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1 UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA - UNOESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO VÂNIA BETTEGA PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA LÍNGUA ESPANHOLA Joaçaba 2009

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA - UNOESC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, HUMANAS E LETRAS

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

VÂNIA BETTEGA

PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Joaçaba

2009

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VÂNIA BETTEGA

PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação do Centro de Ciências da Educação, Humanas e Letras, da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC – como requisito para obtenção do grau de mestre em Educação, sob a orientação da Profª. Dra. Nadir Castilho Delizoicov.

Joaçaba

2009

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AGRADECIMENTOS

À professora Nadir, por sua valiosa orientação, serenidade e sabedoria com que me conduziu no desenvolvimento da pesquisa;

Ao Corpo Docente do Mestrado em Educação da UNOESC/Joaçaba, pelo

profissionalismo demonstrado no decorrer da nossa convivência acadêmica; Ao professor Joviles – Coordenador do Mestrado em Educação – pela dedicação com

que sempre tratou as questões administrativas e acadêmicas deste Curso; À 15ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, às

Secretarias Municipais de Educação de Erechim, Gaurama, Marcelino Ramos e Viadutos e às Escolas Particulares de Erechim, pelo apoio, quando da realização deste estudo;

Às Direções, Coordenação e Professores das Escolas que colaboraram com essa

investigação, por permitir que eu pudesse desenvolver meu trabalho sobre a língua espanhola; Aos colegas da turma V do Mestrado em Educação e aos meus colegas do Colégio

Estadual Libano Alves de Oliveira de Gaurama, pelo maravilhoso convívio, pela contribuição e pelo carinho com que sempre me trataram;

Aos meus pais Valdir e Iraci e a meus irmãos Valdirene, Silvana e Luciano, pela sua

presença constate e estímulo em todas as minhas decisões e caminhos que decidi percorrer, o meu carinho;

A minha sobrinha Juliana e à Daniela, que sempre alegraram meus olhos e minha

alma; A Deus, por ser o condutor de minha vida e permitir que eu pudesse concluir mais esta

etapa.

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RESUMO

Este trabalho apresenta dados de pesquisa relativos às práticas pedagógicas de professores de

espanhol que atuam em escolas estaduais, municipais e particulares do ensino fundamental

(séries finais) e do ensino médio, nos municípios de Erechim, Gaurama, Marcelino Ramos e

Viadutos do estado do Rio Grande do Sul. O objetivo principal desta pesquisa é identificar a

prática pedagógica de professores de língua espanhola da educação básica, que atuam em

escolas estaduais, municipais e particulares, situadas na região norte do Rio Grande do Sul.

Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, sendo que os dados foram coletados através de

questionário estruturado com questões abertas e fechadas. Os resultados permitiram

caracterizar as práticas pedagógicas dos professores envolvidos no estudo, as quais estão

apoiadas numa abordagem tradicional, sendo que a leitura e a escrita são as habilidades mais

trabalhadas em detrimento do falar e do ouvir, quase não contemplados nas atividades

realizadas em sala de aula. As ações pedagógicas e os procedimentos realizados pelos

professores não oferecem um ensino/aprendizagem baseado na abordagem comunicativa. O

trabalho indica a necessidade de se reavaliarem as práticas pedagógicas de língua espanhola,

bem como a necessidade de se conscientizar os professores sobre os distintos papéis e

diferentes posturas teóricas que compõem o ensino/aprendizagem da língua espanhola, para

que possam refletir sobre a própria prática pedagógica.

Palavras chaves: Formação de professores. Prática pedagógica. Ensino de língua espanhola.

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ABSTRACT

Este trabajo apresenta datos de pesquisa relativos a las prácticas pedagogícas de profesores de

español que actuan en escuelas estatales, municipales y particulares de la enseñanza básica

(series finales) y de la enseñanza intermediaria de los municipios de Erechim, Gaurama,

Marcelino Ramos y Viadutos de la provincia del Rio Grande del Sur. El objetivo es identificar

los presupuestos teorico-metodologícos que embasan la práctica docente a partir de los

recursos utilizados por los profesores de lengua española. Tratase de una pesquisa de cuño

cualitatibo siendo que los datos fueran colectados a través de cuestionarios y estructurado con

cuestiones abiertas y cerradas. Los resultados permitiran caracterizar las prácticas

pedagogícas de los profesores envolvidos en el estudio, los cuales están apoyados en una

abordaje tradicional, siendo que la lectura y la escrita son habilidades más trabajadas en

detrimiento del hablar y del oír. Las acciones pedagogícas y los procedimientos realizados por

los profesores no ofrecen una enseñanza/aprendizaje basada en la abordaje comunicativa. El

trabajo indica la necesidad de se reavaliaren las prácticas pedagogícas de lengua española bien

como la necesidad de se conscientizar los profesores sobre los distintos papeles y distintas

posturas teoricas que componen la enseñanza/aprendizaje de la lengua española, para que

puedan reflejar sobre la práctica pedagogíca.

Palabras llaves: Formación de profesores. Práctica pedagogica. Enseñanza de lengua

española.

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SIGLAS

ABH – Associação Brasileira de Hispanistas

AECI – Agência Espanhola de Cooperação Internacional

ALAB – Associação de Linguística do Brasil

ANDE – Associação Nacional de Educação

ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

APEESP – Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo

CLIs – Centros Interescolares de Línguas

CRE – Coordenadoria Regional de Educação

DCEs – Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira

DELE – Diploma de Espanhol com Língua Estrangeira

EDUECE – Associação Brasileira das Editoras Universitárias

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENC – Exame Nacional de Cursos

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

ENPULT – Seminário Nacional de Professores Universitários de Língua Inglesa

FUNIBER – Fundação Universitária Iberoamericana

IBEPEX – Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEAU – Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai.

I ENPLE – Primeiro Encontro Nacional de Política de Ensino de Línguas

INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LEM – Língua Estrangeira Moderna

MAEC – Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação de Espanha

MAEC-AECI - Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação de Espanha – Direção

Geral de Relações Culturais e Científicas da Agência Espanhola de Cooperação Internacional.

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

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PR – Paraná

PSDB – Partido Social da Democracia Brasileira

RGS – Rio Grande do Sul

SC – Santa Catarina

SEB – Secretaria de Educação Básica

Sesu – Secretaria da Educação Superior

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina

UNICAMP – Universidade Federal de Campinas

UPF – Universidade de Passo Fundo

URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 18

A LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL ............................................................................. 18

1.1 BREVE HISTÓRICO ......................................................................................................... 18

1.2 O CENÁRIO ATUAL ........................................................................................................ 27

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 33

FORMAÇÃO DO PROFESSOR E TRABALHO DOCENTE .......................................... 33

2.1 O QUE DIZEM AS PESQUISAS ..................................................................................... 33

2.2 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESTRANGEIRA .................................... 41

2.3 O TRABALHO DOCENTE ............................................................................................... 48

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................................... 53

ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA ....... ................................ 53

3.1 PARAMETROS CURRICULARE NACIONAIS ............................................................. 53

3.2 ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA .......................................................................... 57

3.2.1 A metodologia tradicional ............................................................................................... 57

3.2.2 A metodologia áudio-oral ou audiolingual ...................................................................... 58

3.2.3 A metodologia audiovisual .............................................................................................. 60

3.2.4 Metodologia comunicativa .............................................................................................. 61

3.3 O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA .......................................................................... 66

3.4 ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA ................................. 69

3.5 A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA ..................................................... 73

3.6 APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................. 75

CAPÍTULO 4 ......................................................................................................................... 79

ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................................ 79

4.1 A PRÁTICA PEDAGÓGICA ............................................................................................ 82

4.2 PLANEJAMENTO DAS AULAS ..................................................................................... 96

4.3 FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA .................................................................................... 99

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 103

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 109

APÊNDICES ......................................................................................................................... 118

APÊNDICE A - INFORMAÇÕES SOBRE O PROFESSOR (A) ................................... 119

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO ..................................................................................... 120

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO .......... 124

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INTRODUÇÃO

Estudar idiomas hoje não é mais uma questão de status, de luxo ou privilégio. Na

atualidade, o conhecimento de pelo menos dois idiomas é requisito básico neste mundo

globalizado. A língua estrangeira desempenha importante papel, pois possibilita o acesso a

outras culturas, além de contribuir para equalizar oportunidades sociais e profissionais.

Compreendendo que a educação também contribui para significativas mudanças

sociais, concorda-se com Assmann (1998, p. 26) para o qual “a educação terá um papel

determinante na criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade”.

Nesse sentido, defende-se um ensino de língua estrangeira, no interior da escola pública, que

qualifique o aluno de tal modo que ele possa fazer uso desse conhecimento na sua vida

cotidiana.

O estudo de uma língua estrangeira, da cultura correspondente e a esperança de uma

oportunidade profissional fora do país instigou em mim o interesse pela língua espanhola.

Iniciei os estudos relativos a minha graduação no Curso de Letras/Espanhol e respectivas

literaturas na Universidade Regional e Integrada do Alto Uruguai e das Missões –

URI/Campus de Erechim/RS. Quando ingressei na graduação, trabalhava como secretária de

uma escola estadual, situada no interior de Gaurama/RS: Escola Estadual Luiz Giacomini e

também como educadora no Projeto Terra Solidária. Este projeto abrangia os três Estados do

sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e era voltado para jovens e adultos

trabalhadores do campo. No ano seguinte ao da minha formatura, fiz o concurso e ingressei no

magistério. A partir de então, sempre trabalhei com língua portuguesa, língua espanhola e

respectivas literaturas, na educação básica, ou seja, no ensino fundamental, séries finais,

ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos – EJA.

No ano posterior à conclusão do meu curso de graduação, iniciei a Pós-Graduação em

Literatura Hispano-Americana. Isso despertou em mim um interesse ainda maior pela cultura

deste povo e foi o que me levou a iniciar o Mestrado em Literatura, na Universidade de Passo

UPF – no Rio Grande do Sul. No entanto, após cursar um semestre, percebi que não era nesta

área que gostaria de me especializar. Apesar de gostar de trabalhar a disciplina de literatura, o

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meu maior interesse estava na língua espanhola. Posteriormente, surgiu a oportunidade de

inserir-me no Mestrado em Educação, na UNOESC de Joaçaba/SC.

Ensinar uma língua estrangeira implica num trabalho com diferentes habilidades

comunicativas de produção e compreensão oral e escrita, na forma como desenvolvem e

programam as bases de conhecimentos e na forma como os profissionais acreditam que sua

prática pode ser renovada e melhorada a cada dia.

Escutar, tomar notas, decorar e fazer provas tem sido a rotina de muitos alunos em

nossas escolas, o que resulta na formação de profissionais com dificuldades de responder aos

desafios postos no início deste século.

Vale ressaltar que a língua estrangeira moderna, habitualmente, dispõe de poucas aulas

semanais, ministradas a grupos bastante heterogêneos, com ritmos diferentes de

aprendizagem, representando, com isso, um grande desafio. Também, não se pode deixar de

mencionar que a língua estrangeira, disciplina presente na matriz curricular nas séries finais

do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, não constitui um fator que, isoladamente, leve à

reprovação do aluno.

Ler em outra língua possibilitará ao aluno interagir com outras culturas e com um

mundo acadêmico, científico, tecnológico e humano. O envolvimento do educando no uso de

uma língua estrangeira também amplia a sua autopercepção como ser humano e cidadão, pois

ao compreender o outro em sua alteridade, ele aprende muito mais sobre si mesmo e sobre um

mundo plural, marcado por valores culturais diferentes e com maneiras diversas de

organização política e social. Significa, ainda, ter uma experiência emocional de

comunicação, entender e ser entendido sem se sentir frustrado. Tudo isso pode contribuir para

um crescimento pessoal positivo, se bem conduzido.

No entanto, aprender uma nova língua não é só alcançar um domínio funcional de um

novo código linguístico, mas também, ser capaz de interpretar e relacionar-se com uma

realidade sociocultural diferente, significa penetrar em outra cultura e conhecer as suas

nuances, ampliando a própria bagagem cultural, permitindo novas sintonias frente às

necessidades do mundo contemporâneo. A língua é também elemento de inclusão e exclusão

sociocultural e de inserção no mercado de trabalho. Essa afirmação é corroborada se analisar

as relações econômicas com os países vizinhos de língua espanhola, os tratados bi e

multilaterais firmados, a liderança do Brasil no Mercosul e na América Latina e o pujante

desejo brasileiro de se acercar do mercado europeu. Portanto, esse cenário nunca foi tão

auspicioso quanto agora. Como nos diz Paiva (2003), a aprendizagem de uma língua

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estrangeira é, portanto, necessária como instrumento de compreensão do mundo, de inclusão

social e de valorização pessoal.

De acordo com as perspectivas instigantes e motivadoras do Mercosul, é previsível

que ocorrerá um crescimento, tanto da oferta como da demanda pelo ensino da língua

estrangeira neste novo milênio, pois poderá ocorrer o aumento do fluxo do turismo

internacional para o Brasil, hoje uma das fontes mais importantes de circulação de riqueza no

mundo. Tal fato poderá ampliar significativamente as oportunidades de trabalho na área dos

inúmeros serviços de infraestrutura turística que só poderão ser aproveitadas por aqueles que

dominam uma língua estrangeira.

Nesse sentido, a escola pode dar sua contribuição para a inserção do sujeito na

sociedade, com um ensino de qualidade que vise à ampliação das oportunidades de trabalho.

Para tanto, há necessidade de professores com formação adequada e que compartilhem com

essa perspectiva, ou seja, instrumentalizar o aluno de tal forma que ele possa utilizar na sua

vida cotidiana os conhecimentos incorporados.

Os professores que estão atuando no ensino da língua estrangeira compartilham com

essa perspectiva? A prática desses professores está direcionada para atender essas

necessidades dos alunos?

Diante do exposto, faz–se, então, necessário criar condições que levem o professor a

repensar a sua própria prática, no sentido de refletir se o seu trabalho docente está sintonizado

com as reais finalidades do ensino da língua estrangeira na educação básica.

O objetivo principal desta pesquisa é identificar a prática pedagógica de professores de

língua espanhola da educação básica, que atuam em escolas estaduais, municipais e

particulares, situadas na região norte do Rio Grande do Sul. Assim, esta investigação objetiva:

a) identificar os pressupostos teórico-metodológicos utilizados pelos professores de língua

espanhola na prática educativa; b) investigar qual a compreensão que o professor tem sobre a

sua prática pedagógica ao ministrar aulas da língua espanhola; c) investigar os recursos

utilizados pelos professores de língua espanhola para o desenvolvimento de sua prática

pedagógica.

Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico, para o qual se delimitou um

período de cinco anos, com a finalidade de localizar trabalhos que tenham a mesma temática

como objeto de pesquisa. Assim, foram consultados periódicos na área da Educação, tais

como: Cadernos de História e Filosofia da Educação, Cadernos de Pesquisa, Educação e

Realidade, Educação & Sociedade, Perspectiva – Revista do Centro de Ciências da Educação,

Revista ANDE – Associação Nacional de Educação, Revista Brasileira de Educação –

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ANPED/Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e Revista Brasileira

de Estudos Pedagógicos – INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.

De acordo com o levantamento bibliográfico realizado no periódico citado acima,

constatou-se que, entre 2004 e 2008, houve apenas uma publicação sobre língua estrangeira,

localizada no periódico “Pesquisa em Educação”, em 2006, com o título: “Leitura em língua

estrangeira: entre o ensino médio e o vestibular”, de Gretel Éres Fernández e Daniela S.

Kawamoto Kanashiro, a qual trata do papel da compreensão leitora em língua estrangeira –

espanhol - nos cursos de idiomas e das concepções de leitura que subjazem em alguns

documentos oficiais.

Além destes periódicos, destacam-se algumas pesquisas sobre os aspectos gramaticais

da língua estrangeira, dentre as quais pode-se citar: “Discernimento do esteio teórico nos

PCNs de Língua Estrangeira – Ensino Fundamental” de Elaine F. V. Borges, publicada na

Revista dos Cursos de Pós-Graduação da Unicamp de Campinas, 2004; “O ensino de língua

estrangeira como meio de transformação social” e a “Alienação e mimetismo cultural no

ensino de línguas estrangeiras” de Décio Torres Cruz, no XVIII Seminário de Línguas

Estrangeiras, Caderno de Resumos, 2006; “Crenças, experiências e ações na aprendizagem de

vocabulário em LE” de Mariney Pereira Conceição, apresentado no VI Seminário de Línguas

Estrangeiras: reflexões sobre o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras, 2005;

“Metáfora e ensino, aprendizagem de língua estrangeira: Questões de Linguística Aplicada”

de Paula Lenz Costa Lima, da EDUECE de Fortaleza, em 2005 e, “Uma experiência de leitura

crítica em língua materna e em língua estrangeira: o discurso jornalístico sobre Lula, no Brasil

e no exterior” de S. M. M. Vieira, 2005, do XVIII ENPULI. Programa e resumos.

Com base nestes dados, percebeu-se que características da prática pedagógica do

professor de língua espanhola da educação básica não foram investigadas.

A maioria das pesquisas sobre língua estrangeira focaliza a língua inglesa, fato que

pode ser explicado pelo destaque que a mesma tem recebido no mundo contemporâneo. Sobre

essa questão, Ortiz (2000, p.28) esclarece:

[...] a existência da Inglaterra como potência colonizadora, o papel econômico dos Estados Unidos no século XX, a presença das corporações multinacionais, as transformações tecnológicas (invenção do computador e de uma linguagem informatizada), o peso de uma indústria cultural marcada por sua origem norte-americana. Seria inconsequente imaginar que a imposição de uma língua se faz à revelia das relações de força.

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Assim, há todo um conjunto de fatores sociopolitico-culturais que contribuem para o

interesse pelo estudo do Inglês, havendo, consequentemente, um maior número de pesquisas

desenvolvidas nessa área, em comparação com o número de pesquisas feitas sobre o

ensino/aprendizagem de outras línguas estrangeiras (Ortiz, 2000), de menor prestígio

internacional, como é o caso da língua espanhola. Embora esta última tenha recebido maior

destaque com a implantação da Lei nº11.161 de agosto de 2005, a qual dispõe sobre o ensino

da língua espanhola.

Desta forma, neste trabalho, pesquisaram-se as características da prática pedagógica

do professor de língua espanhola da educação básica, de escolas públicas municipais e

estaduais e particulares da região norte do Rio Grande do Sul.

A partir das características da prática pedagógica do professor é possível compreender

o direcionamento que ele dá à sua aula, o que poderá trazer subsídios para o planejamento de

processos de formação, tanto inicial quanto continuada, visando à melhoria das aulas de

língua espanhola.

A pesquisa foi desenvolvida com professores das escolas estaduais, municipais e

particulares da zona rural e urbana, localizadas nos municípios de Erechim, Gaurama,

Marcelino Ramos e Viadutos. Estes municípios caracterizam-se pelas belezas do seu cenário e

pela miscigenação das etnias que deram origem à formação destas cidades e destacam-se

também na indústria, no setor de serviços e na área agrícola. Na educação, a Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de Erechim é um

referencial para os jovens destes municípios.

O município de Erechim destaca-se por ser o berço da cultura e da tradição.

Atualmente possui uma população de quase 100 mil habitantes, de acordo com o censo do

IBGE de 2008, com uma área de 431 km². Carinhosamente chamado por seus moradores de

“Capital da Amizade”.

Erechim conta com 28 escolas estaduais, das quais 5 têm a disciplina língua espanhola

no currículo e 4 professores que ministram estas aulas, 4 escolas municipais de Ensino

Fundamental, com 7 professores e 5 escolas particulares, com 7 professores, num total de 14

escolas e 18 professores de língua espanhola.

De acordo com o censo do IBGE de 2008, Gaurama tem uma população de 6.252

habitantes e uma área de 204,149 km². É conhecida como a “Princesa do Alto Uruguai”. Esse

município conta com 4 escolas estaduais e 1 professora de língua espanhola, 4 escolas

municipais e 1 escola particular, sendo que nestas escolas não há nenhum professor que

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ministra aulas de língua espanhola. No total, tem 9 escolas com 1 professor de língua

espanhola.

A cidade de Marcelino Ramos tem uma população estimada em 5.406 habitantes, com

base no censo do IBGE de 2008 e uma área de 230 km². O turismo é praticado de forma

acentuada, por isso, Marcelino Ramos/RS destaca-se como polo turístico regional e ostenta o

título de “Capital do Turismo do Alto Uruguai”. Marcelino Ramos tem 6 escolas estaduais e

apenas 1 professor que atua na língua espanhola, 8 escolas municipais, sendo que nenhuma

destas escolas apresenta o ensino de língua espanhola no currículo e nenhuma escola

particular, totalizando 14 escolas e apenas 1 professor de língua espanhola.

O município de Viadutos é conhecido como “A cidade das pontes”, pois liga-se aos

municípios de Gaurama e Marcelino Ramos por pontes de estrada de ferro e é conhecido

nacionalmente pela “Festa do Boi Recheado”. O município tem uma área de 268,473 km² e

uma população estimada em 5.766 habitantes, segundo o censo do IBGE de 2008. Viadutos

conta com 4 escolas estaduais e nenhum professor ministra aulas de língua espanhola, 4

escolas municipais, e apenas 1 trabalha com a língua espanhola e 1 escola particular, sendo

que nesta não são ministradas aulas de língua espanhola. Num total de 9 escolas, há 1

professor de língua espanhola.

É importante ressaltar que estes municípios fazem parte do Estado do Rio Grande do

Sul e que este teve suas terras pertencentes à Coroa da Espanha e muita coisa, desde a

indumentária, as formas de expressão que ainda prevalecem na fronteira, permanece também,

com alterações. Mesclada com os costumes dos portugueses que avançaram para o sul, essa

cultura espanhola resultou em algo novo: no homem gaúcho, com uma cultura própria.

Para Antonio Augusto Fagundes (1996), não se pode deixar de inferir que este Estado

apresenta uma rica diversidade cultural, com raízes nos antigos gaúchos que habitavam os

pampas e a cultura da colonização europeia. Para este mesmo autor, o gaúcho “é mais

espanhol que português”. Por exemplo, a palavra chimarrão tem origens no vocabulário

espanhol e português. Cita também a palavra cimarrón que em espanhol significa chucro,

bruto, bárbaro, vocábulo empregado na América Latina, do México ao Prata, designando os

animais domesticados. E assim, a palavra chimarrão foi também empregada pelos

colonizadores do Prata, aquela rude e amarga bebida dos nativos, tomada sem nenhum outro

ingrediente. Outro exemplo é gaúcho, nome pelo qual é conhecido o homem do campo na

região dos pampas da Argentina ao Rio Grande do Sul e, por extensão, os nascidos neste

Estado brasileiro. Originalmente, o termo foi aplicado em sentido pejorativo (como sinônimo

de vadio) aos mestiços e índios, espanhóis e portugueses que, naquela região, espalhavam-se

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pelas pastagens naturais, sem patrão e sem lei, o gaúcho tornou-se manejador do laço e da

boleadeira. O reconhecimento de sua habilidade campeira e de sua bravura na guerra, fez

com que “gaúcho” perdesse a conotação pejorativa. Paralelamente, surgiu uma literatura

gauchesca, através das lendas de sua tradição oral e das particularidades dialetais, e exaltando

sua coragem, seu amor e liberdade.

Dentre as danças, destaca-se a milonga, dança argentina ao som de guitarras, muito

popular no Uruguai, de onde entrou de forma aculturada no pampa gaúcho e faz parte do

acervo musical do sul brasileiro.

Outra autêntica tradição espanhola é o velho costume que vem se mantendo no tempo,

o de empinar pandorgas (papagaios). A prova de que se trata de uma tradição espanhola foi

obtida em Valência, na Espanha, graças à pesquisa de historiadores da região, segundo a qual

o costume foi levado a Livramento pelos espanhóis que chegaram à cidade através do porto de

Montevidéu.

Assim, vários fatores contribuem para que o espanhol se consolide no Brasil: é o

maior e mais populoso país sul-americano que não fala o idioma, onze de seus estados são

fronteiriços de países de fala hispânica, integra o Mercosul e pode entrar em outros blocos

econômicos, também compostos por hispânico-falantes.

Diante do inevitável contato do Brasil com países hispano-americanos, é notória a

aprovação da Lei 11.161/05, que torna obrigatória a oferta da língua espanhola nas escolas

públicas e privadas deste país. Mesmo que não houvesse lei, é necessário que o aluno

brasileiro aprenda o espanhol, não apenas os que vivem em regiões do Rio Grande do Sul,

mas até Roraima. O que se observa devido à proximidade geográfica e o necessário contato

com os vizinhos, é o uso do portunhol, resultado da junção do português e espanhol.

Esta dissertação está dividida em capítulos, os quais estão assim organizados: no

Capítulo I, apresenta-se um breve histórico sobre a língua espanhola no Brasil até os dias

atuais.

No Capítulo II, apresentam-se algumas pesquisas sobre a formação do professor,

disserta-se sobre a formação e o trabalho docente do professor de língua estrangeira. Faz-se

uma reflexão sobre alguns aspectos que constituem a formação do professor e do trabalho

docente. Assim, na primeira parte, é discutida a importância de se analisar a prática

pedagógica dos professores de língua estrangeira. Na segunda parte, apresentam-se algumas

contribuições, para que os professores reflitam criticamente sua prática docente dentro e fora

da sala de aula, analisando-se também melhores condições de formar “cidadãos capazes de

enfrentar os desafios do mundo globalizado”.

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No Capítulo III, faz-se uma reflexão sobre alguns aspectos que constituem a

aprendizagem. Assim, na primeira parte, é discutido o que preconizam os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) acerca do processo ensino-aprendizagem de uma língua

estrangeira na educação básica. Além disso, apresenta-se uma síntese das principais

metodologias que marcaram o ensino-aprendizagem da língua estrangeira. E, por fim,

abordam-se questões sobre o ensino da língua espanhola, analisando-se aspectos referentes às

Orientações Curriculares Nacionais para o ensino da língua estrangeira, o processo de

aprendizagem de uma língua estrangeira e suas competências.

Por sua vez, no Capítulo IV, são analisados e discutidos os dados da pesquisa, bem

como são apresentados os principais resultados, mantendo como eixo de discussão os textos

que fazem parte da revisão bibliográfica.

Nas considerações finais, destaca-se a importância de discutir a prática pedagógica dos

professores de língua estrangeira, neste caso específico, a língua espanhola, com vistas a

buscar mudança na prática pedagógica vigente nas salas de aula de língua estrangeira, em

particular dos professores que colaboraram com esta pesquisa.

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CAPÍTULO 1

A LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL

1.1 BREVE HISTÓRICO

Em um mundo globalizado é fundamental que haja comunicação, mas para entender e

ser entendido é preciso comunicar-se na mesma linguagem e é indiscutível o papel da

comunicação na promoção do desenvolvimento de recursos humanos e nas relações políticas

e comerciais.

Conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e na

Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, a aprendizagem de uma língua estrangeira,

juntamente com a língua materna, é um direito de todo o cidadão e, historicamente, nossa

legislação nem sempre nominou a língua estrangeira que deveria estar incluída no currículo

escolar, como é o caso da língua espanhola que, no atual contexto, é a língua que passa a ser

obrigatória nas escolas de ensino médio do país e facultativa no ensino fundamental, a partir

de 2010.

No Brasil é notável o interesse pela língua espanhola, devido ao Mercado Comum do

Sul – Mercosul, que tem determinado sua inclusão nos currículos escolares, principalmente

nos Estados limítrofes com países onde o espanhol é o idioma dominante. A aprendizagem do

espanhol no Brasil e do português nos países de língua espanhola na América Latina tem

contribuído para o fortalecimento das relações dos seus habitantes, pois ocorre uma troca de

ordem cultural, social e econômica.

O Tratado de Assunção, firmado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, em 26 de

março de 1991, que deu origem ao Mercosul, instituiu como idiomas oficiais o espanhol e o

português e, posteriormente, o Protocolo de Ouro Preto, assinado pelos quatro países, em

1994, reconheceu a personalidade jurídica de direito internacional do bloco. Esse

estabelecimento de relações bilateriais rumo à integração teve consequências marcantes nos

planos políticos, econômicos, militares, culturais, etc.

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Para Chagas, no Brasil, o ensino oficial de línguas estrangeiras teve início em 1837,

com a criação do Colégio Pedro II. “As Línguas Modernas ocuparam então, e pela primeira

vez, uma posição análoga a dos idiomas clássicos, se bem que ainda fosse muito clara a

preferência que se voltasse ao latim” (CHAGAS, 1976, p. 105).

Não se pode deixar de inferir, que apesar de todos os setores da sociedade

reconhecerem a importância do ensino de língua estrangeira, as políticas educacionais nunca

lhe asseguraram uma inserção de qualidade, principalmente nas escolas públicas. Segundo

Paiva (2003), as classes privilegiadas sempre procuraram garantir a qualidade da

aprendizagem de línguas nas escolas de idiomas, enquanto os menos privilegiados

continuaram à margem desse conhecimento.

Com a Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, teve-se a seguinte recomendação no artigo

7º: “Recomenda-se que em Comunicação e Expressão, a título de acréscimo, se inclua uma

Língua Estrangeira Moderna, quando tenha o estabelecimento condições para ministrá-la com

eficiência”.

O redator, além de minimizar a importância da língua estrangeira, oferece também

uma desculpa para que seu ensino esteja condicionado às condições das escolas.

E o Parecer CFE 853/71 de 12/11/1971, justifica a inserção da língua estrangeira como

apenas uma recomendação: “(...), indicamos expressamente a “língua estrangeira moderna” e,

para levar em conta esta realidade, fizemo-la a título de recomendação, não de

obrigatoriedade, e sob condições de autenticidade que se impõem”.

A redação não qualifica o termo “autenticidade” e não se sabe o que ele quis dizer. E,

na conclusão deste mesmo parecer, afirma que, como se pode observar, o ensino de línguas

estrangeiras é ineficaz na maioria das escolas.

Ainda por um parecer posterior, do Conselho Federal, o ensino de língua estrangeira

ficou comprometido, pois constava na sua redação que a língua estrangeira seria dada por

acréscimo e dentro das condições de cada estabelecimento de ensino.

Ao longo da História, ocorre também uma drástica redução de horas destinadas para o

ensino de língua estrangeira.

A não obrigatoriedade do ensino de Língua Estrangeira trouxe como consequência a ausência de uma política nacional de ensino de Línguas Estrangeiras para todo o país; a diminuição drástica da carga horária chegando a apenas uma a aula por semana em várias instituições; e um status inferior ao das disciplinas obrigatórias, pois, em alguns estados, as Línguas Estrangeiras perdem o “poder” de reprovar (PAIVA, 2003, p.53-84).

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Assim, inúmeros alunos passaram pelo ensino básico sem nunca terem estudado uma

língua estrangeira.

Em 1976, a Resolução CFE nº 58, de 1º de dezembro, resgata, parcialmente, o

prestígio das línguas estrangeiras, tornando o ensino de língua estrangeira obrigatório para o

ensino de 2º grau. De acordo com o artigo 1º: “O estudo de Língua Estrangeira Moderna

passa a fazer parte do núcleo comum, com obrigatoriedade para o ensino do 2º grau,

recomendando-se a sua inclusão nos currículos de 1º grau [...].” (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Percebe-se que este artigo também condiciona a inserção do ensino de línguas no 1º

grau às condições que permitam esse ensino.

Com a descrença do ensino de línguas estrangeiras nas escolas públicas e a dominação

econômica mundial dos Estados Unidos, cresceu a busca pelos cursos de inglês e, assim,

confirmou-se um cenário que só começaria a mudar, sensivelmente, em meados da década de

1980, com a criação dos primeiros Centros de Línguas, por iniciativa das Secretarias de

Educação de alguns Estados brasileiros. Embora sem reconhecimento legal, tais centros

contribuíram para a expansão de cursos de língua espanhola no Brasil (REATTO; BISSACO,

2007, p. 55).

Em novembro de 1996, a Associação de Linguística do Brasil (ALAB) promove o

primeiro Encontro Nacional de Política de Ensino de Línguas (I ENPLE) e é divulgada a

Carta de Florianópolis, que propõe um plano emergencial para o ensino de línguas no país. O

documento enfatiza que “[...] todo brasileiro tem direito à plena cidadania, a qual, no mundo

globalizado e poliglota de hoje, inclui a aprendizagem de Línguas Estrangeiras [...].” (PAIVA,

2003, p. 53-84). O documento defende que a aprendizagem de línguas não visa apenas a

objetivos instrumentais, mas faz parte da formação integral do aluno.

Em dezembro do mesmo ano, é promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases, a qual

torna o ensino de língua estrangeira obrigatório a partir da quinta série do ensino fundamental.

O art. 26, § 5º dispõe que: “Na parte diversificada do currículo será incluído,

obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma Língua Estrangeira

moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, (...).” (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Em relação ao ensino médio, o art. 36, inciso III, estabelece que “(...) será incluída

uma Língua Estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade

escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das possibilidades da instituição”

(PAIVA, 2003, p. 53-84).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de língua estrangeira (PCNs), publicados pelo

MEC em 1998, também demonstram pouca legitimidade do ensino de idiomas, ao argumentar

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a favor de se privilegiar o ensino de leitura em detrimento das outras habilidades, como se

pode ver na página 20 do referido documento:

Deve-se considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras: carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido (...) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas. Assim, o foco na leitura pode ser justificado em termos da função social das Línguas Estrangeiras no país e também em termos dos objetivos realizáveis tendo em vista condições existentes (PAIVA, 2003, p. 53-84).

É inacreditável que o próprio MEC constate a má condição do ensino no país, ao invés

de propor políticas de qualificação docente e de melhoria do ensino, além de negar a

importância da habilidade oral e da escrita, reafirmando o mesmo discurso do Parecer CFE

853/71 de 12/11/1971.

O texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao invés de enfatizar a necessidade de

se criarem condições para que a obrigatoriedade do ensino de língua estrangeira, estabelecida

na Lei de Diretrizes e Bases de 1996, fornece justificativas para a não realização de um ensino

de língua estrangeira com qualidade. Na página 20 lê-se:

No Brasil, [...], somente uma pequena parcela da população tem a oportunidade de usar Línguas Estrangeiras com instrumento de comunicação oral, dentro ou fora do país. Desse modo, considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central no ensino de Língua Estrangeira no Brasil na leva em conta o critério da relevância social para a aprendizagem (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Esse argumento só aparece em relação à disciplina de língua estrangeira e não nas

outras áreas. Portanto, em vez de impulsionar mudanças para a implementação de um ensino

de qualidade, apresenta uma teoria conformista, ao propor o ensino de língua estrangeira

apenas pela habilidade de leitura, desconhecendo a relevância da oralidade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, segundo Paiva (2003, p. 53-84), “negam ao

aprendiz o direito de ser sujeito de sua própria história, pois, como diz Augusto (2001)”.

“antecipam qual o uso que o aprendiz fará da Língua Estrangeira em seu contexto social”. Ora

esses documentos reconhecem a importância de ensino de línguas e ora criam barreiras para

seu ensino, como por exemplo: “a segunda língua será ensinada dependendo das condições”.

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No entanto, a aprendizagem da língua estrangeira é necessária como instrumento de

compreensão do mundo, de inclusão social e de valorização pessoal.

De acordo com Paiva (2003), a ausência de uma maior preocupação com o ensino de

língua estrangeira pode ser compreendida pela não-distribuição de livros didáticos pelo MEC.

O Exame Nacional de Cursos (ENC), mais conhecido como provão, também não inclui as

línguas estrangeiras na avaliação dos alunos da área de Letras.

Outro problema que o ensino de língua estrangeira vem enfrentando, segundo Paiva, é a

terceirização do ensino de línguas, respaldado pela interpretação que tem sido dada ao inciso

IV, do artigo 24 da LDB, o qual diz: “[...] poderão organizar-se classes, ou turmas, com

alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino

de Línguas Estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;” (PAIVA, 2003, p. 53-

84).

Todavia, em 7 de julho de 2003, o artigo 24 foi reescrito, sem ofender a Lei 9394/96,

que instituía a obrigatoriedade do oferecimento da língua espanhola no currículo das

instituições de ensino e a liberdade aos alunos de optar por esse ensino dentro da carga horária

normal.

Acredita-se que a aprendizagem de línguas estrangeiras é um instrumento de grande

valia na interação interpessoal e na circulação de informação entre os povos, haja vista que

produzem e traduzem um grande número de títulos literários que vão da ficção às ciências,

oferecendo inúmeras oportunidades de acesso a importantes e insubstituíveis publicações que

veicularem o conhecimento científico e cultural.

Dentre os projetos que tramitaram no Congresso Nacional destaca-se o Projeto de Lei

4.606/58, do Poder Executivo, que alterava o Decreto-lei 4.244/42, para obrigar o ensino do

espanhol [...]. Na mensagem de encaminhamento ao Congresso Nacional assinada pelo

Presidente Juscelino Kubitschek e pelo Ministro da Educação e Cultura Clóvis Salgado,

havia, como hoje, uma forte preocupação regional: antes era pan-americanismo, hoje é

Mercosul. A esse respeito, escrevia Barros:

[...] a equiparação do ensino do idioma Espanhol [...], impõe-se como corolário dos novos rumos dados ao pan-americanismo, em consequência da política adotada pelo Governo, eis que se trata de idioma falado pela maioria dos povos americanos” (2001, p. 7).

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Em 22/10/1999, segundo Barros, o Deputado Aldo Rebelo fez a seguinte ressalva:

“Em nosso País, é importante a fluência em Inglês para a informação, a comunicação, os

negócios, assim como o Espanhol, por causa da nossa fronteira comum de 16 mil quilômetros

com os países de Língua Espanhola”.

Paradoxalmente, o prestígio da língua espanhola aumenta a partir do momento em que

esta passa a ser obrigatória em todas as escolas públicas e privadas de ensino médio do país, a

partir de 2010, sendo que é facultativa no ensino fundamental (de 5ª a 8ª série). A

obrigatoriedade do espanhol, como língua estrangeira nas escolas, é determinada por meio da

Lei 11.161/05 e foi sancionada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,

juntamente com o Ministro da Educação, Fernando Haddad, no dia 05 de agosto de 2005, com

o prazo de cinco anos para sua implantação, que deverá ocorrer, impreterivelmente, no ano de

2010. Desde então, cresce a opção pelo espanhol.

O Projeto de Lei nº 3.987, de 2000, de autoria do deputado Átila Lira (PSDB), foi

aprovado pelo Congresso Nacional no dia 7 de julho de 2005. De acordo com esta Lei, os

sistemas públicos devem oferecer a língua espanhola em centros de ensino de língua

estrangeira, em horário regular de aula; já, a rede privada pode ofertá-la de duas formas: nas

salas de aula, em horários normais ou em centros de estudos de língua moderna.

No Fórum Social Mundial, ocorrido em janeiro de 2009, o presidente Luiz Inácio Lula

da Silva manifestou-se dizendo que, hoje, as relações comerciais acontecem basicamente com

os estados latino-americanos e não mais com os Estados Unidos, o que faz perceber a

importância que a língua espanhola está tendo no atual contexto.

Como afirma Fernández (2005, p.18), “a situação do Espanhol no início do século

XXI no Brasil é de bonança, de auge e de prestígio”. Essa afirmação é corroborada ao serem

analisadas as relações econômicas com os países vizinhos de língua espanhola, os tratados bi

e multilaterais firmados, a liderança do Brasil no Mercosul e na América Latina e o pujante

desejo brasileiro de se acercar do mercado europeu, já que o Brasil está mais próximo a esse

mercado que ao dos Estados Unidos. Para tal, como disse o então Ministro da Educação,

Tarso Genro, “as relações brasileiras passam necessariamente pela Espanha” (ARIAS, 2006).

De acordo com os dados da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, são

mais de 454 empresas espanholas associadas investindo no Brasil. Assim, a Espanha ocupa o

lugar de segundo país investidor no mercado brasileiro, perdendo somente para os Estados

Unidos (2007).

De fato, pode-se observar que desde a abertura do mercado brasileiro, em 1990, com o

Tratado de Assunção, havia um interesse no desenvolvimento social e econômico da região

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do Mercosul, tendo em vista a globalização econômica, bem como uma tendência mundial em

busca da integração econômica, onde o domínio da língua oficial dos países com os quais são

mantidas estas relações é muito importante.

Espanha e Argentina têm interesses específicos e já explicitados ao governo brasileiro

pelo discurso de Miguel Gonzáles Suela – subdiretor geral de Cooperação Internacional do

Ministério de Educação e Ciência da Espanha, o qual enfatizou os esforços, ao promover o

ensino e a difusão da cultura, por meio da formação de professores, pesquisadores e

profissionais com o oferecimento de bolsas pela MAEC-AECID, cursos ministrados no

Brasil, por universidades espanholas, estabelecimento de centro de recursos para professores

de Espanhol e fortalecimento dos aqui atuantes como o Instituto Cervantes, responsável pela

certificação DELE – Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (FERNÁNDEZ, 2005, p.

29).

Em 2005, o então Ministro de Educação da Argentina, Daniel Filmus, ressaltou o

marketing positivo feito por algumas escolas privadas de ensino de línguas em torno de um

indivíduo nativo, não docente, contratado para lecionar em diversos níveis de ensino,

simplesmente porque fala espanhol. Para Filmus, isto deve ser visto criticamente ao se

questionar a sua formação e devida habilitação para a docência com o intuito de

responsabilizar os professores e os dirigentes das instituições dos possíveis problemas,

observado que o fato pode gerar a má-formação do alunado, bem como o desconforto do

referido professor diante da provável futura falência da estratégia mercadológica usada.

De acordo com fontes do IBGE, estes interesses estão conjugados num sistema

educacional de mais de 9 milhões de alunos de ensino médio público e privado, sobre os quais

recairá a obrigatoriedade do ensino de língua espanhola. Somando-se cerca de 30 milhões de

brasileiros que já falam espanhol, perfaz-se um total de 40 milhões de consumidores

potenciais de educação, material didático, formação extra e continuada (mídia, cinema e

internet), eventos (feiras, congressos e encontros) que promovam e saciem a “fome-de-

espanhol”, nome que recebeu o atual fenômeno de propagação da língua espanhola pelo

Brasil, após a sanção da Lei 11.161/05.

Também integram esse fenômeno aproximadamente 20 mil professores de espanhol,

certificados ou não, dentro ou fora do sistema de ensino oficial brasileiro. De acordo com a

Associação de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo, as redes particulares de

ensino de idiomas, as 26 universidades públicas e as 24 privadas que oferecem cursos de

formação universitária para ensino de língua espanhola, as Associações de Professores de

Espanhol dos Estados, os Centros Interescolares de Línguas: CLIs, o Colégio Miguel de

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Cervantes, o Instituto Cervantes, os Centros Culturais Brasil-Espanha e a Agência Espanhola

de Cooperação Internacional (AECI) (FERNÁNDEZ, 2005).

Mesmo com todas essas forças atuando juntas para promover um cenário promissor, o

que se nota é um déficit de mais de 200 mil professores para atuar no ensino do espanhol nos

próximos anos; sendo desses demandados cerca de 10% para atuação imediata nas escolas

(ARIAS, 2006).

Conforme Ribeiro (2005, p. 28), o que os analistas preveem como país bilíngue –

Português/Espanhol, já é uma posição inerente ao fator de etnia miscigenada, não somente na

língua e sim, na cultura e características físico-biológicas da população brasileira.

Aprender um idioma estrangeiro significa a liberdade de usufruir informações no

original, ao incorporá-las, nossa comunicação se torna mais leve, mais precisa, tornando-se

até prazerosa.

A importância do aprendizado da língua espanhola é indiscutível e o momento é

propício. Assim, como houve um momento de maior procura pela língua francesa, em razão

da influência humanista da educação brasileira, hoje, há, pela língua espanhola, em razão de

interesses comerciais e de vizinhança.

As escolhas e as intervenções levam a concluir que a imposição de uma língua

estrangeira específica está mais vinculada a interesses comerciais do que culturais

propriamente ditos.

Contudo, a Lei 11.161/05, que impõe a obrigatoriedade da oferta do ensino do

espanhol nas escolas de ensino médio e o faculta no ensino fundamental - séries finais - vem

confirmar a mudança de um cenário a que temos o privilégio de assistir: a influência da

cultura e da língua espanhola no mundo. Diferente da hegemonia americana, que se faz impor

pelo poderio econômico ou da chinesa, que assusta pelo acelerado crescimento e voraz

volume populacional.

De acordo com Sedycias (2005, p.36), a Espanha tem hoje 332 milhões de falantes

nativos e representantes linguísticos espalhados por 22 países dos 5 continentes. Tais números

fazem com que o espanhol ocupe a posição de segunda língua em negociações internacionais

e a terceira na diplomacia – atrás do inglês e do francês.

Desta forma, quem o julga desnecessário estará fadado à marginalização profissional,

pois as empresas já exigem espanhol fluente como pré-requisito de contratação. Diante desta

importância, a qual o Brasil não poderia ignorar por diversas razões já ditas, a aprovação

tardia da lei em estudo proporcionará a todos o estreitamento do contato com a língua-irmã,

rumo às mudanças da concepção de igualdade e, consequentemente, ter-se-á um maior

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respeito social e domínio linguístico, bem como a formação do senso crítico pessoal e porta

de entrada do mercado de trabalho.

No Ensino Médio, a LDB prevê, no inciso 2º do Artigo 35 do Capítulo II, o seguinte:

“a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando” (BRASIL, 1996). Para os

autores, três anos de uma carga horária reduzida é insuficiente para preparar alunos para o

mercado de trabalho ou para responder às expectativas satisfatórias do exame de seleção em

língua estrangeira para ingresso nas universidades, onde, por sua vez, será oferecido um

estudo instrumental do idioma, cujo objetivo é somente o afrontamento das situações

cotidianas.

De acordo com a Fundação Universitária Iberoamericana (FUNIBER), atualmente, o

espanhol é a língua de comunicação internacional e a quarta mais falada no mundo (é a língua

materna de mais de 400 milhões de pessoas que vivem em mais de 20 países). Nos Estados

Unidos, há mais de 30 milhões de hispanohablantes e, no Canadá, o espanhol é a língua com o

crescimento mais alto. Assim mesmo, explosiva demanda de cursos de espanhol como língua

estrangeira, que se originou no início dos anos de 1990 e foi se incrementando,

progressivamente, até a atualidade, é outro fator positivo que denota a importância de formar

bons profissionais.

Graciela Inés Ravetti Gómez, professora da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), centrou-se nas questões

relativas à habilitação de professores de espanhol, afirmando que estes devem,

obrigatoriamente, estar a cargo das universidades brasileiras. Ressaltou que essas instituições

têm uma experiência já consolidada em seus programas de graduação e pós-graduação e que

estão em constante aprimoramento. Relembrou, também, que essa implantação traz desafios,

se faz necessária e é urgente a abertura de concursos para professores de Espanhol para as

universidades públicas, com o fim de ampliar o número de vagas nas instituições responsáveis

pela formação inicial de professores e no necessário investimento em formação continuada. E

que esse cenário nunca foi tão promissor quanto agora, pois afirmam que os interesses

político-econômicos são os que o movem, ao contrário do que deveria de ser, a cultura e a

educação. (CONGRESSO INTERNACIONAL DE LA LENGUA ESPAÑOLA IV-2009).

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1.2 O CENÁRIO ATUAL

Para Pacheco (2002), os professores de língua estrangeira devem, também, saber lidar

com as representações da língua espanhola, pois é comum considerar os falsos cognatos ou

falsos “amigos” como os “vilões” da aquisição dessa língua. A língua espanhola é realmente

uma língua muito próxima à língua portuguesa e os falsos cognatos de fato possuem

significados diferentes dos que são atribuídos aos mesmos vocábulos na língua portuguesa. É

importante notar que a língua não se reduz a esses fragmentos e, o restante da língua,

inclusive as estruturas semelhantes, podem ocultar usos e significados diferentes e o

desconhecimento disso pode levar os falantes à ilusão de entendimento mútuo, já que não

possuem conhecimentos suficientes sobre a segunda língua, para perceber que não

entenderam o que foi dito, que deram outra interpretação para o que o seu interlocutor quis

dizer.

Portanto, a ideia de que os falsos cognatos/falsos amigos são o ponto de maior

dificuldade da língua espanhola para um brasileiro estaria baseada na ideia de língua

semelhante/fácil, cujos pontos de dificuldade seriam aqueles que fossem diferentes na língua

materna do aprendiz. É possível notar grande semelhança entre essa hipótese e os

pressupostos de uma teoria linguística, que explode na década de 50, a Análise Contrastiva

Tradicional, da qual Robert Lado é um dos seus principais representantes. Tal teoria propunha

mensurar a distância entre as línguas e, consequentemente, seu grau de dificuldade para a

aquisição por meio da comparação da língua meta com a língua materna do aprendiz.

Celada e González (2000) destacam algumas razões pelas quais elas acreditam

contribuir para a manutenção desse modo de ver a língua espanhola no Brasil. O isolamento

científico que o país viveu durante muitos anos fez com que não se acompanhasse a evolução

das teorias linguísticas que ocorria em outros países, os quais seguiram testando-as e

propondo alterações em seus pressupostos. Outro ponto a destacar, segundo as autoras, é o

status que a língua espanhola ocupou durante muitos anos nas instituições que se dedicavam a

estudá-la. Ela era vista e estudada como meio de acesso às literaturas, sem ser considerada

objeto de estudo em si mesma, o que levou a uma certa falta de interesse por construir

reflexões efetivamente novas.

As autoras destacam, ainda, o problema dos professores em formação deficiente, por

não possuírem o hábito da reflexão crítica sobre sua prática e sobre seu objeto de trabalho, o

que os leva a reproduzir modelos de ensino e representações sobre a língua que já estão

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defasados. Com o aumento da busca por cursos de espanhol no Brasil, principalmente após a

criação do Mercosul, muitas instituições acabaram incorporando ao seu quadro de docentes

esse tipo de profissional com formação precária, já que havia (e ainda há) escassez de

profissionais com formação específica para o ensino de espanhol como língua estrangeira.

Ao se pensar no ato de educar como emancipatório, analisa-se a metodologia da escola

tradicional como práticas docentes. Se o aluno aprende o que o professor determina (Becker,

1997), não é possível criar a experiência em que o aluno é um sujeito ativo, porque nessa

metodologia ele não relaciona seu conhecimento com outras situações da vida, não se

relaciona com os pares, pois a disciplina e o individualismo são as bases da aprendizagem.

Também, não se oportuniza a demonstração das habilidades pessoais, apenas reproduz o

sistema da forma como o próprio sistema deseja e se organiza.

Se a prática pedagógica nas escolas mostra um modelo inadequado e durante sua

formação profissional os professores não construíram uma postura prática profissional

adequada, tem-se que aceitar que a educação formadora está com graves problemas, não gera

mudança de paradigma, mas reforça-os.

Para Celada e González (2000), há muitas estruturas que permitiriam que a ideia de

que os falsos cognatos/falsos amigos são o ponto de maior dificuldade da língua espanhola

para um brasileiro, principalmente no caso de pessoas que já se sentem seguras para utilizar a

língua espanhola sem nenhum conhecimento ou estudo prévio, considerando ser possível a

comunicação bem-sucedida. Assim, a única maneira de preveni-las minimamente é levar os

alunos a perceberem a língua espanhola como uma língua estrangeira que possui

regularidades próprias e que é, como toda língua, marcada histórica, cultural e

ideologicamente e além de todos esses elementos irradiadores e perpetuadores dessa

representação, pode-se notar que até mesmo o mercado editorial de materiais didáticos, os

meios de comunicação escrita e parte da produção científica do Brasil sobre à língua

espanhola são perpassados por essa visão de que ela é muito fácil, por ser muito semelhante à

língua portuguesa e também contribuem para que ela se mantenha.

As novas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Letras enfatizam que a prática

pedagógica deve existir desde o início do curso e permear toda a formação do professor. Para

Perin (2006), as medidas educacionais orientadas por fatores políticos e econômicos podem

influenciar a formação de futuros professores de línguas estrangeiras e a necessidade de tais

medidas serem tratadas nas (re)formulações curriculares.

Diante do novo quadro que se instala na atual realidade dos Cursos de Licenciatura em

Letras oferecidos pelas universidades e faculdades brasileiras, parece oportuno que se

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questione o perfil desses cursos, principalmente no que se refere à área de formação de

professores de línguas estrangeiras.

Por exemplo, o estágio, como é conhecido e desenvolvido em vários cursos de

licenciatura, muitas vezes é desarticulado do restante do curso. Segundo as diretrizes, a

prática deve existir desde o início do curso “permeando toda a formação do professor” e todas

as disciplinas do curso devem cooperar para tanto e não somente as disciplinas denominadas

“pedagógicas”.

Segundo Perin (2006), a importância que se dá a uma certa disciplina na grade

curricular de qualquer curso, em qualquer nível de ensino, está intimamente ligada à política

de ensino adotada por um determinado grupo, em uma determinada época, e a como tal

política vê a importância dessa mesma disciplina.

Tal processo, de acordo com Zeichner (2001), serve às necessidades da economia

global e considera esse movimento decisório, democratizado, que encoraja uma forma de

educação culturalmente relevante e centralizada no aluno, pois não se coaduna com o modo

como professores atuantes e formadores têm sido atropelados por essas reformas educacionais

aparentemente democráticas e tratados como meros implementadores das políticas

desenvolvidas por pessoas alheias à sala de aula. Desta forma, pouco é deixado para o

professor decidir sobre o que e como ensinar.

Para Celani (2000), as palavras da experiência dos educadores desanimam qualquer

formador de professor de língua estrangeira menos experiente. Ele afirma: “[...] o

estabelecimento de uma política educacional sólida é particularmente difícil, pois as políticas

educacionais são geralmente afetadas por políticas econômicas e sociais, que nem sempre

caminham na direção que seria o ideal para a educação” (p. 18).

Para a autora, é necessário que critérios acadêmicos sejam levados em conta, quando

da reformulação de diretrizes educacionais, para que não somente políticas econômicas e

sociais (internas e externas) continuem guiando com tanta firmeza o direcionamento

educacional do país.

Almeida Filho (2000, p. 35), ao analisar os currículos dos Cursos de Letras existentes

no país, constata que “[...] disciplinas de língua propriamente ditas ficam sempre aquém em

espaço curricular ao necessário para viabilizar uma formação de alto desempenho no âmbito

da linguagem”.

Isso é confirmado pelas 360 horas/aula de Língua Estrangeira que muitos Cursos de

Letras dedicam à formação de profissionais que irão ensiná-la na escola pública ou particular,

como preveem as diretrizes.

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Segundo Perin (2006), a desvalorização da disciplina justifica-se pela delimitação do

campo de atuação do licenciado em Letras. Restringir o campo de atuação de um profissional

egresso de Letras, língua estrangeira, à atuação no ensino fundamental e médio, direcionando

a aprendizagem somente para a leitura, o que fazem alguns cursos formadores, é menosprezar

a capacidade formadora da instituição e a própria capacidade de aprendizagem e atuação dos

alunos em formação e aceitar a crença de que, para ser um bom professor de língua

estrangeira e ter a chance de atuar em outras áreas “que exijam maior domínio linguístico”, o

aluno de Letras deva fazer cursos de idiomas extracurriculares, como forma de justificar a

escassa carga horária e o pouco uso da língua estrangeira em sala de aula.

Assim, percebe-se que a desvalorização da disciplina de língua estrangeira na escola

de ensino fundamental e médio perdura no nível da própria formação profissional, ou seja, na

licenciatura. O menosprezo, a falta de vontade, a desvalorização da disciplina na grade

curricular, a crença de que efetivamente se torna impossível aprender uma língua estrangeira

nas escolas públicas parecem encontrar reforço em alguns currículos de graduação em Letras,

mesmo que de forma mais sutil.

Acreditar que um profissional de Letras possa ser formado nos bancos da universidade deveria tornar-se uma “ilusão necessária”, na medida em que o professor formador “vai precisar dessa ilusão para dar continuidade ao seu trabalho (LEFFA, 2001, p. 341).

E, nas escolas públicas de ensino fundamental e médio, as salas numerosas não

encorajam práticas diferenciadas de comunicação, restringindo-se às atividades de leitura e

escrita. Em vista disso, Perin (2006, p. 93) conclui que o assunto de “políticas de ensino de

Línguas Estrangeiras” permeia todo e qualquer questionamento que se faz da realidade dos

cursos de formação de professores de línguas estrangeiras.

Cabe aqui ressaltar a necessidade de formação do docente para atuar especificamente

como professor de língua estrangeira devido à diferença linguístico-pedagógica entre este

ensino e o da língua pátria.

Com o objetivo de sanar o déficit de 200 mil professores da área de língua espanhola,

estão previstas algumas propostas para a ampliação da oferta de cursos no ensino superior,

para a formação inicial de docentes, como a formação continuada e os cursos de formação à

distância, que devem ser aplicados somente aos professores com formação inicial na área de

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língua espanhola, por meio de cursos de pós-graduação em lato e stricto sensu, uma vez que

os programas de formação continuada e ensino à distância possam parecer “uma alavanca de

transformação mais fácil de acionar à curto prazo” (PERRENOUD, 1999), diferente do que

pensam os dirigentes que se alimentam de estatísticas, pois é inconcebível que se capacite

professores com programas de 30 horas/aula para a docência em espanhol. Para Perrenoud

(1999), “a formação continuada não pode, sozinha, transformar as competências do corpo

docente”.

Contudo, a qualidade do processo de formação docente é imprescindível para um

ensino qualitativo. Para que isso ocorra, o professor deve passar por um processo exaustivo no

qual se compreendam as diferenças regionais do idioma, a sua gramática, literatura, contexto

histórico-geográfico, etc.

No que concerne à oferta privada, segundo Fernández (2005), haverá uma auto-

regulação do mercado com o desaparecimento de mão-de-obra mal qualificada e centros de

ensino despreparados. Contudo, a oferta de má qualidade sempre haverá, bem como

professores não capacitados. O que ocorrerá, de fato é que tanto a oferta como a demanda

crescerão vertiginosamente, cabendo aos consumidores desencadear o processo de seleção

natural das empresas e, aos Centros Culturais e Institutos, a promoção de cursos de excelência

para a formação de professores e a contínua difusão da cultura.

Essas medidas servem como catalisador para um ensino qualitativo da língua

espanhola no Brasil e, para tal, faz-se necessária a atuação conjunta de todos os envolvidos no

processo de estruturação, divulgação, promoção e manutenção do sistema educativo

brasileiro, para dar sustentabilidade às ações propostas e que a simples divulgação destes

dados cumpra a sua responsabilidade social de modificar conceitos pré-concebidos, criar

novas perspectivas de aprendizado de uma língua e enriquecer a formação pessoal e

profissional do indivíduo, para que novos horizontes se abram aos professores, pesquisadores,

alunos e à sociedade em geral.

Segundo Dimenstein (2005), há um déficit de 235 mil professores de língua espanhola

no ensino médio, e de mais de 500 mil entre a quarta e a oitava séries. Além disso, o déficit na

formação de novos professores fica evidente, ao se levar em conta a idade dos professores em

atividade no sistema educacional. Contando todos os níveis e redes de ensino, constata-se que

53% dos professores em atividade estão entre 40 e 59 anos, 38,4% têm entre 25 e 39 anos.

Somente 3% dos professores em atividade possuem entre 18 e 24 anos. Sem contar que os

cursos de licenciatura são os menos procurados pelos jovens, ao escolherem uma carreira. Tão

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grave quanto a pequena procura é a qualidade dos candidatos, muitos dos quais só conseguem

entrar em uma universidade pública por essa via, e não demonstram nenhuma vocação para o

magistério. Considerando que se está em 2009, esse déficit pode ter aumentado, agravando-se

ainda mais essa situação.

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CAPÍTULO 2

FORMAÇÃO DO PROFESSOR E TRABALHO DOCENTE

2.1 O QUE DIZEM AS PESQUISAS

As pesquisas sobre formação de professores têm destacado a importância de se

analisar a prática pedagógica como algo relevante, opondo-se, assim, às abordagens que

procuravam separar formação e prática cotidiana. Neste sentido, a competência profissional

do professor envolveria tanto o domínio dos conteúdos como o seu entendimento a respeito

das relações entre os vários aspectos da escola. Mello (1983) aponta como a organização

social do trabalho no interior da escola acabara por fazer com que o professor perdesse seus

instrumentos de trabalho: do conteúdo (saber) ao método (saber-fazer), restando uma técnica

sem competência. Na busca por mapear as causas da precariedade da prática docente esta a

dificuldade do professor se perceber como parte do problema, do ponto de vista das

deficiências da sua formação.

Segundo Fiorentini e Souza e Melo (1998), da valorização quase exclusiva do

conhecimento, isto é, dos saberes específicos que o professor tinha sobre a sua disciplina na

década de 1960, passa-se, na década de 1970, à valorização dos aspectos didático-

metodológicos relacionados às tecnologias de ensino, passando para um segundo plano o

domínio dos conteúdos. Nos anos de 1980, o discurso educacional é dominado pela dimensão

sociopolítica e ideológica da prática pedagógica. Assim, a idealização de um modelo teórico

para orientar a formação do professor conduzia a uma análise negativa da prática pedagógica

e dos saberes docentes.

A partir do final dos anos de 1980, novas abordagens de pesquisa passaram a

reconhecer o professor como sujeito de um saber e de um fazer, fazendo surgir a necessidade

de se investigarem os saberes de referência dos professores sobre suas próprias ações e

pensamentos.

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(...) a análise dos valores e princípios de ação que norteiam o trabalho dos professores pode trazer novas luzes sobre nossa compreensão acerca dos fundamentos do trabalho docente, seja no sentido de desvendar atitudes e práticas presentes no dia-a-dia das escolas que historicamente foram ignoradas pela literatura educacional (e talvez possam trazer contribuições para o trabalho e a formação de professores) (SILVA, M. H. G. F., 1997, p. 3).

Seu estudo revela a existência de um conhecimento profissional que vai sendo

construído ao longo da carreira, apesar das características e trajetórias distintas, o qual precisa

ser conhecido, já que o mesmo norteia a prática educativa. “(...) há que se conhecer este saber

docente que rotineiramente norteia as práticas educativas” (SILVA, M. H. G. F., 1997, p. 14).

Para Tardif e Raymond (2000), entre alguns dos motivos que contribuíram para a

emergência de pesquisas sobre formação de professores, nos anos 80 e 90, está o movimento

de profissionalização do ensino visando a garantir a legitimidade da profissão, enquanto, para

Nunes (2001), no contexto das pesquisas educacionais brasileiras, a temática dos saberes

docentes tem se mostrado uma área um tanto recente o que vem demandando estudos sob

diferentes enfoques.

Na realidade brasileira, a partir da década de 1990, buscam-se novos enfoques para

compreender a prática pedagógica e os saberes pedagógicos e epistemológicos relativos ao

conteúdo escolar a ser ensinado e aprendido. Inicia-se o desenvolvimento de pesquisas que

buscam resgatar o papel do professor, destacando a importância de se pensar a formação

numa abordagem que vá além da acadêmica, envolvendo o desenvolvimento pessoal,

profissional e organizacional da profissão docente.

A discussão dos saberes docentes, em decorrência da influência da literatura

internacional, baseada em autores como Tardif, Gauthier, Shulman entre outros, e de

pesquisas brasileiras a partir de autores, tais como Fiorentini, Therrien, Pimenta, Silva, Perin,

é que se passou a considerar o professor como um profissional que adquire e desenvolve

conhecimentos a partir da prática e no confronto com as condições da profissão.

Ao estudar a constituição do trabalho docente, levou-se em conta os diferentes

aspectos de sua história: individual, profissional, etc. Nessa perspectiva de analisar a

formação de professores a partir da valorização destes, é que os estudos sobre os saberes

docentes ganham impulso e começam a aparecer na literatura, numa busca de identificarem os

diferentes saberes implícitos na prática docente. “(...) é preciso investir positivamente os

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saberes de que o professor é portador, trabalhando-os de um ponto de vista teórico e

conceptual” (NÓVOA, 1992, p. 27).

Pimenta (1999) identifica o aparecimento da questão dos saberes como um dos

aspectos considerados nos estudos sobre a identidade da profissão do professor. E parte da

premissa de que essa identidade é construída a partir da

(...) significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação das práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias existentes, da construção de novas teorias (PIMENTA, 1999, p. 19).

Dessa forma, resgata a importância da reelaboração dos saberes iniciais em confronto

com sua prática vivenciada, e os saberes vão se constituindo a partir de uma reflexão na e

sobre a prática. Essa tendência reflexiva vem-se apresentando como um novo paradigma na

formação de professores, baseada em uma política de desenvolvimento pessoal e profissional.

Para Therrien (1995), esses saberes são transformados e passam a integrar a identidade

do professor, constituindo-se num elemento fundamental nas práticas e decisões pedagógicas.

Essa pluralidade de saberes que envolve aqueles da experiência é tida como central na

competência profissional e é oriunda do cotidiano e do meio vivenciado pelo professor.

Segundo este autor:

(...) esses saberes da experiência que se caracterizam por serem originados na prática cotidiana da profissão, sendo validados pela mesma, podem refletir tanto a dimensão da razão instrumental que implica num saber-fazer ou saber-agir tais como habilidades e técnicas que orientam a postura do sujeito, como a dimensão da razão interativa que permite supor, julgar, decidir, modificar e adaptar de acordo com os condicionamentos de situações complexas (p.3).

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De um modo geral, reconhece-se a pluralidade e a heterogeneidade do saber docente,

destacando a importância dos saberes da experiência que surgem como núcleo vital do saber

docente.

Tardif (1999) analisa a questão dos saberes profissionais e a sua relação na

problemática da profissionalização do ensino e da formação de professores. Considera que a

diferença entre as profissões está na natureza do conhecimento profissional que, por sua vez,

apresenta as seguintes características: a) é especializado e formalizado; b) é adquirido, na

maioria das vezes, na universidade, que prevê um título; c) é pragmático, voltado para a

solução de problemas; d) é destinado a um grupo que, de forma competente, poderá fazer uso

deles; e) é avaliado e autogerido pelo grupo de pares; f) requer improvisação e adaptação a

novas situações, num processo de reflexão; g) exige uma formação contínua para acompanhar

a sua evolução; h) sua utilização é de responsabilidade do próprio profissional. A implantação

e o desenvolvimento destas características no ensino e na formação de professores tem sido

um dos objetivos do movimento de profissionalização docente que, nos últimos anos, tem

buscado construir um repertório de conhecimentos e definir competências para a formação e a

prática do magistério.

Nesta perspectiva, uma outra contribuição que chega ao Brasil é o estudo de Gauthier

et al. (1998). Seu estudo tem como ponto de apoio as premissas de que, assim como a

atividade docente não tem conseguido revelar os seus saberes, as ciências da educação

acabam por produzir outros saberes que não condizem com a prática. Gauthier e seus

colaboradores identificam, então, a existência de três categorias relacionadas às profissões:

ofícios sem saberes, saberes sem ofício e ofícios feitos de saberes.

A categoria “ofícios sem saberes” abrangeria uma falta de sistematização de um saber

próprio do docente envolvendo bom senso, intuição, experiência, etc. Os “saberes sem oficio”

caracterizam-se pela formalização do ensino, reduzindo a sua complexidade e a reflexão que é

presente na prática docente. Esta categoria, de certa forma, não contribui para o

fortalecimento da profissionalização docente. A terceira categoria apresenta um “ofício feito

de saberes”, que abrangeria vários saberes que são mobilizados pelo professor e sua prática,

envolvendo o saber disciplinar, referente ao conhecimento do conteúdo a ser ensinado; o

curricular, relativo à transformação da disciplina em programa de ensino; das Ciências da

Educação, relacionado ao saber profissional específico, que não está relacionado com a ação

pedagógica; da tradição pedagógica, relativo ao saber de dar aulas, que será adaptado e

modificado pelo saber experiencial; da experiência e da ação pedagógica, que se refere ao

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saber experiencial tornado público e testado. De acordo com este autor, os saberes docentes

são aqueles adquiridos para o ou no trabalho e mobilizados, tendo em vista uma tarefa ligada

ao ensino e ao universo de trabalho do professor, exigindo da atividade docente uma reflexão

prática. Para Gauthier,

(...) o trabalho do professor passa a ser visto como um “profissional”, ou seja, como aquele que munido de saberes e confrontando a uma situação complexa que resiste à simples aplicação dos saberes para resolver a situação deve deliberar, julgar e decidir com relação à ação a ser adotada, ao gesto a ser feito ou à palavra a ser pronunciada antes, durante e após o ato pedagógico (1998, p. 331).

Assim, o saber é considerado como resultado de uma produção social sujeita a

revisões e reavaliações, fruto de uma interação entre sujeito, fruto de uma interação linguística

inserida num contexto e que terá valor na medida em que permite manter aberto o processo de

questionamento. Ao se pensar um modelo de professor, deve-se levar em conta o contexto no

qual se constroem e se aplicam os saberes docentes, isto é, as condições históricas e sociais

nas quais se exerce a profissão; condições que servem de base para a prática docente.

Pimenta (1999), a fim de repensar a formação inicial e contínua a partir da análise das

práticas pedagógicas, destaca a importância da mobilização dos saberes da experiência para a

construção da identidade profissional do professor. Neste sentido, são identificados três tipos

de saberes da docência: a) da experiência, que seria aquele aprendido pelo professor desde

quando aluno; b) do conhecimento, que abrange a revisão da função da escola na transmissão

dos conhecimentos e c) dos saberes pedagógicos, aquele que abrange a questão do

conhecimento juntamente com o saber da experiência e dos conteúdos específicos. A autora

enfatiza também a importância de que a fragmentação entre os diferentes saberes seja

superada, considerando a prática social como objetivo central, possibilitando, assim, uma res-

significação dos saberes na formação dos professores.

Fiorentini e Souza e Melo (1998), partindo do eixo relação teoria/prática procuraram

identificar e caracterizar os saberes docentes e como estes poderiam ser

apropriados/produzidos pelos professores através de uma prática pedagógica reflexiva e

investigativa e concluíram que a articulação da teoria com a prática poderá contribuir na

formação do professor/pesquisador, de forma contínua e coletiva, utilizando a prática

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pedagógica como instância de problematização, significação e exploração dos conteúdos da

formação teórica.

A partir da ideia de que a profissão vai sendo construída à medida que o professor

articula o conhecimento teórico-acadêmico, à cultura escolar e à reflexão sobre a prática

docente, Guarnieri (1997) desenvolve um estudo acerca da atuação de professores iniciantes.

Revisando as novas perspectivas de pesquisa que analisam a questão da competência para

ensinar, enfatiza que

(...) esses novos paradigmas investigativos buscam a partir do pensamento e desenvolvimento profissional dos professores “uma epistemologia da prática” que explique como se configura o processo de aprender a ensinar, de tornar-se professor (p. 2).

Numa tentativa de superar o modelo da racionalidade técnica, as pesquisas e os cursos

de formação de professores precisam redirecionar as relações entre teoria e prática, centrando

as análises na prática docente:

(...) procurando identificar quais conhecimentos são desenvolvidos pelo professor ao atuar, no âmbito da cultura escolar e das condições mais adversas do seu trabalho. Também busca especificar e estudar as necessárias articulações desses conhecimentos do professor tanto com a prática, quanto com os conhecimentos teóricos acadêmicos da formação básica. Tais articulações possibilitam o desenvolvimento da capacidade reflexiva, que favorece o compromisso com o ensino de qualidade e a competência para atuar (GUARNIERI, 1997, p. 6).

Considerando suas análises, Guarnieri enfatiza o quanto o professor aprende a partir da

prática, embora reconheça que os cursos de formação de professores, tanto inicial como

continuada, ainda não favorecem a articulação entre a formação teórica acadêmica e os

conhecimentos oriundos do universo escolar.

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A pesquisa desenvolvida por Damasceno e Silva (1996) envolve a questão do saber

docente na sua prática pedagógica e na relação do saber advindo da prática social. No entanto,

os professores percebem a importância de se desenvolver uma prática pedagógica mais

consistente, que esteja mais diretamente ligada com a vida das crianças.

Caldeira (1995) investigava os saberes implícitos construídos e apropriados pelo

professor em sua prática durante sua trajetória profissional e pessoal e ressalta a importância

de considerar o estudo da prática docente como processo informal, dinâmico, complexo e

carregado de valores. Recorrendo a Tardif, Lessard e Lahaye (1991), fica-se sabendo que os

diversos tipos de saberes (das disciplinas, curriculares, profissionais e da experiência) são

partes integrantes da prática docente, sendo que a diferença estaria na relação do professor

com cada um deles. Caldeira (1995) destaca também o “valor” do saber produzido na prática

cotidiana do professor. Saber esse que resulta de um processo de reflexão realizado

coletivamente a partir das “condições materiais e institucionais” da escola, considerando a

dimensão histórica e social em que é construída a prática docente.

Segundo Nunes (2001), embora existam diferentes tipologias e formas de abordar a

questão dos saberes docentes, é importante considerar, na investigação, não só o

desenvolvimento profissional, como também o desenvolvimento pessoal do professor,

enfatizando que o saber é constituído a partir do contexto histórico e social vivenciado e

transformado em saber da experiência. De certa forma, para esta autora, o repensar a

concepção da formação dos professores, que até a pouco tempo objetivava a capacitação

destes, através da transmissão do conhecimento, a fim de que “aprendessem” a atuar

eficazmente na sala de aula, vem sendo substituída pela abordagem de analisar a prática que

este professor vem desenvolvendo, enfatizando a temática do saber docente e a busca de uma

base de conhecimento para os professores, considerando os saberes da experiência.

Tardif (1999) considera como urgente a reflexão da sua própria prática de ensino pelo

professor universitário, de forma a minimizar o abismo existente entre as “teorias

professadas” e as “teorias praticadas”.

Considerando que a tarefa do professor tem como característica ser um trabalho

interativo, Gauthier (1998) enfatiza a dificuldade de trabalhar com os saberes formalizados e

sugere que pesquisas sobre o saber da Ação Pedagógica poderiam contribuir para o

aperfeiçoamento da prática docente e formação de professores, considerando, além dos

conhecimentos científicos, o saber nascido da prática, opondo-se às abordagens dos estudos

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que procuravam separar formação e prática cotidiana que, nos anos de 1980, estavam no

centro das análises, enfatizando a questão técnica e política do trabalho pedagógico.

Para além da discussão sobre a necessidade de refletir sobre a prática dos professores,

é necessário destacar a questão da formação continuada. Conforme Ribeiro (1999), a

formação de professores é um longo processo de desenvolvimento profissional, e não um

momento único e passageiro, e argumenta que a formação continuada tem papel ativo na vida

do professor, de reconstrução e de aprofundamento dos conhecimentos e de produção de

novos saberes, não sendo vista apenas como um dever a cumprir para progredir no plano de

carreira, nem como um acúmulo de cursos. Também tem sido enfatizada, nos estudos de

Ribeiro (1999), a necessidade de esta formação ser planejada a partir e em função da realidade

da escola e dos professores envolvidos. Marques (2000, p. 207) insiste sobre a formação

continuada que, “nesse processo formativo que é o exercício de profissão centrado na vida da

escola, rico de possibilidades e virtualidades, deve enraizar-se e deles irradiar-se, como em

foco de origem e de retorno”.

Fusari (2000, p.23) destaca que a formação continuada depende não só das condições

de trabalho dos professores, mas também de suas atitudes em relação ao seu desenvolvimento

profissional, pois, segundo o autor, “cada educador é responsável por seu processo de

desenvolvimento pessoal e profissional [...] não há política ou programa de formação

continuada que consiga aperfeiçoar um professor que não queira crescer”. Este mesmo autor

cita algumas condições que devem ser asseguradas para que um projeto de formação

continuada seja bem-sucedido. Entre elas, destaca a necessidade de valorizar e ouvir as

experiências, ideias e expectativas dos educadores e a compreensão da formação continuada

como condição básica para o desenvolvimento profissional, como parte do trabalho educativo

e não como um evento esporádico. Não são, portanto, palestras ou até mesmo um curso

isolado que irão resultar em mudança e transformação da prática pedagógica.

A reflexão desempenha um papel principal nesse processo de formação continuada.

Como defende Freire (1996, p.43-44), “[...] é pensando criticamente a prática de hoje ou de

ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

Silva (2002, p. 27) também reforça este mesmo pensamento, ao afirmar que “é no

exercício profissional que a reflexão possibilita o surgimento de idéias inovadoras, exigindo

do professor respostas construídas no espaço de atuação, nas divergentes realidades,

necessitando-lhe criar novas formas e perspectivas de perceber e de agir”.

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Diante desse cenário, pensa-se que um dos maiores desafios da formação continuada

de professores de língua estrangeira é contribuir para que eles reflitam criticamente sobre sua

prática docente dentro e fora da sala de aula, para que tenham melhores condições de “formar

cidadãos capazes de enfrentar os desafios postos por essa nova civilização sem que se tornem

instrumentos dos novos padrões de exploração do trabalhador pelo capital” (SILVA, 2001, p.

88).

2.2 FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

A formação de professores de línguas estrangeiras tem recebido crescente e especial

atenção desde o início dos anos noventa, quando se procura resgatar a importância da imagem

e do papel do professor no processo ensino-aprendizagem.

O interesse investigativo pela formação do professor em geral e do professor de língua

estrangeira em particular decorre, por sua vez, de um momento sócio-histórico em que se

redesenham novos perfis, atitudes e papéis para os profissionais de quaisquer áreas, fato que

interfere diretamente em sua formação.

Freitas (1996) entende que as discussões sobre formação do professor de língua

estrangeira, tanto na perspectiva tradicional ou puramente prescritiva quanto na atual

perspectiva reflexiva, guardam semelhanças.

Antes de 1970, o profissional é descrito como acomodado e dependente, sendo que

obedece ordens e não se expõe a riscos. Além disso, é resistente à mudança e toma sua

experiência profissional como base do conhecimento. Entre 1970 e 1990, o profissional é

visto como confiante, criativo, político, competitivo. Já se ajusta à mudança e se apoia na

teoria acadêmica como base de conhecimento. Depois de 1994, o perfil do profissional sofre

outras alterações, uma vez que o mesmo se mostra curioso, independente e cooperador. Nessa

fase, o professor gera mudanças em vez de apenas se ajustar a elas e o conhecimento encontra

sua base na aplicação prática da teoria. De 1994 em diante, espera-se que o “novo”

profissional seja um estudioso e facilitador, possua visão global, lidere mudanças e que seu

conhecimento se apoie em um aprendizado contínuo. (FREITAS et al., 2005).

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De qualquer forma, é forte a ênfase que atualmente se coloca em um tipo de formação

do professor de língua estrangeira que privilegia seu envolvimento de modo mais constante,

sistemático e reflexivo com as práticas educativo-pedagógicas que desenvolve.

Entende-se que a compreensão do próprio ensino que o professor de língua estrangeira

realiza pode contribuir com seus pares, quando ele é capaz de oferecer explicações sobre as

razões que o fazem ensinar de uma determinada maneira e não de outra. A esse respeito,

assim se pronuncia Almeida Filho (1993, p. 18):

Do ponto de vista da Linguística Aplicada, temos como desejável a crescente explicitação pelos professores da sua abordagem de ensinar. Professores cujas abordagens permanecem desconhecidas por quem as pratica podem até ser professores bem sucedidos, mas são mestres mágicos ou dogmáticos cuja perícia não se pode reproduzir através da compreensão e cujo fracasso não podemos tratar profissionalmente.

O envolvimento com o próprio ensino que realiza, buscando explicitá-lo, requer,

portanto, que o professor de língua estrangeira desenvolva uma prática reflexiva, que o

habilitará para essa tarefa (MOSER, 2003).

O caráter contínuo e sistemático da formação engajada e reflexiva, no entanto, não

impede que se considere o aspecto pessoal como elemento igualmente importante dentro dela,

conforme pontua Nóvoa (2001, p.14). O autor entende que o aprender contínuo é essencial

para a profissão e que ele deve se concentrar tanto na pessoa do professor, como agente,

quanto na escola, como lugar de crescimento profissional permanente. Diante disso, postula o

autor que “só uma reflexão sistemática e continuada é capaz de promover a dimensão

formadora da prática. [...]” (p.14). Nóvoa argumenta que tal processo pessoal é incompatível

com planos gerais centralizadores. Não nega a importância das universidades e especialistas

externos no plano teórico e metodológico; todavia, acredita que tal conhecimento se mostra

eficaz apenas quando o professor consegue “inseri-lo em sua dinâmica pessoal articulá-lo com

seu processo de desenvolvimento” (p.14).

Tal pensamento é discutido por autores como Almeida Filho (1999), Freitas (1996),

Moser (2003), dentre outros, segundo os quais se enfatiza a construção, pelo professor de

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língua estrangeira, de teorias pessoais a partir das articulações e explicações que consegue

estabelecer entre seu ensino e a aprendizagem de seus alunos.

Uma das questões que recebe grande destaque nas atuais discussões sobre a formação

do professor de língua estrangeira é a de que este profissional da educação não deve se

restringir apenas a questões internas da sala de aula (questões de caráter técnico e prático, por

exemplo), mas que trate de questões que extrapolem em um nível crítico, vinculado a

discussões de ações político-participativas no contexto socioeducacional mais amplo.

Autores como Zeichner (2003), por exemplo, procuram expandir a noção de formação

reflexiva do professor como uma prática individual, em que ele correria o risco de se

preocupar apenas com as próprias falhas, para que ocorra o desenvolvimento reflexivo do

professor como prática social e propõe que se envidem esforços para que tal ação contribua

para diminuir as lacunas na qualidade da educação oferecida a diferentes grupos, dentro da

sociedade.

É fundamental a participação dos professores e seus formadores na elaboração dos

preceitos e diretrizes educacionais, cuja aceitação é imperativa. Como em um círculo, a

formação dos professores também é imperativa neste momento, na medida em que auxilia o

futuro professor de línguas estrangeiras a construir uma prática pedagógica efetiva e

consolidada na teoria; e na medida em que permita ao futuro professor não somente a

aceitação de direcionamentos externos à sua prática profissional, mas também incorpore as

diretrizes curriculares que ele mesmo ajudou a elaborar.

A partir de estudos de Paiva (2003), verifica-se que há um número significativo de

Cursos de Letras no país, cuja formação do professor de língua estrangeira fica a cargo de um

pedagogo sem formação em língua estrangeira e sem familiaridade com conceitos da

linguística aplicada, fundamentais para se refletir sobre o ensino de línguas.

Esse fosso que se estabeleceu entre disciplinas de conteúdo e disciplinas pedagógicas é

um dos fatores que geram a precariedade da formação de professores de língua nos Cursos de

Letras no país. A tentativa de se dividir a didática em geral e específica separa o indivisível,

como se métodos e técnicas pudessem ser estudados sem conexão com o planejamento e a

avaliação e sem problematizar o que é língua estrangeira e como se aprende ou adquire essa

língua (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Para Paiva, a análise dos dados da última avaliação das condições de oferta e dos

processos de autorização e de reconhecimento de Cursos de Letras demonstrou que os

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conteúdos de didática, de prática de ensino e orientação de estágio não incluem as reflexões

teóricas e as atividades práticas necessárias para a formação do docente em cada área.

A Resolução CFE 1/72, de 17 de janeiro de 1972, estabeleceu que as licenciaturas

plenas teriam a duração mínima de 2.200 horas de atividades, com integralização a fazer-se

no mínimo de três e no máximo de sete anos letivos. As licenciaturas de 1º grau teriam a

duração mínima de 1.200 horas de atividades, com integralização a fazer-se no mínimo de um

ano e meio e no máximo de quatro anos letivos. Poder-se-ia inferir que nas licenciaturas

duplas, ou seja, com habilitação para lecionar mais de uma disciplina, pelo menos 1.000 horas

seriam destinadas à língua estrangeira, mas isto não ocorre.

A maioria dos cursos de licenciatura do país constitui-se em forma de diploma duplo –

mais de uma disciplina - e privilegia-se, naturalmente, o ensino de língua portuguesa. A carga

horária de língua estrangeira não chega, na maioria dos cursos, à metade do número de horas

exigidas no antigo currículo mínimo.

A grande parte dos projetos pedagógicos de Licenciaturas em Letras que passaram

pela Comissão de Especialistas de Ensino de Letras, na Sesu, nos últimos dois anos, seja para

autorização ou reconhecimento, devotam ao ensino de inglês ou espanhol, cerca de 360 horas,

ou no máximo 480 horas no ensino da língua estrangeira, com o acréscimo de 60 a 120 horas

da referida literatura. A parte do currículo dedicada à formação do professor é praticamente

inexistente e, em muitos casos, é de competência de departamentos de educação, que não

produzem reflexões sobre o ensino de línguas. Como resultado, o sistema educacional

brasileiro coloca no mercado de trabalho professores despreparados. Muitos recorrem aos

cursos de especialização em busca de uma regraduação que, provavelmente, não será

encontrada (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Contudo, esse dado não confere com o que está acontecendo nas universidades, em

geral, nas particulares. Hoje, prevalece o descrédito sobre a graduação em cursos de

licenciatura e, geralmente, as instituições têm dificuldade em fechar as turmas.

O MEC, preocupado com a qualidade das licenciaturas, institui uma comissão para

discutir a formação do professor. Após várias audiências públicas e debates entre as várias

comissões de especialistas da Sesu-MEC, o Conselho Nacional de Educação aprovou, em 18

de fevereiro de 2002, a Resolução nº 1, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em cursos de licenciatura,

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de graduação plena e, no dia seguinte, 19 de fevereiro de 2002, foi aprovada a Resolução nº

2, que institui a duração e a carga horária desses cursos (PAIVA, 2003, p. 53-84).

A carga horária das licenciaturas passa a ser de 2.800 horas, sendo 400 horas de

prática; 400 de estágio curricular supervisionado; 1.800 horas de aula para os conteúdos

curriculares de natureza científico-cultural; e 200 horas para outras atividades acadêmico-

científico-culturais (PAIVA, 2003, p. 53-84).

No mês seguinte, 13 de março de 2002, elucida Paiva, é aprovada a Resolução da

Câmara de Ensino Superior nº 18, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares para os Cursos

de Letras, com base nos Pareceres CNE/CES 492/2001 e 1363/2001. Nenhuma menção é feita

às licenciaturas duplas em nenhum dos textos legais.

As novas diretrizes para os Cursos de Letras expressam a impossibilidade de se

contemplar em um currículo todo o conhecimento da área, estabelecem que os cursos de

graduação deverão ter estruturas flexíveis que facultem ao profissional a ser formado opções

de conhecimento e de atuação no mercado de trabalho; criem oportunidades para o

desenvolvimento de habilidades necessárias para se atingir a competência desejada no

desempenho profissional; deem prioridade à abordagem pedagógica centrada no

desenvolvimento da autonomia do aluno; promovam articulação constante entre ensino,

pesquisa e extensão, além de articulação direta com a pós-graduação; propiciem o exercício

da autonomia universitária, ficando a cargo da Instituição de Ensino Superior definições

como perfil profissional, carga horária, atividades curriculares básicas, complementares e de

estágio (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Entre as competências e habilidades previstas, as novas diretrizes mencionam

explicitamente o domínio da língua, a preparação profissional atualizada, o domínio dos

conteúdos básicos que são objeto dos processos de ensino e aprendizagem no ensino básico, e

o domínio dos métodos e técnicas pedagógicas (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Uma recomendação significativa para a formação do professor de língua estrangeira,

segundo Paiva (2003), é a integração dos conteúdos básicos e os “ caracterizadores da

formação profissional em Letras’’ . Isso implica deixar de ver o curso como objeto dividido

entre dois departamentos com responsabilidades bem definidas – conteúdo de um lado e

disciplinas pedagógicas de outro. Não se justifica mais atribuir a formação de professores a

dois grupos distintos: o que domina o conteúdo, mas não reflete como ensiná-lo e o que

procura ensinar um conteúdo que não domina.

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Chama especial atenção o inciso V, do art.7, que estabeleceu que a organização

institucional preverá a formação dos formadores, incluindo na sua jornada de trabalho tempo

e espaço para atividades coletivas dos docentes do curso, estudos e investigação sobre as

questões referentes à aprendizagem dos professores em formação. A investigação científica

ocupa, como se pode ver, um papel central na formação de professores, ao lado de um

princípio metodológico geral, que é traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta a

resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas privilegiadas (PAIVA,

2003, p.53-84).

Para Paiva (2003), além do texto legal expressar a preocupação com as práticas

investigativas como aperfeiçoamento da prática pedagógica, no texto também são ressaltadas

as novas tecnologias e o trabalho colaborativo, como parte da organização curricular.

Novamente, constata-se a ênfase na articulação entre os conteúdos e as suas didáticas

especiais. Essa recomendação deve gerar uma revisão nas organizações departamentais que

tradicionalmente colocam de um lado os que “ensinam” e de outro os que “ensinaram a

ensinar”. (PAIVA, 2003, p. 53-84).

Um dos maiores desafios presentes nas diretrizes está registrado no art. 7º, inciso IV,

que diz que as instituições de formação trabalharão em interação sistemática com as escolas

de educação básica, desenvolvendo projetos de formação compartilhados. O estágio passa a

ter um papel fundamental na formação do professor, sendo a exigência legal um estímulo à

construção de projetos inovadores de formação continuada. O art. 14, § 2º, que prevê a

concepção de um sistema de oferta de formação continuada que propicie oportunidade de

retorno planejado e sistemático dos professores às agências formadoras, é uma fonte de

opções para uma inferência positiva na realidade educacional brasileira. A instituição

formadora se associa às escolas que abrem suas portas para receber seus estagiários e uma

parceria de mão dupla é estabelecida: as escolas de educação básica oferecem reflexões e

saberes fundamentados em suas práticas em diferentes contextos. As instituições formadoras

dialogam com esses saberes, avançando a reflexão teórica através de projetos conjuntos de

pesquisa. Essa parceria pode unir a prática e a teoria de forma a gerar, colaborativamente,

reflexões sobre os diferentes saberes, avançando a teoria e a prática em um processo dinâmico

em que todos os seus componentes são igualmente relevantes (PAIVA, 2003, p.53-84).

Estudos e pesquisas apontam que a função do professor de língua estrangeira no

passado, como constata Volpi (2001, p. 126) limitava-se meramente a aplicar um método ou

utilizar materiais didáticos previamente elaborados, transmitir os seus conhecimentos a partir

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de decisões tomadas por especialistas baseados em teorias linguísticas, muitas vezes por ele

desconhecidas. O professor era e ainda é, em muitos casos, considerado o único responsável

pelo processo de ensino e o aluno não passa de um agente passivo, receptáculo de

informações e conhecimentos transmitidos pelo professor.

Muitos métodos de ensino de línguas foram elaborados, ora enfocando o ensino da

gramática como base da língua, ora quase proibindo o ensino da gramática em favor de um

ensino que privilegiasse a comunicação. No entanto, apesar de enfoques diferentes, a maioria

dos métodos considerava o ensino da língua de forma isolada, sem encorajar a reflexão dos

professores sobre o que estavam ensinando e nem problematizar como se dava o processo

educativo e as questões sociais e políticas como intrínsecas ao processo.

Lopes (2003), por exemplo, ao demonstrar e exemplificar a importância do discurso na

sociedade, enfatiza a necessidade de o professor de línguas buscar compreender a realidade

atual para situar sua prática, ao invés de assentá-la num vácuo social, excluindo-se da vida

política e social. Leffa (2001, p.334) afirma, na mesma linha de pensamento, que

[...] a sala de aula não é redoma de vidro, isolada do mundo, e o que acontecer dentro dela está condicionado pelo que acontece lá fora. Os fatores que determinam perfil do profissional de línguas dependem das ações, menos ou mais explicitas, conduzidas fora do ambiente estritamente acadêmico e que afetam o trabalho do professor.

Na atualidade, defende-se, como destaca Celani (2001), que o professor de línguas

estrangeiras tem, como educador, um compromisso com seu aluno, com a sociedade e consigo

mesmo. Diversas mudanças em relação ao papel do docente e do processo de ensino e

aprendizagem que, segundo Volpi (2001, p. 126), “constitui-se em um compartilhar de

responsabilidades, onde tanto o aluno como o professor interferem de forma integrada e

solidária” deixam bastante clara a necessidade de transformações também em relação à

formação desses professores.

Compreendendo, como sugere Giroux (1997), que os professores têm um importante

papel a desempenhar na reinvenção da sociedade e que sua formação profissional é parte de

um projeto político mais amplo e da própria luta social, faz-se necessário compreender como

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esta formação tem acontecido, quais as suas contribuições e desafios para um presente e

futuro frente ao qual nos recusamos a permanecer passivos.

2.3 O TRABALHO DOCENTE

Sendo o trabalho do professor uma prática social, sua ação não deve limitar-se ao

prático-utilitário. A superação do professor prático-utilitário encontra uma de suas condições

em uma formação profissional que, tendo o trabalho docente como seu objeto de

conhecimento, considere-o como uma prática, em sua relação de unidade com a teoria.

Para Azzi (1999), a escola demanda professores que dominem o processo de seu

trabalho, ou seja, o trabalho docente. O professor imprime uma direção própria a seu trabalho,

ele é o responsável direto, juntamente com seus alunos, pelo processo de ensino-

aprendizagem que ocorre na sala de aula, por isso, o professor apresenta e necessita de uma

autonomia didática que se expressa no cotidiano de seu trabalho, pois só assim é capaz de

enfrentar os desafios do processo ensino-aprendizagem e da educação.

O professor, nos limites de sua autonomia e controle que exerce de seu processo de

trabalho, organiza e direciona com seus alunos a dinâmica da sala de aula, mas para exercer

essa autonomia e controle, muitas vezes negados pelo próprio professor, é preciso que este se

sinta sujeito de seu próprio fazer. Por vezes, o professor apresenta um comportamento

pragmático-utilitário, não como decorrência da divisão do trabalho na escola, mas por

limitações vinculadas à sua qualificação e às condições de desenvolvimento de seu trabalho,

impostas por uma política educacional que desvaloriza o professor e desrespeita o principal

elemento da educação – o aluno.

Ao considerar o trabalho docente como expressão do saber pedagógico e este, ao

mesmo tempo, fundamento e produto da atividade docente que acontece no contexto escolar,

numa instituição social e historicamente construída, Azzi (1999) adverte que o trabalho

docente é uma prática social. Prática que se faz no cotidiano dos sujeitos que nela estão

envolvidos e, portanto, nela se constituem como seres humanos. O saber pedagógico –

elaborado a partir do conhecimento e/ou saber que o professor possui e na relação

estabelecida entre esses e sua vivência – identifica-se com a relação teoria-prática da ação

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docente; identifica-se com a sua práxis. É a práxis, porque esta, como atividade humana,

pressupõe interferir, transformar a realidade.

Para que a realidade seja transformada, a prática se faz necessária enquanto a ideia e a

ação transformadora dessa realidade é a concretização do trabalho docente, num processo

dinâmico de inter-relação entre seus principais elementos constitutivos – professor, aluno,

saber escolar e saber pedagógico.

Assim, a prática docente, expressão do saber pedagógico, constitui-se numa fonte de

desenvolvimento da teoria pedagógica. Contudo, o processo de trabalho afeta e é afetado pelo

contexto onde se dá a prática do ensino. Por isso, o nível de elaboração do saber pedagógico é

variável. Essa variação é determinada, em grande parte, pela qualificação e compromisso do

professor com o seu trabalho. A qualificação é aqui entendida como capacidades e habilidades

profissionais que ela apresenta.

O trabalho docente exige daquele que o exerce uma qualificação que vai além do

“conjunto de capacidades e conhecimentos que o trabalhador deve aplicar nas suas tarefas que

constituem o seu emprego” (ENGUITA, 1991, p.232) e que pressupõe uma consciência de sua

práxis. Sem esta, sua ação restringir-se-á à práxis repetitiva.

Onde, quando e de que modo o professor adquire os saberes fundamentais da atividade

profissional? Durante a formação inicial – na licenciatura – ou durante o próprio processo de

trabalho na escola?

Autores como Fiorentini e Castro (2003) não acreditam que a formação do professor

acontece apenas em intervalos independentes ou num espaço bem determinado, isso seria

negar o movimento social, histórico e cultural de constituição de cada sujeito. O movimento

de formação do professor não é isolado do restante da vida. Ao contrário, está imerso nas

práticas sociais e culturais.

Assim, pensar a constituição do professor somente no período da formação inicial, independente da continuada, isto é, daquela que acontece no próprio processo de trabalho, é negar a história de vida do futuro professor; é negá-lo como sujeito de possibilidades (FIORENTINI ; CASTRO, 2003, p.124).

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Para Fiorentini, Nacarato e Pinto (1999) é importante que, o saber docente seja visto e

concebido como “reflexivo e experimental”, que se constrói na própria “atividade

profissional”, sob a mediação de aportes teóricos apropriados e da reflexão antes, durante e

após.

E, segundo os mesmos autores, os “saberes experienciais” que o professor constrói na

produção do trabalho docente “são saberes práticos ligados à ação, mesclando aspectos

cognitivos éticos e emocionais ou afetivos” (p.55). Tais saberes “se integram às práticas e são

partes constitutivas delas enquanto prática docente” (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991,

p.128) e constituem para os professores “os fundamentos da prática e da competência

profissional”.

De acordo com essa visão de formação docente, os saberes e experiências dos

professores não se constituem isoladamente na prática. Emergem do diálogo que o professor

estabelece entre o que presencia na prática escolar e o que sabe, estudou e aprende na

interlocução com a literatura educacional e com os outros sujeitos da prática educativa.

Sem reflexão, o professor mecaniza sua prática, cai na rotina, passando a trabalhar de

forma repetitiva, reproduzindo o que está pronto e o que é mais acessível, fácil ou simples.

Desta forma, quando se está imerso numa prática social, em especial na sala de aula,

as reflexões e significações sobre o que se sabe, se faz e se diz podem constituir-se em algo

formativo para cada indivíduo. É nesse processo de produção de significados e de

ressignificação de saberes e ações que as pessoas constituem-se professores, ou seja, se

aprende a ser professor e professora no trabalho.

Fiorentini e Castro (2003) apresentam três eixos transversais ou categorias de análise:

o significado da prática profissional e do saber necessário para produzi-la; as mudanças

percebidas, a constituição da identidade profissional e os saberes e as imagens – de professor

(seu papel e sua postura em classe) e de prática docente – mobilizados durante o processo de

iniciação ao trabalho docente na escola.

A passagem de aluno-estagiário para estagiário-docente não é tão suave, já que traz em

suas crenças e concepções uma visão idealizada do que seria um bom professor, um bom

aluno e uma boa aluna; por outro aspecto, encontra uma prática escolar real e complexa, que

não comporta soluções mágicas nem transposição ou aplicação de modelos previamente

concebidos.

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Passar para o outro lado, ou seja, para o exercício do trabalho docente, significa

aventurar-se em um mundo incerto e imprevisível, compreendendo que ser professor é uma

tarefa complexa e que envolve riscos. Porém, quando se toma consciência de que, como

professor, este precisa saber algo mais que somente manipular/operar corretamente os

enunciados e aplicá-los a situações-problema. O conhecimento da matéria, necessário para

ensiná-la, deve ser amplo, profundo, flexível e diversificado.

(...) Esse domínio profundo do conhecimento é fundamental para que o professor tenha autonomia intelectual para produzir o seu próprio currículo, se constituindo efetivamente como mediador entre o conhecimento historicamente produzido e aquele – o escolar reelaborado e relevante socioculturalmente – a ser apropriado/construído pelos alunos. (FIORENTINI, MELO; SOUZA, JR., 1998, p.316).

Entre explorar uma situação significativa para os alunos e não perder o controle da

classe, é que o professor, nessa tensão fez suas escolhas iniciais e tenta estabelecer seu

contrato didático. No entanto, sua preocupação em ter o controle pleno da dinâmica da sala de

aula está ligada a uma concepção de prática pedagógica centrada na figura do professor. É o

professor que deve conduzir as ações e induzir as noções consideradas mais corretas.

Inserido nesse contexto, é preferível assumir o papel de condutor do processo e

atribuir aos alunos a função de seguirem à risca, sem muito questionamento, o raciocínio e as

explicações do professor.

Ou seja, ao tentar ser fiel a um roteiro de planejamento de aula, não desenvolverá uma

maior interação com os alunos. Não dá tempo nem voz para que os alunos elaborem com ele o

conhecimento e o internalizem.

No entanto, mobiliza-se uma forma de ensinar que é internalizada e desenvolvida ao

longo de anos de escolaridade. Neste modelo de prática docente internalizada, o professor

deve preencher todo o tempo de aula com sua voz. Agindo assim, o aluno fica sem tempo para

pensar e internalizar o que está sendo trabalhado. Por isso, quando o professor faz perguntas

de resposta única, eles respondem com seu silêncio.

Entretanto, no contato com a prática, mediante o processo de ação e reflexão, aos

poucos, vêm se desenvolvendo formas próprias de trabalhar com as situações didáticas. A

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experiência em sala de aula, a mediação teórico-reflexiva e sua própria reflexão e análise

sobre o processo vivido na iniciação ao trabalho docente são fundamentais. Neste processo de

ações individuais e coletivas no e sobre o trabalho docente é que se constitui uma prática

complexa e plural.

De fato, perceber e refletir sobre a constituição do saber profissional a partir de suas

fontes é uma tarefa difícil, pois os cursos de formação profissional ainda mantêm uma

distância epistemológica entre teoria e prática ou entre a prática e a produção de

conhecimentos para a prática, pois é na prática, ou melhor, na realização do trabalho

pedagógico, que os saberes da profissão docente são efetivamente compreendidos, produzidos

ou ressignificados, ou seja, os saberes da atividade profissional do professor são situados, uma

vez que ganham sentido, quando em relação com a prática são aprendidos mediante um

processo reflexivo sobre o trabalho. Gómez (1992) diz que “o pensamento prático do

professor não pode ser ensinado, mas pode ser aprendido. Aprende-se fazendo e refletindo na

e sobre a ação” (p.112).

O estudo mostra que é nesse processo que o professor se constitui professor. Um

processo que se evidencia problemático, difícil, longo e sempre inacabado, como diz Freire

(1997). Nesse sentido, a prática de ensino e o estágio supervisionado configuram-se como

momentos fundamentais de formação e de desenvolvimento profissional do professor e,

portanto, constituem-se em instâncias complexas que mobilizam e colocam em crise os

saberes, as crenças, as concepções e os fazeres do iniciante que foram apreendidos durante os

vários anos de escolarização e de ambientação com esse campo de trabalho.

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CAPÍTULO 3

ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

3.1 PARÂMETROS CURRICULARE NACIONAIS

Sendo esta investigação realizada no contexto do ensino básico, torna-se relevante

apresentar alguns pressupostos que fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais –

PCNs - principalmente, porque se veiculam concepções de linguagem e de aprendizagem e

sugerem, como o trabalho com a língua estrangeira pode assumir uma postura mais formativa,

no sentido de despertar a consciência crítica dos alunos.

Na primeira parte dos PCNs são tratados aspectos que visam a justificar a inserção da

língua estrangeira no ensino básico, estabelecendo-se aspectos que dizem respeito ao papel

social que determinada língua desempenha na sociedade e, em seguida, a discussão de

questões teóricas para a compreensão dos processos que envolvem a aprendizagem de uma

língua estrangeira.

Na segunda parte, os PCNs expõem orientações metodológicas sobre como trabalhar

com os diversos tipos de conhecimento para um aprendizado eficaz, bem como para o

desenvolvimento das quatro habilidades linguísticas, as quais compreendem o

desenvolvimento da compreensão e da expressão oral e escrita. Contudo, o documento refere-

se à avaliação formativa, considerando a dimensão afetiva desse processo. Para tanto, deve-se

levar em conta a coerência entre o que se ensina e o que se avalia (PCNs, 1998, p.82).

O recorte histórico em que se insere a elaboração desse documento contém a

afirmação de que a língua estrangeira nunca teve seu papel bem definido no currículo escolar.

Primeiro era oferecida a oportunidade de estudo de uma só língua e, muitas vezes, era

realizada no turno inverso da série cursada pelo aluno. A avaliação se dava com caráter

verificatório, posto que a disciplina não reprovava.

Na tentativa de normatizar o ensino de línguas estrangeiras em todas as escolas de

ensino básico do Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) manifesta a

obrigatoriedade da inclusão de pelo menos uma língua estrangeira moderna no currículo

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escolar, a partir da quinta série, conforme Lei nº 9.394/96, a qual originou o documento que

ora se analisa.

Para tanto, os PCNs (1998) destacam que os objetivos para o ensino da língua

estrangeira devem estar dirigidos para que o aluno perceba o mundo multilingue e

multicultural em que vive, compreenda enunciados orais e escritos e se empenhe na

negociação do significado e não da correção.

Portanto, espera-se que o aluno construa capacidades que lhe permitam expressar-se

através da língua estrangeira, percebendo novas formas de ver o mundo, reconhecendo-se

participante de um mundo plural e multilingue; utilizar-se de vários tipos de conhecimento

(sistêmico, de mundo e de organização textual) para sua atuação na Língua Estrangeira; atuar

criticamente e de forma reflexiva no uso da língua estrangeira, fazendo as escolhas adequadas

no que diz respeito às habilidades comunicativas nos diversos momentos de interação social,

sejam estas concretizadas a partir de textos orais ou escritos.

Ressalta-se que os objetivos propostos conferem ao ensino da língua estrangeira um

caráter dialógico, priorizando toda a questão interacional de construção conjunta de sentidos

e, ainda, envolve o trabalho com as quatro habilidades linguísticas no desenvolvimento da

aprendizagem.

Para nortear essa discussão, os PCNs tratam de algumas teorias que explicam o

processo de aprendizado, as quais podem influenciar no trabalho do professor, no momento

em que reflete sobre sua tarefa de ensinar uma língua estrangeira. As teorias que regem esse

documento fazem parte de três concepções teóricas distintas: a behaviorista, a inatista e a

sociointeracionista.

A behaviorista centra-se na questão do Estímulo - Resposta – Reforço. Essa sequência

de ações em relação à aprendizagem consiste, basicamente, na questão do condicionamento.

O professor oferece a estrutura a ser aprendida, o aluno responde ou repete e, por fim, no

reforço, o professor avalia a produção do aluno.

Na inatista, a linguagem é tratada como um processo já inscrito na mente, dessa forma,

o aluno, através de um exercício cognitivo, passa a utilizar-se de estratégias para a construção

de conhecimento na língua que está aprendendo. Essas estratégias são caracterizadas pela

transferência linguística, isto é, valendo-se do conhecimento de sua língua materna, cria

hipóteses sobre a língua estrangeira que aprende. Os erros provenientes de sua atuação

linguística mostram-se como evidências de que a aprendizagem está ocorrendo.

Na sociointeracionista, gerada através de um processo sociointeracional, o diálogo e a

interlocução se estabelecem como fundamentais para o processo de construção de sentidos. A

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partir disso, o ensino da língua estrangeira deve pautar-se, de acordo com os PCNs (1998,

p.58-61), na promoção da co-participação social do conhecimento, considerando os processos

interacionais para a construção do significado.

Conforme apontam os PCNs (1998), o conhecimento sistêmico compreende os níveis

léxico-semânticos, morfológicos, sintáticos e fonético-fonológicos. Apoiando-se nesse tipo de

conhecimento, o aluno é capaz de fazer escolhas adequadas às diversas situações e aos

diversos contextos em que se insere.

Desse modo, questiona-se sobre como desenvolver um trabalho que considere o

processo sociointeracional de aprendizagem e os conhecimentos que operam na construção do

conhecimento, se a situação pedagógica mais comum na educação é de aulas superlotadas,

com carga horária reduzida, falta de materiais didáticos, de acordo com cada peculiaridade e,

ainda, priorizando os aspectos semânticos.

Tendo em vista esses fatores, o que sustenta e caracteriza a orientação dos PCNs é a

viabilidade do processo de aprendizado da língua estrangeira através do desenvolvimento da

compreensão leitora no âmbito educacional. Esse documento esclarece que direcionar as aulas

para o desenvolvimento da habilidade oral torna-se ineficaz e desproposital, visto que, salvo

raras exceções, como o espanhol em zonas fronteiriças, poucos terão acesso ao uso real da

língua que estudam.

Moita Lopes (1996) propõe um modelo interacional bem de acordo com os objetivos

que preconizam os PCNs. Nesse modelo, o aluno/leitor assume um caráter ativo entre texto e

autor, atuando com dois tipos de conhecimento: o sistêmico, caracterizado pelo conhecimento

morfológico, sintático e semântico e o esquemático, através do qual ativa seu conhecimento

de mundo. Estes conhecimentos trabalham juntos, para que o leitor, como sujeito ativo desse

processo, construa sentidos do que lê.

Embora os PCNs visem a que o trabalho não deva restringir-se somente ao

desenvolvimento da leitura em língua estrangeira, o documento aponta a compreensão leitora

como uma das soluções para a efetivação de uma proposta que viabilize a inserção de um

modelo sociointeracional de aprendizagem da língua em sala de aula. Essa afirmação é

criticada por Santos (2001), quando diz que ao oferecer a leitura como uma das soluções para

o ensino é contraditória, isso porque, ao mesmo tempo que o documento apresenta-se flexível

às necessidades contextuais de cada escola e de cada sala de aula, quanto à questão de quais

habilidades priorizar no ensino, a compreensão leitora é aquela que desempenha o papel

principal. Conforme Santos (2001),

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[...] ao enfatizar a importância da aprendizagem de línguas estrangeiras, centrada no “engajamento discursivo do aluno”, que deve ser capacitado a “agir no mundo social”, de acordo com a “função social” que o conhecimento da língua estrangeira tenha na sociedade brasileira, o texto inicia, em consonância com os princípios da LDB, não impondo limitações quanto à(s) escolha(s) da(s) língua(s) estrangeira(s) e as capacidades/habilidades a serem desenvolvidas no processo de ensino e aprendizagem. Portanto, a incoerência se estabelece quando o mesmo texto afirma que a referida função social esteja principalmente “relacionada ao uso que se faz de Língua Estrangeira via leitura”, o que estabelece uma incoerência discursiva interna, ao mesmo tempo em que deixa implícito que uma determinada língua estrangeira está sendo imposta à sociedade brasileira, língua essa que possibilitou o estabelecimento da suposta função social que exerce e do uso que dela se faz, apontados no texto como sendo a leitura (p.40-41).

Neste sentido, entende-se que a leitura não é a única habilidade capaz de fazer com

que o aluno realmente se torne o sujeito do processo de aprendizado.

Figueiredo (1999, p. 19), em sua pesquisa sobre leitura crítica, afirma que a

“exploração do texto ainda continua a ser pretexto para a gramatiquice já que a escolha da

passagem a ser lida tem como critério, muitas vezes inconsistente, a frequência de um

determinado item gramatical ou lexical”.

De acordo com essa afirmação, Santos (2001) postula que as orientações dos PCNs em

relação à leitura vêm sendo usadas para justificar o não-desenvolvimento de outras

habilidades linguísticas, colaborando para uma prática que evidencia inadequações no

contexto educacional da atualidade. Dessa forma, o trabalho com textos é empregado para

criar “pseudo-atividades de leitura baseado em amontoados de frases a que denominam textos

e dos quais fazem uso apenas como ponto de partida para atividades de tradução e de ensino

de gramática (...)” (p.42).

Pode-se inferir que para haver o desenvolvimento de habilidades linguísticas, como a

compreensão e a expressão, tanto oral como escrita, é necessário considerar o aprendizado

global da língua e não a simples memorização de conceitos, ou mesmo, o exercício de certas

habilidades.

É importante salientar que, embora o documento ressalte que a linguagem deva ser

abordada desde sua perspectiva dialógica, tanto no trabalho com a leitura como no

desenvolvimento de outras habilidades linguísticas, a maioria dos professores ainda não têm

clara essa concepção de linguagem, podendo manifestar em seu trabalho outras filiações

teóricas.

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3.2 ENSINO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

Sejam quais forem as razões – econômicas, diplomáticas, sociais, comerciais ou

militares -, a necessidade de entrar em contato com falantes de outro idioma é muito antiga.

Supõe-se que as primeiras aprendizagens de uma língua estrangeira aconteceram pelo contato

direto com o estrangeiro. Paralelamente a estas aquisições em meio natural, alguns povos se

preocuparam em aprender e ensinar, de forma sistemática, algumas línguas estrangeiras.

A partir do século XVIII, no entanto, os textos em língua estrangeira tornam-se objeto

de estudo; os exercícios de versão/gramática passam a substituir a forma anterior de ensino

que partia de frases isoladas tiradas da língua materna. É com base nesse modelo de ensino

que o século XVIII assistiu à consagração do chamado “método gramática-tradução” mais

comumente chamado “tradicional” ou “clássico” (CESTARO, Selma, 2009).

Apresenta-se, a seguir, uma síntese das principais metodologias respaldadas pela

autora Selma Alas Martins Cestaro (2009), que marcaram o ensino – aprendizagem da língua

estrangeira e que adota a referida nomenclatura. Pretende-se mostrar os princípios que

embasam certas metodologias, o papel do professor e do aluno. Também tem-se

conhecimento que as estratégias utilizadas pelos professores nas situações de ensino,

geralmente são de forma aleatória e não de forma consciente. O termo metodologia ou

abordagem deve ser compreendido como a forma de ensino da língua estrangeira.

3.2.1 A metodologia tradicional

A abordagem tradicional, também chamada de gramática-tradução, historicamente, a

primeira e mais antiga metodologia, servia para ensinar as línguas clássicas como o grego e o

latim. Até aproximadamente a década de 40, o principal objetivo da aprendizagem da língua

estrangeira era o ensino do vocabulário. A ênfase era dada à palavra escrita, enquanto as

habilidades de audição e de fala eram praticamente ignoradas. O princípio fundamental,

metodologia direta, era o de que a aprendizagem da língua estrangeira deveria se dar em

contato direto com a língua em estudo. A língua materna deveria ser excluída da sala de aula.

A transmissão dos significados dava-se através de gestos, gravuras, fotos, simulação, enfim,

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de tudo o que pudesse facilitar a compreensão, sem jamais recorrer à tradução, de forma a

fazer com que o aprendiz pensasse diretamente na língua estrangeira. Dava-se ênfase ao oral.

Inicialmente, o aluno era exposto aos fatos da língua para, num segundo momento, chegar à

sua sistematização.

As atividades propostas aos alunos eram variadas: compreensão do texto e dos

exercícios e gramática, transformação a partir de textos de base, substituições, reemprego de

formas gramaticais, correção fonética e conversação. Vale ressaltar que os exercícios ditos de

conversação eram baseados em pergunta/resposta, perguntas essas fechadas, em que se fazia

uma preparação oral dos exercícios que deveriam seguir um modelo anteriormente proposto.

Não se dava ao aluno nenhuma autonomia, nem se procurava trabalhar em pequenos grupos.

Era o professor que servia de modelo linguístico ao aprendiz. Não havia praticamente

nenhuma interação entre os aprendizes; no entanto, eles até podiam conversar entre si através

de jogos de pergunta e resposta.

3.2.2 A metodologia áudio-oral ou audiolingual

Em 1943, foi lançado um programa didático que deu origem ao que hoje é conhecido

como metodologia áudio-oral. Os princípios básicos desta abordagem eram: a língua é fala e

não escrita (com isso estabelecia-se a ênfase na língua oral), e a língua é um conjunto de

hábitos condicionados que se adquiria através de um processo mecânico de estímulo e

resposta. As respostas certas dadas pelo aluno deveriam ser imediatamente reforçadas pelo

professor. A metodologia áudio-oral era baseada nos princípios da psicologia da

aprendizagem: da psicologia behaviorista (de Skinner) e da linguística distribucional (de

Bloomfield), então dominante nos Estados Unidos. Para tanto, ensinava-se através da

apresentação gradual de estruturas, por meio de exercícios estruturais.

Para o estruturalismo de Bloomfield, a atuação linguística ocorre a partir da aplicação

das leis de causa e efeito, manifestas na repetição e no condicionamento operante. Enquanto a

teoria condutista proposta por Skinner (1982) era baseada em três processos interligados:

estímulo – resposta – reforço. Logo, todo o trabalho desse estudioso estava fundado em uma

concepção de língua como conduta, a qual poderia ser “descrita por si mesma através de

técnicas aplicáveis mecanicamente” (BORBA, 1998, p. 312). Seguindo os pressupostos da

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psicologia behaviorista, Bloomfield postulava que todo comportamento humano seria

explicável e, por isso, previsível.

Dessa forma, o estruturalismo bloomfieldiano defende a ideia de que a aquisição da

língua acontece por meio da imitação e da formação de hábitos. Por isso, segundo ele, a

questão do estímulo e do reforço é peças-chave para que o aprendiz forme hábitos corretos de

uso da língua. Isso pode ser constatado claramente no método áudiolingual, que tem como

principal característica o modelo indutivo de aquisição, como aponta Santos, ou seja,

consideram-se somente

os fatos observáveis da língua, sem preocupar-se com a existência de um componente estruturados, organizador, que possa estar trabalhando junto com os dados (experiência), na construção da gramática de uma língua particular. (SANTOS, 2003, p. 217).

Conforme se observa, já se mostravam latentes algumas inquietações sobre a validade

desses procedimentos para explicar a aquisição da língua, que guiariam o ensino de línguas

durante muitos anos. Num primeiro momento, os métodos de base estrutural -representados,

basicamente, pelo Método de Gramática e Tradução – justificavam o processo de

aprendizagem ancorado no estudo sistêmico da língua, priorizando unicamente a descrição

dos seus componentes linguísticos.

Assim, a gramática era apresentada aos alunos não por regras, mas através de uma

série de exemplos ou modelos; e os paradigmas gramaticais e o vocabulário eram

apresentados não através de listas, mas em frases completas. A aquisição de uma língua podia

ser considerada como um processo mecânico de formação de hábitos, rotinas e automatismos.

O laboratório de línguas passou a constituir um elemento de extrema importância, onde o

aluno repetia oralmente as estruturas apresentadas em sala de aula, a fim de serem totalmente

memorizadas e automatizadas. O professor continuava no centro do processo do ensino-

aprendizagem, dirigindo e controlando o comportamento linguístico dos alunos.

Para Cestaro (2009), após alguns anos de utilização desse tipo de abordagem, veio a

decepção: os exercícios estruturais aborreciam os alunos e, como consequência, a motivação

decrescia rapidamente; a passagem dos exercícios de reutilização dos modelos rígidos pelo

professor à reutilização espontânea raramente acontecia.

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3.2.3 A metodologia audiovisual

A metodologia audiovisual situa-se num prolongamento da abordagem direta, à

medida que suas principais inovações constituem, em parte, as tentativas de solução dos

problemas com os quais se defrontavam os defensores da abordagem direta.

A estrita gradação gramatical, bem linear, dos cursos audiovisuais de primeira

geração, com seus exercícios mecânicos, lembra as frases-modelo dos cursos áudio-orais.

Outra forte influência da metodologia áudio-oral diz respeito aos processos combinados de

memorização e dramatização dos diálogos de base da metodologia audiovisual e aos

exercícios estruturais que são inseridos em muitos cursos audiovisuais.

Os da segunda geração são essencialmente marcados por um esforço de correção e/ou

adaptação aos contextos escolares. Já os chamados de terceira geração, nos anos 80, são

caracterizados por tentativas de integração de novas tendências didáticas, “nocionais-

funcionais” e “comunicativas”.

Nas duas primeiras fases da metodologia audiovisual, o aluno desempenha um papel

receptivo e um tanto submisso diante do professor e do manual. Ele não tem autonomia, nem

criatividade. O professor centraliza a comunicação, é manipulador e técnico.

Os cursos audiovisuais de terceira geração procuraram integrar a pragmática,

utilizando as noções de atos de fala como modo de classificação das formas linguísticas, no

que diz respeito à gradação, à apresentação e ao reemprego.

As duas primeiras fases da metodologia audiovisual receberam críticas por privilegiar

a função denotativa ou referencial da linguagem em detrimento das funções: fática (que visa a

estabelecer e manter o contato entre os interlocutores), da emotiva (que permite ao locutor

exprimir sua subjetividade) e da conotativa (que visa a agir no destinatário da mensagem de

forma a suscitar-lhe uma ação ou reação). (CESTARO, Selma, 2009).

Na metodologia audiovisual, classificada de terceira geração, a relação professor-aluno

é mais interativa que as duas fases anteriores. O professor evita corrigir os erros dos alunos

durante a primeira repetição. Em seguida, começa o trabalho de correção fonética até a fase de

memorização. O professor corrige discretamente a entonação, o ritmo, o sotaque, etc.

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3.2.4 Metodologia comunicativa

Esse estudo propunha não apenas a análise do texto oral e escrito, como também as

circunstâncias em que o texto era produzido e interpretado. A língua é, então, analisada como

um conjunto de eventos comunicativos (LEFFA apud BOHN; VANDERSEN, 1988).

A abordagem comunicativa centraliza o ensino da língua estrangeira na comunicação.

Trata-se de ensinar o aluno a se comunicar em língua estrangeira e adquirir uma competência

de comunicação.

Saber comunicar significa ser capaz de produzir enunciados linguísticos de acordo

com a intenção de comunicação. Reside, portanto, nas relações entre estes diversos planos ou

diversos componentes.

A gramática de base da metodologia comunicativa é a nocional, gramática das noções,

das ideias e da organização do sentido. As atividades gramaticais estão a serviço da

comunicação. Os exercícios formais e repetitivos deram lugar, na metodologia comunicativa,

aos exercícios de comunicação real ou simulada, mais interativos. Utiliza-se a prática da

conceituação, levando o aluno a descobrir, por si só, as regras de funcionamento da língua,

através da reflexão e elaboração de hipóteses, o que exige uma maior participação do aprendiz

no processo de aprendizagem.

A abordagem comunicativa dá muita importância à produção dos alunos, no sentido

em que ela tenta favorecer estas produções, dando ao aluno a ocasião múltipla e variada de

produzir na língua estrangeira, ajudando-o a vencer seus bloqueios, não o corrigindo

sistematicamente. A aprendizagem é centrada no aluno, não só em termos de conteúdo, como

também de técnicas usadas em sala de aula (MARTINS-CESTARO, 1997).

O professor deixa de ocupar o papel principal no processo ensino-aprendizagem, de

detentor do conhecimento, para assumir o papel de orientador, “facilitador”, “organizador”

das atividades de classe. Um outro fator relevante e facilitador da aprendizagem é a atmosfera

que reina na classe, e esta depende, em grande parte, do professor (MARTINS-CESTARO,

1997).

Ao analisar-se as metodologias de ensino aqui citadas, verifica-se que todas

privilegiam o estudo da língua, ora vista como um conjunto de palavras de vocabulário, ora de

estruturas gramaticais, de noções ou funções. Algumas metodologias, além do estudo da

língua, levam em conta a psicologia da aprendizagem. O professor representa a autoridade e o

modelo a ser seguido, exceção feita à metodologia comunicativa em que o professor tem

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múltiplos papéis, mas não é visto como autoridade. No que diz respeito ao aluno, observa-se

que nas metodologias analisadas, ele passa de um papel passivo a um mais ativo, com

tendência a desenvolver uma independência e uma certa autonomia face à aprendizagem.

Diversos elementos se conjugam, a fim de dar conta da aprendizagem de uma língua

estrangeira, mas considera-se que o “estar motivado para aprender” constitua a melhor forma

de aprendizado, independente da metodologia a ser utilizada. Acredita-se que, para manter a

motivação pela língua estrangeira em estudo, o aluno precisa se engajar no processo, tem de

“aprender a aprender” e ser capaz de assumir uma parte de responsabilidade por sua

aprendizagem.

O uso da língua para a comunicação oral e escrita, em situações formais e informais,

exige adequação, além do que a autoexpressão em outra língua explora domínios da

personalidade inteiramente desconhecidos; sem mencionar as palavras, pronúncia, gramática e

as habilidades de compreensão e expressão oral, leitura e escrita.

Há que se lidar com alunos de várias idades de ambos os sexos, múltiplos estilos e

estratégias de aprendizagem; explorar os inúmeros recursos tecnológicos e de comunicação

que já chegam até nós. Outras vezes, há que se lidar com a escassez desses mesmos recursos.

É preciso administrar a interação em sala de aula: o trabalho em pares e grupos; harmonizar

os diversos níveis de conhecimento numa mesma classe; conduzir algum tipo de avaliação e

contribuir para o necessário desenvolvimento da autonomia do aluno. Enfim, há que se decidir

aula após aula, momento a momento, o que e como fazer para manter os alunos motivados e

envolvidos neste processo – por vezes, árduo – de abertura do próprio caminho de aquisição

de uma segunda ou terceira língua.

Viveu-se um século de “obsessão pelos métodos” (RICHARDS; FAZENDA, 2001),

na tentativa de se descobrir o perfeito: método Serial, Método Direto, Método Audiolingual,

Cognitive-Code Learning, Communty Language Learning, entre outros.

No entanto, ao invés dos métodos, deve-se estimular o diagnóstico das necessidades

dos alunos, o consequente tratamento e a avaliação dos resultados. Cuidar da administração

do ambiente da sala de aula e da própria dinâmica das aulas. Questionar o papel dos materiais

didáticos. Propor tarefas e projetos práticos. Investigar estratégias de aprendizagem utilizadas

pelo aluno bem sucedido. Planejar atividades e introduzir formas alternativas de avaliação,

como o portfólio. O vídeo e a internet ampliam as possibilidades de exploração da

língua(gem). Ocupar, enfim, o desenvolvimento da competência profissional do professor em

função das mudanças no seu papel que lhe são atribuídas hoje.

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Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira (DCEs) de 2002, o

aprendizado de uma língua estrangeira permite a construção e reconstrução de novos

significados por parte do aluno. Em outras palavras, é na palavra e pela palavra que o aluno

constrói sua identidade, seus sentidos e sua própria realidade. Porém, apesar de colocar o

aluno como agente do processo pedagógico, é notória a recorrência de frases como: “[...] cabe

portanto ao professor de Língua Estrangeira administrar e gerenciar a heterogeneidade de suas

classes. O modo como o aluno constrói e gerencia sua própria aprendizagem deve ser objeto

de observação e apreciação por parte do professor, [...]”. (ORIENTAÇÕES

EDUCACIONAIS COMPLEMENTARES AOS PARÂMETROS CURRICULARES

NACIONAIS, 2002, p.126). Assim, a responsabilidade pelo processo de aprendizagem não é

só do aluno, mas também do professor. Não é à toa que os professores se sentem frustrados ou

perdidos no exercício da profissão com o ritmo atribulado da carreira do magistério neste

novo milênio.

É bom ressaltar que o incentivo à reflexão por meio da técnica do diário e a pesquisa

qualitativa em sala de aula cumprem o mesmo objetivo, na atualidade, do ensino-

aprendizagem de língua estrangeira. Porém, o uso de todas essas práticas continua restrito a

uns poucos contextos, e nota-se que muitos professores preferem não aderir a elas. Dutra e

Mello (2004) admitem não ser fácil atingir níveis eficazes de reflexão, capazes de gerar

instrumentos de ação. Para contornar o problema, vêm efetivando a prática reflexiva desde a

formação inicial.

Os motivos da dificuldade podem ser tantos quanto o número de professores, mas é

fato que na sociedade, em geral, o insight - o encontro consigo mesmo, está cada vez mais

escasso.

Lucas (2006) acredita ser esta uma boa hora para resgatar um exercício ainda pouco

explorado: o empowerment (ou empoderamento) do professor por meio da relação

interpessoal. Trata-se de um processo altamente eficaz para a revitalização da aprendizagem a

partir do próprio conhecimento prático e intelectual acumulado.

Para esta autora, o sucesso da prática de um professor de língua estrangeira depende,

em grande parte, de sua capacidade de integrar um número cada vez maior de dados num todo

harmonioso. Além disso, é necessário desenvolver criatividade para saber adequar a teoria às

situações reais de ensino-aprendizagem e aumentar o discernimento quanto ao que está

funcionando ou não, à medida que se avança. É importante compreender a fonte de erros e

acertos para reorientar-se a tempo de garantir o sucesso de uma turma e pode-se alcançar tudo

isso sozinho como, em geral, acontece, principalmente quando o professor se dispõe a

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conduzir observações em sua própria sala de aula e registrá-las em relatórios formais ou

quando procede à auto-reflexão em diários, como elucida Lucas

[...] tenho comprovado, tanto na esfera profissional, quanto na pessoal, que o trabalho em parceria é bem mais eficaz. Um observador atento, zeloso e capaz de isenção temporária (que escuta o outro em sintonia com este e, não, criticamente) pode nos colocar diante de nós mesmos para um encontro surpreendente. Nem sempre conseguirmos, sozinhos, distância suficiente para nos enxergarmos. É ótimo poder contar com um espelho (2006, p.8).

Esta proposta de que o trabalho em parceria é bem mais eficaz tem a vantagem de

resgatar o equilíbrio fundamental entre os três ambientes de aprendizagem na formação

continuada de professores de língua estrangeira.

A língua estrangeira aparece no currículo da educação básica como um saber

importante para o desenvolvimento da plena cidadania do indivíduo. Portanto, a

aprendizagem da língua estrangeira pode ser percebida como mais um direito de todo

brasileiro, e à escola compete a responsabilidade de ensinar com eficiência outros idiomas.

A língua espanhola tem-se tornado cada vez mais presente no dia-a-dia dos brasileiros.

Internet, músicas e o aumento das relações comerciais inseriram o idioma no vocabulário da

população nos últimos anos. Essas mudanças acabaram aumentando, também, as exigências

sobre os professores de espanhol, que se veem cercados por novas tecnologias e uma cobrança

muito maior por parte dos alunos e da sociedade.

Sabe-se que toda profissão revela sua importância nos atos e atitudes de seus

seguidores, na forma como desenvolvem e propagam sua base de conhecimento e na forma

como os profissionais acreditam que sua prática pode ser renovada e melhorada a cada dia.

Ensinar uma língua estrangeira implica em um trabalho com diferentes habilidades

comunicativas de produção de compreensão oral e escrita e os objetivos do ensino de língua

estrangeira devem ser estabelecidos a partir de certos princípios, levando-se em conta as

necessidades do aluno aprendiz e do contexto em que o mesmo está inserido.

Atualmente, para que ocorra um ensino significativo é necessário que o profissional

seja versátil, atualizado e interessado em melhorar cada vez mais a sua própria prática

pedagógica.

E ao se refletir sobre a atual prática pedagógica dos professores, percebe-se que os

mesmos têm vontade de melhorar, mas devido às dificuldades pedagógicas e de

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comportamento eles se sentem desmotivados e, embora apresentem comprometimento,

envolvimento e interesse no preparo de suas aulas, a maioria trabalha basicamente com uma

abordagem tradicionalista, ou seja, com a transmissão de um conjunto de técnicas necessárias

à realização das principais funções profissionais: seguir o programa e avaliar. Entretanto, o

conteúdo das aulas não provoca e nem conduz à motivação dos alunos, pois utiliza critérios

totalmente gramaticais ao invés de basear-se em uma abordagem sociointeracionista, a qual

trabalha a compreensão de que a aprendizagem é uma forma de estar em interação com o

contexto histórico, cultural e institucional. Assim,

a visão internacional focaliza a interação do seu papel no desenvolvimento e na aprendizagem do ser humano, ao centrar na sua metodologia a interação como forma de construção de conhecimento, assim desenvolve atividades que interagem entre aluno e professor, aluno e material didático (BRASIL, 1998, p. 58).

Outra situação relevante diz respeito aos temas e conteúdos, muitas vezes inadequados

para a faixa etária e o contexto, já que nem as Diretrizes Curriculares Estaduais deixam a

questão clara. O documento sugere, de forma abrangente e subjetiva, que o professor

selecione os textos com base em elementos linguístico-discursivos, não só em possíveis

questões gramaticais, desde que sejam adequados à faixa etária e que contemplem os

interesses dos alunos.

Consequentemente, muitas das aulas foram diagnosticadas como chatas e

desmotivadas.

De acordo com Hibarino (2007), uma aula motivadora e interessante seria aquela em

que, além da figura do professor, o material didático e o tema abordado fossem fatores

determinantes no bom desenvolvimento das aulas, a fim de desenvolverem atividades com

habilidades integradas mais coerentes com as realidades enfrentadas pelos alunos.

Quebrar barreiras, enfrentar desafios e propor algo novo são ideias que fazem parte do

discurso da formação de professores de língua estrangeira. Para os professores iniciantes, o

momento é um dos pontos de conflito entre a teoria e a prática. Mas, além disso, é um período

de desafio tanto para o aluno quanto para o professor.

Um dos pontos fundamentais deste processo é a maneira como o futuro professor

percebe e atua na realidade que lhe é apresentada. Na maioria das vezes, a frustração e

impotência se sobrepõem à motivação (HIBARINO, 2007).

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3.3 O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA

No Brasil, o ensino do espanhol fez parte do currículo do ensino médio das escolas

brasileiras entre 1940 e 1960, juntamente com o inglês, o francês, o latim e o grego. Devido

ao espaço conquistado pela língua inglesa como língua estrangeira no cenário mundial e às

reformas do sistema educativo brasileiro de 1960, o espanhol e o francês perderam terreno,

não só no mundo todo, mas também no Brasil. Já o grego e o latim foram eliminados do

currículo do ensino médio brasileiro. Rajagopalan (1999) coloca que o caráter multilíngue do

sistema educativo brasileiro desaparece para dar lugar à hegemonia do inglês.

A procura pelos cursos de língua espanhola diminuiu, uma vez que as perspectivas que

o estudo dessa língua oferecia eram bem limitadas. Por isso, ela seguiu adormecida. Para

Celada e González (2000), o português também era desconhecido pelos hispânicos, devido

aos encontros e desencontros dos povos da América Latina. O professor e diretor do

Memorial da América Latina Fábio Magalhães, em palestra proferida na Unicamp, em 2002,

ensina: “O isolamento não é uma característica do Brasil. Colocamos nossa língua como um

diferencial, mas todos os países latino-americanos sempre se comunicaram muito pouco entre

si”.

Nos anos 1990, o ensino da língua espanhola no Brasil renasce com enorme vitalidade

e ganha cada vez mais espaço no cenário educacional. Para Cruz (2001), as cifras relativas à

expansão da língua espanhola estão cada vez mais altas em toda a extensão territorial,

merecendo destaque as áreas fronteiriças com os países de fala hispânica.

Segundo Camargos (2001), o boom do ensino da língua espanhola no Brasil ocorreu

em função do Mercosul e a maioria dos materiais didáticos utilizados pelos professores de

língua espanhola neste país é de origem peninsular. Para o autor, isso se deve, primeiro lugar,

à ausência de uma política clara e eficiente de difusão linguístico-cultural entre os países que

compõem o Mercosul. Em segundo, por decorrência dessas mesmas políticas se

materializarem com o objetivo precípuo de divulgar a língua e a cultura espanhola pelo

mundo.

Bugel (1998) destaca o fato de que a Espanha, com uma certa tradição no ensino de

língua, o que não implica necessariamente propostas metodológicas inovadoras, vem

propondo, pelo mundo afora, através do Instituto Cervantes, o ensino de uma variante

apresentada como espanhol padrão culto. Essa variante é ensinada por professores falantes

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nativos de outras variantes consideradas padrão em seus respectivos países. Contudo, muitos

desses falantes qualificam suas variantes – com maior ou menor grau de consciência – como

inferiores, quando comparadas à variante ibérica padrão proposta nos livros didáticos e fitas

hoje disponíveis para o ensino do castelhano no Brasil.

É interessante notar como o discurso hegemônico do espanhol peninsular se impõe,

não apenas aos professores hispano-falantes da América Latina, mas está também cristalizado

no imaginário de professores e alunos brasileiros.

De acordo com Sugimoto (2002), o preconceito e os desencontros entre os povos da

América Latina ainda persistem, pois

o termo latino-americano costuma vir acompanhado de significados negativos, trazendo o carimbo de subdesenvolvimento, de secundário e de submisso. E ao longo dos séculos, ao invés de buscarem a união para derrubar o preconceito por parte do primeiro mundo, os países da América Latina sempre caminharam no sentido inverso, alimentando desconfianças e rivalidades geopolíticas, econômicas e culturais, acabando por acentuar este isolamento (p. 12).

O que vem sendo dito, explica por que a Espanha é considerada a referência primeira

do espanhol, o seu locus legítimo, a pátria-mãe do idioma. Soma-se a isso o fato de a Espanha

ser uma monarquia, o que lhe confere status e poder em relação aos países da América Latina

por ela colonizados.

Mas, para que a supremacia da variedade peninsular do espanhol se mantenha, é

preciso que a Espanha, de acordo com Bugel (1999), além de continuar sendo parâmetro de

referência em termos culturais, continue no imaginário dos povos latino-americanos, falantes

de espanhol. Portanto, a suposta hegemoneidade linguística espanhola não se sustenta diante

dos fatos: na Espanha falam-se outras línguas (galego, catalão, etc) e vários dialetos, como:

canário, murciano, etc, além do dito “espanhol padrão”; “Embora o espanhol seja a língua

oficial, conforme decretou a constituição de 1978 e conforme a tendência à hegemonização

sedimentada nos ideais de globalização da cultura” (SOARES, 2001, p. 32).

Pode-se citar, como mudanças no plano cultural brasileiro, a criação da Associação de

Professores de Espanhol do Estado de São Paulo (APEESP – criada em 1983) e, em 1987,

surgiu o Instituto Latino-Americano. Esses acontecimentos promoveram a aproximação entre

os países do Cone Sul, o que muito favoreceu a efetivação da união aduaneira (Mercosul).

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Juntamente com o Mercosul, surge uma discussão que é o estudo da língua espanhola

no Brasil. De acordo com Cruz (2001),

[...] no território nacional, a demanda pelo espanhol tem crescido vertiginosamente, conforme atestam seguidamente os anúncios dos meios de comunicação (...), o que tem incentivado o interesse pela publicação de materiais didáticos nessa LE e a procura de profissionais qualificados na área. (p. 14).

Uma das primeiras obras utilizadas no ensino deste idioma, no Brasil, foi na década de

1930, de autoria de Antenor Nascentes, que traz um estudo gramatical do espanhol comparado

ao português. Outra obra considerada referência da língua espanhola é a gramática de Idel

Becker, da década de 40. Esta obra faz uma comparação entre as semelhanças e diferenças

entre o espanhol e o português, bem como, uma apresentação das regras gramaticais, de

acordo com a norma padrão do espanhol, ambas direcionadas aos aprendizes brasileiros.

Estes livros foram considerados importantes por terem sido os primeiros a se

preocuparem com o ensino do espanhol no Brasil. Assim, para Celada e González (2000), os

estudos de Nascentes e Becker ajudaram a impor e a legitimar o espanhol como língua

estrangeira, principalmente entre estudantes e professores brasileiros, pois a crença era que

estudar essa língua era fácil e limitava-se ao conhecimento das regras gramaticais e do léxico

por meio dos falsos cognatos. Ainda hoje, a mídia e as escolas de línguas perpetuam e

reforçam o discurso hegemônico do espanhol como língua fácil de aprender para os

brasileiros.

Essa didática de trabalhar com a língua espanhola tinha por característica transmitir o

conhecimento sobre a língua, permitindo o acesso aos textos literários e a um domínio da

gramática normativa. Propunha a tradução e a versão como base de compreensão da língua

em estudo. O dicionário e o livro de gramática eram, portanto, instrumentos indispensáveis.

De acordo com Camargos (2001), ainda são poucas as universidades brasileiras que

possuem o espanhol em seu corpo de disciplinas, seja na graduação ou em cursos de extensão.

Sendo assim, a maioria dos professores de espanhol, no Brasil, são nativos desse idioma ou

brasileiros que viveram em algum país em que a língua oficial era o espanhol, ou, ainda,

professores brasileiros que possuem apenas o diploma de proficiência. Sobre a questão da

implementação do espanhol no Brasil, Kulikowski e González (1999) apontam que, como

faltam profissionais preparados, a escola aceita falantes nativos sem formação específica,

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estudantes e até principiantes. É importante destacar que não parece ser importante uma

formação universitária específica para atuar nesta disciplina.

O professor tende a reproduzir o modelo de ensino de língua estrangeira que advém de

suas experiências anteriores de aprendizagem, experiências estas quase sempre fundadas em

abordagens gramaticais. Geralmente, em decorrência da falta de formação específica, o

professor de espanhol delega ao aluno o papel de receptor passivo de um conhecimento já

pronto e o ensino dessa língua fica desprovido de todo seu caráter social, político e cultural.

Para Freire (1982), esse tipo de abordagem baseia-se em uma concepção de educação

bancária, em que a relação professor/aluno era vertical, ou seja, o professor representava a

autoridade no grupo, pois detinha o saber. Pouca iniciativa era atribuída ao aluno; a relação

professor/aluno era praticamente inexistente.

Conforme Brancher (2004), a grande maioria das práticas docentes está enraizada na

técnica de aula expositiva, pois apesar de defenderem as inter-relações sociais, a ação docente

está embasada na sequência lógica de conteúdos de um determinado livro didático pré-

estabelecido, previamente elaborado para realidades distintas, em detrimento da pesquisa que

promove a ampliação dos conhecimentos e do desenvolvimento das competências nos alunos.

3.4 ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA

O objetivo é apresentar aspectos das Orientações Curriculares Nacionais para o ensino

da disciplina de língua estrangeira moderna – espanhol, em virtude da sanção da Lei nº 11.161

(05/08/2005), que torna obrigatória a oferta da língua espanhola, em horário regular, nas

escolas públicas e privadas brasileiras que atuam no ensino médio. A lei também faculta a

inclusão do ensino desse idioma nos currículos da 5ª a 8ª série do ensino fundamental. Para o

Brasil, esta inclusão é importante, principalmente, para estabelecer uma nova relação com os

países de língua espanhola, em especial com os que firmaram o Tratado do Mercosul.

No entanto, esse não é o único motivo para que se ofereça um ensino de qualidade,

nem o mercado deve ser o objetivo fundamental para o seu aprendizado, e este gesto político

linguístico exige uma reflexão acerca do lugar que essa língua pode e deve ocupar no

processo educativo; reflexão sobre a maneira possível de trabalhá-la com o máximo de

qualidade e o menor índice de reducionismo.

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Essa relação foi marcada, também, ao longo das últimas décadas, por uma hegemonia

do Espanhol peninsular que se impôs, por várias razões, tanto a professores hispanofalantes

latino-americanos, quanto a professores e estudantes brasileiros, levando à consolidação de

preconceitos, à camuflagem das diferenças locais e ao apagamento das diferentes culturas e

manifestações linguísticas que configuraram a diversidade identitária do universo

hispanofalante (CAMARGO, 2004, p. 143-144).

A “língua fácil” ganha um novo lugar e um novo estatuto a partir da assinatura do

Tratado do Mercosul, torna-se objeto de atenções, preocupações e projeções quanto ao seu

alcance e ao seu êxito por parte de vários segmentos da sociedade, seja no âmbito dos

negócios, no âmbito educativo, acadêmico, político e no discurso da imprensa, que ora se

mostra favorável, ora contrária a essa nova situação, mas raramente indiferente.

Especificamente com relação ao Espanhol, espera-se que, ao longo desta proposta,

transpareçam, necessariamente, os conceitos de língua, de cultura e das formas de trabalhá-

las; o papel educativo que pode ou deve ter o ensino de línguas, em especial do Espanhol, na

formação do estudante, em termos de inclusão social e étnica, na constituição de sua

cidadania; os desafios que se impõem, numa sociedade globalizada, informatizada, em que as

próprias fronteiras, em que as tradicionais formas de manifestação da linguagem, antes

tratadas no ensino de línguas como as quatro habilidades – compreensão escrita, compreensão

oral, expressão escrita e expressão oral, se interpenetrem e diluam.

As orientações curriculares procuram proporcionar reflexões de caráter teórico-prático

que levam a compreender um pouco mais os conflitos inerentes à educação, ao ato de ensinar,

à cultura que consolida a profissão de professor, ao aprendizado de línguas estrangeiras e à

construção de mundo.

Trata-se de uma reflexão que inclui indicadores, cuja finalidade é nortear o ensino de

língua estrangeira, nesse caso o Espanhol, dar-lhe um sentido que supere o caráter veicular,

dar-lhe um peso no processo educativo global desses educandos, expondo-os à alteridade, à

diversidade, à heterogeneidade. Por isso mesmo, devem ser os docentes e demais responsáveis

pelo processo educativo, de cada situação específica de ensino e de acordo com as propostas

pedagógicas de cada instituição escolar, os responsáveis, como fruto de uma decisão coletiva,

pela determinação dos conteúdos e propostas aqui formuladas.

Além dos PCNs e sua relação com o ensino, torna-se fundamental fazer referência ao

papel do livro didático, pois ele coordena, em grande parte, o andamento das aulas de língua

espanhola. Alguns estudos buscaram compreender o papel que o livro didático desempenha na

sala de aula (Coracini, 2000; Freitag, 1997; Souza, 1999; Carmagnani, 1999). Com base

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nestes autores, sua atuação engloba aspectos de promotor da interação ou de ditar o que vai

ser trabalhado em sala de aula.

Embora o mercado editorial tenha se ampliado, ainda faltam livros de qualidade que

contemplem aspectos de uma teoria de linguagem e de aprendizagem dialógica, ofereçam

insumos interessantes, considerem o nível de proficiência dos aprendizes e propiciem

atividades que desenvolvam a competência comunicativa (LEMKE, 2004, p. 41).

Outro fator a ser avaliado refere-se à utilização do livro didático por parte do

professor. Considerando-se a realidade das salas de aula, de escolas públicas no país, uma

série de fatores podem ser elencados, no entanto, dois se salientam: muitas turmas destinadas

a um só professor e pouco tempo para o preparo de atividades. Em decorrência, o livro surge

como um “salva-vidas”, pois oferece, pelo menos numa análise superficial, alguns benefícios:

o conteúdo já está pronto e programado; alguns já vêm acompanhados de recursos auditivos e

visuais e o livro do professor apresenta sugestões sobre como desenvolver as atividades

propostas pelo livro didático. Assim, o planejamento das aulas e a preparação das atividades

são determinados pelo livro didático, bastando ao professor executar as ações propostas pelo

material, e, como aponta Bohn (2001, p. 21), “ao estudante cabe o papel de aprender estes

conteúdos e aplicá-los em sua vida prática”.

É neste contexto que surgem as insatisfações tanto por parte dos alunos quanto por

parte dos professores sobre o trabalho com a língua estrangeira em sala de aula. A insatisfação

dos alunos se dá a partir de atividades repetitivas, aulas centradas em desenvolvimento de

itens gramaticais ou lexicais, sendo trabalhadas sem considerar o contexto em que esses

podem ser usados e, em consequência disso, surgem as reclamações por parte dos professores

em termos de falta de motivação, pouca participação, indisciplina, entre outros fatores.

Conforme Coracini (2000), o papel do livro didático é carregado de autoridade, de

[...] atividades e procedimentos que supõem um professor despreparado para exercer a profissão, incapaz de, sozinho, construir atividades, decidir o que e como ensinar, um professor reprodutor de conteúdos, despolitizado e ideologicamente neutro, mero executor de tarefas, despreparado até mesmo para aquelas que pretende ou precisa ensinar (p. 155).

De forma simbólica, o livro didático é portador de uma série de ideias dominantes,

concepções de ensino e aprendizagem que devem corresponder às expectativas de uma

sociedade, a qual não deseja mudança nos papéis desempenhados por um ou outro.

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Para que ocorram mudanças no paradigma atual, tendo em vista esses fatores em

termos de transmissão de conhecimentos, ideologias, crenças e papéis desempenhados por

professores e alunos, atravessados pelo discurso do livro didático, é mister, como afirma Bohn

(2001), rever o próprio conceito de conhecimento, compreendendo-o como um processo de

construção social, em que os sentidos estejam sempre articulados num processo dialógico,

permeado pela negociação. Logo, nesse processo de construção, ocorrem atividades

contextualizadas que propiciam o diálogo e o compartilhar de informações e experiências, as

quais possibilitam o uso significativo da linguagem em termos de produção e compreensão

oral e escrita, o que efetivará o processo de conhecimento na língua estrangeira que se estuda.

O ensino estrutural, baseado apenas na repetição de estruturas, no conhecimento léxico

e de outros procedimentos metodológicos dessa postura teórica, desvinculará o papel criativo

e crítico que o sujeito possa exercer no seu processo de aprendizado. Por outro lado, uma

proposta dialógica que conjugue o estudo da língua, a negociação dos sentidos e a construção

do conhecimento utilizará toda a capacidade cognitiva do aluno, de acordo com suas

experiências, na construção de novos conhecimentos que surgem da interação entre todos os

envolvidos nesse processo.

Em vista desses aspectos, o ensino de língua estrangeira em todo o contexto escolar

deve ser repensado, a fim de que se promovam as alterações necessárias, e a tarefa de ensinar

e aprender um outro idioma seja um trabalho prazeroso, tanto para o professor quanto para o

aluno. Mudar a realidade escolar no que tange ao ensino de uma língua estrangeira,

principalmente na escola pública, é um processo complexo; no entanto, várias alternativas

estão sendo apresentadas e muitas efetivadas. Pode-se acompanhá-las nas publicações de

Almeida Filho (1999), Hammes e Vetromille-Castro (2001), entre outros.

Assim, para a efetivação de uma proposta orientada para a construção do

conhecimento, o currículo escolar como base para todo o processo de aprendizagem

(Vasconcellos, 2002) deve ser concebido como parte da prática social, conforme propõe a

teoria dialógica. Isso engloba o desenvolvimento de habilidades linguísticas que propiciam ao

aluno o uso efetivo da língua em situações de interação social.

Desse modo, os estudos desenvolvidos na atualidade sobre a prática docente tem como

princípio básico favorecer e traçar estratégias para um trabalho mais eficiente em sala de aula.

Geralmente, esses estudos priorizam essencialmente duas questões: a abordagem utilizada

pelo professor em sala de aula e os processos interacionais decorrentes da atuação do

professor e do aluno nesse contexto, conforme Almeida Filho (1999). Esses dois temas é que

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entrarão em conflito nas concepções de linguagem e de aprendizagem subjacentes à prática do

professor.

Pensando, então, na questão social, Canale e Swain (apud CANALE, 1995) criaram

um marco teórico que servisse de suporte para futuras proposições de enfoques de ensino de

língua estrangeira. Propuseram o uso de uma linguagem autêntica, que valorizasse a

criatividade e o propósito ou relevância de uso desta. Ancorando-se em conceitos de

conhecimento e habilidade para uso da língua, os autores citados redefiniram a noção das

competências:

- Competência gramatical: Está relacionada com o domínio do código linguístico

(verbal ou não-verbal). Contempla as características e as regras das línguas, como

vocabulário, formação de palavras e frases, pronúncia, ortografia e semântica;

- Competência sociolinguística: é caracterizada pelo componente de regras

socioculturais de uso da língua. Ela se ocupa em saber em que medida as expressões são

produzidas e entendidas num determinado ambiente sociolinguístico, incluindo-se os fatores

contextuais, como o propósito da interação, a situação dos participantes, as normas e as

convenções da interação, entre outros;

- Competência discursiva: diz respeito aos aspectos de coesão e de coerência textuais,

relacionando-os com o modo de combinação das formas gramaticais e significados para

produzirem um texto oral ou escrito em diferentes gêneros;

- Competência estratégica: relaciona-se ao uso de estratégias verbais e não-verbais

usadas para compensar falhas na comunicação, com o intuito de favorecer a sua efetividade.

De acordo com Canale (1995), esses componentes podem ser trabalhados e analisados

separadamente, por áreas de competência, no entanto, inter-relacionam-se diretamente. Não se

pode priorizar unicamente os aspectos de produção e compreensão escrita, mas também a

capacidade de falar e compreender textos orais vinculados ao contexto de uso.

3.5 A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

A aprendizagem de uma língua estrangeira é influenciada por uma série de variáveis,

dentre as quais pode-se citar: quanto ao ensino: o currículo, a metodologia, os recursos usados

e a avaliação da aprendizagem; em relação ao aprendiz: a sua motivação, o seu estilo

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cognitivo, o seu conhecimento de mundo, as suas crenças, o seu conhecimento da língua e os

seus valores; sobre o contexto: o meio sociocultural, as tensões em sala de aula, as

oportunidades de aprendizagem, as oportunidades de comunicação e de exercício da

competência, entre outros (Bohn, 2001). Tais requisitos fazem da tarefa de ensinar uma língua

estrangeira uma atividade complexa, tornando-se difícil para o professor “administrar” essa

quantidade de fatores envolvidos no processo de aprendizagem da língua.

Considerando-se a língua como produzida em espaços interacionais, mostra-se

fundamental discutir alguns aspectos que colaboram para que o processo de construção do

conhecimento da língua estrangeira seja facilitado, observando-se a realidade em que se insere

este estudo: a prática pedagógica dos professores de língua espanhola na educação básica das

redes estadual, municipal e particular.

Sobre o aprendizado de uma língua estrangeira, Vasconcellos (2002) afirma que o

mesmo dar-se-á a partir do momento em que o aprendiz estiver “mobilizado”. Essa

mobilização é ativada por um processo de sensibilização para o aprendizado, desenvolvendo

uma atitude favorável para o aprendizado da língua estrangeira.

Um segundo aspecto diz respeito ao “propósito”. Assim como os PCNs declaram esse

componente como crucial para o ensino de uma língua estrangeira, Vasconcellos (2002)

também considera-o fundamental para o processo de aprendizagem. Neste sentido, a escolha

da língua a ser ensinada deve estar bem ancorada, considerando-se, para isso, os fatores sócio-

históricos que essa língua representa para a região, município ou escola em questão, como

também os objetivos relacionados às atividades e tarefas sugeridas devem estar bem

justificados. Dessa forma, entende-se que é o propósito que vai dar sentido às aulas e irá

nortear todo o trabalho compreendido pelo estudo sistêmico da língua.

Outro fator é a “interação”. O professor deve ter um cuidado especial com relação aos

seus alunos, na medida em que verifica a participação plena de cada um, buscando o

envolvimento de todos no processo de aprendizado, e fazendo com que se sintam

responsáveis, num ambiente de trabalho colaborativo, ajudando na construção social do

conhecimento.

Contudo, a maioria dos processos interacionais ocorre de forma assimétrica, conforme

Moita Lopes (1996), o qual infere que o modelo clássico de interagir consiste em “iniciação,

resposta e avaliação”, ou seja, cabe ao professor fazer perguntas para as quais, na maioria das

vezes, já tem resposta; em seguida, a avaliação também se centra na figura do professor na

medida em que aceita ou refuta a atuação do aluno.

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É de expressivo destaque para a construção do conhecimento, incentivar o uso de

“estratégias de aprendizagem” pelos alunos, pois elas possibilitam e facilitam o processo de

aprendizado da língua estrangeira, propiciando aos aprendizes condições de tornarem-se

autônomos no processo de construção de competência, numa língua diferente da sua. Sendo

assim, a construção de conhecimento na língua pode ser incrementada se o professor, como

orientador de todo o processo, valorizar os aspectos motivadores, interacionais, contextuais e

de conhecimento prévio.

Crandall (2000) propõe o “ensino colaborativo”. Para a autora, esse tipo de estratégia

tem contribuído de forma positiva para desenvolver o conhecimento e as habilidades

linguísticas em sala de aula. E, afirma que os trabalhos em pequenos grupos podem

proporcionar experiências significativas de aprendizagem. Essa participação ativa do aluno

em todo o processo desencadeia oportunidades relevantes, posto que o aprendiz tende a

produzir mais na língua estrangeira que estuda, tanto em níveis de expansão como de

compreensão oral e escrita, além de desenvolver o pensamento crítico.

Segundo a mesma, ocorre a descentralização do papel do professor e os alunos acabam

assumindo a responsabilidade de sua aprendizagem.

No entanto, acredita-se que uma postura dinâmica do uso da língua possibilita o uso

global da linguagem, e não o desenvolvimento das habilidades isoladas que mostram somente

uma face do processo.

Assim, a reflexão sobre essas questões mostra-se relevante, uma vez que a prática

docente na sala de aula só poderá ser implementada a partir da discussão e da compreensão do

verdadeiro papel que o estudo da língua estrangeira desempenha na escola e o que quer

alcançar através dela.

3.6 APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESPANHOLA

Para a aprendizagem do espanhol, é necessário mais do que o conhecimento

linguístico. Sabe-se que estudar um idioma não se limita apenas à pura análise das relações

entre signos, através da fonologia, morfologia e sintaxe, ou às relações dos signos com a

concepção de realidade que representam, através da semântica, é necessário compreender a

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análise das relações entre os signos e seus usuários e o contexto envolvido, fator pretendido

pela pragmática.

Os problemas relacionados ao processo de ensino e aprendizagem não são típicos das

disciplinas ditas “essenciais”. Quanto à língua estrangeira, no caso em análise, o espanhol, há

vários motivos que dificultam sua aplicação efetiva na educação básica. O primeiro refere-se

à quantidade menor de horas destinadas às aulas: no Ensino Fundamental são duas horas e no

Ensino Médio, apenas uma hora semanal. Outro fator refere-se à carência de docentes com

formação acadêmica na área, problema de todo o território brasileiro, segundo previsão do

próprio Ministério da Educação (MEC), quando divulgou a Lei nºll.161/2005. Esses fatores

somados a outros tornam-se entraves na aprendizagem do espanhol, contrariando o que

propõem as diretrizes educacionais para o ensino de língua estrangeira (BRASIL, 2006).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (2001) asseguram que não só o método

de levar o aluno a entender, falar, ler e escrever é suficiente para o aprendizado. Há que se

considerar outras competências, dentre elas saber distinguir as variantes e considerar o

conhecimento de mundo do aluno.

Ao descrever a situação atual do ensino de línguas nas escolas, o documento destaca

que, apesar do privilégio que as línguas estrangeiras detêm na sociedade, o ensino destas não

é visto como importante na formação do aluno, muito menos como um direito a ser

assegurado e, por isso, não têm lugar de destaque no currículo.

Rodrigues (2003, p. 144) destaca que muitos professores afirmam ser impossível

ensinar uma língua estrangeira em salas muito numerosas, onde alunos têm níveis de

conhecimento diferentes. Além do número excessivo de alunos, os Parâmetros Curriculares

também chamam a atenção para outras dificuldades com as quais se deparam os professores,

como a falta de materiais, a reduzida carga horária dedicada à disciplina e a ausência de ações

contínuas de formação de professores.

Apesar de a maioria das propostas de ensino de línguas situarem-se na abordagem

comunicativa do ensino, o documento do MEC destaca que os exercícios que são realizados

em sala de aula, em sua maioria, trabalham com estruturas gramaticais de forma

descontextualizada. Dourado e Obermark (2001, p. 394) afirmam que, na contramão dos

estudos e dos Parâmetros Curriculares que objetivam a formação crítica do cidadão, as

propostas dos livros didáticos favorecem a leitura de texto não para interpretar e construir

significado, mas para repetir e recuperar a informação lida.

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Uma das soluções propostas pelos PCNs para melhorar os problemas diagnosticados é

investir tanto na formação inicial quanto na continuada, vista como “contextos para a reflexão

por meio do desenvolvimento dos professores em práticas de investigação” (p. 109).

Encontram-se, de fato, no documento, recorrentes apelos aos professores para que se

envolvam em reflexões sobre sua prática em sala de aula e para que aprendam a refletir de

forma sistemática para gerar massa crítica e contribuir para o desenvolvimento da profissão.

Esta conscientização é, de fato, algo bastante complexo, mas que se acredita ser

imprescindível e inadiável. Afinal de contas, é este “olhar mais crítico possível da realidade,

que a “des-vela” para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a

manter a realidade da estrutura dominante” (Freire, 1980, p. 29) que se permitirá compreender

melhor as próprias ações e o papel do trabalho educativo.

Em dias de tão alardeado avanço tecnológico, todas as pessoas que se dizem

escolarizadas se remetem a, pelo menos, uma leitura instrumental em outro idioma para

melhor acessar possibilidades de crescimento pessoal. Para isso, diversos elementos se

conjugam, a fim de dar conta da aprendizagem de uma língua estrangeira, mas considera-se

que o “estar motivado para aprender” constitui a melhor forma de aprendizado,

independentemente da metodologia a ser utilizada.

De acordo com Gonçalves e Santos (2007), o que tem ocorrido ao longo dos anos é

que a responsabilidade sobre o papel formador do processo ensino-aprendizagem de línguas

estrangeiras tem sido retirado da escola regular e atribuído aos institutos especializados no

ensino de línguas. Assim, quando alguém quer ou tem necessidade, de fato, de aprender uma

língua estrangeira, inscreve-se em cursos extracurriculares, pois não se espera que a escola de

nível médio cumpra essa função. Neste início de novo milênio, não é possível continuar

pensando e agindo dessa forma. É imprescindível restituir ao Ensino Fundamental e Médio o

seu papel de formador. Para tanto, é preciso ressignificar, de maneira geral, a concepção de

ensino e, em particular, a concepção de ensino de língua estrangeira.

O Ensino Médio possui, também, entre suas funções, um compromisso com a

educação para o trabalho e, embora a proficiência em língua estrangeira seja, hoje, uma

necessidade básica na formação do indivíduo, o sistema de ensino fundamental e médio, tanto

público quanto particular, mostra uma flagrante incapacidade de proporcioná-la. É importante

encarar a língua estrangeira como disciplina curricular do Ensino Fundamental e Médio, em

pé de igualdade com outras já reconhecidas e tornadas obrigatórias, destacando alguns pontos

que se considera fundamentais no que se refere a essa aprendizagem (Parâmetros Curriculares

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Nacionais (PCNs), Códigos e Tecnologias, Língua Estrangeira Moderna (LEM). BRASÍLIA:

MEC, 1999. p.49-63).

O professor é parte fundamental do processo como mediador, o que faz a ponte entre o

aluno e a cultura, o conhecimento e as formas de apropriação desse conhecimento. Em

nenhuma hipótese, deve o professor valer-se desse privilégio e autoapresentar-se como o

detentor absoluto do saber, antes de criar possibilidades que apontem para uma prática

pedagógica discursiva de múltiplas formulações. Mas resta algo que poderia dizer tudo, ou

seja, o compartilhamento de ideias explodidas na prática da sala de aula, o que faz realmente a

aprendizagem acontecer.

Fórmulas podem até existir como fontes inspiradoras para cada caso, cada sala de aula.

Cabe, porém, ao professor prosseguir na leitura de textos pedagógicos e, dessa forma, extrair

as próprias bases para uma melhor qualidade de ensino/aprendizagem.

A partir do entendimento real da aprendizagem efetiva, segundo Gonçalves e Santos

(2007), surgem, como consequência, as conexões entre os objetivos e a proposta de trabalho

(metodologia, estratégias e material). Com relação à língua estrangeira, tem de ser

estabelecida a necessidade de professores competentes nas quatro habilidades (ouvir, falar, ler

e escrever). O professor tem de estar preparado, tanto para ler quanto para falar e, ainda,

escrever no idioma estrangeiro para o qual se preparou para ser instrutor. Só assim ele vai

saber conduzir um grupo à habilidade que se fizer necessária, as bases para a aprendizagem. O

mestre capaz é, por conseguinte, o responsável pelas estratégias diversas que alcançarão o

objetivo inteligentemente vislumbrado e traçado. A motivação também está alinhada, assim

como o aproveitamento de toda a bagagem do aluno.

Ideias semelhantes que ressaltam a importância do aprendizado de línguas estrangeiras

podem ser encontradas também nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1998). Um

dos principais objetivos do documento é “restaurar o papel da Língua Estrangeira na formação

educacional” (p. 19). Segundo os PCNs, o papel do aprendizado de uma língua estrangeira é

importante pela possibilidade que o aluno tem, através desse estudo, de se perceber melhor

como ser humano e cidadão, de desenvolver sua consciência crítica e de compreender as

diversas formas de viver a experiência humana. O documento também ressalta que o

aprendizado de uma língua estrangeira é um direito de todos os cidadãos e que a escola não

pode mais se omitir em relação à sua responsabilidade, enfatizando ser função da mesma, e

não dos cursos particulares, não apenas oferecer o ensino de línguas estrangeiras, mas garantir

a todos o acesso a uma “educação linguística de qualidade” (p. 21).

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CAPÍTULO 4

ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa define-se como uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio de um

questionário com perguntas abertas e fechadas aplicadas a professores das escolas estaduais,

municipais e particulares da zona rural e urbana dos municípios de Erechim, Gaurama,

Marcelino Ramos e Viadutos, do estado do Rio Grande do Sul, totalizando 14 escolas que

possuem a língua espanhola na matriz curricular e 18 professores que ministram a disciplina

de língua espanhola.

Os dados deste estudo foram analisados de acordo com as seguintes questões que

nortearam a pesquisa, a saber: a) os professores apresentam formação adequada para

instrumentalizar os alunos de tal forma que eles possam utilizar os conhecimentos

incorporados na sua vida cotidiana? b) as práticas desses professores estão direcionadas para

atender essas necessidades dos alunos? c) quais os pressupostos teórico-metodológicos

utilizados pelos professores de língua espanhola na prática educativa? d) qual a compreensão

que o professor tem sobre a sua prática pedagógica, ao ministrar aulas da língua espanhola? e)

quais os recursos utilizados pelos professores de língua espanhola para o desenvolvimento de

sua prática pedagógica?

Com base nas informações recolhidas dos professores de língua espanhola, tendo

como instrumento de pesquisa o questionário, foi possível fazer inferências e comparar dados,

sintetizando-os em três categorias de análise: Prática Pedagógica, Planejamento das aulas e

Formação para a prática, as quais foram abstraídas do próprio instrumento de pesquisa.

Apresenta-se, inicialmente, um breve perfil dos sujeitos da pesquisa em relação à faixa

etária, tempo de atuação no magistério, carga horária e a formação dos professores que

ministram as aulas de língua espanhola nas escolas municipais, estaduais e particulares.

Não são raras as vozes que apontam o insucesso do ensino de línguas estrangeiras nas

escolas públicas brasileiras e uma descrença generalizada entre pais, professores e alunos

quanto à possibilidade de aprender uma língua no sistema regular e público de ensino,

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principalmente por estas ofertarem uma aula tradicional, que não oferece espaços para

reflexão e aprendizagem.

Para Gonçalves e Santos (2007), o que tem ocorrido ao longo dos anos é que a

responsabilidade sobre o papel formador do processo ensino-aprendizagem de línguas

estrangeiras tem sido retirado da escola regular e atribuído aos institutos especializados no

ensino de línguas. Assim, quando alguém quer ou tem necessidade, de fato, de aprender uma

língua estrangeira, inscreve-se em cursos extracurriculares, pois não se espera que a escola de

nível médio cumpra essa função.

A apresentação de dados relativos às três redes de ensino teve como finalidade buscar

elementos que permitam evidenciar algum grau de diferenciação ou aproximação entre as

práticas dos professores que possam refletir na eficiência do ensino da língua espanhola.

Faixa etária Tempo de atuação no

magistério

Carga horária semanal

Municipais 29 a 39 3 a 10 anos 20 a 40h

Estaduais 28 a 45 5 a 10 anos 20 a 60h

Particulares 28 a 60 5 a 38 anos 20 a 30h

Em relação ao tempo de atuação no magistério, o mesmo varia entre 3 e 10 anos e

apenas um professor de escola particular tem 38 anos de atuação docente. Pode-se dizer que

parece haver um rejuvenescimento dos professores que ministram as aulas de língua

espanhola. Este fato pode ser justificado em função de que a maioria dos professores cursou a

graduação na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus

de Erechim e que este curso teve início, nesta instituição, no ano de 1996. Cabe também

destacar que a concentração de docentes em atividade em sala de aula até 45 anos, das escolas

municipais e estaduais pode estar relacionada a uma aposentadoria antecipada, ou ainda, a

situações de abandono da profissão.

Conforme as informações prestadas pelos professores, pode-se verificar que são os

professores das instituições particulares que possuem menor carga horária, bem como, menor

número de disciplinas para ministrar. Enquanto os professores das escolas municipais

trabalham de 20 a 50 horas/semanais, distribuídas entre as disciplinas de língua portuguesa,

língua espanhola, artes e saúde escolar; os professores estaduais trabalham de 20 a

60horas/semanais nas disciplinas de: língua portuguesa, língua espanhola, artes, literatura e

inglês e os professores das escolas particulares trabalham de 20 a 30 horas/semanais, nas

disciplinas de língua portuguesa, língua espanhola, literatura, redação e inglês.

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Há 1 professor da rede municipal e 1 professor da rede estadual que, além da língua

espanhola, também ministram aulas de artes, sem, no entanto, possuírem formação mínima

para ministrar a disciplina de artes. A justificativa é que elas fazem parte da mesma área de

conhecimento: “Linguagens”.

Neste sentido, pode-se inferir que a formação mínima para ministrar as aulas das

diferentes áreas de conhecimento presentes na matriz curricular nem sempre pode ser

cumprida, em função das deficiências do sistema educacional.

Curso de Ens. Médio Graduação

Municipais

3 Magistério

3 Preparação p/Trabalho

2 Téc. Processamento de

Dados

8 Letras(Port/esp. e resp.Literaturas)

Estaduais

1 Preparação p/Trabalho

1 Aux. Contabilidade

1 Secretariado

2 Letras (Port/esp. e resp.Literaturas)

1 Letras (Port/Literatura)

Paticulares

1 Liceu Militar

1 Normal

1 Aux. Escritório

1 Prep. p/Trabalho

2 Tec. Contabilidade

6 Letras (Port/esp. e resp. Literaturas)

1 Letras (Port/ingl. e resp.Literaturas)

Do total da amostra de professores envolvidos nesta pesquisa, apenas 4 fizeram o

curso normal (magistério) e os demais concluíram o ensino médio em áreas que pouco se

relacionam com o magistério, como preparação para o trabalho, processamento de dados e

técnico/auxiliar em contabilidade. Apenas na graduação é que optaram pelo curso de

letras/espanhol e respectivas literaturas.

Curso de Especialização

Municipais 1

1

Não tem curso de especialização

Línguas: Espanhola/Portuguesa e Inglesa

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1

1

1

3

Educação Inclusiva

Interdisciplinaridade

Interdisciplinaridade com ênfase em Língua

Espanhola

Metodologia do Ensino de Língua Espanhola

Estaduais

1

2

Leitura, análise, produção e reescritura textual

Língua Portuguesa

Particulares

1

1

1

1

1

2

Não tem curso de especialização

Curso de oficial do Estado Maior

Metodologia do Ensino de Língua Espanhola

Leitura, análise e reescritura textual

Língua Portuguesa e Gestão Escolar

Gramática no Ensino da Língua Portuguesa

Após a implantação da LDB, os documentos das instituições formadoras convergem

para uma qualificação que possa desenvolver no professor o exercício de uma cidadania ativa

e inclusiva.

Neste campo, configura-se o desafio para a construção de políticas públicas referentes

à formação e à valorização do magistério. Conhecer como esse profissional tem se constituído

professor e em que condições ele vem atuando faz-se oportuno, na medida em que se podem

subsidiar tanto os pressupostos político-pedagógicos dos cursos de formação inicial e

continuada, como também as suas estruturas e organizações curriculares.

A seguir apresenta-se uma síntese dos dados coletados tendo como recurso as

categorias de análise.

4.1 A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Nesta categoria, foram contempladas questões do questionário relacionadas aos materiais

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utilizados, fatores positivos e os que dificultam a prática pedagógica, a seleção dos conteúdos

a serem trabalhados e a descrição do desenvolvimento de uma aula de espanhol.

O uso do material didático serve como um indicador para analisar o processo de

ensino/aprendizagem que é refletido na prática pedagógica do professor. Em relação ao

material didático utilizado nas aulas, os professores responderam:

Municipais:

6 usam o livro didático apenas como

subsídio

3 não há livro didático para os alunos

Estaduais:

1 usa o livro didático apenas como

subsídio

2 usam o livro didático semanalmente

Particulares:

1 usa o livro didático apenas como

subsídio

2 usam o livro didático diariamente

4 usam semanalmente

Aproximadamente 80% dos professores das escolas estaduais e particulares

responderam que “usam o livro didático semanalmente no seu fazer pedagógico” . Neste

sentido, o livro didático, ao mesmo tempo se mostra um facilitador do processo de ensino e

aprendizado, também o limita, no sentido de que estabelece e organiza o que vai ser ensinado.

Assim, o planejamento das aulas e a preparação das atividades são determinados pelo

livro didático, bastando ao professor executar as ações propostas pelo material, e, como

aponta Bohn (2001, p. 21), “ao estudante cabe o papel de aprender estes conteúdos e aplicá-

los em sua vida prática”.

E os professores municipais apontaram que “utilizam o livro didático como um

recurso a mais a ser incorporado na prática pedagógica”, e não como um guia do processo

como um todo.

A menção dos professores municipais apontando o livro didático como um recurso a mais

a ser incorporado demonstra a utilização de materiais diversificados. Materiais de uso social

são ótimos recursos de trabalho, pois os alunos se mantêm atualizados sobre o que acontece

no mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o que é aprendido na escola e o

conhecimento extraescolar.

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É preciso que os professores estaduais e particulares estejam atentos à qualidade, à

coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos educacionais

propostos e que o livro didático não deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade

de fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhecimento.

Segundo Lemke (2004), embora o mercado editorial tenha se ampliado, ainda faltam

livros de qualidade que contemplem aspectos de uma teoria de linguagem e de aprendizagem

dialógica, ofereçam insumos interessantes, considerem o nível de proficiência dos aprendizes

e propiciem atividades que desenvolvam a competência comunicativa (LEMKE, 2004, p. 41).

Contudo, os professores das diferentes redes de ensino, em maior ou menor número,

assinalaram o uso deste semanalmente, entretanto todos fazem referência ao uso de outros

materiais didáticos.

Ainda a respeito do material didático, verifica-se o uso da internet, recursos audiovisuais,

revistas, jornais, jogos, filmes, dicionários e programas de países vizinhos.

Segundo os PCNs, todo material é fonte de informação, mas nenhum deve ser utilizado

com exclusividade. É importante haver diversidade de materiais, para que os conteúdos

possam ser tratados de maneira mais ampla possível.

Torna-se importante, no campo da aprendizagem, destacar que os docentes acreditam que

a utilização das tecnologias de informação engendrará aspectos positivos na educação. Nos

últimos anos, a informática assume um papel de relevo como agente de instrução, mesmo para

os estratos econômicos de menor renda.

Entretanto, pode-se relativizar a pequena significância atribuída ao teatro, cinema, museus

e demais centros culturais. Com efeito, estes constituem espaços de lazer e sociabilidade

razoavelmente importantes e demonstram que a prática educativa pode estar voltada não

apenas para o trabalho, mas também para a formação da pessoa no sentido mais amplo da

vida. Isso porque, se a escola é concebida como centro de formação, é esperado que as

atividades ligadas à cultura, como música, literatura, entre outras, sejam partes importantes do

processo educativo. Para isso, estimula-se um ensino que se preocupe com “uma cultura que

permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que favoreça, ao mesmo tempo,

um modo de pensar aberto e livre”, como nos dizeres de Morin (2000, p. 11).

Com vistas a um rápido diagnóstico de diversas contingências tidas como

problemáticas para o bom desempenho desses professores no dia-a-dia, apresentou-se a eles

uma lista contendo seis situações, dentre as quais deveriam apontar aquelas que, na sua

opinião, representam um empecilho a sua prática pedagógica.

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A situação que os professores das três redes de ensino mais consideram como um

problema para o exercício de suas atividades profissionais é a carência de material didático

para as aulas e para os alunos, bem como o número de horas/atividade insuficientes para

preparar as aulas, corrigir as provas, etc.

A segunda situação mais mencionada pelos professores como um fator que interfere na

prática docente é o acúmulo de trabalho e demandas inerentes à docência, as quais

repercutem no estado de saúde e consequentemente na qualidade das aulas.

A terceira é a inadequação da formação universitária frente aos desafios encontrados

na escola. Somente os professores da rede particular não se referiram a esta situação.

A heterogeneidade dos alunos ocupa, respectivamente, a quarta posição entre os

professores da rede municipal e particular. Os docentes da rede estadual não fizeram

referência a este item.

Observa-se que entre as situações mais apontadas como empecilho pelos professores

remetem ao plano do exercício de suas atividades cotidianas. A questão do tempo disponível

para o seu fazer pedagógico e a verificação dos trabalhos do aluno é, em parte, um problema

administrativo, com vastos reflexos pedagógicos.

A questão do alcance dos objetivos educacionais passa, fundamentalmente, pelos fatores

que influenciam a aprendizagem, tornando-se necessário, para a construção de estratégias e

proposições para melhorar a educação, compreender de forma apurada a percepção que deles

têm os docentes. Com tal objetivo, apresentou-se aos pesquisados uma lista com seis fatores e

solicitou-se que os numerassem de acordo com a importância atribuída por eles.

Quanto aos fatores que podem auxiliar a prática pedagógica, os professores das três

redes de ensino foram unânimes em apontar como primeiro aspecto a importância da relação

professor-aluno, o segundo aspecto é a competência do professor, em terceiro lugar destacam

o acompanhamento e apoio familiar, o que demonstra o peso que dão ao papel dos pais e/ou

responsáveis no processo educativo, seguido da gestão escolar, da infraestrutura e do nível

econômico e social da família do aluno respectivamente. Entretanto, os professores

particulares também destacaram a importância da gestão escolar para a prática pedagógica

do professor.

As menções: relação professor-aluno, competência do professor e o acompanhamento

e apoio familiar indicam que os professores atribuem um grande peso à família pela

responsabilidade do sucesso da aprendizagem dos alunos, ou seja, fatores que escapam à sua

ordem de competência. Essa opção pode ser vista como uma concepção conservadora de

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educação, que mantém a instituição escolar e o corpo docente numa posição confortável, pois

o fracasso do aluno pode ser atribuído aos alunos e às suas famílias.

Os dados desta pesquisa também fortalecem o papel da família como promotora da

aprendizagem e potencializadora dos efeitos benéficos da escola sobre o estudante, pois

quando as relações são mais positivas e compartilhadas, todos (corpo discente e docente)

tendem a se sentir mais valorizados.

Ao se analisar o fator da gestão escolar, percebe-se o quanto os professores podem

estar pouco atentos à importância desse aspecto para o sucesso da educação, visto que está em

quarto lugar, tal fato poderia ser explicado pela pouca participação que a maior parte dos

professores têm na definição das diretrizes político-pedagógicas de suas escolas.

Infraestrutura constitui o quinto fator que auxilia a prática pedagógica do professor. É

possível que a insatisfação com as condições físicas e materiais para o exercício do magistério

tragam dificuldades ao trabalho docente.

Na percepção dos professores, fica claro que os fatores interpessoais, como a relação

com os alunos e o acompanhamento da família exercem mais influência no processo de

aprendizagem do que os fatores técnicos, tais como a forma de gerenciamento da escola ou a

sua infraestrutura física.

Os professores das três redes de ensino fazem menção à variante linguística da

Espanha e da América Latina para desenvolverem a competência comunicativa nas aulas de

espanhol.

Sobre a competência comunicativa necessária para desenvolver esta habilidade durante

as aulas, os professores foram também unânimes ao responderem: “fala bastante, a maior

parte da aula é ministrada em espanhol”.

De um modo geral, esta informação demonstra que os docentes desenvolvem a

competência comunicativa nas suas aulas.

A língua é fundamentalmente um fenômeno oral, logo não é através de aulas

meramente expositivas e com uso de materiais impressos que se aprende uma língua

estrangeira, mas através dos ouvidos, em situações reais de comunicação, sendo então

necessário o convívio humano. Isso implica em dizer que a competência comunicativa dos

usuários da língua (falante, ouvinte e leitor) compreende a capacidade do usuário de empregar

adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. Contudo a competência

comunicativa implica duas outras competências: a gramatical e a textual.

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Nas respostas dadas pelos professores observa-se que apesar de afirmarem que falam

bastante durante as aulas, há respostas indicadoras de que não há uma efetiva interação

comunicativa entre professor/aluno, como: “[...] traduz explicações e exercícios do livro” .

Os dados analisados evidenciam que não há uma relação entre teoria e prática. Essa

relação se estabelece na forma como abordam a competência comunicativa. No entanto,

percebe-se que os professores não têm consciência de estarem priorizando o estudo sistêmico.

Assim, o trabalho com a língua vai tomando caminhos diferenciados, já que, como sujeitos

inconscientes, conforme sustenta Coracini (2000), não se tem controle sobre o dizer e o fazer

estabelecidos na prática pedagógica. Entre teoria e prática, porque nela se manifesta o

desconhecimento sobre a natureza da linguagem e, de certa forma, o despreparo para atuar

sob uma perspectiva que contemple o sujeito como ser histórico e a linguagem construída

através das práticas sociais.

De acordo com Vasconcellos (2002), o processo de aprendizagem deve ser concebido

como parte da prática social, conforme propõe a teoria dialógica. Isso engloba o

desenvolvimento de habilidades linguísticas que propiciem ao aprendiz o uso efetivo da

língua em situações de interação social.

O processo ensino/aprendizagem está relacionado a algumas ações pedagógicas diretas do

professor que poderão facilitar as situações de aprendizagem, bem como criar oportunidades

para que os alunos aprendam. Essas ações podem ser representadas através de sua prática

pedagógica.

As maneiras pelas quais estão sendo trabalhados os conteúdos, o uso do material didático

e as concepções de ensino/aprendizagem, podem apontar ações empregadas pelos professores

para facilitar o aprendizado do aluno.

A língua espanhola está associada ao fato de conhecer outras culturas, bem como ao

desejo de ingressar no mundo globalizado, principalmente depois do Mercosul. Pode-se

presenciar este fato na resposta dada pelos professores.

A questão do alcance dos objetivos educacionais passa, fundamentalmente, pelos fatores

que influenciam positivamente a prática pedagógica. Os aspectos positivos destacados pelos

professores ao ministrarem suas aulas foram: a aceitação e a empolgação por parte dos

alunos, a contribuição para um mundo melhor a partir do estreitamento entre as culturas dos

povos latinos, o prazer de ver o crescimento e a aprendizagem dos alunos e o fato de

vislumbrarem profissionais qualificados para o futuro.

A opção pela língua espanhola aparece também como um desejo pessoal, como se

pode perceber no que foi respondido pelos professores: “gratificante, contribuo para um

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mundo melhor, poder brincar e criar atividades pedagógicas, perceber a aprendizagem do

ensino acontecendo, o gosto e o encanto que tenho por essa língua”.

Tal escolha se justifica por ser a língua dos países limítrofes com o Brasil, pela riqueza

linguística, pela busca de novidades e pela troca de experiência.

Sobre os conceitos que os professores têm sobre a abordagem comunicativa e sua

utilização em sala de aula, foram as seguintes as informações abstraídas do questionário:

“quando os alunos são estimulados a interagir e debater os assuntos”. A segunda

opção apontada: “é aquela que dá oportunidade para todos os alunos se expressarem a partir

de situações do cotidiano em que todos, professores e alunos, participam, constroem juntos o

conhecimento através do diálogo e da pesquisa de forma espontânea”. E como terceira

opção: “é quando o professor consegue estimular o aluno a ouvir e falar a língua espanhola,

internalizando as quatro competências linguísticas (lendo, ouvindo, falando e dialogando)”.

Parece que os professores municipais, ao estabelecerem essa relação de interação entre

professor/aluno, aproximam seus conceitos sobre o papel do professor como mediador que,

por meio da linguagem, intervém e auxilia na construção e na reelaboração do conhecimento

do aluno, contribuindo para o desenvolvimento do mesmo.

Para ensinar a língua espanhola visando à formação integral do sujeito, é necessário que se

desenvolvam as quatro habilidades: ler, escrever, ouvir e falar, já que a prática não se

concentra em apenas desenvolver uma dessas habilidades, pois limita a ação do sujeito na

sociedade.

Entretanto, não se percebe o interesse por parte dos professores que participaram desta

pesquisa em saber se houve compreensão a respeito do tema tratado naquele momento, e,

ainda, por oportunizar espaços comunicativos para que os alunos pudessem utilizá-los em sala

de aula. A ênfase recai sempre sobre a estrutura da língua, e não sobre o seu uso. Uma vez

mais expressa-se uma concepção de língua com estruturas prontas; um código à disposição

para quem souber decifrá-lo. Por exemplo, para os professores estaduais: “é quando o

professor consegue estimular o aluno a ouvir e falar a língua espanhola”; municipais:

“trabalho o conteúdo lexical e gramatical através de exercícios”; particulares: “trabalho a

apostila com a leitura do professor e depois do aluno”.

Os professores informaram no questionário que desenvolvem habilidades linguísticas

que poderiam permitir ao aprendiz utilizar-se da língua para negociar e construir novos

sentidos, e ainda, participar das interações significativas na língua que está aprendendo.

“professores e alunos constroem juntos o conhecimento [...] onde os alunos interagem e

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debatem os assuntos trabalhados de forma espontânea”, “quando o aluno percebe

informações, questiona, pergunta e argumenta”.

Nesse sentido, o ensino/aprendizagem da língua espanhola é elemento mediador nessa

relação, isto é, a viabilização de capacitações contínuas e de planejamentos constitui

elementos mediadores nesse processo, pois essa relação é crucial na mudança do perfil do

ensino do espanhol nas escolas de educação básica.

Além da formação durante a graduação, os professores municipais, estaduais e

particulares fazem referência à importância da formação continuada. Esta deve estar presente

na trajetória profissional, pois, a partir de estudos de Paiva (2003), há um número

significativo de Faculdades de Letras no país, cuja formação do professor de língua

estrangeira fica a cargo de um pedagogo sem formação em língua estrangeira.

Para Paiva (2003), esse fosso que se estabelece entre as disciplinas de conteúdo e as

disciplinas pedagógicas é um dos fatores que geram a precariedade da formação dos

professores de línguas e a análise dos dados da última avaliação das condições e de

reconhecimento de cursos de Letras demonstrou que conteúdos de didática, de prática de

ensino e orientação de estágio não incluem as reflexões teóricas e as atividades práticas

necessárias para a formação docente.

Quanto às atitudes e pré-suposições sobre o ensino/aprendizagem da língua espanhola,

tanto os professores municipais, como estaduais e particulares concordam que: “o professor

deve dar ênfase a atividades que estimulem o aluno a falar e ouvir nas aulas de língua

espanhola, quando o aluno comete um erro de natureza sintática, tal fato deveria ser

encarado como parte natural da aquisição de línguas, situações simuladas da vida real

deveriam ser usadas para ensinar conversação”.

Assim, caberá a cada escola e grupo de professores selecionar e organizar conteúdos

aliados às competências e a habilidades que melhor atendam às necessidades de seus alunos,

respeitadas as diversidades individuais, as variações no ritmo de aprendizado, a bagagem

trazida pelo aluno, as opiniões em confronto, as vivências pessoais e escolares.

Uma aula motivadora e interessante (HIBARINO, 2007), seria aquela em que, além da

figura do professor, o material didático e o tema abordado fossem fatores determinantes no

bom desenvolvimento das aulas, a fim de desenvolverem atividades com habilidades

integradas mais coerentes com as realidades enfrentadas pelos alunos.

E não concordam que “alunos devam sempre fornecer respostas completas na língua

estrangeira, o professor deve exigir que as respostas na língua espanhola sejam

linguisticamente perfeitas, textos ouvidos no gravador geralmente não prendem a atenção do

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aluno e que o laboratório é um recurso indispensável para o ensino aprendizagem da língua

estrangeira”.

De acordo com a análise das respostas, destacam-se as dificuldades presentes na prática

pedagógica destes professores. Como, por exemplo, o número de horas/aulas destinadas à

preparação das aulas de língua espanhola: os professores das três redes responderam que

disponibilizam de 1 a 2 horas/aula semanais para a preparação das aulas de língua espanhola,

sendo que a carga horária semanal dos professores das escolas municipais e estaduais é de 20

a 60 horas semanais e dos professores das escolas particulares é de 20 a 30 horas semanais.

Em média, os professores trabalham 40 horas/semanais, de cada 20horas/semanais eles

dispõem de 2 horas para preparação destas aulas, sendo que a maioria destes professores

lecionam em média quatro a cinco disciplinas (português, espanhol, literatura, artes, inglês,

redação, etc), Portanto, com 2 horas/atividade para um professor que leciona mais do que uma

disciplina e para turmas diferentes, é quase impossível desenvolver um bom trabalho.

Disciplinas que leciona, além da língua espanhola:

Professores municipais: língua portuguesa e artes; saúde escolar;

Professores estaduais: língua portuguesa, inglês, literatura e artes;

Professores particulares: português, literatura, redação, inglês e geopolítica.

Isso corresponde a 30 minutos para pesquisa do conteúdo, análise e

elaboração/preparação da aula.

Os professores demonstram o desejo de reordenamento da carga horária que coloca o

ensino do espanhol em condições de igualdade com outros componentes curriculares

tradicionalmente “superiores” e detentores de um número maior de horas/aula. Também

destacam as limitações concretas existentes na rotina de suas escolas, mas, ainda assim,

reconhecem que vivem um processo em que há um envolvimento por parte de todos os

integrantes da escola e, este é um dos fatores que contribui para o desenvolvimento de sua

prática pedagógica.

Em relação à solicitação de descreverem uma de suas aulas, constataram-se resultados

semelhantes e interessantes dos docentes municipais, estaduais e particulares sobre as práticas

pedagógicas: “Mesclo as aulas com atividades diferentes, atividade motivacional sobre o

conteúdo, aspectos culturais, músicas, cartazes, retroprojetor, leitura/diálogo, compreensão

oral e escrita, trabalho o conteúdo lexical e gramatical através de exercícios, brincadeiras e

jogos”.

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Entretanto os professores estaduais diferem dos demais em destacar: “partindo do

cotidiano e vivências dos alunos e a utilização de embalagens, filmes de forma esporádica” e

os particulares ao destacarem: “traduções”.

Os PCNs expõem orientações metodológica sobre como trabalhar os diversos tipos de

conhecimento para um aprendizado eficaz, as quais compreendem o desenvolvimento da

compreensão e da expressão escrita com atividades contextualizadas, que propiciam o diálogo

e o compartilhar de informações e experiências, as quais possibilitam o uso significativo da

linguagem em termos de produção e compreensão oral e escrita, o que efetivará o processo de

conhecimento da língua estrangeira que estuda.

Neste sentido, a leitura e tradução de textos direcionados pelos professores é indicativo de

uma prática muito próxima à tradicional a qual utiliza como procedimento a

tradução/gramática.

Os docentes das três esferas referem que “fazem leitura individual e grupal, com

textos lidos por mim e depois pelos próprios alunos; atividades de fixação do conteúdo,

exercícios de compreensão, interpretação e vocabulário”.

Para Crandall (2000), os trabalhos em pequenos grupos podem proporcionar experiências

significativas de aprendizagem. Essa participação ativa do aluno desencadeia oportunidades

relevantes, posto que o aprendiz tende a produzir mais na língua estrangeira que estuda, como

na compreensão oral e escrita, além de desenvolver o pensamento crítico. Segundo a mesma,

ocorre a descentralização do papel do professor e os alunos acabam assumindo a

responsabilidade de sua aprendizagem.

No entanto, os professores municipais diferem dos demais ao destacarem: “Explico o

conteúdo, passo no quadro, [...] com brincadeiras referentes ao conteúdo”. Os professores

estaduais ao se referirem ao “a produção de diálogos”. E os professores particulares: “Depois

trabalho a apostila e tradução”.

Esses procedimentos não propiciam uma aquisição contextualizada e uma ampliação do

repertório vocabular. As Orientações Educacionais Complementares aos PCNs advertem que

o professor leve o aluno a ampliar seu vocabulário através da leitura e da exploração de textos

de diversos gêneros, apoiadas em atividades temáticas que partem de um determinado

contexto e remetam a outros, através de analogias.

A tradução feita deste jeito não vai ampliar o desenvolvimento vocabular do aluno, já que

é a partir de um conhecimento prévio que o aluno tem sobre o tema é que irá motivá-lo a

buscar novas palavras.

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A partir das respostas dos professores, observa-se que atividades de compreensão oral são

muito pouco utilizadas em sala de aula, uma vez que servem apenas como forma de

motivação e, além disso, são utilizadas esporadicamente.

Na resposta dos professores municipais fica evidente a utilização da música de

maneira esporádica, mas com uma estratégia específica, pois apresenta-se contextualizada,

interpretada e cantada, ou seja, uma atividade que visa a desenvolver sua habilidade de

compreensão oral. “Utilizo atividade motivacional sobre o conteúdo, leitura/diálogo,

compreensão oral, em seguida trabalho o conteúdo lexical e gramatical através de

exercícios, brincadeiras, jogos e oportunizo a expressão oral de cada aluno”.

Parece que os professores particulares têm um entendimento de que a abordagem

comunicativa é necessária, no entanto, os PCNs alertam para o fato de que o ensino de línguas

não se baseie em atividades que busquem o domínio do sistema formal da língua, mas sim,

em atividades que levem o aluno a usá-la, pois da forma que estão trabalhando as quatro

habilidades, acabam centrando-se nos preceitos da gramática normativa. “[...] e depois

trabalho a apostila com a leitura do professor e depois dos alunos e exercícios. Solicito

comentários, compreensão escrita, discussões do tema proposto”.

O processo de interação entre professor/aluno/texto não se configura. As ações do

aluno, enquanto sujeito do processo consistem em ouvir e ler o que a professora solicita. “[...]

partindo do cotidiano e vivencias dos alunos, com textos lidos por mim e depois pelos

próprios alunos, exercícios de compreensão, interpretação e vocabulário, produção de

diálogos, utilização de embalagens, filmes e de forma esporádica a gramática”.

De acordo com as respostas dadas pelos professores municipais, isso também não está

acontecendo, pois a professora não usa a língua falada em aula, para o desenvolvimento da

proficiência e sim, para a formulação de regras. “Inicio com uma saudação ou orações em

espanhol, depois falo em português o que será realizado, após inicio as atividades com

explicações em espanhol e português”.

Percebe-se uma conscientização por parte dos professores municipais em relação a sua

prática comunicativa em sala de aula, quando respondem fazer uso tanto da língua espanhola

quanto da língua portuguesa no decorrer das aulas, para operar em situações do uso da língua

alvo, no caso, a língua espanhola. “[...] depois falo em português o que será realizado, após

inicio as atividades com explicações em espanhol e português, também procuro manter a

conversa em espanhol no decorrer da aula”.

Já com os professores particulares ocorre uma discussão que proporciona a troca entre

aluno/aluno, professor/aluno, mediados pelo texto. “Solicito comentários, compreensão

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escrita, discussões do tema proposto. [...] Sempre desenvolvo leitura e oralidade do assunto

trabalhado. Leitura, tradução, vocabulário, visualização de figuras, conversação, etc”.

Para os professores estaduais, o uso da língua refere-se ao saber se comunicar de maneira

adequada, em diferentes contextos da vida cotidiana.

Para tanto, envolve interação num contexto que seja natural e uma linguagem autêntica

entre os interlocutores. “Partindo do cotidiano e vivências dos alunos, com textos lidos por

mim e depois pelos próprios alunos, exercícios de compreensão, interpretação e vocabulário,

produção de diálogos[...]”.

Continuando a análise em relação à habilidade de falar, a presença de referenciais como o

diálogo, o treino, a repetição e a leitura em voz alta, como técnicas que ajudam a desenvolver

a fala, refletem uma concepção de ensino/aprendizagem behaviorista, caracterizada na

aquisição de hábitos linguísticos com ênfase nos exercícios de repetição.

Em relação à habilidade de ler, também é comum a utilização de técnicas em que o texto é

utilizado como pretexto para explorar a gramática, focalizando a leitura e a concepção

tradicional, uma vez que os exercícios de leitura e compreensão são usados para desenvolver a

pronúncia, entonação, por meio da leitura em voz alta, como se pode comprovar através das

respostas do questionário:

“Explico o conteúdo, passo no quadro, fazem leitura individual e grupal. Passo para

as atividades de fixação do conteúdo e encerro com brincadeiras referentes ao conteúdo.

Trabalho um texto relacionado ao conteúdo a ser desenvolvido, após leitura e interpretação,

explicação do conteúdo e exercícios de atividade”.

Está claro que, no decorrer das aulas destes professores, ocorre uma certa diversidade de

atividades que se conjugam num fazer pedagógico, em que, algumas vezes, baseia-se na

forma tradicional e em outros momentos na forma sociointeracional.

Os professores particulares demonstram a intenção de preparar os alunos para o

mercado de trabalho, quando escrevem: “[...] vislumbrar profissionais qualificados para o

futuro. Por ser a língua dos países limítrofes ao Brasil, a riqueza linguística e literária dessa

língua”.

Isso possibilitará interagir com outras culturas, através da sua maneira de pensar e agir,

bem como sua inclusão como cidadão, num mundo globalizado. Já nos dizia Paiva (2003),

que a aprendizagem de uma língua estrangeira é necessária como instrumento de

compreensão do mundo, de inclusão social e de valorização pessoal.

Quanto ao trabalho desenvolvido pelos professores das três redes de ensino, fica claro que

a prática da habilidade da escrita destes professores é pautada num certo tradicionalismo,

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quando é denunciada por certos procedimentos didáticos, como aulas ministradas em

português, pouco uso da língua oral em situações de comunicação real, cópias de textos,

exercícios de gramática e tradução, com enfoque na leitura. O ensino é feito com ênfase em

exercícios gramaticais, havendo pouco espaço para o desenvolvimento de outras habilidades

da língua.

Observa-se que esse conhecimento profissional é feito através de aplicação de regras, isto

é, o papel dos professores é de comunicar, demonstrar a aplicação de regras e operações ao

aprendiz, ao invés de proporcionar-lhe a oportunidade de aprender a refletir sobre os

questionamentos que vão além das regras expostas.

Neste sentido, indaga-se por que os professores continuam a usar ações pedagógicas de

acordo com o método tradicional? É em função da acomodação, por medo da mudança, de

não buscarem aprimoramento ou de falta de formação/capacitação?

Quanto ao que foi mais importante para o desenvolvimento de sua prática docente, a

“leitura, textos de interpretação/compreensão/oralidade” aparece como a mais apontada em

todas as categorias. E posteriormente destacam “a prática escrita, o conhecimento sobre a

cultura, gravações e oralidade, pesquisa, gramática, música, filmes e brincadeiras”.

De acordo com as respostas dadas sobre a forma como selecionam os conteúdos a serem

trabalhados, pode-se inferir que os PCNs pouco são utilizados e referenciados pelos

professores, na sua prática pedagógica ou para o desenvolvimento da oralidade nas suas aulas.

No entanto, os PCNs trazem novos enfoques teórico-metodológicos para ensinar e

aprender a língua estrangeira e propõem uma prática reflexiva, que possibilita mudança nas

práticas dos profissionais interessados.

É fundamental que o professor de língua espanhola tenha conhecimento, tanto das

questões teóricas sobre aprendizagem da língua, como das questões metodológicas e

pedagógicas, a partir dos PCNs.

Geralmente, na maioria das salas de aula de língua estrangeira, tanto na escola pública

como privada, é o livro didático que direciona todo o processo de aprendizagem. Através dele

tem-se atividades sequenciadas, visto que o professor limita-se ao que está proposto em cada

unidade, as quais descaracterizam o processo de aprendizado vinculado às necessidades dos

alunos. Priorizam-se, sim, a aprendizagem de estruturas, regras e o cumprimento exato de

todas as tarefas nele contidas, o que supõe uma abordagem tradicional. Os professores

municipais citam o livro didático apenas como subsídio para a organização de sua prática

pedagógica, assegurando assim a qualidade do ensino, o que leva a perceber uma abordagem

mais sociointeracional, centrada na aprendizagem do que no ensino.

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No entanto, os professores estaduais e particulares também fazem referência à utilização

da internet, revistas, jornais, etc; com o objetivo de capacitar o aluno para o uso da língua com

fins de comunicação e interação, em situações do dia-a-dia, ou seja, propondo uma

abordagem comunicativa dos conteúdos gramaticais, assegurando, assim, a qualidade do

ensino de línguas, embora a desconheçam em sua totalidade, dando ênfase às atividades do

livro.

Pode-se justificar o uso do livro didático como centralizador da prática pedagógica dos

professores, pelo motivo que eles citam, a carência de material didático para as aulas e para os

alunos, pelo acúmulo de trabalho inerente à prática docente e ao número reduzido de

horas/atividade, bem como a inadequação da formação universitária.

Os professores das três redes de ensino destacam a importância para desenvolver um bom

trabalho docente a competência dos professores, o acompanhamento familiar e a gestão

escolar. Pode-se entender que é no processo interacional destes elementos que haverá um

ambiente propício para a aprendizagem.

Comprovam-se, também, momentos de interatividade, pois todos os professores assinalam

que fazem uso de atividades interacionais, em todas as suas aulas, para que haja o

desenvolvimento da competência comunicativa, bem como da textual e da gramatical,

associadas ao fato de conhecer outra cultura e de ingresso no mundo globalizado, pela riqueza

linguística e pela troca de experiência, pela relação de interação entre professor/aluno, o

professor como mediador que intervém e auxilia na construção do conhecimento, visando à

formação integral do sujeito no desenvolvimento das quatro habilidades (ler, escrever, ouvir e

falar).

Os professores das três redes de ensino demonstram ter uma competência comunicativa

necessária para a abordagem comunicativa, essa competência implícita ou básica, necessária

para operar em situações de uso da língua-alvo, quer dizer, estariam em condições de ensinar

num sentido básico.

Contudo, percebe-se que a leitura, a tradução de textos e o estudo do vocabulário

direcionado compreendem o desenvolvimento de práticas próximas à tradicional, as quais se

utilizam a abordagem tradução/gramática, que acaba se centrando nos preceitos da gramática

normativa. Não ocorre uma discussão que proporciona a troca de experiência, o que reflete

uma concepção behaviorista, que é caracterizada pela aquisição de hábitos lingüísticos com

ênfase nos exercícios de repetição.

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Acredita-se que os professores estão preocupados em melhorar sua prática pedagógica,

mas ainda está muito presente a abordagem tradicional, enquanto o seu embasamento teórico

já condiz com uma abordagem sociointeracionista.

Isso também se deve a poucos professores fazerem menção aos PCNs, pois estes propõem

uma mudança de enfoque em relação aos conteúdos, ou seja, um ensino em que o conteúdo

seja visto como meio para que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitem

produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econômicos, com a intenção de levar a uma

prática reflexiva. Por isso, é fundamental que o professor de língua estrangeira tenha

conhecimento tanto das questões teóricas sobre aprendizagem da língua, como das questões

metodológicas e pedagógicas.

Para Assmann (1998, p.26) “a educação terá um papel determinante na criação da

sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade”.

A qualidade da atuação da escola depende da participação conjunta dos profissionais para

tomada de decisões sobre aspectos da prática didática, bem como da sua execução. Essas

decisões serão necessariamente diferenciadas de escola para escola, pois dependem do

ambiente local e da formação dos professores.

É necessário que os profissionais da educação estejam comprometidos, disponham de

tempo e de recursos e estabeleçam estratégias didáticas adequadas. Mesmo em condições

adequadas de recursos, dificuldades e limitações sempre estarão presentes, pois na escola

manifestam-se os conflitos existentes na sociedade.

A qualidade da intervenção do professor sobre o aluno ou grupo de alunos, os materiais

didáticos, horários, espaço, organização e estrutura das classes, a seleção de conteúdos e a

proposição de atividades concorrem para que o caminho seja percorrido com sucesso.

4.2 PLANEJAMENTO DAS AULAS

Toda e qualquer atividade a ser desenvolvida, seja teórica ou prática, requer

procedimentos adequados. Todo o planejamento de uma aula envolve um conjunto de

competências e habilidades de alunos, professores e outros profissionais da escola, articulados

para um determinado fim.

O planejamento das aulas pressupõe objetivos claros e planejamento cuidadoso quanto à

seleção de competências, conteúdos e estratégias que melhor atendam às necessidades dos

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alunos diante de situações-desafio. As oportunidades de exercitar isto têm que ser oferecida

por nós. Para tanto, necessário se faz realizar um trabalho pedagógico consciente e

organizado, bem planejado e discutido com os alunos, visando o desenvolvimento integral

destes. Tudo isso implica uma boa dose de planejamento e flexibilidade por parte dos

professores envolvidos.

O fato de alguns professores não prepararem melhor suas aulas deve-se, em geral, a má

remuneração do professorado, que para manter-se economicamente, precisa trabalhar em

todos os turnos, em vários colégios. Não lhes sobra tempo, assim, de preparar devidamente o

seu trabalho pedagógico.

Quanto ao planejamento das aulas, o que envolve também a seleção dos conteúdos, os

professores das três redes selecionaram os conteúdos a serem trabalhados de acordo com a

“análise do contexto em que os alunos estão inseridos; da necessidade do decorrer das

aulas; de acordo com os planos de ensino; de acordo com os PCNs; com o que acham

necessário desenvolver, com o solicitado pelos alunos e pelo que é solicitado pela gestão

escolar”. De acordo com os dados recolhidos do questionário, os professores responderam

que constroem sua prática pedagógica a partir da: “análise do contexto em que os alunos

estão inserido e da necessidade do decorrer das aulas”.

Se isso realmente ocorre no planejamento das aulas, pode-se pressupor que esse ensino

reflete uma prática que possibilita a interação do conhecimento teórico com o conhecimento

prático, enquanto novas formas de pensamento e de agir.

Portanto, parece que algumas vezes a escolha do conteúdo é feita partindo do interesse do

aluno ou do seu contexto social, ou seja, o que os professores acham necessário ensinar a

partir dessas necessidades. Outras vezes, a função pedagógica é centrada em tópicos

gramaticais e no grau de dificuldade que os alunos apresentam. Pode-se dizer, pelas

informações contidas no questionário, que os professores até tentam inovar no seu fazer

pedagógico, mas o que ainda predomina é uma abordagem tradicional, pois os procedimentos

didáticos, em vários momentos são fracionados.

Os professores também manifestaram valorizar o planejamento como balizador de

suas práticas, sendo importante para organizar seu trabalho. Tanto os professores municipais,

como os estaduais e particulares concordam que o planejamento é “muito importante para a

prática pedagógica”.

Para responder a pergunta da pesquisa sobre a prática pedagógica dos professores de

língua espanhola, procurou-se analisar o conhecimento teórico que os professores têm sobre

os PCNs - Língua Espanhola, pois eles foram elaborados para nortearem o ensino

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fundamental e médio e, também, procuram contribuir na melhoria da qualidade de ensino. Os

professores não tiveram oportunidade de participar de programas de capacitação para a

implementação de novas propostas de currículo para o ensino da língua espanhola.

Mediante esses fatos, parecem existir falhas na sua implementação e no processo de

comunicação entre as Secretarias de Educação, na preparação prévia (planejamento) e

acompanhamento (consistência). O papel de estímulo e apoio à reflexão sobre a prática diária

e o planejamento de aulas, conforme apresentado pelas professoras, fica à deriva, ou seja, os

objetivos dos Parâmetros tomam outro curso, em virtude da falta de comunicação, de

planejamento e da aplicabilidade dessa proposta.

As afirmações dos professores revelam que o processo de apreensão do conteúdo, nos

PCNs, ainda está no início, ou seja, só serviu para levar os professores a refletirem e que essa

reflexão ainda não está servindo como embasamento teórico para a prática pedagógica destes

professores.

Os professores têm consciência da importância de se planejar as aulas, quando respondem

que “é muito importante para a prática-pedagógica”, o que remete a inferir que o

planejamento destes professores não é feito de forma interativa, consciente, assegurando

assim, a qualidade do ensino.

Contudo há uma diferença significativa em relação às horas-atividade previstas para a

preparação das aulas. Enquanto os professores da rede municipal e estadual têm de 3 a 4 horas

semanais, a rede particular prevê 1 período para cada aula ministrada. Também ocorre uma

diferença entre os professores das escolas estaduais e particulares, pois estes planejam suas

aulas individualmente e de forma esporádica com os professores de língua espanhola ou da

mesma área de conhecimento: “Individualmente, com professores de língua espanhola e

também com professores da mesma área”. E os professores municipais responderam que

planejam suas aulas de forma individual e com o acompanhamento da coordenação.

“individualmente e com a coordenação pedagógica”.

Assim, caberá a cada escola e grupo de professores selecionar e organizar conteúdos

aliados às competências e às habilidades que melhor atendam às necessidades de seus alunos,

respeitadas as diversidades individuais, as variações no ritmo de aprendizado, a bagagem

trazida pelo aluno, às vivências pessoais e escolares.

Nosso empenho como docentes deve ser o de reduzir as lacunas intrínsecas da

fragmentação das disciplinas, aproximando conceitos e competências afins, de maneira a

permitir que o aluno construa conceitos e desenvolva competências e habilidades como um

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conjunto integrado de conhecimentos e saberes que podem articular-se num todo coerente e

constituído segundo objetivos específicos.

Nas escolas municipais e estaduais ocorre uma intensificação do trabalho docente que se

justifica, para muitos deles, no abandono de leituras e registros sistemáticos das aulas. Esses

dois movimentos que são apoios importantes para a constituição de suas práticas pedagógicas

tendem a se diluir na trajetória docente.

De qualquer modo, existe hoje uma valorização do trabalho coletivo, mesmo por parte dos

professores que consideram que suas escolas ainda têm uma longa trajetória nesse sentido. O

fazer isolado vem perdendo espaço para um fazer junto, talvez seja o caminho para que uma

nova concepção de autonomia possa decorrer desse movimento, em direção ao trabalho mais

comprometido coletivamente. Neste sentido, começa a se configurar um núcleo de professores

que buscam superar a troca de experiências e queixas por uma discussão mais fundamentada,

voltada para ações que possam conduzir à superação das dificuldades existentes e qualificar

suas práticas.

Sem as capacitações, encontros, apoio pedagógico que os professores desejam, quer dizer,

sem um investimento sério e longo, não se irá obter um profissional que se deseja: reflexivo e

comprometido com a educação (LEFFA, 2001).

É indiscutível a importância das horas-atividade na jornada de trabalho dos docentes para

o acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica da escola, além disso, para a

integração dos professores entre si e deles com a comunidade escolar, faz-se necessário esse

tempo extraclasse, no qual poderão ser realizadas reuniões com pais, sessões de estudo e

principalmente reuniões de planejamento coletivo.

Para um ensino de qualidade, toda aula pressupõe planejamento e avaliação, o que exige

do professor um tempo individual ou coletivo remunerado, incluído na jornada de trabalho.

4.3 FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA

A preocupação com a formação do professor em relação à sua prática é relevante, pois ao

concentrar-se na capacidade linguística dos acadêmicos pode-se encontrar diferentes níveis de

conhecimento linguístico, que precisam ser “lapidados” pela prática pedagógica.

Administrar a sua própria formação, esta talvez seja a mais necessária e importante das

competências a serem desenvolvidas pelos docentes. Saber administrar a formação para a

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prática é mais do que simplesmente fazer cursos.

O sucesso da formação para a prática depende de recursos, tempo, estatutos, orientações e

do estabelecimento de prioridades. Depende, enfim, de uma elaboração cooperativa, que

requer uma discussão compartilhada sobre a formação para a prática, de modo a evitar

“decidir na incerteza e agir na urgência”, síntese feita por Perrenoud (1999) sobre a situação

em que o professor exerce seu ofício hoje.

Nesta categoria, os professores municipais, estaduais e particulares destacam que os

conhecimentos acadêmicos que adquiriram durante a graduação não foram suficientes ou

contribuíram apenas em parte para o ensino da língua espanhola e acrescentam o que mais

contribui para a prática pedagógica, dizendo: “Adquirimos um bom embasamento teórico na

universidade, mas para a sala de aula não existe uma receita pronta, porque ao entrarmos

em uma sala de aula nos deparamos com uma outra realidade, onde nem sempre

conseguimos por em prática a teoria que aprendemos na universidade. Estes conhecimentos

foram importantes, porém, não suficientes, tive que estudar muito, pesquisar e planejar e

somente com a prática e com a realidade de cada escola é que as habilidades didático-

metodológicas surgem e são transformadas e pesquisadas de acordo com cada situação”.

Para suprir falhas porventura advindas de seu curso de graduação, o docente deve buscar

aprimorar seus conhecimentos específicos, bem como atualizar-se em relação aos novos

padrões didáticos e metodológicos.

Nesse sentido, o enfoque do ensino da gramática, na formação, é um dos aspectos

responsáveis pelo uso exagerado da gramática que se encontra nas práticas pedagógicas dos

professores particulares que se justificam a partir da seguinte afirmação: “Na graduação

aprendemos bastante, os professores tem conteúdos a cumprir e o número de aulas não

permite exemplos concretos. Não temos muita base na universidade, busquei muito mais

depois de terminar a faculdade. A teoria não corresponde exatamente à prática”.

E mesmo que nossas aulas não devam centrar-se exclusivamente no domínio gramatical e

metalinguístico, precisamos do idioma que ensinamos. Além de conhecer e estudar os

fundamentos teóricos da disciplina, o professor também precisa conhecer os aspectos

linguísticos referentes à fonologia, à literatura e às características culturais dos países em que

o idioma é falado.

Também destacam que o mais importante para adquirirem as habilidades didático-

metodológicas para o ensino do espanhol deu-se “através da teoria, da prática e da

construção/reelaboração de sua prática”.

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É de se afirmar que exista uma multiplicidade de papéis atribuídos aos professores, que

precisam ser conhecidos e compreendidos, para que se elaborem estratégias para a formação e

a qualificação profissional. Assim, com o intuito de conhecer melhor as características que o

professor deve ter, o questionário apresentou aos sujeitos desta pesquisa três definições

básicas:

A) O professor é, antes de tudo, um transmissor de conhecimento.

B) O professor é, sobretudo, um facilitador de aprendizagem dos alunos.

C) O professor é um detentor do conteúdo.

Foi unânime a preferência pela segunda definição: “O professor é, sobretudo, um

facilitador de aprendizagem dos alunos”. Este enunciado reflete as concepções afetas ao

professor como mediador do processo de aquisição do conhecimento, surgidas na segunda

metade do século XX, segundo as quais a função do professor é, essencialmente, a de criar

condições para que a aprendizagem se concretize.

Paralelamente às iniciativas institucionais, é tarefa pessoal de cada educador procurar

informar-se e atualizar-se por meio de leituras, assim como de discussões e reflexão com a

equipe de sua escola, incluindo docentes da própria disciplina e da área.

O primeiro e o terceiro enunciados podem estar relacionados a uma visão “bancária”,

termo utilizado por Paulo Freire para traduzir uma postura educacional onde o conhecimento

se acumula em um processo onde o professor e o aluno têm papel secundário, o que implicaria

estarem os conteúdos previamente esboçados, os objetivos definido e o comportamento dos

alunos definido por uma matriz pré-determinada. Nesse caso, cabe ao professor transmitir o

“pacote” do conhecimento.

Isso faz com que se infira que os professores se aproximam do conceito de ser professor

com o conceito presente nos PCNs. No que tange ao papel político, vale ressaltar que, a partir

da nova LDB, o professor passa a ter reconhecida como uma de suas funções a de possibilitar

aos alunos uma formação cidadã. A formação cidadã é mencionada no Título II da LDB, Lei

nº 9394/96, o artigo 2º define como finalidade da educação “o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”

(BRASIL, 1996). Para tanto, faz-se necessário trazer para a sala de aula conteúdos e reflexões

sobre os temas transversais inseridos no currículo, tais como ética, cidadania, meio ambiente,

entre outros.

Para a maioria dos professores desta pesquisa, as escolas apresentam uma certa

limitação na quantidade e variedade de material, mas esse aspecto, no entanto, parece menos

importante, considerando-se as dificuldades com a conquista e a legitimação de um espaço

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inovador dentro da escola, pois, ainda existem colegas de outras áreas que resistem a perceber

esse processo de ressignificação da prática pedagógica da língua espanhola na concepção e

concretização do currículo da escola. Ou seja, a obrigatoriedade da língua espanhola com

professores especializados e paridade de horas com outras disciplinas, coloca-os em igualdade

de condições com outros docentes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi identificar a prática pedagógica dos professores de língua

espanhola da educação básica, que atuam nas escolas estaduais, municipais e particulares dos

municípios de Gaurama, Erechim, Marcelino Ramos e Viadutos, do estado do Rio Grande do

Sul. Assim, ressaltam-se algumas contribuições desta pesquisa.

O estudo foi motivado pelas indagações acerca do ensino da língua espanhola feitas

por professores e alunos nas escolas: o desinteresse pela língua espanhola; a negação de sua

importância; o número elevado de alunos nas turmas; atividades tradicionais e aulas

desmotivadoras.

A aprendizagem de uma língua estrangeira qualifica o cidadão e permite-lhe maior

compreensão das possibilidades de visão de mundo e de diferentes culturas. Considerada,

muitas vezes e de forma injustificada, como pouco relevante, a língua espanhola, adquire,

agora, com a aprovação da Lei 11.161/05, sua obrigatoriedade nas escolas de ensino médio

deste país e a configuração de disciplina importante como qualquer outra, do ponto de vista da

formação do aluno.

O conhecimento da língua estrangeira, neste caso o espanhol, abre caminhos e

possibilidades para projetos, pesquisas e empregos. Através dos contatos diplomáticos surgem

possibilidades de intercâmbios culturais, além de muitas outras vantagens culturais.

Entende-se que a formação de um professor de língua estrangeira competente, crítico e

comprometido com a educação é uma tarefa extremamente complexa, difícil de ser

completada num curso de graduação, por envolver aspectos linguísticos, questões

relacionadas à política educacional, entre outros. Necessário se faz que o professor tenha

formação adequada que lhe permita motivar o aluno para o aprendizado da nova língua, bem

como, ter postura crítica para perceber as relações de poder que se estabelecem entre falantes

de diferentes países quando se comunicam através de uma língua estrangeira, e que possa

definir o lugar do aluno nesses eventos comunicativos, não apenas como receptor, mas

também como produtor de informação se preparando para formar um excelente profissional

do futuro.

Os estudantes, por sua vez, também precisam saber que o desenvolvimento individual

da comunidade e do país depende da habilidade em conduzir negociações nas novas relações

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de poder que se estabelecem com o uso da língua estrangeira. Desta foram, necessário se faz

criar espaços nas escolas e nos cursos de formação de professores em que esse tipo de

conhecimento possa ser discutido.

Pela investigação empreendida, pode-se inferir, que o referencial teórico metodológico

que fundamenta a prática pedagógica dos professores aproxima-se do método tradicional. Isso

se configurou na ênfase dada pelos professores à produção e sistematização da gramática e à

ausência de criação de momentos para o desenvolvimento da comunicação na língua alvo

(espanhol).

Segundo Santos (2001), o trabalho com textos é empregado para criar “pseudo-

atividades de leitura baseado em amontoados de frases a que denominam textos e dos quais

fazem uso apenas como ponto de partida para atividades de tradução e de ensino de gramática

(...)” (SANTOS, 2001, p.42).

Deste modo, é necessário que sejam (re)vistos no ensino - aprendizagem de língua

estrangeira tanto o papel do professor como o do aluno. Ao professor de língua estrangeira é

fundamental (re)pensar a sua prática através da reflexão e da ação. O professor deve atuar

como um orientador, como um facilitador do processo, e não como um reprodutor de

conhecimento. Para tanto, é crucial que o professor, crie e possibilite espaços de interação

entre os alunos, permitindo eventos significativos de uso da língua alvo. No entanto, tem-se a

consciência de que isso irá ocorrer a partir do momento em que o profissional refletir sobre

sua concepção de competência comunicativa. Tal postura é reafirmada por Freitas (2005)

quando sustenta que o “novo” profissional deve ser um estudioso e um facilitador da

aprendizagem e, ainda, que seu conhecimento se apoie em um aprendizado contínuo.

Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa, pelas informações colhidas, não fazem uso do

conhecimento sistêmico que compreende os níveis léxico-semânticos, morfológicos,

sintáticos e fonético-fonológicos. A não utilização de um trabalho que considere o processo

sociointeracional de ensino/aprendizagem justifica posturas tradicionais.

Em termos gerais, pode-se apontar alguns fatores que produzem interferência na

utilização da abordagem tradicional: a falta de competência comunicativa; a falta de material

e a ausência de capacitações e apoio dos órgãos competentes e as interpretações limitadas dos

professores à abordagem de ensino/aprendizagem da língua estrangeira privilegiada nos

Parâmetros Curriculares. Essas interpretações podem comprometer ou não as orientações

didáticas dos documentos do ensino fundamental e médio.

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Deve-se considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das

escolas brasileiras: carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das

habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido (...)

podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas. Assim, o foco na

leitura pode ser justificado em termos da função social das Línguas Estrangeiras no país e

também em termos dos objetivos realizáveis tendo em vista condições existentes (PAIVA,

2003, p. 53-84).

Em relação à formação de professores, a prática pedagógica de espanhol está,

intimamente relacionada com sua formação inicial. Segundo Gómez (1992), há dois modelos

de formação de professores definidos por duas concepções de ensino: a racionalidade técnica

e a racionalidade prática. O primeiro modelo, por separar a teoria da prática, inviabiliza a

formação de profissionais reflexivos e, no entanto, favorece a formação de técnicos de ensino.

Quanto aos profissionais formados no modelo da racionalidade prática, os mesmos são

incapazes de refletir sobre o seu contexto de ação, desenvolvem suas teorias a partir de sua

prática pedagógica e de suas atividades. Segundo o autor, essa prática estaria dirigida para

solução de problemas, mediante aplicação rigorosa de teorias e técnicas científicas, vistas

como verdades absolutas. Em decorrência dessa ênfase dada à teoria dissociada do

conhecimento prático, a prática docente fica comprometida.

Conforme Brancher (2004), a grande maioria das práticas docentes está enraizada na

técnica de aula expositiva, pois apesar de defenderem as inter-relações sociais, a ação docente

está embasada na sequência lógica de conteúdos de um determinado livro didático pré-

estabelecido, previamente elaborado para realidades distintas, em detrimento da pesquisa que

promove a ampliação dos conhecimentos e do desenvolvimento das competências nos alunos.

A preparação dos futuros professores para atuarem nas escolas de ensino básico passa

pelas instituições de ensino superior. Mediante isso, a universidade não pode manter-se

afastada dos documentos oficiais (PCNs) que norteiam o ensino, visando à sua transformação,

no sentido de atender às necessidades da atual sociedade, mediante a melhoria da qualidade de

ensino, conforme a Lei nº 9934/96, de Diretrizes e Bases da Educação.

Isso só será possível quando, em todo o país, houver cursos de habilitação de

qualidade, com articulação de atividades de suporte para a formação cultural dos professores

com a inclusão do acesso a teatros, museus, entre outros, de atividades para a formação

científica dos professores, de mecanismos que visem à melhoria das condições salariais dos

professores de acordo com sua formação, condições institucionais para reuniões sistemáticas

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dos profissionais para discutir os fundamentos teóricos e práticos que norteiam o trabalho

docente, além de cursos permanentes de formação e atualização promovidos pela esfera

governamental e privada, . Para tanto, há que se recorrer a um trabalho cooperativo no qual

haja co-responsabilidade consciente permeando as ações do grupo. Isto requer abandonar

velhas práticas e aderir a mudanças de postura, no plano pessoal e institucional.

O estudo realizado levou a pesquisadora a refletir sobre a sua própria prática como

educadora; a repensar algumas atividades da prática de ensino de espanhol, a partir dos PCNs,

para desenvolver uma abordagem comunicativa que se inicia no decorrer da formação do

professor de espanhol. Essa competência só poderá ser desenvolvida, se a língua for usada no

contexto do cotidiano da sala de aula. Caldeira (1995) destaca o “valor” do saber produzido

na prática cotidiana do professor. Saber esse que resulta de um processo de reflexão realizado

coletivamente a partir das “condições materiais e institucionais” da escola, considerando a

dimensão histórica e social em que é construída a prática docente.

Quanto aos fatores que ajudam os professores no desenvolvimento de suas práticas, os

mesmos citam o acompanhamento e o apoio da família, pois sabe-se, pelo cotidiano escolar,

que há um abandono por parte da família em relação ao processo educativo.

Considerando as dificuldades relacionadas às atitudes de falta de interesse e

agressividade entre os alunos, os professores angustiam-se, ao perceberem que seus alunos

não estão sujeitos apenas às influências da escola. Soma-se a isso o acúmulo de turmas, que

resulta em uma intensificação do trabalho docente, o que justifica, para muitos deles, o

abandono de leituras e registros sistemáticos das aulas.

Para Ribeiro (1999), a formação do professor é um longo processo de

desenvolvimento profissional e enfatiza a necessidade desta formação ser planejada a partir da

realidade da escola e dos professores envolvidos.

O que chama atenção é que a existência de contradições entre professores pode

justamente representar o caminho para questionamentos e reflexões aprofundadas sobre a

prática pedagógica.

Essas posições contraditórias sobre a prática pedagógica da língua espanhola escolar

acompanham um processo de rupturas e permanências, marcado pela história de cada escola

no seu conjunto de trajetória pessoal de cada professor de língua espanhola, de maneira

isolada, na busca de novos caminhos para suas práticas.

A descontinuidade e, em alguns casos, a inexistência de discussões entre os

professores de língua espanhola tem limitado a socialização de práticas inovadoras e de

possibilidades de amadurecimento das reflexões e avanços nas escolas da educação básica,

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bem como um conjunto de transformações sociais que vêm ocorrendo em ritmo acelerado e

que acabam invadindo o espaço escolar, rompendo com um conjunto de normas, valores e

procedimentos que atinge o trabalho dos professores.

Para Fiorentini, Nacarato e Pinto (1999) é importante que, o saber docente seja visto e

concebido como “reflexivo e experimental”, que se constrói na própria “atividade

profissional”, sob a mediação de aportes teóricos apropriados e da reflexão antes, durante e

após. Esse domínio profundo é fundamental para que o professor tenha autonomia intelectual

para produzir seu próprio currículo, se constituindo como mediador entre conhecimento

historicamente produzido e aquele reelaborado.

Desse modo, acredito que esta pesquisa possa contribuir para ampliar a discussão

sobre o ensino do espanhol no Brasil, e também contribuir para trazer, para dentro da área,

uma reflexão acerca do lugar da competência comunicativa do professor de língua espanhola.

Melhor formar futuros docentes para ir além da simples promoção de proficiência

linguística ou de análise acríticas de abordagens e métodos: é necessário despertá-los para

reflexões críticas constantes sobre questões mais complexas que envolvem o processo de

ensino/aprendizagem de línguas, como por exemplo, a presença de hegemonias culturais e

linguísticas. Neste aspecto, seria preciso discutir com os futuros professores de espanhol o

estado da arte da política linguística existente no que tange a língua que irão ensinar.

Outra questão aqui discutida e que pode ser útil no planejamento de cursos para

professores de espanhol como língua estrangeira é o papel tirânico exercido pelo livro

didático. Não basta apenas equipá-lo com critérios sólidos de seleção de ensino que o

professor vai enfrentar, é preciso que o professor se torne capaz de usá-lo seletivamente e de

completá-lo de forma adequada. Para Coracini, (2000); Freitag, (1997); Souza, (1999);

Carmagnani, (1999), o livro didático engloba aspectos de promotor da interação ou de ditar o

que vai ser trabalhado em sala de aula.

Enfim, para que uma política pedagogicamente crítica do ensino do espanhol como

língua estrangeira ocorra, seria necessária uma profunda e consistente discussão sobre a

formação dos futuros profissionais atuantes nessa área, pois conforme coloca Giroux (1997),

os professores têm importante papel a desempenhar na reinvenção da sociedade e que sua

formação social é parte de um projeto mais amplo e da própria luta social.

Isso significa dizer que o professor se transforma ao se constituir sujeito diante da

sociedade, do mundo, pois falar/ensinar uma língua estrangeira é falar e ser falado por ela.

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Desse modo, ele não é somente um reprodutor de modelos pré-estabelecidsos, mas um sujeito

que promove transformações e questionamentos.

Ressalta-se, por fim, que sejam desenvolvidos mais estudos nessa perspectiva com o

fim de compreender como se configuram os temas tratados neste trabalho, posto que estudos

desta natureza ainda são escassos em língua estrangeira.

O processo de investigação pôde se constituir em um processo formativo para todos os

envolvidos: pesquisador e colaboradores, ainda que não haja uma proposta explícita e

planejada. Essa construção exige uma biografia própria estabelecida ao longo de vários anos

de magistério. De qualquer modo, existe hoje uma valorização do trabalho coletivo, mesmo

por parte dos professores que consideram que suas escolas ainda têm uma longa trajetória

nesse sentido. O fazer isolado vem perdendo espaço para um fazer junto, o que talvez seja o

caminho para que uma nova concepção de autonomia possa decorrer desse movimento, em

direção a um trabalho mais comprometido e coletivo.

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APÊNDICES

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA UNOESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, HUMANAS E LETRAS

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

APÊNDICE A - INFORMAÇÕES SOBRE O PROFESSOR (A)

I. DADOS PESSOAIS

Nome fictício/optativo_____________________________________________________________

Sexo: Mas. ( ) Fem. ( )

Idade: ________anos e-mail:____________________________________________

Cidade/Estado de origem: _________________________________________________________

II. FORMAÇÃO PROFISSIONAL

CURSO DO ENSINO MÉDIO: _______________________________________________________

Ano de Conclusão: ____________Instituição: ___________________________________________

Cidade/Estado:___________________________________________________________________

CURSO SUPERIOR:_______________________________________________________________

Habilitações______________________________________________________________________

Ano/Conclusão: _________Instituição: _________________________________________________

Cidade/Estado:____________________________________________________________________

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: ____________________________________________________

Ano/Conclusão: _________Instituição: ________________________________________________

Cidade/Estado:___________________________________________________________________

III. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Instituições em que trabalha:

a-______________________________________________________________________________

b-______________________________________________________________________________

c-______________________________________________________________________________

Situação funcional:

( ) efetivo ( ) contrato temporário ( ) contrato CLT

Anos de atuação docente: ________________ Carga horária semanal: ________________

1- Disciplinas que leciona além da língua espanhola: _____________________________________

________________________________________________________________________________

2- Na(s) escola(s) que você trabalha, quantas horas/aula são destinadas ao ensino de língua

espanhola?:______________________________________________________________________

3- Além da língua espanhola, a escola oferece outra língua estrangeira?

( ) Sim ( ) Não

Qual?___________________________________________________________________________

4- Quantas horas/aulas são destinadas para essa língua estrangeira?________________________

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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO

PROFESSOR DE LÍNGUA ESPANHOLA

1- Cite os fatores positivos da sua prática pedagógica, ao ministrar aulas de Língua Espanhola:

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2- Quais fatores dificultam a sua prática pedagógica ao ministrar as aulas de Língua Espanhola? (assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) carências materiais dos alunos

( ) ausência de recursos materiais e didáticos para as aulas

( ) insegurança frente aos conteúdos da disciplina que leciona

( ) inadequação da formação universitária frente aos desafios encontrados na escola

( ) número de horas/atividade insuficientes para preparar as aulas

( ) a heterogeneidade dos alunos

3- Numere de 1 a 10, em ordem crescente de importância para o ensino de Língua Espanhola:

( ) leitura ( ) gramática

( ) gravações e oralidade ( ) brincadeiras

( ) músicas ( ) filmes

( ) pesquisa ( ) prática escrita

( ) conhecimento sobre a cultura

( ) textos de interpretação/compreensão/tradução

4- Escolha a(s) alternativa(s) que auxilia a prática pedagógica:

( ) gestão da escola

( ) acompanhamento e apoio familiar

( ) competência do professor

( ) nível econômico e social da família do aluno

( ) infraestrutura, equipamento e condições físicas da escola

( ) relação professor/aluno

5- Assinale a frase com a qual você concorda:

( ) o professor é, antes de tudo, um transmissor de conhecimento

( ) o professor é, sobretudo, um facilitador de aprendizagem dos alunos

( ) o professor é o detentor do conteúdo

6- Em uma aula de espanhol, você:

( ) fala muito pouco, pois não desenvolveu a habilidade de fala durante a graduação

( ) fala relativamente, só o necessário para ministrar a aula

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( ) fala bastante, a maior parte da aula é ministrada em espanhol

( ) traduz explicações e exercícios do livro

7- Com qual frequência você utiliza livro didático durante as aulas de língua espanhola?

( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) apenas como subsídio

8- Quais outras fontes, além do livro didático, você utiliza para elaborar as aulas de Língua Espanhola? (assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) internet ( ) jornais ( ) revistas ( ) recursos áudio-visuais

Outros __________________________________________________________________________

9- As atividades propostas aos alunos de espanhol são:

( ) individuais ( ) em pares ( ) em pequenos grupos

10- Quando você começou a lecionar a Língua Espanhola, o que foi mais importante para o desenvolvimento da sua prática docente? (Assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) conversar com os professores que lecionam na escola

( ) ler os livros didáticos de espanhol

( ) as orientações dadas pelo diretor ou equipe pedagógica da escola

( ) os conteúdos e métodos de ensino aprendidos na universidade

( ) as apostilas ou livros indicados na universidade

( ) as orientações curriculares da Secretaria de Educação

( ) o planejamento que lhe foi entregue no início da sua atividade docente

11- Você seleciona os conteúdos a serem trabalhados com seus alunos de acordo com: (assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) os PCNs ( ) o solicitado pela gestão escolar

( ) o contexto em que os alunos estão inseridos ( ) necessidades decorrentes das

aulas

( ) a solicitação dos alunos ( ) o planejamento do livro didático

( ) os planos de ensino ( ) o que você acha necessário

12- Você tem horas previstas para a preparação das aulas de Língua Espanhola?

( ) Não ( ) Sim Quantas? ________________________________

13- Qual variante linguística você utiliza para ministrar suas aulas de Língua Espanhola?

___________________________________________________________________________

14- Como você trabalha a gramática?

( ) No texto ( ) Apenas conceitos ( ) Não trabalho

gramática

15- O que você considera como uma aula comunicativa?

__________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

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16- Leia cada sentença e assinale:

(1) Concorda (2) Não concorda

( ) o professor deve exigir que as respostas na língua espanhola sejam linguisticamente perfeitas

( ) textos ouvidos no gravador geralmente não prendem a atenção do aluno

( ) o laboratório é um recurso indispensável para o ensino aprendizagem da língua estrangeira

( ) situações simuladas da vida real deveriam ser usadas para ensinar conversação

( ) os alunos devem sempre fornecer respostas completas na língua estrangeira

( ) o professor deve dar ênfase a atividades que estimulem o aluno a falar e ouvir nas aulas de língua

espanhola

( ) quando o aluno comete um erro de natureza sintática, tal fato deveria ser encarado como parte

natural da aquisição de línguas

17- O planejamento de suas aulas é feito:

( ) individualmente

( ) com professores de língua espanhola

( ) com professores da mesma área de conhecimento

( ) com a coordenação pedagógico

( ) junto com os alunos

( ) durante as reuniões pedagógicas

18- Quanto ao planejamento de suas aulas:

( ) é muito importante para a prática pedagógica

( ) não tem importância para o desenvolvimento da prática pedagógica

( ) é importante, mas em função do grande número de turmas acabo não fazendo o planejamento

19- Seu planejamento é feito:

( ) diariamente ( ) semanalmente

( ) quinzenalmente ( ) não faço planejamento, sigo o livro didático

20- Descreva como você desenvolve uma aula de Língua Espanhola.

__________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________

21- Como você adquiriu habilidades didático-metodológicas para o ensino da Língua Espanhola? (Assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) através da teoria

( ) através da prática

( ) através da teoria e da prática

( ) através da construção/reelaboração de sua prática

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22- Os conhecimentos acadêmicos foram suficientes para o ensino da Língua Espanhola?

( ) em parte

( ) não foram suficientes

( ) foram suficientes

Justifique sua resposta:______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

23- A formação didático-metodológica do professor de Espanhol deve ocorrer: (Assinale mais de uma alternativa, se desejar). ( ) tanto no bacharelado quanto na licenciatura ( ) na pós-graduação

( ) durante a licenciatura ( ) na formação continuada

( ) em cursos extraescolares após a graduação

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APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: Professores da Educação Básica e a Prática Pedagógica da Língua Espanhola. O motivo que nos leva a propor este estudo é compreender a prática pedagógica dos professores de língua espanhola na educação básica. Ensinar uma língua estrangeira implica num trabalho com diferentes habilidades comunicativas, de produção e compreensão oral e escritas e na forma como os profissionais acreditam que sua prática pode ser renovada e melhorada a cada dia. Vale ressaltar que a língua estrangeira moderna, habitualmente, dispõe de poucas aulas semanais, ministradas a grandes grupos, bastante heterogêneos, com ritmos diferentes de aprendizagem, representando, com isso, um grande desafio. Também não podemos deixar de mencionar que a língua estrangeira, disciplina presente na matriz curricular da educação básica, não constitui um fator que, isoladamente, leve à reprovação do aluno. O objetivo desta pesquisa é caracterizar a prática pedagógica do professor de língua espanhola da educação básica, que atua nas escolas estaduais, municipais e particulares da região norte do Rio Grande do Sul, através da sua prática educativa. O procedimento de coleta de dados será da seguinte forma: entrega de questionário ao professores que ministram aulas de língua espanhola na educação básica.

Você poderá solicitar esclarecimento sobre a pesquisa em qualquer etapa do estudo. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação na pesquisa a qualquer momento, seja por motivo de constrangimento e ou por outros motivos. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios.

O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado (a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Este consentimento está impresso e assinado em duas vias, uma cópia será fornecida a você e a outra ficará com o pesquisador.

A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponibilizada nenhuma compensação financeira.

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO DO SUJEITO PARTICIPANTE

Eu, __________________________________________________________fui informado(a)

dos objetivos da pesquisa acima, de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de

consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

________________________________________________ Assinatura do sujeito pesquisado

Nome:_______________________________________________________________ Endereço_______________________________________________________________ E-mail:________________________________________________________________ Fone:_________________________ Data _______/______/______

____________________________________ Assinatura do(a) pesquisador(a) Data _______/______/____