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A Avaliação do Ciclo de Vida – ACV – é uma metodologia desenvolvida para definir o perfil ambiental de um produto ou um processo. Neste sentido, os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida de um bem são medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais. Ao final, é possível compreender quais danos ou benefícios a fabricação, o uso e o descarte deste bem trazem ao meio ambiente.
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Engenharia e Meio Ambiente
Avaliação do Ciclo de Vida na Construção Civil
Piracicaba, 16 de Maio de 2015.
Índice1
Escola de Engenharia de
Piracicaba
1. Introdução...............................................................................................................3
2. Sustentabilidade......................................................................................................4
2.1. Definição e Histórico........................................................................................4
2.2. A Sustentabilidade na Construção Civil..........................................................7
2.3. Características de uma Construção Sustentável............................................8
2.4. Fases do Ciclo de Vida de uma Edificação...................................................11
3. Avaliação do Ciclo de Vida...................................................................................12
3.1.Definição.........................................................................................................12
3.2. Histórico.........................................................................................................13
3.3. Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida...........................................................15
3.3.1 Definição de Objetivo e Escopo....................................................16
3.3.2 Análise de Inventário.....................................................................17
3.3.3 Avaliação de Impacto....................................................................18
3.3.4 Interpretação dos Resultados.......................................................19
4. A Construção Civil e a ACV..................................................................................19
4.1.Aplicações da ACV.........................................................................................20
4.2.Aplicações na Alvenaria.................................................................................21
4.2.1. Cadeia Produtiva de Insumos................................................................21
4.2.2. Tijolos Cerâmicos..................................................................................22
4.2.3. Agregados Miúdos.................................................................................23
4.2.4. Cimento.................................................................................................24
4.2.5 Cal..........................................................................................................25
4.3.Limitações da ACV.........................................................................................26
5. Diretrizes para o uso da ACV na Gestão Ambiental.............................................26
5.1.Para Projetos..................................................................................................26
5.2.Para Construção.............................................................................................29
6. ACV no Brasil e em contexto mundial...................................................................30
6.1.No Brasil.........................................................................................................30
6.2.Em países desenvolvidos...............................................................................31
6.3.Em países em desenvolvimento.....................................................................31
7. Conclusão.............................................................................................................33
8. Referências Bibliográficas.....................................................................................34
1. Introdução
2
A Construção Civil representa uma das atividades econômicas mais importantes
e impactantes do planeta. Ela é responsável por grande parte das emissões dos
gases que causam o Efeito Estufa, bem como pelo uso de 60% das matérias-primas
disponíveis na Terra.
O desenvolvimento do setor construtivo exige, portanto, que sejam revistos os
aspectos relacionados à concepção de seus projetos, incluindo a seleção dos
materiais e o aprimoramento de seus processos produtivos. Ou seja, frente à
emergência de uma crise ambiental, esse setor é chamado a alterar suas
concepções, de acordo com as condições em que os recursos naturais se
encontram atualmente.
Devido a essas demandas, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), tema do
presente seminário, vem se destacando como uma importante ferramenta cada vez
mais utilizada na gestão do setor construtivo, de forma a enfrentar os problemas e a
compatibilização entre desenvolvimento e sustentabilidade.
A aplicação da Avaliação do Ciclo de Vida na Construção Civil permite a melhoria
do setor construtivo, gerando, principalmente, importantes informações sobre os
impactos causados ao meio ambiente. Seu uso serve como orientação nas tomadas
de decisões, englobando questões econômicas, sociais e ambientais.
Em vista do exposto, esse seminário visa discutir os princípios, aplicações e
limitações da Avaliação do Ciclo de Vida no setor da Construção Civil, bem como
suas perspectivas de consolidação nesse setor, com base no atual estado de
conhecimento dessa ferramenta de gestão.
2. Sustentabilidade
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2.1. Definição e Histórico
Por definição, o termo Sustentabilidade é usado para definir ações por parte
do homem que visam suprir as atuais necessidades de uma população, porém sem
comprometer o futuro das próximas gerações.
A indústria da construção é a atividade humana com maior impacto sobre o
meio ambiente. Visando diminuir esses impactos, algumas pesquisas receberam
crescente investimento ao longo das últimas décadas. O modelo atual de
crescimento econômico apresenta vários obstáculos na relação entre o homem e o
ambiente, em virtude de fatores como o alto crescimento populacional, a falta de
planejamento das cidades, a frequência e intensidade crescente dos desastres
naturais e a exploração não planejada das áreas verdes.
A preocupação da humanidade com o desenvolvimento do planeta data da
década de 60, quando tiveram início os primeiros debates sobre degradação
ambiental, bem como os encontros de caráter internacional que começaram a
discutir sobre um desenvolvimento sustentável.
Estão dispostos abaixo, em ordem cronológica, os principais debates e
encontros realizados para discutir-se sobre Sustentabilidade:
- Abril de 1968: criação do Clube de Roma. Ato pioneiro na conscientização da
população com relação ao meio ambiente, o Clube de Roma foi uma reunião de um
grupo de trinta pessoas de dez países, formado por cientistas, educadores,
economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos de nível nacional e
internacional, que tinham como objetivo discutir e analisar os limites do crescimento
econômico, levando em consideração o crescente uso dos recursos naturais.
- 5 a 16 de Junho de 1972: a Conferência de Estocolmo, na Suécia, foi o primeiro
encontro mundial a tentar organizar as relações entre o homem e o meio ambiente.
A conferência tinha por objetivo conscientizar a sociedade a melhorar a relação com
o meio ambiente, atendendo às necessidades da população presente, sem
comprometer as gerações futuras.
- 1974: organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
4
Desenvolvimento (UNCTAD), um simpósio de especialistas presidido por Barbara
Ward em Cocoyoc, no México, identificou os fatores sociais e econômicos que levam
à deterioração ambiental.
- 1987: a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UNCED), presidida por Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um
documento chamado Our Common Future (em português, Nosso Futuro Comum),
mais conhecido por Relatório Brundtland. Este relatório tem por base o princípio de
que o ser humano devia gastar os recursos naturais de acordo com a sua
capacidade de renovação, para evitar o seu esgotamento. Então, para uma
utilização sustentável dos recursos, é fundamental que cada indivíduo seja um
consumidor responsável. O Relatório Brundtland, apresentou um novo olhar sobre o
desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades”. É a partir daí que o conceito de desenvolvimento
sustentável passou a ficar conhecido. O relatório apresenta uma lista, exposta na
figura 1, de medidas tomadas a nível Nacional.
Figura 1: Medidas presentes no Relatório de Brundtland.
- 3 a 14 de Junho de 1992: na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada a ECO-92,
conhecida popularmente como Rio 92. Nesta conferência, os países membros
5
presentes no Rio de Janeiro comprometeram-se a pautar suas políticas econômicas,
sociais e ambientais com base no conceito do Desenvolvimento Sustentável. A
conferência aprovou documentos de natureza mais política, como a Agenda 21, que
representou um plano de ação global para o século seguinte, estabelecendo uma
visão de longo prazo para equilibrar as necessidades econômicas e sociais com os
recursos naturais do planeta.
- 1997: foi assinado por 189 nações o Protocolo de Kyoto (Japão), em que ficou
estabelecido o compromisso em reduzir a emissão de gases causadores do efeito
estufa em 5,2% (meta obrigatória), na comparação com os níveis de 1990.
- 26 de Agosto a 4 de Setembro de 2002: a ONU promoveu em Johanesburgo,
África do Sul, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, também
conhecida como Rio+10. Esse evento reuniu representantes de 189 países. As
discussões na Rio+10 não se restringiram somente à preservação do meio
ambiente, mas englobaram também aspectos sociais. Um dos pontos mais
importantes da conferência foi a busca por medidas para reduzir em 50%, o número
de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza (com menos de 1 dólar por dia)
até 2015.
- Dezembro de 2009: em Copenhague, Dinamarca, foi realizado um dos mais
importantes encontros da história, a 15ª Conferência Sobre Mudanças Climáticas
(COP 15). Durante os 12 dias de encontros, membros da Convenção-Quadro da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas negociaram a
respeito da redução das emissões de dióxido de carbono.
Com base nesse histórico, ficam evidentes as tentativas para encontrar uma
conciliação entre Desenvolvimento e Sustentabilidade. Os critérios que vêm
merecendo maior atenção por parte da sociedade se referem às atividades
direcionadas para a produtividade dos recursos, como reciclagem, aproveitamento
de resíduos, conservação de energia, água, manutenção de equipamentos,
infraestruturas e edifícios, visando prolongar seu ciclo de vida. É importante notar
6
que essas atividades estão diretamente ligadas à indústria da construção, formando,
assim, os principais paradigmas da chamada Construção Sustentável.
2.2. A Sustentabilidade na Construção Civil
Atualmente, devido ao crescente interesse na redução de impactos
ambientais e à procura pela definição de estratégias para o uso dos recursos não
renováveis, economia de energia e redução de resíduos da construção, a
incorporação da chamada “Construção Sustentável” tem se tornado indispensável. .
Quando se fala em Sustentabilidade, existe a chamada “hierarquia dos quatro R’s”,
que compõem o conceito: “reduzir, reutilizar, reciclar e repensar”. Esses quatro itens
se aplicam diretamente no conceito de Construção Sustentável.
A Sustentabilidade de uma construção está diretamente ligada à sua
durabilidade e à sua capacidade de sobreviver adequadamente ao longo do tempo,
que por sua vez estão diretamente ligadas à qualidade do processo construtivo e
dos materiais utilizados.
A base da Sustentabilidade na Construção Civil é apoiada no “Triple Bottom
Line” ou “3BL”, exemplificado na figura 2, que constatou que, caso os empresários e
governantes não cuidassem do aspecto ambiental, as empresas ficariam carentes
de matéria-prima e, talvez, sem consumidores, além de contribuírem para a
destruição do planeta Terra.
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Figura 2: Triple Bottom Line de forma esquemática.
2.3. Características de uma Construção Sustentável
O conceito de Construção Sustentável baseia-se no desenvolvimento de um
modelo que permita à Construção Civil enfrentar e propor soluções aos principais
problemas ambientais de nossa época, sem renunciar à moderna tecnologia e à
criação de edificações que atendam as necessidades de seus usuários.
As principais características de uma Construção Sustentável são: ter uma
gestão sustentável da implantação da obra, consumir a mínima quantidade possível
de água e energia no processo de execução, gerar o mínimo possível de resíduos,
não provocar impactos negativos no ambiente ao entorno e atender as necessidades
do usuário.
O conceito de Construção Sustentável reúne uma vasta gama de práticas e
técnicas destinadas à redução e eliminação dos impactos das construções sobre o
meio ambiente. Uma de suas grandes preocupações é o aproveitamento dos
recursos renováveis, como por exemplo, utilização da luz solar, o uso de telhados
verdes e grandes jardins para infiltração da água da chuva no solo.
Para se construir sustentavelmente são necessários estudos e pesquisas de
novas tecnologias, que estão presentes em seis passos, definidos da seguinte
maneira:
8
- Planejamento do Espaço Sustentável: é a etapa mais importante da obra,
levando em conta a preocupação com o meio ambiente. A partir desta etapa são
decididas todas as intervenções que poderão integrar a obra ao meio ambiente ou
resultar em danos em curto, médio e longo prazos. Durante a fase de planejamento,
as condições ambientais e climáticas da região serão pesquisadas, para adaptar as
técnicas de Construção Civil Sustentável ao local do empreendimento. É nesta fase
que o terreno é escolhido, por exemplo.
- Conservação dos Materiais e Recursos: em todas as fases de construção deve-
se optar pela utilização de Materiais Verdes, que se tratam do reaproveitamento de
materiais que de outra forma se perderiam, além de evitar o uso abusivo de matérias
primas não renováveis na Construção Civil. São vários os materiais “verdes” que se
pode usar na Construção Civil. Eles estão disponíveis para as paredes, pisos,
telhados e até para o acabamento e decoração dos imóveis.
- Energia e Eficiência Energética: os principais objetivos atrelados à eficiência
energética são: conservação e economia de energia, geração da própria energia
consumida por fontes renováveis, controle de emissões eletromagnéticas e controle
do calor gerado no ambiente construído e no entorno.
- Uso Racional da Água: os objetivos deste tópico consistem em reduzir e controlar
o consumo de água fornecido pela concessionária ou obtido junto a fontes naturais
(poços, poços artesianos, nascentes, etc.), aproveitamento das fontes disponíveis e
aproveitamento das águas pluviais.
- Qualidade Ambiental Interna: está diretamente ligada às técnicas construtivas
utilizadas para adequação da construção ao clima local. Para que seja Sustentável,
a edificação deve possuir boa ventilação, fazendo com que o ar interno seja
agradável, ter iluminação natural e possuir sistemas para que a temperatura interna
da casa seja agradável. Para que haja qualidade interna, também se deve abordar o
assunto de conforto térmico e acústico. Esse quesito deve proporcionar bem-estar
físico e psíquico quanto à sonoridade. Nos projetos, devem constar elementos de
vedação adequados a este fim.
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- Gestão dos Resíduos na Edificação: para que ocorra o gerenciamento de
resíduos nas edificações, devem-se criar áreas para sua disposição, reduzir a
geração de resíduos, reduzir emissão de resíduos orgânicos para processamento
pelo Poder Público ou concessionárias e incentivar a reciclagem de resíduos secos
ou úmidos.
Como exemplo de uma Construção Sustentável, pode-se citar o complexo
Rochaverá (Figura 3), localizado em São Paulo. Essa construção conseguiu atingir a
autossuficiência energética, com um sistema próprio de cogeração de energia
elétrica.
Figura 3: Complexo Rochaverá – São Paulo, Brasil.
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2.4. Fases do Ciclo de Vida de uma Edificação
As fases do Ciclo de Vida de uma Edificação incluem, de acordo com a norma CEN
TC 350 (2008) e como mostrado na Tabela 1, as fases do produto, a de construção,
a de utilização e a do fim da vida útil.
Tabela 1: Fases do Ciclo de Vida de uma Edificação, segundo a CEN TC 350
(2008).
Portanto, estão dispostas a seguir as Fases do Ciclo de Vida de uma
Edificação:
- Planejamento: nesta fase, tem-se o início do ciclo de vida da construção, ou seja,
são feitos estudos de viabilidade financeira, elaboração e especificações dos
projetos, bem como o começo do desenvolvimento das atividades construtivas.
- Implantação: é a fase em que se coloca a construção em prática, com base nos
estudos e projetos desenvolvidos na fase anterior.
- Uso: esta fase é comtemplada pelo uso da construção pelos usuários.
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- Manutenção: é a fase em que surge a necessidade de repor alguns elementos,
quando se faz a manutenção dos equipamentos e sistemas, bem como a correção
de quaisquer falhas de execução.
- Demolição: fase na qual o produto não é mais utilizado. Após essa fase, os
materiais que podem ser aproveitados novamente serão reciclados.
3. Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)
3.1. Definição
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) destaca-se atualmente como uma ferramenta
de gestão para análise e escolha de alternativas e tomada de decisões sob uma
perspectiva ambiental. O seu princípio consiste em analisar as repercussões
ambientais de um produto ou atividade, a partir de um inventário de entradas e
saídas (matérias-primas e energia, produto, subprodutos e resíduos) do sistema
considerado.
Este processo considera todas as interações (consumos e geração de resíduos)
ocorridas desde a extração da matéria-prima até o tratamento e/ou disposição final
do produto após sua utilização, apresentado conforme a Figura 4. Isso possibilita
uma visão abrangente dos diversos impactos provocados ao meio ambiente,
favorecendo a identificação das medidas mais adequadas do ponto de vista
ambiental e econômico para sua minimização. A partir dessa perspectiva, a ACV
constitui-se numa técnica de apoio ao gerenciamento ambiental e de
desenvolvimento sustentável.
12
Figura 4 – Etapas do ciclo de vida de um produto.
3.2. Histórico
A aplicação de abordagens de ciclo de vida iniciou-se nas décadas de 1960 e
1970, quando foram utilizadas para contabilizar o uso cumulativo de energia e para
prever futuros fornecimentos de matérias-primas e recursos energéticos. Além disso,
foram combinadas com modelos de entradas e saídas econômicas para estimar
emissões para o meio ambiente e custos econômicos associados a várias
tecnologias de energia durante seus ciclos de vida.
Um dos primeiros estudos de ACV no mundo foi realizado pela Coca-Cola em
1969, pelo Midwest Research Institut (MRI) nos EUA, com o objetivo de analisar
diferentes tipos de embalagens para refrigerantes e qual apresentava índices
menores de emissões. Um dos resultados interessantes do trabalho da Coca-Cola
foi demonstrar que as garrafas de plástico não eram piores, do ponto de vista
ambiental, do que as de vidro
Nos EUA, esse processo de quantificação do uso de recursos e de emissões
ficou conhecido como Resource and Environmental Profile Analysis – REPA.
13
No início da década de 1980, devido às crises do petróleo, o interesse nesse tipo
de abordagem diminuiu e as metodologias de abordagens em ciclos de vida se
transferiram para a Europa, fazendo com que governos e empresas ficassem mais
interessados em sua aplicação.
Nos anos 90, a metodologia consistia apenas em estimações de emissões e era
usada tipicamente para avaliações internas de alternativas de embalagens.
Entretanto, com a crescente vontade de se avaliar os impactos ambientais das
contabilizações de emissões realizadas, surgiu uma introdução do conceito atual da
ACV, voltada para a tradução dos dados de emissões para impactos ambientais.
Esse passo foi de grande importância, já que apenas com os dados de emissões,
tinha-se uma pequena ideia dos danos reais causados ao meio ambiente.
Nessa mesma década, a ACV foi utilizada para propósitos externos,
principalmente de marketing verde. Estudos sobre os mesmos produtos ou serviços
foram realizados com modelos diferentes, encontrando-se resultados distintos, o que
ocasionou confusão acerca da sua interpretação. A falta de transparência em
aspectos cruciais, a falta de explicações das suposições do estudo, dados
questionáveis e avaliações subjetivas levantaram dúvidas quanto à credibilidade dos
estudos e a confiança nas propagandas que envolviam estudos de ACV diminuiu.
Com a mudança nas abordagens industriais ambientais por parte das empresas,
que passaram a reconhecer que poluição representa ineficiência de processos e por
isso perdas econômicas e a mudança para um foco mais amplo de todo o processo,
pela busca de ações sustentáveis, a ACV passou a estar em destaque mais uma
vez e passou a ser utilizada eu diversas áreas.
Com a crescente aplicação de estudos de ACV e no intuito de se aumentar a
confiabilidade desses estudos, surgiu a necessidade da normatização dessa técnica.
Como consequência, houve uma grande corrida e esforço por parte de algumas
organizações para a padronização da metodologia. São elas: Society for
Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC), Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA) e International Organization for Standardization
(ISO).
14
No final dos anos 90, a ISO começou a desenvolver tais padrões. Foi publicada
pela ISO uma série de normas para ACV entre 1997 e 2003. A primeira norma
publicada foi a ISO 14040:1997, seguido pelas ISO 14041:1998, ISO 14042:2000 e
ISO 14043:2000.
Em 2002, o PNUMA e a SETAC lançaram uma parceria internacional, conhecida
como Iniciativa do Ciclo de Vida (The Life Cycle Initiative) com o objetivo de
popularizar o conceito da abordagem em ciclo de vida para usuários em todo o
mundo e assim conseguir que se fosse colocado em prática essas abordagem.
Recentemente, importantes estudos de ACV foram realizados pelo mundo para o
conhecimento do real impacto ambiental de produtos. Devido ao grande esforço das
organizações supracitadas e diversas outras iniciativas em todo o mundo, os
conceitos de ACV apresentam consenso, confiabilidade, base científica e maior
popularidade entre grandes indústrias, governos e comunidades científicas. A
metodologia da ACV vem sendo utilizada em todo o mundo e desponta como uma
ferramenta promissora para diversas aplicações.
3.3. Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida
As etapas da Avaliação do Ciclo de Vida (Figura 5) são: Definição de Objetivo
e Escopo, Análise de Inventário, Avaliação de Impacto e Interpretação dos
Resultados. Essas etapas estão descritas separadamente abaixo.
15
Figura 5: etapas da Avaliação do Ciclo de Vida
3.3.1. Definição de Objetivo e Escopo
Segundo a Norma ISO 14040 o objetivo de um estudo de ACV deve indicar a
aplicação pretendida (desenvolvimento, aprimoramento e comparação de produtos
ou processos), as razões para conduzir o estudo, muitas das vezes com caráter
ambienta, e o público-alvo, isto é, para quem se pretende comunicar os resultados
do estudo, como por exemplo, consumidores, indústrias, governos ou comunidades
científicas.
Já o escopo deve ser suficientemente bem definido para assegurar que a
extensão, a profundidade e o grau de detalhe do estudo sejam compatíveis e
suficientes para atender o objetivo estabelecido. Na definição de um escopo de um
estudo da ACV, devem ser considerados e claramente descritos os seguintes itens:
a) Definição das unidades do sistema
b) Estabelecimento da função e da unidade funcional do sistema
c) Procedimentos de alocação
d) Requisitos dos dados
e) Hipóteses de limitações
f) Avaliação de impacto, quando necessária, e a metodologia a ser adotada16
g) Interpretação dos dados, quando necessária, e a metodologia a ser
adotada
h) Tipo e formato do relatório relevante para o estudo e a definição dos
critérios para a revisão crítica, se necessário.
3.3.2. Análise de Inventário
Após a definição clara do objetivo e escopo do estudo, vem a fase da Análise
do Inventário de Ciclo de Vida (ICV), que consiste na coleta e a quantificação de
todos os dados de entrada e saída, que são relacionados com a unidade funcional e
limitados de acordo com a fronteira do sistema, ambos estabelecidos na fase
anterior.
Os tipos de dados de entrada e saída incluem consumo energético,
quantidade de matérias primas necessárias, produtos, coprodutos, resíduos
gerados, emissões para o ar, solo e água e outros aspectos ambientais.
Normalmente, esta é a etapa que mais demanda esforços, recursos e tempo,
uma vez que nem todos os dados são de fácil levantamento e constitui uma
ferramenta indispensável para a avaliação quantitativa de impactos ambientais.
Abaixo, segue um exemplo na Figura 6.
Figura 6 – Modelo de entradas e saídas de um Inventário de Ciclo de Vida.
17
A fase da Análise do Inventário de Ciclo de Vida pode ser dividida em
diversas etapas, segundo a ISO 14044:2006, conforme demostrada na Figura 7
abaixo.
Figura 7 – Etapas para construção do Inventário de Ciclo de Vida.
3.3.3. Avaliação de Impacto
O procedimento visa agregar os fatores de impacto em categorias de impacto,
através de um modelo apropriado, de modo a permitir um estudo comparativo das
diferentes opções. Essas categorias se associam a impactos locais, regionais e
globais.
18
Atualmente, podemos observar três grandes tendências que aparecem relativas
à avaliação de impactos. A linha européia é a mais avançada, que consiste em
vários modelos de avaliação, considerando especificações geográficas, como o CML
(Centrum voor Milieukundle, Center for Environmental science), EDIP
(Environmental Design of Industrial Procucts), entre outros. O sistema americano é
coordenado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) e seu método, TRACI (Tools
for the Reduction and Assessment of Chemical and other Environmental Impacts),
traz um modelo por categorias de impacto. E também se tem a proposta Japonesa,
que se concentra sobre um método baseado em consequências ambientais
chamado LIME (Life-cycle Impact assessment Method based on Endpoind
modeling).
O impacto ambiental da construção civil e seus processos construtivos podem
ser avaliados com base em análise de inventários. Esta análise apresenta uma visão
detalhada dos fluxos de entrada e saída de materiais, energia e outras substâncias
geradas ou utilizadas durante o processo de construção, utilização e demolição da
obra. Estas informações são associadas a diferentes categorias de impacto,
buscando o entendimento das consequências ambientais e econômicas envolvidas
no processo.
3.3.4. Interpretação dos Resultados
Segundo a NBR ISO 13043 (ABNT, 2005), a interpretação deve incluir a
identificação dos impactos ambientais significativos, avaliação do estudo em relação
a sua totalidade, sensibilidade e consistência, bem como conclusões e
recomendações de implementação de melhorias, com a finalidade de reduzir os
impactos ambientais significativos.
4. A Construção Civil e a ACV
A utilização da Avaliação do Ciclo de Vida tem grande valor para o setor de
Construção Civil. Isso se deve ao fato de que o setor construtivo causa impactos
agressivos ao meio ambiente, necessitando de uma ferramenta que ajude a
minimizar esses impactos.
19
Entretanto, é importante ressaltar que a Avaliação do Ciclo de Vida na
Construção Civil requer algumas alterações, devido às diferenças apresentadas em
relação ao ciclo de vida de produtos industriais. Obras de Engenharia, ao contrário
de produtos que tem vida útil de semanas ou meses, são, geralmente,
caracterizadas por uma vida útil de vários anos.
4.1. Aplicações da ACV
A ACV é usada como ferramenta para avaliar um produto ou uma atividade
durante seu ciclo de vida, pode auxiliar a identificar oportunidades para melhorar os
aspectos ambientais de um produto, permitindo identificar quais unidades de
processo são mais preocupantes, com relação ao desempenho ambiental. Também
ajuda na tomada de decisões, como por exemplo, planejamento estratégico,
definições de prioridades e projeto de produtos.
Estudos realizados em setores da construção civil mostram uma grande
variedade de aplicação da ACV em edificações e sistemas e elementos construtivos.
Pode ser citado o estudo comparativo entre pisos cerâmicos, esmaltados e
queimados, e ladrilhos de mármore, realizado por Nicoletti, Notarnicola e Tassieli
(2002). A ACV foi utilizada também em outros elementos, como janelas, emolduras
em PVC e também com alumínio.
Foram feitas várias análises comparativas e de impactos ambientais, como de
Bougiatioti (2009), que analisaram impactos ambientais de detalhes construtivos que
se baseavam em cálculos de energia incorporada em possibilidades de
posicionamento, junto com considerações de outras questões ambientais, como o
ciclo da água nas cidades e a possibilidade de reciclagem e reuso.
Peupotier (2001) também estabeleceu uma análise comparativa entre três
tipos de residências construídas de concreto, madeira e de pedra.
Na Finlândia foram feitos estudos de ACV comparando o ciclo de vida de
superfícies de concreto e asfalto, desenvolvidos com dados coletados pelas
indústrias de cimento e betume. Foram avaliados impactos relacionados ao
consumo energético e de materiais e às emissões de poluentes. Tais avaliações
20
permitem a escolha de ações mais adequadas, que promovem a melhoria do ciclo
de vida das construções em questão.
4.2. Aplicações na Alvenaria
O sistema construtivo convencional e mais aceito no Brasil é a estrutura em
concreto armado e o fechamento em alvenaria não estrutural de tijolo cerâmico
rejuntado com argamassa. Os insumos utilizados para a alvenaria são: tijolo
cerâmico, areia, cimento e cal.
Pelo fato de esse sistema ser executado no canteiro de obras, existe nele
uma margem de erro, por exemplo, no traço do concreto ou nas proporções da
mistura dos materiais, bem como ocorre o desperdício nos rasgos dos tijolos onde
se deseja passar as instalações.
4.2.1. Cadeia Produtiva de Insumos
Todos os insumos utilizados na construção de paredes em alvenaria (tijolo
cerâmico, areia, cimento e cal) tem um ciclo de vida conforme apresentado na
Figura 8. Os produtos são transportados exclusivamente por caminhões,
armazenados segundo condições específicas (visando evitar perdas ou desperdício
de material), utilizados na construção e, após o período de vida útil da estrutura, é
feita a demolição e posterior reciclagem do máximo de material possível.
Foram realizados estudos, com o auxílio da ACV, para comparar os impactos
causados pela construção civil quando se utiliza paredes em alvenaria e paredes
com bloco de concreto. Esses estudos mostraram que as paredes de tijolo cerâmico
causam menos impacto do que as paredes de bloco de concreto, com relação às
mudanças de temperatura e utilização dos recursos naturais.
21
Porém, em todas as etapas de construção, seja por tijolo cerâmico ou blocos
de concreto, ou ainda em qualquer outro tipo de sistema construtivo, a ACV aborda
que uma Gestão de Resíduos Sólidos deve ser sempre considerada, a fim de evitar
desperdícios e perdas de materiais.
Figura 8: Ciclo da Alvenaria.
4.2.2. Tijolos Cerâmicos
O principal insumo do tijolo cerâmico é a argila, material abundante em todas
as regiões do país. A produção do tijolo cerâmico consome uma grande quantidade
de energia proveniente da queima de lenha, que tem baixo rendimento energético,
com até 30% de perdas, além de gerar emissões de cinzas e gases causadores do
Efeito Estufa, o que causa grande impacto ao meio ambiente.
O uso do tijolo cerâmico possui algumas vantagens, como por exemplo,
menor custo quando comparado ao bloco de concreto, além de proporcionar maios
conforto térmico e acústico.
Entretanto, existem algumas desvantagens em relação ao uso desse tipo de
tijolo, que estão diretamente relacionadas aos impactos ambientais, como: o grande
consumo de recursos naturais e as perdas que ocorrem durante o transporte, a
produção, no armazenamento ou até mesmo em erros de projeto.
Na figura 9, tem-se um esquema do processo de produção de um tijolo
cerâmico.
22
Figura 9: Processo de Produção do Tijolo Cerâmico
4.2.3. Agregados Miúdos
A norma NBR 7211/2005 - Agregados Para Concreto – Especificação, fixa as
características que são exigidas durante a recepção e produção dos agregados
miúdos e graúdos de origem natural, encontrados fragmentados ou resultantes da
britagem de rochas. É conveniente que a areia utilizada na construção seja
produzida no entorno do local de consumo, de forma a minimizar os gastos com
transporte.
No que tange aos aspectos ambientais, a mineração da areia caracteriza-se
por uso e ocupação do solo temporariamente, incluindo a remoção da vegetação e
possível alteração, mesmo que temporária, do ecossistema local. A extração da
areia de rios, quando feita de forma irregular, gera impactos na mata ciliar e
assoreamento, o que por sua vez por resultar em alterações do fluxo fluvial.
Um esquema das entradas e saídas na obtenção da areia está na Figura 10.
23
Figura 10: Esquema de entradas e saídas na obtenção da areia.
4.2.4. Cimento
Os cimentos são materiais aglomerantes, orgânicos ou inorgânicos, sendo
que o cimento inorgânico usado na construção civil é o chamado Portland comum.
Os principais insumos para a produção de cimento Portland são: argila e pedra
calcária ou gesso, e conchas ou outros carbonatos de cálcio, que são recursos não
renováveis e, portanto, sua retirada produz sérios danos ao meio ambiente. (Na
figura 11, tem-se o esquema das entradas e saídas na obtenção do cimento).
A fim de solucionar este problema, empresas que produzem cimento buscam
recuperar florestas antes devastadas por minas de extração, fazer o monitoramento
da fauna terrestre e criar programas de cooperação para desenvolver, implementar e
difundir boas práticas de mineração em áreas de cavernas e no entorno das
Unidades de Conservação e Preservação da Biodiversidade.
Ainda, com o intuito de reduzir emissão de gases que causam o Efeito Estufa
(GEE), as empresas criaram um parque industrial moderno e eficiente, com
unidades que operam com baixo consumo de combustíveis.
As indústrias, também, fazem uso de filtros para minimizar as emissões
desses gases para a atmosfera. Os resíduos coletados nesse filtro voltam para a
cadeia produtiva na forma de aditivos, reduzindo o uso dos mesmos e, contribuindo
assim, para a preservação dos recursos naturais, além de propiciar economia
energética.
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Figura 11: Esquema de entradas e saídas na produção do Cimento.
4.2.5. Cal
A cal hidratada (resultante da combinação química dos óxidos anidros da cal
virgem com a água) é largamente utilizada em muitos processos na construção civil.
Na figura 12, tem-se um esquema das entradas e saídas na obtenção da cal.
Figura 12: Esquema de entradas e saídas na obtenção da cal
25
A indústria da cal está entre as mais poluidoras do meio ambiente, com
grande emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), pelo emprego dos seguintes
combustíveis: gás natural, óleo combustível, lenha e carvão (o combustível utilizado
varia de acordo com o tipo de forno utilizado).
4.3. Limitações da ACV
As principais dificuldades encontradas para a aplicação da ACV são a falta de
profissionais adequados e capacitados e a disponibilidade de bancos de dados
contendo informações sobre a ACV de materiais básicos, como aço, cimento,
combustíveis etc. Também a falta de incentivos fiscais pelo governo para as
empresas que desejam realizar o estudo de ACV.
Scheuer et al. (2003) citam a dificuldade em se obter informações
quantitativas a respeito de impactos ambientais gerados, por exemplo, durante as
fases de construção e demolição devido à grande variedade e composição química
de materiais utilizados na indústria, e na própria dinâmica de alteração e renovação.
Também se destaca o desafio de mensurar e analisar os impactos causados
pelo transporte de produtos. Segundo estudos realizados pelo IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change, 1988), o setor de transporte é um dos
grandes poluidores que ainda não incorpora de modo significativo projetos para
mitigar os efeitos emitidos pela queima de combustíveis.
É de grande importância uma avaliação criteriosa da relação custo-benefício
para se atingir a qualidade desejada para o estudo, levando-se em consideração de
tipo de dado deverá ser pesquisado, a sua aplicação, o custo e o tempo para sua
coleta e recursos disponíveis para a condução do estudo.
5. Diretrizes para o uso da ACV na Gestão Ambiental
5.1. Para Projetos
- Pesquisar informações referentes ao entorno e à área na qual o empreendimento
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seráY implantado;
- Utilizar corretamente os condicionantes físicos, climáticos e legais;
- Especificar materiais, de acordo com a região e com as normas técnicas, que
sejam não agressores ao meio ambiente durante o transporte, descarga no canteiro,
armazenagem e aplicação;
- Utilizar mais os materiais naturais renováveis e os recicláveis, de preferência com
selo de qualidade ambiental para, desta forma, economizar os não renováveis;
- Adotar técnicas construtivas que proporcionem consumo mínimo de energia e água
e pouco resíduo;
- Detalhar bem os projetos para evitar desperdícios e, quando possível, cotar as
áreas para uso de pecas inteiras para evitar cortes;
- Coordenar a integração entre os projetos arquitetônico e complementar, e destes
projetos com a obra;
- Conservar ao máximo o perfil original do terreno;
- Considerar o entorno, para não descaracterizá-lo;
- Evitar rebaixar o lençol freático, não interferindo na drenagem urbana;
- Utilizar uma taxa de ocupação máxima do terreno menor ou igual a 60%, para
propiciar áreas permeáveis e verdes;
- Preservar o máximo possível à vegetação nativa e, assim, o ambiente natural;
- Promover a integração entre as áreas verdes e as áreas de lazer para os usuários;
- Utilizar materiais porosos para a pavimentação externa aumentando a área
permeável do terreno;
- Prever adaptações tecnológicas de forma a permitir fácil manutenção e aumentar a
vida útil da edificação;
- Permitir flexibilização dos espaços para atender às necessidades dos futuros
usuários e aumentar a vida útil da edificação;
- Evitar edificações muito altas e recuos muito próximos dos terrenos vizinhos, de
forma a não originar falta de insolação e ventilação natural, tanto para a edificação
quanto para a vizinhança;
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- Evitar edificação com mais de dois apartamentos por andar, para propiciar
condições mais favoráveis de insolação e/ou ventilação natural para todos os
apartamentos;
- Adotar sistemas eficientes de iluminação, ventilação e condicionamento de ar
(aquecimento e refrigeração), diminuindo o consumo desnecessário de energia e
água, através da consideração adequada da orientação solar, ventos dominantes e
áreas de aberturas apropriadas, tratamentos adequados nas fachadas e utilizando
esquadrias de correr possibilitando abertura total;
- Destinar certa área da edificação ou do terreno para separação e/ou armazenagem
do lixo doméstico reciclável;
- Utilizar adequadamente tecnologias de energia natural, por exemplo, aquecimento
solar;
- Utilizar corretamente materiais, componentes e equipamentos para economizar
energia, tais como sensores de presença para iluminação artificial, fotocélulas,
luminárias e lâmpadas de menor consumo;
- Utilizar dispositivos para economizar água, tais como torneiras com controle
automático, válvulas redutoras de pressão e caixas de descargas duplas.
Recomenda- se também utilizar tecnologias para reciclar águas servidas de pias,
tanques e chuveiros, além das águas das chuvas, tornando-as adequadas para, por
exemplo, lavar calçadas e regar plantas;
- Determinar a utilização de medidor de gás e de água individuais que, além de
provocar satisfação no usuário por não ter de pagar pelo desperdício dos outros,
pode promover economia de gás, água e esgoto;
- Determinar o tratamento adequado dos esgotos domésticos, considerando os
condicionantes da região;
- Utilizar tecnologias e materiais que permitam redução de consumos e resíduos e,
preferencialmente de fácil manutenção e desmonte para a demolição.
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5.2. Para Construção
Segundo Klein, 2002, Degani; Cardoso, 2002, para que a construção de
edificações possa ser considerada ambientalmente mais correta ou possa contribuir
para o desenvolvimento sustentável do país, as construtoras deveriam:
- Planejar e executar a obra de acordo com os projetos arquitetônico e
complementares e as suas especificações;
- Promover a integração entre os projetistas e gerenciadores da obra;
- Utilizar mão de obra especializada;
- Cumprir a legislação ambiental, além das normas técnicas;
- Adotar procedimentos ambientalmente mais corretos;
- Separar resíduos para estimular a reciclagem;
- Comprar os materiais e equipamentos, preferencialmente, de empresas
fornecedoras ambientalmente responsáveis e que gerem pouco ou nenhum resíduo
que possa poluir o solo, a água ou o ar, dando preferência aos materiais recicláveis
ou que contenham componentes recicláveis;
- Utilizar procedimentos e mecanismos de controle na execução, controlando,
periodicamente, seus indicadores ambientais e procurar melhorar sempre.
Uma vez entregue a obra é fundamental que, na fase de uso, faça-se a
manutenção preventiva e as melhorias necessárias para aumentar a vida útil da
edificação. Outro ponto importante é a conscientização dos usuários sobre a
necessidade de redução do consumo de energia, água e gás, além da redução e
separação de resíduos gerados, como lixo doméstico. Deve-se retardar a demolição
o máximo possível, que deve ser feita somente se não tiver outra opção, e para
contribuir nesse processo, pode-se estudar a utilização do prédio, se for o caso, para
outra finalidade.
Na aplicação das diretrizes, evidentemente, devem-se analisar vantagens e
desvantagens delas do ponto de vista ambiental e econômico, lembrando que cada
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caso tem suas peculiaridades específicas.
Se o custo da edificação aumenta com a aplicação das diretrizes, o preço de
aquisição do apartamento é maior, mas o custo de operação, na fase de uso, é
menor. O retorno financeiro provavelmente será positivo, principalmente,
considerando a vida longa. Além disso, há os benefícios intangíveis para o ambiente,
de difícil quantificação, mas que reduz o ônus para a sociedade.
6. ACV no Brasil e em contexto mundial
Levando em conta as inegáveis diferenças observadas entre os países
desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, e o papel que cada grupo ocupa no
panorama da ACV, apresenta-se, a seguir, uma visão geral de como tais questões
estão presentes em cada um desses grupos.
6.1. No Brasil
A crescente preocupação com as questões ambientais tem levado as
indústrias brasileiras a buscar tecnologias mais limpas. No entanto, há outros fatores
associados a esse processo: a conscientização da sociedade, a pressão do
mercado, que exige padrões mais adequados, e o avanço da legislação ambiental,
cada vez mais exigente, que vêm induzindo as organizações a manter uma relação
mais sustentável com o meio ambiente.
No Brasil, diversas iniciativas estão sendo adotadas para superar as
dificuldades encontradas. Esse é o caso da agroindústria, que vem utilizando a ACV
para a análise das questões ecológicas relacionadas às diversas etapas de
produção, consumo e destino final de produtos ou serviços industriais e agrícolas,
com o objetivo de melhorar a eficiência da produção e de contribuir para o
desenvolvimento social e econômico, bem como para a conservação ambiental.
Essas medidas podem, por exemplo, auxiliar o empresário na tomada de decisão
quanto à definição dos insumos e ao investimento em novas tecnologias voltadas à
preservação ambiental.
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6.2. Em países desenvolvidos
A ACV é praticada a mais de 30 anos em países desenvolvidos. Os primeiros
estudos foram realizados no final da década de 60 e início dos anos 70, sendo
aplicados pela indústria, governo, academia etc.
Na Suíça, a ACV foi liderada pelo Instituto Federal Suíço para Pesquisa e
Teste de Materiais – EMPA, que em parceria com diversos institutos governamentais
lançaram o projeto Ecoinvent, banco de dados de inventário de ciclo de vida.
Segundo Hischier (2005), o banco de dados suíço consiste em valores médios para
um grande número de materiais, sistemas de energia, de transporte, de disposição
de resíduos etc. O “Ecoinvent” possui em seu banco de dados mais de 2.700
unidades de processos.
Na Alemanha tem-se a “Rede de Inventários de Ciclo de Vida Alemã”
(German Network on Life Cycle Inventory Data), que é uma plataforma de
cooperação e informação envolvendo diversos atores da academia, indústria e
governo. Dois importantes softwares de ACV foram desenvolvidos na Alemanha: o
Umberto e o Gabi.
Na Dinamarca existe o Centro Dinamarquês de ACV (LCA Center Denmark),
que fomenta a ACV e a “Abordagem do Ciclo de Vida”. É financiado em parte pela
Agência de Proteção Ambiental Dinamarquesa.
6.3. Em países em desenvolvimento
Nos países em desenvolvimento, e em especial no Brasil, estudos sobre a
ACV vêm sendo desenvolvidos pela academia, através de trabalhos de mestrado e
doutorado, e por algumas empresas.
Por exemplo, na Tailândia, a ACV foi introduzida na indústria tailandesa em
1997. Seu primeiro fórum foi conduzido pela Chiang Mai University, intitulado “Thai
LCA Network”. Em 2000, o primeiro estudo formal foi conduzido pelo Thailand
Enviromental Institute (TEI). Com o apoio do governo japonês, em 2005 foi criado o
projeto de seu banco de dados nacional (CURRAN, 1996).
Já em Taiwan, desenvolvido pelo Industrial Technology Research Institute
(ITRI), o software “Do It Pro” em ACV foi voltado para usuários domésticos em
31
Taiwan. Em 2000, foi divulgado o banco de dados em ACV nacional. Também foi
conduzido pelo ITRI o primeiro fórum em ACV do país, para compartilhar
informações em ACV, identificar suas lacunas, definir um consenso entre os setores
públicos e privados e coordenar o desenvolvimento de ACV no país (CURRAN,
1996).
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7. Conclusão
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta de Gestão Ambiental
cada vez mais incorporada aos processos de tomadas de decisões nas empresas.
Essa ferramenta tem mostrado sua importância na quantificação dos danos sofridos
pelo meio ambiente, bem como na avaliação das possíveis melhorias do ciclo de
vida de um produto ou de um processo.
No entanto, a aplicação da ACV para a avalição dos impactos ambientais
caudados pelo setor construtivo apresenta certos fatores limitantes, como por
exemplo, a dificuldade na obtenção de informações e dados de confiabilidade para
os materiais utilizados na Construção Civil, devido à sua variedade.
Além disso, também existe dificuldade na obtenção de valores quantitativos
com relação aos impactos ambientais gerados nas fases de construção e de
demolição de uma obra, devido a essa grande variedade de materiais utilizados pelo
setor construtivo.
O Brasil é um dos países que ainda não conta com um banco de dados para
utilização na ferramenta ACV. Portanto, além de ser desenvolvida essa base de
dados para futuras referências, é preciso também criar um mecanismo que atualize
essas informações de maneira rápida e prática.
No que tange às dificuldades para a incorporação da ACV em algumas
empresas, destaca-se a falta de incentivos por parte do governo, bem como os
problemas financeiros da própria empresa, visto que um estudo de ACV exige certas
despesas e prolonga-se por algum tempo.
A aplicação da ACV na Construção Civil gera, principalmente, importantes
informações sobre os impactos causados ao meio ambiente. Seu uso engloba
questões econômicas, sociais e ambientais. Portanto, apesar das limitações citadas,
a aplicação da ACV na Gestão Ambiental com relação à Construção Civil possibilita
uma análise crítica e específica do processo construtivo, promovendo a
compatibilização entre desenvolvimento e sustentabilidade.
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8. Referências Bibliográficas
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