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115534/2017 ASJCIV/SAJ/PGR Mandado de Segurança 34593 – DF Relator: Ministro Alexandre de Moraes Impetrantes: Saulo Henrique de Sá e Benevides e outros Impetrado: Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba MANDADO DE SEGURANÇA. ELEIÇÃO. MESA DIRETORA. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRESIDENTE. VICE-PRESIDENTE. CORREGEDOR. COMPETÊNCIA. STF. ART. 102, I, N, DA CF. CABIMENTO. DILIGÊNCIA. DECISÃO JUDICIAL. CASSAÇÃO. REFORMA. MEIOS. IRMÃO CANDIDATO. IMPEDIMENTO. CONCESSÃO DA ORDEM. PEDIDO LIMINAR. AGRAVO INTERNO. PREJUÍZO. 1 Mandado de segurança impetrado em face de ato su- postamente coator do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, consubstanciado na realização de elei- ção, em Sessão Administrativa Extraordinária de 22 de de- zembro de 2016, para a escolha da Mesa Diretora da referida Corte. 2 Compete ao STF apreciar a discussão em debate, pois caracterizado o interesse, ainda que indireto, de mais da metade dos membros do Tribunal de origem, na forma do art. 102, I, n, da Carta Magna. 3 – O fato de existir relação de prejudicialidade entre o mandamus e a Reclamação 25763/PB não interfere na constatação sobre ser cabível o primeiro, sobretudo em virtude de os argumentos nele veiculados não serem passí- veis de exame nos estreitos limites da reclamação. Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 15/05/2017 18:36. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 4425E081.4ED263EA.393D2B2D.9B27002D

343o de candidato) - ClickPB - O portal de notícias da Paraíba … · 2017-05-16 · PGR Mandado de Segurança 34593 – DF 4 – O litisconsórcio entre o impetrado e os Desembargado-res

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Nº 115534/2017 – ASJCIV/SAJ/PGR

Mandado de Segurança 34593 – DFRelator: Ministro Alexandre de MoraesImpetrantes: Saulo Henrique de Sá e Benevides e outrosImpetrado: Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da

Paraíba

MANDADO DE SEGURANÇA. ELEIÇÃO. MESA DIRETORA.TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRESIDENTE. VICE-PRESIDENTE.CORREGEDOR. COMPETÊNCIA. STF. ART. 102, I, N, DA CF.CABIMENTO. DILIGÊNCIA. DECISÃO JUDICIAL.CASSAÇÃO. REFORMA. MEIOS. IRMÃO CANDIDATO.IMPEDIMENTO. CONCESSÃO DA ORDEM. PEDIDOLIMINAR. AGRAVO INTERNO. PREJUÍZO.

1 – Mandado de segurança impetrado em face de ato su-postamente coator do Presidente do Tribunal de Justiça doEstado da Paraíba, consubstanciado na realização de elei-ção, em Sessão Administrativa Extraordinária de 22 de de-zembro de 2016, para a escolha da Mesa Diretora dareferida Corte.

2 – Compete ao STF apreciar a discussão em debate, poiscaracterizado o interesse, ainda que indireto, de mais dametade dos membros do Tribunal de origem, na forma doart. 102, I, n, da Carta Magna.

3 – O fato de existir relação de prejudicialidade entre omandamus e a Reclamação 25763/PB não interfere naconstatação sobre ser cabível o primeiro, sobretudo emvirtude de os argumentos nele veiculados não serem passí-veis de exame nos estreitos limites da reclamação.

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PGR Mandado de Segurança 34593 – DF

4 – O litisconsórcio entre o impetrado e os Desembargado-res eleitos é passivo necessário, considerada a natureza darelação jurídica controvertida.

5 – A cassação ou a reforma da decisão judicial depende,em regra, do manejo dos instrumentos processuais cabí-veis, como na espécie.

6 – Não foi alcançado o quórum mínimo exigido pelo art.102 da Lei Complementar 35/1979, porquanto é vedadoque Desembargador delibere sobre matérias políticas perti-nentes a seu irmão, também integrante do Tribunal Pleno.

7 – Parecer pela retificação da autuação, para que constemdo polo passivo os litisconsortes necessários e lhes sejaconcedida a oportunidade de se manifestarem, como re-querido na inicial. Superada a etapa e mantido o cenárioatual, pela concessão da ordem, a fim de ser anulada aeleição realizada dia 22 de dezembro de 2016 para a esco-lha da Mesa Diretora do Tribunal de Justiça da Paraíba, fi-cando prejudicados o pedido liminar e o agravo interno.

1 Relatório

Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar,

impetrado por Saulo Henrique de Sá e Benevides e outros em

face de ato supostamente coator do Presidente do Tribunal de

Justiça do Estado da Paraíba, consubstanciado na realização de

eleição, em Sessão Administrativa Extraordinária de 22 de de-

zembro de 2016, para a escolha da Mesa Diretora da referida

Corte.

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Relatam os impetrantes que, em virtude do deferimento,

pelo Ministro Teori Zavascki, da medida liminar pleiteada na Re-

clamação 25763/PB, foram suspensos os efeitos da eleição da

Mesa Diretora do TJ/PB (biênio 2017/2018) realizada em 16 de

dezembro de 2016 e determinada a escolha de novos dirigentes

para ocuparem os cargos em caráter precário.

Noticiam haver sido expedido o Memorando ASPLE

42/2016, mediante o qual o Presidente do TJ/PB convocou Ses-

são Extraordinária para o dia 22 de dezembro de 2016, unica-

mente para a escolha dos novos membros da Mesa Diretora.

Aduzem que, como não houve expedição de Edital de Convoca-

ção para Sessão Extraordinária ou a prévia publicação do Me-

morando […] no Diário Oficial da Justiça, três dos impetrantes,

os Desembargadores Frederico, Oswaldo e João Alves, não te-

riam sido oficialmente convocados para a aludida sessão. Desta-

cam, ainda, a impossibilidade do comparecimento dos referidos

magistrados por motivo de viagens previamente agendadas, con-

siderado o período do recesso judiciário.

Informam que, em virtude da apontada situação de ilegali-

dade e abusividade que ensejou o impedimento do respectivo

exercício do direito líquido e certo ao voto, foi impetrado por um

dos Desembargadores o Mandado de Segurança 0001890-

24.2016.815.0000, no bojo do qual foi deferida a liminar pleite-

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ada, suspendendo-se a realização da sessão a ser realizada em 22

de dezembro de 2016, a fim de que acontecesse apenas após o

término do recesso forense.

Aduzem que – independentemente da formalização de qual-

quer recurso ou petição (agravo interno, mandado de segurança,

pedido de reconsideração ou reclamação constitucional) em face

da decisão exarada no MS 001890-24.2016.815.0000, e, a des-

peito de o Presidente do TJ/PB ter sido dela notificado no início

da manhã de 22 de dezembro de 2016 – decidiu I) na sessão ex-

traordinária administrativa do dia 22 de dezembro de 2016, II)

em pleno recesso forense, III) colhendo os votos de 02 (dois) De-

sembargadores com vínculo consanguíneo de 2º grau (irmãos) e;

IV) os votos de 02 (dois) Desembargadores que já tinham ar-

guido incidente de impedimento no próprio writ; submeter à

Corte, em Sessão Extraordinária Administrativa, a eficácia, ou

não, dos efeitos de uma decisão judicial até o presente momento

vigente e válida em todos os seus termos. Acrescentam haver a

referida sessão sido realizada sem a presença de 08 (oito) dos 19

(dezenove) Desembargadores componentes do Tribunal Pleno.

Explicam que não havia qualquer situação urgente a justifi-

car a realização da eleição durante o recesso, revelando, a toda

vista, desvio de finalidade pelo Desembargador Presidente, que,

decerto sabedor do provável número diminuto de Desembarga-

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dores presentes na data designada, encontraria menos resistên-

cia.

Consoante argumentam, o Tribunal Pleno teria descumprido

decisão liminar tomada por juízo competente nos autos do Man-

dado de Segurança 001890-24.2016.815.0000, ao apreciar o in-

cidente de impedimento atravessado [nesses autos] pelos

Desembargadores Joás de Brito Pereira Filho e Márcio Murilo

da Cunha Ramos […], sobretudo porque aquele sequer chegou a

ser instaurado. Ademais, usurpara a competência do STF, ao ne-

gar eficácia a decisão judicial [proferida no MS 001890-

24.2016.815.0000] sob alegação de descumprimento da decisão

proferida na Reclamação 25763/PB.

Acerca da participação de Desembargador na deliberação

sobre a escolha de candidato seu irmão, reproduzem julgado

dessa Corte no Mandado de Segurança 33117, da relatoria do Mi-

nistro Luiz Fux, o qual, com fundamento na aplicação analógica

do art. 128 da Lei Complementar 35/1979, teria assentado ser

proibida a participação na hipótese. Alegam que tal situação acar-

retaria a nulidade da votação, ante a ausência de alcance do quó-

rum mínimo (10 votos válidos, no universo de 19 possíveis),

como imporia o art. 102 da Loman e o art. 23, § 3º, do Regi-

mento Interno do TJPB. Afirmam que tal quórum também não te-

ria sido alcançado, em virtude da quebra do sigilo do voto da

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Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. Duda Ferreira,

que teria sido auxiliada por sua assessora no momento do preen-

chimento da cédula de votação.

Defendem a adequação da via eleita e a competência do Su-

premo Tribunal Federal para julgar o feito, nos termos do art.

102, I, n, da Carta da República, tendo em conta a presença de

evidente impedimento ou, no mínimo, interesse direto ou indireto

de 10 (dez) Desembargadores […], uma vez que se manifestaram

favoravelmente ao descumprimento da decisão liminar prolatada

[...] nos autos do Mandado de Segurança nº 0001890-

24.2016.815.0000, chancelando e anuindo que a autoridade im-

petrada praticasse os atos atacados neste mandamus. Acrescen-

tam envolver a questão o respectivo direito líquido e certo e

deverem integrar o polo passivo, não apenas os eleitos para os

cargos de Presidente, Vice-Presidente e Corregedor daquele

Corte, mas também Desembargador que, sendo irmão de candi-

dato a compor a Mesa Diretora, votou. Concluem, portanto, que,

pelo menos 12 (doze) dos 19 (dezenove) membros efetivos do

[…] TJPB estão impedidos no julgamento desta demanda, pois

06 (seis)[...] são partes e outros 06 (seis) são autoridades coato-

ras e diretamente atingidos.

Afirmam estarem presentes os requisitos necessários ao de-

ferimento de medida liminar.

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Pleiteiam o deferimento do pedido liminar, para serem sus-

pensos os efeitos da eleição para os cargos de Presidente, Vice-

Presidente e Corregedor do Tribunal de Justiça do Estado da Pa-

raíba realizada na Sessão Extraordinária de 22 de dezembro de

2016 e renovada a votação para os aludidos cargos, desde que

cumpridas as formalidades legais. Pugnam, ainda, pela notifica-

ção da autoridade coatora, dos litisconsortes passivos necessá-

rios, do órgão de representação judicial do impetrado e do

Ministério Público.

Ao final, requerem:

a concessão da segurança, para, ratificando a liminar per-quirida, anular os efeitos da eleição para os cargos de Presi-dente, Vice-Presidente e Corregedor do Tribunal de Justiçado Estado da Paraíba – TJPB, ocorrida na Sessão Extraordi-nária do dia 22 de dezembro de 2016, reconhecendo e repa-rando a lesão ao direito líquido e certo dos impetrantesdecorrente da ilegalidade e abusividade dos seguintes atosI) da usurpação de atribuição do STF praticada pelo TJPBao suspender decisão judicial sem procedimento ou recursopróprio sob a alegação de que violaria decisão do STF; II)

A impossibilidade de dois Desembargadores irmãos vota-rem concomitantemente, quando um deles é candidato, porforça do impedimento decorrente da aplicação do art. 128da LOMAN; III) Reconhecer e declarar que, com a exclu-são o voto do Desembargador impedido, não se obteve oquórum mínimo exigido no art. 102 da LOMAN para aeleição o Presidente e demais membros, pois seriam neces-sários 10 votos válidos; IV) Reconhecer e declarar que,com a exclusão do voto da Desembargadora Maria das Ne-ves do Egito de A. Duda Ferreira, não se obteve o quórummínimo exigido no art. 102 da LOMAN para a eleição o

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Presidente e demais membros, pois seriam necessários 10votos válidos; V) A impossibilidade de se apreciar arguiçãoem impedimento sem instauração de procedimento próprio;VI) Impossibilidade de realização de eleição em pleno re-cesso; VII) Necessidade de publicação de edital própriopara a realização de sessão extraordinária para eleição dosmembros da mesa diretora ou convocação formal e pessoalde cada membro do TJPB.

Recebidos os autos no Supremo Tribunal Federal, a Ministra

Presidente determinou a intimação da autoridade apontada como

coatora, para, querendo, prestar informações.

Consignou o impetrado que: a) a urgência na realização da

eleição em 22 de dezembro de 2016 decorreria do comando da

decisão liminar tomada na Reclamação 25763/PB, demonstrada

inclusive mediante intimação via fax, ocorrida no mesmo dia em

que proferida, 16 de dezembro anterior; b) o pronunciamento da

Desembargadora Maria das Graças Morais Guedes no Mandado

de Segurança 0001890-24.2016.815.0000 impedia a realização

de novas eleições, em desrespeito à decisão do STF, que determi-

nava acontecesse desde logo, tendo-se optado por cumprir a úl-

tima; c) o mandado de segurança não seria cabível, por ter sido

seria empregado para discutir o modo como restou cumprida de-

cisão judicial proferida em processo distinto, o que deveria ser

feito no bojo da mesma relação jurídica processual, a fim de pre-

servarem-se o juízo natural e a segurança jurídica; d) seria neces-

sária, segundo a jurisprudência do STF, de declaração expressa

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de impedimento/suspeição de mais da metade dos membros do

Tribunal de Justiça, para firmar-se a competência originária; e)

incidiria, in casu, da Súmula 623/STF; f) a notificação de todos

os Desembargadores restou comprovada por meio do envio do

Memorando 42/2016 a seus gabinetes, de telegramas para as res-

pectivas residências e de convocação no sítio eletrônico do

TJ/PB; g) foi expedido ofício ao STF, informando a data da nova

eleição e contendo a forma de comunicação dos Desembargado-

res, cujo teor não foi questionado; h) a realização de Sessão Ex-

traordinária estaria autorizada pelo art. 24 do Regimento Interno

do TJ/PB e pelo art. 3º, parágrafo único, da Resolução 39/2015

desse órgão e o seu agendamento, durante o recesso, não contra-

riaria a Resolução CNJ 244/2016, aplicável somente a feitos de

natureza judicial; i) a Desembargadora plantonista Maria das

Graças Morais Guedes estaria impedida para apreciar o MS

0001890-24.2016.815.0000, por ser parte na Reclamação

25763/PB, e não ter apreciado a exceção, a qual, considerado o

efeito suspensivo gerado, privaria a magistrada, desde sua formu-

lação, do exercício do poder jurisdicional, consoante o disposto

no art. 146, § 3º, do CPC. Em virtude disso, seriam nulas as res-

pectivas decisões proferidas antes do exame da exceção; j) a de-

cisão do Ministro Fux no Mandado de Segurança 33117

impossibilitou a votação conjunta de Desembargadores parentes

nos processos administrativos, ao tempo em que permitiu a vota-

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ção de ambos nas matérias legislativas e políticas, como a rela-

tiva à eleição para cargos diretivos de tribunal; l) o Desembarga-

dor Márcio Murilo da Cunha Ramos candidatou-se para o cargo

de Presidente do TJ/PB, mas não obteve nenhum voto em

22/12/2016, nem mesmo de seu irmão, de modo que não há se fa-

lar em quebra de imparcialidade; m) a Desembargadora que foi

auxiliada durante a votação é pessoa com deficiência no membro

dominante, constituindo discriminação impedir o acesso de as-

sessores de confiança do próprio deficiente para prestar auxílio

numa eleição para a mesa diretora do Tribunal; n) a Resolução

TSE 23218 garante ao eleitor com deficiência o direito de ser au-

xiliado por pessoa de sua confiança no momento do voto, em

consonância com os objetivos estabelecidos na Carta da Repú-

blica e nas leis infraconstitucionais aplicáveis à espécie; o) o

quórum mínimo foi obtido, independentemente da presença dos

Desembargadores faltantes, o que demonstraria que, ainda que

fossem realizadas novas eleições, o resultado seria o mesmo; p) a

posse dos eleitos no dia 1º de fevereiro de 2017 foi acompanhada

da transição de cargos diretivos, gerenciais e de assessoramento,

de maneira que a interrupção da gestão, neste momento, resulta-

ria em prejuízos incomensuráveis para o bom andamento da má-

quina judiciária.

Em razão do óbito do relator, o Ministro Roberto Barroso

deferiu parcialmente a liminar, para determinar a realização de

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novas eleições para os cargos de Presidente, Vice-Presidente e

Corregedor em até 15 (quinze) dias, cumprindo-se todas as for-

malidades necessárias, devendo a atual gestão permanecer, a tí-

tulo provisório, exclusivamente durante este prazo.

Após a interposição de agravo interno pelo Desembargador

Joás de Brito Pereira Filho, alegadamente litisconsorte necessá-

rio, o Ministro Barroso aditou o pronunciamento anterior, com

base nos seguintes fundamentos a seguir sintetizados:

DIREITO ADMINISTRATIVO. MEDIDA LIMINAR EMMANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO TJPB. ELEI-ÇÃO DOS DIRIGENTES DO TRIBUNAL. ADITA-MENTO DA DECISÃO ANTERIOR.

1. Decisão liminar proferida com base no art. 38, I, doRI/STF, determinando a realização de novas eleições noTribunal de Justiça estadual, em até 15 (quinze) dias.

2. A existência das Rcl 25.763 e 26.155 gera o risco de de-cisões conflitantes, recomendando-se aguardar a decisão dorelator natural.

3. Aditamento da decisão originalmente proferida, para ga-rantir a manutenção dos atuais Presidente, Vice-Presidentee Corregedor nos cargos, a título provisório, até posteriordeliberação do relator natural a respeito das questões susci-tadas no agravo interno.

Apresentadas contrarrazões ao agravo interno, vieram os au-

tos a esta Procuradoria-Geral da República para a oferta de pare-

cer.

Esses, em síntese, são os fatos de interesse.

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2. Mérito2.1 Competência da Suprema Corte

Preambularmente, registre-se que a controvérsia existente

nestes autos, que diz respeito à eleição realizada em 22 de de-

zembro de 2016 para a escolha da Mesa Diretora do Tribunal de

Justiça do Estado da Paraíba (biênio 2017/2018), torna o Su-

premo Tribunal Federal competente para apreciar o feito, nos ter-

mos do art. 102, I, n, da Constituição, segundo o qual cabe a essa

Corte processar e julgar a ação em que todos os membros da ma-

gistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela

em que mais da metade dos membros do tribunal de origem este-

jam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados.

[Destacou-se]

Isso porque, dos dezenove integrantes da Corte estadual em

exame, seriam interessados na causa, pelo menos e ainda que in-

diretamente, os seis Desembargadores impetrantes, o então Presi-

dente à época, os três magistrados eleitos e os dois irmãos, além

da Desembargadora cujo voto se pretende seja declarado nulo.

2.2 Objeto do mandado de segurança e

alegação de prejudicialidade

Na sequência, com fundamento na teoria da asserção, en-

tende-se dever ser conhecido este writ, eis que, no plano das afir-

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mações, ilegalidades teriam ocorrido durante a eleição realizada

em 22 de dezembro de 2016.

Insta destacar que não prospera o argumento, constante das

informações, segundo o qual a presente via seria inadequada por-

que, tendo por objeto o modo de cumprimento da decisão liminar

proferida na Reclamação 25763/PB, deveria a irresignação ser

naquele processo veiculada.

Ocorre que, na supracitada reclamação, busca-se o reconhe-

cimento da afronta ao decidido nas Ações Diretas de Inconstituci-

onalidade 3566, 3976, 4108 e 2012 pelo TJ/PB, ao realizar, em

16 de novembro de 2016, uma primeira eleição para a escolha da

Mesa Diretora que atuaria no biênio 2017/2018, com livre con-

corrência e escolha de Desembargadores que não figuravam entre

os três mais antigos e desimpedidos.

Já neste mandado de segurança, pretende-se a verificação da

ocorrência de ilegalidades na segunda votação, realizada em 22

de dezembro de 2016, em cumprimento à decisão liminar profe-

rida na Reclamação 25763 que, suspendendo a primeira eleição,

determinou a promoção da segunda desde logo, para que novos

dirigentes assumissem em caráter precário, até o julgamento defi-

nitivo da ação.

Não se ignora que há relação de prejudicialidade entre a alu-

dida reclamação e o presente mandado de segurança, assim como

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notou o Ministro Roberto Barroso. É que, se o pedido veiculado

na primeira for julgado improcedente, os efeitos decorrentes da

primeira votação, realizada em 16 de novembro de 2016, perma-

necerão hígidos, tornando-se inócua a discussão a respeito de su-

postos vícios ocorridos durante a segunda.

No entanto, essa constatação não interfere no conhecimento

deste mandado de segurança, até porque os argumentos nele vei-

culados não poderiam ser examinados nos estreitos limites da re-

clamação, como bem assentou o Subprocurador-Geral da

República Dr. Paulo Gustavo Gonet Branco, em parecer exarado

nos autos da Reclamação 25763/PB. Confira-se:

Relativamente ao pedido de anulação da segunda eleição,as irregularidades alegadas não têm pertinência com o ob-jeto desta reclamação, que se restringe à questão do uni-verso de Desembargadores elegíveis. Ademais, ajurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite autilização da reclamação como sucedâneo recursal do man-dado de segurança em curso na origem. Nesse sentido:

RECLAMAÇÃO – NÃO CABIMENTO – (...) INA-DEQUAÇÃO DO EMPREGO DA RECLAMAÇÃOCOMO SUCEDÂNEO DE AÇÃO RESCISÓRIA, DERECURSOS OU DE AÇÕES JUDICIAIS EM GE-RAL – EXTINÇÃO DO PROCESSO DE RECLA-MAÇÃO – PRECEDENTES (...) RECURSO DEAGRAVO IMPROVIDO. (Rcl n. 8802-AgR/PB, rel. oMinistro Celso de Mello, DJe 10.6.2014).

2.3 Litisconsórcio passivo necessário

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Quanto ao polo passivo, revela-se a necessidade de retifica-

ção da autuação, para que constem do polo passivo os litisconsor-

tes necessários e lhes seja concedida a oportunidade de se

manifestarem, como já requerido na inicial.

Considerada a natureza da relação jurídica controvertida,

decorrente da pretensão de anular-se o pleito para a escolha da

Mesa Diretora do TJ/PB, os eleitos em 22 de dezembro de 2016

poderão ser atingidos pelos efeitos da decisão nestes autos profe-

rida, o que exige atenção quanto à necessidade de obstar-se even-

tual nulidade e de preservar-se a isonomia.

Superadas essas etapas e mantido o cenário atual, passa-se à

análise do mérito.

2.4 Exame das alegações de mérito

Consoante se depreende da documentação acostada aos au-

tos com as informações, tal como cópias dos recibos do Memo-

rando 42/2016 nos gabinetes, de certidões lavradas por servidores

públicos e de comprovantes de entrega de telegramas, houve a

convocação formal de todos os Desembargadores integrantes da

Corte acerca da Sessão Administrativa realizada em 22 de de-

zembro de 2016.

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A notícia sobre a convocação consta, ainda, do sítio eletrô-

nico do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.1

Além disso, das notas taquigráficas da aludida Sessão colhe-

se o seguinte trecho:

O SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE(MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE):

[…]

Todos os Desembargadores receberam nos seus gabinetesum ato convocatório meu; em seguida, uma convocação nosite do Tribunal e, depois, um telegrama de minha lavra atodos os Desembargadores. E, para que não tivesse (15Ju)dúvida que chegou à casa de cada um, eu mandei que a As-sessoria mandasse um telegrama para mim também, convo-cando-me, parece um contrassenso, mas, assim, tive aprova que chegou às casas. Tudo isso no dia 19. As comu-nicações foram feitas.

Quanto à realização da eleição no recesso, tem-se que não

restou configurada ilegalidade, tendo em vista haver resultado do

comando expresso na decisão liminar deferida na Reclamação

25763/PB, cujo cumprimento era compulsório, senão vejamos:

[…] Também é inquestionável o risco de dano, em face daproximidade do término do mandato dos atuais dirigen-tes do Tribunal reclamado e da indispensabilidade de quesejam eles sucedidos por titulares eleitos por critérios legíti-mos, do ponto de vista jurídico. E, segundo a jurisprudên-cia do STF, os critérios legítimos são os que decorrem daLC 35/79.

1 http://www.tjpb.jus.br/tjpb-realizara-nesta-quinta-22-eleicao-para-escolher-nova-mesa-diretora/

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4. Ante o exposto, defiro a liminar para suspender os efei-tos do ato reclamado, a saber, a eleição para os cargos dedireção no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. A fimde preservar a continuidade da administração após o tér-mino do mandato dos atuais titulares, cumpre ao Tribunalreclamado promover desde logo a eleição de novos diri-gentes, segundo o estabelecido no art. 102 da Lei Orgânicada Magistratura, que assumirão seus cargos em caráter pre-cário, até o julgamento definitivo da presente Reclamação,e, depois, em caráter definitivo, se confirmada a liminar porjuízo final de procedência. [Destacou-se]

Ademais, cumpriu-se o disposto no art. 24 do Regimento In-

terno do TJ/PB, segundo o qual, se motivo de força maior impe-

dir a eleição na época própria, ela terá lugar em sessão

extraordinária, convocada para um dos oito dias subsequentes.

Saliente-se que a Resolução CNJ 244/2016 não se aplica ao caso,

por tratar sobre feitos judiciais, e não sobre matérias administrati-

vas pendentes de deliberação urgente. A respeito delas, assim dis-

pôs a Resolução 39/2015 do Tribunal local, alterada pelo número

26/2016:

Art. 1º Não haverá expediente forense nas unidades judiciá-rias de primeiro e segundo graus no período de 20 de de-zembro a 6 de janeiro, na forma do art. 283 da LeiComplementar nº 96, de 10 de dezembro de 2010.

Art. 2º Ficam suspensos os prazos processuais no períodocompreendido entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeirode cada ano.

Art. 3º. No período de que tratam os arts. 1º e 2º desta Re-solução, fica vedada a realização de audiências e sessões dejulgamento, inclusive as anteriormente designadas, bem

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como a publicação de notas de expediente, na primeira esegunda instâncias, exceto as consideradas urgentes ou re-lativas aos processos penais envolvendo réus presos, nosprocessos vinculados a essa prisão.

Parágrafo único. Ficam excluídas do disposto no caputdeste artigo as sessões administrativas do Tribunal Pleno edo Conselho da Magistratura em relação às matérias in-

terna corporis.

Note-se que a própria realização da Sessão em exame a par-

tir do dia 7 de janeiro de 2017, tal como constou da decisão no

Mandado de Segurança 0001890-24.2016.815.0000, e até o dia

20 subsequente, estaria vedada, se não houvesse a exceção pre-

vista no supracitado parágrafo único do art. 3º.

A par disso, como informou o Desembargador Joás de Brito

Pereira Filho nas notas taquigráficas da Sessão realizada em 22

de dezembro de 2016, o Presidente à época comunicou ao STF

dando satisfação [...] de que estava convocando eleições para

esta data, o qual assim se manifestou em seguida:

Eu comuniquei os meus atos e não recebi nenhuma repri-menda ao Ministro Relator da Reclamação e comuniqueitambém à eminente Ministra Carmem Lúcia, Presidente doSupremo Tribunal Federal, mandando cópia das convoca-ções. Até agora, eles não suspenderam a eleição.

A seu turno, não merecem prosperar as alegações relativas à

nulidade do voto da Desembargadora Maria das Neves do Egito

de A. Duda Ferreira, que fora auxiliada por sua assessora no

preenchimento da cédula respectiva, após requerimento, em vir-

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tude de sua comprovada condição de pessoa com deficiência, à

qual é assegurada, nos termos do art. 29 da Convenção Internaci-

onal sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a oportuni-

dade de exercer os respectivos direitos políticos em condições de

igualdade com as demais pessoas, inclusive devendo o Estado

garantir-lhe, sempre que necessário e a seu pedido, permissão

para que elas sejam auxiliadas na votação por uma pessoa de

sua escolha. Das notas taquigráficas da Sessão realizada em 22

de dezembro de 2016, constou o seguinte:

[…] eu passo brevemente apreciar o requerimento da De-sembargadora Maria das Neves do Egito que chega aqui asminhas mãos, onde ela pede em uma petição fundamentada,para que ela possa ser auxiliada na hora da votação pela suaAssessora, a Dra. Maria do Socorro Gomes Primo. Esse re-querimento tem base, eu vou resumir, não vou ler a petiçãotoda, no art. 37 do Estatuto da Pessoa com Deficiência [...].[…]

Então, como cabe a decisão ao Presidente das eleições, eudefiro o requerimento de Sua Excelência.

O SENHOR DESEMBARGADOR MÁRCIO MURILODA CUNHA RAMOS:

- Senhor Presidente, parece-me que, afora na Resoluçãodita por Vossa Excelência tem o respaldo numa lei federalde 2015, em que é expresso que a parte pode pedir assistên-cia para exercer seus direitos. É lei federal, inclusive crimi-naliza uma atitude negativa de má-fé. Eu acho que...(intervenção)

O SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE(MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE):

- É no Estatuto da Pessoa com Deficiência, art. 76?

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O SENHOR DESEMBARGADOR MÁRCIO MURILODA CUNHA RAMOS:

- Isso.

[…]

O SENHOR DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITOPEREIRA FILHO:

- Desembargador Lincoln, a legislação é muito clara. Elacomo assistente, ela pode, inclusive declinar o voto, a in-tenção de voto dela e se não puder marcar o quadrilátero, épossível que a assistente o faça.

[…]

O SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE(MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE):

- O Dr. Valberto é expert nessa matéria, ele é titular, eu que-ria que ele se pronunciasse.

O SENHOR PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇAEM EXERCÍCIO (VALBERTO COSME DE LIRA):

- Senhor Presidente, Senhores Desembargadores, Desem-bargadora, Senhores Advogados. Na verdade, a lei brasi-leira de inclusão, que é chamada de Estatuto da Pessoa comDeficiência, que modificou a Lei de 89, veio assegurar aqualquer pessoa que seja uma pessoa com deficiência, nãoexiste mais ninguém portador de deficiência, mas pessoacom deficiência, que lhe seja assegurado todos os direitos,em ajuda ainda a esse dispositivo, a própria legislação elei-toral que deve ser trazida à colação também prevê a utiliza-ção de todos os recursos que forem necessários para que apessoa que tem alguma deficiência, mesmo momentânea,utilize o seu direito de cidadão. Logicamente, eu comungocom a colocação do Desembargador Márcio Murilo, nãopode haver a externação do seu voto, fica restrito à pessoa eao seu ajudante.

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Na sequência, devem prosperar as alegações acerca da ile-

galidade resultante da inobservância da decisão exarada no Man-

dado de Segurança 0001890-24.2016.815.0000, uma vez que, se

pretendida sua reforma ou cassação, deveriam ter sido manejados

os instrumentos processuais cabíveis, o que não ocorreu na hipó-

tese.

No tocante à situação do voto proferido por Desembargador

em eleição na qual seu irmão foi candidato, também assiste razão

aos impetrantes.

A Lei Complementar 35/1979 constitui-se no regime jurí-

dico dos magistrados brasileiros até a edição da lei complementar

prevista no caput do art. 93 da Constituição Federal de 1988. O

art. 128 da Loman e seu parágrafo único prestigiam a indepen-

dência no exercício da judicatura, ao prescreverem sobre o impe-

dimento dos magistrados cônjuges, parentes consanguíneos ou

afins em linha reta e colaterais até o terceiro grau de integrarem a

mesma Turma, Câmara ou Seção e, em julgamentos do Tribunal

Pleno ou do órgão especial, de votarem em conjunto.

O magistrado deve atuar de forma impessoal e buscar sem-

pre se abster de quaisquer influências que possam alterar sua

justa convicção. É fato que desembargadores que são irmãos pos-

suem a tendência, inerente ao ser humano, de influenciar um ao

outro. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 128 da Loman,

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com o objetivo de revestir os julgamentos de máxima isenção e

prevenir a influência recíproca de magistrados que possuem con-

vivência familiar, dispôs sobre o impedimento de votarem con-

juntamente, quando atuantes em sessão do Pleno ou de órgão

especial. Importante ressaltar que o artigo em comento está de

acordo com os princípios institucionais da independência e da

dignidade profissional e pessoal no exercício da magistratura.

Com a Constituição de 1988, o exercício dos magistrados no

âmbito administrativo adquiriu maior relevância. As decisões ad-

ministrativas não se sustentam mais em conveniências ou em

oportunidade, exclusivamente, sendo imprescindível sua motiva-

ção.

Nessa esteira, o juiz deve atuar com independência e moti-

var suas decisões no âmbito jurisdicional e administrativo, o que,

por sua vez, atesta o impedimento de irmãos votarem conjunta-

mente em questões que envolvam pelo menos um deles.

Dessa forma, patente é a necessidade de se aplicar o pará-

grafo único do art. 128 da Loman tanto em âmbito jurisdicional

quanto administrativo, pois as hipóteses de impedimento, impres-

cindíveis para a lisura do Poder Judiciário, são incompatíveis

com a interpretação restritiva, ante os princípios constitucionais

da moralidade e impessoalidade.

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Portanto, tem-se que é vedado a Desembargador deliberar

sobre matérias políticas pertinentes a seu irmão, também inte-

grante do Tribunal Pleno, motivo pelo qual não se alcançou, no

pleito realizado em 22 de dezembro de 2016, o quórum mínimo

exigido pelo art. 102 da Lei Complementar 35/1979.

3 Conclusão

Ante o exposto, a Procuradoria-Geral da República opina

pela retificação da autuação, para que constem do polo passivo os

litisconsortes necessários e lhes seja concedida a oportunidade de

se manifestarem, como requerido na inicial.

Superada aquela etapa e mantido o cenário atual, manifesta-

se pela concessão da ordem, a fim de ser anulada a eleição reali-

zada dia 22 de dezembro de 2016 para a escolha da Mesa Dire-

tora do Tribunal de Justiça da Paraíba, ficando prejudicados o

pedido liminar e o agravo interno.

Brasília, 15 de maio de 2017.

Rodrigo Janot Monteiro de BarrosProcurador-Geral da República

JCCR/BPP

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