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1800 A IMPORTÂNCIA DO LATIM EM VIEIRA Mariana Alves de SANTANA (UEL) ISBN: 978-85-99680-05-6 REFERÊNCIA: SANTANA, Mariana Alves de. A importância do latim em Vieira. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 1800- 1807. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo é resultado do projeto de pesquisa: “Estudos de retórica clássica: Disputatio de Rhetorica de Alcuíno e Sermões de Vieira”, e tem por objetivo analisar a importância do uso do latim nos sermões do Pe. Antonio Vieira. Numa análise aprofundada de Vieira, percebe-se que o latim forma a estrutura central do sermão, sendo assim a compreensão do latim se torna fundamental para o entendimento da obra. Epígrafe: Et vos debetis alter alterius lavare pedes. Jo, 13:14. 2. INVENTIO Inventio é descobrir o assunto e delimitar o tema. Encontrar argumentos que serão apresentados na dispositio. Como explica Reboul: “Compreender o assunto e reunir todos os argumentos que possam servir.” (2004:44). No caso deste sermão, os argumentos basearam-se em versículos da vulgata, ou seja, em latim. O sermão que será analisado é do gênero epidíctico, ou seja, tenta persuadir o público até provar que a maior demonstração de amor de Jesus foi o de amarmos uns aos outros: Et vos debetis alter alterius lavare pedes. Desde o exordium até a peroratio Vieira apresenta argumentos e exempla que servirão de ‘ligação’ entre eles para o próximo argumento, até chegar a sua tese final a qual não pode ser negada. Os loci utilizados como elementos de recordação partem desde a cena em que Jesus divide o seu corpo e o seu sangue entre os seus discípulos, instituindo-se assim o Sacramento da Eucaristia até a sua ressurreição. Todos os elementos que configuraram este cerimonial são provas do amor de Jesus: a divisão dos pães; a lavação dos pés dos discípulos; a agonia de Jesus quando se retira para orar no Horto; a morte na cruz e a

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  • 1800

    A IMPORTNCIA DO LATIM EM VIEIRA Mariana Alves de SANTANA (UEL)

    ISBN: 978-85-99680-05-6

    REFERNCIA: SANTANA, Mariana Alves de. A importncia do latim em Vieira. In: CELLI COLQUIO DE ESTUDOS LINGUSTICOS E LITERRIOS. 3, 2007, Maring. Anais... Maring, 2009, p. 1800-1807. 1. INTRODUO

    O presente artigo resultado do projeto de pesquisa: Estudos de retrica

    clssica: Disputatio de Rhetorica de Alcuno e Sermes de Vieira, e tem por objetivo analisar a importncia do uso do latim nos sermes do Pe. Antonio Vieira.

    Numa anlise aprofundada de Vieira, percebe-se que o latim forma a estrutura central do sermo, sendo assim a compreenso do latim se torna fundamental para o entendimento da obra.

    Epgrafe: Et vos debetis alter alterius lavare pedes. Jo, 13:14.

    2. INVENTIO

    Inventio descobrir o assunto e delimitar o tema. Encontrar argumentos que sero apresentados na dispositio. Como explica Reboul: Compreender o assunto e reunir todos os argumentos que possam servir. (2004:44). No caso deste sermo, os argumentos basearam-se em versculos da vulgata, ou seja, em latim.

    O sermo que ser analisado do gnero epidctico, ou seja, tenta persuadir o pblico at provar que a maior demonstrao de amor de Jesus foi o de amarmos uns aos outros: Et vos debetis alter alterius lavare pedes. Desde o exordium at a peroratio Vieira apresenta argumentos e exempla que serviro de ligao entre eles para o prximo argumento, at chegar a sua tese final a qual no pode ser negada.

    Os loci utilizados como elementos de recordao partem desde a cena em que Jesus divide o seu corpo e o seu sangue entre os seus discpulos, instituindo-se assim o Sacramento da Eucaristia at a sua ressurreio. Todos os elementos que configuraram este cerimonial so provas do amor de Jesus: a diviso dos pes; a lavao dos ps dos discpulos; a agonia de Jesus quando se retira para orar no Horto; a morte na cruz e a

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    sua ressurreio; esses loci no so apresentados necessariamente nessa ordem. Toda essa mudana de loci conhecida por todo cristo, por isso torna-se fcil a sua recordao para a compreenso do sermo. Porm o momento mais importante o lava-ps.

    A defesa do pensamento de Vieira ser feita atravs da refutao das teses de trs doutores da igreja: Santo Agostinho, Santo Toms e so Joo Crisstomo. Apresentada cada tese, Vieira refutar exemplificando e comprovando que tal demonstrao de amor feita por Cristo no to maior, nem to fina quanto a de amarmos uns aos outros assim como Cristo nos ama: Digo que a maior fineza de Cristo hoje, foi querer que o amor com que nos amou, fosse dvida de nos amarmos. (VIEIRA 2003: 208).

    Na inventio as frases latinas utilizadas para a ligao dos loci so: - Na crucificao: In finem dilexit eos. (Amou-os at o fim.) Cum dilexisset, dilexit. (Visto que tendo amado, amou.) - No Horto: Avulsus est ab eis. (E afastou-se deles) Et factus in agonia. (E posto em agonia). - Na ceia: Ut transeat ex hoc mundo ad Patrem: in finem dilexit eos. (Sabendo Jesus que

    era chegada a sua hora de passar deste mundo para o pai: amou-os at o fim). -Instituio da Eucaristia Accepit panem in sanctas, ac venerabiles manus suas, et elevatis oculis in

    CAElum. (Tomou o po em suas santas e ainda venerveis mos, e elevou os olhos aos cus).

    - Lava-ps: Majorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis

    suis. (Ningum tem maior amor que o daquele que d a sua vida por seus amigos.). Et coena facta, (...); surgit a coena, et coepit lavare pedes Discipulorum. (E

    feita a ceia, (...) a determinao de o entregar (...) levantou-se da ceia (...) e comeou a lavar os ps dos discpulos).

    3. DISPOSITIO

    A dispositio a parte onde os argumentos levantados na inventio so apresentados numa ordenao favorvel ao orador; no presente sermo as argumentationes so expostas, e em seqncia a refutatio. A dispositio formada pela concretizao dos pensamentos (res) em forma lingstica (verba).

    Segundo Olivier Reboul, a dispositio formada por quatro partes: - exrdio;

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    - narrao; - confirmao [refutao]; - perorao. A estrutura deste sermo tripartite.

    3.1. EXRDIO

    O objetivo da exrdio obter a ateno do pblico, predominando o ethos: apresentao do tema em graus suaves de afetos para valorizar o carter tanto do sermo como do orador. Nas palavras de Olivier Reboul: a parte que inicia o discurso, e sua funo essencialmente ftica: tornar o pblico mais dcil, atento e benevolente. (204: 55).

    Para instigar a ateno do pblico Vieira comea com a dupla citao: Cum dilexisset, dilexit (...) in finem dilexit eos. O amor de Jesus no foi diferente nem menos intenso, nem menos fino

    enquanto estava junto aos homens; a sua morte na cruz foi apenas uma demonstrao maior do seu afeto, Ele apenas juntou o fim com o fino. Explora a etimologia, porque fino deriva de finis = bem acabado, perfeito posto que est no finis (termo)

    a partir desse versculo, o qual trata do amor de Cristo que infinito e eterno, que Vieira lana a sua pergunta: Qual foi a maior das maiores finezas de Cristo?, e para responder ele mesmo apresenta a seguinte proposio:

    Et vos debetis alter alterius lavare pedes.

    3.2. NARRATIO

    A narrao a exposio dos fatos referentes causa. (REBOUL 2004: 56). Para responder a pergunta lanada no exrdio Vieira leva o pblico a pensar

    nos argumentos de santo Agostinho, que se baseia no seguinte versculo: Majorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis

    suis. Para Agostinho a maior prova do amor de Jesus foi a sua morte na cruz em

    favor dos homens que tanto amava, entregando a sua vida pelos seus amigos, como diz o versculo. Mas Vieira diz que o entregar no foi a maior fineza, mas sim o ausentar-se: Porque morrendo, deixava a vida, que amava menos; ausentando-se, deixava os homens, que amava mais. (2003: 191)

    Como exemplum fala de Maria Madalena que chorou muito mais quando no

    encontrou o corpo de Jesus no sepulcro do que quando viu Jesus crucificado, pois se ela compreendeu que a dor da ausncia maior que a dor da morte, assim Cristo, que possuiu fineza de amor muito maior, sente mais a dor de no estar mais presente junto aos seus do que a sua morte, sendo que j sabia que estava prxima:

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    Sciens quia venit ejus, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem. Sabendo que a sua morte era prxima, Jesus retira-se para orar no Horto, e

    nessa breve separao dos seus discpulos Ele comea a agonizar, fato este que no relatado na cruz, ou seja, Jesus estava sofrendo mais por se afastar dos seus amados, do que porque logo seria entregue aos soldados romanos.

    Avulsus est ab eis. (...) Et factus in agonia. Visto que logo iria partir, Cristo deixou um remdio, algo que amenizaria

    tanto para ns quanto para Ele a dor da ausncia, por isso estabelece o Sacramento da Eucaristia: A ressurreio era remdio da morte, o Sacramento era remdio da ausncia: e como Cristo sentia mais o ausentar-se que o morrer, o remdio da morte dilatou-o, o remdio da ausncia preveniu-o. (VIEIRA 2003: 194). Pois na Eucaristia Cristo est presente no po e no vinho em todas as vezes em que a cerimnia realizada, assim, estar Cristo constantemente presente no meio do seu povo.

    Desta maneira Vieira encerra a refutao ao pensamento de Agostinho: que o morrer em favor dos seus amigos no a maior fineza, mas sim, a ausncia.

    A segunda opinio apresentada do santo Toms, e este afirma que a maior

    fineza do amor de Cristo hoje foi deixar-se conosco, quando se ausentava de ns (VIEIRA 2003:195) Percebe-se que Vieira deixa o argumento de s. Toms por segundo porque pode emendar com o argumento dado contra a opinio de Agostinho: a instituio da Eucaristia, pois nesse sacramento que Cristo est presente.

    A refutao ao pensamento firma-se nisso:

    Maior fineza foi no mesmo Sacramento o encobrir-se, que o deixar-se. (...) Encobrindo-se pois Cristo no Sacramento, ainda que est presente com os homens, a quem ama, est presente sem os ver; e a presena sem vista maior pena que a ausncia.

    Para confirmar a refutao apresentado o seguinte exemplum: Revertatur in domum suam, et faciem meam non videat. Absalo era filho de Davi e matou o seu irmo Amon, por isso fugiu para as

    terras de Gessur. Quando Davi estava recuperado do luto, Jo (ou Joabe) intercedeu junto ao rei para que Absalo voltasse a viver na corte, Davi aceitou o pedido mas com a condio de que Absalo no poderia olhar para o rosto do seu pai.

    Quare veni de Gessur? Obsecro ergo ut videam, faciem Regis. Quod si memor

    est iniquitatis meae, interficiat me. Absalo conversa com Jo para que volte a interceder junto ao seu pai, para

    poder ver-lhe a face, mas se o rei ainda no estiver satisfeito com tal castigo que mande mata-lo. Como Absalo estava sofrendo em estar perto de seu pai a quem amava, ou apenas demonstrava que amava; assim sofre Cristo no Sacramento: porque est presente, junto dos que ama, mas no pode v-los, e no ver estando presente, padecer a ausncia na presena. (VIEIRA 2003: 196).

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    Voltando ao Sacramento da Eucaristia, e para finalizar a refutao ao pensamento de s. Toms, cita:

    Accepit panem in sanctas, ac venerabiles manus suas, et elevatis oculis in

    coelum. Jesus ao consagrar o po que seria repartido na santa ceia, levantou os olhos ao

    Cu e tirou dos homens, e este, o no ver mais aos homens foi o sacrifcio. Por isso Vieira afirma que mais fez em se encobrir, que em se deixar.

    A terceira e ltima opinio a de So Joo Crisstomo: a maior fineza do amor

    de Jesus foi o lavar os ps dos Discpulos: sendo Ele Deus e tendo tudo nas mos, humilhou-se e lavou os ps de quem amava como prova de amor:

    Domine, tu mihi lava pedes? S. Pedro assusta-se com a atitude do mestre e questiona: Senhor, tu lavas os ps

    a mim? Tu mihi? Por isso Jesus lhe responde: Quod ego facio, tu nescis modo: o que eu fao agora, tu no compreendes; compreenders somente quando no Cu conheceres a grandeza da glria e Majestade que agora vs prostrada a teus ps.

    Jesus tinha nas mos tudo, e para se despedir dos seus amados usou de suas prprias mos para demosntrar seu infinito amor: Coepit lavare pedes Discipulorum; comeou a lavar os ps dos discpulos.

    Porm Vieira afirma que o lavar os ps dos discpulos no foi a maior das maiores finezas do amo de Cristo, e cita:

    Et coena facta, cum DIABOLUS jam misisset in cor, ut traderet eum Judas;

    surgit a coena, et coepit lavare pedes Discipulorum. Jesus sabia que Judas iria tra-lo antes da cerimnia do lava-ps, mas mesmo

    assim no deixou de lavar os seus ps, a que est a fineza do seu amor: no deixando Judas, o seu traidor, fora da sua demonstrao de amor. A fineza do amor mostra-se em igualar nos favores os que so desiguais nos merecimentos: no e fazer dos indignos dignos, mas em os tratar como se o fossem. (VIEIRA 2003: 203).

    Assim como Cristo morreu por todos (Pro omnibus mortuus est Christus), e seu sangue lavou os pecados de todos (Qui dilexit nos, et lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo), da mesma forma Cristo lavou os ps de todos os discpulos; desde Joo que era o discpulo amado, at Judas que foi o traidor. E a que est a maior fineza do amor: se Ele lavasse somente os ps de Joo estaria apenas retribuindo o amor recebido; porm lavando os ps de Judas estava pagando com amor o dio recebido.

    4. PERORAO

    A peroratio a parte final do discurso. Nela encontra-se o argumento final de refutao s outras teses e se apresenta como certo diante daquilo que foi apresentado. (LAUSBERG 1972: 93)

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    Antes de apresentar claramente o seu pensamento, Vieira apresenta uma amplificao de todos os argumentos que j foram expostos.

    Coepit lavare pedes Discipulorum Logo no principio da peroratio Vieira lana um estranhamento: A fineza

    tanto maior quanto a mais sentida de Cristo nessa ltima Cena do seu amor, foi que comeou lavando, e acabou sem lavar. Os ps dos outros Discpulos ficaram lavados, os de Judas molhados sim, mas lavados no. (VIEIRA 2003:207)

    Jesus lavou os ps de todos os discpulos do mesmo modo, sem distino. Lavou os ps e ensinou uma lio de humildade, mas como o pecado j estava no corao de Judas, o intento de trair a Cristo j estava consumado, o ato de lavar os ps no mudou o seu corao nem o seu plano, por isso seu ps ficaram apenas molhados mas no limpos.

    S. Bernardo fala o seguinte sobre o amor fino: Amor non quaerit causam, nec fructum: amo quia amo, amo ut amem. O amor no quer motivo, nem fruto: amo porque amo, amo por amar. Foi

    isso que Jesus fez com Judas: amou por amar; porque sabia o que havia no corao dele, traio e dio, mas mesmo assim no deixou de derramar o mesmo amor com que amou desde o princpio at a sua morte.

    Jesus escolheu a cada um de seus discpulos, at mesmo o que iria tra-lo, e por ser escolhido seu, Ele no o excluiu na hora do Sacramento, sendo que poderia abomina-lo e lana-lo ao fogo.

    Non me elegistis, sed ego elegi vos, ut eatis, et fructum afferatis. (No me escolhestes, eu escolhi a vs, para que vades e deis fruto) Aps lanado e explicado o estranhamento, apresentada a opinio de Antonio

    Vieira sobre qual a maior das maiores finezas do amor de Cristo: Digo que a maior fineza de Cristo hoje, foi querer que o amor com que nos amou, fosse dvida de nos amarmos. Et vos debetis alter alterius lavare pedes.

    Jesus veio ao mundo e nos amou, se colocou na posio de servo e nos serviu, mas no fez como os homens exigindo recompensa para esse amor, pelo contrrio, essa dvida deve ser paga amando ao prximo, at mesmo aquele que no nos oferece amor.

    O amor dos homens muito racional, diz: O que deveis a mim, pagai-mo a mim: o amor de Cristo, superior a toda razo, e s igual a si mesmo, que diz? No diz: o que deveis a mim, pagai-mo a mim; seno: o que deveis a mim pagai-o a vs

    Si sic Deus dilexit nos: et nos debemus alterutrum diligere. (Se Deus nos amou assim: devemos ns tambm amarmo-nos uns aos outros) Assim como Jesus nos amou ainda quando era homem, este transpassou para

    ns todo o amor que possua, deixando-nos com a obrigao de amar ao nosso prximo; pois se Jesus sendo homem amou a todos, quanto mais a ns que somos homens e seguimos a Cristo devemos amar a ns. Et vos debetis, et nos debemus.

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    Antes de partir para a confirmao de sua tese Vieira faz uma recapitulao dos argumentos apresentados ao longo do sermo:

    Mas demos trs passos atrs, e ponhamos esta fineza vista das outras que tanto adelgaamos. Todas foram por ns, e para ns; a primeira, dar a vida por amor dos homens: a segunda, deixar-se no Sacramento com os homens: a terceira lavar os ps dos homens. (VIEIRA 2003: 209)

    E de todas estas finezas classificadas, quem deve pagar somos ns, mas no a

    Cristo seno a ns: Alter alterius. Depois de fazer uma explanao geral de todas as teses, e de estreitar

    todas as finezas dizendo que tudo o que foi exposto ainda no a maior das maiores finezas do amor de Cristo, o orador apresenta de vez o seu pensamento:

    Mandatum novum do vobis, ut diligatis invicem. Jesus estabelece um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Mas esse

    mandamento j era conhecido desde o antigo testamento, a Lei Velha: Diliges proximum tuum sicut te ipsum; amars ao teu amigo como a ti mesmo; e agora Jesus diz que alm dos nossos amigos, a quem apenas retribumos o amor recebido, devemos amar aos nossos inimigos tambm: Diligite inimicos vestros.

    Entretanto a grande novidade do mandamento e do amor que esse amor dado aos amigos e inimigos deve ser dado como paga do amor recebido de Cristo: Sicut dilexi vos, ut et vos diligatis invicem: assim como eu vos amei, amai-vos tambm a vs.

    O amor de Cristo nos obriga dois amores: porque nos ama a fim de que cada um de ns ame a todos (in finem dilexit eos), e de que todos amem a cada um de ns: Et vos debetis alter alterius lavare pedes Mais uma vez explora a etimologia e transforma o substantivo em conjuno (locuo conjuntiva)

    Para encerrar, Vieira resume as palavras de Cristo em uma s palavra: Et vos debetis, isto o que deveis. Para se deixar de amar os homens pelo que se lhes deve a eles, muitas razes pode haver, os dios, as ingratides, os agravos; mas para deixar de amar aos homens pelo que devemos a Cristo, que razo pode haver, seno a de sermos Cristos? (VIEIRA 2003: 212)

    Vieira encerra o seu sermo utilizando-se do pathos, ou seja, deixa claro que o fato de AMARMO-NOS uns aos outros um mandamento de Cristo, e que deve ser cumprido pelo simples fato de sermos cristos. Ele no deixa dvidas de que somos devedores desse amor, cuja dvida eterna. Et vos debetis alter alterius lavare pedes

    CONSIDERAES FINAIS

    Na breve anlise feita acima, percebe-se que o latim forma a estrutura central do sermo, sendo assim a compreenso dessa lngua fundamental para o entendimento da obra. Os sermes do Padre Antnio Vieira so um exemplo da importncia do estudo do latim para o entendimento dos autores que utilizam dessa lngua.

    O projeto de pesquisa: Estudos de retrica clssica: Disputatio de Rhetorica de Alcuno e Sermes de Vieira tem por objetivo analisar a importncia do uso do

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    latim nos sermes do Pe. Antonio Vieira, bem como demonstrar a importncia do estudo do latim.

    REFERNCIAS

    LAUSBERG, Heinrich. Elementos de retrica Literria. 4 ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. REBOUL, Olivier. Introduo Retrica. So Paulo: Martins Fontes, 2004. VIEIRA, Antonio. Sermes: Padre Antonio Vieira. Organizao e introduo Alcir Pcora. So Paulo: Hedra, 2003, 2 vol.