ou estrangeira pos-sua eficácia no território de outra soberania, permitindo a convivência de leis territoriais e extraterritoriais; a este princípio confere-se o nome de princípio da extraterritoria-lidade. O Brasil tempera um e outro princípio, admitindo

o direito estrangeiro em situações determinadas, conhe-cido esse sistema por princípio da territorialidade mode-rada. Por tal sistema, o direito pátrio é plenamente eficaz, mas, em algumas situações, decorrentes de tratados, convenções e princípios, ele passa a coexistir com o alie-nígena, no que se denomina “estatuto pessoal”, situação pela qual o direito externo é invocado para disciplinar a condição do estrangeiro. Os arts. 7º e seguintes da LINDB preveem as circunstâncias nas quais o “estatuto pessoal” do estrangeiro será aplicável, baseado na “Lei do domicí-lio”. Por exemplo, diz o art. 7º, caput, da LINDB que: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família” (domicilio). Já o art. 7º, § 1º, dispõe que “Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às for-malidades da celebração” (lex loci atus). Há outros critérios como exceções ao domicilio, como o art. 8º (lex rei sitae) e o art. 9º (locus regit actum). Por fim, não poderíamos deixar de registrar que o Brasil é signatário do Código de Bustamante (Convenção de Havana de 1928), promulgado pelo Decreto nº 18.871, de 13 de agosto de 1929, o qual sistematiza normas de direito internacional privado, e pode ser invocado em eventuais conflitos entre brasileiro e estrangeiro que pertença a um dos países signatários. Resumidamente, as regras são as seguintes:

LEIS NO ESPAÇO (LINDB, arts. 7º a 14)

Pessoa:

– a lei do país em que domiciliada (lex domici-lii) a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre

Casamento:

– realizando-se o casamento no Brasil, será apli-cada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração (ius loci celebrationis), ou seja, a lei brasileira adota a regra do local da celebração.

– o casamento de estrangeiros poderá cele-brar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. Vale a regra no caso de ine-xistência, nulidade e anulabilidade.

– o regime de bens, legal ou convencional, obe-dece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal (lex domicilii).

– o estrangeiro casado, que se naturalizar brasi-leiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.

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LEIS NO ESPAÇO (LINDB, arts. 7º a 14)

Bens:

– para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados (lex rei sitae);– para os bens imóveis, bens móveis perma-nentes e todos os direitos reais (à exceção do penhor), também se aplica a lex rei sitae;– aplicar-se-á a lei do país em que for domici-liado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares (mobília sequuntur personam);– o penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada (ficto iuris).

Obrigações:

– para qualificar e reger as obrigações, aplicar--se-á a lei do país em que se constituírem (locus regit actum). Assim, vale a regra para as obri-gações convencionais e as decorrentes de atos unilaterais, desde que entre presentes (Maria Helena Diniz)– destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato (lex loci executionis).– a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o propo-nente. Trata-se da regra aplicável entre ausentes (inter absentes). Não importa o local da consti-tuição da obrigação, mas somente a sede da resi-dência do proponente.

Sucessão:

– a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. Trata-se de regra aplicável para qualquer modo de sucessão, legítima ou testamentária. (lex domicilii do de cujus).– a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder (lex domicilii)– pode ocorrer variação da ordem de vocação hereditária (princípio do prevèlement) quanto à sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, que poderá ser regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasilei-ros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. Assim, a ordem de vocação estabelecida no art. 1.829 do CC pode ser alterada nestas condições.

Competên-

cia:

– é competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.– só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil.– a autoridade judiciária brasileira cumprirá, con-cedido o exequatur e segundo a forma estabele-cida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, obser-vando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.

Provas:

– aplica-se o “princípio da territorialidade” em relação à prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro, regendo-se pela lei que nele vigo-rar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

LEIS NO ESPAÇO (LINDB, arts. 7º a 14)

Lei es-

trangeira:

– não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.*Nota: pelo princípio do “iura novit curia”, o juiz deverá conhecer a lei nacional aplicável ao caso sob julgamento. Há limitação, porém, conforme visto acima, pois, tratando-se de lei estrangeira, o juiz poderá invocar, em seu auxílio, que a parte prove seu teor e vigência (LINDB, art. 14, e NCPC, art. 376).

Alternativa correta: letra “e”.

Alternativa “a”: incorreta; estabelece o art. 10, caput, da LINDB: “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situa-ção dos bens”. Portanto, é a lei do domicílio (lex domici-lii) que rege, por exemplo, as condições de validade do testamento. Porém, é a lei do herdeiro ou legatário que regula a capacidade para suceder (LINDB, art. 10, § 2º).

Alternativa “b”: incorreta; a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domici-

liado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens (LINDB, art. 10, caput), e não a lei da nacionalidade do de cujus.

Alternativa “c”: incorreta; a sucessão de bens de

estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasi-

leiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus (LINDB< art. 10, § 1º).

Alternativa “d”: incorreta; a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder (LINDB, art. 10, § 2º).

Alternativa “e”: correta; todas as alternativas ante-riores são incorretas, razão pela qual esta opção é acer-tada.

(TJ – MG – Juiz de Direito – MG/2014) Sobre a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, assinale a alternativa CORRETA.

a) Realizando-se o casamento no Brasil de estrangei-ros domiciliados no exterior, será aplicada a lei do domicilio dos nubentes quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

b) O casamento de estrangeiros de diferentes nacio-nalidades poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de qualquer um dos nubentes.

c) Tendo os nubentes estrangeiros domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do local da celebração do casamento.

d) Tendo os nubentes estrangeiros domicilio diverso, o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país do primeiro domicílio conjugal.

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Direito Civil 37

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; dispõe o art. 7º, § 1º, da LINDB, “Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos diri-mentes e às formalidades da celebração”. Desse modo, o casamento no Brasil deverá observar o princípio da lex loci celebrationis, ainda que diversas as formas ordena-das segundo as leis pessoais dos estrangeiros. As núp-cias, portanto, devem seguir a disciplina do Código Civil Brasileiro, no que diz respeito à habilitação, impedimen-tos, causas suspensivas, celebração, nulidade, anulabili-dade, etc.

Alternativa “b”: incorreta; afirma o art. 7º, § 2º, da LINDB: “O casamento de estrangeiros poderá cele-brar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes”. Explica Maria Helena Diniz “Consagrando-se o critério da nacionalidade, permitido estará que nubentes conacionais, casando--se fora de sua pátria, recorram ao agente consular ou diplomático do seu Estado, para, perante ele, unindo-se matrimonialmente segundo a forma da lei pessoal, se subtraírem à ação da autoridade local e às exigências legais do país em que se encontram. Se os noivos não tiverem a mesma nacionalidade, o casamento deverá ser feito pela autoridade local segundo a lex loci celebra-tionis” (Código Civil Anotado, 16ª ed, 2012, Saraiva, pág. 36). Por outro lado, segundo o art. 18, § 1º, da LINDB, incluído pelo Lei 12.874/2013, “As autoridades consula-res brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e obser-vados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à reto-mada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manu-tenção do nome adotado quando se deu o casamento”.

Alternativa “c”: incorreta; preceitua o art. 7º, § 3º, da LINDB: “Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal”. Leciona Maria Helena Diniz, com comentários ao preceito acima, “A regra é a aplicação da lex domicilii dos nubentes, se o tiverem em comum. Não o tendo, a invalidade matrimonial, quanto à subs-tância, reger-se-á pela lei do primeiro domicílio conju-gal, ou seja, o estabelecido logo após o casamento. Se os nubentes tiverem domicílio internacional diverso, prevalecerá para os requisitos intrínsecos ou subs-tanciais do ato nupcial e para as causas de nulidade absoluta ou relativa, inclusive no que atina aos vícios de consentimento, a lei do primeiro domicílio conjugal estabelecido depois das nupciais. Quanto às formalida-des extrínsecas, a questão da validade ou invalidade do casamento reger-se-á, indubitavelmente, pela lex loci celebrationis (LINDB, art. 7º, § 1º), ressalvados os casos de matrimônio levado a afeito por autoridade consular (LINDB, art. 7º, § 2º)” (Código Civil Anotado, 16ª ed, 2012, Saraiva, pág. 36).

Alternativa “d”: correta; segundo o art. 7º, § 4º, da LINDB, “O regime de bens, legal ou convencional, obe-dece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. De acordo com Maria Helena Diniz, “O art. 7º, § 4º, sub examine, impõe, para o regime matrimonial de bens (legal ou convencional), como elemento de conexão a lex domicilii dos nubentes à época do ato nupcial, ou a do primeiro domicílio conjugal, que decorre do casa-mento, cuja fixação dependerá do casal (CC, art. 1.569), se os noivos não tiverem, por ocasião do matrimônio, o mesmo domicílio internacional. Observa, ainda, Oscar Tenório que o princípio do art. 7º, § 4º, da LINDB, somente vigorará quando não surgir a questão da situa-ção de bens em diversos países, pois, nesta hipótese, prevalecerá a lex rei sitae” (Código Civil Anotado, 16ª ed, 2012, Saraiva, pág. 36).

CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

1. DAS PESSOAS NATURAIS

1.1. CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE

1.1.1. EMANCIPAÇÃO

(TJ-RS – Juiz Substituto – RS/ 2009) Ao ensejo da sepa-ração judicial de Carlos e Cláudia, o juiz determinou que a guarda do filho do casal, Mário, então com 16 anos de idade, ficaria com o pai. Por considerar que o filho já tinha maturidade suficiente para dirigir sua pessoa e administrar seus bens, Carlos elaborou um instrumento particular de emancipação e o encaminhou para o registro com petente, sem que a mãe do menor tivesse conheci mento. Na hipótese, a emancipação.

a) é válida, pois cabe prioritariamente ao pai emanci-par o filho.

b) é válida, pois o pai, por estar com a guarda do filho, detém o poder familiar com exclusividade.

c) é válida, pois qualquer dos genitores pode eman-cipar o filho, independentemente da vontade do outro.

d) não é válida, exclusivamente porque o poder fami-liar deve ser exercido em igualdade de condições pelo pai e pela mãe.

e) não é válida porque, além de o poder familiar dever ser exercido em igualdade de condições pelo pai e pela mãe, a emancipação voluntária somente pode ser materializada por instrumen to público.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: emancipação é a aquisição da capacidade civil antes da idade legal (Clóvis Bevilaqua). Consiste, desse modo, na antecipação da aquisição da capacidade de fato ou de exercício, que é a aptidão para exercer por si só os atos da vida civil (Carlos Roberto Gonçalves, op. cit.). Conforme a causa ou a origem, a

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emancipação pode ser de três espécies: (1) voluntária direta; por concessão dos pais; (1.1) voluntária indireta (concedida) quando os pais colaboram recursos finan-ceiros para que o menor consiga o próprio estabe-lecimento civil ou comercial, por exemplo (STJ: REsp 586399); (2) judicial, por sentença do juiz; (3) legal ou tácita, quando sobre determinado fato a lei atribui o efeito da emancipação. Pelo Enunciado 397, “A emanci-pação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade”. Cumpre observar que a Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) revogou integralmente os incisos I, II e III do art. 3º, mantendo apenas no caput como absoluta-mente incapazes os menos de 16 anos, e parcialmente o art. 4º, conferindo nova redação aos incisos II e III, para deles excluir as alusões aos “excepcionais” e “deficiência mental”, e ainda ganhar nova redação neste último, para incluir como relativamente incapazes aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. Lembramos que houve migração desta situação – a causa transitória, pois a permanente é nova – do art. 3º (antigo inciso III) para o art. 4º, de maneira que tais pessoas deixam de ser absolutamente para tor-narem-se relativamente incapazes. O Estatuto do Defi-ciente entrou em vigor no dia 07.01.2015.

Alternativa correta: letra “e”.

Alternativa “a”: incorreta; como a emancipação é negócio jurídico solene, a ausência da forma especial torna-o inválido (CC/art. 166, IV); ademais, os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (CF/art. 226, § 5°; CC/art. 1.631 e 1.632).

Alternativa “b”: incorreta; o direito de guarda não aniquila o poder familiar, diz expressamente o CC/art. 1.632, in verbis: “A separação judicial, o divórcio e a disso-lução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos”.

Alternativa “c”: incorreta; a emancipação é confe-rida “pelos pais” ou “um só deles” unicamente na falta do outro, como ocorre com a morte ou a ausência. (CC/art. 5°, parágrafo único, I).

Alternativa “d”: incorreta; há dois vícios na eman-cipação analisada, e não somente um; 1º) por concessão dos pais a emancipação deve ser feita por instrumento público; 2º) ambos os pais devem conceder a emanci-pação ao filho, e não somente um deles. A concessão unilateral da emancipação só é possível na falta de um dos pais. A interpretação do art. 5º, parágrafo único, I, do CC, é no sentido de que a falta de um dos pais significa a inexistência do poder familiar de qualquer deles, ante as causas de extinção previstas no art. 1.635 do CC.

Alternativa “e”: correta; de acordo com o CC/art. 5°, parágrafo único, I, exige-se o instrumento público e a concordância de ambos os pais para a concessão da emancipação, ainda que a guarda seja unilateral. A concessão da emancipação por um dos pais é possível,

desde que em relação ao outro tenha ocorrido a extin-ção do poder familiar (CC, art. 1.635).

(EJEF – Juiz Substituto – MG/ 2008) Em relação à menoridade, a incapacidade cessará quando o menor completar dezoito anos, segundo nossa legislação civil. Ainda, de acordo com o Código Civil, é CORRETO dizer que, para os menores, cessará a incapacidade por:

a) concessão dos pais, no exercício do poder familiar, mediante declaração de vontade por instrumento público ou particular.

b) concessão de qualquer um dos pais, na falta de um deles, mediante homologação judicial.

c) concessão dos pais, mediante instrumento público, dependente da intervenção de curador especial.

d) sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta, a emancipação por concessão dos pais somente é possível por instrumento público. (CC/art. 5°, parágrafo único, I).

Alternativa “b”: incorreta; independe de homolo-gação judicial a emancipação por concessão dos pais, por força do art. 5º, parágrafo único,

Alternativa “c”: incorreta; a concessão de eman-cipação por outorga dos pais independe de homologa-ção judicial; exige-se que o seja por ambos, ou um deles na falta do outro, e por instrumento público.

Alternativa “d”: correta; dependerá de sentença do juiz, ouvido o tutor, a emancipação do menor, nessa condição, se tiver 16 anos completos (CC/art. 5°, I).

1.2. EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL

1.2.1. MORTE PRESUMIDA

(Cespe – Juiz de Direito – PB/2015) Acerca das pessoas naturais, assinale a opção correta.

A) A emancipação voluntária depende de decisão judicial e de averbação no cartório do registro civil do lugar onde estiver registrada a pessoa emanci-pada.

B) A comoriência é a presunção de simultaneidade de óbitos e o seu reconhecimento depende da demons-tração de que os comorientes faleceram nas mesmas condições de tempo e local, não se podendo com-provar qual morte precedeu às demais.

C) O registro civil das pessoas naturais é obrigatório e tem natureza constitutiva.

D) A legislação civil brasileira admite o reconheci-mento de morte sem a existência de cadáver e sem a necessidade de declaração de ausência.

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Direito Civil 39

E) Os menores de dezesseis anos são absolutamente incapazes, de fato e de direito, e, mesmo que repre-sentados, não têm legitimação para determinados atos.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: nosso sistema não prevê a morte civil, de origem romana e reconhecida aos escra-vos que perdessem a liberdades. A morte real é prevista no CC/art. 6° e se comprova com a paralisação da ativi-dade cerebral (Lei 9.434/97), ou por meio de justificação em caso de catástrofe sem que o corpo seja localizado, mas provado que a pessoa estava presente no local (Lei 6.015/73, art. 88). A morte presumida é a provável, aquela que ocorre em circunstâncias tais que indiretamente podem dar certeza da morte. Admite-se: (A) a morte presumida sem a decretação de ausência (CC, art. 7°, I e II) e; (B) a morte presumida com a declaração de ausên-cia, desde que autorizada a sucesso definitiva (CC/art. 6° e 37 e ss). São duas as situações de morte presumida sem decretação de ausência, conforme o art. 7º, I e II do CC: (1ª) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. As circunstâncias envolvam acidentes, naufrágios, incêndios ou desastres, nas quais verifica-se altíssima probabilidade de certeza da morte; (2ª) se alguém, desaparecido em campanha ou feito pri-sioneiro, não for encontrado até 02 anos após o término da guerra. Em todas as situações, o óbito deverá ser jus-tificado em juízo, devendo a sentença fixar a data pro-vável do falecimento (Lei 6.015/73, art. 88; CC, art. 2.041). A sentença produz efeitos erga omnes, e não faz coisa julgada material. Se o declarado morto retornar, volta ao status quo ante, e a sentença declaratória judicial do seu falecimento deixará de ter existência ex tunc. Assim sendo, vislumbram-se 04 requisitos: (a) desapareci-mento, cadáver não encontrado; (b) prova de que a pes-soa estava em perigo de vida ou (c) em campanha/feito prisioneiro e (d) a probabilidade da morte. O procedi-mento é o do Código de Processo Civil, arts. 1.103 e ss.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; a emancipação volun-tária independente de decisão judicial, se fazendo pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público (CC, art. 5º, parágrafo único, I). A emancipação pr outorga dos pais será regis-trada (CC, art. 9º, II).

Alternativa “b”: incorreta; prevista no art. 8º do CC, a comoriência não significa que as mortes ocorre-ram na mesma “localidade”, mas no mesmo “momento”, ou seja, que seja inviável apurar a exata ordem cronoló-gica dos óbitos.

Alternativa “c”: incorreta; o registro civil da pes-soa natural é obrigatório, porém, possui natureza decla-ratória (CC, art. 9º, I; Lei 6.015/73, art. 29, I). De sua parte, o registro da pessoa jurídica possui natureza constitu-tiva.

Alternativa “d”: correta; a morte será presumida, sem declaração se ausência, nas hipóteses do art. 7º, I

e II, do CC. Tais situações não são certeza da morte, mas estão cercadas de circunstâncias que indiretamente podem dar a certeza da morte. Em tais casos, exige-se a declaração judicial de morte presumida será precedida do esgotamento das buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento (art. 7º, parágrafo único). O procedimento a ser seguido é o da justificação (Lei 6.015/73, art. 88), procedimento de jurisdição voluntária (CPC, art. 1.103 e NCPC, art. 719). A sentença que decretar a morte não faz coisa julgada material, podendo ser revista a qualquer tempo, espe-cialmente se o desaparecido retornar.

Alternativa “e”: incorreta; os menores de 16 anos são absolutamente incapazes, mesmo depois da altera-ção do Estatuto do Deficiente, que revogou as demais hipóteses (art. 3º, caput, do CC). A capacidade jurídica ou de direito é reconhecida a todo ser humano, sem qual-quer distinção, de maneira que até mesmo o menor de 16 anos pode receber direitos. A eles, todavia, a capaci-dade de fato ou de exercício é limitada, assim como para os relativamente incapazes, que serão representados ou assistidos, respectivamente, para a prática dos atos da vida civil. A capacidade não se confunde com a legiti-mação. Esta é a aptidão para a prática de determinados atos jurídicos, uma espécie de capacidade especial, que embora ausente, não acarreta a incapacidade (ex: art. 496 do CC).

(TJDFT – Juiz Substituto – DF/ 2008) Analise as seguin-tes proposições:

I. o instituto da comoriência incidirá quando, em um desastre, falecer parentes, não sendo possível esta-belecer ordem cronológica de suas mortes;

II. em determinadas situações, como por exemplo, se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, pode ser declarada a sua “morte presumida”, sem decretação de ausência;

III. o pseudônimo adotado para atividades lícitas, não sendo nome, não goza da proteção legal dada para este;

IV. para criar uma associação, o seu instituidor fará dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

Assinale a alternativa adequada:

a) apenas uma das proposições é verdadeira.

b) apenas uma das proposições é falsa.

c) todas as proposições são verdadeiras.

d) todas as proposições são falsas.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”; o item II é verda-deiro.

Item I: falso; morte simultânea ou comoriência é situação de morte real de herdeiros entre si na qual

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numa mesma ocasião não se pode aferir qual morte pre-cedeu outra, presumindo-se de forma relativa que ocor-reram a um só tempo e sem transmissão de bens entre eles; assim, é incorreta a alternativa porque não basta que sejam parentes, mas que sejam herdeiros entre si; outrossim, não é indispensável que seja em um mesmo desastre, mas que seja na mesma ocasião, o que signi-fica no mesmo tempo ainda que em lugares diversos.

Item II: verdadeiro; a morte presumida é prevista no CC/art. 7°, I, II e parágrafo único. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida ou se alguém, desaparecido em campa-nha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 anos após o término da guerra, sendo que a declaração judi-cial, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, e a sentença deverá fixar a data provável do falecimento.

Item III: falso; o pseudônimo adotado para ativida-des lícitas goza da proteção que se dá ao nome, conforme CC/art. 19; pseudônimo é o nome comercial, profissional, que ganha importância em razão do uso e da notorie-dade. A lei dos direitos autorais (Lei 9.610/98) também confere proteção ao instituto (ver. Art. 12 e 24, III).

Item IV: falso; pelo art. 62, caput, do CC, para criar uma fundação, e não uma associação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação espe-cial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

(FCC – Juiz Substituto – RR/ 2008) Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência,

a) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.

b) somente de alguém desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não sendo encontrado até 02 (dois) anos após o término da guerra.

c) depois de dez (10) anos do desaparecimento da pessoa ou se o desaparecido contar oitenta (80) anos de idade e suas últimas notícias forem de mais de cinco (05) anos.

d) depois de vinte (20) anos do desaparecimento da pessoa, sendo suas últimas notícias de mais de cinco (05) anos.

e) sempre que alguém, tendo desaparecido de seu domicílio, contar cem (100) anos de idade.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; pelo art. 7º, I, do CC, pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. Trata-se de uma das hipóteses previstas.

Alternativa “b”: incorreta; a morte presumida sem a declaração de ausência é admitida em duas e

não numa única hipótese, conforme o art. 7º, I e II: uma decorrente da probabilidade da morte de quem estava em perigo de vida, e a outra decorrente da situação de guerra.

Alternativa “c”: incorreta; as situações descritas não se relacionam com a morte presumida sem decla-ração de ausência, mas com os requisitos próprios da morte presumida com declaração de ausência, prevista no CC/art. 6° c/c os arts. 37 e 38, todos do CC.

Alternativa “d”: incorreta; a situação descrita na assertiva não encontra ressonância no art. 7º, I e II, do CC.

Alternativa “e”: incorreta; a descrição da alterna-tiva não possui pertinência legal com o art. 7º, I e II, do CC.

1.2.2. MORTE SIMULTÂNEA OU COMO-

RIÊNCIA

(Vunesp – Juiz Substituto – SP/ 2009) Comoriência é

a) presunção de morte simultânea de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, em razão do mesmo evento, sendo elas reciprocamente herdeiras.

b) morte de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, em razão do mesmo evento, sendo elas reciproca-mente herdeiras.

c) morte simultânea de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, em razão do mesmo evento, inde-pendentemente da existência de vínculo sucessório entre elas.

d) morte simultânea de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: segundo o CC, art. 8º, “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. Não é necessário que as mortes ocorram no mesmo acidente, mas sim no mesmo instante. É comum no mesmo evento pessoas da mesma família desfalecerem, mas o Código Civil vai além, prescrevendo a presunção de comoriência para as mortes que acontecem numa determinada marca de tempo, sem qualquer atender a qualquer ordem diversa, como a idade ou sexo das víti-mas. Só interessa saber qual morte precedeu a outra se houver relação sucessória, porque, reconhecida a como-riência, uma pessoa não herda de outra, pelo que não há transferência de bens entre eles. Trata-se de presunção relativa ou juris tantum, pois é admitida prova contrária. Assim, a morte simultânea ou comoriência é situação de morte real de herdeiros entre si na qual numa mesma ocasião (mesmo momento, e não mesmo evento) não se pode aferir qual morte precedeu outra, presumindo-se de forma relativa que ocorreram a um só tempo e sem transmissão de bens entre eles (CC/art. 8°). A morte real

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é prevista no CC/art. 6° e se comprova com a paralisação da atividade cerebral (Lei 9.434/97).

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; a morte conjunta ocorrida no mesmo evento é comum, mas situações haverão de pessoas falecidas em locais ou ocasiões distintas, mas no mesmo instante, sem que se posse averiguar quem precedeu; nessas situações, haverá presunção da como-riência de morte simultânea, aplicando-se o CC/art. 8°; no campo sucessório, se os comorientes são herdeiros uns dos outros, não há transferência de direitos entre eles.

Alternativa “b”: incorreta; a comoriência é a pre-sunção de morte simultânea por desconhecimento invencível sobre quem precedeu ao outro.

Alternativa “c”: incorreta; a comoriência tem repercussão na transmissão de direitos sucessórios entre os falecidos simultaneamente; ausente esse vín-culo sucessório, não há que falar em comoriência.

Alternativa “d”: incorreta; não é a mera morte simultânea de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, que caracteriza a comoriência. Deixa claro o art. 8º do CC que a comoriência é a presunção relativa ( juris tan-tum) de morte simultânea de pessoas herdeiras entre si, quando não for possível determinar qual delas fale-ceu em um primeiro momento, ainda que a morte não decorra do mesmo evento.

2. REGISTRO E AVERBAÇÃO.

(EJEF – Juiz Substituto – MG/ 2008) De acordo com o Código Civil, averba-se em registro público:

a) nascimento, casamento e óbito.

b) interdição por incapacidade absoluta ou relativa.

c) sentença declaratória de ausência e de morte pre-sumida.

d) sentença que declara ou reconhece a filiação.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: com a finalidade de assegurar direitos de terceiros, o legislador, a fim de obter a publi-cidade do estado das pessoas, exige inscrição em regis-tro público de determinados atos, e a certidão extraída dos livros cartorários fará prova plena e segura do estado das pessoas físicas (Maria Helena Diniz, Código Civil Anotado, 16ª ed, Saraiva, São Paulo, 2012). Estão sujeitos ao registro público, segundo o art. 9º, I a IV, do CC: (a) os nascimentos, casamentos e óbitos; (b) a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; (c) a interdição por incapacidade absoluta ou rela-tiva; (d) a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. Por outro lado, far-se-á averbação em regis-tro público, de acordo com o art. 10, I e II, do CC: (a) das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabe-lecimento da sociedade conjugal; (b) dos atos judiciais

ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação.

Alternativa correta: letra “d”.

Alternativa “a”: incorreta; nascimento, casa-mento e óbito são registrados.

Alternativa “b”: incorreta; interdição por incapa-cidade absoluta ou relativa é registrada.

Alternativa “c”: incorreta; sentença declaratória de ausência e de morte presumida é registrada.

Alternativa “d”: correta; sentença que declara ou reconhece a filiação é averbada, assim como o ato extrajudicial que assim o faz, conforme CC/art. 1.609, II.

3. DIREITOS DA PERSONALIDADE

(PUC – PR – Juiz de Direito – PR/2014) Sobre personali-dade e direitos de personalidade, é CORRETA a assertiva:

a) Consistem em direitos da personalidade, dentre outros: o direito à vida, ao próprio corpo, à liber-dade de pensamento e de expressão, à liberdade, à honra, ao recato, à imagem e à identidade.

b) A personalidade civil começa com a concepção.

c) Os direitos de personalidade são, sem exceção, intransmissíveis, irrenunciáveis e ilimitados.

d) Os direitos de personalidade perduram e podem ser exercidos pelo próprio titular, ou representante, exclusivamente em vida.

COMENTÁRIOS .

Nota do autor: os direitos da personalidade são os direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a vida, a integridade, a liberdade, a sociabilidade, a reputação ou honra, a imagem, a pri-vacidade, a autoria, etc. (Goffredo Telles Jr.). Os direitos da personalidade são subjetivos “excludendi alios” ou seja, direito de exigir um comportamento negativo dos outros. Além disso, segundo o Enunciado 274, “Os direi-tos da personalidade, regulados de maneira não-exaus-tiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrele-var os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”. Entre as características, destacam-se que são: (i) inatos (e adquiridos); (ii) absolutos; (iii) intransmissíveis; (iv) indis-poníveis; (v) irrenunciáveis; (vi) ilimitados; (vii) imprescrití-veis; (viii) impenhoráveis e (viii) inexpropriáveis. De forma expressa o Código Civil reportou-se, unicamente, à: (A) intransmissibilidade; (B) irrenunciabilidade e (C) indisponi-bilidade. Por fim, discute-se se a pessoa jurídica pode ser titular de direitos da personalidade. A respeito, o Enun-

ciado 286: “Os direitos da personalidade são direitos ine-rentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. Vale lembrar, por último, a Súmula STJ/227: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Contudo, para o

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STJ, “(...) talvez por isso o art. 52 do CC, segundo o qual se aplica “às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção aos direitos da personalidade”, tenha-se valido da expressão “no que couber”, para deixar claro que somente se pro-tege a honra objetiva da pessoa jurídica, destituída que é de honra subjetiva. O dano moral para a pessoa jurídica não é, portanto, o mesmo que se pode imputar à pessoa natural, tendo em vista que somente a pessoa natural, obviamente, tem atributos biopsíquicos. O dano moral da pessoa jurídica, assim sendo, está associado a um “des-conforto extraordinário” que afeta o nome e a tradição de mercado, com repercussão econômica, à honra objetiva da pessoa jurídica, vale dizer, à sua imagem, conceito e boa fama, não se referindo aos mesmos atributos das pessoas naturais” (STJ – Info 508).

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; segundo Washington de Barros Monteiro, “A constituição de 1988 consagrou em seu texto o reconhecimento de que a pessoa é deten-tora de direitos inerentes à sua personalidade, enten-dida esta como as características que a distinguem como ser humano, ao mesmo tempo em que integra a sociedade e o gênero humano. São características inerentes ao indivíduo, que se intuem facilmente, que até dispensariam menção, dada a inarredabilidade da condição humana, e que configuram pressuposto da própria existência da pessoa, mas que nem sempre são fáceis de explicar [...] Segundo Carlos Alberto Bittar e Carlos Alberto Bittar Júnior ‘são direitos da personali-dade os reconhecidos ao homem, tomado em si mesmo e em suas projeções na sociedade, viando a defesa de valores inatos, como a vida, a intimidade, a honra e a higidez física’. Para Rui Stoco, ‘os direitos da personali-dade, os quais antecedem à criação do ordenamento jurídico, posto que nascem com a pessoa, de modo pre-cedem a transcendem o ordenamento positivo, consi-derando existirem pelo só fato da condição humana’. A Constituição brasileira de 1988 assegurou, entre outros, sem enumeração taxativa, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física, à inviolabilidade da inti-midade, da vida privada, da honra e da imagem, não se podendo esquecer da proibição da tortura e de atos que degradem o ser humano” (Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. 1, 44ª ed, 2012, Saraiva, São Paulo, pág.106-7). Pelo Enunciado 274, “Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (prin-cípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”.

Alternativa “b”: incorreta; estabelece o art. 2º do CC: “A personalidade civil da pessoa começa do nasci-mento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concep-ção, os direitos do nascituro”. Segundo o modelo ado-tado, o nascimento com vida marca o início da persona-lidade, respeitando-se, desde a concepção, os direitos do nascituro. Logo, para se dizer que nasceu com vida, é necessário que tenha respirado, pois, se não o fizer, será natimorto e, nessa condição biológica, não se adquire

a personalidade. O nascimento com vida não se veri-fica quando a criança é retirada do ventre materno, ou que o cordão umbilical tenha sido rompido, desfazen-do-se a unidade orgânica. Para se afirmar que nasceu com vida, é imprescindível que ocorra a respiração. Se respirou, ainda que em seguida pereça, viveu, mesmo que por alguns segundos. Difere nosso diploma, nesse ponto, do Código Civil Espanhol que exige, para a aquisição da personalidade, que o feto tenha a figura humana e sobreviva por 24 horas após a separação do corpo materno. O exame clínico que determina se há ar nos pulmões e atesta o nascimento com vida chama-se “docimasia hidrostática de Galeno”. Se a criança nasceu e respirou, extraídos os pulmões e imersos em água, flu-tuam. Caso contrário, com as paredes alveolares encos-tadas, sem ar, eles afundam, caso em que constata que nasceu morto (natimorto).

Alternativa “c”: incorreta; os direitos da perso-nalidade são: (1) inatos; (2) absolutos; (3) intransmissí-veis; (4) ilimitados; (5) indisponíveis; (6) irrenunciáveis; (7) ilimitados; (8) imprescritíveis; (9) impenhoráveis e (10) inexpropriáveis. O Código Civil reportou-se, unica-mente, às características da (1) intransmissibilidade, (2) irrenunciabilidade e (3) indisponibilidade. Segundo Car-los Roberto Gonçalves, “A intransmissibilidade e irrenun-ciabilidade acarretam a indisponibilidade dos direitos da personalidade. Não pode os seus titulares deles dispor, transmitindo-os a terceiros, renunciado ao seu uso ou abandonando-os, pois nascem e se extinguem com eles, dos quais são inseparáveis. Evidentemente, nin-guém pode desfrutar em nome de outrem bens como a vida, a honra, a liberdade, etc. Alguns atributos da per-sonalidade, contudo, admitem a cessão do uso, como a imagem, que pode ser explorada comercialmente, mediante retribuição pecuniária. Os direitos autorais e o relativo a imagem, também entram na circulação jurí-dica [...] pode-se concluir, pois, que a indisponibilidade dos direitos da personalidade não é absoluta, mas rela-tiva” (Direito Civil Esquematizado, vol. 2, Saraiva, 2013, pag. 156). Pelo Enunciado 4, “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”.

Alternativa “d”: incorreta; a proteção dos direitos da personalidade é admitida expressamente aos lesa-dos indiretos, no art. 12, parágrafo único, e art. 20, pará-grafo único, ambos do CC, quando morto o ofendido direto. Lesado indireto “é aquele que sofre um prejuízo em interesse patrimonial ou extrapatrimonial (moral) próprio, resultante de dano causado a um bem jurídico alheio, podendo a vítima estar falecida ou declarada ausente” (Diniz, Maria Helena, Código Civil Anotado, 16ª ed, 2012, Saraiva, São Paulo, pág. 84). Alguns Enun-ciados das Jornadas de Direito Civil estão relacionados ao tema: E/275: “O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro”; E/398: “As medidas previstas no art. 12, parágrafo único, do Código Civil podem ser invocadas por qualquer uma das pessoas ali mencionadas de forma concorrente e autônoma”; E/399: “Os poderes conferidos aos legiti-

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mados para a tutela post mortem dos direitos da perso-nalidade, nos termos dos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do CC, não compreendem a faculdade de limitação voluntária”; E/400: “Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada post mortem”.

(Cespe – Juiz de Direito – DFT/2014) Acerca da prescri-ção e da proteção jurídica à intimidade, assinale a opção correta.

a) A tutela da dignidade da pessoa humana na socie-dade da informação inclui o direito ao esqueci-mento.

b) O interesse público na divulgação de casos judiciais sempre deverá prevalecer sobre a privacidade ou intimidade dos envolvidos.

c) A exibição não autorizada de imagem de vítima de crime amplamente noticiado à época dos fatos, ainda que uma única vez, gera, por si só, direito de compensação por danos morais aos seus familiares.

d) À pretensão de cobrança de cotas condominiais aplica-se a regra geral da prescrição decenal, con-tada a partir do vencimento de cada parcela, con-forme disposto no vigente Código Civil.

e) A veracidade de uma notícia confere a ela inques-tionável licitude, razão pela qual não há qualquer obstáculo à sua divulgação, dado o direito à infor-mação e à liberdade de imprensa.

COMENTÁRIOS .

Alternativa correta: letra “a”.

Alternativa “a”: correta; pelo Enunciado 531 da VI

Jornada de Direito Civil do CJF, “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento”. Para o STJ, “(...) não se pode hipertrofiar a liberdade de informação à custa do atrofia-mento dos valores que apontam para a pessoa humana. A explícita contenção constitucional à liberdade de informação, fundada na inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra, imagem e, de resto, nos valores da pessoa e da família – prevista no § 1º do art. 220, no art. 221 e no § 3º do art. 222 da CF – , parece sinalizar que, no conflito aparente entre esses bens jurídicos de especia-líssima grandeza, há, de regra, uma inclinação ou predi-leção constitucional para soluções protetivas da pessoa humana, embora o melhor equacionamento deva sem-pre observar as particularidades do caso concreto. Essa constatação se mostra consentânea com o fato de que, a despeito de o direito à informação livre de censura ter sido inserida no seleto grupo dos direitos fundamentais (art. 5º, IX), a CF mostrou sua vocação antropocêntrica ao gravar, já no art. 1º, III, a dignidade da pessoa humana como – mais que um direito – um fundamento da repú-blica, uma lente pela qual devem ser interpretados os demais direitos. A cláusula constitucional da dignidade da pessoa humana garante que o homem seja tratado

como sujeito cujo valor supera ao de todas as coisas criadas por ele próprio, como o mercado, a imprensa e, até mesmo, o Estado, edificando um núcleo intangível de proteção oponível “erga omnes”, circunstância que legitima, em uma ponderação de valores constitucio-nalmente protegidos, tendo sempre em vista os parâ-metros da proporcionalidade e da razoabilidade, que algum sacrifício possa ser suportado, caso a caso, pelos titulares de outros bens e direitos. Ademais, a permissão ampla e irrestrita de que um fato e pessoas nele envol-vidas sejam retratados indefinidamente no tempo – a pretexto da historicidade do evento – pode significar permissão de um segundo abuso à dignidade humana, simplesmente porque o primeiro já fora cometido no passado. Nesses casos, admitir-se o “direito ao esqueci-mento” pode significar um corretivo – tardio, mas pos-sível – das vicissitudes do passado, seja de inquéritos policiais ou processos judiciais pirotécnicos e injustos, seja da exploração populista da mídia. Além disso, dizer que sempre o interesse público na divulgação de casos judiciais deverá prevalecer sobre a privacidade ou inti-midade dos envolvidos, pode violar o próprio texto da Constituição, que prevê solução exatamente contrária, ou seja, de sacrifício da publicidade (art. 5º, LX). A solu-ção que harmoniza esses dois interesses em conflito é a preservação da pessoa, com a restrição à publicidade do processo, tornando pública apenas a resposta estatal aos conflitos a ele submetidos, dando-se publicidade da sentença ou do julgamento, nos termos do art. 155 do Código de Processo Civil e art. 93, IX, da Constituição Federal. Por fim, a assertiva de que uma notícia lícita não se transforma em ilícita com o simples passar do tempo não tem nenhuma base jurídica. O ordenamento é repleto de previsões em que a significação conferida pelo direito à passagem do tempo é exatamente o esquecimento e a estabilização do passado, mostran-do-se ilícito reagitar o que a lei pretende sepultar. Isso vale até mesmo para notícias cujo conteúdo seja total-mente verídico, pois, embora a notícia inverídica seja um obstáculo à liberdade de informação, a veracidade da notícia não confere a ela inquestionável licitude, nem transforma a liberdade de imprensa em direito absoluto e ilimitado. Nesse contexto, as vítimas de cri-mes e seus familiares têm direito ao esquecimento, se assim desejarem, consistente em não se submeterem a desnecessárias lembranças de fatos passados que lhes causaram, por si, inesquecíveis feridas. Caso contrário, chegar-se-ia à antipática e desumana solução de reco-nhecer esse direito ao ofensor – o que está relacionado com sua ressocialização – e retirá-lo dos ofendidos, permitindo que os canais de informação se enriqueçam mediante a indefinida exploração das desgraças priva-das pelas quais passaram. Todavia, no caso de familiares de vítimas de crimes passados, que só querem esquecer a dor pela qual passaram em determinado momento da vida, há uma infeliz constatação: na medida em que o tempo passa e se vai adquirindo um “direito ao esque-cimento”, na contramão, a dor vai diminuindo, de modo que, relembrar o fato trágico da vida, a depender do tempo transcorrido, embora possa gerar desconforto, não causa o mesmo abalo de antes. Nesse contexto,

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Direito Civil 361

DICAS

1. ACEPÇÕES E GENERALIDADES DO

DIREITO

1.1. DIREITO E MORAL

• direito e moral: possuem alguns pontos de conta-to, mas não se confundem; as diferenças entre um e outro podem ser resumidas nos seguintes pontos:

Direito Moral

o direito é mais restrito, limitado às relações inter-pessoais.

a moral é mais ampla, abrangendo os deveres religiosos e aqueles de or-dem pessoal, em relação ao comportamento con-sigo mesmo e em relação aos semelhantes, pautada pela consciência.

possui a característica da coerção, como forma de constranger o indivíduo a cumprir a norma, sujei-tando-o à eventual san-ção.

a moral é incoercível, sujei-tando o indivíduo apenas aos postulados do foro ín-timo e particular da cons-ciência, sem qualquer al-cance da norma cogente.

o direito existe para pos-sibilitar o controle social, mediante força coativa, diferenciando-se da reli-gião, da moral e das nor-mas de trato social.

a moral está relacionada ao bem, afastando-se de-la o comportamento an-tiético, prejudicial e mal--intencionado.

o direito é externo, físico, material.

a moral é interna, ligada a ao psíquico, à vontade

o direito é definido. a moral é difusa.

• Existem algumas teorias que explicam o campo de aplicação entre o direito e a moral, quais sejam:

• teoria dos círculos secantes do jurista francês Claude du Pasquier, segundo a qual Direito e Moral coexis-tem, não se separam, pois há um campo de compe-tência comum onde há regras com qualidade jurí-dica e que têm caráter moral. Toda norma jurídica possui conteúdo moral, mas nem toda substância moral será jurídica.

• Teoria dos círculos concêntricos (Jeremy Bentham), segundo a qual a ordem jurídica estaria incluída to-talmente no campo da moral. Os dois círculos (Moral e Direito) seriam concêntricos, com o maior perten-cendo à Moral. Assim, o campo moral é mais amplo do que o do Direito e este se subordina à Moral.

Direito CivilRonaldo Vieira Francisco

• Teoria do mínimo ético, desenvolvida por Georg Jel-linek, segundo a qual o Direito representa apenas o mínimo de Moral obrigatório para que a sociedade possa sobreviver.

1.2. DIREITO POSITIVO E NATURAL

• direito positivo: segundo a definição de Washington de Barros Monteiro, direito positivo é o ordenamen-to jurídico em vigor num determinado país e numa determinada época ( jus in civitate positum). (Montei-ro, Washington de Barros – Curso de Direito Civil, Parte Geral, Saraiva, 44ª edição, 2012, pag. 16).

• direito natural: ainda de acordo com o autor, direito natural é o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior.

1.3. DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO

• direito objetivo: é a regra imposta de comportamen-to, pelo Estado, de caráter geral, a que todo indiví-duo deve respeito, sujeito a eventual coerção (nor-ma agendi).

• direito subjetivo: é a faculdade de invocar a proteção daquelas regras previstas na ordem jurídica, carac-terizado por um poder que emana da vontade do indivíduo, mas amparado pelo direito objetivo (fa-cultas agendi).

Teorias dos Direitos Subjetivos

doutrinas negativistas: doutrinas afirmativas

negam a existência dos direitos subjetivos, ora interpretando-os como:

atestam a existência dos direitos subjetivos, e se dividem em:

“situação jurídica subjeti-va” (DUGUIT, in “Traité de Droit Constitutionnel”).

“a própria norma jurídica”, ou seja, o direito subjeti-vo não é senão o direito objetivo (KELSEN, in “Teo-ria pura do direito”).

teoria da vontade: o di-reito subjetivo é um po-der que emana da vonta-de. Confere ao senhor do direito, em virtude do or-denamento jurídico, agir conforme a norma lhe re-conhece. A crítica a essa teoria é situar a vontade como a base do direito subjetivo, que também é reconhecido aos despi-dos de vontade, como os deficientes mentais.

teoria do interesse:

nesta teoria, o princípio da vontade cede lugar à utilidade; a vontade não

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Teorias dos Direitos Subjetivos

doutrinas negativistas: doutrinas afirmativas

é a causa ou o efeitos dos direitos subjetivos, a utilidade é que represen-ta a substância destes; trata-se do interesse ju-ridicamente tutelado. A crítica fica por conta da existência de interesses sem tutela jurídica.

teoria mista: conjugan-do a os elementos das te-orias anteriores, o direito subjetivo é o interesse protegido, que a vontade tem o poder de realizar. É uma expressão da vonta-de individual.

1.4. DIREITO PÚBLICO E PRIVADO

• direito público: a divisão do direito objetivo, que remonta aos romanos, coloca o direito público co-mo aquele destinado a regular os interesses entre os Estados ou entre estes e os cidadãos. Exemplo: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direi-to Penal, Direito Processual, etc.

• direito privado: já este ramo destina-se às relações entre os particulares, regulando as relações dos indivíduos entre si. Exemplo: Direito Civil, Direito Agrário, Direito Comercial, etc.

1.5. PRECEDENTES DA CODIFICAÇÃO

• a partir do século XIII, Portugal deixa a vinculação com o Direito da Península Ibérica, e após a promul-gação das Ordenações do Reino, em 1446, conhe-cidas por “Ordenações Afonsinas”, em alusão ao Rei Afonso VI.

• em 1521, D. Manuel promove a reforma nas ordena-ções, surgindo as “Ordenações Manuelinas”.

• depois, em 1603, e com influência direta sobre a nossa legislação subsequente, surgem as “Ordena-ções Filipinas”, que permaneceriam vigentes duran-te o período colonial.

• em 1822, com a independência do Brasil, a legis-lação portuguesa continuaria a ser aplicada, até a elaboração e vigência de um Código Civil. A Consti-tuição do Império de 25 de março de 1824 previu o Código Civil, fundado nas “bases da Justiça e Equida-de” (art. 179, XVIII). Em 1865, a tarefa foi cometida a Teixeira de Freitas, que em 1858 já havia apresentado uma “consolidação das leis civis”. Esse trabalho, co-nhecido por “esboço do Código Civil”, acabou rejei-tado, mas serviu, por outro lado, de influência para o Código Civil argentino.

• após a proclamação da república, em 1889, Clóvis Beviláqua foi indicado para o mister, chegando o “Projeto de Código Civil” ao Congresso Nacional em 1900. Depois de aprovado em 1916, o Código Civil entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1917 (CC/1916, art. 1.806).

1.6. CÓDIGO CIVIL DE 1916

• o CC/1916 foi revogado pelo CC/2002, art. 2.045, no dia 11 de janeiro de 2003. Continha 1.817 arti-gos, e possuía uma parte geral e a parte especial, seguindo a estrutura organizacional já preconizada por Teixeira de Freitas, em sua consolidação de 1858. Diversas modificações foram sentidas no Código Civil de 1916, por leis especiais e pela Constituição Federal de 1988, notadamente aquelas referentes à função social da propriedade, família e contratos.

1.7. CÓDIGO CIVIL DE 2002

• diversas foram as tentativas de revisão do CC/1916, mas todas frustradas. Diante disso, em 1967 foi no-meada uma comissão de juristas, encarregados de elaborar o Novo Código Civil. A supervisão ficou a cargo de Miguel Reale. Já em 1972 um anteprojeto foi apresentado, preservando a estrutura organi-zacional do CC/1916, entretanto, com nova roupa-gem, fundada em “valores éticos e sociais”, caráter bem diverso daquele “individualista” da primeira codificação. Enviado o anteprojeto ao Congresso Nacional, foi nominado de Projeto de Lei nº 634/75. Após longa tramitação, o Novo Código Civil, como passou a ser chamado, foi publicado no Diário Ofi-cial da União no dia 11.01.2002, com vacatio legis de um ano, iniciando vigência no dia 11.01.2003 (CC, art. 2.044; Enunciado 164 da III Jornada do CJF).

1.7.1. CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS

DA CODIFICAÇÃO DE 2002.

• institui o sistema de “cláusulas gerais”, as quais devem ser preenchidas pelo juiz, a quem o CC/2002 conferiu certa dose interpretativa, como aquelas re-ferentes ao comportamento alinhado à “probidade e boa-fé” (CC, art. 422), bem como à “função social dos contratos” (CC, art. 421).

• exclui matéria de ordem processual.

• a codificação permanece como lei básica, mas sem afastar as leis extravagantes, mantendo a autono-mia entre o direito civil e o direito comercial.

• estruturação em Parte Geral (Das Pessoas, Dos Bens e Dos Fatos Jurídicos) e Parte Especial (Direito das Obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões).

• são princípios do CC/2002:

a) Socialidade: prevalência dos valores coletivos sobre os individuais.

b) Eticidade: a pessoa humana é a fonte dos outros va-lores, priorizando a equidade, a boa-fé, a justa cau-

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Direito Civil 363

sa, a lealdade, a probidade e a confiança (CC, art. 113, 421 e 422).

c) Operabilidade: a plena efetividade de suas normas, ou seja, o direito deve ser executado e definitiva-mente aplicado de forma simples e concreta.

1.7.2. DIREITO CIVIL – CONSTITUCIO-

NAL. TEORIA DA EFICÁCIA HORIZONTAL

• a “Constitucionalização do Direito Civil” é o fenôme-no pelo qual os institutos de direito privado passam a fincar bases na Constituição Federal, provocando o inter-relacionamento do direito público e do di-reito privado, ou seja, o “Direito Civil-Constitucio-

nal” é a leitura unitária que se faz da codificação à luz dos princípios fundamentais constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, a solidarie-dade social, a igualdade substancial, a redução das desigualdades sociais, e erradicação da pobreza e o bem de todos (CF, arts. 1º, III, 3º, III, 5º).

• a teoria da “eficácia horizontal dos direitos fundamen-tais”, da “eficácia irradiante dos direitos fundamentais” ou da “aplicação direta dos direitos fundamentais”, re-conhece a imediata incidência das normas definido-ras dos direitos fundamentais nas relações privadas.

2. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS

DO DIREITO BRASILEIRO

2.1. FUNÇÃO

• a respeito da aplicação da lei no tempo e no espaço, dispõe o Decreto-Lei 4.657, de 04 de setembro de 1942, conhecido outrora por Lei de Introdução ao Código Civil que, em razão da Lei 12.376, de 30 de dezembro de 2010, foi renomeado para “Lei de Intro-dução as Normas do Direito” (LINDB). O diploma nor-mativo conta com 19 artigos, e não possui aplicação unicamente ao Direito Civil, mas universalmente a todos os ramos do direito, razão porque, diferente-mente das demais leis, que recaem sobre o compor-tamento do homem, a LINDB tem por objeto as leis ou as normas.

• Quadro resumo, Funções da “Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro”:

Regular a vigência e a eficácia das normas jurí-dicas, regulando os con-flitos de leis no tempo e no espaço (LINDB, arts. 1º, 2º, 6º e 7º a 19)

Apresentar as soluções para a integração das lacunas normativas (LINDB, art. 4º).

Fornecer os critérios de hermenêutica (LINDB, art. 5º)

Preservar a efetividade global do sistema, não admitindo o erro de di-reito, bem como conso-lidando a segurança jurí-dica (LINDB, art. 3º e 6º).

• ATENÇÃO: Há exceções à aplicabilidade da LINDB a todos os ramos do direito, de maneira indistinta. A regra da LINDB a respeito da integração das lacunas normativas, como forma de garantia da plenitude do sistema, segundo o art. 4º, é a seguinte: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de di-reito”. No Direito Penal, não se admite a analogia in malam partem, em função do princípio da reserva legal (CP, art. 1º). De igual maneira, o Direito Tribu-tário, em função do princípio da legalidade, não ad-mite o emprego da analogia para exigir tributo não previsto em lei (CTN, art. 108, § 2º, CF, art. 150, I).

• lembramos ao candidato que a Lei Complementar 95, de 26 de fevereiro de 1998, dispõe sobre a ela-boração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que men-ciona.

2.2. FONTES DO DIREITO

• a expressão fontes do direito segundo Carlos Rober-to Gonçalves, “tanto significa o poder de criar nor-mas jurídicas quanto a forma de expressão dessas normas”. Para Caio Mário da Silva Pereira, fonte do direito “é o meio técnico de realização do direito ob-jetivo”.

2.2.1. FONTES FORMAIS DIRETAS OU

IMEDIATAS. FONTES NÃO-FORMAIS,

INDIRETAS OU MEDIATAS.

• Fontes formais, diretas ou imediatas: leis, ana-logia, costumes e os princípios gerais do direito (geradores de regras jurídicas, LINDB, art. 4º). A lei é “fonte primária”, enquanto as demais “secundárias”.

• Fontes não formais, indiretas ou meditas: doutri-na e jurisprudência (contribuem para a elaboração da regra jurídica).

Fontes formais –

diretas

Fontes não formais –

indiretas

Lei

Analogia

Costumes

Princípios Gerais do Direito

Doutrina

Jurisprudência

Equidade

2.3. LEI

• noções gerais: trata-se de fonte formal “primária”, que surge mediante processo legislativo, por meio do qual se positiva, tornando-se obrigatória; esta-belece normas de comportamento, depois de for-malmente promulgada e publicada.

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2.3.1. ACEPÇÃO

Leis

Generalidade

dirigida a todos, sem distinção, razão pela qual é abstrata. Ain-da que se dirija a determinado grupo, não perde a variável.

Imperatividadeimpõe deveres e condutas, en-cerrando ordens e comandos.

Obrigatoriedade

(teoria da neces-

sidade social)

não se permite a alegação do desconhecimento, LINDB/art. 3°

Competência

sua validade formal depende de regular processo de elaboração, de acordo com as competências legislativas constitucionalmen-te previstas.

Autorizante

autoriza que o lesado o lesado pela violação exija o seu cum-primento ou a reparação pelo mal causado (Goffredo da Silva Telles).

Permanência

(princípio da

continuidade)

a lei perdura até que outra a mo-difique ou revogue. Há exceção, como as leis temporárias.

2.3.2. CLASSIFICAÇÃO

• Quanto à imperatividade:

Cogentes

(de ordem pública ou

de imperatividade

absoluta)

Não cogentes

(dispositivas ou de im-

peratividade relativa)

Mandamentais (determi-nam ação)

Proibitivas (determinam abstenção)

Permissivas (permitem ação e abstenção)

Supletivas (suprem de-claração de vontade)

• Quanto à intensidade da sanção:

Intensi-

dade da

sanção

das Leis

Leis mais

que per-

feitas

duas sanções quando vio-ladas. Ex. Lei de Alimen-tos, art. 19

Leis per-

feitas

nulidade do ato, sem qualquer pena. Ex. CC, art. 166, I

Leis

menos que

perfeitas

não há nulidade ou anula-ção do ato, mas uma san-ção. Ex. CC, art. 1.641, I

Leis im-

perfeitas

sem consequência. Ex. dí-vida de jogo, ou prescrita, CC, art. 814

• Quanto à natureza:

Substantivas

(Materiais)Adjetivas (Formais)

Tratam-se das leis que reconhecem direitos e deveres, ou seja, é o complexo de normas que regem as relações jurídicas.

Os direitos materiais são realizados por um conjun-to de leis que determinam a forma por que se devem fazer valer os direitos; con-junto de leis reguladoras dos atos judiciários; direito processual, direito judiciá-rio, direito formal.

• Quanto à hierarquia (v. CF, art. 59, parágrafo único; art. 69; art. 68, §§ 1º a 3º; art. 84, XXVI; art. 59, VI; arts. 51 e 52).

CF

Leis Complementares

Leis Ordinárias

Leis Delegadas

Medidas Provisórias

Decretos Legislativos

Resoluções

Normas Internas

• Quanto à competência ou extensão territorial.

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Direito Civil 365

• Quanto ao alcance

Gerais ou Comuns Especiais

Aplicam-se à tota-lidade das relações jurídicas. Ex. Códi-go Civil

Afastam a incidência do direito comum ou geral, em razão da relação ou situação jurídica. Ex. Relação de consumo; Locação Urbana; Locação Rural.

2.3.3. VIGÊNCIA. REVOGAÇÃO. REPRIS-

TINAÇÃO X EFEITO REPRISTINATÓRIO

• as leis são elaboradas mediante processo legisla-tivo, o qual é divido em fases, segundo o quadro abaixo:

Fase intro-

dutória

Nesta fase, é necessário que se obser-vem as disposições a respeito da inicia-tiva, segundo a CF, art. 61.

Admite-se iniciativa:

a) parlamentar

b) extraparlamentar

c) concorrente

d) exclusiva

Fase cons-

titutiva

Apresentado o projeto de lei e definido qual das casas analisará primeiramente o assunto (deliberação principal e revi-sional), haverá instrução, discussão e votação sobre o tema, na Câmara e no Senado (CF, art. 58), e após o exercício da sanção ou veto.

Resumidamente:

a) deliberação parlamentar

b) deliberação executiva (sanção ou veto)

Fase com-

plementar

A fase em destaque compreende a promulgação e a publicação.

a) Promulgar é atestar uma nova or-dem jurídica, declarando a existência e autenticidade de uma lei.

b) Publicar é conferir notoriedade e obrigatoriedade a uma lei, informando o seu conteúdo a todos para que seja cumprida.

** Com a publicação tem-se o início da vigência da lei **

• ATENÇÃO: não confundir o início da vigência da lei, que ocorre com sua publicação, com vacatio

legis, intervalo entre a data da publicação e a sua entrada em vigor (força vinculante). Não confun-dir, ainda, os termos vigência e vigor de uma lei; o primeiro refere-se ao período de sua duração, seu efeito temporal; o segundo, à força vinculante de suas regras, à autoridade normativa. Ex. uma lei po-

de ter perdido a vigência, se estiver ab-rogada, mas ainda irradiar sua força – ter vigor – em razão das situações jurídicas constituídas sob sua égide (CC, art. 2.035).

• o “princípio da obrigatoriedade simultânea ou sincrô-nica”, também chamado de “critério do prazo único ou isócrono”, estabelece que a lei terá vigência a um só momento, ou seja, o intervalo de vacatio legis será comum e simultâneo para o país todo. A pri-meira “Lei de Introdução ao Código Civil”, aprovada em 1916, juntamente com o Código Civil daquela época – motivo de seu nome – dispunha de prazos diversos de vacatio legis, em ordem crescente do Distrito Federal para os Estados e Territórios mais distantes da capital federal, e ficou conhecido por “critério do prazo progressivo” (CC/1916, Introdução, art. 2º).

• segundo a LC nº 98/95, art. 8º, caput, “A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a con-templar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena re-percussão”. Por sua vez, diz o preceito da LINDB, art. 1º, caput: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. Interpretando os dispositi-vos acima, temos que, caso a lei nova não possua

indicação especial e expressa do momento a par-tir do qual terá vigor, haverá a incidência da LINDB, art. 1º, caput, ou seja, se a lei for omissa quanto ao prazo de vacatio legis, segue a regra de que a “lei co-meça a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”.

• ATENÇÃO: No estrangeiro, a lei brasileira terá prazo de vacatio legis de 03 meses, contados a partir da publicação. Assim, antes de transcorrido o prazo tri-mestral, a lei brasileira não terá incidência em país estrangeiro. Segundo Maria Helena Diniz, “se, por-ventura, o comando legal vier a fixar prazo superior a três meses para o início da vigência da nova lei no Bra-sil, sem fazer qualquer referência à data da entrada em vigor dessa referida lei no exterior, impor-se-á o prazo de vigência interna à do exterior, pois incompreensível seria que uma norma vigorasse no estrangeiro antes de ter vigência no país de origem”. (Lei de Introdução

ao Código Civil Brasileiro Interpretada, Saraiva,

6ª edição, 2000, pag. 55).

• é importante recordar ao candidato que durante a vacatio legis, período entre a publicação da lei e sua entrada em vigor, as relações jurídicas estão sujei-tas à lei velha, pois a lei nova não produz qualquer efeito naquele intervalo, mesmo que totalmente incompatíveis as legislações.

• no quadro a seguir, o resumo a respeito dos prazos de vacatio legis, segundo a LINDB, art. 1º, §§ 1º ao 4º. Relembramos ao candidato que vacatio legis é o intervalo entre a data de publicação da lei e a sua entrada em vigor.

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• Quadro resumo:

Vacatio Legis

no Brasil: 45 DIAS, salvo disposição em con-trário.

estados es-

trangeiros:

03 MESES, depois de oficialmente publicada.

novo texto

de correção

ANTES: de entrar a lei em vigor, se ocorrer a nova publicação de seu tex-to, destinado à correção, os prazo de vacatio legis começarão a correr da nova publicação

DEPOIS: as correções de texto de lei já em vigor considera-se lei nova.

• contagem dos prazos: segundo a LC nº 95/98, art. 8º, § 1º, “A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral”.

• revogação da lei: significa a cessação de sua vi-gência, suprimindo-lhe a existência e a força obri-gatória. As leis, em regra, permanecem vigentes até que outra as modifique ou revogue, exceto quando sua vigência for temporária (LINDB, art. 2º, caput). Assim, em regra, as leis possuem o caráter perma-

nente, assentado no princípio da continuidade. A

revogação é o gênero, do qual são espécies:

a) ab-rogação: ab-rogar é extinguir uma lei por outra, totalmente;

b) derrogação: por sua vez, é cessar a existência par-cial de uma lei.

• IMPORTANTE: A revogação poder ser:

• expressa: quando a lei posterior expressamente o declare, nos termos da LINDB, art. 2º, § 1º, primei-ra parte. De acordo com a LC nº 95/98, art. 9º, com redação dada pela LC nº 107/2001, “A cláusula de re-vogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”.

• tácita: quando a lei posterior

b.1) for incompatível com a anterior;

b.2) regular inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. É de bom alvitre que “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior” (LINDB, art. 2º, § 2º). O preceito deverá ser lido se-gundo o contexto dos parágrafos anteriormente mencionados, ou seja, se a nova lei geral/especial for incompatível ou regular o assunto da lei an-terior em formato diverso, haverá revogação, em razão do conflito, pelo que haverá revogação tácita. Todavia, se a lei nova, geral ou especial, reafirmar os termos já vigentes em outra norma, não haverá revogação.

• ATENÇÃO: as leis temporárias têm a vigência ces-sada por causas intrínsecas, as quais não se limitam ao transcurso de determinado tempo de duração, mas, ainda, ao implemento de condição resolutiva e quando atingido o fim para o qual foi concebida. Dessa maneira, não há propriamente revogação das leis temporárias, mas caducidade de seus efeitos, isso porque as causas de sua extinção são previa-mente estabelecidas, ou seja, prescinde de outra lei para que seja revogada, embora nada impeça que uma lei posterior o faça.

• Quadro resumo:

Revogação das Leis

• lei revoga lei. (LINDB/art. 2º): porém, as leis tem-porárias possuem a duração predeterminada, pelo tempo, finalidade ou condição resolutiva.

• revogação é o gênero, enquanto são espécies:

a) ab-rogação: supressão total de uma norma

b) derrogação: supressão parcial de uma norma

• a revogação poderá ser, ainda:

a) expressa: lei posterior declara a revogação da ante-rior

b) tácita: lei posterior possui incompatibilidade nor-mativa com a anterior ou regula inteiramente a ma-téria versada na norma antiga (LINDB/art. 2º, § 1º).

• a lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. (LINDB/art. 2, § 2º), exceto se houver incompatibilidade.

• repristinação x efeito repristinatório: de acor-do com a LINDB/art. 2º, § 3º, “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. O preceito em tela dispõe a respeito da repristinação, que é admitida e reconhecida no sistema brasileiro, não como re-

gra geral, mas por exceção. É necessária disposição legal expressa para que ocorra.

• ATENÇÃO: a inconstitucionalidade de uma lei faz com que seu “efeito revocatório” também seja invali-dado (LINDB/art. 2º, § 1º); dessa forma, a lei anterior, revogada por lei posterior declarada inconstitu-cional, tem a vigência restabelecida, porém, nessa situação, fala-se que houve “efeito repristinatório”, conforme já decidiu o STJ (REsp. 445.455-BA, DJ 5/12/2005). Para que se reconheça a “repristinação propriamente dita” é necessário que se observe o delineamento da LINBD/art. 2º, § 3º; o “efeito repristi-natório”, uma vez declarada a inconstitucionalidade de lei, é uma das repercussões do efeito “ex tunc” da decisão, que retroage desde a origem, permitindo a reaplicação da legislação anterior.

• posição do STF: “A declaração de inconstitucionali-dade de uma lei alcança, inclusive, os atos pretéritos com base nela praticados, eis que o reconhecimento

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Direito Civil 367

desse supremo vício jurídico, que inquina de total nuli-dade os atos emanados do Poder Público, desampara as situações constituídas sob sua égide e inibe – ante a sua inaptidão para produzir efeitos jurídicos válidos – a possibilidade de invocação de qualquer direito. – A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de exclusão, que, fundado numa competên-cia de rejeição deferida ao Supremo Tribunal Federal, consiste em remover do ordenamento positivo a ma-nifestação estatal inválida e desconforme ao modelo plasmado na Carta Política, com todas as consequên-cias daí decorrentes, inclusive a plena restauração

de eficácia das leis e das normas afetadas pelo

ato declarado inconstitucional” (STF – Pleno, Ac. un. ADIn 652-5-MA – Questão de Ordem – Rel. Min. Celso de Mello, DJU de 02.04.93, p. 5.615)”;

• escólio do Ministro Celso de Mello (ADIn 2.215/

PE): “Já se afirmou, no início desta decisão, que a de-claração de inconstitucionalidade in abstracto, de um lado, e a suspensão cautelar de eficácia do ato reputa-do inconstitucional, de outro, importam – considera-do o efeito repristinatório que lhes é inerente – em res-tauração das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstrato. Es-se entendimento – hoje é expressamente consagrado em nosso sistema de direito positivo (Lei nº 9.868/99, art. 11, § 2º) ...”.

• ATENÇÃO: de acordo com o STF, o efeito repristi-natório será afastado se a norma anterior padecer do mesmo vício de inconstitucionalidade (ADIn nº 2.574/AP, rel. Ministro Carlos Velloso).

2.3.4 OBRIGATORIEDADE DAS LEIS

• “princípio da obrigatoriedade” ou “inescusabilidade da ignorância da lei”: reconhecido na LINDB, art. 3º, pelo qual “Ninguém se escusa de cumprir a lei, ale-gando que não a conhece”. Fundado na necessidade social de segurança e obediência às leis, o princípio é a base e a própria condição de coexistência da sociedade, sob a ótica do controle social, que de-manda o respeito pelo direito e, sobretudo, por sua força obrigatória, com isso evitando o caos e a anar-quia generalizada. Nesse sentido, o princípio con-fere eficácia global à ordem jurídica, que é obtida com a publicação da lei, neutralizando a ignorância.

• teorias que fundamentam o “princípio da obrigato-riedade” ou “inescusabilidade da lei” (exceptio igno-rantie juris).

Teoria da

presun-

ção legal

juris et de

jure

segundo esta corrente, com a publicação da lei haverá a presunção de que os des-tinatários da norma conhecem o seu con-teúdo, não podendo alegar desconheci-mento para escusar-se aos seus efeitos. A presunção é absoluta (juris et de jure), e não relativa (juris tantum), pois não se admite prova em contrário da presunção de que todos conhecem lei.

Teoria da

ficção de

direito

alguns autores consideravam a possibi-lidade de prova em contrário a respeito do conhecimento da lei (presunção re-lativa ou juris tantum), e, assim, procu-raram substitutir a teoria acima por es-ta, que se resume na afirmação de que há ficção de conhecimento geral da lei publicada. A teoria foi criticada por não corresponder à realidade de que todos conhecem os termos da lei.

Teoria da

neces-

sidade

social

entre outros, Clóvis Beviláqua sustentou que não haveria presunção ou ficção a respeito do conhecimento da lei, mas uma conveniência desse conhecimento, por ser imprescindível à coexistência so-cial e à segurança jurídica.

• ATENÇÃO: De acordo com o C, art. 139, III, o erro é substancial quando “sendo de direito e não impli-cando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico”. O erro de direito ou “error juris” não era previsto no CC/1916, mas no vigente é defeito expresso como causa de anulabili-dade dos negócios jurídicos. Trata-se da ignorância da norma jurídica, o falso conhecimento, a interpre-tação errônea e, ainda, o equívoco sobre as conse-quências jurídicas do negócio jurídico. Tal preceito não afronta aquele da LINDB, art. 3º, pois o erro de direito recai sobre a manifestação da vontade, vi-ciando o consentimento, como principal ou único motivo da realização de um negócio, sem, contudo, importar recusa à aplicação da lei.

2.3.5. INTEGRAÇÃO DAS LEIS

• a justificativa para a integração das normas jurí-dicas é a impossibilidade de previsão de todas as situações jurídicas, sendo certo que o direito não consegue acompanhar a evolução da sociedade e os novos conflitos surgidos. Sendo assim, o ordena-mento jurídico é sempre completo, não tem vazios. Já a lei pode ser omissa, pois o legislador não con-segue regular todas as situações que porventura surgirão no meio social.

• de acordo com a LINDB, art. 4º, “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analo-gia, os costumes e os princípios gerais de direito”.

• por sua vez, diz o CPC, art. 126, “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obs-curidade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”. A norma em apreço dispõe a respeito da in-

declinabilidade da jurisdição, consistente na proi-bição de o juiz pronunciar o non liquet, alegando lacuna ou obscuridade na lei. Pode haver lacuna na lei, mas não no direito.

• segundo a classificação atribuída a Maria Helena Di-niz (Lacunas no Direito, Saraiva, São Paulo, 2002, pag.

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95), as lacunas podem ser: Normativa (ausência de norma para o caso concreto); Ontológica (presença de norma para o caso concreto, porém, sem eficácia social); Axiológica (presença de norma para o caso concreto, no entanto, insatisfatória ou injusta); De

conflito ou antinomia (colisão entre duas ou mais normas válidas para o caso concreto).

• Há uma hierarquia a seguir na utilização dos mé-todos de integração, tratando-se de uma ordem preferencial e taxativa, segundo a dicção da LINDB, art. 4º. Em primeiro lugar a analogia, depois os cos-tumes e os princípios gerais do direito.

• analogia: de início, diferencia-se da interpretação

extensiva, pois nesta se aplica a norma a situações implicitamente previstas no seu conteúdo. Há duas

espécies de analogia.

a) analogia legis ou propriamente dita: ampliação de uma norma existente, destinada a reger caso se-melhante ao previsto.

b) analogia juris: a norma é retirada de um caso sin-gular, mas abstraída de todo o sistema ou de parte dele; baseia-se em um conjunto de normas para ob-ter elementos que permitam sua aplicação ao caso pendente, não previsto, mas similar.

• requisitos da analogia:

a) inexistência de preceito legal para o caso concreto;

b) semelhança entre as situações, aquela prevista le-galmente e a sem disposição legal;

c) identidade de fundamentos lógicos e jurídicos.

• limitações à analogia: na seara penal (admitida somente a analogia in bonam partem); na tributá-ria (criar ou exigir tributos) e nas normas de ordem pública, de natureza sancionatória e administrativa, onde impera o princípio da legalidade.

• costume: trata-se da conduta reiterada, uniforme, pública e geral (elemento externo ou material) ba-seada na falsa percepção de sua obrigatoriedade (elemento interno ou psicológico). Enquanto a lei é escrita, o costume é direito não escrito. São três as

espécies de costumes:

a) secundum legem: (quanto expressamente men-cionado em dispositivos legais. Ex. CC, art. 596, 615, 1.297, § 1º);

b) praeter legem: (destinado a suprir lacuna normati-va, cf. a LINDB, art. 4º e CPC, art. 126. Ex. Pagamento com cheque pré-datado;

c) contra legem: (aquele que se opõe à lei, chamado de costume ab-rogatório. De acordo com a LINDB, art. 2º, uma lei somente é revogada por outra. Assim, o costume não tem o poder de revogar uma norma, sendo certo que o desuso, que torna uma lei não uti-lizável, não possui o condão de revogar uma lei).

• ATENÇÃO: desuetudo é o não uso de uma lei por longo tempo ou, ainda, quando o costume suprime a lei.

• princípios gerais do direito: falhas a analogia e os costumes no preenchimento da lacuna, socorrerá o intérprete desses princípios, que são “os cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elabora-dor da norma, mas que estão contidos de forma ima-nente no ordenamento jurídico”. (Maria Helena Diniz – Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpre-tada – Saraiva, 2000, pag. 123). Como exemplos: “vi-ver honestamente, não lesar a ninguém e dar a cada um o que é seu”. (Silvio de Salvo Venosa – Direito Civil – Parte Geral – Atlas, 2013). Presentes na consciência dos povos e universalmente aceitos, os princípios gerais do direito estão implícitos no sistema jurí-dico, como que ninguém pode valer-se da própria torpeza, ou de que a boa-fé se presume. Tais princí-pios não devem ser confundidos com os princípios

fundamentais, como a presunção de inocência do Direito Penal, que são normas jurídicas vinculantes. Também não se confundem com os adágios, bro-

cardos ou máximas, os quais não passam de ditos pedagógicos.

• equidade e a “equity” do direito inglês: segundo a LINDB, art. 4º, “Quando a lei for omissa, o juiz deci-dirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. A leitura do preceito deixa em evidência que a equidade não é meio su-

pletivo de lacuna da lei. Em sentido amplo, a equi-dade é o ideal de justiça absoluta ou ideal, o equita-tivo é o justo. No sentido estrito, é aplicada como recurso auxiliar quando a própria lei expressamen-te deixa espaços para que o juiz elabore a norma mais coerente ao caso concreto. Nesse caso, há verdadeira autorização legal, ainda que tácita, para que juiz, entre a norma e o fato, aplique a lei aten-dendo seus fins sociais e ao bem comum (LINDB, art. 5º). Significa, em última análise, a possibilidade de decidir “por equidade”, buscando a solução mais justa ao litigio apresentado. São espécies de equi-

dade:

a) legal: (quando apresenta as possibilidades de solu-ção do litígio. Ex: CC, art. 1584, § 5º)

b) judicial (sem apresentar qualquer “opção” de solu-ção, deixa em aberto ao juiz verdadeiros espaços ou lacunas, para formule a resolução mais adequada ao caso concreto. Ex. CC, art. 1.740, II).

• ATENÇÃO: no direito inglês moderno, decorrente da reforma ocorrida em 1876, não mais existe a du-plicidade jurisdicional, formada por tribunais espe-cíficos e diversos para a common law e a equity; dis-so decorre que equity (equidade), modernamente, é fonte do direito para solução das questões judiciais, especialmente na ausência de normas do direito co-mum, agindo como complemento destas.

• quadro resumo (integração das normas jurídi-

cas):

• ATENÇÃO: há uma hierarquia na utilização des-

ses mecanismos, porque o Brasil consagra a su-

premacia da lei escrita.

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2.3.6. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

DAS LEIS

• enquanto norma geral e abstrata, as leis não se re-ferem aos casos concretos. O processo de justaposi-ção do fato ou relação jurídica a uma norma jurídi-ca, de caráter geral, prévio e abstrato, é chamado de subsunção. Caso o fato submetido ao Estado-juiz não encontre qualquer disposição legal aplicável, deverá aplicar a integração normativa, conforme vimos acima. A esta análise da norma aplicável ao caso concreto confere-se o nome de interpretação. Assim, temos que:

a) interpretar é a busca da essência da norma jurídica, como forma de determinar sua abrangência e apli-cabilidade;

b) hermenêutica é a ciência da intepretação, a teoria que vai ao encontro do sentido e alcance da lei;

c) exegese, por sua vez, é sinônimo de interpretação. A expressão, todavia, não se confunde com a Escola da Exegese, de origem francesa, do século XIX, pela qual o legislador possuía o monopólio da revelação do direito (juspositivismo).

• os critérios metodológicos que o interprete deve seguir na busca do sentido e alcance da norma jurí-dica são tratados nas seguintes teorias:

Teoria subjetiva

da interpretação

(escola exegética)

trata-se da busca da vontade histórica do legislador escrita na norma.

Teoria objetiva da

interpretação

por esta corrente, deve-se per-seguir a vontade da lei, a mens legis, sem qualquer vinculação à vontade do legislador, respon-sável pela elaboração da norma.

Teoria da livre

pesquisa do direi-

to (livre investi-

gação cietífica)

defende que o juiz deve ter vontade criadora na intepreta-ção na lei, segundo as concep-ções jurídicas, morais e sociais.

• com relação às técnicas de intepretação, são as

seguintes:

Quanto à fonte ou origem, ou seja, em relação a

quem interpreta.

autentica realizada pelo legislador

doutrinária

aquela confeccionada pelos estu-diosos do direito, em livros, ma-nuais, teses, etc.

jurispruden-

cial

elaborada pelos órgãos do Poder Judiciário, inclusive por meio de sú-mulas.

Quanto aos meios

gramatical ou

literal

interpreta-se sob o enfoque linguís-tico do vernáculo.

lógicavale-se do raciocínio lógico, das de-duções.

sistemática

ocorre mediante a análise compa-rativa entre os dispositivos legais de uma mesma e de outros textos legais, atuais e anteriores.

histórica

prende-se às circunstâncias fáticas que envolveram a elaboração da norma, os antecedentes do proces-so legislativo.

sociológica ou

teleológica

o contexto e as exigências sociais permeiam esse meio. (LINDB, art. 5º).

ontológica

é o meio no qual o sentido ou a es-sência da norma é perseguido (ratio legis).

Quanto à extensão ou resultado

declarativarestringe-se aos termos do texto le-gal, sem ampliá-lo ou restringi-lo

extensiva ou

ampliativa

amplia-se o alcance do texto legal, porque o legislador disse menos do que deveria.

restritiva

aqui, diferente da anterior, o texto legal foi além do que deveria, e o interprete restringe os seus efeitos.

2.3.7. CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO

• noções gerais: as leis, em função do princípio da continuidade, permanecem vigentes até que outras as derroguem ou ab-roguem. Diferente das anti-nomias, que se referem ao conflito de leis vigentes, o estudo do conflito das leis no tempo se desenvol-ve para determinar a lei aplicável entre uma nova (vigente) e outra anterior (revogada) às situações jurídicas constituídas sob a égide desta última, ou seja, vigente a Lei – A, e uma vez revogada pela Lei

– B, qual delas projetará seus efeitos em relação ao evento jurídico constituído na vigência da primeira.

• critérios de solução: o direito intertemporal solu-ciona os conflitos da lei no tempo, apontando os dois critérios de solução.

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disposições

transitórias

são elaboradas pelo legislador no próprio texto legal para conciliar a nova norma com as situações jurídi-cas constituídas na vigência da an-terior. Destinadas a resolver e evitar conflitos, possuem vigência tempo-rária. Ex. CC, arts. 2.028 a 2.046.

retroativida-

de e Irretroa-

tividade

em regra, a norma diz respeito aos comportamentos futuros, embora possa referir-se a condutas pas-sadas. No direito brasileiro, a irre-troatividade é a regra, porém, não absoluta. Admite nosso sistema constitucional a retroatividade limi-tada. Não permite, todavia, a retroa-tividade total e completa, conhecida por retroatividade restitutória. Assim, retroativa é a lei nova que atinja as situações jurídicas constituídas sob a lei revogada. E será irretroativa aquela que não tenha qualquer efi-cácia sobre as situações praticadas sob a lei antiga.

• segundo a teoria subjetiva de Gabba, a irretroati-vidade das leis é a regra, a qual comporta exceções. No entanto, operada a retroação da LEI NOVA aos fatos consumados, esta deverá respeitar o ato jurí-dico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Disso decorre a aplicabilidade da LEI NOVA, em re-gra, aos fatos pendentes e aos futuros.

• espécies de retroatividade: a retroatividade, uma vez admitida, poderá ser:

justa

quanto não atenta contra as garantias dos direitos fundamentais do ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada

injusta quando há ofensa

máximaquando atinge os direitos adquiridos e os negócios jurídicos perfeitos

média

atinge os fatos pendentes e os direitos existentes, mas não integrados ao patri-mônio do titular);

mínima

quando alcança os fatos anteriores, cujos efeitos sejam produzidos depois da en-trada em vigor da nova lei

• A lei terá aplicabilidade imediata e geral, ou seja, atingirá desde as relações que, nascidas sob as ves-tes da lei anterior, ainda não se consumaram, até os acontecimentos futuros, sempre respeitando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julga-da, porque, logicamente, já sedimentados.

• de acordo com a CF/88:art. 5º, XXXVI, “a lei não pre-judicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

• segundo a LINDB:

Art. 6º: A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o di-reito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já con-sumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de ou-trem. (Trata-se do direito já incorporado

em definitivo ao patrimônio ou persona-

lidade do titular).

§ 3º: Chama-se coisa julgada ou caso jul-gado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

• Súmula 344 do STJ: A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa jul-gada.

• Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportu-nidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalva-da, em todos os casos, a apreciação judicial.

• relativização (flexibilização) da coisa julgada: o STJ, quanto ao tema, admite relativizar a coisa jul-gada, mas em situações extraordinárias, como no caso de colisão de direitos ou princípios fundamen-tais, como a dignidade da pessoa humana, direito à identidade genética, mesma posição do STF, para quem a “relativização” da autoridade da coisa julga-da deve prevalecer no caso do direito fundamental ao conhecimento da própria ancestralidade, a bus-ca da identidade genética, como expressão dos di-reitos da personalidade.

2.3.8. EFICÁCIA DAS LEIS NO ESPAÇO

• A LINDB, arts. 7º a 19, dispõem a respeito das nor-mas do direito internacional público e privado, as quais são dedicadas a estabelecer os limites territo-riais da aplicação da lei brasileira e da estrangeira.

• sistema da territorialidade: a norma jurídica apli-ca-se no território do Estado, abrangendo as embai-xadas, consulados, navios de guerra, etc.

• sistema da extraterritorialidade: a norma é apli-cada em território de outro Estado, seguindo os princípios e convenções internacionais. Nesse ca-so, diz Carlos Roberto Gonçalves, “estabelece-se um privilégio pelo qual certas pessoas escapam à jurisdição do Estado em cujo território se achem, submetendo-se apenas à jurisdição do seu país. A norma estrangeira passa a integrar momentanea-mente o direito nacional, para solucionar determi-nado caso submetido á apreciação”.

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• territorialidade moderada (sistema adotado no Brasil): por tal sistema, o direito pátrio é plenamen-te eficaz, mas, em algumas situações, decorrentes de tratados, convenções e princípios, ele passa a coexistir com o alienígena, no que se denomina “es-tatuto pessoal”, ou seja, o direito externo é invocado para disciplinar a condição do estrangeiro.

• estatuto pessoal: é situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu país de origem. É baseado na lei da nacionalidade ou do domicílio. A LICC/1916, art. 8º, adotou a lei da nacionalidade. Para a LINDB/1942, por sua vez, o “estatuto pessoal” do estrangeiro é fundado na “Lei do domicílio”. De acordo com a LINDB/art. 7º, caput: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capa-cidade e os direitos de família” (lex domicilii). Nesses casos, a legislação onde domiciliada a pessoa será aplicável, segundo o conceito da lex fori, ou seja, a lei onde a eventual demanda será processada. No Brasil, o conceito é dado pelo CC, art. 70 e seguintes.

• lex loci actus: a lei brasileira será aplicável para o casamento realizado no Brasil em relação aos impe-dimentos absolutos e às formalidades da celebração do casamento (LINDB, art. 7º, § 1º). É inaplicável a dis-posição, no entanto, em relação aos impedimentos proibitivos ou meramente impedientes, referentes às causas suspensivas do casamento (CC, art. 1.523).

• casamento de estrangeiros: segundo a LINDB, art. 7º, § 2º, o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. Nesse caso, será aplicável a lei do país que celebrar o casa-mento.

• casamento de brasileiros no exterior: se ambos os nubentes forem brasileiros, o casamento poderá realizar-se no exterior, perante a autoridade consu-lar brasileira.

• lex rei sitae: significa a lei da situação da coisa. Dis-põe a LINDB, art. 8º, em relação aos bens:

a) para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se- á a lei do país em que esti-verem situados;

b) Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trou-xer ou se destinarem a transporte para outros luga-res; c) o penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.

• sucessão causa mortis: a lei do domicílio também é aplicável em se tratando de sucessão. Dispõe a LINDB, art. 10, que a sucessão por morte ou por au-sência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a na-tureza e a situação dos bens. No entanto, prescreve a LINDB, art. 10, § 2º, que a lei do domicílio do her-deiro ou legatário regula a capacidade para suceder. É importante lembrar o princípio do prélèvement, do

sistema criado na França, como forma de favoreci-mento ao nacional em detrimento do estrangeiro. Segundo a LINDB, art. 10, § 1º, a sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos bra-sileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus (CF/art. 5º, XXXI).

• competência judiciária do Brasil: ainda que es-trangeiro, o réu que tiver domicílio no Brasil se sujei-ta à competência judiciária brasileira. Vale a mesma regra se a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil (LINDB, art. 12). Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis si-tuados no Brasil, tratando-se de norma absoluta e obrigatória (LINDB, art. 12, § 1º). Por fim, em relação às cartas rogatórias, quanto ao objeto (conteúdo e matéria) subordinam-se à lei do país rogante e em relação ao procedimento (formalidades), aplica-se a lei do país rogado (LINDB, art. 12, § 2º). Observe--se, por outro lado, que as cartas rogatórias, assim como as sentenças ou quaisquer declarações de vontade de outro país serão ineficazes, no Brasil, se ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes (LINDB, art. 17).

• ônus da prova: a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quan-to ao ônus e aos meios de produzir-se (lex loci), não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Em relação aos modos de produção, será observada a lex fori, ou seja, as nor-mas de ordem processual aplicáveis serão aquelas do direito brasileiro. (LINDB, art. 13).

• princípio da devolução, retorno ou reenvio

(“Gesamtverweisung”): é a indicação de um ca-so, pelas normas de um país a que se transmitiu a competência para resolvê-lo, a um terceiro ordena-mento (reenvio de 2º grau) ou ao Estado originário (reenvio de 1º grau). A LINDB, art. 16, proíbe o reen-vio, quer de 1º, quer de 2º grau

• execução de sentença estrangeira: as sentenças estrangeiras, assim consideradas aquelas proferidas no estrangeiro, dependem do cumprimento dos re-quisitos da LINDB, art. 15 c/c art. 105, I, i, da Consti-tuição da República, de acordo com a redação dada pela Emenda nº 45/2004, quais sejam: a) proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formali-dades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) traduzida por intérprete autoriza-do; e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, a quem compete “a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias”. Lembramos ao candidato a LINDB, art. 17, segundo o qual “As leis, atos e senten-ças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofende-rem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes”. O controle judicial que se desenvolve

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em relação às sentenças estrangeiras possui a fina-lidade de verificar os aspectos formais da decisão alienígena, sem qualquer incursão no mérito da questão debatida em cenário externo; no entanto, a análise não se circunscreve aos requisitos do art. 15, mas ainda àqueles do art. 17 acima declinado, ou seja, a decisão externa não terá eficácia no Brasil quando ofender a soberania nacional, a ordem pú-blica e os bons costumes. De acordo com o STJ “...A Corte Especial, amparada em julgados do STF, ostenta precedente no sentido de não exigir, para fins de ho-mologação de sentença estrangeira, a comprovação de que houve intimação da parte para todos os atos do processo, bastando, para fins de cumprimento da Res. nº 09/2005 do STJ, que a parte tenha tido ciência do trâmite do feito em curso perante a Justiça alie-nígena”. (SEC 6.551/EX, Rel. Ministra ELIANA CAL-MON, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/12/2012, DJe 20/02/2013).

• Código de Bustamante: o Brasil é signatário do Código de Bustamante (Convenção de Havana de 1928), promulgado pelo Decreto nº 18.871, de 13 de agosto de 1929, que sistematiza normas de di-reito internacional privado, e pode ser invocado em eventuais conflitos entre brasileiro e estrangeiro que pertença a um dos países signatários.

2.3.9. A NOVA LEI 12.874, DE 29 DE OU-

TUBRO DE 2013.

• a Lei 12.874, de 29 de outubro de 2013, acrescen-tou dois parágrafos ao art. 18 da LINDB. De acordo com o art. 18, caput, da LINDB, os brasileiros domi-

ciliados ou não no Brasil, que estejam no exterior, podem celebrar matrimônio perante a autoridade consular brasileira, que poderá, ainda, exercer as funções de tabelião e de oficial de registro civil em todos os atos alusivos, levados a efeito no estran-geiro. Igualmente, admite-se o registro de nasci-

mento e de óbito dos filhos de brasileiros ou brasi-leiras nascidos no país da sede do Consulado.

• a inovação legal confere novos poderes à auto-ridade consular brasileira, permitindo que cele-brem, ainda: separação consensual e o divórcio

consensual de brasileiros, não havendo filhos

menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo cons-tar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento (LINDB, art. 18, § 1º). No Brasil, a mesma redação é encontrada no CPC, art. 1.124-A, incluído pela Lei 11.441/2007, que passou a prever a separação e divórcio pela via administrativa, por escritura pública, ou extrajudicial.

• para a prática desses atos, é indispensável a assis-tência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, junta-

mente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não

se fazendo necessário que a assinatura do advo-gado conste da escritura pública (LINDB, art. 18,

§ 2º). É importante notar que a presente disposi-ção difere daquela prevista no CPC, art. 1.124-A, § 2º, pois a qualificação e assinatura do advogado, no Brasil, são obrigatórias.

• a nova Lei 12.894/2013 entrará em vigor 120 (cento e vinte) dias depois de oficialmente publicada, de acordo com o art. 3º. A contagem do prazo, quando estabelecido período de vacância, é realizada de acordo com a LC nº 95/98, art. 8º, § 1º. A novel lex foi publicada no dia 30/10/2013. Assim, entrará em vigor no dia 26/02/2014. Recordamos que, quando

for omissa a respeito da vacatio legis, no estrangei-ro, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admi-tida, se inicia 3 (três) meses depois de oficialmente publicada.

2.3.10. ANTINOMIAS OU LACUNAS DE

CONFLITO.

• antinomia: é a presença que duas ou mais normas válidas e que se revelam em conflito por apresenta-rem soluções diversas para o fato concreto.

• Quadro resumo:

métodos

de solu-

ções dos

conflitos:

critério cro-

nológico

a norma posterior preva-lece sobre a anterior

critério da

especiali-

dade

a norma especial preva-lece sobre a geral

critério hie-

rárquico

a norma superior preva-lece sobre a inferior

classi-

ficação

das anti-

nomias:

antinomia

de 1º Grau

a solução do conflito en-volve apenas um dos cri-térios acima

antinomia

de 2º Grau

se o desenlace do con-flito envolve dois dos critérios

conforme a

solução

Antinomia aparente: aquela que é soluciona-da segundo os métodos acima

Antinomia real: dife-rente da anterior, não há solução.

• teoria dodialogo das fontes: a ideia de que as leis devem ser aplicadas de forma isolada umas das outras é afastada pela teoria do diálogo das fontes, segundo a qual o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma unitária. A teoria do diálogo das fontes foi idealizada na Alemanha pelo jurista Erik Jayme, professor da Universidade de Helder-berg e trazida ao Brasil por Claudia Lima Marques,

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da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A teoria surge para fomentar a ideia de que o Direi-to deve ser interpretado como um todo de forma sistemática e coordenada. Segundo a teoria, uma norma jurídica não excluiria a aplicação da outra, como acontece com a adoção dos critérios clássicos para solução dos conflitos de normas (antinomias jurídicas) idealizados por Norberto Bobbio. Pela teoria, as normas não se excluiriam, mas se com-plementariam. Nas palavras do professor Flávio Tartuce, “a teoria do diálogo das fontes surge para substituir e superar os critérios clássicos de solução das antinomias jurídicas (hierárquico, especialidade e cronológico). Realmente, esse será o seu papel no futuro”. A jurista Claudia Lima Marques, após discor-rer sobre a exclusão da norma pela aplicação dos critérios clássicos de solução de antinomias, ensina que a “doutrina atualizada, porém, está a procura, hoje, mais da harmonia e da coordenação entre as normas do ordenamento jurídico (concebido como sistema) do que da exclusão”. A tese tem o fito de trazer ao intérprete uma nova ferramenta herme-nêutica hábil a solucionar problemas de conflito entre normas jurídicas (antinomias) no sentido de interpretá-las de forma coordenada e sistemática, em consonância com os preceitos constitucionais. Erik Jayme, em seu Curso Geral de Haia de 1995, ensinava que, em face do atual ‘pluralismo pós-mo-derno’ de um direito com fontes legislativas plúri-mas, ressurge a necessidade de coordenação entre leis no mesmo ordenamento, como exigência para um sistema jurídico eficiente e justo (Identitécultu-relle et intégration: le droit internationalprivépost-moderne. RecueildesCours, II, p. 60 e 251 e ss.).O uso da expressão do mestre, ‘diálogo das fontes’, é uma tentativa de expressar a necessidade de uma aplica-ção coerente das leis de direito privado, coexisten-tes no sistema. É a denominada ‘coerência derivada ou restaurada’ (cohérencedérivée ou restaurée), que, em um momento posterior à descodificação, à tópica e à microrrecodificação, procura uma efi-ciência não hierárquica, mas funcional do sistema plural e complexo de nosso direito contemporâneo, a evitar a ‘antinomia’, a ‘incompatibilidade’ ou a ‘não coerência’.Conforme ensina o professor Flávio Tar-tuce, “a primeira justificativa da aplicação da teoria do diálogo das fontes estaria na sua funcionalidade, pois atualmente o operador do Direito se depara com uma enorme quantidade de leis que leva o in-térprete a um verdadeiro desnorteio”. (http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI171735,101048-Da+teoria+do+dialogo+das+fontes).

II. CÓDIGO CIVIL: PARTE GERAL

3. PESSOAS

3.1. PESSOAS NATURAIS

• pessoa natural: é o ser humano a quem se atri-buem direitos e obrigações. Os animais e seres ina-

nimados, assim, não podem ser sujeitos de direito, mas objeto de relações ou situações jurídicas.

3.1.1. PERSONALIDADE. CAPACIDADE.

LEGITIMAÇÃO

• personalidade: significa a aptidão jurídica de exer-cer direitos e contrair obrigações.

• capacidade: divide-se em jurídica (de direito/gozo) e de fato (de exercício/ação). A primeira decorre da personalidade, significa capacidade de aquisição de direitos, reconhecida a qualquer ser humano, como o doente mental, a criança. A segunda é a ap-tidão de exercer os atos da vida civil por si mesmo, sem outra pessoa que o assista ou represente.

• capacidade plena e limitada: diferença que se faz caso o sujeito reúna as capacidades de direito e de fato ou somente a de direito.

• legitimação: aptidão especial exigida para a práti-ca de determinados atos. Ex. CC, arts. 496, 1.749, I, 1.687.

3.1.2. COMEÇO DA PERSONALIDADE.

NASCITURO. TEORIAS

• marca o início da personalidade jurídica: o nas-cimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (CC, art. 2º). O ser humano nasce com vida ao respirar, ainda que segundos depois lhe sobrevenha a morte, de acor-do com a LRP, art. 53, § 2º. Não é assim em outros diplomas alienígenas, que exigem, por exemplo, a sobrevida mínima de 24 horas (CC – espanhol).

• natimorto: é aquele que “nasceu sem vida”, não res-pirou; por tal condição, não possui personalidade jurídica. No entanto, para ele, segundo o Enunciado

01 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura”. Para determinar biologicamente se houve “respiração” procede-se ao exame clínico chamado de “docimasia hidrostá-tica de Galeno”.

• nascituro: é o ser concebido, mas não nascido. Em razão do provável nascimento com vida, o nasci-turo é protegido pelo ordenamento jurídico em função daquela projeção futura, por exemplo, nos arts. 542 (doação) e 1.779 (curatela do nascituro), todos do CC/2002. Vimos acima que a personalida-de jurídica inicia com o nascimento com vida. Com relação ao nascituro, a lei põe a salvo seus direitos desde a concepção. No entanto, os momentos “concepção” e “nascimento” são distintos, e somen-te o último é atributivo de personalidade. Para ex-plicar a posição jurídica do nascituro em relação à personalidade formaram-se, principalmente, três

teorias, são elas:

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Teorias a respeito da posição jurídica do nasci-

turo

Concepcio-

nista

a personalidade pode ser adquirida antes do nascimento, no momento da concepção, daí o nome que lhe é conferido. Todavia, os direitos pa-trimoniais oriundos de doação e he-rança, por exemplo, condicionam-se ao nascimento com vida.

Natalista

a personalidade jurídica é marcada pelo nascimento com vida. O nasci-turo, portanto, não tem personalida-de, mas proteção legal e direitos, que são amparados desde a concepção.

Personalida-

de -Condi-

cional

o nascituro é uma pessoa condicio-nal, porque sua personalidade jurí-dica está sob condição suspensiva do nascimento com vida, momento a partir do qual a personalidade se define.

Posição do

STF

não há uma posição certa a respeito da teoria adotada. No julgamento da ADI 3.510, afirmou-se: “... a proteção constitucional do direito à vida e os direitos infraconstitucionais do em-brião pré-implanto. O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria “natalista”, em contraposição às teorias “concepcionista” ou da “personalidade condicional”) ...”.

Posição do

STJ

o nascituro é sujeito de direitos, ad-mitindo-se contra ele, por exemplo, lesão a direito da personalidade e a caracterização de dano moral, à luz da teoria concepcionista. (AREsp 150297).

Atenção

nascituro é o concebido; concep-turo o não concebido. Com relação a este, na sucessão testamentária, podem ainda ser chamados a suce-der os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; são chamados de prole eventual (CC/art. 1.799, I e 1.800).

3.1.3. INCAPACIDADES

• incapazes: são as pessoas dotadas de capacidade de direito (de aquisição de direitos ou jurídica), mas

que, por razões diversas, não dispõem de capacida-de de fato (de ação). Inexiste incapacidade de direi-to, pois a incapacidade será sempre de fato, de acor-do com o CC, art. 1º. Incapaz, por outro lado, é todo aquele que possui restrição em relação aos atos da vida civil.

• de acordo com o grau de incapacidade: que varia entre absoluta (grau máximo) e relativa (grau míni-mo), haverá, conforme uma ou outra, representação ou assistência para a prática do ato. Será represen-

tado quem não possuir qualquer discernimento para a manifestação da vontade; assistido, aquele que possuir algum discernimento. De maneira geral, o ato praticado por absolutamente incapaz é nulo (CC, art. 166, I), e o feito por relativamente incapaz, anulável (CC, art. 171, I).

• Quadro resumo:

Conceitos (capacidade – incapacidade)

Plenamente

Capazes

Absolutamente

Incapazes

Relativamen-

te Incapazes

são aqueles dotados de capa-cidade de direito e de fato. A capa-cidade de direito é a aptidão que todos possuem de adquirir direitos e deveres da ordem civil (CC, art. 1º). Já a capacidade de fato ou de ação pode faltar em algumas pessoas, em razão da ida-de ou desenvol-vimento mental, por exemplo.

incapazes são os possuidores de capacidade de direito, mas SEM discerni-mento para a prática dos atos da vida civil. Lo-go, não dispõem de capacidade de fato ou de ação. Por tal fal-ta, a capacidade é limitada, sendo necessário que outra pessoa os substitua nos atos da vida civil.

i n c a p a z e s são os possui-dores de capa-cidade de di-reito, mas com discernimento R E D U Z I D O para a prática dos atos da vi-da civil. Logo, não dispõem de capacida-de de fato ou de ação. Por tal falta, é ne-cessário que outra pessoa complete o ato praticado.

3.1.3.1. A NOVA LEI 13.146, DE 06 DE

JULHO DE 2015

• novidades: com o “Estatuto da Pessoa com Deficiên-cia”, altera-se profundamente a sistemática das incapacidades previstas originalmente. Para que o candidato tenha bem presente as principais mu-danças que entrarão em vigor, elaboramos um qua-dro comparativo entre a redação original e a nova dos arts. 3º e 4º do Código Civil de 2002.

• vigência: a novel lei foi publicada do DOU (Diário Oficial da União) do dia 07 de julho de 2015, com prazo de vacatio legis de 180 dias, com relação aos novos arts. 3º e 4º do Código Civil. Assim, as altera-ções entrarão em vigor no dia 08 de janeiro de 2016, observadas as regras de contagem de prazo previs-tas no art. 8º, § 1º, da Lei Complementar 95/98.

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• Quadro resumo:

Absolutamente Incapazes

Redação original do

CC/2002

Com a alteração do

Novo Estatuto do

Deficiente

os menores de dezes-seis anos;

os que, por enfermi-dade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discerni-mento para a prática desses atos;

os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os meno-res de 16 (dezesseis) anos

* Nota: vide comentá-rios abaixo.

Relativamente Incapazes

Redação original do

CC/2002

Com a alteração do

Estatuto do Deficiente

os maiores de dezes-seis e menores de de-zoito anos

os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o dis-cernimento reduzido

os excepcionais, sem d e s e n v o l v i m e n t o mental completo

os pródigos

------

a capacidade dos ín-

dios será regulada por legislação especial

os maiores de dezes-seis e menores de de-zoito anos

os ébrios habituais e os viciados em tóxico

aqueles que, por causa transitória ou perma-nente, não puderem exprimir sua vontade

os pródigos

------

a capacidade dos in-

dígenas será regulada por legislação especial

• comentários às alterações do art. 3º do Código

Civil: a redação original do art. 3º do CC trazia três incisos, hipóteses nas quais o legislador conside-rava as pessoas absolutamente incapazes. Assim eram considerados: (i) os menores de dezesseis anos; (ii) os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática des-ses atos; (iii) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Pelo Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009, o Brasil promulgou a Con-venção de Nova York sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que seguiu os criterios do art. 5º, § 3º, da Constituição da República. Posteriormen-te, a Lei 13.146/2015 (Estatuto do Deficiente), que entra em vigor no dia 08 de janeiro de 2016 (art. 127), revogou os incisos I, II e III do art. 3º, manten-do apenas os menores de 16 anos como absoluta-mente incapazes, no caput do mesmo artigo. Em

relação aos deficientes (antigo inciso II), passa-se a reconhecer-lhes a plena capacidade civil, como regra, em qualquer caso (art. 6º). Ainda que neces-sário, a pessoa com deficiência reconhecidamente demonstrada, em casos mais extremos, não poderá ser interditada. Todavia, se não puder exprimir sua vontade, poderá se sujeitar ao processo de curatela. O critério é objetivo. Se a pessoa tiver alguma vul-nerabilidade, admite-se o processo de decisão apoia-da, como medida de promoção. A qualificação da curatela, como medida extraordinária, é limitada aos atos relacionados a direitos de natureza patri-

monial e negocial, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado (art. 85, caput, e § 2º). A definição da curatela não alcança o direito ao pró-prio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacida-de, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto (art. 85, § 1º). Notadamente em relação àqueles que, “mes-mo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade” (antigo inciso III), o legislador que antes os considerava absolutamente incapazes os coloca agora como relativamente incapazes, acres-centando, no novo art. 4º, III, que a causa pela qual a pessoa não pode exprimir sua vontade pode ser “transitória ou permanente”.

• comentários às alterações do art. 4º do Código

Civil: o novel Estatuto do Deficiente manteve as redações originais dos incisos I e IV do art. 4º do CC. Assim, continuam relativamente incapazes os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos e os pródigos. As novidades são os incisos II e III. Naquele, manteve-se a incapacidade relativa dos ébrios habituais e dos viciados em tóxico. No inci-so seguinte, foi suprimida a alusão aos “os excep-cionais, sem desenvolvimento mental completo”, e passou-se a considerar como “aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade”. Vale lembrar que ocorreu a migração des-ta condição de incapacidade do art. 3º, III, para o art. 4º, III, ou seja, era absolutamente incapaz e agora relativamente, com uma única diferença. A partir de agora, há expressa menção à “causa permanente” como consequência da falta de condições pessoais para a manifestação da vontade.

3.1.4 TEMAS DIVERSOS DE INCAPACI-

DADE

• ato praticados antes da interdição: podem ser nu-lificados, reclamando prova inequívoca, robusta e convincente da insanidade, protegendo-se a boa-fé das relações. A situação é diferente se o ato é pra-ticado após a interdição, pois aqui a incapacidade não demanda produção de prova, operando-se de pleno direito. Nesse sentido: STJ – Resp. 9.077.

• são válidos, em relação ao incapaz:

a) menor, entre 16 e 18 anos, que encobrir dolosa-mente a idade, no ato de obrigar-se, por ocultação ou declaração (CC, art. 180);

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b) menor de qualquer idade ou amental, que praticar ato ilícito, sendo que sua responsabilidade é subsi-diária e mitigada.

• índios: no CC/1916, os silvícolas eram relativa-mente incapazes. No CC/2002, por sua vez, o art. 4º, parágrafo único, além de alterar a nomenclatura de silvícolas para índios, compatibilizando o texto com a CR/1988, arts. 20, XI, e 231 e seguintes, reme-teu a solução de sua condição jurídica a respeito da capacidade à legislação especial (Estatuto do índio, Lei 6.001/73). A Lei 13.146/2015 (Estatuto do De-

ficiente), que vigorará a partir do dia 07 de janeiro de 2016 (art. 127), alterou a terminologia de “índios” para “indígenas”, conforme a nova redação conferi-da ao art. 4º, parágrafo único, do CC. Vejamos algu-

mas questões envolvendo os indígenas:

a) são nulos os negócios entre o índio não integrado

(absolutamente incapaz) e qualquer pessoa es-tranha à comunidade, sem a assistência do órgão tutelar competente (FUNAI – Fundação Nacional do Índio, Lei 5.371/67);

b) é inaplicável a regra se o índio revelar consciência

e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos

c) emancipação do índio (liberação do regime tute-lar): é admitido, com aquisição da plena capacidade civil, mediante o cumprimentos dos seguintes re-quisitos:

pedido de qualquer índio;

exige-se decisão judicial, após instrução sumária

ouvidos o órgão de assistência ao índio, FUNAI e Mi-nistério Público

transcrição da sentença concessiva no registro civil

idade mínima de 21 anos;

conhecimento da língua portuguesa;

habilitação para o exercício de atividade útil, na co-munhão nacional;

razoável compreensão dos usos e costumes da co-munhão nacional.

d) integração do índio

pedido escrito do interessado à FUNAI

o órgão de assistência, onde em declaração formal, reconhece a condição de integrado

os efeitos são de cessação das restrições à capaci-dade, desde que, homologado judicialmente o ato, seja inscrito no registro civil.

idade mínima de 21 anos

conhecimento da língua portuguesa

habilitação para o exercício de atividade útil, na co-munhão nacional

razoável compreensão dos usos e costumes da co-munhão nacional.

e) emancipação da comunidade

requerimento da maioria dos membros

demonstração da plena integração na comunhão

nacional

decreto presidencial

f) nascimento: enquanto não integrados, não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em livro próprio do órgão federal de assis-tência aos índios (LRP, art. 50, § 2º).

g) índios podem ser:

integrados

em via de integração

não integrados ou isolados.

• ATENÇÃO: segundo a CF/1988, art. 129, V, é atribui-ção do MPF defender judicialmente os direitos e in-teresses das populações indígenas, a quem caberá, ainda, intervir nos termos da CF/1988, art. 232.

3.1.5. REPRESENTAÇÃO. AUTOCON-

TRATO OU CONTRATO CONSIGO MES-

MO (CC, ARTS. 115 A 120)

• noções gerais de representação: representação é uma relação jurídica em função da qual uma pessoa se obriga de forma direta perante terceiro, por meio de ato praticado por outra, o representante, a quem são conferidos os poderes por lei ou mandato. Aliás, de acordo com o CC, art.120, “os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas nor-mas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código”.

• partes: a representação é a atuação em nome de outrem, assim:

a) representante: quem pratica o ato, logo, a quem são conferidos poderes

b) representado: pessoa em nome de quem o ato é pra-ticado

• origem: a representação pode ser (CC, art. 115):

a) legal: a qual serve aos interesses do incapaz (ex. CC, arts. 115, 1ª parte, 1.634, V, 1.690 e 1.747, I). Trata-se de representação exercida no interesse do repre-sentado.

b) contratual: convencional ou voluntária, a que decor-re de mandado expresso ou tácito, verbal ou escrito (ex. CC, art. 115, 2ª parte, 653 a 692 e 120, 2ª parte). Divide-se em:

1. direta: como no contrato de mandato;

2. indireta ou imperfeita: quando não há mandato, co-mo ocorre na comissão (ex. CC, art. 693 a 709).

• regras importantes sobre a representação:

a) a manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado (CC, art. 116)

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b) o mandatário que exceder os poderes do manda-to, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe não ratificar os atos (CC, art. 665), podendo responder por tais (CC, art. 118).

c) o representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem (CC, art. 118)

d) é anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou (CC, art. 119)

e) é de 180 dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadên-cia para pleitear-se a anulação na situação acima (CC, art. 119, parágrafo único)

• noções gerais de contrato consigo mesmo (auto-

contrato): em regra, o representante atua em nome de uma das partes do negócio jurídico. No entanto, ambas as partes podem se representar por meio do mesmo representante, quando ocorrerá uma dupla

representação, ou seja, temos as partes (repre-sentados), mais o terceiro (representante). Em ou-tra situação, uma das partes representa a outra no negócio, e nesse caso, possui dupla qualidade, ou seja, é parte e representante do outro figurante no negócio, como ocorre no mandato em causa pró-

pria (CC, art. 685), pelo qual o mandatário aufere poderes para alienar determinado bem, a terceiros ou para si próprio. Em ambas as situações, haverá autocontrato ou contrato consigo mesmo.

• consequências do autocontrato: diz o CC, art. 117, caput, “Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo”. Assim:

a) admite-se o autocontrato, desde que autorizado pela a lei ou representado

b) de acordo com o STJ, não é válida a cláusula de man-dato inserta nos contratos quando houver conflito

de interesses entre representado e representante, de modo a afetar a vontade que constitui a subs-tância do ato jurídico (STJ, AG 292226, Re. Ministra Nancy Andrighi)

c) segundo o verbete da Súmula 60 do STJ: “É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mu-tuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste”.

d) dispõe o CDC, art. 51, VIII, “São nulas de pleno direi-to, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor”

e) nas situações de autocontrato, tem-se como cele-brado pelo representante o negócio realizado por

aquele em quem os poderes houverem sido subes-tabelecidos (autocontrato indireto)

3.1.6. MAIORIDADE. EMANCIPAÇÃO

(CC, ART. 5º, I A V)

• noções gerais de maioridade: a menoridade pe-lo CC, art. 5º, caput, cessa aos 18 anos completos, quando a pessoa adquire a capacidade plena, mo-mento a partir do qual poderá exercer os atos da vida civil por si só. Relembramos que a capacidade de fato ou de exercício é contemplada ao se atingir a maioridade, pois a capacidade de direito é adqui-rida ao nascer com vida, ressalvados os direitos do nascituro, desde a concepção (CC, arts. 1º e 2º). Se-gundo o Enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil

do CJF, “A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei nº 8.213/91, que regula específica situa-ção de dependência econômica para fins previdenciá-rios e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial”.

• noções gerais de emancipação: como vimos aci-ma, cessa a menoridade aos 18 anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil (CC, art. 5º, caput). A emancipa-ção, assim, é a aquisição da capacidade de fato an-tes daquela idade legal, ou seja, com ela antecipa--se a capacidade de exercício.

• espécies: em relação à origem, a emancipação po-derá ser:

• voluntária ou direta:

a) concessão dos pais, ou de um deles na falta do ou-tro

b) mediante instrumento público, independentemen-te de homologação judicial

c) se o menor tiver 16 anos completos (CC, art. 5º, pará-grafo único, I, 1ª parte).

• judicial:

a) menor sob tutela

b) por sentença do juiz, ouvido o tutor

c) se o menor tiver 16 anos completos

• tácita ou legal:

a) casamento: mesmo que ocorra anulação ou divór-cio, remanesce o efeito da antecipação. (CC, art. 5º, parágrafo único)

b) exercício de emprego público efetivo: exige-se a nomeação em caráter efetivo.

c) colação de grau em curso de ensino superior: aqui fica evidente o amadurecimento do menor.

d) estabelecimento civil ou comercial ou existência de re-lação de emprego, desde que, em função deles, o me-nor de 16 anos completos tenha economia própria: aquele que se mantém por seus próprios meios

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demonstra maturidade e experiência para conduzir o próprio negócio, daí porque a razão da emancipa-ção tácita.

3.1.7. EXTINÇÃO DA PESSOA NATU-

RAL. COMORIÊNCIA

• noções gerais de extinção da pessoa: a existência da pessoa natural termina com a morte, que pode ser real ou física e presumida, com ou sem declara-ção de ausência.

• espécies de morte:

a) morte real ou física: ocorre com a cessação das atividades encefálicas, conforme o art. 3º da Lei 9.434/97. A prova da morte é feita mediante certi-dão de óbito, ou mediante justificação para o assen-to de óbito. (LRP, art. 77 e 88).

b) morte presumida com declaração judicial de ausên-cia: haverá morte presumida com declaração de au-sência nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva, conforme os arts. 22 a 39 do CC, observadas os ritos dos arts. 1.161 a 1.168, todos do CPC. Assim, teremos sucessão definitiva do ausente em 2 casos:

1. 10 anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, po-derão os interessados requerer a sucessão definiti-va e o levantamento das cauções prestadas (CC, art. 37);

2. provando-se que o ausente conta 80 anos de ida-

de, e que de 5 anos datam as últimas notícias dele (CC, art. 38). O que se pretende, aqui, é a declaração de ausência, tendo em vista que o desaparecido su-miu e não deixou representante (CC, art. 22);

c) morte presumida sem declaração de ausência: as hi-póteses desta modalidade estão elencadas no CC, art. 7º, I e II, e são elas:

1. se for extremamente provável a morte de quem es-tava em perigo de vida (ex. acidente aéreo);

2. se alguém, desaparecido em campanha ou feito pri-sioneiro, não for encontrado até 02 anos após o tér-mino da guerra. Trata-se de procedimento judicial que segue o procedimento da justificação (LRP, art. 88). Aqui a ação é voltada a declarar a morte.

d) morte simultânea ou comoriência: ocorre quando, em um só momento (identidade de tempo, ocasião, e não mesmo evento), dois ou mais indivíduos fa-lecerem, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos (CC, art. 8º). Para que se reconheça juridicidade a tal fato, é necessário que entre os indivíduos mortos se verifique relação sucessória, ou seja, que um deles seja herdeiro ou beneficiário de outro. A presunção de morte simul-tânea afasta a possibilidade de sucessão entre eles. Importa dizer que um não herda do outro. Por outro lado, o momento que ocorreu a morte é determina-

do por perícia médica, que se for inconclusiva incide a presunção legal. Trata-se de presunção relativa ( juris tantum).

e) morte civil: presente na idade média e moderna, sobretudo para os apenados por longos períodos, como aqueles que recebiam prisão perpétua, resul-tava na privação do condenado de todos os direitos civis. Pouco a pouco foi abolida das legislações, e não mais remanesce no direito moderno. A doutri-na aponta um resquício dela no CC, art. 1.816.

3.2. AUSÊNCIA (CC, ART. 22 A 39)

• noções gerais: de acordo com a definição legal, a teor do CC, art. 22, desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem cai-ba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Ain-da que tenha deixado mandatário, se não quiser, não puder exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes, também se declarará a ausência (CC, art. 23). Vale lembrar que, se não houver bens, não é necessária a nomeação de curador, pois o seu papel recai sobre os “bens”, e não sobre a “pessoa” do ausente.

• fixação dos poderes do curador: quando o juiz declarar a ausência e nomear curador, fixará os poderes e obrigações, segundo as circunstâncias, observando, ainda, no que forem aplicáveis, as re-gras a respeito dos tutores e curadores (CC, art. 24 e 1.728 a 1.783).

• curador: CC, art. 25, § 1º a 3º:

a) legítimo:

b) cônjuge: desde que não esteja separado judicial-mente ou de fato por mais de 2 anos, antes da declaração da ausência. Segundo o Enunciado 97

da I Jornada de Direito Civil do CJF, a disposição é aplicável ao companheiro.

c) aos pais ou descendentes

d) entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.

e) dativo: na falta de todos, o juiz nomeará curador.

• sucessão provisória:

a) passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente (curadoria legitima ou dativa);

b) ou 3 anos, se deixou representante ou procurador;

c) os interessados podem requerer a abertura da su-cessão provisória (CC, art. 26). Os “interessados” são aqueles do art. 27 do CC:

1. cônjuge não separado judicialmente;

2. herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

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3. aqueles que tenham direito sobre os bens do au-sente dependente de sua morte;

4. credores de obrigações vencidas e não pagas).

• ATENÇÃO: O MP possui legitimidade subsidiária pa-ra requerer a abertura da sucessão provisória, se os interessados não fizerem nos prazos acima, ou se estes forem incapazes (CC, art. 28).

• conversão dos bens: o juiz, se julgar conveniente (faculdade), pode converter os bens móveis, sujei-tos a deterioração ou extravio, em imóveis ou títu-los da União (CC, art. 29). Por sua vez, o imóveis só poderão ser alienados para evitar ruina, se ordena-dos pelo juiz, salvo em caso de desapropriação ou hipoteca (CC, 31).

• imissão na posse: os herdeiros podem imitir na posse dos bens, mas darão garantia, em penhores e hipoteca, equivalentes aos quinhões respectivos. Os herdeiros necessários, todavia, ficam dispensa-dos de garantir o quinhão (ascendente, descenden-te e ao cônjuge). Caso o herdeiro comum não possa dar garantia, é descabida a imissão na posse. Nesse caso, os bens ficam sob administração do curador, ou outro herdeiro, que preste a garantia (CC, art. 30). Apesar de excluído, por não prestar garantia, o herdeiro poderá ter direito aos rendimentos do quinhão que lhe tocaria, se justificar que tal valor será utilizado para a sua subsistência (CC, art. 34). Como consequência da imissão na posse dos bens, os sucessores provisórios representarão ativa e pas-sivamente o ausente nas ações pendentes e futuras (CC, art. 31).

• frutos e rendimentos: em relação a estes, duas re-gras:

a) para sucessores provisórios ascendente, descen-

dente e cônjuge, serão seus os frutos e rendimen-tos dos bens do ausente;

b) os demais sucessores, farão seus 50% deles, e os outros 50% serão capitalizados, em imóveis ou tí-tulos da União, segundo o representante do MP, além da obrigação de prestação de contas anual. Tal capitalização visa a restituição do ausente que, se desaparecer voluntária e injustificadamente, per-derá em favor do sucessor, o montante dos frutos e rendimentos capitalizados (CC, art. 33).

• data certa do falecimento: se provada a data certa do falecimento, considera-se a partir deste momen-to aberta a sucessão. (CC, art. 35).

• retorno do ausente: uma vez que retorne o ausen-te, ou provada sua existência, depois de estabeleci-da a sucessão provisória, cessarão as vantagens dos sucessores nela imitidos, os quais deverão, ainda, conservar e preservar os bens (CC, art. 36).

• sucessão definitiva: ocorre em dois casos:

a) 10 anos depois de passada em julgado a senten-ça que concede a abertura da sucessão provisória,

os interessados poderão requerer a definitiva (CC, art. 37).

b) pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta 80 anos de ida-

de e que de 5 anos datam as últimas notícias dele (CC, art. 38).

• regresso do ausente ou de seu herdeiro neces-

sário: 10 anos depois de aberta a sucessão defini-tiva, retornando o ausente, ou algum de seus des-cendentes ou ascendentes, todos eles receberão os bens no estado em que se encontrarem, os sub--rogados em seu lugar, ou o preço que houverem recebido, se alienados depois daquele tempo. (CC, art. 39)

• vacância: nos 10 anos seguintes à abertura da su-cessão definitiva, caso não retorne o ausente ou não promova a sucessão definitiva, os bens serão arrecadados como vagos, passando a propriedade do Município ou do Distrito Federal, se neles situa-do, ou à União, se estiverem em território federal (CC, art. 39, parágrafo único).

• Como será com o NOVO CPC: a Lei 13.115/2015, que entrará em vigor no próximo dia 16 de março de 2016, estabelece nos arts. 744 e 745 o rito a ser observado em relação aos bens do ausente.

3.3. DO REGISTRO E DA AVERBAÇÃO

• de acordo com os arts. 9º e 10 do CC/2002, os atos neles descritos estão sujeitos a registro ou aver-bação, com a finalidade de conferir publicidade do estado das pessoas, assegurando eventuais di-reitos de terceiros. Devem ser observados, em tais atos, as disposições da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73).

Registrados

(CC, art. 9º, I a IV)

Averbados

(CC, art. 10, I e II)

nascimentos

casamentos

óbitos

emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz

interdição por incapacida-de absoluta ou relativa

sentença declaratória de ausência e de morte presu-mida.

nulidade ou anula-ção do casamento

divórcio

separação judicial

restabelecimento da sociedade conju-gal

atos jud. ou extr. que declararem ou reconhecerem a fi-liação

3.4. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA

• finalidade: distinguir a posição de um titular de direitos e obrigações nas relações jurídicas, em re-lação aos demais, importando segurança dos negó-cios e estabilidade das famílias e sociedade.

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• Elementos de individualização:

3.4.1. NOME. (CC, ART. 16 A 19)

• nome: nos artigos 16 a 19 o CC/2002 dispõe sobre o nome, nele compreendido o prenome (simples ou composto) e o sobrenome, apelido familiar ou patronímico, bem como o pseudônimo adotado para atividades lícitas, o qual goza da proteção que se dá ao nome (elementos fundamentais). Outros podem ser os elementos componentes do nome, como o agnome, a partícula, o apelido ou alcunha, o hipocorístico, os títulos nobiliários, os heterôni-mos, entre outros (elementos secundários). Todos os preceitos a respeito do nome civil da pessoa natural estão inseridos no campo dos direitos da personalidade e em razão disso são inalienáveis e imprescritíveis, e representam o dado exterior que diferencia uma pessoa das demais, tanto na família, quanto nas relações em sociedade.

• natureza jurídica do nome: são variadas as teorias que existem a respeito da natureza jurídica do no-me, entre elas: da propriedade, da propriedade sui generis, negativistas, da personalidade. O nome é um direito de personalidade, como o direito à vida, honra, etc.

• elementos: compõe-se o nome do prenome (sim-ples, composto) e do sobrenome (apelido familiar ou patronímico). Poderá compor-se, ainda, do ag-nome, que é o sinal que diferencia uma pessoa de outra, da mesma família, que contenha o mesmo prenome e sobrenome, p. ex, Filho, Neto, Segundo. É importante que sejam observadas as disposições da Lei 6.015/73 em relação ao nome, especialmente aquela do art. 55 (proibição do registro do nome que exponha a ridículo o portador).

• ordem dos apelidos de família: a lei não faz ne-nhuma exigência no que tange à observância de determinada ordem quanto aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do indivíduo ou por ocasião da sua posterior retificação. Ade-mais, inexiste proibição legal de que a ordem do so-

brenome dos filhos seja distinta daquela presente no sobrenome dos pais (STJ – Info 513).

• títulos nobiliários, eclesiásticos e os honoríficos: são as às qualificações de nobreza, religiosas e ou-tras que acompanham o nome pelo qual a pessoa é conhecida, p. ex, Príncipe, Dom, ou Cardeal; lembra-mos alguns notáveis nomes assim grifados: Viscon-de de Taunay, Duque de Caxias, Príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança e Dom Evarismo Arns.

• pseudônimo: segundo o CC/art. 19, e desde que adotado para atividades lícitas, possui a proteção que se dá ao nome. Conhecido por nome fictício ou falso nome, este elemento goza da proteção legal quando utilizado para certas atividades nas quais a pessoa é conhecida, como na arte, literatura ou religião. O que importa para invocar a proteção legal é a sua utilização, mesmo que não ostente a notoriedade, a qual não é exigida no preceito des-tacado acima; a proteção conferida ao pseudônimo, enquanto direito de personalidade, não é admitida em toda e qualquer circunstância; exige-se a lici-tude das atividades para que se possa reclamar de eventuais perdas e danos, em razão do uso não au-torizado; lembramos alguns notáveis conhecidos por seu pseudônimo: Jango (João Belchior Marques Goulart); Chico Xavier (Francisco de Paula Cândido Xavier); Pelé (Edson Arantes do Nascimento); Garrin-cha (Manuel Francisco dos Santos). Lembramos, ain-da, que a heterônímia é alcançada pela norma em apreço (CC, art. 19), quando utilizada em atividades lícitas. Exemplificamos com o poeta e escritor por-tuguês Fernando Pessoa, que, em suas obras literá-rias, se desdobrou em múltiplas personalidades, as-sinando-as como, entre outros, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.

• regra da imutabilidade relativa do nome: so-mente por exceção e motivadamente, e caso se apresente necessário, será admitido alterar o pre-nome. Assim, não é absoluta a imutabilidade ou definitividade do nome (STJ – Info 513)

• decisões do STJ, apelidos de família:

a) apelidos da família de origem, porque identifi-

cadores da estirpe, a imutabilidade é absoluta. Tratando-se de norma cogente como garantia de segurança jurídica, o sobrenome de família consti-tui sinal identificador da origem do indivíduo. As-sim, neste caso, vedam-se as supressões (STJ – Info 460)

b) em caso concreto, no qual se identifica justo motivo no pleito do recorrente de supressão do patroními-co paterno do seu nome, pois, abandonado pelo pai desde tenra idade, foi criado exclusivamente pe-la mãe e pela avó materna – abandono afetivo (STJ, REsp 1304718 / SP)

c) As regras que relativizam o princípio da imutabi-lidade dos registros públicos não contemplam a possibilidade de exclusão do patronímico paterno por razões de ordem religiosa – especialmente se

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a supressão pretendida prejudica o apelido familiar, tornando impossível a identificação do indivíduo com seus ascendentes paternos (STJ, REsp 1189158 / SP)

3.4.2. ALTERAÇÃO DO PRENOME

• no quadro a seguir, ilustramos as hipóteses de al-teração do nome, diferenciando-as em relação ao prenome e ao sobrenome, terminologias adotadas pelo CC, art. 16.

HIPÓTESES DE ALTERAÇÃO DO PRE-

NOME DE ACORDO COM A LEI 6.015/73

E PRECEDENTES DO STJ

• alteração do nome, sem motivação: de acordo com a LRP, art. 56, o interessado, nº 1.º ano após ter

atingido a maioridade civil poderá, pessoalmen-

te ou por procurador bastante, alterar o nome (prenome e sobrenome), desde que não prejudi-

que os apelidos de família, averbando-se a altera-ção que será publicada pela imprensa (obs: admite--se a forma administrativa ou judicial). Nesse caso, é habitual o acréscimo de apelidos, nome de uso ou sobrenomes.

a) prazo: neste caso, o prazo é decadencial de 1 ano.

b) contagem: a contagem é iniciada a partir da maio-

ridade (CC, art. 5º, caput). Antes dos 18 anos, o me-nor poderá ser emancipado, o que faz cessar-lhe a incapacidade. Porém, a emancipação não inicia o prazo decadencial.

• alteração por exceção e motivadamente, ouvi-

do o Ministério Público: diz a LRP, art. 57, caput, que a alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Mi-

nistério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela impren-sa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.

a) prazo: não há

b) não é absoluta a imutabilidade do nome (STJ – Info 145)

c) admite-se a alteração por tal fundamento aos me-nores, observadas as regras de representação e as-sistência (STJ, REsp 345456)

• alteração do nome com erros de pronta verifi-

cação: conforme dissemos acima, a parte final do preceito, LRP, art. 110, refere-se aos erros que não

exijam qualquer indagação para a constatação

imediata de necessidade de sua correção, os quais poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial

de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de pagamento de selos e ta-xas, após manifestação conclusiva do Ministério

Público.

a) admite-se a correção pelo próprio oficial, mediante provocação

b) poderão fazê-lo o interessado, o representante le-gal ou convencional

c) independe do pagamento de selos e taxas

d) exige-se a participação do Ministério Público

• Outras situações legais ou jurisprudências de

alteração do nome

1. o nome abreviado, usado como firma comercial re-gistrada ou em atividade profissional (LRP, art. 57, § 1º);

2. substituição ou inclusão por apelidos públicos no-tórios (LRP, art. 58);

3. em razão de fundada coação decorrente de colabo-ração com a apuração em crime, mediante senten-ça, ouvido o MP (LRP, art. 58, parágrafo único);

4. se o prenome expor o titular ao ridículo (LRP, art. 55, parágrafo único);

5. quando ocorrer erro gráfico (LRP, art. 110);

6. homonímia;

7. substituição por prenome de uso, aquele pelo qual a pessoa é conhecida;

8. em caso de adoção (ECA/art. 47, § 5º);

9. para a tradução de nome estrangeiro, quando este passe a residir em definitivo no Brasil;

10. em decorrência de cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo).

3.4.3. ALTERAÇÃO DO SOBRENOME

HIPÓTESES DE ALTERAÇÃO DO SOBRE-

NOME DE ACORDO COM A LEI 6.015/73

E PRECEDENTES DO STJ

• alteração do nome, sem motivação: de acordo com a LRP, art. 56, o interessado, nº 1.º ano após ter

atingido a maioridade civil (aos 18 anos) poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alte-rar o nome (prenome e sobrenome), desde que não

prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa (obs: admite-se a forma administrativa ou judicial). Neste caso, é habitual o acréscimo de apelidos, nome de uso ou sobrenomes.

prazo: neste caso, o prazo é decadencial de 01 ano.

contagem: a contagem é iniciada a partir da maio-

ridade (CC, art. 5º, caput). Antes dos 18 anos, o me-nor poderá ser emancipado, cessando-lhe a inca-pacidade. Porém, a emancipação não inicia o prazo decadencial.

• alteração por exceção e motivadamente, ouvi-

do o Ministério Público: diz a LRP, art. 57, caput, que a alteração posterior de nome, somente por

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que ressalvados os direitos de terceiros e apuradas as razões invocadas pelos cônjuges para tal pedido” (STJ: REsp 821807 / PR, rel. Ministra Nancy Andrigui). O Novo CPC/2015 – vimos acima no capítulo dos di-reitos de família – dispõe de procedimento expecial para alteração dos regime de bens, conforme o art. 734.

22.12. ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDI-

TÁRIA E RESTRIÇÃO AOS BENS DA LE-

GÍTIMA

• noções gerais (1ª parte): de acordo com o art. 2.041 do CC: “As disposições deste Código relativas à ordem da vocação hereditária (arts. 1.829 a 1.844) não se aplicam à sucessão aberta antes de sua vi-gência, prevalecendo o disposto na lei anterior (Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916)”. Por conse-guinte, as normas do Cód. Civil de 2002 a respeito da ordem de vocação hereditária somente serão aplicáveis para sucessão aberta após a sua vigência. Portanto, se o autor da herança falecer antes da en-trada em vigor do Novo Código, as regras disciplina-doras da sucessão serão aquelas do Código Civil an-tigo. Igualmente, regula a sucessão e a legitimação para suceder – a aptidão para herdar ou a qualidade para suceder – a lei vigente ao tempo da abertura daquela (CC, art. 1.787).

• noções gerais (2ª parte): a “legítima é a porção in-disponível de bens de que o testador não pode dis-por por estar reservada aos herdeiros necessários: descendente, ascendente e cônjuge sobrevivente” (Diniz, Maria Helena, op. cit, pág. 1350). Segundo o art. 1.848 do CC: “Salvo se houver justa causa, de-clarada no testamento, não pode o testador esta-belecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabi-lidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima”. Para que a restrição da legítima tenha validade e eficácia, exige-se que a devida justifica-ção, feita em testamento, dos motivos pelos quais o testador quer limitar a legítima do herdeiro neces-sário. De acordo com o art. 2.042 do CC: “Aplica-se o disposto no caput do art. 1.848, quando aberta a su-cessão no prazo de um ano após a entrada em vigor deste Código, ainda que o testamento tenha sido feito na vigência do anterior, Lei n. 3.071, de 1o de janeiro de 1916; se, no prazo, o testador não aditar o testamento para declarar a justa causa de cláusula aposta à legítima, não subsistirá a restrição”. Portan-to, o testado terá um ano após vigorar o Cód. Civil de 2002 para promover o aditamento do testamen-to sendo que, não o fazendo, a restrição legitimaria, ainda que sob a égide da lei passada, não subsistira.

22.13. VIGÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES

PROCESSUAIS, ADMINISTRATIVAS OU

PENAIS

• noções gerais: preceitua o art. 2.043 do CC: “Até que por outra forma se disciplinem, continuam

em vigor as disposições de natureza processual, administrativa ou penal, constantes de leis cujos preceitos de natureza civil hajam sido incorporados a este Código”. De acordo com Maria Helena Diniz, “o novo Código Civil, acertadamente, contém, em sua maior parte, normas gerais, de caráter substan-tivo, que procuram definir as instituições jurídicas, por ele regidas, ressaltando seus fins e efeitos, dei-xando os pormenores à leias especiais, bem como a disciplina de fatos polêmicos engendrados, pelo avanço tecnológico, ou de situações que exigem construção doutrinária ou jurisprudencial para delinear os seus contornos (...) Ficou adstrito às matérias próprias do direito civil e empresarial, dei-xou até mesmo de lado as normas adjetivas, abar-cando tão somente as intimamente relacionadas com os temas de direito material por ele tratados. Continuam tendo vigor as disposições de natureza processual (p. ex., os arts. 3º, § 2º, 34 a 37 e 40, § 2º, da Lei n. 6.015/77) administrativas ou penal conti-das em normas, cujos preceitos de natureza civil forma incorporados ao novo Código Civil, até que por outra forma sejam disciplinadas. Nada obsta, ju-ridicamente, a que leis adjetivas, administrativas e penais continuem vigorando e incidindo nas ques-tões intimamente relacionas com o direito civil, por serem de ordem pública, sendo reflexos da ordem jurídica, que as reconhece, permitindo sua incidên-cia, apesar de anteriores à Lei 10.406/2002” (Código Civil Anotado, 16ed, Saraiva, São Paulo, 2012, anota-ções ao art. 2.043).

22.14. DATA DA ENTRADA EM VIGOR

DO NOVO CÓDIGO CIVIL

• noções gerais: estabelece o art. 2.044 do CC: “Es-te Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação”. O Cód. Civil de 2002 foi publicado no Diário Oficial da União no dia 11-01-2002, com vaca-tio legis de um ano. De acordo com o art. 8º, § 1º, da Lei Complementar n. 95/98, incluído pela Lei Com-plementar n. 107/91, “A contagem do prazo para en-trada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publica-ção e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral”. Assim, conforme sedimentou o STJ, “a entrada em vigor do novo código ocorreu no dia 11 de janeiro de 2003” (STJ: AgRg no REsp 1285996/RS).

SÚMULAS APLICÁVEIS

1. STF – PARTE GERAL

Morte presumida

STF – 331: É legítima a incidência do imposto de trans-missão “causa mortis” no inventário por morte presu-mida.

Direitos da personalidade

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Direito Civil 541

STF – 386: Pela execução de obra musical por artistas re-munerados é devido direito autoral, não exigível quan-do a orquestra for de amadores.

Pessoa jurídica

STF – 629: A impetração de mandado de segurança co-letivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Domicílio

STF – 483: É dispensável a prova da necessidade, na retomada de prédio situado em localidade para onde o proprietário pretende transferir residência, salvo se mantiver, também, a anterior, quando dita prova será exigida.

STF – 363: A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabeleci-mento, em que se praticou o ato.

Bens

STF – 650: Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em Passado remoto.

STF – 487: Será deferida a posse a quem, evidentemen-te, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada.

STF – 480: Pertencem ao domínio e administração da União, nos termos dos arts. 4º, IV, e 186, da Constituição Federal de 1967, as terras ocupadas por silvícolas. Ver:

CF/1988, art. 20, XI, 231, § 2°, 232.

STF – 479: As margens dos rios navegáveis são de do-mínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização. Ver: CF/1988, art.

20, III.

STF – 477: As concessões de terras devolutas situadas na faixa de fronteira, feitas pelos estados, autorizam, ape-nas, o uso, permanecendo o domínio com a união, ain-da que se mantenha inerte ou tolerante, em relação aos possuidores. Ver: CF/1988, art. 20, II, 26, IV e 225, § 5°.

STF – 340: Desde a vigência do código civil, os bens do-minicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.

Atos ilícitos

STF – 562: Na indenização de danos materiais decorren-tes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizan-do-se, para esse fim, dentre outros critérios, os índices de correção monetária.

STF – 529: Subsiste a responsabilidade do empregador pela indenização decorrente de acidente do trabalho, quando o segurador, por haver entrado em liquidação, ou por outro motivo, não se encontrar em condições fi-nanceiras, de efetuar, na forma da lei, o pagamento que o seguro obrigatório visava garantir.

STF – 491: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remune-rado.

STF – 261: Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.

STF – 229: A indenização acidentária não exclui a do di-reito comum, em caso de dolo ou culpa grave do em-pregador.

STF – 35: Em caso de acidente do trabalho ou de trans-porte, a concubina tem direito de ser indenizada pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o matrimônio.

STF – 28: O estabelecimento bancário é responsável pe-lo pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

Prescrição

STF – 600: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

STF – 443: A prescrição das prestações anteriores ao pe-ríodo previsto em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio direito reclama-do, ou a situação jurídica de que ele resulta.

STF – 383: A prescrição em favor da Fazenda Pública re-começa a correr, por dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

STF – 154: Simples vistoria não interrompe a prescrição.

STF – 150: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

STF – 149: É imprescritível a ação de investigação de pa-ternidade, mas não o é a de petição de herança.

STF – 259: Para produzir efeito em juízo não é necessá-ria a inscrição, no registro público, de documentos de procedência estrangeira, autenticados por via consular.

Decadência

STF – 632: É constitucional lei que fixa o prazo de de-cadência para a impetração de mandado de segurança.

Prova

STF – 442: A inscrição do contrato de locação no regis-tro de imóveis, para a validade da cláusula de vigência contra o adquirente do imóvel, ou perante terceiros, dis-pensa a transcrição no registro de títulos e documentos.

STF – 341: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.

STF – 420: Não se homologa sentença proferida no es-trangeiro sem prova do trânsito em julgado.

STF – 279: Para simples reexame de prova não cabe re-curso extraordinário.

STF – 259: Para produzir efeito em juízo não é necessá-ria a inscrição, no registro público, de documentos de procedência estrangeira, autenticados por via consular.

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STF – 231: O revel, em processo civil, pode produzir pro-vas, desde que compareça em tempo oportuno.

2. STJ – PARTE GERAL

Direitos da personalidade

STJ – 404: É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativa-ção de seu nome em bancos de dados e cadastros.

STJ – 403: Independe de prova do prejuízo a indeniza-ção pela publicação não autorizada de imagem de pes-soa com fins econômicos ou comerciais.

STJ – 359: Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição.

STJ – 261: A cobrança de direitos autorais pela retrans-missão radiofônica de músicas, em estabelecimentos hoteleiros, deve ser feita conforme a taxa média de utili-zação do equipamento, apurada em liquidação.

STJ – 228: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.

STJ – 221: São civilmente responsáveis pelo ressarcimen-to de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veícu-lo de divulgação.

STJ – 63: São devidos direitos autorais pela retransmis-são radiofônica de músicas em estabelecimentos co-merciais.

Pessoa jurídica

STJ – 227: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

STJ – 324: Compete à Justiça Federal processar e jul-gar ações de que participa a Fundação Habitacional do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, su-pervisionada pelo Ministério do Exército.

STJ – 421: Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença.

STJ – 42: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de eco-nomia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

STJ – 333: Cabe mandado de segurança contra ato pra-ticado em licitação promovida por sociedade de econo-mia mista ou empresa pública.

STJ – 389: A comprovação do pagamento do “custo do serviço” referente ao fornecimento de certidão de assentamentos constantes dos livros da companhia é requisito de procedibilidade da ação de exibição de do-cumentos ajuizada em face da sociedade anônima.

STJ – 481: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pes-soa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos proces-suais.

Domicílio

STJ – 383: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.

STJ – 58: Proposta a execução fiscal, a posterior mudan-ça de domicílio do executado não desloca a competên-cia já fixada.

STJ – 01: O foro do domicilio ou da residência do alimen-tando e o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.

Bens

STJ – 335: Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.

STJ – 103: incluem-se entre os imóveis funcionais que podem ser vendidos os administrados pelas forças ar-madas e ocupados pelos servidores civis.

Defeitos dos atos jurídicos

STJ – 322: Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em conta-corrente, não se exige a prova do erro.

STJ – 195: Em embargos de terceiro não se anula ato jurí-dico, por fraude contra credores.

Atos ilícitos

STJ – 498: Não incide imposto de renda sobre a indeni-zação por danos morais.

STJ – 479: As instituições financeiras respondem obje-tivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

STJ – 476: O endossatário de título de crédito por endos-so-mandato só responde por danos decorrentes de pro-testo indevido se extrapolar os poderes de mandatário.

STJ – 475: Responde pelos danos decorrentes de pro-testo indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal ex-trínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas.

STJ – 420: Incabível, em embargos de divergência, discu-tir o valor de indenização por danos morais.

STJ – 402: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.

STJ – 388: A simples devolução indevida de cheque ca-racteriza dano moral.

STJ – 387: Lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

STJ – 385: Da anotação irregular em cadastro de prote-ção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

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Direito Civil 549

juris tantum de paternidade.

Bem de família

STJ – 549: É válida a penhora de bem de família perten-cente a fiador de contrato de locação.

STJ – 486: Único imóvel residencial alugado a terceiros é impenhorável, desde que a renda obtida com o aluguel seja para subsistência do proprietário

STJ – 449: A vaga de garagem que possui matrícula pró-pria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.

STJ – 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pes-soas solteiras, separadas e viúvas.

STJ – 205: A lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.

Alimentos

STJ – 358: O cancelamento de pensão alimentícia de fi-lho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão ju-dicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos

STJ – 336: A mulher que renunciou aos alimentos na se-paração judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econô-mica superveniente.

STJ – 309: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se ven-cerem no curso do processo.

STJ – 277: Julgada procedente a investigação de paterni-dade, os alimentos são devidos a partir da citação.

STJ – 1: O foro do domicílio ou da residência do alimen-tando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.

13. STF – SUCESSÕES

Petição de herança

STF – 149: É imprescritível a ação de investigação de pa-ternidade, mas não o é a de petição de herança.

Inventário

STF – 542: Não é inconstitucional a multa instituída pelo estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário.

STF – 331: É legítima a incidência do imposto de trans-missão “causa mortis” no inventário por morte presu-mida.

Partilha

STF – 380: Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.

Testamento

STF – 447: É válida a disposição testamentária em favor de filho adulterino do testador com sua concubina.

INFORMATIVOS

INFORMATIVOS STF

1. DAS PESSOAS

1.2. DAS PESSOAS JURÍDICAS

Limites à aplicabilidade do art. 50 do CC.

O encerramento das atividades da sociedade ou sua dissolução, ainda que irregulares, não são causas, por si sós, para a desconsideração da personalidade jurídica a que se refere o art. 50 do CC. EREsp 1.306.553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 12.12.14. 2ª S. (Info STJ 554)

2. DOS FATOS JURÍDICOS

2.1. DO NEGÓCIO JURÍDICO

2.1.1. DISPOSIÇÕES GERAIS

Prevalência do valor atribuído pelo fisco para apli-

cação do art. 108 do CC.

Para a aferição do valor do imóvel para fins de enqua-dramento no patamar definido no art. 108 do CC – o qual exige escritura pública para os negócios jurídicos acima de trinta salários mínimos deve-se considerar o valor atribuído pelo Fisco, e não o declarado pelos parti-culares no contrato de compra e venda. REsp 1.099.480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 25.5.15. 4ª T. (Info STJ 562)

2.2. DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊN-

CIA

Prazo prescricional para cobrança de sobre-estadia

de contêiner.

Prescreve em um ano a pretensão de cobrar despesas de sobre-estadia de contêiner (“demurrage”), quer se trate de transporte multimodal, quer se trate de trans-porte unimodal. REsp 1.355.095-SP, Rel. Min. Paulo de Tar-so Sanseverino, DJe 12.3.15. 3ª T. (Info STJ 557)

Termo inicial da prescrição da pretensão de cobran-

ça de honorários “ad exitum”.

O termo inicial do prazo de prescrição da pretensão ao recebimento de honorários advocatícios contratados sob a condição de êxito da demanda judicial, no caso em que o mandato foi revogado por ato unilateral do mandante antes do término do litígio judicial, é a data do êxito da demanda, e não a da revogação do manda-

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Ronaldo Vieira Francisco550

to. REsp 805.151-SP, Rel. p/ ac. Min. Antonio Carlos Ferreira, DJe 28.4.15. 4ª T. (Info STJ 560)

3. DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

3.1. DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGA-

ÇÕES

Cessão de crédito relativo ao seguro DPVAT.

É possível a cessão de crédito relativo à indenização do seguro DPVAT decorrente de morte. Isso porque se trata de direito pessoal disponível, que segue a regra geral do art. 286 do CC, que permite a cessão de crédito se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei ou a con-venção com o devedor. REsp 1.275.391-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 22.5.15. 3ª T. (Info STJ 562)

3.2. DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO

DAS OBRIGAÇÕES

Impossibilidade de automática capitalização de ju-

ros por mera decorrência da aplicação da imputação

do pagamento prevista no art. 354 do CC.

No caso de dívida composta de capital e juros, a impu-tação de pagamento (art. 354 do CC) insuficiente para a quitação da totalidade dos juros vencidos não acarreta a capitalização do que restou desses juros. REsp 1.518.005-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 23.10.15. 3ª T. (Info STJ 572)

3.3. DO INADIMPLEMENTO DAS OBRI-

GAÇÕES

Termo inicial de juros de mora em cobrança de men-

salidade por serviço educacional.

Se o contrato de prestação de serviço educacional es-pecifica o valor da mensalidade e a data de pagamen-to, os juros de mora fluem a partir do vencimento das mensalidades não pagas – e não da citação válida. REsp 1.513.262-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 26.8.15. 3ª T. (Info STJ 567)

3.4. DOS CONTRATOS EM GERAL

Hipótese de inaplicabilidade da teoria da base obje-

tiva ou da base do negócio jurídico.

A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às relações jurídicas de consu-mo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis. REsp 1.321.614-SP, Rel. p/ ac. Min. Ricardo Villas Bôas Cue-va, DJe 3.3.15. 3ª T. (Info STJ 556)

Maxidesvalorização do real em face do dólar ame-

ricano e teorias da imprevisão e da onerosidade ex-

cessiva.

Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não

é regida pelas normas consumeristas – a maxidesvalo-rização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade ex-cessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de indexação ao dólar americano. REsp 1.321.614-SP, Rel. p/ ac. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 3.3.15. 3ª T. (Info STJ 556)

Vício redibitório e prazo decadencial.

Quando o vício oculto, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde (art. 445, § 1º, CC), o adquirente de bem móvel terá o prazo de trinta dias (art. 445, caput, do CC), a partir da ciência desse defeito, para exercer o direito de obter a redibição ou abatimento no preço, desde que o conhecimento do vício ocorra dentro do prazo de cento e oitenta dias da aquisição do bem. REsp 1.095.882-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 19.12.14. 4ª T. (Info STJ 554)

3.5. DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CON-

TRATO

3.5.1. DA COMPRA E VENDA

Arrematação de bem por oficial de justiça aposen-

tado.

A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de arrematar bem em has-ta pública. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 6.5.15. 2ª T. (Info STJ 561)

Ausência de prazo para o exercício do direito de ad-

judicar compulsoriamente imóvel objeto de compro-

misso de compra e venda.

O promitente comprador, amparado em compromisso de compra e venda de imóvel cujo preço já tenha sido integralmente pago, tem o direito de requerer judicial-mente, a qualquer tempo, a adjudicação compulsória do imóvel. REsp 1.216.568-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salo-mão, DJe 29.9.15. 4ª T. (Info STJ 570)

Direito de preferência na alienação de imóvel em

estado de indivisão.

O condômino que desejar alienar a fração ideal de bem imóvel divisível em estado de indivisão deverá dar pre-ferência na aquisição ao comunheiro. REsp 1.207.129-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 26.6.15. 4ª T. (Info STJ 564)

3.5.3. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Alcance de obrigação de sociedade empresária de

vigilância armada em face de instituição financeira.

A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigi-lância armada que impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição

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Direito Civil 551

financeira não acarreta à contratada automática res-ponsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por gru-po fortemente armado. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 5.5.15. 4ª T. (Info STJ 561)

3.5.6. DA COMISSÃO, DA AGÊNCIA E

DISTRIBUIÇÃO, DA CORRETAGEM

Obrigação pelo pagamento de comissão de correta-

gem.

Inexistindo pactuação dispondo em sentido contrário, a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daque-le que efetivamente contrata o corretor. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 27.2.15. Corte Especial. (Info STJ 556)

3.5.7. DO SEGURO

Devolução da reserva técnica em seguro de vida no

caso de suicídio premeditado.

Se o segurado se suicidar dentro dos dois primeiros anos de vigência de contrato de seguro de vida, o se-gurador, a despeito de não ter que pagar o valor cor-respondente à indenização, será obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada, mesmo diante da prova mais cabal de premeditação do suicídio. REsp 1.334.005-GO, Rel. p/ ac. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 23.6.15. 2ª S. (Info STJ 564)

Pagamento de indenização securitária na ausência

de indicação de beneficiário no contrato de seguro de

vida.

Na hipótese em que o segurado tenha contratado se-guro de vida sem indicação de beneficiário e, na data do óbito, esteja separado de fato e em união estável, o capital segurado deverá ser pago metade aos herdei-ros, segundo a ordem da vocação hereditária, e a outra metade à cônjuge não separada judicialmente e à com-panheira. REsp 1.401.538-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 12.8.15. 3ª T. (Info STJ 566)

Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro

de vida.

A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado maior de 60 anos de idade e que conte com mais de 10 anos de vínculo contratual. REsp 1.376.550-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 12.5.15. 3ª T. (Info STJ 561)

Seguro de automóvel com cobertura de responsabi-

lidade civil facultativa de veículos – danos corporais.

No contrato de seguro de automóvel, a cobertura de Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos (RCF--V) – Danos Corporais – não assegura o pagamento de

indenização pelas lesões sofridas pelo condutor e por passageiros do automóvel sinistrado, compreenden-do apenas a indenização a ser paga pelo segurado a terceiros envolvidos no acidente. REsp 1.311.407-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 24.4.15. 3ª T. (Info STJ 560)

Seguro de responsabilidade civil do transportador

rodoviário de cargas com apólice em aberto.

No Seguro de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Cargas (RCTR-C) com apólice em aberto, ou seja, quando as averbações são feitas após o início dos riscos, o segurado perde o direito à garantia secu-ritária na hipótese de não averbar todos os embarques e mercadorias transportadas, exceto se, comprovada-mente, a omissão do transportador se der por mero lapso, a evidenciar a boa-fé. REsp 1.318.021-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 12.2.15. 3ª T. (Info STJ 555)

Seguro de vida em grupo com garantia adicional de

invalidez total e permanente por doença.

Na hipótese de seguro de vida em grupo com garantia adicional de invalidez total e permanente por doença (IPD), a seguradora não deve pagar nova indenização securitária após a ocorrência do evento morte natu-ral do segurado caso já tenha pagado integralmente a indenização securitária quando da configuração do sinistro invalidez total e permanente por doença. REsp 1.178.616-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 24.4.15. 3ª T. (Info STJ 560)

3.5.8. DO JOGO E DA APOSTA

Dívida de jogo contraída em casa de bingo.

A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexi-gível, ainda que seu funcionamento tenha sido autori-zado pelo Poder Judiciário. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 13.8.15. 3ª T. (Info STJ 566)

3.5.9. DA FIANÇA

Ilegitimidade ativa do fiador para pleitear em juízo

a revisão do contrato principal.

O fiador de mútuo bancário não tem legitimidade para, exclusivamente e em nome próprio, pleitear em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e encargos abusi-vos constantes do contrato principal. REsp 926.792-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 17.4.15. 3ª T. (Info STJ 560)

Prorrogação automática de fiança em contrato de

mútuo bancário.

É lícita cláusula em contrato de mútuo bancário que pre-veja expressamente que a fiança prestada prorroga-se automaticamente com a prorrogação do contrato prin-cipal. REsp 1.253.411-CE, Rel. Min. Luis Felipe SalomãoDJe 4.8.15. 2ª S. (Info STJ 565)

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Ronaldo Vieira Francisco552

3.6. DA RESPONSABILIDADE CIVIL

3.6.1. DA RESPONSABILIDADE CIVIL

(GERAL)

Forma de pagamento de pensão fixada nos casos de

responsabilidade civil derivada de incapacitação da

vítima para o trabalho.

Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapa-citação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos ma-teriais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez, podendo o magistrado avaliar, em cada caso concreto, sobre a conveniência da aplicação da re-gra que autoriza a estipulação de parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC), a fim de evitar, de um lado, que a satisfação do crédito do beneficiário fique ameaçada e, de outro, que haja risco de o devedor ser levado à ruí-na. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 4.5.15. 3ª T. (Info STJ 561)

Pensão civil por incapacidade parcial para o traba-

lho.

Pode ser incluída pensão civil em indenização por de-bilidade permanente de membro inferior causada a soldado por acidente de trânsito, ainda que se possa presumir capacidade para atividades administrativas no próprio Exército Brasileiro ou para outras ocupações. REsp 1.344.962-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 2.9.15. 3ª T. (Info STJ 568)

Sentença penal condenatória e sentença cível que

reconhece a ocorrência de culpa recíproca.

Diante de sentença penal condenatória que tenha re-conhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência de culpa concorrente da vítima para fixar o valor da indenização. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 26.10.15. 4ª T. (Info STJ 572)

Valor da pensão civil por incapacidade parcial para

o trabalho.

A pensão civil incluída em indenização por debilidade permanente de membro inferior causada a soldado do Exército Brasileiro por acidente de trânsito pode ser fi-xada em 100% do soldo que recebia quando em ativida-de. REsp 1.344.962-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 2.9.15. 3ª T. (Info STJ 568)

3.6.2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL

(DANOS MORAIS)

Impossibilidade de fixação, “ex officio”, de indeni-

zação por danos sociais em ação individual. Recurso

repetitivo.

É nula, por configurar julgamento “extra petita”, a de-cisão que condena a parte ré, de ofício, em ação indi-vidual, ao pagamento de indenização a título de danos sociais em favor de terceiro estranho à lide. Inicialmen-te, cumpre registrar que o dano social vem sendo reco-nhecido pela doutrina como uma nova espécie de dano reparável, decorrente de comportamentos socialmente reprováveis, pois diminuem o nível social de tranquili-dade, tendo como fundamento legal o art. 944 do CC. Desse modo, diante da ocorrência de ato ilícito, a dou-trina moderna tem admitido a possibilidade de conde-nação ao pagamento de indenização por dano social, como categoria inerente ao instituto da responsabili-dade civil, além dos danos materiais, morais e estéticos. Rcl 12.062-GO, Rel. Min. Raul Araújo, j. 12.11.14. 2ª S. (Info STJ 552)

Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer da-

no moral.

O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode sofrer dano moral. REsp 1.245.550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 16.4.15. 4ª T. (Info STJ 559)

3.6.3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL

(MEIOS DE COMUNICAÇÃO)

Ofensas publicadas em blog e necessidade de indi-

cação dos endereços eletrônicos pelo ofendido.

Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamen-to dos autores das referidas ofensas – e não ao provedor de hospedagem do blog – a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 26.3.15. 3ª T. (Info STJ 558)

Responsabilidade por ofensas proferidas por inter-

nauta e veiculadas em portal de notícias.

A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de in-ternautas terá responsabilidade solidária por comentá-rios, postados nesse campo, que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do marco civil da internet (Lei 12.965/2014). REsp 1.352.053/AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 30.3.15. 3ª T. (Info STJ 558)

4. DO DIREITO DAS COISAS

4.1. DA PROPRIEDADE

4.1.1. DA PROPRIEDADE EM GERAL

Direito de propriedade de subsolo.

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Direito Civil 553

No caso em que o subsolo de imóvel tenha sido inva-dido por tirantes (pinos de concreto) provenientes de obra de sustentação do imóvel vizinho, o proprietário do imóvel invadido não terá legítimo interesse para re-querer, com base no art. 1.229 do CC, a remoção dos ti-rantes nem indenização por perdas e danos, desde que fique constatado que a invasão não acarretou prejuízos comprovados a ele, tampouco impossibilitou o perfei-to uso, gozo e fruição do seu imóvel. REsp 1.256.825-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 16.3.15. 3ª T. (Info STJ 557)

4.1.2. DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA

Ação demolitória e prazo decadencial.

O prazo decadencial de ano e dia para a propositura da ação demolitória previsto no art. 576 do CC/1916 não tem aplicação quando a construção controvertida – uma escada – tiver sido edificada integralmente em terreno alheio. REsp 1.218.605-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 9.12.14. 3ª T. (Info STJ 553)

4.1.3. DO CONDOMÍNIO GERAL

Aplicação de multa a condômino antissocial.

A sanção prevista para o comportamento antissocial reiterado de condômino (art. 1.337, parágrafo único, do CC) não pode ser aplicada sem que antes lhe seja confe-rido o direito de defesa. REsp 1.365.279-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 29.9.15. 4ª T. (Info STJ 570)

Cobrança de taxa de manutenção em condomínio

de fato. Recurso repetitivo. Tema 882.

As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou os que a elas não anuíram. REsp 1.439.163-SP, Rel. p/ ac. Min. Marco Buzzi, 2ª S., DJe 22.5.15. (Info STJ 562)

Insubsistência de cláusula de irrevogabilidade e de

irretratabilidade em convenção de condomínio.

Ainda que, na vigência do CC/1916, tenha sido estipula-do, na convenção original de condomínio, ser irrevogá-vel e irretratável cláusula que prevê a divisão das despe-sas do condomínio em partes iguais, admite-se ulterior alteração da forma de rateio, mediante aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos, para que as expensas sejam suportadas na proporção das frações ideais. REsp 1.447.223-RS, Rel. p/ ac. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 5.2.15. 3ª T. (Info STJ 554)

Legitimidade do promitente comprador e do promi-

tente vendedor em ação de cobrança de débitos con-

dominiais.

O promitente comprador e o promitente vendedor de imóvel têm legitimidade passiva concorrente em ação de cobrança de débitos condominiais posteriores à imis-

são daquele na posse do bem, admitindo-se a penhora do imóvel, como garantia da dívida, quando o titular do direito de propriedade (promitente vendedor) figurar no polo passivo da demanda. REsp 1.442.840-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 21.8.15. 3ª T. (Info STJ 567)

Legitimidade passiva em ação de cobrança de dívi-

das condominiais. Recurso repetitivo. Tema 886.

A respeito da legitimidade passiva em ação de cobrança de dívidas condominiais, firmaram-se as seguintes te-ses: a) o que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do com-promisso de compra e venda, mas a relação jurídica ma-terial com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação; b) havendo com-promisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador, dependendo das circunstân-cias de cada caso concreto; e c) se ficar comprovado (i) que o promissário comprador se imitira na posse e (ii) o condomínio teve ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vende-dor para responder por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador. REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salo-mão, 2ª S., DJe 20.4.15. (Info STJ 560)

Responsabilidade do adjudicante por dívidas con-

dominiais pretéritas.

O exequente que adjudicou o imóvel penhorado após finda praça sem lançador deve arcar com as despesas condominiais anteriores à praça, ainda que omitidas no edital da hasta pública. REsp 1.186.373-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 14.4.15. 4ª T. (Info STJ 559)

4.1.4. DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO

Alteração de fachada sem autorização da totalida-

de dos condôminos.

O condômino não pode, sem a anuência de todos os condôminos, alterar a cor das esquadrias externas de seu apartamento para padrão distinto do empregado no restante da fachada do edifício, ainda que a modi-ficação esteja posicionada em recuo, não acarrete pre-juízo direto ao valor dos demais imóveis e não possa ser vista do térreo, mas apenas de andares correspon-dentes de prédios vizinhos. REsp 1.483.733-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 1º.9.15. 3ª T. (Info STJ 568)

4.2. DO PENHOR, DA HIPOTECA E DA

ANTICRESE

Extinção da garantia hipotecária e prescrição da

obrigação principal.

A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extin-

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6.2. DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Ineficácia de disposição testamentária que não

afasta o prêmio do testamenteiro.

A perda de finalidade de testamento – elaborado ape-nas para que os bens imóveis herdados pelos filhos do testador fossem gravados com cláusula de incomuni-cabilidade – não ocasiona a perda do direito do testa-menteiro de receber um prêmio pelo exercício de seu encargo (art. 1.987 do CC/02) caso a execução da dis-posição testamentária só tenha sido obstada em razão de omissão do próprio testador que, após a vigência do novo Código Civil, deixou de aditar o testamento para indicar a justa causa da restrição imposta (art. 1.848 c/c art. 2.042 do CC/02). REsp 1.207.103-SP, Rel. Min. Marco Au-rélio Bellizze, DJe 11.12.14. 3ª T. (Info STJ 553)

6.3. DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Direito de herdeiro de exigir a colação de bens.

O filho do autor da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que receberam via doa-ção a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 29.5.15. 3ª T. (Info STJ 563)

ENUNCIADOS DAS JORNADAS DE

DIREITO CIVIL DO CONSELHO DA JUS-

TIÇA FEDERAL

(JORNADAS I, III, IV, V, VI E VII).

1. ENUNCIADOS DA PARTE GERAL

I JORNADA DE DIREITO CIVIL

1 – Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascitu-ro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.

2 – Art. 2º: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.

3 – Art. 5º: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.

4 – Art. 11: O exercício dos direitos da personalidade po-de sofrer limitação voluntária, desde que não seja per-manente nem geral.

5 – Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimi-

dade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finali-dade específica de regrar a projeção dos bens persona-líssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela po-dem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.

6 – Art. 13: A expressão “exigência médica” contida no art. 13 refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente.

7 – Art. 50: Só se aplica a desconsideração da personali-dade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido.

8 – Art. 62, parágrafo único: A constituição de fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código Civil, art. 62, parágrafo único.

9 – Art. 62, parágrafo único: Deve ser interpretado de modo a excluir apenas as fundações com fins lucrativos.

10 – Art. 66, § 1º: Em face do princípio da especialidade, o art. 66, § 1º, deve ser interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC n. 75/93.

11 – Art. 79: Não persiste no novo sistema legislativo a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe incorporar na-tural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do Código Civil.

12 – Art. 138: Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.

13 – Art. 170: O aspecto objetivo da conversão requer a existência do suporte fático no negócio a converter-se.

14 – Art. 189: 1) O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da exigi-bilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação de não fazer.

37 – Art. 187: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.

51 – Art. 50: A teoria da desconsideração da persona-lidade jurídica – disregard doctrine – fica positivada no novo Código Civil, mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas legais e na construção jurídica so-bre o tema.

III JORNADA DE DIREITO CIVIL

138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concer-

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Direito Civil 557

nentes, desde que demonstrem discernimento bastan-te para tanto.

139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.

140 – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Ci-vil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.

141 – Art. 41: A remissão do art. 41, parágrafo único, do Código Civil às pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado”, diz res-peito às fundações públicas e aos entes de fiscalização do exercício profissional.

142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.

143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das orga-nizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a pos-sibilidade de reexame, pelo Judiciário, da compatibili-dade de seus atos com a lei e com seus estatutos.

144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de direito privado constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil não é exaustiva.

145 – Art. 47: O art. 47 não afasta a aplicação da teoria da aparência.

146 – Art. 50: Nas relações civis, interpretam-se restriti-vamente os parâmetros de desconsideração da perso-nalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalida-de social ou confusão patrimonial). (Este Enunciado não prejudica o Enunciado n. 7)

147 – Art. 66: A expressão “por mais de um Estado”, con-tida no § 2º do art. 66, não exclui o Distrito Federal e os Territórios. A atribuição de velar pelas fundações, pre-vista no art. 66 e seus parágrafos, ao MP local – isto é, dos Estados, DF e Territórios onde situadas – não exclui a necessidade de fiscalização de tais pessoas jurídicas pelo MPF, quando se tratar de fundações instituídas ou mantidas pela União, autarquia ou empresa pública federal, ou que destas recebam verbas, nos termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da Lei de Improbidade.

148 – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157.

149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurí-dico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.

150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código

Civil não exige dolo de aproveitamento.

151 – Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo cre-dor com garantia real (art. 158, § 1º) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia.

152 – Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.

153 – Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simula-do (aparente) é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.

154 – Art. 194: O juiz deve suprir, de ofício, a alegação de prescrição em favor do absolutamente incapaz.

155 – Art. 194: O art. 194 do Código Civil de 2002, ao permitir a declaração ex officio da prescrição de direitos patrimoniais em favor do absolutamente incapaz, der-rogou o disposto no § 5º do art. 219 do CPC.

156 – Art. 198: Desde o termo inicial do desaparecimen-to, declarado em sentença, não corre a prescrição con-tra o ausente.

157 – Art. 212: O termo “confissão” deve abarcar o con-ceito lato de depoimento pessoal, tendo em vista que este consiste em meio de prova de maior abrangência, plenamente admissível no ordenamento jurídico brasi-leiro.

158 – Art. 215: A amplitude da noção de “prova plena” (isto é, “completa”) importa presunção relativa acerca dos elementos indicados nos incisos do § 1º, devendo ser conjugada com o disposto no parágrafo único do art. 219.

IV JORNADA DE DIREITO CIVIL

272 – Art. 10: Não é admitida em nosso ordenamento jurídico a adoção por ato extrajudicial, sendo indispen-sável a atuação jurisdicional, inclusive para a adoção de maiores de dezoito anos.

273 – Art. 10: Tanto na adoção bilateral quanto na uni-lateral, quando não se preserva o vínculo com qual-quer dos genitores originários, deverá ser averbado o cancelamento do registro originário de nascimento do adotado, lavrando-se novo registro. Sendo unilateral a adoção, e sempre que se preserve o vínculo originário com um dos genitores, deverá ser averbada a substitui-ção do nome do pai ou mãe naturais pelo nome do pai ou mãe adotivos.

274 – Art. 11: Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são ex-pressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.

275 – Arts. 12 e 20: O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Có-digo Civil também compreende o companheiro.

276 – Art. 13: O art. 13 do Código Civil, ao permitir a dis-

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posição do próprio corpo por exigência médica, autori-za as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do pre-nome e do sexo no Registro Civil.

277 – Art. 14: O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a va-lidade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familia-res, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.

278 – Art. 18: A publicidade que divulgar, sem autoriza-ção, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de iden-tificá-la, constitui violação a direito da personalidade.

279 – Art. 20: A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.

280 – Arts. 44, 57 e 60: Por força do art. 44, § 2º, consi-deram-se aplicáveis às sociedades reguladas pelo Livro II da Parte Especial, exceto às limitadas, os arts. 57 e 60, nos seguintes termos: a) em havendo previsão contra-tual, é possível aos sócios deliberar a exclusão de sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao con-trato disciplinar o procedimento de exclusão, assegura-do o direito de defesa, por aplicação analógica do art. 1.085; b) as deliberações sociais poderão ser convocadas por iniciativa de sócios que representem 1/5 (um quin-to) do capital social, na omissão do contrato. A mesma regra aplica-se na hipótese de criação, pelo contrato, de outros órgãos de deliberação colegiada.

281 – Art. 50: A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da de-monstração de insolvência da pessoa jurídica.

282 – Art. 50: O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da personalidade jurídica.

283 – Art. 50: É cabível a desconsideração da personali-dade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.

284 – Art. 50: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos estão abran-gidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.

285 – Art. 50: A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica, em seu favor.

286 – Art. 52: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

287 – Art. 98: O critério da classificação de bens indica-do no art. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito priva-do que esteja afetado à prestação de serviços públicos.

288 – Arts. 90 e 91: A pertinência subjetiva não constitui requisito imprescindível para a configuração das univer-salidades de fato e de direito.

289 – Art. 108: O valor de 30 salários mínimos constan-te no art. 108 do Código Civil brasileiro, em referência à forma pública ou particular dos negócios jurídicos que envolvam bens imóveis, é o atribuído pelas partes contratantes, e não qualquer outro valor arbitrado pela Administração Pública com finalidade tributária.

290 – Art. 157: A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a des-proporção manifesta entre as prestações assumidas pe-las partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.

291 – Art. 157: Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, des-de logo, pretensão com vista à revisão judicial do negó-cio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.

292 – Art. 158: Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterio-ridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial.

293 – Art. 167: Na simulação relativa, o aproveitamento do negócio jurídico dissimulado não decorre tão-so-mente do afastamento do negócio jurídico simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisi-tos substanciais e formais de validade daquele.

294 – Arts. 167 e 168: Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra.

295 – Art. 191: A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei n. 11.280/2006, que determina ao juiz o reco-nhecimento de ofício da prescrição, não retira do deve-dor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.

296 – Art. 197: Não corre a prescrição entre os compa-nheiros, na constância da união estável.

297 – Art. 212: O documento eletrônico tem valor pro-bante, desde que seja apto a conservar a integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria, indepen-dentemente da tecnologia empregada.

298 – Arts. 212 e 225: Os arquivos eletrônicos incluem-

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-se no conceito de “reproduções eletrônicas de fatos ou de coisas” do art. 225 do Código Civil, aos quais deve ser aplicado o regime jurídico da prova documental.

299 – Art. 2.028: Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decorrido, salvo quando o não--aproveitamento do prazo já vencido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada, hipóte-se em que deve ser aproveitado o prazo já transcorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.

300 – Art. 2.035: A lei aplicável aos efeitos atuais dos contratos celebrados antes do novo Código Civil será a vigente na época da celebração; todavia, havendo alteração legislativa que evidencie anacronismo da lei revogada, o juiz equilibrará as obrigações das partes contratantes, ponderando os interesses traduzidos pe-las regras revogada e revogadora, bem como a natureza e a finalidade do negócio.

V JORNADA DE DIREITO CIVIL

397 – Art. 5º: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade.

398 – Art. 12, parágrafo único: As medidas previstas no art. 12, parágrafo único, do Código Civil podem ser invo-cadas por qualquer uma das pessoas ali mencionadas de forma concorrente e autônoma.

399 – Arts. 12, parágrafo único e 20, parágrafo único: Os poderes conferidos aos legitimados para a tutela post mortem dos direitos da personalidade, nos termos dos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do CC, não compreendem a faculdade de limitação voluntária.

400 – Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único: Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legi-timidade, por direito próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada post mortem.

401 – Art. 13: Não contraria os bons costumes a cessão gratuita de direitos de uso de material biológico para fins de pesquisa científica, desde que a manifestação de vontade tenha sido livre, esclarecida e puder ser re-vogada a qualquer tempo, conforme as normas éticas que regem a pesquisa científica e o respeito aos direitos fundamentais.

402 – Art. 14, parágrafo único: O art. 14, parágrafo único, do Código Civil, fundado no consentimento informado, não dispensa o consentimento dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista no art. 9º, § 6º, da Lei n. 9.434/1997 por aplicação analógica dos arts. 28, § 2º (alterado pela Lei n. 12.010/2009), e 45, § 2º, do ECA.

403 – Art. 15: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem ris-co de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capaci-dade civil plena, excluído o suprimento pelo represen-tante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.

404 – Art. 21: A tutela da privacidade da pessoa humana compreende os controles espacial, contextual e tempo-ral dos próprios dados, sendo necessário seu expresso consentimento para tratamento de informações que versem especialmente o estado de saúde, a condição sexual, a origem racial ou étnica, as convicções religio-sas, filosóficas e políticas.

405 – Art. 21: As informações genéticas são parte da vi-da privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular.

406 – Art. 50: A desconsideração da personalidade jurí-dica alcança os grupos de sociedade quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades.

407 – Art. 61: A obrigatoriedade de destinação do pa-trimônio líquido remanescente da associação à institui-ção municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, em face da omissão do estatuto, possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a vontade dos associados, desde que seja contemplada entidade que persiga fins não econômicos.

408 – Arts. 70 e 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Para efeitos de interpretação da expressão “domicílio” do art. 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, deve ser considerada, nas hipóteses de litígio internacional relativo a criança ou adolescente, a residência habitual destes, pois se trata de situação fática internacionalmente aceita e conhecida.

409 – Art. 113: Os negócios jurídicos devem ser interpre-tados não só conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração, mas também de acordo com as práticas habitualmente adotadas entre as partes.

410 – Art. 157: A inexperiência a que se refere o art. 157 não deve necessariamente significar imaturidade ou desconhecimento em relação à prática de negócios ju-rídicos em geral, podendo ocorrer também quando o lesado, ainda que estipule contratos costumeiramente, não tenha conhecimento específico sobre o negócio em causa.

411 – Art. 186: O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido pela Constituição Federal de 1988.

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