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2020 Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina Comfel 2020 ANAIS DO CONGRESSO

2020 Comfel 2020 - Medvep€¦ · sarmônicas entre tutores e felinos, e aumento da transmissão de doenças infecciosas, inclusive zoonóticas (4). Neste sentido, o conhecimento

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2020

Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina

Comfel 2020

ANAIS DO CONGRESSO

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PATROCINADORES

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4 - 6A nova realidade dos gatos: Um estudo com animais atendidos em Hospital Vet-erinário. Uberlândia / MGNogueira ES; de Faria CN, Ferreira CB; de Almeida LP.

7 - 9Anaplasmose associada a Linfoma de Mediastino por FeLV em Santa Catarina – Re-lato de CasoDi Concilio C; Strack A, Veiga APM; Pereira ML.

10 - 11Anemia Hemolítica e Tríade Felina em Gato Doméstico – Relato de CasoLustosa HSS; Seszyshta A; Soares JR; Caron VF; Barreto ER.

12 - 14Aplicabilidade da citologia por impressão para diagnóstico de oftalmopatias em fe-linos domésticos Lemos TC; Pessoa LP; Cruz LD; Goes MS; Ferrari HF; Ferrari ARM.

15 - 17Aspectos epidemiológicos e clínicos em gatos soropositivos para imunodeficiência felina ou leucemia felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba Cardoso LMB; Borges CB; Borges CEF; Bittar JFF; Martin I; Bittar ER.

18 - 20Atonia Detrusora em Felino - Relato de CasoStrack A; Felipe MC; Rossi MA; Rufino GM; Gütschow GHD; Pereira ML.

21 - 23Avaliação coproparasitológica de gatos errantes da Represa Municipal de São José do Rio Preto / SPColognesi MC; Silva JV; Benito MS; Ferian PGF; Sanches L; Bromerschenkel I.

24 - 27Betaterapia adjuvante em carcinoma de células escamosas felinoFerrari ARM; de Souza CDD; de Souza SA; Batista PACS; Ferrari HF; Fernandes MAR.

28 - 30Carcinoma Intestinal Papilífero em Felino – Relato de CasoGirandelli E; de Melo TAN; Bezerra VCO; França SRS.

31 - 33Casuística de atendimentos de Felinos no período de 10 anos no Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas Garcia CF; Martin MB; Mazziero VG; Ribeiro AR.

34 - 36Cistite Enfisematosa não infecciosa relacionada a Cistite Idiopática em Felino - Relato de CasoWolfran L; Thomas JD; Oyafuso MK; Nunes ACB.

37 - 40Colangite Purulenta associada à ectasia de vias biliares extrahepáticas de Araujo LL; Sousa CMG; Oliveira JBS; Araujo SB; Cardoso JFS; Baêta SAF.

41 - 43Comparação da ação analgésica do emprego sistêmico de Tramadol e Morfina em ga-tas submetidas à Ovariohisterectomia Bovo LIG; Gutierrez DPFL; Kemper BK; Pereira LI; Kemper DAG.

44 - 46Diabetes Melittus em um Felino induzida pelo uso de Glicocorticóides – Relato de CasoTucunduva P; Pereira RR; da Silva PG.

47 - 49Estomatite piogranulomatosa em felino - Relato de casoSilva LVP; Ferreira LN.

50 - 52Estudo retrospectivo de cinco Felinos positivos para a Peritonite Infecciosa Felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba - Alterações Clínicas e HematológicasCardoso LMB; Macedo SAO; Borges CEF; de Orilveira MKB; Bittar JFF; Alves EGL.

53 - 55Exenteração transconjutival com confecção de malha de nylon em felinoMaia AF; Henrique FV; Freitas VML; de Souza Segundo FA; Oliveira EL; de Sá MJC.

56 - 58Fratura em ramo condilar da mandíbula de um Felino filhote, tratamento conservador – Relato de Casode Macedo SAO; Cardoso LMB; Silva BO; Alves EGL; Rosado IR; Lacerda MS.

59 - 62Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino – Relato de CasoFerreira CB; de Souza GFG; Santos LS; de Souza LBM; Nogueira ES; Milken VMF.

63 - 65Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em FelinoLeite AGPM; Vilanova LA; Leite MC; de Araújo LL; da Silva TS.

SUMÁRIO

66 - 69Lesão oftálmica em gato doméstico por histoplasmose - Relato de CasoRodrigues AC; de Morais LAG; De Nardo CDD; Rico MCV; Silveira EA.

70 - 73Linfoma Cutâneo de células B em dorso e abdômen em FelinoIanczkovski V; Tammenhain B; Lewicki NE; Cade ICS.

74 - 76Linfoma Ocular em um gato com vírus da Leucemia Felina – Relato de CasoTucunduva P; Pereira RR; Pinheiro JL; Nunes YF; de Sousa Filho JCD; Fernandes MC.

77 - 79Osteocondromatose multifocal em felino - Relato de CasoSilva LVP; Gonçalves GA; Barbosa CHG.

80 - 83Osteomielite por Microsporum canis e Staphylococcus spp em Gato (Felis catus), Caso AtípicoSoares FO; Abrahão ACV; Rosado IR; de Melo RT; Bitar JFF; Alves EGL.

84 - 86Otite Externa devido proliferação de Malassezia sp. em FelinoKauss VS; Greuel AM.

87 - 90Peculiaridades terapêuticas da Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva em um felino com Insuficiência cardíaca congestiva e hipotensão – Relato de CasoSilva LAC; Caixeta BS; de Abreu CB; Schulien T; Furtado LLA; Muzzi RAL.

91 - 93Positividade de hemoparasitos em gatos domésticos da região urbana de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil: aspectos laboratoriaisde Faria CN; Pereira DA; Paiva GCM; de Oliveira MM; Barbosa COS; Cury MC.

94 - 96Prevalência de Blastocystis sp. em gatos (Felis catus) em Uberlândia, Minas Gerais, Brasilde Faria CN; Barbosa COS; Mota KCP; da Cunha MJR; Pereira DA; Cury MC.

97 - 99Prevalência de Peritonite Infecciosa Felina (PIF) em gatos atendidos no HVU-UFPI no período Janeiro de 2015 a Maio de 2017Nascimento HYA; Costa VN; Moreira IC; Castro FCM; Vilanova LA; Costa FMJ.

100 - 102Realização de Sutura íleo-trocantérica em felino com luxação coxofemoral traumáticoMaia AF; Freitas VML; de Souza Segundo FA; de Oliveira TS; Costa EIS; de Sá MJC.

103 - 105Relato de Caso - Esporotricose Atípica em FelinoStadler BW; Costa MK; Lago MR; Montaño PY; Carpovicz L.

106 - 109Relato de caso de Cefalotoraconfalopago deradelfo felino avaliado no Hospital Veter-inário da UFPI, em Teresina, Piauíde Araujo LL; Abreu DM; Souza CMG; Oliveira JMG; Araújo KNS; Baêta SAF.

110 - 112Relato de Caso: Peritonite Infecciosa Felina em felino de 5 mesesSchuroff JS; da Cruz A; Ribeiro BD; Benedetti GM; Wolfran L; Hamamura M.

113 - 116Remissão de Diabetes Mellitus Felina em Gato Hipertireoideo após Terapia inicial com Metimazol: Recidiva Diabética Secundária à Doença Renal CrônicaLyra GT; Weiss JM; Linden TS; Pöppl AG.

117 - 120Resolução da anorexia após tratamento com mirtazapina em gato diagnosticado com doença renal crônica e tríade felina – Relato de CasoBatista PACS; Ferrari ARM; Vides JP; Moreno AP; dos Santos T; Moraes LRS.

121 - 124Sucesso do Sarolaner administrado, por via oral, no tratamento da Sarna Otodécica em gato – Relato de Casode Almeira GPS; Tavares RB; Chaves JKO; Guimarães BG; Campos DR; Scott FB.

125 - 127Técnica para identificação de ovos de Dioctophyma renale em urina de gatos, empre-gada em sílica: resultados preliminaresGuimarães CE; Evaristo TA; Pires BS; Perera SC; Rappeti JC; Ferraz A.

128 - 131Ureteres Ectópicos Bilaterais e Criptorquidismo Unilateral em Felino Maine CoonBorges IS; Garcia C; Di Concilio C; Pereira ML; Friol J.

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 4-6.4

A nova realidade dos gatos: Um estudo com animais atendidos em Hospital Veterinário. Uberlândia / MG Ellisy Santos Nogueira - Graduanda de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV), Universidade Federal de Uberlândia (UFU).Camila Nogueira de Faria - Graduanda de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV), Universidade Federal de Uberlândia (UFU).Carla Barboza Ferreira - Graduanda de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV), Universidade Federal de Uberlândia (UFU).Laerte Pereira de Almeida - Professor Titular do Curso de Graduação em Medicina Veterinária (UFU) e Pós-Graduação em Sáude Pública pela Universidade de São paulo (USP)email: [email protected]

Nogueira ES; de Faria CN, Ferreira CB; de Almeida LP. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 4-6.

ResumoOs felinos domésticos são considerados, na atualidade, uma das espécies mais prevalentes entre os animais de companhia. A partir desta constatação, realizou-se um estudo epidemiológico com delin-eamento de Corte-Transversal e amostra de conveniência de gatos atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia, no período de 2012 a 2016. Os dados, eletronicamente arma-zenados e de fichas clínicas, coletados, foram digitados para um banco de dados e estatisticamente analisados, assumindo-se um valor de P≤0,05 para rejeição da hipótese de nulidade. No período de 5 anos, atenderam-se 25.997 animais, e destes, uma população maior de cães, porém com uma taxa de crescimento menor (2,05%) que dos gatos (21,50%). No ano de 2016, foram observadas mais fêmeas (61,49%), de até 2 anos (53,57%), Sem Raça Definida (92,55%). As principais afecções diagnosticadas foram traumáticas (25,8% e Odds Ratio = 12,0); doenças urinárias (18,2% e Odds Ratio = 8,5); doenças infecciosas (12,4%; Odds Ratio = 7,8). Este tipo de estudo pode contribuir para fornecer informações quanto a importância do Médico Veterinário buscar conhecimentos acerca desta espécie, sendo estas importantes e atuais indicadores da nova realidade de felinos nas zonas urbanas de grandes cidades.

Palavras-chave: Felinos; Animais de Companhia; Crescimento

IntroduçãoA crescente urbanização das cidades trouxe consigo a mudança de estruturas imobiliárias, de

convivência e mudança de hábitos e comportamentos da população (1). Dentre essas mudanças, uma chama a atenção, pela sua emergência e complexidade, qual seja a da população felina, que ultrapassou a população de cães em países como Estados Unidos da América e Rússia (2). Sendo uma das explicações para essa ocorrência, o fato de que esses animais tenham apresentado maior adaptabilidade, higiene, independência e manutenção (3).

Essa nova realidade epidemiológica trouxe consigo questões como o crescimento exacerbado dessa espécie, gestações desassistidas e consequente abandono de recém-nascidos, interações de-sarmônicas entre tutores e felinos, e aumento da transmissão de doenças infecciosas, inclusive zoonóticas (4). Neste sentido, o conhecimento de caracteres epidemiológicos referentes a população de gatos podem contribuir para assegurar suas necessidades básicas, sejam elas comportamen-tais, fisiológicas ou sanitárias (5).

Com base nos fatos mencionados, esta pesquisa objetivou, a partir de uma amostra de gatos atendidos em um Hospital Veterinário, investigar, comparativamente, a taxa de crescimento e a situação epidemiológica dessa população.

Material e MétodosEsta pesquisa utilizou um delineamento tipo Corte-Transversal com amostragem sistemática e

fonte de dados secundária (6), coletando-se dados populacionais dos cães e gatos atendidos entre

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A nova realidade dos gatos: Um estudo com animais atendidos em Hospital Veterinário. Uberlândia / MG

2012 a 2016 a partir do sistema computadorizado de atendimentos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (HV-UFU), para realização de associação comparativa de crescimento; e dados demográficos, como sexo, idade, raça e doença diagnosticada do ano de 2016, a partir das fichas clínicas dos gatos atendidos no HV-UFU. Após a coleta, os dados foram digita-dos para um banco de dados e estatisticamente analisados, estimando-se medidas de ocorrência, calculando-se o valor de Odds Ratio entre as principais doenças diagnosticadas, para associações entre variáveis e assumindo um valor de P (≤ 5%) para rejeição da hipótese de nulidade (7). Para verificação do crescimento populacional, foi feita análise comparativa da curva de crescimento entre cães e gatos, no período avaliado.

Resultados e DiscussãoEntre 2012 e 2016, foram atendidos no HV-UFU um total de 25.997 animais, destes, 23.332 de

cães (89,75%) e 2.665 de gatos (10,25%), dado semelhante a pesquisa demográfica de cães e gatos no município de São Paulo, onde a distribuição de cães é de 81,66%, e de gatos de 18,34% (8). A quantidade de gatos ser menor que a de cães, além da interpretação de que o Brasil ainda tem predominantemente a espécie canina como animal de estimação (9), ainda pode ser explicada pela resistência dos proprietários a levar seus gatos ao veterinário por motivos de falta de informação dessa necessidade, custo dos tratamentos e resistência felina, devido ao estresse provocado no mo-mento do transporte e da consulta; ressaltando que a população felina tem crescido, mas a adesão da ida ao médico veterinário ainda é baixa (10). Com isto, pode-se inferir que a população real de gatos pode ainda ser maior do que a descrita nos resultados.

Apesar da maior proporção de cães atendidos, observada no período avaliado, a média anual de crescimento de gatos apresentada foi de 21,50% contra 2,05%, para os cães. Estimando-se a ma-nutenção dessa taxa de crescimento anual para gatos, pode-se inferir que em um período de 11 anos a população de gatos poderá ultrapassar a população de cães.

Com relação aos dados demográficos, no ano de 2016 foram atendidos 631 gatos no HOVET-U-FU, distribuídos quanto a gênero em 388 fêmeas (61,49%) e 239 machos (37,88%); resultado seme-lhante a estudos realizados em São Paulo com valores de 54,9% e 57,02% de fêmeas (1,8). A média de idade dos animais foi de 4,4 anos de idade (desvio padrão de 0,63), com uma diferença de cerca de um ano se comparado a trabalhos com média de 3,53 anos e 3,44 anos(1,8). Chama atenção a alta concentração de gatos mais novos, possivelmente explicada pela baixa longevidade desses animais, como consequência de uma nova realidade adversa imposta a essa espécie nos grandes centros urbanos; aliada a uma rápida expansão populacional, relatando-se que 32,3% das gatas já tinham procriado antes de completar um ano de idade, sugerindo um alto potencial reprodutivo e alta taxa de natalidade(11,12). Houve predomínio de gatos classificados como sem raça definida (93%), resultado condizente com outros estudos e possivelmente associado ao fato da predominân-cia de adoção como forma de inserção de gatos aos domicílios(4,13).

Os resultados mostraram que, embora várias doenças acometessem os gatos avaliados, as mais frequentemente diagnosticadas foram: traumas (19,0%; Odds Ratio =12,0); doenças urinárias (13,5%; Odds Ratio = 8,5) e doenças infecciosas (12,4%; Odds Ratio = 7,8). Como observado, a aná-lise estatística mostra que gatos avaliados possuem 12 vezes mais chances de traumas em relação a patologia com menor frequência. Seguida por doenças urinárias e infecciosas com 8 vezes apro-ximadamente. A condição de trauma pode se associar a maior probabilidade dessa ocorrência em animais submetidos a condições adversas das ruas, como acidentes e agressões por humanos ou outras espécies animais, condição essa que aliada grande disseminação de doenças nas ruas, aumentando as chances de ocorrência de doenças infecciosas (4). Assim como para as doenças uri-nárias por desconhecimento das especificidades dessa espécie por parte de tutores (14). A presença de doenças com potencial zoonótico, aponta para a possibilidade desses animais como possíveis fontes de infecção e importância para a Saúde Pública.

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ConclusõesConclui-se haver uma tendência de aumento na taxa de crescimento da população de gatos es-

tudados, sendo comparativamente maior que a taxa de crescimento de cães avaliados. Indicadores como: maior concentração de animais jovens; alta frequência de traumas e doenças infecciosas demonstram as consequências da nova realidade dos grandes centros urbanos para a população de gatos como animais de estimação.

Referências bibliográficas1. Magnabosco C. População domiciliada de cães e gatos em São Paulo: perfil obtido através de um inquérito domi-

ciliar multicêntrico [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública; 2006.

2. Euromonitor International. Pet Care in the World [Internet]. Inglaterra; 2016. [acesso em 2017 out 20]. Dispo-nivel em:<http://www.euromonitor.com/pet-care>.

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4. Garcia RCM. Estudo da dinâmica populacional canina e felina e avaliação de ações para o equilíbrio dessas po-pulações em área da cidade de São Paulo, SP, Brasil [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP; 2009.

5. Dantas LMS. Comportamento social de gatos domésticos e sua relação com a clínica médica veterinária e o bem--estar animal [Tese de Doutorado]. Niterói: Faculdade de Medicina Veterinária da UFF; 2010.

6. Bastos JLD; Duquia RP. Um dos delineamentos mais empregados em epidemiologia: estudo tranversal. Scientia Medica. 2007; 17(4):229-232.

7. Rothman K; Greenland S; Lash T. Epidemiologia Moderna. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011.

8. Canatto BD; Silva EA; Bernardi F; Mendes MCNC; Paranhos NT; Dias RA. Caracterização demográfica das popu-lações de cães e gatos supervisionados do município de São Paulo. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012; 64(6):1515-1523, 2012.

9. Abinpet. Mercado Pet Brasil [Internet]. São Paulo; 2013. [acesso em 2017 out 20]. Disponível em: < http://abinpet.org.br/site/mercado>.

10. Volk J; Felsted KE; Thomas JG; Siren CW. Executive summary of the Bayer veterinary care usage study. Journal of the American Veterinary Medical Association. 2011; 238(10):1275-1282.

11. Griffiths AO; Brenner A. Survey of cat and dog ownership in Champaign County, Illinois, 1976. Journal of the American Veterinary Medical Association. 1977; 170(11):1333-1340.

12. Rodrigues SC; Moreira TA; Nascimento FGO; Blanca WT; Souza RR; Medeiros-Ronchi AA. Causas de óbito em gatos domésticos em um hospital veterinário de Uberlândia, Minas Gerais: estudo retrospectivo. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. 2017; 54(4):350-356.

13. Funada MR; Pena HFJ; Soares RM; Amaku M; Gennari SM. Frequency of gastrointestinal parasites in dogs and cats referred to a veterinary school hospital in the city of São Paulo. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 2007; 59(5):1338-1340.

14. Neves L; Wanderley MC; Pazzini J. Doença do trato urinário em gatos (Felis catus domesticus, Linnaeus, 1758) atendidos em clínicas veterinárias da região de Ribeirão Preto-SP. Revista Científica da fundação Educacional de Ituverava. 2011; 3(1):115-136.

A nova realidade dos gatos: Um estudo com animais atendidos em Hospital Veterinário. Uberlândia / MG

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Anaplasmose associada a Linfoma de Mediastino por FeLV em Santa Catarina – Relato de Caso Carla Di Concilio - Acadêmica de Medicina Veterinária da UFSC Curitibanos;Adriane Strack - Acadêmica de Medicina Veterinária da UFSC Curitibanos;Angela Patricia Medeiros Veiga - MédicaVeterinária, Doutora, Professora do CCR/UFSC CuritibanosMarcy Lancia Pereira - MédicaVeterinária, Doutora, Professora do CCR/UFSC CuritibanosE-mail: [email protected]

Di Concilio C; Strack A, Veiga APM; Pereira ML. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 7-9.

ResumoA anaplasmose é uma doença bacteriana causada pelo Anaplasma platys ou Anaplasma phagocytophi-lum, e de forma geral ocorre por meio da picada do carrapato Rhipicephalus sanguineus. Em felinos há poucos estudos no Brasil e assim, este trabalho descreve o relato de caso de uma felina, SRD, 2 anos, atendida na Clínica Veterinária Escola da UFSC, com diagnóstico prévio de linfoma de mediastino por FeLV e que após instituído o protocolo quimioterápico CHOP (UW-19), mostrou Anaplasma sp.em seu hemograma. A paciente foi tratada com doxiciclina, entretanto devido a agressividade da neopla-sia e a imunossupressão pela FeLV e quimioterapia, veio a óbito.

Palavras-chave: Anaplasma; Felino; Neoplasma; Imunossupressão; Quimioterapia.

IntroduçãoA anaplasmose felina é causada por Anaplasma platys e A. phagocytophilum, bactérias gram nega-

tivas que residem em vacúolos citoplasmáticos de leucócitos e plaquetas. A infecção, geralmente, ocorre por meio da picada do carrapato Rhipicephalus sanguineus. Há poucas informações sobre patogênese e vetores envolvidos em felinos. Esta espécie parece ser menos predisposta às infes-tações por carrapatos e aos parasitas transmitidos por esses artrópodes quando comparados aos cães (1).

Os sinais da anaplasmose são inespecíficos, como febre, anorexia, letargia e desidratação (2). No hemograma podem ser detectados trombocitopenia, anemia, linfopenia e corpos de inclusão em neutrófilos (3).O tratamento de eleição é a antibioticoterapia com doxiciclina, com bom prog-nóstico.Como forma de prevenção,indica-se controle de vetores transmissores da doença (2).

No Brasil, há poucos trabalhos sobre anaplasmose em felinos, totalizando quatro publicações sobre o assunto. Assim, o objetivo deste trabalho é relatar o caso de felino com anaplasmose, sob quimioterapia para linfoma de mediastino associado a FeLV.

ResultadosFoi encaminhado para atendimento na Clínica Veterinária Escola da UFSC Curitibanos um fe-

lino, fêmea, com diagnóstico de FeLV há 6 meses e linfoma de mediastino há 1 semana. Os sinais clínicos incluíam dispneia, disquezia e anorexia.O animal estava sob tratamento de prednisolona e interferon, prescritos por colega médico veterinário. Foi realizada toracocentese terapêutica e o protocolo quimioterápico escolhido foi o CHOP (UW-19), baseado em vincristina, prednisolona, ciclofosfamida e doxorrubicina. Após a toracocentese, a paciente voltou a se alimentar e passou pelas duas primeiras sessões de quimioterapia (1ª semana vincristina e 2ª semana ciclofosfamida) e, ao realizar o hemograma prévio à 3ª sessão, observaram-se linfopenia, presença de macropla-quetas, corpúsculos de howell-jolly, neutrófilos hipersegmentados e Anaplasma spp. Mesmo com esses achados laboratoriais, a paciente estava aparentemente bem, com boa hidratação e mucosas

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normocoradas. Realizou-se a 3ª sessão, à base de vincristina, e foi prescrito doxiciclina (8,3 mg/kg SID) por 28 dias. Após 3 dias, o animal retornou apresentando apatia e o tutor relatou anorexia no período diurno referente ao dia anterior, e ao exame físico nada foi observado de alterado.

Após 4 dias foi realizado novo hemograma, em que não se observou presença de Anaplasma, en-tretanto foram detectadas linfopenia e neutropenia acentuadas, inviabilizando a quarta sessão de quimioterapia da paciente. Dois dias após a data prevista para a quarta sessão de quimioterapia o tutor informou que a paciente havia iniciado vômito e dispneia, levou-a a clínica particular para atendimento, entretanto paciente foi a óbito durante trajeto. Não foi possível realizar necropsia.

DiscussãoO linfoma mediastinal pode ocorrer em animais idosos, esporadicamente afeta animais jovens

e com menos de um ano de idade (4). Neste relato, o felino era um animal jovem e também tinha diagnóstico de leucemia viral felina. De acordo com a literatura, a presença da FeLVpredispõe o aparecimento de linfoma, que pode ser mediastinal, nodal, extranodal e digestiva (5).

Grande parte dos felinos responde bem à quimioterapia, porém a taxa de sobrevivência é de aproximadamente 12 meses (4). A associação do linfoma com a FeLV, quando presente, por outro lado, diminui mais ainda a sobrevida (6) e o torna mais suscetível a infecções secundárias.

O tratamento de escolha é a quimioterapia sistêmica. Há vários protocolos dis-poníveis, mas o que é intensivo e não demanda manutenção é o CHOP (UW-19). Este consiste em associação de vincristina, ciclofosfamida e doxorrubicina, durante dezenove se-manas, em que os quimioterápicos vão sendo intercalados, a prednisolona é iniciada em dose mais alta e depois reduzida até a 4ª semana, após a 5ª passa a ser administrada em dias alternados.

Sabe-se que os gatos com leucemia felina ficam mais suscetíveis a agentes bacterianos, fúngicos e parasitários, e isso pode resultar em linfopenia, sobretudo a diminuição dos linfócitos T citotó-xicos CD8+ e granulocitopenia (7). Embora a literatura não relate ocorrência concomitante de FIV ou FeLV ao Anaplasma, pelo fato da paciente não ter apresentado o parasita em hemogramas ante-riores, sugere-se que possivelmente esse estava em latência e só pode ser observado após condição imunossupressora devido à quimioterapia associada à leucemia viral.

Neste relato, a paciente não apresentava sinais clínicos sugestivos de anaplasmose, como ano-rexia, febre e apatia. Isso pode ser deduzido pelo fato da anorexia apresentada ter sido controlada após toracocentese, ou seja, este sinal clínico se devia à efusão e não ao parasita.

O tratamento da anaplasmose baseia-se em doxiciclina, 5 a 10mg/kg SID ou BID, ou tetraciclina 22mg/kg TID(4). Após instituição da terapia com doxiciclina não foi mais observado Anaplasma em hemograma posterior. Entretanto a ocorrência de êmese sugere que a doxiciclina possa ter causado gastrite, conforme descrito (8).

Sobre a causa de óbito, pode-se aventar que provavelmente ocorreu pela agressividade da neo-plasia, já que a dispneia aguda apresentada sugere rápido acúmulo de líquido efusivo.

ConclusãoA paciente era um felino que apresentava anaplasmose assintomática, entretanto associado a

linfoma de mediastino por FeLV. A imunossupressão ocasionada pela FeLV sugere que isso possa ter influenciado no aparecimento do hemoparasita, juntamente com a alta imunossupressão da quimioterapia. Assim, é possível depreender que o aparecimento de Anaplasma no hemograma possa estar relacionado com a imunossupressão.

Referências1. Correa ES, Paludo GR, Scalon MC, Machado JA, Lima ACQ, Pinto ATB, et al. Investigação molecular de Ehrlichia

spp. e Anaplasma platys em felinos domésticos: alterações clínicas, hematológicas e bioquímicas. Pesq. Vet. Bras. 2011 out; 31(10): 899-909.

2. Pennisi MG, Lehmann RH, Radford AD, Tasker S, Belák S, Addie DD, et al. Anaplasma, Ehrlichia and Rickettsia

Anaplasmose associada a Linfoma de Mediastino por FeLV em Santa Catarina – Relato de Caso

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Anaplasmose associada a Linfoma de Mediastino por FeLV em Santa Catarina – Relato de Caso

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Anemia Hemolítica e Tríade Felina em Gato Doméstico – Relato de Caso Hellyend Silva Silveira Lustosa - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária pela Universidade Tuiuti do Paraná; Aluna do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - CNPq - FIOCRUZ/ICC-PR Alana Seszyshta - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária pela Universidade Tuiuti do Paraná Jaqueline Rodrigues Soares - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária pela Universidade Tuiuti do Paraná Vinicius Ferreira Caron - Médico veterinário Especialista, Professor do Curso de Medicina Veterinária pela Universidade Tuiuti do Paraná Elaine Regina Barreto - Médica Veterinária Especialista, Clinifel – A Casa do Gato Email: [email protected]

Lustosa HSS; Seszyshta A; Soares JR; Caron VF; Barreto ER. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 10-11.

ResumoA anemia hemolítica ocorre quando o processo de hemólise supera o processo de reposição normal dos eritrócitos. A hemólise intravascular caracteriza-se pela ruptura dos eritrócitos dentro dos va-sos sanguíneos, a hemólise extravascular é um mecanismo deletério, geralmente associado ao desen-volvimento da anemia hemolítica em gatos. Existem três tipos de anemias regenerativas hemolíticas, as de origem parasitárias, as causadas por distúrbios imunológicos e as de origem tóxica. A tríade felina é uma síndrome em que ocorre colangiohepatite, pancreatite e doença inflamatória intestinal concomitantes. Os sinais clínicos são inespecíficos, sendo o diagnóstico clínico árduo e o tratamento muitas vezes é instituído de maneira tardia. O objetivo desse trabalho é relatar a ocorrência de ane-mia hemolítica autoimune em gato doméstico associado à presença da tríade felina e do nematódeo Ancylostoma sp., discutindo os achados clínicopatológicos, assim como achados ultrassonográficos.

Palavras-chave: ancilostomose; anorexia; hemólise

Introdução A anemia hemolítica é a destruição por hemólise dos eritrócitos, pode ser congênita ou adquiri-

da, intra ou extravascular (1). Na anemia intravascular, a lise ocorre por ligação anticorpo-comple-mento, drogas, fragmentos de fibrina, toxinas, agentes infecciosos e desequilíbrios metabólicos (1). Já a extravascular ocorre pelo sistema fagocítico mononuclear (2). A anemia hemolítica autoimune é resultante da produção de anticorpos contra a membrana do eritrócito, que pode ocorrer de forma primária ou secundária (3). Na forma primária ou também chamada de idiopática o distúr-bio ocorre sem nenhuma doença subjacente ou precipitante, já a hemólise imune secundária está ligada ao uso de fármacos,

Material e Métodos Foi atendida uma gata castrada, sem raça definida, quatro anos, apresentando como queixa

êmese há iniciada há quatro dias e hiporexia há sete dias. No exame físico observou-se escore corporal 2 (escala de 1 à 5), mucosas e pele ictéricas, diminuição dos reflexos oculares e incoorde-nação de membros. Há cinco coabitantes, mas sem qualquer manifestação clínica. Foi realizada desverminação há dois meses. Indicou-se a realização de ultrassonografia abdominal exploratória e exame hematológico para elucidação do caso.

Os achados ultrassonográficos evidenciaram hepatomegalia e aspecto heterogêneo do parên-quima hepático. O pâncreas encontrava-se dilatado e hipoecogênico. No intestino havia presença de gases e espessamento de parede em toda a extensão do intestino delgado e linfoadenomegalia mesentérica. No hemograma, observou-se anemia não regenerativa, com hematócrito em 22% (24 a 45%), eritrócitos 4,42 milhões/µl (5,0-10,0 milhões/µl) e hemoglobina 6,8 g/dL (8-15 g/dL). Nos exames bioquímicos, as alterações observadas foram: fosfatase alcalina 685 UI/L (0,4-81 UI/L),

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gama GT 56,2 UI/L (1,3-5,3 UI/L), aspartato aminotransferase 110 UI/L (8,0-46 UI/L), alanina aminotransferase 136 UI/L (6,0-83 UI/L) e bilirrubina total 10,55 mg/dL (0,1-0,7 mg/dL).

A paciente foi internada recebendo fluidoterapia com Ringer com Lactato e Vitaminas do Complexo B. As medicações utilizadas foram metronidazol 30 mg/kg/sid, Citrato de Maropitant 0,1ml/kg/sid , Ranitidina 2mg/kg/bid, Predinisolona 1 mg/kg/sid, S- Adenosil + L. Metionina (80mg) e Pancreatina em pó. Mesmo recebendo o apoio medicamentoso e reposição eletrolítica, a paciente não voltou a se alimentar, sendo então colocado sonda nasogástrica para alimentação com suplemento hipercalórico (90 mL por dia, divididos em seis refeições de 15 mL). Foi associa-do às medicações a Amoxicilina (15 mg) e cianocobalamina (1mg) + cloridrato de ciproeptadina (4mg) como orexígeno. Durante a internação foi observada ventroflexão cervical, e solicitada aferi-ção dos níveis de potássio, que se apresentaram dentro da normalidade. A deficiência nutricional em gatos pode desencadear sinais de disfunção do sistema nervoso, sendo a ventroflexão cervical sugestivo de deficiência de Tiamina (1,4,5) Foi instituída suplementação de Tiamina (1000 mg) e outras vitaminas por via intramuscular. A paciente reverteu os sinais neurológicos na segunda aplicação e voltou a alimentar-se progressivamente após a correção da deficiência vitamínica. A paciente passou a receber complexo dextrânico de hidróxido de ferro (100 mg/dia) e Eritropoietina humana recombinantes (100 UI/Kg) para estimular a eritropoiese e tratar a anemia (1,3). Um novo hemograma foi solicitado, indicando hematócrito em 26% após o tratamento com estimulante eri-tropoiético. Durante o acompanhamento do paciente, foi encontrado um verme nematódeo em região perianal, e o parasito foi enviado para análise, tendo resultado positivo para Ancylostoma sp. Esse parasito é comumente relacionado aos casos de tríade felina, por migrarem pelos ductos causando a inflamação do fígado, intestino e pâncreas (1).

Resultados e Discussão O diagnóstico de tríade felina é difícil, uma vez que os sinais clínicos são inespecíficos. O

diagnóstico baseia-se nos exames laboratoriais e de imagem, porém, o exame histopatológico é o método eletivo para diagnóstico da tríade felina (1). Em casos de anemia hemolítica autoimune pode-se indicar a transfusão sanguínea, quando o hematócrito encontra-se abaixo de 15% (1,2), o que não é o caso da paciente. Após o tratamento estipulado, o uso da eritropoietina e do ferro, houve melhora clínica e a paciente reverteu às alterações em hemograma e manifestações clínicas.

Conclusão A seletividade alimentar é uma manifestação clínica relacionada com várias doenças que aco-

metem os gatos. A anemia é uma doença que comumente faz anorexia, gerando alterações meta-bólicas e bioquímicas que podem se manifestar por sinais clínicos graves.

Referências bibliográficas1. Silva, TJ; Porto, BSC; Gerardi, B. Principais causas de anemia hemolítica nos animais domésticos. Revista Cien-

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Anemia Hemolítica e Tríade Felina em Gato Doméstico – Relato de Caso

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Aplicabilidade da citologia por impressão para diagnóstico de oftalmopatias em felinos domésticos Taismara Cardoso Lemos - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária - UniSALESIANO Araçatuba Laira de Paula Pessoa - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária - UniSALESIANO AraçatubaLauana Domingues Cruz - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária - UniSALESIANO Araçatuba Michele dos Santos de Goes - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária - UniSALESIANO Araçatuba Heitor Flavio Ferrari - Médico Veterinário, Doutor, Docente do Curso de Medicina Veterinária – UniSALESIANO, Araçatuba-SPAnaly Ramos Mendes Ferrari - Médica Veterinária, Mestre, Docente do Curso de Medicina Veterinária – UniSALESIANO, Araçatuba-SPe-mail para correspondência: [email protected]

Lemos TC; Pessoa LP; Cruz LD; Goes MS; Ferrari HF; Ferrari ARM. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 12-14.

ResumoA citologia de impressão ocular é um método de caráter não invasivo que avalia a superfície ocular para diagnóstico de oftalmopatias, sendo uma alternativa que garante melhor qualidade de amostras do que comparada a citologia por raspados. O presente trabalho testou a aplicabilidade e exequibi-lidade da técnica de citologia por impressão em felinos domésticos, com o objetivo de padronizar a técnica nesta espécie. Para isso, foram coletadas amostras das conjuntivas oculares de felinos domésti-cos (n=20) com ou sem sinais clínicos de oftalmopatias. Estes foram submetidos à exame citológi-co utilizando-se fitas de papel filtro, colocadas em contato com a conjuntiva ocular e com a córnea sendo posteriormente fixadas e coradas. As lâminas preparadas foram identificadas e examinadas em microscopia óptica. Em 95% dos casos foram encontradas células epiteliais superficiais da des-camação normal da córnea. Em 10% das amostras analisadas foi observado um grupo de leucócitos, especialmente polimorfonucleares, fortemente sugestivo de inflamação local. Não foram encontrados nas amostras indícios de infecção por doenças virais. A citologia por impressão para diagnóstico de oftalmopatias em felinos domésticos é uma técnica confiável que permite a visualização de alta celu-laridade nas amostras podendo confirmar uma possível suspeita clínica prévia.

Palavras-chave: citopatologia; decalque; gatos; imprint; oftalmologia.

IntroduçãoAlterações oftalmológicas estão presentes na rotina da clínica cirúrgica de pequenos animais

(1). Um método diagnóstico é a citologia que, na prática clínica, consiste no estudo microscópico de células, com procedimentos que inclui obtenção, coloração, observação e descrição morfológica.

A citologia de impressão se refere a um método de caráter não invasivo que avalia superfície ocular, sendo uma alternativa que garante melhor qualidade de amostras do que comparada a ci-tologia por raspados (2). É utilizado para o diagnóstico o papel filtro, que coleta amostras contendo até 3 camadas de células epiteliais, preservando a morfologia e relação anatômica da superfície córneo-conjuntival. Posteriormente as amostras são fixadas e coradas para análise laboratorial (2).

A citologia do olho e anexos é o meio diagnóstico complementar simples, rápido que revela alterações precoces, evitando desse modo, procedimentos de alto custo e invasivos. A citologia conjuntival, pode ser realizada pelo médico veterinário de modo a confirmar suspeitas diagnósti-cas e instituir terapia ocular adequada para o caso (3).

Este trabalho visou coletar decalque da conjuntiva de felinos domésticos através de papel filtro, com intuito de buscar alterações patológicas na citologia. A doença mais comum em felinos que pode ser encontrada neste exame é a infecção por herpesvírus felino, que leva a quadros oftalmo-lógicos significativos.

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Material e métodosForam utilizados 20 animais (n=20) da espécie felina (Felis domestica) com ou sem sinais clínicos

de doenças oftálmicas ao exame físico. Os animais foram submetidos à exame oftalmológico e citológico por impressão utilizando-se para tal fitas autoclavadas de papel filtro com o poro de 0,45μm (Millipore Corporation®) medindo 5mm de largura por 10mm de comprimento, cortadas manualmente usando-se luvas de procedimento para evitar impressão das mãos ou sujidades.

Para tal procedimento os animais foram contidos fisicamente, sem haver a necessidade de con-tenção química. Os animais receberam sobre a superfície ocular uma gota de colírio anestésico a base de cloridrato de proximetacaína (Anestalcon 0,5%®, Alcon), para dessensibilização da mes-ma. Em seguida, as fitas foram colocadas em contato com a conjuntiva palpebral e bulbar (supe-rior), após eversão das margens palpebrais, e com a córnea durante 2 a 4 segundos em cada olho (Figura 1A).

Após a coleta, as fitas foram colocadas em cassetes histológicos e imergidas durante 10 minu-tos com solução preparada previamente com 100ml de álcool etílico a 70%, 5 ml de ácido acético glacial e 5ml de formaldeído a 37%. Após, foram coradas pela técnica de citologia de impressão descrita por Barros (2001) (1) que utiliza ácido periódico de Schiff (PAS), hematoxilina e papani-colaou modificado (Figura 1B).

As lâminas foram identificadas por animal (de 1 a 20) e por olho coletado, sendo confecciona-das lâminas separadas para cada. As lâminas obtidas foram examinadas em microscopia óptica (40x) e as características microscópicas como qualidade da celularidade, infiltrado inflamatório, presença de bactérias, presença de inclusões virais, entre outros foram avaliados e descritos.

Resultados e Discussão Padronizou-se para a coleta das amostras a região de bulbo ocular superior em contato

com conjuntiva bulbar, obtendo-se uma alta celularidade na maioria dos casos estudados corro-borando com os achados citopatológicos de Eordogh et al. (2015) (4).

Para as amostras analisadas dos animais do estudo, em apenas dois casos, representando 10% das amostras, unilateralmente, a amostra obtida a partir do exame citológico foi imprópria para análise por não apresentar celularidade, destacando que para ambos os casos, o bulbo ocular con-tralateral apresentou amostra apropriada para análise. A provável causa da amostra imprópria para análise foi a ocorrência de intenso lacrimejamento ativo no momento da coleta que ocorreu em alguns animais. Os que não apresentaram epífora durante a coleta apresentaram após a coleta, o que sugere um estímulo nervoso autonômico resultante do contato do papel filtro com a córnea, mesmo com o uso do anestésico tópico, não se relacionando este achado com alterações oftálmicas presentes.

Em 95% dos casos foram encontradas células epiteliais superficiais que representam a desca-mação normal da córnea (Figura 1C). Em 10% (2 animais) das amostras analisadas, foi observado um grupo de leucócitos, especialmente polimorfonucleares, fortemente sugestivo de inflamação local sendo que nenhum destes animais apresentavam alterações oftálmicas ao exame clínico. Não foram encontrados nas amostras coletadas indícios de infecção por herpesvírus ou outro pa-tógeno. Assim como Andrade et al. (2009) (5), neste estudo também não foi possível a visualização de células caliciformes, podendo isto ser justificado pela ausência de condições favoráveis para sua presença e não estando relacionado com a presença de doenças oftálmicas como a ceratocon-juntivite seca.

Aplicabilidade da citologia por impressão para diagnóstico de oftalmopatias em felinos domésticos

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ConclusõesCom base nos dados obtidos pelo projeto, foi possível concluir que a citologia por impressão

para diagnóstico de oftalmopatias em felinos domésticos, é sim um método confiável e que apre-senta como maior vantagem ser pouco invasivo para o paciente, quando comparado a outros. Deve ser aplicado quando o animal apresenta sinais clínicos de afecções oftálmicas, pois as altera-ções na microscopia são altamente compatíveis e podem confirmar a suspeita diagnóstica inicial.

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4. Eordogh R. et al. Impression cytology: a novel sampling technique for conjunctival cytology of the feline eye. Veterinary Ophthalmology 2015; 18(4): 276–284.

5. Eordogh R. et al. Impression cytology: a novel sampling technique for conjunctival cytology of the feline eye. Veterinary Ophthalmology 2015; 18(4): 276–284.

Figura 1 - A) Contenção e coleta dos animais B) Lâmina pronta para leitura após a coloração C) Microscopia óptica e visualização de inúmeras células epiteliais queratinizadas.

Aplicabilidade da citologia por impressão para diagnóstico de oftalmopatias em felinos domésticos

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Aspectos epidemiológicos e clínicos em gatos soropositivos para imunodeficiência felina ou leucemia felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba Letícia Maria Batista Cardoso - Aluna de Iniciação Científica - UNIUBECamila Beatriz Borges - Aluna de graduação em Medicina Veterinária - UNIUBECleibiane Evangelista Franco Borges - Mestranda no Programa de Pós Graduação em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBEJoely Ferreira Figueiredo Bittar - Professores do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBE.Ian Martin - Professores do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBE.Eustáquio Resende Bittar - Professores do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBE.*email: [email protected]

Cardoso LMB; Borges CB; Borges CEF; Bittar JFF; Martin I; Bittar ER. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 15-17.

ResumoFoi realizado levantamento de dados referentes ao histórico, alterações clínicas para FIV e/ou FeLV de 13 felinos soropositivos atendidos no HVU, de janeiro a julho de 2018. O objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência de animais positivos para FIV e/ou FeLV e levantar as principais alterações clínicas e epidemiológicas de cada doença. As alterações mais comuns dos gatos positivos para FeLV (61,54%) foram: mucosas hipocoradas (37,5%) pirexia (37,5%), dispneia (37,5%), secreção nasal (25%), espirros (25%), apatia (62,5%), úlceras na cavidade oral (25%), sialorréia (25%), alteração oftalmológica (12,5%) e sinusite (25%), enquanto que os positivos para FIV (38,46%), observou-se: vômito (80%), de-pressão (80%), úlceras na cavidade oral (20%), secreção nasal (20%) e afecção dermatologia (20%). Em relação ao sexo, a prevalência de FIV foi maior em fêmeas (60%), e para FeLV não houve diferença entre fêmeas (50%) e machos (50%). Conclui-se que as fêmeas são mais acometidas que os machos na imun-odeficiência felina, a leucemia felina possuí maior soroprevalência, os sinais clínicos são variados e a maioria dos felinos não apresentaram sinais característicos dessas doenças.

Palavras-chave: FIV; FeLV; aspectos clínicos.

IntroduçãoA imunodeficiência felina (FIV) e a leucemia felina (FeLV) são causadas por retrovírus e pos-

suem alta taxa de morbidade e mortalidade, sendo comuns na rotina clínica dos felinos(1). O vírus causador da FeLV replica-se nos tecidos dos felinos, principalmente no respiratório, glândulas salivares e medula óssea (2,3).O vírus causador da FIV tem estrutura molecular e patogenia si-milares ao da imunodeficiência humana (HIV). Ambos provocam imunossupressão nos felinos domésticos e selvagens (1,4).

Dentre as alterações, são comuns: dispnéia, letargia,enterite, anorexia, perda de peso, hiper-termia,estomatite, abcessos, mucosas pálidas , anemia ,panleucopenia e trombocitopenia (5). No diagnóstico são associados: histórico, alterações clínicas e hematológicas, e testes como: ELISA, IFA e PCR (5).

O objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência de animais positivos para FIV e/ou FeLV através do teste sorológico que detecta anticorpos do FIV e antígenos do FeLV, e levantamento das principais alterações clínicas e epidemiológicas dos animais positivos para cada doença.

Materiais e métodosForam analisados os dados de 13 felinos atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba, no

período de janeiro de 2018 a julho de 2018, dos quais foram coletadas amostras para pesquisa de

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anticorpo e antígeno para FIV e FeLV, respectivamente. (Alere FIV/FeLV Ac Test Kit- método Imu-nocromatográfico®). Os dados epidemiológicos (idade, sexo) e clínicos (Ex: presença de secreção nasal ou ocular, alteração no trato gastrointestinal e/ou sistema respiratório) e foram obtidos das fichas clínicas e tabulados.

Resultados e DiscussãoDos 13 animais atendidos, 38,46% (5/13) foram positivos para FIV, e 61,54 (8/13) positivos para

FeLV. A soroprevalência de FIV e FeLV pode variar de acordo com o gênero, idade e hábitos do animal (acesso à rua) e localização geográfica do estudo (7). No Brasil os levantamentos epidemio-lógicos para as enfermidades ainda são escassos, mas já é observada alta prevalência de animais infectados pelo FeLV, quando comparado com os resultados observados em outros países (8). Na faixa etária de 1 a 8 anos observou-se prevalência de 80% (4/5) para os animais positivos para FIV e de 75% (6/8) para FeLV. Em relação ao sexo, a prevalência de FIV foi maior em fêmeas (60%; 3/5), e para FeLV não houve diferença entre fêmeas (50%; 4/8) e machos (50%; 4/8). Gatos jovens são mais susceptíveis à infecção pelo FeLV do que os adultos, não havendo nenhuma predileção em relação ao sexo ou raça do animal (6).

Em relação as alterações clínicas, foram observados nos animais com FeLV : mucosas hipo-coradas (37,5%; 3/8), hipertermia (37,5%; 3/8), dificuldade respiratória (37,5%; 3/8), secreção nasal (25%; 2/8), espirros (25%; 2/8), depressão (62,5%; 5/8), úlceras na cavidade oral (25%; 2/8), sialorreia (25%; 2/8), alteração oftalmológica (12,5%; 1/8) e em relação aos exames complementares (25%; 2/8) apresentaram sinusite nos exames de imagem (RX). Dos positivos para FIV, observou-se: vômito (80%; 4/5), depressão (80%; 4/5), úlceras na cavidade oral (20%), secreção nasal (20%; 1/5) e afecção dermatológia (20% 1/5). Nas duas enfermidades, o paciente pode não apresentar os sinais clínicos durante meses ou anos, mas quando observados, concordam com os achados na literatura, muco-sas hipocoradas, complexo estomatite-gengivite e doenças respiratórias (6,9).

ConclusãoCom base nos dados obtidos pode-se concluir que:• A leucemia felina é mais prevalente do que a imunodeficiência felina.• A imunodeficiência felina acomete mais fêmeas.• O sinais clínicos são variados e a maioria dos felinos não apresentaram sinais característi-

cos de FIV e FeLV.

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Aspectos epidemiológicos e clínicos em gatos soropositivos para imunodeficiência felina ou leucemia felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba

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Atonia Detrusora em Felino - Relato de Caso Adriane Strack - Acadêmicos de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosMical Cipriano Felipe - Acadêmicos de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosManoela Almeida Rossi - Acadêmicos de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosGabriel Maccari Rufino - Acadêmicos de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosGabriel Henrique Dufloth Gütschow - Acadêmicos de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosMarcy Lancia Pereira - Médica Veterinária, Doutora, Professora do CCR/UFSC Campus CuritibanosE-mail: [email protected]

Strack A; Felipe MC; Rossi MA; Rufino GM; Gütschow GHD; Pereira ML. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 18-20.

ResumoDistúrbios miccionais são frequentes em felinos e podem estar relacionados às doenças do trato urinário inferior ou retenção urinária e esta pode ocorrer por causas neurogênicas. Este trabalho teve por objetivo descrever o relato de caso de um felino, SRD, 1 ano, atendido na Clínica Veterinária Escola da UFSC, com queixa de incontinência urinária e periúria. Como histórico, o paciente passara por cirurgia de estabilização de fratura transversa completa de corpo da 7ª vértebra lombar e luxação lombossacra 7 meses antes por síndrome do gato paraquedista. A região onde ocorreu a lesão é ime-diatamente anterior ao plexo lombossacro, local em que se originam os nervos pudendo e pélvico, sendo o último responsável por induzir a contração detrusora. Nos casos em que não ocorre perda do reflexo perineal, sugere-se apenas lesão no nervo pélvico, mantendo intactas as funções somáticas relativas ao nervo pudendo. Embora não tenha sido realizada avaliação urodinâmica, propõe-se que a atonia detrusora tenha ocorrido por injúria iatrogênica do nervo pélvico durante cirurgia corretiva da fratura e luxação lombossacra.

Palavras-chave: Gatos; Lesão medular; Distúrbio miccional; Incontinência urinária; Iatrogenia .

IntroduçãoA micção compreende o processo de armazenagem e eliminação da urina. É uma função refle-

xa que envolve as vias parassimpática, simpática e somática, representadas pelos nervos pélvico, hipogástrico e pudendo, respectivamente, que se estendem desde o segmento sacral da medula espinal até o córtex cerebral (1). Lesões medulares torácicas, lombares e sacrais podem levar a alterações no reflexo miccional. Distúrbios miccionais podem ocorrer por impedimento da pro-pagação dos impulsos nervosos aferentes e eferentes ao detrusor, responsável pela contração da vesícula urinária (2).

Os distúrbios miccionais são bastante frequentes em felinos, principalmente os relacionados às doenças do trato urinário inferior com obstrução uretral ou cistite levando a micção imprópria (3). Com relação à retenção urinária, há causas neurogênicas e não neurogênicas. Na primeira situação, têm-se as desordens de coluna espinhal sacral, em que ocorre lesão de neurônio motor inferior (4).

O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um paciente felino com distúrbio de micção suges-tivo de atonia detrusora por provável lesão neuronal iatrogênica.

Descrição do casoFoi atendido na Clínica Veterinária Escola da UFSC Curitibanos um felino, macho, não cas-

trado, SRD de 12 meses de idade, com 4,2 Kg. Na anamnese o tutor relatou polaquiúria, periúria, incontinência urinária e lambedura excessiva do pênis. No histórico o paciente possuía fratura na região lombar ocorrido há 7 meses após queda do 5º andar do prédio em que morava, caracteri-zando a Síndrome do gato paraquedista. O paciente passara por cirurgia de estabilização devido

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a fratura transversa completa de corpo da 7ª vértebra lombar e luxação lombossacra. Não se tem informação sobre comportamento miccional do paciente entre queda e cirurgia. No exame físico, à inspeção geral, o animal apresentava odor de urina forte. Não havia alterações nos parâmetros vitais e, ao exame físico específico, verificou-se que a cauda não levantava, porém, o reflexo perine-al estava presente. À palpação a bexiga estava extremamente repleta e flácida. Foi realizada então a compressão vesical, na qual o paciente apresentou posicionamento de micção e, após o estímulo, realizou micção espontânea, em que foram eliminados em torno de 200 mL de urina. Por fim, fo-ram solicitados ultrassom e urinálise, cujos resultados não mostraram alterações.

Foi recomendado ao tutor que fizesse compressão vesical 3 a 4 vezes ao dia para que o paciente pudesse urinar e reavaliações periódicas (a cada 3 meses) para acompanhamento de ocorrência de infecção do trato urinário inferior (ITU).

Discussão O nervo pudendo é responsável pela inervação somática da musculatura estriada do esfíncter

uretral (5). O nervo pélvico é responsável pela inervação parassimpática e por induzir a contração do músculo detrusor (6). O animal deste relato sofreu lesão na vértebra L7 e luxação lombossacra, imediatamente anteriores ao plexo lombossacro, local em que se originam os nervos pudendo e pélvico.

A atonia detrusora, neste paciente, pode ser justificada pela possível perda da capacidade de contração muscular após lesão traumática em L7 e L7-S1. Em alterações bilaterais das raízes ner-vosas espinhais sacrais, arreflexia do detrusor é consequência de lesão do nervo pélvico, podendo ocorrer também diminuição do tônus esfincteriano, ausência do controle voluntário da micção e paresia da cauda (6). Outros reflexos podem se encontrar ausentes, como reflexo perineal e bul-bo-cavernoso, que podem ser usados para avaliar os segmentos da medula espinhal sacral e o nervo pudendo (2). O paciente felino, objeto deste relato, não apresentou perda do reflexo perineal, sugerindo assim lesão apenas no nervo pélvico, mantendo as funções somáticas, relativas ao ner-vo pudendo, intactas. Assim, embora não se tenha informação sobre comportamento miccional do animal no pós-trauma imediato, sugere-se que as alterações urinárias deste paciente não sejam em decorrência da síndrome do gato paraquedista, mas sim tenha ocorrido por lesão iatrogênica durante cirurgia, levando somente a injúria do nervo pélvico e não do pudendo.

Para conclusão diagnóstica deste caso, o ideal seria a realização de avaliação urodinâmica, como cistometria, mensuração de perfil de pressão uretral e eletromiografia (2), de forma a identi-ficar o grau de atonia detrusora e reconhecer funcionalidade uretral normal. Entretanto, em nossa rotina não temos disponibilidade desses testes, o que faz com que o diagnóstico seja presuntivo de acordo com os achados de anamnese e exame físico relevantes.

O início da micção também pode ser dado de forma induzida por compressão vesical ou lam-bedura do pênis (6). No paciente felino em relato, a periúria e incontinência urinária podem ser atribuídas à lambedura do pênis. Assim, como não há contração detrusora e a bexiga mantém--se permanentemente repleta, volume e pressão urinários extrapolam a resistência uretral, o que permite que a urina saia somente por relaxamento uretral, caracterizando a incontinência por transbordamento (4).

O tratamento clínico para este paciente envolveu indicação de compressão vesical, de forma a estimular o esvaziamento da vesícula urinária. A literatura cita o uso de cateterização transu-retral para cães. Entretanto, pelo fato da necessidade de sedação constante para sondagem em felinos, este método não é indicado para casos crônicos (4), como o deste relato. Agentes colinérgi-cos como o betanecol podem auxiliar na contração detrusora e são indicados para pacientes com nervo pélvico pelo menos parcialmente intacto. Este felino não teve indicação do uso dessa classe de fármacos pela suspeita de lesão iatrogênica de nervo pélvico. Ainda, a absorção do betanecol por via oral é baixa e sinais como obstrução uretral e diarreia são sinais adversos possíveis (4).

Este felino não apresentava ITU, mas se recomendou monitoramento, já que a inabilidade de realização de esvaziamento completo vesical é um fator de risco para infecção (7).

Atonia Detrusora em Felino - Relato de Caso

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ConclusãoMesmo não dispondo de avaliação urodinâmica, os achados clínicos do paciente de periúria e

incontinência urinária, associados ao histórico de cirurgia corretiva para fratura de L7 e luxação de L7-S1 e exame físico referente a lesão somente de nervo pélvico sugerem fortemente atonia de-trusora por injúria iatrogênica.

Referências bibliográficas1. Souza HJM. Condutas na desobstrução uretral. In: Corgozinho KB, Souza HJM. Coletânea em Medicina e Cirurgia

Felina. Rio de Janeiro: L.F.de livros; 2003. 68-88.

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3. Carvalho MB. Semiologia do Sistema Urinário. In: Feitosa FLF. Semiologia Veterinária: a arte do diagnóstico. 3ª ed. São Paulo: Roca; 2014. 779-810.

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5. Pavan PT, Rossetto VJV, Rahal SC, Vulcano LC, Trindade Filho JCS. Surgical procedures used for post-traumatic neurogenic bladder in a cat: report case. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2011; 63 (5): 1093-1098.

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7. Byron JK. Micturition Disorders. Vet. Clin. Small Anim. 2015; 45 (4): 769-782.

Atonia Detrusora em Felino - Relato de Caso

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Avaliação coproparasitológica de gatos errantes da Represa Municipal de São José do Rio Preto / SP Monise Cristina Colognesi - graduanda, Centro Universitário do Norte Paulista – UnorpJanaina Vasconcelos Silva - graduanda, Centro Universitário do Norte Paulista – UnorpMaitê dos Santos Benito - graduanda, Centro Universitário do Norte Paulista – UnorpPriscilla Graziella Freire Ferian - graduanda, Centro Universitário do Norte Paulista –UnorpLeonardo Sanches - Mestre, Centro Universitário do Norte Paulista – UnorpIngrid Bromerschenkel - Mestre, Centro Universitário do Norte Paulista – [email protected]

Colognesi MC; Silva JV; Benito MS; Ferian PGF; Sanches L; Bromerschenkel I. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 21-23.

ResumoA má nutrição, a ausência de tratamento antiparasitário e a maior exposição a infecções são fatores que influenciam na alta prevalência de parasitismo em gatos errantes. Os parasitas gastrintestinais podem adoecer os felinos e, além disso, participar em problemas de saúde pública, pois vários de-les apresentam potencial zoonótico. Conhecer a ocorrência desses parasitas é importante para que medidas educativas e preventivas sejam adotadas. Objetivou-se com esse estudo realizar exames co-proparasitológicos das fezes de gatos que habitam a Represa Municipal de São José do Rio Preto, para identificar os gêneros de parasitas gastrintestinais presentes nesses animais. Para isso foram avali-adas 21 amostras, utilizando a técnica de Willis-Mollay. Foi possível identificar ovos de Ancylostoma spp, Ascaridia e Dipylidium. Tal resultado atestou a importância do reconhecimento dos parasitas que acometem os animais presentes no local, uma vez que estes vermes apresentam potencial zoonótico.

Palavras-chave: Ancylostoma; felinos; fezes; parasitas gastrintestinais.

IntroduçãoA alta prevalência de parasitismo encontrada em gatos de comportamento errante é atribuída

ao fato de serem mal nutridos, não receberam tratamento antiparasitário e viverem mais expostos a infecções (1).

Os parasitas gastrintestinais podem adoecer os felinos, causando desidratação, tosse, enterites provocadas por infecções bacterianas secundárias, vômitos, prurido anal e perda de peso. Além da ação espoliativa ao hospedeiro, esses parasitas também apresentam grande importância para a saúde pública. Diversas zoonoses parasitárias estão associadas ao contato humano com animais de companhia, principalmente cães e gatos (2,3).

O estudo epidemiológico das doenças parasitárias que acometem animais de companhia é de extrema importância, pois vários gêneros de parasitas se hospedam nos animais e podem conta-minar o homem com relativa facilidade, gerando a necessidade de se conhecer a ocorrência desses parasitas, a fim de se adotar medidas educativas e preventivas (4,5).

O presente estudo objetivou realizar exames coproparasitológicos para identificar os gêneros de parasitas gastrintestinais presentes em gatos errantes, localizados na Represa Municipal de São José do Rio Preto – SP.

Material e MétodosForam avaliadas 21 amostras de fezes de gatos errantes, coletadas em duas etapas na Represa

Municipal de São José do Rio Preto, durante o período de março a maio de 2017. As fezes foram coletadas do solo, de maneira não invasiva, no período da manhã. As amostras

foram armazenadas em sacos plásticos enumerados, acondicionadas em caixa isotérmica com gelo e encaminhadas ao Laboratório de Microscopia do Centro Universitário do Norte Paulista.

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O processamento das amostras foi baseado na técnica de Willis-Mollay, utilizando o princípio da flutuação em solução saturada de açúcar.

Para a técnica de Willis-Mollay foram utilizados 4g de fezes que foram diluídas em solução saturada de açúcar e filtradas em peneiras com gaze para um tubo falcon (15 mL), sendo este tubo completado até formar um menisco convergente na superfície, colocando-se aí uma lamínula em contato com o líquido, ficando em repouso por um período de 15 minutos.

Após 15 minutos, a lamínula foi retirada e colocada rapidamente sob uma lâmina, que foi leva-da ao microscópio e examinada em aumentos de 40X, 100X e 400X.

Resultados e DiscussãoDas 21 amostras fecais de gatos errantes avaliadas, 14 (67%) foram positivas. Os enteroparasitas

encontrados foram Ancylostoma spp, Ascaridia e Dipylidium caninum.Os ovos de helmintos foram mais frequentemente detectados que os oocistos de protozoários.

Este é um achado comum, pois os ovos de helmintos são mais facilmente encontrados no ambien-te, o que pode ser uma importante fonte de infecção para gatos (6).

Ribeiro et al. (2015) observaram que a técnica de Willis-Mollay apresentou a maior eficiência para o diagnóstico de Ancylostoma spp., enquanto o exame direto mostrou ser o método menos eficiente. Isso também foi observado em cães por Táparo et al. (2006) (7,8).

Ancylostoma spp. foi o parasito mais comum em gatos nesse estudo. Resultados semelhantes foram relatados anteriormente por Serra, Uchôa e Coimbra (2003), em estudo realizado na região metropolitana do Rio de Janeiro e por Krecek et al. (2010), em estudo realizado com gatos errantes em São Cristóvão, nas Índias Ocidentais. A alta prevalência de infecção por esse helminto foi um achado esperado, pois o parasitismo por Ancylostoma spp. pode ocorrer durante toda a vida do animal (1,9,10).

No gato, o Ancylostoma se localiza no intestino delgado, podendo ser encontradas as espécies A. caninum e A. braziliense (a mais implicada na transmissão para o homem). O homem se contamina com a larva infectante, presente no solo, fômites e fezes contaminadas. Nos seres humanos estes parasitas não são capazes de evoluir, podendo então realizar migrações através do tecido subcutâ-neo, produzindo uma síndrome conhecida como Larva Migrans Cutânea. Sua penetração provoca prurido intenso e erupções serpiginosas, observadas comumente nos pés, nádegas e mão (11,12).

O Dipylidium caninum é um cestódeo que parasita cães e gatos e tem como hospedeiros inter-mediários pulgas dos gêneros Ctenocephalides felis e Ctenocephalides canis. Nos gatos, podem cau-sar constipação, diarreia e, menos comumente, obstrução intestinal e convulsões. Seres humanos podem infectar-se principalmente por ingestão da pulga, sendo que as crianças são mais predis-postas a esse tipo de infecção. O D. caninum é pouco patogênico, podendo causar irritabilidade noturna, diarreia e perda de peso e, em alguns casos, é assintomático (5).

A ocorrência de Dipylidium caninum pode ter sido subestimada devido às dificuldades de diag-nóstico pelo exame coproparasitológico. Para este agente, a visualização de proglotes em fezes frescas é o melhor método de diagnóstico, uma vez que é muito raro encontrar ovos do parasita diretamente nas fezes (13).

Ascaridia spp. é um parasita intestinal comum em aves domésticas e selvagens (14). A identifi-cação desse nematódeo em fezes de felinos pode ser explicada pela contaminação ambiental, uma vez que as amostras foram coletas do chão, em locais de livre acesso para aves.

As taxas de infecção por Ancylostoma spp, Ascaridia e Dipylidium caninum, sugerem a necessidade de conscientização da população quanto aos riscos que esses parasitas representam à saúde pú-blica, por serem causadores de zoonoses, além de sua patogenicidade aos próprios animais (15).

ConclusõesPor meio das análises foi possível identificar ovos de parasitas dos gêneros Ancylostoma spp,

Ascaridia spp e Dipylidium caninum, sendo Ancylostoma spp o mais prevalente. Tal resultado atesta a importância da avaliação coproparasitológica para reconhecimento dos parasitas que acometem

Avaliação coproparasitológica de gatos errantes da Represa Municipal de São José do Rio Preto / SP

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os felinos e os demais animais presentes na Represa Municipal de São José do Rio Preto, uma vez que estes vermes apresentam potencial zoonótico, podendo contaminar outros animais e o homem.

Referências bibliográficas1. Serra CMB; Uchôa CMA; Coimbra RA. Exame parasitológico de fezes de gatos (Felis catus domesticus) domici-

liados e errantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 36, n. 3, p. 331-334, 2003.

2. Silva BJA; Freire IMA; Silva WB; Amarante EEVG. Avaliação das alterações hematológicas nas infecções por hel-mintos e protozoários em cães (Canis lupus familiaris, Linnaeus, 1758). Neotropical Helminthology, v. 41, n. 1, p. 37-48, 2010.

3. McCarthy J; Moore TA. Emerging helminthes zoonoses. International Journal of Parasitology, v. 30, n. 12-13, p. 1351-1360, 2000.

4. Leite LC; Círio SM; Navarro-Silva MA; Zadorosnei ACB; Luz E; Marinoni LP; Leite SC; Lunelli D. Ocorrência de en-doparasitas em amostras de fezes de cães (Canis familiaris) da região metropolitana de Curitiba, Paraná – Brasil. Estududos de Biologia, v. 29, n. 68-69, p. 319-326, 2007.

5. Santos FAG; Yamamura MH; Vidotto O; Luiz-de-Camargo P. Ocorrência de parasitos gastrointestinais em cães (Canis familiaris) com diarreia oriundos da região metropolitana de Londrina, Estado do Paraná, Brasil. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 28, n. 2, p. 257-268, 2007.

6. Coelho WMD; Bresciani KDS; Meireles MV. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em amostras fecais de felinos no município de Andradina, São Paulo. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, Jaboticabal, v. 18, n. 2, p. 46-49, 2009.

7. Ribeiro ES; Amarante AFT; Serrano ACM; Táparo CV; Pierucci JC; Matos LVS; Ishizaki MN; Bresciani KDS. Diag-nosis of gastrointestinal parasites in cats: a comparison of different methodologies. Acta Veterinaria Brasilica, v. 9, n. 4, p. 381-385, 2015.

8. Táparo CV; Perri SHV; Serrano ACM; Ishizaki MN; Costa TP; Amarante AFT; Bresciani KDS. Comparação entre técnicas coproparasitológicas no diagnóstico de ovos de helmintos e oocistos de protozoários em cães. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 15, n. 1, p. 1-5, 2006.

9. Krecek RC; Moura L; Lucas H; Kelly P. Parasites of stray cats (Felis domesticus L., 1758) on St. Kitts, West Indies. Veterinary Parasitology, v. 172, p. 147–149, 2010.

10. Urquhart GM; Armour J; Duncan JL; Dunn AM; Jennings FW. Parasitologia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

11. Melo FR; Santos CR; Junior ICP; Klüppel AKA; Campos FL. Revisão de zoonoses parasitárias gastrointestinais de felinos como pré-requisito para educação sanitária. In: Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão, 2009.

12. Neves DP; Melo AL; Linardi PM; Vitor RWA. Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

13. Ragozo AMA; Muradian V; Ramos e Silva JC; Caravieri R; Amajoner VR; Magnabosco C; Gennari SM. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em fezes de gatos das cidades de São Paulo e Guarulhos. Brazilian Journal of Veter-inary Research and Animal Science, São Paulo, v. 39, n. 5, p. 244-246, 2002.

14. Martín-Pacho JR; Montoya MN; Arangüena T; Toro C; Morchón R; Marcos-Atxutegi C; Simón F. A Coprological and Serological Survey for the Prevalence of Ascaridia spp. in Laying Hens. Journal of Veterinary Medicine, v. 52, p. 238–242, 2005.

15. Farias NA; Christovão ML; Stobbe NS. Frequência de parasitas intestinais em cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus domestica) em Araçatuba – SP. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 4, n. 1, p. 57-60, 1995.

Avaliação coproparasitológica de gatos errantes da Represa Municipal de São José do Rio Preto / SP

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Betaterapia adjuvante em carcinoma de células escamosas felino Analy Ramos Mendes Ferrari – Médica Veterinária, Mestre, Docente do Curso de Medicina Veterinária – UniSALESIANO, Araçatuba-SPCamila Dezembro Dutra de Souza – Residente do Setor de Clínica Médica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, UNESP, Jaboticabal-SP.Stephanie Adrielli de Souza – Médica Veterinária, Autônoma, Araçatuba-SP. Priscila Andrea Costa Santos Batista - Médica Veterinária, Doutora, Docente do Curso de Medicina Veterinária – UniSALESIANO, Araçatuba-SPHeitor Flavio Ferrari - Médico Veterinário, Doutor, Docente do Curso de Medicina Veterinária – UniSALESIANO, Araçatuba-SPMarco Antonio Rodrigues Fernandes – Físico, Doutor, Docente da pós-graduação do curso de Medicina da Faculdade de Medicina UNESP, Botucatu-SP.e-mail para correspondência: [email protected]

Ferrari ARM; de Souza CDD; de Souza SA; Batista PACS; Ferrari HF; Fernandes MAR. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 24-27.

ResumoO carcinoma de células escamosas (CCE) é uma neoplasia cutânea maligna frequente em felinos domésticos de pelagem branca e pele despigmentada. Sua etiologia principal é a radiação ultravioleta, sendo que a lesão normalmente se apresenta como uma úlcera que não cicatriza, especialmente em pavilhão auricular e pálpebras. A terapia consiste normalmente em ressecção cirúrgica, associada ou não a quimioterapia. A radioterapia é uma opção terapêutica ainda pouco utilizada no Brasil mas que tem excelentes resultados para o CCE. A betaterapia é um tipo de braquiterapia, uma modalidade de radioterapia a curta distância. Neste estudo, relatamos um caso de um felino de coloração branca que foi tratada com betaterapia adjuvante à excisão cirúrgica, obtendo-se excelente controle local da neoplasia. Destaca-se neste relato, a aplicabilidade da técnica de betaterapia em medicina veterinária, sendo que esta opção terapêutica ainda é pouco utilizada e é indicada para diferentes tipos de neo-plasias cutâneas.

Palavras-chave: carcinoma espinocelular; gatos; radioterapia.

IntroduçãoO carcinoma de células escamosas (CCE) é uma neoformação epitelial maligna dos querati-

nócitos que acomete principalmente animais com a pele pouco pigmentada ou despigmentada, especialmente em regiões glabras e em áreas expostas a radiação solar (1, 2, 3).

A radiação ultravioleta (UV) tem caráter carcinogênico, pois afeta diretamente o DNA celular e ativa vias inflamatórias, contribuindo para a formação neoplásica (2). Os animais também podem desenvolver CCE quando detém anormalidades genéticas, são positivos para vírus da imunodefi-ciência felina (FIV) ou papilomavírus (4).

A face geralmente é a região mais afetada, principalmente pavilhão auricular, plano nasal, espelho nasal e pálpebras. Frequentemente relata-se a presença de um ferimento pruriginoso e ulcerado que não cicatriza (2).

Segundo Criystal (5) há diferentes protocolos de tratamento para esta neoplasia, sendo a exérese cirúrgica com amplas margens e a radioterapia bastante eficazes (6). A quimioterapia é restrita ao tratamento de pacientes com CCE metastático e não apresenta boa resposta (2). Neste trabalho, objetiva-se relatar o caso de um felino, sem raça definida, de pelagem branca, que apresentou CCE em pavilhão auricular e, como opção terapêutica, foi realizada excisão cirúrgica seguida de betaterapia.

Relato de Caso Um animal da espécie felina, fêmea, 04 anos, SRD, de pelagem branca, foi atendido pelo Setor

de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário do UniSalesiano de Araçatu-

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ba/SP, apresentando úlcera em pavilhão auricular direito com prurido e sangramento intenso. Durante a anamnese, o proprietário não soube relatar o tempo de evolução da lesão. Ao exame físico notou-se ulceração de pavilhão auricular com espessamento de cartilagem e secreção san-guinolenta em orelha direita (Figura 1). Na orelha esquerda havia início de lesão na pina, de apro-ximadamente 1 cm de diâmetro. Não foram registradas queixas referentes a alterações sistêmicas e todos os parâmetros avaliados durante o exame físico estavam adequados para a espécie. Foi solicitado hemograma para análise de rotina, no qual se observou anemia discreta. Para fechar o diagnóstico optou-se pela citologia com escova ginecológica. A análise microscópica revelou ati-pia de células epiteliais e pleomorfismo nuclear, alterações compatíveis com carcinoma de células escamosas.

Ao estadiamento, não foram encontradas metástases locais ou à distância. Desta forma, o ani-mal foi submetido à conchectomia de orelha externa direita, seguida de betaterapia adjuvante em ambas as orelhas, em sessão única, sendo na direita o procedimento considerado terapêutico e na esquerda, profilático (início de queratose actínica).

Para a realização do procedimento, foi utilizada uma placa de betaterapia plano circular de estrôncio-90 da marca Amershan®, cedida pela empresa Nucleata Radiometria Ltda Me. Após a conchectomia e imediatamente antes da sutura de subcutâneo e pele, o aplicador foi posicionado em toda a área do leito cirúrgico, dividida subjetivamente em quadrantes, por cerca de 90 segun-dos em cada área e, logo em seguida, removido (Figura 2). Seguiu-se a finalização do procedimen-to cirúrgico através de sutura de subcutâneo e pele. A sutura de pele foi retirada com 10 dias de pós-operatório. O animal relatado apresentou 240 dias livres da doença e de sobrevida, vindo a óbito em função de peritonite infecciosa felina sem indícios de recidiva da neoplasia. Este trabalho faz parte do Projeto 2016/18358-7 financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Figura 1 – Paciente em sua primeira consulta. Nota-se lesão ulcerativa, sanguinolenta e proliferativa em pavilhão auricular direito.

Figura 2 – Aplicador de estrôncio-90 sendo utilizado no leito cirúrgico após conchectomia para tratamento de CCE felino.

Discussão A literatura compilada mostrou que é comum ocorrência de carcinoma de células escamosas

em felinos, especialmente aqueles de pelagem branca, nos quais as lesões localizam-se principal-mente em áreas do corpo mais expostas à radiação solar, como a face, pavilhão auricular, lábios e pálpebras (7). As características do animal desta pesquisa assemelham-se às relatadas na litera-tura.

Betaterapia adjuvante em carcinoma de células escamosas felino

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Ferreira et al. (4) refere que as lesões provocadas pelo CCE são sanguinolentas, ulceradas, cros-tosas e semelhantes a necrose epitelial. Grandi e Rondelli (7) relatam que o carcinoma in situ ocor-re em áreas hipopigmentadas ou despigmentadas, em animais expostos cronicamente a radiação solar, podendo evoluir para uma lesão neoplásica invasiva; os mesmos autores explicam que há íntima relação entre a lesão pré-neoplásica e a presença de papilomavírus e FIV. As lesões de apa-rência necrótica foram observadas no animal do presente estudo, mas não foram realizados testes diagnósticos para detecção de papilomavírus e FIV, como sugerido.

Podem ocorrer metástases em linfonodos regionais, pulmões e ossos. Mas, segundo Ferreira (4), as taxas de metástases são baixas, já que o tumor é localmente invasivo. Ao exame físico não se detectou linfoadenomegalia sugestiva de metástase nodal. Assim, foi realizada radiografia toráci-ca, como sugerido por Foster (8) e não foram visualizadas evidências de metástase. O diagnóstico definitivo se dá por histopatologia ou citopatologia da lesão. No animal desta pesquisa, o diagnós-tico foi feito por citologia, seguido de imprint, técnica indicada por Ferreira et al. (4).

Diferentes autores referem elevada taxa de sucesso com radioterapia, uma modalidade tera-pêutica que utiliza radiações ionizantes para eliminar células cancerosas, poupando tecidos ad-jacentes sadios (9). Há duas categorias de radioterapia, classificadas conforme a distância do feixe radioativo da área da lesão, sendo teleterapia e braquiterapia (9). A betaterapia é uma modalidade da braquiterapia, onde se faz o uso de raios beta, que destroem o DNA de células malignas (10).

Em um estudo de caso realizado por Andrade et al. (11) avaliou-se a eficácia do tratamento com fontes de 90-estrôncio em sessão única para CCE de terceira pálpebra em nove cães. A betaterapia foi feita por quatro dias consecutivos. Posteriormente, dois destes pacientes foram submetidos ao tratamento cirúrgico, devido à recidiva do tumor. Nos outros sete animais obteve-se boa resposta clínica, com intervalo livre da doença de mais de dois mil dias. Fernandes et al. (9) também reali-zou pesquisas bem sucedidas, demonstrando eficácia da betaterapia como opção terapêutica para carcinoma de terceira pálpebra e carcinoma de células escamosas em animais.

Deve-se ressaltar que medidas profiláticas minimizam as chances de recidiva e, portanto, de-ve-se retirar o paciente do alcance dos raios solares, principalmente das 10:00 às 16:00 horas e fazer o uso de bloqueador solar de fator superior a 30 a cada 4 horas (12). Contudo, Foster (8) afirma que o uso do bloqueador solar é restrito, pois o animal consegue removê-lo facilmente.

ConclusõesO CCE é uma neoplasia muito diagnosticada em pequenos animais e o tratamento com radia-

ções ionizantes é pouco utilizado, havendo escassos relatos na literatura científica. A terapia ade-quada é essencial para o sucesso do caso. Em vista que o felino do estudo não apresentou sinais de recidiva da doença, conclui-se que a betaterapia foi eficaz no controle da doença, sendo esta uma opção terapêutica viável e economicamente acessível em medicina veterinária.

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Betaterapia adjuvante em carcinoma de células escamosas felino

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8. Foster TW. Pele. In: Chandler AE, Gaskell CJ, Gaskell RM. Clínica e terapêutica em felinos. 3. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 60-100.

9. Fernandes MAR et al. Radioterapia em Medicina Veterinária: Princípios e Perspectivas. Revista Brasileira de Física Médica 2010; 4(2): 11-13.

10. Salvajoli JV, Souhami L, Faria SL. Radioterapia em oncologia. São Paulo: Atheneu, 2013.

11. Andrade AL et al. Beta therapy with 90strontium as single modality therapy for canine squamous cell carcinoma in third eyelid. Ciência Rural 2015; 45(6): 1066-1072.

12. Guedes AGP, Shmitt I, Pippi NL. Dermatite solar felina associada a carcinoma epidermoide. Ciência Rural 1998; 28(4): 707-713.

Betaterapia adjuvante em carcinoma de células escamosas felino

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Carcinoma Intestinal Papilífero em Felino – Relato de Caso Emily Girandelli – Discente de Medicina Veterinária - UNIFAJTarcísio Augustus Neves de Melo – Discente de Medicina Veterinária - UNIFAJ Vitor César de Oliveira Bezerra - Discente de Medicina Veterinária - UNIFAJSonia Rumiko Suzuki França – M.V. Especialista, Docente do curso de Medicina Veterinária - [email protected]

Girandelli E; de Melo TAN; Bezerra VCO; França SRS. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 28-30.

ResumoNeoplasias em felinos são frequentes na rotina clínica veterinária, sendo que as neoplasias do trato digestório de menor ocorrência, afetando mais frequentemente o intestino delgado e os tipos mais comuns são o linfoma e o adenocarcinoma. Gatos machos têm uma maior predisposição para tumores em relação às fêmeas e a idade mais avançada também é um fator de contribuição. As causas de tu-mores intestinais são pouco conhecidas e os sinais clínicos são inespecíficos podendo ser confundidos com uma gastrite ou enterite, apresentando vômito, diarréia, melena e perda de peso (anorexia). O presente trabalho tende a apresentar de forma sucinta o relato de caso de um felino com diagnóstico de Carcinoma Intestinal Papilífero, submetido à cirurgia de colectomia subtotal para a retirada do tumor, sendo essa neoplasia rara para a espécie.

Palavras-chave: Neoplasia; gastrointestinal; gato.

IntroduçãoA oncologia tem se destacado em muitas áreas da medicina veterinária devido à alta ocorrên-

cia dessas patologias nos últimos decênios, sendo uma das cruciais causas de morte em animais de companhia (1, 2, 3, 4). A grande maioria das neoplasias dos tecidos moles são massas solitárias que aparecem com mais frequência em felinos adultos e idosos (5). Nos seguimentos intestinais de cólon e reto as formas carcinomatosas e polipoides adenomatosas são os tipos mais comuns (6). Carcinomas são raros em gatos e ocasionalmente são vistos no jejuno ou íleo, eles surgem de células derivadas de enterocromafinas na mucosa e contém altos níveis de serotonina, resultando na síndrome carcinoide (dor abdominal, inflamação cutânea, dispneia e diarreia) pela liberação de aminas biologicamente ativas que ocasionarão metástases nos linfonodos regionais e fígado (7). Alterações comportamentais sutis podem ocorrer por muito tempo antes de aparecerem sinais clínicos evidentes (8).

A ressecção cirúrgica é o principal tratamento para tumores intestinais. Em longo prazo e com ausência de metástases, a sobrevida pode ser longa após cirurgia (9). O objetivo do trabalho é re-latar um caso de carcinoma intestinal em cólon de um felino de 9 anos.

Relato de casoFoi atendido no Hospital Escola Veterinário da UNIFAJ um felino, sem raça definida, macho,

nove anos, castrado, cinco quilos, com queixa principal de emagrecimento, hiporexia, fezes pas-tosas, normodispsia, normúria e apatia. No exame físico sensibilidade a palpação abdominal em região mesogástrica, temperatura retal 39,3º C, solicitado teste Elisa/Ag para FIV e FeLv. Animal atendido por colega anteriormente onde foi solicitado exames complementares como o hemo-grama, ureia, creatinina e ultrassonografia abdominal, observando presença de uma massa em região cranial a bexiga, com ecogenicidade aumentada, imagem compatível com neoformação, outros órgãos sem alterações ultrassonográficas. O felino foi encaminhado ao setor de cirurgia para procedimento de celiotomia exploratória, na medicação pré-anestésica foi administrado ace-promazina 0,03 mg/kg e metadona 0,3 mg/kg por via intramuscular, após quinze minutos já com

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o animal canulado e instituído fluidoterapia de manutenção com ringer lactato, foi utilizado para indução anestésica propofol 5 mg/kg, animal intubado e a manutenção realizada com isofluora-no, realizado a terapia antimicrobiana pela via intravenosa a cefalotina 30mg/kg associado com metronidazol 15 mg/kg, o mesmo foi posicionado em decúbito dorsal e após procedimento de antissepsia com clorexidine solução alcoólica 0,5% e pano de campo posicionado, foi realizado a incisão pré retro umbilical para inspeção de todos os órgãos da cavidade abdominal observando presença de uma neoformação ulcerada com cerca de 3 cm de diâmetro, firme em região de intes-tino grosso – cólon, realizada a colectomia subtotal, devido a margem de segurança do segmento acometido e anastomose utilizando padrão de sutura simples separado, conforme descrito em literatura. Outros órgãos e tecidos sem alterações macroscópicas, realizado lavagem da cavidade abdominal com ringer lactato aquecido e celiorrafia, musculatura com padrão Sultan, subcutâneo com padrão Cushing – fios absorvíveis e pele padrão Wolff- fio inabsorvível. Material coletado fixado em formol 10% enviado para análise histopatológica. Administrado antinflamatório não esteroide com meloxican 0,1 mg/kg por via subcutânea. Após três dias de internação animal com a administração de antibióticos e aine, recebeu alta, já estava se alimentando com ração úmida, normodispia, normúria, fezes pastosas, prescrito ao tutor administração por via oral de cefale-xina 30 mg/kg/Bid sete dias e alimentação pastosa. Após dez dias do procedimento cirúrgico o felino retornou para retirada dos pontos e tutor relatou normorexia, normoquesia, normodipsia, normúria, não estava mais apático e estava ganhando peso. Após o resultado do histopatológico foi indicado consulta com oncologista. Até o presente momento tutor relata que animal está bem.

Resultado e discussãoOs sinais clínicos apresentados pelo paciente como emagrecimento, apatia e fezes pastosas,

sensibilidade à palpação, são inespecíficos e confundidos com sinais de doença gastrointestinal, afirmando informações dos autores (6). Já em tumores localizados nas porções mais distais do intestino demonstram sinais clínicos como tenesmo, disquezia, hematoquezia, sangramento retal, em alguns casos prolapso de reto, diminuição da frequência de defecação, vômito, diarréia e per-da de peso. Colapso e peritonite com perfuração também é possível (7), porém no presente caso, o felino apresentava apenas dois episódios de fezes pastosas e emagrecimento, evidenciando que o animal foi atendido, diagnosticado e tratado rapidamente.

Relatam autores que os tumores tendem a ocorrer em animais mais velhos, sendo os gatos machos mais afetados do que as fêmeas (5), no caso o felino era macho de nove anos. Os resulta-dos dos exames como hemograma, ureia e creatinina do felino estavam com todos os parâmetros normais para a espécie, o teste de Elisa/Ag para FIV e FeLV não reagente – negativo. O segmento intestinal retirado com cerca de seis centímetros (Fig.1 e Fig.2), onde foi realizado colectomia sub-total conforme recomendado por Dobson e Morris (5) quando há presença de massas colônicas não identificadas. O material foi encaminhado para análise histopatológica. No pós-operatório foi instituída terapia para controle da dor e suporte nutricional adequado e autonomia do animal para defecar corroborando com Daleck e Nardi, (6). Após microscopia foi observado fragmento apresentando neoplasia maligna ulcerando a mucosa, invadindo a submucosa e camada muscular adjacente, caracterizada por proliferação papilífera de células epiteliais com moderado pleomor-fismo nuclear, nucléolos amplos, ovalados cromatina grosseira, nucléolo exuberante e citoplasma vacuolizado e estroma fibrovascular, presença de extensa invasão linfática e margens cirúrgicas livres – diagnóstico: Carcinoma Intestinal Papilífero. Tumores intestinais são incomuns em ga-tos, sendo o linfoma e o adenocarcinoma os tipos mais relatados. Os tumores intestinais nessa espécie são encontrados mais frequentemente no intestino delgado principalmente na porção do íleo ou jejuno (9), já no caso descrito o tumor intestinal, carcinoma, se localizava em cólon, porção incomum para neoplasias intestinais em felinos. Os carcinomas intestinais costumam ocorrer como lesões discretas e podem ser intramural, de natureza intraluminal ou anular. Estes últimos geralmente podem comprometer o lúmen, causando obstrução parcial ou total do intestino e até a perfuração do mesmo (5), apesar do tumor ter invadido a mucosa, o lúmen não se encontrava comprometido. Os carcinomas constantemente apresentam prognóstico reservado a longo prazo

Carcinoma Intestinal Papilífero em Felino – Relato de Caso

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em consequência do estagio avançado no ato do diagnóstico (7), até o presente momento o felino se encontra bem, sendo o diagnostico e tratamento instituído foi no estágio inicial da doença.

Figura 1 - Neoformação em colón. Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Figura 2 - Segmento intestinal excisado. Fonte: Arquivo pes-soal, 2018.

Como os autores afirmam o estadiamento completo geralmente inclui radiografias abdominais e torácicas e potencialmente ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada e resso-nância magnética. Cada tipo de câncer tem sua própria predileção por locais de metástase e, portanto, o estadiamento é adaptado quanto ao tipo. Imagem e aspiração de linfonodos, bem como radiografias torácicas, são necessárias para avaliar o estado metastático de um paciente com carcinoma (8).

ConclusãoO carcinoma intestinal pode ser confundido com outras doenças gastrointestinais, devido a

seus sinais inespecíficos, quando diagnosticado e tratado precocemente, prolonga e melhora da qualidade de vida do paciente.

Referências bibliográficas1. Bonnett B.N., Egenvall A., Hedhammar A., Olson P. 2005. Mortality in over 350,000 insured Swedish dogs from

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Carcinoma Intestinal Papilífero em Felino – Relato de Caso

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Casuística de atendimentos de Felinos no período de 10 anos no Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas Camila Faria Garcia - Acadêmico de Medicina Veterinária na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de CaldasMayara Barbosa Martin - Acadêmico de Medicina Veterinária na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de CaldasVictória Gardinal Mazziero - Acadêmico de Medicina Veterinária na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de CaldasAndrea Rentz Ribeiro - Professor titular no curso de Medicina Veterinária na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de [email protected].

Garcia CF; Martin MB; Mazziero VG; Ribeiro AR. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 31-33.

ResumoEste trabalho teve como objetivo traçar um perfil da casuística de atendimentos na área da medicina felina na região de Poços de Caldas no período de 10 anos com intuito de servir de base para orien-tação dos clínicos veterinários perante as afecções mais comuns na região. As fichas de atendimento no peródo de 2008 até Maio de 2018 foram consultadas e contabilizadas as principais afecções. Um total de 623 fichas foram contabilizadas. As afecções foram distribuídas de acordo com as principais áreas de conhecimento, destacando-se a ortopedia, gastroenterologia, dermatologia, oftalmologia, oncologia, pneumologia, urologia e as técnicas de castração (ovariosalpingohisterectomia e orquiec-tomia). Os resultados enaltecem a necessidade de atualização constante do profissional médico veter-inário durante sua vida profissional para o atendimento de novas demandas.

Palavras-chave: epidemiologia; hospital escola; gatos.

Introdução Pelo fato de existir um maior número de residencias com cães do que gatos, ou seja a razão en-

tre humano e cão é maior que homem e felino, muitas vezes estes não são enaltecidos na literatura quanto o necessário para um atendimento mais adequado e específico, mesmo que já no ano 2000 já houvessem estimado a existência de 7.000 gatos só no município de Taboão da Serra (1).

Para os atendimentos de felinos também é necessário cada vez mais atenção, pois muitos são considerados membros da família pelos tutores, já que além de companhia promovem alívio e conforto em momentos de perdas e mudanças, possibilitam uma melhor auto-estima, estimulam a convivência social e também o senso de responsabilidade em crianças (2).

Este trabalho teve como objetivo traçar um perfil da casuística de atendimentos na área da medicina felina na região de Poços de Caldas no período de 10 anos com intuito de servir de base para orientação dos clínicos veterinários de Poços de Caldas perante as afecções mais comuns na região.

Material e métodos Para este estudo foram consultadas as fichas de atendimento de 2008 até 2018 e selecionando

todos os pacientes felinos (total de 623 gatos). Os dados contabilizados foram idade, ano de aten-dimento, queixa principal e a raça.

Resultados e Discussão No período de 2008 a 2018 o Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas atendeu um total

de 623 felinos, tendo as patologias relacionadas a Ortopedia (48 casos; 7,7%), Gastroenterologia (40 casos; 6,4%), Dermatologia (58 casos; 9,3%), Oftalmologia (20 casos; 3,2%), Oncologia (36 casos; 5,7%), Pneumologia (17 casos; 2,7%), Urologia (49 casos; 7,8%), as técnicas de castração ovariosal-pingoesterectomia (82 casos; 13,1%) e orquiectomia (41 dos casos; 6,5%) e os atendimentos sem

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conclusão diagnóstica (102 casos; 16,3%) acima da média (de 2,94 % de 34 categorias) em relação as demais doenças.

Figura 1 - Gráfico demonstrando o percentual das categorias da casuística dos atendimentos felinos dos anos de 2008 a 2018 do Centro Veterinário da PUC Minas Poços de Caldas.

O maior percentual de atendimento foram os casos sem diagnóstico (16,4%), justificado por ser um hospital escola onde o preenchimento das fichas é de responsabilidade dos alunos, isso gerou fichas incompletas e sem um diagnóstico, que muito posteriormente foram esclarecidos, porém não anotados.

No trabalho “casuística dos atendimentos de felinos na clínica escola veterinária (CEVET) da unicentro no triênio 2006-2008” as principais casuísticas encontradas foram gastroenteropatolo-gias (12,3%), dermatopatias (13,6%) e neoplasias (13,6%) que entram em acordo com o presente estudo. Porém com uma diferença relevante entre a casuística renal, com 19,8% em Guarapuava e 7,8% em Poços de Caldas (3).

No trabalho retrospectivo feito na Universidade Federal do Rio Grande Do Sul em 2014 foram encontrados 30% de afecções gastrointestinais, 18% geniturinário, 17% imunológicos, 15% cardior-respiratório, 6% endócrino, 5% tegumentar, 4% ocular, 3% reprodutor e 1% músculo-esquelético e neurológico (4), índices diferentes aos encontrados neste estudo também pela maior expecificida-de de categorias.

Casuística de atendimentos de Felinos no período de 10 anos no Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 31-33. 33

Figura 2 - Gráfico demonstrando a porcentagem de raças no atendimento de 2008 a 2018.

Figura 3 - Gráfico demonstrando a porcentagem de gatos por idade no atendimento de 2008 a 2018 no Centro Veterinário da PUC Minas Poços de Caldas.

Já em 2008, demonstraram que na região de Guarapuava apresentava atendimentos em sua maioridade de gatos sem raça definida (SRD) com um percentual de 75% (1), número muito próxi-mo ao da casuística de atendimentos do Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas, de 88 %.

Já em relação a faixa etária dos atendimentos foi encontrado um número maior de atendimen-tos na categoria de 6 meses a 1,5 anos, seguido pela categoria de 1,5 a 5 anos, porém não foram encontrados dados de faixa etária de outros estudos para título de comparação.

Conclusão No estudo observou-se uma variada casuística de atendimentos felinos, sendo necessários ao

clínico geral conhecimentos básicos de todas as especialidades e de preferência a especialidade na clínica de felinos, sendo o gato um animal com suas particularidades. Também é ressaltado a necessidade de um preenchimento mais cauteloso de fichas clínicas, tanto para coleta de dados como retorno de pacientes e conscientização dos proprietários da necessidadede de avaliações gerais regulares.

Referências Bibliográficas 1. Dias RA, Garcia RC, Silva DF et al. Estimativa de populações canina e felina domiciliadas em zona urbana do

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Casuística de atendimentos de Felinos no período de 10 anos no Centro Veterinário PUC Minas Poços de Caldas

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Cistite Enfisematosa não infecciosa relacionada a Cistite Idiopática em Felino - Relato de Caso Luciana Wolfran - Médica Veterinária Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Palotina Julyanna Demczuk Thomas - Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Palotina Mônica Kanashiro Oyafuso - Msc Professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Palotina Anúzia Cristina Barini Nunes - Médica Veterinária, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina Email: [email protected]

Wolfran L; Thomas JD; Oyafuso MK; Nunes ACB. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 34-36.

ResumoO presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de cistite enfisematosa em um felino com cistite idiopática. O paciente foi atendido com sinais de inflamação do trato urinário inferior e foi con-statado a presença de gás em vesícula urinária. Após serem realizados diversos exames complemen-tares e tentativas de tratamento, o paciente só obteve melhora completa do quadro quando amenizado os fatores de estresse relacionados à cistite idiopática felina.

Palavras-chave:gás, DTUIF, estresse, CIF.

Introdução Infecções infisematosas do sistema urinário são raras na prática veterinária. Caracterizadas

pela presença de gás na parede ou no lúmen da bexiga urinária, tal condição ocorre principalmen-te em cães e humanos com diabetes mellitus, entretanto, há outras causas que favorecem a infecção (1). Defeitos anatômicos, urolitíases, terapia prolongada com corticóide e inflamação crônica da bexiga são descritas como possíveis causas da presença de gás na trato urinário (2,3,4). Em felinos acredita-se que a condição tenha relação com a Cistite Idiopática Felina (CIF), doença crônica e progressiva frequente em gatos domésticos, constituindo uma das principais causas de doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF) (1, 2, 3). Os sinais clínicos da CE são inespecíficos, como disúria, hematúria, polaciúria, dor abdominal e letargia. Os métodos diagnósticos utiliza-dos para identificar a presença de gás na bexiga são a cistografia, ultrassonografia e tomografia. O tratamento é realizado para eliminar a infecção (antibioticoterapia), controle da glicemia (quando há presença de glicosúria) e a eliminação dos fatores predisponentes (2,3,4).

O objetivo do presente trabalho foi relacionar as possíveis causas da CE em felinos e sua relação com CIF.

Descrição do caso Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná - setor Palotina,

uma felina, sem raça definida, com um ano de idade e pesando 3kg, sendo a queixa principal a presença de hematúria, polaquiúria e inapetência com evolução de três dias. Quando questio-nada sobre a possibilidade de estresse, a proprietária relatou parto 70 dias previamente à con-sulta. Informou que a paciente era tranquila, que possuía um contactante felino assintomático; e que ambos ficavam confinados em um quarto a maior parte do tempo, e existiam fugas. Ao exame físico a única alteração observada foi vesícula urinária com parede espessada e pequena à palpação. O exame ultrassonográfico evidencioua bexiga urinária com paredes irregulares, espessadas e presença de sedimento urinário. Não foi possível colher urina devido à baixa re-pleção vesical. Foi instituído o tratamento com Meloxican® (0.05 mg/kg), via subcutânea, uma vez ao dia durante cinco dias consecutivos, porém a mesma não apresentou melhora clínica. Nesse momento foram realizados exames de hemograma, ureia e creatinina, estando todos os

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resultados dentro da normalidade para a espécie. A urinálise apresentou proteinúria (100mg), pH 9.0, densidade 1,044 e presença hemácias. Como a paciente não era castrada, optou-se por realizar a castração, com o intuito de reduzir as fugas e minimizar o estresse, considerado a possível causa da cistite. Iniciou-se o tratamento com Amitriptilina (2mg/kg) via oral uma vez ao dia até novas recomendações. Quinze dias após a castração, foi realizado um novo exame ultrassonográfico que revelou além do espessamento de parede vesical e sedimento encontra-dos no exame anterior, a presença de gás intravesical. A proprietária referiu piora do quadro clínico, pela persistência da hematúria e polaciúria. Foi realizada então a urocultura (aeróbica e anaeróbica), ambas sem crescimento de microorganismos. Por se suspeitar de cistite enfise-matosa idiopática foi prescrito o tratamento com prednisolona (1mg/kg) via oral, inicialmente a cada 12 horas durante 3 dias, após a cada 24 horas durante 5 dias, então reduziu-se a dose do medicamento para 0,8mg/kg, sendo mantida a cada 24 horas durante 5 dias e, finalmente, a cada 48 horas durante 1 semana.

Quinze dias após o início da corticoterapia a proprietária referiu melhora inicial do quadro, com piora dos sinais clínicos após a redução da dose do medicamento. A dose inicial foi reto-mada, no entanto a cada tentativa de redução, havia piora do quadro e por fim,após 60 dias de corticoterapia, não havia melhora clínica. Duas semanas após a suspensão da prednisolona foi aplicado 1mg/kg de acetato de metilprednisolona por via intramuscular. Vinte dias após a aplicação do corticoide, o quadro clínico permanecia inalterado. Foram então realizados exames de toxoplasmose, FIV/FeLV, diabetes mellitus, cultura fúngica da urina e nova urocultura, sendo que todos obtiveram resultados negativos. No exame de uretrocistografia retrógrada de duplo contraste não foram observadas alterações anatômicas, apenas espessamento de contorno de pa-rede em toda sua extensão, com reduzida capacidade de preenchimento vesical. Neste período a proprietária mudou-se de casa e após 30 dias a paciente não apresentava mais os sinais clínicos de hematúria e polaciúria. Ao exame físico, bexiga não palpável e ao ultrassom, a vesícula uri-nária estava normal, sem espessamento de parede, ausência de sedimento e gás. A proprietária havia realizado enriquecimento ambiental, separando um quarto para os felinos, espalhando bebedouros, comedouros e brinquedos pela casa, onde os gatos tinham livre acesso dentro da casa. Dessa forma, o estresse pelo ambiente pode ter sido a causa da cistite idiopática e conse-quentemente da cistite enfisematosa.

Discussão A cistite enfisematosa (CE) é uma enfermidade rara que acomete o trato urinário inferior

de humanos, cães e gatos. Sua ocorrência é pouco compreendida, e a maioria dos relatos estão associados com a presença de glicosúria causada pela diabetes mellitus (6,7). Na medicina ve-terinária poucos casos descrevem a presença de CE em pacientes não glicosúricos. A maioria destes, relatados em caninos e relacionados com três principais causas: infecções crônicas do trato urinário, presença de divertículos no trígono da bexiga e administração em longo prazo de esteroides (8,9).

As manifestações clínicas eram semelhantes aos visualizados na doença do trato urinário inferior dos felinos como disúria, polaquiúria, estrangúria, e hematúria. A cistite idiopatica é a principal causa de DTUIF e está relacionada muitas vezes ao estresse e alterações comparta-mentais dos felinos, porém ainda é um desafio aos profissional pela capacidade de sua etiologia ser multifatorial e complexa (10,7). No caso apresentando foram excluídas a presença glicosúria e infecções bacterianas ou fúngicas. Infecções sistêmicas como toxoplasmose, Vírus da Imuno-deficiência Felina (FIV) e o Vírus da Leucemia Felina (FeLV) também foram investigadas; por fim, a uretrocistografia retrógrada excluiu a possibilidade de alterações anatómicas. Diante dos resultadoslaboratoriais, não foram encontradas as etiologias clássicas relacionadas à cistite enfisematosa. Em 2017 um caso semelhante foi descrito por Pontes at al, o qual relacionou a CE à DTUIF (11). Alguns autores ainda citam que o espessamento da parede vesical causada por inflamação crônica pode ser uma causa da CE, o que explicaria o achado no paciente (12).

Cistite Enfisematosa não infecciosa relacionada a Cistite Idiopática em Felino - Relato de Caso

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Conclusão A CIF é comumente classificada como sendo idiopática, tendo diversos fatoresenvolvidos, es-

pecialmente o estresse. Porém é atípico o relato de inflamação com produção de gás em cães não diabéticos (ausência de glicosúria) ou sem infecções bacterianas. O presente relato pretende cor-roborar com informações relacionadas à manifestação atípica de cistite enfisematosa em felinos com CIF.

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Cistite Enfisematosa não infecciosa relacionada a Cistite Idiopática em Felino - Relato de Caso

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Colangite Purulenta associada à ectasia de vias biliares extra-hepáticas Lilian Lopes de Araujo - Residente em Patologia Clínica, Hospital Veterinário universitário, UFPI;Carla Menezes Guimarães Sousa - Médica veterinária, aprimoranda, Hospital Veterinário universitário, UFPI;Jefferson Bruno Soares Oliveira - Residente em Patologia Animal, Hospital Veterinário universitário, UFPI; Sabrina Barros Araujo - Médica veterinária, setor Diagnóstico por imagem, Hospital Veterinário universitário, UFPI;Janaina de Fátima Saraiva Cardoso - Profa Dr, setor de Patologia Clinica, Hospital Veterinário universitário, UFPI;Silvia de Araújo França Baêta - Profa Dr, setor de Patologia Animal, Hospital Veterinário universitário, UFPI;[email protected]

de Araujo LL; Sousa CMG; Oliveira JBS; Araujo SB; Cardoso JFS; Baêta SAF. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 37-40.

ResumoAs colangites são caracterizadas por inflamação dos ductos biliares, sendo classificadas em neutrofíli-cas, linfocíticas e crônica, provocando alterações clínicas significativas. Foi atendido um felino macho, de 1 ano e 7 meses com dificuldade respiratória, letargia, perda de peso, mucosas ictéricas e taquicar-dia. Foram realizados exames radiográficos, ultrassom abdominal, hematologia, bioquímica e analis-es de liquido cavitário todos com alterações significativas indicando quadro de alterações hepáticas. O animal foi a óbito e, à necropsia, foram constatados icterícia associada a hepatopatia caracterizada por ectasia intensa difusa com fibrose de vias hepáticas intra e extra-hepáticas e, ao exame histopatológi-co, colangite purulenta crônica multifocal intensa associada à ectasia de vias biliares intra-hepáticas.

Palavras-chave: Icterícia; Atelectasia; obstrução; fibrose; hepatopatia.

IntroduçãoAs colangites, inflamação de ductos biliares, são alterações extremamente importantes em fe-

linos pela gravidade e alta frequência (Boland L, Beatty), hepatopatia mais comuns em felinos depois da lipidose hepática (1).

A colangite pode ser associada ou não a inflamação do parênquima hepático, colangio-hepa-tite, sendo classificada em colangite neutrofílica, linfocítica e crônica, sendo que a mais comum é do tipo neutrofílica correspondendo cerca de 56% dos casos (2). Clinicamente, observam-se sinais de insuficiência hepática, caracterizadas, predominantemente, por icterícia e caquexia (1), porém muitas vezes os sinais são inespecíficos (1).

O diagnóstico é baseado nos exames laboratoriais como mensuração de atividades enzimáticas hepáticas e perfil hematológico, correlacionados com os sinais clínicos, porém o diagnóstico defi-nitivo será através do exame histopatológico (3,4,5).

O objetivo desse relato foi descrever com principal alteração uma colangite supurativa crônica em um felino, com um quadro de icterícia e insuficiência hepática também associada a uma hér-nia diafragmática congênita.

Descrição do casoFoi atendido no hospital veterinário da UFPI um felino macho, sem raça definida, de 1 ano

e 7 meses, o tutor relatou que o animal não se alimentava e estava apático. Ao exame clinico, o animal apresentava mucosas intensamente ictéricas, taquicardia, caquexia, letargia e abdômen tenso. O Animal foi submetido a fluidoterapia, estabilizado e submetido a coleta de amostras para exames complementares. À ultrassonografia, não foi possível a visualização do baço devido à so-breposição do fígado, que estava com dimensões aumentadas e lesões cavitárias bem distribuídas, contornos irregulares e aumento na ecogenicidade, ducto biliar e vasos hepáticos dilatados com

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presença de trombo e não foi possível a visualização da vesícula biliar. Na radiografia do tórax nas projeções lateral e ventrodorsal foi constatada efusão pleural.

Foram realizados exames bioquímicos, ureia, creatinina, ALT (alanina aminotransferase), fos-fatase alcalina, GGT (gama glutil transferase), proteína total, albumina, globulina, bilirrubina total, conjugada e não conjugada, cálcio e fosforo. Teve aumento significativo na ALT, fosfatase alcalina e as bilirrubinas, justificando um quadro de bilirrubinúria.

No hemograma teve alteração significativa no leucograma com leucocitose e neutrófilia com desvio a esquerda em ambos os hemogramas realizados durante a internação, também se realizou análises do liquido cavitário o mesmo mostrou contagem total de células nucleadas aumentadas com presença de 98% de neutrófilos segmentados. No parasitológico de fezes foram encontrados oocistos de isospora sp e na pesquisa de hemoparasitas não foram visualizadas nenhuma estru-tura sugestiva de hemoparasitas. O animal ficou internado durante 17 dias, na fluidoterapia e no oxigênio, mas devido à dificuldade respiratória foi a óbito.

Posteriormente, o gato foi encaminhado ao Setor de Patologia Animal para realização do exa-me necroscópico. À ectoscopia, apresentava mucosas oral, oculares, peniana, pele e subcutâneo difusa e intensamente amareladas (figura 1A). À abertura da cavidade torácica, observou-se os lobos hepáticos lateral e medial esquerdos e hérnia diafragmática ventro-lateral esquerda extensa. O pulmão esquerdo estava diminuído de volume, coloração vermelho escuro, consistência elástica caracterizando atelectasia compressiva difusa esquerda, em consequência da presença dos órgãos abdominais na cavidade torácica.

À abertura da cavidade abdominal, peritônios parietal e visceral estavam intensamente ama-relos, o fígado estava moderadamente aumentado de volume, pela presença de vias biliares extra--hepáticas intensamente ectásicas, inclusive com formações saculiformes de dimensões maiores que a vesícula biliar, ou seja, uma ectasia intensa e difusa de vias biliares extra-hepáticas que comprimia o parênquima hepático adjacente levando a diminuição de volume de certa áreas, principalmente na região do hilo hepático. À abertura das vias biliares ectásicas, estas estavam preenchidas por exsudato muco-catarral em grande quantidade, as paredes espessadas, esbran-quiçadas e mais resistentes, devido a intensa fibrose (Figura 1 B,C,D). O parênquima hepático apresentava lobulação evidentes, consistência firme e, ao corte, ductos biliares proeminentes. Na bexiga tanto a serosa e mucosa intensamente amareladas, assim como a urina, pela bilirrubinúria.

Ao exame histopatológico, o fígado apresentava intensa fibrose portal e periportal em ponte, hiperplasia, intensa dilatação e fibrose de ductos biliares intra-hepáticos, associadas ao acumulo de exsudato purulento no interior e transmural nessas vias, caracterizando um quadro de colangi-te purulenta crônica intensa periportal difusa. Assim, pode-se concluir que o animal apresentava icterícia hepática.

Colangite Purulenta associada à ectasia de vias biliares extra-hepáticas

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DiscussãoNo presente trabalho relatou um felino com quadro de colangite muco-catarral, e histopatolo-

gicamente classificada como colangite neutrofílica. O complexo colangite associado ou não a he-patite em sua classificação a maioria dos casos é do tipo colangite neutrofílica representando 56% dos casos (6). Em um trabalho de pesquisa buscando os aspectos anatomopatológicos de felinos com esse complexo cerca de 71 % dos felinos eram SRD, 85% eram machos e mais de 57% com um quadro nutricional ruim, corroborando com os achados do relato (6).

No presente relato o animal apresentou ectasia de vias biliares com paredes fibrosadas corro-borando com os achados da pesquisa. Os três casos do complexo apresentaram lesões microscó-picas, caracterizadas por substituição do parênquima hepático normal por acentuada proliferação de tecido conjuntivo fibroso (evidenciado pela coloração de Tricrômico de Masson), de distribuição multifocal a coalescente, por vezes com formação de pontes, associada com moderado infiltrado inflamatório multifocal periportal condizentes com os achados do histopatológico (6). O animal apresentou um quadro difuso e intenso de icterícia comum nesses tipos de alterações. A icterícia deve-se a colestase, que ocorre pelo impedimento do fluxo dentro dos canalículos, e como conse-quência de lesão hepática difusa (icterícia hepática) (6).

Em relação às alterações laboratoriais mais significativas foi um quadro de leucocitose com neutrofília e na bioquímica sanguínea um aumento significante de ALT, e bilirrubinas. Contagem

Figura 1 - (A) subcutâneo e peritônios intensamente amarelos; (B)(C)(D) vias biliares extra-hepáticas intensamente ectásicas e preenchidas por exsudato muco-catarral.

Colangite Purulenta associada à ectasia de vias biliares extra-hepáticas

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de neutrófilos segmentar é superior, bem como aumentos na alanina aminotransferase (ALT) e bilirrubina total (2).

O quadro clinico do animal como dificuldade respiratória e efusão pleural deu-se também pela hérnia diafragmática já que parte do fígado e omento se encontravam dentro da cavidade torácica colaborando com o quadro clinico. A hérnia diafragmática congênita se dá devido a uma má formação levando a uma abertura no diafragma (7). Os sinais clínicos incluem capacidade respiratória debilitada e estão relacionados à presença de conteúdos abdominais e possivelmente de líquidos no interior do tórax (7).

Conclusão Concluímos que o animal tinha um quadro de icterícia associado à lesão hepática, ou seja, uma

icterícia hepática associada a uma hérnia diafragmática congênita. O diagnóstico histopatológico apresentou colangite purulenta crônica multifocal intensa associada à ectasia de vias biliares in-tra-hepáticas.

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Colangite Purulenta associada à ectasia de vias biliares extra-hepáticas

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Comparação da ação analgésica do emprego sistêmico de Tramadol e Morfina em gatas submetidas à Ovariohisterectomia Bovo, L. I. G - Discentes de medicina veterinária - UNOPAR (Arapongas-PR) Gutierrez, D. P. F. L - Discentes de medicina veterinária - UNOPAR (Arapongas-PR) Kemper, B. K - Docentes de medicina veterinária - UNOPAR (Arapongas-PR)Pereira, L. I - Médica veterinária autônomaKemper, D. A. G - Docentes de medicina veterinária - UNOPAR (Arapongas-PR)[email protected]

Bovo LIG; Gutierrez DPFL; Kemper BK; Pereira LI; Kemper DAG. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 41-43.

ResumoEste estudo teve como objetivo comparar a ação analgésica e a eficácia dos opioides tramadol e mor-fina no controle da dor pós-operatória em gatas submetidas à ovariohisterectomia eletiva, através de parâmetros e escalas específicas para avaliação da dor em felinos. Foram selecionadas 20 gatas hígidas, alocadas de forma aleatória em dois grupos: Tramadol (GT) e Morfina (GM), sendo que as gatas do GT receberam tramadol (2 mg/kg) e do GM receberam morfina (0,5 mg/kg), ambos na MPA, associado à dexmedetomidina (20 µg/Kg). No pós-operatório foram avaliadas a sedação e a analgesia utilizando as escalas EAV, UNESP-Botucatu, Glasgow e Ramsey durante seis horas, a partir do horário de extubação do animal. Não houve diferença estatística entre os grupos nos escores de dor, porém houve diferença estatística no escore de sedação de Ramsey, no qual o GM apresentou maior grau de sedação. Ademais, ambos os grupos realizaram resgate em quatro animais, sendo que três animais do GM necessitaram de resgate analgésico em mais de um momento. Conclui-se que o tramadol apre-sentou eficácia analgésica semelhante à morfina e que ambos os fármacos apresentaram analgesia insuficiente em 40% dos animais.

Palavras-chave: analgesia; felinos; opioides; OH.

IntroduçãoOpioides são amplamente utilizados em técnicas analgésicas para tratar a dor no período perio-

peratório (1). Os gatos são menos reativos comportamentalmente aos estímulos de dor do que os cães, embora eles sintam dor de maneira semelhante (2), juntamente com a falta de conhecimento em reconhecer os sintomas relacionados à dor, medo de efeitos adversos, toxicidade e falta de fami-liaridade com as terapias atuais contribuem para o subtratamento da dor em felinos (3).

A morfina é o protótipo dos analgésicos opioides, tendo grande efeito no tratamento da dor aguda e crônica (4). Causa analgesia com certo grau de sedação e alívio da dor, seja no período pré--anestésico ou no transoperatório (5).

O tramadol é um analgésico que apresenta moderada afinidade com receptor µ (6), um opioide agonista puro, analgésico de ação central e análogo sintético da codeína (7).

Contudo, não há trabalhos comparando a morfina com o tramadol em gatas, motivando a ela-boração deste estudo, com o intuito de avaliar a ação analgésica promovida por estes fármacos no controle da dor pós-operatória em gatas submetidas à ovariohisterectomia (OH) eletiva, bem como compará-los entre si.

Material e MétodosO estudo foi realizado no Hospital Veterinário da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR),

campus de Arapongas, onde foram selecionadas 20 gatas hígidas e alocadas em dois grupos (de ma-

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neira prospectiva, comparativa, aleatória e duplo cego): Tramadol (GT) e Morfina (GM), sendo que as gatas do GT receberam tramadol (2 mg/kg) e do GM receberam morfina (0,5 mg/kg), na medicação pré-anestésica (MPA) associado à dexmedetomidina (20 µg/Kg – IM). Os animais foram induzidos com propofol (5 mg/kg – IV) e mantidos com isoflurano (1,5-2,5 CAM). Antes do início da cirurgia foi aplicada uma dose de 30 mg/Kg de cefazolina. Ao fim do procedimento cirúrgico fez-se apli-cação do reversor da dexmedetomidina (atipamezole). A extubação foi feita a partir do retorno do reflexo de deglutição, onde se iniciaram as avaliações de sedação e analgesia pós-operatórias pelas escalas de Ramsey, EAV (Escala Analógica Visual), UNESP-Botucatu e Glasgow, sistematicamente decorridas 1 (T1), 2 (T2), 3 (T3), 4 (T4), 5 (T5) e 6 (T6) horas após extubação. Utilizada a escala da UNESP-Botucatu como parâmetro para a realização do resgate analgésico (1 mg/Kg IM de tramadol ou 0,1 mg/Kg IM de morfina, de acordo com o grupo pertencente) quando a pontuação se deu igual ou maior que 8. Ao fim das seis horas de avaliação foi realizada aplicação intramuscular de dexa-metasona (0,2 mg/Kg) associada a tramadol (2 mg /Kg). As análises estatísticas foram realizadas por meio do software estatístico GrafPad Prism. Para a análise entre grupos utilizou-se o teste de Mann-Whitney, entre tempos foi realizado o teste de Friedman com pós teste de Dunn. O nível de significância considerado foi de 5% (P<0,05) para os testes realizados.

Resultados e discussãoNão houve diferença estatística entre os grupos na avaliação da analgesia pe-

las escalas EAV, UNESP e Glasgow. Contudo, houve diferença estatística entre os gru-pos, nos momentos T4h e T6h no escore de sedação de Ramsey, no qual a morfina apre-sentou escores maiores do que o tramadol, evidenciando o efeito sedativo da mesma. Houve diferença estatística entre os tempos no grupo morfina pela escala da UNESP, no qual, no momento T6h, os escores foram significativamente menores do que no momento T4h. No grupo tra-madol também houve diferença estatística entre os tempos pela escala de sedação de Ramsey, porém o momento exato não foi diferenciado no pós-teste estatístico. Os valores de mediana (mínimo-máxi-mo) dos escores de dor e sedação estão descritos na tabela 1.

O resgate analgésico foi requisitado em quatro animais do GT, sendo três deles realizados no T2h e um no T4h; e em quatro animais do GM, onde dois deles necessitaram em dois momentos (T1h e T4h; T3h e T4h) e um recebeu em três momentos (T1h, T2h e T3h), um animal recebeu apenas no T5h. Sedação, midríase, excitação e disforia foram os efeitos adversos observados no GT, sen-do que todos os animais apresentaram midríase, oito deles apresentaram sedação, ex-citação foi observada em quatro animais e disforia em apenas um. Dos efeitos cita-dos, o GM só não teve ocorrência de disforia; porém, midríase também foi observada em todos os animais, quatro animais apresentaram sedação e apenas um teve evidência de excitação. Manfrinate et al. (2009) conclui que ambas as associações, morfina ou metadona, associados à acepro-mazina sobre a anestesia com propofol e halotano, em gatas submetidas à ovariossalpingohisterecto-mia, produziram leve sedação e podem ser utilizadas com segurança em felinos, pois promoveram boa analgesia sem efeitos colaterais (5). Tanto a morfina como o tramadol, administrados via epidural, promoveram analgesia satisfatória a um estímulo nocivo em gatos, embora a morfina tenha apresen-tado analgesia mais longa comparada ao tramadol (11, 9).

Segundo Evangelista et al. (2014), em estudo comparativo entre tramadol e petidina, relata que ambos tratamentos avaliados promoveram analgesia adequada no pós-operatório na maioria dos gatos submetidos à OSH. Cagnardi et al. (2011) conclui que o tramadol, na dose de 2 mg / kg IV, não produziu nenhum efeito cardiorrespiratório intraoperatório evidente e nenhuma analgesia adicional foi necessária quando administrado como analgésico pré-operatório de orquiectomia em gatos (12).

Nenhuma mudança significativa foi observada em parâmetros fisiológicos que poderiam con-tra-indicar o uso do Tramadol nas doses descritas, para a espécie felina (3). A avaliação da dor em animais é uma tarefa árdua e subjetiva, desse modo, o reconhecimento dos sinais de desconforto apresentados pelo paciente é o passo que precede o emprego de métodos efetivos para o tratamento da dor (10); portanto, neste estudo, optou-se pelo emprego de três escalas analgésicas para avaliação da dor.

Comparação da ação analgésica do emprego sistêmico de Tramadol e Morfina em gatas submetidas à Ovariohisterectomia

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Escalas Grupos T1h T2h T3h T4h T5h T6hEAV GT 2 (1-4) 2,5 (2-6) 3 (2-5) 2 (1-5) 2 (1-5) 2 (0-5)

GM 2 (1-6) 2 (2-5) 3 (1-5) 4 (1-7) 3 (1-5) 2 (1-5)

UNESP GT 3,5 (2-7) 5 (2-12) 5,5 (3-7) 4 (2-8) 4 (2-7) 3,5 (2-7)

GM 5,5 (1-10) 5,5 (2-10) 6 (1-9) 5,5 (3-10)+ 5,5 (1-8) 2,5 (1-5)+

GLASGOW GT 3,5 (1-10) 4,5 (3-9) 5 (3-8) 3 (2-8) 3 (1-8) 3 (1-8)

GM 5 (2-11) 5 (2-10) 6 (1-10) 6,5 (1-14) 4 (1-9) 4 (1-6)

RAMSEY GT 1,5 (1-3) 2 (1-5) 2 (1-4) 1,5 (1-3)* 2 (1-3) 1,5 (1-2)*

GM 2 (1-3) 2 (1-3) 2 (2-3) 2 (2-3)* 2 (2-3) 2 (2-3)*

Conclusão:O tramadol apresentou eficácia analgésica semelhante à morfina, sendo que ambos os fárma-

cos promoveram analgesia insuficiente em 40% dos animais, necessitando de resgate analgésico no pós-operatório de gatas submetidas à OH.

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GT = Grupo Tramadol; GM = Grupo Morfina; * = p<0,05 entre grupos; + = p<0,05 entre tempos.Tabela 1 - Mediana (mínimo e máximo) dos scores de dor e sedação dos grupos tramadol e morfina.

Comparação da ação analgésica do emprego sistêmico de Tramadol e Morfina em gatas submetidas à Ovariohisterectomia

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Diabetes Melittus em um Felino induzida pelo uso de Glicocorticóides – Relato de CasoPriscila Tucunduva – MSc. Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos; Rafael Rempto Pereira – Médico Veterinário da Clínica Escola de Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos; Paloma Gonçalves da Silva – Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos.e-mail: [email protected]

Tucunduva P; Pereira RR; da Silva PG. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 44-46.

ResumoA diabetes mellitus é uma endocrinopatia caracterizada por um retardo ou ausência nos níveis de insulina. Os sinais clínicos mais comuns são poliúria, polidipsia, polifagia, glicosúria e perda de peso. Este relato tem por objetivo descrever o caso de um felino atendido em Teresópolis, RJ, apresentando diabetes mellitus induzida pelo uso de glicocorticóides. Um gato da raça Maine Coon, macho, de três anos de idade foi atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária do UNIFESO apresentando gengivite. Foi administrado 0,5ml de metilprednisolona e prescrito antibiótico. Após sete meses o animal retornou com emagrecimento, poliúria e polidipsia. Exames complementares foram realiza-dos constatando elevação da glicose e da frutosamina, confirmando a diabetes. Após seis meses de tratamento com insulina o felino começou a apresentar hipoglicemia. A insulina suspendida, haven-do remissão dos sintomas e normalização dos níveis da glicose, concluindo que a administração do glicocorticoide induziu a diabetes. O uso de glicorticódes de depósito deve ser utilizado com cautela. Um tutor comprometido é fundamental para o tratamento adequado do paciente diabético.

Palavras-chave: Endocrinopatia; Gato; Hiperglicemia.

IntroduçãoA diabetes mellitus é uma endocrinopatia importante na clínica médica felina (1;2) caracteriza-

da por um retardo ou ausência nos níveis de insulina (2;3).Pode ser categorizada em: Diabetes Mellitus tipo I ou dependente de insulina, tipo II ou

não dependente de insulina, secundária (4;5), tipo III, induzida por drogas ou hormônios diabetogênicos, e a tipo IV, causada por resistência transitória à secreção de insulina cau-sada pela pancreatite (4).

Sua etiologia pode ter relação com fatores ambientais e genéticos, como obesidade, dieta, des-truição de células das ilhotas, pancreatite crônica e amiloidose (5).

Os sinais clínicos mais comuns são poliúria, polidipsia, polifagia, glicosúria e perda de peso (6). Seu diagnóstico é realizado pelos sinais clínicos característicos, hiperglicemia persistente e glicosúria (7;8).

O tratamento consiste em controle da glicemia, mudanças no manejo alimentar, atividades físicas, hipoglicemiantes orais ou insulina exógena (9;11;12).

Este trabalho tem por objetivo descrever o caso de um felino atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária do UNIFESO, apresentando endocrinopatia induzida pelo uso de glicocor-ticóides.

Descrição do CasoUm felino da raça Maine Coon, macho, de três anos de idade, pesando 6,600 Kg, foi atendido na

Clínica Escola de Medicina Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO), Te-resópolis – RJ, no dia 17/04/2015 apresentando gengivite ao exame físico. Foi administrado 0,5ml de Metilprednisolona por via subcutânea e prescrito Metronidazol associado com Espiramicina durante 10 dias.

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Após sete meses, 3/11/2015, o animal retornou com acentuado emagrecimento, 4,900 Kg de peso, sintomas de poliúria e polidipsia, suspeitando-se de diabetes mellitus. Foi solicitado que o felino retornasse em jejum de 12 horas para exames complementares. Os resultados apresentados foram: hemograma completo com anemia normocitica normocromica regenerativa; uréia, creati-na, albumina, proteína total, globulina e fosfatase alcalina sem alterações; ALT levemente aumen-tada e glicose de 355 mg/dl. Para confirmar a suspeita clínica foi realizado exame de frutosamina, no dia 9/11/2015, onde o resultado foi de 409 µmol/L. Confirmando a diabetes mellitus, foi pres-crito insulina glargina cada 12 horas, por via subcutânea. A tutora aferia diariamente a glicemia. Após seis meses de tratamento o animal começou a apresentar hipoglicemia. A insulina foi então suspensa e observou-se que o animal não apresentava mais os sintomas da patologia. Os níveis séricos de glicose normalizaram, concluindo que a causa da diabetes mellitus foi a administração do glicocorticoide.

DiscussãoDe acordo com Pöppl (3), na clínica médica dos animais de companhia os corticosteróides são

os fármacos diabetogênicos mais utilizados. No caso clínico relatado a causa da diabetes mellitus foi a administração da metilprednisolona, um glicocorticóide de depósito.

O felino do presente estudo, sete meses após a aplicação do glicocorticoide (metilprednisolona), começou a apresentar a sintomatologia de perda de peso, poliúria e polidipsia, assim como Silva (8) descreveu que estes são os sinais clínicos da diabetes mellitus, além da polifagia.

O tratamento mais eficaz para alcançar um excelente controle glicêmico é a insulina, sendo a insulina glargina a que apresenta significativamente maiores taxas de remissão diabética (11). No presente trabalho, o felino foi tratado com a administração da insulina Lantus® (glargina), uma insulina de ação rápida, onde foi possível observar a reverssão da endocrinopatia.

A frutosamina deve ser dosada nos casos em que se tenha a suspeita de diabetes mellitus, sen-do utilizada para diferenciar a hiperglicemia por estresse. É utilizada como diagnostico ouro, pois esta não apresenta alterações por mudanças agudas da glicemia (9). Concordando com os autores os níveis de frutosamina foram utilizados para confirmação do diagnóstico neste relato.

Após seis meses de tratamento, o felino no presente relato começou a apresentar o quadro de hipoglicemia e ausência dos sinais clínicos da doença. Foram realizados exames complementares, onde foram constatados níveis séricos normais de glicose, constatando a remissão da endocrino-patia. Concordando com o Medeiros (12), que afirmou que os felinos diagnosticados com diabetes apresentam remissão da doença quando apresentam níveis sérios de glicose dentro da normali-dade e ausência dos sinais clínicos característicos da diabetes.

ConclusãoA diabetes mellitus é uma doença complexa em que vários fatores podem estar envolvidos.Um tutor comprometido é fundamental para o tratamento adequado do paciente diabético,

levando a uma boa qualidade de vida, assim como a comunicação com o médico veterinário e as avaliações clínicas periódicas.

O uso de glicorticódes de depósito bem como outros fármacos diabetogênicos devem ser uti-lizados com cautela, e o paciente que necessitar dessas drogas devem ter acompanhamento fre-quente, atenção os sinais clínicos da diabetes mellitus e realizar exames complementares quando necessário.

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Diabetes Melittus em um Felino induzida pelo uso de Glicocorticóides – Relato de Caso

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 44-46.46

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Diabetes Melittus em um Felino induzida pelo uso de Glicocorticóides – Relato de Caso

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Estomatite piogranulomatosa em felino - Relato de casoLucas Vilela Perroni Silva - Doutorando em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e Coordenador do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Cidade de Coromandel. Larisse Naves Ferreira - Graduada em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam)[email protected]

Silva LVP; Ferreira LN. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 47-49.

ResumoObjetivou-se relatar um caso de estomatite piogranulomatosa em felino. Esta é caracterizada por in-flamação, ulceração e proliferação de tecidos moles na cavidade oral, sendo de caráter crônico. O pa-ciente apresentava perda de apetite, disfagia, odinofagia, perda de peso, vômitos, halitose, pitialismo e alteração comportamental. Ao exame clínico geral observou-se hipertermia e 8% de desidratação. Após anestesia geral, avaliou-se a cavidade oral e coletou-se amostras sanguíneas. Ao exame clínico específico observou-se presença de inflamação e ulceração na gengiva, língua, palato e orofaringe, notou-se presença de massa irregular na base da língua, o qual foi biopsado. As dosagens séricas de ALT e Creatinina não apresentaram alterações. Ao hemograma notou-se leucocitose arregenerativo com neutrofilia e eosinofilia. À análise histopatológica evidenciou-se lesão inflamatória infiltrativa, não delimitada e formada por acentuada quantidade de histiócitos, neutrófilos e em menor núme-ro, linfócitos e plasmócitos infiltrando e expandindo difusamente a mucosa e a submucosa. Área focalmente extensa de perda da mucosa associada à debrís celulares, neutrófilos, material amorfo e eosinofílico. Sendo compatível com estomatite piogranulomatosa difusa acentuada. Conclui-se que a estomatite piogranulomatosa é uma doença de difícil tratamento e de múltipla etiologia nos felinos.

Palavras-chave: Inflamação; Felinos; Cavidade oral.

IntroduçãoA estomatite piogranulomatosa possui vários sinónimos (1). Esta é uma das doenças mais fre-

quentes dos gatos (2), sendo a segunda patologia oral mais diagnosticada (3). É caracterizada por intensa inflamação e ulceração crónica dos tecidos moles da cavidade oral (4).

A sua etiologia é multifatorial e não completamente conhecida, podendo variar entre indivídu-os (3,5). Determinados agentes virais, bacterianos, nutricionais, ambientais, de manejo e a resposta imune, ou a combinação destes, com fatores genéticos, estejam relacionados à sua origem (6,5,2).

Os principais sinais clínicos são sialorreia, disfagia, inapetência, dificuldade para se higienizar, dispneia, hemorragia bucal e emaciação. Na cavidade oral é comum observar lesões ulcerativas ou proliferativas nas regiões faríngea, oral e lingual. Pode-se encontrar também doença periodontal e lesões de reabsorção (7,8).

Para o diagnóstico é necessário realizar anamnese detalhada (7,4, 2) e exame físico da cavidade oral com o animal sedado ou anestesiado (3,9,2). Atualmente, não há nenhum protocolo terapêu-tico totalmente eficaz (2). Ainda assim, a resposta ao tratamento varia de acordo com o paciente e, na maioria dos casos revela-se incompleto e apenas temporário (3,10,11).

Diante da alta complexidade dessa patologia, objetivou-se relatar um caso de Estomatite pio-granulomatosa em felino.

Material e MétodosAtendeu-se na VetCenter Clínica Veterinária, felino, fêmea, sem raça definida, semi-domici-

liada, não castrada, com sete anos. Queixa de perda de apetite, dificuldade para se alimentar principalmente alimento seco, perda de peso, vômitos, halitose, salivação excessiva e alteração comportamental, ficando mais arisca e arredia.

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Ao exame clínico geral observou-se hipertermia e 8% de desidratação. Realizou-se anestesia (Cetamina 15mg/kg; Xilazina 1mg/kg, IM) para avaliação da cavidade oral e coleta de amostras sanguíneas. Ao exame clínico específico observou-se presença de inflamação e ulceração na gen-giva, língua, palato e orofaringe, mucosas hiperêmicas, notou-se presença de massa irregular na base da língua (Fig. 1), o qual foi biopsado e linfonodos submandibulares reativos.

As dosagens séricas de ALT e Creatinina não se apresentaram alteradas. Ao hemograma no-tou-se leucocitose arregenerativo com neutrofilia e desvio à direita e eosinofilia. À análise histo-patológica evidenciou-se lesão inflamatória infiltrativa, não delimitada e formada por acentuada quantidade de histiócitos, neutrófilos e em menor número, linfócitos e plasmócitos infiltrando e expandindo difusamente a mucosa e a submucosa. Área focalmente extensa de perda da mucosa associada à debrís celulares, neutrófilos, material amorfo e eosinofílico. Sendo compatível com estomatite piogranulomatosa difusa acentuada. O tratamento instituído foi prednisona (0,5mg/kg/BID/7dias) e Amoxicilina com Clavulanato de Potássio (15mg/kg/BID/10dias).

Resultados e DiscussãoOs sinais clínicos mais frequentes incluem inapetência, anorexia, disfagia, halitose, ptialismo

(por vezes com hemorragia associada), dor (que varia de acordo com o grau da lesão), perda de peso (aguda ou crónica) e desidratação (3,12, 2).

Pode-se esperar que os gatos afetados apresentem dificuldade na preensão dos alimentos, al-terações das preferências alimentares (de ração seca para alimentos úmidos) (11). Alguns gatos podem tornar-se mais irritáveis, depressivos ou até agressivos (6,2). No presente relato, o paciente manifestou sintomatologia clínica similar, corroborando com os achados dos autores.

Na inspeção da cavidade oral podem-se notar lesões ulcerativas ou proliferativas nas regiões da faringe, do arco glossopalatino, da gengiva, das mucosas alveolar, jugal e lingual (13). Ainda, mucosas hiperêmicas, e cálculos dentários podem estar presentes conforme (12). No presente caso, também foi evidenciado lesões proliferativas, gengivite, cálculos dentários e mucosas hiperêmi-cas, semelhante aos achados dos autores supracitados.

A hematologia e a bioquímica sérica não revelam dados muitos importantes para o diagnóstico

Figura 1 - Hiperemia oral e massa irregular na base da língua.

Estomatite piogranulomatosa em felino - Relato de caso

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desta doença, uma vez que fornecem resultados compatíveis com qualquer inflamação crónica (1). Embora, o diagnóstico dessa enfermidade possa ser realizado pelos dados obtidos pela anamnese e exame da cavidade oral, o exame histopatológico deve ser considerado, pois além de ser con-clusivo, estabelece a diferenciação com outras enfermidades conforme descrito por (12). O exame histopatológico do referido caso foi realizado para descartar outros diagnósticos diferenciais e obteve-se a confirmação de estomatite piogranulomatosa felina.

Atualmente, pode-se afirmar que não existe nenhum protocolo terapêutico totalmente eficaz, o que faz com que se recorra a várias abordagens, tais como a terapêutica cirúrgica, médica ou a combinação de ambas (2) Para o animal do presente relato primeiramente como tratamento foi administrado antibacterianos, apresentando melhora discreta conforme encontrado na literatura (14) e corticoesteroides. Os antibióticos mais eficazes são a clindamicina, a associação de metroni-dazol com espiramicina, amoxicilina com ácido clavulânico, a doxiciclina e a enrofloxacina. (3, 7). Os corticosteroides são muito utilizados no tratamento, a sua utilização deve ser bem ponderada pois muitas vezes são acompanhados de efeitos secundários, tais como alterações de comporta-mento, poliúria e polidipsia, podendo ainda potenciar o desenvolvimento de diabetes mellitus (15). A conduta utilizada para o tratamento do mesmo corrobora com a literatura.

ConclusãoConclui-se que a Estomatite piogranulomatosa felina possui caráter de grave cronicidade, cuja

etiologia é ainda desconhecida no meio literário e seu tratamento além de complexo exige coope-ração do proprietário.

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Estomatite piogranulomatosa em felino - Relato de caso

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Estudo retrospectivo de cinco Felinos positivos para a Peritonite Infecciosa Felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba - Alterações Clínicas e HematológicasLetícia Maria Batista Cardoso - Estudante de Graduação da Universidade de Uberaba – UNIUBESuzilaine Alves Oliveira de Macedo - Estudante de Graduação da Universidade de Uberaba – UNIUBECleibiane Evangelista Franco Borges - Mestranda no Programa de Pós Graduação em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBEMonalyse Kevelyn Borges de Oliveira - Aprimoranda em Laboratório no Hospital Veterinário de UberabaJoely Ferreira Figueiredo Bittar - Professor do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBEEndrigo Gabelline Leonel Alves - Professor do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos – UNIUBE*email: [email protected]

Cardoso LMB; Macedo SAO; Borges CEF; de Orilveira MKB; Bittar JFF; Alves EGL. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Me-dicina Felina - 2018; 50-52.

ResumoForam analisadas alterações clínicas, hematológicas, bioquímicas, de líquido peritoneal e outros ex-ames de cinco animais com PIF, atendidos no HVU em 2018. Houve maior prevalência em machos (60%), com 1 a 10 anos (60%). Clinicamente, observou-se: mucosas hipocoradas (40%), gastroenterite (40%), apenas vômito (40%), ascite (20%), dificuldade respiratória (20%) e depressão (100%). Três ani-mais realizaram ultrassom da cavidade abdominal e apresentaram: peritonite (40%) ou nefrite (40%). Em apenas um felino foi realizada radiografia da cavidade torácica, e apresentou efusão pleural. No hemograma e bioquímico, destacaram-se: trombocitopenia (60%), anisocitose plaquetária (60%), lin-fopenia (40%), neutrofilia (40%), monocitose (40%), monocitopenia (40%), hipoalbuminemia (20%), ALT aumentada (20%), creatinina e uréia aumentadas (20%). Realizou-se análise de líquido cavitário em três animais, e um apresentou transudato modificado, enquanto dois, transudato. Em relação a soro-logia de FIV e FeLV um felino era positivo apenas para a FeLV e outro positivo para ambas. Conclu-iu-se que o diagnóstico da PIF é desafiador, pela falta de especificidade de sinais clínicos e alterações hematológicas.

Palavras-chave: PIF, sinais clínicos, hemograma, bioquímica, líquido cavitário.

IntroduçãoFelinos são propensos à infecções por coronavírus, tendo este alta virulência, provocando si-

nais clínicos variáveis até acometimento sistêmico, como no caso da Peritonite Infecciosa Felina (PIF) (1).

A PIF é de caráter progressivo, imunomediado e geralmente fatal. É transmitida via fecal-oral (2), e ao tentar combater o antígeno, o sistema imune favorece a disseminação viral e deposição de imunocomplexos, provocando lesões nos órgãos (2). Alguns fatores são considerados importantes no desenvolvimento da doença, como a idade, sendo os animais mais jovens ou com idade avan-çada e que convivem em grupo mais acometidos (3).

A doença é inespecífica, podendo ocorrer: hipertermia, anorexia, vômito, diarreia, palidez de mucosas, e com a evolução: efusão úmida em cavidade, ou forma não efusiva com lesões nos ór-gãos específicos da infecção. No hemograma, são comuns: anemia normocítica normocrômica, leucocitose com desvio a esquerda regenerativo, linfopenia e eosinopenia (3,4).

O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das alterações clínicas e hematológicas observadas em animais com PIF atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba, no período de janeiro a agosto de 2018.

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Material e métodoForam atendidos cinco gatos no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), no período de janeiro

a agosto de 2018, machos e fêmeas, sem raça definida e com idade de 6 meses até 10 anos. Os ani-mais escolhidos foram reagentes na sorologia para a Peritonite Infecciosa Felina do Laboratório Tecsa ou fizeram a análise do Líquido Peritoneal no próprio HVU. Houve avaliação da ficha clíni-ca, considerando aspectos clínicos como: alterações no trato-gastrointestinal, alterações respirató-rias, coloração das mucosas, alterações hematológicas e bioquímicas, análise do líquido peritoneal e exames complementares.

Resultados e DiscussãoDos 5 animais, em relação ao sexo, houve maior prevalência em machos (60%; 3/5) do que em

fêmeas (40%; 2/5). Considerando a idade, 40% (2/5) apresentavam menos de 1 ano de idade e 60% (3/5) entre 1 a 10 anos de idade. A PIF ocorre em qualquer idade, mas pode acometer mais os gatos jovens, devido à imaturidade do sistema imune e exposição à uma série de fatores estressantes, como o desmame (5).

Nas alterações clínicas, foram observados: mucosas hipocoradas (40%; 2/5), hipocoradas e icté-ricas (20%; 1/5), gastroenterite (40%; 2/5), apenas vômitos (40%; 2/5), ascite (20%; 1/5), dificuldade respiratória (20%; 1/5) e depressão (100%; 5/5). Em relação aos exames complementares, três ani-mais fizeram ultrassom da cavidade abdominal e apresentaram: peritonite (40%; 2/5) ou nefrite aguda ou crônica (40%; 2/5). Em apenas um animal foi realizada radiografia da cavidade torácica, e este apresentou efusão pleural. De acordo com a literatura, os sinais mais comuns da forma efu-siva são: letargia, inapetência, perda de peso, mucosas pálidas ou ictéricas. Pode ocorrer a ascite na forma efusiva, sendo um sinal clínico clássico, e também pode ocorrer a efusão pleural, geran-do os sinais clínicos de dispneia, taquipneia e a respiração de boca aberta (5).

No hemograma observou-se: trombocitopenia (60%; 3/5), anisocitose plaquetária (60%; 3/5), linfopenia (40%; 2/5), neutrofilia (40%; 2/5), monocitose (40%; 2/5) e monocitopenia (40%; 2/5). Já no exame bioquímico, 40% (2/5) não apresentaram alterações e os demais apresentaram: hipo-albuminemia (20% 1/5), enzima hepática ALT aumentada (20% 1/5) e enzimas renais creatini-na e uréia aumentadas (20% 1/5). As alterações hematológicas como linfopenia e neutrofilia são clássicas da PIF, sendo que a linfopenia pode ocorrer devido um processo inflamatório gerado por estresse em que ocorre a liberação de corticosteroídes, gerando um sequestro de linfócitos para os tecidos linfoides e linfonodos (6). Pode-se também notar a anemia normocítica normocrômica leve a moderada e a trombocitopenia também leve a moderada (5). Já a hipoalbuminemia ocorre porque a albumina atua como uma proteína de fase aguda negativa nos gatos PIF positivos. A uréia e creatinina aumentadas se justificam por uma possível lesão renal gerada pela PIF, porque os rins estão suscetíveis à formação de nódulos piogranulomatosos e consequentemente uma necrose (6,7).

Considerando os aspectos laboratoriais, na análise do líquido peritoneal, três felinos (60%) fize-ram o exame, sendo que um animal (33,33%) apresentou o transudato modificado e dois animais (66,67%) apresentaram transudato. No caso da sorologia para a PIF, apenas dois animais (40%) fizeram o exame e foram considerados reagentes na diluição de 1:10 a 1:60. O líquido peritoneal, normalmente é de coloração amarela, levemente turvo, com densidade maior que 1020, proteínas superior a 3 g/dl, consiste como exsudato, as contagem de células nucleadas acima de 5000 célu-las/ml, consiste em transudado puro ou modificado (5,8). Os animais que apresentarem esse tipo de líquido devem ser considerados suspeitos para a PIF (8). Já para a sorologia de imunodeficiência felina (FIV) e da leucemia felina (FeLV) três animais (60%) fizeram o exame, apresentando os se-guintes resultados: negativo para FIV e FeLV (33,33%; 1/3), positivo apenas para a FeLV (33,33%; 1/3) e positivo para ambas (33,33%; 1/3). Os vírus da FIV da FeLV causam uma imunossupressão no felino, porque o vírus inibe a capacidade do hospedeiro de combater as mutações do Corona-vírus, se tornando imunossupremido (5).

Estudo retrospectivo de cinco Felinos positivos para a Peritonite Infecciosa Felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba - Alterações Clínicas e Hematológicas

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ConclusãoConclui-se que o diagnóstico da Peritonite Infecciosa Felina é um desafio para os médicos vete-

rinários, tanto na forma efusiva quanto não-efusiva pela falta de especificidade dos sinais clínicos, sendo que estes não são patognomônicos, e também pela inespecificidade das alterações hema-tológicas Por meio desse estudo retrospectivo, conclui-se que é necessário se fazer o diagnóstico unindo o histórico do animal, os sinais clínicos, as alterações hematológicas, levando em conta outras infecções, como FIV e FELV, e título de anticorpos anti-coronavírus positivo como triagem, além de, no caso de PIF efusiva também realizar a análise do líquido peritoneal.

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5. Barros, ART et al. Peritonite infecciosa felina: estudo retrospectivo de 20 casos clínicos (Dissertação de Mestrado). Lisboa: Uni-versidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2014.

6. Silva, FMGV. Avaliação da carga viral do Coronavírus felino e sua relação com o perfil de expressão de mediadores imunitários, em animais portadores e com Peritonite Infecciosa. Diss. Universidade de Lisboa. Faculdade de Medicina Veterinária, 2013.

7. Dos Anjos, DS et al. Alterações laboratoriais e anatomopatológicas da peritonite infecciosa felina em cinco gatos. investigação, v. 15, n. 4, 2016.

8. Cardoso, DP. Relação entre albumina e globulina na efusão de gatos suspeitos de peritonite infecciosa felina (PIF). 2007.

Estudo retrospectivo de cinco Felinos positivos para a Peritonite Infecciosa Felina, atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba - Alterações Clínicas e Hematológicas

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Exenteração transconjutival com confecção de malha de nylon em felinoAmana Fernandes Maia - Graduanda em medicina veterinária na da Universidade Federal de Campina Grande Fernanda Vieira Henrique - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosVictor Manuel Lacerda Freitas - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosFrancisco Alípio de Souza Segundo - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosErmano Lucena de Oliveira - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosMarcelo Jorge Cavalcanti de Sá - Professor da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosEmail: [email protected]

Maia AF; Henrique FV; Freitas VML; de Souza Segundo FA; Oliveira EL; de Sá MJC. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 53-55.

ResumoA exenteração transconjuntival é uma cirurgia muito realizada em pequenos animais, geralmente são indicadas em casos de endoftalmia, neoplasias intraoculares ou de algum trauma sofrido na região. Ela é comumente utilizada quando não há resposta aos tratamentos terapêuticos. A exenteração pode ser realizada através de diversas técnicas cirúrgicas e consiste na remoção do globo ocular e da ter-ceira pálpebra. A malha é produzida com fio de nylon 4-0, e é utilizada para uma adequação estética do pós-cirúrgico, dessa maneira, ajuda ao tutor na adaptação da nova estética do animal. O presente trabalho relata um caso de um felino, adulto, macho, que após fuga retornou para casa com seu olho traumatizado e que após exame clínico foi considerado, tendo a indicação da remoção cirúrgica. Foi realizada a exenteração transconjutival e confeccionada a malha. Tendo resultado positivo durante todo o acompanhamento pós-operatório. Dessa maneira foi possível concluir que a utilização da mal-ha de nylon é muito eficiente quando se trata de se obter uma melhor estética para o animal.

Palavras-chave: procedimento; técnica; gato; estética.

IntroduçãoNo procedimento da exenteração ocorre à remoção do bulbo ocular, membrana nictitante, pál-

pebras, glândulas anexas e, sua extensão dependendo da técnica cirúrgica adotada (5). A estética que o paciente apresenta após a realização deste procedimento é um dos motivos que influencia muito na decisão dos proprietários quanto à execução deste procedimento (1), mesmo trazendo benefícios aos seus animais (4). Nos gatos a exenteração é um pouco mais difícil, isso ocorre por-que as rimas palpebrais dos felídeos são mais apertadas e seus nervos ópticos se apresentam em menor extensão, portanto, é preciso ter cautela para não lesionar o quiasma óptico, e assim, pre-servar a capacidade visual do olho contralateral. Utiliza-se a técnica da malha com o objetivo de melhorar a estética final do animal após a remoção do olho (5). Esta técnica é asseada em suturas contínuas simples na fáscia periocular, com espaços delimitados entre si e com o uso de fio mono-filamentar, não absorvível, que se inicia na parte nasal em sentido a lateral da órbita. (2).

Descrição do casoFoi atendido no hospital veterinário da UFCG, um felino, adulto, pesando 3,5kg, sob queixa de

ter fugido de casa e ter retornado com o olho traumatizado. Após exame clínico foi identificado que olho estava inviável. O paciente apresentava todos os seus parâmetros vitais dentro da nor-malidade, estando normohidratado, a ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações. Foi realizada a coleta de sangue e solicitado o hemograma completo e a bioquímica renal (creatinina, uréia e albumina) e hepática (Aspartato Aminotransferase, alanina aminotransferase, Fosfatase alcalina, gama glutamil transferase, bilirrubina e albumina). Foi marcada a cirurgia para a realização da exenteração transconjutival, onde foi utilizada a confecção da malha de nylon.

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Técnica ou situaçãoPara a realização da cirurgia foi realizada a medicação pré-anestésica, a tricotomia da região,

assim como a antissepsia do local com uso de iodo a 4%% e a preparação do campo cirúrgico com a colocação dos panos de campo e fixados com as pinças backhaus. A técnica consistiu na reali-zação de sutura das pálpebras superiores e inferiores, e incisão ao redor da sutura em elipse em aproximadamente 0,3 mm de distancia da sutura e posterior divulsão e dissecação romba do glo-bo e das estruturas oculares. Após a dissecação o globo ocular encontrava-se com movimentos de rotação de aproximadamente 270°. Então, foi feito o pinçamento do nervo óptico e feita a incisão, com o auxílio do bisturi, e removido o globo ocular. Logo em seguida foi feita a digitopressão com duração de aproximadamente 5 minutos, com o auxilio de gazes estéreis com o intuito de fazer he-mostasia. Em seguida, retiraram-se as gazes e foi feita a lavagem da cavidade com soro NaCl 0,9%, estéril. Após a lavagem observou-se a cavidade para comprovar que não havia mais a presença de hemorragia para assim dar seguimento o procedimento. Com o uso do fio nylon 4-0 efetivou-se a confecção da malha, nesse momento foi pega a fáscia, iniciando da região medial do olho, fazen-do o primeiro ponto na fáscia periocular, seguindo com a sutura de padrão continuo simples até a parte lateral, finalizando a sutura. Fez-se a redução do espaço morto com uso do vicryl 3-0 e a dermorrafia com uso do nylon 4-0 com padrão interrompido simples. No pós-operatório foi reali-zado o uso de antibiótico (amoxicilina + clavulonato de patássio 20mg, a cada 12 horas, durante 10 dias), anti-inflamatório (meloxican 0.05mg/kg, a cada 24 horas durante 3 dias) e tramadol 2mg/kg, a cada 12 horas durante 5 dias. Foi recomendado que se fizesse dois curativos diários e que utili-zasse o colar elisabetano. Após 10 dias o paciente retornou para realização da remoção dos pontos cirúrgicos, estes estavam bem cicatrizados, e o aspecto do olho do paciente não estava profundo, sendo esteticamente superior a técnica tradicional sem a utilização da confecção da malha.

DiscussãoA exenteração transconjutival com uso de malha de nylon é uma técnica utilizada para uma

melhor estética e adaptação dos tutores a nova condição de seus animais. Sendo essa a melhor escolha quando se fala em custo benefício, seja em relação ao tutor ou ao animal. No caso descrito o animal sofreu um trauma no globo ocular e não havia viabilidade para realização de algum outro tratamento que não fosse o cirúrgico. Como o animal se apresentava com os parâmetros vi-tais normais e sem nenhuma alteração nos exames hematológicos (hemograma e bioquímica), foi marcado o procedimento e este foi realizado segundo (3). O resultado obtido foi muito satisfatório, tanto em relação à estética, como em relação à cicatrização e saúde do paciente. Tendo em vista que a técnica adotada não se utiliza de nenhum método invasivo que pudesse causar rejeição pelo paciente.

ConclusãoA técnica relatada no trabalho é importante para a adaptação dos tutores, assim como a dimi-

nuição da rejeição ao procedimento, por proporcionar uma estética uma melhor quando compa-rada a tradicional.

Referências bibliográficas1. Ana Raquel Baptista Ribeiro, Causas de enucleação, evisceração e exenteração em pequenos animais – Estudo

retrospetivo 2002-2012, [publicação online]; 2013. [acesso em 10 de nov de 2018]. Disponível em https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/6755/1/Causas%20de%20enuclea%C3%A7%C3%A3o%2C%20eviscera%-C3%A7%C3%A3o%20e%20exentera%C3%A7%C3%A3o%20em%20pequenos%20animais.pdf

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Exenteração transconjutival com confecção de malha de nylon em felino

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Mosby Elsevier.

4. Miller, P. E. (2008). Orbit. In Maggs, D.J., Miller, P.E. & Ofri, R. (Eds.), Slatter’s fundamentals of veterinary oph-thalmology. (4th ed.). (pp. 352-373). Missouri: Saunders.

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Exenteração transconjutival com confecção de malha de nylon em felino

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Fratura em ramo condilar da mandíbula de um Felino filhote, tratamento conservador – Relato de CasoSuzilaine Alves Oliveira de Macedo - Estudantes de Graduação da Universidade de Uberaba – UNIUBELetícia Maria Batista Cardoso - Estudantes de Graduação da Universidade de Uberaba – UNIUBEBreno Oliveira Silva - Aprimorando em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário de Uberaba- HVUEndrigo Gabelline Leonel Alves - Professores do Setor de Clínica e Cirurgia da Universidade de Uberaba – UNIUBEIsabel Rodrigues Rosado - Professores do Setor de Clínica e Cirurgia da Universidade de Uberaba – UNIUBEMoacir Santos Lacerda - Professores do Setor de Clínica e Cirurgia da Universidade de Uberaba – UNIUBE*email: [email protected]

de Macedo SAO; Cardoso LMB; Silva BO; Alves EGL; Rosado IR; Lacerda MS. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 56-58.

ResumoO presente trabalho tem como objetivo avaliar a severidade de fraturas, devido a um trauma na mandíbula de um felino filhote, juntamente com suas condutas médicas adotadas. Foi atendido no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU) um felino, fêmea, filhote de 1 mês. A tutora relatava ter encontrado anoréxica e sem conseguir movimentar a boca. Não foram encontrados alterações nos parâmetros fisiológicos, além de dor e edema língual. Foram realizados exames radiológicos, no qual foi constatado 2 fraturas na mandíbula direita e esquerda, além da falta de um canino. O tratamento se consistiu apenas em medicamentos para os sinais clínicos, não havendo qualquer estabilização do foco da fratura. A volta dos movimentos da paciente ocorreu após um mês e a cura comprovada através do exame radiológico. Fraturas na mandíbula podem interferir na rotina de alimentação e ingestão de água, além de outras doenças concomitantes. Fica evidente a necessidade de intervenção rápida no médico veterinário para evitar complicações que levam ao óbito do paciente.

Palavras-chave: Mandíbula; Fratura; Trauma;

IntroduçãoFraturas mandibulares podem originar de periodontites, neoplasias, mas na maioria dos ca-

sos, de um trauma craniano decorrente de acidente automobilístico, chutes ou brigas, em gatos a disjunção da sínfise mandibular e fraturas do palato duro são mais relatadas (1;2)

Essa patologia pode trazer concomitantemente sérias doenças secundárias como: obstrução da via área superior, trauma no sistema nervoso central e pneumotórax, sendo necessário a estabili-zação primária dos parâmetros vitais para o paciente politraumatizado (1).

Geralmente é necessária a intervenção médica no foco da fratura para manter a estabilidade do osso acometido, utilizando correções cirúrgicas como: adesão dos dentes caninos com acrílico ou talas desse material ou estabilização com placas, parafusos e cerclagens (1,2,3).

Animais jovens estão mais predispostos, podendo ocorrer em qualquer faixa etária. Cabe ao médico veterinário à avaliação do paciente rápida e precisa para o diagnóstico, a fim de evitar sérias consequências ao prognóstico (1,2). Esse trabalho tem como objetivo avaliar a severidade de fraturas, devido a um trauma na mandíbula de um felino filhote, juntamente com suas condutas médicas adotadas.

Relato de casoNo dia 8 de março de 2017, foi atendido no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), um felino

fêmea, filhote de aproximadamente 1 mês, com queixa principal de o animal ser resgatado da rua, estar anoréxica e com a boca aberta, a tutora não soube informar se houve algum trauma.

Durante o exame clínico os parâmetros fisiológicos não apresentaram alteração, na avaliação clínica notado sinais característicos de dor, o animal não conseguia ocluir a boca e as laterais da

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língua estavam edemaciadas na porção caudal. Foi medicado com um opióide (Tramadol 50mg/ml) via subcutânea (SC), anti-inflamatório não esteróide (Meloxican 0,2%) SC, e com analgésico (Dipirona 500mg/ml). Solicitado exame complementar de imagens radiográficas de crânio em dia seguinte e orientado alimentação pastosa com auxilio de seringa.

Retornou para exame radiológico sob sedação e avaliado animal sedado com suspeita de luxa-ção têmporo mandibular (ATM), feito a tentativa de redução da luxação, sem sucesso, e posterior-mente feito exame radiográfico. Realizado as radiografias: laterolateral, dorsoventral e oblíquas do crânio. Apresentando o laudo de: fratura simples em ramo vertical da mandíbula direita em topografia de transição entre o processo angular e condilar da mandíbula, linha radiolucente em topografia do processo angular e fragmentação do processo condilar da mandíbula esquerda su-gestivos de fratura, e ausência do canino mandibular direito. Devido ao estado clínico do animal que se encontrava debilitado, associado com a falta de condições financeiras do proprietário, op-tou-se por não realizar intervenções cirúrgicas no momento, sendo recomendado que em 1 mês, fosse feito somente alimentos pastosos até a consolidação total da fratura mandibular.

Após onze dias o animal retornou ao hospital e na avaliação observou-se a melhora no qua-dro, pois, estava conseguindo ocluir parcialmente a boca, e então foi decidido continuar com esse tratamento e aconselhado que o animal devesse repetir as radiografias dentro de 2 meses para avaliação de total cicatrização.

Em dois meses em retorno observou que animal não apresentava mais a não oclusão da boca, estava se alimentando com ração e conseguindo mastigar e triturar o alimento normalmente. Em 3 semanas, o animal apresentou a oclusão total da boca. Devido a melhora do animal com apenas o tratamento conservador, não houve a necessidade de procedimento cirúrgico. Devido as condições financeiras do tutor, não foi realizado o exame radiológico posterior, fazendo o mesmo 6 meses após o trauma com laudo confirmando não possuir mais linhas de fratura em nenhum osso do crânio.

Resultado | DiscussãoO animal foi encontrado com dificuldade de oclusão da boca, ficando com a mesma sempre

aberta, isso se dá devido à dor persistente e localização da fratura, também pode ser observada intensa sialorreia causada pela incapacidade de movimentação, dificuldade de alimentação e in-gestão de água (1,2).

Devido a dor e posicionamento é necessário a sedação, tanto para ser realizado o exame clínico quanto para o raio X. Nos exames radiológicos são indicados no mínimo quatro posições, dorso-ventral ou ventrodorsal, lateral, oblíqua lateral direita e esquerda, para melhor avaliação de todas as estruturas presentes no crânio, todos realizados no presente relato (1).

A utilização da tomografia computadorizada é excelente auxiliar no diagnóstico, principalmen-te em fraturas no corpo mandibular, ramo vertical e côndilo mandibular, sendo possível observar localização da fratura de maneira exata e sem inferências, ajudando assim até na programação de um procedimento cirúrgico (1;2), devido acessibilidade e recursos financeiros no presente traba-lho foi realizado apenas a radiografia convencional.

Não foram utilizados métodos para estabilização do foco de fratura. O paciente apresentava fratura simples em ramo vertical direito, esse tipo de fratura não julga necessária a utilização de métodos cirúrgicos, apenas conservadores como repouso já são suficientes (1), como visto no caso.

Ocorreu também, fragmentação do processo condilar da mandíbula esquerda, em casos de mais de um tipo de fratura, uma opção para favorecer a cicatrização mais rápida e o emprego da focinheira de esparadrapo, em gatos que não sejam braquiocefálicos, como a maioria dos sem raça definida. Outra opção apresentado pela literatura, adesão acrílica dos dentes caninos, sendo ideal, os quatro caninos, e também, podendo ser realizado em apenas em dois (superior e inferior) como seria indicado para a paciente do relato, devido ausência do canino mandibular direito, sendo de extrema importância levar em consideração o comportamento do animal (1,4).

A recuperação do foco da fratura está associada à idade, saúde, tipo de osso acometido e loca-lização, além da cooperação do tutor em seguir a prescrição do médico veterinário. (1,3) Isso pode

Fratura em ramo condilar da mandíbula de um Felino filhote, tratamento conservador – Relato de Caso

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ser correlacionado com caso em questão, a paciente era jovem, juntamente com cuidados seguidos, podem favorecer a recuperação da paciente, não descartando, segundo Fossum (1), a necessidade de métodos que auxiliem a cicatrização e estabilização da fratura.

ConclusãoFraturas mandibulares possuem diversas causas, sendo a mais comum por traumas envolven-

do traumas em gera, trazendo doenças concomitantes, dificuldade na alimentação e ingestão de água, quesitos vitais para corpo, agravando ainda mais o estado clínico. Desta forma, fica evidente a necessidade do médico veterinário no diagnóstico rápido para evitar complicações que levam ao óbito do paciente em pouco tempo, visto que animal não conseguirá se alimentar nem ingerir água, levando a distúrbios metabólicos em pouco tempo.

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Fratura em ramo condilar da mandíbula de um Felino filhote, tratamento conservador – Relato de Caso

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Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino – Relato de CasoCarla Barboza Ferreira - Graduanda Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] Fernanda Guerra de Souza - Graduanda Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] Sousa Santos - Médica Veterinária Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] Borges Moreira de Souza - Médica Veterinária Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] Santos Nogueira - Graduanda Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected] Martins Fayad Milken - Professora Doutora Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia – MG. E-mail: [email protected]

Ferreira CB; de Souza GFG; Santos LS; de Souza LBM; Nogueira ES; Milken VMF. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Me-dicina Felina - 2018; 59-62.

ResumoO hiperparatireoidismo secundário nutricional é uma doença metabólica que ocorre geralmente em cães e gatos jovens devido ao uso de alimentação quase exclusiva de carne com baixo teor de cálcio e alto teor de fósforo ou deficiência de vitamina D. O presente trabalho descreve um caso da doença em um felino doméstico (Felis catus) que foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Fed-eral de Uberlândia, com achados radiográficos indicativos de fratura patológica em “galho verde” em membro pélvico esquerdo, desvio do eixo ósseo dos membros pélvicos, aumento de opacidade nas epífises e metáfises dos ossos longos, desmineralização óssea com adelgaçamento das corticais, e acentuada lordose na região lombar da coluna vertebral. O nível sérico de cálcio estava dentro do val-or de referência. O tratamento realizado foi uma alimentação com ração comercial balanceada do tipo premium. O exame radiográfico mostrou se uma opção eficaz de método de diagnóstico não invasivo e de baixo custo financeiro.

Palavras-chave: Osteodistrofia Fibrosa, Doença Metabólica, Radiografia, Gatos.

IntroduçãoO Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional (HSN) é uma doença metabólica que ocorre

geralmente em cães e gatos jovens em consequência da alimentação quase exclusiva de carne, com alto teor de fósforo e baixo teor de cálcio ou com deficiência de vitamina D (KEALY; McALLISTER, 2005) (1). Tomsa et al. (1999) (5) relataram que tal doença deve ser considerada em filhotes em fase de crescimento, devido a uma maior demanda de cálcio para os ossos. Além disso, Farrow (2006) (4) comentou ser uma doença rara em animais domésticos nos dias atuais. Sendo assim, este traba-lho teve como objetivo relatar um caso de Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em felino atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia.

Relato de casoUma gata, sem raça definida, de aproximadamente 4 meses de idade, de peso 1,15 quilo, não

castrada, foi encaminhada ao HV-UFU após ser resgatada, com suspeita de atropelamento. Na anamnese, o responsável relatou que o animal tinha sido resgatado recentemente da rua e a queixa principal era que ele não andava. No exame clínico, apresentava-se responsivo ao meio, locomo-ção anormal (membros pélvicos flexionados), dor na flexão da articulação coxofemoral esquerda e na palpação região lombar da coluna vertebral, lordose, estado nutricional escore 3/9, tempe-ratura, frequências cardíaca e respiratória dentro dos parâmetros de normalidade e linfonodos poplíteos reativos. Foram solicitados bioquímica sérica, urinálise, hemograma completo e exame

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radiográfico.Na urinálise, foram observados densidade 1,060, discreta presença de cilindro granuloso e

hialino, albumina (+), pigmentos biliares (++), células da bexiga (duas por campo) e renais (raras), muco (+), piócitos raros e cristais ausentes. O exame bioquímico mostrava nível sérico de gama-glutamiltransferase (GGT) acima do parâmetro para espécie e proteínas totais levemente aumen-tadas.

No exame radiográfico observou-se fratura patológica em “galho verde” em membro pélvico esquerdo, desvio medial do eixo ósseo dos membros pélvicos, aumento de opacidade nas epífises e metáfises dos ossos longos (fig.3), desmineralização óssea com adelgaçamento das corticais e acentuada lordose na região lombar da coluna vertebral (fig.1).

Segundo os achados radiográficos confirmou-se o diagnóstico de hiperparatireoidismo secun-dário nutricional. Animal recebeu tratamento com Amoxicilina e Clavulanato 25mg/kg, duas vezes ao dia, durante 10 dias para prevenção de uma possível cistite devido ao alojamento em uma caixa de transporte até ser adotado, em condições de higiene precária. Foi feita alimentação com ração comercial tipo premium seca para gatos filhotes. A gata foi adotada em poucos dias e castrada oito meses depois. Um ano após o atendimento realizou-se novos exames radiográficos, hemograma e bioquímico. No exame clínico observou-se ganho de peso (4Kg), pelos com aspecto brilhante e vistoso, e comportamento muito dócil. A tutora relatou que o animal convivia muito bem com os cães e gatos da casa, brincava normalmente e conseguia pular também, embora não conseguia saltar muito alto. O animal ainda demonstrou sensibilidade na palpação dos membros pélvicos. No hemograma, os valores estavam dentro do padrão de referência para a espécie e no exame bioquímico foram observados um aumento de creatinina, albumina, cálcio e fósforo quan-do comparado com o exame anterior.

Figura 1 - Gata, SRD, 4 meses de idade, com hiperparatireoi-dismo secundário nutricional. Projeção radiográfica latero-la-teral.

Figura 2 - Gata, SRD, com hiperparatireoidismo secundário nutricional após um ano de tratamento. Projeção radiográfica latero-lateral.

Figura 3 - Gata, SRD, 4 meses de idade, com hiperparatireoi-dismo secundário nutricional. Projeção radiográfica ventro--dorsal.

Figura 4 - Gata, SRD, 4 meses de idade, com hiperparatireoi-dismo secundário nutricional após um ano de tratamento. Pro-jeção radiográfica ventro-dorsal.

Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino – Relato de Caso

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DiscussãoSegundo Tomsa et al. (1999) (3), uma das principais causas de HSN é a alimentação inadequada

para os níveis de cálcio sugeridos para um animal em fase de crescimento, o que coincide com o animal relatado. Gatos são os mais frequentemente acometidos pela doença, seguido pelos ani-mais silvestres em cativeiros, principalmente em grandes felinos (HERNÁNZ; SANTANA, 1988) (6), isso ocorre quando a alimentação dos animais é predominantemente a base de carne, contra-pondo com os cães que também se alimentam de fontes não cárneas e possuem o hábito de roer ossos que diminui o desbalanceamento cálcio fósforo (STURION; PEREIRA, 1995) (5).

No exame clínico o animal apresentava postura anormal e dor a palpação em membro pélvico e região lombar, compatível com os achados descritos por Kealy e Mcallister (2012) (1), além de limitação em pular em lugares altos relatado pela tutora após o tratamento. No trabalho de Dimo-polou et al. (2009) (7) os animais apresentavam espasmos musculares, constipação e dificuldade em urinar, porém esses achados não foram observados nesse animal.

A urinálise foi solicitada para averiguação do estado geral do animal, visto que este não tinha nenhum histórico, assim observou-se densidade de 1.060, sendo que acima dos 1.035 é considerada alta para gatos (GONZÁLES; SILVA, 2008) (8). A alta concentração da urina pode estar relacionada ao fato da gata ter ficado confinada em uma caixa de transporte por um período de tempo até ser levada ao atendimento, mas optou-se pelo tratamento com antibiótico para prevenção de cistite.

Não foi realizada a dosagem hormonal, conforme citaram Meuten (2015) (9), assim como de vi-tamina D e fosfatase alcalina. A dosagem de cálcio e fósforo estava dentro dos valores de referên-cia, coincidindo com Parker (2015) (10) que cita que as concentrações de cálcio total e cálcio ioniza-do podem estar normais ou diminuídas, devido a alta produção de paratormônio para correção da hipocalcemia de origem nutricional, e as concentrações de fósforo também podem estar normais ou diminuídas, em consequência da redução da absorção do mineral pelos rins e maior excreção por estes. Para Feldman (2008) (11) os testes bioquímicos tem baixa significância para diagnóstico.

Os achados radiográficos permitiram concluir o diagnóstico, pois no primeiro exame obser-vou-se diminuição da radiopacidade dos ossos indicando desmineralização óssea, cortical adel-gada, fratura dobrável patológica em galho verde em membro pélvico esquerdo e lordose em região lombar da coluna cervical, compatíveis com a descrição de Farrow (2006), Kealy e McAllis-ter (2012) (1) e Pollard e Wisner (2014) (12). Houve achados semelhantes em estudo realizado por Sturion e Pereira (1995) (5) com cães e gatos, porém esses animais apresentaram retenção de fezes em cólon descendente, que no referido caso não esteve presente.

Para esse animal foi prescrito correção nutricional, conforme comentam Parker (2015) (10) e Feldman (2008) (16) sem a necessidade de suplementação de cálcio, fósforo e vitamina D. Nos exames radiográficos realizados após um ano do atendimento pode-se notar aumento da radiopa-cidade óssea, com redução do grau de lordose, melhora no quadro clínico e da conformação óssea.

ConclusãoO hiperparatireoidismo secundário nutricional é uma doença de importância clínica, cujo

diagnóstico foi confirmado através do exame radiográfico e a alteração da dieta possibilitou a melhora do paciente.

Referências bibliográficas1. KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Bones and Joints. In: KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Diagnostic Radiology Ultraso-

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Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino – Relato de Caso

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Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em FelinoAna Gabriela Pereira Moura Leite - Acadêmico de Medicina Veterinária – UFPILucas Assunção Vilanova - Acadêmico de Medicina Veterinária – UFPIMarina Carvalho Leite - Acadêmico de Medicina Veterinária – UFPILilian Lopes de Araújo - Residente em Patologia Clínica Veterinária – HVU/UFPIThiago Sousa da Silva - Residente em Clinica e Cirurgia de Cães e Gatos – HVU/[email protected]

Leite AGPM; Vilanova LA; Leite MC; de Araújo LL; da Silva TS. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 63-65.

ResumoO hiperparatireoidismo secundário nutricional é, atualmente uma doença rara, de fundo metabólico e nutricional, que pode ser observada tanto em animais domésticos como em animais silvestres, sendo mais comum em animais jovens entre o nascimento e os seis meses que não possuem uma alimen-tação com quantidades adequadas de cálcio necessário ao organismo. Os principais sinais clínicos encontrados consistem em paralisia e claudicação, principalmente dos membros posteriores, dor e constipação. A correta análise diagnóstica dos distúrbios relacionados com a função paratireoidiana depende de uma cuidadosa combinação de informação relacionada com bioquímica sérica, análise hormonal e exames de imagem, especialmente os radiográficos. O tratamento consiste, basicamente, em fornecimento de dieta equilibrada, com níveis balanceados de cálcio e fósforo.

Palavras-chave: deficiência nutricional; osteodistrofia fibrosa; osteopenia.

IntroduçãoO HSN ou osteodistrofia fibrosa é uma doença de fundo metabólico e nutricional, observada

tanto em animais domésticos ou animais silvestres (1), sendo mais comum em animais jovens que não possuem uma alimentação com quantidades adequadas de cálcio necessário ao organismo (2,3). A secreção aumentada de paratormônio é consequente a dietas que são extremamente baixas em cálcio ou com desequilíbrio cálcio-fósforo (4). Os sinais clínicos são mais comumente relacio-nados em consequências da hipocalcemia e da osteopenia (5,6). Clinicamente os animais apre-sentam marcha anormal (7,8), dor à palpação (9,10,11), paralisia e claudicação mais evidentes nos membros posteriores e constipação (12). A correta análise diagnóstica depende da combinação de informação relacionada com bioquímica sérica, análise hormonal e exames radiográficos. A terapia consiste, em fornecimento de dieta equilibrada, com níveis ideais de cálcio e fósforo (13).

O prognóstico é bom na maioria dos casos, pois a dieta equilibrada resulta em mineralização normal dentro de 4 a 8 semanas. Nos casos complicados nos quais há fraturas de coluna vertebral, o prognóstico é reservado a ruim, devido ao risco de lesões neurológicas (18). O presente trabalho descreve o caso de um felino diagnosticado com hiperparatireoidismo secundário nutricional.

Material e métodosFoi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí (HVU – UFPI) uma gata

SRD, de 8 meses de idade e com 1,5 kg de massa corporal. Durante a anamnese, o tutor informou que o animal estava com dificuldade para defecar, apático e apresentava dificuldade de movimentação dos membros pélvicos após um trauma nos primeiros meses de vida, e que a dieta da felina era a base exclusivamente de frango, carne desfiada, arroz e caldo, sendo ofertada três vezes ao dia. No exame físico, durante a palpação abdominal foi observado o abdômen distendido e sensibilidade aumentada. No exame ortopédico foi observado que o animal apresentava dificuldade de locomo-ção, sendo mais acentuada nos membros pélvicos; o mesmo apresentava crepitações articulares; al-teração anatômica em ambos os fêmures e alterações na coluna vertebral, como cifose e lordose. No

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bioquímico sérico foi observado um aumento das enzimas hepáticas AST (44 UI//L) e FA (186 U//L). No exame radiográfico simples foi observado que o abdome se apresentava bastante distendido por gases e conteúdo fecal; havia uma redução da radiodensidade óssea generalizada (radiodensidade próxima a de tecidos moles); a coluna vertebral apresentava cifose, em segmento toracolombar e lordose, na região lombosacral; apresentava a cortical óssea extremamente adelgaçada e tinha de-formidade dos ossos da pelve e membros posteriores. Sendo a impressão diagnostica sugestiva de desmineralização óssea generalizada. A dosagem de cálcio foi de 7,52 mg/dL, onde encontrava-se dentro dos valores de referência e a dosagem de fósforo deu um pouco abaixo do normal, sendo de 3,74 mg/dL. O cálcio iônico encontrou-se acima dos valores de referência (6,09 mg/dL), já o valor do paratormônio encontrou-se dentro dos valores de referência (1,8 pg/ml). No laudo ultrassonográfico foi observado que a tireoide se apresentava com formato habitual e hiperecogênica em relação a musculatura cervical. Já a paratireoide foi evidenciada em topografia habitual como uma estrutura arredondada hipoecogênica, localizada na margem cranial da tireoide.

De posse de todos os resultados dos exames complementares fechou-se o diagnóstico de hiperpa-ratireoidismo secundário alimentar. Foi receitado uma ração super prêmio, além de um tratamento de suporte com Cloridrato de tramadol 2 mg/kg, VO, BID, durante 6 dias e Suplemento alimentar 1 g/animal, VO, SID, durante 14 dias. Até o momento o paciente se encontra em tratamento com um suporte medicamentoso e nutricional adequado. Foi acordado com o proprietário de trazer o animal a cada 30 dias para uma nova reavaliação e observação da evolução do caso.

Resultados e discussãoO presente caso se trata de uma gata que possuía uma dieta a base exclusivamente de frango,

carne desfiada, arroz e caldo, onde as carne, cereais, grãos e frutas são pobres em cálcio e ricas em fósforo, e este tipo de dieta desbalanceada gera o desenvolvimento do hiperparatireoidismo nutri-cional secundário (HSN) (3).

A gata era um filhote de oito meses de idade, onde de acordos com os estudos feitos, essa doença metabólica tem sido observada mais frequentemente em felinos filhotes devido ao grande desenvol-vimento corporal e a necessidade de uma alimentação balanceada em cálcio e fósforo (2). O HSN é mais comum em animais entre o nascimento e os seis meses de idade. (2). Contudo, em decorrência do proprietário tê-la levado com oito meses de idade ao médico veterinário a doença foi diagnosti-cada de forma tardia

Como sinais clínicos foram observados marcha anormal, paralisia e claudicação mais evidentes nos membros posteriores, dor a palpação e constipação achados encontrados em outros estudos realizados (12), onde as principais alterações clínicas são ou refletem as complicações da osteopenia grave ou hipocalcemia (14). A constipação em animais com HSN é uma alteração secundária à re-dução do lúmen pélvico, principalmente como sequela de fraturas do osso coxal, como no presente caso, no qual a gata apresentava um estreitamento da pelve. (15)

No exame radiográfico simples foi observado uma redução da radiodensidade óssea generali-zada; a coluna vertebral apresentava cifose, em segmento toracolombar e lordose, na região lom-bosacral; apresentava a cortical óssea extremamente adelgaçada; tinha deformidade dos membros posteriores e estreitamento da pelve, sendo a impressão diagnostica sugestiva de desmineralização óssea generalizada, achados encontrados em outros trabalhos (16), em que a desmineralização óssea presente no hiperparatireoidismo é provocada pela retirada de cálcio dos ossos estimulada pelo pa-ratormônio. Após a realização do exame radiográfico a suspeita de HSN foi instituído.

O diagnóstico de hiperparatireoidismo secundário alimentar nesse caso foi levado em considera-ção pelo fato de o paciente ser jovem e ter uma alimentação desbalanceada em cálcio e fosforo, jun-tamente com a análise hormonal e os achados radiográficos, na qual a osteopenia e o adelgaçamento das corticais ósseas precedem os sinais clínicos, sendo extremamente sugestivos do diagnóstico (17).

O tratamento instituído está relacionado principalmente à correção da alimentação, fornecendo uma dieta completa e balanceada com um equilíbrio nos níveis de cálcio e fósforo no organismo para cessar a ativação dos osteoclastos, diminuindo a mobilização de cálcio dos ossos, corroborando com outros trabalhos (17, 18).

Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino

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ConlusãoConclui-se que uma alimentação baseada exclusivamente a base de carne não supre as neces-

sidades de cálcio e fósforo de forma adequada para gatos em crescimento, desencadeando o qua-dro de hiperparatieroidismo secundário nutricional, que é de rara ocorrência. Dentre os métodos laboratoriais, as avaliações dos níveis séricos de cálcio, fósforo e fosfatase alcalina não são muito confiáveis, sendo o exame radiográfico um método eficiente para avaliar a desmineralização ós-sea desencadeada pela doença, contribuindo desta forma para o diagnóstico desta patologia. O tratamento consiste, basicamente, em fornecimento de dieta equilibrada, com níveis balanceados de cálcio e fósforo.

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Hiperparatireoidismo Secundário Nutricional em Felino

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Lesão oftálmica em gato doméstico por histoplasmose - Relato de CasoAna Carolina Rodrigues - Médico Veterinário - Clínica Veterinária São LázaroLucas Andrade Gonçalves de Morais - Médico Veterinário - Clínica Veterinária São LázaroCarla Daniela Dan De Nardo - Docente no Curso de Medicina Veterinária - Centro Universitário de Rio PretoMaria Cristina Volpe Rico - Discente no Curso de Medicina Veterinária - Centro Universitário de Rio PretoÉvelin Alessandra Silveira - Discente no Curso de Medicina Veterinária - Centro Universitário do Norte [email protected]

Rodrigues AC; de Morais LAG; De Nardo CDD; Rico MCV; Silveira EA. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 66-69.

ResumoHistoplasmose é uma doença de origem fúngica causada pelo agente Histoplasma capsulatum. A in-fecção é adquirida por inalação de conídeos, forma esporulada do agente que se desenvolvem nas fez-es de morcegos e aves. Depois de inalados, se multiplicam nas células do retículo endotelial e atingem linfonodos pulmonares, infiltrando na circulação sanguínea e outros órgãos, causando inflamações locais. O presente estudo objetivou relatar um quadro de histoplasmose em felino com lesão oftálmi-ca, atendido na Clínica Veterinária São Lázaro em São José do Rio Preto- SP. Relatou-se o caso de um felino adulto, macho, castrado, sem raça definida com lesão cutânea e em bulbo ocular direito. O animal vem sendo tratado com itraconazol e cefalexina verificando-se melhora clínica dermatológica importante. Um fator importante que colaborou para retardo do diagnóstico foi à ausência de sinais clínicos sistêmicos da doença, uma vez que o animal apresentou apenas uveíte aguda com descem-etocele e lesão cutânea. Conclui-se que a histoplasmose deve ser investigada adequadamente e inclusa na lista de diagnósticos diferenciais de lesões inflamatórias envolvendo o sistema ocular e cutâneo.

Palavras-chave: felino; fungo; morcego.

IntroduçãoA histoplasmose é uma doença de origem fúngica causada pelo agente Histoplasma capsulatum.

Trata-se de um fungo saprófita, ou seja, presente no solo, em locais úmidos e escuro (1). A infecção é adquirida por inalação de esporos (2), os quais se desenvolvem nas fezes de mor-

cegos e aves que são excelentes fontes de crescimento do fungo (3). Depois de inalados, se multipli-cam nas células do retículo endotelial e atingem linfonodos pulmonares, infiltrando na circulação sanguínea e outros órgãos, causando inflamações locais (4).

Esta afecção apresenta-se em três formas clínicas: subclínica, pulmonar e disseminada e pode se manifestar em curso agudo ou crônico (5).

Medidas preventivas como umedecer resíduos de aves e morcegos e utilização de equipamen-tos de proteção ao realizar limpeza de locais contaminados, são indicadas para evitar aerossoli-zação de esporos (6).

Esta afecção é considerada uma zoonose de relevância regional (6), portanto, os animais infec-tados são importantes marcadores epidemiológicos (7).

O presente estudo objetivou relatar um quadro de histoplasmose em felino com lesão oftálmi-ca, atendido na Clínica Veterinária São Lázaro, situada em São José do Rio Preto - SP.

Descrição do casoRelata-se o caso de um felino adulto, macho, castrado, sem raça definida com lesão cutânea e

em bulbo ocular direito. Segundo a tutora, quem resgatou o animal das ruas, o paciente brigou com outro felino errante e retornou para casa apresentando blefaroespasmo e fotofobia no olho

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direito. Após dois dias, observou uma lesão cutânea ulcerada granulomatosa em região escapu-lo-umeral direita (Figura 1). O animal foi encaminhado ao veterinário após 7 dias do surgimento das lesões que verificou ao exame oftálmico, ulcera de córnea profunda descemetocele e uveíte anterior. Foi prescrito cloridrato de dorzolamida e maleato de timolol (01 gota/olho/TID) por 07 dias. Contudo, houve agravamento do quadro oftálmico e dermatológico sendo necessária a rea-lização da enucleação do bulbo ocular direito. Realizou-se o histopatológico do bulbo ocular enu-cleado que constatou a presença de Histoplasma spp. O animal vem sendo tratado com itraconazol (100mg/animal/SID), tratamento esse que se estendeu por 30 dias após o desaparecimento da lesão e cefalexina (30mg/kg/BID) prescrito por 15 dias, verificando-se melhora clínica dermatoló-gica importante com redução do tamanho da ferida.

Figura 1 - Lesão cutânea ulcerada granulomatosa em região escapulo-umeral direita de felino com histoplasmose. Fonte: Rodri-gues et al., 2018.

DiscussãoSegundo Cury et al. (8), a maior frequência de transmissão de histoplasmose ocorre em locais

ricos em fezes de aves e principalmente de morcegos tais como cavernas, interior de árvores e forros, construções antigas. Devido o gato em questão ter sido resgatado e identificado provavel-mente como animal errante, não foi possível obter informações detalhadas do histórico clínico, o que dificultou às suspeitas diagnósticas e a identificação da fonte de infecção.

Por se tratar de um felino errante, a suspeita inicial era de lesões oftálmica e cutânea decor-rentes de causa traumática com contaminação bacteriana secundária. Um fator importante que colaborou para retardo do diagnóstico foi à ausência de sinais clínicos sistêmicos da doença, uma vez que o animal apresentou apenas uveíte aguda com descemetocele e lesão cutânea. De acordo com Pontes et al. (9), sinais oculares são poucos frequentes nesta doença, mas ocorre devido a replicação do agente em células reticuloendoteliais e a disseminação acontece por via linfática e infiltração uveal de macrófagos contaminados. Os sintomas mais avaliados na histoplasmose são fraqueza, alterações respiratórias, febre, inapetência, anorexia, lesões cutâneas granulomatosas e

Lesão oftálmica em gato doméstico por histoplasmose - Relato de Caso

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hepatoesplenomegalia (10).Devido ao aumento de pressão intraocular, panoftalmite e perda de visão, optou-se pela enu-

cleação do globo ocular direito. Este procedimento é indicado principalmente para proporcionar alívio de dor e conforto ao animal (11).

Com a progressão e agravamento do quadro oftálmico, dermatológico e falta de resposta à te-rapia instituída, suspeitou-se do envolvimento de um agente fúngico causador das afecções. Deste modo, realizou-se o histopatológico do bulbo ocular enucleado, o qual confirmou a presença do agente determinando o diagnóstico de histoplasmose. O diagnóstico da histoplasmose é baseado na associação do histórico, sinais clínicos, exames complementares e identificação do Histoplasma spp através de exame histopatológico e micológico, sendo este último considerado padrão ouro (12).

Foram solicitados exames de imagem como radiografia e ultrassonografia para estadiamento da doença bem como exame histopatológico e micológico da lesão cutânea, no entanto o tutor justificou-se quanto à incompatibilidade de recursos financeiros para realização de tais exames.

A lesão cutânea observada no felino apresentou características clínicas granulomatosas simila-res ao descrito por Carneiro et al. (10). Desse modo, suspeitou tratar-se de uma lesão causada pela histoplasmose, contudo, a investigação por meio dos exames supracitados é de suma importância para confirmação do diagnóstico. Exames de imagem não são realizados para diagnóstico defi-nitivo da doença, porém os achados radiográficos e ultrassonográficos variam de acordo com a forma clínica instalada (13) e auxiliam na avaliação do prognóstico da doença.

O tratamento de eleição consiste em terapia antifúngica, sendo os mais utilizados o itraconazol, fluconazol e cetoconazol (3). O período de tratamento pode variar de acordo com o desapareci-mento dos sinais clínicos, no entanto, indica-se que a terapia seja realizada por no mínimo quatro a seis meses (12). Portanto, prescreveu-se ao paciente a administração uma vez ao dia de itracona-zol por via oral, na dose de 100mg/ gato. Além disso, foi adicionado ao protocolo terapêutico an-tibioticoterapia profilática com cefalexina a cada 12 horas, na dose de 30mg/kg por via oral e óleo de rícino por via tópica após limpeza da lesão cutânea com soro fisiológico. Foi ainda, orientado ao tutor quanto à importância de retornos periódicos para acompanhamento da evolução da doença.

ConclusãoConclui-se que a histoplasmose deve ser investigada adequadamente e inclusa na lista de diag-

nósticos diferenciais de lesões inflamatórias envolvendo o sistema ocular e cutâneo. Além disso, a identificação e notificação desses animais tornam-se importantes marcadores epidemiológicos, contribuindo para instituição de medidas de controle e prevenção da doença.

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Lesão oftálmica em gato doméstico por histoplasmose - Relato de Caso

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Lesão oftálmica em gato doméstico por histoplasmose - Relato de Caso

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Linfoma Cutâneo de células B em dorso e abdômen em FelinoVanessa Ianczkovski - Graduando em Medicina Veterinária na Universidade Tuiuti do Paraná.Bruno Tammenhain - Médico veterinário autônomo.Nathann Ed Lewicki - Médico veterinário autônomo.Isabelle Cristina de Souza Cade - Graduando em Medicina Veterinária na Universidade Tuiuti do Paraná.E-mail: [email protected]

Ianczkovski V; Tammenhain B; Lewicki NE; Cade ICS. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 70-73.

ResumoO linfoma é uma neoplasia comum em gatos, sendo caracterizada pela proliferação de linfócitos ma-lignos. Tem como principal origem órgãos linfoides como a medula óssea, baço, fígado e linfonodos, podendo disseminar-se para qualquer tecido corpóreo a partir de células linfoides anormais. Pode ser classificado em: multicêntrico, alimentar, mediastínico, cutâneo e extranodal. O linfoma cutâneo é considerado raro, ocorrendo em cerca de 0,2% a 1,7% dos gatos com linfoma. Histologicamente é classificado entre epiteliotrópico e não epiteliotrópico e por sua caracterização imunofenotípica em células B ou T. Perante baixa incidência do linfoma cutâneo na espécie felina, o objetivo deste relato foi descrever o caso de um gato, fêmea, sem raça definida, castrada, 2 anos e 6 meses, atendida no Hospi-tal Veterinário Garra-Curitiba, com nodulações cutâneas na região dorsal e abdominal de tamanhos variados. Foram detectadas alterações como: linfonodo esternal aumentado, renomegalia bilateral, rins com contornos irregulares. O exame histopatológico sugeriu carcinoma anaplásico de neoplasia basal. A análise imuno-histoquímica concluiu o diagnóstico de linfoma cutâneo de células B. Após diagnóstico, o proprietário optou por não realizar nenhum tratamento na paciente, sendo esta, poste-riormente eutanásiada devido a evolução do quadro.

Palavras-chave: imunohistoquimica; linfoadenomegalia; renomegalia

Introdução O linfoma é uma neoplasia maligna resultante da proliferação de células do sistema linfoi-

de, tendo variado potencial de agressão orgânica. Da linhagem linfoide originam-se: leucemias linfocíticas, os plasmocitomas, o linfoma de Hodgkin e de não Hodgkin. Este último deriva de clones de linfócitos em seus diferentes estágios evolutivos. Sua forma primária origina-se nos lin-fonodos (linfomas nodais) ou em tecidos linfoides associados a mucosa, pele ou outras estruturas (linfomas extranodais) (1). As formas mais comumentes usadas de classificação do linfoma são pelo sítio anatômico (multicêntrico, alimentar, mediastinal e extranodal), e também podendo ser classificado pelo padrão histológico, localização anatômica, e classificação imunofenotípica (2, 3).

O linfoma cutâneo pode ser dividido em epiteliotrópico e não-epiteliotrópico. Segundo Gol-dschmidt e Hendrick o linfoma epiteliotrópico é composto por células T, tendo afinidade pela epiderme e por estruturas anexas, sua forma microscópica é caracterizada por microabcessos de Pautrier na epiderme e infiltração neoplásica na derme, apresentando variantes, como micose fungóide, síndrome de Sézari, e reticulose pagetóide (4, 5, 6). Já o linfoma não-epiteliotrópico é constituído por linfócitos B ou T, sendo caracterizado por placas e agregados de linfócitos neo-plásicos (4). Este trabalho tem por finalidade decorrer sobre o linfoma epiteliotrópico de células B, uma forma atípica do linfoma cutâneo, em felino.

Descrição do caso Foi atendido em um hospital veterinário, paciente da espécie felina, fêmea, sem raça definida,

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castrada, com 2 anos e 6 meses, pesando 3 kg. Apresentava como queixa principal apatia, iniciada há alguns dias, hiporexia, poliúria, emagrecimento progressivo e presença de nódulos na região dorsal e abdominal da paciente. Na anamnese, proprietária relata que a felina possui acesso à rua e está com vacinação atualizada.

No exame clínico constatou-se múltiplos nódulos e tumores que variavam de 0,5 a 4 cm de ta-manho, consistência firme, abrangência epidermo-dermal, com superfície integra e não alopécicos, principalmente em linha média dorsal, região lombo-sacra e abdômen. Na palpação os linfonodos periféricos encontravam-se não reativos. Indicou-se exame hematológico, bioquímico, radiografia torácica, ultrassonografia abdominal exploratória e biopsia dos nódulos para elucidação do caso.

As alterações vistas no hemograma foram: anemia, monocitose e plasma com discreta icterícia e no bioquímico sérico: azotemia (uréia 462 mg/dL e creatinina 9,9 mg/dL). Já na radiografia torá-cica foi possível visualizar linfoadenomegalia esternal.

O ultrassom abdominal revelou: renomegalia bilateral, rins com contornos irregulares, eco-genicidade aumentada e ecotexturas de córtex levemente heterogênea, definição corticomedular preservadas, pelve dilatada, uma banda hipoecóida ao redor do rim direito com discreta quan-tidade de liquido livre. Estômago com parede em região de fundo espessada e com leve perda da estratificação parietal. Em região de cérvix foi visualizada presença de massa heterogênea hipoecóica centralmente e hiperecóica externamente e aumento do linfonodo jejunal. Segundo interpretação do exame, as alterações renais encontradas eram compatíveis com nefropatia, ne-frite e neoplasia. Já as alterações hepáticas sugerem processo inflamatório sistêmico, e a alteração de parede gástrica indica gastrite e/ou neoplasia. A massa encontrada em cérvix pode indicar granuloma. Foi realizado análise histopatológica, de um fragmento de uma das lesões em derme, sugerindo carcinoma anaplásico de neoplasia basal, apresentando uma proliferação invasiva na derme superficial e profunda. Foi realizada também analise imuno-histoquímica, conclusiva para linfoma cutâneo de células B.

Também considerou-se para diagnóstico diferencial linfoma renal, porém por questões finan-ceiras, histopatológico não foi realizado. O tutor decidiu por não realizar nenhum tratamento no paciente, que após evolução da doença e piora no quadro clínico, foi optado pela eutanásia.

Resultados e discussão As alterações nodulares difusas em dorso e abdômen (Figura 1) encontradas no paciente eram

compatíveis as descritas por Sierra, o qual salienta que o linfoma cutâneo pode apresentar-se tam-bém na forma solitária ou multifocal (7).

Figura 1 - Dorso do paciente (a) e parte abdominal (b).

A linfadenomegalia periférica envolvendo linfonodos jejunais e esternais detectada na radio-grafia torácica (Figura 2) ocorre, segundo Vail, devido a metástase tumoral para outras estruturas (2)

Linfoma Cutâneo de células B em dorso e abdômen em Felino

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Figura 2 - Projeção latero-lateral torácica esquerda com demarcação em vermelho do linfadenomegalia esternalal.

No exame hematológico, a anemia pode ser explicada por quadro de insuficiência renal ou doença crônica (8). Já a icterícia pode indicar comprometimento hepático, o qual interfere dire-tamente no prognóstico do paciente (9). Na ultrassonográfia abdominal exploratória foi possível observar alterações renais compatíveis com as descritas por Dalek, onde relata que no linfoma renal pode-se notar renomegalia e irregularidade renal predominantemente bilateral (Figura 3), assim como a azotemia pode estar associada a estes fatores (6).

Figura 3 - Corte longitudinal do rim esquerdo (a), corte transversal do rim esquerdo (b), corte longitudinal do rim direito (c) e corte transversal do rim direito (d).

Segundo Morris e Dobson o linfoma renal em gatos esta correlacionado aos sinais clínicos de emagrecimento, anemia, inapetência, poliuria e polidipsia, que também foram observados neste paciente (10). Entretanto para diagnóstico definitivo de linfoma renal seria necessário a realização de exame histopatológico, o qual não foi possível realizar.

Devido a impossibilidade de uma maior investigação para o esclarecimento de uma possível neoplasia renal, o estadiamento do paciente ficou limitado entre estagio II/III (2). O estadiamento correto tem grande importância na escolha da terapia e, por conseguinte em uma melhor resposta ao tratamento.

O diagnóstico definitivo foi possível como proposto por Vail por meio do exame imunohisto-químico, que identificou a origem das células tumorais, pela utilização de anticorpos monoclonais ou policlonais, que marcam a presença dos antígenos de cada tipo celular (2). O resultado de lin-foma epiteliotrópico de células B confronta com o que foi proposto por Dalek que afirma que os linfomas epiteliotropicos seriam sempre de células T (6). Posteriormente, afirmou-se ser possível resultados para ambas as celularidades, onde 23 casos de linfoma cutâneo tarsal felino, demons-trou predominância de células B (11).

Linfoma Cutâneo de células B em dorso e abdômen em Felino

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Diversos protocolos terapêuticos são propostos no tratamento do linfoma cutâneo, entretanto constitui um desafio devido à baixa resposta à quimioterapia. Se o paciente viesse para tratamen-to, o eleito seria o protocolo quimioterápico de Madison-Wisconsin, considerado o mais efetivo no tratamento de linfoma.

Conclusão O linfoma cutâneo é uma apresentação incomum, principalmente se caracterizada pela infil-

tração de linfócitos B. A etiologia não está totalmente elucidada, entretanto acredita-se que fatores ambientais, virais e inflamações crônicas da pele possam predispor

esta enfermidade. A associação de exame histopatológico, imuno-histoquímico e sinais clínicos é uma importante ferramenta diagnóstica. A escassez de informações referentes a este tipo de neoplasia representa um desafio a mais no tratamento.

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Linfoma Cutâneo de células B em dorso e abdômen em Felino

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Linfoma Ocular em um gato com vírus da Leucemia Felina – Relato de CasoPriscila Tucunduva – MSc. Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do UNIFESO; Rafael Rempto Pereira – Médico Veterinário da Clínica Escola de Medicina Veterinária do UNIFESO;Julia Lopes Pinheiro – Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do UNIFESO;Yule Ferreira Nunes – Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do UNIFESO;Jorge Carlos Dias de Sousa Filho – Discente Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária do UNIFESO; Marcia Costa Fernandes – Médica Veterinária Autônoma.e-mail: [email protected]

Tucunduva P; Pereira RR; Pinheiro JL; Nunes YF; de Sousa Filho JCD; Fernandes MC. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 74-76.

ResumoA leucemia felina (FeLV) é um retrovírus que acomete os gatos, podendo estar associado a várias doenças, dentre elas a leucemia e o linfossarcoma infiltrativo. Sua principal forma de transmissão é at-ravés da saliva. O linfoma ocular acomete de forma expressiva os felinos tanto em sua forma primária quanto associado. Neste caso a enucleação é um dos métodos terapêuticos que aumentam a sobrevida do animal. O presente trabalho tem por objetivo descrever o caso de um felino com linfoma ocular relacionado ao vírus da FeLV, ocorrido em Teresópolis, RJ. Um felino, fêmeas, da raça Pelo Curto Bra-sileiro, com quarto anos de idade, foi atendido em uma clínica veterinária particular apresentando exoftalmia no olho direito. No exame ultrassonográfico observou-se diminuição do rim esquerdo. Após consulta com oftalmologista suspeitou-se de linfoma ocular e a enucleação foi recomendada. A suspeita diagnóstica foi confirmada através de histopatologia. No pós-operatório o animal apresentou complicações e foi submetido à eutanásia. O linfoma é uma neoplasia hematopoiética muito frequente nos gatos e uma manifestação importante da FeLV, sendo um desafio para o clínico de pequenos an-imais.

Palavras-chave: Felino; Retrovírus; Neoplasia.

IntroduçãoA leucemia felina (FeLV) é um retrovírus que acomete gatos, podendo causar leucemia, linfo-

ma e podendo estar associada a outras doenças (1). Sua transmissão ocorre principalmente através da saliva (2).

A infecção pelo FeLV é capaz de causar linfossarcoma infiltrativo (3), porém essa relação ainda não é devidamente esclarecida (4). O linfoma constitui aproximadamente 30% de todos os tumo-res que afetam gatos (5), onde cerca de 70% dos gatos que apresentam esta neoplasia estão infec-tados com o FeLV (6).

O linfoma ocular acomete de forma expressiva os felinos tanto em sua forma primária quanto associado (6). Pode ocorrer linfossarcoma infiltrativo corneal, conjunctival, uveal e orbital; he-morragia retinal associada com anemia severa e diminuição da motilidade pupilar (4), uveíte e presença de massa visível na íris (1). Enucleação é um dos métodos terapêuticos que aumentam a sobrevida do animal (7).

Este relato tem por objetivo descrever o caso de um felino com linfoma ocular relacionado ao vírus da FeLV, atendido em clínica veterinária particular no município de Teresópolis, RJ.

Descrição do casoUm felino, fêmea, raça Pelo Curto Brasileiro, foi diagnosticado como FeLV, no dia 4/03/14, aos

5 meses de idade. Após quatro anos, a gata foi atendida em uma clínica veterinária particular, em agosto de 2018, com exoftalmia no olho direito e hifema (Figura 1). Foi solicitado ultrassonografia abdominal e ocular, que evidenciou diminuição do rim esquerdo e nenhuma alteração significa-

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tiva no olho. A gata foi encaminhada para consulta com oftalmologista que suspeitou de linfoma ocular em função da FeLV e indicou enucleação. O globo ocular foi enviado para histopatologia após a remoção cirúrgica (Figura 2). Três dias após a cirurgia o felino apresentou vômitos com sangue, hiperemia no globo ocular esquerdo e presença de dor. Após tratamento sintomático sem sucesso optou-se pela eutanásia do animal. O resultado da histopatologia foi de linfoma, confir-mando a suspeita diagnóstica.

Figura 1 – Hifema no olho direito do felino. Fonte: Fernandes MC, 2018.

Figura 2 – Felino após enucleação.. Fonte: Fernandes MC, 2018.

DiscussãoConforme Murphy (1) descreveu, a FeLV está normalmente associado ao linfoma, o que corro-

bora com o caso relatado em que o animal, portador do FeLV, foi diagnosticado através de histo-patologia com linfoma ocular, após enucleação.

Uma das manifestações da leucemia viral felina é o linfossarcoma ocular infiltrativo (3;4), uma manifestação clínica que o animal relatado veio a apresentar em um dos globos oculares.

A enucleação é um dos métodos terapêuticos mais eficientes para o prolongamento da sobre-vida do paciente com linfoma ocular (7). Todavia, mesmo realizando o procedimento cirúrgico, o felino não teve uma boa resposta no pós-operatório, apresentando complicações e por isso optou--se pela eutanásia.

ConclusõesO linfoma é uma frequente neoplasia hematopoiética dos felinos e uma manifestação impor-

tante da FeLV, sendo um grande desafio para o clínico de pequenos animais.A associação do vírus da FeLV com o linfoma ainda não está bem elucidada, por isso é de suma

importância que continuem estudos nessa área.

Referências bibliográficas1. MURPHY S. Feline lymphoma part 1. In: Proceedings of the Southern European Veterinary Conference and Con-

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Linfoma Ocular em um gato com vírus da Leucemia Felina – Relato de Caso

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 74-76.76

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Linfoma Ocular em um gato com vírus da Leucemia Felina – Relato de Caso

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Osteocondromatose multifocal em felino - Relato de CasoLucas Vilela Perroni Silva - Doutorando em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e Coordenador do curso de Medicina Veterinária da FCC. [email protected] de Alcântara Gonçalves - Graduanda em Medicina Veterinária pela Faculdade Cidade de Coromandel (FCC). [email protected]áudio Henrique Gonçalves Barbosa - Doutorando em Ciências Veterinárias pela UFU. Professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Uberaba.

Silva LVP; Gonçalves GA; Barbosa CHG. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 77-79.

ResumoObjetivou-se relatar um caso de osteocondromatose múltipla em felino. A ostecondromatose é provo-cada pelo crescimento de massas únicas ou múltiplas nas cartilagens podendo acometer suínos, pri-matas humanos e não humanos, cães e gatos. O paciente apresentava apatia, regurgitação, caquexia, atrofia muscular de gastrocnêmico e orelha em envelope, com posterior óbito. À necropsia, obser-vou-se aumento de volume na região laríngea de colocação esbranquiçada, consistência dura e aspec-to ósseo ao corte com o centro avermelhado, diversos nódulos milimétricos no esterno e costelas. Ao exame histopatológico, obteve presença de tecido condróide periférico organizado em monocamada, mesclando moderados focos de degeneração e agregados de condrócitos, área focal de deposição de material fibrinóide, envolvendo a superfície dos condrócitos. Trabéculas ósseas compactadas, mod-eradamente mineralizadas, mesclando com deposição e substituição de matriz osteóide por material condóide proliferado. Moderada fibrose tecidual e focos de reabsorção óssea e agregados linfoplas-mocitários na periferia da lesão. O diagnóstico histopatológico foi de osteocondromatose multifocal associado à traços fibrino osteoide. Conclui-se que a Osteocondromatose Múltipla em felinos é uma alteração benigna, porém com o prognóstico dependente da localização dos nódulos e suas conse-quências.

Palavras-chave: Condrócitos; Leucemia viral felina; Nódulos.

IntroduçãoA ostecondromatose ocorre quando há o crescimento de massas únicas ou múltiplas nas car-

tilagens podendo acometer seres humanos (1), suínos, primatas não humanos, cães (2) e gatos (3), é de caráter hereditário, porém em felinos relatou-se a etiologia associada ao vírus da leucemia viral felina (4).

Esta enfermidade é oriunda do osteocondroma que são tumores ósseos benignos, de origem primária, estes podem desenvolver nas cartilagens ósseas ao qual podem ser formados pela ossi-ficação osteocondral (5). Esta neoplasia acomete felinos adultos ao qual varia entre dois a quatro anos de idade (6), os sinais clínicos mais comuns apresentados pelos animais são apatia, anorexia, caquexia, dor e atrofia muscular (7).

O diagnóstico baseia-se em realizar uma anamnese minuciosa associada com exame físico e específico avaliando possíveis alterações ósseas. À radiografia observa-se vários crescimentos ós-seos com tamanhos variados localizados nas cartilagens, porém o diagnóstico definitivo obtém-se com a análise histopatológica (5). O tratamento é paliativo com a remoção cirúrgica apenas quando a massa óssea alterar a função do organismo. O prognóstico depende da localização dos nódulos, com isso pode variar de bom a desfavorável (06).

Objetivou-se através deste, relatar um caso de Osteocondromatose múltipla em felino.

Material e MétodosAtendeu-se, na Faculdade Cidade de Coromandel, um felino, pelo curto, sem raça definida,

macho não castrado, com um ano e oito meses de idade, pesando 2,800 kg e semi-domiciliado. O mesmo apresentava histórico de dificuldade para caminhar e anorexia há oito meses. Houve

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progressão para dificuldade em saltar, orelhas em envelope, emagrecimento progressivo, disfagia, regurgitação e dispneia. O animal possuía coabitantes diagnosticados com Leucemia Viral Felina.

Durante o exame clínico geral notou-se caquexia, pelos opacos, secos e quebradiços, 38,9ºC de temperatura retal, 188bpm de frequência cardíaca, 32mpm de frequência respiratória, hidratado, mucosas normocoradas, tempo de preenchimento capilar de dois segundos e linfonodos não rea-tivos. Ao exame clínico específico do sistema respiratório observou-se reflexo de tosse positivo e à auscultação, ruídos pulmonares com crepitação grossa e sibilo. À palpação da região laríngea, notou-se aumento de volume com consistência firme. Quanto à avaliação do sistema locomotor, o animal apresentava edema de membros posteriores, atrofia muscular de gastrocnêmico, sem sinais de dor à palpação e em movimentos articulares.

Solicitou-se exame radiográfico de tórax simples e esofagograma, porém o animal veio a óbito antes da realização dos exames de imagem. Procedeu-se então à necropsia do mesmo e exames histopatológicos de lesões macroscópicas.

Resultados e DiscussãoNo presente caso, o animal encontrava-se com um ano e oito meses de idade, porém observa-se

que a osteocondromatose multifocal ocorre em animais adultos de dois a quatro anos (6). O ani-mal do presente relado não possui histórico familiar de osteocondromatose, porém, coabitantes do mesmo foram diagnosticados como portadores do vírus da Leucemia viral felina. Sugere-se que gatos com Leucemia viral são mais susceptíveis ao desenvolvimento desta patologia, porém em cães, primatas e equinos, a origem está ligada à fatores genéticos (08).

À necropsia, observou-se aumento de volume na região laríngea com diâmetro de 3,0cm (Fig. 1 - A), de colocação esbranquiçada, consistência dura e aspecto ósseo ao corte com o centro averme-lhado (Fig. 1 - B), e diversos nódulos milimétricos no esterno e costelas com as mesmas caracterís-ticas (Fig. 1 - C). Também notou-se reação periosteal na região társica bilateral e hemopericárdio.

Figura 1 - Achados necroscópicos. A – Aumento de volume na laringe (círculo preto); B – Aspecto do aumento de volume ao corte; C – Nódulos milimétricos no osso esterno (setas pretas)

Osteocondromatose multifocal em felino - Relato de Caso

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Alterações semelhantes foram observadas em um felino com presença de nódulos irregulares na escápula e de consistência dura, vários nódulos ligados à cartilagem formando uma enorme massa na região torácica com deslocamento do ápice do coração. Além de várias massas de 0,3 a 2,5 cm no corpo e espinha de algumas vértebras (4).

Coletou-se amostras para histopatológico da lesão laríngea com dimensões de 1,5x1,5x1,5cm e do osso esterno com dimensões de 3,0x2,0x1,8cm, armazenadas em solução de formaldeído 10%. Ao exame histopatológico, obteve presença de tecido condróide periférico organizado em mono-camada, mesclando moderados focos de degeneração e agregados de condrócitos. Notou-se área focal de deposição de material fibrinóide, envolvendo a superfície dos condrócitos. Trabéculas ósseas compactadas, moderadamente mineralizadas, mesclando com deposição e substituição de matriz osteóide por material condóide proliferado. Moderada fibrose tecidual e focos de reabsor-ção óssea e agregados linfoplasmocitários na periferia da lesão. Obteve-se resultado histopatoló-gico de osteocondromatose multifocal associado a traços fibrino oesteóide.

Em um felino, foi observado à histopatologia, massa com lóbulos envoltos por camada fibrosa repleta de colágeno (09). Em outro relato (10), notou-se a presença de massa aderida ao osso ao qual foi desencadeado pela ossificação endocondral, e nódulos lineares constituídas por cartila-gem e osteóides mineralizados.

ConclusãoConclui-se que a Osteocondromatose Múltipla em felinos é uma alteração benigna, porém com

o prognóstico dependente da localização dos nódulos e suas consequências.

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Osteocondromatose multifocal em felino - Relato de Caso

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Osteomielite por Microsporum canis e Staphylococcus spp em Gato (Felis catus), Caso Atípico Fernanda de Oliveira Soares - Graduandas de Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba (Uniube), Uberaba- MGAna Cristina Vieira Abrahão - Graduandas de Medicina Veterinária pela Universidade de Uberaba (Uniube), Uberaba- MGIsabel Rodrigues Rosado - Docentes do curso de graduação em Medicina Veterinária e docente do Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos - Mestrado, Universidade de Uberaba – Uniube, Uberaba, Brasil.Roberta Torres de Melo - Docentes do curso de graduação em Medicina Veterinária e docente do Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Produção Animal nos Trópicos - Mestrado, Universidade de Uberaba – Uniube, Uberaba, Brasil.Joely Ferreira Figueiredo Bitar - Docentes do curso de graduação em Medicina Veterinária e docente do Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Pro-dução Animal nos Trópicos - Mestrado, Universidade de Uberaba – Uniube, Uberaba, Brasil.Endrigo Gabellini Leonel Alves - Docentes do curso de graduação em Medicina Veterinária e docente do Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Pro-dução Animal nos Trópicos - Mestrado, Universidade de Uberaba – Uniube, Uberaba, Brasil.Autor para correspondência – [email protected]. Fone 055 34 9 9779 3258. Av. Nenê Sabino, 1801. Bairro: Universitário. Uberaba, Minas Gerais, Brasil. CEP. 38.055-500

Soares FO; Abrahão ACV; Rosado IR; de Melo RT; Bitar JFF; Alves EGL. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 80-83.

ResumoA osteomielite é uma patologia óssea grave caraterizada pela inflamação do osso e das estruturas ad-jacentes por infecções bacterianas, micóticas, protozoárias ou virais. Para diagnóstico são necessários exames de imagem e laboratoriais. O tratamento varia de acordo com os sinais clínicos e com o agente etiológico. O presente trabalho relata um caso atípico de osteomielite fúngica em gato. Foi atendida uma gata persa, castrada, com 3,1 kg e 1 ano e 3 meses. A queixa principal era o aparecimento de um nódulo na região ventro-rostral de mandíbula. No exame radiográfico mostrou uma lesão óssea pro-liferativa com áreas centrais de osteólise. O paciente foi submetido à biópsia para avaliação histológi-ca, cultura bacteriana e fúngica. Os exames revelaram ser uma osteomielite com infecção mista por Staphylococcus spp e Microsporum canis. Realizou-se a cirurgia no paciente para ressecção e curetagem da área lesionada e institui-se tratamento clínico com Meloxicam por 10 dias, Itraconazol e Azitromi-cina por 4 meses. O paciente se recuperou bem da lesão.

Palavras-chave: Osso; Felinos; Osteopatias; Micoses; Zoonoses.

IntroduçãoA osteomielite é definida como uma inflamação da medula óssea e do osso adjacente, podendo

ser de origem bacteriana, fúngica, resultante de reações a implantes metálicos nos ossos (1), para-sitários ou virais (2). Infecções fúngicas geralmente são sistêmicas (3). No entanto, o diagnóstico de infecções osteoarticulares causadas por fungos é difícil, devido aos indicadores inespecíficos e pouco sensíveis disponíveis (4). Os sinais radiográficos são semelhantes aos sinais associados com osteomielite bacteriana. Possíveis diagnósticos diferenciais incluem: neoplasias primárias do tecido ósseo, metástases, linfoma ósseo, osteomielite bacteriana, lesões ósseas com abscessos e doenças ósseas metabólicas (5). Para confirmação do diagnóstico é preciso realizar biópsia da le-são, cultura microbiológica e antibiograma (6). O tratamento é realizado de acordo com a etiologia, cronicidade, localização e severidade da lesão da osteomielite (7).

Este trabalho tem por objetivo descrever um caso de osteomielite mista (fúngica e bacteriana) por Microsporum canis e Staphylococcus spp, localizado rostralmente em mandíbula de felino vivenciado na Clínica Veterinária Pulo do Gato, situada em Uberaba - MG.

Relato de casoUma gata persa, de 1 ano e 3 meses de idade foi atendida na Clínica Veterinária Pulo do Gato

no município de Uberaba no dia 03 de maio de 2018. Segundo a tutora, há aproximadamente 8 meses o animal começou a apresentar um aumento de volume, de aspecto circunscrito, semelhan-

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 80-83. 81

te a nódulo, localizado rostralmente na mandíbula e desde então tem percebido que o mesmo está crescendo lentamente. No exame clínico geral, observou-se que o aumento de volume na região rostral de mandíbula, de consistência firme, ausência de sensibilidade dolorosa à palpação, temperatura local normal, ausência de alterações no pelame e de ulceração. O clínico solicitou hemograma completo e exame radiográfico de crânio. No hemograma, a série vermelha revelou aumento de RDW sem anemia e na série branca foi observado discreto aumento de bastonetes e de monócitos sem leucocitose. No exame radiográfico, notou-se reação periosteal ativa e remodela-mento ósseo com característica destrutiva em região mentoniana, sendo mais evidente em região esquerda (Figura 1). Imagem sugestiva de osteomielite bacteriana ou fúngica ou ainda neoplasia óssea.

Figura 1 - Imagem radiográfica de crânio em projeção oblíqua esquerda de uma gata com osteomielite mista (Microsporum canis e Staphylococcus spp). Imagem “A” antes do tratamento, notar aumento de volume com áreas de proliferação e áreas de osteólise. Imagem “B” 120 dias de tratamento, notar redução do aumento de volume e melhora do aspecto ósseo.

Com base nos achados radiográficos, realizou-se biópsia no sítio da lesão para exame histopa-tológico, cultivo bacteriano e teste de sensibilidade antimicrobiana e, para cultivo fúngico. Ma-croscopicamente, o fragmento coletado tinha formato cilíndrico, de coloração acastanhada. Ao corte, a superfície apresentava-se calcificada e irregular. Microscopicamente, a avaliação histopa-tológica revelou perda da arquitetura tecidual óssea, com áreas de compactação osteóide, traços de fibrose e moderada migração inflamatória crônica, mediada por linfócitos, plasmócitos, neutró-filos degenerados e numerosos macrófagos espumosos. Notou-se também estruturas periféricas as trabéculas ósseas de morfologia filamentosa e arredondada, capsular e discretamente refrin-gente, compatível com estrutura fúngica. Observou-se ainda, esboços de necrose hemorrágica, traços de fibrose e moderados agregados de neutrófilos degenerados. Dessa forma, diagnosticou--se osteomielite crônica com áreas de fibrose trabecular e discretas estruturas fúngicas periféricas (morfologia sugestiva de micetoma fúngico). No cultivo fúngico, houve crescimento e isolamento da espécie Microsporum canis. Já na cultura bacteriana houve crescimento e isolamento da espécie Staphylococcus spp. e, o teste de sensibilidade a antimicrobianos (TSA) revelou resistência aos an-tibióticos Azitromicina, Vancomicina, Clindamicina, Neomicina e sensibilidade intermediária à Eritromicina. O animal foi tratado com meloxicam 0,03 mg/kg SID por 10 dias, Itraconazol 10 mg/kg SID por 120 dias e Azitromiciana 10 mg/kg SID por 3 dias sendo repetido a cada 10 dias até 120 dias. O paciente foi monitorado mensalmente com exames radiográficos, hemogramas, ALT, AST, FA, uréia e creatinina. O paciente respondeu bem ao tratamento e atualmente está assintomático, porém ainda há discretas alterações ósseas visíveis exame radiográfico, portanto, continua sendo tratado.

Osteomielite por Microsporum canis e Staphylococcus spp em Gato (Felis catus), Caso Atípico

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 80-83.82

DiscussãoA maior parte das infecções ósseas envolve as metáfises, ossos chatos, corpos vertebrais ou

discos vertebrais (1). No presente caso, o osso acometido por infecção fúngica é o osso mandi-bular que se trata de osso chato como descrito em literatura. Infecções ósseas micóticas podem ser adquiridas por disseminação hematógena de esporos inalados ou veiculadas (6). Acredita-se que a origem da infecção óssea fúngica nesse caso, ocorreu por via hematógena, uma vez, que o animal não apresenta nenhum histórico de corpos estranhos, cirurgias ou ferimentos no sí-tio de lesão. De acordo com Kenneth (8), Coccidioides immitis, Blastomyces dermatitidis, Histoplasma capsulatum, Cryptococcus neoformans e Aspergillus spp. são os organismos descritos em literatura isolados em osteomielite fúngica. O microrganismo isolado no presente caso foi o Microsporum canis, sendo este nunca relatado em infecção óssea. A infecção óssea por bactérias ou fungos ge-ralmente está associada a uma lesão óssea grave com ferimento cutâneo aberto (3). O paciente do presente relato não tinha nenhum histórico de trauma, feridas ou solução de continuidade. Mas acredita-se que os microrganismos (Microsporum e Staphylococcus) foram inoculados no osso por um ferimento pequeno que não foi percebido pelo tutor, uma vez que, o animal possui pelos lon-gos o que facilmente esconderia esta lesão. Entretanto, não descarta-se a possibilidade de infecção por via hematógena embora isso nunca tenha sido relatado. Nas infecções bacterianas geralmente o hemograma mostra alterações como leucocitose por neutrofilia e desvio para a esquerda. No presente caso, essas alterações não foram observadas dificultando o diagnóstico. Infecções ósseas localizadas podem não interferir nos resultados de hemograma. A avaliação radiográfica per-mitiu analisar a extensão da lesão, identificando reação periosteal ativa e remodelamento ósseo com característica destrutiva em região mandibular esquerda do paciente em discussão. O cultivo microbiológico é o teste “ouro” para o diagnóstico das osteomielite bacterianas e micóticas (11) e permitiu o fechamento do diagnóstico no presente relato. O TSA permitiu a escolha de um anti-biótico eficiente contra a cepa de Staphylococcus spp isolada assegurando o sucesso do tratamento contra esse microrganismo. Como não é possível realizar o TSA para fungos optou-se pelo uso do itraconazol. Os fármacos mais utilizados em casos de infecções por fungos são fluconazol, ceto-conazol, anfotericina B e itraconazol, sendo o último mais utilizado por apresentar menos efeitos colaterais (7). Embora o itraconazol e a azitromicina sejam capazes de causar uma série de efeitos colaterais, ambos se mostraram eficientes e foram bem tolerados pelo paciente do presente relato.

ConclusãoConclui-se que o Microsporum canis associado ao Staphylococcus spp podem causar osteomielite

em gatos e que a associação de azitromicina com itraconazol é uma alternativa eficiente para o tratamento dessas osteomielites.

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Osteomielite por Microsporum canis e Staphylococcus spp em Gato (Felis catus), Caso Atípico

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Osteomielite por Microsporum canis e Staphylococcus spp em Gato (Felis catus), Caso Atípico

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 84-86.84

Otite Externa devido proliferação de Malassezia sp. em FelinoVeronika Smoger Kauss - Estudante de Medicina Veterinária na instituição União Pioneira de Integração SocialAlexandra Mazer Greuel - Médica Veterinária da instituição União Pioneira de Integração [email protected]

Kauss VS; Greuel AM. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 84-86.

ResumoA infestação dos canais auditivos devido a proliferação da levedura Malassezia sp. é raramente iden-tificada em gatos. Está presente naturalmente na flora oral e anal assim como na flora auricular dos felinos (1).

A otite externa é a manifestação clínica da infestação por Malassezia sp mais comum, caracterizada pela presença de material negro seroso ou resquícios ceruminosos excessivos, prurido intenso ou brando, acne crônica na região do queixo, alopecia e eritema (2).

É comum a proliferação de Malassezia sp, ser secundaria a doenças cutâneas alérgicas, autolimpeza ruim, infecção pelo vírus da imunodeficiência felina, diabetes mellitus ou neoplasia interna (2).

Animais que vivem em gatis com grande número de gatos no mesmo ambiente são predispostos a apresentar otite externa e outras enfermidades devido à proximidade uns com os outros e o estresse diário causado pela superpopulação (3).

A finalidade do estudo em questão consiste em alertar os clínicos de pequenos animais sobre a in-fecção causada pela levedura Malassezia sp em felinos, sendo está de alta incidência em cães, mas pouco relatado nos gatos.

Palavras-chave:

IntroduçãoA infestação dos canais auditivos devido a proliferação da levedura Malassezia sp. é raramente

identificada em gatos. Está presente naturalmente na flora oral e anal assim como na flora auricu-lar dos felinos (1).

A otite externa é a manifestação clínica da infestação por Malassezia sp mais comum, carac-terizada pela presença de material negro seroso ou resquícios ceruminosos excessivos, prurido intenso ou brando, acne crônica na região do queixo, alopecia e eritema (2).

É comum a proliferação de Malassezia sp, ser secundaria a doenças cutâneas alérgicas, autolim-peza ruim, infecção pelo vírus da imunodeficiência felina, diabetes mellitus ou neoplasia interna (2).

Animais que vivem em gatis com grande número de gatos no mesmo ambiente são predispos-tos a apresentar otite externa e outras enfermidades devido à proximidade uns com os outros e o estresse diário causado pela superpopulação (3).

A finalidade do estudo em questão consiste em alertar os clínicos de pequenos animais sobre a infecção causada pela levedura Malassezia sp em felinos, sendo está de alta incidência em cães, mas pouco relatado nos gatos.

Descrição do casoFoi atendido na clínica veterinária Gato de Bigode, a paciente Vina, felino, da raça Munchkin,

fêmea, dócil, castrada, com 4 meses de idade, pesando 1,5kg. A tutora relatou que adquiriu o ani-mal de um gatil em Foz do Iguaçu (PR). A paciente foi transportada para Brasília (DF), onde resi-dia, de avião, e havia chegado há dois dias. Morava em apartamento e o animal não tinha acesso

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à rua. A queixa principal era de que o animal apresentava prurido intenso em ambas as orelhas desde sua chegada, entretanto não havia relatos desses sinais anteriores à viagem. A tutora rela-tou que ela não convive com outros animais em sua residência. A alimentação diária consistia em ração seca e úmida Royal Canin® Kitten. A paciente possuia sorologia negativa para FIV e FelV.

No exame físico foi observado aumento dos linfonodos mandibulares, prurido auricular inten-so com presença de cerúmen negro, alopecia na região externa dos pavilhões auriculares e acne na região mentoniana.

TécnicaPara diagnóstico foi realizada colheita de material para citologia com auxílio de swab e cultura

do conteúdo ceruminoso. Ambos os exames apresentaram resultados compatíveis com infecção por Malassezia spp.

Foi prescrita terapia unicamente tópica com a utilização de Easotic® que compreende uma com-binação de hidrocortisona aceponato, gentamicina e miconazol. Foi administrado um mililitro, correspondendo a um punch, por conduto auditivo por dia, durante cinco dias. E associou-se Re-volution® 6% filhotes, uma ampola a cada 2 semanas, na quantidade de uma ampola a cada apli-cação, sendo realizadas duas gotas em cada orelha e o restante da ampola no dorso do animal. O intervalo entre a primeira ampola e a segunda foi de duas semanas, e da segunda ampola para a terceira, consistiu de um mês. Além da limpeza diária com Phison® anti-odor limpador auricular

antes da administração do Easotic®, assim como banhos semanais com Cloresten®.

DiscussãoA concentração de Malassezia sp. encontrada pode não ser proporcional à intensidade dos sinais

clínicos. De acordo com a literatura, a identificação de apenas um microrganismo com a apresen-tação da sintomatologia clinica comprovam a infestação (1).

O diagnóstico é baseado no histórico clinico do paciente, otoscopia e citologia da secreção dos condutos auditivos onde será possível observar leveduras (4).

A terapia tópica é a chave para o sucesso no tratamento de otite externa. Para isto é de extrema importância a escolha correta do medicamento, a quantidade e a profundidade de aplicação. Subs-tâncias administradas topicamente atingem uma concentração muito maior e portanto, mesmo apresentando resistência in-vitro ainda se mostra eficiente. Com exceção do Easotic® atualmente não há disponibilidade de outro medicamento que apresente a dose exata de aplicação e que seja de fácil utilização (5).

Figura 1 - Conduto auditivo da paciente com infestação por Malassezia sp.

Otite Externa devido proliferação de Malassezia sp. em Felino

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Nos Estados Unidos utilizam protocolos individualizados associando-se amicacina e ticarci-lina através de formulações humanas, através de aplicações tópicas três vezes ao dia. Entretanto, por se tratar de medicações formuladas para medicina humana o seu uso deve ser cauteloso (5).

A administração de aminoglicosídeos deve ser realizado uma hora após a limpeza do conduto auditivo com solução ácida, já que a ação dos aminoglicosídeos é melhor em ambientes alcalinos. Um dos aminoglicosídeos mais ototóxicos para gatos é a gentamicina que pode leva a síndrome vestibular, se não usada dentro da dose recomendada (5).

A maioria das medicações otológicas possuem glicocorticóide. Um estudo revelou que o uso de dexametasona durante 14 dias já foi capaz de causar supressão do eixo hipotálamo-hipófise--adrenal, sugerindo que o responsável seria o veículo utilizado. Assim existe o risco de ocorrer hiperadrenocorticismo ao utilizar a longo prazo glicocorticóide no conduto auditivo. Uma nova geração de glicocorticóide é o aceponato de hidrocortisona, capaz de evitar efeitos sistêmicos an-tecipados (5).

Os limpadores auriculares são utilizados para limpeza doméstica do canal auditivo associada a terapêutica com antibióticos e em muitos casos usado como profilaxia em otites recorrentes e resistentes (5).

ConclusãoO tratamento de otite externa causada pela Malassezia spp, exclusivamente tópico, com associa-

ção de princípios ativos específicos, tem se mostrado bastante eficiente, especialmente em felinos em que as terapias orais podem ser de difícil administração e costumam ser mais longas.

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Otite Externa devido proliferação de Malassezia sp. em Felino

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Peculiaridades terapêuticas da Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva em um felino com Insuficiência cardíaca congestiva e hipotensão – Relato de CasoLarissa Aparecida de Cássia Silva - Aluna do 8º módulo de Medicina Veterinária - UFLA Bruna da Silva Caixeta - Residente em Clínica Médica de Animais De Companhia - UFLAClaudine Botelho de Abreu - Doutoranda em Ciências Veterinárias - UFLATatiana Schulien - Médica Veterinária e Professora – Unincor/Três Corações Lorena Lorraine Alves Furtado - Mestranda em Ciências Veterinárias - UFLARuthnéa Aparecida Lázaro Muzzi - Professora associada DMV – UFLAEmail: [email protected]

Silva LAC; Caixeta BS; de Abreu CB; Schulien T; Furtado LLA; Muzzi RAL. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 87-90.

ResumoA cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CMHO) felina é uma complicação da cardiomiopatia hiper-trófica, na qual ocorre obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (VE), levando a insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Este trabalho tem como objetivo relatar as peculiaridades na terapia da CMHO associada à ICC e hipotensão. Foi atendido no Hospital Veterinário da Instituição, um felino, fêmea, sem raça definida, 2 anos, que presentava dispneia/taquipneia, crepitação pulmonar bilateral e hipotensão. No exame radiográfico de tórax havia cardiomegalia e sinais sugestivos de edema pul-monar. O ecocardiograma evidenciou a presença de hipertrofia concêntrica assimétrica de ventrículo esquerdo com obstrução da VSVE, aumento acentuado de átrio esquerdo e efusão pericárdica acentu-ada. Foi submetida à terapia medicamentosa e pericardiocentese. O Atenolol, apesar de contraindica-do, foi utilizado como uma alternativa de melhora do quadro obstrutivo. Apesar de todos os esforços, a paciente veio a óbito. A CMHO é grave e, neste caso, foi difícil de estabilizar, já que o quadro clínico não permitia o uso de medicações essenciais, como pimobendan.

Palavras-chave: CMHO; gato; pimobendan.

IntroduçãoA cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é uma enfermidade primária do miocárdio ventricular,

na qual ocorre hipertrofia muscular concêntrica, sendo a doença cardíaca mais frequente nos feli-nos (1). A forma obstrutiva (CMHO) é um agravante da CMH, culminado em obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) (2,3). Ela ocorre quando há áreas de hipertrofia localizada próximo ao septo interventricular, com projeção para VSVE (3; 1).

A CMH é de causa genética, apresentando hereditariedade autossômica dominante com pene-trância imcompleta (5). Os sinais clínicos mais comuns são dispneia, taquipneia, efusão pleural e/ou edema pulmonar, tromboembolismo na bifurcação da aorta e arritmias (6, 1). O tratamento depende da fase da doença em que o animal se encontra. Este trabalho tem por objetivo relatar as peculiaridades na terapia da CMHO associada à ICC e hipotensão.

Descrição do casoUm felino, fêmea, sem raça definida, de 2 anos e 3,9 kg foi encaminhado ao Hospital Veterinário

da Instituição. O histórico era de dificuldade respiratória, principalmente ao dormir, ruído respi-ratório seco ao se exercitar, hiporexia, discreta perda de peso e apatia. Ao exame físico, o animal apresentava taquipneia (60 mrp) e crepitação pulmonar bilateral. Além disso, apresentava escore corporal baixo (2/9) e possuía comportamento agressivo. A avaliação da pressão arterial eviden-ciou um quadro de hipotensão (70 mmHg). Na radiografia torácica havia cardiomegalia e opacifi-

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cação pulmonar generalizada do tipo intersticial tendendo à alveolar, sugerindo edema (Imagem 1). Ao exame ecocardiográfico (Imagem 2), foi observado hipertrofia ventricular assimétrica com obstrução da VSVE, aumento acentuado de átrio esquerdo e efusão pericárdica em quantidade acentuada levando ao tamponamento do átrio direito. A espessura do ventrículo esquerdo era de aproximadamente 7,4 mm na parede livre e 9,6 mm na região de septo interventricular. A relação Átrio esquerdo/aorta (AE/Ao) foi de 2,38. A paciente foi internada para estabilização do quadro. A terapia consistiu na administração de dopamina (5µg/kg/min em infusão contínua), furosemi-da (2,5 mg/kg intramuscular) e pericardiocentese, sendo drenado aproximadamente 30 mL da efusão. Para o procedimento, foi realizada sedação com tiletamina e zolazepan (Zoletil® - 10 mg/kg intramuscular). Entretanto, devido ao comportamento agressivo da paciente, não foi possível mantê-la internada mais que 24 horas. O tratamento foi realizado a domicílio com furosemida (2mg/kg via oral a cada 12 horas) e clopidogrel (18,75 mg/gato via oral a cada 24 horas). Após uma semana, a paciente retornou apresentando quantidade discreta de efusão pericárdica, não sendo necessário drenar. Foi instituída a administração de atenolol (6,25 mg/kg via oral a cada 24 horas). Apesar da recomendação de retornos semanais para acompanhamento do quadro, o animal não retornou mais, vindo a óbito em aproximadamente 30 dias do primeiro atendimento.

Figura 1 - Radiografia de torácica em posição látero-lateral esquerda, evidenciando cardiomegalia e opacificação pulmonar gene-ralizada do tipo intersticial tendendo à alveolar.

Figura 2 - Ecocardiograma A. Obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (ponta da seta) e remodelamento de átrio esquer-do. B. Relação AE/Ao com valores acima do intervalo de referência. C. Hipertrofia da musculatura ventricular esquerda e efusão pericárdica (ponta da seta).

Peculiaridades terapêuticas da Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva em um felino com Insuficiência cardíaca congestiva e hipotensão – Relato de Caso

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Técnica ou situaçãoPara a realização do ecocardiograma, foi realizada tricotomia da região torácica do 3° ao 5º

espaço intercostal. O animal foi gentilmente contido em decúbito lateral esquerdo e direito e as imagens foram coletadas e analisadas seguindo as recomendações de (7). Para a drenagem da efusão pericárdica, o animal foi sedado (conforme citado) e posicionado em decúbito esternal. Foi inserido um cateter no 20 no 5º espaço intercostal direito acima das articulações costocondrais na face cranial das costelas, seguindo as recomendações de (8). O paciente foi acompanhado por eletrocardiograma durante todo procedimento.

DiscussãoO diâmetro da parede do ventrículo esquerdo deve ser menor ou igual a 6,0 mm (7), e relação

Átrio esquerdo/aorta menor que 1,5 mm (9,10). No presente caso, os valores estavam acima da normalidade, indicando hipertrofia muscular e aumento acentuado de átrio esquerdo. Em casos de ICC, o uso de Pimobendan pode ser indicado, devido o seu efeito inotrópico positivo e vaso-dilatador. Porém, é contraindicado em casos de obstrução da VSVE, pois pode piorar essa hiper-trofia (11, 12). Assim, não foi possível utilizá-lo, sendo um fármaco que poderia ter contribuído para melhora do quadro congestivo. O Atenolol, por sua vez, é indicado para reduzir a hipertrofia muscular e diminuir a obstrução da via de saída do VE. Porém, possui efeito inotrópico negativo, sendo contraindicado quando há ICC e hipotensão (13). No presente caso, a utilização do mesmo foi com intuito de diminuir a obstrução da VSVE e, consequentemente, melhorar os sinais clínicos e possivelmente instituir o pimobendam. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA) são comumente utilizados em cardiopatias, mas neste caso sua utilização não era indicada, devido a presença de hipotensão, ICC e hiporexia. O paciente deve estar estabilizado e normoréti-co para sua instituição. Por fim, nem todos os casos de efusão pericárdica necessitam drenagem, somente quando houver quantidade significativa que leve ao tamponamento do átrio direito (13), conforme fora observado na paciente em questão. Por isso, o procedimento foi realizado, a fim de restaurar as pressões intrapericárdicas e o enchimento ventricular.

Conclusão Conclui-se que, a CMHO é grave, e neste caso foi difícil estabilizar a paciente, já que seu quadro

clínico não permitia o uso de medicações essenciais para melhora. Além disso, a agressividade do animal dificultou ainda mais o manejo terapêutico.

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Peculiaridades terapêuticas da Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva em um felino com Insuficiência cardíaca congestiva e hipotensão – Relato de Caso

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Positividade de hemoparasitos em gatos domésticos da região urbana de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil: aspectos laboratoriaisCamila Nogueira de Faria - Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Federal de UberlândiaDouglas Alves Pereira - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de UberlândiaGuilherme Carrara Moreira Paiva - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de UberlândiaMarco Miguel de Oliveira - Doutorando(a) do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Universidade Federal de UberlândiaCamila Oliveira Silva Barbosa - Doutorando(a) do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Universidade Federal de UberlândiaMárcia Cristina Cury - Docente, Universidade Federal de Uberlândia

de Faria CN; Pereira DA; Paiva GCM; de Oliveira MM; Barbosa COS; Cury MC. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 91-93.

ResumoA infecção por hemoparasitos em gatos domésticos é transmitida principalmente por vetores artróp-odes como pulgas e carrapatos. Grande parte das infecções permanecem sem diagnóstico preciso, devido ao fato de que esses métodos rotineiramente utilizados possuem baixa sensibilidade e especifi-cidade. Este estudo, teve como objetivo avaliar a positividade dos piroplasmídeos Babesia e Cytauxzoon spp, e os hemoplasmas, Mycoplasma e Ehrlichia spp. em gatos domésticos da região urbana de Uberlân-dia/MG. Entre maio de 2017 e maio de 2018, foram avaliados 300 gatos domésticos ( felis catus). De cada animal, foram coletados 0,2µL de vasos periféricos de ponta de orelha, e confeccionadas extensões sanguíneas, para a visualização das formas parasitárias. Foram observadas nas extensões sanguíneas 3,33% (10/300) de infecção por Babesia spp.; 0,33% (1/300) Cytauxzoon spp.; 3,33% (10/300) Ehrlichia spp. e 1,34% (04/300) para Mycoplasma spp. Infecções concomitantes por Babesia spp. e Ehrlichia spp. 0,67% (02/300) e Babesia spp. associado a Mycoplasma spp, foram observadas. A partir dos resultados obtidos, observou-se que os hemoparasitos estão presentes nos gatos domésticos da região urbana de Uberlândia/MG, necessitando maior atenção dos médicos veterinários à saúde desses animais.

Palavras-chave: Gatos domésticos; Hemoplasmas. Piroplasmas.

IntroduçãoDentre os hemoparasitos que acometem gatos domésticos e que são transmitidos por artrópo-

des vetores, pulgas e carrapatos, os de maior importância são os protozoários piroplasmas dos gêneros Babesia spp, Cytauxzoon spp. e Hepatozoon spp, além de Hemoplasmas gram-negativos, como Mycoplasma spp.(hemoplasma) e Ehrlichia spp. (1).

Os hemoparasitos de felinos são detectados a partir de achados clínicos, não havendo estu-dos em grande escala sobre a real situação da prevalência e os principais gêneros e espécies que acometem esses animais. Devido ao aumento da população felina, é necessário que o Médico Veterinário conheça profundamente esses parasitas, assim como a relação parasita/hospedeiro (2, 3).

Atualmente o diagnóstico das hemoparasitoses é realizado comumente pela extensão sanguí-nea de sangue venoso periférico e são úteis durante a fase aguda da doença, o que coincide com o nível máximo de parasitemia. Apesar de ser um teste rotineiro na prática clínica, requer atenção e conhecimento do laboratorista. Além da baixa especificidade e sensibilidade, resultados falso--positivos e ou negativos na visualização dos hemoparasitos, podem ocorrer quando as extensões sanguíneas não são realizadas corretamente, artefatos geram confusões na diferenciação das in-clusões celulares presentes (4, 5).

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Materiais e MétodosComitê de Ética e Área de EstudoO estudo foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética na Utilização de Animais da Uni-

versidade Federal de Uberlândia (CEUA/UFU), sob o protocolo número 011/17. O estudo foi reali-zado na cidade de Uberlândia, estado de Minas Gerais, localizada na macrorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

Animais do estudoNo período compreendido entre maio de 2017 e maio de 2018, foram coletadas amostras san-

guíneas de gatos domésticos ( felis catus), atendidos em clínicas particulares, hospitais veterinários e procedentes de abrigos, de ambos os sexos, idade, raças e regiões da área urbana do município de Uberlândia-MG. Durante o contato e atendimento dos animais, os tutores foram informados sobre o objetivo e a execução da pesquisa, assinando termo de consentimento para coleta das amostras de sangue.

A contenção física dos animais seguiu rigorosamente as técnicas semiológicas em Medicina Veterinária para pequenos (6).

Coleta de sangue e preparo das extensões sanguíneasAs amostras sanguíneas foram obtidas de vasos sanguíneos periféricos marginais (ponto de

orelha) na quantidade de 0,2µL de ambas as orelha direita e esquerda, utilizando-se agulhas hipo-dérmicas descartáveis Soudor® calibre 25x0,8 (21Gx1”), para confecção das extensões sanguíneas.

As extensões sanguíneas foram identificadas com o número da ficha do animal, fixadas e co-radas pelo método de May-Grunwald-Gimsa (MGG) (7). Após secagem, foram observadas em microscopia óptica convencional em objetiva de 100x com auxílio de óleo de imersão para ava-liação da positividade e morfologia dos elementos figurados no sangue. Todo o procedimento foi realizado no Laboratório de Sorologia e Biologia Molecular de Parasitos da Universidade Federal de Uberlândia.

Identificação e diagnóstico dos hemoparasitosOs gêneros dos parasitos foram identificados pelas células ou elementos figurados presentes no

sangue. A análise morfológica das formas evolutivas foi baseada de acordo com as características inerentes de cada hemoparasitos (8, 9).

Resultados e DiscussãoA maioria da população era composta de fêmeas (n=194 / 64,67%), sem raça definida (n=290 /

96,67%), adultos (n=197 / 65,67%), atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (n=245 / 81,66), habitando casa (n=200 / 66,66%), porém com acesso livre à rua (n=243 / 81,00%), parasitados por pulgas (n=133 / 44,33%) e alimentados com ração (n=194 / 64,67%).

A pesquisa de hemoparasitos em extensões sanguíneas revelou que, 3,66% (11/300) dos animais tinham formas intraeritrocitária de piroplasmas. Destes 3,33% (10/300) para parasitos do gênero Babesia spp.; 0,33% (01/300) para Citauxzonn spp.; 5,33% (16/300) para Eherlichia spp.; 1,34% (04/300) para Mycoplasma spp. Também foram observadas infecções concomitantes entre os parasitos do gênero Babesia e Ehrlichia spp. 0,67% (02/300) e Babesia associado a Mycoplasma spp. 0,33% (1/300).

Existem poucos trabalhos no Brasil e no Mundo que relatam a ocorrência de hemoparasitos em felinos domésticos e quais os gêneros/espécies desses agentes infecciosos que infectam esses animais (2, 10, 11).

A positividade de 11,33% para piroplasmas e hemoplasmas, encontrada neste estudo foi su-

Positividade de hemoparasitos em gatos domésticos da região urbana de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil: aspectos laboratoriais

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perior as observadas neste estudo (12), que evidenciou 0,48% e 0,97% na mesma ordem. (13) iden-tificou somente formas para Mycoplasma spp. com 12,5%. Não foram encontrados hemoparasitos neste estudo (14).

ConclusãoOs gatos domésticos do presente estudo apresentaram hemoparasitos dos gêneros Babesia, Ehr-

lichia e Mycoplasma spp. e apenas um animal apresentou Cytauxzoon spp. A importância da relação entre os hospedeiros e as parasitoses, assim como, a sua importância na saúde pública deve ser melhor avaliada para se estabelecer estratégias eficazes de prevenção.

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13. Teives MJNVC. Deteção da infeção Por Babesia Spp, Hepatozoon spp, Leishmania spp, Ehrlichia spp. E Dirofila-ria Immitis em gatos (Felis Catus Domesticus) por técnicas parasitológicas diretas e serológicas no concelho de Alcochete. 2015. 132 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2015.

14. Malheiros J, Costa MM, Do amaral RB, Sousa KCM, André MR, Machado RZ, Vieira MIB. Identification of vector--borne pathogens in dogs and cats from southern Brazil. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 7, n. 5, p. 893-900, 2016.

Positividade de hemoparasitos em gatos domésticos da região urbana de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil: aspectos laboratoriais

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Prevalência de Blastocystis sp. em gatos (Felis catus) em Uberlândia, Minas Gerais, BrasilCamila Nogueira de Faria - Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Federal de UberlândiaCamila Oliveira Silva Barbosa - Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de UberlândiaKelem Cristina Pereira Mota - Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de UberlândiaMaria Júlia Rodrigues da Cunha - Pós-Doutoranda do Programa de Genética e Bioquímica, Universidade Federal de UberlândiaDouglas Alves Pereira - Mestrando, Universidade Federal de UberlândiaMárcia Cristina Cury - Docente, Universidade Federal de Uberlâ[email protected]

de Faria CN; Barbosa COS; Mota KCP; da Cunha MJR; Pereira DA; Cury MC. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 94-96.

ResumoO protozoário parasito do trato gastrointestinal de humanos e animais, Blastocystis sp., é frequen-temente encontrado em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Possui potencial zoonótico e a transmissão ocorre por rota fecal-oral e pelo contato direto com alimentos e água contaminados. No Brasil existem poucos estudos com esse parasito, sem levantamentos epidemiológicos. O objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência de Blastocystis sp. em amostras fecais de gatos domésticos e errantes do município de Uberlândia, Minas Gerais. As amostras fecais dos gatos domésticos foram coletadas das caixas de areia, enquanto que as de gatos errantes foram colhidas do chão do recinto onde estavam. Após coleta, as fezes foram submetidas à análise molecular no Laboratório de Soro-logia e Biologia Molecular de Parasitos da Universidade Federal de Uberlândia, onde foi realizada extração de DNA seguida de PCR. Foram analisadas amostras fecais de 23 animais, sendo 13 gatos domésticos e 10 errantes. Destes últimos, 03 estavam para adoção em pet shops da cidade, 06 abrigados na Associação de Proteção Animal (APA) e 01 vivia solto em uma propriedade rural. Nenhuma das amostras fecais coletadas estavam positivas para Blastocystis sp. Mais estudos epidemiológicos devem ser conduzidos em populações felinas, para o melhor entendimento do papel desses animais no ciclo de transmissão deste parsito.

Palavras-chave: parasito; análise molecular; PCR.

IntroduçãoBlastocystis sp. é protozoário intestinal de humanos e animais, e está presente em países

desenvolvidos e em desenvolvimento (1,2,3). Apresenta morfologia pleomórfica, variando entre amebóide, vacuolar, granular e cística (4). O ciclo de vida não está bem elucidado, devido à falta de modelo animal adequado, porém existe consenso entre diferentes autores que a forma infectante é o cisto,por ser resistente a fatores ambientais (5). Acredita-se que a transmissão estejaassociada à rota fecal-oral, contato com animais infectados e ingestão de alimentos e água contaminados com cistos do parasito (4, 6,7,8).

O diagnóstico para detecção de Blastocystis sp. pela microscopia convencional pode subestimar os resultados, pois o parasito pode ser confundido com outros microorganismos. E o diagnóstico por cultura de fezes é demorado e muitas vezes inviável (9,2). Devido a essas dificuldades várias abordagens têm sido desenvolvidas,utilizam métodos moleculares como ferramenta de diagnós-tico (4,11,3).

O objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência de Blastocystis sp. em amostras fecais de gatos domésticos e errantes do município de Uberlândia, Minas Gerais.

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 94-96. 95

Material e Métodos Local de coleta e de desenvolvimento do trabalho Todos os animais envolvidos no trabalho residem no município de Uberlândia, Minas Gerais,

Brasil. Para detectar a presença de Blastocystis sp. nas amostras fecais desses animais, foi realizado diagnóstico molecular (extração de DNA e PCR) no Laboratório de Sorologia e Biologia Molecular de Parasitos da Universidade Federal de Uberlândia.

Coleta das amostras fecaisAs amostras de fezes dos gatos domésticos foram coletadas das caixas de areia, logo após os

mesmos terem defecado, enquanto que as de gatos errantes foram colhidas do chão do recinto onde estavam abrigados. No momento da coleta foi obtido o material da parte superior do bolo fecal, que não estava em contato com o solo. As amostras foram colocadas em frascos coletores identificados com dados do animal e data da coleta. Todas as amostras foram armazenadas em caixas térmicas contendo gelo e transportadas ao Laboratório de Sorologia e Biologia Molecular de Parasitos da Universidade Federal de Uberlândia para processamento.

Extração de DNA das amostras fecais O DNA das amostras foi extraído utilizando kit de extração QIAmp DNA Stool Mini Kit (Qia-

gen™, Hilden, Germany), seguindo as instruções do fabricante. O DNA extraído foi armazenado sobre refrigeração a -20ºC até a realização da PCR.

Diagnóstico molecular de Blastocystis sp.Para o diagnóstico molecular de Blastocystis sp. foi realizada PCR para detectar fragmentos

de 479 pb do gene SSU rDNA de acordo com a metodologia previamente descrita por Satín et al. (2011) (3), utilizando os primes: Forward – Blast 505–532 (5′ GGA GGT AGT GAC AAT AAATC 3′) e Reverse – Blast 998–1017 (5′ TGC TTT CGC ACT TGT TCATC 3′).

Eletroforese em gel de agaroseOs produtos das reações de PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 2,0% e

revelados com Gel Red.

Resultados e DiscussãoForam analisadas amostras fecais de 23 animais, sendo 13 (56,5%) gatos domésticos e 10 (43,5%)

errantes. Destes últimos, 03 (30,0%) estavam para adoção em pet shops da cidade, 06 (60,0%) encon-travam-se abrigados na Associação de Proteção Animal (APA) e 01 (10,0%) vivia solto em uma propriedade rural.

Nos últimos anos, tem aumentado o interesse dos pesquisadores no potencial papel dos ani-mais de companhia, principalmente cães e gatos, como reservatórios naturais de infecção huma-na por Blatocystis sp. Entretanto, estudos recentes tem demonstrado inconsistência e resultados conflituosos (12). No presente trabalho, nenhuma das amostras fecais de felinos estavam positivas para Blastocystis sp. Resultados semelhantes foram encontrados em trabalhos em populações fe-linas da Espanha, Japão e Malásia. Em contra partida, o parasito foi reportado em gatos da Es-panha, Austrália, Estados Unidos e Iran, com prevalência variando de 12 a 67% (13,14,15,12). No Brasil, Blastocystis sp. foi pesquisado em gatos errantes do estado de Minas Gerais, porém nenhu-ma amostra foi positiva para o parasito (16). Falhas em identificar Blastocystis sp. em isolados de felinos podem estar associadas a diversos fatores como técnica de diagnóstico utilizada, número amostral, origem dos animais e localização geográfica.

Prevalência de Blastocystis sp. em gatos (Felis catus) em Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 94-96.96

ConclusãoMais estudos epidemiológicos, utilizando maior número amostral e indivíduos de diferentes

origens, devem ser conduzidos em populações felinas, para o melhor entendimento do papel des-ses animais no ciclo de transmissão de Blastocystis sp. Além disso, estudos futuros possibilitarão compreender o impacto dos felinos na saúde pública, uma vez que, frequentemente estão em con-tato próximo com o ser humano.

Referências bibliográficas1. Stenzel DJ,Boreham PFL. Blastocystis hominis recisited. Clinical Microbiology.1996;9: 563-584.

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Prevalência de Blastocystis sp. em gatos (Felis catus) em Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

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Prevalência de Peritonite Infecciosa Felina (PIF) em gatos atendidos no HVU-UFPI no período Janeiro de 2015 a Maio de 2017Hires Yenny Araújo Nascimento - Acadêmica Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPIVivian Nunes Costa - Acadêmica Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPIIvana Costa Moreira - Acadêmica Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPIFernanda de Cássia Mendonça Castro - Acadêmica Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPILucas Assunção Vilanova - Acadêmica Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPIFrancisco Michael Junior Costa - Graduado Medicina veterinária da Universidade Federal do Piauí-UFPIEmail: [email protected]

Nascimento HYA; Costa VN; Moreira IC; Castro FCM; Vilanova LA; Costa FMJ. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 97-99.

ResumoA Peritonite Infecciosa felina (PIF) é uma das enfermidades infecto-contagiosas mais importantes de gatos, acometendo tanto animais domésticos como selvagens e geralmente o curso é fatal. Causada por uma mutação do Coronavírus Felino, se manifesta de duas formas: forma efusiva ou úmida e a forma não efusiva ou seca, e ainda, alguns animais podem apresentar características de ambas as formas. É mais comum em animais jovens (com menos de um ano de idade) e geriatras por conta da imaturidade e fragilidade do sistema imune. É uma doença que ainda não possui um tratamento eficaz e na maioria das vezes o curso é progressivo e fatal. O objetivo desse estudo foi demostrar a prevalência de PIF no Hospital Veterinário Universitário - HVU de Teresina entre janeiro de 2015 a maio de 2017. O total de felinos atendidos no período foi de 5.059 animais, tendo sido encontrado um caso da doença (0,02%) pertencente a raça SRD (Sem Raça Definida). Conclui-se com este trabalho que a incidência de PIF foi baixa comparada a outros estudos. A realização de novas pesquisas na área é de grande importância para o conhecimento da ocorrência endêmica dessa doença na região.

Palavras-chave: Coronavírus felino; Sistema imune; Medicina veterinária.

Introdução A peritonite infecciosa felina (PIF) é uma enfermidade infecto-contagiosa, que acomete tanto

felinos domésticos quanto selvagens, e geralmente é fatal (1). É caracterizada por provocar vascu-lite imunomediada e inflamação piogranulomatosa, causada por uma mutação do Coronavírus Entérico Felino, tendo como manifestações clínicas desde uma leve enterite podendo chegar à for-ma grave de peritonite infecciosa felina, geralmente fatal em gatos jovens (2). Os principais locais de aparecimento dessas lesões são nas serosas parietal e visceral, nos olhos e no sistema nervoso central (1). Embora a taxa de morbidade da PIF seja baixa, acometendo apenas alguns felinos por-tadores crônicos da infecção, a taxa de letalidade é próxima de 100% (3).

A aglomeração é um fator importante na epidemiologia da doença, haja vista que animais que vivem em grupos, como em abrigos, gatis ou mesmo em pets, são mais suscetíveis pela maior con-taminação viral (4). Em virtude da gravidade dos quadros clínicos de PIF, quase sempre evoluindo ao óbito, é imprescindível o conhecimento dos aspectos e condições que levam ao aparecimento da doença, para identificação da existência de possíveis áreas endêmicas ou não (4). O presente trabalho teve como objetivo, avaliar a prevalência de PIF no Hospital Veterinário Universitário - HVU de Teresina, Piauí, no período de janeiro de 2015 a maio de 2017.

Material e Métodos Foi realizada a coleta dos dados de atendimentos de felinos no Hospital Veterinário Universitá-

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 97-99.98

rio – HVU, de Teresina no período de janeiro de 2015 a maio de 2017 através do programa de com-putador DoctorVet®, que é utilizado pelo hospital para registrar todos os dados dos animais que passaram por algum tipo de atendimento. O levantamento dos dados ocorreu no dia 31 de maio de 2017. A pesquisa contava com os seguintes dados: espécie, todas as raças que passaram por atendimento e total de felinos atendidos no período. Após o levantamento dos dados, foi calcula-do o total de atendimentos de felinos, qual a raça havia sido a mais atendida durante o período, a percentagem de atendimento correspondente a cada raça e o número de casos diagnosticados de PIF com a percentagem sobre o número total. Não foi utilizado nenhum programa matemático.

Resultados e Discussão O número de felinos atendidos no período de 01 de janeiro de 2015 a 30 de maio de 2017 foi

de 5.059 animais, e o total de casos encontrados de PIF foi 1, correspondendo a cerca de 0,02% de incidência da doença nos gatos da pesquisa. Ainda, a raça mais atendida foi a SRD (Sem Raça De-finida), que correspondeu a 81,79% dos animais atendimentos.

O número de casos de PIF diagnosticados foi baixo em relação ao número total de felinos aten-didos dentro do período estabelecido para o estudo correspondendo a 0,02% (1 animal), resultado esse diferente do encontrado por Sapin et al. (5), que teve uma incidência de 3,14% (10 animais) de casos de PIF dos 318 felinos analisados. Gatos SRD foram os mais atendidos no período, estando o felino diagnosticado com PIF pertencendo a este grupo de animais. De acordo com Möstl et al. (6) a prevalência de PIF é maior em gatos que vivem em ambientes com mais de seis animais (prin-cipalmente em abrigos) e menos comum em grupos menores. O gato diagnosticado com PIF não era de abrigo, o que leva a hipótese de que havia uma prevalência maior da doença no ambiente, devido à maior contaminação viral e aumento do número de cepas do VPIF por falta de manejo (7). O animal tinha dois anos estando dentro da faixa etária descrita por Nelson & Couto (8) como sendo de risco para o desenvolvimento da doença. Antes do aparecimento dos sintomas o animal passou por procedimento cirúrgico (orquiectomia), o que pode ter aumentado o seu nível de es-tresse tornando-o mais suscetível a infecção ou ao aparecimento dos sintomas caso o mesmo já estivesse contaminado pelo Coronavírus felino (4).

O número de casos de PIF subdiagnosticados deve ser considerado, seja por preenchimento inadequado da ficha durante o atendimento, escassez de dados de óbitos, e o diagnóstico incorreto da doença, como sendo os principais fatores que contribuíram para o resultado apresentado neste trabalho, pois, muitos animais já chegam ao HVU em condições clínicas críticas evoluindo rapida-mente ao óbito antes mesmo do diagnóstico correto, e, por conta da semelhança dos sinais clínicos apresentados com os apresentados por outras doenças como Toxoplasmose, infecções fúngicas, neoplasias e retroviroses podendo não ser diagnosticada corretamente (2).

Conclusão Com base nos resultados obtidos, observou-se que a incidência de PIF no Hospital Veterinário

Universitário – HVU de Teresina está abaixo de outros estudos. Não foram encontrados relatos na literatura sobre a prevalência da doença em Teresina ou regiões próximas, sendo necessários mais estudos devido ao perfil infectocontagioso da PIF.

Referências bibliográficas 1. Pedersen, NC. Comparative pathobiology of Viral Diseases. Vol 2. Florida: Boca Raton; 1985.p.115-136.

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Prevalência de Peritonite Infecciosa Felina (PIF) em gatos atendidos no HVU-UFPI no período Janeiro de 2015 a Maio de 2017

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 97-99. 99

2014.

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Prevalência de Peritonite Infecciosa Felina (PIF) em gatos atendidos no HVU-UFPI no período Janeiro de 2015 a Maio de 2017

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Realização de Sutura íleo-trocantérica em felino com luxação coxofemoral traumáticoAmana Fernandes Maia - Graduanda em medicina veterinária na da Universidade Federal de Campina Grande Victor Manuel Lacerda Freitas - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosFrancisco Alípio de Souza Segundo - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosTaynara Sombra de Oliveira - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosEdla Iris de Sousa Costa - Residente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – Patos Marcelo Jorge Cavalcanti de Sá - Professor da Universidade Federal de Campina Grande, Campus – PatosE-mail: [email protected]

Maia AF; Freitas VML; de Souza Segundo FA; de Oliveira TS; Costa EIS; de Sá MJC. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 100-102.

ResumoA frequência de luxações coxofemorais é bastante significativa na clínica médica de pequenos an-imais, sendo em sua maioria causadas por traumas causados por atropelamentos. A intervenção cirurgia realizada o mais rapidamente possível é o ideal para que o animal tenha uma recuperação adequada. Este trabalho tem como objetivo relatar a realização da técnica de sutura íleo-trocantérica em felino com luxação coxofemoral após trauma. Um felino, fêmea, de 4 kg, foi atendido no hospital veterinário da UFCG, campus Patos, a queixa era que havia fugido de casa há dois dias e teria retor-nado com claudicação do membro pélvico direito. Após a realização da avaliação clínica e dos exames complementares, o animal foi diagnosticado com luxação da articulação coxofemoral e encaminhado para o procedimento cirúrgico que foi realizado no dia posterior ao atendimento. No procedimento cirúrgico foi realizada a sutura íleo-trocantérica para reparação da luxação e nas primeiras 48 horas de pós-operatório o animal permaneceu coma bandagem de Ehmer. Após 10 dias o paciente retornou e já conseguia apoiar o membro no chão, tendo uma resposta muito positiva ao procedimento cirúrgico.

Palavras-chave: técnica; trauma; claudicação; reparação.

Introdução As luxações coxofemorais são de frequente ocorrência na clínica médica e cirúrgica de pe-

quenos animais, as mais comuns causas são as traumáticas. Sua maior ocorrência é devido a traumas causados por atropelamentos (2). Pode acometer qualquer raça, idade ou sexo, porém animais adultos e felinos machos são mais comumente afetados. No geral utiliza-se o método fechado, podendo também ser utilizado o método aberto/cirúrgico para a redução da luxação. A articulação que mais apresenta essas afecções em cães e gatos é a articulação coxofemoral (3). Essas, geralmente, são resultantes em traumas externos e em sua maioria produzidos por veículos. Segundo (1) a maior parte dessas lesões são de caráter unilateral, e devido às grandes forças que são exercidas sobre a articulação, em torno de 50% dos animais apresentam lesões associadas, como trauma torácico. Apesar de não serem consideras emergências, é preciso que sejam tratadas o quanto antes (4). É uma técnica relativamente simples, eficiente e com custo me-nos elevado quando comparado as outras técnicas. Objetivou-se com esse relato a descrição de uma técnica economicamente viável e segura para o paciente, pois sua rejeição é muito menor.

Descrição do casoUm felino, fêmea, dois anos de idade, 4 kg foi atendido no Hospital Veterinário da UFCG,

campus Patos, a tutora relatou que o animal havia fugido de casa há dois dias e que o mesmo havia retornado com o membro pélvico direito claudicando e sem apoio no chão. Foi realizado exame clínico no qual todos os parâmetros vitais estavam dentro da normalidade. A radiografia solicitada da pelve do animal através de posicionamento latero-lateral e ventro-dorsal, onde se

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 100-102. 101

diagnosticou que o animal tinha luxação da articulação coxofemoral. Solicitaram-se os exames hematológicos: hemograma e bioquímica renal (creatinina, uréia e albumina) e hepática (As-partato Aminotransferase, alanina aminotransferase, Fosfatase alcalina, gama glutamil trans-ferase, bilirrubina e albumina). Após o resultado desses exames foi marcado o procedimento cirúrgico para o dia seguinte.

Técnica ou situaçãoPara a realização da cirurgia foi realizada a medicação pré-anestésica, a tricotomia da região,

assim como a antissepsia do local com uso de iodo a 4%% e a preparação do campo cirúrgico com a colocação dos panos de campo e fixados com as pinças backhaus. Subsequente a prepa-ração do campo cirúrgico foi feita a incisão cranial ao trocanter maior, aproximadamente dois centímetro acima do trocanter, e dois cm abaixo. Em seguida, foi feita a divulsão do subcutâneo. Incisou-se a fáscia lata e prosseguiu-se com a divulsão e afastamento dos músculos glúteos, ten-sor da fáscia lata e bíceps femoral para expor a articulação. A cabeça do fêmur foi inspecionada, não havendo sinais de erosões ou fraturas na mesma. O acetábulo foi acessado para remoção de resquícios do ligamento redondo, coágulos e debris teciduais. Após, realizou- se a redução da luxação. A exposição do corpo do ílio foi obtida com o afastamento do músculo glúteo médio, utilizando um Afastador de Hohmann. Com uma furadeira e broca 2,0 mm, realizou-se um orifício no corpo do ílio, próximo à inserção do músculo reto femoral. O direcionamento da broca foi feito no sentido dorsolateral e ventro-medial. Com uma broca de mesmo diâmetro, foi realizado outro orifício na base do trocânter maior do fêmur, transversal ao eixo ósseo longi-tudinal. Os fios que se encontravam dorsalmente ao corpo do ílio foram introduzidos no túnel femoral com o auxílio de um Passador de Fios. Os fios localizados ventralmente foram passados com uma pinça hemostática curva sobre a fossa inter-trocantérica e sob os músculos glúteos, configurando um padrão de sutura em oito. É necessário o teste com hiperflexão e hiperexten-são para observar se a articulação não voltaria a luxar, como o teste foi negativo, ou seja, não houve luxação, prosseguiu-se com o procedimente de capsulorrafia com nylon 4-0 com padrão de sutura em X. Fez-se necessário utilizar uma banda de tensão para reduzir e estabilizar a osteotomia do trocanter. Em seguida, foi feita a redução do espaço morto com vicryl 3-0 com padrão continuo simples abrangendo a fáscia junto com o subcutâneo e a dermorrafia com nylon 4-0 padrão interrompido simples. Para as 48 horas de pós-operatório foi confeccionada uma bandagem de Ehmer que foi removida após esse período e feito um novo exame ortopédico. O retorno ocorreu com 10 dias após a realização do procedimento e o paciente encontrava-se bem andando normalmente e com uma boa deambulação. Como medicações pós-operatória, foram prescritos, Tramadol 2mg/kg a cada 12 horas durante 7 dias, Meloxican 0,05mg/kg a cada 24 horas durante 3 dias e Furanil na ferida cirúrgica por 10 dias.

Discussão A causa de luxação mais comum em pequenos animais é decorrente de traumas, no geral

causados por veículos. Para a confirmação da suspeita de luxação, foi solicitado o exame radio-gráfico e dessa maneira outras alterações que ocorrem por trauma puderam ser descartadas, na mesma ocasião realizou-se a ultrassonografia para avaliar a integridade dos órgão. E as projeções solicitadas são as mais recomendadas para esse diagnóstico. No exame físico, fez-se a palpação do trocanter maior da sua porção mais dorso cranialmente o que é um indicativo que o animal realmente apresentava uma luxação, sendo essa uma das formais mais comuns de luxações. A escolha do fio de polipropileno ocorreu devido a ser um fio mais resistente, inerte e de custo mais acessível. E a escolha pelo uso da bandagem de Ehmer nas primeiras 48 horas de pós-operatório, se deu para que o animal não forçasse o membro, já que a paciente era muito ativa.

Realização de Sutura íleo-trocantérica em felino com luxação coxofemoral traumático

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 100-102.102

ConclusãoA utilização da técnica de sutura íleo-trocantérica com fio não absorvível monofilamentar de

polipropileno foi eficiente no tratamento da luxação coxofemoral craniodorsal no paciente relata-do.

Referências bibliográficas1. BRINKER, W.O. et al. Tratamento das luxações coxofemorais. In:______. Manual de ortopedia e tratamento das

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Realização de Sutura íleo-trocantérica em felino com luxação coxofemoral traumático

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Relato de Caso - Esporotricose Atípica em Felino Bárbara Weiss Stadler - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, ParanáMaiara Karine Costa - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná Mariane Rodrigues Lago - Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Paraná Patricia Yukiko Montaño - Médica Veterinária da empresa Saúde Felina, Curitiba, Paraná Luana Carpovicz - Médica Veterinária da empresa Saúde Felina, Curitiba, Paraná. Email para correspondência: [email protected]

Stadler BW; Costa MK; Lago MR; Montaño PY; Carpovicz L. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 103-105.

ResumoA esporotricose é uma infecção fúngica causada por espécies do complexo Sporothrix. É classificada como uma zoonose e sua transmissão ocorre por meio de inoculação por arranhadura, mordedura, ou por contaminação cutânea de lesões préexistente. As lesões ocorrem mais comumente no aspecto dis-tal dos membros, cabeça ou base da cauda, de forma cutânea e disseminada. O objetivo desse trabalho é relatar um caso atípico de esporotricose em um felino doméstico. O paciente apresentou, após o procedimento de ovariosalpingohisterectomia, nódulos firmes, não aderidos, não ulcerados e não ex-sudativos em região abdominal, os quais foram removidos cirurgicamente duas vezes e recidivaram no mesmo local. O exame citológico aspirativo por agulha fina resultou em reação inflamatória mista. Já no exame histopatológico foi observado dermatite piogranulomatosa fúngica. Após nova excisão cirúrgica dos nódulos o material foi encaminhado para cultura fúngica, na qual foi constatada a pre-sença de Sporothrix sp. e obteve-se assim o diagnóstico de esporotricose. Dois meses após o início da terapia com itraconazol as lesões desapareceram. Diante disso, nota-se a necessidade de incluir a es-porotricose na lista de diagnósticos diferenciais de lesões cutâneas nodulares recidivantes em gatos.

Palavras-chave: zoonose; Sporothrix sp; cultura fúngica.

Introdução Esporotricose é uma infecção fúngica subaguda ou crônica, causada por espécies do comple-

xo Sporothrix. Possui distribuição mundial, sendo mais frequente em regiões de clima tropical e temperado, podendo ser encontrado preferencialmente em solos ricos em matéria orgânica (1). Sua manifestação depende da competência do sistema imune do hospedeiro e da virulência. O S. brasiliensis é considerado a espécie mais virulenta, e frequentemente envolvida na transmissão zoonótica, sendo predominante em gatos (2). A contaminação

ocorre após inoculação do agente por meio de arranhadura, mordedura ou exsudato de lesões (3). A esporotricose afeta mais gatos machos devido ao hábito extradomiciliar, o que resulta em maior envolvimento em brigas e então em ferimentos que podem se tornar porta de entrada para a infecção (4). A literatura relata que a manifestação pode ser de forma cutânea e disseminada, com localização na porção distal dos membros, cabeça ou base da cauda (1). O diagnóstico da doença baseia-se no isolamento e identificação do agente em cultura fúngica (5). Atualmente, o itracona-zol é o fármaco de eleição para o tratamento da esporotricose cutânea (6). Este trabalho tem como objetivo relatar uma manifestação atípica da esporotricose e o tratamento da mesma.

Descrição do casoUm felino doméstico, fêmea, sem raça definida, de cinco anos de idade, pesando 6,2kg, do-

miciliado, recebeu atendimento clínico em Curitiba, Paraná. No exame físico constatou-se que o paciente apresentava diversos nódulos localizados em terceiro e quarto pares de mamas, assim como lateralizado a elas. Os nódulos apresentavam formas e tamanhos variados, possuindo con-sistência firme, não aderidos, não ulcerados e não exsudativos (Figura 1). O felino apresentava

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essas nodulações desde os seis meses de idade, após ser submetido ao procedimento de ovario-salpingohisterectomia (OSH). Os nódulos já haviam sido removidos cirurgicamente duas vezes, mas regrediram no mesmo local e, de acordo com a tutora, aparentavam estar progredindo em número, além disso, não haviam sido realizados exames histopatológicos dos mesmos. Em relação ao ambiente, a tutora relatou que possuía uma área de terra não telada no quintal da residência e o animal possuía acesso ao local.

Técnica Após o exame clínico foi procedida a citologia aspirativa por agulha fina de dois nódulos pró-

ximos à região mamária, a qual resultou em reação inflamatória mista. Nos exames de ultrassono-grafia abdominal, radiografia de tórax, exames hematológicos e bioquímicos não foram observa-das anormalidades, exceto discreta leucopenia por neutropenia. Além disso, o paciente foi testado para o vírus da leucemia felina (FeLV) e para o vírus da imunodeficiência felina (FIV) pelo método imunocromatográfico, os quais resultaram negativos.

O paciente foi então submetido ao procedimento de biópsia de nódulo sob anestesia geral e a amostra foi encaminhada para análise histopatológica, na qual foi utilizada a coloração de ácido periódico-Schiff (PAS), demonstrando como resultado dermatite piogranulomatosa de causa fún-gica (pseudomicetoma). Diante disso, o tratamento preconizado foi o antifúngico itraconazol na dose de 10 mg/kg, uma vez ao dia, por via oral. Realizou-se a excisão cirúrgica da cadeia de nódu-los mais extensos situados na região direita do abdômen, no entanto os menores não puderam ser removidos por falta de margem cirúrgica. O material foi encaminhado para cultura fúngica, na qual evidenciou-se a presença de Sporothrix sp. na amostra, obtendo-se o diagnóstico de esporotri-cose. A terapia antifúngica foi mantida por seis meses. Dois meses após o início do tratamento o animal já apresentava recuperação completa das lesões remanescentes.

Figura 1 – Nódulos em região abdominal

Relato de Caso - Esporotricose Atípica em Felino

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DiscussãoO local de manifestação da doença no paciente em questão foi atípico, considerando que rotinei-

ramente as regiões mais acometidas são cabeça, porção distal de membros e base da cauda, ocorren-do nestas regiões inoculação do agente durante brigas (7). Além disso, a doença afeta primordial-mente felinos machos, e as lesões costumam apresentar aspecto ulcerado com exsudato (7), diferente do observado no caso relatado.

Embora as doenças imunossupressoras sejam um fator de risco (8), na ausência delas pode ocorrer infecção ou manifestação clínica da esporotricose (9). Como os sinais clínicos se manifestaram após a ovariosalpingohisterectomia, a suspeita primária foi de reação ao fio de sutura. Outros diferenciais como nocardiose, actinomicose e micobacteriose atípica foram considerados (10). A hipótese de que o animal tenha se infectado na própria residência, em área não telada de terra, sustenta-se pelo fato de uma das formas de transmissão ser a geofílica, decorrente de contato com solo, e aos atos de esca-var e encobrir dejetos, típicos de felinos (11). Com relação ao tratamento, o itraconazol é considerado a primeira opção de tratamento, porém a duração ideal deste é desconhecida, e a continuidade re-comendada é de até um mês após resolução clínica das lesões (2). O prognóstico é bom nos casos de lesão localizada, em que o tratamento é realizado durante o período necessário e em que há colabo-ração do paciente e cooperação do tutor (9). As manifestações atípicas da esporotricose justificam a utilização de técnicas específicas de histopatologia, como a utilização de colorações como a de ácido periódicoSchiff (PAS), além da cultura micológica, sempre que houver suspeita clínica (10). Sendo assim, a cultura fúngica proveniente de fragmentos de tecidos é o teste confirmatório de escolha (10).

Conclusão Os relatos de esporotricose atípica não são comumente encontrados na literatura. O tratamento

realizado com o antifúngico itraconazol proporcionou remissão completa das lesões sem recidi-vas até o momento. Diante da complexidade diagnóstica do caso relatado observa-se a necessida-de de incluir a esporotricose na lista de diagnósticos diferenciais de lesões cutâneas nodulares de difícil resolução ou recidivantes em gatos.

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Relato de Caso - Esporotricose Atípica em Felino

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Relato de caso de Cefalotoraconfalopago deradelfo felino avaliado no Hospital Veterinário da UFPI, em Teresina, Piauí Lilian Lopes de Araujo - Médica veterinária, Residente em patologia clinica, UFPI. Douglas Marinho Abreu - Médico Veterinário, Residente em Patologia Animal, UFPI.Carla Menezes Guimarães Sousa - Médica Veterinária, Aprimoranda em Clínica Médica de Pequenos Animais, HVU/UFPI.Jefferson Bruno Soares Oliveira - Médico Veterinário, Residente em Patologia Animal, UFPI.Kelly Noilla de Sousa Araújo - Médica Veterinária, Residente em Diagnóstico por imagem, UFPI.Silvia de Araújo França Baêta - Médica Veterinária, Doutora e Professora do Setor de Patologia Animal, [email protected]

de Araujo LL; Abreu DM; Souza CMG; Oliveira JMG; Araújo KNS; Baêta SAF. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 106-109.

ResumoCefalotoraconfalopago é uma malformação de gêmeos unidos (siameses) muito rara caracterizada pela presença de uma cabeça, cavidades torácicas fundidas, cordão umbilical único, dois quadris separados e duas colunas vertebrais distintas. O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de ce-falotoraconfalopago em felino doméstico fêmea natimorto. A avaliação radiográfica mostrou que o animal apresentava duas colunas vertebrar completas e distintas. O exame necroscópico evidenciou cabeça e encéfalo únicos, duas cavidades orais fundidas e comunicantes, cada uma com uma língua bem formada, únicos esôfago, estômago, intestino delgado, sendo que o intestino grosso se dividia por completo na região íleo cecal, que continuavam em retos e ânus distintos. O trato respiratório era composto por duas narinas e duas cavidades nasais bem formadas, traqueia única e um par de pul-mões morfologicamente normais. Foi observado um cordão umbilical. Este filhote apresentava dois sistemas genito-urinários distintos e bem formados, sendo que cada um era formado por um par de rins e de ureteres, uma bexiga, uma uretra, um par de ovários, um útero, uma vagina e uma vulva.

Palavras-chave: malformação, siameses, felino, cefalotoraconfalópago.

IntroduçãoMalformações fetais incluem a ocorrência de gêmeos unidos por diferentes partes do corpo,

resultam de uma divisão incompleta do disco embrionário e, por vezes, são incompatíveis com a vida. A denominação dessas alterações embriológicas é baseada no ponto de união dos indiví-duos, assim cefalopago, quando unidos pela cabeça, toracopago, pelo tórax, onfalopago apresenta cordão umbilical único, isquiopago tem quadris fundidos, raquipago, colunas unidas e parapagos quando os gêmeos são unidos lateralmente. Essas áreas de união podem apresentar extensão e grau variados e ocorrer simultaneamente, como no cefalotoraconfalopago, cujos indivíduos são unidos pela cabeça, tórax e umbigo, mas mostram colunas vertebrais distintas, de ocorrência ex-tremamente rara (1). Tais animais podem apresentar duas faces completas e opostas, duas faces sendo uma pouco desenvolvida em relação a outra e face única bem formada (deradelfos) (2). A literatura apresenta casos de cefalotoracopago em humanos (3), felinos (2), caninos (4), ovinos (5), camundongos (6) e avestruz (7).

O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de cefalotoraconfalopago deradelfo felino domés-tico fêmea natimorto.

Descrição do casoUma fêmea felina, sem raça definida, de dois anos de idade, em trabalho de parto da segunda,

foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí. Segundo a tutora, a gata

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 106-109. 107

havia parido um filhote em casa e, durante exame clínico, foi constatada a presença de feto no canal vaginal que, por meio de manobras obstétricas, foi retirado e constatou-se que era um nati-morto. Este indivíduo apresentava dois quadris, quatro membros torácicos e quatro pélvico e foi encaminhado para avaliação radiográfica e, posteriormente, exame necroscópico.

A radiografia revelou um crânio, duas colunas vertebrais completas e distintas, quatro mem-bros torácicos e quatro pélvicos bem formados (fig.1).

Figura 1 - Radiografia de natimorto em posição latero-lateral direita.

Figura 2 - (A) natimorto com dois quadris e cordão umbilical único. (B) bifurcação de intestino delgado formando intestinos gros-sos distintos. (C) cavidades orais fundidas contendo uma língua cada. (D) crânio. (E) diafragma único. (F) sistema geniturinário distintos.

Relato de caso de Cefalotoraconfalopago deradelfo felino avaliado no Hospital Veterinário da UFPI, em Teresina, Piauí

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 106-109.108

Em seguida, foram realizados o exame necroscópico e fotodocumentação de todas as etapas. À ectoscopia, o animal apresentava uma cabeça com face única bem formada, tórax com dois pares de membros bem desenvolvidos, umbigo único, ainda ligado a placenta, a partir do qual o corpo do animal se dividia em dois, formando duas pelves distintas e completamente separadas, com um par de membros bem formados em cada (fig.2A). Foi observado um crânio bem desenvolvido (fig.2D), com dois olhos bem formados, mas os arcos da mandíbula não eram unidos na região mentoniana, o forame magno era único e mais amplo que o normal e o encéfalo era macroscopi-camente normal. A gata apresentou duas cavidades orais fundidas e comunicantes, dois palatos moles distintos, cada uma com uma língua bem formada (fig.2C), esôfago, estômago, intestino delgado únicos, sendo que a partir da região íleo-cecal se formavam dois intestinos grossos sepa-rados que continuavam em dois retos e ânus (fig.2B). Foram observados fígado, pâncreas e baço únicos. O trato respiratório era composto por duas narinas e duas cavidades nasais bem formadas, traqueia única e um par de pulmões morfologicamente normais. Apresentava duas cavidades to-rácicas unidas, uma pouco desenvolvida e outra bem formada, contendo os pulmões, um coração bem desenvolvido e diafragma único, completo que separava as cavidades torácicas da abdominal (fig.2E). Este filhote apresentava dois sistemas genito-urinários distintos e bem formados, sendo que cada um era formado por um par de rins e de ureteres, uma bexiga, uma uretra, um par de ovários, um útero, uma vagina e uma vulva (fig.2F).

Técnica ou SituaçãoPara avaliar a relação entre as diferentes estruturas ósseas e do corpo, foi feito uma radiografia

em Raio-X digital CR utilizando 40Kv e miliamperagem 200mA e em projeção latero-lateral direi-ta (fig 1.).

A técnica empregada na avaliação necroscópica foi com o animal posicionado em decúbito dorsal e distendido, incisão longitudinal da pele desde a região mentoniana até a sínfise púbica, sobre a linha alba, e remoção dos órgãos em bloco único, incluindo desde as línguas aos ânus, e posterior separação por blocos. Em seguida, desarticulação atlanto-occipital, para retirada da ca-beça e abertura desta pelo corte da calota craniana.

DiscussãoEmbora as malformações fetais em gêmeos siameses já tenham sido descritas espécies animais

são alterações raras (2,3), em especial, o cefalotoraconfalopago. Casos de cefalotoracopago, unidos pela cabeça e tórax e cordões umbilicais separados, foram relatados em felino (2), canino (4), ovino (5), camundongo (6) e humano (3). Tais alterações são multifatoriais e podem ser causadas por agentes infecciosos, químicos e físicos, alterações cromossômicas, fatores nutricionais e apresen-tam importância pela alta mortalidade do feto e índices alarmantes de distocia, inclusive levando ao óbito da fêmea gestante (2).

Em pesquisa dos autores, não foi encontrado nenhum relato de cefalotoraconfalopago em feli-nos, nas línguas portuguesa e inglesa, sendo este o primeiro relato de tal alteração. Com base nis-so, existe a necessidade de estudos mais aprofundados acerca destas malformações com o intuito de descrever, entender e prevenir tais alterações.

ConclusãoAs alterações anatomopatológicas e radiográfica conduzem ao diagnóstico do primeiro caso de

cefalotoraconfalópago deradelfo em felino no Brasil.

Referências bibliográficas1. Spencer, R. “Theoretical and analytical embryology of conjoined twins: part I: embryogenesis.” Clinical Anatomy:

Relato de caso de Cefalotoraconfalopago deradelfo felino avaliado no Hospital Veterinário da UFPI, em Teresina, Piauí

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 106-109. 109

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Relato de caso de Cefalotoraconfalopago deradelfo felino avaliado no Hospital Veterinário da UFPI, em Teresina, Piauí

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 110-112.110

Relato de Caso: Peritonite Infecciosa Felina em felino de 5 mesesJuliana Schulter Schuroff - Graduandas de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor PalotinaAlessandra da Cruz - Graduandas de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor PalotinaBárbara Dietrich Ribeiro - Graduandas de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor PalotinaGiovanna Machado Benetti - Graduandas de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Setor PalotinaLuciana Wolfran - Residente em Clínica Médica de pequenos animais, Universidade Federal do Paraná, Setor PalotinaMárcio Hamamura - Médico Veterinário Mestre e professor convidado, Universidade Federal do Paraná, Setor [email protected]

Schuroff JS; da Cruz A; Ribeiro BD; Benedetti GM; Wolfran L; Hamamura M. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 110-112.

ResumoA peritonite infecciosa felina (PIF)é uma síndrome clínica causada por uma variante do Coronavírus Entérico Felino (FECV) cuja ocorrência é relativamente comum em gatos. A PIF pode ser classificada de forma efusiva (úmida) e não efusiva (seca). O diagnóstico é complexo devido a inespecificidade de sinais clínicos. O diagnóstico definitivo se dá por meio exame histopatológicodos tecidos acometidos. O presente relato descreve um caso de PIF em paciente de vida errante, bem como suas lesões em necropsia.

Palavras-chave: vírus; necropsia; histologia; diagnóstico.

Introdução A peritonite infecciosa felina (PIF) é uma síndrome viral causada por um coronavírus felino

(FIPV) mutante ou recombinado Coronavírus Entérico Felino (FECV). A doença possui duas for-mas: a forma úmida com reação humoral intensa e fraca reação celular e a forma seca sem efusão, reação celular moderada e formação de lesões piogranulomatosas em múltiplos órgãos (1). As manifestações clínicas variam com a idade, mais comumente em gatos adultos jovens, sendo mais frequente com menos de 1 ano.A imunocompetência do hospedeiro também é um fator deter-minante, assim como virulência, presença de infecções concomitantes, entre outros (2). A disse-minação é pelas fezes, saliva e aerossóis. Anorexia e perda de peso são achados comuns, outros sinais: icterícia, distensão abdominal, afecção neurológica, entre outros (1). O diagnóstico é com-plexo sendo que alterações de exame físico e laboratoriais podem ser usados para um diagnóstico presuntivo (3,4). O diagnóstico definitivo é por histopatologia dos tecidos acometidos ou RT-PCR em efusão ou tecidos (5,6). O presente trabalho relata um caso de PIF acompanhado no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, setor Palotina.

Relato de casoFoi atendido em estado de emergência no Hospital Veterinário da UFPR setor Palotina, um

felino, fêmea, SRD, de 5 meses, apresentando bradicardia, hipotensão e hipotermia. O proprietá-rio relatou que há um mês resgatou a paciente da rua, já apresentando sinais de ataxia, alimen-tava-se bem, porém, não tinha ganho de peso. Durante a palpação abdominal pôde-se constatar renomegalia. Após estabilização do quadro da paciente foram notados sinais neurológicos: ata-xia, obnubilação e nistagmo. Diante do histórico e das alterações clínicas suspeitou-se de PIF e/ou leucemia felina(FeLV).O exame ultrassonográfico confirmou a renomegalia bilateral, além de evidenciar alguns segmentos do intestino delgado com aumento de ecogenicidade em região de mucosas e moderada quantidade de efusão peritoneal. Foi colhido amostra para hemograma e

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exames bioquímicos como creatinina, ureia, ALT, GGT, albumina, bilirrubinas e análise do líqui-do peritoneal. O hemograma não apresentou alterações dignas de nota, os exames bioquímicos demonstraram hiperbilirrubinemia, hiperproteinemia com globulinas aumentadas e a análise de líquido peritoneal a relação albumina:globulina estava menor que 0,8. A radiografia torácica identificou alterações compatíveis com hiperinsuflação pulmonar.O animal foi submetido à euta-násia. Na necropsia observou-se rins moderadamente aumentados de tamanho, com superfície subcapsular irregular, áreas multifocais coalescentes, esbranquiçadas e firmes que se estendiam para região medular, compatíveis com vasculite. A cápsula renal estava com leve espessamento (processo inflamatório). O encéfalo na região ventral, próximo ao lobo piriforme, apresentava área focal simétrica circular de coloração avermelhada em ambos os hemisférios (hemorragia). Na microscopia, no quarto ventrículo, localizado na base do cerebelo, o plexo coroide apresentou alterações compatíveis com vasculite piogranulomatosa, que também foi encontrada no córtex temporal e occipital. Foi possível observar uma leve hidrocefalia no quarto ventrículo. E no rim foram identificadas vasculite piogranulomatosa difusa, nefrite intersticial piogranulomatosa e ne-frose multifocal acentuada.

Discussão O caso relatado teve como particularidade a ocorrência em paciente isolado encontrado em

vida errante, sendo que a literatura cita a ocorrência em ambientes com alta população de felinos (1,2,3). Devido a dificuldade de se diagnosticar a PIF de forma antemortem (2), o histórico e os sinais clínicos foram utilizados para o diagnóstico presuntivo de PIF (2,3). Os sinais cínicos são ines-pecíficos em ambas as formas (efusiva e não efusiva) (1,3), mas frequentemente são encontrados: letargia, anorexia, perda de peso (2) (ou déficit de crescimento em gatos jovens) e às vezes, icterícia (1). No presente relato foram observadas a ausência de ganho de peso e sinais neurológicos: ata-xia, nistagmo e comportamento anormal. Achados clínicos frequentes em exames laboratoriais são microcitose com ou sem anemia, linfopenia, hiperbilirrubinemia, hiperproteinemia, hiper-globulinemia e razão A:G< 0,8 (1,3). Apesar de que o caso relatado não apresentava anemia com microcitose, todos os outros achados laboratoriais foram compatíveis aos relatados em literatu-ra, corroborando com o diagnóstico presuntivo.Os achados macroscópicos e microscópicos eram compatíveis com peritonite infecciosa felina, não efusiva/seca (5,6), mas devido a presença de efusão peritoneal de moderada quantidade detectada em ultrassonografia, sugeria que a paciente apresentava as duas formas (1), além das lesões encefálicas. As lesões piogranulomatosas eram multifocais e incluíam múltiplos órgãos, dentre eles o sistema nervoso central como descrito pela literatura (1,2,3,4).

ConclusãoA peritonite infecciosa felina é uma afecção de alta morbidade e mortalidade na medicina dos

felinos. A dificuldade de diagnóstico antemortem torna importante a observação de diversos cri-térios como sinais clínicos e alterações laboratoriais compatíveis, que incluem o paciente no diag-nóstico presuntivo da afecção. O diagnóstico definitivo é pela histopatologia de tecidos coletados na necropsia.

Referências bibliográficas 1. Lappin, M.R. Infectious Diseases in NELSON&COUTO Small Animal Internal Medicine 4th ed. St Louis, Missouri,

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Relato de Caso: Peritonite Infecciosa Felina em felino de 5 meses

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Medicine and Surgery. 2018 (20). DisponívelemdoI: 10.1177/1098612X18758592

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Relato de Caso: Peritonite Infecciosa Felina em felino de 5 meses

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Remissão de Diabetes Mellitus Felina em Gato Hipertireoideo após Terapia inicial com Metimazol: Recidiva Diabética Secundária à Doença Renal Crônica Gabrielle Tereza Lyra - Graduanda de Medicina Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)Janaína Matte Weiss - Graduanda de Medicina Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)Tatiane Schirmer Linden - Médica Veterinária Autônoma, PetEndocrine Endocrinologia e Metabologia VeterináriaÁlan Gomes Pöppl - Médico Veterinário, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Animal da Faculdade de Veterinária da [email protected]

Lyra GT; Weiss JM; Linden TS; Pöppl AG. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 113-116.

ResumoFoi atendido um felino macho, castrado, 14 anos, com 4,7kg, diagnóstico prévio de diabetes mellitus (DM) e recebendo hipoglicemiante oral. O animal estava hiperglicêmico (222 mg/dL) e com tireoides palpáveis. Foi iniciada terapia com insulina glargina em substituição à glipzida e solicitado T4 total. A dose de glargina foi gradualmente aumentada de 1UI até 3 IU (SC, BID), ao longo das duas semanas iniciais de tratamento pela persistência de hiperglicemia, poliúria e polidipsia. Após confirmação do hipertireoidismo (T4 total 41,4 ng/mL – normal: 15-30 ng/mL), iniciou-se o tratamento com metimazol 1,25 mg, VO, BID. A redução gradual das glicemias permitiu reduzir gradualmente a insulina até sua completa retirada. O paciente manteve-se em remissão diabética por três meses associada ao bom con-trole hormonal do hipertireoidismo (T4 total 28,1 ng/mL). No entanto, após esse controle, houve agra-vamento progressivo da doença renal crônica (DRC) no felino levando a recidiva da DM secundária as mudanças de manejo alimentar e de sensibilidade insulínica induzidas pela DRC. Assim, o controle do hipertireoidismo agravou a DRC e ambas as patologias contribuíram para o retorno da DM.

Palavras-chave: glargina; resistência insulínica; diabetes mellitus secundária.

IntroduçãoApesar da diabetes mellitus (DM) e hipertireoidismo serem doenças endócrinas comuns em

felinos, a ocorrência simultânea é pouco descrita (1). O DM é comumente diagnosticado pelos sinais clássicos de poliúria (PU), polidipsia (PD), polifagia (PF) e perda de peso (PP), juntamente com uma hiperglicemia persistente e glicosúria (2). Para o sucesso da terapêutica é essencial à identificação de patologias concomitantes que induzam resistência insulínica, como, por exemplo, o hipertireoidismo, doenças renais, obesidade, uso de corticoides, entre outros quadros inflamató-rios, infecciosos, neoplásicos ou hormonais (2,3). Esses fatores podem comprometer a necessidade insulínica do felino, a dose necessária e a facilidade da regulação diabética, diminuindo a eficácia da insulinoterapia. Da mesma forma, a identificação e eliminação destes fatores favorece eventual remissão diabética (3).

O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um felino diabético hipertireoideo, cujo tratamento com metimazol levou à remissão do DM por três meses, havendo recidiva diabética após a evolu-ção de doença renal crônica previamente ocultada pelo estado de hipertireoidismo.

Descrição do casoUm felino, sem raça definida, macho, castrado, de 14 anos e 4,7kg, diagnosticado previamente

com DM e em tratamento com hipoglicemiante oral (Glipzida 2,5 mg, VO, BID), foi atendido devi-do persistência de sinais (PU, PD e PP) e queda excessiva de pelos associada a respiração ofegante episódica. Ao exame clínico apresentava desidratação leve, pelagem opaca e tireoides palpáveis. Exames laboratoriais evidenciaram glicemia de 222 mg/dL associada a frutosaminemia de 519

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nmol/L, aumento de ALT (336 U/L), densidade urinária de 1018 e glicosúria (+++). Frente a suspei-ta de hipertireoidismo foi solicitado determinação de T4 total sérico por radioimunoensaio. Após oito dias, o resultado de 41,4 ng/mL confirmou o hipertireoidismo.

Foi iniciada terapia insulínica (Glargina 1UI, SC, BID), em substituição à glipzida. No entan-to, devido à persistência de sinais clínicos e hiperglicemias pontuais documentadas, a dose de insulina foi reajustada para 2 UI BID, e posteriormente para 3 UI BID, (associado a frutosamina > 700 umol/L) ainda sem resposta efetiva ao longo dos primeiros dez dias de tratamento. Após resultado do T4 confirmando o hipertireoidismo, foi iniciado tratamento com metimazol 1,25 mg, VO, BID, mantendo-se as 3 UI de insulina. A partir disso, o paciente passou a responder bem a insulinoterapia permitindo reduções graduais na dose de insulina até suspender a sua aplicação após cerca de quatro semanas do início do metimazol.

Novos exames de controle demonstraram: redução da frutosamina sérica (219,10 umol/L), nor-moglicemia e DU discretamente diminuída (1016), sem glicosúria, caracterizando a remissão do quadro diabético. Além disso, o valor de T4 total normalizou-se (28,1 ng/mL), sendo indicado seguir com metimazol. Entretanto, após três meses de remissão diabética, novos exames demons-traram azotemia renal do paciente, como elevação da ureia (92,81 mg/dL) e creatinina (2,57 mg/dL). Assim, foi indicada a realização de fluidoterapia subcutânea, em casa, a cada 48 horas, asso-ciada a troca da dieta comercial de diabéticos para uma dieta comercial especifica para nefropa-tas. Associado às manifestações da doença renal, as glicemias passaram a aumentar novamente, sendo necessário a reinstituição da insulinoterapia com glargina (1UI, SC, BID) e a suspensão temporária do tratamento com metimazol.

Após algumas semanas de tentativas de estabilização do paciente, associado a hiporexia, evo-lução de anemia e piora na função renal (azotemia e desidratação progressivas apesar dos esfor-ços), o animal foi internado para terapia de suporte, transfusão sanguínea e monitoramento das glicemias, que se mantinham irregulares e acima de 300 mg/dL. Após sete dias de internação, a piora do paciente com início de êmese e anorexia, agravamento da função renal (Estágio 4 de do-ença renal crônica) e descontrole glicêmico, levaram a tutora a optar pela eutanásia do paciente.

DiscussãoDiabetes mellitus e hipertireoidismo são frequentes em gatos idosos (1). Embora poucos auto-

res tenham relatado a sua ocorrência simultânea, estas foram diagnosticadas no felino em ques-tão e contribuíram para demonstrar o que é descrito em diferentes literaturas, tais como Baral e Peterson (2012) e Nelson (2006), para se obter sucesso na terapêutica insulínica para o DM é necessário, além de doses e aplicações adequadas, diagnosticar e tratar patologias concomitantes. Desse modo, foi de grande importância o diagnóstico adequado do hipertireoidismo no paciente, já que a elevação dos hormônios tireoidianos aumenta o consumo de oxigênio e consequente-mente a produção de calor, acelerando o metabolismo basal (4), podendo interferir, assim como outras doenças, na sensibilidade a insulina pelos tecidos, promovendo uma resistência insulínica secundária, bem como, eventualmente, interferindo na duração do efeito de insulinas aplicadas no tratamento da DM (1, 2).

Devido à clínica do paciente após o tratamento com hipoglicemiante oral continuar instável e em nova consulta o animal persistir com hiperglicemia e glicosúria, a concentração aumentada da frutosamina sérica foi importante para sustentar a presença de uma hiperglicemia prolongada. Além disso, também foi monitorada a glicemia a domicílio, o que é importante para descartar uma hiperglicemia por estresse (3). Assim, confirmou-se a DM e foi iniciada a insulinoterapia com dose inicial de 1 UI e aumento progressivo. No entanto, como PU e PD se mantiveram, juntamente com as tireoides palpáveis, os 14 anos do paciente e a sua pelagem opaca e quebradiça, suspeitou-se de hipertireoidismo, confirmado após dosagem de T4 total estar acima dos valores de referência. Assim, iniciou-se o tratamento com metimazol (1,25 mg VO BID) e percebeu-se uma redução das glicemias pontuais e da frutosamina sérica, levando a crer que o animal estava apresentando uma remissão do DM, após o tratamento e a estabilização do quadro de hipertireoidismo concomitan-te. Contudo, após três meses, novos exames demonstraram que mesmo com doses baixas de me-

Remissão de Diabetes Mellitus Felina em Gato Hipertireoideo após Terapia inicial com Metimazol: Recidiva Diabética Secundária à Doença Renal Crônica

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timazol (1,25 mg VO BID), como recomendado por Trepanier (2006), ocorreu uma azotemia após o controle inicial da doença. Esse fato pode ser explicado pelo hipertireoidismo aumentar à taxa de filtração glomerular, o fluxo plasmático renal e a capacidade de reabsorção e secreção normal tanto em rins normais como nos comprometidos (4, 6). Assim, a doença mascara uma insuficiência renal subjacente (5, 7), a qual já tinha indícios nos exames iniciais do paciente, que mesmo com glicosúria intensa apresentava uma densidade urinária diminuída (1.018).

Assim, após o controle da manifestação endócrina os sinais clínicos de insuficiência renal cos-tumam tornar-se aparentes ou significativamente piores (7), o que foi visto no felino em questão pela elevação de creatinina (2,57 mg/dl) e ureia (92,8 mg/dl). Além disso, o DM voltou a se mani-festar com hiperglicemias persistentes depois de três meses de remissão. Logo, a tutora retornou com a insulinoterapia e iniciou fluidoterapia subcutânea em casa e como os valores de creatinina se mantiveram ao redor de 2,5, foi possível caracterizar uma DRC de estagio II segundo a IRIS. Para Rijnberk e Kooistra (2013), o aumento na concentração de creatinina no plasma após trata-mento do hipertireoidismo é o que causa mais preocupação e piora o prognóstico do paciente. Assim, por não ser fácil determinar o impacto do hipertireoidismo sobre a função renal, os felinos hipertireoideos devem ser tratados com terapias reversíveis, como a droga antitireoideana meti-mazol, até que o impacto sobre a função renal possa ser determinado (6).

O tratamento com metimazol oral costuma ser seguro e a escolha de muitos veterinários, uma vez que a incidência de reações adversas pelo medicamento é baixa e menor do que outros fárma-cos disponíveis (4, 6). Recomenda-se que a avaliação renal seja realizada durante o tratamento e se uma azotemia significante ou sinais clínicos de insuficiência renal se desenvolverem o protocolo deve ser modificado na tentativa de controlar ambos os distúrbios, assim como o tratamento para insuficiência renal deve ser instituído, terapêutica essa que foi realizada no paciente (6).

No entanto, no felino, os sinais clínicos de insuficiência renal não melhoraram mesmo com flluidoterapia e tratamento de suporte, e as manifestações de hiperglicemia persistiram, mesmo com insulinoterapia adequada. Por fim, não foi possível estabilizar os níveis glicêmicos do felino, sendo que o retorno do estado hipertireoideo pode ter voltado a influenciar negativamente na ação da insulina. O felino piorou clinicamente, continuou manifestando anemia não regenerativa, anorexia, perda de peso, desidratação, vômitos e depressão, e mesmo internado para receber as medicações necessárias não apresentou melhora. Assim, devido à probabilidade de uremia asso-ciada ao sofrimento do paciente, a tutora optou pela realização da eutanásia.

Conclusões Conclui-se que a terapêutica para o hipertireoidismo colaborou para a remissão diabética tem-

porária, porém desmascarou uma DRC previamente existente, piorando o prognóstico do felino e contribuindo para o retorno do DM devido às modificações alimentares secundárias a doença re-nal, e a resistência insulínica agregada. A documentação conjunta de diabetes e hipertireoidismo é bastante incomum. Este relato evidencia o papel de doenças geradoras de resistência insulínica na patogenia da diabetes mellitus felina, e na capacidade de alcançar e manter a remissão diabé-tica.

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Remissão de Diabetes Mellitus Felina em Gato Hipertireoideo após Terapia inicial com Metimazol: Recidiva Diabética Secundária à Doença Renal Crônica

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Philadelphia: Elsevier Saunders, 2012. p. 571-592.

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Remissão de Diabetes Mellitus Felina em Gato Hipertireoideo após Terapia inicial com Metimazol: Recidiva Diabética Secundária à Doença Renal Crônica

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Resolução da anorexia após tratamento com mirtazapina em gato diagnosticado com doença renal crônica e tríade felina – Relato de CasoPriscila Andrea Costa dos Santos Batista – Médica Veterinária, Doutora em Anestesiologia Veterinária pela Unesp Jaboticabal, docente do Curso de Me-dicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba Analy Ramos Mendes Ferrari - Médica Veterinária, Mestre em Oncologia Veterinária pela Unesp Araçatuba, docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba Juliana Peloi Vides - Médica Veterinária, Doutora em Clínica Médica pela Unesp Araçatuba, docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba Ana Paula Moreno – Aluna do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba Tatiane dos Santos – Aluna do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de AraçatubaLara Rubia de Souza Moraes – Aluna do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba [email protected]

Batista PACS; Ferrari ARM; Vides JP; Moreno AP; dos Santos T; Moraes LRS. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 117-120.

ResumoAtualmente há uma maior preferência por gatos como animais de estimação. Nesse sentido a me-dicina felina tem crescido de forma progressiva nos últimos anos. A anorexia felina é considerada uma das principais queixas dos tutores na rotina clínica dos médicos veterinários e normalmente é secundária a alguma afecção primária do paciente. Em alguns gatos anoréxicos, pode ser necessária a estimulação farmacológica do apetite com o uso de medicamentos estimulantes do apetite como terapia adjuvante para o suporte nutricional. O relato em pauta descreve o uso da mirtazapina em um gato da raça persa, idoso, acometido com doença renal crônica associado a tríade felina, apresentando anorexia. Foi possível concluir que a mirtazapina é uma excelente opção como antiemético e estimu-lante do apetite em gatos.

Palavras-chave: apetite; felinos; nutrição.

IntroduçãoNo Brasil, a medicina felina tem crescido de forma progressiva e a anorexia felina é considera-

da uma das principais queixas dos tutores na rotina clínica dos veterinários (1). A anorexia é definida como falta total ou parcial de apetite (2). Na medicina felina representa

direta ou indiretamente até 60-70% das consultas e deve ser sempre considerado como um fato anormal (3). Normalmente é secundária a algum problema sistêmico, como distúrbios gastroin-testinais, renal, hepático, pancreático ou oncológicos (4).

Vale ressaltar que a anorexia leva a consequências desastrosas para o felino, como hipoglice-mia, lipidose hepática, perda de peso, apatia e anemia, piorando dessa forma ainda mais o quadro clínico inicial, impedindo a completa recuperação do paciente (5).

Assim, em alguns gatos anoréxicos, pode ser necessária a estimulação farmacológica com o uso de medicamentos estimulantes do apetite como terapia adjuvante para o suporte nutricional (1;6).

A mirtazapina, é um antagonista do receptor α2-adrenérgico pré-sináptico, que tem a capa-cidade de aumentar a neurotransmissão noradrenérgica e serotoninérgica. Também é um anta-gonista potente dos receptores serotoninérgicos pós-sinápticos (5-HT2 e 5-HT3) e receptores de histamina H1 (7;8).

Portanto, o objetivo desse relato foi verificar o efeito estimulante do apetite, além de possíveis efeitos colaterais da mirtazapina em um gato acometido por co-morbidades, apresentando vômito e anorexia.

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Descrição do CasoEm 10/03/2018, um felino, da raça Persa, treze anos de idade, pesando seis kilos, chegou ao

Hospital Veterinário Universitário Unisalesiano, localizado na cidade de Araçatuba-SP. O tutor mencionou que o animal estava apático, apresentando vômitos, diarreia esporádicas e perda de apetite. Ao exame físico geral apresentou mucosas pálidas, emagrecimento, tempo de preenchi-mento capilar 2 segundos, temperatura 38,4 graus Celsius, grau de desidratação 8% e frequência cardíaca e respiratória dentro dos limites fisiológicos da espécie (9).

Foram solicitados exames complementares como hemograma, bioquímicos de perfil hepático e renal, glicose, albumina e exame ultrassonográfico de cavidade abdominal, com objetivo de visu-alizar, particularmente, os rins, o fígado, trato gastrointestinal e o pâncreas.

No hemograma foi notado anemia arregenerativa, devido ao número diminuído de reticuló-citos, o leucograma apresentava leucocitose por neutrofilia e as plaquetas dentro da normalidade para a espécie. (9) Nos exames bioquímicos foram observados valores acima da normalidade (9) das enzimas creatinina, ureia, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina e gama glutamil trans-peptidase. Ademais os valores da glicemia e albumina estavam abaixo dos valores de normalida-de (9).

No ultrassom os rins revelaram topografia habitual e contornos regulares, entretanto, a rela-ção córticomedular se apresentava pouco definida, confirmando uma nefropatia, além do mais notou-se hepatomegalia e dilatação de ductos biliares, além de dilatação do colédoco em um de-les compatível com colangite. O estomago apresentava com irregularidade difusa da mucosa e espessamento, compatível com gastrite. Os intestinos apresentam alterações da ecogenecidade, espessamento da parede intestinal e perda da definição das camadas. Já o pâncreas apresentava aumentado, irregular e hipoecogênico.

O tratamento instituído baseou-se no diagnóstico de insuficiência renal crônica, pancreatite, colangite, gastrite e enterite e foi constituído de antieméticos como ondansetrona na dose de 0.2 mg/kg/bid e maropitant 0,5 mg/kg/sid, além de protetor gástrico como o omeprazol, na dose de 0,7 mg/kg/sid, além dos antibióticos ceftriaxona na dose de 30mg/kg/bid e metronidazol 15 mg/kg/bid, todos administrados de forma intravenosa. Ácido ursodesoxicólico 10 mg/kg/sid e pro-biótico (Vetnil®), foram administrados pela via oral. Além de fluidoterapia com solução fi-siológica NaCl 0,9% diária, pela via intravenosa, acrescida de glicose, vitamina E, complexo B e suplementação de potássio.

O paciente apresentou uma melhora clínica geral, no entanto a anorexia continuava e dessa forma foi adicionado ao tratamento mirtazapina na dose de 1,88 mg/gato/sid, pela via oral. Logo após o primeiro dia de tratamento com a mirtazapina, o paciente voltou a se alimentar, os vômitos e a diarreia foram controlados. O paciente se alimentava de ração terapêutica gastro-intestinal.

DiscussãoA tríade felina é uma condição que abrange três doenças inflamatórias de forma simultânea,

envolvendo o fígado, o pâncreas e o intestino delgado (5;10;11) É observada principalmente nos ga-tos em virtude das peculiaridades da anatomia específica nessa espécie e da estreita proximidade dos três órgãos envolvidos (5;10)

As doenças renais em felinos são bastante comuns e a insuficiência renal crônica é a patologia mais prevalente em gatos idosos (12). No presente relato fazendo a correlação dos sinais clínicos, exames laboratoriais e ultrassom foi possível chegar no diagnóstico de nefropatia associada a tríade felina.

Quando o paciente felino idoso é acometido com diversas patologias, além do tratamento bási-co e sintomático para as afecções serem controladas, existe também a preocupação de prevenir a anorexia e a perda de peso corporal (11). Desta forma, se o gato apresenta além da morbidade pri-mária, a presença da anorexia, a situação se torna delicada e urgente. Devido à anorexia, os felinos podem desenvolver grandes alterações hepáticas num pequeno intervalo de tempo. A lipidose he-pática é uma condição que se estabelece por deposição de gordura no fígado e progressivamente,

Resolução da anorexia após tratamento com mirtazapina em gato diagnosticado com doença renal crônica e tríade felina – Relato de Caso

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leva a uma insuficiência hepática (4;5) Embora vários agentes tenham sido usados historicamente para a estimulação do apetite, devi-

do a potenciais efeitos colaterais e/ou falta de eficácia, atualmente a ciproheptadina e a mirtazapi-na podem ser recomendadas para uso, estimulando o apetite e podendo dispensar meios mais intensivos de suporte nutricional (2;3;4;6;11)

Recentemente, a farmacocinética e a farmacodinâmica da mirtazapina foram relatadas em um grupo de gatos sadios e o fármaco mostrou ser estimulante eficaz do apetite, com meia-vida mais curta do que a relatada em humanos. A dose oral recomendada é de 1,88 mg/gato a cada 48 h (11). Os efeitos colaterais relatados em gatos tratados foram alterações do comportamento, como voca-lização, tremores, contrações musculares e hiperatividade (11;13). No entanto, no presente estudo foi utilizado a mesma dose e frequência e não foi observado nenhum efeito colateral relacionado a mudança comportamental.

Gatos com doença renal crônica (DRC) muitas vezes experimentam inapetência e vômito e podem se beneficiar da administração de mirtazapina (11). No estudo de Quimby e Lunn, avaliou os efeitos da mirtazapina sobre o peso corporal, apetite e vômito em gatos com DRC e observa-ram que nos gatos tratados com mirtazapina em comparação com o grupo placebo, resultou num aumento estatisticamente significativo do apetite, da atividade e uma diminuição significativa no vómito e também houve ganho de peso corporal (14;15). Corroborando o relato em pauta, no qual o paciente voltou a se alimentar logo após a primeira administração do medicamento, ganhando peso corporal.

No trabalho de Fergunson et al., os autores quiseram determinar os efeitos adversos mais co-muns relatados e a dose associada a esses sinais da mirtazapina em felinos e observaram que os efeitos adversos mais comuns foram vocalização, agitação, ataxia, inquietação e tremores, no entanto esses sinais foram associados a uma dose de 15 mg (8). Nesse sentido os autores conclu-íram que a dose de 1,88 mg/gato, é mais apropriada para estimular o apetite e ao mesmo tempo, limitar a toxicidade. (8) Resultados semelhantes foram notados no relato descrito que usou a dose de 1,88mg/gato e não observou efeitos colaterais.

No estudo de Smith e Tappin foram avaliados 68 gatos com diversas patologias, e os autores relataram que nenhum efeito colateral atribuído à mirtazapina foi documentado durante o curso do estudo e todos os animais voltaram a comer. De forma similar ao presente relato que não foi observado efeito colateral e o paciente voltou a se alimentar (16)

ConclusãoConclui-se que a mirtazapina na dose de 1,88 mg/gato é segura e capaz de estimular o apetite

em gatos. No entanto o uso da medicação não exclui a necessidade de determinar o diagnóstico da afecção primária que leva ao sintoma e o tratamento da causa base.

Referências bibliográficas1. Cavalcanti M. Mirtazapina para gatos: extra bula. Revista cães e gatos; 2017; 205: 46-47.

2. Mazzotti G. Anorexia em Felinos. In: Oliveira ALA, De Nardi, AB,Silva RLM, Roza, MR. Dia a Dia: tópicos selecio-nados em especialidades veterinárias. Volume 2. 1º edição. São Paulo: MedVet; 2018. p. 356-359

3. Crystal MA. Anorexia. In: Norsworthy, GD, Grace SR, Crystal MA, Tilley LP. The feline patient. 6º edition. Iowa: Wiley Blackwell. 2011. p. 22-24.

4. Katrina, V. Terapêutica para vômito e diarreia. In: Little, SE. O gato. Medicina Interna. 1º edição. São Paulo: Roca; 2015.p. 223-224.

5. Teixeira MKI. Lipidose hepática felina. In: Mazzzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016. p. 935-944.

6. Bortges, J. Tratamento Nutricional de doenças. In: Little, SE. O gato. Medicina Interna. 1º edição. São Paulo: Roca; 2015.p. 188-194.

7. Freitas ACT, Coelho, JCU. Uso da mirtazapina no tratamento da naúsea e vômito refratários a terapia habitual após derivação gástrica em Y de Roux. Arquivo Brasileiro de Cirurgia Digestiva; 2008; 21: 41-43.

Resolução da anorexia após tratamento com mirtazapina em gato diagnosticado com doença renal crônica e tríade felina – Relato de Caso

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8. Fergunson LE, McLean MK, Bats JÁ, Quimby JM. Mirtazapine toxicity in cats: retrospective study of 84 cases (2006-2011). Journal Feline Medicine Surgery; 2016; 18:868-874.

9. Mazzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016

10. Martins CSM. Pancreatite. In: Mazzzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016. p. 927-934.

11. Agnew W, Korman R. Pharmacological appetite stimulation: rational choices in the inappetent cat. J Fel Med Surg; 2014; 16: 749-756.

12. Kogika, MM. Classificação em estágios da doença renal crônica em cães e gatos – abordagem clínica, laboratorial e terapêutica. Ciência Rural; 2010; 40: 2226-2234.

13. Arko M, Florjane TI. Effects of mirtazapine on the levels of exogenous histamine in the plasma of the cat. Pflugers Arch; 2001; 442: 2007-2008.

14. Quimby, JM, Lunn KF. Mirtazapine as an appetite stimulant and anti-emetic in cats with chronic kidney disease: a masked placebo-controlled crossover clinical trial. Veterinary Journal; 2013; 197: 651-655.

15. Quimby JM, gustafson DL, Lunn KF. The pharmacokinetics of mirtazapine in cats with chronic kidney disease and in age-matched control cats.Journal veterinary Interme Medicine; 2011; 25: 985-989.

16. Smith C, Tappin S. Mirtazapine as an appetite stimulant in 164 dogs and 68 cats. In: WSAVA/FECAVA/BSAVA World Congress 2012 Proceedings Online. Birmingham, UK; 2012. Disponível em: URL: http://www.vin.com

Resolução da anorexia após tratamento com mirtazapina em gato diagnosticado com doença renal crônica e tríade felina – Relato de Caso

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Sucesso do Sarolaner administrado, por via oral, no tratamento da Sarna Otodécica em gato – Relato de CasoGabriela Pereira Salça de Almeida - Médica Veterinária Residente, UFRRJRenan Bernardes Tavares - Discente em Medicina Veterinária, UFRRJJessica Karoline de Oliveira Chaves - Discente em Medicina Veterinária, UFRRJBrena Gava Guimarães - Médica Veterinária, UFRRJDiefrey Ribeiro Campos - Médico Veterinário Pós doutorando, UFRRJFabio Barbour Scott - Médico Veterinário Docente, [email protected]

de Almeira GPS; Tavares RB; Chaves JKO; Guimarães BG; Campos DR; Scott FB. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Me-dicina Felina - 2018; 121-124.

ResumoO ácaro Otodectes cynotis habita a superfície da pele, sendo encontrado no conduto auditivo de cães e gatos. Esses ácaros são responsáveis por causar prurido, dor, meneios cefálicos, aparecimento de lesões ao redor do pavilhão, desenvolvimento de otite média e interna com o aparecimento de sinais neurológicos. As isoxazolinas, fluralaner e afoxolaner, tem se mostrado uma ferramenta alternativa no controle de ectoparasitos de gatos. O objetivo deste trabalho foi relatar o sucesso terapêutico do sarolaner, administrado via oral, no tratamento da sarna otodécica em um gato. O animal apresen-tava lesões erodo-ulceradas ao redor do pavilhão auditivo, reflexo otopodal positivo e dor a palpação das orelhas. O diagnóstico foi realizado por meio da vídeo-otoscopia e avaliação parasitológica do cerúmen. Foi administrado sarolaner, na dose de 2mg/kg, por via oral. Após o tratamento foram re-alizados novos exames de vídeo-otoscopia nos intervalos de um, dois, sete e 14 dias para determinar o tempo de eliminação do ácaro. Na avaliação de 48 horas após o tratamento não foram visualizados ácaros durante o exame de vídeo-otoscopia. Não foi observado qualquer efeito adverso após o trata-mento do animal em um período de 14 dias. Com base nos resultados obtidos, o sarolaner demonstrou ser eficaz no controle da sarna otodécica em um gato.

Palavras-chave: Otodectes cynotis; isoxazolina; controle.

IntroduçãoNo Brasil, a medicina felina tem crescido de forma progressiva e a anorexia felina é considera-

da uma das principais queixas dos tutores na rotina clínica dos veterinários (1). A anorexia é definida como falta total ou parcial de apetite (2). Na medicina felina representa

direta ou indiretamente até 60-70% das consultas e deve ser sempre considerado como um fato anormal (3). Normalmente é secundária a algum problema sistêmico, como distúrbios gastroin-testinais, renal, hepático, pancreático ou oncológicos (4).

Vale ressaltar que a anorexia leva a consequências desastrosas para o felino, como hipoglice-mia, lipidose hepática, perda de peso, apatia e anemia, piorando dessa forma ainda mais o quadro clínico inicial, impedindo a completa recuperação do paciente (5).

Assim, em alguns gatos anoréxicos, pode ser necessária a estimulação farmacológica com o uso de medicamentos estimulantes do apetite como terapia adjuvante para o suporte nutricional (1;6).

A mirtazapina, é um antagonista do receptor α2-adrenérgico pré-sináptico, que tem a capa-cidade de aumentar a neurotransmissão noradrenérgica e serotoninérgica. Também é um anta-gonista potente dos receptores serotoninérgicos pós-sinápticos (5-HT2 e 5-HT3) e receptores de histamina H1 (7;8).

Portanto, o objetivo desse relato foi verificar o efeito estimulante do apetite, além de possíveis efeitos colaterais da mirtazapina em um gato acometido por co-morbidades, apresentando vômito e anorexia.

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 121-124.122

Descrição do CasoEm 10/03/2018, um felino, da raça Persa, treze anos de idade, pesando seis kilos, chegou ao

Hospital Veterinário Universitário Unisalesiano, localizado na cidade de Araçatuba-SP. O tutor mencionou que o animal estava apático, apresentando vômitos, diarreia esporádicas e perda de apetite. Ao exame físico geral apresentou mucosas pálidas, emagrecimento, tempo de preenchi-mento capilar 2 segundos, temperatura 38,4 graus Celsius, grau de desidratação 8% e frequência cardíaca e respiratória dentro dos limites fisiológicos da espécie (9).

Foram solicitados exames complementares como hemograma, bioquímicos de perfil hepático e renal, glicose, albumina e exame ultrassonográfico de cavidade abdominal, com objetivo de visu-alizar, particularmente, os rins, o fígado, trato gastrointestinal e o pâncreas.

No hemograma foi notado anemia arregenerativa, devido ao número diminuído de reticuló-citos, o leucograma apresentava leucocitose por neutrofilia e as plaquetas dentro da normalidade para a espécie. (9) Nos exames bioquímicos foram observados valores acima da normalidade (9) das enzimas creatinina, ureia, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina e gama glutamil trans-peptidase. Ademais os valores da glicemia e albumina estavam abaixo dos valores de normalida-de (9).

No ultrassom os rins revelaram topografia habitual e contornos regulares, entretanto, a rela-ção córticomedular se apresentava pouco definida, confirmando uma nefropatia, além do mais notou-se hepatomegalia e dilatação de ductos biliares, além de dilatação do colédoco em um de-les compatível com colangite. O estomago apresentava com irregularidade difusa da mucosa e espessamento, compatível com gastrite. Os intestinos apresentam alterações da ecogenecidade, espessamento da parede intestinal e perda da definição das camadas. Já o pâncreas apresentava aumentado, irregular e hipoecogênico.

O tratamento instituído baseou-se no diagnóstico de insuficiência renal crônica, pancreatite, colangite, gastrite e enterite e foi constituído de antieméticos como ondansetrona na dose de 0.2 mg/kg/bid e maropitant 0,5 mg/kg/sid, além de protetor gástrico como o omeprazol, na dose de 0,7 mg/kg/sid, além dos antibióticos ceftriaxona na dose de 30mg/kg/bid e metronidazol 15 mg/kg/bid, todos administrados de forma intravenosa. Ácido ursodesoxicólico 10 mg/kg/sid e pro-biótico (Vetnil®), foram administrados pela via oral. Além de fluidoterapia com solução fi-siológica NaCl 0,9% diária, pela via intravenosa, acrescida de glicose, vitamina E, complexo B e suplementação de potássio.

O paciente apresentou uma melhora clínica geral, no entanto a anorexia continuava e dessa forma foi adicionado ao tratamento mirtazapina na dose de 1,88 mg/gato/sid, pela via oral. Logo após o primeiro dia de tratamento com a mirtazapina, o paciente voltou a se alimentar, os vômitos e a diarreia foram controlados. O paciente se alimentava de ração terapêutica gastro-intestinal.

DiscussãoA tríade felina é uma condição que abrange três doenças inflamatórias de forma simultânea,

envolvendo o fígado, o pâncreas e o intestino delgado (5;10;11) É observada principalmente nos ga-tos em virtude das peculiaridades da anatomia específica nessa espécie e da estreita proximidade dos três órgãos envolvidos (5;10)

As doenças renais em felinos são bastante comuns e a insuficiência renal crônica é a patologia mais prevalente em gatos idosos (12). No presente relato fazendo a correlação dos sinais clínicos, exames laboratoriais e ultrassom foi possível chegar no diagnóstico de nefropatia associada a tríade felina.

Quando o paciente felino idoso é acometido com diversas patologias, além do tratamento bási-co e sintomático para as afecções serem controladas, existe também a preocupação de prevenir a anorexia e a perda de peso corporal (11). Desta forma, se o gato apresenta além da morbidade pri-mária, a presença da anorexia, a situação se torna delicada e urgente. Devido à anorexia, os felinos podem desenvolver grandes alterações hepáticas num pequeno intervalo de tempo. A lipidose he-pática é uma condição que se estabelece por deposição de gordura no fígado e progressivamente,

Sucesso do Sarolaner administrado, por via oral, no tratamento da Sarna Otodécica em gato – Relato de Caso

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 121-124. 123

leva a uma insuficiência hepática (4;5) Embora vários agentes tenham sido usados historicamente para a estimulação do apetite, devi-

do a potenciais efeitos colaterais e/ou falta de eficácia, atualmente a ciproheptadina e a mirtazapi-na podem ser recomendadas para uso, estimulando o apetite e podendo dispensar meios mais intensivos de suporte nutricional (2;3;4;6;11)

Recentemente, a farmacocinética e a farmacodinâmica da mirtazapina foram relatadas em um grupo de gatos sadios e o fármaco mostrou ser estimulante eficaz do apetite, com meia-vida mais curta do que a relatada em humanos. A dose oral recomendada é de 1,88 mg/gato a cada 48 h (11). Os efeitos colaterais relatados em gatos tratados foram alterações do comportamento, como voca-lização, tremores, contrações musculares e hiperatividade (11;13). No entanto, no presente estudo foi utilizado a mesma dose e frequência e não foi observado nenhum efeito colateral relacionado a mudança comportamental.

Gatos com doença renal crônica (DRC) muitas vezes experimentam inapetência e vômito e podem se beneficiar da administração de mirtazapina (11). No estudo de Quimby e Lunn, avaliou os efeitos da mirtazapina sobre o peso corporal, apetite e vômito em gatos com DRC e observa-ram que nos gatos tratados com mirtazapina em comparação com o grupo placebo, resultou num aumento estatisticamente significativo do apetite, da atividade e uma diminuição significativa no vómito e também houve ganho de peso corporal (14;15). Corroborando o relato em pauta, no qual o paciente voltou a se alimentar logo após a primeira administração do medicamento, ganhando peso corporal.

No trabalho de Fergunson et al., os autores quiseram determinar os efeitos adversos mais co-muns relatados e a dose associada a esses sinais da mirtazapina em felinos e observaram que os efeitos adversos mais comuns foram vocalização, agitação, ataxia, inquietação e tremores, no entanto esses sinais foram associados a uma dose de 15 mg (8). Nesse sentido os autores conclu-íram que a dose de 1,88 mg/gato, é mais apropriada para estimular o apetite e ao mesmo tempo, limitar a toxicidade. (8) Resultados semelhantes foram notados no relato descrito que usou a dose de 1,88mg/gato e não observou efeitos colaterais.

No estudo de Smith e Tappin foram avaliados 68 gatos com diversas patologias, e os autores relataram que nenhum efeito colateral atribuído à mirtazapina foi documentado durante o curso do estudo e todos os animais voltaram a comer. De forma similar ao presente relato que não foi observado efeito colateral e o paciente voltou a se alimentar (16)

ConclusãoConclui-se que a mirtazapina na dose de 1,88 mg/gato é segura e capaz de estimular o apetite

em gatos. No entanto o uso da medicação não exclui a necessidade de determinar o diagnóstico da afecção primária que leva ao sintoma e o tratamento da causa base.

Referências bibliográficas1. Cavalcanti M. Mirtazapina para gatos: extra bula. Revista cães e gatos; 2017; 205: 46-47.

2. Mazzotti G. Anorexia em Felinos. In: Oliveira ALA, De Nardi, AB,Silva RLM, Roza, MR. Dia a Dia: tópicos selecio-nados em especialidades veterinárias. Volume 2. 1º edição. São Paulo: MedVet; 2018. p. 356-359

3. Crystal MA. Anorexia. In: Norsworthy, GD, Grace SR, Crystal MA, Tilley LP. The feline patient. 6º edition. Iowa: Wiley Blackwell. 2011. p. 22-24.

4. Katrina, V. Terapêutica para vômito e diarreia. In: Little, SE. O gato. Medicina Interna. 1º edição. São Paulo: Roca; 2015.p. 223-224.

5. Teixeira MKI. Lipidose hepática felina. In: Mazzzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016. p. 935-944.

6. Bortges, J. Tratamento Nutricional de doenças. In: Little, SE. O gato. Medicina Interna. 1º edição. São Paulo: Roca; 2015.p. 188-194.

7. Freitas ACT, Coelho, JCU. Uso da mirtazapina no tratamento da naúsea e vômito refratários a terapia habitual após derivação gástrica em Y de Roux. Arquivo Brasileiro de Cirurgia Digestiva; 2008; 21: 41-43.

Sucesso do Sarolaner administrado, por via oral, no tratamento da Sarna Otodécica em gato – Relato de Caso

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 121-124.124

8. Fergunson LE, McLean MK, Bats JÁ, Quimby JM. Mirtazapine toxicity in cats: retrospective study of 84 cases (2006-2011). Journal Feline Medicine Surgery; 2016; 18:868-874.

9. Mazzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016

10. Martins CSM. Pancreatite. In: Mazzzotti GA, Roza MR. Medicina Essencial Felina. Guia Prático. 1º edição. Curitiba: Equalis; 2016. p. 927-934.

11. Agnew W, Korman R. Pharmacological appetite stimulation: rational choices in the inappetent cat. J Fel Med Surg; 2014; 16: 749-756.

12. Kogika, MM. Classificação em estágios da doença renal crônica em cães e gatos – abordagem clínica, laboratorial e terapêutica. Ciência Rural; 2010; 40: 2226-2234.

13. Arko M, Florjane TI. Effects of mirtazapine on the levels of exogenous histamine in the plasma of the cat. Pflugers Arch; 2001; 442: 2007-2008.

14. Quimby, JM, Lunn KF. Mirtazapine as an appetite stimulant and anti-emetic in cats with chronic kidney disease: a masked placebo-controlled crossover clinical trial. Veterinary Journal; 2013; 197: 651-655.

15. Quimby JM, gustafson DL, Lunn KF. The pharmacokinetics of mirtazapine in cats with chronic kidney disease and in age-matched control cats.Journal veterinary Interme Medicine; 2011; 25: 985-989.

16. Smith C, Tappin S. Mirtazapine as an appetite stimulant in 164 dogs and 68 cats. In: WSAVA/FECAVA/BSAVA World Congress 2012 Proceedings Online. Birmingham, UK; 2012. Disponível em: URL: http://www.vin.com

Sucesso do Sarolaner administrado, por via oral, no tratamento da Sarna Otodécica em gato – Relato de Caso

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COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 125-127. 125

Técnica para identificação de ovos de Dioctophyma renale em urina de gatos, empregada em sílica: resultados preliminaresCarlos Eduardo Guimarães - Universidade Federal de Pelotas Tainá Ança Evaristo - Universidade Federal de Pelotas Bruna dos Santos Pires - Universidade Federal de Pelotas Soliane Carra Perera - Universidade Federal de Pelotas Josaine Cristina Rappeti – Doutorado, Universidade Federal de Pelotas Alexsander Ferraz - Universidade Federal de Pelotas [email protected]

Guimarães CE; Evaristo TA; Pires BS; Perera SC; Rappeti JC; Ferraz A. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 125-127.

ResumoDioctophyma renale é o maior nematelminto parasita de animais domésticos, conhecido como “verme gigante do rim”. Têm como hospedeiros definitivos os canídeos, felinos, mamíferos silvestres, bovi-nos, eqüinos, suínos e o homem. Geralmente, é encontrado no rim direito, mas fora encontrado em diversos órgãos de seus hospedeiros. O diagnóstico é realizado por meio da identificação de ovos na urina, e por ultrassonografia. Procurou-se desenvolver uma técnica qualitativa, para identificação de seus ovos em sílicas. Foram realizadas coletas de urina de animais parasitados, e encaminhadas para análise no Laboratório de Doenças Parasitárias (LADOPAR). As técnicas utilizadas foram centrífu-go-flutuação em solução hipersaturada glicosada (densidades 1.230 e 1.330); flutuação espontânea em solução hipersaturada glicosada (densidades 1.230 e 1.330); e centrífugo-sedimentação. A técnica de centrífugosedimentação por concentrar grande quantidade de ovos apresentou o melhor resultado, sendo possível identificar ovos viáveis durante 14 dias. E devido característica morfológica dos ovos, a técnica de flutuação espontânea possibilitou a identificação em todas as análises, porém com menor taxa. Com tudo, a técnica de centrífugosedimentação obteve a maior efetividade para identificar ovos de Dioctophyma renale, mesmo após o decorrer do tempo e da degradação das amostras.

Palavras-chave: Felino; Parasita; Sílica; Zoonose.

Introdução O Dioctophyma renale é considerado o maior nematelminto parasita de animais domésticos, co-

nhecido como “verme gigante do rim”. Apresenta como hospedeiros definitivos (HD) os canídeos (domésticos e silvestres), felinos, mamíferos silvestres, e, raramente, animais de produção, como bovinos, eqüinos e suínos. Além disso, é considerada uma zoonose (1). Tem como hospedeiros intermediários (HI) anelídeos oligoquetos (2), que parasitam as brânquias de crustáceos ou se encontram no ambiente; como parasitos paratênicos (HP), ou acidentais (HA), rãs, tartarugas e peixes de água doce (3,4). É encontrado parasitando o rim direito, mas pode ser observado parasi-tando o rim contralateral, tecido subcutâneo, livre em cavidade abdominal ou torácica, glândula mamária, ureteres, bexiga e testículos (5,6). O diagnóstico pode ser realizado através da iden-tificação de ovos do parasito fêmea na urina, através de técnicas laboratoriais e por exames de imagem como ultrassonografia (7). Porém, ainda não há descrito na literatura nenhuma técnica, qualitativa ou quantitativa, que identifique ovos do parasito em areia ou sílica, seja ambiental ou proveniente de tutores.

O estudo buscou desenvolver uma técnica laboratorial qualitativa, de fácil aplicação e baixo custo, para identificação de ovos de Dioctophyma renale em sílicas, comumente utilizadas em caixas de areias de felinos.

Page 126: 2020 Comfel 2020 - Medvep€¦ · sarmônicas entre tutores e felinos, e aumento da transmissão de doenças infecciosas, inclusive zoonóticas (4). Neste sentido, o conhecimento

COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 125-127.126

Metodologia No Hospital de Clinicas Veterinárias (HCV), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foram

realizadas coletas de urina de animais parasitados por D. renale, exclusivamente de animais hos-pedeiros de parasitos fêmeas, visto que apenas estas eliminam ovos. A urina foi acondicionada em pote de coleta, armazenada em caixa de isopor isotérmica, com gelo retornável e encaminhada para análise no Laboratório de Doenças Parasitárias (LADOPAR), da Faculdade de Veterinária (FaVet/UFPel). As técnicas utilizadas para pesquisa de ovos foram: centrífugo-flutuação em solu-ção hipersaturada glicosada, com duas densidades: 1.230 e 1.330; flutuação espontânea em solução hipersaturada glicosada, com duas densidades: 1.230 e 1.330 e centrífugosedimentação. Amostras contendo 5 gramas de sílica foram distribuídas em potes plásticos, sendo adicionado em cada uma destas, 500 μl (0,5ml) de urina contendo ovos de D. renale. A urina adicionada em todas as amos-tras foi proveniente do mesmo animal.

A avaliação das amostras para identificação dos ovos foi realizada em diferentes tempos, distri-buídos da seguinte forma: momento zero, 6 horas, 12 horas, 18 horas, 24 horas, 36 horas, 48 horas, 72 horas, 120 horas, 168 horas, 240 horas e 336 horas após infestação. As amostras foram confeccio-nadas em triplicata para cada uma das técnicas e tempo, totalizando 180 amostras (36 para cada técnica). O resultado de cada técnica deuse a partir da média das três amostras.

A técnica de centrífugo-flutuação consistiu na homogeneização de 5g de sílica contendo 500 μl de urina, com 15 ml de água destilada, este material foi tamisado para um copo plástico, sendo transferido para um tubo de ensaio e centrifugado por cinco minutos. Os sedimentos foram res-suspendidos com solução hipersaturada de açúcar (densidade de 1.230 e 1.330). Para promover a flutuação dos ovos, completou-se o volume do tubo até a formação de um menisco, para a coloca-ção de lamínula 18x18, ficando em repouso por 20 minutos.

A técnica de flutuação espontânea foi executada a partir da homogeneização de 5g de sílica contendo 500 μl de urina contaminada e 25 ml de solução hipersaturada de açúcar (duas densida-des diferentes), o material foi tamisado para um copo plástico e transferido para um tubo de en-saio até a formação de um menisco. Após este processo, colocou-se uma lamínula de vidro sobre a solução por 20 minutos, pois o princípio da técnica consiste que os ovos do nematóide flutuem pela diferença de densidade.

A técnica de centrífugo-sedimentação foi realizada com a homogeneização de 5g de sílica, con-tendo 500 μl de urina e 15 ml de água destilada, tamisação do material para um copo plástico e transferência para um tubo de ensaio e centrifugação por 5 minutos. Pipetou-se o sedimento em lâmina, sobrepondo-se uma lamínula.

Ao final de todos os processos, ocorreu a observação das laminas, em microscopia óptica com aumento de 10x.

Resultados e discussão A técnica de centrífugo-sedimentação por concentrar grande quantidade de ovos (8) apresen-

tou o melhor resultado, sendo possível identificar ovos morfologicamente viáveis de Dioctophyma renale durante os 14 dias de análise. Como a maioria dos nematóides, apresenta ovos com densi-dade baixa, o que os permite flutuarem em relação à diferença de densidade das soluções hipersa-turadas utilizadas no experimento. Por este motivo, a técnica de flutuação espontânea apresentou resultado significativo, possibilitando a identificação de ovos de Dioctophyma renale em todas as analises, porém com menor taxa de ovos quando comparado com a técnica de centrífugo-sedi-mentação.

Estudos (9) relacionados com a morfologia dos ovos do parasito, a influência de temperatura para o desenvolvimento larval, a presença de formas larvais em hospedeiros paratênicos e a pa-dronização de técnica para detecção de anticorpos para classe IgG, contra antígenos somáticos do parasito, em cães que albergam Dioctophyma renale, se faz necessário para melhor conhecimento da dioctofimatose.

A elaboração de uma técnica laboratorial qualitativa para identificar ovos em sílica, vem de

Técnica para identificação de ovos de Dioctophyma renale em urina de gatos, empregada em sílica: resultados preliminares

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acordo com o que cita (9), possibilitando um novo leque de diagnóstico para presença de ovos do parasito em materiais utilizados em caixas de excretas de felinos. Os ovos do parasito em micros-copia são elípticos, com coloração acastanhada, com parede espessa, rugosa e com um tampão bipolar. Possuem de um a duas células logo após serem eliminadas na urina, medindo de 73 a 83 µm de comprimento por 45 a 47 µm de largura (8).

Todas estas características morfolo-tintorais foram observadas após a realização da técnica de centrífugo-sedimentação e flutuação em solução hipersaturada com densidade de 1.250 milios-mois, mesmo após sete dias da preparação do material.

Conclusões Pode ser constatado, como resultado preliminar, que a técnica qualitativa de centrífugo-sedi-

mentação obteve a maior efetividade para identificação dos ovos de Dioctophyma renale, mesmo após o decorrer do tempo e da degradação ocorrente por fatores ambientais naturais nas amostras analisadas.

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Técnica para identificação de ovos de Dioctophyma renale em urina de gatos, empregada em sílica: resultados preliminares

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Ureteres Ectópicos Bilaterais e Criptorquidismo Unilateral em Felino Maine CoonIsadora Scherer Borges - Acadêmicas de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosCinthia Garcia - Acadêmicas de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosCarla Di Concilio - Acadêmicas de Medicina Veterinária da UFSC CuritibanosMarcy Lancia Pereira - Médica Veterinária, Doutora, Professora da UFSC CuritibanosJéssica Friol - Médica Veterinária, ultrassonografista, Hospital Veterinário Taquaral, [email protected]

Borges IS; Garcia C; Di Concilio C; Pereira ML; Friol J. COMFEL 2018 - Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina - 2018; 128-131.

ResumoA ocorrência de ureteres ectópicos é pouco frequente e mais observada em cadelas, que se mostram com incontinência urinária desde filhotes. Gatos são raramente afetados por essas duas anormalidades de desenvolvimento. Este relato visa a apresentar o caso de um gato macho Maine Coon, de um ano e quatro meses, com diagnóstico de ureteres ectópicos bilaterais, hidronefrose unilateral, além de crip-torquidismo unilateral. O paciente foi encaminhado por colega devido a queixa de apatia e hiporexia após orquiectomia unilateral realizada alguns dias antes e não apresentava incontinência urinária. O ureter ectópico e a hidronefrose direitos e testículo ectópico esquerdo foram observados por meio de ultrassonografia, enquanto a ectopia do ureter esquerdo foi observada no período transcirúrgico. Op-tou-se por fazer nefroureterectomia total direita e orquiectomia esquerda naquele momento, além de debridamento de ferida cirúrgica devido a inúmeros abscessos subcutâneos provenientes da primeira cirurgia realizada, para em um próximo procedimento realizar-se a ureterocistotomia esquerda. En-tretanto, 10 horas pós-cirurgia o paciente teve hipotensão e, mesmo após restabelecimento da pressão arterial, veio a óbito. O tutor não autorizou a realização de necrópsia para que se pudesse investigar a causa de morte definitiva.

Palavras-chave: Ectopia; Gato; Hidronefrose; Testículo; Ultrassonografia.

Introdução Ectopia ureteral é uma anormalidade congênita do segmento terminal do ureter e pode ser

uni ou bilateral, em que o orifício ureteral pode estar localizado distal ao trígono vesical (1), es-vaziando na uretra, vagina, colo da bexiga, ducto deferente, próstata ou outras glândulas sexuais secundárias. Esta anomalia é mais comum em cadelas e a inserção vesical do ureter ectópico pode ser intra ou extramural (2). O diagnóstico por imagem é essencial e podem ser realizados ultras-sonografia, urografia excretora, tomografia computadorizada e cistoscopia (3).

O criptorquidismo caracteriza-se por retenção testicular, com localização em qualquer parte do caminho de descida do testículo, do polo caudal renal até o canal inguinal, ou externo ao canal, mas cranial ao escroto (4). Esta desordem de desenvolvimento sexual é relativamente frequente na espécie canina, com cerca de 6,8% de machos acometidos (5). Entretanto, em gatos a prevalência de criptorquidismo unilateral varia de 1,3 a 1,7% (5, 6).

O objetivo do presente trabalho foi relatar o caso de um gato macho da raça Maine Coon, de 1 ano e 4 meses, com 3,7 Kg, com apatia e hiporexia, que possuía ureteres ectópicos bilaterais, hi-dronefrose unilateral, além de criptorquidismo unilateral, encaminhado para atendimento pelo Serviço de Nefrologia e Urologia do centro de diagnóstico e especialidades Saúde e Ciência Ani-mal (SCAN), Campinas, SP, Brasil.

ResultadosA tutora relatou que, 4 dias antes, o animal havia passado por orquiectomia unilateral direita,

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pois o outro testículo não fora localizado. Fez-se após ultrassonografia, que mostrou que o testí-culo esquerdo estava em região hipogástrica média, com 0,9 x 0,4 cm e sem alteração de contorno, aspecto e ecotextura de parênquima (Figura 1B). O rim direito media 6,1 cm (enquanto o esquerdo media 5,5 cm), apresentava adelgaçamento de cortical e dilatação acentuada de pelve, sugerindo hidronefrose (Figura 1A). O paciente estava recebendo cefalexina (30 mg/kg BID) e dipirona (25 mg/kg BID) por via oral desde o procedimento cirúrgico. O animal foi comprado filhote e sempre fora um animal magro, com apetite seletivo e urinava somente uma vez ao dia, sem outras quei-xas.

Figura 1 - Imagens ultrassonográficas de rim direito com perda total de parênquima ao ultrassom (A) e testículo esquerdo ectópico ao ultrassom (B).

A B

À inspeção visual, o animal estava taquipneico e apático. Ao exame físico, apresentava escore de condição corporal 2 (de 1 a 5), edema e dor na ferida cirúrgica, o que impossibilitou a palpação abdominal. Foi solicitado novo ultrassom, que confirmou os achados ultrassonográficos anteriores e ainda revelou hidroureter direito em toda a sua extensão até a região dorsocaudal à bexiga, com desembocadura caudal ao trígono vesical, trajeto tortuoso em sua porção proximal, cuja mensuração foi de 0,5 cm de diâmetro em terço proximal e médio e 0,9 cm em terço distal, compatível com ureter direito ectópico. Além disso, notou-se discreta dilatação de pelve do rim esquerdo (0,3 cm), bexiga em repleção acentuada e sem alterações, e testículo esquerdo localizado em região inguinal esquerda a 1,2 cm de profundidade em relação ao tecido subcutâneo. Os exames laboratoriais mostraram hemograma sem alterações, azotemia (creatinina sérica de 2,1 mg/dL) e hipercalemia (5,6 mEq/L). Na urinálise, observou-se densidade urinária maior que 1,040, pH 6 e sedimento inativo. Foram feitos também mensuração de pressão arterial e eletrocardiograma, sem alterações dignas de nota. Solicitou-se também urografia excretora, não autorizada pelo tutor.

O animal foi encaminhado para novo procedimento cirúrgico no Hospital Veterinário Ver-lengia, Campinas, SP, para nefroureterectomia total direita e orquiectomia do testículo ectópico. Observou-se no transcirúrgico que o ureter esquerdo também apresentava dilatação, porém mais discreta que do ureter direito e sua inserção ocorria na uretra na mesma altura do seu contra-lateral, de forma extraluminal. Foi necessário também fazer debridamento da ferida cirúrgica anterior devido a vários abscessos subcutâneos. Optou-se por não fazer ureteroneocistotomia es-querda naquele momento, para observar recuperação do paciente após procedimento cirúrgico tão invasivo. O animal permaneceu internado e recebeu fluidoterapia de manutenção com solução fisiológica a 0,9% por via IV a 8 ml/Kg/h, cloridrato de tramadol (0,02 mg/kg TID SC), meloxicam (0,05 mg/kg BID SC) e cefovecina sódica (8 mg/Kg em dose única SC). Cerca de 10 horas após o procedimento cirúrgico, o paciente apresentou hipotensão e, mesmo após restabelecimento da pressão arterial, veio a óbito. O tutor não autorizou a necrópsia do paciente para que se pudesse

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estabelecer a causa definitiva de morte.

DiscussãoEste é o segundo caso de ectopia bilateral de ureteres extramurais em gato da raça Maine Coon.

Normalmente, o sinal clínico comumente apresentado é a incontinência urinária desde o nasci-mento (7, 8, 9). Entretanto, este paciente não tinha incontinência. Pelo fato de os dois ureteres se-rem ectópicos, a bexiga apresentar-se repleta ao ultrassom e o animal apresentar comportamento miccional, pode-se inferir que a urina refluía da uretra para a bexiga para sua distensão.

A literatura cita que vários métodos de imagem podem ser utilizados para o diagnóstico, como ultrassonografia, urografia excretora e cistoscopia (3). O diagnóstico pode ser feito pelo ultrassom quando o ureter dilatado pode ser acompanhado passando pelo trígono vesical e desembocando caudalmente a esta estrutura. Entretanto, quando a dilatação é mínima, associada a transdutor de baixa frequência ou obesidade do paciente, a visualização deste órgão torna-se extremamente complicada. Ainda, as junções ureterovesicais são pequenas estruturas que podem ser difíceis de identificar, e o refluxo da uretra para a bexiga pode ser confundido com jato ureteral (10). Exames laboratoriais não mostram alterações até que a hidronefrose promova perda funcional do parên-quima renal ou quando ocorre pielite ou pielonefrite (11). Este animal apresentou azotemia leve, mesmo com perda total de função do rim direito, e não teve alterações ao hemograma. A urinálise, mostrando boa concentração urinária, revelou que, apesar da hidronefrose direita acentuada, o rim esquerdo mantinha sua função de forma adequada.

O tratamento baseia-se em ureteroneocistotomia (8) e, em casos em que há perda total de pa-rênquima por hidronefrose, indica-se a nefroureterectomia total (1). No caso deste paciente rela-tado, realizou-se a segunda técnica cirúrgica descrita e a primeira não foi feita, devido ao longo tempo cirúrgico e anestésico ao qual o animal fora submetido e, assim, optou-se por aguardar a recuperação do paciente e avaliar possibilidade de novo procedimento para ureteroneocistotomia esquerda.

Testículos escrotais não são facilmente palpáveis em gatos filhotes e o diagnóstico do criptor-quidismo é feito, normalmente, em gatos jovens antes de um ano de idade, quando da ocasião da orquiectomia eletiva (4), da mesma forma que ocorreu neste caso. Apesar de a raça Persa ser a mais acometida (5), o paciente em questão, apresentando simultaneamente 2 patologias de desen-volvimento, era um Maine Coon. De acordo com Little (12), a apresentação mais comum é a mo-norquidia unilateral inguinal. Neste caso, o paciente era criptorquida, com localização testicular intra-abdominal.

ConclusãoEmbora a ocorrência de ureteres ectópicos seja bastante incomum em gatos, este é o segundo

relato na raça Maine Coon, em que ambos os casos são relatados no Brasil. Ainda, a presença con-junta de criptorquidismo, outra anormalidade infrequente na espécie felina, chama a atenção para o diagnóstico precoce dessas alterações anatômicas.

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