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Parte XIX Políca Externa: Historia e Influencias Sociales

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Parte XIX Política Externa: Historia e Influencias Sociales

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Parte XIXPolítica Externa: Historia e Influencias Sociales

As Forças Armadas Como Instrumento da Política Externa - O Caso da Participação Brasileira no Haiti

David Castro Alves VILELA Mestrando em Relações Internacionais

Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais Departamento de Relações Internacionais e Adm. Pública

Universidade do Minho-Portugal [email protected]

Resumo Este trabalho de investigação visa analisar as mudanças de conceitos de segurança, através das missões de paz das Nações Unidas, bem como a atuação Brasileira neste processo, fazendo dos novos conceitos de Segurança Humana, neste início de século, um fator importante na atuação de sua Política Externa. A missão da MINUSTAH-2004, acabou tornando-se uma oportunidade político-estratégica, e ao longo deste trabalho analisamos o desenvolver dessa missão e o alinhamento de diversos países Latino-Americanos aos conceitos introduzidos pelo Brasil nesta missão, fazendo com que suas Forças Armadas se tornassem um importante instrumento de sua Política Externa no âmbito da América do Sul. Palavras-chave: Brasil, Haiti, Política, Segurança, Defesa. Abstract This research aims to analyze changes in security concepts, through the peacekeeping missions of the United Nations and the Brazilian performance in this process, making the new concepts of human security in this new century, an important factor in the performance of his Foreign Policy. The mission MINUSTAH, in 2004, became a political and strategic opportunity, and throughout this paper we discuss the development of this mission and the alignment of several Latin American countries to the concepts introduced by Brazil in this mission. Thus, Brazilian Armed Forces became an important instrument of the foreign policy in South America. Keywords: Brazil, Haiti, Policy, Security, Defense. Uma Breve Análise da Conjuntura Político-Estratégica da ONU

pós a assinatura por 51 países da Carta das Nações Unidas em 26 de Junho de 1945, e sua ratificação em 24 de Outubro do mesmo ano, as nações do mundo formavam as bases para o que viria ser uma nova conjuntura nas relações internacionais, as

potências mundiais passariam a ter um mecanismo supranacional para resolver os seus A

conflictos, em nome da segurança internacional. Com isto a humanidade se renovou, em esperanças de ver o flagelo da guerra e do holocausto da segunda guerra afastado. Desde o início, a ONU teve como principal órgão resolutivo, responsável por autorizar suas missões e intervenções nos assuntos internacionais quando necessárias, o Conselho de Segurança, que constituídos pelos vencedores da segunda guerra mundial (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, a então URSS e a China) tinham e tem o direito de veto nas resoluções da CSONU. De facto várias missões das Nações Unidas se seguiram na tentativa da cessação e resolução de conflictos. Ao longo dos anos, os conceitos e o nível de atribuição dessas missões delinearam-se, sempre sob a luz da carta das NU, tendo como as principais delas, e de natureza militar, o peacekeeping e o peace-enforcement. Podemos conceituar o peace-enforcement como sendo uma idéia central no quesito de imposição da segurança colectiva, pois, caso os meios pacíficos não sejam suficientes para assegurarem a paz, então a organização poderá recorrer ao uso efectivo da força (Pinto, 2010). Ainda segundo Maria do Céu Pinto, o peacekeeping pode ser conceituado como sendo ''uma operação que envolve militares sem poderes de enforcement, levada a cabo pelas Nações Unidas para ajudar a manter ou restaurar a segurança e a paz nas áreas de conflicto (Pinto. 2010, p 81-83)''. Este projecto de investigação visa analisar como o Brasil através de suas Forças Armadas, colocou em práctica esses conceitos no Haiti e os atrelou aos novos conceitos de Segurança Humana nas Operações de Paz das Nações Unidas, acompanhando as recentes configurações das missões de paz, e em consequência, obteve apoios importantes no âmbito regional, fazendo com que as tropas brasileiras ganhassem uma nova relevância na projeção internacional almejada pelo Brasil neste início de século. Este trabalho teve como questionamento inicial a seguinte pergunta de partida: Em que medida o Brasil tem introduzido o fator humanitário nas missões das Nações Unidas através dos novos conceitos de peacekeeping e peace-enforcement como instrumento de Liderança Regional? Para melhor avaliarmos esta problemática inicial, usei o método descritivo-analítico, fazendo um levantamento de dados documentais e empíricos através de entrevistas, e o estudo de caso para melhor confirmar ou não as hipóteses levantadas. Segundo Robert Yin '' O Estudo de Caso pode ser: exploratório, descritivo ou explanatório (causal). Sendo mais frequente o estudo de caso com propósitos exploratório e descritivos. (…) a necessidade de se usar a estratégia do estudo de caso deve nascer do desejo de entender um fenômeno social complexo (Yinn. 2005, p 15) ''. Sendo assim, utilizarei como estudo de caso a atuação do Brasil na United Nations Stabilization Mission in Haiti (MINUSTAH – 2004), por considerar esta missão como uma das principais missões que a ONU vêm desempenhando neste início de século XXI. Tem marcado com seus acertos e dificuldades essa nova visão de peacekeeping, muito atrelada em alguns aspectos ao peace-enforcement e principalmente ao peace-building, introduzindo como prioritários os conceitos de segurança humana e o respeito aos direitos humanos na agenda da política externa internacional, e no caso aqui estudado, do Brasil e dos países Latino-Americanos. Para melhor entendermos a atuação brasileira na operação de paz do Haiti, farei antes, uma breve análise das evoluções do conceito de peacekeeping, ao longo do século passado, no qual o cenário internacional trouxe novas demandas para que este conceito fosse alargado, percorreremos os conceitos de peace-building e enforcement para

elucidarmos as ferramentas usadas pelo Brasil nas Operações de Paz. Numa fase seguinte, descreverei e explorarei a atuação brasileira neste sentido, utilizando-se desses conceitos para atingir objectivos político-estratégicos em sua liderança regional. Para melhor fundamentarmos estas idéias faremos uma análise da situação crítica em que o Haiti se encontra, e de como tem sido a atuação da diplomacia brasileira na identificação da importância da missão, bem como de suas tropas no cenário de conflicto. Como estas tem conseguido assimilar e colocar em prática os novos conceitos relativos ao mandato, colocando como prioridade questões como a segurança humana e os direitos humanos. Peacekeeping e os Conceitos Humanitários As Nações Unidas desde sua criação procurou criar mecanismos que dessem condições de na prática, conseguir cumprir seu objectivo de zelar pela paz e segurança internacionais. Contudo, a Guerra Fria em muito impossibilitou as Nações Unidas de cumprir seus objectivos de forma plena1. As ações colectivas, aprovadas pelo Conselho de Segurança evitou a participação efetiva das grandes potências, era necessário que novos mecanismos fossem criados para contribuir com a resolução de conflictos. Então, foi criado um instrumento das nações unidas que possibilitasse supervisionar o cessar-fogo no terreno e contribuir com as negociações diplomáticas, estava assim formadas as condições para a introdução do peacekeeping no cenário internacional como mecanismo de resolução de conflictos. De início, o peacekeeping foi usado essencialmente, como um meio de a ONU atuar sem precisar necessariamente de todo o envolvimento do Conselho de Segurança, e em sua maioria, as forças de paz eram constituídas por países neutros, entre eles podemos destacar Canadá, India, Suécia entre outros, que contribuíram para as missões. Dentre as principais missões do período, podemos citar a Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF I) responsável por supervisionar o cessar-fogo das tropas da França e Inglaterra, que tinham invadido a região do canal de Suez, através do envolvimento na crise entre egípcios e israelitas, gerando esta missão um certo ''mal estar'' diplomático entre Britânicos, Franceses e Americanos, que também contribuiu para tornar o envolvimento das potências nas missões da paz durante a guerra fria mais escassos (Pinto. 2010, p 81). Com contínuas missões, vários especialistas das Nações Unidas desdobraram-se sobre os conceitos de peacekeeping para melhor fundamentá-lo e torná-lo de base legal mais sólida. Apesar de o seu principal embasamento legal estar configurado no capítulo VI, por ser este o capítulo que trata das resoluções pacíficas das disputas, dependendo da complexidade da missão, vários são os artigos que podem justificar uma ação, entre eles podemos citar o artigo 40º quando este diz que o Conselho de Segurança pode ''(…) convidar as partes interessadas a aceitarem as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis (Pinto apud Carta das Nações Unidas. 2010, p 86) '' essas medidas provisórias

1 Levando-se em conta que conforme expresso no artigo 27 da Carta das Nações Unidas quando este diz '' As

decisões do Conselho de Segurança sobre quaisquer outros assuntos serão tomadas por voto favorável de nove membros, incluindo o voto de todos os membros permanentes'' sendo assim como durante a guerra fria o mundo estava dividindo num estrutura bipolar , houve poucos consensos entre o americanismo democrático e os soviéticos socialistas.

são muitas vezes alargadas para justificar uma ação de peacekeeping. Podemos destacar que neste primeiro momento das ações do peacekeeping, como um principal instrumento da ONU para resolução de conflictos, sua atuação acontecia muito em decorrência de ações de beligerantes inter-estados, onde não havia e muito menos se colocava na “mesa de negociações'' da ONU a possibilidade de intervir na soberania de uma estado, ou mesmo de quebrar com o conceito de não intervenção tão consolidados em toda comunidade internacional livre, a partir de Westphalia -16482. Então o conceito de soberania é a propriedade que indica que perante o Estado '' não há autoridade suprema fora dos territórios nem existe qualquer autoridade superior aos Estados para regulamentar as relações entre eles (Furtado. 2006 , p 15) ''. Proveniente deste conceito de soberania veio o conceito de não-intervenção dos estados, pois, se cada estado tem total poder sob seu território, cabe a esse estado organizar-se, para prover da maneira como bem o quiser ás necessidades básicas a seus habitantes, sendo então livre para escolher como irá ser sua estrutura governamental. Sendo assim, a forma de atuar das missões de peacekeeping e na atuação da ONU em geral na resolução dos conflictos, ficou muito atrelado e bem definido, nos mandatos iniciais, á relevância dos conceitos de soberania e não-intervenção entre os estados. Os Conceitos de Peace-building e Enforcement atrelados ás Intervenções Humanitárias Com o fim da Guerra Fria e principalmente na década de noventa do século passado, tivemos uma nova reconfiguração do cenário internacional. Os países e as principais potências a mostrar um maior interesse em que as nações unidas de facto pudesse cumprir o seu papel em garantir a paz e a segurança internacionais. O cenário internacional passava por novas demandas, pois, com o fim da guerra fria, a ação colonialista e o apoio das grandes potências aos chamados estados-clientes, perdeu sua importância e houve um massiva retirada de apoio das potências perante esses estados. Com isto, antigas rivalidades étnicas e de classes, foram reacesas nestes estados considerados fracos ou falhados (Rodrigues, 2005). com isso, houve uma explosão de conflictos e guerras civis intra-estatais, que requeriam da ONU uma postura mais eficaz contra essas questões. A resposta para isso começou a ser redefinida em 1992, quando o Secretário Geral da ONU Boutros Boutros-Ghali e sua equipe delinearam e divulgaram o que ficou conhecido como Agenda para Paz (1992) e complementado a seguir em 1995; neste documento passava-se a ter uma nova atribuição ao peacekeeping, onde este não seria mais apenas a supervisão de um cessar-fogo com o consentimento prévio entre as partes, mais sim, seria parte integrante de um mandato da ONU mais complexo, que englobasse ações preventivas de negociações diplomáticas para restabelecimento da paz, chamadas de peace-making; uma ação mais duradoura na reconstrução do estado para que haja a duradoura pacificação do país, sob uma estrutura estatal forte e democrática, as chamadas peace-building; e se necessário fosse, caso houvesse uma nova escalada nos conflictos, através da ordem expressa do Conselho de Segurança a ação em conjunto da chamada peace-enforcement.

2 Tratado feito em 1648 colocando um fim na uma guerra entre protestantes e católicos na Europa, pois como

ainda não tínhamos neste período uma idéia disseminada de estado laico, os estados absolutistas eram muito ligados a religião fazendo com que fossem tratados nesta carta os preceitos básicos de soberania.

As novas demandas internacionais, bem como os novos conceitos trazidos pela agenda para paz, dariam ao peacekeeping um carácter mais complexos que resultaria em necessidades de agora focar seus principais meios, não mais nos clássicos conflictos inter-estados, o desafio era então intervir nos conflictos intra-estatais, que proporcionassem uma ameaça regional e que configurava sérios problemas para a segurança internacional (Pinto. 2010, p 108). Era necessário recompor a unidade nacional, muito abalada com os conflictos, através de uma forte intervenção humanitária que zelasse pelo cumprimento de Declaração Universal dos Direitos do Homem, para que pudesse ser feito um trabalho mais adequado e sólido no desenvolvimento de um peace-building pós-conflicto, que devolvesse de forma duradoura a paz no Estado. Muitas foram as situações que, causaram dificuldades a ONU e chocaram a comunidade internacional. Podemos citar a ação de ONU em Ruanda que não conseguiu evitar o genocídio de 750.000 pessoas da minoria Tutsi, ou o fatídico caso de Srebenica em 1995, quando as tropas Sérvias praticamente, mataram centenas de pessoas, entre elas mulheres e crianças, ''sob as vistas'' das tropas holandesas da ONU que nada puderam fazer, trazendo assim novas reflexões e lições aprendidas sobre as missões das Nações Unidas. Apesar de haver calorosos debates sobre a legitimidade ou não das intervenções humanitárias, para que esta não acabe servindo como pretexto para estados com intenções imperialistas consigam o seu objectivo de intervir nos assuntos de outrem e obter vantagens, o facto é que os conceitos de soberania e o princípio da não-intervenção passaram a ser mais relativizados neste final de século XX e início de século XXI. Fazendo com que a intervenção humanitária em prol da ajuda da comunidade internacional aos Estados Falhados (e o Haiti é um exemplo disso), fosse entrando cada vez mais em pauta nas decisões do Conselho de Segurança, e alguns pré-requisitos tornaram-se necessários para caracterizar a necessidade da intervenção humanitária pela comunidade internacional. Segundo Paulo Furtado, existem alguns critérios para caracterizar a legitimidade das intervenções humanitárias que são: a ocorrência de situações humanitárias de graves violações aos direitos humanos, que requerem uma ação emergencial imediata; não haver uma outra alternativa prática a não ser a intervenção; ser a ação provisória e obter o expressivo apoio da comunidade internacional (Furtado apud Castro. 2006, p 53-54). Porém, mesmo com esses requisitos, podemos citar também que vários países juntamente com a Rússia e China, exigem uma autorização prévia do CS para que a intervenção humanitária tenha de facto validade (Pinto. 2010, p 108). Todo esse cenário trouxe a necessidade de uma actividade de peace-building centrada não somente na reconstrução do estado democrático, mas, numa atuação humanitária centrada na reconsolidação da unidade nacional, através das condições mínimas de sobrevivência conforme prescreve o artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem ''Toda pessoa tem o direito á vida, á liberdade e a segurança pessoal''. Reconstruir o estado passa a ser também ajudar na construção de escolas, hospitais, construções de vias de acesso aos locais de apoio emergencial, manter a segurança e a organização no fornecimento de bens alimentícios a toda população. Constroe-se assim, uma necessidade de desenvolver uma maior capacidade das Nações Unidas em abarcar todas essas questões, para que conceitos como os de peace-building, enforcement e de peacekeeping fiquem mais atrelados e respondam as necessidades que iriam surgir no início do século XXI. Trataremos do estudo de caso da MINUSTAH-2004 como um exemplo de missão da ONU que requereu todos esses conceitos aqui relatados para o cumprimento da missão, e como o Brasil também utilizou desses conceitos para atingir sua projeção político-estratégica.

O Haiti e a Atuação da Política Externa Brasileira em Operações de Paz Conforme vimos, as missões de paz, no pós - guerra fria, geradas por novas necessidades, e por uma ajuda humanitária mais intensa fez com que o número de missões da ONU crescesse, pois ''Entre 1946 e 1989, o Conselho de Segurança invocou o capítulo VII em apenas 24 ocasiões. Em comparação, entre 1990 e 1999, 166 resoluções do Conselho recorreram ao Capítulo VII (Abreu. 2009, p 1)''. Podemos constatar que o final do século XX denota um cenário de grandes conflictos intra-estatais, e no início do século XXI, este cenário teve uma continuidade. Dentre os diversos estados considerados falhados o Haiti figura entre um dos que estão em situação alarmante. Ocupando a atual 11º Posição no conceito Foreign Policy Index 20103 , sua população é majoritariamente constituída por negros (95%) e boa parte de sua população, possuí uma renda per capita de apenas 1 dólar por dia. Dentro desta conjuntura o Haiti mostra-se como o país mais pobre de todas as Américas. Para melhor entendermos sua situação é importante que façamos uma breve retrospectiva histórica. Após ser ''descoberto'' por Cristóvão Colombo em 1492, passou a se chamar Colônia das Ilhas Hispaniola, contudo, mas tarde foi dominada pelos franceses e passou a ser chamada de São Domingos, e a história de lutas e sangue do Haiti começa neste período, pois, no final do século XVI, toda a sua população indígena nativa, já havia sido quase que completamente dizimada. Após sucessivas batalhas, o Haiti conseguiu ser a segunda colônia nas Américas a obter sua independência em 1804, após terríveis batalhas com os franceses. Dessalines é então proclamado o primeiro imperador do Haiti (Escoto. 2009, p 23-24). Desde o início a falta de preparo, somado a falta de compromisso dos governos haitianos em construir Estados democráticos sólidos, fez com que fossem criados divisões sociais, entre uma minoria da população que faz parte dos descendentes dos grandes proprietários de terra e exportadores de cana-de-áçucar, e a grande massa da população a qual pertencem os descendentes de escravos. Diante desta forte desigualdade, a resolução de conflictos acabava sempre sendo resolvida sobre fortes lutas armadas, e isto se tornou um traço marcante na história do Haiti. Algo que denota esta forte situação de instabilidade é o facto de na segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX houve 20 sucessões no governo do Haiti, sendo que 16 destes foram depostos ou assassinados (Lessa. 2007, p 42). Quando se esperava uma maior abertura democrática no Haiti através do Governo de Françóis Durvalier (mais conhecido como Papa Doc), este centralizou o poder, criando uma guarda responsável por sua segurança, chamada de Tontons Macoutes, que além de sua guarda acabou sendo responsável também por perseguir, torturar e matar os principais opositores da feroz ditadura implantada por Papa Doc. Os Tontons Macoutes tomara uma proporção tão grande em seu governo que chegou a uma proporção de 25.000 homens, um efectivo quatro vezes maior do que o das próprias forças

3 Este índice procura anualmente, fazer um ranking dos Failed States, tomando como base todos os estados

filiados a ONU, este índice procura fazer o nível de risco que cada estado tem em se tornar um Failed State através dessa classificação, tomando como base, índices como a renda per capita, IDH, nível de respeito aos Direitos Humanos, entre outros. O estado 1º do Ranking atualmente é a Somália e este é considerado o com maior características de estado falhado do ranking.

armada do país (Escoto. 2009, p 26). Após 14 anos de governo o Papa Doc consegue aprovar uma emenda constitucional que permite, que o Governo seja passado de pai para filho.Então em 1971, Jean Claude Durvalier, mais conhecido como Baby Doc, assume o poder e continua a repressão e a ditadura imprimida pela pai na condução do país. A partir daí, a luta por uma maior organização no Haiti passa a ser vista com mais preocupação pela comunidade internacional, e o respeito aos direito humanos começam a fazer parte do apelo internacional. Com o intuito também de evitar uma evasão em massa de haitianos em direção a costa da Flórida, o presidente americano Jimmy Carter é um dos primeiros na comunidade internacional a reivindicar um maior respeito aos Direitos Humanos por Baby Doc no Haiti, e este pressionado, começa a fazer algumas medidas que denotavam uma maior abertura, política mas que na verdade, não passou de uma retórica. Com o aumento da pressão internacional, por uma situação mais estável no Haiti, Baby Doc, decreta estado de sítio e em seguida abandona o governo (Escoto. 2009, p 27). Mesmo a família Durvalier deixando finalmente o poder, seu legado, que por sua vez é herança de uma longa história de luta armada, acaba deixando profundas sequelas, e quando a população do Haiti finalmente consegue encontrar alguma esperança de ter uma estado mais próspero através da eleição do padre Jean Bertrand Aristide, este por sua vez também é deposto em 1993, acontecimento este considerado como inaceitável pela comunidade internacional, dando origem então a UNMIH em 1994, a partir daí estava o Haiti inserido como o país de situação mais preocupante nas Américas a ser ajudado pela ONU. Atuação do Brasil no Haiti e a Política Externa Brasileira Para entendermos como o Brasil vem colocando em prática sua doutrina da política internacional com a MINUSTAH, é necessário entender a relação do Brasil com o principal órgão multinacional: as Nações Unidas. Desde sua criação e a sua efectiva entrada em cena nas operações de paz em 1948, segundo Eugênio Diniz o Brasil vem participando ativamente no Conselho de Segurança. A diplomacia brasileira sempre pautou a sua política externa na ampla defesa do direito internacional e a consequente relevância dos direitos humanos. Desde da implementação do primeiro Conselho de Segurança em Janeiro de 1946 até dezembro de 1968, o Brasil foi membro do Conselho de Segurança da ONU 5 (cinco) vezes, ou seja, em 22 anos o Brasil esteve presente no CSONU por 10 (dez) anos (Diniz. 2006, p 92). Contudo, graças a divergências na estratégia política, pois, enquanto alguns diplomatas brasileiros acreditavam que a melhor política a ser seguida nos tempos de Guerra Fria era que o Brasil tivesse uma política americanista voltada aos dogmas americanos, outros acreditavam numa política multilateral para resolução dos conflictos, além disso, poderia sim a política multilateral trazer grandes benefícios no intuito de aumentar a margem de manobra internacional do país (Diniz. 2006, p 88). Mas esta postura também trouxe uma certa ambiguidade na adequação dos interesses brasileiros aos interesses de outros países emergentes, causando uma certa dificuldade na implementação dessas idéias. O facto é que houve um afastamento do Brasil perante o Conselho de Segurança, por acreditar que, principalmente durante a guerra fria, este conselho acabou servindo a interesses das grandes potências, e não buscava um alargamento maior da resolução dos conflictos em prol dos

países membros. Vale salientar que na visão de autores como Rezende e Gonçalves, a pretensão Brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança, apesar de estar mais em evidencia no pós 11 de Setembro, é um desejo antigo do Brasil. Entre os vários factores que contribuíram para as pretensões brasileiras, podemos destacar a importância de uma maior projeção internacional, com vista a consolidar a imagem de um país que no final do século XX, vinha solidificando suas vias democráticas e sua posição como um dos líderes dos países emergentes e líder regional na America Latina, contudo, faltava ainda ao Brasil um respaldo em suas pretensões: a sua efectiva contribuição á ONU através das Operações de Paz (Rezende e Gonçalves. 2009, p 5). Mesmo o Brasil tendo participado desde o período da Guerra Fria de várias missões de paz, os seus efectivos em alguns momentos era, de certo modo, considerado irrisórios, principalmente para um país que tem grandes pretensões de obter um assento permanente no Conselho de Segurança. A situação começa a mudar no pós-guerra fria, quando da aprovação da UNMIH, para recolocar o presidente eleito do Haiti, Jean Aristide, novamente no poder. O Brasil já colocava suas opiniões a favor de uma maior atenção da comunidade internacional para a situação caótica vivida pelo Haiti a décadas. A partir de 1993 o Haiti passou a sofrer pesadas sanções econômicas da comunidade internacional, através do petróleo e derivados, além do pesado embargo no fornecimento de equipamentos, armamento e munição para as polícias haitianas (Escoto. 2009, p 32-33). Diante disso, a diplomacia brasileira começou a perceber que este tipo de atitude poderia trazer sérios riscos a diplomacia multilateral pautada pelo Brasil, em prol dos respeitos aos Direitos Humanos que se tornava agora, mais solidificada no pós guerra-fria, pois era de fácil percepção que estas sanções trariam uma maior situação de miséria aos haitianos que já viviam numa situação abaixo da linha de pobreza. Vale salientar, que os interesses econômicos diretos do Brasil no Haiti nunca foram comprovados, como causa de uma efectiva intervenção neste estado, já que o ''O Brasil claramente privilegia sua participação em áreas consideradas prioritárias em sua política externa (…) claramente essa preferência não pode ser atribuída a interesses econômicos ou comerciais – pelo menos não diretamente nem exclusivamente (Diniz. 2006, p 90)''.Fica claro que para o Brasil defender uma posição atrelada na não-intervenção, priorizando que as ações dos estados fossem realizados numa maior defesa dos direitos humanos, a pautar intervenções voltadas mais para a segurança humana e as emergências humanitárias, seria um ponto importante numa maior projeção internacional. Como indício deste alinhamento político, podemos constatar que mesmo focando seus interesses na política externa, o Brasil recusou participar da UNMIH por esta missão estar completamente baseada no Cap. VII da carta das nações unidas, ou seja, seria uma ação de peace-enforcement, com o objectivo de recolocar o presidente Aristide no poder. Tendo em vista que o Brasil já tinha feito críticas a Agenda para Paz (1992) de Boutros-Ghali, quando esta definiu claramente as ações de peace-enforcement como operações efectivas de paz, não seria neste momento que o Brasil mudaria a sua postura, se comprometendo, entretanto, a auxiliar numa futura missão exclusiva de peacekeeping no país (Diniz. 2006, p 90). Ao amanhecer do século XXI o Brasil teve que adequar as sua postura pacifista e defensora

dos direitos humanos, as novas realidades e demandas internacionais. Desde que assumiu o poder em 2003, o Presidente Brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, e posteriormente através de seu Ministro da Defesa Nelson Jobim, procurou reorganizar a estrutura militar brasileira de modo que o Brasil pudesse efectivamente participar das missões de paz. O autor Eugênio Diniz citando o discurso do Presidente Lula em sua posse, denota estas tendências das políticas humanitárias brasileiras num novo formato internacional, quando o presidente diz que sua política externa: ''orientada sob uma perspectiva humanista, é instrumento de desenvolvimento nacional'' ainda fazendo referência aos discursos do presidente Lula que se seguiram a sua posse, ficava claro também uma tentativa brasileira em se tornar líder regional na América Latina, quando Diniz relata que o Presidente Lula ''Afirma claramente que a principal prioridade de seu governo seria a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base nos ideais democráticos e de justiça social (Diniz. 2006, p 96)''. Diante de toda essa situação relatada, durante a nova crise existente no Haiti que se seguiu após a nova eleição do presidente Aristide em 2000, eleição esta, que mesmo a contar com expressivo apoio da OEA e da International Civilian Mission in Haiti (MICIVIH)4, teve o seu resultado contestado pela oposição, alegando favorecimento aos partido da família Lavalas, favorável a Aristide. Ao assumir o poder, Aristide graças a esta forte oposição, não conseguiu estabilizar a situação no país, fortes ataques armados da oposição foram feitos no país, sendo um deles á própria estrutura do palácio nacional (Escoto. 2009, p 35-36). A polícia haitiana estava em colapso, e apesar dos inúmeros esforços da Organização dos Estados Americanos (OEA), a situação piorava a cada momento. Num dos momentos mais dramáticos das revoltas e da instabilidade no Haiti foi no dia 5 de Dezembro de 2003, quando a Polícia Nacional Haitiana, (PNH) entrou numa universidade para conter uma revolta de estudantes contra o governo de Aristide, e num acto de extrema brutalidade, a polícia quebrou os joelhos do reitor como represália. A partir daí, grupos para-militares da oposição entraram num grande confronto com a já desgastada PNH, chegando a ocupar Cap-Haitien (segunda maior cidade haitiana) sem grande resistência da PNH. Estados Unidos e França começaram a pressionar o presidente para que este renunciasse, e finalmente em 29 de fevereiro de 2004 não encontrando outra alternativa o Presidente Aristide resolve renunciar e deixa o país, em direção a uma República Centro Africana. Boniface Alexandre presidente da Suprema Corte Haitiana, pede então em carta, enviada ao seu representante na ONU, que este órgão envie uma ajuda internacional para conter a situação insustentável no país. A ONU através de seu CS cria a MIF5. Então em 30 de Abril de 2004, através da resolução 1542 do Conselho de Segurança a ONU cria a MINUSTAH, sob forte apelo do Cap. VII da carta. Mas esta resolução que cria a missão e dá as bases para o seu mandato, possui um forte apelo a segurança humana e a ajuda humanitária, pois, podemos citar que ''O objectivo da missão conforme registrava era promover a segurança 4 Esta missão foi destinada a apoiar as eleições no Haiti, após sucessivas missões realizadas na sequência da

UNMIH (1994) que tiveram como finalidade restaurar a estabilidade política do haiti, capacitar e ajudar no desenvolvimento da Polícia Nacional Haitiana (PNH) e organizar e fiscalizar as eleições democráticas no país. A maioria dessas missões como se verificou na sequência não tiveram sucesso, dando continuidade a crise política no haiti que continuou no início do século XXI. 5 A Força Interina Multinacional, foi criada para estabilizar a situação, até fosse criada um missão mais robusta

para tentar desenvolver o país.

necessária para o governo provisório instalado segunda as regras constitucionais, promover eleições, a garantia do controle territorial, a preservação da presença das mulheres (Mathias e Pepe. 2006, p 11)''. Podemos ainda citar que '' O Conselho ratifica seu compromisso com a segurança humana, quando reafirma o que está escrito em outras resoluções emitidas entre 1999 e 2004, que tratam da mulher; paz e segurança; das crianças em conflitos armados; e da proteção de civis em conflitos armados (Escoto. 2009, p 70-71)” Estava claro com a missão do Haiti que os novos conceitos de segurança humana passavam a ser vistos como prioritários, graças a situação caótica enfrentada pelo país a décadas. Diante disto, adotando um discurso de solidariedade a situação humanitária crítica vivida pelo Haiti, o Brasil aceita assumir a liderança na missão, mesmo sabendo que a resolução que aprovou a missão estava muito mais baseada na autorização de implementar o peace-enforcement se necessário fosse, do que o peacekeeping, mas para diplomacia brasileira o relevante apelo humanitária expresso na missão, fazia com que a missão tivesse também grandes características de peacekeeping, que viria pelo sucesso inicial da missão no eventual cessar-fogo. Ainda segundo alguns autores, de uma certa forma, a novidade trazida pela resolução foi o expresso pedido de esforços para que os integrantes da missão pudessem promover o efectivo controle da AIDS e das doenças sexualmente transmissíveis. O Brasil envia para o Haiti um efectivo de aproximadamente 1200 militares, com um efectivo total de 18 países (sendo que 7 países são países da América do Sul) e os 11 restantes compõem as tropas chegando a um efectivo total de 7000 homens (Lessa. 2007, p 77). Podemos constatar que a preocupação da diplomacia brasileira em justificar sua liderança a uma ação da ONU sob a égide do Capítulo VII (que autoriza o enforcement) através da solidariedade aos direitos humanos, numa área de forte influencia estratégica para o Brasil, acaba sendo transferido para os executores: a tropa. Após o início da MINUSTAH o Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOPAZ)6 sediado na cidade do Rio de Janeiro, procurou intensificar esforços para que as tropas brasileiras pudessem ter uma maior formação na área dos direitos humanos, adotando o chamado Standard Generic Training Module (SGTM) manual da ONU que contempla diversos tópicos para serem usados em missões de paz, e entre os relativos a direitos humanos e que ganharam relevância nas tropas brasileiras podemos destacar: Atitudes de Conduta; Segurança Pessoal, Direitos humanos, Ajuda Humanitária e Medicina Preventiva (Lessa. 2007, p 73). A MINUSTAH na Visão dos Integrantes da Força Terrestre Brasileira Podemos dizer que a missão no Haiti (2004) além de envolver, como era de se esperar, o Alto Comando do Exército Brasileiro, envolveu também todas as regiões militares brasileiras dos quatro cantos do país, pois, o Exército Brasileiro teve como intuito, fazer uma missão participativa com todo o seu contingente tendo oportunidades de experenciar as novas doutrinas técnico-militares e vocacionadas para os Direitos humanos. Através de um pronunciamento em seu artigo '' O Brasil precisa participar'' o ex-comandante

6 Atualmente este Centro foi reformulado e teve sua nomenclatura alterada para Centro Conjunto de

Operações de Paz (CCOPAZ)

do Exército, Francisco Roberto de Albuquerque é favorável a participação brasileira quando diz que: ''Esta é uma ótima ocasião para o Brasil afirmar o exercício de uma democracia jovem e vigorosa, consciente do importante papel que pode desempenhar no campo das relações internacionais. (...) projetando-o como exemplo de cooperação no hemisfério ocidental, abrindo uma nova e promissora possibilidade de intercâmbio com as nações. (Lessa. 2007, p 61) '' Podemos constatar que mesmo não contando com o apoio inicial de alguns parlamentares, as opiniões no Senado Federal teve um expressivo apoio quando da discussão do envio ou não das tropas. E como podemos perceber o alto Comando do Exército também tinha esta visão, também para seus efectivos seria uma oportunidade única de treinamento de pessoal nas novas situações de guerra urbana, que tanto tem marcado o emprego das tropas nos conflictos intra-estados neste início de século XXI. O que era mais importante, era encarar a ação não como uma intervenção militar nos assuntos de estados terceiros, mas sim no provimento da segurança de uma intervenção humanitária internacional (Lessa. 2007, p 70-71). Através de estudos sobre a importância dada tanto pela tropa militar brasileira, quanto pelo os treinamentos aos assuntos ligados ao respeito humanitário e legalidade sob os Direitos Humanos, evidenciou através de diversas pesquisas de opinião feitas sob um questionário unitário que 95 % (por cento) dos entrevistados viam como primordial um bom conhecimento de Direitos Humanos através das instruções para melhor cumprir as missões de paz, e outros 85 % (por cento) afirmaram que a receptividade do povo haitiano em relação a tropa brasileira foi considerada amistosa (Nogueira e Guedes. 2007, p 13).

O primeiro Force Commander da MINUSTAH, afirma a importância dos direitos humanos na missão quando diz: ''O EB dedica especial atenção aos Direitos Humanos, incluindo-o com destaque, na preparação dos contingentes e observadores militares que se destinam ás missões de paz. A flexibilidade e a origem dos nossos militares (que abrangem todos os espectros da sociedade) facilitam a aplicação prática dos princípios relativos ao tema (Nogueira apud General Heleno. 2007, p 20)''. Podemos constatar, que a percepção da importância humanitária, acaba indo além dos preceitos básicos da missão, das relações dos militares com o pessoal civil, mas também dos militares com eles próprios. Para o Tenente Tony Moura que participou da MINUSTAH entre 2008 e 2009 como Comandante do Pelotão de Comunicações do Batalhão Brasileiro (BRABAT), para que os objectivos da missão fossem de facto cumpridos e as dificuldades da missão superadas era necessário não apenas, uma boa relação entre haitianos e as tropas, mas também uma coesão entre os próprios integrantes da tropa quando diz:

‘’As dificuldades encontradas eram várias, á rotina ininterrupta de trabalho, a distância da família e amigos, resolução dos problemas individuais e dos outros no Brasil, gerenciamento do estresse do pelotão pela pesada rotina de trabalho, grande amplitude dos sistemas de comunicações a serem gerenciados com efectivo reduzido, o Batalhão precisa do contato com os diversos órgãos operacionais e logísticos do Exército no Brasil e a comunicação com o fim social mesmo’’

Além disso, o Tenente Brasileiro ressalta a importância da missão ter um forte caráter humanitário na sua escolha de decidir ir para missão quando diz:

‘’A Causa Humanitária: Como todos tem visto nos últimos dias, o Haiti é um país com grandes

problemas sociais, políticos e naturais. A possibilidade de poder ajudá-lo é bastante valorizada na hora da decisão “vou ou não vou?” comigo não foi diferente. Orientado por companheiros que já haviam ido, procurei antes de partir, aprender mais sobre o país a fim de compreender com mais clareza aquela situação.Por mais que tenha pesquisado a realidade encontrada era bem áquem do esperado.Inicialmente foi um choque grande, com o tempo acostumei-me e procurei ajudar dentro das minhas possibilidades e limitações.Em uma ACISO(Ação Cívico – Social) lá chamada de C3M (Cooperation Coordination Civil Military) a satisfação de ver a gratidão dos haitianos atendidos é sem igual’’

Com os preceitos de Segurança Humana ainda envergados como um dos objectivos principais da missão, a MINUSTAH continua sendo a principal operação de paz em que o Brasil tem investido suas Forças Armadas, e importantes países da América do Sul também tem enviado de maneira constante um número considerável de centenas de militar. Considerações finais Podemos concluir que houve crescentes mudanças ao longo do tempo, nas actividades da ONU, e principalmente em suas missões de paz. O peacekeeping, inicialmente utilizado como uma espécie de estratégia ''tampão'' para solucionar os impasses existentes ao longo da guerra-fria, e fazer a ONU atuar nas missões de paz, acabou se tornando uma grande actividade no pós-Guerra-Fria e viu suas atribuições crescerem em complexidade e abundância. Com o fim da Guerra-fria e final do século XX o mundo passou por uma nova reconfiguração, houve um crescente número de estados-falhados, que efectuaram verdadeiros abusos nos Direitos Humanos, tão celebrados e ratificados pela ONU. Foi necessário um maior consenso entre as potências do CSONU, para que mais missões fossem aprovadas e o peacekeeping ganhasse nova dimensão. Com a chegada do século XXI, vimos este cenário se agravar em alguns estados, e o forte exemplo do Haiti e a consequente missão da MINUSTAH – 2004, fez com que percebêssemos claramente, através do nosso estudo de caso, como os novos conceitos de intervenção humanitária estão sendo considerados mais importantes no efectivo cumprimento da missão, sendo então necessário um maior engajamento da ONU em missões duradouras de reconstrução não apenas da ''máquina estatal do país'', mas também de toda a unidade nacional. Com relação a implementação das novas doutrinas da ONU, na prática pelos países participantes das missões de paz, tivemos a oportunidade de elucidar melhor esta problemática, através do estudo de caso do Brasil na MINUSTAH. Podemos constatar que os interesses políticos envolvidos na missão ficaram atraídos á causa humanitária tem de facto abarcado o apoio na implementação da missão pelos países da América do Sul, tendo o Brasil a iniciativa neste processo. Apesar de alguns receios por parte de alguns integrantes políticos do Brasil, logo este receio foi dissipado, pelo facto de a missão do Haiti ser uma boa oportunidade para o Brasil implementar suas pretensões de liderança regional na América do Sul e alinhar na prática seu discurso, sempre defensor do Direito Internacional e dos Direitos Humanos (Diniz. 2006, p 92). O Exército Brasileiro foi um ótimo instrumento, para que o Brasil colocasse em prática esses planos, e servisse de projeção internacional para o país (Nogueira e Guedes. 2007, p 15). Constatamos que o Alto Comando

do Exército Brasileiro, esforçou-se no sentido de implementar os conceitos multifacetados da ONU na implementação da missão. Era necessário não apenas a manutenção da paz, mas sim pacificar o terreno, ocupar e organizar postos de segurança à população, ficando evidente o novo conceito de ‘‘operações complexas’’ declarados pelas Nações Unidas. A intervenção humanitária também foi vista como fundamental, seja na doutrina militar colocada para a tropa, seja na opinião da própria tropa, através das entrevistas realizadas neste trabalho de investigação (Nogueira e Guedes. 2007, p 12). Vimos que a importância de grande parte dos países Latino-Americanos em condições de fornecerem tropas para a missão, terem aderido a Liderança Brasileira, reflecte um cenário de reafirmação do Brasil como uma grande potência regional, na qual a sua política externa mostra-se activa e desenvolvida em paralelo com os conceitos de Segurança Humana, colocados em práctica no Teatro de Operações da missão no Haiti. A despeito de inúmeras críticas sobre o assunto, os ganhos na política externa são muitos, entre eles podemos citar que as Forças Armadas ganharam uma importante relevância nas pretensões da política brasileira, de efectuar uma maior ação conjunta dos conceitos de segurança entre o Brasil e seus parceiros latino-americanos, e entre essas ações conjuntas, podemos citar como de grande sucesso e que reflecte muito do que foi exposto aqui, a troca de experiências adquiridas nos exercicios militares conjuntos de preparação a missões de paz, como o exercício do Cruzeiro do Sul, os exercícios chamados Iguaçu I e II e a Cabanas, composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Além disso é inegável que se o Brasil objectiva em sua política externa obter uma liderança regional hegemônica, não poderia abster-se (como membro fundador da ONU) em enviar também um fluxo maior de tropas ás missões de paz, assim como Argentina e Chile, por exemplo, vem fazendo na própria missão no Haiti7. Um novo cenário de missões foi descortinado no início do século, e as Nações Unidas vem respondendo a este cenário de maneira dinâmica, com missões mais trabalhosas e novos países assumindo as responsabilidades pelas missões; e o Brasil é um exemplo nesse cenário. Referências Brasil (1998) Constituição da República Federativa do Brasil. Nações Unidas (1945) Declaração das Nações Unidas, São Francisco . Declaração Universal do Direitos do Homem, 1948. ABREU; Estevão Gomes Pinto de (2009) A ONU e o Uso da Força em Operações de Paz; Uma Agenda para Imposição da Paz? Rio de Janeiro, Revista Eletrônica – Boletim Tempo Ano 4 www.tempo.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=4900:a-onu-e-o-uso-da-forca-em-operações de-paz&catid=208&Itemid=100076&lang=en. Acessado em 13/02/2011. AGUILAR; Sergio Luiz Cruz (2011) Uma Cultura Brasileira em Operações de Paz em: http://www.abed-defesa.org/page4/page8/page9/page18/files/sergioaguilar.pdf. Acessado

7 Atualmente, somando-se o efectivo de militares entre Argentina e Chile, temos um total de 1216 militares no

Haiti.

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