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INTRODUÇÃO FILIPENSES Autoria Esta é uma das cartas mais pessoais de Paulo destinada à liderança de uma igreja. Desde os primórdios do cristianismo, essa carta faz parte do cânon neotestamentário, e desde os antigos eruditos até os teólogos da atualidade, há firme consenso sobre sua autoria paulina (1.1). Afinal, além de todos os fortes indícios internos de autenticidade, Paulo fundou a igreja de Filipos em sua segunda grande viagem missionária, sendo esta a primeira igreja a ser estabelecida por ele na Europa (At 16). Filipos era uma cidade pequena, fundada pelo rei Filipe da Macedônia, pai do famoso Alexandre, o Grande. Paulo desenvolveu um profundo amor paternal pelos irmãos da Igreja em Filipos, e sempre lhes confidenciava intimidades, desafios e projetos. Mesmo depois de haver cooperado financeiramente com Paulo por duas vezes antes de esta carta ser escrita (4.15,16), assim que a liderança da igreja tomou conhecimento de que o apóstolo fora aprisionado em Roma, decidiu enviar uma terceira e generosa oferta pelas mãos de um de seus santos líderes, Epafrodito (4.18). Propósitos Ainda que o principal objetivo de Paulo, nesta carta, seja agradecer de maneira entusiástica e formal a generosidade e amabilidade dos irmãos de Filipos, por mais uma vez haverem tirado de si para cooperar com as necessidades pessoais e ministeriais de Paulo em Roma (1.5; 4.10-19), o apóstolo aproveita a oportunidade para cumprir algumas outras funções importantes: a) fazer um relato geral das suas circunstâncias (1.12-26; 4.10-19). b) encorajar a Igreja em Filipos e outras que viriam a ler esse depoimento a se manterem firmes e inabaláveis, mesmo diante das mais severas perseguições. Paulo os exorta a se regozijarem nos sofrimentos por amor e fé em Cristo (1.27-30; 4.4). c) estimulá-los a desenvolver relacionamentos fraternais sérios e permanentes a partir de um caráter humilde, dispostos a estabelecer um indestrutível senso de unidade (2.1-11; 4.2-5). d) formalizar a recomendação ministerial dos jovens servos Timóteo e Epafrodito à Igreja em Filipos, (2.19-30). e) advertir os filipenses e demais igrejas contra os judaizantes (legalistas), antinomistas (libertinos) e místicos (defensores de uma espécie de espiritismo judaico), que tentavam se infiltrar entre os irmãos para corromper a sã doutrina cristã. Data da primeira publicação O contexto histórico revela que esta carta de Paulo foi escrita quando o apóstolo estava preso. Alguns eruditos acreditam que esse encarceramento ocorreu em Éfeso, outros afirmam que aconte- ceu em Cesaréia. Contudo, as análises e estudos mais aceitos dão conta de que Paulo estava preso em Roma, por volta do ano 61 d.C., quando escreveu e enviou esta carta à comunidade cristã dos filipenses. Essa interpretação histórica corresponde ao tempo de prisão domiciliar vivido pelo após- tolo, que fora registrado em At 28.14-31. Portanto, quando Paulo escreve aos filipenses não estava numa masmorra ou calabouço, como ocorreu em Mamertima – onde ficou detido quando escreveu sua segunda carta a Timóteo – mas numa casa alugada, sob a diuturna vigia de uma guarda especial de oficiais romanos (1.13). Esboço geral de Filipenses 1. Saudação e ação de graças, e orações pelos amados filipenses (1.3-11) 2. A maior razão de Paulo para continuar vivo é Cristo (1.12 – 4.1) A. Essa é a motivação para pregar sempre e a todos (1.12,13) B. Mesmo preso Paulo ensina e evangeliza em Roma (1.14) C. A atitude de Paulo reflete o Espírito de Cristo (1.15-18) D. Querer estar com Cristo, mas viver pelos irmãos (1.19-26) E. Todo o sentido da vida reside em Jesus (1.27 – 2.30) 50_Filipenses_2012.indd 1792 19/03/2012 23:02:02

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Introdução

FILIPENSES

Autoria Esta é uma das cartas mais pessoais de Paulo destinada à liderança de uma igreja. Desde os

primórdios do cristianismo, essa carta faz parte do cânon neotestamentário, e desde os antigos eruditos até os teólogos da atualidade, há firme consenso sobre sua autoria paulina (1.1).

Afinal, além de todos os fortes indícios internos de autenticidade, Paulo fundou a igreja de Filipos em sua segunda grande viagem missionária, sendo esta a primeira igreja a ser estabelecida por ele na Europa (At 16). Filipos era uma cidade pequena, fundada pelo rei Filipe da Macedônia, pai do famoso Alexandre, o Grande.

Paulo desenvolveu um profundo amor paternal pelos irmãos da Igreja em Filipos, e sempre lhes confidenciava intimidades, desafios e projetos. Mesmo depois de haver cooperado financeiramente com Paulo por duas vezes antes de esta carta ser escrita (4.15,16), assim que a liderança da igreja tomou conhecimento de que o apóstolo fora aprisionado em Roma, decidiu enviar uma terceira e generosa oferta pelas mãos de um de seus santos líderes, Epafrodito (4.18).

Propósitos Ainda que o principal objetivo de Paulo, nesta carta, seja agradecer de maneira entusiástica e

formal a generosidade e amabilidade dos irmãos de Filipos, por mais uma vez haverem tirado de si para cooperar com as necessidades pessoais e ministeriais de Paulo em Roma (1.5; 4.10-19), o apóstolo aproveita a oportunidade para cumprir algumas outras funções importantes: a) fazer um relato geral das suas circunstâncias (1.12-26; 4.10-19). b) encorajar a Igreja em Filipos e outras que viriam a ler esse depoimento a se manterem firmes e inabaláveis, mesmo diante das mais severas perseguições. Paulo os exorta a se regozijarem nos sofrimentos por amor e fé em Cristo (1.27-30; 4.4). c) estimulá-los a desenvolver relacionamentos fraternais sérios e permanentes a partir de um caráter humilde, dispostos a estabelecer um indestrutível senso de unidade (2.1-11; 4.2-5). d) formalizar a recomendação ministerial dos jovens servos Timóteo e Epafrodito à Igreja em Filipos, (2.19-30). e) advertir os filipenses e demais igrejas contra os judaizantes (legalistas), antinomistas (libertinos) e místicos (defensores de uma espécie de espiritismo judaico), que tentavam se infiltrar entre os irmãos para corromper a sã doutrina cristã.

Data da primeira publicação O contexto histórico revela que esta carta de Paulo foi escrita quando o apóstolo estava preso.

Alguns eruditos acreditam que esse encarceramento ocorreu em Éfeso, outros afirmam que aconte-ceu em Cesaréia. Contudo, as análises e estudos mais aceitos dão conta de que Paulo estava preso em Roma, por volta do ano 61 d.C., quando escreveu e enviou esta carta à comunidade cristã dos filipenses. Essa interpretação histórica corresponde ao tempo de prisão domiciliar vivido pelo após-tolo, que fora registrado em At 28.14-31. Portanto, quando Paulo escreve aos filipenses não estava numa masmorra ou calabouço, como ocorreu em Mamertima – onde ficou detido quando escreveu sua segunda carta a Timóteo – mas numa casa alugada, sob a diuturna vigia de uma guarda especial de oficiais romanos (1.13).

Esboço geral de Filipenses 1. Saudação e ação de graças, e orações pelos amados filipenses (1.3-11) 2. A maior razão de Paulo para continuar vivo é Cristo (1.12 – 4.1) A. Essa é a motivação para pregar sempre e a todos (1.12,13) B. Mesmo preso Paulo ensina e evangeliza em Roma (1.14) C. A atitude de Paulo reflete o Espírito de Cristo (1.15-18) D. Querer estar com Cristo, mas viver pelos irmãos (1.19-26) E. Todo o sentido da vida reside em Jesus (1.27 – 2.30)

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F. Um estilo de vida de acordo com o Evangelho (1.27-30) G. Agir como Jesus agiria em cada situação (2.1-18) H. Timóteo e Epafrodito são exemplos de servos (2.19-30) I. Não há nada que se compare a conhecer a Cristo (3.1-11) J. É sempre preciso crescer e amadurecer mais (3.12-16) K. Inimigos da Cruz x Amigos de Jesus (3.17 – 4.1) 3. Exortações finais (4.2-23) A. Chamado à unidade cristã e à concórdia (4.2-9) B. Testemunho final e ação de graças (4.10-20) C. Saudação final e bênção apostólica (4.21-23)

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Diagrama do Conteúdo de Filipenses

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1.1 / 1.11 2.19/2.30 4.2 4.9 4.10 4.211.12 / 1.26 1.27/2.18 3.1 4.1

Cerca de 61 d.C.

Informação Apelo

Planos

Força Gratidão

Regozijarno Ministério

Regozijarem

Cristo

Regozijarnas Bênçãos

Carta Escrita em Roma

Luga

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Tabela Abba 4Prova.prnC:\SPRESS 4\abba press\Tabelas\Tabela Abba 4Prova.cdrsexta-feira, 23 de maio de 2008 16:37:10

Composição 175 lpi a 45 graus

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FILIPENSES

Prefácio e saudações

1 Paulo e Timóteo, servos de Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus

que estão com os bispos e diáconos em Filipos:1

2 graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cris-to.

Ação de graças e súplicas 3 Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me recordo de vós. 4 Em todas as minhas súplicas em vosso benefício, sempre oro com alegria,5 em razão da vossa cooperação na causa do Evangelho, desde o primeiro dia até agora.2

6 E estou plenamente convicto de que aquele que iniciou boa obra em vós, há de concluí-la até o Dia de Cristo Jesus.7 Ora, é justo que eu me sinta assim a respeito de todos vós, pois estais em meu coração, já que todos sois participantes comigo da graça, tanto nas correntes que me prendem, quanto na defesa e na con-firmação do Evangelho.8 Deus é minha testemunha, da saudade

que sinto de todos vós, com a terna mi-sericórdia de Cristo Jesus.9 E suplico isto em oração: que o vosso amor fraternal cresça cada vez mais no pleno conhecimento e em todo entendi-mento,10 a fim de que possais discernir o que é melhor, para que vos torneis puros e irre-preensíveis até o dia de Cristo, 11 plenos do fruto de justiça, fruto este que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.3

O sofrer e o avanço do Evangelho 12 Desejo, portanto, irmãos, que saibais que tudo o que me aconteceu tem, ao contrário, servido para o progresso do Evangelho,13 de tal maneira a ficar evidente para toda a guarda do palácio e para todos os demais que é por causa de Cristo que es-tou na prisão.4

14 E os irmãos, em sua maioria, motiva-dos no Senhor por minhas algemas, ou-sam pregar com mais coragem e deter-minação a Palavra de Deus.15 É verdade, contudo, que alguns procla-

1 A primeira igreja cristã na Europa foi fundada na casa de Lídia, a partir de sua conversão, em Filipos, uma das principais colônias do Império Romano (chamada em latim de Colonia Augusta Philippensis), localizada na principal estrada (via Egnácia) que ligava as províncias orientais com a cidade de Roma. Na Igreja em Filipos, ministravam vários bispos (em grego episkopoi, que significa “supervisores” ou “presbíteros” – At 20.17-28), entre eles Lucas, o autor de um dos evangelhos e do livro de Atos dos Apóstolos (At 16.13-17; 20.6).

2 O grande júbilo do apóstolo do Senhor era constatar que as igrejas recebiam suas cartas e conselhos como Palavra de Deus e se entregavam à prática do Evangelho (Rm 1.8; 1Co 1.4; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; 2Tm 1.3; Fm 4). Paulo era agradecido a Deus pelo apoio permanente dos filipenses, desde seus primeiros discípulos (At 16.12) até agora, perto do final do seu primeiro perío-do de prisão em Roma (2.24; At 28.16-31). A palavra original grega koinonia, normalmente associada a idéia de “comunhão” ou “participação ativa no progresso de vida de alguém”, aqui tem o sentido de “cooperação generosa”. Paulo e a igreja dos filipenses “compartilhavam” as bênçãos e os sofrimentos pela causa de Cristo.

3 O alvo dos cristãos é viver acima da mediocridade dos embaraços e da mistura com o mal, até a volta gloriosa de Cristo, quando todo o processo de salvação (que inclui regeneração, santificação e glorificação) será concluído (v.10; 2.16; 1Co 1.8; 5.5; 2Co 1.14). É Deus quem toma a iniciativa da salvação, é Ele mesmo quem lhe dá continuidade e um dia a levará à consumação, quando os cristãos haverão de prestar contas dos seus atos na Terra, antes de usufruírem todos os benefícios da glória eterna com Cristo (2Co 5.10). Deus espera que os crentes demonstrem ao mundo uma vida verdadeiramente justa (Am 6.12; Mt 5.20-48; Hb 12.11; Tg 3.18; Gl 5.22), fruto este, produzido por Jesus Cristo, mediante a obra diária do Espírito Santo (Jo 15.5; Ef 2.10), com o objetivo maior de louvar e glorificar a Deus (Ef 1.6-14).

4 Paulo soube, pelo poder do Espírito Santo em sua vida, transformar uma situação – aparentemente vexatória, humilhante e dolorosa – em grande testemunho e oportunidade para pregar o Evangelho aos soldados e oficiais da famosa guarda pretoriana que, em Roma, somava mais de 9000 homens.

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mam a Cristo por inveja e rivalidade, po-rém outros o fazem com boas intenções.16 Estes o fazem por amor, conscientes de que fui posto aqui para defesa do Evan-gelho;17 mas aqueles outros, anunciam Cristo apenas por ambição egoísta, sem sinceri-dade, imaginando que podem aumentar o sofrimento ocasionado por essas mi-nhas algemas.18 Todavia, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos escusos ou nobres, Cristo está sendo pro-clamado, e por isso me alegro. Em verda-de, sempre me alegrarei!5

A bênção de viver com Cristo19 Pois estou certo de que o que se pas-sou comigo resultará em libertação para mim, graças às vossas súplicas e pelo so-corro do Espírito de Jesus Cristo.20 Aguardo com ansiedade e grande es-perança, que em nada serei decepciona-do; pelo contrário, com toda a intrepi-dez, tanto agora como em todos os dias, Cristo será engrandecido no meu corpo, seja durante a vida, ou mesmo na hora da morte.6

21 Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro!22 Caso continue vivendo no corpo, cer-tamente apreciarei o fruto do meu labor. Mas já não sei o que escolher.

23 Sinto-me conclamado pelos dois la-dos: desejo partir e estar com Cristo, o que é infinitamente melhor;7

24 mas, entendo que, por vossa causa, é mais necessário que eu permaneça no corpo.25 Portanto, imbuído dessa confiança, creio que vou permanecer e continuar com todos vós, para o vosso progresso e alegria na fé,26 a fim de que, pela minha presença, uma vez mais a vosso louvor e glória em Cristo Jesus transborde por minha causa.

A unidade dos crentes em Cristo27 Portai-vos como cidadãos dignos do Evangelho de Cristo, para que dessa forma, quer eu vá e vos veja, quer tão-somente ouça a vosso respeito em mi-nha ausência, tenha eu conhecimento de que permaneceis firmes num só es-pírito, combatendo unânimes em prol da fé evangélica,28 sem de maneira alguma vos deixardes constranger por aqueles que se opõem à vossa fé. Para eles, isso é sinal de perdi-ção, entretanto, para vós, de salvação, e isso vem da parte de Deus.29 Porquanto, por amor de Cristo vos foi concedida a graça de não somente crer em Cristo, mas também de sofrer por Ele,8

5 Muitos mestres cristãos reconheciam os verdadeiros motivos das perseguições, açoites e prisões de Paulo e pregavam o Evangelho ainda com mais amor, lealdade e bravura. Outros, porém, dando vazão à inveja que alimentavam contra o apóstolo, usavam esses fatos de forma fraudulenta e maldosa, com o propósito de destruir a reputação de Paulo e fazer prevalecer seus ensinos sobre Cristo, projetar suas próprias imagens e conquistar ambições meramente egoístas. Paulo usa a expressão grega “aumentar o sofrimento”, que significa literalmente “fricção”, numa figura de linguagem sugerida pelo “atrito” das algemas em suas mãos e pés. Contudo, o apóstolo do Senhor não se deixava deprimir, pois sabia que a Mensagem é sempre maior do que o mensageiro. Alegria é a palavra-chave dessa carta de Paulo, aparecendo no texto (como sinônimos, verbos e substantivos) mais de 15 vezes.

6 Paulo tem absoluta certeza da sua “salvação” (tradução literal da palavra “libertação”) eterna em Cristo (Rm 8.28; Jó 13.16,18) e fé em seu livramento da prisão, por meio das orações dos filipenses e da vontade do Espírito Santo (v.25; 2.24).

7 A fonte de inspiração e alegria de viver de Paulo era a presença do Deus vivo em sua alma por intermédio do Espírito Santo de Cristo. Todos os cristãos sinceros gozam desse mesmo privilégio e, por isso, devem aprender a ouvir e a seguir os conselhos do Espírito Santo, a fim de sentirem as mesmas alegrias e consolações de Paulo. As circunstâncias adversas e o sofrimento são tentações para que desistamos do Evangelho, e, assim, deixemos de fazer o que sabemos que é correto. Entretanto, Paulo nos ensina a perseverar pela fé e nos regozijarmos em Cristo, mantendo nosso testemunho durante todo o tempo em que estivermos nessa Terra. Paulo afirma objetivamente, que ao fecharmos nossos olhos para esse mundo e abandonarmos esse corpo fraco e mortal, estaremos na presença de Cristo para sempre (2Co 5.6-8).

8 A verdadeira vida cristã é constituída de fé, alegrias e sofrimentos; experiências oferecidas pelo Senhor aos seus filhos como bênçãos, jamais com maldições ou castigos, pois fomos chamados não apenas para crer, mas para sermos co-participantes

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30 considerando que estais passando pela mesma luta que me viram combater e agora ouvis que ainda enfrento.

O humilde e fraterno amor cristão

2 Portanto, se por estarmos em Cristo, temos algum poder, algum encoraja-

mento de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda fraternidade e compaixão,1

2 completai a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude.2 3 Nada façais por rivalidade nem por vai-dade; pelo contrário, cada um considere, com toda a humildade, as demais pesso-as superiores a si mesmo. 4 Cada um zele, não apenas por seus pró-

prios interesses, mas igualmente pe-los interesses dos outros.3

Cristo, sendo Deus, humilhou-se5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,6 o qual, tendo plenamente a natureza de Deus, não reivindicou o ser igual a Deus,4

7 mas, pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo e tornando-se semelhante aos seres humanos.5 8 Assim, na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, entregando-se à obediên-cia até a morte, e morte de cruz.6

9 Por isso, Deus também o exaltou so-bremaneira à mais elevada posição e lhe

dos sofrimentos que o próprio Cristo enfrentou e venceu (Mt 5.11,12; At 5.41; Tg 1.2; 1Pe 4.14). Os filipenses haviam visto o testemunho de Paulo e Silas, em sua primeira viagem a Filipos, quando foram presos por causa da proclamação verdadeira do Evangelho (At 16.19-40).

Capítulo 21 Segundo Paulo, ser salvo é estar com Cristo. É viver dia após dia em relacionamento íntimo (as entranhas eram consideradas

a sede das emoções, assim como o coração em nossos dias) com o Espírito de Cristo, nosso Salvador (o Messias). A partir desse relacionamento, que amadurece e se aperfeiçoa constantemente, fluem todos os benefícios, aprendizados, experiências e frutos próprios da salvação (3.8-10; Rm 8.1; 2Co 5.17; Gl 2.20). A igreja em Filipos, de uma forma geral, demonstrava muitos dos aspectos da verdadeira vida cristã: encorajamento (exortação), comunhão (em grego koinonia, cujo sentido aqui tem a ver com uma “participação ativa na vitória do irmão sobre as dificuldades da vida”), afeição, solidariedade, compaixão e fraternidade (2Co 13.14; Cl 3.12; Rm 5.8; 8.38,39; 1Jo 3.16; 4.9-16).

2 Paulo reforça a importância dos crentes em Cristo serem unidos em torno do mesmo propósito principal: proclamar o ver-dadeiro Evangelho, o próprio Cristo. Não significa que todos os cristãos devam pensar igual sobre todos os assuntos, mas que deve haver humildade para aceitar as diferenças em prol de uma vida fraternal, harmoniosa e de mútua cooperação em todos os sentidos. Colocar em prática, nos relacionamentos, a “atitude” de Cristo (v.5; 4.2; Rm 12.16; 15.5; 2Co 13.11).

3 Os maiores inimigos da unidade cristã são: o egoísmo, a vaidade pessoal e o “complexo messiânico” (a falsa idéia de que determinada pessoa foi chamada por Deus para resolver os problemas do mundo, e que todos lhe devem plena obediência; qualquer oposição às suas determinações é considerada como ataque do Inimigo). Considerar os outros “superiores a si” não significa desenvolver um sentimento de inferioridade, baixa auto-estima ou pieguice, mas, sim, – por amor cristão – considerar o próximo digno de toda deferência e atendimento preferencial (Rm 12.10; 15.1; Gl 5.13; Ef 5.21; 1Pe 5.5).

4 Paulo traduz para o grego um antigo hino aramaico (vv.6-11), adaptando seus versos à teologia que está ensinando à Igreja: Cristo é Deus; eles, juntamente com o Espírito Santo são a mesma pessoa com funções diferentes. O contraste entre o primeiro homem (Adão) e o Segundo (Jesus) é evidenciado pelo apóstolo. Adão (como toda a sua descendência) sentiu o desejo de ser “como Deus” (Gn 3.5) e cedeu à tentação (desobediência) de usurpar essa posição (que também é o objetivo de Satanás). Em contraste, Jesus Cristo não se apegou egoisticamente aos seus atributos e privilégios divinos, mas aceitou com humilde resignação a vontade do Pai, como única possibilidade da raça humana ser absolvida da condenação eterna, e entregou-se à dor e ao vexame da morte de cruz.

5 Jesus é perfeitamente Deus e perfeitamente humano. Esse é um dos conceitos basilares do NT (especialmente da teologia de Paulo) e da fé cristã. Jesus não perdeu ou renunciou aos seus atributos divinos, como a onisciência, onipotência e onipresença. Porém, para que Ele pudesse nascer e viver na Terra como “verdadeiro homem”, voluntariamente, escolheu o caminho da humilhação (ao contrário de Lúcifer e de Adão), e assumiu plenamente a natureza humana de “filho e servo de Deus”, depositando toda a sua glória natural nas mãos de Deus Pai (Jo 1.14; 17.5-24; Lc 9.32; Rm 8.3; Hb 2.17).

6 A maneira como Jesus se humilhou, obedecendo como perfeito servo até o momento mais horrível da vida humana: a morte, exemplifica a total dependência e reverência que um ser absolutamente livre pode ter em relação a Deus. Jesus foi além, não apenas se entregando à morte, mas passando pelos sofrimentos físicos, emocionais e espirituais de ver sua criação submetê-lo ao mais cruel e humilhante dos aniquilamentos: a morte de cruz, como um criminoso amaldiçoado (2Co 8.9; Hb 5.7,8; Gl 3.13; Hb 12.2).

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deu o Nome que está acima de qualquer outro nome;10 para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho, dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda a língua confesse que Jesus Cris-to é o Senhor, para a glória de Deus Pai.7

Os cristãos devem resplandecer12 Sendo assim, meus amados, como sem-pre obedecestes, não somente na minha presença, porém muito mais agora na mi-nha ausência, colocai em prática a vossa salvação com reverência e temor a Deus, 13 pois é Deus quem produz em vós tanto o querer como o realizar, de acordo com sua boa vontade.8

14 Fazei tudo sem murmurações nem contendas;15 para que vos torneis puros e irrepreen-síveis, filhos de Deus inculpáveis, vi-ven-do em um mundo corrompido e perver-so, no qual resplandeceis como grandes astros no universo,9

16 retendo firmemente a Palavra da vida, para que, no dia de Cristo, eu tenha mo-tivo de me gloriar no fato de que não foi inútil que corri e trabalhei.10

17 Contudo, ainda que a minha vida esteja sendo derramada como oferta juntamente com o sacrifício e o serviço provenientes da vossa fé, alegro-me e me congratulo com todos vós. 18 E, pelo mesmo motivo, alegrai-vos e acompanhai-me neste júbilo!11

Paulo envia homens de Deus 19 Tenho esperança no Senhor Jesus de que, em breve, vos poderei enviar Timó-teo, para que eu também me anime, rece-bendo notícias vossas.20 Pois não tenho ninguém que tenha esse mesmo sentimento, que sincera-mente zele por vosso bem-estar. 21 Porquanto, todos procuram cuidar apenas de seus próprios interesses, e não se dedicam ao que é de Cristo Jesus. 22 Entretanto, sabeis vós que Timóteo foi aprovado porque serviu comigo na mi-nistração do Evangelho, como um filho cooperando com seu pai.12

23 Portanto, é ele quem espero vos enviar, tão logo tenha certeza sobre minha situ-ação,24 tendo fé no Senhor que, em breve, também eu poderei ir ter convosco.

7 A ressurreição e exaltação de Deus é a resposta do Pai à sua obediência filial; é o verdadeiro “amém” de Deus ao “está con-sumado” do Filho. O Nome supremo é também o título: Senhor (em grego Kurios), termo usado na Septuaginta (a tradução grega do AT) para traduzir o nome de Deus (em hebraico Yahweh – Jeová). Deus concedeu ao Filho, Jesus Cristo, o lugar supremo de autoridade e majestade à mão direita do Pai (Mt 28.18; Jo 17.2; At 2.33; Is 45.23; Ef 1.21; Hb 1.4,5). Pela vontade soberana de Deus todas as pessoas do mundo, um dia, dobrarão seus joelhos diante de Cristo, e o reconhecerão como Senhor, quer volunta-riamente (como crentes salvos), quer não (Rm 14.9).

8 A salvação é um processo no qual o primeiro milagre se dá com a regeneração imediata da nossa alma, no momento preciso em que aceitamos o dom remidor de Cristo. A partir de então, começa o crescimento e a maturidade espiritual, um processo de aprendizado e experiências vivas com o Espírito de Cristo; um pouco por dia, durante todos os dias da nossa vida na terra. Ao fecharmos os olhos para este mundo, os abriremos para o tempo da glorificação que alcançará seu auge no glorioso retorno de Jesus. Portanto, os cristãos devem viver na terra de acordo com a fé que abraçaram, e capacitados pelo Espírito Santo (Mt 24.13; 1Co 9.24-27; Hb 3.14; 6.9-11; 2Pe 1.5-8). O contexto indica que Paulo procura advertir a Igreja quanto ao problema dos desen-tendimentos (“guerras entre os crentes”). Nesse sentido, a expressão “salvação” tem o sentido de “saúde espiritual da Igreja”. O clima de harmonia, compreensão e colaboração é sempre resultado da obra de Deus nos corações quebrantados dos crentes.

9 Paulo usa uma figura de linguagem para mostrar o contraste que deve haver entre o brilho fulgurante do caráter e das atitudes dos cristãos, que, mesmo em menor número, iluminam – como estrelas – o frio universo humano mergulhado nas trevas da incredulidade (Dn 12.3 e Mt 5.14-16). A mesma distinção que houve entre o comportamento de Cristo e o mundo, quando Ele andou pela terra (Jo 1.9; 8.12; Ef 5.8).

10 A frase “Palavra da vida” é uma expressão sinônima para o termo “Evangelho”, que os cristãos devem levar com honra, firmeza e gratidão, como um atleta nos antigos jogos olímpicos da época de Paulo (1Ts 2.19; 1Co 9.24-27).

11 Paulo afirma que mesmo que viesse a ser morto no cárcere, seu sangue seria derramado como a oferta junto aos sacrifícios (libação), acompanhando a dedicação espiritual dos cristãos da Igreja em Filipos, numa analogia aos sacrifícios diários do AT (Êx 29.38-41; Nm 28.7).

12 Timóteo é um dos grandes testemunhos bíblicos do quanto, mesmo pessoas com pouca idade, mas humildes e consagra-das ao Senhor, podem cooperar notavelmente com a expansão do Reino de Deus em todo o mundo. Paulo havia discipulado o jovem Timóteo como um pai que educa seu filho amado (1 e 2Tm).

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25 Mesmo assim, creio que será neces-sário enviar-vos de volta Epafrodito, meu querido irmão, auxiliador e com-panheiro de lutas, mensageiro a quem enviastes para me ajudar nas minhas necessidades.26 Pois ele tem saudades de todos vós e se sente angustiado por saberdes que ele havia adoecido. 27 De fato, ele esteve gravemente enfer-mo, à beira da morte; mas Deus se com-padeceu dele, e não apenas dele, mas igualmente do meu coração, para que eu não fosse afligido por tristeza sobre tristeza.28 Por isso, o enviarei a vós com mais ur-gência, a fim de que possais vos alegrar ao vê-lo novamente, e, com isso eu sinta menos tristeza. 29 Recebei-o, portanto, no Senhor, com grande alegria, e sempre honrai pessoas como ele;30 porquanto, ele chegou às portas da morte por amor à causa de Cristo, ar-riscando a própria vida para suprir a

cooperação que vós não pudestes me conceder.13

Aceitar a Cristo é o maior ganho

3 Concluindo, meus irmãos, quanto ao mais, alegrai-vos no Senhor. Para

mim, não é incômodo escrever-vos outra vez sobre o mesmo assunto, e para vós é uma segurança a mais. 2 Tomai cuidado com os “cães”, cuidado com esses que praticam o mal, cuidado com a falsa circuncisão!1

3 Porquanto, nós é que somos a própria circuncisão, todos nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não depositamos confiança alguma na carne.2

4 Embora eu também tivesse razões para alimentar tal convicção, ora, se alguém julga que tem motivos para confiar na carne, eu ainda mais:3

5 circuncidado no oitavo dia de vida, fi-lho da descendência de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à Lei, fui fariseu;4

13 Paulo usa uma figura de linguagem (literalmente em grego: “jogou com a vida”), retirada dos jogos entre soldados e gladia-dores, nos quais alguns ofereciam voluntariamente a própria vida, para referir-se à atitude corajosa de Epafrodito em sua dispo-sição para servir à Igreja de Cristo. Paulo também usa a expressão grega, muitas vezes traduzida como “apóstolo” (mensageiro, missionário) ao mencionar a responsabilidade de Epafrodito como representante da Igreja em Filipos (2Co 8.23).

Capítulo 31 Paulo usa a expressão “cão” para demonstrar a irracionalidade e a ferocidade com que os falsos pregadores se opunham

ao verdadeiro Evangelho e a gravidade das heresias que ensinavam, cujos resultados podiam ser comparados ao ataque de um “cão” devorador. Divulgavam uma doutrina semelhante àquela que Paulo combateu nas igrejas da Galácia. Esses falsos mestres distorciam de tal maneira o significado do ritual da circuncisão, que Paulo o chama literalmente de “mutilação”, pois perdera seu principal conceito espiritual e, nas mãos desses falsários, havia sido transformado apenas em um corte inútil no órgão genital masculino (Gl 5.15; Gn 17.10; 21.4; Dt 10.16; Jr 4.4).

2 Por causa do sacrifício de Cristo, os cristãos – como o Povo da Aliança (a Igreja) - passaram a considerar a “circuncisão” (o povo com a marca de propriedade de Deus), tendo, portanto, o direito de herdar as promessas do Senhor. A circuncisão deixou de ser um ritual físico, obrigatório, e passou a ser um ato voluntário e espiritual, uma decisão de amor (Rm 2.24-29; Cl 2.11; Gl 6.16; 1Pe 2.9,10; Gl 5.2-6).

3 Embora o termo “carne”, na maioria das vezes em que aparece nas cartas de Paulo, tenha a ver com a “natureza humana pecaminosa”, aqui se refere a qualquer valor humano, ganho por herança ou esforço, em que o homem não convertido deposita sua fé ou confiança. Os nossos esforços morais, intelectuais ou religiosos são frágeis, como a própria natureza humana, não podem, portanto, nos salvar nem mesmo nos aperfeiçoar. Os vv.4-14 apresentam uma das seções autobiográficas mais importantes das cartas de Paulo (Gl 1.13-24; 1Tm 1.12-16; At 22.1-21; 26.1-23).

4 A fé pré-cristã de Paulo estava depositada na sua linhagem, puramente judaica, e no seu zelo quanto à obediência da Lei e suas normas e detalhamentos farisaicos. A expressão literal “hebreu de hebreus” quer dizer “um filho judeu, nascido de pais judeus”. Paulo enfatiza que não era prosélito (gentio que se converte ao judaísmo), mas nascido judeu, circuncidado ainda bebê, na mais tradicional das tribos judaicas: Benjamim, em cujas fronteiras ficava a Cidade Santa, Jerusalém. Portanto, era um verdadeiro e digno hebreu, no sangue, no idioma, na cultura e no estilo de vida (Gn 17.12; At 22.2,3; 23.6; 26.5; Gl 1.14). Perante as exigências da religião judaica, Paulo era irrepreensível (v.6). Entretanto, diante do Espírito de Cristo, e em seu coração, ele se reconheceu pecador (Rm 3.20; 7.7-25).

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6 quanto ao zelo, persegui a Igreja; quan-to à justiça que há na Lei, irrepreensível. 7 Todavia, o que para mim era lucro, pas-sei a considerar como prejuízo por causa de Cristo.5

8 Mais do que isso, compreendo que tudo é uma completa perda, quando compa-rado à superioridade do valor do conhe-cimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem decidi perder todos esses valores, os quais considero como esterco, a fim de ganhar Cristo,9 e ser encontrado nele, não tendo por minha a justiça que procede da Lei, mas sim a que é outorgada por Deus median-te a fé,10 para conhecer Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a participação nos seus sofrimentos, identificando-me com Ele na sua morte,11 com o propósito de, seja como for a ressurreição dentre os mortos, nela estar presente.6

Correndo em direção ao alvo12 Não que eu já tenha alcançado tudo

isso, ou seja perfeito; entretanto, vou caminhando, buscando alcançar aqui-lo para que também fui alcançado por Cristo Jesus.13 Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha conquistado; mas tomo a seguinte atitude: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que estão adiante de mim, 14 apresso-me em direção ao alvo, a fim de ganhar o prêmio da convocação celes-tial de Deus em Cristo Jesus.7

15 Por isso, todos nós que alcançamos a maturidade espiritual, devemos pensar dessa mesma maneira; porém, se em al-gum aspecto pensais de forma diferente, também quanto a isso Deus vos escla-recerá.8

16 Contudo, caminhemos na medida da perfeição que já atingimos.9

17 Caros irmãos, sede meus imitadores e prestai atenção nos que caminham de acordo com o padrão de comportamen-to que temos vivido.10

18 Porquanto, como já vos adverti repe-tidas vezes, e agora repito com lágrimas

5 O encontro de Cristo com Paulo, na estrada de Damasco, transformou seu conjunto de valores, sua visão de si mesmo e do mundo. O auto-suficiente, arrogante e egocêntrico Saulo, foi convertido num servo, humilde, amoroso e cristocêntrico (At 9.3-16; 2Tm 2.15).

6 Paulo não está revelando qualquer dúvida sobre sua fé na ressurreição ou na vida eterna com Cristo após a morte do corpo, mas, sim, reforçando sua intensa dedicação e expectativa. Não significa que ao crermos em Cristo, ainda tenhamos que – obrigatoriamente – realizar boas obras e contar com um julgamento benevolente de Deus no último dia. Paulo está afirmando que, seja qual for a forma em que se dê a ressurreição dos que dormem em Cristo, ele – certamente – estará lá, assim como todos os cristãos sinceros (Dn 12.2; Jo 5.29; At 24.15; 1Co 15.23; 1Ts 4.16).

7 Paulo compreendia bem o quanto os gregos valorizavam a performance intelectual e física dos seres humanos. Os discursos, as artes e os esportes revelavam – para os gregos – a própria divindade misturada à alma humana. O vencedor das corridas gre-gas recebia uma grinalda de folhas em sinal de divindade e, muitas vezes, um alto valor em dinheiro. Paulo faz uma analogia com o grande prêmio dos cristãos: a glória da salvação eterna, não conquistada por esforço ou capacidade, mas por meio da graça de Deus através do sacrifício de Cristo (1Co 9.24-27; 1Tm 6.12; 2Tm 4.7,8; Mt 24.13; Hb 12.1). As maiores aspirações do apóstolo Paulo não estavam nesta vida ou em qualquer valor da terra, mas no céu, porque é ali que Cristo está (Cl 3.1,2).

8 A expressão grega original teleioi, que significa “aperfeiçoado” ou “desenvolvido de acordo com um alto padrão”, aponta para a maturidade daqueles que, com os olhos fixos em Cristo (nosso objetivo principal), esperam ouvir do Senhor: “muito bem” (Mt 25.21). O cristão teleioi é o crente em Cristo que fez progresso razoável no crescimento e na maturidade espiritual (1Co 2.6; 3.1-3; Hb 5.14). Os cristãos não devem se entregar às discussões teológicas acirradas, especialmente sobre detalhes da fé, o mais sábio é deixar que o Espírito Santo venha esclarecer todas as coisas a cada um.

9 Cada cristão deve viver segundo o que já aprendeu e experimentou do Senhor. Em um mundo onde a fome por informação parece insaciável, essa exortação de Paulo é um alerta para que os crentes procurem fazer mais o que já sabem ser a vontade de Deus do que se entregarem a uma busca insana por descobrir a vontade de Deus para cada detalhe, presente e futuro, de suas vidas pessoais.

10 Esse é o princípio do discipulado cristão, em que Cristo é nosso mentor e exemplo maior, seguido por Paulo (os apóstolos) e todos cuja vida espelhe a ação livre e saudável do Espírito Santo. O estilo de vida seguido pelos cristãos deve ser um exemplo que valha a pena ser seguido pelo mundo. Esse é o mais eficaz método de evangelização em massa de todos os tempos: o crescimento exponencial dos crentes a partir do discipulado bíblico, sincero e dedicado, um a um.

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nos olhos, que há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. 19 O fim dessas pessoas é a perdição; o deus deles é o estômago; e o orgulho que eles ostentam fundamenta-se no que é vergonhoso; eles se preocupam apenas com o que é terreno.11

20 No entanto, a nossa cidadania é dos céus, de onde aguardamos com grande expectativa o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, 21 que transformará nossos corpos hu-milhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso, pelo poder que o ca-pacita a colocar tudo o que existe debai-xo do seu pleno domínio.12

Unidade e alegria em oração

4 Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudades, minha ale-

gria e coroa, permanecei assim firmes no Senhor, amados.1

2 Suplico a Evódia e a Síntique que resta-beleçam a boa convivência no Senhor. 3 Sim, peço a ti, leal companheiro de jugo, que as ajudes, pois ministraram co-migo na causa do Evangelho, juntamente com Clemente e com meus outros coo-peradores, cujos nomes estão no livro da vida.2

4 Alegrai-vos sempre no Senhor; e nova-mente vos afirmo: Alegrai-vos!3

5 Seja a vossa amabilidade conhecida por todas as pessoas. Breve voltará o Se-nhor.4

6 Não andeis ansiosos por motivo algum; pelo contrário, sejam todas as vossas so-licitações declaradas na presença de Deus por meio de oração e súplicas com ações de graça.5

11 Na época de Paulo já haviam os chamados “cristãos nominais”, pessoas que se dizem cristãs, mas suas práticas diárias demonstram nitidamente o contrário. Paulo se refere a dois tipos bem definidos: os judaizantes (legalistas desprovidos de amor cristão, mais apegados às leis do que ao Deus das leis – v.2) e os antinomistas (um outro extremo; libertinos, para os quais tudo é permitido – v.19).

12 Cristo tem poder absoluto sobre o universo por toda a eternidade. Deus Pai lhe outorgou esse poder e o ressuscitou glorificado mediante sua obediência até a morte, e morte de cruz (Mt 28.18; 1Co 15.27; Ef 1.20-22). Mediante o Espírito Santo, ressuscitará também os nossos corpos mortais, sujeitos às fraquezas, à corrupção, à completa deterioração física e à eterna separação de Deus (morte e inferno) por causa do pecado (Rm 8.10-23; 1Co 6.14; 15.42-53). O corpo ressurreto, espiritual e glorioso, já recebido por Cristo, que é “a primícia”, de modo semelhante será presenteado aos cristãos sinceros na futura “colheita” da ressurreição (1Co 15.20-49).

Capítulo 41 Paulo volta a usar a imagem da “grinalda de folhas”, com a qual os gregos costumavam galardoar o vencedor de uma prova

atlética. O apóstolo exalta sua alegria com o triunfo espiritual de seus discípulos em Filipos. Sua maior recompensa agora, e especialmente, quando Cristo voltar (1Ts 2.19). Os crentes devem permanecer firmes na fé em meio às lutas enfrentadas por amor ao verdadeiro Evangelho, pois essa dedicação e lealdade não ficarão sem grande recompensa em breve (1.27-30; 1Co 15.58).

2 O zelo de Paulo pela unidade e harmonia entre os irmãos, especialmente entre os líderes espirituais, é tão grande a ponto de citar a discórdia entre Evódia e Síntique numa carta que seria lida em público e em várias igrejas. Paulo pede que um outro cristão maduro, de sua confiança, ministre às irmãs em litígio como um pacificador, pois ele acredita na plena reconciliação das partes em Cristo. Paulo considerava os homens e mulheres que Deus lhe confiava para discipular e cooperar como “companheiros de jugo” (colegas de ministério), não como subordinados (2.25; Rm 16.3-21; Fm 24). Todos os cristãos sinceros e fiéis já estão com seus nomes publicados no mais importante de todos os diplomas: o registro celestial dos eleitos do Senhor (Ap 3.5).

3 A alegria espiritual não é apenas um sentimento de prazer ou êxtase decorrente de certos momentos felizes da vida. É um estado de espírito, permanentemente otimista, em relação ao amor e ação de Cristo em favor do cristão sincero, por meio do Espírito Santo. O cristão não nega a dor, as fraquezas e o sofrimento, mas tem sua força e motivação alicerçadas na certeza da provisão divina (Hc 3.17,18; Tg 1.2; 1Pe 4.13).

4 Os cristãos devem dispensar a mesma consideração que Jesus Cristo demonstrou (2Co 10.1) ao próximo, especialmente, para com seus irmãos. Os líderes cristãos devem exercitar o princípio da amabilidade; para com todos e nas mais variadas situa-ções, como um dos mais expressivos testemunhos do controle do Espírito Santo (1Tm 3.3; Tt 3.2). O próximo, iminente e mais importante evento histórico do calendário profético de Deus é o glorioso retorno de Cristo. Considerando que, para Deus, mil anos são como o dia que passou, é certo deduzir que o Senhor está às portas (Sl 90.4; 1Jo 2.18; Rm 13.11; Tg 5.8,9; Ap 22.7-20).

5 Quanto mais ansiosos e preocupados estamos, menos conseguimos orar adequadamente. Contudo, ao concentrarmos toda a nossa fé na pessoa do Espírito Santo e ao começarmos a dialogar com Deus (não apenas falar ou rezar, mas ouvir a voz do Senhor em nossa alma), passamos a ver a vida e seus problemas pela perspectiva de Cristo; reconhecemos que temos um grande Deus e pequenos problemas, não o contrário como antes (1Pe 5.7; Mt 6.25-31; 2Co 11.28).

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7 E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará o vosso cora-ção e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.6

8 Concluindo, caros irmãos, absoluta-mente tudo o que for verdadeiro, tudo o que for honesto, tudo o que for justo, tudo o que for puro, tudo o que for amá-vel, tudo o que for de boa fama, se hou-ver algo de excelente ou digno de louvor, nisso pensai.7

9 Tudo o que aprendestes, recebestes, ou-vistes e vistes em mim, isso praticai; e o Deus de paz estará convosco.

Paulo é grato à Igreja em Filipos10 Alegro-me grandemente no Senhor, por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo, sobre o qual, na verdade, estáveis atentos, mas vos faltava ocasião apropriada.8

11 Não vos declaro isso por estar necessi-

tado, porquanto aprendi a viver satisfeito sob toda e qualquer circunstância.9

12 Sei bem o que é passar necessidade e sei o que é andar com fartura. Aprendi o mistério de viver feliz em todo lugar e em qualquer situação, esteja bem alimenta-do, ou mesmo com fome, possuindo far-tura, ou passando privações.10 13 Tudo posso naquele que me fortale-ce.11 14 Entretanto, fizestes bem em participar da minha aflição.12

15 Sabeis, ó filipenses, que, durante os vossos primeiros dias no Evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja compartilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vós; 16 pois, enquanto eu ainda estava em Tessalônica, generosamente me enviastes ajuda, não somente uma vez, mas duas, quando tive necessidade.17 Não que eu esteja à procura de ofertas,

6 A “paz de Deus” não pode ser confundida com um simples estado de bem-estar emocional ou psicológico, pois é, na verdade, uma profunda e indestrutível tranqüilidade de alma; fruto da plena confiança de que todos os nossos pecados foram perdoados na cruz do Calvário, pelo sacrifício vicário de Cristo. Portanto, não temos que carregar qualquer peso de culpa (em relação ao nosso passado, presente e futuro), embora Satanás e seus asseclas tentem, diariamente e de todas as maneiras, nos fazer pensar o contrário. Se dermos ouvidos a essas falsas acusações, estaremos desmerecendo o sacrifício redentor do Senhor (pois já fomos absolvidos), e nossa vida não estará sendo controlada pelo Espírito Santo. A tranqüilidade que vem do Senhor é fruto da certeza absoluta de estarmos sob os seus cuidados paternos. A expressão “guardará vosso coração e vossos pensamentos” remete a um conceito militar que retrata uma sentinela montando guarda. Jesus zela por nós diuturnamente, sem se cansar ou distrair-se; nada que nos acontece pode surpreender a Deus. Seus cuidados estendem-se ao âmago do nosso ser e às nossas intenções mais profundas. Por isso, podemos, com toda a tranqüilidade, descansar no amor e nas providências poderosas do nosso Senhor (1Pe 1.5; Ef 3.18-20).

7 A expressão grega prosphile significa “agradável, amável ou belo”, e ocorre no NT apenas nessa carta de Paulo. Outro termo grego raro é Arete que tem a idéia de “excelência ou virtude”. Buscar a “excelência” humana ou exercitar o divino que existe no ser humano – a Imago Dei – era o ideal dos gregos estóicos. O cristão, entretanto, foi resgatado do pecado e da morte para proclamar em seu viver diário as “virtudes” de Jesus Cristo (1Pe 2.9).

8 Paulo usa um termo emprestado da antiga horticultura judaica “renovado” que aparece na Septuaginta (a tradução grega do AT), e cujo significado é: “florescer de novo” (Nm 17.5).

9 A expressão grega original autarkes ocorre somente aqui no NT, e significa, especialmente no pensamento estóico, “a serenidade que brota da auto-suficiência”. Para Paulo, no entanto, Cristo é o segredo da “serenidade” (tranqüilidade) e do perfeito contentamento (1.21; 4.13).

10 O sentido literal da palavra “fartura”, usada aqui por Paulo, é “transbordar”. Certamente, o apóstolo se recordava dos seus dias de abastança, antes da sua conversão a Cristo. Por crer e pregar o Evangelho, teria perdido seus privilégios nas sinagogas e sido deserdado pelos familiares.

11 Todo cristão sincero, em razão da sua união vital com Cristo, por meio do Espírito Santo, recebe um poder divino chamado dunamis, que no original grego significa “força maravilhosa” ou “poder miraculoso”. Esse poder é confiado pelo Senhor aos seus filhos em Cristo, com o objetivo de ajudá-los a superar todos os problemas e situações difíceis da caminhada cristã, segundo a vontade de Deus. Algo como a garantia de Deus que o crente pode pagar o preço de andar retamente em um mundo distorcido pelo pecado, sem temer qualquer prejuízo real no presente e, especialmente no futuro. A comunhão íntima e permanente com o Espírito Santo, isto é, com o Cristo vivo, é o segredo de toda a força e contentamento do apóstolo Paulo (v.12; 2Co 12.9,10; Jo 15.5; Ef 3.16,17; Cl 1.11).

12 Quando um cristão ou a Igreja contribui com o sustento missionário, está participando ativamente das lutas e aflições de irmãos que entregaram suas vidas para levar as boas novas do Evangelho àqueles que, como nós, não tinham qualquer espe-rança (Hb 10.33).

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mas busco preferencialmente o bem que pode ser creditado à vossa conta.13

18 Agora estou plenamente suprido, até em excesso; tenho recursos em abundân-cia, desde quando recebi de Epafrodito os donativos que enviastes, como oferta de aroma suave e como sacrifício aceitá-vel a Deus.14

19 Mas o meu Deus suprirá todas as vos-sas necessidades, em conformidade com as suas gloriosas riquezas em Cristo Je-sus.15

20 Ao nosso Deus e Pai seja a glória por toda a eternidade. Amém!

Saudações e bênção apostólica21 Saudai a todos os santos em Cristo Je-sus. Os irmãos que estão comigo igual-mente vos saúdam.22 Todos os santos vos cumprimentam, especialmente os que estão no palácio de César.16

23 A graça do Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Amém!17

13 Paulo usa uma linguagem própria da área econômica e de investimentos com o propósito de demonstrar claramente o volume do lucro espiritual, que o generoso e contínuo aporte de capital realizado pelos filipenses na vida e missão do apóstolo, está gerando (inclusive em crédito cumulativo), em suas próprias vidas e para todos quantos aceitarem a Palavra de Deus (2Co 8.1-5; At 17.1-9).

14 Paulo usa uma base veterotestamentária para mostrar que Deus se agrada da participação sacrificial dos crentes, na ado-ração ao seu Nome, e em todo tipo de contribuição para o sustento missionário e manutenção administrativa do ministério do Senhor na terra (Gn 8.21; Lv 7.12-15; Rm 12.1; Ef 5.2; Hb 13.15,16), por causa da obra de Cristo a nosso favor (1Pe 2.5) e da obra de Deus que se realiza em nós pelo seu Espírito (Fp 2.13).

15 Alguns documentos paralelos informam que os filipenses contribuíram não apenas com uma parte do que lhes sobrava, mas até ao nível de empobrecerem. Contudo, Paulo garantiu que essa generosidade dos irmãos de Filipos não passaria despercebida aos olhos amorosos e poderosos do Senhor. Ao usar a palavra “suprirá”, Paulo lhe atribui o mesmo sentido da expressão grega original usada no v.18, “abundância” (2Co 8.2).

16 Paulo não se refere aos familiares do imperador, mas, sim, a todos os militares, serviçais e escravos que, por meio do testemunho do apóstolo, agora serviam ao Senhor Jesus. Entre os mais chegados cooperadores estava Timóteo (1.1,13,14,16).

17 Ao se referir ao “espírito”, Paulo não está limitando a ação do Espírito Santo apenas à alma dos crentes, mas a expressão no original grego tem o sentido de “o ser inteiro da pessoa humana” (corpo, alma e espírito – 1Ts 5.23). Paulo invoca sobre os cristãos uma bênção restauradora que pode ser percebida a partir do âmago do ser até a pele do corpo (Gl 6.18; 2Tm 4.22; Fm 24,25).

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