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OAB 2° FASE DIREITO CIVIL Cristiano Sobral Complexo de Ensino Renato Saraiva | www.renatosaraiva.com.br | (81) 3035 0105 1 EXERCÍCIOS PRÁTICOS 1. (OAB/CESPE - 2006.3 2ª fase) Joaquim, menor impúbere, representado por sua mãe, Maria dos Anjos Sousa Araújo, ajuizou ação pleiteando a retificação do seu assento de nascimento, para averbar a alteração do nome de sua genitora, qual seja, Maria dos Anjos Sousa, nome que passou a usar depois da separação judicial. Alega que, com a mudança de nome de sua genitora e a ausência de modificação do patronímico desta em sua certidão de nascimento, mãe e filho sofrem diversos constrangimentos quando têm de comprovar a relação de parentesco, expondo, assim, sua intimi- dade e vida privada, com a apresentação de diversos documentos pessoais que justifiquem a atual dissonância existente no nome da genitora do menor. Redija, fundamentadamente, texto dissertativo a respeito da possibilidade da retificação do registro civil de Joaquim para alteração do sobrenome da mãe em razão da alteração do estado civil desta, que voltou a usar o nome de solteira. RESOLUÇÃO DA QUESTÃO Por ser objeto de direito da personalidade, o nome é intransferível, irrenunciável e indisponível (art. 11 do Código Civil). Decorre desse regime jurídico o princípio da imutabilidade do nome. Todavia, o art. 57 da Lei 6.015/73 admite a alteração do nome, desde que, no plano material, se dê por exceção e motivadamente. No plano formal, a alteração exige sentença do juiz, após audiência do Ministério Público. Os erros notórios poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro; após manifestação do Ministério Público. O caso em tela revela situação em que até a alteração do nome, se fosse o caso, tem justificativa pertinente e relevante, vez que a não coincidência do nome da mãe com o nome do filho gera constrangimentos, mormente se se considerar que o filho está em idade tenra. A doutrina e a jurisprudência, inclusive, vêm admitindo a modificação do nome nesse tipo de caso, que gera problema de identificação de pais e filhos. Todavia, Joaquim, representado por sua mãe, pede menos. Pede apenas que se retifique seu assento de nascimento, para o fim de constar a alteração do nome de sua mãe, em virtude da separação judicial desta. Trata-se de providência possível, vez que protege os mesmos valores que a própria modifi- cação do nome protegia, devendo o pedido se fundar nos arts. 109 e seguintes da Lei 6.015/73. Nossa opinião é, inclusive, que cabe até aplicação do disposto no art. 10 da lei citada, efetuando-se a modificação junto ao próprio oficial do registro, pois, uma vez modificado o nome da mãe de Joaquim, pode-se considerar que há erro no assentamento, por ainda constar dele o nome antigo.

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    EXERCCIOS PRTICOS

    1. (OAB/CESPE - 2006.3 2 fase) Joaquim, menor impbere, representado por sua me, Maria dos

    Anjos Sousa Arajo, ajuizou ao pleiteando a retificao do seu assento de nascimento, para

    averbar a alterao do nome de sua genitora, qual seja, Maria dos Anjos Sousa, nome que passou a

    usar depois da separao judicial. Alega que, com a mudana de nome de sua genitora e a ausncia

    de modificao do patronmico desta em sua certido de nascimento, me e filho sofrem diversos

    constrangimentos quando tm de comprovar a relao de parentesco, expondo, assim, sua intimi-

    dade e vida privada, com a apresentao de diversos documentos pessoais que justifiquem a atual

    dissonncia existente no nome da genitora do menor. Redija, fundamentadamente, texto

    dissertativo a respeito da possibilidade da retificao do registro civil de Joaquim para alterao do

    sobrenome da me em razo da alterao do estado civil desta, que voltou a usar o nome de solteira.

    RESOLUO DA QUESTO

    Por ser objeto de direito da personalidade, o nome intransfervel, irrenuncivel e

    indisponvel (art. 11 do Cdigo Civil). Decorre desse regime jurdico o princpio da imutabilidade do

    nome.

    Todavia, o art. 57 da Lei 6.015/73 admite a alterao do nome, desde que, no plano material,

    se d por exceo e motivadamente. No plano formal, a alterao exige sentena do juiz, aps

    audincia do Ministrio Pblico. Os erros notrios podero ser corrigidos de ofcio pelo oficial de

    registro; aps manifestao do Ministrio Pblico.

    O caso em tela revela situao em que at a alterao do nome, se fosse o caso, tem

    justificativa pertinente e relevante, vez que a no coincidncia do nome da me com o nome do filho

    gera constrangimentos, mormente se se considerar que o filho est em idade tenra. A doutrina e a

    jurisprudncia, inclusive, vm admitindo a modificao do nome nesse tipo de caso, que gera

    problema de identificao de pais e filhos.

    Todavia, Joaquim, representado por sua me, pede menos. Pede apenas que se retifique seu

    assento de nascimento, para o fim de constar a alterao do nome de sua me, em virtude da

    separao judicial desta.

    Trata-se de providncia possvel, vez que protege os mesmos valores que a prpria modifi-

    cao do nome protegia, devendo o pedido se fundar nos arts. 109 e seguintes da Lei 6.015/73.

    Nossa opinio , inclusive, que cabe at aplicao do disposto no art. 10 da lei citada,

    efetuando-se a modificao junto ao prprio oficial do registro, pois, uma vez modificado o nome da

    me de Joaquim, pode-se considerar que h erro no assentamento, por ainda constar dele o nome

    antigo.

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    2. (OAB/CESPE - 2008.3 2 fase) Rogrio, em razo da necessidade de custear tratamento mdico,

    No exterior, para o filho que contrara grave enfermidade, vendeu a Jorge um apartamento de dois

    quartos, por R$ 200 mil, enquanto seu valor de mercado correspondia a R$ 400 mil. Jorge no tinha

    conhecimento da situao de necessidade do alienante e dela no se aproveitara, mas Rogrio, aps

    dois meses, com a melhora do filho, refletiu sobre o negcio e, sentindo-se prejudicado, procurou

    escritrio de advocacia para se informar acerca da validade do negcio. Em face dessa situao

    hipottica, na qualidade de advogado(a) contratado(a) por Rogrio, esclarea, com o devido fun-

    damento jurdico, se existe algum vcio no negcio celebrado e indique a soluo mais adequada para

    proteger os interesses de seu cliente.

    RESOLUO DA QUESTO

    O atual Cdigo Civil acrescentou dois novos defeitos do negcio jurdico, que devem ser

    avaliados no caso em tela, a fim de se verificar se um deles se aplica situao em que se encontra

    Rogrio.

    Os institutos so o estado de perigo e a leso. Ambos reclamam, para sua configurao, o

    preenchimento de um requisito objetivo, qual seja, a excessiva onerosidade da obrigao e a

    manifesta desproporo entre as obrigaes, respectivamente.

    No caso de Rogrio, est patente a configurao dos requisitos objetivos dos institutos, pois

    a diferena entre o valor de mercado e o valor de venda de seu imvel de 50%, caracterizando

    sensvel desequilbrio.

    Os dois institutos reclamam tambm o preenchimento de requisitos subjetivos. No caso do

    estado de perigo, requer-se que o negcio tenha sido feito para salvar a prpria pessoa que se obriga

    ou algum de sua famlia, de grave dano, conhecido da outra parte. J no caso de leso, exige-se que

    quem se obriga esteja sob premente necessidade ou tenha agido por inexperincia.

    No caso em tela, ficou tambm claro tanto a situao de perigo, caracterizadora do estado

    de perigo, como a premente necessidade, caracterizadora da leso. No entanto, no se deve olvidar

    que Jorge, comprador do imvel; no conhecia a situao de necessidade de Rogrio, o que afasta a

    incidncia do instituto do estado de perigo.

    Dessa forma, ficou caracterizado o instituto da leso, previsto no art. 157 do Cdigo Civil, que

    toma o negcio jurdico anulvel (art. 171, II, do Cdigo Civil).

    O advogado de Rogrio deve, num primeiro momento, tentar uma soluo extrajudicial para

    o caso, e, caso no seja possvel, e dentro do prazo decadencial previsto no art. 178, II, do Cdigo

    Civil, promover a ao anulatria do negcio jurdico.

    De qualquer forma, bom ressaltar que Jorge tem como evitar a anulao do negcio,

    oferecendo suplemento suficiente para atingir o valor de mercado do bem (art. 157, 2, do Cdigo

    Civil).

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    3. (OAB/CESPE - 2009.1- 2 fase) Antnio submeteu-se a uma angioplastia, no curso da qual, em

    carter de emergncia, tornou-se necessria a realizao de procedimento para implantao de

    dispositivo necessrio ao funcionamento da circulao cardiovascular. Em contato com a seguradora

    de sade, sua esposa, Ana, obteve a informao de que seria indispensvel a assinatura de termo

    aditivo ao contrato inicial para que o procedimento estivesse sujeito a cobertura. Em face dessa

    situao, Ana assinou o aludido aditivo, aceitando as condies impostas pela seguradora, inclusive

    no tocante ao valor da prestao mensal, o qual seria bem superior quele que vinha sendo pago.

    Entretanto, mesmo aps a referida assinatura, a empresa recusou-se a cobrir as despesas

    pertinentes ao procedimento. Em virtude disso, Antnio e Ana ingressaram com ao, sob o rito

    ordinrio, contra a empresa de seguro sade, visando obteno de tutela jurisdicional que

    declarasse a nulidade do termo aditivo ao contrato assinado com a empresa e o respectivo reem-

    bolso dos valores pagos pelo segurado. A propositura da ao fundou-se no argumento de que os

    fatos caracterizariam estado de perigo. Em face dessa situao hipottica, responda, de forma

    fundamentada, s seguintes perguntas.

    a) Nos fatos apresentados, esto presentes os requisitos para que se configure estado de perigo?

    b) possvel a declarao de nulidade do negcio jurdico sob o fundamento de ocorrncia do estado

    de perigo?

    RESOLUO DA QUESTO

    O caso, de fato, configura situao de estado de perigo. Isso porque tanto os requisitos

    subjetivos, como os requisitos objetivos esto presentes no caso em tela.

    O art. 156 do Cdigo Civil traz como requisitos subjetivos para a configurao do instituto a

    existncia de uma pessoa, que pode ser quem se obriga ou algum de sua famlia, em situao de

    perigo, e o dolo de aproveitamento, consistente no grave dano conhecido da outra parte. No caso,

    Ana assinou o aditivo contratual em favor de seu prprio marido, que estava em situao de perigo

    de grave dano para a sua vida, conhecido da outra parte, de modo que o requisito subjetivo restou

    cumprido.

    O mesmo dispositivo traz como requisito objetivo a assuno de uma obrigao excessiva-

    mente onerosa, No caso, o aditivo foi contratado, aumentando em muito o valor que vinha sendo

    pago, e, no bastasse, sem que a contrapartida esperada fosse dada pela segurada. Essa situao faz

    configurar o requisito objetivo, previsto na segunda parte do art. 156, caput, do Cdigo Civil.

    Resta, agora, saber, se configurado o instituto do estado de perigo, a conseqncia jurdica

    a nulidade do negcio. Nesse sentido, considerando o disposto no art. 171 do Cdigo Civil, conclui-

    se que o negcio, em verdade, anulvel, e no nulo.

    Assim, a ao adequada para o caso a ao anulatria, e no a ao declaratria de

    nulidade, sendo que a primeira deve ser promovida no prazo de quatro anos, nos termos do art. 178,

    II, do Cdigo Civil.

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    possvel, tambm, cumular o pedido de indenizao por danos morais. Tais danos

    decorrem da injusta recusa de cobertura pela seguradora, fato que agrava a situao de aflio

    psicolgica e angstia no esprito do segurado, que se encontrava diante de grave problema de

    sade.

    4. (OAB/CESPE - 2006.3 2 fase) Bernardo e Celso celebraram um contrato de promessa de compra

    e venda de imvel, com clusula contratual que previa o perdimento do sinal em caso de

    arrependimento, relativo a uma casa localizada nesta capital, em 12/9/2004, no valor total de R$

    30.000,00. Celso pagou R$ 15.000,00 como sinal, ficando o restante a ser pago em 12/12/2004. Por

    ocasio do contrato, Celso imitiu-se na posse do imvel, sendo que a escriturao seria feita aps o

    pagamento da segunda parcela, o que no ocorreu. Diante da situao hipottica acima descrita,

    responda, fundamentadamente, qual a conseqncia jurdica do inadimplemento contratual do

    comprador.

    RESOLUO DA QUESTO

    Arras sinnimo de sinal. H dois tipos de arras.

    O primeiro tipo so as arras confirmatrias (arts. 417 a 419 do Cdigo Civil - CC). Como o

    prprio nome diz, essas arras visam confirmar a celebrao do contrato. Quando estiver presente

    tais arras, no h que se falar em clusula de arrependimento. Isso significa que uma vez no

    cumprido ou executado o contrato, estar-se- diante de uma hiptese de inadimplemento. E este

    confere parte inocente duas opes: a) de exigir o cumprimento da obrigao, mais as perdas e

    danos, valendo as arras como indenizao mnima (se for necessrio indenizao suplementar o

    inocente deve provar o maior prejuzo); b) de resolver o contrato (d-lo por desfeito), retendo o valor

    das arras (se as tiver recebido) ou pedindo sua devoluo mais o equivalente (se as tiver dado outra

    parte), podendo a parte inocente pedir indenizao suplementar, se provar maior prejuzo, valendo

    as arras como taxa mnima.

    O segundo tipo so as arras penitenciais (art. 420 do CC). Essas arras so fixadas quando o

    contrato tiver clusula de arrependimento. Nesse caso, a funo das arras unicamente

    indenizatria, da o nome penitencial. Quem as tiver dado e se arrependido, perd-las- em

    benefcio da outra parte. Quem as tiver recebido e se arrependido, devolv-las-, mais o equivalente.

    Nesse tipo de arras, no haver direito indenizao suplementar. Quem sofrer o arrependimento

    do outro ter como indenizao apenas o valor das arras, no podendo pedir indenizao

    suplementar, mesmo que demonstre prejuzo, diferente do que acontece nas arras confirmatrias.

    Assim, as arras de que trata o caso em tela so arras penitenciais, pois ficou claro no

    enunciado a presena, no contrato, de clusula de arrependimento. Celso, o comprador, perder a

    parcela paga em benefcio de Bernardo, ficando o compromisso de compra e venda desfeito (art. 420

    do CC e Smula 412 do STF).

    Todavia, o caso presente tem uma peculiaridade. As arras combinadas equivalem a 50% do

    valor total do contrato. E essa proporo parece-nos manifestamente excessiva, tendo-se em vista a

    natureza e a finalidade do negcio.

    Negcios dessa natureza costumam ter sinal entre 10% e 20% do valor do contrato.

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    Assim, poderia o juiz reduzir equitativamente o valor das arras, levando em conta esse limite

    e tambm o perodo em que Celso se aproveitou da coisa.

    5. (OAB/CESPE - 2008.2 2 fase) Amauri deve R$ 1.000,00 a Mrcio e se encontra em mora.

    Reunidos para resolver o problema, Mrcio aceitou como pagamento da dvida a transferncia de

    uma nota promissria em que Amauri figurava como beneficirio de promessa de pagamento no

    valor de R$ 1.200,00 feita por Artur, comerciante conhecido na praa. Com o vencimento do referido

    ttulo de crdito, Mrcio procurou receber o seu crdito de Artur, momento em que tomou cincia

    da condio de insolvncia em que este vivia j h muitos anos, razo pela qual acabou sem

    conseguir receber o valor pretendido e voltou a cobrar a dvida de Amauri. Em face da situao

    hipottica acima apresentada, identifique o tipo de operao firmada entre Amauri e Mrcio assim

    como seus efeitos jurdicos, esclarecendo se subsiste a obrigao de Amauri. Fundamente sua

    resposta conforme as normas aplicveis do Cdigo Civil e do Cdigo de Processo Civil, se houver.

    RESOLUO DA QUESTO

    Operou-se entre Amauri e Mrcio dao em pagamento (art. 356 do Cdigo Civil). A dao se

    deu por meio da cesso de crdito do primeiro em favor do segundo (art. 358 do Cdigo Civil).

    De acordo com o art. 359 do Cdigo Civil, se o credor (Mrcio) for evicto da coisa recebida

    em pagamento, ou seja, se Amauri no era o verdadeiro titular do direito representado no ttulo de

    crdito, fica sem efeito a quitao operada pela dao em pagamento, podendo Mrcio acionar

    Amauri.

    Num primeiro momento, ento, a obrigao original s se restaura se o credor for evicto da

    coisa recebida em pagamento.

    Resta saber se a situao de insolvncia de Artur, devedor do ttulo de crdito, tambm tem

    o poder de restaurar a dvida originria.

    De acordo com o art. 296 do Cdigo Civil, salvo estipulao em contrrio, o cedente no

    responde pela solvncia do devedor.

    6. (OAB/CESPE - 2004 2 fase) Srgio adquiriu de Wilson um veculo usado e regularizou a

    transferncia do bem no DETRAN local. Posteriormente, o veculo foi apreendido por autoridade

    policial, sob o argumento de que era objeto de furto. Constatou-se que, no nmero de identificao

    veicular do chassi, havia uma adulterao quase imperceptvel. Em face da situao hipottica rela-

    tada, redija texto dissertativo que contemple a anlise da possibilidade de haver ocorrido evico. Se

    for este o caso, identifique o responsvel pela indenizao a ser paga a Srgio.

    RESOLUO DA QUESTO

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    De acordo com o atual Cdigo Civil (arts. 447 a 457) a evico ocorre quando, em contratos

    onerosos, o adquirente perde a coisa por t-la adquirido de quem no tem direito sobre ela, pouco

    importando se tal perda se deu por sentena judicial ou por deciso administrativa. Essa ltima

    caracterstica no havia no Cdigo Civil anterior, pelo qual a evico s se configurava pela perda da

    coisa em virtude de sentena judicial.

    Segundo o art. 447 do Cdigo Civil, quem responde peja evico o alienante. Assim, Srgio

    dever acionar Wilson.

    7. (OAB/CESPE - 2006.1 2 fase) Saulo ajuizou ao de reintegrao de posse contra Sandra, com o

    objetivo de retomar imvel residencial de sua propriedade que foi cedido requerida mediante

    contrato de comodato verbal por tempo indeterminado. Aduz o autor que tentou reaver

    amigavelmente o imvel e no logrou xito, o que o obrigou a notificar a r para que desocupasse o

    imvel de sua propriedade no prazo de 30 dias. Ante a no desocupao, caracterizado o esbulho

    possessrio, pediu judicialmente a sua reintegrao. O juiz extinguiu o processo sem julgamento do

    mrito, indeferindo a petio inicial por inepta, por impossibilidade jurdica do pedido, ao

    entendimento de que o contrato de comodato verbal por prazo indeterminado deve se estender

    pelo tempo necessrio ao seu uso concedido, e condenando o autor ao pagamento das custas

    processuais e honorrios advocatcios fixados em 20% sobre o valor da causa. Considerando a

    situao hipottica apresentada, elabore um texto argumentativo acerca da deciso do juiz,

    abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:

    a) possibilidade da reintegrao de posse do imvel concedido em comodato verbal por prazo

    indeterminado;

    b) fixao de honorrios advocatcios na sentena que extingue o processo sem julgamento do

    mrito.

    RESOLUO DA QUESTO

    Em relao ao contrato de comodato, deve-se distinguir trs hipteses. A primeira diz

    respeito ao comodato com prazo certo para acabar; a segunda, ao comodato sem prazo certo, mas

    para um determinado uso; e a terceira, ao comodato sem especificao de prazo e de uso.

    Nas duas primeiras hipteses no pode o comodante retomar a coisa antes do prazo

    convencionado ou do prazo necessrio para o uso concedido, salvo necessidade imprevista e

    urgente, reconhecida pelo juiz (art, 581 do Cdigo Civil).

    Na terceira hiptese, remanesce a regra de que os contratos por prazo indeterminados

    podem ser denunciados a qualquer tempo pela parte interessada.

    Assim, no caso em tela, est correto o procedimento de Saulo de notificar Sandra, para que

    esta desocupasse o imvel em 30 dias, seguindo-se a propositura de ao de reintegrao de posse.

    O indeferimento da petio inicial, nesse sentido, indevido. Primeiro porque, no mrito,

    Saulo tem razo. Segundo porque a retomada de um imvel por meio de reintegrao de posse no

    um pedido juridicamente impossvel. A questo de mrito, e no de condio de ao. E, no mrito,

    como se viu, Saulo tambm tem razo.

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    De qualquer forma, o indeferimento da petio inicial por inpcia no ensejava honorrios

    advocatcios, eis que estes s so devidos se a outra parte for citada, o que no ocorreu no caso.

    No entanto, citada a outra parte, a extino do processo, ainda que sem apreciao de

    mrito, enseja fixao de honorrios advocatcios.

    8. (OAB/CESPE - 2006.2 2 fase) Oscar adquiriu de determinada concessionria um veculo novo

    para uso comercial (txi). Em razo de defeito de fabricao na mangueira de alimentao de

    combustvel, ocorreu incndio no veculo. A concessionria efetuou o reparo do veculo com nus

    para Oscar, no valor de R$ 5.000,00, alegando que o incndio decorreu da falta de adequada

    manuteno do veculo. Oscar, que contava com uma mdia salarial diria de R$ 150,00, perdeu seu

    meio de sustento, com conseqncias negativas na sua esfera moral, visto que, devido ao evento

    danoso, o veculo permaneceu 10 dias na oficina. Diante da situao hipottica acima apresentada,

    redija um texto dissertativo acerca da responsabilidade civil, que aborde, necessariamente, a legi-

    timidade passiva pela indenizao dos danos causados e identifique quais parcelas so devidas a

    Oscar. Extenso mxima: 30 linhas

    RESOLUO DA QUESTO

    A responsabilidade civil contratual tema que encontra mais de uma regulamentao

    jurdica, a depender do tipo de relao jurdica existente entre ofensor e vtima. O caso de que trata

    o presente - responsabilidade civil decorrente de defeito em automvel adquirido por taxita - traduz-

    se em situao em que h dvida sobre se deve aplica o Cdigo Civil - CC ou o Cdigo do Consumidor

    - CDC, dvida que deve ser dirimida, para que se possa responder s perguntas sobre quem tem

    legitimidade passiva para responder pela indenizao e quais parcelas so devidas a Oscar.

    Considerando que o CDC lei especial em relao ao CC, caso configurada uma relao de consumo,

    de rigor a aplicao daquele diploma, em detrimento deste. Nesse sentido, e considerando no haver

    dvida de que se tem um objeto de consumo e um fornecedor, resta saber se h a figura do

    consumidor no caso presente.

    Consumidor, segundo o art. 2 do CDC, toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza

    servio como destinatrio final. Para alguns, a expresso destinatrio final significa destinatrio final

    ftico (teoria maximalista); para outros, destinatrio final ftico e econmico (teoria finalista); e para

    uma terceira corrente, destinatrio final ftico e econmico, aplicando-se, todavia, o CDC quando o

    adquirente for vulnervel (teoria intermediria). O taxista, para a teoria finalista, no consumidor,

    pois, apesar de ser destinatrio ftico, no destinatrio econmico, vez que o utiliza o bem

    adquirido em sua atividade econmica. Essa teoria, todavia, vem sendo espao para a teoria

    intermediria, pela qual o CDC tambm protege simples destinatrios finais fticos, quando essas

    pessoas, mesmo sendo profissionais, so vulnerveis. H acrdos do STJ, inclusive, no sentido de

    que o taxista merece essa proteo. Uma vez que se conclui pela aplicabilidade do CDC, e estando

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    claro no enunciado que houve um fato do servio ou defeito, pois ocorreu incndio, com risco a

    segurana, deve-se aplicar o disposto no art. 12 do CDC, pelo qual legitimado passivo para

    responder civilmente o fabricante, e no a concessionria.

    Quantos s parcelas devidas, considerando o princpio da reparao integral dos danos (art.

    6, VI, do CDC), devem incluir os danos emergentes (prejuzos com o incndio e com o reparo, este

    no importe de R$ 5 mil), lucros cessantes (prejuzos com os dias parados, base de R$ 150,00 por

    dia) e danos morais, estes com aplicao independente de prova da dor, do sofrimento, sendo

    necessrio provar apenas o fato que gerou esses sentimentos (fatos esses j comprovados),

    conforme entendimento do Superior Tribunal de Justia. Em situaes como esse o Superior Tribunal

    de Justia vem fixando em R$ 5 mil o valor a ttulo de danos morais.

    9. (OAB/CESPE - 2007.3 2 fase) Carlos e Cludia celebraram, mediante instrumento particular,

    contrato de promessa de compra e venda de imvel, obrigando-se o promitente vendedor e a pro-

    mitente compradora celebrao do contrato definitivo no prazo de 90 dias, aps o pagamento da

    ltima parcela de preo, que as partes ajustaram em R$ 300.000,00 e que deveria ser pago em trs

    parcelas iguais, mensais e sucessivas. Do instrumento constou clusula de irretratabilidade e

    irrevogabilidade. Tendo Cludia pago todas as parcelas do preo, nos prazos do contrato, Carlos se

    recusou a outorgar a escritura definitiva, alegando que o contrato preliminar era nulo, porque

    celebrado por instrumento particular e, no, por escritura pblica, e que, alm disso, tinha o direito

    de se arrepender. Considerando essa situao hipottica, redija, na qualidade de advogado de

    Cludia, texto argumentativo acerca dos fundamentos invocados por Carlos para se recusar

    celebrao do contrato definitivo.

    RESOLUO DA QUESTO

    O caso trazido analise diz respeito ao instituto do contrato preliminar. Nesse sentido, h de

    se analisar os dois fundamentos trazidos por Carlos, a luz do disposto nos arts. 462 a 466 do Cdigo

    Civil.

    Quanto primeira alegao de Carlos - nulidade por vcio de forma -, o Cdigo Civil

    expresso no sentido de que o contrato preliminar deve conter os requisitos essenciais do contrato

    definitivo, salvo quanto forma (art. 462). Assim, em que pese num contrato definitivo de compra e

    venda de imvel no valor de R$ 300 mil ser necessrio escritura pblica (art. 108 do CC), a forma do

    contrato preliminar no precisa ser idntica do contrato definitivo, de modo que no nulo o

    compromisso de compra e venda firmado entre Carlos e Cludia, por esse aspecto.

    Quanto segunda alegao de Carlos - de que tinha o direito de se arrepender -, tambm

    no procede, pois, como se sabe, o contrato vincula as partes, que, assim, devem cumpri-los. A

    avena fica ainda mais slida quando h conveno expressa no sentido de que o contrato

    irretratvel e irrevogvel, previso contida no contrato celebrado entre as partes.

    Ademais, o art. 463 do Cdigo Civil expresso ao dizer que apenas a existncia de uma

    clusula de arrependimento -, situao que est bem distante dos contornos do caso concreto - pode

    impedir que qualquer das partes exija a celebrao do contrato definitivo, assinando prazo outra

    para que o efetive.

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    Uma vez assinado o prazo mencionado e esgotado seu perodo, o interessado (no caso,

    Cludia) poder pedir ao juiz que supra a vontade da outra parte (no caso, Carlos), conferindo carter

    definitivo ao contrato preliminar (art. 464).

    Tudo isso pode acontecer mesmo que o compromisso de compra e venda de imvel no

    tenha sido registrado no Registro de Imveis, vez que o requisito constante do p. nico do art. 463

    do Cdigo Civil mero requisito de eficcia perante terceiros, segundo a jurisprudncia pacfica do

    Superior Tribunal de Justia.

    Por fim, vale lembrar que a ao que Cludia poder mover em face de Carlos tem o nome

    de adjudicao compulsria e o Cdigo de Processo Civil traz previso da providncia que o juiz deve

    tomar no caso em seu art. 466-B.

    10. (OAB/CESPE - 2008.2 2 fase) Rodrigo, colecionador de automveis antigos, vendeu a seu

    amigo Felipe um dos veculos de sua coleo, estabelecendo, no entanto, que, no caso de o

    adquirente pretender vender o bem, este deveria ser primeiramente oferecido ao atual vendedor.

    Passados dois meses do negcio, Patrcia se interessou pelo automvel e, desconhecendo quaisquer

    das condies estabelecidas entre original proprietrio e Felipe, adquiriu o bem e pagou o preo

    ajustado, realizando todos os trmites administrativos necessrios ao registro junto ao rgo de

    trnsito. Concretizado o negcio, Rodrigo tomou conhecimento da sua existncia e, tendo a sua

    disposio a mesma quantia paga por Patrcia, pretende reaver o bem com base na condio que

    ajustara com Felipe. Em face dessa situao hipottica, assumindo a posio de advogado(a)

    procurado(a) por Rodrigo, identifique a natureza do ajuste celebrado entre Rodrigo e Felipe,

    esclarecendo qual seria o comportamento adequado preservao dos direitos de seu cliente,

    conforme as disposies pertinentes do Cdigo de Civil e do Cdigo de Processo Civil.

    RESOLUO DA QUESTO

    Rodrigo vendeu o automvel a Felipe e acertou com este direito de preferncia na aquisio

    da coisa, caso o segundo fosse vend-la no futuro. Assim, firmou-se uma compra e venda de bem

    mvel, com direito de preferncia na aquisio futura do bem.

    A posterior venda do automvel a Patrcia, dois meses depois, sem que o bem tivesse sido

    oferecido a Rodrigo, viola o direito de preferncia institudo em favor deste.

    Incide, nesse caso, o disposto no art. 518 do Cdigo Civil, pelo qual o comprador (Felipe)

    responde por perdas e danos, por ter alienado sem ter dado ao vendedor (Rodrigo) oportunidade de

    exercer o direito de preferncia. A adquirente, Patrcia, no responder, eis que no sabia da

    existncia desse direito em favor de Rodrigo (segunda parte art., 518 do Cdigo Civil).

    Repare que o direito de preferncia convencional, regulamentado nos arts. 513 a 520 do

    Cdigo Civil no confere ao seu titular poderes para perseguir a coisa. Ou seja, trata-se de direito de

    natureza pessoal, e no de natureza real.

    Assim, Rodrigo ter de provar que sofreu prejuzos com o desrespeito a esse direito, para

    que possa ingressar com a ao indenizatria por perdas e danos. Um exemplo seria o caso de o

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    automvel ter se valorizado no perodo e Felipe, mesmo assim, ter vendido o bem por valor inferior

    ao de mercado, estando Rodrigo com disponibilidade para compr-lo.

    11. (OAB/CESPE - 2009.1- 2 fase) Em contrato de empreitada mista, o dono de uma obra verificou

    que o preo dos materiais empregados na execuo dos servios sofrera significativa queda no mer-

    cado, o que acarretou reduo, no valor total da obra, superior a 12% do que fora convencionado

    pelas partes. Diante disso, pleiteou ao empreiteiro a reviso do preo original, de modo a garantir

    abatimento correspondente reduo verificada. Em resposta a tal pedido, o empreiteiro

    argumentou que no seria possvel qualquer reviso porque a queda no preo dos materiais

    resultara de fenmeno sazonal e, portanto, no se apresentava como motivo imprevisvel capaz de

    justificar o requerimento. Inconformado com a resposta, o dono da obra procurou escritrio de

    advocacia para se informar a respeito da possibilidade de pleitear o abatimento pretendido. Nessa

    situao hipottica, o dono da obra tem garantia legal para pleitear o abatimento pretendido frente

    ao argumento apresentado pelo empreiteiro? Justifique sua resposta com base no Cdigo Civil.

    RESOLUO DA QUESTO

    O atual Cdigo Civil positivou em nosso Direito, com carter de lei geral, a chamada Teoria da

    Impreviso.

    Os arts. 317 e 478 do Cdigo Civil asseguram a reviso do contrato quando, por motivos ou

    acontecimentos imprevisveis sobrevier desproporo manifesta ou excessiva onerosidade na

    prestao.

    Repare que os dispositivos citados trazem dois conceitos indeterminados. O primeiro deles

    o de imprevisibilidade. E o segundo de desproporo manifesta ou excessiva onerosidade.

    Essas duas regras se aplicam s obrigaes civis e aos contratos, em geral, previstos ou no

    no Cdigo Civil, desde que no haja lei especfica tratando da questo, como o caso do Cdigo de

    Defesa do Consumidor (art. 6, V).

    Ocorre que, em matria de empreitada, o Cdigo Civil traz disposio especfica. E essa

    disposio bem objetiva, trazendo conceitos determinados. Trata-se do disposto no art. 620 do

    Cdigo Civil, pelo qual, diminuies no preo do material ou da mo-de-obra, previstas ou

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    imprevistas (a lei no faz discriminao), desde que superior a um dcimo do preo global

    convencionado (10%), ensejam, a pedido do dono da obra, reviso contratual.

    No caso em tela, tratando-se de empreitada mista e de reduo do custo superior a 10%,

    incide o disposto, havendo garantia legal para pleitear reviso contratual com vistas ao abatimento

    pretendido pelo dono da obra.

    12. (OAB/CESPE - 2009.2 2 fase) Marcos emprestou uma casa de praia de sua propriedade a

    Fbio, seu amigo de infncia, para ele passar as frias de vero com a famlia. As chaves da casa

    foram entregues a Fbio no incio das frias, ficando acertada a restituio do bem imvel aps trinta

    dias. Escoado o prazo ajustado, Fbio se recusou a devolver o bem sob o argumento de que ele

    deveria ser reembolsado das despesas feitas com o uso e o gozo da casa, tendo direito de reteno.

    Marcos tentou amigavelmente a restituio do bem, no tendo obtido xito. Nessa situao

    hipottica, que espcie de negcio jurdico foi realizada entre Marcos e Fbio? Justifique sua

    resposta, indicando a medida judicial cabvel para assegurar a pretenso de Marcos e a

    responsabilidade de Fbio pela mora, conforme as disposies do Cdigo Civil e do Cdigo de

    Processo Civil.

    RESOLUO DA QUESTO

    Marcos e Fbio celebraram contrato de comodato, vez que se trata de um emprstimo

    gratuito de coisa infungvel (art. 579 do Cdigo Civil).

    Findo o prazo fixado para o emprstimo, Fbio deveria ter devolvido a coisa. As despesas

    feitas com o uso e o gozo da casa no ensejam direito de reteno em seu favor. Primeiro porque

    tais despesas so de responsabilidade do prprio comodatrio (Fbio), conforme dispe o art. 584 do

    Cdigo Civil. Segundo porque o direito de reteno, quando existente, diz respeito s benfeitorias

    teis e necessrias feitas na coisa.

    No caso, Marcos dever constituir em mora Fbio, o que poder ser feito por meio de

    notificao extrajudicial. Em seguida, dever ingressar com ao de reintegrao de posse, na qual

    deve-se cumular o pedido reintegratrio com o pedido indenizatrio, sendo que a indenizao

    consistir no pagamento de alugueres pelo uso da coisa at sua restituio, em quantia arbitrada

    pelo comodante (art. 582 do Cdigo Civil).

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    13. (OAB/CESPE - 2004 2 fase) Antnio, na condio de empregado de ngelo e com o veculo de

    propriedade do patro, atropelou Elisa, que veio a falecer em razo das leses sofridas. Consta do

    laudo pericial feito no local que o acidente ocorreu devido a imprudncia do motorista, que

    trafegava em rea residencial com velocidade superior mxima permitida. Elisa era solteira, me de

    dois filhos menores e trabalhava como empregada domstica, recebendo por ms a quantia

    correspondente a dois salrios mnimos. Com referncia situao hipottica acima descrita,

    discorra acerca da responsabilidade civil, abordando, fundamentada e necessariamente, os seguintes

    aspectos:

    a) identificao do responsvel pelo pagamento da indenizao;

    b) quantidade de parcelas a que tm direito os herdeiros da vtima.

    RESOLUO DA QUESTO

    Em matria de responsabilidade civil existe o instituto da responsabilidade pelo fato de

    terceiro. De acordo com esse instituto, algumas pessoas respondem objetivamente pelo fato culposo

    ou doloso praticado por terceiros (arts. 932 e 933 do Cdigo Civil).

    Um dos casos em que tal responsabilidade se d a do empregador, por seus empregados,

    justamente a situao narrada no enunciado da questo.

    Dessa forma, alm de Antnio, ngelo responsvel pelo pagamento da indenizao junto

    aos filhos de Elisa.

    Em caso de homicdio, o Cdigo Civil dispe que a indenizao consiste, dentre outras

    reparaes, em: a) despesas com tratamento da vtima; b) despesas com seu funeral; c) despesas

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    com o luto da famlia; d) prestao de alimentos s pessoas a quem o morto os devia, levando-se em

    conta a durao provvel da vida da vtima.

    Acrescente-se tambm a indenizao por danos morais.

    Com relao penso, o Superior Tribunal de Justia entende que a penso pela morte do

    pai ser devida at o limite de vinte e cinco anos de idade, quando, presumivelmente, os

    beneficirios da penso tero concludo sua formao, inclusive curso universitrio, no mais

    subsistindo vnculo de dependncia. Nesse sentido: Na esteira dos julgados desta Corte, devida a

    penso aos filhos menores at o limite de 25 (vinte e cinco) anos de idade. Precedentes: AGA n.

    458.836/MS e AGA n. 479.935/SP (STJ, Resp. 603.984/MT, rel. Min. Francisco Falco, DJ de

    16/11/04). Atingida essa idade, e havendo outro beneficirio da penso, haver direito e acrescer em

    favor deste (STJ, Resp. 625. 161/RJ, rel. Min. Aldir Passarinho Jnior, DJ 17/12/07). razovel que a

    penso seja fixada em 2/3 dos rendimentos da vtima: Responsabilidade Civil do Estado. Acidente de

    trnsito com vtima fatal. Adequada a fixao do valor da penso em 2/3 (dois teros) dos

    rendimentos da vtima, deduzindo que o restante seria gasto com seu sustento prprio. (STJ, Resp.

    603.984/MT, rel. Min. Francisco Falco, DJ de 16/11/04).

    Com relao aos danos morais, o Superior Tribunal de Justia considera razovel, em favor

    de filhos do falecido, indenizaes por dano moral em valores que vo at R$ 200 mil. Confira o

    seguinte caso: CIVIL E PROCESSUAL. AO DE INDENIZAO. ACIDENTE DE TRNSITO COM VTIMA

    FATAL, ESPOSO E PAI DOS AUTORES. DANO MORAL. FIXAO. MAJORAO. Dano moral aumentado,

    para amoldar-se aos parmetros usualmente adota dos pela Turma. [R$ 190 mil para esposa e filhas

    (STJ, Resp. 625.161/RJ, rel. Min. Aldir Passarinho Jnior, DJ 17/12/07).

    Quanto correo monetria e aos juros moratrios, na condenao por danos materiais,

    temos as seguintes regras (STJ, Resp, 705.859/SP, rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ de 21/03/05):

    a) correo monetria: devida desde o evento danoso (Smula 562 do STF: na indenizao de

    danos materiais decorrentes de ato ilcito cabe a atualizao de seu valor, utilizando-se, para esse

    fim, dentre outros critrios, dos ndices de correo monetria);

    b) juros moratrios: so devidos desde o evento danoso (Smula 54 do STJ: os juros moratrios

    fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual);

    Desde a entrada em vigor do atual Cdigo Civil, a taxa Selic aplicvel para fazer frente aos

    juros e a correo monetria (art. 406 do CC), conforme vem decidindo o STJ: Com o advento do

    novo Cdigo Civil (aplicvel espcie porque ocorrida a citao a partir de sua vigncia), incidem

    juros de mora pela taxa SELIC a partir da citao, no podendo ser cumulada com qualquer outro

    ndice de correo monetria, porque j embutida no indexador. (STJ, REsp 897.043/RN, rel. Min.

    Eliana Calmon, 2 T., j. 03-05-07, DJU, 11-05-07, p. 392).

    Na condenao por danos morais, temos as seguintes regras sobre correo monetria e

    juros moratrios (EDcl no Resp. n. 615.939/RJ, reI. Min. Castro Filho, DJ de 10/10/05):

    a) correo monetria: devida desde a data da fixao de seu valor, ou seja, desde a data da

    deciso judicial que fixar a indenizao por dano moral;

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    b) juros moratrios: so calculados tendo-se em conta a data do evento danoso (Smula 54 do STJ:

    os juros moratrios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade

    extracontratual).

    Os honorrios advocatcios devem incidir da seguinte forma: para efeito de clculo da

    verba honorria, a condenao constituda pelo somatrio de todas as prestaes venci das, alm

    das demais verbas j definidas (dano moral, penso, juros etc.), e doze das vincendas, inaplicvel o

    disposto no 5 do art. 20, do CPC. (STJ, Resp. 625.161/RJ, rel. Min. Aldir Passarinho Jnior, DJ

    17/12/07).

    14. (OAB/CESPE - 2006.2 2 fase) Miguel, ao transitar pela calada prxima a um edifcio resi-

    dencial, foi atingido por pesado objeto de metal que fora arremessado do prdio, o que lhe causou

    leses na cabea e no ombro e danificou os culos por ele usados para correo visual. Acerca dessa

    situao hipottica, responda, de forma fundamentada, s seguintes questes.

    a) Miguel tem direito indenizao?

    b) A responsabilidade, nesse caso, subjetiva ou objetiva?

    c) Na hiptese de no se conseguir identificar a pessoa que arremessou o objeto, ficaria a vtima

    impedida de pedir indenizao ou poderia imputar responsabilidade ao condomnio? Extenso

    mxima: 30 linhas

    RESOLUO DA QUESTO

    O caso mencionado se subsume hiptese prevista no art. 938 do Cdigo Civil. Esse

    dispositivo responsabiliza aquele que habitar prdio por danos provenientes de coisas que carem ou

    forem lanadas em lugar indevido.

    O dispositivo em questo no exige, para a configurao da responsabilidade, que se

    demonstre culpa ou dolo daquele que habita o prdio, para que a responsabilidade seja configura, de

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    modo que no se trata da responsabilidade subjetiva clssica (art. 186 do Cdigo Civil), at porque,

    se se tratasse dessa responsabilidade, no seria necessrio o art. 938 do Cdigo Civil.

    O dispositivo tambm no daqueles que estabelece a culpa presumida, culpa essa que

    pode ser desfeita pela prova de que o agente no atuou com culpa o dolo. Nesse caso, terse-ia

    verdadeira responsabilidade. A nica diferena em relao responsabilidade subjetiva prevista no

    art. 186 do Cdigo Civil que o ofendido no teria o nus de provar conduta dolosa ou culposa,

    ficando a culpa, como dito, presumida. E a diferena em relao responsabilidade objetiva est em

    que, diferentemente desta, na responsabilidade com culpa presumida, o ofensor poder t-la

    excluda se demonstrar que no agiu culposamente.

    Dessa forma, no caso em tela, Miguel tem, sim, direito indenizao, direito esse que dever

    ser exercido em face daquele que arremessou o metal ou de que habita o apartamento de onde as

    coisas foram lanadas, sendo certo que, em relao a quem habita o imvel, a responsabilidade

    objetiva.

    Na hiptese de no se identificar quem arremessou o objeto e o apartamento de onde foi

    lanado, a jurisprudncia vem entendendo que o condomnio dever responder, ressalvado, seu

    direito de regresso contra o responsvel, caso se consiga identific-lo futuramente.

    15. (OAB/CESPE - 2006.2 2 fase) Augusto adquiriu de Aurlio, por meio de contrato particular de

    promessa de compra e venda, os direitos de posse de um lote de terreno urbano, com algumas

    benfeitorias, na cidade de Aracaju - SE. No dia 20 do ms passado, Jos invadiu o lote, derrubou o

    muro e o porto e danificou diversas partes da casa, em construo, afirmando ser o proprietrio do

    imvel, ocasio em que exibiu a escritura pblica devidamente registrada. Considerando a situao

    hipottica apresentada, elabore um texto argumentativo acerca da proteo possessria e do direito

    de reteno por benfeitorias.

    RESOLUO DA QUESTO

    Augusto adquiriu a posse de Aurlio, por meio de contrato. No bastasse, praticou atos de

    exteriorizao da propriedade, consistente em construir no local (art. 1.196 do Cdigo Civil). Essas

    circunstncias fazem nascer uma srie de direitos, que esto entre os chamados efeitos da posse,

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    dentre os quais o direito de ser mantido na posse, em caso de turbao, e restitudo, no caso de

    esbulho (art. 1.210 do Cdigo Civil).

    Jos, por sua vez, afirma ser proprietrio do imvel e apresenta, em seu favor, uma escritura

    pblica devidamente registrada.

    No que diz respeito proteo possessria, aquele que exerce a posse, mesmo no sendo o

    proprietrio da coisa, tem direitos e pode defend-los por fora prpria, contanto que o faa logo, ou

    mediante ao possessria promovida junto ao Poder Judicirio (art. 1.210, 1, do Cdigo Civil).

    Nesse sentido, Augusto tem direito de defender a sua posse, extrajudicial e judicialmente,

    sendo certo que no juzo possessrio Jos sequer tem como alegar ser proprietrio da coisa (art.

    1.210, 2, do CC). Deve aguardar o desfecho da ao possessria e ingressar com ao

    reivindicatria, a fim de provar ser o verdadeiro proprietrio da coisa e conseguir a retomada do

    imvel. Nesse caso, estar caracterizada a evico e Augusto poder acionar Aurlio nos termos dos

    arts. 447 e seguintes do Cdigo Civil.

    Caso Jos seja realmente o proprietrio da coisa e vena a demanda reivindicatria, Augusto,

    por ser possuidor de boa-f, ter direito a indenizao pelas benfeitorias teis e necessrias que

    fizer, bem como, quanto s volupturias, se no lhe forem pagas, a levant-las, quando o puder sem

    detrimento da coisa, e poder exercer o direito de reteno pelo valor das benfeitorias necessrias e

    teis (art. 1.219 do Cdigo Civil).

    O direito de reteno por benfeitorias deve ser alegado por Augusto na prpria contestao

    da ao reivindicatria que sofrer.

    Por fim, vale lembrar que, se, por algum motivo, as benfeitorias no forem abonadas pelo

    evictor (Jos), Augusto poder acionar o alientante (Aurlio), nos termos do art. 453 do Cdigo Civil,

    a fim de que este arque com os prejuzos respectivos.

    16. (OAB/CESPE - 2006.2 2 fase) Renata, assistida por sua me, ajuizou ao de investigao de

    paternidade, cumulada com petio de herana, alimentos e nulidade de registro civil, contra Cludio

    e Raimundo, alegando que filha biolgica de Raimundo, apesar de constar em seu registro de

    nascimento ser filha de Cludio. Raimundo j falecido e o processo de inventrio e partilha est em

    curso. Diante da situao hipottica apresentada e acerca da ao de investigao de paternidade,

    responda, de forma fundamentada, s seguintes questes.

    a) admissvel a cumulao de pedidos contra rus distintos?

    b) facultado representante legal da menor desistir da ao em curso?

    c) Qual o termo inicial dos alimentos concedidos na sentena que julga procedente a ao de

    investigao de paternidade? Extenso mxima: 30 linhas

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    RESOLUO DA QUESTO

    O art. 292 do Cdigo de Processo Civil somente permite a cumulao de pedidos, num nico

    processo, contra o mesmo ru. Porm, o Superior Tribunal de Justia admite a cumulao quando

    houver ponto comum de ordem jurdica ou ftica que a justifique (art. 46, IV, do Cdigo de Processo

    Civil). No caso, a relao de filiao e paternidade que liga Renata, de um lado, e Cludio e

    Raimundo, de outro, justifica a medida.

    Quanto possibilidade de desistncia das aes em curso pela representante da menor, no

    possvel, por envolver direitos indisponveis, conforme entendimento do Superior Tribunal de

    Justia.

    Julgada procedente a ao de investigao de paternidade, o termo inicial dos alimentos

    concedidos na sentena a data da citao na demanda, conforme dispe a Smula 277 do Superior

    Tribunal de Justia (Julgada procedente a investigao de paternidade, os alimentos so devidos a

    partir da citao).

    17. (OAB/CESPE - 2007.1- 2 fase) Prcio Acreano presta alimentos no valor mensal de R$ 600,00 a

    Joclio Acreano Jnior, com 14 anos de idade, conforme termo de acordo firmado entre as partes e

    referendado pelo rgo da Defensoria Pblica. Prcio, contudo, pretende reduzir essa verba

    alimentcia para o valor de R$ 300,00 mensais, sob o fundamento de ter sofrido reduo em seus

    rendimentos, em razo da dispensa da funo comissionada at ento exerci da, bem como de o

    alimentando ter passado a perceber bolsa de estgio no valor de um salrio-mnimo. No entanto,

    Joana, representante legal de Jnior, discorda dessa reduo, sob a justificativa de que as despesas

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    de mantena do representado tambm sofreram igual incremento. Na qualidade de advogado con-

    sultado por Prcio sobre esse tema, responda, fundamentadamente, s seguintes questes.

    a) Qual a espcie de tutela cabvel e adequada para se pleitear, em sede judicial, a pretenso

    almejada por Prcio?

    b) Qual o valor da causa?

    RESOLUO DA QUESTO

    Prcio deve ingressar com ao de revisional de alimentos. O pedido de reviso de alimentos

    tem fundamento no art. 1.699 do Cdigo Civil, pelo qual, ocorrendo alterao no binmio

    necessidade/possibilidade, possvel reclamar ao juiz a reduo ou a majorao do encargo, sendo

    que, em determinados casos cabe at o pedido de exonerao do dever de prestar alimentos,

    hipteses em que se tem a ao de exonerao de alimentos.

    O valor da causa, na ao de alimentos, consiste na somatria de 12 prestaes mensais,

    pedidas pelo autor (art. 259, VI, do CPC). No caso em tela, por se tratar de ao de revisional de

    alimentos, o valor da causa deve ser, por analogia, a somatria de 12 diferenas entre a prestao

    hoje devida e a prestao que se deseja ver fixada. No caso, o valor da causa igual a R$ 3.600,00.

    18. (OAB/CESPE - 2007.2 2 fase) Pedro, menor impbere, representado por Slvia, sua genitora,

    firmou com Jos, seu pai, no dia 1 de dezembro de 2006, acordo extra judicial submetido homo-

    logao perante o rgo competente do Ministrio Pblico, em que Jos se obrigara a pagar a Pedro

    a quantia mensal de R$ 380,00, a ttulo de penso alimentcia. Porm, Jos se encontra inadimplente

    com as prestaes de junho a setembro de 2007. Considerando essa situao hipottica, na condio

    de advogado(a) contratado(a) por Slvia, redija um texto fundamentado que informe a sua cliente

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    sobre a possibilidade ftica e jurdica de o juiz decretar a priso civil de Jos ante o inadimplemento

    deste frente referida obrigao alimentar. (Data da prova: 30/09/07)

    RESOLUO DA QUESTO

    De acordo com a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia, o dbito alimentar que

    autoriza a priso civil do alimentante apenas o que compreende as trs prestaes anteriores ao

    ajuizamento da execuo e as prestaes que se vencerem no curso do processo.

    Essa jurisprudncia tenta compatibilizar o direito de liberdade com o direito vida e sade.

    Pelo princpio da proporcionalidade s se justifica cercear a liberdade de algum, no caso

    alimentante, se for para garantir o pagamento das prestaes mais imediatas em favor do

    alimentando, no caso, para garantir as prestaes que consigam resguardar as necessidades atuais

    alimentares.

    Dessa forma, somente em relao aos dbitos de setembro, agosto e julho, de 2007, a priso

    pode ser decretada.

    19. (OAB/CESPE - 2008.3 2 fase) Mariana, que trabalha com grupos de apoio a mulheres vtimas

    de violncia domstica, casou-se, aps trs meses de namoro, com pessoa que conhecera na

    faculdade. Passados quatro meses da celebrao do casamento, nada perturbava a vida harmoniosa

    do casal, at que Mariana soube que seu marido j havia sido condenado por leses corporais graves

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    causadas a uma antiga namorada bem como tramitavam, contra ele, duas aes penais em que era

    acusado da prtica de estupro e atentado violento ao pudor contra a mesma pessoa. Em razo desse

    fato, Mariana pretende pr fim a seu casamento. Em face dessa situao hipottica, indique a

    soluo jurdica adequada pretenso de Mariana, destacando no s o direito material aplicvel

    espcie como tambm o meio adequado de encaminhamento do pedido a ser realizado.

    RESOLUO DA QUESTO

    O casamento pode acabar por morte de um dos cnjuges, nulidade ou anulao e divrcio

    (art. 1.571, 1, do Cdigo Civil).

    O divrcio depende, sempre, do decurso de um tempo para ser concedido. Ou se aguarda

    dois anos de separao de fato do casal, pleiteando-se o divrcio-direto (art. l.580, 2, do Cdigo

    Civil) ou primeiro se faz a separao judicial e, depois, aguarda-se o tempo necessrio para o

    divrcio-converso (art. l.580, caput, do Cdigo Civil).

    No caso de Mariana, fazer gestes com vistas ao divrcio no a melhor opo. Primeiro

    porque os fatos imputados ao seu marido so anteriores ao casamento, o que dificulta a carac-

    terizao dos motivos que determinam a impossibilidade de comunho de vida. E segundo porque,

    como se viu, o fator tempo sempre necessrio para a concesso do divrcio.

    Por outro lado, a anulao do casamento providncia que se subsume bem aos fatos

    narrados. Isso porque a anulao providncia adequada quando se imputa ao cnjuge de que se

    quer separar a imputao de fatos anteriores ao casamento. Ademais, no necessrio aguardar

    certo tempo para efetuar em juzo o pedido de anulao do casamento.

    No caso em tela, verifica-se ter ocorrido vcio de vontade, consiste em erro essencial sobre a

    pessoa do outro (art. 1.556 do Cdigo Civil), mais especificamente o erro contido no inciso II do art.

    1.557 do Cdigo Civil.

    Com efeito, qualquer mulher que descobrisse o passado do marido de Mariana, j sentiria

    enorme desconforto, dvidas, medos e decepo, aptos a tomar insuportvel a vida em comum. No

    entanto, no caso de Mariana, que trabalha com grupos de apoio a mulheres vtimas de violncia

    domstica, a situao de desconforto ainda maior, tomando evidente a caracterizao do motivo

    que enseja a anulao do casamento.

    importante ressaltar que o prazo decadencial para a anulao do casamento, no caso,

    ainda est em curso, vez que de trs anos, contados da data da celebrao (art. 1.560, III, do

    Cdigo Civil).

    A ao adequada para o caso de anulao de casamento, a ser julgada na Vara de Famlia,

    no foro da residncia de Mariana (art. 100, I, do Cdigo de Processo Civil), e que deve ser processada

    pelo rito ordinrio.

    20. (OAB/CESPE - 2006.1 2 fase) Paula e Manoel conviveram em unio estvel por seis anos e tm

    dois filhos, Pedro e Tiago, menores impberes. A convivncia do casal terminou com a morte de

    Manoel, ocorrida em 12/12/2005. Manoel era vivo e deixou os seguintes bens:

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    - uma casa residencial adquirida onerosamente na constncia da convivncia com Paula, que servia

    como residncia do casal;

    - um apartamento residencial adquirido em data anterior convivncia com Paula.

    O de cujus deixou tambm como herdeira Cludia, maior e capaz, filha de seu primeiro

    casamento. A unio estvel de Manoel e Paula foi reconhecida judicialmente e ele no deixou dvidas

    a pagar.

    Considerando a situao hipottica apresentada, redija um texto em que sejam respondidas,

    de maneira fundamentada, as seguintes questes a seguir:

    a) Paula poder requerer a abertura do inventrio?

    b) Havendo concordncia de todos os herdeiros, podero ser requeridos a partilha amigvel e o

    arrolamento dos bens do esplio de Manoel?

    c) Como deve ser feita a partilha dos bens do esplio de Manoel? (Elabore plano ou esboo da

    partilha.) extenso mxima: 60 linhas

    RESOLUO DA QUESTO

    Na constncia da unio estvel h presuno legal de mtua colaborao na formao do

    patrimnio do casal. Esse dado, somado ao fato de que a casa residencial mencionada no enunciado

    foi adquirida onerosamente na constncia da convivncia com Paula, faz com que esta tenha, de

    incio, e no que tange ao Direito de Famlia, direito meao desse imvel, com o falecimento de

    Manoel.

    Porm, resta saber se Paula tambm direito algum direito sucessrio, no que diz respeito ao

    Direito das Sucesses. Nesse sentido, o art. 1.790 do atual Cdigo Civil, lei aplicvel espcie pelo

    fato de o falecimento de Jos ter ocorrido em 2005, estabelece que o companheiro participar da

    sucesso do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigncia da unio estvel. No caso,

    o inciso I do art. 1.790, aplicvel ao caso em virtude de Paula ter filhos comuns, estabelece que a

    companheira ter direito a uma cota equivalente que por lei for atribuda ao filho.

    Assim, a conta aplicvel ao caso a seguinte: x + x + x + x = 50%, sendo que 50% o nmero

    que equivale a metade do nico imvel em relao ao qual haver participao sucessria de Paula,

    no caso, a metade da casa adquirida pelo casal na constncia da unio. A letra "x" equivale

    participao igualitria de Paula, sucessora, e os trs filhos, herdeiros de Manoel. Resolvendo a

    equao montada conclui-se que "x" igual a 12,50%.

    Dessa forma, Paula ficar com 62,5% da casa adquirida pelos companheiros e cada filho

    ficar com 12% dessa casa e 1/3 do apartamento adquirido por Manoel antes da convivncia com

    Paula.

    Considerando que a unio estvel j est reconhecida, Paula poder requerer a abertura do

    inventrio (art. 987 do Cdigo de Processo Civil), podendo inclusive ser nomeada inventariante, nos

    termos do art. 990, I, do Cdigo de Processo Civil, aplicado por analogia.

    No possvel a partilha amigvel e o arrolamento de bens, por haver menores impberes

    como herdeiros (art. 1.031 do Cdigo de Processo Civil).

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    21. (OAB/CESPE - 2007.3 2 fase) Dora, em virtude do falecimento de seu marido, Pedro, pretende

    renunciar meao e transferir aos filhos do casal a propriedade do imvel que serve de moradia

    para a famlia, adquirido na constncia do casamento. Diante dessa situao hipottica, redija um

    texto dissertativo acerca da meao do cnjuge sobrevivente e sobre a possibilidade de sua renncia

    nos prprios autos do inventrio da herana do cnjuge falecido.

    RESOLUO DA QUESTO

    No se pode confundir o direito meao com o direito sucesso hereditria.

    O direito meao decorre do Direito de Famlia e diz respeito metade do patrimnio

    comum, que deve ser destacada em favor do cnjuge do sobrevivente, diante do fim da sociedade

    conjugal.

    O direito sucesso hereditria diz respeito parte que compete ao herdeiro sobre os bens

    deixados pelo falecido.

    No caso em tela, o imvel que serve de moradia para a famlia consiste no patrimnio

    comum do casal Dora e Pedro. Com o falecimento deste, a sociedade conjugal fica extinta e Dora,

    pelo Direito de Famlia, tem direito de ficar com 50% do imvel, referente sua meao. Os outros

    50% consistem no patrimnio deixado por Pedro. Trata-se da herana, que deve ser dividida entre

    seus herdeiros.

    Com relao me ao de Dora, a terminologia adequada para o ato que ela deseja praticar

    no renncia meao, e sim doao da parte que lhe cabe pelo direito de famlia. E a

    jurisprudncia vem admitindo que essa cesso patrimonial seja feito nos autos do inventrio,

    mediante termo judicial. Pode-se aplicar por analogia o disposto no art. 1.029 do Cdigo de Processo

    Civil.

    Dependendo do regime de bens que Dora mantinha com Pedro, pode ser que ela tambm

    seja herdeira dele, em concorrncia com os filhos do casal (art. 1.829, I, do Cdigo Civil).

    Nesse caso, e somente no que disser respeito parte que compete a Dora pelo Direito das

    Sucesses, esta poder renunciar herana, o que pode ser feito, segundo o art. 1.806 do Cdigo

    Civil, por instrumento pblico ou termo judicial.

    Assim, o cnjuge sobrevivente, em relao aos seus direitos sucessrios, pode requerer nos

    autos do inventrio seja lavrado termo judicial do qual conste sua renncia herana deixada pelo

    de cujus.

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    22. (OAB/CESPE - 2009.1- 2 fase) Jaqueline requereu inventrio, sob a modalidade de arrolamento

    de bens, em decorrncia do falecimento de seu esposo, com quem era casada em regime de

    comunho universal de bens. A autoridade julgadora determinou a juntada aos autos da habilitao

    e a representao de todos os herdeiros descendentes, tendo em vista a informao de que da unio

    teriam nascido trs filhos. Contra a referida deciso insurgiu-se a viva, alegando que o fato de ter

    sido casada com o falecido, em regime de comunho universal de bens, implicaria a excluso de seus

    filhos da sucesso, de acordo com o art. 1.829, I, do Cdigo Civil. Considerando essa situao

    hipottica, discorra, com base no Cdigo Civil de 2002, a respeito dos direitos da viva na referida

    sucesso, especificando se o fato de ter sido casada em regime de comunho universal de bens

    exclui os descendentes da sucesso.

    RESOLUO DA QUESTO

    Em primeiro lugar, deve-se deixar claro que, com a morte do marido de Jaqueline, fica

    extinta a sociedade conjugal, atribuindo-se a ela a chamada meao, consiste em metade do

    patrimnio do casal, e decorrente do Direito de Famlia.

    A outra metade consiste na herana deixada por seu esposo. E tal herana deve ser

    distribuda considerando a ordem de vocao hereditria, prevista no Direito das Sucesses.

    Essa ordem, estabelecida no art. 1.829 do Cdigo Civil, faz com que uma classe de herdeiros exclua a

    dos outros, na ordem prevista no dispositivo. Assim, e a ttulo de exemplo, no havendo

    descendentes e ascendentes do de cujus, mas somente cnjuge sobrevivente (inciso III do art. 1.829),

    ficam excludos da herana os parentes colaterais (inciso IV do art. 1. 829).

    No caso em tela, pertence primeira classe de herdeiros os descendentes do de cujos, bem

    como o cnjuge sobrevivente, desde que este no seja casado, dentre outros regimes ou condies,

    pelo regime da comunho universal de bens.

    Nesse sentido, e considerando que Jaqueline era casada com o falecido pelo regime de

    comunho universal, a existncia de descendentes do de eu jus, faz com que ela fique excluda da

    sucesso, sendo beneficiada apenas pela regra que dispe que o cnjuge sobrevivente tem o direito

    real de habitao relativamente ao imvel destinado residncia da famlia, desde que seja o nico

    daquela natureza a inventariar (art. 1.831 do CC).

    Dessa forma, depois de separado da totalidade dos bens do casal o montante referente

    meao a que tem direito Jaqueline, a outra metade do patrimnio do casal pertence exclusivamente

    aos filhos do falecido, que a repartiro em partes iguais.