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22. O DANO MORAL NAS RELAÇÕES FAMILIARES EDVALDO SAPIA GONÇALVES (Mestrando em Direito Civil pela Universidade Estadual de Maringá e Professor de Direito Civil da Universidade Estadual de Maringá e do Centro de Ensino Superior de Maringá) SUMÁRIO: 1.Introdução; 2. Violência familiar; 2.1. A violência praticada contra a mulher (esposa e companheira); 2.2. A violência praticada contra crianças e adolescentes no âmbito familiar; 3. Ofensa à honra conjugal: a deslealdade e a infidelidade; 4. Paternidade negada; 5. Danos ao nascituro; 6. Sanções; 7. Conclusões; 8. Citações 9. Referências bibliográficas. 1. INTRODUÇÃO. A família é lugar privilegiado para o desenvolvimento de importantes dimensões na realidade social e vida psíquica dos indivíduos que a compõem. Contudo, nela também é possível verificar que muitos comportamentos são nocivos a tal propósito. Tais comportamentos, alguns instintivos e outros que expressam complexos emocionais conscientes ou inconscientes, por sua vez, podem determinar o que se denomina de dano moral. Lugar destinado a promover a pessoa humana, através de uma progressiva realização do ideal no caráter, a família também pode dividir, introverter ou inverter a sua personalidade. Expressando um verdadeiro jogo dialético, é

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22. O DANO MORAL NAS RELAÇÕES FAMILIARES

EDVALDO SAPIA GONÇALVES(Mestrando em Direito Civil pela Universidade Estadual de

Maringá e Professor de Direito Civil da Universidade Estadual de Maringá e do Centro de Ensino Superior de Maringá)

SUMÁRIO:1.Introdução;2. Violência familiar;2.1. A violência praticada contra a mulher (esposa e companheira);2.2. A violência praticada contra crianças e adolescentes no âmbito familiar;3. Ofensa à honra conjugal: a deslealdade e a infidelidade;4. Paternidade negada;5. Danos ao nascituro;6. Sanções;7. Conclusões;8. Citações9. Referências bibliográficas.

1. INTRODUÇÃO.

A família é lugar privilegiado para o desenvolvimento de importantes dimensões na realidade social e vida psíquica dos indivíduos que a compõem. Contudo, nela também é possível verificar que muitos comportamentos são nocivos a tal propósito. Tais comportamentos, alguns instintivos e outros que expressam complexos emocionais conscientes ou inconscientes, por sua vez, podem determinar o que se denomina de dano moral.

Lugar destinado a promover a pessoa humana, através de uma progressiva realização do ideal no caráter, a família também pode dividir, introverter ou inverter a sua personalidade. Expressando um verdadeiro jogo dialético, é possível que as relações familiares acabem por determinar a deformação estrutural do drama existencial do indivíduo.

É dessa possibilidade que o dano moral emerge como elemento para indagação jurídica de relevo: quais são as repercussões do dano moral nas relações familiares?

Ao responder essa pergunta, há quem exclua a reparação indenizatória ao dano moral ocorrido nas relações familiares(1) , apontando-lhe outros efeitos. Entre eles, cita-se a ruptura do vínculo; separação de corpos e afastamento do lar; exclusão da herança; dever de prestar alimentos; perda do pátrio poder e da guarda dos filhos.

Por outro lado, apesar da reconhecida carência de normas que estabeleçam a sanção pecuniária para esses casos, é crescente a presença dos que

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defendem a sua aplicação aos causadores desse dano. Manifestam-se nesse sentido as figuras proeminentes de YUSSEF SAID CAHALI(2) , JOSÉ DE AGUIAR DIAS(3) , CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA(4) , CARLOS ALBERTO BITTAR(5) , MARIA HELENA DINIZ(6) , CARLOS ROBERTO GONÇALVES(7) , WLADIMIR VALLER(8) , MÁRIO MOACYR PORTO(9) , RUI STOCO(10) , JOSÉ DE CASTRO BIGI(11) , FABRÍCIO ZAMPROGNA MATIELO(12) , ATHOS GUSMÃO CARNEIRO(13) , ANTONIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO(14) e ANTONIO JEOVÁ SANTOS(15) .

É verdade que raramente se verificam demandas voltadas ao pleito reparatório de dano moral nas relações familiares, apontando ANTONIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO duas causas para isso:

"O fato de essa responsabilidade não ser exigida perante os tribunais brasileiros resulta, principalmente, de duas causas: do profundo respeito pelos laços familiares, dificultando a transferência dessas questões para o poder decisório do Judiciário, e da falta de espírito criador dos homens da Justiça - predominando a primeira causa, nos tempos passados, e a segunda, nos dias de hoje"(16) .

Contudo, forçoso reconhecer que a Constituição Federal de 1988 introduziu novos contornos à família, fixando-lhe um modelo igualitário (igualdade entre os cônjuges, igualdade entre os filhos) e valorizando as pessoas e seus sentimentos. Não há dúvida que abriu-se espaço para o afeto nas relações familiares(17) , fazendo com que a noção jurídica de família compreenda a de uma "comunidade de afeto e entre-ajuda"(18) .

A família passou a ser reconhecida como um lugar onde a vida deve ser compartilhada e a dignidade humana enaltecida. Se assim o é, impõe concluir que os atos que revelem a falta do afeto e de respeito mútuo entre seus membros, especialmente quando deles resultem dano, devem ser compreendidos como ilícitos. Por sua vez, como atos ilícitos devem ser considerados fatos geradores de responsabilidade civil.

Cabe lembrar que a Carta Magna, sem fazer qualquer exclusão, assegurou o princípio da reparabilidade do dano moral (art. 5º, V e X da CF), impondo aos operadores jurídicos o dever de resguardar os direitos que dele emergem.

Assim sendo, pretende-se que este breve artigo contribua para o debate sobre o dano moral ocorrido no contexto das relações familiares e a aplicação de sanção reparatória ao mesmo.

Passa-se agora à análise de algumas situações das relações familiares que são ensejadoras do dano moral.

2. VIOLÊNCIA FAMILIAR

Adota-se a expressão violência familiar para se fazer referência aos casos de violência(19) ocorridos no contexto vivencial da família(20) . Ela pode abranger

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tanto as situações que envolvem os cônjuges (violência conjugal) e os companheiros, bem como, as agressões que ocorrem entre os ascendentes e descendentes, com destaque à agressão às crianças e adolescentes que se apresentem na condição de filhos e enteados.

2.1 A violência praticada contra a mulher (esposa e companheira)(21)

Há muito tempo as mulheres denunciam a sua condição de vítima da violência familiar, tendo o fenômeno do espancamento de esposas e de agressões praticadas por companheiros adquirido maior visibilidade ao cenário público a partir da criação e instalação dos Conselhos dos direitos da mulher e das delegacias de defesa da mulher(22) .

Para muitas delas, é reconhecido que o risco é maior de serem agredidas em sua própria casa - pelo pai de seus filhos ou companheiro - que o de sofrer alguma violência fora do âmbito familiar.

Dessa violência, é possível observar que a vivência cultural da família ainda está marcada por uma estrutura hierárquica que se manifesta pela distribuição desigual do poder entre os seus membros.

Apesar da Constituição Federal de 1988 ter introduzido mudanças significativas no modelo de família, impondo normas isonômicas e antidiscriminatórias, nota-se que, culturalmente, o poder físico, econômico, psicológico, social e, sobretudo, emocional continua centrado na figura do homem. Isso mostra que o avanço legislativo nem sempre é suficiente para a transformação da realidade.

Assim sendo, a violência familiar praticada contra a mulher passa a representar um dos principais obstáculos para o implemento da igualdade acolhida pela Constituição Federal (arts. 5º, I e 226, § 5°) e por tratados internacionais ratificados pelo Brasil(23) .

A Convenção de Belém do Pará, em seu art. 1º, define violência contra a mulher como qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico(24) à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada, expressando, dessa forma, que essa violência afeta a mulher em todas as suas esferas de vida: família, escola, trabalho e comunidade. São exemplos comuns dessa violência o abuso sexual, maus-tratos, aborto provocado pelas agressões, lesão corporal, constrangimento ilegal e cárcere privado.

Como se pode notar, todas essas condutas constituem atos ilícitos igualmente causadores de dano moral.

Portanto, fica reconhecido que a violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico, é capaz de lesar, simultaneamente, vários bens jurídicos protegidos, a saber: direito a que se respeite a dignidade à sua pessoa, respeito à sua vida, integridade física, mental e moral; liberdade e segurança

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pessoal, além de impedir e anular o exercício dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais (art. 5º, Convenção de Belém do Pará).

Devendo ser compreendida integralmente como ser e sujeito de direito, pela violência a condição de pessoa da mulher fica reduzida a um minus, de modo a concluir que "todas as formas de violência contra as mulheres constituem uma violação a seus direitos humanos" (art. 7º da Declaração dos direitos humanos desde uma perspectiva de gênero - Documento n° E/CN.4/1998/NGO/3 da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas - Genebra).

No contexto das decisões judiciais do país, a mais importante referência a respeito da responsabilidade civil por danos morais entre cônjuges, ainda continua a ser o voto vencido do Desembargador ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, perante o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que reconhecia o direito de reparação por dano moral a um caso de violência familiar. Tratava-se de apelação cível em ação indenizatória promovida por desquitada contra o ex-marido acusado de praticar sevícias e injúria grave contra a esposa(25) . Há que se considerar que essa decisão admitiu, pelo menos em tese, a possibilidade de ser pleiteada a indenização por danos morais sofridos por cônjuge vítima de atos ilícitos praticados pelo marido.

2.2. A violência praticada contra crianças e adolescentes no âmbito familiar(26).

A violência doméstica contra as crianças e adolescentes pode manifestar-se de diversas maneiras: agressão física(27) , abuso sexual(28) , ameaças, humilhações e outras formas de afetação psicológica. Também se pode dar pela omissão de cuidados indispensáveis que envolvem a sua formação, como é o caso da alimentação, falta de carinho e cuidados com a limpeza (asseio e higiene)(29) , impedir a freqüência à escola, falta de cuidados com a saúde.

Os pais são responsáveis pelo bem estar físico, psicológico e moral dos filhos(30) , bem como, são eles que devem possibilitar àqueles o desenvolvimento de identidade que os permita expressar toda a sua personalidade, "... colocando-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor"(31) . Mas por serem mais vulneráveis e até mesmo considerados como propriedades dos pais, acabam por serem vítimas freqüentes dos atos abusivos acima indicados.

No contexto da violência sofrida pelos filhos, geram-se traumas que os acompanharão pelo resto da vida e, ainda, o isolamento afetivo. Em razão disso, passam a expressar confusão afetiva marcada pelo amor e o ódio.

Sofrendo de baixa-estima, depressão e estresse, a criança ou adolescente vítima de violência revela ser triste, agressiva, rebelde, tensa e até mesmo infantil para a sua idade. Normalmente sofrem diminuição do seu desempenho escolar.

Tais fatos estão bem distantes de representar observância ao respeito que é

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devido à criança e ao adolescente, conforme preconizado pelos arts. 227 da Constituição Federal e art. 17 da Lei n° 8.069, de 13/07/90.

Por tais violações, é importante salientar a seguinte opinião de TÂNIA DA SILVA PEREIRA:

"Tendo o Brasil ratificado a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança-ONU (Decreto n° 99.710/90) e adotado expressamente a Doutrina Jurídica da Proteção Integral, não há por que recusar à população infanto-juvenil a titularidade dos direitos da personalidade e negar-lhes o ressarcimento por danos morais"(32) .

Compreende-se, inclusive, que os pais, por esses graves atos e omissões praticados contra os filhos, também devam ser responsabilizados pelo prejuízo juvenil (pretium juventutis)(33) , pois através da conduta ilícita privam o filho de referenciais importantes para a sua existência e formação da personalidade.

Quanto à violência familiar, destaque-se que no Peru, através da Ley n° 26.763, de 24/03/97, que modificou a Ley n° 26.260, de 24/12/93 (Ley de proteccion frenta a la violencia familiar), passou-se a conferir medidas de garantia ao direito de reparação de danos provenientes dessas relações familiares desestruturadas. Veja-se:

"Articulo 3º - Es politica permanente del Estado la lucha contra toda forma de violencia familiar, debiendo desarrollarse com este propósito las seguintes acciones:...d) Estabelecer procesos legales eficaces para las víctimas de violencia familiar, caracterizados por el mínimo de formalismo y la tendencia a brindar medidas cautelares y resarcimiento por los daños y perjuicios causados, así como, para facilitar la atención gratuita en los reconocimientos médicos requeridos por la Polícia, Ministério público o Poder Judicial".

A legislação francesa igualmente prevê, entre as formas de proteção do menor vítima de infração sexual, a reparação de danos por sevícias contra ele praticadas. Nesse sentido, é a lei n° 98-468 de 17/06/98(34) .

Destaque-se que, embora várias das condutas acima analisadas também possam ser consideradas violações dos deveres conjugais, duas formas especiais serão objeto de análise no próximo tópico: a deslealdade e a infidelidade.

3. OFENSA À HONRA CONJUGAL: A DESLEALDADE E A INFIDELIDADE.

Concerne à convivência conjugal os deveres recíprocos de lealdade e fidelidade. Dessa forma, a deslealdade e a infidelidade agravam a honra do cônjuge inocente e o injuria gravemente.

A lealdade entre os cônjuges consiste em uma comunhão física e espiritual que deve reinar entre os mesmos. O menoscabo e o descaso de um para com o outro é algo que é tão grave e injurioso quanto o adultério.

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Quanto ao adultério, JOSÉ DE AGUIAR DIAS marca sua posição sobre o assunto:

"O adultério constitui clara violação dos deveres conjugais. Poderá dar ensejo à reparação civil? À luz dos princípios expostos, não se pode senão sustentar a afirmativa"(35) .

Entre nós já se admitiu, pelo menos em tese, a responsabilidade civil por dano moral pela prática de infidelidade, conforme demonstra YUSSEF SAID CAHALI:

"5ª Câmara do TJRS: O apelo não pode vingar. Correta a sentença que extinguiu o feito, sem julgamento do mérito, forte no art. 267, I, do CPC. Na vestibular o autor asseverou que, acompanhado de duas testemunhas, flagrara sua esposa trocando 'carícias íntimas' com outro homem, o que, segundo aduziu, 'feriu todos os princípios que norteiam qualquer sociedade conjugal'. Sucede, todavia, que tendo narrado tal fato e denominado a ação de 'ação de ressarcimento por dano moral', o demandante culminou por formular pedido de indenização tão-somente por dano material. Embora tenha pedido a condenação da ré ao ressarcimento de 'todos' os prejuízos que lhe causou a narrada conduta ilícita, especificou-os 'como' o valor da cota que subscreveu na sociedade que ambos fundaram, assim como o pagamento das dívidas contraídas em nome da sociedade, as quais teria de honrar. Com efeito, mesmo que segundo a consagrada jurisprudência desta Câmara, o dano moral independa de prova dele mesmo, sendo encontrado por inferência do próprio fato noticiado ao juiz, não se pode deferir pedido inexistente. Em outras palavras, mesmo que se enxergue com nitidez o dano moral, verte impossível deferir a correspondente indenização, porquanto, na espécie não foi pedida (apel. 596241893, Rel. Pila Hofmeister, 27.02.97)"(36) .

Convém destacar que na legislação estrangeira é possível encontrar disposições expressas admitindo a reparação de dano moral proveniente do rompimento matrimonial. Veja-se:

Codigo Civil do Peru: "Artículo 351 - Si los hechos que han determinado el divorcio comprometen gravemente el legítimo interés personal del cónyuge inocente, el juez podrá concederle una suma de dinero por concepto de reparación del daño moral".

Na França, o Code Civil além de admitir prestations compesatoires pela ruptura da vida em comum (artigos 270 a 280-I), prevê expressamente uma reparação do dano moral:

"Article 266 Quand le divorce est prononcé aux torts exclusifs de l'un des époux, celui-ci peut être condamné à des dommages-intérêts en réparation du préjudice matériel ou moral que la dissolution du mariage fait subir à son conjoint.Ce dernier ne peut demander des dommages-intérêts qu'à l'occasion de l'action en divorce".

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O Proyecto de Código Civil da Comisión creada por Decreto 685/95 da Argentina prevê:

"Artículo 525.- Daños. Si la separación se decreta por culpa exclusiva de uno de los cónyuges, éste puede ser condena-do a reparar los daños materiales y morales que la separación causó al cónyuge inocente. La demanda por daños sólo es procedente en el mismo proceso de separa-ción.Los daños provenientes de los hechos ilícitos que constitu-yen causales de separación son indemnizables.En todos los casos se aplica el artículo 1686".

Na Espanha, foi levado perante o Tribunal Supremo o pleito de Gustavo Reimers Suarez contra sua ex-mulher Maria Concepción Cerda Sainz, da qual encontrava-se separado desde o ano de 1.969. Pelo acordo de separação realizado naquele ano, três filhos ficaram com o pai e quatro com a mãe. Tendo descoberto no ano de 1990 que não era pai do filho Jorge Ignacio - sendo pai Jesús Iribas com quem a sua mulher havia mantido relações quando ainda era casada - pleiteou indenização pela manutenção do que cria ser seu filho e por dano moral sofrido por ter sido ocultado dele a verdadeira paternidade do menor.

Contudo, a Sala Civil do Supremo considerou que não havia intenção voluntária ou dolosa de causar dano por parte da mulher, pois essa, igualmente acreditava que o filho era do marido, tendo se manifestado aquele pretório que "el daño moral generado en uno de los cônyuges por la infidelidad del outro, no es susceptibile de reparación económica alguna"(37) .

O mesmo periódico noticia que igual sorte teve a demanda de Alberto Valerio Moran que promoveu ação contra sua ex-mulher Maria Angeles Barcala Dumonte. O objetivo dessa demanda era igualmente o de obter indenização por ter ele mantido um filho que resultara de relações extra-matrimoniais da mulher.

4. PATERNIDADE NEGADA.

Por muito tempo, o direito fez admitir e proteger a rejeição da paternidade à filiação espúria (adulterina e incestuosa)(38) . Verdadeiro véu legal da libertinagem, tal proteção representava uma verdadeira "inimputabilidade civil" da paternidade espúria.

Dessa forma, o direito era legitimador da exclusão daqueles filhos. Porém, como afirma LUIZ EDSON FACHIN: "Do resguardo absoluto da vida íntima da família legítima, passou-se a dar vez ao direito que deve assistir o filho, qualquer que seja o estado em que foi concebido"(39) .

E é em razão desse dever de assistência que se negar a reconhecer a paternidade deva ser fato considerado ultrajante à pessoa do filho, causando-lhe significativo dano moral. Aliás, é fato que atinge a esfera de indignação social(40) .

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CARLOS ALBERTO GHERSI, em sua obra Teoría general de la reparación de daños(41) , faz inscrever a seguinte decisão argentina:

"Corresponde la indemnización del daño moral provocado por la omisión de reconocer al hijo extramatrimonial, si el padre demandado no produjo prueba para justificar su omisión, ni argumentó nada que permita dejar de lado el desmedro a las justas afecciones causado al hijo que se vio privado de contar com el apellido paterno y que, en el ámbito de las relaciones humanas, no fue considerado como hijo de su progenitor.

El daño moral no requiere prueba, pues se demuestra com la verificación de la titularidad del derecho lesionado en cabeza del reclamante y la omisión anti-jurídica del demandado.Para determinar la procedencia de la indeminización de daño moral, la falta de malicia o culpabilidad evidente en nada inciden, pues su naturaleza es eminentemente resarcitoria y no punitiva"CNCiv, Sala L, 23/12/94, 'B., O. N. c/M., O. O.', LL, 1995-E-12, com nota de Eduardo Gergorini Clusellas".

ANTONIO JEOVÁ SANTOS, ao discorrer sobre essa questão, salienta: "Nada obsta, portanto, que o filho, na ânsia de procurar que o pai o reconheça, postule a investigação de paternidade cumulando o pedido com a indenização por dano moral. O impacto social originado pelo tratamento de inferioridade dado a alguém, motivado pela sua condição ao nascer, é discriminatório, arbitrário e, portanto, causa desequilíbrio ao bem estar psicofísico"(42) .

E o mesmo autor faz conhecer o seguinte acórdão do Tribunal de San Isidro, datado de 29/03/88:

"O dano moral, causado pela falta de reconhecimento paterno, constitui um fato notório, já que o filho de mãe solteira acarreta um tom de menospreso social, especialmente marcado quando se forma parte da chamada classe média: porém, mais importante que a dor moral sofrida socialmente, é o saber-se negado por seu pai; o sentimento de inferioridade, de desproteção espiritual e insegurança que há de experimentar quem não pode contar com a figura paterna certa, visível e responsável. Quem nega - maliciosa ou culposamente - o estado de família de sua filha, obrigando-a a iniciar a correspondente ação de reclamação de estado para obter o reconhecimento, deve ser condenado à indenização do dano moral assim ocasionado"(43) .

Recentemente o noticiário dominical "Fantástico", da Rede Globo, noticiava uma questão envolvendo pleito judicial por dano moral de um pai contra a mãe de uma adolescente que pede reparação pela omissão da sua paternidade, privando-lhe de muitos anos de relações familiares com a filha. Apesar de não haver nada conclusivo sobre tal ação, essa breve remissão não deixa de ter algum valor para o contexto deste trabalho.

Por outro lado, a simulação do estado de gravidez pela mulher, também já foi

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considerado fato ensejador de dano moral, como se verifica da seguinte decisão citada por YUSSEF SAID CAHALI:

"6ª Câmara de Direito Privado do TJSP, apel. 272.221-1/2, 10.10.1996: A atitude da ré, sem dúvida alguma, constitui uma agressão à dignidade pessoal do autor, ofensa que constitui dano moral, que exige a compensação indenizatória pelo gravame sofrido. De fato, dano moral, como é sabido, é todo sofrimento humano resultante de lesão de direitos da personalidade, cujo conteúdo é a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, em geral uma dolorosa sensação experimentada pela pessoa. Não se pode negar que a atitude da ré que difundiu, por motivos escusos, um estado de gravidez inexistente, provocou um agravo moral que requer reparação, com perturbação nas relações psíquicas, na tranqüilidade, nos sentimentos e nos afetos do autor, alcançando, desta forma, os direitos da personalidade agasalhados nos inc. V e X do art. 5º da CF"(44) .

5. DANOS AO NASCITURO.

Leciona MARIA HELENA DINIZ "o embrião humano é um ser em potência, é uma pessoa dotada de alma intelectiva e de instinto, o que já está comprovado pela psiquiatria"(45) , fato que o torna merecedor da mais ampla proteção possível.

Por ser a concepção um fato que adentra o plano da existência jurídica muito antes do fato do nascimento, impõe-se que ela produza efeitos jurídicos desde logo, como aliás de fato o faz, impondo ao Estado a prestação de assistência materno-infantil (art. 227, § 1°, I da Constituição Federal; arts. 7° e 8° da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA).

Revestida que está a concepção da essência de fato jurídico, tem ela aptidão para adentrar o plano da eficácia, não apenas para produzir efeitos jurídicos de proteção ao nascituro, mas, também, para atribuir a ele a personalidade e todos os direitos cabíveis que dela emanam(46) .

ANTONIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO relata: "Na Alemanha (Ocidental), essa questão é levada até o ponto de se indagar se uma pessoa, que nasceu com vida, pode exigir ressarcimento por danos que lhe forem causados na fase pré natal, ou no momento da procriação, ou, até mesmo, por fato anterior à procriação com repercussões posteriores. O dano pode resultar da conduta dos pais, ou de ato de terceiro (cf. Larenz, Derecho civil; parte general, trad. esp. Miguel Izquierdo y Macias Picavea, Madrid, Revista de Derecho Privado, 1978, p. 112)"(47) .

Dessa forma, impõe salientar a opinião de MARIA HELENA DINIZ, que compreende como dano moral as deformações congênitas que o nascituro sofrer durante a vida intra-uterina(48) .

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Portanto, impõe-se uma análise sobre a participação dos pais, em especial da mulher grávida, nos danos causados ao seu próprio filho.

Admitindo-se que é possível a mulher, durante a gravidez, realizar atividades de riscos para a saúde do feto, não se vê razões para excluí-la da responsabilidade civil por danos ao nascituro.

É certo que nesse caso são confrontados dois direitos: o da mulher de dispor livremente de seu próprio corpo e os direitos do nascituro (à vida e à integridade física) e reconhece-se a validade do debate que existe a respeito de tal confronto, pois é a predominância de um sobre o outro que ensejará ou não a responsabilidade penal e/ou civil da gestante pelos danos causados ao nascituro.

Não há como negar que o corpo é merecedor de tutela jurídica, pois segundo afirma CARLOS ALBERTO BITTAR: "... é o instrumento pelo qual a pessoa realiza a sua missão no mundo fático"(49) , tornando-se plenamente justificável o direito da mulher dispor de seu próprio corpo(50) .

Contudo, entende-se que ele também pode ter limitações impostas por diversas razões, entre elas a preservação da vida e da integridade física(51) .

Observa-se que em razão de interesse público considerado preponderante, o próprio Estado acaba por dispor do corpo dos indivíduos, ainda que contra a vontade desses, para sacrificar-lhes a vida e a integridade física(52) . Diga-se ainda, que o Estado, em situações especiais, permite a atuação de determinadas pessoas sobre o corpo de outra(53) .

Por essas constatações, é necessário concluir que ninguém, nem a mulher e nem o homem, é dono absoluto de seu próprio corpo(54) . Muito menos o é a mulher em relação ao corpo humano que está em desenvolvimento no seu próprio corpo.

Assim, considerando-se que a vida é um bem jurídico a ser preservado e que a mulher gestante, por ser hospedeira do direito à vida de outrem, "... não é mais titular solitária de seu corpo, que pertence também a seu filho"(55) , conclui-se que o seu direito de disposição sobre o próprio corpo está limitado pelos direitos do nascituro.

Um bom exemplo do reconhecimento desses direitos é o da justiça australiana, que em agosto de 1991 condenou a mãe de Nicole a pagar uma indenização pela deficiência cerebral que a faz falar com dificuldade, enxergar pouco e não conseguir andar sozinha. São os fatos: no ano de 1973 a australiana Patrícia Lynch, então com 23 anos, trabalhava em uma fazenda reunindo o gado ao volante de uma caminhonete. Certo dia, para resgatar um animal, imprudentemente dirigiu o veículo por um declive acidentado, vindo a bater num barranco e capotando, ficando desacordada. Quatro meses depois deu à luz a Nicole, que nasceu com a deficiência mental. O juiz Justile Grove, que proferiu a sentença, assim se manifestou: "Eu diria que um dano a uma criança

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sofrido entre a sua concepção e o nascimento não é um dano a uma pessoa destituída de personalidade"(56) .

SILMARA J. A. CHINELATO E ALMEIDA, reconhecidamente a que mais se dedicou às questões jurídicas do nascituro, aponta outras possibilidades de danos(57) , entre eles a imputação da bastardia(58).

Para ela, a proteção é extensível até mesmo após a morte do nascituro, através da punição dos crimes contra o respeito aos mortos (arts. 209 a 212).

EUCLIDES DE OLIVEIRA, manifesta-se: "... ao nascituro assiste direito de ser indenizado, tanto material quanto moralmente, de violações a quaisquer desses direitos. Como respeito ao primeiro, que decorre do próprio Direito Natural, não teria sentido a disposição do art. 4º do Código Civil, se não houvesse proteção integral àquela expectativa do nascimento com vida, e nem se justificaria a punição legal do aborto (arts. 124 a 126 do CP). A integridade corporal se insere no mesmo princípio, pois sua violação implica evidente risco à sobrevivência do feto ou ao seu pleno desenvolvimento como ser humano. Os demais direitos se colocam como naturais reflexos dos anteriores. Hipótese de ofensa ao direito de imagem, estaria na utilização inautorizada de captação havida por ultrassonografia. E constituiria violação à honra, por exemplo, a imputação de bastardo ao nascituro"(59) .

Portanto, razão assiste a TÂNIA DA SILVA PEREIRA, quando afirma que: "A falta de proteção da vida intra-uterina poderá acarretar, para o novo ser humano, deformações, traumatismos e mesmo moléstias comprometedoras de seu desenvolvimento, exigindo do Direito a delimitação da responsabilidade por dano moral, também ao nascituro, já presente nos debates doutrinários"(60) .

Isto posto, se passará a avaliar as sanções cabíveis quando há a ocorrência de danos morais decorrentes de relações familiares desestruturadas, destacando-se a importância da sanção reparatória.

6. SANÇÕES

É inegável que o direito pátrio prevê várias sanções não indenizatórias para o dano moral ocorrido no seio das relações familiares. Observe-se:

a) permite ao cônjuge inocente promover a separação judicial litigiosa (art. 5º da Lei n° 6.515, de 26/12/77);

b) separação de corpos como medida cautelar (art. 7º, § 1 ° da Lei n° 6.515, de 26/12/77) e afastamento do lar;

c) perda do direito de guarda dos filhos (art. 329 do CC);

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d) suspensão e perda do pátrio poder (arts. 394 e 395 do CC; art. 24 c/c. arts. 155 a 163 da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA);

e) aplicação de medidas de proteção à criança e aos adolescentes (art. 98, II c/c. arts. 99 a 102 da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA); além das medidas pertinentes aos pais e responsáveis (arts. 129 e 130 da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA)

f) exclusão da herança ou deserdação de parente indigno, pela prática de injúria grave (arts. 1.595, 1.744 e 1.745 do CC);

g) revogação de doação por ingratidão do donatário (art. 1.181 a 1.183 do CC);

h) sanções penais (em especial os arts. 232 e 238 da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA)(61) ;

i) sanções administrativas (em especial o art. 249 da Lei n° 8.069, de 13/07/90, ECA).

Mas o enfoque deste trabalho é a sanção reparatória.

Defende-se que o fundamento da reparabilidade do dano moral ocorrido nas relações familiares está intimamente relacionado com os direitos da personalidade de cada membro da família, não sendo admissível que tais direitos sejam impunemente violados por outro integrante da mesma.

Note-se que é comum atribuir-se caráter indenizatório(62) à prestação alimentar concedida ao cônjuge inocente pela separação judicial, prevista essa pelo art. 19 da Lei n° 6.515, de 26/12/77. Em outras palavras, seria uma reparação pecuniária, sob a forma de pensão alimentar, pela culpa do cônjuge na dissolução reprovável da sociedade conjugal.

A esse respeito, manifesta-se YUSSEF SAID CAHALI: "..., nosso direito, discretamente, partilha do entendimento de que basta a imposição do encargo alimentar em favor do inocente, ou da manutenção do dever de assistência em favor do não responsável pela separação judicial, como forma suficiente de ressarcimento do prejuízo sofrido com a dissolução da sociedade conjugal"(63) .

Mas não deve ser assim, sendo correta a afirmação de Caio Mário da Silva Pereira:

"Afora os alimentos que suprem a perda de assistência direta, poderá ainda ocorrer a indenização por perdas e danos (dano patrimonial e dano moral), em face do prejuízo sofrido pelo cônjuge inocente"(64) .

Isso faz concluir que devam ser cumulativas, em favor do cônjuge inocente, a dívida de alimentos do art. 19 da Lei n° 6.015, de 26/12/77 e a reparação de danos fundada no art. 159 do Código Civil.

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Nesse sentido é a lição de MÁRIO MOACYR PORTO: "... a pensão a que alude o art. 19 da Lei do Divórcio repara tão-somente o prejuízo que sofre o cônjuge inocente com a injusta supressão do dever de socorro. Outros prejuízos que resultarem da separação litigiosa ou do divórcio poderão ser ressarcidos com apoio nas regras do direito comum, isto é, na conformidade do art. 159 do Código Civil. Não ocorre, assim, uma dupla indenização pelo mesmo dano, mas indenizações diversas de prejuízos diferentes"(65) .

Para YUSSEF SAID CAHALI: "O ato ilícito preserva a sua autonomia, ainda que projetados duplamente os seus efeitos: como representativo de infração dos deveres conjugais, posto como causa de dissolução do casamento e como causa de responsabilidade civil da regra geral do art. 159 do Código"(66) .

Na verdade, o direito à indenização pelo dano moral está vinculado aos incômodos ocasionados pelo comportamento culposo do cônjuge culpado e não somente do fato da separação judicial litigiosa.

Inclusive, com base em tal entendimento, há até mesmo aqueles que admitem o dever reparatório na constância da sociedade conjugal. Veja-se que esse é o entendimento de RUI STOCO:

"Aliás, até na constância da sociedade conjugal poderá ocorrer de qualquer dos cônjuges ter de indenizar o outro por ter-lhe causado injusto prejuízo, se caracterizado como ato ilícito e culpável"(67) .

Fato é, que não se pode negar que a Constituição Federal acolhe, sem fazer qualquer exclusão, a responsabilidade civil para a reparação dos danos morais (art. 5º, incisos V e X), bem como, que tal possibilidade está igualmente autorizada pelo art. 159 do Código Civil.

A Constituição Federal de 1988 introduziu novos contornos à família, fixando-lhe um modelo igualitário (igualdade entre os cônjuges, igualdade entre os filhos) e valorizando as pessoas e seus sentimentos. Não se admite que essas novas exigências e valores sejam violados.

Portanto, torna-se injustificável que fiquem sem reparação os danos morais que tenham origem em relações familiares desestruturadas.

Aliás, como bem expressa ANTONIO JEOVÁ SANTOS: "Seria escandaloso que alguém causasse mal a outrem e não sofresse nenhum tipo de sanção; não pagasse pelo dano inferido"(68) .

Porém, deve se ter a clareza de admitir que o pleito por reparação de dano moral ocorrido no seio da família não deva ser reduzido à promoção do ódio e da vingança, pois se o for aumentará ainda mais a desagregação familiar e os conflitos existentes entre demandante e demandado.

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A necessidade de reparação é reconhecida, mas o dever de indenizar deverá revestir-se de um caráter pedagógico, tendo-se a plena consciência que é admissível que os familiares errem em suas relações, pois isso faz parte da falibilidade humana. Contudo, tal erro deve, necessariamente, ser considerado dentro de uma faixa tolerável.

Tal constatação, culmina por impor ao legislador e ao Poder Judiciário a importante tarefa de definir o que é tolerável e o que deve ser indenizável.

Assim considerado, para o dever de indenizar o dano moral sofrido nas relações familiares, tem-se por significativa a lição de DÉCIO ANTÔNIO ERPEN:

"A indenização a título de dano moral inegavelmente existe, mas deve sofrer os temperos da lei e da vida. Sua incidência há que se dar numa faixa dita tolerável. Se o dano causado, injustamente a outrem, integra uma faixa da ruptura das relações sadias, a reparação do mesmo não pode servir de motivo para se gerar mais uma espécie de desagregação social"(69) .

7. CONCLUSÕES.A deterioração das relações familiares geram danos de cunho moral que marcam profundamente a existência de seus integrantes.

Por assegurar a Constituição Federal o princípio da reparabilidade do dano moral (art. 5º, incisos V e X), não se justifica mais que se exclua da responsabilidade civil a violação culposa de direitos da personalidade assegurados a cada membro da família, causando o dano moral.

Impõe-se que a dignidade pessoal de cada indivíduo da família seja respeitada, bem como, que seja observada a igualdade e a solidariedade que as relações familiares exigem.

Dessa maneira, não se justifica manter impunes as condutas que violem tais exigências. Atualmente, a sanção reparatória para esses casos pode encontrar fundamentos nos dispositivos constitucionais que admitem a reparação do dano moral e no art. 159 do Código Civil.

Para tanto, os operadores jurídicos devem passar a valorizar e admitir a condenação daqueles que por seus atos ilícitos causem danos morais em suas relações familiares. É necessário superar a conduta omissiva que tem permitido a prática do referido dano sem que haja a adequada e correspondente sanção jurídica pecuniária.

No sentido de evitar que o dever de reparar seja reduzido a uma sanção pura e prejudicial às já fragilizadas relações familiares, necessário que se busque revesti-la também de um caráter pedagógico. Isso faz impor o cuidado de definir-se o que, no contexto e dinâmica da vivência familiar, poderá ser

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considerado tolerável e o que deverá ser indenizável. Tal tarefa deve ser, reconhecidamente, atribuída ao legislador e ao Poder Judiciário.

CITAÇÕES(1) APARECIDA AMARANTE, Responsabilidade civil por dano à honra, 4ª ed., 1998, p. 199.(2) Dano e indenização, p. 108-9; Dano moral, 2ª ed., p. 648-74; Divórcio e Separação, 8ª ed., p. 952-6.(3) Da responsabilidade civil, 7ª ed., vol. II, p. 401-3. Manifesta-se o doutrinador: "O adultério constitui clara violação dos deveres conjugais. Poderá dar ensejo à reparação civil? À luz dos princípios expostos, não se pode senão sustentar a afirmativa" (p. 402).(4) Afirma o autor: "Afora os alimentos que suprem a perda de assistência direta, poderá ainda ocorrer a indenização por perdas e danos (dano patrimonial e dano moral), em face do prejuízo sofrido pelo cônjuge inocente" (Instituições de Direito Civil, 11ª ed., vol. V, p. 156).(5) Reparação civil por danos morais, 3ª ed., p. 189, 192 (em especial a nota de rodapé n° 324), 198 e 204.(6) Curso de Direito Civil Brasileiro, 8ª ed., 5º vol., p. 192 (item 3);(7) Responsabilidade civil, 6ª ed., 70-3.(8) A reparação do dano moral no direito brasileiro, 3ª ed., 157 a 160 e 165 a 167.(9) Responsabilidade civil entre marido e mulher. In Yussef Said Cahali (coordenador), Responsabilidade Civil, p. 197-211.(10) Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial, 2ª ed., p. 248-9 e 265-6.(11) Dano moral em separação e divórcio. In Revista dos Tribunais 679:46-51.(12) Dano moral, dano material e reparação. 2ª ed., 126-8.(13) RT 560:182-86.(14) Responsabilidade civil dos pais. In Yussef Said Cahali (coordenador), Responsabilidade Civil, p. 65-7.(15) Dano moral indenizável, 2ª ed., p. 448-9(16) Ob. cit., p. 66. No mesmo sentido manifesta-se JOSÉ DE CASTRO BIGI: "É evidente que se ações da natureza que estamos discutindo não chegam à barra de nossos Tribunais, é porque, os advogados não têm se abalançado a propô-las" (Dano moral em separação e divórcio, in RT 679:48). Porém, o mais grave é a falta de coragem de denunciar como bem o expressa MAGDA DENISE MEISTER: "No âmbito familiar, utilizando a teoria do estigma social de Goffman, que menciona que as pessoas íntimas (mãe e criança) não só ajudam a pessoa desacreditável (pai que abusa sexualmente e agride), em sua simulação, mas faz com que essa função vá além do que suspeita o beneficiário, serve como um círculo protetor. E aqui não só a família, mas os vizinhos e os membros da comunidade. Tanto que, todos da comunidade estigmatizam estes homens, mas não os denunciam, nem a família, agem todos como se fosse normal, e que estas crianças não sofrem de uma violência destrutiva dentro de seus próprios lares. A mulher por sua vez, subordinada ao homem, confirma a problemática da identidade de gênero, são violadas e mal tratadas dentro do próprio lar, onde não existe segurança para si e seus filhos. Não conseguem denunciar e nem sair deste círculo vicioso, assumem seu papel de 'sexo frágil', associado a sua condição fisiológica de um corpo

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reprodutor e dependência financeira do marido, denunciando o próprio estigma da mulher" (Inocência violada: uma face da violência intrafamiliar, in Direito & Justiça, 20:218.(17) Sobre o afeto nas relações familiares, veja o artigo "O papel jurídico do afeto nas relações de família" de SILVANA MARIA CARBONERA, in Luiz Edson Fachin (coordenador), Repensando fundamentos do direito civil brasileiro contemporâneo, p. 273-313.(18) Toma-se emprestada a expressão de precioso significado que nos é dada por JOSÉ LAMARTINE CORRÊA DE OLIVEIRA e FRANCISCO JOSÉ FERREIRA MUNIZ (Curso de Direito de Família, 2ª ed., p. 11).(19) Entendendo-se violência como toda ação danosa à vida e à saúde do indivíduo.(20) A expressão família é aqui considerada pelo conceito constitucional de entidade familiar.(21) Para aprofundar sobre a violência contra a mulher, sugere-se a leitura das seguintes obras: SILVA, Marlise Vinagre. Violência contra a mulher: quem mete a colher? São Paulo: Cortez, 1992; CARDOSO, Nara Maria Batista. Mulheres em situação de violência conjugal: fatores relacionados à permanência, rompimento e torno à relação violenta. In Veritas. Revista Trimestral de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS 42(1):133-9, Porto Alegre: PUC-RS, mar/97; ARDAILLON, Danielle & DEBERT, Guita. Quando a vítima é mulher - análise de julgamentos de crimes de estupro, espancamento e homicídio. Brasília: CNDM, CEDAC, 1987; BARSTED, Leila Linhares. Violência contra a mulher e cidadania: uma avaliação das políticas públicas. Cadernos Cepia, Vol. 1, Rio de Janeiro, 1994 e PIMENTEL, Silvia, SCHRITZMEYER, Ana Lúcia e PANDJIARJIAN, Valéria. Estupro: crime ou "cortesia"? Abordagem sócio-jurídica de gênero. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, Porto Alegre, 1998; AZEVEDO, Maria Amélia de. Mulheres espancadas. A violência denunciada. São Paulo: Cortez, 1985; GREGORI, Maria Filomena. Cenas e Queixas. Um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Paz e Terra/ANPOCS, 1992; CORRÊA, Mariza. Morte em família: representações jurídicas de papéis sociais. Rio de Janeiro: Graal, 1983; LANGLEY, Roger & LEVY, Richard C. Mulheres Espancadas: Fenômeno invisível. 2a. ed., São Paulo: Hucitec, 1980.(22) Embora a violência doméstica não seja um ato exclusivo do homem, convém destacar a lição de MARLISE VINAGRE SILVA: "Embora a violência esteja presente na relação, não sendo um fenômeno de um único vetor, mas sim um fenômeno de mão-dupla, as práticas de violência, sobretudo de violência física, da mulher em relação ao homem não são muito comuns. Quando estas ocorrem, geralmente, a situação de tensão na relação já está num nível insuportável ou ela agride seu companheiro para se defender." (Violência contra a mulher: quem mete a colher? São Paulo: Cortez, 1992, p. 73).(23) Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, aprovada pelas Nações Unidas em 1979 e ratificada pelo Brasil em 1984; Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher - ONU, de 20 de dezembro de 1993; Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (também denominada de Convenção de Belém do Pará), aprovada pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos em 9 de junho de 1994 e ratificada pelo

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Brasil em 27 de novembro de 1995. Além desses, outros importantes documentos: A Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994 (lugar onde a noção de direitos sexuais e reprodutivos ganhou espaço) e a Declaração de Pequim firmada na IV Conferência Mundial sobre a Mulher (1995). No âmbito da Organização dos Estados Americanos os seguintes documentos precederam a importante Convenção de Belém do Pará: A consulta Interamericana sobre a Mulher e a Violência de 1990; a Declaração sobre a Erradicação da Violência contra a Mulher, aprovada nesse mesmo ano pela Vigésima Quinta Assembléia de Delegadas; a Resolução AG/RES n. 1.128 (XXI-O/91) e a "Proteção da Mulher contra a Violência".(24) Sílvia Pimentel e Valéria Pandjiarjian, destacam as duas principais formas de violência praticadas contra a mulher: "... toda a agressão física é ao mesmo tempo uma agressão psicológica à mulher, pois fere a sua auto-estima, o que lhe acarreta graves conseqüências (...) Já a mais sutil e, portanto, a menos percebida forma de violência talvez seja a psicológica, que pode ser denominada simbólica. Atua na vítima de forma, às vezes, sorrateira, expressando a relação autoritária de poder, implicando com freqüência em frustrações, traumas e inibições, bem como reprodução deste tipo de comportamento por parte daqueles que a ela se submetem (Percepções das mulheres em relação ao direito e à justiça. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 1996, p. 30).(25) RT 560:182-187.(26) Para aprofundar sobre a violência doméstica envolvendo crianças e adolescentes, veja-se: ROMEU GOMES, Da denúncia à impunidade: um estudo sobre a morbi-mortalidade de crianças vítimas de violência, Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(2):301-11, abr-jun, 1998; STELA NAZARETH MENEGHEL, ELSA J. FIUGLIANI e OLGA FALCETO, Relações entre violência doméstica e agressividade na adolescência, , Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(2):327-35, abr-jun, 1998; S. DESLANDES, Atenção a crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica, Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10(supl. 1):177-88, 1994; E. EISENSTEIN e R. SOUZA. Situações de risco à saúde de crianças e adolescentes, Rio de Janeiro: Vozes, 1993; G. M. MUZA, A criança abusada e negligenciada. Jornal de Pediatria, 70:56-60.(27) A respeito, vem a propósito transcrever pequeno trecho da matéria jornalística "Parente é principal autor de morte infantil" de Daniela Falcão, extraído do jornal Folha de S. Paulo, edição de 23/07/98, pág. 3.3: "Parentes são os principais responsáveis pelo assassinato de crianças entre zero e 11 anos no país nos casos em que o autor do crime é conhecido, segundo levantamento inédito do MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos) obtido pela Folha. É a primeira vez que se faz esse tipo de estudo nacionalmente. O MNDH analisou todos os homicídios contra crianças e adolescentes noticiados por jornais de 14 Estados do país de janeiro a dezembro do ano passado (três Estados da região Norte, seis da Nordeste, dois da Centro Oeste, dois da Sudeste e um da região Sul). Pais, avós, tios e irmãos foram os autores de 34,4% dos homicídios infantis registrados em 1997. Amigos e vizinhos são responsáveis por 4,6% das mortes violentas. O autor do crime não é conhecido em 55,3% dos casos. Muitos dos crimes investigados ocorreram na própria casa das crianças (44,3% dos casos), comprovando que

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o ambiente doméstico é, em muitos casos, perigo e não proteção para as crianças". Cite-se também o artigo de reportagem de VICTOR AGOSTINHO, Maioria das agressões a crianças é feita por pai, (Folha de S. Paulo de 09/12/95, p. 3.4) na qual faz referência a pesquisa realizada pelo Instituto Sedes Sapientiae.(28) Como é o caso de relações incestuosas entre pai e filha, resultando em gravidez, como é o que se verifica do seguinte acórdão: "PENAL ESTUPRO (ARTIGO 213, CAPUT, C/C OS ARTIGOS 224, "A" E 226, II, TODOS DO CP). VIOLÊNCIA PRESUMIDA. OCORRÊNCIA. TIPICIDADE DA CONDUTA. APLICAÇÃO DO ARTIGO 226, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL. Em todo relacionamento sexual com menor de 14 anos é presumida a violência. Patenteada por exame de DNA a paternidade do réu, produto de relações incestuosas mantidas com a própria filha, a hipótese é a de estupro, independentemente da virgindade da vítima, eis que o bem juridicamente protegido é a liberdade sexual da mulher e não sua virgindade. Sendo o agente pai da vítima, inafastável a incidência da causa especial de aumento de pena prevista no artigo 226, inciso II, do Código Penal. NEGOU-SE PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (TJDF, Apelação Criminal, Proc. nº 18215/97, (REG. nº 105086), rel. Des. VAZ DE MELLO, DJ. 03.05.98). Além disso, há casos que envolvem doenças sexualmente transmissíveis. No " Seminário Traduzindo a Legislação com a Perspectiva de Gênero: um Diálogo entre as Operadoras do Direito", realizado no Rio de Janeiro, nos dias 28 e 29 de agosto de 1998, foi proposta uma modificação ao art. 162 do Anteprojeto de Reforma do Código Penal Brasileiro, sugerindo que, na hierarquia das causas de aumento de pena, a mais grave seja aplicada ao agente "ascendente ou descendente, padrasto, madrasta, irmão, tutor, curador, empregador ou, por qualquer título tem autoridade sobre a vítima" (Inciso I, alínea c). Igual sugestão se dá no que se refere ao artigo 165, inciso I, alínea b (a respeito, veja-se: http://www.ccr.org.br/documento.html ). Sobre abuso sexual de crianças dentro da própria família, convém destacar o excelente artigo de MAGDA DENISE MEISTER, Inocência violada: uma face da violência intrafamiliar, in Direito & Justiça 20:211-26, 1999;(29) Considerado, é claro, que nem sempre a omissão é decorrente da situação de pobreza da família.(30) Direito ao respeito preconizado pelo art. 17, da Lei n° 8.069, de 13/07/90.(31) Art. 18, da Lei n° 8.069, de 13/07/90.(32) Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar, p. 113.(33) A respeito da noção de prejuízo juvenil, veja-se: SÉRGIO SEVERO, Os danos extrapatrimoniais, p. 156-7.(34) A respeito veja-se a crônica "La protection du mineur, victime d'infraction sexuelle" de Renaud Rolland, in Revue de Droit Sanitaire, 34(4):892-909, Paris: Dalloz, oct-dec, 1998.(35) Da responsabilidade civil, 7ª ed., vol. II, p. 402.(36) Dano moral, 2ª ed., p. 664-5, nota de rodapé n° 35.(37) El Supremo establece que la infidelidade conyugal no da derecho a indemnización, El diario vasco, Edicion Electronica de 08/09/99, (http://www.diariovasco.com/080999/suscr/espana10.htm).(38) A respeito da evolução do reconhecimento de filhos ilegítimos e incestuosos, veja-se a breve síntese de LUIZ EDSON FACHIN, na sua obra Da paternidade: relação biológica e afetiva, p. 84 a 86.

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(39) Da paternidade, p. 86.(40) Lembre-se que a Câmara Legislativa do Distrito Federal, no ano de 1997, rejeitou, por 12 votos a 8, a concessão de título honorífico de Cidadão de Brasília ao ministro dos Esportes Pelé, por ter se negado a reconhecer a paternidade de sua filha Sandra Regina Machado, que teve o sobrenome Arantes do Nascimento acrescentado ao seu na certidão de nascimento por decisão da justiça do ano de 1996. A respeito veja-se: Câmara nega título honorífico a Pelé, Folha de S. Paulo de 05/03/97, p. 3-13.(41) p. 388.(42) Dano moral indenizável, 2ª ed., p. 448-9.(43) Ob. cit., p. 449.(44) Dano moral, 2ª ed., p. 664, nota de rodapé n° 33.(45) Reflexões sobre a problemática das novas técnicas científicas de reprodução humana assistida e a questão da responsabilidade civil por dano moral ao embrião e ao nascituro, in Livro de Estudos Jurídicos, 8: 214.(46) Veja-se a lição de MARIA HELENA DINIZ, Curso de Direito Civil brasileiro, v. 1, p. 100, nota de rodapé n° 74: "..., pois os direitos da personalidade, como o direito à vida, à integridade física e à saúde, independem do nascimento com vida. Apenas os efeitos de direitos patrimoniais, como o de receber doação ou herança, dependem do nascimento com vida". SILMARA J. A. CHINELATO E ALMEIDA (Direitos da Personalidade do nascituro, in Revista do Advogado, 38: 24-8) nos indica os seguintes direitos: à vida, à integridade física, à integridade moral e à integridade intelectual.(47) Responsabilidade civil dos pais. In Yussef Said Cahali (coordenador), Responsabilidade Civil, p. 66.(48) Reflexões sobre a problemática das novas técnicas científicas de reprodução humana assistida e a questão da responsabilidade civil por dano moral ao embrião e ao nascituro, in Livro de Estudos Jurídicos, 8:219-21.(49) Os direitos da personalidade, p. 76.(50) Inclusive para permitir que outra pessoa dele igualmente disponha. Veja-se que, tanto no casamento como em relações extra-matrimoniais, implica que homem e mulher disponibilizem o seu corpo um ao outro e assim alcancem fins comuns (v. g., satisfação sexual e procriação). Tal fato faz com que ambos tenham direitos e deveres recíprocos para com seus corpos.(51) Não há autorização para o indivíduo suicidar-se ou mutilar-se.(52) Tem-se por exemplo: a convocação para prestação de serviço militar obrigatório em época de guerra, pena de morte.(53) É o caso dos profissionais médicos que, frente ao imediato risco de vida do paciente, devem realizar todas as intervenções necessárias para o tratamento médico: ministrar medicamentos; submeter a cirurgia e realizar amputação. Se assim não proceder, poderá o profissional incorrer em omissão de socorro.(54) Sugere-se a leitura de: ELIMAR SZANIAWSKI, Direitos de personalidade e sua tutela, p. 271-3.(55) IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, Fundamentos do direito natural à vida, in RT n° 623, p. 29.(56) In Revista Veja, de 14/08/91, p. 67.(57) Direitos da personalidade do nascituro, in Revista do Advogado, 38:28.(58) Inclusive a autora faz referência a P. H. WINFIELD, A text book of the law of tort, London, 1948, § 24, p. 95 e ss. - citado por PIETRO RESCIGNO, Il

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danno da procreazione" Rivista di Diritto Civile, Padova, Anno II, 1956, p. 614-35.(59) Trabalhos jurídicos, edição comemorativa do Jubileu de Prata do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, p. 215-27, apud ANTONIO JEOVÁ SANTOS, Dano moral indenizável, 2ª ed., p. 138-9.(60) Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar, p. 148.(61) Cabe aqui uma referência ao Projeto de Lei do Senado n°229/96, da Senadora Benedita da Silva, que dispõe sobre os crimes de violência doméstica.(62) Sobre a divergência doutrinária a respeito da natureza jurídica dessa prestação alimentar (obrigação alimentar, indenizatório e mista), sugere-se a lição de YUSSEF SAID CAHALI, Divórcio e Separação, 8ª ed., tomo 2, 960-74.(63) Divórcio e separação, tomo 2, p. 952-3.(64) Instituições de Direito Civil, 11ª ed., vol. V, p. 156.(65) Responsabilidade civil entre marido e mulher. In Yussef Said Cahali (coordenador), Responsabilidade Civil, p. 206.(66) Dano moral, 2ª ed., p. 669(67) Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial, 2ª ed., p. 266.(68) Dano moral indenizável, 2ª ed., p. 56.(69) O dano moral e a desagregação social, in Direito & Justiça, 20:131.

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