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Gilberto Antnio Silva

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26 Dicas de Sade da Medicina OrientalGilberto Antnio Silva

2a EdioEsta edio impressa uma verso revista e atualizada desta obra. A 1a edio em Ebook gratuita, e pode ser baixada sem qualquer nus em nosso site www.longevidade.net

2007- 2011 por Gilberto Antnio Silva - Todos os direitos reservadosEsta obra no pode ser alterada, traduzida ou transcrita para nenhuma finalidade sem o consentimento por escrito do autor. Ela encontra-se protegida pela Lei Federal n 9.610/ 98. Os infratores sero penalizados conforme a lei. O contedo deste livro expressa os estudos do autor, sua opinio e concluses pessoais. No se trata de manual de tratamento ou de um sistema que prescinda das tcnicas teraputicas adequadas. Em caso de problemas de sade, consulte um profissional competente. No nos responsabilizamos por problemas oriundos de interpretaes errneas ou radicais do contedo deste livro. As imagens que aqui aparecem so fotos do autor ou material em domnio pblico.

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SUMRIOIntroduo........................................................................ 04 1- Uma Pessoa, Um Universo...................................... 06 2- Diferenas Entre Medicina Ocidental e Oriental....I09 3- Filosofia Oriental e Sade....................................... 14 4- Sua Sade Voc Quem Faz.................................. 18 5- Separe Boa Forma de Sade........................... 22 6- Dietas Alimentares e Voc........................................ 26 7- Como Comer?........................................................... 33 8- Derrubando os Mitos dos Alimentos....................... 41 9- O Estresse Nosso de Cada Dia............................... I49 10- Cuidando dos Ps................................................... I56 11- Vida Longa ao Ch!................................................. 61 12- Orelhas, Reflexos do Corpo................................... 65 13- Emoes e Sade................................................... I68 14- Respire e Controle-se............................................. 74 15- Cuidados na Interao com o Ambiente................ 77 16- Relaxe e Viva!........................................................... 82 17- Mitos do Exerccio................................................... 86 18- Movimentando-se..................................................... 92 19- A Energia da Vida..................................................... 96 20- Prticas Orientais....................................................100 21- Modismos e Influncias Externas.........................104 22- Beber Para Viver......................................................109 23- Vesturio e Sade...................................................I115 24- Barulho, Rudo e Silncio.......................................120 25- Em Busca da Longevidade....................................I125 26- Longevidade e Sabedoria.......................................131 Bibliografia......................................................................134 O Autor............................................................................I136

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INTRODUOOl, amigo leitor ou amiga leitora! Este livro tem o propsito de ajudar as pessoas a terem uma vida melhor, com mais sade. No se trata de um livro sobre doenas, mas sim em como preservar a sade. A Medicina Oriental, nosso tema central, se baseia na preservao da sade e na preveno das doenas. Isto muito mais fcil do que consertar as coisas mais tarde! Esta obra foi escrita originalmente em 2007, quando decidi ajudar de uma maneira mais ampla as pessoas a melhorarem sua qualidade de vida. Inicialmente vendido em formato digital, foi liberado de vez para download pela populao, de forma gratuita, em 2009. Para as pessoas que no gostam de ler no computador, criamos esta nova verso impressa. Acredito que possa servir como valioso guia para o autoconhecimento e a sade das pessoas. Este meu maior objetivo! Voc ver que escrevi este livro de uma forma simples e direta, como uma conversa informal entre ns dois. Sem termos tcnicos ou vocabulrio difcil em lnguas estrangeiras. Nada aqui difcil de entender ou seguir. Voc vai perceber que andar com o fluxo natural da vida mais fcil do que tentar resistir a ele. Falamos aqui sobre Medicina Oriental, assim, de forma mais ou menos genrica. Este termo que usei, Medicina Oriental, no meu entender engloba qualquer tcnica que tenha sido desenvolvida com base na cultura do Oriente e fundamentado em suas filosofias nativas. Assim, tanto a Medicina Ayurvdica Indiana quanto a Medicina Tradicional Chinesa esto representadas nesta classificao, bem como tcnicas teraputicas japonesas e massagens como Shiatsu, Anm, DoIn, Reflexologia... A lista muito grande! O que voc deve estar ciente que Medicina Oriental significa aqui o conjunto de tcnicas muitas vezes milenares destes povos, que diferem substancialmente da

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nossa medicina ocidental moderna. Isto explicado j nos primeiros captulos. Grande parte das informaes deste livro vem de meus estudos em filosofia oriental, em particular o Taosmo, e em medicina chinesa, que mais a minha praia. Portanto no se surpreenda com as vrias referncias cultura e filosofia chinesa presentes aqui. Algumas descobertas da cincia ocidental tambm so utilizadas, pois hoje em dia no podemos nos afastar completamente desta rea. Ser radical em qualquer aspecto vai contra tudo o que aprendi em mais de 30 anos de estudos dentro da filosofia e cultura oriental. Este livro sobre sade e tambm sobre filosofia e espiritualidade. O ser humano algo coeso, nico, global, e no pode ser dividido em partes isoladas para ser consertado. Ao analisarmos a sade devemos faz-lo sempre do ponto de vista nico. isto o que significa o termo holstico. Creio que nem seria necessrio mas sempre bom afirmar que este livro e seus ensinamentos no so um guia de sade que possa substituir profissionais de sade, tratamentos ou remdios. Este um guia para se viver melhor. Problemas de sade devem ser levados aos profissionais competentes, pois qualquer sintoma indica que o mal j foi feito. Os conhecimentos aqui apresentados so extremamente teis para prevenir e evitar estes problemas antes que se instalem. Espero que goste e utilize esta sabedoria milenar para melhorar a sua sade e de sua famlia. Faa o download da verso gratuita, tambm, e distribua em seu site ou blog, envie para seus amigos e familiares, mande para todo mundo. gratuito. Boa leitura. Gilberto Antnio Silva

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1UMA PESSOA, UM UNIVERSOAo falar sobre Medicina Oriental, somos forados a colocar sempre em primeiro lugar a premissa bsica deste tipo de terapia: a unicidade da individualidade humana, ou seja, cada um de ns um ser nico e especial. Atravs disto podemos tratar cada pessoa como ela mesma, segundo sua situao no momento e caractersticas prprias. Este o fio principal de qualquer tipo de tratamento oriental e que difere substancialmente da metodologia utilizada pela medicina ocidental. Para os orientais, cada pessoa um conjunto de circunstncias sociais, familiares, genticas, krmicas e energticas que a tornam diferente de qualquer outra pessoa do mundo. Cada ser humano um pequeno universo em si mesmo, com suas prprias necessidades e qualidades. Ento como podemos tratar 6 bilhes de seres diferentes? A resposta est na conceituao da medicina oriental, que procura compreender as leis universais e sua operao para podermos ento tratar as pessoas. Independente de quem seja ou de que problema tenha, todos esto sujeitos s mesmas leis universais. Apenas o modo como respondem a estas leis que difere completamente. Ao se conhecer as leis de atuao universais, basta analisar minuciosamente a pessoa para se descobrir suas particularidades e oferecer um tratamento compatvel com ela. E apenas com ela. Mas comum em Acupuntura, por exemplo, que se utilizem determinados tratamentos para pessoas com problemas semelhantes. Isto, primeira vista, conduz a um tipo de receita de bolo, que massifica o tratamento. Realmente, muitos acupuntores fazem justamente uso

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destas receitas prontas. Mas estas formulaes ancestrais ou modernas so apenas o ponto de partida, pois em funo disto analisamos a pessoa em questo e alteramos, adaptamos, a frmula para aquele tipo de pessoa. E mais: adaptamos a receita para aquele momento em particular. O Taosmo afirma que tudo no Universo est em constante mutao, sempre alterando seus estados. A cada sesso, devemos analisar o paciente para podermos compreender seu estado NAQUELE MOMENTO e avaliarmos o progresso do tratamento. Isto muito importante. A medicina oriental no apenas afirma que cada pessoa diferente de outra como afirma que cada pessoa diferente em cada momento. Tudo se transforma, tudo muda. Isto torna a Medicina Oriental uma tcnica teraputica extremamente individualizada, que olha a pessoa como se ela fosse nica e observa o seu momento. Com base nisto so prescritos os tratamentos adequados. Ento como posso escrever um livro dando dicas genricas de sade segundo a Medicina Oriental? Ora, a resposta muito simples. Nenhuma destas dicas imperativa, definitiva, sempre ser acrescentada a sua prpria observao de si mesmo. Nesta obra sempre procuro colocar as informaes de um ponto de vista imparcial, de modo que VOC escolha o que deve fazer. Este o segredo da coisa. Carne faz mal para a sade? Depende. Algumas pessoas no podem chegar perto enquanto outras se fartam vontade e vivem muito bem, com sade e disposio. Este um dos maiores riscos da automedicao, pois um remdio que sensacional para a enxaqueca de seu vizinho pode ser um veneno mortal para voc. Em tudo voc sempre tem que observar: ser que isto bom para mim? Qual a minha experincia anterior nestas circunstncias? Isto nos leva a um assunto que parece sado de um livro de autoajuda,

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mas que fundamental na Medicina Oriental: o auto-conhecimento. Quanto voc se conhece? Se voc um ser nico no Universo, quem pode conhec-lo melhor do que voc mesmo? partir da auto-observao podemos comear a perceber como nosso organismo funciona e como ele se comporta. H algum tempo, quando ainda tentava me conhecer, eu fiz um prato de frango com pimento que me rendeu uma noite interminvel de gases. No recomendo isto para ningum. Se perguntar por a vo dizer que a culpa do pimento, que indigesto. Pois bem. Atravs da auto-observao e do estabelecimento de uma dieta baseada em meu biotipo particular pude perceber, com surpresa, que a culpa era do frango! Posso comer pimento at arrebentar, mesmo noite, mas a carne de frango me indigesta. Tenho um amigo que se comer pimento ficar com o gosto dele na boca por uma semana. Claro, somos diferentes. Mas quem vai saber disto alm de ns mesmos? O autoconhecimento nos traz a uma outra questo que abordaremos detalhadamente mais a frente, que toca na nossa responsabilidade sobre nossa prpria sade. Costumamos deixar este encargo nas costas do mdico ou de algum remdio milagroso, enquanto uma observao atenta de nosso modo de vida ir demonstrar que podemos viver com sade se respeitarmos quem somos e o que somos. Pois somos nicos. Apenas isto.

RESUMOSomos nicos na Criao, cada um de ns. Um tratamento individual e particular a premissa da medicina oriental. O que ajuda uma pessoa, pode fazer mal a outra. Observar a si mesmo a primeira diretriz de uma vida saudvel. Autoconhecimento o fundamento da sade.

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2 DIFERENAS ENTRE MEDICINA OCIDENTAL E ORIENTALO tpico anterior, nossa situao nica no Universo, a base principal das diferenas entre a medicina ocidental, que busca uma abordagem cientfica estabelecida h pouco tempo, e a medicina oriental, que parte de solues empricas formuladas e testadas muitas vezes por centenas de anos. Antes temos que fazer uma conceituao que empregaremos neste trabalho: medicina ocidental a tcnica cientfica empregada hoje em hospitais e clnicas modernas e que se utiliza de medicamentos e drogas qumicas diversas alm de intervenes cirrgicas. Medicina oriental o conjunto de tcnicas teraputicas estabelecidas no Oriente e que podem utilizar massagem, agulhas, ervas medicinais, leos, exerccios, dieta e outros procedimentos naturais e no-agressivos. A medicina ocidental baseia-se na interveno direta no organismo. Atravs de cirurgias e medicamentos (chamados tecnicamente de drogas) procura-se alterar artificialmente o estado do paciente para que ele retorne condio definida como normal. Na medicina oriental busca-se restabelecer o equilbrio do paciente atravs de seus prprios recursos, como massagem, exerccios, dietas e, se necessrio, Acupuntura, ervas ou outras tcnicas que possam ajudar o organismo a se recuperar. Mesmo no caso de frmacos naturais, a idia central nunca suprir o corpo com os elementos de que necessita, mas estimul-lo a se recuperar espontaneamente. Enquanto a medicina ocidental busca uma soluo imediata e agressiva, a medicina oriental busca uma soluo gradual e natural para o organismo do paciente. As diferenas saltam aos olhos pela metodologia empregada. A medicina ocidental principalmente baseada no estudo estatstico e no

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ataque aos sintomas. Os medicamentos e tratamentos se concentram nas mdias estatsticas dos resultados de testes controlados, primeiramente com animais de laboratrio e depois com pacientes voluntrios. Passando nos testes, com mais de 50% de eficincia, o medicamento comea a ser vendido. O que intriga muitas pessoas porque muitas vezes o tratamento no funciona, funciona pela metade ou tem que ser reavaliado? A resposta justamente este fator mdio de sucesso. Ser que voc est na faixa mdia da populao ou pertence s partes que no possuem efeito ou possuem efeito muito pequeno? Como muitos dos mecanismos naturais do corpo humano so ainda desconhecidos pelos mdicos, procede-se muitas vezes a um tipo de tratamento por tentativa e erro, muito comum, ou por meio de receitas de remdios para uso geral, caso dos analgsicos e anti-inflamatrios que so receitados freqentemente quando uma pessoa tem dor e o mdico no encontra a causa. Muitas vezes um medicamento receitado e no surte efeito. Ento ele trocado por outro similar, de outra marca ou princpio ativo. O processo repetido at que se encontre um medicamento compatvel com o paciente ou que se tente outra abordagem. Anti-concepcional um caso clssico. Minha mulher utilizou trs marcas diferentes tentando evitar efeitos colaterais (ou ameniz-los). Finalmente desistiu. Voc j deve ter passado por este tipo de coisa: troca de medicamentos sucessivos at achar um que se encaixe no seu organismo. Como dissemos antes, cada pessoa uma pessoa mas a medicina moderna enxerga apenas a mdia da populao. Se voc est fora dela, a coisa se complica. Allen Roses, chefe do setor de gentica da empresa GlaxoSmithKline (GSK), a maior empresa farmacutica do Reino Unido, afirmou que a vasta maioria dos remdios - mais de 90%- s funciona para 30% a 50% das pessoas. Para isto citou um estudo sobre as taxas de eficin-

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cia de uma ampla variedade de remdios realizado por Brian Spear, cientista dos Abbott Laboratories, empresa de diagnstico mdico de Chicago. Ele constatou que as taxas de eficincia variam ao redor de 50%, partindo de 25% no caso de drogas contra o cncer a 80% de eficcia no caso de analgsicos. Um medicamento testado em alguns milhares de voluntrios (se tanto) e os resultados so extrapolados estatisticamente para toda a Raa Humana. Na mdia, ele funciona. Mas existem problemas. Efeitos colaterais dos medicamentos tambm so comuns. Alis, comuns no, quase obrigatrios. Existe uma idia de que se no existem efeitos colaterais o remdio (denominado tecnicamente de droga, como vimos) tambm no est funcionando. Mas se voc est fora da mdia populacional da eficincia do medicamento, voc pode ficar s com os efeitos colaterais. Um aluno meu teve problemas de presso alta e lhe receitaram um medicamento. Funcionou por algum tempo, j que o problema era o estresse e o tratamento atacava apenas o sintoma presso alta. Ele comeou a ter crises de tosse com a continuidade da medicao, uma tosse que no cessava. Ele me procurou e fiz uma terapia natural com cristais que acabou com a tosse, mas esta retornava dias depois. Ele acabou indo a outro mdico que informou que a tosse era uma reao alrgica comum aos medicamentos para controle da presso. Soluo? Nenhuma, pois o efeito colateral faz parte do medicamento e ele provavelmente caiu numa faixa fora dos 50% de eficincia, onde os efeitos secundrios so mais sentidos. A medicina oriental baseada no equilbrio da pessoa em ressonncia com as Leis Universais. Estas leis foram formuladas depois de sculos de observaes e experimentaes com milhes de pacientes. Quando nos afastamos destas leis naturais, aparece a doena, de modo que a medicina oriental particularmente preventiva, se preo-

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cupando com a manuteno da sade. Mas uma vez instalado o desequilbrio, a soluo retornar a pessoa a este estado harmnico atravs da readequao de seu organismo. Existem muitos mtodos para isto, dependendo da cultura de origem (indiana, chinesa, japonesa, coreana, tailandesa, vietnamita, etc...). Mesmo os medicamentos fitoteraputicos ou frmacos de origem natural possuem a caracterstica de auxiliar o organismo a retornar ao equilbrio. Isto feito com um mnimo de efeitos colaterais, exceto aqueles oriundos da retomada do nvel saudvel. Por exemplo, uma pessoa com priso de ventre por alguns dias pode ter uma diarria at seu organismo retornar ao normal. Mesmo na extensa farmacopia chinesa o medicamento indicado para um paciente possui em geral ao menos quatro componentes: um agente para o problema especfico, um outro que amplia o efeito do agente principal, um que corta os efeitos colaterais do medicamento e um ltimo que dirige o efeito do medicamento para a parte do corpo especfica, reduzindo o risco de uma intoxicao do organismo. A medicina oriental tambm busca a causa dos problemas, seja fsico, ambiental, emocional ou energtico. Uma enxaqueca pode ser resultado de uma tomada de deciso adiada repetidamente, a priso de ventre ou ndulos musculares dolorosos podem ser gerados por uma situao de estresse especfica, etc... Os aspectos energticos tambm so um dos fundamentos da medicina oriental e que no so reconhecidos pela medicina ocidental.

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RESUMOA Medicina Ocidental procura atacar os sintomas e restaurar a sade atravs de tcnicas invasivas (cirrgicas) ou pela adoo de drogas qumicas desenvolvidas por anlise estatstica de resultados. Atua geralmente depois da doena se instalar. A Medicina Oriental baseia-se na preveno das doenas e na manuteno da sade. Para restaurar a harmonia do organismo pode-se utilizar de vrias tcnicas, sempre procurando utilizar os recursos prprios do paciente. Um de seus fundamentos principais o trabalho com a energia vital, assunto ignorado pela Medicina Ocidental.

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3 FILOSOFIA ORIENTAL E SADEA Medicina Oriental se caracteriza pela forte influncia de correntes filosficas do pensamento oriental em seus conceitos bsicos e procedimentos. Esta influncia no se d simplesmente por motivos religiosos, como rapidamente poderamos afirmar, mas sim pela filosofia de vida deste povos. Sua atitude perante a Vida e o Universo nortearam o desenvolvimento de sua medicina. Por este prisma podemos notar a causa da variedade imensa de escolas teraputicas orientais, cada uma versando sobre fundamentos de sua filosofia prpria. A maioria das tcnicas de Medicina Oriental que conhecemos foram criadas partir da cultura chinesa, pois sua influncia nos povos do Oriente sempre foi muito marcante. Apesar disto outros pases moldaram esta filosofia segundo sua prpria cultura, como ocorreu no Japo. Os dois grandes plos de cultura e medicina da sia foram a ndia e a China, com a Ayurveda, medicina indiana, e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Alguns princpios norteiam a Medicina Oriental praticada no Extremo Oriente. Via de regra estes conceitos foram formulados na China antiga, h muitos milnios, dentro do Taosmo. O Taosmo uma filosofia nativa da China baseada na harmonia com o Universo e que busca compreender a estrutura das coisas, com princpios esboados por sbios como Fu Xi, Chuang-Tzu e Lao-Tzu. Longe de ficarem desatualizados, muitas pesquisas modernas apenas comprovam o altssimo grau de conhecimento que estes sbios da antigidade possuam. Vamos ver alguns destes fundamentos essenciais: Equilbrio Muito se fala sobre equilbrio, mas de onde saiu esta idia? O ser humano est em permanente contato com as foras da Natureza e extrai

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sua vida deste intercmbio de foras. Quando ele est em equilbrio com o Universo, est saudvel. As doenas aparecem quando este equilbrio se desfaz, gerando energias conflitantes com sua natureza. A funo do terapeuta ajudar o paciente a manter ou retornar a este estado de equilbrio, que definimos como sade. Energia A base do Universo energia (Chi para os chineses, Prana para os indianos, Ki para os japoneses e coreanos). com base na manipulao desta energia de inmeras formas que vamos restaurar o equilbrio do paciente, pois este desequilbrio tambm ocorre no nvel energtico. Ningum aqui est lidando com a rea dos mdicos ocidentais, pois nosso enfoque sempre energtico, desde o diagnstico at o tratamento. Vamos falar mais sobre isto em um captulo especial sobre energia. Holismo Hoje em dia ficou comum falarmos de Holismo ou tcnicas holsticas. Holos em grego significa tudo ou o todo, por isso usamos este termo ao nos referirmos aos tratamentos alternativos, em particular aos da Medicina Oriental, pois tratamos a pessoa como um ser completo, incluindo corpo, mente, emoes, conceitos, forma de pensar, energia, predisposies. No existe um acupuntor especializado no p, por exemplo, como existem mdicos. Ou se resolve o problema globalmente ou ele nunca ter soluo. Uma dor nas costas pode ser um problema emocional e uma enxaqueca pode se originar de uma deciso difcil na vida. Se no houver uma anlise e tratamento da pessoa completa o problema pode no ser resolvido ou ser remediado por algum tempo, voltando depois. s vezes ainda pior. O Terapeuta Cada terapeuta um agente do Universo que serve como intermedirio entre as foras da Natureza e a pessoa. Como o paciente est desequilibrado, necessita de uma ajuda externa para retornar ao equi-

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lbrio, que ministrada pelo terapeuta. Como vimos, o prprio paciente far a sua cura, mas o terapeuta importante para orientar e auxiliar este processo. Ele apenas um coadjuvante que far a religao entre paciente e Universo. Yin/Yang A polaridade complementar j confundiu muita gente. Ficaria difcil explicar este conceito neste pequeno espao, mas podemos resumir algumas ideias. Tudo em nosso Universo manifestado possui um componente de foras dual formado pelo Yin e o Yang. O Yin corresponde a foras contrativas e o Yang a foras expansivas. Um no existe sem o outro e um gera o outro. So opostos complementares dos quais tudo que existe formado. Nada existe que seja apenas Yin ou apenas Yang, mas sempre uma composio dos dois. Note que o conceito do Yin/Yang pode variar segundo fontes diversas. A Macrobitica, por exemplo, utiliza uma noo de Yin/Yang muito diferente da Medicina Chinesa. Procure fontes na cultura chinesa e ter informaes mais confiveis. Cinco Elementos Os 5 elementos so um dos aspectos mais interessantes da filosofia chinesa, complexos porm simples numa ambigidade tpica da cultura da China. Na verdade trata-se de cinco estados energticos queTERRA COR SABOR RGO Amarelo Doce BaoPncreas Estmago METAL Branco Picante Pulmo GUA Preto Salgado Rins MADEIRA Verde cido Fgado FOGO Vermelho Amargo Corao

VSCERA

Intestino Grosso Outono

Bexiga

Vescula Biliar Primavera

Intestino Delgado Vero

ESTAO 5 estao DO ANO

Inverno

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permanecem em constante mutao, sempre se transformando, da serem chamados de Wu Xing, corretamente traduzido como cinco aes ou cinco movimentos. Um gera o outro e um controla o outro em um ciclo sem fim. Os elementos so: terra, madeira, gua, fogo e metal. A eles correspondem cores, estaes do ano, sabores e rgos energticos do corpo humano como mostra a tabela abaixo. A interao entre estes elementos promover a sade ou o desequilbrio. As tcnicas da Medicina Oriental utilizam os 5 elementos como fator importante na manuteno da sade ou no restabelecimento do paciente.

RESUMOA Medicina Oriental se baseia fortemente na filosofia oriental. A principal fonte de influncia na Medicina Oriental foi a filosofia taosta da China. O Taosmo busca estabelecer uma harmonia completa com o Universo e compreender seu funcionamento. Muitos conceitos filosficos so importantes dentro da Medicina Oriental: Equilbrio- entre a Natureza e o ser humano (a sade) Energia a base do Universo, que forma todas as coisas. fundamental como pedra angular de toda a medicina oriental. Holismo tratar sempre o ser humano de maneira completa, corpo, mente e esprito O Terapeuta - o encarregado de servir como ponte entre o paciente e o Universo visando auxili-lo em manter ou recuperar este equilbrio. Yin/Yang - polaridade complementar que forma todas as coisas. O Yin corresponde a foras contrativas e o Yang a foras expansivas. Cinco Elementos estados energticos em perptua mutao. Correspondem, por analogia, a madeira, metal, gua, madeira e fogo.

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4 SUA SADE VOC QUEM FAZUma das coisas que mais chamam a ateno na Medicina Oriental que o paciente tem grande parcela de responsabilidade pela sua melhora. Como os ocidentais esto acostumados (mal-acostumados) a se entregarem totalmente medicina moderna, a recuperao costuma ser mais problemtica. O que voc tem sempre que ter em mente ao procurar qualquer tipo de terapia alternativa que voc mesmo o principal responsvel por sua cura. Enfrentei vrios problemas neste aspecto em minhas prticas teraputicas. muito comum o paciente no entender quando voc pede que ele mude sua alimentao ou use outro tipo de roupa. A coisa fica pior quando percebemos que o problema principal est na maneira com que ele percebe alguns aspectos do mundo. Alterar isto extremamente difcil, embora conseguisse a cura do mal que o atormenta. Ns criamos nossa prpria realidade, por isso se fala tanto em pensamento positivo e coisas do gnero. Muitos de nossos problemas fsicos decorrem de interpretaes sobre o mundo que nos cerca, muitas vezes percebidas ou interpretadas de maneira totalmente equivocada. Procurar ter uma mente aberta e flexibilidade suficiente para observar os nossos problemas de vrios ngulos diferentes fundamental na manuteno da sade. Da mesma forma altamente complexo cultivar opinies fixas sobre vrios assuntos, mesmo com respaldo cientfico. A cincia muda todo dia e o que hoje certeza absoluta amanh poder cair por terra como uma tolice.

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O estado mental de uma pessoa diretamente responsvel pelo tipo de problemas de sade que tem e pela qualidade de sua recuperao. Vrios estudos mostram que pessoas otimistas e com bom humor adoecem menos e vivem mais. Nas prticas da Medicina Oriental, um estado receptivo do paciente pode ampliar centenas de vezes a eficcia de um tratamento. No digo que os bons resultados sejam algum tipo de efeito psicolgico ou efeito placebo, como muitos mdicos mal-informados gostam de dizer, mas pelo motivo de que voc diretamente responsvel pela sua sade, pelas suas doenas e pela qualidade de sua recuperao. Nunca cuidei de algum que no quisesse meus conhecimentos. A Medicina Oriental real, altamente eficiente organicamente e fisicamente, e no depende de crena alguma para surtir efeitos. Mas os efeitos se ampliam quando a pessoa que recebe o tratamento se mantm receptiva e confiante. Do mesmo modo, uma pessoa altamente ctica ter menos resultados ou de carter mais pobre. Estudos mostram que um alto ndice de ceticismo inibe o funcionamento do hipocampo, uma regio do crebro, e conseqentemente reduzem a eficincia da Acupuntura, por exemplo. Como regra geral, sempre tive o cuidado de verificar se as pessoas que me procuravam queriam efetivamente ser tratados por aqueles mtodos que eu emprego, baseados na Medicina Oriental. Se houver qualquer tipo de resistncia, indico outro tratamento ou mesmo a medicina ocidental, j que ela no se importa com este tipo de pr-disposio do paciente (embora seja comprovado que ao menos 50% do resultado de um medicamento aloptico est ligado ao efeito placebo ou efeito psicolgico). A ironia disto que a esmagadora maioria dos pacientes que buscam a Medicina Oriental j passou pela medicina ocidental, s vezes durante muitos anos, com pouco ou nenhum resultado. Quando se procura um tratamento alternativo, especialmente dentro da Medicina Oriental, deve-se estar preparado para seguir as prescries. s vezes podem parecer desconexas ou insuficientes, mas o

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terapeuta sabe o que est fazendo. Se o paciente no seguir as recomendaes, no pode querer ficar bem. Conversando com o Dr. Bokulla, indiano especializado em Medicina Ayurveda, fiquei sabendo que esta era uma de suas grandes frustraes: o brasileiro no seguia as prescries risca, muitas vezes preferindo continuar doente do que deixar de comer carne de porco, por exemplo! Segundo ele, na ndia (onde a maioria do sistema mdico ainda o milenar e tradicional Ayurveda), as pessoas fazem absolutamente qualquer coisa prescrita pelos terapeutas pois desejam apenas restabelecer a sua sade. Aqui em nosso pas temos uma populao de pessoas que se automedicam e da mesma forma procuram interpretar as prescries e tratamentos recomendados segundo sua prpria lgica, embora nada saibam sobre as tcnicas teraputicas utilizadas. comum o paciente suspender seu tratamento por iniciativa prpria. Muitas vezes iniciamos o tratamento e, assim que se livra da dor ou de outro incmodo, ele some do consultrio. Mas o trabalho no acabou! Apenas aliviamos os sintomas para que se sinta melhor at terminar o tratamento. Mas ele acaba voltando, geralmente depois de alguma semanas ou meses, quando aquele problema no-tratado retornar... Ao procurar um tratamento segundo a Medicina Oriental voc deve se manter receptivo e seguir as recomendaes de maneira adequada. Por menos lgicas que estas possam parecer a voc.

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RESUMOO paciente altamente responsvel pelo sucesso do tratamento dentro da Medicina Oriental Deve-se manter uma atitude receptiva ao tratamento. No necessrio f ou crena, mas apenas uma mente aberta. Ceticismo exagerado atrapalha a eficincia do tratamento. Os dois extremos, tanto ceticismo quanto a f cega, devem ser evitados. Siga todas as recomendaes do terapeuta. No se submeta a tratamento se tiver qualquer ressalva quanto ao profissional ou tcnica apresentada. No existe medicina nem terapia perfeita. Nenhum profissional sozinho, seja terapeuta, seja mdico, pode curar voc. Nenhum medicamento ou tratamento isolado pode curar voc. Apenas o conjunto terapeuta-paciente-tratamento pode surtir resultados. Faa a sua parte. Mdicos no curam. Terapeutas no curam. Apenas o paciente pode curar a si mesmo, auxiliado pelo tratamento prescrito.

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5 SEPARE BOA FORMA DE SADEMuita gente se confunde com os termos boa forma e sade e acham que um corpo sarado, malhado e bronzeado pertence a uma pessoa saudvel. Nem sempre. Na verdade muitas vezes mais fcil encontrar sade na simplicidade de uma dona de casa do que na gatinha malhadora. J conheci muitas pessoas que tinham uma excelente forma fsica e tomavam caminhes de remdios. Repare que tanto forma fsica quanto boa forma possuem a palavra forma como caracterstica principal. Ou seja, a sua forma, aparncia, boa. No significa nada em termos de sade. Muita gente treina como doida e leva seu corpo at limites perigosos. Os americanos tem um ditado muito repetido pelo mundo afora que eu acho particularmente ridculo: no pain, no gain (sem dor no h ganho). As pessoas acham que levar seu corpo alm dos limites vantajoso. Talvez para se ganhar um trofu ou algo assim , pois para a sade extremamente danoso. Quando voc sente dor o seu corpo dando o alarme de que o esforo excessivo. Ultrapassar este limite pode ser complicado, seno agora, no futuro. Pense em um carro. Por que as pessoas no gostam de comprar um carro que pertenceu frota de uma empresa? Porque ele est muito surrado, utilizado at o extremo. Mas todas as revises foram feitas e o diagnstico do motor, cmbio e suspenso esto OK. Mesmo assim as pessoas hesitam, pois sabem que o desgaste pode ter comprometido algo ainda no descoberto. Pensamos assim de um carro, por que no de nosso corpo? Uma pessoa leva seu corpo at alm de seus limites durante anos. Os check-ups mdicos esto corretos, tudo est em ordem. Ento, repen-

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tinamente acontece um rompimento de ligamento, uma tendinite, uma contuso muscular, um problema de coluna, e troca-se a academia pela fisioterapia. Isto muito mais comum do que voc pensa. J cuidei de muitas pessoas com problemas deste tipo. Um rapaz apareceu com problemas no joelho e percebi que a cartilagem estava com problemas. Recomendei que ele fosse a um ortopedista e acabou tendo que fazer uma cirurgia. Era professor de academia e ainda no tinha 25 anos de idade. Isto o que se chama de overtraining, um excesso, um caso isolado, poderia-se perguntar. Mas a filosofia de treinamento que vemos por a que est errada. Mais adiante vamos ter um captulo todo voltado para a movimentao do corpo e o exerccio saudvel e voc vai ver, mesmo na academia, como se deve proceder. Voltando ao nosso texto, as pessoas se esforam demais para criar uma aparncia que pode ser aceita na sociedade. Esta a verdade. Poucas pessoas se dispe a malhar trs, quatro ou mais vezes por semana depois de um dia agitado apenas para ficar saudvel, salvo se for por indicao estrita do mdico. A cobrana da sociedade e os padres mdicos de sade, que mudam com o passar dos anos, contribui muito para este esforo. Somente as pessoas que esto acima do peso tem noo da crueldade com que a sociedade trata aqueles que esto fora dos padres. Padres estes ditados por empresas e segmentos que esto preocupados em comercializar seus produtos e no com sua sade. Veja o caso das modelos anorxicas, por exemplo. Sabe por que elas tem que ser to magras? Porque no se trata de uma pessoa, mas de um cabide que anda! Isso mesmo: a nica funo delas mostrar as roupas e, para isto, elas prprias no devem chamar a ateno. Da a necessidade de serem magras, pois ningum gosta de mulheres magras. Se assustou? Esta a verdade, nua e crua. E posso falar com conhecimento de causa pela ala masculina: os homens preferem as redondinhas. Se duvida, procure reparar nas profissionais no existem prostitutas magricelas. Elas no atraem a clientela. Note tambm

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que as modelos-manequins so maquiadas para parecerem com zumbis mortas-vivas ou algum monstro da 5 dimenso. Tudo para no ficarem bonitas e chamar mais a ateno do que a roupa. Estilistas no gostam de concorrncia. Bilhes de reais so movimentados pela indstria da boa forma em publicaes que trazem pessoas magras nas capas e ensinam como perder 5 Kg em uma semana, livros com a dieta definitiva, aparelhos que fazem ginstica sem voc se mexer, suplementos alimentares que emagrecem rapidamente ou permitem que voc coma toda a gordura que quiser porque ele vai absorver este excesso (esta boa!). Milhares de produtos so vendidos para que voc fique em forma, de preferncia rpido e sem trabalho. E tudo em nome da sade. Vi a algum tempo uma revista com a apresentadora Anglica na capa e uma manchete espalhafatosa: Anglica Magrrima. Ser que algum acha que ser magrrima uma boa coisa? A prpria preocupao com a boa forma muitas vezes acaba se tornando uma obsesso ou um problema emocional. Como a frustrao quando no se consegue obter os resultados cobrados pela sociedade. No Oriente diferente. O prprio modelo de aparncia dos orientais muito diferente. Na ndia bonito ter algumas gordurinhas a mais, pois a populao no geral muito magra. Veja que os marajs sempre aparecem como rotundos senhores. No Japo um homem com sua barriguinha muito bem visto, pois eles acreditam que o modelo ocidental de peito largo e cintura fina por demais desequilibrado. Uma cintura mais larga d mais estabilidade e segurana pessoa, em vrios sentidos. Nos negcios eles confiam mais numa pessoa de maneiras tranqilas e cintura larga do que num executivo irriquieto e em forma.

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Na China a gordura extra nunca foi um problema. A Medicina Chinesa trata de efetuar um diagnstico energtico na pessoa antes de dizer se ela saudvel ou no. A compleio, isto , a cor e aparncia do rosto, nos diz muito mais sobre a sade de uma pessoa do que o tamanho da sua cintura. O que importa para os chineses relaxamento e flexibilidade do corpo. Os atletas com o corpo durinho podem ser considerados estressados pela Medicina Oriental. Veja Sammo Hung, parceiro e diretor do astro Jackie Chan: ele seria considerado obeso pelos padres ocidentais mas o que ele faz nos filmes impraticvel pelas pessoas em forma das academias. Muitos Mestres de artes marciais chinesas estavam acima do peso por nossos padres e mesmo assim exibiam uma sade de ferro. O Mestre Wang Shu Jing, do estilo Baguazhang, de Taiwan, pesava mais de 150 quilos. Diz-se que quando ele descia a rua a calada trepidava. E era um dos melhores lutadores da sia! Seu golpe predileto era abraar a cintura de seu adversrio e dar uma barrigada nele, quebrando sua espinha. Ria, se puder. A utilizao de exerccios fsicos e a noo de sade dos orientais muito diferente.

RESUMOBoa forma e sade so coisas distintas. No se pode julgar a sade de uma pessoa pelo seu peso ou formato No Oriente no se leva o fator aparncia em considerao. Sade uma coisa mais profunda e possui uma conotao diferente. Um corpo saudvel, pela Medicina Oriental, deve ser relaxado e flexvel.

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6 DIETAS ALIMENTARES E VOCAntes de mais nada devemos sintetizar o que significa o termo dieta alimentar. Em tom genrico, como o que utilizaremos aqui, ela significa sistema normal de alimentao de uma pessoa. No regime de emagrecimento, mas o hbito de alimentao das pessoas no diaa-dia, pois estamos interessados em sade a longo prazo e no em regimes restritos e de curta durao para algum objetivo especfico como desintoxicao, emagrecimento, etc... Apenas como curiosidade, na medicina da antigidade dieta significava todo o modo de vida, que compreendia sono, exerccios fsicos, comida e bebida, excreo, relaes sexuais, sade mental. Perceba que nada do que ser analisado aqui provm de preconceitos ou ideologias alimentares, mas apenas e to somente na anlise de fatos atravs do bom senso, de fundamentos dentro da Medicina Oriental e eventualmente de pesquisas cientificas. Tire suas prprias concluses e experimente o que for melhor para voc. Alimentao uma das coisas mais pessoais que temos em nossa vida. Dietas Restritivas Hoje existem centenas de tipos de dietas com restrio de algum tipo de alimento, includos os regimes de emagrecimento cada vez mais estranhos. Alguns exemplos de dietas e regimes restritivos: Dieta da Sopa, Dieta do Abacaxi, Vegetarianismo, Ovo-Lacto-Vegetarianismo, Crudivorismo, Frugivorismo, Dieta do Dr. Atkins, Macrobitica, Dieta da Lua e outros tipos de restrio alimentar que se baseiam na idia de que determinados tipos de alimentos so melhores do que outros, que devem ser evitados a todo custo por todo mundo. Veja que nenhum tipo de dieta restritiva saudvel durante muito tempo, pois acabam causando algum tipo de deficincia alimentar.

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Mesmo a Dieta do Dr. Atkins, to criticada pelo mundo afora, que praticamente elimina os carboidratos e favorece as protenas animais e gorduras, o faz por 14 dias. Depois deste perodo os carboidratos voltam a entrar aos poucos na dieta. Isto segue uma regra muito interessante descoberta a respeito de dietas restritivas: TODA dieta restritiva favorece o organismo por at duas semanas, mais ou menos. Este o tempo em que o organismo descansa da digesto de algum tipo de alimento e se sente bem. Depois deste perodo, as carncias comeam a aparecer. Por isso QUALQUER tipo de dieta restritiva funciona bem nos primeiros 15 dias. Da um monte de gente tentar regimes para emagrecer absurdos como a dieta do Abacaxi, em que se come apenas abacaxi, e conseguir realmente emagrecer. Pelo menos nos primeiros 15 dias. Vamos mostrar algumas dietas restritivas mais comuns e seus problemas. Vegetarianismo Este um tipo de dieta que exclui a carne e, muitas vezes, outros produtos de origem animal. Eles se dividem basicamente em trs tipos: - Ovo-Lacto-Vegetarianos, que consomem ovos e laticnios, - Lacto-Vegetarianos, que no consomem ovos - Vegetarianos puros, ou veganos, que no consomem absolutamente nada de origem animal. Dentro desta classe temos o Crudivorismo, que a dieta na qual se consomem apenas vegetais crus, sem qualquer tipo de produto animal, e tambm o Frugivorismo, dos que se alimentam apenas de frutas. Mais nada. Muito se fala sobre as vantagens do vegetarianismo como alimentao, que vo de sade perfeita at aprimoramento espiritual. Na verdade, comer ou no carne no far de voc uma pessoa necessariamente melhor. Existem vegetarianos saudveis? Claro. Mas tambm

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existem milhares que so anmicos crnicos. O ferro o mineral que forma nossa hemoglobina, responsvel pelo transporte do oxignio pelo sangue. O melhor ferro que pode ser absorvido pelo organismo o de origem animal, denominado ferro M. Sua absoro chega a 40% contra 10% do ferro presente nos vegetais. O vegetarianismo um dogma levado a srio por muita gente, que atribui a ele at o poder de tornar as pessoas espiritualmente mais elevadas. Do meu ponto de vista, acredito que cada um deve comer o que desejar. Mas muitos vegetarianos defendem que a nica alimentao para o ser humano a deles. Causa estranheza a ferocidade e a necessidade que muitos destes adeptos tem em justificar sua escolha alimentar. Quer comer apenas vegetais? Faa. Mas em silncio. No tente impor sua filosofia a todos como se fosse a salvao universal. Outra coisa que acho intrigante a quantidade de imitaes de carne que a maioria dos vegetarianos aprecia: almndegas, salsichas, hambrgueres e feijoada feitas com soja. Estes no comem carne com o corpo mas o comem com a mente... A sade fica ainda mais comprometida nos vegetarianos radicais, que eliminam todo tipo de produto animal de suas dietas, pois a vitamina B12 que promove a proliferao dos glbulos do sangue e faz a manuteno da integridade das clulas nervosas no existe no reino vegetal. Muitas vezes eles recorrem a suplementos vitamnicos artificiais ou acabam com anemias crnicas. Tambm a alimentao crua e base unicamente de frutas reduzem a vitalidade humana pois o fogo grande fonte de energizao dos alimentos segundo a Medicina Chinesa. Alis, na cozinha chinesa existe um provrbio interessante: cozinhar, sempre. Cozinhar muito, nunca. Assim se energiza o alimento mas se preservam seus valores nutricionais, que so reduzidos pelo calor excessivo dos alimentos muito cozidos.

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Mesmo no reino animal existem pouqussimas criaturas totalmente vegetarianas, pois todos os primatas (de certa forma, nossos parentes) so onvoros e mesmo uma vaca, ao comer o capim, consome insetos, ovos e larvas de insetos. Animais alimentados com feno aspirado, 100% vegetarianos, ficam doentes. O vegetarianismo no possui qualquer tipo de evidncia cientfica de que seja muito mais saudvel que a dieta onvora (em que se come de tudo), ao contrrio do que seus defensores alardeiam. uma questo filosfica e no tcnica ou cientfica. Nem mesmo a Medicina Indiana Ayurveda ou a Medicina Chinesa deixam de preconizar a carne como alimento. Novamente reafirmo a sentena inicial: cada pessoa um Universo. No existem dietas ideais para toda a Humanidade. Se quiser mais informaes sobre os argumentos ridculos, e muitas vezes mentirosos, utilizados pelos radicais do vegetarianismo, leia meu livro Vegetarianismo: Opo ou Obrigao?. uma vacina de bom senso. Macrobitica Este um tipo de dieta que se tornou popular na segunda metade do sculo XX. Desenvolvido por Sakurazawa Nyoiti, mais conhecido como George Ohsawa, foi difundido partir da Frana, lugar onde se radicou. Divulgado como uma espcie de verdade universal que poderia curar todos os males da Humanidade, a Macrobitica se tornou logo um excelente negcio pois a maioria de seus produtos no podia ser encontrado no comrcio normal. Lojas macrobiticas e empresas de produtos macrobiticos proliferaram por todo o mundo. A base da Macrobitica so teorias de Ohsawa que ele divulgava como sendo utilizadas no Oriente, principalmente a interao Yin/Yang. Entretanto a idia que ele tinha sobre esta polarizao se choca fron-

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talmente com os fundamentos da Medicina Chinesa, originria desta idia e seguida por japoneses e outros povos do extremo oriente. No se sabe de onde a interpretao dele veio, mas no faz parte da Medicina Oriental. Seu grande consumo de soja, excesso de cereais e a limitao no consumo de frutas no so, principalmente em se tratando de um pas como o Brasil, recomendveis. Soja em excesso irrita os rins e o pncreas dos ocidentais, pois no temos os dispositivos genticos dos orientais para trabalhar com este alimento. Muito cereal presente na alimentao (70 a 90%, segundo Ohsawa) pode causar espessamento do sangue e diversas incompatibilidades orgnicas, pois nem todos toleram carboidratos em excesso. A ideia de limitao no consumo de frutas muito comum em dietas nascidas em pases com clima temperado ou frio. Mesmo dietas taostas, que so famosas pela sade e pela longevidade que podem proporcionar, so extremamente direcionadas para o clima em que foram criadas e no podem se aplicar a um pas tropical como o Brasil. Aqui podemos e devemos usar mais frutas do que estas dietas orientais preconizam. A Macrobitica pode ser uma interessante opo por algum tempo. Seu conjunto bsico prev uma dieta restritiva com 14 dias de durao, que pode ser experimentada por aqueles que desejam tentar esta forma de alimentao. Mas no se pode recomendar isto para todos, durante toda a vida, mesmo porque ela viola os fundamentos da Medicina Oriental que afirma seguir. Dieta de Baixo Carboidrato Conhecida tambm como Dieta do Dr. Atkins ou Dieta da Protena. Extremamente polemizado, o trabalho do Dr. Atkins no deixa de ser interessante. Ele se baseou nos problemas do excesso de carboidratos e formulou uma dieta baseada no consumo de protenas e gorduras. Este trabalho foi tremendamente combatido, pois como veremos, os dogmas referentes carne vermelha e ingesto de gordura animal so muito fortes.

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Na verdade sua idia era sensata, pois reduzia drasticamente o consumo de carboidratos por duas semanas, retornando aos poucos at limites aceitveis. Ele desenvolveu este mtodo depois de experimentar com centenas de pacientes e nele mesmo. interessante notar o dio mortal que muitos desenvolveram dele e de seu trabalho, especialmente vegetarianos radicais. Quando ele morreu, grupos de vegetarianos radicais divulgaram material mostrando que ele havia morrido do corao, acima do peso e com presso alta e outros problemas. Concluso deles: a dieta era um fracasso. Entretanto, ela funcionou (e continua funcionando) para milhares de pessoas. O que aconteceu, ento? Ora, uma pessoa perseguida e atacada violentamente como ele foi por todo o tempo depois de divulgar sua dieta, desenvolve vrios problemas de sade. A tenso emocional, estresse, angstia e mesmo depresso que este tipo de perseguio pode provocar acabam com a sade de qualquer pessoa e provocam muitos problemas, como a hipertenso e a obesidade. Cito este caso por dois motivos: mostrar o que o estresse e outras emoes fortes podem fazer com uma pessoa e tambm dar um exemplo do que um mero dogma alimentar e muito radicalismo pode causar. Dieta da Longevidade Segue a idia de quanto menos calorias ingerimos, mais vivemos. Embora existam comprovaes de laboratrio (em ratos), no creio que uma restrio muito grande resolva alguma coisa. Vi a algum tempo atrs uma matria em uma revista sobre esta dieta. E as pessoas que apareciam na revista elogiando a dieta eram verdadeiras caveiras que tentavam sorrir para mostrar o quanto eram felizes sendo pele e osso. Seus olhos encovados me deixaram uma profunda impresso, pois dentro da Medicina Chinesa damos muita importncia compleio, conjunto de qualidades da fisionomia como cor da pele, brilho dos olhos, cor dos olhos, estado dos cabelos, aparncia da pele, etc... E, segundo minha experincia e meus estudos,

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todas as pessoas apresentadas na matria estavam doentes. Pode ser que seus exames mdicos estejam em ordem e que estejam satisfeitas do modo como viviam, mas estavam doentes. E isto ir aparecer, cedo ou tarde. No creio que atinjam realmente a longevidade. O prprio site especializado neste tipo de dieta (www.calorierestriction.org) alerta para os vrios efeitos colaterais e riscos deste tipo de dieta. Existem algumas fotos de membros, todos sorridentes com seus olhos fundos e rostos encovados. No tente algo to drstico.

RESUMONo existe dieta ou mtodo de alimentao nico para toda a Humanidade. Cada pessoa um caso. Procure se conhecer melhor e crie sua prpria dieta. Tenha um modo pessoal de se alimentar, de acordo com sua idade, tipo fsico, fisiologia e estado emocional. Dietas restritivas funcionam por algum tempo, ao redor de duas semanas, pois descansam o organismo da digesto dos alimentos faltantes. Depois disto comeam a aparecer as deficincias. Cuide de voc e oua a si mesmo. Evite medidas drsticas ou mudanas bruscas de alimentao. Faa tudo devagar e naturalmente.

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7 COMO COMER?Todo tipo de dieta realmente funciona com algum tipo de pessoa ou por algum tempo, por isso vemos esta verdadeira Babel sobre alimentao. Todos querem dar seu testemunho de que seu sistema alimentar mais funcional, mas se esquecem de que pode funcionar bem apenas com eles mesmos e algumas outras pessoas. Nunca com todo mundo o tempo todo. A cada dia assistimos uma enxurrada de informaes sobre alimentao, muitas vezes baseada em descobertas cientficas derradeiras. E nossa compreenso da alimentao, ao invs de aumentar, se transforma em confuso... Conceitos tidos como verdades caem por terra e antigos viles da alimentao so elevados categoria de heris. Tudo porque a cincia ocidental se preocupa em tentar encontrar leis universais aplicveis a toda a Humanidade e ignora a individualidade. A Medicina Oriental nos mostra que, dentro de leis universais, sempre existe a individualidade. Portanto, nos conhecer melhor um caminho mais seguro do que apenas seguir os estudos de outros. A cincia uma referncia, um guia, e no a verdade definitiva. Vamos ver algumas idias gerais sobre o que comer, como comer, quanto comer e quando comer, dentro da filosofia mdica oriental. O que comer Vimos na primeira dica que cada ser humano um universo prprio. Isto vale tambm para a alimentao, sendo muito difcil encontrar duas pessoas no planeta que possam comer exatamente as mesmas coisas. Alm das caractersticas intrnsecas de cada um de ns, temos que levar em conta tambm as alteraes criadas pelo meio ambiente na forma de poluio, problemas no trabalho, dvidas, problemas fa-

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miliares, entressafra de alimentos, e outros fatores que se alteram continuamente. E nosso organismo precisa ser ouvido se quisermos comer para ficarmos saudveis. A soluo o autoconhecimento, aquela palavra to alardeada na Nova Era e to pouco compreendida. Conhece-te a ti mesmo e tudo te ser revelado, nossa regra primordial. Vou lhe ensinar agora a preparar uma dieta alimentar totalmente sua, apenas sua, baseado no que faz bem ou mal para voc. Esquea por um momento tudo o que conhece sobre alimentao: calorias, regimes, colesterol, fibras, acar, vitaminas, tudo. partir deste momento voc comear do zero. Pegue papel e lpis e primeiramente faa uma lista de tudo o que costuma comer, o ms inteiro em todas as refeies. Ser uma lista grande, mas necessria. Depois faa outra lista, de tudo o que gosta de comer. Relacione seus prazeres gastronmicos sem culpa. Em seguida crie uma terceira lista com todos os alimentos que lhe fazem mal. Pode ser uma pequena azia, uma indigesto, enxaqueca, qualquer tipo de distrbio, at espinhas. Observe que devem ser alimentos que lhe fazem mal, e no os alimentos de que no gosta. Existe uma grande diferena entre os dois grupos. Se sua lista de alimentos problemticos tiver menos de cinco itens, mal sinal. Voc precisa se observar e se conhecer melhor. Agora compare a primeira lista (alimentos costumeiros) com a terceira lista (alimentos que fazem mal). Voc est no caminho certo. Observe cuidadosamente se os problemas de sade que passou ultimamente no foram causados por algum alimento especfico. Se teve uma grande dor de cabea na noite de tera-feira e foi o nico dia em que almoou lingia, desconfie. Atravs desta anlise voc vai descobrir que pode evitar facilmente comer algo que lhe far mal. Pense em como pode evitar este alimento ou substitu-lo por outro. Agora compare a segunda lista (alimentos preferidos) com a terceira

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lista (alimentos que fazem mal) e repare quais alimentos que gosta lhe agridem o organismo. triste mas a dura verdade. Muitas vezes algo que amamos comer nos extremamente prejudicial. Isto ocorre em alguns casos onde algum sentimento nos empurra num processo autodestrutivo. Pode ser uma culpa, um remorso, uma baixa autoestima, uma depresso. Nosso corpo sabe exatamente o que nos faz mal. Se este for o caso, procure ajuda especializada e tente superar este problema emocional. Sempre que tiver um mal-estar em algum dia, anote tudo o que comeu nas 24 horas antes do problema. Pode ser que no tenha relao, mas essencial que voc comece a compreender a simbiose entre sade e alimentao. Aos poucos voc comear a perceber o que pode comer ou no, em que quantidade e em que horrio. Tudo isto significativo e o bom senso sempre deve imperar. Eu, por exemplo, posso comer quanta carne de boi eu quiser, mas se comer carne de porco por mais de duas refeies meu rosto fica cheio de espinhas. De qualquer forma, se me oferecer um sanduche de pernil, eu posso comer. UM sanduche. Da mesma forma o molho de tomate me agride o estmago, mas pior noite (certeza de acordar com uma baita azia de manh...). Entretanto, um pouco de molho de tomate no almoo, por exemplo, pode ser tolerado. Desde que seja pouca quantidade (o molho que tem em uma pizza uma poro aceitvel) e no coma mais nada agressivo (como pizza de calabresa dois dias seguidos. E noite). Este tipo de informao no est nos manuais de nutrio, repletos de tabelas, grficos e informaes contraditrias. Voc ter que aprender sozinho atravs do autoconhecimento. Mas voc ir ter muitos outros benefcios ao se conhecer melhor. Combinao A combinao entre alimentos muito importante. Ao comear sua

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caminhada de autoconhecimento voc pode perceber que determinado alimento est em sua lista negra mas que algumas vezes voc o come sem problemas. A resposta pode estar na combinao dele com alguma outra coisa. J contei minha experincia com o frango e o pimento, se lembra? Era uma combinao malvola. Cada pessoa uma pessoa e cada situao uma situao. Cuidado com combinaes. Parte do amido digerido na boca mas se ela ficar muito cida a digesto prejudicada. Portanto comer algo com amido (po, macarro, arroz) depois de comer uma fruta cida pode atrapalhar sua digesto. Almoar bebendo suco de laranja, por exemplo. Via de regra, evite frutas aps as refeies. As frutas passam direto pelo estmago e so digeridas no intestino, portanto se forem consumidas aps outros alimentos elas tero que esperar sua vez at serem digeridas e fermentaro no estmago. Isto pode no representar nada para voc mas para algum pode ser um problemo. Estas so apenas algumas idias gerais sobre combinaes de alimentos. O melhor verificar em sua lista negra se estes alimentos lhe fazem mal sempre ou s quando esto acompanhadas por outra coisa. Quantidade A quantidade de comida que ingerimos uma das causas de muitos de nosso problemas de sade. Grandes volumes de alimentos somados ou relacionados com a ansiedade faz mais obesos do que todo o colesterol do planeta. Somos educados a pensar que praticamente morreremos se pularmos uma refeio ou que ficaremos debilitados e anmicos ao seguir um regime de restrio alimentar por uma semana. Bobagem. Grande parte da populao ingere uma quantidade de comida maior do que o necessrio, sem contar que os alimentos industrializados tem muito mais sustncia que os naturais e poderiam ser utilizados em menor quantidade.

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Fazer trs refeies dirias parece ser algo bastante lgico, mas depender de cada pessoa. Muitos ficam em jejum a manh toda e vo apenas almoar, sem problemas. Outros comem pequenas pores, seis ou sete vezes ao dia. Tudo depender do que for melhor para voc e do seu costume, tambm. O fator cultural muito influente na quantidade de refeies. Mas lembre-se de que deve comer se sentir fome e no quando tiver vontade de comer. Fome e gula so coisas diferentes e saber esta diferena um passo importante no autoconhecimento. Comer se tornou uma forma de preencher lacunas em nossa vida. Alimentar-se deixou de ser uma necessidade do organismo para se tornar uma atividade qualquer que pode ser feita constantemente, ao bel-prazer, como diz na embalagem de um salgadinho que eu por acaso li: a maneira mais divertida de passar o tempo. Ento comida agora passatempo, diverso? Vrios trabalhos e estudos constataram que alguma carncia na quantidade de alimentao torna as pessoas mais saudveis ao invs de debilitadas. O Dr. Liu Zhengcai, pesquisador e especialista em medicina chinesa, realizou um brilhante trabalho na anlise da longevidade de ancios chineses, todos com mais de 100 anos (e existem milhares na China). Ele descobriu que muitos deles se alimentavam muito pouco. Estudos feitos posteriormente com ratos mostraram que aqueles que tiveram restries alimentares viveram mais e com mais sade do que aqueles que tinham comida vontade. Estes desenvolveram vrias patologias, como nefrite e cncer. Monges orientais, yogues e ascetas em geral se alimentam muito pouco e vivem saudveis, o que parece comprovar este argumento. Mas veja que falamos pouco no sentido de menos e no no de misria. Entre comer pouco e ficar desnutrido existe uma grande distncia. A verdade que geralmente comemos muito mais do que necessitamos, por gula, problemas emocionais ou outro motivo.

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Procure regular a sua alimentao pelo quanto voc realmente deseja comer. Normalmente se aconselha que se ingira cerca de 70% da capacidade do estmago, ou seja, saia da mesa antes de ficar repleto. Isto d uma sensao de leveza e tranqilidade. Evite raspar a panela para no desperdiar comida. Coma somente o que tiver vontade e eduque-se para conhecer a fronteira entre necessidade e excesso. Ao forar mais comida repetidas vezes, seu estmago se dilata e seu organismo se acostuma com aquela nova quantidade. Da prxima vez, sua fome ser maior para poder ocupar a nova capacidade do estmago e assim por diante. Modere sua quantidade de comida antes que necessite de uma operao de reduo de estmago... poca Estamos acostumados a comer mais ou menos do mesmo modo durante o ano todo. Isto no muito sbio, no importa o tipo de dieta que utilizemos a no ser que voc more em um lugar que tenha apenas um tipo de alimento o ano inteiro, o que no acho que seja sue caso. Nossa alimentao deve seguir as pocas do ano, as estaes do ano. Conhece o I Ching, o Livro das Mutaes? uma obra maravilhosa escrita na China antiga h mais de 3.000 anos que possui uma filosofia extremamente profunda. Segundo este livro tudo no Universo est em constante mutao, nada fica esttico o tempo todo. Portanto nossa alimentao deve seguir o padro de mutao do Universo, ao menos nas estaes do ano. O melhor seria consumir brotos, alimentos crus e frescos na Primavera, poca de crescimento e recuperao da letargia do Inverno. a hora certa para regimes de desintoxicao e emagrecimento. Evite alimentos picantes e diminua os alimentos cidos.

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O Vero poca de plenitude, o clmax, e pede alimentos crus, frutas e mais lquidos, mas sem exageros. Reduza a quantidade de comida e faa vrias pequenas refeies ao longo do dia. Evite alimentos salgados e diminua os alimentos amargos. O Outono a hora de se preparar para o Inverno. Consuma alimentos mornos, mais pesados como as carnes, e sopas e caldos diversos. Passe a cozinhar seus legumes. Evite alimentos amargos e diminua os alimentos picantes Inverno sinnimo de reduo de atividades, de uma menor movimentao devido ao frio. Frio este que pede comidas mais gordurosas e mais carnes na alimentao. Fuja de alimentos crus e coma nozes, amendoim e frutos oleaginosos. Evite alimentos doces e diminua os alimentos salgados. Dentro da filosofia chinesa temos 5 elementos, portanto 5 estaes do ano. Inclumos ento a chamada 5 Estao, no final do Vero e comeo do Outono. Uma transio do clmax do Vero para a preparao do Inverno. Recomenda-se alimentao mais neutra como os cereais. Evite alimentos cidos e diminua os alimentos doces. No vou entrar em muitos detalhes, mesmo porque grandes partes do Brasil no possuem as quatro estaes bem definidas. A regra geral procurar comer alimentos locais e da poca, sempre que possvel. Aumente os alimentos quentes quando o tempo esfriar e viceversa (mas cuidado com os gelados, pois atacam sua sade). Assim voc estar seguindo as mutaes corretamente.

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RESUMOA alimentao deve ser algo individual. No existem regrais gerais aplicveis a toda a Humanidade. Assuma a responsabilidade pela sua sade, conforme falamos na dica 4 (Sua Sade Voc Quem Faz). Se voc sabe que comer sanduche todo dia lhe faz mal e continua fazendo, o problema ser todo seu. Nenhum mdico do planeta, ocidental ou oriental, poder lhe ajudar. Procure descobrir o alimento que lhe faz mal, quando lhe faz mal e junto com que outro tipo de comida o efeito pior. No se esquea de pesquisar tambm o que lhe faz bem. Coloque estes alimentos sempre em seu cardpio. Cuidado com as combinaes. Nem sempre uma mesa muito variada sinnimo de sade. Muitos alimentos criam problemas quando misturados. Procure conhecer o que lhe afeta. No encha completamente seu estmago. Coma apenas 70% de sua capacidade, mesmo que deixe a mesa com um pouco de fome. Quando estiver doente, com algo simples como uma gripe, procure reduzir a quantidade e a variedade de comida ingerida. D um tempo para seu organismo se restabelecer. Procure comer sempre os alimentos da estao do ano correspondente. Evite coisas muito fora do padro. Nozes e avels consumidas no Natal, que Vero aqui no Brasil, um bom exemplo de erro. Fuja de aditivos alimentares como corantes, espessantes, emulsificantes, flavorizantes, acidulantes, umectantes, aromatizantes e estabilizantes. Eles so txicos para o organismo. Evite-os ao mximo, especialmente glutamato monossdico e aspartame.

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8 DERRUBANDO MITOS DOS ALIMENTOSAlimentao sempre uma preocupao de todos que buscam uma vida saudvel. A relao entre o que comemos e como nos sentimos ou somos sempre foi muito bvia na cultura humana. Mas nas ltimas cinco dcadas experimentamos um grande avano na pesquisa cientfica relacionada com a alimentao. Novos estudos analisaram a composio e efeitos de vrios alimentos e pesquisas ampliaram nosso conhecimento sobre a digesto e assimilao. Embora a relao entre alimentao e sade seja conhecida desde os primrdios da Raa Humana, nunca o Homem se preocupou tanto com o que come e nunca ele comeu to mal. No incio apenas se comia o que podia ser encontrado e quando era encontrado. Depois passamos a criar, plantar e colher nossos alimentos. partir do sculo XX passamos a contar com muito mais alimentos, de vrias regies diferentes, e passamos a efetuar grandes industrializaes na alimentao. Foi o incio de diversos problemas. Vamos analisar agora alguns mitos da alimentao que ocorrem no apenas debaixo das barbas da cincia ocidental mas tambm em outras correntes de pensamento. Lembre-se de que toda pesquisa cientfica feita partir de modelos estatsticos, conforme vimos anteriormente, estando pois sujeita a funcionar apenas na faixa mdia. Tambm os avanos cientficos acabam por derrubar verdades anteriores e acrescentar outras novas, que com o tempo tambm sero descartadas. Mesmo assim estas pesquisas so importantes? Claro! Mas lembre-se sempre de que so apenas referncias e nunca verdades absolutas. Muitas pessoas se enganam neste aspecto e dirigem toda a sua vida segundo os ltimos avanos da cincia. Mas os ltimos avanos de hoje amanh estaro cados por terra.

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Desenvolva seu autoconhecimento e descubra o que realmente bom para voc ou no, independente do que outros digam. Dogmas A principal praga que assistimos a dos dogmas e meias-verdades cientficas. Pesquisas mal-feitas, superficiais, contraditrias, inconclusivas ou parciais muitas vezes derramam informaes pela metade e so avidamente divulgadas pela imprensa com sensacionalismo como a ltima palavra da cincia. E estas meia-verdades ou equvocos se propagam e criam uma cultura resistente s mudanas que so normais na cincia. Tornam-se dogmas difceis de serem derrubados. o caso por exemplo do uso da margarina em detrimento da manteiga. Esta questo ser analisada melhor adiante, mas aqui cabe uma considerao. Nunca fui adepto da margarina e quando se ventilou que existiam riscos potenciais nas gorduras trans, tratei de me informar melhor. Procurei na internet e achei um artigo excelente, de uma nutricionista, que explicava detalhadamente o que eram as gorduras trans e seus efeitos malficos no organismo: enquanto a manteiga pode apenas aumentar o colesterol ruim, a gordura trans no s aumenta o colesterol ruim como diminui o colesterol bom. Concluso bvia: pior que a manteiga. Mas a nutricionista termina o artigo afirmando que, apesar de todos os problemas da gordura trans, comer margarina ainda melhor do que a manteiga porque esta de origem animal. Entendeu? Nem eu! A carne vermelha tambm sofreu com isto. Ela acusada de ser a responsvel por pelo menos 75% das desgraas da Humanidade, pelo que se nota por a. Embora seja difcil provar tudo isto. Muitos artigos tem sido escritos contra toda esta cultura de condenao carne vermelha e gordura animal, mas isto no aparece na imprensa. Como bem demonstra o Dr. Drauzio Varella em seu site, ... fica claro que as recomendaes atuais para evitar gordura animal nas refeies so,

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no mnimo, desprovidas de fundamento cientfico (http://drauziovarella.ig.com.br/artigos/carne_introducao.asp).

Quando se levantou na imprensa que a carne vermelha pode provocar o Mal de Parkinson, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN), atravs de seu Departamento Cientfico de Transtornos do Movimento, teve que emitir uma posio oficial a respeito disto, negando veementemente a veracidade das informaes e mostrando que so estudos mal-feitos ou inconclusivos. Mas isto no chegou a ser uma notcia importante. O leite considerado como alimento imprescindvel, mais por dogma do que por evidncias cientficas. Para mostrar como funciona um dogma globalizado, existe uma campanha em curso para tentar impor a alimentao com leite e derivados aos chineses, pois isto no faz parte de sua cultura. Os ocidentais no conseguem entender como uma criana cresce forte e saudvel sem beber leite, logo os chineses devem beb-lo tambm. Mas 99% dos chineses no toleram a lactose, embora sejam um mercado enorme e atraente para os laticnios. Muitos outros dogmas poderiam ser descritos, como o do carboidrato como alimento indispensvel e o consumo excessivo de calorias e sedentarismo como origem da obesidade. Mas podemos acabar queimados numa fogueira em praa pblica... Arroz Integral Aps os anos 60 se tornou muito comum a afirmao de que o arroz branco nefasto e que o arroz integral saudvel. Isto nasceu do trabalho de George Ohsawa, divulgador da Macrobitica. Segundo esta filosofia os povos do Oriente consomem arroz integral, e por isto so mais saudveis. um equvoco, pois os orientais consomem arroz branco, como se pode constatar facilmente com pessoas que viajaram at l ou em filmes e fotos. Na ndia se consome o arroz integral, chamado de arroz com cutcula, como se fosse um prato determi-

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nado, como arroz grega. A maioria consome mesmo o arroz branco, assim como japoneses e chineses. O arroz integral, escuro, pode ser tremendamente indigesto para muitas pessoas e seu uso pode ser liberado aps algumas experincias pessoais. Mas no se sinta obrigado a comer arroz integral como se sua sade dependesse disto. Os orientais no o fazem. Carne Vermelha Este um dos alimentos campees de preconceito e histrias de terror. A carne o principal fator para que os seres humanos tenham desenvolvido sua inteligncia, pois proporcionou protenas abundantes e aminocidos essenciais que desenvolveram nosso crebro e suas calorias deram um espao de tempo ocioso para que aprendssemos a pensar. Repare que os animais herbvoros comem o tempo todo e s se preocupam com isto. J mostramos que a carne vermelha e sua gordura no devem sair da mesa e que no existem comprovaes cientficas srias sobre seus riscos para o corao. Tambm comentamos sobre a sua riqueza em ferro facilmente absorvido pelo organismo e na concentrao em vitaminas do complexo B, principalmente a B12. Tambm possui abundncia em Zinco, essencial na cicatrizao e no funcionamento do sistema imunolgico e o seu consumo aumenta a absoro do ferro dos vegetais tambm. Alm disto nossa carne brasileira vem dos chamados bois verdes, criados livres em pastos e no em confinamento e alimentados com raes industrializadas como os europeus e americanos. Por isso nossa carne to apreciada internacionalmente. Ainda segundo o Dr. Drauzio Varella no artigo citado anteriormente, no existe comprovao de que ingerir menos gordura animal diminua a probabilidade de se ter um ataque cardaco ou possa aumentar nossa longevidade. As dietas ricas em carboidratos so mais perigosas para o corao do que o consumo de gordura animal.

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Leite O leite in natura o grande tabu da alimentao moderna. Considerado indispensvel para o crescimento das crianas e para prevenir problemas de carncia de clcio como a osteoporose, o leite se tornou um alimento cada vez mais indispensvel. Mas nem tudo assim como parece. Em primeiro lugar o leite de vaca adequado s vacas. As protenas do leite de vaca so muito diferentes daquelas do leite humano e a maioria das pessoas no consegue digerir a lactose, o acar do leite de vaca. Estima-se que 65% da populao brasileira tenha intolerncia lactose. Mas continua-se apregoando que ningum consegue crescer e ser saudvel sem tomar trs copos de leite por dia. Veja que meio copo de suco de repolho tem mais clcio do que um litro de leite. Alm disso o processamento do leite para enfi-lo nas caixinhas ou saquinhos o torna muito diferente do leite cru, mais saudvel. Para no falar do leite desnatado, uma gua branca que perdeu quase todos os nutrientes. Os orientais no consomem leite e laticnios, com exceo dos indianos. A Medicina Chinesa considera o leite como fator de reteno de lquidos e muco no organismo. Manteiga e Margarina Por muito tempo defendi a manteiga em detrimento da margarina. Era considerado maluco, pois a nefasta manteiga era de origem animal, aumentava o colesterol, etc... As pessoas preferiam a margarina, alimento sinttico produzido por processos industriais e cheio de aditivos qumicos. Talvez por influncia das propagandas que mostravam famlias e velhinhos felizes e saudveis por usarem margarina. At as evidncias da gordura trans aparecerem. Sempre se suspeitou que estas gorduras pudessem ser danosas, mas a indstria se calou com a falta de respaldo cientficos. Quando se descobriu finalmente que as gorduras trans diminuam o colesterol bom e aumentavam o ruim, a coisa surgiu sem grande alarde. As indstrias logo apareceram com substitutos da gordura trans, o que prova que eles j sabiam dos problemas e estudavam alternativas. Isto

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no aparece da noite para o dia. Nenhuma palavra foi dita pela imprensa sobre os milhes que devem ter morrido do corao por confiarem nos milagres da margarina. E, por fora do dogma, muitos mdicos e nutricionistas ainda afirmam que a margarina melhor que a manteiga. Ser? > Ambas tem as mesmas calorias > A manteiga rica em vitamina A, D e E. A margarina tem vitaminas artificias acrescentadas sua massa pastosa. > A manteiga de fcil digesto e no indispe o organismo. a gordura com absoro mais rpida. > Usada na culinria, aumenta o valor nutritivo e o sabor dos alimentos. > Manteiga no engorda. > Por lei, a manteiga no pode ter nenhum aditivo, exceto sal, desde a poca de Getlio Vargas. Na dcada de 1990 liberaram-se alguns aditivos, como corantes naturais. Mas a maioria das manteigas vendidas apenas gordura de leite, com ou sem sal. A margarina fabricada artificialmente por hidrogenao de leo vegetal, o que gera as gorduras trans. Mesmo que no tenham gordura trans, por usarem leo de palma, j existem boatos de que estes substitutos podem fazer tanto mal ou at mais do que as trans. Na verdade a margarina vem de uma massa pastosa preta com forte cheiro de leo que depois purificada, clareada, colorida e aromatizada. quase a mesma coisa que passar plstico derretido no po. Veja voc mesmo: deixe um pote de margarina aberto, em cima da mesa, por um ms e veja o que acontece. Nada. Nenhum inseto se aproxima, ela no embolora, nem fica ranosa, nem se estraga. Afinal, plstico dura centenas de anos... Ovos e Colesterol Os ovos so outro tipo de alimento banido das mesas nos anos 1950 depois da descoberta do colesterol. Mas descobriu-se recentemente

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que existem mais motivos para se comer ovos do que para no comlos. Sua taxa de gorduras totais baixa e a de gorduras saturadas, mais malficas, menor que uma fatia de queijo branco. Alm disso o ovo rico em colina, nutriente importante para o crebro, triptofano, que se torna serotonina (substncia associada sensao de bem-estar), e a maioria de suas gorduras so monoinsaturadas, as gorduras benficas. Tem poucas calorias e de fcil digesto pela maioria das pessoas. interessante que a revista Veja tenha publicado uma matria sobre estas novas descobertas do ovo e tenha condenado seu consumo junto com as gorduras trans, por serem reconhecidamente perigosas. No final, uma das formas saudveis de se consumir os ovos segundo a revista frit-los... em margarina. Olha a o dogma, de novo. Calorias Muita gente se descabela para comer uma refeio, pois tem que contar cada caloria do prato. Esta a ditadura das calorias, que muitas pessoas se sentem foradas a seguir principalmente para perder peso. J li um artigo de um mdico dizendo que era fcil resolver a obesidade: era s comer menos calorias que as que gastamos. Fcil, no? Ento porque a obesidade est se tornando praga mundial? No tem nada de fcil, porque calorias e sedentarismo so apenas parte do processo que engloba predisposio gentica, ansiedade, traumas, formas equivocadas de encarar a vida e toxinas como os aditivos alimentares. tudo muito complexo e cada caso um caso. Contar calorias desesperadamente fonte de ansiedade e frustrao que acabam em estresse, depresso e... mais quilos extras! J conheci pessoas que tinham uma balana na cozinha para pesar cada alimento e descobrir quantas calorias existiam no prato. Isto no sade, neurose. Novamente temos que chamar a ateno para o fato de que a tabela de ingesto de calorias montada em cima de estudos estatsticos. Isto muda dramaticamente de pessoa para pessoa, de situao para situao e de poca para poca.

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Para a Medicina Oriental, emagrecer um processo que deve englobar corpo, mente, energia e esprito. Ou na maioria das vezes no funciona. Existem pessoas sedentrias que comem como drages e no engordam nenhum grama. Outras fazem exerccios sempre que podem e dietas terrveis e pouco oscilam no peso. Cada pessoa um Universo. Nunca se esquea disto. Relaxe e procure uma soluo holstica para seu problema.

RESUMONo existe dieta ou mtodo de alimentao nico para toda a Humanidade. Cada pessoa um caso. Existem alimentos que so problemticos para determinadas pessoas e no para outras. Somente o autoconhecimento trar luz para estas dvidas. Comprovao cientfica uma referncia, nunca uma verdade absoluta. Use o bom senso. Cuidado com ltimas novidades cientficas alardeadas pela imprensa. Quanto mais repercusso um estudo tiver, tanto mais desconfiado voc deve ficar. Prefira alimentos naturais, no industrializados. De novo: fuja de aditivos alimentares como corantes, espessantes, emulsificantes, flavorizantes, acidulantes, umectantes, aromatizantes e estabilizantes. Eles so txicos para o organismo. Evite-os ao mximo, especialmente glutamato monossdico e aspartame. E, como tudo na vida, coma com moderao.

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9 O ESTRESSE NOSSO DE CADA DIA partir dos anos 1980 a palavra estresse (e sua originria inglesa stress) bombardeou nossos noticirios. Esta seria a grande praga do final do sculo XX, previso que se revelou mais do que verdadeira. Hoje o estresse uma das principais causas da queda na qualidade de vida e de perda de sade. Muito disto um sub-produto natural de nosso tipo de vida moderno, principalmente nas grandes cidades. Em verdade, o estresse faz parte de nossa prpria natureza e perfeitamente natural. O seu excesso que deve ser evitado. Muitas das doenas relacionadas obesidade e ao sedentarismo na maioria das vezes se originam do estresse, como hipertenso, diabetes, fadigas crnicas, disfunes cardacas. Incluindo a prpria obesidade! O estresse um estado fisiolgico gerado pela adaptao do organismo a um determinado tipo de estmulo emocional muito forte. Vem do ingls stress, que significa tenso. Esta tenso pode ser desencadeada por diversos fatores, geralmente com forte influncia do ambiente: prazos, frustraes, ansiedade, problemas emocionais, problemas de sade, poluio, trnsito, compromissos. Aparentemente nada podemos fazer com relao a muitos destes fatores. Mas existe sempre um deles em que podemos intervir: ns mesmos. Se alterarmos nossa reao perante estes problemas, nossa fisiologia no precisar desencadear uma guerra hormonal sem vencedores. A primeira coisa que sempre devemos nos lembrar que o estresse um fenmeno natural, que muito nos auxilia em momentos de neces-

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sidade. A injeo de adrenalina que recebemos pode salvar nossa vida em um momento de emergncia ou nos ajudar a passar por algum sufoco. Portanto o estresse nosso aliado. O que no podemos manter o estado de emergncia o tempo todo. Este o grande problema. Todos ns passamos por momentos de tenso no trabalho, em casa, at no lazer. Mas estes momentos devem vir e passar. Quando uma situao estressante substituda logo em seguida por outra e mais outra, a temos um problema. O encadeamento de situaes estressantes mantm nosso corpo em constante estado de emergncia, em tenso contnua. O resultado todos ns sabemos. Se ficamos tensos e no sentimos o alvio aps a crise passar o organismo comea a se desgastar. E os problemas de sade aparecem. Fica at difcil enumerar todas as complicaes que podem vir do estresse excessivo, mas diabetes, presso alta, transtornos psicolgicos como fobias so bastante comuns. Grande parte dos casos de obesidade est mais associado a ansiedade (uma forma de estresse) e aos problemas do dia a dia do que com as calorias que se consome. Existem muitas causas para o estresse e tambm muitos jeitos de se livrar dele. Vamos ver alguns pontos. Expectativa: manter expectativas sobre qualquer coisa o caminho certo para criar estresse e frustrao, pois dificilmente as coisas acontecem exatamente como imaginamos. Costumo dizer que o ser humano a nica criatura que sofre por antecipao: pelo aluguel do ms que vem, pelo encontro de quinta-feira, pela festa de aniversrio daquele pestinha do apartamento ao lado, pela visita do cunhado folgado que vem filar o almoo de domingo. Muitas vezes as coisas no saem to ruins e o sofrimento todo foi em vo. Da mesma forma, ao se esperar algo muito bom e isto no acontecer, a frustrao dar o golpe de misericrdia na expectativa. O resultado mais estresse. A soluo procurar esperar os acontecimentos do modo mais imparcial

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possvel, e agir conforme o momento, de acordo com o resultado. Os Taostas tem um princpio denominado Wuwei, que significa noao. Isto simboliza no criar problemas novos ou novas situaes mas reagir conforme elas aparecem. Utilizando um velho ditado, preocupe-se com a travessia da ponte apenas quando chegar na ponte. Confinamento: ficar fechado, ter seus limites reduzidos, um dos grandes incentivadores de estresse. Passar o dia trancado no escritrio, atrs do balco, dentro de casa, aumenta bastante nossa tendncia ao estresse. E se depois do trabalho voltamos para um apertamento abafado, estagnado, o estresse de todo o dia aumenta ao invs de diminuir. Sempre que puder d uma volta ao ar livre, de preferncia em uma praa ou outra rea aberta com pouca agitao. Caminhe at o local do almoo ou d uma volta maior ao retornar ao trabalho. Ao sentir a tenso aumentar, saia e fique cinco minutos ao ar livre. Se estiver chovendo, fique na porta ou em uma janela aberta e observe a chuva caindo. Refgio: todo animal precisa de um refgio para se esconder, cuidar da prole, se recuperar dos ferimentos da luta pela vida. E o ser humano no diferente. A sua residncia tem que ser este refgio. Procure manter um ambiente calmo, tranqilo. Use plantas vivas, flores, aqurios e fontes para dar mais vida ao lugar. Incensos e leos aromticos so muito bons, se voc tiver afinidade. Ao chegar em casa, espreguice-se e coloque uma msica suave, de preferncia orquestrada, em um volume baixo. No precisa ser nada New Age, mas tem que ser suave. Tome um banho tpido, nem quente nem frio. Coloque uma roupa macia e procure esquecer os problemas do dia (e no se preocupar com o dia seguinte!) Prazo: os prazos so um dos maiores carrascos que temos na vida moderna. Tudo est sujeito a horrios e escalas. A tenso se agiganta ao se aproximar o limite de tempo estabelecido, com os devidos danos ao seu organismo. Correr atrs de prazos por algumas vezes

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normal. O problema quando este tipo de atitude se torna constante. Procure planejar tudo o que for fazer e d limites de tolerncia. Nem tudo tem que ter preciso cirrgica. No caso de compromissos em uma cidade como So Paulo, dar 15 minutos de tolerncia normal e aceito. Se houver um atraso maior ligue e avise. No arrume nem aceite trabalhos com prazos vencidos ou muito prximos do fim. Isto pode mostrar eficincia profissional mas o hospital que lhe mandar a conta. Hobby: sempre recomendei a todos os meus pacientes que encontrem um hobby, uma diverso, de preferncia manual. Trata-se de uma atividade ldica, sem intenes profissionais, que nada tenha a ver com sua profisso. Este o segredo da coisa: o hobby tem que ser uma atividade sem qualquer tipo de vnculo com seu trabalho. Quanto mais diferente, melhor. Eu trabalho com cultura oriental ento meus hobbies so modelismo e ler Fico Cientfica. Nada a ver. Pode ser jogar xadrez, colecionar selos, pintar quadros, qualquer coisa. Um hobby artesanal combate o estresse de modo extremamente agradvel. E mais barato do que a conta da farmcia. Se voc achar que no tem tempo para isto, espere sua prxima internao hospitalar e comece. Trnsito: O estresse responsvel pela atitude de luta ou fuga que todos temos frente a situaes agressivas. Isto explica a tendncia a sermos agressivos quando estressados: nosso corpo se preparou para uma boa briga, que acabou no acontecendo. Mas ele est em alerta, tenso, pronto, e qualquer coisa motivo para desencadear a violncia. Vemos isto diariamente no trnsito das grandes cidades. Antes de ficar agressivo veja se realmente necessrio, se o problema realmente grande e se a soluo realmente complicada. Valorize as coisas de modo adequado. De qualquer jeito, conte at 10 respirando fundo em cada contagem. Funciona. Exerccios fsicos: qualquer tipo de exerccio fsico pode ser muito

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saudvel e desestressante. No precisa exagerar- uma leve caminhada, natao, at jogar ping-pong. O importante que se concentre no que est fazendo. Correr enquanto escuta msica alta e pensa no escritrio no adianta. Esportes radicais: hoje se tornou muito comum a prtica de esportes radicais como rapel, escaladas livres, montanhismo, rafting. J vi praticantes afirmando que eles combatem o estresse. Mas a coisa no bem assim. Esportes radicais so extremamente estressantes por natureza prpria. Mas como a carga de estresse passa, tem um limite, a pessoa normal experimenta um relaxamento final bastante agradvel, pois a carga extra de adrenalina elevou os nveis de tenso at o pico e depois desabou. No dia a dia nossas emergncias no acabam, por isso a tenso constante. O problema quando a pessoa se torna viciada em esportes radicais. a mesma coisa de uma dependncia de drogas qumicas, pois trata-se de adrenalina, substncia qumica. A pessoa nestas condies busca emoes cada vez maiores e com mais perigo para obter uma dose crescente de adrenalina. Quando fica sem a prtica, se sente irritado, ansioso, como a sndrome de abstinncia do drogado. Depois da prtica ele sente um tremendo alvio e relaxamento, como o causado pela satisfao no uso de drogas. Isto no combate ao estresse, mas uma dependncia. Esportes radicais podem ser saudveis, se no acabar em obsesso. Ponto de vista: muitas vezes o estresse gerado por um determinado jeito de encarar as coisas. Procure ser mais tolerante e flexvel. A capacidade de poder ver uma mesma situao sob a tica de outra pessoa conduz a uma maior compreenso dos que se encontram ao nosso redor e um grande diferencial na liderana empresarial, por exemplo. : Reao: a reao aos problemas do dia a dia deve ser analisada. Voc percebe um problema e logo comea a pensar em uma soluo ou voc fica o dia todo reclamando dele? Lao-Tzu, grande sbio chi-

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ns, afirmou que melhor acender uma lanterna do que amaldioar a escurido. Busque uma soluo e no se estresse com o problema. Artes Marciais: praticar uma arte marcial uma boa pedida para se reduzir o estresse. Qualquer tipo de atividade fsica regular suficiente, mas as artes marciais possuem muitas propriedades a mais. Se voc optar por uma arte tradicional do Oriente voc ter, alm do mero exerccio fsico, mais concentrao, disciplina e uma excelente filosofia de vida. Particularmente eu recomendo o Tai Chi Chuan ou o Aikid como ferramentas ideais para deixar o estresse comendo poeira e ampliar sua viso do Universo. Atividades orientais: alm das artes marciais existem muitas outras atividades orientais que podem ser utilizadas como ferramentas de reduo do estresse ou como hobbies, como arranjo japons de flores (Ikebana), rvores miniaturas (Bonsai), caligrafia oriental (Shod), dobradura de papel (Origami). Elas induzem concentrao e pregam a liberao do pensamento. Terapias em forma de arte. Massagem: feitas periodicamente, melhoram o relaxamento muscular e a circulao de energia removendo e dissolvendo a tenso. Qualquer tipo de massagem sempre ajuda, mas recomendo as tradicionais como Tui-N, Shiatsu, Anm ou mesmo o moderno Quick Massage, feito em uma cadeira especial. Uma vez por semana seria o ideal, mas em caso de necessidade pode-se recorrer a ela sempre que precisar. Relaxamento: relaxar a ordem para combater o estresse. Relaxamento o oposto da tenso, logo nosso remdio. Cada pessoa tem um jeito de relaxar, apenas tome cuidado para no

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ser enganado. Muitos jovens acreditam que escutar o som no volume mximo relaxa. Nada disto. Ele atordoa. Procure espreguiar-se ao longo do dia e, quando sentir um msculo tenso, faa o seguinte: inspire profundamente, prenda a respirao e tensione aquele msculo o mximo que puder. Solte o ar e relaxe a musculatura. Isto pode ser fei