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*Professora da Disciplina de Arte do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco – Ens. Fund., Médio e Normal do município de Primeiro de Maio, Estado do Paraná e Professora PDE. **Professor da Universidade Estadual de Londrina, orientador PDE e Doutor em História da Arte pela Unicamp. ARTE CONTEMPORÂNEA: O NOVO QUE ASSUSTA Lucia do Céu Cardoso Agostinetti* Jardel Dias Cavalcanti** RESUMO Este artigo representa a finalização do trabalho produzido como exigência do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, que objetiva, como política educacional, a formação continuada dos professores da rede pública estadual de ensino do Paraná e encontra-se em processo de construção desde o início do ano de 2008. O objetivo deste trabalho teve como foco refletir e buscar alternativas para as práticas pedagógicas, procurando desmistificar a arte contemporânea e levá-la ao aluno a fim de que este possa interpretá-la de tal modo que passe a fazer sentido em sua vida. Essa necessidade de procurar maiores conhecimentos a respeito da arte contemporânea brasileira se justifica, pois, antes de 1950 o Brasil tinha uma arte moderna com critérios bem definidos quanto a sua análise. Já a partir desse período o expectador encontra certo receio em analisá-la, mas, talvez por estar próxima demais, desempenha um papel de ‘novo’, e o espectador tende a vê-la como algo desconhecido por ter uma educação deficiente em relação a este período. Apesar do grande número de meios de comunicação de massa divulgando a arte atual, o público ainda parece desnorteado diante da arte contemporânea, sentindo-se pouco preparado para entendê-la. Esta proposta tem como meta a intervenção nas práticas pedagógicas usadas em sala de aula, possibilitando, por meio da pesquisa-ação, um encaminhamento metodológico que possibilite ao aluno um ensino de arte que tenha significado na sua aprendizagem e que propicie uma formação mais consciente. Palavras-chave: Arte Contemporânea. Público. SUMMARY This artic represents the end of the work produced due to exigence of the Education Development Program - PDE, it has as focus, as education politics, the continuous formation of the teachers state public system of Paraná and it is in making since 2008. The objective of this work had like focus to reflect and to look for alternatives for the pedagogic practices, looking to get rid the contemporary art and carry it for the student and he/she interprets it, making importance in his/her life. This need of look more knowledges about the Brazilian contemporary art is justified, because, before 1950 Brazil had an modern art with determined rules. Since that period the spectator finds with fears in analyse it, but, because it is next, executes a function of “new”, and the spectator see it as unknown thing because it has a deficient education in that period. Despite big quantity of the mass media divulging the actual art, the public

302NEA O NOVO QUE ) · PDF fileconsultando fontes de Chiovatto no item Ser professor de Arte Contemporânea. Finalizando O Aluno de Arte e a Arte Contemporânea foi relatado a experiência

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*Professora da Disciplina de Arte do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco – Ens. Fund., Médio e Normal do município de Primeiro de Maio, Estado do Paraná e Professora PDE. **Professor da Universidade Estadual de Londrina, orientador PDE e Doutor em História da Arte pela Unicamp.

ARTE CONTEMPORÂNEA: O NOVO QUE ASSUSTA

Lucia do Céu Cardoso Agostinetti* Jardel Dias Cavalcanti**

RESUMO Este artigo representa a finalização do trabalho produzido como exigência do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, que objetiva, como política educacional, a formação continuada dos professores da rede pública estadual de ensino do Paraná e encontra-se em processo de construção desde o início do ano de 2008. O objetivo deste trabalho teve como foco refletir e buscar alternativas para as práticas pedagógicas, procurando desmistificar a arte contemporânea e levá-la ao aluno a fim de que este possa interpretá-la de tal modo que passe a fazer sentido em sua vida. Essa necessidade de procurar maiores conhecimentos a respeito da arte contemporânea brasileira se justifica, pois, antes de 1950 o Brasil tinha uma arte moderna com critérios bem definidos quanto a sua análise. Já a partir desse período o expectador encontra certo receio em analisá-la, mas, talvez por estar próxima demais, desempenha um papel de ‘novo’, e o espectador tende a vê-la como algo desconhecido por ter uma educação deficiente em relação a este período. Apesar do grande número de meios de comunicação de massa divulgando a arte atual, o público ainda parece desnorteado diante da arte contemporânea, sentindo-se pouco preparado para entendê-la. Esta proposta tem como meta a intervenção nas práticas pedagógicas usadas em sala de aula, possibilitando, por meio da pesquisa-ação, um encaminhamento metodológico que possibilite ao aluno um ensino de arte que tenha significado na sua aprendizagem e que propicie uma formação mais consciente. Palavras-chave: Arte Contemporânea. Público.

SUMMARY

This artic represents the end of the work produced due to exigence of the Education Development Program - PDE, it has as focus, as education politics, the continuous formation of the teachers state public system of Paraná and it is in making since 2008. The objective of this work had like focus to reflect and to look for alternatives for the pedagogic practices, looking to get rid the contemporary art and carry it for the student and he/she interprets it, making importance in his/her life. This need of look more knowledges about the Brazilian contemporary art is justified, because, before 1950 Brazil had an modern art with determined rules. Since that period the spectator finds with fears in analyse it, but, because it is next, executes a function of “new”, and the spectator see it as unknown thing because it has a deficient education in that period. Despite big quantity of the mass media divulging the actual art, the public

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seems misguided in the presence of the contemporary art, feeling little prepared for understand it. This proposal has as metal the intervention in the pedagogic practices used in classroom, making possible, through the researsh, a methodological direction that it makes possible to the student an art teaching that has meaning in his/her learning and that it propitiates more conscious formation.

Word-key: Contemporary art. Public.

INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é bastante abrangente e compreender a arte

contemporânea e suas manifestações na sociedade brasileira. É comum professores

de arte ouvirem de seus alunos que “não gostam” da arte atual, ou que “não

conseguem entendê-la”, e quando se fala em arte, preferem Leonardo da Vinci,

Rafael Sanzio entre outros.

Percebe-se também insegurança por parte de alguns professores quando se

fala em trabalhar a arte contemporânea, por ser uma arte muito próxima, por faltar

informações, gerando, por isso, muitas incertezas que dificultam o trabalho em sala

de aula.

Dentro desse contexto surge à preocupação e a necessidade em conhecer e

compreender melhor a arte contemporânea e suas manifestações na sociedade

brasileira, para assim haver maior aceitação por parte de todos, deixando de ser

causa de rejeição e espanto quando abordada.

Primeiramente foi realizado um estudo sobre O Ensino da Arte e a Arte

contemporânea no Brasil onde foram consultadas fontes bibliográficas como Buoro,

Parsons e Barbosa. No segundo momento procurou-se diferenciar a arte moderna

da arte contemporânea no item Moderno ou Contemporâneo?, sendo consultadas

fontes bibliográficas como Cauquelim, Brito, Canongia, Archer, Bandeira entre

outros. Após foi realizada uma pesquisa das principais fontes bibliográficas

procurando relatar de forma simples o surgimento da arte contemporânea e seu

desenvolvimento no Brasil, com o título Arte Contemporânea Brasileira. A

preocupação com a postura do professor de arte em sala de aula foi abordada

consultando fontes de Chiovatto no item Ser professor de Arte Contemporânea.

Finalizando O Aluno de Arte e a Arte Contemporânea foi relatado a

experiência da aplicação do material pedagógico elaborado pelo professor PDE, Arte

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Contemporânea: o novo que assusta, junto a alunos do 3º ano do Ensino Médio.

1 O Ensino da Arte e a Arte contemporânea

O ensino da arte contemporânea dentro das escolas tem sido um problema

entre muitos professores, que encontram dificuldades em abordar este assunto,

talvez por falta de um olhar mais preparado para a tarefa.

Sendo a escola um espaço crítico que deve ajudar o aluno a compreender a

realidade e nela atuar, faz-se necessário um estudo mais aprofundado das

manifestações artísticas e seus modos de ver, perceber e interpretar.

Antes de 1950 o Brasil tinha uma arte moderna com critérios bem definidos

quanto à sua análise, o que levou os professores a ter certa dificuldade em relação

aos critérios que envolvem a arte contemporânea. O modo de ver a arte dos

professores brasileiros permaneceu fundamentada nos critérios da arte moderna,

que não são os mesmos que determinam a arte contemporânea. Assim, a partir

desse período o professor encontra certo receio em analisá-la e tem a tendência de

vê-la como algo desconhecido por ter uma educação deficiente em relação a este

período.

Buoro coloca que:

A imagem ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem contemporâneo. [...] Faz-se necessário uma tomada de consciência dessa presença maciça, pois, pressionados pela grande quantidade de informação, estabelecemos com as imagens relações visuais pouco significativas. Espectadores passivos têm por habito consumir toda e qualquer produção imagética, sem tempo para deter sobre ela um olhar mais reflexivo, o qual a inclua e considere como texto visual e, portanto, como linguagem significante. Somos submetidos às imagens, possuído por elas, e sequer contamos com elementos para questionar esse intrincado processo de enredamento e submissão. É imperativo investir numa prática que transforme esses sujeitos em interlocutores competentes, envolvidos em intenso e consistente diálogo com o mundo, estimulados para isso por conexões e informações que circulam entre verbalidade e visualidade. (BUORO, 2002, p.34).

Segundo Parsons, na visão modernista, as obras eram analisadas através da

compreensão de suas qualidades estéticas, que dependiam de ações da percepção.

Assim, para os arte-educadores, o objetivo era desenvolver o poder da percepção

estética.

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O ensino da arte dentro de uma concepção contemporânea começou a ser

construída no início da década de 60, a partir da reflexão de estudiosos americanos,

canadenses e europeus sobre as funções da arte na educação e sobre seus

métodos de ensino. No Brasil, estas novas idéias sobre ensino da arte a princípio

ficaram restritas a poucos círculos acadêmicos.

No ensino formal, o lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em

1997 e 1998, contribuiu para divulgar a proposta contemporânea.

O ensino de arte contemporânea deve considerar a visão da arte em uma

perspectiva cultural, a valorização da bagagem cultural do educando, a ênfase no

respeito e no interesse por diferentes culturas, a proposta de desenvolver a

capacidade de leitura crítica e atenta de obras de arte e do mundo no qual está

inserida, a ampliação do conceito de criatividade.

O educador tem um papel fundamental dentro da concepção contemporânea

de arte-educação. Cabe a ele traduzir saberes em situações didáticas, que

consigam despertar nos educandos a vontade de apreender, interpretar, elucidar, e

aperfeiçoar-se. Para que estas situações didáticas tenham êxito é necessário

planejar, introduzir, animar, coordenar, conduzir a um fechamento. Todas estas

ações são guiadas por um conjunto de valores. Quando temos clareza sobre os

valores por trás de nossas decisões, podemos direcionar nossos esforços de modo

mais produtivo.

Na visão contemporânea, ao se analisar uma obra de arte, deve-se

considerar as qualidades estéticas e também o conhecimento do seu contexto.

Assim, uma obra de arte contemporânea, é mais um objeto simbólico do que

puramente estético, sendo que a interpretação depende em parte do que pode ser

visto em si e em parte do contexto cultural. A interação do que pode ser visto e um

conhecimento do contexto acontece na interpretação. Assim, a interpretação inclui a

percepção, mas vai além.

O ensino de arte contemporânea requer uma mudança em nossa concepção.

Devemos agora procurar desenvolver habilidades para interpretar obras de arte,

para fazer sentido delas. Ver a maneira como os estudantes a interpretam e não

mais somente como as percebem. A percepção está junto com a interpretação.

Na visão modernista há uma forma correta para se entender uma obra de

arte. Na visão contemporânea pode haver muitas formas significativas. Desde que

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existam diferentes contextos e práticas, pode haver muitas interpretações deles.

Cada interpretação pode se justificar em relação a um contexto e uma prática

diferente. O significado de artefatos artísticos e culturais é instável e, portanto,

vulnerável a deslocamentos e mudanças perceptivos e conceituais, e que a

compreensão crítica da experiência visual está vinculada a experiências subjetivas

incorporadas às práticas culturais.

A sociedade de hoje requer um ser reflexivo, e a arte contemporânea

favorece isso, pois pede uma interpretação ativa, pode unir diversos meios de

pensamento, relacionar-se a vários contextos e é suscetível a múltiplas

interpretações, promovendo o tipo de entendimento exigido por uma sociedade

pluralista, na qual grupos podem coexistir com diferentes histórias, valores e pontos

de vista.

O papel da arte-educação hoje é o de investigar as habilidades e meios pelos

quais os estudantes encontram significados em obras de arte, como eles relacionam

as obras de arte a vários contextos e consideram múltiplas interpretações delas.

Não podemos nos acomodar diante de uma realidade em que o convite é

para que sejamos meros consumidores e não atores; devemos questionar tudo

aquilo que se oferece como forma de pensamento único e estar dispostos a

continuar sempre aprendendo.

2 - Moderno ou Contemporâneo?

Estabelecer uma reflexão sobre moderno e contemporâneo faz-se necessário

para uma maior compreensão do período que está sendo abordado nesta proposta.

Sendo assim, segundo Cauquelin:

Para apreender a arte como contemporânea, precisamos estabelecer certos critérios, distinções que isolarão o conjunto dito “contemporâneo” da totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser buscados apenas nos conteúdos das obras, em suas formas, suas composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de vanguarda. (CAUQUELIN, 2005, p. 11, 12).

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Estabelecer uma estrutura que opere a separação entre o que é e o que não

é arte contemporânea se faz necessário, reunindo suas manifestações esparsas

segundo determinada ordem.

Para o senso comum “moderno” é algo novo, atual. Já no que se refere à arte,

“moderno” é o nome de um período da história da arte, que se inicia na Europa no

século XIX, com a crise do academicismo, podendo ser marcado pelas obras de

Manet, Olympia e Almoço na Relva, ou com o realismo de Gustavo Courbet e o

impressionismo que se seguiu. No Brasil, a arte moderna inicia-se com Anita Malfatti

e Lasar Segall que antecedem a Semana de Arte Moderna em 1922.

Cauquelin define moderno como:

Nós nos servimos então do termo moderno para qualificar certa forma de arte que conquista seu lugar (ao mesmo tempo em que adota o nome) por volta de 1860 e se prolonga até a intervenção do que chamamos de arte contemporânea. Esse posicionamento histórico, ligado à denominação ‘moderno’, bastará por enquanto para sugerir os conteúdos nacionais (...): o gosto pela novidade, a recusa do passado qualificado de acadêmico, a posição ambivalente de uma arte ao mesmo tempo ‘da moda’ (efêmera) e substancial (a eternidade). Assim situada, a arte moderna é característica de um período econômico bem definido, o da era industrial, de seu desenvolvimento, de seu resultado extremo em sociedade de consumo. (CAUQUELIN, 2005. p. 27)

Assim definida a arte moderna como própria da era industrial, leva-nos a

pensar em arte contemporânea como parte da era tecnológica, da comunicação.

Este pode ser um argumento para situar a arte contemporânea. Mas se observamos

a arte ao nosso redor vemos que há uma mistura de diversos elementos, de valores

que estão sempre se fazendo presente na arte que nos deixa uma interrogação.

A origem da arte contemporânea esta na obra de Marcel Duchamp,

considerado por muitos como o pai da arte contemporânea, acreditava que a arte

não deve ser feita pelo artista e sim pensada intelectualmente por ele. Duchamp cria

os ready-mades dos mais variados objetos, interessando para ele o conceito da

obra, e não mais a obra em si. Desprezando ironicamente a estética clássica, pintou

bigodes na Mona Lisa, tentando abolir a obra de arte e o artista, que era visto como

excepcional, gênio, anulando a idéia de uma carreira artística. As obras acadêmicas

mudam de assunto, de tema, mas possuem a mesma “imagem” grega, obedecem a

um mesmo formato. Para Duchamp, não é mais necessário executar uma obra,

basta selecionar objetos já existentes e elevá-lo à categoria de arte. Lança a idéia

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que arte não é mais um fazer, mas apenas um conceito. Isso leva à negação de toda

tradição. O princípio de sua obra é a negação do sentido na própria obra. Ao

escolher um urinol, A Fonte, para expor no Salon des Independents de Paris em

1917, assinando como Mutt (nome de uma empresa que fabricava artigos

sanitários), anula os princípios estéticos na arte. Isso gerou um grande problema,

pois se tudo é arte, nada é arte. A obra de arte em si mesma não existe neste

contexto. Fator que abrirá o caminho para a arte participativa, como a performance e

a instalação, incluindo outros espaços, além dos museus e galerias. Idéia que busca

romper com o espectador passivo. O ready-made coloca a arte em questão: o que é

arte e o que não é arte?

A rejeição de sua obra A Fonte não impediu Duchamp de criar outros ready-

mades escolhendo os objetos mais insignificantes e transformando-os, dando-lhes

um novo nome. Duchamp exerceu, dessa maneira, grande influência na evolução de

vanguarda artística no século XX. Sua obra está assim, na origem dos movimentos

conceituais e das instalações que marcariam a década de 1970, e também no

trabalho de artistas experimentais e os de meios não convencionais, influenciando

também o conceito da própria arte. Na década de 1960, em substituição ao conceito

de “obra-prima”, passamos a chamar de “objeto” o que os artistas propõem, pois o

termo obra já não suportava mais as transformações da arte do século XX.

Analisando a história da tradição do Cristianismo e do Capitalismo

percebemos que esse desejo de desconstrução ou negação da própria arte,

emplementado por Duchamp, vem refletir as idéias de alguns opositores que

denunciam a opressão desse sistema, propondo novos valores. Isso representou a

autonomia do artista e da arte, ou seja, os valores conformistas da arte acadêmica

não mais serviam por estarem agregados à tradição.

Marx - para ele, na ordem capitalista o trabalho é alienado.

Nietzsche - a religião é um mecanismo imaginado pelo homem que infantiliza

o próprio homem, levando-o a buscar forças sobrenaturais. Para ele o cristianismo é

um “remédio” para suportar a vida.

Freud - a civilização é organizada, porém infeliz, porque reprime seus

instintos. O homem passa a ser um animal neurótico e angustiado dentro de uma

sociedade repleta de normas e padrões de comportamento pré-estabelecidos.

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Foucault - critica o ordem pré-estabelecida que domestica o homem. Para ele

o modelo de escola existente molda o corpo e o espírito, criando “corpos dóceis”.

Darwin - este sinaliza para a manipulação da religião sobre as pessoas

desmistificando a Teoria Criacionista, seus dogmas e simbologias, ao desenvolver a

Teoria Evolucionista.

Os artistas, a partir do século XIX, vão enxergar a arte como repressora e

inibidora de forças inconscientes. Passam a ser subversivos e a negar esta ordem,

por essa razão transgridem (como os românticos), incorporando essa idéia na obra e

no próprio comportamento. A liberdade individual será o fator que mobilizará a arte.

Uma obra de arte é o reflexo de idéias individuais e não mais universais.

No Brasil, Ronaldo Brito aponta que é possível situar o neoconcretismo como

um corte, ponto de ruptura da arte moderna no país. Depois dele, ou melhor, com

ele estavam lançadas as bases de uma produção que Mario Pedrosa chamou de

arte pós-moderna, para distinguir da arte moderna pós-impressionista e pós-cubista.

Tanto pelas questões que levantou como pelo seu próprio modo de inserção na

instituição-arte, e pela maneira como evoluiu enquanto estratégia de grupo, o

neoconcretismo marcou um tipo de indagação nova e diferente no campo cultural

brasileiro no final dos anos 50.

3.Arte Contemporânea Brasileira

Por volta dos anos 50, o ambiente artístico brasileiro era dominado pela arte

figurativa, com Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Segall e Pancetti. Vicente do Rego

Monteiro e Cícero Dias foram os pioneiros brasileiros da abstração, mas, no entanto,

viviam em Paris. No Brasil, os introdutores da arte abstrata geométrica foram Arpard

Szenes e Axl Leskoschek, na década de 1940. A partir daí, algumas exposições

como do norte-americano Alexander Calder no Masp, e do suíço Max Bill dão

impulso a uma nova fase da arte brasileira.

A primeira Bienal realizada no Brasil ocorreu em 1951. Max Bill foi premiado

com a sua obra Unidade Tripartida, o que foi um grande incentivo para a arte

construtivista no Brasil. Após a Bienal, surgem dois grupos incentivados por essa

arte: em São Paulo, o Grupo Ruptura (1951), e no Rio de Janeiro, o Grupo Frente

(1954).

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O Grupo Ruptura reuniu artistas como Waldemar Cordeiro, Hermelindo

Fiaminghi, Judith Lausad, Luiz Sacilotto, Mauricio Nogueira Lima, Lothar Charoux e

Kasimir Fejer. Waldemar Cordeiro é quem vai assumir a liderança desse grupo, que

em 1952 lançam seu manifesto, no qual se posicionam contra a pintura naturalista e

ao não-figurativismo hedonista.

Buscam a renovação dos valores essenciais da arte visual, com uma obra de

caráter geométrico, negavam a intuição, proclamando ser a arte um tipo especial de

conhecimento.

No Rio de Janeiro, a arte concreta não foi tão radical, após a exposição

realizada em Petrópolis, em 1953, forma-se o Grupo Frente, que apesar de ser

formado por artistas abstrato-geométricos, valorizam a liberdade de expressão e

permitem o ingresso de artista de todas as linguagens, desde que não tivessem

compromisso com as gerações passadas. Em 1959, passam a constituir o núcleo

Grupo Neoconcreto.

A I Exposição de Arte Neoconcreta aconteceu no Museu de Arte Moderna do

Rio de Janeiro em 1959. Participaram desta Amílcar de Castro, Ferreira Gular, Franz

Weissman, Lygia Clark, Ligia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanúdis, os mesmo

que assinaram o Manifesto Neoconcreto.

Percebemos que o Concretismo e o Neoconcretismo seguiram curso diverso,

enquanto o Concretismo se voltava para a razão, indo contra a arte como meio de

expressão específica, informado por conhecimentos objetivos, os neoconcretos

optaram pelo caráter expressivo da arte, deslocam-se do eixo funcionalista e

mecânico ao redor do qual giravam as tendências construtivas, buscando uma saída

mais humanista. A sensibilização do trabalho de arte estava associada à intenção de

revitalizar o relacionamento do sujeito com o trabalho e incrementar a participação

do espectador no próprio processo de criação da obra.

Lygia Clark e Helio Oiticica contribuíram muito para o desenvolvimento da arte

contemporânea brasileira. Suas idéias expressas em suas obras apontam o caminho

que a arte deve seguir.

Lygia Clark lutava para eliminar a moldura, invadindo o espaço tridimensional

pelo espaço bidimensional do quadro. A obra Casulo (1959) - chapas de metal que

se dobram e saem de plano do quadro, porém ainda presas na parede, como telas -

já é uma preparação para os Bichos, que cria em 1960, onde materializa a pintura

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fora da tela. Os Bichos são sensoriais que devem ser manipulados pelo espectador,

introduzindo assim a participação deste na obra de arte.

Um outro projeto, Caminhando Lygia oferece um papel e uma tesoura para ao

espectador, e leva-o ao ato de cortar o papel. Assim o espectador não mais só

interage com a obra, mas cria a própria obra. É o trabalho de criar que se torna obra,

trabalho em processo, como a vida.

Lygia torna pública sua obra agora não mais em galerias e museus, mas nas

universidades, nas ruas e em seu próprio apartamento, onde realiza as seções com

os Objetos relacionais, trabalho que escolhe o corpo do espectador para realização.

Estimula o espectador buscando experiências estéticas e estésicas com materiais

banais, religando arte e vida. Este é sua ultima forma de trabalho.

Helio Oiticica conservou-se fiel aos veículos e suportes tradicionais da

pintura até o ano de 1959. Mas já nesses primeiros quadros via-se a tendência a

superar o plano bidimensional, pela utilização da cor com evidentes intenções

espaciais. Abandonando o quadro, adota o relevo, criando seus Núcleos e

Penetráveis, placas tridimensionais suspensas por fios manipuláveis pelo

participador.

Os Bólides (1963), pequenas caixas ou peças de vidro, contem pigmentos

que podem ser manipulados, exigindo a mão, o gesto, o corpo, o toque, os sentidos,

as sensações do participante.

Os Parangolés, manifestações ambientais e coletivas, envolvendo capas,

barracas, estandartes e passistas da Mangueira. Obra feita para dançar,

intercalando corpo, dança e som. O participador penetra nas obras e experimenta,

em cada uma delas, “o dentro” – sente-se nelas.

Em Éden (1969) é um ambiente onde o participador (ex-espectador) anda

com os pés descalços a na areia (molhada ou seca), onde sons e textos são

utilizados para que o espectador viva a situação “andarilhante”, no corpo, a

proposição do artista.

Tropicália (1967) é um ambiente, jardim com pássaros vivos entre plantas e

poemas-objetos, onde o espectador interage, sendo monitorado por um olho

televisivo.

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A obra Ready constructible (1978/79) Hélio se inspira nos ready-mades de

Marcel Duchamp e utiliza-se de materiais, em séries, já prontos para a realização da

obra.

A trajetória do trabalho de Clark e Oiticica é uma busca da ressensibilização

dos sentidos, proporcionando experiências estéticas e estésicas, criando materiais

procurando relacionar suas obras com o corpo humano, ligando arte e vida. O

espectador torna-se ativo e o artista um ser propositor de idéias.

As manifestações artísticas destes dois artistas neoconcretos influenciaram

no surgimento da arte conceitual no Brasil. Uma arte que opera não mais com

objetos ou formas, mas agora com idéias e conceitos, derrubando os princípios que

nortearam a obra de arte moderna.

Nos dizeres de Freire:

A Arte conceitual, de modo geral, opera na contramão dos princípios que norteiam o que seja uma obra de arte e por isso representa um momento tão significativo na história da arte contemporânea. Em vez da permanência, a transitoriedade; a unicidade se esvai frente à reprodutibilidade; a autoria se esfacela frente às poéticas da apropriação; a função intelectual é determinante na recepção. (FREIRE, 2006. p. 8)

Essa forma de compreender a arte abala toda a estrutura do sistema de arte,

que caminha para além de formas, materiais ou técnicas.

A arte conceitual no Brasil dá seus primeiro passos, no ano de 1967, com a

exposição “Nova Objetividade” realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de

Janeiro, quando Hélio Oiticica divulga o catálogo da exposição, estabelecendo

alguns pontos que desenvolve dentro de um programa próprio, como: “1 – Vontade

construtiva geral; 2 – Tendência para o objeto ser negado e superado do quadro de

cavalete; 3 – Participações do espectador (corporal, tátil, visual, semântica etc.); 4 –

Abordagem e tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais, éticos; 5

– Tendência para proposições coletivas e conseqüente abolição dos “ismos”

característicos da primeira metade do século XX na arte de hoje (tendência que

pode ser englobada no conceito de “arte pós-moderna” de Mário Pedrosa); 6 –

Ressurgimento e novas formulações do conceito de antiarte.

Com estes itens são lançados alguns princípios que vão nortear a arte

conceitual. A participação do público diante da obra cria um espectador que assume

uma posição crítica e atuante em relação à obra e por isso foi estratégico o

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revigoramento do binômio arte-política. A arte estava preocupada em efetuar a

crítica a um país tomado pela ditadura militar, instituída por meio do golpe militar em

1964.

O objeto da arte se desmaterializa e confunde-se com a vida cotidiana, passa

a ser um processo, idéia, conceito, que para seu registro, pois é uma obra

transitória, tem necessidade da utilização de recursos como filmes, vídeos,

fotografias. Surgem novos meios de produção artística para realização das poéticas,

como os happenings, ambientes, performances, instalações, videoarte, internet art,

arte eletrônica, arte postal.

Nos fins dos anos 1970, surge na Itália um movimento de volta aos suportes

tradicionais, chamado na primeira hora de pintura, mas consagrado com o nome de

Transvanguarda, cunhado pelo crítico Achille Bonito Oliva.

O retorno do prazer da pintura rompe com os limites de recursos que

caracterizava a década anterior. A pintura passa a ser concebida a partir de novos

pressupostos: uso abusivo das cores, grandes formatos, uso de objetos do cotidiano

adotados como suporte pictórico da obra, gestualidade, figurativismo e

expressionismo. Jovens pintores transitam constantemente entre a tradição da

história da arte e os fragmentos do mundo atual, realizando uma pintura híbrida e

contínua.

Segundo Costa, essa volta à pintura, aproveita o momento histórico, com a

ditadura militar começando a desmoronar, seus artistas, como Jorge Guinle e Beatriz

Milhares, liberam todas suas energias expressando nossa brasilidade por tanto

tempo reprimidas. A retomada a pintura foi a tendência dominante nos cinco

primeiros anos da década de 1980 e teve o impulso inicial de Luiz Áquila e dos

professores da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Em São

Paulo, vários de seus principais expoentes, como Leda Catunda, Mônica Nador, Ana

Maria Tavares, Leonilson e Sérgio Romangnolo, formaram-se na Fundação

Armando Álvares Penteado, onde foram alunos de Regina Silveira, Julio Plaza e

Nelson Leirner, herdando desses mestres uma inegável carga conceitual e inserindo

apropriações e texto em sua pinturas.

Os anos 1980 forma também o momento em que a prática curatorial se estabeleceu no Brasil, quando Walter Zanini pela primeira vez formalizou, na XVII Bienal de São Paulo, de 1983, o termo e a atuação do curador. A história dessa década é, em parte, a historia de suas exposições.

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A mostra Da mancha à figura (MAM-RJ, 1982), reuniu trabalhos de Luiz Áquila, Dudi Maia Rosa, Jorge Guinle, Ivald Granato e Charles Watson. Em 1984, foi realizada no Parque Lage a coletiva Como vai você, geração 80?, com 123 artistas, entre eles, Leda Catunda, Leonilson e Daniel Senise. A exposição, organizada por Márcio Doctors, tornou-se um marco desse movimento, uma ocasião em que foram lançados muitos novos artistas. (COSTA, 2006. p. 34).

Analisando a arte contemporãnea brasileira, percebe-se que sofreu várias

mudanças, tanto em recursos utilizados como nas linguagens. Hoje o artista pode

utilizar-se de qualquer tipo de material, técnica ou linguagem, ele não tem mais que

dizer "sou um pintor" ou "poeta" ou "performer" ou “dançarino", ele é simplesmente

"um artista", que habita todas as formas de arte. Essa é uma característica da arte

atual, o hibridismo, que é a impossibilidade de conceituar uma criação artística como

pertencente a uma única vertente, categoria ou cultura, decorrente do ilimitado

experimentalismo da arte contemporânea.

4 Ser professor de Arte Contemporânea

Trabalhar com a arte contemporânea exige do professor uma segurança em

relação ao conteúdo, que conheça o assunto de modo aprofundado para conduzir

discussões produtivas e orientar seus alunos as novas descobertas, pois um dos

aspectos do objeto de arte é que ele seja interpretativo, depende do ponto de vista

do observador, e é impossível o professor de arte abarcar todas as interpretações,

assim considera-se que cada conteúdo tem sua própria gama de informações e

conhecimentos potenciais, que ajudaram o professor a auxiliar seus alunos nos

processos de significação do conteúdo.

O professor deve ser “mediador” entre a arte e o aluno, para assim

transformar a sua prática docente.

Nos dizeres de Milene Chiovatto em seu artigo O Professor Mediador:

“O mediador não só apresenta um determinado conteúdo, mas estimula seu valor significativo, ajustando-o a cada turma, ‘tramando’, com eles, respostas produtivas e significantes. Assim, o grupo estará efetivamente participando de seu processo educativo, ampliando substancialmente sua posição de ‘depositários’ de conhecimentos e informações”. (CHIOVATTO, 2000).

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Assim, o professor mediador é responsável por dosar as informações dos

alunos a fim de construir através da interação, um todo compreensível e imparcial. A

ação do professor é ativa na construção de tramas que articulem conteúdos, mundo,

vida, experiências (suas e dos alunos) num todo significante, considerando as

necessidades, respostas, explorando e aprofundando cada descoberta, articulando

todos os aspectos da situação. É ser ponte que interliga os extremos, interagindo,

participando, dando construindo um todo significativo.

Nas aulas de arte, um ponto essencial é a interpretação dos objetos artísticos.

Essa interpretação do objeto depende do ponto de vista do interpretador, das

relações por ele traçadas considerando suas vivências, a interpretação é pessoal,

cada aluno fará a sua. O professor mediador deve assim tornar o encontro com o

objeto (obra, técnica, conhecimento, consigo mesmo) potencial e articular os

conhecimentos derivados desse encontro, interligando-os numa construção coletiva.

Um aspecto importante na figura do professor mediador é o de dominar o

conhecimento, que se sinta seguro frente ao conteúdo a ser trabalhado, para assim

subsidiar o desenvolvimento das percepções, interpretações e reflexões sobre o

objeto artístico.

Segundo Chiovatto:

Um dos exemplos claros acontece frente a obras de arte contemporânea, normalmente difíceis de aceitar pela maioria das pessoas. Para aventurar-se no desbravar da arte contemporânea, é preciso que o próprio professor mediador esteja consciente de que o que chamamos de Arte não é um único fenômeno, mas um conjunto de variadas manifestações em diferentes tempos e lugares do mundo, o que implica falta de unicidade. Por ser também histórica, ou seja, acompanhar o desenvolvimento do próprio homem, a arte muda tanto de aparência quanto de função e compreensão por parte da sociedade; assim como mudam as idéias de beleza a ela associadas. Tentar explicar porque um bloco de gordura animal colocado sobre uma cadeira é arte (como na obra de Joseph Beuys) soará um tanto ridículo frente ao incômodo - para dizer pouco - que tal imagem oferece. Neste caso é fundamental explorar a sensação de incômodo, ir fundo nos sentimentos e sensações percebidos e, a partir disso, oferecer dados sobre a vida do artista, seu momento histórico e sua relação com os materiais artísticos, bem como sua filosofia em arte que trarão à obra mais sentido, e não justificativa. (CHIOVATTO, 2000).

Além de dominar os conteúdos, o professor de arte deverá ser dinâmico,

procurando intervir sempre que necessário, potencializando o encontro com o

objeto, incorporando informações que façam sentidos, estimulando a reflexão,

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favorecendo a recriação do objeto, avançando assim em questionamentos estéticos,

juízos de valor, sistemas e critérios críticos de arte. Agindo assim, o aluno sentirá

confiança no sentido de discorrer sobre o assunto, sentindo que é importante sua

participação na construção coletiva do conhecimento, percebendo que sua postura

acrescenta significado ao saber da arte como um todo.

Finalizando, com as palavras de Chiovatto:

O professor mediador encontra-se no meio da ação de educar, e aí age, garantindo a incorporação das percepções e interpretações individuais, das informações e conhecimentos (dos conteúdos, seus e dos alunos), das relações com o mundo em que vivemos, num todo articulado e significante, que amalgama o conhecimento tornado útil ao fluxo dinâmico da vida. (CHIOVATTO, 2000).

5 O Aluno de Arte e a Arte Contemporânea A aplicação do Material Didático “Arte Contemporânea: o novo que assusta”

elaborado como uma das etapas do Programa de Desenvolvimento Educacional

PDE, foi realizado em turmas do 3º anos do Ensino Médio.

Iniciou o trabalho com um questionamento onde os alunos deveriam dizer o

que pensam sobre arte e o que é arte para eles, e estes deveriam ilustrar com uma

imagem que refletisse o seu pensamento. Alguns dos alunos acreditam que arte

pode ser a expressão de sentimentos, outros responderam ser o belo, presos ao

conceito de beleza, e alguns responderam que arte é conhecimento, cultura,

expressão, criatividade, talento, curtição.

Percebeu-se que os alunos já têm "critérios enraizados" - como a beleza, a

simetria, a harmonia - ou se baseiam em questões formais colocadas pela arte

moderna para analisarem a arte em geral. Por isso é imprescindível dar aos alunos

as possibilidades de trabalhar com as linguagens contemporâneas da Arte que são

as suas, com as quais nasceram e que mitificam, por desconhecê-las. O ensino

de Arte Contemporânea é mais uma das diversas possibilidades de desmistificar que

a arte só tem valor se tiver um ideal de beleza baseado nas artes de estilo clássico.

Prosseguindo foi realizado um breve relato sobre as mudanças ocorridas com

o conceito da arte: arte como obra-prima – acadêmica – obra como objeto –

moderna – onde foi abordado o artista Marcel Duchamp como pai da arte

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contemporânea e sua obra e também alguns opositores da tradição e do

Cristianismo como Marx, Nietzsche, Freud e Darwin. Os alunos perceberam bem as

causas e as transformações ocorridas com a arte.

Foi trabalhado o Concretismo no Brasil, auge da Arte Moderna Brasileira, e

em seguida apresentado o Neoconcretismo, com os trabalhos de Lygia Clark e Helio

Oiticica.

Houve certa resistência em relação à obra de Oiticica, principalmente em

Parangolés. Os alunos tinham dificuldade em ver aquilo como arte (foi apresentado

um filme do Arte na Escola: H.O supra-sensorial). Houve grandes questionamentos

e debates sobre essa obra e os alunos aos poucos foram compreendendo,

aceitando, passando a obra a ter significado para eles.

Foi muito importante essa etapa do trabalho, pois os alunos passaram a

compreender mais o papel do artista, do espectador, e o espaço da obra de arte

passando a compreender melhor as transformações ocorridas na arte. No contato

com a obra, a mediação é extremamente relevante, mas esta deve ser provocativa,

"abrir caminhos" para a interpretação frente à obra, só assim a obra se revela.

O objeto estético não se revela no primeiro momento, ele exige um olhar

atento do espectador. O professor, com seus métodos, deve iniciar o aluno nesse

processo, para que então consiga fruir a obra de arte contemporânea e encontrar o

prazer diante dela.

Ao abordar a arte conceitual no Brasil, que coincide com a ditadura militar e a

contingência lhe deu um sentido diferente revigorando o binômio arte-politica, houve

maior compreensão e aceitação por parte dos alunos. O momento histórico que o

Brasil vivia, grandes tensões e perseguições, exigia uma arte diferente, que não

opera mais com objetos ou formas, mas com idéias e conceitos, derrubando os

princípios que nortearam a obra de arte moderna.

Foram abordadas obras de artistas como Cildo Meireles e Arthur Barrio.

Artistas que arriscaram tudo, até a própria vida para criticar e denunciar esse

momento da história brasileira.

Finalizando a aplicação com a Geração 80, período em que o Brasil vive um

momento de grande importância para a arte brasileira, pode-se perceber pela sua

arte, reflexo do momento político que estava sendo vivido ou superado, já que se

trata da pós-ditadura. Seus artistas liberam toda suas energias expressando esse

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desejo de liberdade por tanto tempo reprimida. Essa liberdade está refletida na

produção cultural, não só nas artes plásticas, mas em outras linguagens. Na música,

com o surgimento das bandas brasileiras de rock, cantando em português, formadas

por jovens que buscam a identidade brasileira.

A Geração 80 traz de volta para a arte a prática da pintura e a valorização de

experimentação de novos materiais para a criação.

Foram abordados artistas como Nuno Ramos e Leda Catunda. Artistas

contemporâneos que apresentam uma poética nova, materiais inusitados atraindo

bastante à atenção dos alunos, que na sua maioria se perguntaram: Mas isto é arte?

E coube ao professor mostrar que arte não é enfeite, e sim conhecimento, profissão,

uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário e

também é conteúdo.

Também foi trabalhada a obra do artista Vik Muniz, o qual explora diferentes

linguagens artísticas em seu trabalho, sendo que a fotografia tem papel

fundamental, pois por meio dela registra as imagens de aparência realista que cria

desenhando com materiais inusitados como chocolate, açúcar, macarrão, fios de

arame, pó e outros materiais. A obra deste artista abre um leque infinito de idéias

para criação com o aluno, o que motivados e desafiados podem desenvolver um

séries de pesquisas de produção artística.

CONCLUSÃO

O ensino da arte e de qualquer outra disciplina só tem importância se tiver

como objetivo a transformação, que pode ser intelectual, moral, espiritual, cultural,

não importa. Desde que se aprenda algo relevante é muito motivador o resultado de

uma prática educacional onde há crescimento intelectual e da sensibilidade. Como o

grande pensador Heráclito descreveu sobre o valor da transformação. “Um homem

não entra no mesmo rio duas vezes. Da segunda vez não é o mesmo rio e nem o

mesmo homem”.

Trabalhar a Arte Contemporânea é enriquecedor, pois exige idéias novas, que

se relacionem com outras idéias, associações, aguça a curiosidade, exercita a

capacidade de imaginação e de indagação, pois ver uma obra de arte

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contemporânea requer que você se pergunte, se incomode. Exige que você conheça

a obra do artista, os materiais que ele usou as idéias que ele teve e até mesmo o

contexto em que realizou a obra.

A Arte Contemporânea estabele relações entre o mundo e a maneira como o

homem o percebe ao longo do tempo. Ajuda a construir um olhar cada vez mais

sensível e crítico para perceber como os elementos estéticos e artísticos trazem

significados diversos.

O grande desafio dos professores de arte contemporânea é desvincular o “eu

não entendo” do “eu não gosto”, encontrando significados juntos.

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