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  • UNIDADES AMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO SANTANA, SUL DA BAHIA

    R. Bras. Ci. Solo, 32:2805-2812, 2008, Nmero Especial

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    UNIDADES AMBIENTAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIOSANTANA, SUL DA BAHIA(1)

    Danusa Oliveira Campos(2), Cristina Carole Muggler(3), ElpidioIncio Fernandes Filho(3) & Mauricio Santana Moreau(4)

    RESUMO

    A bacia hidrogrfica do Rio Santana apresenta inmeros problemas ambientaisocasionados pelas atividades econmicas impactantes e presso antrpica. Paraatenuar esses conflitos, garantir a conservao ambiental e a sustentabilidadedessa rea de extrema importncia para a regio, deve-se identificar e conhecerseu ambiente. Este trabalho realizou uma estratificao ambiental na baciahidrogrfica do Rio Santana, analisando as inter-relaes entre os elementos daspaisagens. A vegetao, a geologia e o relevo foram os critrios utilizados para adelimitao das unidades ambientais, uma vez que, nessa rea, estes fatores atuamcom maior intensidade na gnese dos solos. Assim, foram identificadas seisunidades ambientais com caractersticas peculiares: Plancie Quaternria Marinha,Plancie Quaternria Estuarina, Tabuleiro Costeiro Sedimentar, Mar de Morros,Depresso Cristalina e Morro Florestado. Adicionalmente, foram caracterizadasas principais classes de solos por meio de anlises fsicas, qumicas e mineralgicas.A diversidade litolgica nesta bacia condiciona a grande variedade pedolgica,influenciando fortemente as propriedades dos solos. Os resultados obtidosevidenciam os diferentes processos ocorridos em cada unidade ambiental. Asprincipais classes de solos encontradas na regio so: Latossolos, Argissolos,Cambissolos, Luvissolos, Neossolos e Gleissolos.

    Termos de indexao: Mata Atlntica, SIG, solo.

    (1) Parte da Dissertao de Mestrado do primeiro autor apresentado no Programa de Ps-graduao em Solos e Nutrio dePlantas do Departaento de Solos da Universidade Federal de Viosa - UFV. CEP 36570-000, Viosa-MG. Trabalho apresentadono XXXI Congresso Brasileiro de Cincia do Solo, 2007 (Gramado, RS).

    (2) Coodenadora do Ncleo de Anlise Ambiental do Instituto Floresta Viva. Av. Litornea Norte, 208, Malhado, Ilhus-BA. CEP45.653-972 E-mail: [email protected].

    (3) Professor Adjunto do Departamento de Solos, UFV. Av. Peter Henry Rolfs, s/n - Campus Universitrio, Viosa-MG. CEP36.570-000. E-mails: [email protected].

    (4) Professor Adjunto do Departamento de Cincias Agrrias e Ambientais, UESC. Campus Soane Nazar de Andrade - Km 16,Rod. Ilhus-Itabuna, Ilhus-BA. CEP: 45.662-000, Ilhus BA. Email: [email protected].

    SEO VI - MANEJO E CONSERVAODO SOLO E DA GUA

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    SUMMARY: ENVIRONMENTAL STRATIFICATION IN THE SANTANA RIVERWATERSHED, SOUTH OF BAHIA, BRAZIL

    Many environmental problems in the watershed of the Santana River are caused byanthropogenic influence and the impact of economic activities. To attenuate these conflictsand to ensure the conservation and sustainability of this regionally extremely importantarea, the environment must be better understood. The aim of this study was anenvironmental stratification of the catchment of the River Rio Santana, in the South ofBahia, Brazil, based on the analysis of inter-relations between landscape components.Vegetation, geology and topography were the main criteria to distinguish the environmentalunits, due to their major influence on soil genesis. Six units with distinct characteristicswere identified: Quaternary coastal plain, Quaternary floodplain, Sedimentary coastalplateau, "Sea of hills", Crystalline depression and Forested hills. Furthermore, the mainsoil classes were characterized by physical, chemical and mineralogical analyses. Thelithological diversity in the catchment has a major influence on the soil properties and ledto a wide diversity of soil types. The main soil classes found in the area are: Latosols,Argisols, Cambisols, Luvisols, Neosols and Gleisols.

    Index terms: Atlantic Forest, GIS, soil.

    INTRODUO

    A Mata Atlntica considerada mundialmente umimportante bioma pela sua alta diversidade biolgicae pela variedade de ambientes que a compe (Ayres,1997). Em estudo realizado por Myers et al. (2000),foram identificadas 25 reas prioritrias para aconservao ambiental em todo o mundo, utilizandocritrios como diversidade biolgica e estado deconservao dos ambientes. A Mata Atlntica brasileiraaparece em quinto lugar no mundo em prioridade deconservao, tendo em vista sua diversidade biolgicae conservao dos ambientes; entretanto, estima-seque restam menos de 8 % de sua rea original(Cmara, 1991).

    Em particular, a bacia hidrogrfica do RioSantana, localizada no sul da Bahia, totalmenteinserida no bioma Mata Atlntica, apresenta altataxa de endemismo. Aliada alta biodiversidade,esta bacia est situada entre importantes unidadesde conservao UC na regio, justificando a razopela qual est inserida no projeto de CorredoresEcolgicos do Governo Federal. Alm de suarelevncia como rea de proteo ambiental, estabacia apresenta importncia socioeconmica, porqueabastece de gua parte do municpio de Ilhus, eseus recursos naturais constituem fonte de renda ede subsistncia dos moradores e pescadores daregio (Fidelman, 2001).

    O potencial econmico desta regio e aintensificao das atividades econmicas impactantesprovocam grande presso sobre o seu ambienteresultando em conflitos ambientais j presentes(Fidelman, 1999). Para atenuar esses conflitos,garantir a conservao ambiental e a sustentabilidade

    da rea, faz-se necessrio o conhecimento de seusambientes.

    Uma das possibilidades de ampliar e consolidaresse conhecimento por meio da anlise doselementos formadores da paisagem, identificando asunidades ambientais (Resende, 1983; Nacif, 2000),utilizando a bacia hidrogrfica como unidade deanlise (Lani, 1987; Cardoso, 1993; Souza &Fernandes, 2000).

    Para identificar as unidades ambientais, feitauma estratificao ambiental por meio da distinodos compartimentos naturais, levando em conta osdiferentes arranjos dos elementos formadores dapaisagem, como vegetao, geologia, relevo e solos(Odum, 1988; Nacif, 2000). Assim, a distino entreas diferentes unidades da paisagem baseada emcritrios naturais facilmente perceptveis queobedecem a uma hierarquizao (Nacif, 2000). Noentanto, no existe um critrio especfico para aclassificao dos ambientes: todavia, devem-seconsiderar o ecossistema, a vegetao, o relevo e o solo(Resende et al., 1983).

    Neste contexto, este trabalho teve como objetivo aestratificao ambiental da bacia hidrogrfica do RioSantana, buscando ampliar o conhecimento doambiente produzindo informaes mais detalhadassobre esta bacia, com intuito de subsidiar projetosvoltados ao planejamento e manejo do uso do solo.

    MATERIAL E MTODOS

    A Bacia Hidrogrfica do Rio Santana (BHRS) estinserida na microrregio Itabuna-Ilhus, no sul daBahia, abrangendo parte dos municpios de Itabuna,

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    Ilhus, Buerarema e So Jos da Vitria. Esta bacia,constituda por rea de drenagem de 524 km e peloRio Santana principal curso dgua, tem nascente nomunicpio de So Jos da Vitria e jusante em Ilhus.Prximo a sua foz, o Rio Santana encontra-se com osRios Cachoeira e Fundo formando o esturio conhecidocomo Coroa Grande.

    Na elaborao dos dados digitais foi utilizado osoftware ArcView 3.2a, obedecendo ao sistema deprojeo cartogrfica UTM, zona 24, datum CrregoAlegre. A escala dos mapas apresentada neste trabalho de 1:200.000 e 1:250.000. O mapa de declividades eo modelo digital de elevao da rea em estudo foramgerados pela extenso Spatial Analist o ArcView 3.2a,a partir do mapa topogrfico da carta de Itabuna folhaSD.24-Y-B-VI.

    Com a sobreposio dos mapas de vegetao,geologia e relevo, foram feitas anlises e identificadosos critrios mais adequados para a diferenciao dasunidades, na estratificao ambiental, tendo sidodefinidos os itens vegetao, geologia e relevo, nessaordem. Esta hierarquia obedeceu a requisitos baseadosem Nacif (2000).

    Para obter o mapa de solos desta rea, foi utilizadoum levantamento de solo j existente com escala de1:250.000 retirado de Nacif (2000). Foram aindaobservados outros levantamentos de solos da regio(Carvalho Filho et al., 1970; CEPLAC, 1975; Barbosa& Domingues, 1984) para auxiliar na escolha dasamostragens dos perfis de solos mais representativosda bacia hidrogrfica do Rio Santana, excetuando, nasunidades ambientais, as Plancies QuaternriasFluviais e Plancies Quaternrias Marinhas. Os soloscoletados foram classificados de acordo com o SIBCS(Embrapa, 1999).

    Aps a descrio morfolgica dos perfis, foramcoletadas amostras de solos de cada horizonteidentificado. A cor do solo foi tomada quando eleainda encontrava-se mido (Munsll, 1974), e asamostras foram destorroadas e peneiradas commalha de 2 mm de dimetro para a obteno da TFSA,com vistas em efetuar as anlises qumicas, fsicase mineralgicas.

    As anlises fsicas consistiram em anlise textural,argila dispersa em gua, densidades de partculas edo solo, curva de reteno de umidade e grau defloculao, todas estas anlises segundo a Embrapa(1997). Foram efetuadas anlises qumicas como pHem gua em soluo de KCl 1 mol L-1, acidez trocvel,acidez extravel (H + Al), Ca + Mg, Na e K trocveis,P disponvel (Embrapa, 1997) e C orgnico (Yeomans& Bremner, 1988). Neste trabalho, so apresentadosapenas os resultados das anlises fsicas, apesar deterem sido feitas as anlises qumicas e mineralgicasabaixo descritas.

    O ataque sulfrico foi obtido em amostras de TFSA,utilizando-se H2SO4 1:1 v:v (Embrapa, 1997). Osterores de Fe, Al, Ti e Mn foram determinados por

    espectrofotometria de absoro atmica; o K, porfotometria de emisso de chama, e o P e Si, porcolorimetria. Para quantificar o teor de xidos de Felivre nas argilas, foi utilizado o mtodo do ditionito-citrato-bicarbonato de sdio e, para a quantificar osxidos de Fe de baixa cristalinidade, usou-se o oxalatode amnio (Mckeague & Day, 1965). As determinaesforam feitas por espectrofotometria de absoroatmica.

    Foram realizadas ainda anlises mineralgicasdas fraes areia, silte e argila dos solos coletados,por difrao de raios X, por meio de lminasorientadas.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Na Bacia Hidrogrfica do Rio Santana, seisunidades ambientais foram identificadas e denomi-nadas de acordo com seus aspectos mais marcantes(Quadro 1), so elas: Plancies Quaternrias Marinhas(PQM), Plancies Quaternrias Estuarinas (PQE),Tabuleiros Costeiros Sedimentares (TCS), Mar deMorros (MM), Depresso Cristalina (DC) e MorrosFlorestados (MF) (Figura 1).

    De maneira geral, o material de origem influencioufortemente todas as caractersticas fsicas dos solosda BHRS. Os solos analisados apresentaram variaotextural grande, de muito argilosa a arenosa (Quadro2), graas diversidade litolgica do material que deuorigem aos solos. Estas diferenas ocasionadas pelomaterial de origem podem ser evidenciadas nosLatossolos da unidade ambiental Tabuleiros CosteirosSedimentares e Morros Florestados. Os primeiros soos mais arenosos, pois se desenvolveram sobre ossedimentos arenosos do Grupo Barreiras, enquantoos segundos apresentam-se mais argilosos, por teremsido originados de rochas do embasamento cristalino.

    Plancies Quaternrias Marinhas

    As plancies quaternrias marinhas correspondems reas de plancies marinhas compostas porsedimentos arenosos de idade quaternria, que sofreminfluncia direta do mar. Este ambiente propicia aocorrncia de solos jovens representados pelos NeossolosQuartzarnicos associados a Espodossolos, solosarenosos com predominncia de quartzo, baixo teor dematria orgnica e de nutrientes. A disponibilidade degua depende da granulometria de suas areias e,quanto mais fina a areia, maior a disponibilidade degua para as plantas (Resende, 1988).

    A restinga a vegetao nativa deste ambiente.Esta tem densidade e tamanhos variveis comcaractersticas peculiares adaptadas a solos arenososde baixa fertilidade. As rvores so arbustivas eherbceas e situam-se numa faixa do cordo arenoso(Brasil, 1981).

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    Quadro 1 - Aspectos fsicos caractersticos das unidades ambientais da Bacia Hidrogrfica do Rio Santana

    Figura 1 - Unidades Ambientais da Bacia Hidrogrfica do Rio Santana.

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    Plancies Quaternrias Estuarinas

    Esta unidade ambiental, localizada no esturio dabacia do Rio Santana, formada por planciesfluviomarinhas constitudas de materiais argilo-siltosos, ricos em matria orgnica, sujeitas ainundaes marinhas que resultam na formao desolos halomrficos. Tais solos apresentam drenagem

    e aerao deficientes, favorecendo a reduo de Fe eMn do sistema. Esse processo de reduo do Fe intensificado pelo acmulo de matria orgnica que,juntamente com o alto teor de sais, condiciona odesenvolvimento de Gleissolos Slicos.

    Alm dos Gleissolos Slicos so tambmencontrados os Neossolos Flvicos. Os sedimentos

    Quadro 2 - Caracterizao fsica dos solos coletados na Bacia Hidrogrfica do Rio Santana

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    aluviais so depositados, constantemente, ao longo dosrios, de forma que a taxa de deposio maior do quea taxa de pedognese, propiciando a formao dosNeossolos Flvicos. Nas margens dos manguezais,zona de transio entre os Gleissolos e Neossolos,podem aparecer os Gleissolos Tiomrficos (Nacif, 2000).No manguezal da BHRS, os tipos de mangues maisencontrados so: o mangue vermelho (formadoprincipalmente por Rhizophora mangle e Avicenniaschaueriana) e o mangue branco (formadoprincipalmente por Laguncularia racemosa)(Fidelman, 1999).

    Tabuleiros Costeiros Sedimentares

    Os tabuleiros Costeiros Sedimentares compem asreas localizada na poro leste da bacia, abrangendogrande parte da unidade geomorfolgica dos TabuleirosPr-litorneos. Nesta unidade ambiental, ocorremvrios conjuntos litolgicos, como as rochas cristalinasdo Complexo Ilhus e do Complexo Ibicara-Buerarema, os sedimentos tercirios do Grupo Barrei-ras e os sedimentos quaternrios. Essa diversidadede material de origem determina a formao dediferentes tipos de solos, a saber, Latossolos Amareloscoesos associados aos Argissolos Amarelos, ArgissoloVermelho-Amarelo e, especificamente ao longo dos rios,os Neossolos Flvicos e Gleissolos Slicos, compredominncia dos primeiros (Nacif, 2000).

    Duas amostras de Latossolo foram retiradas desteambiente, dentre eles um Latossolo Amarelo coeso(LAx) e um Latossolos Amarelo distrfico (LAd2). Acor amarela dos solos desenvolvidos no Grupo Barreirasreflete o predomnio da goethita favorecido pelo sistemaem detrimento da formao da hematita.

    Os Latossolos Amarelos coesos so solos caulinticospor desenvolverem a partir de material pr-intemperizado (Corra, 1984). A presena de horizontescoesos mesmo em solos mais arenosos decorre dapresena e do arranjo da caulinita, alm do baixo teorde Fe. A baixa permeabilidade causada pelo horizontecoeso torna o sistema com grande susceptibilidade eroso em rea com pequena inclinao (Resende,1998). Nos Latossolos Amarelos coesos assentadossobre os sedimentos inconsolidados do Grupo Barreiras,os teores de Si variam com a profundidade, j queocorre a migrao de argila para os horizontes maisprofundos. Estes ainda so solos mais arenosos emenos frteis por se desenvolverem sobre os sedimentosdo Grupo Barreiras. Os valores de ki dos horizontessuperficiais e subsuperficiais so baixos e apresentampequena variao, o que reflete o alto grau dedesenvolvimento destes solos. O processo dedessilificao resulta em solos mais intemperizadose, portanto, com valores de ki muito baixos.

    O Latossolo Amarelo distrfico (LAd) apresentoumaiores teores de xidos Fe amorfos ocasionados pelainterferncia da matria orgnica na cristalinidadedos xidos de Fe. No difratograma de raios-X da fraoareia deste mesmo solo, verificou-se a presena de

    quartzo e mica como nos solos dos demais ambientes.Na frao silte e argila, foram encontrados os mesmosminerais identificados nas areias, alm da caulinita ea goethita, cuja presena explicada pelo fato de osolo ter-se desenvolvido sob clima quente e mido.

    Mar de Morros

    O ambiente Mar de Morros est localizado naporo central da bacia ocupando 58,9 % da rea total.A unidade geomorfolgica deste ambiente o TabuleiroCosteiro e sua geologia composta pelas rochas doCinturo Itabuna. Dos solos desta unidade ambiental,h a predominncia dos Latossolos Amarelos. Commenor expressividade, observa-se a ocorrncia deArgissolos Vermelho-Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelo e no amarelo, Cambissolos Hplicos,Luvissolos Crmicos e Neossolos Litlicos.

    A ocorrncia de Latossolos Amarelos distrficoscoletados neste ambiente em reas de alta pluviosidadee com baixo teor de Fe propiciou a formao da goethitaem vez da hematita. Sua pobreza qumica derivadado material de origem (rochas gnissicas) e doavanado intemperismo. A relao silte/argilaapresentou valor inferior a 0,3. Foi encontradaestrutura granular no horizonte superficial graas presena da matria orgnica e pedofauna, facilitandoa penetrao de razes, o mnimo de coerncia entregrnulos.

    Depresses Cristalinas

    As Depresses Cristalinas esto situadas no oesteda BHRS, compreendendo a maior parte destas reasos fundos dos vales. Ela est inserida na unidadegeomorfolgica Depresso Itabuna-Itapetinga.

    A geologia desta rea datada do Arqueano formada pelo Complexo So Jos, composto porgranulitos bsicos com granada, gabros/basaltos,tonalitos/dacitos granulitizados, e pelo ComplexoIbicara-Buerarema, que corresponde s sutescalcialcalinas de baixos teores de K (Barbosa &Domingues, 1996).

    Nesta unidade, h o predomnio do ChernossoloArgilvico e do Cambissolo Hplico. Os Chernossolosaparecem associados com os Argissolos Vermelho-Amarelos e Luvissolos Crmicos. Os NeossoloLitlicos aparecem em reas menores associadas aafloramentos de rochas bsicas ou granulticas.Nesta unidade ambiental, predomina a pastagem nouso da terra.

    O Chernossolos so solos eutrficos, de altasaturao por bases e rasos. Este tipo de solo ocorreem ambientes em que o intemperismo atuou de formamais lenta, retardando seu desenvolvimento. Oprincipal fator que influenciou a formao destes solosna BHRS foi o material de origem do qual desenvolvido, formados por rochas gneas emetamrficas de alto grau com estrutura macia,

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    portanto, rochas mais resistentes s aesintempricas. Outro fator que contribuiu para a gnesedestes solos na bacia foi a intensa remoo de materialque ocorreu nesta unidade durante o Tercirio,aproximando o solo da rocha me, promovendo seurejuvenescimento.

    O Chernossolo (MTo) o mais frtil, apresentaalta saturao por bases (69,6 e 85,9 %), seuambiente propicia a formao de solos jovens, logo,com maior teor de nutrientes. Os xidos de Fe soconsiderados indicadores de ambientes pedogen-ticos e influenciam a cor, estrutura e reaes detroca inica dos solos (Resende, 1998). De maneirageral, percebe-se uma variao nos teores de Fe emdecorrncia de material de origem. Os solosapresentaram em seus horizontes predomnio dexidos de Fe de maior cristalinidade, excetuando oshorizontes superficiais dos perfis dos Latossolos LAd,e do Chernossolo (MTo).

    As cores dos solos coletados so influenciadas pelopredomnio de hematita, goethita ou ainda pelapresena de matria orgnica, o croma-escuro (7,5YR2/0, mido) do horizonte superficial do Chernossolo(MTo) devido presena de matria orgnica.

    No Chernossolo (MTo) e Argissolo (PVAd), odifratograma de raios-X da frao argila mostroua presena de mica, caulinita, quartzo e minerais2:1 expansveis. De acordo com Nacif (2000), queanalisou solos da regio em estudo, vermiculita eesmectita so os minerais 2:1 mais comuns nafrao argila do Chernossolo. Ainda na fraoargila, o difratograma dos Latossolos evidenciou apresena de caulinita, gibsita e grande quantidadede xidos de Fe.

    Morros Florestados

    Os Morros Florestados (MF) apresentam encostasconvexas, cncavas ou retilneas, associadas aosafloramentos de rocha. Os principais tipos de solosencontrados neste ambienta so os ChernossolosArgilvicos associados aos Luvissolos Crmicos, almdos Cambissolos Hplicos, Latossolos Vermelho-Amarelos e Latossolos Amarelos.

    O Latossolo Amarelo coletado neste ambienteapresentou-se mais argiloso por ter sido originado derochas do embasamento cristalino, e a estruturagranular encontrada nos horizontes superficiais destesolo dada pela presena da matria orgnica epedofauna. Nas anlises qumicas, o pH em gua baixo e este solo eletropositivo, resultado de intensalixiviao e remoo de bases. A CTC deste solo indicauma capacidade de troca maior ocasionado pelapresena de contedo de matria orgnica. Dentre osdemais Latossolos, o desenvolvido neste ambiente mais frtil, por ter o material de origem embasamentocristalino e estar sob mata com maior ciclagem denutrientes. Este solo mostra teores maiores de xidos

    Fe amorfos ocasionados pela interferncia da matriaorgnica na cristalinidade dos xidos de Fe. Osresultados da difratometria de raios-X da frao areiamostraram a presena de quartzo e micas. Na fraosilte, foram encontrados os mesmos mineraisidentificados nas argilas e areias.

    CONCLUSES

    1. Os critrios utilizados para identificar asunidades ambientais (vegetao, geologia e relevo)foram eficientes para individualizar os seguintesambientes: Plancies Quaternrias Marinhas,Plancies Quaternrias Estuarinas, TabuleirosCosteiros Sedimentares, Mar de Morros, DepressesCristalinas e Morros Florestados.

    2. A principal classe de solo da Bacia Hidrogrficado Rio Santana o Latossolo Amarelo distrfico, queocupa mais de 52 % rea, aparecendo associado aoLatossolo Amarelo coeso e ao Argissolo Vermelho-Amarelo distrfico.

    LITERATURA CITADA

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