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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II PROFESSOR: MARCELO DE VASCONCELOS BORGES
HIDRÁULICA DOS SOLOS Parte 1 – Fluxo Unidimensional
Índice
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................2 2. ÁGUA NO SOLO ..........................................................................................................2
2.1 Água Estática..........................................................................................................3 2.2 Lei de Darcy ...........................................................................................................4 2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade....................................................6
2.3.1 Permeâmetro de carga constante ....................................................................6 2.3.2 Permeâmetro de carga variável.......................................................................7 2.3.3 Ensaios de Campo ..........................................................................................9 2.3.4 Métodos Indiretos...........................................................................................9 2.3.5 Empíricos......................................................................................................10
2.4 Valores Típicos do coeficiente de permeabilidade do solo (k) ............................10 2.5 Fatores que influenciam no coeficiente de permeabilidade do solo.....................11
2.5.1 Grau de saturação .........................................................................................11 2.5.2 Estrutura e Anisotropia.................................................................................11 2.5.3 Influência da temperatura .............................................................................13
3. VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL......................................13 4. CARGAS HIDRÁULICAS..........................................................................................14 5. FORÇA DE PERCOLAÇÃO.......................................................................................16 6. TENSÕES NO SOLO SUBMETIDO À PERCOLAÇÃO...........................................17 7. GRADIENTE HIDRÁULICO CRÍTICO ....................................................................19 8. EXERCÍCIOS...............................................................................................................20 9. REDUÇÃO DO GRADIENTE HIDRÁULICO CRÍTICO .........................................25 10. REFERÊNCIAS .......................................................................................................27
2
1. INTRODUÇÃO
A água que ocupa os vazios dos solos pode se encontra em diferentes
fases. Quando os solos encontram-se saturados, a água submetida a uma
diferença de potencial se desloca em seu interior. Este deslocamento é
comumente chamado de “percolação da água no solo”. O estudo da percolação da
água tem grande importância em vários problemas práticos, tais como:
• Cálculo da vazão, por exemplo, como a quantidade de água que se infiltra numa
escavação.
• Análise de recalques, uma vez que estes podem estar associados a redução dos
vazios pela expulsão da água.
• Estudo da estabilidade de taludes, como é o caso na determinação das pressões
neutras decorrentes das variações do lençol freático.
• Dimensionamento de drenos.
• Dimensionamento de filtros em barragens.
• Lagoas de decantação e dimensionamento de aterros sanitários, onde interessa
saber a permeabilidade da camada que irá reter o produto.
• Outras.
2. ÁGUA NO SOLO
Grande parte da abordagem será feita tomando-se como referências os
permeâmetros, que são equipamentos destinados a determinar o coeficiente de
permeabilidade de um solo, conforme será visto mais adiante. No caso em
questão, entretanto, estes equipamentos serão tomados como um modelo
reduzido para simular situações reais.
3
2.1 Água Estática
Considere a Figura 1, onde se tem um permeâmetro (um tubo
comunicante) onde um dos lados é posto uma amostra de areia com comprimento
L. A amostra é retida por uma peneira na parte inferior. Neste caso, os níveis
d’água em cada tubo encontram-se na mesma altura. Como se observa não há
transbordamento.
Figura 1. Permeâmetro sem fluxo (PINTO, 2000)
Considere agora que a água no tubo do lado esquerdo do permeâmetro
da Figura 1 seja elevado a uma altura h, acima da condição inicial, e mantida
nesta condição por uma fonte externa, conforme a Figura 2. Neste caso, a água
tenderá a buscar o equilíbrio, provocando o transbordamento no tubo do lado
direito. Neste caso a água encontra-se agora em movimento, comumente referido
de fluxo. A velocidade com que a água percola dentro dos vazios do solo depende
de uma propriedade denominada “permeabilidade”, que, por sua vez dependerá
do tipo de solo. O primeiro a estudar o fluxo da água no solo foi Darcy (1850), o
que gerou uma Lei com o seu nome.
4
2.2 Lei de Darcy
Experimentalmente, Darcy verificou como os diversos fatores
geométricos, indicados na Figura 2, influenciam a vazão da água, chegando-se à
seguinte expressão:
(1)
Onde:
Q = vazão;
A = área do permeâmetro;
k = coeficiente de permeabilidade;
h = carga dissipada na percolação;
L = distância na qual a carga é dissipada.
Figura 2. Água percolando em um permeâmetro (PINTO, 2000)
5
K = é uma constante para cada solo, denominada “coeficiente de
permeabilidade” (cm/s, m/s).
A Equação 1 pode ser reescrita na forma:
(2)
Onde:
Defini-se “i “como gradiente hidráulico do solo.
A vazão dividida pela área indica a velocidade com que a água sai do
solo, ou seja, a velocidade com que a água percola. Esta velocidade é definida
como “velocidade de percolação”, dada por:
(3)
Da Equação 3, conclui-se que o coeficiente de permeabilidade indica a
velocidade de percolação da água quando o gradiente for unitário. Seu valor é
muito baixo, sendo normalmente expresso como uma potência de 10. Exemplo:
K = 2,5 x 10-3 cm/s para areia
Na prática, o expoente é mais importante do que o multiplicador, razão
pela qual é comum referir a permeabilidade de um solo apenas à potência 10 -X.
Para se ter uma idéia da importância da permeabilidade de um solo em
problemas práticos, considere dois solos:
Solo A (areia) com coeficiente de permeabilidade de 10-4m/s e o solo B
(argila) com valor de K = 10-9m/s.
6
Admitindo-se que ambos os solos sejam submetidos a um gradiente
hidráulico unitário, o tempo necessário para uma partícula de água atravessar uma
camada de 1,0m de espessura será:
Solo A : 2,8 horas
Solo B : 32 anos
Por esta razão, quando se pretende construir uma represa utiliza-se solo
argiloso para formar o núcleo impermeável e quando se pretende construir um
dreno utiliza-se a areia.
2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade
Para determinação do coeficiente de permeabilidade no laboratório
podem ser empregados dois tipos de equipamentos:
a) permeâmetro de carga constante e,
b) permeâmetro de carga variável.
2.3.1 Permeâmetro de carga constante
Os permeâmetro de carga constante são, normalmente, empregados
para determinação da permeabilidade de solos de elevada permeabilidade, tal
como os solos arenosos. Trata-se do emprego direto da lei de Darci, conforme
esquematizado na Figura 2.
Basicamente consiste em manter uma carga hidráulica constante (h),
até que se atinja uma condição de fluxo permanente, que pode ser verificado por
meio da vazão. Na prática, determina-se a vazão da água que sai do permeâmetro
por meio de uma bureta graduada. Isso é feito marcando-se o tempo e medindo-
se o volume de água num dado intervalo de tempo, obtendo-se assim a vazão.
Normalmente este procedimento é repetido, pelo menos, três vezes, até se obter
três medidas iguais. Nesta condição é dito que se atingiu a condição de fluxo
7
permanente (transiente). A Determinação do coeficiente de permeabilidade é feita
aplicando a Equação 2.
(4)
2.3.2 Permeâmetro de carga variável
O permeâmetro de carga variável é empregado quando se pretende
determinar solos de baixa permeabilidade, tais como os solos argilosos. Na Figura
3 encontra-se ilustrada uma representação esquemática deste tipo de
permeâmetro.
Baseia-se no princípio de que a vazão que atravessa a amostra, com
uma determinada área A, é a mesma que atravessa um tubo de alimentação com
área a.
Figura 3. Permeâmetro de carga variável (PINTO, 2000).
8
Da Figura 3 tem-se:
(5)
(6)
(7)
(8)
Integrando (8)
(9)
(10)
9
2.3.3 Ensaios de Campo
A permeabilidade pode também ser determinada por meio de ensaios
de campo, dentre os quais os mais empregados são:
a) Ensaio de Infiltração (sondagens, cavas) – este tipo de ensaio
consiste basicamente em medir a velocidade de infiltração de água, mantido o
nível d’água constante por meio de uma fonte externa. Conhecido o volume de
água adicionado para manter o nível constante, pode-se, por meio de uma
interpretação adequada da lei de Darcy determinar o coeficiente de
permeabilidade.
b) Bombeamento – este tipo de ensaio consiste em medir o volume de
água bombeado em uma escavação ou poço, necessário para rebaixar um
determinado nível d’água. Conhecido o volume de água e o tempo requerido,
pode-se determinar a permeabilidade do solo de forma semelhante ao ensaio de
infiltração.
c) Ensaio de rebaixamento em furo de sondagem – consiste em, durante
uma sondagem, preencher o furo com água e, em seguida, determinar o tempo
necessário para que ocorra uma determinada variação do nível d’água. O
coeficiente de permeabilidade pode ser determinado por meio de uma
interpretação adequada da Lei de Darcy.
2.3.4 Métodos Indiretos
a) Ensaios edométricos (laboratório) – pela teoria do adensamento, a
velocidade com que uma argila recalca é proporcional a saída de água dos vazios.
Logo depende da permeabilidade do solo. Por meio da interpretação da teoria do
adensamento é possível determinar o coeficiente de permeabilidade do solo num
determinado nível de tensão.
b) Piezocone ou CPTU (Campo) – o piezocone é um tipo de ensaio de
campo que permite determinar a resistência de ponta e atrito lateral oferecida pelo
solo à penetração de um cone com dimensões padronizadas. Este cone possui
uma pedra porosa conectada a um sistema de medição que permite a
10
determinação da pressão neutra ou poro-pressão da água no solo. Após cravar o
cone, o tempo necessário para a completa dissipação da pressão neutra depende
da permeabilidade do solo. Logo, por meio de uma interpretação adequada do
ensaio é possível determinar o coeficiente de permeabilidade de um solo.
2.3.5 Empíricos
Os coeficientes de permeabilidade são tanto menores quanto menores
os vazios nos solos e, consequentemente, quanto menores as partículas.
Uma boa indicação disto é a correlação estatística obtida por Hazen,
para areias entre o coeficiente de permeabilidade e o diâmetro efetivo do solo
(Defet = D10), onde D10 é o diâmetro que, na curva granulométrica, corresponde à
porcentagem que passa igual a 10 %.
(11)
Nesta expressão, o diâmetro é expresso em cm, embora
costumeiramente ele seja referido em milímetros, e o coeficiente de
permeabilidade em cm/s.
2.4 Valores Típicos do coeficiente de permeabilidad e do solo (k)
A Tabela 1 apresenta típicos valores do coeficiente de permeabilidade
para diferentes solos. Estes valores podem ser vistos apenas como indicadores,
podendo não corresponder a alguns solos com as mesmas características
granulométricas.
Por exemplo, é comum alguns solos argilosos tropicais apresentar uma
estrutura em forma de grumos (agregado de partículas). Nesta situação, solos
argilosos tendem a se comportar como solos arenosos, apresentando elevado
coeficiente de permeabilidade.
11
Tabela 1. Valores típicos do coeficiente de permeabilidade (PINTO, 2000)
2.5 Fatores que influenciam no coeficiente de perme abilidade do solo
2.5.1 Grau de saturação
O solo quando se encontra no estado não saturado, os meniscos
capilares formados na interface água-ar geram uma pressão negativa na água dos
poros que, por sua vez, aumenta a tensão efetiva, aumentando assim a
aproximação entre os grãos. Por conseqüência, os vazios tendem a reduzir,
dificultando a passagem da água através dos poros. Logo, a permeabilidade tende
a reduzir com a redução do grau de saturação.
2.5.2 Estrutura e Anisotropia
Além dos vazios do solo, a permeabilidade depende também da
disposição relativa dos grãos. Conforme comentado no item 2.4, em alguns solos
argilosos tropicais as partículas granulares se dispõem de forma aleatória,
formando grumos (agregados de partículas). Nestas condições, os solos podem
apresentar comportamento semelhante às areias, influenciando nas suas
propriedades, dentre as quais a permeabilidade. Um típico exemplo são as argilas
porosas de Brasília, cujos vazios, em alguns casos, chegam a serem percebidos a
12
olho nu. Estas argilas apresentam coeficientes de permeabilidade da ordem de
10-4 m/s (típicos de areias), em detrimento de sua granulometria
predominantemente argilosa.
Este fato é também marcante em solos compactados. Geralmente,
quando compactado no ramo seco da curva de compactação, a disposição
aleatória das partículas conduz a uma estrutura floculada, permitindo maior
passagem da água.
Quando compactado com uma umidade maior que a ótima, o solo
apresenta uma estrutura com as partículas orientadas ou dispersas, facilitando a
passagem da água em uma direção preferencial, ainda que apresente o mesmo
índice de vazios.
A Tabela 2 apresenta um exemplo para uma amostra de solo argiloso
utilizado na barragem de Ilha Solteira.
Tabela 2. Variação do coeficiente de permeabilidade da Barragem de Ilha Solteira
(PINTO, 2000)
No estado natural, solos sedimentares apresentam uma estrutura com
as partículas orientadas na direção horizontal (paralelas ao plano horizontal), em
especial os solos argilosos. Nesta condição o solo tende a apresentar maior
coeficiente de permeabilidade na direção horizontal do que na vertical. Tal efeito é
de grande importância em problemas de percolação bidimensional.
13
2.5.3 Influência da temperatura
A temperatura influenciará no coeficiente de viscosidade (µ) da água
(permeante), tornando menos viscosa à medida que aumenta a temperatura (ver
Equação 12). Logo, quanto menos viscoso for o permeante, maior será a
permeabilidade do solo a este permeante. Em outras palavras, a permeabilidade
aumenta com o aumento da temperatura. Portanto, ao se determinar o coeficiente
de permeabilidade no laboratório, este deve ser corrigido para uma temperatura
de referência (normalmente 20oC), conforme a expressão abaixo.
(12)
3. VELOCIDADE DE DESCARGA E VELOCIDADE REAL
A velocidade calculada pela Lei de Darcy (Equação 2) é normalmente
referida como a velocidade de descarga. No entanto, a água percola através dos
vazios do solo, numa área menor do que a área total. Uma vez que a vazão será
sempre a mesma em qualquer ponto, é razoável afirmar que a velocidade da água
no interior do solo, referida como velocidade real, será sempre superior a
velocidade de descarga. O esquema da Figura 4 ilustra esta diferença. Uma vez
que a vazão será sempre a mesma em qualquer seção, tem-se:
(13)
A relação entre a área de vazios e a área total é igual a relação entre os
volumes correspondentes, que é, por definição, a porosidade do solo (n). Logo, a
velocidade real ou de fluxo pode ser calculada pela expressão:
(14)
14
Figura 4. Esquema referente as velocidades de percolação e de fluxo
(PINTO, 2000)
4. CARGAS HIDRÁULICAS
No estudo de fluxo da água, é conveniente expressar as componentes
de energia pelas correspondentes cargas hidráulicas em termos de altura de
coluna d’água. Como demonstrado por Bernoulli, a carga total ao longo de
qualquer linha de fluxo de fluido incompressível mantém-se constante.
A carga hidráulica total (ht) é igual a soma de três componentes:
1. Carga altimétrica (ha) – é simplesmente a diferença de cota entre o
ponto considerado e qualquer cota definida como referência.
2. Carga piezométrica (hp) – é a pressão neutra no ponto
considerado expressa em termos de altura de coluna d’água.
3. Carga Cinética – é a parcela decorrente da velocidade da água no
interior das partículas. É considerada, normalmente, desprezível para fins práticos,
pois a velocidade da água é muito baixa.
15
Logo a expressão da carga total pode ser resumida por:
(15)
Considera-se a figura 5. Na face superior da areia, a carga altimétrica é
igual a L (tomando-se a cota da face inferior como referência) e a carga
piezométrica é z . A carga total é L + z. Na face inferior, a carga altimétrica é nula
e a carga piezométrica é L+z. As cargas totais são iguais. Não há fluxo, ainda que
a carga altimétrica na face superior seja maior ou que a carga piezométrica na
face inferior seja maior.
Portanto, não haverá fluxo quando a carga total for igual em qualquer
ponto.
Figura 5. Permeâmetro sem fluxo (PINTO, 2000)
Quando há diferença de cargas totais, há fluxo, e ele seguirá o sentido
do ponto de maior carga total para o de menor carga total. Considere-se a figura 6.
Na face superior, a carga altimétrica é L, a piezométrica é z e a total é L + z . Na
face inferior, a altimétrica é nula e a total é igual à piezométrica, valendo L+z+h. O
fluxo se dará de baixo para cima, ainda que a carga altimétrica na face superior
seja maior.
16
Figura 6. Água percolando em um permeâmetro (PINTO, 2000)
5. FORÇA DE PERCOLAÇÃO
A diferença de carga total (h) gerará um fluxo no meio poroso. Esta
carga por sua vez, se dissipa através do meio devido ao atrito viscoso com as
partículas. Como é uma energia que se dissipa por atrito, ela provoca um esforço
ou arraste na direção do movimento. Esta força atua nas partículas, tendendo a
carregá-las. Só não o faz porque o peso das partículas a ela se contrapõe, ou
porque a areia é contida por outras forças externas.
A força dissipada é:
(16)
Onde A é a área do corpo de prova.
Num fluxo uniforme, esta força se dissipa uniformemente em todo o
volume de solo.
Logo a força por unidade de volume é:
(17)
17
Sendo j denominado força de percolação. Observa-se que ela é igual ao
produto do gradiente hidráulico i, pelo peso específico da água.
A força de percolação é uma grandeza semelhante ao peso específico.
As duas se somam quando atuam no mesmo sentido ( fluxo d’água de cima para
baixo) e se subtraem quando em sentido contrário (fluxo d’água de baixo para
cima).
6. TENSÕES NO SOLO SUBMETIDO À PERCOLAÇÃO
Terzaghi estabeleceu o Princípio de Tensões Efetivas, que pode ser
expresso em duas partes:
1) A tensão efetiva, para solos saturados, pode ser expressa por:
σ’ = σ – u (18)
sendo σ a tensão total e u a pressão neutra ou poro-pressão; e
2) Todos os efeitos mensuráveis resultantes de variação de tensões nos
solos, como compressão, distorção e resistência ao cisalhamento são devidos a
variação de tensões efetivas.
A Figura 7 exemplifica, analiticamente, o procedimento de cálculo das
tensões efetivas em um solo submetido a um fluxo ascendente.
Figura 7. Tensões no solo num permeâmetro com fluxo ascendente
(PINTO, 2000)
18
A tensão efetiva na face da peneira é:
(19)
A Equação 19 pode sofre as seguintes alterações:
(20)
(21)
(22)
A tensão efetiva, portanto, tanto pode ser calculada como a tensão total
menos a poro-pressão, como pelo produto da altura pelo peso específico
submerso, só que, quando há percolação, deve-se descontar a força de
percolação.
A Figura 8, mostra os procedimentos de cálculo das tensões efetiva
para o caso de um permeâmetro com fluxo descendente.
Figura 8. Tensões no solo num permeâmetro com fluxo descendente (PINTO, 2000)
Neste exemplo, em que o fluxo é descendente, os cálculos são
semelhantes, mas a tensão efetiva aumenta com a percolação em relação à
situação sem fluxo, e vale:
(23)
No exemplo da figura 7, a força transmitida à peneira que sustenta a
areia é proporcional ao peso específico submerso, mas aliviada da força de
percolação, que tende a arrastar as partículas do solo para cima.
Já no exemplo da figura 8, ocorre o contrário: a força transmitida à
peneira soma o efeito do peso específico submerso com o da força de percolação
que empurra os grãos para baixo.
19
7. GRADIENTE HIDRÁULICO CRÍTICO
No exemplo da figura 7, com fluxo ascendente, considere-se que a
carga hidráulica h aumente progressivamente. A tensão efetiva ao longo de toda a
espessura irá diminuindo até o instante em que se torne nula. Nesta situação, as
forças transmitidas de grão a grão são nulas. Os grãos permanecem,
teoricamente, nas mesmas posições, mas não transmitem forças através dos
pontos de contato. A ação do peso dos grãos (gravidade) se contrapõe à ação de
arraste por atrito da água que percola para cima (força de percolação).
Como a resistência das areias é proporcional à tensão efetiva, quando
esta se anula, a areia perde completamente sua resistência. A areia fica num
estado definido como areia movediça.
Para se conhecer o gradiente que provoca o estado de areia movediça,
pode-se determinar o valor que conduz a tensão efetiva a zero, na expressão
abaixo:
(24)
(24b)
Este gradiente é chamado de gradiente crítico. Seu valor é da ordem de
um, pois o peso específico submerso dos solos é da ordem do peso específico da
água.
Logicamente, só ocorre o estado de areia movediça quando o gradiente
atua de baixo para cima. No sentido contrário, quanto maior for o gradiente, maior
a tensão efetiva.
20
8. EXERCÍCIOS Exercício 01.
Para a Figura E.1, obter:
a) Os diagramas de cargas hidráulicas (3 é o ponto de referência).
b) As tensões efetivas nos pontos 1 e 2 e os diagramas de tensão total,
pressão neutra e tensão efetiva.
Figura E.1
a) Solução
A determinação das cargas hidráulicas nos pontos indicados pode ser
feita tomando-se como referência a cota correspondente ao ponto 3. Logo as
cargas de altura serão tomadas pela altura em relação à cota do ponto 3. A carga
de pressão é obtida considerando as condições limites (fronteiras) cujas pressões
são conhecidas. São elas as correspondentes aos pontos 0, 1 e 3. No ponto 2,
uma vez que a pressão no ponto 3 é a atmosférica (zero), para que ocorra o
equilíbrio da coluna d’água do ponto 2 a 3, é necessário que a pressão neutra em
2 seja negativa e de igual valor da pressão decorrente da coluna d’água. Na tabela
abaixo encontra-se um resumo dos cálculos.
21
b) Solução
Nota: a tensão efetiva no ponto 2 poderia ser calculada através da
Equação 23: σ’=L (γsub + j) = 1,2 [11 + (3/1,2).(10)] = 43,2 kN/m3
22
Exercício 02
Para o permeâmetro esquematizado na Figura E.2, obter:
Figura E.2
a) Os diagramas de cargas hidráulicas.
b) As tensões efetivas nos pontos 2 e 3 e os diagramas de tensão total,
pressão neutra e tensão efetiva.
c) O gradiente hidráulico crítico.
d) Qual o acréscimo de carga total para que ocorra a liquefação da
areia.
e) De quanto deveria ser a diferença de carga h para conduzir a um
fator de segurança à liquefação de 2.
a) solução:
Tomando-se como referência a cota do ponto 3, tem-se os seguintes
valores de cargas hidráulicas tabelados abaixo. Para a carga de pressão do ponto
3, esta pode ser obtida pelo tubo da esquerda, que corresponderá à coluna d’água
neste tubo (tubo de alimentação).
23
b) Solução
24
c) Solução:
icrit = γsub / γw = 1,1
d) Solução
Sendo o gradiente hidráulico crítico aquele que conduzirá à liquefação
da areia, tem-se:
icrit = h / L → h = 1,1 x 1,2 = 1, 32m
e) Solução
Para que ocorra um fator de segurança de 2, é necessário que a
diferença de carga total entre o ponto 2 e 3 conduza a um gradiente hidráulico
igual a metade do gradiente hidráulico crítico. Logo tem-se:
icrit / 2 = h / L → h = (1,1 x 1,2)/2 = 0,66m
25
9. REDUÇÃO DO GRADIENTE HIDRÁULICO CRÍTICO Exercício 03
Uma das formas de reduzir o gradiente hidráulico é dispor na saída um
material com maior permeabilidade, ou que tenha um peso suficientemente
elevado para contrapor à força de percolação exercida nas partículas. Tomemos
como exemplo o permeâmetro da Figura E.2. Vamos admitir que a metade
superior da amostra seja substituída por um material com um coeficiente de
permeabilidade quatro vezes maior do que da areia em questão, porém com o
mesmo peso específico saturado, conforme a figura E.3.
Figura E.3
Como a vazão que atravessa ambos os materiais é a mesma pode-se
dizer que:
Considerando que, para o caso da Figura E.3, A1=A2, tem-se:
Como,
26
Logo, o gradiente de saída, na camada superior será:
Na camada inferior o gradiente será:
Embora o gradiente na camada inferior seja superior ao gradiente crítico
(icr=1,1), a camada superior atua como se fosse uma tela, impedindo a remoção
pela força de percolação das partículas do solo da camada inferior. Este
procedimento é adotado no dimensionamento de filtros no pé do talude de jusante
de barragens.
Obviamente, o material a ser utilizado como filtro deve ter
permeabilidade adequada (superior a da camada inferior) e vazios compatíveis
para impedir a saída das partículas do material a ser retido.
Para filtros de proteção contra a liquefação de areias em Barragens,
Terzaghi propôs os seguintes critérios práticos:
1. D15 filtro > 5. D15 do solo
Indicando que o filtro deve ser mais permeável que o solo.
2. D15 filtro < 5. D85 do solo
Limitando o tamanho dos finos do filtro, de forma que não deixem
passagem para os grãos do solo.
D15 e D85 correspondem aos diâmetros dos grãos correspondentes a
15% e 85% que passam, respectivamente, obtidos a partir das curvas
granulométricas do solo e do filtro.
Para o Exercício 03, obtêm-se os diagramas de cargas hidráulicas:
abaixo.
27
10. REFERÊNCIAS
• CAPUTO, Homero Pinto (2000) – Mecânica dos Solos e suas
Aplicações, 6ª ed. Vol 1, 2 e 3. Rio de Janeiro, RJ, LTC.
• PINTO, Carlos Souza., (2002), Curso Básico de Mecânicas dos Solos,
2ª ed. São Paulo, SP, Editora Oficina de Textos.