14528-Reflexão-miolo.indd 1 27/11/18 19:57 · Ivan Vilela Preparação Rafaela Biff Cera Andressa Bezerra Correa Índice onomástico Luciano Marchiori Revisão Ana Maria Barbosa

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIOAdministração Regional no Estado de São Paulo

Presidente do Conselho RegionalAbram SzajmanDiretor RegionalDanilo Santos de Miranda

Conselho EditorialIvan GianniniJoel Naimayer PadulaLuiz Deoclécio Massaro GalinaSérgio José Battistelli

Edições Sesc São PauloGerente Marcos LepiscopoGerente adjunta Isabel M. M. AlexandreCoordenação editorial Francis Manzoni, Cristianne Lameirinha, Clívia RamiroProdução editorial Antonio Carlos VilelaCoordenação gráfica Katia VerissimoProdução gráfica Fabio PinottiCoordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel

Edições Sesc São PauloRua Cantagalo, 74 – 130/140 andar03319-000 – São Paulo SP BrasilTel. 55 11 [email protected]/edicoes /edicoessescsp


Reflexão como resistênciaHomenagem a Alfredo Bosi

Organização

Augusto MassiErwin Torralbo GimenezMarcus Vinicius MazzariMurilo Marcondes de Moura


Copyright © 2018 by Os autores

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

CapaAlceu Chiesorin Nunes

Foto de capaSem título (1966), óleo sobre tela de Tomie Ohtake, 135 x 90 cm. Reprodução do Arquivo Instituto Tomie Ohtake. Coleção particular.

Foto do autorLili Martins/ Folhapress

Partitura das pp. 18-20 e 293-5Ivan Vilela

PreparaçãoRafaela Biff CeraAndressa Bezerra Correa

Índice onomásticoLuciano Marchiori

RevisãoAna Maria BarbosaMarise Leal

[2018]Todos os direitos desta edi ção reservados àeditora schwarcz s.a.

Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32

04532-002 — São Paulo — sp

Telefone: (11) 3707-3500

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Reflexão como resistência : homenagem a Alfredo Bosi / organiza-ção Augusto Massi... [et al.]. — 1a ed. — São Paulo: Compa-nhia das Letras; Edições Sesc, 2018.

Outros organizadores : Erwin Torralbo Gimenez, Marcus Vi-nicius Mazzari, Murilo Marcondes de Moura.

Vários colaboradores.Bibliografia.isbn 978-85-359-3185-3 (Companhia das Letras)isbn 978-85-9493-156-6 (Edições Sesc)

1. Bosi, Alfredo, 1936- 2. Literatura brasileira – História e crítica i. Massi, Augusto. ii. Gimenez, Erwin Torralbo. iii. Mazzari, Marcus Vinicius. iv. Moura, Murilo Marcondes de.

18-21148 cdd-869.09

Índice para catálogo sistemático:

1. Literatura brasileira : História e crítica 869.09

Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – crb-8/7964


In memoriam de Ecléa Bosi



Sumário

História concisa de um livro — Os organizadores .............................................. 11

abertura

“Retrato”, de Ecléa Bosi .................................................................................. 17“Saudade do Cinema Paradiso”, de Ivan Vilela ............................................... 18“Pequena história da imprensa”, de Alberto Martins ..................................... 21

cartas na mesa

Otto Maria Carpeaux [31.12.1970] .................................................................... 25Otto Maria Carpeaux [5.7.1971] ........................................................................ 27Murilo Mendes [20.2.1971] ............................................................................... 28Sebastião Uchoa Leite [20.9.1977] .................................................................... 30Dyonélio Machado [7.12.1980] ......................................................................... 32João Antônio [10.7.1982] ................................................................................... 34Carlos Drummond de Andrade [24.11.1985] .................................................... 36Ferreira Gullar [12.5.1988] ................................................................................ 37Darcy Ribeiro [1992] ........................................................................................ 38Celso Furtado [1.3.1993] ................................................................................... 39


Raduan Nassar [25.2.1999] ............................................................................... 41Antonio Candido [10.11.1999] ........................................................................... 43Antonio Candido [8.9.2012] ............................................................................. 44

escritos revisitados [Alfredo Bosi]

“Introdução a Fogo morto” [1965] ...................................................................... 49“Camões e Jorge de Lima” [1978] .................................................................... 55

crítica de ouvido

“O conto brasileiro contemporâneo” [1975], Augusto Massi .......................... 67“O ser e o tempo da poesia” [1977], José Paulo Paes ....................................... 69“Céu, inferno: Ensaios de crítica literária e ideológica” [1988], Davi Arrigucci Jr. ............................................................................................. 70“Dialética da colonização” [1992], Antonio Callado ........................................ 72“Literatura e resistência” [2002], Ferreira Gullar ............................................ 74“Brás Cubas em três versões: Estudos machadianos” [2006], Marcus Vinicius Mazzari ................................................................................. 76“Ideologia e contraideologia: Temas e variações” [2010], Franklin Leopoldo e Silva ............................................................................... 78“Entre a literatura e a história” [2013], José Miguel Wisnik ............................. 80“Três leituras: Machado, Drummond e Carpeaux” [2017], Erwin Torralbo Gimenez ................................................................................ 82“Arte e conhecimento em Leonardo da Vinci” [2018], Lorenzo Mammì ........ 84

leituras em diálogo

“Os caminhos da leitura: Notas para saudar os oitenta anos de um crítico ilustre”, de Antonio Candido ............................................................... 89“Evocação e presença de Alfredo Bosi”, de Alcides Villaça ............................. 95“Alfredo Bosi, leitor de Antônio Vieira”, de André Luis Rodrigues ................ 103“Um fino legado à cultura: Crítica literária e psicanálise”, de Cleusa Rios P. Passos .................................................................................. 130“O capítulo 19 de São Bernardo: Fusão, transfusão, confusão”, de Erwin Torralbo Gimenez ........................................................................... 142“Prefácio a Dialética da colonização”, de Graça Capinha .................................. 152


“Uma genealogia dos escritos de Alfredo Bosi sobre a obra de Machado de Assis”, de Hélio de Seixas Guimarães ......................................... 160“O itinerário de duas teses e a compreensão da obra de Alfredo Bosi”, de João Carlos Felix de Lima ........................................................................... 172“Água de beber”, de José Miguel Wisnik ........................................................ 201“O pré-modernismo como conceito de história literária”, de Luís Bueno ..... 207“Machado de Assis em perspectiva comparada”, de Marcus Vinicius Mazzari ............................................................................ 218“Alfredo Bosi e a crítica fora do Brasil”, de Pedro Meira Monteiro ................ 231“Sob o signo de um poder maligno: Jacob Burckhardt e Alfredo Bosi”, de Robert Patrick Newcomb ........................................................................... 241“História concisa da literatura brasileira: Resistência e permanência”, de Roberto Acízelo de Souza .......................................................................... 257“As ideias viajantes”, de Sergio Paulo Rouanet ............................................... 265“Notas sobre Alfredo Bosi e a psicanálise”, de Yudith Rosenbaum ................ 271

depoimentos

“Primeiras luzes de um aprendiz”, de Fernando Paixão ................................. 283“Saudade do Cinema Paradiso”, depoimento e partitura musical de Ivan Vilela ................................................................................................... 291“O protagonismo de Alfredo Bosi na usp”, de Jacques Marcovitch ................ 296“Tempos árduos, intérprete luminoso”, de Marco Lucchesi .......................... 302“O testemunho de velhos militantes: Singela homenagem a Alfredo Bosi”, de Paulo de Salles Oliveira ............................................................................... 305“Alfredo Bosi: Meu depoimento”, de Pedro Garcez Ghirardi ......................... 311“Descaminhos da universidade pública? Um depoimento sobre a fflch/usp”, de Ulpiano T. Bezerra de Meneses .............................................. 315

ensaios de estima

“‘Ulisses’ de Chico Buarque: Uma reapropriação do mito”, de Adélia Bezerra de Meneses ......................................................................... 325“Os filhos de Machado de Assis”, de Antonio Carlos Secchin ........................ 345“Circuito nada redondo”, de Antonio Dimas ................................................. 357“A escada de Gonçalves de Magalhães: ‘Ensaio sobre a história da literatura do Brasil’”, de Cilaine Alves Cunha ............................................ 377


“As figuras do tempo, as figuras no tempo: Representação histórica e imaginação literária na cultura brasileira”, de Ettore Finazzi-Agrò ............ 396“Os rios que vão dar no mar: A Invenção de Orfeu e o épico moderno”, de Fábio de Souza Andrade ............................................................................. 405“Brasil: A dialética da dissimulação”, de Fábio Konder Comparato ............... 413“Martins Pena e a comédia farsesca de costumes: O Judas em Sábado de Aleluia”, de João Roberto Faria .................................................................... 432“A casa vazia”, de Mirella Márcia Longo ......................................................... 456“Em torno de um soneto de Petrarca”, de Murilo Marcondes de Moura ...... 469“Emily Dickinson, entre o símbolo e a alegoria”, de Viviana Bosi ................. 490

Notas ................................................................................................................ 503Bibliografia de Alfredo Bosi — João Carlos Felix de Lima .................................. 547Sobre os autores e organizadores .......................................................................... 565Índice onomástico .............................................................................................. 573


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História concisa de um livro

Um dos objetivos deste livro é retribuir, de maneira modesta, às mais varia-

das formas de aprendizado que nos têm proporcionado o diálogo constante e o

prolongado convívio com Alfredo Bosi.

Além dos organizadores, muitos colaboradores que participam desta home-

nagem tiveram o privilégio de assistir às aulas de Alfredo Bosi na graduação e na

pós-graduação, além de presenciar a progressiva maturação de alguns de seus

escritos fundamentais, como Dialética da colonização. E não foram poucas as ge-

rações de excelentes professores da Universidade de São Paulo que se deixaram

impregnar pela reflexão teórica do mestre. Para citar um bom exemplo, transcre-

vemos uma breve passagem do memorial de João Luiz Lafetá, no qual comenta

algumas disciplinas cursadas para o doutorado:

No segundo semestre de 1972, acompanhei as aulas do prof. Alfredo Bosi sobre a

poesia de Jorge de Lima [...]. Ainda que enfocando a poesia de Jorge de Lima, o

curso foi principalmente uma reflexão sobre as teorias da linguagem poética [...].

Registro aqui este curso porque acredito que ele foi extremamente importante

para a minha formação teórica, no que se relaciona à compreensão da linguagem

poética. Ao mesmo tempo que tomei conhecimento de vários autores e textos de


12

linha estruturalista, aprendi a criticá-los e a perceber suas limitações. [Homenagem

a João Luiz Lafetá. São Paulo: Nova Alexandria, 1999]

Essa preocupação com a diversidade dos modos de interpretação sinaliza para formas de generosidade e interlocução que Alfredo Bosi sempre buscou cultivar. A postura democrática adquire concretude na recorrente disposição pa-ra trabalhar e organizar obras coletivas como Leitura de poesia (São Paulo: Ática, 1996), criando vínculos e diálogos entre intérpretes do calibre de Alcides Villaça, Benedito Nunes, João Luiz Lafetá e José Miguel Wisnik com alguns críticos da geração mais jovem como Fábio de Souza Andrade, Murilo Marcondes de Mou-ra e Jorge Koshiyama.

Diante do atual momento político, marcado pela imensa intolerância para o debate cultural, como não recordar outros projetos estimulados por Alfredo Bosi, os quais já continham em sua proposta um amplo espaço para o debate que, longe de apagar as diferenças, assumia o desafio intelectual de apresentá-las com nitidez? Pense-se especialmente nos volumes dedicados a Machado de Assis e a Graciliano Ramos, da Coleção Escritores Brasileiros: Antologia & Estudos, publicados pela Ática na década de 1980.

Mas, no caso de Alfredo Bosi, nunca houve abandono ou mudança de pos-tura. Ao longo da década de 2000, quando alguns professores e críticos presentes neste volume haviam ingressado como docentes na Universidade de São Paulo, mesmo profundamente envolvido com a vice-direção [1987-97] e depois com a direção [1998-2001] do Instituto de Estudos Avançados, sem falar das atividades à frente da revista do instituto [1989-2015], Bosi encontrou tempo e disposição intelectual para reunir professores de diferentes áreas da universidade e criar um seminário voltado para leitura e discussão de clássicos da sociologia, da filosofia e da crítica literária.

Por outro lado, havia uma forte determinação de que este livro, na medida do possível, conjugasse e expandisse esse círculo de afetos à esfera da reflexão crítica. Um dos vetores desta homenagem era tentar revelar a contribuição, a pre-sença e a atualidade do pensamento de Alfredo Bosi na história cultural brasileira.

Por mais que os organizadores tenham se esforçado no sentido de oferecer uma visão panorâmica e abrangente da intervenção crítica de Alfredo Bosi, é vi-sível como a envergadura do seu projeto intelectual ainda espera novos interlo-cutores, dispostos a responder, por exemplo, às suas meditações teóricas em tor-no de Vico, Croce e Gramsci.


13

Se o retrato nos parece incompleto, é notável como esta primeira aproxima-ção crítica acrescenta traços novos à fisionomia do homenageado. A seção “Car-tas na mesa”, por exemplo, dá testemunho de como as intervenções do crítico militante — muitas vezes à sombra do historiador da literatura — arrancaram indagações e respostas vivas de seus contemporâneos. Alguns, enfim, puderam fechar a ferida da incompreensão.

Ao longo do livro, torna-se mais perceptível a fidelidade de Alfredo Bosi a determinados escritores, companheiros de jornada, escolhas éticas e estéticas de um leitor. Curiosamente, essa perspectiva adquire conformação a partir dos tex-tos dos colaboradores que vão compondo um horizonte de afinidades eletivas: padre Antônio Vieira, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de Lima... As leituras que mobilizaram a intuição do jovem crítico ainda luzem nítidas no céu estrelado do intérprete experiente. O que resiste dialeticamente se transmite, ir-radia, fulgura.

Outro aspecto que precisa ser sublinhado é a crescente recepção da crítica internacional de Dialética da colonização, traduzido para o francês [2000], espa-nhol [2005] e inglês [2015], também editado em Portugal [2014]. A dimensão in-telectual da obra de Alfredo Bosi começa a se afirmar num âmbito em que o lo-cal e o universal conversam.

Discutimos longamente sobre qual seria o título mais apropriado para o livro. Era difícil alcançar uma síntese. Todo o itinerário de Alfredo Bosi não é o de um homem de letras comum: sua perspectiva crítica guarda raríssima ampli-tude. Como dar a ver o enlace entre a vivência tão entranhada da poesia e o pendor para o pensamento filosófico? Como abarcar num título os traços mar-cantes do professor e do militante? Algum aspecto importante parecia escapar sempre. Como fazer justiça à complexidade do homenageado? O núcleo vivo da reflexão deve resistir às reduções. Para evitar o risco de uma celebração hegemô-nica ou homogênea, optou-se por introduzir um polo de negatividade no pró-prio título da homenagem: em Alfredo Bosi, a reflexão sempre adquire um sen-tido de resistência.

Os organizadores não podem deixar de registrar a dedicação, o empenho e a cumplicidade de Ecléa Bosi para que essa homenagem deixasse de ser um pro-jeto e se materializasse em um livro. Esperamos ter honrado a sua memória.


14

Toda nossa gratidão a Viviana Bosi, parceira em livros, conversas, crítica e poesia. E aos nossos colegas da área de literatura brasileira que, desde o início, abraçaram integralmente esta homenagem.

Por fim, um agradecimento especial a Lilia Moritz Schwarcz, Matinas Suzu-ki Jr. e Otávio Marques da Costa, que aderiram ao projeto sem qualquer tipo de restrição e com absoluta convicção intelectual. E o que dizer do gesto sóbrio e solidário de Danilo Miranda e Isabel Maria Macedo Alexandre que, por meio das Edições Sesc São Paulo, também abraçaram essa homenagem? A partir de agora, o livro estará em boa companhia e em diálogo permanente com outros tantos títulos de Alfredo Bosi.

Os organizadores


abertura



17

RetratoEcléa Bosi

A fronte clara é uma flor aberta, flor espiritual, flor de silêncio.

Os ombros se encurvam para sustentar a pesada cabeça. Mãos aéreas e precisas, dedos lapidados filtram a luz.

O rosto tem a força da fera que vai saltar; mas os olhos redondos e humilhados, represados por lentes, que altivo poder têm quando abaixadossob o peso das pálpebras severas!

O andar das aves fluviais em terra,o corpo oscila e vai, caule indeciso,que sustém uma estrela distraída.


Saudade do Cinema ParadisoIvan Vilela

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Saudade do Cinema ParadisoIvan Vilela

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Ed.: Zé GuerreiroPara Alfredo Bosi

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3Saudade do Cinema Paradiso

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Pequena história da imprensaAlberto Martins

Modestos maestros ambulantes— é como Konrad Haebler se refereaos primeiros impressores da Península Ibérica.Gente que veio de cidades da Alemanha,da França, de Flandres e também de Venezamontar as primeiras oficinas de impressão.

Traziam consigo a arte de fundir metal, preparar tintase construir prensas — naquela época, de madeira.Os mais ricos traziam consigo maços de letrerías— isto é, os próprios tipos, desenhados por elesou copiados de terceiros.

Alguns se estabeleceram e tornaram-se donosde prósperas casas. A maior parte, entretanto,não deixou nome nem marca de colofãoe hoje os historiadores têm um trabalho danadopara atribuir uma obra-prima a esteou àquele impressor.


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Em muitas outras coisas,eu diria, as obras mais belassaem de mãos desconhecidas.


cartas na mesa



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Otto Maria Carpeaux

rio de janeiro, 31 de dezembro de 1970

Querido amigo Bosi,

recebi hoje seu livro e mal lhe posso dizer da minha emoção. No fim de um ano que certamente não foi dos melhores das nossas vidas, essa grande alegria — não, a melhor das alegrias: testemunho de uma grande e preciosa amizade e a honra de ver o meu nome impresso na mesma página dedicada à sua senhora. São estas as raras coisas que recompensam pelo esforço de uma vida, tantas ve-zes frustrada mas da qual no fim se sabe que ela não foi totalmente em vão.

Não tive ainda, naturalmente, o tempo de ler sua obra. Li algumas páginas e já sei que se trata destas obras, poucas, que a gente não coloca numa estante qualquer, mas em cima da mesa de trabalho, para consulta permanente. Já tive oportunidade de observar a amplitude de sua documentação básica e a seguran-ça do julgamento. Você me perdoará!, querido Bosi, a vaidade de também ter li-do as páginas que você me dedicou comoveram-me muito, naturalmente; e ins-pirou-me a maior satisfação a frase final, tão bem redigida, sobre a passagem do pensamento à ação. Em cima da nossa boa amizade pessoal, é este movimento, do pensamento à ação, que nos une. E que assim seja.


26

Em meu nome e em nome da minha mulher, que espera muito conhecer vocês pessoalmente, também peço você transmita nossas recordações de amiza-de a Ecléa… e a esse respeito só posso dizer que você é digno dela. Um casal exemplar como conheci poucos na vida. Tanto maior a alegria de saber que vo-cês são meus amigos.

Todos os agradecimentos e todos os votos de felicidade para vocês. E se você tiver oportunidade de dizer o mesmo, da minha parte, ao amigo Boris Schnaiderman (do qual perdi o endereço) e ao amigo Antonio Candido (do qual não sei o endereço) e se for possível, aos amigos Florestan Fernandes e Octavio Ianni, eu terei a certeza de contar com a amizade da melhor gente em São Paulo e não estarei isolado. Vamos juntos!

Ecléa e Alfredo, o grande abraço fraternal do amigoOtto Maria Carpeaux

P.S.: Saio hoje, graças a Deus, de [ilegível]. Meu endereço, agora, é o indicado no envelope, em breves dias haverá outro endereço de trabalho.


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Otto Maria Carpeaux

rio, 5.7.71

Querido amigo Alfredo Bosi,

escrevo-lhe para agradecer muito sua esplêndida colaboração para o verbe-te Literatura brasileira. Depois da leitura do seu livro, dos melhores que existem sobre o assunto, minhas expectativas foram ainda superadas. Você é o homem certo.

Acabo de escrever, pelo mesmo correio, ao Antonio Candido, queixando--me do muito trabalho que me impede ir para São Paulo. Mas vou, em alguma data durante os próximos três meses. Vou agradecer pessoalmente a você. E vou rever meus preciosos amigos Ecléa e Alfredo Bosi. Os tempos são difíceis. A ami-zade é o único consolo. E nunca esqueço a comovente dedicatória que você co-locou naquele seu livro. Para isto, talvez só para isto, vale a pena trabalhar.

Muitas lembranças afetuosas a Ecléa e, para você, o grande abraço do seu amigo de sempre,

Otto Maria Carpeaux

P.S.: Sei que v. não vai esquecer a Literatura italiana!


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Murilo Mendes

roma, 20 de fevereiro de 1971

Meu caro Bosi,

gratíssimos a você — Saudade e eu — pela oferta da História concisa da lite-ratura brasileira. Finalmente! Um livro ótimo, claro, inteligente, dum autor aggiornato, que sabe onde tem o nariz. Em particular, para mim, professor além de escritor, seu manual constituirá um inestimável instrumento de trabalho. Fa-zia-me falta uma obra assim, de manejo prático: estudos concentrados num só volume. Você deu um salto, e agora já deve ser situado no primeiro plano dos nossos críticos e ensaístas. Sua visão dos problemas e dos autores é em geral se-rena e objetiva. Na parte que me toca, apreciei sobretudo sua opinião sobre Con-templação de Ouro Preto, livro que não despertou interesse, e que considero dos melhores que escrevi. Mas, achei muito bom todo o texto sobre este seu amigo. Na ficha há alguns lapsos, certamente do tipógrafo, inclusive a omissão do meu primeiro livro Poemas. Onde está escrito: “… ensinou Literatura Brasileira” (em Roma) leia-se: ensina (há catorze anos). E há uma semana, um grupo de alunos chamou-me “il professore dell’avvenire” (este ano estou dando, com grande êxito, Quincas Borba).


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Passei à mais que ilustre Luciana Stegagno Picchio (catedrática de Língua e Literatura Portuguesa, atualmente, na Universidade de Roma) o exemplar que veio para ela. Como você talvez saiba, Luciana está escrevendo a história da lite-ratura brasileira para a importante editora Sansoni. Já estava o trabalho muito adiantado, quando ela teve que o interromper, devido ao concurso para a cátedra e depois por doença. Estou certo de que seu livro lhe será muito útil.

* Rogo-lhe o favor de mandar seu endereço pessoal, pois quero remeter-lhe certos documentos e receio sempre endereçar a outrem que não o próprio. Dis-ponha dos meus préstimos aqui, inclusive se desejar indicações sobre livros, revis-tas etc. Aceite com Ecléa (trabalha nalguma obra pessoal?) afetuosos abraços e auguri de Saudade (que ainda não pôde nem folhear a História à qual me agarrei)

e deste seuMurilo

P.S.: Não trabalho na Embaixada nem nunca trabalhei: sempre na Universidade. Há vários anos atrás fui considerado adido cultural, mas só para efeito de eleva-ção de vencimentos; e durante algum tempo, só no papel.

Murilo


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