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    capa

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    1. Compreenso e Interpretao de Textos .......................................................................................... 1

    2. Gneros Textuais .......................................................................................................................... 12

    3. Fatores de Textualidade. ............................................................................................................... 14

    4. Ortografia Oficial ........................................................................................................................... 33

    5. Acentuao Grfica ....................................................................................................................... 49

    6. Emprego da Crase ........................................................................................................................ 57

    7. Pontuao .................................................................................................................................... 66

    8. Concordncia Nominal e Verbal ..................................................................................................... 73

    9. Regncia Nominal e verbal ............................................................................................................ 95

    10. Relaes Sinttico-Semntico-Discursivas no processo Argumentativo ....................................... 103

    Candidatos ao Concurso Pblico, O Instituto Maximize Educao disponibiliza o e-mail [email protected] para dvidas

    relacionadas ao contedo desta apostila como forma de auxili-los nos estudos para um bom desempenho na prova.

    As dvidas sero encaminhadas para os professores responsveis pela matria, portanto, ao entrar em contato, informe:

    - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matria);

    - Nmero da pgina onde se encontra a dvida; e - Qual a dvida.

    Caso existam dvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminh-las em e-mails separados. O professor ter at cinco dias teis para respond-la.

    Bons estudos!

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    A literatura a arte de recriar atravs da lngua escrita. Sendo assim, temos vrios tipos de gneros textuais, formas de escrita; mas a grande dificuldade encontrada pelas pessoas a interpretao de textos. Muitos dizem que no sabem interpretar, ou que muito difcil. Se voc tem pouca leitura, consequentemente ter pouca argumentao, pouca viso, pouco ponto de vista e um grande medo de interpretar. A interpretao o alargamento dos horizontes. E esse alargamento acontece justamente quando h leitura. Somos fragmentos de nossos escritos, de nossos pensamentos, de nossas histrias, muitas vezes contadas por outros. Quantas vezes voc no leu algo e pensou: Nossa, ele disse tudo que eu penso. Com certeza, vrias vezes. Temos a a identificao de nossos pensamentos com os pensamentos dos autores, mas para que acontea, pelo menos no tenha preguia de pensar, refletir, formar ideias e escrever quando puder e quiser.

    Tornar-se, portanto, algum que escreve e que l em nosso pas uma tarefa rdua, mas acredite, valer a pena para sua vida futura. Mesmo que voc diga que interpretar difcil, voc exercita isso a todo o momento. Exercita atravs de sua leitura de mundo. A todo e qualquer tempo, em nossas vidas, interpretamos, argumentamos, expomos nossos pontos de vista. Mas, basta o(a) professor(a) dizer Vamos agora interpretar esse texto para que as pessoas se calem. Ningum sabe o que calado quer, pois ao se calar voc perde oportunidades valiosas de interagir e crescer no conhecimento. Perca o medo de expor suas ideias. Faa isso como um exerccio dirio e ver que antes que pense, o medo ter ido embora.

    Texto um conjunto de ideias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significativo capaz de produzir interao comunicativa (capacidade de codificar e decodificar).

    Contexto um texto constitudo por diversas frases. Em cada uma delas, h certa informao que a faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando condies para a estruturao do contedo a ser transmitido. A essa interligao d-se o nome de contexto. Nota-se que o relacionamento entre as frases to grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto original e analisada separadamente, poder ter um significado diferente daquele inicial.

    Intertexto - comumente, os textos apresentam referncias diretas ou indiretas a outros autores atravs de citaes. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto.

    Interpretao de Texto - o primeiro objetivo de uma interpretao de um texto a identificao de sua ideia principal. A partir da, localizam-se as ideias secundrias, ou fundamentaes, as argumentaes, ou explicaes, que levem ao esclarecimento das questes apresentadas na prova.

    Normalmente, numa prova, o candidato convidado a:

    Identificar - reconhecer os elementos fundamentais de uma argumentao, de um processo, de uma poca (neste caso, procuram-se os verbos e os advrbios, os quais definem o tempo).

    Comparar - descobrir as relaes de semelhana ou de diferenas entre as situaes do texto.

    Comentar - relacionar o contedo apresentado com uma realidade, opinando a respeito.

    Resumir - concentrar as ideias centrais e/ou secundrias em um s pargrafo.

    1. Compreenso e Interpretao de Textos.

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    Parafrasear - reescrever o texto com outras palavras.

    Exemplo

    Ttulo do Texto Parfrases

    O Homem Unido A integrao do mundo. A integrao da humanidade. A unio do homem. Homem + Homem = Mundo. A macacada se uniu. (stira)

    Condies Bsicas para Interpretar

    Faz-se necessrio: - Conhecimento Histrico literrio (escolas e gneros literrios, estrutura do texto), leitura e prtica. - Conhecimento gramatical, estilstico (qualidades do texto) e semntico. Na semntica (significado

    das palavras) incluem-se: homnimos e parnimos, denotao e conotao, sinonmia e antonmia, polissemia, figuras de linguagem, entre outros.

    - Capacidade de observao e de sntese. - Capacidade de raciocnio.

    Interpretar X Compreender

    Interpretar Significa Compreender Significa Explicar, comentar, julgar, tirar concluses,

    deduzir. Tipos de enunciados: - atravs do texto, infere-se que... - possvel deduzir que... - o autor permite concluir que... - qual a inteno do autor ao afirmar

    que...

    Inteleco, entendimento, ateno ao que realmente est escrito.

    Tipos de enunciados: - o texto diz que... - sugerido pelo autor que... - de acordo com o texto, correta ou errada a

    afirmao... - o narrador afirma...

    Erros de Interpretao

    muito comum, mais do que se imagina, a ocorrncia de erros de interpretao. Os mais frequentes so:

    - Extrapolao (viagem). Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado ideias que no esto no texto, quer por conhecimento prvio do tema quer pela imaginao.

    - Reduo. o oposto da extrapolao. D-se ateno apenas a um aspecto, esquecendo que um texto um conjunto de ideias, o que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema desenvolvido.

    - Contradio. No raro, o texto apresenta ideias contrrias s do candidato, fazendo-o tirar concluses equivocadas e, consequentemente, errando a questo.

    Observao: Muitos pensam que h a tica do escritor e a tica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de concurso o que deve ser levado em considerao o que o autor diz e nada mais.

    Coeso - o emprego de mecanismo de sintaxe que relacionam palavras, oraes, frases e/ou pargrafos entre si. Em outras palavras, a coeso d-se quando, atravs de um pronome relativo, uma conjuno (nexos), ou um pronome oblquo tono, h uma relao correta entre o que se vai dizer e o que j foi dito. So muitos os erros de coeso no dia a dia e, entre eles, est o mau uso do pronome relativo e do pronome oblquo tono. Este depende da regncia do verbo; aquele do seu antecedente. No se pode esquecer tambm de que os pronomes relativos tm cada um valor semntico, por isso a necessidade de adequao ao antecedente. Os pronomes relativos so muito importantes na interpretao de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coeso. Assim sendo, deve-se levar em considerao que existe um pronome relativo adequado a cada circunstncia, a saber:

    Que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente. Mas depende das condies da frase.

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    Qual (neutro) idem ao anterior. Quem (pessoa). Cujo (posse) - antes dele, aparece o possuidor e depois, o objeto possudo. Como (modo). Onde (lugar). Quando (tempo). Quanto (montante).

    Exemplo: Falou tudo quanto queria (correto). Falou tudo que queria (errado - antes do que, deveria aparecer o demonstrativo o).

    Vcios de Linguagem h os vcios de linguagem clssicos (barbarismo, solecismo, cacofonia...); no dia a dia, porm, existem expresses que so mal empregadas, e por fora desse hbito cometem-se erros graves como:

    - Ele correu risco de vida, quando a verdade o risco era de morte. - Senhor professor, eu lhe vi ontem. Neste caso, o pronome oblquo tono correto o. - No bar: Me v um caf. Alm do erro de posio do pronome, h o mau uso.

    Algumas dicas para interpretar um texto:

    - O autor escreveu com uma inteno - tentar descobrir qual , qual a chave. - Leia todo o texto uma primeira vez de forma despreocupada - assim voc ver apenas os aspectos

    superficiais primeiro. - Na segunda leitura observe os detalhes, visualize em sua mente o cenrio, os personagens - Quanto

    mais real for a leitura na sua mente, mais fcil ser para interpretar o texto. - Duvide do(a) autor(a), leia as entrelinhas, perceba o que o(a) autor(a) te diz sem escrever no texto. - No tenha medo de opinar - J vi terem medo de dizer o que achavam e a resposta estaria correta

    se tivessem dito. - Visualize vrios caminhos, vrias opes e interpretaes, s no viaje muito na interpretao. Veja

    os caminhos apontados pela escrita do(a) autor(a). Apegue-se aos caminhos que lhe so mostrados. - Identifique as caractersticas fsicas e psicolgicas dos personagens - Se um determinado

    personagem tem como caracterstica ser mentiroso, por exemplo, o que ele diz no texto poder ser mentira no mesmo? Analisar e identificar os personagens so pontos necessrios para uma boa interpretao de texto.

    - Observe a linguagem, o tempo e espao, a sequncia dos acontecimentos. O feedback conta muito na hora de interpretar.

    - Analise os acontecimentos de acordo com a poca do texto, assim, certas contradies ou estranhamentos vistos por voc podem ser apenas a cultura da poca sendo demonstrada.

    - Leia quantas vezes achar que deve - No entendeu? Leia de novo. Nem todo dia estamos concentrados e a rapidez na leitura vem com o hbito.

    Para ler e entender um texto preciso atingir dois nveis de leitura: Informativa e de reconhecimento;

    Interpretativa: A primeira leitura deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto, extraindo-se

    informaes e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a interpretao grife palavras-chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra ideia-central de cada pargrafo. A ltima fase de interpretao concentra-se nas perguntas e opes de respostas. Marque palavras com no, exceto, respectivamente, etc, pois fazem diferena na escolha adequada. Retorne ao texto mesmo que parea ser perda de tempo. Leia a frase anterior e posterior para ter ideia do sentido global proposto pelo autor.

    Organizao do Texto e Ideia Central

    Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias seletas e organizadas, atravs dos pargrafos que composto pela ideia central, argumentao e/ou desenvolvimento e a concluso do texto. Podemos desenvolver um pargrafo de vrias formas:

    - Declarao inicial;

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    - Definio; - Diviso; - Aluso histrica.

    Serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os diversos enfoques. Convencionalmente, o pargrafo indicado atravs da mudana de linha e um espaamento da margem esquerda. Uma das partes bem distintas do pargrafo o tpico frasal, ou seja, a ideia central extrada de maneira clara e resumida. Atentando-se para a ideia principal de cada pargrafo, asseguramos um caminho que nos levar compreenso do texto.

    Os Tipos de Texto

    Basicamente existem trs tipos de texto:

    - Texto narrativo; - Texto descritivo; - Texto dissertativo.

    Cada um desses textos possui caractersticas prprias de construo, que veremos no tpico seguinte (Tipologia Textual).

    comum encontrarmos queixas de que no sabem interpretar textos. Muitos tm averso a exerccios nessa categoria. Acham montono, sem graa, e outras vezes dizem: cada um tem o seu prprio entendimento do texto ou cada um interpreta a sua maneira. No texto literrio, essa ideia tem algum fundamento, tendo em vista a linguagem conotativa, os smbolos criados, mas em texto no literrio isso um equvoco. Diante desse problema, seguem algumas dicas para voc analisar, compreender e interpretar com mais proficincia.

    - Crie o hbito da leitura e o gosto por ela. Quando ns passamos a gostar de algo, compreendemos melhor seu funcionamento. Nesse caso, as palavras tornam-se familiares a ns mesmos. No se deixe levar pela falsa impresso de que ler no faz diferena. Leia tudo que tenha vontade, com o tempo voc se tornar mais seleto e perceber que algumas leituras foram superficiais e, s vezes, at ridculas. Porm elas foram o ponto de partida e o estmulo para se chegar a uma leitura mais refinada. Existe tempo para cada momento de nossas vidas.

    - Seja curioso, investigue as palavras que circulam em seu meio. - Aumente seu vocabulrio e sua cultura. Alm da leitura, um bom exerccio para ampliar o lxico

    fazer palavras cruzadas. - Faa exerccios de sinnimos e antnimos. - Leia verdadeiramente. - Leia algumas vezes o texto, pois a primeira impresso pode ser falsa. preciso pacincia para ler

    outras vezes. Antes de responder as questes, retorne ao texto para sanar as dvidas. - Ateno ao que se pede. s vezes a interpretao est voltada a uma linha do texto e por isso voc

    deve voltar ao pargrafo para localizar o que se afirma. Outras vezes, a questo est voltada ideia geral do texto.

    - Fique atento a leituras de texto de todas as reas do conhecimento, porque algumas perguntas extrapolam ao que est escrito. Veja um exemplo disso:

    Texto:

    Pode dizer-se que a presena do negro representou sempre fator obrigatrio no desenvolvimento dos latifndios coloniais. Os antigos moradores da terra foram, eventualmente, prestimosos colaboradores da indstria extrativa, na caa, na pesca, em determinados ofcios mecnicos e na criao do gado. Dificilmente se acomodavam, porm, ao trabalho acurado e metdico que exige a explorao dos canaviais. Sua tendncia espontnea era para as atividades menos sedentrias e que pudessem exercer-se sem regularidade forada e sem vigilncia e fiscalizao de estranhos.

    (Srgio Buarque de Holanda, in Razes)

    Infere-se do texto que os antigos moradores da terra eram:

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    (A) os portugueses. (B) os negros. (C) os ndios. (D) tanto os ndios quanto aos negros. (E) a miscigenao de portugueses e ndios.

    (Aquino, Renato. Interpretao de textos, 2 edio. Rio de Janeiro: Impetus, 2003.)

    Resposta C. Apesar do autor no ter citado o nome dos ndios, possvel concluir pelas caractersticas apresentadas no texto. Essa resposta exige conhecimento que extrapola o texto.

    - Tome cuidado com as vrgulas. Veja por exemplo a diferena de sentido nas frases a seguir: (1) S, o Diego da M110 fez o trabalho de artes. (2) S o Diego da M110 fez o trabalho de artes. (3) Os alunos dedicados passaram no vestibular. (4) Os alunos, dedicados, passaram no vestibular. (5) Marco, canta Garom, de Reginaldo Rossi. (6) Marco canta Garom, de Reginaldo Rossi.

    Explicaes: (1) Diego fez sozinho o trabalho de artes. (2) Apenas o Diego fez o trabalho de artes. (3) Havia, nesse caso, alunos dedicados e no dedicados e passaram no vestibular somente os que

    se dedicaram, restringindo o grupo de alunos. (4) Nesse outro caso, todos os alunos eram dedicados. (5) Marco chamado para cantar. (6) Marco pratica a ao de cantar.

    Leia o trecho e analise a afirmao que foi feita sobre ele:

    Sempre fez parte do desafio do magistrio administrar adolescentes com hormnios em ebulio e com o desejo natural da idade de desafiar as regras. A diferena que, hoje, em muitos casos, a relao comercial entre a escola e os pais se sobrepe autoridade do professor.

    Frase para anlise.

    Desafiar as regras uma atitude prpria do adolescente das escolas privadas. E esse o grande desafio do professor moderno.

    - No mencionado que a escola seja da rede privada. - O desafio no apenas do professor atual, mas sempre fez parte do desafio do magistrio. Outra

    questo que o grande desafio no s administrar os desafios s regras, isso parte do desafio, h tambm os hormnios em ebulio que fazem parte do desafio do magistrio.

    - Ateno ao uso da parfrase (reescrita do texto sem prejuzo do sentido original). Veja o exemplo: Frase original: Estava eu hoje cedo, parado em um sinal de trnsito, quando olho na esquina, prximo

    a uma porta, uma loirona a me olhar e eu olhava tambm.

    (Concurso TRE/SC) A frase parafraseada : (A) Parado em um sinal de trnsito hoje cedo, numa esquina, prximo a uma porta, eu olhei para uma

    loira e ela tambm me olhou. (B) Hoje cedo, eu estava parado em um sinal de trnsito, quando ao olhar para uma esquina, meus

    olhos deram com os olhos de uma loirona. (C) Hoje cedo, estava eu parado em um sinal de trnsito quando vi, numa esquina, prxima a uma

    porta, uma louraa a me olhar. (D) Estava eu hoje cedo parado em um sinal de trnsito, quando olho na esquina, prximo a uma porta,

    vejo uma loiraa a me olhar tambm.

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    Resposta C.

    - A parfrase pode ser construda de vrias formas, veja algumas delas: substituio de locues por palavras; uso de sinnimos; mudana de discurso direto por indireto e vice-versa; converter a voz ativa para a passiva; emprego de antonomsias ou perfrases (Rui Barbosa = A guia de Haia; o povo lusitano = portugueses).

    Observe a mudana de posio de palavras ou de expresses nas frases. Exemplos: - Certos alunos no Brasil no convivem com a falta de professores. - Alunos certos no Brasil no convivem com a falta de professores. - Os alunos determinados pediram ajuda aos professores. - Determinados alunos pediram ajuda aos professores.

    Explicaes: - Certos alunos = qualquer aluno. - Alunos certos = aluno correto. - Alunos determinados = alunos decididos. - Determinados alunos = qualquer aluno.

    Questes

    01. (PM/BA - Soldado da Polcia Militar - FCC - PM/BA - Soldado da Polcia Militar) Desde o desenvolvimento da linguagem, h 5.000 anos, a espcie humana passou a ter seu caminho

    evolutivo direcionado pela cultura, cujos impulsos foram superando a limitao da biologia e os aoites da natureza. Foi pela capacidade de pensar e de se comunicar que a humanidade obteve os meios para escapar da fome e da morte prematura.

    O atual empuxo tecnolgico se acelerou de tal forma que alguns felizardos com acesso a todos os recursos disponveis na vanguarda dos avanos mdicos, biolgicos, tecnolgicos e metablicos podem realisticamente pensar em viver em boa sade mental e fsica bem mais do que 100 anos. O prolon-gamento da vida saudvel, em razo de uma velhice sem doenas, j foi s um exerccio de visionrios. Hoje um campo de pesquisa dos mais srios e respeitados.

    Robert Fogel, o principal formulador do conceito da evoluo tecnofsica, e outros estudiosos esto projetando os limites dessa fabulosa caminhada cultural na qualidade de vida dos seres humanos. Quando se dedicam a essa tarefa, os estudiosos esbarram, em primeiro lugar, nas desigualdades de renda e de acesso s inovaes. Fazem parte das conjecturas dos estudiosos a questo ambiental e a necessidade urgente de obteno e popularizao de novas formas de energia menos agressivas ao planeta.

    (Adaptado de Revista Veja, 25 de abril de 2012 p 141)

    ... a espcie humana passou a ter seu caminho evolutivo direcionado pela cultura, cujos impulsos foram superando a limitao da biologia ... (1 pargrafo)

    O sentido do segmento grifado acima est reproduzido com outras palavras, respeitando-se a lgica, a correo e a clareza, em:

    (A) o caminho da evoluo da humanidade, apesar das limitaes biolgicas, passam ainda hoje pelo desenvolvimento c cultural, que as possibilita.

    (B) o desenvolvimento cultural da humanidade permitiu descobrir as causas de problemas que afetavam a sade das pessoas, bem como combater as doenas.

    (C) os problemas de origem fsica, como uma doena, nem sempre foi possvel resolv-la, com base nos problemas resultantes da biologia.

    (D) com o desenvolvimento da cultura humana, descobriu-se as leis da biologia e do ambiente que viviam, permitindo-os evoluir com mais sade.

    (E) as descobertas cientficas da biologia veio permitir que a humanidade fosse se tornando mais capaz de evoluir por um tempo mais longo e com sade.

    02. (IBAM - Prefeitura de Praia Grande/SP - Agente Administrativo - IBAM)

    A historieta a seguir dever ser utilizada para resolver a questo a seguir.

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    Tendo por base a frase Venha aqui, seu vagabundo, analise as afirmaes seguintes.

    I. Temos na orao, um verbo conjugado no modo imperativo. II. O vocbulo seu, no caso, um pronome possessivo. III. A vrgula foi empregada para isolar o vocativo.

    correto o que se afirmou em: (A) I, apenas. (B) I e III, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I, II e III.

    03. (MPE/RS - Tcnico Superior de Informtica - MPE)

    01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

    Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou que o que mais se faz no Facebook, depos de interagir com amigos, olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer. Se voc gostar do perfil, adicionar aquela pessoa, e estar formado um vnculo. No final, todo mundo vira amigo de todo mundo. Mas, no bem assim. As redes sociais tm o poder de transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam o mesmo ambiente social, mas no so suas amigas) em elos fracos - uma forma superficial de amizade. Pois , por mais que existam excees ______ qualquer regra, todos os estudos mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet so mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem fora dela.

    Isso no inteiramente ruim. Os seus amigos do peito geralmente so parecidos com voc: pertencem ao mesmo mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, no. Eles transitam por grupos diferentes do seu e, por isso, podem lhe apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes - gerando uma renovao de ideias que faz bem a todos os relacionamentos, inclusive s amizades antigas. O problema que a maioria das redes na Internet simtrica: se voc quiser ter acesso s informaes de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com ela, obrigado a pedir a amizade dela. Como meio grosseiro dizer no ________ algum que voc conhece, todo mundo acaba adicionando todo mundo. E isso vai levando ________ banalizao do conceito de amizade.

    verdade. Mas, com a chegada de stios como O Twitter, ficou diferente. Esse tipo de stio uma rede social completamente assimtrica. E isso faz

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    com que as redes de seguidos de algum possam se comunicar de maneira muito mais fluida. Ao estudar a sua prpria rede no Twitter, o socilogo Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu que seus Amigos tinham comeado a se comunicar entre si Independentemente da mediao dele. Pessoas cujo nico ponto em comum era o prprio Christakis acabaram ficando amigas. No Twitter, eu posso me interessar pelo que voc tem a dizer e comear a te seguir. Ns no nos conhecemos. Mas voc saber quando eu o retuitar ou mencionar seu nome no stio, e poder falar comigo. Meus seguidores tambm podem se interessar pelos seus tutes e comear a seguir voc. Em suma, ns continuaremos no nos conhecendo, mas as pessoas que esto _______ nossa volta podem virar amigas entre si.

    Considere as seguintes afirmaes. I. Atravs do uso do advrbio sim (L. 15), o autor valida a assertiva de que as redes sociais tendem a

    transformar elos latentes (L. 09) em elos fracos (L. 11). II. Por meio da frase Isso no inteiramente ruim (L. 17), o autor manifesta-se favorvel afirmao

    de que as melhores amizades so aquelas que descobrimos fora das redes sociais. III. Mediante o emprego do segmento verdade (L. 33), o autor reitera sua opinio a respeito do carter

    trivial que a concepo de amizade vem assumindo nas redes sociais. Quais esto corretas, de acordo com o texto? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.

    04. (TJ/SP - Escrevente Tcnico Judicirio - Prova verso 1 - VUNESP) Leia a tira.

    No segundo quadrinho, a fala da personagem revela: (A) hesitao. (B) indiferena. (C) contradio. (D) raiva. (E) exaltao.

    05. (TJ/SP - Escrevente Tcnico Judicirio - Prova verso 1 - VUNESP) A frase inicial do texto Geralmente, numa situao um posto de trabalho. expressa as condies

    gerais em uma situao de altos ndices de desemprego. De acordo com essas condies, (A) o perfil de profissional pretendido nem sempre bem definido nas empresas. (B) o desemprego aumenta em decorrncia da qualificao profissional. (C) a formao de um profissional , via de regra, questo secundria na sua contratao. (D) a qualificao profissional um caminho para se conseguir um emprego. (E) o profissional deve ter qualificao inferior em relao s pretenses da empresa.

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    06. (TJ/SP - Escrevente Tcnico Judicirio - Prova verso 1 - VUNESP)

    Saber trabalhar

    Geralmente, numa situao de altos ndices de desemprego, o trabalhador sente a necessidade de aprimorar a sua formao para obter um posto de trabalho. As empresas buscam os mais qualificados em cada categoria e excluem os que no se encaixam no perfil pretendido. Nos ltimos anos, essa no tem sido a lgica vigente no Brasil. Segundo a pesquisa de emprego urbano feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos) e pela Fundao Seade (Sistema Estadual De Anlise de Dados), os nveis de pessoas sem emprego esto apresentado quedas sucessivas de 2005 para c. O desemprego em nove regies metropolitanas medido pela pesquisa era de 17,9% em 2005 e fechou em 11,9% em 2010.

    A pesquisa do Dieese u medidor importante, pois sua metodologia leva em conta no s o desemprego aberto (quem est procurando trabalho), como tambm o oculto (pessoas que desistiram de procurar ou esto em postos precrios). Uma das consequncias dessa situao apontada dentro da prpria pesquisa, um aumento mdio no nvel de rendimentos dos trabalhadores ocupados.

    A outra a dificuldade que as empresas tm de encontrar mo de obra qualificada para os postos de trabalho que esto abertos. A Fundao Dom Cabral apresentou, em maro, a pesquisa Carncia de Profissionais no Brasil. A anlise levou em conta profissionais dos nveis tcnico, operacional, estratgico e ttico. Do total, 92% das empresas admitiram ter dificuldade para contratar a mo de obra de que necessitam.

    (Lngua Portuguesa, outubro de 2011, Adaptado)

    De acordo com o texto Saber Trabalhar responda:

    O texto revela que, no Brasil, (A) as empresas esto mais rigorosas para selecionar os mais qualificados. (B) os ndices de desemprego tm se elevado continuamente nas regies metropolitanas. (C) os trabalhadores tm investido mais do que o necessrio em sua formao profissional. (D) as pesquisas sobre emprego so pouco consistentes e confiveis. (E) as empresas convivem com a carncia de mo de obra qualificada.

    07. (TJ/SP - Escrevente Tcnico Judicirio - Prova verso 1 - VUNESP)

    De acordo com o texto Saber Trabalhar responda:

    No contexto em que se insere o perodo A outra a dificuldade que as empresas tm de encontrar mo de obra qualificada para os postos de trabalho que esto abertos. (3. pargrafo), entende-se que a expresso

    A outra refere-se a: (A) consequncias. (B) lgica. (C) pesquisa. (D) situao. (E) metodologia.

    08. (Prefeitura de Praia Grande/SP - Agente Administrativo - IBAM)

    O velho Chico Buarque

    O velho sem conselhos De joelhos De partida

    Carrega com certeza Todo o peso Da sua vida

    A vida inteira, diz que se guardou Do carnaval, da brincadeira

    Que ele no brincou.

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    Me diga agora O que que eu digo ao povo

    O que que tem de novo Pra deixar

    Nada S a caminhada

    Longa, pra nenhum lugar.

    Nos versos da msica O velho, Chico Buarque de Holanda retrata a vida de um homem que: (A) temia envelhecer. (B) no soube aproveitar a vida. (C) foi apaixonado pelo carnaval. (D) tinha orgulho de suas conquistas.

    09. (PM/BA - Soldado da Polcia Militar - FCC) Minha jangada vai sair pro mar Vou trabalhar, meu bem querer Se Deus quiser quando eu voltar do mar Um peixe bom eu vou trazer Meus companheiros tambm vo voltar E a Deus do cu vamos agradecer

    Os versos acima, de uma msica de Dorival Caymmi, abordam predominantemente, (A) o trabalho dos pescadores, na busca de sua sobrevivncia cotidiana. (B) o respeito s condies ambientais como garantia da preservao dos recursos da natureza. (C) a competio acirrada entre os pescadores pelos melhores pontos de pesca, (D) a religiosidade dos pescadores, em que se misturam elementos de origem africana. (E) a explorao a que esto sujeitos os trabalhadores que dependem do mar para sobreviver.

    10. (IFC - Analista de Tecnologia da Informao - IFC)

    Texto 1 O futuro do trabalho [...] Seja como for, preciso resolver os problemas do desemprego e da informalidade, que so mais

    acentuados nos pases subdesenvolvidos. O caminho estabelecer polticas de gerao de empregos, alm de garantir melhores condies para os trabalhadores em ocupaes precrias.

    Uma das sadas a reduo da jornada de trabalho: as pessoas trabalham menos para que se abram vagas para as desempregadas. Outra estratgia instituir programas de formao profissional e de microcrdito para trabalhadores autnomos, desempregados e pequenas empresas.

    Vestibular-Editora Abril, nov., 2002.

    Texto 2 Conflito de geraes

    - Marquinhos... Marquinhos! [...] O filho tentou disfarar, l no fundo do quintal, tirando meleca do nariz, mas, quando a me chamava assim, era melhor ir. Na cozinha, a me ao lado da geladeira aberta, com uma garrafa e um saco plstico vazios nas mos: - Voc comeu toda a salsicha?! - No bem verdade...Eu s usei as salsichas pra acabar com a mostarda. J estava at verde! Algum ia acabar comendo estragado e ficar doente. [...] - Voc tem resposta pra tudo, no?! - No bem verdade... a senhora que sempre pergunta. - Voc uma gentinha! S uma gentinha, t entendendo? O filho ficou olhando praquela me batendo com o p no cho, bem nervosa mesmo, mais alta que a geladeira e tudo. A foi obrigado a dizer:

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  • 11

    - ... isso eu acho que verdade. BONASSI, Fernando. In: Folha de So Paulo, 23 nov. 2002.

    Ao analisar a linguagem e o discurso do texto 1 e do texto 2 respectivamente. Assinale a alternativa CORRETA:

    (A) no texto 1, a linguagem mais informal, seguindo norma padro; utiliza-se ainda o discurso indireto, envolvendo questes sociais. No texto 2, percebe-se uma linguagem menos informal e um discurso direto entre me e filho.

    (B) no texto 1, a linguagem coloquial, seguindo norma padro; tem-se ainda o discurso indireto e direto, aplicado interpretao do cotidiano. J no texto 2, a linguagem formal, ocorre ainda um dilogo entre me e filho.

    (C) no texto 1, a linguagem mais formal, obedecendo norma culta; consegue-se ainda identificar um discurso indireto, aplicado interpretativamente s questes sociais. J no texto 2, alm de uma linguagem informal, em que se notam repeties e frases, ocorre, tambm, um dilogo entre me e filho.

    (D) no texto 1, a linguagem formal, segundo norma culta; tem-se ainda a presena do discurso direto que revela questes da comunidade. J no texto 2, a linguagem culta e o discurso direto.

    (E) no texto 1, a linguagem menos formal, no entanto, segue norma culta; identifica-se ainda o discurso indireto, aplicado anlise do cotidiano. No texto 2, a linguagem coloquial e o discurso direto entre me e filho.

    Respostas

    01. Resposta: B Caminho evolutivo direcionado pela cultura em outras palavras: o desenvolvimento cultural

    02. Resposta: B SEU = pode ser empregado como pronome possessivo ou como substantivo masculino (forma

    utilizada na questo acima).

    Observe abaixo um pouco do que diz o dicionrio Houaiss sobre a utilizao da palavra SEU como substantivo masculino:

    seu s.m. senhor ('tratamento respeitoso') (Empregado diante de nome de pessoa, ou de outro axinimo, ou de palavra designativa de profisso.) (seu Joaquim) (seu doutor) (seu delegado). GRAM fem.: sinh, sinha, si, sia, senhora. Uso empregado tambm com valor afetivo (seu bobinho!), de forma jocosa (p. ex.: aposto que seu Tiago saber a resposta - sendo Tiago uma pessoa jovem) ou disfmica (seu pateta!), ou, ainda, com matiz interjetivo (tinha coragem de me enfrentar nada, seu!); nestes casos, h no Brasil os fem. sua, senha, sinha.

    Fonte: Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa / Antnio Houaiss e Mauro de Salles Villar

    03. Resposta: D No nmero II o autor deixa claro no texto, que as amizades formadas por redes sociais no so

    duradoras nem possuem uma base slida. J no nmero III, a concepo de amizade proveniente de redes sociais, esbarra em um ponto importante, aquela amizade de curtir fotos, comentrios mas nada profundo com sentimento.

    04. Resposta: B Sim, o sentimento expresso no segundo quadrinho de indiferena, visto que ele no se importa se a

    grama do vizinho mais verde ou no.

    05. Resposta: D Aqueles que no possuem um diferencial, uma maior qualificao, esto sujeitos a ficar sem emprego,

    pois no possuem nada novo para oferecer s empresas.

    06. Resposta: E Segundo o texto, cada vez menos os candidatos a uma vaga de emprego se especializam ou possuem

    um diferencial na hora de concorrer uma vaga de emprego.

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    07. Resposta: A Consequncia, pois antes j estava enumerado outros motivos para a falta de qualificao dos

    candidatos a um emprego.

    08. Resposta: B No trecho que ele diz: A vida inteira, diz que se guardou do carnaval, da brincadeira que ele no

    brincou... com este trecho possvel chegar a resposta B ele no aproveitou a vida.

    09. Resposta: A Somente o o trecho: Se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou traxer, j

    possvel perceber qual a ideia de sua cano. A volta dos pescadores depois de um perodo no mar.

    10. Resposta: C No texto 1 o autor descreve um problema e apresenta a soluo, em uma linguagem mais culta. J no

    texto 2 temos um dilogo entre me e filho, o que no necessrio o uso da linguagem formal.

    Texto Literrio: expressa a opinio pessoal do autor que tambm transmitida atravs de figuras, impregnado de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... (Conotao, Figurado, Subjetivo, Pessoal).

    Texto No-Literrio: preocupa-se em transmitir uma mensagem da forma mais clara e objetiva possvel. Ex: uma notcia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotao, Claro, Objetivo, Informativo).

    O objetivo do texto passar conhecimento para o leitor. Nesse tipo textual, no se faz a defesa de uma ideia. Exemplos de textos explicativos so os encontrados em manuais de instrues.

    Informativo: Tem a funo de informar o leitor a respeito de algo ou algum, o texto de uma notcia de jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas. Uso da funo referencial da linguagem, 3 pessoa do singular.

    Descrio: Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produo o adjetivo, pela sua funo caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se at descrever sensaes ou sentimentos. No h relao de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. fazer uma descrio minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se refere.

    Narrao: Modalidade em que se conta um fato, fictcio ou no, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. H uma relao de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante o passado. Estamos cercados de narraes desde as que nos contam histrias infantis, como o Chapeuzinho Vermelho ou a Bela Adormecida, at as picantes piadas do cotidiano.

    Dissertao: Dissertar o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentao cientfica, o relatrio, o texto didtico, o artigo enciclopdico. Em princpio, o texto

    2. Gneros Textuais.

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    dissertativo no est preocupado com a persuaso e sim, com a transmisso de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo.

    Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrrio, tm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, alm de explicar, tambm persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo. Exemplos: texto de opinio, carta do leitor, carta de solicitao, deliberao informal, discurso de defesa e acusao (advocacia), resenha crtica, artigos de opinio ou assinados, editorial.

    Exposio: Apresenta informaes sobre assuntos, expe ideias, explica, avalia, reflete. Estrutura bsica; ideia principal; desenvolvimento; concluso. Uso de linguagem clara. Ex: ensaios, artigos cientficos, exposies,etc.

    Injuno: Indica como realizar uma ao. tambm utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos so, na sua maioria, empregados no modo imperativo. H tambm o uso do futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e manuais.

    Dilogo: uma conversao estabelecida entre duas ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e retomadas.

    Entrevista: uma conversao entre duas ou mais pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas so feitas pelo entrevistador para obter informao do entrevistado. Os reprteres entrevistam as suas fontes para obter declaraes que validem as informaes apuradas ou que relatem situaes vividas por personagens. Antes de ir para a rua, o reprter recebe uma pauta que contm informaes que o ajudaro a construir a matria. Alm das informaes, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o reprter costuma reunir o mximo de informaes disponveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que ser entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevistado a fornecer informaes novas e relevantes. O reprter tambm deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas, fato que costuma acontecer principalmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando o reprter vai entrevistar o presidente de uma instituio pblica sobre um problema que est afetando o fornecimento de servios populao, ele tende a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que considera positivo na instituio. importante que o reprter seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiana do entrevistado, mas no tentar domin-lo, nem ser por ele dominado. Caso contrrio, acabar induzindo as respostas ou perdendo a objetividade.

    As entrevistas apresentam com frequncia alguns sinais de pontuao como o ponto de interrogao, o travesso, aspas, reticncias, parntese e s vezes colchetes, que servem para dar ao leitor maior informaes que ele supostamente desconhece. O ttulo da entrevista um enunciado curto que chama a ateno do leitor e resume a ideia bsica da entrevista. Pode estar todo em letra maiscula e recebe maior destaque da pgina. Na maioria dos casos, apenas as preposies ficam com a letra minscula. O subttulo introduz o objetivo principal da entrevista e no vem seguido de ponto final. um pequeno texto e vem em destaque tambm. A fotografia do entrevistado aparece normalmente na primeira pgina da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo entrevistado e que aparecem em destaque nas outras pginas da entrevista so chamadas de "olho".

    Crnica: Assim como a fbula e o enigma, a crnica um gnero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos o deus grego do tempo), narra fatos histricos em ordem cronolgica, ou trata de temas da atualidade. Mas no s isso. Lendo esse texto, voc conhecer as principais caractersticas da crnica, tcnicas de sua redao e ter exemplos.

    Uma das mais famosas crnicas da histria da literatura luso-brasileira corresponde definio de crnica como "narrao histrica". a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha, na qual so narrados ao rei portugus, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crnica como gnero que comenta assuntos do dia a dia. Para comear, uma crnica sobre a crnica, de Machado de Assis:

    O nascimento da crnica

    H um meio certo de comear a crnica por uma trivialidade. dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do leno, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a

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    sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenmenos atmosfricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrpolis, e la glace est rompue est comeada a crnica. (...)

    (Machado de Assis. "Crnicas Escolhidas". So Paulo: Editora tica, 1994)

    Publicada em jornal ou revista destina-se leitura diria ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. A crnica se diferencia no jornal por no buscar exatido da informao. Diferente da notcia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crnica os analisa, d-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situao comum, vista por outro ngulo, singular.

    O leitor pressuposto da crnica urbano e, em princpio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupao com esse leitor que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista d maior ateno aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.

    Jornalismo e literatura: assim que podemos dizer que a crnica uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observao atenta da realidade cotidiana e do outro, a construo da linguagem, o jogo verbal. Algumas crnicas so editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.

    Questes

    1. (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAO PBLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF TCNICO EM ELETRNICA IADES/2014). Quanto tipologia, o texto lido , predominantemente,

    (A) descritivo, pois est voltado apenas para a representao das caractersticas dos trens do metr e dos carros de So Paulo.

    (B) narrativo, pois desenvolve uma sequncia de acontecimentos durante alguns perodos do dia em So Paulo.

    (C) dissertativo, pois apresenta e analisa dados sobre a velocidade dos trens do metr de So Paulo e a dos carros que circulam pela metrpole.

    (D) narrativo, pois relata episdios sobre os horrios de pico de So Paulo. (E) dissertativo, pois apresenta e discute uma opinio sobre a qualidade do servio prestado pelo metr de

    So Paulo.

    Resposta: C O texto apresenta caractersticas da descrio, mas, como destacado no enunciado: predomina o

    dissertativo, analisando dados que do ao autor base para argumentao.

    Uma das propriedades que distinguem um texto de um amontoado de frases a relao existente entre os elementos que os constituem. A coeso textual a ligao, a relao, a conexo entre palavras, expresses ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos gramaticais, que servem para estabelecer vnculos entre os componentes do texto. Observe:

    O iraquiano leu sua declarao num bloquinho comum de anotaes, que segurava na mo.

    3. Fatores de Textualidade.

    Coeso

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    Nesse perodo, o pronome relativo que estabelece conexo entre as duas oraes. O iraquiano leu sua declarao num bloquinho comum de anotaes e segurava na mo, retomando na segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome relativo um elemento coesivo, e a conexo entre as duas oraes, um fenmeno de coeso. Leia o texto que segue:

    Arroz-doce da infncia

    Ingredientes 1 litro de leite desnatado 150g de arroz cru lavado 1 pitada de sal 4 colheres (sopa) de acar 1 colher (sobremesa) de canela em p

    Preparo Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de sal e mexa sem parar at cozinhar o

    arroz. Adicione o acar e deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um recipiente, polvilhe a canela. Sirva.

    Cozinha Clssica Baixo Colesterol, n4. So Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42.

    Toda receita culinria tem duas partes: lista dos ingredientes e modo de preparar. As informaes apresentadas na primeira so retomadas na segunda. Nesta, os nomes mencionados pela primeira vez na lista de ingredientes vm precedidos de artigo definido, o qual exerce, entre outras funes, a de indicar que o termo determinado por ele se refere ao mesmo ser a que uma palavra idntica j fizera meno.

    No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adiciona o acar, o artigo citado na primeira parte. Se dissesse apenas adicione acar, deveria adicionar, pois se trataria de outro acar, diverso daquele citado no rol dos ingredientes.

    H dois tipos principais de mecanismos de coeso: retomada ou antecipao de palavras, expresses ou frases e encadeamento de segmentos.

    Retomada ou Antecipao por meio de uma palavra gramatical - (pronome, verbos ou advrbios)

    No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje no h total igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos do que aqueles em cargos equivalentes.

    Nesse perodo, o pronome demonstrativo estas retoma o termo mulheres, enquanto aqueles recupera a palavra homens.

    Os termos que servem para retomar outros so denominados anafricos; os que servem para anunciar, para antecipar outros so chamados catafricos. No exemplo a seguir, desta antecipa abandonar a faculdade no ltimo ano:

    J viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no ltimo ano?

    So anafricos ou catafricos os pronomes demonstrativos, os pronomes relativos, certos advrbios ou locues adverbiais (nesse momento, ento, l), o verbo fazer, o artigo definido, os pronomes pessoais de 3 pessoa (ele, o, a, os, as, lhe, lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos:

    Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na ctedra de Sociologia na Universidade de So Paulo.

    O pronome relativo quem retoma o substantivo mestre. As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como um descrente do amor e da amizade.

    O pronome pessoal elas recupera o substantivo pessoas; o pronome pessoal o retoma o nome Machado de Assis.

    Os dois homens caminhavam pela calada, ambos trajando roupa escura.

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    O numeral ambos retoma a expresso os dois homens.

    Fui ao cinema domingo e, chegando l, fiquei desanimado com a fila.

    O advrbio l recupera a expresso ao cinema.

    O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos funcionrios do palcio, e o far para demonstrar seu apreo aos servidores.

    A forma verbal far retoma a perfrase verbal vai inaugurar e seu complemento.

    - Em princpio, o termo a que o anafrico se refere deve estar presente no texto, seno a coeso fica comprometida, como neste exemplo:

    Andr meu grande amigo. Comeou a namor-la h vrios meses.

    A rigor, no se pode dizer que o pronome la seja um anafrico, pois no est retomando nenhuma das palavras citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica totalmente prejudicado: no h possibilidade de se depreender o sentido desse pronome.

    Pode ocorrer, no entanto, que o anafrico no se refira a nenhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, mas que possa ser inferida por certos pressupostos tpicos da cultura em que se inscreve o texto. o caso de um exemplo como este:

    O casamento teria sido s 20 horas. O noivo j estava desesperado, porque eram 21 horas e ela no havia comparecido.

    Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome ela um anafrico que s pode estar-se referindo palavra noiva. Num casamento, estando presente o noivo, o desespero s pode ser pelo atraso da noiva (representada por ela no exemplo citado).

    - O artigo indefinido serve geralmente para introduzir informaes novas ao texto. Quando elas forem retomadas, devero ser precedidas do artigo definido, pois este que tem a funo de indicar que o termo por ele determinado idntico, em termos de valor referencial, a um termo j mencionado.

    O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala de espetculos. Curiosamente, a carteira tinha muito dinheiro dentro, mas nem um documento sequer.

    - Quando, em dado contexto, o anafrico pode referir-se a dois termos distintos, h uma ruptura de coeso, porque ocorre uma ambiguidade insolvel. preciso que o texto seja escrito de tal forma que o leitor possa determinar exatamente qual a palavra retomada pelo anafrico.

    Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por causa da sua arrogncia.

    O anafrico sua pode estar-se referindo tanto palavra ator quanto a diretor.

    Andr brigou com o ex-namorado de uma amiga, que trabalha na mesma firma.

    No se sabe se o anafrico que est se referindo ao termo amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafrico que por o qual ou a qual, essa ambiguidade seria desfeita.

    Retomada por palavra lexical - (substantivo, adjetivo ou verbo)

    Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetio, quer por uma substituio por sinnimo, hipernimo, hipnimo ou antonomsia.

    Sinnimo o nome que se d a uma palavra que possui o mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado: injria e afronta, alegre e contente.

    Hipernimo um termo que mantm com outro uma relao do tipo contm/est contido;

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    Hipnimo uma palavra que mantm com outra uma relao do tipo est contido/contm. O significado do termo rosa est contido no de flor e o de flor contm o de rosa, pois toda rosa uma flor, mas nem toda flor uma rosa. Flor , pois, hipernimo de rosa, e esta palavra hipnimo daquela.

    Antonomsia a substituio de um nome prprio por um nome comum ou de um comum por um prprio. Ela ocorre, principalmente, quando uma pessoa clebre designada por uma caracterstica notria ou quando o nome prprio de uma personagem famosa usado para designar outras pessoas que possuam a mesma caracterstica que a distingue:

    O rei do futebol (=Pel) s podia ser um brasileiro.

    O heri de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa recente minissrie de tev.

    Referncia ao fato notrio de Giuseppe Garibaldi haver lutado pela liberdade na Europa e na Amrica.

    Ele um Hrcules. (=um homem muito forte).

    Referncia fora fsica que caracteriza o heri grego Hrcules.

    Um presidente da Repblica tem uma agenda de trabalho extremamente carregada. Deve receber ministros, embaixadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo o momento tomar graves decises que afetam a vida de muitas pessoas; necessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e no mundo. Um presidente deve comear a trabalhar ao raiar do dia e terminar sua jornada altas horas da noite.

    A repetio do termo presidente estabelece a coeso entre o ltimo perodo e o que vem antes dele.

    Observava as estrelas, os planetas, os satlites. Os astros sempre o atraram.

    Os dois perodos esto relacionados pelo hipernimo astros, que recupera os hipnimos estrelas, planetas, satlites.

    Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do homem era regido por humores (fluidos orgnicos) que percorriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade em nosso corpo. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma (secreo pulmonar), a bile amarela e a bile negra. E eram tambm estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos fundamentais: ao Ar (seco), gua (mido), ao Fogo (quente) e Terra (frio), respectivamente.

    Ziraldo. In: Revista Vozes, n3, abril de 1970, p.18.

    Nesse texto, a ligao entre o segundo e o primeiro perodos se faz pela repetio da palavra humores; entre o terceiro e o segundo se faz pela utilizao do sinnimo fluidos.

    preciso manejar com muito cuidado a repetio de palavras, pois, se ela no for usada para criar um efeito de sentido de intensificao, constituir uma falha de estilo. No trecho transcrito a seguir, por exemplo, fica claro o uso da repetio da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes, vicejam, viciem), com a evidente inteno de ridicularizar a condio secundria que um provvel flamenguista atribui ao Vasco e ao seu Vice-presidente:

    Recebi por esses dias um e-mail com uma srie de piadas sobre o pouco simptico Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.

    Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: vice-presidente do clube, vice-campeo carioca e bi-vice-campeo mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Carioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taa Guanabara. So vicissitudes que vicejam. Espero que no viciem.

    Jos Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000, p. 4-7. A elipse o apagamento de um segmento de frase que pode ser facilmente recuperado pelo contexto.

    Tambm constitui um expediente de coeso, pois o apagamento de um termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio deixado pelo termo apagado (=elptico) exige, necessariamente, que se faa correlao com outros termos presentes no contexto, ou referidos na situao em que se desenrola a fala.

    Vejamos estes versos do poema Crculo vicioso, de Machado de Assis:

    (...)

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    Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

    Msera! Tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imorta, que toda a luz resume!

    Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, v.III, p. 151.

    Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes daquilo que disse a lua, isto , antes das aspas, fica subentendido, omitido por ser facilmente presumvel.

    Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que, no exemplo abaixo, o sujeito meu pai que vem elidido (ou apagado) antes de sentiu e parou:

    Meu pai comeou a andar novamente, sentiu a pontada no peito e parou.

    Pode ocorrer tambm elipse por antecipao. No exemplo que segue, aquela promoo complemento tanto de querer quanto de desejar, no entanto aparece apenas depois do segundo verbo:

    Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. Afinal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoo.

    Quando se faz essa elipse por antecipao com verbos que tm regncia diferente, a coeso rompida. Por exemplo, no se deve dizer Conheo e gosto deste livro, pois o verbo conhecer rege complemento no introduzido por preposio, e a elipse retoma o complemento inteiro, portanto teramos uma preposio indevida: Conheo (deste livro) e gosto deste livro. Em Implico e dispenso sem d os estranhos palpiteiros, diferentemente, no complemento em elipse faltaria a preposio com exigida pelo verbo implicar.

    Nesses casos, para assegurar a coeso, o recomendvel colocar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando sua regncia, e retom-lo aps o segundo por um anafrico, acrescentando a preposio devida (Conheo este livro e gosto dele) ou eliminando a indevida (Implico com estranhos palpiteiros e os dispenso sem d).

    Coeso por Conexo

    H na lngua uma srie de palavras ou locues que so responsveis pela concatenao ou relao entre segmentos do texto. Esses elementos denominam-se conectores ou operadores discursivos. Por exemplo: visto que, at, ora, no entanto, contudo, ou seja.

    Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto: estabelecem entre elas relaes semnticas de diversos tipos, como contrariedade, causa, consequncia, condio, concluso, etc. Essas relaes exercem funo argumentativa no texto, por isso os operadores discursivos no podem ser usados indiscriminadamente.

    Na frase O time apresentou um bom futebol, mas no alcanou a vitria, por exemplo, o conector mas est adequadamente usado, pois ele liga dois segmentos com orientao argumentativa contrria. Se fosse utilizado, nesse caso, o conector portanto, o resultado seria um paradoxo semntico, pois esse operador discursivo liga dois segmentos com a mesma orientao argumentativa, sendo o segmento introduzido por ele a concluso do anterior.

    - Gradao: h operadores que marcam uma gradao numa srie de argumentos orientados para uma mesma concluso. Dividem-se eles, em dois subtipos: os que indicam o argumento mais forte de uma srie: at, mesmo, at mesmo, inclusive, e os que subentendem uma escala com argumentos mais fortes: ao menos, pelo menos, no mnimo, no mximo, quando muito.

    Ele um bom conferencista: tem uma voz bonita, bem articulado, conhece bem o assunto de que fala e at sedutor.

    Toda a srie de qualidades est orientada no sentido de comprovar que ele bom conferencista; dentro dessa srie, ser sedutor considerado o argumento mais forte.

    Ele ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Chegar a ser pelo menos diretor da empresa.

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    Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; por outro lado, subentende que h argumentos mais fortes para comprovar que ele tem as qualidades requeridas dos que vo longe (por exemplo, ser presidente da empresa) e que se est usando o menos forte; ao menos, pelo menos e no mnimo ligam argumentos de valor positivo.

    Ele no bom aluno. No mximo vai terminar o segundo grau.

    No mximo introduz um argumento orientado no mesmo sentido de ter muita dificuldade de aprender; supe que h uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma faculdade) e que se est usando o argumento menos forte da escala no sentido de provar a afirmao anterior; no mximo e quando muito estabelecem ligao entre argumentos de valor depreciativo.

    - Conjuno Argumentativa: h operadores que assinalam uma conjuno argumentativa, ou seja, ligam um conjunto de argumentos orientados em favor de uma dada concluso: e, tambm, ainda, nem, no s... mas tambm, tanto... como, alm de, a par de.

    Se algum pode tomar essa deciso voc. Voc o diretor da escola, muito respeitado pelos funcionrios e tambm muito querido pelos alunos.

    Arrolam-se trs argumentos em favor da tese que o interlocutor quem pode tomar uma dada deciso. O ltimo deles introduzido por e tambm, que indica um argumento final na mesma direo argumentativa dos precedentes.

    Esses operadores introduzem novos argumentos; no significam, em hiptese nenhuma, a repetio do que j foi dito. Ou seja, s podem ser ligados com conectores de conjuno segmentos que representam uma progresso discursiva. possvel dizer Disfarou as lgrimas que o assaltaram e continuou seu discurso, porque o segundo segmento indica um desenvolvimento da exposio. No teria cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois segmentos como Disfarou as lgrimas que o assaltaram e escondeu o choro que tomou conta dele.

    - Disjuno Argumentativa: h tambm operadores que indicam uma disjuno argumentativa, ou seja, fazem uma conexo entre segmentos que levam a concluses opostas, que tm orientao argumentativa diferente: ou, ou ento, quer... quer, seja... seja, caso contrrio, ao contrrio.

    No agredi esse imbecil. Ao contrrio, ajudei a separar a briga, para que ele no apanhasse.

    O argumento introduzido por ao contrrio diametralmente oposto quele de que o falante teria agredido algum.

    - Concluso: existem operadores que marcam uma concluso em relao ao que foi dito em dois ou mais enunciados anteriores (geralmente, uma das afirmaes de que decorre a concluso fica implcita, por manifestar uma voz geral, uma verdade universalmente aceita): logo, portanto, por conseguinte, pois (o pois conclusivo quando no encabea a orao).

    Essa guerra uma guerra de conquista, pois visa ao controle dos fluxos mundiais de petrleo. Por conseguinte, no moralmente defensvel.

    Por conseguinte introduz uma concluso em relao afirmao exposta no primeiro perodo.

    - Comparao: outros importantes operadores discursivos so os que estabelecem uma comparao de igualdade, superioridade ou inferioridade entre dois elementos, com vistas a uma concluso contrria ou favorvel a certa ideia: tanto... quanto, to... como, mais... (do) que.

    Os problemas de fuga de presos sero tanto mais graves quanto maior for a corrupo entre os agentes penitencirios.

    O comparativo de igualdade tem no texto uma funo argumentativa: mostrar que o problema da fuga de presos cresce medida que aumenta a corrupo entre os agentes penitencirios; por isso, os segmentos podem at ser permutveis do ponto de vista sinttico, mas no o so do ponto de vista argumentativo, pois no h igualdade argumentativa proposta, Tanto maior ser a corrupo entre os agentes penitencirios quanto mais grave for o problema da fuga de presos.

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  • 20

    Muitas vezes a permutao dos segmentos leva a concluses opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte dilogo entre o diretor de um clube esportivo e o tcnico de futebol:

    __Precisamos promover atletas das divises de base para reforar nosso time. __Qualquer atleta das divises de base to bom quanto os do time principal. Nesse caso, o argumento do tcnico a favor da promoo, pois ele declara que qualquer atleta das

    divises de base tem, pelo menos, o mesmo nvel dos do time principal, o que significa que estes no primam exatamente pela excelncia em relao aos outros.

    Suponhamos, agora, que o tcnico tivesse invertido os segmentos na sua fala:

    __Qualquer atleta do time principal to bom quanto os das divises de base.

    Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da promoo, pois ele estaria declarando que os atletas do time principal so to bons quanto os das divises de base.

    - Explicao ou Justificativa: h operadores que introduzem uma explicao ou uma justificativa em relao ao que foi dito anteriormente: porque, j que, que, pois.

    J que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autorizao da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.

    J que inicia um argumento que d uma justificativa para a tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o custo da guerra contra o Iraque.

    - Contrajuno: os operadores discursivos que assinalam uma relao de contrajuno, isto , que ligam enunciados com orientao argumentativa contrria, so as conjunes adversativas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, porm) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de que, conquanto, ainda que, posto que, se bem que).

    Qual a diferena entre as adversativas e as concessivas, se tanto umas como outras ligam enunciados com orientao argumentativa contrria?

    Nas adversativas, prevalece a orientao do segmento introduzido pela conjuno.

    O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta mais decidido a vencer.

    Nesse caso, a primeira orao conduz a uma concluso negativa sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto a comeada pela conjuno mas leva a uma concluso positiva. Essa segunda orientao a mais forte.

    Compare-se, por exemplo, Ela simptica, mas no bonita com Ela no bonita, mas simptica. No primeiro caso, o que se quer dizer que a simpatia suplantada pela falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza perde relevncia diante da simpatia. Quando se usam as conjunes adversativas, introduz-se um argumento com vistas determinada concluso, para, em seguida, apresentar um argumento decisivo para uma concluso contrria.

    Com as conjunes concessivas, a orientao argumentativa que predomina a do segmento no introduzido pela conjuno.

    Embora haja conexo entre saber escrever e saber gramtica, trata-se de capacidades diferentes.

    A orao iniciada por embora apresenta uma orientao argumentativa no sentido de que saber escrever e saber gramtica so duas coisas interligadas; a orao principal conduz direo argumentativa contrria.

    Quando se utilizam conjunes concessivas, a estratgia argumentativa a de introduzir no texto um argumento que, embora tido como verdadeiro, ser anulado por outro mais forte com orientao contrria.

    A diferena entre as adversativas e as concessivas, portanto, de estratgia argumentativa. Compare os seguintes perodos:

    Por mais que o exrcito tivesse planejado a operao (argumento mais fraco), a realidade mostrou-se mais complexa (argumento mais forte).

    O exrcito planejou minuciosamente a operao (argumento mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais complexa (argumento mais forte).

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  • 21

    - Argumento Decisivo: h operadores discursivos que introduzem um argumento decisivo para derrubar a argumentao contrria, mas apresentando-o como se fosse um acrscimo, como se fosse apenas algo mais numa srie argumentativa: alm do mais, alm de tudo, alm disso, ademais.

    Ele est num perodo muito bom da vida: comeou a namorar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empresa, recebeu um prmio que ambicionava havia muito tempo e, alm disso, ganhou uma bolada na loteria.

    O operador discursivo introduz o que se considera a prova mais forte de que Ele est num perodo muito bom da vida; no entanto, essa prova apresentada como se fosse apenas mais uma.

    - Generalizao ou Amplificao: existem operadores que assinalam uma generalizao ou uma amplificao do que foi dito antes: de fato, realmente, como alis, tambm, verdade que.

    O problema da erradicao da pobreza passa pela gerao de empregos. De fato, s o crescimento econmico leva ao aumento de renda da populao.

    O conector introduz uma amplificao do que foi dito antes.

    Ele um tcnico retranqueiro, como alis o so todos os que atualmente militam no nosso futebol.

    O conector introduz uma generalizao ao que foi afirmado: no ele, mas todos os tcnicos do nosso futebol so retranqueiros.

    - Especificao ou Exemplificao: tambm h operadores que marcam uma especificao ou uma exemplificao do que foi afirmado anteriormente: por exemplo, como.

    A violncia no um fenmeno que est disseminado apenas entre as camadas mais pobres da populao. Por exemplo, crescente o nmero de jovens da classe mdia que esto envolvidos em toda sorte de delitos, dos menos aos mais graves.

    Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica, exemplifica a afirmao de que a violncia no um fenmeno adstrito aos membros das camadas mais pobres da populao.

    - Retificao ou Correo: h ainda os que indicam uma retificao, uma correo do que foi afirmado antes: ou melhor, de fato, pelo contrrio, ao contrrio, isto , quer dizer, ou seja, em outras palavras . Exemplo:

    Vou-me casar neste final de semana. Ou melhor, vou passar a viver junto com minha namorada.

    O conector inicia um segmento que retifica o que foi dito antes. Esses operadores servem tambm para marcar um esclarecimento, um desenvolvimento, uma redefinio

    do contedo enunciado anteriormente. Exemplo:

    A ltima tentativa de proibir a propaganda de cigarros nas corridas de Frmula 1 no vingou. De fato, os interesses dos fabricantes mais uma vez prevaleceram sobre os da sade.

    O conector introduz um esclarecimento sobre o que foi dito antes. Servem ainda para assinalar uma atenuao ou um reforo do contedo de verdade de um enunciado.

    Exemplo:

    Quando a atual oposio estava no comando do pas, no fez o que exige hoje que o governo faa. Ao contrrio, suas polticas iam na direo contrria do que prega atualmente.

    O conector introduz um argumento que refora o que foi dito antes.

    - Explicao: h operadores que desencadeiam uma explicao, uma confirmao, uma ilustrao do que foi afirmado antes: assim, desse modo, dessa maneira.

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  • 22

    O exrcito inimigo no desejava a paz. Assim, enquanto se processavam as negociaes, atacou de surpresa.

    O operador introduz uma confirmao do que foi afirmado antes.

    Coeso por Justaposio

    a coeso que se estabelece com base na sequncia dos enunciados, marcada ou no com sequenciadores. Examinemos os principais sequenciadores.

    - Sequenciadores Temporais: so os indicadores de anterioridade, concomitncia ou posterioridade: dois meses depois, uma semana antes, um pouco mais tarde, etc. (so utilizados predominantemente nas narraes).

    Uma semana antes de ser internado gravemente doente, ele esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos para o futuro.

    - Sequenciadores Espaciais: so os indicadores de posio relativa no espao: esquerda, direita, junto de, etc. (so usados principalmente nas descries).

    A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, representando o amor e a castidade, sustentam uma cpula oval de forma ligeira, donde se desdobram at o pavimento bambolins de cassa finssima. (...) Do outro lado, h uma lareira, no de fogo, que o dispensa nosso ameno clima fluminense, ainda na maior fora do inverno.

    Jos de Alencar. Senhora. So Paulo, FTD, 1992, p. 77.

    - Sequenciadores de Ordem: so os que assinalam a ordem dos assuntos numa exposio: primeiramente, em segunda, a seguir, finalmente, etc.

    Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente, das agruras por que passam as populaes civis; em seguida, discorrerei sobre a vida dos soldados na frente de batalha; finalmente, exporei suas consequncias para a economia mundial e, portanto, para a vida cotidiana de todos os habitantes do planeta.

    - Sequenciadores para Introduo: so os que, na conversao principalmente, servem para introduzir um tema ou mudar de assunto: a propsito, por falar nisso, mas voltando ao assunto, fazendo um parntese, etc.

    Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas pessoas. A propsito, era um homem que sabia agradar s mulheres.

    - Operadores discursivos no explicitados: se o texto for construdo sem marcadores de sequenciao, o leitor dever inferir, a partir da ordem dos enunciados, os operadores discursivos no explicitados na superfcie textual. Nesses casos, os lugares dos diferentes conectores estaro indicados, na escrita, pelos sinais de pontuao: ponto-final, vrgula, ponto-e-vrgula, dois-pontos.

    A reforma poltica indispensvel. Sem a existncia da fidelidade partidria, cada parlamentar vota segundo seus interesses e no de acordo com um programa partidrio. Assim, no h bases governamentais slidas.

    Esse texto contm trs perodos. O segundo indica a causa de a reforma poltica ser indispensvel. Portanto o ponto-final do primeiro perodo est no lugar de um porque.

    A lngua tem um grande nmero de conectores e sequenciadores. Apresentamos os principais e explicamos sua funo. preciso ficar atento aos fenmenos de coeso. Mostramos que o uso inadequado dos conectores e a utilizao inapropriada dos anafricos ou catafricos geram rupturas na coeso, o que leva o texto a no ter sentido ou, pelo menos, a no ter o sentido desejado. Outra falha comum no que tange a coeso a falta de partes indispensveis da orao ou do perodo. Analisemos este exemplo:

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  • 23

    As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha de combate fome que foi lanada pelo governo federal.

    O perodo compe-se de: - As empresas - que anunciaram (orao subordinada adjetiva restritiva da primeira orao) - que apoiariam a campanha de combate fome (orao subordinada substantiva objetiva direta da

    segunda orao) - que foi lanada pelo governo federal (orao subordinada adjetiva restritiva da terceira orao).

    Observe-se que falta o predicado da primeira orao. Quem escreveu o perodo comeou a encadear oraes subordinadas e esqueceu-se de terminar a principal.

    Quebras de coeso desse tipo so mais comuns em perodos longos. No entanto, mesmo quando se elaboram perodos curtos preciso cuidar para que sejam sintaticamente completos e para que suas partes estejam bem conectadas entre si.

    Para que um conjunto de frases constitua um texto, no basta que elas estejam coesas: se no tiverem unidade de sentido, mesmo que aparentemente organizadas, elas no passaro de um amontoado injustificado. Exemplo:

    Vivo h muitos anos em So Paulo. A cidade tem excelentes restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Tambm o Rio de Janeiro tem favelas.

    Todas as frases so coesas. O hipernimo cidade retoma o substantivo So Paulo, estabelecendo uma relao entre o segundo e o primeiro perodos. O pronome ela recupera a palavra cidade, vinculando o terceiro ao segundo perodo. O operador tambm realiza uma conjuno argumentativa, relacionando o quarto perodo ao terceiro. No entanto, esse conjunto no um texto, pois no apresenta unidade de sentido, isto , no tem coerncia. A coeso, portanto, condio necessria, mas no suficiente, para produzir um texto.

    Infncia

    O camisolo O jarro

    O passarinho O oceano

    A vista na casa que a gente sentava no sof

    Adolescncia

    Aquele amor Nem me fale

    Maturidade

    O Sr. e a Sra. Amadeu Participam a V. Exa. O feliz nascimento

    De sua filha Gilberta

    Velhice

    O netinho jogou os culos Na latrina

    Coerncia

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  • 24

    Oswaldo de Andrade. Poesias reunidas. 4 Ed. Rio de Janeiro

    Civilizao Brasileira, 1974, p. 160-161.

    Talvez o que mais chame a ateno nesse poema, ao menos primeira vista, seja a ausncia de elementos de coeso, quer retomando o que foi dito antes, quer encadeando segmentos textuais. No entanto, percebemos nele um sentido unitrio, sobretudo se soubermos que o seu ttulo As quatro gares, ou seja, as quatro estaes.

    Com essa informao, podemos imaginar que se trata de flashes de cada uma das quatro grandes fases da vida: a infncia, a adolescncia, a maturidade e a velhice. A primeira caracterizada pelas descobertas (o oceano), por aes (o jarro, que certamente a criana quebrara; o passarinho que ela caara) e por experincias marcantes (a visita que se percebia na sala apropriada e o camisolo que se usava para dormir); a segunda caracterizada por amores perdidos, de que no se quer mais falar; a terceira, pela formalidade e pela responsabilidade indicadas pela participao formal do nascimento da filha; a ltima, pela condescendncia para com a traquinagem do neto (a quem cabe a vez de assumir a ao). A primeira parte uma sucesso de palavras; a segunda, uma frase em que falta um nexo sinttico; a terceira, a participao do nascimento de uma filha; e a quarta, uma orao completa, porm aparentemente desgarrada das demais.

    Como se explica que sejamos capazes de entender esse poema em seus mltiplos sentidos, apesar da falta de marcadores de coeso entre as partes?

    A explicao est no fato de que ele tem uma qualidade indispensvel para a existncia de um texto: a coerncia.

    Que a unidade de sentido resultante da relao que se estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreender a outra, produzindo um sentido global, luz do qual cada uma das partes ganha sentido. No poema acima, os subttulos Infncia, Adolescncia, Maturidade e Velhice garantem essa unidade. Colocar a participao formal do nascimento da filha, por exemplo, sob o ttulo Maturidade d a conotao da responsabilidade habitualmente associada ao indivduo adulto e cria um sentido unitrio.

    Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que um conjunto de enunciados pode formar um todo coerente mesmo sem a presena de elementos coesivos, isto , mesmo sem a presena explcita de marcadores de relao entre as diferentes unidades lingusticas. Em outros termos, a coeso funciona apenas como um mecanismo auxiliar na produo da unidade de sentido, pois esta depende, na verdade, das relaes subjacentes ao texto, da no-contradio entre as partes, da continuidade semntica, em sntese, da coerncia.

    A coerncia um fator de interpretabilidade do texto, pois possibilita que todas as suas partes sejam englobadas num nico significado que explique cada uma delas. Quando esse sentido no pode ser alcanado por faltar relao de sentido entre as partes, lemos um texto incoerente, como este:

    A todo ser humano foi dado o direito de opo entre a mediocridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de uma vida voltada para o aprimoramento intelectual.

    A adolescncia uma fase to difcil que todos enfrentam. De repente vejo que no sou mais uma criancinha dependente do papai. Chegou a hora de me decidir! Tenho que escolher uma profisso para me realizar e ser independente financeiramente.

    No pas em que vivemos, que predomina o capitalismo, o mais rico sempre quem vence!

    Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. Vieira (orgs). A magia da mudana. Campinas, Unicamp, 1987, p. 53.

    Nesses pargrafos, vemos trs temas (direito de opo; adolescncia e escolha profissional; relaes sociais sob o capitalismo) que mantm relaes muito tnues entre si. Esse fato, prejudicando a continuidade semntica entre as partes, impede a apreenso do todo e, portanto, configura um texto incoerente.

    H no texto, vrios tipos de relao entre as partes que o compem, e, por isso, costuma-se falar em vrios nveis de coerncia.

    Coerncia Narrativa

    A coerncia narrativa consiste no respeito s implicaes lgicas entre as partes do relato. Por exemplo, para que um sujeito realize uma ao, preciso que ele tenha competncia para tanto, ou seja, que saiba e possa efetu-la. Constitui, ento, incoerncia narrativa o seguinte exemplo: o narrador conta

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    que foi a uma festa onde todos fumavam e, por isso, a espessa fumaa impedia que se visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma mudana dessa situao, ele diz que se encostou a uma coluna e passou a observar as pessoas, que eram ruivas, loiras, morenas. Se o narrador diz que no podia enxergar nada, incoerente dizer que via as pessoas com tanta nitidez. Em outros termos, se nega a competncia para a realizao de um desempenho qualquer, esse desempenho no pode ocorrer. Isso por respeito s leis da coerncia narrativa. Observe outro exemplo:

    Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paran Clube, entrevistado por um reprter da Rdio Cidade. O Paran tinha tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, alguns dias antes. O reprter queria saber o que tinha acontecido. Edinho no teve dvida sobre os motivos:

    __ Como a gente j esperava, fomos surpreendidos pelo ataque do Guarani.

    Ernni Buchman. In: Folha de Londrina.

    A surpresa implica o inesperado. No se pode ser surpreendido com o que j se esperava que acontecesse.

    Coerncia Argumentativa

    A coerncia argumentativa diz respeito s relaes de implicao ou de adequao entre premissas e concluses ou entre afirmaes e consequncias. No possvel algum dizer que a favor da pena de morte porque contra tirar a vida de algum. Da mesma forma, incoerente defender o respeito lei e Constituio Brasileira e ser favorvel execuo de assaltantes no interior de prises.

    Muitas vezes, as concluses no so adequadas s premissas. No h coerncia, por exemplo, num raciocnio como este:

    H muitos servidores pblicos no Brasil que so verdadeiros marajs. O candidato a governador funcionrio pblico. Portanto o candidato um maraj.

    Segundo uma lei da lgica formal, no se pode concluir nada com certeza baseado em duas premissas particulares. Dizer que muitos servidores pblicos so marajs no permite concluir que qualquer um seja.

    A falta de relao entre o que se diz e o que foi dito anteriormente tambm constitui incoerncia. o que se v neste dilogo:

    __ Vereador, o senhor a favor ou contra o pagamento de pedgio para circular no centro da cidade? __ preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes cidades. A degradao urbana atinge a todos

    ns e, por conseguinte, necessrio reabilitar as reas que contam com abundante oferta de servios pblicos.

    Coerncia Figurativa

    A coerncia figurativa refere-se compatibilidade das figuras que manifestam determinado tema. Para que o leitor possa perceber o tema que est sendo veiculado por uma srie de figuras encadeadas, estas precisam ser compatveis umas com as outras. Seria estranho (para dizer o mnimo) que algum, ao descrever um jantar oferecido no palcio do Itamarati a um governador estrangeiro, depois de falar de baixela de prata, porcelana finssima, flores, candelabros, toalhas de renda, inclusse no percurso figurativo guardanapos de papel.

    Coerncia Temporal

    Por coerncia temporal entende-se aquela que concerne sucesso dos eventos e compatibilidade dos enunciados do ponto de vista de sua localizao no tempo. No se poderia, por exemplo, dizer: O assassino foi executado na cmara de gs e, depois, condenado morte.

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    Coerncia Espacial

    A coerncia espacial diz respeito compatibilidade dos enunciados do ponto de vista da localizao no espao. Seria incoerente, por exemplo, o seguinte texto: O filme A Marvada Carne mostra a mudana sofrida por um homem que vivia l no interior e encanta-se com a agitao e a diversidade da vida na capital, pois aqui j no suportava mais a mesmice e o tdio. Dizendo l no interior, o enunciador d a entender que seu pronunciamento est sendo feito de algum lugar distante do interior; portanto ele no poderia usar o advrbio aqui para localizar a mesmice e o tdio que caracterizavam a vida interiorana da personagem. Em sntese, no coerente usar l e aqui para indicar o mesmo lugar.

    Coerncia do Nvel de Linguagem Utilizado

    A coerncia do nvel de linguagem utilizado aquela que concerne compatibilidade do lxico e das estruturas morfossintticas com a variante escolhida numa dada situao de comunicao. Ocorre incoerncia relacionada ao nvel de linguagem quando, por exemplo, o enunciador utiliza um termo chulo ou pertencente linguagem informal num texto caracterizado pela norma culta formal. Tanto sabemos que isso no permitido que, quando o fazemos, acrescentamos uma ressalva: com perdo da palavra, se me permitem dizer. Observe um exemplo de incoerncia nesse nvel:

    Tendo recebido a notificao para pagamento da chamada taxa do lixo, ouso dirigir-me a V. Ex, senhora prefeita, para expor-lhe minha inconformidade diante dessa medida, porque o IPTU foi aumentado, no governo anterior, de 0,6% para 1% do valor venal do imvel exatamente para cobrir as despesas da municipalidade com os gastos de coleta e destinao dos resduos slidos produzidos pelos moradores de nossa cidade. Francamente, achei uma sacanagem esta armao da Prefeitura: jogar mais um gasto nas costas da gente.

    Como se v, o lxico usado no ltimo perodo do texto destoa completamente do utilizado no perodo anterior.

    Ningum h de negar a incoerncia de um texto como este: Saltou para a rua, abriu a janela do 5 andar e deixou um bilhete no parapeito explicando a razo de seu suicdio, em que h evidente violao da lei sucessivamente dos eventos. Entretanto talvez nem todo mundo concorde que seja incoerente incluir guardanapos de papel no jantar do Itamarati descrito no item sobre coerncia figurativa, algum poderia objetivar que preconceito consider-los inadequados. Ento, justifica-se perguntar: o que, afinal, determina se um texto ou no coerente?

    A natureza da coerncia est relacionada a dois conceitos bsicos de verdade: adequao realidade e conformidade lgica entre os enunciados.

    Vimos que temos diferentes nveis de coerncia: narrativa, argumentativa, figurativa, etc. Em cada nvel, temos duas espcies diversas de coerncia:

    - extratextual: aquela que diz respeito adequao entre o texto e uma realidade exterior a ele. - intratextual: aquela que diz respeito compatibilidade, adequao, no-contradio entre os

    enunciados do texto.

    A exterioridade a que o contedo do texto deve ajustar-se pode ser: - o conhecimento do mundo: o conjunto de dados referentes ao mundo fsico, cultura de um povo,

    ao contedo das cincias, etc. que constitui o repertrio com que se produzem e se entendem textos. O perodo O homem olhou atravs das paredes e viu onde os bandidos escondiam a vtima que havia sido sequestrada incoerente, pois nosso conhecimento do mundo diz que homens no veem atravs das paredes. Temos, ento, uma incoerncia figurativa extratextual.

    - os mecanismos semnticos e gramaticais da lngua: o conjunto dos conhecimentos sobre o cdigo lingustico necessrio codificao de mensagens decodificveis por outros usurios da mesma lngua. O texto seguinte, por exemplo, est absolutamente sem sentido por inobservncia de mecanismos desse tipo:

    Conscientizar alunos pr-slidos ao ingresso de uma carreira universitria informaes crticas a respeito da realidade profissional a ser optada. Deve ser ciado novos mtodos criativos nos ensinos de primeiro e segundo grau: estimulando o aluno a formao crtica de suas ideias as quais, sero a praticidade cotidiana. Aptides pessoais sero associadas a testes vocacionais srios de maneira discursiva a analisar conceituaes fundamentais.

    Apud: J. A. Durigan et alii. Op. cit., p. 58.

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    Fatores de Coerncia

    - O contexto: para uma dada unidade lingustica, funciona como contexto a unidade lingustica maior que ela: a slaba contexto para o fonema; a palavra, para a slaba; a orao, para a palavra; o perodo, para a orao; o texto, para o perodo, e assim por diante.

    Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Napoli, cruzar a Ipiranga com a Avenida So Joo, o Parmera, o Curntia, todo mundo estar usando cinto de segurana.

    primeira vista, parece no haver nenhuma coerncia na enumerao desses elementos. Quando ficamos sabendo, no entanto, que eles fazem parte de um texto intitulado 100 motivos para gostar de So Paulo, o que aparentemente era catico torna-se coerente:

    100 motivos para gostar de So Paulo

    1. Um chopps 2. E dois pastel (...) 5. O polpettone do Jardim de Napoli (...) 30. Cruzar a Ipiranga com a av. So Joo (...) 43. O Parmera (...) 45. O Curntia (...) 59. Todo mundo estar usando cinto de segurana (...)

    O texto apresenta os traos cu