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Disciplina Caderno I Caderno I Caderno I Caderno I - Ensino Médio e Formação Ensino Médio e Formação Ensino Médio e Formação Ensino Médio e Formação Humana Integral Humana Integral Humana Integral Humana Integral Coordenador da Disciplina Prof. Prof. Prof. Prof. Francisco Herbert Lima Vasconcelos Francisco Herbert Lima Vasconcelos Francisco Herbert Lima Vasconcelos Francisco Herbert Lima Vasconcelos

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  • Disciplina

    Caderno I Caderno I Caderno I Caderno I ---- Ensino Mdio e Formao Ensino Mdio e Formao Ensino Mdio e Formao Ensino Mdio e Formao

    Humana IntegralHumana IntegralHumana IntegralHumana Integral

    Coordenador da Disciplina

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  • Copyright 2010. Todos os direitos reservados desta edio ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, dos autores.

    Crditos desta disciplina

    Coordenao

    Coordenador do Curso Prof. Prof. Francisco Herbert Lima Vasconcelos

    Contedo

    Autor da Disciplina Carmen Sylvia Vidigal Moraes / Dante Henrique Moura / Dirce Djanira Pacheco e Zan / Jorge Alberto Rosa Ribeiro

    Setor TecnologiasDigitais - STD

    Coordenador do Setor Prof. Henrique Sergio Lima Pequeno

    Centro de Produo I - (Material Didtico) Gerente: Ndia Maria Barone

    Subgerente: Paulo Andr Lima / Jos Andr Loureiro

    Transio Didtica Dayse Martins Pereira Elen Cristina Bezerra Enoe Cristina Amorim Ftima Silva Souza Hellen Paula Pereira Jos Adriano Oliveira Karla Colares Kamille de Oliveira Viviane S de Lima

    Formatao Camilo Cavalcante Elilia Rocha Emerson Mendes Oliveira Francisco Ribeiro Givanildo Pereira Sued de Deus

    Programao Andrei Bosco Damis Iuri Garcia

    Publicao Joo Ciro Saraiva

    Design, Impresso e 3D Andr Lima Vieira Eduardo Ferreira Iranilson Pereira Luiz Fernando Soares Marllon Lima

    Gerentes

    Audiovisual: Andra Pinheiro

    Desenvolvimento: Wellington Wagner Sarmento

    Suporte: Paulo de Tarso Cavalcante

  • SumrioSumrioSumrioSumrio

    Aula 01: Ensino Mdio Um balano histrico institucional ............................................................... 01 Introduo ............................................................................................................................................... 01 Tpico 01: O Imprio ......................................................................................................................... 03 Tpico 02: A Repblica ......................................................................................................................... 06 Tpico 03: Os anos 1930, o Estado Novo e as Leis Orgnicas do Ensino ............................................. 09 Tpico 04: Do fim da ditadura Vargas ditadura civil militar: dos anos 1950 aos anos 1980 ............. 15 Tpico 05: Da redemocratizao ao perodo atual ................................................................................. 19

    Aula 02: Desafios para o ensino mdio ................................................................................................... 23 Tpico 01: Quadro geral do ensino mdio: o que nos dizem os indicadores sociais ............................. 23

    Aula 03: Rumo ao Ensino Mdio de Qualidade Social .......................................................................... 28 Tpico 01: As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio, o Direito Educao e a formao humana integral ........................................................................................................................... 28

    Aula 04: Outros desafios s Polticas pblicas de Ensino Mdio .......................................................... 36 Tpico 01: Outros desafios s Polticas pblicas de Ensino Mdio ....................................................... 36

  • INTRODUO

    VERSO TEXTUAL

    Caro professor e cara professora do Ensino Mdio, o texto aqui

    apresentado visa contribuir para a reflexo a respeito da realidade

    atual dessa importante etapa educacional, partindo de uma rpida

    retomada de suas origens e conformao histrica no pas.

    Apresentamos, a seguir, alguns indicadores e informaes que

    consideramos essenciais para o debate acerca do quadro de

    atendimento da populao brasileira, enumerando desafios a serem

    enfrentados pelas polticas pblicas para a superao dos problemas

    existentes e a do direito social universalizao da escola pblica de

    qualidade para todos(as).

    importante lembrar que a expresso ensino mdio universal e

    designa, em todos os pases, a etapa de ensino situada entre a educao

    elementar e o ensino superior. , basicamente, destinada formao de

    jovens e adolescentes e dirigida, tambm, em certos pases como o Brasil, aos

    jovens e adultos que a ela no tiveram acesso na chamada idade prpria.

    Existem, no entanto, diferenas significativas de interpretao por esses

    pases a respeito das etapas ou ciclos do sistema educacional que devem

    corresponder ao ensino de nvel mdio (BONITATIBUS, 1991).

    No caso brasileiro, o ensino mdio talvez seja o mais problematizado na

    histria da educao, pois manifesta o n da relao social implcita no

    ensino escolar nacional (CURY, 1991). Sua organizao e atribuies

    contriburam para a naturalizao das diferenas e das desigualdades sociais

    entre as variadas classes de brasileiros.

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

    1

  • VERSO TEXTUAL

    A primeira Lei geral da educao pblica no Brasil Independente,

    que instituiu o ensino mtuo pblico e gratuito, foi aprovada em 15 de

    outubro de 1887, razo pela qual se comemora nessa data o dia do

    professor.

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  • TPICO 01: O IMPRIO

    VERSO TEXTUAL

    Para melhor entendermos a configurao assumida pelo ensino

    mdio, tomamos como ponto de partida dessas reflexes o perodo

    imediatamente posterior nossa emancipao poltica, o qual

    representa um marco na histria do ensino secundrio entre

    ns (HAIDAR, 1972, p. 14).

    O Ato Adicional de 1834 traz Constituio (1824) alguns traos

    defederalismo. So criadas as Assembleias Provinciais, que dividem com a

    Assembleia Geral a competncia de legislar em certas matrias, por exemplo,

    no caso da instruo pblica. Coube ento s provncias o direito de

    promover e regulamentar o ensino primrio e mdio em suas jurisdies,

    enquanto a esfera nacional (a Assembleia Geral e os ministros do Imprio)

    abrangia as escolas que ministravam o ensino primrio e mdio no

    municpio da Corte e o superior em todo o pas.

    FEDERALISMO

    As inclinaes federalistas das Provncias tinham por finalidade

    ganhar autonomia do Governo Central estabelecido durante a

    Monarquia, sobretudo no perodo regencial. A lei aprovada em agosto

    de 1834 e conhecida como Ato Adicional introduziu modificaes

    fundamentais na Constituio Imperial de 1824. Criou Assembleias

    Legislativas provinciais, extinguiu o Conselho de Estado (reduto de

    polticos de tendncias restauradoras do Primeiro Reinado),

    transformou a cidade do Rio de Janeiro em municpio neutro da Corte e

    instituiu a Regncia Una, eleita por votao nacional e fortalecedora dos

    setores aristocrticos regionalistas e federativos (FAUSTO, 2000, p.

    162-163).

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

    3

  • Somente a partir do Ato Adicional altera-se a feio dos estudos

    secundrios, at ento fragmentados em aulas avulsas, moda das aulas

    rgias dos tempos da Colnia. O aparecimento dos liceus provinciais a partir

    de 1835 e a criao do Colgio Pedro II na Corte, em 1837, representam no

    campo do ensino pblico os primeiros esforos no sentido de imprimir

    organicidade a esse ramo. Embora a cargo das provncias, o ensino

    secundrio foi mantido durante todo o Imprio sob o controle do poder

    central (consultar HAIDAR, 1972).

    AULAS RGIAS

    Aulas rgias eram aulas isoladas que substituram o curso

    secundrio de humanidades criado pelos jesutas. Referncia: MACIEL,

    Lizete; SHIGUHOV NETO, Alexandre. A educao brasileira no perodo

    pombalino: uma anlise histrica das reformas pombalinas. Educao e

    Pesquisa, v. 32, n. 3, set./dez. 2006.

    COLGIO PEDRO II

    O Colgio Pedro II foi criado com o propsito de formar as elites

    nacionais, os altos quadros polticos, administrativos e intelectuais do

    pas. Permaneceu, durante todo o regime monrquico, como referncia

    para a organizao dos liceus provinciais e, aps a Proclamao da

    Repblica, continuou a apresentar grande relevncia na configurao

    dos estudos secundrios. Atualmente, possui 12.000 alunos nas suas 12

    unidades escolares, situadas na cidade do Rio de Janeiro nos bairros do

    Centro, So Cristvo (3 unidades),Humait (2 unidades), Tijuca (2

    unidades), Engenho Novo (2 unidades) e Realengo (2 unidades).

    Tambm possui uma unidade em Niteri e outra em Duque de Caxias.

    < https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_Pedro_II >.

    Aos bacharis em Letras pelo Colgio foi concedido direito matrcula

    em qualquer das faculdades do Imprio, independentemente de novas

    provas, direito que no foi estendido aos estabelecimentos provinciais. O no

    reconhecimento dos graus, ttulos, estudos seriados e regulares conferidos

    pelos liceus provinciais definiu os rumos do ensino secundrio provincial.

    Uma vez considerados desnecessrios aprovao nos exames parcelados

    para os cursos superiores, eles desapareceram gradativamente, cedendo

    lugar a um plano de ensino limitado s matrias preparatrias para o sistema

    de estudos parcelados.

    VERSO TEXTUAL

    4

  • A partir de 1870, os estudos secundrios, realizados desordenada

    e parceladamente, achavam-se entregues quase exclusivamente

    iniciativa dos particulares. Entre 1872 e 1884, funcionavam na

    provncia de So Paulo apenas as aulas avulsas de latim e francs de

    Itu.

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  • TPICO 02: A REPBLICA

    O mbito federal, constitudo por estabelecimentos de ensino superior

    e secundrio.

    E o mbito estadual, com a possibilidade legal de os Estados

    institurem escolas de todos os graus e tipos, mas, na realidade,

    especializando-se nos nveis primrios de ensino.

    A Constituio Republicana de 24 de fevereiro de 1891 separa a Igreja do

    Estado, institui o governo federativo no pas, laiciza a sociedade e a

    educao, elimina o voto baseado na renda e institui o voto do cidado

    alfabetizado do sexo masculino. Prosseguindo na tradio iniciada pelo Ato

    Adicional de 1834, transfere a instruo primria aos Estados, aos quais

    ficou assegurada a organizao do ensino em geral, reservando-se, mas no

    privativamente, ao governo federal a atribuio de criar instituies de

    ensino secundrio e superior nos Estados e prover a educao primria e

    secundria no Municpio Neutro (AZEVEDO, 1964).

    Reafirmava-se, assim, a dualidade na organizao da educao escolar:

    A Constituio garantia ainda o livre exerccio de qualquer profisso

    moral, intelectual e industrial, o que permitiria a continuidade da

    participao da iniciativa privada no domnio da educao, o mesmo

    ocorrendo com as municipalidades (ANTUNHA, 1976).

    Como afirma Celso Beisiegel (1974, p. 21-22), embora, no Brasil, no

    tenha se constitudo um rgido padro dualista de ensino observado nos

    pases europeus do sculo XIX, percebe-se, mesmo assim, a existncia de

    dois sistemas paralelos de educao, um para o povo e o outro para as

    classes superiores, de ntidos contornos no ensino posterior ao primrio. Os

    alunos provenientes da escola primria popular no tinham, tambm, acesso

    s escolas secundrias.

    Aqui, a expresso educao popular se definiu em oposio ao ensino

    de tipo secundrio. Este ensino e a sua continuao natural nas escolas

    superiores apareciam como a educao seletiva. Tudo o mais o ensino

    pblico elementar e as poucas escolas de preparao profissional viriam a

    constituir o ensino do povo.

    Dessa maneira,

    as instituies de ensino secundrio eram

    nitidamente seletivas, num triplo sentido.

    Socialmente, seus alunos provinham das classes

    sociais mais elevadas [...]; pedagogicamente, seus

    alunos eram recrutados, desde o ensino elementar,

    por meio de classes ou escolas preparatrias;

    profissionalmente, visavam essas instituies

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

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  • habilitar, com exclusividade, s ocupaes que

    exigiam nvel superior (SILVA, 1961, p. 80).

    Durante toda a primeira Repblica, portanto, houve uma ntida

    separao entre o ensino popular, constitudo pelas escolas primrias, pelo

    ensino normal e pelo profissional, e a educao das elites, com as melhores

    escolas primrias, os ginsios e as escolas superiores.

    A correspondncia oficial deixa visveis alguns aspectos relevantes da

    escola secundria. O primeiro diz respeito s suas mencionadas atribuies

    sociais, ao seu carter de ensino propedutico, preparatrio ao ensino

    superior, destinado:

    VERSO TEXTUAL

    a formar os quadros dirigentes recrutados em certas camadas da

    populao, satisfeitas com o padro de ensino e cultura transmitido,

    o qual poderia facilitar suas pretenses de dominao e fornecer

    alguns requisitos para exercerem as altas funes a que se julgavam

    destinadas (NAGLE, 1974, p. 155-156).

    O segundo, indissocivel do primeiro, refere-se introduo, pela

    reforma republicana, do exame de madureza da seriao obrigatria no

    ensino secundrio como tentativa de corrigir o desvio de sua funo

    prpria, isto , formativa, de impedir a realizao dos exames

    preparatrios herdados do Imprio, o que visava tambm a garantir a

    qualidade dos cursos superiores.

    No entanto, esses esforos corretores foram frustrados pela presso

    dos candidatos s escolas superiores que acabaram por conseguir sucessivos

    adiamentos daquele exame ou a possibilidade de entrarem em qualquer

    srie. O exame de madureza foi sendo adiado, sua funo modificada e

    acabou extinto: de exame de sada do ensino secundrio passou a ser exame

    de entrada aos cursos superiores, confundindo-se com os exames

    preparatrios prestados nas faculdades (CUNHA, 1980, p. 156).

    7

  • VERSO TEXTUAL

    Visando reorganizao do ensino secundrio e superior no pas a

    partir das mesmas justificativas atribuir carter formativo escola

    secundria e garantir o padro de qualidade ao ensino superior ,

    reformas sucessivas instituem em 1911 e 1915 os exames de admisso,

    que a partir de 1915 passam a ser chamados de exames

    vestibulares, para a seleo dos candidatos ao ensino superior.

    Essa ltima reforma, buscando controlar o acesso s escolas superiores,

    exigia, alm da aprovao no vestibular, um certificado de aprovao das

    matrias do curso ginasial, realizado no Colgio Pedro II ou nos colgios

    estaduais a ele equiparados e fiscalizados pelo Conselho Superior do

    Ensino (CUNHA, 1980, p. 169).

    O ginsio era, assim, um curso de carter aristocrtico,

    profundamente seletivo e predominantemente masculino: os

    pobres e as mulheres raramente tinham acesso a esse tipo de

    ensino (ANTUNHA, 1976).

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  • TPICO 03: OS ANOS 1930, O ESTADO NOVO E AS LEIS ORGNICAS DO ENSINO

    Vitorioso o movimento revolucionrio de 1930, o governo provisrio

    institudo posteriormente dissolveu o Congresso e passou a legislar por

    decreto at a deposio de Getlio Vargas,em 1945, com exceo do curto

    perodo constitucional de 1934 a 1937. Procedeu-se imediatamente ao

    reforo do poder central, via ampliao e diferenciao da administrao

    federal. O Ministrio da Justia e Negcios do Interior foi dividido, de forma

    a exercer as funes de ministrar e supervisionar a educao e a sade

    pblica e de ordenar as relaes entre o capital e o trabalho, conforme o

    modelo corporativista de integrao do trabalho ao capital (CUNHA,1980,

    p. 211).

    Francisco Campos foi o primeiro ministro da Educao e Sade de

    Vargas. Participou do movimento da Escola Nova e estava ligado ao

    movimento catlico. Defensor de concepes polticas autoritrias e lder

    nacional daLegio de Outubro em Minas Gerais, foi responsvel pelas

    reformas educacionais naquele Estado na dcada de 1920.

    LEGIO DE OUTUBRO

    Conforme Cunha (2000, p. 20), a Legio era um partido poltico

    parafascista do qual Francisco Campos foi um dos fundadores e

    dirigente. A plataforma poltica, os smbolos,a organizao das milcias

    eram semelhantes aos do movimento fascista italiano, cujas ntimas

    ligaes com a Igreja deixavam vontade a hierarquia eclesistica

    brasileira, particularmente a mineira.

    A reforma do ensino secundrio foi regulada por decreto de 18 de abril

    de 1931. Na exposio de motivos, Francisco Campos afirma ser o ensino

    secundrio o mais importante ramo do sistema educacional, em termos

    quantitativos e qualitativos, e prope:

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

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  • VERSO TEXTUAL

    A finalidade exclusiva do ensino secundrio no h de ser a

    matrcula nos cursos superiores; o seu fim, pelo contrrio, deve ser a

    formao do homem para todos os grandes setores da atividade

    nacional, construindo no seu esprito todo um sistema de hbitos,

    atitudes e comportamentos que o habilitem a viver por si mesmo e a

    tomar em qualquer situao as decises mais convenientes e mais

    seguras (apud ROMANELLI, 1978, p. 135).

    Como observa Cunha (1980, p. 258), a conciliao das finalidades do

    ensino secundrio, a prpria e a propedutica, de preparar candidatos

    para o ensino superior, foi provavelmente inspirada na reforma educacional

    de Giovanni Gentile, ministro do governo fascista de Benito Mussolini,

    coincidentes ambas na preocupao de formar indivduos capazes de tomar

    decises. Como na Itlia, o curso secundrio ficou dividido em dois ciclos:

    um fundamental de cinco anos (na Itlia, simplesmente ginsio, com

    idntica durao) para fornecer cultura geral, e outro complementar de dois

    anos (na Itlia, os liceus, com trs ou quatro anos de durao) , com o

    objetivo de preparar os candidatos para o ensino superior. Como nos liceus

    italianos, o curso complementar teria currculos diferentes, conforme a

    destinao dos candidatos.Naquele pas, havia o liceu clssico e o liceu

    cientfico, de acordo com o curso superior pretendido; no Brasil, haveria

    cursos adequados aos vestibulares das trs faculdades principais

    medicina, engenharia e direito, prevendo-se a existncia de outro para a

    futura faculdade de educao, cincias e letras.

    A reforma Francisco Campos veio reforar as barreiras existentes entre

    os diferentes tipos de ensino ps-primrio. Constituam esse ensino, como se

    viu, alm das escolas secundrias, as escolas profissionais para formao de

    quadros intermedirios do comrcio (a reforma s tratou do ensino

    comercial) e da indstria, alm do magistrio primrio, no articulados com

    o secundrio nem com o superior, consequentemente.

    Apenas o curso secundrio preparava para os exames vestibulares e, sem

    o certificado de concluso desse curso, nenhum estudante poderia

    candidatar-se aos exames. O exame de admisso ao ensino secundrio,

    institudo pela reforma federal de 1925, foi mantido pela de 1931, agravando

    o carter seletivo dessa modalidade de ensino.Visando a aumentar o controle

    do poder central sobre o ensino secundrio, a reforma determinava que os

    programas e mtodos de ensino seriam expedidos pelo Ministrio da

    Educao e revistos a cada trs anos.

    Os educadores profissionais signatrios do Manifesto Educacional

    foram derrotados no processo Constituinte. Na Constituio de 1934, alm

    de estar assegurado o ensino religioso nas escolas pblicas, a concepo de

    escola secundria predominante, defendida pelos catlicos, ratificava a

    normatizao da escola secundria pela reforma de 1931, ou seja, a

    predominncia do padro limitado do nmero de estabelecimentos pblicos

    secundrios; a interferncia da Unio que, atravs de equiparao, promovia

    a equalizao formal do ensino pblico e privado; a homogeneizao

    10

  • curricular; e a ruptura do monoplio estatal do acesso ao terceiro grau

    (NUNES, 2001, p. 12).

    MANIFESTO EDUCACIONAL

    O Manifesto foi assinado por 26 educadores de grande prestgio,

    destacando-se Fernando de Azevedo, Ansio Teixeira, Sampaio Dria,

    Afrnio Peixoto, Loureno Filho, Paschoal Leme e Roquete Pinto.

    Alguns historiadores sugerem que o Manifesto, por ser resultado de

    uma conciliao, no apresenta discurso homogneo, j que os

    educadores que defendiam os princpios liberais no representavam um

    grupo indiviso. possvel indicar, nesse grupo, duas posies

    predominantes: a dos liberais elitistas, com a qual se identifica

    Fernando de Azevedo, que enfatiza a necessidade de articulao de

    todos os graus e tipos de ensino segundo uma concepo unificada de

    educao, que deveria ser toda reformada era a reconstruo

    educacional, que prioriza os aspectos biolgicos, psicolgicos,

    administrativos e didticos do processo educacional; e a dos liberais

    igualitaristas, qual pertence Ansio Teixeira, que condenava a

    discriminao social realizada pela escola (denominada segregao) e

    propunha a abolio do sistema dual de ensino o primrio-

    profissional e o secundrio-superior e a criao de uma escola

    nica para todos, de modo a se evitar o divrcio entre os

    trabalhadores manuais e intelectuais.

    Em 1937, aps o golpe de Estado, a Constituio atribuiu competncia

    Unio para

    fixar as bases e determinar os quadros da

    educao nacional, traando as diretrizes que devem

    obedecer a formao fsica, intelectual e moral da

    infncia e da juventude.

    Na viso de Francisco Campos, ento ministro da Justia, as diretrizes

    definiam os valores a que a educao deveria servir e que eram

    inquestionveis: a religio, a ptria e a famlia.

    Na gesto Gustavo Capanema, a Lei Orgnica do Ensino Secundrio

    consagrou a diviso realizada em 1931 entre o ginsio, agora de quatro anos,

    e um segundo ciclo de trs anos, com a opo entre o clssico e o cientfico.

    Ao fim de cada ciclo haveria um exame de licena, com o objetivo de

    garantir o padro nacional de todos os aprovados. Para os estudantes que

    no conseguissem aprovao nos exames de admisso ao ensino mdio e

    para os que no desejassem ingressar na universidade, haveria a opo de

    frequentar os cursos profissionalizantes no nvel do segundo ciclo (cursos

    tcnicos). Dessa maneira, os cursos ginasiais, obedecendo a um programa

    mnimo em todo o pas e controlados pelo Ministrio da Educao,

    funcionariam tambm como habilitao bsica para os cursos profissionais.

    11

  • Uma das dificuldades enfrentadas pela reforma do ensino secundrio foi

    a expanso do setor privado durante as dcadas de 1920 e 1930, que se

    intensificaria ainda mais na dcada de 1940, graas s inspiraes de

    mobilidade das camadas mdias urbanas.

    VERSO TEXTUAL

    Um levantamento realizado pela Diviso do Ensino Secundrio

    em 1939 mostrava que, dos 629 estabelecimentos existentes em todo o

    pas, 530 eram particulares. Quase um tero dessas escolas

    encontrava-se no Estado de So Paulo (196), que tambm possua

    quase a metade das escolas pblicas do pas (43 das 99), constituda

    por uma grande rede estadual de ginsio e escolas normais

    (SCHWARTZMAN et al., 1984, p. 190).

    Para estabelecer controle sobre as escolas pblicas e privadas e garantir

    que as funes do ensino secundrio fossem cumpridas, a legislao de 1942

    definiu que as escolas que pretendessem realizar educao secundria

    deveriam requerer sua inspeo ao Ministrio o qual durante dois anos

    acompanharia com rigor suas atividades para depois reconhec-las como

    equiparadas ao padro nacional, que era dado pelo Colgio Pedro ll do Rio de

    Janeiro.

    No que se refere aos ramos profissionais do ensino mdio, voltavam-se

    formao de fora de trabalho especfica para os diferentes setores da

    economia e da burocracia. Alm do ensino industrial para o setor secundrio,

    havia o ensino agrcola para o setor primrio; o ensino comercial para o setor

    tercirio; e o ensino normal para a formao de professores para o ensino

    primrio.

    Com exceo do ensino industrial e do ensino comercial, os outros

    ramos foram institudos por decretos-leis promulgados aps a queda do

    governo Vargas (1946). No entanto, conforme Cunha (2000, p. 41),

    seguiram as linhas gerais das medidas elaboradas no Estado Novo,

    sendo apenas retiradas as referncias mais explcitas ao regime autoritrio,

    o que as torna componentes da mesma poltica educacional.

    A principal inovao da Lei Orgnica foi a transformao do ensino

    profissional em ensino de grau mdio, quando o ensino primrio passa a ter,

    ento, contedo exclusivamente geral. Do ponto de vista de sua organizao,

    tal como oram o secundrio, possua dois ciclos. (O primeiro ciclo

    compreendia o curso bsico, de regime seriado, com 4 anos de durao. O

    12

  • segundo ciclo era dedicado ao ensino tcnico e pedaggico.) Os cursos

    tcnicos, com trs anos de durao, poderiam ter, no caso do ensino

    industrial, um quarto ano de estgio supervisionado na indstria. Alm

    disso, os seus cursos pedaggicos, que no se consolidaram, tinham por

    objetivo a formao de docentes e administradores especializados em ensino

    industrial.

    O ingresso no curso bsico profissional dependia da concluso do curso

    primrio e da aprovao em exame de admisso quele curso. O ingresso no

    curso tcnico dependia da concluso do 1 ciclo do ensino mdio (no

    necessariamente no mesmo ramo profissional) e da aprovao nos exames

    vestibulares.

    VERSO TEXTUAL

    No entanto, a passagem dos concluintes do curso bsico

    profissional para o 2 ciclo do ramo secundrio era

    proibida. A pretenso do concluinte de um curso tcnico de

    cursar uma faculdade era tambm desestimulada pela

    exigncia de vinculao entre a especialidade tcnica

    adquirida e a pretendida no curso superior.

    Por exemplo, o aluno do curso tcnico industrial que tivesse feito o curso

    de eletrotcnica s poderia se candidatar a um curso de engenharia

    eletricista; o que tivesse concludo o curso tcnico pedaggico s poderia

    dirigir-se seo de pedagogia das faculdades de filosofia, cincias e letras.

    Nos anos seguintes, o desenvolvimento dos cursos do ensino mdio

    profissional s encontraria dificuldades. Entre esses cursos, apenas o ensino

    comercial adquiriu maior extenso. Era um ensino obviamente de segunda

    classe,sobre o qual recaam poucas exigncias, no estando sequer previstos

    qualificao universitria e concurso pblico para seus professores, como

    ocorria com o ensino secundrio.

    13

  • VERSO TEXTUAL

    A Lei Orgnica do ensino secundrio manteve o

    entendimento restritivo e seletivo sobre o ensino secundrio

    e proibia o uso de denominaes ginsio e colgio aos

    demais estabelecimentos de nvel mdio

    (SCHWARTZMAN,1984, p. 190).

    Com relao formao dos professores, a Lei Orgnica do Ensino

    Normal subdividiu esse curso em dois nveis (ou ciclos). No primeiro nvel,

    passava a funcionar o curso de formao de regentes do ensino primrio,

    com a durao de quatro anos nas escolas normais regionais. Estas

    coexistiam com as escolas normais e os institutos de educao, que

    incorporavam tambm o jardim de infncia e a escola primria, bem como os

    cursos de especializao de professores primrios e administradores

    escolares.

    FONTES DAS IMAGENS

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    14

  • TPICO 04: DO FIM DA DITADURA VARGAS DITADURA CIVIL MILITAR: DOS ANOS 1950 AOS ANOS 1980

    Dessa maneira, como pudemos ver, o ensino secundrio e cada um dos

    outros ramos do ensino mdio permaneceram cursos paralelos durante

    vrios anos, ministrados em redes escolares prprias e sujeitas jurisdio

    de diferentes rgos centrais da administrao (consultar SILVA, 1961).

    A modificao dessa situao no incio dos anos 1950 foi interpretada na

    poca como uma verdadeira revoluo no ensino mdio brasileiro,pois

    abria a possibilidade de os alunos dos cursos profissionais se transferirem

    para o curso secundrio. Alm disso, facultava aos diplomados do segundo

    ciclo ento existente o direito de se candidatarem aos cursos superiores.

    Posteriormente,a Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional, de 1961,

    vai estabelecer a completa equivalncia dos cursos tcnicos ao

    secundrio,para efeito de ingresso em cursos superiores.

    OLHANDO DE PERTO

    importante assinalar que nesses anos ps II Guerra Mundial at,

    aproximadamente, as dcadas de 1950/1970, ocorreu grande expanso do

    ensino mdio, em parte decorrente do crescimento demogrfico e, em

    parte, da crescente presso popular produzida pela ampliao do ensino

    elementar. Nos pases centrais do capitalismo, nos quais se deu a

    organizao do Estado Social, foi possvel praticamente garantir o acesso

    da grande maioria da populao ao ensino mdio.

    No Brasil, as presses exercidas pelos movimentos sociais populares nos

    grandes centros urbanos e industriais do pas, como So Paulo,entre o final

    dos anos 1940 e os anos 1960, levaram expanso das oportunidades

    educacionais e integrao formal do ensino primrio ao primeiro ciclo do

    ensino mdio, o antigo ginsio. Ironicamente, foi o governo militar, por meio

    da Lei n 5.692/71, que introduziu formalmente a mudana, fixando a

    obrigatoriedade do ensino comum de oito anos.

    Dentre as inovaes introduzidas por esta Lei encontra-se a extenso da

    obrigatoriedade escolar para oito sries, fundindo-se o ensino primrio e o

    primeiro ciclo do secundrio o ginsio , compondo agora o ensino de 1

    grau. Por outro lado, o segundo ciclo do ensino mdio, o antigo colegial,

    constituiu-se como curso nico de nvel mdio ou de 2 grau, segundo a

    nova nomenclatura. De acordo com essa lei, o ensino de todas as escolas de

    2 grau passa a ser generalizadamente profissional ou profissionalizante

    ou de profissionalizao obrigatria (bem ao gosto da ditadura civil-militar

    de ento) . A distino deixa de ser feita entre ramos de ensino para ser

    realizada entre currculos orientados para habilitaes profissionais. O curso

    tcnico industrial foi o modelo implcito na organizao do novo ensino

    mdio profissionalizante. Entre as 52 habilitaes correspondentes a

    tcnicos de nvel mdio, 32 referiam-se ao setor industrial, indicando a

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

    15

  • nfase que devia ser dada s ocupaes desse setor de atividades (CUNHA,

    1977).

    VERSO TEXTUAL

    As funes atribudas ao novo ensino mdio profissional pelo

    discurso governamental na poca eram a de suprir uma suposta

    carncia de profissionais de nvel mdio e, ao mesmo tempo,

    possibilitar aos alunos concluintes que no conseguissem ou no

    quisessem realizar cursos superiores a formao profissional

    necessria para ingressar no mercado de trabalho. As contradies

    apresentadas pela reforma do ensino mdio, impondo a

    profissionalizao compulsria, suscitaram a elaborao de anlises

    que denunciavam o equvoco tecnocrtico de uma escola

    profissionalizante capaz de qualificar para o mercado de trabalho,

    ou seja, voltada para a preparao de tcnicos(ver CUNHA, 1977).

    O empobrecimento dos currculos escolares com a retirada e o

    esvaziamento dos contedos de formao geral, imprescindveis para a

    compreenso crtica da realidade social, e o fracasso na realizao da

    pretendida formao tcnica sustentada nas teses ideologizadas daTeoria

    do Capital Humano que subordinavam a educao s demandas do mercado

    de trabalho implicaram a descaracterizao e a maior desqualificao do

    ensino mdio, vindo somente a reforar a dicotomia entre a educao para a

    elite e a educao para o trabalhador.

    Teoria do Capital Humano: no que concerne s anlises

    econmicas da educao, constitui-se nos anos1960, nos EUA, como

    especificidade das teorias neoclssicas, de cunho marginalista,a teoria

    do capital humano. Difundida no Brasil nas dcadas de 1960 e

    1970,seus pressupostos tericos direcionaram a elaborao das

    reformas educacionais da ditadura civil-militar. Em analogia ao capital

    fsico, a educao/formao definida como investimento que os

    indivduos efetuam com vistas constituio de um capital produtivo

    o seu capital humano. Assim, para essa teoria, conhecimentos e

    16

  • habilidades constituem um capital humano e so, em grande parte,

    produto de inverses econmicas individual e social que, junto a

    outras inverses, explicariam os diferenciais de renda e salrios e,

    principalmente, a superioridade produtiva dos pases tecnicamente

    avanados.

    No entanto, a especificidade histrica de nossa formao social faz

    emergir uma dualidade sui generis. As redes pblicas de ensino tcnico

    federal e as redes estaduais como a de So Paulo, elitizadas por meio da

    seletividade promovida pelos vestibulinhos e beneficiadas com polticas

    que favoreciam melhores condies de trabalho e remunerao a seus

    professores, conseguiram promover maior qualidade no ensino do que

    aquela oferecida pelas escolas de ensino mdio denominadas regulares,

    destinadas populao trabalhadora.

    VERSO TEXTUAL

    Uma dualidade invertida?

    Pode-se dizer que sim, mas a grande dualidade instaurada na educao

    brasileira vai se expressar entre os que tinham acesso/permanncia na escola

    e os outros, a grande maioria, excluda, ausente dos bancos escolares

    (MORAES; KRUPPA, 2013).

    Convm destacar que em 1970 o Brasil tinha uma populao de 93

    milhes de habitantes, dos quais 15,9 milhes estavam matriculados no 1

    grau e apenas 1,1 milhes no 2 grau, conforme os dados do IBGE. No incio

    dos anos 1980, quando o regime militar flexibiliza a obrigatoriedade do

    ensino profissionalizante (Lei 7.044/82), as matrculas no 1 grau somavam

    24,8 milhes e as no 2 grau eram aproximadamente de 3 milhes. Estes

    nmeros dimensionam a elevada excluso social do ensino mdio, o que no

    impediu a ditadura civil-militar de extinguir o Plano Nacional de Educao

    aprovado na gesto Joo Goulart, o qual obrigava o governo a destinar no

    mnimo 12% dos recursos dos impostos arrecadados pela Unio para a

    Educao e a determinar a desvinculao oramentria desses recursos, s

    17

  • retomada pela Emenda Constitucional n. 24 de 1983 Emenda Calmon e,

    mais tarde, pela Carta Constitucional de 1988.

    FONTES DAS IMAGENS

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    18

  • TPICO 05: DA REDEMOCRATIZAO AO PERODO ATUAL

    Com o fim da ditadura e a passagem por uma transformao social

    representada por uma nova Constituio (1988), a nova Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional (1996) estipulou o Ensino Mdio com funo

    formativa, etapa de concluso da Educao Bsica. Esta educao bsica

    passou a ser a categoria abrangente que envolve educao infantil, o ensino

    fundamental [ex. 1 grau], o ensino mdio [ex. 2 grau] e a educao de

    jovens e adultos (CURY, 1991, p. 576). Esta LDBEN previu, ao mesmo

    tempo, que o ensino mdio como nvel da educao bsica pudesse ser

    ofertado de formas adequadas s necessidades e disponibilidades da

    populao de jovens e adultos de forma a possibilitar condies de acesso e

    permanncia na escola (art. 4, item VII).

    VERSO TEXTUAL

    Embora haja avanos em nossa Constituio de 1988, a nova

    configurao imposta ao Estado brasileiro e as mudanas de natureza

    em sua dimenso pblica tenderam, assim, a transplantar para o seu

    interior a racionalidade econmica do setor privado, substituindo

    critrios republicanos de gesto social por critrios privatistas,

    pautados pela racionalidade do custo/efetividade, que desconhece a

    dimenso dos direitos sociais (COHN, 2004).

    Os ajustes da economia brasileira ao novo contexto econmico foram

    acompanhados da presena de organismos internacionais, que passaram a

    orientar as reformas na educao em termos organizacionais e pedaggicos.

    As demandas da sociedade organizada foram, ento, substitudas por

    medidas produzidas por especialistas e tecnocratas, geralmente assessores

    destes organismos multilaterais (MORAES, 2006).

    Apesar dos movimentos de resistncia ao projeto educacional do

    governo Fernando Henrique Cardoso e dos embates polticos desencadeados

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 01: ENSINO MDIO UM BALANO HISTRICO INSTITUCIONAL

    19

  • pelos movimentos sociais populares, entidades cientficas e sindicais de

    educadores contra os setores empresariais dentro e fora do governo, houve a

    desescolarizao do ensino tcnico e o predomnio do modelo de

    competncias, na tentativa de ajustar toda no s a educao

    profissional,mas toda a educao escolar s demandas do mercado. No plano

    das relaes de trabalho,a formao profissional foi progressivamente

    transformada em instrumento da gesto individual das competncias e dos

    atributos cognitivos dos assalariados na empresa e fora dela; mesmo em

    nosso pas, onde no se havia conquistado a liberdade e a autonomia

    sindicais e cuja formao e qualificao no faziam parte das pautas de

    negociao(QUENSON, 2011, p. 27).

    MODELO DE COMPETNCIAS

    A adoo da noo de competncia, originria do discurso

    empresarial, no significa uma mudana meramente semntica, mas se

    inscreve no campo mais vasto de medidas econmicas e polticas

    implementadas a partir dos anos 1980 pelos pases capitalistas centrais.

    A tendncia atribuir lhe o sentido de performance individual,

    verificvel em situao de trabalho. Observa-se que a poltica

    educacional neoconservadora estabelece, atravs do modelo de

    competncias, uma relao direta e subordinada da formao escolar

    ao sistema produtivo. Embora o discurso legal possa e referir aos

    direitos gerais de cidadania, prevalecem os interesses da produo, isto

    , os interesses de um setor social e no os do conjunto da sociedade. O

    decreto 2.208/1997, por exemplo, separou o ensino tcnico do ensino

    mdio, organizou o seu currculo no mais por meio de disciplinas, mas

    a partir dos perfis de competncia requisitados pelo mercado de

    trabalho. A montagem dos itinerrios ocupacionais, ao procurar

    atender as demandas imediatas e pontuais das empresas,pode levar

    formaes adaptativas/instrumentais s mudanas, perdendo de vista

    os objetivos do aprendizado terico mais amplo e integrado dos

    fundamentos cientficos, tecnolgicos e culturais, indispensveis

    formao do trabalhador.

    Um dos frutos maiores da reflexo crtica e das iniciativas dos

    movimentos sociais populares e de educadores democrticos organizados

    nos Fruns em Defesa da Escola Pblica que participaram do processo

    Constituinte e da elaborao da nova LDB consistiu na construo de um

    projeto coletivo destinado a redefinir os objetivos e as atribuies do ensino

    mdio. O projeto de formao humana integral prope-se a superar a

    dualidade presente na organizao do ensino mdio, promovendo o encontro

    sistemtico entre cultura e trabalho, fornecendo aos alunos uma educao

    integrada ou unitria capaz de propiciar-lhes a compreenso da vida

    social, da evoluo tcnico-cientfica, da histria e da dinmica do

    trabalho (CURY, 1991).

    PARADA OBRIGATRIA

    Por fora desses movimentos, ancorados no decreto n 5.154/04,

    muitas aes estabelecem-se ao longo dos oito anos de Governo Lula:

    20

  • reintegra-se o ensino tcnico ao ensino mdio; so contemplados pelo

    Fundo Nacional de Financiamento da Educao Bsica (FUNDEB)

    recursos para o ensino mdio integrado educao profissional e para a

    educao de jovens e adultos integrada educao profissional de nvel

    mdio, com avaliao no processo; so elaboradas e aprovadas as

    Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Mdio, que sistematizam as

    principais conquistas democrticas do movimento social organizado.

    institudo o decreto n. 5.840, de 13 de julho de 2006, que estabelece, em

    mbito federal, o Programa Nacional de Integrao da Educao

    Profissional com a Educao Bsica na Modalidade de Educao de Jovens

    e Adultos (Proeja, Proeja FIC e Proeja Indgena).O programa Brasil

    Profissionalizado, outra iniciativa do governo federal, visando a fortalecer

    as redes estaduais de educao profissional e tecnolgica, repassou

    recursos federais para os Estados investirem em suas escolas tcnicas.

    Criado em 2007, o programa veio possibilitar a modernizao e a

    expanso das redes pblicas de ensino mdio interligado educao

    profissional, uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educao

    (PDE). De acordo com o MEC, com o objetivo de integrar o conhecimento

    do ensino mdio prtica, mais de R$ 1,5 bilho j foi conveniado pelo

    Ministrio da Educao para estimular a implementao de ensino mdio

    integrado educao profissional nos Estados, estando previstos, at

    2014, recursos da ordem de R$ 1,8 bilho. Fonte [2]

    So tambm inseridas no Projeto do Plano Nacional de Educao 2011-

    2020 (ainda no aprovado no Congresso Nacional) a Meta 3, de

    universalizar, at 2016, o atendimento escolar para toda a populao de 15 a

    17 anos e elevar,at o final do perodo de vigncia deste PNE, a taxa lquida

    de matrculas no ensino mdio para 85%; e a Meta 10, de oferecer no

    mnimo 25% das vagas da Educao de Jovens e Adultos na forma integrada

    educao profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino

    mdio.

    VERSO TEXTUAL

    O currculo integrado no ensino mdio em suas

    diferentes modalidades, tal como o entendemos enquanto

    formao humana integral, um direito do trabalhador

    brasileiro, uma necessidade premente e atual, uma

    conquista histrica e uma construo tardia na qual no

    devemos aceitar qualquer retrocesso.

    21

  • Hoje, quatro formas configuram o oferecimento de Ensino Mdio no

    pas: a Regular, a Normal/Magistrio, a Integrada Educao Profissional

    (Integrado) (Desdobrada em duas ofertas: a destinada aos que esto na

    trajetria denominada regular e a que se destina ao pblico da EJA) e a EM

    de Educao de Jovens e Adultos (EJA).

    Para finalizar nossas digresses histricas, importante lembrar a

    recente aprovao pela Cmara dos Deputados da destinao dos

    indispensveis 10% do Produto Interno Bruto educao pblica,

    pressuposto para a implantao e consolidao do ensino mdio de

    qualidade social, isto , que promova a formao humana integral em

    jornada escolar de tempo integral.

    EXERCITANDO

    A partir da reconstruo histrica aqui apresentada, identifique

    individualmente e em grupo os desafios que permanecem para o ensino

    mdio na realidade brasileira e levantem possibilidades de explicao para

    eles.

    FONTES DAS IMAGENS

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    22

  • TPICO 01: QUADRO GERAL DO ENSINO MDIO: O QUE NOS DIZEM OS INDICADORES SOCIAIS

    VERSO TEXTUAL

    Caro professor, voc, em funo do seu trabalho cotidiano nas

    escolas brasileiras, sabe que em nosso pas no se pode falar no ensino

    mdio (EM), mas nos ensinos mdios, posto que o acesso a essa etapa

    educacional no igualitrio nem universal.

    Voc tambm tem plena conscincia de que isso fruto dos projetos

    societrios em disputa:

    VERSO TEXTUAL

    Uma sociedade igualitria ou a permanncia da desigualdade?

    Assim, ao se tratar da universalizao dessa etapa como meta a ser

    alcanada na direo de uma sociedade justa e igualitria ou, no mnimo,

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 02: DESAFIOS PARA O ENSINO MDIO

    23

  • menos desigual, h que se considerar a diversificao e a desigualdade da

    oferta correspondente a essa importante etapa educacional fase final da

    Educao Bsica. ATabela 1 apresenta dados sobre essa diversificao da

    oferta do Ensino Mdio.

    TABELA 1

    Professor, h, portanto, o EM de carter propedutico destinado aos

    estudantes da faixa etria denominada regular. nessa forma que se

    concentra a absoluta maioria das matrculas. Quase 8 milhes (Tabela 1).

    Acrescentamos que, dessas, praticamente 7 milhes esto na esfera pblica,

    conforme o Censo Escolar 2010 (BRASIL, 2011).

    PARADA OBRIGATRIA

    Observe tambm que na Tabela 1 pode-se verificar que no EM

    oferecido na modalidade Educao de Jovens e Adultos (EJA) a matrcula

    total de aproximadamente 1,4 milho, sendo que quase todas so

    oferecidas pela esfera pblica (BRASIL, 2011).

    A Tabela 1 tambm revela que no Ensino Mdio Integrado educao

    profissional (EMI) destinado aos estudantes da faixa etria regular a oferta

    de 257.713 matrculas, sendo que o Censo Escolar 2010 (BRASIL, 2011)

    evidencia que 236.129 esto nas redes pblicas. Ainda h 164.752 matrculas

    no Ensino Mdio Normal, das quais 97% esto na esfera pblica. O mesmo

    Censo evidencia ainda a existncia de 41.971 matrculas no EMI na

    modalidade EJA (Proeja), sendo que mais de 91% esto concentradas nas

    redes pblicas.

    Em sntese, colega professor, o Brasil, no Ensino Mdio (e em toda a

    educao bsica) , estuda, predominantemente, nas redes pblicas de

    educao, pois, ainda segundo o Censo Escolar 2010 (BRASIL, 2011),

    considerando a oferta regular, o EM Normal e o EMI (adolescentes e

    modalidade EJA), a matrcula total chega a 9.763.102, das quais 88,5% esto

    nas redes pblicas de educao. Observe ainda que essa matrcula diminuiu

    em 2012, caindo para 9.739.716.

    Esses dados e os desafios aqui discutidos aumentam a responsabilidade

    de todos com a qualidade do trabalho que desenvolvido nessa etapa da

    24

  • educao escolar da populao. H muito que avanar, conforme ser

    evidenciado na continuao.

    No tocante aprovao, de cada quatro alunos matriculados, um no

    tem sucesso em ser aprovado para a srie seguinte ou para concluir o

    Ensino Mdio. Chama a ateno nas escolas estaduais o fato de que ao

    aumento de matrculas corresponde um aumento nas taxas de reprovao e a

    estabilidade nas taxas de abandono, indicando o desafio, j clssico, no

    sentido do desenvolvimento de polticas para a fixao dessa parcela da

    juventude que se aproxima da escola.

    O nmero de concluintes no ensino mdio brasileiro expressa, por

    outros dados, as consequncias das taxas de rendimento, pois, salvo um

    crescimento de concluintes entre 1997 e 1999, houve a estabilizao no

    patamar de 1,8 milho de concluintes, a despeito dos incrementos nas

    matrculas ocorridos at 2006.

    A partir de ento, segundo os dados apresentados nas sinopses

    disponibilizadas pelo INEP, se evidencia uma queda nas matrculas de

    concluintes, saindo do patamar de 1.750.662 naquele ano para 1.388.852

    matrculas em 2010. A queda no atendimento, em nmeros absolutos e,

    proporcionalmente, no noturno, do Ensino Mdio considerado regular,

    tem gerado, objetivamente, vagas que no so disponibilizadas para a EJA.

    Quanto aos estudantes com idade entre 15 e 17 anos matriculados no

    EM, o percentual ainda baixo taxa liquida. No perodo entre 1991 e 2010, a

    taxa lquida de matrcula dessa faixa etria no EM passou de 17, 3% para 32,

    7%, atingindo 44,2% em 2004 e chegando a 50,9% em 2009. Apesar da

    variao positiva, configurasse ainda a incompletude do processo de

    democratizao da escola, pois a outra metade da juventude ou ainda est

    no Ensino Fundamental (34,3%), fruto de reprovaes ou ingresso tardio, ou

    est sem frequentar a escola (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio

    PNAD, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, 2010).

    TAXA LIQUIDA

    A taxa de escolarizao lquida, em geral a proporo de pessoas

    de uma determinada faixa etria que frequenta a escola na srie

    adequada, conforme a adequao srie-idade do sistema educacional

    brasileiro, em relao ao total de pessoas da mesma faixa etria (IBGE,

    2008). No caso especfico do Ensino Mdio, a taxa de escolarizao

    lquida corresponde ao percentual da populao residente no pas na

    faixa etria de 15 a 17 anos de idade que est matriculada nessa etapa da

    Educao Bsica. J a taxa bruta de escolarizao, a proporo de

    pessoas de uma determinada faixa etria que frequenta escola em

    relao ao total de pessoas da mesma faixa etria (IBGE, 2008). Assim,

    a taxa bruta de escolarizao no Ensino Mdio corresponde ao

    percentual da populao residente no pas na faixa etria de 15 a 17 anos

    que est frequentando a escola, independentemente de ser no Ensino

    Mdio.

    25

  • A baixa frequncia dos jovens ao EM tem repercusses importantes para

    a escolarizao da populao jovem e adulta, com implicaes

    socioeconmicas. Segundo avaliao das Comunidades Europeias (Statistical

    Office of the European Communities Eurostat), a mensurao da

    escolaridade da populao jovem de 18 a 24 anos de idade com 11 anos de

    escolaridade considerada essencial para avaliar a eficcia do sistema

    educacional de um pas e sua capacidade para combater a pobreza (MTE,

    2010).

    VERSO TEXTUAL

    No caso do Brasil, a proporo de jovens nessa faixa etria que

    possuem escolaridade mdia ainda muito baixa, apenas 37,9%, de

    acordo com os dados da PNAD-IBGE, 2009. Os que apenas trabalham

    so quase metade da populao entre 18 e 24 anos e apenas cerca de

    15% s estudam; outros 15,5% estudam e trabalham, condio que

    frequentemente leva ao ensino noturno e ao abandono precoce.

    importante notar a tendncia decrescente nos ltimos 10 anos da

    proporo de jovens que apenas estudam e que estudam e trabalham, e o

    aumento dos que apenas trabalham. Tal dado vem reforar a hiptese de que

    o ingresso no mercado de trabalho consiste em um dos importantes motivos

    da evaso escolar. Boa parte dos jovens que apenas trabalham so os

    mesmos que no completaram o ensino mdio (MORAES; KRUPPA, 2013).

    O trabalho uma questo central para os jovens brasileiros. Tal como

    observam Corrochano et al. (2008), reconhecer que em nosso pas o

    trabalho tambm faz a juventude no significa, de maneira ingnua,

    defender o trabalho de adolescentes e jovens, mas ao contrrio,

    implica admitir que a construo da condio

    juvenil decorre de um complexo de valores

    sedimentados sob o ponto de vista social e histrico, e

    que, no Brasil, uma alterao desse quadro deveria ser

    a expresso de mudanas estruturais mais

    substantivas que atenuem as profundas desigualdades

    sociais, submetidas a processos de longa durao

    (SPOSITO, 2005, p. 106).

    Neste panorama,

    26

  • VERSO TEXTUAL

    A quem interessa pensar um sistema educacional voltado

    exclusivamente para os adolescentes e jovens que s estudam? E o que

    dizer para esse grande contingente que vive a experincia do trabalho

    na adolescncia e na juventude?

    Para eles, como se acaba de evidenciar por meio de dados oficiais, a

    realidade se impe em direo oposta em relao queles que s estudam.

    Diante desse quadro, no item seguinte, discutir-se- o Ensino Mdio de

    qualidade social, para o qual sinalizam as novas diretrizes curriculares

    nacionais dessa etapa educacional.

    EXERCITANDO

    Caro colega professor, em um trabalho coletivo envolvendo colegas

    professores, funcionrios da instituio, membros da equipe gestora e os

    prprios alunos levante dados que permitam conhecer aspectos que

    vocs julguem importantes do perfil social, cultural e econmico dos

    sujeitos matriculados no Ensino Mdio de sua escola.

    FONTES DAS IMAGENS

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    Universidade Federal do Cear - Instituto UFC Virtual

    27

  • TPICO 01: AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MDIO, O DIREITO EDUCAO E A FORMAOHUMANA INTEGRAL

    VERSO TEXTUAL

    Na aula anterior, discutiu-se sobre a diversificao do EM, mas,

    como voc sabe, alm de diversificada, essa etapa educacional

    desigual. Os poucos melhores posicionados na hierarquia

    socioeconmica esto na escola privada, cujo fim aprovar seus

    alunos nos cursos mais bem reconhecidos das universidades pblicas,

    reduzindo a formao humana dimenso da continuidade de estudos

    unilateralidade, ao invs de formao humana integral.

    Outro grupo, muito pequeno, est na rede federal de EPT no EMI

    voltado ao prosseguimento de estudos e atuao em atividades complexas

    de nvel mdio. Um terceiro grupo tambm pequeno est no EMI

    estadual, em condies de funcionamento diferenciadas para menos

    (Infraestrutura fsica das escolas, carreira e remunerao dos docentes, custo

    aluno-ano dentre outras.) em relao aos da rede federal, resultando numa

    segunda categoria de EMI. O quarto grande maioria de jovens e de adultos

    pobres est nas redes estaduais no EM propedutico, que nem reproduz o

    academicismo da escola privada nem proporciona profissionalizao, seja na

    forma regular ou na EJA. O quinto grupo (ou no grupo do EM): milhes de

    jovens e de adultos pobres no matriculados em rede alguma ou que tiveram

    que abandonar os estudos.

    Essas diferentes escolas resultam em distintas concepes e prticas de

    formao humana, exacerbando a desigualdade no atendimento ao que seria

    um direito igualitrio de todos.

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 03: RUMO AO ENSINO MDIO DE QUALIDADE SOCIAL

    28

  • VERSO TEXTUAL

    Em meio a essa disputa por projetos societrios e educacionais, as

    novas DCNEM (BRASIL, 2012a) sinalizam para um caminho distinto

    do atual. Afirma-se que o Ensino Mdio um direito social de cada

    pessoa, e dever do Estado na sua oferta pblica e gratuita a

    todos (Art. 3) e que [...] em todas as suas formas de oferta e

    organizao, baseia-se [...] (Art. 5) na Formao integral do

    estudante (Art. 5, Inciso I).

    O grande desafio ento avanar na direo de garanti-lo como direito

    igualitrio de todos de forma pblica, gratuita, laica e com qualidade

    socialmente referenciada, sob a responsabilidade do estado, o que inclui o

    seu financiamento, conforme anunciam as novas DCN.

    QUALIDADE SOCIALMENTE REFERENCIADA

    Para aprofundar sua compreenso sobre esse conceito, sugerimos

    ver o texto A qualidade da educao: perspectivas e desafios, dos

    professores Luiz Fernandes Dourado e Joo Ferreira de Oliveira,

    publicado nos Cadernos CEDES, em 2009.

    Nessa perspectiva, defende-se a constituio de um Sistema Nacional

    de Educao que efetive a integrao dos diferentes nveis e modalidades

    da educao escolar e a articulao entre as polticas educacionais e as

    polticas pblicas relativas s demais dimenses da vida social: sade,

    economia e trabalho, cultura, cincia, tecnologia e meio ambiente, nos

    planos nacional, regional e local, viabilizando o regime de colaborao entre

    as instncias federal, estadual e municipal, evitando a sobreposio de

    programas e o desperdcio de recursos pblicos.

    Em curto prazo, difcil sair dessa situao fragmentria em que se

    encontra a oferta do EM para o que se aponta nas DCN, mas imprescindvel

    edificar rapidamente os caminhos que levem, no futuro to breve quanto

    possvel, formao humana integral e igualitria para todos, que ora se

    anuncia.

    Para isso, fundamental garantir uma base igualitria para todos.

    Assim, o EM profissionalizante ou no, destinado a adolescentes, jovens ou

    adultos, urbano ou rural, diurno ou noturno, indgena, quilombola ou

    ribeirinho deve ser concebido a partir de uma concepo comum, igualitria.

    Evidentemente, as especificidades de cada um desses grupos (e de outros que

    seguramente existem e que no foram aqui contemplados) precisam ser

    29

  • consideradas no projeto pedaggico e na organizao curricular, sem

    prejuzo da garantia da base comum, assentada na concepo de formao

    humana integral.

    Uma formao em que os aspectos cientficos, tecnolgicos,

    humansticos e culturais estejam incorporados e integrados. Assim, os

    conhecimentos das cincias denominadas duras e os das cincias sociais e

    humanas sero contemplados de forma equnime, em nvel de importncia e

    de contedo, visando a uma formao integral de sujeitos autnomos e

    emancipados (MOURA, 2013). Tal formao, caro professor da rede pblica

    de educao, no pode centrar-se exclusivamente nos contedos voltados

    para o acesso ao ensino superior, quer seja o vestibular ou o ENEM,

    tampouco o foco pode ser a formao instrumental para o mercado de

    trabalho, centrada na lgica das competncias para a empregabilidade.

    Ambas so mutiladoras do ser humano. Ambas so unilaterais ao invs de se

    apoiarem na omnilateralidade.

    A omnilateralidade diz respeito formao integral do ser

    humano, desenvolvido em todas as suas potencialidades, por meio de

    um processo educacional que considere a formao cientfica,

    tecnolgica e humanstica, a poltica e a esttica, com vistas

    emancipao das pessoas.

    A formao humana integral implicam competncia tcnica e

    compromisso tico, que se revelem em uma atuao profissional pautada

    pelas transformaes sociais, polticas e culturais necessrias edificao de

    uma sociedade igualitria. Nesse horizonte, essa perspectiva de formao

    [...] sugere superar o ser humano dividido

    historicamente pela diviso social do trabalho entre a

    ao de executar e a ao de pensar, dirigir ou

    planejar. Trata-se de superar a reduo da preparao

    para o trabalho ao seu aspecto operacional,

    simplificado, escoimado dos conhecimentos que esto

    na sua gnese cientfico-tecnolgica e na sua

    apropriao histrico-social. Como formao humana,

    o que se busca garantir ao adolescente, ao jovem e

    ao adulto trabalhador o direito a uma formao

    completa para a leitura do mundo e para a atuao

    como cidado pertencente a um pas, integrado

    dignamente sua sociedade poltica (CIAVATTA,

    2005, p. 85).

    Essa concepo de ser humano radicalmente oposta requerida pela

    lgica da globalizao econmica, de forma que os processos educativos,

    estruturados a partir desse referencial contra-hegemnico, devero

    contribuir para a formao de seres humanos capazes de participar

    politicamente como sujeitos nas esferas pblica e privada, em funo de

    30

  • transformaes que apontem na direo de melhorias coletivas e, portanto,

    de uma sociedade justa.

    Implica um esforo de superar a compreenso das expectativas de

    aprendizagem a partir de um vis individualista e centrado no resultado, o

    qual poderia contribuir para se criar uma oposio entre estudante e sistema,

    vistos como cliente e empresa (XIMENES, 2012). Pelo contrrio,

    necessitamos de uma compreenso de aprendizagem enquanto processo

    relacional, o que pressupe determinadas condies e relaes entre sujeitos

    e saberes (CHARLOT, 2001). Assumida nessa perspectiva, a noo de

    aprendizagem apresenta-se complexa. possvel, portanto, afirmarmos que

    a problemtica da relao com o saber recusa-se a definir a aprendizagem

    partindo apenas do movimento daquele que aprende ou das caractersticas

    daquilo que aprendido [...] (CHARLOT, 2001, p.21).

    Torna-se, portanto, importante compreender que a aprendizagem um

    processo singular e social que ocorre de diferentes formas. No que nos

    interessa, merece destaque a perspectiva da aprendizagem que expresse uma

    dada relao produzida a partir de instituies. Tomando a escola como uma

    dessas instituies, possvel afirmar, conforme Charlot (2001), que

    VERSO TEXTUAL

    [...] a escola no apenas um lugar que recebe alunos dotados

    destas ou daquelas relaes com o(s) saber(es), mas , tambm, um

    lugar que induz a relaes com o(s) saber(es) (CHARLOT, 2001, p.

    18).

    Nessa linha de pensamento, preciso incorporar ao currculo

    conhecimentos que contribuam para a compreenso do trabalho como

    princpio educativo. Esse princpio permite a compreenso do significado

    econmico, social, histrico, poltico e cultural das cincias, das letras e das

    artes. A esse respeito, Antonio Gramsci nos oferece importante contribuio

    ao refletir sobre o ensino fundamental e mdio:

    ANTONIO GRAMSCI

    Cofundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci

    (1891-1937) foi uma das referncias essenciais do pensamento de

    esquerda no sculo 20. Foi preso em 1926 pela polcia fascista. Escreveu

    mais de 30 cadernos de histria e anlise durante a priso. Conhecidos

    como Cadernos do crcere e Cartas do crcere, contm seu trao do

    nacionalismo italiano e algumas ideias da teoria crtica e educacional.

    Em 1934, bastante doente, ganhou a liberdade condicional, para tratar-

    31

  • se em hospitais. Morreu em Roma, aos 46 anos. A partir de<

    http://educacao.uol. com.br/biografias/antoniogramsci.jhtm >. Acesso

    em: 28/06/2013.

    O conceito e o fato do trabalho (da atividade

    terico-prtica) o princpio educativo imanente

    escola primria, j que a ordem social e estatal

    (direitos e deveres) introduzida e identificada na

    ordem natural pelo trabalho. O conceito de equilbrio

    entre ordem social e ordem natural com base no

    trabalho, na atividade terico-prtica do homem, cria

    os primeiros elementos de uma intuio do mundo

    liberta de toda magia ou bruxaria, e fornece o ponto

    de partida para o posterior desenvolvimento de uma

    concepo histrica, dialtica, do mundo, para a

    compreenso do movimento e do devir, para a

    avaliao da soma de esforos e de sacrifcios que o

    presente custou ao passado e que o futuro custa ao

    presente, para a concepo da atualidade como

    sntese do passado, de todas as geraes passadas, que

    se projeta no futuro (GRAMSCI, 2000, p. 43).

    E, sobre o Ensino Mdio:

    [...] na escola unitria, a ltima fase deve ser

    concebida e organizada como a fase decisiva, na qual

    se tende a criar os valores fundamentais do

    humanismo, a autodisciplina intelectual e a

    autonomia moral necessrias a uma posterior

    especializao, seja ela de carter cientfico (estudos

    universitrios), seja de carter imediatamente prtico-

    produtivo (indstria, burocracia, comrcio, etc.). O

    estudo e o aprendizado de mtodos criativos na

    cincia e na vida devem comear nessa ltima fase da

    escola, no devendo mais ser um monoplio da

    universidade ou ser deixado ao acaso da vida prtica:

    esta fase escolar j deve contribuir para desenvolver o

    elemento da responsabilidade autnoma nos

    indivduos, deve ser uma escola criadora. [...] O

    advento da escola unitria significa o incio de novas

    relaes entre o trabalho intelectual e o trabalho

    industrial no apenas na escola, mas em toda a vida

    social (GRAMSCI, 2000, p. 38-39).

    Compreende-se que uma prtica pedaggica significativa decorre da

    necessidade de uma reflexo sobre o mundo do trabalho, da cultura desse

    32

  • trabalho, das correlaes de fora existentes, dos saberes construdos a partir

    do trabalho e das relaes sociais que se estabelecem na produo.

    Essa reflexo sobre o trabalho como princpio educativo deve constituir-

    se em um movimento na busca da unidade entre teoria e prtica, visando

    superao da diviso capital/trabalho uma utopia necessria.

    VERSO TEXTUAL

    Assim, fundamental atentar para o fato de que o trabalho como

    princpio educativo no se restringe ao aprender trabalhando ou ao

    trabalhar aprendendo. Est relacionado, principalmente, com a

    intencionalidade de que por meio da ao educativa os

    indivduos/coletivos compreendam, enquanto vivenciam e constroem

    a prpria formao, o fato de que socialmente justo que todos

    trabalhem, porque um direito subjetivo de todos os cidados, mas

    tambm uma obrigao coletiva, porque, a partir da produo de

    todos, se produz e se transforma a existncia humana e, nesse sentido,

    no justo que muitos trabalhem para que poucos enriqueam cada

    vez mais, enquanto outros se tornam cada vez mais pobres e se

    marginalizam no sentido de viver margem da sociedade.

    Deste modo, preciso que o currculo contribua para a compreenso dos

    dois sentidos do trabalho como princpio educativo: o histrico e o

    ontolgico.

    O trabalho princpio educativo em seu sentido histrico na medida em

    que se consideram as diversas formas e significados que o trabalho vem

    assumindo nas sociedades humanas (o trabalho servil nas sociedades

    feudais, o trabalho escravo e outras formas degradantes de trabalho) . Isso

    permitir compreender que, na sociedade atual, o trabalho se transforma

    em trabalho assalariado ou fator econmico, forma especfica de produo da

    existncia humana sob o capitalismo; portanto, como categoria econmica e

    prxis produtiva que, baseadas em conhecimentos existentes, produzem

    novos conhecimentos (RAMOS, 2004 apud BRASIL, 2007, p. 46).

    Incorporar a dimenso histrica do trabalho na formao docente significa,

    33

  • portanto, considerar exigncias especficas para o processo educativo, que

    visem participao direta dos membros da sociedade no trabalho

    socialmente produtivo.

    O trabalho princpio educativo em seu sentido ontolgico ou

    ontocriativo ao ser compreendido como mediao primeira entre o homem e

    a natureza e, portanto, elemento central na produo da existncia humana.

    Dessa forma, na busca da produo da prpria existncia que o homem

    gera conhecimentos, os quais so histrica, social e culturalmente

    acumulados, ampliados e transformados.

    Diante do exposto, ratifica-se que o grande desafio para o EM

    construir a travessia na direo aqui delineada, reconhecendo os limites

    impostos pela sociedade contraditria e desigual em que se vive.

    Reconhecendo, tambm, a extrema desigualdade existente na oferta dessa

    etapa educacional desde o acesso at a sua completa pulverizao em

    mltiplas concepes e formas da oferta, cujos destinatrios so definidos

    em razo da posio que ocupam na hierarquia socioeconmica, mas no as

    aceitando como algo natural e imutvel. Ao contrrio, tendo como referncia

    para a ao a luta contra essas desigualdades e o favorecimento da

    universalizao do EM pblico, sob responsabilidade do estado e com

    qualidade socialmente referenciada, tendo como eixo estruturante o

    trabalho, a cincia, a tecnologia e a cultura.

    Para avanar nessa travessia, fundamental o seu envolvimento nesse

    processo, lutando pela melhoria das condies de trabalho, incluindo

    remunerao e carreira e, ao mesmo tempo, apropriando-se criticamente dos

    contedos das novas DCNEM para que, juntamente com os demais colegas

    professores, seja possvel contribuir coletivamente para a sua materializao

    no cho da escola.

    EXERCITANDO

    Nas DCNEM afirma-se que o Ensino Mdio, em todas as suas formas

    de oferta e organizao, baseia-se na formao integral do estudante,

    tendo, dentre outros aspectos, o trabalho como princpio educativo, a

    pesquisa como fundamento pedaggico e a integrao entre educao e as

    dimenses do trabalho, da cincia, da tecnologia e da cultura como base da

    proposta e do desenvolvimento curricular. Constituam grupos de at cinco

    colegas com a finalidade de buscar nessa parte do texto que vocs

    acabaram de ler, no documento das DCNEM e em outros textos que

    discutam esse tema os principais princpios e fundamentos que

    constituem a proposta de formao humana integral. Discutam e

    registrem, no mbito de cada grupo, a compreenso acerca desses

    elementos. Em seguida, renam todos os grupos para socializar as

    discusses e as concluses de cada grupo, buscando elaborar a

    compreenso do grande grupo acerca de cada um dos elementos que

    constituem a proposta de formao humana integral. Finalmente, no

    grande grupo, reflitam sobre como desenvolver estudos que fundamentem

    prticas pedaggicas que possam contribuir para a materializao dessa

    34

  • proposta na escola, considerando os aspectos potencializadores, assim

    como as eventuais dificuldades a serem superadas.

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    Universidade Federal do Cear - Instituto UFC Virtual

    35

  • TPICO 01: OUTROS DESAFIOS S POLTICAS PBLICAS DE ENSINO MDIO

    VERSO TEXTUAL

    Sabemos que o Brasil no conseguiu universalizar o acesso a essa

    etapa da educao. No debate nacional, a questo da qualidade do

    conhecimento adquirido pela populao infanto-juvenil na etapa da

    educao bsica (educao infantil, ensino fundamental e mdio) tem

    sido frequente.

    Tais circunstncias impem, como discutimos ao longo do texto,

    polticas pblicas democrticas que enfrentem as necessidades conjunturais

    e emergenciais, atendam a particularidade e a diversidade das demandas

    sociais (jovens e adultos, homens e mulheres de diferentes etnias,

    empregados e desempregados) e, ao mesmo tempo, polticas que realizem

    mudanas ou reformas estruturais e promovam a superao da atual

    estrutura social geradora da desigualdade.

    Uma poltica pblica redistributiva e emancipatria seria aquela capaz

    de retirar do mercado de trabalho, formal e informal, todas as crianas e

    jovens at a idade legal de concluso do ensino mdio, o que pressupe o

    desenvolvimento de iniciativas que combinem medidas na rea da educao

    e da formao profissional e o acesso a programas de transferncia de renda

    aos jovens em situao de vulnerabilidade e risco social, conforme

    reivindicao de movimentos sociais e insistente recomendao de

    especialistas, com ensaios bem ou malsucedidos do governo atual (MORAES,

    2006).

    CADERNO I - ENSINO MDIO E FORMAO HUMANA INTEGRAL

    AULA 04: OUTROS DESAFIOS S POLTICAS PBLICAS DE ENSINO MDIO

    36

  • Meta 3 Universalizar, at 2016, o atendimento escolar para toda a

    populao de quinze a dezessete anos e elevar, at 2020, a taxa lquida de

    matrculas no ensino mdio para oitenta e cinco por cento, nesta faixa

    etria;

    Meta 4 Universalizar, para a populao de quatro a dezessete anos, o

    atendimento escolar aos estudantes com deficincia, transtornos globais do

    desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao na rede regular de

    ensino;

    Meta 6 Oferecer educao em tempo integral em cinquenta por

    cento das escolas pblicas de educao bsica;

    Meta 10 Oferecer, no mnimo, 25% das matrculas de EJA na forma

    integrada educao profissional.

    VERSO TEXTUAL

    Estimado colega, ns professores sabemos que o xito dessas

    polticas exige nos prximos anos, no mbito educacional, a

    universalizao do ensino mdio pblico de qualidade, o que significa

    como j foi dito a implantao da escola unitria de currculo

    integrado, que tenha por princpio a dialtica entre

    sociedade/trabalho, cultura, cincia e tecnologia.

    Nessa direo, o compromisso de universalizao e de democratizao

    do EM nos impe o urgente enfrentamento dos seguintes desafios:

    1) Com base no Projeto de Lei n 8.035/2010, que substancia a

    proposta de Plano Nacional de Educao apresentada pelo governo ao

    Congresso Nacional, um desafio o atendimento s metas que, direta ou

    indiretamente, se relacionam populao com idade entre 15 e 17 anos:

    Ainda que a aprovao dessa lei no implique sua efetiva aplicao na

    realidade, h de se levar em conta que o avano legal traz em si o

    reconhecimento do direito e os mecanismos concretos para efetiv-lo. Como

    nos adverte Brando (2011, p. 204),

    37

  • VERSO TEXTUAL

    O grande desafio trazer os jovens para a escola, fazer com que

    nela permaneam e que concluam com sucesso o ensino mdio. Uma

    escola capaz de propiciar a aprendizagem de contedos historicamente

    acumulados pela humanidade, em seus diversos campos,

    especialmente nas artes, nas cincias, nas lnguas, na histria, na

    tecnologia, na cultura e, assim, no trabalho como princpio educativo.

    Enfim, uma escola socialmente inclusiva e de qualidade socialmente

    referenciada.

    2) Pelos dados organizados pelo MEC/INEP, constata-se que o esforo

    em oferecer Ensino Mdio populao brasileira vem sendo feito pelas

    dependncias administrativas pblicas, majoritariamente, por escolas

    estaduais. A escola privada reduziu de modo expressivo sua participao

    percentual e absoluta nas matrculas deste nvel da Educao Bsica

    passou de 27% em 1991 para 11,8% em 2010, em nmeros relativos, e

    1.019.374 alunos matriculados em 1991 para 987.838 em 2010. Tal fato

    projeta a necessidade urgente de que os Estados continuem nesta direo a

    de ampliar a oferta pblica de EM de qualidade, gratuito, pedagogicamente

    integrado ao seu carter formativo em termos de cultura, trabalho, cincia e

    tecnologia. De modo complementar, que considerem a necessidade de

    garantir aos que acessam a escola pblica no perodo noturno a mesma

    qualidade que oferecida no perodo diurno.

    Para tanto, a escola pblica estadual ter que promover, em mdio

    prazo, polticas de melhoria das condies de trabalho e de valorizao dos

    professores e funcionrios de escola, continuidade das aes de manuteno

    e de promoo de equipamentos escolares e de construo de novas escolas.

    Nesse sentido, o desafio consiste em ampliar os recursos pblicos

    canalizados educao pblica 10% do PIB e utilizao dos recursos do

    Pr-Sal. Sabe-se que esta promoo no uma ao meramente voluntariosa

    a ser executada no curto prazo, com dispensa de critrios e controles

    pblicos, mas requer um conjunto de estudos, de planos e de

    reconhecimento de aes complexas de mdio e longo prazos capazes de

    efetivar resultados educao pblica e ao Ensino Mdio: nos termos dos

    princpios apontados no documento final da Conferncia Nacional de

    Educao (CONAE), de universalizar sua oferta pblica, conferir-lhe

    qualidade e identidade prpria no sistema educativo, potencializar sua

    dimenso formativa sob a concepo de escola unitria.

    38

  • 3) Na busca pela conquista da aprendizagem de qualidade, entendemos

    que compete instituio escolar definir, a partir do trabalho pautado pelo

    Projeto Poltico-Pedaggico da instituio, os objetivos e as melhores

    estratgias para alcanar e avaliar a aprendizagem do grupo de estudantes.

    Essas definies precisam levar em considerao as relaes de trabalho

    coletivo e democrtico e se constituir por meio delas. Dessa maneira, tendo

    como referncia alguns dos princpios aqui pontuados, caberia a cada

    instituio escolar a definio das metas e objetivos a serem alcanados,

    segundo a perspectiva educacional expressa no PPP. Sendo assim,

    VERSO TEXTUAL

    os percursos formativos no mbito de cada experincia

    educacional e escolar devem ser construdos a partir das

    singularidades de cada contexto scio-poltico-educacional e de cada

    indivduo [...] (BRASIL, 2012b, p. 9).

    EXERCITANDO

    Como foi visto, temos um grave desafio a enfrentar em nossa

    realidade educacional, quando a metade (50,9%) dos jovens entre 15 e 17

    anos no frequenta o Ensino Mdio e aproximadamente um tero (34,3%)

    ainda est, como repetente ou por ingresso tardio, no Ensino

    Fundamental. Utilizando dados da PNAD/IBGE, vimos que a taxa lquida

    de matrcula para essa populao passa de 17,3%, em 1991, para 32,7%, em

    1999, atingindo 44,2% em 2004 e 50,9% em 2009 (IBGE, 2010). Os

    indicadores apresentados so muito importantes na medida em que

    expressam a excluso de grande nmero de brasileiros do acesso

    educao e da permanncia na escola, assim como de outros direitos. A

    relao entre educao e participao no desenvolvimento social torna

    inadivel o enfrentamento dos problemas. Diante deste quadro, como

    chegar universalizao do Ensino Mdio?

    REFERNCIAS

    ANTUNHA, H. C. G. A instruo pblica de So Paulo. A Reforma de

    1920. Estudos e Documentos, FEUSP, 1976.

    AZEVEDO, F. de. A cultura brasileira. 4. ed. So Paulo:

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