1.1 Ocupacao Irregular de App Urbana

Embed Size (px)

Citation preview

7

OCUPAO IRREGULAR DE APP URBANA: UM ESTUDO DA PERCEPO SOCIAL ACERCA DO CONFLITO DE INTERESSES QUE SE ESTABELECE NA LAGOA DO PRATO RASO, EM FEIRA DE SANTANA, BAHIAHilda Ledoux Vargas*RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar a ocupao irregular das reas de preservao permanente urbanas a partir da percepo de vrios atores sociais (rgos pblicos, comunidade local e ambientalistas), tendo como foco a Lagoa do Prato Raso, em Feira de Santana, Bahia. O estudo foi realizado a partir do exame das normas jurdicas que protegem as reas de preservao permanente, no contexto urbano, e da percepo dos atores acerca dos conflitos que envolvem a ocupao irregular dessas reas. Os ambientalistas e rgos pblicos no vem uma soluo fcil ou adequada realidade financeira do municpio e perdem-se diante da ineficincia dos meios jurdicos em garantir a proteo a essas reas. O descaso e inoperncia dos rgos pblicos estimulam e reforam as ocupaes irregulares que se alastram como pragas, destruindo o que ainda resta daquele manancial. PALAVRAS-CHAVE: Ocupao Irregular. Percepo do Conflito. APP urba na.

A ameaa aos recursos naturais, notadamente aos recursos hdricos disponveis nas lagoas, nascentes e rios urbanos motivo de preocupao para os ambientalistas e os estudiosos do Direito que buscam encontrar meios que assegurem a* Prof. Auxiliar (DCIS/UEFS), da Ps-Graduao da Faculdade de Tecnologia e Cincia (FTC/FS) e da Escola Superior de Advocacia (OAB/BA). Coordenadora do Curso de Direito da Faculdade Ansio Teixeira (FAT/FS). E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Feira de Santana Dep. de CIS. Tel./Fax (75) 3224-8049 - BR 116 KM 03, Campus - Feira de Santana/BA CEP 44031-460. E-mail: [email protected]

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

8

preservao de um ambiente saudvel para as presentes e futuras geraes. A falta de planejamento e de polticas pblicas, destinadas a proporcionar moradia digna a todas as pessoas, assim como a ausncia de uma estrutura administrativa eficiente de fiscalizao permitem a ocupao das margens de rios e lagoas, por loteamentos clandestinos ou irregulares, em reas urbanas. Os assentamentos urbanos clandestinos instalados sobre reas de preservao permanente defrontam-se com a ameaa de esgotamento dos recursos hdricos, e representam um conflito socioambiental que envolve a preservao do ambiente, a explorao econmica da propriedade privada e o direito moradia. Essa realidade vem se alastrando por todo o pas e se faz presente em Feira de Santana, na Lagoa do Prato Raso, assim como em muitas outras cidades brasileiras. A ocupao irregular das reas do entorno, e mesmo do corpo dgua da Lagoa do Prato Raso trouxe conseqncias graves lagoa e ao ambiente. No apenas o nvel dgua foi reduzido, mas a gua da lagoa tornou-se imprpria para o consumo. A lagoa, que j abasteceu de gua a cidade e seus moradores, est hoje, praticamente, morta. As reas do entorno da Lagoa do Prato Raso, assim como das nascentes que a alimentam esto sob a gide do Cdigo Florestal, consideradas, portanto, como reas de preservao permanente e mereceram tratamento especial do Cdigo Municipal de Meio Ambiente de Feira de Santana BA (Lei Complementar n 1 612/1992). Entretanto, toda a proteo jurdica dispensada pelo Cdigo Florestal e pelo Cdigo Municipal de Meio Ambiente Lagoa do Prato Raso no se tem mostrado suficiente para evitar a ocupao clandestina e a devastao desse recurso natural. E essa a realidade que atinge no s a Lagoa do Prato Raso, mas outras lagoas da cidade. Recentemente, os ambientalistas constataram que, em apenas uma dcada, das 68 (sessenta e oito) lagoas existentes em Feira de Santana, 28 (vinte e oito) delas desapareceram. Hoje, apenas 40 (quarenta) lagoas existem na cidade, restando apenas 8 (oito) no permetro urbano, o que representa uma

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

9

reduo de 40% (quarenta por cento) na quantidade de lagoas da cidade (MONTEIRO SOBRINHO, 2007). A ocupao irregular de reas de preservao permanente no meio urbano um tema que merece ateno especial porque indica as fragilidades do sistema de proteo a esses espaos. Esse artigo um resumo do estudo realizado em um trabalho de pesquisa apresentado sob a forma de dissertao no Mestrado em Desenvolvimento Sustentvel promovido pelo Centro de Desenvolvimento Sustentvel (CDS), da Universidade de Braslia, que buscou conhecer como se estruturam os conflitos que envolvem o processo de ocupao irregular da rea de preservao permanente da Lagoa do Prato Raso, em Feira de Santana, BA e quais as percepes dos atores sociais acerca deles. A Lagoa do Prato Raso, na cidade de Feira de Santana, Bahia foi escolhida para delimitar espacialmente o objeto de pesquisa, em funo das especificidades dos problemas ambientais, sociais e jurdicos que envolvem a conservao do ambiente, na lagoa, como o crescente processo de antropizao e o desrespeito s leis que visam assegurar sua proteo. Sendo assim, o conhecimento da percepo dos atores envolvidos na ocupao clandestina e/ou irregular da Lagoa do Prato Raso pode contribuir para a compreenso da concepo social acerca dos conflitos que envolvem a necessidade de preservao das reas de Preservao Permanente Urbanas (APPU). Espera-se nesse artigo, abordar, sucintamente, em forma de resumo, os temas centrais desenvolvidos no trabalho de dissertao, propondo ao leitor, uma reflexo acerca dos conflitos socioambientais que envolvem a proteo desse recurso natural, na cidade de Feira de Santana, tomando-o como exemplo para uma reflexo maior e mais acurada acerca da proteo s reas de preservao permanente no meio urbano.

A LAGOA DO PRATO RASO, EM FEIRA DE SANTANA-BAO municpio de Feira de Santana encontra-se localizado numa regio de transio entre a faixa litornea e o semi-ridoSitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

10

baiano, distante aproximadamente 108 Km a noroeste da capital do estado da Bahia, cobrindo uma rea de 1.350 Km (PROJETO NASCENTES, 1998), a 111 km, na sede municipal, sendo que 96% desta, inclusa no polgono das secas (FRANCA-ROCHA, NOLASCO, 1993, p.93). Faz divisa com os municpios de Antonio Cardoso (a sudoeste), Anguera e Ipecaet (a nordeste) So Gonalo (ao sul), Amlia Rodrigues (ao sudeste), Corao de Maria (a leste), Irar e Candeal (a nordeste) e com Santa Brbara e Tanquinho (ao norte). A sede do municpio est localizada sobre o tabuleiro, que serve de divisor de guas de trs sub-bacias hidrogrficas: a do Rio Jacupe; a do Rio Pojuca; e a do Rio Suba, formadas pelos rios Suba, Jacupe, Pojuca e do Cavaco e conta com um expressivo conjunto de lagoas, totalizando cerca de cinqenta e duas, localizadas em rea urbana e rural. O regime hidrolgico da regio controla a dinmica hdrica das lagoas (FRANCA ROCHA; NOLASCO,1998). O municpio o segundo mais populoso do Estado da Bahia, perdendo em densidade demogrfica, apenas, para a cidade do Salvador. A populao de Feira de Santana, no ano 2000, correspondia a quase o dobro da terceira cidade baiana, Vitria da Conquista, com 262 585 habitantes. Apenas sete anos depois, em 2007, Feira de Santana era a 31 cidade do pas, com populao de 571 997 habitantes. maior, em nmero de habitantes, que nove capitais de estados brasileiros: Aracaju, Boa Vista, Cuiab, Florianpolis, Macap, Palmas, Porto Velho, Rio Branco e Vitria. tambm considerada pelo IBGE, o 13 maior municpio no-capital do pas. (IBGE, 2007). A populao da cidade sextuplicou nos ltimos cinqenta anos. A despeito de todo o crescimento populacional e econmico apresentados, as aes de planejamento urbano da cidade de Feira de Santana no acompanharam, no mesmo ritmo e velocidade, a rpida expanso dos demais setores da economia. As polticas pblicas voltadas habitao no conseguiram atingir a toda a populao. A falta ou deficincia dessas polticas aliada ao o elevado nmero de pessoas que chega cidade, diariamente, em busca de emprego e moradia permite o surgimento de assentamentos

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

11

urbanos clandestinos ou irregulares em reas de interesse ambiental. Esse segmento da populao engorda o mercado informal ou permanece margem de qualquer atividade econmica, instalando-se, comumente, em locais prximos ao centro urbano, s margens das lagoas, em reas destinadas por lei, preservao permanente do ambiente, colocando-as em iminente risco de extino. o que vem ocorrendo com a Lagoa do Prato Raso, agredida dia a dia pela canalizao e contaminao de suas guas, pelo lanamento de esgotos domstico e industrial e pelo aterramento para construo de moradias clandestinas ou irregulares. At os primeiros anos da dcada de 50, no havia gua encanada na cidade. De acordo com Lopes (1972b, p.28) a gua era conduzida em barris carregados por animais e vendida nas casas pelos aguadeiros. Era retirada dos olhos dgua que existiam prximos da povoao. Foi somente, a partir de 1952, que o servio de gua encanada chegou cidade, marcando a degradao dos recursos hdricos, localizados na zona urbana, que passaram a ser utilizados como receptores de esgotos domsticos, lanados, sem nenhum tratamento, nas lagoas, nascentes e rios da cidade. Em 1957, na visita do Presidente da Repblica, Juscelino Kubistcheck cidade, foi inaugurado o servio de gua encanada procedente da Lagoa Grande. A cidade crescia em alta velocidade e ganhava contornos de cidade grande, atraindo investimentos econmicos de vrios setores da economia. Um pouco mais adiante, em 1965, foi implantado o Centro Industrial de Suba (CIS), imprimindo uma nova dinmica econmica cidade, sendo seguido pela criao do Centro das Indstrias de Feira de Santana (CIFS). O CIS e o CIFS mudaram a fisionomia do Municpio, colocando-o em posio de destaque entre as regies mais industrializadas do Estado (PERFIL EMPRESARIAL, 1998, p.22). At a dcada de 1960, a cidade se desenvolveu com a economia fortemente baseada no setor agropecurio, responsvel pela formao do seu ncleo urbano original. Esse cenrio mudou a partir dos anos 1970 que marcaram o processo de

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

12

contaminao das guas das lagoas e nascentes da cidade pela poluio. A chegada da gua encanada e das indstrias acelerou o fluxo migratrio da zona rural em direo malha urbana e fez a cidade incorporar reas eminentemente rurais ao tecido urbano(PDDU, 1992). Os mananciais foram usados como receptores de despejos industriais, domsticos, lixo e aterro.Se, por um lado, o Poder Pblico estava preocupado em expandir os servios de oferta de gua encanada, eximia-se cada vez mais, dos trabalhos de drenagem e limpeza at ento dirigidos s nascentes e lagoas. De principais fontes de abastecimento dgua para a populao e de trabalho para aguadeiros e lavadeiras, rios, nascentes e lagoas tornamse com a chegada da gua encanada e da expanso urbana inadequados para o uso domstico. So transformadas, pelo uso antrpico, em verdadeiros esgotos subterrneos e a cu aberto, e continuam sofrendo todo tipo de investidas predatrias, a exemplo da deposio de lixo e do aterramento, visando a construo de estradas, conjuntos habitacionais e centros comerciais. (FRANCA-ROCHA; NOLASCO, 1990, p.5).

A dcada de 1980 e a primeira metade de 1990confirmaram o franco desenvolvimento do Municpio de Feira de Santana nas diversas reas, enquanto plo de atrao de investimentos, continuando a sua vocao original de centro comercial e criando novas perspectivas no mbito da indstria moderna (PERFIL EMPRESARIAL, 1998, p.23).

No centro da Cidade, localizado ao longo da Av. Jos Falco, estendendo-se at as ruas Intendente Abdon e Rondon, encontra-se o complexo de lagoas do Prato Raso que composto por trs corpos de lagoas com caractersticas semelhantes que encontram-se interligados (PROJETO NASCENTES, 1998) e tem como limites: ao norte, o Conjunto Milton Gomes; ao sul eSitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

13

leste, o bairro da Queimadinha; ao oeste, a Av. Jos Falco da Silva e Rua Jos Tavares Carneiro (Lagoa do Geladinho), conforme Viviane Rodrigues (1998). As maiores lagoas do complexo so a Lagoa do Prato Raso e a Lagoa do Geladinho, que integram a Bacia do Rio Jacupe. A drenagem de todas elas conduz ao Rio Jacupe, nas proximidades do lago formado pela barragem Pedra do Cavalo, que abastece as cidades de Salvador, Feira de Santana, So Gonalo dos Campos, Conceio da Feira, Cachoeira e outras cidades da regio. (SANTOS, VEIGA,1993) A Lagoa do Prato Raso formada pelos fluxos de gua da Fonte do Buraco Doce e da Fonte de Lili, alm de alguns aqferos dentro das reas da lagoa. A Fonte do Buraco Doce est localizado na confluncia entre as ruas Carlos Valadares, Humberto de Campos e Conselheiro Lafaiete e formada por nove surgncias dgua que contribuem para alimentar a Lagoa do Prato Raso. A nascente da Fonte de Lili est localizada no centro da cidade, entre os bairros da Queimadinha e Maria Quitria, na Rua Profa. Alcina Dantas (antiga Rua Colatina), 131. Pode parecer estranho que uma nascente tenha numerao em rua; porm tal fato se justifica porque a nascente se encontra sob uma residncia edificada naquele local. A lagoa formada a partir da surgncia dgua da Fonte de Lili, foi aterrada e, erguidas casas sobre ela, alm de uma rua com pavimentao a paraleleppedo. A gua dessa fonte foi canalizada e jorra hoje, por meio de uma estrutura de captao simples, em rea urbanizada pela Prefeitura Municipal. As casas que esto sobre a fonte no possuem ligao rede de esgotos e os moradores se utilizam de fossas ou do canal de drenagem para despejar o esgoto domstico. Em perodos de chuva este canal transborda e cobre a fonte, levando gua contaminada por esgoto para dentro das casas (SANTOS; VEIGA, 1993). As guas dessas fontes drenam para a Lagoa do Prato Raso que, por sua vez, desemboca no Riacho Principal, conhecido como Trs Riachos, que um afluente do Rio Jacupe, canalizado a partir da Lagoa do Prato Raso, passando sob a Av. Jos Falco, por meio de um tubo. As guas percorrem o leito do

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

14

Canal de Macro Drenagem, ao longo da Avenida do Canal, que integra a rede coletora de esgotos da EMBASA, passando pela Estao de Tratamento de Esgotos (ETE), prxima ao anel de contorno, onde sofreu modificao em seu curso. Aps tratamento, o Riacho Principal recebe o efluente da lagoa de estabilizao e drenado para o Rio Jacupe (PROJETO NASCENTES, 1998). Acompanhando o percurso das guas, desde a nascente da Fonte de Lili at a Lagoa do Prato Raso, percebe-se que as guas fluem por um crrego canalizado, que as recebe da rede pluvial dos bairros CASEB, em especial da Rua da Concrdia e da Av. Maria Quitria, Rua Coronel Jos Pinto, Queimadinha e Conjuntos Habitacionais Centenrio, Milton Gomes e W ilson Falco, alm do Condomnio Jos Falco. Nesse canal so, tambm, despejados esgotos domsticos e comerciais, clandestinos, alm de lixo e resduos slidos de todo tipo: plsticos, papis, metais, restos de construo, matria orgnica, borracha, leo lubrificante, dentre outros. O mesmo se observa no percurso das guas, que brotam da nascente e que se encontram na favela Sete de Setembro. Mas essa no a nica agresso sofrida pela Lagoa do Prato Raso. A falta de fiscalizao e de meios de coero eficientes permite, dia aps dia, o aterramento de suas margens e de seu leito para a construo de casas residenciais e estabelecimentos empresariais, com ou sem licena da Prefeitura.

O PROCESSO DE OCUPAO URBANA IRREGULAR NA LAGOA DO PRATO RASOA morte anunciada das lagoas e nascentes da cidade remonta ao perodo de intenso ritmo de urbanizao por que passou o pas entre as dcadas de 40 e 70. A ocupao da Lagoa do Prato Raso foi iniciada nessa poca, no incio da dcada de 40, por volta de 1942, quando se instalaram, na rea do entorno da lagoa, os primeiros loteamentos imobilirios: Afonso Martins, Jardim Recreio, Parque Santa Ins e Gura (SEPLAN, 2002). A construo da BR 116 Norte, nos anos 1970, segmentou a Lagoa do Prato Raso, que foi dividida em dois espelhosSitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

15

dgua e trs nascentes. O lado esquerdo da BR 116, no sentido Feira de Santana/Serrinha, foi ocupado por uma casa de shows, supermercado, posto de combustveis e outros estabelecimentos comerciais, alm de casas de classe mdia a mdia alta. A outra parte, localizada do lado direito da Av. Jos Falco da Silva, onde o espelho dgua ainda significativo, encontra-se parcialmente ocupada por invases (NOLASCO et alii, 2004). De acordo com o Diagnstico da Prefeitura realizado em 2002 (SEPLAN, 2002) o processo de ocupao da lagoa ganhou impulso, na dcada de 80, com a implantao, pela Prefeitura de um ncleo habitacional popular no Loteamento Jardim Recreio, vizinho ao Condomnio Jos Falco da Silva, construdo pelo INOCOOP, ao qual se deu o nome de PLANOLAR. Na ocasio, a administrao municipal promoveu a distribuio de lotes, entulho (para que se promovesse o aterramento da lagoa) e material de construo para a edificao de casas. Segundo o Diagnstico e o depoimento dos moradores mais antigos da lagoa, a partir do PLANOLAR, a ocupao da lagoa, inicialmente planejada, tornou-se desordenada e com forte adensamento. Em 1986, as Ruas Intendente Abdon e Leolindo Silva (ao sul); Visconde do Rio Branco - atual Av. Jos Falco da Silva(ao oeste); Rondnia (ao norte e leste) eram os limites da Lagoa do Prato Raso. Nessa poca, a Lagoa do Prato Raso j servia como receptor de esgotos domsticos e se podia notar a ocupao da rea de entorno por moradias. Entretanto, ainda era possvel encontrar alguns exemplares da fauna e flora tpicos da regio, como quixabeiras, jeremeiras, malvas, garas, jaans, frango dgua, dentre outros (RODRIGUES, RODRIGUES, 2002, p.1-2). Mas, as agresses no se restringem rea de preservao permanente da Lagoa do Prato Raso, os estudos de caracterizao ambiental desenvolvidos pelo escritrio Regional de Feira de Santana do Centro de Recursos Ambientais (CRA), em 1998 apontam para a ocupao desordenada da rea de preservao permanente da Fonte de Lili. A situao no muito diferente na Fonte Sete de Setembro, que teve o processo de urbanizao iniciado com a construo

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

16

do Conjunto W ilson Falco e intensificado com sua ampliao, na dcada de 1980. As guas da Fonte Sete de Setembro foram canalizadas para a rea que deu origem favela Sete de Setembro, onde se construiu uma espcie de chafariz e se direcionam para uma cota mais baixa (brejo), atravessando toda a favela e destinando-se, finalmente, a Lagoa do Prato Raso (RODRIGUES, 1998, s/p). Nas reas do entorno das duas nascentes, fcil observar a proliferao de construes. H ruas pavimentadas e, inclusive as prprias nascentes esto urbanizadas, no dizer dos gestores pblicos. Nesses locais comum a impossibilidade de construo de fossas spticas e sumidouros pelos proprietrios das edificaes, em face do afloramento da gua subterrnea, o que denota a proximidade da nascente e a invaso da rea de Preservao Permanente. Mas a ocupao no se d apenas no entorno da lagoa ou nas reas de proteo a suas nascentes. D-se, tambm, diretamente sobre o espelho dgua e atualmente a maior parte da lagoa encontra-se loteada, alguns lotes j foram vendidos e outros ainda so frutos de invases(RODRIGUES, 1998, s/p).

OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS QUE ENVOLVEM A OCUPAO IRREGULAR DA LAGOA DO PRATO RASOO conflito entre o interesse pblico em garantir o ambiente equilibrado para as presentes e futuras geraes (defendido pelos ambientalistas, cientistas e protegido pela lei), o interesse particular de proprietrios pela explorao imobiliria e a presso social por moradia, nas reas protegidas se acirra com a participao dos diversos atores sociais. Ao contrrio do que se possa pensar, as agresses ambientais s lagoas da cidade de Feira de Santana no partem apenas da populao carente e desinformada ou do setor imobilirio; o setor pblico tambm colabora para a agresso, ativa ou omissivamente, assim como os empreendimentos empresariais instalados na regio. Aes do poder pblico, como a pavimentao de ruas, o aterramento e canalizao de nascentes, o fornecimento deSitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

17

servios de energia eltrica, iluminao pblica, telefonia, correios, e at mesmo de gua encanada, assim como a cobrana de Imposto Territorial Urbano, nas reas ditas urbanizadas, deixaram mais que um rastro de destruio. Fizeram surgir, na comunidade, o sentimento de legitimidade em relao aos aterramentos e construes irregulares de casas e ruas, nas reas determinadas por lei, como intocveis e destinadas preservao do ambiente e da Lagoa do Prato Raso. O fornecimento da infra-estrutura bsica s casas, pavimentao e iluminao das ruas construdas por aterramentos irregulares tornaram incoerentes as aes de fiscalizao, assim como de outras necessrias a coibir o avano das ocupaes. Por volta dos anos 1990, universitrios e ambientalistas iniciaram estudos e se manifestaram em prol da necessidade de proteo Lagoa do Prato Raso, atribuindo ao crescimento desordenado a responsabilidade pelo aterro das lagoas. Em 20 de julho de 1990, uma reportagem de jornal local levou a pblico a preocupao de universitrios e ambientalistas. A matria alertava a populao para a extino de uma lagoa que representava muito para a cidade, em face de sua importncia ambiental, cultural e histrica e convidava os interessados e o poder pblico para a discusso dessa temtica. Em 1992, o Decreto Municipal n 5 457 declarou de utilidade pblica para fins de desapropriao, em regime de urgncia, as reas do entorno da Lagoa do Prato Raso. Entretanto, at o momento essas reas no foram desapropriadas efetivamente. Nada foi pago aos proprietrios, a ttulo de indenizao. Notcias de agresses Lagoa do Prato Raso foram dirigidas, pela comunidade, Prefeitura Municipal de Feira de Santana, em dezembro de 1995. Essas denncias deram incio apurao de provvel crime ecolgico caracterizado pelo corte de vegetao ao redor da Lagoa do Prato Raso. Constatada a veracidade das informaes trazidas pela populao o Ministrio Pblico Estadual foi chamado a proceder garantia do cumprimento da Lei. Vrios segmentos da sociedade civil e dos governos municipal e estadual reuniram-se, em diversas oportunidades, para discutir os problemas que envolviam a ocupao irregular na Lagoa do Prato Raso (MPE, 1996). Em uma dessas reunies, constatouse que:Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

18

A lagoa apresenta-se bastante degradada e ftida, servindo no momento de lagoa de estabilizao para dejetos sanitrios e drenagem pluvial dos bairros circunvizinhos que afluem para o local e efluem posteriormente para o canal de macro drenagem da cidade; O processo de ocupao habitacional e comercial da rea, inclusive com invases, contribui bastante para a degradao desta rea de Preservao Permanente, segundo a Lei, e verifica-se o descaso e a omisso do poder pblico que no se utiliza de suas prerrogativas de conter o avano desordenado atravs de normas de Uso e Ocupao do Solo do municpio. A prpria Prefeitura libera alvars de funcionamento para empresas e loteamentos e cobra impostos, legalizando, portanto, a ocupao da rea, infringindo a prpria lei conforme Resoluo CONAMA 4/85 e o Cdigo Florestal de 1965 e o prprio Cdigo de Meio Ambiente Municipal.

Sugestes de aes corretivas e preventivas para conter e minimizar a degradao ambiental na Lagoa foram listadas, nessa mesma reunio, assim como em outras, com o intuito de serem encaminhadas ao Prefeito da cidade. Dentre elas, destacaramse: a canalizao das nascentes, direcionando a gua pura para o leito da lagoa; a regularizao da coleta de lixo, no bairro; o desenvolvimento de um trabalho destinado educao ambiental das populaes dos bairros adjacentes; a demarcao da quota mxima de inundao e dos limites da rea de preservao permanente; a realizao de estudos sobre a qualidade da gua da lagoa; a relocao das favelas, invases e construes mais recentes, por meio da desapropriao de imveis; o desenvolvimento de um plano de vegetao para a rea e a proibio de novas edificaes, na rea de preservao permanente. As sugestes extradas desta reunio foram encaminhadas ao ento Prefeito, em 30 de novembro de 1998, assinalando a necessidade de dar continuidade ao levantamento topogrfico e cadastro de moradias, disponvel na Secretaria de Planejamento do Municpio, para a definio dos limites da rea de preservao permanente.Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.2008

19

Importante frisar que at hoje os limites da rea de preservao permanente no foram definidos e nenhuma das medidas apontadas na reunio foi colocada em prtica, exceo do Diagnstico da Lagoa do Prato Raso realizado pela SEPLAN. Novas denncias, em 2000, levaram o Ministrio Pblico a proceder a novas investigaes, por meio dos Inquritos Civis n 17/00 e n 152/2000, para apurar denncias de crime ambiental, caracterizado pelo aterramento e danos provocados lagoa, na rea de Preservao Permanente da Lagoa do Prato Raso (MPE, 2000). Providncias como a apreenso de ferramentas, veculos e equipamentos utilizados para o crime; identificao e indiciamento dos responsveis e a priso em flagrante de quem quer que estivesse, culposa ou dolosamente, contribuindo para a destruio daquele manancial foram tomadas e um caambeiro que despejava aterro no corpo dgua da lagoa foi preso em flagrante. No mesmo ano, mais um Inqurito Civil foi aberto pelo Ministrio Pblico que recebeu o n 18/00 e se tornou conhecido, pelos promotores, como inqurito guarda-chuva, pela caracterstica de compilar os documentos presentes nos inquritos anteriores destinados apurao de denncias de aterramento da Lagoa do Prato Raso para a comercializao de lotes destinados construo de imveis residenciais e comerciais. As aes do Ministrio Pblico Estadual nesse inqurito resultaram na condenao de uma pessoa, em 2002, pena do art. 38 da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9 605/98), convertida em prestao de servios comunitrios. A pena foi integralmente cumprida, conforme dados do processo crime, que se encontra em sua fase final, com parecer do Ministrio Pblico pelo arquivamento. Mas, os conflitos ambientais na Lagoa do Prato Raso no se resumiam venda dos lotes da rea do seu entorno. Os assentamentos irregulares expandiram-se. Os jornais locais, atentos agresso, denunciavam: Grilagem urbana ameaa grave para futuro da Lagoa do Prato Raso. Segundo a reportagem

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

20

[...] estima-se que apenas nos ltimos doze meses foram construdas em torno de 100 casas na sua rea de proteo ambiental. As margens da lagoa esto sendo empurradas cada vez mais para o centro por alicerces cada vez mais altos.

Crescia a indstria da invaso. A Prefeitura tentava combater e promovia a notificao e posterior derrubada de algumas casas, s margens da Lagoa. Em 2001 cerca de 50% (cinqenta por cento) da Lagoa do Prato Raso estava invadida por moradores, e cerca de duas mil famlias viviam nas margens da lagoa, em reas definidas como de proteo ambiental, infringindo a Lei. Em 2007, a Prefeitura Municipal de Feira de Santana tentou promover a relocao de 14 (quatorze) famlias que fincaram suas moradias, na rea central da lagoa, bloqueando a passagem natural das guas, em uma regio insalubre e perigosa, ocupada por marginais que usam as taboas para esconder o trfico de drogas e o desmanche de veculos, para um terreno localizado no bairro Papagaio. Mas os ocupantes no aceitaram o local proposto pela Prefeitura, mesmo cientes do risco de alagamento das casas e da ameaa a suas vidas. O IC/MP 18/00 ainda no foi concludo. O processo de ocupao da Lagoa do Prato Raso tambm no. A remoo das famlias no foi realizada. Mas falta pouco, para que nada mais reste a fazer, e que a Lagoa j esteja toda tomada por invases brancas.

AS CONSEQNCIAS AMBIENTAIS DA OCUPAO IRREGULAR DA LAGOA DO PRATO RASOAs conseqncias negativas para o ambiente provocadas pela ocupao desordenada das reas de preservao permanente da lagoa so de vrias ordens e atingem a fauna, a flora, o sistema hidrodinmico dos recursos hdricos locais, a regulao da temperatura da cidade, a contaminao das guas que compem a Bacia do Rio Jacupe, dentre outros.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

21

Em relao flora e fauna, observa-se o fenmeno biolgico da sucesso ecolgica, processo desenvolvido a partir da eutrofizao da lagoa, que se manifesta pelo aumento do nmero de taboas e baronesas, plantas aquticas que funcionam como filtros de matria orgnica, que recobrem todo o espelho dgua da Lagoa. As taboas impedem a penetrao dos raios solares luminosos e acarretando a morte da fauna, pela impossibilidade de troca de gases com o ar atmosfrico. Estudos realizados pela biloga Viviane Freitas, em 1998 destacaram a existncia na fauna local, de piabas (Astyanax sp), sapos (Bufo sp) e rs (Leptodactylus sp); na avifauna, os jaans (Jacana jacana) e o frango dgua comum (Gallinula chloropus). Atualmente, conforme depoimento dos moradores, essas espcies sumiram. Em conseqncia, as muriocas e demais insetos transmissores de doenas tomaram conta da regio. Dentre os mamferos, os ratos (Rattus sp) podem ser encontrados em qualquer residncia e habitando o precrio sistema de drenagem pluvial das ruas circunvizinhas e destacamse pela abundncia e tamanho. De acordo com o depoimento de uma moradora, os ratos so enormes e valentes e enfrentam os gatos e at os cachorros. As guas da Lagoa do Prato Raso encontram-se contaminadas por metais pesados, Mercrio, Cobre, Zinco, Chumbo, Cromo, Nquel, Cobalto, dentre outros considerados letais aos organismos humanos sendo absorvidos pelas argilas do fundo da lagoa provocando eutrofizao, formando sulfetos, carbonatos e sulfatos e precipitando a presena a presena de hidrxido de Ferro e Mangans. Segundo Queiroz (2002)a contaminao dos mananciais hdricos de Feira de Santana prejudica a sade de sua populao e de cidades num raio de 100 quilmetros, chegando a atingir praias prximas capital, Salvador.

Para ele, os altos nveis de degradao das lagoas, localizadas no permetro urbano de Feira de Santana, chegam a ultrapassar os limiares da recuperao natural, mesmo que cessem os impactos (ALMEIDA, 1992, p.76).

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

22

Alm disso, as agresses ambientais Lagoa, agindo de forma integrada interferem no seu sistema hidrodinmico, alterando a relao entre a gua superficial e a subterrnea, poluindo os mananciais de guas superficiais e subsuperficiais e condicionando o aparecimento de novas lagoas e alagadios permanentes (ALMEIDA, 1992, p.16). A ocupao das reas da lagoa acarreta a desestruturao do sistema natural de drenagem, contribuindo para a elevao do nvel do lenol fretico da cidade, hoje se aproximando perigosamente da superfcie. Embora no haja comprovao cientfica, h quem sustente que o processo de desaparecimento gradativo do corpo dgua da Lagoa interfere no clima da regio. Trata-se de lagoa em rea urbana e entre as muitas funes destaca-se aquela que permite a a amenidade do clima e a renovao do ar (IC/MP, 2000)". No entanto, surdos aos gritos de alerta dos ambientalistas, prosseguem autoridades pblicas e populares no caminho da total destruio da Lagoa do Prato Raso, ocupando e deixando que ocupem a rea de preservao permanente que d sustentao e proteo lagoa e provocando, com essas aes e omisses, conseqncias danosas ao ambiente, comunidade que reside na regio, sade pblica, cultura e preservao da histria do municpio.

A PROTEO JURDICA S REAS DE PRESERVAO PERMANENTE URBANAS E LAGOA DO PRATO RASO, EM FEIRA DE SANTANAPara assegurar a efetividade do direito que todos tm ao ambiente ecologicamente equilibrado, assegurado pela Constituio Federal no art. 225, o inciso III do mesmo dispositivo constitucional atribuiu ao Poder Pblico a tarefa de definir, em todas as Unidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somente atravs de lei. Esse mesmo dispositivo legal vedou qualquer utilizao que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteo.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

23

Os espaos territoriais especialmente protegidos, para Leuzinger (2002, p.93) abrangem as reas pblicas ou privadas, desde que sejam destinadas, pelo Poder Pblico Federal, Estadual ou Municipal, proteo dos seus atributos ambientais. Para ela, a criao dos espaos territoriais especialmente protegidos serve de instrumento para que se alcance a funo ambiental da propriedade. Seguindo as diretrizes traadas pelo art. 225 da Constituio Federal de 1988, o municpio de Feira de Santana estatuiu no art. 157 da Lei Orgnica Municipal (Lei n 37/90) que: Todos tm o direito ao meio ambiente ecolgico equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e comunidade o dever de defend-lo e preserv-lo para a presente e as futuras geraes. A Lei Orgnica Municipal dispe, em seu art. 157, II que, para assegurar a efetividade desse direito, o municpio dever definir, em Lei Complementar, os espaos territoriais e os componentes a serem especialmente protegidos, assim como a forma de permisso das alteraes, vedando qualquer uma que comprometa a integridade dos atributos justificadores de sua proteo. O Cdigo Municipal de Feira de Santana (Lei 1 612/92) regulamentou o art. 157 da Lei Orgnica do Municpio de Feira de Santana, estabelecendo, no art. 12, III, a criao de reas de relevante interesse ecolgico e/ou paisagstico como um dos instrumentos da Poltica Municipal de Meio Ambiente. Esses espaos, denominados de reas de relevante interesse ecolgico e/ou paisagstico foram qualificados pelo Cdigo de Meio Ambiente de Feira de Santana como reas Sujeitas a Regime Especfico (ASRE) e reas de Proteo Ambiental (APA), conforme disposto no art. 17, I e II. O pargrafo nico do artigo 16 da Lei Complementar Municipal n. 1 612/92 apresenta duas subcategorias de reas Sujeitas a Regime Especfico: as reas de Preservao dos Recursos Naturais (APRN) e as reas de Proteo Cultural e Paisagstica (APCP) e apresenta a Lagoa do Prato Raso na subcategoria de APRN.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

24

Contudo, antes mesmo da determinao constitucional ao Poder Pblico para a criao de espaos territoriais especialmente protegidos, a Lei 4 771 de 15 de setembro de 1965 (Cdigo Florestal Brasileiro), j definia esses espaos como reas de Preservao Permanente (APP). De acordo com o Cdigo Florestal, reas de preservao permanente so aquelas cobertas ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, o solo e de assegurar o bem-estar das populaes humanas. Todas as formas de vegetao natural, situadas ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua naturais e artificiais, nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados olhos dgua, qualquer que seja sua situao topogrfica, foram definidas, pelo Cdigo Florestal, como reas de preservao permanente, independentemente de qualquer ato declaratrio do Poder Pblico. A configurao e proteo jurdica dessas reas decorrem to-somente da lei e se impem em zonas rurais e urbanas. Para Andrade e Oliveira (2007, p. 163) as reas de preservao permanente so espcie do gnero espao territorial especialmente protegido e sua proteo, em razo da manifesta e relevante funo socioambiental que desempenha, constituise pressuposto condicionante inafastvel efetivao do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O Cdigo Florestal, ao criar as APP, tratou de definir seus limites, em alguns casos, como o fez, por exemplo, ao estabelecer o limite de proteo de 50 (cinqenta) metros de largura para as nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos dgua, qualquer que seja a sua situao topogrfica. Todavia, em outros casos, como em relao faixa de proteo ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua naturais ou artificiais, o Cdigo no fixou os limites de proteo, reservando essa tarefa lei ordinria para que promova sua regulamentao. Outorgou, portanto, aos planos diretores e s leis de uso e ocupao do solo o estabelecimento desses limites, respeitandose o que dispe o Cdigo Florestal para as hipteses de APP urbanas.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

25

A Constituio do Estado da Bahia, de 1989, apesar de prever a existncia de lagos, lagoas e nascentes situadas em centros urbanos como reas de preservao permanente, da mesma forma que o Cdigo Florestal, tambm no delimitou as reas protegidas, atribuindo ao Plano Diretor dos Municpios essa responsabilidade.Art. 215 - So reas de preservao permanente, como definidas em lei: (omissis) V - os lagos, lagoas e nascentes existentes em centros urbanos, mencionados no Plano Diretor do respectivo Municpio;[...] (Constituio do Estado da Bahia, 1989).

A Lei 10 431, de 20 de dezembro de 2006, em seu art. 89, que regulamenta a Constituio Estadual Baiana e dispe sobre a Poltica de Meio Ambiente e de Proteo Biodiversidade do Estado, caracterizou essas reas como espaos territoriais especialmente protegidos, na categoria APP, mas no definiu os limites para esses espaos. Muitos anos depois da publicao do Cdigo Florestal, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) editou, em 2002, a Resoluo 303. Com a Resoluo CONAMA 303/02 foram definidos limites para a APP em torno das nascentes e lagoas localizadas em reas urbanas e rurais. A referida Resoluo reconhece como rea de Preservao Permanente a rea situada ao redor de nascente ou olho dgua, ainda que intermitente, com raio mnimo de cinqenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrogrfica contribuinte [grifos nossos] e as reas localizadas ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mnima de trinta metros, para os que estejam situados em reas urbanas consolidadas, conforme pode ser visto no art. 2, XII, a,b,c (Vide Anexo 10). Dessa forma, pela Resoluo CONAMA 303/02, a rea de preservao permanente a ser garantida pelo poder pblico seria de trinta metros, ao entorno das lagoas, e de cinqenta metros, ao redor das nascentes que a alimentam.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

26

A Lagoa do Prato Raso, ento, deveria ter como limite de proteo, um raio de trinta metros, ao seu redor; e as nascentes que a alimentam estariam protegidas, num raio de cinqenta metros, em funo da Resoluo CONAMA 303/02, porque nela se verificam ocupaes consolidadas. Todavia, o Cdigo Municipal de Meio Ambiente de Feira de Santana, de 1992, em seu art. 37, considerou como reas de preservao permanente os revestimentos florsticos e demais formas de vegetao naturais, situadas ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios de gua natural ou artificial, desde o seu nvel mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal, cuja largura mnima seja de 30 (trinta) metros, e ao redor das nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados olhos dgua, qualquer que seja a sua situao topogrfica, num raio de 50 (cinqenta) metros de largura. Embora o Cdigo de Meio Ambiente, no art. 37 tenha estabelecido o limite de 30(trinta) metros ao redor das lagoas, em faixa marginal, desde o seu nvel mais alto, medido horizontalmente e de um raio de 50 (cinqenta) metros de largura ao redor das nascentes e olhos dgua, o pargrafo 2 do art. 41 desse mesmo diploma legal estabeleceu uma faixa de 100 (cem) metros no entorno das lagoas consideradas reas Sujeitas a Regime Especfico na subcategoria de rea de Preservao dos Recursos Naturais, propiciando-lhes um tratamento diferenciado, em funo de sua importncia para o equilbrio do ambiente na cidade. Todavia, a Lagoa do Prato Raso e as nascentes nela situadas foram excetuadas dessa proteo, restringindo, o inciso I deste pargrafo a faixa de proteo a 50(cinqenta) metros, superior quela estabelecida para as lagoas, em geral, (trinta metros), conforme art. 37, III deste mesmo diploma legal, mas inferior aos 100 (cem) metros assegurados s APRN. A Lei 6 766/79 Lei de Parcelamento do Solo Urbano estabeleceu no art. 4, III, como limite a ser observado pelos loteamentos, como reserva obrigatria ao longo das guas correntes e dormentes e das faixas de domnio das rodovias e ferrovias, uma faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

27

A Lei de Uso e Ocupao do Solo de Feira de Santana estabeleceu critrios para enquadramento e delimitao dessas reas com base na Lei do Plano de Desenvolvimento Urbano da cidade, e assinalou a necessidade de regulamentao da matria, por meio de lei de iniciativa do Poder Executivo Municipal para a institucionalizao da ASRE, conforme art. 14 da Lei 1 615/92. At esta data nenhuma morma foi aprovada pela Cmara Municipal para disciplinar o tema. Para soluo da questo, a Lei de Uso e Ocupao do Solo de Feira de Santana em seu art. 33, prev que at que sejam institudas as reas Sujeitas a Regime Especfico na Subcategoria de reas de Proteo aos Recursos Naturais e reas de Proteo Cultural Paisagstica, devem ser consideradas as indicadas no Cdigo de Meio Ambiente. Dessa forma, infere-se que a Lagoa do Prato Raso foi considerada pela Legislao Federal, Estadual e Municipal, Espao Territorial Especialmente Protegido, na categoria de rea Sujeita a Regime Especial (ASRE), na subcategoria de rea de Proteo aos Recursos Naturais (APRN), alm de configurar-se como rea de Preservao Permanente Urbana (APPU), com uma rea estabelecida de 50 metros para sua proteo. Todavia, a dificuldade em compatibilizar o adensamento demogrfico, o direito moradia e a presso imobiliria com o ideal da preservao do meio ambiente que se verifica nos grandes centros urbanos, tambm ocorre na Lagoa do Prato Raso, em Feira de Santana. Apesar de todo o arcabouo jurdico de proteo e a despeito de a Lei Orgnica Municipal determinar a proibio de aterro de lagoas, lagos e nascentes, conforme art. 167 da Lei Orgnica Municipal, no essa a prtica que vem se apresentando na cidade. Os aterramentos e novas construes surgem sorrateiramente, por dentre as taboas, seguidas de ruas que so abertas pelos prprios moradores ocupantes. Num breve espao de tempo, a Prefeitura pavimenta e fornece energia eltrica, gua encanada e servio de telefonia. Diante de tais ocorrncias, a impresso que se tem que a lei no pegou.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

Ela existe, mas no colocada em prtica para a garantia da proteo ao ambiente.

UMA BREVE ANLISE DA PERCEPO SOCIAL ACERCA DO CONFLITOOs diversos olhares que os segmentos entrevistados lanaram sobre a questo evidenciaram a complexidade do conflito que se estabelece na Lagoa do Prato Raso, em face da ocupao irregular e da dificuldade para solucion-lo. Para o segmento denominado, neste trabalho, como ambientalistas, a percepo dos conflitos e suas possveis solues passa pela formao de uma conscincia ambiental, no s entre os moradores/ invasores, mas tambm entre os diversos setores pblicos e privados da sociedade feirense, baiana e brasileira. Esse segmento percebe a importncia da Lagoa do Prato Raso para o equilbrio ecolgico da cidade, para a conservao de sua cultura e de suas razes histricas, bem como para o crescimento econmico da cidade. Contudo, os ambientalistas revelam-se descrentes acerca da possibilidade de se encontrar uma soluo capaz de salvar a Lagoa do Prato Raso da presso imobiliria e comercial exercida sobre a regio. As solues, segundo eles, existem. Todavia, o custo financeiro para a adoo das medidas necessrias recuperao e preservao desse recurso natural por demais elevado, face degradao que j se verifica no local. Alm do custo financeiro, ressaltam a existncia de um custo social, no menos elevado, que seria imposto comunidade que habita o local, assim como para a sociedade feirense, de modo geral, em razo das medidas adotadas para a recuperao e conservao da Lagoa do Prato Raso. A lentido no processo de recuperao outro fator que preocupa esse segmento, uma vez que devem ser respeitados os prazos estabelecidos pela Natureza e por suas leis. Mas, h, ainda, um outro custo para a recuperao da Lagoa: o poltico, apontado pelos ambientalistas como talvez, o maior entrave realizao desses projetos.

29

O contexto histrico do conflito aponta para os rgos pblicos como os agentes propulsores da ocupao, por volta da dcada de 1940. Nesse primeiro momento, a falta de legislao e de polticas pblicas voltadas preservao do ambiente permitiu que os rgos pblicos, atendendo presso por moradia popular, fornecessem material para o aterramento da Lagoa do Prato Raso, construssem casas s suas margens e concedesse ttulos de propriedade a seus moradores. Mais tarde, em 1967, com o Cdigo Florestal, considerou essas reas como de preservao permanente. Em um segundo momento, na vigncia do Cdigo Florestal e de toda a legislao federal, estadual e municipal protetora do meio ambiente, a preservao deste recurso natural sucumbiu diante dos interesses poltico-eleitoreiros. O poder pblico local permitiu, por ao ou omisso, a degradao da Lagoa do Prato Raso de diversas maneiras: permitindo que uma BR cortasse a Lagoa de um lado a outro; .concedendo carroas e caambas de entulho para a promoo do aterramento da lagoa; pavimentando e abrindo novas ruas; fornecendo os mais diversos servios pblicos e omitindo-se em conter a ocupao. No passado, a ocupao da Lagoa do Prato Raso pareceu conveniente a esse segmento, porque a permisso velada da ocupao irregular da rea de preservao permanente desta lagoa, assim como de todas as outras lagoas urbanas da cidade evitou a presso por moradias populares. Contudo, atualmente, os problemas decorrentes da omisso de tantos anos apresentamse e cobram respostas. As reas invadidas deixam desabrigados, seus moradores, em tempos de chuvas fortes. A Lagoa tornouse um local insalubre. A gua suja, poluda e ftida traz doenas comunidade. A irregularidade deu braos ilegalidade e a violncia se instalou no local. A regio foi tomada pelo trfico de drogas. As taboas da lagoa escondem o desmanche de automveis e os marginais. O poder pblico tenta amenizar esses efeitos com a urbanizao das nascentes, drenagem e canalizao das guas, instalao de postos de sade e escola pblica. Com essas medidas, acredita beneficiar a comunidade, melhorando sua qualidade de vida.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

30

Aqueles que ocuparam no passado e aqueles que ocupam a rea de preservao permanente da Lagoa do Prato Raso percebem essa ocupao como legtima. Acreditam que podem ocup-la porque precisam morar e porque aquele o lugar ideal para se estabelecerem, perto do centro da cidade. A percepo desse segmento social acerca da preservao do meio ambiente diferente daquela que os ambientalistas e que o prprio poder pblico manifestam. Para a comunidade local, conservar o ambiente importante. Todos reconhecem a importncia da preservao do ambiente. Todos, tambm, reconheceram a importncia da preservao de um ambiente equilibrado para as presentes e as futuras geraes. Mas, quando indagados, de forma mais especfica, consideraram que preservar o ambiente significa aterrar completamente a Lagoa do Prato Raso para construo de moradia, a custo zero, para quem no tem onde morar. Compreendem que o aterramento necessrio porque concebem a Lagoa do Prato Raso como o foco de todos os problemas que enfrentam. A realizao de obras de aterramento, esgotamento sanitrio, pavimentao de ruas, instalao de um mdulo policial, dentre outros investimentos sociais, tudo o que a comunidade local espera dos rgos pblicos. Para essa comunidade, a Lagoa um problema que precisa ser resolvido e a soluo, na percepo dessa categoria, consiste em destruir, definitivamente, a Lagoa. Na opinio dos entrevistados, a extino da Lagoa proporcionaria a ampliao da rea para construo de novas moradias, o que beneficiaria muita gente! . Em um esforo de anlise, no se vislumbra, para a Lagoa do Prato Raso, uma perspectiva de recuperao ou conservao a curto, mdio ou longo prazo. A perspectiva de uma ocupao integral da rea dentro de poucos anos. Pelas entrevistas, pelos comentrios dos especialistas e dos diversos atores, pode-se inferir que no h interesse na recuperao da Lagoa do Prato Raso. No h vontade poltica, nem h interesse da comunidade na recuperao desse espao e seu custo extremamente elevado. Contudo, muito embora parea fcil atribuir ao poder pblico a responsabilidade por este estado de degradao local, aps

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

31

a vivncia propiciada pela pesquisa in loco, torna-se razovel compreender que a soluo para o conflito no fcil; no se circunscreve vontade; no se limita questo financeira, operacional ou tcnica, nem se encontra guardada em manuais. So muitos os responsveis por toda essa situao e a dissipao dessa responsabilidade leva ao sentimento de que no h responsveis. Nenhum segmento sente-se culpado pela situao. Nenhum segmento acredita na soluo do conflito com a recuperao e revitalizao da Lagoa do Prato Raso, porque entendem a gravidade e extenso do problema. A complexidade que envolve os aspectos sociais, econmicos, polticos e jurdicos inerentes ao conflito estabelecido na Lagoa do Prato Raso aponta para a dificuldade de se chegar a uma soluo que salvaguarde o ambiente. Este, no ponto de vista de todos os atores inquiridos, est derrotado. Qualquer que seja a medida a ser tomada atualmente, nas condies em que se encontra o processo de ocupao da Lagoa pelos assentamentos humanos clandestinos ou irregulares, somente surtir efeito se negociada, amplamente, em um consistente pacto social. Entretanto, diante de tantos e to gritantes interesses contrapostos, dos diversos segmentos sociais que ali se apresentam, at mesmo a construo desse pacto resta ameaada. Por fim, como uma modesta contribuio cincia, sociedade e comunidade acadmica, espera-se que o trabalho realizado estimule a reflexo acerca dos problemas ambientais locais, fomentando a pesquisa e a busca por solues que venham em defesa do direito de todos a um ambiente ecologicamente equilibrado.

IRREGULAR OCCUPATION OF URBAN PERMANENT PRESERVATION AREA: A STUDY OF THE SOCIAL PERCEPTION ABOUT CONFLICTS OF INTEREST THAT ARE ESTABLISHED IN THE PATEN LAKE, IN FEIRA DE SANTANA, BAHIAABSTRACT This study aims at examining the illegal occupation of the areas of urban permanent preservation from the perception of many actors of all social performers public agencies, local communities, and environmentalists,

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

32

with a focus on the Prato Raso Lagoon, in Feira de Santana, Bahia. The study was conducted from analysis of legal standards that protect the permanent preservation areas in the city and the perception of the actors on the conflict involving illegal occupation of these areas. Environmentalists and public agencies do not see an easy solution or tailored to the financial realities of the municipality get lost before the inefficiency of the legal means to ensure the protection of these areas. The neglect and failure of public agencies stimulates and strengthens the irregular occupations that expand as pests, destroying completely, what remains of that wealth. KEY WORDS: Irregular Occupation. Conflict Perception. Urban PPA.

REFERNCIASALMEIDA, Jos Antonio Pacheco de. Aplicao da metodologia sistmica ao estudo do stio urbano de Feira de Santana. Stientibus, n. 22, jan-jun, Feira de Santana, 2000. p.9-26. ______. Estudo morfodinmico do stio urbano de Feira de Santana. Dissertao de Mestrado / UFBA. Salvador; Bahia, 1992. p.86. (Mimeo) ANDRADE, Ricardo Rangel; OLIVEIRA, Larissa Pultrini Pereira de. reas consideradas de preservao permanente de reservatrios dgua artificiais e ao redor de lagoas e lagos naturais. Competncia legislativa suplementar municipal: abrangncia e limites sob a tica do direito ambiental e urbanstico. In: Revista de Direito Ambiental, n. 46, ano 12: RT, abr.-jun. 2007. ANDRADE, Liza Maria Souza de., GOUVA, Luiz Alberto de Campos. VILA VARJO: o problema da habitao como uma questo ambiental. I Conferncia Latino-Americana de Construo Sustentvel e X Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo: So Paulo, 18-21 Julho 2004. Disponvel em: www.unb.br/fau/pesquisa/ sustentabilidade/pesquisadores/Alberto/curr%EDculo%20liza/4.pdf Acesso em 25 de agosto de 2008. BAHIA. Lei n. 10.431 de 20 de dezembro de 2006. In: Nova legislao ambiental. Salvador: BAHIA. Secretaria do Planejamento, Cincia e Tecnologia SEPLANTEC. Centro de Recursos Ambientais CRA, 2001.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

33

BECHARA, rika. A ocupao irregular dos mananciais poder levar escassez da gua? In: Revista de Direitos Difusos, ano III, vol. 16: Esplanada ADCOAS- IBAP, nov-dez, 2002. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 14. tiragem. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Funo ambiental da propriedade rural. So Paulo, SP: LTr, 1999. BRASIL. Constituio Federal: coletnea de legislao de direito ambiental. Organizadora: Odete Medauar. 5. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. BRASIL. Cdigo Florestal Brasileiro. Lei n. 4.771, de 15 de Setembro de 1965. In: Coletnea de legislao de direito ambiental . Organizadora: Odete Medauar. 5. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. BRASIL. Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965. In: Coletnea de legislao de direito ambiental. Organizadora: Odete Medauar. 5. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. BRASIL. Lei 6.766 de 19 de dezembro de 1979. In: Coletnea de legislao de direito ambiental. Organizadora: Odete Medauar. 5. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. BRASIL. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. In: Coletnea de legislao de direito ambiental. Organizadora: Odete Medauar. 5. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. CAMPOS, Mara de Ftima Hanaque (coord.). Perfil Empresarial de Feira de Santana. Feira de Santana: UEFS Centro de Pesquisa e Documentao de Feira de Santana CPDOFS/SEBRAE, 1998. Cem mil vivem em reas subnormais. Tribuna Feirense, Ano IV, n. 488, em 05/02/2003. Centro de Recursos Ambientais CRA. Relatrio de Inspeo n. 0474/2001. Salvador, 2001. In: Inqurito Civil do Ministrio Pblico Estadual da Bahia n 18/2000. CONAMA. Resoluo n. 303, de 20 de maro de 2002. Disponvel em: . Acesso em 08/11/2007.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

34

CORREIA NETO, Jos Sousa. et.alli. Alteraes na dinmica de lagoas em Feira de Santana Ba, a partir de modificaes antrpicas. In. X Congresso da ABEQUA Associao Brasileira de estudos do Quaternrio. Qual a chave para o futuro? Guarapari ES, 2005. FEIRA DE SANTANA. Lei n 37 de 1990. Lei Orgnica do Municpio. Cmara de Vereadores de Feira de Santana, 1990. FEIRA DE SANTANA. Lei Complementar n. 1.612 de 1992. Cdigo do Meio Ambiente de Feira de Santana. Cmara de Vereadores de Feira de Santana, 1992. FEIRA DE SANTANA. Lei Complementar n. 1.614 de 1992. Lei do Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal PDDM. Cmara de Vereadores de Feira de Santana, 1992. FEIRA DE SANTANA. Lei n 1.615 de 1992. Lei do Ordenamento do Uso e da Ocupao do Solo. Cmara de Vereadores de Feira de Santana, 1992. FEIRA DE SANTANA. Lei Complementar n. 20. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Feira de Santana (PDDU). Cmara de Vereadores de Feira de Santana, 1992. Feira evita invaso em rea de Lagoa. A Tarde, Caderno 4, p. 1, Salvador, 1012/2002. FRANCA-ROCHA, Washington de Jesus Santanna; NOLASCO, Marjorie Cseko. Projeto Nascentes - Um Olhar sobre Feira de Santana, CD_ROM, 1998. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Senso de 2000. Disponvel em .Acesso em 24 de outubro de 2007. Invases comprometem 50% da Lagoa do Prato Raso. Folha do Estado, p. 12, em 18/07/2001. Lagoas de Feira:uma dcada de abandono. Entrevista com Frei Monteiro Sobrinho. Tribuna Feirense, Caderno Geral, p.6, Feira de Santana, 05/05/2007. LEUZINGER, Mrcia Dieguez. Criao de espaos territoriais especialmente protegidos e indenizao. In: Revista de Direito Ambiental, n. 25, ano 7: RT, jan-mar. 2002. LIBERATO, Ana Paula Gularte. O verdadeiro carter do direito de propriedade na dicotomia entre direito pblico e direito privado. In:

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

35

LIBERATO, Ana Paula Gularte.(coord.) Direito Socioambiental em debate. Curitiba: Juru, 2006. LOPES, Laura Ribeiro. Feira de Santana: estudos sociais e cincias naturais. 4. ed. Feira de Santana: Editora do Brasil na Bahia Ltda., (s/a). (A) ______. Feira de Santana: geografia para o curso primrio. Feira de Santana: Editora do Brasil na Bahia Ltda., (s/a). (B) MOREIRA, Vicente. Epidemia de cegueira ameaa regio feirense. Feira Hoje, p. 7, em 20/07/1990. MPE - Ministrio Pblico do Estado da Bahia. Inqurito Civil 18/00. NOLASCO, Marjorie. Correspondncia datada de 30/06/04 de autoria da profa. Marjorie Cseko Nolasco e endereada ao Promotor Pblico, Dr. Roberto Gomes, presente nos autos n 18/00 do PIC/MP 18/00, p. s/n). Pesquisa de Lagoas e Nascentes. Jornal Feira Hoje, em 14/01/ 1990. Matria anexada ao Vol. II do Projeto Nascentes, Feira de Santana: UEFS, 1998. QUEIROZ, Creuza Maria Brito. Qualidade de vida e polticas pblicas no municpio de Feira de Santana, So Paulo, 2002. (Mimeo). SANTOS, Ana Maria de Lima; VEIGA, Isa Guimares. Avaliao hidroqumica e ambiental dos recursos hdricos no municpio de Feira de Santana, Bahia. In: Seminrio de Geoqumica Ambiental. Instituto de Geocincias da Universidade Estadual de Feira de Santana em agosto de 1993. Este trabalho integra o Projeto Nascentes, vol.3 (s/p). SERVILHA, lson Roney; RUTKOW SKI, Emilia; DEMANTOVA, Graziella Cristina; FREIRIA, Rafael Costa. As reas de preservao permanente, as cidades e o urbano. In: Revista de Direito Ambiental, n. 46, ano 12: RT, abr-jun. 2007. SICM - Secretaria da Indstria Comrcio e Minerao do Estado da Bahia. Disponvel em . Acesso em 18 de dezembro de 2007.

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008

36

STAURENGHI, Regularizao fundiria de assentamentos informais. Disponvel em: www.cidades.gov.br/.../ Regularizacao_fundiaria_de_assentamentos_informais_Rosangela_Staurenghi.pdf. Acesso em: 29 de agosto de 2008. Transbordamento de esgotos nas Favelas Feirenses. A Tarde. Salvador, 18/06/2005. Transferncia Problemtica - Feira de Santana. Tribuna Feirense, Ano IX, n. 1.801, p. 3, em 27/11/2007.

Recebido em: 23/11/2008 Aprovado em: 09/12/2008

Sitientibus, Feira de Santana, n. 39, p.7-36, jul./dez.

2008