2004 - ARAÚJO LIMA - O entorno do PARNA de Ubajara-CE caracterização socioambiental do Distrito de Araticum

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    PROGRAMA REGIONAL DE PS-GRADUAO

    EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

    VILMA TEREZINHA DE ARAJO

    O ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DE UBAJARA-CE:

    CARACTERIZAO SOCIOAMBIENTAL DO DISTRITO DE ARATICUM

    Dissertao submetida Coordenao do

    Curso de Mestrado em Desenvolvimento e

    Meio Ambiente, sub-rea de Concentrao

    Ecologia e Organizao do Espao, integrante

    do Programa Regional de Ps-graduao

    PRODEMA, como parte das exigncias para aobteno do Ttulo de Mestre, outorgado pela

    Universidade Federal do Cear.

    Este exemplar corresponde redao

    final da dissertao defendida e

    aprovada pela comisso julgadora emoutubro de 2004, sob a orientao do

    Prof. Dr. Eustgio Wanderley

    Correia Dantas.

    Outubro de 2004

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    PROGRAMA REGIONAL DE PS-GRADUAO EM

    DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

    O ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DE UBAJARA-CE:

    CARACTERIZAO SOCIOAMBIENTAL DO DISTRITO DE ARATICUM

    Autora: Vilma Terezinha de Arajo

    Defesa em: ___________________ Conceito obtido: _______________

    Banca examinadora

    ______________________________________Prof. Dr. Eustgio Wanderley Correia Dantas

    Orientador PRODEMA - UFC

    ______________________________ __________________________________Prof. Dr. Edson Vicente da Silva Prof. Dr. Ramiro Gustavo Valera Camacho

    PRODEMA UFC PRODEMA - UERN

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    In memoriam de meu pai,

    Eduardo Adrio de Arajo.

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    A Humberto e Gustavo

    A minha me Tereza Fontenele

    Aos irmos e irms

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus

    A minha famlia, que sempre contribuiu para minha educao;

    Ao professor Eustgio Wanderlei Correia Dantas, pela orientao nesta dissertao.

    Aos professores do PRODEMA em especial prof. Osrio, Jos Borzacchiello, Ftima,

    Levi, pelos ensinamentos e motivao para realizao dessa pesquisa;

    A FUNCAP pela concesso da bolsa de mestrado;

    Ao IBAMA principalmente os funcionrios do PNU pelo apoio a pesquisa de campo.

    Aos colegas do mestrado principalmente Daniele, Cristiane e Jorge pelas horas de

    estudo e lazer;

    A Senhora Rita Maria e famlia pelo acolhimento em sua residncia durante todo o

    trabalho de campo;

    A todos os entrevistados que dedicaram seu tempo as minhas interrogaes;

    Aos professores do Curso de Geografia que de forma positiva contriburam para minha

    formao em especial ao Cacau por sua amizade e a professora Florice pelas sugestes,

    criticas e correes.

    Ao Amilton Freire e famlia por contriburem para a finalizao desse trabalho;

    Ao Vitor pela organizao dos mapas;

    A Patrcia pela correo e sugestes valiosas para o trabalho.

    A todos aqueles que porventura tenha esquecido de citar seus nomes e que contriburam

    direta ou indiretamente para a realizao deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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    SUMRIO

    Lista de figuras ............................................................................................................................vii

    Lista de tabelas ............................................................................................................................. ix

    Lista de quadros ............................................................................................................................ x

    Lista de abreviaturas e siglas........................................................................................................ xi

    Resumo........................................................................................................................................xii

    Abstract ......................................................................................................................................xiii

    Introduo.................................................................................................................................. 14

    1. Unidades de Conservao no Brasil .................................................................................... 201.1. O Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, Lei 9.985/2000. ..........................251.2. Unidades de Conservao do Cear................................................................................................271.3. O Parque Nacional de Ubajara (PNU)............................................................................................34

    2. O Entorno do Parque Nacional de Ubajara........................................................................ 422.1. Caractersticas geoambientais da rea ......................................................... ................................... 42

    2.1.1. Planalto Sedimentar ..................... ...................... ...................... ...................... ..................... .................... 422.1.2. Depresso Sertaneja...................... ...................... ...................... ...................... .................... .................... 43

    2.2. O Distrito de Araticum em evidncia ............................................................. ................................442.2.1.Caractersticas Socioeconmicas de Araticum......... ....................... ...................... ....................... ............ 462.2.2. A relao da comunidade de Araticum com o Parque........................... ....................... ...................... ..... 60

    3. A vida em Araticum .............................................................................................................. 683.1. Atuao do Poder Pblico na Comunidade.....................................................................................683.2.A relao Parque Comunidade ........................................................... ............................................. 703.3. Os habitantes falam.........................................................................................................................70

    3.3.1. Como era a vida antes do Parque?................. ...................... ...................... ...................... ...................... . 73

    3.4. O Uso dos Recursos Naturais pela Populao Local ........................................................... ...........783.4.1. Extrativismo Mineral ...................... ....................... ...................... ....................... ..................... ................ 813.4.2. Extrativismo Vegetal........... ....................... ....................... ...................... ...................... ....................... .... 823.4.3. Agricultura ..................... ...................... ...................... ...................... ...................... ..................... ............ 83

    4. Consideraes Finais............................................................................................................. 86

    Apndice..................................................................................................................................... 90

    Bibliografia ................................................................................................................................ 92

    Anexos ........................................................................................................................................ 97ANEXO 01: Cdigo Florestal................................................................................................................97ANEXO 02: Lista das Unidades de Conservao Federais .......................................................... .......108ANEXO 03: Decreto n 45.954 - de 30 de abril de 1959. ........................................................... ........124

    ANEXO 04: Decreto de 13 de dezembro de 2002...............................................................................125ANEXO 05: Legislao sobre Cavernas do Brasil ................................................................ ..............127ANEXO 06: Consulta Pblica para a Ampliao do PNU .................................................................. 128

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    LISTA DE FIGURASFIGURA 1

    Mapa de localizao Araticum/Ubajara/CE...........................................................................................17

    FIGURA 2Mapa de evoluo da criao de unidades de conservao no estado do Cear. ................................... 28

    FIGURA 3Grfico demonstrativo das categorias de UCs no estado do Cear ...................................................... 30

    FIGURA 4Grfico demonstrativo das UCs do Cear quanto ao seu gerenciamento ............................................. 30

    FIGURA 5Mapa da rea de estudo..........................................................................................................................36

    FIGURA 6Mangueiras no interior do Parque, remanescentes dos stios que ocupavam a rea. .............................40

    FIGURA 7Grfico demonstrativo do trnsito de pessoas e animais na trilha de Araticum em 2002......................40

    FIGURA 8Antigo hbito de lavar roupa no rio.......................................................................................................45

    FIGURA 9Programa de Saneamento Rural. Abastecimento dgua de Araticum ................................................. 47

    FIGURA 10Lagoa de estabilizao de Araticum ............................................................ .......................................... 47

    FIGURA 11Fonte dgua no leito do rio Ubajara. Usado para consumo humano.................................................... 48

    FIGURA 12Lavagem de roupa no leito do rio Ubajara.............................................................................................48

    FIGURA 13Grfico demonstrativo da Escolaridade da Populao Masculina ......................................................... 49

    FIGURA 14Grfico demonstrativo da Escolaridade da Populao Feminina...........................................................50

    FIGURA 15Ocupao dos Informantes.....................................................................................................................52

    FIGURA 16Grfico demonstrativo do local de abastecimento da populao...........................................................54

    FIGURA 17

    Mercado Pblico. Estabelecimentos fechados.......................................................................................54FIGURA 18

    Mercado Pblico, nico local que serve refeio para visitantes...........................................................55

    FIGURA 19Grfico demonstrativo dos locais de migrao dos habitantes ...................................................... ........58

    FIGURA 20Carros de migrantes que moram em outros Estados, visitam os familiares nas frias...........................59

    FIGURA 21Antiga moradora do PNU. ........................................................... ........................................................ ..61

    FIGURA 22

    Habitantes que moravam na rea do PNU como posseiros....................................................................61

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    FIGURA 23Mosaico fotogrfico delimitando o PNU/ Ubajara/ Araticum. .............................................................. 63

    FIGURA 24Moradora de Araticum usando a trilha para vender ovos de galinha caipira em Ubajara...................... 64

    FIGURA 25Guarita do Porto Araticum...................................................................................................................65

    FIGURA 26Trilha para as furnas de Araticum..........................................................................................................69

    FIGURA 27Entrada de Araticum com sinalizao de complexo turstico. ............................................................... 69

    FIGURA 28Reunio da Sociedade Comunitria de Araticum. .................................................................. ...............72

    FIGURA 29Grfico demonstrativo das pessoas que participam de alguma entidade local.......................................73

    FIGURA 30Antiga moradora do Parque...................................................................................................................77

    FIGURA 31Zona de amortecimento do PNU. ................................................................. ......................................... 80

    FIGURA 32Forno para beneficiamento do calcrio desativado pelo IBAMA..........................................................81

    FIGURA 33Preparo da lenha para produo de carvo ................................................................... .........................82

    FIGURA 34Transporte de carvo no interior do parque para ser vendido em Ubajara.............................................83

    FIGURA 35Terreno aps desmatamento e queimada e pronto para o plantio. ......................................................... 84

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1

    Nmero de Unidades de Conservao de Proteo Integral e de Uso Sustentvel ................................ 23TABELA 2

    Populao entrevistada segundo sexo e idade Distrito de Araticum Ubajara/CE. Janeiro 2003.........46

    TABELA 3Escolaridade dos chefes de famlia versus freqncia escolar...............................................................50

    TABELA 4Ocupao principal do chefe de famlia e cnjuge - Araticum-Ubajara/CE - janeiro/2003...................51

    TABELA 5Classes de renda dos informantes Araticum-Ubajara / CE - Janeiro/2003 ............................................ 53

    TABELA 6

    Hospitalizao de pessoas de Araticum por causas especficas.............................................................56TABELA 7

    Nmero de nascidos vivos e de bitos no perodo 01/2002 a 12/2002.................................................. 56

    TABELA 8Destino e nmero de migrantes por residncia ................................................................... ...................57

    TABELA 9Relao da comunidade de Araticum com o PNU.................................................................................62

    TABELA 10Pessoal de Araticum e animais de carga que passaram no porto Planalto em 2000/2001/2002...........64

    TABELA 11Aspectos positivos e negativos de Araticum ............................................................... ..........................71

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    LISTA DE QUADROSQUADRO 1

    Unidades de Conservao Gerenciadas pela Unio CE......................................................................31

    QUADRO 2Unidades de Conservao Gerenciadas pelo Estado CE.....................................................................32

    QUADRO 3Unidades de Conservao Gerenciadas pelos Municpios CE............................................................33

    QUADRO 4Unidades de Conservao Gerenciadas por Particulares -CE................................................................34

    QUADRO 5Pessoas beneficiadas ou no com a existncia do PNU.........................................................................66

    QUADRO 6Preferncia da populao de Araticum quanto ao PNU.........................................................................67

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APA - rea de Proteo Ambiental

    ARIE - rea de Relevante Interesse Ecolgico.

    CAGECECompanhia de gua e Esgoto do Cear

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente.

    E.E Estao Ecolgica

    EMBRATUR- Empresa Brasileira de Turismo

    FLONA - Floresta Nacional

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis.

    IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

    INCRA - Instituto Nacional de Reforma Agrria

    IUCN - Unio Mundial para a Conservao da Natureza.

    PARNA Parque Nacional

    PNU Parque Nacional de Ubajara

    RB Reserva Biolgica

    RESEX Reserva Extrativista

    RPPN - Reserva Particular do Patrimnio Natural

    SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza

    WWF - Fundo Mundial para a Natureza.

    UC Unidade de Conservao

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    RESUMO

    Neste trabalho investiga-se a relao existente entre a comunidade de Araticum e o

    Parque Nacional de Ubajara (PNU), como tambm as mudanas acontecidas na vida dos

    moradores desde sua implantao, em 1959. A investigao foi desenvolvida atravs de

    pesquisa bibliogrfica e emprica. Os depoimentos orais foram coletados no perodo

    julho de 2002 a janeiro de 2003 e envolveram representantes de diversos segmentos da

    populao de Araticum fornecendo elementos para a compreenso da problemtica e

    dos conflitos gerados no Distrito. Com a criao do PNU, a maior parte das 133 famlias

    que moravam na rea mudaram-se para Araticum. Algumas delas receberam

    indenizao, compraram terrenos e construram suas casas, enquanto outras passaram a

    viver e trabalhar nas terras de terceiros. Parte considervel dos moradores do Distrito

    vive da agricultura de subsistncia e da aposentadoria dos mais velhos. Dessa forma, a

    falta de alternativas econmicas adequadas realidade local contribuiu para o

    empobrecimento da populao, pois as atividades extrativas vegetais e minerais, so

    consideradas ilegais ou irregulares, se no estiverem devidamente licenciadas. A

    pesquisa verifica que mesmo aps 45 anos de criao dessa unidade de conservao,

    ainda no h integrao entre os processos humanos e naturais, e isso contribui para

    aumentar a degradao e empobrecimento das terras no seu entorno. Assim, em funo

    do conhecimento e percepes da populao de Araticum, conclui-se que, apesar do

    PNU ser considerado um centro de referencia nacional em termos de infra-estrutura de

    apoio ao turismo e pesquisa, no influenciou positivamente no desenvolvimento de

    Araticum. De acordo com depoimentos de habitantes da comunidade, durante o

    processo de instalao do PNU no foi dada ateno s suas necessidades e aspiraes,

    sua histria, sentimentos e condutas. Nessa perspectiva, a presente pesquisa vem

    discutir a forma como a natureza est sendo preservada no Parque Nacional de Ubajara,transformando-o em ilha, enquanto no seu redor observa-se uma subexplorao dos

    recursos naturais, principalmente pela populao que antes habitava a rea transformada

    em Parque. Desta forma fica claro que a criao de unidades de conservao uma

    necessidade para a preservao dos recursos naturais ainda existentes, mas tambm

    um assunto complexo que nos estimula a discutir e avaliar sua forma de criao.

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    ABSTRACT

    The aim of this work is to investigate the relationship between the Araticum Town and

    the National Park of Ubajara (NPU), as well as the changes occurred on the local

    community way of life since its implantation, in 1959. The study was carried out by

    both bibliographic and empirical research. Oral interviews were made between

    July/2002 and January/2003 and included representative members from several levels of

    the Araticum people, which gave information about the problems and the conflicts

    generated in the district. As the NPU was created, most of the 133 families that lived in

    the area had to move to Araticum. Some of them received some money, bought a piece

    of land and built their houses, whilst others started to live and work as employees. A

    great part of the locals survives from familiar agriculture and economic resources from

    the retirement of the elders. The lack of economic alternatives adequate to the local

    reality has contributed for the impoverishment of the people, as both vegetal and

    mineral extractive activities are illegal or irregular if not properly licensed. This

    research also found out that, after 45 years of implantation, there is no integration

    between human and natural processes, being a factor that leads to an increase of the

    degradation and impoverishment of the surrounding lands. Based on the knowledge and

    on the perception taken from the people of Araticum, we conclude that, despite of the

    NPU be considered a national reference in terms of structure of tourism and research,

    this fact did not influence positively its development. According to interviews with local

    habitants, during the NPU installation process any attention was given in respect to their

    necessities and aspirations, to their history, to their feelings and to their way of life.

    From this perspective, the current research discuss the way by which nature is being

    preserved in the NPU, making an islandof it, while in the surroundings one can observe

    a sub exploration of the natural resources, particularly by the population that used tolive in the area. It is clear, then, that the creation of conservation units is a necessity for

    the preservation of natural resources, but is also a complex subject, which deserves a

    better discussion and evaluation.

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    Introduo

    A criao de Unidades de Conservao1 tem sido uma das principais formas de

    conservao da natureza no Brasil. No entanto, como afirma DIEGUES (2001) com acriao dessas reas naturais surgem inmeros problemas de carter poltico, social e

    econmico.

    O citado autor destaca primeiramente um conjunto de problemas relacionados

    ao tipo e s caractersticas das unidades de conservao. Ele assinala que nas reas

    caracterizadas como de Proteo Integral, - parques nacionais, reservas biolgicas e

    estaes ecolgicas, de acordo com a legislao, no se permite presena de

    populaes humanas, tampouco os agrupamentos considerados tradicionais, quehabitavam tais espaos por dezenas ou at centenas de anos sem os depredarem. Um

    segundo conjunto de problemas apontado pelo autor diz respeito aos impactos poltico-

    territorial e fundirio gerados pela criao das reas protegidas que, em muitos pases

    abrangem extenses considerveis. Finalmente o terceiro conjunto de problemas refere-

    se aos desdobramentos sociais e tnicos da expulso de populaes tradicionais,

    indgenas ou no, de seus territrios ancestrais.

    No III Congresso Mundial de Parques Nacionais e reas Protegidas, realizado

    em Bali na Indonsia, em 1982, iniciou-se o debate sobre a possibilidade das

    populaes locais obterem benefcios com as reas protegidas.

    De acordo com MELO (2000) o pice da discusso sobre questes relativas s

    populaes humanas e as UCs ocorreu no IV Congresso Mundial de Parques, realizado

    em Caracas na Venezuela, em fevereiro de 1992. Esse Congresso teve como objetivo

    definir a funo das reas protegidas no relacionamento saudvel entre as pessoas e a

    natureza. As concluses foram resumidas na Declarao de Caracas, que contm

    consideraes relativas necessidade: a) de o estabelecimento e o manejo efetivo de

    sistemas de unidades de conservao serem realizados de uma forma sensvel aos

    anseios e s preocupaes das populaes locais; b) das reas protegidas serem

    1 Espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticasnaturais relevantes, legalmente institudo pelo poder pblico, com objetivos de conservao e limitesdefinidos, sob regime especial de administrao, no qual se aplicam garantias adequadas de proteo.

    (MMA, Lei 9.985, 2000)

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    incorporadas como elementos das polticas, programas, planos e projetos de

    desenvolvimento; c) das comunidades, organizaes no-governamentais e instituies

    do setor privado participarem ativamente no estabelecimento e manejo dos parques

    nacionais, e dos governos desenvolverem mecanismos que permitam a todos os setores

    da sociedade colaborarem no planejamento, estabelecimento e manejo das reas

    protegidas; d) de informar e educar todos os setores da sociedade sobre a importncia

    das reas protegidas e dos benefcios econmicos, sociais e ambientais que elas trazem

    como forma de se obter sua colaborao e participao.

    Ampliando os princpios registrados na Declarao de Caracas o V

    Congresso Mundial de Parques realizado em Durban na frica em 2002 abrigou vrios

    debates sobre as relaes entre as populaes humanas e UCs. Como resultado das

    discusses no encerramento do evento foi apresentado o Acordo de Durban, contendo

    a agenda de preservao de reas protegidas para esta dcada. No documento foram

    redigidas 32 recomendaes que viabilizam a expanso e a manuteno de um sistema

    global de reas protegidas, dentre elas, a importncia de:

    Reconhecer os direitos dos povos indgenas, nmades e comunidades

    locais em relao preservao da biodiversidade;

    Habilitar e envolver as geraes mais novas no processo;

    Implementar formas aprimoradas de governabilidade que reconheam

    tanto formas tradicionais quanto abordagens inovadoras como grande

    valor potencial para a preservao;

    No Brasil a discusso sobre a presena de populaes humanas em reas

    protegidas e no seu entorno ainda incipiente. Apesar da Lei 9.985/2000, que instituiu oSistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), abordar essa

    problemtica em vrios de seus artigos, em raras ocasies os impactos da criao de

    unidades de conservao sobre o modo de vida das populaes afetadas diretamente so

    avaliados. Dessa situao decorre que muitas das unidades de conservao no Brasil

    representam um considervel aumento nas restries para o uso dos recursos naturais,

    que inviabiliza a sobrevivncia das populaes tradicionais.

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    Conforme afirma DIEGUES (op.cit, 2001), a maior parte do oramento das

    unidades de conservao usado para fiscalizao e represso, e muito pouco para

    melhorar as condies de vida e a manuteno das populaes tradicionais que, se

    organizadas e estimuladas, poderiam contribuir positivamente para a conservao das

    reas protegidas.

    O fato do Parque Nacional de Ubajara (PNU) ser uma Unidade de Proteo

    Integral, o que legalmente no permite a presena de populao no seu interior, e

    tambm limita o uso dos recursos naturais do seu entorno, causa conflitos e impactos

    sobre o modo de vida tradicional ainda existente na rea.

    Este estudo pretende fornecer subsdios para o conhecimento do entorno doPNU, enfoca particularmente o distrito de Araticum, tendo como objetivos a

    investigao das condies socioeconmicas, infraestruturais, o modo de vida da

    populao, salientando seus problemas, suas relaes com o PNU, como tambm as

    mudanas acontecidas na vida dos moradores desde sua implantao, em 1959.

    O municpio de Ubajara localiza-se no Planalto da Ibiapaba no noroeste do

    Estado do Cear, a 3 5116 de latitude sul e 40 5516 de longitude oeste de

    Greenwich. Limita-se, ao norte, com os municpios de Frecheirinha e Tiangu, ao sul

    com Ibiapina e Mucambo, a leste com Mucambo e Corea e a oeste com o estado do

    Piau. Possui uma extenso territorial de 290,50 km2 e dista 320 km da capital do

    Estado, Fortaleza. Araticum um dos trs distritos de Ubajara, se localiza no sop da

    Ibiapaba e por isso tem caractersticas bastante diferentes dos outros distritos do

    municpio. Essa singularidade geogrfica confere um certo isolamento comunidade

    local (Figura 1).

    O trabalho de pesquisa iniciou em 2001, com a confeco do projeto para

    seleo de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal

    do Cear, em julho do mesmo ano, foi realizada a primeira visita para o reconhecimento

    da rea e apresentao do trabalho para a comunidade. At julho de 2003 foram

    realizadas mais trs visitas ao campo. Alm da sede de Araticum a pesquisa recolheu

    informaes na sede municipal, no antigo horto florestal (atual administrao do

    Parque) e nas localidades de Ju, e Crrego do Arroz, onde foi possvel entrevistar

    antigos moradores da rea onde hoje se localiza o Parque Nacional de Ubajara.

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    FIGURA 1

    Mapa de localizao Araticum/Ubajara/CE(Arquivo Autocad: Mapas/mapa de localizao.dwg)

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    A metodologia da pesquisa, baseada na realizao de entrevistas gravadas com

    moradores da regio e na aplicao de questionrios, permitiu a anlise das opinies dos

    habitantes do lugar onde viviam antes da criao do PNU e sobre suas condies de

    vida atuais. Completaram o universo da pesquisa, observaes pessoais e dados

    coletados em conversas com autoridades, lderes comunitrios, agentes de sade e

    outros setores da populao.

    Assim, a investigao foi desenvolvida atravs de fontes bibliogrficas e

    empricas. A pesquisa emprica ocorreu em duas etapas: uma busca qualitativa que se

    fundamentou em relatos de vida de oito antigos moradores da rea que hoje abriga o

    PNU. Para a anlise quantitativa, foram visitadas 60 residncias do Distrito, escolhidas

    aleatoriamente. Nessa etapa, foram aplicados questionrios, constitudos por 40 itens,

    incluindo dados sobre identificao, ocupao, renda, sade, abastecimento d'gua,

    educao, destino do lixo, lazer, habitao, migrao, relaes com o Parque Nacional,

    organizao social entre outros.

    A escolha do tema central deveu-se ao interesse de trabalhar com unidades de

    conservao e suas conseqncias para a populao do entorno. Muitos trabalhos

    cientficos tm sido publicados sobre o PNU, no entanto, pouco se sabe sobre acomunidade de Araticum, apesar da sua proximidade com o parque. Diante da escassez

    de informaes, este estudo pretende contribuir para a compreenso dos modos de vida

    peculiares da comunidade de Araticum, e suas interaes com a realidade determinada

    pela criao da rea de conservao. Vale salientar que os habitantes h tempos usam a

    trilha que corta o parque (aproximadamente 7 km) para comercializar produtos na sede

    do municpio e utilizar os servios pblicos, visto que o Distrito carente de infra-

    estrutura. H tambm outro trajeto de acesso a Ubajara, que passa pelos municpios de

    Frecheirinha e Tiangu, totalizando um percurso de 70 km.

    O primeiro captulo faz uma abordagem sobre as unidades de conservao no

    Brasil, sua categorizao de acordo com a Lei 9.985 (Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao da Natureza-SNUC). Analisa tambm as unidades de conservao

    existentes no Cear, enfatizando as categorias e a evoluo da criao a partir da dcada

    de 1940. Finalizando o 1 captulo destaca o Parque Nacional de Ubajara, apresentando

    seu processo de instalao e seus principais problemas. A pesquisa constata que a maior

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    ameaa biodiversidade do parque reside nas dificuldades de acesso informao da

    populao local. Percebe-se o desconhecimento sobre os significados da unidade de

    conservao em seus domnios.

    O segundo captulo discorre sobre o entorno do PNU, dando nfase s

    caractersticas geoambientais classificadas como Planalto Sedimentar e Depresso

    Sertaneja. Em seguida evidencia-se o distrito de Araticum com a anlise das condies

    socioeconmicas do lugar, e do modo de vida dos moradores. Sobre esse aspecto, a

    pesquisa revela o empobrecimento da populao. Muitos daqueles que foram donos das

    terras na rea de conservao, hoje trabalham como meeiros em propriedades alheias, e

    vivem em condies precrias.

    Ainda no 2 captulo, discute-se a relao da comunidade de Araticum com o

    PNU. As entrevistas esclarecem que a maioria dos moradores no compreende por que

    no pode mais utilizar os recursos naturais do parque.

    Discute-se no terceiro captulo a atuao do poder pblico na comunidade de

    Araticum, a relao Parque/Comunidade, os relatos de antigos moradores atravs dos

    quais possvel reconstruir o panorama da regio antes da criao do PNU.

    O quarto captulo abriga consideraes finais, admitindo que, apesar da

    legislao identificar as comunidades autctones como parceiras na administrao das

    unidades de conservao, na rea estudada persiste ainda um enorme distanciamento

    entre o rgo gestor e comunidade do entorno.

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    1. Unidades de Conservao no Brasil

    As unidades de conservao so criadas pelo Poder Pblico com o objetivo de

    preservar o que de melhor existe em estado natural, de modo a compatibilizar o

    desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade ambiental e do

    equilbrio ecolgico. Representam o espao territorial e seus recursos ambientais, com

    caractersticas naturais relevantes, legalmente institudas, aos quais se aplicam garantias

    adequadas de proteo. (IBAMA , 2002- A).

    No Brasil, o movimento ambientalista aborda a questo das reas naturais

    protegidas, a partir de duas orientaes filosficas: a Preservacionista e a

    Conservacionista.

    Os preservacionistas admitem que os recursos naturais devem ser utilizados

    apenas para pesquisa e, em alguns casos, para a contemplao. A filosofia da

    preservao desconsidera as diferentes possibilidades de uso dos recursos naturais

    desenvolvidas por grupos humanos particulares. Grosso modo, os homens so

    identificados como inimigos da floresta, e por isso necessrio que certas pores de

    reas naturais sejam completamente protegidas da ao humana.

    Para CMARA (2002), as unidades de conservao, - pelo menos aquelas

    destinadas essencialmente preservao dos ecossistemas e no ao seu uso sustentvel,

    so estabelecidas para perdurar atravs dos sculos com o mnimo possvel de

    empobrecimento em espcies ou de alterao nos parmetros biolgicos. Essas UCs

    exigem a adoo de procedimentos de manejo criterioso e permanentes baseados tanto

    em prticas consagradas no passado como tambm nos conhecimentos cientficos. Desta

    forma, pretende-se garantir o curso da evoluo futura das espcies e dos ecossistemas,

    sejam quais forem os destinos imprevisveis da civilizao tecnolgica.

    MILANO (2002) contribui para a ampliao do iderio preservacionista. Ele

    argumenta que o termo rea natural protegida, internacionalmente conhecido, diz

    respeito proteo de espaos territoriais da ao humana, mesmo quando as

    intervenes no meio natural representem benefcios para os homens. Isto porque, se at

    as leis so feitas pelos homens para defenderem-se uns dos outros, seria cinismo ou

    ignorncia acreditar que os interesses humanos so naturalmente bons e compatveis

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    com a conservao da natureza. Portanto, a essncia da conservao da natureza a sua

    defesa das atitudes humanas, majoritariamente destrutivas.

    Sobre esses princpios o mesmo autor salienta que as unidades de conservaodevem existir para proteger a natureza, na sua maior amplitude possvel, das

    sistemticas agresses humanas, sejam elas decorrentes de processos tecnolgicos,

    econmicos, culturais e polticos modernos ou de processos arcaicos e tradicionais. Isso

    significa que as unidades de conservao no foram pensadas e nem foram criadas para

    promover o desenvolvimento, ainda que, como conseqncia de sua existncia com um

    manejo adequado, possam propici-lo. E isto no pode ser esquecido, porque a prpria

    essncia e os motivos da sua existncia, MILANO (2002).

    Por outro lado, a corrente conservacionista, defende o uso racional dos recursos

    naturais e delega s intervenes racionais o papel regulador das relaes

    sociedade/natureza. Antonio Carlos Diegues, foi um dos primeiros autores brasileiros a

    problematizar a relao dos moradores com as unidades de conservao, difundindo a

    idia de que os moradores tradicionais das reas protegidas so elementos importantes,

    incorporados na dinmica das florestas. Devem, portanto, permanecer em seus locais

    originais contribuindo para a preservao de seu habitat. DIEGUES (2001) argumentaque a ao do homem sobre os ecossistemas um fato histrico, e que a noo de

    natureza intocada ocidental e recente.

    Sobre a implantao de parques nacionais e reservas naturais no Brasil,

    Diegues destaca o autoritarismo de muitas instituies governamentais e de vrias

    organizaes no-governamentais conservacionistas nacionais e internacionais. Muitas

    vezes, a implantao de reas de conservao desrespeita os direitos civis das

    populaes locais, promovendo o seu deslocamento forado e ignorando seu vastoconhecimento e prticas de manejo de florestas, rios, lagos e ambientes costeiros.

    Nessa perspectiva, este trabalho promove uma discusso sobre a forma como a

    natureza est sendo preservada no Parque Nacional de Ubajara, transformando esta rea

    em ilha, enquanto que, no seu entorno, observa-se uma subexplorao dos recursos

    naturais principalmente por uma populao que antes habitava a rea transformada em

    Parque.

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    Sem dvida a criao de unidades de conservao instrumento fundamental

    na preservao dos recursos naturais ainda existente. No entanto, um assunto

    extremamente complexo e nos estimula a discutir e avaliar a forma de criao das

    mesmas.

    No Brasil, em 1876, Andr Rebouas j lutava pela criao de reservas naturais

    inspiradas na experincia norte-americana. Todavia, o estabelecimento das primeiras

    reservas no pas se efetivou somente, parcialmente, em 1896 com a criao do Parque

    Estadual de So Paulo. Depois de quarenta e um anos, em 1937, surgiu o primeiro

    parque nacional brasileiro, o de Itatiaia.

    Alceo Magnanini, no III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao,realizado em Fortaleza em 2002, discorreu sobre a histria do surgimento das unidades

    de conservao no Brasil. Naquela ocasio, ele analisou a Lei Florestal de 1965, (Anexo

    1), mostrando as definies ainda isoladas de: Parques Nacionais1, Estaduais e

    Municipais, Reservas Biolgicas Federais2, Estaduais e Municipais, Florestas Federais,

    Estaduais e Municipais. Salientou tambm que em 1967, a Lei de Proteo Fauna

    previa a criao de Reservas Biolgicas Nacionais, Estaduais e Municipais e Parques

    Federais, Estaduais e Municipais de Caa.

    Aps a Conferncia de Estocolmo (Sucia) sobre o Homem e a Biosfera em

    1972, foi criada no Brasil, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente SEMA,

    no Ministrio do Interior, resultando na criao de numerosas Estaes Ecolgicas e na

    implantao do conceito de reas de Proteo Ambiental3, em complemento aos

    trabalhos realizados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF,

    1

    Tem como objetivo bsico preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica ebeleza cnica, possibilita a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento de atividades deeducao e interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico.(MMA, Lei 9.985,2000)

    2 Tem como objetivo a preservao integral da biota e demais atributos naturais existentes em seuslimites, sem interferncia humana direta ou modificaes ambientais, excetuando-se as medidas derecuperao de seus ecossistemas alterados e as aes de manejo necessrias para recuperar e preservar oequilbrio natural, a diversidade biolgica e os processos ecolgicos naturais. (MMA, Lei 9.985,2000)

    3 uma rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos,biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar daspopulaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o

    processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (MMA, Lei9.985,2000)

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    ligado ao Ministrio da Agricultura, e responsvel pelas reas de proteo citadas na Lei

    Florestal de 1965 e na Lei de Proteo Fauna de 1967.

    A partir de ento, cada vez mais se empregou o termo unidades deconservao. Entretanto, no houve uma definio padronizada para o termo. Criavam-

    se reas protegidas por todo o Brasil, usando-se diferentes denominaes, sem ateno

    preocupao manifestada por diversos conservacionistas observadores da desordenada

    multiplicidade de categorias de reas protegidas no Pas. (MAGNANINI, 2002).

    PDUA (2002), analisa o acelerado crescimento das unidades de conservao

    nas ltimas dcadas.

    As unidades de conservao tm aumentado extraordinariamente em nmero

    e extenso nas ltimas dcadas... O pas possua no ano de 1998, 184 no

    nvel federal, somando 39 milhes de hectares, ou seja, 4,6% do territrio

    nacional e 451 UCs estaduais, que somam 30,5 milhes de hectares e mais

    de 350 RPPNs, ou seja pouco mais de 8% da nossa extenso territorial, no

    total. Mas os atos de criao continuam proliferando nos vrios nveis de

    governo e no setor privado, especialmente com o reconhecimento de novas

    reas de Proteo Ambiental, Florestas Nacionais e Estaduais, Reservas

    Extrativistas e Reservas Particulares do Patrimnio Natural (RPPNs) e,

    tambm, com novas unidades de conservao de uso indireto, entre elas

    Parques Nacionais e Estaduais. (Pdua, 2002).

    De acordo com a Tabela 1, at 2003, no Brasil, existiam 109 UCs (43,95%)

    classificadas como de Proteo Integral, enquanto 139 (56,05%) de Uso Sustentvel.

    (Ver Anexo 02).

    TABELA 1Nmero de Unidades de Conservao de Proteo Integral e de Uso Sustentvel4

    Tipo Subtotal %

    Proteo Integral (P.N., R.B., R.Ec., E.E., R.V.S.) 109 43,95

    Uso Sustentvel (A.R.I.E., A.P.A., RESEX, FLONA). 139 56,05

    P.N Parque Nacional, R.B Reserva Biolgica, R. Ec - Reserva Ecolgica, E.E EstaoEcolgica, R.V.S- Refgio da Vida Silvestre, A.R.I.E - rea de Relevante Interesse Ecolgico, A.P.A-rea de Proteo Ambiental, RESEX- Reserva Extrativista, FLONA- Floresta Nacional. Fonte:IBAMA/2003.

    4

    As definies legais das categorias de UCs no Brasil esto descritas e comentadas no item 1.1 destecaptulo.

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    GHIMIRE (apud: DIEGUES, 2001), indica que h uma combinao de fatores

    que explicam o aumento do interesse mundial pelas unidades de conservao: a rpida

    devastao das florestas e a perda da biodiversidade, a disponibilidade de fundos

    internacionais para a conservao e a possibilidade de gerao de renda pelo turismo em

    parques. Afirma ainda que o estabelecimento de reas protegidas se transformou numa

    importante arma poltica para os grupos dirigentes de muitos pases do Terceiro Mundo,

    pois elas representavam uma forma de obteno de ajuda financeira externa.

    Nesse sentido, GUHA (1997), destaca cinco grupos sociais que fomentam a

    conservao da vida selvagem no Terceiro Mundo:

    Em primeiro lugar esto os moradores das cidades e turistas estrangeirosque tomam algum tempo de frias para visitar o mundo selvagem, com

    objetivos de prazer, esttica e recreao. O segundo grupo so as elites

    governantes que vm na proteo animal um smbolo de prestgio

    nacional. O terceiro grupo formado pelas organizaes ambientalistas

    internacionais como IUCN e WWF que trabalham para educar os

    profissionais nas virtudes da biologia da conservao. O quarto grupo

    formado pelos funcionrios dos servios de parques. E finalmente o

    ltimo grupo o dos bilogos que querem conservar a natureza por causada cincia.

    Em 2000, a definio para Unidade de Conservao foi consolidada na Lei

    Federal N0 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da

    Natureza, aps quase dez anos de tramitao no Congresso Nacional Brasileiro. Junto

    com isso, a Lei estabeleceu uma srie de normas e discusses acerca das Unidades de

    Conservao, esclarecendo sobre suas diversas categorias, e indicando formas de

    implantao e manejo.

    Uma das mudanas mais significativas presentes no novo SNUC a

    participao social no processo de criao e gesto das Unidades de Conservao. Para

    isso estabeleceu mecanismos e procedimentos que visam o envolvimento da sociedade

    nos rumos da poltica nacional de Unidades de Conservao.

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    1.1. O Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, Lei 9.985/2000.

    O artigo 10 desta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    da Natureza - SNUC, como tambm estabelece critrios e normas para a criao,

    implantao e gesto de Unidades de Conservao.

    O artigo 50 em seus treze incisos, determina que o SNUC regido por

    diretrizes que: asseguram a participao das comunidades envolvidas no processo de

    implantao e gesto das unidades de conservao (UCs). Para tanto preconiza que os

    agentes pblicos busquem o apoio e cooperao de ONGs e incentivem as populaes

    locais e organizaes privadas a estabelecerem e administrarem UCs.

    O Art. 70 esclarece que as unidades de conservao integrantes do SNUC

    dividem-se em dois grupos; os quais sejam:

    I Unidades de Proteo Integral, que tm como objetivo bsico: preservar a

    natureza, nas quais permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais.

    II Unidades de Uso Sustentvel, que tm como objetivo bsico: compatibilizar a

    conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela de seus recursos

    naturais.

    No Art. 80 so definidas as categorias de unidades de conservao que compe

    o grupo de Unidades de Proteo Integral. So elas:

    I Estao Ecolgica;

    II Reserva Biolgica;

    III - Parque Nacional;

    IV Monumento Natural;

    V Refgio da vida Silvestre.

    O Art. 110 enfatiza a Unidade de Conservao em estudo: o Parque Nacional

    tem como objetivo bsico preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia

    ecolgica e beleza cnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o

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    desenvolvimento de atividades de educao e interpretao ambiental, de recreao em

    contato com a natureza e de turismo ecolgico.

    10 O Parque Nacional de posse e domnio pblicos, sendo que as reas

    particulares includas nos seus limites sero desapropriadas, de acordo

    com o que dispe a lei.

    20 A visitao pblica est sujeita s normas e restries estabelecidas

    no Plano de Manejo da Unidade, s normas estabelecidas pelo rgo

    responsvel por sua administrao, e aquelas previstas em regulamento.

    30 A pesquisa cientfica depende de autorizao prvia do rgo

    responsvel pela administrao da unidade e est sujeita s condies e

    restries por estes estabelecidas, bem como aquelas previstas em

    regulamento.

    40 As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou

    Municpio, sero denominadas, respectivamente, Parque Estadual e

    Parque Natural Municipal.

    O Art. 14 descreve o Grupo das Unidades de Uso Sustentvel e suas

    respectivas categorias:

    I rea de Proteo Ambiental;

    II rea de Relevante Interesse Ecolgico;

    III - Floresta Nacional;

    IV - Reserva Extrativista;

    V - Reserva de Fauna;

    VI - Reserva de Desenvolvimento Sustentvel e;

    VII Reserva Particular do Patrimnio Natural.

    O captulo IV da Lei detalha os procedimentos para a criao, implantao e

    gesto das unidades de conservao. Particularmente o Art. 22, esclarece que as

    unidades de Conservao so criadas por ato do Poder Pblico e salienta:

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    20 A criao de uma unidade de conservao deve ser precedida de

    estudos tcnicos e de consulta pblica que permitam identificar a

    localizao, a dimenso e os limites mais adequados para a unidade,

    conforme se dispuser em regulamento.

    30 No processo de consulta de que trata o 20 , o Poder Pblico

    obrigado a fornecer informaes adequadas e inteligveis populao

    local e a outras partes interessadas.

    O Art. 29 descreve a estrutura administrativa das UCs:

    Cada unidade de conservao do grupo de Proteo Integral dispor de

    um Conselho Consultivo, presidido pelo rgo responsvel por sua

    administrao e constitudo por representantes de rgos pblicos, de

    organizaes da sociedade civil, por proprietrios de terras localizadas em

    Refgio da Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e,

    na hiptese prevista no 20 do Art. 42, das populaes tradicionais

    residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato da criao da

    unidade.

    1.2. Unidades de Conservao do Cear

    A primeira unidade de conservao criada no Estado do Cear foi a Floresta

    Nacional do Araripe, em 1946 no Municpio de Araripe. Em 1959, treze anos depois, foi

    criado o Parque Nacional de Ubajara. Podemos perceber, na Figura 2, a evoluo de

    criao das UCS no estado do Cear, desde a dcada de 1940 at 2003.

    Apenas na ltima dcada do sculo XX, quando a discusso ambiental se

    consolidou atravs de conferncias e seminrios de onde partiram as principais

    estratgias para conservar e preservar ecossistemas naturais, o poder pblico estadual

    teve a iniciativa de criar as primeiras Unidades de Conservao. Nesse contexto

    prevaleceram as UCs de uso sustentvel como as reas de Proteo Ambiental (APA)

    e as Reservas Particulares de Proteo Natural (RPPN). Nota-se a concentrao de UCs

    no litoral e nas serras enquanto no centro do Estado evidencia-se um vazio. De acordo

    com CASTRO (2004) 70% do territrio cearense coberto por caatinga, sendo que

    apenas 0,25% est protegido legalmente.

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    FIGURA 2

    Mapa de evoluo da criao de unidades de conservao no estado do Cear.

    (Arquivo Autocad: Mapas/Unidades Dcadas.dwg)

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    Em nvel estadual, as aes voltadas preservao de reas naturais

    centralizam-se na Superintendncia Estadual do Meio Ambiente-SEMACE. Em 2004,

    tcnicos da SEMACE, elaboraram o Programa da Biodiversidade Probio que passou

    a orientar a poltica de implantao e gerenciamento das UCs no Cear. Esse

    documento tem como objetivo: promover a conservao da biodiversidade cearense e

    estimular a populao a integrar-se gesto de Unidades de Conservao institudas nas

    serras midas, nas chapadas, no serto e no litoral, incluindo os ecossistemas

    associados. O Probio reconhece que o percentual de reas protegidas no Estado

    insatisfatrio, principalmente no bioma caatinga, ecossistema caracterstico do nordeste

    brasileiro.

    As Unidades de Conservao do Cear sejam de Uso Sustentvel ou de

    Proteo Integral, tm conhecimento pblico limitado. Em geral, grande parte dos

    visitantes das reas protegidas no informada sobre os objetivos das mesmas. A pouca

    divulgao, o baixo poder aquisitivo da populao, como tambm falta de infra-

    estrutura nessas reas contribuem para um ndice de visitao ainda pouco significativo.

    S com a Poltica Nacional de Ecoturismo, a Secretaria de Turismo do Estado SETUR,

    vem considerando as UCs como prioritrias para o desenvolvimento da prtica de

    ecoturismo5.

    A Figura 3 especifica o nmero de Unidades de Conservao no estado do

    Cear e suas categorias, de acordo com a classificao do SNUC so elas: Floresta

    Nacional (FLONA), Estao Ecolgica, Parque Nacional (PARNA), rea de Proteo

    Ambiental (APA), Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN).

    5 Um segmento da atividade turstica que utiliza forma sustentvel o patrimnio natural e cultural,

    incentivo a sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista atravs dainterpretao do ambiente, promovendo o bem-estar das populaes. (EMBRATUR , 1994)

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    FIGURA 3

    Grfico demonstrativo das categorias de UCs no estado do Cear

    Fonte: SEMACE, 2003.

    A Figura 4 demonstra as Unidades de Conservao do Estado do Cear.

    FIGURA 4

    Grfico demonstrativo das UCs do Cear quanto ao seu gerenciamento

    Fonte: SEMACE, 2003.

    Segundo a classificao do Sistema Nacional de Unidades de Conservao -

    SNUC, o Cear possui 40 UCs. Dessas 11 esto sob gerncia Federal (27,5%), 14

    (35%) esto ligadas ao governo do Estado e 8 (20%) aos governos municipais. H

    tambm 7 (17,5%) UCs sob a responsabilidade de particulares. 33 das UCs cearenses

    2 2 3

    25

    7

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    CATEGORIAS DE UCS

    N

    MERO

    DEUCS

    FLONA

    PARNA

    EST.ECOLGICA

    RPPN

    APA

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    30%

    35%

    Federais

    Estaduais

    Municipais

    Particulares

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    31

    esto na categoria de uso sustentvel e 5 na categoria de proteo integral,

    correspondendo a 82,5% e 12,5% respectivamente. Dentre os tipos de ecossistemas

    protegidos esto manguezais, reas marinhas, a caatinga, matas midas, lagoas, dunas,

    complexos vegetacionais litorneo e outros.

    Os quadros demonstrados a seguir mostram as Unidades de Conservao

    gerenciadas pela Unio, Estado, Municpio e por particulares no Cear com seus

    diplomas legais, rea, regio e tipo de ecossistema.

    QUADRO 1

    Unidades de Conservao Gerenciadas pela Unio CE

    Unidade deConservao Diploma Legal rea (ha) Regio/ Municpio Ecossistema

    Floresta Nacional doAraripe

    Decreto-Lei n9.226 de 02/06/46

    38.262,00 Chapada do Araripe Serra mida

    Parque Nacional deUbajara

    Decreto n 45.954de 30/04/59

    563,00 Serra da Ibiapaba Serra mida

    Estao Ecolgica deAiuaba

    Decreto n 81.218de 16/02/78

    12.000,00 Inhamuns Caatinga

    rea de ProteoAmbiental deJericoacoara

    Decreto n 90.379de 29/10/84

    5.480,00 Acara Costeiro

    rea de ProteoAmbiental da Serrade Ibiapaba

    Decreto Federalde 26/11/96

    1.592,55 Alguns municpios doCear e Piau

    Bioregio doComplexo daIbiapaba

    rea de ProteoAmbiental Delta do

    Parnaba

    Decreto Federalde 28/08/96

    313.809,00Alguns municpios do

    Cear, Piau eMaranho.

    Costeiro/Manguezal

    rea de ProteoAmbiental da

    Chapada do Araripe

    Decreto Federalde 04/08/97

    1.063.000,00Alguns municpios doCear, Pernambuco e

    Piau.

    Bioregio doComplexo do

    Araripe

    Floresta Nacional deSobral

    Portaria No 358,27/09/01.

    598,00 Sobral

    Estao Ecolgica do

    Castanho

    Decreto de

    27/09/200112.579,20 Jaguaribe/Alto Santo Caatinga

    Parque Nacional deJericoacoara

    Decreto Federalde 04/02/2002

    8.416,08Cruz/ Jijoca eJericoacoara

    Costeiro

    Reserva Extrativistado Batoque

    2003 601,00 Aquiraz Costeiro

    Fonte:SEMACE, 2003

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    QUADRO 2

    Unidades de Conservao Gerenciadas pelo Estado CE

    Unidade de

    ConservaoDiploma Legal rea (ha) Regio/ Municpio Ecossistema

    rea de ProteoAmbiental da Serra de

    Baturit

    Decreto n20.956 de18/09/90

    32.690,00Baturit/Pacoti/ Guaramiranga/Mulungu/Redeno/Palmcia

    Aratuba/CapistranoSerra mida

    rea de ProteoAmbiental da Serra da

    Aratanha

    Decreto n24.959 de05/06/98

    6.448,29Guaiba/ Maranguape/

    PacatubaSerra mida

    rea de ProteoAmbiental do Lagamar

    do Caupe

    Decreto n24.957 de05/06/98

    1.884,46 CaucaiaLacustre/Complexo

    VegetacionalLitorneo

    rea de ProteoAmbiental do Pecm

    Decreto n24.957 de05/06/98

    122,76 S. Gonalo do AmaranteLacustre/Complexo

    VegetacionalLitorneo

    Estao Ecolgica doPecm (*)

    Decreto n24.957 de05/06/98

    973,09So Gonalo do

    Amarante/CaucaiaDunas

    rea de ProteoAmbiental da Lagoa

    do Urua

    Decreto n025.355 de26/01/99

    2.672,58 BeberibeLacustre/Complexo

    VegetacionalLitorneo

    rea de ProteoAmbiental da Bica do

    Ipu

    Decreto n025.354 de26/01/99

    3.485,66 Ipu Serra mida

    rea de ProteoAmbiental do Esturio

    do Rio Cur

    Decreto n25.416 de29/03/99

    881,94 Paracuru / Paraipaba Manguezal

    rea de ProteoAmbiental do Esturio

    do Rio Cear

    Decreto n25.413 de29/03/99

    2.744,89 Fortaleza / Caucaia Manguezal

    rea de ProteoAmbiental do Esturio

    do Rio Munda

    Decreto n25.414 de29/03/99

    1.596,37 Itapipoca / Trairi Manguezal

    rea de ProteoAmbiental das Dunas

    de Paracuru

    Decreto n25.418 de29/03/99

    3.909,60 Paracuru Dunas

    rea de ProteoAmbiental das Dunas

    da Lagoinha

    Decreto n25.417 de29/03/99

    523,49 Paraipaba Dunas

    rea de Proteo

    Ambiental do RioPacoti

    Decreto n

    25.778 de15/02/00

    2.914,93

    Fortaleza/ Euzbio/ Aquiraz Costeirorea de Proteo

    Ambiental da Lagoade Jijoca

    Decreto n25.975 de10/08/00

    3.995,61 Jijoca de Jericoacoara/Cruz Lacustre

    Fonte: SEMACE, 2003.

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    QUADRO 3

    Unidades de Conservao Gerenciadas pelos Municpios CE

    Unidade de Conservao Diploma Legal rea (ha)Regio/

    MunicpioEcossistema

    rea de ProteoAmbiental de Balbino

    Lei n 497 de21/09/88

    250,00Litoral Leste do

    municpio deCascavel

    Costeiro/ ComplexoVegetacional Litorneo

    rea de ProteoAmbiental da Lagoa da

    Bastiana

    Lei n0 170/91 de01/10/91

    Permetro Urbanodo municpio de

    Iguatu

    Lacustre

    rea de ProteoAmbiental de Maranguape

    Lei n 1168 de08/07/93

    A partirda

    Cota100m

    Maranguape Serra mida

    rea de Proteo

    Ambiental de Tatajuba

    Lei n 559 de

    26/12/94

    3.775,00 CamocimCosteiro/ Complexo

    Vegetacional Litorneo

    rea de ProteoAmbiental da Praia de

    Macei

    Lei n0 629/97 de19/12/97

    1.374,10Litoral Oeste do

    municpio deCamocim

    Costeiro/Complexo

    Vegetacional

    Litorneo

    rea de ProteoAmbiental da Praia de

    Ponta Grossa

    Lei n 262/98 de17/02/98

    558,67Litoral Nordestedo municpio de

    Icapu

    Costeiro/ ComplexoVegetacional Litorneo

    rea de ProteoAmbiental de Canoa

    Quebrada

    Lei n0 40/98 de20/03/98

    4.000,00Nordeste domunicpio de

    Aracati

    Costeiro/Complexo

    Vegetacional

    Litorneo

    rea de ProteoAmbiental do Manguezal

    da Barra Grande

    Lei n0 298/00 de12/05/00

    1.260,31 Icapu Litoral/Manguezal

    Fonte:SEMACE, 2003.

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    QUADRO 4

    Unidades de Conservao Gerenciadas por Particulares -CE

    Unidade de

    ConservaoDiplomaLegal rea (ha)

    Regio/

    MunicpioEcossistema Administrao

    Reserva Particular doPatrimnio Natural

    Fazenda Olho dgua doUruu

    PortariaIBAMA n 719de 26/03/91

    2.610,00 Parambu CaatingaJoaquim A.

    Feitosa Sobrinho

    Reserva Particular doPatrimnio Natural

    Mercs Sabiaguaba eNazrio

    PortariaIBAMA n 113de 25/10/93

    50,00 AmontadaComplexo

    VegetacionalLitorneo

    Antnio Jlio deJesus Trindade eYvone Cristiane

    de Jesus Trindade

    Reserva Particular doPatrimnio Natural StioAmeixas-Poo Velho

    PortariaIBAMA n 007de 28/01/94

    464,33 ItapipocaComplexo

    VegetacionalLitorneo

    Antnio Jlio deJesus Trindade eYvone Cristiane

    de Jesus Trindade

    Reserva Particular doPatrimnio Natural

    Arajara Park

    PortariaIBAMA n24/99 de29/02/99

    27,81 Barbalha Mata mida Antnio Saraiva

    Reserva Particular doPatrimnio NaturalFazenda No Me

    Deixes

    PortariaIBAMA n37/99 de16/04/99

    300,00 Quixad CaatingaRaquel deQueiroz

    Reserva Particular doPatrimnio Natural

    Ambientalista FrancyNunes

    PortariaIBAMA n54/00 de11/08/00

    200,00GeneralSampaio

    Caatinga/Arbrea

    Reserva Particular doPatrimnio NaturalSerra das Almas

    Portaria

    IBAMA n51/00 de08/09/00

    4.749,58 Crates

    Caatinga/

    FlorestaDecidual/Carrasco

    AssociaoCaatinga

    Fonte:SEMACE, 2003.

    1.3. O Parque Nacional de Ubajara (PNU)

    Quando o PNU foi criado no existia lei especfica para a implantao de reas

    protegidas. Dessa forma o Cdigo Florestal de 1965, definiu como parques nacionais, as

    reas criadas com a finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza,

    conciliando a proteo integral da flora, da fauna e das belezas naturais, com a

    utilizao para objetivos educacionais, recreativos e cientficos;

    Para a Lei Federal N0 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de

    Unidades de Conservao da Natureza - SNUC - os parques Nacionais so Unidades de

    Conservao de Proteo Integral e tm como objetivo bsico preservao de

    ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica, possibilitando a

    realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento de atividades de educao e

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    interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo

    ecolgico. A mesma lei tambm esclarece que as unidades de conservao (UC) so

    criadas com o objetivo de preservar a natureza, de modo a compatibilizar o

    desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade ambiental e do

    equilbrio ecolgico.

    A pesquisa de campo revela que mesmo aps 45 anos de criao do Parque

    Nacional de Ubajara, ainda realidade a falta de integrao entre os processos humanos

    e naturais no possuindo relao simtrica com as comunidades do entorno.

    A comunidade de Araticum, por localizar-se vizinha ao limites do PNU e

    manter relaes com esta UC desde a sua criao, objeto primeiro desta investigao.Suas caractersticas esto descritas nos Captulos 2 e 3.

    O Parque Nacional de Ubajara localiza-se no Planalto da Ibiapaba, no

    municpio de Ubajara. Foi criado pelo Decreto n 45.954 - de 30 de abril de 1959

    (Anexo 3). Ocupando uma rea de 563 hectares, era o menor Parque Nacional do Brasil.

    No dia 13 de dezembro de 2002, o ento Presidente da Repblica Fernando Henrique

    Cardoso amplia sua rea para 6.288 hectares, abrangendo os municpios de Ubajara,

    Frecheirinha e Tiangu. (Figura 5). A sede administrativa do parque, antigo horto

    florestal da regio, com 64 ha encontra-se a 7 km da cidade de Ubajara.

    Os dados estudados neste trabalho referem-se apenas aos 563 ha, pois a

    ampliao do PNU ainda no foi totalmente consolidada, estando a situao fundiria

    at o presente no regularizada. Anexo 4 - Decreto de ampliao do PNU.

    Do ponto de vista geolgico, geomorfolgico, botnico e faunstico o Parque

    Nacional de Ubajara representa riqueza inestimvel, no que tange a investigaocientfica e explorao turstica. A principal atrao do Parque a Gruta de Ubajara,

    encravada entre afloramentos de rochas calcrias, a aproximadamente 520m de altitude.

    Existem tambm outras cavernas (localmente conhecidas como grutas), que no esto

    abertas visitao. Destacam-se: Gruta do Urso Fssil, Gruta do Gruta do Macaco

    Fssil, Gruta do Morcego Branco, Gruta de Cima, Gruta do Pendurado, Gruta dos

    Mocs, Gruta das Aranhas, Furna das Pipocas, Furna do Acaso e Furna da Mmia.

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    FIGURA 5

    Mapa da rea de estudo(Arquivo Autocad: Mapas/rea de Estudo.dwg)

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    O acesso ao Parque Nacional de Ubajara se d por via terrestre. O percurso

    principal realizado atravs da BR-222, que liga Fortaleza a Teresina, at a cidade de

    Tiangu. De Tiangu, segue-se pela CE-187 at a cidade de Ubajara, numa extenso de

    17 Km. Saindo da sede de Ubajara, segue-se por uma estrada pavimentada at a entrada

    do parque, numa extenso de 3 km. O PNU dista da capital Fortaleza 340 km.

    A histria do PNU foi registrada no Plano de Manejo do Parque Nacional de

    Ubajara6. Segundo o documento, em fins da dcada de 1950 o Dr. David Azambuja,

    diretor do Servio Florestal do Ministrio da Agricultura e sua comitiva, fizeram uma

    visita ao horto florestal de Ubajara, na ocasio, foram convidados para conhecer a Gruta

    de Ubajara. O Diretor do Servio Florestal encantou-se com os atributos excepcionais

    da caverna, e com a belssima paisagem existente em seu entorno, e, por isso, prometeu

    envidar todos os esforos para tornar possvel criao de um Parque Nacional no

    lugar, com a finalidade de garantir a integridade e o processo de evoluo do conjunto

    de formaes geolgicas existentes em Ubajara.

    No dia 30 de abril de 1959 o Presidente da Repblica, Juscelino Kubitschek de

    Oliveira, assinou o Decreto N 45.954 criando o Parque Nacional de Ubajara, que como

    os demais parques existentes, ficou subordinado Seo de Parques e FlorestasNacionais, do Servio Florestal do Ministrio da Agricultura.

    O Decreto N 45.954 autorizava o Ministrio da Agricultura a entrar em

    entendimentos imediatos com os proprietrios particulares de terras e com a Prefeitura

    de Ubajara para resolver a situao fundiria da rea. O Ministrio ento se empenhou

    em promover doaes e em efetuar as desapropriaes indispensveis instalao do

    parque. Todavia, o Agrnomo Joo Nogueira, encarregado deste servio, faleceu

    inesperadamente em 1961. Os recursos destinados ao pagamento das indenizaesestavam em seu nome. Isso causou um considervel atraso na liberao das verbas para

    os antigos proprietrios das terras do parque, porque os meandros administrativos do

    governo impediam a transferncia da gerncia dos recursos para outro servidor do

    Ministrio.

    6 Documento tcnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade deconservao, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da rea e o manejo

    dos recursos naturais, inclusive a implantao das estruturas fsicas necessrias gesto da unidade.(MMA, Lei 9.985,2000)

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    Quando o imbrglio foi resolvido, j tinham se passados vrios anos da

    avaliao das terras, os preos definidos em 1959 e 1960 estavam defasados,

    principalmente se considerarmos o surto inflacionrio no Brasil das dcadas de 1960 e

    1970. Por este motivo, muitos proprietrios se recusaram a receber as quantias

    desvalorizadas. Para agravar ainda mais a situao, a flora, a fauna, a gruta e as

    propriedades particulares do interior do parque estavam sujeitas ao regime especial

    constante do Cdigo Florestal que impedia sua utilizao, independente do pagamento

    de ressarcimentos e indenizaes. Isso significa que os habitantes da rea permaneciam

    proprietrios da terra, mas no podiam desenvolver nenhuma atividade vedada por

    aquele dispositivo legal. Frente a essa circunstancia um sentimento insatisfao

    espalhou-se entre os proprietrios de terra.

    Em 1967, quando foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

    Florestal IBDF, o Parque Nacional de Ubajara j contava com uma estrutura funcional

    e sede administrativa, localizada no antigo Horto Florestal. Continuava, porm, o

    impasse quanto regularizao da situao fundiria, ao no pagamento das

    indenizaes e realizao das desapropriaes. E surgiu mais uma dificuldade: como a

    Regio Nordeste do Brasil foi considerada zona prioritria para a Reforma Agrria, toda

    e qualquer desapropriao por interesse social teria que ser realizada exclusivamente

    pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrria (IBRA), - atual Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), inclusive a rea destinada implantao do

    Parque Nacional.

    Somente em 19 de julho de 1973 a rea de 563 ha do Parque Nacional de

    Ubajara foi declarada de interesse social para fins de desapropriao dos imveis

    particulares existentes na poligonal.

    Logo, foi firmado um convnio entre o IBDF e o INCRA, com a finalidade

    deste ltimo realizar a desapropriao por interesse social e os respectivos pagamentos,

    amparado nos dispositivos legais. Em 16 de julho de 1975, o INCRA props, perante o

    Juzo Federal da Seo Judiciria do Estado do Cear, a competente ao

    desapropriatria, onde todos os ocupantes da rea do parque foram citados: desde

    proprietrios, e inclusive trs latifundirios por explorao, at posseiros, arrendatrios

    e sucessores dos expropriados.

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    O pagamento dos expropriados foi feito atravs de ttulos da Dvida Agrria,

    obedecendo aos termos do Decreto Lei n 554, de 25 de abril de 1969. No entanto,

    houve recusa de alguns proprietrios em receber as indenizaes, cujos valores foram

    depositados em cartrio. Mesmo assim, respaldado em deciso judicial, o INCRA

    tomou posse das terras, dos imveis e benfeitorias de todas as propriedades.

    O Plano de Manejo do PNU cita alguns problemas comuns nessa unidade de

    conservao. O mais marcante deles relaciona-se utilizao do telefrico que d

    acesso gruta. Apesar de no ser permitido pelos Regulamentos dos Parques Nacionais

    Brasileiros, o telefrico constitui um dos principais focos da visitao. Os problemas

    decorrem da necessidade de manuteno peridica do equipamento que de

    responsabilidade do governo do Estado do Cear.

    Outra dificuldade com que a administrao se defronta o fato de que as

    nascentes dos riachos que formam o rio Ubajara, e cruza o parque, esto localizadas fora

    dos seus limites. Estes mananciais esto bastante prejudicados pelo desmatamento, pelo

    uso de agrotxicos em suas proximidades, pelos esgotos domsticos e abandono de lixo.

    O trnsito de animais de carga e animais domsticos na trilha Ubajara-

    Araticum tambm traz problemas administrao do parque. A trilha calada, porm

    os cascos dos jumentos usados para o transporte at feira de Ubajara deslocam as

    pedras. Soma-se a isto a fora das guas torrenciais ocasionadas pelo clima mido da

    serra e o resultado uma constante necessidade de recomposio da trilha.

    Alm disso, o uso constante da trilha, tem contribudo para a disseminao de

    espcies exticas junto vegetao do parque. H principalmente mangueiras e

    jaqueiras, remanescentes dos stios que ocupavam a rea. Suas frutas so consumidas

    pelos passantes, que jogam os caroos ao longo da trilha, provocando, assim, a sua

    proliferao. (Figura 6).

    A partir de ento os antigos habitantes do Parque Nacional de Ubajara tiveram

    que encontrar um outro lugar para morar. Alguns deles fixaram-se em Araticum, e,

    ainda hoje, tm o seu cotidiano marcado pelas restries e benfeitorias que o parque

    oferece.

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    600700

    800

    900

    JAN

    FEV

    MAR AB

    RMAI

    JUN

    JUL

    AGOS

    SET

    OUT

    NOV

    DEZ

    PESSOAL DEARATICUM

    ANIMAIS DECARGA

    FIGURA 6

    Mangueiras no interior do Parque, remanescentes dos stios que ocupavam a rea.

    Arquivo: Vilma Arajo. Janeiro 2003.

    A Figura 7 mostra o fluxo intenso de pedestres e animais de carga com

    mercadoria que passam diariamente na trilha Ubajara-Araticum O movimento maior

    aos domingos, dia de feira livre em Ubajara. As mercadorias levadas variam desde

    animais domsticos, como porcos, galinhas e caprinos. Entretanto o produto maiscomum o carvo vegetal, produzido no entorno do parque.

    FIGURA 7

    Grfico demonstrativo do trnsito de pessoas e animais na trilha de Araticum em 2002.

    Fonte: IBAMA (2002)

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    A relao entre o organismo gestor do PNU (IBAMA) e a comunidade de

    Araticum, ainda no est totalmente harmnica. Como se viu, desde os primeiros passos

    para sua instalao existiram conflitos entre a populao tradicional e a administrao

    do parque. Inmeros episdios recrudesceram os antagonismos, construindo uma

    histria de ressentimentos mtuos que persiste por duas geraes. Para VIANNA:

    Os conflitos podem ser analisados sob o ngulo de cada uma das partes

    envolvidas, que, genericamente, consideram seu opositor como agente

    causador do problema. Assim, dependendo do referencial, as partes so

    agentes e vtimas ao mesmo tempo. O poder pblico, ao implantar uma

    unidade de conservao de modo unilateral e arbitrrio, agente de

    conflito para as populaes locais, que neste caso so vtimas, pois nopodem mais viver nestas reas, do modo como viviam antes. J para o

    poder pblico, as populaes so agentes de conflitos, porque com suas

    atividades e ocupao so causadoras de problemas, impactos e ameaas

    ao cumprimento dos objetivos das unidades. Para o Poder Pblico

    (inclusive para algumas entidades ambientalistas), estas populaes

    tornam-se marginais, a partir da criao destas unidades, j que suas

    atividades passam a ter um carter clandestino. Estas populaes so,

    inclusive, apontadas por alguns como o fator de maior problema para aimplantao de Unidades de Conservao. (VIANNA, 1996:82).

    Dessa forma, alm dos problemas internos que a unidade de conservao

    enfrenta, constata-se que as prticas ambientais inadequadas que ocorrem nas reas

    urbanas e rurais circunvizinhas colocam em risco a rea protegida. Agravando o quadro

    a situao econmica de Ubajara, marcada pela falta de emprego, de rendas e de

    recursos pblicos contribui para o desconhecimento da comunidade sobre os motivos e

    significados da unidade de conservao em seus domnios. Como ficou evidente na

    anlise dos questionrios e entrevistas aplicados em Araticum, cujos resultados esto

    presentes nos captulos 2 e 3. Essa ausncia de informao representa a mais

    preocupante ameaa preservao da biodiversidade dessa unidade de conservao.

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    2. O Entorno do Parque Nacional de Ubajara

    O entorno do PNU possui caractersticas diversificadas. Enquanto a rea

    Planltica apresenta particularidades morfoclimticas de remanescentes da Mata

    Atlntica, e temperaturas mais amenas devido s elevadas altitudes. Por sua vez, o

    distrito de Araticum localizado na Depresso Sertaneja, com altitude inferior a 400m,

    possui caractersticas de clima semi-rido.2.1. Caractersticas geoambientais da rea

    2.1.1. Planalto Sedimentar

    O Planalto da Ibiapaba

    A microrregio da Ibiapaba diferenciada das regies circunvizinhas pela sua

    elevada densidade de ocupao agrcola e pela intensidade de uso de seu solo. Essas

    diferenas so justificadas principalmente pelas condies climticas e pedolgicas da

    regio privilegiadas, quando consideradas em relao s reas semi-ridas que constitui

    o seu entorno.

    O Planalto da Ibiapaba, tambm chamado de Serra da Ibiapaba ou Serra

    Grande, um planalto sedimentar do tipo cuesta. O relevo dessimtrico e os elementos

    que o compem so o reverso, inclinado para oeste; a cornija, o topo; e a frente (ou

    front) de declive ngreme, que compreende a vertente voltada para leste. Suas

    altitudes mdias variam de 650 a 800 900 metros, registrando-se, entretanto, pontos

    que alcanam altitudes acima de 900 metros. O fronttem declives variveis entre 25 a

    350,o que evidencia a forte ruptura topogrfica com as depresses circunjacentes. O

    desnvel entre a cimeira do planalto e as depresses so em torno de 600m.

    De acordo com SILVA (2000), o Planalto da Ibiapaba situa-se ao longo do lado

    oeste do Cear, nos limites com o estado do Piau apresentando direo geral Norte-Sul.

    A chamada frente da cuesta assemelha-se a um extenso paredo reproduzindo uma

    escarpa muito ngreme.

    Os fatores restritivos ao uso da terra so de natureza edfica face baixa

    fertilidade dos latossolos provenientes da alterao do arenito. inegvel, contudo, que

    face ao desmatamento indiscriminado ali verificado, e o conseqente uso intenso e

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    continuado dos recursos naturais atravs de tcnicas rudimentares, os processos erosivos

    se manifestaram, trazendo empobrecimento aos latossolos, sobretudo, por conta da

    lixiviao. (SOUZA, 2000).

    Segundo LIMA (2000), quanto ao uso compatvel e sustentabilidade a rea

    favorvel s culturas de ciclo longo e curto, com adubao e com a aplicao de

    corretivos da acidez dos solos. Nesse aspecto, o autor indica os aproveitamentos

    baseados na silvicultura, atravs do reflorestamento de reas degradadas; a manuteno

    de resqucios de mata plvio-nebular; e o uso urbano turstico controlado com uma

    sustentabilidade moderada. Quanto s condies ecodinmicas e a vulnerabilidade

    ambiental, a regio apresenta ambientes de transio, com tendncia instabilidade e

    vulnerabilidade de moderada a alta na rea escarpada com desmatamentos

    indisciplinados.

    2.1.2. Depresso Sertaneja

    De acordo com SILVA & CAVALCANTE (2000), as Depresses Sertanejas

    representam a unidade geomorfolgica mais extensa do estado do Cear e abrangem a

    maioria das reas dos municpios cearenses. Elas compem preferencialmente reas

    planas e suaves onduladas com altitudes inferiores a 500 metros, posicionadas por entre

    os macios residuais e os planaltos sedimentares.

    As depresses sertanejas correspondem tambm s amplas superfcies de

    aplainamento que foram elaboradas sobre condies climticas semi-ridas. Nesses

    lugares verificou-se um trabalho erosivo intenso, que rebaixou o relevo, principalmente

    nas reas de rochas menos resistentes. Tais aes se manifestam inicialmente pelo

    intemperismo fsico predominante, que age desagregando as rochas mais superficiais

    durante a estao seca prolongada. Quando isso ocorre, os detritos das rochas so em

    seguida transportados pelo escoamento superficial, para as partes mais baixas, a

    exemplo das enxurradas de curta durao. Desses processos surgem os pedimentos que

    em conjunto constituem o chamado pediplano sertanejo. (SILVA& CAVALCANTE

    2000).

    De acordo com LIMA (2000), a depresso perifrica da Ibiapaba quanto seu

    potencial geoambiental e suas limitaes de uso dos recursos naturais apresenta

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    superfcies planas moderadamente dissecadas com condies climticas submidas a

    semi-ridas com precipitaes mdias anuais entre 700-900 mm; os cursos dgua so

    intermitentes, h um baixo potencial de guas subterrneas e solos com fortes limitaes

    ao uso agrcola.

    Apesar das limitaes ao uso agrcola a rea em estudo extremamente

    utilizada ano aps ano, sem tempo para o descanso da terra, predominando ainda o

    sistema de agricultura tradicional, onde ocorrem desmatamentos e queimadas que

    deixam os solos expostos s fortes chuvas, ocasionando a remoo constante dos seus

    horizontes superficiais. Isso ocasiona a reduo da fertilidade natural e diminuio da

    produo agrcola.

    2.2. O Distrito de Araticum em evidncia

    Araticum localiza-se no pediplano do Planalto da Ibiapaba vizinho ao Parque

    Nacional, e um dos trs distritos do municpio de Ubajara. Araticum tornou-se vila em

    1910, quando se desmembrou de Ibiapina. Em 1915, passou a pertencer a Ubajara,

    situao que persiste at hoje.

    A histria de Araticum no se encontra registrada em livros. O presente

    trabalho, baseado nos relatos de alguns moradores identificou alguns fatos dessa

    histria: Segundo dona Herclia Ximenes de Aguiar, tudo comeou em 1908, quando

    Horcio Ferreira de Almeida junto com mais 32 amigos teve a idia de construir uma

    capela, que ficou conhecida como Igrejinha de Araticum. Diante de diversas

    dificuldades, Horcio e seus companheiros fizeram um emprstimo de 32 mil ris com o

    Sr. Luiz Ferreira de Almeida, - pai de Horcio - para construir a capela. Como padroeiro

    do atual distrito escolheram So Vicente de Paula, porque a comunidade era muito

    pobre e este santo conhecido como o Pai da Caridade. A primeira missa na capela

    foi celebrada em 25 de novembro de 1909. Aps esse acontecimento, muitas casas

    foram surgindo no lugarejo.

    A partir de 1959, com a criao do PNU, grande parte das famlias foi morar

    em Araticum. Aquelas que receberam indenizao pela desapropriao compraram

    terrenos e construram casas. Outras ainda passaram a viver e trabalhar nas terras de

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    terceiros. Atualmente a maior parte dos moradores vive da agricultura e da

    aposentadoria dos mais velhos.

    Araticum de hoje uma pacata vila, onde comum ver os moradoresconversando calmamente nas caladas e as crianas brincando nas ruas. Apesar de 93%

    das casas possurem gua encanada persiste o hbito de lavar roupa no rio, como mostra

    a Figura 8.

    FIGURA 8

    Antigo hbito de lavar roupa no rio.

    Arquivo: Vilma Arajo. Janeiro 2003.

    De acordo com o IBGE, a populao residente no ano de 2000 era de 4.177

    habitantes, sendo que 1.358 habitavam a zona urbana e 2.819 zona rural distribudos

    em 379 e 674 domiclios respectivamente. Isso perfaz uma mdia de 3,58 habitantes por

    domiclio na zona urbana e 4,18 na zona rural.

    Devido falta de planejamento poltico-institucional, e de aes dos gestores

    pblicos, os avanos socioeconmicos do Distrito ainda no ocorreram, constituindo um

    obstculo de vulto ao desenvolvimento local. Esta realidade demonstrada na situao

    de pobreza de que cometida a maioria dos habitantes de Araticum. Diante desse

    quadro, a sada encontrada por muitos filhos do lugar a migrao, que ocorre para

    Ubajara ou para cidades da regio como Sobral. H tambm deslocamentos para as

    grandes metrpoles do pas, como Fortaleza, Belm e So Paulo.

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    2.2.1.Caractersticas Socioeconmicas de Araticum

    Este trabalho buscou identificar as condies de vida da populao urbana de

    Araticum. Tambm foi orientado para a discusso sobre um novo relacionamento dohomem com a natureza, e sobre a utilizao racional dos recursos naturais, que assegure

    sua conservao e renovao.

    Foram visitadas 60 residncias que correspondem a 10% dos domiclios

    ocupados da localidade. O questionrio aplicado constitui-se de 40 itens que incluam

    dados sobre identificao, ocupao, renda dos habitantes, bem como dados sobre

    sade, abastecimento d'gua, educao, destino do lixo, lazer, habitao, migrao,

    relaes com o Parque Nacional, organizao social entre outros.

    Dentre os entrevistados, 49,2% eram do sexo masculino e 50,8% do sexo

    feminino. As crianas e jovens de at 19 anos corresponderam a 38% do total. A

    mobilidade da populao explica o elevado percentual de jovens que, geralmente aps

    atingirem a maioridade, saem de casa procura de emprego em outras localidades. A

    Tabela 2 apresenta os dados relativos composio da populao de Araticum, segundo

    sexo e faixa etria.

    TABE