10 - Ler - Absolvição Paraiba

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    wt#t g t r t p. ,tav,. 1 , 0 11 . 4 ' 1 ! ine4141-ESTADO DA PARABAPODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA

    APELAO CRIMINAL N 095.2006.000256-5 / 001RELATOR :ES. NILO LUIS RAMA LHO VIEIRAAPE L ANT EMARIA PE RE IRA DOS SANT OSA D V O G A D OE D M U N D O D O S S A N T O S C O S T AAPE L ADOA JUST IA PB L ICA

    VOTO VENCIDONarra a exordial acusatria, fls.03/04 que "no dia 24do ms de abril do ano corrente 2006, no centro da cidade de Arara, termodesta comarca, a Sra. MARIA PEREIRA DOS SANTOS, VULGO "MARIA PEBA",matinha por sua conta prpria, casa de prostituio, com o intuito de lucro,inclusive, recebendo de cidades vizinhas, a exemplo de Solnea e Remigio,vrias prof issionais do sexo, que com ercializavam o seu corpo no estbalecimento

    da increpada , que recebia como comisso e cesso d os ptridos, infectos e anti-higinicos quartos, a quantia de R$ 5,00 (cinco reais) por cada programaefetivado, alm de m anter um bar com numerosa cl ientela, mediante a venda debebidas alcolicas...".Por tal fato a r foi condenada nas penas do art.229, caput, do Cdigo Penal, pena privativa de liberdade de 03 (trs) anos de recluso, em regime inicial aberto, alm de 30 (trinta) dias-multa, razod e 1/30(um trigsimo) do valor do salrio mnimo vigente poca dos crime, tendo aps,sido convertida em restritiva de direitos na modalidade de prestao de servios comunidade e multa equivalente a R$415,00 (quatrocentos e quinze reais).Analisando-se detidamente os autos conclui-se quedeve ser dado provimento ao apelo, para absolver a acusada, por manifestaatipicidade de sua conduta.A conduta prevista no artigo 229 do Cdigo Penal,no mais enseja punio, visto que lhe falta tipicidade material, vez que o DireitoPenal existe para proteger bens relevantes para a sociedade e esta deixou deconsiderar casas de prostituio como ofensivas sua moralidade, permitindo,s escncaras, a manuteno de motis destinados a encontros libidinosos,

    inclusive com alvars de funcionamento 17_

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    Se assim , punir o ilcito descrito no art. 229 doCdigo Penal, nos dias atuais, significaria ressuscitar uma moral j ultrapassada,pondo em cheque o ideal de justia.

    Pondere-se que a existncia de estabelecimentosdestinados promoo de encontros sexuais percebida, tolerada e aceita emtodo o pas, sob as mais diversas denominaes e fachadas, como casas demassagens, motis, dentre outros. Esses estabelecimentos funcionam,diariamente, sob os olhares do Estado-Administrao, que, no entanto, j no asv como nocivas, tanto que lhes concede alvars de autorizao parafuncionamento e beneficia-se com os tributos oriundos da atividade que exercem.

    Em suma, embora ainda figure no Cdigo Penalvigente, - este dos idos de 1940 -, a conduta a que se refere o seu art. 229 (casade prostituio) deixou de ser vista conta de delituosa. E deixou de s-lo,porque se trata de um conceito moral reconhecidamente ultrapassado e que jno tem mais como se sustentar nos dias atuais. A sociedade hodierna culminoupor ditar uma realidade que acabou por afastar a ilicitude daquela conduta - a doart. 229 -, tornando-a, em conseqncia, atpica, em nome da evoluo doscostumes.

    No presente caso, aplica-se o princpio daadequao social, segundo o qual permitido desconsiderar a tipicidade materialdo fato, ainda que formalmente tpico, em virtude no alcanar significativaimportncia no campo penal, face a sua plena aceitao pela sociedade.

    Nessa linha de raciocnio, o magistrio do notvelpenalista Rogrio Greco, litteris:

    "Oprincpio da adequao social, na verdade,possui uma dupla funo. Uma delas, j destacada acima, a de restringir ombito de abrangncia do tipo penal, limitando a sua interpretao, e deleexcluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pelasociedade. A sua segunda funo dirigida ao legislador em duas vertentes. Aprimeira delas orienta o legislador quando da seleo das condutas que desejaproibir ou impor, com a finalidade de proteger os bens considerados maisimportantes. Se a conduta que est na mira do legislador for consideradasocialmente adequada, no poder ele reprimi-la valendo-se do Direito Penal.Tal princpio serve-lhe, portanto, como norte. A segunda vertente destina-se afazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamentojurdico a proteo sobre aqueles bens cujas condutas j se adaptaramperfeitamente evoluo da sociedade. Assim, da mesma forma que o princpioda interveno mnima, o princpio da adequao social, nesta ltima funo,destina-se precipuamente ao legislador, orientando-o na escolha de condutas aserem proibidas ou impostas, bem como na revogao de tipos penais". (InCurso de D ireito Penal. Rio de Janeiro: mpetus, 2003. p. 61).

    No bastasse tudo isso, de se verificar imperioso configurao do delito, que tenha o - esitabelecimento, inequivocamente, setransformado em local de prostitui9crou,seja, que se trate de casa aonde chega

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    lima pessoa com bons princpios e que vai se prostituir e, no apenas, em lugarreservado para encontro de casais, como ocorre no presente caso.

    A bem mostrar essa realidade e a ratificar opensamento aqui esposado, o pensar de Guilherme de Sousa Nucci, quandoem seu "Cdigo Penal Comentado", em abordagem aos objetos material ejurdico do tipo "Casa de Prostituio", a assim se pronunciar, verbis:

    "Quanto persistncia desse tipo penal, cremosdispensvel. preciso no fechar os olhos realidade, pois a prostituio,queiram alguns setores da sociedade ou no, est presente e atuante, alm deexistirem vrios locais apropriados para o seu desenvolvimento. Com o nome demotel, casa de massagem, bares ou cafs de encontro, saunas mistas, dentreoutros, criaram-se subterfgio variados para burlar a lei penal. Robora-se aermissividade diante do principio da legalidade, pois os tribunais ptrios novm condenando os proprietrios desses estabelecimentos sob o pretexto deque no so lugares destinados, exclusivamente, prostituio, vale dizer, noso casas de prostituio, mas motis, bares, saunas ou casas de massagemque podem abrigar condutas configuradoras da prostituio. No se critica a jurisprudncia; ao contrrio, deve-se censurar a lei, persistindo em impingir umcompo rtamento m oralmente elevado - ou eleito como tal - coletividade atravsde sanes penais. Os que forem contrrios aos locais de prostituio devembuscar sanar oque consideram um problema atravs de campanhas deesclarecimentos ou educao m oral, mas jamais valendo-se do direito penal, queh m uito tempo m ostra-se ineficaz para combater esse com portamento. Por outrolado, j que a prostituio no , pen almente, proibida, no h razo para o tipopenal do art. 229 subsistir. Se, porventura, o local destinado a encontrosl ibidinosos provocar desrespeito a direito alheio - algazarra com perturbao dosossego, congestionamento no trnsito, exposio ofensiva ao pudor etc. -,merece ser sanada a questo por outros mecanismos, abolindo-se a policia decostumes, especialmente no atual estgio de liberdade atingido pela sociedade"(Op. cit. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 70 7/708).

    Esta Cmara enfrentado matria semelhante, emprocesso de minha relatoria, j decidiu:

    "Penal. Processual. Apelao. Casa de Prostituio. Conduta materialmente atpica. Princpio da AdequaoSocial. Aplicabilidade. Absolvio. Imposio.

    O fato de o agente, em sua prprio estabelecimento, manteraposentos destinados, ou no, prtica de atos sexuais,situao de pleno conhecimento da comunidade eautoridades, no est, s por s, a supedanear arrimosuficiente e capaz de configurar o tipo "Casa de Prostituio".Aplicabilidade do Principio da Adequao Social.A conduta prevista no artigo 229 do Cdigo Penal, no maisenseja punio, visto que lhe falta tipicidade material, vez queo Direito Penal existe para proteger bens relevantes para asociedade e esta deixou de considerar casas de prostituiocomo ofensivas sua m oralidade, permitindo, s escncaras,a manuteno de moNis destinados a encontros libidinosos"(APELAO,_ CRIMINALN.076.2008.000110-0I01,"

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    .elator: Des. Nilo Luis Ramalho Vieira, Data de Julgamento: 1/11/2009).De outra banda, entendo que, tratando-se a apelantede pessoa humilde, do interior, sequer tinha conhecimento da ilicitude da sua condutadevendo ser aplicado o art. 21 do CPB, posto que certamente a acusada pensava quese na Capital existem locais licenciados, que funcionam com autorizao do governo,destinados a aluguel de apartamentos e quartos para encontros amorosos/sexuais,onde diariamente a policia passa na porta destes estabelecimentos, e no h problemaalgum, por que s a casa da apelante constituiria crime?

    Desta forma, luz do exposto, entendo que deve-se darprovimento ao apelo, para absolver a apelante do delito previsto no artigo 229 doCdigo Penal.

    Joo Pessoa, 05 de maro de 2010.

    30 LU&Rain-(' Desembargador Relator

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    .4JC ,iPCoordenadoria Judiciria

    Regstrado

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