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Momentos Íntimos nº 162 África da sedução Passage to Zaphir Anna James Sam e Caroline unidos pelo desejo e o medo! Num safári nas selvas africanas, Caroline e Sam Matlock descobrem a verdadeira face da antipatia que sentem um pelo outro desde o momento que se conheceram: desejo, um desejo irrefreável! E se entregam com paixão, e se entregam com uma sensualidade que nem um dos dois pensara ser capaz de sentir. Mas o perigo os espreita, podem ser mortos a qualquer momento. E mesmo que consigam safar-se da morte iminente, o relacionamento entre eles está fadado a terminar: Caroline tem de voltar à Nova York, onde é uma atriz de imenso sucesso. Disponibilização: Ana Cris/Nelma Digitalização: Ana Cris

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Momentos Íntimos nº 162

África da seduçãoPassage to Zaphir

Anna James

Sam e Caroline unidos pelo desejo e o medo!

Num safári nas selvas africanas, Caroline e Sam Matlock descobrem a verdadeira face da antipatia que sentem um pelo outro desde o

momento que se conheceram: desejo, um desejo irrefreável!E se entregam com paixão, e se entregam com uma sensualidade que

nem um dos dois pensara ser capaz de sentir.Mas o perigo os espreita, podem ser mortos a qualquer momento. E mesmo que consigam safar-se da morte iminente, o relacionamento

entre eles está fadado a terminar: Caroline tem de voltar à Nova York, onde é uma atriz de imenso sucesso.

Disponibilização: Ana Cris/NelmaDigitalização: Ana CrisRevisão: Edna Fiquer

PASSAGE TO ZAPHIR© 1987 Madeline Porter e Shannon Harper

Originalmente publicado pela Silhouette Books,Divisão da Harlequin Enterprises Limited.

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África da Sedução© 1988 - para a língua portuguesaEDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.

Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá.

Silhouette, Silhouette Intimate Moments e o colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V.

Tradução: Maria Fernanda Bittencourt NabucoEDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Av. Brigadeiro Faria Lima, 2000 — 3º andar — CEP 01452 — São Paulo — SP — Brasil

Caixa Postal 2372Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda. e impressa na Artes Gráficas

Guaru S.A.

CAPÍTULO I

Caroline Chapman desceu as escadas do imponente hotel King George alcançando o suntuoso hall de mármore branco. O vestido chemisier que usava, e que comprara em uma loja muito famosa, era perfeito para o clima quente e abafado da África.

Aliás, escolher roupas para viagens sempre fora um de seus fortes, pois desde pequena costumava acompanhar o pai em suas aventuras pelo mundo todo. Pena que aqueles bons tempos já tivessem acabado há muito. Caroline hoje tinha vinte e oito anos e fizera a última viagem com o pai para conhecer as pirâmides do Egito, quando ainda tinha dezesseis.

Esta seria a última de suas aventuras e, talvez, a mais importante. A morte do pai a trouxera ao novo Estado de Salindi, recentemente independente e um dos mais novos do continente africano.

A capital, também de nome Salindi, surpreendeu-a desde sua chegada. A cidade sempre fora um importante centro comercial, mas agora havia se transformado numa verdadeira metrópole, muito moderna, para onde se dirigiam investidores do mundo inteiro. Um exemplo vivo deste progresso via-se ali mesmo no hall do hotel onde, misturados aos hóspedes estrangeiros, circulavam diversos mongóis, tidos como excelentes empresários e gigantes do ramo industrial.

Curiosa, Caroline deteve-se um instante deliciando-se com a euforia do saguão, onde se ouviam todos os idiomas e também

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muitos dialetos africanos. Era excitante ficar observando os tipos exóticos que por ali passavam, às vezes com seus trajes típicos.

Durante todos estes anos sentira muita falta de viajar ao exterior e, mesmo sabendo que esta não seria a mais feliz de suas viagens, tinha certeza que seria bem-sucedida.

Ajeitando a alça da bolsa a tiracolo, afastou uma mecha dos longos cabelos loiros que insistia em lhe cair sobre os olhos e encaminhou-se para a recepção.

O amplo saguão era todo decorado com plantas tropicais, que lhe emprestavam uma atmosfera repousante e fresca. O toque de requinte e elegância, no entanto, ficava por conta dos móveis coloniais ingleses.

No teto, em contraste com o burburinho de hóspedes, os enormes ventiladores com hélices de madeira giravam vagarosamente. O hotel era dotado de ar condicionado central e os ventiladores ali tinham apenas efeito decorativo. Olhando-os, Caroline lembrou-se das antigas viagens às partes mais exóticas do mundo e concluiu que fizera bem em ter vindo.

Depois de deixar as chaves no balcão, caminhou confiante para o restaurante anexo para encontrar o melhor guia da cidade. Desde que chegara, só ouvira falar nele. O próprio gerente do King George o sugerira, dizendo que o encontraria almoçando todos os dias no restaurante do hotel.

Ainda era cedo, o relógio nem marcara meio-dia, mas ela não se importava em esperar.

Sorrindo confiante, dirigiu-se ao barman, que já a observava; logo imaginou que deviam ser raras as mulheres que entravam sozinhas ali.

— Estou à espera de Sam Matlock — disse Caroline. — Sei que ainda é cedo para o almoço, mas...

— Sam está logo ali — respondeu o barman apontando para o restaurante.

Sempre confiante, Caroline olhou na direção indicada e, assim que seus olhos se acostumaram à iluminação difusa do restaurante, conseguiu enxergá-lo. Sam era bem diferente do que ela imaginara.

Os guias que seu pai costumava contratar em suas viagens à África eram todos já de meia-idade, alguns até tinham cabelos grisalhos. Caroline lembrou-se da fisionomia de vários deles, com seus bigodes imensos, o rosto envelhecido pela ação inclemente do sol e dos ventos.

— Naquela mesa de canto — acrescentou o barman.— Sim, já o vi. Obrigada.Ao caminhar em direção à mesa concluiu que Sam mais se

parecia com a versão cinematográfica do caçador branco, colonizador, tão explorada pelo cinema na década de cinqüenta, e isto a decepcionou um pouco.

Mesmo estando sentado, via-se que era um homem bastante alto e forte, de pernas longas e ombros largos. Aproximando-se, notou que seus cabelos castanhos eram entremeados por fios bem

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dourados; o rosto fino, de traços retos e devia ter por volta dos trinta e cinco anos.

Aprumando os ombros, Caroline parou junto à mesa:— Você é Sam Matlock?Ao ouvi-la, ele olhou para cima. Só então Caroline notou-lhe os

belos olhos verdes realçados por cílios fartos e espessos. Em seu olhar havia um brilho desconfiado mas, também, uma pontinha de curiosidade.

— Sim, sou.Sam não se levantou, tampouco convidou-a a sentar-se. A roupa

que Caroline escolhera com tanto esmero parecia não ter-lhe causado nenhuma boa impressão. O vestido, num tom de azul, realçava-lhe os olhos da mesma cor. Até o barman havia lhe lançado um olhar de admiração. Mas, Sam nem pareceu notá-lo e Caroline estava habituada a ser notada.

— Sou Caroline Chapman — disse, optando pelo nome artístico.— Em que posso servi-la, Srta. Chapman? — ele continuou

impassivo.— Por que não me convida para sentar?Sam sorriu de modo gentil e fez uma breve menção de levantar-

se sem, no entanto, chegar a erguer-se da cadeira. Era seu primeiro gesto de polidez.

— Por favor — disse ele, indicando-lhe a cadeira do lado oposto da mesa.

Antes que Sam mudasse de idéia, Caroline logo sentou-se. Não ia ser nada fácil convencê-lo.

— Posso lhe oferecer um drinque? Caroline recusou balançando a cabeça.— Pois eu vou tomar um licor — ele afirmou, pondo de lado o

prato onde havia comido. Um dos garçons veio logo removê-lo... — O licor daqui é excelente, provavelmente o melhor do país. É o complemento ideal para uma refeição preparada pelo melhor chef de cuisine que conheço. Caso não saiba, costumo comer aqui no King George diariamente.

— Sim, eu sei — respondeu Caroline sem titubear. Ao que Sam ergueu uma sobrancelha:— Quer dizer que você vem seguindo minha pista. Por que não

me acompanha num drinque?Ela acabou por concordar. Ao sinal de Sam, um dos garçons foi

ao bar e retornou com dois cálices de um licor cor de âmbar. Erguendo o seu, Sam esvaziou-o num só gole e sorriu satisfeito:

— O que a trouxe a Salindi? — quis saber. — Imagino que não tenha sido o licor nem a cozinha do King George.

— Não, não foi. Quero ir a um safári.— E por isso veio me procurar?Caroline concordou e tomou o primeiro gole do licor, que era

mesmo excelente.— Há diversas companhias de turismo muito boas em Salindi —

ele afirmou.Momentos Íntimos nº 162 4

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— Mas a Safari Unlimited é a melhor — ela declarou num tom categórico.

— Tem razão, somos muito bons — concordou Sam. E, depois de uma pausa, concluiu. — Mas muito caros, também.

— Dinheiro não é problema.Mais uma vez ele ergueu as sobrancelhas e Caroline detectou-lhe

um sorriso irônico no canto dos lábios, onde fixou seu olhar por alguns instantes.

— Não sei onde obteve estas informações mas já devem ter lhe dito que não tenho interesse nenhum em levar grupos de turistas americanos à selva para matar os animais por esporte. Acho este tipo de coisa detestável.

— Eu também. Sam aprovou sua resposta e prosseguiu:— Quantas pessoas há no seu grupo?— Só uma.Desta vez ele sorriu de modo mais aberto, formando pequenas

rugas nos cantos da boca. Caroline tornou a observá-lo com atenção e declarou:

— Quero ir às montanhas Batari.— Eu não levo turistas para lá. — Resoluto, Sam afastou o cálice

de sua frente e o apoiou com força à sua direita, como se quisesse por um fim à conversa.

Temendo que ele se fosse, Caroline explicou:— Sei que você vai para lá. — E, como ele não respondesse,

prosseguiu: — Eu sei de tudo; você parte para as montanhas daqui a um ou dois dias. Quero fazer parte de sua expedição.

Estirando as pernas para frente, Sam recostou-se na cadeira e cruzou os braços sobre o peito. A camisa de mangas curtas deixava à mostra os braços musculosos e bronzeados do sol cobertos por pelinhos dourados.

— Eu quero ir a Batari — tornou a repetir.— Sim, eu sei, você acabou de me contar. Mas, como eu já lhe

disse, não costumo levar turistas para lá.A voz dela adquiriu um tom ainda mais sério e decisivo.— Mas, mesmo assim você vai para lá!— Sim vou. Mas será para tratar de interesses meus. — Então,

Sam olhou pela janela e acrescentou: — Eu e meu sócio pretendemos abrir aquela região aos turistas mas por enquanto é muito perigoso.

— Para uma mulher? — ela indagou erguendo o queixo em desafio.

Uma mecha de cabelos cobriu-lhe os olhos e Caroline, irritada, jogou-a para trás.

— É perigoso para as mulheres e... para a maioria dos homens — ele explicou. — A civilização aqui em Salindi só alcança uns vinte e cinco quilômetros além dos limites da cidade, Srta...

— Chapman.— Srta. Chapman. — Ele, então, sorriu e pela primeira vez

pareceu notá-la. Seu olhar, no entanto, permaneceu indecifrável. —

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Tenho uns amigos que estão organizando um safári fotográfico à savana e creio que pretendem partir amanhã. Estou certo de que ficarão satisfeitos em levá-la e...

— Sr. Matlock — ela interrompeu, irritada.— Me chame de Sam. — Não quero ir à savana; quero ir às montanhas Batari e preciso

do melhor guia da região. Se ouvir meus motivos, talvez mude de opinião.

— A África é cheia de histórias, srta. Chapman.— Pode me chamar de Caroline.— Está bem. Eu adoraria ouvir a sua mas não hoje. Um outro dia,

quem sabe.Dito isto, fez um sinal para o garçom.Caroline, indignada com tanta arrogância, adiantou-se:— A história não é minha; é de meu pai. — E, antes que ele a

interrompesse, prosseguiu: — Sou filha de Carl Logan, que morreu nas montanhas Batari. Quero ir até lá e achar o local onde ele foi enterrado.

— Logan era seu pai? — Sam indagou vagarosamente, e enquanto ela afirmava que sim, chamou o garçom: — Dois cafés, por favor. — Pelo visto, estava interessado em ouvi-la. — Chapman é seu sobrenome de casada?

— Não, é o sobrenome de solteira de minha mãe, que eu uso profissionalmente. Meu pai e eu estávamos... — A sentença pairou inacabada no ar por um instante e, então, ela prosseguiu: — Nós costumávamos viajar juntos pelo mundo vários anos atrás. Quando ele me escreveu pedindo para que viesse encontrá-lo aqui na África para viajarmos novamente, eu estava fazendo uma série e não pude deixar Nova York.

— Uma série?— Sim, de televisão — ela esclareceu. — Sou atriz.— Ah, atriz... — comentou Sam nem um pouco impressionado.Sem perder tempo, Caroline continuou:— Eu estava tentando conseguir uma licença para vir juntar-me a

ele aqui na África quando recebi a carta do primeiro-ministro me informando sobre sua morte.

Ao lembrar-se, Caroline ficou com os olhos rasos d'água. A carta informava apenas que Carl Logan explorava uma área muito remota das montanhas Batari quando foi morto por um tiro. Por ser muito longe de Salindi, a capital, o corpo foi enterrado no próprio local.

Sua opinião era a de que ninguém tentara de fato descobrir a verdade sobre a morte do pai e por isso resolvera vir pessoalmente à África. Havia certos detalhes e dados que ela precisava esclarecer.

Sam, vendo muita tristeza estampada no rosto de Caroline, baixou o olhar. Sempre considerara Carl Logan meio maluco, cheio de idéias incríveis sobre uma cidade perdida em algum ponto das montanhas Batari. Não ficara nada surpreso ao saber que Carl havia partido numa expedição em busca da tal cidade perdida; tampouco se surpreendera ao saber de sua morte.Momentos Íntimos nº 162 6

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Ninguém melhor do que Sam sabia dos perigos daquela região. Carl Logan era professor, explorador, autor de diversos livros, mas não estava preparado para ir até as montanhas Batari. Aliás, poucos estavam e neste pequeno grupo certamente não se encontrava Caroline.

Ela era uma moça muito bonita, ele teve que admitir a si mesmo. Bonita e mimada. Só de olhar, já sabia. e, pelo visto, herdara toda a determinação do pai.

Bem, ele se recusara a levar Carl Logan às montanhas e de maneira alguma levaria Caroline até lá. Logan resolvera ir por conta própria, com outro grupo e Sam esperava que ela não tentasse fazer o mesmo. E, mesmo que fizesse, o problema não era seu. A única coisa a fazer era alertá-la, do mesmo modo como fizera com Carl.

— Sinto muito pela morte de seu pai, Caroline, mas sua ida às montanhas não vai resolver nada.

— Quero ir ver o túmulo dele e me despedir.— Bem, eu mal a conheço e não tenho o direito de lhe dizer isto,

mas não acha que está sendo um tanto melodramática? — Sam olhou-a de modo cético.

Caroline tornou a levantar o queixo num gesto que ele já havia notado várias vezes durante o tempo em que conversavam. Era uma atitude de desafio, mas muito atraente. Ainda mais quando acompanhada daquele intenso brilho dos olhos.

— Minha reação é típica de uma filha e não de uma atriz.Sam fixou o olhar em seu rosto delicado e, então, desceu-o

vagarosamente até que a mesa o impedisse de continuar a observá-la. No entanto, ao vê-la entrar no restaurante, havia reparado em suas pernas longas e bem-torneadas.

— E tem mais, Sam. Quero aprender o máximo possível sobre as montanhas e descobrir por que meu pai foi assassinado.

— Como pode afirmar que foi assassinato? — Ele inclinou ligeiramente a cabeça e lançou-lhe um olhar penetrante.

— Você não concorda comigo?— Não me envolvo neste tipo de assunto.Sua resposta soou muito fria aos ouvidos de Caroline, que não

acreditou em suas palavras.— Suponha que estivesse em meu lugar e seu pai tivesse sido

morto, o que faria? — indagou, esperando conquistar-lhe a compreensão e a solidariedade.

— Este tipo de coisa acontece e às vezes é melhor não se questionar.

— Pois eu questionei — ela afirmou em tom de desafio — e não obtive nenhuma explicação. O secretário do primeiro-ministro Mulumba me disse que o governo não iria investigar. O "acidente" aconteceu numa região ainda não explorada e meu pai foi encontrado pelos carregadores que o acompanhavam e que nada viram. Ele me garante que são todos muito honestos.

— Tenho certeza que sim — concordou Sam.— O único modo de descobrir o que de fato aconteceu é fazer

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pessoalmente a mesma viagem de meu pai e...— Morrer também? — ele completou.— Sei que você vai para lá — Caroline insistiu.— Mas sou um profissional. Seu pai não era, muito menos você.

A África é um lugar muito perigoso.— Isto é um aviso?— Não, apenas um comentário sobre como é a vida no

continente negro. — Então, pensativo, debruçou-se sobre a mesa apoiado nos cotovelos — Ouça: conheci seu pai e sinto muito pelo que houve com ele. Muitas pessoas zombavam de sua teoria sobre a cidade perdida mas ele era um homem bom, inofensivo. Mesmo que tivesse encontrado a cidade de Zaphir, a descoberta só teria importância para outros arqueólogos. Portanto, não havia motivos para que fosse assassinado. Pelo menos não que nós saibamos. A única coisa que temos certeza é que as montanhas Batari são um lugar muito perigoso e seu pai sabia disso.

As lágrimas que molhavam o olhar de Caroline não passaram despercebidas a Sam, que logo julgou-as tão superficiais como as que via nos filmes de televisão. Se fosse esse o caso, a garota era uma atriz e tanto.

Mas, verdadeiras ou falsas, as lágrimas não tiveram o poder de influenciá-lo.

— Temo não poder ajudá-la — declarou categórico. — Sinto muito.

— Não, não sente — ela revidou ao apanhar a bolsa e levantar da cadeira. — Obrigada pelo drinque mas sei que não sente nem um pouco não poder me ajudar.

E, com isto, deu-lhe as costas e saiu do restaurante.Sam observou-a sair furiosa. Uma ponta de remorso doeu-lhe no

peito mas tratou logo de afastá-la. Caroline era uma garota linda, decidida, independente; enfim, irresistível. O melhor seria não se envolver.

O que ele menos queria era uma mulher para atrapalhar-lhe a vida. As que vinham a Salindi só para um safári de quinze dias não lhe traziam problemas.

Gostava de sua vidinha calma, tranqüila, trabalhando como guia da Safari Unlimited, que fundara com seu sócio, Eric Carson, há seis anos.

Aquele era o lugar ideal para ele: as amizades eram boas e não lhe exigiam demais, a comida excelente, o tempo costumava ser suportável fora de casa e muito agradável dentro da imensa casa que construíra para si, com ar condicionado central e as mulheres sempre estavam de passagem. Perfeito.

Seu passado e o antigo estilo de vida que levava ficaram sete anos para trás e a cada dia as lembranças daqueles tempos tornavam-se mais difusas em sua memória. Esta era uma vida nova, que pretendia conservar, e onde não havia lugar para uma mulher como Caroline Chapman, voluntariosa e cheia de caprichos. Seria fácil apaixonar-se por ela, portanto o melhor era afastar-se.Momentos Íntimos nº 162 8

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Sam terminou o café, pagou a conta e apanhou o chapéu panamá. Colocando-o no alto da cabeça, cruzou o restaurante a passos largos quando o voz do barman o deteve:

— O que você fez com a garota, Sam? Ela é uma beleza.Ainda era cedo e Sam parou ao lado de um dos banquinhos do

bar, praticamente vazio àquela hora:— Fiz o que devia ter feito, Yves.O barman limpou o balcão com um pano úmido. Baixo e de meia-

idade,Yves falava inglês com um sotaque que tanto podia ser belga como francês. Talvez até suíço. Sam nunca lhe perguntou nada sobre seu passado e ele, por sua vez, nunca tocara no assunto. Isso sempre acontecia entre os estrangeiros de Salindi. Uma coisa era certa: a vida de Yves devia ter sido muito difícil pois lhe deixara rugas profundas no rosto.

— Como pode deixar aquela belezinha escapar? — indagou, continuando a polir o balcão de mogno. — Eu esperava vê-los juntos aqui para jantar.

Por um momento, Sam pensou no que ouvira. Teria sido fantástico convidá-la para jantar no King George e depois levá-la consigo para a mansão. Curioso, imaginou como seria tê-la em sua cama a noite toda. Aquele vestido na certa escondia um corpo escultural.

Mas, durante um jantar ela tornaria a falar-lhe a respeito do safári às montanhas e Sam se recusava a levar qualquer um até lá. Havia, ainda, mais uma razão, a qual alegou para Yves:

— Ela é complicada demais para mim.— Já sei, é do tipo que envolve.— Isso mesmo — respondeu e, com um aceno, despediu-se.

Parada de pé no meio do quarto, Caroline ainda sentia as faces arderem-lhe. Jamais poderia imaginar que Sam Matlock fosse se negar a levá-la e menos ainda que fosse tratá-la com zombaria e desdém. Nem por um minuto ele a levara a sério.

Mas Caroline encarava seu desejo com seriedade e mostraria isso a ele ao contratar um outro guia.

Caminhando até a janela, abriu as pesadas cortinas de juta e olhou para a rua. Sam Matlock não era o único guia da cidade; Salindi estava cheia de companhias de turismo que faziam safáris. Antes do anoitecer encontraria um outro guia. Só que, para tanto, teria que esperar até o final da sesta, quando as lojas fechavam e as ruas ficavam vazias.

Agitada, sabia que não conseguiria cochilar, mas, ainda assim, resolveu deitar-se um pouco até que a cidade voltasse a funcionar. Tirando o vestido, deitou-se na imensa cama de casal cuja cabeceira de vime fora pintada de azul turquesa, para combinar com o resto da decoração. As almofadas, cobertas com um tecido azul estampado de verde, davam um toque todo especial ao quarto. Tudo ali a fazia lembrar-se dos velhos tempos em que acompanhava seu pai em suas escavações pelo Egito, Turquia, Grécia e norte da África.

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Naquela época, os dois eram excelentes companheiros e seu pai, um homem bom, visionário e sonhador, esperava que ela seguisse-lhe os passos.

Mas sua mãe alimentava outras esperanças com relação ao futuro de Caroline, e isto fora motivo para muita discussão entre os dois. Lilly Chapman se dedicara à luta pela emancipação das mulheres, desde os tempos em que nem se ouvia falar em feminismo. Também lutava pelos direitos das minorias e, toda vez que um grupo oprimido a convidava, ela partia para defendê-lo. O pai era igualmente dedicado às suas crenças só que de modo mais contido.

Ambos acreditavam que a filha única do casal haveria de ser uma pessoa especial e não cansavam de aumentar esperanças com relação a ela.

No entanto, o que conseguiram? Uma filha que aos dezoito anos, revoltada, saiu de casa e foi sozinha para Nova York, onde assinou contrato com uma agência de modelos. Nenhum dos dois se conformou com o fato de a própria filha estar ganhando a vida apenas com a beleza física, sem utilizar a inteligência. Embora formassem um belo casal, os pais de Caroline jamais se preocuparam com a beleza física. Para eles o importante era o espírito de uma pessoa, suas crenças e esperanças.

Fechando os olhos, pensou em como sua vida fugira completamente às expectativas de seus pais e às dela. Nada havia sido planejado, simplesmente acontecia.

Depois de trabalhar como modelo, começara a se interessar pelo palco e acabou trocando as páginas das revistas por comerciais de televisão e pequenas pontas em algumas novelas. O papel que a destacou foi numa série chamada Tomorrow's Children. A princípio insignificante, o papel foi adquirindo importância e terminou se transformando num dos principais da série.

Seus pais discutiram muito por causa disso, mas por fim Lilly acabou aceitando ver que a filha fazia o que gostava. Afinal, defendia a liberdade de escolha de todo mundo. Carl Logan, ao contrário, nunca se conformou e o relacionamento entre eles, que era tão bom, acabou se deteriorando. Então, um dia, recebeu uma carta dele convidando-a para ir à África em mais uma aventura.

Agora, no entanto, estava tudo acabado. O segredo dele havia ido para o túmulo, mas Caroline não ia permitir que tudo acabasse assim, sem explicação.

Finalmente os ruídos da rua cresceram e Caroline notou que a sesta havia terminado. Levantando-se depressa, pôs o mesmo vestido e saiu à procura de alguém que a acompanhasse às montanhas.

A tarde estava abafada, o que a levava a imaginar como era possível que os africanos usassem aqueles trajes típicos longos, cheios de tecido e cores escuras.

Mas o povo de Salindi parecia nem se importar com o calor, bem como os turistas nas ruas. Procurando fazer o mesmo, foi caminhando tendo nas mãos a lista de companhias que o gerente do hotel lhe havia feito. Ele, porém, avisara que nenhuma se comparava à Safari Momentos Íntimos nº 162 10

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Unlimited. Mas, isto agora não importava mais.Entretanto, Caroline logo descobriria que sua tarefa não seria tão

simples. As duas primeiras companhias não quiseram sequer ouvir suas razões. Em uma terceira, ela conseguiu pelo menos contar-lhes a história de seu pai — o que não foi uma boa idéia:

— Ah, o Dr. Logan... — dissera ele de trás do balcão.A voz do homem se mostrara amável, mas a expressão de seu

olhar havia deixado claro que não acreditava muito na sanidade mental de Carl Logan. Logo Caroline concluiu que ninguém estava disposto a levá-la a lugar nenhum.

Mas, mesmo sem mencionar o nome do pai, a resposta que obtinha era sempre a mesma: ninguém vai às montanhas Batari, exceto Sam Matlock.

Cansada, suada e desanimada, ela subiu uma escada estreita que conduzia à sobreloja, onde ficavam os escritórios da Tour África, Inc. O nome não estava na lista, mas ela vira a placa da calçada. Mais modesta que as demais agências, depositara ali sua última esperança e, para sua surpresa, encontrou um ouvinte atento.

Porém, só depois de um contrato ter sido esboçado foi que Caroline percebeu que o dono da agência não tinha planos apenas de levá-la às montanhas, ele sentara-se na cadeira giratória e, roçando os joelhos nos dela de maneira nada acidental, estendera-lhe uma caneta para que assinasse o contrato.

Furiosa e revoltada, Caroline correra escada abaixo. Era revoltante. Tudo o que queria era cumprir a promessa que fizera a si mesma de ir visitar o túmulo do pai. Sam se recusara a levá-la por pura teimosia, outros alegavam que a região era perigosa. A única saída seria tentar fazer com que Sam mudasse de idéia.

A resolução foi confirmada pelo jovem rapaz africano que lhe trouxe o jantar no quarto aquela noite. Ao servir-lhe o vinho, perguntou:

— A senhorita veio à África para um safári?— Pelo menos era o que eu desejava. Quero ir às montanhas

Batari.— Quase ninguém vai lá — ele afirmou, pronunciando cada

palavra com perfeito sotaque britânico. — É muito perigoso.— Bem, quero ir de qualquer forma, mas preciso de um guia.— Sam Matlock — sugeriu o rapaz sorrindo. — Ele é o melhor e

janta quase todo dia aqui no hotel. Meu irmão Abdullah trabalha para Sam Matlock.

— Eu gostaria que seu irmão pudesse convencê-lo a me levar — brincou Caroline.

— Ninguém convence Sam Matlock a nada.

Naquela noite, às nove horas, um homem forte e corpulento ocupou o banquinho ao lado do de Sam no bar do hotel. Depois de alisar bem o bigode farto e grisalho, pediu uma cerveja alemã e voltou-se para Sam com um sorriso nos lábios:

— Yves me disse que o viu almoçando com uma loira linda hoje.

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— Não é bem assim; ela sentou na minha mesa enquanto eu almoçava, Eric. Não acredite em Yves.

— Você é mesmo um sujeito de sorte. — Eric tomou um gole de cerveja. — Nenhuma loira vem sentar na minha mesa. Quem era ela?

— A filha de Carl Logan.— Quer dizer que o bom homem tinha uma filha?— Sim, ela é atriz.— Parece que você não aprova o fato de ela ser atriz.— Para mim ela só está representando um papel digno de uma

tragédia grega: a filha em busca do pai desaparecido. Não sei... Há algo em Caroline Chapman que não me inspira confiança.

— Chapman?— Sim, é o seu nome artístico.— Ah, é isto mesmo — comentou Eric estalando os dedos.— Mais uma cerveja? — perguntou Yves.— Não, não, estava só me lembrando de algo. — E, voltando-se

para Sam: — Logan era casado com aquela feminista, Lilly Chapman. Puxa, que casal... Imagino como não será a filha deles. Deve ser inteligentíssima.

— Um pouco superficial, eu acho. Frívola — mentiu Sam.— Ora, não acredito. Não me venha com essa, Sam. Aposto como

ela também é impetuosa, difícil de ser dominada.— Acho que também vou tomar uma cerveja — disse Sam ao

barman. Depois, voltou-se para Eric: — Não estou planejando dominá-la. Caroline quer ir às montanhas Batari visitar o túmulo do pai.

— E quer que você a leve. Se não levar, eu levo — comentou Yves ao abrir a cerveja.

— É bem provável que tenha uma chance, meu chapa. Ninguém por aqui está disposta a levá-la. — E, quando Yves se afastou, Sam acrescentou: — Ela já sabia que vou para lá. Acho que meus homens andam comentando sobre meus planos.

— Não há segredos em Salindi.Sam deu de ombros e tomou um gole da cerveja. Por algum

tempo, nenhum dos dois disse uma palavra. O bar encheu-se de hóspedes à espera de mesa e o vozerio era intenso. Ambos gostavam daquele ambiente. Na verdade, haviam se conhecido num bar. Não tão elegante como este, claro; mas num botequim onde dois marinheiros haviam brigado e envolvido todos os fregueses na confusão. Depois da briga, ambos apertaram as mãos e foram para um outro barzinho no final da rua. Aquele gesto tinha sido o começo de uma amizade forte, sólida, mas não íntima. Eric chegara ali com muito dinheiro e Sam sem dinheiro algum e com um passado do qual nunca falava. Eric nunca lhe perguntou sobre o passado e Sam nunca quis saber qual a origem de tanto dinheiro. Uma amizade sincera e duradoura, pois ambos se respeitavam.

Aquele tinha sido o ano em que Salindi se tornara independente da Inglaterra e Eric a comparava ao Oeste Americano de 1870 um país aberto a novos investimentos. Ele já havia começado um negócio de construção de hotéis e pensava em partir para o ramo dos safáris, Momentos Íntimos nº 162 12

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e Sam era o homem certo. Solitário, aventureiro e atraente. As mulheres gostavam dele. Foi assim que a sociedade teve início.

Sam adorava a profissão de guia. Na Safari Unlimited ele era seu próprio patrão e Eric nunca criara nenhum problema mais sério, embora os dois vivessem discutindo.

— Acho que você devia levá-la — Eric opinou.— O quê? — perguntou Sam, que não conseguira entender

direito. — Acho que devia levar a garota para Batari, melhora o nosso

disfarce... — De jeito nenhum. O lugar e perigoso demais até para um

homem experiente... Nem pensar. Acho que nossa mesa está pronta.Ambos ocuparam a mesa indicada pelo garçom e apanharam o

cardápio:— Por acaso esqueceu que possuo cinqüenta por cento da Safari

Unlimited? — perguntou Eric.— Nem que possuísse noventa por cento — respondeu Sam.Eric deu uma gargalhada e resolveu mudar de assunto:— Acho que um Pouilly-Fuissé 1960 acompanharia bem o jantar.

Foi uma safra excelente de vinhos brancos. Por falar nisso, quem paga o jantar hoje?

— É a sua vez.— Garçom, traga o vinho da casa. Vou pedir o mais caro quando

for a vez de meu amigo pagar a conta.Ambos riram a valer e quando o garçom afastou-se, Eric retomou

o assunto de seu interesse:— Ela facilitaria tudo, Sam. — Apanhando a taça servida pelo

garçom, acrescentou: — Não creio que nenhum de nós dois queira voltar para a vida que levávamos antigamente.

A fisionomia de Sam tornou-se sombria.— Não, eu não quero voltar para aquela vida. Ao provar o vinho,

Eric ficou desapontado.— Eu devia ter ficado com o Pouilly-Fuissé. Mas, quanto a Batari,

você vai ter que cooperar.— Já estou cooperando — afirmou Sam. — Vou viajar até as

montanhas, mas sem a filha de Logan.— Está bem, está bem.— O instinto de ex-pugilista disse a Eric

que não era hora de pressionar o sócio. — Mas, vou convidá-la para a festa de amanhã à noite.

Sam olhou para o amigo sem dizer uma palavra.— Ora, por que não? Ela é uma garota bonita e gosto de enfeitar

minhas festas com mulheres bonitas. Além disso, estou interessado em saber o que foi que o velho Logan contou a ela. Ele deve ter lhe escrito antes de morrer. Quem sabe se não encontrou alguma coisa...

Sam balançou a cabeça:— Acredite-me: ela não sabe de nada.

CAPÍTULO II

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Anne James Passage to Zaphir

Na manhã seguinte, Caroline sentou-se na cama do apartamento que ocupava no King George e tirou da bolsa a carta que recebera do pai. Ah ele lhe contava a respeito da expedição que organizara em busca da cidade perdida de Zaphir, sobre a qual havia lido há muitos anos num texto quase desconhecido.

Caroline lembrava-se de tê-lo ouvido comentar várias vezes sobre Zaphir e de sua intenção de ir procurá-la, mas sempre surgiam novos planos mais interessantes que terminavam por adiar a aventura. Apesar de todas as pesquisas, ninguém demonstrava muito interesse pela cidade, mas, já no final de sua carreira de explorador, Carl decidira fazer a expedição com seus próprios recursos.

Recostando-se nas almofadas que enfeitavam a cama, ela desdobrou a carta. O papel aéreo azul-claro estava bastante amassado e Caroline alisou-o para lê-lo de novo: "Finalmente consegui um mapa da cidade, o qual já não tinha mais esperanças de um dia obter. A cidade de Zaphir deixou de ser lenda para tornar-se realidade. Eu nunca duvidei que existisse, mas muitos riram de mim e do que chamavam de um sonho visionário. Comprei o mapa de um sujeito estranho e não faço idéia de onde ele o tirou. O homem desapareceu logo depois e nunca mais o vi.

Agora, sim, poderei dar início à expedição. Imagine só embrenhar-me pelas matas da África em busca das ruínas centenárias... Filha, você é a única pessoa em quem posso confiar, portanto estou lhe enviando uma cópia deste mapa. Guarde-o muito bem. Não contei a ninguém sobre minha descoberta. Espero que logo você possa vir se juntar a mim. Estou reunindo uns carregadores para a expedição, mas espero receber notícias suas antes de partir. Faço questão de compartilhar esta experiência maravilhosa com minha companheira de tantas viagens, minha querida Caroline... Meu endereço é o do envelope. Um beijo, filha."

Secando as lágrimas que lhe corriam pelo rosto, Caroline olhou para o mapa que havia recebido do pai. O desenho era simples, quase infantil, cheio de árvores e pedras, porém a escala em milhas posta ao rodapé da folha de papel era perfeita, bem como as coordenadas. Comparando a latitude e a longitude com um mapa de Salindi, Caroline descobriu que a localização das montanhas estava perfeita. Os outros pontos incluídos no desenho de seu pai eram impossíveis de serem verificados, uma vez que não apareciam nos mapas oficiais do país.

Dobrando a carta e o mapa cuidadosamente, guardou-os num compartimento separado da bolsa e levantou-se. Então, resolveu pôr um maio e descer para a piscina, onde poderia se refrescar e pensar melhor no que fazer.

Determinada e teimosa, jurou a si mesma que iria às montanhas Batari acompanhada de Sam Matlock a qualquer custo. O único problema seria convencê-lo. Tinha que encontrar uma maneira...

Ao vestir uma saia longa que lhe servia de saída-de-banho, viu um envelope posto por baixo da porta. Na certa devia ter chegado Momentos Íntimos nº 162 14

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ainda bem cedo, enquanto dormia. Curiosa, apanhou-o e o abriu.O cartão era do mesmo bege do envelope, tendo um monograma

em relevo azul com as letras EC num canto superior. Era um convite para uma recepção oferecida pelo primeiro-ministro de Salindi aquela noite na casa de Eric Carson.

Caroline prendeu o fôlego; segundo informações que obtivera, Eric era o sócio de Sam na Safari Unlimited. Intrigada, pôs o envelope no bolso da saia e desceu as escadas de ferro batido que conduziam à piscina. Curiosa, imaginou se o convite seria sinal de que Sam havia mudado de idéia ou apenas de que seu sócio estava interessado na história. Havia ainda uma terceira possibilidade, menos entusiasmante: Eric poderia ter-lhe mandado o convite só porque ela era uma visitante estrangeira hospedada no hotel mais caro da cidade. Provavelmente, outros hóspedes também tinham sido convidados.

Qualquer que fosse a razão, pensou sorrindo para si mesma, o convite não poderia ter chegado em melhor hora. Sam Matlock na certa estaria na festa e ela não perderia aquela oportunidade.

Cadeiras amarelas, de madeira, dispostas num perfeito semicírculo, circundavam a imensa piscina, cada uma com uma toalha impecavelmente dobrada sobre o assento. A um canto, na sombra, havia um bar rústico muito movimentado onde o mesmo barman que ela vira na véspera preparava drinques sofisticados. Não havia dúvidas de que ele também a reconhecera.

Caroline escolheu uma cadeira que não ficasse de frente para o bar, tirou logo a saia e mergulhou na piscina.

Nadar era seu esporte favorito e Caroline aproveitava estes momentos de descontração para raciocinar. Depois de algum tempo, chegou à conclusão de que o melhor seria ignorar Sam aquela noite e ir direto ao seu sócio. Sua esperança era que Eric fosse um pouco mais sentimental do que o amigo.

Nadando com muita tranqüilidade, tentou arquitetar um plano para se aproximar de Eric. Como não o conhecia, achou por bem começar contando-lhe a história do pai. Depois, era só esperar e torcer para poder contar com a compreensão dele. Resolvida a estratégia, nadou mais um pouco e, estendendo a toalha sobre a cadeira, sentou-se.

A piscina estava praticamente vazia e poucas pessoas nadavam ou tomavam sol. No entanto, o bar continuava movimentado e dois homens trajando uniforme branco de tenistas conversavam com o barman. E, pelo visto, o assunto da conversa era ela. Todos os três evitavam olhar em sua direção e Caroline, após secar o cabelo, deitou e fechou os olhos.

Minutos depois, percebeu que um vulto bloqueava a passagem do sol e então alguém falou-lhe com sotaque americano:

— Srta. Chapman, não quero incomodá-la, mas gostaria de me apresentar. Sou Eric Carson e faço questão de sua presença em minha festa hoje à noite.

Caroline abriu os olhos imediatamente e deparou com um

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homem sorridente e corpulento, de meia-idade, com um bigode já meio grisalho. Aprumando-se, apertou-lhe a mão.

— Foi Yves quem me contou quem você era — ele explicou, apontando em direção ao barman que agora os observava atentamente. O outro tenista havia sumido. — Eu conheci seu pai — comentou, sentando-se na cadeira, ao lado.

— Parece que ele era muito conhecido aqui em Salindi. — Sim, mas poucos o compreendiam — respondeu Eric, num tom

grave.— Você o conhecia bem? A esperança de Caroline era obter de Eric maiores informações

sobre a morte do pai, já que Sam não lhe adiantara nada.— Não tanto quanto meu sócio — afirmou Eric, pondo fim às

esperanças de Caroline. — Sei que Carl estava procurando Zaphir.— Sim.— Ele lhe contou sobre a expedição?— Muito pouco numa carta — ela respondeu de modo evasivo.— E não comentou sobre os problemas ou o local exato da

cidade?— Não — afirmou, já desconfiada. — A carta foi escrita aqui em

Salindi antes de ele partir em viagem.Olhando-o de esguelha, Caroline imaginou o porquê de tanta

curiosidade. Mas, qualquer que fosse a razão, Eric parecia não saber quase nada sobre a expedição.

— Antes de Carl partir com a expedição, ele veio pedir a Sam que o acompanhasse às montanhas para procurar pela cidade perdida que ele jurava existir.

— Eu sei, só que Sam recusou-se a levá-lo e agora está fazendo o mesmo comigo.

— O lugar é muito perigoso — disse Eric repetindo as palavras que Caroline já ouvira inúmeras vezes desde sua chegada a Salindi.

— Será que poderia me ajudar a convencê-lo? — ela indagou, olhando de modo súplice. Num gesto comovido, tocou-lhe de leve o braço e repetiu: — Será que o convenceria a me levar?

Eric balançou a cabeça numa negativa mas ela ignorou-o e insistiu:

— Este é o pedido mais sério que já fiz em minha vida. Preciso ir às montanhas Batari, sr. Carson.

— Entendo como se sente, creia-me, mas Sam é um homem muito determinado.

Caroline encolheu a mão e tirou-a do braço dele, o que o fez olhá-la com certo desaponto.

— Também sou muito determinada.— Já percebi — disse Eric sorrindo.— Então, vai me ajudar?— Farei o melhor que puder, mas não posso lhe prometer nada

— ele afirmou ao levantar-se.— Talvez você ainda tenha chance de conversar com ele antes

da recepção desta noite e...Momentos Íntimos nº 162 16

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— Como eu já lhe disse, srta. Chapman...— Pode me chamar de Caroline.— Claro, e me chame de Eric. Mas, como eu já lhe disse, verei o

que posso fazer. Agora, creio que seja melhor eu ir tomar um banho.— Como foi o jogo? — ela quis saber fingindo-se interessada.— O que se pode esperar de um jogador meio pesado como eu,

que leva uma vida sedentária? Sam até que se exercita quando sai num safári, mas eu tenho passado muito tempo dentro do escritório. Talvez você possa me acompanhar numa partida antes que deixe a cidade.

— Não vou deixar a cidade, Eric — avisou — enquanto não for às montanhas Batari.

— Farei o que puder. Vejo-a na recepção, Caroline. Aliás, outro exercício que gosto de fazer é dançar e espero ter a honra de tirá-la esta noite, está bem?

— Claro — ela concordou, amistosa.Ao vê-lo afastar-se, Caroline concluiu que Eric faria todo o

possível para ajudá-la.No entanto, a alegria causada por esta certeza foi logo

substituída por uma preocupação: havia acabado de encarregar Eric de uma tarefa dificílima. Algo lhe dizia que não seria fácil convencer Sam a mudar de idéia, nem mesmo para seu próprio sócio.

Acostumada a viajar, Caroline sempre levava na bagagem um traje de noite. Seu vestido branco, longo, frente-única estava pendurado atrás da porta do quarto desde às seis horas da tarde, quando a camareira o havia trazido da lavanderia. Olhando-o, Caroline decidiu contrabalançar-lhe a simplicidade com uma maquiagem mais elaborada.

Apanhando a bolsa de maquiagem, sentou-se em frente ao espelho da penteadeira e só levantou-se meia hora mais tarde, para vestir o vestido. Então, escovou vigorosamente o cabelo. De pé, olhou-se no espelho do armário. Sua pele, bronzeada pelo sol, formava um lindo contraste com o branco imaculado do vestido e os tons terra que escolhera para a maquiagem enfatizavam o azul brilhante de seus olhos.

Enquanto aplicava mais um pouco de blush, o telefone tocou:— Alô?— Como vai, querida? — Era a mãe de Caroline, Lilly Chapman,

com sua voz inconfundível. — A ligação está ótima; é como se você estivesse aqui do meu lado. Nem parece que eu falo de Genebra para a África.

— Genebra? O que você está fazendo aí, Lilly?Caroline quase sempre a chamava pelo primeiro nome desde

que tinha cinco anos de idade.— Vim para um congresso mundial sobre a fome. Sou uma das

conferencistas convidadas.— Ah, é mesmo...Caroline, então, lembrou-se de haver lido qualquer coisa a

respeito nos jornais há algumas semanas, mas não era fácil manter-

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se em dia com as atividades da mãe.— Está tudo correndo muito bem — disse Lilly. — Mas não foi por

isso que telefonei. Eu queria falar-lhe a respeito desta sua viagem à África.

Caroline calçou as sandálias de salto alto e consultou o relógio. Lilly, pelo visto havia preparado mais um de seus sermões intermináveis. Não que isso fosse problema, mas a recepção estava prestes a começar e cada minuto era-lhe precioso.

— Mamãe, eu...— O que está tentando fazer é uma loucura, Caroline. Mesmo estando com pressa, Caroline teve que se defender da

acusação:— Não é loucura; é algo que preciso fazer.— Para não se sentir tão culpada?— Não, porque eu o amava.No entanto, ela ainda se remoia com um sentimento de culpa,

embora não soubesse muito bem por quê. Lilly, contudo, nem a ouviu:

— Seu pai é que gostava de ficar correndo o mundo atrás de sonhos perdidos.

— Sim, eu sei.Por um momento, Caroline pensou nas discussões que i seus pais

tinham no passado e que tanto a aborreciam.— Não há motivo para você continuar com essa maluquice.Impaciente, Caroline suspirou. Já haviam discutido \ aquele

assunto diversas vezes.— Não importa, Lilly, todos aqui acham que eu nunca vou chegar

lá. Ainda não consegui um guia.— Sinal de que eles não a conhecem bem.— Pois é...— Bem, caso não consiga um safári para estas montanhas,

venha para Genebra e poderemos tirar uns dias para ir até a Inglaterra. Tenho muitos conhecidos na Royal Academy e quem sabe eles poderiam ajudá-la a...

— Não, Lilly, não vou tomar mais aulas na minha idade.— Com vinte e oito você ainda é muito jovem, querida. Sempre é

tempo de se aprimorar.— E quem disse que quero me aprimorar? — indagou, bem-

humorada. — Se eu melhorar pode ser que perca meu papel em Tomorrow's Children.

Embora Caroline risse a valer, Lilly permaneceu calada do outro lado da linha. O que já era de se esperar. Era assim que reagia diante de qualquer comentário sobre a carreira de Caroline como atriz de televisão; mesmo que o comentário fosse feito pela própria filha.

Após uma pausa, tornou a falar bastante séria:— Nesse caso poderemos ficar aqui em Genebra por uns dias e

depois voamos juntas para Nova York. A conferência termina amanhã e...

— Não, mamãe. Vou ficar aqui em Salindi.Momentos Íntimos nº 162 18

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— Mas acabou de dizer que não consegue arrumar um guia.— Vou continuar procurando.— Faça como quiser. Se faz tanta questão de continuar com esta

aventura, então vá em frente. Afinal, você é minha filha e teve a quem puxar, pois eu nunca aceitei um não como resposta.

— Nem eu, Lilly. — Já estava em cima da hora para a recepção, mas havia algo que precisava dizer-lhe: — Só quero ir ver o túmulo dele e me despedir.

— Entendo o que sente e sei que vai conseguir chegar lá. E, quando o fizer, diga adeus a ele por mim também.

— Pode deixar. Até outro dia, mamãe.— Até outro dia, minha filha. Boa sorte.

Uma limusine já a aguardava na porta do hotel para levá-la à recepção. Caroline não esperava ser tratada com tanta deferência e imaginou se aquela não seria uma forma de Eric se desculpar por não ter conseguido convencer o sócio.

Quando o chofer veio abrir-lhe a porta, no entanto, ela logo fez questão de afastar tal pensamento da cabeça e atribuiu a gentileza à boa educação de Eric Carson. Sentando-se confortavelmente no banco de trás, procurou aproveitar ao máximo a ida à recepção, admirando as ruas bem iluminadas da cidade, ainda muito movimentadas. Finalmente, atravessaram os enormes portões de uma mansão.

A limusine que trouxera Caroline era apenas mais uma entre as várias outras já estacionadas. A casa branca, em estilo mouro, rodeada por jardins floridos, era belíssima.

Na porta da frente, empregados sorridentes recebiam os convidados.

Caroline cumprimentou-os e entrou no hall, olhando à sua volta. O colorido intenso e alegre dos trajes típicos africanos emprestavam um efeito caleidoscópico ao ambiente. Mesmo as mulheres americanas usavam vestidos coloridos. O de Caroline era o único branco. Satisfeita, sorriu ao ver que Eric vinha recebê-la.

Ele lhe ofereceu o braço e Caroline apoiou uma das mãos em seu paletó de linho. Ao caminharem até a sala principal, foram alvo de todos os olhares.

A um canto, um pequeno conjunto musical tocava alguns reggaes e muitos casais já dançavam animados. Uma mesa suntuosa havia sido montada perto da parede e os garçons circulavam pelos ambientes servindo champanhe. Eric apanhou duas taças de uma bandeja e estendeu uma a Caroline.

— Estou muito feliz que tenha vindo — Eric falou, e Caroline logo percebeu que ele havia falhado em sua missão de tentar convencer Sam a levá-la.

— Sam ainda se recusa a me levar, não é? — ela indagou com um tremor na voz que surpreendeu a si mesma.

— Acredite-me: fiz tudo o que pude para demovê-lo da idéia, mas...

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— Eu entendo. Ele me parece irredutível.Enquanto falava, Caroline localizou-o, no outro lado da sala.

Recostado contra o batente da porta, tendo uma taça de champanhe na mão, Sam conversava com uma linda morena de vestido verde. De smoking preto muito elegante, ele mais parecia um espião dos filmes de Hollywood, mas Caroline sabia que ele não estava representando. Tudo nele era real, real até demais... Sentindo os joelhos fraquejarem, resolveu voltar-se para Eric, que a observava.

— Sam não parece irredutível, Caroline; ele é irredutível!— Mas, deve haver algo ou alguém capaz de fazê-lo mudar de

idéia. Se eu ao menos...Antes que pudesse completar o pensamento, houve uma intensa

agitação de convidados no hall.— É o primeiro-ministro, preciso ir recebê-lo — Eric disse.Muito gentil, apresentou Caroline a um grupo de diversos casais

próximos para que não ficasse sozinha e, antes que se afastasse, ela perguntou-lhe:

— Terei chance de ser apresentada ao primeiro-ministro? — Um plano novo arquitetava-se em sua mente.

— Claro. Logo ele se misturará aos convidados e eu o trarei até aqui.

E, com a promessa, Eric cruzou a saia em direção ao hall no exato instante em que o primeiro-ministro Mulumba entrava com sua comitiva. Todos usavam trajes típicos, longos e coloridos, à exceção do líder, que envergava um terno impecável de corte europeu.

— Ele sempre gostou de se vestir como os britânicos — informou uma das convidadas ao ver a surpresa de Caroline.

Enquanto observava Mulumba, alto e muito elegante, ser apresentado a diversos grupos de convidados, sempre precedido de sua comitiva, Caroline ficou sabendo por uma das presentes que o primeiro-ministro havia estudado numa escola de missionários anglicanos, nos arredores da cidade. Muito inteligente, tinha chamado a atenção de um dos professores, que lhe arranjara duas bolsas de estudo. Primeiro, para a capital e depois, para a Inglaterra. Logo ao se formar em Direito pela Universidade de Oxford, Mulumba havia voltado a Salindi e, quando o país se tornara independente, há sete anos, acabara eleito governador.

— Ele é um homem notável — disse-lhe alguém. — Vive em contato com dois mundos, mas sempre se manteve fiel a seu povo. É o líder mais honesto que já vi.

Na meia hora seguinte, Caroline continuou a conversar com o grupo a que fora apresentada enquanto observava a movimentação do primeiro-ministro pela sala. Uma das primeiras pessoas a quem Mulumba se dirigira tinha sido Sam. Ambos conversaram por alguns minutos e, assim que o primeiro-ministro se afastara, Sam havia olhado na direção dela.

Acompanhado de Eric, agora Mulumba cruzava a sala em direção a Caroline.

— Minha cara srta. Chapman — disse a autoridade num perfeito Momentos Íntimos nº 162 20

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inglês britânico. — Seja bem-vinda a Salindi e lamento que sua viagem tenha sido motivada por uma circunstância tão trágica.

— Agradeço-lhe por ter me enviado a carta de condolências.— Era o mínimo que eu poderia fazer. Se houver algo mais em

que eu possa ajudá-la...Caroline respirou fundo e arriscou:— Estive em seu gabinete, mas não pude vê-lo.— É mesmo? — ele indagou, olhando para cada um de sua

comitiva como se quisesse saber quem fora o responsável. O secretário dele estava entre o grupo.

— Sim. Fui saber sobre a investigação a respeito da morte de meu pai, mas fiquei sabendo que nada seria feito.

O primeiro-ministro ergueu as mãos num gesto de resignação:— Nosso país é muito grande, srta. Chapman, e alguns pontos

perto das montanhas são verdadeiramente inacessíveis. Nossas investigações não puderam ir muito longe porque perto de Batari... — A sentença pairou inacabada no ar. — Nossas patrulhas não souberam de nada que pudesse nos esclarecer maiores detalhes além do que, não houve testemunhas. Temo que jamais saibamos ao certo o que aconteceu.

Caroline já esperava por essa resposta e, exatamente por ter falhado nas investigações, o primeiro-ministro devia concordar com seu próximo pedido:

— Há mais uma coisa — disse de modo suave.— Meu governo está à sua disposição — Malumba afirmou,

sorrindo.— Não era exatamente no governo que eu estava pensando, mas

em um de seus cidadãos.Eric sorriu sem jeito, imaginando o que estava por vir. Do outro

lado da sala, entre os convidados que agora os observavam, Caroline fixou os olhos em Sam.

— Sei que há um safári partindo para as montanhas Batari e eu gostaria de me juntar a ele.

— Srta. Chapman... — interrompeu o ministro e, então, deixou-a terminar de falar.

— Quero visitar o túmulo de meu pai, Excelência. É meu desejo de filha ir me despedir dele — disse, voltando-se para encará-lo.

— Minha cara srta. Chapman, sabe muito bem que o túmulo de seu pai fica num lugar muito afastado da civilização. Não seria recomendável que viajasse até lá.

— Já ouvi esse mesmo argumento antes, Excelência, mas sei que sou capaz de resistir à viagem. Preciso apenas de um guia — acrescentou, olhando para Sam. — Pena que ele esteja com receio de me levar.

O silêncio na sala crescia a cada segundo.O primeiro-ministro conservava um riso nervoso nos lábios e Eric,

embora também sorrisse, já começava a inquietar-se.— A senhorita não deve se esquecer de que é uma estranha aqui

no país e não sabe dos perigos da selva.

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— Eu sempre viajava com meu pai e estou acostumada a viver em acampamentos.

— Pode ser que sim — Mulumba respondeu de modo quase condescendente —, mas estou falando de perigos maiores do que os animais selvagens. Há muito contrabando perto das fronteiras, apesar da vigilância; e podem surgir confusões. Há muitos interessados em desestabilizar meu governo aqui em Salindi, afinal a democracia sempre incomoda.

— Não seriam eles os responsáveis pela morte de meu pai?Ao vê-los conversando por tanto tempo, convidados de todos os

cantos da casa vinham à sala ver o que se passava. Ao continuar, o primeiro-ministro falou como se se dirigisse a todos os presentes:

— Como eu já lhe disse, nosso país é muito grande e talvez nunca venhamos a saber da verdade.

E, dito isto, começou a afastar-se.Mas Caroline, frustrada e furiosa, não ficara satisfeita com a

resposta que recebera e não pretendia deixá-lo ir-se assim. Não sem antes lhe dizer tudo o que queria. Sem saber ao certo o que fazer, segurou-lhe o braço. Imediatamente, dois seguranças aproximaram-se, mas Mulumba os tranqüilizou.

— Sei que o senhor não me deve nada, sou uma estranha aqui, assim como meu pai, mas ele morreu aqui. Sozinho. — Seus olhos encheram-se de lágrimas. — Como chefe de família que é — arriscou — sei que o senhor entende como deve ter sido difícil para ele.

— Srta. Chapman...Caroline percebeu que Mulumba estava comovido, mas os

homens que o acompanhavam haviam formado um círculo ao redor dele como para protegê-lo contra suas investidas. Pelo silêncio ao redor, Caroline sabia que devia estar sendo muito inconveniente, não se incomodou. Faria o que fosse preciso, até se atiraria aos pés dele.

— Tudo o que lhe peço é que me deixe ir ver o túmulo de meu pai e dizer-lhe o último adeus. Sei que ele não era um líder, como o senhor; era um aventureiro, um sonhador, mas a vida dele não foi menos valiosa por causa disso.

As lágrimas agora rolavam-lhe pelas faces. Indefeso, Mulumba limitou-se a observá-la enquanto Caroline recuperava o autocontrole. Então, ele voltou-se para encarar Eric e, depois, Sam, no outro canto da sala. Naquele instante, ficou bem claro para ela que, qualquer que fosse o motivo da expedição que a Safari Unlimited realizaria as montanhas Batari, o primeiro-ministro estava envolvido.

Caroline não ousou olhar para Sam, mas, ao perceber que Eric concordava com o pedido, resolveu forçar um pouco mais a sorte e insistir mais uma vez, num apelo que ecoou pela sala silenciosa:

— Quero apenas ver o túmulo dele. Nada mais. Sei que pode me ajudar, por favor.

Então, como se não suportasse mais tanta pressão, Mulumba se decidiu:

— Como a senhorita mesma já mencionou, há um safári de partida para a região onde seu pai morreu. É claro que não está Momentos Íntimos nº 162 22

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aberto a turistas, mas estou certo de que Sam Matlock pode conseguir-lhe um lugar.

Todos os presentes voltaram-se para Sam.— Ele é o único a quem eu confiaria esta missão de levá-la ao

túmulo de seu pai e trazê-la sã e salva. Não podemos recusar-lhe este pedido — acrescentou em voz mais alta como se quisesse deixar bem clara sua decisão.

Um instante depois, Sam, que ouvira todo o final da conversa, que fora dito num tom bem alto, respondeu:

— Eu e meu sócio estamos aqui em seu país sob seus auspícios, Excelência. É claro que obedeceremos seu desejo.

Mulumba sorriu e, depois de receber os agradecimentos de Caroline, afastou-se. Novamente a conversa animada dos convidados se fez ouvir.

Notando que tinha o rosto molhado pelas lágrimas, Caroline dirigiu-se ao toalete.

A brisa suave e fresca vinda do jardim trazia o aroma adocicado das flores e a música alegre quebrava o silêncio da noite. Sob as sombras projetadas pelas enormes árvores que cercavam a casa, Sam observou Caroline caminhar em direção à mureta do jardim, o vestido branco fazendo-a parecer quase uma miragem em contraste com o verde das plantas. As tochas espalhadas nos cantos estratégicos iluminavam-lhe o rosto, destacando as maçãs do rosto salientes e a curva do queixo, produzindo um intenso brilho dourado em seus cabelos.

Mesmo estando à distância, ele notara a maquiagem perfeita que lhe ressaltava o azul intenso dos olhos e imaginou quanto tempo ela não teria gasto para obter aquele efeito, que, sem dúvida, lhe prendera a atenção desde que a vira entrar.

Era impossível negar que Caroline estivesse linda e precisava fazer um grande esforço para não se aproximar dela assim que a vira chegar na festa.

Saindo das sombras, resolveu assediá-la:— Foi uma atuação e tanto, meus parabéns. — Suas palavras

soaram-lhe frias, mas era necessário uma certa crueldade para combater o encanto de Caroline, que conseguira enfeitiçar a todos.

— Não foi uma atuação — respondeu com firmeza.— Seja como for, você fez o primeiro-ministro chegar onde

queria, não é? Aliás, acho que é isto o que faz com todos os homens que cruzam o seu caminho.

De repente, começou a imaginar quantos homens ela teria tido e, sem sucesso, tentou afastar aquele pensamento da mente.

— Quanto aos outros — disse, enfatizando bem a última palavra — eu não sei. Só sei que o ministro tomou uma atitude correta.

Sam, embora contrariado, teve que admitir a si mesmo que Caroline não se deixara abalar por seu comentário.

— Ele conseguiu fazer com que eu possa ir ver o túmulo de meu pai — ela prosseguiu. — Pena que você esteja incluído nesta viagem, pois sei o quanto detestará a minha companhia.

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Caroline falava com uma sinceridade desconcertante, mas ele não se deixou abater:

— Não é questão de detestar; é uma questão de sensatez. É muito perigoso e não sei bem se você tem idéia do que pode enfrentar, caso faça esta viagem.

Por um momento Sam limitou-se a olhá-la bem dentro dos olhos, onde viu estampada toda a inteligência de Caroline. Inteligência que ele, presunçoso, negara a Eric.

— Sei muito bem como é a vida num safári e garanto-lhe que não sou tão indefesa quanto pareço.

— Nunca pensei que fosse. Aliás, acabou de demonstrar que é muito competente, principalmente em se tratando de conseguir o que quer. Só espero que pense melhor e mude de idéia com relação à viagem.

— Jamais — ela respondeu, decidida. — Por acaso pensou que conseguiria me demover?

Sam sorriu. De fato, pensara que ela fosse recuar diante de sua recusa. Quanta ingenuidade...

— Acha que não sei cuidar de mim mesma? — ela quis saber.— Não estou bem certo se eu poderei tomar conta de você.— Não será preciso, lhe garanto. Posso fazer esta viagem sem

sua ajuda. Considere-me apenas mais uma passageira e dou-lhe minha palavra: não lhe trarei nenhum aborrecimento. Sou tão determinada quanto meu pai.

Sam logo pensou no que ocorrera a Carl Logan e ela, como se pudesse adivinhar-lhe o pensamento comentou:

— Sim, eu sei. Só que desta vez o final será diferente. — Sam percebeu toda sua tristeza mas, quando ela tornou a fitá-lo, seus olhos já brilhavam novamente — Eu gostaria de ter outra opção, mas não tenho.

Quanta ironia... Sam pensava. Ela não queria ir com ele; ele, não queria levá-la. Ambos haviam sido unidos pela força das circunstâncias e não havia nada que pudessem fazer — graças a Mulumba. Tinha certeza que o primeiro-ministro cometera um erro, mas isso era algo para ser discutido mais tarde com Eric.

Ali estava Caroline, à sua frente, o queixo erguido num desafio...— Muito bem — disse, afinal —, já que vai nos acompanhar no

safári, receberá amanhã uma lista de tudo o que precisará levar. Partimos daqui a dois dias, logo pela manhã. Espero que esteja pronta antes do amanhecer.

— Estou acostumada a acordar cedo, não se preocupe.— Lembre-se que não estaremos filmando nenhuma novela e os

perigos que teremos de enfrentar serão bastante reais.— Nunca permiti que minha vida no palco se confundisse com

minha vida real.E, dito isto, deu-lhe as costas, retornando para a companhia dos

outros convidados.

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CAPÍTULO III

Ficara claro desde o início que Sam Matlock não queria levá-la consigo no safári. Caroline, por sua vez, não esperava que houvesse qualquer mudança no comportamento dele e, portanto, não sé surpreendeu ao ser tratada com mais frieza ainda do que das vezes anteriores.

Ao chegar no local marcado, com todos os seus pertences cuidadosamente guardados em uma mala, conforme as instruções que recebera, Sam simplesmente cumprimentou-a inclinando a cabeça e pediu a um dos carregadores que pusesse a bagagem na caminhonete e levasse Caroline para o jipe.

Junto com Caroline, no banco de trás, seguiu Abdullah, irmão do garçom de King George. Carregando um rifle atravessado sobre os joelhos, ele lhe sorriu de modo simpático, deixando-a um pouco mais à vontade, considerando-se as circunstâncias. Procurando acalmar-se, procurou consolo no fato de que, pelo menos, estaria bem protegida, mas esperava sinceramente que Abdullah pudesse virar o cano da arma para o outro lado. Sam sentou-se no banco da frente do jipe ao lado de Alih, o motorista.

Ao deixarem a cidade, Caroline tratou de concentrar-se na paisagem, segurando-se com força ao assento. Alih dirigia em alta velocidade, ignorando toda e qualquer lombada à frente, o que fazia o jipe pular muito. Sam e Abdullah, no entanto, pareciam nem se incomodar.

A caminhonete, que junto com o jipe formavam a caravana, enfim conseguiu alcançá-los. Os dois veículos seguiam em fila.

Na caminhonete estavam Matope à direção e seu filho Juma na carroceria, que devia ter apenas quatorze anos, não mais. Do modo como o pai gesticulava para o filho instruindo-o para que cuidasse bem das panelas, Caroline presumiu que Matope fosse o cozinheiro. Os utensílios eram em número limitado e, na certa, fariam jus às habilidades do cozinheiro, que não devia ser exatamente um chefe de cozinha.

Quando chegara para a partida, ouvira os empregados conversando entre si utilizando o Swahili; dialeto local que Caroline pouco compreendia. Sam falava-o fluentemente.

Ao escolher as roupas que traria, Caroline procurou selecionar apenas as mais confortáveis e práticas e, para o primeiro dia de viagem, optara por uma saia de brim cor de creme, blusa de algodão azul-clara, mocassins com sola de borracha e um chapéu de abas largas pra protegê-la do sol. Sam, pelo visto, nem reparara nos seus trajes, mas, ao menos, não reclamara, o que já era bastante. Aliás, os trajes de seus companheiros de viagem iam do mais discreto short, como os de Abdullah e Alih, até o mais espalhafatoso, como a roupa típica que Juma e Matope usavam.

Sam, que estivera super elegante de smoking há duas noites, trajava calça e camisa de algodão caqui e botas. Seu chapéu de abas largas, ligeiramente puxado sobre os olhos, tocava de leve na

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armação dos óculos escuros. Apesar das manchas de suor sob os braços e à altura do cinto, ele lhe pareceu muito à vontade de roupa esporte e até mais bonito do que de smoking. Seu braço musculoso, bronzeado de sol, esticado sobre o encosto do banco vez por outra roçava os joelhos de Caroline que, inquieta, resolveu mudar as pernas de posição.

Durante as duas primeiras horas de viagem, ele não lhe dirigira a palavra e nem mesmo um olhar, embora fizesse comentários freqüentes com o motorista em swahili. Desanimada, Caroline indagou-se se ainda voltaria a ouvir alguma palavra de inglês durante o safári.

O silêncio, entretanto, não a incomodaria tanto caso o calor não fosse tão intenso. À medida que o sol subia no céu, a temperatura dentro do jipe ia se tornando insuportável. Procurando proteger-se da claridade, puxou o chapéu sobre os olhos imaginando como ficaria a temperatura ao meio-dia.

Aos poucos as choupanas dos vilarejos foram se tornando mais escassas e surgiu então a savana, com sua vegetação rasteira, algumas árvores com troncos tortuosos e copas achatadas. Os veículos seguiam pela estrada de terra deixando para trás uma nuvem de poeira. Caroline sentiu saudades do conforto da capital e, ao pararem para o almoço, foi logo sentar-se à sombra de uma pequena árvore para se recuperar do calor.

Quando Abdullah lhe trouxe uma xícara de água fresca do cantil, bebeu-a de um gole só, respirando aliviada. Abrindo um pouco mais a gola da blusa, desejou apenas poder tomar um banho.

Enquanto Matope e o filho abriam a carroceria da caminhonete, Caroline surpreendeu-se ao ouvi-los conversar com Sam em inglês e, embora ninguém se dirigisse a ela, foi-lhe possível, ao menos, compreender o que falavam. Depois de alguns minutos Sam se aproximou dela.

— Não vamos montar uma tenda para o almoço, pois demoraria muito. — Tirando o chapéu, correu os dedos pelo cabelo molhado de suor e olhou para o céu. — Vai fazer um calor infernal à tarde e pretendo já ter percorrido uma boa quilometragem até então. Vamos ficar por pouco tempo, portanto venha pegar algo para comer.

Da carroceria da caminhonete, Matope estendeu-lhe um prato contendo uma xícara de chá, uma banana e um sanduíche de pasta de amendoim. Surpresa, Caroline não pôde deixar de olhar para Sam, que tanto prezava suas lautas refeições no King George.

— É rápido de preparar — ele explicou. — E satisfaz. Sorrindo de modo gentil, Caroline apanhou o prato e voltou a sentar-se à sombra. Quando Caroline devolveu o prato vazio e pediu mais uma xícara de chá, Sam afirmou:

— Beba depressa, temos que partir. — E, voltando-se para Alih: — Pretendo chegar ao rancho dos McKenzie amanhã à tardinha. — Enquanto Caroline se dirigia ao jipe, disse-lhe por sobre o ombro: — Lá poderemos tomar um bom banho.

Caroline não virou-se para fitá-lo mas podia jurar que havia em Momentos Íntimos nº 162 26

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seus olhos um brilho maroto.Vencida pelo cansaço, mesmo com os solavancos do jipe,

Caroline acabou dormindo algumas horas. Na noite da recepção, mesmo estando exausta, não tinha conseguido dormir muito bem, agitada. E, na seguinte, a preocupação com a viagem roubara-lhe o sossego.

Caroline acordou com uma forte brecada do jipe. Sam estava de pé no banco da frente observando a paisagem com um binóculo. Protegendo os olhos com a mão, ela olhou à sua volta mas não viu nada de anormal.

— Atravesse a savana e vamos ver se conseguimos nos aproximar. — Sam disse para Alih.

Tirando o binóculo do pescoço, estendeu-o a Caroline e apontou em direção ao oeste:

— Fixe bem a linha do horizonte.Caroline seguiu-lhe as instruções mas não viu nada.— Assim — disse ele movendo o binóculo na direção certa.— Ah, estou vendo! — ela exclamou. — É um bando enorme de

zebras! Puxa, quantos filhotes!O jipe começou a andar de novo e logo os animais tornaram-se

visíveis mesmo a olho nu.— Olha lá — afirmou Sam e Caroline acompanhou-lhe o olhar, no

entanto não conseguiu identificar os animais que formavam um outro bando enorme.

Vendo-os aproximarem-se, os animais inquietaram-se e ergueram a cabeça para observá-los, igualmente curiosos. Só então Caroline pôde identificá-los. Seu pai sempre lhe falava a respeito deles.

— São gnus — informou Sam.— Sim, eu sei. As zebras são bonitas, mas os gnus... Sam, então fez sinal ao motorista que parasse o jipe e Caroline

se espantou em vê-lo tão feliz. Parecia um menino que pela primeira vez tinha contato com a vida selvagem.

— Bonitos, de fato, eles não são, mas a aparência não é tudo — ele comentou num tom de crítica, que ela ignorou.

— Tem razão.— Bem, é melhor retomarmos a estrada, Alih. — Sam disse

consultando o relógio.Então, sentou-se e apanhou o binóculo que Caroline lhe devolvia.

Alih manobrou e voltou para a estrada, onde a caminhonete havia ficado, e prosseguiram.

O relacionamento entre Caroline e Sam ia aos poucos melhorando, embora ainda evitassem conversar muito. Caroline jamais poderia esperar que ele atrasasse a viagem só para lhe mostrar os animais.

A primeira alcatéia de leões que avistaram foi logo antes de pararem para armar o acampamento. Os animais descansavam perto de umas pedras, estirados ao sol. De longe, mais pareciam de pelúcia. Dois filhotes rolavam, alegres, em torno da mãe enquanto

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um leão ergueu a cabeça para ver quem se aproximava. Sonolento, olhou para a caravana e tornou a deitar-se na relva.

Em silêncio, Caroline esperou que Sam fizesse algum comentário sobre o comportamento dos animais, mas ele não disse uma palavra. Caroline, então, lembrou-se das palavras do pai quando ela vira pela primeira vez um leão com jeito de manso: "É um engano considerá-los amigáveis pois um salto desses animais pode alcançar doze metros... E, embora prefiram carne de zebra, não recusam a humana".

Depois de armarem o acampamento, Caroline entrou na barraca e dormiu.

Algum tempo depois, acordou meio desorientada e só ao correr os olhos pela lona verde da tenda foi que se lembrou de onde estava. Ao se deitar, o sol ainda batia forte, mas agora a luminosidade da tarde cedera lugar à noite. Sentando-se no colchonete, abriu a porta da barraca e apanhou a bacia d'água que um dos rapazes lhe deixara.

Apanhando a toalha que trouxera na bagagem, molhou o rosto e o pescoço, permitindo que a água fresca lhe escorresse pela pele. Depois, tirou toda a roupa, molhada de suor, e lavou o resto do corpo. Seria tão bom poder tomar um banho... Segundo Sam, o rancho tinha chuveiros excelentes e só de pensar que no dia seguinte poderia banhar-se, Caroline sentiu-se mais animada. Após enxugar-se, enrolou-se na toalha ainda úmida e tirou da mala um conjunto de camisão e bermudas.

Lá fora os rapazes conversavam e ela tratou de apressar-se pois o jantar estaria pronto em breve. Sua esperança era que tivessem um cardápio mais apetitoso que o do almoço.

Já vestida, apanhou o pequeno espelho e ao olhar-se nele ficou surpresa. Apesar do chapéu de aba larga, a pele estava bem mais queimada e dava-lhe um ar bastante saudável. Escovou os cabelos e depois os prendeu num coque no alto da cabeça.

O interior da tenda estava incrivelmente quente e abafado, então Caroline entreabriu a porta para ventilá-la. Calçou um par de botas e saiu. O cheiro gostoso da comida trazida pela brisa fria da noite despertou-lhe o apetite e a fez dirigir-se à barraca em que funcionava a cozinha.

Os homens já haviam jantado e Sam, em companhia de Abdullah e Alih, examinava um mapa aberto sobre o chão. Os três discutiam, animados, em swahili sendo que Matope e o filho apenas assistiam, opinando vez por outra. Todos voltaram-se para observá-la ao vê-la entrar e, a um comentário de Sam, caíram na gargalhada. Caroline sentiu que enrubescia.

— Por que vocês riram? — indagou deixando claro que os censurava pela indelicadeza.

— Nada que possa deixá-la preocupada. Eu disse a eles que finalmente a princesa americana resolvia juntar-se a nós.

— Eu adormeci — esclareceu. Em seguida aproximou-se do fogão improvisado.

— Cuidado com o picadinho — Sam recomendou. Momentos Íntimos nº 162 28

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Intrigada, Caroline voltou-se para fitá-lo. O cheiro da comida estava muito apetitoso e ela mal via a hora de comer.

— Temos uma regra para os turistas: nos primeiros dias, é melhor ir com calma. Por favor, cuidado.

Caroline assentiu, obediente; detestaria ficar doente durante a viagem e dar-lhe motivo para se arrepender de tê-la trazido. i

Juma levantou-se para servi-la. Pelo visto, Sam o havia instruído previamente, pois o rapaz pôs apenas uma colherada de picadinho, completando o prato com batatas cozidas que tirou de outra panela. Sorrindo, Caroline pegou o prato que ele lhe entregou, satisfeita por poder comer ao menos as batatas à vontade.

Sentada à parte do resto do grupo, saboreou o delicioso jantar, que superou em muito suas expectativas.

— Gostoso, não? — perguntou Sam.— Asante — ela respondeu a Matope, usando uma das poucas

palavras swahili que conhecia.— Espere até provar a sobremesa— afirmou Sam. — Ela não está

racionada.— É mesmo? E o que temos?— Panquecas.— Panquecas? — redargüiu, incrédula.— Diga o que acha delas, Matope.— Comida boba — respondeu o cozinheiro. Todos riram a valer e Sam adiantou-se em explicar:— Matope e os outros não ligam para comida, mas eu gosto de

jantar bem quando saio num safári. Afinal, é a única refeição que se pode saborear com calma.

— Como foi que aprendeu a cozinhar? — ela perguntou a Matope.

— O patrão me ensinou.— Eu apenas disse-lhe como as panquecas são feitas, o resto foi

por conta dele. — Sam riu da resposta.— Matope tem talento para a cozinha.Mais tarde, ela descobriria que as panquecas estavam de fato

deliciosas. Sentada a um canto, longe dos rapazes, que continuavam a conversar, Caroline saboreou-as vagarosamente aproveitando ao máximo aqueles minutos de prazer.

Após o jantar, meditando, Caroline concluiu que o primeiro dia de viagem fora bem melhor do que esperava: a comida era boa, os rapazes simpáticos, e Sam chegara até a dirigir-lhe umas palavras gentis.

E a noite teria terminado ainda melhor se ele não a tivesse visto bocejar.

— Cansada? — ele indagou, observando-a com um brilho divertido nos olhos.

— Exausta — admitiu, arrependendo-se em seguida.— Bem, amanhã teremos um dia ainda mais difícil pela frente,

portanto sugiro que vá dormir. Ainda temos muita estrada até chegarmos ao rancho dos McKenzie.

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Ao levantar-se, foi impossível para ela disfarçar o cansaço; o corpo todo doía muito.

Sam, no entanto, não se deixou impressionar e lembrou com certa impiedade:

— Partiremos antes do amanhecer.— É, eu já imaginava — respondeu simplesmente já se

encaminhando para sua barraca.Sam observou-a afastar-se e tentou, em vão, concentrar-se no

que um dos rapazes lhe dizia. Aquela tarde, ao pararem para armar o acampamento, ficara satisfeito ao vê-la exausta, escaldada pelo calor intenso. Exatamente como esperara. Mas, depois do descanso, ela se recuperara de forma espantosa e estava lindíssima. Os cabelos presos tornavam-na ainda mais encantadora.

Tinha que descobrir em Caroline, o quanto antes, algo reprovável para evitar que seu corpo reagisse daquela forma à sua presença. Precisava conservar distância dela antes que se apaixonasse. Em sua vida não havia lugar para uma mulher como Caroline Chapman.

Sentada na beirada do colchonete, Caroline começou a se despir relembrando o comportamento de Sam. O que seria preciso fazer para transpor as barreiras que ele insistia em erguer? Que tipo de mulher o atrairia? Lembrou-se então daquelas com quem o vira conversar durante a recepção de Eric e imaginou qual faria o tipo dele.

Ao tirar as botas, ocorreu-lhe uma idéia terrível: talvez houvesse algo de errado com ela. Talvez com as outras Sam se mostrasse simpático e cativante. Bem, não era de se estranhar que tivesse criado uma certa prevenção contra ela. Sua insistência em acompanhá-lo no safári tinha sido mesmo irritante e, no instante em que Sam pensara ter se livrado dela, o primeiro-ministro pedia-lhe que a trouxesse, mesmo contra a vontade.

Vestiu a camisola de algodão que trouxera, com detalhe de renda no peito. Arrependeu-se de tê-la escolhido; deveria ter optado por algo menos delicado e mais prático.

As noites na savana eram muito frias e, para se agasalhar, precisou se cobrir com um cobertor.

Fechou os olhos e começou a pensar nas várias expedições às quais acompanhara o pai durante a infância, em seguida dormiu.

De repente, um barulho ensurdecedor interrompeu-lhe o sono. Assustada, sentou-se imediatamente no colchonete, os olhos bem arregalados, enquanto o ruído continuava, grave, intenso, como se viesse das profundezas da terra. Caroline sentiu o coração bater disparado no peito e respirando fundo, esperou que o barulho cessasse.

Só então percebeu tratar-se de rugidos de leões. Aterrorizada, imaginou a que distância estariam do acampamento. Pareciam tão próximos... Só que não ouvira nenhum dos rapazes se levantar. Com a fogueira que mantinham acesa eles não os atacariam. Ou atacariam?

Puxando pela memória, tentou lembrar-se do que seu pai lhe Momentos Íntimos nº 162 30

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dizia a respeito do ataque de leões a acampamentos. Sabia, também, que os animais tinham medo do fogo, mas não podia esquecer-se de vários relatos que já lera a respeito de seus ataques, quando rasgavam as lonas das tendas e arrastavam para a selva os corpos mutilados das vítimas.

Respirando fundo, procurou se recompor antes que ficasse histérica de medo. "Isto é ridículo"; pensou ao apoiar os pés no chão e mover-se em direção à saída da tenda.

Bem devagar, abriu a lona que servia de porta já esperando ver a silhueta de um imenso leão. No entanto, deparou como todo o acampamento calmo e silencioso, o fogo ardendo forte. As únicas silhuetas projetadas contra o horizonte eram as das árvores. No céu, milhares de estrelas reluziam qual diamantes espalhados sobre um fundo de veludo negro. Sentindo-se frágil e vulnerável diante de tanta grandeza, um arrepio percorreu-lhe o corpo.

Um outro rugido cortou o silêncio da noite e a fez voltar rápido para dentro da tenda. Através da porta aberta, podia ver o fogo no centro do acampamento e a beirada de uma outra tenda — a de Sam. Sentada no colchonete, tentou pensar em algo que pudesse fazer. Não queria ficar sozinha nem mais um minuto. Só que a solução para seu problema era muito mais intimidante do que os leões. O melhor seria procurar pegar no sono o quanto antes.

Mas, que idéia maluca! Como pegar no sono com os rugidos tão próximos. Não havia como dormir. E, se não conseguisse descansar, como enfrentaria mais um dia de viagem? Resolveu, então, deitar-se imóvel, de costas, braços esticados ao longo do corpo, olhos fechados. Não adiantou; estava muito tensa. E não eram apenas os rugidos que a atormentavam, mas também os outros ruídos da noite na selva.

Caroline já quase se convencia de que aos poucos se acostumaria aos barulhos estranhos quando um outro rugido, mais alto e mais forte, chegou-lhe aos ouvidos.

Sem parar para raciocinar, ergueu-se de um salto, calçou as botas, recolheu suas cobertas e correu em direção ao fogo. No entanto, não se deteve e, continuando a correr, alcançou a tenda de Sam, onde entrou de súbito.

Rolando para o lado, numa fração de segundo, ele pegou uma faca que deixara a seu lado, perto do leito.

— Eu... Eu — ensaiou, o queixo batendo de modo incontrolável.— Já sei: ouviu os leões — ele completou, colocando a faca no

lugar que estava anteriormente.— Tenho certeza que vou acabar me acostumando, mas nunca

ouvi nada parecido em toda minha vida e não creio que haja nada de errado em ter medo de uma fera — alegou, tentando se defender.

Sam não respondeu e limitou-se a ficar ali, apoiado nos cotovelos, observando-a.

— Sei que vou me acostumar — ela repetiu. — Mas, só por esta noite, eu lhe peço que me deixe dormir aqui. Perto da porta está ótimo — acrescentou, procurando manter um tom de voz casual.

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Mesmo atravessando um dos momentos mais humilhantes de sua vida Caroline estava determinada a não perder a dignidade.

Sam esticou o braço e acendeu o lampião a querosene que tinha ao lado da cama. Caroline viu as chamas crescerem e projetarem sombras tremulantes no rosto dele. Sam tinha os cabelos despenteados e os olhos pesados, sonolentos, parecendo-lhe ainda mais jovem e vulnerável. Consciente de seus trajes íntimos, Caroline permaneceu ali de pé, as cobertas apertadas contra o peito.

— Quer dizer, então, que quer dormir comigo? — ele indagou, rindo de modo grave e sensual.

— Com você, não. Quero dormir na sua tenda. — Indignada, Caroline o corrigiu.

— Fique à vontade, srta. Chapman. Só espero que não ronque. — Nos olhos verdes de Sam estampou-se um certo quê de zombaria.

Sem responder, Caroline esperou até que ele apagasse o lampião e tornasse a deitar para só então deitar-se encolhida sob as cobertas, o mais distante possível dele.

Puxando o cobertor até o queixo, finalmente sentiu-se mais segura, pegando no sono logo em seguida.

Porém, para Sam, a noite parecia interminável.Deveria ter dito a Caroline que nunca se ouvira falar de ataques

de leões naquela região, muito menos que tivessem entrado numa tenda. E mais: caso isso acontecesse, um dos rapazes acordaria imediatamente, pois todos dormiam com um rifle à mão. Deveria ter-lhe dito tudo isto antes que ela se recolhesse após o jantar ou mesmo quando entrara em sua tenda apavorada, mais vulnerável que nunca. No entanto, não o fez. Talvez por estar acostumado a vê-la sempre tão confiante, segura de si. Caroline tinha se mostrado voluntariosa e decidida quando se encontraram pela primeira vez; amorosa e humilde diante do primeiro-ministro, e à noite, no jardim, absolutamente distante e adorável.

Não, nunca a vira vulnerável como agora.Rolando insone, procurou uma posição melhor, mas era

impossível conciliar o sono tendo-a ali dormindo tão perto. No silêncio da noite, podia ouvir-lhe a respiração calma e ritmada e, mesmo no escuro, sentia-lhe a presença envolvente.

"Ela me deixa maluco, não consigo mais controlar a minha imaginação!" ele pensou.

Fechando os olhos, tudo o que via era Caroline deitada ali, ao pé da sua cama, os cabelos dourados caindo-lhe pelos ombros emoldurando-lhe o rosto delicado. Numa visão, viu-a aproximando-se, sorrindo, beijando-lhe os lábios com paixão.

Assustado com o curso de seus pensamentos, abriu os olhos imediatamente. Sabia desde o início que ela lhe traria complicações. Praguejando baixinho, deitou-se de bruços e torceu para que o dia logo amanhecesse.

Logo cedo, antes do dia clarear, Caroline despertou e saiu da tenda. Sentia-se ótima após uma boa noite de sono e optou por uma roupa confortável e descontraída. No entanto, demorou tanto para se Momentos Íntimos nº 162 32

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aprontar e recolher suas coisas que, quando saiu da tenda, os rapazes já haviam terminado de tomar o café da manhã. Os empregados trabalhavam, apressados, na desmontagem das barracas.

Sem perder mais tempo, dirigiu-se à tenda da cozinha e preparou um prato para si. Sam estava de pé, perto do fogo já extinto, tomando uma xícara de café.

— Dormiu bem? — ele quis saber.— Sim; obrigada por ter me dado um cantinho — disse tentando

manter a naturalidade. — E você?— Bem — mentiu, terminando o café. — Já estamos atrasados. A

partir de hoje, procure não demorar tanto.Não fora intenção dele parecer rude ou grosseiro, mas estava

cansado, mal-humorado e acabou falando sem pensar. O ódio a fez corar.

— Não vejo mal nenhum em querer manter minha aparência o melhor possível — argumentou, os olhos faiscantes.

— Não há ninguém por aqui a quem impressionar.— Nisso você tem toda razão. Acontece que tenho o hábito de

me arrumar para mim mesma; não faço isso pensando em ninguém. — E, voltando-se para Matope, acrescentou: — Já terminei de fechar minha bagagem. Pode desmontar minha tenda se quiser.

— Posso mesmo?— Pode — respondeu sem se atrever a olhar para Sam, que

apenas a observava. — Estarei pronta para partir antes que o jipe esteja carregado.

E, de fato, antes mesmo que Sam a chamasse, Caroline já estava de pé perto do jipe.

CAPÍTULO IV

A segunda manhã foi ainda mais quente do que a primeira. Por volta das nove horas, Caroline já havia tirado as botas, aberto a gola da blusa e prendido o cabelo no alto da cabeça. Era impossível ficar de chapéu, tal o calor que sentia.

— Ponha-o de volta — ordenou Sam.Ela, no entanto, preferiu ignorá-lo, deliciando-se com a sensação

gostosa da brisa acariciando-lhe o pescoço e a nuca.Sam aguardou até que avançassem mais alguns quilômetros e

voltou-se de novo para ela.— Não tenho tempo a perder e não posso parar para tratar das

queimaduras de ninguém. Ponha o chapéu, Caroline.Para evitar uma discussão, Caroline acabou acatando-lhe a

ordem e foi aliviando o calor bebendo do cantil que Matope havia enchido especialmente para ela. Na verdade, esvaziou-o em menos de uma hora.

Sam não havia tocado no dele a manhã toda e Caroline teve vontade de pedir-lhe que o dividisse com ela, porém, reconsiderando,

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resolveu calar-se.Entretanto, o calor acabou vencendo sua determinação e

Caroline não resistiu. Quando Alih diminuiu a marcha para que pudessem observar um bando de girafas correndo, perguntou a Sam timidamente se ele não se importava em lhe ceder um pouco de água.

— Pode beber à vontade — disse Sam entregando-lhe seu cantil —, mas veja bem: só vamos parar outra vez às onze horas. Haja o que houver.

Mais interessada em aliviar o calor e a sede, Caroline não deu ouvidos ao alerta e continuou a beber. Porém, meia hora mais tarde, percebeu que logo precisaria parar. Ainda não eram nem dez horas e não haveria como agüentar até as onze.

Alih dirigia a toda velocidade pela péssima estrada de chão batido, ignorando todo e qualquer buraco — o que só contribuía para aumentar a angústia de Caroline.

Percebendo que chegara ao máximo de sua capacidade, ela concluiu que, mesmo passando pelo vexame, ia ter que pedir-lhe para parar.

Respirando fundo, encheu-se de coragem e afirmou:— Preciso parar.Sem se voltar, Sam consultou o relógio e disse apenas:— Ainda não está na hora.— Sinto muito não ter dado ouvidos ao seu conselho, mas não

vou agüentar até às onze — declarou já calçando as botas.Irritado, Sam pediu a Alih que estacionasse o jipe à margem da

estrada. A caminhonete, logo atrás, deu uma freada brusca e ele gritou-lhes algo em Swahili, com certeza explicando o porquê da parada.

— Não demore.Caroline franziu os olhos e fez uma careta; já estava farta de

ouvi-lo ordenar que se apressasse. No entanto, raciocinando, admitiu a si mesma que fora a única culpada pelo que acontecia e, então, resolveu calar-se.

Sem perda de tempo, desceu do jipe e dirigiu-se a uns arbustos distantes da estrada.

Abdullah e Alih aproveitaram a parada para ir encher os cantis na caminhonete. Olhando de esguelha, Caroline viu Sam esticar as pernas e apoiar os pés sobre o painel do jipe, puxando o chapéu sobre os olhos.

No caminho de volta para o jipe, ela aproveitou para admirar a paisagem, a grama alta queimada pelo sol balançando ao vento. Para completar o panorama, pequenas árvores retorcidas, que pareciam ter sido plantadas a intervalos regulares, projetavam-se contra o horizonte. Encantada com o cenário, Caroline deteve-se e pousou as mãos nos quadris, indiferente ao calor.

Então, ouviu os rapazes gritarem e começou a voltar para o jipe. Os gritos aumentaram e Caroline, protegendo os olhos com a mão, olhou na direção do sol. Foi então que viu alguns rinocerontes, Momentos Íntimos nº 162 34

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próximos a uma pequena elevação de terra, balançado a cabeça de um lado para o outro.

Um deles pôs-se entre ela e o jipe e o barulho que os animais faziam a impedia de entender o que os rapazes lhe gritavam.

— Corra!Finalmente conseguiu entender o que Abdullah lhe gritava, mas,

naquele instante, o rinoceronte começou a mover-se em sua direção, suas patas enormes e pesadas batendo no chão como estacas.

À sua esquerda, ela viu uma árvore solitária e os rapazes lhe apontavam naquela direção. Decidida, começou a correr, mas não tinha certeza de poder alcançá-la a tempo.

Ofegante, encheu os pulmões e avançou pela grama em direção a arvore, voltando-se vez por outra para ver se o animal ainda a perseguia. Tudo lhe parecia incrivelmente irreal, assim como num sonho e um peso oprimia-lhe o peito dificultando-lhe a respiração. Jamais passara por situação semelhante.

De repente, ouviu o barulho do motor do jipe se aproximando. Continuou correndo, mas mentalmente pedia que atirassem no animal.

Por fim, esticou os braços pulou e segurou num galho mais baixo e lançou-se sobre ele, como quem monta a cavalo. Segundos depois o rinoceronte passava por ela.

Sentindo que o galho balançava, Caroline agarrou um outro, bem mais alto, onde apoiou primeiro uma perna, depois a outra. Trêmula, agarrou-se ao galho e foi se esgueirando até o tronco, onde segurou-se com toda força.

Agora estaria a salvo. Mas, não por muito tempo. O animal havia dado a volta mais adiante e retornava na direção da árvore. Ao sentir que o galho estalava sob seu peso, Caroline projetou o corpo para frente enlaçando o tronco com os braços e as pernas. Porém, o tronco era muito fino.

"Ele não vai suportar o baque do rinoceronte", pensou desesperada.

Fechando os olhos, preparou-se para o golpe do animal enquanto mentalmente, já via seu corpo sendo projetado a metros de distância.

Quando os abriu novamente, segundos depois, havia poeira por todo lado e, à distância, viu o jipe andando em círculos. O rinoceronte, confuso, o perseguia até que desistiu, preferindo cruzar a savana.

Caroline, aliviada, respirou fundo, mas ainda agarrava-se com firmeza ao tronco da árvore.

Depois de despistar o animal, Alih voltou em seu socorro e Sam comentou:

— Você pelo jeito atrai todo tipo de admiradores. Caroline não achou muita graça e só tinha uma preocupação:

— Ele foi embora? Mesmo?— Pelo menos, por enquanto. — Alih estacionou o jipe bem

embaixo da árvore e Sam afastou o chapéu para o alto da cabeça: — Mas, como ele a achou tão atraente, sugiro que se apresse se não

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quiser vê-lo de novo. Caroline manteve-se firme na árvore:— Por que não atirou nele?— Não era preciso.— Não era preciso?! — exclamou mal acreditando no que ouvira.

— Ele podia ter me matado!— Se eu achasse que você corria algum perigo, teria atirado no

animal.— E por acaso não corri perigo? Nunca passei tanto medo em

toda minha vida.— Eu sei, mas ainda bem que reagiu e começou a correr para cá.

Temi que fosse ficar lá, parada, grudada ao chão.— Ser perseguida por um rinoceronte desperta a motivação de

qualquer um.Caroline conseguiu soltar o tronco da árvore, mas, sentindo que

todo seu corpo ainda tremia, agarrou-se a ele novamente. Estranho mas agora que o perigo havia passado o medo a paralisava.

Sam percebeu que ela não descia e, cansado de esperar, ficou de pé dentro do jipe e estendeu-lhe uma das mãos:

— Vamos, desça.— O galho está estalando.— Alcance um galho mais baixo e pise no capo do jipe.Durante alguns segundos ela pensou bem na sugestão e, depois

de uma pausa, disse:— Não vou conseguir. Ainda não. Espere um pouco mais, sim?

Até eu parar de tremer. O susto foi muito grande. Sei que não vou conseguir.

Sam olhou-a surpreso. Caroline tinha conseguido se sair muito bem até então, não demonstrando pânico nem mesmo quando o rinoceronte a perseguira. Sua presença de espírito ao correr para a árvore fora incrível.

Houve um instante, quando o animal voltou para golpear a árvore, que ele chegou a temer pelo pior e teria matado o rinoceronte sem vacilar caso não houvesse outro jeito.

Seu maior temor naquele instante era que ela se deixasse dominar pelo pânico e não reagisse. Em seus vários anos de vida na selva, vira homens muito mais fortes e experientes reduzidos a verdadeiros paspalhos numa situação semelhante.

Mas Caroline demonstrara muita presença de espírito e coragem. No entanto, agora que tudo havia passado, começava a perder o controle. O que ele menos precisava naquela viagem era de uma garota histérica.

— Vamos, desça, Caroline — repetiu num tom gentil e carinhoso.Nunca se dirigira a ela com tanto carinho.— Não, ainda não posso.Suspirando, ele pôs-se de pé em cima da capo e esticou os

braços, que quase alcançavam o galho onde ela estava.— Venha, vou lhe dar uma ajuda. Creio que já gastou toda sua

coragem por hoje.Caroline olhou-o, pensativa. Seu tom de voz gentil não lhe

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passara despercebido e era a primeira vez que o via dirigir-se a ela com um mínimo de cortesia. Sam continuava a lhe estender os braços. Primeiro, olhou para ele; depois, para os lados. A caminhonete continuava estacionada à margem da estrada e os rapazes estavam de pé, do lado de fora, aguardando sua descida.

Não havia nem sinal do rinoceronte.— Tem certeza que ele foi embora? — tornou a perguntar.— Absoluta.Soltando-se da árvore, ela esticou um braço em direção a Sam,

que o segurou com firmeza.— Isso; agora o outro.Obedecendo, Caroline soltou o outro braço e ele a segurou,

então, pela cintura, pondo-a cuidadosamente de pé sobre o capo. Seu corpo trêmulo deslizou pressionado ao dele e seu coração, que já readquiria o ritmo normal, voltou a disparar. Os braços de Sam, fortes e musculosos, mantinham-na segura e Caroline, com o rosto ligeiramente inclinado para trás, olhou-o bem dentro dos olhos.

Sam não fez menção de soltá-la e Caroline não se incomodou. Ele a mantinha colada a si, corpo contra corpo, suor misturado a suor e por algum tempo, que a ela pareceu uma eternidade, ambos permaneceram ali, juntinhos.

Segundos depois, ele ajudou-a a descer para o chão.— Obrigada por tudo — disse Caroline ao se acomodar no

assento de trás do jipe.Intrigado, ele comentou:— Eu apenas ajudei-a a descer da árvore.— Não, não foi só. Você distraiu o rinoceronte para que ele

parasse de me perseguir. — E, mais séria: — Você salvou minha vida.— Já no finalzinho da tarde a caravana chegou ao rancho

McKenzie, Caroline recebeu um quarto no segundo andar da casa, onde descansou até a hora do jantar.

Ao despertar, deu-se conta dos arranhões doloridos deixados pela aventura daquele dia e foi direto para o chuveiro. O box era pequeno e a água não tinha muita pressão. Porém Caroline não se lembrava de antes ter apreciado tanto um banho. Afinal, viajara quarenta e oito horas pela savana sem poder banhar-se e tinha a nítida sensação que até seus ossos estavam empoeirados.

Por ela, teria ficado ali sob o chuveiro no mínimo umas duas horas, no entanto o bom senso logo a fez fechar as torneiras. Afinal, a água naquela região devia ser um tanto escassa e seria muito egoísmo de sua parte esvaziar o reservatórios por causa do banho. Todos tinham o mesmo direito.

Enquanto se enxugava, percebeu que os donos da casa haviam providenciado até um secador de cabelos e, pela primeira vez desde que saíra de Salindi, Caroline pôde cuidar deles.

Depois de penteá-los, ainda enrolada na toalha, voltou para o quarto que, como toda a casa, era decorado com móveis ingleses. Admirando as belas gravuras inglesas e escocesas distribuídas pelas paredes, imaginou quanto trabalho devia ter dado para transportar

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todo aquele mobiliário da Europa até a África.Sam chamava a resistência dos McKenzie de rancho e, de fato,

ela em muito se parecia com o oeste americano. Além da casa, havia o celeiro e o estábulo. Só que, naquele local, em vez de galinhas, avestruzes perambulavam pelo pátio.

Debruçando-se sobre a janela, viu o avestruz de estimação da família circulando como se fosse dona do lugar. Sam lhe explicara que a casa dos McKenzie, também considerada uma reserva animal, servia de lar para todo tipo de bichos, muitos deles encontrados quase mortos. Depois de tratados a maioria voltava ao seu habitai natural.

Além do avestruz, perambulavam pelo pátio uma zebra e um chimpanzé todo enfaixado, que brincava alegre.

Enquanto Caroline observava, a filha adolescente dos Mckenzie saiu para o pátio e, depois de pôr o laço em torno do pescoço da zebra, levou-a para o estábulo, junto com o chimpanzé. Ao caminhar, os cabelos negros e brilhantes da garota balançavam livres na altura dos ombros.

Linda tinha sido a primeira a ir cumprimentá-los quando a caravana havia chegado. Correndo em direção ao jipe, ela atirara-se nos braços de Sam, super entusiasmada. Os McKenzie vieram logo em seguida cumprimentar Caroline e dar-lhe as boas-vindas. Se sua presença os surpreendeu, o casal soube muito bem disfarçar o espanto, pois imediatamente puseram-na muito à vontade.

O casal era adorável: Sarah tinha a pele clara, típica dos ingleses, e cabelos ruivos; Duncan, escocês, tinha cabelos e olhos escuros e um sorriso encantador. Eles também cumprimentaram Sam com entusiasmo, o recebendo como a um parente. Ao acompanhar o criado que lhe mostraria o quarto, uma pontinha de inveja a assomara; Caroline, sentia-se a mais naquele ambiente em que as pessoas se tratavam como se fossem uma família.

Como se houvesse lhe adivinhando os sentimentos, Sarah a havia chamado e fizera questão de lhe mostrar que sua presença no jantar seria muito bem-vinda.

Dirigindo-se ao closet, onde havia pendurado as roupas para descansar, retirou um macacão em seda azul de mangas curtas. Depois de vesti-lo, calçou uma sandália branca e desceu para juntar-se aos outros.

Não havia ninguém na sala de estar, iluminada apenas por um abajur já antigo com cúpula de franjas. Ouvindo vozes vindas do fim do corredor, percebeu que todos se reuniam na cozinha e, mesmo antes de chegar lá, Caroline teve a impressão que sua roupa, embora simples, não era muito adequada para a ocasião.

E estava com a razão. Parada na porta, olhou para o pessoal que conversava animado. Os homens bebiam uma cerveja, sentados em tomo da mesa. Sam havia posto uma outra roupa, no mesmo estilo das que usava durante a viagem. Duncan usava uma camisa amarela já desbotada e um short caqui enquanto a filha e a esposa vestiam jeans e camiseta.Momentos Íntimos nº 162 38

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Parada, observou a cena por uns instantes enquanto Sarah tirava um recipiente do forno e dizia algo à filha. Linda, que ouvia atentamente o que o pai dizia, nem se mexeu quando a mãe lhe falou, permanecendo parada perto da mesa com uma pilha de pratos e guardanapos na mão.

— Filha, ponha a mesa — Sarah disse num tom que acabou tirando Linda do transe.

Os homens riram a valer e ajudaram-na a arrumar a mesa. A cena lhe pareceu tão caseira, tão íntima, que Caroline receou entrar na cozinha.

Então, Sarah viu-a parada na porta e chamou-a:— Puxa, você está linda. Venha, sente-se. Rapazes, abram lugar

para Caroline.— Sua roupa é tão chique — Linda comentou.— Caroline sempre está muito elegante — disse Sam. Embora não conseguisse decifrar-lhe o olhar ou o tom de voz,

Caroline suspeitou que o comentário, como sempre, era um tanto sarcástico. Mas, mesmo assim sorriu de modo gracioso e juntou-se a eles.

— Que tal uma cerveja? — ofereceu Duncan. — Ou prefere um vinho?

Sam olhou para ela, esperando pela resposta.— Uma cerveja seria ótimo — mentiu. Na verdade, dava

preferência ao vinho, mas não queria ser vítima de novos comentários de Sam. Então, voltando-se para Sarah, perguntou — Posso ajudá-la?

— Obrigada, mas já está tudo pronto, querida. Linda e eu cozinhamos; depois, os homens lavam a louça.

— Sam estava nos contando sobre sua aventura de hoje — comentou Duncan assim que ela sentou-se à mesa.

— O rinocerontes fazem jus à péssima reputação que têm. Eles são vingativos e têm um gênio terrível, em parte, creio, por causa da pouca visão. Eles vem apenas vultos, contra os quais investem. Já vi um deles correr para atacar um formigueiro — comentou, rindo. — Mas não se deixe iludir: são animais ágeis, apesar do tamanho.

— Acho os rinocerontes tão feios — emendou Linda. — São os únicos animais por aqui de que não consigo gostar.

— Nunca mais quero me deparar com um deles — comentou Caroline.

— Sam nos disse que você se saiu muito bem— Sarah falou ao terminar de servir a mesa e vir se juntar a eles. — E olhe que nunca o vi fazer um falso elogio.

Caroline olhou-o de modo fixo e sorriu:— Ah, eu sei disso.Ducan começou a servi-los e ninguém protestou contra a enorme

quantidade de comida que punha nos pratos.— O que a trouxe à savana, Caroline?Ela tornou a olhar para Sam que, pelo visto, não havia lhes

contado sobre o motivo de sua viagem. O que, aliás, não a

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surpreendia, tamanho o desinteresse que ele vinha demonstrando.— Estou indo às montanhas Batari.— Batari! — exclamou Linda, encantada. — Eu sempre quis ir às

montanhas mas Sam nunca me levou, mesmo sabendo que sei acampar muito bem. Aliás, ele nunca levou ninguém — comentou dirigindo a Caroline um olhar intrigado. — Bem, na verdade, não tem importância. Há muitos outros lugares que eu preferia conhecer, como Nova York, Paris, Madri, Cairo, Los Angeles...

— Linda, por favor — pediu Sarah.— As Batari são muito perigosas. Até para quem conseguiu

escapar ao ataque de um rinoceronte — disse Duncan.— Na verdade, esta viagem é muito especial para mim. Vou à

procura do túmulo de meu pai, que morreu nas montanhas.— Quer dizer que você é filha de Carl Logan?— Sim, Chapman é meu sobrenome artístico. Espantada, Sarah levou uma das mãos à boca:— Meu Deus! Sinto muito pelo que aconteceu a ele. Seu pai

costumava nos visitar de vez em quando e gostávamos muito de conversar com ele. Era um homem muito agradável.

Caroline percebeu que Sarah estava sendo sincera e comoveu-se. Esperava saber mais a respeito do pai, mas num outro momento; não ali na frente de todos. Temia não poder conter o pranto.

— Sim, era um sujeito formidável — disse Duncan quebrando o silêncio constrangedor que se instalara entre eles. — Entendo seus motivos para querer fazer esta viagem, mas não vai ser nada fácil.

— Tem toda razão — concordou Sam.— Mas tenho certeza que ela se sairá bem — Sarah assegurou

num gesto de apoio que Caroline apreciou.Mas, Linda agora não participava da conversa; estava intrigada

com outra coisa:— Nome artístico... — a garota pronunciou em voz alta,

pensativa.. — Você é atriz?— Sou. Trabalho na televisão, nos Estados Unidos.— Não temos televisão aqui, mas sempre assisto quando estou

em Salindi. Talvez eu já a tenha visto alguma vez.— Não, acredito que não; que eu saiba a série em que trabalho

não é exportada.Seu comentário não desanimou a menina.— Mas, o que importa? Você é atriz — disse, entusiasmada. —

Que tipo de papel você faz?— Represento uma personagem detestável — explicou, bem-

humorada.— Deve ser difícil para alguém tão legal como você. Não deve ser

fácil fazer bem um papel desses.— Nem tanto.Então, um outro pensamento ocorreu à garota.— Ei! Tenho algumas revistas de artistas de televisão! Talvez eu

encontre uma foto sua.— É possível — respondeu Caroline, já meio constrangida por ser

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Anne James África da sedução

o centro das atenções.— Mamãe, posso trazer minhas revistas aqui para baixo?— Primeiro acabe de jantar, querida.De tão entusiasmada, Linda mal tocara na comida enquanto os

outros já estavam no café.Caroline observou-a engolir a comida sem quase mastigar, com

toda certeza pensando nas revistas. Linda era uma garota adorável que herdara os cabelos escuros do pai e a pele clara da mãe. Naquela idade, já mocinha, não devia ser fácil para ela morar ali, tão longe de civilização.

A conversa mudara de rumo e agora Duncan contava a Sam sobre os novos animais do rancho.

— Ainda estamos com os gnus e filhotes de gazela, mas, a semana passada, um leãozinho veio parar aqui.

— Pensamos que a mãe dele logo viria procurá-lo, mas ela nunca apareceu. Talvez tenha morrido.

— O que pretendo fazer com ele? — quis saber Sam. Caroline notou que a troca de assunto tinha sido bem recebida

pelos homens e não os culpou.— Vamos conservá-lo aqui até que cresça e possa caçar. Então o

levaremos e quando encontrarmos um bando de leões, o soltaremos, na esperança de que consiga sobreviver.

— Tomara que os outros leões o aceitem.— Espero...— Você já viu nossos filhotes de chimpanzé? — Linda indagou a

Sam, já concentrada no assunto do rancho.Sam negou com a cabeça, sorrindo, e Caroline percebeu quanto

carinho ele lhe dedicava. Na verdade, não só à garota, mas à família toda. Por mais que todos a pusessem à vontade, ela continuava a se sentir como uma intrusa.

— Pois não vou lhe contar nada sobre eles — disse Linda. — Vai ter que esperar até amanhã para descobrir por si mesmo.

— Você não muda mesmo não é Linda? Quer me matar de curiosidade? — Sam perguntou.

— Não adianta, Sam! Vai ter que esperar até amanhã!Assim que os homens terminaram de tirar a mesa, Linda

desapareceu por instantes, voltando a seguir com uma pilha de revistas nas mãos.

— Linda... — disse-lhe a mãe — não acha que já está um pouco tarde?

— Ah, mamãe, por favor. Só quero ver se encontro alguma foto de Caroline.

E, sem esperar pela resposta da mãe, a garota sentou-se no chão espalhando as revistas à sua frente.

— Está bem, mas só por quinze minutos. Depois, você vai estudar.

Enquanto os adultos se ocupavam com a arrumação da cozinha — os homens lavando a louça, as mulheres — guardando — a garota foi vendo as revistas até que, então, exclamou:

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Anne James Passage to Zaphir

— Aqui! Encontrei uma foto de Caroline.Sarah e Duncan olharam a foto com interesse mas Sam serviu-se

de mais um café e ergueu uma sobrancelha, sem comentário algum. A foto mostrava-a descendo de uma limusine com um casaco de pele longo, do qual ela se lembrava bem. Depois de usá-lo para um dos episódios da série, o acabara comprando. Mesmo com um preço especial, o casaco lhe custara uma fortuna. Agora, ali em contato direto com a vida animal, Caroline sentiu-se envergonhada por usar um casaco de pele.

— Onde foi tirada a foto? — quis saber a garota, olhando boquiaberta para o retrato.

— Acho que numa festa para a entrega de um prêmio. Ou na festa que teve depois, não me lembro.

— Você ganhou o prêmio? Caroline não pôde conter o riso.— Não, não sou tão boa atriz assim. Nunca fiz nenhum papel

digno de prêmio.— Aposto que isso é modéstia. Sei que é boa atriz.— Boa, não; mas tenho sorte.— Não é incrível ser atriz? Puxa, eu também queria ser. Só de

pensar em todas aquelas pessoas famosas e ricas que eu ia conhecer já me dá vontade de ir para a América. E as roupas, então...

Caroline voltou a ficar embaraçada por tornar a ser o centro das atenções e procurou responder à garota de modo ponderado.

— É claro que existem coisas boas por lá. Toda a atenção que se recebe é muito excitante. Pelo menos, no começo. É ótimo fingir que se é outra pessoa uma parte do dia e o salário é alto, mas o trabalho é muito cansativo. Às vezes, tem-se que ficar quase um dia todo à espera de uns poucos minutos de gravação. Além do que, os enredos dos filmes quase sempre mostram falsos valores.

— Mas você gosta.— Sim, porém não é o quero para mim para sempre. Por

enquanto, está ótimo.Mas nada desencorajava a garota.— Puxa, eu daria tudo para ser uma atriz famosa como você.

Quem sabe, um dia...— Sim, um dia — emendou Sarah — mas não hoje à noite. É hora

de ir para o seu quarto estudar para a aula de francês.Enquanto a filha recolhia as revistas e se despedia de todos, a

mãe explicou:— Ela tem que estudar para tirar dez em tudo e entrar para uma

universidade na Inglaterra no outono. Linda é inteligente, mas muito distraída.

Sam, que até então observara a cena com um riso irônico, sorriu de modo mais amplo quando Linda deixou a sala.

— Bem, toda esta conversa sobre o estrelato acabou me dando sono — disse, deixando a xícara de café sobre a pia. Então, despediu-se de Sarah com um beijo, acenou para Duncan e assentiu com a cabeça para Caroline. — Até amanhã para todos.Momentos Íntimos nº 162 42

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Anne James África da sedução

— Acho que vou me recolher também — adiantou Duncan. — Amanhece muito cedo aqui na savana. Você fica Sarah?

Caroline torceu para que a dona da casa ficasse para conversar e fazer-lhe companhia. O cochilo da tarde roubara-lhe o sono, mas ela não queria prender Sarah.

— Acho que vou ficar mais um pouco, Duncan — disse, beijando o marido.

— Não se prenda por minha causa — comentou Caroline.— Não se preocupe — respondeu o dono da casa.— Sarah adora ficar acordada batendo um papo só que nem

sempre há alguém com quem conversar.Depois que os homens subiram, ambas se sentaram em torno da

mesa e saborearam mais um café.— Duncan está certo. É ótimo ter alguém com quem conversar.

Sinto-me muito só aqui.— Eu estive pensando... — começou Caroline, mas teve medo de

parecer intrometida.— Por que moramos aqui? — completou Sarah. — Porque, apesar

de tudo, adoramos a vida na reserva. Duncan e eu viemos para cá num safári muitos anos atrás e nunca mais fomos embora. Aliás, só uma vez: voltamos para casa, preparamos a mudança e retornamos. Duncan largou o emprego, vendemos a casa e tudo o que não podíamos trazer. Então, fomos ter com o procurador-geral e estabelecemos nossa fundação.

— Fundação?— Sim, criada com o dinheiro que Duncan havia herdado. Ele

descende de uma família escocesa muito rica e, na verdade, nunca soube muito bem o que fazer com o dinheiro. Aqui, passamos a nos dedicar inteiramente aos animais. A reserva é enorme e a caça é proibida. É bom saber que, pelo menos aqui, a vida selvagem está preservada.

— Eu os admiro muito. A vida nesse lugar parece ser tão simples, tão descomplicada...

— Bem, nem sempre. De certa forma, é como a sua vida de atriz. Há muito trabalho e por vezes pode se tornar monótono e solitário. Mas, cada dia que amanhece é especial e nos apresenta novos problemas a serem solucionados. É maravilhoso atingir um objetivo a que a gente se propõe.

— Meu pai sempre os visitava aqui na reserva? — Caroline perguntou de repente.

— Diversas vezes, principalmente enquanto estava planejando a visita às montanhas Batari. Tentamos dissuadi-lo da idéia e fazê-lo ver que era muito arriscado, muito perigoso, mas foi inútil. Ele era um homem muito determinado.

— Sim, eu sei.— Ele acreditava que existia de fato a cidade perdida das

montanhas.— E você? Acredita que Zaphir exista? — perguntou tentando

imprimir um tom casual à pergunta.

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Anne James Passage to Zaphir

— Bem, acho que o que eu penso não importa. Seu pai, assim como uma porção de africanos, acreditava.

— Quer dizer que tem africanos que acreditam? Era a primeira vez que alguém lhe falava a sério sobre Zaphir.— Ah, sim. Só que a maioria, exceto a tribo Ngesi, prefere ficar

longe das montanhas. Segundo as lendas, Zaphir é habitada por espíritos maus. Alguns velhos das tribos acreditam que foram os espíritos que mataram seu pai.

— O que você acha que realmente aconteceu a ele?— Ah, Caroline — respondeu Sarah —, acho que ninguém nunca

saberá ao certo. Existem várias possibilidades... Pode ter sido um caçador fugitivo, algum desocupado, ou algum habitante das tribos, com medo dos espíritos. Quem sabe até os envolvidos nas brigas da fronteira, contrabandistas de armas que o primeiro-ministro está querendo prender. Só não entendo o que eles poderiam querer com seu pai.

— Não entendo como alguém pudesse querer lhe fazer mal...— A África é um lugar cheio de mistérios, você vai ver quando for

às montanhas. Foi muita sorte estar acompanhada de um bom guia. Se há alguém capaz de levá-la e trazê-la sã e salva, este alguém é Sam Matlock.

— Só que ele me trouxe contra a vontade. Enquanto continuavam a conversar, Sarah foi lavando as xícaras:— Desde a primeira vez que ele veio para cá, há seis anos atrás,

sempre o achamos um profissional incrível. Sam parece agir por intuição, o que deixa a todos nós muito impressionados. Principalmente a Duncan.

— Sim, ele é fantástico — concordou Caroline. — Mas pode se tornar muito difícil, às vezes. Para não dizer intratável.

— É, eu já percebi — Sarah achou graça. — Mas acho que é uma forma de se defender. Sam tem muitos pontos frágeis. Minha filha, por exemplo.

— Creio que toda a sua família — comentou Caroline.— Sim, fico feliz em sermos amigos de Sam. — E, depois de uma

breve pausa, acrescentou: — Acho que essa aparente frieza que ele tenta impor deve ter a ver com os problemas que teve nos Estados Unidos.

— Eu não estava sabendo disso — disse Caroline, tentando disfarçar seu interesse e, ao mesmo tempo, querendo que Sarah lhe explicasse melhor o assunto.

— Bem, não sei ao certo o que houve, acho que foi algum problema no trabalho. Ele perdeu o emprego e a esposa o abandonou. Sam ficou muito desiludido e acabou vindo para cá.

— Você não sabe o que foi que aconteceu?— Não. Mas, seja o que for, tenho certeza que ele é inocente.— Inocente? Caroline indagou.No entanto, Sarah, já arrependida por ter falado demais, não lhe

contou mais nada.

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Anne James África da sedução

CAPÍTULO V

O sol começava a se levantar no horizonte quando Sam e Linda, montados a cavalo, cruzaram a grama alta. As cores do amanhecer tingiam o céu de tons variados e ambos foram ver o dia nascer.

Os cavalos, irrequietos, queriam continuar a cavalgada, mas Linda e Sam tinham idéias em mente.

— Da primeira vez que viemos aqui juntos — disse a garota — eu era tão pequena que precisava de um banquinho para subir no cavalo, lembra-se?

— Claro que sim. Lembro-me, também, que você gritou a valer quando tentei ajudá-la. "Não, pode deixar que eu subo sozinha!"... Nunca vou esquecer a cara que fez. E aquela vez que você resolveu perseguir uma girafa?

Linda sorriu.— Na época não conseguia entender porque as girafas corriam

mais do que o cavalo que eu tinha... Mas, ainda gosto de uma boa corrida. Se olhar para trás, vai ver um bando de zebras indo em direção ao oeste. Vamos segui-las?

— Vamos.E, puxando as rédeas, seguiram na direção dos animais.Depois de meia hora acompanhando as zebras, ambos deixaram-

nas e pararam perto de amas árvores, para os cavalos descansarem. Linda, ainda entretida com suas lembranças do passado, sentou-se no chão apoiando-se no tronco de uma das árvores.

— Naquele tempo, você não sabia quase nada, não é, Sam? Lembro-me que papai teve que lhe ensinar como laçar um animal e eu o ensinei a girar o laço.

— Eu era um homem da cidade, não se esqueça — ele sorriu.— Sim, eu sei. Não vai ser nada fácil deixar tudo isso quando eu

tiver que ir para a universidade. É difícil imaginar como será Londres... Será que vou sentir saudades de casa?

— Claro que sim, principalmente no começo. Depois, vai se transformar numa garota da cidade e até se esquecerá de nós.

— Isso não! — protestou. — Vou ter saudades de todos. Nunca vou esquecer do rancho e dos animais.

— E dos humanos?— Ah, claro que sentirei falta e pretendo vir visitá-los sempre

quando eu ficar famosa. — Linda fez uma pausa e, como Sam não lhe perguntasse nada, foi forçada a explicar: — Pretendo ser atriz! — Ele não respondeu, mas ela não se deixou abater: — Já posso até me ver num palco. Você não?

Finalmente ele reagiu:— Quando foi que chegou a esta conclusão? Ontem à noite?— Não, há algum tempo que venho pensando nisso. Na verdade,

desde que eu tinha doze anos.Sam não pôde deixar de rir.— E hoje você tem treze — disse, só para provocá-la.

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Anne James Passage to Zaphir

— Ora, sabe muito bem que completei dezesseis.— Olhe, se eu fosse você, não ficava tão entusiasmada com sua

hóspede.A garota olhou-o com um brilho maroto nos olhos.— Acho que não sou eu quem está entusiasmada com ela.Sam ignorou-lhe o comentário e esticou o braço para ajudá-la a

levantar-se:— Vamos, acho que já é hora de voltarmos.— Todo mundo percebe que você gosta dela — ela disse,

insistindo no assunto enquanto montava.Lado a lado, ambos foram cavalgando enquanto Linda

prosseguia:— Você gosta mesmo dela — repetiu. E, como não obtivesse

resposta, perguntou: — Sabe como foi que percebi?— Não.— Pelo jeito como olha para Caroline. Ou finge não olhar.Orgulhosa por ter-lhe descoberto o segredo, a garota o fitou.Embora Sam não respondesse, sabia que Linda tinha razão. Seus

olhos voltavam-se com muita freqüência na direção de Caroline. Quando achava que ninguém o observava, estudava-a de modo disfarçado, deliciando-se com o som de sua voz. Já era de se imaginar que para uma garota esperta como Linda nada passava despercebido, mas, o que ela vira, não era nem a metade.

Seu pensamento vivia povoado com imagens de Caroline e Sam não cansava de relembrar aqueles instantes em que a teve nos braços, seu corpo colado ao dela perfeitamente amoldados como se tivessem sido feitos um para o outro.

Naquele instante, esquecera completamente do rinoceronte e seu maior desejo era beijá-la ali mesmo, em plena savana. No entanto, se intimidara. Até agora não entendia o que o impedira de realizar o desejo.

Talvez fosse medo. Sam nunca temera coisa alguma na vida, mas agora seus sentimentos o assustavam. Jamais desejara outra mulher do modo como desejava Caroline. Seu maior temor era não poder mais se controlar. Desde o início relutara em trazê-la, pois sabia que Caroline exercia um certo fascínio sobre ele.

— Sam, olhe! — Linda exclamou, trazendo-o de volta à realidade. — AH, perto daquela árvore — e apontou. — É um filhote de gnu.

Sam logo o localizou.— Talvez tenha se perdido da mãe. Isto acontece sempre. —

Linda puxou as rédeas e deteve o cavalo.— Nenhum outro bando de animais vai aceitá-lo, não é, Sam?— Não. Eles vão simplesmente afastá-lo.— Oh, Sam, temos que fazer alguma coisa — implorou a garota,

comovida com o sofrimento do animalzinho. — Não podemos deixá-lo morrer aqui.

— Tudo bem, vamos levá-lo. — Sam concordou. — Mas só se prometer não se apegar a ele. Deixe-o continuar assim, selvagem.

— Eu prometo.Momentos Íntimos nº 162 46

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Anne James África da sedução

Sam apanhou a corda enrolada na sela, fez um laço, e rodopiando-o no ar, partiu em direção ao animal. Com agilidade, laçou o pequeno gnu e seguiram para o rancho, Linda felicíssima por levar mais um hóspede para a reserva.

Caroline tinha acabado de sair de casa e caminhava em direção aos cercados e às gaiolas quando viu uma nuvem de poeira no horizonte.

Protegendo os olhos com as mãos, observou com atenção até que reconheceu Sam e Linda. Ao ver o que traziam preso à corda, sorriu para si mesma.

— Mais um para a coleção? — perguntou-lhes assim que eles cruzaram os portões.

— Foi idéia de Linda — alegou Sam, desmontando do cavalo. Depois, puxou o gnu pela corda até o cercado, abriu a porteira e o soltou: — Pronto, agora vá se juntar aos seus outros amiguinhos que Linda também trouxe para cá — disse, dando um tapinha amistoso no dorso do animal.

Sob o olhar dos três, o pequeno gnu correu meio desorientado e, então, aproximou-se de um outro de sua raça.

— Não seja exagerado — defendeu-se Linda — eu só tenho três gnus. E um deles nunca vai poder retornar à savana.

— E os outros? — indagou Sam enquanto caminhavam ao longo da cerca assistindo o pequeno gnu aproximar-se dos outros.

— Não me importo que sejam soltos. Não mesmo, Sam. — E, voltando-se para Caroline: — Ele acha que eu ainda sou criança quando se trata dos animais mas eu compreendo que eles nasceram para viver soltos; desde que tenham condições de sobreviver. Venha, vou lhe mostrar os outros cercados e os Tommies que serão soltos daqui a alguns dias.

— Está gostando do dia aqui na reserva? — indagou-lhe Sam enquanto ambos acompanhavam a garota.

— Muito. Depois que Duncan saiu com uns oficiais da polícia florestal, eu e Sarah tomamos um ótimo café da manhã. Então, fomos dar comida para o filhotinho de leopardo. Isto é, foi Sarah quem deu; eu fiquei só olhando.

— Ele é um amor — comentou a garota. — Só que suas brincadeiras são um pouco exageradas.

— Eu não creio que gostasse de "brincar", com ele. — Caroline sorriu.

Ao se aproximarem de um pequeno cercado, Linda anunciou:— Aqui estão nossos Tommies. Ambos foram muito machucados

por um leão mas agora já estão prontos para serem devolvidos à savana.

— Tommies? — indagou Caroline.— Sim — disse Sam. — É o apelido que se dá às gazelas da raça

Thompson. — E, ao vê-la fazer menção de acariciá-los, preveniu: — Não os toque.

— Por quê?— Duncan quer que eles continuem a temer os homens, pois

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assim poderão sobreviver na savana. Quando um bando dessa raça passar, ele os soltará para que se juntem aos outros. Um animal desses tem que ser independente.

— Entendo como se sente Caroline — disse Linda ao vê-la lançar um olhar carinhoso em direção às gazelas. — Elas são mesmo adoráveis com aquela faixa preta nas costas e aqueles olhos negros tão meigos. É uma tentação mas nem eu consegui domesticá-los. Espero que consigam sobreviver em liberdade.

— Bem, se não conseguirem — explicou Sam — será por culpa da lei da natureza. Aqui na África, nem todos os bichos conseguem completar seu ciclo de vida.

— É isso que meu pai me diz umas vinte vezes por dia — afirmou a garota, caminhando um tanto tristonha. — Bem, agora vou lhes mostrar três animais que vão completar seu ciclo de vida porque vamos ficar com eles até que morram. São os chimpanzés, Sam — disse, correndo mais à frente. — E não adianta tentar adivinhar a surpresa!

No mesmo instante que Linda abria a porta do viveiro, Sarah chamou-a da porta de casa, mas a garota escondeu-se para não ser vista.

— Aqui estão — anunciou. — Meus favoritos!— Eles são brancos! — exclamou Caroline, boquiaberta. — Nunca

vi um chimpanzé branco.— Poucos viram — comentou Sam. — Onde vocês os

conseguiram?— Papai e alguns dos empregados os acharam no sopé das

montanhas Batari e os trouxeram para cá. Deu um trabalho danado para transportá-los porque eles não tinham levado nenhuma gaiola e os filhotes não param quietos. Pode passar a mão neles — ela disse a Caroline ao entrar no viveiro e pegar um dos bichinhos no colo.

Caroline não resistiu à tentação e acariciou a cabeça do animal, surpreendendo-se com sua beleza:

— Eles têm olhos azuis!— Não são mesmo uma gracinha? — Sam comentou. São

chimpanzés albinos.— Não me parecem doentes. Por que não os devolvem à savana

quando ficarem mais velhos?— Eles são marginalizados — explicou Sam, pensativo. — Por

terem perdido a pigmentação, o resto do bando os rejeitaria e eles se tornariam alvo fácil para os predadores.

— É isso mesmo — confirmou Linda.— A mãe provavelmente foi morta para satisfazer as

necessidades do pajé de alguma tribo. Ou, então, para ser transformada em capa de pele para protegê-lo do frio.

Ao comentar, Sam olhou de modo significativo para Caroline e ela notou que ele se referia indiretamente ao seu casaco de pele.

— Que horror!O pequeno chimpanzé havia subido para o ombro de Linda e a

garota o pôs nos braços de Caroline. O bichinho era adorável com Momentos Íntimos nº 162 48

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seus lindos olhos azuis e o pêlo mais macio que ela já tocara. Caroline ficou encantada.

— Ele se comporta como um gato...— E gostou de você... — disse Sam acariciando o queixo do

animal.Sam estava bem próximo dela olhando para o filhote em seus

braços, que mantinha os olhos fechados. A cada carinho que fazia no bicho, seu braço roçava o de Caroline.

— Eu sabia que vocês iam adorar meus chimpanzés — exclamou Linda, muito orgulhosa. — Podem brincar à vontade, mas tenho que voltar para terminar minha tarefa. Acho que mamãe me chamou.

— Chamou sim, e já faz tempo — Sam não conteve uma gargalhada.

Linda saiu do viveiro fechando a porta atrás de si. Sam não pôde deixar de notar como os raios de sol brincavam nos cabelos loiros de Caroline.

Refreando o ímpeto de tocá-los, observou-a acariciar o filhote adormecido. Finalmente, apanhou o bichinho e, colocando-o junto com os outros saiu com Caroline do viveiro.

Enquanto Caroline observava os outros dois chimpanzés brincarem, o sol iluminou-lhe o rosto, ressaltando-lhe as maçãs do rosto bem salientes. Ela franziu um pouco os olhos muito azuis, mas não mudou de lugar.

— Acho os McKenzie incríveis — ela comentou.— São mesmo notáveis — Sam respondeu, os olhos fixos nela.— Morar assim tão longe da civilização...— Você os admira muito, não? — perguntou a Sam.— Sim, fico surpreso com a lealdade, a devoção e perseverança

desse casal.Sua palavras deixaram-na tão surpresa, que Caroline até ergueu

o rosto para encará-lo. Nunca o vira expressar seus sentimentos daquela forma, embora não duvidasse que fosse um homem sensível.

— Não pensei que fosse tão sentimental — disse-lhe.A princípio, a tendência de Sam foi se calar, mas depois disse

num tom de voz enigmático:— Tem muita coisa a meu respeito que você desconhece.— É verdade... — Pensou, então, em tudo o que Sarah lhe

contara na noite anterior, e no que não contara também. — Mas gostaria de saber mais a seu respeito — disse e, ao perceber que falara demais, acrescentou:

— Já que seremos companheiros de viagem durante os próximos dias, facilitaria muito o nosso convívio se fôssemos amigos.

Gomo não obteve resposta, afirmou:— Sei que até agora só tenho lhe causado problemas, fugindo do

rugido dos leões, escapando à perseguição do rinoceronte. Senti-me uma perfeita idiota; não sei porque não fui mais cuidadosa. Mas, prometo me esforçar.

Enquanto ela lhe falava, Sam limitou-se a observá-la, estudando seus olhos muito sérios, expressivos, e que deviam ficar lindos na

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televisão. Por ser uma atividade muito diferente da sua, pouco entendia do trabalho de uma atriz mas tinha certeza que aqueles olhos podiam transmitir qualquer tipo de emoção... Qual seria a reação dela se esticasse o braço e lhe tocasse o rosto, a curva delicada do queixo? E se fosse mais ousado e lhe deslizasse os dedos pelo pescoço, descobrindo seus pontos sensíveis, explorando-os também com os lábios?

Ao continuar se desculpando, Caroline o tocava de leve nos braços, a mão quente e firme queimando-lhe a pele. Suas palavras eram tão intensas quanto seu toque, mas Sam mal podia ouvi-las, distraído que estava em estudá-la.

Caroline tinha o poder de mexer com todos os seus sentidos.— Portanto — finalizou ela — prometo não lhe causar mais

problemas.Terminada a frase, Caroline fechou os lábios, que formaram uma

linha fina, despertando em Sam o desejo quase incontrolável de beijá-la.

Por um momento, o tempo e o espaço pareceu deixar de existir. Então, devagar, Sam estendeu o braço e acariciou-lhe os cabelos dourados.

Durante uns poucos segundos, uma expressão de surpresa cruzou o olhar de Caroline para logo em seguida desaparecer. Sam, aproximando-se, pousou os lábios nos cabelos num gesto terno e sensual.

No cercado, um dos chimpanzés gritou enquanto brincava de dar cambalhotas com o irmão. Caroline achou graça, mas não olhou para os animais. Seus olhos estavam presos aos dele enquanto Sam enlaçava-a pela cintura, deslizando os dedos por sob sua camiseta de algodão até tocar-lhe a pele acetinada e puxá-la para mais perto de si.

O coração de Caroline batia disparado do mesmo modo que na véspera, quando correra para subir na árvore. Só que agora não havia medo em seu íntimo; apenas excitação ao senti-lo apertá-la contra si, os seios comprimidos contra o peito forte e rijo. O coração dele batia acelerado também e a respiração tornara-se quase ofegante.

Sam deslizava-lhe as mãos pelas costas mantendo-a bem junto a si. Então, baixando o rosto aproximou os lábios dos dela e beijou-a.

Caroline entreabriu a boca para retribuir ao beijo. Suas mãos, que a princípio estavam caídas ao longo do corpo, seguraram-no pela cintura, acariciando-o com ternura.

Os gritos alegres dos macacos no cercado pareceram-lhe cada vez mais distantes, como se ela e Sam tivessem sido transportados para um outro mundo, onde estivessem absolutamente sós.

Erguendo o rosto, Sam olhou-a e tornou a beijá-la. Ao senti-lo introduzir a língua quente e úmida em sua boca, trêmula, Caroline precisou se apoiar em Sam, e deliciou-se com as sensações incríveis que o beijo lhe despertava.

Finalmente, quando pensou que sucumbiria de tanta emoção, Sam separou os lábios dos dela e Caroline, num gesto de timidez Momentos Íntimos nº 162 50

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afundou o rosto no peito forte.Ela tornou a ouvir os gritos dos filhotes e, aos poucos, foi

voltando à realidade. No entanto, seu coração ainda batia acelerado, as pernas tremiam, e a fantasia misturava-se à vida real.

O beijo tinha tido um efeito inesperado, devastador sobre Caroline, que precisava de um tempo para se recuperar.

Sam, percebendo-lhe o constrangimento, permaneceu calado por uns minutos, limitando-se a mantê-la juntinha de si até que seus corações voltassem a bater no ritmo normal.

Instantes depois, tudo voltou a ser como antes: os raios de sol brilhavam fortes e os filhotes, exaustos, deitaram-se para descansar.

— Caroline — Sam murmurou num tom grave, mas calmo e firme — acho que isto é apenas o começo.

Caroline não respondeu, mas, intimamente, concordou.Em silêncio, afastaram-se do cercado e ouviram logo os

chamados de Linda. Ela havia posto a zebra e o gnu juntos e ambos pareciam se dar muito bem.

— Talvez tenhamos que ficar com o gnu — Linda disse com ar maroto.

Caroline e Sam, parados junto à cerca, observavam a mistura estranha dos dois animais.

Linda, entretida com seu mundo animal, nem se deu conta de que algo entre eles havia mudado no curto espaço de tempo que os deixara a sós, e continuava a tagarelar:

— É claro que o chimpanzé ficou um pouco enciumado mas ele logo se recupera. Além do que — acrescentou, segurando a mão enfaixada do macaco. —, ele gosta mais das pessoas do que dos animais. Deixe-me apresentá-los: Sam e Caroline, este é o Mr. Magoo. Estenda a mão — ela sussurrou para Caroline, que seguiu a instrução.

Mr. Magoo imediatamente apertou-a, para surpresa de Caroline. Sam fez o mesmo só que o chimpanzé logo soltou-lhe a mão para tornar a pegar na de Caroline.

— Ele deve conhecer você da televisão — Linda brincou.— Ele é tão mansinho.Era difícil para Caroline acreditar que aquele macaco havia sido

trazido da selva.— Há muito tempo que ele está aqui conosco. Mr. Magoo quase

teve o braço esmagado por algo que nunca descobrimos. O médico veio para a reserva especialmente para operá-lo e conseguiu recuperar o braço dele, mas Mr. Magoo nunca mais pulou nas árvores como os outros. Ele ficou engessado muito tempo e agora está só com a faixa. Durante a recuperação tornou-se muito manso e adora as pessoas.

— Bem, ele certamente gostou de Caroline — observou Sam ao caminharem em direção à casa. — Aliás, ela adquiriu dois novos admiradores... — acrescentou, lançando-lhe um olhar maroto que a fez corar.

Linda, que seguia mais à frente, concordou:— Isto mesmo, o filhote albino também gostou dela.

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— Ah, esqueci dele. Com isto são três...Logo após o jantar, a família McKenzie reuniu-se com os

hóspedes na varanda quando ouviram os primeiros ruídos de um helicóptero. Quando o barulho aumentou, todos foram esperá-lo; na certa desceria ali.

— Quem será ? — quis saber Linda, entusiasmada.— Não sei — respondeu o pai. — O médico só ficou de vir na

semana que vem.— Só espero que não seja um daqueles oficiais do governo tão

chatos — ela retrucou enquanto o helicóptero descrevia uma curva para, então, pousar. — Ah, ainda bem que não é um oficial. Aposto como é Eric, só ele voa assim.

O helicóptero pousou e eles aguardaram até que as hélices perdessem a velocidade e a porta se abrisse.

É Eric! — gritou a garota, correndo para cumprimentá-lo.— Eu trouxe umas champanhes já geladas, portanto, não vamos

perder tempo.Ao caminharem todos de volta para casa, Eric explicou o motivo

da visita.— Eu estava com tempo de sobra e achei que seria boa idéia vir

visitar a reserva.Caroline notou uma certa apreensão na fisionomia de Sam e

percebeu que ele não esperava rever o sócio durante o safári. A presença de Eric o deixara tenso.

— Oba! Vamos fazer um baile — disse Linda, feliz com a visita.— Mas, e a orquestra? — indagou Eric.— Ora, seu bobo, podemos usar meu gravador. Em pouco tempo

tudo já havia sido organizado. Aosom das fitas gravadas, foram acrescentados os tambores

tocados por um dos empregados da reserva e Abdullah, enquanto o jovem Juma tocava um instrumento similar ao tamborim. Os outros empregados, inclusive Matope e Alih, batiam palmas ao ritmo das músicas.

A mistura dos estilos de dança era incrível, pensou Caroline enquanto dançava com Eric, que parecia ensaiar uns passos de twist. Ela, por sua vez, deixava o corpo livre ao sabor da música.

— Puxa, que maravilha — Eric comentou ao parar para observá-la dançar. — Nunca vi esta dança por aqui. Ficamos muito atrasados perdidos aqui em Salindi, mas vou tentar aprender. — E, de fato, começou a copiá-la com uma facilidade espantosa.

Até Duncan, com seu jeito meio circunspecto, acabou dançando acompanhando as instruções de Caroline. Linda seguiu-os e logo fez Sam e Sarah acompanharem-na.

— Acho melhor começarmos a arrumar esta bagunça e irmos para a cama — sugeriu Duncan depois de dançarem freneticamente por um bom tempo. — Sam e Caroline vão sair antes do dia clarear.

— Ainda não, papai — pediu Linda. — Mamãe e eu tínhamos feito um bolo para a festa de despedida e ainda preciso terminar de confeitá-lo.Momentos Íntimos nº 162 52

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— Então, o que está esperando?Uma balada começou a tocar e Sam, que estava perto de

Caroline, puxou-a devagar.— Eu sabia que a teria em meus braços outra vez — ele

murmurou-lhe ao ouvido — mas não esperava que fosse tão rápido.Caroline se descontraiu e juntos, ambos acompanharam o ritmo

lento da canção.— Não sei se vou conseguir ficar sem beijá-la por muito tempo —

ele disse.Caroline não respondeu, mas percebeu que enrubescia. De novo,

percebeu então que os beijos que haviam trocado a deixara fascinada por ele.

Sua única esperança era que, quando voltassem para a savana e prosseguissem a viagem, Sam continuasse assim, gentil e carinhoso, tão diferente do comportamento que mantivera durante os dois primeiros dias de viagem.

Quando Linda e Sarah trouxeram o bolo, todos procuraram se acomodar, sentando-se no chão mesmo.

Porém, assim que a sobremesa foi saboreada, alguns começaram a dançar outra vez.

Caroline, que tinha ido até a porta, já ia voltar para dentro quando ouviu vozes vindas de fora. Depois de uns instantes percebeu que\se tratava de Eric e Sam.

Já estava quase indo juntar-se aos dois quando algo que ouviu a fez procurar um local mais escuro.

— Ela será um bom disfarce para você, Sam. Eu lhe avisei desde o início.

Caroline franziu as sobrancelhas. Estariam falando a seu respeito?

— Pensei que você tinha vindo para levá-la de volta.— Ora, claro que não — disse Eric.Caroline sabia que deveria se aproximar e deixá-los verem-na,

mas resolveu permanecer onde se encontrava e escutar o resto da conversa.

— E, então, como vão indo as coisas? — Eric quis saber.— Nada bem... — Sam falava num tom frio e distante... Esta não

foi uma boa idéia, Eric, eu bem que falei. Falei para você e para ele.Mais confusa ainda, Caroline levou uma das mãos ao queixo. A

quem estariam se referindo?— Ora, não me venha com essa, diga logo o que descobriu. Você

já falou com ela sobre o velho Carl? Já sabe se ele achou alguma coisa nas montanhas? Algo que pudesse ter provocado sua morte?

— Não diga que veio até aqui só para me perguntar isso.— Não exatamente só por isso. Mas eu queria ter certeza que

não ia me trair. Você já não está gostando um pouco dela?— Não.Caroline não entendeu por que ele mentia. Ou será que não era

mentira?— Pois ela me pareceu mais bonita do que na cidade. Eu ficaria

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muito feliz em trocar de lugar com você.— Então, leve-a de volta para Salindi. Caroline sentiu o sangue

gelar-lhe nas veias.— Não, não. O lugar dela é aqui com você. Precisamos descobrir

esta história. Portanto, fique de olhos e ouvidos bem abertos. Se tudo der certo, vai ser ótimo para nós.

Os dois começaram a se afastar e suas vozes foram se tornando inaudíveis.

Trêmula, Caroline permaneceu ali, parada no escuro. Então, aquela viagem era uma farsa? Eric queria que Sam a usasse para saber o que seu pai havia descoberto. Mas, por quê? Sobre o que falavam?

Qualquer que fosse a resposta, Sam achava que ela não lhes serviria para nada, mas, no entanto, fazia exatamente o que Eric tinha sugerido.

Chateada e sem saber como agir, Caroline só tinha uma certeza: prosseguiria com aquela viagem!

Mas, sob sua fachada de determinação, a mágoa doía-lhe no peito.

CAPÍTULO VI

Fazia calor; o cenário era bastante inóspito e o terreno difícil. O calor e a secura da região foram suficientes para deprimir Caroline que, ainda assim, conseguiria sorrir se não fosse a lembrança da conversa que ouvira na noite anterior. Sacolejando dentro do jipe, repassava mentalmente inúmeras vezes o diálogo, tentando extrair o significado exato de cada palavra.

Por fim, cansada, achou por bem desistir. Quaisquer que fossem as respostas, só a fariam lamentar o que acontecera entre ela e Sam.

A vontade de Caroline era de poder apagar da memória aqueles beijos que tinham trocado e que, para ela, haviam significado tanto.

— Você está bem?Caroline sabia que Sam vinha observando-a sem saber ao certo o

que estava acontecendo e, como resposta, limitou-se a menear a cabeça como a dizer que sim, que estava muito bem.

Ele, no entanto, insistiu:— Não é possível, deve haver alguma coisa errada. O que é?— Nada.Sam, que dirigia o jipe, havia insistido para que ela o

acompanhasse no banco da frente. Ao partirem da reserva, ele lhe segurara a mão e a ajudara a subir, sempre com um sorriso gentil nos lábios.

— Está cansada? — ele tornou a insistir e, pelo visto, não desistiria até que obtivesse uma resposta convincente.

— É, acho que sim — ela concordou. — Acho que é cansaço.— Logo adiante nós vamos parar para almoçar.E, de fato, uns dois ou três quilômetros adiante, numa região

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cheia de árvores frondosas, ele parou. Ali, à sombra, poderiam descansar melhor.

O almoço, que consistia mais uma vez em sanduíches de pasta de amendoim, foi saboreado em silêncio. Depois, Caroline ajudou Matope á lavar os pratos e, servindo-se de uma xícara de chá, foi sentar-se sob a sombra de uma das árvores, sozinha, de costas para seus companheiros de viagem.

No entanto, nem assim conseguiu livrar-se de Sam, que a seguiu.Ao sentar a seu lado, ele pareceu tranqüilo, mas, certamente,

intrigado. Nenhum dos dois disse uma palavra sequer, cada qual perdido em seus pensamentos.

Embora evitasse olhar para ele, Caroline, estudando-o de esguelha, viu-o tirar o chapéu e, depois de correr os dedos pelos cabelos, colocá-lo de novo na cabeça. Por que ele tinha que ser tão bonito, tão atraente? Os primeiros botões de sua camisa jeans estavam desabotoados revelando o peito peludo, que oscilava ao ritmo da respiração. Como sempre, trazia uma faca presa à cinta e as mangas arregaçadas deixavam à mostra os braços musculosos que ela tocara com tanto carinho a noite passada. Nos lábios que beijara, bailava um riso irônico.

Sentindo que todo seu corpo reagia à presença dele, Caroline achou melhor desviar os olhos noutra direção pois, por mais atraída que estivesse, o diálogo que ouvira continuava bem vivo em sua memória.

Mesmo na sombra, o calor ainda era muito forte e Caroline ergueu o cabelo que lhe esquentava a nuca, prendendo-o no alto da cabeça com uma fivela que tinha no bolso. No entanto, algumas mechas úmidas de suor continuavam a emoldurar-lhe o rosto.

Sentindo uma onda de desejo aquecer-lhe o corpo, Sam observou-a lutar, em vão, com os cabelos rebeldes. Observou as mechas douradas e controlou o ímpeto de tocá-los. Por fim, cansada de tentar prendê-los, Caroline deu de ombros e desistiu.

— Nas montanhas, a temperatura é bem mais amena — ele comentou. — Pelo menos, à tardinha e à noite.

Como já era de se esperar, ela não respondeu. Caroline parecia determinada a não lhe contar o que se passava de errado, mas Sam não queria desistir de descobrir a verdade. E seria naquele momento, antes mesmo que prosseguissem viagem.

Exausta, Caroline se recostou de vez contra o tronco da árvore e Sam nunca a vira mais bonita, mais atraente. Desejara-a a noite passada e desejava-a agora com mais urgência. Por quanto tempo ainda resistiria?

— Não creio que esta seja a Caroline Chapman que seus fãs desejassem ver — disse-lhe, tentando puxar conversa.

— Tem razão, creio que não.— Tenho a impressão que a série em que trabalha deve ser um

sucesso.— Somos os primeiros em audiência no horário ê há vários

meses que estamos no ar.

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— Bem, já faz algum tempo que não vou aos Estados Unidos.— Quanto tempo? — ela quis saber, incapaz de conter a

curiosidade. i— Sete anos — respondeu, emendando logo outra pergunta —

Como se chama a personagem que você representa?— Simone Beauchamp.— Como? — indagou, sorrindo. — Ela é francesa?— Não. — Caroline também não pôde deixar de rir.— Aposto como ela não é uma garota comum.— Acertou. Ela é uma espécie de mulher fatal, destruidora de

lares. É uma personagem que faz muito sucesso junto aos fãs.Os rapazes já haviam terminado de recarregar o veículo e

aguardavam por Sam.— Já está na hora de irmos? — ela quis saber.— Ainda não.Não agora que conseguira arrancar-lhe algumas palavras,

pensou Sam. Apesar de não costumar perder mais do que meia hora nas paradas para o almoço, não estava preocupado com o tempo.

— Como foi que conseguiu fugir das gravações para vir à África?— O autor apelou para o velho truque das novelas: Simone foi

atacada por um ex-amante inconformado e levada para o hospital, depois de ter sido encontrada desacordada em seu apartamento. Naturalmente que ela está em coma. Quando eu retornar, ela se recuperará como que por milagre e voltará a fazer das suas.

— Você fala com um certo ar de desdém.— É mesmo? Bem, talvez eu esteja um tanto... farta, aborrecida.

Acho que nunca fui muito ambiciosa mesmo. A vida sempre me proporcionou diversas oportunidades assim, de mão beijada.

Caroline fez menção de levantar-se, mas Sam a impediu, pousando-lhe a mão no ombro:

— Não vá ainda.Ela livrou-se do toque de Sam, mas permaneceu no mesmo

lugar.— Os rapazes estão esperando.— Sou eu quem dá as ordens por aqui, Caroline. — O tom

autoritário de suas palavras a fez voltar-se para fitá-lo, surpresa. — Acho que precisamos conversar. A princípio, fiquei espantado ao saber que você queria fazer esta viagem mas, à medida que a conheço melhor, entendo sua determinação.

— Sou mesmo bastante determinada, sou muito parecida com o meu pai.

O olhar de Sam prendeu o dela por um instante, mas Caroline logo abaixou os olhos. Um bando de insetos começou a perturbá-la e ele os repeliu com as mãos.

— Não vamos sair daqui enquanto não me contar o que está acontecendo, Caroline. Ontem eu a beijei e você retribuiu. E hoje...

Antes de responder, inspirou profundamente.— Eu ouvi o que você e Eric conversaram.— Ah, então é isso. O que estava fazendo? Bisbilhotando?

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— Creio que não tem o direito de me acusar.— Tem razão. Acho que você merece uma explicação.— Também acho.Sam gritou algo em swahili para os rapazes e voltou-se para ela.— Disse-lhes que descansem, pois ainda vamos demorar um

pouco. O que deseja saber?— Tudo. Eric quer me usar para quê? Por que você quer me

mandar de volta para a capital?— Bem, vou lhe responder a segunda pergunta primeiro porque é

mais simples. Como sabe, nunca quis que você viesse a este safári; é muito perigoso. Além do que, eu não queria ser incomodado por nenhuma garota numa missão maluca...

— É muito importante para mim, Sam. Pensei que entendesse.— Sim, agora eu entendo e respeito suas razões para querer ir às

montanhas. No entanto, mais que nunca, desejo poder mandá-la de volta para a cidade.

O olhar intrigado de Caroline levou-o a se explicar melhor.— Quando Linda nos deixou sozinhos ontem... — disse, tocando-

lhe de leve uma mecha de cabelos — algo entre nós mudou. Sinto-me responsável por você desde o início da viagem, mas agora, mais que nunca, não posso permitir que algo lhe aconteça.

Caroline sentiu-se estremecer ante o olhar sério e penetrante que ele lhe dirigia, porém não conseguia esquecer a conversa que ouvira.

— O que Eric quer de mim?— Estamos trabalhando para o primeiro-ministro e esta viagem

tem um outro objetivo. — Sam recostou a cabeça contra o tronco. Como todo país novo, Salindi está enfrentando alguns problemas e Mulumba, mesmo sendo popular, está tendo de lidar com alguns rebeldes concentrados ao longo da fronteira. É claro que ele vem conseguindo contornar a situação, mas ela é uma ameaça constante ao seu governo.

— Mas você e seus homens não...Sam balançou a cabeça de modo enfático.— Não. Não viemos para lutar, mas sim para obter informações.

Há contrabandistas de armas munindo os rebeldes e nossa missão é descobri-los, descobrir onde fica o esconderijo deles e, se possível, desativá-lo. Portanto é isto que me leva às montanhas Batari tantas vezes. Eric acha que desta feita, você nos ajudará com o disfarce. Afinal, uma filha procurando o túmulo do pai se juntar ao homem que quer abrir a área para turistas...

— Meu pai estava envolvido nisso tudo?— Eu não acredito, mas Eric acha que a morte dele pode estar

relacionada aos contrabandistas de armas. Talvez ele tenha visto alguma coisa e os bandidos resolveram matá-lo.

— Será que isto tem relação com Zaphir?— A cidade perdida? — Sam ergueu uma sobrancelha. —

Sinceramente, não acho que ela exista, mas Eric acha que pode haver alguma relação. Na minha opinião, seria tentar forçar um pouco as

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coisas.Caroline ponderou se deveria ou não contar-lhe a respeito do

mapa que seu pai havia lhe enviado. Se fosse o caso, aquele seria o momento certo.

— Sam! — gritou um dos rapazes, falando swahili e apontando para o sol.

Ele então explicou a Caroline.— Ele acha que devemos ir antes que o calor se torne

insuportável e não possamos chegar à próxima parada; e tem razão... — E, erguendo-se, estendeu-lhe a mão: — Isto tudo faz sentido para você?

— Faz — respondeu, aceitando a ajuda para levantar-se. — Agora eu entendo, Sam, e prometo não lhe trazer mais confusões embora eu saiba que preferisse me mandar de volta para a capital.

— Sim e não — disse ele, sorrindo-lhe de modo terno. Então, um dos rapazes chamou-o de novo e a magia daquele instante foi quebrada.

Durante as três horas seguintes, de muita poeira e calor, Sam contou a ela mais detalhes sobre a região que cruzavam em direção às montanhas. Mesmo o calor continuando, só de pensar nas Batari, Caroline já sentia um pequeno frescor e o fato de tudo estar bem entre ela e Sam a fazia relaxar.

A estrada estreitou consideravelmente.— Daqui para frente — Sam anunciou — a viagem vai sé tornar

um tanto desconfortável.Caroline não pôde deixar de rir.— Não é exatamente assim que tem sido até agora?— Espere só para ver! Vai piorar, e muito. Acredite em mim!— Ainda se arrepende de ter me trazido?— A resposta continua a ser sim e não. Só espero poder

conservá-la sã e salva — acrescentou bastante sério.— Não se preocupe, nada vai acontecer comigo.Sam estendeu uma das mãos e segurou a de Caroline. Ela

percebeu que Abdullah os observava do banco de trás com a arma atravessada sobre os joelhos e um largo sorriso no rosto. Alih estava dormindo.

Chegaram ao novo lugar de descanso no exato instante em que Caroline pensava que não ia mais suportar o calor. Em silêncio, deu graças quando Abdullah chamou-a e apontou na direção do que lhe pareceu ser um oásis.

Junto à longa fileira de árvores corria um regato límpido. Caroline mal podia esperar para atirar-se na água e refrescar-se, mas Sam sugeriu que aguardasse até que os rapazes armassem o acampamento e, então, poderia ir um pouco mais para cima, onde as águas do rio formavam uma espécie de lago.

— Prometo que será a primeira — ele lhe disse enquanto Caroline sentava-se sob uma árvore até que as barracas fossem armadas.

Por instrução de Sam, a primeira a ser erguida foi a dela e os Momentos Íntimos nº 162 58

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rapazes logo tiraram a bagagem de Caroline da caminhonete. Munida de roupas limpas, toalha, sabonete e uma bolsinha de plástico, Caroline seguiu em direção à nascente do rio pela trilha indicada por Sam.

Depois de uma longa caminhada, alcançou, finalmente, o lago, rodeado de árvores frondosas e algumas rochas. Detendo-se por um minuto junto a elas, Caroline deu uma olhada à sua volta. O local era lindo. As árvores ofereciam sombras convidativas; o lago pareceu-lhe profundo e límpido e suas águas refletiam o azul do céu.

Ao correr os olhos pelas cercanias, surpreendeu-se ao ver Alih de costas, sentado sobre umas rochas. Antes de deixar o acampamento, Caroline havia declarado que ia tomar um longo banho no lago e só esperava não precisar dividi-lo com uma família de crocodilos ou de hipopótamos.

Embora não existisse nenhum animal à vista, Sam não quis correr nenhum risco e enviara Alih para o caso de uma eventualidade. A presença do africano a deixava mais segura.

Escondendo-se atrás de uma pedra, tirou toda a roupa* enrolou-se na toalha e foi para a beira da água. Alih continuava sentado sobre a rocha de costas para ela e Caroline, deixando a toalha, mergulhou.

Depois do primeiro impacto, notou que a água não estava gelada, apenas fresca. Pôs-se a nadar de uma margem a outra do lago com braçadas lentas e ritmadas.

Caroline se descontraía a cada braçada, e, por ela poderia nadar ainda por muito tempo. Pelo visto, Alih tinha percebido que o lugar era seguro e decidira abandonar seu posto de observação. Era incrivelmente repousante sentir-se parte da natureza.

Por ela, teria ficado ali por horas a fio, mas sabia que Sam enviaria Alih de volta caso demorasse. Relutante, alcançou a margem onde havia deixado seus pertences e, com a água pela altura dos ombros, ensaboou o cabelo. Depois de lavá-lo com cuidado, tirou a espuma do corpo e enrolou-se na toalha, prendendo-a com um nó no ombro.

Acomodando-se sobre uma pequena rocha, apanhou a bolsinha de plástico de onde tirou um espelho. Ao observar-se, ficou surpresa, sua pele nunca estivera melhor, bronzeada por igual com as maçãs do rosto bem rosadas. Seus olhos brilhavam, muito claros.

Olhando-se mais uma vez no espelho, concluiu que sem maquiagem, ficava melhor do que quando se pintava. Sentia-se mais bonita agora do que na noite da festa do primeiro-ministro. Era um alívio não ter que enfrentar nenhum câmera e poder ficar com o rosto limpo.

Mas o problema maior, agora, eram os cabelos. Longos e ondulados, tornaram-se ressecados com o vento e o sol fortes. A cada dia demorava-se mais para conseguir ajeitá-los.

Os cabelos longos eram a marca registrada de Simone Beauchamp. Mas, disse a si mesma, não poderia viver em função de uma personagem. Poderia perfeitamente livrar-se de parte dos cabelos. O estúdio que providenciasse uma peruca.

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Abrindo a bolsinha, retirou uma tesoura pequena, dessas de unha, que trouxera consigo. Depois de testá-la numa folha morta para ver se tinha corte, decidiu que seria melhor cortar uma mecha de cada vez.

Mas, e coragem?Primeiro, cortou a pontinha de um cacho e o observou caído

sobre a rocha. Até que não tinha sido difícil. Então, cortou um pouco mais e, finalmente, juntou um punhado maior e cortou sem vacilar. Agora, era tarde para se arrepender.

Cortou uma mecha de outro lado do rosto imaginando qual seria o resultado final. Então, temendo arrepender-se, continuou sem ousar olhar-se no espelho.

O que mais lhe atrapalhava era o fato da tesoura ser pequena, dificultando-lhe a tarefa. Naquele ritmo, levaria muito tempo para terminar o corte e sabia que Sam provavelmente já devia estar impaciente com sua demora.

Por outro lado, não havia como voltar ao acampamento com metade do cabelo cortado e metade sem cortar. Sam ia ter que esperar. Um tanto aflita, tentou cortar uma mecha mais volumosa para ganhar tempo, mas não conseguiu.

— Droga!E uma voz vinda de trás comentou:— Parece que está precisando de ajuda. Caroline soltou a tesoura e segurou a toalha em que estava

enrolada, puxando-a mais para cima.— Eu...— Não fique sem jeito — disse Sam. — Acho que teve uma ótima

idéia.— Como assim?— Cortar o cabelo.— Ah. — Embaraçada por ter sido pega num momento de

intimidade, usando apenas uma toalha enrolada no corpo, chegou a esquecer-se do que estivera fazendo. — Ah, sim, o cabelo...

O desejo de Caroline era que ele parasse de encará-la daquela forma, tão inquietante. Ou seria ela que o encarava? Mas nenhum dos dois desviou o olhar e Sam permaneceu onde estava, de pé, as mãos pousadas nos quadris e um riso zombeteiro nos lábios. Sem camisa ele trazia uma toalha pendurada num braço.

— Desculpe ter demorado tanto. Sei que também quer tomar um banho.

— Não, não. Eu posso esperar. Primeiro, vamos dar um jeito no seu cabelo. — E, com isso, ele tirou a faca que trazia presa à cintura e examinou-a com cuidado: — Está super afiada. Acho que será mais fácil cortar com ela do que com essa tesoura pequena.

Sam sentou-se ao lado dela e, tocando-lhe o queixo de leve com a ponta dos dedos, a fez voltar-se de frente para ele.

Por um instante, chegou a pensar que Sam fosse beijá-la, então percebeu que ele estudava-lhe o rosto e os cabelos. Finalmente, deu sua opinião:Momentos Íntimos nº 162 60

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— Acho que pode ser ainda mais curto. Caroline assentiu calada.— Um rosto bonito como o seu precisa ficar à mostra. O cabelo

comprido só serve para escondê-lo. Assim como a maquiagem.Então, ergueu-lhe algumas mechas e começou a cortá-los com a

faca, metódica e cuidadosamente. Terminado um lado, sentou-se de outro e prosseguiu com o corte, passando vez por outra as mãos pelos fios ainda úmidos.

Ao cortar a parte de trás, pediu a ela que pendesse a cabeça para frente e Caroline sentiu-lhe o hálito quente na nuca. A respiração de Sam pareceu-lhe calma e regular enquanto a sua adquiria um ritmo cada vez mais rápido. Tentou, então, respirar fundo, mas ele lhe pediu para que não se mexesse.

— E então? Que tal? — perguntou.— Você não está ficando nervosa, está?— Um pouco — confessou, sabendo que o nervosismo nada tinha

a ver com o comprimento do cabelo. — E curiosa também.— Agora, a frente — disse ele.Sam sentou-se bem à frente e a olhava de modo compenetrado.

Cada vez que seus olhares se cruzavam, Caroline era a primeira a desviá-lo até que, por fim, achou melhor manter os olhos fechados.

Finalmente, percebendo que ele se afastara, resolveu abrir os olhos e o encontrou observando-a, a fisionomia impassível.

— Acho que ficou bom — ele declarou. Caroline apanhou o espelho que ele lhe estendia e mal acreditou no que via; um rosto que nem parecia o seu.

— Estou com cara de menino!Sam deu uma gargalhada e, então, disse-lhe muito sério:— Não, Caroline; você não está com cara de menino. Nunca a vi

tão feminina, tão... bonita.Caroline sorriu-lhe, encantada com o elogio. Muitas pessoas já

haviam lhe dito que era bonita, mas nunca com tanta ternura.— Você nem parece a mesma que conheci no King George.— Eu não me sinto a mesma pessoa — ela respondeu. — Sinto-

me... diferente. — Balançando a cabeça, correu os dedos pelos cabelos. — É uma sensação incrível de liberdade.

— A África tem esse efeito sobre as pessoas. Talvez seja pelo fato de ser tão ampla, tão selvagem. Não há como se sentir confinado num lugar como este. Ela ao mesmo tempo assusta e fascina.

Embora o corte já estivesse pronto, ele continuava a tocar-lhe os cabelos de modo especial, e não apenas para apreciar o resultado do corte. No entanto, disfarçou seus sentimentos, dizendo:

— Acho que ficaram no comprimento ideal, não acha Caroline?— Sim, acho que tem razão. Não conseguiria ficar mais nem um

minuto com o cabelo tão comprido.Sam continuava a acariciá-la e, de tão compenetrado, parecia

nem sequer ouvi-la. Bastante sério, deslizou-lhe a ponta dos dedos pelas maçãs do rosto e desceu até alcançar-lhe os lábios.

Ao senti-la estremecer sob seu toque, Sam ficou satisfeito. Era

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ótimo saber que seus carinhos tinham o poder de inquietá-la. Caroline era a garota mais bonita que conhecera e só de olhá-la e acariciar-lhe o rosto delicado sentia-se fora do mundo.

Lembrou-se, então, do prazer incrível que experimentara ao tê-la em seus braços e beijá-la com paixão.

Quando a vira pela primeira vez, aquele dia no King George, julgara-a fria e mimada, preocupada apenas com seu drama particular. Agora, no entanto, conhecendo-a melhor, percebia que sua primeira análise fora errada. Caroline era uma mulher carinhosa, meiga, atraente e muito sensível.

Em torno do pescoço, ela usava uma correntinha com um pingente de ouro. Sam observou-o mover-se ao ritmo da respiração, encostando de leve na toalha — única barreira que o impedia de admirar-lhe por completo os seios rosados. Seu desejo era retirar-lhe a toalha e tocar-lhe o corpo nu e tentador, apertando-o contra o peito, deslizar-lhe as mãos pelas curvas perfeitas, cobrir-lhe os seios com os lábios...

Era difícil para Sam continuar mantendo o autocontrole e lutar contra o ímpeto de desnudá-la e tomá-la nos braços.

Mas, jamais faria isso. Tinha que esperar por algum sinal, algum indício da parte dela que lhe desse a certeza que Caroline correspondia ao seu desejo. Em vão, procurou um modo de lhe perguntar... Tudo o que lhe restava era contornar-lhe os lábios com a ponta dos dedos.

Então, Caroline o surpreendeu ao segurar-lhe a mão contra o rosto por uns segundos, levando-a, depois, à boca, beijando-a com carinho.

— Oh, Caroline — ele murmurou puxando-a para junto de si. — Caroline.

Sem timidez, ela entreabriu os lábios num convite, prontamente aceito por Sam, que cobriu-lhe os lábios com urgência. Só que, desta vez, seria preciso muito mais do que um beijo para aplacar a paixão que o consumia. Introduzindo a língua na boca delicada e sensual de Caroline, sentiu-a estremecer de prazer em seus braços.

— Eu quero você, Caroline... Impacientemente, ele segurou a toalha com uma de suas mãos,

ansioso por descobri-la para que pudesse admirar seu corpo por inteiro. No entanto, Caroline mantinha-se calada, não lhe permitindo saber se seus anseios coincidiam com os dele. Respirando fundo, Sam procurou controlar-se e simplesmente conservou as mãos imóveis, pousadas sobre o nó da toalha.

Caroline continuava quieta e, em seu desespero, Sam afundou o rosto entre os cabelos dela, temendo que o rejeitasse.

— Quero fazer amor com você — murmurou, os lábios colados aos fios dourados. — Nunca desejei outra mulher desta forma.

Sempre calada, Caroline levantou-se e, segurando-o pela mão, guiou-o para um lugar mais abrigado, atrás de algumas pedras. Ah, havia uma formação natural que se assemelhava muito a uma pequena caverna.Momentos Íntimos nº 162 62

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Então, ela voltou-se de frente para ele e Sam aguardou. O coração, disparado, parecia querer saltar-lhe do peito enquanto Caroline o olhava, as mãos pousadas sobre o nó da toalha.

Depois do que pareceu uma eternidade, absolutamente surpreso, ele a viu desatar o nó e soltar a toalha, que amontoou-se no chão.

Resistindo à tentação de segurá-la com força nos braços, Sam permaneceu imóvel, admirando-a. O corpo de Caroline era, na verdade, exatamente como o imaginara e como tantas vezes o vira em sonhos. Ela mais parecia uma deusa, parada ali à sua frente, o rosto ligeiramente corado, um riso tímido nos lábios. O que mais o fascinava era aquele misto de timidez e audácia, inocência e tentação.

Tudo em Caroline era perfeito e belo: seus ombros eram arredondados, os seios firmes e fartos, a cintura fina, a curva delicada dos quadris, as coxas bem torneadas.

Todas estas impressões cruzaram-lhe a mente numa fração de segundo, pois, instantes depois, Sam já a tinha nos braços e ambos ajoelharam-se no chão. Depois de estender a toalha, ele aproveitou enquanto Caroline se deitava para tirar a roupa e, em seguida, voltou a admirá-la.

Fascinado com sua beleza, olhou-a bem dentro dos olhos e acariciou-lhe os cabelos. Ansiava tanto por esse momento que tinha a impressão que estava sonhando.

Caroline esticou os braços e enlaçou-lhe o pescoço, puxando-o para junto de si.

— Caroline... — ele murmurou, deslizando-lhe os lábios pelo rosto e pelo pescoço até alcançar seus lindos seios e, começou a beijá-los, sugando-os alternadamente.

Os mamilos rosados intumesceram em sua boca e ele, então, mordiscou-os, levando Caroline ao delírio. Extasiada, Caroline abandonava-se ao prazer.

Sam, deslizou as mãos fortes pelo ventre liso e macio, descendo em direção às coxas. Sentindo que chegara o momento, afastou-lhe as pernas com carinho e penetrou-a.

O beijo que trocaram naquele instante foi quase selvagem. Caroline, gemendo baixinho, o enlaçou pela cintura acompanhando-lhe o ritmo cada vez mais rápido dos quadris.

Inclinando a cabeça para trás, Caroline abraçou-o com mais força e alcançou o orgasmo. Instantes depois era a vez dele atingir o clímax.

CAPÍTULO VII

A magia daquele momento era realçada pelos últimos raios de sol, que já se punha atrás das montanhas Batari.

Sam rolou para o lado trazendo Caroline consigo.— Daqui a pouco vai escurecer — murmurou, os lábios colados

no rosto dela.

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Caroline assentiu e começou a levantar-se.— É melhor voltarmos. Os rapazes vão...— Não se preocupe com eles — Sam afirmou, fazendo-a virar um

pouco o rosto para que pudesse beijá-la e deslizar-lhe os dedos pelos cabelos. Então, comentou: — Nunca pensei que eu fosse capaz de inventar um corte de cabelo.

— Ficou ótimo. Pelo menos, é o que acho.— Posso lhe garantir que sim. — Sentando-se, enrolou-a

novamente na toalha: — Agora — afirmou ao pôr-se de pé — vou tomar um banho antes do jantar. Quer vir junto?

— Não, prefiro só observar.Ele, então, saiu do pequeno abrigo onde estavam e foi para o

lago. Mergulhou no lago, logo adiante.— Ei, Caroline, venha! Está uma delícia. Vagarosamente, ela se aproximou da água, um tanto indecisa.— E os rapazes? — indagou, ainda enrolada na toalha.— Não se preocupe, estão todos no acampamento. Vamos,

venha nadar antes que escureça e os animais venham para o lago.— O quê?!— É isso mesmo; este é o único local da região de água potável.

Foi por este motivo que armamos o acampamento bem mais abaixo no riacho. Às vezes, os animais vêm em bandos enormes.

— Sam, talvez fosse melhor voltarmos agora. Suponha que eles comecem a chegar enquanto ainda estivermos aí dentro d'água.

— Não há perigo, dá para se ouvir o barulho deles se aproximando. Vamos, suba na pedra e mergulhe. Já estou cansado de esperar, Caroline.

Deixando a toalha sobre a rocha, ela seguiu-lhe as instruções, mergulhando com perfeição. Ao vê-la emergir, sorriu e aproximou-se:

— Você nada muito bem — comentou, puxando-a pela cintura enquanto ambos descreviam círculos com as mãos na água para manterem-se flutuando. .

— Mais ou menos... Mas esse lugar me acovarda um pouco.— Você, covarde? Só os corajosos vêm a um safári como este

pelo interior da África.— Não é coragem — ela alegou, deliciando-se com a intimidade

daquele momento. — É confiança. Estou segura ao seu lado, Sam.— Ótimo — ele afirmou, beijando-lhe a boca. — Bem, acho

melhor nadarmos um pouco e irmos logo embora, senão vamos perder o jantar.

Relutantes, ambos nadaram para a margem. A água, que ainda há pouco era azul, adquirira um tom escuro, quase negro, devido às sombras que se projetavam em sua superfície.

Assim que saiu da água, Caroline foi enxugar-se e logo começou a se vestir.

Sam a beijou e ajudou-a a abotoar a blusa. Seus dedos roçaram de leve na correntinha que Caroline usava e ele, então, pegou o pingente para observá-lo.

— O que é? — perguntou, curioso. — Você não usava isso no Momentos Íntimos nº 162 64

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início da viagem.— Não — ela respondeu meio tristonha. — Eu costumava usá-lo o

tempo todo há alguns anos.— Parece a metade de uma moeda antiga — comentou, olhando-

a com atenção.— E é — afirmou Caroline abotoando o último botão que ele

havia esquecido. — Meu pai encontrou-a numa de suas escavações quando eu era garota. Ele tinha me levado para a Grécia e eu estava com ele no dia em que a encontrou. Quando voltamos aos Estados Unidos, mandou cortá-la ao meio: eu usava uma metade e ele a outra.

— É linda — Sam afirmou, imaginando o porquê de tanta tristeza. Parecia até haver algum outro motivo além da morte do velho Carl.

— Mesmo não a usando mais, sempre a trago comigo.Apressada, Caroline reuniu seus pertences e, ao voltar-se de

novo para Sam, tinha um sorriso nos lábios.Mas ele viu-a olhar para as montanhas Batari, que pareciam

imensas sentinelas a observá-los, com olhos tristes. Esperando alegrá-la um pouco, abraçou-a pela cintura e, juntos, puseram-se a caminho do acampamento. Ao longe, ouviam-se os primeiros ruídos dos animais já se dirigindo ao lago.

Ao chegaram ao acampamento a brisa fresca carregava o cheirinho bom do jantar. Antes de se juntarem aos rapazes, Sam deu-lhe um último beijo e um abraço apertado.

Vendo-os aproximarem-se, Matope e os outros logo começaram a falar bastante, animados, e com um certo ar irônico, segundo Caroline.

— Sam? — ela indagou, embaraçada. — Eles estão falando sobre nós? Será que eles... sabem o que aconteceu no lago?

Ao vê-la enrubescer, Sam não pôde deixar de sorrir.— Não, Caroline, eles não sabem, mas, na certa, suspeitam de

algo. Não é disso que estão falando.Sempre sorridente, Sam cumprimentou-os em swahili.— Então, do que é?— Do seu cabelo.— O quê?! — indagou, surpresa, levando as mãos à cabeça.— Isto mesmo. Afinal, saiu daqui como Simone Beauchamp, atriz,

e agora retorna como Caroline Chapmam, viajante. Segundo eles, a mudança foi para melhor. Acha que devo contar-lhes que fui eu quem inventou o corte?

— Não! Já estou embaraçada só de imaginar no que devem estar pensando.

Ao se aproximarem dos rapazes, Caroline sorriu-lhes de modo tímido. Depois de cumprimentar Matope, pegou o prato que Juma lhe entregara e foi sentar-se a um canto para saborear o jantar.

Momentos depois, Sam aproximou-se, pondo sua cadeira ao lado da dela.

— Você devia estar morrendo de fome.— Sim, faminta e nervosa — admitiu. Ele apenas balançou a

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cabeça e sorriu.Intimidada, ela não lhe retribuiu o sorriso. Assim que terminaram de comer, Sam foi levar os pratos para

Juma e, depois de ajudá-lo a lavar os utensílios, voltou para a companhia de Caroline. Seu mal-estar, no entanto, não passou despercebido a ela. Os rapazes, assim que haviam terminado o trabalho, tinham se reunido a uma boa distância deles, do outro lado do fogo, e estavam entretidos com uma espécie de jogo, que utilizava dois dados de marfim. Nem prestavam atenção em Sam e Caroline.

No entanto, algo no modo polido com que Sam ofereceu-lhe um conhaque deixou claro a Caroline que ele também se sentia pouco à vontade.

Ao observar as chamas avermelhadas do fogo projetarem sombras tremulantes sobre o rosto de Sam, concluiu que, embora houvessem feito amor, mal se conheciam. Os momentos de intimidade que compartilharam tinham sido extremamente gratificantes, mas agora havia um certo constrangimento entre ambos.

Pensativa, Caroline imaginou como seria o relacionamento deles daquele momento em diante. Será que Sam também estaria pensando na mesma coisa? De repente, era como se voltassem a ser estranhos.

E, mais do que isto, uma dúvida inquietante a atormentava. Dúvida e insegurança. Enquanto saboreava o conhaque, concluiu que era difícil manter um relacionamento assim, sem saber o que Sam sentia por ela. Mas, não tinha coragem de tocar no assunto e conversar sobre o que acontecera com eles. Temia contar-lhe o quanto haviam sido importantes para ela aqueles momentos de entrega. E se para Sam tivesse sido apenas um momento de diversão?

Deveria ter pensado nestas conseqüências antes de entregar-se a ele; era natural que uma situação já difícil só pioraria depois de terem feito amor, sem se conhecerem.

Deveria, mas, não o fizera. Entregara-se.a Sam simplesmente porque o queria, o desejava. Agora, só lhe restava arcar com as conseqüências, lutando contra as lágrimas enquanto sentavam-se ali, lado a lado, sem trocar uma palavra.

Terminando de beber, os dois continuaram em silêncio, observando o fogo. Os homens já haviam juntado seus pertences e se recolhido às suas tendas para descansar. Sam levantou-se, atiçou o fogo com um galho seco e, pôr fim disse:

— Caroline, eu...Esticando o braço, tocou-lhe uma das mãos e este simples gesto

foi suficiente para fazê-lo relembrar todos aqueles momentos incríveis que haviam compartilhado no lago. As lembranças trouxeram à tona também os sentimentos e Sam acabou confessando.

— Esta tarde foi muito especial para mim.— Puxa, Sam, para mim também — ela revelou, sentindo um

imenso alívio. — Eu já estava começando a pensar se... Sabe como é, Momentos Íntimos nº 162 66

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você ficou tão calado...— Acho que me senti meio estranho, o que, aliás, é difícil me

acontecer. Mas o que houve entre nós também não acontece sempre. Na verdade, nunca me permiti envolver-me com alguém num safári. Até hoje tem sido fácil, pois nunca me senti tão atraído por uma garota. No começo, não imaginei que algo desse tipo pudesse acontecer conosco. Entende o que quero dizer?

Caroline sorriu satisfeita.— Claro que sim. Você não simpatizou muito comigo, nem eu

com você.— Tem razão.— E agora? — ela quis saber, um tanto tímida.— Agora eu gosto demais de você — revelou beijando-lhe uma

das mãos com carinho. — Mas continuo achando que não deveria ter vindo.

— É, mas eu vim. E nada me fará voltar.— Eu sei — disse ele, pensativo.Novamente ambos tornaram a calar-se só que, desta feita, o

silêncio não era pesado mas carregado de companheirismo. Sam aproximou ainda mais as duas cadeiras e Caroline recostou a cabeça em seu ombro, enquanto observavam o fogo, cada vez mais fraco.

— Não vai apagar? — ela indagou.— Não. Vou pôr mais madeira antes de irmos dormir e, durante a

noite, os rapazes o manterão aceso. Há sempre alguém acordado.— Sinto-me tão segura ao seu lado... — ela confessou.— Não deixarei que nada de mau lhe aconteça, Caroline.

Amanhã, vamos estar bem próximos ao túmulo de seu pai, mas não tema. Você estará segura mesmo nas montanhas.

— Eu sei.O aperto firme da mãos dele nas suas deixou-a ainda mais

tranqüila, transmitindo-lhe uma incrível sensação de paz. Era como se ali fosse o seu lugar, em plena savana ao lado de Sam. Caroline imaginou se estaria de fato se apaixonando por aquele homem tão frio e distante aparentemente, mas na realidade, terno e amoroso.

— Você é uma pessoa e tanto, Sam Matlock.— Mesmo com esta minha aparência de mau? — ele indagou,

como se pudesse adivinhar-lhe os pensamentos.— Sim — admitiu achando graça —, apesar de tudo. Além do

que, acho que essa cara de bravo e mal-humorado é só para disfarçar.

— Bem, cada um gosta de representar um tipo.— A diferença é que você conhece todos os meus tipos — dentro

e fora da tela. Na realidade, você sabe tudo a meu respeito, mas eu pouco sei sobre você.

— E. por que não me aceita como sou? Pelo pouco que me conhece?

— Não, não. Quero saber tudo. Aliás, já aprendi a reconhecer algumas reações — disse, tocando-lhe o rosto de leve, com ternura. — Seus olhos brilham muito quando está alegre ou bravo, já percebi.

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Notei, também, que nunca abandona esta faca que traz na cinta... — murmurou ao receber um beijo na testa.

— Não abandono mesmo.— Toquei esta cicatriz bem grande que você tem logo acima do

quadril e a outra, menor, no peito. Toquei cada centímetro do seu corpo.

— Sim — ele sussurrou-lhe junto aos ouvidos. — Seu toque é suave, delicado, carinhoso.

Sam segurou-lhe o rosto com ambas as mãos e beijou-lhe o lábio inferior, deslizando a língua de um canto ao outro para depois beijá-lo.

Aquela carícia a deixou trêmula e só depois de algum tempo Caroline conseguiu continuar:

— Conheço cada detalhe do seu corpo, mas não sei nada a seu respeito, Sam.

Ele abraçou-a por um bom tempo, calado.— Ah, quer dizer que quer ler toda a minha biografia, não é?

Pena que eu não tenha editado uma — disse por fim, bem-humorado.— Quero saber de tudo. A menos, claro, que tenha algo que

queira esconder — comentou, pensando na conversa que havia tido com Sarah.

— Todos nós temos nossos segredos...— Então, me conte tudo que não for secreto. Sam deu de ombros e acariciou-lhe os cabelos, mas Caroline,

mesmo assim, insistiu:— Comece pelo começo: onde foi que nasceu?— No leste.— Leste do Colorado ou da Filadélfia? — brincou.— Está bem, nasci ao leste da Filadélfia numa cidade chamada

Newark — contou sorrindo.— Nunca o imaginei numa cidade. Sempre achei que tivesse

nascido num rancho.— Não, não. Linda precisou me ensinar como girar um laço —

comentou, rindo. — Eu era um novato nessas coisas. Passei minha vida num outro tipo de selva, a de concreto, mas dentro dos escritórios e salas de reunião há mais selvageria do que aqui nas Batari.

Seu tom de voz era tão duro que Caroline ergueu o rosto para fitá-lo. Era este o passado sobre o qual Sarah lhe falara e Caroline queria saber tudo sobre ele. Era a única forma de conhecê-lo melhor e poder compreendê-lo.

Então, olhando-o de esguelha, sentiu nele certa tensão, uma expressão diferente em seus olhos que a fez ver que suas perguntas não seriam bem recebidas.

Instantes depois, Sam, já mais descontraído, sorriu-lhe um tanto tristonho.

— Não quero mais falar sobre o passado, Caroline. Estamos no presente e tudo o que desejo é ficar aqui, com você.

Sam curvou-se e a beijou com ternura, despertando-lhe os Momentos Íntimos nº 162 68

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sentidos, fazendo-a desejá-lo muito.No dia seguinte, não lhes foi possível desenvolver muita

velocidade por causa das precárias condições da trilha que conduzia ao sopé das montanhas. O último vilarejo da região havia ficado muitos quilômetros atrás.

Logo pela manhã, Caroline tinha reparado nos picos altíssimos das montanhas Batari, agora encobertos por nuvens. Seu aspecto selvagem era a um só tempo excitante e amedrontador provocando nela a mesma emoção que Carl Logan havia sentido ao observá-las, convencido de que ali, em algum lugar, ficava a cidade perdida de Zaphir.

— É tão bonito, tão... selvagem — ela disse a Sam.— Hum-Hum. É uma paisagem que fascina a muitos. Com o

tempo, depois de fazermos um mapa detalhado da região e estabelecermos algumas áreas para acampamento, eu e Eric pretendemos organizar safáris turísticos para cá. Mas não vamos nos embrenhar muito na selva, como seu pai.

— A que distância ele chegou?— Creio que nunca saberemos. De acordo com os relatórios do

primeiro-ministro, ele foi enterrado logo acima do último posto de acampamento. Pretendo chegar lá ainda hoje, antes de escurecer.

Caroline sentiu um peso enorme no peito e um nó na garganta. Sua vontade era pedir a ele que corresse o máximo possível para chegarem lá o quanto antes. No entanto, parte de si gostaria de pedir a Sam para que voltassem. Continuava sendo muito difícil para Caroline enfrentar a dura realidade da morte do pai.

O resto da jornada daquele dia foi lenta e árdua e, embora a temperatura ali fosse bem mais amena, a presença de insetos incomodava mais que o calor da savana.

Cansado de tentar espantá-los, Caroline acabou acatando a sugestão de Sam e apanhou o outro chapéu que comprara na capital. Este tinha a aba bem larga e era protegido por um véu muito fino, amarrado sob o queixo.

— Sinto-me como uma daquelas damas inglesas de 1920 — ela comentou.

— Talvez não combine muito bem com seu novo corte de cabelo, mas está bastante elegante — disse Sam enquanto seguia, tentando evitar os galhos mais baixos das árvores.

Durante a maior parte da viagem, ele permaneceu quieto, concentrado na direção. Não era fácil conduzir um veículo num caminho íngreme e estreito. Por duas vezes, tiveram que descer do jipe e cortar alguns galhos mais baixos para que a caminhonete pudesse passar.

Do alto das árvores, vinha o barulho alegre dos chimpanzés brincando, mas no chão os ruídos eram outros, um tanto amedrontadores.

— Há muitos javalis nessa região — Sam informou.— E cobras, também — acrescentou Abdullah, no banco de trás,

sempre com a arma sobre os joelhos.

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Anne James Passage to Zaphir

— Quando for se afastar do acampamento, leve uma vara consigo.

— Para quê? Para bater nos javalis?— Não se preocupe com eles, você pode ouvi-los a vários metros

de distância e ter tempo para sair do caminho deles. — Sam não conteve um riso divertido. O problema maior são as cobras, que não fazem barulho. Sempre que for andar no mato, vá batendo com a vara no chão à sua frente. Pelo menos assim vai conseguir espantá-las.

— Espantá-las e sair correndo — disse Caroline.— Também é uma opção. Mas o melhor é manter-se

absolutamente imóvel; paralisada.— Por quanto tempo?— Até que alguém venha em seu socorro — ele explicou

sorrindo.— Só espero que não demorem muito — Caroline brincou e,

todos caíram na gargalhada.Horas mais tarde, ao final da jornada, Caroline, ansiosa, esperava

que os rapazes armassem o acampamento.Ao vê-la tão irrequieta, Sam indagou:— O que foi que aconteceu?— Há dias que estamos viajando e só consigo pensar em visitar o

túmulo do meu pai. Não gostaria de esperar mais.— Compreendo — ele respondeu, tocando-lhe de leve nas mãos.

— Creio que se localiza naquela colina logo ali em cima: vou subir lá e dar uma olhada. Mas, se não for lá, teremos que aguardar até amanhã cedo para procurá-lo.

Caroline concordou e observou-o afastar-se em direção à colina atrás do acampamento.

Dez minutos mais tarde, continuava parada no mesmo lugar quando Sam gritou.

— Encontrei!Caroline caminhou em direção a ele que descia a colina.— Quer que eu suba lá com você?— Não, prefiro ir sozinha.— Fica logo no topo da elevação — ele informou. — Eu limpei um

pouco o caminho, mas vai precisar disso.Entregou-lhe um galho seco. Sem uma palavra, ela pegou-o e

seguiu adiante só pensando no que encontraria.Apesar da ansiedade que a instigava a correr, Caroline caminhou

devagar, sempre usando o galho para limpar o chão à frente. Havia tirado o chapéu assim que tinham chegado ao acampamento e, por sorte, os insetos ali não a incomodavam. Talvez estivesse tão ansiosa por encontrar o túmulo que nem se desse conta dos mosquitos.

Chegando ao topo da colina, parou e olhou à volta. Como não o encontrasse, pensou até que tivesse seguido na direção errada mas, então, viu uma pilha de pedras amontoadas sob uma árvore. Seria lá?

Com as pernas trêmulas e o coração disparado no peito, aproximou-se do local e deparou com uma pequena cruz feita de Momentos Íntimos nº 162 70

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galhos, o que lhe deu a certeza de ser aquele o lugar.Caroline ajoelhou-se e murmurou: — Estou aqui, papai. Finalmente consegui encontrá-lo.Impaciente, Sam a aguardava no acampamento. Cuidadoso,

havia limpado toda a área em volta do túmulo pois sabia que Caroline ia querer ficar sozinha durante alguns minutos. No entanto, tanta demora já o preocupava.

Voltando ao túmulo, encontrou-a ajoelhada perto da pilha de pedras, parecendo-lhe mais frágil e vulnerável que nunca. Não querendo perturbá-la, permaneceu a alguns metros de distância. Não sabia o que dizer para confortá-la.

Por fim, como se sentisse a presença dele ali, Caroline voltou-se, o rosto banhado de lágrimas. Sam, comovido, deu alguns passos e, ajoelhando-se ao seu lado, abraçou-a.

— Pronto, pronto, está tudo bem. Conseguiu cumprir seu intento de vir se despedir de seu pai.

Soluçando muito, Caroline apoiou-se nele.— Mas você não entende, Sam — disse entre um soluço e outro.

— Eu o desapontei.— Estou certo que não foi bem assim.— Foi sim — afirmou.Preferindo não contrariá-la, ele apertou-a ainda mais contra si e

aguardou até que ela lhe contasse o que tanto a fazia sentir-se culpada.

— Ele me escreveu, Sam, me pedindo para vir à África. Queria que eu estivesse junto quando descobrisse Zaphir.

— Era só um sonho, Caroline.— Não, não era — ela protestou — mas não importa. O

importante é que ele me queria aqui. Depois de todos aqueles anos em que estivemos separados, ele queria que esquecêssemos o passado e tornássemos a ser amigos, como antes.

Sam continuou a ouvi-la.— Eu me rebelei contra ele e minha mãe e, por muito tempo, não

nos demos bem. Recusei-me a cumprir os planos que eles tinham para mim e nem cheguei a terminar a escola. Só para contrariá-lo, fui para Nova York e me tornei atriz de televisão, algo que ele detestava. Meu pai tinha outros planos para mim...

— Cada um deve viver sua própria vida, Caroline — ele comentou afagando-lhe os cabelos. — Você fez bem em procurar o seu próprio caminho.

— Eu sei disso, mas nem eu mesma queria ser atriz de televisão; foi apenas uma forma que encontrei para magoá-los... Quando recebi a carta dele me pedindo para vir à África deveria ter pego o primeiro avião!

— Mas, não havia como saber que ele ia morrer; você não podia adivinhar até que ponto ele ia chegar nessa expedição à procura de Zaphir. Não se culpe por coisas que escapam ao seu controle. Fique tranqüila e não pense mais nisso.

— Eu o amava tanto, Sam.

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— Eu sei.Afastando-lhe os cabelos dos olhos, ele beijou-lhe o rosto

molhado pelas lágrimas. Seria inútil tentar consolá-la com palavras.— Ele sempre foi meu melhor amigo até a juventude, depois eu o

desapontei.— Estou certo que ele não viu as coisas sob este prisma. Carl

devia ser um homem muito compreensivo e deve ter entendido que sua revolta não passou de algo comum a todos os jovens. No fundo, ele sabia que você o amava.

— Espero que sim. Mas isso não é tudo, Sam. Ao senti-la trêmula, ele procurou acalmá-la.

— Falaremos sobre isso amanhã, Caroline. Agora, vamos jantar e depois, nos recolher. Amanhã será um outro dia, acredite-me.

Cansada demais para protestar, Caroline acabou cedendo e ambos voltaram ao acampamento.

Ao acordar na manhã seguinte bem cedo, Caroline tentou se lembrar de onde estava e do que tinha acontecido. Então, recordou-se da crise de choro que havia tido na véspera, nos braços de Sam. No entanto, sentiu que seu nervosismo não havia passado e o remorso ainda a corroia.

Procurando não incomodar Sam, virou-se e fechou os olhos na esperança que o sono viesse, mas foi inútil.

Um raio de sol penetrou na tenda e Caroline resolveu o que fazer. Puxando o mosquiteiro para o lado, procurou sair da cama sem acordar Sam. Ele, porém, abriu os olhos e observou-a vestir-se.

— Caroline, ainda é muito cedo.— Eu sei, mas não consigo mais dormir. Vou ver se Matope já fez

café.— Tenho certeza que sim. Você está bem?— Estou.Sorrindo, acabou de se vestir e saiu logo da tenda na esperança

de não ser vista, mas Matope logo a localizou e perguntou:— Vai tomar café agora?— Sim, eu volto já - disse embrenhando-se pelo mato. Talvez

Matope pensando que ela quisesse ficar a sós não a seguisse.Seu plano surtiu o efeito esperado e, ao ver que ele não a

seguira, pegou outro galho seco e seguiu em direção à colina.Logo alcançou o local do túmulo. Livre das lágrimas, ela sabia

exatamente o que fazer. Ou melhor, o que seu pai gostaria que ela fizesse. Fechando os olhos, rezou em silêncio e fez uma promessa solene.

Antes mesmo de abrir os olhos pressentiu que não estava sozinha. Voltando-se, deparou com um grupo de selvagens de uma tribo africana, que mais pareciam uns gigantes. Imóveis e tendo o corpo todo pintado, permaneciam em silêncio a observá-la.

Seu primeiro ímpeto foi sair correndo, mas, controlando-se, procurou raciocinar com calma. De repente ouviu a voz de Sam.

— Caroline, ouça com atenção o que vou lhe dizer: — Você se

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comportou muito bem até agora e quero que mantenha-se calma. Afaste-se do túmulo e venha até aqui, bem devagar.

Obediente, ela seguiu-lhe as instruções, procurando conter-se. Disfarçadamente, olhou para os selvagens e reparou que todos carregavam um rifle. Isto logo chamou-lhe a atenção por ser algo totalmente inusitado.

— Vamos, venha — disse Sam, um tanto aflito sorrindo para os homens e conversando com eles em swahili.

— Esses homens são da tribo Ngesi e não falam inglês, Caroline. Contei a eles que você é fotógrafa. Agora, sorria e comece a descer a colina.

— Onde estão os rapazes?— Por perto. Não se preocupe, não correremos perigo se fizer

exatamente o que eu mandar.Mas Caroline percebeu que Sam lhe escondia algo. Ela, no

entanto, lançou mais um olhar na direção dos selvagens e viu em torno do pescoço de um deles, preso a um cordão de couro, um pingente de ouro: a outra metade da moeda, que pertencia a seu pai!

Atônita, levou a mão ao pescoço e notou que não havia posto sua correntinha aquela manhã.

— Sam...— Sim, eu sei. Sorte que você não a colocou hoje — disse ele,

sempre calmo.— Mas, Sam, ele está com a moeda de papai! Caroline procurou conter-se mas quase acabou gritando.Percebendo que ela estava prestes a se descontrolar Sam

segurou-lhe o braço com força e afirmou autoritário:— Desça a colina já, Caroline.— Não — ela murmurou. — Você tem que perguntar a ele onde

foi que a conseguiu.Era inacreditável, mas, sempre sorridente, Sam respondeu-lhe

com palavras ásperas.— Se não ficar quieta e sair imediatamente daqui, vamos acabar

mortos. Estes rifles são de verdade e eles não hesitariam em atirar. Volte já para a tenda e não fale mais nada, entendeu?

Ele continuou a sorrir, mas só soltou-lhe o braço depois que Caroline concordou em acatar-lhe as ordens. Ao afastar-se sem olhar para trás, ouviu os homens conversarem e, depois, rirem bem alto. Inclusive Sam.

Chegando à tenda, tinha no braço as marcas dos dedos dele e os olhos rasos d'água.

CAPÍTULO VIII

Caroline sentou-se na beira da cama de armar da tenda de Sam, sem nem se incomodar em fechar o mosquiteiro. Não havia nenhum sinal dos rapazes no acampamento e ela logo imaginou que deviam estar todos escondidos no mato, perto do túmulo de seu pai, prontos

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para atirar.Naquele instante, Sam entrou com fisionomia bastante fechada.

Ao ver as marcas vermelhas que deixara no braço dela ao segurá-la com força, esticou a mão para tocá-la, mas Caroline retraiu-se.

— Caroline, deixe-me explicar.— Ele estava com o pingente do meu pai.— Sim, eu sei, querida — disse Sam, compreensivo.— Mas não

estávamos em posição de ameaçá-lo.— Ele matou papai, Sam.Os olhos de Caroline refletiam todo o seu sofrimento quando

penetraram nos de Sam.— Não.— Como pode dizer que não? Como teve coragem de ficar lá

conversando e rindo com eles quando sabia que a tribo matou meu pai?

— Calma, uma pergunta de cada vez, sim? — Sam ergueu as mãos. — Aqueles homens pertencem a uma tribo que vive aqui nas montanhas. Eles são os únicos habitantes desta região e não têm acesso a armas.

— Então, como foi que conseguiram aquelas?— É o que estou tentando explicar, se você me deixar. Tem

havido muita atividade na fronteira e os contrabandistas de armas têm trazido material outra vez. Aqueles selvagens devem ter comprado as armas dos contrabandistas os quais, suspeito, tenham matado Carl.

— Mas... por quê? Por que os contrabandistas iam querer matá-lo? Ele não tinha nada a ver com as lutas internas desse país, era apenas um explorador.

A emoção embargava-lhe a voz.— Não sei ao certo o que aconteceu, mas vou tentar descobrir,

Caroline. Por falar nisso, você se saiu muito bem.— Ah, obrigada — disse, irônica.— Até o momento em que viu o pingente.— Sam...— Eles não mataram seu pai.— Você não tem certeza — ela protestou.— Tudo bem... mas você não podia criar um caso com eles

naquele momento e pôr nossas vidas em risco, entendeu?Sam estava de pé, perto da cama, tocando-lhe de leve o braço.— O que vamos fazer? — Caroline indagou. Sam sentou-se na cama ao lado dela e abraçou-a.— Vou levá-la de volta ao rancho dos McKenzie. — E, sem dar-lhe

tempo de protestar, acrescentou: — Você já realizou seu desejo, Caroline: visitou o túmulo de seu pai e se despediu. Agora, chega.

— Não, não chega — ela afirmou, veemente, balançando a cabeça. — Há mais uma coisa que quero fazer, Sam, que preciso fazer.

— Como assim? Do que está falando?— Creio que meu pai encontrou a cidade perdida. Impaciente, ele

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levantou-se.— Caroline, essa cidade não existe e, mesmo que existisse, seu

pai não a encontrou. Ele foi morto antes que...— Não. Tenho certeza que ele a encontrou e, exatamente por

isso, foi morto.— Isso não passa de especulação.Caroline não respondeu. Apenas levantou-se e pegou sua bolsa.— A cidade existe e tenho um mapa para comprovar; um mapa

feito por papai. Ele sabia que a cidade era verdadeira, mas ninguém acreditava em sua palavra. — Desdobrando a folha, entregou-a a Sam. — Este é o mapa de Zaphir que meu pai me enviou.

Sam, cético, pegou-o das mãos dela e o examinou.— Por que não me contou sobre esse mapa antes?— Não sei. A princípio, achei que não devia confiar em você e

mais tarde, bem... fiquei esperando o momento certo.Ele suspirou e continuou a estudar o mapa.— Bem, este certamente não é o momento certo. Não podemos

sair por aí à procura de Zaphir agora. Está havendo muita encrenca nas montanhas Batari e tenho que descobrir mais detalhes sobre isso, mas, sozinho, Caroline, não com você, Não quero que nada de mal lhe aconteça. Por isso, vou levá-la de volta para a reserva.

Furiosa, Caroline o desafiou.— A cidade perdida existe, Sam! Ele dobrou o papel e o

devolveu.— Um mapa não é prova suficiente e você sabe disso.— Talvez não seja, mas podíamos ao menos, segui-lo, dar uma

olhada, Sam. Se nós a encontrássemos, ficaria provado que meu pai tinha razão e ninguém mais poderia acusá-lo de maluco, visionário.

— E seu complexo de culpa também seria eliminado não, Caroline? — E, sem dar-lhe chance de responder, prosseguiu: — Não, não. Zaphir continua sendo um sonho só que muito mais perigoso do que eu suspeitava. Não posso deixá-la correr o risco. Não agora.

Desolado, Sam sentou-se na cama. Nada nesse safári havia saído conforme seus planos: o fato de ter feito amor com Caroline, ter-se apaixonado por ela... Caroline era muito importante para ele agora, mas tinha uma missão a cumprir e não arriscaria a vida dela por nada.

— Você vai voltar comigo — afirmou. Caroline havia se afastado dele e caminhado para o lado oposto da tenda. Absolutamente decidida, voltou-se para ele, o queixo projetado para frente.

— Quero ir a Zaphir, Sam.Desanimado, Sam respirou fundo e indagou-se por que se

envolvera com uma mulher tão teimosa, tão irredutível.— Eu nem vou a Zaphir, Caroline. Este lugar não existe.Caroline considerou aquela negativa como um blefe e o desafiou.— Mas, você vai voltar para cá, não vai?— Não sei ao certo. Terei que entrar em contato com Eric e com

o primeiro-ministro quando chegarmos à reserva.— Sam — ela pediu, a determinação de seu olhar transformando-

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se subitamente em esperança. — Estamos tão próximos... Nunca teremos outra oportunidade como esta. Podíamos seguir o mapa e...

— E morrermos? Não, Caroline. Pela última vez, não! Agora, junte sua bagagem pois vamos partir.

Caroline havia se aproximado dele. Sam tentou passar por ela e alcançar a saída mas Caroline bloqueou-lhe o caminho.

— Não pense que vai conseguir me ignorar.Sam começou a perder o controle e franziu a testa; a situação

tomava um rumo que não o agradava.— Caroline, pelo amor de Deus, entenda, estou tentando salvar

sua vida. Não iremos a Zaphir nem agora nem nunca. Esqueça!Em meio a tanto ódio, ela ainda encontrou um momento de

glória.— Então, está admitindo que a cidade existe! Satisfeita, ela

segurou-lhe uma das mãos entre as suas.— Não foi isso que eu disse.— Mas você acredita nela. Eu sei. Você acredita no mapa. Sam,

por favor, vamos segui-lo. Zaphir pode ser a explicação para muita coisa.

Sam sabia que Caroline tinha razão. Os contrabandistas estavam muito bem entrosados e, caso houvesse mesmo uma cidade, era provável que a estivessem usando como um esconderijo. Mas, na procura de Zaphir, Sam poderia encontrar com os Ngesi de novo.

Este lhe parecia o melhor momento para agir, mas não podia arriscar-se a ponto de levar Caroline consigo.

— Não vou partir enquanto não descobrir a verdade — afirmou Caroline.

Sam saiu da tenda sem responder.— Sam — disse Caroline, seguindo-o.— Você vai partir nem que eu precise amarrá-la no jipe. Comece

a arrumar sua bagagem. Já.— Não.Surpreso, ele voltou-se para encará-la.— Estou farta dessa atitude prepotente; fique sabendo que não

vou mais receber ordens de ninguém!— Por favor, veja a realidade. Isto aqui não é filminho de

televisão, nem romances de aventura. Não estamos brincando de mocinho e bandido em frente às câmeras; estamos no interior da África e os perigos são de verdade.

— Não me importa.— Pois a mim, importa e muito! — Os rapazes os observavam,

encostados à caminhonete. — Voltem ao trabalho — disse Sam, mas nenhum deles se mexeu.

Então, gritou-lhes algo em swahili que surtiu o efeito esperado. Todos se puseram a trabalhar, evitando olhar para ele e Caroline.

— Quanto a você — disse, virando-se para ela, tentando recuperar a autoridade —, saiba que quem dá as ordens por aqui sou eu e, enquanto eu mandar, você e todos os outros farão exatamente o que eu disser.Momentos Íntimos nº 162 76

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Enquanto falava, Sam a seguia pelo acampamento. Caroline caminhava a passos rápidos, sem saber ao certo onde ir.

— Onde, diabos, você está indo? — ele indagou.— Não sei. Mas não vou arrumar minha bagagem.— Vai sim — ele afirmou tentando agarrá-la.— Não vou — protestou conseguindo driblá-lo e seguir em frente.— Caroline, já estou farto dessa palhaçada. Não me faça perder a

paciência — afirmou ao alcançá-la.Caroline virou-se para ele e falou irada:— Pensei que já tivesse perdido porque eu já perdi faz tempo.Sam deu-lhe as costas e, frustrado, esmurrou a palma da mão.— Caroline, você tem que me ouvir de uma vez por todas!— Já o ouvi e não concordo com seus argumentos. Já estamos

aqui nas montanhas Batari. Você tem uma missão e eu outra. Este é o momento certo para fazermos as duas coisas.

— É muito perigoso.— Não estou com medo — afirmou, teimosa.— Mas eu estou.— Você teme por mim, mas não deveria, Sam.— Caroline, já estou farto de seus desafios. Eu nunca deveria tê-

la trazido comigo!— Sei... Só que fique o senhor sabendo que jamais teria vindo

com você se tivesse conseguido outro guia!— Não tem sido nada fácil escoltar uma princesinha mimada.— Princesa? Olhe para mim, Sam. — Caroline, exausta e suada,

tinha os cabelos grudados à testa. — Não estou com a aparência de uma princesa.

— Não me culpe pelo calor e pelo cansaço. Eu bem que a avisei para não vir.

— Mas, já que vim, ninguém vai me tirar daqui.— Isto é o que pensa, vamos partir imediatamente.De repente, num movimento rápido, curvou-se e ergueu Caroline

nos braços. Ela, no entanto, passado o susto inicial, começou a contorcer-se, furiosa, obrigando-o a jogá-la sobre um dos ombros, segurando-lhe as pernas com firmeza.

Ao chegar à tenda dele, Sam colocou-a sobre a cama.— Agora, ouça: estamos numa situação muito delicada e

perigosa. Fiz o que pude para tentar convencer os Ngesi que estamos num safári fotográfico, mas não podemos ficar por aqui muito mais tempo e dar-lhes a chance de desconfiarem de nós. Temos que partir imediatamente. Portanto, junte sua bagagem já! E não quero mais ouvir uma palavra.

E, sem esperar pela resposta, deu-lhe as costas. Desta vez ela não o seguiu.

Em vez disso, deitou-se, desolada, sobre a cama. Não havia como ir à procura de Zaphir sozinha e não conseguiria convencê-lo a acompanhá-la.

Lutando contra as lágrimas, ergueu-se da cama e começou a atirar suas coisas dentro da mala, revoltada.

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Terminando de arrumar a bagagem, chegara a uma conclusão. Aprumando os ombros, saiu da tenda e caminhou até a caminhonete. Tudo já estava no bagageiro e os rapazes pareciam ansiosos para saírem das montanhas Batari.

— Sam — disse quase num murmúrio. — Quero ir ver o túmulo mais uma vez.

— Caroline, não vai dar tempo. Precisamos ir embora.— Por favor... Não vai demorar.— Está bem, mas depressa. Os rapazes estão preocupados com

os Ngesi e eu também estou aflito. Não quero correr nenhum risco a esta altura.

— Eu volto já.Assim que ela deu-lhe as costas, Sam decidiu segui-la. Não tinha

intenção de atrapalhar o último momento de recolhimento de Caroline junto ao túmulo do pai, mas não podia deixá-la ir lá sozinha.

— Podem seguir na caminhonete — disse aos rapazes. — Nós os alcançamos depois.

Sem perda de tempo, os quatro africanos subiram no veículo e seguiram pelo caminho de volta que os levaria à reserva. Sam subiu a colina e foi direto para o túmulo de Carl Logan.

Aproximando-se em silêncio, logo o localizou, mas, ao ver o que Caroline fazia, limitou-se a observá-la. Caroline havia pego uma faquinha de cozinha e riscava uma pequena pedra, onde tentava deixar as iniciais CL. Foi então que o viu:

— Nem sei o dia que ele morreu — comentou, pesarosa.Sam deu uns passos à frente e tomou-lhe a faca das mãos.— Vamos por só o mês e o ano.Caroline afastou-se e deixou-o terminar a tarefa. No entanto,

Sam sentiu que havia um certo amargor na atitude dela. Mas não podia fazer nada. Tinham que sair dali o mais rápido possível.

Além de preocupado com a possível volta dos Ngesi, ele também se preocupava com o que o vinha atormentando — a idéia da existência de Zaphir já não lhe parecia tão absurda.

Assim que chegassem à reserva, daria mais uma olhada no mapa. Depois, entraria em contato com Eric e o primeiro-ministro e decidiriam o que fazer em seguida.

Porém, no momento, não pretendia correr nem mais um risco, pois era evidente que os Ngesi haviam desconfiado de sua história sobre o safári fotográfico. Principalmente por terem encontrado Caroline junto ao túmulo de Carl Logan. Pelo sim, pelo não, o melhor era sair fora dali logo.

Tendo acabado de fazer a inscrição na pedra, Sam pôs-se de pé, e tocando-lhe o braço de leve, afirmou:.

— Temos que ir agora.Sem uma palavra, Caroline começou a descer a colina em

direção ao acampamento. Sam seguiu-a, inconformado. Tentava salvar-lhe a vida e era recompensado com ódio. Caroline, na certa, não tornaria a lhe dirigir a palavra até o fim da viagem. Na verdade, talvez nunca o perdoasse...Momentos Íntimos nº 162 78

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Anne James África da sedução

Chegando ao acampamento, subiram no jipe e seguiram pela trilha. Sam olhava à sua volta, espiando entre as folhagens ao passar por elas.

Se os Ngesi estivessem observando-os — e, com certeza, deviam estar —, saberiam que todos haviam ido embora. Caso tornasse a voltar para cá, seu único cuidado devia ser o de tentar localizá-los antes que eles o encontrassem.

Caroline, perdida em pensamentos, continuava calada.Indiferente aos buracos da trilha, Sam percorreu-a a toda

velocidade, satisfeito por fazer Caroline chacoalhar um pouco. Era um modo de vingar-se do sofrimento que ela lhe impunha com seu silêncio.

Finalmente, resolvendo falar, ela pediu-lhe que diminuísse a velocidade, ao que Sam respondeu que precisava correr, caso contrário não alcançariam a caminhonete.

— Eles podiam ter nos esperado no acampamento.— E nós podíamos ter nos demorado menos — revidou,

arrependendo-se em seguida. — Me perdoe...Caroline não lhe respondeu, mergulhando novamente em seus

pensamentos. Não se conformava em estar indo embora. Estava perdendo a oportunidade de mostrar ao mundo que seu pai tinha razão — Zaphir existia!

Um dia, a cidade ainda seria descoberta e a história renderia homenagens a Carl Logan. Caroline percebeu que depois de tanto sacrifício para chegar às montanhas Batari, não era justo sair dali correndo, sem pelo menos ter tentado realizar o sonho do pai.

A vida lhe pareceu sem sentido. O que fazer depois de sair da reserva? Não sentia um mínimo de ânimo ao pensar que teria que voltar para Salindi e, de lá, voar para Nova York. A vida continuava... no entanto, não conseguia mais pensar em si mesma representando Simone Beauchamp de novo. Tudo isto ficara para trás e fazia parte de um outro tempo. Sua vida mudara completamente depois que pisara no continente negro e começara a descobrir um outro mundo, um outro lado de si mesma. Não havia como negar que Sam a ajudara muito, mas agora negava-se a ajudá-la neste último passo que tanto precisava tomar.

Olhando-o de esguelha, viu seu perfil duro, a fisionomia fechada, o olhar agudo concentrado na estrada.

— Sam?Ele diminuiu a velocidade para poder ouvi-la.— Quando você voltar...— Se eu voltar, Caroline.— Tenho certeza que encontrará a cidade. Então, promete que

me levará até lá um dia?— Isto pode demorar semanas, ou meses. Anos, quem sabe? E

quando voltar não vai ser especialmente para procurar uma cidade, mas, sim, para cumprir minha missão.

— Eu sei, mas tenho certeza que a encontrará um dia. Vou ficar aqui na África e esperar até que esse dia chegue.

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Anne James Passage to Zaphir

Surpreso, ele voltou-se para fitá-la:— Esperar onde?— Na reserva, na capital, em algum lugar.— Caroline, você tem uma vida em Nova York — disse sem muita

convicção na esperança de não convencê-la.Detestaria vê-la voltar para os Estados Unidos, mas, ao mesmo

tempo, nunca a imaginara vivendo ali na África. Então, começou a pensar em como seria o futuro dos dois juntos, vivendo em Salindi, casados...

Balançando a cabeça, procurou afastar as idéias da mente. A maioria das mulheres não resistiam a mais de seis meses na África; logo começavam a sentir saudades da cidade grande com suas lojas e teatros.

Ao prosseguirem viagem, Caroline notou que o céu à distância escurecera e o sol já não era tão forte. Embora soubesse que não fosse época de chuva, imaginou tratar-se de uma tempestade súbita. O mais estranho era que o calor ia aumentando consideravelmente.

Curiosa, voltou-se para Sam e a expressão dele a perturbou. Respirando fundo, ele murmurou algo incompreensível que lhe deu a idéia de perigo e, então, comentou:

— Os rapazes estão logo ali à frente.Caroline suspirou aliviada. No entanto, esta sensação foi

passageira, pois a caminhonete dava meia-volta e vinha em direção ao jipe. Apreensiva, olhou para Sam e de novo para o horizonte, onde o céu tornara-se quase negro.

Ao longe, um ruído surdo e contínuo cortava os ares.— O que está havendo, Sam? — quis saber, aflita. Uma rajada de vento os apanhou em cheio. Era um vento quente

e seco, diferente de tudo o que já vira. Por um instante, chegou a pensar que o ruído que ouvia fosse do próprio vento batendo na vegetação mas...

— Sam!De repente, percebeu o que acontecia — um incêndio. E, para

agravar, o vento forte ajudava as labaredas a se espalharem numa velocidade incrível.

Alih pulou do veículo e se aproximou gritando algo em swahili. Embora não o compreendesse, Caroline notou o tom de pânico de sua voz.

Sam o ouvia, tenso, mas mantendo o autocontrole. Em seguida, apanhou o binóculo e vasculhou o horizonte.

— O fogo vem vindo depressa.Olhando na mesma direção que ele, Caroline viu uma muralha de

chamas logo atrás da nuvem negra de fumaça. O céu, antes escurecido, adquirira um tom vermelho-alaranjado. Só então deu-se conta do perigo que corriam. Suas vidas dependiam apenas do bom senso de Sam em tomar uma decisão.

— Vamos para o rio — ele disse a Alih.— O rio Batari?— Sim.

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— Há muito perigo por lá, Sam.Sam não conteve um riso e Caroline, mesmo não entendendo o

que diziam, adivinhou-lhe os pensamentos — havia perigo em toda parte!

Pelo visto, a idéia de ir às montanhas não agradava a Alih, que falava em swahili e apontava na direção, onde a planície ainda não queimava.

— Não vamos conseguir chegar lá a tempo, Alih — disse Sam. — Não com este vento. — E, firmando-se à direção, decidiu. — Vamos para as montanhas. Haja o que houver, me espere no acampamento por cinco dias. Você tem comida suficiente na caminhonete. Caso eu não apareça, voltem para o rancho!

No curto espaço de tempo em que Sam dava instruções a Alih, o fogo aproximara-se consideravelmente, deixando apenas cinzas atrás de si. Caroline sentiu os olhos arderem e o cheiro forte de queimado secou-lhe a garganta, fazendo-a tossir.

— Sam, não vamos conseguir. O fogo está muito próximo — ela comentou.

— Vai dar tempo — disse ele confiante, já pondo o jipe em movimento.

Cauteloso, procurou desenvolver uma boa velocidade, mas sabia que era preciso muita cautela, pois um pneu furado ou uma avaria qualquer no veículo poria tudo a perder.

Segurando-se com força ao painel, Caroline chegou à conclusão que nunca correra tanto perigo em toda vida. Nem mesmo quando os Ngesi a haviam cercado perto do túmulo do pai.

Sobressaindo-se ao barulho do fogo, um outro ruído forte chamou-lhe a atenção, fazendo-a voltar-se para ver do que se tratava. Não eram os únicos a fugirem do fogo. — Bandos e bandos de animais corriam na mesma direção que eles, deixando uma nuvem imensa de poeira atrás de si. O instinto os guiava para longe do fogo, em direção à água. Quantos sobreviveriam?

De repente, o vento mudou de direção e a fumaça os envolveu, roubando-lhe a visão. Sam brecou imediatamente o jipe e os pneus da caminhonete "cantaram" logo atrás.

— Abaixe a cabeça — instruiu Sam que, tirando a camisa, encharcou-a com a água do cantil e entregara a ela. — Tome, cubra o rosto com isto.

Caroline apoiou o rosto sobre os joelhos e fez conforme o indicado. Segundos depois a fumaça se dissipava, mas o calor continuava insuportável. A cada segundo, as chamas cresciam e se aproximavam. O primeiro bando de animais cortou-lhes o caminho — eram impalas, desesperadas. As mais jovens quase não acompanhavam as maiores.

Numa luta desesperada conseguiram ultrapassar o local do último acampamento e seguiram adiante por uma trilha tortuosa.

— A caminhonete ficou para trás — avisou Caroline.— Alih tem que seguir por onde haja mais espaço porque o

veículo deles é maior. Não se preocupe, ele vai conseguir escapar.

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Mas Caroline já chegava a duvidar que até eles conseguissem fugir. A todo instante, Sam era obrigado a parar o jipe, temendo atropelar algum animal que cortava-lhes a frente.

Minutos mais tarde as chamas estavam perigosamente próximas.Tentando não gritar, Caroline fechou os olhos e levou as mãos ao

rosto. Tudo dependia de Sam. O desespero dos animais era mais um fator para aumentar-lhe o pânico. No entanto, Caroline jurou a si mesma não gritar, pois poderia fazer com que Sam se descontrolasse.

Ao reabrir os olhos, percebeu que o fogo já os tinha quase alcançado. Lá se fora sua última esperança. As chances de escaparem eram mínimas.

A fumaça quente já a impedia de enxergar qualquer coisa e, temendo que o calor lhe queimasse os olhos, Caroline tornou a esconder o rosto na camisa molhada. Porém, desta vez, foi inútil. Quando pensou não haver mais salvação, ouviu Sam gritar.

— Lá está!Do alto da montanha, bem à frente, uma grande e bela queda

d'água desaguava num lago, que se alargava para formar o rio. Seu leito era cheio de pedras e mais adiante mergulhava selva adentro em direção à savana.

Sam parou de súbito à margem enquanto os animais, em fuga desesperada, atiravam-se nas águas para alcançarem o lado oposto. Consciente que o tempo se esgotava, ele examinava o rio como podia. Havia um ponto onde as margens formavam um declive e pedras planas emergiam da água. Se conseguissem chegar até lá, talvez se salvassem.

— Segure-se, Caroline! O jipe desceu devagar e entrou no local, mas quase capotou. Caroline agarrou-se com toda força ao painel, Sam dirigiu o veículo por entre os bandos de animais com muita cautela.

Ao alcançarem a metade do rio, Caroline chegou à conclusão que conseguiriam escapar. Ali o rio era um pouco mais fundo mas o jipe vencia a correnteza com facilidade. De súbito o veículo começou a der-rapar.

— Essa não! — ele esbravejou. Sem perda de tempo, engatou a marcha à ré e, em seguida, a primeira. O jipe andou poucos metros para, então, parar.

— Nós vamos ter que abandoná-lo — ele anunciou.Caroline recusou a mover-se dali. Sem o jipe estariam perdidos, a

pé nas montanhas.— Mas, Sam...Indiferente aos protestos dela, Sam apanhou uma mochila no

banco de trás.— Por sorte temos alguns mantimentos aqui. — E, entregando-

lhe a mochila disse: — Salve tudo o que puder.Caroline, seguiu-lhe as instruções e apanhou algumas latas e

alguns pacotes e por fim jogou sua bolsa e a lanterna dentro da mochila.

Sem dar chance para que o pânico a dominasse de vez, e com a Momentos Íntimos nº 162 82

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mochila pendurada no ombro, Caroline segurou a mão que Sam lhe estendia, já de dentro do rio.

Sam, com as duas mãos, colocou-a em sua frente e segurando-a pela cintura, para maior segurança, ajudou-a a cruzar o rio.

Finalmente, ao alcançarem a margem íngreme, Sam gritou:— Vamos subir depressa, ainda bem que não fomos pisoteados

pelos animais!Subiram pela encosta úmida e escorregadia até atingirem o topo

de uma pedra, onde pararam para olhar para trás.— Será que o fogo vai atravessar o rio? — ela quis saber.— Não sei, mas não podemos nos arriscar. Temos que continuar,

Caroline. Nós não estaremos seguros aqui.— Mas, e o jipe?— Não dá para tirá-lo de lá agora e duvido que ele ainda funcione

quando tudo isso estiver acabado. Temos que subir as montanhas e nos embrenharmos pelas Batari. Só assim nós estaremos seguros.

Sem protestar Caroline o seguiu, o corpo dolorido, o rosto negro de fuligem. O fogo havia ficado para trás, mas o perigo ainda os rondava.

CAPÍTULO IX

Ao abrir os olhos, Caroline deparou com os primeiros raios de sol penetrando por entre os galhos verdes das árvores e olhou à sua volta. Ali, no alto da montanha, não havia sinal algum da devastação deixada lá embaixo pelo fogo.

O céu estava claro, sem nuvens e sem fumaça, porém no ar Caroline sentia o cheiro forte de queimado. Ou talvez, nem estivesse no ar, pensou, mas em seus pulmões. Esta sensação poderia perdurar ainda por alguns dias até que seu organismo se desintoxicasse da fumaça inalada.

Teve, então, vontade de levantar-se e lavar o rosto, os cabelos, as mãos para ver se apagava, também, as lembranças daqueles momentos trágicos que haviam passado. Contudo, Sam dormia tranqüilo ao seu lado e ela temia acordá-lo. Sabia que ele tinha o sono leve e, ao menor movimento seu, despertaria já com a faca na mão.

Portanto, Caroline resolveu permanecer onde estava e, para esquecer-se do incêndio, procurou concentrar-se na beleza selvagem da paisagem que a cercava.

Nos galhos mais baixos, chimpanzés pulavam alegres, gesticulando uns para os outros e fazendo um barulho incrível. Nos mais altos, empoleiravam-se pássaros exóticos de todos os tamanhos, com seus cantos variados. Caroline os via de relance por entre os galhos.

No entanto, mesmo distraindo-se com tudo que a cercava, lembranças dos acontecimentos da véspera voltaram a atormentá-la. Era inútil afastá-las de seu pensamento e, por fim, Caroline desistiu

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de lutar, permitindo que as imagens desfilassem diante de si como num filme.

A impressão que tinha era que tudo não passara de um terrível pesadelo. Principalmente agora, estando ali na floresta verdejante.

Porém, o corpo dolorido e arranhado era uma prova concreta que o incêndio ocorrera de fato. Depois de terem atravessado o rio, ela e Sam subiram mais e mais pela montanha até encontrarem um lugar onde estivessem realmente a salvo. Exaustos, adormeceram num pequeno abrigo natural encravado na encosta.

Caroline mal conseguia acreditar que haviam conseguido escapar às chamas.

Mas, e os rapazes? Será que teriam conseguido escapar? Só de pensar no que poderia ter lhes acontecido, Caroline estremeceu.

Seu ligeiro tremor foi suficiente para despertar Sam que, num gesto rapidíssimo, abriu os olhos e esticou o braço alcançando a faca. Ao dormir, ele também tinha deixado uma arma bem à mão, mas foi a faca que ele logo procurou, por força do hábito.

— Está tudo bem, Sam — ela disse depressa. — Sinto muito, não queria acordá-lo, mas estava pensando no incêndio e estremeci.

Mais tranqüilo, Sam soltou a faca e Caroline percebeu que ele também pensava na tragédia da véspera.

— Como se sente? — Sam quis saber.— Não muito bem — ela admitiu. Tinha a pele negra de fuligem e

coberta de arranhões,. Além do que, a garganta ardia-lhe terrivelmente. — Mas, feliz por estar viva — acrescentou.

Sam assentiu com a cabeça. Não havia dúvidas que haviam passado por um perigo imenso, porém sua maior alegria não era estar vivo mas, sim, ter conseguido mantê-la sã e salva. Fora um verdadeiro milagre. Olhando-a, sorriu enternecido.

— Apesar de tudo, você continua linda — disse-lhe, segurando-lhe o queixo.

— Você também.— Bem, conseguimos salvar pelo menos dois cantis — ele

comentou. E existem diversas nascentes na montanha, portanto não vamos morrer de sede.

— Ainda bem...— Agora vamos tratar de nos alimentarmos um pouco — ele

sugeriu.Depois de abrirem uma lata de presuntada começaram a comer.— Que café da manhã... — disse ele. — Mas ainda tem algumas

latas de conserva...— E mais algumas coisinhas — Caroline comentou sorrindo...— Não se preocupe — disse Sam — a gente encontra frutas aí no

meio desse mato. Reforçaremos as nossas refeições. Será suficiente até chegarmos.

— Chegarmos onde? Até a reserva dos McKenzie?— Não, jamais conseguiríamos atravessar aquela região

queimada sem um veículo.— E os rapazes?

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— Não tenho dúvidas que conseguiram escapar, fique tranqüila...— E aonde acha que eles estão agora?— A caminho do local onde acampamos. Foi lá que ficamos de

nos encontrar. — Vendo-a tão preocupada, esticou o braço e acariciou-lhe o rosto. — Acredite-me: eles estão bem.

— E nós também vamos para lá agora?— Não vai dar, Caroline... não seria seguro voltarmos... Com a

região toda queimada ficaríamos muito expostos sem lugar nenhum para nos escondermos...

— Vamos seguir para o norte...— Há alguma trilha?— Não. Mas sempre trago uma bússola comigo. A presença tranqüila e segura de Sam ao seu lado não permitia

que o medo a dominasse. No entanto, Caroline não conseguia esquecer-se dos Ngesi.

Vendo-a apreensiva, Sam adivinhou-lhe os pensamentos.— Os nativos desta região têm muito respeito pelo fogo e tenho

certeza que fugiram para bem longe daqui.Abrindo a mochila, ela retirou de dentro sua bolsa. Depois de

pegar o mapa, estendeu-o a ele e perguntou: — Será que isso nos ajudaria?

— Talvez. — Sam apanhou-o e o estudou com mais atenção desta vez.

Enquanto ele continuava atento ao mapa, Caroline, calada o observava com ansiedade. Enfim, curiosa, não resistiu à pergunta.

— A que distância acha que nos encontramos de Zaphir? Estamos muito longe?

— Não — admitiu. — Caroline, não temos muita comida. Não vamos conseguir ir muito longe...

— E as frutas?Evitando encará-la, Sam assentiu com a cabeça. Lembrou-se,

então, da insistência dela no dia anterior para que fossem à procura da cidade; idéia que prontamente refutara como absurda. No entanto agora, que estavam, tão próximos do local marcado no mapa, via a situação de outra maneira, mesmo assim tinha medo de arriscar a vida de Caroline.

— Não vou lhe implorar, Sam — disse ela, sorrindo. — Esse foi um artifício que usei com o primeiro-ministro, mas sei que, com você, não iria funcionar.

— Tem razão, não iria. — Depois de alguns segundos continuou: — Não sei, Caroline... Correríamos um risco muito grande.

— Estou disposta a corrê-lo, Sam.— Isso eu já sabia — afirmou, sorrindo. — Ainda me lembro de

nossa última discussão sobre o assunto; você foi um bocado dura.— Mas não consegui vencê-lo. E não posso vencê-lo agora

também a menos que queira ir a Zaphir. — Respirando fundo, procurou manter a calma. — Sabemos onde fica a cidade, Sam.

— Onde deve ficar — ele corrigiu. — Você é uma garota e tanto, Caroline.

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— Lembre-se que puxei pelos meus pais.— Puxa, que combinação! — Inclinando-se, beijou-lhe de leve os

lábios e resolveu. — Está bem, vamos tentar.Não havia estrada, trilha ou sequer uma picada mata adentro. Os

Ngesi costumavam cruzar aquela região com freqüência, mas o faziam sem deixar vestígios.

Ao seguir pela mata, Sam indagava-se quantos outros teriam pisado ali sem nunca mais conseguirem retornar à civilização. Como o pai de Caroline, por exemplo, que não teve a chance de retornar à cidade para contar sua última aventura. E haveria mesmo Carl Logan descoberto Zaphir? Felizmente, o mistério estava prestes a ser decifrado e, então, depois de mapeada a região, as montanhas seriam abertas ao público.

Na verdade, Caroline só deveria ter vindo às Batari quando a área já estivesse aberta aos turistas, mas sua teimosia acabara vencendo.

Tanta determinação e teimosia faziam parte de sua personalidade forte e encantadora.

À medida que Sam apressava os passos, Caroline procurava segui-lo sem reclamar, porém, em pouco tempo, tinha ficado para trás. Àquela altura, a vegetação tornou-se mais densa e o obrigou a usar a faca para abrir caminho pela mata. As árvores eram tão altas e tão copadas que impediam a entrada dos raios solares.

Os ruídos da selva continuavam a encantá-la e amedrontá-la, mas Caroline desistiu de querer identificá-los a todo instante, deixando tal tarefa a cargo de Sam.

Quanto mais depressa ele andava, mais difícil era para ela acompanhá-lo. Até ali tinha sido muito agradável e ambos conversaram bastante durante a caminhada. No entanto, de repente, Sam ficara calado e Caroline indagava-se o que o teria feito mudar de humor.

Não suportando mais o silêncio e muito cansada, resolveu arriscar.

— Sam, será que poderíamos parar um pouco para descansar?Ele não respondeu, limitando-se a balançar a cabeça numa

negativa. Só alguns metros à frente, ao precisar deter-se para cortar uma planta, foi que voltou-se para explicar.

— Só pretendo parar as dez.— Mas já devem ser dez horas. Sam não conteve um riso.— Não são nem nove. Estamos caminhando há apenas duas

horas.— Não é possível... Não estou mais agüentando de cansaço.— Sinto muito, Caroline — ele disse, esperando-a. — Acho que

forcei um pouco a caminhada. Vamos parar um pouco.— Não, não se preocupe comigo, Sam — disse ela, orgulhosa. —

Prefiro seguir seu esquema: Vamos caminhar até às dez horas.Procurando evitar uma discussão, Sam prosseguiu até o horário

combinado. No entanto, a parada foi mais breve do que Caroline imaginava, mas ela não reclamou.Momentos Íntimos nº 162 86

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Por fim, quando pararam para o almoço, ela simplesmente se sentou, sem sequer se importar com mais nada.

Sam deixou-a descansar até que as latas estivessem abertas, mas, então, obrigou-a a comer.

— Vamos, coragem!— Nem sei se tenho forças para abrir a boca.— Vai se sentir melhor depois do almoço.Nisso ele tinha razão e Caroline conseguiu agüentar firme a

caminhada da tarde até o momento da parada.À tardinha, tendo encontrado um bom local, Sam decidiu que

passariam a noite ali. Além do que, estava preocupado com Caroline, que vinha se esforçando demais para acompanhá-lo. Entretanto, como sempre, ela mais uma vez o surpreendeu, oferecendo-se para fazer o primeiro turno da noite.

Embora satisfeito com sua gentileza, Sam não permitiu.— Prometo chamá-la antes do amanhecer. Aí, então, eu dormirei

um pouco.— Um pouco não vai ser o bastante.— Estou acostumado a este tipo de vida, Caroline. Você, não.

Vamos fazer como eu digo, certo?E, com isso, deu-lhe uns tapinhas amistosos na mão que a fez

retribuir-lhe o sorriso e sugerir:— Talvez nós dois devêssemos dormir. Não vi nenhum leão ou

rinoceronte aqui nas montanhas.Sam já havia acendido o fogo e agora arrumava a mochila.— De jeito nenhum — protestou. — Não vamos nos arriscar mais

do que estamos nos arriscando. Temos que nos prevenir contra os leopardos.

Caroline olhou para o alto e arrepiou-se ao ver as copas das árvores imensas formando um toldo bem verde.

— Eles adoram um lugar cheio de árvores — ele prosseguiu num tom casual.

— Eles gostam de carne humana?— Gostam, mas os leopardos são o que menos me preocupa.

Tenho mais medo dos homens.Não era surpresa para Caroline sentir que ele preferia a

companhia dos animais. Na sua opinião, Sam devia ter sofrido uma decepção muito grande na vida...

— Mal posso acreditar que estamos nos aproximai do de Zaphir. Obrigada, Sam.

Recostada numa pedra, observou-o preparar o jantar, que consistia em duas latas de sopa, engrossada com bastante arroz.

— Já pensou se dentro da mochila não tivesse um abridor e duas colheres? Eu mal posso acreditar que concordei com esta loucura.

— Aposto como não teremos problemas em chegar lá, Sam — ela respondeu, confiante. — Você é muito bom no que faz.

— Obrigado pelo elogio — disse ele, sorrindo.— Uma das primeiras coisas que notei em você é que não

precisa da aprovação nem dos elogios das pessoas. Você é um

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homem seguro de si, confiante de suas capacidades.— Mas eu não nasci assim. Aprendi com o tempo... De novo

Caroline pensou no passado dele, mas não fez comentário a respeito. Passou as mãos pelos cabelos curtos e comentou:

— Até que enfim estou me acostumando com o corte, mas confesso que quase desmaiei a primeira vez em que me olhei no espelho.

— Sem dúvida que ficou completamente diferente... — ele admitiu. — Mas, gostei muito. Aliás, gosto de tudo em você.

Satisfeita, Caroline começou a pensar no relacionamento entre eles, que continuava a se aprofundar. De guia turístico e atriz eles passaram, a companheiros de aventura e amigos o que, sem dúvida, era um passo importante. Sua maior esperança no momento era encontrar a cidade perdida de Zaphir e provar a todos que seu pai tinha razão. Mas tudo isto só seria possível graças à ajuda de Sam, que havia concordado em realizar-lhe o sonho.

— Sabe Sam... — ela começou a dizer meio sem jeito. — Mesmo aqui no meio da natureza existe uma parte de mim que não vê a hora de poder usar de novo um vestido de seda com sapatos de salto.

— Isto é normal. Há uma parte de mim que gosta de tomar uísque escocês, usar uma roupa elegante, e jantar no King George... e melhor ainda se estiver ao lado de uma bela garota.

— É mesmo?— Não tenha dúvidas que sim...Em seguida Sam foi terminar de preparar o jantar e Caroline

ofereceu-se para ajudá-lo.— Não, obrigado — ele recusou. — Já está quase pronto.— Tudo bem.Despreocupada, Caroline recostou-se melhor e pegou no sono

em questão de segundos.Minutos depois, Sam chamou-a e ela veio sentar-se ao seu lado

para juntos saborearem o jantar. Ambos concordaram em que a porção era pequena, mas precisavam economizar o pouco que tinham.

Depois de jantarem, Caroline recostou-se contra o ombro dele e olhou em direção ao céu, comentando:

— Pode parecer absurdo, mas, apesar de tudo o que passamos e do fato de estarmos aqui neste fim de mundo, sinto-me muito feliz.

Sam compreendia o que se passava com ela, pois compartilhava do mesmo sentimento. Adorava estar ali, na selva, longe da vida agitada da cidade e a presença de Caroline só vinha completar sua felicidade.

Por uma brecha entre os galhos das árvores, foi-lhes possível ver a lua cheia brilhando no céu. Uma brisa leve soprou e as sombras projetadas pelas folhas sobre o solo começaram a se mover numa dança curiosa e exótica como a própria África.

Para Caroline, era como se a luz, aquela noite, brilhasse só para eles, ali em plenas montanhas. Um pássaro noturno cantou, completando o cenário e a fez ver que, pela primeira vez, conseguia Momentos Íntimos nº 162 88

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ser feliz com tão pouco. A felicidade estava, realmente, nas coisas mais simples da vida.

— É tão bom estar viva — comentou, pensativa.— Tivemos muita sorte em escapar...Como o fogo começasse a se extinguir, Sam atiçou-o com um

galho, pôs mais alguns gravetos e voltou para junto de Caroline. Abraçando-a, puxou-a para junto de si, satisfeito por tê-la consigo. Jamais sentira tanta paz interior, tanto bem-estar quanto naquele momento. Calado, continuava a ouvi-la:

— Acho que passei a apreciar muito mais a vida depois de ter visto a morte de perto.

Sim, a vida era preciosa, ele concluiu, mas quando bem vivida e compartilhada com quem se ama. Caso contrário, tornava-se um verdadeiro inferno.

Pensativo, imaginou se deveria contar-lhe os episódios de sua vida que tanto o haviam magoado. A noite estava amena e nunca tinham compartilhado de momentos tão ternos. Por fim, concluiu que sim, ia revelar-lhe o seu passado: afinal, não havia motivo nenhum para ocultar-lhe o que acontecera.

Porém, quando já ia pronunciar seu nome, percebeu que Caroline havia adormecido. Recostada em seu ombro, respirava tranqüila e profundamente.

Intrigado, notou que jamais sentira tanta ternura com relação a alguém. Caroline tinha o poder de despertar o que havia de melhor em seu íntimo.

Ajeitou-lhe a cabeça sobre o colo, acariciando-lhe os cabelos e ficou observando-a dormir.

Horas depois Caroline despertava, preocupada com ele.— Eu estou bem.— Você precisa dormir. Deixe que agora é a minha vez de vigiar.Decidida, apanhou a arma que ele mantinha perto de si e foi

sentar-se junto a uma das pedras.— Você sabe atirar? — perguntou de modo irônico.— Aprendi com meu pai há muitos anos.— E alguma vez já usou um revólver?— Não — admitiu. — Mas é fácil. Agora, trate de dormir.Duas horas mais tarde, ao acordar, Sam deparou com Caroline

ainda bem vigilante. No entanto, as olheiras profundas denunciavam-lhe o cansaço. Vendo que seria inútil continuarem a caminhada daquela forma, resolveu dar a ela mais umas horas de sono.

— Caroline, acorde.— Ummm. Quero uma mousse de chocolate, garçom.— O quê?Ao abrir os olhos, Caroline percebeu que havia sonhado um

sonho lindo, onde ela e Sam jantavam num elegante restaurante de Nova York. Olhando ao redor de si, não pôde ocultar um ligeiro desaponto.

— Estava sonhando, não é mesmo? — ele indagou.— Sim — respondeu, aprumando-se.

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— Era um sonho bom?— Era. Mas a realidade é melhor — mentiu.— Não precisa mentir.— Sinto muito, Sam; não é culpa sua. Mas, me acredite: gosto de

estar aqui.Ele estendeu-lhe a mão e ajudou-a a levantar-se:— Prometo a você que um dia farei eu mesmo uma mousse de

chocolate para você...

CAPÍTULO X

A caminhada daquela manhã pareceu a Caroline bem menos cansativa.

Feliz por estar finalmente se aproximando de Zaphir, mal via a hora de encontrar a cidade perdida e provar a todos que seu pai era um explorador sério e competente.

Sam, caminhando ao lado dela, também compartilhava de seu sonho e estava disposto a explorar Zaphir caso ela existisse mesmo, da mesma forma que Carl teria explorado. Ou melhor: tinha explorado! Sim, porque a princípio, ele achava que Carl fora morto antes de chegar à Zaphir, mas, depois de ver com cuidado o mapa enviado a Caroline, mudara de idéia.

Refletindo sobre o que teria acontecido ao velho Carl, chegou a uma ou duas conclusões, ambas muito perigosas e seu intuito era estar ao lado de Caroline para protegê-la, caso as teorias fossem verdadeiras.

Ao olhar para ela, viu-a sorrindo e observando dois chimpanzés brincando na árvore. Alegres, os animais saltitavam e faziam muito barulho, na certa querendo saber quem eram aquelas duas criaturas estranhas que invadiam seu habitat.

— Acho que eles adoram se exibir — disse Caroline.— Eu também acho.Curiosos, os amiguinhos se aproximaram de Sam e Caroline.

Encantada, ela esticou o braço para tocá-los, mas Sam logo segurou-o.

— Não! Eles são selvagens. Não pense que são mansinhos como os da reserva.

— Ah... mas são tão bonitinhos.— Olhe, lá vem a mãe deles.Pulando dos galhos mais altos até o chão, a macaca gritou com

os filhotes. Imediatamente eles voltaram para a árvore.Alguns metros à frente, a vegetação cedia lugar às rochas e

Caroline teve que se apoiar em Sam para conseguir vencê-las.Duas horas mais tarde, a vegetação se tornou rasteira e se viram

em meio a flores silvestres exóticas e coloridas até que, numa destas vezes, distraída, não se deu conta do perigo que corria.

— Pare — disse Sam. — Não se mexa. Paralisada, Caroline percebeu que algo de grave a ameaçava.

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Anne James África da sedução

Então, viu do que se tratava; uma cobra deslizava a seu lado.Seu primeiro ímpeto foi gritar e correr, mas o medo a paralisou.

Um nó em sua garganta a impedia de falar. Não conseguia parar de olhar para a cobra.

— Calma — Sam falou baixo, tenso. — Não vai acontecer nada se você não se mexer. Fique parada.

Mas o desespero dela aumentava a cada segundo. Gotas de suor escorriam-lhe pela testa e o coração batia disparado em seu peito.

— Sam, por favor, atire. Ela está armando o bote.— Não.Olhando de esguelha, Caroline viu que ele nem fez menção de

pegar a arma que trazia na cintura.— Sam...— Não, está muito perto de você, Caroline. — Com movimentos

lentos, conseguiu tirar a faca da cinta. — Fique calma e não se mexa.Aterrorizada, Caroline percebeu que não agüentaria aquela

agonia por muito mais tempo e preferiu fechar os olhos.Em seguida, ouviu apenas o ruído surdo da lâmina cortando o ar

e, ao reabrir os olhos, viu a cabeça do réptil decepada.Segundos depois, Sam abraçou Caroline com carinho. Ela,

sentindo as pernas fraquejarem, apoiou-se nele que ergueu-a nos braços e levou-a para longe do animal morto.

Colocou-a sentada no chão e curvou-se sobre ela.— Que... que cobra era aquela?— Uma mamba verde — explicou sentando-se ao seu lado. — É

uma das mais venenosas da África.Caroline teve medo de desmaiar.— Você está bem?— Sim. Acho que mais uma vez você salvou minha vida.

Obrigada.— Não há de que, sita. Chapman. — Sam beijou-a de modo terno

e a manteve junto a si até que se recuperasse do susto. Então, sugeriu: — O que acha de nos vingarmos da mamba? Podemos saboreá-la como almoço.

— De jeito nenhum!— Carne de cobra é uma delícia.— Por favor, Sam... Não insista. Nós encontramos frutas hoje

quando começamos a nossa caminhada. Podemos nos alimentar delas, ainda temos bastante.

— Tudo bem — ele comentou.Depois de comer algumas frutas, Caroline comentou:— Bem, consegui sobreviver ao ataque de um rinoceronte, a um

incêndio e a uma cobra. Acho que nada mais pode me apavorar.— Lembre-se do que eu lhe disse: o pior predador é o homem.— Foi por isso que veio para a África? — indagou, pensativa. —

Para fugir dos homens?— Digamos que esse foi um dos motivos. Caroline aproximou-se

dele e pousou uma das mãos em seu braço.— Você já me conhece muito bem, Sam, viu meus defeitos,

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medos e qualidades. Por que não me conta um pouco a seu respeito?— Você pode não gostar do que tenho para lhe contar, Caroline.— Sou mais forte do que pensa.— Sim, cometi um erro ao subestimar sua resistência, mas,

nesse caso, é diferente.Caroline já esperava por isso e não se deixou abater.— Acho que é apenas uma questão de confiança, concorda? Sim, Caroline tinha razão e Sam sabia que podia confiar nela. — Sei que Sarah gostou muito de você e já deve ter-lhe contado

um pouco sobre meu passado, não é? Além do que, ela tem uma queda incrível para bancar a casamenteira. Durante aquele baile improvisado, ela me olhou de modo muito significativo.

— Sarah me disse que você foi casado. — Bem, acho que vou começar por aí. Conheci Kate, minha ex-

esposa desde criança. Crescemos juntos e todos diziam que tínhamos sido feitos um para o outro. O que aconteceu é que Kate era exatamente como aparentava ser, mas eu era completamente diferente.

Caroline percebeu que teria que ajudá-lo nas confidências e perguntou:

— Quanto tempo você ficou casado? — perguntou.— Cinco anos, mas só fomos felizes durante os três primeiros. O

quarto mais parecia uma batalha e o quinto passei na cadeia.Pronto, estava dito. Não havia como voltar atrás. Caroline ficou

chocada com o que acabara de ouvir, mas procurou disfarçar.— Me conte como foi.— Nós éramos jovens, estávamos apaixonados, minha carreira e

o casamento iam muito bem. Tínhamos uma casa linda num bairro mais afastado e sempre inventávamos algo com que nos distrairmos. Além do que, devido ao lugar que eu ocupava, sempre éramos convidados para festas e coquetéis. Eu e Kate gostávamos daquela vida.

— Em que você trabalhava?— Eu era gerente de uma companhia de investimentos, um

verdadeiro expert no assunto.— E o que foi que deu errado? Sam sorriu de modo amargo.— Tudo. Um dos sócios se envolveu num negócio sujo e eu devia

ter percebido, mas não percebi. Ou melhor, suspeitei de algo, mas não investiguei muito a fundo. Sabia que havia algo errado, mas não sabia exatamente o quê. Quando afinal me dei conta do que acontecia, esse sócio havia fugido com uma verdadeira fortuna e eu tive que arcar com a culpa.

— Oh, Sam, mas você não foi o responsável.— Sim. Porém, como gerente, eu fui acusado. O julgamento foi

uma piada, pois eles tinham que achar um bode expiatório para arcar com o prejuízo dos investidores. Fui mandado para uma prisão de segurança mínima, junto com vários políticos, presidentes de bancos e corretores. Alguns eram mesmo culpados; outros, tão inocentes Momentos Íntimos nº 162 92

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Anne James África da sedução

quanto eu.— Que horror... — Caroline comentou pousando-lhe uma das

mãos sobre o braço, num gesto de conforto e solidariedade.— Na verdade, não foi assim tão ruim, pois, durante minha pena,

tive tempo para pensar na vida e em mim mesmo. Só que quando fui solto minha mulher tinha pedido o divórcio, a firma havia fechado e eu estava fichado na polícia. Procurei Kate e tentei explicar-lhe, mas ela só entendia uma coisa — eu fora preso como culpado do escândalo. Talvez, se eu tivesse fugido com o dinheiro, ela ficasse feliz.

Sam fez uma pausa e Caroline não lhe perguntou mais nada pois sabia que ele ia prosseguir.

— Alguns amigos me procuraram e me incentivaram a começar tudo de novo, mas eu sabia que era o fim — já estava farto daquele tipo de vida. Então, decidi viajar para o exterior e tentar algo novo. Corri a Grécia, a Espanha e a Itália, mas nem tentei conseguir um emprego. Já estava quase voltando para os Estados Unidos quando conheci Eric; aquele encontro modificou a minha vida. Ele nunca me fez uma pergunta sequer sobre o passado e somos grandes amigos.

— O que faz você ter tanta confiança nele?— Não sei, intuição...Mais uma vez Sam calou-se. Caroline continuava a tocar-lhe o

braço e ele esperava ter conseguido contar-lhe tudo sem perder sua confiança e seu carinho. Não tinha sido nada fácil revelar-lhe o passado.

— Pronto, agora já sabe de tudo. Falhei como marido e como profissional. É por isso que eu temia tanto me envolver com alguém como você. Não pertencemos mais ao mesmo Monod e não sei se você se acostumaria a viver aqui.

— Será que já não lhe provei isso?— Isto que estamos vivendo não é © dia-a-dia comum; é apenas

uma aventura.— Tem certeza que tudo é só uma aventura?— Não, não tudo — admitiu, cobrindo a mão dela com a sua. —

Mas sua viagem à África não será mais do que uma história divertida para contar aos amigos durante um coquetel ou a um jornalista que a entreviste.

— Está querendo dizer que não sou como as mulheres que moram aqui; não sou como Sarah.

— Não, não é. — E acrescentou: — Mas também não sou como Duncan.

— Sabe Sam, acho que nós estamos meio perdidos. Mas poderíamos tentar uma nova vida.

— Tem razão: sempre é tempo. Talvez este seja um começo para nós, mas tenho medo, Caroline.

Caroline ergueu a mão e contornou-lhe o rosto com a ponta do dedo.

— Por favor, deixe-me amá-lo.Ele segurou-lhe a mão e beijou-a carinhosamente, sem uma

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Anne James Passage to Zaphir

palavra. Sim, ambos poderiam se amar. Por enquanto. Mas, e amanhã? É daqui a um ano?

— Teremos que enfrentar muita coisa, Caroline.— Sim, mas somos fortes o bastante para enfrentar qualquer

obstáculo. — Pela primeira vez ela se sentia mais forte do que Sam. Curvando-se, beijou-o doce e suavemente. — Oh, Sam, eu te amo...

— Eu também te amo, Caroline.Comovida, ela o abraçou e deu-lhe mais um beijo.— Eu sabia que me amava, caso contrário jamais teria

concordado em procurar Zaphir.Ambos de repente começaram a rir muito, felizes.— Vamos continuar, Sam?— Não, vamos descansar um pouco, afinal aquela mamba

assustou muito você. Venha cá.Caroline aproximou-se. Os olhos verdes de Sam brilhavam e

despertavam-lhe um desejo muito grande. Os dois se ajoelharam. Olhando-a bem dentro dos olhos, Sam desabotoou-lhe a blusa com movimentos lentos e seguros. Então, beijou-lhe os lábios e foi aos poucos deslizando a boca pelo pescoço delicado até alcançar-lhe os mamilos.

Excitada, Caroline gemeu baixinho e acariciou-lhe os cabelos.— Sam, eu te amo tanto... Te amo tanto...Juntos, os dois deitaram-se sobre a relva, e abraçados,

desfrutaram de uns momentos de paz e aconchego. Caroline jamais se sentirá tão segura em toda a sua vida. Era como se ali, ao lado dele, nada de mal pudesse lhe acontecer.

Sam, enternecido, acariciou-lhe o rosto, desenhando cada traço delicado com a ponta dos dedos. Depois, beijou-a com paixão e, rolando para o lado, trouxe-a consigo. Abraçados, os dois permaneceram em silêncio, desejando em seu íntimo que aqueles instantes durassem para sempre.

— Sam, eu queria tanto fazer amor com você mas eu estou supercansada.

— Tudo bem, querida... Durma... eu velo pelo seu sono. Ainda temos que caminhar muito.

Finalmente, vencida pelo cansaço, Caroline acabou dormindo.Qual teria sido o impacto de seu passado sobre Caroline?,

indagou-se. Aparentemente, embora surpresa, ela não demonstrou repulsa ou censura, mas, quem saberia o que se passava em seu íntimo? Detestaria perdê-la agora que ambos haviam se apaixonado...

Arrependido, concluiu que jamais deveria tê-la trazido ao safári; jamais deveria tê-la conhecido. Não, não era verdade, não estava sendo sincero consigo mesmo...

Conhecê-la tinha sido a melhor coisa que lhe acontecera nos últimos tempos. Caroline era uma garota adorável, meiga, em quem poderia confiar. Era uma chance que o destino lhe oferecia. Uma chance de voltar a ser feliz que ele não pretendia desperdiçar. Agora que ela conseguira superar todas as suas barreiras, nada os separaria.Momentos Íntimos nº 162 94

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Anne James África da sedução

No entanto, a maior preocupação de Sam era com o perigo que corriam ali nas montanhas Batari. Lutar contra o desconhecido sempre o apavorava, mas Sam fazia de tudo para disfarçar sua insegurança pois não queria que Caroline entrasse em pânico.

Naquele instante, ela se mexeu um pouco e acabou despertando. Erguendo o rosto, olhou-o com os olhos ainda sonolentos e o beijou.

— Eu dormi muito tempo?— Não muito.— Sam?— Sim?— Você me faz muito feliz. Nunca prezei tanto a vida como

agora, depois que o conheci.— Eu vivi trancado muito tempo — disse e, vendo a expressão de

surpresa nos olhos dela, esclareceu: — Não numa prisão, mas dentro de mim mesmo. Você foi a única pessoa capaz de me libertar.

Caroline ficou comovidíssima com a confissão. Era muito importante para ela contar com a confiança de Sam,

Mas o que ele disse a seguir mostrou-lhe que também se preocupava com sua segurança.

— É por isso que cometi um erro ao trazê-la para essas montanhas. Acho que deveríamos tentar chegar ao acampamento, e esquecer Zaphir, pelo menos por enquanto.

— Ir para o acampamento?— Daríamos uma volta, tentando chegar lá por onde o fogo não

passou, não sei... mas acredito que encontraríamos um jeito de passarmos desapercebidos... Caroline, agora temos um ao outro, o que mais precisamos para sermos felizes?

Caroline olhou-o bem dentro dos olhos tentando descobrir o que ele lhe ocultava.

— Você está com um pressentimento que algo vai nos acontecer, não é?

— Só sei que corremos muito perigo e, quanto mais nos aproximamos da suposta localização de Zaphir, mais perigoso fica.

— Sam, por favor... não tema por mim... Vamos em frente. Nada de mal vai nos acontecer.

Na tarde do dia seguinte, Sam e Caroline se aproximaram do local em que o mapa indicava a localização de Zaphir.

De repente, pasmos, mal podiam acreditar no que viam. Bem no meio da floresta, erguiam-se semidestruídos, enormes blocos de pedras do imenso muro que cercava a cidade.

— Oh, Sam, meu pai tinha razão. Espero que ele não tenha morrido sem vê-la. — Venha, vamos conhecer tudo — disse ela, puxando-o pela mão.

Sam, porém, refreou-a.— Calma, ainda não. Não sabemos se está desabitada. — Ali,

onde se encontravam a floresta densa e verdejante ainda os protegia. Imóvel, Sam corria os olhos demoradamente pelos arredores.

— Mas, Sam... Estou morrendo de vontade de conhecê-la!Sam concluiu que ia ser impossível mantê-la afastada da cidade

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Anne James Passage to Zaphir

que tanto a fascinara por muito tempo, mesmo assim arriscou uma sugestão:

— Será que você ficaria aqui um pouco, enquanto eu vou dar uma olhada?

— De jeito nenhum. Primeiro porque não vejo a hora de entrar lá e, segundo, porque não quero ficar aqui sozinha.

— Neste ponto, tem razão. É sempre mais seguro andar em grupo, ainda que seja um grupo de dois.

Sem parar de olhar para a cidade, Caroline indagou:— Que direção tomamos? Esquerda ou direita?— Esquerda: o terreno é mais alto e poderemos ter uma visão

melhor de todo conjunto.Cuidadosos, ainda protegidos pela floresta, começaram a se

aproximar. Depois de uma pequena caminhada, alcançaram um pedaço de muro que se juntava à floresta. Sam subiu no muro e estendeu a mão para ajudar Caroline.

A área delimitada pelos muros tinha várias construções de diversos formatos: redondas, quadradas e uma única em forma de torre cônica, mais alta que as demais.

Os enormes blocos de pedra davam a Caroline a impressão de terem sido trazidos até ali por algum ser extraterreno. A grandeza das construções era impressionante.

Zaphir parecia ter sido construída em torno de uma espécie de praça principal.

— O que você acha? — ele indagou a Caroline. — Você entende mais de cidades antigas do que eu.

— É diferente de tudo que já vi. Não se parece com as construções egípcias, nem com as gregas, romanas ou indianas. Acho que é algo todo particular aqui da África e que não sofreu nenhuma influência externa.

— Será que aquelas elevações cilíndricas nas extremidades são fortificações ou torres de observação?

— Creio que não, devem ter sido santuários ou mesmo residência dos chefes, mas não tenho certeza. Não se parece com nada que conheço. — Repetiu. —Mas sei que é exatamente como meu pai imaginou.

— Sem dúvida, é uma descoberta e tanto. Sempre atento, Sam buscava algum vestígio que lhe indicasse que não estavam sozinhos ali mas, não encontrando, concordou em transpor o muro.

Descendo por um local mais baixo, entraram na cidade.— Estas construções devem ter levado anos para serem

erguidas. Venha — disse ele — já que estamos aqui, dê uma olhada em tudo. Mas, bem depressa, enquanto procuro algum sinal de presença humana recente por aqui.

Caroline não pôde conter um risinho.— Sam, esta cidade está abandonada há séculos.— Eu disse recente. Este lugar seria um esconderijo ideal.— Será que os contrabandistas ou os grupos rebeldes

encontraram a cidade?Momentos Íntimos nº 162 96

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Anne James África da sedução

— Espero que não, mas não tenho certeza.Em silêncio, ambos foram percorrendo aquelas ruínas.Dentro das construções, ela encontrou pedras coloridas, pedaços

de cobre e latão. O mais interessante, porém, foi um artefato de madeira entalhada.

— Olhe! Parece uma máscara!— Tem mais uma aqui — disse Sam, compartilhando da mesma

alegria que ela. — Puxa, Sam, tem idéia do valor dessas peças? É um achado

arqueológico importantíssimo! — Naquele instante, Caroline lembrou-se do pai e comentou: — Papai estava certo! Todo mundo vai saber que Carl Logan não era maluco!

Sam compreendia perfeitamente a felicidade de Caroline mas sentia-se pouco à vontade ali, onde ficavam muito expostos. Era preciso voltar o quanto antes para a selva, onde poderiam se proteger melhor.

No entanto, algo estranho o impelia a continuar explorando o local. Um pouco mais à frente, Sam pegou-a pela mão e disse, preocupado:

— Vamos embora. Acho que esse lugar não está sendo usado como esconderijo. Depois nós voltaremos.

Indiferente ao seu apelo, Caroline observava, fascinada, inúmeros relevos feitos nas paredes das construções, retratando animais da floresta.

— Vejo só, Sam, eles tinham um repuxo na frente de cada construção. — Será que mantinham animais domésticos? — Em seguida, olhando para o local onde se encontrava, perguntou: —E esse fosso aqui ao lado, seriam para as feras?

— Duvido, talvez servissem como despensa para guardar grãos.— Não, não — Caroline protestou sem dar atenção à impaciência

dele. — Olha lá, há um ralo no fundo; me empreste a lanterna. Acho que era uma espécie de reservatório. — Descendo uns degraus, continuou: — A água devia vir de alguma fonte nas montanhas, que agora secou. — Encantada, foi descendo até o fundo.

Mas Sam estava preocupado com outras coisas, que esperava não encontrar e não a seguiu.

Porém, logo deparou com sinais de fogo. As cinzas e os galhos queimados não haviam sido bem escondidos e permaneciam meio à mostra. Ajoelhando-se, colheu uma pequena quantidade nas mãos e constatou serem provavelmente da véspera. Tateando o chão, encontrou um pedaço de metal, bem diferente das peças antigas que viram há pouco. Esta, bem mais moderna, fazia parte de um rifle.

Aquilo confirmava-lhe as suspeitas: Zaphir, estava sendo usada como esconderijo.

As armas provavelmente deviam estar escondidas numa das edificações da cidade mas não havia tempo para procurá-las naquele instante. Não, tendo Caroline ali, sob sua responsabilidade. O melhor era...

Tarde demais.

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Uma voz grave e decidida trouxe-o de volta à realidade:— Vire-se devagar e nem pense em puxar sua arma ou a faca.

CAPÍTULO XI

No fundo do reservatório, Caroline conseguira achar dois túneis subterrâneos que seguiam sob a cidade.

Admirada, começou a chamar por Sam quando ouviu uma voz estranha, grave e ameaçadora, vinda de onde Sam ficara. Morta de susto e de pavor, colou-se a uma das paredes úmidas e prendeu a respiração. Apurando os ouvidos, procurou escutar com atenção o que o estranho dizia.

A primeira reação de Sam à ordem do homem que o ameaçava foi temer pelo bem-estar de Caroline, a qual, esperava, deveria continuar no fundo do reservatório.

— Vire-se — repetiu a voz.Obediente, ele deu meia-volta. Tinha diante de si dois homens.

Se fosse apenas um, tentaria vencê-lo numa luta corporal, auxiliado pela faca que trazia na cinta, bem à mão. Mas enfrentar dois seria impossível; na certa o matariam. Portanto não reagiu.

— Ótimo...O autor das ameaças estava agachado sobre umas rochas

próximas. Parecia ser bem alto, corpulento e tinha o rosto escurecido pela sombra da barba, não feita há vários dias. As roupas surradas, pelo visto, não eram trocadas há muitas semanas.

— Que diabos está fazendo aqui? — ele perguntou num péssimo inglês.

Sam simplesmente deu de ombros.— Vamos, fale — ele ordenou.— Eu só estava dando uma olhada pelas ruínas; não vejo nada

de mal nisso.— Depende de quem você é.— Meu nome é Sam Matlock, sou guia — explicou tentando

manter a calma.— Esta região não é boa para safáris, você se afastou demais da

savana — respondeu o sujeito, que continuava apontar-lhe a arma.Reparando bem o modo como ele a segurava e nas perguntas

que fazia, Sam concluiu que não estava tratando com nenhum principiante. Na certa eles deviam ser os contrabandistas que vinham agindo na região fronteiriça.

— Eu só queria dar uma checada neste território novo — alegou, esperando convencê-los. — Ando pensando em trazer um grupo para cá.

— Acredita nele, Gus? — o homem perguntou ao companheiro.— Não sei, Rudy. Não tenho certeza se ele está sozinho. — E,

voltando-se para Sam, indagou: — Com quem você veio?— Dê uma olhada — disse ele de maneira casual. — Por acaso

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está vendo alguém comigo?— Não me venha com gracinhas — respondeu Rudy.— Estou sozinho.Intimamente, Sam torcia para que Caroline se mantivesse quieta

onde quer que estivesse. Só assim teriam alguma chance de escaparem dali.

— Estranho vir sozinho às montanhas Batari... Ainda mais trazendo só uma mochila.

— Fui pego pelo incêndio e perdi minha bagagem ao cruzar o rio.— Então, por que não voltou?— Havia bandos de animais por toda parte nas margens.Gus deu uma gargalhada.— Tem razão, jamais conseguiria passar por eles com vida.Fisicamente, ele era o oposto de seu companheiro: loiro, magro,

mas com a mesma barba crescida.— Cale a boca e dê uma olhada por aí, Gus — ordenou Rudy.Resmungando, ele cumpriu as ordens do colega e Sam tratou de

distrair Rudy, falando-lhe num tom amigável.— Na verdade, vocês dois bem que poderiam me ajudar. Preciso

encontrar uma maneira de sair daqui.Imediatamente, Sam percebeu que cometera um erro; aqueles

dois nunca atenderiam um pedido daquele tipo.Gus, que de novo se aproximara, quis saber:— O que vamos fazer com ele?— Você vai amarrá-lo. — Erguendo-se, olhou para Sam franzindo

as sobrancelhas. — Você vem conosco. Quem sabe encontra mais alguma coisa para nos contar?

— Não tenho mais nada. Sou apenas um guia à procura de lugares novos que interessem a meus clientes ricos.

— Você é muito engraçadinho, sabia? — Rudy riu sarcástico.— Estou falando a verdade.— Verdade ou mentira, não importa; você vem conosco.Do fundo do reservatório, Caroline ouviu os protestos de Sam

acompanhados de uns ruídos surdos, que reviraram-lhe o estômago.— Você está sozinho; nós somos dois e estamos armados.

Portanto, vá andando.

Apavorada, Caroline continuou colada à parede úmida coberta de musgo. Um peso incrível no peito a impedia sequer de respirar direito. Por sua insistência em vir a Zaphir que Sam agora estava sendo maltratado pelos criminosos.

A certeza de que fora culpada a deixou ainda mais trêmula. As pernas fraquejaram, obrigando-a a sentar-se no chão, as costas apoiadas contra a parede. Desconsolada, afundou o rosto entre as mãos e começou a pensar em tudo de mal que poderia acontecer a Sam. Com certeza, os criminosos não hesitariam em matá-lo e a ela, também, caso a encontrassem. O pânico apoderou-se de Caroline.

Sentada ali, permaneceu imóvel por algum tempo até que, recuperando o autocontrole, conseguiu voltar a raciocinar com

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clareza.Durante esse safári, já havia passado por diversos traumas e

perigos, mas Sam sempre a alertara para o fato de que o pior predador era o próprio homem. No entanto, já tendo sobrevivido a tantas dificuldades, não se deixaria abater justamente agora. Precisava arranjar uma saída.

Mas, mesmo que conseguisse seguir pelos túneis, a quem pediria ajuda? Não conhecia o caminho, estava perdida.

Desesperada, sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Só havia uma escolha. A noite caíra depressa e os criminosos não poderiam ter levado Sam para muito longe. O jeito era seguir por um dos túneis e encontrar uma saída perto do acampamento deles. Mas, e depois?

O acampamento para o qual Sam havia sido levado era um pouco distante, mas ainda dentro do muro que delimitava a cidade. A única iluminação ali provinha de um fogo que Rudy atiçava esporadicamente. Os dois criminosos jantaram um prato de sopa e um pedaço de pão, acompanhados de uísque. A Sam, nada foi oferecido.

Como prisioneiro, fora amarrado a uma árvore com uma corda grossa que dava várias voltas por seu corpo, imobilizando-o. A corda machucava-lhe os braços, mas seu maior sofrimento não era físico. Doía-lhe saber que se deixara capturar enquanto Caroline permanecia sozinha em plenas montanhas Batari. Sua maior esperança era conseguir escapar e ir ao seu encontro. Quanto tempo ela agüentaria sozinha na selva? Gus e Rudy na certa iriam encontrá-la assim que o dia clareasse. Só de pensar no que poderia lhe acontecer, Sam estremeceu.

Procurando raciocinar com mais calma, concluiu que a única maneira de sair dali seria tentar convencê-los a soltarem-no; o que não ia ser nada fácil.

Os dois contrabandistas pareciam ignorá-lo; não fosse pelas olhadas ocasionais que Gus lhe dava, Sam poderia jurar que o haviam esquecido.

Uma forma de conquistar-lhes a simpatia era continuar a mencionar seus clientes ricos e fingir ser tão ganancioso quanto os criminosos.

— Como conseguiu descobrir esta cidade perdida? — Gus indagou de súbito, assustando Sam.

Era a primeira vez em horas que um deles lhe dirigia a palavra.— Pura sorte. Já ouvi os africanos falarem muito sobre este lugar,

mas nunca acreditei que existisse mesmo. Mas cheguei até aqui por causa do incêndio. —Aproveitando a chance, procurou saber como aqueles sujeitos, de nacionalidade desconhecida, haviam conseguido chegar ali e vender armas na fronteira. — O que vocês fazem aqui?

— Digamos que estejamos caçando — disse Rudy provocando uma gargalhada em seu colega.

— E isso dá dinheiro?— E como... — respondeu Gus, prontamente repreendido por

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Rudy que, olhando para Sam, vociferou:— Isto não é da sua conta.— Bem, se precisarem de alguma...— Esqueça. Esta operação é só nossa — afirmou Rudy.— Conheço bem esta região.— Claro — disse Gus, irônico. — Foi por isso que se perdeu!E, dando uma sonora gargalhada, bebeu mais um gole de uísque.— O que quero dizer é que conheço bem o resto de Salindi, as

cidades da fronteira — arriscou, torcendo para não ter cometido um erro.

— Ah, é? — resmungou Gus, interessado.— Cale a boca — gritou o chefe, que não se deixou iludir pela

conversa de Sam.

Caroline, que já estava bem próxima do local, percebeu que Sam não tinha a menor chance de convencê-los. Já bem mais calma, havia percorrido cada um dos túneis procurando lembrar-se a todo instante que o nervoso só a atrapalharia. Não poderia pôr tudo a perder exatamente agora que ele precisava tanto de sua ajuda.

Percorrera os túneis subterrâneos, verificando com a luz fraca da lanterna cada abertura com paciência, tentando ouvir alguma voz ou sentir o cheiro da fumaça produzida pelo fogo. Finalmente, ao encontrar um terceiro túnel, curto, porém mais largo, repleto de caixotes de madeira, percebera que devia estar mais próxima do lugar para onde o haviam levado. Aquele era, sem dúvida, o esconderijo dos contrabandistas.

Poucos metros adiante havia uma abertura que, como as demais, conduzia a uma das construções. Logo ao subir os primeiros degraus, ouvira as vozes dos criminosos e imediatamente tinha desligado a lanterna.

Ao ouvir a ordem do chefe para que o outro calasse a boca, percebera que Sam não fizera muito progresso.

Porém, não havia problema, disse a si mesma; ainda encontraria uma maneira de libertá-lo.

Sentando-se toda encolhida num dos degraus, preparou-se para esperar a noite toda se necessário. Os contrabandistas conversavam entre si num inglês com sotaque indecifrável, mas nenhum dirigia a palavra a Sam. Pelo visto, iam aguardar até o amanhecer para decidir o que fariam com ele.

— Rudy, devíamos fazer com ele o mesmo que fizemos com o outro sujeito.

— Hum? — perguntou Rudy, desatento e, talvez, já meio bêbado.— Devíamos matá-lo, como fizemos com o velho...— Ainda não!Então... o coração de Caroline começou a bater disparado em

seu peito. Lá estava ela, a poucos metros do assassino de seu pai, sem poder fazer nada a não ser esperar. O ódio queimava-lhe o peito.

Até há pouco, só uma coisa lhe importava: libertar Sam para que juntos pudessem fugir dali pelos túneis até atingirem a floresta.

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Agora, só isso já não lhe bastava; queria vingar a morte do pai.No entanto, procurou ter em mente o fato de que o ódio apenas

a dispersaria, fazendo-a agir de modo precipitado. O importante no momento seria manter a calma e libertar Sam.

Bem mais tarde, por causa do silêncio, teve certeza que os criminosos haviam adormecido. Gus recebera ordem de ficar acordado e vigiar o prisioneiro, mas Caroline pôde distinguir dois roncos diferentes. Com toda certeza, Sam não pegaria no sono numa hora daquelas.

Tomando muito cuidado para não pisar em alguma pedra solta que fizesse barulho, começou a subir os degraus da saída do túnel.

O silêncio pesado só era quebrado pelo ruído dos animais da floresta, o grito dos pássaros noturnos e o farfalhar das árvores agitadas pela brisa constante.

O medo que Caroline sentira a princípio foi subitamente substituído por uma tranqüilidade fora do comum. Em seu íntimo, tinha certeza que, antes do amanhecer, ela e Sam já estariam juntos e salvos. Para tanto, precisava agir.

Com movimentos lentos, apanhou o canivete no bolso e abriu-o, segurando-o com firmeza, o que já lhe transmitia mais confiança. "Se não fossem as frutas, esse canivete não estaria comigo", pensou. Esticando a cabeça, adaptou os olhos à escuridão lá de fora e distinguiu os vultos dos criminosos perto do fogo. Mas não viu Sam.

Engatinhando, saiu do túnel e avançou alguns metros; só então avistou Sam. Bem devagar, ela ergueu-se e caminhou de encontro a ele, sempre prestando atenção para não pisar em algo que fizesse barulho.

Sam a viu desde o momento em que saíra do túnel e, torcendo, observou-a caminhar. Quando, afinal, Caroline aproximou-se e beijou-o nos lábios, Sam sentiu seus olhos lacrimejarem.

Caroline cortou as cordas que o mantinham preso, o que foi mais difícil do que a princípio imaginara.

Vendo-o completamente liberto, Caroline o puxou pelo braço até o túnel, que já conhecia bem. Só depois de estarem bem distanciados começaram a conversar.

Emocionado, Sam abraçou-a com muito carinho e murmurou:— Oh, Caroline, fiquei tão preocupado.Seu desejo era o de não soltá-la nunca mais, agora que a tinha

ali em seus braços.— Sam, eu te amo. Te amo muito. Tive tanto medo de não poder

vê-lo nunca mais. Nada me importava, poderia até morrer, mas tinha que abraçá-lo mais uma vez.

— Meu amor — disse ele, beijando-a de novo. — Agora vou tirá-la daqui. — E, rindo, acrescentou: — Só que você vai ter que me mostrar o caminho.

Caroline acendeu a lanterna e, puxando-o pelo braço, conduziu-o túnel adentro. Ao chegarem ao esconderijo das caixas de madeira, ela diminuiu o passo.

— Então é aqui que eles armazenam as armas... — ele Momentos Íntimos nº 162 102

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Anne James África da sedução

comentou.Recobrando-se da surpresa, Sam logo a fez seguir adiante. No

entanto, Caroline hesitou, pensando no mesmo que ele.— Sam, e se...— Não, Caroline. Já os encontramos agora, temos que fazer de

tudo para voltar à capital e contar ao governo. O resto fica por conta do Exército, que se encarregará de vir prender os homens e o material.

— Mas, então, vai ser tarde. Eles já terão desaparecido.Sam sabia que Caroline tinha razão, mas não queria expô-la a

mais um perigo. Queria-a sã e salva o mais longe possível dali. Resoluto, balançou a cabeça negativamente.

— Sam, tenho certeza que eles mataram meu pai.— Mais uma razão para não nos arriscarmos — insistiu.— Por favor — ela implorou.— Não sei... é muito arriscado. Caroline esticou o braço e tocou-o de leve.— Não se esqueça que o fator surpresa contaria muito a nosso

favor.Ele continuava a negar com a cabeça.— Pense bem, eles vão estar acordando, o sol vai ofuscar-lhes a

vista.Ambos sabiam que seus argumentos faziam sentido, mas, ainda

assim, Sam insistiu:— Mas, eles são profissionais.— Sam, tenho certeza que podemos. Vai dar certo...— Sim, eu sei — ele concordou, abraçando-a. — E sei, também,

que é inútil discutir com você. Lembre-se, mais tarde, de dizer-lhe o quanto é maravilhosa e o quanto eu te amo.

— Não se preocupe, não vou deixar você esquecer. Apesar de ambos estarem suados, cansados e tensos,

precisavam daqueles poucos instantes de tranqüilidade, bem juntinhos. Era como uma pausa para refazer as energias.

Sam, então, afastou-se e foi até o pequeno túnel construído para esconder as armas. Apanhando um pé-de-cabra caído no chão, abriu um dos caixotes de madeira e exclamou:

— Meu Deus... — Apanhando um rifle, tirou-o da capa e deslizou os dedos pelo aço brilhante, absolutamente encantado. — São do último tipo. Pena que estejam em mãos erradas.

Caroline sentiu-se estremecer ao apanhar o rifle que ele lhe entregava. Em seguida, Sam tirou outro da caixa para si e abriu outro caixote em busca de munição.

— Este estoque deve ser suficiente para vários meses e deve lhes render um bom dinheiro. Naturalmente que não esperavam nossa visita. — Ao encontrar as balas, carregou primeiro o rifle de Caroline. — Sabe como lidar com ele?

Ela imediatamente apoiou-se num dos ombros e apontou para uma pedra na entrada sem, no entanto, puxar o gatilho.

— Sim, acho que sei.

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— Já deve estar quase amanhecendo. Precisamos voltar lá fora antes que acordem. Tem certeza que não vai se arrepender?

— Absoluta — ela disse, com convicção.— Então, vamos.No mais absoluto silêncio, ambos seguiram pelo túnel, Caroline

logo atrás de Sam. Os primeiros raios de sol já se infiltravam por entre os galhos das árvores quando chegaram aos degraus da saída. O fogo havia se extinguido e os criminosos continuavam dormindo.

No exato instante que se aproximavam dos homens, Gus sentou-se e se espreguiçou.

Mais que depressa, ele gritou pelo companheiro e tentou alcançar a arma, mas Sam, ligeiro, chutou-a para longe. Quando Gus tentou erguer-se, Sam acertou-lhe uma coronhada na nuca. Porém Rudy, já acordado, estava de posse da sua arma e preparava-se para fazer pontaria.

Nesse instante, Caroline, tomada de uma coragem descomunal, ordenou num tom firme que chegou a surpreendê-la:

— Eu não faria isso se fosse você. Para mim, seria um prazer puxar o gatilho.

Só então ela se deu conta que apontava seu rifle bem para o peito de Rudy. Seu ódio era tanto que não vacilaria em matá-lo.

Nisso, Sam voltou-se e também apontou-lhe a arma. Vencido, o criminoso deixou-se prender.

Enquanto Sam o amarrava, Caroline manteve o rifle apontado na direção do coração dele e foi preciso todo o seu autocontrole para que não puxasse o gatilho. Vingar a morte do pai lhe daria satisfação, mas preferia não ter que responder a um crime num país estrangeiro.

Depois, Sam amarrou Gus, que continuava inconsciente, atando-lhe os pés e as mãos, tal e qual fizera com o outro.

— Pode baixar a arma agora — disse a Caroline. — Eles não podem mais nos ameaçar.

Vendo a missão finalmente cumprida, Caroline tirou o rifle do ombro e começou a tremer incontrolavelmente. Sam abraçou-a e procurou acalmá-la com palavras de carinho enquanto atravessavam o acampamento. Eles haviam feito tudo o que podiam e os criminosos agora estavam à disposição dá polícia.

No entanto, Caroline só voltou a se controlar uma hora mais tarde. Era difícil para ela acreditar que, apesar de todos os perigos e ameaças por que passaram, haviam conseguido prender Gus e Rudy.

Ao sair da América em direção à África, jamais poderia imaginar o que teria que enfrentar para satisfazer seu desejo de ir se despedir de seu pai.

Porém, dentre tantos dissabores, restava-lhe uma gratificante compensação: o amor de Sam. Com ele a seu lado, seria capaz de enfrentar o mundo, se preciso. Sua presença serena e segura transmitia-lhe paz e confiança. Há tempos não se sentia tão feliz, tão realizada.

Fazendo uso dos mantimentos guardados pelos criminosos, Sam preparou um farto café da manhã e insistiu para que ela se Momentos Íntimos nº 162 104

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alimentasse.A tensão e o medo consumira-lhe as forças e, logo às primeiras

colheradas, Caroline sentiu-se bem melhor, com as energias refeitas. Há dias não desfrutavam de uma refeição tão farta.

Terminado o café, permaneceram alguns instantes em silêncio, mergulhados em pensamentos, até que Sam comentasse:

— Sabe de uma coisa? — Diga.— Lembra-se de quando você me disse, ainda lá na capital, que

sabia tomar conta de si mesma?— Sim, lembro.— Pois tinha toda a razão. Só esqueceu de mencionar que

poderia tomar conta de mim também.Caroline sorriu, feliz.— Até que me saí muito bem, não acha?— Otimamente bem, meu amor. O pior já passou, em breve

estaremos em casa.Caroline olhou-o intrigada e ele foi logo explicando:— Achei um rádio de ondas curtas no cantinho onde eles

guardam os mantimentos. Já entrei em contato com Alih, a caminhonete também tem um rádio, e todos se salvaram. Estavam aguardando a gente. Também falei com a reserva dos McKenzie e eles já vão providenciar ajuda. — Então, esticando-se, acrescentou: — Gosto muito da vida num safári, mas confesso que estou com saudade do banho quente e da comida do King George. Aquilo sim é que é bom.

— Mas, é melhor sozinho ou acompanhado?— Só se for acompanhado por você. Por mim, ficarei lá quantos

dias quiser. Mas aposto que depois de tudo o que passou, você mal veja a hora de pegar o primeiro avião para dar o fora deste país.

Com o coração apertado, aguardou a resposta de Caroline, que lançou-lhe um olhar sério e demorado.

— Não, Sam, não tenho intenção de deixar Salindi. Para ser sincera, é aqui que desejo ficar.

CAPÍTULO XII

A enorme cama de casal antiga, toda de mogno entalhado com dossel de cetim, era, na opinião de Sam, incrivelmente confortável. Com o que Caroline concordava plenamente.

Todas as manhã ela despertava totalmente refeita depois de dormirem abraçados. E, mais uma vez, Caroline acordava admirada de ver que haviam dormido bem juntinhos, braços e pernas entrelaçados.

Reprimindo um risinho, puxou uma das pernas, presa sob a coxa de Sam, com muito cuidado.

Ao contrário daqueles dias que estavam no safári, quando o menor movimento o fazia pegar a faca, ali na cama de casal, ele

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quase não se mexia e tinha um sono muito pesado.O domingo amanhecia lindo na reserva dos McKenzie e a gritaria

da bicharada faminta encantava Caroline, que aprendera a amar cada novo dia que passava na savana. Depois de todos os perigos que passara, começava a valorizar cada minuto da vida.

A seu lado, Sam despertou, espreguiçando-se lentamente.— Bom dia — murmurou ao vê-lo abrir, os olhos.— Bom dia — ele respondeu, mudando de posição. Estirando as

pernas, Sam manteve Caroline bem junto de si, deliciando-se com a sensação gostosa de acordar tendo-a em seus braços. Nunca em toda a sua vida fora tão feliz. Só mesmo Caroline, com sua persistência e compreensão, conseguira vencer uma a uma as barreiras que construíra depois das decepções que sofrerá.

— Não é maravilhoso acordar numa cama de verdade? — indagou Caroline lançando os braços em torno do pescoço dele.

— Sem dúvida.No entanto, para ela, as manhãs que haviam passado na selva

não deixavam de ter também seu encanto.— Sabe de uma coisa?— O que?— Pode parecer ridículo, mas sinto saudades dos dias que

passamos na selva... Das estrelas, da lua...— Das cobras, dos rinocerontes — ele completou.— Isto para não mencionar os contrabandistas... — ela riu

massageando-lhe a nuca e os ombros.— Sim, eles foram muito bonzinhos conosco, lembra? Nos

serviram caviar, champagne... — disse ele rindo também enquanto deslizava uma das mãos pelas costas dela.

— Sam?— Hum?— Para mim o importante mesmo é que estejamos juntos, não

importa o lugar. — Apoiando-se num cotovelo, estudou-lhe o rosto com atenção, admirando cada traço daquele perfil que tanto amava. — Gosto de estar em toda parte com você. Oh Sam, eu te amo tanto.

— Mas eu te amo muito mais. Te amo e preciso de você.Com facilidade, ele puxou-a para cima de si para que pudesse

sentir-lhe o corpo quente de encontro ao seu, os seios pressionados contra o seu peito, as coxas rijas sob as dela... Provocante, Caroline aproximou os lábios dos dele, que os beijou com paixão.

— Caroline, desde que a conheci, não consigo pensar em mais ninguém. Fico muito feliz de ter encontrado você. Foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. — Caroline já escutara tais palavras inúmeras vezes, mas nunca cansava de ouvi-las.

— Ora, fui eu quem encontrou você — respondeu baixinho.— Bem, quem sou eu para discutir? — Sam rolou colocando-a sob

si.— É bom que se lembre sempre disso — ela murmurou, sempre

provocante. — Você acordou muito animada hoje e eu aqui, perdendo tempo

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com declarações de amor.— Oh, Sam... — sussurrou sentindo-o tocá-la com mais

intimidade.— Te quero muito, querida...Curvando-se, Sam beijou-a com urgência, introduzindo a língua

na boca de Caroline, que entreabriu os lábios para recebê-la. Deslizando-lhe as mãos pelos quadris, ele continuou a desvendar-lhe os mistérios, em busca de novos prazeres.

— Amor?— Diz, Sam...— Nunca vou cansar de te amar... Amo seus olhos, sua pele, seu

perfume...Os olhos de Caroline, brilhantes de paixão, fixaram nos dele,

cheios de desejo.Posicionando-se melhor, Sam beijou-a de novo, sentindo-a

relaxar sob si. Ansioso, pressionou os quadris contra os dela deixando evidente o quanto a desejava. Gemeu baixinho quando Caroline ousou acariciá-lo com mais audácia.

Caroline acariciou-lhe as costas e puxou-o para mais junto de si, num gesto sugestivo.

Deixando-a tomar a iniciativa, Sam procurou se controlar enquanto ela o recebia, olhando-o bem dentro dos olhos. A penetração foi lenta. Movendo-se de modo insinuante, Caroline chamava por ele.

Sam perdia-se naquele corpo que tanto adorava, fazia parte dele. Naqueles momentos o mundo deixava de existir, só existia Caroline, só existia o prazer, só existia o amor...

— Caroline, te amo tanto...— Sam, meu querido, você me faz tão feliz... Num ritmo que só os dois conheciam, fruto de um grande

conhecimento que tinham um do outro, chegaram ao orgasmo.Uma hora mais tarde, Caroline conseguiu sair da cama sem

despertá-lo. Nua, foi até o armário apanhar um robe e depois ficou observando-o. De costas, o lençol enrolado na cintura, Sam mantinha um braço esticado e o outro cobrindo o rosto. Caroline nunca se cansava de admirá-lo.

AH, adormecido, ele mais parecia um garoto, jovem e vulnerável, muito diferente de quando estava desperto... No entanto, embora forte e corajoso, era um homem extremamente terno e carinhoso.

Não se contendo, aproximou-se da cama para lhe dar um beijo suave, nos lábios. Afastando-se em seguida, caminhou até a janela e olhou para fora, onde as planícies se estendiam até as montanhas Batari. O dia estava claro, quente, e os raios fortes do sol que entravam pela janela aberta fazia brilhar a aliança que tinha na mão esquerda. Caroline a tocou de leve, numa carícia.

Lilly Chapman, não cansara de observar durante a época do casamento, o quanto eram diferentes um do outro. Mas ficara muito satisfeita com a decisão da filha, pois sabia que Sam, embora tendo temperamento completamente oposto a Caroline, a faria muito feliz;

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tudo era uma questão de tolerância e boa vontade.De fato, Caroline e Sam ainda discutiam muito, discordavam de

várias coisas e viam a vida de modos diferentes, mas isto vinha apenas enriquecer o relacionamento dos dois. O casamento já durava um ano e ela jamais sonhara com tanta felicidade.

Da cozinha, chegou-lhe aos ouvidos o ruído de pratos e panelas. Era o aviso de Matope e Juma indicando que o café estava pronto.

Quando Caroline e Sam decidiram mudar para a reserva dos McKenzie, Juma e Ivíatope quiseram acompanhá-los. Abdullah e Alih, ficaram na cidade à espera que um dia Sam resolvesse voltar para a Safari Unlimited. Enquanto isso, acompanhavam os grupos organizados por um outro guia contratado por Eric.

Quando Sarah e Duncan anunciaram seu desejo de acompanhar Linda até a Inglaterra e ficarem com ela lá até que se adaptasse à nova vida, Sam e Caroline logo se ofereceram para administrar a reserva durante a ausência dos amigos.

— Além do problema de adaptação — Sarah dissera na época —, já é hora de dar uma chegadinha à Europa.

E para Caroline tal arranjo fora excelente. Todos os dias aprendia mais e mais sobre Sam, sobre a natureza que a cercava. Quase nem mais se lembrava de sua vida como atriz, exceto quando algum americano chegava na reserva e a reconhecia.

Caroline foi até a cozinha e, numa bandeja, levou o café da manhã para o quarto. Sam já acordara, os cabelos estavam despenteados, mas ele havia vestido uma calça comprida caqui e escolhia uma camisa.

Ao vê-la, olhou-a com um brilho todo especial nos olhos. Às vezes, temia estar vivendo um sonho.

O casamento modificara muito sua vida, para melhor. O trabalho na reserva era extremamente gratificante e servia-lhe também como repouso, depois de tanto tempo viajando com os turistas em safáris. Sam nunca imaginara que fosse receber da parte de Matope e Juma tanta dedicação. Como Caroline não tinha experiência nenhuma como dona-de-casa, os dois, com paciência, ensinavam-na a cozinhar e, vez por outra, deixavam o jantar por conta dela, para que fosse se acostumando.

Às vésperas do casamento, Sam chegara a duvidar que estivesse dando o passo certo, o que era natural... Sua primeira experiência conjugal o havia traumatizado muito.

Contudo, agora, achava que nunca tomara uma decisão tão acertada na vida. Caroline era uma mulher extraordinária, e Sam só se lamentava por não tê-la encontrado antes.

O cotidiano na reserva em companhia de Caroline era maravilhoso e sempre repleto de novidades, sem lugar para a rotina.

Sam, abstraído, ainda a fitava. Voltando à realidade, cumprimentou-a com um riso charmoso.

— Você sabe mesmo como dizer bom dia, não é, sra. Matlock?— E você sabe muito bem como responder — disse ela, entrando

no clima da brincadeira.Momentos Íntimos nº 162 108

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Sam tirou-lhe a bandeja das mãos e, depois de apoiá-la sobre o criado-mudo, abraçou Caroline com muita ternura, mantendo-a junto de si por uns instantes. Então disse:

— Venha, vamos comer...Sentados na cama, puseram a bandeja entre eles e saborearam

o café caprichado que Matope havia lhes preparado.— Deste jeito, vamos acabar engordando, não acha? — indagou

Sam.— É... — respondeu Caroline passando manteiga num pãozinho.

— Mas não me importo.Sam riu a valer ao vê-la comer com tanto apetite.O resto da refeição foi saboreado em silêncio e, depois de

haverem terminado, Sam recostou-se na cabeceira e indagou:— Bem, 0 que temos programado na agenda para hoje?— Vamos esperar pelo nascimento do novo macaquinho; será o

primeiro a nascer aqui na reserva depois que chegamos — anunciou, orgulhosa.

De fato, pela primeira vez um dos macacos trazidos para o cativeiro depois da chegada deles, procriaria.

— Ah, tem razão. Será que ele nasce hoje?— Não sei, mas os empregados estão fazendo apostas e hoje é o

dia preferido da maioria.— Esses rapazes... Tudo é motivo para aposta.— Eles são mesmo ótimos, não, Sam?— Sem dúvida. Mas o que faremos enquanto esperamos o

nascimento do macaquinho?— Quanto a mim, preciso terminar o relatório para o primeiro-

ministro.— Como vai indo o trabalho?Sam havia deixado os detalhes dos planos para Zaphir a cargo

de Caroline. O projeto da cidade estava inteiramente aos cuidados, dela, que o executava com entusiasmo. Sua capacidade de organização era fantástica.

— Não quero abrir Zaphir ao público até que os arqueólogos terminem o relatório. Isto pode demorar muito tempo ainda.

Sam sabia que Caroline tinha razão, mas Eric continuava a pressioná-lo.

— Toda esta publicidade em torno da descoberta de Zaphir está deixando Eric quase maluco e ele fica cada vez mais ansioso para formar o primeiro grupo de turistas.

— Pena que terá que esperar.— Sim, mas ele não desiste e virá hoje à noite de helicóptero

para conversarmos. — Então, abraçando-a, quis saber: — O que você me diz se, depois desta temporada aqui na reserva, nós não voltássemos a Salindi?

— Como assim? Pensei que você adorasse esta parte da África.— E adoro, mas estive pensando que talvez pudéssemos voltar

para os Estados Unidos.Sam comentou como quem não queria nada, como se o assunto

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não lhe fosse importante, mas aguardava ansioso pela resposta de Caroline, que o olhou num misto de surpresa e encantamento:

— Nunca pensei que você considerasse a possibilidade de voltar.— Com você é diferente, não me importo de ter que encarar o

passado. Mas é só uma hipótese, querida.— Sim, podemos pensar melhor sobre isso.— Até que não seria mal, não acha? — ele insistiu.— Não, não seria nada mal... — Respirando fundo, procurou ser

tão casual quanto ele, mas, dentro do peito, o coração batia apressado. — Gostaria muito que nosso filho nascesse na América.

— Querida... Vamos ter um bebê?! Absolutamente encantado, ele a abraçou, mal podendo acreditar

no que ouvira.— Vamos... Se minhas contas estiverem certas, ele chegará

daqui a sete meses.Sorrindo, Sam beijou-a com carinho, apertando-a ainda mais

contra si. A idéia de ser pai o fascinava.— Você me deu tanto... — disse, os olhos rasos d'água. — Muito

mais do que imaginei.— Não, somos nós dois que compartilhamos de tudo o que temos

de melhor. Você é o melhor marido do mundo, Sam. Eu te amo muito e farei de tudo para que seja feliz.

— Eu também te amo, Caroline; a você e ao nosso filho.

Fim...

Um romance real como a vida!

Edição 163Um estranho sorrisoKathleen KorbelAconchegada em sua poltrona predileta, Anne observa o belo

perfil de Jonathan contra a luz dourada da lareira. Deseja desesperadamente beijá-lo, sentir o calor de seu corpo, deixar-se levar pela paixão...

Mas não ousa sair de onde está. Lembra-se das palavras rudes que ele lhe disse horas antes. E, por mais que tente, não consegue compreender como Jonathan pôde, na véspera, amá-la com tanta

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intensidade e carinho, e agora rejeitá-la de maneira tão ostensiva.

Edição 164Irresistível fascínioBarbara DelinskyBruce acaricia o corpo de Susan. Ela, incapaz de resistir, o beija

com paixão e se entrega àquele momento que teme não ser real.Se alguém lhes perguntasse se aquilo tudo era um sonho

nenhum dos dois saberia responder. Mas eles não sé importam com a frágil linha que separa a fantasia da realidade, para Bruce e Susan só existem seus corpos ardentes que anseiam um pelo outro; um homem e uma mulher prontos a realizar as fantasias que quase os consumiram de desejo.

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