Texto 1 - Profa. Monica Herman

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    O contedo dos artigos de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), que cederam a Comisso de Ps-Graduao em Direito, da Faculdade de

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    Professora doutora em Direito Constitucional e Direitos Humanos da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo; visiting fellow do Human

    Rights Program da Harvard Law School !""# e $%%%&; visiting fellow do Centre for 'ra(ilian Studies da Universit) of *+ford $%%#&; visitingfellow do ,a+ Planc- .nstitute for Com/arative Pu0lic Law and .nternational Law Heidel0erg 1 $%%2; $%%3; e $%!#&; Hum0oldt 4oundation5eorg 4orster Research 4ellow no ,a+ Planc- .nstitute Heidel0erg 1 $%%%"6$%!7&; Procuradora do 8stado de So Paulo; e mem0ro do *9S:or-ing 5rou/ /ara o monitoramento do Protocolo de San Salvador em matria de direitos econ

    DIREITOS HUMANOS E CONSTITUCIONALISMO REGIONAL TRANSFORMADOR:

    O IMPACTO DO SISTEMA INTERAMERICANO

    Flvia Piovesan

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    Cadernos de Ps-Graduao em Direito, Comisso de Ps-Graduao da Faculdade de Direito da USP, So Paulo, n. 36, !"6

    2011 Comisso de Ps-Graduao da Faculdade de Direito da USP / Qualquer arte desta u!licao ode ser rerodu"ida desde que citada a#o$te %Post&raduate Studies Commissio$ o# t'e Sc'ool o# (a) o# t'e U$i*ersit+ o# Sao Paulo, 'is u!licatio$ ma+ !e reroduced i$ )'ole or i$ art.ro*ided t'e source is ac$o)led&ed / Comisi$ de Pos&rado de la Facultad de Derec'o de la U$i*ersidad de So Paulo, (a rese$te u!licaci$uede ser reroducida total o arcialme$te. co$ tal que se cite la #ue$te,

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO / UNIVERSITY OF SAO PAULO /UNIVERSIDAD DE SO PAULOReitorADeanARectorB,arco 9ntonio agoice6ReitorAice DeanAice RectorB ahan 9go/)anPr6Reitor de Ps65raduaEoAProvost of Postgraduate StudiesAProrrector dePosgradoB 'ernadette Dora 5om0oss) de ,elo 4ranco

    Faculdade de Direi!/Sc"!ll !# La$/Faculad de Derec"!DiretorA Princi/alADirectorB Fos Rogrio Cru( e Gucciice6DiretorADe/ut) Princi/alAice DirectorB Renato de ,ello Forge Silveira

    C!%i&&'! de P(&)Gradua*'!/P!&+raduae Sudie& C!%%i&&i!,/C!%i&i(,de P!&+rad!PresidenteAPresidentB ,onica Herman Salem Caggianoice6PresidenteAice PresidentB 8stvo ,allet

    8l(a 9nt != $%!!6>,ensal

    .SSKB $$?@67#77Pu0licaEo da Comisso de Ps65raduaEo em Direito da 4aculdade de Direito daUniversidade de So Paulo

    !> Direito $> .nterdisci/linaridade> .> Comisso de Ps65raduaEo da 4aculdade deDireito da USP

    CDU 34

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    *s Cadernos de Ps-Graduao em Direito= da 4aculdade de Direito daUniversidade de So Paulo= constitui uma /u0licaEo destinada a divulgar ostra0alhos a/resentados em eventos /romovidos /or este Programa de Ps65raduaEo> Gem o o0Metivo de suscitar de0ates= /romover e facilitar a coo/eraEo

    e disseminaEo da informaEo Murdica entre docentes= discentes= /rofissionais doDireito e Jreas afins>

    Ghe Post#raduate $e#al Con%erence Pa&ersare /u0lished 0) the School of Lawof the Universit) of Sao Paulo in order to /u0lici(e the /a/ers su0mitted at variousevents organi(ed 0) the Postgraduate Program> *ur o0Mective is to fosterdiscussion= /romote coo/eration and facilitate the dissemination of legal-nowledge among facult)= students and /rofessionals in the legal field and otherrelated areas>

    Los Cuadernos de Pos#rado en Derec'o de la 4acultad de Derecho de laUniversidad de So Paulo son una /u0licacin destinada a divulgar los te+tos/resentados en eventos /romovidos /or este Programa de Posgrado> Su o0Metivo

    es suscitar de0ates= /romover la coo/eracin ) facilitar la diseminacin deinformacin Murdica entre docentes= discentes= /rofesionales del entorno Murdico )de Jreas relacionadas>

    ,onica Herman Salem CaggianoPresidente da Comisso de Ps65raduaEo

    4aculdade de Direito da Universidade de So PauloPresident of the Postgraduate Studies Commission

    School of Law of the Universit) of Sao Paulo

    Presidente de la Comisin de Posgrado de la4acultad de Derecho de la Universidad de So Paulo

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    SUM3RIO/CONTENTS/4NDICE

    D.R8.G*S HU,9K*S 8 C*KSG.GUC.*K9L.S,* R85.*K9L GR9KS4*R,9D*RB * .,P9CG* D* S.SG8,9.KG8R9,8R.C9K* >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> 7

    Flvia Piovesan

    C9D8RK*S D8 PNS65R9DU9O* 8, D.R8.G*B 8SGUD*S 8 D*CU,8KG*S D8 GR9'9LH* >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>$?

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    DIREITOS HUMANOS E CONSTITUCIONALISMO REGIONAL TRANSFORMADOR:

    O IMPACTO DO SISTEMA INTERAMERICANO

    Flvia Piovesan

    Introduo

    Objetiva este artigo enfocar o impacto do sistema interamericano de direitos humanos na composio

    de um constitucionalismo regional transformador, com destaque s transformaes fomentadas no contexto

    latino-americano, com vistas ao fortalecimento do stado de !ireito, da democracia e dos direitos humanos na

    regio"

    #onsiderando o desafiador contexto latino-americano, sob as marcas da acentuada desigualdade,viol$ncia sist$mica e centralismo do poder pol%tico, ser& estudado inicialmente o impacto transformador do

    sistema interamericano na regio, a partir de uma tipologia de casos emblem&ticos da jurisprud$ncia da #orte

    'nteramericana"

    ( esta an&lise soma-se o exame do crescente empoderamento do sistema interamericano e sua fora

    catali)adora na regio, fruto da efetividade do di&logo jurisdicional em um sistema multin%vel" * sob esta

    perspectiva multin%vel que emergem duas vertentes do di&logo jurisdicional, a compreender o di&logo com os

    sistemas nacionais +a abranger o controle da convencionalidade e o di&logo com a sociedade civil +a emprestar

    ao sistema interamericano crescente legitimao social"

    or fim, pretende-se avaliar o impacto do sistema interamericano na pavimentao de um

    constitucionalismo regional transformador em mat.ria de direitos humanos, com $nfase em seus riscos,

    potencialidades e desafios"

    Desenvolv!ento

    "#$# Des%&os do Conte'to l%tno(%!er)%no: vol*n)%+ des,u%ld%de e )entr%ls!o do -oder -ol.t)o

    / /m.rica 0atina ostenta o maior grau de desigualdade do mundo" / pobre)a na regio diminuiu do

    patamar de 41,23 a 22,3, no per%odo de 5667 e 771" 8odavia, cinco dos de) pa%ses mais desiguais do

    mundo esto na /m.rica 0atina, dentre eles o 9rasil5" :a /m.rica 0atina, 47,;3 das crianas e adolescentes

    so pobres"

    eidelberg F 7776-754A rocuradora do stado de

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    ;

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    descendente corresponde a aproximadamente ;3 da populao latino-americana" :o que se refere

    populao ind%gena, estima-se corresponder a 13 da populao latino-americana" 'ndicadores sociais

    demonstram o sistem&tico padro de discriminao, excluso e viol$ncia a acometer as populaes afro-

    descendentes e ind%genas na regio, sendo que mulheres e crianas so alvo de formas mMltiplas de

    discriminao +o#erla$$in% discrimination" #onclui-se, assim, que em m.dia 223 da populao latino-americana enfrenta um grave padro de violao a direitos" ovos ind%genas e afro-descendentes esto

    desproporcionalmente representados entre a populao em situao de pobre)a e mis.ria, sendo que as

    mulheres sofrem ainda maior grau de vulnerabilidade, por meio da etni)ao e da femini)ao da pobre)a"

    :o bastando o acentuado grau de desigualdade, a regio ainda se destaca por ser a mais violenta do

    mundo" #oncentra G3 dos homic%dios, tendo apenas 63 da populao mundial" !e) dos vinte pa%ses com

    maiores taxas de homic%dio do mundo so latino-americanos"

    :a pesquisa 0atinobarometro 752 sobre o apoio democracia na /m.rica 0atina, embora ;N3 dos

    entrevistados considerarem a democracia prefer%vel a qualquer outra forma de governo, a resposta afirmativaencontra no 9rasil o endosso de apenas 463 e no E.xico 2G3" !e acordo com a pesquisa, 253 consideram

    que pode haver democracia sem partidos pol%ticos e G3 consideram que a democracia pode funcionar sem

    #ongresso :acional"

    / regio latino-americana marcada por sociedades p@s-coloniais tem assim sido caracteri)ada por

    elevado grau de excluso e viol$ncia ao qual se somam democracias em fase de consolidao" / regio sofre

    com um centralismo autorit&rio de poder, o que vem a gerar o fenKmeno do hiperpresidencialismoP ou formas

    de democracia delegativaP" / democrati)ao fortaleceu a proteo de direitos, sem, contudo, efetivar reformas

    institucionais profundas necess&rias consolidao do stado !emocr&tico de !ireito" / regio ainda convivecom as reminisc$ncias do legado dos regimes autorit&rios ditatoriais, com uma cultura de viol$ncia e de

    impunidade, com a baixa densidade de stados de !ireitos e com a prec&ria tradio de respeito aos direitos

    humanos no Qmbito dom.stico"

    * neste contexto pol%tico, social e cultural, por compartilhar de problemas, desafios, dilemas e tenses

    similares, que se justifica a defesa de um constitucionalismo regional transformador"

    "#"#

    I!-%)to tr%ns&or!%dor do Sste!% Inter%!er)%no no )onte'to l%tno(%!er)%no

    / criao de um constitucionalismo regional transformador em mat.ria de direitos humanos decorre da

    combinao de 2 +tr$s importantes fatores ao longo do processo de democrati)ao na regioL

    5 o crescente empoderamento do sistema interamericano de proteo dos direitos humanos e seu

    impacto transformador na regioA

    a emerg$ncia de #onstituies latino-americanas que, na qualidade de marcos jur%dicos de

    transies democr&ticas e da institucionali)ao de direitos, apresentam cl&usulas de abertura

    constitucional, a propiciar maior di&logo e interao entre o !ireito interno e o !ireito 'nternacional

    dos !iretos >umanosA

    0/IO

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    2 o fortalecimento da sociedade civil na luta por direitos e por justia

    * neste cen&rio que o sistema interamericano gradativamente se legitima como importante e efica)

    instrumento para a proteo dos direitos humanos" #om a atuao da sociedade civil, a partir de articuladas e

    competentes estrat.gias de litigQncia, o sistema interamericano tem tido a fora catali)adora de promover

    avanos no regime de direitos humanos"

    ermitiu a desestabili)ao dos regimes ditatoriaisA exigiu justia e o fim da impunidade nas transies

    democr&ticasA e agora demanda o fortalecimento das instituies democr&ticas com o necess&rio combate s

    violaes de direitos humanos e proteo aos grupos mais vulner&veis"

    Dos -er.odos de!%r)%! o )onte'to l%tno(%!er)%no: o -er.odo dos re,!es dt%tor%s/ e o

    -er.odo d% tr%nso -ol.t)% %os re,!es de!o)r0t)os+ !%r)%do -elo &! d%s dt%dur%s !lt%res n%

    d1)%d% de 23+ n% Ar,entn%+ no C4le+ no Uru,u% e no 5r%sl#

    m 56G1, quando a #onveno /mericana de !ireitos >umanos entrou em vigor, muitos dos stadosda /m.rica #entral e do umanos, o sistema regional interamericano tem em sua origem o paradoxo de nascer em um ambiente

    acentuadamente autorit&rio, que no permitia qualquer associao direta e imediata entre !emocracia, stado

    de !ireito e !ireitos >umanos" /demais, neste contexto, os direitos humanos eram tradicionalmente concebidos

    como uma agenda contra o stado" !iversamente do sistema europeu, que surge como fruto do processo de

    integrao europ.ia e tem servido como relevante instrumento para fortalecer este processo de integrao, nocaso interamericano havia to somente um movimento ainda embrion&rio de integrao regional"

    #onsiderando a atuao da #orte 'nteramericana, . poss%vel criar uma tipologia de casos baseada em

    decises concernentes a N +seis diferentes categorias de violao a direitos humanosL

    6ol%7es 8ue re&lete! o le,%do do re,!e %utort0ro dt%tor%l

    sta categoria compreende a maioria significativa das decises da #orte 'nteramericana, que tem por

    objetivo prevenir arbitrariedades e controlar o excessivo uso da fora, impondo limites ao poder punitivo dostado"

    / t%tulo de exemplo, destaca-se o leadin% caseF Relasque) Codrigue) versus >onduras concernente a

    desaparecimento forado" m 5616 a #orte condenou o stado de >onduras a pagar uma compensao aos

    familiares da v%tima, bem como ao dever de prevenir, investigar, processar, punir e reparar as violaes

    2#omo observa 8homas 9uergenthalL O fato de hoje quase a totalidade dos stados latino-americanos na regio, comexceo de #uba, terem governos eleitos democraticamente tem produ)ido significativos avanos na situao dosdireitos humanos nesses stados" stes stados ratificaram a #onveno e reconheceram a compet$ncia jurisdicionalda #orteP" +ref&cio de 8homas 9uergenthal, HoreBord" 'nL /

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    cometidas4"

    /dicionem-se ainda decises da #orte que condenaram stados em face de prec&rias e cru.is

    condies de deteno e da violao integridade f%sica, ps%quica e moral de pessoas detidasA ou em face da

    pr&tica de execuo sum&ria e extrajudicialA ou tortura" stas decises enfati)aram o dever do stado de

    investigar, processar e punir os respons&veis pelas violaes, bem como de efetuar o pagamento de indeni)aes"

    :o plano consultivo, merecem meno as opinies a respeito da impossibilidade de adoo da pena de

    morte pelo stado da Iuatemala; e da impossibilidade de suspenso da garantia judicial de habeas corpus

    inclusive em situaes de emerg$ncia, de acordo com o artigo G da #onveno /mericanaN"

    "9 6ol%7es 8ue re&lete! 8uest7es d% ust% de tr%nso ;transitional justice9

    :esta categoria de casos esto as decises relativas ao combate impunidade, s leis de anistia e ao

    direito verdade"

    :o caso 9arrios /ltos +massacre que envolveu a execuo de 5; pessoas por agentes policiais, em

    virtude da promulgao e aplicao de leis de anistia +uma que concede anistia geral aos militares, policiais e

    civis, e outra que dispe sobre a interpretao e alcance da anistia, o eru foi condenado a reabrir

    investigaes judiciais sobre os fatos em questo, relativos ao massacre de 9arrios /ltosP, de forma a derrogar

    ou a tornar sem efeito as leis de anistia mencionadas" O eru foi condenado, ainda, reparao integral e

    adequada dos danos materiais e morais sofridos pelos familiares das v%timasG"

    sta deciso apresentou um elevado impacto na anulao de leis de anistia e na consolidao do

    direito verdade, pelo qual os familiares das v%timas e a sociedade como um todo devem ser informados dasviolaes, realando o dever do stado de investigar, processar, punir e reparar violaes aos direitos

    humanos"

    #oncluiu a #orte que as leis de auto-anistiaP perpetuam a impunidade, propiciam uma injustia

    continuada, impedem s v%timas e aos seus familiares o acesso justia e o direito de conhecer a verdade e de

    receber a reparao correspondente, o que constituiria uma manifesta afronta #onveno /mericana" /s leis

    de anistiam configurariam, assim, um il%cito internacional e sua revogao uma forma de reparao no

    pecuni&ria"

    :o mesmo sentido, destaca-se o caso /lmonacid /rellano versus #hile1cujo objeto era a validade dodecreto-lei 565WG1 -- que perdoava os crimes cometidos entre 56G2 e 56G1 durante o regime inochet -- lu)

    das obrigaes decorrentes da #onveno /mericana de !ireitos >umanos" !ecidiu a #orte pela invalidade do

    mencionado decreto lei de auto-anistiaP, por implicar a denegao de justia s v%timas, bem como por afrontar

    os deveres do stado de investigar, processar, punir e reparar graves violaes de direitos humanos que

    constituem crimes de lesa humanidade"

    4Relasque) Codrigue) #ase, 'nter-/merican #ourt of >uman Cights, 5611,

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    #ite-se, ainda, o caso argentino, em que deciso da #orte

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    6ol%7es de dretos de ,ru-os vulner0ves

    sta quarta categoria de casos at.m-se a decises que afirmam a proteo de direitos de grupos

    socialmente vulner&veis, como os povos ind%genas, as crianas, os migrantes, os presos, dentre outros"

    Suanto aos direitos dos povos ind%genas, destaca-se o relevante caso da comunidade ind%genaEaDagna /Bas 8ingni contra a :icar&gua +7755, em que a #orte reconheceu o direitos dos povos ind%genas

    propriedade coletiva da terra, como uma tradio comunit&ria, e como um direito fundamental e b&sico sua

    cultura, sua vida espiritual, sua integridade e sua sobreviv$ncia econKmica" /crescentou que para os

    povos ind%genas a relao com a terra no . somente uma questo de possesso e produo, mas um

    elemento material e espiritual de que devem go)ar plenamente, inclusive para preservar seu legado cultural e

    transmiti-lo s geraes futuras"

    m outro caso F caso da comunidade ind%gena Ya=De /xa contra o araguai +77;52 --, a #orte

    sustentou que os povos ind%genas t$m direito a medidas espec%ficas que garantam o acesso aos servios de

    saMde, que devem ser apropriados sob a perspectiva cultural, incluindo cuidados preventivos, pr&ticas curativas

    e medicinas tradicionais" /dicionou que para os povos ind%genas a saMde apresenta uma dimenso coletiva,

    sendo que a ruptura de sua relao simbi@tica com a terra exerce um efeito prejudicial sobre a saMde destas

    populaes"

    :o caso da comunidade ind%gena /mo 1/se #. Para%uai54, a #orte 'nteramericana condenou o

    stado do araguai pela afronta aos direitos vida, propriedade comunit&ria e proteo judicial +artigos 4Z,

    5 e ; da #onveno /mericana, respectivamente, dentre outros direitos, em face da no garantia do direito

    de propriedade ancestral aludida comunidade ind%gena, o que estaria a afetar seu direito identidade cultural"

    /o motivar a sentena, destacou que os conceitos tradicionais de propriedade privada e de possesso no seaplicam s comunidades ind%genas, pelo significado coletivo da terra, eis que a relao de pertena no se

    centra no indiv%duo, seno no grupo e na comunidade" /crescentou que o direito propriedade coletiva estaria

    ainda a merecer igual proteo pelo artigo 5 da #onveno +concernente ao direito [a propriedade privada"

    /firmou o dever do stado em assegurar especial proteo s comunidades ind%genas, lu) de suas

    particularidades pr@prias, suas caracter%sticas econKmicas e sociais e suas especiais vulnerabilidades,

    considerando o direito consuetudin&rio, os valores, os usos e os costumes dos povos ind%genas, de forma a

    assegurar-lhes o direito vida digna, contemplando o acesso &gua pot&vel, alimentao, saMde, educao,

    dentre outros"

    :o caso dos direitos das crianas, cabe meno ao caso Rillagran Eorales contra a Iuatemala

    +56665;, em que este stado foi condenado pela #orte, em virtude da impunidade relativa morte de ; meninos

    5EaDagna +umanos e dos ovos considerou que omodo pelo qual a comunidade ndorois no \enDa foi privada de suas terras tradicionais, tendo negado acesso a

    recursos, constitui uma violao a direitos humanos, especialmente ao direito ao desenvolvimento"5;Rillagran Eorales et al versus Iuatemala +8he

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    de rua, brutalmente torturados e assassinados por policiais nacionais da Iuatemala" !entre as medidas de

    reparao ordenadas pela #orte estoL o pagamento de indeni)ao pecuni&ria aos familiares das v%timasA a

    reforma no ordenamento jur%dico interno visando maior proteo dos direitos das crianas e adolescentes

    guatemaltecosA e a construo de uma escola em mem@ria das das v%timas"

    /dicione-se, ainda, as opinies consultivas sobre a condio jur%dica e os direitos humanos das

    crianas +O# 5G, emitida em agosto de 77, por solicitao da #omisso 'nteramericana de !ireitos >umanos

    e sobre a condio jur%dica e os direitos de migrantes sem documentos +O#51, emitida em setembro de 772,

    por solicitao do E.xico"

    Eencione-se, tamb.m, o parecer emitido, por solicitao do E.xico +O#5N, de 75 de outubro de 5666,

    em que a #orte considerou violado o direito ao devido processo legal, quando um stado no notifica um preso

    estrangeiro de seu direito assist$ncia consular" :a hip@tese, se o preso foi condenado pena de morte, isso

    constituiria privao arbitr&ria do direito vida" :ote-se que o E.xico embasou seu pedido de consulta nos

    v&rios casos de presos mexicanos condenados pena de morte nos stados ?nidos"

    #om relao aos direitos das mulheres, destacam-se relevantes decises do sistema interamericano sobre

    discriminao e viol$ncia contra mulheres, o que fomentou a reforma do #@digo #ivil da Iuatemala, a adoo de

    uma lei de viol$ncia dom.stica no #hile e no 9rasil, dentre outros avanos5N" :o caso Ion)&le) e outras contra o

    E.xico +caso #ampo /lgodoneroP, a #orte 'nteramericana condenou o E.xico em virtude do desaparecimento

    e morte de mulheres em #iudad Tuare), sob o argumento de que a omisso estatal estava a contribuir para a

    cultura da viol$ncia e da discriminao contra a mulher" :o per%odo de 5662 a 772, estima-se que de N7 a

    2G7 mulheres tenham sido v%timas de assassinatos, em #iudad Tuare)" / sentena da #orte condenou o stado

    do E.xico ao dever de investigar, sob a perspectiva de g$nero, as graves violaes ocorridas, garantindodireitos e adotando medidas preventivas necess&rias de forma a combater a discriminao contra a mulher5G"

    'neditamente, em 4 de fevereiro de 75, a #orte 'nteramericana reconheceu a responsabilidade

    internacional do stado do #hile em face do tratamento discriminat@rio e interfer$ncia indevida na vida privada e

    familiar da v%tima \aren /tala devido sua orientao sexual51" O caso foi objeto de intenso lit%gio judicial no

    #hile, que culminou com a deciso da #orte umanos estabelece direitos civis e pol%ticos, contemplando

    apenas a aplicao progressiva dos direitos sociais +artigo N" T& o rotocolo de

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    direitos econKmicos, sociais e culturais, prev$ que somente os direitos educao e liberdade sindical seriam

    tutel&veis pelo sistema de peties individuais +artigo 56, par&grafo NZ"

    ( lu) de uma interpretao dinQmica e evolutiva, compreendendo a #onveno /mericana como um

    li#in% instrument, no j& citado caso Rillagran Eorales contra a Iuatemala56, a #orte afirmou que o direito vida

    no pode ser concebido restritivamente" 'ntrodu)iu a viso de que o direito vida compreende no apenas uma

    dimenso negativa F o direito a no ser privado da vida arbitrariamente --, mas uma dimenso positiva, que

    demanda dos stados medidas positivas apropriadas para proteger o direito vida digna F o direito a criar e

    desenvolver um projeto de vidaP" sta interpretao lanou um importante hori)onte para proteo dos direitos

    sociais"

    m outros julgados, a #orte tem endossado o dever jur%dico dos stados de conferir aplicao

    progressiva aos direitos sociais, com fundamento no artigo N da #onveno /mericana de !ireitos >umanos,

    especialmente em se tratando de grupos socialmente vulner&veis" :o caso ni^as Yean D 9osico versus

    Cepublica !ominicana, a #orte enfati)ou o dever dos stados no tocante aplicao progressiva dos direitossociais, a fim de assegurar o direito educao, com destaque especial vulnerabilidade de meninas"

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    processo legal e proteo judicial" m ambos os casos, a condenao dos stados teve como argumento

    central a violao garantia do devido processo legal e no a violao ao direito do trabalho"

    ?m outro caso emblem&tico . o caso cinco pensionistasP versus eru;, envolvendo a modificao do

    regime de penso no eru, em que a #orte condenou o stado com fundamento na violao ao direito de

    propriedade privada e no com fundamento na afronta ao direito de seguridade social, em face dos danos

    sofridos pelos ; pensionistas"

    :o caso /cevedo 9uendia #s" eruN, a #orte reconheceu que os direitos humanos devem ser

    interpretados sob a perspectiva de sua integralidade e interdepend$ncia, a conjugar direitos civis e pol%ticos e

    direitos econKmicos, sociais e culturais, inexistindo hierarquia entre eles e sendo todos direitos exig%veis"

    Cealou ser a aplicao progressiva dos direitos sociais suscet%vel de controle e fiscali)ao pelas instQncias

    competentes, destacando o dever dos stados de no-regressividade em mat.ria de direitos sociais"

    =9 6ol%7es % novos dretos d% %,end% )onte!-or>ne%

    Hinalmente, esta sexta categoria de casos compreende novos direitos da agenda contemporQnea, com

    especial destaque aos direitos reprodutivos"

    m sentena proferida em 1 de novembro de 75, a #orte 'nteramericana de !ireitos >umanos, no

    caso /rtavia Eurillo e outros contra a #osta CicaG, enfrentou, de forma in.dita, a tem&tica da fecundao in

    vitroP sob a @tica dos direitos humanos" O caso foi submetido pela #omisso 'nteramericana, sob o argumento

    de que a proibio geral e absoluta de praticar a fecundao in vitroP na #osta Cica desde 777 estaria a

    implicar violao a direitos humanos" #om efeito, por deciso da

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    t.cnica de reproduo assistida, decorre dos direitos integridade pessoal, liberdade e vida privada e familiar"

    /rgumentou que o direito absoluto vida do embrio -- como base para restringir direitos F no encontra

    respaldo na #onveno /mericana" #ondenou, assim, a #osta Cica por violao aos artigos ;Z, par&grafo 5Z,

    GZ, 55, par&grafo Z e 5G, par&grafo Z da #onveno /mericana, determinando ao stado adotar com a maior

    celeridade poss%vel medidas apropriadas para que fique sem efeito a proibio de praticar a fertili)ao in vitroP,assegurando s pessoas a possibilidade de valer-se deste procedimento sem impedimentos" !eterminou

    tamb.m ao stado a implementao da fertili)ao in vitroP, tornando dispon%veis os programas e os

    tratamentos de infertilidade, com base no princ%pio da no discriminao" /dicionou o dever do stado de

    proporcionar s v%timas atendimento psicol@gico de forma imediata, fomentando, ademais, programas e cursos

    de educao e capacitao em direitos humanos, no campo dos direitos reprodutivos, sobretudo aos

    funcion&rios judiciais"

    /inda no campo dos direitos reprodutivos, em 6 de maio de 752, ineditamente, a #orte concedeu

    medidas provis@rias em face de l umanos, 6 de maio de 752"6or solicitao da #omisso 'nteramericana, em respeito identidade e privacidade da v%tima, a mesma . identificadacomo

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    crescente legitimao social"

    / respeito do di&logo com os sistemas nacionais consolida-se o chamado controle de

    convencionalidadeP" 8al controle . reflexo de um novo paradigma a nortear a cultura jur%dica latino-americana na

    atualidadeL da herm.tica pirQmide centrada no State a$$roac' permeabilidade do trap.)io centrado no +uman

    ri%'ts a$$roac'.

    'sto ., aos parQmetros constitucionais somam-se os parQmetros convencionais, na composio de um

    trap.)io juridico aberto ao di&logo, aos empr.stimos e interdisciplinariedade, a resignificar o fenKmeno jur%dico

    sob a inspirao do 'uman ri%'ts a$$roac'"

    :o caso latino-americano, o processo de democrati)ao na regio, deflagrado na d.cada de 17, . que

    propiciou a incorporao de importantes instrumentos internacionais de proteo dos direitos humanos pelos

    stados latino-americanos" >oje constata-se que os pa%ses latino-americanos subscreveram os principais

    tratados de direitos humanos adotados pela O:? e pela O/"

    !e um lado, despontam #onstituies latino-americanas com cl&usulas constitucionais abertas, com

    destaque hierarquia especial dos tratados de direitos humanos, sua incorporao autom&tica e s regras

    interpretativas aliceradas no princ%pio$ro $ersona"

    #om efeito, as #onstituies latino-americanas estabelecem cl&usulas constitucionais abertas, que

    permitem a integrao entre a ordem constitucional e a ordem internacional, especialmente no campo dos

    direitos humanos, ampliando e expandindo o bloco de constitucionalidade" /o processo de constitucionali)ao

    do !ireito 'nternacional conjuga-se o processo de internacionali)ao do !ireito #onstitucional" / t%tulo

    exemplificativo, a #onstituio da /rgentina, ap@s a reforma constitucional de 5664, dispe, no artigo G;, inciso

    , que, enquanto os tratados em geral t$m hierarquia infra-constitucional, mas supra-legal, os tratados de

    proteo dos direitos humanos t$m hierarquia constitucional, complementando os direitos e garantias

    constitucionalmente reconhecidos" / #onstituio 9rasileira de 5611, no artigo ;Z, par&grafo Z, consagra que

    os direitos e garantias expressos na #onstituio no excluem os direitos decorrentes dos princ%pios e do

    regime a ela aplic&vel e os direitos enunciados em tratados internacionais ratificados pelo 9rasil, permitindo,

    assim, a expanso do bloco de constitucionalidade" / ento #onstituio do eru de 56G6, no mesmo sentido,

    determinava, no artigo 57;, que os preceitos contidos nos tratados de direitos humanos t$m hierarquia

    constitucional e no podem ser modificados seno pelo procedimento que rege a reforma da pr@pria

    #onstituio" T& a atual #onstituio do eru de 5662 consagra que os direitos constitucionalmentereconhecidos devem ser interpretados em conformidade com a !eclarao ?niversal de !ireitos >umanos e

    com os tratados de direitos humanos ratificados pelo eru" !eciso proferida em 77; pelo 8ribunal

    #onstitucional do eru endossou a hierarquia constitucional dos tratados internacionais de proteo dos direitos

    humanos, adicionando que os direitos humanos enunciados nos tratados conformam a ordem jur%dica e

    vinculam os poderes pMblicos" / #onstituio da #olKmbia de 5665, reformada em 566G, confere, no artigo 62,

    hierarquia especial aos tratados de direitos humanos, determinando que estes prevalecem na ordem interna e

    que os direitos humanos constitucionalmente consagrados sero interpretados em conformidade com os

    tratados de direitos humanos ratificados pelo pa%s" 8amb.m a #onstituio do #hile de 5617, em decorr$ncia da

    reforma constitucional de 5616, passou a consagrar o dever dos @rgos do stado de respeitar e promover osdireitos garantidos pelos tratados internacionais ratificados por aquele pa%s" /crescente-se a #onstituio da

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    9ol%via de 776, ao estabelecer que os direitos e deveres reconhecidos constitucionalmente sero interpretados

    em conformidade com os tratados de direitos humanos ratificados pela 9ol%via, que prevalecero em relao

    pr@pria #onstituio se enunciarem direitos mais favor&veis +artigos 52,'R e ;N" :a mesma direo, destaca-

    se a #onstituio do quador de 771, ao consagrar que a #onstituio e os tratados de direitos humanos

    ratificados pelo stado que reconheam direitos mais favor&veis aos previstos pela #onstituio t$mpreval$ncia em relao a qualquer outra norma jur%dica ou ato do oder Mblico +artigo 44, adicionando que

    sero aplicados os princ%pios pro ser humano, de no restrio de direitos, de aplicabilidade direta e de cl&usula

    constitucional aberta +artigo 45N" / #onstituio do E.xico, com a reforma de junho de 755, passou a

    contemplar a hierarquia constitucional dos tratados de direitos humanos e a regra interpretativa fundada no

    principio$ro $ersona"

    or outro lado, o sistema interamericano revela permeabilidade e abertura ao di&logo mediante as

    regras interpretativas do artigo 6 da #onveno /mericana, em especial as que asseguram o princ%pio da

    preval$ncia da norma mais ben.fica, mais favor&vel e mais protetiva v%tima" Cessalte-se que os tratados dedireitos humanos fixam parQmetros protetivos m%nimos, constituindo um piso m%nimo de proteo e no um teto

    protetivo m&ximo" !a% a hermen$utica dos tratados de direitos humanos endossar o princ%pio pro ser humano"

    (s regras interpretativas consagradas no artigo 6 da #onveno /mericana, somem-se os tratados de direitos

    humanos do sistema global F que, por sua ve), tamb.m enunciam o princ%pio pro persona fundado na

    preval$ncia da norma mais ben.fica, como ilustram o artigo 2 da #onveno sobre a liminao da

    !iscriminao contra a Eulher, o artigo 45 da #onveno sobre os !ireitos da #riana, o artigo 5N, par&grafo Z

    da #onveno contra a 8ortura e o artigo 4Z, par&grafo 4Z da #onveno sobre os !ireitos das essoas com

    !efici$ncia"

    #laMsulas de abertura constitucional e o princ%pio pro ser humano inspirador dos tratados de direitos

    humanos compem os dois v.rtices -- nacional e internacional -- a fomentar o di&logo em mat.ria de direitos

    humanos" :o sistema interamericano este di&logo . caracteri)ado pelo fenKmeno do controle da

    convencionalidadeP, na sua forma difusa e concentrada"

    Co!o en&%t?% % Corte Inter%!er)%n%: Quando um Estado ratifica um tratado internacional

    como a Conveno Americana, seus juzes, como arte do aarato do Estado, tam!"m esto

    su!metidos a ela, o #ue l$es o!ri%a a zelar ara #ue os efeitos dos disositivos da Conveno no se

    vejam miti%ados ela alicao de leis contrrias a seu o!jeto, e #ue desde o incio carecem de efeitos

    jurdicos& '&&&( o oder )udicirio deve e*ercer uma es"cie de controle da convencionalidade das leis& entreas normas jurdicas internas #ue alicam nos casos concretos e a Conveno Americana so!re +ireitos

    umanos& -esta tarefa, o Poder )udicirio deve ter em conta no somente o tratado, mas tam!"m a

    interretao #ue do mesmo tem feito a Corte .nteramericana, int"rrete /ltima da Conveno Americana0"27

    #omo sustenta duardo Herrer Eac-Iregor

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    5N

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    o controle da convencionalidade na esfera dom.stica, mediante a incorporao da normatividade, principiologia

    e jurisprud$ncia protetiva internacional em mat.ria de direitos humanos no contexto latino-americano" Hrise-seL

    quando um stado ratifica um tratado, todos os @rgos do poder estatal a ele se vinculam, compromentendo-se

    a cumpri-lo de boa f."

    A Corte Inter%!er)%n% e'er)e o )ontrole d% )onven)on%ld%de n% !od%ld%de )on)entr%d%+

    tendo % ult!% -%l%vr% so@re % nter-ret%o d% Conveno A!er)%n%# N% re%l?%o do )ontrole de

    )onven)on%ld%de+ % Corte Inter%!er)%n% ,u%(se -elo -rn).-o -ro -erson%+ )on&erndo -rev%l*n)%

    nor!% !%s @en1&)%+ dest%)%ndo+ e! dvers%s senten%s+ de)s7es ud)%s -ro&erd%s -el%s Cortes

    )onsttu)on%s l%tno(%!er)%n%s+ @e! )o!o !eno % ds-ostvos d%s Consttu7es l%tno(

    %!er)%n%s+ )o!o -ode! revel%r os )%sos Pue@lo Ind.,en% B)4% de S%r%%u vs&E8u%dor ;senten%

    -ro&erd% e! " de un4o de "3$"9+ At%l% R&&o nn%s vs& C4le ;senten% -ro&erd% e! " de &everero de

    "3$"9 e Gel!%n vs&Uru,u% ;senten% -ro&erd% e! " de &everero de "3$"9"2

    or fim, adicione-se o prof%cuo di&logo do sistema interamericano com a sociedade civil, o que lheconfere gradativa legitimao social e crescente empoderamento" O sistema enfrenta o paradoxo de sua origem

    F nasceu em um ambiente marcado pelo arb%trio de regimes autorit&rios com a expectativa estatal de seu

    redu)ido impacto F e passa a ganhar credibilidade, confiabilidade e elevado impacto" / fora motri) do sistema

    interamericano tem sido a sociedade civil organi)ada por meio de um transnational netBor=, a empreender

    exitosos lit%gios estrat.gicos"

    :a experi$ncia brasileira, por exemplo, 5773 dos casos submetidos #omisso 'nteramericana foram

    fruto de uma articulao a reunir v%timas e organi)aes no governamentais locais e internacionais

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    dos direitos humanos e suas normas, bem como sem a atuao das netBor=s transnacionais que operam para

    efetivar tais normas, transformaes na esfera dos direitos humanos no teriam ocorridoP2;"

    O sucesso do sistema interamericano reflete o intenso comprometimento das O:Is +envolvendo

    movimentos sociais e estrat.gias de m%dia, a boa resposta do sistema e a implementao de suas decises

    pelo stado, propiciando transformaes e avanos no regime interno de proteo dos direitos humanos"

    8ransita-se, por fim, ao enfoque do sistema interamericano na pavimentao de um constitucionalismo

    regional transformador, com $nfase em suas potencialidades e desafios"

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    Fort%le)er o sste!% nter%!er)%no de -roteo de dretos 4u!%nos: unvers%ld%de+

    nsttu)on%ld%de+ nde-end*n)%+ sustent%@ld%de e e&etvd%de

    Outro importante desafio consolidao de um constitucionalismo regional transformador at.m-se ao

    aprimoramento do sistema interamericano, considerando a agenda de reformas do sistema21"

    #om relao universalidade do sistema interamericano h& se expandir o universo de stados-partes

    da #onveno /mericana +que contava com 4 stados-partes em 754 e sobretudo do rotocolo de

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    da #orte . uma tarefa que recai sobre o conjunto dos stados-partes da #onveno45"P

    /demais, as decises internacionais em mat.ria de direitos humanos devem produ)ir efic&cia jur%dica

    direta, imediata e obrigat@ria no Qmbito do ordenamento jur%dico interno, cabendo aos stados sua fiel execuo

    e cumprimento, em conformidade com o princ%pio da boa f., que orienta a ordem internacional" ara /ntonio

    /ugusto #anado 8rindadeL 7 (uturo do sistema internacional de $roteo dos direitos 'umanos est/

    condicionado aos mecanismos nacionais de im$lementao.84

    Outra medida emergencial at.m-se sustentabilidade do sistema interamericano, mediante o

    funcionamento permanente da #omisso e da #orte, com recursos financeiros42, t.cnicos e administrativos

    suficientes"

    9

    Av%n%r n% -roteo dos dretos 4u!%nos+ d% de!o)r%)% e do Est%do de Dreto n% re,o

    Hinalmente, considerando o contexto latino-americano marcado por acentuada desigualdade social e

    viol$ncia sist$mica, fundamental . avanar na afirmao dos direitos humanos, da democracia e do stado de!ireito na regio"

    /o enfrentar os desafios de sociedades p@s coloniais latino-americanas -- em que direitos humanos

    tradicionalmente constitu%am uma agenda contra o stado -- o sistema interamericano empodera-se e com sua

    fora invasiva contribui para o fortalecimento dos direitos humanos, da democracia e do stado de !ireito na

    regio"

    O sistema interamericano rompe com o paradoxo de sua origem" :ascido em um contexto regional

    marcado por regimes ditatoriais F seguramente com a expectativa de redu)ido impacto por parte dos ento

    stados autorit&rios F o sistema se consolida e se fortalece como ator regional democrati)ante, provocado porcompetentes estrat.gias de litigQncia da sociedade civil em um transnational netor a lhe conferir elevada

    carga de legitimao social"

    #omo evidenciado por este artigo, o sistema interamericano permitiu a desestabili)ao dos regimes

    ditatoriaisA exigiu justia e o fim da impunidade nas transies democr&ticasA e agora demanda o fortalecimento

    das instituies democr&ticas com o necess&rio combate s violaes de direitos humanos e proteo aos

    grupos mais vulner&veis"

    O seu impacto transformador na regio -- fruto sobretudo do papel vital da sociedade civil organi)ada

    em sua luta por justia e por direitos F . fomentado pela efetividade do di&logo regional-local em um sistema45#/:/!O 8C':!/!, /ntKnio /ugustoA R:8?C/ CO90

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    multin%vel com abertura e permeabilidade mMtuas" !e um lado, o sistema interamericano se inspira no princ%pio

    pro ser humano, mediante regras convencionais interpretativas baseadas no princ%pio da norma mais protetiva e

    favor&vel v%tima, endossando contemplar parQmetros protetivos m%nimos" or outro lado, as #onstituies

    latino-americanas estabelecem cl&usulas de abertura constitucional a propiciar o di&logo em mat.ria de direitos

    humanos, concernentes hierarquia, incorporao e impacto dos tratados de direitos humanos" :o sistemainteramericano este di&logo . ainda caracteri)ado pelo fenKmeno do controle da convencionalidadeP, na sua

    forma difusa e concentrada" #onstata-se tamb.m a crescente abertura da #orte 'nteramericana ao incorporar

    em suas decises a normatividade e a jurisprud$ncia latino-americana em direitos humanos, com aluso a

    dispositivos de #onstituies latino-americanas e jurisprud$ncia das #ortes #onstitucionais latino-americanas"

    O di&logo jurisdicional se desenvolve em dupla viaL movido pelos v.rtices de cl&usulas constitucionais abertas e

    do princ%pio pro ser humano"

    * neste contexto que o sistema interamericano tem a potencialidade de exercer um extraordin&rio

    impacto na pavimentao de um constitucionalismo regional transformador, contribuindo para o fortalecimentodos direitos humanos, da democracia e do stado de !ireito na regio mais desigual e violenta do mundo"

    Re&er*n)%s

    9OI!/:!Y, /rmin vonA 'OR:\':, 0ouis" et al.+uman ri%'ts" :eB Yor=L :eB Yor= Houndation, 5666" p" 6-55N"

    >CCC/ H0OC

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    E/#-ICIOC, duardo Herrer" 'nterpretaci@n conforme D control difuso de convencionalidadL el :uevoparadigma para el jue) mexicano" 'nL 9OI!/:!Y, /rmin vonA 'ORenrD T" /0

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    #OC8 ':8C/EC'#/:/ ! !'C'8O< >?E/:Oumanos, #aso /tala Ciffo D hijas vs" #hile, sentena de 4 de fevereiro de

    75"

    ]]]]]]]" #aso /rtavia Eurillo D otros +fecundaci@n in vitroP vs" #osta Cica, sentena proferida em 1 denovembro de 75"

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    CADERNOS DE PJS(GRADUAKO EM DIREITO

    ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRA5ALHO

    Nor!%s -%r% A-resent%o

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    CADERNOS DE PJS(GRADUAKO EM DIREITO

    ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRA5ALHO

    Nor!%s -%r% A-resent%o

    / apresentao do artigo para publicao nos #adernos de @s-Iraduao em !ireito dever& obedecer asnormas da*ssociao =rasileira de >ormas &?cnicas+/9:8

    8ituloL #entrali)ado, em caixa alta" !ever& ser elaborado de maneira clara, juntamente com a verso emingl$s"

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