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Vinde, O que Jesus espera daqueles que vêm adorá-lo 2014 ENTENDIMENTO ESSÊNCIA PERDÃO CORAÇÃO OFERTA PROCLAMANDO adoremos!

2014 Vinde,adoremos! - portaliap.orgportaliap.org/wp-content/uploads/2015/07/VindeAdoremos_SERMOES.pdf · vêm adorá-lo”. Dentro desse assunto, trataremos, a partir de agora, do

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Vinde,

O que Jesus espera daqueles que vêm

adorá-lo

2014

ENTENDIMENTO

ESSÊNCIA

PERDÃO

CORAÇÃO

OFERTA

PROCLAMANDO

adoremos!

Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.É proibida a reprodução parcial ou total sem autorização

da Igreja Adventista da Promessa.

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

Diretor Alan Pereira RochaConselho Editorial José Lima de Farias Filho Hermes Pereira Brito Magno Batista da Silva Osmar Pedro da Silva Otoniel Alves de Oliveira Gilberto Fernandes Coelho João Leonardo Júnior

IMPRESSÃO

Gráfica e Editora A Voz do CenáculoRua Dr. Afonso Vergueiro, nº 12 – Vila MariaSão Paulo – SP – CEP 02116-000Fone: (11) 2955-5141 – Fax: (11) 2955-6120

Revisão de textos: Eudoxiana Canto Melo Capa e editoração: Farol Editora

Sumário

Apresentação .............................................................................. 4

Sábado, 1 de marçoAdore com entendimento (João 4:20-24) ................................... 6

Sábado, 8 de marçoViva além da aparência (Marcos 11:12-20) .............................. 15

Sábado, 15 de marçoReconcilie-se com seu irmão (Mateus 5:21-26) ........................ 22

Sábado, 22 de marçoOfereça o seu melhor (Lucas 2:1-4) .......................................... 30

Domingo, 30 de marçoAdore com o coração (Marcos 7:6-7) ........................................ 38

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Apresentação

Eis em suas mãos, pregadores e pregadoras adventistas da promessa, mais uma série de sermões para serem ministrados aos quatro primeiros sábados do mês de março de 2014, nos cultos da manhã, e no último domingo desse mês, no culto da noite. São pregações preparadas com esmero espiritual pela equipe do Departamento de Educação Cristã – DEC –, em cum-primento ao que fora planejado e aprovado pela Junta Geral Deliberativa, no início da atual gestão administrativa da IAP.

O foco principal dessas séries de pregações é A D O R A Ç Ã O. O objetivo principal é conscientizar os salvos da necessidade de apresentarem àquele que os salvou uma adoração que possa ser reconhecida e aceita por ele. Uma adoração genuinamente espiritual e verdadeira.

O que se quer dizer com adoração que Jesus reconheça e aceite é que o adorador aprenda a adorar com entendimento e com o coração, tenha uma vida que se distancie da aparência, viva em paz com seus irmãos da fé e dê a Deus o seu melhor. Estes princípios espirituais práticos de adoração foram todos ensinados por Jesus e são aqui detalhados para ensino e práti-ca dos adventistas da promessa.

Como reforço a essas virtudes espirituais, acrescenta-se a rica experiência de adoração narrada em Marcos 14:3-9,

Comunhão & Adoração – Mensagens de Março 2014 | 5

também vivenciada e ensinada por Jesus, diante de uma mu-lher desprezada, mas que impactou o Salvador do mundo com sua adoração sincera e prática, ao ponto de o Mestre afirmar que ela seria lembrada em todos os lugares onde o evangelho dele fosse pregado. Jesus reconheceu e aceitou a adoração dela! E não deveria ser esse o alvo que todo adora-dor sincero deveria buscar?

Sim, Marcos 14:3-9 ensina que é dever de todo salvo por Jesus adorá-lo com simplicidade, de forma que possa expres-sar uma adoração que tenha os ingredientes espirituais da in-formalidade, da qualidade, da praticidade e da compreensão da hora certa e oportuna para adorar a Deus. Esses caminhos da adoração excelente, oferecidos pela palavra de Deus, de-vem ser absorvidos, valorizados e praticados pelos adoradores do único digno de adoração, o Deus Trino da Bíblia Sagrada.

Aproveite esta rica oportunidade, pregador e pregadora, para incutir nas mentes e corações dos adventistas da pro-messa estes ensinamentos que Cristo Jesus, nosso Salvador e Senhor, viveu e ensinou a todos aqueles que nele creem, em todos os tempos e em todos os lugares do mundo.

Para terminar, destaco o maravilhoso fato contido em to-dos os cinco sermões desta série: todas as pessoas que tive-ram a sua adoração reconhecida e aceita por Jesus estavam bem perto dele. Por isso, pense: a que distância está Jesus da sua adoração?

Ao Salvador e Senhor Jesus Cristo sejam a honra e a glória pelos séculos dos séculos!

Pastor José Lima de Farias FilhoPresidente da Convenção Geral da IAP

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Sábado, 1 de março

INTRODUÇÃO

Hoje, estamos dando início à série de sermões do mês de março: “Vinde, adoremos! – O que Jesus espera daqueles que vêm adorá-lo”. Dentro desse assunto, trataremos, a partir de agora, do tema: “Adore com entendimento”. Para isso, vamos ler o Evangelho de João, capítulo 4, versículo 22. Na versão Re-vista e Atualizada, está escrito assim: Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salva-ção vem dos judeus. A adoração deve ser espiritual e racional. Contudo, não é sempre que isso acontece.

Alguém já disse que “todos neste mundo adoram alguma coi-sa. Do mais religioso até o mais cético, todos reverenciam uma entidade superior a ponto de construir a vida em torno dela – mesmo inconscientemente”.1 Alguns adoram o dinheiro; outros, algum outro ídolo. Há, ainda, os que adoram a si mesmos. Além destes, há os que professam adorar a Deus. Porém, nem todos os que fazem tal afirmação o adoram com entendimento. Mui-tos o adoram de qualquer maneira, sem o conhecimento neces-sário a respeito da adoração e sem o conhecimento de Deus. Os samaritanos, como veremos, são exemplos disso.

1. Piper (2008:114).

ADORE COM ENTENDIMENTOJoão 4:20-24

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A vontade de Cristo é que os seus adoradores saibam verda-deiramente a quem e como adorar. Com base no diálogo dele com a mulher samaritana, em Jo 4:20-24, discorreremos sobre três lições significativas que nos ajudarão a adorar com enten-dimento. Vamos à primeira.

1. Para adorar com entendimento, conheça o destinatário da adoração

A adoração segundo o coração de Deus é inteligente. Ao criar o ser humano segundo a sua imagem e semelhança, deu--lhes Deus a capacidade de adorar de modo consciente. Por-tanto, adorar o que não se conhece é, no mínimo, uma atitude insensata e incoerente. Deus não se agrada de tal atitude. So-bre isso, veja o que disse Jesus à mulher samaritana, no v.22a do capítulo 4 de João: Vós adorais o que não conheceis. As palavras de Jesus são duras. Ele afirmou, literalmente, que a adoração da mulher e dos demais samaritanos era incompleta. Havia algo de errado com ela.

Os samaritanos adoravam a pessoa certa, mas de modo er-rado. Sem dúvida, Deus é o único que é digno de receber ado-ração e, por certo, os samaritanos sabiam disso, já que a crença no único Deus fazia parte de seu credo2 ou conjunto de regras. A propósito, é importante entendermos que Deus merece ex-clusividade. Somente ele deve ser adorado. Este é o primeiro dos dez mandamentos da lei: Não terás outros deuses diante de mim (Êx 20:3). Contudo, Jesus estava afirmando que o objeto da adoração daquela mulher e dos demais de sua nação era im-pessoal, pouco compreendido e vago. Não existe uma adoração genuína baseada na ignorância ou no que não se conhece.3

2. Douglas (1986:1472). 3. Earle et al (2006:58).

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Deus quer ser conhecido por seus adoradores. Ele quer que todos saibam que ele é espiritual em sua essência, que não é uma divindade de pedra ou madeira, nem uma montanha divi-na (Gerizim). Ele é um ser pessoal, incorpóreo e independente;4 não se limita a um templo construído por mãos de homens (At 7:48). Por isso, Jesus disse: Deus é espírito (v.24a). Mas é pos-sível conhecer a Deus? Não somente é possível como é preciso conhecê-lo. Ele mesmo se revela à humanidade por meio de seu Filho e de sua palavra (Hb 1:1). Com base nesta, podemos conhecer coisas verdadeiras sobre Deus. Tudo o que as Escri-turas dizem a seu respeito é verdadeiro.5 Além disso, é por co-nhecer o Senhor que o homem deve se gloriar, não por suas próprias forças, riquezas e poder (Jr 9:23-24).

Deus não pode ser conhecido de modo pleno por nós, pois sua grandeza é insondável (Sl 145:3), mas podemos conhecê--lo na medida em que a sua revelação nos permite, e isso é um privilégio. Podemos ter um relacionamento pessoal com ele (1Jo 2:13). Falamos com Deus em oração, e ele fala conosco pela sua palavra. Temos comunhão com ele na sua presença, entoamos seus louvores e temos consciência de que ele ha-bita pessoalmente no meio de nós e dentro de nós, para nos abençoar (Jo 14.23).6 Ao fazermos isso, podemos afirmar: ... nós adoramos o que conhecemos (Jo 4:22).

Para adorar com entendimento, conheça o destinatário da adoração. Essa foi a primeira lição transmitida por Jesus, em seu diálogo com a mulher samaritana sobre a adoração. Vamos à segunda.

4. Hendriksen (2004:226).5. Grudem (1999:103). 6. Idem, p.104.

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2. Para adorar com entendimento, conheça o manual da adoração

A adoração dos samaritanos era falha por causa de sua ig-norância sobre a pessoa de Deus. Jesus disse que eles adora-vam o que não conheciam (Jo 4:22). Isso acontecia também por outro motivo: eles haviam rejeitado os livros proféticos e poéticos do Antigo Testamento. Desse modo, não podiam conhecer a Deus conforme revelado nessas partes importan-tes das Escrituras.7 Só aceitavam como regra de fé e prática o Pentateuco Samaritano, composto pelos cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Hoje em dia, atitude semelhante parece ser comum. Muitos cristãos aceitam com facilidade o Novo Testamento e menos-prezam o Antigo. Isso é um grave erro, pois o Novo comple-menta o Antigo. Ambos são inspirados.

Quando não aceitamos as Escrituras por completo, arris-camo-nos a adorar de modo equivocado, como fizeram os sa-maritanos. Veja, por favor, o que diz a mulher samaritana, no v.20 do capítulo 4 de João: Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. O que essas palavras têm a ver com o Pentateuco Sa-maritano? O simples fato de que este sugeria o Monte Gerizim como o lugar de adoração, não Jerusalém. Ele “substitui Ebal, em Deuteronômio 27.4, pelo Monte Gerizim. Os judeus, por outro lado, enfatizavam Jerusalém como o local único e central de adoração”.8 Além disso, o Pentateuco Samaritano “difere do Pentateuco Judaico em cerca de 6000 passagens, embora gran-de parte das diferenças não seja muito significativa”.9

7. Hendriksen (2004:224).8. Idem. 9. Champlin (2001:64).

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Os samaritanos erraram muito em observar somente o Pentateuco Samaritano como Escritura Sagrada, pois os de-mais livros do Antigo Testamento são inspirados. Rejeitá-los é o mesmo que rejeitar a inspiração divina. O próprio Jesus utilizou-os em seus ensinos (Mt 3:3, 12:39; Lc 20:42). A igno-rância bíblica fez que os samaritanos tivessem um conceito errado e superficial acerca de Deus, da adoração e do Messias. Eles acreditavam, por exemplo, na volta de Moisés como res-taurador (algumas vezes, semelhante ao Messias).10 Isso seria uma espécie de reencarnação. Que absurdo! Não foi à toa que Jesus disse que a salvação vem dos judeus (v.22), não dos sa-maritanos. Jesus, não Moisés, restauraria a humanidade, pois ele é o Messias aguardado (v.25).

Portanto, mediante tudo que foi dito, tenhamos o devido cuidado de não menosprezar o manual da adoração, a Bíblia. Se não conhecermos ou não aceitarmos o que dizem as Es-crituras, estaremos fadados a cair nos laços do engano. Sem entendimento, adoraremos de modo incorreto. É vontade de Deus que a pregação seja bíblica, que as letras dos louvores sejam bíblicas, que os adoradores sejam bíblicos, que a igreja tenha respeito pela Bíblia, que todo o conteúdo do culto es-teja respaldado na Bíblia. Você que é instrumentista, estude as partituras e as cifras, mas estude também, a Bíblia! Você, que canta, aprimore o seu talento vocal, sem menosprezar a Bíblia. Você, que não lida com música, mas que também é adorador, faça da leitura da Bíblia um hábito. Se quisermos conhecer o jeito certo de adorar, bem como o SER a quem devemos adorar, recorramos à Escritura; ela nos orientará a adorar com entendimento.

10. Idem.

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Para adorar com entendimento, conheça o manual da ado-ração. Esta foi a segunda lição ensinada por Jesus, em seu di-álogo com a mulher samaritana, sobre o adoração entendida. Vamos à terceira e última.

3. Para adorar com entendimento, conheça a essência da adoração

Além de não adorarem corretamente, por não conhecerem a pessoa de Deus, nem as Escrituras completas do Antigo Tes-tamento, os samaritanos eram ignorantes também quanto à essência da adoração. Na visão dos samaritanos e dos judeus, a essência da adoração estava no lugar físico. Enquanto aqueles diziam que Gerizim era o lugar de adoração, estes defendiam Jerusalém como tal (Jo 4:20). Não nos enganemos: a adoração bíblica não se limita a uma liturgia de culto ou a um templo físico. Em outras palavras, é inútil estarmos no templo nos dias combinados, participarmos dos ritos do culto, enquanto a nos-sa vida estiver fora do centro da vontade de Deus.

Por isso, disse Jesus no v.23: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Os samaritanos e os judeus não sabiam o que isso significava. Faltava-lhes conhecimento acerca da essência da adoração, pois, até então, imaginavam que o local era o que determinava a verdadeira adoração. Jesus observa que a ques-tão não está no lugar, mas na maneira de adorar.

A palavra “adoração” é uma tradução do termo grego proskunéo. Ela é composta de duas palavras gregas: “pros”, que significa “para”, e “Kunéo”, que significa “beijar”.11 Se tra-duzida literalmente, a palavra pode significar “beijar a mão

11. Vine et al. (2009:374).

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ou o piso diante de”. Shedd diz que, entre os gregos, beijar a terra ou a imagem, em sinal de adoração, acompanhava o ato de prostra-se no chão.12 Quando Jesus introduz uma palavra que também significa beijo, está ensinando que a verdadeira adoração tem a ver com aproximação, contato. Beijo denota isso. Na adoração, a intimidade com o criador é relevante. Além de Senhor, ele é nosso amigo (Jo 15:15). Amigos conver-sam e têm intimidade.

O significado primário de “adoração” (gr. proskunéo) é abai-xar o corpo, dobrá-lo, prostrar-se, literal ou simbolicamente, fazer reverência a alguém superior. Em outras palavras, des-creve o gesto de alguém se curvar diante de uma pessoa. Este gesto traduz o ato de reconhecer a insuficiência do adorador e a superioridade do ser ou objeto adorado, colocando-se a sua inteira disposição.13 Portanto, a adoração exige entrega. Esse ato significa perder o controle da própria vida, e pouca gente aceita isso. Essa entrega não se limita a um momento emocio-nante do culto, mas se estende à rotina diária da vida. Uma das implicações desse conceito de adoração é que ela se aplica à vida inteira.14 Em tudo que fizermos, seja comendo ou be-bendo ou fazendo outra coisa qualquer, devemos fazê-lo para glorificar ao Senhor (1 Co 10:31).

CONCLUSÃO

Chegamos ao final deste sermão. A Palavra do Senhor muito nos ensinou nesta manhã. Adoremos ao Senhor, mas com en-tendimento! Conheçamos ao nosso Deus. Paulo expressou seu desejo de que os colossenses crescessem nesse conhecimento

12. Shedd (2007:19).13. Idem 12.14. Piper (2008:113).

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(Cl 1:10). E nós devemos fazer o mesmo. O adorador precisa saber que Deus é grandioso e não tem limites, que ele é único, singular e mui digno de ser louvado (Sm 48:1). Peçamos como o salmista: Faze-me, SENHOR, conhecer os teus caminhos, ensi-na-me as tuas veredas (Sl 25:4). A propósito, está escrito que a intimidade do Senhor é para os que o temem (Sl 25:14a).

Se quisermos adorar com entendimento, não podemos me-nosprezar o manual da adoração, a palavra de Deus revelada. Ela é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça (2Tm 3:16). Quando isso não é le-vado a sério, acontecem aberrações e não adoração no culto. A ignorância bíblica produz adoração ignorante. Sejamos ado-radores firmados na Palavra! Se quisermos adorar com enten-dimento, atentemos para a essência da adoração. Procuremos adorar com proximidade e com entrega no templo e fora dele.

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BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 6. São Paulo: Hagnos, 2001.

DOUGLAS, J. D. (ed. e org.). O novo dicionário da Bíblia. Vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 1986.

EARLE, Ralph. (et al). Comentário bíblico Beacon. Volume 7. Tradução: Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.

HENDRIKSEN, William. O Evangelho de João. Tradução: Elias Dantas e Neuza Batista. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

PIPER, John. O que Jesus espera de seus seguidores: manda-mentos de Jesus ao mundo. Tradução: Maria Emília de Oliveira. São Paulo: Vida, 2008.

SHEDD, Russell. Adoração Bíblica: os fundamentos da verda-deira adoração. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2007.

VINE, W. E. et al. Dicionário Vine: o significado exegético e ex-positivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

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Sábado, 8 de março

VIVA ALÉM DA APARÊNCIAMarcos 11:12-20

INTRODUÇÃO

Jesus e seus discípulos estavam na região de Betfagé, que quer dizer “casa dos figos”. O nome foi dado, justamente, por-que este era um lugar onde se cultivava figos. O figo era a fonte de alimento mais barata em Israel. Jesus estava nesta região e teve fome. Este episódio aconteceu na última semana de Jesus aqui na terra. Nos dias que se seguiriam, ele seria capturado, julgado, condenado e morto. Esta última semana foi intensa e angustiante para ele. Até por isso, ele tomou algumas atitudes bem incisivas, como a que acabamos ler. Sinceramente, você não acha estranho o que Jesus fez? Por que amaldiçoar uma figueira sem fruto, se não era tempo de dar fruto?

A resposta a essa pergunta é a chave desta reflexão e tem muito a nos ensinar hoje. A atitude de Jesus só parece ser es-tranha, mas não é. Na verdade, com essa sua atitude, Jesus estava combatendo a vida cristã de fachada, uma vida apenas de aparência. Para nós, que estamos, neste mês, pensando em adoração, isso é importantíssimo. Adoração não se restrin-ge aos momentos que passamos na igreja; adoração é uma vida. Nós aprendemos com este texto bíblico que é impossí-vel adorar a Deus com uma vida de aparência, uma vida de

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encenação religiosa. Neste texto, Jesus nos ensina a vivermos uma vida além da aparência, pois somente assim poderemos adorá-lo de maneira agradável. Jesus nos traz três lições sobre isso. Vejamos:

1. Precisamos viver além da aparência, pois somos alvos da atenção de Jesus

Há uma verdade muito clara neste texto: Jesus é um exce-lente observador. No versículo 11, lemos: Jesus entrou em Je-rusalém, e foi ao templo. Tendo visto tudo ao redor. A Nova Versão Internacional diz assim: ... tendo observado tudo a sua volta. Pois bem, depois de observar tudo, Jesus foi para Be-tânia com seus discípulos. No outro dia, quando voltava para Jerusalém, de novo observou algo. Veja o que diz o versículo 13: Vendo de longe uma figueira que tinha folhas .... Esses dois versículos mostram o quanto Jesus é observador. A palavra “vendo”, do v. 13, traz a ideia de “prestar atenção”. Essa figuei-ra foi alvo da atenção de Jesus.

A informação de que aquela figueira tinha folhas é a chave para entendermos o texto. Existem duas épocas para a frutifi-cação de figos. No final do outono e no início da primavera. Os figos pequenos, que crescem dos brotos da última safra, come-çam a aparecer no início do outono, final do mês de março. Os figos pequenos surgem com as folhas. Em alguns casos, surgem antes das folhas. Lembra-se do texto? “Uma figueira que tinha folhas ...”. É por isso que Jesus vai até ela. Se ela tinha folhas, obviamente, deveria ter, também, fruto.

Nós já lemos todo o texto, e você já sabe que esta figuei-ra não tinha frutos. Então, o que está acontecendo aqui é: ela estava fazendo uma propaganda enganosa de si mesmo. Esta figueira só tinha aparência; maquiava sua falta de frutos. Qual-quer um que olhasse de longe, passando por ali, imaginaria: ali

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está uma figueira frutífera. Qualquer um, menos Jesus! E quer saber de mais uma coisa? Jesus não estava realmente preocu-pado com comida. A figueira era símbolo de Israel. Vocês lem-bram que Jesus tinha ido ao templo e o observado? O que Je-sus viu é que Israel aparentava ser muito dedicado a Deus, mas não tinham fruto algum para mostrar. Podia enganar a todo mundo, menos a Cristo! Jesus só foi até a figueira e fez o que fez para que essa história ficasse registrada, e, hoje, entendês-semos que de nada adianta viver uma vida de aparência, pois o olhar de Jesus nos enxerga além de qualquer exterioridade.

Não adianta ouvir música gospel, colar adesivos evangé-licos no carro, ter inúmeras bíblias guardadas em casa, usar camiseta com o nome de Jesus, levantar as mãos na hora do louvor ou ir, com frequência e regularidade, a igreja, se isso for apenas uma aparência que, em nada, condiz com a realida-de do coração e da vida do crente. A verdadeira adoração que Jesus requer é livre de encenação. Ele não deseja um teatro em que atuamos, fingindo ser crentes, quando não vivemos de uma maneira que condiga com isso. Não adianta chorarmos no culto, se, no dia-a-dia, não choramos por nosso pecado! Este texto nos ensina que a adoração de que Jesus se agrada passa primeiro pelo abandono de uma vida de aparência. Jesus ob-serva nossa vida. Não podemos enganá-lo.

2. Precisamos viver além da aparência, pois somos alvos da inspeção de Jesus

Na sequência da narrativa, Jesus, aproximando-se dela não achou senão folhas (v.13). Observe a palavra “achou”. Ela deve ser entendida como: achar pela averiguação, pelo exame, pela reflexão. Jesus viu e foi inspecionar. Ele procurou fruto. Nós já sabemos que existem duas épocas para a frutificação de figos. E, nesta época em que Jesus vai até a figueira, os primeiros bro-

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tos já deveriam ter nascido! O mestre sabia disso. Jesus não foi ver se “acharia alguma coisa”, sem razão ou sem motivo. Lem-bra-se do texto? Jesus não achou senão folhas. Essa figueira é uma exceção às demais, pois estava enferma.

A figueira aparentava ser o que não era. Prometia muito, mas não tinha nada. Mostrava ser uma coisa, e, na realidade, era outra. Isso desagradou o mestre em extremo. Não esqueça que a figueira é símbolo de Israel. Este povo recebeu as re-velações de Deus, mas, devido ao exagero no cerimonialismo, no tradicionalismo, tinha muita exibição e poucos frutos. Je-sus já havia dito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mc 7:6). Israel era comprometido com os rituais, mas não era comprometido com Deus. Só tinha uma aparência religiosa, que é incapaz de enganar Jesus. Infe-lizmente, há muito crente assim.

Em Israel, Jesus achou apenas folhas verdes. Havia muitas obras religiosas, “muitas pessoas carregando as suas Bíblias”, mas nenhum sinal de frutos. Jesus não está nenhum pouco interessado em folhas verdes. Ele está atrás de fruto. Não im-porta sua aparência religiosa, sua credencial da igreja, se você toca ou canta no culto. Jesus está mesmo é à procura de fruto em sua e em minha vida! Fruto é compromisso com Deus. Diz respeito ao nosso caráter e a nossa conduta cristã. Sua vida precisa glorificar a Deus! Isso é fruto. E Jesus quer encontrar fruto em sua vida. Não brinque com Deus. Não brinque de ser cristão. Não há como você fingir ser algo que não é diante de Deus. Todos nós somos alvos de sua inspeção.

Há muito cristão que faz parte da equipe de louvor, que é diretor de departamento na igreja, que é um consagrado, que é líder de um ministério, que é reconhecido como o santarrão da igreja, mas que vive sabe Deus como, na faculdade, em casa, no emprego; que é imoral e promíscuo, em seus pensamentos

Comunhão & Adoração – Mensagens de Março 2014 | 19

e em seu coração. De que adianta a aparência religiosa? Somos alvos da inspeção de Jesus Cristo, diariamente, e não há vida cristã de aparência capaz de enganá-lo. Há muita gente que pensa que pode adorar a Deus, na hora do culto, vivendo uma vida de aparência apenas. Adoramos a Deus com nossos fru-tos. É isso que ele espera de nós.

3. Precisamos viver além da aparência, pois somos alvos da avaliação de Jesus

O que toda avaliação tem em comum? A resposta é bem ób-via. Toda avaliação, aprova ou reprova. Qual foi a avaliação de Jesus, com relação à figueira? Por favor, observe o versículo 14: Nunca, jamais coma alguém fruto de ti. A maldição da figueira é um tipo de maldição para Israel. Jesus reprovou a atitude de Israel! A adoração de “folhas” foi condenada por ele! Mas por que Jesus estava sendo tão duro assim? A continuação do tex-to explica. Ao continuar seu caminho, rumo a Jerusalém, Jesus chegou à cidade e foi até o templo, assim como no dia anterior (Mc 11:15-16). O que ele encontrou ali? Um triste espetáculo, uma adoração desprezível.

No pátio exterior do templo, lugar dedicado aos gentios, havia vendedores de pombos, de bois e de ovelhas. Era épo-ca da páscoa e o negócio estava no seu ponto mais alto de lucratividade. Com os vendedores, sentados atrás de suas bancas repletas de moedas, estavam os cambistas. Como, na área do templo, não se aceitava dinheiro estrangeiro, os cambistas o trocavam por dinheiro judaico, e é claro que cobravam uma taxinha. Que miséria! Essa foi à cena com a qual Jesus se deparou: a casa da adoração tornou-se casa da corrupção e da exploração religiosa. Para esses, ele disse: A minha casa será chamada casa de oração. Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões (v.17). Os responsáveis por tudo isso

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achavam que adoravam a Deus, mas só tinham aparência. Foram duramente reprovados.

Depois disso, Jesus saiu do templo e da cidade: No outro dia, pela manhã, quando os discípulos passaram pela figueira que ele havia amaldiçoado, viram que ela tinha secado desde as raízes (v.20). Que triste fim este da figueira. Atenção: Eu e você também estamos sujeitos à avaliação de Jesus. Ele pode aprovar-nos ou reprovar-nos. Desculpe: é pesado, mas nós pre-cisamos entender quem é Deus. Ele é o mesmo que salvou Is-rael, quando este era uma nação pequena com a qual ninguém se importava. Ele a escolheu, a protegeu, só que, à medida que ela cresceu, ficou arrogante, tornou-se egoísta e deixou de adorar a Deus devidamente; pensou que poderia adorar a Deus do seu próprio jeito: com a vida toda “torta”. Israel imagi-nou que Deus gostava de rituais religiosos; mas a adoração de que Deus se agrada vai além da religiosidade.

Você já imaginou que, enquanto estamos na igreja, senta-dos, ouvindo a pregação, estudando a lição na Escola Bíblica, orando de olhos fechados, levantando as mãos em adoração, enquanto o grupo de louvor canta, Jesus está nos avaliando, olhando para a nossa vida fora da igreja, perscrutando o mais íntimo de nosso coração? Não é que ele seja um Deus mes-quinho, que fica o tempo todo procurando nossas falhas; claro que não. É que ele se importa mesmo é com o nosso coração; deseja que sejamos sinceros, verdadeiros. Ele despreza uma adoração cheia de aparência religiosa, mas desprovida de fru-tos para a sua glória.

CONCLUSÃO

Como vimos, é inútil tentarmos adorar a Deus com uma vida cristã de aparência apenas. O ritual religioso não o en-canta; a encenação “espiritual” não o engana; o choro, na hora

Comunhão & Adoração – Mensagens de Março 2014 | 21

do culto, não o comove, se não for verdadeiro e sincero. “Eu conheço suas obras”, disse Jesus à igreja de Éfeso (Ap 2:2). E ele conhece mesmo! Sabe se o que você canta, na igreja, é o mesmo que você vive fora dela. Ele sabe os vacilos que você dá, os pecados nos quais incorre, os vícios que tenta vencer semanalmente. O que fazer, então? Arrependa-se e corra para os braços de Jesus, nesta manhã.

Rasguem o coração, e não as vestes, disse Joel (Jl 2:13). O convite gracioso de Jesus é que você decida viver além da apa-rência religiosa, viver uma vida cristã de verdade! Jesus entre-gou a vida por você, naquela cruz, há dois mil anos, por uma única razão: ele ama você. Ele realmente o ama muito, mais do que você consegue imaginar! Hoje mesmo, ele está de bra-ços abertos esperando você. Adore-o com o coração sincero. Chega de viver apenas de aparência! Chega de “faz de conta”! Somente assim sua adoração será agradável a ele. Que Deus nos ajude nisso!

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Sábado, 15 de março

INTRODUÇÃO

Pela graça de Deus, chegamos, hoje, ao terceiro sermão da série s deste mês cujo título é:“Vinde, Adoremos: o que Jesus espera daqueles que vem adorá-lo”. Hoje, aprenderemos que a reconciliação é algo a ser levado muito a sério por todos nós, cristãos, e que, ao contrário do que alguns pensam, tem tudo a ver com adoração. O texto que lemos nos ensina isso. Os rabi-nos, nos dias de Jesus, estavam restringindo a aplicação do sex-to mandamento da Lei de Deus – “Não matarás” – apenas ao ato literal de homicídio. Jesus discordou deles, dizendo: Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: “Não matarás”, e “quem matar estará sujeito a julgamento”. Eu, porém, lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento (vv.21-22).

Para Jesus, o sexto mandamento não diz respeito apenas ao ato literal de cometer um homicídio, mas também ao sen-timento de ira e ódio que nutrimos contra alguém. O apóstolo João, que aprendeu isso com o próprio Jesus, asseverou, mais tarde, que: “Todo o que odeia seu irmão é homicida” (I Jo 3:15). O que Jesus está nos ensinando, então, é que Deus não pode se agradar da adoração daquele que se enraivece com seu próxi-

RECONCILIE-SE COM SEU IRMÃOMateus 5:21-26

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mo, que odeia e insulta seus irmãos (v.22). Essa é a razão pela qual Jesus propõe a reconciliação, neste texto que acabamos de ler. Ele espera que seus adoradores abandonem o ódio, re-jeitem as discussões e façam as pazes com seus irmãos.

Para Jesus, a reconciliação é imprescindível para uma ver-dadeira adoração. Neste texto de Mateus 5:21-26 Jesus nos traz três ensinos preciosos sobre isso. Com a Bíblia aberta, ve-jamos o primeiro deles:

1. A necessidade de reconciliação para a adoração

Lendo as palavras de Jesus, neste texto, talvez alguém diga: “Isto não é pra mim. Eu não tenho me desentendido com nin-guém nos últimos tempos”. Entretanto, é justamente esse pensamento literalista que Jesus está criticando aqui. Ele está nos ensinando que podemos pecar não apenas com atitudes concretas, mas também com intenções e sentimentos errados, como, por exemplo, o ódio, o rancor, o ressentimento. Além disso, Jesus também está condenando o insulto e a ofensa ao próximo: Qualquer que disser a seu irmão: “Racá”, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: “Louco!”, corre o risco de ir para o fogo do inferno (v.22). Veja que, para Jesus, a ofensa ou o insulto a alguém é algo seríssimo.

John Stott, citando A. B. Bruce,1 diz que o primeiro insulto, “Racá”, expressa desprezo pela cabeça da pessoa (ou por sua inteligência). É como se dissesse: “Você, seu estúpido!”. Já o segundo insulto expressa desprezo pelo coração e pelo caráter e poderia ser traduzido como: “Você, seu patife!”. O que Jesus está ensinando é que, talvez, seu ódio e seus insultos a outras pessoas nunca o levem à consumação do ato homicida, mas,

1. (2001:79).

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diante de Deus, são equivalentes.2 A lógica é: Se o homicídio é algo terrível, o ódio também o é. Ambos, sentimentos e ações homicidas, serão julgados por Deus, no último dia, e os que viveram nesses pecados rotineiramente poderão ser lançados no fogo do inferno, disse Jesus (v.23).

Agora, pense na importância da reconciliação. Como al-guém pode querer adorar a Deus com um coração “entupido” de ódio e rancores? Como ofertar a ele um coração enlame-ado de ira e ressentimentos? Precisamos atentar, portanto, para a necessidade de reconciliação na adoração; do contrá-rio, oferecemos a Cristo um louvor desprezível. Infelizmente, são muitos os que, culto após culto, levantam suas mãos, no momento do louvor, mas possuem o coração encharcado de ressentimentos, ódio e raiva de outras pessoas. Assim como usam a boca para cantar hinos, também a usam para insultar o próximo. É interessante a ênfase que Jesus dá ao coração do adorador, neste texto. O cristianismo é, essencialmente, uma religião do coração.

Jesus Cristo não vê apenas aquilo que é superficial ou apa-rente; ele não se impressiona com performances religiosas, atuações ou encenações espirituais, choro e “lágrimas de cro-codilo”. Neste texto, Jesus lança a luz sobre a interioridade da-quele que se propõe a adorar a Deus. Ele pede que abramos o porão de nossos corações – o lugar mais secreto e íntimo de nós mesmos –, à procura de sentimentos e intensões pe-caminosas. Se existem em nós esses sentimentos ou se temos ofendido alguém, precisamos buscar a reconciliação, pois ela é fundamental para uma verdadeira adoração.

2. Idem.

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2. A prioridade da reconciliação para a adoração

Além de nos ensinar que a reconciliação é necessária, na adoração a Deus, Jesus também nos diz que ela é prioritária. A reconciliação deve anteceder a adoração, de acordo com o Mestre. Portanto, disse ele, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá pri-meiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta (vv.23-24). É interessante notar que Jesus não diz se você se lembrar que tem algo contra seu irmão, mas, se você se lembrar que seu irmão tem algo contra você.

Jesus sabia que temos uma imensa facilidade de lembrar a ofensa que alguém praticou contra nós e uma enorme dificul-dade de lembrar da ofensa que praticamos contra os outros. Somos rápidos em exigir o perdão daqueles que pecaram con-tra nós e lentos demais para nos desculparmos com aqueles contra os quais pecamos. Facilmente reclamamos, quando so-mos machucados, mas dificilmente atentamos para as feridas que causamos nas pessoas com as quais nos relacionamos. O ensino de Jesus é simples e objetivo: Antes de oferecer a Deus a sua adoração, você precisa oferecer perdão ao seu irmão.

Não há dúvidas de que, para o Senhor Jesus, a reconciliação tem proeminência. Ele a coloca em primeiro lugar, pois ante-cede a adoração. Diz, basicamente, que, se, na hora do culto, enquanto você estiver adorando, lembrar que seu irmão ou irmã possui algum ressentimento contra você, deve ir primei-ramente e reconciliar-se com ele ou ela. Por quê? Porque pre-cisamos nos reconciliar com nosso irmão para oferecer a Deus a adoração de que ele se agrada. Os dois verbos utilizados por Jesus no versículo 23 nos deixam claro o sentido prioritário da reconciliação. Primeiro vá reconciliar-se, diz o texto, e, depois, venha e adore. Não há como inverter essa ordem.

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É importante ressaltar que para Jesus a iniciativa deve ser sempre nossa. Somos nós que devemos ir e nos reconci-liar, de acordo com o texto. Esperar que nosso irmão decida reconciliar-se conosco destoa do ensino do Mestre e revela um coração cheio de orgulho e arrogância. Sem a reconciliação, a adoração se tornará hipócrita, fajuta e cínica. Tragicamente, muitos crentes pensam que podem adorar a Deus, sem, antes, se reconciliar com aqueles com quem estão de “relações cor-tadas”. Estão tremendamente enganados! Não existe a mínima possibilidade disso ocorrer, pois, para Jesus, a reconciliação an-tecede a verdadeira adoração.

3. A urgência da reconciliação para a adoração

Ao analisarmos o texto, percebemos que Jesus utiliza duas ilustrações para exemplificar a importância da reconciliação na adoração a Deus. A primeira ilustração é a de um adorador em direção ao altar da oferta (v.23-24); a segunda é a de um devedor e seu credor em direção ao tribunal (v.25-26). As ilus-trações são diferentes: uma é extraída da igreja; a outra, do tribunal. Uma diz respeito a um “irmão” (v.23) a outra se refere a um adversário (v.25).3 A primeira diz respeito à prioridade da reconciliação – justamente a que acabamos de tratar –; a se-gunda – que iremos tratar agora – diz respeito à urgência da reconciliação.

Para Jesus, quando o assunto é reconciliação não pode ha-ver demora. Veja só o que ele diz no texto bíblico: Concilia--te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele (v.25). Percebeu a urgência? Concilia-te depressa, disse o Mestre. Então, ele continua: Para que não aconteça que o ad-versário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. Em

3. Idem, p. 80.

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verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centavo (v.25-26). No mundo antigo, isso era comum. Os devedores eram presos, até que conseguissem pagar toda a sua dívida ao seu credor.

Essa ilustração utilizada por Jesus, tão comum em sua pró-pria cultura, é muito forte. Ela ratifica a seriedade e a urgência que a reconciliação exige. Não se pode adorar a Deus verdadei-ramente sem isso. A ideia é mais ou menos esta: “Reconcilie-se logo com esta pessoa com quem você tem alguma desavença, ‘porque, se você passar desta vida com um coração ainda em desacordo com o seu irmão, condição que ainda não tentou mudar, essa falha testificará contra você no dia do juízo”4. Sim, o julgamento de Deus é certo sobre aqueles que, no decorrer desta vida, cultivaram ódio e rancores no coração, insultando e ofendendo pessoas e pensando, em vão, que uma vida religio-sa os salvaria no último dia (v.23).

O que Jesus espera é uma ação imediata. Seu ensino é: “Pare o que está fazendo imediatamente e vá o quanto antes reconciliar-te; não demore a fazer as pazes com aquele com quem você se desentendeu; peça perdão logo; e, perdoe ime-diatamente”. Muitas pessoas estão na igreja, mas sequer par-ticipam da ceia, por causa de desavenças e discussões; outras nutrem rancores de parentes, de outros cristãos etc. Que coisa horrível! Para Jesus, passou da hora de pedir perdão e demo-rou demais para perdoar. Mas ainda há tempo. Faça isso ur-gentemente! A razão é simples: não existe adoração aceitável a Deus de um coração cheio de raiva e ódio.

4. Hendriksen (2001:422).

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CONCLUSÃO

Não poderíamos chegar ao fim desta mensagem bíblica sem nos permitir sermos confrontados por Jesus. Quantos crentes guardam, por anos e anos, rancores e animosidades no cora-ção; estão na igreja regularmente, são assíduos, contribuem financeiramente, levantam as mãos, enquanto cantam no cul-to, e até choram, mas somente Deus conhece as quantidades enormes de raiva e rancores que carregam dentro de si. Como pudemos ver, adoração e ressentimento são palavras opostas no cristianismo; louvor a Deus e insulto ao próximo são incom-patíveis; declaração de amor a Deus, com ódio às pessoas, não tem nada a ver com o ensino de Jesus.

Por meio desta palavra, somos desafiados a olhar para nós mesmos. Jesus pede que ascendamos a luz do quarto mais se-creto de nossos corações, a fim de o vasculharmos, à procura de possíveis sujeiras. Às vezes, varremos poeira para debaixo do tapete de nossos corações. Jesus deseja que levantemos esse tapete e varramos para fora de nós toda essa sujeira. Somente assim poderemos adorá-lo. Portanto, se perceber que precisa pedir perdão a alguém hoje, faça isso. Se entender que precisa perdoar, então, libere perdão. Se constatar que tem ofendido pessoas, mude. Se compreender que possui desavenças, resol-va todas elas. Somente assim Deus aceitará sua adoração.

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BIBLIOGRAFIA

STOTT, John R. W. A mensagem do Sermão do Monte: contra-cultura cristã. 3 ed. Tradução: Yolanda M. Krievin. São Paulo: ABU, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Ma-teus: vol. 1. Tradução: Valter Graciano Martins. São Paulo: Cul-tura Cristã, 2001.

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Sábado, 22 de março

INTRODUÇÃO

Ela fazia parte do chamado quarteto da vulnerabilidade: órfãos, estrangeiros, pobres e viúvas. Assim Deus exorta, por diversas vezes, em sua palavra, do Antigo ao Novo Testamento, que devemos cuidar desses grupos de vulneráveis. O Senhor disse: ... não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangei-ro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo (Zc 7:10).1 Mesmo estando nesse grupo frágil na sociedade, a viúva pobre foi ao templo, ao átrio das mulheres, local em que ficava o gazofilácio “onde havia treze caixas de ofertas, com formato de trombetas. Cada uma tinha uma inscrição que indicava para qual uso seu conteúdo seria dedicado.”2 Ali, depositou sua oferta.

Veja que o texto ressalta a pobreza daquela mulher. Aliás, a palavra usada por Lucas em relação a essa viúva pobre (gr. pe-nichra) aparece somente no Novo Testamento e está ressaltan-do a total miséria vivida por ela.3 Sairemos mais ricos hoje, da-qui, porque aprenderemos de Jesus ensinamentos, a partir das

1. Keller (25:2013)2. Morris (276:1983).3. Idem.

OFEREÇA O SEU MELHORLucas 2:1-4

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atitudes dessa viúva. Diante de quem devemos nos oferecer? Com qual intenção e qual atitude? Iremos saber as respostas a essas perguntas e, assim, oferecer-nos melhor a Deus.

Primeiro ensino: ofereça o seu melhor, diante da pessoa certa

Templo lotado, todos estão ali para adorar o Senhor. Cada um em sua função, do seu jeito. Se por costume ou desejo pro-fundo, não sabemos, mas uma coisa é certa: Jesus sabe! Ele observa, vê o que cada um faz no culto. É o que Lc 21:1-2 nos relata: Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas (grifo nosso). Preste atenção nas pala-vras observar e viu presentes no texto bíblico. Elas expressam a atenção de Jesus àquele momento. Devemos, então, ter a consciência de que é para ele que nos oferecemos.

No Evangelho de Marcos 12:41, temos uma informação mais detalhada dos ofertantes: ... observava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias. O v.42 é ainda mais específico sobre a oferta da viúva: ... e colocou duas moedinhas (BV). Ele observa o que ricos e pobres fazem ao ofertar. O Senhor observa a oferta do homem e da mulher. Ofereça-se consciente de que você está diante de um Deus que contempla a cada um.

Antes de Lucas mencionar da oferta da viúva pobre, relata o exibicionismo espiritual praticado pela elite religiosa (20:45-47). Mateus, por sua vez, registra a acusação de Jesus a eles: ... praticam todas as suas obras para serem vistos pelos homens (23:5a – AS21). Não devemos seguir esse caminho. Cristo nos chama à atenção para nos colocarmos diante dele. Ele é a Pes-soa certa. É assim que Paulo diz para nos apresentarmos: ... apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradá-

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vel a Deus, que é o vosso culto racional. (Rm 12:2 – AS21). Deus é a plateia e todos os que participam do culto são aqueles que se oferecerão a ele.

Todos nós, que participamos das celebrações comunitárias, devemos atentar para uma coisa: Jesus nos vê, e é para ele que devemos nos apresentar. Por isso, devemos ter uma pos-tura sincera, um interesse correto e uma entrega consagrada a Deus. Devemos ter cuidado com nossos pensamentos e ações, pois Deus vê a verdade no íntimo do nosso coração (Sl 51:6). Tudo para Deus precisa ser feito com zelo e respeito, com te-mor e tremor. Tome cuidado com o que fala no culto: nada de piadas maldosas e comentários desnecessários sobre as pes-soas. Antes, envolva-se, adore, e não esqueça: Deus nos vê! Diante dele, devemos nos oferecer. Esse é o primeiro ensino que aprendemos. Vamos agora ao segundo.

Segundo ensino: ofereça o seu melhor, com a intenção certa

Ao observar a oferta da viúva pobre, ele: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos (Lc 21:3 – grifo nosso). Como assim, se ela deu apenas duas moedas, ao contrário dos ricos, que deram bastante? Vamos analisar qual foi a oferta da viúva pobre. Já citamos, aqui, que ela ofertou duas pequenas moedas (v.2). Segundo estudiosos, essas duas pequenas moedas eram “(lepta [moeda] de cobre). A palavra denota uma pequena moeda judaica (aliás, a única moeda ju-daica mencionada no Novo Testamento). Seu valor monetário era baixo (...)”.4

Esse é um contraste com a oferta dos ricos, como já lemos em Mc 12:41, que depositavam grandes quantias. E não há ne-

4. Morris (276:1983).

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nhum pecado nisso. Mas Jesus percebeu a intenção diferente no coração daquela mulher, a ponto de dizer que sua oferta foi maior (Mc 12:43): “Os ricos depositavam grandes quantias (..) [na visão dos pobres]. Mas depositar o que lhes ‘sobrava’ era algo que nada lhe custava, pelo que, na realidade, não lhes servia de crédito”.5 Esse texto mostra-nos claramente que: “A questão não é o quanto damos, mas o quanto retemos, a ques-tão não é a porção que damos, mas a proporção”.6

Deus sabe o que está por dentro de nosso coração. Ele sabe o tamanho e a qualidade do nosso sacrifício. Aquela mulher deu mais porque sacrificou o seu sustento. Às vezes, oferta-mos, cantamos, pregamos, estudamos, trabalhamos para Deus de maneira avarenta, achando que estamos arrasando, achan-do que nossas ofertas gigantes vistas pelas pessoas vão im-pressioná-lo; mas tudo que ele deseja é que nossas intenções sejam puras. Assim como Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito (Jo 3:16), devemos entregar-lhe o que temos de melhor. E a nossa intenção deve brotar de um coração amoroso; afinal, “o princípio do amor deve governar todas as nossas ações (...) (1 Co 13)”.7

Ele não quer apenas as nossas ofertas, a nossa música, a nossa frequência nos cultos; com estas coisas, ele quer que en-treguemos a nossa vida por completo. Como diz certo cristão: “O orgulho no viver e no ofertar é pecado e deve ser evitado a todo custo”.8 Você poderia analisar, neste momento, como tem vindo aos cultos, nos últimos dias? Qual a intenção da sua últi-ma apresentação? Com que coração cantou ou pregou pela úl-tima vez? Por que resolveu doar roupas e cestas básicas? Faça

5. Champlin (199:1980). 6. Lopes (524:2006). 7. Champlin (199:1980).8. Wiersbe (198: 2006).

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de coração para Deus! Oferecemos melhor para Deus quando temos uma intenção certa. Agora que aprendemos este segun-do ensino, vamos ao último.

Terceiro ensino: ofereça o seu melhor, praticando a atitude certa

Estamos aprendendo ensinos preciosos para nos oferecer-mos em adoração a Deus da melhor maneira. Vimos que nos oferecemos melhor quando o fazemos à pessoa certa: Deus, e com a intenção certa: de coração. Em último lugar, refletiremos sobre a atitude correta de desprendimento da viúva pobre. Veja o que diz o texto de Lc 21:4: Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua po-breza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento. Que atitude nobre ela teve! Para muitos, poderia a ter ser loucura, mas, na verdade, mostra um desapego.

Jesus contrasta a oferta dos ricos, que deram daquilo que lhes sobrava, com a da viúva pobre, que deu tudo o que pos-suía, todo o seu sustento. Isso nos ensina muito: “... para os ri-cos, suas ofertas não passavam de uma pequena contribuição, mas para aquela viúva, sua oferta foi uma verdadeira consagra-ção de todo o seu ser”.9 Precisamos imitar-lhe o comportamen-to. A atitude dessa mulher convida-nos a viver nossa vida cristã de uma nova maneira: “... [sua oferta] certamente ultrapassou a todos eles, pois eles deram daquilo que lhes sobrava e, por-tanto, ainda tinham muito dinheiro. Ela deu tudo quanto tinha. Este é sacrifício real”.10

Temos de priorizar as coisas de Deus. O primeiro lugar pre-cisa ser de Deus em nosso coração: “A Bíblia ensina a trazer a

9. Idem. 10. Morris (277:1983).

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Deus as primícias”.11 Jesus nos chama ao desapego, à confian-ça em sua provisão. Ele nos diz: ... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos se-rão acrescentadas (Mt 6:33). Temos que descobrir o valor de viver uma vida de oferta, de doação; precisamos encarnar as palavras de Jesus: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20:35).

Doemos, mesmo que soframos o dano. Façamos como os cristãos macedônios que, no meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade (2 Co 8:2 – NVI). Fazendo assim, viveremos melhor. Dominar a renda é parte da alegria do cristão. Quando nos oferecemos a Deus, servimos o próximo e agimos como a viúva pobre, cuja oferta foi reconhecida como grande para Deus, à vista dos homens. Sendo ricos ou pobres, homens, mu-lheres, crianças, jovens ou idosos, devemos nos oferecer mais e melhor a Deus.

CONCLUSÃO

Chegando ao fim de mais um sermão da série “Vinde, ado-remos! O que Jesus espera daqueles que vêm adorá-lo!”. Este é o penúltimo sermão da série, na qual já aprendemos muito, para adorar mais e melhor. Hoje, fomos edificados pela his-tória de uma viúva pobre e sua oferta (Lc 21:1-4) e refletimos sobre ensinos riquíssimos para a nossa vida. Podemos, após meditar na palavra de Deus, orar com Jesus o que aprendemos, falar com Deus sobre a necessidade que temos de oferecer-lhe um culto melhor, no templo ou em casa.

É certo que, quando nos oferecermos melhor a Deus, seja na família, na escola, no trabalho, nos momentos de lazer, Deus

11. Lopes (525:2006).

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será glorificado. Peçamos a ele que façamos tudo para a sua glória. Peçamos a ele que nos ajude a lhe oferecermos nossa vida, pois ele é a pessoa certa Peçamos a ele que sonde nosso coração para que nos ofereçamos com a intenção certa e que sejamos um sacrifício agradável a ele! Peçamos a ele que seja-mos desprendidos, para lhe oferecermos nossa vida com uma atitude certa. Que o Espírito nos ajude a viver esses ensinos.

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BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo: vol. II. São Paulo: Milenium, 1983.

KELLER, Timothy. Justiça generosa: a graça de Deus e a justi-ça social. Tradução: Eulália Pacheco Kregness. São Paulo: Vida Nova, 2013.

LOPES, Hernandes Dias. Marcos: o evangelho dos milagres. São Paulo: Hagnos, 2006.

MORRIS, L. L. Lucas: introdução e comentário. Tradução: Gor-don Chown. São Paulo: Vida Nova, 1983.

WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Tes-tamento: vol. 1. Tradução: Susana E. Klassen. Santo André: Geográfica, 2006.

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Domingo, 30 de março

INTRODUÇÃO

Chegamos ao último sermão de nossa série de mensagens do mês de março: “Vinde, adoremos! – O que Jesus espera da-queles que vêm adorá-lo”. E, como fizemos ao longo da série, neste sermão, vamos expor mais um desejo do mestre para aqueles que o adoram: que o façam de coração sincero. Mas será que é possível alguém estar na igreja, pregar, cantar, fazer visitas, enfim, estar profundamente envolvido com as ativida-des e, ainda assim, não o fazer de coração? Sim, infelizmente, é possível. Jesus acusou alguns líderes religiosos de sua época de se apresentarem diante de Deus com aparente devoção, mas com o coração longe dele.

Ouça o que ele disse: Hipócritas, bem profetizou Isaías acerca de vós, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim; em vão me adoram (Mc 7:6-7). Que dura palavra esta de Jesus: “Em vão me adoram”. Já pensou ouvirmos isto dele? A expressão grega traduzida por “em vão” traz a ideia de uma procura mal-suce-dida ou inútil. Esses líderes até estão tentando adorar a Deus, mas de forma equivocada. Os métodos que estão empregando para agradar a Deus são inúteis, não têm valor. Sua adoração é

ADORE COM O CORAÇÃOMarcos 7:6-7

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apenas de “lábios”, isto é, exterior, aparente. O “coração” está longe de Deus. Coração, aqui, é usado no sentido de centro da vontade, das aspirações, dos desejos, dos pensamentos, das motivações por trás das ações dos homens. No íntimo, então, aqueles líderes não honravam a Deus.

Com base em Marcos 7:1-23 aprendemos que a adoração que Deus deseja é aquela que brota da sinceridade do coração, isto é, do nosso interior. O que precisamos fazer, se quisermos adorar a Deus assim? Este texto oferece três direcionamentos, neste sentido:

1. Se quisermos adorar com o coração, não podemos supervalorizar rituais!

Supervalorizar rituais era um dos problemas dos religiosos da época de Jesus. Essa era uma das razões pelas quais sua adoração era vã. O capítulo 7 de Marcos começa mostrando que os fariseus e alguns escribas “repararam” que alguns dos discípulos de Jesus comiam pão com as “mãos impuras”, isto é, sem lavá-las (v. 2). O autor do evangelho não tem em mente uma situação específica, mas um hábito. O modo de vida dos discípulos de Jesus era diferente do modo de vida dos escribas e dos fariseus. Diante desse fato, eles questionam o Senhor: Por que os teus discípulos não vivem segundo a tradição dos anciãos, mas comem pão sem lavar as mãos? (v.5).

É óbvio que essa acusação tinha como propósito atingir a Cristo. Como um rabino que não ensina os seus seguidores a seguirem a tradição dos anciãos pode ser levado a sério? Eles seguiam rituais vazios e ainda queriam que os outros fizessem o mesmo. Um absurdo! E que tradição eles estavam mencio-nando? É importante mencionarmos que a acusação nada ti-nha a ver com higiene pessoal. Não era o simples fato de lavar as mãos, antes de comer, mas um modo particular de lavar as

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mãos, antes de comer, que torna a pessoa ritualmente impura: mais um fardo pesado de ser carregado, inventado por esses líderes para sobrecarregar o povo.

O texto explica que os fariseus e todos os judeus que guar-davam a tradição dos anciãos não comiam sem lavar as mãos cuidadosamente (v. 3). Chegavam ao extremo de, a cada vez que iam às praças ou ao mercado, purificar a si mesmos, ao vol-tarem para casa. Por “ser a praça um centro de reunião de mui-tas pessoas, julgavam impura; além do mais, podiam esbarrar num gentio impuro”.1 Assim, os judeus precisavam purificar-se, toda vez que chegavam em casa: executavam uma curta ceri-mônia de lavar as mãos e os braços de uma forma específica; no caso dos essênios, seita judaica ainda mais radical, toma-vam um banho completo, antes de cada almoço.2 Quem, den-tre os judeus, desprezasse a lavagem das mãos, era excluído do convívio e rebaixado à altura de prostitutas.3 Por que eram tão rigorosos com suas tradições? Porque pensavam que Deus se agrava delas e que estas os tornavam mais santos, diante dos homens e diante de Deus. Jesus os chama de “hipócritas”, pessoas cuja vida é uma atuação, sem nenhuma sinceridade. Além de honrar a Deus apenas de lábios, ainda condenavam os que se diziam povo de Deus e não praticavam suas tradições.

Cuidemos para não cairmos nos mesmos erros dos escri-bas e dos fariseus. Quantas vezes nos dividimos na igreja, por causa dos nossos rituais e formas exteriores de culto. Uns gos-tam de hinos mais animados; outros, de hinos mais lentos, e fazem disto motivo para iniciar uma guerra na igreja. Outros são contrários a “bater palmas”, à bateria, a instrumentos de percussão, e fazem disto motivo para desavenças com os que

1. Lopes (2006:333).2. Pohl (1998:223).3. Idem, p. 223.

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são favoráveis. Outros, ainda, literalmente, racham a igreja, por causa da possibilidade de mudar algum aspecto da litur-gia. Será justo nos digladiarmos por essas questões periféricas? Será que Deus realmente se agradará mais de nós por causa do nosso gosto musical? É óbvio que não! A Bíblia não define o estilo musical que mais agrada a Deus, os instrumentos que, obrigatoriamente, devem ser usados nos cultos, as expressões corporais que são imperativas para a igreja, um modelo litúr-gico divinamente inspirado! Nós criamos isso, e não podemos fazer com que a salvação das pessoas dependa disso! Deus quer que nos preocupemos em honrá-lo de coração, indepen-dentemente dessas formas. Isto, sim, deve fazer parte da nossa agenda de preocupações! A supervalorização de rituais pode transformar-nos em meros atores. Se quisermos adorar a Deus de coração, fujamos desta cilada!

2. Se quisermos adorar com o coração, não podemos desvalorizar a Escritura!

Além de supervalorizar rituais, baseados na “tradição dos anciãos”, os religiosos da época de Jesus, com os quais ele se defronta, no texto de Marcos 7, estavam se relacionando de maneira inapropriada com a Escritura. Esta é mais uma razão por que sua adoração era de “lábios” e vã, segundo Jesus. O zelo deles “não era em preservar e proclamar a palavra de Deus, mas em manter a tradição dos anciãos”.4 Os rituais su-pervalorizados não tinham como origem a palavra de Deus, mas ensinos de homens. Jesus responde a esses religiosos ci-tando a palavra de Deus: Is 29:13; Êx 20:12,17. Ele os questiona e os censura com base nas Escrituras.

4. Lopes (2006:333).

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Jesus faz três acusações aos escribas e fariseus, em Marcos 7: Abandonais o mandamento de Deus, e vos apegais à tra-dição dos homens (v. 8); Sabeis muito bem rejeitar o manda-mento de Deus para guardar a vossa tradição (v. 9); invalidais a palavra de Deus pela vossa tradição (v. 13). Em nome da tra-dição, eles haviam “abandonado”, “rejeitado” e “invalidado” a palavra de Deus. São três acusações graves! Esta última palavra (invalidais), por exemplo, é a tradução do termo grego akuroo, com o sentido de “cancelar”, “privar de força ou autoridade”. Além de censurar, o mestre apresenta, de modo claro, o que estava censurando. Ele apresenta uma prova de como eles es-tavam enfraquecendo, e até mesmo passando por cima, da au-toridade dos mandamentos divinos.

O exemplo escolhido diz respeito ao quinto mandamento: Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e: Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe certamente morrerá (v. 10). Eis um manda-mento da Escritura que os rabinos deturpavam para liberarem os filhos avarentos de ajudar seus pais na velhice. “Honrar” pai e mãe não era, e não é, um mandamento aplicado somente a filhos pequenos, mas a qualquer filho cujos pais estejam vivos. É muito mais que obedecer. Tem a ver com amor e alta conside-ração. Honrar pai e mãe na velhice, no judaísmo, significava em termos práticos, “dar-lhe comida e bebida, roupa e cobertor, levá-lo e trazê-lo e lavar-lhe o rosto, mãos e pés. Havia regras específicas sobre a parte que deveriam receber dos cereais, do vinho e dos demais rendimentos”.5 Como os filhos maus e avarentos que não queriam ajudar os pais faziam para quebrar essa lei? Pela aplicação errada da lei do Corbã (vv. 11-12), pa-lavra que quer dizer “dedicado a Deus”. Era uma lei pela qual uma “pessoa podia dedicar alguma coisa a Deus para seu uso

5. Pohl (1998:225).

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exclusivo, impedindo que ela fosse utilizada de forma comum”.6 Contudo, por causa de um acordo com os sacerdotes israelitas, uma pessoa podia dedicar seu dinheiro ou propriedade ao tem-plo, ao mesmo tempo que desfrutava dele, durante sua vida.7 Então, um homem que não quisesse ter de ajudar seus pais, po-deria declarar que seus bens eram “Corbã” e ficaria legalmente isento de socorrê-los, ao mesmo tempo que não precisava, ne-cessariamente, dedicar essas ofertas a Deus.

Isso estava acontecendo, e Jesus censura os religiosos. Ain-da disse que este era só um exemplo, pois eles faziam “muitas outras coisas semelhantes” (v.13). Seu coração realmente esta-va longe de Deus, e isto se evidenciava pelo desprezo à Palavra. O culto só é verdadeiro quando é governado pela verdade de Deus. Cuidemo-nos, para não cairmos, também, nesta arma-dilha: de acharmos que estamos adorando a Deus, enquanto negligenciamos sua palavra. Que a palavra de Deus seja valori-zada e continue tendo valor e destaque, na igreja e em nossos cultos. Ela é nossa regra de fé e prática. Então, é o Senhor quem diz o que devemos cantar ou não cantar. Quantas canções com conteúdos heréticos estão sendo cantadas nas igrejas, no nos-so tempo! Se a palavra é nossa única regra de fé e prática, é ela quem diz a maneira, os objetivos, o objeto e o lugar da nossa adoração! Não deixemos que nossas observâncias religiosas – às vezes, até úteis e bem intencionadas –, tenham mais auto-ridade do que a palavra de Deus. Se isso acontecer, estaremos com os dois pés no caminho dos fariseus. Nossa adoração será vã e apenas de lábios.

6. Grangeão & Libório (2009:234).7. Lopes (2006:337).

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3. Se quisermos adorar com o coração, não podemos distanciá-lo do senhor!

Por fim, além de não podermos supervalorizar rituais, nem desprezar a palavra de Deus, se quisermos agradar ao Senhor com o coração, não podemos distanciá-lo dele. Nosso “cora-ção” precisa estar “próximo” do Senhor. Vamos checar, nova-mente, o texto-base deste sermão: Este povo honra-me com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim; em vão me adoram (Mc 7:6-7). Jesus foi claro, ao dizer que o coração dos religiosos estava distante dele. Ele cita um texto do profeta Isa-ías e aplica-o aos escribas e fariseus. Fica subtendido, então, na citação feita por Jesus, que Deus espera que o honremos com o coração, e que, para isso acontecer, nosso coração deve estar perto dele. Mas o que significa ter o coração perto de Deus?

Já afirmamos, na introdução deste sermão que coração, aqui, é usado no sentido de centro da vontade, das aspirações, dos desejos, dos pensamentos, das motivações por trás das ações dos homens. Falar de alguém que tem o coração longe de Deus é falar de alguém que ainda tem motivações, desejos, pensamentos e aspirações impuras, ao se aproximar de Deus. E falar de alguém que tem o coração “perto de Deus” é falar de alguém que tem motivações, aspirações, pensamentos puros, ao se apresentar a Deus, em seu dia-a-dia. Deus busca a verda-de no íntimo. Ele não está tão preocupado com o que fazemos exteriormente quanto está com as motivações que nos levam a fazer isso ou aquilo. O que estamos querendo quando nos apresentamos a ele? De fato, nosso objetivo é agradar a Deus ou ser vistos e aplaudidos pelos outros?

Lembremo-nos disso, quando formos adorar a Deus, no templo ou fora dele. E tratando da adoração pública, não nos contentemos em levar os nossos corpos à igreja e deixarmos

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os nossos corações em casa.8 O que formos apresentar a Deus, que seja de verdade, com sinceridade! Segundo Ryle,9 o olho humano pode não detectar nenhum defeito em nossa adora-ção, o ministro da igreja poderá olhar-nos com aprovação, os nossos vizinhos poderão pensar em nós como modelos daquilo que um crente deve ser, a nossa voz pode ser a mais ouvida no louvor a Deus e na oração; contudo, tudo isso será “pior do que nada, aos olhos do Senhor, se os nosso corações estiverem distantes dEle”. Ryle também lembra que essa verdade deve ser lembrada em nossas devoções particulares. Proferir “pala-vras bonitas não devem nos satisfazer, se o nosso coração e os nossos lábios não estiverem em harmonia”.10

Na parte final do trecho que estamos estudando (Mc 7:14-23), Jesus mostra que a fonte de toda iniquidade está no cora-ção. E por que, do centro da nossa vontade, procedem os maus desígnios e vários outros pecados terríveis? Porque todos nós somos pecadores, e nascemos com uma natureza caída. O mal não vem de fora somente, mas, principalmente, de dentro. É por isso que o remédio para adorarmos a Deus de modo a agradá-lo é a transformação desse coração mau. O remédio é um novo coração, coisa que só Deus pode nos dar (Ez 36:26) e que, de fato, tem dado àqueles que receberam a Cristo como Senhor. Para que nossas intenções e aspirações sejam verda-deiras e puras, quando o adorarmos, precisamos manter o nos-so coração perto dele, sempre!

8. (1994:85).9. Idem.10. Idem.

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CONCLUSÃO

Jesus espera que aqueles que vão até ele para adorá-lo façam-no com um coração puro. Esse é o desafio que nos foi apresentado hoje, diante do enfrentamento que o mestre teve com os líderes religiosos do seu tempo, em Marcos 7. Em outro enfrentamento com estes mesmos líderes, Jesus disse: Como podeis falar coisas boas sendo maus? Pois a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12:34). O que saía da boca deles não era o que realmente o seu coração pensava ou queria. Não havia harmonia entre boca e coração, exterior e interior. Eles “falavam” coisas boas, mas o seu coração era “mau”. E Jesus garante que ninguém consegue ser ator a vida toda: “A boca fala do que o coração está cheio”. Uma hora o ator acabará se revelando! Se não acontecer aqui, no dia do juízo ninguém escapará: ... os homens terão de prestar contas de toda palavra inútil que proferirem (v. 36). Aqui, as palavras “inúteis” são as palavras falsas, de fachada, para manter aparências. No dia do juízo, elas serão reveladas.

Mas é muito pesado o que está sendo tratado? É mesmo. E nós precisamos reconhecer que não dá para ficar brincando de ator com Deus. Não dá para fingir ser algo que não somos: em vão estamos adorando! Se não for de coração, não serve! Por isso, amemos o Senhor de todo coração (Mc 12:30,33). Fa-çamos este amor virar louvor: cantando e louvando ao Senhor no coração (Ef 5:19). Lembre-se: só há uma maneira de fazer que o nosso coração (vontades e intenções) honre a Deus com sinceridade: mantendo-o perto do Senhor. Se você entregou sua vida a Jesus, ganhou um novo coração! Viva em comunhão constante com Deus, e não haverá espaço para intenções im-puras da adoração a Deus. Além disso, cuidado com a superva-lorização de rituais e com a desvalorização da palavra de Deus. O culto que agrada a Deus é o culto feito com verdade.

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Vamos orar:1. ________________________________________________

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2. ________________________________________________________________________________________________

3. ________________________________________________________________________________________________

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BIBLIOGRAFIA

GRANGEÃO, Anderson; LIBORIO, Miriam (Eds.). Comentário do Novo Testamento: aplicação pessoal: vol. 1. Tradução: Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

LOPES, Hernandes Dias. Marcos, o evangelho dos milagres. São Paulo: Hagnos, 2006.

POHL, Adolf. O Evangelho de Marcos. Tradução: Hans Udo Fuchs. Curitiba: Esperança, 1998.

RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Marcos. São José dos Campos: Fiel, 1994.

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