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1. INTRODUÇÃO
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1 INTRODUÇÃO
1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA
Um recente caso comoveu o país. Foi o colapso do Edifício Areia Branca, que estava situado
na Região Metropolitana do Recife, em área de agressividade ambiental forte de acordo a
NBR6118:2003, que desabou em 10 de outubro de 2004 de forma imprevista, em decorrência
do colapso dos pilares, na região situada no entorno das sapatas (OLIVEIRA, 2005). O
exemplo do Ed. Areia Branca desencadeou a realização de vistorias nos edifícios e, os
condomínios passaram a solicitá-las, incluindo as inspeções das fundações que até então,
graças aos transtornos causados por este tipo de serviço e também pela dificuldade de realizá-
lo, era ignorado. Os resultados das inspeções identificaram diversos tipos de danos,
comprovando a necessidade do parecer de profissional habilitado e capacitado para este tipo
de serviço, que obedeça, além da NBR 6118:2003, às prescrições da norma NBR 5674:1999 e
se elabore um plano de manutenção com a criação de um manual de operações de acordo com
as recomendações contidas na NBR 14037:1998. Na ocasião o Instituto Brasileiro do
Concreto (IBRACON) promoveu um manifesto público, resultado do Debate Técnico "Lições
do Areia Branca" realizados por várias entidades de reconhecida competência , que
demonstrou a imperiosa necessidade da introdução de medidas técnicas e legais para a
redução dos riscos de acidentes.
O cenário atual exige, portanto, uma maior propriedade de leis que obriguem vistorias e
manutenções periódicas. Estas leis em geral são relativamente simples, mas complexas para
as suas corretas aplicações. São apropriadas às exigências de periodicidade das inspeções para
os diversos tipos de obras, atributos que devem ser satisfeitos pelos profissionais que farão as
inspeções, exigências quanto à guarda de documentação e imediata disponibilização dos
documentos alusivos ao imóvel (IBRACON, 2004).
Em virtude da importância sócio-econômica do assunto, reuniões técnicas, simpósios e
congressos, têm sido realizados em todo mundo a fim de debater sobre diversos aspectos
relacionados ao tema. Recentemente, em Setembro de 2005, em Olinda-PE/Brasil aconteceu o
470 Congresso Brasileiro do Concreto, juntamente com o IV INTERNATIONAL
ACI/CANMET Conference on Quality of Concrete Structures and Recent Advances in
19
Concrete Materials and Testing, onde vários trabalhos foram apresentados sobre o tema. Isaia
(2005), trata a durabilidade não só do concreto em si, mas como da estrutura, em consonância
com as diretrizes atuais de se estudar o concreto de modo holístico e não compartimentado.
A durabilidade das estruturas de concreto armado já foi considerada ilimitada, mas com a
utilização crescente desse material, esse entendimento tende a mudar, pois muitas estruturas
começaram a apresentar degradações com pouco tempo de uso. Isto incentivou instituições de
pesquisa e organismos internacionais da área de concreto a aumentarem as investigações
sobre a durabilidade para se entender melhor o comportamento dessas estruturas em serviço.
Em geral, os estudos sobre a durabilidade das estruturas de concreto consideram os aspectos
relativos aos constituintes dessa estrutura (agregados, cimentos, aço), de sua mistura (relação
água/cimento ou água/aglomerante, uso de aditivos, etc) ou então a sua construção (condição
de cura, por exemplo). Para avaliação do comportamento da estrutura, faz-se necessário
conhecer o meio ambiente onde ela esta inserida. Este meio, pode fazer com que um concreto
especificado e executado, tenha sua vida útil reduzida significativamente.
Trabalho de levantamento de danos realizados em estrutura de concreto armado no Brasil, Dal
Molin (1988) e Andrade (1997), mostraram que as obras vêm apresentando uma degradação
precoce. A corrosão de armaduras é o fenômeno responsável por uma parcela dos danos com
índice de ocorrência variando entre 27% e 64%. Outras manifestações patológicas causadas
por ataques químicos, ação de sulfatos e reação álcali-agregado também vem degradando as
construções. Helene (1997) cita que o estudo da durabilidade evoluiu principalmente devido
ao maior conhecimento dos mecanismos de transportes de fluidos em meios porosos,
permitindo associar o tempo aos modelos matemáticos que expressam quantitativamente esses
mecanismos. Assim, a avaliação da vida útil passou a ser em números de anos, e não em
critérios qualitativos da adequação da estrutura a um determinado grau de exposição.
Os modelos que tentam prever a vida útil de uma estrutura atingida por um determinado
mecanismo de degradação, devem fornecer ao projetista informações suficientes para avaliar
as mudanças que ocorrem ao longo do tempo, levando em consideração as características do
ambiente onde as estruturas estarão inseridas (ANDRADE, 2005).
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1.2 - OBJETIVO DO TRABALHO
Este trabalho tem como objetivo, avaliar o estado atual das estruturas de concreto do subsolo,
de três edifícios residenciais, no que se refere a durabilidade das estruturas. Foram
selecionados três edifícios com idades e padrões construtivos semelhantes, cujas estruturas
foram concebidas durante a vigência da NBR6118:1978 e, procurou-se avaliar a condição de
habitabilidade e o grau de deterioração em que se encontravam. Considerou-se também a
influência do grau de agressividade ambiental em que estavam submetidas, procurando
correlacioná-las com o padrão da edificação e a periodicidade de manutenção, fatores que
influenciam na vida útil das estruturas.
1.3 - ESCOPO DO TRABALHO
Este trabalho esta dividido em 5 capítulos seguindo uma seqüência lógica como é mostrado a
seguir:
O Capítulo 1 referente a revisão da literatura, tem como objetivo apresentar alguns dos
principais pontos que devem ser levados em consideração para se maximizar a vida útil de
uma estrutura de concreto armado, estabelecendo parâmetros para o projeto, execução e uso
de obras duráveis.
O Capítulo 2 trata do conceito de "Vida Útil" e "Durabilidade" e define as obrigações das
pessoas envolvidas na criação da estrutura e o conjunto de ações que podem atuar nesta
estrutura, que quando em equilíbrio, mantém sua estabilidade e durabilidade. Os sub-itens do
Capítulo 2 procuram identificar o que conduz a ocorrência dos diversos tipos de
manifestações patológicas: fissuras, fatores atmosféricos e uma visão holística das causas de
intervenção em estruturas.
O Capítulo 3 apresenta a metodologia desenvolvida e aplicada por Castro (1994) e
posteriormente modificada por Lopes (1998) e Boldo (2002), baseada em princípios
constantes da proposta original desenvolvida por Klein et al. (1991) para obras de arte. Esta
metodologia procura identificar e definir parâmetros mínimos para quantificar o grau do dano
em uma estrutura de concreto armado de edificações usuais. Objetivando-se reduzir a
subjetividade nas inspeções estruturais, este método baseia-se em sistemas de classificação de
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danos, seus fatores de intensidade e ponderação, para obter a quantificação do grau de
deterioração dos elementos da estrutura e finalmente quantificar o grau de deterioração da
estrutura como um todo.
O Capítulo 4 descreve os resultados obtidos na quantificação dos fatores de intensidade dos
danos nos elementos de estrutura, assim como a discussão desses com base da metodologia
aplicada em três edifícios residenciais construídos na Cidade do Recife/PE, de acordo as
normas NB1/1978, de forma a avaliar o estado atual das estruturas destes edifícios
residenciais.
Finalmente, no Capítulo 5, resume-se o conjunto das conclusões obtidas ao longo do
desenvolvimento deste presente trabalho de pesquisa, e apresenta-se sugestões para
investigações futuras.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
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2 - REVISÃO DA LITERATURA 2.1 - VIDA ÚTIL
Dedicar-se ao estudo da durabilidade das edificações, tem despertado o interesse de inúmeros
pesquisadores. Tal interesse é devido à grande quantidade de danos que estão ocorrendo nas
estruturas de concreto, principalmente pelo efeito da ação da agressividade ambiental
associado aos problemas de ordem estrutural que interagem nas mesmas, e o emprego de
práticas executivas inadequadas durante as diversas etapas do processo construtivo.
Estima-se que 20 a 40% de todos os recursos investidos anualmente na indústria da
construção civil sejam aplicados no reparo e manutenção de estruturas já existentes,
denominada nos países desenvolvidos como “Patrimônio Construído”(HELENE, 2003).
Inicialmente as estruturas de concreto só eram concebidas e projetadas para garantir as
condições de segurança e estabilidade perante as solicitações de origem mecânica que
geravam ação sobre as mesmas. Os aspectos relacionados à questão de durabilidade e
desempenho que as estruturas deveriam apresentar durante a sua vida útil não eram levados
em consideração, visto que se imaginava que o concreto armado mantinha as suas
propriedades físicas, químicas e mecânicas praticamente inalteradas ao passar do tempo.
Conforme o conceito de durabilidade apresentado pelo Comité Euro-Internacional du Béton
(CEB, 1990), uma estrutura de concreto deve ser projetada, construída e operada de tal forma
que, sob determinadas condições ambientais, ela mantenha sua segurança, funcionalidade e
aparência aceitável durante um período de tempo, implícito ou explícito, sem a necessidade de
elevados custos de manutenção e reparo. A partir de tal definição, entende-se que a
durabilidade de uma estrutura é função de certos parâmetros básicos, tais como: as
características construtivas, que são traduzidas pelas diversas etapas de execução de uma
estrutura (planejamento, projeto, especificações de materiais, execução correta e
estabelecimento de procedimentos de manutenção específicos); a agressividade ambiental em
que a estrutura estará inserida; os critérios de desempenho desejados para a construção, os
quais dependem de sua finalidade; e o tempo, ou seja a vida útil requerida para uma estrutura
em particular.
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Verifica-se, portanto com as evidências apresentadas que, com o passar dos anos, as estruturas
de concreto sofrem de degradação. Segundo Jonh (1987), um processo de degradação é aquele
que ocorre quando há uma transformação dos materiais ao interagirem com o meio ambiente.
O CEB-FIP, define quatro partes envolvidas para criar e manter estruturas em condições
satisfatórias, são elas:
1. Proprietário: definindo demandas presentes e futuras em relação à edificação;
2. Projetistas: preparando especificações de projeto, proposta de método de controle de
qualidade e condições de utilização;
3. Construtor: obedecendo na execução às diretrizes de projeto;
4. Usuários: responsáveis em geral, pela manutenção da estrutura durante o período de
uso.
Conforme Castro (1994), a partir desta concepção, para avaliar a confiabilidade das estruturas
de concreto armado, devem ser admitidas quatro etapas distintas da estrutura:
1. Planejamento;
2. Projeto
3. Execução;
4. Utilização.
Na fase de planejamento, além da determinação do modo em que será utilizada a estrutura, é
importante considerar os fatores que influem na durabilidade, funcionalidade e estética.
Na etapa de projeto, deve-se estar atento as diversas falhas que tem origem nesta fase. Elas
podem se originar durante o estudo preliminar, na execução do anteprojeto, ou durante a
elaboração do projeto de execução definitivo.
Souza e Ripper (2004) constataram que os responsáveis, principalmente, pelo encarecimento
do processo de construção, ou por transtornos relacionados à utilização da obra, são as falhas
originadas de um estudo preliminar deficiente, ou de anteprojetos equivocados, enquanto as
falhas geradas durante a realização do projeto final de engenharia geralmente são as
responsáveis pela implantação de problemas patológicos sérios.
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A seqüência lógica do processo de construção civil indica que a etapa de execução deva ser
iniciada apenas após o término da etapa de concepção, com a conclusão de todos os estudos e
projetos que lhe são inerentes. Iniciada a construção, deve-se evitar falhas das mais diversas
naturezas, associadas a causas tão diversas como falta de condições locais de trabalho
(cuidados e motivação), não capacitação dos recursos humanos, inexistência de controle de
qualidade de execução, má qualidade de materiais e componentes, resultando nas estruturas
estruturas vários problemas patológicos. Uma fiscalização deficiente e um fraco comando de
equipes, normalmente relacionados a uma baixa capacitação profissional dos recursos
humanos, podem, com facilidade, levar a graves erros em determinadas atividades.
Acabadas as etapas de concepção e de execução, e mesmo quando tais etapas tenham sido de
qualidade adequada, as estruturas podem vir a apresentar problemas patológicos originados da
utilização errônea ou da falta de um programa de manutenção adequado.
Segundo o modelo de Selinger (1992), resumido na Figura 2.1, o conjunto de ações
compreende três tipos principais que podem atuar sobre a estrutura:
1. Ações mecânicas - sobrecarga, peso próprio, etc.;
2. Ações físicas - calor, água, umidade, gelo, etc.;
3. Ações químicas/biológicas - ácidos, gases, plantas, microorganismos, etc.
E o conjunto das reações pode ser classificado como:
1. Projeto : hipótese, normas, cálculo e dimensionamento.;
2. Qualidade do concreto : proporção da mistura, fator água/cimento, agregado, aditivo;
3. Execução : forma, lançamento, adensamento e cura.
Entende-se que obtendo o equilíbrio entre o conjunto de ações e reações, será mantida a
estabilidade e a durabilidade da estrutura.
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Conjunto de ações oo
Figura 2.1- Modelo de Equilíbrio de uma Estrutura de Concreto (modificada) (SELINGUER, 1992)
Nota-se, então, a importância do planejamento da estrutura e o processo executivo, mas deve-
se também neste momento, planejar as manutenções periódicas a serem efetuadas ao longo do
tempo, tendo em vista que, apesar de todos os cuidados descritos, o concreto inevitavelmente
sofre ao longo do tempo as ações de agentes do meio ambiente e condições de uso.
Somerville (1987) conceitua durabilidade de modo a resumir o exposto acima: “Não existe
uma condição isolada chamada durabilidade, mas um conjunto de ações que deveria merecer
uma atenção compatível com o rigor dedicado em projeto, as provisões sobre a resistência,
rigidez, estabilidade e funcionabilidade". O autor enfatiza a importância do planejamento de
estruturas, onde, na elaboração de projeto, deve ser considerada a totalidade dos problemas
que envolvem a estrutura, com o objetivo de garantir sua estabilidade e durabilidade. Para
Somerville (1987), a vida útil de uma estrutura, defini-se como o período mínimo no qual se
Estrutura
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espera que ela desempenhe as funções previstas, segundo suas finalidades especificas e
condições ambientais, sem perdas significativas na sua capacidade de utilização e não
requerendo custos elevados de manutenção e reparo. Com estes dados, segundo Somerville
(1985) é difícil a determinação da durabilidade e da vida útil de uma estrutura de concreto
armado bem como de seus projetos complementares, principalmente em função das seguintes
considerações:
A Durabilidade é uma questão multidisciplinar, não podendo ser resolvida por meio de
simples ensaios de laboratório, teorias e/ou aproximações numéricas;
É um problema eminentemente temporal, onde o acúmulo de experiência e resultados
satisfatórios levam certo tempo para acontecer. Durante tal período, verifica-se a ocorrência
de uma grande quantidade de mudanças tecnológicas, que têm que ser absorvidas pelas
pessoas e/ou instituições que tratam do tema. De certa forma, o estudo da durabilidade fica
extremamente condicionado a tais mudanças, onde os parâmetros estabelecidos para certos
fatores tais como condições ambientais e os critérios de desempenho, podem mudar nesse
período, invalidando assim os resultados obtidos anteriormente;
Para o proprietário de uma estrutura, a questão dos custos é extremamente importante na
definição da durabilidade da mesma. Projetar para uma determinada vida útil depende de uma
série de fatores – qualidade do projeto e construção, nível de manutenção e previsão de
mudanças durante o uso (meio ambiente ou carregamento, entre outros). Todas estas medidas
estão sendo associadas a um determinado custo, que nem sempre é proveniente de uma
mesma fonte de desembolso. Desta forma, a questão dos custos ao longo da vida útil das
edificações depende de uma série de fatores, que nem sempre podem ser mensurados na etapa
de projeto das mesmas.
Verifica-se, então, que os problemas de deterioração de uma estrutura não devem ser
considerados unicamente pelos aspectos relativos aos desgastes provenientes do conjunto de
ações (Figura 2.1), mas também deverá ser considerada a utilização da edificação pelo
usuário. Um desvio da utilização do edifício para qual a estrutura foi projetada e construída,
pode incorrer na necessidade de intervenção para garantir segurança quanto a sobrecarga ou
mesmo a adequação das estruturas para nova funcionabilidade.
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A previsão da vida útil das estruturas está sendo objeto de investigação devido aos seguintes
fatores:
a) Aumento do emprego de concreto em ambientes agressivos (como as pontes e estruturas
“off-shore”);
b) Elevados custos de construção e manutenção das estruturas;
c) Desenvolvimento contínuo de concreto com características diferenciadas (alto desempenho,
coloridos, entre outros) e materiais de recuperação, não estando disponíveis dados
relacionados ao seu desempenho devido ao seu curto período de exposição nas condições de
utilização.
2.2 - PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS Helene (1988), entende patologia como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os
mecanismos, as causas e origens dos defeitos das construções civis, e à terapia, cabe estudar a
correção e a solução desses problemas patológicos. Para Souza e Ripper (1998), patologia
designa-se como o campo da engenharia que se ocupa do estudo das origens, formas de
manifestação, conseqüências e mecanismo de ocorrência das falhas e dos sistemas de
degradação das estruturas. Ainda Souza e Ripper(1996), o surgimento do problema patológico
em dada estrutura indica, a existência de falhas durante a execução de uma das etapas da
construção, além de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a
uma ou mais atividades. Com a definição de vida útil já definida, a especificação de concretos
com características de resistência e de durabilidade superiores às normalmente aplicadas no
país, implicarão na melhor preparação dos recursos humanos da engenharia civil, que
desenvolva além de projetos, processos executivos claros e bem controlados.
Uma das principais mudanças na NBR-6118:2003, é a introdução de classes de agressividade
do ambiente. Esta classificação está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre a
estrutura de concreto, independente das ações mecânicas, das variações volumétricas de
origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas
de concreto. A Tabela 2.1, apresenta as classes de agressividade em função das condições de
exposição da estrutura ou de suas partes.
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Tabela 2.1-.Classes de agressividade ambiental segundo a NBR 6118:2003
Classe de
agressividade
ambiental
Agressividade Classificação geral
do tipo de ambiente
para efeito de projeto
Risco de deterioração
da estrutura
Rural
I
Fraca Submersa
Insignificante
II Moderada Urbana1,2 Pequeno
Marinha1
III
Forte Industrial1,2
Grande
Industrial1,3
IV
Muito Forte Respingos de Maré
Elevado
1) Pode-se admitir um micro-clima com classe de agressividade um nível mais brando para
ambientes internos secos (salas, dormitórios,banheiros,cozinha e área de serviço de
apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com
argamassa e pintura. 2) Pode-se admitir um micro-clima com classe de agressividade um nível mais brando em:
obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da
estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões onde chove
raramente. 3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em
industria de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, industrias químicas.
2.3 - ALGUNS REQUISITOS QUE INFLUENCIAM NA QUALIDADE DO
CONCRETO
Visando obter um concreto que atenda as especificações da qual foi projetado, necessita-se de
estar atento a alguns procedimentos de execução, como por exemplo, o adensamento, juntas
de cocretagem e a cura.
2.3.1 – Adensamento:
A finalidade do adensamento do concreto, também conhecido como compactação, é alcançar
a maior compacidade possível do concreto. O meio usual de adensamento é a
vibração.Quando o concreto é recém colocado na fôrma, pode haver um volume de bolhas de
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entre 5 % a 20 % do volume total. Os volumes são maiores em concretos de alta
trabalhabilidade e menores nos concretos mais secos, com menor abatimento. A vibração tem
o efeito de fluidificar o componente argamassa da mistura diminuindo o atrito interno e
acomodando o agregado graúdo tentando diminuir o chamado efeito parede. A vibração
expele-se quase todo o ar aprisionado, mas, normalmente, não se consegue a expulsão total
desse ar.
Segundo Coutinho apud Helene (1986), conceitua-se efeito parede, apresentado na Figura 2.2,
como a movimentação de argamassa para junto de superfícies contínuas limites que
restringem o concreto, tais como fôrmas e armaduras. Essa movimentação só pode ser
conseguida à custa do empobrecimento da massa do interior do concreto.
A não uniformidade da vibração em toda massa do concreto, causa o surgimento de áreas
pouco adensadas e por hora, áreas segregadas.
Fig. 2.2 – Efeito parede (COUTINHO, apud HELENE, 1986)
Sem os devidos cuidados, o vibrador não costura as camadas subjacentes, criando uma
interface entre camadas, de característica pouco uniforme e, em geral, fraca, por estar formada
pela argamassa que sobrenadou ao ser vibrada a camada inferior, e ao agregado que foi para o
fundo da nova capa que está sendo lançada, podendo ainda ocasionar a perda de aderência do
concreto com a armadura.
31
2.3.2 – Juntas de concretagem:
O ideal, em toda construção de concreto, é que a concretagem seja prevista no projeto
estrutural e estar localizadas onde forem menores os esforços de cisalhamento,
preferencialmente em posição normal aos esforços de compressão, salvo se demonstrado que
a junta não provocará a diminuição da resistência do elemento estrutural.
Como orientação, Dias (1990) indica os seguintes locais para execução de juntas:
a. Pilares: Alguns centímetros abaixo do topo, antes da junção com a viga e no plano
horizontal;
b. Vigas: No meio do vão ou no terço médio;
c. Lajes armadas em uma só direção e de pequeno vão: localizadas no meio e na direção
normal ao vão. Se localizadas na direção do vão, devem posicionar-se no terço médio
da laje;
d. Lajes armadas nas duas direções: dispor a junta no terço médio (para ambos os vãos);
e
e. Junta entre laje e a viga: é necessário garantir uma boa ligação e se necessário, utilizar
armaduras adicionais para absorverem as tensões de corte.
As juntas criadas por interrupção da concretagem em suportes inclinados devem ser
transversais ao eixo do elemento, e dispor de armaduras de costura adequadas para que
absorvam os esforços cortantes em sua superfície como mostra a Figura 2.3.
Figura. 2.3 – Juntas de concretagem em suportes inclinados.(CÁNOVAS, 1988)
32
2.3.3 – Cura do concreto:
Segundo NEVILLE (1997), "a cura é a denominação dada aos procedimentos a que se recorre
para promover a hidratação do cimento e consiste em controlar a temperatura e a saída e
entrada de umidade para o concreto".
Para DIAS (1990), "a cura tem como objetivo manter a água de mistura do concreto no seu
interior, até a completa hidratação do cimento".
Para conseguir um bom concreto, é necessário não só que este seja bem dosado, bem colocado
e bem compactado, como também que, durante o tempo de pega e endurecimento do mesmo,
o ambiente em que se encontre possua condições adequadas de temperatura e umidade para
que as reações de hidratação se realizem com toda a normalidade e sem criar tensões internas
que possam ocasionar efeitos patológicos que se apresentarão, normalmente, em forma de
fissuras superficiais ou profundas, ou em diminuições notáveis das resistências mecânicas.
A falta do procedimento correto da cura acarreta na diminuição da resistência final do
concreto e possibilidade de aparecimento de fissuras na estrutura.
2.4 - FISSURAS
Souza e Ripper (1998), define que as "fissuras podem ser consideradas como a manifestação
patológica característica das estruturas de concreto, sendo mesmo o dano de ocorrência mais
comum e aquele que, a par das deformações muito acentuadas, mais chama a atenção dos
leigos, para o fato de que algo de anormal está a acontecer".
É certo que seja quase impossível executar um concreto totalmente livre de algum tipo de
fissura, portanto, ao se analisar uma estrutura de concreto que esteja fissurada, os primeiros
passos a serem dados consistem na elaboração do mapeamento das fissuras e em sua
classificação, que vem a ser a definição da atividade ou não das mesmas Classificadas as
fissuras e de posse do mapeamento, pode-se dar início ao processo de determinação de suas
causas, de forma a poder-se estabelecer as metodologias e proceder aos trabalhos de
recuperação ou de reforço, como a situação o exigir. É necessário sempre muita atenção e
competência, pois uma análise malfeita pode levar à aplicação de um método de recuperação
33
ou de reforço inadequado e, caso não sejam eliminadas as causas, de nada vai adiantar tentar
sanar o problema, pois, neste caso, ele ressurgirá, e até mesmo poderá vir a agravar-se.
De acordo com a norma NBR 6118/2003 considera que não existem exigências relativas a
fissuração do concreto simples para as classes de agressividade ambiental I a IV. Para o
concreto armado, inserido na Classe de Agressividade Ambiental IV, não se admite fissuração
superior a 0,2 mm. Para Classe de Agressividade Ambiental II e III, até 0,3 mm é aceitável e
para a Classe de Agressividade Ambiental I, a tolerância relativa a fissuração é de até 0,4 mm;
Para flecha, a norma NB-1/1978, considerava:
1) Para carga total (permanente + sobrecargas) flecha < L/300 do vão e < L/500 do
comprimento do balanço; 2) para cargas acidentais flecha < L/500 do vão e < L/250 do
comprimento do balanço, sendo L. A norma NBR 6118/2003, passa a considerar o critério de
aceitabilidade sensorial (limitação devido ao efeito visual desagradável), e o limite que era de
L/300 passa a ser menos conservador, admitindo o valor de L/250. Entretanto, agora existe
um valor específico para casos em que possam existir danos às paredes, caixilhos e
revestimentos. Neste caso, a flecha admissível passa a ter o limite de L/500, respeitando-se o
valor máximo de 10mm e uma rotação do elemento estrutural não superior a 0,0017 rad. Vale
ressaltar que a norma atual, não determina uma altura mínima para a peça que permita
dispensar a verificação da flecha. A partir desta norma, sempre deve verificar a flecha em
vigas e lajes.
2.4.1 – Fissuras do concreto no estado plástico
A utilização de métodos inadequados ou negligência podem afetar, durante a fase de execução
da obra, a qualidade do concreto.
No estado plástico o concreto pode apresentar fissuras devidas à deficiências ou descuido na
execução. O deslizamento do concreto em rampas de escadas com grande inclinação, os
movimentos de uma forma mal projetada ou mal fixada, os deslocamentos de armaduras
durante o adensamento do concreto, figuram entre os motivos mais freqüentes de fissuração
por falhas na execução.
As fissuras que ocorrem antes do endurecimento do concreto podem ser também do resultado
de assentamentos diferenciais dentro da massa do concreto (sedimentação) ou retração da
superfície causada pela rápida perda de água enquanto o concreto ainda está plástico. Elas
34
podem ser devidas a combinação de endurecimento superficial com sedimentação interior.
Outra causa de fissura nessa fase pode ser a movimentação das fôrmas
2.4.2 – Retração Plástica
A retração plástica, é devida a perda rápida de água de amassamento, seja por absorção das
fôrmas, ou dos agregados, seja por evaporação. A intensidade da retração plástica é
influenciada pela temperatura, pela umidade relativa ambiente e pela velocidade do vento. No
entanto, a perda de água por si mesma não permite prever a retração plástica; depende muito
da rigidez. Pode haver fissuração se a quantidade de água perdida por unidade de área for
grande e maior do que a água que sobe à superfície por efeito da exsudação. Neville (1997),
afirma que "impedindo-se completamente a evaporação depois do lançamento do concreto,
elimina-se a fissuração".
Deve ser lembrado que a evaporação aumenta quando a temperatura do concreto for muito
mais alta do que a temperatura ambiente: em tais circunstâncias, pode ocorrer retração
plástica mesmo que seja alta a umidade relativa do ar. Portanto, é melhor proteger o concreto
contra o sol e contra o vento, lançar e iniciar a cura o mais cedo possível. Deve-se evitar
lançar o concreto em um subleito seco.
Conforme Ripper (1994): "para temperaturas do ar e do concreto a 32º C, umidade relativa de
10% e velocidade do vento de 40 Km/h, o grau de evaporação é 50 vezes maior do que
quando a temperatura do ar e do concreto for de 21º C, a umidade relativa de 70% e não haja
vento. Mesmo quando são usados os mesmos materiais, proporções, métodos de mistura,
manuseio, acabamento e cura as trincas podem ocorrer ou não, dependendo apenas das
condições do tempo".
As fissuras não seguem linhas determinadas, mas se ramificam ou apresentam sinuosidade,
por ocorrerem quando o concreto não apresenta praticamente resistência e, que vão se
adaptando ao contorno dos agregados, pois não os podem atravessar.
São fissuras mais freqüente em superfícies de pavimentos, lajes, e em todos os elementos de
grande área ou volume.
O fenômeno pode ser também significativo quando a pega é retardada, como em tempo frio
ou pelo uso de aditivo retardador.
35
2.4.3 – Retração Hidráulica
A retração hidráulica, após a pega, é devida à perda por evaporação de parte da água de
amassamento para o ambiente, de baixa umidade relativa. A retração após a pega manifesta-se
muito mais lentamente do que a retração plástica.
A retração hidráulica, tanto no concreto quanto em argamassas ou pastas de cimento,
manifesta-se imediatamente após o adensamento do concreto, se não forem tomadas
providências que assegurem uma perfeita cura, ou seja, se não for impedida a evaporação da
água do concreto.
Principais fatores que influem na retração são os seguintes:
1. Finura do cimento (a retração é aproximadamente, proporcional a finura) e dos
elementos mais finos do concreto;
2. Tipo do cimento (a retração pode variar de uma até três vezes conforme o tipo de
cimento). Existe um teor ótimo de gesso para se obter a retração mínima. Os álcalis, os
cloretos e, de um modo geral, os aditivos aceleradores aumentam a retração;
3. Teor de água: a retração é aproximadamente proporcional ao volume absoluto da
pasta;
4. Consumo de cimento;
5. Tipo de granulometria dos agregados: as areias finas aumentam a retração. Quanto
maior for o módulo de elasticidade dos agregados, tanto maior será a reação por eles oposta a
retração; e
6. Umidade relativa e período de conservação.
Em geral, as recomendações para minimizar estas fissuras envolvem o emprego da mínima
relação água/cimento (a/c) possível, consumos não elevados de cimento, misturas com teor
adequado de argamassa, execução cuidadosa da cura, sem que o concreto fique sujeito a
ciclos de secagem e umedecimento.
Concretos dosados com excesso de areia apresentam retração maior do que misturas
semelhantes com teores normais.
As medidas preventivas para reduzir a retração hidráulica consistem em:
36
1. usar o menor teor de água de amassamento possível;
2. maior teor de agregado graúdo possível;
3. cura adequada do concreto; e
4. armaduras de pele quando as peças forem altas.
Observa-se que quando a cura do concreto é bem feita, a retração só se iniciará quando a cura
for interrompida, idade em que o concreto terá sua resistência à tração aumentada, e assim
quando surgirem as tensões de tração devidas à retração, o concreto já poderá apresentar
resistência à tração superior às tensões oriundas da retração, não ocorrendo portanto o
fissuramento.
2.5 - DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO
Souza e Ripper(1994),definem, desagregação como a separação física de placas ou fatias de
concreto, com perda de monolitismo e, na maioria das vezes, perda também da capacidade
ligante entre os agregado e a pasta cimenticia. Como conseqüência, tem-se que uma peça com
seções de concreto desagregado perderá, localizada ou globalmente, a capacidade de resistir
aos esforços que a solicitam.
A desagregação do material é um fenômeno que freqüentemente pode ser observado nas
estruturas de concreto, causado pelos mais diversos fatores, ocorrendo, na maioria dos casos,
em conjunto com a fissuração.
2.5.1 – Desagregações Devido as Reações Expansivas no Concreto
Na fabricação do cimento, acrescenta-se gesso ao clínquer no moinho. Esse gesso
acrescentado reage antes das vinte e quatro horas com parte do aluminato tricálcico formando
etringita; a outra parte do aluminato fica livre para reagir caso, posteriormente, encontre
sulfatos, seja nos agregados ou nas águas com as quais o concreto vai entrar em contato,
produzindo mais etringita que é expansiva, mas numa fase em que o concreto já está
37
endurecido e, portanto, provocará efeitos patológicos que aparecerão na forma de rachaduras,
fissuras e, posterior desintegração do concreto.
A RAA (reação álcali-agregado) pode ser resumida como um tipo de degradação que afeta ao
concreto através de um fenômeno de expansão. A expansão é causada pela reação química
que se processa entre certos tipos de agregados e os álcalis de Sódio (Na) e de Potássio (K)
existentes no cimento Portland, e cuja intensidade depende dos produtos formados pela
reação.
Em escala microscópica, as conseqüências da expansão devido à RAA podem apresentar-se
como microfissuras e descolamento do agregado, e sob o ponto de vista volumétrico, o
desenvolvimento de esforços e decorrentes fissuras no concreto.
Os sulfatos presentes em soluções aquosas, (Ex. efluentes industriais) ou mesmo em solos,
atacam estruturas de concreto promovendo uma destruição progressiva do material. A
velocidade com que ocorre este ataque depende de alguns fatores que se dividem em dois
tipos principais:
1. Características do meio agressivo; e
2. Propriedades do meio agredido.
Alguns dos fatores mais importantes são apresentados em seguinte:
1. Concentração, tipo de sulfato e PH da solução, solo ou água subterrânea;
2. Mobilidade da água subterrânea;
3. Adensamento, tipo e teor de cimento, tipo de agregado, fator água/cimento e regime de
cura do concreto;
4. Processo construtivo; e
5. Ataque de sulfatos promove uma severa agressividade ao concreto.
A degradação do concreto por ataque de sulfatos envolve basicamente três processos:
1. Difusão dos íons sulfato através da matriz, controlada pela porosidade e
permeabilidade do material;
38
2. Reações entre íons sulfato e certos constituintes do cimento hidratado (CH,
C3A.CS.H18 ) para formar produtos expansivos (etringita e gipsita); e
3. Fissuração da matriz, que conduz à perda de resistência e desintegração.
Para prevenir ou mesmo postergar o problema, geralmente procura-se especificar tipos
especiais de cimento (baixo teor de C3A ou adição de microssílica, escória de alto-forno e
pozolanas em geral) para o caso de ataques por sulfato e reduzir a porosidade do material
através de uma redução drástica da relação água/cimento ou adição de microssílica. Este
último procedimento vale tanto para ataque por cloretos quanto sulfatos.
Os fatores endógenos (ou de produção) associados com o processo de produção do concreto
(seleção dos materiais, dosagem, amassamento e cura) tem influência na expansão do
concreto por ataque dos sulfatos são necessariamente:
1. Tipo de cimento: composição química, superfície específica
2. Tipo de agregado: forma e granulometria,- composição mineralógica
3. Dosagem: relação a/c, conteúdo de cimento,teor de argamassa
4. Cura: duração, temperatura
Da mesma forma, nos casos de corrosão das armaduras, em que o concreto se desagrega
quando do aumento de volume das barras de aço, ou ainda quando acontecem as reações
álcali-agregado e de sulfatos, que resultam em processo de desagregação bastante acelerado.
2.5.2 – Desagregações Devido à Corrosão do Aço
Em geral para Helene (1986), "pode-se definir corrosão como a interação destrutiva de um
material com o ambiente, seja por reação química ou eletroquímica". Sendo genérica, esta
definição será válida para qualquer tipo de material.
Em oposição ao processo de corrosão do aço das armaduras, que é predominantemente
eletroquímico, a do concreto é puramente química e ocorre por causa da reação da pasta de
39
cimento com determinados elementos químicos, causando em alguns casos a dissolução do
ligante ou a formação de compostos expansivos, que são fatores deteriorantes do concreto.
O processo de corrosão do concreto depende tanto das propriedades do meio onde ele se
encontra, incluindo a concentração de ácidos, sais e bases, como das propriedades do próprio
concreto.
O concreto, quando de boa qualidade, é um material bastante resistente à corrosão, embora
também possa vir a sofrer danos quando em presença de alguns tipos de agentes agressores. Já
o concreto de má qualidade, ou seja, o concreto permeável, muito poroso, segregado ou
confeccionado com materiais de má qualidade ou impuros, é facilmente atacável por uma
série de agentes.
Pode-se classificar a corrosão do concreto segundo três tipos, dependendo das ações químicas
que lhe dão origem: corrosão por lixiviação; corrosão química por reação iônica; e corrosão
por expansão.
1. A corrosão por lixiviação consiste na dissolução e arraste do hidróxido de cálcio
existente na massa de cimento Portland endurecido (liberado na hidratação) devido ao ataque
de águas puras ou com poucas impurezas, e ainda de águas pantanosas, subterrâneas,
profundas ou ácidas, que serão responsáveis pela corrosão, sempre que puderem circular e
renovar-se, diminuindo o pH do concreto. Quanto mais poroso o concreto, maior a
intensidade da corrosão. A dissolução, o transporte e a deposição do hidróxido de cálcio
Ca(OH)2 (com formação de estalactites e de estalagmites) dão lugar à decomposição de outros
hidratos, com o conseqüente aumento da porosidade do concreto que, com o tempo, se
desintegra. Este fenômeno que ocorre no concreto é similar à osteoporose do esqueleto
humano, e pode levar, em um espaço de tempo relativamente curto, o elemento estrutural
atacado à ruína. É o processo de corrosão que ocorre com mais freqüência.
2. A corrosão química por reação iônica ocorre em virtude da reação de substâncias
químicas existentes no meio agressivo com componentes do cimento endurecido. Esta reação
leva à formação de compostos solúveis, que são carreados pela água em movimento ou que
permanecem onde foram formados, mas, nesse último caso, sem poder aglomerante. Os
principais íons que reagem com os compostos do cimento são o magnésio, o amônio, o cloro e
o nitrato.
40
3. Na corrosão por expansão ocorrem reações dos sulfatos com componentes do cimento,
resultando em um aumento do volume do concreto que provoca sua expansão e desagregação.
Os sulfatos encontram-se presentes em águas que contém resíduos industriais, nas águas
subterrâneas em geral e na água do mar, sendo que os sulfatos mais perigosos para o concreto
são o amoníaco (NH4)2S02 , o cálcico, CaSO4 o de magnésio, MgSO4 e o de sódio. Na2SO4.
4. Qualquer processo de corrosão deve ser imediatamente interrompido ainda no seu
início, pois sua continuidade, além de enfraquecer a estrutura, dará origem à fissuração, à
corrosão das armaduras e a desagregação do concreto e, em estágio mais evoluído, torna
economicamente impraticável a recuperação da estrutura.
2.6 - CARBONATAÇÃO DO CONCRETO
Nas superfícies expostas das estruturas de concreto, a alta alcalinidade, obtida principalmente
à custa da presença do hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) liberado das reações de hidratação, pode
ser reduzida com o tempo. Essa redução ocorre, essencialmente, pela ação do CO2 presente na
atmosfera e outros gases ácidos, tais como S02 e H2S. Esse processo, denominado
carbonatação do concreto, ocorre lentamente, segundo a reação principal:
Ca(OH)2 + C02 ÿ CaCO3 + H20
O pH de precipitação do CaCO3 é cerca de 9,4 (à temperatura ambiente), o que altera,
substancialmente, as condições de estabilidade química da capa ou película passivadora do
aço
2.6.1 – A Influência da Relação A/C
A carbonatação superficial dos concretos é variável de acordo com a natureza de seus
componentes, com o meio ambiente (rural, industrial, ou urbano) e com as técnicas
construtivas de transporte, lançamento, adensamento, cura etc. Como conseqüência, a
profundidade de carbonatação é de difícil previsão e também variável dentro de amplos
limites.
As profundidades de carbonatação aumentam, inicialmente, com grande rapidez,
prosseguindo mais lentamente e tendendo assintoticamente a uma profundidade máxima. Essa
tendência ao estacionamento do fenômeno pode ser explicada pela hidratação crescente do
41
cimento, que aumenta, gradativamente, desde que haja água suficiente, a compacidade do
concreto. Alie-se a isso, a ação dos produtos da transformação que também colmatam os
poros superficiais, dificultando o acesso de CO2, presente no ar, ao interior do concreto.
Tendo a relação água/cimento um papel preponderante na permeabilidade aos gases, é natural
que tenha grande influência na velocidade de carbonatação.
Greger (1969), apud Helene (1986): " profundidade de carbonatação de concretos com relação
água/cimento de 0,80, 0,60 e 0,45, em média, está na relação 4:2:1, independentemente da
natureza da atmosfera a que estejam expostos". O mesmo autor ressalta que a carbonatação
pode ser cerca de 10 vezes mais intensa em ambientes climatizados (U.R. 65ºC e temperaturas
de 23ºC) do que em ambientes úmidos, devido à diminuição da permeabilidade do CO2 no
concreto por efeito da presença de água.
A Figura 2.4 apresenta os resultados da observação de SORETZ, apud HELENE (1986),
realizada numa série de concretos de boa qualidade, constituídos de agregados normais.
Figura 2.4 – Variação da profundidade de carbonatação com o tempo e com a relação a/c
(SORETZ, apud HELENE,1986)
Num concreto de boa qualidade, bem adensado e curado, a carbonatação se dá
superficialmente só tendo importância nos pontos em que a armadura esteja muito próxima à
superfície do concreto.
42
2.6.2 – Espessura de Carbonatação
Em relação a determinação da profundidade de carbonatação, um método comum e simples
consiste em tratar uma superfície recém rompida de concreto com uma solução de
fenolftaleína em álcool diluído. O Ca(OH)2 adquire uma cor rosa enquanto a parte
carbonatada não se altera; com o prosseguimento da carbonatação da superfície recém
exposta, a cor rosa desaparece gradativamente. O ensaio é rápido e fácil de ser executado, mas
deve ser lembrado que a cor rosa indica a presença de Ca(OH)2 mas não necessariamente a
ausência total de carbonatação. Na verdade, o ensaio com fenolftaleína é uma indicação do
pH (cor rosa para pH maior do que cerca de 9,5) mas não faz distinção entre um pH baixo
causado por carbonatação ou por outros gases ácidos. O ensaio com fenolftaleína não pode ser
usado com cimentos aluminosos, pois, esses cimentos não contém cal livre. As técnicas de
laboratório, que podem ser usadas para esse tipo de cimento, que determinam a profundidade
de carbonatação incluem análise química, difração de raios X, espectroscopia por
infravermelho e análise termogravimétrica.
2.7 - FATORES ATMOSFÉRICOS O CIB W80/RILEM define fatores de degradação como "qualquer grupo de fatores externos
que possa vir a afetar o desempenho dos materiais, componentes ou sistemas construtivo,
entre eles a ação dos fatores atmosféricos”.
2.7.1 - Radiação Solar
A radiação ultravioleta ocupa a faixa entre a luz visível e o raio-X, no espectro
eletromagnético. Os raios UV têm comprimento de onda mais curto do que a luz visível.
Comprimentos de onda são medidos em nanômetros (nm) que representam um bilionésimo do
metro (1nm =10-9m). A radiação ultravioleta pode ser dividida em três categorias, de acordo
com os comprimentos de onda. Os raios UV-C do sol, entretanto, não representam uma
preocupação porque os comprimentos de onda mais curtos que 290 nm são filtrados pela
camada de ozônio, na atmosfera, e não alcançam a superfície da terra. A radiação solar, direta
ou indiretamente, é absorvida pelos materiais e pode causar reações químicas degradantes,
especialmente a energia contida nas radiações de ondas curtas, pode quebrar moléculas
orgânicas longas ou iniciar novas reações químicas. Estas ondas atacam plásticos, algumas
43
pinturas e materiais de base betuminosa. Já as radiações infravermelhas (ondas longas) podem
acelerar o envelhecimento térmico pela elevação da temperatura superficial dos materiais
muito acima da temperatura ambiental do ar e dos materiais adjacentes que estão a sombra ou
que tenham outro coeficiente de absorção (JOHN,1985).
2.7.2 - Temperatura
A exposição à temperatura extrema acarreta mudanças físicas na maioria dos materiais. O
efeito mais facilmente observável é o da dilatação/retração, conforme a temperatura aumenta
ou diminui. Como cada material tem o seu coeficiente de dilatação térmica próprio, podem
aparecer tensões capazes de, se não acomodadas, ocasionar trincas e fissuras e até mesmo a
ruptura da estrutura. Em baixas temperaturas, os plásticos e borrachas perdem elasticidade e
tornam-se quebradiços, e certos aços perdem sua resistência a impactos; Em temperaturas
altas, a situação se inverte (JOHN,1985). O aumento da temperatura acelera as reações
químicas de muitos processos de degradações. Ranson (1987) ressalta que um aumento de
10ºC pode dobrar a taxa de muitas reações químicas, dependendo da energia de ativação da
reação.
Altas temperaturas também aumentam a taxa de volatização e evaporação. A perda de voláteis
em compostos betuminosos, alguns plásticos e mastiques podem causar contrações e trincas.
A evaporação da água de concretos pode ocasionar perda de adesão e fissuras. Deve-se
observar também, que a variação de temperaturas de alguns materiais pode ser maior do que a
ambiental. Recomenda-se, estudar o efeito de variações bruscas de temperaturas, como a que
ocorre quando chove repentinamente, sobre materiais antes aquecidos pela radiação solar.
2.7.3 - Microclima e Macroclima
Existe uma grande quantidade de ambientes que exercem uma determinada influência no
desempenho de uma edificação. Novokshchenov (1995) realizou uma análise de um
complexo industrial localizado no Golfo Pérsico que apresentava um problema grave de
corrosão de armaduras. Os resultados do estudo mostraram que o grande índice de degradação
encontrado ocorreu principalmente em função da atmosfera marinha – fonte de íons cloreto –
aliado ao microclima gerado pelo complexo industrial – fonte de sulfatos – que agiram
simultaneamente, acelerando o processo corrosivo. Assim sendo, de acordo com a grande
44
variedade e interação existente entre os diversos tipos de ambiente, um dos pontos mais
importante a ser verificado na definição da agressividade ambiental às estruturas de concreto é
o microclima, no que se refere à interação que ocorre entre o meio ambiente (ou macroclima)
e a superfície da estrutura (ASHTON et al., 1992; CEB, 1993).
O microclima é muito mais variável que o macroclima, visto que as estruturas de concreto
estão bem mais sujeitas a uma maior ou menor variação de fatores como umidade e
temperatura em certas áreas. As observações do macroambiente são um fator fundamental na
definição da vida útil das estruturas, já que é nesta zona que a ação da umidade e agentes
agressivos vão interagir com a camada de recobrimento do concreto.O interior de certas
estruturas também sofre os efeitos do microclima, como é o caso de câmeras frigoríficas,
ambientes mais úmidos, interiores de tubulações de esgoto, entre outros, apresentando
problemas tais como o de condensação e evaporação, ou seja, ciclos de molhagem e secagem
que aceleram os processos de degradação (ANDRADE, 1997).
2.7.4 - Umidade
Segundo Tuutti (1982), a umidade contida nos poros do concreto é o fator controlador mais
importante da velocidade de corrosão das armaduras, podendo ser devido a necessidade de
água para ocorrer a reação catódica da redução do oxigênio ou devido à influência na
resistividade do concreto e na permeabilidade do oxigênio. A depender do grau de saturação
dos poros do concreto, segundo Guimarães (2000) o coeficiente de depresão efetiva de ions
cloreto varia de 57% a 98%, e também observou um aumento de 18,37.10-10 cm²/s a
203,81.10-10 cm²/s, evidenciando, assim uma maior penetração de íons cloreto com o aumento
do grau de saturação. Quando os poros do concreto estão saturados de água, a resistividade é
pequena, mas o acesso do oxigênio á armadura encontra dificuldade. Quando não há oxigênio,
temos um controle do processo de corrosão, ou seja controlado catodicamente e a velocidade
de corrosão resultante é baixa ou moderada. Isto ocorre com estruturas submersas.
As velocidades de corrosão nas armaduras das estruturas, ocorrem em concreto
com elevados conteúdos de umidade, porém não saturados. Nesta situação, elevadas
velocidades de reação são permitidas devido ao oxigênio poder chegar livremente á armadura
e a resistividade ser suficientemente baixa.
A variação de umidade pode provocar variações dimensionais diferentes para
materiais diferentes, podendo causar, devido aos esforços produzidos, fissuras ou trincas.
45
2.7.5 - Ventos e Partículas
Os estudos dos ventos predominantes são muito importantes na determinação de para onde
serão transportados os agentes de degradação, como névoa salina, partículas de combustíveis
que não são queimadas pelos motores, contaminantes produzidos por industrias, que podem
atingir grandes distâncias.
2.8 - CAUSAS DE INTERVENÇÃO EM ESTRUTURAS - VISÃO HOLÍSTICA
Como todo e qualquer material, o concreto também sofre desgaste natural ao longo do tempo.
Sabendo-se que o material se deteriora, importa saber como e em que grau ele se deteriora
(ROSTAN, 1991). Aceitável é a situação em que o desgaste natural aconteça segundo uma
velocidade prevista, de forma que a estrutura atenda os objetivos de projetos, sem exigir altos
custos de manutenção. Existe, porém, um sinergismo entre todos os fatores responsáveis pela
degradação das estruturas. É extremamente difícil de ser mensurado o efeito combinado que
existe entre o meio ambiente e as propriedades microestruturais do concreto devido a grande
variabilidade existente entre os dois fatores (Mehta, 1994). Bob(1996) cita a dificuldade de
modelar temporalmente o comportamento das estruturas, devido a aleatoriedade existente
entre as diversas formas de degradação.
Assim como o meio ambiente, duas das três fases do concreto, a pasta e a interface
agregado/pasta, estão em constante processo de mudança no decorrer do tempo. Não existe
um modelo estatístico que represente tal transformação, pois a porosidade e a permeabilidade
do concreto mudam continuamente em virtude da penetração de água, CO2, O2 e substâncias
como cloretos e sulfatos no interior do mesmo (BASHEER et al, 1994). Além disso, certos
processos físico-químicos, como a própria hidratação do cimento e/ou partículas pozolânicas,
dissolução dos produtos de hidratação e a conseqüente formação de outros produtos também
influenciam no contínuo processo de mudança que o concreto apresenta (ANDRADE, 1997).
Consequentemente, face a dificuldade em se determinar a interação existente entre os diversos
fenômenos responsáveis pela degradação de estruturas, uma nova conceituação para a
abordagem do problema se faz necessária. Desta forma, Mehta (1994) propôs um modelo
holístico de deterioração das estruturas, que pode ser observado na Figura 2.5.
46
E s t r u t u r a d e c o n c r e t o q u e c o n t é m f i s s u r a s d e s c o n t i n u a , m i c r o f i s s u r a s e e s t r u t u r a s d e
p o r o s
F i s s u r a ç ã o c o m p o s t e r i o r
p e r d a d e ma s s a .
Figura 2.5 - Modelo holístico de deterioração do concreto (METHA, 1994)
O termo holístico vem do grego holos, e afirma que o perfeito entendimento de um fenômeno
ou processo não pode ser deduzido a partir da soma de cada uma das partes constituintes dos
mesmos, e sim através de uma visão global, que leve em consideração a interação existente
entre partes que contribuem para o funcionamento de todo (ANDRADE, 1997).
2.9 - DISPOSIÇÃO NORMATIVA DA METODOLOGIA CORRENTE PARA AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
Embora seja crescente o reconhecimento da importância da manutenção estrutural, é ainda
insuficiente, mesmo em países desenvolvidos, a disposição normativa especifica para
programas de manutenção.
G r a d u a l a u me n t o d a p e r me a b i l i d a d e , c o m i n t e r c o mu n i c a ç ã o e n t r e a s f i s s u r a s , m i c r o f i s s u r a s e a r e d e d e p o r o s d o
c o n c r e t o .
A : E x p a n s ã o d o c o n c r e t o c a u s a d a p o r : 1 . C o r r o s ã o d a a r ma d u r a 2 . R e a ç ã o á l c a l i - a g r e g a d o 3 . C o n g e l a me n t o d a á g u a
e s i mu l t a n e a me n t e B : R e d u ç ã o d a r e s i s t ê n c i a e r i g i d e z d o c o n c r e t o
Ação do meio ambiente (estagio 1) 1- efeito do clima (ciclos de
aquecimento/resfriamento. molhagem/ secagem )
2- efeito de cargas (carregamento cíclico, impactos)
Ação do meio ambiente (estagio 2) Iniciação e propagação do dano
1- Penetração de água 2- Penetração de oxigênio e gás carbônico 3- Penetração de cloretos, sulfatos, etc
47
O código MC-90 (CEB, 1991) estabelece em seu Capítulo 13 :
E s t r u t u r a s p r o j e t a d a s e c o n s t r u í d a s e m c o n fo r m i d a d e c o m a s p r o v i s õ e s d e s t e c ó d i g o d e v e m s e r i n s p e c i o n a d a s e ma n t i d a s t ã o f r e q ü e n t e e c u i d a d o s a me n t e q u a n t o p o s s í v e l , t a l q u e e l a s c o n t i n u a me n t e p r e e n c h a m t o d o s o s r e q u i s i t o s r e l a t i v o s à f u n c i o n a l i d a d e e s e g u r a n ç a p r e t e n d i d a s " .
Prescreve-se ainda que “Particularmente, estruturas de maior importância ou sob condições
adversas devem, necessariamente, ser inspecionadas periodicamente, adotando os testes de
campo apropriados e estratégias de monitoramento”.
Para estruturas convencionais, sob condições normais de serviço, os seguintes períodos de
tempo entre inspeções sucessivas são recomendados pelo CEB-FIP- MC-90:
1. Para casas, escritórios, etc.: 10 anos;
2. Para edifícios industriais: 5 a 10 anos;
3. Para pontes de ferrovias: 2 anos;
4. Para pontes de auto-estradas: 4 anos
5. Para pontes de rodovias: 6 anos.
No caso de manutenção de Obras de Arte, a ABNT (1986) estabeleceu uma norma específica,
a NBR 9452, com procedimentos para inspeção em pontes e viadutos, classificando os tipos
de vistorias em:
1.Cadastral;
2. Rotineira;
3. Especial.
incluindo, em anexo, roteiros para vistorias e um fluxograma detalhado para a vistoria
especial. As disposições desta norma, dirigidas especificamente a pontes e viadutos, apesar de
conterem informações de interesse, não são, de forma direta, aplicáveis a edificações usuais.
Como pode-se verificar, a manutenção tem recentemente, merecido destaque dos órgãos
normalizadores, embora ainda sejam incipientes as disposições referentes ao assunto. Vários
órgãos públicos, para atender às suas demandas, vêm desenvolvendo metodologias especificas
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para inspeção e manutenção, tais como: a Eletronorte, na área de barragens (ALMEIDA e
AMARO, 1989); o Metrô de São Paulo, para vias permanentes (MACEDO, 1989); a Sabesp,
para reservatórios e travessias (BIRINDELLI et al., 1994); e o DNER (1989) na área de obras
de arte.
A metodologia recomendada pela Federação Internacional de Protensão (FIP, 1988) é,
presentemente, a mais abrangente e de maior interesse para aplicação em edificações usuais,
apesar do caráter de "guia" e não ter força de norma. Ela é direcionada a inspeção em
estruturas de concreto armado e protendido, estabelecendo intervalos de tempo para inspeção
estrutural, apresentados na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 - Indicação de intervalos de inspeção (anos) (FIP, 1988)
C L A S S E S D E E S T R U T U R A
1
2
3
C o n d i ç õ e s a mb i e n t a i s e
d e c a r r e g a me n t o
I n s p e ç ã o R o t i n e i r a
I n s p e ç ã o E x t e n s i v a
I n s p e ç ã o R o t i n e i r a
I n s p e ç ã o E x t e n s i v a
I n s p e ç ã o R o t i n e i r a
I n s p e ç ã o E x t e n s i v a
M U I T O
S E V E R A
21
2
61
6
1 01
1 0
S E V E R A
61
6
1 01
1 0
1 01
-
N O R M A L
1 01
1 0
1 01
-
A I S *
A I S *
1 - I n t e r c a l a d a e n t r e i n s p e ç õ e s e x t e n s i v a s 1 A I S* A p e n a s I n s p e ç õ e s S u p e r f i c i a i s .
Nesta metodologia, os intervalos de tempo para inspeção estrutural são definidos segundo
categorias de inspeção, a partir da classificação das estruturas em classes, combinadas aos
tipos de condições ambientais e de carregamento, na seguinte forma:
1. Categorias de inspeção:
Rotineira - realizada a intervalos regulares, com planilhas especificas da estrutura
elaboradas conjuntamente pelos técnicos responsáveis pelos projetos e manutenção;
Extensiva - realizada a intervalos regulares, alternadamente com as rotineiras,
objetivando investigações mais minuciosas dos elementos e das características dos
materiais componentes da estrutura;
49
Especial - realizada em situações não usuais, indicadas por inspeções rotineiras ou
extensivas, ou por causas acidentais envolvendo comprometimento de segurança ou
funcionalidade.
2. Classes de estrutura:
Classe 1 - onde a ocorrência de uma ruptura possa ter conseqüências catastróficas e/ou
onde a funcionalidade da estrutura é de vital importância para a comunidade;
Classe 2 - onde a ocorrência de uma ruptura possa custar vidas e/ou onde a
funcionalidade da estrutura é de considerável importância;
Classe 3 - onde é improvável que a ocorrência de uma ruptura possa levar a
conseqüências fatais e/ou onde um período com a estrutura fora de serviço possa ser
tolerado.
3. Tipos de condições ambientais e de carregamento:
Muito severa - o ambiente é agressivo e há carregamento cíclico e possibilidade de
fadiga;
Severa - o ambiente é agressivo, com carregamento estático, ou o ambiente é normal,
com carregamento cíclico e possibilidade de fadiga;
Normal - o ambiente é normal, com carregamento estático.
A necessidade de se estabelecer programas para inspeção em edificações usuais
vem se tornando cada vez mais imprescindível. Apesar de algumas empresas estatais e
privadas desenvolverem suas próprias metodologias, atendendo a requisitos específicos, a
ausência, quase completa, de disposições normativas relativas a estruturas convencionais é um
dos principais fatores de comprometimento da durabilidade nas edificações. A metodologia da
FIP, apresentada acima, pela simplicidade e possibilidade de aplicação imediata, mereceria
ser analisada para inclusão de seus dispositivos, em curto prazo, em norma da ABNT.
2.9.1 - Avaliação Quantitativa do Desempenho Estrutural
Em 1987, foi instituído pelo RILEM o Technical Committee 104 - Damage Classification of
Concrete Structures (104 - DCC), com a finalidade principal de buscar a unificação no âmbito
50
da Europa, de métodos de teste e diagnóstico relacionados com a classificação de dados em
estruturas de concreto, considerando-se a importância de tornar as inspeções "in situ" de
estruturas e os eventuais reparos com menor custo e efetivos. Vários trabalhos relacionados
com as atividades do 104 - DCC enfatizam a necessidade e discutem as formas possíveis para
sistemas de classificação e avaliação quantitativa de danos em estruturas de concreto, com o
objetivo primordial de minimizar a natureza subjetiva dos dados obtidos (RILEM, 1991).
Entretanto, apesar dos esforços e avanços relatados, principalmente no que se refere à analise
de estruturas de obras de arte, estudo do processo de evolução da corrosão do concreto e
avaliação de estruturas afetadas por terremoto, são ainda incipientes as recomendações
relativas à avaliação quantitativa do desempenho de estruturas de concreto armado de
edificações usuais.
No Brasil, foi desenvolvida uma metodologia por Klein et al. (1991), em convênio da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul com a Prefeitura de Porto Alegre, com o objetivo
de implementar um processo de vistorias sistematizadas em pontes e viadutos para
manutenção periódica e priorização das intervenções necessárias. Esta metodologia enquadra-
se no proposto pela RILEM (1991), embora enfoque somente a quantificação do nível de
dados de estruturas de concreto de pontes e viadutos, determinando um grau de risco, segundo
critérios para inspeção das obras de arte recomendados pelo DNER (1987) e a NBR 9452
(1986). Tendo em vista seu interesse para o presente trabalho, serão resumidos a seguir os
principais aspectos de sua formulação.
As obras são divididas em Famílias de elementos: instalações diversas, encontros, instalações
pluviais, pavimentos, juntas de dilatação, aparelhos de apoio, pilares e tabuleiros (vigas e lajes
da superestrutura). Por meio de inspeções visuais, os engenheiros vistoriadores preenchem
um Caderno de Inspeção, com as características gerais da obra e as manifestações patológicas
típicas dos elementos de cada família, atribuindo um grau para cada lesão observada. Os
parâmetros para a analise dos dados das vistorias são definidos na forma seguinte:
• Fator de intensidade do dano (Fi): atribuído pelos vistoriadores na obra, considera a
intensidade de cada manifestação patológica encontrada em cada elemento e varia em
uma escala de 0 a 4, como segue:
0 - elemento em perfeitas condições, sem lesões;
1 - elemento em bom estado, lesões leves;
51
2 - elemento em estado razoável, lesões toleráveis;
3 - elemento em más condições, lesões graves;
4 - elemento em péssimas condições, estado critico.
• Fator de relevância estrutural (FR): considera a importância de cada tipo de elemento,
dentro do conjunto de elementos em que a obra é subdividida, em função de sua
responsabilidade no comportamento estrutural e bom desempenho da mesma. Em uma
escala crescente de importância do elemento estão assim definidos:
1 - Instalações diversas;
2 – Encontros;
3 - Instalações pluviais e Pavimento;
4 - Juntas de dilatação e Aparelhos de apoio;
5 - Pilares, Vigas e Tabuleiros.
• Fator de gravidade do problema (FG): considera o provável grau de comprometimento
estrutural ou de desempenho causado pela manifestação patológica detectada sobre um
elemento. Para sua definição, foram estabelecidos quais os problemas mais relevantes
quanto aos aspectos de durabilidade e segurança estrutural (sobrecarga, falta de
cobrimento, etc.) e, para cada um dos problemas encontrados, examina-se de que
forma seus efeito são manifestados (fissuração, corrosão, etc). Assim, para cada
problema específico, e em função do elemento que apresenta o problema, atribui-se
uma nota dentro de uma escala de 0 a 10.
• Grau de risco do elemento (GR): o grau de risco de um elemento isolado de
uma estrutura é definido pela expressão:
GRE = � (FG x FI) x 100 (2.1)
� (FG)
52
• Grau de risco da família de elementos (GRF) definido pela expressão:
�
GRF = � � � x GRE �
� =I � (2.2)
sendo: n = número de elementos componentes da família;
GRE = grau de risco de cada elemento;
� = coeficiente de majoração.
O coeficiente de majoração � evidencia elementos altamente danificados,
aumentando sua contribuição no cálculo do GRF. Este impede a possibilidade de dispersão de
um elemento em estado crítico dentro de uma família de elementos em bom estado.
� � � [(n-m) +2]/2 para GRE>LIM (2.3)
� = 1 para GRE � LIM
Com : m - número de elemento da família com GRE>LIM
LIM - valor do GRE acima do qual um elemento está comprometido.
Os valores do LIM, para alguns elementos de Obras de Arte são:
• Pilares: 100
• Aparelhos de apoio: 200
• Encontros: 95
• Juntas de dilatação: 210
• Tabuleiros: 100
53
• Grau de risco da estrutura (GR), considerando o conjunto de todas as k famílias de
elementos, definido pela expressão:
k k
GR= � (FRi x GRFi)/ � FRi (2.4)
i=1 i=1
Sendo:
k - número de famílias de elementos presentes em cada obra;
FR - fator de relevância estrutural do elemento;
GRF - grau de risco da família de elementos.
Conforme o valor de GR, obtido da expressão acima, classifica-se o grau de risco da
estrutura da obra de arte segundo a escala abaixo:
Tabela 2.3 - Classificação do Risco Conforme Grau do Dano da Estrutura
GRAU DE RISCO GR
Baixo 0 - 100
Médio 100 - 200
Alto 200 - 300
Limite > 300
É ressaltado por Klein et al. (1991) que, nesta classificação, o termo "risco" não
quer significar necessariamente colapso da estrutura, mas sim um conjunto de disfunções
acumuladas pela obra, que a fazem merecer maior ou menor cuidado ou a brevidade de sua
recuperação.
A metodologia apresentada foi aplicada em algumas obras de arte na cidade de
Porto Alegre, tendo sido relatada como eficiente em onze obras de grande porte,
classificando-as, segundo os autores, adequadamente de acordo com a gravidade de suas
lesões.
54
Castro (1994) decidiu estudar a aplicabilidade da metodologia de Klein et al.
(1991) a edificações usuais com estrutura de concreto armado. A aplicação direta não se
mostrou viável, sendo necessárias adaptações bem como a inclusão de alguns parâmetros
relativos a efeitos não considerados. Entretanto, vale ressaltar o mérito, além de seu caráter
inédito, de buscar uma formulação que visa minimizar a natureza subjetiva dos dados obtidos
em inspeções de estruturas, o que, muitas vezes, resulta em elevados custos de reparo e
eficácia duvidosa.
Neste trabalho será utilizada a metodologia desenvolvida por Castro (1994), que
posteriormente foi modificado por Lopes (1998) e Boldo (2002) sucessivamente, com o
objetivo de atingir uma maior abrangência da sua aplicação. Estes sistema de analise, serão
detalhado no capitulo 3.
2.9.2 - Parâmetros de Interesse para a Manutenção Estrutural Entende-se que uma estratégia de manutenção exige, em principio, um programa de inspeções
sistemáticas, que levem a identificar a necessidade, o momento correto e a extensão da
intervenção em uma estrutura. Ou seja, as inspeções constituem parte fundamental do
processo de manutenção, devendo considerar os aspectos de segurança, funcionalidade e
estética, que são grandemente influenciados pela relação da estrutura com as condições
ambientais e seu tempo de utilização.
Durante a inspeção, para a elaboração de diagnóstico com a determinação das possíveis
causas e dos fatores que influenciam os danos, podem ser necessários, além da inspeção
visual, alguns ensaios que possibilitem orientar melhor os diagnósticos. Partindo dessa
consideração, Alonso e Andrade (1992 b) indicam alguns procedimentos que podem ser
adotados nas vistorias de estruturas:
1. Exame visual da estrutura, elemento por elemento, com o objetivo de identificar os
sintomas e a natureza do dano, verificando sua repetição na estrutura;
2. Observação de parâmetros específicos: investigação de manifestações de abrasão e
erosão, presença e natureza de fissuras, desintegração da superfície do concreto e
manchas de corrosão;
55
3. Identificação da agressividade ambiental: deve ser avaliada com base nas condições de
exposição da estrutura, considerando o macro e micro-climas atuantes sobre a obra e
suas partes críticas (ver item 2.4);
4. Retirada do cobrimento, em determinados pontos, para a observação das armaduras.
Se existirem danos, é importante definir a sua morfologia (localizado ou generalizado)
e cor dos óxidos, medir a diminuição do diâmetro da armadura (o que permitiria uma
estimativa aproximada da velocidade de corrosão média, caso se conheça o tempo
transcorrido desde o começo da deterioração). Sempre que possível, medir no local o
potencial e a velocidade de corrosão das armaduras no momento da inspeção;
5. Realização de ensaios a respeito do estado e composição do material, tais como:
• Profundidade de carbonatação - verificar a carbonatação do concreto através da
aplicação de uma solução de fenolftaleína para verificar e acompanhar a sua
evolução;
• Presença de cloretos e sulfatos - definindo se o íon agressivo está no concreto ou se
está havendo penetração do exterior; qualidade dos agregados, etc;
• Qualidade do concreto - dosagem, porosidade, resistência, módulo de deformação,
etc.
Para se tomar uma decisão adequada sobre a intervenção requerida, é necessário avaliar
corretamente a causa dos danos e, muitas vezes, conhecer a capacidade resistente residual da
estrutura. Para isso, é fundamental analisar as características estruturais relativas à rigidez e a
resistência na avaliação do nível de danos estruturais ocorridos, investigando, por exemplo, o
decréscimo da rigidez à flexão, da rigidez ao esforço cortante e/ou da rigidez axial das seções
transversais (SOUZA, 1990).
Os critérios adotados para a periodicidade das inspeções são aqueles recomendados pelo Guia
para Inspeção e Manutenção de Estruturas de Concreto da Federação Internacional de
Protensão (FIP, 1988). É também interessante realizar inspeções após 1 ano da entrega da
obra, aos 3 anos e aos 5 anos da entrega, pois, conforme Paterson (1994), a incidência de
defeitos é maior nas primeiras idades.
56
3-METODOLOGIA
57
3 - METODOLOGIA 3.1 - MANUTENÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO EM EDIFICAÇÕES USUAIS A importância da implantação de programas de manutenção periódica de estruturas na
garantia de durabilidade das edificações, visando o estabelecimento de prioridades para as
ações necessárias ao cumprimento da vida útil prevista, foi bastante enfatizada anteriormente.
Utilizou-se aqui de uma proposta de metodologia para a manutenção de estruturas de concreto
armado, destinada a edificações usuais, que tem por objetivo estabelecer uma quantificação
para o grau de deterioração dos elementos estruturais isolados e da estrutura como um todo,
baseando-se em parâmetros que consideram as manifestações mais freqüentes de danos, sua
evolução e a influência do meio ambiente em que a estrutura está inserida e da analise de
ensaios qualitativos.
A metodologia para o calculo do grau de deterioração da estrutura utilizada neste trabalho, foi
desenvolvida por Castro (1994), a partir da metodologia de Klein et al. (1991), e utilizada em
dois prédios, um deles do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Tecnologia da
Universidade de Brasília, uma edificação escolar pública, e o outro um prédio residencial de
propriedade da Universidade de Brasília, e posteriormente também utilizada por Andrade
(1997) em prédio residencial no Recife/PE.
Lopes (1998), introduziu nesta metodologia, uma nova definição para os fatores de
ponderação, e formulação do cálculo do grau de deterioração do elemento (Gde), utilizando
este novo conceito, em seis prédios de uso comercial de propriedade do Banco do Brasil S.A.
Boldo (2002) em sua tese de mestrado, continuou a desenvolver esta metodologia, para
avaliar quarenta edificações com estruturas de concreto graças a uma cooperação formal entre
a UnB e o Exercito Brasileiro, mantendo a configuração original de Castro, porém com alguns
acréscimos, como: alteração no roteiro de inspeção, fatores de ponderação e cálculo do grau
de deterioração.
Nesta dissertação, calculou-se o grau de deterioração da estrutura, pelos métodos de Castro,
Plínio e Boldo. Porém para realizar um estudo comparativo entre os edifícios aqui analisados,
adotou-se os resultados encontrados com pelo uso da metodologia de Castro, associados aos
58
resultados dos ensaios, para determinação da profundidade de carbonatação, do potencial de
corrosão, da velocidade do pulso ultra-sônico e da esclerometria
A base da metodologia utilizada no presente trabalho é a realização de inspeções periódicas
em edificações de concreto armado, através de engenheiros especialista na área, objetivando a
verificação do desempenho dos elementos estruturais nos mais variados aspectos de
segurança, funcionalidade e estética, fazendo necessário a utilização de ensaios que possam
dar respostas rápidas e objetivas a problemas como deficiências de cobrimento, profundidade
de carbonatação do concreto, efeito da presença de cloretos, etc
3.2 - DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA UTILIZADA 3.2.1- Princípios Gerais A metodologia é apresentada no fluxograma da Figura 3.1, que mostra os procedimentos a
serem seguidos, de forma sistemática, para o desenvolvimento das inspeções estruturais e
avaliação dos resultados. As inspeções estruturais são realizadas com base em um Caderno de
Inspeção, a ser preenchido pelo profissional ou equipe responsável, onde constam, além das
informações básicas sobre a estrutura, diversas “matrizes” que reúnem os dados necessários
ao desenvolvimento do fluxograma.
A estrutura da edificação em questão é dividida em "famílias" de elementos estruturais
típicos. Para cada elemento de uma família é elaborada uma matriz onde são listadas as
possíveis “manifestações de danos”, específicas daquela família, com o respectivo "fator de
ponderação do dano". Este fator, previamente estabelecido na matriz, visa quantificar a
importância relativa de um determinado dano no que se refere às condições gerais de estética,
funcionalidade e segurança do elemento.
Na matriz de um elemento, deve ser atribuída, pelos profissionais responsáveis e, segundo
critérios pré-estabelecidos constantes do roteiro de inspeção, uma pontuação que classifica o
nível de gravidade de uma determinada manifestação de dano naquele elemento, denominada
"fator de intensidade do dano", segundo o qual pode-se inferir a evolução da deterioração
estrutural.
Dessa forma, os fatores de ponderação dos danos são comuns para uma família de elementos
enquanto os fatores de intensidade vão depender da situação física específica e da gravidade
dos danos em cada um dos elementos da família.
59
• Pilares;
Vigas;
Figura 3.1 - Fluxograma da metodologia para cálculo do Grau de Deterioração da Estrutura (Gd).
Após o levantamento dos dados em campo, determina-se, para cada elemento de uma família,
um "grau de deterioração" individual e o conseqüente "grau de deterioração da família de
elementos". Obtidos os graus de deterioração das diversas famílias de elementos que
compõem a estrutura e entrando com um "fator de relevância estrutural da família",
previamente estabelecido segundo a importância relativa na funcionalidade e segurança
estrutural, determina-se finalmente, através de uma formulação matemática descrita a seguir,
o "grau de deterioração da estrutura".
Estrutura
Classificar as famílias de elementos da estrutura
Inserir o Fator de Ponderação dos Danos (Fp)
Atribuir o Fator de Intensidade do dano a Cada Lesão Encontrada (Fi)
Analisar os Elementos de cada Família
Calcular o Grau do Dano (D)
Calcular o Grau de Deterioração da Família de Elemento (Gde)
Introduzir o Fator de Relevância Estrutural da Família (Fr)
Calcular o Grau d Deterioração da Estrutura (Gd)
60
Baseado na aplicação da metodologia (Figura 3.1), determina-se os graus de deterioração de
uma estrutura e de seus elementos individuais, e observando valores limites pré-fixados,
pode-se definir a necessidade, momento e tipo de intervenção na estrutura, de forma a
interromper ou minimizar a evolução dos danos mais significativos, evitando custos mais
elevados de reparo, considerando-se, de forma global, os aspectos de segurança,
funcionalidade e estética da edificação.
Nos itens a seguir são definidos os parâmetros intervenientes e detalhados os diversos passos
da metodologia proposta, bem como apresentados exemplos de sua aplicação.
3.2.2 - Classificação das Famílias de Elementos As edificações objetos do presente trabalho, foram subdivididas, segundo as
características estruturais de seus elementos componentes, em grupo que formam as
denominadas famílias de elementos. Para as edificações usuais com estrutura de concreto
armado, em geral, podem ser definidas as seguintes famílias:
• Lajes;
• Pilares
• Vigas
• Reservatório inferior;
Dependendo das características particulares de cada estrutura, as famílias de elementos
estruturais podem ser divididas de forma diferente e acrescentadas outras famílias de
elementos de acordo com seu interesse para a avaliação estrutural. Podem, também,
determinadas famílias a serem subdivididas como, por exemplo, as lajes de uma estrutura
classificadas em famílias de lajes primárias e secundárias.
3.2.3 - Fator de Ponderação do Dano
O fator de ponderação do dano (Fp) visa quantificar a importância relativa de um determinado
dano, no que se refere às condições gerais de estética, funcionalidade e segurança dos
elementos de uma família. Para sua definição, são estabelecidos os problemas mais relevantes,
passíveis de serem detectados, quanto aos aspectos de durabilidade e segurança estrutural.
61
Uma determina manifestação patológica pode ter fatores de ponderação diferentes de acordo
com as características da família onde o elemento se insere, dependendo das conseqüências
que o dano possa acarretar.
Este parâmetro foi denominado "fator de gravidade do dano" na metodologia de Klein et al.
(1991). Adotou-se no presente trabalho a mesma escala de ponderação, variando de 1 a 10.
Entretanto, os graus atribuídos às diversas manifestações de dano em cada família foram
alterados por Boldo (2002), buscando melhor refletir a realidade das estruturas convencionais
de concreto.
A Tabela 3.1 mostra alguns tipos de matrizes, para as famílias de elementos mais comuns de
edificações usuais, com os danos possíveis e respectivos fatores de ponderação atribuídos no
presente trabalho.
Tabela 3.1 - Famílias de elementos estruturais, danos e fatores de ponderação (Fp)
FAMÍLIA DE ELEMENTOS (FP)
DANOS PILAR VIGAS LAJES RESERV.
INFERIOR
Desvio da geometria 8 - -
Recalque 10 - -
Infiltração na base 6 - -
Segregação 6 4 5 5
Eflorescência 5 5 3 7
Esfoliação 8 8 8 10
Desagregação 7 7 7 7
Sinais de esmagamento 10 - - -
Cobrimento deficiente 6 6 6 7
Manchas de corrosão 7 7 7 9
Fissuras 10 10 10 10
Carbonatação 7 7 7 7
Presença de Cloretos 10 10 10 10
Manchas 5 5 5 -
Flechas - 10 10 -
Infiltração - 6 6 -
Vazamentos - - - 10
Permeabilidade - - - 8
62
3.2.4 - Fator de Intensidade do Dano
O fator de intensidade do dano (Fi) classifica o nível de gravidade e a evolução de uma
manifestação de dano em um determinado elemento, segundo uma escala de 0 a 4, na forma
proposta por Klein et al. (1991), como segue:
• Sem lesões Fi = 0
• Lesões leves Fi = 1
• Lesões toleráveis Fi = 2
• Lesões graves Fi = 3
• Estado limite Fi = 4
Entretanto, uma pontuação desse tipo pode ser muito subjetiva caso não seja acompanhada
por uma classificação mais detalhada, onde se identifique o nível de gravidade das lesões e
sua evolução, segundo as características específicas, conforme recomendado pelo RILEM
Committee 104 - Damage Classification of Concrete Structures (RILEM, 1991). O presente
trabalho propõe uma classificação nesse sentido, mostrada na Tabela 3.2.
É também de fundamental importância a consideração da influência do ambiente em vista das
condições de exposição e proteção do elemento estrutural. Por exemplo, uma peça de concreto
carbonatada, em ambiente isento de umidade, não sofre o mesmo risco de corrosão de suas
armaduras que outra sujeita à umidade. A Tabela 3.2 da classificação dos danos e respectivos
fatores de intensidade buscam este objetivo, mesmo que em alguns aspectos precisem ser
melhorados.
Como se pode observar na Tabela 3.2, quando um dano for classificado com um fator de
intensidade 4, a situação do elemento é limite, com relação aquele dano e, neste caso, deve
haver intervenção imediata no elemento para reparar aquele problema específico. Por
exemplo, se a infiltração de água em uma laje é limite ela agravará os demais danos e,
portanto, sua reparação é condição indispensável para evitar o agravamento da deterioração.
63
Tabela 3.2 - Classificação dos danos e fatores de intensidade (Fi)
TIPOS DE DANOS FATOR DE INTENSIDADE DO DANO - TIPOS DE MANIFESTAÇÃO Segregação
1 - superficial e pouco significativa em relação às dimensões da peça; 2 - significante em relação às dimensões da peça; 3 - profunda em relação às dimensões da peça, com ampla exposição da armadura; 4 - perda relevante da seção da peça.
Eflorescência
1 - início de manifestação; 2 - manchas de pequenas dimensões; 3 - manchas acentuadas, em grandes extensões.
Esfoliação
2 - pequenas escamações do concreto; 3 - lascamento, de grandes proporções, com exposição da armadura; 4 - lascamento acentuado com perda relevante de seção.
Desagregação
2 - início de manifestação; 3 - manifestação leves; 4 - por perda acentuada de seção e esfarelamento do concreto.
Cobrimento
1 - menores que os previstos em norma sem, no entanto, permitir a localização da armadura; 2 - menor do que o previsto em norma, permitindo a localização da da armadura ou armadura exposta em pequenas extensões; 3 - deficiente com armaduras expostas em extensões significativas.
Manchas de Corrosão/Corrosão da Armadura
2 - manifestações leves; 3 - grandes manchas e/ou fissuras de corrosão; 4 - corrosão acentuada na armadura principal, com perda relevante de seção.
Flechas
1 - não perceptíveis a olho nu; 2 - perceptíveis a olho nu, dentro dos limites previstos em norma; 3 - superiores em até 40% às previstas na norma; 4 - excessivas.
Recalque
2 - indícios, pelas características de trincas na alvenaria; 3 - recalque estabilizado com fissuras em peças estruturais; 4 - recalque não estabilizado com fissuras em peças estruturais.
Fissuras
1 - aberturas menores do que as máximas previstas em norma; 2 - abertura até 40% acima dos limites de norma; 3 - aberturas excessivas; estabilizadas; 4 - aberturas excessivas; não estabilizadas.
Carbonatação
1 - localizada, com algumas regiões com pH <9, sem atingir a armadura; 2 - localizada, atingindo a armadura, em ambiente seco; 3 - localizada, atingindo a armadura, em ambiente úmido; 4 - generalizada, atingindo a armadura, em ambiente úmido.
Infiltração
1 - indícios de umidade; 2 - pequenas manchas; 3 - grandes manchas; 4 - generalizada.
Presença de Cloretos
2 - em elementos no interior sem umidade; 3 - em elementos no exterior sem umidade; 4 - em ambientes úmidos.
Manchas 2 - manchas escuras de pouca extensão, porém significativas; 3 - manchas escuras em todo o elemento estrutural.
Sinais de Esmagamento
3 - desintegração do concreto na extremidade superior do pilar, causada por sobrecarga ou movimentação da superestrutura; fissuras diagonais isoladas; 4 - fissuras de cisalhamento bidiagonais, com intenso lascamento ( es - magamento) do concreto devido ao cisalhamento e a compressão , com perda substancial de seção, deformação residual aparente ; exposição e inicio de flambagem de barras da armadura.
Desvio de Geometria
2 - pilares e cortinas com excentricidade � h/100 ( h = altura ) 3 - pilares e cortinas com excentricidade � h/100.
64
Tabela 3.2 - Classificação dos danos e fatores de intensidade (Fi (Continuação))
Infiltração na Base
3 - indícios de nível de lençol freático acima do nível das estruturas de fundação que podem comprometer as fundações; 4 - vazamentos em tubulações enterradas causando erosão aparente junto às fundações.
Junta de Dilatação Obstruída
2 - perda de elasticidade do material da junta; 3 - presença de material não compressível na junta.
Fissuras Vizinhas as Juntas de Dilatação
2 - lajes com início de fissuras adjacentes às juntas; 3 - grande incidência de lajes com fissuras adjacentes às juntas; 4 - idem, com prolongamento das fissuras em vigas e/ou pilares de suporte.
Deslocamento por Empuxo
3 - deslocamento lateral no sentido horizontal, com excentricidade porém estável; 4 - deslocamento lateral no sentido horizontal, instável
Outro aspecto que deverá ser considerado nas inspeções dos elementos da
estrutura é a possibilidade de superposição das manifestações do dano.
3.2.5 - Grau do Dano
Em um elemento estrutural de concreto armado os danos se apresentam e
evoluem de forma diferente, dependendo de varias influências: concepção estrutural, projeto,
execução, utilização, e exposição ao meio ambiente. Um novo parâmetro, introduzido no
presente trabalho, denominado "grau do dano" no elemento (D), tem por objetivo quantificar a
manifestação de cada dano no elemento, por meio de uma analogia com o modelo proposto
por Tuutti (1982), conforme a Figura 3.2.
O grau do dano depende do fator de ponderação, (Fp ) específico de cada dano e pré-fixado de
acordo com as características do elemento, e da intensidade com que o dano se manifesta em
uma determinada peça, traduzido pelo fator de intensidade (Fi).
65
Estado Limite
Vida útil
limite aceitável
Mudança de fase
iniciação propagação
Figura 3.2- Vida útil das estruturas.( TUUTTI, 1982)
Figura 3.2.- Vida útil das estruturas (modificado) Tuutti (1992).
A Figura. 3.3 mostra a formulação proposta para o cálculo do grau de um dano
com a ponderação mais desfavorável possível, fator Fp = 10. As fases de iniciação e
propagação do dano são representadas nas abscissas em uma escala de 0 a 4, segundo o fator
de intensidade (Fi), adotando-se como abscissa de "mudança de fase" o valor 2,5,
intermediário entre o fator 2,0, indicativo de lesões toleráveis, e 3,0 de lesões graves. O
gráfico estabelece um limite máximo D = 100 para o grau de dano correspondente a F i= 4,
estado crítico de uma manifestação de dano.
Necessidade de Intervenção
De t er ioração Idade
início propagação
66
Figura 3.3 - Grau do dano (D) x Fator de Intensidade do dano (Fi)
A primeira reta, correspondente à fase de iniciação do dano, partiria de 0, ausência completa
do dano, até o ponto de coordenadas (2,5;10). O estabelecimento do grau 10 para a mudança
de fase deu-se a partir de sucessivos ajustes com aplicação do modelo a casos reais. Ou seja,
caso seja determinada em um elemento uma manifestação de dano com um grau do dano D <
10, não deve haver sinais de comprometimento ou necessidade de intervenção imediata
naquele elemento. Entretanto, considerando que os danos dos elementos da estrutura estejam
próximos da mudança de fase, a intervenção, dentro de um programa de manutenção, deve
resultar em economia, no sentido de se prevenir a propagação e a necessidade posterior de
intervenção com o(s) dano(s) em estado mais grave.
Por outro lado, para D>10, a propagação do dano é mais rápida e aguda,
devendo-se neste trecho prever limites a partir dos quais a intervenção passa a ser necessária,
urgente e imprescindível à funcionalidade ou segurança, ou mesmo indicado o estado crítico
do elemento.
Dessa forma, o grau do dano, para Fp = 10, será dado pelas expressões:
D = 4 F i para F i ÿ 2,0 (3.1)
D = 60 F i - 140 para Fi � 3,0 (3.2)
67
Para danos com fator de ponderação inferiores ao máximo, isto é, Fp < 10, o
grau do dano será obtido através da multiplicação das expressões correspondentes a cada fase,
(3.1) e (3.2), pela razão Fp/10:
D = 0,4 F i . Fp Fi ÿ 2,0 (3.3)
D = (6 Fi - 14) Fp Fi � 3,0 (3.4)
Portanto, da formulação proposta, o grau do dano será uma função de duas
variáveis, o fator de ponderação (0ÿ Fp ÿ 10) , inerente a cada manifestação de dano e pré-
estabelecido para a família, e o fator de intensidade do dano atribuído pelo profissional
responsável pela inspeção estrutural, conforme a Tabela 3.2 (0 ÿ Fi ÿ 4). Assim, a
representação gráfica do grau do dano, D, seria dada por um volume, cuja interseção com
plano Fp = 10 resultaria na Figura 3.3.
3.2.6 - Grau de Deterioração de Um Elemento O "grau de deterioração de um elemento" estrutural isolado (Gde) determinado em função das
manifestações dos danos detectados no elemento pela inspeção, a partir do fator de
intensidade atribuído a cada dano (Fi), segundo a Tabela 3.2, e do grau respectivo do dano
(D), calculado das expressões (3.3) ou (3.4). Chamando de "m" o número de danos
detectados no elemento, o grau de deterioração será determinado a partir de uma das
expressões seguintes:
Gde = Dmáx para m ÿ 2 (3.5)
m - 1
� D(i) (3.6)
Gde = Dmáx + i = 1 para m > 2
m - 1
Sendo:
Di = grau do dano de ordem (i)
68
A justificativa para a formulação acima é que, num elemento com dois danos, deve
prevalecer, do ponto de vista de avaliação de sua deterioração, aquele dano cujo grau do dano
é maior. Não faria sentido adotar qualquer tipo de média que resultasse inferior ao maior grau
do dano no elemento ou somar os graus dos danos. Em qualquer dos dois casos poder-se-ia ter
uma idéia errônea do estado físico da peça. Optou-se, então neste caso, pela adoção do grau
de deterioração do elemento como igual ao maior grau do dano.
Entretanto, sendo maior que dois o número de danos do elemento, cabe uma avaliação mais
precisa da influência da superposição dos demais danos detectados. Castro (1994) decidiu
pela formulação da expressão (3.6); obter-se o grau de deterioração do elemento, Gde, através
da soma do grau máximo dos danos na peça com a media aritmética dos graus dos demais (m
- 1) danos.
Lopes (1998), alertou que com a ocorrência de danos adicionais, estes seriam acrescidos
através de uma média, que possibilita o estabelecimento de um valor máximo para o grau de
deterioração, resultando em grau inferior ao grau real do elemento, assim sendo a resultou
uma única formulação para o cálculo do Gde, para elementos com qualquer número de dano,
que será determinado a partir da seguinte expressão:
Gde = Dmax (1+ � D(i) - Dmax / � D(i)
Na metodologia proposta por Castro e utilizada nesta dissertação, com parâmetro para realizar
um comparativo entre os três edifícios analisados, determinou-se a intervenção imediata em
um elemento que apresente um dano com um fator de intensidade 4,0, admitindo-se ser a
situação do elemento crítica, com relação àquele dano. Estabeleceu uma escala de medidas
necessárias a se tomar com relação a um elemento, com base no seu grau de deterioração, Gde,
calculado a partir de todos os danos nele detectados. Dessa forma Castro (1994) baseando-se
na Figura 3.2 e na aplicação e ajuste da metodologia a situações reais, elaborou a Tabela 3.3,
com recomendações para elementos isolados. Deve-se observar que os limites estabelecidos
não devem ser encarados como absolutos mas como indicativos das medidas a se adotar. É
indispensável o conhecimento e experiência dos profissionais envolvidos para decidir sobre as
decisões a tomar, levando em conta os resultados da aplicação da metodologia.
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Tabela 3.3 - Classificação dos níveis de deterioração do elemento
NÍVEL DE
DETERIORAÇÃO
GDE
MEDIDAS A SEREM ADOTADAS
Baixo 0 - 15 estado aceitável
Médio
15 - 50
observação periódica e necessidade de intervenção
a médio prazo
Alto
50 - 80
observação periódica minuciosa e necessidade de intervenção a
curto prazo
Crítico
> 80
necessidade de intervenção imediata para restabelecer
funcionalidade e/ou segurança
3.2.7 - Grau de Deterioração de Uma Família de Elementos
O "grau de deterioração de uma família" (Gdf) é definido como a média aritmética dos graus
de deterioração daqueles elementos que apresentem danos expressivos. Ou seja, o cálculo do
grau de deterioração da família deve evidenciar os elementos mais danificados e não ser
mascarado por aqueles elementos com deterioração de menor grau.
Para caracterizar os assim denominados "danos expressivos", buscou-se uma definição para
um valor limite do grau de deterioração do elemento. Assumindo a hipótese, nas matrizes das
diferentes famílias de elementos, da ocorrência simultânea de todos os danos possíveis com
um fator de intensidade Fi = 2,5, valor hipotético correspondente à mudança da fase de
iniciação para a de propagação do dano, resultou de todos os cálculos um valor
aproximadamente constante, ligeiramente superior a Gde = 15, sendo este valor, considerado
então como um limite, mostrando-se consistente, isto é, levou a conclusões adequadas sobre
os elementos mais danificados e indicando a necessidade de intervenção nas obras onde foram
aplicadas esta metodologia.
70
Assim, tomando-se média aritmética dos graus de deterioração apenas daqueles elementos
com Gde � 15, tem-se a expressão do grau de deterioração da família dada por:
n
� Gde(i) (3.7)
Gdf = i = 1_______
n
Sendo:
n : número de elementos componentes da família com Gde � 15.
A presente formulação é diferente da proposta por Klein et al. (1991), que adota um
coeficiente � para evidenciar os elementos de uma família com danos mais expressivos. Por
outro lado, estes autores trabalham com a média de todos os graus de deterioração dos
elementos o que pode resultar, segundo simulações efetuadas no presente trabalho,
inadequado. Optou-se aqui por trabalhar apenas com aqueles elementos com danos acima de
um determinado limite pré-fixado, por acreditar que estes serão os de maior influencia sobre o
grau de deterioração.
Quando em uma família de elementos verificar-se graus de deterioração Gde < 15 para todos
os elementos, o grau de deterioração da família será Gdf = 0, não contribuindo para o cálculo
do grau de deterioração da estrutura.
Boldo (2002), utilizou a expressão do cálculo do grau de deterioração de um elemento (Gde),
definida por Lopes (1998), que elimina o problema de omitir algumas manifestações na
inspeção, porém desenvolveu o cálculo do grau de deterioração da família (Gdf), seguindo os
mesmos princípios da proposta de Lopes (1998) para o cálculo do Gde, apresentada abaixo:
Gdf = Gdemax [ 1+ ( � Gde(i) - Gde(max) ) / � Gde(i) ) ] (3.9)
em que : Gde(max) = maior Gde entre os elementos da família com Gde� 15
71
3.2.8 - Fator de Relevância Estrutural da Família de Elementos
O fator de relevância estrutural da família de elementos ( Fr ) tem por objetivo considerar a
importância relativa das diversas família de elementos, dentro do conjunto em que a obra é
subdividida, no comportamento da estrutura e bom desempenho da mesma.
Este fator de relevância é integrante da metodologia proposta por Klein et al. (1991),
obviamente conforme objetivo do trabalho, com classificação especifica para obras de arte,
diferente para o nosso uso que será em edificações usuais.
Cada tipologia de estrutura terá seu fator de relevância específico, Fusco (1976) classifica as
peças estruturais em terciárias, secundarias e primárias, com importância crescente no
desempenho da estrutura. Para edificações com estrutura convencional, adotou-se para este
estudo, uma escala que, observando alguns critérios sugeridos por Fusco, define os fatores de
relevância de uma família de elementos, como segue (Pode ter feito uma tabela):
• Elementos não estruturais de concreto Fr = 1,0
• Reservatório superior Fr = 2,0
• Escadas/ Rampas, reservatório inferior, cortinas, lajes secundárias Fr = 3,0
• Lajes, fundações, vigas secundárias, pilares secundários Fr = 4,0
• Vigas e pilares principais Fr = 5,0
3.2.9 - Grau de Deterioração da Estrutura
O grau de deterioração da estrutura como um todo (Gd) é função dos diferentes graus de
deterioração das diversas famílias de elementos da edificação, afetados pelos respectivos
fatores de relevância estrutural, conforme proposta de KLEIN et al. (1991). Considerando o
conjunto de todas as "k" famílias de elementos que compõem uma estrutura, defini-se :
k k
Gd = � Fr(i) . Gdf(i) � Fr(i) (3.8)
i = 1 i = 1
72
sendo:
k = número de famílias de elementos
Fr = fator de relevância estrutural de cada família
Gdf = grau de deterioração da família
De acordo com a valor encontrado para Gd, classifica-se uma estrutura, segundo
uma escala, conforme Tabela 3.4, em determinados níveis de deterioração da estrutura bem
como as medidas que deverão ser adotadas para prolongar a vida útil da estrutura.
Tabela 3.4 - Classificação de Uma Estrutura Conforme o Gd.
NÍVEL DE
DETERIORAÇÃO
GD MEDIDAS A SEREM ADOTADAS
Baixo 0 a 15 estado aceitável
Médio 15 a 40 observação periódica, e necessidade de intervenção a médio prazo
Alto 40 a 60 observação periódica minuciosa e necessidade de interveção em curto
prazo
Limite > 60 necessidade de intervenção imediata para restabelecer funcionalidade
e/ou segurança.
Vale ressaltar, que a analise individual de cada elemento da família (Gde), é de suma
importância visto que pode ser recomendado a intervenção imediata unicamente para o
elemento isolado da estrutura. Ou seja , no global o nível de deterioração pode ser aceitável
com um elemento em estado crítico.
3.3 - APLICAÇÃO DA METODOLOGIA
Para aplicação da metodologia aqui utilizada, foi necessário tomar-se conhecimento do
histórico do Edifício Residencial (ER) em questão, por meio de um levantamento preciso do
maior numero de informações, tal como análise do projeto; aspectos construtivos; Classe de
Agressividade Ambiental em que esta envolvido, período do início e da conclusão da obras;
problemas ocorridos durante a execução; relatório das intervenção para manutenção e outras
informações preciosas para realização do estudo.
De posse das informações iniciais, realizou-se a inspeção visual, de modo a conhecer o
sistema estrutural, a divisão dos módulos, de preferência delimitados pelas juntas de dilatação
73
e a identificação dos elementos estruturais através de legendas que facilitou a inspeção.
Utilizando o caderno de inspeção que contem as matrizes com as possíveis manifestações
patológicas de cada elemento, identificou-se visualmente os danos das peças estruturais,
classificou-se e atribui-se a cada um deles um fator de intensidade (Fi), conforme Tabela 3.2.
Ensaios como os de potencial de corrosão, carbonatação, ultra-som e esclerômetria, foram
utilizados, sendo a descrição desses métodos apresentada no Item 3.4.
Concluída a etapa de coleta de dados, o presente trabalho utilizou de planilha eletrônica, para
o cálculo dos graus de deterioração do elemento, da família e da estrutura. Por fim, analisou-
se os dados referentes ao graus de deterioração dos elementos, das famílias e da estrutura para
avaliar o estado que se encontra a obra.
3.4 - ENSAIOS REALIZADOS
Os engenheiros consultores são freqüentemente, chamados para desenvolver ou aprovar
programa de garantia da qualidade ou segurança da estrutura, que além de outras tarefas,
envolve a utilização de ensaios destrutivos ou não destrutivos, análise estatística dos
resultados dos ensaios e procedimento de controle. O objetivo de um programa desse tipo é
garantir que o elemento de concreto acabado seja adequado à finalidade para a qual foi
projetado. Durante este estudo, uma grande dificuldade encontrada, foi quanto a
disponibilidade e/ou facilidade da realização de diversos ensaios, visto que o pouco uso deste
recurso por parte da indústria local da construção civil, não desenvolve a atividade, a ponto
de não existir ou não estar disponível para uso imediato diversos tipos de ensaios. A não
utilização de uma tecnologia já disponível para suporte da atividade sugere a possibilidade
do "achismo" em algumas situações e em outras a pouca confiabilidade dos resultados já que
a experiência dos profissionais especializados é fator importante no procedimento
experimental.
Neste trabalho foram realizados ensaios de esclerometria, velocidade do pulso ultra-sônico,
profundidade de carbonatação e potencial de corrosão.
74
3.4.1 - Ensaio da Profundidade de Carbonatação
As estruturas de concreto armado quando sujeitos à corrosão de armaduras por ação da
carbonatação tem sua vida útil reduzida, com conseqüências graves na estabilidade global, na
segurança, na estética e no crescimento significativo dos custos de manutenção .
A carbonatação no concreto é um dos principais agentes iniciadores da corrosão, pois
provoca redução da alta alcalinidade, havendo assim, redução generalizada do pH,
ocasionando a susceptibilidade das armaduras (quebra da instabilidade química do filme de
óxidos passivante) no que tange a corrosão das armaduras (Helene 2001), quando seu valor
for menor que 10,5.
Neste trabalho foi utilizada a técnica visual, pelo do emprego de substancia química, que em
contato com a solução alcalina do concreto, rica em hidróxido de cálcio, adquirem
colorações típicas a partir de um determinado pH da solução. A substância aqui utilizada foi
a fenolftaleína a uma proporção de 1% de fenol em solução de álcool a 50/50, que permite
conhecer a mudança do pH entre 8,3 e 10. O emprego desta técnica tem como desvantagem o
caráter destrutivo e os resultados são qualitativos no que tange ao teor de carbonatos
presentes.
3.4.2-Ensaio de Esclerometria
O ensaio de esclerometria obedeceu ao método proposto pela norma NBR 7584/1982 que
avalia a dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão. A direção do esclerômetro foi para
todos os três estudos casos, mantidos na horizontal; a condição da superfície estudada foi
lisa; temperatura ambiental e foram realizadas 5 impactos por peça e calculado a média
aritmética dos resultados com descarte dos valores com variação de + ou - 5 unidade. Neste
ensaio, por vezes a área determinada coincidiu com as armaduras dos pilares, o que resultou
em falsa dureza, obrigando a desenhar nova área para realização do mesmo.
3.4.3- Ensaio de Potencial de Corrosão
O ensaio de potencial de corrosão, Figuras 3.4 e 3.5, foi executado de acordo
com os critérios constantes na ASTM C876-(1990) e os resultados foram analisados em
função da Tabela 3.5
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Tabela 3.5: Critérios de avaliação das medidas de potenciais (ASTM C876-1990)
POTENCIAL DE CORROSÃO RELATIVO AO ELETRODO DE
REFERÊNCIA DE COBRE-SULFATO DE COBRE-ESC (MV).
PROBABILIDADE DE CORROSÃO
(%)
mais negativo que -350 95
mais positivo que -200 5
de -200 a -350 incerta
Uma dificuldade para este ensaio, é a necessidade de escarificar o concreto até o surgimento
das armaduras, necessitando após a conclusão o ensaio realizar o reparo da peça escarificada
(Figuras 3.4 e 3.5). A região da armadura que apresenta os valores que indicam a
probabilidade da corrosão é a área de ânodo. Somente após realização das medidas, será
possível identificar a área anódica e catódica.
Figura 3.4 - Realização de medidas do potencial de corrosão.
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Figura 3.5 Realização de medidas do potencial de corrosão
3.4.4 - Ensaio de Velocidade do Pulso Ultra-Sônico O ensaios para determinação da velocidade do pulso ultra-sônico, Figura 3.6, é um método
indireto de avaliação, no qual a leitura da velocidade é usada para avaliar a qualidade do
concreto, quanto a existência de vazios. Este ensaio foi realizado conforme a NBR 8802/1994
e o critério de classificação foi o de RINCON et al. (1998), conforme Tabela 3.6 :
Tabela 3.6- Classificação da velocidade do pulso ultra-sônico no concreto. RINCON et al (1988).
VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO QUALIDADE DO CONCRETO
< 2000 m/s Deficiente
2000 a 3000 m/s Normal
3001 a 4000 m/s Alta
> 4000 m/s Durável
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Figura 3.6 Realização da determinação da velocidade do pulso ultra-sônico.
Deve ser retirado o revestimento do concreto em que esta se realizando o ensaio da velocidade
do pulso ultra-sônico, visto que este aumenta o tempo do percurso, ou seja, reduz a
velocidade.