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Mulheres Caciques: Uma etnografia sobre as representações de gênero a respeito de lideranças femininas Guarani em Santa Catarina 1 . Francine Pereira Rebelo (UFSC) Resumo: Esta pesquisa visa refletir sobre as representações de gênero a respeito da presença de mulheres caciques nos espaços de discussão política entre os Guarani do Sul do país, bem como as implicações dessa participação feminina na luta pelo reconhecimento dos direitos territoriais indígenas. A partir da trajetória de duas caciques, Eunice e Arminda, das aldeias Itaty (Morro dos Cavalos) e Jatay Ta (Conquista), nos municípios de Palhoça e Balneário Barra do Sul, respectivamente, busco compreender as implicações políticas de uma liderança feminina visto que só recentemente as mulheres assumem novas representações no contexto indígena. Dado o cenário geral dos desafios de regularização das Terras Indígenas no Brasil e mais especificamente de Santa Catarina é necessário não apenas compreender o contexto de ocupação do litoral do estado, marcado historicamente por relações assimétricas, mas também as redes de união e de resistências articuladas pelos Guarani como forma de enfrentamento a esses desafios. Em Santa Catarina, muitos elementos misturam-se aos conflitos e encontramos uma obstaculização das demarcações e homologações das Terras Indígenas marcadas por interesses econômicos e políticos contrários, uma imprensa fortemente opositora, além das perícias, muitas vezes utilizadas como instrumento de contestação para atrasar os processos demarcatórios. A pesquisa etnográfica é realizada nesse cenário e busca dar uma contribuição nas temáticas de gênero, etnologia, assim como nas discussões a respeito da garantia dos direitos indígenas. Palavras-chave:, lideranças , etnologia índigena, gênero, Guarani. Este trabalho faz parte da minha pesquisa de mestrado referente às lideranças indígenas Guarani Mbyá em Santa Catarina, mais especificamente, das mulheres caciques. Trata-se de uma pesquisa em andamento, portanto, muitas das reflexões aqui realizadas serão, posteriormente, aprofundadas e re-discutidas. Cabe nesse artigo, levantar as questões que pareceram pertinentes até esse momento do trabalho, atentando 1Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. 1

29ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA) - …...Nas Terras Indígenas em que os processos se encontram em tramitação, declaradas ou demarcadas, muitos elementos misturam-se

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Mulheres Caciques: Uma etnografia sobre as representações de gênero a respeito delideranças femininas Guarani em Santa Catarina1.

Francine Pereira Rebelo (UFSC)

Resumo: Esta pesquisa visa refletir sobre as representações de gênero a respeito da

presença de mulheres caciques nos espaços de discussão política entre os Guarani do

Sul do país, bem como as implicações dessa participação feminina na luta pelo

reconhecimento dos direitos territoriais indígenas. A partir da trajetória de duas

caciques, Eunice e Arminda, das aldeias Itaty (Morro dos Cavalos) e Jatay Ta

(Conquista), nos municípios de Palhoça e Balneário Barra do Sul, respectivamente,

busco compreender as implicações políticas de uma liderança feminina visto que só

recentemente as mulheres assumem novas representações no contexto indígena. Dado o

cenário geral dos desafios de regularização das Terras Indígenas no Brasil e mais

especificamente de Santa Catarina é necessário não apenas compreender o contexto de

ocupação do litoral do estado, marcado historicamente por relações assimétricas, mas

também as redes de união e de resistências articuladas pelos Guarani como forma de

enfrentamento a esses desafios. Em Santa Catarina, muitos elementos misturam-se aos

conflitos e encontramos uma obstaculização das demarcações e homologações das

Terras Indígenas marcadas por interesses econômicos e políticos contrários, uma

imprensa fortemente opositora, além das perícias, muitas vezes utilizadas como

instrumento de contestação para atrasar os processos demarcatórios. A pesquisa

etnográfica é realizada nesse cenário e busca dar uma contribuição nas temáticas de

gênero, etnologia, assim como nas discussões a respeito da garantia dos direitos

indígenas.

Palavras-chave:, lideranças , etnologia índigena, gênero, Guarani.

Este trabalho faz parte da minha pesquisa de mestrado referente às lideranças

indígenas Guarani Mbyá em Santa Catarina, mais especificamente, das mulheres

caciques. Trata-se de uma pesquisa em andamento, portanto, muitas das reflexões aqui

realizadas serão, posteriormente, aprofundadas e re-discutidas. Cabe nesse artigo,

levantar as questões que pareceram pertinentes até esse momento do trabalho, atentando

1Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre osdias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.

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principalmente para o contexto geral de disputas de terras em Santa Catarina, assim

como para atuação e desafios das mulheres indígenas frente a esse cenário desfavorável.

O campo junto às mulheres indígenas vem sendo realizado desde 2013, através

de diferentes participações. Neste ano, participei de diversas cerimônias religiosas,

eventos acadêmicos e manifestações realizadas na aldeia Itaty / Morro dos Cavalos,

município de Palhoça,Santa Catarina. Além disso, durante dois meses, participei

semanalmente de aulas de Guarani ministradas pelo companheiro da cacique Eunice

Antunes, realizadas na aldeia. Tive acesso a esse grupo também através das atividades

do PROEXT, projeto de extensão organizado pelo NEPI (Núcleo de Estudos de

Populações Indigenas/UFSC) que tem como objetivo apresentar para os alunos

indígenas o contexto da universidade, principalmente no que concerne aos processos

políticos e burocráticos das cotas para o ingresso nas instituições de Ensino Superior.

Eunice Antunes, além de professora do colégio Itaty e cacique da aldeia Itaty (Morro

dos Cavalos), é aluna Guarani do curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da

Mata Atlântica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por esse motivo,

permanece na cidade de Florianópolis durante as etapas de aula e frequentemente é

convidada a participar de eventos diversos na universidade. Ademais, na semana cultura

indígena realizada pela escola Itaty, em abril de 2014, permaneci uma semana na casa

da cacique.

A outra cacique central nessa pesquisa é Arminda Ribeiro, liderança na aldeia

Conquista (Jatay Ta), em Balneário Barra do Sul. Tive contato com Arminda Ribeiro,

primeiramente através do PROEXT, realizando duas visitas na aldeia, nos dias 14 de

outubro e 21 de outubro de 2013. A segunda ocasião foi a participação em uma equipe

de perícia de demarcação de terra nas Terras Indígenas (T.I) Piraí, Tarumã, Pindoty e

Morro Alto, na região norte do litoral de Santa Catarina. A aldeia Conquista está

inserida na T.I. Pindoty, juntamente com as aldeias de Pindoty, Yvapuru e

Jabuticabeiras. A perícia teve dois trabalhos de campo, um realizado entre os dias 01 e

12 de dezembro de 2013 e o outro entre os dias 03 e 17 de fevereiro de 2014. A

participação em diligências periciais contribuiu não apenas para o fortalecimento do

contato com a cacique, mas também para o conhecimento aprofundado das aldeias das

quatro Terras Indígenas, do histórico de ocupação da região e das relações de parentesco

entre os Guarani. Ademais, permaneci na aldeia Conquista por dez dias no mês de maio

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de 2014, durante a primeira etapa do campo do mestrado.

Para além dessas duas lideranças, em maio de 2013 viajei até Guaíra, no oeste

do Paraná, onde conheci a cacique Paulina Martins do Tekohá Yhovy. Por uma questão

de tempo, dada a brevidade do mestrado, de distância, visto que Guaíra é no Norte do

Paraná, fronteira com o Mato Grosso do Sul e levando em consideração que as outras

duas caciques apresentadas fazem parte do subgrupo guarani Mbyá e que a cacique

Paulina se considera Avá-Guarani, decidi que seria melhor nesse momento não dar

continuidade à pesquisa com Paulina Martins e aprofundar , sobretudo, na trajetória das

interlocutoras Eunice e Arminda. De todo modo, as contribuições da cacique são

utilizadas nas reflexões expostas nesse artigo.

Contexto territorial indígena em Santa catarina e as formas de representações

políticas.

De acordo com Brighenti (2012), existem em Santa Catarina 25 Terras e

Reservas Indígenas ocupadas pelas etnias Xokleng, Guarani e Kaingang. A maior parte

da ocupação é feita pelos Guarani, visto que estes ocupam 20 entre os 25 territórios

catalogados.

Em sua totalidade, as terras indígenas no estado representam 77.759 hectares.

Proporcionalmente esses números condizem a menos de 1% do território de Santa

Catarina, o que é agravado pelo fato de que atualmente, por falta de regularização e pela

ocupação de particulares e do poder público, os indígenas não dispõem da posse de mais

de 38.000 desses hectares. Ou seja, mais de 50% desse território não está efetivamente

nas mãos dos indígenas (BRIGHENTI, 2012).

Esse cenário de distribuição de terras, desfavorável aos indígenas, faz com que

as aldeias lideradas pelas caciques enfrentem cotidianamente desafios relacionados à

luta pelas terras. O envolvimento em disputas judiciais mistura-se aos conflitos com

fazendeiros, empresários e interessados em terras indígenas, transformando o cotidiano

desses povos em uma constante política de resistência frente aos não indígenas.

A tabela a seguir, oferecida por Brighenti (2012), permite uma visualização da

situação fundiária das Terras Indígenas em Santa Catarina. Analisando a tabela é

possível verificar que, exceto pelas reservas em Major Gercino, Canelinha e Chapecó e

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da terra Kaingang/Guarani em Ipuaçu e Entre Rios, homologada em 1991, todas as

outras Terras Indígenas da região encontram-se em processos ainda não iniciados, sem

providência ou estudo prévio, ou em processo de tramitação jurídica, sendo que o

número de finalizações judiciais à respeito das Terras Indígenas é muito pequeno.

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Nas Terras Indígenas em que os processos se encontram em tramitação,

declaradas ou demarcadas, muitos elementos misturam-se aos conflitos. No contexto

específico de Santa Catarina, encontramos uma obstaculização das demarcações e

homologações das Terras Indígenas marcada por interesses econômicos e políticos

contrários, uma imprensa fortemente opositora, além das perícias, muitas vezes

utilizadas como contestação para atrasar os processos demarcatórios (IORIS E

DARELLA, 2013-prelo)

Muito recentemente, em dezembro de 2013, o deputado Reno Caramori (PP/SC)

em entrevista concedida ao vivo no programa Bom Dia Santa Catarina, da RBS TV, atribuiu

à FUNAI a culpa das mortes provocadas por acidentes na BR-101, no trecho do Morro dos

Cavalos, já que segundo ele, esse órgão impede a construção de uma nova faixa. O deputado

afirmou que os responsáveis da FUNAI deveriam "ir para o inferno vivos" e completou :

“Meia dúzia de família de indígenas, de silvícolas, Qual é a contribuição dessa camada

social para com a sociedade catarinense, do mundo?”

Essas forças políticas associadas a interesses econômicos contrários e a uma

imprensa pouquíssimo ética frente a causa indígena nos permite compreender um pouco

do panorama e da vivência dos indígenas de Santa Catarina. Uma notícia publicada em

novembro de 2012 pelo jornal Notícias do Dia, intitulada “Donos de terra de Araquari

são alvo de desapropriação” mostra que grandes proprietários da região reclamam da

demarcação de área indígena. De acordo com Claudino Garbin, proprietário

entrevistado:

“Por que não levam estes índios para a Amazônia? Em cem

anos de registro destas terras nunca teve índio aqui. Esta é a

nossa guerra. Estamos há 12 anos de briga entre proprietários

e Funai. Aqui, nunca teve índio e não deixo entrar. Não são

loucos de entrar”, avisa2 (grifos meus).

A ideia de que em Santa Catarina – o estado mais “branco” do Brasil3 - nunca

2 Jornal Notícias do Dia. Donos de terra de Araquari são alvo de desapropriação Proprietários de grandespropriedades reclamam de demarcação de área indígena. Publicado em 24/11/12-12:17 por: CláudioCosta. Disponível em http://www.ndonline.com.br/joinville/noticias/39132-donos-de-terra-de-araquari-sao-alvo-de-desapropriacao.html.3 De acordo com o CENSO 2010/IBGE , o Estado de Santa Catarina com 84% de brancos auto-

declarados é a unidade da federação com maior proporção do Brasil.

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teve índios é recorrente e muito explorada pela mídia, não só local como também

nacional. A matéria intitulada “Made in Paraguai – A FUNAI tenta demarcar área de

Santa Catarina para índios paraguaios enquanto os do Brasil morrem de fome”,

publicada em 2007 pela Revista VEJA, é representativa no que diz respeito aos

argumentos utilizados pelas forças contrárias a garantia das Terras Indígenas.

Por mais que se trate de notícias jornalísticas que defendem interesses políticos

específicos, os argumentos apresentados pelas grandes mídias incidem na formação da

opinião pública e na própria compreensão dos processos pelos representantes legais

responsáveis pelo andamento das questões fundiárias referentes aos indígenas. Desse

modo, grande parte da argumentação contrária à regulação de terras enfatiza a “não-

presença” indígena histórica na região e a atual ocupação de indígenas “provenientes do

Paraguai”.

As terras indígenas lideradas pelas caciques entrevistadas, encontram-se nesse

contexto. A aldeia Conquista está inserida nesse momento em processos periciais, sendo

foco de uma perícia de demarcação. Em 12 de maio de 2008, foi publicada pelo Diário

Oficial da União, a delimitação da T.I. Pindoty. Dado o período do contraditório, de 90

dias, a empresa Karsten S.A., Associação dos Proprietários de Terras Ameaçadas pelos

Índios(ASPI), Prefeitura Municipal de Araquari e Estado de Santa Catarina

apresentaram contestações à FUNAI. Desse modo, uma nova perícia foi requisitada,

sendo que atualmente a comunidade aguarda a conclusão das diligências periciais e o

parecer jurídico referente à T.I. Pindoty4 .

O Morro dos Cavalos, outra área pesquisada, recentemente passou pela tensão

da realização de uma nova perícia, sendo que esta foi revogada pelo juiz, em dezembro

de 2013. A Ação Popular para a nulidade do processo demarcatório (2013)5 foi

requisitada pelo juiz para que não fosse imposto ao Poder Judiciário “um julgamento

superficial, baseado em presunções e estudos técnicos parciais, que não são confiáveis

aos olhos das partes”6. Nesse momento a comunidade aguarda o último procedimento

http://portalsobresantacatarina.com.br/rankings/ranking-de-proporcao-de-racas-santa-catarina-tem-a-maior-proporcao-de-brancos-do-pais/(Acesso em 02/06/2014)

4 Essas informações foram retiradas do documento intitulado “Componente Indígena do Estudo deImpacto Ambiental – Relatório de Impacto Do Meio Ambiente Duplicação da Rodovia BR 280 -Trecho São Francisco do Sul – Jaraguá do Sul / Santa Catarina”, realizado pela equipe técnicaacadêmica composta por Maria Dorothea Post Darella, Flávia Cristina de Mello, Fabiana da Silva,Diogo de Oliveira e Raoni Kriegel Kamayurá.

5 Processo ,2009.72.00.002895-0 .6 Trecho retirado do Despacho do Juiz Federal referente a Situação atual da AÇÃO POPULAR Nº

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necessário para garantia da terra, ou seja, a homologação. Por esse motivo, a realização

de uma perícia causava temores na comunidade devido à possibilidade de ainda mais

atrasos para a conclusão do processo.

Segue abaixo um mapa oferecido por Brighenti (2012) que permite a

visualização da aldeia Conquista e aldeia Morro dos Cavalos concentradas na região

litorânea, assim como a disposição das demais aldeias, não apenas Guarani, mas

também Xokleng e Kaingang, do estado de Santa Catarina.

2009.72.00.002895-0/SC em 11 de setembro de 2013. (Ioris e Darella, 2013)

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Atuação política e articulação das caciques Guarani Mbyá frente a luta pela terra

Eunice Antunes, cacique do Morro dos Cavalos, tem 34 anos e três filhos. É

casada com o vice-cacique da aldeia e acompanhada por ele nos eventos em que

participa e também no curso da Licenciatura Intercultura Indígena do Sul da Mata

Atlântica (UFSC). Eunice domina o português, não só na oralidade, mas também na

escrita e pretende fazer pós-graduação. Acredita que foi escolhida pela comunidade

como liderança visto as ações que realizou como professora e pelo sucesso na

elaboração de projetos para captação de recursos para aldeia. Para Eunice, professores

são automaticamente lideranças e por isso devem dar exemplo para o resto da

comunidade.

Arminda Ribeiro, de acordo com sua documentação, tem 60 anos, tem dez filhos

e foi casada duas vezes. O primeiro companheiro foi atropelado há 20 anos por um

caminhão na BR 101 de Santa Catarina e Arminda não está mais com o segundo

companheiro, sendo que cuida dos filhos apenas com a ajuda dos outros filhos mais

velhos. Desde o primeiro contato que tive com Arminda, ela deixou claro a dificuldade

de se expressar em português. Começou a aprender o idioma com mais de 30 anos e

sabe apenas assinar o nome. Normalmente, quando participa de algum evento ou

reunião, conta com a ajuda dos/as filhos/as para tradução.

É importante ressaltar que existe entre as caciques não apenas uma distância

geracional, mas também uma diferença nos níveis de escolaridade. Essas diferentes

trajetórias faz com que as estratégias de lutas utilizadas por elas também sejam distintas,

apesar dos objetivos finais em comum, ou seja, a garantia dos direitos territoriais

indígenas e a defesa do modo tradicional de vida Guarani.

De acordo com Eunice Antunes, durante uma mesa-redonda realizada na

Universidade Federal de Santa Catarina:

“Na Terra Indígena Morro dos Cavalos hoje vivem 28 famílias,

no total de 200 pessoas entre crianças e adultos e a gente vem

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vivendo nesse lugar assim com bastante conquista, ao mesmo

tempo bastante luta, né. Nesse momento a gente tá passando

por uns conflitos, na terra indígena porque ela é uma terra

demarcada e pra se tornar registrada e a gente ocupar o espaço

da terra assim sem tá correndo risco de perder pra União ou

pras pessoas que querem tomar a terra da gente, a gente

precisa ter o registro da terra. Então, tem vários processos que

passa, desde da demarcação, da demarcação física, e a gente tá

na parte da desintrusão que é a parte onde os moradores da

terra indígena recebem uma indenização e daí vão desocupando

os espaços para que os indígenas ocupem. Então a gente tá

nesse processo, pra nós é uma conquista muito grande, mas ao

mesmo tempo é um dos mais difíceis da nossa conquista, porque

a gente tá lidando com pessoas, né, que moram na terra e aí se

recusam sair, e aí existe uma grande política por de trás disso

também né, de pessoas que moram próxima, aí tem interesse

particular né, em cima dessas terras. Nesse momento a gente tá

nesse turbilhão, né, passando por essa turbulência”

(Transcrição da filmagem do evento realizado em 04/03/2013 -

grifos meus)

Arminda Ribeiro, em suas palavras, mostra também a preocupação que tem em

relação à garantia das terras. Em uma conversa com Regina da Silva, filha de Dona

Arminda que gentilmente serviu como tradutora, Antônio, vice-cacique da aldeia e

Arminda, foi me falado que:

Perto ali, tem uma placa, tá vendo agora que a FUNAI

marcou ali, tem uma placa ali, mas não tá respeitando a nossa

área, daí já tão limpando onde tem placa assim e lá pra dentro

já tão limpando, pra fazer uma casa ali, daí já tá preocupada,

minha mãe, os mais velhos, porque já vai ter um casarão ali do

djurua7, e daqui a pouco já tem bastante ali, daí não vai ter

7 O termo, nas palavras dos Guarani, se refere aos “brancos”, sendo utilizado para designar os não-indígenas.

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mais lugar, até aqui não vai ter mais lugar, já tá chegando o

djurua kuery 8 ..(conversa realizada em 05/01/2014)

Segundo Mello (2001), as poucas terras demarcadas e as condições fundiárias

cada vez mais adversas, exigem uma luta cotidiana dos Guarani pela sobrevivência

física e pelo que chamam de “resistência cultural”. A autora aponta algumas dessas

estratégias de resistência utilizadas pelas famílias Guarani, entre elas: “o isolamento, a

endogamia, as 'fugas' estratégicas para o seu povo 'não se acabar', a rígida preservação

da língua, que tem uma simbologia sagrada, a migração e a mobilidade”(p.54).

Ladeira (2008), no mesmo sentido, afirma que são inúmeras as ações que

atingem os territórios Guarani. Ademais, as condições de enfrentamento são marcadas

por grande desigualdade (DARELLA, 2004). De todo modo, segundo Ladeira, é notório

que as estratégias Guarani para conviver com essa realidade se atualizam, sendo assim:

Nas últimas décadas, as demandas por parte dos

Guarani, para demarcação de áreas redescobertas ou

retomadas (antigas aldeias ou acampamentos), acentuaram-se,

refletindo o empenho em assegurar, diante das condições cada

vez mais adversas, a base territorial de sustentação de sua

sociedade. Isso indica ainda como a indisponibilidade de terras

afeta o modo de viver e gerenciar sua espacialidade (p.196).

Darella (2004) aponta as dificuldades das lideranças no dia a dia para o trato das

questões relativas à regularização fundiária. A autora afirma que trata-se de um

cotidiano exaustivo, com uma intricada gama de assuntos de complexa compreensão,

agravada pela dificuldade com a língua portuguesa e a necessidade de atendimentos

internos e externos. Ademais, as atividades somam-se à já árdua tarefa da sobrevivência

de suas famílias. No caso das mulheres pesquisadas, essa rotina é acrescida ainda com o

cuidado diário destinado aos filhos.

Frente aos obstáculos enfrentados pelas lideranças, as caciques apresentam

diferentes estratégias de resistência, sendo necessário, nesse caso, dar destaque aos

8 Djurua-kuery designa os não-indígenas no modo plural.

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aspectos geracionais. Se, por um lado, Eunice domina a língua portuguesa e se expressa

de maneira exemplar, o que facilita a compreensão dos trâmites, mesmo que complexos

dos processos de regularização das terras. Do outro lado, Arminda Ribeiro diz estar

cansada da posição de cacique e acha que esse/a tem que falar bem a língua portuguesa.

A cacique acha que atualmente a luta pela garantia da terra deve se dar “pela lei do

branco”.

No que se refere aos processos de regularização, é importante destacar ainda que

antes era comum entre os mais velhos desviar dos processos de legitimação de espaços

para si, por considerarem a definição de espaços fixos e o confronto com a sociedade

englobante contrários ao modo de vida Mbyá. Foi diante dos novos contextos de

degradação ambiental intensa e cerceamento dos não-índigenas que estes passaram a ver

a necessidade da garantia dos espaços e cumprimento das ações referentes aos direitos

indígenas. (ASSIS & GARLET, 2004).

Por mais que Arminda Ribeiro acredite que a garantia das terras aconteça através

das leis dos brancos, das quais ela não se considera conhecedora, a liderança tem

importância fundamental na comunhão da comunidade em que vive. Deste modo, é

responsável por dar “continuidade” ao modo de ser Guarani, reunindo diariamente o

grupo em volta da fogueira, relembrando os tempos antigos, dos quais sofre de saudade

e deixando claro para as gerações mais novas como era a vida Guarani quando estes

dispunham de terras para sobreviver sem a interferência dos não-indígenas.

De acordo com a cacique Arminda, traduzida pela sua filha Arminda Ribeiro:

“A mudança de agora e de antigamente não combina mais,

porque pra viver que nem antigamente, para não perder nossa

cultura é difícil. Pensar no futuro, agora em diante, para os

mais velhos, é muito dolorido. Pra não afundar, nós precisamos

de um lugar bem sossegado, mato, onde tenha remédio, que a

gente não tem mais remédio medicinais, né, perdemos tudo isso

aí também. Aí, as crianças não vai saber mais o que é remédio,

medicina. Nem eu mesmo não sei mais o que é remédio da

medicina, agora eu tô fazendo curso sobre isso com djurua, era

pra fazer curso com tchedjuarÿi, é isso que nós estamos

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perdendo, daí, para as pessoas mais velhas, isso dói muito. Daí

pra viver, tem que ter a terra, daí essa é a preocupação dela da

minha mãe (Dona Arminda), nisso que nós estamos perdendo,

nós estamos morando perto da cidade, daí os homens já vai

andando na cidade, tomando cachaça, daí já perde muito nisso

aí. Porque tamo perto da cidade, senão não ia acontecer isso. A

gente não tem mais onde plantar, a gente queria plantar um

pouco ainda. Antes a gente plantava milho, batata, melancia, a

gente plantava para comer, agora tem que comprar, quem não

planta, tem que comprar no mercado. Não tem mais onde

pescar, não tem mais onde fazer armadilha pra caça, a gente

que ficou com medo já, porque o djurua não quer mais que a

gente entre no mato para fazer isso, antigamente era Guarani

que não queria mais que djuruá entrasse no mato. Agora

mudou, trocou tudo, daí a nossa preocupação é essa. Aqui, eu

acho que tem tatu, quati, capivara, nessa região ainda, só que

não dá pra gente entrar lá e caçar, tem um homem que queria

entrar lá e caçar, mas a gente ficou com medo, daí a

preocupação dela é essa, daí quem não pensa assim vai lá no

bar, tomar uma, vem e briga, é isso que a gente não quer. Não

tem mais opy também, opy pra ficar pertinho assim da escola

não pode, não dá pra gente deixar mais pra trás, tudo isso tem

incomodado nós. (transcrição da conversa realizada em

05/01/2014)

Não trata-se de estratégias excludentes ou contrárias frente a usurpação do

território pelos não-indígenas, mas sobretudo das possibilidades reais de atuação de

cada uma das lideranças, Arminda e Eunice. Como mencionado anteriormente, Eunice é

professora e grande parte do seu dia é envolvido pelas atividades da escola e do curso de

Licenciatura Indígena. Além disso, a aldeia do Morro dos Cavalos, visto à proximidade

com Florianópolis, é representativa dos Guarani no diálogo com os órgãos públicos,

sendo que muitas vezes é Eunice a responsável por essa interlocução.

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Eunice é apoiadora das escolas indígenas e aposta na Educação diferenciada

para os alunos/as como forma de articular no ambiente escolar os conhecimentos dos

'mais velhos' ,que seria a cultura, a língua, a crença, os rituais, agricultura, entre

outros. De acordo com a liderança:

“A gente tem várias conquistas, a gente tem uma escola

lá na nossa aldeia que aos poucos, desde os mais velhos até

hoje, a gente vem tentando cada vez mais melhorar a parte da

educação que é a parte principal né, pra qualquer cultura,

qualquer comunidade. A gente pensa no futuro dos nossos filhos,

dos nossos netos, e das gerações que virão e a gente sempre

pensa o melhor e o melhor para nós é manter a nossa cultura,

né, a nossa tradição, correr atrás daquilo que a gente perdeu,

correr atrás daquilo que a gente deixou, né, sei lá por causa do

que, talvez porque a gente não teve uma condição de trazer até

agora , são vários fatores que levaram a gente a perder algumas

coisas, mas assim, a gente não esquece, a gente tá sempre

correndo atrás daquilo que é a essência que a gente fala, da

educação e hoje, graças a Deus, a gente tem uma escola bem

estruturada, assim, eu digo bem estruturada não da parte

política, mesmo dos governantes, nem do Estado, mas bem

estruturada assim no contexto indígena mesmo, que é um sonho

que os mais velhos vem sonhando desde o ínicio... Os mais

velhos rejeitaram uma época as escolas nas aldeias porque a

escola porque a escola tava tirando a criança do meio dos

familiares, de dentro da casa de reza e trouxe para um lugar

fechado, onde ali fazia uma lavagem cerebral na cabeça da

criança né e ela acabava não tendo mais aquele tempo de

receber a educação familiar que era como era passado

antigamente e acabou deixando os rituais para não faltar aula.

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Eunice, na mesa intitulada 'Encontro com lideranças indígenas”, realizado na

Universidade Federal de Santa Catarina afirmou que acredita que a entrada dos

indígenas na universidade representa um grande avanço para que possam escrever a

própria história, já que até hoje a história foi escrita pelo homem branco. Para ela, um

dos maiores problemas dos indígenas é que a imagem dele ficou congelada no tempo,

como se a própria sociedade não tivesse seu modo de viver. A cacique afirma que o

indígena é duplamente discriminado, sofre preconceito quando fala português e não vive

mais na mata, ao mesmo tempo que negam seu direito de viver como antigamente.

Para a cacique, a ocupação dos espaços educacionais pelos indígenas não é

apenas um direto que deve ser assegurado, mas uma forma de :

“Falar pros governantes, falar pros políticos que não é bem

assim. Falar que o que eles tão falando dos indígenas a gente tá

entendendo e pode dar uma resposta. Pra mim é isso a

universidade”.

É a partir dessa perspectiva e acreditando na ocupação dos espaços educacionais

e na Educação diferenciada como forma de “resposta” indígena que Eunice articula suas

ações. Utilizando dos mais diversos recursos, tomando os espaços da universidade e as

mídias disponíveis, Eunice defende a dinamicidade da cultura, ao mesmo tempo que

exige que o Guarani tenha possibilidade de viver como antigamente, ou seja, em

conexão com a terra.

Através das diferentes articulações, Eunice e apoiadores da causa Guarani

colocam em prática diversos recursos para pressionar as autoridades responsáveis pela

regularização das terras. A aldeia do Morro dos Cavalos é emblemática juridicamente e

politicamente na luta pelas terras indígenas em Santa Catarina, além de pioneira no

estado nas campanhas de mobilização popular.

A comunidade, além de material impresso, faz uma campanha pela Internet

defendendo a homologação das terras e compartilhando o histórico dos processos

jurídicos pelos quais os Guarani já passaram. O grupo defende o direito de ocupar as

terras e assim, garantir o futuro dos/as filhos/as e netos/as. Segue abaixo, a página

inicial da campanha disponível no endereço eletrônico:

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www.http://campanhaguarani.org/morrodoscavalos.

Considerações finais

Nota-se que embora os povos indígenas venham rapidamente atualizando suas

formas de relacionamento e estratégias para sobreviver enquanto minorias, as

instituições do Estado brasileiro não se atualizaram e tampouco superaram o

preconceito e etnocentrismo com que assumem as questões referentes a esses povos

(LADEIRA, 2008).

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Para Darella (2001), o desafio colocado é o de um diálogo mais igualitário, onde

seja possível pensar em uma fusão de horizontes entre as sociedades guarani e

envolvente. Desse modo, contribui-se para a preservação do mundo mbya, assim como

auxilia-se nos processos de garantia dos direitos precedentes dos povos indígenas.

É necessário destacar que apesar do contexto de conflitos, a partir de 2006, os

Guarani tem realizado um trabalho importante de articulação e fortalecimento dos laços

políticos entre as diversas aldeias do litoral do estado de Santa Catarina através da

Comissão Indígena Guarani Nhemonguetá10/SC.

A Comissão reúne caciques e lideranças que deliberam a respeito de diversos

assuntos de interesse coletivo como, por exemplo, regularização das terras, questões

referentes à saúde, educação e alimentação, atividades econômicas de produção e

subsistência nas comunidades e impactos decorrentes de projetos de crescimento

econômico, como construções de estradas, ferrovias e linhas de transmissão elétrica.

(VASCONCELOS, 2011; OLIVEIRA, 2011).

A criação da Comissão Indígena Guarani Nhemonguetá/SC é ilustrativa da

organização social e política dos Guarani do litoral de Santa Catarina. Por estarem

entrelaçadas num complexo esquema de rede de parentesco e afinidade e levando em

consideração a relevância da mobilidade inter-aldeia, as lideranças optaram por discutir

as questões importantes em conjunto, partindo da prerrogativa de que uma aldeia afeta

todas as outras aldeias (VASCONCELOS, 2011).

Nota-se a que preocupação com o futuro do povo indígena e a necessidade de

garantir a possibilidade de viverem de forma autônoma o sistema Guarani são

motivadores das duas caciques acompanhadas nesse trabalho. Apesar de estratégias

diferenciadas – porém não excludentes – as caciques assumem a importância da luta

pelos direitos territoriais, articulando-se internamente, defendendo e relembrando as

tradições Guarani e reinterrogando as posturas e políticas anti-indígenas do Estado.

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Referências bibliográficas

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Indias, Madrid, vol. LXIV (230):35-54, ene./abr.

BRIGHENTI, Clóvis A (2012) “Povos indígenas em Santa Catarina”. Disponível on-

line em : http://leiaufsc.files.wordpress.com/2013/08/povos-indc3adgenas-em-santa-

catarina.pdf . Acessado

em 29 de janeiro de 2014.

DARELLA, Maria Dorothea. (2004) Ore Roipota Yvy Porã, Nós queremos terra boa:

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PUCC/SP, São Paulo, 2004. 405p.

LADEIRA, Maria Inês Martins. (2008) Espaço Geográfico Guarani-Mbya:

Significado,Constituição e Uso EdUSP.

MELLO, Flávia Cristina. (2001) Aata tapé rupy, seguindo pela estrada: uma

investigação dos deslocamentos territoriais de famílias mbyá-guarani no sul do Brasil.

Dissertação de Mestrado. Florianópolis: UFSC/PPGAS, p.163.

OLIVEIRA, Diogo de. (2011). Arandu Nhembo'ea : cosmologia, agricultura e

xamanismo entre os Guarani-Chiripá no litoral de Santa Catarina”. Dissertação de

Mestrado. Florianópolis: UFSC/PPGAS.

VASCONCELOS, Viviane Coneglian Carrilho. (2011). Tramando redes: Circulação de

crianças e parentesco Guarani no Litoral de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado.

Florianópolis: UFSC/PPGAS.

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