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Arsae-MG – Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais
Rod. Pref. Américo Gianetti, 4001 - Ed. Gerais, 12º e 13º andares | CEP 31630-901 - Belo Horizonte – MG
Telefones: (31) 3915-8119 / 3915-8133 / 3915-8112 | www.arsae.mg.gov.br
NOTA TÉCNICA
CRFEF 32/2016
Estrutura Tarifária – 1ª Etapa da Revisão Tarifária
Periódica da Companhia de Saneamento de Minas
Gerais Copasa MG
2016
(Versão final – após a Audiência Pública)
Coordenadoria Técnica de Regulação e Fiscalização Econômico-Financeira
Arsae-MG
13 de abril de 2016
1
SUMÁRIO
1 – Introdução ............................................................................................................................................. 2
2 – Análise de Custos ................................................................................................................................... 3
2.1 – Relação entre as Tarifas de Água e de Esgoto ................................................................................... 3
2.2 – Tarifa Fixa ............................................................................................................................................. 4
2.3 – Tarifa Variável ...................................................................................................................................... 5
3 – Faixas de Consumo ................................................................................................................................ 6
4 – Progressividade e subsídios tarifários entre faixas e categorias ........................................................... 10
5 – Grandes Usuários ................................................................................................................................ 11
6 – Estrutura Tarifária Idealizada ............................................................................................................... 12
7 – Estrutura Tarifária de Transição ........................................................................................................... 13
8 – Impactos da Mudança de Tarifas ......................................................................................................... 14
9 – Conclusão ............................................................................................................................................ 15
2
1 – Introdução
De acordo com a Lei Federal nº 11.445/2007, marco regulatório do setor de saneamento básico,
os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário devem ter, sempre que possível,
sustentabilidade econômico-financeira assegurada mediante a cobrança pelos serviços prestados na
forma de tarifas ou outros preços públicos (art. 29). O mesmo artigo lista diretrizes a serem observadas
para a instituição de tais tarifas: a recuperação de custos incorridos, em regime de eficiência; a
remuneração adequada do capital investido pelos prestadores dos serviços; a geração de recursos
necessários para a realização de investimentos; a ampliação do acesso dos cidadãos e localidades de
baixa renda aos serviços; a inibição ao consumo supérfluo e desperdício de recursos; e o incentivo à
eficiência dos prestadores (art. 29).
A estrutura tarifária corresponde à forma de cobrança de tarifas sobre o mercado, para se atingir
a receita necessária à prestação dos serviços. O artigo 30 da Lei 11.445/07 prevê a consideração de
fatores como:
I - categorias de usuários, distribuídas por faixas ou quantidades crescentes de utilização ou de consumo;
II - padrões de uso ou de qualidade requeridos;
III - quantidade mínima de consumo ou de utilização do serviço, visando à garantia de objetivos sociais, como
a preservação da saúde pública, o adequado atendimento dos usuários de menor renda e a proteção do
meio ambiente;
IV - custo mínimo necessário para disponibilidade do serviço em quantidade e qualidade adequadas;
V - ciclos significativos de aumento da demanda dos serviços, em períodos distintos; e
VI - capacidade de pagamento dos consumidores.
Assim, para se definir a estrutura tarifária de um prestador é preciso discutir os conceitos e
analisar como as tarifas variarão conforme:
categorias de unidades usuárias (residencial, tarifa social, comercial, industrial e
pública);
parcelas fixa e variável da cobrança;
faixas de consumo (em m³, ou 1.000 litros); e
serviços (água e esgoto).
A definição da estrutura tarifária envolve uma série de análises relacionadas aos custos
incorridos pelo prestador e aos possíveis subsídios e incentivos que se deseja gerar. Além desses fatores,
é importante analisar o impacto que uma nova estrutura tarifária poderia trazer aos usuários com
relação à estrutura tarifária vigente. O modelo mais adequado pode não ser aplicável por conta dos
fortes ajustes necessários a determinados grupos de usuários.
É escopo deste estudo analisar objetivamente a estrutura de cobrança adotada pela Copasa e
indicar alterações que visem seu aprimoramento. É importante salientar que nem todos os itens a seguir
serão tratados nesse primeiro momento. As principais mudanças a serem propostas são:
novo modelo de faturamento com duas componentes: uma fixa, em substituição à
cobrança por consumo mínimo, e outra variável, conforme o consumo real;
redefinição da relação entre tarifas de água e esgoto, buscando-se aderência aos custos;
alteração das faixas de consumo para valores que reflitam melhor os diferentes usos da
água e a distribuição do mercado;
3
mudanças na progressividade das tarifas de forma a permitir o subsídio do baixo
consumo (associado ao uso essencial), a inibição do uso supérfluo, e evitar penalização
a usuários não residenciais de maior porte, em que o maior consumo não resulta de
desperdício.
Será proposto um novo quadro tarifário capaz de gerar a mesma receita potencial caso as tarifas
definidas pelo reajuste de 2015 fossem aplicadas sobre o mercado projetado pela agência para o cálculo
da Receita Tarifária Base, ou seja, a receita com projeção de recuperação parcial do mercado em relação
à situação de normalidade (antes do período de escassez hídrica)1. Assim, a discussão de alteração de
estrutura tarifária não envolve variação da receita total do prestador para um mesmo mercado de
referência, mas mudanças na distribuição interna entre serviços, categorias e faixas de consumo. Para
se atingir a receita definida na Revisão Tarifária, será aplicado um fator linear de ajuste (IRT ou ETM2)
em todas as tarifas do quadro tarifário.
A fim de evitar grandes impactos tarifários devido à mudança da estrutura de cobrança, a Arsae
definiu um modelo intermediário para este primeiro ano. Assim, espera-se minimizar impactos tarifários
a usuários, distribuindo o ajuste ao longo de alguns anos.
2 – Análise de Custos Para se definir a estrutura de tarifas é preciso verificar sua aderência aos custos, visando
minimizar subsídios internos indesejados que possam produzir ineficiências ou sinalizações econômicas
distorcidas.
Este item busca detalhar as análises realizadas sobre a relação custo/receita que servirão como
referência para a definição das tarifas.
2.1 – Relação entre as Tarifas de Água e de Esgoto A Copasa oferece dois serviços a usuários: abastecimento de água e esgotamento sanitário.
Enquanto o primeiro envolve captação de água bruta, tratamento e distribuição de água tratada aos
usuários, o segundo envolve coleta de esgoto, seu afastamento, tratamento e disposição final. Além
disso, há atividades complementares, como comercialização e atendimento ao público, comuns aos dois
serviços.
Na estrutura de cobrança que vem sendo praticada pela Copasa, as tarifas de esgoto são
divididas em duas: coleta e tratamento. As tarifas para os usuários que recebem apenas o serviço de
coleta são 50% do valor da tarifa de água, enquanto aqueles que possuem tratamento de esgoto pagam
uma tarifa com valor equivalente a 90% da tarifa de água. Para evitar subsídio cruzado entre serviços,
com consequente distorção de sinalização econômica, é ideal que se defina uma relação entre tarifas de
água e de esgoto que seja aderente aos custos. Para isso, é preciso avaliar tanto os custos operacionais
1 A Arsae previu um mercado de normalidade a partir de dados de consumo de 2013, período anterior à escassez hídrica. A partir dele, foi previsto outro mercado com recuperação parcial (considerado para a mudança de estrutura tarifária) de consumo em relação ao primeiro. 2 IRT, ou Índice de Reposicionamento Tarifário, para a definição das tarifas base. ETM, ou Efeito Tarifário Médio, para a definição das tarifas de aplicação, que levam em conta a influência de componentes financeiros relativos ao exercício anterior.
4
e administrativos quanto os de capital, necessários à implantação da infraestrutura, de acordo com os
serviços prestados.
A Arsae optou por, nesse primeiro momento, não modificar as relações entre as tarifas de água
e esgoto, devido a dificuldades com a obtenção de informações que retratem com fidelidade os custos
com os serviços. Assim sendo, para a Revisão de 2016, ficam mantidos os percentuais de 50% para as
tarifas referentes à coleta de esgoto e 90% para aquelas relativas ao seu tratamento. Espera-se que,
diante de informações mais sólidas, a Agência avalie a necessidade de se modificar as relações entre as
tarifas para a próxima etapa da Revisão Tarifária, a ser realizada em 2017.
2.2 – Tarifa Fixa
O artigo 30 da Lei 11.445/07 prevê cobrança pelo “custo mínimo necessário para disponibilidade
do serviço em quantidade e qualidade adequadas”. O modelo mais utilizado no Brasil por prestadores
de saneamento para a cobrança mínima adota o faturamento de um “consumo mínimo” (quantidade
mínima, conforme inciso III do artigo 30) por unidade usuária. A primeira faixa de consumo do quadro
tarifário é aquela em que, independentemente da quantidade consumida, cada unidade paga um valor
fixo em sua fatura. Se, por exemplo, a primeira faixa corresponde a 0 m³ a 5 m³, quem consome 0 m³
paga o mesmo que quem consome 5 m³. Nas faixas seguintes, as faturas variam de acordo com o volume
consumido apurado. Este modelo é vigente atualmente na Copasa, com consumos mínimos definidos
em 6 m³ para todas as categorias.
No entanto, essa política de faturamento com consumo mínimo é prejudicial para clientes de
baixo consumo, imputando faturas bem maiores que os seus custos, e benéfica para grandes
consumidores de água, pois parte significativa dos custos é bancada por unidades de baixo consumo.
Outra consequência perversa do faturamento com consumo mínimo é o desestímulo à economia
de água devido à impossibilidade de se reduzir o faturamento pelo uso consciente do recurso. A Lei
Federal nº 11.445/2007, no artigo 29, inciso IV, estabelece que as tarifas para os serviços de saneamento
básico devem observar, entre outras, diretriz no sentido de promover a “inibição do consumo supérfluo
e do desperdício de recursos”. A redução do consumo mínimo ou a instituição de faturamento pelo
volume medido para todas as unidades usuárias é um mecanismo eficiente para garantir tal requisito.
Como a água é um bem escasso, a tarifa deve refletir a necessidade de um consumo mais consciente,
penalizando os usuários com consumo desregrado e estimulando a economia do recurso.
A Arsae adotou nas Revisões Tarifárias do Saae de Passos, em 2011, do Saae de Itabira, em 2012,
e da Cesama (Companha de Saneamento Municipal de Juiz de Fora) em 2016, o faturamento com duas
componentes, uma fixa e outra variável, em substituição ao faturamento com consumo mínimo. Neste
modelo, todas as unidades usuárias, de acordo com a categoria em que estão incluídas, pagam um valor
fixo para fazer frente aos custos associados à infraestrutura (disponibilidade dos serviços). Assim, quem
consome 0 m³ paga apenas a parcela fixa, enquanto quem consome 5m³ paga este valor fixo mais o
valor relacionado ao seu consumo. Elimina-se a distorção existente no “consumo mínimo” de faturas
iguais para consumos diferentes, visto que cada metro cúbico consumido será de fato cobrado.
A Arsae implantará este modelo de cobrança com duas componentes na Copasa, mas alterando
a nomenclatura de “Tarifa de Disponibilidade” (como utilizado nas revisões de 2011 em Passos e 2012
em Itabira) para “Tarifa Fixa”, no intuito de evitar interpretações inadequadas que questionam a
cobrança de Tarifa de Disponibilidade em um período de descontinuidade no abastecimento de água. A
5
tarifa fixa refere-se ao custo fixo para disponibilizar o serviço (infraestrutura) e não à conjuntura de
operação (disponibilidade de água).
Para se definir o percentual de receita que deverá ser gerado pela cobrança de tarifa fixa, a Arsae
considerou o peso na receita tarifária dos itens associadas à infraestrutura, como
depreciação/amortização, remuneração dos investimentos e manutenção.
𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑎 𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎 𝐹𝑖𝑥𝑎
=𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜, 𝑑𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜, 𝑎𝑚𝑜𝑟𝑡𝑖𝑧𝑎çã𝑜, 𝑟𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑅𝑒𝑞𝑢𝑒𝑟𝑖𝑑𝑎
A partir desse cálculo, o percentual encontrado pela Agência a ser financiado pela Tarifa Fixa foi
de 50,14%. Dado que não foi realizado uma análise sobre base de ativos nesta revisão, o que implicará
em mudanças nos custos de remuneração e amortização que compõe a tarifa fixa, a Agência optou por
reduzir esse o montante final a ser financiado para evitar maiores impactos sobre as tarifas e evitar uma
excessiva oneração de consumidores de baixo volume. Utilizou-se, como referência para a receita
oriunda da tarifa fixa nesta revisão, o valor de 30%, comumente observado em outros prestadores
regulados pela Arsae, e cujo valor encontra respaldo nos modelos teóricos propostos pela AWWA
(American Water Works Association)3, além do valor atualmente observado para a Copasa, de 32,87%
O valor médio da Tarifa Fixa (em R$/economia), que servirá de referência para a definição das
Tarifas Fixas por categoria, pode ser obtido pela divisão do montante de receita referente ao percentual
colocado, já segregados de acordo com o serviço, conforme discussão do item anterior (relação entre
tarifas de água e esgoto), pelo número de economias atendidas. A definição da Tarifa Fixa de cada
categoria parte desta referência aderente ao custo, mas leva em conta a capacidade de pagamento dos
usuários e a estrutura de mercado de cada categoria. Assim, os valores são diferenciados em certa
medida, resultando em menores valores para as categoriais residencial e social, devido à limitação pela
baixa capacidade de pagamento de alguns usuários, e maiores valores para as categoriais industrial e
comercial.
2.3 – Tarifa Variável O restante da receita que não será arrecadado pelas Tarifas Fixas (69,33%) deve ser associado a
outro componente de faturamento: a Tarifa Variável segundo consumo real apurado.
A Tarifa Variável terá uma progressividade, conforme as faixas de consumo, para permitir
menores tarifas associadas ao uso essencial e para desestimular o consumo supérfluo. Haverá também
diferenciações segundo categorias de unidades usuárias. Para nortear a definição da estrutura da Tarifa
Variável, calculou-se o custo variável de água por metro cúbico medido a ser faturado (sem considerar
o volume “virtual” advindo do faturamento com consumo mínimo) considerando-se a proporção entre
as tarifas de água e esgoto definidas anteriormente. Esta referência foi usada, conforme discutido
adiante, para definir a progressividade das tarifas entre faixas de consumo e avaliar os subsídios
praticados.
3 SPANG, Edward S., et al. Implementing consumption-based fixed rates in Davis, Caligornia. Journal American Water Works Association, v.107, n. 7, p. 380-388, 2015.
6
3 – Faixas de Consumo Para definir as faixas de consumo a serem adotadas para cada categoria, é preciso analisar a
distribuição de mercado (economias e volumes). A partir dessa análise, é possível distinguir padrões de
consumo dentro das categorias e garantir representatividade das faixas definidas, com percentual
homogêneo de unidades ou de volume em cada faixa.
Ao se estudar a distribuição de consumo em cada categoria, é possível distinguir padrões de uso
da água que permitem a construção de tarifas diferenciadas, com valores módicos para consumos
essenciais e maiores em casos de uso supérfluo. Assim, a faixa de consumo entre 0 e 5 m³ da categoria
residencial normalmente estará associada ao uso essencial de uma família, como consumo humano,
limpeza de alimentos e higiene básica.
Por outro lado, uma faixa acima de 40 m³ mensais para unidades residenciais estará associada a
um consumo supérfluo, incluindo uso de água em banheiras, piscinas e regas de jardins, cabendo assim
uma tarifa mais elevada que busque inibir este tipo de uso. A não ser que haja cerca de 12 pessoas em
uma economia (casa ou apartamento), algo pouco provável, um consumo residencial acima de 40 m³
indica desperdício.
Nessa avaliação de diferenciação de usos da água é estabelecido um mecanismo de subsídio
cruzado em que maiores tarifas em faixas de consumo supérfluo permitem menores tarifas em baixos
níveis de consumo associados a necessidades essenciais.
A identificação de padrões de consumo faz mais sentido para a categoria residencial, que tem
no domicílio (ou família) uma unidade de consumo que não apresenta grandes variações de escala. Mais
de 90% das unidades da categoria residencial têm consumos mensais inferiores a 20 m³.
Já as categorias não-residenciais (comercial, industrial e pública) apresentam grandes variações
de escala e o nível de consumo não pode ser associado a desperdício. Por exemplo, duas escolas com
mesmo consumo por aluno podem apresentar grande variação de volume consumido devido ao porte.
Uma pequena escola pode ter menos de 100 alunos, outra de maior porte pode ter mais de mil alunos
e uma grande universidade até mais que 10 mil. O mesmo ocorre com comércio (desde pequenas vendas
até hipermercados), indústria (pequeno, médio e grande porte) e outras unidades públicas (como
hospitais). Assim, caso haja forte progressividade das tarifas por faixa de consumo nas categorias não-
residenciais, usuários de maior porte serão prejudicados por excesso de cobrança, o que pode
inviabilizar o abastecimento público e induzir a busca por fontes alternativas.
A definição de faixas segundo a distribuição do mercado (economias e volumes) sugere que o
quadro tarifário deve incluir distribuições mais homogêneas das unidades entre as faixas. Não faz
sentido manter uma faixa de tarifas com 60% das unidades, ou do volume, e outra com menos de 1%. A
má distribuição de faixas, além de dificultar a diferenciação de perfis de consumo, atrapalha a
redefinição de valores de tarifas, visto que uma redução de tarifa em uma faixa que concentra o mercado
exigiria aumentos significativos nas tarifas de outras faixas com pequeno mercado.
A partir das análises de composição de mercado da Copasa, foi possível definir faixas de consumo
que melhor atendem aos pressupostos teóricos adotados. Conforme apresentado, as categorias de
caráter residencial demonstram um perfil de mercado muito diferente daquele observado para usuários
que exercem atividades produtivas ou de prestação de serviços:
7
Gráfico 1: Perfil de consumo das categorias residenciais.
8
Gráfico 2: Perfil de consumo da categoria industrial.
9
Analisando as figuras, é possível perceber a importância de um tratamento diferenciado entre
as categorias residenciais e aquelas não residenciais (comercial, industrial e pública). Enquanto a
categoria residencial possui poucas unidades e baixo volume consumido na faixa acima de 40 m³,
dispensando a existência de segregação acima deste patamar, para a categoria industrial é preciso criar
mais faixas acima desse nível.
Assim, é proposta uma nova distribuição de faixas de consumo apresentada na tabela à direita a
seguir, tendo como comparação a distribuição atual à esquerda. As mudanças mais significativas,
responsáveis por causar os maiores impactos sobre as faturas, são: i) inclusão da Tarifa Fixa (em
R$/unidade) em substituição ao consumo mínimo; ii) fim das tarifas diferenciadas de 0 a 6m³ e de 6 a
10m³ para usuários residenciais; iii) substituição da faixa de 0 a 6m³ por 0 a 5m³ em todas as categorias,
de forma a padronizar a estrutura de acordo com os prestadores já regulados pela Arsae; iv)
padronização das faixas das categorias comercial, industrial e pública; e v) criação de faixa específica
para grandes usuários das categorias não residenciais, com consumo superior a 200 m³.
Tabela 1: Comparativos das faixas de consumo das tabelas tarifárias antiga e nova
Antiga Estrutura de Faixas Nova Estrutura de Faixas
10
4 – Progressividade e subsídios tarifários entre faixas e categorias
Conforme discutido no tópico sobre tarifa variável, o valor de referência adotado para a tarifa
de água nesta Revisão foi o custo variável médio de água por metro cúbico, evitando assim que se
perdesse de vista o conceito de aderência ao custo para definição de preços.
Entretanto, além deste aspecto, devem ser observadas outras diretrizes para o estabelecimento
das tarifas, conforme artigos 29 e 30 da Lei 11.445/07. É preciso atentar para a capacidade de
pagamento de usuários, priorização para atendimento das funções essenciais relacionadas à saúde
pública e a inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos, dentre outras. Assim, qualquer
desvio das Tarifas Variáveis com relação ao valor de referência deve ser justificado por diferenciação de
custo ou por política de subsídio ou de incentivo que se queira adotar.
Para a definição da relação das tarifas entre as categorias de unidades usuárias (residencial,
comercial, industrial e pública), optou-se por adotar tarifas maiores para as categorias comercial e
industrial de forma a subsidiar a categoria residencial e permitir tarifas mais módicas. Há muitos usuários
residenciais com renda próxima ao salário mínimo que comprometem parte significativa de seus
recursos para pagar pelos serviços de água e esgoto. Além disso, entende-se que o objeto principal dos
serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário seja o atendimento à categoria
residencial (consumo humano), já que as demais categorias dispõem de meios para repassar custos a
seus clientes ou capacidade de buscar alternativas de abastecimento. Para a categoria pública buscou-
se definir uma tarifa média mais aderente ao custo de produção, visto que sua tarifa recai indiretamente
sobre as outras categorias através dos impostos cobrados.
Dentro de cada categoria, adotou-se a progressividade conforme a faixa de consumo, em
especial para as categorias residencial e social, conforme discutido no item Tarifa Variável. A
progressividade é um instrumento para viabilizar a modicidade tarifária para o uso essencial e para a
inibição do consumo supérfluo.
As faixas de baixo consumo terão tarifas subsidiadas, pois se trata de volume destinado a
necessidades básicas de consumo, higiene e saúde. As faixas intermediárias referem-se a uso misto,
agrupando famílias maiores (algo menos comum nos dias de hoje) que possuem consumo consciente e
famílias com poucos integrantes mas que consomem acima do necessário. Estas faixas devem possuir
tarifas intermediárias, sem subsídios e próximas do custo médio. Já faixas de consumos maiores
caracterizam-se por agrupar unidades com consumo supérfluo, variando em grande medida devido ao
nível de riqueza do usuário e à baixa preocupação com um uso consciente do recurso. Neste caso espera-
se que haja uma tarifação elevada, que busque inibir excessos dos usuários e que permita, em parte, o
financiamento de subsídios.
A progressividade das tarifas das categorias não residenciais será reduzida nos próximos anos
como forma de amenizar a distorção que prejudica usuários de maior porte que não necessariamente
desperdiçam recursos.
Com base nas análises de aderência ao custo, subsídios e incentivos tarifários que se pretende
adotar, construiu-se uma Estrutura Tarifária Idealizada, apresentada adiante. Entretanto, a comparação
dessa estrutura com a atualmente praticada pela Copasa permite concluir que sua adoção imediata
implicaria elevados impactos tarifários a certos grupos de usuários, em especial aqueles mais
11
beneficiados pela política tarifária adotada até aqui, como os de consumo real próximo ao consumo
mínimo.
Assim, a Arsae optou por construir uma estrutura tarifária de aplicação no primeiro ano pós
Revisão que será intermediária. Pretende-se evitar grandes choques, a não ser aqueles inevitáveis pela
mudança de estrutura (em especial, o fim do consumo mínimo).
5 – Grandes Usuários
A prestação de serviços de saneamento possui como grande público alvo os usuários
residenciais, buscando garantir à população o acesso a uma água de qualidade e a coleta e tratamento
do esgoto gerado. Essas atividades geram grandes benefícios para a saúde da população e ajudam na
preservação do meio ambiente. No entanto, devido aos baixos custos marginais característicos de um
modelo de prestação de serviço em monopólio e a necessidade de garantir a sustentabilidade
econômica do negócio, a expansão do atendimento para grandes usuários industriais, comerciais e
públicos se tornou algo natural.
Devido à progressividade das tarifas adotada, são cobradas tarifas mais elevadas a esses usuários
de grande porte, fazendo com que tenham um valor médio por metro cúbico consumido muito acima
do valor médio pago pela categoria residencial. Tal situação é compreensível em certa medida, pois é
esperado que o valor da fatura seja relacionado com a capacidade de pagamento dos agentes. No
entanto, a progressividade das tarifas em excesso pode criar distorções e a necessidade de ajustes via
desconto para que os usuários de grande porte não busquem alternativas de abastecimento, como
fontes próprias.
Por consumirem grandes volumes de água e por seu poder econômico, esses grandes usuários
acabam tendo poder de barganha para negociar descontos para ajustar o nível de faturas a um patamar
mais coerente, dado que o alto custo poderia incentivá-los a internalizar os serviços de saneamento.
Além da perda de receita para os prestadores, a internalização desse tipo de atividade poderia
comprometer a qualidade da água utilizada e a correta destinação dos resíduos produzidos.
Com a nova estrutura de cobrança que será adotada, a trajetória de faturamento irá reduzir as
tarifas cobradas de grandes usuários, incorporando parcialmente os descontos que atualmente já são
praticados. Esta medida visa dar maior transparência à política tarifária e permitir a isonomia. Ainda será
mantida uma progressividade nas tarifas, mas em menor grau que a da categoria residencial. É desejável
que diante da incorporação de parte desse desconto, a Copasa reveja os descontos praticados, de forma
a adequá-los à nova estrutura.
Nesse primeiro momento, as tarifas desses consumidores sofrerão pequenos aumentos para
suavizar o impacto sofrido pelos usuários residenciais que consomem cerca de 6m³. Ao longo da
trajetória prevista para mudança da estrutura, as tarifas dos grandes usuários sofrerão as mencionadas
reduções.
12
6 – Estrutura Tarifária Idealizada
Com base nas análises apresentadas nesta Nota Técnica e cálculos internos, a Arsae propõe o
seguinte quadro tarifário como Estrutura Tarifária Idealizada, a ser aplicado – ajustando pelas variações
inflacionárias – dentro de alguns anos. As tarifas deste quadro aplicadas sobre o mercado considerado
pela Agência (com recuperação parcial em relação à situação de normalidade) retornam a mesma receita
atingida pela aplicação das tarifas definidas no reajuste de maio de 2015 sobre o mesmo mercado. Isto
é, não há alteração do nível de receita do prestador, apenas variações internas de faturamento entre
usuários.
Tabela 2 – Quadro tarifário idealizado
Este quadro não é viável em um primeiro momento, pois implicaria mudanças bruscas na fatura
de grupos de usuários (alguns com grandes aumentos e outros com grandes reduções). Além de afetar
usuários individuais acima do recomendável, essas modificações poderiam provocar uma variação muito
forte sobre os perfis de consumo e, consequente, sobre as simulações de faturamento para a previsão
13
de receita. Destaca-se que os usuários que teriam aumentos de tarifas são aqueles beneficiados
indevidamente pela política tarifária atual, aqueles com consumo bem próximo do consumo mínimo.
Em vista disto, é necessário aplicar um quadro tarifário de transição para minimizar impactos.
Será avaliada uma trajetória futura a ser seguida ao longo dos anos para alcançar este modelo idealizado.
7 – Estrutura Tarifária de Transição
A tabela abaixo apresenta as tarifas a serem adotadas no primeiro ano após a Revisão Tarifária
com vistas a minimizar os impactos gerados pelas mudanças estruturais no quadro tarifário. As
mudanças estruturais, como a implementação da tarifa fixa e a modificação das faixas de consumo, que
afetam a dinâmica de faturamento, já foram integralmente incluídas.
Tabela 3 – Quadro tarifário de transição
14
Devido à preocupação com a minimização da variação das faturas recebidas pelos usuários, este
quadro tarifário ainda possui distorções temporárias de preços, que serão ajustadas ao longo do tempo.
A trajetória de redução da progressividade para usuários não-residenciais também ocorrerá ao
longo do tempo, buscando evitar fortes aumentos compensativos sobre outras categorias. Da mesma
forma, a política de descontos para grandes usuários deverá acompanhar este movimento, diminuindo
as reduções concedidas na medida em que as tarifas forem caminhando rumo ao modelo idealizado.
8 – Impactos da Mudança de Tarifas
As tabelas a seguir apresentam os impactos tarifários (em R$ e em termos percentuais) a serem
sentidos pelos usuários residenciais de acordo com o nível de consumo (em m³). Os impactos não
consideram a variação devido ao Índice de Reposicionamento Tarifário da Revisão, mas apenas ajustes
internos que retornam soma zero para a receita do prestador.
Notam-se reduções de faturas de unidades com baixo consumo, dada a implementação da tarifa
fixa em substituição ao consumo mínimo, e aumentos para usuários de maior consumo. Como já
salientado, aqueles usuários que consomem hoje 6m³ são os mais afetados pela mudança, visto que
atualmente são os mais beneficiados pela política de consumo mínimo. Na tabela da direita, podem ser
observadas as grandes diferenças entre as faturas das categorias residencial e residencial social, com
reduções que chegam a 40%.
Tabela 4 – Impactos da Mudança de Estrutura Tarifária sobre categorias residenciais
15
Já a tabela a seguir apresenta os impactos a serem sentidos pelos usuários das categorias
comercial, industrial e pública. Grandes reduções ocorrem para faixas intermediárias devido às
distorções na estrutura atual, em que a tarifa a partir de 10m³ praticamente dobra de valor, se mantendo
estável a partir de então. A trajetória proposta pela Arsae busca aplicar uma estrutura sem grandes
saltos nas tarifas dos usuários não residenciais, de forma a manter relativamente constante a
progressividade. Os grandes impactos que seriam causados caso essa estrutura fosse imediatamente
aplicada impediram a Arsae de corrigir algumas dessas distorções.
Tabela 5 – Impactos da Mudança de Estrutura Tarifária sobre categorias comercial, industrial e pública
9 – Conclusão
A mudança feita para a estrutura tarifária da Copasa busca tornar as tarifas mais aderentes à
estrutura de custos e a geração dos incentivos adequados para os diferentes tipos de uso da água. Como
resultado se propôs um novo quadro tarifário idealizado, que modifica radicalmente a cobrança
atualmente realizada. Como estas alterações poderiam provocar mudanças bruscas sobre a fatura dos
usuários, optou-se por criar um modelo de aplicação de primeiro momento com vistas a amenizar os
impactos. Em um primeiro momento já serão provocadas mudanças estruturais nas faixas, deixando
para etapas futuras as mudanças relacionadas à adesão ao custo, progressividade e à geração de
subsídios.
16
Felipe Aprígio dos Santos Teixeira Ribeiro
Analista de Regulação Tarifária
Economista – Corecon-MG n° 8135
Gustavo Vasconcelos Ribeiro
Analista de Regulação Tarifária
Economista – Corecon-MG n° 8136
De acordo:
Raphael Castanheira Brandão
Assessor da Coordenadoria Técnica de Regulação e Fiscalização Econômico-Financeira
Economista – Corecon-MG nº 7830
Laura Mendes Serrano
Gerente de Regulação Tarifária
Economista – Corecon-MG nº 7825
O estudo que subsidiou a presente nota técnica também contou com a participação do Bruno Aguiar
Carrara de Melo e da Gerência de Informações Econômicas (Relatórios Técnicos GIE nº 05/2015,
31/2015, 42/2015 e 03/2016).