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20 de maio de 2012 D D D o o o m m m u u u s s s N N N o o o s s s t t t r r r a a a residência de estudantes universitárias C C C r r r u u u z z z a a a d d d o o o s s s C C C a a a m m m i i i n n n h h h o o o s s s

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20 de maio de 2012

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Jornal da Domus Nostra 2011/12

“Caminhos Cruzados”

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Índice

Título por Pág.

Editorial Cristina Nunes 2

“Estudante Ilhéu” ACA 4

Do 512 a 2012 CA 6

O que é a Domus Nostra para mim? DM 7

As minhas Recordações RO 9

Nova família, nova casa PF 11

Caminhos Cruzados MJR 13

Já passaram cinco anos! MM e JCR 15

Passos TNS 15

Porquê voltar? CC 17

Domus, o lugar da Amizade SS e TM 19

Vai caminhando desamarrado… Mafalda Veiga 20

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“Caminhos Cruzados”

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Editorial

Hoje dei por mim a olhar a fotografia que as finalistas 2011/12 fizeram para dar

cor ao tema da Festa da Família – Caminhos Cruzados – que celebramos na

Domus Nostra. Aproximei-me e olhei mais de perto … interessante como de

caminhos cruzados aparecem, graficamente, mãos dadas no centro e braços

cruzados num círculo sem fim. A princípio até podem parecer realidades

dissonantes. Não creio. Simplesmente, porque estas imagens

complementam-se no muito que significa viver na Domus Nostra neste

tempo de vida universitária!

A Vida é um caminho que se percorre com os nossos próprios “pés”, e que,

inevitavelmente, se cruza com outros caminhos. É neste “cruzar” que reside

muito da beleza da reciprocidade da Vida: o Encontro com os Outros. É no

encontro que nos descobrimos mais, de sempre que ousamos sair de nós e

nos damos, de sempre que arriscamos abrir o coração para acolher o outro. E

a Domus Nostra tem tanto destes encontros, de caminhos que se cruzam

porque um dia ousaram viver e partilhar a sua vida de estudante aqui!

Estes encontros têm também o seu lado das sombras e crises, indissociáveis

da Vida, mas que, quando superadas, são trampolim para irmos mais longe no

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“Caminhos Cruzados”

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caminho! O desencanto, a desilusão no outro … só nos pode remeter para o

nosso próprio lado mais escuro. Deste modo, avançamos no caminho da Vida

com mais consciência de nós próprios, dos outros, da própria Vida, do

mundo, e também de Deus. Avançamos com esperança e mais seguros,

porque amados. Se um dia, no nosso caminho, nos deixarmos encontrar por

Aquele que nos amada, incondicionalmente, incluindo este nosso lado mais

escuro, descobrimos a grandeza do Amor que se dá sem reservas!

Assim, vou cada vez mais acreditando que, chegar e viver na Domus Nostra, é

uma oportunidade única de crescimento que não se faz senão de encontros!

O mundo precisa de bons profissionais – isso, as Universidades promovem.

Mas precisa também, e cada vez mais, de profissionais que sejam peritos em

criar e transformar os espaços profissionais em lugares humanos e

humanizantes, que acolham e dignifiquem as pessoas. Se a Domus Nostra

promove isso, significa que continua a fazer todo o sentido estarmos aqui,

junto à Cidade Universitária, tal como em 1965!

Este é o lema escolhido pelos Finalistas da Diocese de Lisboa:

Mudamos sempre o mundo se ousarmos aprender a justiça e fazer a paz! Fica

assim o desafio: hoje, aqui na Domus, estes braços estendidos e as mãos

dadas, fisicamente, poderão ser amanhã a marca de um estilo de vida

humanizadora, onde quer que nos encontremos, com quem quer que o nosso

caminho se cruze!

Cristina Nunes

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“Caminhos Cruzados”

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“Estudante Ilhéu”

Estudante

Tu que partes cedo

Deste teu rochedo

Cruzando o mar

Confiante

Deixas este cais

Abraçando os pais

Sei que um dia hás-de voltar

Deixando este cais e teus pais

Hás-de voltar

Tu que partes cedo, cruzando o mar

Quando a noite chegar

E a saudade apertar

Fecha os olhos e sonha então

Com a lua e o mar

Com a terra e o lar

E adormece ouvindo esta canção

Lá distante tens por companhia

A fotografia

Que alguém te dera

Estudante

Tens o sentimento

E pensas no tempo

De voltar para quem te espera António Severino

O tema da Festa da Família 2012 é “Caminhos Cruzados” porque cada uma de nós partiu de diferentes sítios de Portugal na busca de um Novo Mundo e por um feliz acaso, a nossa vida cruzou num ponto, a Domus Nostra.

A minha caminhada é igual a tantas outras que por aqui passaram, de alegrias, muitas amizades, choro e com o mais importante de crescimento pessoal. No entanto, quero deixar o meu testemunho, em especial para as caloiras deste ano e para as futuras residentes.

Estava a anoitecer, abri a porta do táxi e toquei à campanhia. Alguém abriu a porta, era uma senhora de cabelos brancos que com um sorriso de quem já tem muita experiência afirmou: “é caloira”. Entrei no elevador olhei para a

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“Caminhos Cruzados”

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[minha] figura assustada no reflexo do espelho e pensei: “é aqui que vais passar os próximos 6 anos da tua vida!”.

Seis anos depois, que não passaram depressa como se diz, guardo no coração aquele 1º ano em que fui caloira do 512 com a Cátia e a Sara. As boas conversas e brincadeiras, as festas da casa como a de Natal com lareira acesa, rapsódias e cacau quente, a minha primeira Festa da Família em que me despedi de uma das minhas madrinhas, a Ana Sousa, e em que fui repórter fotográfica. No 1º ano já como veterana, experimentei que o estar do outro lado é muito bom, mas também trabalhoso, pois tive gosto em manter a tradição desta casa, que me fora passada pelas veteranas. A despedida de algumas pessoas que já não vivem cá, ou que não estão deste lado da casa, a Ana Isabel, a antiga directora Joana, a nossa Carla, fez-me crescer e aprender a aproveitar os momentos, que por vezes são únicos.

Hoje, quando acordei, olhei em redor e memorizei todos os cantinhos do meu quarto 513, recordando palavras amigas e de desabafo, risadas, sessões de filmes e de maquilhagem, cortes de cabelo, chazinhos com bolachas e até momentos de consulta com olhos cheios de lágrimas pensei: Agora digo com um ar ensonado bom dia a Bina ou a Dona Maximina às 07h da manhã, não toco à campanhia, mas bato no varão de madeira e digo boa noite à dona júlia ou à Cristina, digo “que bom hoje é Pizza” à Tina e à Cidália e boa noite à minha afilhada Carolina.

É hora de voltar para quem me espera, segundo a canção, e já com alguma nostalgia fecho a porta desta casa e apanho de novo um táxi. É hora de nós, finalistas, percorrermos um novo caminho, quem sabe se nos iremos cruzar de novo.

Obrigada Domus Nostra.

ACA, S. Jorge, Q 513

Finalista de Medicina da FMUL

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Do 512 a 2012

Primeiro dia na Domus! Foi um turbilhão de emoções. Lembro-me de pensar: “Que horror vou para uma residência de freiras, onde não vou poder sair quando quero e onde não conheço ninguém. Não quero ficar aqui!” Isto para a menina lá de casa, que recebia todas as atenções e a quem raramente foi dito um não, era o fim do mundo. No entanto, a partir do momento em que entrei no eterno 512 e fui recebida por um “Olá” tão acolhedor e sincero da Ana Carolina pensei que, provavelmente, não iria ser assim tão mau. E não foi! (Isto apesar de nessa mesma noite ter sido invadida pelas tenebrosas veteranas e ter que fazer não sei quantos papelinhos para entregar, diziam elas: “Até à meia-noite de hoje”.

Passado uns dias chegou a Sara e a partir desse momento não havia outro trio, nem outro quarto igual ao 512, quer fosse pelas conversas infinitas até às tantas, quer pelas oreos, quer pelo famoso espelho (que tanto jeito deu aquele andar), quer pelas nossas “Músicas”, quer pelas corridas de cadeiras feitas no corredor, mas sobretudo pela amizade e apoio que surgiu entre nós. Sim porque sempre que aquela oral corria mal ou o resultado do exame não tinha sido o melhor, sabia que tinha em casa uma palavra de apoio, um carinho, uma presença amiga ou até um simples miminho.

Aquando da mudança para o meu 616, mantiveram-se as amizades já feitas e surgiram outras novas, que tornaram a estadia na “nossa casa” ainda melhor.

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Não havia nada tão fantástico como os acampamentos de semanas nos quartos umas das outras.

Assim, da Domus levo as noites de estudo na cave e na sala verde, onde devorávamos os pacotes de bolachas e chocolates, os almoços em conjunto sempre acompanhados pela bela da massa chinesa, as idas ao Pingo Doce e ao Minipreço para ir comprar chocolates, as sestas entre cada exame feitas nos sofás, as noitadas por Lisboa e momentos de espera desesperante pela Dona Maximina, de madrugada, à porta da Domus Nostra, as conversas estranhas e não estranhas mas, sobretudo, os “nossos” momentos.

Por tudo isto, tenho que agradecer especialmente às pessoas que fizeram desta minha passagem nesta casa um momento inesquecível, desta forma, Pi, Carol, Inês, Sara, Becas, Ana Carolina, Joana, Vanessa, Susete, Queijada, Georgina, Patrícia e Tina, cada frase deste texto é para vocês.

CA, Carregal do Sal, Q616

Finalista Assistente Social, ISCSP

O que é a Domus Nostra para mim?

É a minha casa em Lisboa há quase 5 anos.

Inicialmente, estava reticente por ir para um quarto triplo. Era filha única e nunca tinha partilhado quarto. Mas depressa optei por olhar esta realidade de outra perspectiva e passei a encarar como um desafio.

Cheguei cá cheia de expectativas e vontade de descobrir um mundo novo: a faculdade, as praxes, as novas pessoas, a nova cidade, viver numa residência universitária, etc.

Olhando para trás, vejo que tive muita sorte com as minhas colegas no 201. Fiquei com pessoas fantásticas e divertidas. Depressa nos tornámos grandes amigas e vivemos um 1º ano cheio de bons momentos: noitadas à conversa, mesmo com a luz já apagada; ataques de riso; tentativas de estudo que saíam, sempre ou quase sempre, frustradas; saídas; etc. Além de toda a brincadeira, também nos apoiávamos nos momentos menos bons. Mas, para que tudo funcione no quarto triplo, é importante que se façam cedências: eu abdiquei do meu relógio de cabeceira porque fazia demasiado barulho para elas, elas abdicaram de estudar no quarto depois de eu me deitar porque a luz me incomodava. É preciso respeito pelos outros.

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“Caminhos Cruzados”

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No 2º ano, lá tivemos nós que mudar para o quarto individual mas fizemos questão de ficar todas seguidas para facilitar a comunicação. Andávamos sempre nos quartos umas das outras!

Mas há vida na Domus para além do quarto triplo. Conheci imensas pessoas de todos os cantos do país, e não só, e fui construindo amizades. Amizades que são para a vida, mesmo que deixemos de estar juntas diariamente. Vivendo com 80 pessoas, é bom saber que quando chegarmos a casa, temos sempre alguém com quem podemos falar. Por pior que tenha sido o nosso dia, há sempre alguém que nos tenta animar e dar força. E são estas pequenas coisas que nos ajudam a não desistir. Não só as alunas são importantes mas também os pilares desta casa: as FCM, a Tina, a Cidália, as senhoras da recepção etc. Todas elas contribuem para que nos sintamos bem aqui. E é bom ver que, com o passar dos anos, as pessoas conhecem-nos cada vez melhor: a Tina e a Cidália, por exemplo, já conhecem os nossos gostos ao jantar.

Por falar em jantar, é o momento mais relaxante do dia, em que estamos todas juntas, falamos de imensas coisas e depois prolongamos a conversa nas escadas antes de voltarmos para os quartos. De vez em quando, também se arranja tempo para jogar às cartas, ir dar uma volta ou simplesmente correr. Desde que se queira, convive-se muito nesta casa. E há muitos outros momentos ao longo do ano lectivo que ajudam a isso como, por exemplo, a Festa da Família.

O tempo passa mesmo rápido. Ainda ontem era caloira e agora já sou finalista. Estes 5 anos foram inesquecíveis. Cresci, aprendi, descobri, vivi novas experiências, fiz novas amigas e diverti-me muito.

Aqui eu fui feliz e, por isso,

vou ter muitas saudades.

DM, Castelo Branco, Q506

Finalista de Ciências Farmacêuticas, FFUL

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As minhas Recordações

Tudo começou numa tarde de sexta-feira calorosa de Setembro de 2008, em que a Domus Nostra me viu chegar. Nova cidade, novas pessoas e novas experiências começaram por me bater à porta, a partir do momento que recebera a notícia que viria para Finanças no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa. Esta cidade foi um mundo novo e grandioso que se abriu para mim, uma vez vinha de uma ilha, a Madeira, onde tudo se torna mais pequeno aos olhos desta cidade. Começara então a minha primeira grande experiência.

Após este deslumbramento começou a procura de uma casa onde me pudesse integrar e ter conforto para iniciar a nova etapa da minha vida. Aqui o papel da Domus foi fundamental no meu crescimento como pessoa, no fazer novas grandes amizades, no fazer algumas lides da casa (apesar do pequeno-almoço e jantar feitos) e, de uma outra forma, nos momentos menos bons, no decorrer do meu curso.

Inicialmente, o “bicho de sete cabeças” de partilhar o quarto com mais duas raparigas era inevitável. Após as primeiras impressões e praxes em todo o processo de integração, estas foram pessoas importantes pois partilhamos choros e alegrias, momentos a recordar.

O meu rico 6º andar acompanhou-me durante 3 anos. Ali haviam conversas e rizadas no corredor às tantas da noite ou mesmo dentro do quarto onde a vizinha dizia: “podes falar mais baixo?, estou a tentar dormir!”. Mesmo os momentos solitários aos fins-de-semana foram, de certa forma, reconfortantes pelo silêncio.

Por último, no meu 4º ano, o 3º andar veio até mim. Aqui se juntam as pessoas que fazem parte das grandes amizades que nesta casa fiz. Fazem parte deste andar o subir e o descer escadas, que trás por consequência a junção de pessoas para meter a conversa em dia após o jantar, tal como as longas conversas, as grandes guitarradas e cantorias nele vividas que encantam e preenchem as noites de sextas-feiras e sábados! Tal como não podia faltar em dias de festa o entra e sai do meu quarto 316 para trocar de roupa e sessões de maquilhagem, onde alguém o descrevia com ironia como: “a minha loja”.

São momentos que vou levar sempre comigo, pois são estas as pessoas que me apoiaram e sempre apoiarão as minhas alegrias e tristezas, por mais longe que eu esteja. De certa forma, estas pessoas foram de grande companheirismo pois, por muitas vezes que nos cruzássemos nos corredores,

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havia sempre um minuto de conversa, e com elas cresci e aprendi, pois a vida é uma constante aprendizagem. Ah!, e não esquecer o bater à minha porta, a questionarem-me: “Rosana, tens filmes novos?” ou “Já sacas-te aquela série?”. Nestas situações partilhava o que tinha e logo se proporcionavam mais umas conversas com pessoas que via ou falava esporadicamente.

Por outro lado, as longas conversas com a Tina no PBX, a pergunta diária do jantar: “Cidália, é carne de porco?”, e com a D. Eva a afirmar: “Minha rica amiga, que vai-me ajudar a não pagar impostos!”, são frases que sempre, em tom de brincadeira, foram-me acompanhando ao longo destes quatro anos. Quanto aos grupos que se formavam para ver o Mundial e o Euro de futebol, foram também momentos sempre passados com alegria, tal como as longas noites de estudo do 1º ano passadas na sala de estudo da cave, onde havia sempre espaço para brincadeiras e conversas num momento de distracção.

Finalizo, agradecendo a todas estas pessoas por fazerem parte desta importante etapa da minha vida, principalmente às pessoas do 3º andar que me aturaram e viveram momentos muito bem passados comigo; vou-vos recordar para sempre e, um dia mais tarde, até vou poder contar algumas histórias passadas aos meus próprios netos. Agradeço também àquelas pessoas que, por simpatia, partilhavam o “Alô!”, o “Bom dia!”, o “Boa tarde!” e o “Boa noite!”.

Por último, a minha estadia na Domus foi muito positiva e não me arrependo de ter tido a possibilidade de vir passar estes quatro anos para uma casa que me recebeu de braços abertos e que faz da mesma maneira, a despedida.

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“Eu amo tudo o que foi

Tudo o que já não é

A dor que já não me dói

A antiga e errónea fé

O ontem que a dor deixou

O que deixou alegria

Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia.”

Fernando Pessoa

RO, Funchal, Q316

Finalista Finanças, ISEG

Nova família, nova casa

Era mais um Domingo, um dia calmo e de família. No entanto, parecia ser um Domingo diferente, não apenas o início de uma nova semana mas também de uma nova vida, de um novo caminho.

Foi num dia assim que, ainda a medo, cheguei à Domus Nostra, a casa que me iria receber e se tornar na minha casa. Os quartos estavam praticamente vazios e era a primeira caloira do ano. Parecia perder-me no quarto triplo, parecia enorme só para mim. Lembro-me do nervosismo da primeira vez que alguém me bateu à porta e da dificuldade em perceber as palavras Açorianas com que a Kelly e a Laura me receberam.

Em poucos dias a casa encheu. Conheci as minhas colegas de quarto e não podia ter gostado mais de tudo o que construímos e partilhámos. Voltar a casa depois de um dia de aulas era sempre bom. Os caminhos, inicialmente tão diferentes, foram-se cruzando e desenhando troços em conjunto. Era uma nova família, uma nova casa

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O tempo passou a correr, entre as praxes, a ideia da “tri-cama”, os preparativos para as Festas da Família, as sessões de karaoke, as partidas pregadas umas às outras, as longas horas de conversa acompanhadas de chá e bolinhos, as Eucaristias, as idas ao cupav e tantas outras coisas que foram intersectando o meu caminho nesta casa e tornando-o mais rico e valioso.

Hoje já não toco a campainha, bato à porta com a mão. Já não digo vou para a Domus, digo vou para casa. Esta casa onde tenho amigas, esta casa que me permitiu conhecer pessoas que jamais conheceria de outro modo. A casa onde todos os dias era bom voltar e que, no Verão, deixava saudades.

Não são as paredes que sustentam esta nossa casa. São as relações sólidas que criamos cá dentro que a mantém, que lhe dão vida, que a enchem e preenchem. E essas relações, não ficam dentro das suas paredes, vão connosco para a vida.

É tempo de partir e de sonhar em novos locais, conhecer mais pessoas e viver ainda mais. No entanto, não esqueço estes caminhos que comigo se cruzaram e faço questão que estas pessoas continuem a caminhar perto de mim. No coração, ficam os momentos, as gargalhadas, as conversas enormes, os abraços e mesmo as lágrimas.

Talvez um dia volte e espero que nesse dia, as caloiras continuem a ser recebidas do mesmo modo, que as veteranas as praxem com toda a dedicação e que esta casa continue a ser feita, não de cimento, mas de pessoas, de amizades que certamente ficam para a vida. São essas as marcas que levo comigo e que fizeram a diferença na minha vida.

PF, Covilhã, Q617

Finalista de Economia, UCP

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Caminhos Cruzados

É difícil de acreditar que já passaram quase cinco anos desde o dia em que vim para a Domus. Como o tempo passou a correr! Ainda me lembro do meu primeiro dia, a primeira pessoa que conheci foi a Dina, era com ela que ia partilhar o quarto triplo 201. No início a ideia de partilhar um quarto com pessoas que me eram completamente desconhecidas não me agradava nada. “E se não nos dermos bem? E como é que vou fazer quando quiser ir descansar e uma delas quiser ficar a estudar até mais tarde? E quando for ao contrário?” As dúvidas e as inseguranças eram muitas, mas a expectativa de poder fazer novas amizades e de conviver mais de perto com outras pessoas superavam qualquer inquietação que pudesse existir nos primeiros tempos. Afinal de contas todas passávamos pelo mesmo, não me podia sentir sozinha.

Com a chegada da Ana Teresa o 201 ficou finalmente completo. Sinceramente, nunca imaginei que este simples quarto, que no início tanto temia, iria ser o ponto de encontro de três grandes amizades que estavam prestes a começar.

Passei momentos fantásticos nesta grande casa que é a Domus Nostra e tenho a certeza que nunca os irei esquecer.

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Foi uma casa que me viu crescer e que sempre me acolheu nos momentos de angustia e de felicidade. A ela também devo o sucesso do meu curso porque me disponibilizou todas as ferramentas, tanto materiais como humanas, que foram essenciais para o meu bom desempenho académico. Obrigada Domus Nostra, será sempre a minha segunda casa.

Muito obrigada também a TODAS as minhas meninas por toda a força e carinho que sempre me deram, sem vocês nada teria sido tão bom. E lembrem-se: os nossos caminhos acabaram de se cruzar e vão ficar assim para sempre.

MJR, Vieira do Minho, Q507

Finalista do Mestrado em Eng. Biomédica e Biofísica, FCUL

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Já passaram cinco anos!

Parece que ainda foi ontem!

A Maria José, que sempre estudou em Vieira do Minho, uma pacata vila do distrito de Braga, de um dia para o outro tem que se mudar para a capital. Para um destino totalmente novo e diferente do que ela estava habituada.

Aqui surgem as complicações. Tudo é novidade, mas a nossa maior preocupação, como pais é, o local onde teria que ficar e com quem.

Aí surge a Domus Nostra, um lugar seguro que nos dá a total confiança para lá deixarmos a nossa menina, agora mulher.

A Domus Nostra, certamente, não só muito contribuiu para a sua formação a nível pessoal como também lhe proporcionou o melhor ambiente para os seus estudos.

À Domus Nostra o nosso muito obrigado.

MM e JCR

Pais da MJR

Passos

Conforme escreveu John Donne, nenhum

homem é uma ilha, ninguém é completo em si mesmo, somos parte de um todo.

Há quem se afirme produto de si próprio, da sua experiência, do seu labor, julgando, do alto da sua vaidade, que pode passar sem os demais. Nada de mais errado. Quem assim fala esquece-se daquilo que, antes dele, gerações e gerações construíram e conquistaram em todos os domínios; olvida a herança que nos foi deixada, sem a qual seríamos pouco mais que canas agitadas pelo vento, e ignora, até que um dia lhe bata a porta a crua realidade, que ninguém subsiste sozinho. Na verdade, somos ramos de uma mesma árvore, dependemos uns dos outros e os nossos mais simples gestos quotidianos, como o de levar à boca um pedaço de pão, ler um livro, ver televisão, ou pegar num telemóvel para falar com alguém, pressupõem uma cadeia

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enorme de pessoas, que semearam e colheram, perderam noites e dias em aturada procura de soluções para o nosso conforto ou o nosso enriquecimento cultural, trabalharam em fábricas, às vezes com salários de miséria, construindo peça à peça os objectos que nos fazem falta (ou que até nos sobram) e que consideramos corriqueiros ou banais. Uma imensidade de laboriosas mãos está na base desta vida que nos é dada.

Com razões para estarmos gratos por esta permanente dádiva, não podemos passar «pelas coisas sem as ver, gastos como animais envelhecidos», como um dia escreveu o poeta Eugénio Andrade, ou seja, não podemos seguir desatentos a tudo o que nos cerca.

Inebriados com o nosso mundo ou obcecados, tantas vezes, por problemas insignificantes, fechados no nosso egoísmo, instalados numa inexpugnável torre de marfim, onde ninguém

entra, não reparamos nos outros, que reclamam a nossa ajuda. Esquecemos que, por vezes, basta um pequeno gesto, uma palavra amiga, um sorriso ou um abraço silencioso, para que um dia negro, daqueles que parecem sem fim e sem saída, se encha de luz.

Isolados, indiferentes, metidos na nossa concha, incapazes de amar, não somos mais que árvores ressequidas, das quais ninguém espera frutos e, como é sabido, a árvore vê-se pelos seus frutos (não foi isso que disse aquele que andava pela Galileia a pregar o amor ao próximo?).

O encontro, a descoberta do outro, a troca de experiências e saberes, a partilha, enriquece-nos e completa-nos.

Nesta caminhada que é a nossa vida, é bom que pensemos que se, estendendo as mãos a quem precisa, soubermos abrir caminhos e formos capazes de motivar os outros a procurar um mundo melhor, no rasto que deixarmos, muitos desenharão também os seus passos.

Haverá melhor legado?

TNS

Pai da FS

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Porquê voltar?

"Voltar de onde?", perguntam-se. No semestre passado estive no Rio de Janeiro no âmbito de um programa de intercâmbio da minha faculdade, uma espécie de Erasmus, mas no Brasil. Procurava uma nova perspetiva em termos de ensino do Direito e do Direito em si e a decisão de "ir" surgiu de forma muito natural: tenho ascendência brasileira, há um grande paralelismo entre o Direito português e brasileiro e teria equivalência a todas as disciplinas. Perfeito! Tratei da papelada, fiz as malas e vivi quatro meses numa das cidades mais maravilhosas do mundo.

E, portanto, "porquê voltar?", perguntaram-me, se tinha o sol, se tinha a alegria, o samba, o calçadão, o arpoador, os micos, a gentileza... Bem, talvez para trazer um pouco disso para Portugal. Para trazer um pouco daquele calor, daquele otimismo, daquela paixão e boa disposição.

As razões não tão poéticas assim. Tinha que voltar. A minha faculdade de Direito é aqui, em Lisboa, a minha família está cá, em Braga, a minha vida é aqui e o meu futuro, possivelmente, aqui será. Tinha que voltar.

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E claro, tinha que regressar à Domus. Porque esta é a minha segunda casa. Aquele cubículo pequenino que, dedicada e pormenorizadamente transformei a meu gosto, é a minha casa. Aquelas paredes já sentiam a falta dos meus marranços e das minhas cantorias. A Tatiana estava angustiada sem os meus sustos e partidas. A Patrícia não tinha a quem bater na parede. A Grimanesa não tinha a quem chatear nas suas pausas. A eterna caloira Filipa não tinha quem a massacrasse com as desgraças do seu Benfica. Eu, não as tinha a elas, nem a muitas outras.

E tinha saudades. Aqui cria-se uma vivência muito particular, com uma dinâmica muito engraçada. Estamos integradas em algo bem grande, que é a Domus Nostra e que trata de nós e esse é um sentimento muito reconfortante, para as mamães e papais em especial claro, mas para nós também. Aqui ganhamos uma nova família. Vamo-nos conhecendo a pouco e pouco na fila para o jantar, ao estender a roupa, à espera da internet, ao sassaricar de quarto em quarto, a ver os Ídolos e os clássicos...Temos sempre algo em comum: os professores ditadores, as greves, as chuvas, a distância de casa, os massacres dos exames, a vizinha do lado que faz barulho, a comida que nesse dia não agrada... Vamos-nos cruzando nos corredores e revemo-nos umas nas outras, cada uma com o seu caminho. É essa a realidade, tão simples, que nos une.

CC, Braga, Q416

3º ano Direito, FDUL

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“Caminhos Cruzados”

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Domus, o lugar da Amizade

Havia quem nos perguntasse se nos conhecíamos antes… Bastaram alguns dias para termos muita cumplicidade. O facto de andarmos na mesma faculdade, curso, turma, ajudaram para que a nossa amizade crescesse dia após dia, mas vivermos juntas tornou as coisas diferentes…Rapidamente sentimos confiança uma na outra para contarmos as nossas aventuras, receios, objetivos…

Com o passar do tempo aprendemos a lidar uma com a outra…A Sofia sabe que a Teresa tem mau acordar, que gosta do seu café cheio, não gosta de sítios apertados e irrita-se com facilidade, por sua vez a Teresa sabe que a Sofia gosta de roupa rendada, não gosta do cabelo solto, não lhe agrada esta vida agitada de Lisboa, adora o cheiro do mar… (o resto não se pode contar)!

Mesmo quando vamos de fim-de-semana, a Sofia para Milfontes e a Teresa para Viseu ligamos só para saber se está tudo bem. Às vezes parece que estamos sempre a mandar vir uma com a outra…mas no fundo nós adoramo-nos. É uma amizade que pode parecer estranha mas é bastante forte e não vamos perdê-la!

SS, Milfontes, Q301 e TM, Viseu, Q612

Caloiras de Engenharia Civil, IST

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“Caminhos Cruzados”

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Vai caminhando desamarrado Dos nós e laços que o mundo faz

Vai abraçando desenleado De outros abraços que a vida dá.

Vai-te encontrando na água e no lume Na terra quente até perder

O medo, o medo levanta muros E ergue bandeiras pra nos deter.

Não percas tempo, O tempo corre

Só quando dói é devagar E dá-te ao vento Como um veleiro

Solto no mais alto mar.

Liberta o grito que trazes dentro E a coragem e o amor

Mesmo que seja só um momento Mesmo que traga alguma dor

Só isso faz brilhar o lume Que hás-de levar até ao fim

E esse lume já ninguém pode Nunca apagar dentro de ti.

Não percas tempo O tempo corre

Só quando dói é devagar E dá-te ao vento Como um veleiro

Solto no mais alto mar.

In Lume, Mafalda Veiga

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“Caminhos Cruzados”

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Lema escolhido pelos Finalistas da Diocese de Lisboa

www.domusnostra.net