26
7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 1/26 163 Resumo Os mapas não podem ser considerados tão somente uma representação de informações geográficas, nem reduzidos a uma técnica ou a um conjunto de metodologias de caráter estritamente geométrico, pois assumem diferentes funções e significações em cada época. Se, em suas origens, a cartografia estava voltada para a construção de uma imagem do mundo, estreitamente articulada a teorias cosmogônicas, passou, paulatinamente, a assumir o caráter de instrumento geopolítico de administração, organização e controle de territórios. Procuramos discutir, neste artigo, o uso da cartografia histórica como fonte documental privilegiada para o entendimento dos processos de conquista e ocupação territorial na América Portuguesa, tomando como referência o chamado Ciclo do Ouro e do Diamante nas Minas Gerais coloniais. Palavras-chave: cartografia; América portuguesa; ocupação territorial. Abstract Maps should not be considered only as representation of geographical information, nor reduced to a technique or a group of strictly geometric methodologies, since it is a product that is not imune to the perceptions, values and world views of those who elaborate them and of the societies of their time.  If, in its origins, cartography´s goal was to build an image of the world articulated only to cosmogonic theories, it progressively absorbed the character of a geopolitical instrument for the administration, organization and control of territories. In this article I discuss the use of the historic cartography as a privileged documental source for the understanding of the processes of conquest and territorial occupation in Portuguese America, using as a reference the colonial Gold and Diamond economies of Minas Gerais. Keywords: cartography; Portuguese America; territorial occupation. Fernanda Borges de Moraes Professora do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG. ESSAS MINIATURAS DO MUNDO: a cartografia histórica e o processo de ocupação do território na América portuguesa 163-187 n. 29 2006 p. 

FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Cartografia historica e processo de ocupacao

Citation preview

Page 1: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 1/26

163

Resumo

Os mapas não podem ser considerados tão somente umarepresentação de informações geográficas, nem reduzidos a umatécnica ou a um conjunto de metodologias de caráter estritamente

geométrico, pois assumem diferentes funções e significações emcada época. Se, em suas origens, a cartografia estava voltada paraa construção de uma imagem do mundo, estreitamente articulada ateorias cosmogônicas, passou, paulatinamente, a assumir o caráterde instrumento geopolítico de administração, organização econtrole de territórios. Procuramos discutir, neste artigo, o uso dacartografia histórica como fonte documental privilegiada para oentendimento dos processos de conquista e ocupação territorial naAmérica Portuguesa, tomando como referência o chamado Ciclo doOuro e do Diamante nas Minas Gerais coloniais.

Palavras-chave: cartografia; América portuguesa; ocupaçãoterritorial.

Abstract

Maps should not be considered only as representation ofgeographical information, nor reduced to a technique or a group ofstrictly geometric methodologies, since it is a product that is notimune to the perceptions, values and world views of those whoelaborate them and of the societies of their time.   If, in its origins,cartography´s goal was to build an image of the world articulatedonly to cosmogonic theories, it progressively absorbed thecharacter of a geopolitical instrument for the administration,organization and control of territories. In this article I discuss the useof the historic cartography as a privileged documental source for theunderstanding of the processes of conquest and territorialoccupation in Portuguese America, using as a reference the colonialGold and Diamond economies of Minas Gerais.

Keywords: cartography; Portuguese America; territorial occupation.

Fernanda Borges de MoraesProfessora do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG.

ESSAS MINIATURAS DO MUNDO:a cartografia histórica e o processo de ocupação

do território na América portuguesa

163-187n. 29 2006 p. 

Page 2: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 2/26

164Introdução

Diante da possibilidade de acesso a imagens digitais de toda a extensãodo planeta, atualizadas continuamente por meio dos inúmeros satélites em órbita,pode parecer anacrônico o interesse pelas representações cartográficas deoutrora. Certamente não o é para pesquisadores e acadêmicos da História, daGeografia, da Arquitetura, do Urbanismo e de tantas outras áreas afins, emborafreqüentemente esses profissionais lamentem, por vezes desolados, asdificuldades de acesso a esses documentos, que se encontram dispersos eminúmeras instituições no Brasil e no exterior, muitas vezes em precário estado deconservação.

Os registros iconográficos, contudo, têm atraído não só pesquisadores e

acadêmicos. Exposições e edições sobre o assunto vêm despertando, cada vezmais, não só o interesse desses profissionais, mas também o de muitos leigos, quese mostram fascinados pela iconografia produzida sobre o Brasil, em especial,pelos mapas, “essas miniaturas gráficas do mundo”. De fato, diante dessasrepresentações do passado, chega a ser irresistível explorá-los, buscandoidentificar os lugares de nossa história e confrontando-os, sobretudo, com asfeições com que se apresentam no presente.

Possuindo uma linguagem própria, os documentos cartográficos são

muito mais eloqüentes do que o senso comum supõe, revelando não só a geografiade um lugar ou região, mas também um determinado tempo, que ficou aprisionadona base material em que foram desenhados ou impressos. Tempo em que eramoutras as técnicas e unidades de medição e representação; tempo em que oslugares que conhecemos tinham outros nomes; tempo em que nem tudo eraconhecido, fazendo com que extensas áreas em branco falassem de sertões adesbravar e que refinadas iluminuras e vinhetas revelassem o sonho de encontraro Eldorado, o medo de monstros medonhos que povoavam os mares e as florestas,ou mesmo o assombro dos primeiros aventureiros frente à exuberância e aoexotismo de terras recém-descobertas.

São também peças de rara beleza, alguns apresentando desenhoscaprichosos de pequenas povoações, plantas e animais exóticos, figurasmitológicas, pessoas em suas lides cotidianas... são registros valiosos porqueúnicos, raros e eloqüentes...

Ao utilizar a cartografia como fonte documental é fundamental destacarque se trata de um tipo de representação cuja produção não está alheia àspercepções, aos valores e concepções de mundo daqueles que a produziram bem

como das sociedades em que viveram. Tucci (1984) afirma, e com bastantepertinência, que os mapas não podem ser tomados como uma mera materializaçãode conhecimentos geográficos, nem reduzidos a uma técnica, ou a um conjunto demetodologias adotado na superação de problemas de representação estritamentegeométricos, porque assumem significações e atendem a propósitos os maisvariados em razão do contexto em que foram produzidos. É o que também apontaLavedan (1993) ao confrontar as origens da cartografia – quando a construção deuma imagem do mundo estava estreitamente vinculada a teorias cosmogônicas –com o Renascimento, contexto das grandes empresas marítimas, em que aexatidão, o detalhamento e o uso de métodos científicos tornaram-seimprescindíveis para a navegação segura em “mares nunca antes navegados” eem terras ainda por desbravar. E isso não ocorreu tão somente em razão deprogressos alcançados no campo da técnica. Aspectos políticos, administrativos eestratégicos condicionaram as mudanças ocorridas na própria concepção darepresentação do mundo e de suas regiões.

Mas há ainda outros aspectos a considerar nas lides com asrepresentações do espaço em suas várias escalas:

163-187n. 29 2006 p. 

Page 3: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 3/26

165“É preciso ter cuidado ao analisá-los [os desenhos], pois asarmadilhas são inúmeras. Embora anseiem pela máximaexatidão possível, apresentam recortes da realidade, sobuma determinada ótica, e limites impostos peloinstrumental da época. [...] Longe de serem umareprodução fidedigna do real, são projetos, nem semprerealizados. Nesse aspecto, é imprescindível a leitura dosofícios que acompanhavam esses desenhos ou queprestavam conta de sua execução” (Bueno, 2001, p.665-666).

Portanto, o esforço de comparar, cotejar e confrontar os registrosiconográficos com outras fontes documentais e estudos diversos possibilita, por

um lado, uma contextualização mais segura de idéias e fatos e, por outro, distinguiras variantes entre o imaginário e o real, e entre o explícito e o implícito, inerentes aesses registros.

Pautando-se por essas questões, neste artigo procura-se discutir o usoda cartografia – tomando-a também como uma espécie de fio condutor – comoinstrumental privilegiado para o entendimento dos processos de conquista eocupação do território brasileiro, tendo como referência o Ciclo do Ouro e doDiamante em Minas Gerais, quando foi produzido um montante bastante

expressivo e diversificado de registros cartográficos, por meio dos quais se podemelhor compreender um dos fenômenos mais intensos de ocupação e expansãoterritorial na América Portuguesa.

Os lugares do maravilhoso e do prodigioso

Sendo os mapas basicamente uma representação – gráfica,bidimensional e em escala reduzida – de informações obtidas por meio delevantamentos ou de relatos e descrições daqueles que percorreram determinadoterritório, sua produção desenvolveu-se atrelada à construção de uma linguagem

específica, na qual técnica, significante e significado se misturam e secomplementam.

Até o século XVI, pouco se avançou no sentido de uma padronização dalinguagem dos mapas, prevalecendo nas cartas o estilo de cada cartógrafo. Osesforços no sentido de sua uniformização se iniciaram no século XVI na Itália eHolanda, mas foi ao longo dos séculos XVII e XVIII que se consolidou todo umsistema de padronização de representação cartográfica (Bueno, 2001, p.710).

Houve, assim, uma progressiva evolução de uma representação maisnaturalista ou figurativa para uma mais abstrata, com o uso de símbolos gráficoscapazes de expressar informações de forma compacta e objetiva. Serras,montanhas e falésias, por exemplo, eram representadas perspectivadas e deforma pictórica nos séculos XVI e XVII, mas, ao final desse último, já eram adotadosgrafismos de caráter mais abstrato até chegar nas linhas de cotas utilizadas noséculo XX (Figura 1). Toda essa esquematização gráfica visava aoestabelecimento de convenções inteligíveis universalmente e que hoje seapresentam como corriqueiras.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 4: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 4/26

166

Mas quando o mundo não era ainda uma aldeia global, os espaçossituados para além das fronteiras do conhecido eram representados de forma

muito mais simbólica do que geográfica. Mantendo ainda tradições medievais, osmapas assumiam também o papel de veículo do imaginário e do maravilhoso, doexótico e do mítico, onde a representação de um mundo exterior se misturava àsprojeções de teor simbólico de um mundo interior, curioso, especulativo e, porquenão dizer, criativo.

Em mapas encomendados pela nobreza e geralmente destinados àexposição, podem ser encontradas ilustrações as mais diversas, desde asalegorias representando os quatro continentes – Europa, Ásia, África e América –até imagens da fauna, flora, povos e figuras mitológicas. Essa tradição dedecoração artística, adotada pelos cartógrafos franceses do século XVI, e queainda perdurou nos dois séculos seguintes, também esteve presente em mapasdestinados a propósitos mais objetivos e práticos, como a navegação ou o registrode territórios conquistados (Figura 2).

Figura 1. Exemplo da evolução das formas de representação cartográfica: na carta deGiovanni Battista Ramusio, datada de 1557 (1), os elementos geográficos sãorepresentados de forma figurativa. A linguagem cartográfica, aos poucos, vai se tornandomais simplificada, como indica o detalhe da serra da Mantiqueira (2), presente no mapa de

José Joaquim da Rocha (1778). Na cartografia do Barão de Eschwege (1821), o relevo érepresentado em planta, com grafismos que conferem profundidade ao desenho (3). Porfim, na carta de 1972 (4), a representação da altimetria é feita por meio de curvas de nível eda escala de cores ipsométricas e batimétricas.

Fonte: Tesouro... (2002, p.236); Rocha (1995); Costa (2004, p.191); IBGE (1972).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 5: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 5/26

Para além do deleite estético, essas representações – nos quais teorartístico e registro histórico-geográfico se articulam e se complementam – sãofonte inesgotável de reflexões e reinterpretações à luz das inquietações,demandas e perguntas que ainda nos impõe a contemporaneidade. Imagensliterárias como as de A Utopia de Morus – que se somaram às evocadas em obrascomo as de Shakespeare, Erasmus, Rabelais, Montaigne, Camões, Campanella etantos outros – inspiraram e foram inspiradas por pintores, ilustradores ecartógrafos, alimentando de sonhos, desejos e cobiças uma Europa que seconfrontava perplexa e maravilhada com o “outro”: os povos reais e imaginários

que habitavam as terras recém-descobertas.Na medida em que as fronteiras do mundo conhecido avançavam e o

conhecimento sobre seus territórios se ampliava, essas figurações mais livres aospoucos foram relegadas a espaços periféricos como os de ornamentação, legendae títulos, dando lugar a registros mais próximos da realidade.

Éden, Eldorado, Sabarabuçu ... as (M)minas

Sérgio Buarque de Holanda (1959, p.3) já chamava a atenção para oespaço reduzido que as maravilhas e os mistérios sobre o Novo Mundo ocupavamnos escritos quinhentistas portugueses. Se o maior domínio das técnicas denavegação, o contato mais estreito com povos do oriente e da costa africana, e atéum certo pragmatismo os tornaram alheios, quiçá desencantados, frente aosexotismos e fascínios das terras recém-descobertas, o mesmo parece não terocorrido em outras nações européias.

O mundo tropical – com suas exuberâncias que não conhecem os rigoresdo inverno, com sua fauna e flora exóticas e homens e mulheres desnudos como

Fonte: Belluzzo (1999, p.69).

Figura 2. A Quarta Orbis Pars. Mundus Novus  (1558), de Diogo Homem, registrainformações sobre a ocupação litorânea da América Portuguesa, sendo que nos sertõesainda não desbravados figuram imagens da fauna, flora, povos e entes mitológicos.

167

163-187n. 29 2006 p. 

Page 6: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 6/26

168Adão e Eva – realimentou de novas imagens as tradições medievais do paraísoterrestre que, convencionalmente situado nas terras do oriente, ressurgiu noimaginário do mundo ocidental dos primeiros tempos das descobertas, fazendoproliferarem, nos mapas, elementos de paisagens paradisíacas.

Na persistência dessas visões edênicas, o Novo Mundo figurava noimaginário europeu também como terra de riquezas ocultas – uma recompensamaterial à qual se associava o paraíso terrestre –, o que, de uma certa maneira, foicorroborado pela descoberta de tesouros na América Espanhola. A presença deum componente de realidade como este foi, muitas vezes, necessária para suscitare (re)alimentar de lendas as mais fabulosas o imaginário dos aventureiroseuropeus.

Assim, não é improvável que a hipótese de que o Eldorado fosse umaelaboração européia, figurando como atrativo para, ao mesmo tempo, incentivar aconquista e a ocupação de terras cada vez mais interiores e desviar as atençõessobre as notícias dos perigos e das atrocidades praticadas pelos indígenas dasterras de além-mar (Vainfas, 2000, p.198). Por outro lado, as histórias sobre umritual de aclamação de um chefe indígena que, com o corpo untado, se cobria de póde ouro – el hombre dorado – e dele se desfazia ao mergulhar num lago, poderiamser apenas um subterfúgio das populações autóctones para enganar osaventureiros. Seja como for, da lenda del hombre dorado surgiu a idéia de um lugar,

uma região ou uma cidade magnífica – o Eldorado – onde “o ouro era coisa tãocomum quanto a lama do chão” ou onde fulgurava uma imensa montanha de ouro eprata (Ley; De Camp, 1961, p.202-203).

É curiosa a extraordinária mobilidade geográfica que o Eldorado adquiriue que Holanda (1959, p.40-42) destaca:

“O próprio sítio onde se supusera existir o 'PríncipeDourado', com sua lagoa e seus tesouros infindos, passa adeslocar-se sucessivamente a cada avanço novo e a cada

novo desengano dos conquistadores espanhóis, oumesmo alemães, como Ambrósio Ehinger, Federmann,Georg Hohermuth, Philipp von Huten, mais tarde tambémingleses como Raleigh, até meter-se, com o dasamazonas, em lugares ínvios que guardariam melhor o seumistério.”

Na América Espanhola, a geografia do Eldorado passou por NovaGranada, pelo vale do Cauca, pela Guiana, chegando até ao país dos Omáguas.

Essa geografia imaginária também alcançou os territórios da América Portuguesana figura também de uma lagoa, como podemos verificar numa carta de 1596 –Delineatio Totius Australis Partis Americae... – elaborada por Arnold Florent vanLangren (Tesouro..., 2002, p.108-109). Nela está representada a Laguna deldoralo, localizada, aparentemente, no que seria hoje a região central do Brasil(Figura 3). Em vários mapas do século XVI, essa lagoa recebeu nomes diversos –Eupana, Xarayes ou Parapitingaa –, figurando, muitas vezes, como nascente dosrios São Francisco, Prata e/ou Amazonas.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 7: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 7/26

169

A essa mobilidade geográfica associavam-se também transformações naprópria natureza do objeto lendário. Junto a essa lagoa, dizia-se haver montanha(ou serra) resplandecente – de muitos nomes, sendo Sabarabuçu  o maisconhecido – onde haveria ouro, prata e pedras preciosas. Em outros mapas, erarepresentada não uma lagoa ou montanha, mas uma ilha fluvial, situada no rio SãoFrancisco, no Prata ou no Paraguai.

Curiosamente, Sabarabuçu foi uma representação que, aos poucos, se

deslocaria no espaço das geografias imaginárias, até se concretizar com adescoberta de ouro na região das Minas Gerais, em fins do século XVII. A lenda,cuja difusão foi atribuída a Filipe Guilhen, foi se alimentando de fatos, associando-se a relatos, bebendo constantemente de experiências concretas e imaginárias.Guilhen, em carta a d. João III, de 20 de julho de 1550, não usa o nomeSabarabuçu, mas descreve uma serra resplandescente:

“Socedeu agora que este março pasado vierõ a PortoSeguro negros dos que viuem junto de hû gram rio, alem doqual dizem que esta hûa sera junto delle que resprandece

muito e que he muito amarella, da qual serra vão ter ao ditorio pedras da mesma cor, a que nos chamamos pedaçodouro, que dellla caem, e os negros, quando vão a guerrapolla banda de aquem, apanham do dito rio os ditospedaços de que dizem que fazem gamellas pera nellasdarem de comer aos porcos que pera si não osam fazercousa algûa, porque dizem que aquelle metal edoençapella qual rezam nam ousam pasar a ella e dizem quémuyto temerosa por causa de seu resprandor, e chamãolhesole da tera”. (Dias; Vasconcellos; Gameiro, 1924, p.358).

Fonte: Tesouro... (2002, p.108).

Figura 3. Nesta carta de Arnold Florent van Langren, datada de 1596, está representada aLaguna del doralo, localizada, aparentemente, no que seria hoje a região central do Brasil.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 8: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 8/26

170A expressão “serra que resplandece”, com algumas variações, teria

correspondência, nas línguas indígenas, com os nomes Itaberaba  ou noaumentativo Itaberaba-oçu, passando a corruptelas como Taberaboçu,Tuberabuçu, Sabrá-boçu, e se firmando, por fim, como Sabarabuçu  (Holanda,

1959, p.46). Em duas cartas de Vicenzo Coronelli, uma de 1691 e outra do anoseguinte – ambas denominadas America Meridionale (Figura 4) –, uma serra, denome Sarabassu, figurava junto a uma lagoa situada no rio Paraná.

Pero Magalhães Gandavo, num registro da expedição de Martim deCarvalho (1567) constante de seu Tratado da terra do Brasil  (ca. 1570), tambémmenciona uma serra “mui fermosa e resplandescente”, provavelmente sereportando ao relato de Guillén (Abreu, 1963, p.333-334). Mas, na sua História daProvíncia de Sãta Cruz (1576), foi a uma grande lagoa que Gandavo se referia:

“[...] que ha uma lagoa mui grande no interior da terra,donde procede o rio de Sam Francisco, de que já tratei;

dentro da qual dizem haver algumas ilhas, e nellasedificadas muitas povoações, e outras orredor dellas muigrandes, onde tambem ha muito ouro, e mais quantidades(segundo se afirma) que em nenhuma outra parte destaProvincia.” (Abreu, 1963, p.336-337) (grifo nosso).

Certamente, essas notícias que chegavam, sobretudo, à vila de PortoSeguro influenciaram muitas das expedições rumo aos sertões, inseridas no queMagalhães (1935, p.41-46) denominou “ciclo baiano” e que marcariam as primeirastentativas de desbravamento do território da futura Minas Gerais, no século XVI.

Ainda que essas tentativas não tivessem sido exitosas, não se arrefeceuo ritmo das expedições, nem tampouco se desvaneceram os sonhos de riqueza.Também os paulistas foram movidos por tais notícias e empreenderam váriasexpedições, ao longo do século XVII, intensificadas, sobretudo, em suas últimasdécadas. O Sabarabuçu  mítico – às vezes associado à chamada serra dasEsmeraldas – esteve no horizonte das bandeiras de Fernão Dias Pais e de seuscompanheiros. Mesmo não tendo encontrado as pedras verdes e as minas de ouroe prata, a Fernão Dias se deveu o esforço de desbravamento dos sertões do

Figura 4. Na carta de Vicenzo Coronelli, datada de 1692, é representada a serra de“Sarabassu”, próxima a uma grande lagoa no rio Paraná.

Fonte: Tesouro... (2002, p.253).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 9: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 9/26

171território mineiro, abrindo caminho para as bandeiras que se seguiram até quefinalmente se encontrasse ouro em fins do século XVII. O sonho do Eldorado deSabarabuçu se realizava, enfim, no território mineiro.

Embora não se tenha notícia de que as expedições quinhentistas, nemtampouco as realizadas ao longo de todo século seguinte, tivessem geradoregistros cartográficos específicos, verifica-se que, sobretudo a partir dadescoberta do ouro, paulatinamente a geografia do real viria a substituir a doimaginário nos mapas do sertão. Mas, mesmo já tendo se iniciado o rush  emdireção às minas, já em fins do século XVII, as serras de Soberabosu [sic] e dasEsmeraldas aparecem representadas no Mapa da maior parte da Costa, e Sertão,do Brazil, extrahido do original do Pe. Cocleo  (ca. 1699-1702). A primeiralocalizando-se próxima à confluência dos rios Piranga e Gualaxo, representadosequivocadamente como afluentes do rio Grande (Jequitinhonha), e a segunda junto às nascentes do rio Doce.

Com a descoberta do ouro, para a Coroa portuguesa as questões que secolocavam como prioritárias não eram tanto aquelas relacionadas às rotasmarítimas, mas à geografia das terras descobertas e de suas riquezas. Se, comoafirmou Holanda (1959), o imaginário do paraíso, ou mesmo do Eldorado, nãochegou a contaminar o pragmatismo português, a descoberta do ouro fez com que,para a Coroa, a colônia emergisse como um outro tipo de terra prometida, aquelacapaz de provocar a regeneração econômica e mercantil do Reino. Impunha-se,

então, a instauração de um sistema eficiente de gestão, organização e, sobretudo,controle do território e de suas riquezas, no qual a cartografia desempenhou umpapel decisivo.

A geopolítica do território

Nos séculos XVI e XVII, a cartografia portuguesa estavapredominantemente voltada para a produção de cartas náuticas, buscando maiorprecisão nos caminhos do mar e o maior conhecimento das costas do Brasil e daÁfrica. Era um saber que conjugava ciência e experiência empírica. Nos principais

portos portugueses, tais cartas iam sendo atualizadas na medida em que asembarcações regressavam de suas viagens e os navegantes traziam novasinformações, fundamentais no desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicasque colocaram Portugal na posição de vanguarda no descobrimento de terras dealém-mar (Guedes, 2004, p.38-44). No entanto, Portugal acabou por perder asupremacia sobre esse conhecimento que, no século XVII estavapredominantemente nas mãos da Inglaterra e da França (Bicalho, 1999, p.77).

Com as descobertas de riquezas nos sertões da América portuguesa – naregião das minas, desde o final do século XVII; alcançando os rios Caxipó e Cuiabá,

em 1718; e, em 1728, os sertões da Bahia – ao mesmo tempo em que eraimprescindível ampliar o conhecimento sobre esses sertões, as informações sobresua geografia deveriam ser mantidas sob sigilo, preocupação que a Coroaportuguesa demonstrou, por exemplo, ao recolher e destruir com presteza a obrado padre jesuíta André João Antonil – Cultura e opulência do Brasil   por suas drogase minas – escrita no início do século XVIII e publicada em 1711, que apresentava,entre outros aspectos, descrições detalhadas dos caminhos para as minas(Antonil, 1982, p.161-195).

As autoridades portuguesas procuraram também estabelecer um maiorcontrole sobre as terras e os caminhos para as minas, impedindo a abertura derotas alternativas e picadas, bem como o acesso de estrangeiros, restringindoainda a circulação de viajantes e mercadorias, por meio de passagens e deregistros. Nesse sentido, também apresenta uma clara intenção estratégica acriação, nas primeiras duas décadas do século XVIII, de oito vilas – Vila de NossaSenhora do Carmo, Vila Rica e Vila Real do Sabará, em 1711; São João del Rei, em1713; Vila Nova da Rainha e Vila do Príncipe, em 1714; Pitangui, em 1715 e SãoJosé del Rei, em 1718 – junto às principais áreas mineradoras. Sua ereção estavadiretamente relacionada à necessidade de instalação de uma estrutura

163-187n. 29 2006 p. 

Page 10: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 10/26

172administrativa e judiciária capaz de exercer controle sobre a exploração mineral,sobretudo diante das ações de contrabando e dos motins e turbulências quecaracterizaram aquelas primeiras décadas da corrida do ouro.

Mesmo estando atenta aos interesses cobiçosos pelas riquezas de suacolônia, a Coroa portuguesa não conseguiu manter completo sigilo a respeito.Boxer (1969, p.109) aponta que as invasões francesas no Rio de Janeiro, tanto a deJean-François Duclerc (1710) quanto a de Du Guay-Trouin (1711), tinham porobjetivo o controle do principal porto para onde era canalizado o ouro da região dasminas, o que lhes asseguraria um rico butim. Alguns autores aventam, inclusive, ahipótese de que a decisão de invasão do Rio de Janeiro orientou-se porinformações fornecidas por Ambrozio Jauffret ao Governador da Guiana Francesa,o Conde de Pont Chartrein, constantes de um relatório enviado em junho de 1704,que indicava a localização das minas e seu acesso por caminhos que partiam dacidade do Rio de Janeiro e da vila de São Paulo (Costa, 2004, p.18).

Por outro lado, alguns mapas produzidos por estrangeiros, ao longo detodo o século XVIII, sequer indicavam a existência da Capitania de Minas Gerais oude algum de seus principais núcleos urbanos, mesmo se tratando de uma região, àépoca, já bastante importante e populosa para passar desapercebida. É o que seobserva em documentos cartográficos tais como: a Carte de La Terre Ferme, duPerou, du Bresil et du Pays dês Amazonas, Dressée sur Mémoire les plusnouveaux & les observations les plus exactes (1720), de autoria de Henri Châtelain;

Nova Orbis sive América Meredionalis et Septentrionalis... (1740), de GeorgeMattäus Seutter; South América Drawn from The Best Maps by T. Jefferys (1749),etc. (Tesouro..., 2002).

Mesmo sem uma abordagem mais detida sobre o contexto histórico epolítico em que foram produzidos estes e outros mapas coevos, as poucasinformações neles representadas são indícios da relativa eficiência do controle esigilo mantido sobre a ocupação dos territórios interiores da América Portuguesa.Não é por acaso que, somente a partir de meados do século XVIII, quando oTratado de Madri (1750) fixou os limites dos territórios de Portugal e Espanha na

América, utilizando-se de uma base cartográfica – o Mapa das Cortes  –,informações mais precisas e completas da ocupação dos sertões da colôniapassaram a figurar nos mapas produzidos por estrangeiros.

É o que se observa, por exemplo, no mapa Suíte du Bresil Depuis La Bayede Tous les Saints Jusqu'a... (1761), de Jean Baptiste Bourguignon D'Anville, quenão registra o nome da Capitania de Minas Gerais, mas revela um conhecimentorelativamente detalhado de seu território. D'Anville registrou e nomeou os principaisafluentes dos rios São Francisco (margem direita) e Doce; indicando seis das novevilas criadas até então – Vila do Carmo, Vila Rica, Sabará, São João Del Rei, Vila do

Príncipe e São José – e ainda algumas pequenas povoações (Figura 5).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 11: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 11/26

173

Toda essa preocupação de se manter sigilo sobre os territórios daAmérica Portuguesa talvez tenha sido responsável por haver tão poucos registroscartográficos remanescentes relativos às primeiras décadas que se sucederam àsdescobertas das minas. Há menções a um Mapa da costa do Brasil , produzido pelo jesuíta francês, Jacobo Cocleo, corruptela de Jaques Cocle, que aqui viveu entre1660 e 1710, vindo a falecer na Bahia. Supõe-se que o propósito deste mapaestaria ligado à administração eclesiástica, subsidiando a definição dos limitesentre o Arcebispado da Bahia e o Bispado do Rio de Janeiro, razão pela qual seestima a sua datação entre 1699 e 1702 (Costa, 2004, p.139).

Contudo, não se tem notícia do original, mas apenas de uma cópia – oMapa da maior parte da Costa, e Sertão, do Brazil, extrahido do original do Pe.Cocleo – já mencionado. Trata-se, sem dúvida, de um mapa bastante raro e de umdos grandes momentos da cartografia da América Portuguesa, tornando-se umareferência para vários outros mapas produzidos posteriormente, sobretudo osreferentes à região das minas. De dimensões consideráveis (224 x 120cm), neleestá registrada a geografia da costa do Brasil – desde a ilha do Maranhão atéLaguna – e de parte considerável de seu imenso sertão (Figura 6).

Fonte: Tesouro... (2002, 262).

Figura 5. Neste mapa de D'Anville, editado em seu Atlas da América do Sul , em 1748, e delereproduzido em 1761, são representadas seis das nove vilas já criadas na Capitania deMinas Gerais e alguns dos povoados então existentes.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 12: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 12/26

174

No que tange à região das minas, nele estão representados apenas doispovoados, com indicações de áreas de mineração, com dizeres tais como “Minasachadas em 1699”, “Minas do Rio das Velhas”, “aqui [h]a muito ouro, mas [h]ouvemuita peste”. Destaca ainda alguns dos principais eixos de penetração no sertão,com a indicação do “Caminho novo do gado”, ao longo do rio São Francisco, e do“Caminho de Garcia Roiz para as Minas”, ligando o Rio de Janeiro às minas do riodas Velhas.

Observa-se ainda, sobretudo numa extensa região abrangendo o vale dorio São Francisco e alguns de seus afluentes – Carinhanha, Verde, Urucuia,Paracatu e das Velhas – a presença de inúmeras fazendas, indicando que já haviaalguma ocupação humana à época, ainda que pontual e esparsa. Vale lembrar quea produção e a circulação do ouro e pedras preciosas estimulou o desenvolvimentode atividades agropecuárias necessárias ao abastecimento das áreasmineradoras, favorecendo a articulação não só entre as regiões das minas, comotambém com as capitanias limítrofes. Da Bahia, os criadores trouxeram o gado,subindo o rio São Francisco – região de pastos, depósitos salinos e barreiros de sal –, que ficou conhecido como “rio dos currais”.

Esse mapa, porém, traz uma série de equívocos, especialmente narepresentação dos rios situados mais ao Leste – Pardo, Jequitinhonha, Mucuri eDoce –, cujos desaguadouros eram bem conhecidos à época, mas seus percursos

Fonte: Costa (2004, p.140-141).

Figura 6. No Mapa da maior parte da Costa, e Sertão, do Brazil, extrahido do original do Pe.Cocleo  (ca. 1699-1702), são representadas as serras de Soberabosu (sic), próxima àconfluência dos rios Piranga e Gualaxo, e das Esmeraldas, junto às nascentes do rio Doce.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 13: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 13/26

175nem tanto, o que se deveu, certamente, à presença do gentio bravio nessa região.O Jequitinhonha, por exemplo, apresentava como afluentes os rios Mucuri – quecuriosamente também deságua no mar –, e o Piranga e o Gualaxo, que pertencem,na verdade, à bacia do rio Doce. Este último representado sem destaque e pouco

interiorizado.

É curioso o fato de que, principalmente nos primeiros anos da descobertado ouro, informações detalhadas sobre as riquezas e a geografia da AméricaPortuguesa tivessem sido registradas, sobretudo, por estrangeiros como Cocleo, etambém Antonil. Porém, ao pioneirismo de Portugal na cartografia náutica e nodesenho das regiões costeiras, verificado no século XVI e início do XVII, sucedeu-se uma situação de poucos progressos científicos, com rebatimentos negativos naqualificação de seus cartógrafos, necessária a um reconhecimento e registro maisrigoroso dos territórios continentais.

Essa situação tornar-se-ia ainda mais desconfortável para a Coroaportuguesa, na medida em que a cobiça pelas riquezas do território sul-americano,sobretudo a partir do século XVII, implicou inúmeros conflitos com outras naçõeseuropéias, em especial com a Espanha. Para possibilitar a formação de novosquadros técnicos internos – desenvolvendo e consolidando um conhecimentocientífico que viria a ter um papel decisivo nos campos da política, da diplomacia eda economia ibérica – não havia outra solução senão a recorrer a astrônomos,matemáticos e cartógrafos estrangeiros.

Não tendo o Tratado de Utrecht (1715) conseguido superar de vez ascontendas entre Portugal e Espanha na demarcação de seus respectivos domíniosem território americano, o avanço das descobertas de ouro certamente contribuiupara acirrá-las ainda mais. Enquanto os desdobramentos diplomáticos dessasquestões ocorriam nas cortes ibéricas, no território americano, tanto os colonosespanhóis quanto os portugueses se queixavam de avanços de parte a parte sobredomínios que julgavam seus, considerando que, para quem se lançava naaventura do desbravamento, a linha imaginária de Tordesilhas pouco sentidoprático tinha.

Era preciso conhecer melhor esses sertões, registrar com rigor suageografia e identificar elementos naturais que poderiam servir de limites,estabelecendo, sob bases científicas, os argumentos necessários para enfrentaras freqüentes contestações da soberania de Portugal no território americano. Esserigor, no entanto, implicava na contratação de especialistas que tivessemconhecimento da “sciencia particular da cosmographia, para poder arrumar asterras, os rios e montes pelos graos”. Por outro lado, num contexto político-diplomático tão delicado, tal tarefa deveria ser feita sob o maior sigilo possível, enão teria sido outra a razão da recomendação – constante da Consulta doConselho Ultramarino, de 23 de agosto de 1720 – de que fossem indicados “dous

religiosos mathematicos alemães ou italianos, por serem duas nações menossuspeitosas a esta Coroa” (Almeida, 2001, p.78).

A esse quadro já instável veio se somar o alarde causado, em novembrode 1720, pelas afirmações de Guilhaume Delisle, geógrafo do rei da França, que,na leitura de sua dissertação Determination géographique de la situation et del'étendue des differentes parties de la terre, na Academia Real das Ciências deParis, comprovava, por meio de cálculos mais precisos de longitude, a ilegitimidadeda expansão portuguesa no ocidente sul-americano, deslocando indevidamente omeridiano de Tordesilhas para oeste.

Assim, não foi por acaso que, ainda em 1720, o então rei de Portugal, D.João V (1706-1750), dava início à implementação de uma série de ações, queviriam a promover um verdadeiro esforço de modernização científica no Reino,com claros desdobramentos no que respeita aos conflitos territoriais mencionados.Fundou, em 8 de dezembro, a Academia Real de História Portuguesa, investindoainda na aquisição de instrumentos científicos, livros de astronomia, atlas e mapas,e na contratação de especialistas estrangeiros, que pudessem ensinar as artes demanuseio desses instrumentos, bem como os conhecimentos de matemática e deastronomia.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 14: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 14/26

176Entre esses especialistas figuravam dois jesuítas italianos – Giovanni

Battista Carbone e Domenico Capassi – que chegaram a Lisboa em 19 desetembro de 1722, vindo a realizar uma série de observações astronômicas eaperfeiçoando ainda seus conhecimentos matemáticos e cartográficos.

Permaneceriam em Portugal até 1729, quando partiriam então para o Rio deJaneiro. Seriam esses os “dous religiosos mathematicos” mencionados eindicados para realizar um levantamento cartográfico completo da AméricaPortuguesa. Porém, estando Carbone envolvido com serviços na Corte, foramdesignados, pelo alvará de 18 de novembro de 1729, para realizar essa missãoDomenico Capassi e o jesuíta português Diogo Soares, que passariam a serconhecidos como os “padres matemáticos” (Almeida, 2001, p.97-100).

Tratou-se de um projeto pioneiro e ambicioso, denominado Novo Atlas da América Portuguesa, cuja natureza dos serviços a serem feitos – descritos no

referido alvará e detalhados minuciosamente em provisão régia de mesma data –indica, considerando a extensão a ser percorrida pelos jesuítas e a complexidadedo trabalho a ser realizado, como era precário o conhecimento então existentesobre os territórios da América Portuguesa:

“Os mapas que fizeres devem ser graduados pela latitud elongitud geografica assim na marinha como no certão,sinelando as cidades, villas, lugares e povoaçoens dosportugueses, e dos indios, e as catas do ouro em suaverdadeira latetud e longetud geografica, praticando o

mesmo nos portos, rios enceadas e abras, tendo entendidoque não basta reprezentar todas estas couzas por linhas epontos em mapas, mas que estes devem ser estoreadosexpondose nelles por escripto a clareza que for possível, eem livro à parte per extenço tudo o que houver maes dignode notar em cada hua das capitanias cenalladas nos ditosmapas” (Almeida, 2001, p.105).

Além da tarefa de produzir os mapas, Capassi e Soares deveriamapresentar ainda propostas para as divisões administrativo-eclesiásticas,

“sinelando os limites que estão em pratica com linhas de huã cor, e os que vosparecerem milhor com linhas de outra [...]” (Almeida, 2001, p.108).

Após dez anos das primeiras menções a este projeto, em reunião doConselho Ultramarino, ainda se mantinham, por um lado, os objetivosgeoestratégicos de “se evitarem as duvidas e controvérsias que se tem originadodos novos descobrimentos, que se tem feito nos sertões daquelle Estado [...]”(Almeida, 2001, p.104) e, por outro, os ligados mais diretamente a questões deadministração e controle interno do território. Frente aos novos descobertos deouro e diamantes nos sertões de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Minas; e ao intenso

povoamento da Capitania de Minas Gerais, cuja produção aurífera alcançava seuápice e a descoberta de diamantes fora oficialmente anunciada, era necessárioimplementar ações – entre as quais o registro cartográfico dos sertões – que, entreoutros propósitos, contribuíssem para coibir o contrabando e a conseqüenteevasão dessas riquezas.

Como seria de se esperar, o projeto do Novo Atlas da América Portuguesa não foi concluído. Mas apesar das imensas dificuldades enfrentadas, foramelaborados aproximadamente vinte mapas, abrangendo parte das capitanias doRio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, a costa brasileira desde Cabo Frio até

Laguna, as campanhas do Rio Grande de São Pedro e a região da Colônia doSacramento e do rio da Prata. A esses mapas devem acrescentar-se oito plantasdos fortes do Rio de Janeiro e a planta da referida colônia.

Entre 1730 e 1737, esses padres produziram também a Tabuada dasLatitudes dos principais portos, cabos e ilhas do mar do sul na América austral e portuguesa pelos padres Diogo Soares e Domingos Capaci, matemáticos régios noEstado do Brasil  (Códice..., 1999, p.159-166), registrando 184 latitudes tomadaspela costa e pelo sertão, entre as quais se sobressaem 116 localizações, referentesa vilas, arraiais, passagens, registros, lavras, engenhos e elementos geográficos

163-187n. 29 2006 p. 

Page 15: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 15/26

177do território da Capitania de Minas Gerais. Certamente também fizeram olevantamento das longitudes – sem as quais seria impossível lançar nos mapas aslocalizações corretas – mantidas, contudo, sob sigilo.

Quanto aos registros cartográficos específicos da Capitania de MinasGerais, foram elaborados cinco mapas regionais e três pequenas plantas dearraiais. Quatro desses mapas, em razão de semelhanças de escala ecomplementaridade de conteúdos, podem ser articulados, tomando-se como

oreferência o meridiano de origem (0 ), coincidente com a cidade do Rio de Janeiro(Figura 7).

Há especulações em relação à escolha desta referência, consideradauma estratégia para garantir o sigilo sobre o espaço ocupado pelos portugueses

Figura 7. Articulação dos mapas da Capitania de Minas Gerais (ca. 1734-5), referentes àregião cartografada pelos padres matemáticos Diogo Soares e Domênico Capassi, com

oindicação do Meridiano do Rio de Janeiro (0 ).

Fonte: Costa (2002); Almeida (2001).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 16: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 16/26

178em relação ao Tratado de Tordesilhas. A adoção do meridiano do Rio de Janeiro – enão o de Paris, como era de praxe – causaria confusão nos estrangeiros,principalmente espanhóis. Também convém considerar que a adoção do meridianomais próximo reduziria a possibilidade de erros (Almeida, 2001, p.138-139;

Bicalho, 1999, p.84).

Notadamente incompletos, esses quatro mapas não podem serconsiderados fruto exclusivo de levantamentos científicos. Diante da extensão

o oterritorial cartografada – aproximadamente 550km entre as latitudes 16 30' e 2130' sul, abrangendo parte do sul da capitania até o rio Araçuaí (Figura 7) –, erasimplesmente impossível atender à risca às determinações expressas pelo própriorei. E, certamente, os jesuítas recorreram a informações de segunda mão, sejapela consulta à cartografia até então produzida, seja por meio de relatos fornecidospor índios, sertanistas e colonizadores, aos quais podem estar relacionados vários

dos equívocos registrados nesses mapas.Neles não há informações sobre os limites conhecidos da capitania à

época, não constando nenhuma referência às capitanias adjacentes. Contudo, écerto que porções do território de maior interesse econômico – as áreas queconcentravam intensa atividade de mineração – receberam maior atenção. Istonão se põe como novidade, considerando que D. João V não escondia osinteresses específicos da Coroa por essa região.

É de se lamentar que o projeto joanino tenha sido interrompido com as

mortes de Domenico Capassi, em São Paulo, em 1736; e de Diogo Soares, nasminas de Goiás, em 1748. Mas, sem sombra de dúvida, o legado por eles deixadofoi bastante substantivo. Aos padres matemáticos deveu-se a instalação doprimeiro observatório astronômico da colônia, no Colégio dos Jesuítas, no Rio deJaneiro; como também foram responsáveis pelo primeiro levantamentosistemático de parte do território da América Portuguesa. Certamente seu trabalhoveio subsidiar a elaboração do Mapa das Cortes, base das negociações queresultaram na assinatura do Tratado de Madri, cujos limites demarcados deram aoBrasil uma conformação bastante aproximada da atual (Figura 8).

Fonte: Costa (2004, p.29).

Figura 8. O Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espa.[nha] na AmericaMeridion. ou Mapa das Cortes  (1751) constituiu uma das bases para negociações dademarcação das posses de Espanha e Portugal na América do Sul.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 17: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 17/26

As inexatidões identificadas no Mapa das Cortes  são eloqüentes osuficiente para demonstrar que os portugueses – de posse de dados bastanteprecisos sobre a ocupação dos territórios a oeste – alteraram as longitudes,deslocando-as para leste. Naquele momento, os esforços de modernização

científica, empreendidos três décadas antes, garantiram aos portugueses um taldomínio da geografia da América Portuguesa, que tornava difícil contestar suasinformações.

Pode-se dizer que, ao longo da primeira metade do século XVIII e numcontexto de preponderância das questões diplomáticas e geoestratégicas, oimaginário do maravilhoso e do prodigioso já teria sido praticamente banido dacartografia, até mesmo dos elementos decorativos que restaram nas áreasperiféricas dos mapas. O pragmatismo português, sobre o qual nos alertou SérgioBuarque de Holanda, continuaria preponderando, ora latente ora vigoroso, nopensamento e na atuação dos vassalos do rei, tanto na colônia como na Metrópole,ciosos de que:

“[...] só pelo conhecimento geográfico detalhado doterritório e pela realização de mapas rigorosos, comindicação de latitudes e longitudes, onde o espaçoestivesse claramente definido e delimitado, era possívelintervir no território e administrá-lo de uma forma eficaz...”(Almeida, 2001, p.177).

Embora os conflitos em Portugal e Espanha sobre a posse dos territóriosamericanos não houvessem ainda se encerrado com o Tratado de Madri, a partir demeados do século XVIII, a queda da produção aurífera – considerando que, em1763, a cota de cem arrobas anuais de ouro foi completada pela última vez –começava a preocupar a Coroa portuguesa, que centrou ainda mais suas atençõespara as questões internas da colônia (Furtado, 1994, p.13).

Concomitantemente, mudanças políticas já se anunciavam na Europacom a difusão de um movimento intelectual – o Iluminismo – orientado pela razão,

como base para o conhecimento da natureza e da sociedade. Em Portugal,contudo, os ideais iluministas assumiram um conteúdo mais reformista do querevolucionário. Foram apropriados pelo próprio Estado na busca da superação dosproblemas econômicos pelos quais passava o Reino, entre os quais sedestacavam a crise da mineração e o atraso de Portugal em relação àindustrialização.

Se “conhecer para garantir a posse e orientar a ocupação do território”talvez tenha sido o principal propósito da política de D. João V ao contratar ostrabalhos de Capassi e Soares, o princípio de “conhecer para melhor gerir”

marcaria, nas décadas que se seguiram, as políticas metropolitana e colonial, sob aégide da política pombalina. Esse conhecimento, necessário para subsidiar asreformas necessárias em uma economia em que se anunciavam sinais de crise,viria da produção de inúmeros estudos – espontâneos ou encomendados pelaCoroa – pautados pela razão e utilidade e destinados a fornecer uma amplaavaliação da situação econômica de Portugal e suas colônias.

Sobretudo a partir de meados do século XVIII, se intensifica a produção,tanto para a Capitania de Minas Gerais quanto para outras regiões da colônia,desses trabalhos – instruções, memórias, relatórios, diagnósticos, geografiashistóricas – muitas vezes acrescidos de sugestões destinadas a subsidiar decisõespolíticas e administrativas. Entre os relacionados à capitania, destacam-se: aInstrução para o governo da Capitania de Minas Gerais  (ca. 1780), dodesembargador José João Teixeira Coelho; a Geografia histórica da Capitania deMinas Gerais (1780), de José Joaquim da Rocha; a Memória sobre a Capitania deMinas Gerais: seu território, clima e produções metálicas (1799/1801), de JoséVieira Couto; a Memória sobre o estado atual da Capitania de Minas... (1798), deJosé Elói Ottoni; a Breve descrição geográfica, física e política da capitania deMinas Gerais (1807), de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos, etc.

179

163-187n. 29 2006 p. 

Page 18: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 18/26

As avaliações, presentes nesses estudos, apontavam várias razões paraa situação de decadência em que se encontrava a Capitania de Minas Gerais,algumas delas diretamente associadas às idéias iluministas. Na percepção dealguns desses autores, a redução da arrecadação estaria diretamente ligada aos

descaminhos das riquezas minerais, ou seja, aos extravios que ocorriam nasdiversas etapas da exploração do ouro e dos diamantes, desde a extração, muitasvezes clandestina, passando pela cobrança de dívidas e pela ação dosintermediários, até sua exportação.

Havia, contudo, aqueles que atribuíam aos antiquados métodos etécnicas de extração mineral a principal razão da diminuição da produção e,conseqüentemente, da arrecadação. Alertavam ainda para a necessidade de sebuscar outras alternativas econômicas para a capitania, como a exploração dassalitreiras e do minério de ferro, abrindo espaço para a metalurgia do ferro e/oupara liberação das atividades manufatureiras, até então proibidas. Também apercepção da fugacidade das riquezas provenientes da extração do ouro e dosdiamantes fazia com que a agricultura – fonte de toda a riqueza, segundo os ideaisfisiocratas – fosse identificada como a principal alternativa na reversão dessequadro econômico.

É nesse amplo contexto, que se inscrevem os trabalhos de José Joaquimda Rocha, um militar português, que chegou a Minas por volta de 1763. Ao longo desua carreira como cabo-de-esquadra do Regimento da Cavalaria Regular de Minas

Gerais, Rocha teve a oportunidade de percorrer e conhecer com profundidade acapitania, desenvolvendo suas habilidades de cartógrafo e de estrategista. Anatureza de suas funções permitiu-lhe produzir uma série de anotações queresultaram em trabalhos tanto cartográficos quanto de memorialística histórica.

Contudo, não foram trabalhos especificamente encomendados, como osdos padres matemáticos. Em 1778, ano em que deu baixa na carreira militar, Rochaconcluiu cinco mapas, um, abrangendo toda a capitania e os demais, de caráterregional, específicos e mais detalhados para cada uma de quatro comarcas entãoexistentes: Vila Rica, Rio das Mortes, Sabará e Serro Frio. Passou a se dedicar à

organização de seus registros, complementando-os ainda com dados de arquivodo governo, notícias da capitania, testemunhos orais, para enfim elaborar aGeografia histórica da Capitania de Minas Gerais.

O texto da Geografia histórica deu origem a um segundo manuscrito –Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da Capitania de MinasGerais: seu descobrimento, estado civil, e político, e das rendas reais, escrito entre1781 e 1783 – e, em 1788, Rocha elabora seu terceiro manuscrito, o da Memóriahistórica da Capitania de Minas Gerais. Rocha concluiu ainda, em 1796, o Mapa do julgado das cabeceiras do Rio das Velhas e, em 1798, um mapa referente à região

do Rio Doce, vindo a falecer em 1804.

Com certeza, o conjunto de sua obra e, sobretudo, os cinco mapasdatados de 1778, constituem o levantamento cartográfico mais completo daCapitania de Minas Gerais, realizado no século XVIII. Praticamente quarenta anosdepois, Rocha realizava para a Capitania de Minas Gerais, o levantamentominucioso que havia sido solicitado a Capassi e Soares, em relação a toda acolônia. Quiçá, tenha ido mais além, pois:

“[...] ele elabora um verdadeiro inventário da Capitania deMinas Gerais, que constrói em torno dela e a partir de suarepresentação cartográfica. Numa grande descrição geral,agrega dados referentes a origens históricas, topografia,limites, urbanização, divisão administrativa, judiciária eeclesiástica, recolhimentos e misericórdias, situação edistribuição da força militar, dados de demografia, situaçãodos registros das entradas e passagens, formas decobrança do quinto, rendas da Coroa, impostos, despesas,folhas de pagamento eclesiástico, civil e militar, produção

180

163-187n. 29 2006 p. 

Page 19: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 19/26

agrícola, caça, pesca, pecuária, comércio interno,condições do solo, vegetação, clima, animais, pedraspreciosas, tintas e rios. Tudo entra no inventário de Rocha”(Resende, 1995, p.52).

Em seus cinco mapas de 1778, agregando-se as informações contidasnas geografias descritivas, foram registrados e classificados 566 assentamentoshumanos – uma cidade, Mariana; 8 vilas, 58 freguesias, 128 arraiais, 71 registros,292 fazendas e 9 aldeias de gentio – além de caminhos e elementos da hidrografiae do relevo (Moraes, 2003). Deles pode-se depreender a notável urbanização dasua região centro-sul da capitania – comarcas de Vila Rica e do Rio das Mortes –,concentrada na área de influência de seus principais núcleos mineradores. Poroutro lado, as comarcas de Sabará e do Serro Frio apresentavam ainda grandesáreas desocupadas, à exceção do expressivo número de fazendas, localizadas junto aos principais rios, sobretudo o São Francisco e seus afluentes. Tanto oslimites a oeste, com a Capitania de Goiás, quanto a leste, com a do Espírito Santo,ainda permaneciam fluidos, e a representação, muitas vezes equivocada, deelementos da hidrografia e do relevo indicava o pouco conhecimento que se tinhadessas regiões (Figura 9).

181

Figura 9. Mapa da Capitania de Minas Gerais com a divisa de suas comarcas (1778), deJosé Joaquim da Rocha, com indicação dos assentamentos humanos, caminhos eelementos da geografia da capitania

Fonte: Rocha (1995).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 20: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 20/26

Nos mapas de Rocha, a concentração de registros, guardas e patrulhas desoldados – junto à Demarcação Diamantina; na região de Paracatu, junção de quatrodiferentes caminhos para Goiás; e na serra da Mantiqueira – era indicativa dasregiões que estrategicamente exigiam maior controle, seja no sentido da coibição do

contrabando, seja para possibilitar a arrecadação de propinas e impostos.De posse de estudos como os de Rocha, as autoridades da Coroa tinham

em mãos um amplo diagnóstico da capitania em toda sua extensão e diversidade.No episódio da Inconfidência Mineira, ficou evidente que alguns de seus trabalhoscirculavam livremente na capitania, ao menos um mapa de população que Rocha,em seus depoimentos, mencionou ter dado ao alferes Joaquim José da Silva Xavier,o Tiradentes, depois que uma pessoa lho havia devolvido. Certamente, para se fazerum levante, o conhecimento da distribuição das forças militares, dos caminhos e detantas outras informações de que dispunha Rocha seria bastante útil. Se os

inconfidentes tiveram acesso ou se utilizaram dessas informações, não há outrosregistros que não esse.

Ao findar do século XVIII, merecem também destaque três importantesregistros cartográficos – a Carta Geográfica de projeção Esférica Ortogonal da NovaLusitânia ou América Portuguesa e Estado do Brasil  (1798), de Antônio Pires da SilvaPontes Leme; a Planta Geral da Capitania de Minas Gerais  (ca. 1800), autoriadesconhecida, e a Carta Geográfica da Capitania de Minas Gerais  (1804), deCaetano Luís de Miranda – produções que ainda se inserem nesse contexto detrabalhos destinados a subsidiar a administração da colônia.

O mapa de Pontes Leme (Figura 10) constitui, com bem classificou Costa(2004, p.151), “a mais importante síntese dos conhecimentos geográficosacumulados durante o século XVIII”. Trata-se de uma carta gigante (1,98 x 1,98cm)abrangendo toda a América Portuguesa. Esse doutor em Matemática, junto a umaequipe de especialistas e auxiliares, foi incumbido, por D. Rodrigo de SousaCoutinho, Ministro da Marinha e Domínio Ultramarino, da elaboração de um novomapa do Brasil, coligindo e agregando as informações produzidas pela cartografia eestudos correlatos produzidos até então. Os mapas de Capassi e Soares constavamdas referências utilizadas e há indícios de que os Rocha também tenham sido

consultados.

182

Fonte: Costa (2004, p.167).

Figura 10. ACarta Geográfica de projeção Esférica Ortogonal da Nova Lusitânia ou AméricaPortuguesa e Estado do Brasil  (1798), de Antônio Pires da Silva Pontes Leme, constitui “amais importante síntese dos conhecimentos geográficos acumulados durante o séculoXVIII”, abrangendo toda a América Portuguesa.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 21: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 21/26

Os dois outros mapas, específicos para a Capitania de Minas Gerais ecom datação bastante próxima, apresentam, nesse contexto, alguns aspectos nomínimo intrigantes, sobretudo se confrontados com as produções cartográficasanteriores. Com o avanço e disseminação das técnicas cartográficas, é de se

estranhar a persistência de distorções de escala, semelhantes às verificadas nosmapas de Joaquim José da Rocha.

Também em ambos o número de assentamentos humanos é bem menordo que os registrados por Rocha, apesar da constatação do surgimento, emrelação a 1778, de novos núcleos (Moraes, 2004b e c). As discrepâncias maisexpressivas referem-se, sobretudo, ao número de freguesias e fazendas. Valelembrar que, ainda que se verificasse uma redução populacional nas principaisáreas mineradoras, a população da capitania, então a mais populosa da colônia,

continuava crescendo: de 320.769 habitantes, em 1776, para 492.436, em 1721(Maxwell, 1985, p.300-301), estimativas que, provavelmente estavam aquém darealidade.

Esses mapas apontam também algumas transformações importantesocorridas na rede urbana, indicando o fortalecimento político da Comarca do Riodas Mortes, com a elevação de dois arraiais – Campanha (1798) e Queluz (1791) –e de duas freguesias – Tamanduá (atual Itapecerica, em 1789) e Barbacena (1791) – à categoria de vila.

Após a criação da vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das MinasNovas, em 1730, 59 anos se passaram sem que nenhum outro título fosseconcedido, apesar de haver registros de reivindicações pelos títulos, não só de vilacomo também de cidade, da parte de outros núcleos, como Tejuco, Santa Luzia,Santa Bárbara, Conceição do Mato Dentro, etc. (Fonseca, 2004, p.39-51). Asrazões dessa recusa estariam, entre outros aspectos, relacionadas a uma políticadeliberada da Coroa Portuguesa de evitar a instalação de câmaras em áreasestratégicas como as regiões mineradoras, o que conferiria maior poder às eliteslocais, muitas vezes simpáticas às rebeliões fiscais e às insubordinações da

população.Contudo, parece ter sido também um ato político-estratégico, visando

acalmar os ânimos, sobretudo das elites locais, a concessão do título de vila paraaqueles quatro núcleos da Comarca do Rio das Mortes, que concentrava 58% dosinconfidentes, em sua maioria envolvidos com atividades agropecuárias, e cujapopulação estava em franco crescimento (Furtado, 2002, p.99).

Em 1808, a chegada da família real ao Brasil e a conseqüente aberturados portos às nações amigas possibilitou o acesso de estrangeiros, sobretudo

artistas e naturalistas, a Minas, privilégio concedido até então somenteportugueses e colonos, ou estrangeiros com permissão expressa da Coroa.

Em 1816, a pedido de D. João VI, veio ao Brasil a chamada missãoartística francesa, chefiada por Joachim Lebreton e composta pelos artistas Jean-Baptiste Debret, Charles-Henri Lavasseur, Charles Simon Pradier, Nicolas AntoineTaunay e seus filhos Felix Emile e Thomas Marie Hippolyte, August Henri Victor deGrandjean Montigny, François Bonrepos, Segismond Neukomm, LouisSymphorien Meunié e François Ovide, aos quais se juntaram posteriormente Marce Zepherin Ferrez.

Além desses artistas, outros estrangeiros aqui estiveram no mesmoperíodo. Nesse mesmo ano, o francês Claude-François Fortier, conde de Clarac,chegou ao Brasil, acompanhado do naturalista Auguste de Sanit-Hilaire. No anoseguinte, integrando a missão austríaca, chegaram ao Rio de Janeiro osnaturalistas Johann Natterer, Johann Baptiste von Spix, Carl Friedrich Philipp vonMartius, Rochus Schüch, Johann Christian Mikan, Johann Emanuel Pohl,Giuseppe Raddi; os desenhistas e pintores Thomas Ender, Johan Buchberger,Franz Joseph Frühbech, etc. (Belluzzo, 1999, p.154-159, p.178-183).

183

163-187n. 29 2006 p. 

Page 22: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 22/26

Percorrendo os territórios de várias capitanias, esses artistas enaturalistas retrataram, por meio de relatos de viagem e iconografias, vários deseus aspectos, desde aqueles ligados aos costumes e à vida cotidiana, passandopor registros sobre a mineralogia, geologia e espeleologia; até observações da

fauna e da flora. Essas viagens, articuladas ou não a missões oficiais, constituíramum claro índice do interesse europeu pela diversidade dos cenários tropicais,expresso no desejo dos viajantes de se embrearem pelos sertões, desviando-sepropositalmente dos principais caminhos em busca das trilhas que osaproximassem de uma natureza ainda desconhecida, experimentando-a e, por quenão dizer, desbravando-a.

Nesse ambiente, com o Brasil integrando o Reino Unido e sediando acorte, destacam-se os trabalhos realizados pelo Barão Wilhelm Ludwig von

Eschwege, que representaram mais um importante salto qualitativo na produçãocartográfica, no sentido da aplicação de métodos e instrumentos científicos quegarantissem maior precisão e exatidão, aspectos ainda mais valorizados eincentivados nos mapas que seriam elaborados no período provincial que seanunciava. Além das razões geopolíticas e administrativas já mencionadas,também se colocavam entre as preocupações da administração colonial osmovimentos migratórios, que vinham ocorrendo em razão da exaustão das minas.

Em 1811, Eschwege, devido aos seus conhecimentos de mineralogista emetalurgista, veio à Capitania de Minas Gerais fazer observações geológicas,

sobretudo no Distrito Diamantino. Entre seus inúmeros trabalhos então produzidossobre a capitania, destacam-se alguns bastante representativos de suaspesquisas e preocupações: o Relatório sobre a ocorrência de cassiterita no RioParaopeba e seu aproveitamento em fundição de estanho  (1813); a Descriçãoflorestal da coleção de madeiras dos sertões do Rio Abaeté (1819); as Instrucções para os Mineiros e Officiaes Engenheiros que se houverem de applicar à Administração das Minas – 1821; o relatório Sobre abusos dos Comandantes dosdestacamentos militares do Distrito Diamantino do Indaiá contra os moradores,visinhos da Real Mina de Galena (1820) e, finalmente, o Novo Mapa da Capitania

de Minas Gerais (1821).Ao propor a contratação dos trabalhos de Eschwege para realização

deste último mapa, o então governador da capitania, D. Manoel de Portugal eCastro, em carta de 29 de maio de 1815, salientou suas qualificações técnicas(Costa, 2004, p.151), e, de fato, seus trabalhos – uma síntese que agregainformações colhidas ao longo de onze anos de observações – primavam pelo rigorcientífico.

Analisando Theil der neuen Karte der Capitania von Minas Geraes ou

Parte do  Novo Mapa da Capitania de Minas Geraes  – que compreende arepresentação da parte central de seu território – pode-se verificar, além desserigor, aspectos que nos permitem avaliar a situação da capitania às vésperas daIndependência (Figura 11).

184

163-187n. 29 2006 p. 

Page 23: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 23/26

Trata-se do primeiro mapa a registrar a toponímia Serra do Espinhaço.Em legenda escrita em alemão, apresenta uma classificação dos assentamentoshumanos, destacando ainda os limites da Demarcação Diamantina. Tambémaponta – com a indicação da letra “B” – as localidades onde foram efetuadasobservações barométricas. Nele foram registrados mais de 700 núcleos urbanos,demonstrando a vitalidade de uma rede urbana em franca expansão (Moraes,

2004c).

É importante ressaltar que nesse levantamento, mesmo referindo-sesomente a parte da Capitania de Minas Gerais, se verificou, em comparação com acarta de 1804, um acréscimo de mais de 200 assentamentos humanos,notadamente com uma expansão significativa do número de fazendas. Contudo,se o influxo da atividade mineradora implicou uma tendência à ruralização, ela nãoviria a comprometer o vigor da rede urbana constituída até então e em francaexpansão.

Com a instituição do Império do Brasil, em 1822, deu-se seqüência aosinvestimentos na produção de informações precisas sobre o seu território, não sóno que respeitava à extração mineral, mas estendendo-se a outros aspectos deuma economia e de uma sociedade que se diversificava e se expandia.Transformada em província e tendo ampliando sua autonomia política com aConstituição de 1824, Minas Gerais, em seus limites, já havia incorporado a regiãodo chamado Triângulo Mineiro, aproximando-se de suas feições atuais. Massomente com a a solução dada à zona de litígio com o Espírito Santo, em 1963,adquiriu sua conformação final.

185Figura 11. Theil der neuen Karte der Capitania von Minas Geraes, ou Parte do Novo Mapada Capitania de Minas Geraes  (1821), do mineralogista e metalurgista Barão WilhelmLudwig von Eschwege

Fonte: Costa (2002).

163-187n. 29 2006 p. 

Page 24: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 24/26

Se, ao final do período colonial, foram erigidas na capitania apenas umacidade e quinze vilas, conformando uma estrutura urbana altamenteconcentradora, no período imperial irá se impor uma outra lógica ao sistema urbanoda província, marcada por uma crescente descentralização proporcionada pela

criação de novos municípios e pela emergência de novas centralidades epolarizações até chegar à complexa rede urbana que é hoje o estado, com seus853 municípios. Nesse processo, a cartografia continuou se desenvolvendo e seconsolidando como um importante instrumento de subsídio às ações deadministração e planejamento territorial.

186

REFERÊNCIAS

ABREU, João Capistrano. Capítulos da história colonial (1500-1800) & Os caminhos antigos e o povoamentoa

do Brasil . 5 ed. rev. prefac. e anot. por José Honório Rodrigues. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1963.

ALMEIDA, André Ferrand de.  A formação do espaço brasileiro e o projecto do Novo Atlas da América

Portuguesa (17131748). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos DescobrimentosPortugueses, 2001.

ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1982.

BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros: Odebrecht; Rio de Janeiro:Objetiva, 1999.

BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das latitudes e das fronteiras na

América portuguesa. Varia História, Belo Horizonte, v.1, n.21, p.77 , 1999.aBOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil . 2 ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.

BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e desígnio: o Brasil dos engenheiros militares (1500-1822).Tese. (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidadede São Paulo, São Paulo, 2001.

CÓDICE COSTA MATOSO. Coleção de notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fezo doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das de Ouro Preto, de que tomou posse em fevereirode 1749, & vários papéis. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais,

1999.

COSTA, Antônio Gilberto. (Org.). Cartografia da conquista do território das Minas. Belo Horizonte: EditoraUFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004.

COSTA, Antônio Gilberto; RENGER, Friedrich Ewald; FURTADO, Júnia Ferreira; SANTOS, Márcia MariaDuarte dos. Cartografia das Minas Gerais; da Capitania à Província. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002.

DIAS, Carlos Malheiro; VASCONCELLOS, Ernesto de; GAMEIRO, Roque. Historia da colonização

 portuguesa do Brasil . v.3. Porto: Litografia Nacional, 1924.

FONSECA, Cláudia Damasceno. Funções, hierarquias e privilégios urbanos; a concessão dos títulos de vilae cidade na Capitania de Minas Gerais. Varia História. n.29 (Dossiê: Espaços urbanos e territórios do poder),39-51, jan./jun. 2003.

FURTADO, João Pinto. O manto de Penélope; história, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9.São Paulo Companhia das Letras, 2002.

FURTADO, Júnia Ferreira. Estudo crítico. In: COUTO, José Viera. Memória sobre a Capitania das Minas

Gerais; seu território, clima e produções metálicas. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro deestudos Históricos e Culturais, 1994.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 25: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 25/26

187GUEDES, Max Justo. Os mapas da mina. Nossa História, São Paulo, v.1, n. 4, 38-44, fev. 2004.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso; os motivos edênicos no descobrimento e colonização do

Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Belo Horizonte - Se23. Mapa Físico. In:Carta do Brasil ao Milionésimo. (Esc. 1:1.000.000). Brasil: IBGE,1972.

LAVEDAN, Pierre.Qu'est que l'Urbanisme? Introduction à l'Histoire de l'Urbanisme. Paris: Hachette, 1993.

LEY, Willy; DE CAMP, Sprague. Da Atlântida ao Eldorado. Belo Horizonte: [s.ed.], 1961.

MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geographica do Brasil Colonial. 2. ed. São Paulo: Companhia EditoraNacional, 1935.

aMAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira, Brasil-Portugal, 1750-1808. 3 ed. Riode Janeiro: Paz e Terra, 1985.

MORAES, Fernanda Borges de. Quadro dos assentamentos humanos registrados na cartografia de José

Joaquim da Rocha (1778), com a respectiva atualização dos topônimos. Belo Horizonte: [mimeo], 2003.

MORAES, Fernanda Borges de. Quadro dos assentamentos humanos registrados na Planta Geral da

Capitania de Minas Geraes (ca. 1800), com a respectiva atualização dos topônimos. Belo Horizonte: [mimeo],2004a.

MORAES, Fernanda Borges de. Quadro dos assentamentos humanos registrados na Carta Geographica da

Capitania de Minas Geraes (1804), com a respectiva atualização dos topônimos. Belo Horizonte: [mimeo],2004b.

MORAES, Fernanda Borges de. Quadro dos assentamentos humanos registrados em Theil der neuen Karte

der Capitania von Minas Geraes  (1821),  com a respectiva atualização dos topônimos. Belo Horizonte:[mimeo], 2004c.

RESENDE, Maria Efigênia Lage de. Estudo crítico. In: ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da

Capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da Capitania de Minas

Gerais. Memória histórica da Capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de

Estudos Históricos e Culturais, 1995.

ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica,

topográfica, histórica e política da Capitania de Minas Gerais. Memória histórica da Capitania de Minas

Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.

TESOURO DOS MAPAS, O. A cartografia na formação do Brasil. São Paulo: Instituto Cultural Banco deSantos, 2002.

TUCCI, Ugo. Atlas. In: LE GOFF, J. et al. Memória histórica. Lisboa: Imprensa Nacional: Casa da Moeda,1984.

VAINFAS, Ronaldo. (Dir.).Dicionário do Brasil colonial 1500-1808 . Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

163-187n. 29 2006 p. 

Page 26: FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

7/18/2019 FERNANDA B MORAES Cartografia Historica e Processo de Ocupacao

http://slidepdf.com/reader/full/fernanda-b-moraes-cartografia-historica-e-processo-de-ocupacao 26/26

188