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3º Seminário de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Relações Internacionais — ABRI
Florianópolis, 29 e 30 de setembro de 2016
Área temática: Instituições e Regimes Internacionais
LEGITIMIDADE, XENOFOBIA E RACISMO NO ESTADO-NAÇÃO: O CASO DOS IMIGRANTES HAITIANOS E SENEGALESES EM CAXIAS DO SUL
Versão preliminar
Isadora da Silveira Steffens1
1 Mestranda do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP).
Resumo: As migrações representam uma dimensão crucial das relações internacionais contemporâneas, pois iluminam as contradições do Estado-nação e trazem à tona questões como pertencimento, direitos, legitimidade, soberania e cidadania. A realidade complexa das migrações permite que seja possível analisar, a nível local, como essas questões se articulam na prática. Caxias do Sul, cidade de porte médio formada por imigrantes italianos no final do século XIX, é também o principal destino de um novo fluxo migratório para o Nordeste do Rio Grande do Sul, composto sobretudo por senegaleses e haitianos. No entanto, verifica-se uma ausência de políticas públicas específicas para imigrantes por parte do poder público municipal. O presente trabalho busca analisar quais fatores explicam essa não-política, apresentando como hipótese o não reconhecimento da legitimidade da presença dos imigrantes e de seus direitos por parte do poder público. Esse não reconhecimento está intimamente ligado à xenofobia e ao racismo – o recorte racial possui um papel crucial na construção do Estado-nação e na política migratória brasileira – e se manifesta de duas maneiras: (1) pela percepção de que os direitos dos imigrantes são condicionados à prevalência dos direitos dos brasileiros; e (2) desconsideração das dificuldades de acesso dos imigrantes aos direitos. Para tal análise, utilizaremos como método principal a realização de entrevistas qualitativas, apoiadas por revisão de literatura e pesquisa de notícias em veículos de imprensa Palavras-chave: Migração; Caxias-do-Sul; Xenofobia; Racismo; Estado-nação.
Legitimidade, xenofobia e racismo no Estado-nação: as políticas de inclusão para imigrantes haitianos e senegaleses em Caxias do Sul
Introdução
A partir de 2011, a cidade de Caxias do Sul (RS), fundada pela imigração italiana e
que por décadas recebia apenas migrantes brasileiros e fronteiriços, passou a receber
centenas de haitianos e senegaleses atraídos por oportunidades de trabalho. No período
inicial, algumas medidas emergenciais foram tomadas face às necessidades específicas que
tal população necessitava. Passados cinco anos, entende-se que a presença de pessoas
com na cidade impactou as políticas locais. O presente trabalho buscará entender como foi
articulado o processo de inclusão dos imigrantes na cidade, considerando as políticas
colocadas em prática por parte do poder público, as ações de organizações da sociedade
civil e de associações dos próprios imigrantes.
O presente trabalho encontra-se em versão preliminar. O instrumento de pesquisa
posteriormente aplicado será a realização de entrevistas semiestruturadas com entidades da
sociedade civil, imigrantes que fazem parte de associações e coletivos, e representantes do
poder público, incluindo secretarias e coordenadorias cuja atuação envolve contato com os
imigrantes.
O papel das cidades na inclusão de imigrantes no país de acolhida é extremamente
relevante, pois são nesses espaços que os imigrantes terão acesso aos serviços públicos e
construirão laços na comunidade. A formação e implementação de políticas para imigrantes,
no entanto, implica em questões de legitimidade: mais que garantir o acesso a direitos, é
preciso antes reafirmar que os imigrantes possuem os mesmos direitos. É preciso haver,
sobretudo, o reconhecimento por parte do poder público e da sociedade do “direito a ter
direitos” dessa população. O não reconhecimento pode influenciar a elaboração e
implementação de políticas públicas de duas maneiras:
(1) através da percepção de que os direitos dos imigrantes são condicionados à
prevalência dos direitos dos brasileiros (por exemplo, imigrantes não podem usar o SUS se
faltam vagas para brasileiros; imigrantes ocupam vagas no abrigo que deveriam ser para
brasileiros, entre outros); e
(2) pela desconsideração das dificuldades de acesso dos imigrantes aos direitos
(discurso de que não existem políticas específicas porque eles já poderiam usar os serviços
existentes, ou seja, de que implementar uma política específica violaria o princípio da
isonomia).
Essa discussão, embora realizada no âmbito municipal, está inserida em um
contexto global. Entende-se que as migrações representam uma dimensão crucial das
relações internacionais contemporâneas, pois iluminam as contradições do Estado-nação e
trazem à tona questões como pertencimento, direitos, legitimidade, soberania e cidadania.
Ao mesmo tempo, torna-se fundamental para essa discussão compreender como o racismo
e a xenofobia possuem um papel central no entendimento da legitimidade da presença dos
imigrantes e de seu direito a ter direitos. A realidade complexa das migrações permite que
seja possível analisar, a nível local, como essas questões se articulam na prática, e dentro
de um contexto histórico e cultural específico.
1. O Estado-nação, a xenofobia, o racismo e a construção do eles e nós
Os estudos migratórios possuem, em sua inegável maioria, um enfoque nos fluxos
migratórios internacionais. A utilização do termo “migração” em nosso vocabulário diário
remete a essa ideia, enquanto os movimentos de pessoas que não cruzam fronteiras de
Estados-nação são caracterizados explicitamente como migração interna ou deslocamento
interno. A maneira pela qual enxergamos e estudamos a migração hoje está, portanto,
fundamentalmente ligada à própria construção do Estado-nação e à ligação nele
simbolizada entre um povo unido por uma cultura comum, um governo e um território, e a
centralização não apenas do uso legítimo da força (Weber, 1946), como também do que
Torpey (2000, p. 4) chama de “meios legítimos de movimento”. De acordo com Levitt e
Jaworsky (2007), a sociologia está à serviço do Estado-nação desde sua criação, o que, no
campo dos estudos migratórios, se traduziu sobretudo em tentativas de fazer dos migrantes
“nacionais” via diferentes padrões assimilação, aculturação e integração.
Wimmer e Schiller (2002) afirmam, no entanto, que seria ingenuidade pensar que
seremos capazes de desenvolver uma linguagem teórica completamente livre da influência
das forças sociais e políticas de nosso tempo, assim como pensar que o nacionalismo
metodológico inibe a percepção “verdadeira” do mundo. O que nos cabe como
pesquisadores, portanto, é determinar quais escolhas metodológicas estariam deixando
demasiados aspectos de fora da análise, bem como refletir sobre as consequências de
nossa limitação metodológica. Assim, para compreendermos a migração contemporânea
precisamos simultaneamente compreender a historicidade da divisão política do mundo em
unidades nacionais, evitando reproduzir o nacionalismo metodológico sem problematizá-lo
(Wimmer e Schiller, 2002). Da mesma maneira, os estudos migratórios motivam-nos a tornar
visível a historicidade da instituição formal da cidadania, cuja relação com o Estado-nação
não é intrínseca, e entender as distintas formas e localizações nas quais a cidadania e os
direitos podem ser demandados e exercidos (Sassen, 2008; Bosniak, 2008).
O período entre as duas guerras mundiais do século XX é apontado como um ponto
de inflexão nos estudos migratórios, pois é nesse momento que o conceito contemporâneo
de migração é construído. Após um período de intensa migração, com relaxados controles
migratórios e relativa facilidade para obtenção de cidadania, na proximidade da 1a Guerra
Mundial notava-se o acirramento da competição entre impérios coloniais legitimados por
chauvinismos e racismos nacionais (Wimmer e Schiller, 2002). Fortaleceu-se a imagem do
Estado-nação como integrado e culturalmente homogêneo, para o qual o migrante
representa uma anomia, e a xenofobia foi radicalizada no período entre guerras (Seyferth,
2008). Com o final da 2a Guerra Mundial e o advento da Guerra Fria, o controle de
fronteiras foi fortalecido e a Europa e os Estados Unidos buscaram suprir suas
necessidades de mão-de-obra com o mínimo de impacto no conceito de nação fechada, por
meio de programas de trabalho temporário e recrutamento de populações de suas ex-
colônias (Wimmer e Schiller, 2002).
O discurso nacionalista do período continha um recorte racial forte, dividindo
migrantes entre desejáveis e indesejáveis e excluindo da ideia de nação também outros
grupos percebidos como diferentes, mesmo quando estes integram o Estado na condição de
cidadãos (Wimmer e Schiller, 2002; Seyferth, 2008). Esse desenvolvimento se deu mesmo
com a comprovação científica, no início do século XX, de que inexiste uma divisão
biológicas de raças dentro da espécie humana. Nesse período, foram produzidos trabalhos
acadêmicos nos Estados Unidos destacando a heterogeneidade do meio negro e
demonstrando que os obstáculos enfrentados pelos negros resultavam da discriminação
racial, e não de uma suposta inferioridade inata sustentada pela biologia (Guimarães, 2004).
O conceito de raça, no entanto, permaneceu relevante como construção social,
caracterizando relações de dominação, e serviu de ferramenta para a compreensão de
manifestações de racismo e de xenofobia, bem como tornou-se mecanismo de afirmação e
mobilização dentro da luta antirracista (Schucman, 2010). A raça deve ser
contemporaneamente entendida, portanto, como construção social que faz uma distinção
entre grupos, formada com base em características físicas, em especial a cor da pele, e
culturais. As diferenças entre um grupo e outro podem ser mínimas ou mesmo inexistentes,
mas são definidas com a ajuda de recursos como o exagero das diferenças e minimização
das variações intra-grupo (Van Dijk, 1993).
O caráter essencialmente intergrupal do racismo foi observado por Van Dijk (1993),
que afirma que o racismo não é meramente composto por atitudes individuais mas sim
sustenta um sistema de poder – seja social, cultural, político e/ou econômico – de um grupo
sobre o outro nas mais variadas esferas da sociedade. De acordo com o autor, a
discriminação não está relacionada com personalidades individuais, mas sim às normas
sociais e culturais, valores, ou ideologias de grupos dominantes.
Elias e Scotson (2000 [1994]), por meio do estudo da pequena comunidade de
Winston Parva, perceberam uma divisão entre “estabelecidos” e “outsiders”, que não se
relacionavam para além do âmbito profissional e viviam em bairros distintos. Não existiam,
entre os dois grupos, diferenças de nacionalidade, cor, etnia, nível educacional, ocupação
ou renda, mas os estabelecidos estavam no local há gerações enquanto os outsiders eram
recém-chegados. Os autores observaram, então, um ponto extremamente relevante: as
diferenças de organização, grau de coesão interna e controle comunitário entre os grupos.
Em um grupo coeso, o status, a inclusão e a hierarquia interna estão ligados à vida e à
tradição comunitárias. Os benefícios de pertencer ao grupo estabelecido são materiais mas
também incluem o orgulho e a satisfação de pertencer a um grupo que julga humanamente
superior.
A exclusão dos outsiders reflete, assim, a busca por preservar o que estabelecidos
julgam ter alto valor, sendo o estigma uma importante arma nas tensões e conflitos ligados à
disputa de poder. Nesse processo, os estabelecidos atribuem aos outsiders as
características ruins de sua porção “pior”, a minoria anômica, enquanto constroem sua auto-
imagem baseada nas características de seu setor exemplar, também minoritário. Estigmas
como pobreza, desordem, indisciplina, sujeira, contaminação são comuns a grupos
outsiders observados pelos autores de diferentes culturas e épocas, bem como a
coisificação do estigma social em material, algo objetivo implantado pela natureza ou pelos
deuses, eximindo o grupo dominante de responsabilidade. Assim,
Não há nada de acidental em se descobrir aspectos semelhantes
nas relações estabelecidos-outsiders que não estão vinculada a
diferenças raciais ou étnicas e naquelas ligadas a essas diferenças.
Os indícios sugerem que, também neste último caso, tais aspectos
não se devem às diferenças raciais ou étnicas em si, mas ao fato de
um dos grupos ser estabelecido, dotado de recursos superiores de
poder, enquanto o outro é um grupo outsider, imensamente inferior
em termos do seu diferencial de poder e contra o qual o grupo
estabelecido pode cerrar fileiras (Elias e Scotson, 2000 [1994], p. 31)
A xenofobia é também fruto da definição social de dois grupos – “eles” e “nós” –
porém essa construção é sustentada e estimulada pela organização geopolítica do espaço
mundial em fronteiras rígidas, que supõem pessoas que nasceram separadas por linhas
imaginárias são fundamentalmente diferentes. Wimmer (1997) aponta que a xenofobia não
apenas serve para reassegurar identidades mas também é um elemento de um embate
político sobre quem tem o direito de ser cuidado pelo Estado e pela sociedade, isto é, é uma
luta pelos bens coletivos do Estado moderno. A rejeição ao estrangeiro não seria
consequência, portanto, de uma real competição por bens materiais – em especial
empregos – ou de diferenças culturais fundamentalmente incompatíveis, mas sobretudo da
percepção de competição legítima ou ilegítima e de uma cultura ameaçadora ou não à
utopia de uma sociedade coesa e sustentável. Ao disputar a definição de cidadania e a
definição de direitos, “(...) diferentes grupos defendem diferentes concepções de nação para
justificar suas escolhas políticas” (Reis, 2007, p. 45).
Da mesma forma que Foucault (2010 [1997]) observou o racismo como mecanismo
para exercer poder e controle, também a xenofobia cresce, em um mundo cada vez mais
globalizado, como instrumento político de mobilização, sendo o imigrante, o “estrangeiro”
visto como origem de diversos problemas e de ameaças – ao emprego, à “identidade
nacional”, à vida. Se a xenofobia e o racismo podem ser separados conceitualmente, na
realidade e especialmente dentro do ideário do Estado-nação culturalmente homogêneo
ambas as formas de discriminação caminham juntas.
Hopenhayn e Bello (2001) ressaltam que, na América Latina, a xenofobia tem suas
raízes na discriminação étnico-racial. Observam ainda que o aumento de intensidade das
migrações no mundo atual faz com que a dicotomia “eles”/“nós” seja fortemente baseada na
xenofobia em escala global, manifestada em visões pejorativas, discriminação no acesso a
oportunidades, e no extremo da violência xenofóbica. O “outro-estrangeiro” é caracterizado
como tal sobretudo se não é branco e possui origens indígenas, afro-latinas ou afro-
caribenhas. Para ilustrar o argumento, os autores referem os apelidos pejorativos
endereçados aos imigrantes paraguaios e bolivianos na Argentina (cabecitas negras), os
imigrantes peruanos e equatorianos no Chile (cholos) e os imigrantes equatorianos no Peru
(monos).
Portanto, nota-se que os fenômenos de racismo e xenofobia estão intrinsicamente
ligados no que diz respeito ao migrante. Não é todo migrante que é “estrangeiro”, não é todo
migrante que possui diferenças culturais impassíveis de convivência. As origens étnicas e
características físicas, em especial a cor da pele, servem como marcadores de grupos
distintos não apenas entre o “eu” nacional e o “outro” imigrante, mas também entre os
próprios imigrantes, que são divididos entre desejados e indesejados, e entre os próprios
nacionais. Além disso, os migrantes precisam enfrentar hierarquias raciais frequentemente
distintas daquelas presentes em seus países de origem, o que pode ter implicações
profundas na para a formação identitária relacional do migrante no país de acolhida e sua
inclusão social, bem como para sua percepção de discriminação. Assim, o racismo
desempenha um papel fundamental não apenas na ideação da sinonímia raça-nação, mas
também na eugenia e controle de populações no contexto das políticas migratórias
(Seyferth, 2008).
Foucault (2010 [1997]) aponta para um desenvolvimento anterior, que data do
período colonial. A formação dos Estados modernos trouxe uma modificação profunda no
direito político, que resultará, também, em uma diferente forma de controle e dominação. A
teoria clássica da soberania – que baseava-se no direito de fazer morrer e deixar viver – deu
lugar a um poder exatamente inverso – o de fazer viver e deixar morrer. A relação de
dominação e poder passa a ser não mais de enfrentamento, mas biológica, inserida no
contexto de um sistema político centrado no biopoder. Dentro do biopoder, a vida passa a
ser gerida, calculada, normalizada pelo Estado por meio de políticas públicas cuja função é
o de fazer viver (Foucault, 2010 [1997]).
O racismo, então, surge como resposta à questão de como exercer, dentro do
biopoder, o poder da morte. Ao dividir a população entre dois grupos – aquele do qual o
Estado se incumbe de proteger e aquele que figura como uma ameaça biológica ao primeiro
– torna-se aceitável tirar a vida do outro, não apenas por meio do assassínio direto, mas
também pelo que pode ser considerado assassínio indireto: “o fato de expor à morte, de
multiplicar para alguém o risco de morte ou, pura e simplesmente, a morte política, a
expulsão, a rejeição, etc.” (Foucault, 2010 [1997], p. 216). Dessa maneira, aqueles grupos
classificados pelo ideário nacionalista como diferentes ou indesejáveis são privados de voz
política e visibilidade de sua existência, bem como excluídos da proteção da solidariedade
da nação, seja por meio de seu status legal, seja pelas condições materiais e simbólicas que
obstaculizam o exercício pleno de direitos já previstos.
A responsabilidade dos Estados em relação aos indivíduos passa a ser cada vez
mais debatida, no entanto, desde o final da 2a Guerra Mundial, com o desenvolvimento e
fortalecimento do regime internacional dos direitos humanos. Passou-se a discutir cada vez
mais o paradoxo entre a soberania estatal e a efetivação dos direitos humanos, aos quais os
indivíduos estão intitulados independente de sua nacionalidade. Apesar da existência
anterior do reconhecimento do refúgio no plano internacional, a definição era feita de forma
categórica, e foi tornada geral apenas com a criação temporária da Organização
Internacional para os Refugiados, em 1948 (Barnett, 2002), mesmo ano em que foi firmada
a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em 1951, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR), que tornou-se uma agência permanente, e foi assinada a Convenção das Nações
Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, ou Convenção de Genebra de 1951, que
consolidou instrumentos internacionais prévios relativos aos refugiados e definiu quem
poderia ser considerado refugiado, seus direitos e os deveres dos países que os recebem.
Esta Convenção foi sobretudo importante ao limitar as prerrogativas dos Estados no
referente a suas fronteiras quando se diz respeito aos refugiados (UNHCR, 1951).
Nos anos 1960 e 1970, movimentos relacionados ao racismo e preconceito gerariam
impactos para a questão da migração. A exposição pelo movimento negro por direitos civis
nos EUA da associação entre identidade estadunidense e branquitude ressoaria
mundialmente, especialmente após o final da Guerra Fria. A denúncia do racismo
institucionalizado impulsionou o movimento de outras populações, também excluídas da
branquitude normativa, a elaborar ideologias de pluralismo cultural que expunham a falácia
da composição homogênea da nação (Wimmer e Schiller, 2002). Os direitos culturais,
intrinsicamente ligados à identidade, permanecem um ponto polêmico, em um mundo no
qual as facilidades de comunicação e mobilidade tornam o mito da homogeneidade cultural
insustentável (Castles e Davidson, 2000).
Por outro lado, movimentos no sentido contrário também surgiram. Reis (2007)
aponta que nos anos 1980 os Estados passaram a repensar as políticas de nacionalidade e
também de imigração. Face aos desafios econômicos da recessão mundial e das crises do
petróleo dos anos 1970, tornou-se politicamente aceitável culpar migrantes por problemas
sistêmicos, prática que permanece comum nos dias atuais:
The momentum to stop migration as a solution to problems that were
in fact of a systemic nature took different forms in different locations,
and was implemented with increasing severity in the course of 20
years, limited the citizenship rights of former colonial populations and
abruptly ended guest worker programmes (Wimmer e Schiller, 2002,
p. 321)
Observa-se então uma renovada disputa entre movimentos anti-imigração e por
direitos dos migrantes no contexto da globalização. Esse embate político, profundamente
conectado com a ideia de pertencimento nacional, permanece viva hoje e se traduz em
diversas formas e arenas. Desde os aspectos mais diretamente relacionados ao dia-a-dia
dos migrantes – como os empecilhos do acesso à saúde e à educação, travados sobretudo
em arenas locais e nacionais – até a conceituação abstrata da ética e legitimidade da
inclusão política do Estado, passando por questões de organização política e relações
transnacionais dos migrantes, a migração é um processo fundamentalmente político e um
espaço de disputa (Reis, 2007).
Desde os anos 1990, o contexto político conturbado de debates sobre política de
imigração, direitos políticos e violência racial levou ao aprofundamento de demandas por
parte das organizações de imigrantes e da esquerda, para as quais a noção de uma nova
cidadania ganhou força, e o principal objetivo passou a ser a participação completa em uma
nova democracia multicultural – incluindo direitos políticos (Castles e Davidson, 2000). De
acordo com Reis (2007),
A forma como essas políticas se modificam ao longo da história
revela como o próprio auto-entendimento do Estado nacional se
transforma. Isso não equivale a dizer que essas políticas sejam uma
simples transposição de ideias abstratas de nacionalidade para a
realidade. De fato, as políticas de imigração e nacionalidade refletem
interesses econômicos, demográficos e conjunturas políticas.
Contudo, pelas suas próprias naturezas, elas obrigam os atores
sociais envolvidos nas suas produções a se expressarem em um
discurso de nacionalidade, a tentarem responder à questão “quem
nós somos”, ou “quem nós queremos ser” (...) (p. 39).
Como resultado dessa disputa entre diversos campos distintos, a migração
contemporânea é tratada sobretudo dentro de maneira categorizada. A migração atualmente
é estruturada, percebida e discutida dentro de diferentes categorias – refugiados,
reunificação familiar, migrantes qualificados, migrantes “ilegais”, entre outros (Wimmer e
Schiller, 2002). Essas definições frequentemente determinarão a legitimidade do migrante
aos olhos da população nacional e seu acesso a direitos, embora, conforme observado,
exista uma diferença entre o que é garantido legalmente e a existência de condições
materiais e simbólicas que permitam o cumprimento de fato desses direitos.
Para entender os processos contemporâneos e suas distintas arenas de disputa,
precisamos compreender o que realmente existe de novo e particular nos fluxos migratórios
contemporâneos e na globalização. Especialmente após o fim da URSS, a ideia do “fim da
história” (Fukuyama, 1992), da emergência de uma nova ordem marcada pela globalização
e da derrubada de fronteiras foi celebrada, sendo o crescimento das migrações um símbolo
dos novos tempos (Reis, 2007). No entanto, após um período de entusiasmo com a
“novidade” da globalização e com a oposição entre um presente fluído e um passado
estático, os estudos acadêmicos voltaram-se para o reconhecimento de que a globalização
em si não é um fenômeno novo (Wimmer e Schiller, 2002), assim como o aumento numérico
das migrações é um tema controverso entre demógrafos (Reis, 2007).
Por outro lado, existe um consenso de que os processos globalizantes afetam mais
profundamente a vida diária de distintas partes do globo, e nesse contexto os fluxos
migratórios estão se transformando (Wimmer e Schiller, 2002; Reis, 2007; Withol, 2010). A
ideia de fronteiras rígidas é cada vez mais questionada no contexto atual. O mundo sofreu
intensas mudanças desde Westfália, e atualmente as conexões globais estão cada vez mais
rápidas e eficientes. Segundo Levitt e Jaworsky (2007), a migração contemporânea se
diferencia de outros momentos históricos por fatores como: a dependência de muitos países
não industrializados de remessas, e portanto maior atuação desses países para que os
fluxos continuem; a distinção em “hospitalidade” para migrantes qualificados ou não; e a
intensificação dos mercados internacionais, a globalização da mídia e a compressão do
espaço-tempo.
A mobilidade crescente, a heterogeneidade de valores e práticas culturais, os
indivíduos com cidadanias múltiplas e que habitam mais de um país, a influência cultural,
política e econômica do transnacional e do internacional, e a variedade e rapidez dos fluxos
migratórios são fatores apontados por Castles e Davidson (2000) como desafios ao
pertencimento a um Estado-nação como a base para cidadania. A cidadania, ao lado dos
direitos humanos, é uma linguagem que ganha força na exigência por direitos por parte dos
migrantes. Conceitos como “cidadania global”, “cidadania transnacional” e “cidadania pós-
nacional” são debatidos atualmente (Bosniak, 2000). Reis (2007) aponta que, apesar dos
diferentes significados atribuídos ao conceito em diferentes lugares e períodos, cidadania
significa sobretudo igualdade perante a lei – e isso com certeza não é uma realidade para os
migrantes.
A cidadania constitui-se, portanto, um paradoxo em um mundo onde os fluxos
migratórios possuem grande relevância: a igualdade é central para a cidadania, mas visto
que a igualdade é baseada no pertencimento, o status da cidadania como um critério forma
a base de políticas e identidades excludentes (Sassen, 2008). É justamente na tensão entre
um sujeito parcial em termos legais e políticos, o estrangeiro, e a realidade rica e complexa
que constitui a migração, que está a capacidade da imigração de iluminar tensões no
coração do Estado nação historicamente construído (Sassen, 2008).
Ao mesmo tempo, entende-se que o transnacionalismo não nega a importância ou
durabilidade das fronteiras estatais, considerando as ligações entre cidadãos e Estado como
múltiplas e não desaparecendo (Levitt e Jaworsky, 2007), e não rompe de forma definitiva
com o paradigma do nacionalismo metodológico (Wimmer e Schiller, 2002). Apesar de o
modelo westfaliano de Estado ser crescentemente questionado, a ideia da abertura de
fronteiras está mais ligada ao fluxo de capitais, bens e serviços, sendo a legitimidade do
Estado em determinar fronteiras rígidas para a entrada de não-nacionais ainda largamente
incontestada no âmbito global. Ainda, a legitimidade do discurso de direitos humanos está
ligada com a publicidade e a pressão que eles são capazes de exercer no âmbito do Estado,
sendo mais eficientes em países com constituições democratas liberais, ou seja, em relação
profunda com a constituição política e cultural interna de um país (Reis, 2007). Assim, as
novas abordagens devem reconciliar as pressões da globalização com o fato de que os
Estados permanecem a unidade política mais importante e ter como fundamento uma
cultura cívica de tolerância e confiança, baseada em um conjunto diferencial de direitos
humanos (Castles e Davidson, 2000).
2. O contexto histórico da construção da política migratória brasileira: o colono
civilizador e a questão racial
Na passagem do século XV para o XVI, a chegada de navios portugueses e
espanhóis na América do Sul dá início à era colonial no continente. O colonialismo, de
acordo com Said (1993), estimulou e foi sustentado pela ideia de superioridade racial
europeia e de inferioridade e atraso dos indígenas americanos (e não brancos em geral),
justificando assim a conquista e dominação destes povos como uma missão civilizatória.
Nos três séculos iniciais de sua colonização, o Brasil recebeu poucos imigrantes que não
fossem ou colonizadores portugueses ou africanos traficados para o trabalho escravo.
Apenas no século XIX o processo imigratório de outros grupos ganhou força, especialmente
após o fim do tráfico de escravos e da subsequente proibição da escravidão. A lógica da
política imigratória de então foi baseada na ideia de superioridade europeia e de incentivo à
pequena propriedade agrícola – buscando atrair especialmente alemães e italianos,
considerados bons agricultores – ao mesmo tempo em que a escravidão era enxergada
como parte de modelo arcaico e retrógrado, e os negros eram excluídos dos debates sobre
imigração (Seyferth, 2002).
A criação da colônia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro, em 1819, é considerada o
marco inicial da imigração (Seyferth, 2008). Deu-se início a um processo de incentivo à
imigração de europeus, apoiado pelo Estado e por setores privados, com os objetivos de
ocupar territórios e de atrair trabalhadores brancos livres. A concentração da colonização no
sul do país era de especial importância para os governos imperial e provinciais, devido à
existência de terras devolutas em abundância, baixa densidade populacional e contenciosos
fronteiriços. Em documentos da época, observa-se a intenção em atrair colonos agricultores
que migrassem com a família, fossem “robustos”, “saudáveis” e “resignados” politicamente,
com restrições profissionais, morais, etárias e de saúde (Seyferth, 2008). Esse perfil era
considerado ideal para a criação de núcleos de povoamento baseados na pequena
propriedade, seguindo um modelo europeu e em oposição à grande propriedade
escravagista, sendo os negros proibidos de trabalhar na terra em determinadas regiões.
A questão racial é explicitamente refletida na política migratória na segunda metade
do século XIX, com a restrição da entrada de migrantes vindos da África e da Ásia (Seyferth,
2008). Esse fator, somado à marginalização de antigos escravos tornados “livres” e a
aplicação de incentivos à vinda de europeus para instalarem-se no país – sobretudo
italianos e alemães – fazia parte da política de branqueamento da população nacional. O
discurso supostamente científico sobre raças – que seria contestado e desmentido – tem
seu apogeu justamente nesse período da abolição da escravidão, conservando a ideia de
inferioridade dos negros e garantindo a manutenção das desigualdades raciais (Hopenhayn
e Bello, 2001; Guimarães, 2004). Mesmo a elite pró-abolicionista brasileira tinha um projeto
de unidade nacional que excluía os negros, por meio do branqueamento (pelas vias da
miscigenação e imigração), do cerceamento de manifestações culturais e da invisibilização
da população negra através do mito da democracia racial (Guimarães, 2004; Lima, 2008).
Também os indígenas, ocupantes das terras consideradas “devolutas”, foram excluídos do
processo de formação do Estado nacional, expulsos de suas terras e massacrados.
A primeira fase da imigração para o sul do país no século XIX foi marcada sobretudo
pela vinda de habitantes do que hoje é a Alemanha. Os debates relativos à política de
imigração no período começaram a apontar diferenças culturais dos alemães – que falavam
um idioma distante do português e eram em sua maioria protestantes – e o risco que traziam
para a unidade nacional. Havia um embate entre aqueles mais preocupados com a
modernização, com o fim do regime escravagista e com a ocupação dos territórios, que
enxergavam a migração alemã de forma positiva e necessária; e aqueles membros de
grupos nacionalistas que alertavam para o perigo de uma concentração de estrangeiros não
assimilados e preferiam a vinda de imigrantes de origem latina (Seyferth, 2008). Apesar de
considerados inconvenientes e etnicamente irredutíveis, os alemães permaneceram sendo
encarados como bons trabalhadores rurais e portadores de civilização (Seyferth, 2002).
Nesse contexto, os italianos e outros latinos eram percebidos como mais
“assimiláveis” (Seyferth, 2008), passaram a figurar nas listagens preferenciais da época
(Seyferth, 2002), e a partir da década de 1880 a vinda de italianos superou a de alemães. A
Itália recém unificada era um país pobre e populoso, onde o trabalho agrícola familiar fora
desorganizado pelas guerras de unificação, pela ocupação e pelo serviço militar, sem que a
industrialização da região norte conseguisse absorver toda a mão-de-obra disponível
(Santos, 2005). Na serra gaúcha, a imigração italiana intensificou-se com incentivos do
Estado do Rio Grande do Sul (Kanaan, 2012).
Os italianos e os alemães formaram comunidades ítalo-brasileiras ou teuto-
brasileiras, dentro das quais buscaram construir uma identidade comum. De acordo com
Seyferth (2005), “na situação colonial, identidades regionais importantes nos países de
origem aos poucos deram lugar a categorias unívocas. As distinções dialetais trazidas da
Alemanha e da Itália foram substituídas por linguagens que incorporavam mudanças
fonéticas num contexto de assimilação” (p. 29-30). Assim, em território brasileiro fortaleceu-
se a união em torno de uma identidade italiana não necessariamente existente nas
localidades de origem dos migrantes, cuja unificação dentro de um “Estado-nação” havia
ocorrido recentemente (Santos, 2005).
A identidade desse grupo é afirmada em torno da idealização do caráter pioneiro da
migração e do uso do binômio imigração-civilização como parte da identidade dos migrantes
alemães, italianos ou poloneses, desde as primeiras manifestações no século XIX e
persistindo em publicações da segunda metade do século XX (Seyferth, 2005; 2008). A
construção do ideário passava pela história de superação dos migrantes, do trabalho árduo
em direção à ascensão social. Essa identidade surge como uma afirmação do “nós” perante
o “outro”, o “outro” representado sobretudo pelas oligarquias gaúchas (Santos, 2005). Nesse
período, observa-se preconceito contra os colonos, considerados trabalhadores braçais não
assimilados (Seyferth, 2005). Assim, os colonos se reafirmam como pioneiros,
desbravadores, civilizatórios perante os “pêlo-duro” (descendentes de portugueses e
espanhóis) e os “brasileiros” (descendentes de índios e negros) (Santos, 2005).
Com o final do Império, torna-se ainda mais evidente na política migratória a
percepção da etnicidade como perturbadora da unidade nacional. Um mês após a
Proclamação da República, em 1899, é promulgado o Decreto 58o (14/12/1889) que
determina a naturalização geral e compulsória para os migrantes. Depois da 1a Guerra
Mundial, o incentivo à vinda de imigrantes da Europa desaparece – em um contexto de
reconfiguração de fronteiras e deslocamentos em massa, a legislação brasileira foi
configurada de maneira que inviabilizava, na prática, a entrada de refugiados e apátridas
(Seyferth, 2008).
Durante o Estado Novo, foram mantidas as mesmas concepções de raça e
miscigenação que embasaram a tese do branqueamento, bem como foi posta em prática
uma política violenta de abrasileiramento forçado, justificada pela “segurança nacional”. Em
1934, é implementado o regime de cotas imigratórias, sob a alegação de proteger a
formação étnica, cultural e social do país. A lei de cotas foi delineada de maneira a
privilegiar italianos, portugueses e espanhóis (Seyferth, 2002; 2008). Já a “campanha de
nacionalização” intervencionista, que durou entre 1937 e 1945, restringiu manifestações
idiomáticas e culturais dos migrantes e proibiu associações com configurações étnicas,
visando sobretudo colônias de migrantes alemães, italianos e poloneses no Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e Paraná. Essa política procurou, sem sucesso, desmantelar a
concentração étnica de migrantes e aprofundar o projeto assimilacionista (Seyferth, 2005).
A política migratória do século XIX e da primeira metade do século XX reflete os
princípios da construção do Estado-nação brasileiro que permanecem atuais. Por um lado,
no Brasil pós-escravidão que se estende aos dias de hoje, o racismo expressa-se em forma
da busca por uma unidade que assimila as minorias, por meio do estabelecimento de uma
cultura hegemônica (sincretismo cultural) e pela miscigenação, diluindo os conflitos raciais
(Lima, 2008). Com o mito da democracia racial a sociedade brasileira simultaneamente
mantém a estrutura do privilégio branco e evita que a raça seja mobilizada como identidade
coletiva e ação política (Schucman, 2010).
Por outro lado, a construção identitária dos migrantes italianos e alemães enquanto
colonos civilizadores, os pioneiros heroicizados, permaneceu viva mesmo após as políticas
de assimilação. Referenciando especificamente o caso de Caxias do Sul, mas como
demonstração de uma realidade regional, Santos (2005) aponta como atualmente os
descendentes seguem reivindicando a identidade ítalo-brasileira por a considerarem mais
valorizada. A afirmação da identidade enquanto “italianos”, “ítalo-brasileiros” ou “ítalo-
gaúchos” significa a inclusão em uma rede, ampliando possibilidades de ascensão social.
Caxias do Sul foi criada como colônia ainda sem nome em 1875, e em 1890 obteve o
status de município. A cidade teve um rápido crescimento em comparação com os demais
núcleos coloniais da região (Santos, 2005). A partir de meados do século XX, a cidade
tornou-se o centro do processo de industrialização do Nordeste do Estado, liderado pelos
descentes de migrantes italianos (Kanaan, 2012). Atraídos pela industrialização e
urbanização, migrantes vindos de outras cidades da região, de outros lugares do Brasil e
mesmo de alguns países vizinhos participaram do crescimento e desenvolvimento da cidade
nos séculos XX e XXI – com destaque, no período recente, para os migrantes vindos das
regiões fronteiriças do Rio Grande do Sul. Assim, não apenas Caxias foi formada por fluxos
migratórios do final do século XIX e início do século XX, como sua história é marcada por
uma imigração contínua, sendo a cidade gaúcha que mais cresceu entre 2000 e 2010, de
acordo com dados do Censo (IBGE, 2010).
Santos (2005, p. 51) aponta que “(...) a reafirmação de uma identidade diferenciada
adquire importância justamente quando, com o desenvolvimento da indústria, Caxias do Sul
passa a atrair pessoas de diversos lugares e origens”, sendo o mito do “pioneiro” utilizado e
difundido pela elite dirigente política e economicamente. Na década de 1950, época de
significativa industrialização da região, construiu-se a identidade de italiano progressista,
desenvolvido, colono pioneiro que havia se transformado em industrial. A identidade
funcionava como oposição entre industrial e colono, urbano e rural, progresso e atraso. Com
a consolidação da indústria e do centro urbano, aconteceu uma revisitação da história da
formação regional e uma revalorização do campo e do colono no campo da identidade,
sendo esta reivindicada mesmo por moradores urbanos sem relação direta com a agricultura
(Santos, 2005).
No âmbito nacional, a partir da metade do século XX o Brasil, até então um país
essencialmente de imigração, começou a sofrer uma reversão no sentido dos fluxos
migratórios envolvendo o país. Especialmente a partir da crise econômica da década de
1980 um número significativo de brasileiros emigrou sobretudo para a Europa e os Estados
Unidos, buscando melhores opções de trabalho. Porém, devido ao desenvolvimento
econômico e social do país no século XX e à crise econômica iniciada em 2007 – que afetou
sobretudo os países desenvolvidos que compunham os principais destinos para os
brasileiros emigrantes – teve início um novo e mais diversificado período de imigração
intensa (Cavalcanti, 2014).
A legislação que atualmente regula a migração no Brasil, o Estatuto do Estrangeiro
(Lei 6.815, de 1980) data da época da ditadura militar e é marcada por uma perspectiva
fortemente securitária, que mantém os mesmos dispositivos anteriores para os apátridas,
restringe direitos e exclui estrangeiros com base na “ordem pública” e nos “interesses
nacionais”. Desde então, foi regulamentada a questão do refúgio (Lei 6.474, de 1997) e
houve importantes avanços para migrantes do Mercosul. No entanto, tais avanços são
insuficientes, e geram uma ambiguidade na política migratória, resultado da disputa entre
aqueles que defendem os direitos humanos e outros que concebem as imigrações sob uma
lógica securitária ou de mercado (Ventura e Illes, 2012). Assim, a revisão do Estatuto do
Estrangeiro permanece imprescindível diante da realidade dos novos fluxos e dentro do
contexto democrático.
Atualmente, a emigração permanece importante, assim como o retorno de brasileiros
que antes viviam no exterior, e cresce a presença de estrangeiros de origens não-
tradicionais, com destaque para a imigração haitiana, a que mais cresceu nos últimos anos,
e para fluxos latino-americanos e africanos. Apesar da maior parte do aumento das
migrações ser composta por fluxos direcionados aos países desenvolvidos, a migração Sul-
Sul tem crescido em importância relativa, especialmente após o recrudescimento das
políticas migratórias da Europa e dos Estados Unidos (De Wenden, 2009). Os fluxos entre
países de desenvolvimento produzem consequências geopolíticas significativas, visto que
muitos países que se tornaram importantes destinos migratórios permanecem sendo
também países de emigração e de trânsito. A classificação de países, as decisões políticas
referentes aos direitos dos migrantes, e as redes migratórias crescem em complexidade.
Assim, o Brasil atual é um país de emigração e imigração, e, diferentemente da
imigração com a função de branqueamento do século XIX e início do século XX, os novos
movimentos imigratórios incluem haitianos, bolivianos, senegaleses, peruanos, chineses,
sírios, entre outros. São os novos fluxos migratórios em Caxias do Sul que serão analisados
a seguir.
3. O cenário atual: Caxias como laboratório das relações e contradições entre Estado-
nação, imigração e racismo
Com população estimada em 470 mil habitantes – dentre os quais, de acordo com os
dados do Censo de 2010 (IBGE, 2014), 82,8% se declararam brancos, 13,4% pardos e
3,3% pretos2 – Caxias do Sul é a principal cidade da região. Em 2012, seu PIB atingiu 16
milhões de reais, o segundo maior do Estado, atrás apenas da capital Porto Alegre (IBGE,
2 A população residente classificada como amarela ou indígena representa menos de 1% dos habitantes.
2014). Município fundado pelos migrantes italianos no final do século XIX, sua
industrialização e desenvolvimento econômico passaram a atrair outros migrantes internos e
de regiões fronteiriças desde a segunda metade do século XX.
Caxias do Sul é também o principal destino de um novo fluxo migratório, composto
sobretudo por senegaleses e haitianos que buscam trabalho nas fábricas e no comércio do
Nordeste do Rio Grande do Sul, trazendo diversidade étnica e cultural. Estima-se que cerca
de 3000 migrantes internacionais vivam na cidade atualmente3, dentre os quais a maioria é
composta por senegaleses e haitianos, que começaram a chegar em 2011 e 2012. Em uma
sociedade composta sobretudo por descendentes de italianos que se orgulham e reforçam
suas origens, os novos imigrantes chamaram a atenção por sua cor da pele, sotaque e
idioma.
As histórias individuais são distintas, mas têm em comum a passagem por diferentes
países e cidades até chegar em Caxias do Sul, sendo o Norte do país o principal canal de
entrada para os migrantes. O recrutamento de migrantes para trabalhar em Caxias se deu
inicialmente pelo frigorífico JBS, antigo Ceasa, localizado no Desvio Rizzo. Em seguida,
outras empresas também mostraram-se interessadas na contratação de senegaleses e
haitianos, e as redes transnacionais de migrantes contribuíram para a manutenção do fluxo
– familiares, amigos e conhecidos se comunicavam informando que em Caxias do Sul havia
oportunidades de trabalho (Entrevistada 01, 2016). Ainda no Desvio Rizzo estabeleceu-se a
conexão inicial entre o Centro de Acolhida ao Migrante (CAM), cuja antiga sede também era
localizada no bairro, que, sob a coordenação da Irmã Maria do Carmo, tornou-se referência
na interlocução entre os migrantes e o poder público e a sociedade caxiense.
Assim, a migração internacional recente para Caxias do Sul se deu por motivações
semelhantes àquelas que marcaram a história da cidade: oportunidades de trabalho e busca
por melhores condições de vida. Os migrantes buscam enviar boa parte de seu salário para
ajudar a família no país de origem. No entanto, a migração não demora a mostrar suas
demais dimensões, pois imigrar significa imigrar com sua história, constituindo um fato social
complexo que necessariamente vai além da busca por trabalho (Sayad, 1991).
No entanto, diferentemente da imigração italiana, motivada e apoiada pelo governo
brasileiro na época, os migrantes contemporâneos por vezes entram no Brasil por meio de
rotas clandestinas e frequentemente encontram dificuldades para obter documentação de
permanência. A documentação apresentou-se desde o início dos novos fluxos migratórios
como uma das principais demandas dos migrantes (Entrevistada 01, 2016). Os imigrantes
frequentemente precisam de auxílio para navegar na burocracia brasileira e obter a
3 O número de 3000 imigrantes foi a estimativa utilizada de maneira recorrente nos veículos de imprensa em 2015. Esse número, no entanto, pode flutuar bastante, visto que chegam novos migrantes ao mesmo tempo em que a busca por emprego leva a uma grande mobilidade para cidades vizinhas ou para outras regiões.
documentação necessária para trabalhar e permanecer no país. Para conseguir garantir sua
estadia no país enquanto procuram emprego, os senegaleses utilizam-se da única via
possível, o protocolo de refúgio. Por sua vez, os haitianos possuem um canal particular de
regularização, que é o visto humanitário. A formulação de um canal especial de
regularização para os haitianos foi, em grande parte, decorrência dos laços formados entre
os países devido à atuação brasileira na Missão das Nações Unidas para Estabilização do
Haiti (Minustah).
Sendo uma cidade de porte médio, Caxias é a única da região a contar com um
escritório da Polícia Federal capaz de encaminhar solicitações de refúgio, bem como um
posto que emite carteiras de trabalho para migrantes – este um desenvolvimento recente,
pois antes era necessário o deslocamento até Porto Alegre para emissão das carteiras
(Entrevista 01, 2016). A PF, no entanto, não tinha capacidade de atendimento adequada
quando começaram os fluxos, e o fazia com ritmo muito lento. Em resposta às demandas
que surgiram, a PF passou por uma reestruturação e melhorou seu atendimento, não sem
problemas no percurso. De acordo com a Entrevistada 01 (2016), entre os mais graves, a
pessoa à qual inicialmente foi atribuída a função de atender pedidos de refúgio trabalhava
em outra área e era despreparada, o que levou-a a negar-se a encaminhar o protocolo
daqueles que julgava não serem refugiados, decisão que deve, na verdade, ser tomada pelo
Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). Foi preciso a mobilização de entidades
para que fosse revisto o atendimento.
Para organizar suas demandas, além de recorrer ao auxílio do CAM, os migrantes
criaram suas próprias associações. O nível de coesão e organização de um grupo pode
representar um fator importante nas relações de poder (Elias e Scotson, 2000 [1994]). Os
senegaleses possuem uma organização sólida e conseguiram alugar uma casa para abrigar
os recém-chegados e outros compatriotas que necessitam de apoio. Já os haitianos
começaram a se organizar mais recentemente, e se dividem em cerca de quatro
organizações (Entrevistada 01, 2016). Aqui, vale lembrar que assim como o contexto da
nação e da localidade de acolhida importam para a análise dos fluxos migratórios, também
os padrões e dinâmicas sociais existentes no país de origem influenciam as experiências e
ações dos migrantes. Categorias amplas como nacionalidade, etnia e religião podem
mascarar a diversidade dentro do grupo migrante (Levitt e Jaworsky, 2007). As
organizações dos migrantes, portanto, podem refletir a cultura política de seus países de
origem, bem como as divisões e marcos sociais e identitários que lá existem.
Foi recorrente na fala da Entrevistada 01 (2016) a impressão de que existe uma
deliberada ausência de políticas públicas específicas para migrantes por parte do poder
público municipal. O cumprimento da garantia dos direitos dos migrantes por parte do poder
municipal é conquistado de forma lenta e gradual pelo trabalho dos migrantes, do CAM, do
Ministério Público Federal e da Defensoria Pública. Existem indícios de que a Prefeitura
confunde atribuições e coloca responsabilidades municipais sobre o CAM e o Governo
Federal – por exemplo, foi narrada uma ocasião em que o Secretário de Governo teria
falado, em uma rádio, que, se a responsável pelo CAM tinha tempo para viajar de férias,
poderia ir para Brasília pedir recursos para os migrantes.
Além disso, a questão migratória é colocada sob a alçada única da Assistência
Social, embora a migração seja um fenômeno complexo que exige resposta dos mais
diversos setores, como saúde e educação. Ao justificar a não criação do Comitê Municipal
de Atenção a Migrantes, Refugiados, Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas (Comirat)
em entrevista para o site Sul21, Agenor Basso, chefe de gabinete e controlador geral da
Prefeitura, falou que ele era desnecessário: “Ter mais uma entidade pra só ficar discutindo,
analisando, reivindicando questões sociais, não. Nós já temos a FAS (Fundação de
Assistência Social), já temos o Conselho Municipal de Direitos Humanos” (Sul21, 2015). O
Comirat foi fruto de uma recomendação emitida em 2012 do governo do Estado a
municípios que são destino de migração – cidades como Porto Alegre e Bento Gonçalves o
implementaram – tendo como objetivo centralizar os debates e desenvolver políticas
públicas para os migrantes, bem como facilitar o pedido de recursos aos governos estadual
e federal. Visto que o comitê teria como uma de suas funções a facilitação para o pedido de
recursos a um custo mínimo ou nulo, é curioso observar a declaração de Basso: “O que nós
precisamos é de dinheiro. Agora, se essas entidades que tanto fazem questão de ajudar,
quiserem ir para Brasília atrás de dinheiro, ótimo” (Sul21, 2015).
A Fundação de Assistência Social (FAS), apesar de ser apresentada por Basso
como o ponto de referência para as questões dos migrantes, não possui programas
específicos para esse público. Existiam, por exemplo, recursos disponíveis via Governo
Federal para a implementação de um curso de idiomas, porém o poder municipal não
realizou uma solicitação (Entrevistada 01, 2016). Isso indica que a ausência de políticas
específicas pode não se justificar apenas pela falta de recursos, mas também é fruto de uma
falta de vontade política. Segundo a Entrevistada 01 (2016), a Secretária da FAS afirmou
diversas vezes que não poderia atender às demandas específicas dos migrantes porque os
brasileiros também precisam e cobram os serviços.
Não existe alojamento específico para migrantes4, e o albergue municipal possui
capacidade para 35 pessoas. Os migrantes já chegaram a ocupar mais de metade dessas
4 A JBS ofereceu alojamento aos migrantes que lá trabalhavam, mas limitou a estada dos migrantes que não eram funcionários e eram acolhidos por compatriotas. O CAM já abrigou, em sua antiga sede, migrantes em situação emergencial, assim como o Seminário de padres da cidade acolheu os ganenses que chegaram durante a Copa do Mundo – e que deixaram a cidade pouco tempo depois. De maneira geral, os migrantes ficam na residência de parentes, amigos ou na casa alugada pela associação de senegaleses até se estabelecer (Entrevistada 01, 2016).
vagas, situação que levou a Prefeitura a convocar uma reunião com o CAM e afirmar que
seria irregular acolhê-los lá porque eles não tinham documentação. Nesse ambiente, o
migrante serve de bode expiatório – teria sido dito para a população de rua, por exemplo,
que se eles não tinham onde dormir é porque existiriam muitos migrantes na cidade
(Entrevistada 01).
As manifestações de xenofobia e racismo podem ocorrer de maneira mais ou menos
velada; porém, em Caxias do Sul destacam-se episódios notáveis de discursos
explicitamente xenófobos realizados por políticos eleitos. Em 2014, o vereador Flávio Dias
fez a seguinte fala na Câmara da cidade: “Não vieram trazer benefício para o Brasil coisa
nenhuma. Vieram trazer mais pobreza. Então eu não sou favorável a esses caras aqui, de
jeito nenhum. O pessoal daqui precisa de muito apoio também e não tem” (G1, 2014). Mais
recentemente, o próprio Prefeito Alceu Barbosa Velho deixou claro o desinteresse em
reconhecer as necessidades específicas dos migrantes e em estabelecer programas e
serviços que garantissem seu o acesso a direitos: “Eles têm atendimento gratuito pelo SUS
e acesso a tudo que as demais pessoas têm. Não é porque vieram de fora que vamos
passar eles na frente de quem está aqui. Se eles querem trabalhar, têm de procurar
trabalho. Está ruim para todos”. O Prefeito também deixou claro não considerar o poder
público responsável por garantir o básico aos migrantes: “Ninguém pode achar que o poder
público pode tudo. Agora vem esse bando de imigrantes e a prefeitura tem de dar trabalho e
comida para todo mudo? Não é assim” (Pioneiro, 2016b).
O quanto essa posição encontra respaldo na opinião pública é difícil de medir, mas
casos de discriminação são frequentes. Existem relatos de culpabilização dos migrantes por
problemas estruturais, como a falta de vagas nas escolas e os problemas no atendimento
em saúde (Entrevistada 01, 2016). Diversos casos de discriminação e até mesmo de
agressão contra migrantes foram reportados na região (Pires, 2014; Pioneiro, 2014a;
Pioneiro, 2014b; G1, 2014; Magrin, 2014). O entendimento dos migrantes sobre o que é
racismo pode se dar de maneira distinta dos brasileiros, devido às diferentes estruturas
raciais dos países de origem, onde a quase totalidade da população é negra e portanto não
existe um racismo arraigado como no Brasil. Mas a percepção se torna mais aguçada com o
tempo, e diversas queixas nesse sentido foram feitas pelos migrantes, referentes desde ao
tratamento em espaços públicos até à divisão de tarefas no trabalho (Entrevistada 01). Além
disso, casos de violência como o haitiano morto por um policial em Flores da Cunha
(Pioneiro, 2015) e o senegalês assassinado em Caxias do Sul (Pioneiro, 2016a) geram
comoção e a sensação entre os migrantes de que o país não é seguro.
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PIRES, Estêvão. Polícia apura suposta agressão racista contra africano na Serra do RS. G1 RS, 14 mar. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/03/policia-apura-suposta-agressao-racista-contra-africano-na-serra-do-rs.html> Acesso em: 21 mar. 2015.
SUL21. Na contramão de outros municípios, Caxias do Sul não criará Comitê para atendimento de imigrantes. 14 de Julho de 2015. Disponível em: <http://www.sul21.com.br/jornal/na-contramao-de-outros-municipios-caxias-do-sul-nao-criara-comite-para-atendimento-de-imigrantes>