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017 - Cadenos de Teatro

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cadernos de teatro

n.o  7

 

A

 962

Publicação de O

A v. Lineu de Paula

  B L A D O sob o patrocínio do I B E C C

Mac hado  9 o Jardim B otânico

 

R io de Janeiro

Diretor

responsável : J oão S érgio M arinho N unes  

Diretor executivo

:

Ma

ria C lara

Mac

hado  

Redator

chefe :

Heloisa

G ui m

ar

ães

Ferrei

ra

Redatores: Celina What

ely

 

Vânia

Leão

T eixeira o Secretária :

C ordélia T

or r

es • Tesoureiro : Eddy R ezende N unes •

  olaboraram

neste número: L eo G itson R ibe

ir

o

 

J acqueline L aur

 

ce •

Milton

José P into  

Nossa capa:

T ônia Carrero no papel de M ercedes 

em «Natal na Praça» peça

montada

pela C

TCA

  no R io   em 19 5 7 .

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Que raízes tem o hábito de representar peças

religiosas? Em que ponto

  história

humana

estabeleceu-se o

contato

entre

T TRO R LIGIÃO

No

art igo que se

segue o

quadro geral

é   u -

um pequeno roteiro das relações

Deus-homem

no teatro,

mas fiz o quadro com mosaicos

alheios:

trechos

de

vários autores que estuda

ram o

assunto

.

 

Adão

-

Senhor?

- Vou

revelar-te minha intenção.

Olha êste

jardim.

- Como

se chama?

- O Paraíso.

- É

muito bonito.

-

Eu

o

plantei

e o

tracei.

Quem

morar nêle será meu

Eu

o

entrego

a ti

para que mores nêle

e o guardes.

( Le jeu d'Adam - séc. XII)

amigo.

O diálogo

se estende ,

com

ênfase

num

ou

noutro personagem

Deus  \

homem, até hoje. No

teatro,

através do

teatro,

o

homem

implora,

agradece

ou discute

seus deuses.

E

tudo

começou

quando

o

homem percebeu que

a

natureza onde

êle

está mergulhado, da qual depende

para

viver

e

morrer, tem um ritmo.

Diz

Sheldon

Cheney que:  O

homem

dança. Depois das

atividades

que

proporcionam

aos povos

primitivos

as

necessidades materiais,

comida

e

abrigo a dança vem em primeiro lugar.

É

a primeira

válvula

de escape

para

a emoção e é o começo

das

artes. O

homem

civilizado de hoje apesar

de

inibições

encravadas

e reservas cultivadas instintivamente

expressa

emo

ções

pela

ação; o

homem

primitivo,

pobre em

meios

de expressão,

dispondo

apenas de rudimentos de linguagem falada, expressa universalmente seus

sentimentos mais profundos

através de

movimentos medidos.

A natureza

ao seu redor move-se ritmicamente

nas

ondas das águas

no vento

que so

pra;

sol e lua

repetem seus movimentos; seu próprio

coração bate num

ritmo.

Nada mais

natural do que êle criar

movimentos

rítmicos para ex

ternar

emoções.

  e dança

por

prazer

e como

ritual.

Fala em dança

aos seus

deu

ses reza em

dança

e dá

graças

em dança. De

forma

nenhuma

poderíamos

classificar

esta a tividade

como teatral ou

dramática,

mas

em

seus movi

mentos significantes está

o

germe

do drama e

do

teatro. A

dança...

em

determinado ponto de sua história dá nascimento

a outras artes. Em Cam

bodia

o

próprio têrrno

teatro significa

 casa de dança ... Onde

quer que

encontremos

homens em estágio

primitivo

de

desenvolvimento cultural,

o

estudo de seus costumes nos reve lam rituais relacionados com

danças

dramáticas.

 

E

alguns parágrafos adiante continua

êle:  O

mundo do selvagem

ê

universalmente povoado por

espíritos

ou deuses

todo-poderosos.

Estão

êles

associados

às fôrças controladoras

da

natureza,

às causas

ou

rela,

cionados

com

almas de ancestrais

mortos

ou

com

animais

fabulosos

ou ár

vores

ou

estrêlas

 

De qualquer forma

o

bem

estar

humano depende de

3

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estarem os deuses do seu

lado.

zle precisa fazer algo

que

os agrade,

indicar-lhes o

que

deseja e nunca deixar de mostrar-lhes a

apreciação

de

seus favores . Os primitivos raramente praticam   rel igião como

nós.

Aquê

les

que moram numa

região

árida

não se

contentam

em vagamente orar

por chuva, êles fazem

alguma

coisa: dançam uma Dança da Chuva para

seus

deuses.

Outros preci sam fazer a Dança

do

Sol. Uma tríbu enfren

tando

o extermínio por

falta

. de alimento executa uma Dança do Antílope.

A

dança

é

tão

essencialmente

o

método primitivo

de

mostrar

atenção

e devoção aos espíritos

que em quase

tôda

parte

o

local

das danças

precede

o templo.

o

chefe

representativo

dos

deuses,

curandeiro, sacerdo te ou

feiticeiro,

determina danças para

propósitos

diferentes: aca lmar uma enti

dade que

detém

a

chuva

ou o sol expulsar o .mau espírito do corpo de

um

membro

doente da comunidade,

as segurar boa

sorte ao vinho novo .

. . .Êste tipo

de

cerimônias, no

que

diz respeito ao

aumento

dos

vegetais comestíveis, 

desenvolveu-se

ao

mesmo

tempo que

a agricultura

crescia. de

importância

econômica, até

que finalmente

delas

emergiram

aquêles festivais ligados às estações, particularmente .à primavera   e ao ou

tono,

que

persistem em muitos lugares do mundo, em

geral ainda

com

danças simbólicas e miméticas . O plantar, o colher, a prova

do vinho novo

-

tudo

suge ria alguma forma de celebração. Aqui

entram

no panteon

hu

mano os

deuses

da

terra

e os

deuses

do

vinho.

Cheney escreve

isto em 1929. É uma teoria simples e lógica. Desde

.

então

muito

tem

sido

estudado sôbre

a origem

da

expressão

humana

e a

questão

é

mais

fundamente analisada

por

Francis Fergusson em  The

Idea

of

a

Theater ,

enquanto

estuda

o Édipo de Sófocles:

 A

Escola de Antropologia

Clássica

de

Cambridge

mostrou deta

lhadamente

que a forma da tragédia grega

segue

a de

um

antiquíssimo

ritual de

Enniautos

Daimon,

ou

deus das

estações. Essa descoberta

nos

permit e uma nova visão de

Édipo

que,

penso, ainda

não foi

completamente

explorada. A chave

da

dramatização

do

mito de

Édipo

por Sófocles deve

ser encontrada

neste

antigo . r

itual, de

forma e significado semelhantes

isto

é

que

também

se desenvolvia dentro de

um

 ritmo

trágico .

Especialistas em antropologia clássica, como especialistas em qual

quer

outro

campo, discutem sôbre inúmeros problemas de

fatos

e inter,

pre tações que o leigo pode apenas encara r em respeitoso silêncio.

Um dos mais espinhosos problemas parece ser o

de

saber o que

veio primeiro, se o

mito

ou o ritual. Seria esta cerimônia antiga apenas

uma ratificação do

mito de

Ur ou do Deus - Ano - Attis, ou Adonis, ou

Osiris,

ou do  Rei-Pescador - seja

como

fô r aquêle

Herói-Rei

-Alto sacer

dote

-

que

luta com seu

rival,

é abatido e desmembrado, e surge de

novo

com a estação

primaveril?

Ou foram os vários mitos dêste gênero criados

para  explicar

um

ritual que

era talvez mimado ou dançado ou

cantado

para

celebrar a mudança anual das

estações?

Ainda não temos certeza

 

portanto, se

a

mente humana começou

por

estabelecer o

núcleo

das

religiões

 mitos) ou o núcleo do

teatro

 ri.

tuais) . Mas

podemos

afirmar,

enquanto os antropólogos procuram resol 

ver êste problema ,

que

o

teatro

e a

religião

nasceram inter-relacionados .

A

proporção

que

antigas

civilizações vão

sendo estudadas, vamos

vendo a

repetição de

ciclos culturais e dentro dêles o

desenvolvimento

pa

ralelo e inter-dependente

das

duas

instituições.

Assim,

antes de

falar no caso c láss ico

da

Grécia, podemos dar o

exemplo do Egito, e dos festivais em homenagem a

Osiris.

Sheldon Cheney

fala-nós dêles baseando-se no livro de E. A.

Wallis

Budge  Osiris and

the Egiptian Ressurection

London

and New

àork, 1911).

.

.

 Osirís,

o

principal deus

egípcio

lendário

rei

-divindade

 

era

a fi-

gura central

de

uma  paixão

cuja

semelhança com as

representadas

no

século

vinte

é

notável.

Em um documento

ap rox imadamen te datado de

2000 AC temos uma descrição esquemática

da

cerimônia e do drama como

 

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era

então

executado.

O propósito era exatam

ente

o

mesmo

das famosas

paixões Tirolesa

e

de Ober-Ammergau,

ou da paixão persa

de Hussein:

tôdas visavam ou visam conservar vivos na memória dos

fiéis

os sofri

mentos e triunfos de

um

deus. O fundo histórico da peça egípcia é o

se

guinte: Osiris depois de um govêrno sábio foi

traiçoeiramente

a s s ~ s s n à ~ o

seu corpo

foi

despedaçado e ns pedaços

espalhados

por grande distância .

Mas sua espôsa Is ís

e

seu filho vingaram sua morte, recuperaram seus res

tos

como

relíquias,

reconquistaram o

trono

e

estabeleceram

o

culto

de

Osiris

. A

Paixão, revivendo

os

sofrimentos

de

Osirrs

e

enfatizando

sua

res

surreição, tornou-se um

acontecimento

anual.

O relato que temos apenas esquematiza a cerim

ônia

em

Abydos

 

mas outras paixões eram realizadas

anualmente em Busiris,

Heliopolis,

etc.

Muito pouco se conta sôbre o

 teatro

ou

coisa

semelhante.

Os

incidentes 

na verdade, são descr itos como

em

progressão, em movimen to

de

um

lu

gar para

outro, e diferentes entre si quanto

ao modo

de representar , vão

desde

o

drama puramente mímico até desfiles

e

mesmo pretensas batalhas.

 O drama

ainda

devia estar mui to

misturado

com

a

própria vivência, porque

aquêles que representavam os prisioneiros tomados nestas

batalhas

tinham

a

seguir

o papel

menos

desejável

numa

cerimônia

real de

sacrifício humano

.)

ste é

um

dos

pouquíssimos

fatos que

conhecemos, por

agora, do

teatro

no

Egito,

e

também

êle

aponta

a

antiga,

universal

e

íntima

relação

Religião-Teatro .

Mas

é da Grécia O · primeiro

teatro

que

conseguimos

re

constituir como um todo orgânico: origem

mítica,

parte histórica,

textos

e materialmente, prédios, roupas, máscaras.

Do

culto

de

Dionysos e em seu templo, nasceu o teatro

grego.

O

mito

dionisíaco

é

perturbadoramente

belo, e admirável

na concisão

com

que espelha a natureza

do

fenômeno

teatral. Embora um mito

não

possa

ser

resumido ou

esquematizado,

darei suas linha s principais

para i lustr ar

o assunto

de

nosso artigo.

Dionysos nasce

das relações de um

Deus

e

uma mortal.

A jovem

Sernele quer ver Zeus

em tôda

sua p leni tude

de

Deus, mesmo

sabendo

que isto lhe custará a vida . Ao conseguir seu

desejo, morre

e

dá nasci

mento

a

um

filho

que

no corpo

do

próprio

Deus

se

completará até um

se

gundo

nascimento

 Dionysos

-

nascido duas vêzes)  

É

criado por

ninfas

que lhe ensinam os

segredos da natureza.

É o

deus

da vinha que

parece

morrer com

o inve rno mas renasce

na primavera .

É

um

símbolo   portanto,

de ressurreição.

Pode

se apresentar com

muitas

faces

e

r evela r extr ema

crueldade

ou doçura e beleza. Em

suas fes tas

foram

aperfeiçoados

os

ins

trumentos

musicais,

os ritmos de dança e posteriormente, a comédia e a

tragédia gregas.

Disso nos

fala

Fergusson em outro

trecho de

sua

análise

de Édipo:

 Se consideramos Édipo como ritual podemos compreendê-lo de uma forma

que é inatingível

para

quem nêle pensa apenas como a dramatização de

uma história . Harrison

 Jane

Ellen

Harrison

no livro  Ancient Art

and

Ritual )

mostrou

que

o

Fes tival de

Dionysos

com

bases

na

cerimônia

anual

da

vegetação

  incluia

 ritos

de

passagem , como

os

que celebram

o

assumir

do estado adu lto -

celebração

do

mistério

do

crescimento

e desenvolvi

mento individual .

Ao mesmo tempo ,

era uma prece

pelo

bem-estar

de

tôda

a comunidade; e êste bem-estar

era compreendido

não apenas como

prospe

ridade material, mas também como a

ordem

natural da família,

dos ances

tr ais, dos membros atuais, e das gerações ainda por vir, e

ao

mesmo tempo,

um gesto de obediência aos deuses, ciumentos

cada

um de seu ter ri tório,

nesta

ordem e proporção

naturais

e

divinamente

sancionadas .

Acreditamos

que

o público

de

Sófocles  tôda a população da co

munidade) chegasse cedo

prepa rada para

gastar o dia nas arquibancadas.

A

seus

pés

estava

o

semi-círculo de dança

para

o

côro

  e os

tronos para

os sacerdotes, e o altar. Atrás dêste

era

a plataforma erguida para os

atôres

principais,

tendo

como

fundo

a

fachada emblemática

que

no

mo

mento

devia

ser

tomada

como o palácio de l :dipo em Tebas. Os atôres não

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A deusa-mãe e seu

filhinho meio

divino e

meio

terrestre eram

adorados desde

ra antiguidade onde quer que

houvesse populações

agrícolas,

a

deusa

-mãe representando a natureza e seu

filho

o produto

desta natureza.

fecundada

pelo

elemento divino: a chuva, água do céu,

garantia

de

imorta.lidade

. A

idéia seria retomada mais tarde pela

igreja cristã sob

uma forma

renovada

. _

E voltando

 ao trecho sôbre

a

festa do

fogo :  A

festa

era colocada

sob

o

signo

da alegria, da

Luz,

da Vida

e

do

Amor.

Muitos

anos

mais

tarde, os

cristãos não

se recordando da data

do

nascimento

de Jesus tiveram a

idéia

de

comemorá-la

a 25

de dezembro,

dia

da festa do fogo

.

Lançaram mão das

tradições

da

festa para estabe

lecer

a

lenda

da Nat iv idade que

conhecemos

. Também conservaram o

bito de acender

fogos na. ocasião, o que

nos permite

até hoje o

encanto

das

velas

do

Natal. .

Com

o cristianismo, e a

civilização presidida por

êle, surge um

novo conceito teatral

.

No altar novamente, representando

o

nascimento,

a

morte e a ressurreição do

deus

venerado. Depois, quando na praça pública

mas ainda impregnado do espírito religioso

comunal,

cercado pela mesma

expectativa e

participação

de

uma

paixão

egípcia ou de um

ritual

grego.

Aqui

como

o

mesmo reconhecimento da ordem

natural

e

social

pré

-esta

belecida, a .ínvocação

pelo

bem-estar familiar e coletivo.

Agora,

como en

tão, sucede-lhe

a

posição de revolta,

de

angústia, de análise,

quando

no

Renascimento

o

homem se desloca para

o

centro do universo

e

do palco

.

Desde

então apenas Shakespeare

conseguiu

(em

suas

própr ias palavras)

  levantar

um

espêlho

à

natureza

.

 

relação estado-indivíduo toma o lugar da relação Deus-homem.

Estado

e

indivíduo são

o

núcleo do teatro de Shakespeare

.

São

os

polos do

t ea tro que

oscila

entre

Racine

e Wagner, ou entre Brecht e Ionesco.

Perió,

dicamente alguns homens

-

Claudel,

 

Ghéon, Obey

-

(não mais

a comu

nidade)

voltam

-se

para o

teatro

e louvam

seu Deus com beleza

e

poesia.

Em outros momentos (mais freqüentes)

o

teatro

serve

para que se inter

rogue

a

Deus sôbre

a

tragédia

da

vida

humana

(Sartre, Camus

,

Cocteau)

.

De qualquer

forma o

equilíbrio está rompido

naquela

longa associação

e

é

como se o

diálogo

fôsse agora:

-

Adão, onde estás?

.

-

Estou aqui,

Senhor

r

Escondi-me

por causa

de

tua cólera,

e

estou

agachado po rque

estou

nu.

- Que fizeste?

Como

te afastaste do

caminho

reto? Quem te

pr

 

.

vou de tua bern

-aventurança?

Que fizeste? ( Jeu d Adam)

.

E

Adão

,

confuso,

ainda - não

sabe

o que

responder.

H .

G.

F .

LIVROS MAIS CONSULTADOS:

 

-

Bonnard, André

-

 La tragédíe et

I hom

me (A La Baconniêre

- Paris - Cop 1951

- Cheney, Sheldon

The

Theatre - Tree

Thcusands years

of Drama, Acting

and Sta

gecraft (Tudor

Publíshing

- N. Y., Cop

1929 .

- Fergusson, Francis

 The

Idea of a Theater

-

The art of drama in changíng perspecti-

ve (Doubleday Ancher

Books, N. Y., 1953

-

Meunier, Marie

-

 La

légende dorée des

Dieux et des Héros (Albin

Miehel -

Pa

ris

,

Cop

1946

- Loeffler - Delachaux -  Le symbollsme

des

contes

de

fées

L Arche -

Paris,

1949

 

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FENôMENO

ROGER

PL N HON

 

 ,. .

_. . -

LEON

R.

LAFABRI

Ou o

teatro

reconquis ta sua

posição

dentro

da

comunidade,

ou

morre. Da Grécia, até a era elizabethiana, êle era a expressão popular das

filosofias dominantes. A filosofia a ética dos gregos, incompreensível em

sua

forma. mais depurada

para

o grosso do povo, reaparece em Ésquilo,

Sófocles

e Eurípides,

através

de símbolos e mitos

acessíveis

à massa. Assim,

também

Shakespeare marca

a ascensão do protestantismo,

da

auto-suficiên

cia

do s

primeiros

nacionalismos, quando a

Inglaterra

se in iciava

na

con

quista do mundo. Daí

por diante, o

teatro

foi

se

fechando

dentro

de si

próprio, convertendo-se

na arte

de uma classe

e perdendo seu

caráter

co-

munitário. Um Racine, por

exemplo,

é

essencialmente

poeta

de

côrte, dos

s lons Aldous Huxley nota a

ausência

da natureza na linguagem

de

Ra -

cine; é

uma

linguagem

de

recintos

impenetráveis

senão pelos escolhidos.

  l:sse

processo

culminou

com

o

teatro

burguês,

com

sua

casa de espetáculos

limitada e

proibitiva, com seus

dramas de

sala-de-estar.

.

Enquanto isso novas artes

surgiam para

o povo

abandonado pelo

teatro.

A novelística do século dezenove

tentava

suprir essa necessidade,

mas a ficção (por motivos claros) é

impotente para

reproduzir uma reação

coletiva,

o senso

de comunhão

peculiar às artes representadas. A dança

também se fixou numa

classe

e

se

fossilizou

no

academicismo

 clássico .

Revoluções modernas, como a . de Martha

Graham,

não conseguiram acei-

t ação popular , por diversas razões: sua. exploração popularesca

no

merca,

do e o

próprio

·

rumo

geral

da sociedade

no

tocante

a

maneiras

e costumes;

a dança,

com seu caráter essencialmente

dionisíaco, não é

uma manifes

tação

cultural que se

amolde

com

fac il idade ao rac ionalismo

científico da

época. Pressupõe uma

sociedade

mais

simples,

 mais

natural ,

para

que

possa assumir

o lugar de

denominador comum.

 

o cinema,

facilitado

pela sua

imensa mobílidade

industrial,

pelas

suas ligações

formais

com artes tão diversas como a música (o crítico

Dwight Mc Donald nota que

a

forma

de

contrapor

imagens

dos grandes

cineastas

é

semelhante

à

da

composição

musical),

a ficção

(na Ilimitação

de

espaço) e a própria

dramaturgia

(no

uso

do clímax da história)

parece

reunir os ingredientes

de

uma verdadeira

arte de

comunidade. A falta de

uma linguagem, ou linguagens definidas, sua subserviência à técnica me

cânica e

sua

dependência quase total

do

sistema industrial, são entraves

difíceis de vencer, mas que

não

constituem um veto essencial a

suas

possibilidades.

. É dentro

dêsse

  ckground que

um

grupo

de

artistas

de

teatro re-

solveu dar à sua arte aquilo que ela

perdeu

..

Um

homem como Jean

Vlllar

trouxe

à

herança

cultural francesa uma

didatizaçâo de textos,

uma sim

plificação no processo de comunicação com a

platéia, que

tornou

Moliêra

acessível ao mais obtuso

camponês

de hoje (na

França, evidentemente).

Homens como

Piscator

e Brecht imaginaram um

teatro

de crítica política,

também ultradidáticos, que forçasse   compreensão das questões

supremas

da

época

pelo povo.

E inventaram

formas,

ou

melhor,

amalgamaram em

seus estilos recursos

tão var iados

como

a técnica

cinematográfica,

o teatro

orienta l, dança

e

música.

. •

Brecht

é

por

certo, a expressão máxima dêsse

movimento.

Em

primerio luga r;

devido ao

fato de

ser

o

primeiro

dramaturgo

do

século

XX.

Formou

uma

companhia,

o Berliner Ensemble,

que

apresenta cons-

tantemente seus textos e

que

atingiu

um

nível

de espetáculo sem par

no

palco

de hoje. É um teatro

cheio de teor ias,

que

procura abolir

a ilusão

de

realidade

do

teatro burguês típico, que tenta levar

conhecimento

ao

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público allenando o

espetáculo

do

mesmo públ ico.

Assim o

público

o que está acontecendo. Não se entrega emocionalmente a uma história

com comêço

meio

e

fim

cujo fim traz uma

purgação

de sentimentos .   l:le

pa rticipa de cena por cena entende a mecânica de

cada

cena que vale

por

uma

história

isolada. E essa mecânica é

destinada

a mostrar a mecânica

da p rópria sociedade em que vivemos dentro do ponto de vista do autor

que é o

marxista.

Brecht não exclui sentimento apenas o inclui

quando

necessário

dentro de um

todo de crítica

sociológica.

É através de Brecht que surgiu Roger Planchon

o novo

fenômeno

do

teatro

fancês.

onze anos

atrás

com

dezenove

anos

Planchon decla

mava. Era

uma

forma

de

compensar a chateação que sentia

no seu em

prêgo

de bancário em Lyon. A noite encontrava-se com amigos. Até que

um dia depois de discuti rem

em detalhe

a mediocridade da vdia que

leva

vam resolveram salvar-se

e

se

possível ao

mundo formando

uma com

panhia de

teatro. Entre êsses

jovens está Claude

Lochy

que

terminou

seus estudos no conservatório

e que

tem composto tôdas

as músicas

de

cena da companhia; Isabelle

Sadoyan

que passou a

desenhar

trajes e a

executá-los;

e Colette Dompietrini que - o que é inevitável

nesses

movi

mentos

- casou-se com o

diretor Planchon.

Como

todos

os

jovens

que

riam ser diferentes

dos

mais

velhos.

A

diferença

é

que

conseguiram.

Planchon

é homem de ir ao cinema três ou quatro vêzes por se

mana. Logo sentia essa necessidade de popular ização do teatro. E usou o

cinema.

Quan

 do começou

partiu para

uma  Noite dos

Reis

de Shakes

peare maneira popular e Feydeau como se fôsse

burleta

de Mack

Sennett. Com

Shakespeare

ganharam doze

mil francos velhos.

Resolveram

ser

profissionais.

Juntaram suas economais e

a taca ram pequenas

salas

de espetá

culo .no interior. Contrataram um velho comediante de

província

Henri

Galiardin a quem entregam o papel de Henrique IV. Em

Lorelei

adere

um

engenheiro Jean Bouise que

- como é

de

praxe -

casa-se

com a

citada Isabelle

e

se converte mais

tarde num

t ruculento falstaff . Cansa

dos

em

1951

da mambembada

descobrem

nos

fundos

da

Bellecour

uma

antiga

oficina

de

ferreiro que

daria

um teatro

de

98

lugares.

Era

preciso

dinheiro. Contraem dívidas

para criar a Comédia de Lyon . Além

de

tra

balhar como artistas são tudo desde

maquinistas

a lavadores

de chão.

Nessa base encenaram 30 espetáculos

em

cinco anos.

Exemplos:

 A Noite

dos

Reis

e  As Alegres Comadres de Windsor de Shakespeare;

 O

AI·

caide de

Zalaméa

e  A Vida é Uma.

Mentira

de Calderón;  Fausto e

 Eduardo II de Marlowe;  A Lição e  Vítimas do Dever de Ionesco;

um Synge. E sobre tudo Brecht . Pouco a pouco o público aprendeu a ir

ao teatro. 120 ou 130 pessoas por noite

assistem  

procura de estilo

de

Planchon. Sucesso artístico.

Aos 24 anos Planchon tem 12 milhões de francos de

dívidas.

Em

1957

seis

anos

depois

Planchon encontra

seu

cerrógraro o

ex-pintor ex-aspirante a arquiteto e literato René Allio de

32

anos

de

idade.

Allio

não

quer só

fazer

cenários mas repensar os problemas

da

ar

quitetura teatral desde cenários ·até a construção

de teatro s.

Os dois afi

naram. Allio continua

repensando

e dominando a cenografia

francesa.

Por essa

época

Planchon tomou

conta

do Teatro Municipal de

Villeurbanne . Tem

perto

de

2.000

lugares.

Para ganhar a

concorrência

era

necessário

entender

de óperas. Planchon

passa dias decorando no

mes.

Ganha.

Mas Villeurbanne é

uma cidade

de

100

mil

pessoas com 50

de

operários

cujo único interêsse aparente é o srrtp-teuse   Durante três meses

Planchon

parte para a conquista dos

trabalhadores. Estabelece um preço

único

para

as localidades com

reduções substanciais

para

associações

ope

rárias. Realiza um questinonário para os 100

mil habitantes

sôbre

horá

rios

repertórios

meios

de transporte etc. Recebe 7 mil respostas . A cida

de tinha até então só três mil espectadores   teatro

 

9

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o estilo de Planchon se define em reação a êsse meio social. Essa

gente vaI

300

vêzes

ao cinema por ano, logo para ir ao teatro,

precisa

de

espetáculos com

os operár ios em todos os cantos, de usínas a botequins.

nema. O

aue Ésauilo fêz com Platão,

Planchon

faz com

Hollvwood .

 O tempora

o mores .

Henry IV vira um caubói histórico.

Mariveaux,

cinemascópio, e

os

Três

Mosqueteiros uma burleta.

Planchon

e sua

equipe

vão discutir

t:::spetaculos

com

ênfase

no

visual,

que recriem

relações

afetívas com

o ci

Falam de Brecnt, Gogol e Shakespeare.

São

ouvidos em silêncio,

com

atenção. Organizam exposições

ambula  

·es, lançam

um

semanário,

 Cité

Panorama , com 20 mil exemplares. O

público cresce.

De dez vaI a oito

centos. Dentro de

três

anos Planchon calcula,

não

tará mais concessões.

Organiza. até uma creche para os filhos das operárias.

Já deve 27 milhões de francos. Visita o Minis tério de Letras e Ar

tes

pedindo

dinheIro.

De

volta

a

Lyon,

monta seus

Shakespeares

e atrai

15.000 pessoas.

Para

confirmar seu prestígio vai a

Paris.

A crítica gasta

seus

elogios. De volta. a Lyon já é dono do público. 35.000 espectadores

vêem Gogol:  Almas Mortas , e  Os

Três

Mosqueteiros . Os operários

discutem

nos debates depois da representação de  Henry IV :  O filho

do

patrão

era

farrista, mas

depois

do serviço

mil itar virou

austero.

Planchon

se estende

da

província para

a Europa. Sucesso

em

Roma, Turim, Milão em Edimburgo e

Amsterdam.

Entra. dinheiro. O go

vêrno

solta

as subvenções. Planchon

Incorporou-se  

cultura francesa.

Como provinciano, Planchon sofre

várias

influências

em

seu es

tilo. A

mais

importante é a do cinema.

Usa

close ups

ou

seja, separa os

atôres de

um

conjunto

para

trazê-los ao proscênio

em

destaque para o

 ú

blico mobilizando os

demais em

cena. Corta cenas como em montagem de

cinema. E assim

por diante.

Usa

também

o

humor

um tanto mecânico do

chamado est ilo cabaré, ainda muito vivo na França, apesar

de

surgido no

pós-guerra

de

dezoito. Um

humor anárquico.

 Sua principal

preocupação

é situar as personagens de uma obra

dentro

do

seu contexto

 

social.

Exige

do s

intérpretes

composições

realistas.

Não aquêle realismo psícológíco ilusionista, afamado

hoje graças ao

Actor s Studio,

mas

um

realismo

crítico. O comediante deve analisar para

o espectador a personagem. Brecht, de novo. .

Isso se estende à montagem. Allio

em

 Eduardo II ,

marcou

cada

traje de acôrdo com as Intenções do s tipos na peça, indo

 

extremos. Exern,

plos: os barões frustrados apresentam-se numa forma deformadora de si

lhue tas de

fêltro e couro. Os dândis caem no

brocado,

veludo, etc. Aqui,

o

estilo

é expressionista. Já os

pobres

se

vestem

com a maior simplicidade

realista. Por outro lado as armaduras do s

guerreiros

sugerem es ·

culturas

modernas.

Planchon considera

que

as artes

cênícas

propriamente

ditas

estão

vinte

anos

 

frente

do s

textos.

Como

Copeau,

que

fêz a

revolução

teatral

dos

Jouvets e

Barraults,

no

passado,

êle se queixa da falta de um

reper

tório

para suas idé ias de encenação.

Daí, êle passou a fazer

revisões

d os c lá ss ic os . Não é só Henry IV

que

entra

em

cena de carro-esporte,

ou

larnbreta, se necessário. Todos os

textos são

dados

em versões fei tas pela companhia, simplificados e

adul-

 

terados para

servir

a um propósito de crítica social para os

tempos

de hoje.

. Será essa a forma futura

do teatro?

É a

do

presente

no

que tem

de mais

vital.

O teatro acadêmico está em

crise.

O centro de província de

Planchon significa. uma revolução.

Diz

êle que o teatro é um

serviço

público como os

gregos diz iam

que era um serviço religioso.

Que não

deve l imitar sua liberdade de cria

ção

e

seu

desenvolvimento

dentro da

anarquia

individualista,

dentro

do

es,

tabelecido pela

moda

e

pelo

comércio. Deve ter um propósito cultural

de

finido,

ainda

que flexível formalmente. É isso que Planchon quer. E ainda

não chegou aos

trinta

anos. Tem muito tempo

pela f rente.

(Reproduzido   revista

 senhor ).

 

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S

E EN

por

RENÉ RABAULT

 

Em

círculo...

Em

semi-círculo...

Em

quarto

de

círculo...

Em

oval. . . Em leque

 

As pesquisas de uma nova arquitetura teatral tendem a permitir

. o máximo de comunicação entre

atôres

e espectadores,

  projetar

em co-

munhão  

ação

da

cena

para

o

centro

da

sala.

Ésse espírito de comunidade:  atôres - espectadores , existe na

origem mesma do teatro amador, pois

uns

e outros, em suas vidas, fora.

do teatro, fazem

parte

de

uma

só comunidade de casas,

de

trabalho, de as

pirações.Parece-me

anormal

separá-los

n

ocasião

que tem por

objetivo

reuni-los. Entretanto, na quase total idade de nossos pequenos teatros, cons

truídos  à i taliana , êles' estão separados pela

ribalta

(quando não existe

também

um

fôsso de orquestra .

Procuraremos

pois

voltar

a

uma

forma mais comunal

de

teatro:

em

círculo... em semi-círculo... em quarto

de circulo.

. . em

ovaL

. .

em

leque

 

Rebuscando as tradições, encontramos a mais

velha

e experimen

tada

de tôdas,

 

do

teatro

elizabetano. É como se tentássemos

reconstituir

um

agrupamento espontâneo de curiosos em tôrno de um acidente

de

rua,

ou um agrupamento

de

basbaques atraídos por um

malabarista. O   junt

mento natural

permite às pessoas melhores possibil idades

de

comunicação

entre si e em relação ao acontecimento.

Creio que estou dando a impressão de querer levá-los

para

as for

mas sedutoras

do

circulo...

do

semi-círculo...

Não, não é assim

Porque

vocês não precisarão apenas de

um

teatrol Mas de

uma

sala de reuniões e

espetáculos, espetáculos diversos, de onde o cinema. não deve

ser

excluído.

Desta última necessidade vocês já devem

ter

conhecimento. É con

veniente

mesmo que o cinema assegure a

rendabilidade

de

sua

sala, permi

tindo

que

as representações

teatrais

não precisem cobrir senão seu próprio

financiamento. Mas f ique bem entendido

que

o

que

nós

queremos é uma

sala de

teatro que

possa ser usada como cinema, e não

uma

sala de

cine,

ma em

cuja

extremidade

se

implantou

a excrecência de

um

palco. .Nós

queremos um

palco

plenamente aberto

sôbre a

sala.

Um espaço comum

para

um reencontro comum.

.

Ao mesmo tempo desejamos que o espetáculo concebido à italiana,

possa.

ter lugar nesta

nossa cena, (não existe

nenhuma forma

de expressão

dramática que seja condenável em si

mesma ,

mas gostaríamos

de

tirar-lhe

esta impressão de fechamento, de separação

entre

dois blocos

extanques

.

De início,

estabeleçamos

o princípio de

que êstes

dois blocos - sala

e cena -

devem ser

estudados

conjuntamente.

Antes de

traçarmos

as pa

redes, devemos definir as necessidades

da

cena em si, de seus serviços,

e de articulá-los com 'as condições mais favoráveis ao espectador. As pa

redes e as passagens dependerão disso.

  I  

: f .

1 I  

PLANTA DA SALA

Para que os espectadores mais afastados (acostumados aos grandes

planos cinematográficos)

tenham

comunicação com os

atôres

é necessário

aproximar

o mais possível a

últ m

fila. de cadeiras.

Se

as

extremidades

das

primeiras

filas de cadeiras

ultrapassarem

o limite da bôca de cena, seus ocupantes

perderão

uma parte do espetâculo,

Que

a

primeira

fila não

seja portanto

mais

larga

do

que

o palco.

Adotemos,

para êste, uma

planta

baixa de

forma trapezoidal .

Prolonguemos

para

a sala os lados dêste trapézio e

encontraremos

o me-

 

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lhor limite para

as

filas

de cadei ras.

Elas

irão

se alargando para o fundo,

de

tal

modo

que

para uma mesma . quantidade de espectadores, a última

fila ficará

mais

próxima. A planta da sala. toma a forma de um leque en.

treaberto.

Não há propriamente

uma  bôca de cena .

As

paredes da sala

entram

pelo proscênio, limitando elas

mesmas a abertura. O

teatro

abre

seus braços para

os convidados,

projeta-se sôbre êles, É

foco da

atenção.

-

 I 7r

  _  

  . .  

 

-

,

 

,

,

r

-

,

,

I

,

Ji

-.

}< ig

I - Sala comum

de plano

retangular: 340

lug are s. F ig.

2 -

Sala

de formato

 aberto :

340

lugares  ma is a possibilidade de cadeiras extras . Os espectadores ficam

melhor

instalados

em

relação ao palco.

A

última

fila

se aproxima de

4,50 m .

A

circulação

é

mai s agradável

e

prática.

Sabendo-se que para a projeção cinematográfica a

visibilidade

per

manece excelente  em um segmento de círculo cujos raios limites

extremos

são

linhas que

partem da borda da . tela,

incl inadas de 30

0

sôbre

as

per

pendiculares à tela l , podemos estabelecer

quanto

vamos

abrir

o

nosso leque.

PLANO

DO

PALCO

Agora não

diremos

mais bôca de cena

e

sim

abertura

da sala

sôbre

a

cena

ou

o palco,

não teremos razão

para

nos

privarmos

das

van

tagens de um

grupo à

it aliana, ou

da maquinar ia à

italiana:

os cenários

prolongarão

a

forma da sala.

Mas também

teremos as

vantagens da cena.

aberta

ou,

graças

a

um proscênio

desmontável,

poderemos ter espetáculos

que avancem sôbre as primeiras

filas

de

cadeiral ou

mesmo as cerque

.

,  .

CORTE VERTICAL

As relações sala-cena,   observar na

planta baixa, eram

de ordem

psicológicas: comunicação,

comunhão,

unidade. Já os aspectos de ordem

técnica nas relações platéia-palco: visibilidade

e

iluminação,

devem

ser

considerados

na planta

do

corte

vertical.

,-----,

M M

 

-/

 l

 

Fig.

3 e 4 - Planta

baixa

e co rte ver tic al

do

conjunto

do

teatro.

A :

Palco.

AI:

pas sagem sôb re

o palco. - AI:

pas sagem sõb re

o palco. - A2

Gril

- A :

Entrada

de cenário

e

material.

-

B : Sala.

-

C: Sala de espera.

-

D :

Bar.

E : Banheiros. - F :

Camarins

e depósitos. - G : ·

Cabine.

- H : Ponte

de

luzes.

.

 

-

H:

Acesso à

ponte.

-

I: Cabine de cinema.

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Muitas das fontes

de

luz deverão

estar

situadas

na

sala:

não se

pode iluminar

bem o proscênio e a

parte

baixa

da

cena a

não

ser

da

sala.

Suprimimos a ribalta barra de luz dura que acentua aquela

separação

que

nós

rejeitamos: projetores

delinearão mais brandamente um lugar de ação

de contornos variados  e em meios

tons.

.

 

necessário na sala um conjunto

de ref letores

ou algo semelhante.

Esta

fonte

de

luz

definirá em parte

a forma do teto.

Seu

comando deverá

estar na parte

posterior

do palco .

As dimensões da

abertura

entre sala e palco deverão

depender

da

visibilidade limitada dos espectadores do balcão da visibilidade exagerada

dos espectadores da primeira fila e da

penetração

dos raios luminosos dos

projetores

da

sala sôbre o palco .

Cremos ter deixado

bem

claro que sala e cen á não são indepen

dentes e que a boa técnica conjuga suas exigências com nossas aspirações

artísticas e comunais .

Os croquis que ilustram êste artigo visam apenas esclarecer es·

quemàticamente

o problema. São indicações de dados básicos. Sugestões

de como

utilizar

os espaços triangulares que sobram de um e de

outro

lado das paredes

da sala que

deverá

sem

dúvida

ficar

instalada

num edí

fício

de

forma tradicional

.

INSTALAÇÃO BARA.TA NUM LOCAL JA EXISTENTE

 

Você não tem: desejo

necessidade 

ou meIOS

para instalar

um

verdadeiro

teatro

  provido

de

todos os

recursos

desejáveis. Mas você necessita e possui os meios indispensáveis para

ins talar uma

sala

de reuniões com um estrado que se transformará ocasio

nalmente em palco

rudimentar

e diante do qual serão dispostas regular-

mente as

poltronas

para o público:

sala

e cena.

Adimitamos

que

você possui o local:

reunião

de duas

salas

de

sua

escola  um entreposto  um hangar etc . . . Você deverá considerar a pos

sibil idade de transformações provísórias ou definitivas. Os princípios que

enunciamos antes permanecem válidos apenas sua aplicação se simplificará.

o

 

PLANTA BAIXA

o

A planta baixa do estrado-palco e

platéia dependerá

muito da forma

do local disponível . Se êle fôr comprido

se

sua

largura

não exceder nove

metros não

existe

outra solução senão colocar o palco em

uma extremidade.

Neste caso

será

provàvelmente necessário

situar

os camarins dos artistas

em compartimentos

cont íguos ao local propriamente dito da

representação

de

preferência com comunicação

direta

com o estrado-palco.

/ \

 

Fig

o

5 -

Local

9x14 . Estrado 9x4

 192

lugares

.

Camarins

fora do

local.

 

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Se o local

disponível fôr um

  pouoo mais quadrado , se, di gamo s,

a largura

atingir

mais de 12 metros, e se os camarins precisarem ficar

no

local, proponho

duas

outras soluções.

 

t

Fig.

6 -

Local

12x14.

Estrado

8,50x4,50 204

lugares

.

Largura

de cada camarim :

l,5Om.

Fig.

7 - Local 12x14. F.strado 9  na frente x 5  profundidade média . Camarim de

3,50x6  profundidade

média

195 lugares.

Fig. 6

 semelhante

à

figura

5) é mais

fàcilmente

realizável. mas possuí o ínconve ,

niente

de

colocar os

camarins

ao longo de

cada lado do

palco,

o que

dificulta

sua

utilização.

A

figura

7 que coloca o palco

em

um

canto. não

permi te a lo ja r

tantos

espectadores. mas permite colocarmos

os

camarins

e

serviços de

um só

lado

da cena,

o que

facilita muito sua utilização.

I

Fig. 8 -  Solução adotada para uma

sala abobadada com coluna central.

Lo

ca l de 12x14. Palco no canto com cor

tina

em trilho

curvo. Largura da aber

tura:

7m Profundidade

sôbre o

eixo

e

ao longo d as paredes: 6m 190 lugares.

Camarins

fora do

local.   OS projetores

de luz podem talvez ficar

presos, .u n s

sob

os

outros, na

coluna central .

E X I G ~ N I S

QUANTO A

SEGURANÇA

E CONFôRTO

DO PúBLICO

  aídas As portas devem abr ir-se para o exterior.

Nenhuma

porta

deve

ter largura.

inferior

a 0,80 m.

De

51

a 100 pessoas deve

haver

duas

saídas.

De

101

a 200 pessoas

pode ainda haver duas saídas, mas convém que

para

elas se

encaminhem

duas aleas de passagem. De

201

a

300

pessoas, aconselham-se duas saídas

para

cada

duas ale

as

de passagem.

Essas

aleas

ou corredores in ternos

de

vem ser

de pelo menos O BOm

Uma entrada única é

mais

conveniente, mas as saídas múltiplas

não

lião apenas mais

seguras,

representam também

facilidade

e rapidez de

evacuação da sala -

agradável

para o público e

para

os donos da sala.

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No caso de ser necessário indicar as portas de saída com le1reiros

de qualquer

tipo

êstes

podem

ser

.iluminados  por

pequena

bateria

ou de

papel do

tipo

luminescente

. No caso de haver uma lâmpada

simplesmente

para

indicar as saídas ela deve ter sua luz dirigida apenas

para

a porta,

o lado de dentro sendo protegido por um anteparo que evite que os espec-

tadores sejam

incomodados

durante

o espetáculo

pela claridade

.

  o r r e o

na

platéia  

não devem,

como

dissemos

ter

largura

inferior a 0 60 m mas serão

mais

cômodos se se

lhes

puder ceder 1 metro

do nosso espaço.

Se possível a sala

deverá

ter uma inclinação constante  máximo

de

0 10

m

por

metro .

Se houver desnível

declarado

os

degraus que

o

servem devem

ser

bem visíveis de preferência iguais entre si e se possível iluminados.

  adeiras para os

espectadores não se deve

tolerar

cadeiras mó-

veis em hipótese

nenhuma.

SQ só nos fôr possível instalar cadeiras comuns

do tipo doméstico elas

poderão

ser chumbadas pelos pés ou solidamente

presas ao chão . Se estas cadeiras precisam ser

retiradas

do local ou des

montadas

entre

espetáculos

sugerimos

que

se jam unidas

em

fileiras

por

meio de duas barras

de

ferro ou

madeira

às quais elas poderão ser apa-

rafusadas. As f ilei ras ass im const ituídas serão por sua vez unidas quatro

a quatro por barras

de

ferro passadas a

intervalos

certos . Isto as impedirá

de se

deslocar

sob o movimento do público.

A distância entre

duas

filei ras de lugares  bancos ou

cadeiras deve

permitir

um espaço livre

de

0 35 m

pelo

menos entre o assento

de

uma

fila e às costas

da

fila que se segue. Se a platéia

dispuser de poltronas

de

assento móvel

o espaço entre as filas pode ser de

0 80

m

de

encôsto

a encôsto 

dependendo apenas

do tamanho das

poltronas

e de

seus braços

.

A largura

de uma poltrona

é em

geral de   5 m.

Nenhum

espectador deve

precisar passar diante de

mais de

7

outros

para atingir

seu lugar. Isto limita

a

16

o

número de lugares

por

fileira

se elas são servidas por dois corredores laterais, ou a 8 se elas só tem

acesso a um

corredor tendo parede

do

outro lado .

Ventilação

e

segurança contra incêndios

devem ser bem consi-

deradas de

acôrdo

com o local e com as

regras

da

saúde pública

e do corpo

de bombeiros da cidade particular de cada teatro .

SEGURANÇA E

CONFóRTO

DO OUTRO LADO DO PALCO

  vacuação

deve

se efetuar

fàcilmente

e por portas independentes .

das

da platéia mas que também

se

abram para

o

exterior.

Os

degraus de

acesso ao palco devem ser sólidos .

Piso

do palco

para

uma superfície

inferior

a

5

m

 

e que não vá

suportar nenhuma maquinaria, pode se ter um tablado de madei ra sem pro-

teção especial . A

parte

inferior do

tablado

será

inutilizada

por

uma

cober-

tura lateral

de material não inflamável  placa de

Eternit

ou similar .

Iluminação A fiação do

sistema elétrico

deverá ser

feita

dentro

de cabos

bem protegidos

por dispositivos de

borracha

grossa dificilmente

inflamável, ou

material

equivalente, como o couro por

exemplo.

IDÉIA

PARA

O

ARRANJO

DE

SEU PALCO

O arranjo de um palco é todo um outro

capítulo

na ins talação de

um tea tro, mas

para terminar

nossas considerações incluo aqui um exemplo

que

poderá

ajudar ou orientar a quem

não

tenha outra fonte de

pesquisa.

O exemplo poderá ser adotado ou

adaptado.

Page 16: 017 - Cadenos de Teatro

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t

-

Fig. - à esquerda

do

palco:

implantação

fechada

 no caso

de não ser

possivel

usar

êste lado como

saida); à direita:

implantação aberta.

A:

 l i mi t a ç ã o

natural

do palco;

B: cobertura

do fundo com

pequenas

sanefas

que

ocultem os projetores destinados

a

clarear

o

fundo da cena

 

CDE

rompimentos

laterais:

R Cor tina móvel :

G:

Moldura do

palco

ou rompimento dando

para

a sala;

H;

Sanefa

cobrindo os

projetores

dirigidos para

a

cena;

I: projetores

sôbre

o

proscênio

e a

cortina.

Supondo

que o palco

esteja coberto

por um teto aconselho que

se

faça

nêle  provisoriamente)

a projeção do

trapézio de implan tação

do

cenário.

Neste

trapézio

e

sôbre

o

seu

perímetro você pendurará os

rom

pimentos

que

em

tôda

a

altura, limitarão

o

cenário.

A

cortina

de fundo,

ou rotunda,

abre-se

em

sua

parte

central para

se necessário

abrir em tôda

a

largura. Ela pode também entreabrir-se em

três

lugares,

disfarçáveis

quando

não em

uso

 prever

isso

quando na confecção),

e

Merecer

a possi

bilidade de

t rês ent radas ao

fundo.

As

cortinas laterais

se

decompõem cada

uma

em

três

rompimentos

que

se

podem

dispor um sôbre

a

extremidade

do

outro se

a

implantação

fôr

fechada

ou

girar

sôbre

s i mesmos

mostrando

sua face ao público

na

implantação

dita

 aberta . Nesta,

as entradas

ficam bem

visíveis

na

fe

chada, afastam-se

os

rompimentos

para

entrar.

. Um teto provisório cobrirá êste trapézio e deverá ser feito

do

mes-

mo

tecido

das cortinas para formar

um todo com êles .

Interiores

Se

o

cenário

a

ser

feito

fôr de interior,

os

rompimen

to s

poderão ser afastados

e

prendidos nas

entradas.

Atrás

dessas

aberturas

portas ou

janelas falsas

podem

ser colocadas.

Se

as

cortinas

forem

prêsas

em forma triangular,

o efeito será

severo

e rústico; se as

prendermos

mo

lemente, em drapeado, sugerem um

interior

de salão nobre ou

quarto ín

timo;

se separadas de cima em baixo

retas,

poderão evocar colunas de pa

lácio

etc.

Os móveis e acessórios

farão

o

resto.

É comum

as

cortinas

serem cinzentas. Acho isso triste e

sem vida;

muito tempo

aconselho

cortinas

verde

garrafa

. É a côr que os olhos

esquecem

melhor. É também o

fundo ideal

para as roupas

movimentos,

danças

etc.

Os

alemães  que

conheço

bem)

adotaram o

negro,

mas o

negro

forma um vazio - que

pode

ser proposital, como Vilar o faz

no

T. N.

P.

- O

verde forte

é

uma

presença. e

um

apoio.

  xteriores

Para os

cenários de

exterior êsta

sistema

se rvirá fà,

cilmente para evocar

árvores

e

rochedos.

Bastará

afastá-las

e

prendê-las

convenientemente ou

colocar

elementos

significativos ao gôsto do

cenarísta.

 

As cortinas

do fundo por exemplo, poderão ser entreabertas evo-

 

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cando árvores

de um bosque.

Ou

então,

totalmente abertas sôbre

um

furi

do pintado

ou

sôbre outra

cortina

de côr clara, que passa   ser fàcilmente

iluminada,

como se

estivesse batida pelo sol.

 luminação

Cada

pro je to r será

dirigido para

um espaço limitado

do palco.

Seus raios se mis tu rar ão uns

com os

outros.

Aumen tando ou

diminuindo

a

iluminação,

iluminando

mais ou

menos

esta

ou aquela

super

fície,

estaremos criando diversos

ambientes.

No fundo

do

trapéxio de

sustentação

serão suspensos outros pro.

jetores ou uma gambiar ra des tinada a iluminar o fundo , criando assim duas

zonas de i luminação bastante

distintas.

Nos bastidores

poderão

haver

refletores móveis

para

efei tos espe

ciais. Para iluminar o

pano

de bôca e o proscênio, você

prenderá

projetores

às paredes laterais

da sala. Seus

raios

se cruzarão:

os

da

esquerda para

a metade direi ta

do

palco, os

da

direita p

ara

a

metade

esquerda .

  r terminar Desejo-vos coragem, bom êxito e sucesso.

 1)

Plerre

de Montant:

 Architecture

d aujourd

 hui

.

(Da

re vista Nos Spectacles - jan-fav 1961) .

Trad.

Milton José Pinto.

o GU R ROUP DE

  CESSóRIOS

  PTÁVEIS

O departamento de

roupas

de

um grupo

teatral deve

poder

contar

com grande número

de

acessórios úteis e

interessantes

e a

pessoa

encarre

gada de tomar conta do mesmo precisa ser enérgica e dotada de boa ima

ginação.

Uma

politica.

definida

deve ser adotada

e o

planejamento

assim

como  a

manutenção

das roupas

não

devem

ser considerados apenas

em  

relação à produção em curso mas também às produções futuras e pelo

valor

que

 possam

ter como

experiência.

Raramente um grupo

é

bastante rico

para. poder

empregar mate

.

ríaí

novo

em cada produção

mas

também

não

é desejável que o guarda

roupa seja sempre alugado: além

de sair

muito caro, es ta última

modali

dade quase

sempre acarreta dificuldades e decepções; por outro lado ,

tam

bém

a

confecção de roupas

novas pode ser muito onerosa, necessitando

ainda

organização e

muito

tempo

disponível,

assim como

numerosos

aju

dantes

de

boa vontade.

A pol ít ica ideal consiste, pois, em

ter

-se um guarda-roupa básico,

feito

por

etapas,

cada.

costume

ou

parte

de

costume

novo

representando um

complemento

ao

esquema geral. Um guarda- roupa assim planejado, diri

gi do

por

uma

pessoa entusiasta (que

poderá

ser

o ·figurinista

oficial do

grupo ou

outra pessoa)

e contando

com

  colaboração

de

outros elementos

 

do grupo que gostem de

costura

e de confeccionar acessorios para

roupas

,

dará

mostra ràpidamente

de ter

grande

valor,

tanto

de um ponto de vista

artístico quanto econômico.

Da estreita

colaboração

com os produtores das peças e do

planeja

mento

cuidadoso

no desenho e

na

confecção, devem

resultar

roupas

que

possam

servir

para

diversas épocas.

A compra das fazendas também deve ser cuidadosamente

planejada

e o dinheiro gasto

naquelas

que combinem

com

o

esquema geral

,

que

caiam bem

no

corpo

dos

atôres

e .

possam

ser

fàcilmente

submetidas

a la

vagem e limpeza .

Será

também necessário

um lugar para guardar

as roupas e,

sem

pre

que possível,

seria

bom que se tivesse

um

  tipo qualquer

de

armário

onde as roupas . pudessem ficar

pen

duradas,

To

dos os costumes conservarão

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forma

e boa

aparência

muito

mais tempo se

tiverem

sido

pendurados;

êsse

sistema

ainda

tem

a

vantagem

de tomarmenos espaço, além de

poupar

o tempo e o

trabalho

de se passar as roupas e de

permitir verificar

com

  m

simples

olhar

o estado das mesmas e quais estão disponiveis. Além

de guarda-roupa,

necessidade de se

ter

malões e cômodas

para guardar

inúmeras

coisas, tais como anâguas, roupas de baixo, malhas, meias,

reta

lhos, enfeites,

etc.

O

princípio a

aplicar para

montar um

guarda-roupa

básico

de

roupas adaptáveis é o de peças separadas , podendo

ser

usadas de diver

sas

maneiras para

épocas diferentes.

Deve-se escolher côres simples

para

as peças básicas do

guarda

roupa e côres lisas de preferência a estampados,

por

serem êstes

úl

timos dificilmente adaptáveis

além de serem

fàcilmente reconhecíveis cada

vez

que uma roupa aparece

no palco. De

um

modo geral, é

melhor

enfeitar

o costume com elementos aplicados

que

poderão

ser

retirados mais

tarde,

possibilitando assim o disfarce dessa mesma

roupa

com

outro

tipo de en

feites

na próxima

vez

que fôr usada.

As roupas de uso constante

que

deverão

figurar no guarda-roupa

básico podem

ser

reduzidas ao seguinte:

S I S

tantas quanto

possível.

Poderão

ser

de dois tipos:

 

godet

ou

semi-enviezada)

b) saia franzida.

 

I

A

primeira

deve

ser

comprida

até

o chão e

assentar

levemente

sôbre a cintura,

sem

franzido.

Pode ser

cortada assim como mostra o

de.

senho

(fig. 1) ou de acôrdo com um molde

de

saia moderna, comprida,

de 4 gomos.

  - 

-

Para poder servir

a dois propósitos, isto é como saia e corpo

capote três-quartos , esta

roupa

não

deverá ser

completamente costurada,

como se faz

normalmente, nem acabada

com fêcho-eclair. A

cintura

e dois

lados

da

fazenda

deverão

f icar abertos

na

mesma altura,

sem costura; colo

car-se-ão colchêtes fortes

 . )

para

fechar

a

cintura

e

uma série de

pres

sões costuradas com intervalos de 6 a 8 centímetros,

da cin tura

até o chão,

para quando

a

roupa

fôr

usada

como saia;

quando

usada como capote

ou

dr

apeado, acrescente-se

um broche no

ombro ou  cordões . Se

esta

saia

fôr

feita de fazenda de pura lã e

forrada

com tecido de algodão de côr con

trastante,

suas possibilidades decorativas

serão

muito

aumentadas,

dando

ainda

um

melhor caimento à

roupa. Se

a saia de

não

fôr

forrada, não

tente fazer uma bainha; será melhor deixar

o semicírculo

inferior sem

acabamento ou então arrematá-lo com um viés estreito. (Fig. 2)

 

s i fr nzid pode

ser

feita muito simplesmente

juntando

duas larguras de 1 4 m de fazenda e franzindo-as num cós,

na cintura .

A

cintura

é

prêsa

de lado, com

um

 colchête

forte

mas a

parte

dianteira

da

saia deve

ser

deixada

aberta,

os dois lados

da

fazenda

frente

a frente, com

pressões

para

fechar

da cintura até em baixo.

Isto

torna

possível o uso

da

saia de diversas

maneiras

e

pára

épocas diferentes, assim como sugerido

 

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pelos desenhos  fig. 2 .

Também

esta

saia

é

muito

prática quando con,

feccionada em fazenda. de pura lã,

por

se

poder

enfeitá-la com motivos

. aplicados, quando necessário.

 

Fig

. 2:

saias

adaptáveis

:

as f ranz idas s ervem

para

vestir três períodos

- EH•

zabetano, Rainha

Ana e

fim do

s

éculo XVIII

,

respectivamente

.

CALÇAS

, CALÇõES E MALHAS PARA O GUARDA·ROUPA

BASICO

Um sortimento

de

m lh s de côres diversas,

incluindo

marrou

claro,

cinza

e prêto, é

parte essencial

do estoque. Podem ser

usadas para

as épocas as mais diversas,

abrangendo

um período

que

vai desde os

Nor

,

mandos

e a

Idade Média até

a

Era

Elizabetana

e

mesmo

o

Império;

muitas

vêzes são também o ponto

de

partida

para

a

determinação

do sim

bolismo

de uma roupa ou

de

características abstratas. As malhas, quando

bem

cuidadas e conservadas,

duram muito

e a despesa inicial é

amortizada

pela constante

utilização.

 ei s

 calças

 calças

até o

joelho

são talvez

menos

usadas mas

têm uma grande vantagem

pelo fato

de servirem para um número sur

preendente de épocas. Se forem confeccionadas com

um

bom molde e

em

fazenda de boa qualidade, poderão ser adaptadas e usadas como parte de .

costumes

shakespeareanos ou

jacobinos

 1570 a 1640 ou da época georgiana

 Século XVIII .

Prêto

e cinza são

aparen temente as

côres mais práticas

para essas calças de vários usos e deve-se evitar a

uti lização de

algodões

finos e

de cetins.

  alças sôlt s são de uma uti lidade sem fim para

t ôdas

as épocas

em que se precise apresentar roupas de

camponeses

e o fa.to de serem

feitos em algodão permitirá ter-se uma variedade

maior

de côres.  Fig. 3

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..

 

  f

 

I .  

.

• •

 

.

 

M N S - Os pares de mangas

poderão

ser var iados e de tôdas

as épocas É prático confeccionar um par de mangas

compridas

e

justas

combinando

com

cada

colête

largo ou justo Poderão ser

colocados

da

seguinte maneira:

1 Por uma série

de

pressões

fixando

a manga no lugar

adequa-

do

Isto significa

que

deverá haver

alguns centímetros

a

mais

na

parte

de

cima da manga

para que

possa ser

introduzida

debaixo

do

ombro

do colête .

2 Por meio

de

colchêtes colocados em

volta

da

manga

na parte

de dentro

e

presos no ombro

do colête  

3

Por

uma

série de furos

feitos

no

colête e

na manga

e através

dos

quais

serão

introduzidos

cordões a

fim

de se poder

colocara

manga

no

lugar exato ou

lacínhos

amarrados um por

um

e

que servirão para caracterizar

a

época da roupa

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Sugestões

para

pares

de

mangas extras

são

dadas

nos

desenhos

 fig)

Tomando-se por

base

o tipo de colête adequado, são as mangas que darão

à

roupa o

feitio

especial

da

época, caracterização, côr e vida, pelo emprêgo

e

mistura

de fazendas interessantes .

Pequenas

palas

em

forma de meia-lua,

esticadas e estofadas, da mesma fazenda

que

o eolête, poderão ser colocadas

entre a manga e o ombro, quando houver  necessidade de que o co

l ête pontudo se torne

um doublet shakespeareano ou

o

corpete

de um

vestido elisabetano.

 Fig.

6)

 

  P S   Nehhum

guarda-roupa

é completo

sem

uma coleção

de capas. Já vimos como a

saia semicircular

pode ser usada como capote

três-quartos mas,

em

certas ocasiões, serão necessárias capas compridas até

o chão. A confecção de uma

capa

çomprlda semicircular

requer

cêrca de

3 7 m de fazenda, com 1,45 m de largura e sairá

melhor

utilizando-se

uma

fazenda

pesada de lã

ou

um

tecido

próprio

para

decoração

de

inte

riores,

bastante

pesado . Há possibilidade também de se utilizar duas fa

zendas

leves,

uma. servindo de fôrro à outra.

Um conjunto de três

ou

quatro

capas

azul-escuro ,

forradas

com

fazendas de côres vivas, será de utilidade sem fim

para

inúmeras peças

e espetáculos pois,

sendo semicirculares

 com corte enviezado) , caem em

bonitas

pregas e podem ser drapeados da ma.neira que o ator

ou

o

figuri

nista julgue mais

apropriada.

Como no caso da

saia

semicircular, o semi

círculo ínferior de

uma

capa sem fôrro

fica

melhor sem baínha, formando

pregas

mais sôltas

e

graciosas.

De

um

modo

geral,

a

bainha

faz com que

as

pregas fiquem mais est icadas, r ígidas, quebrando a linha da roupa.

Capas

grandes e de forma retangular  como

as

de

general

romano ) são

também

de grande utilidade,

principalmente

quando se quer

caracterizar

traços

abstratos e simbólicos. Devem ter mais ou

menos

1,50 m

de largura e 3 a 3,50 m de comprimento . Poderão ser chapeadas e arruma -  

das de maneira a combinar com a roupa e a época

escolhidas

e ostentar

enfeites, tais como listras e galões.

Nas

roupas drapeadas, muitas vêzes

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as

pregas deverão

ser

mantidas na posição desejada por um alinhavo ou

por

cadarços presos

por . baixo, a

fim

 de

que não

se desmanchem durante

a movimentação e

que

a fazenda não escorregue.

ANÁGUAS, camisas, blusas ,

anquinhas

e crinolinas são

parte

de

um guarda-roupa bem planejado. As anáguas, de algodão grosso, franzidas

numa

fita

de fazenda na cintura ou por um elástico, deverão se r

bastante

amplas

para supor ta r

o

pêso

de

uma saia das

épocas

elisabetana ou eduar

diana.

No que diz respeito a camisas e blusas, as mais úteis,

pelo

fato de

não

serem limitadas a

uma

só época, são as do

tipo

 ballet , com

mangas

compridas e largas, franzidas no punho. Devem

ser

feitas de

fazendas

macias

e leves e

acabadas

no pescoço por um

cadarço ou

por uma fita

de

fazenda

à qual se poderá f ixar babados, rufes ou colarinhos.

As

anquinhas

do tipo redondo para os costumes elisabetanos,

po,

dem

se r

feitas com velhas meias, forradas com enchimentos e

retalhos.

Deve-se tomar cuidado

para

não fazê-las por demais pesadas, o

que

as tor

naria

difíceis de usar.

Quanto às anquinhas tipo  almofada necessárias para

as

saias da

época da Restauração e para o  panníer do Século XVIII, podem

ser

feitas

com dois sacos

de

algodão

grosso,

fo rrados de palha ou enchimento

e

man

tidos no

lugar

certo, debaixo da anágua, por

uma

série

de

cordões.

Anáguas de

crinolinas

para

vestidos

georgeanos e

victorianos

de

vem

ser

feitas, de preferência , em algodão grosso e colocando-se fitas de

arame

na

anágua inteira, da cintura até O chão, com espaço de

 

a 20

centímetros

entre

cada fita.

(Fig. 7) .

 

:E:ste

guàrda-roupa

 ideal será naturalmente o resul tado de

um

pla

nejamento

cuidadoso

durante um

bom período de tempo e é preciso que

a pessoa encarregada da sua manutenção

tenha

idéias inteligentes quanto

ao

melhor

uso

que se

possa

fazer das diversas peças

do  mesmo.

Será bom

também

que

essa pessoa seja

dona

de um

espírito

bastante

forte

para saber

recusar

gentilmente todos os trapos que

lhe

.forem oferecidos para o guar

da-roupa,

tais como roupas velhas

sem

nenhuma relação com o esquema

geral,

em estilo e

fazendas.

Deverá, todavia, aceitar com entusiasmo reta

lhos

de

fazendas

de côres vivas, galões, rendas, fitas, velhas cortinas quan

do limpas) e todo e qualquer

material

novo que possa

servir para

enfeites

 

e

acessorios.

É

possível .que a encarregada do guarda-roupa encontre alguma

dificuldade em obter

moldes

de papel para confecção de

costumes

de época

pois

realmente,

existem

poucos.

Porisso, de

um

mode geral, êsses

moldes

deverão

ser

executados

pelo

f igur in is ta ou

pela encarregada

do guarda

roupa,

após

um estudo

cuidadoso

da

época específica a

que

se

destinam.

As

melhores

fontes de

informação

são encontradas nos

museus

que expõem

costumes de época e em certos

livros

onde se poderá ver, senão moldes

com

escalas de proporção, pelo menos desenhos.

Uma

costureira experiente,

com alguma prática de

modelista

 desenhista de modelos)

não

encontrará

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7/21/2019 017 - Cadenos de Teatro

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nenhuma dificuldade

em tirar dêsses

desenhos os moldes necessários para

o

corte

básico das roupas.

Para

os feitios

de

época, acessórios, enfeites e

acabamentos,

assim

como para o

material

de cena, as melhores fontes de

informação

serão os

desenhos,

gravuras, retratos, car icaturas e

reproduções

de

cenas

de conversação das

épocas

desejadas.

Tra tando-se de

roupas

para o

palco,

é

importante lembrar

que

estas

devem

ser bem

executadas

se

bem

que não

exa tamente da

mesma

maneira

que

as

roupas

de

uso

normal.

As

roupas

de

palco

devem

ser bem

costuradas e o

material

não

deverá nunca

ser

economizado. Os colchêtes

devem ser

costurados com fôrça para

aguentar

o

vestir

e despir constante

das

roupas

e, quase sempre principalmente quando forem

necessárias

rá,

pidas mudanças de

roupas),

haverá necessidade de que

essas

roupas

sejam

abertas

do

pescoço até abaixo

da

c intura , na

frente

ou atrás, a fim

de que

o ator

possa vesti -las

e

despi-las

sem qualquer dificuldade. Quando a exa

t idão his tórica exigi r que uma roupa seja vestida pela cabeça, sem nenhum

sistema de abotoação aparente ou

com

uma abe rtu ra muito pequena

para

o pescoço, isto

poderá

ser dis farçado pelo uso

de uma capa ou

por um

drapeado

da

fazenda.

É

impossível esperar

que um

ator

deixe de

despen

tear a cabelo

ou

uma peruca e de manchar a maquilagem

se

tiver que

ba,

·talhar

para

vestir

.. e

despir

uma roupa.

Finalizando, repetimos

mais

uma vez que as costuras

deverão

ser

feitas com ponto firme porém não mui to pequeno  pois é

possível

que

se

precise

abri-Ias

de um momento para

outro,

acrescentando que um ponto

de

costura largo, à

máquina, é sempre preferíve l a uma costura

feita

  mão

com

muito

cuidado.

Outrossim, quando

se

confeccionar roupas cir,

culares

ou semicircu la re s env iezadas ou

semienviezadas),

será

bom

deixar

sempre as partes

curvas

sem bainha, como indicado várias vêzes no

pre

sen te a rt igo.

 *

A

palavra

 placket foi

traduzida por colchête forte , por se tratar de

uma

espécie

de

gancho,

cujo nome em português Ignoramos

.

 

Do

l iv ro Dress lng th e Play

de

Norah   am

bourne)

.

Trad. Jacquellne

Laurence

F RIC CÃO

DE

  ESSÓRIOS

DE

TE TRO

 ontinuando a publicação do livro de enry ordreaux

apresentamos hoje a primeira parte do capítulo

MATERIAIS, FERRAMENTAS, LOCAL

Qualque r maté ria

prima

pode ser utilizável na fabricação

de

acessórios:

são

as ferramentas de que

dispomos

que lhe limitam o

número.

Na realidade os materiais

são

quase sempre os mesmos que

encontramos

em

qualquer oficina. Madeira, papelão, papel, tela, fazenda, gesso e

barro

constituem os recursos principais

do

fabricante de acessórios

que

deve dis-

por

naturalmente dos

diversos e lementos necessár ios

a

trabalhá-los:

cola,

estanho para solda, pregos e linha de costura.

Além

dêste conjunto

básico

pode-se

precisar para êste ou aquêle

acessório

outro tipo de mater ia l: fio

de

ferro, latão, fôlhas

de alumínio e de

cobre, barbante, corda, placas

e

tubos

e

bolas

de

vidro , celofane , mica,

vime,

barbatanas

de baleia

 do

tipo

usado

em

espartilhos),

arcos

de barril, fitas de aço,

ráfia,

meadas de lã e

de

algodão,

palha de aço,

couro,

f ibras , cr ina, aparas de madeira ou de

papel, palha de

arroz,

borracha, etc

. . .

 

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7/21/2019 017 - Cadenos de Teatro

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Indicaremos

para cada

um

do s materiais principais,

os apetrechos

e

ferramentas necessários

em

listas

que

são apenas uma o ri en ta çã o, p oi s

é

claro que muitos

acessórios

poderão

ser

fabricados

co m material

bem mais

red uz id o e nq ua nt o, por outro lado, nã o garantimos esgotar todos os mate,

riais ou ferramentas úteis.

MADEIRA

Material

qu po

ser

usado

tábuas.

.

triângulos de madeira,

cad

b ra s, s arra fo s, v ar etas, m o ld u ra s

e

sobretudo placas de compensado.

Tachas de 3, 4, 5 e 6 cm de c om pr im en to; pa ra fu so s d e que exis

te m

grande

variedade);

pregos

especiais para compensado; pregos de

ta

manhas vários; cola

forte

de carpinteiro que

se

compra numas placas

marrons, faz-se

fundir

em

banho-rnaria

e

emprega

-se

quente]: cola Certus

  cola

à

frio em

pó,

muito resistente); lixas.

Ferramentas prensa, serra manual, dois martelos: um pequeno

c um médio, chave de p arafus os , t orqu ês , verruma,

esquadro

de carpin

teiro,

régua, serra circular   de lâmina estreita,

móvel),

pua elétrica, plaina,

tôrno,

duas

ou três

tesouras

para madeira,

cinzel,

limas.

PAPELÃO E PAPEL

Material

que

po ser usado papelão

cinzento

em

fôlhas de

mais

ou menos 1m

2

,

de tôdas as g ro ss uras , p ap el ão de

caixas,

c arto li na , p ap el ão

ondulado,

.

papelão marron alcatroado.

Papel

forte

d e em bru lh o,

papel

de jornal,

papel

crepon, papel

me

talizado,

papel para

desenho, papel

alcatroado,

etc.. . Qualquer espécie de

papelão ou papel

acaba.

sendo útil numa

oficina

que

fabrica

acessórios.

COLAS

 

ola

de polvilho ou farinha de tr igo grude):

Pode

ser pre,

parada

a

quente

como

um mingau

comum

d e far in ha ,

ou

a

frio

pela

sim,

ples -rnistura

da fa rin ha de

trigo

ou

polvilho

co m

água r es ul ta nd o e m

algo

semelhante à

cola que se vende

no

comércio para colar

papéis

de parede.

As colas de farinha destinam-se principalmente

aos papéis

fortes

e

médios.

Nã o  

bastante fortes para.

segurar fôlhas de papelão, nem

bastante

sêcas

para

papéis finos e

frágeis como

o

papel de

sêda ou o papel crepon .

Con

some-se muito

grude na

forração

de máscaras

e postiços   papier maché)

na

fixação

da s

faixas

de ligação

sôbre fôlhas

de

papelão e

na

cobertura

co m papel forte de acessórios d e m at er ia is

diversos,

principalmente papelão.

2

ola de

t inta

encontrada so b

forma

de placa marron, fina,

quase

translúcida,

quebrável não

confundir

co m

a

cola

forte

de

carpin

teiro, da

mesma

côr mas

m uito mais

espêssa)

.

Para

facilitar a

dissolução

das placas convêm fazê-las inchar, durante dois ou três

dias

em

água

morria

ou fria até que el a se to rn e b as ta nt e espêssa, branca

e

 

mole. Então é só

verter

água quente

e

levar

o

conjunto ao banho-rnaria para obter um

quido

espêsso.

Dependendo

do grau de

concentração que

se queira

obter,

junta-se mais água ou deixa-se evaporar

o

excedente.

Segundo seu con

teúdo

de

á gua

após

a

longa imersão da placa para

amolecimento) .a

cola

ao

resfriar-se

ficará

dura e quebrável ou

tomará

a

c on sis tê nci a d e g el at in a.

Tôdas as

vêzes

que

se

p re ci se u sá -l a

será necessário

_ efundi-la . Nunca

se

deve levar o recipiente que contenha a cola

diretamente

ao fogo porque

ela

endurece

co m muita facilidade, mesmo quando

vigiada.

de perto.

Mis

turada

co m tinta

em pó

comprada

nas

lojas de ferragens

é

  fórmula

mais

usada

para

 pintar

cenários.

.

Esta

 cola muito concentrada é suficientemente forte

para

fixar

pa

p elã o s ôbr e

papelão ou sôbre madeira. Como el a

nã o

seca depressa

é

pre

ciso empregar

meios

provisórios

de l ig ação : p re go s, a lf in êt es ,

pinças, liga

duras

até que a montagem fique sólida. Nesta fo rm a concentrada s ua utí-

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lização, como a

da

maior parte

das

outras

colas for tes,

exige

grandes

cuida,

dos

por

parte do

executante.

Um pouquinho

de

cola que se prenda nos

dedos é o bastante para grudar todos os

pedacinhos

de papel que

estão

s

ôbre

a mesa

ou para sujar

os

objetos

em

que se

fôr tocando.

Sob uma forma mais

diluída

êsse tipo de

cola

serve

para

fazer

vernizes

e pinturas.

3

extrina é um pó amarelo claro muito fino, suave

ao

toque,

obtido

pela ação

do

ácido sulfúrico ou n ítrico sôbre o amido Deve

ser

mis

turado

com igual volume de

água

, a

mistura

agitada

com

um

pausinho du

rante a lguns minutos e deixada em repouso

durante

muitas horas até que

se

obtenha um

líquido

marron xaropento .

Sob

êste

aspecto

ela tem quase

as mesmas

qualidades

adesivas

da

cola

de

tinta e as mesmas dificuldades

de

utilização, mas tem ainda o grande

inconveniente

de liquefazer-se

em

ambiente úmido, o

que

torna difícil a conservação de acessórios durante

viagens ou em locais não aquecidos.

4

Gqma

arábica

vendida

sob forma

de

pedaços

amarelados,

translúcidos, que se dissolvem

em

água morna . Entra

na

composição

da

maioria

das colas líquidas

de

escritório . É

limpa

,

de

uso fácil , muito

útil

para

colar papéis e

preparar

tintas finas  guaches .

5 Secotina

e

produtos similares são

do

tipo

vendido em tubos

ou

potes. São fortes

e

secam

bastante

ràpidamente.

Podem

ser

usadas

para

papelão, madeira,

papel

espêsso , Sua

consistência

a

torna

de

uso

dif íc il nos

trabalhos que reclamam uma certa

limpeza.

  Cola celulósico : de

que existe uma

grande var iedade.

É en

contrada em tubos ou potes. É t ranslúcida, fluída,

limpa

e mui to adesiva .

Sua rapidez ao

secar

torna-a preciosa

para

colagens delicadas. É insubsti-

tuível em

grande número

de

trabalhos.  

7

Cola branca de escritório

muito espêssa, é a cola ideal para

papéis

finos e frágeis que

ela

não

dissolve

nem torna quebradiços ao

secar.

Não é

bastante

forte

para papéis

comuns.

8 Clara de ôvo

muito limpa , permite a realização de trabalhos

cuidados.

Pode

ser

utilizada

na

fabricação de

tintas

finas.

OUTROS MATERIAIS

Linhas e barbantes

de

diferentes grossuras

para

costurar papelão;

papel

carbono

e papel mil imetrado para confecção

de maque tes,

modelos e

moldes;

tiras de pano

para

reforçar junções ou recobrir acessórios; tarlatana,

couro, pregos.

especiais

para metal,

grampos

e grampeadores, alfinêtes,

pre

gos

de

tapeceiro, pedaços de

metal

laminado, guache, tinta em pó.

FERRAMENTAS

Esquadros,

transferidor

,

régua

milimetrada, régua

simples

bastante

espêssa

e

pesada, se possível

de

metal, compassos

,

lapis

, um

par

de

tesouras

médias para. papel e cartolina, faca

de

uma só

lâmina

,

com

cabo firme e

de bom aço para cortar

papelão grosso, uma

pedra

de amola r; agulhas

grossas,

pinças, pregadores de roupa

e

pregadores de vela

em árvores

de

Natal; pincel grande, tipo brocha ; pincéis

achatados

de 5   25 mm  tipo

próprio para óleo ou cola ;

cinzel

estreito de

carpinteiro

 de

7

mm

mais

ou menos , um pequeno

malho,

um pequeno cubo de

aço que possa

servir

de bigorna;

martelos, etc.

BARRO, GÉSSO, MODELAGEM

Material

que

pede

ser

usado

argila,

barro

para

cerâmica, plasti

lina,

gêsso fino, papel

de

embrulho não

muito

espêsso, t ar la tana , tela de

juta, cola

de

farinha e de tinta , parafina , graxa , t inta. em pó, guacho,

papéis e tecidos

para

cobertura

 veludo,

sêda,

papel

metálico, etc. estôpa.

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  literações de M-   e P para exercícios de articulação

o

mameluco melancólico

meditava e a megera

megalocéfala

ma

cabra

e

maquiavélica mastigava mostarda na maloca

miasmática.

Migalhas

minguadas

de moagem mitigavam miseras meninas.

Moleques

magricelas

mergulhavam no

mucurro murmurinhando

como

uma

matinada

de macacos.

A

mucama

modulando monótonas melodias moía

milho

e macacheira para

a

moqueca

e o

munguzá do medonho mercador de mugangalas

Bela

baiana boneca

de

bronze bailava

brejeira

um burlesco ben

deguê da Bahia.

O

barraco

do

baba laô borborinha ; babel da Baixada baca

nal

de

bárbaros

bebem

blasfemam batem

batucam

bamboleiam

no

bulí

cio

de

um bestial bambaquerê.

Ao

som

dos búsios berimbaus baco-bacos

badalam bimbalham bolem

rebolam e berram.

É

o bamba do bambú

de

bambuá bambulelê bambulalá.

 P

_ Pedro Paulo

Pacífico da Paixão

pacato e pachorrento preto da

propriedade do meu pranteado

pai

depois

de

provar uma pinga tomou um

piléque

e promoveu uma

pagodeira com

a populaça

do pôrto.

Foi um pano

dernônio

um pânico

de pasmar

um

salve-se quem

puder

e o Pedro

Paulo

Pacífico

da

Paixão foi

preso

na praia pela polícia

por

proferi r palavras

impróprias para pessoas de

pejo.

F e V -

Lábios dentais

As consoantes

F e V - são

produzidas pela pressão

do

lábio

infe

rior

contra

os dentes

incisivos superiores.

A

posição

dos

orgãos bucais

é identica

à

do - P -

A

diferença

entre F e V

está

na vibração laringea só no V - ex:

fava.

 F

Na

oficina Quem

com

ferro fere com f erro morre forjam

frente

a

frente

com

fragor

o ferreiro

Felisberto Furtado

e seu filho

Frederico

Felizardo.

Na fornalha flamejante fulge o fogo com furor; o fóle frenético

faz

fumaça e fagulhas fulgurantes

que

ofuscam. Afinal

ofegante

e farto de

fazer fôrça

o

Felisberto

Furtado

força o

filho

fanfarrão

a

forjar

com

fir

o

meza e sem

fadiga ferraduras

ferrolhos e ferramentas.

I

 V

O

 ven t o veloz

varre

a várzea

com

vergasta vigoroso

a

vegetação que reveste

o

Gaivotas

aventurosas

voam

na voragem em

violência.

Verdugo vingativo

vale

vulnerável

de

Votuverava .

vertiginosas reviravoltas.

língua

xa-se

 

T e D -

Língua

dentais

A emissão das consoantes T e D -

resulta

do contato

da ponta

da

com

os

dentes

incisivos

superiores.

Para

o T

  lábios afastam-se ligeiramente

a

maxila inferio r rela

descendo

logo

após

a

explosão quando

a

l íngua desce .

Para

o D

a diferença

da vibração laríngea:

ex. todos.

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palatina

-  

 

língua

 T

o turco tatuado troncudo e tagarela com o tabuleiro a tira-colo

troca

tudo pelo triplo; tecidos

trajes

ternos túnicas tapet es toucas te

teias tesouras talheres

termometros

torneiras tiielas turibulos tararne

las tintas treliças tamborins

tartarugas

talismãs

etcétera

.

 

Dançam depressa disciplinados e decididos os dez dedos delga

dos

da

datilográfa dinâmica que decifra os documentos do déspota draco

niano para o diário do deputado

dernagôgo.

L e N - Línguo pala tais -

Para

a produção das consoantes L e N há um cantata da

eorn a abobada palatina

Para o L a

ponta

da língua apoia-se

contra

a abóbada

logo

atrás

dos incisivos superiores tendo

Os

seus bordos livres.

O véu do paladar eleva-se e

vibração laríngea

Para a emissão do N a língua apoia os seus bordos nos dentes su

periores tendo a ponta livre para apoiar-se

atrás

dos incisivos s up er io re s

como para o L.

Na emissão do L - o sopro

sai

por

entre

Os molares e os bordos

da língua; para o N o véu palatino abaixa-se dendo passagem ao

sôpro

pelo naríz.

 XR t IOS

Lasa Lina Lena e Lola levam Nina e Madalena nas salinas 50

nolentas

vêr

a lua em plenilúnio.

Hábil Leonel leva o animal indócil pela alameda marginal al-

maria céu azul sol fúlgido; libélulas ligeiras voItejam leves

sôbre

 Iílazes

em flôr. No

laranjal

abelhas laboriosas em

tumulto

coletam o pólem

para

o inigualavel mel de

suas

colmeias.

R - Línguo palatal vibrante

Temos que considerar 3 formas de

R

1.0 R brando - Iínguo palatal simples: Ex: cara

2.° R língua palatal

vibrante

quando

vibração

da

ponta da língua

entre

os incisivos superiores e a abóbada palatal também denominado:

vibrante ápico

alveolar

múltiplo - ex:

carro

3.° R

vibrante

dorso

velar múltiplo

- a vibração é no dorso da

língua.

 X R t I O S

O rato a ratazana e o

ratinho roeram

ai

rútilas

roupas e rasga

ram

as ricas

rendas

da

rainha

Dona Urraca de Ro mbarr al.

A serrilha do

serrote

do c ar pi nt ei ro range

serrando

a ripa verde.

Ri o

rôto

do e sf ar ra pa do

ri

o

tôrto

do

atarracado

mas não

ri

do

morto o aparvalhado.

O melro comeu todos os pílrítos do pilríteíro

A bilreira bilrou os bilros.

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Consoantes

Fricativas

- S e Z

\

Para

a emissão das consoantes S e Z - a língua

apoia

fírmemen

te a sua ponta nos dentes incisivos inferiores arqueando o

dorso

em dire

ção dos

molares

superiores. Para o Z há

vibração Iar íngea

E X E R i fC I O S

 

Sófocles

soluçante

ciciou no Senado suaves censuras sôbre a ínsen

satez

de

seus filhos insensiveis.

Suave viração do

Sueste

passa sussurando

sôbre

sensitivas silen-

ciosas.

Sábio

centenário

assistiu sem

se cansar

sensacional sessão sele-

cionando

seus sessenta discípulos

sorteados.

 Z

A

zebra

zurrando

ziguezagueava zombando do zoófobo zaranza

que

a zurzia zangado com o zaguncho do zuavo.

J e X -

Fricativas

palatais sonoras

Para a emissão do

J.

a língua eleva a sua ponta sem contato com

outras

partes

do orgão bucal. O  

tem identica

formação porém com

ví-

bração lar íngea.

EXERCíCIOS: - J

No

jardim

japonês

gentis

[açanãs jandeiras

jaspeadas jaburús ja

notas

e

jurutis

gemendo.

Nas

jaulas

o

jaguar

girando javalis selvagens jararacas e gíbóias

gigantes.

• Girafas gingando com geíto de

gente.

Jacarés jucuruxus e jabotis

jejuando.

 X

O Xavéco do Xavier

chegou

com o xalavar cheio de peixes: xaréus

xereletes

xirás xixarros e xund r í s

O cheiro do chá da China chilreando na

chaleira

é chamariz.

Sacha saiu sem

saber

se Natacha

 que

Sacha

sabia

sem

senso

saiu

na chuva sem seu chale Chinês.

C G Q - Consoantes dorsovelares oclusívas.

Para

a emissão dessas

consoantes

a língua recúa arqueando-se e

sua base

encosta

na parte

posterior da abóbada palatina.

 X R í IOS

O liquidificador quadridentado

liquidifica

qualquer coisa Iiquifica

vel e quebra as iliquidificaveis.

I

O camundongo comia cros ta de

cará

na cumbuca quebrada; o gato

agarrou-o

pelo

cangote.

O cão

que cochilava

acordou

com

O

conflito e cor

reu com o gato.

O caçador corcunda que gostava de caçar cordonizes carregou o

-

cao

para

o campo.

 

Page 31: 017 - Cadenos de Teatro

7/21/2019 017 - Cadenos de Teatro

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tão perto e tão estrelado

boi, sou

mesmo muito

burro

Não

tinha

no

céu)

TRÊS

PEC S P R

T TRO DE

BONECOS

O

BOI

O BURRO   OS  NJOS

 

Pecínha

de

Natal)

Personagens:

O boi

O

burro

5. anjinhos um

anjinho pode ser

prêto)

 

Virgem

José

O

menino

Personagens

de

outras

peças

.

conhecidas das

crianças.

CENARIO:

O

presépio de Belém.

A

cabaninha de madeira deve ser arma-

da no centro

do palco, pendurada

por quatro

fios de

arame

grosso pre

sos

em

cima

do palco,  marionete). Deve

se r bem

simples, com o

teto

de sapé e apenas quatro paus compridos escondendo

um

fundo falso.

O

cenário de trás é

um

céu azul escuro com estrêlas. Luz azulada. Não es·

quecer

de deixar um

espaço

na frente do

presépio para

o movimento das

personagens  Logo que Se abre o

pano

ouvem-se barulhos de entardecer:

canto de pássaros, coaxar de sapos, latidos de cão, etc.  

(De um

lado

do

palco,

junto à

cortina,

surge a

cara

do boi)

BOI -

Buuuuuuuuuu.

(Mugir de

boi)

(Do outro lado  sur ge a cara do

burro)

BURRO - Iiiiii... IiiiiiL  Relinchar de burro)

BOI -  chamando) Burro ó burro, você está notando alguma coisa dífe

rente

hoje?

BURRO - Não estou notando nada, boi.

BOI - Você é mesmo burro, hem, amigo? Então não está vendo que o ar

f icou diferente?

 

BURRO -  Cheirando o ar) É verdade, amigo boi, é verdade ...   tudo agora

cheira

tão   bem aqui no nosso estábulo. Nunca

cheirou

assim. (Cheira

tudo

com

muito

barulho)

BOI - E

nunca

o

céu

esteve

BURRO -

É

verdade,

amigo

tado isto antes.

 Olhando

o

BOI - Burro

BURRO - O que é, boi?

BOI -

Estou

muito desconfiado

BURRO - Do que, boi?

BOI - (com mistério e respeito) Que Ele vai nascer aqui

BURRO -

Nem

diga isso

boi,

não é possível.

Na

nossa

estrebaría Ele

nun

ca

poderia

nascer.

Tão

suja,

tão

pobre

 

BOI - Só por

um milagre.

BURRO -

Então por que tudo

isto?

Por

 que

as estrêlas estão se

portando

.de

maneira

diferente?

BOI - E êste cheiro de

flôres.;

tão doce.

BURRO - Por que, boi, por que?

BOI -

Isto

não sei...

isto

é

um mistério

 

BURRO - Que

um burro

não

compreende

 

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BOI - Burro, temos que

arrumar

um pouco, fazer uma limpeza... No caso

de Ele vir mesmo, tudo deve estar preparado, não acha?

BURRO - Vamos buscar palha sêca e fôfa. E água

para

o banho.

BOI - Para que água? Ele nasce limpo

 

Saem os dois e voltam com a palha, cada um mordendo de um lado. A

palha pode

ser

bem prêsa com

barbante

e segura por dentro da bôca dos

bichos pelo manipulador.   s dois começam a puxar cada um para um

lado .

BOI - Sou

eu

que

arrumo

 

Deixe,

burro

.

BURRO - Sou eu, boi. Saia dai se não você deixa cair a sua

baba

e suja

a palhinha.

BOI - Só mesmo um asno poderia pensar que eu,

numa

hora destas, pu

desse babar

BURRO - Largue, boi preguiçoso, sou eu que quero arrumar a palhinha

para o menino.

BOI - Saia,

burro

indigno. 

(Depois de puxarem muito, dão-se chifradas e cabeçadas e caem cada

um de um lado do palco. Neste momento, ouve-se

forte

som de tambor,

seguido de vários síninhos. Uma luz

diferente

começa a

iluminar

o está.

bulo.   s dois continuam espantados, cada

 

de seu lado, caido à beira

do

palco .

BOI - Burro, vai acontecer alguma coisa

BURRO - Alguma coisa grande.

(Os sinos soam mais forte. Aparece um anjinho que, delicadamente

apanha a palha e a coloca

na

manjedoura. A

manjedoura

deve

estar

se.

gura neste momento sôbre um pau, na mão de

um manipulador .

O anjo

sai,

no seu passinho saltitante .

BURRO - Ele veio

para

arrumar .

BOI .- Tudo está muito

estranho.

BURRO - (Tristemente) Ah

BOI - O que é, burro?

BURRO -  tristemente E nós, pobres animais, que

queríamos

fazer êste

trabalho

 

Tanta

pretensão ...

BOI - (desanimado) Isto é trabalho dos anjos, não de

burro sujo 

BURRO - E de boi babento .

BOI - Cale a bôca, burro, ai vem outro anjo ...

(Os sinos tornam a

badalar

e começam a entrar vários anjinhos, uns

após os outros, andando como se estivessem voando ou bailando. O pri

miero, com uma vassoura, varre o chão, graciosamente. O segundo, com

um vaso d água, atravessa o palco, entra

na

manjedoura, pousa o vaso

no chão (faz o gesto, pois o vaso não precisa aparecer ; o

terceiro anjo

com lençóis, faz a mesma coisa; o quarto reclina-se junto a   dos

paus do estábulo, puxa debaixo

uma planta

(pode ser de

papel

que

sobe até o teto. O boi e o burro, deitados ainda à

beira

do palco, SÓ têm

exclamações de júbilo.

Por

último,

aparece

um

anjo

de cima

 marionete

com uma

grande

estrêla que deixa

pendurada

no céu, acima do

teto

do

estábulo.

  s

quatro anjinhos, uns atrás dos outros, retiram-se depois e a

música Interrompe-se)

BOI - (levantando-se) Tudo está pronto.

BURRO - Só falta

acontecer 

BOI - Lá vem a Virgem, lentamente, carregando o mistér io.

BURRO - Como

é

bela

BOI - Lá vem José.  Pausa

BOI - Por que escolheram nossa casa? Isso é que não entendo.

BURRO - Na certa os outros eram mais burros e mais

rabujentos

do que

  os I   : . 1

e

J i 1 L t

(QuaBdo

José

e

Maria

entram, os dois se escondem atr:ás

da

cortina, dei

xando apenas a cabeça de fora. José e Maria entram

no

estábulo

tomando

suas posições. VDltam os cinco anjinhos, que se põem em frente do está-

32

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\

bulo. Os anjinhos continuam a

tocar.

Os anjos cantam o  Gloria in exeel.

sis Deo .

Luzes mais fortes

em cima

do presépio. Quase no fim da música,

os anjos

se

fastam

e vê-se a cena do

presépio com

o

menino na manje-

doura.

O

menino

pode

ser um bonequinho

de celulóine, ou um dêsses

comprados

para

presépios.

Depois

que

os anjos

se

afas tam, saindo de

cena,

o burro e o boi

se

aproximam lentamente)

BOI - Que

maravilha

BURRO - Não se aproxime

tanto,

boi, o menino pode se assustar ...

BOI

- A

mãe dêle está

sorrindo

BURRO -

Para

você,

boi?Então quem sabe

se você

aquece um

pouco o

menino que

tem

frio ,

com

seu bafo

quente?

BOI

- Boa idéia, burro. Você até ficou

menos

burro ...

BURRO - Abanarei

as

môscas

com

o meu rabo. Isto eu sei fazer 

BOI - Mas a

Virgem continua

sorrindo, e o

menino mexeu

o pezinho

BURRO -

(com admiração)

Nós dois, boi e burro

l igados para

sempre

ao

maior mistério. Nunca

imaginei ,

BOI - O que você está dizendo, burro?

BURRO -

Não

disse

nada,

boi.

Apenas estou contente.

(Ouvem-se vozes alegres, cantando

ao longe.

O, boi e o burro permanecem

silenciosos,

na

posição clássica dos

presépios.

As vozes aumentam e vêm

chegando

personagens

das

outras

peças:

professor

Bigode,

Maroquinhas

Fru-Fru,

Pedrinho, Pedrito , o guarda, o ladrão; todos os conhecidos das

criancas,

cantando canções

de pastorinhas. Depois, silenciosos, adoram o

menino e cantam o  Noite Feliz . Tôdas as

canções

devem ser aeompa

nhada pelo público. Para isso, basta pôr pessoas da troupe no auditório

ou

avisar com

antecedência. O

 Noite

Feliz

pode

ser

acompannado

de

acordeão.)

.

SÃO JORGE

  R GÃO

r

Nesta

pecinhà o

mos

importante

é

o

ritmo. O

dragão andará ao

som de pratos

e

tambor.

A princesa

falará ao

som

da

marimba

e o rei

pensará ao

som de

tam-

bor rouco. O dragão pode ser feito com

uma

luva comprida

pintada de

verde e

uma cabeça de massa.

O

manipulador tra-

balhará

com o braço

deitado à

altura

da

bôca

de

cena. As três

camponesas

devem

estar

vestidas iguais.

PERSONAGENS:

ARAUTO

CARNEIRO

 

LfRIOS

DRAGÁO

 

a

MOÇA

2;a MOÇA

3.

a

MOÇA

REI

PRINCESA FILOSEL

SÁO JORGE

 

CENARIO: Céu

estrelado.

Dois

lírios na frente

da cena. Um

carneirinho

pastando.

Música

campestre

(flauta ou acordeão). Aparece

um

terrivel dra-

gão ao

som de tambor e pratos. O

carneirinho

foge. O dragão come as

33

 

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plantas. Novo silêncio. O carneirinho volta; o dragão come-o também.

Sai o dragão. Aparece o arauto.

ARAUTO - Vocês viram? (Com mêdo). Pois é, êsse .monstro

comeu 3

pastôres, 4 damas da sociedade, 7 pés de jabuticaba, 8 bois, 12 artista do

teatro, uma roseira, 5 ótimos

deputados

e

agora

êsse

pobre

carneirinho

branco,

o último

carneirinho

branco do pastor que já

mora

também na

barriga do pior dragão do mundo. É um dragão terrível Ninguém con

segue vencê-lo. Ninguém... E olhem que o nosso re i já prometeu uma

porção de presentes

para

quem matá-lo. Quem vencer êsse dragão vai

virar

herói. Acho que quem vai

matar

êsse bruto sou eu ... (Contando hra

vata Serei herói... Brás Mata-Dragão, o maior desta terra (Cumprhnen

ta).

Quero ver quem pode comigo. (Dá sôcos

na

cortina. Enquanto isso

ouve-se a música do dragão e êste se aproxima).

ARAUTO - Uiiiiiiiiiiii. (Foge à tõda, saindo

de

cena.

Dragão passa

tam

bém. Começa a

clarear . Aparecem

três moças cantando e

dançando

ao

som do violão. Interrompem a dança à passagem do

arauto,

que corre

meio cansado).

ARAUTO -

 apavorado

e sem fôlego) Lllllaaaaaá

vêeeemmmm

o dragão ...

 Corra, gente Salve-se quem

puder

...

(O arauto desaparece. As moças correm por todos os lados. O dragão as

persegue. Desaparecem.

Tôdas estas cenas mais fortes devem

ser

dosadas

conforme a idade do

público, pois assustam

muito).

.

ARAUTO - Onde estão as três moças? Vim para salvá-Ias, Oh será que o

dragão devorou as moças mais bonitas da cidade? aaaaaaaa

 

Chora à

beira

do

palco).

Tenho de falar com .0 rei. Isso não pode continuar.

1 ::sse

dragão

está abusando. Já comeu  falando ràpidamente) 3 pastôres, 4

damas de sociedade, 7 pés de jabuticaba, 8 bois, 12 artistas de

teatro,

uma

roseira, 5

ótímos

deputados e

agora

as 3 moças mais

bonitas

da

cio

dade... Preciso

falar

com o rei. (Ouve-se música

de trombetas

e cerne

tas). Meu rei... (com gestos). O dragão acaba de engolir as três moças

mais bonitas desta cidade

REI

- Quando é que

êle :

fez isso?

ARAUTO -

Agorinha

mesmo, meu rei, o

bruto

ainda está fazendo a

digestão

REI

- Oh (Andando de um lado para o outro) É preciso pensar  Dar um

jeito.

ARAUTO -Silêncio

TODOS - (declamando) O rei está pensando tVozes

de

fora)

UEI - (pensa de um lado para o outro ao som de um ritmo. O

tambo-

bate

grosso e êle diz) Já sei

ARAUTO - (anunciando) O re i descobriu um meio de nos livrar do dragão.

Viva o Rei

REI

- (declamando) O dragão verde é um perigo para o nosso país.

VOZES -

 declamando)

É

um perigo

REI - O dragão verde

comeu... .

ARAUTO - (lendo a lista

ràpídamente)

3 pastôres, 4

damas

da sociedade,

7 pés de jabuticaba, 8 bois, 12 artistas de teatro, uma roseira, 5 ótimos

deputados, um pobre carneirinho branco e agora as 3 moças mais

boní

tas da cidade

REI - Não É preciso matar o dragão. E o homem que

matar

o dragão se

casará com a minha filha  neste momento êle estica a mão e puxa de

baixo, como se fôsse uma mágica, a.

princesa)

a princesa Filosel.

PRINCESA - (De cabeça baixa e com

voz

fininha)

Oh

meu pai. (Música

de marimba)

ARAUTO -  para o público) Ai, se eu pudesse matar êsse dragão Mas

acho que ninguém

poderá com

êle

REI - Arauto, vá dizer e anunciar pelos quatro cantos da

terra

que quem

matar o dragão se casará com a princesa.

  4

 

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PRINCESA

- (voz

Iangoresa)

E será

amado pela príncesa.,  Marimba)

ARAUTO - Mas quem

será

êsse

homem?

(Ouve-se som

de

galope

de cavalo)

ARAUTO - Ouço passos

de

cavalo.

REI -

Vejo um cavalheiro vestido de

negro.

PRINCESA - Belo como

um

príncipe

Marimba)

(Os galo-pes

aumentam, passa

 

Jorge na frente

da

cena,

montado

em

seu cavalho. Basta aparecer a cabeça do cavalo e a eapa de São Jorge

como se

estivesse

cobrindo

o

resto

do corpo.

Ritmo de galope).

REI - Quem será êsse  

cavalheiro?

 Entra São Jorge a

pé)

SAO JORGE - O

meu

nome

é

Jorge e vim matar o dragão

 

PRINCESA

- Que simpático

Marimba)

REI - ,

Jorge,

se

matares

êsse

terrível

inimigo,

serás querido

do povo, pois

livrarás

o

meu

reino do maior dragão que já apareceu sôbre a terra.

ARAUTO - Que homem, meu Deus Ui... ui.   ui... lá

vem

êle...

está

furioso.

Vem em nossa direção...

Depressa,

rei Fuja, princesa ...

(Ouve-se o

so m

do

tambor.

O arauto

corre

de

um

lado

para outro.

O

rei

desmaia,

arauto abana-o.

Arauto sai carregando

o rei. Jorge

conversa

com a

princesa.)

,

PRINCESA

- Dom

Jorge,

o

senhor é

o homem

mais corajoso

que conheço

 

JORGE

- Se sou

corajoso

é porque Deus

me ajuda

e a

senhorita

é a moça

mais

bela do mundo.

PRINCESA -

Rezarei

para

que o senhor ganhe a luta .

JORGE - Oh

Princesa. Corra,

que o

monstro

se

aproxima.

 A

música do

dragão aumenta .

A princesa quer

ficar,

São Jorge

empur-

ra-a;

ela

volta,

êle torna

a

empurrá-la,

Ela

sai.

Passa o

arauto,

tremendo

de mêdo.

Desanarece. Luta

do

Dragão com São

Jorge.

São

Jorge ganha,

o

Dragão cai morto à

beira

do

palco)

SAO JORGE - Estou exausto... mas Deus me ajudou, a cidade

está

salva.

Abrirei a barriga do

monstro para tirar

as três moças e

tudo

o

mais

que

o

bruto verde

devorou _

(As moças aparecem debaixo cantando, ao som do violão, beijam a mão

de São Jorge e

desaparecem.

AJlroximam-se  

rei,

a

nrincesa

e o arauto)

REI - Cavalheiro negro

Fôste corajoso, por

isso

mereces

a

mão

de mi

nha filha, a princesa Filosel

PRINCESA - Que felicidade

Marimba)

JORGE -

Vamos então nos casar

Oh

linda

princesa,

êste

é o melhor prê

mio que

eu poderia

receber

na

terra.

(A1Jraçam-se e saem ao so m

da

marcha nupcial. O rei os acompanha)

ARAUTO - Se aparecer outro dragão, vocês vão ver que desta vez não me

escapa.

(Ouve-se o som do

dragão)

ARAUTO - Ui... ui,

  ui Sai correndo)

PANO - FIM

 

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  C C DOR

 

OR OLET S

 Inspirada

numa

opereta de Zuleika Melo)

Personagens:

Bruxa

Fredegunda

Aia

Princesa

2 lacaios

Rainha

Padrinho

1.0 ATO

descansar. Esta

CENARIO:

Uma

floresta.

(Ouve-se uma

risada

da

bruxa.

Passa em seguida

Fredegunda,

montada nu

ma vassoura.  A roupa da bruxa, sendo .muito comprida e cheia de tiras,

esconde o braço do manipulador) . .

BRUXA - Ah... ah .; ah

 

Ninguém pode com a

bruxa Fredegunda

do ôlho

amarelo... Ninguém pode com a bruxa Fredegunda do ôlho amarelo 

Ah

 

ah

 

ah

 

(ELA DESCE DA VASSOURA). Quem viu a

princesa

dos

cabelos dourados? Quem viu a

princesa

dos cabelos

dourados?

Não gos

to da

rainha

Branca,

porque

ela é boa e tirou o

meu

reino.i. vou esperar

a princesa que todos os dias vem passear nesta floresta... não haverá

mais princesa. Vou transformá-la

num

bicho, Num gato?

(A

resposta

deve

vir

de côro como se fôsse a florseta que estivesse Ia

lando

CôRO - Nãããããão

BRUXA - Hem. minha

floresta,

em que bicho devo transformar a prince-

sa? Num coelho?

CôRO - Nãããããão

BRUXA - Numa borboleta?

CôRO - Siiiiiiim

BRUXA - Numa borboleta.

Boa

idéia. Agora é só

esperar.

Lá   vem ela.

Acompanhada de sua

aia.

vem

a

princesa

dos cabelos dourados.

(Eseonde-se).

. AIA

 

Princesinha... venha cá... olhe que linda rosa

PRINCESA -

Vamos

colhê-la, minha aia, e oferecê-la a minha mãe.

AIA - A

rainha gosta

tanto

de flôres

PRINCESA -

Esta

é a

floresta

mais bonita que conheço

 

vamos descan

. sar, que já apanhamos muitas. flores. (Senta-se

à

beira do palco).

AIA - Também estou

cansada, princesinha

, mas é preciso voltar, que a

rainha

sua mãe já deve estar aflita.

PRINCESA -Fique mais um pouco, minha aia. Vamos

.

floresta

é tão bonita (Deita-se na

beira

do palco)

AIA - A princesinha adormeceu... É preciso que eu vigie

para

que nada

aconteça.

BRUXA - (Aparecendo do

outro

lado, sem ser vista pela aia

Está

na ho

ra de

agir

. Vou

mandar

meu bafo quente para adormecer a aia. (Des

prende-se uma fumaça

da bruxa

envolvendo a aia. A fumaça conseguida

de um

cigarro

fumado pelo

manipulador

da

bruxa .

AIA - (envolvida pela fumaça) Que sono Sinto cheiro de bafo de bruxa

 

Isto é mau sinal. Que sono ... (Cambaleia e dorme à beira do palco. Sur

ge a

bruxa

BRUXA - Ah  ah   ah   Gargalhadas .

É

agora que vou me vingar. A .

rainha

Branca vestirá luto... a princesa

será transformada

em borboleta

e nunca

  nunca

  ninguém saberá. Vou

mandar

mais baío.,

Durma,

  6

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princesa Julia, durma, aia durma...

Durmam

e virem borboletas... De-

pressa virem

borboleta.

(As duas em meio de grande fumaça, escorregam da beira do palco; a

luz deve estar

apagada

enquanto duas borboletas

começam

a voar. As

borboletas são de tarlatana dobrada, movidas a fios por

um

manipula.

dor de

cima

 marionetes).

BRUXA - Voai,

borboletas

 

voai

por

tôda

a

vida na

f loresta verde

 

. De

agora

em

diante,

princesa dos

cabelos

dourados,

serás

a rainha das boro

boletas; os

passarinhos serão teus lacaios  as

árvores

te saudarão quan

do passares; voai,

borboletas

reaís.,

para

sempre

.,

para sempre... sem

pre

borboletas

. (Sai e volta

montada

na

vassoura.

Dá umas voltas com

barulho e as borboletas a

seguem também.

Saem).  Escurece

na

flores

ta . Corneta. Gri tos.

Aparece

um lacaio)

LACAIO - A princesa

real desapareceu Já

corremos tôda a floresta ...

2 ° LACAIO -

Já subimos

às árvores ...

  ° LACAIO - Já descemos os rios.

2 ° LACAIO - Já

percorremos

os quatro cantos

da

floresta verde .

1.0 LACAIO -

Terá

sido a bruxa do ôlho amarelo? (A bruxa passa no fun-

do,

montada

na

sua vassoura,

rindo sem

parar).

Terá

sido?

 Pano

rápido

abríndo-se logo. Aparece a rainha mãe chorando).

RAINHA - Como sou infeliz... Faz três meses que minha filha, a prineesi

nha dos cabelos

dourados

desapareceu., Estou

tão

tríste.,

onde

ela de

sapareceu  Acho

que

foi

coisa

da bruxa do ôlho amarelo A bruxa mais

malvada do meu reino ...

 Continua chorando. Ouve-se, vinda de longe, melodia

de

flauta)

Ouço uma l inda música

 

De

onde

virá?

 A música se aproxima e

aparece

um menino tocando flauta. É o caça

dor

de borboletas) .

PEDRINHO - Minha rainha

Para

de

tocar

e cumprimenta a

rainha)

ItAINHA -

Continue

a tocar a sua flauta,

para

alegrar o coração da

rainha

que

es tá tr is te

como a

noite

 

(O

menino

acaba

de

tocar

a

música).

RAINHA -

É linda

a sua música, menino. Quem é você?

PEDRINHO - Sou Pedrinho, o

caçador

de borboletas... Toco minha flauta

para chamar as borboletas da floresta.

RAINHA - Não tem mêdo de vir sozinho a esta floresta?

PEDRINHO - Não tenho mêdo não. Sou amigo de todos os bichos e de

t ôdas

as

plantinhas

.

Elas

me

protegem

e me fazem companhia, e eu não

tenho

mêdo.

RAINHA - Você é um menino corajoso , Pedrinho. A rainha começa a

chorar)

PEDRINHO

- A senhora

está tão

triste, minha

rainha.

Fique mais alegre,

que a

princesinha

há de

aparecer.

Hei de procurá-la

por

tôda a

floresta 

.

Sempre.

Sempre.

RAINHA - Oh, Pedrinho, como você é bonzinho Mas

perdi as esperan

ças 

Adeus, e muito obrigada

pela

sua música. Ela deu um pouco

de ale

gria ao coração da

sua rainha.

(Sai)

} EDRINHO - Que farei

para

achar a princesinha? (Olhando em volta) Ih

Está

ficando

tarde Vou chamar as

minha

borboletas.  Toca e aparecem

voando as

duas

borboletas

reais)

Que Iindas.i. Olhe

aquela

  azul a mais

bonita

que já

encontrei. Oh quero-a para mim  . Onde está a

minha

re

de? Onde está?  Sai e volta com a rêde de apanhar borboletas. Persegue

a borboleta azul e prende-a) Peguei-a

 i

peguei-a. Que linda

BORBOLETA - Ai .; ai... ai.. . não me prenda, menino  . não me prenda,

menino.... .

PEDRINHO

-

Ela

está

falando, meu

Deus

 

nunca

vi

borboleta

falar O

que

você disse, borboletinha azul?

BORBOLETA - Não me

prenda 

não me prenda .

 Durante

todo

êste tempo a out ra borboleta vermelha)

continua

voan

do

em

cima)

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PEDRINHO - Coitadinha deixe eu soltá-Ia

...

vá, borboleta

...

não a prendo

mais.

Por

que você fala, hen, borboletinha azul?

BORBOLETA -

 já

sôlta) Sou a

princesinha

dos cabelos dourados que a

bruxa Fredegunda do ôlho amarelo encantou, e aquela

outra

borboleta é

minha aia.

PEDRINHO -

Oh

a

princesinha

dos cabelos dourados

transformada

em

borboleta. Que fazer,

minha

princesinha,

para acabar

com êste encanto?

PRINCESA - Ah só alguém muito

corajoso

poderá me salvar A

bruxa

é

tão malvada que não deixa ninguém se

aproximar

dela

...

PEDRINHO -

Pos

eu quero salvá-la, minha prfncesinha

...

PRINCESA -

Para

isso é preciso

matar

a bruxa, menino.

PEDRINHO - Estou resolvido a matá-la, princesinha.

PRINCESA - Para isso será preciso jogar

na bruxa três

gotas de lágri

mas de minha mãe; mas ela não deixará você se aproximar. Ela mora

numa cabana no fundo da floresta... A bruxa do ôlho

amarelo

nunca

dorme., está sempre

atenta

com

aquêle

ôlho amarelo... Todo

aquêle

que

se aproxima ela

mata para

fazer geléia.

PEDRINHO -

Eu

posso fazer a bruxa dormir, minha princesinha.

PRINCESA - Como?

PEDRINHO - Minha

flauta

é mágica, princesinha... conheço uma música

tão bonita que é capaz de

adormecer

a

coruja

durante

a noite... A bruxa

na certa dormirá também.

PRINCESA - Então vamos, menino

corajoso...

Vá depressa

ao

palácio

real

buscar as lágrimas de minha

mãe.;

aqui o

esperamos para

guiá-lo

até

o grotão

da

bruxa do ôlho amarelo.

 O

menino sai,

as

borboletas voam um pouco e o menino torna a

voltar

PEDRINHO - Pronto, aqui estão

as

três

lágrimas da rainha.

Foi

fácil,

ela

chorava tanto que em volta havia quase uma lagoa ... coitada da rainha ...

Vamos logo,

antes

que escureça ... mostre o caminho, borboletínha real,

que irei com minha flauta logo

atrás.

.

 Começa a tocar... o pano

se

fecha, mas a música continua enquanto se

muda o cenário para o 2.°

ato

2.° ATO

CENARIO: Na casa da bruxa. Ambiente escuro. Teias de aranha, um

gran-

de tacho no meio.

BRUXA - mexendo o tacho) Ah... estou com fome

...

muita fome

... hoje

será

o

dia

do grande banquete... Comerei asas de borboletas azuis com

môlho de guabiroba

selvagem.,

 meio cantando . Era uma vez uma bor

boleta real... ah... ah... ah... que virou comida de

bruxa

ah... an... ah ...

 Ouve-se,

uma

música de

flauta

ao longe e que

se

aproxima). Estou ou-

vindo uma música

...

De onde virá esta música? Está chegando mais para

perto...

 Vai

até

a

janela .

Vejo um menino ah que bom

farei fritada

de menino

...

Mas

...

que sono

...

que sono... Volta

à

janela .

Vejo também

minhas borboletas que chegam para o banquete... Não posso com esta mú

sica

...

 Entram

Pedrinho e as borboletas). Quem é você? A

bruxa

cam

baleando,

procura

agarrar Pedrinho . Quem é você? Quem

é

você?

Largue

esta maldita flauta

... largue..

 Cai, já dormindo de tanto sono)

PEDRINHO -

 Parando

de tocar) Dormiu

PRINCESA - As lágrimas... depressa,

meníno., As

lágrimas

PEDRINHO - jogando) Morra, bruxa malvada

...

morra e vire rato,

para

dar

vida· às

borboletas.,

 Escuro, estrondo, fumaça, transformação) Des-

ça, borboleta azul desça, aia, que o encanto está para

Se

acabar... As

duas descem levemente, pousam no chão.

Aparecem

a princesa e a

aia .

PRINCESA - Que bom, minha aia ... Estamos salvas

AIA - E a bruxa virou

rato

...

Está fugindo

para

a floresta.  O

rato

foge)

PRINCESA - Pedrinhó, de agora em

diante será

meu amigo e

flautista

I

, V A

?

rea

.... oce

quer.

38

 

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PEDRINHO - Oh

minha

princesa.; serei

sempre

vosso protetor e fiel

amigo.

PRINCESA . Então me

um abraço.,  Abraçam-se)

AIA

- Vamos, meninos . que a rainha ainda

está

chorando e não

sabe

da

nova ...

PRINCESA -

Vamos

, meu

caçador

de borboletas · Vamos cantando pela

floresta...

(Saem)

 

PANO - FIM

 

QU

V MOS R PR S NT R

N T L

 

PR Ç

AUTOR - Henri Ghéon  Peça em 3 atos.)

PERSONAGENS - 2

mulheres

 Mercedes e

Sara),

3

homens (Melchior,

Josaphat, Bruno)

FORMA - Auto

CENARIO - Único - uma praça de aldeia e uma carroça de ciganos, com

um pequeno palco.

COSTUMES - Ciganos, que vestem roupas velhas para

representar

a in

fância de Jesus Cristo à

própria

maneira.

Pub li cada na  Coleção Teatro da Agir

-

pedidos ao Tablado

.

Natal na Praça

(Les enfances

de

Jésus).

É

mais

uma

das

inúmeras

criações do fecundo autor dramático que foi

Henri

Ghéon. Mais uma, ao

lado da VIA

SACRA e

de

SÃO

FRANCISCO,

conhecidas no Rio em tra

dução

de

dom Marcos

Barbosa

e míse-en-scêne

de Martim

Gonçalves.

Ao

lado

de

O

POBRE

DEBAIXO

DA

ESCADA,

de

O COMEDIANTE E A

GRA

_

ÇA, e t an tas outras

obras

admiráveis.

Data de 1935, o NATAL. Ghéon escreveu-o para o grupo de jovens

amadores

, os  Compagnons

de Jeux , que êle criara fazia pouco junta

mente

com Henri Brochet .

Imagino

que

haveria

de espantar-se vendo -a sua

peça representada em pleno Rio de Jane rio,

por

uma grande companhia.

Haveria

de sorr ir ,  ã sem

malícia,

o terrível malicioso que êle

era.

Não

pretendo aqui sequer esboçar

um estudo

sôbre

Ghéon, o ho- .

mem

Ghéon

ou

o

dramaturgo

Ghéon.

Não

quero

ent re tanto, no momento

em que levam à

cena

uma de suas

obras,

deixar de observar que nos últí

.

mos tempos, ninguém

por

certo

fêz

mais

que

êle pela rest auração

do

Teatro cristão.

Era já autor dramático

de nome

feito, representado por

Copeau

e

Suzanne Bing,

quando

abraçou

de

novo, na noite

de

Natal, a Fé cristã,

perdida

na infância . Ora, não é tão raro

que

um artista ao converter-se,

por causa

da

transformação

profunda que

tôda conversão implica, e talvez

na

ânsia

de

  adorar o

que que imara

e

queimar

o

que adorara , encontre

na fé

recuperada

um certo

embaraço

para sua

criação artís tica. Sobretudo

se não é um gênio. Para Ghéon, na verdade, a conversão não veio estancar

ou

adulterar

suas fôrças criadoras - ao contrár io ,

fêz rebentar novas

fon

tes

de inspi ração

,

libertou

desconhecidas

emoções

de

que

êle

próprio

mal

suspeitava, pôs

à vista

escondidos horizontes. Ghéon põe-se a fazer te tro

cristão Espia a vida dos

santos

e nela

descobre

densos

dramas humanos,

no

mais

lídimo sentido

do

têrmo   drama . Na

própria

vida de Cristo des

venda

raízes

de drama que procura levar

à

cena.

Percebe

que,

em

si

mes-

 

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ma, a santidade é

uma aventu ra

muito mais dr máti -

esta

aventura

do homem em luta com o Anjo - do que qua lquer

outra

in triga por de

mais superficial .

Ghéon põe-se a fazer teatro

cristão. Digamos

mesmo: teatro cató

lico, teatro religioso,   t ea tro pa ra o povo fiel , segundo uma fórmula dêle.

Verdadeiro

tea tro, porém, a

mil

léguas das

melancólicas

assim

chamadas

  peças

sacras , tão conhecidas

em

certos meios, subprodutos l iterár ios que

são

o

antônimo

do

teatro

e

que nem

chegam

a

ser

religiosas. Ghéon,

dra,

maturgo cristão

,

entra

na linhagem autêntica dos notáveis ou anônimos

criadores dos

 milagres

e

 misteres

medievais.

Tem

dêles o

mesmo

espí

rito, feito

de

chocarr ice mas também

de

austeridade,

de

elegância e

de

profundidade. De bre je ir ice mas igualmente

de

misticismo e religiosidade.

Se sabe

ser

comovente em JOB e na VIA SACRA, Ghéon não tem mêdo

de ser jocoso, ora picante ora burlesco, ferino ou hilariante, em quase

têdas as outras peças. A

verdade

é que

não

há uma só

de

suas obras

em que não se real ize tudo quanto faz a beleza essencial

de

uma autêntica

obra

de

arte

teat ra l: p rofunda emoção poética, vigor

de

ação

dramática,

teatralidade,

e, mais que tudo

aquêle

sortilégio,

aquêle

poder de encanta

mento capaz de reaJizar a comunhão do espectador com o drama e seus

personagens, resultando daí

uma

ascensão espiritual para um e outro .

Por

isso mesmo,

apesar das

aparências, não

é

um autor

fácil ,

Henri

Ghéon. É

perigoso e é comum -

desentendê

-lo. Violentá

-lo.

Transformar

seu

teatro

em farsa. sem conseqüência ou, mais f reqüentemente, em

um

drama sêco,

grandiloqüente, sem

malícia,

sem

humor. Não, não é um autor

fácil: seus personagens têm vida

demais,

se bem que muito

ao

fundo é

por demais real, ainda

que

escondido, o

drama que

êles vivem. Seu

teatro

requer sinceridade. Veracidade . Exige o esfôrço

de

encontrar,

ouro

na

rocha, o espírito da obra, e

de

transmiti-lo

sem

deformações. Pois tudo

nêle

tem

de

ser

autêntico . Sem

concessões,

sem habil idades.

Tudo

limpo,

corajoso,

afirmativo. Nada de

falso pudor nem

de falsa

religião. A

emoção

não

se

dissimula mas

o

riso

também

não

se sufoca .

Enfim,

é teatro.

Nem

por isso menos

religioso.

Eis

porque

o

ernprêgo de truques, de

efeitos,

de

astúcias,

tudo isto

acabaria

por aniquilar o teatro todo

interiorizado

que é o seu.

NATAL NA PRAÇA não será

decerto sua

obra-pr ima mas é

uma

peça bem dêle

,

Tôdas as

características

de seu gênio nela se encontram .

Eis a história sem His tória de uma

família

cigana igual às out ras,

que lê a sorte nas mãos, 'faz tachos, rouba

galinhas

nos

quintais indefesos

e

nas horas vagas

faz teatro

de vila

em vila para divertir os

basbaques

.

Gente rude, não resta dúvida, gente andarilha,

sem

le i nem rei,

mas

gente

boa .

Naquela noite de Natal,

entre

a sopa e a Missa-do-galo,

êles

se

vêm

na

obrigação de

representar alguma coisa. para

não

deixar logrados

os camponeses do lugar. Hospitalidade se paga, e há

dias

que estão ali

acampados. Representar a lguma

coisa,

mas

o

que? Há roupas de outras

peças no

fundo

do baú, o velho sabe histórias,

puxa-se

um pouco

pela

ima

ginação: pois

basta

isso, só isso

(tudo

isso )

para

se

improvisar algo

sôbre

a

infância de

Jesus. São pessoas,

digamos: meio grossas

, a

teologia

que

sabem é meio tortuosa, sua História Sagrada nem sempre bem

exata, mas

têm

boa-vontade,

precisam

muito de

Deus e hoje é

noite

de Natal ,   para

a frente; vamos ver como é que entendem o mistério da Encarnação

Inegàvelmente,

nesta história de ciganos modernos

um

forte sa

bor

medieval. É a mesma brincadei ra piedosa de ao pé do altar

ou

dos

adros das catedrais ,

baseada

nas Escri turas e na Santa.

Liturgia.

No meio

até rezar se reza. Para quem souber

ver,

há portanto até os

valores

re

ligiosos do teatro da Idade-Média.

Uma

altíssima

poesia,

um

irresistível

lirismo

atravessa

o

espetáculo

de ponta

a ponta. E

não

uma

poesia forçada, quase agressiva, mas

a dis

creta.

poesia

que reponta ,

sem querer, das

coisas cotidianas. A poesia do-

 

-

 

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A rica tradição medieval nos

transmite

em suas romanças e lendas

uma

história

muito bela.

A do saltimbanco convertido

que se

fêz

monge.

Não

tinha

aprendido a ler, era incapaz de rezar

no

complicado

latim

de

seus .confrades. Então, simplesmente

vinha

postar-se ante a

imagem da

Virgem e religiosamente, só para ELA, al i

dentro da

igreja,

executava

em

sinal

de

vassalagem, as mais difíceis

piruetas

que

sabia, os

mais

vistosos

saltos-

mortais  

Não posso esquecer

esta

lenda antiga

ao

ver NATAL NA

PRAÇA.

Aquêles ciganos, o que fazem com seu jeito truculento, tal como nas pe

regrinações às Santas-Marias-do-Mar, é rezar a seu modo. Por

que

cho

car-nos? Por

que

escandalizar-nos com

êles

e com Ghéon?

Ah Outra coisa: a lenda acrescenta que

um

dos monges, desprezando

as acrobacias religiosas do

frade

-saltimbanco, foi duramente

repreendido

por

Nossa Senhora.

 

(Frei Lucas Moreira Neves, O P.)

(JORNAL

DO BRASIL -

  5 de

dezembro

de

1957) .

 .

 

_ ,

 

-  

O  OI E O URRO

 Farsa Mistério de Natal

AUTOR - Maria Clara Machado (Peça em 1 ato.)

ANALISE

- Um boi e um

burro

comentam na sua linguagem simples os

acontecimentos de Natal .

MECANISMO - Ritmo bem rápido para os dois bichos.

PERSONAGENS

- Boi

(Bonaçâo

e

íngênuo)

Burro

(idem), Pastor,

Pasto.

ras, Reis Magos, Maria e José (personagens estilizadas)

PúBLICO

- Qualquer platéia, infantil ou adulta .

MúSICA

- Do folklore de

Natal.

QUEM

PODE

MONTAR - Todos os grupos, inclusive crianças.

Esta peça se encontra publicada no livro  Teat ro Infan ti l de

M.C.

M. editõra Agir

- pedídos

para

o Ta blado .

V MOS FESTEJ R O N T

Peça

em

um

ato,

para

teatro

de

máscaras,

de

HILTON CARLOS

DE ARAúJO

.

 

Esta peça

fo i

escrita

para

o Teatro das Oficinas

Pedagógicas

da

Sociedade Pestalozzi do Brasil. Foi

montada

e

r epresentada em

dezembro

de

1950.

A peça se passa em

uma

floresta, às vésperas do Natal.

CENARIO: Trecho da floresta, com

um

grande tronco de árvore atravessado

no meio do palco.

PERSONAGENS:

Coelho irrequieto

Macaco sabichão

Arara ranzinza

4

- Leão mandão

-

Elefante trabalhador

- Burro humilde

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  .....  

que voces nao sao mais crianças.

RAPOSA - (Mostrand(} a cara atrás de uma moita) Quando começar o

trabalho me avisem. .

URUBU -

Será

que dá tempo de ficar tudo pronto?

Eu

acho que não pode

remos fazer festa nenhuma.

 O Urubu continua parado t ristemente, a Preguiça continua deitada, o

Coelho corre de um lado

para

outro, o Pavão tira um espelho do bôlso e

se mira)

ARARA - (Correndo

atrás

dos coelhos) Vocês me pagam, seus moleques.

Parem

de

correr

e vê se

ajudam

em alguma coisa.

PA

V O

- (A Arara) Se você gritasse menos e

trabalhasse

mais.

ARARA - (Ao pavão) Se você

se

penteasse menos e trabalhasse mais.

LEAO - (Dirigindo-se aos bichos que não estão trabalhando) Tratem d

ajudar

senão isso não vai. Estou dirigindo o

trabalho

e quero que todos

me obedeçam.

URUBU - Não adianta; isso aí é muito pesado. Não teremos festa.

PREGUIÇA - Pelo menos

para

mim. Estou muito cansada.

PAVAO - Contanto que não amassem minhas penas.

COELHO - (Pulando) Faremos uma grande festa, faremos uma grande

. festa.

LEAO -  Irritado) Não vai haver festa nenhuma. Eu decidi. (Larga o

tronco)

(Todos param e olham

para

o Leão)

LEAO - Não é possível fazermos alguma coisa. Vocês

querem é pular,

brigar

ou

cuidar

da beleza. E

outra

coisa, ninguém me obedece. Assim

não interessa. Não vai haver mais festa. .

BURRO - Que pena Ia

ser

uma

grande

festa. Se quiserem que eu

traba-

lhe mais é só dízer.

URUBU - Nunca

mais

vai

haver

festa.

ELEFANTE - O pessoal não querendo

ajudar

não é mesmo possível.

M C CO - Se todos ajudassem poderíamos organizar uma

grande

festa,

mas só nós

quatro

não dá jeito não.

  M P O N ~ S

-

Eu

também estou muito

triste

e desapontado. Aqui será o

único lugar em que não vai

haver

comemoração do Natal.

(Saindo de cena)

Bem, tenho que avisar os outros.

É

uma pena. Ia ser uma grande festa.

Adeus.

ARARA - Que vergonha para nós. Seremos os únicos que não vamos te r

festa do Natal.

URUBUS - Também somos tão fracos

LEAO - Nós não somos fracos; somos é desunidos. Se trabalhássemos jun-

tos conseguiríamos muita coisa. Era só me obedecer cegamente.

M C CÔ - Amigos,

por

que não fazemos isso?

ELEFANTE - Vamos

trabalhar.

URUBU - Não dá tempo.

PREGUIÇA - Cansa muito.

ARARA - Calem a boca, ·seus desanimados. Vamos trabalhar

(Todos se dirigem para o tronco. . A rapôsa tenta fugir, mas a

Arara

a

apanha. Todos se interessam pelo

trabalho,

Unem-se e conseguem tirar o

tronco. Passam então a  ímpar

Ó

Ipalco)

PAVAO - Podem deixar que

eu

enfeito tudo.

COELHO - Buscarei

as

flôres mais lindas.

URUBU - Será que encontram.

FIM DA CENA I '

A CENA II CONSTARÁ DE UM FESTA,

COM

CANTO, DANÇAS ETC.

 

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JEAN LOUIS BARRAULT : 

O

FENôMENO

DO

TE TRO

A Conferência

proferida

por Jean-Louis Barrault captada quase na íntegra 

seguida de uma exegese atual do grande ator francês que

recentemente

vi.

sitou o Brasil.

;:;

 

Por

Leo Gilson Ribeiro -

Para

  SLJB

Esta causerie

esta

conversa informal com o público aqui presente

será

para mim uma renovação da minha profissão de fé. Há na vida algo tão

importante

quanto

as demais funções da vida  comer 

dormir

  casar-se etc:

a escolha definitiva de uma profissão. Ela determinará  para o

resto

da

existência  a conduta fundamental do homem.

Para

inúmeras pessoas  a

profissão é simplesmente um meio enfadonho de

adquirir

dinheiro com o

qual

podem sobreviver e com o qual podem

comprar

as alegrias que orna

rão

essa existência triste.

Para

Bach  como ele próprio declarava

era

uma

fonte de ta l satisfação pessoal que lhe era

indiferente

se os demais

ama

vam seu

métier

ou não. A profissão é o prolongamento da energia vital

da

fôrça da personalidade de um

ser

humano.

Por

meio de seus filhos os

homens se

perpetuam

e vivem além da morte. Da mesma maneira as pro

fissões

Os

ofícios são prolongamentos

da

vida  são formas de sobrevivência:

assim os marceneiros  por exemplo deixam depois de mortos seus mó

veis seus objetos criados em vida como que filhos de seu trabalho e de

seu engenho criador: a profissão pode 

portanto

  constituir uma vitória

sôbr e a morte.   nêste nível que coloco a profissão de cada um de nós:

é o que levamos

dentro

de nossos próprios corações  é o valor autêntico

 

mais íntimo e final  de nós mesmos

Como homem de

teatro

porém  com frequência indago a mim

mesmo: por que escolhí este ofício. esta profissão? Não estarei equívocado

em minha escolha? Que pode deixar depois de morto. um homem de

teatro interrogo-me muitas vêzes além de vagas recordações efêmeras?

Obedecemos ao chamado cego interior à necessidade bizarra a que damos

o nome comumente de vocação. E nutrimos muitas dúvidas a respeito de

sua autencicidade:

quantos desesp êros

precedem o momento

em

que desco

brimos em sua plenitude o verdadeiro

amor

que temos por nossa vocação

Eu

próprio tive dúvidas constantes e profundas. Depois de dedicar-me

mais de 30 anos

ao

teatro pOSSO dizer  com absoluta convicção: O Teatro é

ao mesmo tempo o mais nobre e o maior dos métiers existentes e o mais

absurdo. Vejamos: do ponto de vista

exterior

 

da

crítica

obietlva que

acusações se podem fazer ao teatro? Esclarecarnos que nessa palavra glo-

bal

-

teatro

- é

mínha

intenção abranger tôdas as

formas afins

e

derí

vadas da arte dramática: o cinema o rádio. a televisão. De que

críticas

é

passível? Das seguintes: o teatro é uma forma de mistificação social; o

teatro

é manifestação de impotência individual e finalmente o

teatro

se ba

seia

num critér io estético duvidoso.

As provas? Basta

abrirmos

as

revistas

e jornais que circulam em

imensas tiragens em todo o globo: nosso rostos de

atores

coram de vergonha

quando constatamos

quantos

indivíduos utilizam nosso

métier

como

prosti-

tuição como meio de excitação sexual aviltante como

apetite

insaciável

de dinheiro e como deformação grotesca e

caricata

do riso. Hélas é um

fato inegável que os atores se deixam utilizar muitas vezes de maneira

vergonhosa

indigna

e

humilhante

: alguns filmes

tiram

partido não do

talento  não do espírito dos atares e atrizes mas meramente - e ignõbíl

mente

- de seus corpos de seus dotes físicos: espetáculo repugnante No

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entanto, verificamos com estupefação mesclada de pesai: o público mostra:

se satisfeito, parte benévolo e passivo, de encontro à satisfação visual de

seus instintos mais baixos. Testemunhamos assim - quantas vezes - o

triunfo, chamêmo-lo assim, fulgurante de pessoas na realidade sem- profis

são mas cercadas de muitlssima publicidade e dotadas de uma audácia inau

dita Os produtores apressam-se a tirar proveito dessa situação,

  inchando ainda mais seus polpudos ganhos nesse comércio abjecto. Tudo

isso serve também, e não é um de seus menores crimes, para -depravar se

xualmente os jovens, transformando-os, junto com os

demais

espectadores,

em meros voyeurs que assistem a cenas lúbricas e aviltantes. Tudo isso me

ramente falseia o verdadeiro sentido da vida.

O Riso, que por si só é nobre, torna-Se uma careta nas

 comédias

vulgaríssimas que nos são impingidas, nos filmes imbecís, ditos  côrnicos ,

baseados em histórias banais e frequentemente de péssimo gosto.

O sexo, o dinheiro, a

careta

que deforma o riso: eis aí trístemen

te sintetizadas as formas que assume a místíficação social do teatro a que

aludimos ao enumerar as críticas que a êle se fazem. Justificando esse esta

do de . coisas injustificável Invocr.-se uma razão de Estado : enquanto ' as

sistem a êsses espetáculos os espectadores não pensam em política nem

em outros assuntos graves de competência do Estado. Mas o mais mons

truoso é que vemos governantes eminentes - até mesmo rainhas de Impé

rios poderosos - receberem vedettes com uma pompa que não reservariam

para sábios e eruditos de renome internacional Essa decadência do métier

teatral se evidencia. em outros aspectos também: no plano individual, por

exemplo, da escolha de · uma carreira. Quantas vezes os jovens buscam no

teatro na profissão ·de ator ou atriz meramente uma ocupação, um pas

satempo Há tempos procurou-me um rapaz

que dizendo-se -candida to à

futura cârrei ra de ator, confessou-me: detesto trabalhar por isso é que

quero fazer teatro O  Sr. sabe 

Ou

outro ainda que explicava seu penchant

para o teatro dizendo com ar melancólico e de excusa: Meu estado de saú

de não é muito promissor, portanto quero dedicar-me ao teatro, que é uma

carreira leve ... .

 

fácil diagnosticar êsses casos: são casos em que a preguiça e a

covardia, a

par

. da impotência mental dos que não querem os problemas

_reais

da

vida, que

levam

êsses indivíduos a escolherem uma ' profissão tão

abstrata quanto falsa. como é, segundo sua concepção, a do teatro.

Observemos agora a objeção seguinte: esteticamente, ' indaguemos

a nós mesmos com

brutal

franqueza e total sinceridade, esteticamente o

teatro será uma profissão necessária, independente?

Para

contestar, medi

temos nos seguintes fatos: A Arte é, fundamentalmente,

uma

profissão que

repercute profunda e extensamente na coletividade, a

Arte

é um testemunho

da vida e um desafio

à

morte, à destruição. O ator esculpe seu personagem

como o cinzel de um artista dá à pedra bruta uma

forma

reconhecível: das

mãos de um Rodin ou de um Maillol brotam realidades marmóreas esplên

didas. A vida, verificamos, nasce sempre, no terreno

da

Arte,

da

confron

tação d duas matérias inertes, mortas. Desse conflito, desse encontro o

artista toma o sôpro de sua inspiração, isto é: impõe algo de vibrante e de

. vivo à própria morte. Na pintura, por exemplo, os

materiais

químicos em

contacto com a tela criam um quadro, um Renoir, um Cézanne. A Arte,

concluimos,

recria

a vida, constitui cabalmente uma vitória da vida sõbre

a morte. .

No teatro a matéria prima artística que se utiliza é um ser vivo,

é o ser humano, o atar. Ao passo que a matéria morta é obediente, plasmá

vel, flexível, o

ser

humano é infinita e imponderàvelmente variável: está

submetido a leis imprevisíveis da sua saúde pessoal, depende das condíções

de clima e de tempo, vive em função de seus estados psíquicos ' interiores de

alegria, de depressão, de ânimo, de angústia: é consequentemente uma

ma-

téria desobediente. O autor tem dificuldade em

recriar

com essa matéria

46 

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tica de Peter Pan, que não

queria crescer

para não

abdicar

da

infância

e

tornar-se comum e idêntico a todos os outros.

Mas o personagem que eu finjo ser perante os demais me é útil tam

bém não só

para

satisfazer

minha

vaidade, minha concepção idealizada e

otimista de mim mesmo: êle serve para

ocultar meu

verdadeiro eu dos

demais, para abrigar-me, para observar,

através

da minha máscara, o que

se passa detrás da máscara dos outros. Um ser desconhecido se oculta de-

trás

dos olhos que nos fitam: cada

ser

humano vive em dois planos, o

real

e o

exterior

daí

constituir

a nossa preocupação de ser

outrem

o problema

número um

da

existência humana.

Por outro lado, analisando a necessidade do teatro veremos inicialmen

te

que

tudo na vida serve a um propósito utilitário, a

gratuidade

não existe.

Nós nos alimentamos para continuar vivendo, dormimos para repousar nos

so corpo e

adquirirmos

novas energias,

amamos para procrear

e perpetuar

nos em nossos filhos e se brincamos e jogamos - como aliás até

Os

pró

príos animais jogam e brincam - também nossas atividades lúdicas têm

um fim utilitário. Observemos um cachorro brincando com uma bola: faz de

conta que

ela

é seu inimigo ferrenho

atirada

longe ele a vai buscar, moro

de-a, corre

atrás

da esfera que gira, ataca-a .pelo flanco, cheira-a, í sp -

clona-a e a captura triunfante: exatamente como os militares que se diver

tem nos tempos de paz brincando de

manobras

. militares,

 mentirinhas

faz de conta da

guerra verdadeira.

 O jôgo,

portanto

a .

brincadeíra

constitui

como

que um treino da

vida, inocula-se assim em doses infinitesimais o perigo fundamental: o pe·

rígo da morte com o qual convivemos diàriamente. Nós utilizamos, por-

tanto, o jôgo cên íco o personagem que interpretamos como

uma

forma de

proteção contra essa onipresença da morte. No entanto, apesar disso é

forçoso concluir: cada um de nós vive só. Envidamos inutilmente todos os

esforços para esquecer ou minorar essa certeza, mas em meio à sociedade,

quer ela se mostre hostil para conosco ou cheia de afeto e premura: vive

mos sós,

prêsas

de nossa solidão pessoal e de nossa angústia, à

mercê

-da

angústia envolvente da morte sempre iminente,

sempre

possível, sempre

presente.  

Dessa

reação

de

terror perante

a destruição

de

nós mesmos resultam

as duas condutas fundamentais do ator da   arte dramática em si : há uma

conduta t rágica sempre que o instinto de conservação cessa, cedendo ao

heroismo, ao destemor da morte. Por outro lado, a conduta eômíca .surge

sempre

que recorremos a uma reação absurda diante da angústia que o

mêdo cria:

para

minimizar o perigo

adotamos

uma

conduta

cômica. Tôdas

as emoções humanas, portanto, podem se r consideradas como condutas de

rivadas dessas condutas fundamentais , correspondendo consequentemente,

a esse comportamento trágico ou cômico. A emoção é sempre um compor

tamento

.

Diante

de um ladrão,

por

exemplo, que venha

assaltar

nossa ca.

sa: percebemos o barulho, pressentimos o perigo e então, devido ao mêdo

que de nós se apodera, nós como que

desaparecemos

nos ocultamos, tenta

mos subtrair-nos ao

intruso

que vem perturbar nossa doce tranquilidade.

Há ainda os comportamentos passionais nessa ampla escala de reações

emocionais: a cólera,

por

 exemplo, corresponde a uma dilatação

da

perso.

nalidade sob o impacto

da

ira, do passo que a tristeza a restringe, reduz o

indivíduo tristonho, melancólico, às suas proporções  mínima s e mais  humíl

des: O indivíduo deseja então esquecer-se de si mesmo e de sua sítuaçãe

aflitiva e

soturna

da mesma forma que, nas peças, o

personagem

tem ne

cessidade de se

reunir

com outros

personagens para

combater a solidão.

A representação teatral constitui uma

reprodução

fiel desse problema hu

mano pois ela simboliza o indivíduo

contra

a coletividade, a unidade de-

frontando-se com o universo. Será fácil

constatar

que os dados dessa equa

ção não mudaram e que êsse é, ainda hoje, um problema de grandes propor

ções na atual ídade. E

quanto

ao público? O público

representa claramente

a quintessência da sociedade

inteira

sem, no entanto, a rigidez das díst

ín

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ções de classe econôrnica ou cultural. O público para

ser

um bom público

tem necessidade dessa promiscuidade democrática típica do

teatro

precisa

participar dessa alma coletiva, sem discriminações.

Eu

vejo o público, do

palco, como um grande personagem, de imensas dimensões: a cabeça no

teto, o peito e o

ventre

nas

galerias

e balcões,

as

pernas na platéia e assim

por diante.

É

o grande personagem, sentado, com o qual dialogamos, com o

qual

nos defrontamos tôdas as noites de espetáculo.

Mas, ao representar, note se bem: nós substítuímos um personagem

por outro, pois renunciamos ao personagem que interpretamos na

vída :

real

(aquele

 eu

ideal que cada um de nós quer seq e readquirimos o

vigôr

inicial, de nossa infância, renunciamos a ser adultos para

apresentarmos

outros individuas, com os quais temos afinidades intrinsecas. No palco nós

apresentamos protótipos humanos. O público representa o espirita coletivo

presente a esse diálogo e os atores em cena simbolizam o espirita individual.

São várias as tarefas, as funções, se assim quizermos, dos atares

com relação ao público e à arte. No Japão, os

atares

são designados pela

expressão filosófica e poética de verseurs d oubli , os que espargem o es

quecimento ou a distração. Pais o público busca precisamente êstes dois

elementos na representação teatr.al que se desenrola diante de seus sen

tidos atentos: o esquecimento de sua própria angústia individual, de suas

frustrações e tristezas ou então a glorificação, em escala muito maior e

universal, de sua

própria

catástrofe, isto é: a apresentação de infortúnios

mil vezes piores que o seu, dos quais ele

tira

profundo consôlo para seus

males, que se vêm, em comparação, diminuídos. Ao verem no palco sêres

desventurados, pessoas mais infelizes do que êles, espectadores, índívídual

mente, todos os

integrantes

do público se sentem mais seguros, mais con

fortados, mais consolados. O espetáculo passa a ser então o deleite que

sentimos

ao presenciar, comovidos, uma catástrofe alheia,

muito maior

do que a nossa. De outras vezes, porém, o espetáculo pode

ser

a porta

para

um sonho,

para

um enlêvo um devaneio: o público quer ver no palco a

vi-

da

tornada

mais suave, sublimada, menos áspera e impiedosa, romàntíca

mente idealizada mesmo, em certos casos.

É

frequente também buscarem

um

ato

de justiça

em

cena, que possa, ao menos no terreno da fantasia,

compensar a injustiça que prevalece no mundo real, o teatro Se torna, por

conseguinte, uma fonte de justiça metafísica, trazendo um profundo e fun

damental reequilíbrio dos elementos que compõem a vida humana. A par

tir desse momento, portanto, o público sai purificado com essa catarsís, o

teatro adquire realmente uma importância social e até mesmo terapêutica,

como queria Aristóteles.

Nessa estrutura complexa de troca e de diálogo, o ator é,

por

ex-

celência, um ser enfermo, enfermo da doença do amor

ao

próximo. Éle está

minado pelo amor, pela vocação do

amor

aos seus semelhantes, um amor

genérico: nós nascemos amando, querendo nos mimetizar com o persona

gem que interpretamos: amar é tornar-se o ser amado, idêntico a êle,

amar é tornar-se outra pessoa.   as nossa sensibilidade de atores, que logo

envolve com seu afeto cálido os

seres

a que daremos vida sob as luzes dos

refletores, abrange

na

realidade tudo na natureza, não só os personagens

que .viveremos

durante

algumas horas, tôdas as noites. Nosso temperamen

to nos leva a emprestar generosa e indiscriminadamente uma alma a tudo

que encontramos: às árvores, às idéias etc. As expressões consagradas pelo

uso e extraidas do linguajar popular antiquissimo e idêntico em todos os

países e civilizações

atesta

isso eloquentemente: dizemos, por exemplo, que

 o leão é o

rei

dos animais , o fogo é diabólico etc.

Para

nós, tôda a

vida se humaniza, tudo adquire as formas e

as

dimensões do humano. E é

isso precisamente que nos dá o direito de

subir ao

palco.   ôd s as noites,

no teatro, temos um verdadeiro encontro de amor e o nervosismo que nos

assalta

antes de

entrarmos

em cena é comparável, realmente, à emoção

do

namorado pouco antes de encontrar-se com sua amada. O público, porém,

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nunca é o mesmo: ele muda de noite para noite, são alt er açõ es imponderá-

veis, às vezes profundas, às vezes decisivas.

Analisemos finalmente a

parte

de nossas considerações que afir

ma

que o fenômeno teatral é um fenômeno independente das

outras

artes,

negando assim a tese dos que querem meramente

atrelar

o teatro à litera

tura, reduzindo-o a um simples apêndice literário sem maior expressão

au-

tônoma.

  omo

é fácil verificar,

tôdas

as outras artes s e d ir ige m exclusiva

mente a um de nossos sentidos.a um somente: assim, a

pintura

se dirige à

vista, a música ao ouvido etc. No melhor dos casos elas conseguem atingir

a mais de um sentido mas   depois do outro, não ao mesmo tempo.

O público do teatro, ao contrário, consegue obter a simultaneidade

das sensações: são todos os sentidos, pràticamente que participam do de-

leite que um espetáculo teatral proporciona: nossos olhos se regosijam com

a beleza, as formas e as côres dos cenários e dos figurinos, com o rítmo e

o movimento dos atares em cena, com a luz e as nuances dos refletores,

nossos ouvidos se deliciam com as vozes dos ateres, com os ruídos incíden

tais, com a música, se ela houver etc. E enquanto se desenrola o

espetáculo

nós nos assemelhamos, público e atares, separados do resto do mundo, nos

assemelhamos a uma cidade em estado de sítio, sem radar ext erio r. Nós

compartilhamos dessa experiência única e terrível: compartilhamos a pas

sagem do tempo, compartilhamos o presente que flui, quase imperceptível e

que podemos  captar ainda mais nitidamente e mais assustadoramente se

p erm itim os que ele

se

revele por um instante de silêncio. Ouçamo-lo passar

c él er e e indetivel. Jean-Louis

Barrault

impõe s ua vem en te alg uns momentos

de absoluto silêncio no recinto amplo do Teatro Municipal superlotado .

O tempo. 1:: interessante como na vida nunca falamos do presente,

mas sempre de coisas abstratas: falamos do futuro e do passado, raríssima,

mente do presente, que é, no entanto, a substância mesma de que é feita a

nossa vida. Porque se dá isso? Porque o presente é ínaccessivel, não pode

ser

capturado em sua fo rma pura, como um rio de águas rápidas que fluisse íne

xoràvelmente. Ora, nenhuma outra arte re pr od uz não só essa impressão simul

tânea sôbre todos os sentidos como também essa troca magnética de vidas

entre o público e   a rti st a, de forma ainda mais dramática e intensa ainda

do que a música que, ela também, flui, no tempo, paralelamente a nossas

vidas, ao presente que compartilhamos na nossa comunhão na arte.

Nós, intérp retes, at ar es, existimos aq ui

em

cima, no palco, e vós,

o público, os espectadores, existis conosco,

eronolõgicamente

co-existimos

no tempo, submetemo-nos, juntos, ao mesmo ritmo universal da terra que

gira e do tempo que passa. Participamos dos elementos que constituem o

teatro: o movimento, a troca e o ritmo. Silêncio, presente, simultaneidade;

eis o teatro, eis o fenômeno teatral. Nosso encontro, nossa convergência

parte e termina no coração, que é a séde do ritmo da própria vida. No tea

tro o ser humano tem a faculdade de captar o presente. Nenhuma outra

arte

apresenta

essa perspectiva única, só o

teatro

E assim como o coração

ao palpitar simboliza o ritmo universal, o hálito, a respiração que sai do

peito humano, ao

atravessar

a garganta do ator se transforma em voz em

comunicação, em diálogo. A palavra, fabricação respiratória e muscular,

torna-se uma mensagem intelígel de meu ser pessoal dirigido a vós, que

me escutais,  ela é um instrumento de encontro entre

sêres

humanos isola

dos.

No comêço

havia o Verbo, o sôpro vital: eis a essência

da

matéria

teatral.

A palavra e o gesto continuam-se, complementam-se, integram-se mu

tuamente. A linguagem verbal e corporal obedecem às mesmas leis. Esta

belecem-se correspondências instintivas, eletivas

entre

a poesia e o canto

e a cadência e a dança durante essa utilização

material

do

ser

humano que

é

á

representação

teatral

E como complemento final e transcendente, utili

zamos as palavras, que re veste m

tanta

importância justamente por serem

os veículos, os envólucros das idéias que trocamos

entre

nós.

 

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A arte dramática torna o se r

humano

que é por

natureza

instável,

sujeito

a mil influênc

ias

perturbadores interiores e exteriores . como vimos

a arte dramática o terna sobretudo

obediente

através da disciplina men-

tal e

corporal

seve

ra que

a

formação

do a tol

imp õe.

A

arte dram

ática É

arte da vontade, ela

con

st i tu

í

acima de tudo o contrôle da espontaneidade

interpretativa,

da

s

incer

idade do ator ao desempenhar seu papei, ou m

 -

lhcr: ao

mimetizar-se com o

personagem

que

encarnará.

Para

que

haja

v

er

dade

interpretativa

e não surjam nem deficiências nem excessos nem arti

ficialismos

c person

agem passa a rer

controlado

pelo atol , ao passo

que

suo

sincer idade o

plasma.

Não deixemos de ass inalar

porém

ainda outro detalhe importante

cem relação a essa curiosa co-existência, no mesmo indivíduo, do persona

gem e do atol : essa con sci ência da

síntese

de

duas

personalidades e da

bifurcação que

se

processa uma vez

terminado

o espetáculo

existe

. t r -

bém com relação ao público. Já

Diderot

aludira a esse

paradoxo

do especta

dor que

aplaude

não

Nero

em

cena

uma vez

terminado

o

espetáculo

mas,

naturalmente o atol que

representou

êsse

monstruoso imperador. Há por

tanto, con

statamos

uma

dualidade

de

percepção

no espectador

id ên

.l

ca à

dualidade do atol .

Em busca de uma definição pessoal e

final

do teatro , recordo me

de uma definição que Gide fez do pecado. O pecado para ele,  é aquilo

que não podemos deixar de fazer . O

te

atro

é

precisamente isso: o que

não podemos deixar de fazer.

É

para nós um imperat ivo absoluto represen

tar

, participar do

teatro.

E então,

encerrando

o cicio de nossa s

reflexõe

s e regressando às

nossas obs

ervações

iniciais, reencontramos a nossa fé e

estam

os prontos a

formular

com

redobrada

v

it

alidade e redobrado

entusiasmo

nossa confis

são pes

soal livres

de quaisquer

temores

e

acima

de tôdas

as crí ticas que

se

possam

fazer

à

arte teatral

à

qual dedicamos a própria

substância

de

nossa vida diária.

Recordemos,

para

concluir, o diálogo sa bor oso e

também

profundo

em

reflexões entre o bispo e o psicoanalista que talvez não seja mera anedo

ta . Um

psicoanalis

ta de muito sucesso jactava-se perante um bispo:   De

pois de Freud e da psican álise, meu caro amigo, as pessoas não vão mais

ao confessionário:

ao

contrário todos os seus crentes vêm estender-se agora

em meu divã, tornando-se meus clientes. E fazem muito bem porque eu os

curo

dos males que os afl igem, que

torturam

seus

espíritos.

Depois de

uma pausa curta

, o Bispo

respondeu

com a

sabedoria

de sua

idade

e de

eua longa experiência:

 

verdade, meu caro amigo,

mas

a

diferença

é que

voc ês,

psicoanalistas

talvez curem realmente, mas não perdoam , e nós, sem

talvez curar ,

sempre

perdoamos.

Da

mesma

maneira

nós atores, sem

curar os

males e

angústia

s

dos seres

solitários

que compõem o público

que

nos busca tôdas

as

noite

s.

sem mesmo podermos perdoar

as

injustiças que lhe são

feitas

nem trazer

uma paz definitiva a seus e

spíritos conturbados

, nós

ateres

temos pelo me

nos a certeza, a

esperança

, o consôlo de que aliviamos nossos semelhantes

acossados por tantos

infortúnios

humanos.

O teatro , depois da religião, é uma forma de mística profana.  

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