139935589 Direito Romano

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Roma do rex e das gentes 753 a.C. a 509 a.C. Fundao de Roma a o Fim da MonarquiaO rex e as gentes so as duas instituies que marcam a criao jurdica primitiva dos romanos neste perodo, caracterizando as linhas fundamentais das solues jurdicas. Nesta etapa da sociedade romana, no topo da pirmide hierrquica das estruturas religiosas, polticas e militares romanas, estava o rex. A restante populao estava dividida entre patrcios e plebeus, submetidos a um sistema de 10 crias por tribo, trs tribos e um rei. As gentes (patrcios) determinavam a organizao social, poltica e militar de Roma, marcando o contedo, as normas e as solues do Direito.Roma, pequena cidade da pennsula itlica, adquiria uma importncia crescente no plano demogrfico, econmico e poltico. Com uma populao de matriz latina, os romanos foram influenciados por Gregos e Etruscos, desenvolvendo uma especificidade tpica na soluo de conflitos resultantes da complexidade sistemtica da realidade. Assim, foi necessrio uma criao jurdica com um ambiente aberto, inconformado e inovador, de modo a ser eficaz.Esta realidade romana derrubou velhos princpios e hbitos instalados, surgindo uma crise poltica, que contesta as formas de deciso e de ius, e uma revoluo das mentalidades no processo de julgar e obedecer. Tudo isto provocou um afastamento da cultura e valores etruscos.Enquanto Rmulo e os seus descendentes (Numa Pomplio, Tlio Ostilio e Anco Marzio) tinham respeitado as instituies, assembleias populares e o Senado, os seguintes, de origem etrusca tomaram o poder de forma absoluta e desptica, destruindo as instituies polticas.Estrutura Institucional Rei, Senado, Assembleias Reforava poderes do rei e melhorava a execuo das respectivas decises O primeiro rei absoluto foi Tarqunio Prisco, com ele a realeza identifica-se com um conjunto de smbolos exteriores do poder, que afastam o poder poltico da comunidade, enquanto o elemento religioso e simblico substitui o poltico na legitimao do chefe de Roma.

Etrria povo que viveu na pennsula itlica, de lngua e religio diferente, que ocuparam vrios terrenos, no mbito da sua expanso, incluindo Roma, de 616 a.C. a 509 a.C., a partir daqui entraram em decadncia e foram absorvidos por povos contguos, um dos quais, a civilizao romana.Seguidamente, sucedeu Srvio Tlio que introduziu reformas de reinstitucionalizao do poder poltico, sem sucesso, devido s restries impostas pela elite que o apoiava na governao. De imediato aps a morte do anterior, Tarqunio, o Soberbo, restitui o poder desptico absoluto, anula as reformas e adopta os valores tirnicos e arbitrrios, que levam a uma conspirao palaciana, em 510 a.C., impulsionadas por Bruto e Collatino apoiados pela populao romana.Ento, cai a monarquia e inicia-se o perodo de transio para a Repblica. Verifica-se um longo processo de instabilidade social e poltica, com violncia e tumultos, que apenas serena aquando da admisso dos plebeus s magistraturas superiores, como o Consulado (Leges Licinae Sextiae, 367 a.C.)Durante este perodo, os grupos familiares e clientelares, dispersos e fracos, agruparam-se s gentes mais fortes em busca de proteco, estas que maximizavam o seu poder com a juno de novas terras e mais comunidades. A relao de pertena das gens era exclusiva e tal vnculo protectivo pessoa-comunidade constitua uma espcie de pr-cidadania. Na gnese da cultura romana, persiste uma presena grega intermediada por agentes etruscos, o que compe uma forte cultura de sntese e adaptao das ideias e costumes gregos a Roma.Os primeiros romanos eram proprietrios rurais, patricii, base do exrcito em caso de guerra, enquanto a massa popular era conhecida por plebs, estes viviam separados mas numa situao de dependncia dos patrcios. At Lex Canuleia (450/455 a.C.), os casamentos entre os dois grupos eram proibidos. Os patrcios tratavam das suas propriedades com familiares e escravos, enquanto as parcelas que no conseguiam explorar directamente eram concedidas in precarium aos plebeus, que se tornavam seus clientes protegidos. Estabelecia-se a relao de clientela. Os clientes, figura comum s comunidades da poca, eram um grupo subordinado s gentes, composto por indivduos expulsos, pobres, pequenos proprietrios rurais, estrangeiros, fundamentalmente, pessoas sem hipteses de subsistncia. Estes clientes era a principal fonte de poder externo das gentes. No plano jurdico, as formas de adquirir a condio de cliente eram: a deditio (submisso voluntria de um grupo familiar ou poltico a uma gens), applicatio (submisso de um estrangeiro proteco das gens), manumissio (instituto pelo qual um escravo deixava de o ser)No devemos identificar clientes com os plebeus, pois foram grupos com origens e funes sociais e econmicas muito diferentes, basta recordar que nos confrontos entre patrcios e plebeus os clientes se mantiveram fiis s suas gentes. A fidelidade da clientela gens aproximava-a do patronus (chefe da gens), envolvendo-o num dever de proteco de valor superior. A violao dos laos de proteco pelo patronus podia levar aplicao da pena de morte (consencratio capitis), que legitimava os clientes ao assassnio dos patronus.A mudana das condies econmicas e sociais em Roma e o reequilbrio de poderes determinou a eroso da organizao gentlica, a desvalorizao institucional das gens que desarticulou a clientela, contribuindo para a aproximao de clientes e plebeus que levou a uma identificao entre ambos os grupos que requeriam proteco aos patrcios e se tornaram num s, a plebe.O sistema de organizao da comunidade criou complexos de vnculos de direitos e deveres na vida econmica, poltica, social e militar de Roma entre patrcio e plebeu, ficando registada esta relao de tutela jurdica assente na proteco e assistncia como deveres do patrcio e de obedincia e colaborao como deveres do plebeu. Estas ligaes vinculativas do chefe aos seus apoiantes perduraram na via poltica romana at queda de Roma na Antiguidade.Os patrcios ordenados em gentes unidas por cultos comuns (vnculo parental e patrimnio comum indivisvel) tinham uma organizao primitiva comunitria (tambm estendida aos plebeus mais tarde) que foram perdendo com a institucionalizao da propriedade privada.As gentes no foram uma organizao pr-estatal, embora se concedesse funes jusrisdicionais, para-estaduais, a estas organizaesNo entanto, existe uma continuidade institucional e onomstica entre gens e magistraturas republicanas. No plano militar, por influncia grega, foi dada prioridade infantaria plebeia e secundarizou-se a interveno da cavalaria (patrcios), que estabeleceu a ascenso da plebe e a sua superiorizao social, poltica, religiosa e militar, reas at ento, exclusivas do patriciado.A organizao militar do exercitus centuriatus permitiu a Roma iniciar a sua expanso submetendo as gentes latinae e introduzir reformas polticas internas que limitavam o seu papel na pennsula itlica a apenas uma entre outras cidades. Foi transposto o Pomerium e as gentes quiritrias adquirem importncia. Logo, no se pode deixar de considerar a ampliao do territrio; as alteraes num exrcito em mobilizao permanente; os problemas novos que eram suscitados requerendo solues criativas e inovadoras, como elementos essenciais da necessidade de uma transformao poltica.A luta dos plebeus pela paridade na ocupao de cargos e pela igualdade no acesso aos recursos, ganha condies para se efectivar e a luta entre os dois grupos chega a um impasse. A necessidade de um acordo era bvia e as cedncias em ambas as partes levaram a um decenvirato para governar a cidade e a busca de um modelo poltico de organizao da comunidade romana, que permitisse ultrapassar as diferenas sem violncia pela aco do jurdico, estudando Slon, DrconAntes da Repblica, os escravos e os estrangeiros estavam privados de direitos, alis a Lei das XII Tbuas, define estrangeiros como inimigo (hostis), s mais tarde com a divulgao de commercium, passa a ser designada como peregrino.A estrutura poltica (tribo, cria, rei) pouco influenciava a organizao comunitria em torno da famlia (domus e pater), das gentes e clientes estrutura basilares da civitas Quiritium. A famlia era a unidade base da organizao social, caracterizava-se pela unio sangunea, ligao de cultos religiosos especficos e pela sujeio comum a um poder absoluto do pater familias, que garantia a unidade familiar mesmo depois da morte pelo carcter institucional progressivo dos laos familiares. O pater familias geria o fundo familiar, administrava as propriedades da famlia, decidia a admisso e sada de membros (*) e cuidava dos sacra familiae. *Adrogatio sucesso entre vivos em que uma famlia inteira passava para a potestas de outro pater;*Emancipatio negcio jurdico que permitia ao fillius familiae romper todos os laos de famlia de origem adquirindo o estatuto de pessoas autnoma, dotada de plena capacidade de exerccio de direitos. Implicava ser livre, cidado romano e no estar subordinado ao poder de ningum.A presso plebeia foi enfraquecendo as bases religiosas e polticas em que os Tarqunios baseavam o seu poder real, at revolta que derrubou a monarquia. A partir da, a comunidade governada por magistrados com a Lei das XII Tbuas regista a parte mais significativa dos mores maiorum, tradies de uma moralidade comprovada aceite por todos, passando a ter um designante que lhe confere unidade face ao exterior e coeso interna, Populus RomanusCaractersticas do Ordenamento JurdicoA principal prioridade era a defesa face aos ataques externos, ento a organizao poltica determinada pelo factor militar. A defesa de Roma ficaria assegurada por um contingente fixo de homens treinados, mas a prosperidade econmica e a expanso etrusca, levaram a um alargamento dos critrios de concesso de cidadania e criao de um exrcito diferente, maior e mais organizado, onde a infantaria ganhava destaque. Esta necessidade reflectiu-se no plano poltico com as reivindicaes de poder decisrio por parte da plebe, rompendo com a hegemonia patrcia.A distribuio de postos, honrarias militares em paz e a partio de esplio capturado, o acesso e a ascenso poltica passa a ser definida segundo o critrio pro habitum pecuniarum, ou seja, pela riqueza das pessoas e pelo prestgio das famlias assente no factor econmico, que rompe com igualdade na partilha. O exrcito continuou a ser chamado de centuriatus (grupos formados por 100 homens) mas a distribuio dos soldados e dos postos baseava-se no censo, na riqueza das famlias. A cavalaria (patrcios) estava dividida em 18 centrias, enquanto a infantaria integrava 170 centrias divididas em cinco classes, cada uma com uma centria de seniores e juniores. Restava um conjunto de pessoas, proletari, no integravam o regime poltico nem jurdico, por no terem bens prprios, estando recenseados como pessoas e no como proprietrios (capite censi). Foram organizados em 5 centurias, agregadas s classes existentes.Foi Srvio Tlio que reorganizou a comunidade poltica romana assente na cidadania segundo o censo, riqueza. Deu origem reforma serviana, (Sc.VI) um processo lento de reacerto da organizao poltica efectivado com medidas relativas propriedade do patrimnio mvel que abrangem todos os grupos sociais (312 a.C., pio Cludio)Neste perodo dominado pelo rex e pelas gentes o censo era determinado pela propriedade de patrimnio imobilirio, atingindo proprietrios fundirios e fixando a sua pertena a um grupo. Esta nova organizao poltica aproveitou as velhas estruturas constitucionais, mantendo as centrias como unidades territoriais de recrutamento militar e como unidades de voto nos comcios. Devido organizao de classes por centrias, a votao mantinha o peso poltico dos grandes proprietrios e da cavalaria que viam garantida maioria absoluta dos votos.Por outro lado, Roma mantinha a predominncia dos mais velhos na vida poltica, acreditando que a sua experincia como Prudentia era fundamental para as decises colectivas. A igualdade orgnico-institucional entre seniores e juniores permitia aos mais velhos maior capacidade de garantir a unidade de voto.Esta integrao de pessoas a partir da riqueza, pela aplicao de critrios complexos exigiu um aperfeioamento de mtodos e de estruturas que sustentavam a actividade classificadora do censo, presidida pelo rex e que foi transferida nos momentos institucionalizadores (443 a.C.) para uma magistratura, a censura. Tinha a finalidade de tornar mais eficaz o recrutamento militar, a tributao de impostos, a organizao da lista de membros do Senado, excluindo os menos dignos, pois apesar de no serem detentores de imperium tinha um imenso poder moral, por isso, s eram eleitos personalidades com grande prestgio e experincia.Importa agora como a diviso sociopoltica se reflectiu no ordenamento jurdico de Roma.O Rei no abdicou de nenhum dos seus poderes, apesar do valor poltico crescente dos comcios centuriais e da influncia das suas deliberaes junto do rex. Logo, apesar da ascenso da plebe e da sua valorao poltica, no houve uma revoluo normativa mantendo-se o ordenamento jurdico tradicional, apenas se havia alterado o elemento de diferenciao social que assentava agora no censo.Foi esta nova forma de organizar o acesso deciso poltica que permitiu preparar a comunidade para a Repblica, a com uma remodelao das normas jurdico-organizativas axiomtica do ordenamento romano e assim uma unidade de estruturas jurdico-polticas que no resultassem numa diviso territorial em torno de dois grupos sociais com interesses conflituantes.Iniciava-se uma crise na forma gentlica de organizao poltica, pois at aqui o privilgio social e o domnio poltico estavam destinados pela pertena s gentes patrcias e agora, capacidade econmica, riqueza e propriedade.Os plebeus podiam ascender socialmente e conquistar poder poltico, bastava enriquecer atravs de negcios, o que tornava a actividade mercantil o motor do desenvolvimento comunitrio e do poder poltico. Assim, Roma crescia economicamente e a mobilidade permitida era causa e efeito da reordenao da sociedade em paz, atravs de regras jurdicas de organizao poltica.A oligarquia patrcia assente na propriedade fundiria tinha de partilhar o poder com os plebeus prestigiados atravs da carreira da guerra e do comrcio. O ordenamento jurdico contempla essa mudana, j que este era caracterizado pela ndole militar e tinha adquirido uma natureza jurdico-normativa com os comcios centuriais, enquanto organizaes polticas.rgos do Governo QuiritrioO RexTitular do imperium (exerccio do poder que est no povo), imperium militae para defender militarmente Roma dos ataques externos, imperium domi para administrar e organizar a cidade. Era detentor do poder de mediao divina interpretando a vontade dos deuses, da chefia do exrcito e de resoluo de aspectos da vida colectiva na relao das pessoas com a comunidade, podendo solucionar litgios entre as pessoas, ou seja, poder de julgar e de exercer a justia, atravs da aplicao das leges regiae. Leges Regiae era o conjunto de regras ditadas pelo rei, apesar disso no possvel dizer que o rex tinha um poder normativo prprio, porque acabava por formalizar as mximas consuetudinrias que se difundiam oralmente e nos rituais religiosos, formando o ius papirianum.O poder de mediao do rex entre homens e deuses era fundamental, era a base do seu poder poltico. O carcter sagrado da realeza e o poder religioso era to forte que quando o jurdico-poltico se separou do religioso, originando o fim da monarquia, permaneceu o rex sacrorum, figura sem poderes polticos, militares ou jurisdicionais mas detinha o poder religioso de grande prestgio. Mas nesta altura, o poder do rei era mais formal e representativo do que material e efectivo, pois, de facto, existia mais preocupao com a litrgia e espectacularidade do poder, do que com o poder efectivo e o seu reconhecimento na comunidade, ou seja, seguindo a linha etrusca, que via o rei como dotado de poder mgicos.Processo de escolha do ReiA escolha do rei no era realizada atravs de processos polticos normais, de hereditariedade, nem por aclamao dos soldados. Era escolhido entre os senadores pelos Deuses, que revelavam a sua opo atravs de sinais (voo das aves, vsceras animais) ao interrex que era nomeado pelo Senado para exercer a funo provisria durante 5 dias e ficaria encarregado de interpretar os sinais e informar quem os deuses queriam como rex. O Senado e os comitia curiata aprovavam a escolha (lex curiata de imperio) e o rei tomava posse do lugar de rex e dos poderes da advindos, procedendo-se a uma cerimnia religiosa de aceitao pelos deuses do novo rex, agora dotado de poderes sagrados supremos e de poder poltico soberano, superior na relao com a comunidade e com as divindadesNo caso de os sinais serem inconclusivos ou de haver discordncia na interpretao dos sinais, escolher-se-ia um novo interrex.O fundamento do poder poltico e militar do rex era mgico e religioso, sendo o cargo vitalcio. A dvida sobre o fundamento religioso do poder de julgar teve efeitos na fundamentao religiosa irracional do poder poltico e militar, pois a fundamentao do poder exclusivamente religiosa, no resistiria numa sociedade que racionalizava os processos de criao jurdica, afastando o sagrado da resoluo de litgios pelo ius.O instituto interregnum garantia que, na falta do rei, o poder de interpretar a direco a seguir regressaria ao Senado, ou seja, um retorno base em que assenta o poder do rei. Assim, era possvel garantir a continuidade do imperium poltico que mantinha a comunidade integrada, no entanto, ainda, no era uma estrutura institucional de organizao poltica que dispensasse a sacralidade do poder poltico

SenatusRepresenta o patriciado, a aristocracia romana, constituindo um rgo consultivo do rei, que s este convocava. Composto inicialmente por 100 senadores, no necessariamente os chefes das gentes, esta assembleia, foi maximizando o nmero de membros, atingindo 300 no reinado de Tarqunio Prisco. Os seus efeitos foram: surgimento de um novo e dinmico grupo social, as minores gentes, uma diminuio da autoridade e do prestgio do Senado, social e politicamente, nomeadamente na sua relao com o rei. Alm disso, enfureceu ainda mais a plebe, que apesar do alargamento no se viam representados no Senado.A crescente importncia de Roma na pennsula, o desenvolvimento do comrcio e a teia de relaes por ele originadas, implicaram um reforo da poltica da aristocracia romana, ento aumentou-se o poder do Senado e acrescentou-se ao interregnum, a possibilidade de ratificar as decises da plebe, nos comitia curiata, cobrindo-as ou no com a sua auctoritas (mrito que d valor aos pareceres). Resumidamente, as funes do Senado no perodo monrquico foram: interregnum (garantir a continuidade dos auspicia), auctoritas (permitir a ratificao das deliberaes de outros rgos), ius belli et pacis (direito de concluir os tratados internacionais); conselho e auxlio ao rei.Comitia Curiata (curia - reunio de homens)Era um rgo que reunia todo o populus de Roma. Os concilia reuniam apenas a plebe romana.A cidadania estava dividida em trs tribos (Ramnes, Tities, Luceres) chefiadas por um tribuno, cada tribo integrava 10 crias, subdivididas em 10 decrias, chefiadas por um decurio. Cada cria fornecia ao exrcito 100 soldados de infantaria e 10 de cavalaria. Com Srvio Tlio as trs tribos originrias foram substitudas por nove, seguindo critrios geogrficos.Assim, o sistema poltico romano inicial tinha uma estrutura piramidal assente em decrias, crias, tribos e o rei. A legitimidade das comitia curiata assentava em elementos religiosos e a sua presidncia cabia a um sacerdote, curio maximus. Considera-se pacfica a atribuio de competncias legislativas prprias aos comitia curiata, onde eram votadas as propostas de lei do rei, as propostas do interrex para o lugar de rex e onde se deliberava o reconhecimento e investidura do novo rex nos poderes de imperium. A composio deste rgo incerta e por isso, talvez no tivesse uma competncia deliberativa prpria, pois estariam presentes clientes e filli familiarum, subjugados potestas de patres, deste modo, a falta de autonomia decisria pe em causa a liberdade das assembleias.Provavelmente, a aco dos comitia curiata passaria por um acto de adeso ou rejeio de uma proposta de um magistrado, reduzindo a sua competncia aceitao ou no, perante um cenrio de solues restringidas. Assim, o rex revelava a sua importncia em todos os planos na tomada de decises e a restante estrutura poltica e orgnica serviria para auxiliar o rei na tarefa de governar com poderes concentrados e indivisos. A lex curiata de imperio fixa a ligao entre rex e populus, correspondendo a uma estrutura de civitas para legitimar os poderes do rei, a par do Senado.Os comitia curiata foram importantes na formulao de regras concretizadoras dos mores maiorum no mbito das relaes intersubjectivas e da disciplina normativa dos negcios. Por exemplo, o instituto adrogatio permitia que um pater famlias se pudesse sobrepor aucotritas de outro pater.Na monarquia, a comunidade estava politicamente organizada com base na famlia, logo as alteraes sobre a estrutura familiar (no plano interno e institucional) eram discutidas nas assembleias do populus, que reflectiam a forma familiar de organizao comunitria. No entanto, a estrutura gentlica tradicional assente na famlia, que garantia a hegemonia dos patrcios, estava em crise, pois a presso demogrfica por aqueles que chegavam a Roma, determinava a emergncia de uma fora social indiferenciada reunida na plebe, atenuando o peso poltico do patriciado.Collegia Sacerdotalia importante instituio com forte poder de influncia sobre as decises polticas, embora no possam ser consideradas em rgo de governo quiritrio do perodo monrquico de Roma. Os colgios sacerdotais mais importantes foram:Colgio dos PontficesInstituio que protegia os interesses das famlias patrcias no confronto com o rex, invocando que detinham o poder poltico e religioso que o rei devia respeitar, era um modo de limitar pela religio os poderes do rei na sua relao com os patrcios.Os poderes exercidos pelos pontfices eram: fazer sacrifcios rituais, execuo de rituais litrgicos supremos de Roma (validao de actos e estrutura judiciais, importantes na criao do ius civile), desenvolvimento do ius e do faz atravs da interpretao dos mores maiorum e no exerccio da jurisdio.O funcionamento do sistema poltico-sacral que controlava o governo de Roma pela religio era garantido pelo era garantido pelo mito de dependncia do decisor face ao sagrado.Os pontfices foram adquirindo um saber tcnico crescente na tcnica de criao de solues pra resolver litgios, eram vistos como depositrios de uma memria colectiva inscrita nos mores maiorum, que mantinham pela adaptao permanente da tradio realidade.No havendo uma distino entre religio (ius sacrum) e Direito (ius humanum), cabia aos pontfices a interpretao das regras de ius humanum, resultado de garantir a observncia do ius sacrum. A validade jurdica dos actos assentava no cumprimento de formalidades e rituais de natureza sacral que s podiam ser praticados na presena de um sacerdote. Tornava-se obrigatria a presena e interveno em todas as actividades judicirias, sendo determinante o seu parecer em interpretao das regras e de sinais.A assembleia integrava trs pontfices, um de cada tribo, e depois cinco e era presidida pelo pontifex maximus designado como arbitre rerum humanorum et divinarum. Os pontfices, isentos de impostos e de servio militar, eram designados para um cargo vitalcio por um ugure.Colgio dos ugures Os romanos procuravam legitimar na vontade divina a organizao social, as decises sobre a guerra e a paz e as solues para os conflitos intersubjectivos. Uma das formas para encontrar a vontade dos deuses era recorrendo aos auguria (procura de indcios em todo o tipo de acontecimentos) e aos auspicia (pressgios transmitidos pelo voo das aves). Estes dois sistemas so muito parecidos, mas correspondiam a formas de organizao poltica-sacerdotal diferentes. A legitimidade para interpretar os deuses atravs de auguria, cabia aos ugures, atravs de auspicia cabia ao rei.O auspicium era um instrumento de exerccio do poder do rei que determinava a sua aco, sendo favorveis ou desfavorveis, diziam ao rei quando agir. Logo, os auspiciam regulavam a oportunidade na efectivao de uma determinada deciso, no o seu contedo.O augurim compreendia a possibilidade de uma deciso que se pretendia tomar ou afastar, logo permita impedir que certas decises nefastas fossem cumpridas, ou seja, o seu objecto era sempre mais amplo e abrangente. Era mais completo que o auspicium, pois a maior preocupao era densificar as condies para o melhor exerccio da aco humana, secundarizando, a vontade divina na aco ou omisso concreta pouco abrangente.Transio: monarquia/repblica (509 a.C. a 367 a.C.)Generalidades sobre a designao deste perodoOs romanos expulsaram Tarqunio o Soberbo e os seus filhos, passando a ser governados por dois chefes por ano: pretores e cnsules, enquanto o poder vitalcio e monocrtico deixaram de ser admitidos pelos romanos.A anualidade institua a regra de responsabilidade daquele que exercia o cargo. Cessadas as funes respondia pelo que tinha feito no exerccio do seu cargo. A dualidade de pessoas estabelecia uma regra que limitava a possibilidade de abuso de poder no exerccio de cargos supremos.Em caso da monarquia permanecer, os magistrados deveriam ser denominados de delegados do poder do rei, no magistrados, pois esta designao pressupe a sua independncia como maestas e como imperium, assim sendo, o poder da magistratura era exercido no prprio nome e por mandato.Em 504 a.C. o expansionismo estrusco sofre um revs com a derrota frente aos gregos, com efeitos na economia romana, pois a derrota limitou a possibilidade de comrcio, nas mo dos plebeus, e determinou o regresso a uma economia de base agrcola com o retorno a uma estrutura de poder assente na propriedade fundiria, situao ansiada pelos patrcios e indesejada pelos plebeus que no almejavam regressar condio de trabalhadores subordinados.As consequncias desta situao foram: aumento da tenso social com os plebeus numa situao de revolta e o governo de magistrados, embrio do perodo republicano, obrigado a uma guerra de expanso para conquistar terras. At aqui Roma beneficiava da hegemonia etrusca e vivia em paz, mas o enfraquecimento da Etrria coloca Roma em coliso com outros povos, deixando de estar resguardada pelos etruscos e destacando a necessidade de defesa, pois aumenta a insegurana e a instabilidade, voltando o poder militar a ser determinante para a poltica.A vitria dos romanos sobre os latinos (497/496 a.C.) leva celebrao de um tratado de submisso conhecido como foedus Cassianum, que fixa regras de boa vizinhana e aliana militar, enquanto com os outros povos hostis conseguem um foedus aequem, ou seja, igualdade entre as partes que garante a paz. Estava, ento, garantida a estabilidade da fronteira, virando as atenes para os etruscos, com quem a paz, mesmo depois de 474 a.C., foi sempre precria. A derrota frente aos gauleses levou a mais insegurana, encorajando latinos e etruscos a atacarem Roma de novo.A necessidade de mobilizao constante do exrcito e o papel indispensvel da plebe na defesa militar de Roma obrigaram a rever o retorno s estruturas ancestrais, permitindo aos plebeus um modo de vida digno e um alvio das tenses internas. O poder militar dos plebeus, possibilitado pela guerra, atenuou a vingana patrcia e determinou a manuteno da emergncia de estruturas republicanas.A formao da estrutura da repblica foi moldada no conflito entre plebeus e patrcios aberto em 494 a.C. A plebe precisava de elementos uniformizadores que unissem o grupo contra o patriciado romano e o caminho foi o exerccio colectivo de cultos religiosos.A luta era pela igualdade poltica e pela paridade face ao Direito. Os plebeus tinham liberdade e cidadania na civitas romana, mas esto privados de poderes (auguria, connubium, do ager publicus, acesso s magistraturas, direitos liberdade cvica) e so considerados inferiores.Podemos indicar como motivos principais da revolta da plebe, a luta pela aequatio iuris, de forma a participarem plenamente na vida poltica da civitas e na vida social de Roma.Logo, eram elementos fundamentais da coeso identitria de Roma: a abolio da proibio de casamentos entre patrcios e plebeus (que exclua filhos nascidos de patrcios e plebeus de ascenderem s gens, pois a base gentlica eliminava qualquer possibilidade de integrar um plebeu), a igualdade judiciria, equiparao no acesso a cargos de Estado, prerrogativas inerentes liberdade cvica, fim das restries aquisio de terra, abolio do vinculum pessoal do nexum (colocava o credor com poderes ilimitados sobre o devedor, incluindo a sua venda como escravo ou a sua morte).Limitao ao arbtrio do julgador: a Lei das XII Tbuas Uma das bandeiras dos plebeus era a limitao do arbtrio dos julgadores, do rex, sacerdotes e das supremas magistraturas da repblica, derivava da resoluo de conflitos com base em regras consuetudinrias no escritas, oralmente interpretadas, de forma parcial, pela aristocracia patrcia. A nica forma de vincular o julgador aplicao de um conjunto de normas escritas igualmente aplicadas a patrcios e plebeus.A luta dos plebeus pela aprovao de um corpus de leis a vigorar para os dois grupos sociais s terminou em 451 a.C., foram suspensas todas as magistraturas ordinrias e foi investido um colgio de 10 patrcios (decenvirato) para iniciar a redao das leis. Publicam-se as leis decenvirais, que no tiveram impacto no ius romanum, no sentido que, se limitavam a redigir normas tradicionais de mores maiorum consensualizadas na comunidade, embora tenha tido grande simbolismo pois quebraram a barreira de silncio do processo decisrio judicirio.A partir de 450 a.C., o facto das leis decenvirais, que se aplicavam na resoluo dos casos, estarem definidas em texto oficial, significaria maior segurana das partes e maior estabilidade normativa e interpretativa, permitindo conhecer os fundamentos e criticar as decises. No se tratava de conceder a certeza do direito e a garantia de justia aos mais fracos, mas era um incio.Em 449 a.C., destitudo o II Decenvirato e retomam-se as magistraturas ordinrias numa tentativa de normalizao institucional da vida poltica em Roma. Existe alguma dificuldade em demitir um dos membros que se recusa a abandonar o cargo e com uma nova revolta foi possvel nomear dois novos cnsules. Estes publicam a Lei das XII Tbuas e as Leges Valerie Horatie, com disposies favorveis aos plebeus: concesso de fora vinculativa s deliberaes das assembleias populares para todo o populus, veto da criao de nove novas magistraturas no submetidas provocatio ad populum e reconhecido o carcter de sacertas s magistraturas plebeias com direito de inviolabilidade dos tribunos.Impedir qualquer tentativa de reinstaurar a monarquia: provocatio ad populumA luta por uma separao absoluta entre funes religiosas e os cargos pblicos ligados s funes polticas e militares, concentrados na pessoa do rei, foi uma das marcas do perodo de transio. Por isso, o poder de mediao entre deuses e homens que permitia ao rei exercer funes sacerdotais, polticas e militares, passou para o rex sacrorum e depois para o pontifex maximus. O imperium, que permitia ao rei o uso legtimo da fora em defesa da comunidade passou para os magistrados. Apesar das caractersticas anuais, electivas e duais das magistraturas era necessrio garantir que a aplicao das mais graves medidas repressivas no ficasse no arbtrio dos patrcios que as exerciam, ento foi criada uma contramagistratura: tribuno da plebe, assente na deliberao popular: provocatio ad populumEste instituto criado pela lex Valeria de provocatione (509 a.C.) permitia a um cidado condenado morte por um magistrado com imperium, recorrer da deciso e evitar a condenao pedindo a instaurao de um processo nos comitia.O processo tinha duas fases: o inqurito feito pelo magistrado para apurar a existncia de um crime, a resposta da assembleia (rogatio) atravs da deliberao pronunciava-se sobre a pena a atribuir. Esta forma de instituir uma instncia de recurso nas penas mais graves (provocatia ad populum), aplicadas no exerccio do imperium revela como este perodo coloca as base da criao do jurdico em Roma, possibilitando a justia pelo ius inscrito nas leges.Transferido, inicialmente, para os comitia curiata e depois comitia centuriata (sc.V a.C.) em cumprimento do princpio da Lei das XII Tbuas, nas penas capitais a sorte do cidado condenado tinha de ser decidida perante a assembleia centurial. S no perodo do Principado o exerccio do ius provocationis passa a ser analisado pelos funcionrios do prnceps. Aceita-se que a lex de provocatione era uma lex imperfecta, pois no previa penas para quem violasse a lex, o efeito era a possibilidade do exerccio do ius provocationis no passar de uma mera garantia formal sem qualquer efectividade.Abrir as magistraturas aos plebeus: os tribunos militum consulari potestatCom a abolio do dever de casa dentro do grupo e a legitimao dos casamentos entre patrcios e plebeus, iniciou-se um caminho de integrao social, poltica e jurdica apenas no plano constitucional, no social.At aqui o imperium estava ligado capacidade de auspicium, como dispunha o ordenamento gentlico, s que com a entrada dos plebeus na vida familiar dos patrcios e a sua participao nos sacra, dada a centralidade da famlia na organizao poltica e no exerccio de direitos inerentes, possvel a abertura dos auspicia aos plebeus.Por outro lado, a cidade foi governada entre 444 e 367 a.C. por cnsules e por tribuni militum, em alternncia, que resultava da abertura de cargos polticos a plebeus. Os tribuni militum, colgio de comandantes militares que integrava plebeus, logo era uma magistratura com acesso aberto plebe.A origem desta abertura est nas exigncias de defesa militar que o Senado tinha de valorizar relativamente eleio de cnsules e tribunos. O Senado no cederia privilgios patrcios mesmo que as condies blicas impusessem a abertura das magistraturas, ento foi preciso que a componente militar plebeia fixasse a sua imponncia nos cargos supremos.A estabilidade da soluo hbrida est reflectida quando se verifica a eleio de tribunos plebeus, comandantes militares em tempos de paz e cnsules patrcios em perodo de guerra. Nesta poca, a participao de plebeus nas magistraturas supremas tem uma relevncia constitucional muito importante, pela forma como influenciou o contedo do ius romanum.Este um dos traos caractersticos deste perodo, solues pragmticas que determinam que as oscilaes constitucionais estveis serem eficazes imutveis sem abalar as traves estruturantes do sistema republicano, que se ia impondo.O Senado usou o tribunus militum para abri portas a solues que carecessem da fora da plebe. A atribuio do imperium consulare ao chefe militar que podia ser um plebeu tinha a vantagem de juntar podemos supremos da poltica e guerra, permitia em acaso de conflito militar afastar um dos factores de diviso entre patrcios e plebeus: o Cnsul, que por isso era substitudo pela tribunus militum.Este sistema aumentava a ligao entre deciso poltica e a aco militar, entre decisores e executantes e o perigo no era grande para os patrcios j que os tribuni militum no tinham auspicium, no podendo exercer a dictatorem dicere. O Senado era o arbtrio possvel dos conflitos e o garante da continuidade poltico de exerccio institucional do poder efectivo de Roma.A crise constitucional provocada pelo conflito permanente entre patrcios e plebeus requeria dos senadores o conhecimento das situaes e um sentido de oportunidade na escolha dos magistrados mais capazes. Baseado neste pressuposto a actividade do Senado, a escolha do tribunus militum requeria a opinio da assembleia centurial, quanto s capacidades militares e polticas, j que iria exercer um poder idntico ao do cnsul, s no exerceria os poderes que resultassem da titularidade do auspicium (nomear o ditador, nomear um colega), no receber da honra do triunfo, nem ocupar lugar de cnsul. A figura do tribunus militum consular potestate uma das primeiras a que se aplicou o princpio da colegialidade, que demonstra a desconfiana em relao participao dos plebeus na magistratura.Paridade Jurdico-poltica entre patrcios e plebeusA atribuio do exerccio do consulado aos plebeus foi formalizada sob a forma de lex, uma deliberao das assembleias populares, ou sob forma de plebiscitum. Em 367 a.C. as leges Licinae Sextiae, confirmam esta referncia.Estas medidas legislativas tm um significado mtico no culminar do perodo de transio da monarquia para a repblica pois formalizam-se as reivindicaes histricas dos plebeus quanto paridade que consideravam necessria para se sentirem romanos. Pela lex licinia de aere alieno, pela lex licinia de modum agrorum (resdistribuio da terra), pela lex licinia de consule plebeio (ascenso plebeia ao consulado, um dos lugares entregue a um plebeu).S a partir de 320 a.C. esta norma passou a ser cumprida e determinou uma evoluo significativa na participao poltica dos plebeus, em 172 a.C. passam a poder existir dois cnsules plebeus. Outras leis concederam privilgios aos plebeus: aumentar o nmero de responsveis dos livros sibilinos.O resultado destas reformas de terem institudo o consulado como magistratura em que exercido o poder supremo do Estado e que ela no est reservada apenas aos patrcios mas tambm plebeus.Conclumos que um conjunto de medidas pontuais redundou numa profunda reforma constitucional. Em resumo, a abertura das magistraturas aos plebeus introduziu a possibilidade de uma reforma social necessria para o fortalecimento de Roma como potncia na Antiguidade, mas sobretudo supunha uma profunda reforma de mentalidades com efeitos na estrutura jurdica de organizao do acesso ao poder e do seu exerccio, bem como, do processo de criao e de aplicao das regras jurdicasLinha cronolgica de direitos conquistados pelos plebeus pg.198/199

O Populus Romanus e a res publica 367 a.C. a 27 a.C.A res publica era o patrimnio do populus, que passou a ser usada com uma feio poltica mais vasta que cobria a organizao constitucional dispersa e mais tarde, foi usada com objectivos de contraposio jurdico-poltica ao poder exercido pelo prnceps. Pretendia impedir aproveitamentos polticos e compor um governo pelo Populus para legitimar projectos poltico-ideolgicos.A seguir s leis Liciniae Sextiae, dividiu-se e hierarquizou-se as magistraturas no mbito de uma organizao constitucional com um sistema de regras e princpios que garantissem a estabilidade e continuidade do modelo poltico-institucional, legitimado pelo Direito.As caractersticas do regime que vigorava eram: poder poltico exercido em nome da comunidade e entregue aos magistrados detentores de imperium; o Senado ficava dotado de auctoritas e tornava-se um rgo consultivo ao qual os magistrados recorriam, garantiam a continuidade institucional do poder pblico em caso de crise; o Populus (maestas) passa a ter uma organizao institucionalizada que expressa as suas posies atravs das deliberaes das suas assembleias.Apesar do complicado equilbrio, a tendncia institucional e aberta da organizao do poder poltico, dotado de mecanismos para a resoluo de litgios e formas constitucionais de reduzir tenses polticas e sociais, permitiu que a Repblica fosse o modelo de governo mais duradouro de Roma.Cidados do PopulusA designao dos cidados romanos quirites ou cives, que significava romano integrado no ordenamento centurial (o exrcito estava organizado em centrias, cuja distribuio de homens baseava-se no censo). Podia ser cidado quem: Nascesse em Roma de pais romanos ou de pai romano e me estrangeira (desde que tivesse adquirido o direito de casar com um cidado romano, unidos por matrimnio); Nascesse de me romana mesmo fora de um casamento vlido; Tivesse a autorizao de um magistrado para tal; A quem tivesse sido concedida a cidadania pela comunidade; Mais tarde, a quem fosse libertado da escravatura; Para os latinos num curto espao de tempo, fixar domiclio em Roma.Desde cedo em Roma, a aquisio de cidadania e dos direitos e dos deveres inerentes era uma questo jurdica, que abria a cidade ao exterior e a um elevado nmero de pessoas que podiam adquirir o estatuto de cidado independentemente da sua origem geogrfica, tnicaEste um dos traos mais relevantes da cultura jurdica romano-latina que se estendeu ao Mundo, numa pedagogia pelo Direito contra a excluso dos estrangeiros.O cidado romano participava na vida da cidade atravs de: escolha dos magistrados e da votao das propostas de lei apresentadas pelos magistrados; servio pblico para a comunidade (munus), servia nas legies, contribua com um tributum (em caso de dificuldade financeira). Com a res publica desenvolvida e com a necessidade de integrao sucessiva dos territrios militarmente ocupados surgiu a categoria de cidados limitados (civitas sine suffragio). No entanto, existe dvida se todos os cidados tinham possibilidade de eleger e ser eleito para uma magistratura, mas aparentemente, s os cidados s podiam aceder ao cursus honorum por razes de ndole familiar, de classe ou riqueza.Por isso, limitao poltica e mediatizao institucional das decises colectivas, houve um desvirtuamento progressivo do ius auxilii e da provocatio concedida ao tribuno da plebe na sequncia da luta entre patrcios e plebeus que est na gnese do regime, caracterizado pelas magistraturas e pelas leis votadas na assembleia.No plano da participao cvica, as estruturas sociopolticas da Repblica so condicionadas pelo predomnio aristocrtico ligado aos patrcios, que se sobrepunha igualdade entre cidados. S a reivindicao plebeia de ligao libertas-igualdade por pertena mesma comunidade poltica, socializa a participao poltica, mas a tradio mantem os privilgios.Assembleias do Populus As assembleias tornam-se o elemento central de todo o ordenamento constitucional da repblica. Os comitia reuniam todos os cives, os concilia todos os plebeus. As principais assembleias foram: os comitia curiata, os comitia centuriata, os comitia tributa e os concilia plebis.Comitia Curiata (todo o povo em assembleia)Neste perodo o Populus, conjunto de cidados, exercia o seu poder reunido em assembleias designadas por comitia. Decidia a guerra e a paz, a escolha das magistraturas, feitura das leis, reunindo-se de forma separada, consoante os grupos politicamente relevantes. Os cidados estavam organizados em crias, centrias e tribos para exercerem os seus direitos polticos: votarem as leis propostas dos magistrados em assembleias por eles convocadas, mediatizada atravs de instituies. As assembleias mais antigas eram os comitia curiata (desde os Tarqunios), cuja principal funo era eleger o rei (cargo vitalcio) e os 100 membros do Senado (patres). Estas tinham poderes militares e integravam uma maioria significativa de patrcios e plebeus, reflectindo a organizao do exrcito romano. As crias tinham 30 membros e reuniam grupos de 10 (tribos), mantendo o pendor militar, representavam toda a comunidade, sendo que cada uma das tribos era um grupo de cavalaria do qual dependia um grupo de infantaria, centuriae.Depois de Tarqunio e com a consolidao das magistraturas, os comitia curiata, presididos pelo pontifex maximus, tinham a sua importncia circunscrita ao direito sacro. A participao do pontifex maximus, no mbito da repetio de actos solenes para investiduras em cargos ou funes, a partir de formalidade exigida pelo ius da repblica no plano poltico, consubstanciava uma conexo jurdico-sacral.A solenidade da investidura dos magistrados eleitos nos comitia curiata com ligao s competncias de inauguratio do rei, mostra que a separao entre o sagrado e profano na criao de solues jurdicas na repblica, que, todavia no abalou a relevncia sacral nas tomadas de posse de cargos pblicos com imperium. Enquanto os comitia curiata tratariam da questes de dimenso sagrada, os comitia centuriata tratariam das decises polticas, j que eram a estrutura base do exrcito hoplita, isto , a infantaria de matriz plebeia, que se reunia em assembleia para tratar de questes polticas (guerra e paz).Com a separao entre poltica e religio os comitia curiata ficam reduzidos ao cumprimento de um conjunto de actos solenes sacrais, onde se inclui a cerimnia de confirmao de confirmao no imperium dos magistrados maiores (excepto censores), fundamentada na lex curiata de imperio. Com a Repblica inicia-se a decadncia dos comitia curiata.Comitia CenturiataImportada do perodo anterior, os comitia centuriata so uma expresso de poder crescente da plebe aps a valorizao da infantaria, tornando-se determinantes nas batalhas. Foi neste momento que o poder das centrias passou de ter competncias estritamente militares, para competncias polticas, sobretudo de natureza financeira e fiscal.Cada cidado votava na respectiva centria, o voto determinava a maioria simples e aquela centria vinculava-se totalidade das centrias, assim obtinha-se por maioria o resultado final dos comitia centuriata. A metodologia das votaes de complexa aritmtica poltica tinha como fim garantir a supremacia dos patrcios. Os comitia centuriata foram as mais importantes assembleias populares da repblica, sendo convocadas por um magistrado seguindo uma rigorosa formalidade, tiveram como grande competncia aprovar as declaraes de guerra (devido sua origem militar).Com a progressiva afirmao da sua fora poltica, estabilizaram-se como suas competncias: poder de eleger cnsules, pretores, ditadores e censores, confirmar os censores, aprovar leis propostas pelos magistrados, formalizar declaraes de guerra e tratados de paz e dar veredictos sobre a vida ou morte dos acusadosComitia TributaOs comitia tributa surgiram aps a queda da monarquia e sempre tiveram poderes de natureza civil. A base de organizao territorial, ou seja, os participantes pertencem a uma mesma circunscrio administrativa do territrio de Roma, designada por tribus. Logo, os comitia tributa so assembleias deliberativas de todos os cidados organizados por tribos, convocadas e presididas por um magistrado maior, em que o voto era individual e expresso.No fim do sc. V a.C. existiam 20 tribos em Roma, mas com um territrio estendido a toda a Itlia e um nmero de 35 tribos, o sistema eleitoral tornou-se complexo e desvirtuado pela necessidade de agregar pessoas e comunidades s tribos, determinando uma extino da matriz territorial a favor de uma estruturao pessoal da participao eleitoral dos cidados nas assembleias.As competncias dos comitia tributa eram: votao das leis sobre assuntos de menor relevncia (leges tributa), eleio de magistrados menores e dos tribuni militum, atribuio religiosas residuais, fixao de penas pecunirias para as infraces detectadas. Os comitia tributa votavam deliberaes por maioria da tribo e no dos cidados com direito de voto, favorecendo os equilbrios polticos desejados entre as tribos urbanos e as restantes.

Concilia Plebis (reunies da plebe)Eram assembleias que com a lex hortensia de 287 a.C. instituram definitivamente a equiparao entre patrcios e plebeus, passaram a ter competncias legislativas, votao de uma srie de medidas que introduziram reformas profundas no ius civiles.Convocados pelos magistrados plebeus (tribuno da plebe e edil), sem necessidade de tomarem os auspicia, as suas competncias eram: eleger magistrados plebeus, votarem os plebiscitos, exercerem o iudicium para os crimes punveis com multa. Em virtude da relao entre lex e plebiscito, as fontes confundem concilia plebis com comitia tributa, distintas na sua composio e nos magistrados que as convocavam (magistrados plebeus, no magistrados patrcios).A base territorial do sistema eleitoral para as assembleias do populus e da organizao poltica obriga-nos a observar a relao entre aquisio de territrio pela populao e a apropriao deles por privados, na sequncia de uma ligao jurdica entre propriedade e maiestas.Populus Romanus: territrio e propriedadeA aquisio estvel de territrios era um das principais aspiraes das guerras itlicas decididas nas assembleias romanas, que implicava a legitimao jurdica dos confiscos e das expropriaes de terras e a respectiva ocupao romana. No mbito da organizao poltica de base territorial, a res agraria permitiu a disciplina normativa de um dos fundamentos do Estado Romano.A poltica agrria estava ligada s polticas de concesso de cidadania (participao poltica), s polticas coloniais e estas poltica externa, por isso a populus romana enfrentava vrios problemas: luta entre privados pela propriedade dos solos susceptveis de apropriao, problema de constituio de um ager privatus, discusso sobre o povoamento dos territrios, limitao pelo Estado, do direito de propriedade ilimitvel face aos ius quiritum. Alm disto, a clusula de inalienabilidade imposta nos contractos de concesso de terras destinada a fixar novos proprietrios s terras foi pouco respeitada. O ager romanus, definido como territrio do populus, tornou-se insusceptvel de apropriao privada e domnio pblico do Estado, que o distribua por romanos proprietrios e camponeses sem terra. A propriedade privada nos terrenos pblicos era sempre precria, tendo em conta que o proprietrio era o Estado e possua sempre o ttulo original e o ttulo era sempre revogvel. A distribuio da terra era feita a ttulo oneroso ou gratuito (mas o Estado conservava o direito propriedade), ou como cedncia pela prestao de servios.O critrio de integrao territorial (anexao ou semi-anexao) seguia factores geogrficos ligados estratgia defensiva: os mais prximos eram romanos e ficavam integrados no ager romanus; os outros habitantes eram romanos mas face ao direito civil, no ao pblico (civitas sine suffragio), de proteco cidade.A disciplina legal implicava uma vontade poltica de qualificar juridicamente esses terrenos como territrio romano, de modo, a legitimar uma interveno legislativa dos seus rgos de governo em: retirar o direito de propriedade dos titulares anteriores, prescrio da posse adquirida por privados, ao abrigo de um direito baseado na fora.A reforma gracana (lex sempronia, 133 a.C.) disciplinava o acesso de privados ao ager publicus, definia novas regras jurdicas de posse do solo pblico, cadastrao, acesso da plebe, novos axiomas normativos adaptados conquista de efectivao do poder poltico de um Estado territorial em crescimento. Logo, as solues concretas partiram de adoptar o ager romanus.O Estado firmou-se como proprietrio particular e no titular de maeistas nos territrios habitados inexplorados e aproveitados, terrenos desabitados, nos baldios limtrofes. Com as guerras externas confiscou uma parte das terras dos povos vencidos, o que era utilizado como pena mas sempre com motivaes polticas, colocando como hiptese o binmio propriedade-soberania.Para evitar o povoamento total das terras, Roma devolvia de imediato com a eliminao dos efeitos jurdicos declarados atravs de amnistia, que tambm se passou com o confisco de terras de algumas cidades itlicas.O confisco de terras conquistadas no era apenas uma consequncia da rebelio dos aliados contra Roma, mas uma imposio poltica e uma afirmao de soberania, sobre a forma de foedus desigual, ou seja era a legitimidade jurdica e pblica adquirida no plano externo que permitia a disciplina normativa por legislao interna.Magistraturas de PopulusAs magistraturas republicanas incidindo sobre os poderes polticos, militares e judiciais no se estendem ao poder religioso, pois este permaneceu como exclusivo da interveno sacerdotal. S com a lex Ogulnia, 300 a.C., em que plebeus propem a sua participao sacerdotal que o colgio dos pontfices e dos ugures aberto a participao plebeia.Nascidas da crise do governo quiritrio e desenvolvidas em perodos de instabilidade, as magistraturas foram reguladas com maior pormenor, a partir dos seguintes pressupostos: dois titulares para cada cargo, absoluta paridade no grau e funo, permitindo um efectivo controlo recproco; subordinao das magistraturas maiores s menores, separao entre elas com garantia de harmonizao sistmica e responsabilizao dos titulares atravs de rgos constitucionais colegiais.A estabilizao constitucional pelas magistraturas operou-se quando a sua continuidade abandonou o princpio da cooptao (magistrado cria o magistrado) para um sistema de eleio pelas assembleias populares, o que transferia a possibilidade de xito deste sistema para as qualidades do candidato. Por isso foram fixadas condies rgidas para a candidatura: Ius suffragii, candidatos podiam ser submetidos votao do eleitorado activo; Ingenuidade, no ser escravo liberto, nem filho de liberto, pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada (patrcio/plebeu), no ser acusado de infmia, ter idade superior a 28 anos.A preocupao de evitar a tirania no exerccio das magistraturas ordinrias, titulares de imperium, integradas no cursus honorum (questor, edil, pretor, cnsul, censor, s se podia exercer o cargo seguintes depois de um ano no anterior) levou: fixao de limites de temporalidade (um ano), pluralidade de magistraturas (poder absoluto dividido em vrias com funes diferentes), colegialidade e da par potestas entre magistrados (havia mais de um magistrado, cada um com imperium absoluto, em que o outro tinha poder de veto), ainda foi criado um conjunto de regras constitucionais que controlavam o exerccio do cargo e tinha uma finalidade preventiva: o magistrado no fim do mandato tinha de prestar contas do seu uso dos poderes e era responsvel pelas infraces eventuais cometidas, estava impossibilitado de acumular cargos ou de repeti-los.As magistraturas maiores tinham imperium e potestas e as menores apenas potestas. As ordinrias podiam ser permanentes ou no permanentes, enquanto as extraordinrias eram sempre no permanentes e tinham poderes de intercessio sobre os magistrados ordinrios.Na organizao constitucional da civitas os magistrados ordinrios, constituam elementos estabilizadores do regime, por sua vez, os extraordinrios eram eleitos para enfrentar circunstncias extremas imprevistas e os poderes concedidos duravam o tempo da ameaa.As magistraturas ordinrias maiores eram o consulado e a pretura, cujos titulares eram eleitos todos os anos nos comcios centuriais. O imperium do pretor estava subordinado aos cnsules que podiam vetar as suas decises e por isso, pretor era colega minor do cnsul (praetor maximus).Entre as magistraturas maiores com imperium existia a ditadura de carcter extraordinrio e excepcional, nomeado por um cnsul com um mandato de seis meses para situaes de emergncia, sendo criada por momentos institium, perodos de suspenso da normalidade legal e da aplicao normal da justia.Os tribuno militum e os triunviri agris dndi, tinham vrios poderes: supremo comando militar e coercitivo, direito de convocar e presidir rgos colegiais: senado e assembleias, praticar actos coercivos para impor obedincia, direito de emanar os seus edicta, possibilidade de assumir os auspcios maiores.As magistraturas maiores sem imperium mas com auspicia era a censura, cujo titular era eleito nos comcios centuriais para um mandato de 18 meses. Os magistrados menores sem imperium mas com potestas eram: edil plebeu eleito nos concilia plebis, o edil curul e os questores eleitos nos comitia tributa. A edilidade iniciou-se para ajudar tribunos e ficou com a responsabilidade dos arquivos e gesto do tesouro. Com a Repblica a edilidade ergue-se como magistratura que estende a sua jurisdio de polcia a toda a cidade, passou a superintender a actividade dos mercados e o controlo dos cereais, organizar festas e espectculos pblicos, importantes na propaganda poltica.Os questores administravam o errio do populus, promoviam a superviso das receitas fiscais e a distribuio de fundos e receitas necessrias para as despesas decididas pelos cnsules respeitantes das directivas do Senado. At s Questionae perpetuae, eram eles quem faziam a instruo e acusao de crimes punidos com pena de morte. Estes magistrados, excepto o edil plebeu, tinham os ius edicendia e os auspcios menores, poderes coercivos menores (multas e penhoras). Dotados de potestas, os magistrados menores tinham os seguintes poderes: ius edicendi, ius agendi cum populo e cum plebe, ius agendi cum patribus, contando com magistrados auxiliares, que combatiam a criminalidade e a delinquncia, tratavam dos presos e da justia em zonas sem rgos jurisdicionais.O tribuno da plebe era uma magistratura especial que tinham em vista os interesses da plebe, com imunidade absoluta e direito de oposio s decises dos restantes magistrados. Foram eleitos pelos comitia tributa e depois pelos concilia plebis. O tribunato da plebe constituiu uma nova aristocracia poltica com grande poder proveniente da intercessio na justia, aco juridicamente legitima de proibir um acto de imperium de outro magistrado. Acabou por conquistar uma potestas coercendi (aplicao de multas e apreenso de bens) que passou a ser um poder prprio sem qualquer controlo.No sc. III a.C. integram o ius senatus habendi, direito de convocar e presidir ao Senado, bem como o agere cum plebe, estabelecer com os concila plebis uma relao para a tomada de decises polticas e normativas (plebsicita).Devido aos imensos poderes dos magistrados, imperium e potestas, a preocupao constitucional foi limitar os abusos e o seu arbtrio, delimitando o seu raio da aco e os meios de actuao especficos e as formas de controlo. A disperso do imperium que estava concentrado no rei foi conseguida atravs das magistraturas e o seu exerccio limitado numa teia de vnculos e dependncias. O imperium era forte e correspondia ao que o rei exercia no comando do exrcito centurial, sendo disperso por ditadores, cnsules e pretores.A potestas corresponde a um poder mais limitado que o magistrado exercia no mbito das suas competncias.O imprio consular corresponde ao do rei (suprema potestas e imperium maius) mas limitado, estava sujeito anualidade do cargo, colegialidade (dois cnsules, total autonomia e plenos poderes), diviso de poderes com as outras magistraturas, provocatio ad populum, o que permitia acusar, julgar, e executar as sentenas liberto de qualquer vnculo. Alm das prerrogativas do imperium domi, ius agendi cum populo (convocar assembleias populares) e ius agendi cum patribus (iniciativa legislativa, apresentao de propostas de lei), o cnsul exercia competncias residuais que no cabiam aos outros magistrados.Desde a coercitio para pena de morte at s sanes mais insignificantes, os censores e pretores necessitavam da ordem do cnsul. Alm disto detinham poderes administrativos na administrao do errio, do patrimnio pblico e imposio da ordem pblica.A pretor era um magistrado maior, mas minor face ao cnsul, nomeado nos comcios centuriais a que o cnsul presidia, encarregava-se de aplicar a justia e substituir o cnsul quando este no podia, convocava comcios para a eleio de magistrados menores e apresentva propostas de lei para aprovao nos comcios. Era uma magistratura monocrtica, ordinria, permanente, inicialmente unitria (242 a.C., juntou-se o pretor peregrino ao pretor urbano, no constituindo um colgio). Com o aumento de territrio e funes o nmero de pretores vai crescendo (de 6 passou para 8).A censura era uma magistratura ordinria no permanente, seguia-se ao consulado e era investida de uma lex potesta censoria, ocupada de incio por patrcios, passou a ser obrigatrio a incluso de um plebeu. O registo do patrimnio era feito a partir de declaraes prestadas pelos patres, sendo o juzo do censor livre e discricionrio na recusa de inscrio, mudana de registos, excluses e incluses. A importncia poltica da censura refora-se com a funo de nomeao dos senadores (312 a.C.)A ditadura era uma magistratura extraordinria. O Senado, perante uma situao de perigo, definia o perfil adequado do cidado que devia exercer o cargo e o cnsul escolhia o ditador (6 meses). Era nomeado um dictator optimo iure com plenos e indefinidos poderes ou um dictator imminuto iure com poderes especficos em matrias sacrais mas com grande relevncia poltica. A similitude com o poder rgio fazia temer um regresso tirania, apesar da limitao temporal e da finalidade especfica.At 300 a.C. a coercitio do ditador no estava sujeito nem intercessio tribuncia nem provocatio ad populum, o Senado no exercia qualquer controlo poltico sobre ele e no fim do mandato no tinha de responder pelas suas aces e pelos gastos na defesa militar.Os riscos da tirania desta magistratura devido suspenso de garantias constitucionais, levaram os romanos a procurar outras formas de conseguir o mesmo efeito (senatosconsultum ultimum. No mbito da ditadura surgia outra magistraturas, magster equitum, um oficial superior ou um magistrado com imperium prprio escolhido pelo ditador para comandar o exrcito-cavalaria.A distino entre as duas categorias, maior e menor, fazia-se a partir de um conjunto de sinais exteriores, que identificavam aqueles que exerciam as magistraturas facilitando a concesso de honrarias sociais e a obedincia dos respectivos actos. Os magistrados de um imprio tinham auspicia maiora e dispunham de meios para exercer a coercitio.O maior problema era solucionar conflitos de competncias em novos litgios que sobrepusessem esferas tradicionais definidas, ento adoptaram-se trs princpios estruturantes: Princpio da prevalncia do imperium permitia que magistrados dum imprio pudessem vetar qualquer mesmo inerente s competncias de outro Princpio da hierarquia distinguia imperius maius e imperius minus, maior e minor potestas, os com maior podiam anular ordens e vetar actos dos outros Princpio da tutela da plebe segundo este os tribuni plebis no estavam sob domnio do imperium e potestas dos magistrados, garantindo um participao efectiva dos plebeus, constitua uma forma de controlo do arbtrio no exerccio da magistratura a favor de interesses segundo a classe social, preveno de atitudes ditatoriaisEsta componente nobilirquica das magistraturas e o tradicionalismo social na organizao poltica de Roma devem-se ao facto das magistraturas no serem remuneradas, apesar de envolverem despesas significativas, j que estes tinham de preservar os seus padres de vida, contribuio para obras pblicas e outras actividades. Os candidatos magistratura tinham de se apresentar perante o eleitorado com trunfos nas suas promessas, da que o acesso estivesse reservado aos filhos das famlias com posses e fama.SenadoUma instituio antiqussima, tinha cerca de 300 membros escolhidos pelo rex entre os patres, chefes dos grupos gentlicos. Permaneceu como um dos mais importantes rgos na nova organizao constitucional republicana, no como grupo patrcio mas como assembleia poltica da aristocracia romana, patrcia e plebeia, escolhida pelos cnsules e tribunos militares consulares e depois pelos censores.O Senado garantia a Roma a estabilidade, continuidade institucional e conhecimentos suficientes para orientar as magistraturas e a vontade popular. Conduzia a poltica externa e recebia as embaixadas, aprovava tratados e fazia declaraes de guerra e paz, fixava os cultos e auxiliava o cnsul. Dispunha do interregnum, da auctoritas patrum e do senatusconsultum.O interregnum era o instrumento que evitava o vazio do poder em perodos de dificuldade constitucional, ou ausncia do cnsul, garantindo a continuidade do imperum. Assim, garantia-se um sistema de governo antigo mas com provas de eficcia na forma de preservar instrumentos de governo e de continuidade da res publica em momentos de perigo e de ruptura, propiciados pela ausncia de uma magistratura suprema.A auctoritas patrum realiza-se no poder senatorial de confirmar deliberaes de outras assembleias. O magistrado apresentava uma proposta, remetia para as assembleias populares e para o Senado que aprovava ou no a deliberao, que impunha assim a sua auctoritas.Esta figura dava ao Senado um poder efectivo de controlo e ratificao das deliberaes e a partir de 339 a.C. passa a deter um carcter preventivo, sendo assim, o magistrado apresentava a proposta ao Senado que dava o seu parecer e s depois a apresentava s assembleias populares, o que impede que uma proposta fosse aceite sem o aval do Senado. Esta situao revelava uma crise das magistraturas, pois invertia-se a auctoritas patrum, que reforava o poder poltico do Senado e a sua importncia na criao normativa do ius.O Senatusconsultum era a consulta dada pelo Senado a um magistrado a pedido deste. Os debates eram abertos apesar do regimento e processo de formao ser muito minucioso e complexo. O processo podia ser interrompido por intercessio de um dos cnsules ou do tribuno da plebe, que retirava validade deliberao, passando a designar-se como senatus auctoritas. Apesar da crescente eficcia normativa, estes nunca se revestiram de idoneidade jurdica suficiente para criarem ius civile.Os Jurisprudentes da res publicaApresentam-se trs jurisprudentes que fundamentaram o ius civile, considerados fundadores de uma iurisprudentia nova com preocupaes de harmonizao, categorizao e generalizao, revivicadora do ius civile. Resgata o seguinte valor: autonomizao dos jurisprudentes do texto da norma usando tcnicas de especializao da criao jurisprudencial. Assim a jurisprudncia passa a ser fonte independente do ius. Marco Jnior Bruto Pblio Mcia Cvola Quinto Mcio Cvola, o Pontfice Marco Tlio Ccero

Quarto perodo: o Princeps como primus inter paresConsideraes gerais sobre o Principado27 a.C. data a que esta associado o fim da crise da res publica romana, iniciado com a morte de Jlio Csar.O principado e a forma de designar uma tentativa poltica de concretizar no governo de Roma uma sntese entre instituies da res publica e outras de pendor monrquico, atendendo situao em que se encontravam as instituies do Estado aps as sucessivas guerras civis e as derivas autoritrias de cnsules nicos e vitalcios consentidas pelo Senado. O principado no passou de uma forma pragmtica de governar assente no Governo de Augusto e sujeito s caractersticas pessoais do titular do poder poltico. Assim, o pendor poltico do titular do poder sobrepunha-se sempre s tentativas de objectivar o regime em normas e instituies jurdico-polticas.Octvio (Augusto) exerceu o poder poltico supremo, a partir de 43 a.C., atravs de um triunvirato em que era ele o centro (mandato de 5 anos que era renovado). Em 33 a.C., esgotado este modelo como plano de exerccio do poder universal (rerum omnium), Augusto declara-se princeps por consensus universsorum. Logo, o pragmatismo de Augusto levou-o a constitucionalizar um poder exercido de forma universal e absoluta, recorrendo a um expediente retrico, de natureza politica o consensus universsorum sem qualquer base ou fundamento jurdico. A partir de 31 a.C., Augusto renova sem oposio os seus poderes de cnsul nico, com exerccio que se estendia a todo o territrio de Roma; assim como tambm exercia o comando supremo dos exrcitos. Augusto trilhara um percurso bem preparado de concentrao de poderes em si prprio, com a justificao de no haver outra alternativa para manter as instituies ainda existentes em Roma. Esta propaganda levou a que, no Vero de 23 a.C., estivessem reunidas as condies para abandonar o poder poltico de exerccio de uma magistratura consular, nica e atpica (que at aqui durava na sua titularidade) para um novo figurino poltico-institucional em que o Senado lhe outorga os poderes plenos do Estado, j que recebera dos comitia plebis a tribuncia potestas vitalcia (poder de veto para as deliberaes de todos os magistrados - ius intercessionis; e a inviolabilidade sacrosanctitas -,alem dafaculdade de convocar e apresentar propostas s assembleias populares e ao Senado) e dos comitia centuriata o imperium proconsulare maius (poder de comandar os exrcitos de Roma; e de administrar e fiscalizar no apenas as provncias imperiais como as senatoriais). Estava aberto o caminho para um regime que, mantendo as instituies republicanas a funcionar sem qualquer poder ou interveno real na vida poltica e nas decises a tomar, concentrava todos os poderes nas mos de um s homem. Augusto utilizava o ttulo de imperator para significar que era ele o titular do poder nico e os poderes supremos eram s dele. J os ttulos de princeps e de augustus (o 1 para designar a sua primazia institucional e a sua liderana politica; e o 2 com efeitos meramente honorficos) inscreviam-se na concentrao de poderes reunidos na tradio romana na figura de chefe nico e cada vez mais absoluto de Roma. Com a tribuncia potestas Augusto adquir:1. O poder de iniciativa na propositura de alteraes constitucionais controlando a renovao jurdica do Estado;1. O grau ou qualidade de sacrosantus;1. O poder de intercessio contra todo e qualquer acto de magistrados e do Senado;1. E o ius agendi cumplebe, podendo votar os plebiscitos e convocar o Senado (com os poderes de um tribuno da plebe).Com o imperium proconsulare maius adquiria: o comando militar supremo e uma extenso do seu poder ate aos confins do imprio. Em complemento destes poderes Augusto podia exercer uma serie de outros de menor grau ou amplitude mas de igual importncia:1. A cura legum et norum (o poder de controlar a legislao e aquilo que era aceite como costume);1. O poder de commendatio (o poder de indicar ou recomendar s assembleias com o poder de escolher os magistrados os nomes dos candidatos a esses cargos);1. O direito de investir os pontfices.Concluindo:1. Ao contrrio de Jlio Csar, Augusto conseguiu tornar Roma numa monarquia absoluta de cariz personalista, com um culto de personalidade do chefe (muitos parecido ao das monarquias orientais que os romanos venceram);1. Augusto no evitou o pendor monrquico, na forma concebida e depois executada, de levar a cabo uma restaurao da res publica em Roma;1. Augusto criou um regime hbrido de repblica e monarquia em torno de elementos muito mais ligados personalidade do titular (princeps) do que s possibilidades institucionalizadoras que dariam estabilidade ao regime politico.Esta subjectivao excessiva no exerccio do cargo em funo do chefe (princeps) contrastava com uma desvalorizao do cursos honorum na seleco dos titulares de cargos de chefia, pela via das magistraturas, que garantia com estabilidade a criao de um ius com solues justas e adaptadas ao tempo das sentenas, completamente separado da lex instrumento de governo da cidade. Perdeu-se a base jurdico-poltica das magistraturas divididas e a motivao para percorrer o cursos honorum; e com ele o sentido de Estado que a elite romana evidenciara durante a Repblica. Augusto tinha fundado um regime fraco, instvel e adaptado s circunstncias impostas a Roma e personalidade daquele que tudo decidia. Da q eu o termo mais adequado para designar este regime politico o que assenta na figura do princeps: o Principado. Assim, o Principado como um regime de primus inter pares o que melhor caracteriza este perodo da histria do direito romano, no plano poltico, j que foi dado a um s homem a possibilidade de decidir sozinho todos os aspectos da vida romana, at ai dispersos pelas magistraturas (numa rigorosa separao assente em regras e impedimentos marcados pelo cursos honorum), o que determinou o fim da possibilidade de um ius, criado pela auctoritas dos jurisprudentes, permanecer separado da lex imposta pelo imperium dos polticos. A efectiva concentrao dos poderes levou destruio do ius que deu superioridade aos romanos entre os povos da Antiguidade clssica.A restaurao constitucional da res publica at comeou bem. No plano jurdico-simblico a maiestas (soberania) foi restituda ao populus. Acompanhando a reconstruo institucional, o Senado e as magistraturas retomaram o seu exerccio normal, numa recuperao das tradies funcionais da res publica (que servia para legitimar o prprio poder do princeps que assim o determinava). Depois, seguiram-se medidas concretas: foi restituda a diviso de poderes no exerccio do consulado; foram obtidas as normas excepcionais do triunvirato; foram reactivadas algumas prticas administrativas (sobretudo no plano fiscal-financeiro e jurisdicional). Esta reforma constitucional no tinha outro objectivo seno camuflar um controlo efectivo e apertado do princeps sobre todos os rgos polticos e as magistraturas. A tcnica poltica do primado atribudo ao princeps redundou num exerccio absoluto dos poderes. O instrumento desse domnio no plano pratico-material pelo princeps era o consilium principis, que filtrava as deliberaes a ratificar pelo primus inter pares, e que preparava as propostas de deliberao a apresentar pelo princeps a esses rgos, condicionando a liberdade de propositura dos seus membros e a liberdade de deliberao do colectivo. Os poderes separados de Roma perderam independncia; a liberdade de inicitica dos magistrados terminou; a possibilidade de optar entre vrias propostas acabou; a legislao tornou-se monoltica e a deciso judicial condicionada atravs da lei feita como expresso da vontade do princeps. Tinha acabado a res publica.Consideramos, assim, que a perspectiva da jurishistografia clssica de uma alterao revolucionria da constituio romana que permitiu a fundao de um novo regime poltico (o Principado) no a mais adequada. No houve qualquer ruptura nem no plano sociopoltico que implicasse uma alterao completa das normas que pautaram as relaes entre governantes e governados; nem na relao de Roma com as suas provncias e territrios conquistados; nem uma substituio das elites romanas; nem ma mudana na distribuio de riqueza ou dos cargos importantes; nem to pouco uma aproximao entre os vrios extractos socias de Roma.A frmula do primus inter pares, pensada para uma restaurao ps-Csar, da tradio politica romana foi o incio da corroso as instituies que sustentavam essa tradio: a escravatura comeou a ruir pelas bases que a justificavam; a presso militar nas fronteiras do imprio deu primazia poltica e social ordem dos cavaleiros sobre a ordem senatorial; a romanizao crescente dos conquistados apontava para a integrao das provncias no imprio; a estrutura poltica da civitas romana fundada nos mores maiorum substituda pela lex mundi da civitas maxima. A paz que Roma gozava dentro das suas fronteiras propiciou um desenvolvimento econmico que permitiu distender as tenses acumuladas com as reformas introduzidas. Outro factor de apaziguamento social foi o aumento do n de funcionrios, ou burocratas, ao servio do Estado. Mantendo-se a diviso entre a elite os honestiores (ordo equestes e ordo senatorius) e o resto da populao, os humiliores (livres, libertos e escravos) o ordenamento jurdico reflectia essas diferenas formas de punio. A revoluo podia ter surgido se Csar prosseguisse a monarquizao orientalizante do regime, abortada pelo seu assassinato. A guerra civil que se seguiu permitiu um jogo de alianas que preparou a reaco conservadora de Octvio no sentido de garantir a manuteno do poder pela aristocracia e supremacia de Roma no Mundo, sendo isto apenas possvel com um regime politico adaptado s caractersticas que o imprio ento tinhas e s vicissitudes de uma sociedade bem diferente daquela que determinou a constituio republicana e a supremacia dos mores maiorum, adaptados pelas magistraturas na regulao da vida colectiva e na organizao da comunidade politica. O prestgio militar e poltico de Octvio, a sua ligao familiar a Csar e a sua proximidade ao Senado permitiram uma funo de influncia e uma base de aceitao consensual sobre a conduo da poltica global de forma centralizada nas mos de um s chefe.Toda a histria do Principado marcada pelo acentuar das tendncias monrquicas e o enfraquecimento dos rgos da repblica, que se mantiveram como instituies polticas vazias, sem importncia politica e sem competncias substantivas. Uma das causas da debilidade republicana do Principado era o da sucesso ao princeps. Era necessrio institucionalizar o carisma em funo do cargo do princeps, fosse quem fosse a pessoa que desempenhasse o cargo ou a forma como exercia a funo. Assim, poderia haver sucesso (e no eleio), na chefia do Estado. Mas o carisma pessoal, base do poder exercido por Augusto, no podia ser institucionalizado; e a sucesso do poder politico, para haver um regime, exige a sua institucionalizao. Tal debilidade obrigara a acentuar a matriz ideolgico-pragmtica do regime poltico fundado por Augusto. Como o poder do princeps no assentava na constituio ou num conjunto de leis fundamentais que organizassem e disciplinassem o exerccio do poder politico, a sucesso do princeps no poderia ser fixada por uma lei superior. Com a dupla impossibilidade de recorrer aos sistemas monrquico (da sucesso hereditria) ou republicano (da eleio pelo Senado), a sucesso do princeps era cada vez mais resultado das suas prprias opes pessoais e da vontade dos detentores da fora, com possibilidade de impor uma soluo: os militares. As opes do Princeps em matria de sucesso foram favorveis ao princpio dinstico. Essa opo foi institucionalizando a co-regncia, fazendo da pessoa indicada para sucessor do princeps uma espcie de vice-princeps, para ir aprendendo a decidir e a organizar, junto do princeps em exerccio. Este sucessor, indicado pelo princeps, seu filho adoptivo, tornava-se o heres espiritual, comungando assim do carisma do pai. Assim, na falta de um princpio jurdico consensualmente aceite e normativamente fixado, a sucesso poltica do princeps tinha de ser deliberada pelo Senado e confirmada pelo Populus, atravs da outorga da tribunitias potestas e do imperium proconsulare ao filho adoptivo do priceps que cessara funes. Com a degradao do Senado e das caractersticas republicanas do regime a sucesso do princeps deixa de ser s marcada pela deliberao do Senado e confirmada pelo populus, para passar a ser determinante tambm, na valorizao simblica do acto da sucesso, a investidura pelo exrcito.A transio do ius para a lex O ius publice respondendi e o fim da iurisprudentiaNo incio do Principado a iurisprudentia enfrenta uma crise de objectivos: a actividade de criao de um ius novum, enunciando regras jurdicas por interpretatio das velhas regras do ius civile e do mores maiorum, estava globalmente cumprida; a catividade de integrao/inspirao do edictum do pretor estava tambm relativamente esgotada. Pedia-se agora aos jurisprudentes que aperfeioassem, organizassem e sistematizassem o conjunto de regras, princpios e modos de concretizao processual do ius Romanum.Com a mudana de regime politico, ao abrigo da funo de garantir a ordem interna e a paz externa o princeps vai assumindo progressivamente um poder cada vez mais intenso e extenso na forma como intervinha nas instituies republicanas que ainda sobreviviam. A execuo de todas as regras jurdicas dependia da vontade do princeps; assim como os mecanismos de equilbrio e de controlo da res publica que tinham sido entregues ao mesmo. A mudana institucional, no plano poltico, era consequncia lgica da prtica de governo. Por isso, o Principado caracteriza-se como um regime que se foi institucionalizando e sendo teorizado explicado a posteriori, como forma de legitimar o que ia sendo feito pelo princeps. Assim como fez passar com xito a ideia de que o sistema republicano no era o mais adequado para a manuteno do imprio e a expanso romana, tambm garantiu a aceitao pelos romanos de um controlo indirecto da iurisprudentia com a explicao de que a proliferao de jurisprudentes e a disperso de solues dadas no frum colocava em risco a segurana e o acerto das sentenas. Sob a capa de um respeito escrupuloso da independncia da iurisprudentia e de garantir a manuteno de uma das principais fontes de criao de ius, deixou intender que s intervinha pela necessidade de colocar em ordem a iurisprudentia e no sentido de a revalorizar e melhorar o seu funcionamento. Para isso, criou o ius publice respondendi, como uma concesso dada por ele a certos jurisprudentes, que servia como condio de acesso da soluo do jurisprudente sentena a proferir pelo juiz com utilidade para a parte que o consultava (ou seja, Augusto concedia a alguns juzes o direito de responder em publico s questes colocadas pelas partes como se fossem o prprio princeps). Uma vez institudo este processo, os jurisprudentes fariam tudo para agradar quele que tinha o poder de os colocar numa lista que dava s opinies expressas a fora de valerem como as opinies do prprio princeps (opinies dotadas de imperium que s passavam pelo ndex para respeitar uma praxe constitucional). Augusto ordenou que as respostas ou pareceres dos jurisprudentes com ius publice respondendi fossem enviadas para o iudex em tbuas fechadas e seladas, para n haver a possibilidade de deturpaes ou desvirtuamentos interpretativos. Ao tornar secreta a actividade do jurisprudente que conduz a deciso do iudex, o princeps garante a possibilidade de manipulao da sentena. Mas no era s o secretismo agora reinstaurado que correspondia a um retrocesso imenso na iurisprudentia romana, era tambm o regresso do monoplio efectivo da interpretatio jurdica por um conjunto limitado de membros da aristocracia senatorial.O labor annimo de jurisprudentes comentando leis, escrevendo monografias e obras jurdicas didcticas, auxiliando os juzes na procura da soluo justa que melhor resolvesse os casos, substitudo pelas compilaes de responsae e quaestiones, nos Digesta, por jurisprudentes poderosos dotados de um poder nico dado pelo ius publice respondendi. O poder criador dos grandes mestres jurisprudentes, desafiados com o ius horarium a responder s exigncias concretas de um imprio em expanso, no era compatvel com o poder poltico uniformizador e estabilizador exercido pelo chefe politico. O Direito, empobrecido pela constante interveno do princeps, a ruina das magistraturas e a debilitao dos jurisprudentes (que deixaram de ser livres e independentes), tende a ser cristalizado em Digesta e em compilaes de mximas ou em obras didcticas, assim como o edicto do pretor foi fechado em urna dourada no Edictum Perpetuum (Edicto de Adriano). Neste clima, considera-se direito (ius) apenas a vontade do princeps e em que a norma jurdica s pode ser expressa pela imposio do poder legislativo, as escolas jurdicas romanas e as suas divergncias devem ser explicadas sobretudo pelo diverso posicionamento politico e pela diferente matriz social dos jurisprudentes que as integraram.Seja como for, o ius publice respondendi no s atraiu os jurisprudentes para a rea politica e o crculo do poder, como tornou a iurisprudentia coisa oficial, isto , fiscalizada pelo poder politico e subordinada pela vontade do princeps. Na poltica de centralizao estadual do Principado a iurisprudentia era um instrumento essencial para a expresso das orientaes autocrticas do princeps de modo indirecto, atravs dos jurisprudentes.Os jurisprudentes do Principado

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1. Marco Antstio Labeo *p.2451. Caio Ateio Capito1. Masrio Sabino1. Marco Coceio Nerva, pai1. Caio Cssio Longino1. Semprnio Prculo1. Marco Coceio Nerva, filho1. Javoleno Prisco1. Tcio Aristo1. Nercio Prisco1. Juvncio Celso, filho1. Slvio Juliano * p.2561. Sesto Pompnio1. Sexto Ceclio Africano *p.2591. Gaio *p.2601. lpio Marcelo1. Quinto Cervdio Cvola *p.2631. Emlio Papiniano1. Cludio Trifonino1. Calstrato1. Jlio Paulo1. Domcio Ulpiano1. lio Marciano1. Hernio Modestino

A regra de ius civile transformada em lei geral e abstractaUma das alteraes mais dramticas, pelos efeitos que veio a ter na vida do Direito como instrumento da justia, foi a passagem das regras de ius para leis gerais e abstractas com tudo o que isso comporta de legitimidade das fontes; contedo de regras; mtodos de criao da norma jurdica; identificao entre o Direito e o conjunto de leis vigentes. Uma das traves mestras do xito do Direito-ius na sociedade romana foi a separao clara entre ius e lex a parir das fontes de legitimidade, dos titulares dos cargos e funes e dos efeitos produzidos por cada uma das formas (legal e jurdica). A repblica romana fixou um sistema de incompatibilidade e de impedimentos que tornava impossvel aos titulares de imperium criarem sozinhos ius e queles a quem era reconhecida auctoritas envolveram-se nos processos polticos que terminavam nas leges. Por isso, foi durante a repblica romana que se criaram com mecanismos normativos combinaes institucionais que permitiram manter separado o ius civile, assente nos mores maiorum e adaptado por jurispudentes com um saber fundado na experincia, socialmente reconhecido, e que viam aceites as solues por eles dadas aos conflitos intersubjectivos pela auctoritas e prestigio que tinham na comunidade. Esses mecanismos foram paulatinamente destrudas no processo de eroso das estruturas jurdico-polticas da repblica. Qualquer existncia de um ius que no fosse criado aprovado ou titulado pelo princeps, pressupunha a existncia de fontes criadoras de regras independentes, onde no estava o princeps. A possibilidade de uma norma de ius civile ser adaptada na formulao ou excepcionada para aplicar a um caso concreto, no poderia ser feito sem a interveno do princeps. O ius publicis respondendi respondia s criaes de ius pelos jurisprudentes, secando a fonte da sua legitimidade, a auctoritas. Ficava eliminada a temida independncia, face ao poder, dos que criavam ius, pelo reconhecimento da sua competncia na sua comunidade. O passado da iurisprudentia estava inscrito nas regras vigentes e permanecia como uma ameaa, sobretudo porque prene de futuro na imensa potencialidade das opiniones que gizaram e adaptaram as regulae iuris. Foi, por isso, necessrio iniciar o processo de transferncia da regra jurdica, formulada e adaptada pelos jurisprudentes, para a lei geral e abstracta, produzida pelos rgos polticosA canibalizao do ius pela lex no principado romano conta com um projecto escondido de extino do ius, e um trabalho bem feito de desertificao das suas fontes, de descrdito dos seus titulares (magistrados e jurisprudentes) e com um momento nico de consenso e de prestgio de um imperador que caminha para ser um Deus. Os novos desafios da realidade j no so resolvidos pelos jurisprudentes, em extino, mas pelos legisladores. As propostas de lei de Augusto apresentadas aos comcios comearam a tentar traduzir em terminologia legislativas as novas formas de adaptar as regras de ius a uma realidade exigente e cada vez mais necessitada. A passagem do poder legislativo dos comcios para o Senado tornou mais clebre o processo de transformao de ius em lex, j que as propostas do princeps ao Senado eram mais facilmente perceptveis pelos votantes, ate pela sua qualidade de antigos magistrados e pelo seu conhecimento do iux. Com a efectivao da natureza legal das prprias propostas de lei feitas pelo princeps ao Senado (orationes princips), o processo passa a ser conduzido pelo princeps, que assim tem um extenso patrimnio legislativo.A decadncia dos rgos constitucionaisA concentrao progressiva de poderes polticos nas mos do princeps e a propaganda imperial centrada na figura do chefe e no culto da sua personalidade provocaram um desgaste constante, mas inevitvel, dos Comcios e Senado. A dificuldade/demora em deliberar a exposio pblica dos titulares do contraditrio e a debilidade executria resultante da fragilidade institucional contriburam para uma identificao entre a colegialidade e a ineficcia/incompetncia. Os poderes autocrticos e despticos exploraram em discursos bem montados estas fraquezas e, agravando-as, apresentam a ditadura como a nica soluo, aceite pela maioria. A situao politica criada pelo Principado empurra os comcios e o Senado para um papel meramente formal.Os comciosAs 1s vtimas do modo de exerccio do poder pelo primus inter pares foram as Assembleias do Populus (comcios). As possibilidades da manipulao retorica das assembleias eram potenciadas por uma divinizao crescente do imperador (quase que eu actos de adorao ao princeps). Ao controlo efectivo dos comcios pelo princeps juntou-se uma progressiva falta de representao do populus atravs dos comcios. Grande parte dos cidados com direito de voto estavam ao servio de Roma fora da cidade, no podendo por isso exercer o direito de participar e votar nos comcios. O princeps controlava as propostas, manipulava as votaes e instrumentalizava as deliberaes. Assim, perda de representao poltica juntou-se a falta de qualidade dos participantes, o que tornou os comcios num rgo de fachada. A sua manuteno no principado servia, no entanto, os interesses do princeps. As competncias legislativas dos comcios foram transferidas para o senado por efeito de dois expedientes: a transposio da iniciativa das propostas ter passado para o princeps, e dos mecanismos de votao comicial serem meros expedientes formais de ratificao de senatusconsultos. Os comcios tm a partir da a competncia para votar as listas apresentadas pelo princeps ou pelo Senado, mas no podem nem propor por sua iniciativa nomes para a eleio dos magistrados, nem aprovar o proposto com alteraes introduzidos pelo Populus. Nos anos 17 e 18 a.C., Augusto incrementou a legislao aprovado pelos comcios. Afinal, tudo no passou de uma fugaz e formal poca de encantamento republicano, marcado pela propaganda imperial e pela retrica discursiva do princeps. Augusto recorre s votaes populares que domina, apresentando aos concilia plebis, no uso da sua tribuncia potestas, varias leis, quer no domnio do direito pblico, quer no plano do direito privado:1. A lex Iulia de collegis;1. A lex sumpturia, contra o excesso de luxo e as manifestaes exteriores de riqueza;1. As leges criminali de mbito, de adulteriis coercendis (em 18 a.C.); e de vi publica e privata;1. A lex Iulia indiciorum privatorum e a lex Iulia indiciorum publicorum, que regularam, respectivamente, o processo civil e penal.Augusto tambm seguiu como linha de aco legislativa: a apresentao, pelos cnsules, de propostas de lei aos comcios centuriais, entre eles:1. Manumisso de escravos (instituto jurdico que permitia ao dominus conceder a liberdade ao escravo) com o fim de regular, limitando a forma como muitos proprietrios de escravos, aproveitando a facilidade com que o podiam fazer, os libertavam;1. Casamento de forma a ampliar a disciplina normativa da lex Iulia de maritandis ordinibus.A decadncia poltica dos comcios, na sua vertente legislativa, deixava bem patente aquilo que Augusto queria esconder: o Principado era um regime monrquico mitigado e no u