217648787 a Teologia Do Apostolo Paulo Herman Ridderbos

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A TEOLOGIA DOAPSTOLO PAULOA obra definitiva sobre o pensamento do apstolo aos gentiosHERMAN RID D ER BO S^ J ) STA OBRA TRATA DE UM ASSUNTO DA TEOLOGIA BBLICA E, BASEANDO-SE NAS CARTAS DO APSTOLO PAULO, PROCURA APRESENTAR UMA VISO GLOBAL DA SUA CONCEPO TEOLGICA E LINHASDE PENSAMENTO. REVELA AS ESTRUTURAS BSICAS D \ PlEGAO DE PAULO, E SUA Cr ISTOLOGLA,INTERPRETADA NOASPECTO DA HISTRIA DA SALVAO, A PARTIR DALI O AUTOR MOSTRA A UNIDADE DE TODOS OS GRANDES TEMAS NAS CARTAS PAULINAS (jUSTTMCO, RECONCILIA O,carneE Es p r it o h o m e m n o v o , ig r e jac o m o po v o d eDeus e com oCORPO DE C r LSTO, E T C .). MUITA ATENO F. DADA TAMBM A ELABORAO PRTICA DA TEOLOGIA DE PAULO PARA A VIDA PESSOAL, INCLUSIVE PORQUE MUITOS DETALHES TCNICOS RELATIVOS AO TEXTO ORIGINAL FORAM TIRADOS DO TEXTO E ENCORPADOS EM PARGRAFOS SEPARADOS E NASNOTAS DE RODAP.deHERMAN R1DDERBOS, re s p e ita d o Novo T e s ta m e n to da U n iv ersid a d ee r u d it o , de1943 a 1978 fo ic a te d r tic oT e o l g i c a das I g r e ja s R e fo r m a d a s nosP a s e s B a ix o s , em K am pen.Teologia bibiica-'Teologia SD!TOtft CU ITU AA CRISTRua Miguel Teles J r m t, 394 - Cambuc 01540-040 - So Pauto - SP - Brasil C.Posta 15.136 - So Pauto - S P - 01589-970 Fone (0**11) 3207-7099 - Fax (0**11) 3209-1255www.cep.org.br - [email protected] Teologia do Apstolo PauloA obra definitiva sobre o pensamento do apstoloA Teologia do Apstolo Paulo 2004, Editora Cultura Crist. Ttulo original: Paulus, ontwerp van zijn theologie 1966 by Uitgeversmij J.H. Kok B.V. IJsseldijk 31, 8266AD Kampen, The Netherlands. Traduzido com permisso. Todos os direitos so reservados. Ia edio em portugus - 2004 3.000 exemplaresTraduo Susana Klassen Reviso Claudete gua de Melo Cludio Csar Gonalves Coordenao deCludio Csar Gonalves Formatao Vanderlei Ortigoza Capa Magno PaganelliR542tRidderbos, Herman A teologia do apstolo Paulo: a obra definitiva sobre o pensamento do apstolo dos gentios / Herman Ridderbos - So Paulo: Editora Cultura Crist, 2004. Traduo de Suzana Klassen. 608 p.; 16x23 cm. ISBN 85-7622-046-6 1. Vida e Teologia do apstolo Paulo / Teologia bblica / Exegese / Hermenutica I Ttulo II Srie CDD 21ed. 226.6 227.1-8.6Publicao autorizada pelo Conselho Editorial: Cludio Marra (Presidente), Alex Barbosa Vieira, Andr Lus Ramos, Mauro Fernando Meister, Otvio Henrique de Souza, RicardoAgreste, Sebastio Bueno Olinto, Valdeci da Silva SantosCDITORR CULTURA CRISTARua Miguel Teles Jnior, 394 - Cambuci 01540-040 - So Paulo - SP - Brasil C .Postal15.136 - So Paulo - SP - 01599-970 Fone (0**11) 3207-7099 - Fax (0**11) 3209-1255 www.cep.org.br - cep@ cep.org.brSuperintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cludio Antnio Batista MarraS u m r io--------- --------I - Principais Linhas na Histria da Interpretao Paulina1. Introduo 2. F. C. Baur (A Escola de Tbingen) 3. A Interpretao Liberal e seu Declnio4. A Abordagem da Histria das Religies 5. A Interpretao Escatolgica 6. Desenvolvimento Contnuo Notas1111 14 15 20 26 29 40II - Estruturas Fundamentais7. A Plenitude do Tempo. A Revelao do M istrio 8. O Mistrio de Cristo. Escatologia eCristologia 9. O Primognito dos Mortos. O ltimo Ado 10. Em Cristo, com Cristo. O Velho e o Novo Homem 11. Revelado na Carne. Carne e Esprito 12. Cristo, o Filho deDeus e a Imagem de Deus 13. O Primognito de Toda a Criao 14. Cristo, o Exaltado eo Kyrios Vindouro Notas4747 51 56 59 65 68 76 84 88III - A Vida em Pecado15. O M undo, a Era e o Cosmos Presentes 16. A Universalidade do Pecado. Carne,Ado 17. A Essncia do Pecado. Antropolgica ou Teolgica 18. A Ira de Deus 19. A Corrupodo Homem 20. Romanos 7 na Antropologia Paulina 21. A Anttese com o Judasmo 22. Nenhum a Justificao pela F. Jactncia e Skandalor' 23. A Lei Impotente por Causa da Carnescravido da Lei 24. A Lei como Apoio para Conduzir a Cristo 25. Paulo, o Judasmo eo Antigo Testamento Notas101101 103 109 116 122 134 138 142 150 156 160 164IV - A Revelao da Justia de Deus26. Introduo 27. O Carter Escatolgico da Justificao 28. A Justia de Deus em Cristo 29.Justia pela F, Sem a Lei 30. A Justificao do mpio. Atribuio 31. Julgamento de Acordo cm as Obras Notas181181 183 187 191 195 198 202V - Reconciliao32. A Atividade Reconciliadora de Deus em Cristo. A Paz de Deus 33. A Morte de Cristo como Expiao. Katallag e Hilasmos 34. Resgate 35. A Adoo de Filhos. A Herana Notas207207 211 217 220 226VI - A Nova Vida36. O Ponto de Vista Geral 37. Morte e Ressurreio com Cristo 38. A Vida por Meio do Esprito 39. O Novo Homem 40. A F como Modo de Existncia da Nova Vida 41. A Natureza da F Notas233233 235 243 251 258 263 277VII - A Nova Obedincia42. Indicativo e Imperativo 43. O Ponto de Vista Teocntrico. Santificao 44. O Pontode Vista Totalitrio. Perfeio 45. Unidade e M ultiplicidade. O Carter Concreto da Parnese 46 . Tertius Usus Legis 47. Liberdade e Conscincia 48. Amor 49. A Vida no Mundo 50. Casamento 51. Relacionamentos Sociais 52. Sujeio s Autoridades Civis Notas287287 292 298 305 311 320 325 333 338 343 348 354VIII - A Igreja como Povo de Deus53. Dois Aspectos Principais 54. Ekklesia 55. Santos, Eleitos, Amados, Chamados 56. Ava Aliana. Universal e Particular 57. A Natureza da Eleio. O Propsito de Deus 58. OFuturo de Israel Notas371371 372 374 377 384 397 402IX - A Igreja como Corpo de Cristo59. Diversos Pontos de Vista e Problemas 60. Corpo e Corpo de Cristo (Romanos 61. Corpo e Cabea (Efsios e Colossenses) 62. Cristo, o Cabea de Todas as Coisas. A Igrejacomo Pleroma 63. A Igreja como o Povo de Deus e como oCorpo de Cristo Notas e 1Corntios)409409 415 421 431 435 438X - O Batismo e a Ceia do Senhor64. Diferentes Definies de Batismo 65. O Batismo como Meio de Salvao 66. O Significado Redentor da Ceia do Senhor 67. O Significado Crtico da Ceia do Senhor. O AutoExame Notas449449 458 466 474 477XI - A Edificao da Igreja68. A Igreja como Edifcio 69. Edificao Extensiva e Intensiva 70. O Equipamento Espiritual da Igreja. Dom e Ministrio (cargo) 71. Diversidade de Dons 72. Ordem e Disciplinas Eclesisticas 73. Cultos Notas487487 490 495 503 520 533 538XII - O Futuro do Senhor74. A Vida de Expectativa. A Proximidade 75. Morte Antes da Volta de Cristo. O Estado Intermedirio 76. A Revelao do Homem da Iniqidade 77. A Vinda de Cristo 78. A Ressurreio 79. O Julgamento 80. A Consumao. O Estado Eterno Notas551551 560 569 587 595 607 611 617ndice Remissivo de Assuntos Iindice Remissivo de Autores ndice Remissivo de Escrituras639 647 657Todos que so b e ne ficia dos pelo que fao, fiquem certos que sou contra a venda ou troca d e to d o m aterial d is p o n ib iliz a d o por mim. Infelizmente d epo is d e postar o m aterial na Internet no tenho o p o d e r d e e vita r que o/guns aproveitadores tirem vanta g em d o meu tra b a lh o que feito sem fins lucrativos e unicam ente p a ra e d ific a o d o povo de Deus. C riticas e ag rad ecim ento s p a ra : m azinhorocJrigues(*?yahoo. com . b r Att: AAazinho Rodrigues.AbreviaturasN IC N T N TD NTS PR E RGG TDNT TLZ TZ ZNW ZST ZTKNew International Commentary on the New Testament Das Neue Testament Deutsch NewTestament Studies Realencyclopdie f r protestantische Theologie und Kirche Religion in Geschichte und Gegenwart Theological Dictionary o f the New Testament Theologische Literaturzeitung Theologische Zeitschrift Zeitschrift f r die neutestamentliche Wissenschaft Zeitschrift f r systematische Theologie Zeistschrift f r Theologie und KircheComentrios Freqentemente CitadosAlthaus, Rom. Dibelius, Th. Dibelius, Col. Greijdanus, Rom. G rosheide, 1 Cor. P. Althaus, Der Brief and die Rmer (Das Neue Testament Deutsch, 6), 6 ed., 1949. M.Dibelius, An die Thessalonicher (Handbuch zum Neu en Testament), 3s ed., 1937. M. Dibelius (rev. Greeven), An die Kolosser, EpheserAn Phile mon (Handbuch zum Neuen Testament, 12), 3 ed., 1953. S. Greijdanus, De Brief van den apostel Paulus aan de Gemeente te Rome, I, 1933, II, 1933. F. W. Grosheide, De eerste brief van den apostel Paulus aan de kerk te korinthe (Comm entaar op het N ieu we Testament), 2s ed., 1957. H. L ietzm ann (rev. W. G. K m m el), An die Korinther (H an d bu ch zum N euem T estam en t, 9), 4* ed., 1949. H. Lietzmann, An die Rmer (Handbuch zum Neuen Tes tament, 8), 4 ed., 1933. O. Michel, Der Brief an die Krner (K ritisch-exegetischer K ommentar ber das Neue Testament, 4), 1955. A. Oepke, Der Briefdes Paulus an die Galater (Theologis cher Handkommentar zum Neuen Testament, 9),1937. H. N. Ridderbos, Aan de kolossenzen (Com m entaar op het Nieuwe Testament), 1960. H. N. Ridderbos, Aan de Romeinen (Com m entaar op het Nieuwe Testament), 1959. B. Rigaux, Saint Paul: les pitres aux Thessaloniciens (tu des bibliques), 1956. H. Schlier, Der Brief an die Galater (Kritisch-exegetischer Kommentaar ber das Neue Testament,'7), 10 ed., 1949. H. D. Wendland, Die Briefe an die Korinther(Das Neue Testam ent Deutsch, 7), 5i ed., 1948.Lietzm ann, Cor., ou Lietzmann-Kmmel, Cor. Lietzmann, Rom. M ichel, Rom. Oepke, Gal. Ridderbos, Col. Ridderbos, Rom. Rigaux, Th. Schlier, Gal. Wendland, Cor.P r in c ip a is L in h a snaHist r iadaIn t e r p r e t a o P a u l in a1. IntroduoNo de surpreender que, com respeito a um fenmeno to profundo e complicado quanto amaneira pela qual o apstolo Paulo deu forma e ex presso ao evangelho de Jesus Cristo, seja possvel identificar uma grande variedade de conceitos na histria da investigao paulina. Apesar dessa histria exigir um estudo prprio1e, de que tratar da mesmaem profundida de, nos levaria muito alm das propores de um captulo introdutrio, ain dassim proveitoso e necessrio nos familiarizarmos com as linhas principais ao longo das quais desenvolveu-se essa investigao, particular mente nos ltimos cem anos. Ao fazermos essa relao, nossa preocupao , acima de tudo, obter um entendimento mais profundo da estrutura funda mental da pregao e doutrina de Paulo ou, em outras palavras, descobrir onde se encontra a entrada do imponente edifcio da teologia de Paulo. Fica claro que h portas de todos os tipos pelas quais pode-se entrar. No entanto, qual a entrada principal que governa todo o edifcio? Essa pergunta foi respondida de diferentes maneiras, especialmente nos ltimos cem anos de investigao. Essadiferena, por sua natureza, est entrelaada com a pers pectiva que os estudiosos defendem em relao estrutura arquitetnica e organizao do prdio como um todo. Em termos gis, a teologia da Reforma encontrou, h muito tempo, essa entrada na pregao de Paulosobre a justificao pela f. Na grande luta contra o legalismo e o misticismo catlico-romano, as declaraes decunho judicial nas epstolas aos Romanos e Glatas foram de importncia fundamental. Em decorrncia disso, o ponto de vista reformado a respeito das epstolas de Paulo foi determinado principalmente por sua doutrina da justificao. Esse fato torna-se especialmente visvel em Lutero. Para ele, aquilo que prega e aponta para Cristo (Prefcio a Tiago e Judas), no sen tido da doutrina de Paulo da justificao pela f, foi o nico princpio e critrio para toda a doutrina da salvao no Novo Testamento, o cnon den trodo cnon, como fica aparente, por exemplo, no comentrio crtico de Lutero sobre a Epstola de Tiago. A teologia luterana posterior continuou a demonstrar resqucios desse ponto de partida na doutrina paulina da justifi cao. Com certa freqncia, foi aindaalm e lanou a luta de Lutero para chegar segurana da f na converso de Paulo na estrada para Damasco, e a esse respeito, no apenas entendeu Lutero sub species Pauli como, de fato, viu Paulo sub species Luteri.2 Na teologia provinda de Calvino, sem sombra de dvida essas ques tes encontram-se, desde o princpio, mais equilibradas.Para Calvino, a doutrina de Paulo da justificao pela f no se tornou um principiam canonicitatis. No entanto, ao opor-se Roma, a doutrina paulina dentro da tradio queteve origem com Calvino tambm adquiriu uma importncia predominante como a chave para a compreenso de todo o evangelho.3Todo o conceito reformado de f, que traz em si a marca de Calvino, tambm testifica nesse mesmo sentido. O evangelho da justificao somente pela f sem as obras da lei pareceu, mais uma vez, ser o nico e poderosomeio de libertar a conscincia de seus fardos e substituir o esprito de servido legalista pela certeza da reconciliao e da adoo como filhos de Deus. No de admirar, portanto, que, por causa dessa anttese que exerce seu controle sobre tudo, para a conscincia de f da reforma, Paulo foi, acima de tudo, o pregador da justificao e toda asua teologia passou a ser considerada a partir desse ponto de vista. A medida que a fora da idia inicial da Reforma foi diminuindo, ocorreram mudanas com respeitoa essa viso, mudanas estas que proce deram tanto de Calvino quanto de Lutero. Questes referentes ordem da salvao, com referncia apropriao pessoal da redeno (ordo salupassaram a receber cada vez mais ateno do que questes sobre a histria da salvao (historia salutis). Enquanto em Lutero e Calvino toda a nfase encontrava-se sobre o acontecimento redentor que ocorreu na morte e res surreio de Cristo,4 mais tarde, soba influncia do pietismo, do misticismo e do moralismo, a nfase passou a ser colocada no processo individual de apropriao da salvao concedida em Cristo e seu efeito mstico e moral na vida dos crentes. Conseqentemente, na histria da interpretao das epstolas de Paulo, o centro de gravidade moveu-se progressivamente dos aspectos judiciais para os aspectos pneumticos e ticos de sua pregao, surgindo assim um conceitototalmente diferente das estruturas que esto na base de sua pregao.Essa mudana adquire importncia e fora acadmica, porm, apenas na teologia derivada doIlum inism o, sem a qual toda a histria do Paulusforschung, durante os sculos 19 e20, inconcebvel. Por um lado, ela iniciou a exegese histrico-crtica e ofereceu umacontribuio podero sa para uma melhor distino e compreenso dos grandes temas teolgicosda pregao de Paulo dentro de sua importncia original e histrica. Por outro lado, aofazer-se um estudo dessas novas interpretaes de Paulo, fica aparente de maneira muito impressionante (e, devemos certamente acres centar, vergonhosa), at que pontoa chamada investigao livre e crtica da pregao de Paulo foi constantemente determinadapelas premissas religio sas e filosficas de cada poca, sendo que isso continua a ocorrer no presen te. Isso chega at ns com particular clareza quando observamos vriasimagens de Paulo que desempenharam um papel importante na investiga o cientfica dosltimos cem anos: o Paulo hegeliano da escola de Tbingen, o Paulo liberal da teologia liberal, o Paulo mstico da escola da histria das religies e o Paulo existencialista apresentado, agora, com grande habili dade e destreza pela escola de Bultmann.No difcil observar nessa su cesso de interpretaes o reflexo do desenvolvimento teolo-filosfico que pode ser traado ao longo dos ltimos cem anos. Seria, porm, unilateral e injusto optar por se considerar e julgar a histria da investigao exclusivamentedo ponto de vista de conceitos filo sficos e teolgicos que sofreram alteraes. Chamara ateno para essa histria teria, ento, apenas uma importncia negativa. No entanto, de for ma alguma, ela provida apenas de uma importncia negativa, como ficar aparentemais adiante. Isso porque, por meio dessa histria, no apenas fica evidente o quanto a investigao de um fenm eno to trem endo e multifacetado como a pregao de Paulo amaada pela influncia do esprito de cada poca, como tambm h provas de que a Palavra de Deus que ressoa por intermdio dessa pregao no est presa, mas sim, tanto apesar das mudanas nos resultados das investigaes humanas bem como por meio delas, a Palavra permanece continuamente a mesma e exige reve rncia quanto infalibilidade de seu propsito. Desde que Albert Schweitzer escreveu sua obra Geschichte der Paulinischen Forschung, em 1911, o cenrio fascinante e extremamente instrutivo do desenvolvimentoda investigao do significado geral da pre gao de Paulo foi descrito vrias vezes e pode ser considerado suprfluo repeti-lo em todos os seus detalhes, pelo menos no quediz respeito ao per odo que se estende, aproximadamente, de 1840 a 1940. De qualquer modo, indispensvel traar-se um esboo sucinto da Histria como pano de fun do paraaquilo que ser de nosso interesse constante nos prximos captu los. Trabalharemos principalmente com quatro conceitos bsicos sucessivos, a saber, aquele da escola deTbingen, o liberal, aquele da histria das reli gies e o das interpretaes escatolgicas.Por certo, esses conceitos, em sua forma pura, existem apenas de maneira parcial, se que tanto. Especialmente o segundo e terceiro conceitos e o terceiro e quarto apresentam toda sortede associao e hbridos. Ainda assim, os tipos bsicos so claramente distinguveis e podeser til delinear essas quatro linhas principais a fim de se ter uma viso melhor tanto dos problemas envolvidos no carter geral da pregao de Paulo (a entrada principal) como do contexto das investiga es da atualidade.2. F. C. Baur (A Escola de Tbingen)O esforo no sentido de determinar o significado do apstolo Paulo para a histria darevelao do Novo Testamento teve incio em tempos recentes com as obras de F. C. Baur(falecido em 1860), pai da chamada escola de Tbingen.5 Baur procurou inteipretara histria do Cristianismo de acordo com os princpios filosficos de Hegel. Orientado tambm por esses princ pios, ele buscou o centro da pregao de Paulo, no na cristologia, mas na concepo paulina do Esprito e no tema da anttese Esprito e carne ligado a essa concepo. Baur entende o esprito sob a tica hegeliana de que se trata do infinitoe absoluto em oposio ao finito (a carne). No esprito, o homem tem uma poro do Espritodo prprio Deus, por meio do qual ele libertado do finito e do relativo, e alcana aliberdade absoluta. Dentro desse esquema idealista, para Baur o Cristianismo areligio absoluta e Paulo aquele em cuja doutrina da liberdade e reconciliao foi expressa a conscincia absoluta da unidade do homem com Deus, no Esprito. De acordo com Baur, essa conscincia em Paulo desenvolveu-se de modo contrrio ao Cristianismo primitivo que ainda estava preso lei e ao judasmo particularista. Nesse conflito,que foi resolvido no catolicismo sinttico posterior sob a presso do crescente gnosticismo, Paulo tornou-se o defensor da f crist de carter universal desprendida da lei. Na sntese posterior, esse universalismo, ligado, ento, idia de hierarquia eclesisti ca, manteve sua proeminncia. Do ponto de vista histrico, as duas linhas tem origem na vinda de Jesus, na qual, de acordo com Baur, torna-se conhecido o que universal, geralm ente humano e moral e, portanto, absoluto, bem como o que particularista, a saber, a avaliao que ele atribuiu a Israel como povo de Deus e sua prpria pessoa como o Messias. No entanto, Baur interpreta Paulo, no a partir do fato de o apstolo ser seguidor de Jesus, do qual, afinal de contas, Paulo raramente fala em suas epstolas, mas a partir do milagre de sua converso, quando Deus revelou-lhe seu filho, isto , con frontou-o com a realidade tremenda da morte de Jesus. Porcerto, foi nessa experincia que a idia de verdade e liberdade absolutas, completamente desprovidas de qualquer lao nacional ou legalista, entrou na sua mente e oapstolo desenvolveu as concepes que passaram a ser-lhe caractersticas dali em diante. Nesse relato, Paulo no precisa de qualquer argumentaohistrica para sua doutrina. Por que ele deveria perguntar se aquilo que ele ensinaest ou no de acordo com o ensinamento original de Jesus ... quan do, no Cristo quevive e opera nele, ele ouve a voz do prprio Senhor? Por que ele deveria lanar mo do passado quando o Cristo que est presente nele proferiu suas verdades diretamente em sua conscincia? 5a Para Baur, essa reconstruo da origem do Cristianismo tambm exer ce a funo de critrio para a autenticidade das epstolas de Paulo e para a determinaogeral das datas dos escritos do Novo Testamento. Baur acre dita que apenas as quatro epstolas principais (Romanos, Glatas, 1 e 2 Corntios) podem ser consideradas autnticas, pois nelas o tema de anttese ainda visvel com toda a sua nitidez. Considera que as outras epstolas j foram dominadas por uma tendncia unionista e, portanto,so de uma data posterior. A concepo de Baur inteiramente governada pela viso hegeliana da Histria e pela idia de Esprito. Essa idia de pneuma, no entanto, no paulina. Baur fechou seu prprio caminho no apenas para chegar uma avaliao correta do retrato doCristianismo original que nos foi apresenta do em Atos dos Apstolos, como tambm para compreender todo o signifi cado pleno de Paulo na histria da revelao do Novo Testamento. Isso levou a uma amputao de grandes propores do corpus Paulinum, para o qual(depois de serem tiradas concluses radicais das concepes de Baur pelos holandesesPierson, van Manen e Loman e pelo suo Steck, que re jeitou categoricamente a autenticidade das epstolas paulinas) foi imposs vel, posteriormente, chegar a um consenso, mesmo na crtica histrica mais avanada. Ainda assim, as concepes crticas e universalistas-idealistas de Baur acerca do Cristianismo original continuam a exercer grande influn cia, e a distncia que ele criou entre a doutrina de Paulo e a dos outrosapstolos, que se relacionaram com Jesus, continua a ser um dos principais temas das investigaes mais recentes. As formulaes, a maneira pela qual ele afirmou os problemas com respeito ao lugar de Paulo no Novo Testa mento e sua relao com Jesus e o Cristianismo primitivo, foram de influ ncia incalculvel, mesmo que a interpretao de Baur como um todo tenha sido aceita sem alteraes, apenas por uns poucos at mesmo dentro da chamada escola de Tbingen (como, por exemplo, por Schwegler).3. A Interpretao Liberal e seu DeclnioDepois de Baur, uma outra explicao do significado teolgico da pregao de Paulo encontrou aceitao, sendo que esta, tambm, tomou como ponto de partida o que Paulo tinha adizer sobre o Esprito, mas procurou interpre tar esse elemento da perspectiva da antropologia grega. Entre outros, pode mos citar como representantes proem inentesdesse perodo: Holsten, Ldemann, Pfleiderer e H. J. Holtzmann.6Enquanto a teologia da Reforma via a justificao pela f como o centro da doutrina dePaulo e associava ela, de maneira muito prxima a santificao, o conflito entre a carne e o esprito e outros temas semelhan tes, os estudiosos desse perodo passaram adistinguir ao lado da linha jurdica-legal, que explicavam como sendo originria do judasmo, uma li nha tica (ou tica-mstica) que, de acordo com eles, encontrava sua expres so no contraste entre carne e esprito e era voltada no para o judasmo, mas para o pensamento greco-helenista. Assim, o esprito, deixa de ser considerado uma anttese dofinito e humano (como era em Baur), para ser tido com o antpoda do sensual. Esprito e carne uma anttese que se concretiza no prprio homem; o esprito, como mais importate princpio racional no ser humano, deve obter a vitria sobre a natureza sensual inferi or (sarx) e mant-la subjugada. Diz-se que essa idia grega aparece de for ma cristianizada em Paulo e constitui um dos principais aspectos daquilo que distintivo dentro de sua proclamao do evangelho; enquanto num perodo a nfase era colocada sobre o tico, em outro fica sobre a importn cia mstica da anttese entre carne e esprito.Conseqentemente, tambm nesse sentido que entendido tudo aquilo que Paulo escrevesobre os crentes como estando com Cristo e em Cristo. Essa comunho vista como um misticismo voltado para a tica; no como incluso objetiva de crentes em Cristo, mas comouma ligao espiritual e mstica da qual desenvolver-se-ia, ento, uma vida de amor e liberdade espiritual, num sentido religioso geral. Essas idias remetem-nos ao augeda chamada teologia liberal. Tam bm predominante, em sua avaliao da teologia de Paulo, o ponto de vista tico que os homens tinham da pregao de Jesus. Ainda no feito umcontraste fundamental entre Jesus e Paulo, visto que os estudiosos tam bm procuram reduzir a proclamao de Paulo a uma moralidade racionalistaidealista. De fato, verdade que so descobertas outras tendncias em Paulo, como, por exemplo, seus pronunciamentos escatolgicos, demonolgicos e angelolgicos. No entanto, estes so considerados como a estrutura con tempornea do verdadeiro ensinamento de Paulo, interpretao semelhante quela que foi dada para a pregao de Jesus sobre o reino de Deus. Por certo, supe-se que a converso de Paulo teve um papel importante no de senvolvimento dessas idias.7 Desse modo, o apstolo desligou-se comple tamente da forma de pensamentojudaica e ocorreu-lhe a possibilidade de uma atitude completamente nova em relao vida, sendo que, ento, con forme j foi dito, o pensamento grego exerceu grande influncia. Contudo, a escola liberal no pode negar que, junto com essa religio sidade tica/mstica de Paulo, outros temas ocuparam um lugar importante, especialmente a doutrina jurdica da justificao que Paulo baseia na f e na morte e ressurreio de Cristo. Apesar de a teologia liberal procurar escon der por trs da concepo moral-racional dereligio (explicando, entre ou tras coisas, a doutrina de Paulo da justificao a partir da tradio e da polmica) o significado desses fatos redentores encontrados em Paulo, ainda assim, ela no pode ignorar o lugar que tudo isso ocupa nas epstolas de Paulo. Supe-se, agora, que no havia em Paulo nenhum pensamento de coerncia teolgica; que, dequalquer modo, suas idias teolgicas no re cebem expresso adequada em sua teologia; que, para ele, os elementos judaicos e gregos permaneceram numa discordncia interna. Enquanto um escritor como Ldemann considera que o contraste entre esprito e carne entendido sob uma tica grega foi predominante em Paulo, Pfleiderer, por exemplo, chega concluso de que na mente de Paulo, havia duas represen taes irreconciliadasexistindo lado a lado (a jurdica e a tica) e que, com freqncia, ele pulava de uma para a outra sem dar-se conta da contradio. O znite e, ao mesmo tempo, o ponto terminal dessa interpretao de Paulo encontra-se no mestre maior da teologia liberal, H.J. Holtzmann. Para Holtzmann, a experincia em Damasco de importncia fundamental para a compreenso da posio teolgica de Paulo. Ele interpreta esse acon tecimento comoa primeira experincia subjetiva daquilo que Paulo procla ma logo em seguida, comosendo sua doutrina objetiva da salvao.8Diz-se que mesmo antes da experincia em Damasco, Paulo havia se tornado eti camente falido (como, supostamente, descrito em Rm7) e havia recebi do um a percepo correta dessa situao mediante sua viso do Cristo exaltado. Descobriu, ento, um outro caminho para a salvao que no a lei, o fariseu arrogante dentro dele foi conquistado, o particularismo orgulhoso dentro dele foi quebrado e ele veio a compreender o que significava mor rer e ressuscitar com Cristo ;novos poderes e incumbncias fluram para dentro dele. Aquilo que Paulo ensina, depois disso, em suas pregaes so bre esse assunto seria, ento, no sentido mais profundo, uma objetivizao e generalizao dessa experincia interior e pessoal.9 Alm disso, Holtzmann parte do pressuposto de que Paulo demons tra forte influncia grega na formao dessas experincias e idias. o caso, por exemplo, das dimenses metafsicas de sua cristologia.1 0 Estas podem ser explicadas a partir de uma influncia greco-alexandrina,especialmente das especulaes de Filo; semelhantemente, o contraste entre esprito ecar ne tipicamente grego" e preciso relacionar sua doutrina dos sacramentos ao ensinamento grego dos mistrios. Porm, tambm Holtzmann no pode negar que muitas idias einfluncias judaicas continuam operantes em Pau lo. Na conjuno notvel do grego e do judaico, onde, com freqncia, se encontraro antinomias, Holtzmann v aquilo que, em muitos aspectos, distintivo da teologia de Paulo.1 2Ao lado da tica, encontra-se o jurdico, ao lado da concepo idealista do homem est a concepo realista, junto da idia grga da alma separar-se do corpo, est a escatologia judaica. Mesmo que todos esseselementos, em si, resultem numa combinao que , em muitos aspectos, heterognea e numateologia cheia de contradies inter nas, por trs de tudo isso, encontra-se a grandepersonalidade religiosa de Paulo e sua experincia profunda na estrada para Damasco, que confere sustentao a tudo isso.1 3Assim, a concepo de Holtzmann uma extenso das linhas traadas por Holsten, Ldemann e Pfleiderer. A viso de Damasco, a influncia gre ga e, como no pode ser esquecido, a prpria viso religiosa e tica do Cristianismo desses autores, formam, para eles, os elementos constituintes de sua interpretao de Paulo. Eles no conseguem alcanar uma unidade. No entanto, tudo dirigido a um esforo de se reduzir a teologia e a religio de Paulo a um a religiosidade tica-racional geral que no depende de fatos redentores.14 Diz-se que, em Jesus, essa devoo demonstrou sua manifes tao mais nobre e brilhante. Com respeito a essa devoo, Paulo vem logo depois de Jesus, pois nele toda sorte de especulao jurdica e metafsica desempenha um papel mais importante. Fundamentalmente, porm, existe a mesma coisa em Paulo e Jesus,1 5 e foi Paulo quem, inicialmente, foi at o mundo cristo levando idias com formas helenistas de pensamento e feza transio do semtico para o grego e, por esse mesmo caminho, chegou ao mundo m oderno.1 6 Depois de Holtzmann, essa imagem liberal de Paulo no conseguiu manter-se por muito tempo. Cada vez mais, as investigaes comearam a compreender o fato de queno era possvel, por exemplo, fazer como Holtzmann e espiritualizar a chamada cristologia metafsica, a importncia dos fatos redentores, a doutrina jurdica da satisfao ea escatologia ou consider-las um elemento teolgico estranho verdadeira religio de Paulo. O contraste em Paulo entre o esprito e a carne, conforme a viso de Holtzmanne seus predecessores, luz do pensamento grego dualista, tam bm foi seriamente criticado por Gunkel, entre outros, que considerou o conceito paulino de pneuma comono sendo de origem grega, mas sim judaica e, em decorrncia disso, rejeitou o carter tico-racional da anttese entre carne e esprito.1 7 J naquela poca um autor como R.Kabisch havia voltado a ateno para a escatologia como o fator predominante da teologia paulinae, desse modo, apontado para a teologia judaica, especialmente parao pensamento apocalptico judaico posterior como a origem do chamado sistema doutrinrio Paulino.1 8Alm disso, muito mais do que havia aconte cido com Holtzmann, numprocesso gradual, a nfase passou a ser colocada sobre o significado dos sacramentos nos ensinamentos de Paulo, sendo que, contrastando com os conceitos espiritualizados de Holtzmann, foi atribudo a estes sacramentos um significado naturhaft realista e pensou-se ser poss vel explic-los a partir das religies orientais de mistrio. O resultado desse mtodo de interpretao, que cada vez mais aceito, baseado na histria das religies, foi que os estudiosos passaram a rejeitar a interpretao ticaidealista da teologia liberal, considerando-a completamente inadequada e a colocar a nfase no carter estrangeiro da teologia de Paulo, justamente com referncia quelas coisas que no so facilmente assimilveis pelo ho mem moderno. No entanto, juntamente com essa nfase, mostrou-se im possvel preservar a unidade entre a imagem de Jesus, aindaaceita por muitos como sendo o mestre que pregou a paternidade de Deus e uma moralidadeelevada, e o Cristo sobrenatural que foi pregado por Paulo em suas epsto las. O problema do relacionamento entre Jesus e Paulo toma-se pronuncia do na teologia moderna no que diz respeito a reconhecer que no possvel compreender a cristologia paulina de modo psicologizado (como sendo uma objetivizao da experincia religiosa de Paulo em Damasco) e nem de modo espiritualizado como fez Holtzmann, nem tampoucosepar-la da religio de Paulo como uma interpretao teolgica, mas que se deve interpresse relacionamento entre Jesus e Paulo como sendo o elemento central, tanto paraa teologia como para a religio de Paulo. Essa desintegrao da imagem liberal de Paulo e, junto com ela, a ligao entre Jesus e Paulo toma-se mais evidente do que em qualquer outro lugar na exposio bastante radical e at hoje muito influente de W rede.1 9 Wrede no aceita, de forma alguma, uma separao entre a religio de Paulo e sua teolgia (como fez Holtzmann, por exemplo). A teologia de Paulo a expresso adequada de sua religio.20 E essa teologia , funda mentalmente, a cristologia. A doutrina paulinacomo um todo uma doutri na de Cristo e suas obras; essa sua essncia. O que peculiar e novo com relao a Paulo que ele tomou os fatos redentores - a encarnao, a mortee a ressurreio de Cristo - os fundamentos da religio. A histria da reden o a espinharsal do Cristianismo paulino.2 1 Ento, ao investigar-se a origem dessa doutrina,nem a experincia de converso de Paulo, nem o impacto da personalidade de Jesus (com o qual Paulo provavelmente nunca se encontrou) e nem a prpria interpreta o teolgicade Paulo podem servir de explicao para essa doutrina. S possvel elucidar a questo decomo foi possvel, durante o decorrer de uma vida, a figura de Jesus ter sido to transformada, passando a ser o Cristo paulino se for levado em considerao que Paulo, o fariseu, j possua vrios conceitos estruturados acerca de um ser divino os quais ele transfe riu, ento, para o Jesus histrico sob o impacto de sua converso.22 Assim,sua pregao cristolgica tem pouca relao com o Jesus histrico, mas deve ser compreendidaa partir das especulaes de seu tempo, acerca da redeno e do redentor mitolgico, as quais ele aplicou a Jesus de Nazar sem ter conscincia dessa transformao radical.2 3 Acrtica de Wrede tem exercido grande influncia, pois ele foi capaz de transmitir uma imagem muito mais independente da pregao de Paulo do que a teologia liberal. Ele determinou que a cristologia de Paulo, dos fatos redentores, a essncia de sua pregao e rompeu a ligao entre a pregao de Paulo e a imagem liberal de Jesus. Essa crticno poderia deixar de prevalecer, pois fez muito mais justia pregao de Paulo mesmo que apenas num sentido histrico-exegtico - do que aquelas crti cas que consideraram ocerne de sua pregao; no o grande acontecimento de Cristo, mas uma verdade tica-religiosa eterna. Ao mesmo tempo, po rm, foi indicada a distncia entre a pregao de Pauloe a concepo liberalmoderna de Jesus e sua proclamao do reino, uma distncia que era e con tinua a ser intransponvel, enquanto o Jesus de Nazar visto apenas como uma figura humana, independentemente dos elevados patamares espirituais que tenha alcanado.4. A Abordagem da Histria das ReligiesNo final do sculo 19 e no comeo do sculo 20, a interpretao de religionsgeschichtlichedas epstolas de Paulo e a proclamao do evange lho cristo, nelas contido, exigia cadavez mais uma ateno maior. Ao con trrio das tentativas anteriores de derivar diversos temas principais da pregao de Paulo a partir da literatura e da viso de mundo dopensamento filosfico grego (como se procurou fazer, por exemplo, com a anttese esp rito e carne), os estudiosos voltaram-se, ento, para as idias e os fenme nos religiosos populares do perodo helenista, especialm ente para o sincretismo religioso da poca, como este havia surgido sob a influncia da religiosidade oriental sobre a ocidental e se manifestado nas religies e nos cultos de mistrio. O conhecimento acerca desses fenmenos religiosos aumentou consideravelmente desde que tiveram incio as investigaes de fillogos e historiadores conhecidos como Cumont,24 Rohde, Dieterich,2 5 Reitzenstein,26 et al. De modo geral, pode-se dizer dessas religies de mistrio que, apro ximadamente no incio da Era Crist, elas formavam uma combinao de pensamento oriental mstico transcendental e da religiosidade imanente mais concreta do Ocidente. Em tempos marcados por um desgaste religioso no Ocidente, as idias orientais de redeno entram em cena e apropriam-se do esprito da poca que procura uma satisfao religiosa mais profunda e o livramento da transitoriedade da existncia humanatemporal. Todas essas religies de mistrio possuem o chamado mito cultual, isto , uma histria mitolgica sobre a divindade adorada no culto, quer esta morra e volte aviver ou conquiste a vitria sobre os poderes ou deuses que lutam contra ela, tendo sempre uma tendncia a serem redimidas da transi toriedade. J na Grcia antiga, havia os mistrios heleusianos; e o livramen to de Cora, filha de Demter, que, tendo sido levada ao Hades por Pluto, foi devolvida sua me pela interveno de Zeus, era celebrado anualmen te. Trata-se aqui de um culto vegetao, pois o mito representa a mortee o ressurgimento da natureza. Os mistrios de Serpis - originrios do Egito foram degrande importncia para os tempos posteriores, tendo ocorrido uma fuso de culto com a adorao a sis e Osris. O mito original fala da unio entre Osris (o masculino) e sis(o feminino) na qual simbolizada a vitria sobre a morte. Um adversrio hostil de Osris (seu irmo Sete), tomalhe a vida. Quando Osris encontrado por sis, que ao chorarsobre ele devolve-lhe a vida, volta a ser subjugado pelo adversrio e cortado em pe-daos. Mais uma vez, sis sai procura dos membros decepados e Osris tom a a viver, seguindo-se ento a unio de Osris e sis e o domnio de Osris. A partir desse mito, desenvolve-se o conceito geral de vitria sobre a morte e sobre poderes hostis e a crena na imortalidade. A Sria tambm deu sua contribuio para as religies de mistrio por meio do culto a Adonis (o Baal de Biblos). Adonis tambm aparece como o deus que morre etoma a viver, aquele que salva da morte. O mito cultual fala da ferida mortal que Adonis sofre ao ser atacado por um javali enquanto estava ca ando. De seu sangue, comeam a florescer rosas (ou anmonas). A nature za como um todo chora por ele. Ofestival da morte e da volta vida de Adonis celebrado anualmente. Tambm bastanteconhecido o culto ao deus tis da Frigia, intimamente relacionado adorao de DionsioSabzio, deus de Trace. No culto frgio, a deusa-me Cibele, extremamente respeita da em Roma, aparece ao lado de tis. Outra vez, o mito fala da morte do deus tis e suasubseqente ressurreio. O festival celebrado com orgias selvagens, castrao, etc. Por fim, digno de meno o culto a Mitras, de grande importncia, especialmente em tempos posteriores. De origem persa, foi levado para o Ocidente particularmente por soldados romanos. De acor do com sua derivao, o mitrasmo de carter dualista. Seu tema funda mental consiste na luta entre o mundo do bem e o do mal, conflito no qual Mitras alcana a vitria. Esses diferentes mitos cultuais, que foram mesclados de vrias ma neiras, de uma forma ou de outra, so transferidos para os iniciados no culto pertencentes a essas religies de mistrio. Nesse culto, recebem uma parti cipao na vitria,ressurreio e imortalidade da divindade que adoram. No culto, do qual possvel participar de vrias maneiras, de acordo com o nvel de iniciao alcanado, chega-se deificaosso ocorre por meio do misticismo e da idia mgica-materialista de sacramento que funciona ex opere operato, consistindo na imerso em gua ou asperso desta ou de sangue,no uso de vestimentas sagradas e no ato de ingerir determinados alimentos. O objetivo maior conseguir a ateno da divindade, transcen dendo toda a experincia sensorial. Naturalmente, existem muitas diferen as entre os vrios tipos de religies de mistrio no que se refere a esse ponto. Em alguns casos, trata-se de manifestaes desvairadas e de xtases como, por exemplo, nos cultos de tis e Dionsio; outros se apresentam mais sbrios e controlados, como o caso do mitrasmo. Em todos eles, porm, residea conscincia de que todos aqueles que so aceitos dentro dos segredos do culto passam, ento, a receber a imortalidade. No existe nas religies de mistrio um sistema doutrinrio fixo. Os prprios mitos so recitados de diversas formas. Por certo, precisopossuir gnosis a fim de alcanar a redeno; no entanto, isso no deve ser entendido como uma determinada poro de princpios teolgicos, mas sim como a iniciao em certas cerimias descritas em linguagem secreta, sendo que o conheci mento delas deve ser mantido em segredo absoluto. com essas religies de mistrio, com os atos sacramentais reali zados dentro delas e, especialmente, com a abordagem mstica da divindade que ocupa o lugar central, quealguns estudiosos relacionaram e procuraram interpretar aquilo que possui carterdistintivo na pregao e religio de Paulo.27 Durante algum tempo, buscou-se determinaruma relao princi palmente entre os atos sacramentais nas religies de mistrio e a comunho do batismo de um lado e, do outro, a Ceia do Senhor que associada por Paulo morte e ressurreio de Cristo.28 Contudo, depois de maior conside rao, tornou-se cada vez mais aparente que esse era um caminho invivel. No que diz respeito s refeies sagradas, ficou evidente que, uma vez trans posto o fenmeno geral de comer e beber compropsitos sagrados, torna-se duvidoso ou at mesmo deixa de existir o paralelo ouanalogia em relao Ceia do Senhor, conforme descrio de Paulo.29 Alguns pensaram ter en contrado, pelo menos no batismo, um ponto fixo de consenso, no que se refere aPaulo ter relacionado o batismo morte de Cristo (sepultamento) e sua ressurreio (Rm 6.3, 4; Cl 2.11 ss); diz-se que essa morte batismal no poderia ter-se desenvolvido a partir do simbolismo judaico de purifica o e, portanto, deve ser vista como um elemento helenista.30 No entanto, passou-se a ver com clareza, cada vez maior, que(a) em nenhuma parte das religies de mistrio, tal simbolismo da morte encontra-sepresente no ritual de batism o3 1 e que (b) em Romanos 6 e Colossenses 2, Paulo noretrata o batismo em si como uma representao simblica ou sacramen tal de descer morte (a chamada morte por afogam ento da qual fala Lietzmann) e de voltar vida.32Assim, no mbito dos sacramentos, todas as ligaes mais profundas com os atos rituais das religies de mistrios tom aram -se ilusrias. Certamente afirma-se, com freqncia, queum a concepo naturhaft dos sacramentos pode ser encontrada em Paulo e que ele deve t-la tomado emprestado das religies de mistrio. Sups-se, especificamente, que erapossvel encontrar evidncias disso em 1 Corntios 15.29 (batismo para os mortos). digno de observao, porm, o fato de que, tanto quanto temos conhecimento, em nenhuma parte das religies pags encontra-se qualquer meno de se batizar para os mortos. Menciona-se num papiro egpcio o batismo de uma pessoa morta,33 que representado como umato a ser rea lizado pela divindade, o que, por sua vez, tem significado diferente de falarse em batismo no nome ou no lugar do morto.34 Quanto ao resto, no decorre de 1 Corntios 15.29 como um todo que Paulo parte de uma concepo mgica do sacramento. Isso porque a passagem bastante obscura e h muito vem sendo interpretada dasmais diversas maneiras.35 Talvez Paulo esteja fazendo aluso a uma prtica de certos cristos de batizarem-se para os mortos. Nesse caso, haveria uma referncia a umacerta noo mgica do batismo. Contudo, mesmo escolhendo-se entender dessa forma, h muitos argumentos que mostram que Paulo no era pessoalmente favorvel a qual quer concepo desse tipo. possvel que ele estivesse citando um costumede seus oponentes e que ele prprio no sancionava, mas que argumenta contra a negao deles de uma futura ressurreio. No entanto, tal idia de batismo vicrio incerta.36 Outros interpretam esse ato no como um batis mo para os mortos, mas sim no lugar deles. Seria necessrio, ento, subme ter-se ao batismo no para os mortos, mas como formade testemunho de f no lugar de um crente no batizado (que tivesse morrido prematuramente?) a fim de dar, dessa maneira, testemunho da f desses crentes na ressurrei o.37 No entanto, essa passagem obscura demais e os materiais para com parao muito pouco adequados para chegar-se a concluses que sejam bem fundamentadas em qualquer nvel. Sem dvida, o ponto alto da avaliao de religionsgeschitlche da pre gao de Paulo, tendo como pano de fundo as religies de mistrio, encon tra-se, portanto, em outro lugar; no no uso que Paulo faz da doutrina dos sacramentos, mas em seu emprego da cristologia. Aqui, especialmente digna de meno a tentativa grandiosa realizada por W. Bousset38 de expli car a pregao de Paulo sobre Cristo como sendo uma reinterpretaoms tica do Cristo escatolgico da Igreja primitiva. Assim, aqui tambm, supe-se que deve ficar evidente a influncia das religies de mistrio por meio da comunho com as igrejas helenistas. Essa concepo de Bousset - que descrevemos em detalhes em outro estudo39 - representa uma transio digna de nota na histria da investiga o das estruturasfundamentais da pregao de Paulo. Por um lado, o mto do da histria das religies manejao, neste caso, com extrema destreza com um enorme conhecimento dos materiais dasreligies helenistas e com grande circunspeco, a fim de esclarecer o carter especficodo Kyrios pneumtico da igreja helenista e, especialmente, de Paulo. De fato, verda de que na igreja helenista, e, em Paulo, o Kyrios com o qual entra-se em comunho mstica no culto toma o lugar da cristologia do Filho do Homem da igreja palestina que representava Cristo, acima de tudo, como o futuro juiz do mundo. Esse o conceito grego fundamental de Deus, que toma o lugar da idia palestino-judaica: acristologia torna-se pneumtica e mstica em vez de escatolgica. Em Paulo, porm, essemisticismo de Cristo trans forma-se no sentimento intenso de pertencer pessoalmente e estar espiritu almente ligado ao Kyrios exaltado que, para ele, o fato bsicoda vida crist e da tica crist. O Kyrios o Esprito (2Co 3.17) e onde o Esprito est, hberdade, sendo que o mesmo vale para o princpio da vida crist em amor e governadapelo Esprito. Por outro lado, a concepo de Bousset da cristologia de Paulo, por mais que seja um modelo de uma aplicao equilibrada do mtodo da hist ria das religies, , amesmo tempo, o tpico produto intelectual por volta da poca da Ia Guerra Mundial.A figura racional e tica de Cristo da teolo gia liberal deu lugar a uma concepo maisprofunda e sensvel da religio; expresses como a experincia de Cristo, o misticismo deCristo, acomunho de Cristo, apareceram em toda parte.40 Pode-se afirmar, alm disso, que a escola da histria das religies foi o agente apropriado para apresentar, a partir dahistria da vida e experincia religiosa, as evidncias para esse elemento de maior profundidade, voltado mais para o mistrio divino e seu carter oculto e para indicarsuas formas. No entanto, uma outra questo se Paulo, de acordo com a concepo de Bousset dessa esco la, pode ser considerado a principal testemunha desse misticismo de Cristo. H muito tempo, os estudiosos deixaram de acreditar nessa proposi o. Tomando por base a argumentao histrica e o criticismo, esclareceuse no apenas a impossibilidade da anttese - cuja existncia Bousset sups ser capaz de mostrar - entre a cristologia messinica escatolgica da igreja primitiva da Palestina e a adorao do Kyrios pneumtico que, diz-se, est presente como marca distintiva helenista4 1 nas epstolasde Paulo; mas tam bm foi reconhecido - at por aqueles que, em outros aspectos seguiram os passos de Bousset - que a estrutura fundamental da cristologia e da prega ode Paulo no est de acordo com o esboo mstico e pneumtico apre sentado por Bousset. O kerygma de Paulo no deve ser reduzido a uma projeo cristolgica de sentimento religioso. , sim, a explicao do acon tecimento absolutamente singular e nico que ocorreu no advento de Cris to, em seu sofrimento, morte e ressurreio.42 Independentemente do quanto esse acontecimento funciona e encontra aplicao na vida de acordo com o Esprito, no revestir-se do novo homem e no encontrar-se numa posio de liberdade que no dalei, mas do Esprito, o ponto de partida e at mesmo a estrutura do carter pneumtico da pregao de Paulo no deve ser busca do nas experincias de cultos msticos da religiosidade helenista contempo rnea, mas sim na revelao histrica de Cristo na plenitude do tempo, isto , no cumprimento cristocntrico da promessa redentora feita a Israel. Tendo em vista o que foi dito acima, no de admirar que, a fim de traar os contextos procedentes da histria da religio na pregao de Paulo, os estudiosos comearam a voltarse para reas mais amplas do que os cultos de mistrio. Por certo, eles continuarama procurar esses contextos na religiosidade helenista, especialmente porque estafoi experimentada e expressou-se nas religies de mistrio. Contudo, alm do que eraespeci ficamente cultual, buscaram ligaes entre Paulo e o helenismo no que se refere ao carter geral e nas atitudes dessa religiosidade em relao vida. Passaram cada vez mais a falar do gnosticismo como o denominador co mum para esse universo de pensamento, um nome usado anteriormente para uma heresia sincrtica no sculo 2- da Era Crist e cujas razes foram buscadas num universo complexo de idias pr-crists universalmente dis persadas, em parte gregas e em parte de origem oriental e de carter dis tin tam en te d u a lista .43 Supe-se que esse gnosticism o condicionou profundam ente o universo de idias em geral e, mais especificam ente, a cristologia de Paulo tanto num sentido positivo quanto negativo e que neleque se deve procurar a explicao para aqueles elementos dos ensinamentos paulinos queno correspondem ao que encontrado na tradio da igreja prim itiva palestina. O escritor, que foi especialmente responsvel por essa m udana na abordagem da histria dareligio pregao de Paulo, foi o estudioso clssico literrio R. Reitzenstein. Pelo menosnum primeiro momento,44 ele lanou mo da chamada literatura Hermtica,45 uma m istura heterog nea de caractersticas religiosas especulativas no-crists dos sculos 2fi e 32depois de Cristo, que se auto-anunciaram como revelaes de Hermes Trismegistos, isto , do deus egpcio Tote. Uniram-se aqui influncias gre gas, egpcias, orientais e judaicas. Hermes, tambm chamado algumas vezes de Poimandres ou Asclpio, apresentou revelaes secretas referentes a assuntos astrolgicos, mgicos, bem como religiosos. As idias religiosas so dualistas e gnsticas. A alma, aprisionada na matria, ascende maisum a vez a Deus por meio da gnosis. De acordo com Reitzenstein, junta mente comessas idias, aparece o chamado mito do Anthropos, a repre sentao do homem original no qual o pneuma encontra sua mais elevada manifestao e que, mais uma vez, mostra spartculas dispersadas de luz o caminho at Deus. De acordo com Reitzenstein, deve-se supor uma influncia prxima e forte desse helenismo gnstico sobre Paulo. Ele encontra a prova absoluta para essa idia no uso de toda espcie de palavras e idias gnsticas em Paulo como, por exemplo, psychos e pneumticos (estar ou no de posse da gnosis), gnosis e agnosia, photizeine doxa, morphousthai e metamorphousthai, nous, nosentido de pneuma como a emanao divina que conferida aos eleitos na forma de charisma.46 Diz-se, tambm, que Paulo possua no apenas terminologia, mas tambm, noes e conceitos associa dos em comum com o misticismo helenista e o gnosticismo. Reitzenstein considera Paulo no o primeiro, mas o maior de todos os gnsticos.47 Para isso, faz referncia particularmente a 1 Corntios 2, onde Paulo usa de seu conhecimento sobre o Pneuma, o Esprito, que escrutina at as coisas pro fundas de Deus. O homem fsico no est em condies de compreender essa verdade nem tampouco pode julgar o homem pneumtico. Ele ainda homem; o pneumtico deixou de s-lo 48 para esse pneuma, que encontra sua mais elevada expresso na contemplao do Ressuscitado, que Paulo apela para oseu apostolado e sua independncia de outros, no estando mais preso s tradies (G1 1).Diz-se que isso tambm serve de explicao para o fato de que Paulo no baseia seu ensinamento nas obras e palavras do Jesus histrico. De acordo com Reitzenstein, Paulono pensava de m aneira histrica, mas sim pneumtica. A fonte de sua teologia no era aquilo que havia chegado at ele, a respeito da tradio de Jesus de Nazar, mas sim aquilo que ele havia contemplado e experimentado interiormente como um gnstico.49As concluses radicais a que Reitzenstein chegou foram rejeitadas. Quase ningum mais acredita que Paulo era um mstico que, desligado da tradio crist, apresentou suas especulaes pneumticas acerca do evan gelho de Jesus Cristo. As diferenas materiais profundas entre as concep es paulinas e as gnsticas, independentem ente da sem elhana determinologia, j foram demonstradas a partir de mais de um ponto de vista com grande quantidade de evidncias.50 Ainda assim, a proposio funda mental de Reitzensteinde que o universo das idias de Paulo foi profunda mente condicionado por aquilo que na poca era chamado de gnosticismo pr-cristo, tornou-se a verdadeira base da interpretao feita pela aborda gem da histria das religies para a pregao e as doutrinas deaulo e continua a s-lo at hoje. Essa influncia toma-se mais radical medida que se aproxima das idias propagadas por Reitzenstein em seus escritos poste riores,5 1 deque a cristologia de Paulo tambm foi condicionada de maneira decisiva pelo gnosticismo pr-cristo, especialmente por aquilo que cha mado de mito iraniano do Redentor redimido.52 na interpretao mitol gica da cristologia de Paulo que podem ser encontradas as transies para a escola atualmente influente de Bultmann e da interpretao dacristologia de Paulo por meio da histria das religies que essa escola defende. Antes de procurarmos traar em mais detalhes esse desenvolvimen to ,53 porm , devem osincluir em nosso espectro de viso o m todo escatolgico ou quarto mtodo de interpretao do evangelho de Paulo. Porquanto, sem sua influncia radical, a Histria subseqentecomo um todo - at mesmo o mtodo presente de interpretao pela histria das religies toma-se incompreensvel.5. A Interpretao EscatolgicaDe maneira diametricamente oposta quilo que era buscado pela escola da histria dasreligies, da qual era grande e categrico oponente, Albert Schweitzer indicou o tema escatolgico bsico como sendo a chave para a pregao de Paulo como um todo. J em Geschichte der Paulinischen Forschung (traduzido para o ingls em 1912 com o ttulo Paul and His Interpreters), que foi lanado em 1911 como continuao de sua grande obra sobre Geschichte der LebenJesu-Forschung, Schweitzer mostrou-se um adversrio bastante coerente e bem preparado da interpretao de religionsgeschichtliche de Paulo. No entanto, ele no apresentou suas idias de modo positivo at 1931, quan do foi publicada sua obra Die M ystik des Aposteis Paulus (traduzido para o ingls em 1931 como ttulo The M ysticism o fP a u l the Apostle). Nesse estudo ele procurou estabelecer uma unidade entre sua concepo de con form idade escatolgica da vida e da pregao de Jesus e a teologia do apstolo Paulo.De acordo com Schweitzer, o centro dos ensinamentos de Paulo en contra-se naquiloque ele descreve com o termo que pode facilmente ser mal interpretado, cristomisticismo. Com isso, ele refere-se maneira como a Igreja encontra-se envolvida namorte e ressurreio de Cristo, estando com Cristo e em Cristo. Contudo, deve-se entender essa comunho no num sentido grego dualista, mas no sentido escatolgico judaico. A doutri na de Paulo encontra-se totalmente fundamentada na pregao escatolgica de Jesus sobre a proximidade do reino de Deus. No entanto, enquanto para Jesus esse reino ainda era uma questo futura (mesmo que iminente), Paulo viu-se diante deuma situao completamente diferente. Com a morte e res surreio de Cristo, o futuro esperado continuamente por Jesus, mas no alcanado, passou para seu estgio de concretizao. Entrava em cena uma alterao radical da situao escatolgica. O eschaton tornou-se otempo presente com a ressurreio de Cristo. Diz-se, porm, que Paulo havia sido confrontado com questes referentes a como esse irromper do eschaton deveria ser relacionado com o fato indiscutvel da ressurreio dos mortos, que era esperado juntamentecom a consumao, com o julgamento do mundo e outros fatos semelhantes que ainda no haviam ocorrido. A fim de superar essa discrepncia entre o j (da ressurreio de Cristo)e o ainda no (da consumao final), supe-se que ele associou-se ao esquema escatolgicontrando no apocalipse de Baruque e no quarto livro de Esdras e, diver gindo da expectativa de Jesus, concebeu ser possvel a vinda do reino messinico antes da revelao plena do reino de Deus.54No reino messinico, os mundos natural e sobrenatural se encontram e se encaixam um no outro, por assim dizer.55 A ressurreio de C ristosignifica o incio dessa sobreposio. Com C risto, porm , aqueles que participam do reino messinico (a Igreja eleita) tambm participam de sua ressurreio.56 Os eleitos ressuscitaram com Cristo. Juntamente com ele, so co-participantes do modo de ser da ressurreio. Esse misticismo deve ser entendido do modo mais realista possvel. Com a ressurreio de Cristo, j teve incio a ressurreio dos eleitos em sua plena corporalidade. Deixaram de ser ho mens naturais, mas como Cristo, so seres sobrenaturais, apesar de essa verdade ainda no ser manifesta.57 Isso tambm expresso como ser-emCristo . Assim, no se trata de um misticismo de sentimentos, do interior e do espiritual, mas de um misticismo de fatos.58 Essa unio com Cristo, compartilhando de sua nova corporalidade, acontece por meio do batismo. Os eleitos formam, com Cristo, uma personalidade conjunta59 da qual a fora vital o pneuma. Portanto, tudo o que fazem, pensam, experimentam e desejam, dali por diante, pode ser caracterizado como estando em Cris to . A idia principal, entretanto, encontra-se nas palavras com Cristo . Schweitzer fala repetidamente dessa ligao com o real. O misticis mo de Paulo no de cartergrego, no uma experincia da realidade expressa de maneira simblica, mas sim real ecorprea. Contudo, a nova corporalidade pneumtica que se encontra operante e, esta,no faz do ressuscitar com Cristo, estar em Cristo com todo o seu carter oculto, um acon tecimento interior e mental, mas sim, uma rea/idade da qua passa-se a fazer parte pelo evento sacramental.60 Schweitzer procura esclarecer todas as facetas dos ensinamentos de Paulo a partir do Cristomisticismo escatolgico entendido dessa maneira. Assim, toma-se claro que a lei no tem mais poder algum sobre o homem.6 1 O incio danova eternidade significa o fim da lei. Desse modo, o poder do pecado tambm destrudo. Ele encontra lugar apenas no corpo, no qual os eleitos morreram com Cristo.No que diz respeito justificao, Schweitzer fala aqui de uma cratera secundria que se formou na beira da cratera prin cipal - a doutrina mstica da redeno dentro do serde Cristo.62 Paulo no tem mais necessidade dessa linha jurdica. Pelo fato de, com amorte e res surreio de Cristo, Deus ter transformado o pecado em algo que destrudocom a carne, aqueles que morreram e ressuscitaram com Cristo so, na ver dade, considerados diante de Deus como seres sem pecado. A doutrina de que Deus perdoa ospecados tomando por base a morte expiatria de Cristo a que foi passada para Paulo. O apstolo apega-se firmemente a ela. A outra, porm, mais sua e nasce do misticismo de estar em Cristo. Tambm unicamente essa doutrina que estabelece o relacionamento correto com a tica. De qualquer modo, o fato de a doutrina da justificao, baseada na morte expiatria de Cristo, parecer ter exercido maior influncia sobre a Histria, significa que a doutrina paulina de redeno separou-se de sua raiz inicial e que o poder elementar, nela contido, no pde trabalhar de maneira reformadora na vida do mundo.6 3 No se deve negar que a concepo de Schweitzer tem um certo car ter bastante independente e impressivo. E verdade que ele deixa de lado vrias das epstolasde Paulo que considera ilegtimas. Dentre estas, alm das Epstolas Pastorais, encontra-se a Segunda Epstola aos Tesssalonicenses na qual so introduzidas outras consideraes contra a expectativa de que a volta de Jesus iminente e desenvolve-se uma escatologia para a qual no h espao na interpretao de Schweitzer. Ele tambm deixa fora deconsi derao as epstolas aos Colossenses e Efsios, com seus pronunciamentos cristolgicos peculiares. Tudo isso no colabora para o prestgio de sua in terpretao. Alm do mais,muitas partes constituintes de sua concepo esto abertas para crticas extensas. Essarealidade aplica-se, igualmente, sua idia de naturhaft do ser de Cristo e dos sacramentos. O uso que ele faz de vrios esquemas escatolgicos judaicos, tambm, extremamente artificial e a anttese que constri a esse respeito entre Jesus e Paulo, certamente, no pode ser apoiada. E possvel observar ainda que nos escritos de Schweitzer os pronunciamentos cristostolgicos de Paulo, especialmente aqueles que se referem pessoa divina e importncia csmica de Cristo, no so devidamente reconhecidos. Tudoisso ser discutido mais adiante com relao nossa exposio positiva. Alm do mais, no dmos nos esquecer de que todo esse misticismo transcendente-cristolgico de Paulo, que retoma morte e ressurrei o de Jesus, tem para Schweitzer (que no aceita a ressurreio como um fato e considera as expectativas escatolgicas, tanto de Jesus quanto de Paulo, uma iluso) o significado de umainterpretao e pensamento msticos, in dependentemente do quanto ele procura preservar seu contedo essencial e espiritual. No entanto, isso no muda o fato de que, comouma interpretao das idias de Paulo, a obra de Schweitzer oferece algo de muito valioso em dois aspectos - primeiro, que ele procura estabelecer uma unidade entreJesus e Paulo e que a encontra na idia central da vinda iminente do reino de Deus; em segundo lugar, outro aspecto intimamente relacionado ao primeiro que, em contraste com a interpretao dualista grega, da escola de religions geschichtliche, ele coloca toda sua nfase sobre o carter histrico-redentor da salvao pregada por Paulo.Por esse motivo, por mais fantasiosa que seja, por vezes, sua interpretao em diversas partes subordinadas, Schweitzer no deixou de exercer grande influncia tanto com sua crtica bem funda mentada em relao escola de religionsgeschichtliche quanto com sua interpretao escatolgica do kerigma paulino. Alm do mais, continuou a defendercorretamente que todas as concepes da doutrina de Paulo, para que sejam aceitas historicamente, devem ser capazes de fazer uma associa o clara entre Paulo e a Igrejaprimitiva de Jerusalm e o evangelho procla mado nessa cidade, uma vez que deve ser considerado impossvel que Paulo pudesse ter apresentado uma concepo grega inteiramente nova do evan gelho sem entrar em conflito com a igreja de Jerusalm.6. D esenvolvim ento ContnuoAquele que v a continuidade da investigao contra o pano de fundo des sas quatro interpretaes mais proeminentes do tema fundamenta] da pre gao de Paulo, deve chegar concluso de que est praticamente fora de questo uma continuao retilnea das posies anteriorPelo contrrio, em muitos aspectos as linhas se sobrepem. A concepo liberal foi a que teve menos influncia na continuidade das investigaes. A crtica dela fei ta por Wrede, que mostrava a cristologia dos fatos redentores como a espinha dorsal de toda apregao de Paulo, passou a ser aceita de um modo geral. Por outro lado, a posio de Wrede mostrou-se invivel no sentido de que, contrrio religio de redeno de Paulo, ele ainda procurou afirmar a imagem liberal de Jesus. Aqui, de particular importncia aabordagem escatolgica da proclamao da salvao como um todo no Novo Testa mento. Aquiloque Paulo proclama, no nada mais do que a explicao do evento redentor escatolgico que teve incio com o advento de Cristo e que, em sua morte e ressurreio, chegou a umclmax provisrio. Toda a prega o de Paulo tem como ponto de partida e tema esse enfoque escatolgico,independentemente do quanto os homens tenham diferido em suas opinies sobre a maneira com que Paulo deu forma e elaborou essa pregao. No que diz respeito a esse ltimo ponto, a interpretao da histria das religies continua a ter uma influncia predominante sobre certas reas dos meios acadmicos que estudam o Novo Testamento. Esse fato pode ser visto mais claramente na figura influente de Rudolf Bultmann e na escola que dele se originou. Bultmann reconhece, por um lado, o tema bsico e comum escatolgico fundamental na pregao de Je sus e Paulo.64 Apesar de julgar necessrio negar a conscincia messinica que Jesus tinha de si mesmo, ainda assim ele v na pessoa de Jesus a exi gncia absoluta de que seja tomada uma deciso. De acordo com Bultmann,a certeza de ter sido colocado dentro da situao escatolgica com o apare cimento deJesus, constitui o ponto de partida de toda a proclamao dentro do Novo Testamentoe da pregao de Paulo. Enquanto Bultm ann mantm, dessa form a, o carter histricoescatolgico da pregao e da cristologia de Paulo, ao contrrio da interpre tao idealista de Bar, da interpretao tica da escola liberal e da interpretao mstica de Bousset e outros,por outro lado, ele acredita que o universo de pensamento de Paulo era profundamente condicionado pela gnosis. E nesse ponto que pode ser encontrada em Bultmanna ligao com a escola da histria das religies e particularmente com Reitzenstein. Oque est envolvido aqui no apenas a origem de certas idias de Paulo, mas especialmente da viso de existncia humana que comum a Paulo e a gnosis. Na gnosis ela tomou aforma de uma viso de mundo dualista e pessimista que inclui no apenas o homem interior, mas tambm toda a realidade csmica.65 Assim, Bultmann acredita que a mesma abordagem vida expressa na anttese paulina de carne e Esprito e que agora pode sermais bem definida de acordo com os termos da filosofia existencial de Heidegger.A carne, portanto, o visvel, o que fica evidente, aquilo que usado pelo homem, contrastando com o Esprito que o invisvel e intan gvel.66 Com essa interpretao da antteentre carne e Esprito que ele considera central na pregao de Paulo, Bultmann aproxima-se de Baur, para quem o Esprito tambm era o absoluto e transcendente. Aquilo que em Baur era idealismo hegeliano, em Bultmann, porm, existencialismo heideggeriano: sempre e de novo trata-se de uma questo de verdadeira deciso entre carne e Esprito. Diz-se que essa gnosis tambm desempenhou um papel importante em relao a Paulo,especialmente em sua cristologia. Para Bultmann, o contexto de religionsgeschichtliche da cristologia de Paulo no se encontra mais no mito cultual da divindadeque morre e volta vida, mas sim no drama csmico que tratado pela mitologia e a gnosis. Pois nele que aparece a figura do Redentor que, como Filho preexistente doAltssimo, desce do mundo da luz a fim de comunicar o verdadeiro conhecimento, agnosis, s fascas de luz que se encontram adormecidas e traz-las de volta para si, na forma das almas dos homens quando estes morrem. No entanto, para cumprir essepropsito, o prprio Redentor celeste deve descer at os domnios do poder do inimigo, tomar forma humana, tomar-se irreconhe cvel; ele mesmo deve, de fato, ser redimidoda carncia e aflio da exis tncia terrena dentro da qual ele se colocou.67 nesse mitodo Redentor redimido, chamado por Rietzenstein de mistrio iraniano da redeno que, deacordo com Bultmann, forma o contexto (antittico) da cristologia paulina, como aparece de maneira particularmente clara em Romanos 5 e 1 Corntios 15, tambm no hinoa Cristo citado por Paulo em Filipenses 2.6-11 e Efsios 4.8-10, mas tambm numa passagem como 1 Corntios 2.8. Diz-se que, em tudo isso, Cristo adquire o significado de uma figura csmica que desce at o mundo para lutar contra os poderes que ameaamos seres humanos. Por trs disso, mais uma vez, como verdadeira origem do mito, encontra-se a viso gnstica do prprio ser e do mundo, que pode ser expressa como a conscincia da distino fundamental entre a existncia humana real e aqui lo que est presoao mundo. Ao mesmo tempo, nesse ponto que se encon tra ligao com a abordagem modemade vida e que se observou o caminho sendo preparado para o Paulo existencialistados anos que se seguiram Segunda Guerra M undial.68 , E ssa abordagem da pregao dePaulo, tom ando por base o gnosticism o sem levar em considerao sua ligao com a filosofia existencialista, foi aceita por muitos. E. Haenchen tambm escreve que, para o apstolo Paulo, os materiais conceituais da expectativa escatolgica futura no sosuficientes. Supe-se que uma srie de noes e idias este jam relacionadas gnosis69: a dutrina da queda da criao (Rm 8.9-12) e de Ado (Rm 5.12-17); o contraste entre o psquico e o pneumtico (IC o 2.14ss; 15.21, 44-49), entre luz e trevas (Rm 13.11-13; lTs 5.4-6) e os governantes demonacos desta era (IC o 2.6-8; 2Co 4.4); e o perigodo casa mento (IC o 7.33-34, 38). Assim tambm, diz-se que eram de carter gnstico70 as falsas doutrinas que Paulo teve de combater em suas epstolas (ou naquelas que lhe so atribudas) como, por exemplo, em 1 e 2 Corntios, Glatas e nas Epstolas Pastorais e que ofereceram a Paulo a oportunidade de empregar os modelos gnsticos numa reinterpretao crist. A concep o mais radical, obviamente, aquela na qual at a pregaolo sobre Cristo, como o Redentor que desceu terra e foi exaltado, foi condi cionada por uma figura pr-crist de redentor, mais especificamente, pelo chamado mito doredentor humano primordial que vemos em vrias apre sentaes alm de Bultmann,7 1 como,por exemplo, Haenchen, Ksemann, Schmithals, Fuchs, Bomkamm, Vielhauer e Brandenburger.72 Enquanto isso, particularmente em relao s novas descobertas, tan to dos papiros de Qumran como de escritos gnsticos, ainda no completa mente examinados de NagHammadi, as discusses irrestritas sobre gnosis, gnosticismo, etc., como sistemade pensamento j mais ou menos definido,do tempo de Paulo, foram alm do seu ponto mais alto. Quanto a isso, desde o princpio foram levantadas objees contra elas. Afinal, os escritos dos quais os estudiosos achavam que poderiam lanar mo para apoiar esse em aranhado de idias gnsticas - osescritos herm ticos, a literatura mandesta e maniquesta - so de um perodo posterior,em alguns casos muito posterior, ao incio do Cristianismo.73 Mesmo que se suponha, como muitos estudiosos certamente fazem agora, que a gnosis deve ser considerada um fenmeno pr-cristo,74 isso no significa que, tomando por base esses escritos deorigem to posterior, seja possvel traar um imagem clara e chegar a concluses abrangentes no que diz respeito, por exemplo, ao modo como Paulo talvez tivesse dependido desses escritos. Isso se aplica particularmente quilo que chamado de mistrio gnstico da redeno na figura de um redentor humano primordial. Muitos estudiosos quese ocupa ram com estas questes, consideram como categoricamente definido que, em qualquer parte de sua literatura onde possa ser encontrada meno de tal redentor, essa representao no antecede o Cristianismo, mas empresta da do mesmo.75 Em sua extensa discusso desse chamado mito do redentor gnstico, Colpe enfatizou especialmente ageneralizao no autorizada no debate sobre esse mito, como se ele fosse algo uniforme, possvel de ser encontrado facilmente em todos os textos relevantes. Ele demonstra, com grande exatido, como a idia gnstica de redeno em sua totalidade complexa ediferenciada e quo injustificado construir a partir dessa idia um modelo de uma figura mtica de redentor (que ento passa a funcionar como o Redentor gnstico) e, desse modo, sugere um mito gnstico geral de redeno que, talvez, nunca tenha existido.76 A questo agrava-se ainda mais quando se infere a partir disso um precursor presentenas tradies gnsticas mais antigas que no nos so conhecidas e nas quais, diz-se que deve ser descoberto o contexto de certas idias paulinas (e outras do Novo Testamento) acerca da redeno e do redentor. medida que se adquire mais conhecimento sobre essa gnosis a par tir de escritos gnsticos do incio do perodo cristo, a exatido dessa crtica recebe crescente corroborao. Torna-se cada vez mais aparente como preciso falar com cuidado de gnose, mito gnstico, etc., sempre que a inteno denotar algo mais due uma filosofia dualista geral de vida e chegar a uma comparao com aquilo que pode, por exemplo, ser conside rado caracterstico de Paulo. Assim, um autor como vanUnnik toma como base o exame de textos gnsticos recm-descobertos e escreve: Qualquer um que tenha feito um estudo das passagens especulativas sobre Ado no EvangelhoApcrifo de Joo, por exemplo, no conseguir explicar com tanta facilidade a exposio dePaulo em Romanos 5 e 1 Corntios 15 em termos de idias semelhantes ao tipo gnstico:e qualquer um que tenha visto como os gnsticos tratam o conceito de Filho do Homemno deseja r tentar esclarecer esse termo nos evangelhos fazendo referncia a idiastais como a de homem primordial. Uma compreenso da Histria e do crescimento do gnosticismo como a que agora toma-se possvel, deve levar cautela em se lanar mo livremente de fontes posteriores do maniquesmo e mandesmo - como acontece com certa freqncia- a fim de explicar algo do Novo Testamento. Podemos esperar tambm que, quando esses documentos tiverem sido devidamente estudados, a criao de mitos no meio acadmico tomar-se- um assunto muito mais srio e alguns mitos sero dispensados.77 luz de tudo isso que foi dito, no estranho que nos ltimos anos tenha diminudo o interesse pela religiosidade greco-helenista como contexto para as formulaes paulinas do evangelho, e que em seu lugar tenha surgido um vigoroso reavivamento do estudo das premissas ju daicas da pregao de Paulo.78 Todo o tipo de considerao a priori parece indicar que esse mtodo de abordagem plausvel.79 No faz parte da natu reza das coisas que um autor seja julgado sobretudo de acordo com o meio de onde ele vem e que lhe serve de referncia? No se deve, ento, ver as idias paulinas luz do judasmo do Antigo Testamento e rabnico, que so conhecidos, em vez de considerar o gnosticismo helenista do sculo 2a ou mais que quase ou totalmente desconhecido? O prprio Paulo lanamo repetidamente do Antigo Testamento e de sua origem judaica (Fp 3.5; 2Co 11.22; ver At 23.6; 26.5). A tese apresentada, com freqncia, de que Paulo foi criado emTarso e que, j em sua mocidade deve ter sido fortemente impressionado pelo paganismo helenista foi fortemente contestada toman do por base um estudo mais detalhado de Atos 22.3; e foi substituda por outra, a saber, que Paulo no apenas recebeuseu treinamento farisaico em Jerusalm como tambm passou sua juventude nessa cidade.80 No se trata obviamente, de uma negao de que, com mais idade, Paulo veio a familia rizar-se completamente com as religies helenistas; tambm no significa que, pelo uso freqente da Septuaginta, ele d evidncias de sua afinidade com os judeus de falagrega na Dispora; mas houve, de fato, uma volta da busca pelas estruturas fundamentais da pregao e doutrina de Paulo, bem como por aquilo que distintivo em seu universo de idias e forma de ex presso, em outras partes que no a sua origem judaica. Certamente, bas tante caracterstico dessa nova idia, por exemplo, o livro muito detalhado e magnificamente estruturado de J. Dupont sobre gnosis ,8 1 Apesar de, porum lado, esse autor tambm no negar que, em certos aspectos, Paulo toma emprestadovocabulrio da popular filosofia helenista, por outro lado ele coloca enfaticamente que aquilo que chamado de gnosis de Paulo no foi emprestado do helenismo, masdeve ser interpretado luz do Antigo Testa mento. A fim de compreender Paulo, portanto, deve-se buscar no a ajuda do sistema gnstico, das religies de mistrio ou dos escritos hermticos, mas sim, procurar no conhecimento de Deus no Antigo Testamentoque Paulo usou como fonte at mesmo para a formulao de sua proclamao. Essa nfase no carter judaico da pregao e na doutrina de Paulo desenvolvida mais plenamente e de vrias maneiras. Enquanto Dupont pro-cura apelar especialmente para o Antigo Testamento, o estudioso judaico H. J. Schoeps, defendeu notavelmente a tese de que Paulo deve ser entendido como um judeu helenista e, como tal, exibia um tipo que deve ser claramen te distinguido do judasmo do Antigo Testamento e do judasmo palestino.8 2 Por outro lado, outros estudiosos colocaram que a dependncia de Paulo da literatura judaica da Dispora no aparece diretamente em parte alguma e que seus escritos refletem dessa literatura apenas o que era prprio do juda smo palestino.8 3 E alguns chegaram at a apontar especificamente para o rabinismo farisaico como matriz das idias de Paulo e de seu modo de ex presso e procuraram negar qualquer dependncia do helenismo.84 Enquanto isso, tambm h vozes cautelosas que advertem que no se pode pensar no judasmo palestino do tempo de Paulo como um mundo intelectual fechado8 5 e que, portanto, mesmo quese escolha buscar nele o contexto espiritual de Paulo, outras influncias no esto excludas, mas, devem sim, ser pressupostas. Nesse contexto, com freqncia, a literatura de Qumran levada em considerao. No entanto, pensa-se que esses escri tos podem ser caracterizados - aqui, tambm, a palavra gnosis aparece re petidamente, mesmo que, normalmente com um sentido muito mais restrito e menos carregado do que aquele que Bultmann e sua escola, por exemplo, estavam acostumados a atribuir a essapalavra - como representando o univer so judaico de pensamento de uma forma diferente do que, por exemplo, os escritos rabnicos e de Qumran mostram, talvez com mais clareza do que qualquer outro conjunto de escritos judaicos contemporneos, o afluxo de outras idias alm daquelas originalmente judaicas. Acredita-se que seja aesses escritos e aos temas, que so predomi nantes neles, que tambm se pode relacionar pregao de Paulo. Por certo, a essncia do kerigma paulino, o carter histrico-escatolgico de sua cristologia na qual a morte de Cristo e sua ressurreio ocupam o lugarcentral, no podem, em nenhum sentido, ser associados aos dados da litera tura de Qumran. Contudo, isso no altera o fato de que, com respeito aos temas secundrios (porm no sem importncia) da pregao de Paulo, po dem ser observadas analogias claras: temas que foram, bem verdade, com pletamente transformados pelo uso que Paulo faz deles justam ente por empreg-los para um kerigma completamente original, mas que ainda as sim podem lanar alguma luz sobre contextos que, at agora, haviam sido buscados, em vo, no apenas no pensamento grego, mas tambm no pen samento judaico de sua poca. Entre outros, certos temas mencionados ex tremamente caractersticos de Paulo soa luta entre a luz e as trevas, a revelao do mistrio, a justificao somente pela graa.86 Pode-se acres centar ainda que nas heresias combatidas por Paulo, como na Epstola aos Colossenses (heresias que, com freqncia tiveram que servir de testemu nhas para a inteipretao gnstica da pregao de Paulo), destacam-se te mas que parecem encaixarse muito m elhor na estrutura do judasm oapresentado na literatura de Qumran do que naquilo que se pensou ser poss vel reconstruir como gnosis pr-crist, tomando por base escritos gnsticos posteriores. Em decorrncia disso, vem-se aqui indicaes, particularmente nas epstolas aos Efsios87 e Colossenses de que, com respeito sua formula o, a pregao de Paulo deve ser vista levandose especialmente em consi derao o contexto dessas fontes que se tomaram recentemente disponveis. Todo esse desenvolvimento pode, por fim, ser demonstrado num ni co ponto que, para a compreenso da pregao de Paulo, porm, um ponto muito importante: a freqente ocorrncia das expresses em Cristo e com Cristo e aquilo que est relacionado as. Apesar de, anteriormente, ter se apelado para essas expresses e idias a fim de mostrar o carter mstico da proclamao de Paulo do evangelho e de sua experincia de f (morrer, ressuscitar, etc., com Cristo) e das tentativas que foram feitas de citar todo o tipo de material paralelo do mundo grego, uma vez que os estudiosos tomaram-se mais conscientes do contexto judaico e semtico de Paulo, uma viso completamente diferente passou a predominar com respeito a isso - a idia do Antigo Testamentode todos em um , chamada com freqncia de personalidade corporativa. Apesar de ser questionvel se esse termo, com o sentido especial que recebeu notavelmente de W heeler Robinson para certos relacionamentos observados no Antigo Testamento,88 aplicvel em todos os seus aspectos s epstolas de Paulo,89 ainda assim, a idia que se procura tipificar com a ajuda dessa expresso , sem dvida, de grande importncia para a percepo das estruturas fundamentais da pregao de Paulo. A idia a ser tipificada a representao por Cristo daqueles que pertencem a ele, a incluso dos muitos em Um e, nessa base, a aplicao sobre muitos daquilo que ocorreu ou ainda ir correr, em e com o Um,Cristo. Trata-se aqui no apenas de uma questo de uma certa expresso (em Cristo, com Cristo), mas de uma forma de pensar que v o relacio namento entre Cristo e aqueles que so seus de maneira completamente diferente, muito mais objetiva do que o mtodo deinterpretao que se move no sentido mstico grego. Com isso, o paralelo Ado-Cristo parece ter um significado muito mais amplo do que aquele que, com freqncia, foi pressuposto, tomando por base, os poucos pronunciamentos explcitos (em Rm 5 e ICo 15).Toda a idia especificamente paulina de Igreja como cor po de Cristo est ligada a esse significado, assim como, tambm, est o significado da obra redentora abrangente de Cristo com respeito a todas as coisas .90 Mais tarde, voltaremos a tratar de todas essas questes em mais detalhe. Contudo, j possvel estabelecer aqui como foi radical a m udana acarretada por essa nova abordagem, uma abordagem que, em retrospecto, alguns desejaram usar em favor de uma interpretao gnstica da pregao de Paulo,9 1mas que, ainda assim, encontra apoio, em prim ei ro lugar, no Antigo Testamento eno carter semtico do universo de idias e do pensam ento de Paulo.Se voltarmos finalmente para nosso ponto de partida e nos perguntar mos onde a investigao continuada v a confluncia das principais linhas arquitetnicas da pregao de Palo e onde esta supe encontra-se a entrada dessa construo imponente, ento, pode-se falar de um crescente consenso no sentido de que os estudiosos esto, cada vez mais,encontrando o ponto de partida para uma abordagem adequada do todo, no carter histricoredentor escatolgico da proclamao de Paulo. O tema que governa a pregao de Paulo a atividade salvadora de Deus no advento e a obra, especialmente a morte e ressurreio, de Cristo. Por um lado, essa atividade o cumprimento da obra de Deus na histria de Israel como nao, o cum primento, portanto, tambm das Escrituras; por outro lado, tem sua consu mao final na vinda de Cristo e do reino de Deus. dentro dessa grande estrutura histrico-redentora que a pregao de Paulo, como um todo, deve ser compreendida e todas as suas partes secundrias devem ser devidamen te colocadas e encontrar organicamente sua coerncia. Se, nesse sentido, possvel falar de um consensocada vez maior, sem dvida, deve-se faz-lo com grande reserva, como j ficou evidente, em parte, no que foi dito anteriormente. Isso porque, apesar de haver con senso a respeito de que, aquilo que se encontra na raiz da pregao de Paulo no o sistemateolgico, nem a idia filosfica, nem um sentimento religi oso, mas sim, a atividadede Deus na pessoa de Jesus Cristo compreendida escatologicamente; ainda assim, soapresentadas opinies que divergem fortemente entre si, justamente no que se refere a esse carter escatolgico da pregao de Paulo, de modo que no injustificado que Rigaux fale de escatologia e escatologias.92 Como vimos, Schweitzer aplicou essa concepo da pregao de Paulo de maneira tal que ela definida, por um lado, pela expectativa,93 inalterada em todas as epstolas, da volta iminente de Jesus e da glria messinica e, por outro lado, pela certeza de que com a morte e ressurreio de Jesus o eschaton, e com ele o modo escatolgico de ser dos crentes (por estarem em Cristo), irrompeu nesta era. Para Schweitzer e seus seguidores isso signifi ca que a expectativa uma iluso ultrapassada pelo curso dos acontecimen tos, mas que a im portncia perm anente dos ensinam entos de Paulo encontra-se na pneumatologia paulina que se refere ao segundo tema.94 No sem justia que foi dito dessa segunda posio que Schweitzer, ao fazer do Esprito um elemento atemporal, no final, mostra estar mais ligado teologia do sculo 19 do que teologia de Paulo.9 5 No entanto, enquanto Schweitzer reconhece a grande importncia que a contnua expectativa futura tinha para Paulo, por mais que esta houvesse mostrado ser uma iluso, outros desejam encontrar overdadeiro cerne da pregao escatolgica de Paulo no acontecimento escatolgico da morte e ressurreio de Jesus. Nesse ponto, a concepo de C. H. Dodd96 e da litera tura quesurgiu sob sua influncia, devem ser mencionadas especificamente.97 De acordo com Dodd, tambm dentro da estrutura escatolgica que deve ser entendida a morte e ressurreio de Cristo e dela que esse aconte cimento deriva seu significado especfico na pregao de Paulo. Diz-se que esse contexto escatolgico, em que tudo em Paulo colocado, a expresso da crena paulina de que a Histria atingiu sua consumao na morte e ressurreio de Cristo, ou seja, esses acontecimentos tinham o significado absoluto do objetivo final que Deus havia colocado para si mesmo na His tria.98 Certamente essa crena no meio dos primeiros cristos, e tambm em Paulo, andava demos dadas com a expectativa da volta iminente de Cristo, mas diz-se que o interesse do apstolo na mesma diminui cada vez mais e a escatologia futurista do primeiroperodo foi substituda pele seu cristomisticismo, isto , pela conscincia de unidade espiritual com Cris to e a contemplao de todas as riquezas da graa divina que at hoje soa poro daqueles que esto em Cristo.99 Assim, a Igreja o lugar onde cumprida a promessa de um grandioso futuro. a esfera da graa divina e da vida sobrenatural.100 Aordem sobrenatural de vida que os escritores apocalpticos previram em termos de pura fantasia agora descrita como um fato real da experincia. Desse modo, Paulo levou o princpio da escatologia realizada ao seu desenvolvimento pleno. Depois da ressurrei o de Cristo, a Igreja tornou-se a esfera do milagre escatolgico.1 0 1 Apesarde Dodd no poder, obviamente, negar que a pregao de Paulo repleta de referncias aofuturo, em seu desenvolvimento espiritu al,1 0 2 porm, dito que o carter escatolgicode sua pregao foi definido, cada vez mais, pela presena da salvao em Cristo. Foi demonstrado com freqncia que, nesse ponto, Dodd muda a nfase de maneira bastante uni lateral e que todo o seu desenvolvimento hipottico em Paulo da escatologia futurista realizada pode ser interpretado na epstola de Paulo somente mediante uma organizao altamente seletiva dos textos.1 0 3 Certamente, permitido levar em considerao aqui as prprias premissas filosficas-religiosas de Dodd, nas quais os aspectos temporaisda salvao ficam com pletamente em segundo plano em comparao com as questes eternas davida . Conseqentemente, foi dito e no injustamente, que a interpretao de Dodd da escatologia paulina tem uma certa tendncia platonizante.1 0 4 Em ltima instncia, a escatologia no passa de uma expresso do signifi cado e valor absolutos e atemporais dasrealidades proclamadas por Paulo. O elemento futuro dessa escatologia pode no desaparecer completamente, mas torna-se fraco. Com isso, a pregao de Paulo privada de uma dimen so, no que diz respeito sua essncia, tanto quanto escatologia realizada, que Dodd enfaticamente apresenta. Com relao a isso, deve-se falar mais uma vez de Bultmann. Como vimos, enquanto por um lado, ele considera que a pregao de Paulofoi tanto de modo positivo quanto negativo - profundamente determinada por temasdas religies do mundo pago; tambm, para Bultmann seu ponto departida encontra-se na interpretao escatolgica da morte e ressurreio de Cristo. De maneira mais clara do que Dodd, Bultmann reconhece a impor tncia essencial da dimensofutura na escatologia de Paulo.1 0 5 No entanto, Paulo interpreta a escatologiatomando por base sua antropologia, isto , para ele, o presente e futuro escatolgico a expresso de uma viso espe cfica da existncia humana. De acordo com Bultmann, porcerto, Paulo no abandona o quadro apocalptico da ressurreio, julgamento, glria, etc., do futuro, mas a verdadeira salvao a retido, a liberdade e a alegria no Esprito Santo. Assim, a idia de salvao voltada para o indivduo. Por um lado, essa salvao j pdo presente, por outro, ainda futura, pois, em virtude da historicidade do homem,ela ser obtida apenas por meio de decises existenciais. A fim de obter sua existncia autntica, o homem deve permitir-se ser crucificado com Cristo sempre de novo, ou seja, renun ciar quilo que est diante dele, sua disposio e escolher aquilo que ainda no est diante dele e que ele no tem disponvel. Nisso, ele continuamen te levado a esgotar as possibilidades que esto sua disposio e guiado em direo liberdade do verdadiro carter humano. Portanto, no so as idi as escatolgicas, mas sim, as percepes antroicas, expressas por meio delas, que constituem o cerne da pregao de Paulo. No a idiade fim de mundo, mas a maneira pela qual o homem confrontado existencialmente com o agir e falar de Deus, em Jesus Cristo, que constitui a substncia desmitologizada dessa escatologia. Diante disso, no h dvidas de que essa interpretao de uma histria redentora escatolgica mostra uma se qncia de acontecimentos que avana ramo consumatanto os que j ocorreram como os que ainda devem ser esperados em Cristo. Essa concepo pressupe, de acordo com o julgam ento de Bultmann, uma concepo de Histria e Naherwartung que a muito tempo, desde ento, foi considerada ultrapassada pelo desenrolar dos acontecimentos. A gran de importncia de Paulo encontra-se justam ente nofato de que, ao inter pretar a escatologia a partir da antropologia, ele j apresentou in nuce a soluo para a Histria e a escatologia, como foi mostrado quando a se gunda vinda no ocorreu im ediatam ente.1 0 6 Fica claro que essa interpretao desmitologizada abrange o conte do da pregao de Paulo de maneira bastante incompleta - e o faz de acordo com a compreenso prvia de um existencialismo hermenutico.1 0 7 Toda ateologia e, portanto, a cristologia, tratada do ponto de vista da antropolo gia.Em decorrncia disso, os elementos antropolgicos que Paulo emprega formam a verdadeira estrutura dentro da qual Bultmann, em sua obra Theology o f the New Testament, analisa e confere unidade pregao de Paulo. No difcil reconhecer que, junto com essa abordagem, surge uma viso extremamente limitada, uma vez que, aqui - e no em Paulo! - toda a atividade redentora em Cristo considerada sub speci