32
360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos podem reinventar a sociedade Os primeiros resultados da nova legislação trabalhista Trilhando novos caminhos Estratégias criativas e ações diferenciadas ajudam clínicas e laboratórios a se manterem no mercado

360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

360EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018

Alexandre Kalache afirma que idosos podem reinventar a sociedade

Os primeiros resultados da nova legislação trabalhista

Trilhando

novos caminhosEstratégias criativas e ações diferenciadas ajudam clínicas e laboratórios a se manterem no mercado

Page 2: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos
Page 3: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Brun

o La

ria/C

riapi

cs

A três meses das eleições, pesquisa Datafolha divulgada recentemente mostra que a saúde é a segunda maior pre-ocupação dos brasileiros, atrás da corrupção e seguida da segurança pública e do desemprego. No ano em que come-moramos os 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), as políticas do setor não conseguem fazer com que a popula-ção perceba valor no sistema, afinal, a saúde figura nessa lista de preocupações há mais de dez anos. Se é recorrente, por que o país até hoje não conseguiu sanar os problemas do setor?

O mercado de saúde brasileiro está entre os dez maiores do mundo. Movimenta mais de R$ 550 bilhões por ano, in-cluindo os investimentos da União, Estados, municípios, do setor suplementar e o gasto direto das famílias. Desse total, 47% são recursos públicos destinados à assistência de 77% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS. O se-tor suplementar e o gasto direto das famílias somam 53% dos recursos e, convém lembrar, apenas 23% da população possui plano de saúde. É óbvio que o investimento públi-co é incapaz de fazer valer o que determina a Constituição, que “saúde é direito de todos e dever do Estado”. Portanto, faltam recursos para a saúde, mas, também, podemos fazer mais com o que temos.

A assistência deveria ser prestada por equipe multiprofis-sional integrada e de forma horizontalizada. Nesse processo, o papel de muitas profissões precisa ser revisto. A formação, inclusive do médico, deve ser repensada, para que o sistema ganhe mais generalistas e o hospital, que é uma estrutura

cara, deixe de ser a porta de entrada do sistema. No SUS, o programa Estratégia Saúde da Família já atinge

65% da população. São mais de 70 mil equipes atuando no país. Com a estrutura da atenção básica encaminhada, no-ta-se um gargalo na assistência de média e alta complexida-des e na ausência do médico de referência. O agendamento para consultas com especialistas e exames é demorado e, muitas vezes, o paciente chega para tratamento com a saú-de já bastante debilitada, diminuindo a eficácia e onerando o processo.

O desperdício é um mal que precisa ser combatido, tanto pelo setor público quanto pelo privado. A Organização Mun-dial de Saúde calcula que entre 20% e 40% de todos os gas-tos em saúde são desperdiçados por ineficiência. No Brasil isso representa de R$ 110 bilhões a R$ 220 bilhões. Os ralos são enormes, variados e ajudam a entender melhor por que a saúde é tão mal avaliada pelos brasileiros.

A saúde precisa ser vista de forma ampla, responsável e sem corporativismos, se quisermos garantir a sustentabili-dade do sistema. Além disso, o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos que elege. Combater a corrupção, que atual-mente é campeã na lista de preocupações do país, também é garantir mais recursos para a saúde, educação e segurança pública.

Yussif Ali Mere JrPresidente licenciado

Saúde, desperdício e corrupção

Page 4: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

ÍNDICE 05

06

07

08

Clínicas e laboratórios buscam ações estratégicas para

se manterem no mercado

CAPA 16

Solução digital aposta no uso consciente de dados para gestão eficaz

Tecnologia dá novos rumos à relação médico-paciente

Setor de facilities cresce e auxilia gestores hospitalares

Resenha: o uso de anfetaminas para melhora de desempenho

Luiz Fernando Ferrari Neto comenta os primeiros resultados da nova legislação trabalhista

22

10

09

23

24

12

Especialistas opinam sobre a revista e o destaque do Portal FEHOESP360

O resultado da pesquisa sobre glosas no Boletim Econômico FEHOESP/Websetorial

Veja os principais eventos na seção de Notas

SINDHOSP inaugura nova sede em São José do Rio Preto

CISS apresenta os desafios mundiais dos sistemas de saúde

FEHOESP entrega propostas a candidatos nas próximas eleições

Alexandre Kalache fala sobre envelhecimento, taxa de fecundidade, epidemiologia e preconceito

26

28

Page 5: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

PAINEL DO LEITOR

ProtagonistaA Revista FEHOESP 360 consegue associar leveza e um grau de profundidade adequado em suas matérias que, além de informar, despertam reflexões e o interesse por ampliar a visão sobre conteú-dos específicos. Cumpre seu papel como um veículo para fomentar o protagonismo tão necessário dos profissionais na área da saúde. Vida longa para esta publicação.

O artigo “Saúde, desperdício e corrupção”, assinado pelo então presidente da FEHOESP, Yussif Ali Mere Junior, e publicado no jornal Folha de S. Paulo, no dia 24 de maio, foi o destaque do portal www.fehoesp360.org.br no último mês.

O texto aponta o desperdício no sistema de saúde como um dos principais males a serem combatidos no setor público. “O investimento público é incapaz de fazer valer o que determina a Constituição, que ‘saúde é direi-to de todos e dever do Estado’. Faltam recursos à saúde, mas também podemos fazer mais com o que temos”, justifica o dirigente.

A cobertura especial que o portal realizou durante os quatro dias da Feira Hospitalar 2018 também foi desta-que, especialmente em relação aos Congressos Brasi-leiros de Gestão em Saúde, eventos promovidos pelo SINDHOSP durante a feira, com apoio do IEPAS (veja mais na pág. 16).

Tema importanteA reportagem “Os desafios do sedentarismo”, publicada na edição n° 18, de março de 2018, da Revista FEHOESP 360, é de extrema importância para a saúde pública mundial. Parabéns pela matéria, muito bem escrita, e que aponta os mais recentes resultados cien-tíficos sobre o tema, pela escolha dos profissionais entrevistados e pelos dados apresentados sobre custos e intervenções.

Vejo que a inatividade física ainda precisa ser mais abordada pela mídia em geral, uma vez que é o quarto maior fator de risco para mortalidade. Pesquisas recentes têm mostrado a importância de se debater este tema. Sugiro mais reportagens sobre o assunto, com abordagem ainda mais profunda.

GERSON LUÍS MORAIS FERRARI, PESQUISADOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP)

PORTAL FEHOESP 360

Confira no Portal:

DESTAQUE DO PORTAL

As principais notícias do setor

Informações jurídicas, contábil e tributária

Podcast semanal

Informativo Notícias Jurídicas

Versão eletrônica da Revista FEHOESP 360

Acesse www.fehoesp360.org.br

MÁRCIA FONSECA, COACH E CONSULTORA DA PARA EVOLUIR

Brun

o La

ria/C

riapi

cs

Page 6: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

a primeira edição da pesquisa FEHOESP/ Websetorial sobre glosas, que será realizada se-mestralmente, 36 empresas associadas à entida-de responderam ao questionário que é base para monitorar a situação do não pagamento de va-lores referentes a atendimentos, medicamentos, materiais ou taxas praticado por planos de saúde junto aos hospitais, clínicas e laboratórios.

Das participantes do estudo, 58,3% eram clí-nicas especializadas, 19,4% laboratórios de aná-lises e 22% hospitais. A pesquisa mostrou que a maioria das empresas respondentes (97%) sofre com glosas praticadas por planos de saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que o fato acontece em 90% com a saúde suplementar e 10% com a pública. O percentual do faturamen-to anual a receber ainda não pago por planos de saúde, por conta de glosas, foi, em média, de 10%, em 2016, e 11%, em 2017.

O valor médio por empresa estimado em reais a receber e não pago, por conta de glosas, foi de R$ 348.600, em 2016, e de R$ 797.600, em 2017, entre as participantes da pesquisa.

Pesquisa semestral de glosasO percentual dos custos das empresas one-

radas pelas glosas foi de 17%, enquanto a taxa média de reapresentação das glosas foi de 72%. A taxa média de recuperação dos valores glosados foi de 43% entre as respondentes da pesquisa.

N

BOLETIM ECONÔMICO

Edição nº 2/Maio 2018 Dados de janeiro a março de 2018

Fonte: Elaboração Websetorial

06

Gráfico 2 - Participantes do 1º questionário de glosas por atividade FEHOESP

22%

Hospital

Laboratório de Análises

Clínica especializada

20%58%

Page 7: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Fenaess lança livro comemorativo de 35 anos A Federação Nacional dos

Estabelecimentos de Ser-viços de Saúde (Fenaess)

completou 35 anos em 2018 e, para celebrar a data, lançou, em maio, o livro "A jornada ex-

A Hospitalar promoveu, em 24 de maio, um coquetel em comemoração aos 80 anos do SINDHOSP e aos 15 anos da FEHOESP, completados em 2018.

Waleska Santos, presidente da feira, destacou a impor-tância das entidades para o sucesso alcançado pela Hos-pitalar, que chegou a sua 25ª edição este ano. "O Sindicato abraçou a feira quando ainda era um embrião. Muito do que somos hoje e dos contatos que temos na área da saúde de-vemos ao SINDHOSP. Renovo os votos de confiança, ética e companheirismo com esta entidade que é tão importante para o setor.”

O então presidente da Federação e do Sindicato, Yussif Ali Mere Junior, agradeceu a homenagem e as placas co-memorativas recebidas e reiterou seu carinho pela feira. "A

Hospitalar homenageia SINDHOSP por seus 80 anos

traordinária de uma das mais antigas entidades do Brasil". Ao longo de 120 páginas, a publicação conta a história da saúde no país e da entidade por meio de fotos, documentos e depoimentos.

Breno de Figueiredo Monteiro, presidente da Federação, destacou toda a luta da Fenaess ao longo dos anos para construir sua representatividade no setor. "Em 1983 inicia-mos a nossa jornada e tenho orgulho em dizer que fomos a primeira entidade representativa nacionalmente na saúde. Esse livro se torna um registro de nossa história, unindo o passado com o presente para gerar um futuro brilhante.”

Hospitalar faz parte da história do SINDHOSP e da FEHOESP e, neste ano, por meio de uma intensa pesquisa, estamos contando essa história de uma ma-neira diferente. Muito em breve será lança-do um site que conta-rá toda essa jornada."

NOTAS

07

Observatório Anahp chega a 10ª edição A Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) lan-çou, no dia 22 de maio, a décima edição de seu Observatório – publicação que reúne os indicadores hospitalares dos es-tabelecimentos filiados à entidade. Os dados são coletados por meio do Sistema Integrado de Indicadores Hospitalares (Sinha).

A novidade este ano é disponibilização de dados regio-nais. Informações como receita líquida, prazo médio de recebimento, taxa de ocupação e média de permanência estão no Observatório, distribuído em seção de artigos, grá-ficos e perfil institucional.

Para Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Admi-nistração da Anahp, "a missão fundamental da publicação

é ajudar o sistema de saúde a continuar o seu desenvolvi-mento numa pauta ligada à segurança, comparti-lhamento de informa-ções e transparência".

A publicação está disponível no site www.anahp.com.br.

Livro conta a história de mais de três

décadas da entidade

Publicação traz indicadores hospitalares dos filiados à entidade

Placas comemorativas foram entregues a diretores da FEHOESP e do SINDHOSP

Page 8: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

08

EVENTOS

A apresentação foi seguida de um coquetel, no terraço do novo prédio em que está localizado o escritório regional, à Rua Jair Martins Mil Homens, 500, 6º andar - sala 614, do Edifício Navarro Building, Vila São José.

Crescimento de emprego

Dados da segunda edição do Boletim Econômico da FEHOESP – Federação que reúne os seis sindicatos do Es-tado de São Paulo, entre eles o SINDHOSP –, revelam um crescimento gradativo na geração de empregos no setor da saúde. Na região de São José do Rio preto, por exemplo, foram criados 1.672 empregos em 2017, sendo o segmento de atendimento hospitalar o que mais empregou com 1.455 vagas preenchidas no ano passado.

De acordo com o presidente em exercício do SINDHOSP, o médico Luiz Fernando Ferrari Neto, o setor saúde tem cres-cido de forma tímida apesar da crise enfrentada pelo país. Em 2017, o setor de saúde brasileiro (incluindo as redes pú-blica e privada) criou 44.506 vagas, apresentando um cresci-mento de 2,1%, em relação ao ano anterior. Já no primeiro trimestre de 2018, o setor criou 22.183 vagas, demonstrando que as contratações evoluíram em ritmo mais acelerado, indicando uma pe-quena recuperação.

SINDHOSP inaugurou, em 6 de junho, a nova sede do seu escritório regional em São José do Rio Preto. O evento integrou as comemorações dos 80 anos do Sindicato, um dos mais antigos do país e que representa 46 mil serviços privados de saúde no Estado e 2.500 estabelecimentos de 77 cidades da região de Rio Preto. Na abertura, o presidente em exercício, Luiz Fernando Ferrari Neto, lembrou a reforma trabalhista e a relevância do Sindicato no processo negocial. “Com ela, ganhou importância o negociado sobre o legisla-do e sindicatos fortes e apoiados pela categoria conseguirão melhores resultados em negociações com a classe trabalha-dora, com o governo e com as operadoras de saúde.”

Na regional, são realizadas assembleias de negociações trabalhistas com diversas categorias profissionais, cursos e workshops para atualização do setor em todas as áreas do conhecimento da saúde e da gestão, orientações jurídicas e administrativas. O representante regional ainda realiza vi-sitas periódicas aos gestores de serviços de saúde, visando aproximar o SINDHOSP de sua base.

Na inauguração da nova sede, a palestra do economista José Luiz Bichuetti, sobre fusões, aquisições e a longevida-de das empresas, estimulou os empresários a pensar sobre alternativas para o sucesso de suas organizações e a obten-ção de retorno adequado aos seus investimentos. Estudo no Banco Mundial aponta que apenas 15% das empresas familiares sobrevivem à terceira geração. Entre as causas estão a liderança sem competência, a falta de critérios para participação de familiares nos negócios, a improvisação no processo sucessório, o nepotismo, as condutas inadequa-das por parte de sócios e descendentes e a falta de interesse e de preparação das gerações futuras.

Fortalecendo a categoria

SINDHOSP inaugura nova base em São José do Rio Preto

POR ALINE MOURA

O

Luiz Fernando Ferrari Neto, presidente em exercício do SINDHOSP, lembrou a importância do Sindicato no processo negocial

Page 9: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

buscando pontos de melhoria e evitando gastos desneces-sários. “O uso excessivo do sistema de saúde leva ao des-perdício e inequidade. A conscientização é o primeiro passo para a melhoria”, afirmou.

Os Estados Unidos também participaram do evento, tra-zendo dados e o perfil de seu sistema de saúde. “A maior parte da nossa população recebe benefício de saúde por parte das empresas”, apontou Philip Pfrang, líder global de Health Care na Deloitte.

O representante destacou também que os gastos com o setor no país evoluíram de 5% de todo o orçamento, nos anos 1950, para 17,4%, em 2010. Com isso, a saúde tornou- se o maior componente dentro do orçamento federal do país.

Cultura da qualidade

O médico Peter Lachman, CEO da Sociedade Internacional de Qualidade em Cuidados com a Saúde (Isqua), trouxe para o CISS uma visão do futuro da prestação de serviços no setor sob a ótica da qualidade, destacando o valor das certifica-ções. “Hospitais certificados têm resultados melhores. Mas receber uma certificação é apenas o início da jornada, que nunca termina”, alertou.

Lachman destacou ainda a falta de cultura como um dos maiores desafios para uma boa gestão da qualidade, lem-brando que “o custo do fracasso é muito mais caro que o da intervenção. Não há desculpa para o gestor não seguir os programas”. (Por Ricardo Balego)

Discutir sobre como as reformas políticas, administrativas e organizacionais impactam os sistemas de saúde pelo mun-do foi a proposta da última edição do Congresso Internacio-nal de Serviços de Saúde (CISS), realizado nos dias 23 e 24 de maio, durante a Feira Hospitalar 2018.

O evento contou com convidados internacionais, como Jean-Patrick Lajonchère, consultor do Ministério de Rela-ções Exteriores da França, que destacou a liberdade de esco-lha de hospitais e médicos e a igualdade de acesso à saúde em seu sistema. “Todos no país podem ter acesso, com pre-ços menos elevados, e todos pagamos por isso”, explicou.

O também francês Didier Houssin, presidente internacio-nal da Assistência Pública do Hospital de Paris, falou sobre sua rede de hospitais universitários, que exporta projetos de saúde e programas de treinamento para mais de 20 países. Participou ainda o cardiologista Jean-Michel Tarlet, diretor de Medicina da empresa @Health-Cardionexion, trazendo inovações que estão sendo incorporadas pelo sistema.

A experiência do Reino Unido teve igual destaque no con-gresso. Arly Belas, líder de Healthcare & Life para América La-tina do Ministério do Comércio Internacional, trouxe dados sobre o sistema de saúde, que existe desde 1948 e é consi-derado por muitos o melhor do mundo. Ressaltou avanços como o aumento da expectativa e qualidade de vida do ci-dadão britânico ao longo do tempo, lembrando que, para isso, foi necessário acrescer em dez vezes o número de pro-fissionais atuantes no sistema desde sua criação.

Matthew Cripps, diretor nacional do NHS RightCare, fa-lou sobre a constante análise de dados feita pelo sistema,

EVENTOS

09

Congresso trouxe experiências mundiais durante a Hospitalar 2018

Desafios dos sistemas de saúde

Palestrantes apresentaram experiências internacionais de redes de saúde

Page 10: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Em 2018, a saúde brasileira comemora dois de seus mar-cos mais importantes. Neste ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa 30 de sua criação, assim como chega aos 20 anos a lei n° 9.656/1998, que define as atribuições dos pla-nos de assistência à saúde.

Mas em meio a conquistas, as duas datas simbolizam também os esforços que têm sido feitos no sentido tanto de garantir acesso de todos ao sistema público como de viabi-lizar o atendimento na rede privada, para uma minoria que ainda pode pagar um plano. Portanto, são muitos ainda os problemas no setor como um todo.

Além disso, em breve teremos eleições gerais no país, e o tema saúde virá mais uma vez à tona. Se por um lado isso deve fazer parte de discursos eleitoreiros de quem não co-nhece a fundo a questão, por outro renova a oportunidade que candidatos sérios têm de lutar de fato pelas melhorias que o setor tanto necessita.

Pensando nisso, a FEHOESP reuniu uma série de propos-

tas para a área, com o objetivo de mobilizar os candidatos a cargos executivos e legislativos nas eleições de 2018. O documento, inclusive, já está sendo entregue aos postulan-tes. “As propostas são frutos de inúmeros eventos, debates, discussões, reuniões, publicações e audiências realizadas ao longo dos últimos anos. Um país desenvolvido e uma so-ciedade socialmente mais justa se faz, principalmente, com educação e acesso à saúde. Que os eleitos em 2018 priori-zem a saúde e a retirem, de uma vez por todas, da lista de preocupações dos brasileiros”, destaca o presidente licen-ciado da FEHOESP, Yussif Ali Mere Junior.

Propostas

Como exemplo das propostas encaminhadas pela entidade está a criação de redes hierarquizadas de atendimento, já que mais de 60% dos hospitais brasileiros são de pequeno porte, com até 50 leitos. Com isso, apresentam baixa reso-

10

novo pactoUm

FEHOESP reúne propostas para a saúde direcionadas a candidatos nas próximas eleições

para o setor

POR RICARDO BALEGO

Page 11: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

lutividade, pois a taxa média de ocupação de leitos do SUS é inferior a 40%. Em hospitais de alta complexidade, por exemplo, essa taxa é superior a 80%.

Para a maioria dos municípios brasileiros, manter hos-pitais também tem sido inviável, sem falar no alto grau de dependência da União para custear seus serviços. Com isso, redes regionalizadas e hierarquizadas de atendimento se-riam uma solução para garantir à população acesso a todas as fases: prevenção, atenção básica, diagnóstico, tratamen-to e reabilitação.

O foco em prevenção, promoção e atenção básica tam-bém é outro campo que carece de melhorias. Hoje, o pro-grama Estratégia Saúde da Família (ESF) possui 65% de cobertura nacional, mas o ideal é que 100% da população tenha acesso ao programa. Dessa forma, os profissionais da família podem de fato se tornar a porta de entrada do sistema. Estratégia semelhante pode ser adotada pelo setor suplementar de saúde, onde o modelo hospitalocêntrico predomina. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suple-mentar (ANS), cerca de metade das despesas das operado-ras de planos de saúde ocorrem com hospitais.

A melhor integração entre os setores público e privado também é uma das propostas. A FEHOESP entende que os três níveis de governo precisam ser incentivados a criar me-canismos para aproximar a iniciativa privada do SUS, “com novos modelos de parcerias público-privada (PPPs), inclusi-ve permitindo a participação da rede privada lucrativa”. Des-sa forma, uma maior integração entre os setores, ampliando o escopo de atuação da iniciativa privada, pode fazer com que o Estado se transforme efetivamente em um órgão re-gulador e fiscalizador, deixando a gestão e a prestação dos serviços a cargo de quem tem expertise para tal.

O documento com as propostas da Federação traz ain-da outros temas a serem considerados pelos candidatos nas eleições, como envelhecimento da população, inves-timento em saneamento básico, mudança do modelo as-sistencial e formação dos profissionais do setor. Confira no portal FEHOESP 360 (www.fehoesp360.org.br) o trabalho na íntegra.

11

Mobilização

O conjunto de propostas para o setor foi lançado pela Federação durante a última edição da Feira Hospita-lar, realizada entre os dias 22 e 25 de maio, na capital paulista. Na ocasião, Yussif Ali Mere Junior, então pre-sidente da entidade, entregou pessoalmente o docu-mento a políticos que visitaram o evento.

No dia 22, o dirigente entregou as propostas a Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da Repú-blica. O ex-governador de São Paulo afirmou que iria analisar atenciosamente todos os tópicos, e que acredita que o setor tem se transformado a cada dia. “Estamos evoluindo, mas ainda temos muito a fazer. Contar com propostas do setor me faz querer traba-lhar cada vez mais para uma saúde de excelência no Brasil", declarou.

Alckmin também falou sobre as parcerias públi-co-privadas como instrumentos de gestão. "As PPPs são eficientes na execução do serviço e na adminis-tração. A saúde é algo muito caro e não temos orça-mento para gastar mais do que já gastamos. Propo-mos uma saúde pública regulada e financiada pelo Estado, mas executada pela iniciativa privada, sob a nossa vigilância e regulação.”

Um dia depois, em 23 de maio, foi a vez do ex-pre-feito da capital paulista João Doria receber as pro-postas das mãos de Yussif, que elogiou o trabalho do agora candidato ao governo do Estado. "Como um competente gestor, João Doria revolucionou o modo de se fazer as coisas em São Paulo. O Brasil precisa de reformas e pessoas eficientes como ele”, ressaltou.

Ao receber o documento, Doria pontuou sua par-ceria e comprometimento com o setor. "Estamos diante da maior feira de saúde da América Latina, e o que vejo aqui são oportunidades de crescimento mesmo diante de um cenário econômico que não se mostra favorável. A saúde é o item número um de preocupação", disse.

Geraldo Alckmin e João Doria, candidatos à Presidência e ao governo do Estado, respectivamente, receberam de Yussif as propostas para o setor da saúde

Page 12: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

12

Para Alexandre Kalache, idosos têm poder

econômico e disposição para fazer o que quiserem.

Só precisam derrubar algumas barreiras

médico gerontólogo Alexandre Kalache é um dos maiores estudiosos sobre envelhecimento no mundo. Para ele, os idosos têm grande poder de movimentar a economia e se reinven-tar, mas o mercado, as empresas e a própria sociedade ainda não enxergam esse potencial. “Os idosos não estão envelhecendo como os pais ou os avós de antigamente. Não vão ficar arrastan-do chinelo de pijama dentro de casa, ou fazendo casaquinho de tricô. Vão fazer outras coisas, inclusive ter vida sexual”, sentencia.

Kalache fez medicina na Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi professor associado e pesquisador sênior na Universidade de Oxford (In-glaterra), fundou o Departamento de Epidemiologia do Envelhecimento da London School of Hygiene and Tropical Medicine e dirigiu, entre 1995 e 2008, o programa global de envelhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS). A partir de 2008 passou a ser embaixa-dor global da HelpAge International e membro do Conselho para Envelheci-mento do Fórum Econômico Mundial.

Hoje é presidente do Centro Interna-cional da Longevidade Brasil, fundado por ele em 2012, e segue como consul-tor de instituições internacionais e na-cionais. Confira a entrevista:

FEHOESP 360: Muitos países levaram mais de um século para ter uma popula-ção numerosa de pessoas mais velhas. Já o Brasil passará de 10% para 20% de idosos em apenas 20 anos. Por quê? Alexandre Kalache: Primeiro pela redução da mortalidade precoce. Em 1970 me formei, trabalhei em hospital

O

ENTREVISTA

A revolução da

longevidade

Page 13: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

13

de doenças infecciosas e vi crianças morrendo de tétano, difteria, sarampo e pneumonia. Houve uma melhora por questões socioeconômicas, a desnutrição caiu, há melhores con-dições sanitárias e acesso à alimen-tação, embora tudo isso esteja vol-tando agora. Outro fator é tecnologia médica, as vacinas, os antibióticos etc. As pessoas até ficam doentes, mas escapam pelos antibióticos ou não vão ter determinadas doenças porque estão imunizadas. A veloci-dade do envelhecimento não é só ter um número maior de velhos, mas, também, uma queda das taxas de fe-cundidade. Nos anos 1970, o número médio de filhos de uma mulher no Brasil era de 5,8. Em 2000, estávamos abaixo da taxa de 1,6, o que é menor que a taxa de reposição que é 2.

360: Qual o impacto para o Brasil den-tro desse panorama? AK: A velocidade da redução da base da pirâmide chama a atenção. Temos menos crianças, adolescentes e adul-tos jovens. Quando se reduz a base, o topo aumenta. Existe uma disparidade que me preocupa muito. As taxas de fecundidade das brasileiras é um im-portante indicador socioeconômico.

As que tem mais de oito anos de edu-cação formal têm taxa de fecundidade de 1,1, praticamente um filho. As mu-lheres com menos educação formal e mais pobres vão ter 3,4 de taxa de fe-cundidade. Para educar os filhos, elas dependem do ensino público, que está péssimo. Os adolescentes chegam ao fim da adolescência com analfabetis-mo funcional. E são eles que vão tornar esse país produtivo e competitivo ou não. As implicações vão ser imediatas: serão adultos jovens pouco produtivos e pouco preparados.

360: O Brasil está sabendo cuidar dos seus idosos em um contexto de famílias menores e sistema de saúde cada vez mais sobrecarregado? AK: O cenário é difícil. Antigamente as famílias eram numerosas e sempre havia mulheres para cuidar de todos. Hoje, elas estão no mercado de traba-lho. Quando alguém fica doente não tem mais aquela mulher. Aliás, o verbo cuidar tem gênero porque homem bra-sileiro não cuida, ele quer ser cuidado. E as doenças que mais matam são as

crônicas, causadas por quatro fatores de risco conhecidos: sedentarismo, dieta inadequada, hábito de fumar e consumo de álcool. Por isso, as pesso-as precisarão de esforço próprio para envelhecer bem. Se os fatores forem controlados, diminuem-se as doenças cardiovasculares, o câncer, problemas osteomusculares, diabetes e osteopo-rose. Mas é preciso ir além, porque a desigualdade é tamanha no Brasil que não se pode culpar a vítima. A desi-gualdade social mata.

360: Como os setores público e privado podem convergir para beneficiar a po-pulação idosa? AK: A epidemiologia mudou com in-cidência maior de situações crônicas

do que agudas. Mas a mentalidade não mudou porque os serviços de saúde tratam e atendem como se fosse situações agudas. A primeira medida é mudar o modelo assis-tencial. No público é essencial que existam os centros de saúde e de atenção primária porque a maior parte das doenças crônicas pode ser tratada. Infelizmente, o setor público está dilapidado com cor-tes intensos de verba nos últimos três anos. A segunda medida é in-centivar as pessoas a terem mais cuidado consigo próprias e mudar o estilo de vida. Quando mais cedo melhorar a alimentação e deixar de

ser sedentário, melhor. Nunca é tarde. Sempre haverá tempo. Já o sistema privado deveria dar mais incentivos para que a pessoa se cuide, fazendo promoção da saúde. As pessoas de-veriam ter mensalidades mais baixas quando demonstrarem que estão se cuidando.

360: O público idoso precisa de mais serviços e ao mesmo tempo pode gerar mais negócios para o setor. Como o se-nhor vê a questão?

As pessoas precisarão

de esforço próprio

para envelhecer

bem, porque a

desigualdade é

tamanha no Brasil"

Page 14: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

ENTREVISTA

importante não saírem do local em que vivem. É lá onde está o capital social deles. Eles conhecem até a fa-mília do porteiro do prédio. São eles que o ajudam. A necessidade é de políticas de moradia, residenciais e instituições de longa permanência, mas ainda há a mentalidade de asi-lo. Isso é fim de vida? Temos que tomar cuidado porque nós mesmos podemos ser vítimas disso.

360: O senhor criou o termo geronto-lescência para definir as mudanças da transição da idade adulta para a velhice. Quanto tempo essa fase dura e por que é importante vivenciá-la?

AK: A atual geração de adultos está sendo beneficiada por algo que os baby boomers lhes deram de presente: a construção social da adolescência. Antes da Segunda Guerra, esses jovens tinham de trabalhar para comer. Saíam da infância direto para as lavouras e fá-bricas aos 12, 14 anos e tinham pouca escolaridade. Quando vieram os baby boomers depois da Grande Guerra, os pais deles acharam que o mundo es-tava em paz, que as pessoas tinham tomado juízo e festejaram procrian-do. Por isso o termo boom (estrondo). Foram muitos nascimentos, sobretu-do nos países mais desenvolvidos. Além de serem numerosos, tiveram melhores níveis de saúde, mais va-cinas e antibióticos. Cresceu a esco-laridade. Assim, mais esclarecida e com mais saúde, essa geração virou a mesa e se rebelou. A influência foi enorme no mundo ocidental. Havia mais dinheiro e tempo, porque já não precisavam trabalhar.

Simultaneamente, houve a che-gada da pílula anticoncepcional, que permitiu às mulheres o controle de sua fertilidade. Tudo isso transfor-mou o mundo. Recentemente foram celebrados os 50 anos de maio de 1968 – ano-símbolo de contestações

no mundo. Eu também estava lá lutan-do contra a ditadura, protestando, por-que pertenço a essa geração especial. E não vai ser agora que vamos mudar. As-sim como criamos a adolescência, cria-mos a gerontolescência, porque não estamos envelhecendo como nossos pais, muito menos como nossos avós. Não vamos ficar arrastando chinelo de pijama dentro de casa ou fazendo ca-saquinho de tricô para os netos. Vamos fazer outras coisas, inclusive ter vida se-xual, porque hoje abriu-se outra janela de possibilidades com a criação do Via-gra. Infelizmente, a questão de gênero ainda existe. Se a mulher manifesta interesse sexual depois de uma certa idade é taxada de “velha assanhada”. Se for homem, não. Temos o exemplo dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, casados com mulheres mais jovens. Mas estamos em um mundo em transformação. A gerontolescência pode durar 25 ou 30 anos a partir dos 55 anos. É uma situação em que a pes-soa está liberada. Já criou os filhos, ou não. Deu certo na vida, ou não. Nesta fase o indivíduo está querendo aprovei-tar a vida e isso vai até os 80 anos ou até quando se tenha saúde e a sociedade dê espaço. Se não tiver esta liberdade, vamos brigar para ter.

AK: Não há dúvidas que há oportu-nidades no setor. Se você observar o Brasil hoje, as pessoas com mais de 50 anos têm renda de R$ 1,6 trilhão. É muito dinheiro. Nos EUA são US$ 4 trilhões nas mãos dos baby boomers (geração nascida durante e logo após o fim da Segunda Guerra Mundial). Então se você quiser vender turismo, viagens, seguros, carros, lançamentos imobili-ários tem um mercado enorme entre os idosos. O poder de consumo é tão grande que mesmo as pessoas que es-tão envelhecendo mal no Brasil ainda consomem porque muitos aposenta-dos que são a única fonte de renda da família. Na saúde, as pessoas que têm poder aquisitivo vão pagar seus segu-ros e buscar os melhores serviços, mas isso ainda é muito acanhado no Brasil. Há poucas residências e instituições de longa permanência de qualidade. Tem de ter imaginação para responder ao envelhecimento e usar as informações disponíveis. Muitos serviços que não existiam há cinco anos hoje dominam o mercado, como é o caso do Uber e do Airbnb. Tem muito idoso que gos-taria de ter mais opções de residência ou transformar sua moradia em duas para alugar uma delas e ter mais ren-da. São várias possibilidades, mas é

14

A necessidade é de

políticas de moradia

e instituições de

longa permanência,

mas ainda há a

mentalidade de asilo.

Isso é fim de vida?"

O idoso tem que

se reinventar e

buscar educação

continuada. Tem

de combater a

discriminação.

É o último tabu"

Page 15: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

360: O programa Cidade Amiga do Ido-so, da OMS, estabelece quesitos como prédios e espaços abertos, participação social e apoio comunitário, entre ou-tros, para a qualidade de vida do idoso. Como está o programa? AK: Criamos este projeto em 2005, com base em um piloto em Copaca-bana (RJ), que é um bairro envelheci-do. Montamos a metodologia e ele foi levado para 35 cidades inicialmente. Hoje, está presente em mais de 2 mil municípios pelo mundo. Mas no Bra-sil existe muito populismo. Prefeitos assinam, mas não têm compromisso e não tem governança para cobrar, o que existe em outros países. Aqui eu ouço o Ministério do Desenvolvimen-to Social, em um ano eleitoral, lançar algo chamado “Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa”. É o mesmo governo que corta verbas de educação e saúde. Então, a pessoa não vai ter acesso à saúde, educação, treinamento e em-prego, mas eles fazem um programa populista. Não é assim. Em São Paulo, até que está sendo bem executado o programa Hospital Amigo do Idoso - que incentiva e apoia a qualificação geronto-geriátrica dos hospitais como referência assistencial que inclui, va-loriza e preserva a autonomia e inde-pendência das pessoas acima de 60 anos -, que conta com a participação de 40 hospitais inicialmente, é uma realização da Secretaria de Estado da Saúde, que inclui desde hospitais como Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz até o Hospital São Ma-teus, em São Miguel Paulista, região mais pobre da capital paulista. É possível melhorar desde que te-nha seriedade do poder público.

360: Quais são os maiores de-safios da velhice? AK: O idoso tem que se reinventar e buscar edu-cação continuada. Tem

15

É preciso se

preparar para

ter uma vida

digna até o fim"

de combater a discriminação cha-mada “idadismo” (que vem do inglês ageism), que é a discriminação contra a idade, da mesma forma que os movimentos negros e feministas fizeram e estão fazendo. É o último tabu. É preciso se preparar para ter uma vida digna até o fim. As pessoas não pensam nisso, mas a verdade é que a maioria delas vai morrer num hospital e essa instituição vai ter que estar preparado para dar qualida-de de vida até o fim. Se não quiser morrer entubado em uma CTI tem de fazer um testamento de vonta-des antecipadas para que isso fique claro para a família e os médicos. Mas existe a cumplicidade do silêncio entre paciente e o profissional de saúde. Um se incomoda com isso, o outro não foi treinado

para lidar com a questão. Enquanto ninguém fala, a sociedade não é pre-parada. (Por Eleni Trindade)

Page 16: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos
Page 17: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

O

17

Caminhos alternativos

para a saúde Para se manterem no mercado,

clínicas e laboratórios devem buscar ações estratégicas

grupo de países conhecido como Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) tinha, há dois anos, a pre-visão de aumentar os gastos com saúde até 2026 em 117%. Percentual que não deve ser alcança-do, pelo menos no que depender do Brasil, que vem reduzindo o orçamento para a saúde. Em 2016, o corte foi de mais de R$ 2,5 bilhões. No ano passado, o gasto efetivo na área foi R$ 1,8 bilhão menor do que o previsto e, em 2018, o governo federal desembolsou apenas dois terços do valor obrigatório para o primeiro trimestre, segundo o Tesouro Nacional. Pelo mínimo constitucional, a União deveria ter aplicado R$ 33,19 bilhões na pasta entre janeiro e março, mas o gasto execu-tado foi bem menor, ficando em R$ 20,85 bilhões. A Constituição prevê a aplicação mínima em saú-de de 15% da Receita Corrente Líquida (RCL) de 2017, mais a correção da inflação. O dado parcial não significa violação à norma, já que a verifica-ção do cumprimento do mínimo constitucional é feita apenas em bases anuais.

Com despesas obrigatórias crescendo e orça-mento encolhendo, a conta não fecha e o governo federal vai apertar o cinto ainda mais nos inves-timentos. E quem depende de planos de saú-de para a receita de suas clínicas e laboratórios também viu a situação ficar desfavorável, com a queda nos últimos anos de mais de 3 milhões de

POR ELENI TRINDADE E FABIANE DE SÁ

beneficiários que deixaram a saúde suplementar e os custos médicos aumentarem.

Diante deste cenário, as instituições privadas acabam tentando se sobressair com serviços completos como estratégia de negócio para ex-pansão e crescimento. A expectativa é de melho-ra da conjuntura macroeconômica, mas, segundo especialistas, o setor privado da saúde ainda tem um ano desafiador por conta da tendência de custos em alta e, também, pela maior dificuldade em repassar essa variação de gastos aos contra-tantes. “Sabemos que 2018 é um ano de muitas mudanças e de superação. Ferramentas estraté-gicas têm sido fundamentais especialmente para os sistemas de saúde que, por conta de sua com-plexidade, demandam atenção antecipada aos desafios do futuro”, destaca Luiz Fernando Ferrari Neto, presidente em exercício do SINDHOSP.

Então como escapar da crise com mais efici-ência?

O consenso entre os especialistas é que as empresas não devem parar de investir, apesar do momento difícil. E isto está comprovado. Segun-do o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae), o mercado de produtos e serviços de saúde e bem-estar é um dos mais promissores e atraentes, devido ao aumento da expectativa de vida e a busca por mais qualidade.

Page 18: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

CAPA

18

Estes fatores estão contribuindo para o aumento da demanda por soluções e assistência especiali-zada e vêm influenciando novos comportamen-tos nas pessoas, obrigando as empresas do setor a buscar novos modelos de negócios e estratégias para garantir a sustentabilidade e a longevidade no mercado.

Para lidar com esses desafios, analisar a situ-ação e debater propostas para sobreviver e cres-cer, sem tirar o foco no atendimento de qualidade aos pacientes, o SINDHOSP, a Confederação Na-cional de Saúde (CNSaúde) e a Federação Nacio-nal dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess) promoveram, com a organização do IE-PAS, os Congressos Brasileiros de Gestão em Saú-de, em 23 e 24 de maio, durante a 25ª Hospitalar, em São Paulo.

“Seja uma pequena empresa ou uma grande corporação, todas as organizações que movimen-tam a economia geram empregos e prestam ser-viços para a população precisam de planejamen-to, atenção e cuidado para manter seus negócios viáveis e ativos”, afirma o presidente do Sindicato dos Laboratórios do Paraná, Carlos Roberto Audi Ayres, que participou do 12º Congresso Brasileiro de Gestão em Laboratórios Clínicos, realizado no dia 23 de maio, em parceria com a Sociedade Bra-sileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Ele deixa claro que o primeiro passo para se manter no mercado é estruturar um sistema de governança. "Implementar práticas de governan-ça corporativa é uma estratégia essencial para au-mentar a eficiência e o desempenho da compa-nhia, inclusive para pequenas e médias empresas. Ela não é apenas eficiente, é também essencial para a gestão e o crescimento contínuo da insti-tuição. Mesmo empreendimentos familiares e de

menor porte podem implementar a metodologia, pois ela regula a forma como a organização é dirigi-da. Além de melhorar a administra-ção do negócio, a governança ainda agrega valor ao estabelecimento e for-talece sua imagem no mercado.”

Sidney Ito, sócio líder da KPMG Brazil and South America, acredita que um dos caminhos é melhorar continuamente a qualidade dos ser-viços prestados e elevar os padrões de atendi-mento, criando um ambiente de excelência de cuidados. “Para alcançar esses resultados é pre-ciso efetividade, gestão, educação e treinamento de profissionais. Apesar de se tratar de conceitos simples, eles exigem uma mudança cultural nas instituições de saúde.”

Papel estratégico E para ajudar nessa transformação, a tecnologia pode desempenhar um importante papel. “Quan-do vivemos um momento econômico como o atual, as empresas buscam rever seus processos e infraestrutura em busca de maior eficiência. A tecnologia pode ser uma aliada importante, seja com o intuito de otimizar os processos, seja para reduzir eventuais custos”, garante Yussif Ali Mere Junior, presidente licenciado da FEHOESP, que lembra que no cenário de instabilidade é impor-tante focar ainda mais na gestão equili-brada dos recursos e, sobretudo, na

Para Yussif, "a tecnologia pode ser uma aliada importante"

Carlos Ayres, presidente do Sindicato dos Laboratórios do Paraná

Plateia lotou os auditórios nos Congressos de Gestão

Page 19: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

19

Ingrid Stoeckicht, diretora do Innovation to Health

Marcus Gimenes, da Consulta do Bem

avaliação criteriosa dos riscos. “É justamente em momentos de incerteza econômica que as em-presas são mais testadas e exigidas.”

A saúde é um dos setores que mais pode se beneficiar com a utilização de novas tecnologias. Com geração de dados precisos, que podem ser compartilhados em tempo real, a medicina passa a ter um diálogo mais próximo com as máquinas para o desen-volvimento de processos inova-dores para a prevenção e tratamento de doenças.

Para Ingrid Paola Stoeckicht, diretora de Ino-vação e de Novos Negócios do Innovation to He-alth – I2H, inovar é resolver problemas. "Moderni-zar, renovar não se resume em vender produtos e serviços, mas sim em buscar soluções para tarefas que precisam ser realizadas.” Ela comen-ta que a concorrência na área da saúde é gran-de por se tratar de um mercado volátil, incerto, complexo e ambíguo, e que por isso o propósito da inovação precisa ser claro para ser eficiente. "Inovação não é trilho reto e certinho, mas trilha com várias possibilidades. Laboratórios e clíni-cas são os segmentos da saúde que mais inves-tem em tecnologia. Gradativamente, é a incorpo-ração de novas tecnologias que vai permitir, com a evolução digital, a melhoria nos tratamentos médicos, maior acesso aos recursos da saúde, aperfeiçoamento do controle e da qualidade e eficácia dos serviços prestados.”

Além de solucionar problemas, o processo de inovação também tem como objetivo criar novos negócios, diminuir gastos, aumentar o portfólio de investimento, oxigenar a cultura da organi-zação, desenvolver branding e talentos. É o que explica Thiago Julio, médico radiologista, curador de Healthcare do Dasa/Cubo. "Inovar sempre en-volve riscos, traz muitas incertezas, mas também resultados que, consequentemente, melhoram o uso dos recursos. A inovação é a senha para que a empresa se mantenha competitiva no mercado.”

Mas é importante salientar que esse cami-nho incerto pode ser percorrido em equi-

pe, conforme explica Flavia Helena da Silva, gerente de Análises Clínicas do

Grupo Fleury. "Muita gente pensa que inovação acontece em algum lugar mágico escondido den-tro da empresa, mas ela é desenvolvida o tempo todo envolvendo todas as equipes, partilhando conteúdo e disseminando ideias", enfatiza.

De mesma opinião, Fernando Cembranelli, CEO da Health Innova Hub, acredita que os la-boratórios devem se adaptar aos negócios e se preparar para automatizar seus serviços, traba-lhando em um ambiente totalmente digital. "Sai na frente e ganhando quem está disposto e sabe como evoluir. A clínica do futuro não é a que tem o espaço mais bonito, mas sim aquela que trans-formará seus processos com meios digitais.”

Ações diferenciadasInovar nem sempre significa instalar equipamen-tos ultramodernos, contratar consultorias que prometem as mais avançadas técnicas de trei-namento e gestão ou instalar um sistema ultra atualizado para resolver as deficiências da sua empresa. O que costuma funcionar são diferen-tes frentes de ação para se aproximar do cliente.

Saber quem é e o que quer o paciente é um cuidado que realmente faz diferença na opinião de Marcus Vinicius Gimenes, fundador da Con-sulta do Bem. “É muito mais barato manter um cliente do que conquistar um novo. Essa é uma expressão muito re-corrente em marke-ting e é verdade.”

Page 20: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

CAPA

20

O empresário aposta que a grande trans-formação para o segmento é saber usar a inovação com dados e personalizar o aten-dimento para poder ofertar mais cuidados e satisfação ao paciente. “Esse tem de ser o foco de quem atua na saúde. Saber usar as ferramentas certas de gestão, com marketing direcionado, fazer o negócio ser atrativo para os médicos”, explica Gimenes, lembrando que nesse processo é preciso que o paciente entenda que ele faz parte do cuidado com sua saúde. “O uso de aplicativos simples, que ajude o usuário a monitorar seu estado de saúde, direcionando-o para uma con-sulta, põe ele no centro do cuidado e promove a prevenção. Com isso, podemos mudar o modelo assistencial de atendimento.”

Bruno Rossini, sócio da Clínica Otovita, tam-bém aposta na excelência do atendimento para os bons resultados no dia a dia da clínica. “Fideli-zar o cliente é uma arte e é muito importante su-perar as expectativas dos pacientes.” Para tanto, ele propõe que sejam definidas estratégias de comunicação para realmente ser competente no que se faz. “Não construa links com os pacientes e sim relacionamentos. Isso pode ser traduzido em medidas simples no dia a dia, como ligar no dia seguinte, saber como foi a consulta, perguntar sobre os exames, oferecer uma confortável sala de espera. Isso é superar as expectativas para ser lembrado”, alerta.

Não há livros ou manuais que expliquem como inovar e conhecer outras experiências podem ajudar o gestor nos seus esforços para melhorar os processos e resultados. “A melhoria contínua exige ações rápidas que busquem o aumento da produtividade, eficiência e, certamente, o atendi-mento às necessidades e às expectativas do clien-te”, segundo o presidente do IEPAS, José Carlos Barbério.

Mas como investir sem aumentar custos? Para Barbério, este é um dos principais motivos de in-quietação dos administradores de clínicas e labo-ratórios. “Cortar despesas sem afetar a qualidade e o atendimento do paciente ainda é uma dificul-dade. O importante é que o gestor busque a redu-

ção de custos com uma gestão eficiente, capaz de manter os negócios, otimizar processos, sempre de olho na qualidade e na segurança do paciente, transformando as rotinas sem descartar a tecno-logia, que hoje é imprescindível para garantir a sobrevivência e a sustentabilidade do negócio.”

Novos métodos Os desafios são constantes e inerentes ao setor, mas é necessário enfrentar o momento de manei-ra objetiva. De acordo com Pedro Fusco, consul-tor da Clínica Médica Cuidar Mais, que participou do 13º Congresso Brasileiro de Gestão em Clíni-cas de Serviços de Saúde, no dia 24 de maio, em São Paulo, “a questão é oferecer serviços que se encaixem à nova realidade e se reinventar”.

E como fazer? “Criar serviços complemen-tares, monitorar pacientes, fazer atendimento a domicílio e multidisciplinar para aumentar o ticket médio com o seu paciente, ofertar serviços de análises clínicas ou aplica-ção de medicamentos”, enumera. O importante é se mexer. “Temos que pensar se estamos dispostos a fa-

José Carlos Barbério, presidente do IEPAS

Os debates e a troca de experiências foram os destaques dos eventos

Page 21: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

zer diferente e sair da zona de conforto. Nada do que se faz, de início, trará retorno em curto prazo, mas é necessário plantar hoje e colher mais na frente”, ressalta Fusco.

Segurança do paciente e qualidade do serviço, por exemplo, requerem tempo e investimento, mas o fato de tê-las na sua empresa facilita, e mui-to, o trabalho do marketing, destaca Fabio Kaya-no, diretor-executivo da Alergo Dermatologia Inte-grada. “O negócio precisa de direcionamento para buscar modelos que estruturem as empresas. Campanhas de marketing direcionadas são for-mas de alcançar um horizonte futuro satisfatório.”

E é justamente nisso que acredita Daniela Fon-seca, sócia da Projeto Home Care. “O mercado muda constantemente e as empresas que vis-lumbrarem isso vão conseguir se manter e buscar mais oportunidades.”

A gestão com foco na segurança do paciente, o atendimento em rede e a demanda por equi-pes multiprofissionais também são, na visão de Daniela, um diferencial para o negócio. “A acredi-tação é um grande passo neste sentido, pois pro-porciona uma mudança estrutural da instituição, com gestão especializada que garante a oferta de atendimento diferenciado a cada paciente.”

Na opinião de Elizabete Inazaki, gerente-geral do Centro Clínico Santa Maria, de São Paulo, tra-tar a segurança do paciente como um diferencial é muito importante para os estabelecimentos de saúde se manterem no mercado. “Erros acon-tecem em qualquer instituição de saúde, mas a organização que implanta a cultura da qualida-de e da segurança, consegue aprender com seus erros. Ações de mitigação trazem lições e evitam reincidências”, enfatiza.

Além das melhores condições de atendi-mento, a segurança do paciente também é um investimento, de acordo com Vagner de Oliveira, sócio-diretor da HSA Con-sultoria e Treinamentos. “Se a proposta

do estabelecimento é mudar o foco da gestão, por que não implantar um modelo pautado na segurança do paciente? É possível avançar nes-sa área porque mitiga erros.” Porém, mais uma vez, a questão é o investimento e qual o impacto disso para seus custos. “Mas não deve ser assim. O cuidado com a saúde, que antes era simples, menos efetivo e relativamente seguro, passou a ser mais complexo, porém potencialmente mais exigente. A acreditação e a medicina integrativa são processos que podem quebrar esse paradig-ma”, acredita Oliveira.

A busca pela criatividade, o contínuo aprendi-zado e a quebra de padrões são, segundo o Immo Oliver Paul, fundador e CEO da Carenet Longevity, maneiras de se destacar entre os vários presta-dores de serviços. “O mercado tem se mostrado cada vez mais competitivo, fazendo com que clí-nicas e laboratórios busquem novas e melhores práticas de gestão para aproveitar as oportuni-dades que estão surgindo na área da saúde. O setor vai continuar crescendo, com tendência à profissionalização, e buscar margens competiti-vas e parcerias estratégicas são primordiais para a disponibilização aos pacientes de um atendimento de qualidade.”

21

Daniela Fonseca, sócia da Projeto Home Care

Page 22: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

quantidade de dados produzida pelo setor da saúde é algo inimaginável que, se fosse usada de modo adequado, poderia aprimorar diagnósticos, tratamentos e os processos dentro de um ambiente hospitalar, gerando maior qualida-de na assistência ao paciente e economia para a cadeia pro-dutiva como um todo.

O debate em torno do tema é amplo, no entanto, pouco tem sido feito para minimizar os gastos do setor. No ano pas-sado, o valor perdido com procedimentos malfeitos, exames desnecessários, erros e excesso no consumo de materiais e fraudes chegou a R$ 100 bilhões. A soma corresponde a 20% dos R$ 500 bilhões gastos pelos setores público e privado.

Com base nisso, o Instituto Coalização Saúde (Icos) cons-truiu o documento “Uma agenda para transformar o siste-ma de saúde”, no qual compara experiências nacionais e internacionais para formar análises quantitativas de todo o setor, apresentando como uma das soluções o conceito de eSaúde. O documento aborda temas como integração dos sistemas público e privado, judicialização, modelos de pa-gamento baseados em valor, inovação, big data, prevenção e promoção da saúde.

Para o presidente do Icos, Claudio Lottenberg, a iniciativa abre uma oportunidade para romper paradigmas da saú-de digital. “Vemos tudo como um desafio, mas a saúde do Brasil precisa romper esses modelos, buscar outras opções efetivas. O sistema necessita de caminhos para sua susten-tabilidade, porém, sem deixar de manter o foco no cidadão.”

Um encontro realizado em São Paulo, no mês de maio, abordou uma jornada de implementação da agenda com ações de curto, médio e longo prazos. “Inovar estimula o compartilhamento eficiente de informações em saúde. Para isso é preciso consolidar os dados tanto no setor público quanto no privado, bem como integrá-los por meio de um registro eletrônico em saúde (RES)”, sugere Lottenberg.

Apoiando a sugestão do executivo, Lincoln Moura, diretor da Accenture, diz esperar que até 2020 o conceito de saúde digital esteja totalmente incorporado no SUS e na saúde su-

Agenda aposta em uso consciente de dados para gestão eficaz

GESTÃO

22

plementar. "A eSaúde será reconhecida como estraté-gia de melhoria consisten-te nos serviços do setor. Se querermos ser capazes de acompanhar pacientes e fa-zer uma boa gestão em saúde precisamos ter informação sobre o cuidado e as doenças, maximizando as oportunidades de manter dados fidedignos e seguros.”

Um dos grandes obstáculos para alcançar apontados pe-los gestores para alcançar a meta, no entanto, parece ser a falta de vontade das organizações de saúde em comparti-lhar os dados clínicos. O médico canadense e professor da Erasmus School of Health Policy & Management, Nick Gulde-mond, garante, com sua experiência, que a conectividade de dados entre pacientes, médicos e gestores traz benefí-cios para todos. "Quando se fala sobre sistemas de saúde também está se falando sobre os modos de fazer esses pro-cessos, para tornar as complexidades mais fáceis para toda a cadeia. Sempre é preciso buscar engajamento, responsa-bilidade, economia e eficiência para o setor.”

Rodrigo Aguiar, diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), afirma que o órgão regulador tem fei-to todo o possível para alinhar estratégias com o setor para aplicar a eSaúde o quanto antes, além de colocar em prática a reformulação dos modelos de remuneração. "Esperamos concluir um relatório de atividades em breve e esse será o documento base para tirar a discus-são da teoria e começar a prá-tica.” (Por Rebeca Salgado)

Solução digital

A Claudio Lottenberg, presidente do Icos

Nick Guldemond, médico canadense

Eras

mo

Salo

mão

Page 23: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

e que soluções inovadoras já estão contribuindo para modi-ficar esse cenário, principalmente em países de baixa renda. Um desse casos é o uso de drones como ambulâncias vo-adoras, para levar bolsas de sangue ou desfibriladores até áreas remotas. “Ainda acontecem muitas mortes por falta de assistência que podem ser evitadas. Não devemos permitir que elas continuem acontecendo.”

E utilizar essas ferramentas inovadoras também pode mudar a relação médico-paciente. “O uso inteligente da tec-nologia nos ajuda a sermos cuidadores e médicos melhores, pois possibilita que eu olhe nos olhos do paciente enquanto faço todos os procedimentos necessários e tenha informa-ções precisas. Isso mostra que é possível usar a tecnologia para anamneses, para cirurgias, tratamentos e tudo para uma saúde melhor ao paciente.”

O médico acredita que a inovação na tecnologia da saú-de, paralelamente aos atuais avanços em plataformas como telemedicina, realidade aumentada, mista e virtual, inteli-gência artificial, aprendizagem profunda, nanotecnologia, impressão 3D e robótica melhoram a conectividade, comu-nicação e gestão de dados na saúde, e levarão a um cuida-do do paciente e educação médica mais eficientes e menos onerosos, bem como a um aumento no acesso global à saú-de. “É uma mudança de cultura, de comportamento. Não é só a tecnologia pela tecnologia, é pensar diferente, mudar os parâmetros e como as coisas são feitas. A inovação preci-sa ser pensada tendo sempre o pa-ciente no foco do cuidado. Com isso, podemos revolucionar o modo de fazer medicina.” (Por Fabiane de Sá)

efetividade na comunicação entre médico e paciente é fundamental. Afinal, o diagnóstico começa pelo que se é conversado durante a consulta. Mas, faz algum tempo que esta não vem sendo a realidade em muitos consultórios. Se-gundo um estudo realizado pela Universidade de Toronto, no Canadá, em 2015, 54% das queixas dos pacientes e 45% de suas principais preocupações passam desapercebidas pelos médicos durante uma consulta.

Esses dados sugerem que relação médico-paciente é hierarquizada, com pouca interação de fato e um diálogo ineficaz. “A saúde vive um problema em todo o mundo: es-quecemos do paciente, perdemos a dimensão humana e a tecnologia pode nos ajudar a recuperá-la.” A afirmação é do médico venezuelano Rafael Grossmann, experiente no uso de smartglasses (óculos inteligente), telemedicina e tecno-logia no cuidado com a saúde.

Professor da Singularity University, localizada em uma base de pesquisa da Nasa, no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), foi o primeiro cirurgião no mundo a utilizar o Google Glass para transmitir uma operação ao vivo pela internet em 2013. “Quando fiz a cirurgia, não pensei muito sobre aquilo. Mas após um amigo postar na revista Forbes e em questão de horas ter mais de 6.500 visualizações, percebi que havia muito interesse e decidi levar essa tecnologia para a sala de aula”, conta Grossmann, que esteve em São Paulo, em maio.

O modo que se ensina como operar é o mesmo de cente-nas de anos atrás. O Google Glass, segundo o médico, ofere-ce aos alunos de medicina uma nova perspectiva de quem está no controle da operação, uma visão unificada. “Eu pos-so falar com eles, podem fazer perguntas e estão tendo uma visão perfeita do que está acontecendo. Este é um dos gran-des potenciais dos smartglasses.”

Grossmann explica que, atualmente, bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a cirurgias e tratamentos seguros

INOVAÇÃO

23

Tecnologia deve dar novos rumos na relação com o paciente

A serviço da saúde

Rafael Grossmann, médico venezuelano

A

Page 24: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Administrar um hospital é uma tarefa complexa. Se por um lado o gestor precisa se atentar à prestação de serviços e bem-estar, por outro há preocupações com a manutenção do ambiente em si, como, por exemplo, lavanderia, seguran-ça, limpeza técnica e predial, recepção. É no auxílio dessas questões que o Facilities Management (FM) tem crescido ex-ponencialmente nos últimos anos no mercado.

As facilidades, como o próprio nome já denota, têm como objetivo constituir um campo interdisciplinar que se ocupa da coordenação de espaços, infraestruturas, pesso-as e organizações, com o objetivo de promover a gestão da prestação de serviços gerais. Atividades das diversas áreas que compreendem o FM podem integrar todos os serviços, exceto aquelas que incluem, diretamente, a relação médi-

Setor de facilities cresce e auxilia gestores hospitalares

POR REBECA SALGADO

GESTÃO

co-paciente. O termo nasceu nos Estados Unidos, na déca-da de 1960 e, segundo a Associação Brasileira de Facilities (Abrafac), em 2017, o setor movimentou mais de R$ 100 bi-lhões e empregou mais de um milhão de pessoas, tornando o segmento uma das maiores fontes de investimentos das empresas brasileiras.

Luciano Brunherotto, presidente da Abrafac, explica que os maiores ganhos com a implementação de FM são eficiên-cia e economia. “Acredito que o setor saúde tenha dificulda-des para gerenciar as contratações devido à alta exigência nos padrões de qualidade versus o budget das instituições e a responsabilidade dos gestores. Uma área de facilities pode realizar um filtro que atenda a todas as demandas e ainda gere economia.”

Facilidades que

geram economia

24

Page 25: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Segundo Marcelo Boeger, presidente da Sociedade La-tino Americana de Hotelaria Hospitalar (SLAHH), a melho-ria do desempenho financeiro dos serviços terceirizados é fruto do objetivo estratégico da gestão operacional. “O grande desafio para os profissionais de FM é fazer com que as organizações percebam a importância estratégica e sua contribuição para a geração de valor para a organização e para seus stakeholders.” A comunicação é outro ponto im-portante, pois ela é um dos principais requisitos que um FM deve ter. “Saber falar de forma clara com o time operacional em todos os níveis da organização e com seus clientes in-ternos e superiores é fator crítico e preponderante no dia a dia”, afirma.

Uma pesquisa da CompWalk, empresa americana de treinamento e gestão, de 2017, mostra que atualmente os segmentos que mais demandam pelo gerenciamento de fa-cilidades no mundo são bancos (49%), saúde (39%), farmá-cia (36%) e energia (34%).

Na área da saúde brasileira, o facilities management tem sido implementado de forma ainda muito tímida, expli-ca Léa Lobo, gestora de conteúdo da revista Infra. “Muitos hospitais no Brasil ainda não reconhecem ou não tem um setor estruturado e organizado de FM. Isso faz com que to-das as áreas que não fazem parte da atividade-fim, do core business do hospital, estejam nas mãos de profissionais que nem sempre estão capacitados para atender essa importan-te demanda do negócio", diz.

Aprimoramento

O Hospital do Coração de São Paulo (HCor) contratou, em 2016, profissionais de facilidades para aprimorar o setor de limpeza da instituição. Segundo Domenico Caruso, gerente de Operações da instituição, o número de reclamações re-lacionadas ao tema caiu de 11,8 para cinco em duas sema-nas. “Reduzimos custos com pessoal, produtos químicos, água, riscos de acidentes e absenteísmo, e ainda recebemos elogios não só dos pacientes e visitantes, como também de nossos colaboradores.”

Outro ponto de destaque com o facilities, para ele, foram os treinamentos focados em redução do tempo de reali-zação de tarefas. “Os auxiliares de limpeza precisavam co-nhecer quais os princípios ativos dos produtos utilizados no hospital e que eles não têm cor, cheiro e não fazem espuma. Por isso, foi implantado, com ajuda de uma engenheira quí-mica, o projeto de gamificação, que faz uma avaliação per-sonalizada via computador, permite identificação de pontos fracos para treinamento focado e faz auditoria pós-treina-mento teórico com prática em local de trabalho.”

O resultado diminuiu, in-clusive, o consumo de água na instituição. “Para a limpeza de um corredor passamos de 45 litros de água utilizados antes para apenas 17 e, ainda, de meio litro de produto químico para zero. O proces-so que antes era feito em uma hora por três pessoas, passou a ser feito em 18 minutos por apenas uma”, conta.

Lincoln Aragoni Gomes, gerente de Facilities da Socieda-de Beneficente Israelita Albert Einstein, afirma que a estru-turação do FM em um hospital traz agilidade nos processos, unifica as equipes e identifica oportunidades de eficiência operacional para otimizar recursos. "Acredito que não de-vemos pensar somente em futuro, pois o amanhã já é ago-ra, e as tecnologias avançaram a um nível excepcional. Por isso, a administração sempre deve estar atenta na redução de custos."

A área de FM representa 3,1% da receita bruta do Eins-tein atualmente e, com o planejamento estratégico e visão de negócio, a medição de 2017 trouxe aumento nos índices de satisfação da experiência do paciente e nos índices de bem-estar para os colaboradores, além de reduzir os gastos em eventos adversos. Os projetos desenvolvidos pela área resultaram em uma economia de 7% em relação às despe-sas orçadas.

Para Moacyr da Graça, coordenador do curso de MBA em Gerenciamento de Facilidades da Universidade de São Pau-lo (USP), o profissional de FM em hospitais deve estar atento para as particularidades das instituições. “A boa gestão está na capacidade de interpretar risco, verificar o que pode acontecer e como cuidar do ambiente hospita-lar. Os processos devem ser eficientes e, para isso, é pre-ciso fazer o planejamento.”

25

Marcelo Boeger, presidente da SLAHH

Div

ulga

ção

Hos

pita

lar

Lincoln Gomes, gerente da Sociedade Beneficente Albert Einstein

Domenico Caruso, gerente de Operações do HCor

Div

ulga

ção

Hos

pita

lar

Page 26: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

26

Telefone para o meu amigo chamado dr. Robert: dia ou noite ele está lá qualquer hora. (...) Ele te ajuda a entender, ele faz tudo o que pode. Se você está pra baixo, ele o levanta. (...) Dr. Robert, ele é um homem em quem pode confiar, ele ajuda a todos que precisam. Ninguém é melhor do que o doutor Ro-bert. Bem, bem, bem, você se sente bem. Bem, bem, bem, ele lhe fará, dr. Robert.” (Dr. Robert, Beatles)

A música dos Beatles, composta por John Lennon e Paul McCartney, explicita o cenário mundial da década de 1960 quando o consumo de anfetaminas como estimulantes de desempenho atingiu seu auge. O doutor Robert Freymann era conhecido pelas celebridades da época por ofertar gran-des quantidades da droga aos seus pacientes, independen-temente de diagnósticos positivos ou negativos para o uso do estimulante.

RESENHA

A mágica da

produtividade

"

Pílulas para melhora de desempenho não foram exclu-sividade de artistas e até hoje a discussão é polêmica. De um lado encontram-se médicos e pacientes que fazem o uso correto delas e de sua indicação – na maior parte dos casos para tratamento de transtorno de déficit de atenção (TDA), hiperatividade e narcolepsia – e do outro estudantes, traba-lhadores e até mesmo profissionais da saúde que se utilizam e indicam os “comprimidos de bem-estar, da boa nota, da felicidade” como modo de alavancar a produtividade.

Abordando este tema, a Netflix lançou este ano o docu-mentário Take your pills, dirigido por Alison Klayman, que traz a ascensão da anfetamina Adderall nos Estados Unidos. O país é considerado o local com maior número de habi-tantes que fazem uso deste medicamento. A quantidade de prescrições de TDA dadas a pessoas de 10 a 19 anos de

Documentário aborda o aumento do uso de anfetaminas para a melhora de desempenho

Page 27: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Take your pillsGêneros: DocumentárioDuração: 1h27Direção: Alison KlaymanClassificação indicativa: 14 anosNetflix: 2018

27

Div

ulga

ção

fazer uso de um único comprimido de Ritalina, oferecido por um colega de time. Pego no doping, Britton decidiu se apo-sentar e reavaliar seu quadro de saúde. Ele conta que por muitos anos as lesões dos treinos e jogos foram abafadas pelas anfetaminas e que cada vez mais ele superava limites físicos e mentais para se manter em campo.

Com uma edição ágil, animada e dinâmica, Take your pills poderia ser um documentário que abre o diálogo para o uso consciente de anfetaminas, mas seu fim se torna tendencio-so e questionável quando começa a apontar alternativas de “medicamentos” de desempenho. Klayman apresenta uma nova onda americana, conhecida como microdosagem e feita com drogas alucinógenas, como cogumelos e LSD, ex-plicando, inclusive, como funciona o processo de uso passo a passo.

Se o filme pudesse deixar um propósito, ele seria o ques-tionamento. Em todo o momento o telespectador pode refletir sobre o seu eu, caso tivesse acesso facilitado ao Adderall. Como seria sua performance diante da rotina e da competitividade do mundo? Há um senso de justiça? Além disso, ele nos ensina a questionar qualquer tratamento e diagnóstico médico, as intenções das indústrias farmacêu-ticas e, definitivamente, o porquê de se fazer documentários - especialmente com essa narrativa. (Por Rebeca Salgado)

idade aumentou 26% desde 2007, chegando a quase 21 mi-lhões por ano. Um terço das crianças americanas são diag-nosticadas com a doença antes dos 6 anos e, atualmente, 3,5 milhões delas tomam anfetaminas regularmente.

A droga, que possui efeitos similares aos da cocaína, é controlada e tem exigência de receita médica, mas, como mostra o longa, os interessados não têm a menor dificul-dade em burlar o sistema. Entre os problemas enfrentados pelos americanos com o uso Adderall, a produção destaca – com depoimentos reais – o tráfico, dependência, risco de convulsão e parada cardíaca, crise hipertensiva e de hemor-ragia cerebral. Apresenta ainda o embate pelo que realmen-te é o déficit de atenção, como diagnosticá-lo da maneira correta e como tratar cada indivíduo.

Com as histórias, Klayman consegue retratar um dos maiores problemas da sociedade: a competitividade. E dei-xa isso claro logo nos primeiros minutos com a frase de um programador que diz: “Adderall, efeito colateral: ser bom em tudo”. Há múltiplas narrativas que vão desde defensores dos medicamentos para produtividade a histórias frustradas de pessoas que se tornaram reféns e/ou dependentes quími-cos, a indústria farmacêutica e seu marketing de salvação para mães desesperadas e as novas alternativas, ilegais, que estão surgindo no mercado.

Deixa-se um pouco a desejar na abordagem sobre os ma-lefícios do Adderall. A maior parte da história se resume à potência da mente após o uso da droga e os benefícios que ela traz, principalmente em questão de raciocínio lógico e criatividade. O mundo criado pelo diretor se torna tão mágico que é quase impossível não sentir uma neces-sidade e experimentar uma sensação dessas.

O contraponto começa com a explicação do título do longa, que vem de uma série de obras do artista plástico Jasper – um jovem que desde a sua infância conviveu com as pílulas ao ser obrigado diariamente a tomá-las pela mãe. A marca Take your pills nasceu na mente do garoto após sua decisão de romper com o trata-mento, segundo ele, desgastante e desnecessário. Em de-poimento, a mãe reconhece que levou ao filho ao médico e aceitou o diagnóstico de TDA sem questionar se ele real-mente tinha algum problema ou se estava apenas sendo uma criança traquina.

O filme apresenta também a história do ex-jogador da NFL (liga de futebol americano dos Estados Unidos) Eben Britton. Ele conta que por muitos anos fez uso do Adderall para melhorar a sua capacidade nos jogos, conseguindo uma licença de tratamento para TDA, apesar de não ser re-almente comprovada a condição. Porém, acabou suspenso da liga ao se ver sem os remédios, sem receitas disponíveis e

Page 28: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

O

28

diretamente ligada ao crescimento da economia e a um ambiente que dê segurança a empresários e investidores.

Se a nova lei não foi capaz até aqui de aumen-tar o número de postos de trabalho, também vivemos uma fase de adequação jurídica, já que reina certa insegurança pelas sentenças contradi-tórias aplicadas até o momento pela Justiça do Trabalho. O fim da validade da medida provisória (MP) n° 808, em abril último, é outro fator que gera incertezas, já que ela definia pontos polêmicos

da nova legislação, como contrato intermitente, negociação coletiva, jornada 12x36, contribuição provisória e atividade insalubre por gestantes e lactantes. Apesar dessas importantes ressalvas, já temos o que comemorar.

Nos primeiros seis meses de vigência da nova lei, o número de ações na Justiça trabalhista despencou no país. Dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST) registraram redução média de 46% no número de processos, entre dezembro de 2017 e março deste ano, em comparação ao mes-mo período dos anos anteriores. Isso representa 381.270 processos a menos nos tribunais regio-

POR LUIZ FERNANDO FERRARI NETO

ARTIGO

ito meses após entrar em vigor, a lei 13.467/2017, que modificou a legislação aplica-da às relações de trabalho, começa a mostrar os primeiros resultados positivos. Dos 922 artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 54 foram alterados, 43 foram inseridos e nove re-vogados. Na lei 6.019/1974, que regulamenta a terceirização, dois artigos sofreram alteração e outros três foram inseridos. A reforma trabalhista foi defendida amplamente pelo SINDHOSP por entender que a CLT, criada na década de 1940, já não atendia à realidade e às novas demandas do mercado de trabalho.

É certo que as empresas e a Justiça trabalhista ainda estão se adequando às regras e os efeitos da nova legislação sobre a geração de empregos se mostraram frustrante até agora. Em novembro do ano passado, mês em que entrou em vigor a reforma trabalhista, eram 12,6 milhões de desem-pregados no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número subiu para 13,7 milhões no primeiro tri-mestre de 2018 e caiu para 13,4 milhões no últi-mo mês de maio. O governo federal aposta que a reforma irá criar seis milhões de novos postos de trabalho na próxima década, mas é sempre im-portante lembrar que a geração de empregos está

Nos primeiros seis meses

de vigência da nova lei, o

número de ações na

Justiça trabalhista

despencou"

Os primeiros resultados da nova

legislação trabalhista

Page 29: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

mento foi superior a 850%, ou seja, passou de 68 para 649. Para esses casos, patrões e empregados precisam ser representados necessariamente por advogados.

O SINDHOSP, mesmo sabendo que a refor-ma trabalhista acabaria com a obrigatoriedade da contribuição sindical, foi a favor das mudan-ças, pois acredita nos produtos e serviços que oferece ao setor e no valor da experiência e do conhecimento da sua equipe de colaboradores. Especificamente sobre as novas leis do traba-lho, o departamento Jurídico da entidade está apto a representar e defender os associados nos acordos extrajudiciais e nas negociações diretas entre patrões e empregados, já que o negociado passou a prevalecer sobre o legislado. O envol-vimento do sindicato nesses processos negocial garante segurança jurídica às negociações.

Ter uma equipe jurídica especializada em saú-de nesse novo cenário das relações de trabalho é um diferencial que poucos setores oferecem e pouquíssimas empresas têm. É para enfrentar esse e outros desafios que despontam no hori-zonte que os estabelecimentos privados de saúde precisam estar ainda mais unidos, fortalecendo sua entidade representativa.

*Luiz Fernando Ferrari Neto é presidente em exercí-cio do SINDHOSP

29

nais. Em São Paulo, segundo o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), a queda no número de novas ações somente no primeiro mês de vigência da lei foi de 63,8%. A notícia é excelente para um país que é considerado, segundo o professor da Facul-dade de Economia, Administração e Contabilida-de da Universidade de São Paulo (FEA-USP), José Pastore, recordista no número de ações trabalhis-tas. Foram 3,9 milhões apenas no ano de 2016.

Levantamento do jornal Valor Econômico, com base nos dados do Cadastro Geral de Empre-gados e Desempregados (Caged), mostra outro dado positivo: patrões e empregados estão fazen-do mais acordos para o término do contrato de trabalho, quando isso interessa a ambos. Essas demissões acordadas permitiram às empresas uma economia de R$ 157,4 milhões nos primeiros seis meses da nova lei. Essa economia foi resulta-do dos menores valores pagos com aviso prévio e multa do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que caem pela metade nessas situações. De novembro a maio foram feitos 52,9 mil acor-dos desse tipo.

Mais importante que a economia trazida por esses acordos é o ganho social que eles geram. A CLT não previa casos em que a dispensa era con-sensual. Ou a empresa demitia o empregado, e ar-cava com todas as multas rescisórias, ou o empre-gado pedia demissão e não tinha direito a multas, nem ao saque do FGTS. A nova legislação solucio-na esse impasse e traz ganhos para patrões, em-pregados e, também, para a União. Apenas com o seguro-desemprego o governo federal pode ter economizado de R$ 226 milhões a R$ 255 milhões nos seis primeiros meses de vigência da lei.

Em meados de junho, o Valor Econômico trouxe outra informação importante. Uma multi-nacional, ao saber da situação de insolvência de uma empresa terceirizada prestadora de serviços, decidiu acertar os salários atrasados de mais de 80 funcionários terceirizados. Isso também só foi possível graças à nova legislação, que com a inclusão dos artigos 855-B e 855-E possibilitou acordos extrajudiciais, que podem ser firmados fora da Justiça e com petição conjunta para a ho-mologação em varas do Trabalho. Desde novem-bro de 2017, o número de pedidos de transações extrajudiciais cresceu, segundo dados do TRT de São Paulo. Em maio passado, por exemplo, o au-

Os estabelecimentos

privados de saúde

precisam estar ainda mais

unidos, fortalecendo sua

entidade representativa"

Page 30: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

CHARGE

A Revista FEHOESP 360 é uma publicação da FEHOESP, SINDHOSP,

SINDHOSPRU, SINDJUNDIAÍ, SINDMOGI-DASCRUZES, SINDRIBEIRÃO, SINDSUZANO e IEPAS

Tiragem: 14.000 exemplares

Periodicidade: mensal

Correspondência: Rua 24 de Maio, 208, 9º andar - República - São Paulo - SP - [email protected]

Coordenadora de Comunicação Aline Moura

Editora responsávelFabiane de Sá (MTB 27806)

RedaçãoEleni Trindade, Rebeca Salgado e Ricardo Balego

Projeto gráfico/diagramação - Thiago Alexandre

Fotografia - Leandro Godoi

Publicidade: [email protected]

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

Diretoria FEHOESP

Presidente em exercício - Marcelo Soares de Camargo

Presidente licenciado - Yussif Ali Mere Junior

2º Vice-Presidente - Roberto Muranaga

1º Diretor Secretário - Rodrigo de Frei-tas Nóbrega

2º Diretor Secretário - Luiz Augusto Te-nório de Siqueira

1º Diretor Tesoureiro - Luiz Fernando Ferrari Neto

2º Diretor Tesoureiro - Paulo Roberto Grimaldi Oliveira

Diretores Suplentes - Elucir Gir, Hugo Ale-xandre Zanchetta Buani, Carlos Eduardo Lich-tenberger, Armando de Domenico Junior, Lui-za Watanabe Dal Ben, Jorge Eid Filho e Michel Toufik Awad

Conselheiros Fiscais Efetivos - Antonio Car-los de Carvalho, Ricardo Nascimento Teixeira Mendes e João Paulo Bampa da Silveira

Conselheiros Fiscais Suplentes - Maria Helena Cerávolo Lemos, Fernando Henri-ques Pinto Júnior e Marcelo Rodrigo Apare- cido Netto

Page 31: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos
Page 32: 360 · 360 EDIÇÃO 22 • JULHO DE 2018 Alexandre Kalache afirma que idosos ... o cidadão deve ser educado para assumir a responsabilidade pela sua saúde e, também, pelos políticos

Quanto do seu dinheiro ainda está com

as operadoras?Nós temos a resposta

SOLUÇÕES INOVADORASGLOSAS MÉDICAS

[email protected](11) 4562-5923www.tradimus.com.br

Entre em contato e saiba mais