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caderno ihu da universidade que traz ideias sobre assuntos

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  • Os Cadernos IHU ideias apresentam artigos produzidos pelos convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes reas do conhecimento, um dado a ser destacado nesta publica-o, alm de seu carter cientfico e de agradvel leitura.

  • Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil:

    Entre o reconhecimento e a concretizao

    Afonso Maria das Chagasano 10 n 180 2012 ISSN 1679-0316

  • UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS

    ReitorMarcelo Fernandes de Aquino, SJ

    Vice-reitorJos Ivo Follmann, SJ

    Instituto Humanitas Unisinos

    DiretorIncio Neutzling, SJ

    Gerente administrativoJacinto Aloisio Schneider

    Cadernos IHU ideiasAno 10 N 180 2012

    ISSN: 1679-0316

    EditorProf. Dr. Incio Neutzling Unisinos

    Conselho editorialProfa. Dra. Cleusa Maria Andreatta UnisinosProf. MS Gilberto Antnio Faggion UnisinosDr. Marcelo Leandro dos Santos Unisinos

    Profa. Dra. Marilene Maia UnisinosDra. Susana Rocca Unisinos

    Conselho cientficoProf. Dr. Adriano Naves de Brito Unisinos Doutor em Filosofia

    Profa. Dra. Anglica Massuquetti Unisinos Doutora em Desenvolvimento,Agricultura e Sociedade

    Prof. Dr. Antnio Flvio Pierucci (=) USP Livre-docente em SociologiaProfa. Dra. Berenice Corsetti Unisinos Doutora em Educao

    Prof. Dr. Gentil Corazza UFRGS Doutor em EconomiaProfa. Dra. Stela Nazareth Meneghel UERGS Doutora em Medicina

    Profa. Dra. Suzana Kilpp Unisinos Doutora em Comunicao

    Responsvel tcnicoMarcelo Leandro dos Santos

    RevisoIsaque Gomes Correa

    EditoraoRafael Tarcsio Forneck

    ImpressoImpressos Porto

    Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos IHU

    Av. Unisinos, 950, 93022-000 So Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.35908223 Fax: 51.35908467

    www.ihu.unisinos.br

  • limites e desafios para os direitos humanos no Brasil:

    entre o reconhecimento e a concretizao

    Afonso Maria das Chagas

    1 Introduo

    o debate sobre os direitos humanos na segunda metade do sculo XX estabeleceu-se inicialmente circunstanciado por dois contextos ps-blicos: da segunda guerra mundial e da guerra fria. sobretudo aps 1990, com a globalizao e suas multifa-ces, novas concepes e compreenses da realidade, da eco-nomia, da poltica e das relaes humanas so reelaboradas.

    nesse cenrio, a razo discursiva dos direitos humanos, as causas que a fundamenta, comparece como algo a ser enfren-tado e debatido, ora ex-surgindo de realidades humanas ainda mantidas periferia do mundo moderno ou ps-moderno, ora in-surgindo das prprias contradies internas das estruturas e mecanismos propostos.

    o presente artigo pretende, a partir dos limites do mero reconhecimento ou positivao dos direitos humanos, investi-gar os desafios que se colocam, na realidade brasileira, para a concretizao destes direitos.

    a terceira verso do plano nacional de direitos humanos em seu contexto de elaborao e aprovao (2008-2010) produ-ziu calorosos debates e fez surgir intensas e raivosas reaes de setores da sociedade. no palco das discusses temas caros aos direitos humanos como direito memria e verdade e con-trole social da mdia, entre outros. as reaes (vitoriosas ao fi-nal) contra a criao de condies de efetivao destes direitos, por parte de determinados setores, atestam ainda o descompas-so entre o discurso e suas razes e a emergncia de uma srie de direitos, obstados pelo conservadorismo de uma sociedade ainda, estamentria em sua organizao e patrimonial em sua estrutura. so razes fracas ainda evidentes de um discurso que distancia o reconhecimento da efetividade. pauta-se assim, toda uma discusso sobre os desafios dos/aos direitos humanos em terras brasileiras.

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    2 Os desafios da fundamentao e os limites da positivao dos direitos humanos

    o debate sobre os direitos humanos, sobretudo a partir da segunda metade do sculo XX, baseia-se em alguns questiona-mentos tais como: onde se fundamenta o discurso dos direitos humanos? Qual a validade ou limites da sua positivao? a sim-ples positivao ou reconhecimento , por si s, condio de possibilidade de concretizao de tais direitos? isso nos coloca diante do pressuposto de que o problema da fundamentao dos direitos humanos gera reflexos na prtica destes direitos.

    tais questionamentos nos levam ao campo dos fundamentos e das fontes dos direitos humanos. para Bobbio (2004, p. 30), os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, de-senvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada constituio incorpora a declarao de direitos) para finalmente encontrar a plena realizao como direitos positivos universais.

    claro est para esse autor que os direitos humanos esto ligados tradio liberal e ao pressuposto filosfico do estado liberal (BoBBio, 1997, p. 11). aqui no Brasil, comparato (2005), segue no mesmo itinerrio e liga a esta mesma tradio toda ela-borao terica dos direitos humanos, antes declarados, depois positivados e assim reconhecidos. para esse autor, pelo estado e pela ordem jurdica que se assegura o respeito aos direitos hu-manos. sob essa perspectiva, houve toda uma culminncia tica originria desde a declarao de independncia, dos estados unidos, e a declarao dos direitos do homem e do cidado, da revoluo francesa, que chega ao reconhecimento da igual-dade essencial a todo ser humano em sua dignidade de pessoa (comparato, 2005). portanto, para comparato (2010, p. 43-44), o fundamento dos direitos humanos tem seu locus especfico no mundo jurdico: a perquirio a respeito do fundamento ltimo de todo direito no se situa no plano superficial da realidade ftica, mas sim naquele mais profundo do dever-ser jurdico... cuida-se de identificar um critrio tico absoluto de juridicidade.

    no entanto, podemos levantar algumas questes, tais co-mo se o conceito de liberdade e mesmo de igualdade formal equivalem realidade factvel, ou se ainda os direitos adjetiva-dos de fundamentais, quando positivados, submetidos como tais, a procedimentos, como as demais normas jurdicas, so realmente eficazes, possuem fcil concretizao. eis, portanto, uma pertinente discusso sobre os fundamentos dos direitos hu-manos para alm das tradies liberais, de uma leitura s vezes ingnua das grandes declaraes, do mero reconhecimento for-mal e positivado. nesse sentido, Bragato (2011, p. 13) esclarece que os direitos humanos existem em funo de um atributo hu-mano de ordem moral que os precedem e os tornam exigveis, a despeito de qualquer lei. trata-se da dignidade humana, que o princpio fundador desta espcie de direitos.

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    nesse sentido, com razo encontra-se nino (1989), autor para o qual a disposio dos direitos humanos nos direitos nacio-nais somente uma consagrao de tais direitos, uma recepo jurdica dos mesmos. ao que se acrescenta que, mesmo sendo os direitos humanos de ndole moral, e no jurdica, eles so im-portantes para a prtica do direito, possuem status normativo.

    3 A dignidade humana como fundamentao uma proposta em disputa

    no contexto da fundamentao dos direitos humanos a questo da dignidade humana emerge como uma discusso em disputa. nas grandes declaraes de direitos do estado libe-ral, o fundamento estava mais nas noes de liberdade e de igualdade do que nas de dignidade humana. ao ser consagrado em direitos nacionais, o tema da dignidade fica ainda deficit-rio, uma vez que no se aportava em uma reflexo sobre os fundamentos tico-filosficos do que seja a dignidade humana. a ex-surgncia de tal reconhecimento no ps-segunda guerra significou, para Barretto (2010), a marca da humanidade diante da barbrie. portanto, a dignidade se apresenta como

    um qualificativo do gnero humano, que torna possvel iden-tificar todos os homens como pertencentes a um mesmo g-nero... os humanos so assim considerados porque todos so dotados de uma mesma dignidade, que critrio ltimo de reconhecimento (em cada pessoa reside, portanto, a hu-manidade, que se constitui no objeto de respeito a ser exi-gido de todos os outros homens) (Barretto, 2010, p. 61).

    dessa forma que a dignidade humana como princpio constitui-se como fonte legitimadora dos demais direitos funda-mentais. mas tambm, conforme ricoeur (apud Barretto, 2010, p. 46), a dignidade humana semelhante a uma responsabilida-de confiada, um encargo.1 por isso que re-pensar e re-significar a dignidade humana, no contexto da fundamentao dos direi-tos humanos, significa tambm enfrentar o desafio de conciliar as aes do poder pblico (tantas vezes instrumentalizado para violaes da mesma dignidade humana) diante dos valores impl-citos e expressos no princpio da dignidade humana.

    na perspectiva da subjetividade, do indivduo, de suas von-tades e liberdades, tal qual concebia a modernidade, a afirma-o dos direitos humanos pairava sobre uma ideia tico-metaf-sica, abstrata, portanto, onde nem sempre a titularidade alegada destes direitos lhe garantia efetividade ou concretizao. em tal racionalidade, o reconhecimento do outro no se des-velava. a superao e a consequentemente ressignificao da subjetivi-dade da modernidade iro pressupor novos pressupostos antro-

    1 para paul ricoeur, assim como para hans Jonas, a ideia de responsabilidade abre uma nova perspectiva que ressignifica as dimenses da dignidade huma-na. cf. Barretto, 2010.

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    polgicos. conforme lio de Barretto (2010) e Bragato (2006), aqui est a importncia de Kant e as bases do imperativo cate-grico, do reconhecimento do outro e no outro, naquilo que os seres humanos possuem de igual. por isso que a pertena famlia humana a conditio sine qua non para a titularidade e o gozo dos direitos humanos (BraGato, 2011a, s/p).

    para Barretto (2010, p. 73), faz-se necessrio uma perma-nente adequao lgico-racional, de tal princpio em cada caso concreto, retirando o mesmo do invlucro adjetivo em que foi envolvido pela prtica jurdica.

    at agora resta claro que o fenmeno do reconhecimento formal, principalmente com a positivao dos direitos humanos aps as grandes declaraes, traduz-se na manuteno de uma lacuna: a passagem no realizada do reconhecimento para a concretizao. mesmo a perspectiva da dignidade humana e a superao do individualismo, a concepo individualista do ser humano das teorias liberais no supriu tal ausncia. sobre isso santos (2002) alerta para o fato de que mesmo o fundamento da dignidade humana requer uma legitimidade cultural, j que h concepes culturais que at se rivalizam ou so alternativas, uma vez dado que a questo dos direitos humanos transcende o direito na zona de contato. em tal contexto, santos (2002, p. 46) prope a ideia de reconstruo cultural, capaz de estabele-cer uma poltica de reconhecimento das diferenas. para ele, a ideia de dignidade humana pode ser formulada em muitas lnguas. em vez de serem suprimidas em nome de universalis-mos postulados, essas diferenas tm de se tornar mutuamente inteligveis atravs de um esforo de traduo e daquilo a que chama de hermenutica diatpica (idem, ibidem, p. 46).

    em confronto com essa perspectiva, percebe-se na evo-luo do pensamento ocidental que vai se firmando um discur-so hegemnico dos direitos humanos, consolidado no ilumi-nismo europeu, articulado com a teoria do liberalismo clssico (locke), paginado no triunfo do indivduo, de sua vontade livre e soberana, na sacralizao do direito de propriedade, coincidindo temporalmente tais perspectivas com a positivao dos direitos hu-manos. assim tal discurso se hegemoniza e ser textualizado prin-cipalmente na declarao da independncia dos estados unidos, em 1776 e outras declaraes americanas, e ainda na declarao dos direitos do homem e do cidado, de 1789, na frana.2

    2 sobre esse assunto, Bragato (2007; 2011) mostra como a base terica dos di-reitos humanos esto alicerados nesta base do liberalismo. o jusracionalismo, como teoria instituinte e estrutural, vai sempre pressupor um sujeito individualis-ta, absoluto. aqui tambm se assenta as bases do Contrato social, e se redefine o papel do estado como assegurador dos direitos (interesses) dos indivduos, como tambm se reconceituam a democracia e a ideia de participao na so-ciedade. na construo retrica deste discurso trabalhar-se- tambm a ideia de igualdade, ainda que seja uma igualdade hipottica (fico da igualdade formal) contra o arbtrio e discriminaes fundadas perante a lei. tudo se apor-ta no formalismo (e nas formulaes). a modernidade europeia ocidental se consolidando e se legitimando inclusive atravs desta retrica discursiva dos direitos do homem e do cidado. cf. BraGato, 2007; 2011.

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    de pronto percebe-se que a apropriao do conceito de direitos humanos e seu poder de efetivao no se obtm ou se acessa pela simples positivao. alis, a ineficcia destes direitos, por vezes sistematicamente violados, que questiona essa prpria positivao. e por isso tambm que a fundamenta-o dos direitos humanos, tendo como base os pressupostos do jusracionalismo e do iluminismo, parece no fornecer boas ra-zes que legitimem sua prtica ou observncia. assim, o poder de efetivao do discurso dos direitos humanos no conseguiu emergir, florescer da lei; no se transformou em aceitao ou adeso. ao contrrio, como veremos, o discurso se tornou em retrica justamente para violar o que deveria proteger.

    tal a mesma linha de pensamento de muzaffar (1999), para quem esse sentido convencional dos direitos humanos (seus vnculos com os direitos individuais, civis e polticos) um produto do iluminismo europeu e da secularizao do pensa-mento. nesse sentido, o colonialismo europeu, entre os sculos XVi a XiX, traz em seu bojo a grotesca contradio des-autoriza-dora de qualquer discurso, declarao ou afirmao de direitos humanos. o extermnio de milhes de indgenas nas amricas e o trfico e a escravizao de milhes de negros na frica, sobre-tudo, so fenmenos-testemunhas dessa constatao.

    enquanto a europa ia construindo o edifcio do indivduo (direitos individuais) dentro de suas prprias fronteiras, tambm ia destruindo em outras bordas (terras) a pes-soa humana. por um lado, enquanto os direitos humanos iam se expandindo entre as pessoas brancas, por outro lado os imprios europeus infligiam terrveis sofrimentos humanos sobre os habitantes de cor em outros cantos do planeta. a eliminao das populaes nativas das amricas e da australsia e a escravizao de milhes de africanos durante o trfico de escravos europeu foram duas das maiores tragdias de direitos humanos da po-ca colonial... o colonialismo ocidental na sia, austra-lsia, frica e amrica latina representa a maior e mais massiva violao sistemtica dos direitos humanos que a histria j viu (muzaffar, 19,99, p. 26).

    4 Uma universalidade europeia

    eis-nos diante da questo da universalidade dos direitos hu-manos, pensada europeia como uma afirmao histrica, pois, como ensina Jullien (2009, p. 19), o universal declara-se um con-ceito da razo e, como tal, exige uma necessidade a priori, isto , prvia a toda a experincia. entretanto, tambm para o autor, esta proposta de universalidade, ou a sua ideia, sua roupagem, no significa uma ampliao ou alcance mximo (planetarizao), mas implica uma prescrio (dever ser). caber conscincia europeia sedimentar essa proposta de universalidade com base

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    na ao ou no conhecimento de onde se supem ou pressupem que apenas uma universalidade estabelecida previamente a toda experincia confere legitimidade (Jullien, ibidem, p. 23).

    aqui est o constitutivo da razo europeia universal, da sua moralidade e da sua formalidade. tal pensamento imposto se apresentar como uma lngua (linguagem, discurso), com uma proposta hegemnica in-contestvel. nessa perspectiva, o lema universal e sua pretenso de supremacia exclusivista (imperia-lismo de uma civilizao) passam a ser contestado:

    da essa terceira cena, atual, de rebelio contra ele (uni-versal), com a defesa da singularidade, no mais da subs-tncia (como na antiguidade), ou do sujeito (como na fi-losofia moderna), mas do outro das outras culturas (na poca ps-moderna, da qual este um dos argumentos). uma vez que fcil constatar que as outras culturas pas-saram longe de abord-lo, que at mesmo, muitas vezes, no o nomearam (Jullien, 2009, p. 28).

    Wallerstein (2007) chamar esse fenmeno de universalis-mo europeu, a retrica do poder, uma retrica que defende os direitos humanos e promove uma coisa chamada democracia. tal prtica tem-se constitudo na lgica retrica bsica do poder ao longo da histria, desde o sculo XVi.

    h uma histria dessa retrica. e h uma histria da oposi-o a esta retrica... o universalismo dos poderosos sem-pre foi parcial e distorcido, um universalismo que chamo de universalismo europeu por ter sido promovido por lderes intelectuais pan-europeus na tentativa de defender os inte-resses do estrato dominante do sistema-mundo moderno (Wallerstein, 2007, p. 27).

    claro est para Wallerstein (2007) que o universalismo europeu no tem nada de universal, mesmo levando consigo o argumento de civilizao. dessa forma, o estatuto da uni-versalidade presta-se como discurso ou retrica de legitimao do poder. tambm nessa perspectiva, conforme ruiz (2004), constri-se uma linguagem, modos de subjetivao, de legiti-mao simblica e tambm mecanismos de ocultao por trs das verdades criadas, impostas e veiculadas pela fora do poder discursivo. para ruiz (2004, p. 244),

    o reconhecimento da universalidade de uma verdade exige concomitantemente a aceitao universal de seus postula-dos. a universalidade da verdade deslancha uma dinmica de ajustamento incondicional da subjetividade s prescri-es que dela se derivam. ela no reconhece o estatuto singular de cada conjuntura ou subjetividade; pelo contr-rio, ao universalizar seus princpios, a verdade busca ho-mogeneizar o diverso, padronizar o diferente, estruturar o singular, tendo um estatuto prprio que lhe outorga o poder

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    de negar as singularidades dispersas que dela diferem; um poder que a habilita para prescrever prticas coerentes e harmonizadas com os axiomas que ela apresenta.

    para douzinas (2009), e aqui aparecem as falhas da teo-ria liberal dos direitos humanos, ocorre um reconhecimento de humanidade que jamais totalmente garantido a todos. a po-sitivao dos direitos humanos estabelecidos pela lei funciona como uma distribuio vigiada de direitos, onde a justia aca-ba funcionando como uma contabilidade de regras (douzinas, 2009, pp. 376-377).

    por isso os direitos humanos como prtica institucional no cumpre (ou cumpre muito mal) com sua funo humanizante, servindo-se mais aos desejos do estado e aos interesses a ele vinculados. conforme douzinas (2009, p. 379),

    os direitos humanos constitucionais so mobilizados em nome de uma cultura global, cujos valores e princpios constituem uma tentativa de enclausurar sociedade e im-por a elas uma lgica nica. se essa lgica ocidental ou qualquer outra pouco importa; o fato que ela segue um princpio de unidade contra as ideias de indeterminao social e autocriao existencial prometidas pela histria radical dos direitos naturais.

    a perspectiva do universalismo europeu (Wallerstein) ou do eurocentrismo (Quijano e dussel), faz da colonialidade sua nova estratgia de poder mundial, de controle e articulao das formas de trabalho e, ainda, de saber (poder do conhecimento) e inveno dos conceitos, como razo, estado etc. (QuiJano, 2005). um dos eixos dessa dinmica de poder foi a classifica-o social da populao mundial de acordo com a ideia de raa (Quijano e Wallerstein). o etnocentrismo se estabelece como um trao comum entre as dominaes culturais e coloniais a partir da matriz ocidental europeia. assim novas categorias (de humanos) passam a ser codificadas tambm.

    dessa forma que a ideia de modernidade e racionalida-de passa a ser instituda, concebida como experincia exclusiva e produto europeu (mito da modernidade). o padro ocidental se ideologiza como centro irradiador mundial de poder, saber, racionalidade e civilizao, edificando um paradigma que ultra-passa fronteiras e que legitima bandeiras e prticas. as ideias de ns (europeus) e outro (mundo perifrico) constituiro o grande vetor de produo, ao e interpretao da racionalidade moderna (todoroV, 1993).

    tal interpretao hegemnica da modernidade europeia (denegadora da histria perifrica, sobretudo a latino-america-na), firmada no eurocentrismo, elaborada como paradigma, precisa ser superada uma vez que nega, por princpio, toda a alteridade do outro no europeu. tal perspectiva serviu no

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    somente como matriz legitimadora dos projetos coloniais e todos os males por eles causados s populaes indgenas e africa-nas, mas tambm continua servindo como lgica da manuteno da dominao e suas variantes internas (colonialismo interno). sob tal tica,3 atualizar-se-o as novas formas de dominao e seus discursos correlatos, no continente africano e em boa parte do continente asitico no perodo do ps-colonialismo.4

    3 sobre esse assunto esclarecedora a leitura que dussel faz, em seu artigo: europa, modernidade e eurocentrismo, onde mostra que alm da falcia se-mntica do conceito de europa e modernidade, a histria mundial havia seguido at o sculo XVi outro itinerrio. portanto, a ideia de modernidade no passa de uma inveno ideolgica, inclusive raptando a cultura grega para localiz-la como exclusivamente europeia e ocidental. tal viso tambm suplanta o papel da espanha na concepo de modernidade, e aqui a chave de compreenso para muitas coisas que hoje acontece e so mantidas. tal perspectiva eurocn-trica atrelada ao mito da modernidade encobre a face negada das vtimas des-ta prpria modernidade por sculos. portanto, a superao e negao destes mitos ser condio de possibilidade de um verdadeiro descobrir-se do mundo perifrico, das injustias e da prxis sacrificial ocorrida fora da europa, bem como da potencializao da razo libertadora frente s prticas advindas da modernidade, reeditadas em tantas prticas polticas, culturais e econmicas, ainda hoje. cf. dussel apud lander, 2005.

    4 adotamos aqui o termo ps-colonialismo entendendo que tal termo tem sido fundamentado nos estudos ps-coloniais, cujo enfoque se volta para as con-sequncias (e tambm para as causas) da colonizao sobre as sociedades e culturas (colonizadas) a partir da ideia centro/periferia, matriz ou metrpole/colnia, da qual a perspectiva eurocntrica melhor traduz seu sentido. h uma referncia, de corte temporal, no termo ps-colonial, naquilo que se refere ao perodo da descolonizao das colnias africanas e asiticas, no ps segunda guerra mundial. no entanto, no se pode fixar tais estudos apenas neste critrio histrico-cronolgico, uma vez que a estrutura de colonizao e os condicio-namentos culturais do processo colonial traduzem, ainda hoje, os vnculos de uma hegemonia poltica e econmica das metrpoles ocidentais sobre o mundo perifrico. portanto, a proposta dos estudos ps-coloniais e do ps-colonialismo como um paradigma, muito mais do que abordar elementos histricos de um perodo que sucedeu ao outro, pretende trazer discusso toda a necessidade de descolonizao do conhecimento, do pensamento, das relaes de poder, onde o locus ocidental foi tido e mantido como condio exclusiva de legitimida-de. o ps-colonialismo como referncia sinaliza a necessidade de perspectivar outros olhares sobre uma realidade, cultura e condies de colonizados, uma lgica de dependncia mantida por vezes como padro, mais do que atribuir aos colonizadores todas as responsabilidades pelos nossos sofrimentos (a vi-timizao como legitimao). sinaliza, enfim, tal proposta este esforo epis-temolgico do des-cobrimento do que foi encoberto, de escuta ao que foi silenciado, de memria das histrias esquecidas. aponta-se para a perspec-tiva da alteridade e do reconhecimento, da superao dos discursos euro-cntricos, ainda mantidos como uma exclusividade legitimadora. ao abrir-se para outras possibilidades, para o conhecimento e significados alter-nativos, para alm do locus europeu privilegiado, para alm dos padres uniformizan-tes da racionalidade ocidental, traz ex-istncia outras realidades e outros atores. operacionaliza-se assim a travessia emancipadora do uni-verso para o di-verso atravs deste processo descolonizador. tal proposta encontra fun-damento e ressonncia em autores tais como immanuel Wallerstein, enrique dussel, anbal Quijano, miguel mellino, frantz fanon, fernando coronil, ama-ryll chanady, entre outros. tambm nesse sentido, fernanda frizzo Bragato em sua tese de dissertao (BraGat0, 2009).

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    temos assim a construo do ocidente em sua concepo de espao-tempo (Wallerstein), isto , a partir de um territrio pr-determinado e de um recorte temporal auto-referenciado, que se liga justaposio ideolgica do conceito instrumental de raa (etnocentrismo e suas variveis), da colonialidade, como forma de dominao (do poder, do saber, da produo, do co-mrcio e do trabalho) e da modernidade e da civilizao, como aparelhos ideolgicos de legitimao.5

    portanto, perceber o mundo, a histria, as pessoas e as re-laes na perspectiva da modernidade eurocntrica significava legitimar prticas e projetos sob este olhar europeu. assim, as relaes intersubjetivas entre esta europa ocidental e o mundo perifrico so reduzidas tanto em antigos como em novos du-alismos. no entanto, sempre em nvel de relao dominador/dominado, oriente/ocidente, primitivo ou brbaro/civilizado, mti-co/cientfico, irracional/racional, tradicional/moderno, inferior/su-perior, no europeu/europeu, na perspectiva de Quijano (2005).

    tambm nessa linha que said (1990) se posiciona ao enunciar o oriente como inveno do ocidente, tese a qual de-nomina orientalismo. segundo o mesmo autor, foi uma inveno ideolgica da prtica colonial europeia sobretudo britnica e francesa , onde o oriente tido como a regio do atraso, do extico e do primitivo. assim, localizando essa relao na lgi-ca do ns (europeus) e os outros (no europeus, orientais), pode-se uma vez mais (tal qual na amrica latina) instituir e legitimar relaes de domnio, de negcio e de controle sobre o oriente. para said (1990, p. 15), isso se d fazendo declara-es a seu respeito, autorizando opinies sobre ele, descreven-do-o, colonizando-o, governando-o: em resumo, o orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autori-dade sobre o oriente.

    seja na perspectiva latino-americana, seja na perspectiva do orientalismo, a prtica constitutiva da modernidade eurocn-

    5 est certo Bragato (2009) quando aponta que a noo de ocidente mais uma noo cultural-ideolgica do que propriamente geogrfica e que engloba alm da europa ocidental outros contextos espao-temporais, como extenses europeias: estados unidos, canad, Japo, nova zelndia e austrlia. des-ses contextos a amrica latina se constitui perifrica. huntington (1997) cria uma categoria com base no agrupamento cultural de pessoas como base de uma identidade civilizacional comum: a snica ou confuciana (china, Vietn e as duas coreias), japonesa, hindu (mais o camboja), islmica, ortodoxa, ocidental, latino-americana (separada da ocidental devido incorporao de valores das civilizaes indgenas e por sua cultura catlica que no sofreu os efeitos da reforma protestante) e africana (potencialmente considerada, mas que pode ser dividida em islmica ao norte e de cultura europeia fragmentada). Quanto amrica latina, huntington (1997) sugere aos estados unidos que estimulem a ocidentalizao da amrica latina bem como um mximo de alinhamento dos pases latino-americanos com o ocidente. todorov (2010) critica esta ideia hungtintoniana de choque de civilizaes, tendo presente que a legitimidade da partilha de um ideal moral e poltico torna-se relativa quando apresentada como indissoluvelmente associada a traos culturais particulares.

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    trica (tambm inventada) supe o des-cobrimento e a conquis-ta como referncia e o encobrimento como lgica (dussel, 1993). uma srie de aes ritualizou essa dinmica empreen-dedora europeia: a amrica inventada, a conquista se faz ne-cessria para a civilizao e para a humanizao (eu conquisto), e a colonizao se torna processo de domnio do outro (eu co-lonizo) (dussel, 1993). at onde se alcana, domina; at onde no se controla, extermina; at onde se nega a alteridade pela prtica do encobrimento, se legitima. sobre esse tempo e essa lgica afirma dussel (1993, p. 8):

    nasceu quando a europa pde-se confrontar com o seu outro e control-lo, venc-lo, violent-lo: quando pde se definir como um ego descobridor, conquistador, coloniza-dor da alteridade constitutiva da prpria modernidade. de qualquer maneira, esse outro no foi descoberto como outro, mas foi em-coberto como o si-mesmo que a eu-ropa j era desde sempre.

    convencionalmente, e isso tem-se perpetuado nos atuais debates e estudos, busca-se a fundamentao dos direitos huma-nos tendo como pressuposto esta construo ideolgica ociden-tal, entendendo-se, erroneamente, que o fundamento dos direitos humanos se desenvolve e se consolida com exclusividade a partir das lutas burguesas europeias e as declaraes delas advindas, de carter formalista, racionalista e individualista. essa experin-cia europeia, tida como matriz, passa a ser exportada para o res-tante do mundo, tanto pela declarao universal de 1948 como pelas incorporaes legislativas nos direitos nacionais.

    5 Contra o esquecimento e o en-cobrimento a memria

    nota-se aqui que se institui como pressuposto o esqueci-mento ou o en-cobrimento das lutas histricas latino-america-nas, seus valores, ideais, totalmente ignorados, como as teorias e o testemunho do frei Bartolom de las casas (a dignidade dos povos indgenas e os fundamentos da no interveno); como a obra poltica de felipe Guaman poma de ayala, indgena inca,6

    6 a obra de felipe Guaman poma de ayala foi escrita ente 1615 e 1616 (lima, peru) e foi redescoberta no incio do sculo XX, na Biblioteca real da dinamar-ca. uma obra na qual se perpassa a afirmao da cristandade dos incas com uma reflexo assentada sobre o paradigma da coexistncia, entre espanhis e indgenas. o que, no entanto, no lhe retira seu carter de denncia das viola-es perpetradas pelos espanhis e as mazelas do colonialismo, tendo como base o prprio ensinamento cristo europeu. ainda que adotando uma posio conservadora e conciliadora (aculturao por parte dos incas da cultura euro-peia), propem a insero dos indgenas aos padres culturais espanhis, mas reproduzindo a estrutura que havia entre os incas. uma forma de harmonizao (condio de coexistncia) numa perspectiva de sobrevivncia. interessante abordagem sobre o assunto encontra-se sob o subttulo Guaman poma de ayala e o bom governo no novo mundo, na tese de doutorado (unisinos) de fernanda frizzo Bragato (BraGato, 2009).

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    e a denncia da prtica colonial feita com base nos prprios princpios cristos. as suas reflexes sobre o bom governo no novo mundo, preconizando uma reflexo sobre o pensamento liberal-democrtico, iria se afirmar na europa do sculo XViii.

    se aportarmos nessa linha de reflexo sobre as fontes e os fundamentos dos direitos humanos e as razes, por vezes aban-donadas ou encobertas, em que muitas vezes se preferiram (ou se preferem) transplantes das ideias do jusracionalismo euro-peu, encontraremos um dos elementos motivadores do discurso fraco dos direitos humanos em terras brasileiras. no entanto, a ideia do transplante nos sugere muito mais do que isso. paira a impresso que em seu percurso histrico o Brasil viveu grande parte fora do tempo e do espao. em outras palavras, houve, desde sempre, inclusive por parte da classe dirigente, aristocr-tica e intelectual, a iniciativa de importar e implantar modelos de fora, externos e aqui implant-los como se fossem modelos ideais. o prprio positivismo, quando j sequer sobrevivia na europa, foi aqui implantado e teve aqui o seu apogeu. Quanto a isso podemos tranquilamente relacionar sobre as razes e os fundamentos dos direitos humanos e, por isso, o fato ainda de que suas razes fracas impedem um consenso mnimo ao en-contro da efetivao de tais direitos.

    o senso comum sobre os direitos humanos, tal qual estabe-lecido, ainda os considera como se fossem favores e benesses, e no direitos. a roupagem com que se apresentam tornam-se pblicos ou publicados, ainda os enxerga ou os qualifica como uma bondade concedida e sua efetivao soa, por vezes, co-mo se fosse uma transgresso ou um prmio conduta ilcita (direitos de bandidos). muito disso tem a ver com a forma como a presena do crime, do mal, tratada ou vista. a banalidade de atos do mal (arendt,1999), sua normalizao (ruiz, 2004), foucault, (1972) ou mesmo a sua naturalizao, no podem impedir-nos de ver o sistema que autoriza ou legitima tais aes e racionaliza suas consequncias. nesse sentido, temos ento um direito penal que festeja o volume de leis penais para enfren-tar a criminalidade (direito penal simblico), retomando a ideia do punitivismo-eficientismo penal sob a influncia do discurso da lei e da ordem, uma verdadeira poltica criminal de exceo (calleGari, 2010).

    a vulgarizao da realidade, tornada imagem e espetculo, tambm contribui para a manuteno e alimentao deste sen-so comum terico-prtico que enfraquece ou deslegitima o dis-curso dos direitos humanos. a perspectiva da dignidade humana e dos direitos humanos nela gerada ainda no se estabeleceu nem como senso tampouco como consenso entre ns. por isso a ideia de pertena famlia humana, que me torna titular ou sujeito (como faculdade e exigncia) destes direitos humanos

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    ainda no nos convenceu, prevalecendo ainda a alternativa das cercas, dos muros, da segurana privada ou jurdica, por vezes.

    a razo fraca tambm dos direitos humanos, que os des-legitima, firma suas bases nas prticas de convenincia, na complacncia com a impunidade ou mesmo na relativizao do senso de observncia da lei ou da efetividade da justia, fazen-do valer o brocardo: aos amigos, tudo! aos inimigos, os rigores da lei.

    assim, tanto a prtica descontextualizada do transplan-te do pensamento justifilosfico europeu como o alinhamento dos direitos humanos constitucionalizados tradio exclusiva das Grandes declaraes e, ainda, uma concepo de pes-soa humana, assumida somente com as bases da racionalidade europeia (tecnocientfica e mercadolgica), invizibilizadora da histria e dos povos latino-americanos, no se sustentam como autnticas razes fortes para o discurso dos direitos humanos.

    isso supe de incio uma iniludvel tarefa de aprendermos a nos livrar do espelho eurocntrico, que necessariamente distor-ce nossa imagem: tempo, enfim, de deixar de ser o que no somos (QuiJano, 2005).

    6 Os desafios para os direitos humanos no contexto brasileiro

    6.1 As razes fracas e os ajustes de significado

    a proposta de analisar os desafios para os direitos huma-nos nos tempos atuais reporta-nos a alguns pressupostos j aqui trabalhados, como o fenmeno da colonizao, da moder-nidade eurocntrica e do etnocentrismo como perspectiva, mas tambm indica outros parmetros de leitura, alguns especficos, outros ligados a uma lgica-padro de concepo de mundo, de percepo das relaes econmicas e da reestruturao do domnio, principalmente nos ltimos vinte anos. nada to universal como o fenmeno da globalizao e seus produtos econmicos, sociais e culturais, refazendo no s as relaes humanas, como a concepo de mundo, de indivduo e tambm a percepo do futuro.

    o consenso de Washington (1989), na fronteira final da Guerra fria (Queda do muro de Berlim e fragmentao do blo-co socialista no leste europeu), imps pelo neoliberalismo eco-nmico um outro ajuste mundial, afetando projetos e destinos das naes do mundo todo. uma nova ideologia de mercado re-concebeu as relaes de produo, de consumo e de pen-samento. metfora de um mundo sem fronteiras vincula-se outra, a de um mundo em rede (castells, 2010), interligado. ao lado de benefcios iniludveis (avanos tecnolgicos, desco-bertas no campo da sade, da comunicao), vimos coexistir dramas e ameaas tornadas imprescritveis (milhes de famin-

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    tos pelo mundo, milhes de refugiados ambientais e das guerras disseminadas, ameaas naturais, degradao do planeta, etc.). abundncia e desperdcio, superconcentrao de riquezas e mi-sria e condies subumanas. o referencial social de incluso humana foi ditado e editado por outro imperativo: eu consumo, e pode-se dizer ainda por sua aemulatio: eu ostento. nesse contexto, claro que se faz imperativo a produo e constante ressignificao de sentido atravs de um discurso ideolgico for-te, com capacidade de fabricar consensos (chomsKY, 1994) e efetivar convencimentos. nunca a ideia fixa da uniformidade, do pensamento nico, foi to exigida.

    as singularidades, o pensamento di-verso, a dimenso e perspectiva multicultural, soam como contestao e protesto ordem. por isso a necessidade de descart-los por princpio ou de rotul-los como estratgia.

    como sempre acontece nas reestruturaes de poder e de formas de domnio, o sentido das relaes intersubjetivas ressignificado. claro exemplo disso em nosso pas que galga-mos posies entre as economias mais desenvolvidas do mun-do sem, no entanto, resolver o problema da desigualdade que nos mantm no posto das naes mais desiguais do mundo. aumenta-se o padro de desenvolvimento em reas tidas como estratgicas, mas no se investem nem se fomentam condies e oportunidades de desenvolvimento, necessrias para a supe-rao de mazelas seculares: analfabetismo (funcional ou no), acesso a bens primrios, combate ao clientelismo administrati-vo-poltico, impunidade e corrupo, reforma agrria, combate a situaes anlogas escravido ainda presentes e, por vezes, consentida. perfilam-se iniciativas e medidas em prol do eficien-tismo de mercado em detrimento da concretizao de direitos.

    antes de tudo, o que desafia prima facie os direitos huma-nos a sua negao ou violao. mas tanto quanto desafiam tambm os obstculos institucionais e, at mesmo, os culturais, que impedem sua efetivao.

    sobre o fenmeno da positivao dos direitos humanos e seu papel, visto acima, permanecem os questionamentos sobre sua eficcia mediante as sistemticas violaes. a atribuio da universalidade de igual forma parece no sugerir fora suficiente para sua validade, bem como o reconhecimento jurdico de tais di-reitos no tem sido fator impeditivo de tantos aviltamentos digni-dade humana: genocdios, intolerncia, massacres, intervenes, mortalidade infantil, fome, etc. nesse sentido, esclarecedora a concluso a que chega Bragato (2007, p. 70) ao dizer que

    antes de obedecer a lei, preciso termos boas razes pa-ra isso, e a ampla violao dos mesmos demonstra que a humanidade ressente-se da percepo de que tais direitos supem uma dimenso moral em que o outro deve ser considerado, sempre, como um fim em si mesmo. na me-

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    dida em que aquilo que aceito consensualmente como verdade fruto de um discurso construdo, a generalizada violao dos direitos humanos nos leva a concluir que no h um discurso que legitime sua prtica ou a observncia das leis que visam proteg-lo.

    temos aqui um primeiro desafio para o futuro dos direitos humanos em terras brasileiras. a superao de um discurso fra-co dos direitos humanos, situado no mero reconhecimento jurdi-co, incapaz de legitimar prticas efetivas, passa necessariamen-te pela necessidade desse deslocamento de perspectiva, do formalismo jurdico, para o enfoque dos direitos humanos como exigncia moral (o respeito ao outro em sua dignidade). o mero reconhecimento legal ou estatal tem se mostrado, na prtica, incapaz de levar ao concreto o conceito, provando que continua tendo razo o positivismo, uma vez que engessa o reconheci-mento na lei sem reforar na prtica o respeito. agrava-se ain-da mais quando, em nome de declaraes de tais direitos, o prprio estado e governos os utilizam como texto e pretexto de violaes em muitos pases.

    Que se diga, mesmo assim, que a consagrao dos direi-tos humanos na lei necessria e importante no s para uma maior previsibilidade como tambm para uma garantia de cum-primento por meio de medidas de coero disponveis ao estado (BraGato, 2007).

    portanto, tais razes fracas no discurso dos direitos hu-manos, assim como os ajustes dos novos significados (prticas elaboradas e justificadas), ainda sinalizam um grande desafio que exigem, mais do que reparos, todo um processo de des-constru-o de tais razes assim como uma nova ressignificao dos direitos humanos, sempre atenta histria e aos testemunhos latino-americanos bem como uma marcha de volta ao mundo da vida, como prope habermas.

    6.2 A modernidade tardia e o discurso patrimonialista-estamentrio

    o conceito de modernidade tardia tem sido, saciedade, trabalhado por streck (2011) justamente para demonstrar que por aqui (terras brasileiras) no vivenciamos a realidade de um estado social, no passamos pela etapa do estado providncia (welfare State), por isso aqui tambm no foram cumpridas as promessas da modernidade, ou melhor: foram cumpridas ape-nas para certo grupo de brasileiros uma vez que, quando o es-tado interventor, que deveria cumprir a funo de estabelecer o estado de bem-estar social, revela-se e implementa-se como um interventor-investidor e desenvolvimentista apenas para uma camada de brasileiros que se apropriou deste mesmo estado e o lotearam com o capital internacional. dilapida-se a res-publica pela privatizao, flexibilizam-se relaes e direitos trabalhistas.

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    ele se refreia diante da promoo de polticas sociais, tornan-do-se suplemento de determinado modelo econmico. o fosso crnico da desigualdade social no encontra nas funes do es-tado um meio de superao, mas de manuteno.

    ainda que promulgssemos uma constituio cidad em 1988, no a contextualizou uma teoria da constituio, com um amadurecimento democrtico suficiente para que suas garan-tias, direitos fundamentais e avanos se tornassem efetivos. es-tvamos no sculo XX mas ainda com um p no sculo XiX onde a lei era igual ao direito. assim, o Brasil ingressa tardiamente nas discusses do constitucionalismo e, por isso tambm, com a lgica do estado-mnimo, na dcada de 1990, nos vemos si-tuados e sitiados pelo dficit da modernidade, momento em que podero ser ou confiscadas ou in-efetivadas as bases funda-mentais, as garantias da nao bem como o papel e funo do estado democrtico de direito.

    tal fenmeno explicado por faoro (1998) pelo binmio patrimonialismo-estamento, tese sintetizada por streck (strecK, 2011, p. 29), no sentido de que o poder poltico no Brasil (histo-ricamente) se articula, devido a uma herana lusitana, a partir de um estado que patrimonialista em seu contedo e estamental em sua forma (grifo nosso).

    o estado apropriado por uma camada social (os donos do poder) que sempre se renova, mas que no representa a nao. essa camada caracteriza-se pelo hbito de governar em nome prprio sem esquecer que seu crculo de camada imperme-vel. por sua vez, o estamento, que no se assimila burocracia, nasce do patrimonialismo, absorve suas tcnicas e se perpetua num tipo social especfico: adquiriu o contedo aristocrtico, da nobreza da toga e do ttulo sob um sistema patrimonial do capi-talismo politicamente orientado (faoro, 1998, p. 739).

    criam-se, conforme streck (2011, p. 30), classes de bra-sileiros diferentes de outros brasileiros, onde conta-se como critrio o sobrenome, o curriculum de servios prestados (de cima para baixo) e a procedncia. para faoro (faoro, 1998, p. 743), coexistem e convivem a sociedade e o estamento: uma espera o taumaturgo, que quando a demagogia o encar-na em algum poltico, arranca de seus partidrios mesmo o que no tm; o outro permanece e dura, no trapzio de seu equilbrio estvel.

    em sua obra, faoro (1998) segue tentando aprofundar esta lgica onde a realidade social se mostra dissonante, cin-dida em realidades distintas, opostas e que reciprocamente se desconhecem:

    duas categorias justapostas convivem, uma cultivada e le-trada, outra primria, entregue a seus deuses primitivos, entre os quais, vez ou outra, se encarna o bom prncipe. onde a mobilizao de ideais manipulados no consegue

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    manter o domnio, a represso toma o seu lugar, alternan-do o incentivo compreenso (faoro, 1998, p. 744).

    a sustentao de tal situao, de realidades to distantes e distintas, pressupe e impe a necessidade, o cuidado de inven-tar a realidade. nesse compasso inventam-se leis, mas tambm rus ou, dizendo de outro modo, como tem afirmado constante-mente streck (2012a) cria-se o cdigo civil para os que tm e o cdigo penal para os que no tm.

    numa reflexo que pode ser localizada no mesmo itinerrio conceitual de faoro, lazzarini (2010) fala do fenmeno de apro-priao do estado como um capitalismo de laos,7 mostrando como os traos patrimonialistas encontram-se sedimentados nos poderes estabelecidos. o aperfeioamento do esquema se visibiliza nos financiamentos das campanhas eleitorais, tra-zendo a lume que o fisiologismo (troca de favores) no s se processa na dinmica interna corporis do poder institudo (rela-es de governabilidade) como tambm entre os mandatrios eleitos com seus financiadores privados. um poltico eleito, mais que delegado e afianado pelo voto, ser financiado por de-terminado interesse do qual se torna representante, usando-se de um trocadilho.

    nessa herana patrimonialista-estamental uma das maio-res mazelas nacionais encontra-se ainda na corrupo e nos desvios de dinheiro pblico. tal prtica naturalizada e tolerada, muitas vezes pela falta de conscincia poltica, de um lado, e por omisso dos rgos e mecanismos de controle, de outro, tem-se tornado pautas mnimas nos meios de comunicao adestrados. a domesticao do senso coletivo perfila-se a uma cultura de oportunismos e espertezas, tantas vezes descrita (se certo ou no, no se sabe) como uma herana cultural brasileira. a to-lerncia como resultado imobilizador tem servido como anes-tsica da indignao, e assim constroem-se sensos comuns: isso no muda nunca, ou ento,, poltica sujeira e roubalhei-ra. dessa forma, o contraditado tambm ressoa como orculo: quem diz que no gosta de poltica governado por quem diz que gosta, enquanto Bertolt Brecht, com seu analfabeto polti-co, vai ganhando cada vez mais razo.

    7 sobre capitalismo de laos, Gaspari (2010) analisa a obra de lazzarini, aludin-do que este analisa vinte mil dados estatsticos de 804 empresas, mostrando as imbricaes do poder pblico e do privado, numa relao promscua de vanta-gens, onde na maioria das vezes, nos processos de privatizao de bens pbli-cos, o maior financiador era o prprio estado via Bndes. em contrapartida, tais empresas privadas (Vale, odebrecht, camargo correia, JBs-friboi, aracruz/Votorantim, entre outras) figuram como as maiores doadoras/financiadoras de campanhas para cargos eletivos. a presena destas empresas em conselhos de empresas inquestionvel, tornando claro o entrelaamento entre o pbli-co e o privado. enfim, o capitalismo de laos alinha-se na reflexo de faoro dos donos do poder e da herana patrimonialista no/do estado brasileiro (cf. lazzarini, 2010; Gaspari, 2010).

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    festas e viagens de parlamentares com dinheiro pblico, doaes do estado para desfiles de carnaval, farras, lucros ex-cessivos dos bancos, superfaturamento em obras licitadas, so todos exemplos caractersticos de um estado fundado na he-rana estamental que arroga procedimentos e privilgios com recursos pblicos. a contra-face social dessa prtica tambm notria: utentes do sus sendo atendidos em corredores de hospitais por falta de leitos e enfermarias, apropriao indbita de recursos destinados aos flagelados das chuvas, carncia de vagas em escolas pblicas, pssimas condies das rodovias. transversalmente a tudo isso, uma constituio federal que busca garantir a repblica a seus concidados: a erradicao da pobreza e da marginalizao, a diminuio das desigualda-des sociais e regionais, a promoo do bem de todos, sem pre-conceitos e discriminao (strecK, 2011 p. 22). percebe-se assim a distncia entre o que busca a repblica e o trato que se tem dado res-publica.

    de se acentuar que dentro deste quadro patrimonia-lista-estamentrio, ou de um capitalismo de laos ou, ainda, utilizando-se de um termo novo cunhado por Giuliani e veiculado por streck (2012b), um presidencialismo de coaliso oramen-tria, h avanos permitidos, sensvel melhora nos indicado-res sociais, no sem constatar que so ajustes enquadrados dentro de uma ordem econmica maior, cujo receiturio sabe-se muito bem de onde procede.

    no demais lembrar que programas de combate fome e a misria vm sendo h muito recomendados e exigidos pelo Banco mundial, assim como vrios programas de reformas, so-bretudo propostas que, mais do que revirar e atacar as causas, buscam diluir seus efeitos. nesse sentido, vale lembrar que, en-tre as exigncias estipuladas no consenso de Washington, do Banco mundial e do fundo monetrio internacional, estava a fle-xibilizao dos contratos de trabalho, uma forma velada (ou nem tanto assim) de acabar com os direitos dos trabalhadores. a tal propsito, torna-se importante pontuar tambm a relao entre as reformas no sistema processual brasileiro e o Banco mundial, especificamente nos documentos 319s (1996), que recomenda valores para o aprimoramento da prestao jurisdicional, e o re-latrio 32789-Br (Fazendo com que a Justia conte), de 2004, recomendando o aumento da eficincia no Judicirio como meio de debelar a crise.8

    como se percebe pela amostra dada, concepo de estado vinculou-se os interesses de determinada ordem. constri-se um imaginrio patrimonialista-estamental, repaginando as funes do pblico, em que o estado se afirma como um territrio au-

    8 importante reflexo sobre o assunto foi desenvolvida por saldanha (2010), ex-plicitando uma tenso interna na jurisdio, entre eficincia e efetividade e as relaes dessa com os parmetros da Justia.

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    torizado de disposies e relaes, alheias realidade social. Um territrio colonizado por agentes e atores (donos do poder) tangidos pelo iderio patrimonial-estamentrio. Tudo isso se processa e se mantm com a fora de um forte componente ideolgico: a maior parte da sociedade passa a acreditar que existe uma ordem de verdade, na qual cada um tem o seu lugar (de) marcado (STRECK, 2011, p. 35).

    Em sua obra prima, Faoro (1998) definia nesse contexto (ou no contexto de 1957, na primeira verso publicada) o papel ou a funo do povo:

    Este oscila entre o parasitismo, a mobilizao das passea-tas sem participao poltica, e a nacionalizao do poder, mais preocupado com os novos senhores, filhos do dinhei-ro e da subverso, do que com os comandantes do alto, paternais e, como o bom prncipe, dispensrios de Justia e proteo. A lei, retrica e elegante, no o interessa. A eleio, mesmo formalmente livre, lhe reserva a escolha entre opes que ele no formulou (FAORO, 1998, p. 744).

    Dessa forma, conveniente e oportuna, pode-se confundir cidadania com identificao e documentao nacional, e demo-cracia com eleio, alis, uma falsa democracia, na lio de Sa-ramago (2005): A democracia em que vivemos uma democra-cia sequestrada, condicionada, amputada. O poder do cidado limita-se, na esfera poltica, a tirar um governo de que no se gosta e a pr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais.

    6.3 As polmicas em torno do PNDH-3 e os desafios aos direitos humanos

    Lanado em dezembro de 2009 (Decreto n. 7.037) e atua-lizado em 2010 (Decreto n. 7.177), o 3 Plano Nacional de Di-reitos Humanos 3 (PNDH-3) suscitou gritantes reaes em se-tores da sociedade brasileira e, por isso mesmo, traduziu por este efeito emblemtico, em chave de interpretao do tema, os direitos humanos no Brasil em seu debate atual.

    As crticas a esse programa fizeram emergir alguns deba-tes que pareciam superados, o que, todavia, no era o caso. Ainda quando o Brasil seguia seu percurso para a democracia (1979-1988), o tema dos direitos humanos ganhava forte teor depreciativo, ou vinculado aos direitos de bandidos ou utopia ou idealismo dos grupos militantes, identificados nas vtimas da ditadura miliar principalmente. O locus-fonte especfico destas reaes contrrias ao PNHD-3 referencia as razes fundantes tanto da prtica como do discurso contra os direitos humanos: as foras armadas (e a reao contra a instituio da Comisso da Verdade); a grande imprensa (que se coloca contra a ela-borao de um ranking de meios de comunicao que atentam contra os direitos humanos, entendidos como forma de contro-le); a Igreja (a reao contra a descriminalizao do aborto); e

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    a confederao nacional da agricultura, abrigo dos ruralistas (contra a proposta de mediao de conflitos, pela realizao de audincia coletiva com os envolvidos, sejam conflitos agrrios ou urbanos).

    sem muito esforo, possvel observar aqui a relao patrimonial-estamentria (os donos do poder) em uma prtica, articulada ou no, de estabelecer ou interditar a efetivao dos direitos humanos por estas bandas.

    as propostas do programa, polemizadas por tais setores preciso que se diga , so propostas que j estavam acenadas nos dois programas anteriores. no entanto, quando certas rea-es barulhentas so reacendidas, inclusive em perodo eleito-ral, revela-se a manuteno de setores da sociedade brasileira, de uma postura avessa e crtica aos direitos humanos e que, bem instalados no estamento poltico, possuem ainda um forte poder mobilizador, tendo em vista o fato de que conseguiram forjar alteraes nos textos originais sua maneira.

    a artilharia retrica do ataque decidiu centrar seu foco nos traos ideolgicos de algumas propostas do programa, uma argumentao que se julgava superada mas que se revela um instrumento sempre oportuno. a senadora Ktia abreu, em artigo na folha de s.paulo (12.01.2010), sem nenhum pudor, reconhece na proposta originria do uma tentativa de camuflar delrios de dominao autoritria, pois para abreu (2010, s/p): no novo programa nacional dos direitos humanos, o pnhd-3, o desenho outro: saem a democracia, a justia, a tolerncia e o consenso e entra a velha viso esquerdista e ideolgica que a humanidade enterrou sem lgrimas nas ltimas dcadas, depois de muito sofrimento e misria.

    no mesmo esteio e com mais sagacidade, martins (2010), jurista, ataca a proposta original do programa pelo vis ideolgi-co, para quem o texto, organizado sob inspirao dos guerrilhei-ros pretritos, tinha a pretenso de violar o direito de proprieda-de, pisotear em valores religiosos, controlar a imprensa, interferir no agronegcio, aumentar as consultas populares, entre outras.

    sem receio e sem saudade, pode-se dizer que a mesma retrica de quem marcha com deus pela tradio, famlia e propriedade. a partir destes exemplos, apenas ilustrativos, per-cebe-se o ponto de partida dos crticos dos direitos humanos, revelando uma dupla face: o carter des-instituinte e agressivo contra direitos j constitucionalizados, de um lado, e, de outro, a ideia traduzida de que direitos humanos no Brasil so prima facie entendidos como direito de propriedade, respeitos a valo-res religiosos e familiares e igualdade perante a lei. essa velha retrica transformada em consenso imposto, com sofrimentos e lgrimas, tem sido responsvel por legitimar histricas agres-ses aos direitos humanos no Brasil.

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    se no perodo da transio democrtica fortalece-se a luta pelos direitos humanos, a partir da luta pela anistia (1978-1979), pela restaurao da democracia (diretas J, 1984), culminando na constitucionalizao de uma srie de direitos humanos e ga-rantias fundamentais (constituio de 1988), resta claro que os referidos programas nacionais de direitos humanos no passam de medidas governamentais, polticas de estado, objetivando efetivao destes direitos previstos na constituio. por isso que a proposta do pnhd-3 no tem nada de novo, de ideologiza-do, ou sequer organizado sob a inspirao de guerrilheiros pre-tritos. sequer tambm nova esta crtica estamentria contra qualquer medida que sinalize efetivao ou concretizao de direitos humanos.

    nota-se que, alm das iniciativas do pnhd-3 terem carac-tersticas comuns e estarem em uma linha de continuidade, elas no afrontam os estatutos constitucionais nem os acordos inter-nacionais dos quais o Brasil signatrio. pelo contrrio, preten-dem efetiv-los. isso nos leva ao debate da modernidade tardia configurada numa democracia ainda jovem, perto de outras ex-perincias do mundo ocidental. por outro vis, reflete tambm a realidade da sociedade brasileira imersa nessa mesma tendn-cia conservadora (adorno, 2010).

    um trao revelador da natureza programtica nos pndhs diz respeito a uma concepo de direitos humanos como direitos indivisveis, na mesma linha da conferncia mundial de Viena sobre os direitos humanos, de 1993.9

    nota-se nos pndhs uma linha de evoluo em relao tan-to ao reconhecimento dos direitos humanos como s medidas e programas que os viabilizem pela via estatal. em relao ao direito dos afrodescendentes, ilustra isso o reconhecimento da existncia do racismo e a indicao de medidas para combater a discriminao, assunto tratado pela primeira vez pelo estado no pndh-2. nesse curso que o pndh-3 objetiva ampliar o elenco de direitos e dar a eles eficcia por meio de aes afirmativas de proteo e de promoo. em relao aos anteriores, caracteri-

    9 ocorrida entre 14 a 25 de junho de 1993 em Viena, a conferncia mundial so-bre os direitos humanos foi convocada pela onu e contou com 171 delegaes de estados, cerca de 2000 onGs, sendo que 813 como observadoras. Quase 10 mil pessoas participaram. caracterizou-se como um espao de discusso altamente pluralizado, um grande frum de discusso. muitos debates foram nela travados. no contexto do ps-guerra fria, os direitos humanos comearam a ganhar nova fora na agenda internacional, sobretudo pelo fim da disputa ide-olgica. como se percebeu pela declarao e programa de ao, a conferncia estabeleceu-se como um marco referencial para os direitos humanos devido a vrios aspectos: amplitude dos temas tratados, avano na rea de proteo e promoo de direitos, flexibilizao da dimenso da soberania do estado fren-te aos direitos humanos, etc. um dos mais significativos avanos tcnicos da conferncia fixa-se em dizer que no existe compartimentao dos direitos. em outras palavras, direitos humanos no so apenas direitos civis e polticos, mas tambm econmicos, sociais, culturais e coletivos (adorno, 2010, p. 11; hernandez, 2010, s/p).

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    zou o pndh-3, em seu carter preparatrio, pelo expansivo pro-cesso de consultas, atravs de conferncias prvias. na mesma crtica contra o programa, martins (2010) se volta contra o car-ter consultivo das assembleias e conferncias. alis, o carter da consulta popular uma fobia insistentemente ressuscitada pela elite nacional, contra qual sempre se interpe.

    a obviedade que nos elementos inovadores trazidos pe-los programas de direitos humanos, em especial pelo pndh-3, pretende-se dar respostas s demandas da sociedade civil e aos temas contextualizados no momento histrico em que vi-vemos, tais como: direito memria e verdade, unio civil homoafetiva, controle social da mdia, medidas de soluo de conflitos agrrios e urbanos. no entanto, esses temas j se encontravam nas primeiras edies dos pndhs, ainda que em formulaes mais contidas. contudo, tambm bvio o conser-vadorismo moral na sociedade brasileira, e por isso o teor com-bativo e agressivo das reaes.

    sobre esse aspecto, pontua-se a cruzada reativa da m-dia, entendendo como censura a proposta do pndh-3 de criar um ranking nacional, tanto de veculos de comunicao que se comprometem como dos que violam os direitos humanos. alis, a ideia de fiscalizao, controle e punio, mediante aos aten-tados a direitos humanos, j estava presente no pndh-2. consi-derada em seu objetivo, a proposta no cria ou restringe direito, mas apenas visa garantir a efetividade e o cumprimento dos di-reitos humanos que so direitos constitucionalizados. uma pro-teo contra a violao. a revolta contra tal medida parece sina-lizar que a realidade da violao deve ser encarada como regra.

    incisiva questo na reao contra o pndh-3 foi o tema do acesso Justia e a possibilidade de criar mecanismos de dilo-go entre envolvidos, forma prvia de mediar conflitos agrrios e urbanos. a reao medida anteviu agresso ao direito de pro-priedade, assunto to caro elite patrimonialista brasileira. aqui tambm, tanto o pndh-1 como o pndh-2 tinham propostas mais incisivas, como recomendaes para expropriao de terras e cautela nas liminares. por sua vez, o pndh-3 introduz a proposta do dilogo como medida prvia s liminares, sendo suficiente para as duras reaes do setor ruralista, entendendo que tal medida provocaria instabilidade no campo. alm da hipocrisia retrica, j que as medidas anteriores se deram no governo fhc, de aspecto conservador, as reaes do setor desvela o medo da discusso sobre as formas de apropriao e posse das grandes propriedades, seu uso, abuso ou abandono, contingncias da tradio latifundiria brasileira responsvel por uma das mais crnicas formas de violncia e atentado aos direitos humanos e geradora de desigualdades sociais.

    por fim, o direito memria e a verdade, o acesso aos ar-quivos da ditadura militar e o direito de conhecer o que se pas-

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    sou, numa das mais violentas pginas da histria poltico-estatal brasileira contra os direitos humanos. o caminho traado pelo Brasil tem sido o oposto de alguns pases vizinhos que fizeram ou que esto fazendo a opo de revogar e revisar as leis de anistia, o que tem se tomado como impensvel aqui no Brasil.10 apesar de ser um debate ainda inconcluso, parece ser uma ten-dncia a se impor de que, aqui, a lei de anistia no ser revoga-da, mesmo com a sentena da corte interamericana que decidiu que o fato da no punio aos militares configura violao s convenes internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil (caso da guerrilha do araguaia).

    seja como for, a lei n. 12.528/2011 criou a comisso da Verdade, passando ao largo de temas tais como investigar, pro-cessar, punir, responsabilizar. apresentou como finalidade o examinar e esclarecer as violaes de direitos humanos com o intento de efetivar a memria e a verdade histrica, promovendo assim a reconciliao nacional.11 no pndh-3 tal tema encontrou forte reao chegando a suscitar uma crise interna no governo de ento. tal reao, iniciada por setores das foras armadas, logo encontrou seguidores em alguns segmentos civis. a pecha de revanchismo foi associada a vrios ex-militantes, presentes poca nos quadros do governo, inclusive a atual presidente, ento ministra. em resumo, o governo lula se viu constrangido a rever os termos de criao da comisso que originariamente previa o papel de auxlio na investigao dos crimes, a supres-so de leis, do perodo que atentavam contra os compromissos internacionais ou dispositivos constitucionais sobre os direitos humanos. dessa forma, segundo adorno (2010, p. 18), perce-be-se o quanto a apurao de responsabilidades pelas graves

    10 a argentina revogou sua lei de anistia (lei de ponto final e lei de obedincia devida) em 2001, confirmada pela corte suprema em 2005. no chile, a lei de anistia foi anulada em 2008 aps presso da corte interamericana de di-reitos. no peru, a lei de anistia foi revogada em 2001 por sentena da corte interamericana de direitos humanos. essa sentena tornou-se histrica porque inaugurou o entendimento jurisprudencial da corte no sentido da incompatibi-lidade entre a conveno interamericana de direitos e as leis de anistia. no uruguai, em 2009, o supremo tribunal de Justia declarou inconstitucional a lei de caducidade da pretenso punitiva do estado, de 1986. o projeto de lei j aprovado pelo senado est em fase final objetivando a sua promulgao. o Brasil foi condenado em sentena da corte interamericana de direitos huma-nos, em 24.11.2010, a investigar e punir os crimes cometidos por agentes da represso durante a ditadura militar. h atualmente cobrana de cumprimento peticionada junto ao stf por segmentos da sociedade. faz-se necessrio dizer que o cumprimento de tal sentena invalidaria a lei de anistia de 1979. no en-tanto, em abril de 2010 o stf decidiu que a lei de anistia continuaria valendo, de modo que os militares que praticaram crimes contra os direitos humanos no poderiam ser processados ou condenados. um debate aberto ainda no supremo.

    11 artigo 1 da lei n. 12.528/2011 que cria a comisso nacional da Verdade no m-bito da casa civil da presidncia da repblica, estabelecendo sua finalidade.

  • Cadernos IHU ideias 25

    violaes de direitos humanos durante a ditadura militar perma-nece um divisor de guas.

    Vislumbra-se nessa tendncia no s o corporativismo mi-litar como tambm a fragilidade do regime de transio vivido em terras brasileiras. Quando o pas volta democracia, a falta de uma justia de transio perpetua uma cultura, tornada consenso im-posto pelo silncio, transformado em tabu. trata-se da moder-nidade tardia de um texto constitucional sem um contexto cons-titucionalizante, uma realidade de promessas no cumpridas de democratizao. no passamos da exceo para a democra-cia, pela via da justia de transio. portanto, sua ausncia re-tarda em muito sua efetividade. eis o estado da arte.

    parece clarear assim a compreenso de que temas vin-culados aos direitos humanos no consigam ainda ressoar na sociedade brasileira em direo ao dilogo, mas em relao ao confronto. temas como consultas populares, audincias prvias, memria e verdade causam um frenesi reacionrio em setores influentes e articulados da sociedade. a herana patrimonial conservadora no s cuida de suas prerrogativas, blindando-se de possveis ameaas como tambm invita esforos para con-vencer o restante da sociedade a apoi-los, atravs da manipu-lao da opinio pblica. sob o pretexto de governabilidade, o loteamento dos espaos do governo edita o fisiologismo como procedimento onde atingir consenso significa pagar um preo.

    de tal sorte, toda a polmica aqui analisada, suscitada pe-lo pndh-3, indica elementos desafiadores dos direitos humanos no Brasil. entretanto, indica que, sem esse acerto de contas, apurado pela conscincia histrica crtica com o nosso passa-do (colonizado pelo patrimonialismo-estamental), no conse-guiremos implementar as tarefas do futuro. a superao destes obstculos (mantidos) um trabalho de des-constuo. so desafios para os direitos humanos, seus defensores, militantes, de tal modo que a memria tornada esquecimento no acabe se tornado procedimento de chegada, mas que, uma vez ativada, seja condio de possibilidade de mudanas.

    7 Consideraes finais

    h um longo caminho a ser feito para que a sociedade bra-sileira faa a travessia necessria do reconhecimento concre-tizao dos direitos humanos. em tempos em que conquistas constitucionais importantes, a preo de sangue e de muita luta, sofrem ameaas de restries de toda sorte, impe-se como de-safio a necessidade de superar interditos culturais que esvaziam ou encobrem o discurso e as razes emancipatrias dos direitos humanos.

    a negao destes direitos tem tido um potencial muito mais mobilizador do que as proposies afirmativas. isso parece o

  • 26 Afonso Maria das Chagas

    bvio. logo percebe-se a dimenso da tarefa de des-construir imaginrios que naturalizam o desrespeito e o des-compromisso com os direitos humanos. mas tambm se coloca como uma emergncia a tarefa de construir novos e outros consensos, so-bre valores humanos, dignidade humana, irredutvel humano. uma tarefa coletiva e que se traduz em atitudes singulares, que vai da conscincia terica e histrica pedagogia do exemplo a fim de vermos superados tantos fenmenos, prticas e com-portamentos tidos como cultura e legitimados por um discurso.

    Referncias

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  • 28 Afonso Maria das Chagas

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    santos, Boaventura de sousa. por uma sociologia das ausncias e uma sociologia das emergncias. in: Crtica de cincias sociais, n. 63, 2002, p 46. disponvel em: . acesso em: 19 nov. 2011.

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    Wallerstein, immanuel. O universalismo europeu: a retrica do po-der. (trad: Beatriz medina). so paulo: Boitempo, 2007.

  • TEMAS DOS CADERNOS IHU IDEIAS

    N. 01 A teoria da justia de John Rawls Dr. Jos NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produes tericas Dra. Edla Eggert

    O Servio Social junto ao Frum de Mulheres em So Leopoldo MS Clair Ribeiro Ziebell e Aca-dmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss

    N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo Jornalista Sonia MontaoN. 04 Ernani M. Fiori Uma Filosofia da Educao Popular Prof. Dr. Luiz Gilberto KronbauerN. 05 O rudo de guerra e o silncio de Deus Dr. Manfred ZeuchN. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construo do Novo Prof. Dr. Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identirios na TV Profa. Dra. Suzana KilppN. 08 Simes Lopes Neto e a Inveno do Gacho Profa. Dra. Mrcia Lopes DuarteN. 09 Oligoplios miditicos: a televiso contempornea e as barreiras entrada Prof. Dr. Valrio Cruz

    BrittosN. 10 Futebol, mdia e sociedade no Brasil: reflexes a partir de um jogo Prof. Dr. dison Luis GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz Profa. Dra. Mrcia TiburiN. 12 A domesticao do extico Profa. Dra. Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roa: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educao Popular

    Profa. Dra. Edla EggertN. 14 Jlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prtica poltica no RS Prof. Dr. Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denncia Profa. Dra. Stela Nazareth MeneghelN. 16 Mudanas de significado da tatuagem contempornea Profa. Dra. Dbora Krischke LeitoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: fico, histria e trivialidade Prof. Dr. Mrio MaestriN. 18 Um itinenrio do pensamento de Edgar Morin Profa. Dra. Maria da Conceio de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre tcnica e humanismo Prof. Dr. Oswaldo Giacia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a interveno societria Profa. Dra. Lucilda SelliN. 22 Fsica Quntica: da sua pr-histria discusso sobre o seu contedo essencial Prof. Dr. Paulo

    Henrique DionsioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crtica a um solipsismo prtico

    Prof. Dr. Valrio RohdenN. 24 Imagens da excluso no cinema nacional Profa. Dra. Miriam RossiniN. 25 A esttica discursiva da tev e a (des)configurao da informao Profa. Dra. Nsia Martins do

    RosrioN. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS MS Rosa

    Maria Serra BavarescoN. 27 O modo de objetivao jornalstica Profa. Dra. Beatriz Alcaraz MaroccoN. 28 A cidade afetada pela cultura digital Prof. Dr. Paulo Edison Belo ReyesN. 29 Prevalncia de violncia de gnero perpetrada por companheiro: Estudo em um servio de aten-

    o primria sade Porto Alegre, RS Prof. MS Jos Fernando Dresch KronbauerN. 30 Getlio, romance ou biografia? Prof. Dr. Juremir Machado da SilvaN. 31 A crise e o xodo da sociedade salarial Prof. Dr. Andr GorzN. 32 meia luz: a emergncia de uma Teologia Gay Seus dilemas e possibilidades Prof. Dr. Andr

    Sidnei MusskopfN. 33 O vampirismo no mundo contemporneo: algumas consideraes Prof. MS Marcelo Pizarro

    NoronhaN. 34 O mundo do trabalho em mutao: As reconfiguraes e seus impactos Prof. Dr. Marco Aurlio

    SantanaN. 35 Adam Smith: filsofo e economista Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Arajo

    dos SantosN. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: uma

    anlise antropolgica Prof. Dr. Airton Luiz JungblutN. 37 As concepes terico-analticas e as proposies de poltica econmica de Keynes Prof. Dr.

    Fernando Ferrari FilhoN. 38 Rosa Egipcaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial Prof. Dr. Luiz MottN. 39 Malthus e Ricardo: duas vises de economia poltica e de capitalismo Prof. Dr. Gentil CorazzaN. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina MS Adriana BragaN. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx Profa. Dra. Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliao aps um sculo de A Teoria da Classe Ocio-

    sa Prof. Dr. Leonardo Monteiro MonasterioN. 43 Futebol, Mdia e Sociabilidade. Uma experincia etnogrfica dison Luis Gastaldo, Rodrigo Mar-

    ques Leistner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinityN. 44 Genealogia da religio. Ensaio de leitura sistmica de Marcel Gauchet. Aplicao situao atual

    do mundo Prof. Dr. Grard DonnadieuN. 45 A realidade quntica como base da viso de Teilhard de Chardin e uma nova concepo da evolu-

    o biolgica Prof. Dr. Lothar SchferN. 46 Esta terra tem dono. Disputas de representao sobre o passado missioneiro no Rio Grande do

    Sul: a figura de Sep Tiaraju Profa. Dra. Ceres Karam Brum

  • N. 47 O desenvolvimento econmico na viso de Joseph Schumpeter Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa

    N. 48 Religio e elo social. O caso do cristianismo Prof. Dr. Grard DonnadieuN. 49 Coprnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo Prof. Dr. Geraldo Monteiro SigaudN. 50 Modernidade e ps-modernidade luzes e sombras Prof. Dr. Evilzio TeixeiraN. 51 Violncias: O olhar da sade coletiva lida Azevedo Hennington e Stela Nazareth MeneghelN. 52 tica e emoes morais Prof. Dr. Thomas KesselringJuzos ou emoes: de quem a primazia

    na moral? Prof. Dr. Adriano Naves de BritoN. 53 Computao Quntica. Desafios para o Sculo XXI Prof. Dr. Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil Profa. Dra. An

    VranckxN. 55 Terra habitvel: o grande desafio para a humanidade Prof. Dr. Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condio de uma sociedade convivial Prof. Dr. Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organizao e caos Prof. Dr. Gnter KppersN. 58 Sociedade sustentvel e desenvolvimento sustentvel: limites e possibilidades Dra. Hazel

    HendersonN. 59 Globalizao mas como? Profa. Dra. Karen GloyN. 60 A emergncia da nova subjetividade operria: a sociabilidade invertida MS Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetria de Fico de Erico Verssimo Profa. Dra. Regina ZilbermanN. 62 Trs episdios de descoberta cientfica: da caricatura empirista a uma outra histria Prof. Dr.

    Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. PeduzziN. 63 Negaes e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude Ctia Andressa da SilvaN. 64 Getlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo Prof. Dr. Artur Cesar IsaiaN. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical Profa. Dra. La Freitas

    PerezN. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexes sobre a cura e a no cura nas redues jesutico-guaranis

    (1609-1675) Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann FleckN. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimares Rosa

    Prof. Dr. Joo Guilherme BaroneN. 68 Contingncia nas cincias fsicas Prof. Dr. Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton Prof. Dr. Ney LemkeN. 70 Fsica Moderna e o paradoxo de Zenon Prof. Dr. Fernando HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade Profa. Dra. Miriam

    de Souza RossiniN. 72 Da religio e de juventude: modulaes e articulaes Profa. Dra. La Freitas PerezN. 73 Tradio e ruptura na obra de Guimares Rosa Prof. Dr. Eduardo F. CoutinhoN. 74 Raa, nao e classe na historiografia de Moyss Vellinho Prof. Dr. Mrio MaestriN. 75 A Geologia Arqueolgica na Unisinos Prof. MS Carlos Henrique NowatzkiN. 76 Campesinato negro no perodo ps-abolio: repensando Coronelismo, enxada e voto Profa.

    Dra. Ana Maria Lugo RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia Prof. Dr. Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulao Violncia da Moeda Prof. Dr. Octavio A. C. ConceioN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul Prof. Dr. Moacyr FloresN. 80 Do pr-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu territrio Prof. Dr. Arno Alvarez

    KernN. 81 Entre Canes e versos: alguns caminhos para a leitura e a produo de poemas na sala de aula

    Profa. Dra. Glucia de SouzaN. 82 Trabalhadores e poltica nos anos 1950: a ideia de sindicalismo populista em questo Prof. Dr.

    Marco Aurlio SantanaN. 83 Dimenses normativas da Biotica Prof. Dr. Alfredo Culleton e Prof. Dr. Vicente de Paulo BarrettoN. 84 A Cincia como instrumento de leitura para explicar as transformaes da natureza Prof. Dr.

    Attico ChassotN. 85 Demanda por empresas responsveis e tica Concorrencial: desafios e uma proposta para a

    gesto da ao organizada do varejo Profa. Dra. Patrcia Almeida AshleyN. 86 Autonomia na ps-modernidade: um delrio? Prof. Dr. Mario FleigN. 87 Gauchismo, tradio e Tradicionalismo Profa. Dra. Maria Eunice MacielN. 88 A tica e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz Prof.

    Dr. Marcelo PerineN. 89 Limites, possibilidades e contradies da formao humana na Universidade Prof. Dr. Laurcio

    NeumannN. 90 Os ndios e a Histria Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida Profa. Dra. Maria Cristina

    Bohn MartinsN. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo Prof. Dr. Franklin Leopoldo e

    SilvaN. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na perspec-

    tiva da Etnomatemtica Daiane Martins BocasantaN. 93 A religio na sociedade dos indivduos: transformaes no campo religioso brasileiro Prof. Dr.

    Carlos Alberto SteilN. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os prximos anos MS Cesar SansonN. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnocincia Prof. Dr. Peter A. SchulzN. 96 Vianna Moog como intrprete do Brasil MS Enildo de Moura CarvalhoN. 97 A paixo de Jacobina: uma leitura cinematogrfica Profa. Dra. Marins Andrea KunzN. 98 Resilincia: um novo paradigma que desafia as religies MS Susana Mara Rocca LarrosaN. 99 Sociabilidades contemporneas: os jovens na lan house Dra. Vanessa Andrade PereiraN. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant Prof. Dr. Valerio Rohden

  • N. 101 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria Monetria: parte 1 Prof. Dr. Roberto Camps Moraes

    N. 102 Uma leitura das inovaes bio(nano)tecnolgicas a partir da sociologia da cincia MS Adriano Premebida

    N. 103 ECODI A criao de espaos de convivncia digital virtual no contexto dos processos de ensino e aprendizagem em metaverso Profa. Dra. Eliane Schlemmer

    N. 104 As principais contribuies de Milton Friedman Teoria Monetria: parte 2 Prof. Dr. Roberto Camps Moraes

    N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnogrfico sobre o ncleo de mulheres gremistas Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha

    N. 106 Justificao e prescrio produzidas pelas Cincias Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-sos educacionais contemporneos Profa. Dra. Paula Corra Henning

    N. 107 Da civilizao do segredo civilizao da exibio: a famlia na vitrine Profa. Dra. Maria Isabel Barros Bellini

    N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidrio, terno e democrtico? Prof. Dr. Telmo Adams

    N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular Prof. Dr. Celso Candido de AzambujaN. 110 Formao e trabalho em narrativas Prof. Dr. Leandro R. PinheiroN. 111 Autonomia e submisso: o sentido histrico da administrao Yeda Crusius no Rio Grande do

    Sul Prof. Dr. Mrio MaestriN. 112 A comunicao paulina e as prticas publicitrias: So Paulo e o contexto da publicidade e propa-

    ganda Denis Gerson SimesN. 113 Isto no uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra Esp. Yentl DelanhesiN. 114 SBT: jogo, televiso e imaginrio de azar brasileiro MS Sonia MontaoN. 115 Educao cooperativa solidria: perspectivas e limites Prof. MS Carlos Daniel BaiotoN. 116 Humanizar o humano Roberto Carlos FveroN. 117 Quando o mito se torna verdade e a cincia, religio Rber Freitas BachinskiN. 118 Colonizando e descolonizando mentes Marcelo DascalN. 119 A espiritualidade como fator de proteo na adolescncia Luciana F. Marques e Dbora D.

    DellAglioN. 120 A dimenso coletiva da liderana Patrcia Martins Fagundes Cabral e Nedio SeminottiN. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos ticos e teolgicos Eduardo R. CruzN. 122 Direito das minorias e Direito diferenciao Jos Rogrio LopesN. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatrios Wilson EngelmannN. 124 Desejo e violncia Rosane de Abreu e SilvaN. 125 As nanotecnologias no ensino Solange Binotto FaganN. 126 Cmara Cascudo: um historiador catlico Bruna Rafaela de LimaN. 127 O que o cncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi Thomas Mann

    Alexander Soljentsin Philip Roth Karl-Josef KuschelN. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental identidade gentica Ingo Wolfgang Sarlet

    e Selma Rodrigues PetterleN. 129 Aplicaes de caos e complexidade em cincias da vida Ivan Amaral GuerriniN. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentvel Paulo Roberto MartinsN. 131 A phila como critrio de inteligibilidade da mediao comunitria Rosa Maria Zaia Borges AbroN. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho Marlene Teixeira e derson de Oliveira CabralN. 133 A busca pela segurana jurdica na jurisdio e no processo sob a tica da teoria dos sistemas

    sociais de Niklass Luhmann Leonardo GrisonN. 134 Motores Biomoleculares Ney Lemke e Luciano HennemannN. 135 As redes e a construo de espaos sociais na digitalizao Ana Maria Oliveira RosaN. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriaes tericas para o estudo das religies afro-brasileiras

    Rodrigo Marques LeistnerN. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psquico: sobre como as pessoas reconstroem suas

    vidas Breno Augusto Souto Maior FontesN. 138 As sociedades indgenas e a economia do dom: O caso dos guaranis Maria Cristina Bohn

    MartinsN. 139 Nanotecnologia e a criao de novos espaos e novas identidades Marise Borba da SilvaN. 140 Plato e os Guarani Beatriz Helena DominguesN. 141 Direitos humanos na mdia brasileira Diego Airoso da MottaN. 142 Jornalismo Infantil: Apropriaes e Aprendizagens de Crianas na Recepo da Revista Recreio

    Greyce VargasN. 143 Derrida e o pensamento da desconstruo: o redimensionamento do sujeito Paulo Cesar

    Duque-EstradaN. 144 Incluso e Biopoltica Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domnica Hattge e

    Viviane KlausN. 145 Os povos indgenas e a poltica de sade mental no Brasil: composio simtrica de saberes para

    a construo do presente Bianca Sordi StockN. 146 Reflexes estruturais sobre o mecanismo de REDD Camila MorenoN. 147 O animal como prximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos animais

    Caetano SordiN. 148 Avaliao econmica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitrio em Canoas-RS Fernan-

    da SchutzN. 149 Cidadania, autonomia e renda bsica Josu Pereira da SilvaN. 150 Imagtica e formaes religiosas contemporneas: entre a performance e a tica Jos Rogrio

    LopesN. 151 As reformas poltico-econmicas pombalinas para a Amaznia: e a expulso dos jesutas do Gro-

    -Par e Maranho Luiz Fernando Medeiros Rodrigues

  • N. 152 Entre a Revoluo Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no Mxi-co ou por que voltar ao Mxico 100 anos depois Claudia Wasserman

    N. 153 Globalizao e