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EDITORIAL O valor de existência dos parques nacionais: o caso do Parque Nacional do Jaú (Amazonas).............................................................................40 LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO .............................................................5 Revista Editada pelo CORECON/DF - ANO V - nº 18 - ABR/JUN DE 2004 Revista de conjuntura Situação de emprego do aluno de graduação em Brasília: um estudo de caso.........31 abr/jun de 2004 33333

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ENTREVISTA

LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO ............................................................. 5

ARTIGOS

JOÃO SICSÚ

A Alternativa ao Regime de Metas não é a sua Flexibilização ...................................... 9

FERNANDO MOUTINHO RAMALHO BITTENCOURT

Primeiras notas sobre controle profissional em Economia ........................................... 14

HUMBERTO VENDELINO RICHTER

Situação de emprego do aluno de graduação em Brasília: um estudo de caso ......... 31

RICARDO FÉLIX SANTANA E JOSÉ AROUDO MOTA

O valor de existência dos parques nacionais: o caso do

Parque Nacional do Jaú (Amazonas) ............................................................................. 40

EDITORIAL

abr/jun de 200433333Revista de conjuntura

Revista Editada pelo CORECON/DF - ANO V - nº 18 - ABR/JUN DE 2004

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abr/jun de 200444444Revista de conjuntura

EDITORIAL

Diretor Responsável:Roberto Bocaccio Piscitelli

Conselho Editorial:Roberto Bocaccio Piscitelli,Humberto Vendelino Richter,José Aroudo Mota,Mônica Beraldo Fabrício da Silva,Maurício Barata de Paula Pinto,José Roberto Novaes de Almeida eMário Sérgio Fernandez Sallorenzo

Jornalista Responsável:Mariane Andrade - Reg. DRT/MS 127

Redação:Mariane Andrade

Editoração Eletrônica:om,Loducca (Tércio Caldas)(61) 328-8697Impressão: Bárbara Bela GráficaTiragem: 4.000Periodicidade: Trimestral

As matérias assinadas por colaborado-res não refletem, necessariamente, aposição das entidades. É permitida areprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIADA 11ª REGIÃO – DFPresidente:Roberto Bocaccio Piscitelli

Vice-Presidente:Humberto Vendelino Richter

Conselheiros Efetivos:Roberto Bocaccio Piscitelli,Humberto Vendelino Richter,André Luiz Ferro de Oliveira,Irma Cavalcante Sátiro,Maurício Barata de Paula Pinto,Guidborgongne Carneiro Nunes da Silva,José Aroudo Mota,Victor José Hohl ePaulo Luiz Figueiredo de Oliveira.

Conselheiros Suplentes:Ronalde Silva Lins,Miguel Rendy,Iliana Alves Canoff,Newton Ferreira da Silva Marques,Max Leno de Almeida,Evilásio da Silva Salvador,Maria Cristina de Araújo,Homero Gustavo Reginaldo Lima eJosé Luiz Xavier.

Equipe do CORECON:Iraídes Godinho de Sales,Ismar Marques Teixeira,Michele Cantuária Soares,Jamildo Cezário Gomes eAngeilton Francisco Lima Faleiro.

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília –DFTels: (61) 225-9242 / 223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de Funcionamento:das 8:00 as 18:00 horas (sem intervalo)

EXPEDIENTE

Órgão Oficial do CORECON-DF

Não há mais dúvida de que o País voltou a crescer em 2004. Todos os indicado-res de produção e de vendas são reveladores do melhor desempenho da economia,mas também é indiscutível que pairam muitas desconfianças e incertezas. Não há,por exemplo, sinais claros de que os empresários estejam dispostos ou decididos arealizar novos investimentos, que aumentem a capacidade instalada. Como o nívelde utilização dessa capacidade vem aumentando e, em alguns segmentos, já atingin-do quase o limite de produção, resta uma incógnita sobre o comportamento dospreços se a demanda continuar aumentando.

Por outro lado, é justamente o comportamento dos preços – entre eles, em parti-cular, os administrados, o petróleo, mas também os preços “livres”, como alimentos,vestuário, planos de saúde, construção civil etc. – que tem justificado a manutençãoda taxa SELIC em 16% anuais nos últimos meses, até com ameaça de alta, mas, dequalquer modo, muito acima do previsto e, sobretudo, do desejado, sem perspectivade maiores quedas até o fim do ano. Este fator reforçaria a tendência a um certoimobilismo, à expectativa de algum fato novo por parte dos investidores potenciais.

Aliás, os investidores estrangeiros tampouco estão muito animados. O que vemassegurando os saldos positivos na balança de pagamentos é essencialmente o supe-rávit comercial, não obstante os freqüentes percalços protecionistas e defensivos deimportantes parceiros. Afinal, ninguém gosta de exportar empregos nem de acumularsaldos comerciais negativos. Além disso, os próximos meses prenunciam algumasturbulências ou, ao menos, incertezas, senão pelo ambiente interno, no front externo:preços recordes do petróleo e permanência de instabilidade no Oriente Médio, elei-ções americanas, grande probabilidade de aumento da taxa de juros americana.

O consumo, é bem verdade, foi impulsionado por maior acessibilidade ao crédito,mas as taxas ainda são muito elevadas, e há um tímido sinal de melhoria da rendados trabalhadores, a despeito de as pessoas se disporem a trabalhar a qualquer pre-ço. É, mesmo, possível, que parte do impulso recente do consumo se tenha dado emfunção de expectativas mais favoráveis, discurso muito apregoado pelo marketingoficial, que tenderia a tornar as pessoas mais propensas a se endividarem.

Deste modo, é fácil entender por que os empresários continuam preferindo con-tratar mais horas extras que mais empregados, operação mais difícil e onerosa dedesfazer. Neste sentido, a experiência parece demonstrar que primeiro vem o acrésci-mo da jornada de trabalho, só numa segunda etapa o aumento do emprego e, porfim, a melhoria da renda.

Também o aumento carga tributária funciona como um freio, um obstáculo.Mantida a tendência dos primeiros meses do ano, poderemos chegar a algo em tornode 40% do PIB em 2004, participação escandalosamente elevada para países comnosso patamar de desenvolvimento e o nosso padrão de serviços públicos.

No mais, não há sinais de flexibilização das políticas monetária e fiscal. A Uniãoproduziu, no primeiro semestre, um superávit primário de R$ 46,2 bilhões, superiorem 41,7% à meta com o próprio FMI. Há uma melhoria, ainda que relativamente pe-quena, na relação dívida/PIB. Afinal, só no primeiro semestre, as despesas com jurosatingiram R$ 61,8 bilhões, 7,71% do PIB, e o governo federal promoveu um recordehistórico de aperto: 5,76% do PIB. Mas este não parece ser um problema passível deresolução pelas vias ortodoxas. A questão é saber qual será o nosso limite, pois odos bancos não dá mostras de existir: as dez maiores instituiçõesfinanceiras.brasileiras detêm 77,5% do mercado de crédito do País e 86,3% de todosos recursos disponíveis em conta corrente e aplicados nas mais diversas modalida-des de investimentos.

O quadro está, portanto, assim traçado. As próximas eleições estarão sendoinfluenciadas por esse movimento e, ao mesmo tempo, os resultados condicionarãoo comportamento da economia pelo menos nos próximos dois anos.

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abr/jun de 200455555Revista de conjuntura

Uma política dedesenvolvimento regional

Uma política voltada para a redução dasdesigualdades regionais e para aativação das potencialidades dedesenvolvimento das regiões brasileiras.Com este objetivo, o Ministério daIntegração Nacional põe em pauta umaproposta para o desenvolvimento doBrasil. Trata-se da Política Nacional deDesenvolvimento Regional, que temcomo estratégia valorizar a diversidaderegional brasileira e nela encontrarcaminhos para o crescimento do País.Nesta entrevista, o secretário dePolíticas de Desenvolvimento Regionaldo Ministério da Integração, AntônioCarlos Galvão, expõe a proposta dogoverno Luís Inácio Lula da Silva parapromoção do desenvolvimento das cincoregiões do Brasil, que pode ser acessadapelo site www.integracao.gov.br .O secretário fala também sobre oretorno das Superintendências deDesenvolvimento do Nordeste(Sudene) e da Amazônia (Sudam), e acriação da Superintendência deDesenvolvimento do Centro-Oeste(Sudeco). Segundo Antônio CarlosGalvão, realizar a política dedesenvolvimento regional não seráuma tarefa fácil, e o desafio éestabelecer um plano inclusivo edemocrático, capaz de enfrentar asdesigualdades regionais de formaobjetiva. Confira a entrevista.

Entrevista: Mariane AndradeColaboração: Roberto Bocaccio Piscitelli

abr/jun de 200455555Revista de conjuntura

Conjuntura – Na sua opinião, o Brasil entrounuma rota de crescimento, sem altos e baixos?

Galvão – O País viveu um momento delicado na tran-sição de governo. No início, o Governo Lula precisavaganhar fôlego, “arrumar a casa”, para poder voltar a fun-cionar num ritmo aceitável. Na macroeconomia recente,há sinais positivos na direção do crescimento econômico.

Conjuntura – Nesse contexto, qual o papel dapolítica de desenvolvimento regional?

Galvão – O Brasil não tinha uma política nacional dedesenvolvimento regional há pelo menos duas décadas.

ENTREVISTA

Como o governo federal vai enfrentar o desafio dapromoção do crescimento do País

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abr/jun de 200466666Revista de conjuntura“É necessária a atuação em nível federal, estadual e municipal. Sem

Alerto que há certa confusãoentre o que é uma política nacio-nal de desenvolvimento regional eoutras políticas voltadas para seespecular sobre a dimensão es-pacial do desenvolvimento brasi-leiro. A estratégia de implantaçãode eixos nacionais de integraçãoe desenvolvimento do governoanterior é exemplo deste segundotipo de concepção. Uma coisa éolhar, desde o ponto de vistaterritorial, as janelas de inserçãocompetitiva internacional e pro-porcionar infra-estruturas paradesenvolver as logísticas corres-pondentes. Outra é apontar anatureza objetiva das desigualda-des regionais e estruturar iniciati-vas que permitam sua reversão,na direção da promoção de umamaior inclusão social e coesãoterritorial do País. Ficar apenasna primeira dimensão – que étambém importante - não confi-gura a existência de uma políticade desenvolvimento regional nosentido da tradição teórica eempírica da questão.

Política de desenvolvimentoregional envolve enfrentamentodas gritantes desigualdades regio-nais que o País acumulou em suatrajetória de crescimento no últi-mo século. Trata-se de uma ma-

neira de ver as mesmas desigual-dades que se observam entre osindivíduos, que agora são expres-sas territorialmente. A desigual-dade se intensifica em algunspontos do território.

A ação para reduzir as desi-gualdades pessoais recai prefe-rencialmente na transferênciade renda aos grupos sociais me-nos aquinhoados, enquanto que,para reduzir as desigualdadesregionais, demandam-se esfor-ços para ampliar as dotações deinfra-estrutura e melhorar aorganização produtiva dos con-juntos sócio-econômicos produ-tivos regionais.

Conjuntura – Mas a ques-tão social fica de fora?

Galvão - A desigualdade soci-al é o principal problema brasilei-ro. E, como vimos, tem uma di-mensão territorial nítida, que pre-cisa ser enfrentada com determi-nação. As políticas regionaisconstituem uma maneira específi-ca de combater esse fenômenoadverso. Elas assinalam um dadoolhar sobre as desigualdades,voltando-se para instigar dinâmi-cas produtivas no território.

Não temos a pretensão dedizer que a política regional res-ponda por toda ação do governono território ... pelo menos porenquanto. Isso é uma construçãofutura, mais complexa. Por en-quanto, estamos explorando al-guns objetivos especializados. Oproblema da Política Nacional deDesenvolvimento Regional, porexemplo, não é a pobreza, queestá sendo enfrentada com políti-cas sociais – há tanta pobreza nosemi-árido nordestino quanto naperiferia das grandes regiões me-tropolitanas. Nossa política dedesenvolvimento regional não

“O papel do Estado épropiciar as condiçõessatisfatórias para que associedades e economiasregionais possamorganizar-se e explorarseus potenciaisde desenvolvimento”.

privilegia territórios que já se en-contram em situação de alta ren-da média, onde se tem muita po-breza, mas também muita rique-za, como na Região Metropolita-na de São Paulo.

Conjuntura – Então que pa-pel cabe ao Estado nessa ação?

Galvão – O papel do Estadoé propiciar as condições satisfa-tórias para que as sociedades eeconomias regionais possam or-ganizar-se e explorar seus poten-ciais de desenvolvimento. Issoaponta sobretudo para os investi-mentos em infra-estrutura e ino-vação. Mas se não exercermos opapel constitutivo da instânciafederal, de regular o desenvolvi-mento no território nacional, ten-deremos, apenas guiados pelasleis do mercado, a reconcentrarrecursos e benefícios em deter-minadas áreas territoriais e, as-sim, a reproduzir movimentossociais indesejados, como a mi-gração desenfreada de populaçãonos anos 50 para São Paulo.Exemplo disso é a tragédia regio-nal em gestação já há mais deuma década no Entorno deBrasília. A unidade da Federaçãode maior nível de produto porhabitante do País, o Distrito Fe-deral, convive com uma áreacircundante onde se acumulamproblemas sociais e carênciasnuma velocidade acelerada, comuma população massiva, que temdificuldade de encontrar oportuni-dades de emprego e renda. OEstado precisa cuidar dessa cres-cente falta de coesão e solidarie-dade territorial.

Conjuntura – De que formaa Secretaria de Desenvolvi-mento Regional do Ministérioda Integração Nacional pre-

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tende proceder para diminuiressas diferenças?

Galvão – O Ministério daIntegração Nacional vem estrutu-rando uma Política Nacional deDesenvolvimento Regional quepossui a objetividade e a clarezanecessárias para estabelecer umdebate dentro do governo e coma sociedade em geral. Criamos,de início, uma política até certoponto especializada, focandoduas problemáticas principais: aredução das desigualdades regio-nais e a ativação dos potenciaisregionais de desenvolvimento. Asações são organizadas preferen-cialmente em escala sub-regio-nal. A Política, no entanto, articu-la-se em múltiplas escalas, reco-nhecendo que o capitalismo es-trutura-se desde a escala plane-tária até a local em simultâneo.

Conjuntura - Temos, então,uma política para atuar sobreuma situação de desigualdadede renda entre indivíduos emum território. De que modo?

Galvão – Com uma agendaque não foca apenas o indivíduo,mas sim a organização produtiva.Nossa ação de desenvolvimentoregional é estruturada em progra-mas mesorregionais, que permi-tem melhor articulação dos ele-mentos que interessam a umaagenda de apoio à transformaçãodas realidades sócio-produtivasregionais. Quando dizemos orga-nização produtiva, falamos dessetecido sócio-econômico em queinstrumentos como crédito aosetor produtivo, apoio à infra-estrutura de média escala, apoioà instituição e aprimoramento dearranjos produtivos locais, capa-citação de recursos humanos eapoio à inovação em sentido am-plo buscam aprimorar.

Conjuntura – Para a execu-ção da política regional preten-de-se estabelecer parcerias?

Galvão – Sem dúvida. É ne-cessária a atuação das três ins-tâncias da Federação, a federal,a estadual e a municipal. Semelas, juntas, não há política nacio-nal de desenvolvimento regional,nem programas mesorregionais.É preciso que esses poderesfederados possam conveniar-se edesenvolver uma política, emcada região, que se afine comsuas características singulares.

Conjuntura – De que ma-neira o Ministério da Integra-ção Nacional pretende execu-tar a política de desenvolvi-mento regional, consideran-do-se os poucos recursos deque dispõe?

Galvão – O Ministério vemlutando para repor recursos ecriar fundos de financiamento einvestimento, necessários paraapoiar suas ações. De um modogeral, o crédito não é rigorosa-mente um problema significati-vo, embora haja questões rela-cionadas ao crédito a resolver.Dispomos hoje dos FundosConstitucionais, que financiamas regiões Norte, Nordeste eCentro-Oeste com as taxasmais favoráveis que se encon-tram no País. Eles juntos somamR$ 3,5 bilhões ao ano. Lutamosmuito para instituir um FundoNacional de DesenvolvimentoRegional, que chegou a ser pro-posto na PEC 41. Mas a barga-nha da Reforma Tributáriacarreou seus recursos para ocaixa dos tesouros estaduais. Amaior carência incide sobre ofunding dos investimentos nãoreembolsáveis necessários nainfra-estrutura e nos programas.

Conjuntura - Qual a confi-guração do problema regio-nal brasileiro?

Galvão - É fato que a maiorparte dos problemas concentram-se nas regiões Norte e Nordeste,mas existem também áreas pro-blemáticas no Centro-Sul doPaís. Não podemos permitir quea política seja voltada apenaspara a resolução de problemasperiféricos, pois sairia da agendaprincipal de desenvolvimento.

Conjuntura – Que proble-mas, afinal, seriam tratados naPolítica Nacional de Desenvol-vimento Regional?

Galvão - Reconheço que nãovamos resolver todos os problemasapenas olhando para a problemáti-ca regional. Temos que levar emconsideração a questão ambiental,a inserção competitiva nacional, asexportações etc., que respondempor objetivos que devem ser consi-derados nas grandes decisões dogoverno. Para isso, é preciso esta-belecer um diálogo com todas asdemais políticas dos governos, fe-deral, estaduais e municipais, de talsorte a inocular outras políticascom os “germes” da preocupaçãosobre o desenvolvimento regional.

Conjuntura – O que é a Câ-mara de Políticas de Integra-ção Nacional de Desenvolvi-mento Regional?

Galvão – A Câmara foi ins-talada há pouco mais de um mês

eles, juntos, não há política nacional de desenvolvimento regional”.

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e vai funcionar como um fórumde discussão, em que os dezeno-ve Ministros de Estado repre-sentados irão debater o que fa-zer em suas respectivas áreaspara obter resultados favoráveisno desenvolvimento regional. ACâmara já está gerando parce-rias e acordos bilaterais, como oprograma Luz Para Todos, emque o Ministério das Minas eEnergia vai priorizar a ação nasáreas que fazem parte daquelaspreferenciais para a política re-gional. Programas como o devo-tado ao desenvolvimento daagricultura familiar, a cargo doMinistério do DesenvolvimentoAgrário, estão sendo articuladoscom os programas das mesorre-gionais do Ministério da Integra-ção Nacional. Dessa forma, inú-meras iniciativas governamentaisem curso estão sendo consideradaspara que se crie uma ação maiseficaz do governo no território.

Além da Câmara de Políticasde Integração Nacional de De-senvolvimento Regional, comsuas reuniões periódicas de Mi-nistros, existe um grupo executi-vo composto por secretários-executivos e/ou secretários na-cionais, que vai atuar de modooperacional. Há também grupostemáticos, três dos quais já cons-tituídos: os GTs das Regiões Me-

tropolitanas, das MesorregiõesDiferenciadas e o da Faixa deFronteira, que pavimentam o ter-reno para um moderno planeja-mento territorial.

Conjuntura – Por que oretorno da Superintendênciade Desenvolvimento do Nor-deste (Sudene) e da Superin-tendência de Desenvolvimentoda Amazônia (Sudam)?

Galvão – Para gerar umanova institucionalidade da Políti-ca nos dois territórios. As agên-cias compreendem a braçosexecutivos da Política. Seu papelé de definidoras de estratégiasgerais e articuladoras das ações.Isto significa propiciar melhorinterlocução e maior diálogocom as forças sociais relevan-tes, na base da sociedade.Brasília não tem condições dedialogar direta e conseqüente-mente com os atores sociaisnuma escala territorial tão fina.A tarefa, na extensão continen-tal que o Brasil possui, reclamao envolvimento de mediadores.Se os maiores problemas estãono Norte e no Nordeste, preciso,então, de interlocutores habilita-dos por lá. No Plano AmazôniaSustentável, por exemplo, temosum plano de vôo, que não é ope-racional, mas sim estratégico,que diz como atuar na Região.

Qual o papel da União? Écriar critérios objetivos e parâ-metros para o desenvolvimentoregional de todo o território na-cional. As agências, em com-plementação, ajudam a definir avisão estratégica geral a serconsiderada em cada região,que deve balizar a elaboraçãodos planos mesorregionais, decunho operacional.

Conjuntura – Qual a impor-tância da criação da Superin-

tendência de Desenvolvimentodo Centro-Oeste (Sudeco)?

Galvão – A região Centro-Oeste é um caso sui generis. Éa área hoje mais dinâmica doBrasil, onde as coisas estãoacontecendo e os problemas ten-dem a ser muito semelhantes aosdas regiões Sul e Sudeste. Doponto de vista do desenvolvimen-to regional, o Centro-Oeste não éum problema na escala macro,embora tenha problemas. A idéiaé que a Sudeco seja uma agênciafomentadora de investimentos eestratégias para a Região, articu-lando a interlocução entre os go-vernos federal, estaduais e muni-cipais e a sociedade, para o esta-belecimento de ações de desen-volvimento regional.

Conjuntura – Estabelecer erealizar uma política de desen-volvimento regional no Brasil éuma batalha, uma guerra?

Galvão – É, sem dúvida ... ésobretudo uma guerra contra opassado da Política e as maze-las atuais do mundo da globali-zação; mas tenho esperança.Acredito que o mundo da globa-lização já esteja em reversão,com as orientações antesinquestionadas sendo expostascrescentemente à análise públi-ca. Aquela visão, da década de80, de que a globalização eraperfeita, já não mais sobreviveno debate internacional. E issopode reabrir caminhos novospara a Política Nacional de De-senvolvimento Regional.

Com a Política Nacional deDesenvolvimento Regional va-mos recuperar algo que, no Bra-sil, nunca foi muito bem desen-volvido: o planejamento territorial.O desafio é construir uma políticaadequada, que seja capaz de en-frentar as desigualdades regio-nais de forma objetiva.

“Aquela visão, da década de80, de que a globalizaçãoera perfeita já não maissobrevive no debateinternacional. E isso podereabrir caminhos novos paraa Política Nacional deDesenvolvimento Regional”.

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A R T I G O

A Alternativa ao Regime deMetas não é a sua Flexibilização

Um grupo de 15 deputadosfederais do PT (doravante, G-15)divulgou no dia 07 de abril doisdocumentos intitulados “Antes queseja tarde – Mudança já” e ‘De-claração de Páscoa” (disponíveisem www.ivanvalente.com.br, em11/04/2004), que reivindicam donúcleo central do seu Partido mu-danças no modelo de política eco-nômica adotado pelo Governo. Odiagnóstico apresentado nos docu-mentos do G-15 sobre a situaçãoeconômica do País, a grossomodo, é correto. As propostasapresentadas, em linhas gerais,demonstram um elevado grau deconsistência. Não são propostasrupturistas, são reformistas efactíveis, isto é, objetivam tão so-mente produzir crescimento eco-nômico com geração de empregose melhoria da qualidade de vidados trabalhadores – objetivos quepodem ser alcançados através deuma ação consciente e responsá-vel por parte do setor público.Muitos detalhes (alguns importan-tes) não foram mencionados, maseste não era o propósito dos docu-mentos e nem é tarefa de deputa-dos federais discutir minúcias domodelo econômico.

Há, contudo, uma falha noconjunto de propostas do G-15.

Foi proposta a “flexibilização,com responsabilidade, das metasinflacionárias”. Essa talflexibilização é o ponto fracodo conjunto de propostas. Aliás,não é à toa que foi esse o pontodébil que a equipe econômicaorientou o Ministro Palocci aatacar. Disse o Ministro: “o go-verno aceitar ter mais inflaçãopara garantir mais crescimentoeconômico beira o lamentável …tendo uma inflação baixa, proporuma inflação alta, nunca vi issoem nenhum livro de Econo-mia…” (O Globo Online – 09/04/2004). É inegável a habilida-de retórica do Ministro; entre-tanto, esta sua qualidade especí-fica não é capaz de esconder asua ignorância econômica. OMinistro está correto, não hásentido em se propor ou dizerque poderia aceitar-se uma in-flação mais alta, mas ele revelatoda a sua ignorância ao dizerque não conhece livros de Eco-nomia que ensinam essa idéia.

É nos livros e artigos de Prê-mios Nobel, como, por exemplo,Milton Friedman e Robert Lucas,que orientam teórica e ideologi-camente grande parte da equipeda Fazenda e do Banco Central,que se ensina que se pode reduzir

o desemprego gerando inflação.Esse é um ensinamento básico dateoria econômica monetarista.Segundo essa teoria, existe umaescolha a ser feita pelo Governono curto prazo: reduzido desem-prego com inflação mais elevada,ou estabilidade de preços comdesemprego maior. Diante dessaspossibilidades únicas, optam, sempestanejar, pela última. A Históriajá mostrou que essa idéia estáerrada. Quando os Estados Uni-dos iniciaram, nos anos 1990, oseu exuberante processo de cres-cimento, muitos economistas con-servadores sugeriam uma eleva-ção da taxa de juros quando ataxa de desemprego fosse reduzi-da para um patamar inferior a6%. O diagnóstico era: a exube-rância do crescimento e a felici-dade daqueles que encontraramtrabalho gerariam inflação. Resu-mo da ópera: o desemprego caiupara menos que 6%, a taxa dejuros americana não foi elevada,o país continuou crescendo, nãohouve inflação significativa e oseconomistas monetaristas conti-nuam acreditando naquilo quenão vêem.

A idéia que possivelmentesustenta a proposta do G-15 éque com metas mais elevadas de

Uma contribuição aos críticos da política econômica do Governo Lula

João Sicsú *

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inflação, a taxa de juros poderiaser menor, o que facilitaria ocrescimento econômico. O G-15critica o Banco Central por bus-car o centro da meta (tal críticaaparece no documento “Antesque seja tarde – mudança já”).Contudo, não está absolutamenteclaro se o que desejam são metasmais elevadas de inflação ou seavaliam que o Banco Centralpoderia fazer uma política mone-tária menos contracionista seusasse as bandas das metas jáestabelecidas, no lugar de perse-guir o centro. Se é a segundapossibilidade, é preciso lembrarao G-15 que, nos últimos trêsanos, o Banco Central deixou ainflação ultrapassar as bandasestabelecidas, isto é, nos últimostrês anos a inflação foi superiorao limite máximo preestabelecido,e nem por isso foram praticadasreduzidas taxas de juros e, emconseqüência, o país cresceu.Muito pelo contrário.

Em 2001, o centro da meta era4%, o limite máximo era 6%, ainflação efetiva foi de 7,7% e aeconomia cresceu apenas 1,31%.Em 2002, o centro da meta era3,5%, o limite máximo era 5,5%, ainflação efetiva foi de 12,5% e aeconomia cresceu 1,93%. Em2003, aqui sim, a diretoria do Ban-co Central foi muito flexível em

relação ao que estava estabeleci-do. A meta central para 2003 era4%, com teto máximo de 6,5%.Mas a meta de 4% (com limitesuperior de 6,5%) estabelecidapelo Conselho Monetário Nacionalnão foi respeitada. O presidentedo Banco Central, HenriqueMeirelles, em carta aberta, solici-tou ao Ministro da Fazenda aflexibilização ou elevação da metapara 8,5% (que ficou conhecidacomo meta ajustada). A inflaçãoefetiva de 2003 foi 9,3% e a eco-nomia encolheu 0,22%. Pode-seconcluir, então, que utilizar as ban-das predeterminadas ou aceitarque sejam superadas não implicareduzidas taxas de juros e, muitomenos, crescimento econômico.

Se o G-15 aposta na outra pos-sibilidade, ou seja, metas mais ele-vadas de inflação (e não simples-mente a utilização das bandas jáestabelecidas), poderia fazer umaanálise retrospectiva elementar:indicar para cada ano passado emque as taxas de juros foram consi-deradas elevadas, quais seriam asmetas de inflação que seriam pro-postas. Por exemplo, qual a metaque teria sido proposta para o anode 2002, em que a inflação efetivafoi 12,5% e a menor taxa de jurosestabelecida pelo Banco Centralfoi de 18% ao ano. Qual teria sidoa meta de inflação proposta?

15%? 20%? Qual teria sido aredução possível de juros para sealcançar estas metas? Esta redu-ção da taxa de juros teria sidosuficiente para estimular o cres-cimento? É preciso dizer quantoseria aceito a mais de inflação equanto se ganharia em termos deredução de juros e, principalmen-te, crescimento econômico, deforma retrospectiva e para ospróximos anos.

Os três pilares que sustentamo atual modelo econômico são:(1) -mega-superávits fiscais pri-mários, (2) -liberalização finan-ceira internacional com regimede câmbio flutuante e (3) -regimede metas de inflação. O conjuntode idéias do G-15 é coerente aoatacar esses pilares. Atacam aconcepção que transforma o or-çamento do governo, através dageração de mega-superávits fis-cais, em uma peça quase queexclusiva de arrecadação de re-cursos para o pagamento de jurose em instrumento de sinalizaçãoda continuidade da capacidade deo Governo de honrar suas dívidasno futuro. O G-15 afirma catego-ricamente a necessidade de oGoverno retomar a sua capacida-de de fazer investimentos eminfra-estrutura e de realizar gas-tos pujantes em programas soci-ais universalizantes. São coeren-tes também ao propor a substitui-ção da livre movimentação decapitais pelo controle/regulaçãodo fluxo internacional de capitais,visando à recuperação da auto-nomia do Governo para fazerpolíticas econômicas.

Em relação ao regime de me-tas, entretanto, parece que o G-15 não discorda da concepçãomonetarista, já que não faz ne-nhuma crítica frontal ou apre-

“Os três pilares que sustentam o atualmodelo econômico são: mega-superávits

fiscais primários, liberalização financeirainternacional com regime de câmbio

flutuante e regime de metas de inflação”.

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senta qualquer proposta alterna-tiva. Os 15 deputados somentenão concordam com a intensida-de de utilização do regime mo-netário sustentado pelo Gover-no.1 Em verdade, mais do queconcordância com as idéiasmonetaristas, possivelmente háalgum grau de desconhecimentosobre o tema. Contudo, nãopode ser alegado pelo G-15 quea opção pela “flexibilização” éuma hábil tática política paraevitar um movimento de oposi-ção frontal a um dos pilares dotripé convencional, já que aber-tamente fazem críticas e apre-sentam propostas alternativaspara os outros dois pilares. Aliás,hierarquicamente, a liberalizaçãofinanceira internacional e a ge-ração de superávits primáriosfiscais são mais relevantes paraa ortodoxia monetarista do que oregime de metas de inflação.Sendo assim, se atacam as prin-cipais fortalezas, então qual omotivo para não atacar uma for-taleza secundária?2

É preciso ser dito abertamenteque não se aceita a concepçãode controle da inflação propostopelo regime de metas. Não sedeve aceitar a idéia de que a taxajuros é um instrumento de manu-tenção da estabilidade de preços.Juros elevados, principalmentequando associados a megassuperávits primários fiscais, po-dem ser eficazes para reduzir ainflação, tal como ocorreu em

2003. Mas ainda assim, apesarda sua eficácia, a taxa de jurosnão pode ser utilizada para estefim, exatamente pelo efeito queprovoca: aumento do desempre-go. Embora o contrário não sejanecessariamente verdadeiro, ta-xas de juros elevadas impedem ocrescimento e a redução da taxade desemprego.

O método que utiliza a taxade juros como instrumento an-tiinflacionário somente ataca ossintomas da inflação – e não assuas causas. A elevação da taxade juros dificulta a passagem deaumentos de custos aos preços(o sintoma). Mas não resolve oproblema de elevação de custos(a causa da inflação). Não háqualquer dúvida de que a eleva-ção antiinflacionária dos jurospoderá ser bem sucedida na me-dida em que reforça o pessimis-mo empresarial, reduz o nível deinvestimentos privados e, de for-ma multiplicada, resfria toda aeconomia - aumentando o de-semprego. Com a queda da de-manda por bens e serviços por

parte da sociedade, dificulta-se apassagem de custos que se ele-varam aos preços e, portanto,quebra-se a tendência inflacio-nária potencial. A passagem deuma elevação de custos aos pre-ços é dificultada porque cadaempresa em particular não en-contra facilidades para realizarsuas vendas aos preços corren-tes – então, muito mais difícilseria vender com preços reajus-tados. Inicialmente, a elevaçãoda taxa de juros provoca a com-pressão de margens de lucro emantém os preços sob controle.Posteriormente, os empresáriostentam recuperar parte das suasmargens reduzindo custos – oque na prática significa demissãode trabalhadores, práticas ilegais(horas extras de trabalho nãopagas, sonegação de impostosetc.), redução de salários pela viada rotatividade (demissão de tra-balhadores experientes e contra-tação de jovens) e redução degastos com a mão-de-obra porintermédio da sua precarização(redução de direitos legais dos

1 Embora façam uma proposta de “diminuição do superávit primário” fiscal - e não a sua anulação (o que não é aceitável em um receituário não-rupturista) -,por exemplo, uma redução de 4,25% do PIB para 3% (o superávit primário aceito pelo FMI no acordo com a Argentina); isto não configuraria aconcordância com concepção financista de administração do orçamento. Pelo contrário, neste caso, mudar o percentual muda a concepção de políticafiscal, porque a redução do superávit primário implica a retenção de recursos para que o Governo possa praticar uma política fiscal anticíclica comresponsabilidade social (combate ao desemprego) e responsabilidade financeira (liquidando os compromissos que devem ser honrados após uma auditoriada dívida pública, tal como é sugerido pelo G-15).

2 A liberalização financeira internacional com regime de câmbio flutuante é a principal fortaleza do tripé monetarista. A ortodoxia econômica avalia que se oscapitais estão livres para se movimentar e o câmbio está livre para flutuar, então, se o governo não gera superávits primários fiscais que sinalizam ocompromisso de honrar suas dívidas ou se não fazem um arranjo monetário via taxa de juros capaz de conter a inflação, será punido pela ação dosmercados financeiros doméstico e internacional com a emergência de uma crise cambial.

“A elevação da taxa de juros dificulta a

passagem de aumentos de custos aos preços

(o sintoma). Mas não resolve o problema

de elevação de custos (a causa da inflação)”.

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trabalhadores através da troca derelações formais por informais).3

A política antiinflacionária deelevação da taxa de juros nãopossui um mecanismo de diferen-ciação entre as empresas queestão gerando a inflação e aquelasque estão tendo um comporta-mento compatível com a estabili-dade de preços. Muitas empresasinocentes (isto é, aquelas que nãorealizaram aumentos de preços)não resistem aos elevados custosfinanceiros e à fraca demanda porsuas mercadorias e entram emprocesso de perda de mercado ou,até mesmo, entram em processode falência, demitindo muitos tra-balhadores; outras deixam de rea-lizar os investimentos planejados enão absorvem, assim, os trabalha-dores que estão desempregados.A política de elevação dos jurosutiliza-se da tática de provocar umresfriamento geral da economia,impondo às empresas uma políticarestritiva de reajustes de preços,ou seja, somente podem passaruma elevação de custos aos pre-ços de forma bastante lenta. Casocontrário, perdem mais parcelasde mercado, além daquelas que aelevação da taxa de juros jádragou pela queda de demandaque causou.

Por mais que os empresáriossejam habilidosos para recuperaras suas margens de lucro em um

ambiente de desaquecimento eco-nômico, é inegável que perdemtanto margem quanto volume devendas. Então, quando há a recu-peração da economia, aqueles quesobreviveram buscam recuperar otempo perdido (isto é, volume devendas e margem de lucro) e vol-tam a elevar preços. Então, o mé-todo de manutenção da estabilida-de de preços do regime de metasde inflação impõe à economia asituação em que a recuperaçãoeconômica estará sempre associa-da à elevação de preços. Dianteda ameaça de aceleração da infla-ção, o ciclo recomeça com a ele-vação da taxa de juros por partedo Banco Central. Dessa forma, oregime de metas colocou a econo-mia brasileira diante do Scylla dainflação ou do Charybdis do de-semprego.4 A política antiinflacio-nária de elevação da taxa de jurosé eficaz. Entretanto, condenou aeconomia ao controle de preçoscom desemprego ou ao cresci-mento com inflação - já que emsituações mais favoráveis, decrescimento econômico, empresá-rios e trabalhadores tentarão recu-perar o rendimento (lucros e salá-rios) perdido na fase de desacele-ração econômica.

A inflação brasileira é funda-mentalmente uma inflação decustos. É inconcebível qualquerdiagnóstico que identifique a in-

flação brasileira como uma infla-ção de demanda. Entretanto, éincorreta a afirmação de que apolítica antiinflacionária do Go-verno – de elevação dos juros –é equivocada porque o que o Paíspossui é uma inflação de custos.A política oficial antiinflacionáriaé eficaz para derrubar qualquertipo de inflação (de custos ou dedemanda). O problema central dapolítica antiinflacionária oficial éque ela combate apenas os sinto-mas da inflação e, principalmen-te, causa um efeito prévio de-vastador, o aumento do desem-prego e falências empresariais.5

Portanto, políticas alternativasdevem buscar atacar as causasda inflação (a elevação de cus-tos) e jamais causar desemprego.

Existem várias causas para ainflação, isto é, existem váriostipos de inflação: inflação de salá-rios e lucros, inflação de custo decommodities, inflação importadaetc. Para cada tipo de inflaçãodeve-se ter uma política antiinfla-cionária adequada e específica.6

Boa parte da inflação brasileira de2001 e 2002 foi basicamente cau-sada pela elevação do preço dodólar e pelo aumento dos preçosmonitorados e administrados; eboa parte da inflação de 2003 foicausada basicamente pela eleva-ção de preços monitorados e ad-ministrados. Nesse sentido, as

3 O regime de metas de inflação introduz na economia, além dessa série de problemas, uma distorção grave na relação entre preços livres e preçosadministrados. Na medida em que a taxa de juros somente é capaz de conter os primeiros, o resultado tem sido que a variação de preços administradosao longo dos últimos anos tem sido muito maior que a variação dos preços livres.

4 Sylla e Charybdis são figuras da mitologia grega. São monstros que vivem no mar e que devoram embarções. Charybdis mora numa caverna em frente acaverna onde habita Scylla. Logo, quando se tenta evitar um dos monstros, encontra-se com o outro de frente. Portanto, a expressão é utilizada quandoa tentativa de evitar um situação perigosa leva a outra também perigosa.

5 Muitos têm afirmado que a elevação da taxa de juros contém a inflação, mas provoca um efeito colateral perverso e lamentável, o desemprego. O termo colateralé usado, neste caso, de forma totalmente imprecisa. Efeito colateral é aquele que surge em paralelo ou ligeiramente depois de determinado resultado, em geral,positivo. A taxa de juros não derruba os preços diretamente e provoca, simultaneamente ou em decorrência, o aumento da taxa de desemprego. Em verdade, oefeito negativo, neste caso, é prévio: para que a taxa de juros possa conter a inflação, previamente deve provocar o aumento da taxa de desemprego.

6 Para aqueles interessados em aprofundar uma discussão teórica sobre o tema, sugere-se o artigo de Sicsú intitulado “Políticas não-monetárias de controleda inflação”, publicado na revista Análise Econômica (do Departamento de Economia da UFRGS), ano 2003, mês de março. Para aqueles interessados emaprofundar a discussão sobre o controle da inflação no Brasil, sugere-se a leitura do capítulo 2 do livro “Agenda Brasil: políticas econômicas para ocrescimento com estabilidade de preços”, de autoria de Sicsú com Castro de Oliveira, publicado pela editora Manole, de São Paulo, em 2003.

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propostas feitas pelo G-15, de“controle dos preços administra-dos (tarifas públicas)”, é necessá-ria e correta. É também uma pro-posta antiinflacionária, feita peloG-15, o controle sobre o fluxo decapitais internacionais, já que talcontrole reduz a volatilidade cam-bial, que, por sua vez, causa ele-vação do preço do dólar – o quepode ser estatisticamente compro-vado.7 Segundo cálculos do BancoCentral do Brasil, o aumento dospreços administrados ou monitora-dos explica 1,7% da inflação de7,7% de 2001, explica 1,85% dainflação de 12,5% de 2002 (nesteano, a causa mais importante dainflação foi a variação cambial) eexplica 1,7% da inflação de 9,3%de 2003. Ainda segundo cálculosdo Banco Central, a variação cam-bial explica 2,9% da inflação de2001 e 5,85% da inflação de 2002.Então, se as propostas do G-15fossem adotadas, provavelmente ainflação estaria sob controle, esta-ria em patamares aceitáveis.

A proposta de “redução subs-tantiva da taxa de juros real”,feita pelo G-15, é necessária,mas no lugar das âncoras (supe-rávit primário fiscal elevado ejuros lunáticos) que impedem aeconomia de crescer para manteros preços sob controle, outrosinstrumentos antiinflacionáriosmais sólidos e permanentes de-vem ser erguidos – tais como osdois já citados. Não se deve tro-car juros mais baixos por inflaçãomais alta (esta é a lógica do regi-

me monetarista de metas de in-flação), tal como sugere a pro-posta de “flexibilização, com res-ponsabilidade das metas inflacio-nárias”, feita pelo G-15.8

Cabe, por último, ser mencio-nado que um ambiente favorávelpara a manutenção da estabilida-de de preços é aquele em que asociedade está comprometidacom o controle da inflação. Umambiente favorável é um ambien-te de busca do consenso: o idealé a emergência de um pacto an-tiinflacionário. Em estruturaseconômicas e sociais diferencia-das, determinados grupos de inte-resse são mais ou menos capazesde influenciar os resultados deuma arquitetura antiinflacionária.Sendo assim, é muito importanteexistir cooperação entre eles vi-sando ao consenso. Regras deestabilidade de preços devem sererguidas para substituir o discri-cionarismo do Banco Central,que ameaça mudar a taxa dejuros quase todos os meses, cau-sando incerteza e inibindo deci-sões empresariais de investimen-to. O resultado de qualquer con-junto de regras de estabilidade depreços depende fortemente decooperação e, se possível, deconsenso entre o governo, oLegislativo, o Judiciário, os traba-lhadores, os empresários, as do-nas de casa e os aposentados.

Dessa forma, a sociedade, atra-vés de seus organismos (sindica-tos, associações e câmarassetoriais de controle de preços,que poderiam ser criadas), deve-ria comprometer-se também comcontrole da inflação. Portando, aestabilidade dos preços (assimcomo outros objetivos econômi-cos e sociais) não deveria ser umobjetivo somente do Governo emuito menos (apenas!) de um deseus organismos, o Banco Cen-tral, que utiliza um instrumentototalmente inadequado para cum-prir uma tarefa que não deveriaser somente sua.

O problema do regime demetas não é a sua a rigidez, massua incompatibilidade com o ob-jetivo do crescimento econômicocom geração de empregos, taiscomo são incompatíveis tambémos outros dois outros pilares domodelo econômico conservador(superávits primários fiscais ele-vados e liberalização financeirainternacional), adotados pelosgovernos dos presidentesFernando Henrique Cardoso eLuiz Inácio Lula da Silva. As ta-xas de crescimento e desempre-go já comprovaram a inadequa-ção deste modelo econômico,mas os economistas e políticosconservadores se negam a en-xergar a realidade, os números,os fatos.

7 Um exercício gráfico e estatístico é feito para comprovar tal relação entre volatilidade cambial e valor do dólar no artigo de Sicsú intitulado “FlutuaçãoCambial e Taxa de Juros no Brasil”, publicado na Revista de Economia Política de julho-setembro de 2002.

8 Não está muito claro qual o significado e utilidade da qualificação “com responsabilidade”, adicionada à proposta de “flexibilização” feita pelo G-15.Afinal, qualquer proposta deve ser implementada com responsabilidade, inclusive a redução do superávit primário, o controle sobre o fluxo de capitaisetc. Aliás, no documento “Antes que seja tarde – mudança já”, é sugerida a mudança de indexador das tarifas públicas, o que é um erro fatal. Tarifaspúblicas devem ter seus preços reajustados de acordo com um programa que leve em conta aumentos de custos, ganhos de produtividade, programasde investimento etc. Nenhum preço deve ser indexado na economia, nem tarifas, nem aluguéis, nem mensalidades escolares e muito menos salários. Aindexação de tarifas dificulta o controle da inflação, e somente por coincidência o índice escolhido será o mais adequado para que seja mantida aqualidade dos serviços públicos.

* João SicsúProfessor-doutor do Instituto de Economia daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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A R T I G O

Primeiras notas sobrecontrole profissionalem Economia

Fernando Moutinho Ramalho Bittencourt *

A prática cotidiana do controleprofissional exercido pelos Con-selhos Regionais de Economiaoferece uma fascinante coleçãode desafios. A enorme variedadede casos que se apresentam nasações de fiscalização e registrooferece a oportunidade de estu-dar - e o risco de decidir - temasmuitas vezes polêmicos (seja porsua complexidade teórica, sejapelo caráter socialmente confliti-vo de que se revestem).

Estas notas contêm um des-pretensioso inventário de situa-ções que já tivemos que abordarna ação do CORECON/MG.Embora todo o esforço tenha sidofeito para tratar cada tópico como maior grau de generalidadepossível (permitindo que os racio-cínios sejam aplicáveis para qual-quer entidade de regulação pro-fissional), o trabalho encontra-seinevitavelmente influenciado pe-

1Mendes, Armando Dias. O Economista e o ornitorrinco – ensaios sobre a formação e a profissão dos economistas. Brasília:Coronário Editora Gráfica,2001. p. 13. Uma vez mais, constata-se que é impossível falar da profissão de economista no Brasil sem recorrer, ainda que de passagem, ao pensamentodo Prof. Armando Mendes.

“A minha alucinação é suportar o dia-a-diaE meu delírio é a experiência com coisas reais.”

Belchior

las circunstâncias específicas daprofissão de economista.

O saber que aqui se contém éessencialmente aplicado e decaráter interdisciplinar, fazendodialogar em cada instante a técni-ca econômica, o conhecimentojurídico e o senso administrativo.Opção que soa um pouco exóticano sofisticado ambiente demodelização e abstração da van-guarda teórica dos economistas.Mas amparada – esperamos –em uma certa legitimidade. Pri-meiro, pela tradição da praxissegundo a qual a teoria existe noe para o mundo, lição inesquecí-vel da Economia Política. Segun-do, por reconhecer como legítimoo contexto presente da vida realde tantos e tantas colegas:

No segundo caso, aocontrário, são as demandasconcretas, incluindo as depura conjuntura do merca-

do profissional, que ditamos variados formatos deecônomos e da sua forma-ção. A resposta pragmáticaa atividades bem pragmáti-cas dispensa maiores vôosfilosóficos, votos científicose vetos morais1.O objetivo a alcançar (se não

for demasiado, vem Pessoa lem-brar que “a alma é divina e aobra é imperfeita”) é duplo: pri-meiro, prático, dotar de pequenospontos de apoio reflexivos aque-les que encaram na lida diáriatemas como esses. Mais impor-tante, e não menos prático, aofalar de casos comuns e corren-tes, que poderiam suceder a qual-quer um, esperamos convidaraquele economista-ecônomo lei-tor, mergulhado e isolado no mun-do pragmático, a pensar em suasdificuldades como partilhadas pormuitos, e a pensar a si próprio

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“A fiscalização profissional, como

limitação ao princípio constitucional

da liberdade de trabalho, só encontra

sua justificação na defesa do interesse

da sociedade de que trabalhos

específicos sejam exercidos por

profissionais habilitados”.

como merecedor da atenção e docuidado da coletividade profissio-nal e de suas organizações.

1 – Economistas ocupandocargos “genéricos”

É muito comum a ocorrênciade pedidos de cancelamento deregistro formulados por econo-mistas que ocupam postos naadministração pública ou na em-presa privada que não tenham,como exigência formal do empre-gador para assumir o cargo ouemprego, o registro no Conselho.

Só há fundamento legal para ocancelamento de registro, nestescasos, se ficar comprovado o nãoexercício da profissão de econo-mista (art. 21 da ResoluçãoCOFECON 1537/85). Competeao CORECON, no exercício dasua missão legal de fiscalizar oexercício profissional (art. 10,alínea “b”, da Lei 1411/51), veri-ficar os contornos concretos des-sa norma, ou seja, o enquadra-mento da realidade fática com ahipótese prevista no ordenamentolegal e regulamentar.

E esta verificação só pode serrealizada a contento se se com-param as tarefas concretas que orequerente de cancelamentoexerce em seu posto de trabalho(o conteúdo ocupacional do cargoou emprego) com aquelas tarefaslistadas como pertencentes aocampo profissional do economistanas distintas Resoluções do Con-selho Federal de Economia quetratam do tema (basicamente, asResoluções 860/74 e 1612/95).

Isto porque o que é regula-mentado e fiscalizado, em bene-fício da sociedade, é o exercícioda profissão, não a denomina-ção, os aspectos formais de umcargo. Aliás, este exercício da

profissão faz-se “liberalmente ounão”, e, no caso de vínculoempregatício, em “cargos técni-cos de economia e finanças”,“providos a qualquer título noServiço Público”. Esta interpre-tação, amplamente discutida econfirmada pelo CORECON-MG em inúmeras ocasiões, con-duz a que atua como economistaaquele que exerce em seu laborprofissional atividades típicas deeconomista. Outro não poderiaser o sentido da lei: a fiscaliza-ção profissional, como limitaçãoao princípio constitucional daliberdade de trabalho (art.5º,inciso XIII), só encontra suajustificação na defesa do inte-resse da sociedade de que tra-balhos específicos sejam exerci-dos por profissionais habilitados,para preservação da qualidade eda segurança dos resultados doscitados trabalhos.

A esse respeito, em nada im-portam as condições formaisextrínsecas da relação jurídicapela qual tais serviços são presta-dos, seja o vínculo empregatícioou meramente contratual/mer-cantil, seja o título do cargo, ousejam outras condições da rela-

ção empregatícia do exercenteda atividade.

Na prática da elaboração deum parecer ou relatório em casoscomo o presente, o agente (con-selheiro relator, técnico parece-rista) deve inicialmente obter dointeressado a descrição concretadas tarefas que exerce em seucargo. Esta descrição pode estardefinida em lei, no caso de cargopúblico, ou ser declarada peloempregador; no caso de servido-res públicos, ainda que haja umadeclaração da repartição, é con-veniente que o agente procurelocalizar os atos normativos –leis, decretos, portarias – quedefinem esse conteúdo ocupacio-nal do cargo. Em seguida, devebuscar comparar cada uma dastarefas do cargo ou empregocom aquelas enumeradas nasResoluções do COFECON, quesão a (única) referência formaldo que venha a ser a área deatuação reservada, pela lei, aoseconomistas. Caso haja similari-dade entre ambos, o cargo deveser, por força da lei regedora daprofissão, ocupado por economis-ta registrado, o que impede aconcessão do cancelamento do

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registro. Caso não haja coinci-dência entre as tarefas do cargoou emprego e aquelasexplicitadas pela legislação pro-fissional, o cargo não é típico daprofissão e o cancelamento deveser deferido.

Não ignoro que a posição queexpresso aqui representa inver-são de cento e oitenta graus emrelação a uma certa posição quemuitas vezes é manifestada nosdebates no âmbito do SistemaCOFECON/CORECONs. Trata-se do argumento segundo o qualnão se pode inserir um cargo pú-blico dentro do campo profissio-nal do economista se este não fordenominado de economista ou seno edital do concurso respectivoou na sua lei de criação não forexigida a condição de economistaregistrado no Conselho.

Tal argumento é totalmenteequivocado. Isto porque as leisque criaram os cargos públicos edefiniram as condições para o seupreenchimento não tratam, emabsoluto, da regulamentação deprofissões. Limitam-se a definir osaspectos da relação do ente públi-co com o seu quadro funcional.Pretender que uma lei que estabe-lece um quadro de carreira oucargo isolado (como a MedidaProvisória 1971-13, de que aqui setratou) elimine as exigências espe-

cíficas para o exercício de profis-sões significaria supor que a mes-ma revogaria tacitamente a Lei1411/51 (bem como, alias, todasas outras leis regulamentadoras deprofissões), permitindo que qual-quer ocupante do cargo exerçaqualquer atividade dentro dele(nem nos referimos aqui, por ab-surdo, à hipótese de que um atoadministrativo tal como um Editalou uma Portaria possa sobrepor-se à lei em sentido formal e afas-tar sua incidência).

Ora, esta não é uma tese juri-dicamente razoável, pois uma leisó revoga (ainda que tacitamen-te) outra anterior quando trata damesma matéria, o que, como vi-mos, não é o caso. No caso decargos públicos, a Lei 1411/52prevê, genericamente, exigênciada habilitação e registro para“cargos técnicos de economia efinanças” (art. 3º). Esse dispositi-vo é mais explicitamente desen-volvido, na forma regulamentar,pela Resolução COFECON 860/74, que prevê o exercício da pro-fissão em caráter privativo atra-vés “de cargos e funções relati-vas ao campo profissional doEconomista, de provimento aqualquer título” (art. 3º inciso I).

Ou seja, antes de pressuporuma antinomia entre a legislaçãoda profissão e a lei de criação

do cargo, sem quaisquer ele-mentos para se chegar a essaconclusão, há que se considerara coexistência de ambas de for-ma articulada e consistente. Talconsistência é perfeitamente pos-sível, sendo, aliás, o mais verossí-mil: a lei de criação regula o pro-vimento do cargo (a constituiçãoe manutenção da relação servi-dor-Estado), da forma como bementenda, enquanto que o exercí-cio, dentro do cargo, das ativida-des inerentes à profissão atrai aincidência da lei regulamentadorada profissão, o que impõe a obri-gatoriedade do registro.

Em defesa desta interpretaçãojurídica (que nos cabe fazer, comoentidade fiscalizadora, no exercícioda interpretação administrativa dalei), vêm os fatos relativos a outrasprofissões. Instituições que criamcargos “genéricos” abertos a qual-quer graduado em curso superior(a exemplo do Banco Central e doMinistério da Fazenda) têm conta-bilidade própria. Pois bem, quemirá responsabilizar-se por essa con-tabilidade? Naturalmente, um ser-vidor do seu próprio quadro, umocupante desses mesmos cargos“genéricos”, como um Analista doBanco Central ou um Analista deFinanças e Controle . Porém, osdocumentos contábeis firmadospor ele só terão valor se se tratarde um contabilista inscrito no res-pectivo Conselho de Classe -, ain-da que a lei de criação do respec-tivo cargo assim não o exija. Éporque se impõe, na atividadeconcreta daquele servidor (execu-ção da contabilidade) a leiregulamentadora da respectivaprofissão. O mesmo valerá paraoutras atividades regulamentadas,como os serviços de engenharia,de assessoria jurídica ou de aten-dimento médico que a entidade

“Instituições que criam cargos “genéricos”

abertos a qualquer graduado em curso

superior têm contabilidade própria.

Pois bem, quem irá responsabilizar-se

por essa contabilidade?”.

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pública mantenha através de seuquadro de cargos “genéricos”.

Em síntese, o deferimento docancelamento deve estar condici-onado a que o profissional de-monstre inequivocamente no pro-cesso quais são as atividades queconcretamente exerce no cargo elotação atuais, a partir do que oConselho poderá aferir se se en-quadram ou não dentre aquelasatribuídas pela lei ao economista.

Ainda nesse sentido, trata-seunicamente de assegurar que oserviço prestado no cargo sejarealizado por um profissional ha-bilitado (o que o requerentecomprovadamente é) e sob adisciplina exigida por lei para aprofissão (que impõe o registro).Não nos move, evidentemente,uma postura meramente fiscalis-ta, consistente em tentar manter,a qualquer custo, o maior númerode filiados ao Conselho. O pró-prio Conselho Federal de Econo-mia já o define claramente:

É necessário reafirmar quea fiscalização do exercícioprofissional não é um atode cobrança, porém umaação que se objetiva emtermos de uma técnica es-pecífica (o saber econômi-co), de uma ética profissio-nal (a responsabilizaçãopela utilização da técnicaeconômica para finsindevidos) e de uma res-ponsabilidade social2.

A preocupação de atrairfiliados e contribuições deve serexercida pelos Conselhos, pres-tando serviços que tragam benefí-cios e reciprocidade aos filiados.O ponto central da proposta pelo

indeferimento é o exercício doindeclinável poder-dever de fisca-lizar a profissão, em defesa dasociedade. Como exercentes dopoder de polícia administrativa pordelegação da União, não restadiscricionariedade ao Conselhonas decisões sobre registro oufiscalização. Não atendidos ospressupostos legais para sua dis-pensa (no caso, o não-exercíciodas atividades típicas de econo-mista, a qualquer título), é imposi-ção legal a obrigatoriedade doregistro. Assim, e só assim, pode oConselho desincumbir-se de suamissão legal.

Desta maneira, duas situa-ções podem ocorrer, em que oeconomista saia dos quadros doCORECON original, e aindaassim esta exigência fundamen-tal continue atendida. Uma delasé a hipótese de o profissionalexercer sua função pública ouprivada em outro Estado, o quepermitiria a transferência do re-gistro para outro CORECON(arts. 16 a 19 da Resolução1537/85, COFECON). Outrahipótese é a de que o interessadopossua outra qualificação profis-sional regulamentada, cuja leiespecífica abranja as atividadesefetivamente exercidas pelo pro-fissional no cargo. Neste caso,demonstradas quais as atividadesdesempenhadas e o registro em

outro Conselho profissional, epresente a manifestação daquelesimilar de que as atividades tam-bém estão abrangidas pela legis-lação respectiva, poderia o Con-selho deferir o cancelamento,pois a condição fundamental aci-ma exposta estaria atendida.

2 – Enquadramento depessoas jurídicas com objetosocial genérico

De forma análoga às pessoasfísicas, são comuns casos em quepessoas jurídicas constituídas naJunta Comercial (empresas mer-cantis) ou nos Cartórios de Re-gistro de Pessoas Jurídicas (soci-edades civis) apresentam objetossociais genéricos ou imprecisos.A título de exemplo, menciona-mos alguns desses objetos soci-ais, extraídos literalmente de ca-sos reais examinados noCORECON/MG:• “serviços de assessoramento e

consultoria empresarial”;• “serviços de consultoria e as-

sessoria a empresas em geral,para assuntos relacionados aomeio ambiente”;

• “serviços de consultoria e asses-soria nas áreas de planejamentoempresarial, estudos e pesquisasde mão-de-obra e planejamentoestratégico organizacional”;

• “serviços de consultoria na área

“A preocupação de atrair filiados e

contribuições deve ser exercida pelos

Conselhos, prestando serviços que tragam

benefícios e reciprocidade aos filiados”.2Anexo À Resolução COFECON 1536/85, Seção III, parágrafo 1

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de gestão empresarial e admi-nistração de bens próprios”;

• “serviços de auditoria, execu-ção, treinamento, assessoria econsultoria contábil, financeirae previdenciária, bem como osserviços de cálculo atuarial eestudos de viabilização econô-mica de planos de saúde”;

• “serviço de gerenciamento,assessoria e consultoria, a serexecutado fora do endereço dasede empresarial”;

• “serviços a empresas, em asses-soria em gestão empresarial”.

Em todos os casos, trata-se deredação vaga e ambígua, quepode significar virtualmente qual-quer coisa. Portanto, incluem asde economista. Neste caso, se aempresa pretende exercer ativida-des sem limitação por seu objetosocial, deve evidentemente sub-meter-se à regulamentação detodas as profissões que se enqua-drem em sua vastíssima área deatuação. Entre estas, claro, a deeconomista, inclusive porque ser-viços como estes (de organizaçãoeconômica, gestão empresarial,consultoria) estão entre os poucosaplicáveis a qualquer tipo de em-presa. Se o conteúdo vago fosseexcludente da regulação e discipli-

na profissional, bastaria então auma empresa redigir seus objeti-vos com o grau adequado de am-bigüidade que escaparia a qual-quer tipo de fiscalização, fossequal fosse sua atividade.

Uma possibilidade é que asatividades genéricas sejam tam-bém parte de outra profissão re-gulamentada. Isto, porém, quandoocorrer poderá ser demonstradopela própria empresa com os da-dos da sua filiação a outro conse-lho profissional.

Em síntese, o mesmo rigor noexame do conteúdo concreto dasatividades desempenhadas pelosprofissionais deve ser aplicado naavaliação da exigibilidade do re-gistro de empresas, quaisqueroutros tipos de sociedades queatuam na área dos economistas.

3 – Análises de laudos periciais

Há casos menos comuns,mas em número crescente, desolicitações dos economistasatuando como peritos em pro-cessos judiciais, no sentido deque o CORECON emita mani-festação sobre a habilitação legaldo economista para produzir talou qual laudo ou trabalho escrito.

Chegam a existir casos em que osolicitante apresenta o própriolaudo que apresentou no âmbitodo Judiciário, pedindo que o Con-selho se manifeste sobre ele.

Acreditamos que isto é refle-xo da expansão da atividade peri-cial como espaço de trabalho quevem sendo conquistado peloseconomistas, o que suscita algu-mas dúvidas entre profissionaisda área jurídica e também algu-mas reações contrárias de outrosprofissionais que até então ti-nham o campo pericial como es-paço exclusivo de suas respecti-vas habilitações. Desde logo, háque deixar claro que a atividadepericial, no ramo de conhecimen-to específico, é explicitamenteatribuída ao economista, em ca-ráter geral, pelo art. 3o do Decre-to 31.794/52:

A atividade profissional priva-tiva do economista exercita-se,liberalmente ou não, por estudos,pesquisas, análises, relatórios,pareceres, perícias, arbitragens,laudos, esquemas ou certificadossobre os assuntos compreendi-dos no seu campo profissional,inclusive por meio de planeja-mento, implantação, orientação,supervisão ou assistência dostrabalhos relativos às atividadeseconômicas ou financeiras, emempreendimentos públicos, pri-vados ou mistos, ou por quais-quer outros meios que objetivem,técnica ou cientificamente, oaumento ou a conservação dorendimento econômico.

Nestes casos, é necessárioagir com cuidado: neles, não éfunção do Conselho analisar olaudo em si, ou seja, se ele foifeito corretamente3. Mas é sua

“O mesmo rigor no exame do

conteúdo concreto das atividades

desempenhadas pelos profissionais

deve ser aplicado na avaliação da

exigibilidade do registro de empresas”.

3A análise da qualidade ou da correção de um trabalho de Economia pode até ser atribuição do Conselho em algum caso específico de processo disciplinar,como, por exemplo, uma denúncia contra um economista por imperícia ou negligência. Mas não é este o caso de que se trata.

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missão, e importantíssima, de-fender as prerrogativas da pro-fissão, declarando se as ques-tões que são objeto do laudo es-tão entre aquelas permitidas aoseconomistas pela lei de regênciada profissão.

A metodologia para a defini-ção do conteúdo técnico do laudoexaminado e seu enquadramentoé um procedimento simples, ebastante análoga ao caso doscargos genéricos analisados naprimeira seção deste artigo. Oconteúdo técnico inerente a umlaudo pericial solicitado no cursode um processo judicial como opresente está contido nos quesi-tos formulados, que são a veicu-lação do conhecimento técnicoque do perito se exige pelo juiz epelas partes (arts. 276, 278, 421,425, 435 do Código de ProcessoCivil). Destarte, a via mais preci-sa e objetiva de verificação doenquadramento é alinhar os que-sitos apresentados ao perito pelojuiz e pelas partes do processo,seguidos do item específico daregulamentação profissional queampara a atuação do economistana matéria e outras considera-ções pertinentes.

Caso exista conformidadeentre os quesitos e as atividadesprevistas na legislação profissio-nal, é possível responder afirma-tivamente às consultas dos inte-ressados, tomando cuidado com aforma da manifestação do Con-selho, que deve declarar nessescasos que o laudo pericial que foiexaminado insere-se integralmen-te dentro da habilitação legal de-finida para o profissional econo-mista pela Lei 1411/51, regula-

mentada pelo Decreto 31.794/52e pela Resolução 860/744 doConselho Federal de Economia,inclusive para produzir efeitos emprocessos judiciais.

4 – Não-exigibilidadede registro de empresasde factoring

São freqüentes as polêmicassuscitadas pelos pedidos de can-celamento de empresas defactoring. Antes de tudo, é pre-ciso definir bem os termos de quese trata. Factoring, tal comodefinido na doutrina5, inclui trêsmodalidades em que a atividadeenvolvida é tão somente a com-pra de ativos mediante uso decapital próprio do empreendedor,sob diferentes condições de divi-são do risco e áreas de mercado(modalidades convencional,maturity e exportação). Incluiainda uma modalidade mais com-

plexa, trustee, em que se trata da“gestão financeira e de negóciosda empresa cliente da sociedadede fomento mercantil. Administratodas as contas do cliente quepassa a trabalhar com o caixazero, otimizando sua capacidadefinanceira, na realidade o trusteecompreende a administração decontas a pagar e receber de seusclientes.” Na maioria dos casosapresentados ao exame dos Con-selhos para cancelamento , nãohá evidências da ocorrência des-sa modalidade sofisticada nasempresas solicitantes, que via deregra propõem-se à atividadeconvencional do fomento mer-cantil, consistindo apenas decompra e venda de ativos.

Juridicamente, está em vigor aDeliberação COFECON 1563/B,de 16/12/93, em que, por provoca-ção de consulta deste Regional, oConselho Federal resolveu “man-ter a exigibilidade de registro das

4Acrescentar outras Resoluções que porventura sejam aplicáveis em algum outro caso concreto.5"O Factoring - um apoio financeiro às pequenas e médias empresas e seus efeitos no capital circulante” - trabalho apresentado ao Congresso Brasileiro de

Contabilidade 2001 - http://www.cfc.org.br, p. 3

“A via mais precisa e objetiva de

verificação do enquadramento é alinhar

os quesitos apresentados ao perito pelo

juiz e pelas partes do processo, seguidos

do item específico da regulamentação

profissional que ampara a atuação do

economista na matéria e outras

considerações pertinentes”.

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empresas de “factoring” nosConselhos Regionais de Econo-mia”. No entanto, a despeito dasintenções do COFECON, o dadoobjetivo representado pelo objetoda maioria das empresas não re-siste à análise mais simples: nãoocorre, na maioria absoluta doscaso , atividade típica da profis-são. Ademais, é pacífico o enten-dimento judicial a respeito danão-exigibilidade de registro paraa simples operação de factoring6.

O papel do relator e do Conse-lho, nos autos de um processoadministrativo como o de cancela-mento, é o de aplicar a lei e suaregulamentação infralegal, e porconseguinte interpretá-la comoetapa prévia à sua aplicação. Nocaso, existe uma deliberação pon-tual do COFECON (aliás, de ca-ráter não normativo, como seriauma Resolução) interpretando aLei 1411/51 de uma forma favorá-vel ao registro das factorings. Noentanto, a interpretação judicial damesma lei (a qual, em última ins-tância, prevalecerá se correspon-der à prática recorrente do Judici-ário na matéria) fornece interpre-tação contrária. Assim, cabe ao

Regional posicionar-se entre duasinterpretações contraditórias en-tre si, descartada de plano umaeventual aplicação “automática”ou mandatória da posição doCOFECON. Mandatório, aocontrário, é o dever de interpretare atuar em conformidade com aLei de regência da profissão.

No mérito, não posso senãoendossar a posição manifestadapelo Judiciário. A atividade envolvi-da é de compra e venda de ativos,sem se constituir em serviço técni-co prestado a terceiros (ressalvafeita à modalidade de trustee, jádetalhada, se vier a ser detectadana empresa requerente). Não sepode enquadrar esse tema entreaqueles enfeixados na ResoluçãoCOFECON 860/74 e posteriores.Ademais, se existe o reiterado econtemporâneo entendimento judi-cial no sentido da não-exigibilidade,creio que a presunção de veracida-de milita objetivamente em favordessa última interpretação.

A redação do inciso II do art.37 da Resolução COFECON1537/85 parece indicar que sóseria possível aceitar a não-obri-gatoriedade do registro quando

houvesse sentença judicial transi-tada em julgado em favor da em-presa requerente. Este entendi-mento, no entanto, é incompatívelcom o Estado de Direito, no qualincumbe a toda a AdministraçãoPública a subordinação ativa àlei. Relembrando o caráter difusodo dever de interpretação e apli-cação motivada da lei:

E, mesmo quando não hajafeito ou causa em tribunal e ocidadão tenha que afivelar amáscara de administrado, nempor isso são de menor valia osprincípios do Estado de direitodemocrático a observar nosprocedimentos administrati-vos. Deve-se exigir a obser-vância dos princípios da igual-dade, da imparcialidade dajustiça nos comportamentosda administração.7

Assim, não cabe senão con-cluir não ser exigível o registronos Conselhos de Economia parao exercício da atividade defactoring. É necessário, ainda,reiterar que a DeliberaçãoCOFECON 1563/B, de 16/12/93,ainda não revogada, choca-secom qualquer interpretação coe-rente que se faça do ordenamen-to da profissão, bem como comreiterada jurisprudência em con-trário da Justiça Federal.

5 – Pedidos de cancelamentode registro feitos por pessoasfísicas e jurídicas inadimplentescom as anuidades

É comum também ocorrerempedidos de cancelamento de re-

6Para não alongarmos a citação, baste o entendimento já sumulado do TRF 1a Região - precedentes AC-1998.01.00.077164-0/MG 3a TS, DJ 22/08/2002;AC-96.01.08428-2/MG 4a T, DJ 17/06/1996; AC-96.01.36503-6/MG, 3a T, DJ: 17/11-1999.

7Canotilho, J.J. Estado de direito. Lisboa, Ed. Gradiva, 1999. p. 71

“O papel do relator e do Conselho, nosautos de um processo administrativo

como o de cancelamento, é o de aplicara lei e sua regulamentação infralegal,e por conseguinte interpretá-la como

etapa prévia à sua aplicação”.

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gistro formulados por economis-tas ou empresas que têm anuida-des em atraso. Nestes casos, énecessário responder primeiro àseguinte pergunta: a inadimplên-cia das anuidades impede o can-celamento do registro?

Sobre isto, existe mais umaResolução do COFECON, a denº 1537/85 (redação alteradapela Res. 1653/98), que exigeem seu art. 37, inc. IV, que opedido de cancelamento sejaacompanhado de “Prova de qui-tação das anuidades anterio-res ao deferimento do pedidode cancelamento ou compro-misso firmado pelo represen-tante legal da requerente, emtermo de parcelamento de dívi-das, e pagamento dos emolu-mentos referentes à certidãode cancelamento.” Assim, maisuma vez o pedido aparentariaimpossibilidade, diante de umanorma administrativa. Porém, edentro do mesmo raciocínio daseção 2 deste artigo, temos queafastar a aplicação desse dispo-sitivo regulamentar.

Isto porque o ato de exigirregistro compulsoriamente,com todas as conseqüênciasque acarreta, é um ato estrita-mente de poder de polícia, ouseja, de restrição ao direitoindividual em nome do interes-se coletivo preservado pelainstituição estatal. Essa restri-ção advém da lei, e apenas alei pode impor critérios paraque alguém tenha que permane-cer nos quadros do CORECON(art. 5º, inciso II, da Constitui-ção Federal), não podendo o atoadministrativo senão regula-mentar o estrito cumprimentoda mens legis (sem que lhe sejafacultado impor novas obriga-ções ao administrado).

Pois bem, neste caso, o quediz a lei? Dispõe o estatuto daprofissão (Lei 1411/51):

Art. 14. Só poderão exercer aprofissão de economista osprofissionais devidamenteregistrados nos CORECONspelos quais será expedida acarteira profissional.Parágrafo único. Serão tam-bém registrados no mesmoórgão as empresas, entidadese escritórios que explorem, sobqualquer forma, atividades téc-nicas de Economia e Finanças.Art. 18. A falta do competen-te registro torna ilegal e puní-vel o exercício da profissãode economista.

A redação é inequívoca: o re-gistro é função do exercício efeti-vo ou potencial da profissão. Ou-tras questões, inclusive de nature-za legal, como a regularidade tri-butária, não estão incluídas nomotivo ensejador do registro. Nãose discute neste ponto se o tributoem atraso é exigível (sem dúvidao é - este ponto é analisado maisadiante) ou não, se o profissional éinadimplente ou não, não se podedenegar o cancelamento senãopor uma razão: o requerente exer-cer, real ou potencialmente, a pro-

fissão (como pessoa física ou jurí-dica, conforme o caso). Qualqueroutro motivo é irrelevante, pois alei não o exige. Também numainterpretação teleológica do atoadministrativo, só existe interesseda sociedade em que o Conselhoretenha a pessoa ou instituiçãonos seus quadros se esta exercerou pretender exercer a profissão,como forma de disciplinar-lhe oexercício e verificar-lhe os pres-supostos também fixados em leipara o ingresso na profissão. Ou-tras pendências (como a anuida-de) terão, também, os seus cami-nhos legais de tratamento, masnão através do condicionamentoda concessão do cancelamento àsua solução.

De fato, os demais incisos docitado artigo 37 da ResoluçãoCOFECON 1537/85 incluem tãosomente exigências de compro-vação material da condição legal,isto é, de que a pessoa jurídicanão mais exerce a atividade re-gulamentada (mantendo-se, aí,rigorosamente dentro do legítimopoder regulamentar do ato admi-nistrativo). Tratam, portanto, dascircunstâncias concretas da ocor-rência da hipótese legal. O incisoIV, posteriormente acrescentado,extrapola esse poder regulamen-tar e impõe uma nova hipótese

“Também numa interpretaçãoteleológica do ato administrativo, só

existe interesse da sociedade em que oConselho retenha a pessoa ou instituição

nos seus quadros se esta exercer oupretender exercer a profissão”.

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para a possibilidade de cancela-mento - não mais o não-exercí-cio, mas também a regularidadefiscal. Não podemos, portanto,endossar esse dispositivo e dar-lhe cumprimento, uma vez que apresunção de legitimidade da Re-solução, como de todo ato admi-nistrativo, é juris tantum, e podeser elidida pela comprovaçãoposterior de seu choque com ou-tros componentes do ordenamen-to jurídico. Essa adequação obri-gatória da atividade administrati-va à lei, corolário maior do princí-pio da legalidade, impõe que o atoconcreto de concessão do cance-lamento observe em primeirolugar a legalidade, sobrepassandoo literal de uma instrução opera-cional que a ela não se ajusta.

Portanto, entendo que há quese conceder o cancelamento,sem maiores condições, simples-mente a partir da constatação deque, para a atividade da empresa,não se exige o registro. E – umavez mais - deixar assente nossaposição de que o artigo 37, incisoIV, da Resolução COFECON1537/85 (redação alterada pela

Res. 1653/98) exorbita do poderregulamentar conferido ao Con-selho Federal de Economia, poisimpõe exigência não prevista nosarts. 14 e 18 da Lei 1411/51 parao cancelamento do registro deempresas ou profissionais, sendoportanto ilegal a sua imposiçãoaos jurisdicionados (até porque osdébitos porventura inadimplidostêm a via própria da execuçãofiscal para serem exigidos aorequerente do cancelamento).

6 - Natureza jurídica da filiaçãoaos conselhos profissionais

Alguns interessados no cance-lamento ou na remissão de débitosalegam que as anuidades devidaspelos economistas ao CORECONrepresentariam exclusivamente acontraprestação por “benefícios evantagens” que a entidade presta-ria aos filiados, como se fossealgo parecido a um clube, e umavez que não recebem os benefíci-os de que gostariam, estariameximidos do seu pagamento.

É afirmação que tambémnão pode ser acolhida. Sua pre-

missa maior é rigorosamentefalsa: a natureza do pagamentodas anuidades do CORECONnão é contratual. Trata-se, ri-gorosamente, de contribuiçãode natureza tributária, ampara-da no art. 149 da ConstituiçãoFederal, na Lei 6994/82 e naprópria Lei 1411/51:

A doutrina e a jurisprudên-cia que se firmaram após aConstituição Federal de 1988atribuem natureza jurídica tri-butária às anuidades devidasaos conselhos de fiscalizaçãopelos profissionais sujeitos àinscrição em seus quadros.

Com efeito, tais anuidadessão prestações pecuniáriascompulsórias, instituídas espe-cificamente por algumas leis decriação de conselho ou, demaneira geral, pela Lei n.6994, de 1982 (ver item 5.5deste capítulo). Não constituemsanção por ato ilícito, mas sãodevidas em razão da simplessujeição à inscrição nos con-selhos de fiscalização do exer-cício profissional. Por outrolado, sua cobrança, considera-da a natureza jurídica autár-quica dos conselhos, é realiza-da por pessoa jurídica de di-reito público mediante ativida-de administrativa vinculada8.

Pacífico é também o entendi-mento jurisprudencial sobre amatéria. Além dos julgados deTribunais Regionais Federaismencionados na obra acimatranscrita9, não se pode olvidar asrepetidas manifestações do Su-premo Tribunal Federal10.

Assim, esse tipo de alegaçãonão tem fundamento, e é impossí-

“A natureza do pagamento das anuidades

do CORECON não é contratual. Trata-se,

rigorosamente, de contribuição de

natureza tributária, amparada no art.

149 da Constituição Federal, na Lei

6994/82 e na própria Lei 1411/51”.

8Freitas et alii. Conselhos de fiscalização profissional - doutrina e jurisprudência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, , 2001. p. 119.9Freitas et alii, op. cit., pp. 131-132.10 MS 21.797/RJ, Relator Min. Carlos Velloso; RE 138.284-CE, Relator Min. Carlos Velloso; ADIn 1717-6-DF, Relator Min. Sidney Sanches.

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vel deferir pedidos de remissãode débitos nele baseados.

7 – Fato gerador daexigibilidade dascontribuições dos conselhos

O encaminhamento da ques-tão anterior (natureza tributáriada Contribuição aos Conselhos)permite responder a outra per-gunta, freqüentemente ventiladanos pedidos de cancelamento: anão-exigibilidade do registro atualafasta a exigibilidade do tributoreferente aos exercícios em quea empresa esteve registrada? Emoutras palavras, se a atividade daempresa não exige registro, épossível e obrigatório exigir-lheas anuidades referentes aos pe-ríodos em que esteve registrada?

Entendemos que sim, basica-mente porque o fato gerador dasanuidades é a manutenção do re-gistro ativo nos Conselhos. Veja-mos por que: Na seção anterior, jáfoi demonstrado que as anuidadese demais contribuições têm natu-reza de obrigação tributária. Emsendo tributo, portanto prestaçãopecuniária compulsória, a Contri-buição é devida exclusivamenteem função do fato gerador, e nãoem função de algum serviço espe-cífico e divisível prestado direta-mente ao sujeito passivo (arts. 3oe 4o do Código Tributário Nacio-nal). E o fato gerador da Contri-buição aos Conselhos é o exercí-cio da profissão (tanto o efetivoquanto o presumido, que ocorrequando o profissional mantémativo o seu registro):

Aliás, a exigência dessasanuidades não está ligada a

qualquer atividade estatal ajustificar a classificação daespécie como taxa. O fatogerador das anuidades é,sim, como consta nas váriasleis de instituição dos con-selhos, o exercício, por pes-soa obrigada à inscrição(pessoa física habilitada oupessoa jurídica, mediantecontratação de profissionalhabilitado), da atividadeprofissional regulamentada,o qual, entretanto, é presu-mido quando a pessoa, ape-sar de não exercer a profis-são, mantém seu registro noconselho competente.11

No mesmo sentido, jurisprudên-cia específica da Justiça Federal:

Irrelevante que se comprovea desativação da empresa -o que não ocorreu - poisuma vez registrada a pessoajurídica no órgão de classe,não requisitada sua baixa,torna-se obrigatória a qui-tação das obrigações le-gais, sob pena de sujeiçãoàs penalidades cabíveis.Precedente: AC Reg n.92.03.14913-9, j. 50-08-92,v.u.; DOESP 26-10-92, cad.1, p. 167, Rela. Juíza LúciaFigueiredo (CREA) (TRF-

Ac. Apel. Cív. N. 83.736-SP,09-06-1993, Rela. JuízaLúcia Figueiredo)12

Posta a questão em tese, nãoresta dúvida - pelas razões ex-postas acima – de que a anuida-de dos exercícios em que a em-presa ou o profissional permane-ceram registrados é exigível (esendo um tributo exigível, não háhipótese legal de o CORECONdeixar de cobrá-lo), pois o seufato gerador é o registro (que foipedido pela empresa e cuja baixanão foi solicitada senão na datado pedido de cancelamento, nãopodendo ser feita de ofício peloCORECON em caso - como opresente - de empresa que per-manece em funcionamento).Teleologicamente, a empresapôde - por sua própria opção, aonão cancelar o registro - exercerqualquer das atividades própriasda profissão durante todo esseperíodo. Se não fez a opção deexplorar esse campo de ativida-de, podendo fazê-lo, é matéria deordem interna que não cabe aoCORECON examinar.

Não ignoramos que, na prática,existe mais uma vez um grandereceio no âmbito do sistemaCOFECON/CORECON´s de quecasos da espécie redundem emderrotas judiciais, citando-se, ge-

“Se a atividade da empresa não exigeregistro, é possível e obrigatório

exigir-lhe as anuidades referentes aosperíodos em que esteve registrada?”.

11(Freitas et alii. Conselhos de fiscalização profissional - doutrina e jurisprudência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, , 2001. p. 119)12 Apud Watanabe, Ippo & Pigatti Jr,. Luiz. Dicionário de decisões tributárias federais. São Paulo: Ed. Oliveira Mendes, 1998. p. 365.

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nericamente, exemplos anterio-res. Há, sim, precedentes de lití-gio (em relação a empresas defactoring). Por solicitação nossa,a Secretaria e a Assessoria Jurí-dica do CORECON/MG fornece-ram exemplos de peças processu-ais mais significativas da JustiçaFederal em que o Regional de Mi-nas Gerais esteve envolvido. E oque nos revela esse levantamento?

Curiosamente, a “unanimidadejudicial” não é tão unânime assimsequer na primeira instância. Oprocesso 1998.16663-213 declaraa improcedência de execução deanuidades “por não estar aembargante sujeita a registro jun-to ao embargado”. No entanto,toda a fundamentação da senten-ça versa sobre a não-exigibilida-de de registro , nada tratando arespeito do fato gerador da anui-dade. O mesmo faz o processo1998.38.00.030413-20 . No mes-mo sentido, o processo1996.35183-0 julga improcedentea execução, “tendo em vista aausência de vínculo entre aembargante e o Conselho Regio-nal de Economia”. Nada, ainda, arespeito da natureza do fato ge-rador da obrigação tributária. Jáo processo 93.0000706-8 contémsentença de primeira instânciarechaçando os embargos da

factoring, mas por considerá-lasujeita ao registro (sentença re-formada por acórdão do TRF,que, porém, se limita no dispositi-vo, a reafirmar a não-exigibilida-de de registro, sem explicitar de-cisão a respeito das anuidades).Por fim, no processo 98.029400-00 o Judiciário explicitamentereconhece que, embora não es-tando sujeita ao registro, “tendoem vista que a suplicante reque-reu espontaneamente sua inscri-ção no CORECON, deve amesma formular pedido de can-celamento do referido registrojunto ao órgão fiscalizador”, su-cumbindo a embargante no pedi-do de cancelamento de anuida-des. Contraditória, portanto, ajurisprudência que nos é dada aconhecer. E - mais importante -em nenhum momento as decisõescolocam em questão, nas razõesde decidir, a questão de quandosurge a obrigação tributária, limi-tando-se a discutir a exigibilidadeou não do registro para o exercí-cio comercial do factoring (salvoindiretamente no último processocitado, exatamente para dar ra-zão à posição do Conselho).

Mas seria muito menosprezara Justiça Federal acreditar que,diante de questionamentos dessanatureza, não houvesse examina-

do com rigor os fundamentostributários da matéria. E umapesquisa simples na jurisprudên-cia do Tribunal Regional Federalda 1a Região mostra um claro ecopioso acolhimento da tese queaqui sustentamos (grifos nossos):

ADMINISTRATIVO E TRI-BUTÁRIO. CONSELHOSDE FISCALIZAÇÃO PRO-FISSIONAL ANUIDADES.NATUREZA TRIBUTÁ-RIA. EXECUÇÃO DE DÍ-VIDA ATIVA.- As anuidades devidas aosconselhos de fiscalizaçãoprofissional constituem-se emcontribuições parafiscais e,portanto, têm natureza tributá-ria. Independem do exercí-cio efetivo da profissão,bastando a existência deinscrição no conselhofiscalizador para que sepossa cobrar as anuidadesdos inscritos no órgão.- Remessa oficial improvida.TERCEIRA TURMA SU-PLEMENTAR - REO1997.01.00.032470-7 /BA -DJ 03 /09 /2001 P.139

ADMINISTRATIVO. ANUI-DADE DE CONSELHOPROFISSIONAL. INEXIS-TÊNCIA DE PROVA DOPEDIDO DE BAIXA DEINSCRIÇÃO. ARGÜIÇÃODE SUCESSÃO DE PES-SOA JURÍDICA NÃOCOMPROVADA.I. Para fins de exclusãodas anuidades dos conse-lhos profissionais, não ésuficiente a prova de que oprofissional deixou deexercer a atividade res-

“As anuidades independem do exercícioefetivo da profissão, bastando a

existência de inscrição no conselhofiscalizador para que se possa cobrar as

anuidades dos inscritos no órgão”.

13Todos os processos tramitaram na Seção Judiciária de Minas Gerais da Justiça Federal e no Tribunal Regional Federal da 1a Região (acesso online às ementas:www.trf1.gov.br)

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pectiva, impõe-se a com-provação do pedido de bai-xa de inscrição.II. A argüição da ocorrênciade sucessão de empresas, nãocomprovada nos autos, é insu-ficiente para afastar a exigibi-lidade do débito da devedora.III. Recurso improvido.QUARTA TURMA - AC1998.01.00.073895-0 /MG -DJ 23 /11 /2000 P.98

PROCESSUAL CIVIL. JUL-GAMENTO ANTECIPADODA LIDE. CERCEAMENTODE DEFESA. LEF, ART. 17,PARÁGRAFO ÚNICO.I. Para a caracterização decerceamento de defesa nãobasta que a dilação probatóriatenha sido obstruída, impõe-se,a mais, que seja necessária aodeslinde da causa.II. Para fins de exclusão dasanuidades dos conselhosprofissionais, não é suficientea comprovação de que o pro-fissional deixou de exercer aatividade respectiva, impõe-se a comprovação do pedidode baixa de inscrição.III. Apelo improvido.QUARTA TURMA - AC96.01.20635-3 /GO - DJ 17 /03 /2000 P.197

EXECUÇÃO FISCAL -ANUIDADES EXIGIDASPELOS CONSELHOSFISCALIZADORES DEPROFISSÕES REGULA-MENTADAS - EXIGIBILI-DADE MESMO SEM OEXERCICIO DA PROFIS-SÃO, CASO SUBSISTENTEO REGISTRO.1 - MESMO QUE NÃOMAIS EXERÇA A PRO-FISSÃO PARA A QUAL

ERA NECESSÁRIO O RE-GISTRO NO ÓRGÃOFISCALIZADOR PRÓ-PRIO, SUBSISTEM ASOBRIGAÇÕES RELATI-VAS AO PAGAMENTO DEANUIDADE E DE COM-PARECIMENTO ÀSELEIÇÕES, CASO OPROFISSIONAL NÃO TE-NHA REQUERIDO BAI-XA DE SUA INSCRIÇÃO.2 - APELAÇÃO A QUE SENEGA PROVIMENTO.TERCEIRA TURMA - AC94.01.13035-3 /GO - DJ 20 /04 /1995 P.22607

Para nossa surpresa (diante dotemor ainda prevalecente no âmbi-to de nossas instituições), o próprioCORECON/MG já teve causa emque essa tese, precisamente, fun-damentou o seu sucesso na lide:

EMBARGOS DO DEVE-DOR - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA - COBRANÇADE ANUIDADE - ARGÜIÇÃODE NÃO EXERCER A PROFIS-SÃO COMO EXCLUDENTEDO PAGAMENTO - DESCABI-MENTO - CONSTITUCIONA-LIDADE DA EXAÇÃO.

1 - A inscrição no conselhoprofissional faz surgir a obriga-ção de pagar a respectiva anui-

dade, independentemente doefetivo exercício da atividade.

2 - Não é inconstitucional aexigência de anuidade por conse-lho profissional, em vista do dis-posto no artigo 149, da Lei Maior.

3 - Apelação desprovida..TERCEIRA TURMA SU-

PLEMENTAR - AC1997.01.00.014738-6/MG - DJ 29/04 /2002 P.503

Nada mais permite hesitar: aanuidade é devida em relaçãoaos períodos em que a empresaou o profissional manteve o seuregistro, sem solicitar-lhe a baixa.Outra não poderia ser a posiçãopor nós defendida. Impossível,portanto, por falta de qualqueramparo legal, a remissão de débi-tos requerida nestes casos.

8 - Liberdade negativa deassociação em relação aosconselhos profissionais

Um dos temas mais difíceisque podem emergir de um pro-cesso de registro ou fiscalizaçãoé o da liberdade negativa de as-sociação. É um sutil argumentode interpretação constitucional,que envolve matéria de enormepotencial polêmico e que, se nãoabordado adequadamente noâmbito dos conselhos, pode en-

“Para fins de exclusão das anuidades dosconselhos profissionais, não é suficiente

a comprovação de que o profissionaldeixou de exercer a atividade respectiva,

impõe-se a comprovação do pedido debaixa de inscrição”.

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sejar gravíssimas conseqüênciaspara a profissão como um todo.Trata-se da questão sobre se aobrigatoriedade de inscrição emanutenção do registro noCORECON, com os encargoscorrespondentes, violaria a liber-dade negativa de associaçãoconsagrada na Constituição.Nos termos em que coloca aquestão um dos interessados emcancelamento de registro noCORECON/MG: “a associaçãoou não a órgão de classe é umagarantia constitucional do indiví-duo, não podendo este ser priva-do do seu direito de exclusãoquando não lhe interessar maisintegrar seu quadro de filiados”.

Vejamos, inicialmente, a fonteconstitucional dessa garantia doindivíduo. O art. 5º da Constitui-ção Federal consagra diversosincisos ao direito de associação:

XVII - é plena a liberdade deassociação para fins lícitos,vedada a de caráter paramilitar;

XVIII - a criação de associ-ações e, na forma da lei, ade cooperativas independemde autorização, sendo veda-da a interferência estatal emseu funcionamento;XIX - as associações só pode-rão ser compulsoriamente dis-solvidas ou ter suas atividadessuspensas por decisão judicial,exigindo-se, no primeiro caso,o trânsito em julgado;XX - ninguém poderá sercompelido a associar-se ou apermanecer associado;XXI - as entidades associati-vas, quando expressamenteautorizadas, têm legitimidadepara representar seus filiadosjudicial ou extrajudicialmente;Verificamos, portanto, que a

inquestionável garantia de perma-necer ou não associado (incisoXX), segundo sua própria decisão,é plena em relação às associa-ções, sobre as quais versam osdispositivos citados. Pois bem, o

CORECON não é uma espéciedo gênero “associação”, de livrecriação (incisos XVII e XVIIIacima citados), nascida da iniciati-va de particulares. Ao contrário,trata-se de uma figura de direitopúblico, criada por lei, cujaabrangência a todo exercente daprofissão é definida ex lege (pelaLei 1411/51). Trata-se deautarquia, figura criada pelo ve-tusto Decreto-lei 200/67, consoan-te farta jurisprudência14. Tal in-terpretação vem de ser ostensiva-mente reiterada pelo SupremoTribunal Federal, quando se ampa-ra na Constituição para mantercomo autarquias os Conselhosfrente à tentativa de retirar-lhestal natureza, contida no art. 58 daLei 9649/98, fulminada por incons-titucional pelo julgamento da ADIn1717/6-DF. Portanto, de um pontode vista formal, o dispositivo cons-titucional que poderia ser levanta-do em favor da aplicabilidade daliberdade negativa de associaçãonão se aplica ao caso concreto dafiliação aos Conselhos Profissio-nais, pois dirige-se, explicitamente,a outro tipo de associação.

É necessário, porém, seguiralém da interpretação literal e dis-cutir o sentido teleológico dafiliação obrigatória. Qual o sentidoúltimo de sua imposição no ordena-mento jurídico? Desconhecemosestudos específicos sobre estetema no Direito Brasileiro, mas nãosurpreende que tal modelo e talfiliação em inúmeras categoriasprofissionais seja imposto nas maisvariadas tradições jurídicas -documentadamente, Alemanha,Itália Espanha, Portugal, Áustria,Holanda e Suíça, regime público e

14Vide, por exemplo, TRF 5a Região, 1a Turma, relator Juiz Orlando Rebouças, AI 00501216-5/9, DJ 18.01.1991, p. 25.957; STF, Tribunal Pleno, MS 22.643-9/SC, relator Ministro Moreira Alves, DJU 04.12.1998; STF, Tribunal Pleno, MS 10.272/DF, relator Ministro Victor Nunes Leal, DJU 11.07.1963, p. 53; todoscitados em Freitas et alii. Conselhos de fiscalização profissional : doutrina e jurisprudência. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2001. pp. 72-73.

“O dispositivo constitucional quepoderia ser levantado em favor da

aplicabilidade da liberdadenegativa de associação não se

aplica ao caso concreto da filiaçãoaos Conselhos Profissionais, poisdirige-se, explicitamente, a outro

tipo de associação”.

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filiação obrigatória; França, regimepublicístico ou privado indefinido efiliação também obrigatória15.

E é nesta tradição quase uni-versal da auto-regulamentaçãoprofissional que vamos encontrara referência aos fundamentos dainterpretação teleológica que nosé exigida. Em particular, o en-frentamento do tema pelo Tribu-nal Constitucional espanhol, nummarco institucional das organiza-ções profissionais bastante análo-go ao brasileiro, fornece-nos achave: ainda que constituídaspelos profissionais, as corpora-ções de fiscalização são espéciedistinta de associações (em senti-do lato), e os fins públicos quetêm a si encomendados exigemum regime distinto do das associ-ações privadas. Literalmente:

Los Colegios, dice elTribunal, no sonasociaciones o al menos sólolo son en parte; antes alcontrario, estánconfigurados por su Leyreguladora comoCorporaciones públicas queno dependen sólo de lavoluntad de sus asociadossino también del propioEstado. Pues bien, como noson asociaciones, quedanexcluidos del art. 22 CE (*),por lo que en ningún caso laadscripción forzosa alColegio profesional podrávulnerar la vertientenegativa del derecho deasociación: “aunque siendoen cierto modo asociaciones,constituyen una especial opeculiar clase de ellas con

reglas propias (art. 36)distintas de las asociacionesde naturaleza jurídico-privada, es claro que nopuede serles aplicable elrégimen de éstas. (...) Eslógico que una conjunciónde fines públicos y privadosno deben siempre verse comorestricciones o limitacionesinjustificadas de la libertadde asociación, sinojustamente como garantía deque unos fines y otrospuedan ser satisfechos (...). Yes que al cumplirse por losColegios Profesionales otrosfines específicos,determinados por laprofesión titulada, deindudable interés público(disciplina profesional,normas deontológicas,sanciones penales yadministrativas, recursosprocesales), ello justificainnegablemente la opcióndiferida al legislador pararegular aquellos colegios ypara configurarlos comohace la Ley 2/1974 que ennada vulneran el contenidode la norma constitucionalhabilitante, ni tampoco elartículo 22”.16

(*) Art. 22 da Constituiçãoespanhola: “1. Se reconoce elderecho de asociación. 2.Las asociaciones quepersigan fines o utilicenmedios tipificados como de-lito son ilegales. 3. Lasasociaciones constituídas alamparo de este artículodeberán inscribirse en un

registro a los solos efectosde publicidad.. 4. Lasasociaciones sólo podránser disueltas o suspendidasen sus actividades en virtudde resolución judicial moti-vada. 5. Se prohíben lasasociaciones secretas y lasde carácter paramilitar.”Art. 36 da Constituição espa-nhola: “La ley regulará laspeculiaridades propias delrégimen jurídico de losColegios profesionales y elejercicio de las profesionestituladas, La estructura in-terna y el funcionamientode los Colegios deberánser democráticos.” 17

Há ainda outro argumento, demaior sutileza. Caso o direito doprofissional registrado nos Conse-lhos de deles afastar-se fosse ilimi-tado ou potestativo, bastaria o seudesejo de excluir-se para que pu-desse subtrair-se às obrigações dedisciplina profissional que a lei im-põe (tendo o Conselho como seuinstrumento). Se assim fosse, todoo arcabouço jurídico da regulaçãoe fiscalização profissional atravésdas autarquias conformadas comoConselhos ou Ordens seria rigoro-samente inútil, uma vez que qual-quer um poderia eximir-se daregulação estabelecida pela lei eigualmente prosseguir no exercícioda profissão, o que seria um absur-do lógico e social.

Desnecessário dizer que osConselhos (com finalidade própriae privativa, definida taxativamentepelas respectivas leis de regênciada profissão) não se confundemnem se substiutuem a qualquer

15Moreira, Vital. Auto-regulamentação profissional e administração pública. Coimbra, Almedina, 1997. p. 272.16Saz, Silvia. Los colegios profesionales. Madrid: Marcial Pons/Colegio de Abogados de Madrid, 1996. pp. 69-7017Constitución Española. Madrid: Editorial Civitas, 1998. pp. 26 e 29, respectivamente.

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outra associação, voluntária ounão, não afetando no mais mínimoa liberdade constitucional de asso-ciação. Esta constatação é maisclaramente abordada na doutrina:

Tema incontornável na abor-dagem doutrinal das corpora-ções profissionais é o de suacompatibilidade e das suas rela-ções com as associações sindi-cais e outras associações profis-sionais para a mesma profissão.

O princípio é o de que a exis-tência da ordem não preclude aliberdade sindical dos respecti-vos membros, nem a liberdade deassociação profissional em ge-ral, podendo eles estar simulta-neamente filiados na ordem, numsindicato e numa associaçãoprofissional privada18.

Por mais complexa que seja, estanão é uma questão menor: o trata-mento equivocado deste argumentopor parte das autarquias corporativaspoderia ensejar gravíssimas con-seqüências, desorientando os jul-gamentos dos conselheiros e ge-rando precedentes judiciais funda-mentados em raciocínios inválidos,especialmente quando ainda exis-tem respeitáveis opiniões em con-trário19. Diante disto, é necessáriolevantar mais este tema para am-pla discussão e conhecimento.

9 – Ausência completa deregulamentação dasatividades referentes àeconomia ambiental

O ramo da Economia do meioambiente e suas inúmeras ramifi-cações práticas (por exemplo, aelaboração de estudos de impac-to e controle EIA/RIMA e PCA/RCA, as auditorias e as perícias

ambientais) é florescente emtodo o País, e tem um marcadocorte interdisciplinar. Corajosa-mente, muitos economistas avan-çam nessa direção de tanta im-portância para a profissão e paraa sociedade.

E nesse ramo, por mais exube-rante que seja do ponto de vistatécnico e profissional, não dispo-mos de qualquer regulamentaçãodo COFECON, no desdobramen-to da lei regulamentadora da pro-fissão. Por mais que tentemosestender, por analogia, os dispositi-vos das Resoluções existentes,não há qualquer brecha paratipificar o campo da EconomiaAmbiental entre aqueles regula-mentados para a profissão (nãoobstante a gritante constatação datécnica e da prática: há economis-tas atuando no ramo ambiental,desenvolvendo-o, e muito bem).

Assim, à míngua de qualquerinstrumento normativo, não é pos-sível aplicar qualquer iniciativa defiscalização no ramo ambiental-por absurda que seja essa situa-ção. Assim, qualquer processosuscitado nos CORECONs (defiscalização ou denúncia, porexemplo) tem por ora de ser ar-quivado, nos termos do art. 5º daResolução 1533/85 (não porquesejam atendidas eventuais exigên-cias feitas pelo CORECON, masporque este não dispõe do instru-mento normativo que o habilite afazer exigências).

Mais importante, entendo serindispensável tentar preencheressa absurda lacuna normativa,fruto de longos anos de descasodo Sistema COFECON/CORECON´s para com suas ati-vidades finalísticas e que deixam

ao desamparo o profissional eco-nomista que, pioneiramente, lavrao campo da Economia Ambiental.Uma vez mais, reiterando nesteartigo exortação que já fizemos aoCOFECON, nos autos de proces-sos de fiscalização, é necessáriodenunciar que não existe no siste-ma normativo da profissão deeconomista qualquer tratamentoregulamentador da área profissio-nal de economia do meio-ambien-te e dos recursos naturais, consti-tuindo grave omissão das entida-des de fiscalização dos economis-tas para com a sociedade quedevem proteger e deixando aocompleto desamparo os integran-tes da Categoria que dividem aárea com outros profissionais.Impõe-se, portanto, com a máxi-ma urgência, a elaboração de Re-solução regulamentando a matéria(ainda à luz da Lei 1411/51).

10 – Enquadramento dasatividades de publicação eeditoração em economia

Outro setor empresarial degrande vitalidade, que ocasional-mente é visitado pela atividade defiscalização dos CORECONs, éo de comercialização e editora-ção de relatórios, boletins, rese-nhas, periódicos, livros, informessobre empresas e setores de ati-vidades, ativos financeiros, proje-ções e previsões de indicadoresmacroeconômicos. Enfim, as pu-blicações especializadas em Eco-nomia. Diante de uma empresadesse mercado, como deve situ-ar-se o Conselho fiscalizador?

Entendo que, uma vez caracte-rizado que o ramo de mercadoatendido pela empresa é estrita-

18 Moreira, Vital. Auto-regulamentação profissional e administração pública. Coimbra, Almedina, 1997. p. 272.19 Listadas em Freitas et alii. Conselhos de fiscalização profissional : doutrina e jurisprudência. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2001. pp. 155-157 e 203-204.

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mente o de imprensa, através daedição de publicações de naturezatécnica, não se trata de entidadeinserida na profissão de economis-ta. Se este for o objetivo social(formalmente e na prática), a em-presa não será senão uma editora,tendo por produto livros ou revistasdestinadas ao público em geral.Ainda que intervenham economis-tas como articulistas ou colabora-dores, a empresa se limita a veicu-lar em suas páginas os conteúdosinformativos gerais sobre algumtema. Convém lembrar que o art.1º da Lei 6389/80 trata especifica-mente dessa situação, quando de-termina que “O registro de empre-sas e a anotação dos profissionaislegalmente habilitados, delas encar-regados, serão obrigatórios nasentidades competentes para a fis-calização do exercício das diversasprofissões, em razão da atividadebásica ou em relação àquela pelaqual prestem serviços a terceiros”.

Diferente será, no entanto, sea atividade envolver estudo ouaconselhamento direto a clientesindividuais, pessoas físicas oujurídicas, nas diferentes modali-dades previstas na Resolução860/74, art. 1º (“estudos, pesqui-sas, análises, relatórios, parece-res, perícias, arbitragens, laudos,certificados, ou por quaisqueroutros atos, de natureza econômi-ca ou financeira, inclusive pormeio de planejamento, implanta-ção, orientação, supervisão ouassistência dos trabalhos relativosàs atividades econômicas ou fi-nanceiras, em empreendimentospúblicos, privados ou mistos”),quando então deixará a simples

editoração jornalística para in-gressar na aplicação prática dosaber econômico em problemasconcretos, incidindo de pleno naárea de atuação própria de umaempresa de serviços profissionaisde Economia (atividade técnicade economia e finanças), nostermos do art. 14, parágrafo úni-co, da Lei 1411/51, quando entãoser-lhe-á exigível, nessa novasituação, o registro.

11 – Conclusões provisórias –uma agenda de trabalho

As discussões travadas nesseempreendimento, e os resultadosjá produzidos pelas decisões doscolegiados da profissão, são umpatrimônio da Categoria que énecessário organizar e transfor-mar em ferramenta de reflexão eação. A ação miúda, o varejo dodia-a-dia de cada processo defiscalização ou registro, represen-ta a essência da missão das enti-dades de economistas: ninguémmais pode cumprir esse papel, ea falta de mais e melhores açõesmiúdas tem deixado fragilizados,há muito tempo, os economistasenquanto profissionais.

O Conselho Federal de Eco-nomia vem de adotar, em épocamuito recente, iniciativas parasistematizar conhecimentos sobreos principais tópicos que surgemnesse tipo de ação. Iniciativa

importantíssima, que tem queganhar dinâmica própria e mantercontinuidade. Que tem que tercomplemento em ações de disse-minação, debates, oficinas detrabalho, aproveitando todos osmomentos em que se encontremos conselheiros e funcionáriosdos Conselhos que lutam a cadadia para defender a instituição, aprofissão e a sociedade a que aprofissão serve20.

Estas notas procuram ofere-cer pequenas contribuições pon-tuais a esta tão sonhada arran-cada, e sobretudo fixar no deba-te público entre os profissionais,com toda a intensidade que pu-derem alcançar, a imagem deuma agenda de trabalho aindapor cumprir, extensa e crucialpara a profissão. Porque o desa-fio diante de todos não permitemais esperar:

Presume-se, pois, ou consta-ta-se, continuar existindoum mercado de trabalhopróprio do economista. Masé um mercado, também ele,mutante, uma constantefervet opus. Mutante pordinamismo e méritos própri-os, mutante em razão demudanças externas no mun-do social, e mutante comoreação categorial a açõesde antropofagia e canibali-zação de que se diz vítima,com ou sem razão21.

20 Neste sentido, os Simpósios Nacionais dos Conselhos de Economia (SINCE), eventos bianuais da Categoria voltados para as questões de interesseespecificamente corporativo, são oportunidades inestimáveis para manter discussão permanente sobre essa matéria (aprofundando o conteúdo dos temase democratizando o conhecimento entre todos os caminheiros dessa jornada).

21 Mendes, Armando Dias. O Economista e o ornitorrinco – ensaios sobre a formação e a profissão dos economistas. Brasília:Coronário EditoraGráfica, 2001. p. 55.

* Fernando Moutinho Ramalho BittencourtAnalista do Tribunal de Contas da União e

Conselheiro do CORECON/MG

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abr/jun de 20043030303030Revista de conjuntura

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Resumo

Levantamento do perfil, situa-ção de emprego, nível econômico econscientização de dois grupos dealunos de graduação dos cursos deAdministração, Economia, Direito,Farmácia, Fonoaudiologia e Pro-cessamento de Dados, sendo oprimeiro, de estudantes matricula-dos no primeiro período,em 2000 e2001, na UNIP/DF e CESUBRA/DF, em Brasília, e o segundo, dealunos formandos matriculadosem 2003. O perfil predominantedos alunos pesquisados é de adul-tos oriundos do Centro-Oeste,Distrito Federal e Entorno, compredominância do sexo masculino(62%). A maioria é solteira, pro-veniente de famílias pequenas,fazendo seu primeiro curso superi-or, e vem do segundo grau formal.A metade estudou na rede públicaescolar. Quanto à situação de em-prego e desemprego, bem comonível econômico e grau de cons-cientização desses estudantes emrelação ao seu curso e à situaçãogeral econômica e social , esteestudo apresenta as principaisdiferenças entre os dois grupos.

A R T I G O

Situação de emprego do alunode graduação em Brasília:um estudo de caso

Humberto Vendelino Richter *

1. Introdução

Um dos principais efeitos daglobalização tem sido o crescen-te nível de desemprego nasgrandes capitais do País, emespecial em Brasília. O desem-prego no Distrito Federal e En-torno é um dos mais elevados doPaís, sendo cerca de 21% daPEA em 2001 e 23% em 2003.Esse desemprego apresenta ca-racterísticas do tipo estrutural,causado principalmente por fato-res tais como declínio crescentedo emprego público, crescenteautomatização das atividadesprodutivas, aumento das exigên-cias das empresas quanto à qua-lificação e escolaridade dos tra-balhadores, recessão econômica,com diminuição da atividade em-presarial, e migração intensa.Segundo os últimos dados daCODEPLAN/DF e do DIEESE/DF, mesmo entre os trabalhado-res com 3ºgrau completo, o de-semprego cresceu, em doisanos, de 2,4% para 4,8%.

Por outro lado, a proporção dealunos matriculados em cursossuperiores vem crescendo conti-

nuamente nos últimos anos. Se-gundo dados do MEC, o cresci-mento tem sido superior a 40%ao ano nestes dois últimos perío-dos escolares. Na Sessão Espe-cial a respeito da “Discussão so-bre diretrizes curriculares do cur-so de Economia”, levada a efeitono XV Congresso Brasileiro deEconomistas, realizado de 10 a13 de setembro último emBrasília, ressaltou-se, durante asapresentações e discussões, queo aumento da demanda por cur-sos superiores tem por motivoprincipal a conquista de oportuni-dades de trabalho e/ou emprego,uma vez que a maioria dos jovensque terminam o segundo grauestão encontrando um estreito edeclinante mercado de trabalho.

Já existem diversos estudossobre a evolução do desempre-go, bem como de suas possíveiscausas, entre elas um destaquepara o processo de globalização.SOARES (2001) procurou rela-cionar o processo de liberaliza-ção comercial e financeira como mercado de trabalho brasileirono período de 1990/99. Anali-sando diversos trabalhos de ou-

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abr/jun de 20043232323232Revista de conjuntura

tros autores, bem como dadosde MAIA, chegou à conclusãode que “houve perda considerá-vel de empregos em virtude daabertura comercial”. As princi-pais causas foram a entrada debens de consumo intermediário ede capital (importações) e au-mento da produtividade direta dotrabalho de 5,3%.

O aumento dessa produtivida-de do trabalho diminuiu o empre-go de trabalhadores menos quali-ficados em 7%, e aumentou oemprego de trabalhadores qualifi-cados em 16%, segundo dadosde BARROS e CORSEUIL(2001). A possível causa paraisso parecem ser mudanças natecnologia da produção que têmfavorecido o aumento no rendi-mento relativo dos trabalhadorescom nível universitário.

Como foi enfatizado porBARROS (1997), existem pou-cas análises sobre a estrutura dodesemprego. Há diversas pes-quisas, como o PNAD, o PME ea PED, com uma grande riquezade informações e de dados, que,no entanto, não têm merecidomuitas análises, com poucas ex-ceções, como os textos deCORSEUIL (1994, 1996) e deAMADEO (1994).

Sobre a estrutura do desem-prego ao nível dos estudantes uni-versitários, não encontramos qua-se nenhuma análise. No seu estu-

do, BARROS analisou a estruturado desemprego em São Paulo eRecife para o período 1982/83,com base em informações conti-das no PME. Em relação ao níveleducacional geral, ele verificouque a variabilidade da taxa dedesemprego educacional não émonotônica. E mais ainda, que aeducação superior “tende a redu-zir a possibilidade de um trabalha-dor ficar desempregado, apesarde tender a elevar a duração dodesemprego caso este venha aocorrer”. Parece que o desempre-go está muito mais relacionadocom a estreiteza do mercado detrabalho do que com o nível deeducação. Como já foi dito emoutros textos, estudar não garanteemprego, mas não estudar resultaem desemprego certo. Uma hipó-tese é a de que a demanda pordeterminados cursos superioresestá relacionada diretamente coma expectativa da amplitude domercado de trabalho. Para testaressa hipótese, é necessário conhe-cer a estrutura do desemprego deestudantes universitários, bemcomo as suas aspirações em ter-mos de mercado de trabalho.

2 – Objetivo

O objetivo deste trabalho é ode comparar a situação de em-prego e desemprego de alunosem início de curso e alunos for-

mandos, bem como seu perfil,nível econômico e grau de cons-cientização em relação a seu cur-so e à situação do País.

3 – Metodologia

3.1. O levantamentoPara levantamento desses

dados foi elaborado um formulá-rio de duas páginas a ser respon-dido pelo aluno.

Foi planejada uma primeirafase, pesquisando inicialmente oprimeiro grupo dos que estão ma-triculados nos dois primeiros anosnos cursos de Economia, Direito,Administração, Farmácia, Pro-cessamentos de Dados e Fo-noaudiologia do CESUBRA eUNIB no Distrito Federal.

Na primeira fase, os formulári-os foram aplicados por professoresnas turmas de alunos e se obteve ainformação de 577 respondentes, oque equivale a 45% desse universode alunos em sala de aula.

Na segunda fase, foram apli-cados os mesmos formulários,tendo-se o cuidado de não permi-tir que algum estudante do pri-meiro grupo participasse destasegunda fase. Assim, foram sele-cionados 242 de um total de 280formulários, sendo o universo deformandos composto de 395 alu-nos. Assim, cerca de 61% dosformandos foram analisados.Este grupo de pesquisa compre-ende os alunos formandos doscursos de Administração, Ciênci-as Jurídicas, Fonoaudiologia, Far-mácia, e Computação (Processa-mento de Dados). Não foramincluídos os alunos de CiênciasEconômicas, porque já haviamsido pesquisados no grupo ante-rior. Isto porque o curso de Eco-nomia foi reestruturado para qua-

“O desemprego está muito mais

relacionado com a estreiteza do

mercado de trabalho do que com o

nível de educação”.

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abr/jun de 20043333333333Revista de conjuntura

tro anos, atingindo todos os alu-nos do Curso, de forma que osatuais formandos fariam parte domesmo grupo nas duas fasesdesta pesquisa.

No primeiro levantamento,verificou-se que o conceito deemprego é bastante abrangentepara os pesquisados, misturandotrabalho informal com trabalhoformal. Qualquer atividade remu-nerada ou que obtenha rendimen-tos, desde vender doces até umafunção de estágio, é consideradacomo atividade de trabalho e fon-te de receita necessária paramanter os estudos. Em algunscasos, o rendimento é inferior aovalor da mensalidade, exigindoauxílio financeiro dos pais, princi-palmente. Assim, para esse dadode atividade pode haver mais deuma opção.

Para poder comparar os doisgrupos, foi feita uma recodifica-ção dos dados iniciais e sua novatabulação. Os novos dados tabu-lados foram analisados a partir dofinal do 2º semestre de 2002.

Uma vez analisadas todas asinformações, estão sendo feitosos testes estatísticos necessáriospara determinar a significânciadas possíveis diferenças e poderfazer a comparação entre osdois grupos.

3.2 O modeloNeste estudo, as dimensões

utilizadas para caracterizar a es-trutura do emprego e desempre-go foram as seguintes:

a) sexo;

b) nível educacional;

c) curso;

d) idade;

e) estado civil;

f) nível econômico;

g) tamanho da família;

h) origem;

i) posição no domicílio;

j) setor de atividade atual;

k) posição na ocupação atual;

l) nível salarial atual;

m) situação de dependência;

n) situação de desemprego;

o) opinião sobre o curso, sobre ainstituição e sobre o governo;

p) nível salarial anterior;

q) aspirações após a graduação.A população neste estudo é

considerada como a quantidadede alunos em sala de aula doscursos de Direito, Administração,Economia, Computação e Com-putação-Processamento de Da-dos, Farmácia e Fonoaudiologia.A amostra é não probabilística,ou seja, foi feita amostragem porjulgamento. Segundo MORETTIN(2001) e STEVENSON (1986),essa amostragem não permite aavaliação do erro amostral. Osresultados permitem um racio-cínio dedutivo sobre as variá-veis dos grupos de estudantespesquisados, mas não há certe-za de que essas característicaspermitam que se façam infe-rências sobre as característi-cas de todos os alunos daUNIP/DF e CESUBRA/DF(raciocínio indutivo).

Contudo, os dados obtidosproporcionam uma base para aelaboração de um plano deamostragem aleatória para vali-dar os resultados. A dificuldadeé que a população total de alunosdas duas instituições está emcontínua expansão, ano a ano,e avariabilidade existente na própriapopulação é muito grande.

No caso de variáveis não nu-méricas, ou quantitativas, foi ela-borado um escore numérico re-

presentativo ou proporcional quepermita calcular as diferenças.

As variáveis a calcular são:

D: média da amostra das diferenças

µD: valor das diferenças entre

médias das populações a sertestado, sendo que:

µD: µ

1 - µ

2 = 0

SD: desvio padrão da amostra

das diferenças

n: tamanho da amostradas diferenças

Calculam-se, então, a médiaD e a variância S²

D das diferen-

ças D.Calcula-se, após, o t observado:

Uma vez definido o nível de-sejado de significância a, emgeral de 0,05, realiza-se o testede hipóteses:

H

o:µ

D = 0

H1:µ

D ≠ 0

Para a comparação entre osdois grupos de formandos vai seusar o teste de hipóteses parapopulações com variâncias desi-guais e desconhecidas(MORETTIN 2001):

Ho:µ

B1 = µ

B2

H1:µ

B1 ≠ µ

B2

E a estatística a ser usada será:

Page 34: 18-revista

abr/jun de 20043434343434Revista de conjuntura

4. Comparação entre o grupode alunos em início de curso eo grupo de formandos

O primeiro grupo estudado, de577 alunos, pertencia a um univer-so de 1280 matriculados no ano de2000. O segundo grupo era bemmenor, de cerca de 320 alunos,dos quais apenas 280 estavamregularmente matriculados.

Desses 280 matriculados, foipossível obter respostas de 256,sendo que, após crítica dos formu-lários, foram aproveitados 234.

Essa diferença se deve ao fato deque o campus de Brasília da UNIP érecente e está em grande expansãode cursos e turmas nos dois últimosanos, e a maioria dos seus cursos eos do CESUBRA estão formando asprimeiras turmas em 2003.

Para o ano de 2003, devido aogrande aumento de quantidade deturmas e de novos alunos, o uni-verso de matriculados nas fasesiniciais dos cursos em estudodeve ultrapassar a marca dos3000 alunos. Quanto a forman-dos, a estimativa é de cerca de500 neste ano, sendo que, só emDireito, são 125 formandos.

A seguir, é feita uma compa-ração das características dosdois grupos.

4.1 Características geraisde escolaridade

Na Tabela abaixo são apre-sentados o perfil dos dois grupose sua escolaridade.

Os dados mostram que emalgumas características não hádiferença estatisticamente

significante. Assim, observa-seque a maioria dos entrevistadosdos dois grupos são adultos sol-teiros, oriundos do Distrito Fe-deral, Entorno e de cidades daregião Centro-Oeste, e moramno DF há mais de 10 anos.Apenas 1/3 mora no Plano Pilo-to e arredores. Para a maioria(entre 88 e 90%) é o seu pri-meiro curso de graduação, sen-do que, ao redor da metade fezo segundo grau em escola públi-ca. As maiores diferenças sãode que os alunos do primeirogrupo são de famílias menorese mais de um terço vêm de es-colas técnicas.

Portanto, em termos de ca-racterísticas pessoais gerais eescolaridade, os dois grupos sãomuito semelhantes.

Tabela 1 – Características pessoais gerais e de escolaridade de dois grupos de alunos deEconomia, Direito, Administração, Farmácia, Processamento de Dados e Fonoaudiologia doCESUBRA e UNIP, no Distrito Federal, anos 2000 a 2002, em porcentagem.

CaracterísticasEstudantes em fase Estudantes em faseinicial de curso (%) final de curso (%)

IDADEAté 20 anos 34,4 35,3De 21 a 40 anos 62,0 62,0Mais de 40 anos 3,6 2,7SEXOMasculino 62,0 55,0Feminino 38,0 45,0ESTADO CIVILSolteiro 68,0 55,0Não-solteiro 32,0 45,0ESTADO DE ORIGEMDistrito Federal e Entorno 56,1 57,9Centro-Oeste 11,0 13,9Norte e Nordeste 14,7 13,0Sul e Sudeste 18,2 15,2TEMPO DE RESIDÊNCIA NO DFAté 5 anos 15,2 12,2De 5,1 a 10 anos 7,2 9,1Mais de 10 anos 77,6 78,2LOCAL DE RESIDÊNCIAPlano Piloto e Núcleos Residenciais 33,3 33,0Cidades Circunvizinhas 66,7 67,0TAMANHO DA FAMÍLIAADULTOSAté 3 adultos 55,1 51,4Mais de 3 adultos 44,9 49,6MENORESNenhum menor 47,2 58,5Um menor 27,4 22,6Mais de um menor 25,4 18,9ESCOLARIDADEPrimeiro curso de graduação 88,0 90,0Segundo grau em escola pública 50,5 45,0Segundo grau em escola privada 49,5 55,0Segundo grau em escola técnica 36,0 26,0

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4.2 Situação de empregoe desemprego

As diferenças estatisticamen-te significantes aparecem na situ-ação de emprego. Enquanto queapenas 64,5% dos alunos do 1ºgrupo trabalhavam, os de final decurso já apresentavam 81% ati-vos no mercado de trabalho. As-sim, a proporção de desemprega-dos entre os alunos de início decurso (19%) é quase o dobro(35%) em relação aos forman-dos, mas o tempo de desempregoé maior entre os desempregadosem fim de curso. A proporção de

dependentes, que era de 32% noprimeiro grupo, cai para 4,5%entre os formandos. Portanto,mais de 95% dos formandos seauto-sustentam. Também a exi-gência de escolaridade é maiorpara os formandos: 48,1% delesinformaram que estão exigindo-lhes curso superior, enquanto queapenas 29 % dos alunos de iníciode curso registraram essa de-manda. Finalmente, a proporçãode sócios e/ou proprietários, queera de 7,6% entre os alunos doprimeiro grupo, cresce para12,2% entre os formandos.

No restante das característi-cas, os dois grupos são seme-lhantes, tanto em tempo de ativi-dade como em função (acima de65% trabalham como subalter-nos). Quase metade deles esta-vam ativos há mais de 4 anos,com carteira assinada, e comuma remuneração mensal entre2 e 6 salários mínimos, sendoque quase dois terços trabalhan-do em atividade privada. Menosde um terço trabalha em ativida-de pública.

Na Tabela 2, a seguir, estãoregistrados esses dados.

Tabela 2 – Situação de emprego e desemprego de dois grupos de alunos de Economia,Direito, Administração, Farmácia, Processamento de Dados e Fonoaudiologia do CESUBRA eUNIP, no Distrito Federal, anos 2000 a 2002, em %.

CaracterísticasEstudantes em fase Estudantes em faseinicial de curso (%) final de curso (%)

ATIVIDADE PRODUTIVATrabalham 64,5 81,0Não trabalham 35,5 19,0Dependentes 32,0 4,5TEMPO DE ATIVIDADEAté 2 anos 38,8 32,72,1 a 4 anos 16,7 20,6Mais de 4 anos 45,5 48,7ATIVIDADE ATUALFUNÇÃO PÚBLICA 29,3 26,6ATIVIDADE PRIVADA 72,7 73,4Com carteira assinada 48,9 42,0Sem carteira assinada 14,2 19,2SÓCIO OU PROPRIETÁRIO 7,6 12,2FUNÇÃO NA ATIVIDADEDirigente 4,0 1,6Chefia intermediária 26,1 32,0Subalterno 69,9 66,4ESCOLARIDADE EXIGIDA2º Grau completo 45,0 47,6Curso superior (em andamento ou completo) 29,0 48,1REMUNERAÇÃO ATUAL1 Salário mínimo 2,1 4,6De 2 a 6 salários mínimos 49,9 50,0Mais de 6 salários mínimos 48,0 45,4DESEMPREGADOS 35,5 19,0TEMPO DE DESEMPREGOAté 1 ano 56,7 50,0De 1 a 2 anos 28,3 26,9Mais de 2 anos 15,0 23,1REMUNERAÇÃO1 Salário mínimo 26,7 5,3De 2 a 6 salários mínimos 38,3 73,7Mais de 6 salários mínimos 35,0 21,0

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abr/jun de 20043636363636Revista de conjuntura

4.3 Situação econômica

Tabela 3 – Situação econômica de dois grupos de alunos de Economia, Direito, Administração,Farmácia, Processamento de Dados e Fonoaudiologia do CESUBRA e UNIP, no DistritoFederal, anos 2000 a 2002, em porcentagem.

do curso e 7% dos formandos.Para quase metade dos entrevis-tados nos dois grupos, o custo docurso pesa acima de 30% no or-çamento familiar.

O índice construído para medir onível econômico mostra que 61%dos alunos do início do curso são deum nível econômico “médio alto”, edo final de curso, apenas 58%.

Para os dependentes dos doisgrupos, o maior apoio financeiro(acima de 81%) vem dos pais,sendo que o FIES atendeu ape-nas 2% dos alunos da fase inicial

Características Estudantes em fase Estudantes em faseinicial de curso (%) final de curso (%)

MORADIA

Própria ou da família 74,4 70,8

Alugada 15,2 22,0

TRANSPORTE PARA A ESCOLA

Veículo próprio ou da família 61,2 66,6

Transporte coletivo e outros 38,8 33,4

NÍVEL ECONÔMICO

”Pobre” 20,8 19,1

”Médio baixo” 17,8 23,0

”Médio alto” 61,4 57,9

PESO DO CURSO SOBRE A RENDA FAMILIAR

De 5 a 10% 16,7 20,2

De 10 a 30% 34,7 32,4

Acima de 30% 48,6 47,4

APOIO FINANCEIRO AOS DEPENDENTES

Dos Pais 87,8 82,4

Dos Irmãos e Parentes 4,2 17,6

QUEM PAGA A MENSALIDADE

Pais 72,1 77,0

Irmãos e Parentes 5,5 11,5

FIES 2,0 7,7

Bolsas ou Auxílios 20,4 3,8

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abr/jun de 20043737373737Revista de conjuntura

Tabela 4 – Grau de conscientização de dois grupos de alunos de Economia, Direito,Administração, Farmácia, Processamento de Dados e Fonoaudiologia do CESUBRA e UNIP,no Distrito Federal, anos 2000 a 2002, em porcentagem.

4.4 Grau de conscientizaçãoA visão crítica e o grau de

conscientização dos estudantesentrevistados estão registradosna Tabela 4.

O grau de conscientizaçãoem relação ao nível do curso érelativamente baixo nos dois gru-pos. Parece que a qualidade docurso não preocupa tanto os es-tudantes como o valor da men-salidade, pois a maioria (mais de

65%) acha seu curso mais carodo que o de outras instituições.Embora os alunos dos dois gru-pos sejam otimistas quanto aoseu futuro desempenho no“Provão”, já em relação a possí-vel melhoria do nível do seu cur-so existe diferença de opiniãoentre eles. Enquanto que 66,1%dos alunos iniciantes acreditamque o seu curso vai melhorar an-tes que se graduem, os forman-

dos são mais céticos, pois apenas45,7 % acreditam nessa melhoriaantes de sua graduação.

Os formandos são mais oti-mistas em relação ao desempe-nho do governo do que os alunosdo primeiro grupo. Não se sabese é porque houve mudança degoverno ou porque os formandossão mais envolvidos na visão polí-tico-administrativa da administra-ção pública.

Características Estudantes em fase Estudantes em faseinicial de curso (%) final de curso (%)

AVALIAÇÃO DO CURSO EM RELAÇÃO ÀS CONGÊNERES

Nível melhor ou igual 39,7 37,8

Nível pior 20,6 25,8

Não sabe comparar 39,7 36,4

AVALIAÇÃO DO VALOR DA MENSALIDADE EM RELAÇÃO AO DAS CONGÊNERES

Valor igual ou mais baixo 22,9 26,0

Valor maior 71,5 65,8

Não sabe 5,6 8,2

PERSPECTIVA DO CONCEITO DO CURSO NO “PROVÃO”

Conceito A ou B 28,9 30,4

Conceito C 23,5 22,8

Conceitos D e E 26,5 19,6

Não sabe 24,1 27,2

PRESPECTIVA DE MELHORIA DO SEU CURSO

Antes do término do curso 66,1 45,7

Em alguns anos 27,3 49,5

Nunca 6,6 4,8

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO GOVERNO

Ótimo 0,0 0,5

Bom/Muito bom 11,0 22,5

Razoável 30,5 35,1

Ruim 25,3 22,0

Muito ruim e péssimo 30,2 19,4

Não sabe 3,0 0,5

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abr/jun de 20043838383838Revista de conjuntura

4.5 Nível deaspiração profissional

Na Tabela 5 pode-se observar aaspiração dos alunos dos dois grupos.

5. Resumo dos resultadose conclusões

Além de o universo de estu-dantes em fase final de curso sermenor do que o do grupo inicial,observou-se que a quantidade desolteiros caiu em 20% e que me-nos de 30% eram oriundos decurso técnico de segundo grau.

Os dois grupos estudados sãoindependentes, mas apresentammuitas similaridades, principal-mente quanto às suas característi-cas pessoais gerais e de escolari-dade. Em relação à situação de

atividade no mercado de trabalhoe dependência financeira, há algu-mas diferenças estatisticamentesignificantes, conforme se observanos diagramas do Gráfico 1.

A proporção dos ativos no mer-cado de trabalho cresceu acima de25%, chegando a 81%, e 4,5% dosalunos deste segundo grupo eramtotalmente dependentes econômi-cos. Para todos os respondentes ocusto do curso é considerado muitoalto, ultrapassando 30 % da rendafamiliar. Por isto, cerca de 88,5%ainda pagam as mensalidades do

curso com recurso dos pais ouparentes, e apenas 11,5% têmcomo fonte de pagamento FIES,bolsas e auxílios.

Assim como os estudantes doprimeiro grupo, mais da metadedos possíveis formandos pertenceà classe de nível “médio”. A maio-ria dos pesquisados considera seucurso bom e está satisfeita com asua instituição de ensino. A princi-pal aspiração dos alunos dos doisgrupos é a de trabalharem comoautônomos ou empresários, masprestando serviços ao governo.

Tabela 5 – Nível de aspiração profissional de dois grupos de alunos de Economia, Direito,Administração, Farmácia, Processamento de Dados e Fonoaudiologia do CESUBRA e UNIP,no Distrito Federal, anos 2000 a 2002, em porcentagem.

Características Estudantes em fase Estudantes em faseinicial de curso (%) final de curso (%)

ATUAÇÃO PROFISSIONAL APÓS A FORMATURA

Autônomo ou empresário 29,1 31,8

Profissional liberal 14,2 21,5

Empregado em empresa privada 28,4 14,0

Funcionário público 28,3 32,7

ASPIRAÇÃO DE RENDA APÓS A FORMATURA

Até 5 salários mínimos 2,0 1,0

De 5,1 a 10 salários mínimos 21,3 23,9

De 10,1 a 20 salários mínimos 30,0 29,3

Mais de 20 salários mínimos 46,7 45,8

Não há grande diferençanas aspirações dos alunos dosdois grupos. Cerca de 70%deles aspiram trabalhar na ini-

ciativa privada. E quase meta-de não quer ter “patrão”. Me-nos de 1/3 deseja trabalhar noServiço Público.

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abr/jun de 20043939393939Revista de conjuntura

Gráfico1 – Situação de emprego e dependência financeira

6 – Bibliografia consultada

AMADEO, E. J., ESTEVÃO, M. A teoria econômica do desemprego. São Paulo: Hucitec, 1994.

BARROS, R, P., et allii. A estrutura do desemprego no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, mai, 1997 (Série Textos para discussão nº 478).

BRESSER PEREIRA, L. C. Economia Brasileira. São Paulo: Ed. 34, 1993.

CONJUNTURA ECONÔMICA (Vários números). Brasília, DF.

CORSEUIL, C. H. L. Desemprego: aspectos teóricos e o caso brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, abr. 1994 (Série Seminários, 4/94).

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. “Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal” (Vários números). Brasília, DF.

LAVILLE, C., DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. P. Alegre: Edit.Artes Médicas Sul Ltda. B. Horizonte: Edit. UFMG, 1999.

MATTOSO, Jorge. O Brasil desempregado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999.

NORT, Egon. Brasil rumo ao primeiro mundo. Florianópolis: Ed. do autor, 1997.

RAMOS,Lauro. Emprego no Brasil nos anos 90, IPEA. Brasília, DF (n.º 468).

RICHTER H. V.Emprego e Desemprego ao Nível de Estudantes Universitários - Um Estudo de Caso.São Paulo, UNIP, 2001 (Série Docente).

SOARES, Sergei,SERVO, Luciana M. S., e ARBACHE,Jorge S. O que (não) sabemos sobre a relação entre aberturacomercial e mercado de trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, nov., 2001 (Série Textos para discussão nº 843).

1 - Grupo de estudantes em início do curso

2 - Grupo de formandos

* Humberto Vendelino RichterPhD em Economia e coordenador do curso de Economia do

Centro de Ensino Superior de Brasília (Cesubra).

Ativos no mercadode trabalho

64,5

81

1 2

Dependênciafinanceira

32

4,5

1 2

Com carteiraassinada

48,9

42

1 2

50

48

46

44

42

40

38

Na função pública

29,3

26,6

1 2

30

29,5

29

28,5

28

27,5

27

26,5

26

25,5

25

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abr/jun de 20044040404040Revista de conjuntura

A R T I G O

O valor de existência dos parquesnacionais: o caso do ParqueNacional do Jaú (Amazonas)1

Ricardo Félix Santana*José Aroudo Mota*

Sinopse

Nas últimas décadas, a discussão sobre a utiliza-ção do Valor de Existência (VE) na composição doValor Econômico Total (VET) tem acentuado a ne-cessidade da sua aplicação na formulação de políti-cas públicas ambientais. O seu uso compreende aavaliação de programas e projetos que incluem abusca do desenvolvimento sustentável. Políticasambientais resultam em benefícios para alguns e emcustos para outros. Freqüentemente, os custos deum programa na área ambiental são custos para asociedade envolvida no programa. No caso das Uni-dades de Conservação (UC) de uso indireto dosrecursos, tem sido difícil a quantificação dos benefí-cios sociais que essas áreas geram, em razão dosdiversos valores nelas existentes. Nesses casos,faz-se a avaliação de valores indiretos das funçõesdos ecossistemas. No presente estudo, foi emprega-do o Método de Valoração Contingente (MVC), porintermédio da aplicação de um questionário(survey) por meio eletrônico (e-mail). Como con-texto, foi utilizado o Parque Nacional do Jaú (PNJ),e a população amostrada foi constituída da totalida-de dos bolsistas em Produtividade em Pesquisa(PQ), do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq), os quais declara-ram uma Disposição a Pagar média no valor de R$2,12. Também foram avaliadas questões sobre per-cepção ambiental, conhecimento sobre os ParquesNacionais e dados sócio-econômicos.

Abstract

In the last decades the quarrel on the use of theExistence Value (EV) in the composition of TotalEconomic Value (TEV) is accenting the necessityof its application in the formularization ofenvironment public politics. Its use goes since theevaluation of programs and projects until the searchof the sustainable development. Environment politicsresult in benefits for some and costs for others.Frequently, the costs of one program in theenvironment area are costs for the involved societyin the program. In the case of the ConservationUnits of indirect use of the resources, it has beendifficult the quantification of the social benefits thatthese areas generate in reason of the diverseexisting values. In these cases one becomes throughthe evaluation of indirect values of the functions ofecosystems. In the present study Method ofContingent Valuation was used (MCV), through theone application survey for half electronic (e-mail).As context was used the National Park of Jaú(NPJ), and the showed population was constitutedof the totality of the scholarship holders inProductivity in Research (PR) of the NationalCouncil for Scientific and TechnologicalDevelopment (CNPq). The PR scholarship holdershad arrived at an average Willing to Pay-WTP thevalue of R$ 2,12. Also partner-economic questionson ambient perception, knowledge on the NationalParks and socio-economic data had been made.

1 A pesquisa foi inicialmente publicada como Texto para Discussão nº 1008, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Portanto, esta versão foiresumida a partir do texto original. Agradecemos ao corpo editorial do IPEA pela permissão em publicar este trabalho.

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Introdução

O paradigma da proteção dosrecursos naturais passou de umabusca da conservação de amos-tras representativas de ecossiste-mas – em face do avanço da des-truição do ambiente natural pelasexigências do desenvolvimento –para o enfoque principal sobre aconservação/preservação da bio-diversidade. Cuidado intensivo ebiotecnologia podem preservaralguma diversidade que de outromodo seria perdida. Mas a maiordimensão de tal preservação édemasiadamente pequena secomparada à que pode ou poderiater sido sustentada em reservasnaturais adequadamente projeta-das e protegidas (Conway, 1997).

Pode-se exemplificar o casodas florestas tropicais que vêmsendo eliminadas com altas taxasde desmatamento, como é obser-vado na Amazônia brasileira. Asociedade deve atribuir valoressociais a essas florestas e, dessaforma, valores econômicos de-vem ser conferidos aos produtosmadeireiros e não-madeireiros, àvida silvestre e a outros benefíci-os associados à existência dafloresta, de forma que a análisede custo-benefício relevante pos-sua uma base mais completa emais precisa (Sheng, 1997).

Os pesquisadores dos recursosnaturais estão a cada dia maisconvencidos da importância dadeterminação do valor de existên-cia como uma ferramenta para atomada de decisão sobre aalocação de recursos. Essas eoutras questões da políticaambiental transformam, em gran-de parte, a valoração de áreasnaturais ou a conservação deespécies por pessoas que nãotêm nenhum contato direto comdeterminado recurso, em um fa-tor importante nas tomadas dedecisão (Larson, 1993).

A estimativa do valor de exis-tência é uma ferramenta impor-tante para fundamentar deci-sões, notadamente de políticaspúblicas. Existe um argumentoeconômico para se proteger omeio ambiente, em adição aqualquer questão ética, pois osresultados de políticas públicasambientais resultam em benefí-cios para alguns grupos, e emcustos, para outros (Hanemann,1997; Nogueira e Medeiros,1997; Pearce, 1993; e Bishop eWelsh, 1992). Para Ehrenfeld(1997), “o valor é uma parte in-trínseca da diversidade; não de-pende das propriedades das es-pécies em questão, dos usos quese farão ou não de espécies emparticular ou do seu alegado pa-pel no equilíbrio dos ecossiste-mas globais. Para a diversidadebiológica o valor existe”.

No caso das Unidades deConservação de uso indireto dosrecursos, tem sido difícil aquantificação dos benefícios soci-ais que essas áreas geram, emrazão dos diversos valores nelasexistentes. Ainda assim, grandesesforços têm sido empreendidosno sentido de se medir, em termoseconômicos, esses benefícios, oque tem sido feito por meio daavaliação de valores indiretos dasfunções dos ecossistemas, como aproteção de bacias hidrográficas,a regulação do clima e a fotossín-tese e proteção de solos. Tambémsão verificados valores intangíveis,tais como manter opções para ofuturo ou conhecer e respeitar a

existência de outras espécies(Bernardes, 1999).

Contextualização da pesquisa

O Parque Nacional do Jaú(PNJ) é o segundo maior parquedo Brasil e o terceiro da AméricaLatina, com área de 2.272 mil hec-tares, correspondendo a cerca de1,42% do Estado do Amazonas. OPNJ localiza-se a aproximadamen-te 200 km a noroeste de Manaus.Sua única via de acesso é pelo RioNegro. Uma das peculiaridadesmais extraordinárias do PNJ é ofato de ser a única Unidade deConservação do Brasil que protegequase a totalidade da bacia de umrio extenso, aproximadamente 450km do rio Jaú, preservando ecos-sistemas de águas pretas. O par-que está situado no centro de umCorredor Ecológico, apoiado peloPrograma Piloto para a Proteçãodas Florestas Tropicais do Brasil(PPG-7), o da Amazônia Central,que coincide com a Reserva daBiosfera da Amazônia Central.

Esse Parque Nacional foi re-conhecido pela Organização dasNações Unidas para Educação,Ciência e Cultura (Unesco) comoPatrimônio Mundial Brasileiro em2001, sendo louvado como umaimportante contribuição à sua listainternacional. A Unesco reconhe-ce como Patrimônio Mundialobras e áreas de grande interessepara a História da Terra ou para acultura da humanidade. A inclusãode um sítio na lista de PatrimônioMundial garante sua proteção e

“A estimativa do valor de existênciados parques é uma ferramenta

importante para fundamentar decisões,notadamente de políticas públicas”.

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prestígio nacional e internacional,com repercussão direta sobre oafluxo de turistas (Brasil, 2002).

As distribuições de algunshabitats críticos para fauna eflora aquáticas também variamsistematicamente, de acordo coma área da bacia. As árvores caí-das no canal do rio servem comobarreiras físicas e são utilizadascomo habitat por diversos orga-nismos. Elas são um substratoimportante para o crescimento dealgas e de vários invertebrados,além de servirem de esconderijopara peixes e outros seres. Avariação na freqüência e no ta-manho de árvores submersasproduz um mosaico complexo denichos e habitats, que abrigauma comunidade diversa de florae de fauna. A vegetação apre-senta predomínio dos tipos flores-tais densos e abertos, comencraves (terreno encravadonoutro) de formações abertas esavanóides, constituindo aquiloque se convencionou chamar deÁreas de Tensão Ecológica.

Objetivos da pesquisa

Neste estudo, pretende-seavaliar em que medida o valor deexistência pode ser utilizado naformulação e na implementaçãode políticas públicas para a ges-tão de Unidades de Conserva-ção. A internalização do valor de

existência de UC ainda não fazparte da quantificação dos bene-fícios gerados pela manutençãodos serviços ambientais. Estudosde valoração de Unidades deConservação vêm sendo incenti-vados no Brasil, porém o númeroainda não alcançou um valor sig-nificativo de casos. Como sãopoucos os estudos de casos paraquantificar tal valor de existência,visando à formulação e à imple-mentação de políticas públicasambientais, o objetivo geral destapesquisa é avaliar a percepçãodos bolsistas de PQ do CNPq notocante aos aspectos ecológicose de valor de existência do Par-que Nacional do Jaú. De acordocom a proposição geral, dispõe-se a analisar os seguintes objeti-vos específicos:• avaliar, a partir das preferências

dos bolsistas de PQ do CNPq,as suas percepções quanto àpreservação do PNJ; e

• estimar o valor de existênciapara o PNJ atribuído pelos bol-sistas de PQ do CNPq.

Materiais e método

A população sob amostra éconstituída de pesquisadores quepossuem bolsa de Produtividadeem Pesquisa (PQ) do ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq).Em 2003 foram implementadas

aproximadamente 7.775 bolsasde PQ em todas as áreas do co-nhecimento da tabela do CNPq(Brasil, 2003). A distribuição dasbolsas pelos Estados brasileiros émuito desigual, refletindo a con-centração da pesquisa no eixoSudeste–Sul, com difusão do co-nhecimento para as regiões maiscarentes – Norte, Nordeste eCentro-Oeste.

No presente estudo foi adotadaa técnica de amostragem aleatóriasimples, a qual foi estimada com3,55% de erro e 95% de confiabi-lidade. Para eliciar-se2 o valor deexistência médio para o PNJ, utili-zou-se o Método de ValoraçãoContingente (MVC), com o auxíliode uma caixa de e-mails.

Com o objetivo de facilitar oprocedimento de envio e recebi-mento dos questionários foi desen-volvido um sistema que executouessas tarefas. As etapas para acoleta de dados estão inseridasem três ambientes com atoresdistintos: Serviço de Informáticado CNPq, Respondentes (Bolsis-tas de PQ) e Pesquisador.

O valor de existência refere-seao quanto as pessoas valorizam osativos naturais, independentementede seus usos, o que está relaciona-do com os sentimentos de altruís-mo, responsabilidade e atitude daspessoas em relação à manutençãoda biodiversidade (Mota, 2003;Norton, 1997; Pearce e Turner,1990; Randall, 1997; Marques eComune, 1996). Além disso, quan-do eles analisam os verdadeirosmercados, os economistas nãoestão interessados nos preços emsi, mas nos padrões de seleção enos tipos de preferências que elesimplicam (Hanemann, 1997).

Trabalhos de valoração con-tingente vêm sendo feitos nosúltimos 35 anos, havendo maisde dois mil artigos e estudos re-

“Estudos de valoração deUnidades de Conservação vêm

sendo incentivados no Brasil, porémo número ainda não alcançou um

valor significativo de casos”.

2 Do latim elicere, fazer sair, expulsar, declarar a sua preferência.

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lacionados com o tópico. Aplica-ções ilustrativas desse métodopara estimar benefícios incluemas seguintes preocupações:melhoria da qualidade do ar e daágua; redução do risco de inges-tão de água e contaminação delençóis freáticos; recreação ex-terna; proteção de mangues,áreas desertas, espécies amea-çadas e sítios de herança cultu-ral; melhorias na educação pú-blica e reabilitação de utilidadepública; redução do risco de ali-mentos e de transporte e assis-tência à saúde; provisão de ser-viços ambientais básicos, taiscomo água potável e disposiçãodo lixo em países desenvolvidos.

Considerações sobre o valorde uso-passivo em uma análiseeconômica foram feitas pelasobservações embrionárias deKrutilla, em que muitas pessoasadmiram o valor da natureza ape-nas por ela existir. Krutilla argu-menta que essas pessoas obtêmutilidade por meio do prazervicariante dessas áreas e, comoresultado, têm uma disposição apagar positiva, desde que o go-verno exerça boa administraçãosobre a área. Esse valor vemsendo chamado de valor de lega-do, valor de existência para ob-servação, valor intrínseco, valorinerente, valor de uso-passivo,valor de administração ou valorde não-uso (Freeman III, 1993;Carson, 2000).

Economia e valorde existência

A imensa diversidade biológi-ca brasileira manifesta-se já naextraordinária riqueza de ecos-sistemas. No interior de cadabioma brasileiro, entretanto, sãoidentificadas inumeráveissubunidades biogeográficas oufisiográficas. A diversidade bra-sileira é a maior do Planeta em

plantas superiores, peixes deágua doce e mamíferos; a se-gunda em anfíbios; a terceira emaves; e a quinta em répteis.

Ao lado de toda essa riqueza,os problemas são igualmente degrande magnitude. Entretanto,entre os países chamados demegadiversos, o Brasil pertencea uma minoria que se distinguepelo nível de desenvolvimento dapesquisa científica, com um siste-ma acadêmico e de instituiçõesde pesquisa extenso e consolida-do, embora com lacunas.

Todo esse conjunto de ecos-sistemas desempenha os servi-ços ecossistêmicos, em que seincluem a ciclagem de nutrientese materiais, a produção e a de-puração da água e do ar, a exis-tência de sítios de reprodução deestoques pesqueiros e muitosoutros, reconhecidos hoje pelarelevância na preservação e naconservação da natureza. Den-tro desse escopo vem ocorrendoum esforço para quantificar ovalor dos serviços.

A necessidade de conceituar ovalor econômico do meio ambien-te, bem como de desenvolver téc-nicas para estimar esse valor, sur-ge, basicamente, do fato incontes-tável de que a maioria dos bens eserviços ambientais e das funçõesprovidas ao homem pelo ambientenão é transacionada pelo merca-do. Pode-se, até mesmo, ponderarque a necessidade de estimar va-lores para os ativos ambientais

atende às necessidades da adoçãode medidas que visem à utilizaçãosustentável do recurso.

Os recursos naturais não sãomercadorias. Sendo assim, nãotêm preços fixados pelos merca-dos, pois constituem ativos essen-ciais à preservação da vida detodos os seres. Dessa forma, faz-se necessário compreender ovalor que tem o meio ambientepara a sobrevivência das espé-cies na Terra – os recursos na-turais não têm valor nos merca-dos convencionais.

Como a maioria dos bens eserviços ambientais não é transa-cionada no mercado convencional,é necessário estimar o valor eco-nômico do meio ambiente e de-senvolver técnicas para realizartal estimativa. A determinaçãodesses valores visa a utilizaçãosustentável dos recursos naturais.

O meio ambiente, ao desempe-nhar funções imprescindíveis àvida humana, apresenta, em de-corrência, valor econômico positi-vo, mesmo que não refletido dire-tamente pelo funcionamento domercado. Portanto, não se podeatribuir valor zero, correndo riscode uso excessivo ou até mesmode sua completa degradação. Umprincípio básico a ser observado éque o ambiente e o sistema eco-nômico interagem, quer por meiodos impactos que o sistema eco-nômico provoca no ambiente, querpelo impacto que os recursos na-turais causam na economia.

“A diversidade brasileira é a maiordo Planeta em plantas superiores,peixes de água doce e mamíferos;a segunda em anfíbios; a terceiraem aves; e a quinta em répteis”.

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abr/jun de 20044444444444Revista de conjuntura

Tem-se usado o termo valorde existência de um recurso paradefinir valor para um recursonatural que é motivado pela fonteinterna à função de utilidade doindivíduo, além do uso pessoal.Por que consumidores valoramalgo que eles não consomem pes-soalmente? Por altruísmo paracom parentes e amigos, ou outrosque possam ser usuários, paracom as futuras gerações de usu-ários, ou para com animais, o quepode motivar valores de existên-cia. Alguns podem argüir quevalores de existência para o obs-curo e desconhecido são passí-veis de ser contemplados emuma prioridade.

Argumenta-se que existemrazões que forçam a não-exclu-são do valor de existência emalguns casos. No nível da teoriaabstrata, pode-se distinguir en-tre preferências e informações.Quando consumidores expres-sam suas preferências submeti-das a um orçamento, forçandoas firmas a maximizar os seuslucros sobre uma dada tecnolo-gia de produção, o conhecimen-to perfeito é então assumido.Uma maneira de racionalizar aescassa informação acumuladasobre recurso é ignorar o quenão seja relevante para a esco-lha corrente.

Quanto aos valores morais queas pessoas em geral atribuem àsespécies, estes são bem altos.Respostas a questionários indicamque os entrevistados colocam umvalor surpreendentemente altoapenas sobre o conhecimento deque algo exista, independentemen-te de qualquer uso que possaocorrer com tal espécie. Econo-mistas, usando um método chama-do avaliação contingente, criarammercados fictícios, nos quais elespodem perguntar às pessoasquanto elas estariam dispostas apagar para proteger uma espécie,

independentemente das possibili-dades de uso dessa espécie. Sevalores existenciais podem serconcebidos como um rudimentarindicador de valores morais paraos objetivos atuais, podemos dizerque as espécies têm um valor mo-ral consideravelmente alto,mensurável em dólares.

Resultados da pesquisa

O estudo-piloto foi realizadoem setembro de 2002, para 10%da totalidade dos bolsistas deProdutividade em Pesquisa (PQ),obtendo-se uma taxa de retornode 12,34%. A etapa de aplicaçãodo questionário final ocorreu nomês de janeiro de 2003, quandose obteve uma amostra de9,38%, o que possibilitou grau deconfiabilidade de 95% e 3,55%de margem de erro.

De acordo com a amostra,33,3% dos entrevistados estavamdispostos a pagar pela existênciado PNJ, enquanto 66,7% nãoapresentaram tal disposição.Desses respondentes, a maiorparte era bolsista PQ-2C, o queequivale a 24% dos responden-tes, e o menor número de respon-dentes era PQ-1A (com 9,3%).

A disposição a pagar atribuí-da pelos bolsistas de Produtivi-dade em Pesquisa do CNPq,captada pelo método de valora-ção contingente, foi de R$ 2,12per capita por bolsista/mês, oque representa, por ano, R$197.796, e R$ 1 milhão paratodo o sistema de incentivo àpesquisa patrocinado peloCNPq. Esses montantes repre-sentam valores de benefícios ouexcedentes que os pesquisado-res do CNPq se propõem a pa-gar periodicamente pela existên-cia do PNJ.

A escolha da disposição a pa-gar ou não, bem como os valoreseliciados, que demonstram o com-

portamento dos respondentes comuma margem de erro de 10%, sãoexplicados por três variáveis: duassócio-econômicas, compostas pelarenda familiar e pela idade; e umareferente às atitudes dos respon-dentes em relação ao PNJ, e secompõe do nível de importânciada existência do PNJ.

Em outras palavras, somenteessas variáveis são relevantesna explicação da variação dadisposição média a pagar. Dosmodelos analisados, o log duplo,ou seja, logaritmo natural nasvariáveis dependentes e inde-pendentes, revelou-se mais ade-quado, por apresentar os testesclássicos estatísticos mais ro-bustos. Assim, escolheu-se omodelo log-log para explicar asvariações ocorridas na disposi-ção a pagar dos bolsistas pes-quisadores, o qual tem a seguin-te configuração:

Onde: LNDap = Logaritmo natural dadisposição a pagar;LN (Renda) = Logaritmo natural darenda familiar mensal do respondente;LN (Idade) = Logaritmo natural daidade do respondente; eLN (Existenc) = Logaritmo natural donível de importância dado à existênciado PNJ.

LNDap = –2,626 + 0,195 LN(Renda) + 0,404 LN (Idade) +0,374 LN (Existenc)

‘t’ -2,220 1,951 1,640 2,212

‘sig’ 0,027 0,051 0,102 0,027

‘F’ 4,491

‘sig’ 0,004

Como os dados foram estrati-ficados por área do conhecimen-to, a predominância foi a de Ci-ências Biológicas, com 21,1%dos respondentes; as áreas doconhecimento menos represen-tativas foram as de Lingüística,Letras e Artes, totalizando 1,9%.Além disso, os pesquisadoresem Ciências Sociais Aplicadas

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apresentaram a maior média dedisposição a pagar, alcançandoR$ 2,68, enquanto os pesquisa-dores das Engenharias apresen-

taram a menor média, R$ 1,28.Em relação à categoria/nível,encontram-se os pesquisadores1A com a maior média de dispo-

Figura 1: Disposição a pagar média por área do conhecimento e percentual de respondentes

Fonte: Elaboração dos autores.

13 –12 –11 –10 –9 –8 –7 –6 –5 –4 –3 –2 –1 –

Ciê

ncia

sE

xata

s e

da T

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Ciê

ncia

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Eng

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Ciê

ncia

sH

uman

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Ling

üíst

ica,

Letr

as e

Art

es

18,8

21,1

13,2 11,5

19,6

8,6

1,9

– 30

– 27

– 24

– 21

– 18

– 15

– 12

– 9

– 6

– 3

– 0

1,93 2,21

2,21

1,282,47 2,53 2,68

1,84 1,72

DA

P m

édia

(R$)

Área do conhecimento

% d

e re

spon

dent

es

sição a pagar, atingindo R$ 2,23,contra uma DAP média mínimade R$ 1,68 para os pesquisado-res 2A (Figura 1).

Como forma de captar a per-cepção dos respondentes sobrequestões ambientais, foram aplica-das algumas questões que aborda-

vam os Parques Nacionais e, maisespecificamente, o Parque Nacio-nal do Jaú. A nota média dada aonível de importância da existência

do PNJ foi 8,75. Essa é uma dasvariáveis que explicam a disposi-ção a pagar média no modelo log-log (Figura 2).

Figura 2: Grau médio de importância pela existência do PNJ, conforme a área doconhecimento do pesquisado

Média Ponderada9,12

8,739,6

9,568,95

8,239,07

8,888,98

8,789,00

9,238,67

8,539,46

9,389,26

7,90

Lingüística, Letras e Artes

Ciências Humanas

Ciências Sociais Aplicadas

Ciências Agrárias

Ciências da Saúde

Engenharias

Ciências Biológicas

Ciências Exatas e da Terra

1,512,06 Desvio-Padrão

Disposto a pagar Não disposto a pagar

Fonte: Elaboração dos autores.

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abr/jun de 20044646464646Revista de conjuntura

Dos respondentes, 66,8% afir-maram que já haviam visitado umparque nacional, e a disposição apagar média destes foi de R$2,46, enquanto a dos que não visi-taram um parque nacional foi deR$ 1,93. Quanto às funções dosparques nacionais, 67,4% indica-ram não saber responder a essaquestão, enquanto 27,9% indica-ram como função principal a con-servação dos recursos naturais.Em relação às horas de lazerpassadas em um Parque Nacio-nal, 90,7% dos entrevistados con-sideram importantes e muito im-portantes esses momentos.

No que se refere ao grau deresponsabilidade pelos problemasambientais, os resultadosamostrais sinalizam que o PoderPúblico e a sociedade são osprincipais responsáveis pelo agra-vamento da degradação dos re-cursos da natureza. Quanto aosníveis de responsabilidade, osmesmos foram atribuídos aosprincipais problemas relacionadosà degradação da natureza, cujodestaque é a expansão da fron-teira agrícola, em que 60,5% dosentrevistados afirmaram que asociedade é o principal agente dedegradação ambiental. Concomi-tantemente, 53,1% dos entrevis-tados indicam que o Poder Públi-co é o principal responsável peladesigualdade social.

Deve ser ressaltada a rele-vância ecológica do PNJ, po-dendo-se afirmar que o conjun-to de ambientes que compõem aárea de estudo fornece umasérie de serviços ambientaispara as comunidades locais eregionais. Os benefícios ecoló-gicos prestados por rios, lagos,igarapés e áreas florestais ga-rantem as condições adequadaspara a sobrevivência de todas asespécies. Sobre a exploraçãodos recursos naturais, 98% de-clararam ser necessário um con-

trole mais rígido, enquanto ape-nas 2% não sabem ou não consi-deram necessárias alteraçõesnos controles existentes. Dessemodo, quanto ao conhecimentodas questões ecológicas acorda-das pelo Brasil na Eco-92, Con-ferência realizada no Rio de Ja-neiro em 1992, 28,3% dos entre-vistados não conhecem os ter-mos da Agenda 21, destacando-se que 15,6% ignoram as diretri-zes da Política Nacional da Bio-diversidade. Dos 71,7% que co-nhecem os termos da Agenda21, destaca-se que 42,7% defen-dem ser correta a instituição deprincípios e diretrizes para a Polí-tica Nacional da Biodiversidade.

Conclusões e recomendações

Esta pesquisa proporcionouavaliar as preferências de umgrupo de pesquisadores do CNPqa partir da aplicação de questio-nário que objetivava eliciar valo-res contingentes. Esses valoresreferem-se às disposições a pa-gar pela existência do ParqueNacional do Jaú, e são traduzidosem economia ambiental comobenefícios ou excedentes geradosem razão da percepção do grupofocal estudado. Os materiais e ométodo utilizados permitiram:a) desenhar um questionário ca-

paz de minimizar os viesespossíveis do método de valo-ração contingente, levando-seem conta as recomendaçõesdo painel National Oceanicand AtmosphericAdministration (NOAA);

b) usar o correio eletrônico, oqual constitui um meio de cap-tação de dados com baixocusto, rapidez no envio dosquestionários, eficiência noretorno dos dados e sigilo dasrespostas dos entrevistados;

c) incluir diversas questões depsicologia comportamental em

relação à eliciação contingen-te, a fim de subsidiar as agen-das de políticas ambientais;

d) avaliar que as atitudes relacio-nadas a comportamentos am-bientais podem ser definidasnas funções de utilidade. Asatitudes captadas nos questio-nários ajudam a explicar porque determinados valores dedisposição a pagar foramexplicitados. Questões éticase morais são incorporadas àsavaliações quando levam emconta essas atitudes.Além dos resultados aqui al-

cançados, a eliciação de valorescontingentes é útil na orientaçãoda formulação de políticas públi-cas setoriais, tais como:• diferenciação de escolhas entre

grupos: a taxa de respondentes,de acordo com categoria/nívelda bolsa de PQ, segue a distri-buição do número total de bol-sas dentro de cada categoria/nível. Quanto à área do conhe-cimento, a maior taxa de res-posta de bolsistas foi das Ciên-cias Biológicas, seguida pelosbolsistas de Ciências Agrárias edas Ciências Exatas e da Ter-ra. Identificou-se maior preocu-pação desses pesquisadorescom questões relacionadas àgestão de áreas protegidas – oque não cria um estigma -, poisdeve ocorrer por influência daformação técnica e do objetode pesquisa dos pesquisadores.Entretanto, quando se obser-vam os valores de DAP médiode acordo com a categoria/nívele a área do conhecimento, depa-ra-se com resultados diferentes.Considerando-se a categoria/nível, os pesquisadores 1A apre-sentam a maior DAP média, oque deve ser influenciado pelaidade dos respondentes;

• eliciação distinta por área doconhecimento. Em relação aeste aspecto, encontram-se os

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pesquisadores de CiênciasAgrárias e de Ciências SociaisAplicadas com os maiores va-lores de DAP médio. Esse re-sultado dá maior destaque àimportância atribuída pelospesquisadores de CiênciasAgrárias. Nota-se uma taxaelevada de respondentes quenão estavam dispostos a pagarpela existência do PNJ, a qualalcançou 66,7%. Tal resultadofoi influenciado pela forma depagamento criada, que previao desconto da bolsa de PQ.Alia-se a essa questão a per-cepção de que se pagam mui-tos impostos e de que ocorreum baixo retorno na forma deserviços públicos;

• variáveis comportamentais aju-dam na eliciação de valorescontingentes: as questões rela-cionadas com a percepçãoambiental dos bolsistas de PQgeraram uma das variáveis querespondem à disposição a pa-gar pela existência do PNJ, queé o nível de importância daexistência do PNJ. O valor mé-dio encontrado, de 8,75, de-monstra o grau de compromis-so dos entrevistados em rela-ção à existência do Parque.Outras questões relacionadascom a percepção ambiental dosbolsistas de PQ também têmimportância em uma avaliaçãoqualitativa das variáveis;

• percepção global quanto aosproblemas ambientais: umaoutra linha de perguntas sobrea percepção ambiental dosrespondentes abordou pontosda atualidade e de espectronacional. Quando se observaque a sociedade em geral e ogoverno federal foram apon-tados como os principais res-ponsáveis pelos problemasambientais brasileiros, issoreflete as ações de ocupaçãodos espaços e o uso dos re-

cursos por diversas atividadesprodutivas relacionadas àexistência humana, bem comoa descrença dos brasileirosquando se fala das instituiçõespúblicas de todas as áreas.Essa afirmação é reforçadaquando se verifica que98,47% dos respondentesacham necessário um controlemais rígido na exploração dosrecursos naturais;

• disseminação da informaçãoambiental: a abordagem de polí-ticas públicas ambientais foiavaliada a partir de questõescomo a Agenda 21 e o acessoà biodiversidade. Percebeu-seque a Agenda 21 é conhecida,pelo menos em parte, pela mai-oria dos respondentes, a qualconsidera correta, em parte, apolítica de acesso à biodiversi-dade. Junte-se a esses dados aindicação do desmatamento eda desigualdade social comoos principais problemas am-bientais existentes no Brasilatualmente, o que demonstra apercepção que os responden-tes têm em relacionar, emgrande parte, problemas am-bientais com problemas soci-ais, bem como a tendência aafirmar que a solução de umestá ligada à solução do outro,em um processo indissociável;

• nível da informação esperada:quanto ao perfil dos responden-tes, os resultados obtidos refle-tem a população que foi esco-lhida para a amostragem, quese constitui de bolsistas de PQdo CNPq, que possuem o nívelde doutorado e, em sua maioria,são professores universitáriosde instituições públicas. Trata-se, portanto, de componentesde uma pequena minoria dapopulação nacional que tem oacesso a informações totalmen-te diferenciado da grande maio-ria dos brasileiros. Apesar dis-

so, as suas percepções devemser levadas em consideraçãoem decorrência da capacidadede criar discussão e fatos quelevam à inserção de temas emagendas políticas, nas diversasáreas do conhecimento;

• eficiência no sistema de coletade dados: a utilização do cor-reio eletrônico como instru-mento para a aplicação dequestionários para as pesqui-sas de valoração contingentedeve ser recomendada parafuturas pesquisas de valoreseconômicos de ativos naturaiscomo forma de se criar parâ-metros para a formulação depolíticas públicas. Os baixoscustos de aplicação e a existên-cia de sistemas de Informáticanos principais órgãos do go-verno federal, tais como oCNPq, o Ipea, o Ministério doMeio Ambiente (MMA) e oInstituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (Ibama),justificam essa recomendação;

• eliciação de valores comple-mentares: os resultados sãoúteis para futuras pesquisas.Por isso, recomenda-se o le-vantamento dos demais valoreseconômicos para o Parque Na-cional do Jaú. O valor de usodeverá ser eliciado tanto pelouso recreativo como pelo usodos recursos pelas comunida-des tradicionais que residemdentro dos limites do Parque.Assim, o método de valoraçãocontingente deverá ser aplicadonas comunidades locais, comoforma de complementar a com-posição do valor de existência ede uso.

Mesmo com os resultadosalcançados pela pesquisa, reco-mendam-se diversas observaçõesquanto ao uso do método de valo-ração contingente, destacando-se: i) a avaliação de vieses do

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abr/jun de 20044848484848Revista de conjuntura

método; ii) a análise do grupofocal a ser estudado; iii) a limita-ção do suposto valor estimado, o

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* Ricardo Félix SantanaAnalista de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

* José Aroudo MotaPesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea) e Professor do Centro de DesenvolvimentoSustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB).

qual restringe somente as prefe-rências assumidas pelo grupoavaliado; e iv) o desenho de um

questionário apropriado para aeliciação das proposições da pes-quisa planejada.

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abr/jun de 20044949494949Revista de conjuntura

Por uma Reforma Sindical Democrática

A Federação Nacional dos Economistas (FENECON) divulga suaposição diante da proposta de reforma sindical que tramita noCongresso Nacional. Abaixo, a íntegra do documento.

MANIFESTO

A sociedade brasileira acaba deconhecer as bases da futura reformasindical que o Governo Federal preten-de implantar, a prevalecer o contido norelatório da Comissão de Sistematizaçãodo Fórum Nacional do Trabalho, que,na essência, atende aos interesses dascentrais sindicais e das confederaçõespatronais, num estranhismo conluio,impensável até poucos dias atrás.

Ao invés de se ter um novo mode-lo sindical, que fortalecesse a atualestrutura e também validasse a impor-tância das centrais sindicais e dasorganizações por local de trabalho,como foi apontado durante os FórunsEstaduais do Trabalho, a reforma pre-tendida não atende a esses objetivos,exceto no tocante à legalização dascentrais sindicais.

A partir da análise que se faz dessaproposta, durante o III Encontro Nacio-nal de Entidades Sindicais de Econo-mistas (III SENESE), a diretoria destaFederação, interpretando também osentimento geral dos representantesdos Sindicatos fliliados ali presentes,considera algumas proposições extre-mamente danosas ao sindicalismo bra-sileiro, pois:1. Não reafirma os princípios do direito

do trabalho, entre os quais os deproteção e da boa-fé, preparando ocaminho para maior flexibilizaçãosem garantias mínimas de segurançaao trabalhador;

2. Admite a prevalência do negociadosobre o legislado, o que confrontacom o princípio tutelar do direito dotrabalho, de proteção ao trabalha-dor, como parte mais vulnerável dasrelações produtivas;

3. O atrelamento quase que obrigató-rio dos sindicatos às centrais sindi-cais (e quem não o fizer poderá ter

vida curta ou encurtada), fere oprincípio da autonomia sindical;

4. A séria ameaça de desaparecimentodas entidades sindicais de profissio-nais liberais através da eliminção daContribuição Sindical e a não criaçãode outra fonte de sustentação finan-ceira, que contemple a realidadedessas categorias, já que a Contri-buição de Negociação Coletiva não éaplicável extensivamente a elas;

5. O conceito de representatividadederivada, contido na proposta, nãoconduzirá ao fortalecimento dosindicalismo brasileiro, posto que omodelo apresentado se preocupatão somente em definir percentuaisde sindicalização, anunciados comoúnicos indicadores de legitimidade,sem qualquer preocupação quantoà forma de obtê-los, muitos menoscom a participação das baes nosdestinos dos sindicatos;

6. A prevalecer esse conceito, seráinevitável que as centrais sindicaisse transformem em verdadeiroscartótios sindicais, de cujo carimbodependerá a sobrevivência de mi-lhares de entidades sindicais, a umcusto financeiro nada pequeno;

7. A proposta de reforma pretendeatrela o movimento sindical ao apa-relho do Estado, pela criação doConselho Nacional de Relações doTrabalho, concebido como a grandeárbitro estatal da vida sindical brasi-leira, num esforço de ressurreiçãoda antiga Comissão de Enquadra-mento Sindical, de triste memória daépoca dos regimes autoritários;

8. Mas a tutela do Estado todo pode-roso não iria parar aí, pois a propos-ta, na prática, estipula, inclusive, aobediência a um verdadeiro estatu-to-padrão, sob pena de não se obter

reconhecimento legal, o que impedi-rá a uma entidade sindical de exer-cer, na plenitude, os atos que lhesão inerentes;

9. Não há nenhuma preocupação emreprimir as condutas anti-sindicais,já que a proposta se restringe a umavaga referência à prevenção de taispráticas, em desacordo, portanto,com o que já vem ocorrendo emdezenas de países que procuraramfortalecer o sindicalismo;

10. A proposta, ao contemplar a criaçãode Fundo Solidário de PromoçãoSindical, chega as raias do absurdo,ao admitir que os recursos para suamanutenção estejam desvinculadosdo Orçamento Geral da União, o quecontraria a lei;

11. Por fim, na parte referente ao direitode greve, ao invés de conceituar,com precisão, o que é uma atividadeessencial, prefere listar um rol deatividades produtivas, ondeestranhamente mantém o serviço decompensação de cheques, bem aoagrado dos agentes do mercado.Por tudo que foi exposto, esta Fede-

ração, alinhada à Confederação Nacio-nal das Profissões Liberais (CNPL),espera que haja sensibilidade dos altosescalões do Governo Fderal, não aco-lhendo os princípios propostos peloFórum Nacional do Trabalho aqui con-testados, escutando também as mani-festações do sistema confederativo,que deles discorda. Nossa expectativa éde que o Congresso Nacional, comoexpressão máxima da vontade do povobrasileiro, decida em sintonia com osinteresses da população trabalhadora,definindo-se por uma verdadeira refor-ma sindical democrática.

Londrina (PR), 23 de abril de 2004.

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abr/jun de 20045050505050Revista de conjuntura

Por uma política de crescimento e emprego

aprovado pela Plenária do Conselho Federal de Economia,em sua 567a Sessão Plenária – Brasília, 19 de junho de 2004.

MANIFESTO

A elevação das taxa de inflação aofinal de 2002, provocada pela inseguran-ça dos agentes de mercado com a possi-bilidade de profundas alterações de polí-tica econômica, como resultado das elei-ções presidenciais, levou o novo Gover-no a praticar uma política monetária ain-da mais rígida do que vinha sendomantida anteriormente. Embora tenhasido bem sucedida quanto à retomada daestabilidade de preços, tal política provo-cou uma elevação da taxa de desempregoe a queda do PIB em 2003, o que nãoocorria desde 1992.

Passada essa fase, observamos queas autoridades econômicas, particular-mente o Banco Central, estão reticentesem implementar políticas mais agressivasde crescimento do nível de atividade edo emprego.

A se manter a política atual, o cresci-mento previsto para o PIB (3,5% em 2004,4% em 2005 e 4,5% em 2006), segundo amaioria dos analistas, será insuficientepara absorver o aumento da oferta detrabalho (cerca de 1.500.000 trabalhado-res ao ano), e reduzir o contingente dedesempregados, por volta de 10 milhõesde trabalhadores.

Entretanto, existem inúmeros fatoresindicando que já deveria ter sido adota-da, desde o início deste ano, uma postu-ra mais ativa para a recuperação do ní-vel de atividade e redução do desempre-go. A preocupação do Governo residena conjuntura internacional, principal-mente com a provável elevação dosjuros dos títulos dos Estados Unidos, ecom o aumento do preço do barril depetróleo, devido à crise do Oriente Mé-dio. Entretanto, as reiteradas declara-ções do presidente do Federal ReserveBank fazem crer que não haverá umaumento muito pronunciado das taxasde juros dos Estados Unidos. Quanto àquestão do petróleo, trata-se de um cho-que de oferta, que tende a ser temporá-rio; se persistir, o impacto sobre a taxa deinflação no Brasil será relativamente

reduzido, dado que importamos apenas15% do petróleo que consumimos.

Por outro lado, há inúmeros fatorespositivos que permitem adotar uma polí-tica macroeconômica mais agressiva decrescimento e emprego. Do lado externo,a economia mundial deve crescer esteano entre 4% e 5%, sob a liderança daseconomias chinesa e norte-americana, asexportações brasileiras continuam cres-cendo em ritmo expressivo, o capitalexterno continua entrando no país, em-bora em volumes menores. Pelo ladointerno, além do crescimento doagronegócio, está ocorrendo uma certarecuperação, embora modesta, da produ-ção industrial e da construção civil.

Somos de opinião de que não mais sejustifica manter uma política focada qua-se exclusivamente no atendimento dasmetas de inflação e de superávit primário.

Nesse sentido, tem que ser retomadaa política de redução consistente dataxa de juros, como vinha ocorrendo noinício do ano. Naquela ocasião, o BancoCentral, diante do aumento do preçodas commodities, e posteriormente pelocaso Waldomiro, interrompeu o ciclo debaixa da SELIC, decisão que afetou ne-gativamente as expectativas do merca-do, que acreditava que o governo esta-va finalmente iniciando o prometido“espetáculo do crescimento”. Afinal, orisco-Brasil girava em torno de 400 pon-tos, a economia mundial já vinha serecuperando, a inflação estava sob con-trole, e o câmbio estava num patamaradequado para as exportações, quecresciam de forma acelerada. Existiaainda uma capacidade ociosa que possi-bilita um crescimento econômico semprejuízo das metas de estabilização.

Não podemos mais perder uma opor-tunidade como essa. O Banco Centralnão pode continuar pautando suas deci-sões sobre juros com base em ocorrênci-as transitórias, de curto prazo, mas deveestabelecer uma estratégia de políticamonetária mais audaciosa, voltada ao

crescimento do produto e do empregoainda a curto prazo.

A redução mais acentuada da taxa dejuros SELIC, além de estimular o nívelde atividade, deve ainda proporcionaruma melhoria expressiva do quadrofiscal do país. O efeito positivo sobre ademanda agregada, via estimulo ao con-sumo e ao investimento, redução dosgastos de juros do governo, e conse-qüente elevação do PIB e da receitatributária, pode facilitar a obtenção dosuperávit primário requerido para redu-zir a relação dívida pública/PIB, e cum-prir as metas de inflação.

Além da redução dos juros, a políticamacroeconômica deve sercomplementada com outros incentivosao crédito e ao investimento privado. Porexemplo, no sentido de reduzir o spreadbancário, o Banco do Brasil e a CaixaEconômica Federal poderiam diminuir deforma acentuada os juros cobrados emseus empréstimos, e com isso acirrar aconcorrência com os bancos privados.Para estimular os investimentos em infra-estrutura, a Parceria Pública Privada(PPP) que vem sendo apresentada comoa panacéia para resolver o problema,necessita de cuidados especiais na suaimplementação, no sentido de não preju-dicar ainda mais a capacidade do investi-mento estatal, em razão do nãocompartilhamento dos riscos inerentesao gasto capitalista. Ou seja, o marcoregulatório tem que ser ! bastante efici-ente, evidenciando os riscos envolvidose sua distribuição no anexo de riscosfiscais da Lei de Diretrizes Orçamentári-as, conforme exige a Lei de Responsabili-dade Fiscal, e obedecidos os princípios einstrumentos que regulam o processo delicitação pública.

A partir de uma postura mais ousadade política macroeconômica, a economiabrasileira tem condições de crescer deforma sustentada acima das previsõesoficiais, retomando suas taxas históricasde crescimento do produto e do emprego.

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