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REVISTA TRABALHISTA Direito e Processo

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REVISTA

TRABALHISTA

Direito e Processo

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REVISTA

TRABALHISTA

Direito e Processo

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© CopyrightRevista Trabalhista

Revista trabalhista : direito e processo. — Ano 1, v. I, n. 1 (jan./mar. 2002 –). — Brasília : Anamatra ; Rio de Janeiro ; Forense. v. : 28 cm. Trimestral. Descrição baseada em: Ano I, v. I, n. 1 (jan./mar. 2002). Numeração sequencial reformulada em 2008 para: Ano 7, n. 28, não havendo interrupção. A partir do Ano 7, n. 25 a edição está sob a responsabilidade da LTr Editora e Anamatra. Inclui doutrina, pareceres, jurisprudência, legislação, estudos e comentários.

ISSN 1677-2784 1. Direito do trabalho — Brasil. 2. Jurisprudência trabalhista — Brasil. 3. Legislação trabalhista — Brasil. I. Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra).

)50( )18( 133:43 UDC PS/rTL

Proibida a reprodução total ou parcial, bem como a reprodução de apostilas a partir desta Revista, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográ� cos, de fotocópia e de gravação, sem permissão expressa do Editor (Lei n. 9.610, de 19.2.1998).

© T o d o s o s d i r e i t o s r e s e r v a d o sR

EDITORA LTDA.Rua Jaguaribe, 571 – CEP 01224-001 – Fone (11) 2167-1101

São Paulo, SP – Brasil – www.ltr.com.br

4102 ,orbmeteS

Produção Grá� ca e Editoração Eletrônica: PETER FRITZ STROTBEKCapa: FORMA E CONTEÚDO EDITORA CRIATIVA

Finalização: FABIO GIGLIOImpressão: COMETA GRÁFICA E EDITORA

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Versão impressa - LTr 5139.4Versão digital - LTr 8420.8

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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48 5

ANO 12 • N. 48 • OUTUBRO • NOVEMBRO • DEZEMBRO • 2013 • ISSN 1677-2784

PRESIDENTE ANAMATRAPAULO LUIZ SCHMIDT

CONSELHO EDITORIAL ANAMATRA

ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA

Doutor pela Universidad Complutense de Madrid.Desembargador Federal do Trabalho do TRT da 1a Região – RJ.

ANDRÉ MACHADO CAVALCANTI

Especialista em Direito do Trabalho pela Universidade de João Pessoa/Unipê. Diretor de Formaçãoe Cultura da Anamatra (gestão 2013-2015). Juiz Titular da Vara de Catolé da Rocha/PB.

CARLOS ALBERTO PEREIRA DE CASTRO

Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí. Membro Benemérito do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário. Professor de Direito do Trabalho do Curso de Pós-Graduação em Direito e Processo

do Trabalho da AMATRA 12. Professor honoris causa da Academia Catarinense da Advocacia Trabalhista. Professor Convidado-Permanente da Escola Superior de Advocacia da OAB-SC.

Juiz Titular da 7a Vara do Trabalho de Florianópolis – 12a Região (SC).

CLEBER LÚCIO DE ALMEIDA

Graduado pela Faculdade de Direito da UFMG. Mestre em Direito pela PUC/SP. Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da UFMG. Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da PUC/MG. Juiz do

Trabalho Titular da 21ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte/MG.

GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO

Livre-Docente e Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Juiz titular da 1a Varado Trabalho de Taubaté-SP. Professor Associado do Departamento de Direito do Trabalho e da

Seguridade Social da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

GUILHERME GUIMARÃES LUDWIG

Juiz do Trabalho do TRT da 5a Região/BA. Doutorando e Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia/ UFBA. Extensão universitária em Economia do Trabalho pelo CESIT/UNICAMP.

Professor de Direito e Processo do Trabalho na Universidade do Estado da Bahia/UNEB. Coordenador Executivo da Escola da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 5a Região/EMATRA 5. Membro do Conselho Consultivo da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 5a Região

(2005-2011; 2013-).

JOSÉ APARECIDO DOS SANTOS

Mestre e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.Juiz titular da 17a Vara do Trabalho de Curitiba-PR.

NARBAL ANTÔNIO DE MENDONÇA FILETI

Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em Teoria e Análise Econômicas e em Dogmática Jurídica. Professor do Curso de Graduação em Direito da Unisul –

Universidade do Sul de Santa Catarina. Professor em Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu.

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6 REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48

Professor Convidado-Permanente da Escola Superior de Advocacia da OAB/SC.Membro da Comissão Técnico-Científi ca da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da

12a Região/SC (2006-2007). Juiz titular da 2a Vara do Trabalho de Tubarão – 12a Região/SC.

PROF. AVV. FABIO PETRUCCI

Professore a contratto presso la Libera Università degli studi di Roma LUISS per l’insegnamento del Diritto della previdenza complementare. Dottore di ricerca in Diritto del Lavoro, Sindacale e della Previdenza presso

l’Università degli studi di Roma, “Tor Vergata”. Responsabile scientifi co dell’Anamatra (Associazione nazionale dei giudici del lavoro brasiliani) per le iniziative di formazione dei giudici del lavoro brasiliani da svolgersi in Italia. Ha conseguito la specializzazione, triennale, presso la Scuola di Diritto del lavoro dell’Univeristà

di Roma “La Sapienza”. Dirigente Responsabile dell’Uffi cio Legale e Affari generali della Cassa Nazionale di Previdenza degli Ingegneri e Architetti italiani (Inarcassa). Avvocato. Componente di vari comitati scientifi ci

di riviste giuridiche fra cui la “Revista de Direito Economico e sociambiental.

REGINALDO MELHADO

Doutor em Direito pela Universidade de Barcelona, com revalidação pela USP (Universidade de São Paulo).Juiz titular da 6a Vara do Trabalho de Londrina.

Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina.

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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48 7

Sumário

Abreviaturas e siglas usadas ............................................................................................. 9

Editorial ............................................................................................................................ 11

Regras para publicação de artigos e Acórdãos/Sententas ................................................. 13

Doutrina

O potencial da ação regressiva acidentária como instrumento de mudança de paradigma: a primazia da prevenção dos infortúnios laboraisAdriano Jannuzzi Moreira e Aline Carneiro Magalhães .................................................. 17

Poder familiar versus proselitismo religioso do empregado doméstico: qual o desfecho constitucionalmente adequado?Aloisio Cristovam dos Santos Junior ................................................................................. 34

Jornada de trabalho e o direito à limitação: desencontros entre a Constituição e a legislação infraconstitucionalLaryssa Marcelino da Silva ............................................................................................... 45

Breves notas sobre a preclusão judicial no procedimento probatórioMatheus Ribeiro Rezende .................................................................................................. 64

Processo judicial eletrônico: uma análise acerca da sua compatibilidade com o jus postulandi e os honorários advocatícios na seara laboralMonique Ramalho de Sales Remígio ................................................................................. 73

O trabalho reduzido à condição análoga à de escravo no setor da indústria têxtil e da construção civil: um desafi o para o Direito do Trabalho na atualidadeAnderson Luiz Barbosa, Fabiano Carvalho e Victor Hugo de Almeida ............................ 80

Penhora de salário e os postulados da razoabilidade e da proporcionalidade: breve análise da jurisprudência brasileira à luz de aportes críticos pós-positivistasNey Maranhão .................................................................................................................. 97

Cartões apócrifos e o ônus da provaEdilton Meireles ................................................................................................................ 111

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8 REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48

A estrada dos tijolos amarelos: erfl exões acerca do centralismo burocrático no judiciário trabalhista brasileiroPaulo Henrique Tavares da Silva ...................................................................................... 118

O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de DireitoRoberta Corrêa de Araújo Monteiro ................................................................................. 135

Jurisprudência

— Acórdãos do Tribunal Superior do Trabalho e Tribunais Regionais do Trabalho

Tribunal Superior do Trabalho ........................................................................................ 157

Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região .................................................................. 169

Tribunal Regional do Trabalho da 15a Região ................................................................ 174

— Sentenças

Vara do Trabalho de Mineiros – GO ............................................................................... 193

Vara do Trabalho de Almenara – MG ............................................................................. 217

3a Vara do Trabalho de Parauapebas – PA ...................................................................... 271

13a Vara do Trabalho de Guarulhos – SP ........................................................................ 287

Índice Geral ..................................................................................................................... 295

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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48 9

Abreviaturas e Siglas Usadas

ABNT .................................................. Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADCT/ano (ano com 4 dígitos) ........ Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

CC ....................................................... Código Civil

CCB ..................................................... Código Civil Brasileiro

CDC .................................................... Código de Defesa do Consumidor

CF ........................................................ Constituição Federal

CLT...................................................... Consolidação das Leis do Trabalho

CNC .................................................... Consolidação das Normas da Corregedoria

CP ....................................................... Código Penal

CPC ..................................................... Código de Processo Civil

CPP ..................................................... Código de Processo Penal

CTB ..................................................... Código de Trânsito Brasileiro

CTN .................................................... Código Tributário Nacional

DOE .................................................... Diário Ofi cial do Estado

DOU ................................................... Diário Ofi cial da União

EC ....................................................... Emenda Constitucional

ECA ..................................................... Estatuto da Criança e do Adolescente

FGTS ................................................... Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

INSS .................................................... Instituto Nacional do Seguro Social

MP ...................................................... Medida Provisória

NBR .................................................... Norma Brasileira Regulamentada

OIT...................................................... Organização Internacional do Trabalho

STF ...................................................... Supremo Tribunal Federal

STJ ....................................................... Superior Tribunal de Justiça

TJ ......................................................... Tribunal de Justiça

TRT ..................................................... Tribunal Regional do Trabalho

TST...................................................... Tribunal Superior do Trabalho

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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48 11

A ameaça que nos rondaNo primeiro semestre de 2014, o Ministro LUIZ FUX reconheceu, no ARE n. 713.211 (Celulose

Nipo Brasileira S/A v. Ministério Público do Trabalho e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Guanhães e Região), repercussão geral para o tema da constitu-cionalidade da Súmula n. 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que estabelece, no cenário jurídico-laboral brasileiro, limites civilizatórios para a contratação de terceiras empresas fornecedoras de mão de obra de substituição. E, seja pelas peculiariedades do caso, seja ainda pelas movimentações percebidas desde então, emerge o receio de que, com um golpe de caneta, o Excelso Pretório consuma uma violação maior para o valor social do trabalho que o próprio PL n. 4330, ainda em trâmite pelo Congresso Nacional.

Com efeito, em sede de EmbDcl no AgRg no RE com Ag (ARE) 713.211/MG, em plenário virtual, o STF admitiu ao regime de repercussão geral o exame dos “parâmetros a serem observados para a identifi cação de que tarefas podem ser terceirizadas por empregadores”, abrindo margens para se discutir, em sede constitucional, a inteligência da Súmula n. 331, I, do TST. No entendimento do Ministro FUX, “(...) a proibição judicial de contratação de mão de obra terceirizada não decorreu da análise de um texto legal específi co, mas de uma compreensão pretoriana que almejou delimitar o princípio da legalidade no âmbito das relações trabalhistas”. No entanto, é justamente com esse verbete que o Tribunal Superior do Trabalho tem assegurado mínima indenidade para a dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho, reconhecendo fraude nas chamadas “terceirizações de atividades-fi m” (inciso I). Exemplos gritantes de tais fraudes reveleram-se, durante os anos oitenta e noventa, nos mais variegados segmentos econômicos. No setor calçadista, p.ex., empresas de calçados desativaram setores inteiros de suas linhas de produção para substituí-los por cooperativas de mão de obra formadas basicamente pelos ex-empregados do setor, agora contratados como “autô-nomos”. Na prática, eram recontratados sob remuneração real sensivelmente inferior. No campo, ademais, obreiros foram frequentemente reintroduzidos nas lavouras em condições de neoescravidão (art. 149 do CP). Além disso, mesmo nas terceirizações lícitas, a Súmula n. 331 assegura mínima liquidez para os créditos trabalhistas sonegados, na medida em que, diante da inidoneidade econômica da empresa prestadora, a própria empresa tomadora pode ser chamada a responder com seu patrimônio, em caráter subsidiário (inciso IV).

Pelos bastidores da admissibilidade dessa repercussão geral — que, diga-se, poderia há anos ter sido reconhecida (a Súmula n. 331 conta com quase vinte anos, mas somente agora seu texto chega ao STF, ao ensejo de um especial “alinhamento” de pessoas, circunstâncias e interesses) —, setores sindicais, acadêmicos e institucionais temem pelo pior. E o pior, neste caso, seria a declaração de inconstitucionalidade do verbete, ou de uma interpretação conforme sucedânea, para doravante autorizar, a bem da livre-iniciativa, qualquer tipo de terceirização de mão de obra, sob quaisquer circunstâncias, assegurada a mínima formalidade contratual.

Com tal liberação, para dar um único e nefasto exemplo, um hospital público não precisaria ter empregados próprios: a entidade instituidora simplesmente terceirizaria os administradores,

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os médicos e os serviços de enfermagem, além das chamadas “atividades-meio”, que tradi-cionalmente já são terceirizadas (vigilância, limpeza, alimentação etc.). O trabalho humano passaria à condição de mercadoria livremente negociada no mercado, ao inteiro alvedrio das leis de oferta e procura.

Daí que, a vingar essa nefasta inversão hermenêutica, anteveem-se já três efeitos práticos de grande impacto social, observáveis a médio e longo prazos:

(a) a desaparição do Direito do Trabalho como se construiu no Brasil, sob a égide de um princípio da proteção do trabalhador (art. 7o da CRFB);

(b) a fragilização irreversível da organização sindical brasileira; e

(c) a desaparição da própria Justiça do Trabalho.

Em todos esses horizontes, as fi nalidades estatutárias da ANAMATRA impõem-lhe atuar, com absoluto rigor. E, entre todas, duas em especial: a preservação da Magistratura do Trabalho, em sua entidade, na sua autonomia e nos seus direitos e prerrogativas; e a defesa da integridade e da progressividade dos direitos sociais.

Nessa ordem de ideias, importa questionar, na linha reversa, se a franca liberação das contratações de mão de obra — para atividades-fi m e atividades-meio — poderia ser valida-mente consumada na ordem jurídica brasileira, por lei ou por decisão judicial. Indagar da sua constitucionalidade, à luz dos arts. 1o, IV, 1a parte, 6o, 7o, 170 e 186, III, todos da Constituição da República; e, antes mesmo dela, indagar da sua convencionalidade, considerando-se o atual barema jurídico de proteção (condensado na Súmula n. 331 do TST) e o que está disposto no artigo 26 do Pacto de San José da Costa Rica, ratifi cado pelo Brasil (Decreto n. 678/1992) e já considerado pelo STF como direito supralegal (v. RE n. 349.703, RE n. 466.343 e HC n. 87.585):

“Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fi m de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.”

No artigo 45 da Carta da Organização dos Estados Americanos, por sua vez, lê-se:

Os Estados-membros convêm em que a igualdade de oportunidades, a eliminação da pobreza crítica e a distribuição equitativa da riqueza e da renda, bem como a plena partici-pação de seus povos nas decisões relativas a seu próprio desenvolvimento, são, entre outros, objetivos básicos do desenvolvimento integral. Para alcançá-los convêm, da mesma forma, em dedicar seus maiores esforços à consecução das seguintes metas básicas: [...] g) Salários justos, oportunidades de emprego e condições de trabalho aceitáveis para todo; [...]”.

Pois bem: franquear a terceirização de serviços para todo e qualquer objeto social, sem mínimas garantias, signifi cará progresso nos quesitos da justeza dos salários, da igualdade de oportunidades e das condições aceitáveis de trabalho?

Para a ANAMATRA, a resposta é “per se” evidente. De todo modo, o que virá, num sentido ou noutro, afetará visceralmente o futuro de todos nós. Estejamos atentos.

A Comissão Editorial

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REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48 13

Regras para publicação deartigos e Acórdãos/Sentenças1. Da fi nalidade

1.1. A Revista Trabalhista Direito e Processo tem por fi nalidade promover o debate e a refl exão crítica sobre os principais temas de competência da Justiça do Trabalho. Para tanto, se propõe a divulgar a produção científi ca de magistrados do trabalho, procuradores do trabalho e advogados, bem como de outros profi ssionais do Direito.

2. Da Comissão Editorial2.1. Caberá à Comissão Editorial da Revista analisar, aprovar e selecionar as sentenças, os

acórdãos e os artigos científi cos a serem publicados.

2.2. Da decisão da Comissão não caberá pedido de reconsideração ou recurso.

3. Do encaminhamento3.1. As sentenças, os acórdãos e os artigos científi cos deverão ser encaminhados virtualmente

apenas para endereço eletrônico que constará em cada edital que será publicado no sítio da Anamatra na internet, sob a forma de anexo à mensagem eletrônica.

3.2. O encaminhamento dos artigos científi cos autoriza automaticamente a publicação. Caso opte pela posterior desautorização, o autor deverá proceder à comunicação pelo mesmo endereço eletrônico constante no subitem anterior, até o prazo de dez dias antes do encaminhamento do material pela comissão à editora.

3.3. Da mensagem eletrônica, deverá constar o endereço completo (residencial ou profi ssional) do autor para posterior encaminhamento de um exemplar com o trabalho publicado.

4. Das Sentenças e dos Acórdãos — Requisitos4.1. As sentenças e os acórdãos encaminhados para publicação poderão versar sobre qualquer

matéria.

4.2. Os acórdãos estão limitados ao máximo de três por desembargador ou ministro.

4.3. As sentenças e os acórdãos deverão ser remetidos, obrigatoriamente, acompanhados da data de publicação no Diário Ofi cial ou com a indicação da audiência em que foram publicados, constando, inclusive, o número dos autos do processo em que foram proferidos.

4.4. Já tendo sido publicada a sentença ou o acórdão, o prolator/relator deverá, obrigatoria-mente, indicar em que veículos houve a publicação.

5. Dos artigos científi cos — Requisitos5.1. Os artigos científi cos terão tema livre, devendo ser, preferencialmente, inéditos no Brasil.

5.2. Os artigos científi cos deverão ser encaminhados devidamente corrigidos do ponto de vista ortográfi co.

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14 REVISTA TRABALHISTA DIREITO E PROCESSO — ANO 12 — N. 48

5.3. Os artigos científi cos observarão, obrigatoriamente, os seguintes requisitos:

5.3.1. conterão entre cinco e trinta páginas, preparados em formato Microsoft Word;

5.3.2. os textos conterão, obrigatoriamente, a seguinte estrutura: a) título (e subtítulo, se houver); b) nome do autor; c) qualifi cação sucinta do autor (em nota de rodapé); d) resumo em português, com o máximo de duzentas palavras; e) mínimo de três e máximo de seis palavras--chaves que representem o conteúdo do texto; f) sumário; g) introdução; h) corpo do texto; i) considerações fi nais; j) referências bibliográfi cas; e k) data de elaboração, devendo ser, preferen-cialmente, recente;

5.3.3. a referência ao autor do artigo (subitem 5.3.2, alínea “b”) deverá conter os dados relativos à sua maior titulação acadêmica, além do cargo que ocupa na respectiva Região da Justiça do Trabalho, com indicação do Estado da Federação em caso de magistrado ou de membro do Ministério Público do Trabalho. O autor, se for o caso, deverá identifi car-se como mestrando ou doutorando, assumindo a obrigação de lançar a publicação no seu currículo plataforma LATTES mantido no site do CNPQ: <http://www.cnpq.br>;

5.3.4. as citações deverão ser feitas em sistema de nota de rodapé, de acordo com as normas atualizadas da ABNT; não serão aceitos trabalhos com citação do tipo autor-data;

5.3.5. as referências bibliográfi cas deverão vir no fi nal do texto;

5.3.6. as citações de textos de outros autores que ultrapassem três linhas devem ser feitas em parágrafo apartado, com recuo de 4 cm e sem aspas; as demais citações deverão vir no corpo do texto, entre aspas;

5.3.7. com o encaminhamento dos artigos, os seus autores automaticamente autorizam a Ana-matra e a LTr Editora a realizar pequenas correções gramaticais que não alterem o teor do trabalho.

6. Da não observância dos requisitos formais

6.1. Os trabalhos que não observarem as normas deste edital, especialmente as formais, serão devolvidos aos seus autores, para readequação em oito dias, sob pena de não publicação.

7. Disposições gerais

7.1. O encaminhamento das sentenças, dos acórdãos e dos artigos científi cos autoriza auto-maticamente a sua publicação (ver subitem 3.2).

7.2. As sentenças, os acórdãos e os artigos científi cos recebidos para seleção não serão de-volvidos e poderão ser publicados em números posteriores do periódico, a critério da Comissão Editorial, permanecendo no banco de dados da Revista, sendo desnecessária nova autorização do prolator/relator/autor.

7.3. Caso o remetente não concorde com a publicação nos números posteriores da Revista, deverá informar expressamente na mensagem de encaminhamento.

7.4. O conteúdo dos artigos científi cos é de responsabilidade exclusiva de seus autores.

7.5. Não haverá nenhuma retribuição pecuniária pelos artigos enviados ou publicados, uma vez que a simples remessa para publicação importa a renúncia dos direitos autorais de natureza patrimonial.

Comissão Editorial da Revista Trabalhista Direito e Processo

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O potencial da ação regressiva acidentária como instrumento de mudança de paradigma: a primazia da prevenção dos infortúnios laborais(1)

Adriano Jannuzzi Moreira(*) e Aline Carneiro Magalhães(**)

Resumo:

O presente trabalho propõe uma refl exão sobre o potencial da ação regressiva acidentária enquanto instrumento pedagógico capaz de infl uenciar os empregadores na adoção de uma gestão empresarial de prevenção dos infortúnios laborais. Estes continuam sendo um grave problema existente no nosso país. Diuturnamente, inúmeros trabalhadores perdem suas vidas ou deixam de exercer o seu labor em virtude de acidentes que, na maioria das vezes, poderiam ter sido evitados. Ainda hoje grande parte dos empresários insiste na monetização da saúde do trabalhador, entretanto, cada vez menos a sociedade aceita tal postura, exigindo que a empresa cumpra com sua responsabilidade social e proporcione ao seu obreiro, por meio do cumprimento das normas de saúde e segurança, um ambiente de trabalho seguro e saudável.

Palavras-chave:

Acidente do trabalho — Prevenção — Ação Regressiva Acidentária.

Índice dos Temas:

1. Introdução

2. Dados sobre a infortunística laboral no Brasil e suas repercussões

3. Saúde, segurança e prevenção sob o aspecto normativo: necessidade de cumprimento patronal

4. Ação regressiva acidentária

4.1. Constitucionalidade da ARA

(1) Artigo apresentado e publicado nos Anais do XXIII Encontro Nacional do Conpedi/UFSC em abril de 2014.

(*) Mestre em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. Doutorando em Direito. Professor universi-tário. Consultor empresarial e Advogado. Especialista em Inteligência Empresarial. Autor de livros e artigos.

(**) Doutoranda e Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora universitária. Advogada. Articulista e pa-lestrante.

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4.2. ARA: procedimento e alguns dados sobre ações propostas

4.3. A possibilidade de realização de acordo nas ARAs

5. Notas sobre a prevenção e um paralelo com a ARA

6. Conclusão

7. Referências bibliográfi cas

1. IntroduçãoA temática relativa à proteção da saúde e se-

gurança não é nova, podendo, inclusive, ter seu fundamento encontrado na Bíblia: “quando você construir uma casa nova, faça um para-peito em torno do terraço, para que não traga sobre a sua casa a culpa pelo derramamento de sangue inocente, caso alguém caia do terraço.” (Deuteronomio 22: 9)

A despeito de existirem já há algum tempo no ordenamento jurídico normas sobre saúde e segurança, especificamente, no trabalho, podemos identifi car o incremento dos estudos e debates sobre o tema nas últimas décadas, quando se constatou o elevado número dos acidentes do trabalho no Brasil e seus dele-térios efeitos — repercussões psicológicas, econômicas, sociais e previdenciárias — para a toda a sociedade.

Esta, na contemporaneidade, apresenta características muito peculiares, a exemplo da lógica do descarte, em que bens, pessoas, relacionamentos e valores são passíveis de fácil desfazimento. A sociedade hoje tem traços muito marcantes e se encontra em uma fase de transição entre o despojamento de velhos conceitos, referenciais e paradigmas e a busca de novos(2).

(2) De acordo com Eduardo Carlos Bianca Bittar (2008, p.131), a sociedade contemporânea, também chamada de pós-moderna, vem passando por um momento de refl exão, crítica e revisão das estruturas postas num contexto de transformações, “capaz de gerar uma procura (ainda não exaurida) acerca de outros referen-ciais possíveis para a estruturação da vida (cognitiva, psicológica, afetiva, relacional, etc.) e do projeto social (justiça, economia, burocracia, emprego, produção, trabalho etc.)”. E complementa dizendo que “a pós--modernidade, entendida como período de revisão das heranças modernas e como momento histórico

Neste contexto, podemos perceber que muitas empresas se valem desta lógica em relação a seus funcionários e aos infortúnios laborais, ou seja, ela utiliza de forma extenuante sua mão de obra e a submete a um ambiente de trabalho insalubre e perigoso e caso o obreiro seja vítima de um acidente do trabalho ela simplesmente o devolve (debilitado) para a sociedade se limi-tando a pagar indenizações que não trarão de volta a vida, a saúde, a integridade física e mental ou a capacidade para o trabalho.

Esta postura patronal, que vigorou por muito tempo e ainda está presente em nosso cotidiano, paulatinamente vem sendo cada vez menos tolerada pelos atores sociais, cientes de que certos valores e bens — vida, saúde e integridade — não se coadunam com o ressarcimento pelo equivalente pecuniário, mas, ao contrário, precisam ser conservados e protegidos.

Sob este enfoque, começa a ser desenvolvida a ideia de que é preciso evitar a ocorrência do acidente, em especial, porque há estudos que comprovam que a sua maioria é passível de prevenção(3).

Delineado o cenário, vêm sendo buscados instrumentos para fazer com que o empregador

de transição no qual se ressente o conjunto dos des-calabros da modernidade, produz rupturas e introduz novas defi nições axiológicas, das quais os primeiros benefícios diretos se podem colher para os sistemas jurídicos contemporâneos (a arbitragem, a conciliação, o pluralismo jurídico, entre outras práticas jurídicas), e causaram em parte o abalo ainda não plenamente solucionado de estruturas tradicionais, nos âmbitos das políticas públicas, da organização do estado e na efi cácia do direito como instrumento de controle social” (BITTAR, 2008, 142).

(3) Neste sentido, afi rma Sebastião Geraldo de Oliveira (2009).

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mude sua postura, sendo o desafi o a quebra do atual paradigma centrado na monetização da saúde do trabalhador para a adoção de uma gestão de prevenção. Para tanto, utiliza-se exatamente o mesmo móvel econômico tão caro à atividade empresarial.

Pela majoração de custos para o emprega-dor desidioso no cumprimento das normas de saúde e segurança pretende-se que ele passe a seguir uma nova postura, adotando medidas para a manutenção de um meio ambiente do trabalho saudável e seguro, livre de infortú-nios(4).

A Ação Regressiva Acidentária (ARA) prevista no art. 120 da Lei n. 8.213/91 vem sendo uti-lizada com esta fi nalidade e por seu potencial transformador passa a ser objeto de análise e discussão.

O problema dos infortúnios laborais deita seus efeitos na seara previdenciária, diretamente afetada na medida em que custeia os benefícios acidentários e aposentadorias especiais.

A despeito da cobertura destes riscos ser a fi nalidade desta espécie de seguro social e para isto ele é fi nanciado, inclusive pelas empresas, tal fato não se apresenta como um permissivo para que o empregador passe ao largo das normas de saúde e segurança.

O móvel da referida ação é estimular, pelo aumento de custos, que a empresa adote uma postura preventiva, evitando a ocorrência dos acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, promovendo, assim, a saúde e integridade do trabalhador e, em última análise, os princípios da dignidade da pessoa humana e valor social do trabalho insculpidos na nossa Constituição e sob a égide dos quais a legislação infra-constitucional deve ser criada, interpretada e aplicada.

(4) Como sabemos não é possível eliminar por completo o risco, entretanto, deve ser buscada sempre a sua di-minuição. Neste sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira (2011) cunha o princípio do risco mínimo regressivo, segundo o qual o empregador deve reduzir os riscos inerentes ao trabalho até onde for possível levando-se em conta os avanços tecnológicos em cada época.

A mudança de paradigma vai ao encontro destes princípios, fundamentais na nossa so-ciedade, que necessitam de efetividade, ou seja, gerar efeitos concretos no mundo dos fatos.

Assim, traçado esse panorama geral, no presente trabalho analisaremos alguns dados sobre os acidentes do trabalho e suas repercus-sões. Em seguida, abordaremos a saúde e segu-rança do trabalhador sob o prisma normativo. No tópico subsequente, analisaremos a Ação Regressiva Acidentária e, por fi m, teceremos algumas considerações sobre a prevenção e traçaremos um paralelo com a referida ação.

Tudo para que, ao final, possamos de-monstrar que a ARA é um dos instrumentos previstos na legislação pátria com potencial para gerar uma mudança de mentalidade, a fi m de que o empregador passe a adotar uma cultura de prevenção dos acidentes do traba-lho, promovendo um ambiente de trabalho seguro e saudável para seus empregados como forma de, em última análise, dar concretude aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e valor social do trabalho.

2. Dados sobre a infortunística laboral no Brasil e suas repercussõesA análise de dados estatísticos é importante

porque nos permite ter uma melhor dimensão de determinado problema e auxilia no direcio-namento de políticas para seu enfrentamento.

No que tange aos infortúnios laborais, o seu tratamento em números é exigência de diversas Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ratifi cadas pelo Brasil(5).

(5) Neste sentido, o art. 20 da Convenção n. 81 da OIT que trata sobre Inspeção do Trabalho (ratifi cada em 1987), segundo o qual a “Autoridade central de inspeção publicará um relatório anual de caráter geral sobre os trabalhos de inspeção submetidos a seu controle”, devendo tratar, necessariamente, de estatísticas de acidentes do trabalho (art. 21, f). Também a Conven-ção n. 155 da OIT (ratifi cada em 1994) no art. 7 – “A situação em matéria de segurança e saúde dos tra-balhadores e meio ambiente de trabalho deverá ser objeto, a intervalos adequados, de exames globais ou relativos a determinados setores, a fi m de identifi car os problemas principais, elaborar meios efi cazes de

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No nosso país, os números nos mostram o quão grave é o problema, o que faz com que ocupemos a terceira posição dentre os países do G20(6) em quantidade de acidentes do tra-balho, perdendo apenas para China e Índia(7).

De acordo com os Anuários Estatísticos de Acidentes do Trabalho do Ministério da Pre-vidência Social e do Ministério do Trabalho e Emprego dos últimos anos(8), em 2009, em um mercado com 41.207.546 trabalhadores

resolvê-los, defi nir a ordem de prelação das medidas que deva tomar, e avaliar os resultados” — e art. 11, “c” — “o estabelecimento e a aplicação de procedimentos para a declaração de acidentes do trabalho e doenças profi ssionais por parte dos empregadores e, quando for pertinente, das instituições seguradoras ou outros organismos ou pessoas diretamente interessados, e a elaboração de estatísticas anuais sobre acidentes do trabalho e doenças profi ssionais”. E, ainda, a Con-venção n. 160 (ratifi cada em 1991), no art. 1o, “h” — “Qualquer Membro que ratifi car a presente Convenção obriga-se a recolher, compilar e publicar regularmente estatísticas básicas do trabalho, que, segundo seus recursos, se ampliarão progressivamente para abarcar as seguintes matérias: [...] lesões provocadas por acidentes de trabalho e, na medida do possível, enfer-midades provocadas por acidentes de trabalho” e art. 14.1 — “Deverão ser compiladas estatísticas de lesões provocadas por acidentes de trabalho de maneira a que refl itam uma visão global do país. Essas estatísticas deverão abarcar, quando possível, todos os ramos de atividade econômica”. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/web/trabalhoseguro/entenda-os-numeros> Acesso em: 1o fev. 2014.

(6) O G-20 é um fórum informal que promove debate aberto e construtivo entre países industrializados e emergentes sobre assuntos-chave relacionados à estabilidade econômica global. Criado em resposta às crises fi nanceiras do fi nal dos anos 90, o G-20 refl ete mais adequadamente a diversidade de interesses das economias industrializadas e emergentes, possuindo assim maior representatividade e legitimidade. O Grupo conta com a participação de Chefes de Estado, Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais de 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A União Europeia também faz parte do Grupo, representada pela presidência rotativa do Conselho da União Europeia e pelo Banco Central Europeu. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?G20>. Acesso em: 15 out. 2013.

(7) Informação colhida no I Seminário Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho promovido pelo TST em 2012.

(8) Disponível em: <http://www.tst.jus.br/web/trabalhose-guro/entenda-os-numeros> Acesso em: 1o fev. 2014.

formais, ocorreram 733.365 acidentes do tra-balho, sendo 424.498 acidentes típicos, 19.570 doenças do trabalho e 2.560 acidentes fatais(9).

Em 2010, com 44.068.355 trabalhadores formais, ocorreram 709.474 acidentes do trabalho, sendo 417.295 acidentes típicos, 17.177 doenças do trabalho e 2.753 acidentes fatais. Em comparação com o ano anterior, aumentou o número de trabalhadores formais e caiu o número de acidentes típicos e doenças ocupacionais, entretanto, o número de óbitos foi majorado.

Já, no ano de 2011, o mercado de trabalho contava com 46.310.631 trabalhadores formais e ocorreram 711.164 acidentes do trabalho, sendo 423.167 acidentes típicos, 15.083 doen-ças do trabalho e 2.884 acidentes fatais. Em comparação ao ano anterior, aumentou o número de trabalhadores formais, o número de acidentes típicos e fatais. A quantidade de doenças ocupacionais apresentou queda.

Por fim, em 2012(10), foram registrados 705. 239 acidentes do trabalho, sendo 423.935 típicos, 14.955 doenças ocupacionais e 2.717 acidentes fatais, todos os números inferiores em comparação ao ano anterior, o que pode representar avanço no trato do problema, mas,

(9) Segundo o art.19 da Lei n. 8.213/91, acidente do traba-lho típico “é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. E, nos termos do art. 20, “Consideram-se acidente do traba-lho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entida-des mórbidas: I - doença profi ssional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da res-pectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I”.

(10) Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/esta-tisticas/aeps-2012-anuario-estatistico-da-previdencia-social-2012/aeps-2012-secao-iv-acidentes-do-trabalho/aeps-2012-secao-iv-acidentes-do-trabalho-tabelas/> Acesso em: 1o fev. 2014.

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