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293 Cap. 25 A correlaçªo internacionalmente descrita entre níveis pressóricos e incidŒncia de patolo- gias de alta morbidade e mortalidade como aci- dentes vasculares cerebrais, infarto, insuficiŒncia cardíaca ou renal, indica a necessidade de con- trole agressivo da hipertensªo em homens e mulheres. A hipertensªo leve sem comprometi- mento de órgªos vitais pode se beneficiar da sim- ples mudança dos hÆbitos de vida, mas a hipertensªo moderada e a grave necessitam de tratamento medicamentoso. No entanto, como na maioria dos pacien- tes a hipertensªo Ø assintomÆtica, a aderŒncia ao tratamento farmacológico prolongado, às ve- zes caro e com eventuais efeitos colaterais Ø, em geral, pequena. Todos os medicamentos anti-hipertensi- vos apresentam efeitos colaterais em maior ou menor nœmero. A escolha de uma droga específica deve ser feita, portanto, segundo critØrios indicados pelo quadro clínico. Nªo sendo a situaçªo urgente como, por exemplo, na hipertensªo maligna acompanhada por lesªo de órgªo, o esquema de tratamento farmacológico usualmente adotado Ø o propos- to em 1980 pela JNCHBP (Joint National Com- mission on High Blood Pressure) e adotado no VI Report of the Joint National Committee on prevation, detection, evaluation, and treatment of high blood pressure (1997). Neste esquema, Anti-hipertensivos tambØm conhecido como Terapia em Etapas, o tratamento Ø iniciado com uma œnica droga, na maioria das vezes um diurØtico. Dependendo da resposta do paciente, uma segunda droga de mecanismo de açªo diferente Ø associada. Se ain- da assim nªo ocorrer o efeito terapŒutico espe- rado, uma terceira droga pode ser associada ao tratamento. Diversas classes de drogas anti-hipertensi- vas estªo disponíveis no mercado, cada uma com um mecanismo de açªo específico (Fig. 25.1). Os diurØticos sªo œteis pois aumentam a excre- çªo de solutos e de líquido. VÆrios bloqueadores ou inibidores do sistema nervoso simpÆtico sªo utilizados. Os vasodilatadores diretos sªo em- pregados como anti-hipertensivos, pela diminui- çªo da resistŒncia perifØrica que produzem. Recentemente foram introduzidos na terapia anti-hipertensiva os bloqueadores da enzima con- versora de angiotensina (ECA) e os bloqueado- res dos receptores de angiotensina do tipo AT 1 . DIURÉTICOS Os diurØticos foram durante dØcadas as principais drogas utilizadas no tratamento anti- hipertensivo. A incidŒncia de acidentes vascula- res cerebrais (40%) e a de patologias cardíacas relacionadas à hipertensªo (16%) foi reduzida dramaticamente com o uso dos diurØticos. Maria Teresa R. Lima-Landman

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    Cap. 25

    ANTI-HIPERTENSIVOS

    A correlao internacionalmente descritaentre nveis pressricos e incidncia de patolo-gias de alta morbidade e mortalidade como aci-dentes vasculares cerebrais, infarto, insuficinciacardaca ou renal, indica a necessidade de con-trole agressivo da hipertenso em homens emulheres. A hipertenso leve sem comprometi-mento de rgos vitais pode se beneficiar da sim-ples mudana dos hbitos de vida, mas ahipertenso moderada e a grave necessitam detratamento medicamentoso.

    No entanto, como na maioria dos pacien-tes a hipertenso assintomtica, a adernciaao tratamento farmacolgico prolongado, s ve-zes caro e com eventuais efeitos colaterais , emgeral, pequena.

    Todos os medicamentos anti-hipertensi-vos apresentam efeitos colaterais em maiorou menor nmero. A escolha de uma drogaespecfica deve ser feita, portanto, segundocritrios indicados pelo quadro clnico.

    No sendo a situao urgente como, porexemplo, na hipertenso maligna acompanhadapor leso de rgo, o esquema de tratamentofarmacolgico usualmente adotado o propos-to em 1980 pela JNCHBP (Joint National Com-mission on High Blood Pressure) e adotado noVI Report of the Joint National Committee onprevation, detection, evaluation, and treatmentof high blood pressure (1997). Neste esquema,

    Anti-hipertensivos

    tambm conhecido como Terapia em Etapas, otratamento iniciado com uma nica droga, namaioria das vezes um diurtico. Dependendo daresposta do paciente, uma segunda droga demecanismo de ao diferente associada. Se ain-da assim no ocorrer o efeito teraputico espe-rado, uma terceira droga pode ser associada aotratamento.

    Diversas classes de drogas anti-hipertensi-vas esto disponveis no mercado, cada uma comum mecanismo de ao especfico (Fig. 25.1).Os diurticos so teis pois aumentam a excre-o de solutos e de lquido. Vrios bloqueadoresou inibidores do sistema nervoso simptico soutilizados. Os vasodilatadores diretos so em-pregados como anti-hipertensivos, pela diminui-o da resistncia perifrica que produzem.Recentemente foram introduzidos na terapiaanti-hipertensiva os bloqueadores da enzima con-versora de angiotensina (ECA) e os bloqueado-res dos receptores de angiotensina do tipo AT1.

    DIURTICOS

    Os diurticos foram durante dcadas asprincipais drogas utilizadas no tratamento anti-hipertensivo. A incidncia de acidentes vascula-res cerebrais (40%) e a de patologias cardacasrelacionadas hipertenso (16%) foi reduzidadramaticamente com o uso dos diurticos.

    Maria Teresa R. Lima-Landman

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    Cap. 25

    VOL. 1 BASES MOLECULARES DA BIOLOGIA, DA GENTICA E DA FARMACOLOGIA

    O mecanismo pelo qual os diurticos redu-zem a presso arterial no est totalmente elu-cidado. A queda inicial da presso arterial atribuda a uma diminuio do volume sang-neo, do retorno venoso e, conseqentemente, dotrabalho cardaco. Gradativamente, o trabalhocardaco retorna ao normal, mas a resistnciaperifrica diminuda mantm o efeito hipoten-sor. A associao entre o baixo custo e a facili-dade de administrao faz com que os diurticossejam amplamente utilizados sozinhos ou em as-sociao com outras drogas nos hipertensos le-ves e moderados.

    Trs classes de diurticos so usadas prefe-rencialmente na hipertenso: 1) tiazidas, 2)diurticos de ala e 3) poupadores de potssio,cujos mecanismos de ao foram descritos de-talhadamente no Captulo 26.

    Fadiga, depresso, irritabilidade, incontinn-cia urinria, impotncia, perda da libido e rea-es alrgicas constituem os efeitos colateraisprincipais dos diurticos. Os diurticos podemprecipitar crises de gota, diabetes melito e au-mentar os nveis plasmticos de colesterol.

    SIMPATOLTICOS

    Os medicamentos pertencentes a essa classede hipotensores anti-hipertensivos agem por blo-quear a transmisso simptica eferente tanto cen-tral como perifrica. Os efeitos colaterais quemuitas vezes incapacitam o paciente para a vidacotidiana restringem o uso de simpatolticos deao central.

    A a -metildopa uma pr-droga que nos ter-minais nervosos adrenrgicos transformada ema -metilnoradrenalina com alta afinidade pelosreceptores adrenrgicos do tipo a 2, modulado-res inibitrios das eferncias simpticas. A clo-nidina agonista adrenrgico a 2> a 1 e tem omesmo mecanismo de ao da a -metildopa. Aao da reserpina bem menos seletiva. Deple-tando os terminais simpticos, serotoninrgicose dopaminrgicos centrais e perifricos, a reser-pina produz aes mltiplas que reduzem o seuuso aos pacientes refratrios aos outros agentesanti-hipertensivos.

    Os bloqueadores b -adrenrgicos so os sim-patolticos mais utilizados no controle da pressoarterial. Inicialmente a presso arterial reduzida

    Bloqueadores b

    -Adrenrgicosb 1/ b 2 - Propranololb 1 seletivo - Atenolol

    renina

    Angiotensinognio

    Angiotensina I

    Angiotensina II

    ECAACh ADP BKACh 5- HT

    COX

    Msculo Liso

    L-argNO

    Contrao Relaxamento

    GMPc

    ET 1

    Ca2+

    ETAETB

    AT IIa

    M S1 M

    Endotlio NOS

    Ca2+Na+

    K+

    b

    AMPc

    PA = DC

    RP

    DiurticosTiazidasFurosemidePoupadores de K+

    CaptoprilEnalapril

    Inibidores da ECA

    ClonidinaMetildopaReserpina

    Simpatolticos de Ao Central

    Losartan

    Bloqueadores do Receptor AT1

    Bloqueadores b

    -Adrenrgicosb 1/ b 2 - Propranololb 1 seletivo - Atenolol

    Bloqueadores b

    -Adrenrgicosb 1/ b 2 - Propranololb 1 seletivo - Atenolol

    renina

    Angiotensinognio

    Angiotensina I

    Angiotensina II

    ECAACh ADP BKACh 5- HT

    COX

    Msculo Liso

    L-argNO

    Contrao Relaxamento

    GMPc

    ET 1

    Ca2+

    ETAETB

    AT IIa

    M S1 M

    Endotlio NOS

    Ca2+Na+

    K+

    b

    AMPc

    PA = DC

    RP

    DiurticosTiazidasFurosemidePoupadores de K+

    DiurticosTiazidasFurosemidePoupadores de K+

    CaptoprilEnalapril

    Inibidores da ECACaptoprilEnalapril

    Inibidores da ECAInibidores da ECA

    ClonidinaMetildopaReserpina

    Simpatolticos de Ao CentralClonidinaMetildopaReserpina

    Simpatolticos de Ao CentralSimpatolticos de Ao Central

    Losartan

    Bloqueadores do Receptor AT1Losartan

    Bloqueadores do Receptor AT1Bloqueadores do Receptor AT1

    Fig. 25.1 Locais e mecanismos de ao das principais classes de drogas anti-hipertensivas.

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    Cap. 25

    ANTI-HIPERTENSIVOS

    por bloqueio dos receptores b -adrenrgicos e pordiminuio do dbito cardaco. Com a continui-dade do tratamento, o dbito cardaco volta aonormal, porm o efeito anti-hipertensivo persisteporque permanecem bloqueados os receptores b -adrenrgicos envolvidos na liberao de renina pe-las clulas justaglomerulares. Com a diminuioda concentrao de angiotensina II circulante, otnus vascular e a resistncia perifrica so redu-zidos. No caso do propranolol (bloqueador b 1/b 2, no seletivo, lipossolvel), soma-se a estasaes um provvel efeito ansioltico.

    Os bloqueadores b 1/b 2 no seletivos apre-sentam como desvantagem a induo de crisesasmticas por bloqueio dos receptores b 2 pul-monares. Este efeito colateral menor com osbloqueadores seletivos b 1 (atenolol, metoprolol)que atuam predominantemente nos receptoresb 1 cardacos.

    Os efeitos colaterais tambm so vrios: osbloqueadores b -adrenrgicos tendem a diminuira concentrao plasmtica de HDL-colesterol,efeito mais marcante em fumantes. Fadiga e le-targia so os efeitos centrais mais comuns dosbloqueadores b . Alguns indivduos relatam so-nhos e pesadelos, depresso e perda de mem-ria. A capacidade de exerccio pode ser reduzida.Extremidades frias, diminuio da funo car-daca, problemas gastrointestinais e impotnciaso tambm descritos com o uso de bloqueado-res b .

    VASODILATADORES

    Inibidores da Enzima Conversora deAngiotensina I (ECA) Captopril eSimilares

    A inibio da ECA, enzima envolvida na sn-tese de angiotensina II, peptdeo com potenteao vasoconstritora, diminui a resistncia peri-frica e, conseqentemente, a presso arterial.

    Os inibidores da ECA, como o captopril,mostraram-se efetivos em aumentar a expec-tativa de vida dos pacientes com insuficinciacardaca, no tratamento de ataques cardacose no retardamento da progresso da insufici-ncia renal nos pacientes com leso renal. Es-tudos demonstraram que os inibidores da ECArevertem a hipertrofia ventricular esquerda deforma melhor do que os bloqueadores b ,

    diurticos e, possivelmente, que os bloquea-dores de canal de clcio.

    Tosse, queda excessiva da presso arteriale reaes alrgicas foram descritas em pa-cientes recebendo inibidores da ECA. Apesarde os inibidores de ECA protegerem contra do-enas renais, eles podem causar reteno depotssio, o que pode levar parada cardacaespecialmente em pacientes recebendo diur-ticos poupadores de potssio ou suplementa-o de potssio. Hipoglicemia pode sertambm observada, devendo-se tomar cuida-do quando da sua utilizao em pacientes dia-bticos. Granulocitopenia, efeito colateral raroe severo, foi observada, sendo minimizada coma reduo da dose.

    Bloqueadores do Receptor deAngiotensina II (AT1) Losartan e Similares

    As primeiras drogas bloqueadoras do re-ceptor de angiotensina, por serem peptdicas,tinham seu uso restrito ao ambiente hospita-lar. O descobrimento de novas substncias deorigem no peptdica com esta atividade, comoo losartan por exemplo, aumentou o uso am-bulatorial desta classe de drogas. Os inibido-res do receptor AT1 diminuem a presso arterialpor competirem com a angiotensina II pelo seureceptor. A tosse induzida pelos inibidores daECA no observada com esta classe de dro-gas talvez por no afetarem a degradao debradicinina.

    ANTAGONISTAS DE C`LCIO NIFEDIPINA ESIMILARES

    O clcio o mediador final na contrao daclula muscular lisa. Sem aumento da concen-trao citoslica de clcio no h contraomuscular, seja ela decorrente de ativao de re-ceptores a -adrenrgicos via IP3, ou por despola-rizao da membrana celular e abertura de canaisde clcio voltagem-dependentes do tipo L.

    Os bloqueadores dos canais de clcio (nife-dipina e similares), tambm conhecidos comoantagonistas de clcio, ligam-se aos canais declcio do tipo L impedindo a entrada de clciona clula o que leva ao relaxamento da muscu-latura lisa vascular, reduo da resistncia vas-cular perifrica e diminuio da presso arterial.

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    Cap. 25

    VOL. 1 BASES MOLECULARES DA BIOLOGIA, DA GENTICA E DA FARMACOLOGIA

    Apesar do custo mais elevado, a eficciados bloqueadores de clcio similar dos blo-queadores b -adrenrgicos e das tiazidas.

    Os seus efeitos colaterais mais comuns so ton-turas, hipotenso, vermelhido e edema de torno-zelo. Fadiga, impotncia e constipao tambmforam observadas em pacientes sob medicao comantagonistas de clcio.

    ANTAGONISTAS a -ADRENRGICOS PRAZOSIN E DOXAZOSIN

    Os antagonistas a -adrenrgicos (prazosin edoxazosin) promovem vasodilatao por bloqueioseletivo dos receptores a 1. Por sua ao seletiva,estes compostos no causam taquicardia, maspodem causar hipotenso postural que pode sersevera aps a primeira dose do medicamento.

    ATIVADORES DO CANAL DE POT`SSIO MINOXIDIL

    O minoxidil abre canais de potssio sens-veis ao ATP. A sada de potssio por estes canaisleva hiperpolarizao da clula e, em conseq-ncia, ao relaxamento vascular, diminuindo apresso arterial. A ocorrncia de hipertricosecontra-indica o seu uso em mulheres.

    LIBERADORES DE XIDO NTRICO (NO) NITROPRUSSIATO DE SDIO

    Crises hipertensivas agudas so tratadas ge-ralmente com a administrao endovenosa desubstncias vasodilatadoras potentes. O nitroprus-siato de sdio se decompe no sangue liberandoxido ntrico (NO), um composto altamente ins-tvel e que, uma vez dentro da clula muscularlisa, estimula a enzima guanilato ciclase, aumen-tando a concentrao intracelular de GMPc queleva ao relaxamento da clula.

    BIBLIOGRAFIA

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