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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTOS DE CIDADE-UF MPF n° ...... IRPJ W LTDA ME , pessoa jurídica de direito privado, com sede na rua .............., nº ...., Bairro ............. em Cidade-UF, CEP n°........, inscrita no CNPJ sob o n.º 00.000.000/0000-00 (doc.01), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria, apresentar Impugnação ao Auto de Infração contra ela lavrado relativamente ao COFINS, o que faz com base nos artigo 14 e seguintes do Decreto nº 70.235/72, com alterações feitas pelas Leis nºs 8.748/93 e 9.532/97, em virtude dos fundamentos de fato e de direito que passa a expor. 1) Fatos que originaram a Autuação Fiscal A empresa atua no comércio atacadista de mercadorias atendendo um número muito grande de pequenos

1.1 Impunação - não cabimento do arbitramento

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defesa administrativa

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Page 1: 1.1 Impunação - não cabimento do arbitramento

ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTOS DE CIDADE-UF

MPF n° ......

IRPJ

W LTDA ME, pessoa jurídica de direito

privado, com sede na rua .............., nº ...., Bairro ............. em Cidade-

UF, CEP n°........, inscrita no CNPJ sob o n.º 00.000.000/0000-00

(doc.01), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria,

apresentar

Impugnação

ao Auto de Infração contra ela lavrado relativamente ao COFINS, o

que faz com base nos artigo 14 e seguintes do Decreto nº 70.235/72,

com alterações feitas pelas Leis nºs 8.748/93 e 9.532/97, em virtude

dos fundamentos de fato e de direito que passa a expor.

1) Fatos que originaram a Autuação

Fiscal

A empresa atua no comércio atacadista de

mercadorias atendendo um número muito grande de pequenos

comerciantes situados em ............ e circunvizinhança, sendo esta a

base territorial da autuada.

Os produtos objetos de revenda são bebidas

alcoólicas, cerveja, refrigerantes e gás de cozinha, sendo que afora

as chamadas bebidas quentes todos os demais itens possuem o ICMS

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retido na fonte por mecanismo de substituição tributária, e os

tributos federais – PIS/COFINS/CSSL e IR – são calculados por

ocasião da ocorrência dos seus respectivos fatos geradores.

O gás não tem tributação de PIS/COFINS.

Tal comércio gera uma margem de lucro

líquido muito pequena, sendo que, na maioria das vezes, não é nada

compensador o desenvolvimento desta atividade, conforme se

demonstra pela própria contabilidade do período-base de 2002.

Uma das peculiaridades deste setor da

economia em razão do número elevado de transações comerciais, é

que os cheques de terceiros/ consumidores são utilizados pelos

comerciantes varejistas para pagamento de seus fornecedores,

fornecedores atacadistas (p.ex a W), empregados, tributos e outros,

tudo no intuito de economizar a CPMF.

A W, que é comerciante atacadista, por sua

vez, fica com o encargo de receber cheques de terceiros e depositá-

los na sua conta corrente e passa a pagar os seus inúmeros

fornecedores com estes valores – prática utilizada por todos os

comerciantes atacadistas e varejistas.

No intuito de controlar com eficiência este

sistema de pagamentos e recebimentos, a empresa resolveu

centralizar na conta “caixa” toda esta movimentação financeira,

criando um livro auxiliar que demonstrasse o movimento diário dos

pagamentos e recebimentos, já que o livro diário não fornecia com

detalhes a movimentação financeira da empresa.

Estes cheques de terceiros – que na maioria

das vezes nem eram clientes diretos da W – foram depositados no

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ano de 2002 em contas bancárias nos bancos I, B e H como muito

bem constatou a auditora fiscal que lavrou o respectivo auto de

infração.

Tais contas, embora não possuíssem um

registro escrito na contabilidade, eram interligadas de fato com a

conta “caixa”, cujos valores não foram omitidos da tributação do

IR/PIS/COFINS/CSLL, como quis demonstrar a autoridade fiscal. Em

verdade, todas as movimentações destas contas bancárias foram

escrituradas numa única conta contábil com desmembramentos no

livro auxiliar denominado de “movimento de caixa”, conforme se verá

quando da realização da perícia contábil.

Ocorre que a auditora fiscal houve por bem

em desconsiderar toda a contabilidade tornando-a imprestável para a

apuração do lucro real, bem como adicionou os depósitos bancários

como não contabilizados, considerando estes como omissão de

receita.

Diante desta verificação por parte da

auditora, esta lavrou quatro autos de infração contra a W, a saber: o

primeiro a título de Imposto de Renda, o segundo para a CSLL, o

terceiro para o PIS, e o quarto e último, para a COFINS.

Em razão destes fatos elencados e nos termos

do artigo 15 e seguintes do Decreto nº 70.235, elabora-se a presente

impugnação ao Auto de Infração emitido para a exigência da

COFINS da impugnante, a qual entende não ser cabível o respectivo

arbitramento de lucro.

2) Do Não-cabimento do Arbitramento de

Lucro

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A legislação tributária relaciona, de forma

taxativa, as hipóteses em que a autoridade administrativa pode

desconsiderar a grandeza oferecida a tributação pelo contribuinte -

Lucro Líquido – e passe a mensurar este mesmo lucro pelo método

de arbitramento com valores diferentes do apontado pelo

contribuinte. Noutras palavras, o fiscal despreza o lucro líquido

apurado pelo contribuinte nos livros fiscais/contábeis e atribui outro

no lugar deste.

A hipótese escolhida pela fiscal repousa sobre

o artigo 530, inciso II, do RIR/99, conforme reproduzimos para

esclarecer o seu próprio conteúdo:

“Art. 530 – O imposto devido trimestralmente, no decorrer do ano-calendário, será determinado com base nos critérios do lucro arbitrado, quando (Lei n.8.981 de 1995, artigo 47 e lei n.9430, de 1996, art. 1°): (omissis) II – a escrituração a que tiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraudes ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para:a)identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária; ou b)determinar o lucro real;”

Na opinião da fiscal, a escrituração contém

erros e falhas – “lançamentos por partidas mensais” – que tornam a

contabilidade imprestável, para apuração do lucro real, ou seja, na

sua opinião “os lançamentos por partidas mensais geram

automaticamente a imprestabilidade para a apuração do lucro real” –

cujo fundamento repousa sobre o artigo. 530, II, ‘b’, do RIR/99.

Senhor Julgador, a escrituração do livro

diário por partidas mensais, combinado com a escrituração do livro

caixa auxiliar, por onde passaram todos os pagamentos e

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recebimentos no ano-base de 2002 de forma diária, não permitem o

arbitramento do lucro, conforme demonstramos através da

jurisprudência administrativa:

“DEPÓSITO BANCÁRIO NÃO CONTABILIZADO – Logrando o contribuinte comprovar que o movimento bancário, embora não registrado em conta apropriada, figura no movimento da conta ‘caixa’, insubsistente torna-se o arbitramento dos lucros.”(AC CSRF/01-1 1163/91, DO 26.10.94)

Mais clara está a posição do Conselho de

Contribuintes sobre a matéria em questão:

“DESDOBRAMENTO DOS REGISTROS CONTÁBEIS – Não dá causa ao arbitramento do lucro a manutenção, pela pessoa jurídica, de escrituração resumida do livro Diário, quando ficar comprovado: a) que não lhe é dado prazo razoável para proceder ao desmembramento das diversas contas; b) a contribuinte promoveu, na fase impugnativa, discriminação das parcelas contabilizadas de forma resumida; c) a documentação comprobatória foi colocada a disposição do fisco; e d) não foram apontadas falhas ou irregularidades que tornassem imprestável a escrituração mantida pela empresa e, de conseqüência, impedisse a apuração do lucro real.” (AC 1° CC 101-84.273/92, DO 20.06.94)

Tal acórdão revela e demonstra que o

arbitramento do lucro deve ocorrer somente em casos extremos, e

também que devem ser cumpridos os quatro mandamentos de ordem

material, conforme narrado no texto acima, para dar validade a

conduta do agente fiscal.

Dos quatro mandamentos, a impugnante irá

demonstrar que a conduta do arbitramento não satisfaz nenhuma

delas, conforme iremos descrever utilizando-se da seqüência do

próprio acórdão:

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a) primeiro ; a

auditora fiscal determinou que a empresa regularizasse a

contabilidade sem explicar que queria, na realidade, o

desmembramento das contas de forma diária com o objetivo de

identificar o Lucro Líquido pelo método real – o auto de infração não

cumpre o primeiro requisito de validade;

b) segundo ; o

contribuinte demonstrará, quando da perícia, acompanhada por

perito e auditor fiscal o desmembramento da conta caixa e

justificará o movimento bancário no livro auxiliar – segundo

requisito que leva o auto à improcedência;

c) terceiro ; toda a

documentação dos lançamentos de forma resumida – onde se

identifica perfeitamente o lucro líquido – esteve à disposição da

fiscal, que poderia verificar perfeitamente a existência ou não do

Lucro Real, ou seja, a autoridade administrativa tinha como

identificar o lucro real pelos documentos – terceiro requisito que

leva o auto à improcedência;

d) quarto e último

requisito; a contabilidade foi dada como imprestável pelo simples

fato de ser resumida e mensal. Não se apontaram as deficiências e

situações que não permitiram visualizar o lucro líquido pelo método

de lucro real – o arbitramento também não satisfaz o último

requisito de validade.

E, a doutrina da renomada jurista Maria Rita

Ferragut só vem reforçar os argumentos acima expendidos. Veja-se o

contido às fls. 144 da sua obra intitulada “Presunções no Direito

Tributário”:

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“Os vícios, erros ou deficiências só legitimam a utilização do arbitramento se os mesmos tornarem a documentação imprestável para os fins a que se destina, vale dizer, se comprometerem a descoberta do objeto que se pretende provar. Se o Fisco tiver meios para sanar os erros apontados, deve suprir oficiosamente tais irregularidades. Exemplo típico é o da escrituração contábil que, por ser composta por milhares de lançamentos, é altamente passível de erro. Isso não significa, no entanto, que o erro em um ou mais lançamentos comprometa o valor probatório do conjunto, que apenas será afetado se, e quando, tornar impossível a prova do objeto principal a que visa, tais como o lucro, o faturamento etc.”

E mais adiante, às fls. 152 da mesma obra,

prossegue:

“ Além disso, temos também que, com o advento da Lei nº 9.784, de 29.01.99, que regula o processo administrativo federal, ao contribuinte é permitido produzir provas até o momento da decisão administrativa de primeiro grau1, o que provavelmente deverá alterar o entendimento da jurisprudência administrativa federal. Assim, caso o contribuinte tenha se recusado a colaborar com a fiscalização e, após o arbitramento, apresente todos os documentos inicialmente solicitados, o ato jurídico deverá ser alterado ou anulado, aplicando-se ao contribuinte multa por infração a dever instrumental, nos termos da lei disciplinadora da matéria.. Não poderá, no entanto, deixar de ter seus documentos apreciados pela Administração, em face da alegação da incondicionalidade do arbitramento2.”

1 É o que estabelece o artigo 38 da Lei 9.784/99, conforme a seguir: “O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada de decisão, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo”.2 Decidiu a 2ª Turma do TRF da 4ª Região (proc. nº 0435475, Relator Desembargador Teori Albino Zavascki, v.u.) o seguinte: “Tributário. Imposto de Renda. Arbitramento. Também no lançamento por arbitramento vigora o princípio da verdade real. Assim, se, no curso do prazo para impugnação do auto de infração, a empresa apresentou declaração de renda formada à base de escrituração regularizada e apurando prejuízo, incabível a sustentação, pura e simples, do lançamento por arbitramento antes efetuado. Sentença mantida”.

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Vê-se claramente, pela orientação do

Conselho de Contribuintes, da própria Câmara Superior de Recursos

Fiscais e da melhor doutrina, que na presente investigação fiscal não

caberia o arbitramento do lucro em face do desmembramento da

conta “Caixa” em livros auxiliares quais permitem facilmente

identificar a movimentação financeira da impugnante e da ausência

dos quatro requisitos formais firmados pelo Conselho de

Contribuintes.

3) Do Prazo Insuficiente para a Atualização da Contabilidade

A própria auditora fiscal confessa que o prazo

foi insuficiente para atualização da contabilidade, conforme

narramos:

“Para tentar sanar a irregularidade, o contribuinte foi intimado, através do Termo de Intimação nº ... (19/08/2003), Termo de Reintimação Fiscal (05/09/2003), Termo de Intimação Fiscal nº ... (01/10/2003), a apresentar a escrituração de acordo com o disposto na legislação, ou seja, com lançamentos individualizados e diários, sendo que após transcorridos 50 dias da primeira intimação, em 09/10/2003, o contribuinte informou que não é possível apresentar a escrituração contábil diária, devido a curto prazo de tempo, e também pelo fato de a contabilidade ser efetuada em escritório terceirizado.” (Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal(is) – Auto de Infração)

Vê-se claramente que para passar de

lançamentos mensais e resumidos para lançamentos diários e

desmembrados de todo o ano de 2002, o prazo de 50 dias dados pela

fiscal era humanamente impossível de ser cumprido pela estrutura

contábil do contribuinte.

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Empresas pequenas não dispõem de recursos

financeiros e humanos para executar tarefas de tal magnitude em tão

curto espaço de tempo, ou seja, doze meses de contabilidade diária

jamais conseguiriam ser executados em 50 dias de trabalho.

O único livro que a empresa conseguiu

produzir neste lapso de tempo – inobstante a impossibilidade de

juntá-lo aqui em razão do volume de documentação que o subsidia e

justifica - mesmo as pessoas que trabalham na contabilidade,

trabalhando ainda em torno de 18 horas diárias, foi o Livro Auxiliar

que demonstra e abre toda a movimentação financeira e bancária da

empresa, inclusive com a escrituração das contas bancárias e

depósitos citados como “omissão de receita”.

Sr. Julgador, o senhor bem sabe como agente

fiscal que este tempo deferido pela fiscal é insuficiente para abrir e

especificar todas estas movimentações apontadas; por maior boa

vontade que se tenha. É por esta razão que a perícia aqui é

importante, pois somente com o acompanhamento do agente fiscal

na especificação de toda esta documentação é que se estará fazendo

homenagem a verdade material.

Após e tão somente após o acompanhamento

e análise das especificações da movimentação bancária no livro

auxiliar pelo perito e auditor fiscal é que se poderá apurar

verdadeiramente os fatos, as operações que constituem cada

lançamento apontado e aí sim a tributação.

Do contrário estar-se-á fazendo da exigüidade

de tempo a arma, a mola mestra, justificadora do arbitramento e não

a efetiva imprestabilidade da contabilidade como deve em tese

ocorrer.

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A jurisprudência tem entendido que o pouco

tempo deferido para atualizar os livros contábeis e fiscais dados

pelas autoridades nas suas respectivas intimações, onde geralmente

o contribuinte não consegue cumprir o prazo, não podem servir como

base de fato para propor o arbitramento. Vejamos o teor de algumas

delas:

“IRPJ – ARBITRAMENTO DE LUCROS – O arbitramento de lucros, por desclassificação da escrita contábil, é procedimento extremo. Tal medida deve ser aplicada quando o contribuinte, intimado de forma clara e objetiva para providencia a regularização da escrita, concedendo-se prazo razoável para seu atendimento, deixar de atender à fiscalização.”(Acórdão n.CSRF/01-04.557 – DOU de 11.08.03)

“Arbitramento. O lapso de tempo de algumas horas para apresentação de documentos, com ausência de negativa, mas tão só resposta que naquele espaço de tempo alguns livros não eram entregues, não justifica a tributação por arbitramento, que é forma de apuração do lucro, em regra, mais gravosa, não podendo prescindir da real e efetiva tentativa do Fisco em apurar o devido pela forma completa.” (Processo nº 01-02.590, CSRF-1ª Turma, unânime, Rel. Celso Alves Feitora, publ. 13/08/99, p. 05)

“Imposto de renda pessoa jurídica – Lucro Arbitrado – Não merece prosperar o lançamento decorrente de arbitramento de lucros da pessoa jurídica, se a autoridade fiscal não aprecia durante o procedimento, petição a ela dirigida no sentido de que lhe seja concedido prazo para reconstituição de Livro Caixa, dado como extraviado. Por se constituir em medida extrema, a aplicação do arbitramento só deve ser utilizado como último recurso, por ausência absoluta de outro elemento que forneça os dados necessários à verificação da base imponível do tributo. Decorrência – Imposto de renda na fonte – Tratando-se de lançamento reflexo, a decisão prolatada no lançamento matriz, é aplicável, no que couber, ao decorrente, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula. Recurso provido.” (Processo nº 105-12.987, 1º CC/Federal - 5ª Câmara, maioria, Rel. Luiz Gonzaga Nóbrega, publ. 11/02/00, p. 07)

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Portanto, em não tendo sido dado tempo

hábil ao contribuinte para a atualização e especificação da escrita

contábil, resta improcedente o auto de infração.

4) Dos Depósitos Bancários

Na realidade, Senhor Julgador, a única

irregularidade identificada pela autoridade fazendária resume-se no

fato de que o “contribuinte deixou de escriturar contas bancárias de

sua titularidade” cuja conduta acabou levando ao arbitramento do

lucro, ou seja, a fiscal não constatou nenhuma omissão real de

receita na contabilidade – até porquê, não existe a dita ocultação de

fatos econômicos a tributação de IR/PIS/COFINS/CSLL, como se verá

com a abertura dos registros constante do livro auxiliar, em fase de

perícia.

Tais depósitos bancários, conforme já

demonstrado, foram reconhecidos e escriturados de forma indireta

na conta “caixa” sem ter registro na contabilidade. Sendo mais claro,

isto quer dizer que a contabilidade pecou por uma irregularidade de

ordem formal e não material como quis demonstrar a autoridade

fiscal.

Neste sentido, veja-se a posição do Conselho

de Contribuintes sobre a questão em pauta:

“Vícios formais, passíveis de regularização, não são suficientes para determinar o arbitramento do lucro, quando existe a escrituração e a documentação em que ela se fundamenta, à época em que ocorre a fiscalização, e essa escrituração e documentação são, desde logo, colocados a disposição do fisco, para seu exame. (AC 1° C.C. 105-3.920/89 – DO 14/09/90)

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O não registro contábil das contas-correntes

no presente caso não representa uma omissão de receita, mas sim,

mero erro de formalidade quanto ao procedimento já que as mesmas,

de forma indireta foram reconhecidas pelos livros auxiliares da

conta-caixa. Temos então que o numerário depositado nas contas em

questão, possuem identificação e estão perfeitamente lastreados em

operações comerciais. Basta agora pela escrituração do livro auxiliar

checar todas estas operações e suas justificativas.

Esta checagem poderia ter sido realizada

pelo agente fiscalizador, apenas levaria um tempo significativo e foi

por isto que ela preferiu o arbitramento.

Senhor Julgador; por este livro auxiliar vê-se

que os depósitos bancários representam um ingresso de

receita/numerário por conta de venda de mercadorias, respaldado no

faturamento, conforme se atesta pelos lançamentos diários.

Assim, tais depósitos não podem ser

considerados ou taxados como “Omissão de Receita” já que os

mesmos são lastreados em INÚMERAS operações comerciais

devidamente oferecidas a tributação do IR/CSLL/PIS/COFINS. Resta

claro que os depósitos não estão soltos ou não justificados como diz

no auto de infração.

Na realidade, os valores de tais depósitos são

as próprias receitas declaradas e devidamente tributadas pelo fisco

federal, ou seja, estes valores estão embutidos dentro do valor já

tributado, não constituindo em receita nova ou ocultada da

tributação.

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Tal procedimento de arbitramento acabou

por tributar duas vezes a mesma grandeza econômica, o que é

inaceitável perante o nosso sistema de tributação.

5) Dos Percentuais de Arbitramento

Se permanecer este arbitramento – o que

achamos difícil - o percentual de lucro dos 2°, 3° e 4° trimestres de

2002 devem ser revistos, pois a suposta omissão de receita, que não

existe, não advém da prestação de serviços e sim da revenda de

mercadorias, ou seja, o coeficiente de arbitramento deve ser

reduzido de 38,40% para 9,6% sobre os respectivos “depósitos

bancários não contabilizados”, já que os mesmos são lastreados em

revenda de mercadorias.

Tal afirmativa advém do próprio Livro

Auxiliar que registrou a movimentação financeira, inclusive a

bancária no ano de 2002, identificando perfeitamente os depósitos

com a venda de mercadorias, sendo neste caso proibida a adição do

percentual mais elevado de lucro, conforme preconiza o art. 537 do

RIR/99 – art.24 §1° da Lei nº 9.249/95.

Tal adequação de percentual deve ser feito

também em razão do art.2° da Lei n° 9.784/99, o qual reproduzimos:

“Art. 2°- A Administração Pública obedecerá dentre outros, os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.”

Adicionar o percentual mais elevado da

prestação de serviços – 38,40% - sobre os depósitos bancários não

contabilizados (contabilizados indiretamente pelo livro auxiliar a ser

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verificado em perícia), presumindo que eles advém exclusivamente

de receita omitida de serviços e não de revenda de mercadorias,

fere-se de morte os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e

moralidade.

Primeiro; se a prestação de serviços

representa menos de 3% do total das receitas, não é razoável que

todos ingressos de receitas por depósitos bancários sejam

reconhecidas por receita omitida de serviços, ou seja, no mínimo há

que se considerar 97% dos depósitos como de revenda de

mercadoria e 3% de serviços. Isto é o razoável.

Segundo; tal adição também deixou de ser

proporcional para atender os interesses da fiscalização, que passou a

taxar com o maior percentual a receita quando deve fazê-la com o

menor. O fato econômico merecia ser tratado e taxado na proporção

do ingresso das receitas, na seguinte ordem: 97% para revenda de

mercadorias e 3% para prestação de serviços. Mas, nada disto

ocorreu em total afronta a proporcionalidade.

Terceiro e último; o princípio da moralidade

que se resume na ética e no bom senso da autoridade e que deveria

também estar presente como coeficiente de arbitramento o

percentual menos gravoso para a revenda de mercadorias – 97% da

receita omitida e 3% para prestação de serviços – sob pena de

atribuir ao fisco o enriquecimento ilícito.

Assim, diante desta argumentação, se

prosperar o arbitramento – o que achamos difícil – os percentuais

devem ser revistos para 9,6% sobre o total dos depósitos não

contabilizados que em verdade foram contabilizados indiretamente

no livro auxiliar, onde se demonstra o registro de seu trânsito.

Page 15: 1.1 Impunação - não cabimento do arbitramento

6) Das Provas a Serem Produzidas

NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL

Inicialmente cumpre-se dizer que o livro

auxiliar demonstra o trânsito dos depósitos bancários citados no

auto de infração, bem como a movimentação financeira e bancária da

empresa, que determina claramente a possibilidade de identificação

e determinação do Lucro Real.

Senhor julgador o livro auxiliar em conjunto

com os documentos que lastreiam as operações realizadas e lá

lançadas são, em razão do volume (mais de 15 caixas de

documentos), impossíveis de serem anexados e aportados aqui na

impugnação. Veja-se o entendimento doutrinário no sentido:

...“Embora não explicitado no Decreto em apreço, deve-se concluir somente justificável a formulação de pedidos de diligência ou perícias, pelo Reclamante, quando a matéria de fato, ou assunto de natureza técnica, cuja comprovação não possa ser feita no corpo dos autos, quer pelo volume de papéis envolvidos na verificação, quer pela impossibilidade de se deslocar os elementos examináveis..... ( in Processo Administrativo Fiscal Federal Comentado – pág 196 – Marcos Vinicius Neder e Maria Teresa Martínez López – editora Dialética)

E mais; apenas com a checagem destes

documentos em fase de perícia, com a verificação dos

desdobramentos dos lançamentos contidos no livro auxiliar ao livro

caixa é que se poderá verificar – em verdade material, a existência

de lucro ou não.

Por isto apenas com a perícia, irá se

comprovar a possibilidade de apuração do lucro real, bem como

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validar a contabilidade considerando-a como prestável na

determinação do lucro, com auxílio de livros e documentos.

Para tanto, formulamos os seguintes

quesitos:

- Constatar nos autos de infração se há alguma intimação da fiscal

no intuito de solicitar que a empresa regularizasse a

contabilidade pelo método de desmembramento de contas,

especificando claramente as contas e como fazê-lo;

- A empresa possui livro auxiliar com desmembramento das contas

feitas de forma resumida no livro diário. Tal livro configura-se

como livro auxiliar de forma a determinar o lucro real?;

- Depois de verificado pelo auditor fiscal/perito a documentação

apontada, seja livro auxiliar de caixa e documentações

comprobatórias das operações lá lançadas, é possível a apuração

do lucro pelo método real?

Se positivo, qual o valor deste lucro?

- Checando o livro auxiliar e a documentação pertinente

esclarecer se a mera omissão dos registros contábeis das contas

tornava a contabilidade da impugnante como imprestável de

forma a justificar o arbitramento?

- O Livro Auxiliar, apontado com a devida documentação

justificadora dos lançamentos, sana esta irregularidade formal?

- Esclareça o senhor perito se o prazo de 50 dias, determinado

pela fiscal para fins de regularizar os seus livros fiscais, se deu

de forma suficiente ou insuficiente em face do volume de

documentação e operações mercantis realizadas.

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Como perito técnico indica-se:

Sr.

7) Do Requerimento

Diante do exposto, requer-se seja julgada

procedente a presente Impugnação, para fins de reconhecer a

improcedência do auto de infração em epígrafe, entendendo que

não cabe arbitramento de lucro no presente caso.

Se entender por cabível o arbitramento, seja

determinada a revisão do lucro arbitrado para os 2, 3 e 4

trimestres passando percentual de 38,40% para 9,6%.

Seja realizado o julgamento simultâneo dos

autos de infração de IR/PIS/COFINS e CSLL todos pertinentes ao

Mandado de Procedimento Fiscal de n. 00/000000/03 em razão da

conexão e das provas acostadas ao presente auto de infração,

conforme determina inclusive o §1° do artigo 9° do Decreto

70.235/72 e a competência do 1°Conselho de Contribuintes.

E, por último, a produção de prova pericial,

conforme motivação e quesitos apontados.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Cidade, 22 de dezembro de 2007.

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