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E N T R E V I S T A

MESA REDONDA,

CAFÉ E A PRODUÇÃO

DO AUDIOVISUAL

EM ALAGOAS

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Essencialmente lembrado pela sua força turística, Alagoas ocupou, por muito tempo, o posto de um cenário cultural marcado por grandes vocações cinematográficas. Obscurecida pelo fim da realização do famoso Festival de Penedo, em 1982, o setor audiovisual viveu um triste hiato produtivo e um longo período de enfraquecimento dos grupos artísticos locais. Foi apenas na última década, com a combinação de iniciativas públicas – como o lançamento de editais de apoio e a retomada do Festival de Cinema de Penedo – e o aumento do interesse de distribuidoras de canais de televisão pela produção nacional, que o segmento alavancou e retomou gradativamente sua atuação no contexto regional, conquistando até mesmo projeções a nível nacional. Nesta retrospectiva, conversamos com a produtora cultural, Nina Magalhães, o diretor e roteirista cinematográfico, Pedro da Rocha, e o estudante de jornalismo e cinéfilo Daniel Borges, em um resgate emocionante à história do audiovisual em Alagoas e apresentamos o mapeamento dos principais desafios e expectativas enfrentados pelo setor na atualidade.

O que podemos esperar para o mercado audiovisual nos próximos períodos?

Nina Magalhães . Nos últimos cinco anos o setor audiovisual tem vivido um momento de expansão. Depois de um período parado por falta de incentivos, o cinema alagoano retorna aos poucos com um número de produções que só vem aumentando, fato que pudemos presenciar na última Mostra Sururu de Cinema, onde mesmo sem incentivos de edital tivemos materiais consistentes e um amadurecimento muito interessante com a predominância de temáticas voltadas para a reflexão das cidades. Somado a estes fatores, estamos em um momento de reconstrução dos fóruns de discussão no Estado, que é essencial para o desenvolvimento de qualquer setor da cena cultural e a ABD (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas) vem desempenhando um papel fundamental na constituição do audiovisual em Alagoas.

Daniel Borges . O setor audiovisual é um mercado em constante crescimento. A minha expectativa, como cinéfilo, é que o número de produções cresça e a qualidade dos filmes seja cada vez melhores. Principalmente em relação ao gênero dos filmes; é preciso atender a demanda geral e não focar em um único tipo cinematográfico. u

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Pedroda Rocha

Diretor e roteiristacinematográfico

NinaMagalhães

Produtoraaudiovisual

RafaelaPimentel

Jornalistamediadora

DanielBorges

Estudante dejornalismo ecinéfilo

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A que podemos atribuir o processo de amadurecimento do audiovisual alagoano?

Pedro da Rocha . A história prova que a produção de cinema alagoano começou a partir do incentivo de festivais, como o de Penedo. Com o seu fim, em 1982, vivemos um hiato, um período obscuro e vazio de produções em Alagoas que também foi determinado por mudanças nas questões técnicas. A bitola utilizada nas produções deu lugar ao sistema VHS, que chegou para trazer facilidade e acessibilidade ao audiovisual, mas contraditoriamente era difícil de manusear e acabamos tendo poucos registros de filmes nesse período. O que alavanca a retomada da produção em Alagoas é o surgimento de editais. O primeiro deles foi o DOC-TV, que revelou grandes nomes e consolidou outros tantos dentro e fora do Estado. Em Alagoas, a chegada do diretor nordestino Hermano Figueiredo incendeia o cenário local, politizando e organizando a produção audiovisual.

Daniel Borges . Eu percebo que entre os produtores do Estado há uma paixão pela arte. Independente de incentivos, é o amor ao cinema que faz acontecer as produções e estimula a realização dos Festivais.

Como representantes da cena cultural no Estado, vocês acreditam que ainda faltam profissionais no mercado com formações e experiência? Ou o problema ainda recai sobre a falta de incentivos?

Pedro da Rocha . Antes mesmo de haver os editais de produção audiovisual em Alagoas, aconteceu uma série de oficinas abarcando as diferentes fases do processo de produção. De certa forma, isso garantiu fundamentos básicos, inclusive, para boa parte das pessoas que produzem hoje no nosso Estado. Então em relação à formação técnica, acredito que Alagoas é muito privilegiada, mas ainda não vemos o reflexo destes resultados, falta reconhecimento, visibilidade do profissional e não menos importante a remuneração. Esse problema pode ser visto até mesmo nas mostras e festivais, com a não premiação de certas categorias o que acaba desvalorizando o técnico, e eu me refiro a toda cadeia, desde o roteirista a quem interpreta.

Nina Magalhães . Nesse contexto, a figura do SESC, por exemplo, enquanto espaço de cursos, oficinas de formação têm sido determinantes para a profissionalização do audiovisual. As Leis de Incentivo estadual e municipal também tem mostrado uma preocupação muito grande com a produção, mas é preciso ampliar essa visão. Os setores de formação e difusão ainda não estão amadurecidos, em Alagoas temos apenas dois festivais de cinema, um em Maceió e outro em Penedo. É muito pouco para um Estado inteiro. Mas

nenhuma destas mudanças seria possível se não tivermos consistência enquanto grupo de produtores.

Quais seriam os desafios apontados para a produção audiovisual alagoana?

Pedro da Rocha . Fico muito a vontade para falar de audiovisual porque comecei minha história tendo acesso desde cedo ao suporte profissional. Além de trabalhar na Secretaria de Estado da Cultura, também atuava em uma agência de publicidade e por muito tempo presenciei uma

desvalorização do profissional local. Tinha-se uma preferência evidente pelos atores de fora com sotaque “neutro” do Sul e uma das pessoas que eu vi se rebelar contra isso aqui em Alagoas, exigindo um tratamento digno, foi a atriz Ivana Iza. E infelizmente esse problema persiste até hoje, inclusive, nos editais que só agora começam a exigir equipes com maior participação de profissionais alagoanos. A minha grande preocupação é consolidar o audiovisual enquanto profissão, mercado.

Nina Magalhães . A autoestima do alagoano como um todo é baixa e o cinema tem cuidado de minimizar isso. O audiovisual é um segmento que está sempre muito mais a frente nas questões de exigências dos direitos, tanto que o primeiro edital que saiu do município foi o de audiovisual e não o de artes, que é mais amplo. Mas ainda precisamos ser ouvidos, é muito importante que as gestões de cultura municipal, estadual e federal fiquem atentas às demandas do setor. Esta tomada de consciência é primordial, a tendência de estar reunido e conectado ainda é algo muito novo, mas aos poucos estamos contagiando os diferentes segmentos.

Daniel Borges . A limitação de profissionais qualificados talvez seja um desafio na produção

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Para Pedroda Rocha aretomada deeditais alavancaa produçãoaudiovisual

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audiovisual do nosso estado, que exige ainda uma maior valorização pelo público local.

Em meio aos avanços de iniciativas públicas, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) divulgou um levantamento, no qual entre 1995 e 2013, o eixo Rio-São Paulo concentrou cerca de 90% dos recursos federais. A regionalização e descentralização do audiovisual deveriam então ser prioridade para o setor?

Nina Magalhães . A busca pela democratização no audiovisual é um passo completamente natural, o Estado caminha para isso. Inúmeras ações já estão sendo feitas quanto a isso, a própria Ancine tem pensado muito nessa descentralização. Atualmente já existem linhas de incentivo, como o Prodav que objetiva distribuir igualmente os recursos para toda a região com uma linha de patrocínio voltada apenas para a região Nordeste. No entanto, ficamos diante de um problema local: Alagoas não está preparada para buscar estes recursos, ainda não temos o hábito de atender exigência do porte do edital, seja por não possuir CNPJs hábeis ou uma quantidade relevante de produções exibidas. Temos a chance de democratização, mas ainda não possuímos as ferramentas necessárias para acessá-las.

Em 2011, o Brasil implantou uma lei para cotas de produção nacional e independente na TV por assinatura. Qual é a avaliação dessa medida até o momento?

Pedro da Rocha . Quando entrei no universo cinematográfico foi um momento de descoberta, autoconhecimento. Comecei a viajar pela Secretaria de Cultura e levava a câmera para todos os lugares, foi nessas idas e vindas que conheci verdadeiramente o Estado de Alagoas. Era um mundo completamente novo pra mim, foi nesta hora que pensei em fazer filmes sobre e para estas pessoas, este lugar. Por conta de tudo isso, sou muito defensor da implementação da Lei de cotas, não

podemos continuar como meros consumidores do que é produzido em outros estados.

Nina Magalhães . É isso. Enquanto não estivermos nivelados, vamos ter que permanecer buscando mecanismos para colocá-las no mesmo nível.

Muitos filmes bons estão sendo produzidos em Alagoas, mas não chegam aos telespectadores. Qual é a solução para estas produções serem incorporadas pelo cinema comercial?

Pedro da Rocha . Há muitos anos, existia uma lei que obrigava a exibição de curtas-metragens antes dos longas, até mesmo produções locais. Foi um tempo maravilhoso para o cinema. Grandes nomes do audiovisual fizeram a sua carreira e se firmaram neste período, produzindo conteúdo para ser exibido antes dos filmes. Hoje isso não existe mais. Somos obrigados a consumir dentro de uma grade de programação voltada apenas para o mercado, que não educa, não informa, não forma cidadania, não dá acesso a nossa história, cultura e sotaque.

Daniel Borges . Existem bons filmes nacionais sendo produzidos. Só que boa parte não entra no cinema comercial; e os que entram são aqueles padrões como as comédias “globalizadas”.

Nina Magalhães . Ainda hoje não conseguimos nos ver representados na tela. Uma das maiores provas de que as pessoas querem ser reconhecidas é a mostra Sururu de Cinema, nos quatro dias de realização, ano após anos, temos quatro dias de salas lotadas. Precisamos entender a importância de espaços que ainda buscam esse olhar para fora do cinema de mercado, como acontece com o Centro Cultural Arte Pajuçara, em Maceió. A principal pauta do momento do audiovisual é justamente buscar a sustentabilidade deste ambiente, antes que ele definhe. É uma luta conjunta de todos nós alagoanos, é o nosso grande xodó. l

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“Percebo quehá uma paixãopela 7ª arte”,Daniel Borges

“O Estadobusca ademocratizaçãodo audiovisual”,Nina Magalhães

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C A P A

CONHEÇA UMA

BIBLIOTECA VIVA,

INTERATIVA E O

MELHOR: PÚBLICA

Com um século e meio de leitura, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos é referência em projetos culturais e inclusivos. Mais que um prédio

histórico, o antigo Palacete Barão de Jaraguá, guarda tesouros da literatura de todo o mundo. Um patrimônio literário preservado no casario rosado, de janelas azuis e portas de madeira colonial, localizado no centro de Maceió. O espaço homenageia o escritor alagoano Graciliano Ramos

com uma galeria apresentando a vida e obra do autor, além de uma seção especial dedicada ao famoso livro “Vidas Secas”. As atividades educacionais dão vida ao equipamento cultural que interage com a sociedade de forma

lúdica, se transformando em ferramenta de desenvolvimento social. Conheça e viva a experiência de viajar no universo da leitura!

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Sala “Obras Raras”abriga coleçõesliterárias eexemplares únicos

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ma viagem no tempo e um passo para o futuro. Essa é a sensação de quem visita a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos. O prédio, que abriga mais de 75 mil livros, passou por

grandes transformações ao logo dos seus 150 anos e tem muita história pra contar. Suas prateleiras apresentam um acervo diverso, que vai dos romances aos livros acadêmicos, dos periódicos aos gibis infantis, dos volumes em braile aos audiolivros, dos exemplares de autores alagoanos à obras raras.

Com três andares e 54 salas, o ambiente não expõe somente obras literárias. O visitante de primeira viagem descobre, durante o Bibliotour, que o espaço é uma caixinha de surpresa a cada seção. Nas paredes e corredores, quadros e esculturas de artistas regionais, expõem as artes plásticas da terra, abordando temáticas da cultura e do dia a dia do povo alagoano.

A visita começa pelo Memorial Graciliano Ramos, que reúne uma cronologia da vida e obra do autor alagoano que dá nome à Biblioteca. Seus livros são expostos como homenagem ao escritor, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro, natural de Quebrangulo. Mais adiante, no Memorial da Biblioteca Pública, é possível encontrar móveis e objetos de época, alguns do período da criação da Biblioteca, quando era frequentada por comerciantes para leitura de jornais e se tornou ponto de encontro para bate-papo e informação.

Para os pequenos e futuros leitores, um lugar especial. A Bebeteca é o local de interação, onde as crianças podem brincar e embarcar no mundo da imaginação com diversos livros infantis, brinquedos e jogos de tabuleiro. Neste espaço também é realizada a Hora do Conto, um momento lúdico com contação de histórias e teatro de fantoches para encenação temática e divertida de causo, onde o livro vira personagem principal de um mundo de aventuras, estimulando e incentivando o hábito da leitura.

Na sala dedicada aos periódicos, um resgate da memória histórica de Alagoas e do Brasil. Com milhares de jornais, revistas, diários oficiais, o leitor fica diante de notícias que o faz entender o contexto social atual. Seguindo o trajeto, o visitante se depara com um acervo de obras raras. Neste espaço está guardado o livro mais antigo da Biblioteca, “Da Asia”, de 1778, do escritor português Diogo de Couto; o exemplar é único no país. Cerca de cinco mil exemplares compõe o acervo, que exige agendamento antecipado para pesquisa e o uso de máscaras e luvas para manuseio dos livros. Também há um setor dedicado à escritores alagoanos, valorizando e divulgando os autores da terra, além de obras relativas ao estado, totalizando 6.300 livros.

Os espaços multimídias e as ilhas de inclusão digital dão modernidade ao prédio histórico, possibilitando acesso à internet para estudo, pesquisa ou interatividade. No Telecentro são oferecidos cursos gratuitos para moradores de comunidades carentes, proporcionando conhecimento e inserção no mundo virtual. O passeio pelo local se encerra com o Cordel e Prosa, onde o visitante tem um encontro especial com o

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LINHA DOTEMPO

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1844 à 1849Período de construção do palaceteresidencial de José Antonio deMendonça, na atual praça DomPedro II, no Centro de Maceió.

C A P A

1856O primeiro Gabinete de Leitura de Alagoasé instalado por José Correia da Silva Titara,graças à doação de dois mil livros feita porAlexandre José de Melo Moraes.

1859O imperador D. Pedro II,a imperatriz D. Teresa Cristinae comitiva imperial são hospedadosna casa de José Antonio de Mendonça

1860José Antonio de Mendonça recebeo título de Barão. A residência passaentão a ser conhecida como PalaceteBarão de Jaraguá.

Confira a trajetória do Gabinete de Leitura e sua transformação

em espaço de referência cultural: Biblioteca Pública Estadual

Graciliano Ramos.

Fachada dohistóricoPalacete Barãode Jaraguá, no centrode Maceió

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mestre de literatura de cordel do Patrimônio Vivo de Alagoas, Jorge Calheiros. O cordelista declama suas rimas e ensina a arte de fazer a poesia popular.

O prédio foi construído entre 1844 e 1849, arquitetado por José Antonio de Mendonça – o Barão. Ficou conhecido por Palacete Barão de Jaraguá, por ser a mais imponente construção do Largo da Matriz, atual Praça Dom Pedro II. Conta-se que o edifício é fruto de uma intriga do Barão com Lourenço Cavalcante de Albuquerque Maranhão, o Barão de Atalaia. O objetivo da construção era tirar a vista do mar do rival.

Na imponente residência foi instalado o Paço Imperial quando o imperador D. Pedro II, a imperatriz D. Teresa Cristina e comitiva imperial ficaram hospedados por onze dias na casa do Barão de Jaraguá e participaram da inauguração da Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, em meados de 1859.

A chegada da Família Real foi um marco na mudança dos costumes dos brasileiros. A corte portuguesa trouxe uma série de novos conceitos e atitudes europeias, como o hábito de ler e a expansão dos Gabinetes de Leitura, criando ambientes de socialização. E assim começa a história da Biblioteca Pública Estadual.

O primeiro gabinete do tipo em Alagoas foi instalado em 1856, por José Correia da Silva Titara, graças à doação de quase dois mil livros feita pelo historiador Alexandre José de Mello Moraes, então diretor da Instrução Pública, destinados a constituir o acervo inicial. Outro entusiasta foi o escritor e docente de geografia Thomaz Bomfim Espíndola. O professor era um visionário que entendia que além das funções de guarda e empréstimo do acervo, a Biblioteca poderia alargar os horizontes com mais investimentos para o progresso das letras.

Por isso, mais que olhar o prédio como um “depósito de livros” é preciso enxergar o tesouro maior que

ele guarda: a história. O suntuoso casario rosado, de janelas azuis e portas coloniais, preserva o passado do desenvolvimento da província para a república e vislumbra o futuro patrimônio literário que passa as barreiras de um século e meio de vida.

Diante da atual conjuntura quando a maioria das pessoas se distancia da leitura e dos livros, a biblioteca se transforma em símbolo de resgate de valores intelectuais e sociais. Reaberta no final de 2014, após quatro anos de reforma e restauros, para manter a originalidade e características do prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos foi recuperada e trilha um novo caminho no mundo literário. A Biblioteca aposta em projetos sociais e culturais, fidelizando os usuários e atraindo um novo público.

O papel deste equipamento cultural, que antes era apenas uma sala de leitura, hoje é um aparelho de convivência social, em espaço de troca de saberes. É uma organização dinâmica que deve se preocupar u

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C A P A

DE GABINETE DE LEITURA À BIBLIOTECA

UMA NOVA BIBLIOTECA

1865O deputado provincial Tomazdo Bomfim Espíndola apresentaprojeto para implantação de umaBiblioteca Pública Provincial.

1898Armando Torres Vidigalé o primeiro a ocuparo cargo de diretor daBiblioteca Pública

1989A Biblioteca passaa ser vinculada àSecretaria deCultura do Estado.

2013Em homenagem ao ilustreescritor alagoano, passa a sechamar “Biblioteca PúblicaEstadual Graciliano Ramos”

1867O acervo do Gabinete deLeitura, com mais de três milvolumes, passa a pertencer àBiblioteca Pública Provincial.

1964Passa a contar com verbaorçamentária própria.Após mudanças atinge os padrõesda Divisão de Biblioteca da Unesco.

2010É fechada para umaampla restauração.Ao todo, são investidosR$ 3,4 milhões na obra.

2015Comemora 150 anoscom novo regimentoe inauguração denovos espaços

MemorialGracilianoRamoshomenageiao escritoralagoano

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para o de promoção da cultura em geral. Com a sociedade cada vez mais seletiva, se faz necessário criar um ambiente de integração e acessível, oferecendo serviços adequados tanto para a acessibilidade física quanto a informacional.

Através das atividades de interação lúdica entre livros e visitantes, a Biblioteca Pública se consolida como um espaço de referência quanto atração cultural, ao oferecer uma gama de serviços nos aspectos educacional, cívico, de lazer e de pesquisa com o intuito de formar cidadãos através da leitura. Um calendário mensal de atividades garante um fluxo de mais de mil visitantes por mês. Cada um com histórias de vida e necessidades completamente diferentes. Além dos estudantes e concurseiros, que formam o maior público do local, há aposentados em busca de companhia, trabalhadores em busca de sossego, e alguns outros querendo concretizar sonhos e mudanças.

Dentro da programação mensal, a Cinemateca traz exibição de curtas e longas-metragens, atraindo o público que trabalha no Centro, no período de intervalo para almoço e descanso. Também é realizado o

projeto Coco, memória e cordel, com o cordelista e Patrimônio Vivo Jorge Calheiros, com a finalidade de repassar a sabedoria da cultura popular, através da musicalização do ritmo coco com o cordel.

O projeto Troca Troca é mais uma das ações de incentivo à leitura através da permuta de livros entre leitores alagoanos. O ato consiste na troca de livros por pessoas que têm obras de qualquer gênero em casa e não têm mais interesse pelo exemplar, por uma nova leitura disponível na estante especial.

No Brasil não existem muitos serviços de informação para pessoas com deficiência. Os que existem ou não têm profissionais especializados em informação ou são voltados apenas para um tipo de deficiência. Em Alagoas, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos sai na frente e se torna pioneira nesse tipo de acessibilidade com o projeto Biblioteca Acessível.

Centro de atividades culturais, informação e lazer que democratiza o acesso ao conhecimento, fomenta a leitura e promove a educação, a Biblioteca também é referência em acessibilidade. Com implantação de acessibilidade múltipla, possibilita o acesso de pessoas com deficiência ao seu acervo físico, digital e virtual. Um passo importante para a democratização da informação.

A Biblioteca possui piso e mapas táteis, entrada acessível com rampas, elevador com botoeiras internas e externas, banheiros adaptados, auditório de fácil adaptação do cadeirante, estantes com altura acessível, computadores com sistema de leitura de tela, acervo impresso em braile, áudio livro, guia – vidente e contação de história para cegos. Tudo pensado para receber a todos sem restrições.

com a coletividade, e para isso tem que compreender seu real papel institucional e social.

Escrevendo uma nova história na literatura alagoana, a Biblioteca é referência na produção do conhecimento e acesso à informação. Firmada como instituição literária, a Biblioteca celebrou 150 anos, com solenidade e assinaturas de documentos importantes para o avanço do espaço, como “Políticas no Desenvolvimento de Coleções” e o “Regulamento da Biblioteca Pública”. Durante as festividades foram inaugurados o acervo de Carlos Moliterno, doado pela família do poeta alagoano, e o espaço “Confraria Nós, Poetas”, que reúne artistas e apresentações de recitais de poesias.

O equipamento cultural vem ganhando tecnologia com a implantação de totens que vão permitir o acesso online ao acervo, através de um catálogo virtual e serviço de empréstimo. Cerca de dez mil dos 75 mil títulos foram automatizados e estão em processo de etiquetagem e magnetização.

No início deste século, a evolução social expande os objetivos da biblioteca, quando se amplia o objetivo educacional

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BIBLIOTECA ACESSÍVEL

Bebetecaestimula eincentiva ohábito da leituraentre as crianças

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Ao longo dos anos, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos sofreu mudanças na sua estrutura física, com uma reforma que revitalizou e modernizou o espaço. Porém, a maior mudança está sendo na prestação de seus produtos e serviços, seja pelas novas tecnologias, seja pela necessidade e perfil de cada usuário. Novos projetos surgiram e alguns sofreram adaptações para abranger a uma demanda maior de leitores. Equipamento do Governo de Alagoas, vinculado à Secretaria do Estado da Cultura, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos está inserida aos moldes das bibliotecas modernas do Brasil, além de ser uma das maiores referências bibliográficas para as bibliotecas públicas municipais do Estado.

A Biblioteca Pública assume a função de mediadora da informação e da aprendizagem, se convertendo em espaço chave para o processo de aprendizagem ao destacar a importância do livro e da leitura para a formação e desenvolvimento do cidadão.

Assim, o termo Biblioteca Pública surge para reforçar que é um ambiente de atendimento e acolhimento de todos, como forma de inclusão social num espaço destinado à informação a partir de um elo de integração entre os indivíduos e o equipamento. Aos alagoanos, cabe o reconhecimento como possuidores de um legado cultural e isso deve ser preservado. Devem usufruir desse vasto acervo para pesquisa ou até mesmo tomar emprestado um bom título para o deleite literário.

Como disse Graciliano Ramos, a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer. l

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PROJETOS DABIBLIOTECA

Com um calendário mensal de atividades culturais, a Biblioteca Pública Estadual

Graciliano Ramos ganha vida e dinamismo, interagindo com o público de forma lúdica

e educativa. Uma maneira divertida de viajar no mundo literário.

C A P A

HORA DO CONTOCrianças de 4 a 12 anos se divertem com as interpretações lúdicas de histórias infantis. Personagens dos livros ganham

vida com a caracterização dos contadores ou nos bonecos do teatro de fantoche, mexendo com o imaginário da garotada e estimulando a leitura. É realizada toda sexta-feira, às 10h.

BIBLIOTOURVoltado para o público em geral, especialmente estudantes, a atividade propõe uma visitação guiada a todos as

salas do palacete, para apresentar a história do prédio e seu acervo bibliográfico. Acontece as terças e quintas-feiras, às 10h e às 14h.

CORDELO mestre do Patrimônio Vivo de Alagoas, Jorge Calheiros, apresenta a literatura de cordel e ensina a fazer a

poesia popular. O cordelista repassa seu conhecimento para os visitantes da Biblioteca nos projetos Cordel, Coco e Roda, e no Cordel e Prosa, as terças e quinta-feira, às 15h30.

CINEMATECAUma pausa no trabalho para relaxar assistindo um filme na Biblioteca. Esse é o objetivo da Cinemateca, que atrai

os funcionários do comércio, na hora do almoço, para um descanso nas dependências do equipamento cultural. Acontece diariamente das 12h às 14h.

Aberta ao público de segunda à sexta, das 9h às 17h. Agendamento de visitas de grupos escolares e turísticos, pelo número 82 3315.7877. Confira a localização na seção Diagrama, na página 20.

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Biblioteca éreferência emacessibilidadepara deficientesfísicos e visuais

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R. Sá e Albuquerque

Av. Indl. Cícero Toledo

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JARAGUÁ

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01. MEMORIAL TEOTÔNIO VILELA

Espaço dedicado à trajetória de vida do Menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela. Projetado por Oscar Niemeyer, o espaço apresenta fotografias, textos e acervo pessoal, no alto uma estátua simboliza sua luta pela paz.

Hor.: todos os dias, 9h - 21hEnd.: Av. Dr. Antonio Gouveia, s/n, Pajuçara

02. MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DE ALAGOAS - MISA

Seu acervo é composto por fotografias, materiais e equipamentos de áudio e vídeo. Conta ainda com espaços dedicados aos jornalistas Edécio Lopes, Freitas Neto e Valmir Calheiros.

Hor.: terça a sexta, 8h - 17h / finais de semana e feriados, 13h - 17h. Tel.: 82 3315.7872End.: R. Sá e Albuquerque, 275, Jaraguá

03. ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE MACEIÓ

Abriga os museus do Comércio de Alagoas e da Tecnologia do século XX.

Hor.: segunda a sexta, 9h - 17hTel.: 82 3597.8568End.: R. Sá e Albuquerque, 467, Jaraguá

04. CASA DO PATRIMÔNIO

Possui exposição do acervo dos mestres artesãos alagoanos e do Nordeste.

Hor.: terça a domingo, 09h - 17hTel.: 82 3221.6073End.: R. Sá e Albuquerque, 157, Jaraguá

05. MEMORIAL À REPÚBLICA

Faz uma homenagem aos dois Marechais alagoanos: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. É possível conhecer a história da República e conferir exposições itinerantes.

Hor.: terça a sexta, 9h - 17h / finais de semana e feriados, 14h - 17h. Tel.: 82 3315.7869End.: Av. da Paz, s/n, Jaraguá

06. MUSEU THÉO BRANDÃO DE ANTROPOLOGIA E FOLCLORE

Abriga a coleção de arte popular que o professor e folclorista Théo Brandão doou à UFAL.

Hor.: segunda a sexta, 8h - 17h / sábado, 14h -17h. Tel.: 82 3214.1716End.: Av. da Paz, 1490, Centro

07. MEMORIAL PONTES DE MIRANDA

Preserva e divulga a obra do célebre jurista alagoano Pontes de Miranda, bem como a história da Justiça do Trabalho em Alagoas.

Hor.: segunda a sexta, 9h30 - 14h30Tel.: 82 2121.8122End.: Av. da Paz, 2076, 3º andar, Centro

08. MUSEU DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O local guarda relíquias da 2ª Guerra Mundial, como armamento e indumentárias, além de jornais e outras peças que demonstram a participação de militares e da FEB na Guerra.

Hor.: segunda a quinta, 9h - 17h30Tel.: 82 3336.2086End.: Pça. Olavo Bilac, 33, Centro

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Av. da Paz

Av. da Paz

PRAIA DA AVENIDA

R. Zacarias de Azevedo

R. D. Rosa da Fonseca

R. Des. Artur Jucá

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Av. Siqueia Campos

R. do Livramento

R. Dr. Pedro Monteiro

R. Barão de Atalaia

R. Buarque de Macedo

R. C

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R. Melo Morais

R. Ladislau Neto

CENTRO

R. João Pessoa (R. do Sol)

Av. Moreira e Silva

R. Barão de Penedo

PRADO

Av. Amazonas

R. do Imperador

D I A G R A M A

Equipamentos da Secult Equipamentos de outras instituições

Maceió é conhecida por ser a cidade do sol e do mar. Suas belas praias atraem turistas do mundo

inteiro. E que tal conhecer um pouco mais da história e da cultura da nossa capital? Para isso preparamos um guia com Museus, Memoriais e

Teatros que você não pode deixar de visitar. Confira o nosso mapa e faça seu trajeto cultural.

ROTEIRO CULTURAL

09. CASA JORGE DE LIMA

Antiga residência do médico e poeta alagoano foi restaurada e aberta à visitação pública.

Hor.: segunda a sexta, 9h - 14hEnd.: R. do Imperador, 91, Centro

11. MUSEU DOS ESPORTES

Batizado com o nome de Edvaldo Alves Santa Rosa (Dida), jogador dos clubes CSA e Flamengo. No mergulho ao passado, o visitante conhece a história dos esportes através de fotos, camisas, flâmulas, troféus, etc.

Hor.: segunda a sexta, 9h - 16h. Tel.: 82 3326.6329End.: Av. Siqueira Campos, Estádio Rei Pelé, Prado

10. BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL GRACILIANO RAMOS

Saiba mais na seção Capa, na página 15.

Hor.: segunda a sexta, 9h - 17h . Tel.: 82 3315.7877End.: Pça. D. Pedro II, 57, Centro

13. DIRETORIA DE TEATROS DE ALAGOAS - DITEAL

Reúne os Teatros Deodoro e Arena Sérgio Cardoso, e Complexo Cultural. São espaços de espetáculos com programação variada, exposições, workshops, peças de teatro.

Tel.: 82 3315.5656End.: R. Barão de Maceió, 375, Centro

12. MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL

Da Universidade Federal de Algoas - UFAL, tem como atribuições a pesquisa, e o conhecimento sobre o uso dos recursos naturais do estado. Apresenta informações relacionadas às coleções científicas, arqueológicas e antropológicas.

Hor.: segunda a sexta, 8h - 18h. Tel.: 82 3214.1629End.: Av. Amazonas, S/N, Prado

14. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS - IHGAL

Abriga artefatos da época dos marechais e indígenas, fósseis, livros, coleção perseverança, pinturas e desenhos. No primeiro domingo do mês realiza concertos de música erudita.

Hor.: segunda a sexta, 8h - 12h. Tel.: 82 3223.7797End.: Rua João Pessoa, 382, Centro

15. MUSEU PALÁCIO FLORIANO PEIXOTO - MUPA

Possui um acervo constituído de mobiliário e objetos decorativos dos séculos XIX e XX, além quadros de pintores alagoanos. O Museu recebe exposições temporárias e agrega os memoriais: Aurélio Buarque de Holanda e Ledo Ivo.

Hor.: terça a sexta, 9h - 17h. Tel.: 82 3315.7874End.: Pça. Marechal Floriano Peixoto, 517, Centro

16. MUSEU DE ARTE SACRA PIERRE CHALITA

Uma das mais ricas coleções de Artes Sacras de Alagoas, com esculturas, pinturas e móveis do século XVII ao XX, além de um acervo autoral. Possui biblioteca especializada em arte e arquitetura.

Hor.: segunda a sexta, 8h - 12h / 14h - 17hTel.: 82 3223.4298End.: Pça. Marechal Floriano Peixoto, 44, Centro

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A R T I G O

A POLUIÇÃO

DOS NOSSOS RIOS,

LAGOAS E PRAIAS

Os atentados ao meio ambiente se sucedem em Alagoas e em outras partes do país sem que se veja uma tomada de posição enérgica das autoridades responsáveis. São fatos de cortar o coração de qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. Desastres produzidos pela incúria e pelo egoísmo de grupos desalmados, indiferentes ao sofrimento de seus semelhantes. Assistimos cenas dantescas de milhares de peixes mortos, de pescadores apavorados com a retirada do ganha-pão de suas famílias, de pessoas adoentadas após beber água contaminada. São catástrofes ecológicas que exigem uma apuração severa dos fatos e a correção desses males.

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*Doutor em História eVice-Diretor do CESMAC

PORDOUGLASAPRATTO*

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com outros centros. Sem esquecer as dependências alimentar, recreativa e higiênica. É importante lembrar também a fecundidade da fauna – peixes, crustáceos e moluscos, principalmente o saboroso sururu, alimento sem similar.

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Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos, e com o nosso próprio, com a ameaça aos preciosos mananciais lacustres e fluviais que nos fornecem água e alimento e já foram considerados hectares dos mais férteis do mundo.

A poluição dos rios, lagoas e praias é uma categoria de flagelo que representa uma grave ameaça às condições sociais e econômicas das populações. Esse mal cresce dia a dia em Alagoas através de descargas de produtos de biodegradação escassa, de resíduos de pesticidas usados na lavoura e de esgotos domésticos lançados juntamente com o lixo das indústrias, que, unidas, transformam nossos rios, córregos e lagoas em grandes cloacas. Com as águas ligou-se a existência da gente da nossa região de modo tão substancial que as relações assim estabelecidas se tornaram essenciais e definiram sua qualidade de vida.

Complementos essenciais da terra como ambiente agrário, caracterizadores da dependência mantida pelos principais núcleos colonizadores com eles, rios e lagoas foram os responsáveis pelo povoamento e pelas primeiras atividades agrárias, industriais e pastoris. São úteis como meio de transporte do açúcar e outros gêneros para os mercados interno e externo e também para a comunicação

Nos primeiros séculos da nossa formação, essas relações se teceram e se mantiveram em harmonia com o meio, mas a expansão territorial do sistema monocultor logo cedo começou a comprometer o equilíbrio ecológico. A degradação dos recursos hídricos foi aumentando, como consequência do desmatamento a que foram submetidas as terras ribeirinhas, expostas ao pronunciado fenômeno de erosão, responsável pelo assoreamento dos cursos d'água, antes desimpedidos para a navegação. Vieram, então, procedimentos que os levaram à condição de cloaca a que estão hoje reduzidos.

O próprio nome Alagoas é a forma metaplástica do termo lagoa, no plural. A denominação toponímica foi empregada pelos primeiros habitantes da terra para designar a região compreendida entre a Pajuçara e o Porto do Francês; portanto, onde estão localizadas as maiores formações lacustres, servindo ainda para denominar a antiga sede da comarca e capital, Santa Maria Madalena das Alagoas do Sul, atual Marechal Deodoro.

No século XIX, com o advento das usinas, a água, o elemento nobre da velha paisagem dos engenhos nordestinos, passou a ser maciçamente corrompido. Dizia o Mestre Gilberto Freyre: “ao passo que o engenho honrou a água, a usina degradou-a. O monocultor rico fez das águas dos rios e das lagoas um mictório”. Um mictório de águas fedorentas, esgoto, lixo, vinhoto e calda, as velhas pragas que continuam sendo as maiores responsáveis pela degradação dos nossos cursos fluviais e lacustres. É bom lembrar que cuspir num rio era um dos piores crimes contra a moral que um habitante da antiga Mesopotâmia poderia cometer.

Chegamos então às belas praias da nossa capital, cartões--postais de cores inigualáveis, maculadas por levas e mais levas de horríveis manchas de poluição (esgoto doméstico?). Creio que só com a ação da Justiça e o aparelhamento e independência do Instituto do Meio Ambiente preservaremos o nosso maior tesouro.

A R T I G O

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A R T I G O

RELEMBRANDO

NISE DA SILVEIRA

É com permanente admiração que relembramos a figura extraordinária de Nise da Silveira, psiquiatra notável, que substituiu no exercício de sua profissão, os métodos em voga, no tratamento de doenças mentais pela terapêutica ocupacional e recreativa.

Segundo seu biógrafo, o escritor Ferreira Gullar, “(A) vida de Nise da Silveira é a expressão de um destino humano exemplar”. Em entrevista a ele concedida e publicada em livro, podemos captar aspectos privilegiados daquela personalidade feminina ímpar, acompanhando, através de depoimentos fidedignos, os fatos marcantes de sua pródiga existência.

Nascida em Maceió, no dia 15 de fevereiro de 1905 e falecida no Rio de Janeiro em 30 de outubro de 1999, era filha do professor Faustino Magalhães da Silveira e sobrinha de Luís M. da Silveira proprietário do Jornal de Alagoas e fundador do jornal Gazeta de Alagoas. Ela iniciou os estudos no Colégio Santíssimo Sacramento e fez o curso preparatório para ingressar na Faculdade no Liceu Alagoano. No exame final, foi-lhe sorteado um trecho do Cid de Corneille. O fiscal federal espantou-se com o desempenho da jovem e então perguntou: “Como é que essa menina escreve tão bem o francês”? Ela debitou aquele sucesso ao ensino das mestras sacramentinas.

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PORSOLANGECHALITA*

*Doutora em Letras ePresidente da Fundação

Pierre Chalita.

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Aprovada nos exames preparatórios foi para Bahia cursar medicina, sendo a única mulher na Faculdade onde estudavam cento e cinquenta e sete rapazes. Entretanto, a escolha da profissão não se originou propriamente de um apelo vocacional, pois como confessou a Gullar, quando via sangue ficava tonta. O que pesou na sua decisão foi a influência dos amigos que lhe frequentavam a casa e eram alunos de seu pai. Assim seguiu para Salvador com os seus colegas conterrâneos.

Colou grau em 1926 com a defesa da tese Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil. Após a morte do pai em 1927, a jovem doutora tomou um navio e seguiu para o Rio. Morou numa pensão no Catete, em seguida mudou-se para o Curvelo em Santa Teresa, onde se tornou amiga de Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, e Otávio Brandão, que havia entrado para o Partido Comunista, com quem Nise discutia muito sobre Cristo, Nietzsche, e Tolstoi.

A recém-formada iniciou-se profissionalmente na clínica de neurologia do Prof. Antônio Austragésilo. Embora não fosse remunerada, gostava do trabalho porque aprendia com as lições do catedrático e fazia novas amizades. Enquanto isso lia obras de literatura estrangeira, ao tempo em que se aprofundava no estudo da Psiquiatria. Surgiu a oportunidade de fazer um concurso público na área de sua especialidade. Aprovada, começou a trabalhar em 1933, no Hospital da Praia Vermelha. Em 1936, uma enfermeira, que fazia a limpeza de seu quarto, denunciou à administração, a existência de livros socialistas na pequena biblioteca da doutora. Levaram-na então presa para a Casa de Detenção, onde no Pavilhão dos Primários se juntou a outras prisioneiras. Nesse complexo presidiário foi vizinha

Terapêutica Ocupacional onde abriu oficinas de costura, encadernação, desenho, pintura e modelagem e causou uma revolução no meio psiquiátrico, conquistando a admiração de uns e o ódio de outros, sempre amada pelos pacientes nos quais priorizava a afetividade, tratando-os como seres humanos dignos de respeito e portadores de direitos.

A produção criativa dos pacientes passou a ser interpretada à luz da teoria junguiana com ênfase para os símbolos arquetípicos que, pertencentes ao inconsciente coletivo, emergem nos sonhos, nos mitos, na arte em geral.

Os trabalhos feitos na Seção de Terapêutica Ocupacional tornaram-se propriedade do Museu de Imagens do Inconsciente, criado em 1952. Esta iniciativa ganhou repercussão inclusive no exterior, tendo muitas obras sido expostas em mostras itinerantes.

Dra. Nise também criou a CASA DAS PALMEIRAS, clínica voltada a reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas e lançou mão de outras práticas de tratamento, como o esporte e a ajuda de cães e gatos, promovidos a coterapeutas. Ela deixou importantes publicações, entre as quais “JUNG - vida e obra (1968)”, excelente interpretação da psicologia profunda do mestre suíço; “O museu de imagens do inconsciente (1980)”; “A emoção de lidar (1986)”; “Imagens do inconsciente (1987)”; “Cartas a Spinoza (1990)”; “O mundo das imagens (1992)”; “Gatos, a emoção de lidar (1998)”.

Mas foi, sobretudo amando as pessoas, os animais e a vida que conseguiu legar à posteridade uma grande lição de solidariedade humana, abrindo, pelo afeto, o caminho para chegar ao outro.

de Graciliano Ramos. Tal encontro inesperado o escritor alagoano descreve de forma histórica e comovente em “Memórias do Cárcere”:

“Numa passada larga, atingi o vão da janela: agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos. Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

– Nise da Silveira.

Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. O marido, também médico, era o meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, em vivo constrangimento.”

Quando Macedo Soares assumiu o Ministério da Justiça, os presos políticos sem condenação ou processo foram soltos e assim Nise ganhou a liberdade em 1937. Passou a viver na clandestinidade em vários estados do Nordeste, reintegrando-se só em 1944 às antigas funções no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.

A pesquisa e a devoção ao estudo cada vez mais aumentavam a bagagem da intelectual alagoana. Essa sede de saber revitalizava sua prática profissional, embasada no gosto pela inovação científica, atenta ao que acontecia na Europa e nos Estados Unidos. Ela se sabia obrigada a acompanhar as experiências bem sucedidas em sua área de pesquisa como também compelida a rejeitar os métodos que julgasse inadequados ao tratamento da esquizofrenia. Competente e corajosa pôde, então, rebelar-se contra o estabelecido na Psiquiatria, negando-se a usar o choque elétrico, o de cardiazol e de insulina, além da prática da lobotomia.

Sua convicção apartou-a da possibilidade de trabalhar nas enfermarias, tendo sido locada, graças à compreensão do diretor geral do Centro Psiquiátrico Nacional, Dr. Paulo Elejalde, no setor de

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A R T I G O

A CULTURA

É DINÂMICA

Na juventude, estudei em diferentes países, onde fiz amizades, até hoje preservadas. São americanos, canadenses, suecos, iugoslavos e até um filipino. Com a chegada do WhatsApp, parece todos morarmos no mesmo quarteirão, por formarmos um grupo social denominado Hunza¹, através do qual nos comunicamos constantemente. Por este motivo, nos sentimos bem próximos uns dos outros. Eles comentam sobre o Petrolão, Dilma, Lula e me xingaram, muito, quando a Seleção Brasileira “tomou de sete”, dos bravos germânicos.

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*Membro do IHGAL eVice Presidente da Academia

Alagoana de Letras

PORROSTAND LANVERLY*

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Expliquei-lhe ser, o Brasil, um país multicultural, bem diferente do ambiente nórdico onde ela vive, cujos filhos descendem basicamente dos vikings. Nós, por outro lado, fomos influenciados, primeiro por indígenas, africanos e portugueses; depois, por imigrantes árabes, italianos e japoneses. As regiões brasileiras diferem muito umas das outras, principalmente pelas influências recebidas à época da colonização. Esta diversidade na miscigenação, emprestou-nos a grande quantidade de vivências, situações às vezes caóticas, como as por ela mencionadas, sabendo divertir-se e acima de tudo, ser feliz.

Cavalheirescamente, fiz ver à minha irmã europeia (residimos juntos, durante seis meses, com uma família californiana, no oeste dos Estados Unidos), que quando o homem surgiu, há milhões de anos, espalhando-se por todo o Planeta, encarou diferentes condições, fossem elas ambientais ou sociais. Adaptando-se, de várias formas, fez surgir, sociedades heterogêneas espalhadas pelo mundo. Ela, então, me falou de cultura, afirmando ser a mesma parte do que somos, nela estando reguladas nossa convivência, além da comunicação em sociedade.

O que considero importante é a consciência de que uma cultura não é estática, estando em constantes mudanças de acordo com os acontecimentos vividos por seus integrantes. Valores válidos no passado, se enfraquecem no contexto das novas gerações, a depender das necessidades surgidas pois o mundo social também não é estático.

Ao encerrar o bate-papo, fiquei meditando sobre nosso diálogo e restou-me a certeza de ser muito difícil, para uma sociedade cultural que vive em terras onde a neve cai oito meses por ano, compreender as inúmeras riquezas que possuímos... Aqui, até mesmo as formas de vestir, falar e comportar está ligada à cultura. São tesouros que se sobrepõem às tremendas falcatruas com as quais somos obrigados a conviver... O brasileiro é um povo alegre, contentando-se com pouco, e, justamente por isso, seria tão fácil satisfazê-lo em plenitude... aqui não existe Dengue, Chikungunya ou mosquito que abalem nossa esperança em dias melhores.

¹ Em tempo: Hunza é uma região banhada pelo rio do mesmo nome, localizada na fronteira entre a Índia e o Paquistão, também conhecida como Oasis da Juventude, pois, de forma impressionante, seus habitantes vivem, em média, 120 anos, quase nunca ficam doentes e sua aparência é sempre jovem.

Dias atrás, Christa, uma finlandesa da gema, em longo texto, demostrou sua preocupação com as notícias, divulgadas na imprensa europeia, sobre o avanço do Zica Vírus, em países da América do Sul, principalmente o Brasil. O que ela não acreditava, mesmo, era como, envolto em tamanhas crises, o povo brasileiro ostentava tanta alegria durante as espetaculares festas de carnaval, principalmente as do Rio de Janeiro e da Bahia.

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A R T I G O

TEATRO

ALAGOANO:

A CRISE OU

A MORTE!

Fazemos esforço insuficiente para ativar a memória, conquanto sobre temas que não nos interessam. Falamos de memória recente, mas também neste caso nos mostramos inaptos para lembrar dos fatos em geral e para tratar sobre os acontecimentos que nos emocionaram, revoltaram, decepcionaram, entusiasmaram, etc. etc. Esta é uma afirmação que fazemos e pode ser confirmada por cada um a partir da própria experiência ou como testemunha de depoimentos nesse sentido. Imbuído desta consciência e por gostarmos de teatro vamos tentar lembrar do movimento teatral em Alagoas no ano 2015, para que em outros momentos sirva de referência para o assunto.

Observemos que um dos mais importantes acontecimentos regulares do nosso meio teatral, o programa “Teatro Deodoro é o Maior Barato” contou com “baixa” participação de grupos, companhias e coletivos de teatro. Se não nos falha a memória, apenas três espetáculos de teatro concorreram para participação e notadamente foram selecionados.

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*Professor Mestre daUFAL, Membro do IHGAL

e Presidente da ATA.

PORRONALDODE ANDRADE*

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Caso tenha sido assim e considerando a respeitabilidade e confiabilidade que destacam a Diretoria de Teatros de Alagoas – DITEAL a frente do programa, é de se afirmar que a nossa produção de teatro é vigorosa e está qualificada para ocupar espaços de política cultural do governo estadual.

Foi exatamente sob os eflúvios de apenas três espetáculos, que pôde ser lida em um jornal diário dessa Capital, a frase contundente: “O teatro alagoano está morto! ”. Ou foi: “O teatro alagoano morreu! ”? – Ora, poucos dias antes a Diretoria Artística da DITEAL publicara o título das três peças então selecionadas para o “Teatro Deodoro é o Maior Barato” e nesta ocasião, também já era pública a realização do Festival de Teatro de Arapiraca, com participação única e exclusiva de grupos daquele município. Somente estes dois acontecimentos já contradizem a sentença. O mais sintomático foi que a publicação não se perdeu no ar e muito pelo contrário ecoou, causou espécie, provocou no seu autor a necessidade das explicações a uns e a outros sobre o real teor das palavras que emitiu. Marketing? Falha de memória? Qual o significado da afirmação? Não sabemos. Não saberemos.

Apesar de proclamada a “morte do teatro em Alagoas”, do pódio teatral “do poder” de Alagoas, contraditoriamente a realidade alagoana se mostrou viva, iluminada em vários espetáculos de teatro. E foi bonito ver a Associação Teatral das Alagoas – ATA, no ano de seu sexagésimo natalício, pôr em temporada o espetáculo A Terra do Lêdo Ivo, (versos selecionados por Ronaldo de Andrade), com direção do grupo, e estrear o musical infanto-juvenil A princesinha mimada e o dragão malvado, de Lauro Gomes e Macleim, com direção de Juliana Teles e Rivaldo Lisboa. A terra do Ledo Ivo fez pre estreias no programa Quintas no Arena e na programação do aniversário de 105 anos do Theatro Deodoro. Os espetáculos da ATA ocuparam o Teatro José Carlos Lyra de Andrade, no Centro Cultural Arte Pajuçara, com apresentações semanais nos meses de janeiro, maio, agosto, setembro e outubro; o Theatro Sete de Setembro, em Penedo, onde registrou sua longevidade em mármore; e o Teatro Gustavo Leite.

Lamentável foi não assistir o trabalho experimental sobre Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), sob o título Castelo do Prazer, realizado pelos estudantes do Curso de Arte Dramática, da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, com dramaturgia e direção de David Farias. Exultante foi ver O diário de Anne Frank, com dramaturgia e direção de Mauro Braga, pelo Grupo de Teatro Cena Livre, comemorando seu quadragésimo aniversário de fundação. Maravilhoso foi saber que a Associação Teatral Joana Gajurú fez mais uma vez seu Fritzmac,

de Artur Azevedo (1855-1908) e Aluisio Azevedo (1857-1913), na Praça Deodoro e que a obra de Clarice Lispector (1920-1977) proporcionou um dos mais entusiasmados projetos de criação teatral contemporânea em Maceió, sob o título Espectros, protagonizado por estudantes do Curso de Teatro Licenciatura, com sessões no Teatro Sala Preta e no Theatro Deodoro; enquanto a Companhia Nega Fulo se esmerou em apresentações do seu repertório: O romance de Clara Menina com Dom Carlos de Alencar, de João Cabral, Torturas de um coração, de Ariano Suassuna (1927-2014), Os saltimbancos, dos irmãos Grimm, adaptação de Chico Buarque de Holanda. E, sem dúvida, foi muito bom ter assistido mais uma vez o espetáculo Graciliano, um brasileiro alagoano: memórias de Heloísa, que em novembro de 2015 fechou o ano de atividades teatrais em Maceió. Além de outros trabalhos que a memória nos roubou, estas foram as montagens frutificadas nas experimentações ou melhoradas nos processos das apresentações, asfixiando o pessimismo e emudecendo a frase de efeito: “o teatro alagoano está morto”.

Ora, a morte do teatro só acontecerá com o desaparecimento dos humanos. Voz corrente afirma de maneira comprovada que o teatro é uma arte em crise constante, perene! A história mostra que nos momentos mais cruciais desta crise, mesmo quando se mencionou que o teatro estava agonizando, ele não morreu. Bem antes do Século XXI pesquisadores e encenadores quando conscientes de que o “teatro estava em crise” buscaram a vitalidade necessária onde se encontra a fonte de sua energia primordial: nos ritos ancestrais, nos paradigmas de sua espetacularidade ocidental, da tragédia grega a commedia dell'arte. Isto equivale dizer no Brasil: dos nossos ritos ibéricos, indígenas, africanos e dos nossos

dramas e comédias clássicas às manifestações dramáticas populares. E, possuídos pelas exemplaridades citadas teorizaram e muitas vezes realizaram contravenções inovadoras. Instaurados os novos procedimentos, o teatro sempre retomou o seu curso bravamente renovado e preparado para as crises futuras imanentes.

A dimensão de “morte” do teatro alagoano, sentenciada em 1995, não nos pareceu geradora de inquietação favorável ao próprio ser do teatro local. Ela sequer se aproxima das motivações que estimularam os encenadores e pesquisadores a promoverem o salto vital do teatro, restaurando o equilíbrio, a harmonia perdida, a comunicação. Ela não trouxe o seu emissor para a tomada de atitude que proporcionasse a vitória do “teatro” sobre a “morte”. Portanto, ele não esteve imbuído pelo espírito que mobilizou encenadores e teóricos de outros momentos, e que os levou a uma posição ativa ao invés de se colocarem como velhas carpideiras na cena do funeral do teatro.

A morte sem foice que tanto inquieta aos de teatro é a morte da qualidade estética eficiente em seu objetivo e não a morte do teatro dada a sua ausência esporádica. Por isto a crise perene. A crise de perfeição. A crise de Arte. O teatro também se mostra agonizante, muitas vezes, quando buscam reduzi-lo a quantitativos e presunções numéricas. O grito final do teatro é primal. Quando é necessário ele ecoa no espaço de sua comunidade, rasga a cortina do tempo para ostentar a sensibilidade humana, o fazer humano, o ser humano, isto é, suspende a realidade e dá início a mais um espetáculo. O teatro não morrerá em silêncio.

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A R T I G O

TANGERINAS

Em cima de um ônibus, sacolejo. Caminho de João Pessoa, Paraíba. E o lado bom, inesperado, de a cinquentona professora voltar a ser aluna, descobrindo lugares ares, fazeres, horizontes. Encantada. No ônibus, o motorista dizendo em monocórdica voz que estava à disposição de todos. Pequenas ilhas de pessoas, cada uma com seus assuntos silenciados. Eu no meio. Pensando no trabalho terminado. O prazer adolescente de aprender sem sobressaltos de prazos, reuniões, enxaquecas, patrões. Analisava em pensamento um conto de Rubem Fonseca, “O cobrador”. Sem me cobrar, sorrindo feliz, abestadamente.

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*Escritora e Pró-Reitorade Extensão do CESMAC

PORVERA ROMARIZ*

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Descansei o corpo e ativei a cabeça. Poderia melhorar o texto. Podia? Passado Pincéis Vera Romariz 8 o prazer inicial com o curso, precisava mostrar serviço. Adorava iluminar uma sombra qualquer do material que se oferecia, jovem e ingênuo, a minha caneta. A fúria do personagem de Fonseca, vingando-se da sociedade, me fascinava. Lembrava um filme recente, “Um dia de fúria”, Michael Douglas como o pai enlouquecido, vingando-se das convenções, do afastamento da filha que amava. E saía de arma em punho, atirando em tudo e em todos... De repente... um cheiro inesperado de fruta cortou meus pensamentos eruditos e deslocados. Cheiro forte, com vontade de “Venha me chupar, boboca”. De onde vinha o cheiro insidioso, delicioso, importuno? Das tangerinas na mão de um passageiro atrás de mim. Elas se ofereciam, atrevidas, em um bordel de cores e sabores. Covardia...

Meu nariz deu a ordem e olhei disfarçadamente: um senhor vestido de roupa surrada e limpa, um saco de tangerinas no colo e mão ágeis descascando uma por uma. Era o pai; corpulento como um cantor de ópera, espécie de maestro em cena, dando opiniões que ninguém pedia,tomando decisões, um protagonista. Dele emanava um jeito inquieto de quem jamais pararia para ler um livro, mas coordenaria com mão de ferro a despensa da casa. Alguém que tem solução pra tudo, certo Pincéis Vera Romariz 9 de que está certo, sempre. A filha (julguei), uma adolescente calada, recebia sem retrucar as frutas, que o pai descascava em ritmo ágil, sem bestas reflexões. Como quem alimenta um bebé.

O conto “Cobrador” é árido, seco, pouco tem a ver com a maciez das tangerinas. De repente, um susto. Interrompendo lembranças, Rubem Fonseca e seus personagens, uma mão larga atravessa meu rosto, rude e afetuosa: “Chupe, moça. Cê tá tão amarelinha”. E me entrega, descascada, mão segura e estendida, uma tangerina. Com um sorriso amarelo, aceito e enfio os dentes na maciez dos bagos oferecidos. Mordo o fruto, a saudade, largo Rubem Fonseca, o doutorado, volto ao tempo do velho pai, uma mão permanentemente estendida em minha direção.

No corredor vazio, feito fantasma, ainda sinto a sua figura pausada e afetuosa irrompendo na noite reencontrada, praticando pequenos atos delicados, quase femininos: torradas com chá, consertos em roupas das filhas, flores e livros em datas especiais. E, quando engravidei do primeiro filho: “A Verinha tão fraquinha... Tem pouca saúde. Será que vai aguentar o parto?” Minha mãe ria, despachada e sábia, ciente da força vital que o pai insistia em não ver, desejoso de congelar a menina das lembranças mornas da infância. Do tempo das tangerinas que não se perguntam. Pedaços do pai e da mãe estavam ali, no gesto de alimentar os filhotes, prazerosamente, cedendo ao cotidiano sem sobressaltos. Imagens cruzadas no ziguezague da memória.

Fragmentos assanhados da infância invadem o ônibus. Acendem luzes que só eu vejo. E o pai morto levanta da casa do Farol, viaja nas rodas do tempo, olhos verdes e mansos, iluminando as cadeiras mofadas com seu brilho discreto de sol de fim de tarde, como quem não quer sair, emprestando um ângulo especial à cena de que não fui protagonista. Entre Maceió e João Pessoa; entre eu e minha memória.

Maciez e tangerinas.(Maceió, 2011)

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A C E R V O

Caneta muda

A diversidade da cultura alagoana encanta por

suas cores, ritmos, letras e imagens. Este espaço é dedicado aos artistas

alagoanos, apresentando suas obras e difundindo

as suas artes.

Eu pensei tanto para tentarBusquei palavras para escreverE a maldita da caneta mudaNada tem pra dizer

O papel olhou pra mimEu retribui o olharE a maldita caneta mudaNada tem para falar

Conversei com a lapiseiraA borracha, os grampinhosCom o piloto e o marcadorMas nenhum conselho bem-vindo

Puxei assunto com a canetaEla não mudou de opiniãoContinuei a insistir,Mas ela me escreveu que não.

1º LUGARCARLINA ROCHA LEITEEnsino Médio da Fundação Bradesco

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ICONCURSODE POESIA

JORGEDE LIMA

Confira a premiação na seção Curtas, na página 05.

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Alagoas é minha terra,Osculada pelo mar,Uma beleza sem par,Dum povo bravo, feliz,Há nela amor, há candura,Onde Deus pôs a naturaMais romântica do país

Visitai a nossa orla,Semeada de coqueirosOnde os heróis jangadeirosVivem nas ondas a singrar,O quadro é belo, é lindo,Tanta jangada florindoO manto verde do mar ...

No Sertão de Alagoas,Neste nordestino Estado,Saudoso muge o gado,O passaredo a cantarO São Francisco correndo,Em meandro se torcendo,Se espelhando ao luar.

Vinde, turista aqui,De qualquer parte da terra,Vede o encanto que encerra,Mirai as nossas lagoas,Vede que terra fadada,Comei lagosta grelhadaNas praias de Alagoas.

Todo sertão tem lirismo,Mandacaru, tem jurema,Tem canto de seriema,Vaqueiros dizendo loas,Se Catulo ressuscitasse,Ele,talvez só cantasse, O sertão de Alagoas.

És aurora da República,No grito de Deodoro,És guerreira, te adoro,Nenhum povo te invade;De Zumbi, rei dos Palmares,Um brado cortou os ares,Clamando por liberdade.

Em Marechal, Porto Calvo,Há igrejas seculares,Andorinhas ruflam aos ares,Terra fértil, solo rico,Quando a lua vem surgindo,Penedo fica sorrindo,À margem do Velho Chico.

Alagoas é um Oàsis,Tem arroz, milho, feijão,Do litoral ao Sertão,Há riquezas colossais,Há usinas fumaçando,Açúcar e álcool exportando,Dos verdes canaviais.

O velho Graciliano,Sua obra São Bernardo,Vidas Secas é um legadoDo escritor imortal;Jorge de Lima, um vateHermeto, músico de arte,Um gênio universal.

Maceió tem praias lindas,Jatiúca, Pajuçara,Ponta Verde, joia rara,Os banhos atraem as pessoas,É a cidade sorrisoCapital de Alagoas.

2º LUGARANDREZA MONIQUE DE AZEVEDO ANDRADEEnsino Médio da Escola EstadualProfª Guiomar de Almeida Peixoto

Alagoas

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A C E R V O

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Texturas no céu

Tento decifrar o que Gaia tenta dizer,Será Afrodite ou Fântaso?

Mas, com amor eu espero e rezo,Para que qualquer divindade me escute.

Já dizia o ditado “O que os olhos nãoVeem, o coração não sente”

Será que estou enxergando certo?Mas, existe jeito certo?

Olho para Hórus e sua textura agora é obscuraFiz algo errado?

Desalentada procuro a resposta.Fantasia ou amor?Amor ou fantasia?

Se era amor, acabou.Se era fantasia, nunca existiu.Aos lamentos, espero e rezo.

Um clarão surge e me despeço.Mas, continuo esperando a resposta,

Qual a textura do céu?

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A C E R V O

3º LUGARKAMILLA RAMOS DE BARROSEnsino Médio do Colégio Santíssimo Senhor

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G E N T E

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Os traços quilombolas moldados no barro, pelas mãos de Irinéia Rosa Nunes da Silva, não negam a identidade cultural e religiosa da artesã. Nascida no mítico povoado Muquém, que abriga descendentes dos negros do Quilombo dos Palmares, a mestre ceramista Patrimônio Vivo de Alagoas, Dona Irinéia, não imaginava que levaria para o mundo os contornos expressivos dos seus ancestrais. A arte primitiva, transformada em peças de cerâmica, emociona a cada obra realizada.

A arte da mestrado Patrimônio

Vivo de Alagoasé reconhecida

em todo o mundo

O MUNDO

DE BARRO

DE DONA

IRINÉIA

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cabeça e outras partes do corpo pra poder pagar promessa. E a gente fazia tudo”, explicou a artesã.

Seu Toinho diz que a esposa foi sua professora. “Eu trabalhava com cana, parei, trabalhei com tijolo e telha e ela começou me ensinando. Eu ficava de lado observando ela trabalhar e aprendi. Tiro e carrego o barro, corto a lenha e também faço as peças”, diz o marido.

A fabricação de artefatos de cerâmica reflete um modo de fazer tradicional da comunidade que produz e vende essas louças utilitárias há gerações. Dona Irinéia é mãe de 11 filhos. Os filhos e uma cunhada também ajudam na produção das peças. Em virtude das dificuldades físicas próprias da idade, a ceramista repassou algumas técnicas de produção para os familiares que auxiliam com a confecção da conchinha e do nariz, enquanto Dona Irinéia molda as demais partes das obras. “O restante eu faço e fico satisfeita, porque se não fossem eles, não sei como seria”, explica.

O processo para o trato com a matéria-prima é feito de forma totalmente artesanal: retiram o barro dos barreiros, pisoteiam, amassam, moldam e queimam as peças que, sem nenhum tipo de pintura, ganham uma coloração avermelhada natural.

Os objetos criados são bastante peculiares, frutos das memórias e vivências de Dona irinéia. As cabeças negras são as que têm mais encomenda, “o pessoal gosta de botar nas piscinas, em pousadas”, observa Irinéia. As cabeças negras que trazem lábios, nariz, olhos, orelhas e cabelos delineados de forma sensível e expressiva. As peças são produzidas de diversos tamanhos, ornamentações e penteados. A pequena escultura com pessoas em cima de uma

no simbólico povoado do Muquém, comunidade de descendentes quilombolas, localizada no município de União dos Palmares, onde são criadas obras de grande e expressivo

valor artístico. Nas mãos de Irinéia Rosa Nunes da Silva, a Dona Irinéia, 67 anos, o barro avermelhado vira cabeças, vasos, panelas e se transformam em histórias de lutas e conquistas dos moradores dos Quilombos dos Palmares.

Mestra artesã do Patrimônio Vivo de Alagoas, desde 2005, Dona Irinéia é considerada uma das maiores ceramistas do estado. Os traços quilombolas de sua arte não negam a ancestralidade da artista, que usa apenas barro, lenha e talento para criar suas peças.

Aos vinte anos, Irinéia começou a ajudar sua mãe a moldar panelas de barro para colaborar no sustento da família. Mais tarde, iniciou a produção de peças para fiéis pagarem promessas, em Juazeiro, no Ceará. Para Dona Irinéia foram essas encomendas que fizeram sua imaginação acontecer , quando passou “ ”a moldar o barro com mais criatividade. “Depois que eu descobri minha arte acabou meu sofrimento”,

Ao lado de seu marido, Antonio Nunes, o Toinho, ela encontrou novas possibilidades para o trabalho com o barro. Os vasos e panelas passaram a ser substituídos pelas famosas esculturas, hoje conhecidas em todo país e até internacionalmente.

“Ele também mexia com barro quando era jovem. O pai de Toinho fazia telha e ele ajudava no acabamento. Depois que a gente se casou ele começou a ir buscar barro ali no barreiro e a gente começou a fazer algumas coisas além de panela e jarro. É que o povo encomendava mão de barro,

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jaqueira se tornou um clássico, devido ao seu valor histórico. Em 2010, palmarinos do Muquém enfrentaram uma enchente do rio Mundaú e tiveram que subir na árvore para sobreviver. Mônica, filha da artesã, foi uma das pessoas salvas graças aos galhos da árvore redentora.

Em 2004, Dona Irinéia foi finalista do Prêmio Unesco de Artesanato da América Latina e Caribe. “Eu não tinha noção de fazer nada com o barro usando a minha mente, aí foi que Deus me mostrou a minha arte e graças a ele deu certo. Quando estou longe do barro não estou feliz. É ele que faz a minha imaginação acontecer, ele é a minha vida”, disse a artesã.

Em seu ateliê, nos fundos de casa, a artesã conta que envia as peças para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Em 2015 esculturas da artesã foram levadas para Itália, a convite da Expo Milão, uma feira que reúne obras de arte de 140 países.

Em 2013, Dona Irinéia Nunes virou personagem do livro A menina de barro, da escritora Gianinna Bernardes, com ilustrações do alagoano Pablo Perez Sanches. A obra conta a

história de uma família que morava às margens do rio Mundaú, no interior de Alagoas, e vivia a partir da criação de objetos feitos do barro colhido na beira do rio. Certo dia, a chuva foi tanta que fez o rio transbordar, carregando tudo que havia pela frente. Para se salvar, a família teve que deixar quase tudo para trás, inclusive as peças de barro feitas com tanto amor. Durante a enchente, o ateliê de D. Irinéia ficou debaixo de água, e cerca de duas mil peças de cerâmica se perderam na enxurrada. “Vão-se os anéis, mas ficam os dedos. Foi esse o meu pensamento na época, e com muita fé e força de vontade, fui recuperando o meu trabalho e refazendo as encomendas”, recordou Irinéia.

Dona Irinéia carrega com orgulho o reconhecimento da arte que aprendeu com sua mãe, que vai além das fronteiras da comunidade isolada de quilombola. Ela usa sua multiplicidade de talentos para dar vida ao barro. É através dele e a partir de seu saber popular que modela sua própria identidade, projetando a imagem de seu povo no mundo. É do barro, da argila, da terra molhada com água que a arte e

a criatividade de dona Irinéia vão se espalhando e ganhando o mundo“Quando estou longe do barro não estou feliz. Ele é minha vida”.

É considerada Patrimônio Vivo de Alagoas a pessoa que detenha os conhecimentos e técnicas necessárias para a preservação dos aspectos da cultura tradicional ou popular de uma comunidade.

Os mestres devem ter suas atividades estabelecidas no estado há mais de 20 anos, repassando às novas gerações os saberes relacionados a folguedos e danças, literatura oral e/ou escrita, gastronomia, música, teatro, artesanato, dentre outras práticas da cultura popular.

Atualmente, quarenta mestres da cultura popular alagoana fazem parte do Registro do Patrimônio Vivo. O RPV foi estabelecido através da Lei Estadual nº 6.513/04, posteriormente alterada pela Lei nº 7.172/10. Os contemplados recebem, mensalmente, uma bolsa no valor de um salário mínimo e meio, concedida pelo Governo de Alagoas, através da Secult.

G E N T E

01.D. Irinéiatrabalha noateliê que ficano fundo de suacasa no povoadodo Muquém

02.As cabeças debarro são aspeças maisrepresentativasda artesã

03.A assinaturada artista emsuas obras

04.Arte da mestraceramista fazsucesso nasexposições

05.Esculturacom pessoasem cima dajaqueira setornou umclássico

PATRIMÔNIO VIVO

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O P I N I Ã O

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BEM-VINDOS

AO PALCO

É com imenso orgulho que o Governo de Alagoas faz chegar ao público esta revista, a Secult em Cena. Ao lado de levar à população informações sobre as ações do governo na área da Cultura, o alcance pretendido com a publicação vai muito além.

Ela serve, primeiro, como um convite a toda a gente alagoana para que conheça, use e desfrute dos equipamentos culturais que o Estado lhe oferece: museus, bibliotecas, arquivo público, memoriais e tantos outros locais de referência cultural, e mais os eventos e festas que contam a história e fazem a alegria do nosso povo.

E a outra grande utilidade da revista é servir de palco e fórum de debate sobre temas importantes relacionados à cultura alagoana.

Aqui, neste último ponto, reside o motivo maior do orgulho a que me referi no início.

A cultura alagoana é tão bela, tão rica, tão diversa e tão profundamente abrigada na alma do nosso povo que podemos afirmar, sem nenhum receio: nunca faltará assunto na pauta da revista para debate e pesquisa.

Seja nas nossas artes cênicas, na música, no cinema ou na dança, nos folguedos natalinos ou na alegria do nosso São João, no poema de cordel ou na

Que outra coisa pensar quando se vê e ouve um homem chamado Nelson tocando a rabeca que ele mesmo fez com pau de jaqueira? E a delicadeza de um caminho de mesa ou de uma toalha de renda que leva mais de um ano para ser bordada, ponto por ponto?

Por tudo isso e muito mais, aplausos de pé para a estreia da Secult em Cena.

Que venham ao palco os artistas de todos os matizes. Que se mostrem todas as vozes, todos os tons do colorido alagoano. Que nasçam e cresçam os novos hermetos e heckels, jofres, gracindos, rosalvos e chalitas, jararacas, gracilianos e djavans, filhos queridos e talentosos desta terra.

E que possa florescer nas páginas da revista um debate amplo, profundo e democrático, para que a nossa cultura venha a ser ainda mais bela e acessível ao povo.

literatura da mais alta qualidade, no artesanato popular ou na delicadeza da arte de nossas rendeiras – seja em que canto for, da beira-mar ao Sertão, esta terra das Alagoas é habitada, desde os primeiros caetés e quilombolas, por um povo que supera tudo, e graças ao puro talento inato, com mãos rudes e sabedoria indomável, produz beleza e poesia.

PORRENANFILHO*

*Governador do Estado

ARQUIVO

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