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defesa administrativa
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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTOS DE CIDADE-UF
MPF n° ......
IRPJ
W LTDA ME, pessoa jurídica de direito
privado, com sede na rua .............., nº ...., Bairro ............. em Cidade-
UF, CEP n°........, inscrita no CNPJ sob o n.º 00.000.000/0000-00
(doc.01), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria,
apresentar
Impugnação
ao Auto de Infração contra ela lavrado relativamente ao COFINS, o
que faz com base nos artigo 14 e seguintes do Decreto nº 70.235/72,
com alterações feitas pelas Leis nºs 8.748/93 e 9.532/97, em virtude
dos fundamentos de fato e de direito que passa a expor.
1) Fatos que originaram a Autuação
Fiscal
A empresa atua no comércio atacadista de
mercadorias atendendo um número muito grande de pequenos
comerciantes situados em ............ e circunvizinhança, sendo esta a
base territorial da autuada.
Os produtos objetos de revenda são bebidas
alcoólicas, cerveja, refrigerantes e gás de cozinha, sendo que afora
as chamadas bebidas quentes todos os demais itens possuem o ICMS
retido na fonte por mecanismo de substituição tributária, e os
tributos federais – PIS/COFINS/CSSL e IR – são calculados por
ocasião da ocorrência dos seus respectivos fatos geradores.
O gás não tem tributação de PIS/COFINS.
Tal comércio gera uma margem de lucro
líquido muito pequena, sendo que, na maioria das vezes, não é nada
compensador o desenvolvimento desta atividade, conforme se
demonstra pela própria contabilidade do período-base de 2002.
Uma das peculiaridades deste setor da
economia em razão do número elevado de transações comerciais, é
que os cheques de terceiros/ consumidores são utilizados pelos
comerciantes varejistas para pagamento de seus fornecedores,
fornecedores atacadistas (p.ex a W), empregados, tributos e outros,
tudo no intuito de economizar a CPMF.
A W, que é comerciante atacadista, por sua
vez, fica com o encargo de receber cheques de terceiros e depositá-
los na sua conta corrente e passa a pagar os seus inúmeros
fornecedores com estes valores – prática utilizada por todos os
comerciantes atacadistas e varejistas.
No intuito de controlar com eficiência este
sistema de pagamentos e recebimentos, a empresa resolveu
centralizar na conta “caixa” toda esta movimentação financeira,
criando um livro auxiliar que demonstrasse o movimento diário dos
pagamentos e recebimentos, já que o livro diário não fornecia com
detalhes a movimentação financeira da empresa.
Estes cheques de terceiros – que na maioria
das vezes nem eram clientes diretos da W – foram depositados no
ano de 2002 em contas bancárias nos bancos I, B e H como muito
bem constatou a auditora fiscal que lavrou o respectivo auto de
infração.
Tais contas, embora não possuíssem um
registro escrito na contabilidade, eram interligadas de fato com a
conta “caixa”, cujos valores não foram omitidos da tributação do
IR/PIS/COFINS/CSLL, como quis demonstrar a autoridade fiscal. Em
verdade, todas as movimentações destas contas bancárias foram
escrituradas numa única conta contábil com desmembramentos no
livro auxiliar denominado de “movimento de caixa”, conforme se verá
quando da realização da perícia contábil.
Ocorre que a auditora fiscal houve por bem
em desconsiderar toda a contabilidade tornando-a imprestável para a
apuração do lucro real, bem como adicionou os depósitos bancários
como não contabilizados, considerando estes como omissão de
receita.
Diante desta verificação por parte da
auditora, esta lavrou quatro autos de infração contra a W, a saber: o
primeiro a título de Imposto de Renda, o segundo para a CSLL, o
terceiro para o PIS, e o quarto e último, para a COFINS.
Em razão destes fatos elencados e nos termos
do artigo 15 e seguintes do Decreto nº 70.235, elabora-se a presente
impugnação ao Auto de Infração emitido para a exigência da
COFINS da impugnante, a qual entende não ser cabível o respectivo
arbitramento de lucro.
2) Do Não-cabimento do Arbitramento de
Lucro
A legislação tributária relaciona, de forma
taxativa, as hipóteses em que a autoridade administrativa pode
desconsiderar a grandeza oferecida a tributação pelo contribuinte -
Lucro Líquido – e passe a mensurar este mesmo lucro pelo método
de arbitramento com valores diferentes do apontado pelo
contribuinte. Noutras palavras, o fiscal despreza o lucro líquido
apurado pelo contribuinte nos livros fiscais/contábeis e atribui outro
no lugar deste.
A hipótese escolhida pela fiscal repousa sobre
o artigo 530, inciso II, do RIR/99, conforme reproduzimos para
esclarecer o seu próprio conteúdo:
“Art. 530 – O imposto devido trimestralmente, no decorrer do ano-calendário, será determinado com base nos critérios do lucro arbitrado, quando (Lei n.8.981 de 1995, artigo 47 e lei n.9430, de 1996, art. 1°): (omissis) II – a escrituração a que tiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraudes ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para:a)identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária; ou b)determinar o lucro real;”
Na opinião da fiscal, a escrituração contém
erros e falhas – “lançamentos por partidas mensais” – que tornam a
contabilidade imprestável, para apuração do lucro real, ou seja, na
sua opinião “os lançamentos por partidas mensais geram
automaticamente a imprestabilidade para a apuração do lucro real” –
cujo fundamento repousa sobre o artigo. 530, II, ‘b’, do RIR/99.
Senhor Julgador, a escrituração do livro
diário por partidas mensais, combinado com a escrituração do livro
caixa auxiliar, por onde passaram todos os pagamentos e
recebimentos no ano-base de 2002 de forma diária, não permitem o
arbitramento do lucro, conforme demonstramos através da
jurisprudência administrativa:
“DEPÓSITO BANCÁRIO NÃO CONTABILIZADO – Logrando o contribuinte comprovar que o movimento bancário, embora não registrado em conta apropriada, figura no movimento da conta ‘caixa’, insubsistente torna-se o arbitramento dos lucros.”(AC CSRF/01-1 1163/91, DO 26.10.94)
Mais clara está a posição do Conselho de
Contribuintes sobre a matéria em questão:
“DESDOBRAMENTO DOS REGISTROS CONTÁBEIS – Não dá causa ao arbitramento do lucro a manutenção, pela pessoa jurídica, de escrituração resumida do livro Diário, quando ficar comprovado: a) que não lhe é dado prazo razoável para proceder ao desmembramento das diversas contas; b) a contribuinte promoveu, na fase impugnativa, discriminação das parcelas contabilizadas de forma resumida; c) a documentação comprobatória foi colocada a disposição do fisco; e d) não foram apontadas falhas ou irregularidades que tornassem imprestável a escrituração mantida pela empresa e, de conseqüência, impedisse a apuração do lucro real.” (AC 1° CC 101-84.273/92, DO 20.06.94)
Tal acórdão revela e demonstra que o
arbitramento do lucro deve ocorrer somente em casos extremos, e
também que devem ser cumpridos os quatro mandamentos de ordem
material, conforme narrado no texto acima, para dar validade a
conduta do agente fiscal.
Dos quatro mandamentos, a impugnante irá
demonstrar que a conduta do arbitramento não satisfaz nenhuma
delas, conforme iremos descrever utilizando-se da seqüência do
próprio acórdão:
a) primeiro ; a
auditora fiscal determinou que a empresa regularizasse a
contabilidade sem explicar que queria, na realidade, o
desmembramento das contas de forma diária com o objetivo de
identificar o Lucro Líquido pelo método real – o auto de infração não
cumpre o primeiro requisito de validade;
b) segundo ; o
contribuinte demonstrará, quando da perícia, acompanhada por
perito e auditor fiscal o desmembramento da conta caixa e
justificará o movimento bancário no livro auxiliar – segundo
requisito que leva o auto à improcedência;
c) terceiro ; toda a
documentação dos lançamentos de forma resumida – onde se
identifica perfeitamente o lucro líquido – esteve à disposição da
fiscal, que poderia verificar perfeitamente a existência ou não do
Lucro Real, ou seja, a autoridade administrativa tinha como
identificar o lucro real pelos documentos – terceiro requisito que
leva o auto à improcedência;
d) quarto e último
requisito; a contabilidade foi dada como imprestável pelo simples
fato de ser resumida e mensal. Não se apontaram as deficiências e
situações que não permitiram visualizar o lucro líquido pelo método
de lucro real – o arbitramento também não satisfaz o último
requisito de validade.
E, a doutrina da renomada jurista Maria Rita
Ferragut só vem reforçar os argumentos acima expendidos. Veja-se o
contido às fls. 144 da sua obra intitulada “Presunções no Direito
Tributário”:
“Os vícios, erros ou deficiências só legitimam a utilização do arbitramento se os mesmos tornarem a documentação imprestável para os fins a que se destina, vale dizer, se comprometerem a descoberta do objeto que se pretende provar. Se o Fisco tiver meios para sanar os erros apontados, deve suprir oficiosamente tais irregularidades. Exemplo típico é o da escrituração contábil que, por ser composta por milhares de lançamentos, é altamente passível de erro. Isso não significa, no entanto, que o erro em um ou mais lançamentos comprometa o valor probatório do conjunto, que apenas será afetado se, e quando, tornar impossível a prova do objeto principal a que visa, tais como o lucro, o faturamento etc.”
E mais adiante, às fls. 152 da mesma obra,
prossegue:
“ Além disso, temos também que, com o advento da Lei nº 9.784, de 29.01.99, que regula o processo administrativo federal, ao contribuinte é permitido produzir provas até o momento da decisão administrativa de primeiro grau1, o que provavelmente deverá alterar o entendimento da jurisprudência administrativa federal. Assim, caso o contribuinte tenha se recusado a colaborar com a fiscalização e, após o arbitramento, apresente todos os documentos inicialmente solicitados, o ato jurídico deverá ser alterado ou anulado, aplicando-se ao contribuinte multa por infração a dever instrumental, nos termos da lei disciplinadora da matéria.. Não poderá, no entanto, deixar de ter seus documentos apreciados pela Administração, em face da alegação da incondicionalidade do arbitramento2.”
1 É o que estabelece o artigo 38 da Lei 9.784/99, conforme a seguir: “O interessado poderá, na fase instrutória e antes da tomada de decisão, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria objeto do processo”.2 Decidiu a 2ª Turma do TRF da 4ª Região (proc. nº 0435475, Relator Desembargador Teori Albino Zavascki, v.u.) o seguinte: “Tributário. Imposto de Renda. Arbitramento. Também no lançamento por arbitramento vigora o princípio da verdade real. Assim, se, no curso do prazo para impugnação do auto de infração, a empresa apresentou declaração de renda formada à base de escrituração regularizada e apurando prejuízo, incabível a sustentação, pura e simples, do lançamento por arbitramento antes efetuado. Sentença mantida”.
Vê-se claramente, pela orientação do
Conselho de Contribuintes, da própria Câmara Superior de Recursos
Fiscais e da melhor doutrina, que na presente investigação fiscal não
caberia o arbitramento do lucro em face do desmembramento da
conta “Caixa” em livros auxiliares quais permitem facilmente
identificar a movimentação financeira da impugnante e da ausência
dos quatro requisitos formais firmados pelo Conselho de
Contribuintes.
3) Do Prazo Insuficiente para a Atualização da Contabilidade
A própria auditora fiscal confessa que o prazo
foi insuficiente para atualização da contabilidade, conforme
narramos:
“Para tentar sanar a irregularidade, o contribuinte foi intimado, através do Termo de Intimação nº ... (19/08/2003), Termo de Reintimação Fiscal (05/09/2003), Termo de Intimação Fiscal nº ... (01/10/2003), a apresentar a escrituração de acordo com o disposto na legislação, ou seja, com lançamentos individualizados e diários, sendo que após transcorridos 50 dias da primeira intimação, em 09/10/2003, o contribuinte informou que não é possível apresentar a escrituração contábil diária, devido a curto prazo de tempo, e também pelo fato de a contabilidade ser efetuada em escritório terceirizado.” (Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal(is) – Auto de Infração)
Vê-se claramente que para passar de
lançamentos mensais e resumidos para lançamentos diários e
desmembrados de todo o ano de 2002, o prazo de 50 dias dados pela
fiscal era humanamente impossível de ser cumprido pela estrutura
contábil do contribuinte.
Empresas pequenas não dispõem de recursos
financeiros e humanos para executar tarefas de tal magnitude em tão
curto espaço de tempo, ou seja, doze meses de contabilidade diária
jamais conseguiriam ser executados em 50 dias de trabalho.
O único livro que a empresa conseguiu
produzir neste lapso de tempo – inobstante a impossibilidade de
juntá-lo aqui em razão do volume de documentação que o subsidia e
justifica - mesmo as pessoas que trabalham na contabilidade,
trabalhando ainda em torno de 18 horas diárias, foi o Livro Auxiliar
que demonstra e abre toda a movimentação financeira e bancária da
empresa, inclusive com a escrituração das contas bancárias e
depósitos citados como “omissão de receita”.
Sr. Julgador, o senhor bem sabe como agente
fiscal que este tempo deferido pela fiscal é insuficiente para abrir e
especificar todas estas movimentações apontadas; por maior boa
vontade que se tenha. É por esta razão que a perícia aqui é
importante, pois somente com o acompanhamento do agente fiscal
na especificação de toda esta documentação é que se estará fazendo
homenagem a verdade material.
Após e tão somente após o acompanhamento
e análise das especificações da movimentação bancária no livro
auxiliar pelo perito e auditor fiscal é que se poderá apurar
verdadeiramente os fatos, as operações que constituem cada
lançamento apontado e aí sim a tributação.
Do contrário estar-se-á fazendo da exigüidade
de tempo a arma, a mola mestra, justificadora do arbitramento e não
a efetiva imprestabilidade da contabilidade como deve em tese
ocorrer.
A jurisprudência tem entendido que o pouco
tempo deferido para atualizar os livros contábeis e fiscais dados
pelas autoridades nas suas respectivas intimações, onde geralmente
o contribuinte não consegue cumprir o prazo, não podem servir como
base de fato para propor o arbitramento. Vejamos o teor de algumas
delas:
“IRPJ – ARBITRAMENTO DE LUCROS – O arbitramento de lucros, por desclassificação da escrita contábil, é procedimento extremo. Tal medida deve ser aplicada quando o contribuinte, intimado de forma clara e objetiva para providencia a regularização da escrita, concedendo-se prazo razoável para seu atendimento, deixar de atender à fiscalização.”(Acórdão n.CSRF/01-04.557 – DOU de 11.08.03)
“Arbitramento. O lapso de tempo de algumas horas para apresentação de documentos, com ausência de negativa, mas tão só resposta que naquele espaço de tempo alguns livros não eram entregues, não justifica a tributação por arbitramento, que é forma de apuração do lucro, em regra, mais gravosa, não podendo prescindir da real e efetiva tentativa do Fisco em apurar o devido pela forma completa.” (Processo nº 01-02.590, CSRF-1ª Turma, unânime, Rel. Celso Alves Feitora, publ. 13/08/99, p. 05)
“Imposto de renda pessoa jurídica – Lucro Arbitrado – Não merece prosperar o lançamento decorrente de arbitramento de lucros da pessoa jurídica, se a autoridade fiscal não aprecia durante o procedimento, petição a ela dirigida no sentido de que lhe seja concedido prazo para reconstituição de Livro Caixa, dado como extraviado. Por se constituir em medida extrema, a aplicação do arbitramento só deve ser utilizado como último recurso, por ausência absoluta de outro elemento que forneça os dados necessários à verificação da base imponível do tributo. Decorrência – Imposto de renda na fonte – Tratando-se de lançamento reflexo, a decisão prolatada no lançamento matriz, é aplicável, no que couber, ao decorrente, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula. Recurso provido.” (Processo nº 105-12.987, 1º CC/Federal - 5ª Câmara, maioria, Rel. Luiz Gonzaga Nóbrega, publ. 11/02/00, p. 07)
Portanto, em não tendo sido dado tempo
hábil ao contribuinte para a atualização e especificação da escrita
contábil, resta improcedente o auto de infração.
4) Dos Depósitos Bancários
Na realidade, Senhor Julgador, a única
irregularidade identificada pela autoridade fazendária resume-se no
fato de que o “contribuinte deixou de escriturar contas bancárias de
sua titularidade” cuja conduta acabou levando ao arbitramento do
lucro, ou seja, a fiscal não constatou nenhuma omissão real de
receita na contabilidade – até porquê, não existe a dita ocultação de
fatos econômicos a tributação de IR/PIS/COFINS/CSLL, como se verá
com a abertura dos registros constante do livro auxiliar, em fase de
perícia.
Tais depósitos bancários, conforme já
demonstrado, foram reconhecidos e escriturados de forma indireta
na conta “caixa” sem ter registro na contabilidade. Sendo mais claro,
isto quer dizer que a contabilidade pecou por uma irregularidade de
ordem formal e não material como quis demonstrar a autoridade
fiscal.
Neste sentido, veja-se a posição do Conselho
de Contribuintes sobre a questão em pauta:
“Vícios formais, passíveis de regularização, não são suficientes para determinar o arbitramento do lucro, quando existe a escrituração e a documentação em que ela se fundamenta, à época em que ocorre a fiscalização, e essa escrituração e documentação são, desde logo, colocados a disposição do fisco, para seu exame. (AC 1° C.C. 105-3.920/89 – DO 14/09/90)
O não registro contábil das contas-correntes
no presente caso não representa uma omissão de receita, mas sim,
mero erro de formalidade quanto ao procedimento já que as mesmas,
de forma indireta foram reconhecidas pelos livros auxiliares da
conta-caixa. Temos então que o numerário depositado nas contas em
questão, possuem identificação e estão perfeitamente lastreados em
operações comerciais. Basta agora pela escrituração do livro auxiliar
checar todas estas operações e suas justificativas.
Esta checagem poderia ter sido realizada
pelo agente fiscalizador, apenas levaria um tempo significativo e foi
por isto que ela preferiu o arbitramento.
Senhor Julgador; por este livro auxiliar vê-se
que os depósitos bancários representam um ingresso de
receita/numerário por conta de venda de mercadorias, respaldado no
faturamento, conforme se atesta pelos lançamentos diários.
Assim, tais depósitos não podem ser
considerados ou taxados como “Omissão de Receita” já que os
mesmos são lastreados em INÚMERAS operações comerciais
devidamente oferecidas a tributação do IR/CSLL/PIS/COFINS. Resta
claro que os depósitos não estão soltos ou não justificados como diz
no auto de infração.
Na realidade, os valores de tais depósitos são
as próprias receitas declaradas e devidamente tributadas pelo fisco
federal, ou seja, estes valores estão embutidos dentro do valor já
tributado, não constituindo em receita nova ou ocultada da
tributação.
Tal procedimento de arbitramento acabou
por tributar duas vezes a mesma grandeza econômica, o que é
inaceitável perante o nosso sistema de tributação.
5) Dos Percentuais de Arbitramento
Se permanecer este arbitramento – o que
achamos difícil - o percentual de lucro dos 2°, 3° e 4° trimestres de
2002 devem ser revistos, pois a suposta omissão de receita, que não
existe, não advém da prestação de serviços e sim da revenda de
mercadorias, ou seja, o coeficiente de arbitramento deve ser
reduzido de 38,40% para 9,6% sobre os respectivos “depósitos
bancários não contabilizados”, já que os mesmos são lastreados em
revenda de mercadorias.
Tal afirmativa advém do próprio Livro
Auxiliar que registrou a movimentação financeira, inclusive a
bancária no ano de 2002, identificando perfeitamente os depósitos
com a venda de mercadorias, sendo neste caso proibida a adição do
percentual mais elevado de lucro, conforme preconiza o art. 537 do
RIR/99 – art.24 §1° da Lei nº 9.249/95.
Tal adequação de percentual deve ser feito
também em razão do art.2° da Lei n° 9.784/99, o qual reproduzimos:
“Art. 2°- A Administração Pública obedecerá dentre outros, os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.”
Adicionar o percentual mais elevado da
prestação de serviços – 38,40% - sobre os depósitos bancários não
contabilizados (contabilizados indiretamente pelo livro auxiliar a ser
verificado em perícia), presumindo que eles advém exclusivamente
de receita omitida de serviços e não de revenda de mercadorias,
fere-se de morte os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e
moralidade.
Primeiro; se a prestação de serviços
representa menos de 3% do total das receitas, não é razoável que
todos ingressos de receitas por depósitos bancários sejam
reconhecidas por receita omitida de serviços, ou seja, no mínimo há
que se considerar 97% dos depósitos como de revenda de
mercadoria e 3% de serviços. Isto é o razoável.
Segundo; tal adição também deixou de ser
proporcional para atender os interesses da fiscalização, que passou a
taxar com o maior percentual a receita quando deve fazê-la com o
menor. O fato econômico merecia ser tratado e taxado na proporção
do ingresso das receitas, na seguinte ordem: 97% para revenda de
mercadorias e 3% para prestação de serviços. Mas, nada disto
ocorreu em total afronta a proporcionalidade.
Terceiro e último; o princípio da moralidade
que se resume na ética e no bom senso da autoridade e que deveria
também estar presente como coeficiente de arbitramento o
percentual menos gravoso para a revenda de mercadorias – 97% da
receita omitida e 3% para prestação de serviços – sob pena de
atribuir ao fisco o enriquecimento ilícito.
Assim, diante desta argumentação, se
prosperar o arbitramento – o que achamos difícil – os percentuais
devem ser revistos para 9,6% sobre o total dos depósitos não
contabilizados que em verdade foram contabilizados indiretamente
no livro auxiliar, onde se demonstra o registro de seu trânsito.
6) Das Provas a Serem Produzidas
NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL
Inicialmente cumpre-se dizer que o livro
auxiliar demonstra o trânsito dos depósitos bancários citados no
auto de infração, bem como a movimentação financeira e bancária da
empresa, que determina claramente a possibilidade de identificação
e determinação do Lucro Real.
Senhor julgador o livro auxiliar em conjunto
com os documentos que lastreiam as operações realizadas e lá
lançadas são, em razão do volume (mais de 15 caixas de
documentos), impossíveis de serem anexados e aportados aqui na
impugnação. Veja-se o entendimento doutrinário no sentido:
...“Embora não explicitado no Decreto em apreço, deve-se concluir somente justificável a formulação de pedidos de diligência ou perícias, pelo Reclamante, quando a matéria de fato, ou assunto de natureza técnica, cuja comprovação não possa ser feita no corpo dos autos, quer pelo volume de papéis envolvidos na verificação, quer pela impossibilidade de se deslocar os elementos examináveis..... ( in Processo Administrativo Fiscal Federal Comentado – pág 196 – Marcos Vinicius Neder e Maria Teresa Martínez López – editora Dialética)
E mais; apenas com a checagem destes
documentos em fase de perícia, com a verificação dos
desdobramentos dos lançamentos contidos no livro auxiliar ao livro
caixa é que se poderá verificar – em verdade material, a existência
de lucro ou não.
Por isto apenas com a perícia, irá se
comprovar a possibilidade de apuração do lucro real, bem como
validar a contabilidade considerando-a como prestável na
determinação do lucro, com auxílio de livros e documentos.
Para tanto, formulamos os seguintes
quesitos:
- Constatar nos autos de infração se há alguma intimação da fiscal
no intuito de solicitar que a empresa regularizasse a
contabilidade pelo método de desmembramento de contas,
especificando claramente as contas e como fazê-lo;
- A empresa possui livro auxiliar com desmembramento das contas
feitas de forma resumida no livro diário. Tal livro configura-se
como livro auxiliar de forma a determinar o lucro real?;
- Depois de verificado pelo auditor fiscal/perito a documentação
apontada, seja livro auxiliar de caixa e documentações
comprobatórias das operações lá lançadas, é possível a apuração
do lucro pelo método real?
Se positivo, qual o valor deste lucro?
- Checando o livro auxiliar e a documentação pertinente
esclarecer se a mera omissão dos registros contábeis das contas
tornava a contabilidade da impugnante como imprestável de
forma a justificar o arbitramento?
- O Livro Auxiliar, apontado com a devida documentação
justificadora dos lançamentos, sana esta irregularidade formal?
- Esclareça o senhor perito se o prazo de 50 dias, determinado
pela fiscal para fins de regularizar os seus livros fiscais, se deu
de forma suficiente ou insuficiente em face do volume de
documentação e operações mercantis realizadas.
Como perito técnico indica-se:
Sr.
7) Do Requerimento
Diante do exposto, requer-se seja julgada
procedente a presente Impugnação, para fins de reconhecer a
improcedência do auto de infração em epígrafe, entendendo que
não cabe arbitramento de lucro no presente caso.
Se entender por cabível o arbitramento, seja
determinada a revisão do lucro arbitrado para os 2, 3 e 4
trimestres passando percentual de 38,40% para 9,6%.
Seja realizado o julgamento simultâneo dos
autos de infração de IR/PIS/COFINS e CSLL todos pertinentes ao
Mandado de Procedimento Fiscal de n. 00/000000/03 em razão da
conexão e das provas acostadas ao presente auto de infração,
conforme determina inclusive o §1° do artigo 9° do Decreto
70.235/72 e a competência do 1°Conselho de Contribuintes.
E, por último, a produção de prova pericial,
conforme motivação e quesitos apontados.
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Cidade, 22 de dezembro de 2007.
W LTDA ME