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Comunicação e Expressão Educação virtual e interativa Aulas 1 a 20

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Comunicação e ExpressãoEducação virtual e interativa

Aulas 1 a 20

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Sumário

Aula 1 - A aventura de escrever 03Aula 2 - Desejos de Leitura - O ato de ler 13Aula 3 - Comunicação e Linguagem 26Aula 4 - Variações Lingüísticas - 1a. parte 42Aula 5 - Variações Lingüísticas - 2a. parte 50Aula 6 - O texto e suas modalidades 54Aula 7 - Narração - O ato de contar histórias 60Aula 8 - Narração - O ato de contar histórias 71Aula 9 - O ato de descrever 81Aula 10 - O ato de dissertar 89Aula 11 - O ato de argumentar 105Aula 12 - Avalie suas habilidades

e seus conhecimentos 114Aula 13 - Como fazer o resumo de um texto 121Aula 14 - Leitura crítica 128Aula 15 - Função referencial e

função poética da linguagem 142Aula 16 - Como elaborar um currículo moderno 149Aula 17 - Redação empresarial 157Aula 18 - Entrevista 164Aula 19 - Relatório 171Aula 20 - Conclusão do curso 178

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Aula 01 - A aventura de escrever

Olá, meu nome é Walter Armellei Júnior e sou um dos autores deste programade Comunicação e Expressão.

Elaborei este curso pensando em tornar cada aula, além de agradável, útil edesafiadora, a mais próxima possível da realidade de quem estuda e trabalha, ou seja,de quem lê no dia-a-dia, sem mesmo dar-se conta dessa grande tarefa!

Navegue em todas as aulas e procure regras de nossa língua, técnicas eficazes deescrita, sugestões e, acima de tudo, textos e exercícios que subsidiarão suas dúvidas.

Vamos começar a vivenciar a aventura da escrita?

A aventura de escreverDurante esta aula, você será capaz de identificar algumas dificuldades

encontradas por você e por outras pessoas diante do ato de escrever.

Encontrará depoimentos e sugestões e algumas técnicas que o ajudarão aenfrentar possíveis bloqueios na atividade da escrita.

Verifique.Quando você é solicitado a elaborar um texto – seja no meio acadêmico, seja no

meio profissional – inicia-se a luta entre o papel, as palavras e o que você quer, podee consegue dizer.

Nesses momentos você deve imaginar-se a única pessoa incapaz de dominar aspalavras e escrever o que pretende. Mas essa luta não é só sua.

Pois é, leia os depoimentos a seguir e convença-se de que até mesmo osescritores consagrados e imortalizados pela literatura consideram o ato de escreverum desafio mas sempre carregado de emoções e aventuras.

Você conhece o significado da palavra depoimento?Ato ou efeito de realizar uma revelação de fatos ou verdades.

Vamos ler alguns?

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Depoimento 1“Quiem supiera escribir!” A exclamação, de um verso de Campoamor, me vem

à lembrança às vezes – como neste momento em que eu tanto precisaria dizer tantascoisas, e não sei dizê-las.

Esta é a terceira ou quarta vez que ponho o papel na máquina e começo aescrever; mas sinto que as frases pesam ou soam falso, e as palavras dizem de maisou dizem de menos e a escrita daí desentoada com o sentimento.

Saiba Mais - Rubem BragaRubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado deAssis, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Formou-seem Direito em Belo Horizonte, em 1932, depois de ter participado, como repórterdos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em MinasGerais.Sua marca registrada é a crônica poética, em que reúne estilo próprio a umintenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos.

Depoimento 2Esta é uma declaração de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil.Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a

sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um pontapé contra osque temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza.

E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa dosuperficialismo.

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assustacom o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estarmontada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.

Saiba Mais - Clarice LispectorClarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, a 10 de dezembro de 1925.Seus pais imigraram para o Brasil quando ela contava dois meses de idade.Forma-se em 1944, ano em que publica o primeiro livro, Perto do CoraçãoSelvagem, fartamente aplaudido pela crítica. Faleceu no Rio de Janeiro, a 9 dedezembro de 1977.

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Depoimento 3“Lutar com palavrasé a luta mais vã.Então lutamosMal rompe a manhã.São muitas, eu pouco.Algumas, tão forteComo um javali.Não me julgo louco.Se o fosse,teria poder de encantá-las.Mas lúcido e frio,apareço e tentoapanhar algumaspara meu sustentonum dia de vida.Deixam-se enlaçar,tontas de caríciae súbito fogeme não há ameaçae nem sevíciaque as traga de novoao centro da praça (...)”

Saiba mais - Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 deoutubro de 1902. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vidabreve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Desde 1954,colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, noJornal do Brasil. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta maisinfluente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversoslivros em prosa. Morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucosdias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

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Depoimento 4Escrever é montar, jogar um ponto de vista, às vezes tão único, tão restrito

àquele momento, àquelas palavras... E no desejo de gotejar de tinta um papel, sópara tentar transmitir uma onda de sentimentos, pensamento, sensações, as palavrasescapam, brigam, traem-se. É uma guerra. Fico perplexa e desesperada, pedindotrégua. Prometo a uma o primeiro lugar no próximo parágrafo: a outra, uma amigacom a qual faria um belo par; tudo em vão.

Chovem tiros e explodem bombas no papel; manchas de sangue nobre borramo campo. De repente, acontece algo: amasso-as bem com um pesado Aurélio.Descubro que toquei o coração das palavras, seu ponto fraco.

Elas compreendem! A paz é feita numa harmonia silenciosa. E quem vir essasbriguentas por aí, poderá pensar que nunca houve nada entre nós.

(ex-aluno)

Depoimento 5As pessoas estão esquecendo de escrever. Escrever mesmo.Também pudera: é muito vídeo, muito digital, muita impessoalidade.

O ato de escrever, hoje em dia, se resume à frieza dos memorandos assépticose dos bilhetes lacônicos. Mas escrever é botar – preto no branco – uma emoçãovermelha de paixão, um sonho verde de esperança, um sorriso amarelo, sem medodo lugar comum ou do ridículo, percebeu? Escrever é invadir com todos os nossosfantasmas aquele espaço branco, inocente, descompromissado – e se expor.

Como nossos erros, nossa fragilidade, nossas dúvidas ortográficas.Escrever é lançar uma ponte sobre o imponderável, é arriscar uma tentativa de

resposta, um toque tipo assim: socorro, estou vivo! Você está?

Por tudo isso é que vale a pena escrever. Agora. Imediatamente. Inadiavelmente.(ex-aluno)

Atividade em aulaDepois de tomar conhecimento das dificuldades enfrentadas por escritores e

alunos, ao escrever, elabore agora o seu depoimento, um texto de,aproximadamente, 30 linhas, que expresse seus encontros e desencontros com aspalavras, com o texto.

A sua luta pela expressão

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Registre em seu caderno ou digite em seu computador.Faça os exercícios.Registre tudo que considerar importante.

Depois desse passeio pelos depoimentos e da elaboração de seu primeiro textoem nosso curso, chegou a hora de apresentar-lhe algo bastante importante. Observeo que escritores consagrados têm a dizer sobre o desafio de escrever.

Sobre o ato de escrever1o. texto

Escrever não é apenas uma questão de técnica. Não se escreve sem algumatécnica, é certo. Mas ninguém começa a escrever depois de adquirir a tal da técnica.Começa-se a escrever porque se deseja fazê-lo, e, então enquanto se vai escrevendo,vai-se organizando a própria técnica.

O ato de escrever é, primeiro e antes de tudo, a questão do desejo. Ora odesejo de os outros se reproduzirem em nós através das palavras, ora o nosso desejode nos reproduzirmos, multiplicarmo-nos, transcendermo-nos e, mesmo,imortalizarmo-nos, por meio das nossas palavras.

Ao escrever, revelo-me – revelo a mim mesmo que posso organizar as palavras,o que as palavras nomeiam, que posso construir, montar o mundo novo também.Revelo-me a extensão do meu poder, ou seja: a extensão dos meus possíveis. Emsuma, a extensão da minha utopia.

O ato de escrever, antes de tudo, é um legítimo ato de auto-afirmação. E “auto-afirmação” não é coisa ruim, pejorativa, como dizem os que não gostam de ver osoutros se afirmando. Quem não se afirma é o oprimido, é o submisso, o que seencontra caído ao chão à espera das ordens.

Uma redação nunca é um produto acabado, pronto para ser entregue ao mestree por este enquadrada no conceito devido (ou indevido). Antes, será “red-ação”:ação de tecer a rede dos acontecimentos e dos relacionamentos, guardando oacontecido na memória verbal das gerações, pescando o acontecível no extenso lagodas faltas e ausências testemunhadas pelas palavras daqueles que falam.

A palavra é o testemunho de uma ausência. Escrevemos, antes de tudo, paratestemunhar as nossas faltas, quer procurando supri-las, quer buscando carinho paraaliviar a dor. Escrevemos para dizer o que não sabemos, o que não amamos, o quenão somos – mas queremos.

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A palavra é a consciência da ausência. A consciência do não-saber de queSócrates, a qual, exatamente, despe-nos da arrogância e aproxima-nos da verdade.

Saiba mais - Adaptado de BERNARDO, Gustavo. Redação Inquieta. 4a.ed.,São Paulo: Editora Globo, 1991.BERNARDO, Gustavo.Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1º de novembro de 1955. Doutor emLiteratura Comparada, é professor de Teoria da Literatura no Instituto de Letras daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Simultaneamente às atividadesacadêmicas, Gustavo Bernardo escreve romances.

2o TextoSobre o ato de escrever

Continuando nossa conversa sobre o ato de escrever.“Escrever é fazer um mau rascunho e em seguida corrigi-lo até desentranhar o

que realmente se pensa.”

Saiba mais - Bioy CasaresAdolfo Bioy Casares nasceu em Buenos Aires, em 1914. Escreveu sua primeira novelaIris y Margarita, aos 11 anos. Aos 14 anos, Vanidad o Una aventura terrorífica, contofantástico e policial. Em 1932 conhece Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo, que junto aBorges o convencerá a abandonar os estudos e dedicar-se exclusivamente a escrever.Adolfo Bioy Casares morreu na Cidade de Buenos Aires em 8 de março de 1999.

3o. textoSobre o ato de escrever

“O escritor é um homem sozinho dentro de um quarto, diante do papel embranco e às voltas com os seus demônios que ele conjura, que ele tenta exorcizar: odemônio da solidão, o da busca, da procura de alguma coisa que não sabe qual seja,como quem tenta recuperar uma experiência sonhada, ou vivida numa vida anterior.

Ele está começando do nada, vendo pela primeira vez, tentando abrir umcaminho, procurando no escuro... Escrever é um ato de amor.”

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Saiba mais - Fernando SabinoFernando Tavares Sabino nasceu a 12 de outubro de 1923, em Belo Horizonte. Em1930, após aprender a ler com a mãe, ingressa no curso primário. Torna-se leitorcompulsivo, de tal forma que mais de uma vez chega em casa com um galo na testa, porhaver dado com a cabeça em um poste ao caminhar de livro aberto diante dos olhos.

4o TextoSobre o ato de escrever

“Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve.

E se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria umamigo escritor e lhe perguntaria: como é que se escreve? Que é que diz? E como dizer?

E como é que se começa? E que é que se faz com o papel em branco nosdefrontando tranqüilo?

Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoaque mais se surpreende ao escrever. E ainda não me habituei a que me chamem deescritora. Porque fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever.Será que escrever não é um ofício? Não há aprendizagem, então? O que é? Só meconsiderarei escritora no dia em que eu disser: sei como se escreve.”

Saiba mais - LISPECTOR, Clarice. A descoberta do Mundo. 1a.ed., Rio deJaneiro: Editora Nova Fronteira, 1984.Romances: O Lustre (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); APaixão segundo G.H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); ÁguaViva (1973); Um Sopro de Vida – Pulsações (1978); Novela: A hora da estrela (1977).Contos:Alguns contos (1952); Laços de família (1960); A legião estrangeira (1964);Felicidade clandestina (1971); A imitação da rosa (1973); A via crucis do corpo (1974);Onde estivestes de noite? (1974); A bela e a fera (1979); Literatura infantil: O mistériodo coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1968); A vida íntima deLaura (1974); Quase de verdade (1978); Como nasceram as estrelas (1987).

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Dicas sobre revisão gramaticalDicas de hoje, para você guardar e utilizar!

Quando está criando um texto, você fica muito concentrado, procurando captarseu pensamento. Não deve interromper com pormenores. Escreve as palavras comoelas surgem em sua cabeça, mesmo erradas ou inadequadas. Constrói frases e trechos,às vezes, até sem sentido. Depois de alguma experiência em seu redigir, sabe que, apósesse registro do fluxo do pensamento, vai reler seu texto, vai vê-lo outra vez, vai fazeruma revisão (de estilo, de conteúdo, gramatical, do texto em sua estrutura, etc.).

Você também não deve interromper a fluência do seu processo de criação paralembrar se uma palavra tem acento gráfico, para ver a pontuação, para substituirpalavras ou frases. Primeiro registre seu pensamento. Depois faça uma revisãogramatical, com calma. Mesmo assim, se você errar, aprenda com seus erros.

Antigamente, aconselhavam aos alunos “escrever pouco para errar pouco”.

Veja só, levarmos esse conselho às últimas conseqüências, concluiremos que nãoescrevendo nada, nunca erraremos.

É claro, não é esse o caminho. O caminho para aprender a escrever é escrevermuito e sempre, ler, revisar e reescrever.

Dicas sobre revisão textualDicas de hoje, para você guardar e utilizar!

É uma ilusão pensar que um texto nasce pronto. Ele percorre váriosprocedimentos até chegar ao leitor. E é na leitura que sua criação se completa.

Mas, antes da leitura, há muito fazer e refazer, escrever e reescrever. Constate,observando um rascunho de texto de Guimarães Rosa (veja na aula on-line), uma dosmaiores e mais criativos escritores da literatura brasileira.

O primeiro aspecto que deve levá-lo a refazer o seu texto é a persistência docriador: criador é quem cria e não quem só imagina. Quem só imagina é, no máximo,imaginoso. Persistir é enfrentar encantos e desencantos do processo. Há momentosde euforia, em que nos sentimos geniais.

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Alguns segundos depois, achamos o texto péssimo e nos sentimos ridículos,poucos inteligentes, incapazes de criar. Rasgamos folhas escritas, levantamos dacadeira, tentamos fugir.

Mas é preciso persistir. Se o texto não ficou bom, é preciso refazê-lo em parteou totalmente. Até ficar pronto.

Outra coisa que deve levá-lo a reescrever o texto é a autocrítica raramente justano momento da elaboração. A autocrítica precisa ser exercida com certodistanciamento. Se você acaba de escrever, dê um tempo para julgar se o texto estábom ou ruim. Leia-o no dia seguinte, na semana seguinte. Será mais fácil apreciá-lo.

Há ainda a insatisfação dinâmica de quem cria.

Mal termina o texto, você fica imaginando o próximo. O melhor texto, paraquem o cria, é o próximo. Isso é bom, é dinâmico, porque nos move a continuarcriando e a melhorar o que fazemos.

Mas não pode ser uma insatisfação tão grande que gere desânimo.

Finalmente, um fato que você já deve ter observado. Há uma distância, umadefasagem entre o que a gente imagina e o resultado final da redação já realizada.Costumamos até dizer: “não era bem isso que eu queria escrever”.

Em textos longos e complexos, isso é comum. Parece que a mão que escrevepuxa e conduz a imaginação para além do que foi planejado. Se a distância entre oque se planejou e o produto for muito grande e o resultado insatisfatório, reescrevasua redação.

Há várias outras situações nas quais se reescreve a primeira redação feita. Emtodas elas, você deve mostrar que quer criar um texto e não se livrar dele. Será quemuitas de suas redações não merecerão ser reescritas?

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Síntese da aula de hojeVocê deve ter percebido que escrever é um verdadeiro desafio carregado de

emoções e aventuras. As dificuldades existem para todos nós, até para os grandesescritores já consagrados pela crítica e pelo público.

Não há qualquer modelo, receita ou técnica pronta que possam ensinar-lhe. Masvocê aprenderá a escrever, escrevendo, treinando, exercitando. À medida que forescrevendo, descobrirá a sua própria técnica, seu estilo, que é pessoal.

Próxima aulaNa próxima aula, falaremos sobre a leitura, Desejos de Leitura - é o outro

componente da relação dialética “leitura – escrita”. É mais um processo carregadode sedução.

Até a próxima.

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Aula 02 - Desejos de Leitura - O ato de ler

Olá, Meu nome é Dora Fontana Baseio e sou uma das autoras deste programade Comunicação e Expressão.

Durante esta aula, você será capaz de compreender o que é leitura, de refletir sobreo ato de ler e também de se divertir, viajando em algumas passagens de nossa literatura.

Observe o que nos revela Castro Alves sobre leitura e livros:“Por isso na impaciênciaDesta sede de saber,Como as aves do desertoAs almas buscam beber...Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros à mão cheia...E manda o povo pensar!O livro caindo n’almaÉ germe — que faz a palma,É chuva — que faz o mar.”,

Saiba mais - Castro AlvesAntonio Castro Alves é um dos grandes poetas da Literatura Brasileira. Nasceu a 14de março de 1847, em uma fazenda no interior da Bahia.Morreu em 6 de julho de1871. É bastante conhecido por sua poesia social, de teor, principalmente,abolicionista e humanitário, ressoando a voz do povo com acentos retóricos edeclamatórios. Isso o faz um poeta idealista, imbuído de uma visão utópica do mundoe dos homens. Suas obras são: Espumas Flutuantes, (1870), Gonzaga ou a Revoluçãode Minas (1876), A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os escravos ( 1883).

Observe como estamos mergulhados em textos no nosso dia-a-dia, somosatravessados por diferentes linguagens e, sem perceber, lemos o tempo todo. Lemosa expressão facial das pessoas, lemos seus gestos, seus movimentos, sinais, objetos,cheiros, cores, gostos, e, curiosamente, nossa leitura independe de sermosalfabetizados ou não.

É a forma que temos para perceber o mundo que se põe diante nós, é a nossaleitura de mundo.

Você já se percebeu lendo o mundo? Lembre-se do que já fez hoje e observe oque está fazendo agora.

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Neste momento, você está não só lendo a palavra escrita, mas o seu entorno, otamanho das letras, o colorido da página, os ícones, as janelas, os objetos que estãopróximos a você, os sons, o cheiro do ambiente em que está.

Leia, agora, atentamente, um pequeno trecho da palestra de Paulo Freire: Aimportância do ato de ler, retirada do livro A importância do ato de ler – em trêsartigos que se completam.

Saiba mais - Leitura de mundoLeitura de mundo é um conceito criado por Paulo Freire, célebre educador brasileiro,que se comprometeu politicamente com a missão de educar e resgatar a humanidadedo oprimido, a dignidade da pessoa humana.Seu eixo é aprendizagem da leitura e da alfabetização, para a qual elaborou umMétodo (Método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos), na década de 1960.Este conceito de leitura de mundo está presente no capítulo 1 do livro A importância doato de ler – em três artigos que se completam – que vale a pena ser lido na íntegra.Dois outros livros de Paulo Freire são bastante conhecidos: A Educação como práticade liberdade e Pedagogia do oprimido.

A importância do ato de lerRara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso

política, em que tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrarencontros ou congressos.

Aceitei fazê-lo agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aquipara falar um pouco de importância do ato de ler.

Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo domomento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processoem que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo queenvolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificaçãopura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga nainteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que aposterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.

Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto aser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto eo contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado– e até gostosamente – a “reler” momentos fundamentais de minha prática,

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guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, deminha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão critica daimportância do ato de ler se veio em mim constituindo.

Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando distância” dos diferentes momentosem que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a“leitura” do mundo, do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da minhaescolarização, foi a leitura da “palavra mundo”.

A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler”o mundo particular em que me ouvia -, me é absolutamente significativa. Nesteesforço a que me vou entregando, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, aexperiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casamediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossemgente, tal a intimidade entre nós – à sua sombra brincava e em seus galhos maisdóceis à minha altura eu me experimentava em riscos e aventuras maiores. A velhacasa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas deminha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi meu primeiro mundo.Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei.

Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minhaatividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras.

Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto – em cuja percepçãome experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber– se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu iaaprendendo no meu trato com eles, nas minhas relações com meus irmãos maisvelhos e com meus pais.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.São Paulo: Cortez, 2003.

1a. Atividade em aulaRegistre no caderno, ou digite no computador, sua compreensão da frase de

Paulo Freire:

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leituradesta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidadese prendem dinamicamente.”

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Compreendemos que a leitura da palavra é algo que se acrescenta à leitura domundo. Refere-se ao processo de alfabetização, à aquisição do código lingüístico. Seralfabetizado é diferente de ser letrado.

Alfabetizados são aqueles que fazem uso da linguagem escrita em situaçõessimples, cotidianas, em tarefas de ordem prática, tais como ler e escrever o próprionome, um bilhete, isto é, fazem uso reduzido da escrita, por isso possuem acessointerditado a determinados modos de funcionamento da linguagem.

Letrados são aqueles capazes de apreender os variados modos de ler econhecer o mundo (a ciência, arte, a filosofia, o mito, o senso comum),compreendendo a forma como a linguagem se organiza.

Assim, são capazes de exercer a plena cidadania, já que a apropriação dessesconhecimentos alarga o entendimento da realidade, possibilitando participar,transformar e fruir a realidade mais amplamente.

Para compreender, com mais clareza, a importância da leitura para realização daplena cidadania, vale a pena ler o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos. É curiosoobservar como a falta de consciência da linguagem, agravada pela escassez da leitura edos mecanismos de comunicação, pode comprometer os atos de cidadania. VidasSecas é um livro sábio, uma obra de linguagem sobre a não-linguagem.

Saiba mais - Vidas SecasVidas Secas, livro publicado em 1938 é uma grande obra inserida no CicloRegionalista Nordestino, capaz de despertar paixões e discussões inumeráveis. Tratada peregrinação de uma família de retirantes pelos confins do sertão nordestino.Em estilo conciso, próprio da segunda fase do Modernismo, o romance traduz osofrimento humano diante de uma natureza seca e implacável, tanto áspera quanto aspróprias relações humanas que ali se estabelecem e se fortificam devido a poucaconsciência das personagens no que diz respeito ao seu papel como cidadãs.Reúnem-se, nesta célebre obra neo-realista, homem e natureza, compondo todo oespetáculo doloroso da realidade brasileira de ontem, de hoje e de sempre, se nadafor feito para transformá-la.

Saiba mais - Graciliano RamosGraciliano Ramos nasceu em Quebrângulo, no Alagoas, 27 de outubro de 1892. FoiDiretor da Imprensa Oficial do Estado em Maceió, em 1930. Acusado de práticassubversivas, foi para a prisão, em 1936, onde escreveu Memórias do Cárcere, em1956. Publicou várias obras, entre elas: São Bernardo, (1934), Angústia (1936),Alexandre e outros heróis (1962), Infância (1945).

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Leia: Aqui, registramos apenas um trecho do primeiro capítulo (Mudança) e umtrecho do último capítulo (Fuga), do livro Vidas Secas (visite o site: http://www.geocities.com/gracilianoramos/bio.htm) só para você sentir um pouco da vidado outro e, evidentemente, refletir sobre a sua. Aproveite!

Mudança“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os

infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia dorio seco, a viagem progredira bem três léguas.

Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceulonge, através dos galos pelados da catinga rala. Arrastaram-se para lê, devagar, sinháVitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça,Fabiano sombrio,cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa aocinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorraBaleia atrás.”E agora, esta outra.

Fuga“Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-

iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato.Cultivariam um pedaço de terra.

Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos freqüentariam escolas,seriam diferentes deles.(...)As palavras de sinha Vitória encantavam-no.

Iriam para adiante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estavacontente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era e nem onde era.Repetia docilmente as palavras de sinhá Vitória, as palavras que sinhá Vitóriamurmurava porque tinha confiança nele.

E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia depessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Elesdois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia.

Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terradesconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gentepara lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano,sinhá Vitória e os dois meninos.”

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2a. Atividade em aulaAgora, compare o texto literário de Graciliano, que você acabou de ler com a

tela Os Retirantes, de Portinari. (1944).

Retirantes, Série RetirantesOs retirantes nordestinos, os trabalhadores rurais de membros deformados, os tonsde marrom e os de roxo dos campos cultivados, expressam a força da terra.

1944 Painel a óleo/tela190 x 180cmPetrópolis, RJAssinada e datada no canto inferior direito “PORTINARI 944”Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo,SP

Aprecie outras obras famosas de Cãndido Portinari:

Retrato de Euclides da Cunha [1944]Desenho a nanquim bico-de-pena e nanquim pincel/papel16 x 13cmRio de Janeiro, RJAssinada na metade inferior direita “Portinari”. Sem dataColeção particular, São Paulo,SP

Observação: Original para ilustração, reproduzido à página 19, do livro “Perfil deEuclydes e Outros Perfis”, de Gilberto Freyre.

Retrato de Carlos Gomes - primeiro desenho de Portinari, datado de 1914

1914 Desenho a carvão/papel43 x 42cm Brodowski, SP

Assinada e datada na metade inferior direita “Candido Portinari 1914”Inscrições na metade superior direita “LO SCHIAVO”, “SALVADOR ROSA”,“MARIA TUDOR”; na metade inferior esquerda “TOSCA”, “COLOMBO”,“CONDOR”, “GUARANY” e no centro da metade inferior “Carlos Gomes nascido17 julho de 1836 e fallecido 16 setembro de 1896”.Coleção particular, Rio de Janeiro,RJ

(Brodósqui, SP, 1903 - Rio de Janeiro, RJ, 1962)Viaje no site : www.culturabrasil.pro.br/portinari.htm

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2a. Atividade em aulaEscreva:O que acontece quando lemos um livro de literatura ou quando lemos um

quadro? Quantas são as impressões e sensações que nos despertam?

Registre seus comentários relativos à comparação dos dois textos e dasduas linguagens.

É fato que nossa sensação primeira é de estarmos nos desprendendo e nosafastando da vida cotidiana, do mundo de nosso fazer prático. É como se umaconsciência imaginante nos libertasse e nos recriasse em um outro mundo: o mundodo outro. Você sente isso também?

Ao lermos, tanto o livro Vidas Secas quanto o quadro Os Retirantes, nós nosenveredamos para o sertão nordestino, e de repente compartilhamos da árduaperegrinação daqueles que nada possuem. Nossa vida mistura-se com a vida deFabiano, de sinha Vitória, dos dois meninos, de Baleia, e, por vivenciarmos essarealidade recriada no plano da imaginação, passamos, muitas vezes, a lutar, no planoda realidade, pela dignidade da vida humana.

Enfim, o conhecimento que nos é oferecido pela arte literária e pela arte pictóricaapresenta-nos a realidade sob aspectos originais, revitaliza-nos a sensibilidade, poispassamos a viver a experiência do outro, a ser quem não somos, ou até mesmo,passamos a conhecer o obscuro de nós mesmos, o nosso lado miserável.

O próprio Graciliano afirma: “As nossas personagens são pedaços de nósmesmos, só podemos expor o que somos.”

Percebemos, com isso, que a vivência inusitada proporcionada pelas artesoferece-nos a possibilidade de transformação.

Logo, ler é transformar.

Viaje um pouco com Alberto Caeiro. Se quiser mais, entre no site:http://www.secrel.com.br/jpoesia/fp207.html

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O Meu Olhar (Alberto Caeiro)O meu olhar é nítido como um girassol.Tenho o costume de andar pelas estradasOlhando para a direita e para a esquerda,E de vez em quando olhando para trás...E o que vejo a cada momentoÉ aquilo que nunca antes eu tinha visto,E eu sei dar por isso muito bem...Sei ter o pasmo essencialQue tem uma criança se, ao nascer,Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momentoPara a eterna novidade do Mundo...Creio no mundo como num malmequer,Porque o vejo. Mas não penso nelePorque pensar é não compreender ...O Mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos)Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,Mas porque a amo, e amo-a por isso,Porque quem ama nunca sabe o que amaNem sabe por que ama, nem o que é amar ...Amar é a eterna inocência,E a única inocência não pensar...

Ouça, agora, a música de Caetano Veloso, Os Argonautas.

Trata-se de um dos mais belos poemas da canção popular brasileira – um fadobrasileiro - inspirado em Fernando Pessoa, para uma época de repressão comtendência à abertura política.

Viaje no Site http://www.mpbnet.com.br/musicos/caetano.veloso/

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Saiba mais - Caetano VelosoNascido em Santo Amaro da Purificação, BA, em 07 de agosto de 1942, é umcélebre inventor da arte musical brasileira, retirando sons, gestos e palavras do maisárido território, capaz de traduzir o concreto, a dor, um jeito, uma paisagem oupessoa na mais variada e sutil percepção da existência.Revolucionário em sua poesia, o compositor nos presenteia com fraseados sonorosque mobilizam nossa alma, mostrando-nos a importância não somente de estarmosvivos como também de lutarmos. Caetano renova a linguagem artística, poetizandosons de timbres desconexos, afirmando sua capacidade de mostrar as possibilidadesda música de provocar a fruição estética.

Saiba mais - Fernando PessoaFernando António Nogueira Pessoa (1888-1935 ) é considerado um dos maiorespoetas portugueses. Nasceu em Lisboa, esforçou-se por renovar a LiteraturaPortuguesa com criação da revista Orpheu, veículo de novas idéias e novas estéticas.Criou vários heterônimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis,Bernardo Soares, etc.), assinando as suas obras de acordo com a personalidade decada um. O poeta modernista faleceu prematuramente em 1935, deixando grandeparte da sua obra ainda inédita.

Leia a letra da música.

Os Argonautas - Caetano VelosoO barco, meu coração não agüenta tanta tormenta, alegriaMeu coração não contenta o dia, o marco, meu coração o porto, nãoNavegar é preciso, viver não é precisoNavegar é preciso, viver não é precisoO barco, noite no teu tão bonitoSorriso solto, perdidoHorizonte madrugada o riso, o arco da madrugada, o porto, nadaNavegar é preciso, viver não é precisoNavegar é preciso, viver não é precisoO barco o automóvel brilhante o trilho solto, o barulhoDo meu dente em tua veiaO sangue, o charco, barulho lento o porto, silêncioNavegar é preciso, viver não é preciso...

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3a. Atividade em aulaO que você imaginou quando leu/ouviu a letra/música?Registre suas impressões, seus sentimentos, lembranças.

A música, assim como a literatura e a pintura, são textos, de um modo geralmais polissêmicos e polifônicos do que os textos de outras áreas de conhecimento.Polissêmicos, porque são abertos a muitas leituras, de acordo com o repertório-vidado leitor. Polifônicos, porque a voz do autor carrega vozes de outros autores, dasociedade, da história.

Um leitor competente busca nas entrelinhas, ouve e reconhece antigos textos,atribui novos sentidos, conhece novos sistemas de referência do mundo, percebe-secomo sujeito capaz de transformar a realidade, participando dela de forma mais crítica.

A música de Caetano que você ouviu e leu põe em diálogo muitas vozes: a dopróprio compositor, a dos antigos navegadores, a do poeta modernista português,Fernando Pessoa, realizando o que conhecemos como intertextualidade.

Saiba mais - IntertextualidadeA noção de intertextualidade foi introduzida na Teoria Literária por Julia Kristeva, em1966, por influência da noção de dialogicidade que M. Bakhtin havia desenvolvido noseu livro Estética da Palavra.

O importante na concepção da literatura como intertextualidade é o questionamentodas visões tradicionais de obra e de autor:

1) critica-se a visão de obra literária como uma obra que seria absolutamente original,encerrada nela mesma; e2) portanto opõe-se também ao culto do poeta-gênio. Poeta é alguém que apresentauma versão mais criativa das potencialidades literárias da língua e da cultura.

Essa concepção de intertextualidade já estava presente dentro da visão tradicional deliteratura, mas é na pós-modernidade que ganha impulso principalmente com osnovos fenômenos textuais “multimidiáticos”, tais como o hipertexto e a Internet.

Para Lucrécia Ferrara, “intertexto é o diálogo que se produz entre o dentro e ofora, o interno e o externo, entre um texto e outro texto, entre um segundo e umprimeiro, entre o presente e passado”

(FERRARA, L. D’Aléssio. A estratégia dos signos. 2. ed. São Paulo, Perspectiva,1986. p. 93).

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Outros exemplos de intertextualidade

Canção do exílioMinha terra tem macieiras da Califórniaonde cantam gaturamos de Veneza.Os poetas da minha terrasão pretos que vivem em torres de ametista,os sargentos do exército são monistas, cubistas,os filósofos são polacos vendendo a prestações.A gente não pode dormircom os oradores e os pernilongos.Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.Eu morro sufocadoem terra estrangeira.Nossas flores são mais bonitasnossas frutas mais gostosasmas custam cem mil réis a dúzia.Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadee ouvir um sabiá com certidão de idade!

Ver “Canção do exílio” de Gonçalves DiasDe Poemas (1925-1931)

Canção do exílioMinha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer eu encontro lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

De Primeiros cantos (1847)

Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar –sozinho, à noite–Mais prazer eu encontro lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que disfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu’inda aviste as palmeiras,

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Ao ler a composição musical, você se lembrou de fatos, acionou conhecimentosprévios, tais como idéias, hipóteses, visão de mundo e linguagem sobre o assunto, você,evidentemente, dialogou com a voz de Caetano, com as outras vozes ali presentes - seelas fazem parte de seu repertório cultural - e com suas próprias vozes internas, natentativa de concordar, discordar, criticar ou aprovar as idéias enunciadas no texto.

Ler com competência pressupõe, então, ter conhecimentos prévios – e isso sóse adquire com textos-vida e com textos-lidos, conhecer a língua e ter objetivo(informação, diversão, estudo etc.).

Saiba maisVisite o site: www.iel.unicamp.br/memoria.Procure Márcia Abreu em Diferentes formas de Ler.Clique em estudos e depois ensaios.Vale a pena a leitura.

Alguém já lhe falou que é necessário desenvolver o hábito da leitura? Essa idéia émuito comum e um tanto perigosa. Sabe por quê?

Não se deve desenvolver hábito de leitura, pois hábito é algo que se fazmecanicamente. Deve-se, sim, desenvolver, ou melhor, despertar o Desejo de Leitura.

Ler não é hábito, Ler é Desejo

Saiba mais- www.virtualbooks.terra.com.br- www.bibvir.futuro.usp.br/index.php- www.ominis.if.ufrj.br/~coelho/livros.html- http://cultvox.locaweb.com.br/login.asp?Pagina=%2Fgratis%5Ffilosofia%5Fpolitica%2Easp- http://www.ig.com.br/paginas/novoigler/download.html

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Síntese da aula de hojeVocê aprendeu, nesta aula, alguns conceitos, como o de leitura, leitura de

mundo, intertextualidade. Aprendeu, também, a diferença entre ser alfabetizado eser letrado bem como a importância da leitura de diferentes textos e linguagens paraampliar sua visão de mundo.

Você também desenvolveu várias habilidades, como ler, compreender,interpretar, comparar, comentar diferentes tipos de textos, o que lhe permitiu refletirsobre a leitura e valorizá-la como instrumento para construção da própria cidadania.

Próxima aulaEnfim, chegamos no final desta travessia...Na próxima aula, trataremos de comunicação e linguagem, linguagem verbal e

não verbal, diferenças entre língua oral e língua escrita.Você acha fácil se comunicar?

Até a próxima.

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Aula 03 - Comunicação e Linguagem

Durante esta aula, você será capaz de compreender o conceito de comunicaçãocomo necessidade humana e refletirá sobre seu uso na sociedade contemporânea.

Será muito divertida nossa trajetória, desta vez, pelos diferentes textos,tramados pelas diversas linguagens: sonora, escrita, visual, ou seja, da música, dolivro, do cinema, entre outras.

Só para você despertar para o contexto, imagine que o dia está amanhecendo.Leia atentamente o poema.

Tecendo a manhãUm galo sozinho não tece uma manhã;ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito que um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,para que a manhã, desde uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,e erguendo em tenda, onde entrem todos,se entretendendo para todos, no toldo(a manhã) que plana livre de armação.A manhã, toldo de um tecido tão aéreoque, tecido, se eleva por si: luz balão.

(João Cabral de Melo Neto)

Saiba mais -João Cabral de Melo NetoJoão Cabral de Melo Neto – é conhecido como poeta – engenheiro, ou poeta-arquiteto. Participa da terceira fase do Modernismo, em que o trabalho detranspiração sobre a linguagem poética é bastante intenso. Nasceu em Recife a 9 dejaneiro de 1920.

Sua obra mais famosa é Morte e Vida Severina.

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Navegue e descubra mais coisas - link: www.virtualbooks.terra.com.br

- Pedra do sono. Recife: Edição do autor, 1942 (tiragem especial em papel Drexler).- Os três mal-amados. Rio de Janeiro: Revista do Brasil, 1943.- O engenheiro. Rio de Janeiro: Amigos da Poesia, 1945.- Psicologia da composição com a fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O livroinconsútil, 1947.- O cão sem plumas. Barcelona: 0 livro inconsútil, 1950. 2a. ed. Rio de Janeiro:Editora Nova Fronteira, 1984 (com Fotografias de Maureen Bisilliat).- O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife.São Paulo: Edição da Comissão do IV Centenário de São Paulo, 1954.- Dois parlamentos. Madri: Edição do autor, 1960.- Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.- A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.- Museu de tudo. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1975.- A escola das facas. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1980.- Auto do frade. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1984; 2a. edição, Rio deJaneiro: Editora Nova Fronteira 1984 (da 2a. edição foi feita uma tiragem de 100exemplares em papel vergê).- Agrestes. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985 (tiragem especial em papelvergê).- Crime na Calle Relator. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1987.- Primeiros poemas. Rio de Janeiro: Edição da Faculdade de Letras da UFRJ, 1990.- Sevilha andando. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.- Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Edição de Orfeu, 1954.- Duas águas. Rio de Janeiro: Editora José Olympio. 1956 (tiragem especial em papelWesterprin).- Terceira feira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961.- Poesias completas. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, 1968; 4a. edição, Rio de Janeiro:Editora José Olympio, 1986.- Poesia completa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986.- Museu de tudo e depois (Poesia Completa II). Rio de Janeiro: Editora NovaFronteira, 1988.Antologias

Antologias- Poemas escolhidos. Seleção de Alexandre O’Neil. Lisboa: Portugália Editora, 1963.- Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1965; 8a. edição, Rio deJaneiro: Editora José Olympio, 1991.- Morte e vida severina. São Paulo: Teatro da Universidade Católica, 1965.

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Sabemos, leitor, que o homem não vive sozinho. Ele é ser gregário, sempreprecisa do outro, para a aprender a ser gente, para se reconhecer como humano,para transformar-se, para modificar o que não está coerente no mundo.

Você percebe, no poema de João Cabral de Melo Neto, que o galo constituiuma metáfora do homem.

Assim, como um galo, com seu cantar, acorda o outro galo no despertar damanhã,os homens necessitam uns dos outros para tecerem o amanhã.

Tecer é uma palavra-chave para interpretar este poema, pois, na estruturarítmica do texto, observa-se o movimento do tear.

O conceito de metáfora pode também ser percebido e entendido por meioda obra de arte. Pesquise Marcel Duchamp, obra Chafariz em www.artchive.comBusque também os verbetes poesia e Duchamp na enciclopédia virtualwww.wikipedia.com

Divirta-seVeja o filme O carteiro e o Poeta.

Saiba mais - MetáforaMetáfora – figura de linguagem que se caracteriza por ser uma comparação implícita,subjetiva, portanto dispensa o uso de elementos de ligação, as conjunções comparativas.

A linguagem figurada é a linguagem conotativa, aquela que tem como causa a imaginação,o intelecto e a paixão. As palavras assumem um sentido figurado quando a intenção éexpressar sentimentos e idéias em forma de imagens concretas, abstratas ou afetivas.

Pode ocorrer a linguagem figurada tanto na linguagem comum quanto na linguagem literária.

As figuras de linguagem nascem da necessidade expressiva e de nossa incapacidade delidarmos com o abstrato fora do contato com a realidade concreta.

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1a. Atividade em aulaAgora, pense e escreva: o que o texto de João Cabral tem a ver com a idéia de

comunicação e linguagem?

Para auxiliar sua reflexão, assista a um trecho do filme Náufrago, dirigidopor Zemeckis.

Pesquise em www.artchive.com o quadro Guernica de Picasso e emwww.wikpedia.com o verbete sobre o autor.

Etimologicamente, comunicação provém do verbo communicare, em latim, quese traduz como pôr em comum. Para nos humanizarmos, necessitamos compartilharpensamentos, sentimentos, desejos, idéias, regras sociais, entre outros.

Para refletir sobre essa idéia, leia a história das meninas-lobo:

“Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos,descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de umafamília de lobos.

A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, deoito anos de idade, viveu até 1929. não tinham nada de humano e seucomportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro patas, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos paraos pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.

Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua oupodre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para frente elambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o diaacabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite,procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.

Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-selentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrersó tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.

Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegoulentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.

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A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos,inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo aexecutar ordens simples.

(REYMOND, B. Le développement social de l’enfant et de l’adolescent. Bruxelas:Dessart, 1965, p.12-14, apud CAPALBO, C. Fenomenologia e ciências humanas. Riode Janeiro: J. Ozon., p.25-26.)

Saiba mais - Divirta-se: sugestões de filmesHá outros filmes que mostram essa idéia da necessidade humana de se comunicarpara que ocorra o processo de humanização: O enigma de Kasper Hauser, Nell,Guerra do Fogo.

Que tal se divertir um pouco nos finais de semana?!- O enigma de Kasper Hauser- Guerra de Fogo

Para pensar - TarzanFicha técnica

Título Original: TarzanGênero: AnimaçãoTempo de Duração: 88 minutosAno de Lançamento (EUA): 1999Site Oficial: http://disney.go.com/DisneyPictures/tarzan/index.htmlEstúdio: Walt Disney Pictures / Edgar Rice Burroughs Inc.Distribuição: Walt Disney Pictures / Buena Vista PicturesDireção: Chris Buck e Kevin LimaRoteiro: Tab Murphy, Bob Tzudiker e Noni White, baseado em livro de Edgar RiceBurroughsProdução: Bonnie ArnoldMúsica: Mark MancinaDireção de Arte: Dan St. PierreEdição: Gregory Perler

O que é mais factível: a história real das crianças indianas ou a ficção de Tarzan?. Alinguagem somente pode ser adquirida sob condições sócio-culturais específicas ouela é inata a todos nós com “prova” Tarzan?

REYMOND, B. apud CAPALBO, C. Fenomenologia e Ciências Humanas. Rio.

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A comunicação nasce para enredar os homens, para livrá-los da solidãoinvoluntária, para favorecer o processo de conhecimento de si, do outro e do mundo.Entretanto, será que podemos chamar de progresso a esse processo que vem nosassolando, sobretudo com o que tem sido feito das novas descobertas tecnológicas, dosmeios de comunicação atuais? Ouça a música dos Titãs e pense sobre isso.

Homem primataDesde os primórdiosAté hoje em diaO homem ainda fazo que o macaco faziaeu não trabalhava, eu não sabiaque o homem criava e também destruía

Homem primataCapitalismo Selvagem

Ôô ô

Eu aprendia vida é um jogocada um por sie Deus contra todosvocê vai morrer,e não vai pro céué bom aprender,a vida é cruel

Saiba mais - TitãsTitãs - Os Titãs fizeram parte da geração 80 do rock nacional e ao contrário dagrande maioria dos seus contemporâneos, mantêm-se atuais e atuantes.

Com letras pouco comuns, irônicas e de um protesto implícito contra as convençõesda sociedade, em Cabeça Dinossauro, a banda encontra o seu estilo mais primitivo,associando guitarras distorcidas, beats tribais e eletrônicos além das letras queentrariam para a história da música nacional.

Homem primataCapitalismo SelvagemÔô ô

Eu me perdi na selva de pedraEu me perdi, eu me perdi

“I’m a cave mana young man

I fight with my hands(with my hands)

I am a jungle man,a monkey manConcrete jungle!Concrete jungle!!

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Formação atual:• Paulo Miklos - Vocal, sax• Branco Mello - Vocal• Sérgio Britto - Vocal, teclados• Marcelo Fromer - Guitarra• Toni Belloto - Guitarra• Nando Reis - Baixo, vocal• Charles Gavin – Bateria

Também fizeram parte dos Titãs:• Arnaldo Antunes - Vocal, desde o àlbum Titãs até Tudo ao mesmo tempo agora.Segue carreira solo.• André Jung - Bateria, no álbum Titãs

Discografia:• Titãs (1984)• Televisão (1985)• Cabeça Dinossauro (1986)• Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987)• Go Back (1988)• Õ Blésq Blom (1989)• Tudo ao mesmo tempo agora (1992)• Titanomaquia (1993)• Titãs 84-94 (1994)• Domingo (1995)

É fato que tanto a ciência quanto a tecnologia surgiram para servir o homem.Há, no fundo de cada invenção humana, um desejo.

Provavelmente, no fundo das descobertas realizadas na área das novastecnologias, uma vontade humana de criar uma comunidade mundial, capaz de trazero diálogo, capaz de proporcionar ao homem o seu entendimento com os outroshomens. Todavia, parece que estamos passando ao largo dessa vontade humana.

Leia um trecho do livro de Milton Santos sobre a globalização. Segundo oautor, presenciamos, hoje, a época da tirania da informação e da tirania do dinheiro.Portanto, vivenciamos uma globalização perversa : o globaritarismo.

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Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática dacompetitividade, são a mentira, com o nome de segredo da marca; o engodo, com onome de marketing; a dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. Éuma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e aglorificação da avareza, negando a generosidade. Desse modo, o caminho fica abertoao abandono das solidariedades e ao fim da ética, mas também, da política. Para otriunfo das novas virtudes pragmáticas, o ideal de democracia plena é substituído pelaconstrução de uma democracia de mercado, na qual a distribuição do poder é tributáriada realização dos fins últimos do próprio sistema globalitário. Estas são as razões pelaquais a vida normal de todos os dias está sujeita a uma violência estrutural que, aliás, éa mãe de todas as outras violências. (SANTOS, 2001: 61)

Veja este link www.espacoacademico.com.br.

Saiba mais - Milton SantosMilton Santos – Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia,em 1926. Os pais, professores primários, alfabetizaram-no em casa. Aos 8 anos, jáhavia concluído o equivalente ao curso primário. Neto de escravos por parte de pai,foi incentivado a estudar sempre e muito.Milton Santos escreveu mais de quarenta livros em diversas línguas, sua obra é umareferência para todos os que pretendem compreender de maneira crítica o mundoatual. Um pensador otimista, antes de mais nada, que conseguiu distinguir o novo danovidade, conceitos que ele diferenciava radicalmente. Um geógrafo sério ecombativo, não poupou ninguém de suas severas críticas.

Saiba mais - Sobre pontos positivos da globalização:http://www.espacoacademico.com.br/037/37pra.htm

Compreendemos que a comunicação, por meio da linguagem, é  responsávelpela transmissão das idéias, pensamentos, valores, de geração a geração, ou seja, acomunicação é responsável pela cultura.

Saiba mais - CulturaCultura é conceito de múltiplas definições. A cultura pode ser aqui entendida como omodo pelo qual os indivíduos ou comunidades respondem às suas necessidades edesejos simbólicos.

Assim, a cultura, em sentido amplo, engloba a língua que falamos, crenças, costumes,códigos, instituições, ferramentas, arte, religião, ciência, enfim, toda as esferas daatividade humana.

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Todas as atividades básicas, como reprodução e alimentação, são realizadas deacordo com regras, usos e costumes de cada cultura particular.

Os rituais de namoro e casamento, os usos referentes à alimentação (o que se come,como se come), o preparo dos alimentos, o tipo de roupa que vestimos, as palavrasde nosso vocabulário, tudo isso é convencionado pela cultura à qual pertencemos.

A cultura torna a vida segura e contínua, confere coesão para as pessoas.

Pesquise exemplos de hábitos de culinária, vestimenta, de comportamentos de outrasculturas.

2a. Atividade em aulaVocê já reparou como é difícil estabelecer a comunicação até nas mais simples

situações da vida cotidiana? Você já vivenciou problemas de comunicação?(Escreva sua opinião. Registre alguma experiência sua que constate essa idéia).

Para aprofundar sua reflexão, leia, agora, dois textos, um verbal e outro nãoverbal - que mostram, de uma maneira bastante lúdica, essa terrível dificuldadehumana de se comunicar.

Cometa HalleyDe: Diretor PresidentePara: GerenteNa próxima sexta-feira, aproximadamente às 17 horas, o Cometa Halley estará

nesta área. Trata-se de um evento que ocorre somente a cada 78 anos. Assim,porfavor, reúnam os funcionários no pátio da fábrica, todos usando capacete desegurança, quando explicarei o fenômeno a eles. Se estiver chovendo não poderemosver o raro espetáculo a olho nu, sendo assim todos deverão se dirigir ao refeitórioonde será exibido um filme documentário sobre o Cometa Halley”.

De: GerentePara: SupervisorPor ordem do Diretor Presidente, na sexta-feira às 17 horas, o Cometa Halley

vai aparecer sobre a fábrica, se chover,por favor, reúna os funcionários, todos decapacete de segurança e os encaminhe ao refeitório,onde o raro fenômeno terá lugar,o que acontece a cada 78 anos a olho nu”.

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De: Supervisor Para:Chefe de SegurançaA convite de nosso querido Diretor, o cientista Halley, 78 anos, vai aparecer nu no

refeitório da fábrica, usando capacete, pois será apresentado um filme sobre o problemada chuva na segurança. O Diretor levará a demonstração para o pátio da fábrica”.

De: Chefe de SegurançaPara: MestreNa sexta-feira, às 17 horas, o Diretor, pela primeira vez em 78 anos, vai

aparecer no refeitório da fábrica, para filmar o Halley nu, o cientista famoso e suaequipe, todo mundo deve estar lá e de capacete, pois vai ser apresentado um showsobre a segurança na chuva. O Diretor levará a banda para o pátio da fábrica”.

De: MestrePara: FuncionárioTodo mundo nu, sem exceção, deve estar com segurança no pátio da fábrica na

próxima sexta-feira às 17 horas, pois o manda chuva (Diretor), e o Sr.Halley,Guitarrista famoso, estarão lá para mostrar o raro filme “Dançando na Chuva”. Casocomece a chover mesmo, é para ir para o refeitório de capacete na mesma hora. Oshow será lá. O que ocorre a cada 78 anos”.

Aviso para todosNa sexta-feira, o chefe da diretoria vai fazer 78 anos e liberou geral para a festa

às 17 horas no refeitório. Vai estar lá, pago pelo manda-chuva,Bill Halley e seusCometas. Todo mundo deve estar nu e de capacete, porque a banda é muito louca eo rock vai rolar solto no pátio, mesmo com chuva”.

Há vários elementos que envolvem a comunicação:Emissor: é quem transmite a mensagem.Receptor: é quem recebe a mensagem.Canal: é o contato ou meio físico, o veículo pelo qual a mensagem é levada do

emissor ao receptor.Código: é o conjunto de signos e suas regras de combinação.Referente: é o assunto da comunicação, o conteúdo da mensagem.Mensagem: é tudo que o emissor transmite ao receptor, é o objeto da

comunicação. A comunicação realiza-se quando os elementos funcionamadequadamente.

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O homem dispõe dos mais variados sistemas de comunicação, por isso éconsiderado um animal comunicativo por excelência. Entretanto, é necessárioreconhecer que os animais também possuem comunicação.

As abelhas, por exemplo, comunicam-se por meio da dança para apontar ondeestá o alimento e a que distância. Os símios possuem 15 a 20 gritos diferentes dealarme, comando e inquietação, enquanto os chimpanzés têm 32.

As borboletas atraem o macho pelos odores emitidos. Entre os gafanhotos, afêmea é atraída pelos odores do macho.

Aliás, segundo as novas pesquisas, nós dividimos o planeta com vários outrosanimais pensantes.

Saiba mais - Pesquise Zoológico de GêniosPesquise a matéria que saiu na Revista Superinteressnate, com o título “Zoológico degênios”, de janeiro de 2000.

Sabemos que não é possível comunicação sem linguagem, sem um sistema desímbolos, sem uma língua, sem um dialeto falado ou escrito, sem gestos, expressõesfaciais, corporais etc.

No contexto comunicacional, a linguagem verbal é aquela que se faz por meiodo verbo, da palavra e pode ser falada ou escrita. Já a linguagem não verbal é aque se faz sem verbo, sem palavra, portanto ocorre por meio de gestos, sons, cores,formas, expressões corporais etc.

Pesquisas apontam que a eficácia da comunicação é maior com a linguagem nãoverbal. É muito interessante aprender detalhes dessa comunicação não verbal, por meioda surpreendente leitura do livro: O corpo fala, de Pierre Weil e Roland Tompakow.

Saiba mais - O corpo fala, de Pierre Well e Roland TompakowO livro busca desvendar a comunicação não-verbal do corpo humano. Analisa, emprimeiro lugar, os princípios subterrâneos que regem e conduzem o corpo.Apresenta a possível significação de alguns gestos e posturas que as pessoas, emgeral, apresentam nas várias situações de comunicação, tanto em encontrosamorosos, quanto em reuniões empresariais, enfim na vida pessoal e profissional.

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A questão é que nem sempre o significado das expressões é universal. Por exemplo,balançar a cabeça, na maior parte dos países do Ocidente, significa não, mas, naGrécia, Bulgária, Turquia, Irã significa sim. O sinal de OK, nos EUA, significa que algoestá ótimo; no Brasil, Rússia e Turquia, é sinal obsceno; no Japão, significa dinheiro,moeda; na Turquia, homossexualidade.Mas não deixe de conhecer esse livro que poderá ajudá-lo tanto na vida pessoalquanto na vida profissional.

Vamos, agora, compreender um pouco da linguagem verbal?Qualquer tipo de linguagem desenvolve-se por meio de um código de

comunicação. No caso da linguagem verbal, o código é a língua. A título dediferenciação, a linguagem tem caráter universal, a língua tem caráter particular. Nonosso caso, a língua é portuguesa.

No processo de comunicação verbal, há a linguagem oral e a linguagem escrita.A língua é a mesma, mas a forma de expressá-la difere.

A língua falada pressupõe contato direto com o falante, o que a torna maisconcreta, mais espontânea, sem preocupação gramatical. O vocabulário é maisrestrito e está em constante renovação.

A língua escrita pressupõe contato indireto, o que a torna mais abstrata, maisrefletida, exige esforço de elaboração e obediência às regras gramaticais, vocabulárioapurado. Há preocupação com regência, colocação, clareza das construçõessintáticas.

Originalmente, só havia língua falada. Primeiro, surgiram as vogais; depois, asconsoantes. A escrita apareceu depois em estágios avançados da civilização e, com otempo, ganhou prestígio.

LínguaGosto de sentir a minha língua roçarA língua de Luís de CamõesGosto de ser e de estarE quero me dedicarA criar confusões de prosódiaE um profusão de paródiasQue encurtem doresE furtem cores como camaleõesGosto do Pessoa na pessoaDa rosa no RosaE sei que a poesia está para a prosaAssim como o amor está para a amizadeE quem há de negar que esta lhe é superiorE quem há de negar que esta lhe é superior

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E deixa os portugais morrerem à mínguaMinha pátria é minha línguaFala MangueiraFala!

Flor do Lácio SambódromoLusamérica latim em póO que quero que podeEsta língua

Vamos atentar para a sintaxe paulistaE o falso inglês relax dos surfistasSejamos imperialistasCadê? Sejamos imperialistasVamos na velô da dicção choo de Carmem MirandaE que o Chico Buarque de Hollanda resgateE Xeque-mate, explique-nos LuandaOuçamos com atenção os deles e os delas da TV GloboSejamos o lobo do lobo do homemSejamos o lobo do lobo do homemAdoro nomesNomes em ÃDe coisa como rã e ímã...Nomes de nomes como Scarlet Moon ChevalierGlauco Mattoso e Arrigo Barnabé, Maria da FéArrigo Barnabé

IncrívelÉ melhor fazer uma cançãoEstá provado que só é possível filosofar em alemãoSe você tem uma idéia incrívelÉ melhor fazer uma cançãoEstá provado que só é possívelFilosofar em alemãoBlitz quer dizer coriscoHollywood quer dizer AzevedoE o recôncavo, e o recôncavo, e o recôncavo

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Meu medo!A língua é minha PátriaE eu não tenho Pátria: tenho mátriaEu quero frátria

Poesia concreta e prosa caóticaÓtica futuraSamba-rap, chic-left com bananaSerá que ele está no Pão de AçúcarTá craude brô, você e tu lhe amoQué que’u faço, nego?Bote ligeiroNós canto falamos como quem inveja negrosQue sofrem horrores no Gueto do HarlemLivros, discos, vídeos à mancheiaE deixa que digam, que pensem,que flem.

Saiba mais - Caetano VelosoCaetano Veloso - nasceu em Santo Amaro da Purificação, BA, em 07 de agosto de1942, é um célebre inventor da arte musical brasileira, retirando sons, gestos epalavras do mais árido território, capaz de traduzir o concreto, a dor, um jeito, umapaisagem ou pessoa na mais variada e sutil percepção da existência.Revolucionário em sua poesia, o compositor nos presenteia com fraseados sonorosque mobilizam nossa alma, mostrando-nos a importância não somente de estarmosvivos como também de que lutarmos pela vida. Caetano renova a linguagem artística,poetizando sons de timbres desconexos, afirmando sua capacidade de mostrar aspossibilidades da música de provocar a fruição estética.

Viaje no site:http://www.mpbnet.com.br/musicos/caetano.veloso/

Saiba mais - Linkhttp://www.ideogramas.hpg.ig.com.br

Leia mais: Fernando Pessoa - Mensagem

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Para Saussure (1977), a língua é um sistema de signos, um conjunto depotencialidades e de virtualidades dos atos da fala. A fala, ou discurso,constitui ato devontade e inteligência, no qual se distinguem as combinações pelas quais o falanterealiza o código da língua com o objetivo de exprimir seu pensamento pessoal.

Câmara Júnior (1977,p.159) define a linguagem como a “faculdade que tem ohomem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocaischamado língua, que os organiza numa representação compreensiva em face domundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior”.

Para o autor, “a língua fica sendo, como unidade, uma estrutura ideal, queapresenta em si os traços básicos comuns a todas as suas variedades. É a invarianteabstrata e virtual, sobreposta a um mosaico de variantes concretas atuais”.

Concluímos, assim, que existe a Língua Portuguesa, como sistema lingüístico, etambém suas variantes: o português de Portugal, da África, do Brasil. Dentro doBrasil, há as variantes determinadas por fatores geográficos, sociais, situacionais,profissionais etc. – assunto que abordaremos na próxima aula.

Saiba mais - Ferdinand SaussureFerdinand Saussure nascido em Genebra, Suíça, em 1857, foi um dos mais engajadoslingüistas de nossa história.

Estudou em Leipzig, Alemanha,escola onde os chamados “novos gramáticos”estavam renovando os métodos da gramática comparada.

Saussure dedicou sua vida ao estudo e o ensino do sânscrito (antiga língua sagrada eliterária da Índia, pertencente ao grupo Indo-Europeu), gramática comparada e, nosúltimos anos de sua vida, lingüística geral.

Saiba mais - Câmara JúniorCâmara Júnior (1977,p.159) define a linguagem como a “faculdade que tem ohomem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocaischamado língua, que os organiza numa representação compreensiva em face domundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior”.Joaquim Mattoso Câmara Jr. foi pioneiro da lingüística e do estruturalismo no país.

Teve importante papel nos estudos de lingüística geral e da história dessa ciência.Instaurou no Brasil o estruturalismo, doutrina que marcou as ciências humanas a partir dadécada de 1960 e que se propunha a compreender uma totalidade (no caso, a língua)como estrutura definida pela relação funcional entre seus elementos constituintes.

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Publicou o primeiro compêndio de lingüística da língua portuguesa nos anos 1940.Em uma época em que o português de Portugal orientava os estudos lingüísticos, elesistematizou a língua falada no Brasil.

Fundou o primeiro programa de pós-graduação em lingüística do país e criou o primeirocurso de línguas indígenas no Rio de Janeiro -onde nascera a 13 de abril de 1904.http://www2.uol.com.br/cienciahoje/perfis/mattoso/mattoso1.htm

3a. Atividade em aulaPense no seguinte: como seria sua vida sem a linguagem?

Após a leitura atenta e a interpretação dos textos anteriores, você deve refletir eescrever. Escrever é uma maneira de se posicionar no mundo, de assumir um compromissoconsigo mesmo acerca do que  pensa, do que  sente, do que acredita, do que faz.

Agora, é o seu momento de expressão.Escreva um texto que expresse suas idéias sobre a comunicação e  linguagem

ou sobre a ausência delas.

Síntese da aula de hojeNesta aula, você reelaborou seu conceito de comunicação e linguagem.

Isso só foi possível por meio da leitura, dos diversos textos, das múltiplaslinguagens (verbais e não verbais), que se entrecruzaram em seu pensar e lhepermitiram ressignificar seu conhecimento e agregar fios ao seu tecido cultural.

Próxima aulaNo próximo encontro, que tal mergulharmos um pouco mais na nossa cultura

para percebermos as diferentes formas de nos comunicarmos?

Nosso próximo assunto são as diferentes variações da Língua Portuguesa. Comofala o mineiro? Como se expressa o paulista?

Até a próxima.

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Aula 04 - Variações Lingüísticas - 1a. parte

Na aula de hoje e na próxima, você deverá perceber que uma língua (idioma) seconstitui de um sistema de representação de sinais ou signos de um povo e suacultura. É uma convenção social, portanto, arbitrário.

A língua é dinâmica, muda, transforma-se através do tempo e sofre variaçõespor outras razões também que estudaremos.

Isso significa que, quando escrevemos, o texto deve considerar o público-alvo, eadequar-se à situação.

Uma língua não funciona apenas como meio de comunicação, mas tambémcomo elemento básico de coesão social, pois se constitui no elo comum de milhõesde indivíduos, dando-lhes consciência de que pertencem a uma comunidade.

Isso não significa, no entanto, que todos os falantes de uma língua utilizem-na demaneira rigorosamente uniforme. Existe um grande número de fatores (como aidade, o grupo social, o sexo, o grau de escolaridade etc.) que interferem na maneiraindividual de que o falante tem de expressar-se.

A esse fato damos o nome de variações lingüísticas.

Variação histórica1o. Texto (original, 1536)

Resumidamente podemos considerar a existência de três tipos gerais de variações:“A lingoagem e figura do entendimento (...) os bos falão virtudes e os maliciosos

maldades (...) sabe falar os q etede as cousas: porq das cousas naçe as palauras e nãodas palauras as cousas.”

Fernão de Oliveira

Saiba mais - Fernão de OliveiraFernão de Oliveira nasceu em Aveiro, Portugal, em 1507. Homem superior pela suacapacidade intelectual, padre ou soldado, aventureiro em vários países católicos ou não,crítico das mentalidades tradicionais. Foi preso pela Inquisição em 1547, regressando àliberdade em 1551, bastante doente. Figura singular que corporiza um espíritoabrangente de verdadeiro homem do Renascimento. Morreu cerca de 1581. Da suanotável produção literária, escreveu a famosa Gramática da Linguagem Portuguesa.

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2o. Texto (atualizado)A linguagem é figura do entendimento (...) os bons falam virtudes e os maliciosos,

maldades (...) sabem falar os que entendem as coisas: porque das coisas nascem aspalavras e não das palavras as coisas.

Como se pode notar, ocorreram várias modificações. Essas variações se devem ao fatode que as línguas se alteram com o passar do tempo. As alterações ocorrem tanto na grafiaquanto no sentido de muitas palavras. Além disso, surgem palavras novas (neologismos),enquanto outras vão deixando de ser usadas (arcaísmos), até desaparecerem.

A esse processo contínuo de modificação de uma língua através do tempo(diacronia) damos o nome de variação histórica.

1a. Atividade em aulaVimos que a língua constitui um processo dinâmico, apresentando modificações

ao longo do tempo, denominadas variações históricas.

Leia atentamente a crônica a seguir:AntigamenteAntigamente, as moças chamavam-se ‘mademoiselles’ e eram todas mimosas e

muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Osjanotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, masficavam longos meses debaixo do balaio.

E, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outrafreguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, enão caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiamcom quantos paus se faz uma canoa.

O que não impedia que, nesses entrementes, esse ou aquele embarcasse emcanoa furada. Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava, dando às devila-diogo. Os idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; etambém tomavam cautela de não apanhar sereno.

Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo,chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de poucosiso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira quedessem com os burros n’água.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: JoséOlympio, 1971, p.3

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Você observou que a crônica Antigamente, de Carlos Drummond de Andradefoi elaborada com uma linguagem também de antigamente, isto é, o autor utilizou,em tom humorístico, palavras que já não são mais empregadas correntemente hoje.

A essas palavras, dá-se o nome de arcaísmos. Além de palavras, foram usadasfrases feitas e expressões que também não são mais empregadas atualmente. Procureexplicar o significado das seguintes expressões presentes no texto e registre em seucaderno. Se for necessário consulte seus pais, seus avós ou pessoas idosas.

a) fazer pé-de-alferesb) arrastar a asac) ficar debaixo do balaiod) levar tábuae) tirar o cavalo da chuvaf) pregar em outra freguesiag) embarcar em canoa furadah) passar manta e azulari) dar às de vila-diogoj) fazer o quilok) meter-se em camisa de onze varas

Variação geográfica1o. Texto

“- Te deita no divã, tchê – disse o analista de Bagé.- Pra quê? – quis saber o paciente, desconfiado.- Oigalê bicho bem xucro – disse o analista com uma risada agradável, enquanto

torcia o braço do outro e obrigava-o a se deitar.”(Luís Fernando Veríssimo. O analista de Bagé. Porto Alegre: L&PM, 1982)

Saiba mais - Luís Fernando VeríssimoLuís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre.Filho do grande escritor Érico Veríssimo. Morou e estudou nos EUA na juventude.Jornalista, iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, em 1966.Participou também da televisão, criando quadros para o programa “Planeta dosHomens”, na Rede Globo e, mais recentemente, fornecendo material para a série“Comédia da Vida Privada”.Sua produção literária é extensa e diversificada. É considerado por muitos “umafábrica de fazer humor”.

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2o. Texto“- Fale sobre sua vida aqui.- Eu vivi questão de 34 anos prá trás mesmo, indês que eu nasci. Eu interei im

vida, indês que eu nasci, vivo bem graças a Deus, pessoas boa. Falá aqui, dinheiro nãoé nada, mais a gente usa é dinheiro, né? Nunca sobro.”

(Mariza T. Costa Vilefort. Aspectos sintáticos do dialeto caipira da região deMorrinhos. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 1985)

Você observou alguns registros da língua portuguesa, nos quais se percebemdiferenças regionais bem marcadas. O primeiro trecho apresenta características do falardo Rio Grande do Sul e o segundo registra a fala de um habitante da zona rural de Goiás.

Dependendo de onde o falante vive durante um certo tempo, ele tem umapronúncia característica. A essa maneira particular que os falantes de uma região têmde pronunciar as palavras e as frases dá-se, comumente, o nome de sotaque:sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc.

De região para região do país, observam-se formas distintas de falar. Taisvariações podem ser identificadas no aspecto sonoro (pronúncia), no vocabulário,bem com certas estruturas de frases e nos sentidos particulares atribuídos adeterminadas palavras e expressões. A esse tipo de diferenças na língua dá-se o nomede variação geográfica.

Essas variações lingüísticas ocorrem num plano horizontal da língua, isto é entreas comunidades lingüísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos,provenientes de dialetos ou falares locais.

Suas manifestações são contidas na comunidade por uma língua padrão que,sendo geralmente compreendida e aceita, nivela as diferenças regionais.

As variações geográficas conduzem a uma oposição fundamental: linguagemurbana / linguagem rural. A primeira cada vez mais próxima da linguagem padrãoda comunidade, pela ação decisiva que recebe dos fatores culturais (escola, meios decomunicação de massa, literatura). A segunda mais conservadora e isolada,extinguindo-se gradualmente com a chegada da civilização.

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Noturno de Belo Horizonte[...]Que importa que uns falem mole descansadoQue os cariocas arranhem os erres na gargantaQue os capixabas e paroaras escancarem as vogais?Que tem si os quinhentos réis meridionalVira cinco tostões do Rio pro norte?Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,Brasil, nome de vegetal!...

Mário de Andrade

Saiba mais - Mário Raul de Morais AndradeMário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo, a 9 de outubro de 1893.Depois do curso secundário, ingressa no Conservatório Dramático e Musical.Formado, passa a viver do magistério particular e na própria escola em que sediplomara (História da Música). Em 1917, publica Há uma gota de sangue em cadapoema, inspirado na primeira Grande Guerra.

Alinhando-se entre os que pregam moldes estéticos renovadores, torna-sepraticamente o guia de sua geração, e, em consonância com esse papel orientador,exerce múltipla e ininterrupta atividade intelectual.

Entre 1934 e 1937, dirige o Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de SãoPaulo, onde realiza um trabalho verdadeiramente pioneiro. Faleceu na cidade natal, a25 de fevereiro de 1945. Deixou obra variada – que reflete uma curiosidadediversificada e um talento polimórfico, sem par em nosso Modernismo – reunidadeem dezenas de volumes, publicados desde 1944.

2a. Atividade em aulaLeia o texto da música caipira a seguir:

Chico MineiroFizemu a úrtima viagiFoi lá pru sertão de GoiásFui eu I U Chicu MineruTamém foi u capataisViagemu u di ‘interupra chega im Oru Finu

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Aondi nóis passemu a noitinuma festa du DivinuA festa tava tão boaMais antis num tivesse iduo Chicu foi baliadu

pr’um homi discunhicidulargueI di comprá boiadamataru u meu companheruAcabô-si um som da violaacabo-si u Chicu MineruDispois daquela tragédiaFiquei mais aburreciduNum sabia da nossa amizadepois nóis dois éramu uniduQuanu vi seus documentumi cortô meu coraçãovim sabê qui u Chicu MineruEra meu ligítimu irmão.

Considere-se um repórter. Construa um texto para seu jornal, relatando ahistória contada na música, utilizando-se da norma culta. Escreva em seu caderno.

Variação socioculturalVício na fala

Para dizerem milho dizem mioPara melhor dizem mioPara pior pióPara telha dizem teiaPara telhado dizem teiadoE vão fazendo telhados(Oswald de Andrade)

Você deve ter observado que o poema coloca em contraste palavras usadas porfalantes de diferentes graus de cultura ou níveis socioculturais. A comparação entre aspalavras permite-nos concluir, portanto, que as variações lingüísticas também podemser determinadas por fatores ligados diretamente ao falante ou à situação(contexto), ou a ambos simultaneamente. As variações socioculturais ocorremnum plano vertical, isto é, dentro da linguagem de uma comunidade específica(urbana ou rural). São variações denominadas de dialetos sociais.

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Saiba mais - José Oswald de SouzaJosé Oswald de Souza nasceu em São Paulo, a 11 de janeiro de 1890. Em 1912, viajapara Europa, ocasião em que conhece o Futurismo. Em 1917, forma-se pelaFaculdade de Direito de São Paulo, trava amizade com Mário de Andrade e DiCavalcanti, e com eles faz planos de renovação literária. Instalada a Semana de ArteModerna, em 1922, torna-se o principal dinamizador do movimento, e até o fimmantém a flama de revoltado e irreverente.

Em 1931, adere ao Comunismo, mas dele se afasta em 1945. Faleceu em a 22 de outubrode 1953, na cidade natal. Escreveu poesias, romances, ensaios, teatro e memórias.

Da sua produção literária, destaque para Memórias Sentimentais de João Miramar(1924), Pau-Brasil (1925), Serafim Ponte Grande (1933), O Rei da Vela (1937),Poesias Reunidas (1945).

3a. Atividade em aulaLeia o texto a seguir e analise-o quanto ao nível da fala. Explique a relação que

há entre a variação lingüística e o grupo social ao qual o falante pertence.

O pitoresco na JustiçaNum de seus depoimentos na Justiça, Zé da Ilha, “o saudoso”, prestou as

seguintes declarações:“- Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi

esquiar e caçar uma outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meulinho no sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei porcentavos um embrulhador.

Quando, então vi as novas do embrulhador, plantado como um poste bem naquebrada da rua, veio um pára-quedas se abrindo. Eu dei a dica, ela bolou. Eu fiz apista, colei. Colei, ela bronquiou. Eu chutei. Bronquiou mas foi na despista, porque,muito vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando.Morando na jogada, o Zezinho aqui ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou aamarração, dando a maior sugesta na recortada.

Manobrei e procurei engrupir o pagante, mas, sem esperar, recebi um cataplumno pé do ouvido. Aí dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça, umamuquecada nos amortecedores e taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança, pondo-o por terra. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai, muitorápido, virou pulga, pois o vermelho não combinava com a cor do meu linho. Nãotenho vocação pra presunto e corri.

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Entrei no china pau e pedi um boi à Moçoró com confete de casamento e umabarriguda bem morta. Pedi ao caixa pra botar na pindura e ia me pira quando o suecoapareceu pra me esculachar. Eu sou preto mas não sou gato Félix, me queimei epuxei a soligem. Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América.Aproveitei a confusa pra me pira, mas um dedo-duro me apontou aos xipófagos e,por isso, estou aqui.”

Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1959.

Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, vimos que uma língua sofre variações provocadas por fatores

históricos, geográficos e socioculturais.

Próxima aulaNa próxima aula, vamos explorar as variações lingüísticas ligadas ao falante e à

situação ou contexto em que se comunica.

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Aula 05 - Variações Lingüísticas - 2a. parte

Para ilustrar e resgatar o que vimos na aula passada sobre os fatores queprovocam variações lingüísticas, click no ícone indicado e observe o esquemaelaborado pelo professor Dino Preti, em sua obra Sociolingüística: os níveis da fala.

Você percebeu, ao analisar o quadro acima, que variações devidas ao falante são:

a) idadeAs variações devidas às faixas etárias se limitam muito mais ao vocabulário e

nem sempre são fáceis de surpreender. Modernamente, fala-se muito de uma“linguagem jovem”, entendendo-se como tal um vocabulário gírico, mais empregadopelos indivíduos dessa faixa etária.

b) sexoDe acordo com a comunidade, a oposição linguagem do homem / linguagem

da mulher pode determinar diferenças sensíveis, em especial no campo dovocabulário, devido a certos tabus morais (que geram tabus lingüísticos). Essaoposição, no entanto, vem perdendo, gradativamente, sua significação, em especialnas grandes cidades, onde os meios de comunicação de massa e a transformação doscostumes e padrões morais (atividades exercidas pela mulher fora do lar, novasprofissões, condições culturais como, por exemplo, os movimentos feministas etc.)têm exercido um papel nivelador importante.

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c) raça (ou cultura)São as variações ligadas a fatores etnológicos. São sensíveis essas influências nos

falantes que residem em zonas de maior imigração negra.

d) profissãoA profissão atua decididamente no campo dos registros técnicos ou profissionais

em que os falantes utilizam um vocabulário condizente com a sua atividade. Sãoexemplos o vocabulário dos vendedores ambulantes, dos médicos, dos advogados,dos militares, dos políticos etc.

e) posição socialO status do falante também exige dele um cuidado especial com a linguagem,

freqüentemente com a finalidade de ser distinguido dentro do grupo em que atua.Podemos dizer, feitas as devidas ressalvas, que cada posição social tem a sualinguagem. Um político, um chefe de Estado, um dirigente industrial, um executivo,assim como um bancário ou um operário não têm, via de regra, o mesmo nível delinguagem, embora possam conviver diariamente na comunidade em que atuam.

f) grau de escolaridadeCompare estas duas maneiras de articular o pensamento utilizadas por falantes

em situações diferentes:

1. Se você ver o professor, diz pra ele que eu quero falar com ele.2. Se você vir o professor, diga-lhe que quero falar-lhe.

A concisão, a economia lingüística e o uso das formas cultas da segunda frasefazem um bom exemplo de domínio da língua (uso do futuro irregular do verbo ver,emprego da ênclise e dos pronomes oblíquos, além da forma de 3ª pessoa doimperativo).

Não há dúvida de que só a freqüência à escola possibilita ao falante dominar taisformas, ausente da linguagem vulgar.

g) local em que resideNão nos referimos a diferenças causadas por influência regional, mas apenas a

variações de hábitos dentro de uma mesma comunidade, às vezes ditadas pordiferenças de áreas urbanas (bairros).

O quadro apresentado na página 1 revela também que há variações devidas àsituação ou contexto:

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Compreendem as influências determinadas pelas condições não-verbais quecercam o ato da fala. Assim, a presença física do ambiente em que o diálogo ocorrepode ocasionar um nível de linguagem técnica, formal, fora dos hábitos normais dosfalantes. Da mesma maneira o tema da conversa poderá explicar o emprego devocabulário e estruturas cultas ou vulgares, por exemplo.

Os fatores situacionais não dizem respeito diretamente ao falante,individualmente considerado, mas apenas às circunstâncias criadas pela própriaocasião, lugar e tempo em que as falas se realizam, e também às relações que unemos falantes no momento do diálogo. A propósito do grau de intimidade entre osfalantes, fator importantíssimo na análise das falas.

1a. Atividade em aulaVocê sabe que, às vezes, o falante utiliza um estilo que não é o seu, para

produzir efeitos específicos, que é o que faz o maestro Júlio Medaglia ao escreveruma carta ao jornal Folha de São Paulo, em 4/10/1990.

Massa!Pô Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedaço aqui

na Sampa, quem sabe tu te anima e acha aí um point pra bota o nome de MagdalenaTagliaferro, Cláudio Santoro, Jaques Klein, Edoardo de Guarnieri, Guiomar Novaes, Joãode Souza Lima, Armando Belardi e Radamés Gnattali. Esses caras não foi cruner debanda a la “Trogloditas do Sucesso”, mas se a tua moçada não manjar que ele foi dáum “look” aí na Enciclopédia Britância ou no “Groves International” e tu vai saca que oastral do século 20 musical deve muitoa eles.

a) Que grupo social pode ser identificado por este estilo? Transcreva as marcaslingüísticas (palavras ou expressões) presentes no texto, que revelam característicasdesse grupo.

b) O texto contém uma crítica implícita. Qual é, e a quem é dirigida?

Faça em seu caderno.

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2a. Atividade em aulaAs variações geográficas conduzem a uma oposição fundamental: linguagem

urbana / linguagem rural. A primeira cada vez mais próxima da linguagem padrãoda comunidade, pela ação decisiva que recebe dos fatores culturais (escola, meios decomunicação de massa, literatura). A segunda mais conservadora e isolada,extinguindo-se gradualmente com a chegada da civilização.

Noturno de Belo Horizonte[...]Que importa que uns falem mole descansadoQue os cariocas arranhem os erres na gargantaQue os capixabas e paroaras escancarem as vogais?Que tem si os quinhentos réis meridionalVira cinco tostões do Rio pro norte?Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,Brasil, nome de vegetal!...

Mário de Andrade

Síntese da aula de hojeConcluindo: as influências de todos esses fatores que aqui percorremos

rapidamente se entrecruzam e se sobrepõem nas variações de fala, a tal ponto quenem sempre é possível precisar a ação mais direta de um ou de outro. São eles quenos conduzem aos vários registros falados (culto, comum, coloquial, vulgar,profissional etc.), cujos limites nem sempre são precisos.

“Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um velho amadurecidoou um jovem impetuoso na flor da idade; se uma matrona autoritária ou uma amadedicada; se um mercador errante ou um lavrador de pequeno campo fértil...”

Horácio

Saiba mais - HorácioHorácio, poeta latino, viveu entre 66 a.C a 8 a.C., em Roma. É o grande inovador dapoesia latina, na qual introduz novos critérios métricos e uma concepção original dosgêneros literários que cultiva. Passa uns anos azarentos em Roma e Atenas até quepôde gozar, como Virgílio, da proteção de Mecenas, que lhe oferece uma casa decampo onde vive livre de cuidados. Entre suas principais obras, as Odes são a suaobra-prima. Os temas que nelas trata são a expressão lírica da própria vida. A maisconhecida é a Arte Poética, em que expõe uma série de conselhos para a criaçãoliterária.

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Aula 06 - O texto e suas modalidades

Na aula de hoje, você deverá diferenciar um texto dissertativo, de um narrativoe de um descritivo; conhecer suas características e utilizá-los adequadamente.

Deverá reconhecer, ainda, o verbo “haver”, impessoal e empregá-locorretamente no texto.

A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido,entrelaçamento”. Há, portanto, uma razão etimológica para você associar a palavratexto à ação de tecer, de entrelaçar unidades e partes a fim de formar um todointer-relacionado. Releia o poema “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto,na página 2, da Aula 3 e perceba ação de tecer na linguagem.

Saber construir textos é uma maneira de ser autor tanto da história individualquanto da coletiva.

Existem muitas modalidades textuais, todas elas se valem de processos decomposição, que variam conforme as intenções do autor, podendo ser classificadasem três tipos básicos: narração, descrição e dissertação. Você estudarádetalhadamente cada uma dessas modalidades nas próximas aulas.

Leia, atentamente, os trechos a seguir e compare-os:

1o. Texto“Todas as noites, depois do jantar, a molecada do bairro se amontoava no

portão da minha casa: era a hora negra das histórias dos lobisomens, bruxas, almas-penadas, tinha uma procissão de caveiras que passava à meia-noite, cantando, ôDeus! Como eu tremia...”

(Lygia Fagundes Telles)

Saiba mais - NarraçãoNarrar é contar uma história real, imaginária ou uma mistura de ambas as coisas.

É uma seqüência de fatos (o quê) ocorridos em local (onde) e tempo (quando)determinados, com alguém (quem), de algum modo (como), por algum motivo(por que) que provocam conseqüência (por isso). Quando você narra, convémincluir trechos em que registre a conversa das personagens.

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Na narração, é comum predominarem verbos, pois se caracteriza pela ação e pelaprogressão temporal, por isso é compreendida como um texto dinâmico.

2o. TextoO narrador é um artesão da palavra. Confiante em si, simples e sóbrio nos

gestos, equilibrado na expressão corporal, ele deve conduzir a história comcriatividade. Seus gestos devem ser mágicos, leves e calmos. O tom da voz deve serdefinido, modulado, de acordo com o que conta. A correção da linguagem e a boadicção são características importantes para o contador. Ao contar, deve evitarrepetições ou tiques. Mobilizado pela emoção, sua tarefa é entrar em sintonia com oauditório para poder seduzi-lo.

(Lygia Fagundes Telles)

Saiba mais - DescriçãoDescrever é apontar as características de um ser, pessoa, objeto, ambiente,cena, paisagem, estado de espírito. É explicar como são, como se aparentam, deque são formados.

Permite fazer com que o leitor consiga imaginar, por exemplo, como é uma pessoasem que veja seu retrato, entendendo também seu modo de agir e pensar. O textodescritivo é construído predominantemente por adjetivos que exprimem cor,forma, volume, características, qualidades etc.

É uma modalidade textual considerada estática, uma vez que não é caracterizada pelaação ou progressão temporal.

3o. TextoContar histórias é arte milenar, é necessidade humana. Nasce da tentativa de explicar

tudo o que o homem desconhece. Desde os primórdios, as histórias eram contadas à noitee ao redor do fogo. Há muitos tipos de narrativas para se contar: mitos, fábulas, contos,lendas. Entretanto, o mais importante é deixar que os ouvintes se encantem. Finalmente,narrar é uma forma de criar diálogo com o outro e consigo mesmo.

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Saiba mais - DissertaçãoDissertar é interpretar, explicar, expor, defender idéias por meio deargumentos capazes de comprová-las ou justificá-las. Examinar um assunto, formarum ponto de vista crítico sobre ele, organizar o raciocínio para expressar-se sãohabilidades desenvolvidas na construção do texto dissertativo.

Sua estrutura básica é constituída por: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Ao comparar os três textos, o que você observou em termos desemelhanças e diferenças?

É necessário perceber a estrutura dos textos para compreender com maisclareza, a realidade e, igualmente, encontrar a melhor forma de expressá-la.

1a. Atividade em aulaLeia e analise os trechos a seguir. Classifique-os indicando quais são os do tipo

narrativo, descritivo ou dissertativo e as características de cada um deles:

1o Texto“Quando chegaram em São Paulo, ensacou um pouco do tesouro para comerem e

barganhando o resto na bolsa apurou perto de oitenta contos de réis. Maanape erafeiticeiro. Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou pros manos:

- Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo sem tachaanda de a-pé...

Com esses cobres é que Macunaíma viveu.”ANDRADE, Mário de. Macunaíma. 15ª ed. São Paulo, Martins, 1968. p. 50.

2o Texto“Que aconteceria, entretanto, se se conseguisse dar de repente a todos esses

párias uma moradia condigna, uma vida segundo padrões civilizados, à altura do que seostenta nas grandes avenidas do centro, com seu trânsito intenso, suas lojas dePrimeiro Mundo e seus yuppies esbaforidos na tarefa de ganhar dinheiro?

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Aí está outro aspecto da tragédia. Explica-se: São Paulo é o maior foco demigrações internas, sobretudo do Nordeste; no dia em que as chagas da misériadesaparecessem e a dignidade da existência humana fosse restaurada em suaplenitude, seriam atraídas novas ondas migratórias, com maior força imantadora.Assim, surgiriam logo, num círculo vicioso, outros focos de miséria.”

CASTRO, Moacir Werneck de. Alarma em São Paulo. Jornal do Brasil, 9 mar. 1991.

Saiba maisYuppies: plural de yuppie, palavra de origem americana formada pelas iniciais deyoung urban professional e o final da palavra hippie. A expressão surgiu nos anos80 para caracterizar jovens profissionais de sucesso, com um estilo de vidadescompromissado e burguês, os quais, na maioria, participaram do movimento hippie.

3o Texto“O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 1924, já misturava ao cheiro de estrebaria

algum progresso. Quanto mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio seerguia em vida própria sem que os habitantes pudessem dizer que a transformação osatingia. Os movimentos já se haviam congestionado e não se poderia atravessar umarua sem desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam, enquanto umautomóvel impaciente buzinava lançando fumaça.

Mesmo os crepúsculos eram agora enfumaçados e sanguinolentos. De manhã,entre os caminhões que pediam passagem para a nova usina, transportando madeira eferro, as cestas de peixe se espalhavam pela calçada, vindas através da noite decentros maiores.”

LISPECTOR, Clarice. A cidade sitiada. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982. p. 13

2a Atividade em aulaSobre o tema POLUIÇÃO escreva:

• Um texto descritivo mostrando, um lugar poluído.• Um texto dissertativo apresentando, as causas dessa poluição e que essa

poluição poderia ser evitada.

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Dicas sobre revisão gramaticalEmprego especial do verbo “Haver”

Leia e compare estas duas construções:1. Havia poucas vagas à disposição.2. Existiam poucas vagas à disposição.

O verbo “haver” empregado no sentido de “existir” é impessoal, permanece,portanto, sempre na 3ª pessoa do singular. As orações organizadas com um verboimpessoal não apresentam sujeito.

O verbo “existir”, porém, não é verbo impessoal e deve concordarregularmente com o seu sujeito.

Assim, na frase: “Poucas vagas existem à disposição”, o sujeito do verbo existir é“poucas vagas”.

Compare, agora, estas duas construções:1. Devia haver poucas vagas à disposição.2. Deviam existir poucas vagas à disposição.

Nas locuções verbais, o verbo auxiliar fica na 3ª pessoa do singular, tornando-se, também, verbo impessoal.

Saiba mais - Locução verbalA locução verbal é composta por verbo principal  (sempre em uma das trêsformas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio) e mais verbo auxiliar (ser, estar,ter, haver, dever, poder, fazer...).

Os componentes da locução verbal constituem um todo indivisível, de tal modo queum só deles pode ser entendido como parte.

É pluralidade de forma e unidade de sentido.Exemplos:Comecei a falar lentamente.auxiliar principal(infinitivo)

Estava chovendo muito naquela manhã.auxiliar principal(gerúndio)

Tinha encontrado o caminho certo.auxiliar principal(particípio)

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Saiba mais - Bibliografia de apoio1. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional.2. CUNHA, Celso Ferreira. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Fename.3. LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo.4. MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. São Paulo: Atlas.

3a Atividade em aulaCom base nos conceitos estudados na página 58, corrija as frases incorretas:

1. Haviam apenas trinta alunos para assistir à palestra.2. Existiam muitos professores e poucos alunos na palestra.3. Nunca pensei que houvessem tantos políticos desonestos.4. Em seu trabalho, costuma haver debates acirrados?5. Se existissem marcianos, também poderiam haver lunícolas.6. Sempre haverão guerras entre os homens?7. Que haja mais paz é o que todos desejam!8. Que planos hão de haver para salvar o país?9. Não sabemos se vai haver muitas cassações no Congresso Nacional.10. Há de existir dúvidas quanto à veracidade do depoimento.

Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu o que é um texto narrativo, um texto descritivo

e um texto dissertativo.

Aprendeu, também, como empregar corretamente, no texto, o verboimpessoal “haver”.

Próxima aulaNa próxima aula, estudaremos com mais profundidade o conceito de narração,

o ato de contar histórias. Veremos, também, o emprego de outro importante verboimpessoal.

Até a próxima aula!

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Aula 07 - Narração - O ato de contar

histórias

Na aula de hoje, você aprenderá o que é narrar, os elementos e recursos queenvolvem essa modalidade textual. Assim, será capaz tanto de reconhecer quanto deproduzir um texto narrativo.

Além disso, você saberá empregar adequadamente a classe gramatical quepossibilita o processo narrativo: o verbo e suas transformações, segundo osdiferentes discursos: direto, indireto e indireto livre.

Você já ouviu falar da lendária Sherazade, que, ao longo de mais de mil noites,conseguiu impedir que o xeique Shariar mandasse matá-la, como era seu cruelcostume noturno?

Sabe-se que é bastante antigo o fascínio que as narrativas exercem sobre as pessoas.

Saiba mais -O rei persa ShariarO rei persa Shariar, vitimado pela infidelidade de sua mulher, mandou matá-la eresolveu passar cada noite com uma esposa diferente, que mandava degolar namanhã seguinte.

Ao receber como mulher Sherazade, o monarca sucumbiu ao encanto por mil e umanoites – o que a poupou da morte.

Está aí uma leitura fascinante capaz de despertá-lo para a sedução do discurso.

Essa história está em As Mil e Uma Noites, uma coleção de contos árabescompilados, provavelmente, entre os séculos XIII e XVI. São histórias em cadeia, emque cada conto termina com um suspense que força o ouvinte curioso a retomá-la.

Os mais famosos contos são: O Mercador e o Gênio; Aladim ou a LâmpadaMaravilhosa; Ali-Babá e os Quarenta Ladrões, Exterminados por uma Escrava; As SeteViagens de Simbá, o Marinheiro.

Clique no endereço www.guirh.com.br/pp42.html e aprenda as mil e uma lições paralidar com a concorrência.

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A arte de contar histórias remonta às origens da sociedade, pois foi uma dasprimeiras manifestações culturais do homem, sendo, portanto, responsável pelapreservação das tradições de um povo.

Veja debate em www//cidade.usp.br/?2005/cinéfilo/sessao2

Saiba mais - Filme Narradores de JavéVeja o filme Narradores de Javé

Este filme recebeu muitos prêmios nacionais e internacionais.

Após saberem que a cidade onde vivem será inundada para a construção de umausina hidrelétrica, os moradores decidem preparar um documento que conte todosos fatos históricos do local, como tentativa desesperada de salvar a cidade dadestruição.

Dirigido por Eliane Caffé (Kenoma) e com José Dumont, Matheus Nachtergaele,Nélson Dantas, Gero Camilo e Nélson Xavier no elenco.

Quando se pensa em contadores de histórias, imaginam-se pessoas ao redor deuma fogueira e um contador. Esse é o narrador tradicional.

Se os homens da Antigüidade narravam suas histórias nas cavernas reais, hojenossos homens narram nas cavernas virtuais.

Pesquise José Cardoso Pires – De Profundis - http://www.instituto-camoes.pt/cvc/literatura/contemporaneos.htm#CardosoPires

Narrar é contar uma história, que pode ser real ou imaginária. A narrativa é umaforma de composição na qual se representam fatos, reais (livros científicos, livros deHistória, notícia de jornal) ou fictícios (artísticos) por meio de signos verbais e nãoverbais.

Assim, a modalidade narrativa pode estar presente em diferentes tipos detextos: mito, conto, lenda, fábula, piada, peça teatral, crônica, novela, romance,poema, notícia de jornal, música, HQs, entre outros.

Mito - narrativa cujo tema é a origem do mundo, dos homens etc. e cujaspersonagens são deuses ou seres sobrenaturais, que realizam ações exemplares.

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Lenda - narrativa cujas personagens são seres humanos. Liga-se ao histórico eao povo que a cria para explicar fatos e fenômenos desconhecidos, formação decidades (Atlântida, Eldorado), origem dos povos, fenômenos da natureza, heróisnacionais e outros.

Fábula - histórias em que as personagens são animais que nos transmitem umensinamento.

Conto - narrativa curta que gira ao redor de uma situação, de um conflito.

Crônica – narrativa breve, periódica, episódica e comunicativa da qual faz parteo humor.

Romance – narrativa mais longa que o conto e, na maioria das vezes, conta umsó drama. Tem maior número de personagens, o espaço onde se passa o drama édetalhadamente descrito.

Novela – narrativa que se caracteriza pela sucessividade dos episódios, muitasvezes dos personagens e dos espaços.

Saiba maisVisite http://sitededicas.uol.com.br/ctrad.htm e pesquise sobre mito, lenda, fábula.

Leia mais:Mitologia Chinesa. São Paulo, Princípio, s.d.; Fábulas Italianas. São Paulo, Cia dasLetras, 1999.; Abelardo e Heloisa. São Paulo, Martins Fontes, 1988; Romance daTávola Redonda. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

1a Atividade em aulaCompare (estabeleça semelhanças e diferenças entre) os textos narrativos e

anote suas observações:

LixoLuís Fernando Veríssimo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeiravez que se falam

— Bom dia...— Bom dia.

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— A senhora é do 610.— E o senhor do 612.— É.— Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...— Pois é...— Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...— O meu quê?— O seu lixo.— Ah...— Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...— Na verdade sou só eu.— Mmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.— É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...— Entendo.— A senhora também...— Me chame de você.— Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de

comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...— É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro

sozinha, às vezes sobra...— A senhora... Você não tem família?— Tenho, mas não aqui.— No Espírito Santo.— Como é que você sabe?— Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.— É. Mamãe escreve todas as semanas.— Ela é professora?— Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?— Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.— O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.— Pois é...— No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.— É.— Más notícias?— Meu pai. Morreu.— Sinto muito.— Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.— Foi por isso que você recomeçou a fumar?— Como é que você sabe?— De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro

amassadas no seu lixo.

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— É verdade. Mas consegui parar outra vez.— Eu, graças a Deus, nunca fumei.— Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...— Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.— Você brigou com o namorado, certo?— Isso você também descobriu no lixo?— Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito

lenço de papel.— E, chorei bastante. Mas já passou.— Mas hoje ainda tem uns lencinhos...— É que eu estou com um pouco de coriza.— Ah.— Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.— É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.— Namorada?— Não.— Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.— Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.— Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela

volte.— Você já está analisando o meu lixo!— Não posso negar que o seu lixo me interessou.— Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la.

Acho que foi a poesia.— Não! Você viu meus poemas?— Vi e gostei muito.— Mas são muito ruins!— Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.— Se eu soubesse que você ia ler...— Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei:

o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?— Acho que não. Lixo é domínio público.— Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra

da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É anossa parte mais social. Será isso?

— Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...— Ontem, no seu lixo..— O quê?— Me enganei, ou eram cascas de camarão?— Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.— Eu adoro camarão.

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— Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...— Jantar juntos?— É.— Não quero dar trabalho.— Trabalho nenhum.— Vai sujar a sua cozinha.— Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.— No seu lixo ou no meu?

Os elementos básicos do texto narrativo são:• Fato - o que se vai narrar (O quê?)• Tempo - quando o fato ocorreu (Quando?)• Lugar - onde o fato se deu (Onde?)• Personagens - quem participou ou observou o ocorrido (Com quem?)• Causa - motivo que determinou a ocorrência (Por quê ?)• Modo - como se deu o fato (Como?)• Conseqüências (Geralmente, provoca determinado desfecho)

Quando analisamos uma narrativa literária, observamos outros elementos:enredo ou trama; tempo;espaço;personagens; foco narrativo ou ponto devista;linguagem;estilo etc.

1. Enredo ou trama - fatos que se desenrolam durante a narrativa. Háintrodução, na qual o autor apresenta a idéia principal, personagens e cenário; umdesenvolvimento, no qual o autor detalha a idéia principal e se compõe de doismomentos distintos: a complicação (início dos conflitos entre os personagens) eclímax (ponto culminante) e desfecho, que é a conclusão da narrativa.

2. Tempo - cronológico ou exterior - é marcado pelo relógio, dia mês, horaetc.; psicológico ou interior refere-se à vivência dos personagens, ao seu mundointerior.

3. Espaço - onde os acontecimentos se desenrolam.

4. Personagens - são os seres envolvidos nos fatos. Podem ser pessoas,animais, seres inanimados etc. Protagonista é o personagem principal. Antagonista é opersonagem que se opõe ao principal. Há personagens secundários, que participamdos fatos, mas não são centrais.

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5. Foco narrativo ou ponto de vista - o autor cria um narrador, que podeassumir duas posições:

a- narrador observador - narrador de terceira pessoa - relata osacontecimentos como observador.

b- narrador personagem - narrador de primeira pessoa - um personagemparticipante da história narra os fatos.

6. Linguagem e estilo – níveis, aspectos sonoros, morfológicos, sintáticos,semânticos, estilo do autor, estilo de época (Romantismo, Realismo, Modernismo etc.)

Narração objetiva x Narração subjetiva• Narração objetiva: apenas informa os fatos, sem se deixar envolver

emocionalmente com o que está noticiado. É de cunho impessoal e direto. É o quecostuma aparecer nas ocorrências policiais dos jornais, por exemplo.

• Narração subjetiva: consideram-se emoções, sentimentos envolvidos nahistória, são ressaltados os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiamnos personagens. Nota-se, claramente, a posição sensível e emocional do narrador aorelatar os acontecimentos.

Saiba mais - Visite o site:http://www.edward.art.br/triunfus/aula09/materia.htm

Saiba mais - Os Meninos Carvoeiros: narração subjetivaAutor: Manuel Bandeira

Os meninos carvoeirosPassam a caminho da cidade.— Eh, carvoero!E vão tocando os animais com um relho enorme.Os burros são magrinhos e velhos.Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.A aniagem é toda remendada.Os carvões caem.(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)— Eh, carvoero!Só mesmo estas crianças raquíticasVão bem com estes burrinhos descadeirados.A madrugada ingênua parece feita para eles . . .

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Pequenina, ingênua miséria!Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!—Eh, carvoero!Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,Encarapitados nas alimárias,Apostando corrida,Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.

A narração e os tipos de discursoUma narrativa pode trazer falas de personagens entremeadas aos

acontecimentos, faz-se uso dos chamados discursos: direto, indireto ou indireto livre.

Discurso direto: o narrador transcreve as palavras da própria personagem.Para tanto, usam-se dois pontos, travessão, aspas. Mais modernamente alguns autoresnão fazem uso desses recursos. Ex.: - Você sabe que o seu irmão chegou?

Discurso indireto: apresenta as palavras das personagens por meio donarrador, portanto não há marcações gráficas especiais. Usualmente, há verbo deelocução, por exemplo: falar, perguntar, responder, indagar, replicar, argumentar etc.Ele perguntou se sabia que o seu irmão havia chegado.

Discurso indireto livre: não há identificação de quem a proferiu. Traz, muitasvezes, um pensamento da personagem ou do narrador, um juízo de valor ou opinião.Ex.: Indignado, perguntou se sabia que o seu irmão havia chegado.

(Graciliano Ramos)

Dicas sobre revisão gramaticalAo transformar o discurso direto em indireto, vimos que o tempo do verbo

será sempre passado em relação ao discurso direto.

Discurso direto: - Você sabe que o seu irmão chegou?Discurso indireto: Ele perguntou se ele sabia que o seu irmão havia chegado.

Saiba mais - Visite os sites:- http://www.gramaticaonline.com.br- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx- http://www.portugues.com.br

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2a Atividade em aulaVamos fazer alguns exercícios? Transforme discursos diretos em discursos

indiretos:

1.— Onde fica a cidade mais próxima? – perguntou o motorista.2.— Há uma cidade a dois quilômetros daqui - respondeu o guarda.3.— Tenho pressa — disse o rapaz.4.— Presenciei toda a cena — declarou o jovem.5. — Cala-te — ordenou o senhor ao seu vassalo.

Outras classes de palavras, como os pronomes e alguns advérbios, podemigualmente requerer alterações. Observe o exemplo:

Discurso direto:— Venha cá, meu filho — disse a mãe, nervosa.— Estarei aí daqui a cinco minutos.Discurso indireto: A mãe, nervosa, pediu a seu filho que fosse até lá. Ele

respondeu que estaria lá dali a cinco minutos.

Saiba mais - Discurso direto e Discurso indireto

Discurso Diretopresente do indicativo

pretérito perfeito do indicativo.

Discurso Indiretopretérito imperfeito do indicativo

pretérito mais-que-perfeito simples ou composto

Saiba mais - Visite os sites:- http://www.gramaticaonline.com.br- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx- http://www.portugues.com.br

Respostas1. O motorista perguntou onde ficava a cidade mais próxima.2. O guarda respondeu que havia uma cidade a dois quilômetros dali.3. O rapaz disse que tinha pressa.4. O jovem declarou que tinha presenciado / presenciara toda a cena.5. O senhor ordenou ao vassalo que se calasse.

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A narração também pode mesclar os níveis de linguagem.Normalmente,utiliza-se o nível formal nas frases do narrador e o coloquial na fala de algumaspersonagens. A voz da personagem deve ser representativa. Se a personagem é umsertanejo, as características de seu linguajar devem estar presentes, se for umadolescente, deverá aparecer gíria e assim por diante.

Entendemos por linguagem formal a língua culta, que se caracteriza pelacorreção gramatical, ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário efrases bem elaboradas.

A linguagem coloquial é aquela que as pessoas utilizam no dia-a-diaconversando informalmente com amigos parentes e colegas.

É a linguagem descontraída, que dispensa formalidades e aceita gírias,diminutivos afetivos e palavras de cunho regional.

3a Atividade em aulaCorrente narrativa: jogo virtual

Convide as pessoas de seu mailing list para escreverem uma história junto comvocê. Para facilitar as coisas, escreva você mesmo o trecho inicial e passe para opróximo participante.

Para você, aprendiz da arte da escrita, a simples brincadeira pode trazerimportantes lições. Você vai ver como, a cada novo trecho, a história irá tomandonovo rumo, às vezes escapando àquela que você tinha inicialmente na cabeça.

Mas, quando o jogo rodar e texto retornar a você, imponha-se, então, esteoutro desafio: o de tentar reconduzir a história ao seu projeto original. Lembre-se:quem escreve deve se exercitar constantemente (de preferência, todos os dias).

Por isso, a grande lição que você deve incorporar desta descontraída técnicacoletiva é a humildade de submeter seu texto a pessoas que você considere capazesde lhe dar boas sugestões e uma ajuda efetiva.

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, aprendemos a importância da narração para o homem de

qualquer lugar e tempo e constatamos como essa modalidade textual está presentenos diferentes textos que nos são apresentados na vida corrente, tanto literários(poemas, contos, crônicas etc.) quanto não-literários (jornalísticos, científicos etc.).

Estudamos, também, o emprego do verbo e suas devidas transformações naelaboração dos vários discursos: direto, indireto e indireto livre.

Entretanto, é importante ressaltarmos que a narração não ocorre comomodalidade pura no texto, ela vem, em geral, acompanhada pela descrição e dissotrataremos na aula 9.

Próxima aulaNa próxima aula, continuaremos a aprender sobre narração, enfocando o verbo.

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Aula 08 - Narração - O ato de contar

histórias

Na aula de hoje, você aprenderá outros recursos, principalmente relacionadosao verbo, que lhe permitirão ler e escrever textos narrativos com mais competência.

Aprendemos que somos por natureza narrativos, pois precisamos, mesmo na Era daInformação, contar nossas histórias, explicar para nós mesmos quem somos, o que fazemos,como uma forma de nos salvar do esquecimento e de preservarmos nossa identidade.

Pare um pouco, agora, e pense na sua trajetória de vida. Conte uma passagemsignificativa. Escreva seu texto com começo, meio e fim.

Saiba maisPara quem quer refletir um pouco sobre essa idéia, vale ler Walter Benjamim, obraMagia, técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:Brasiliense, 1994.

1a Atividade em aulaRetome seu texto e grife os verbos que precisou usar para contar essa passagem

da existência.

Se narrar é contar história real ou imaginária, o verbo é de extrema importânciapara garantir o dinamismo dessa ação.

Verbo é a palavra que expressa processos, ação, estado, mudança de estado,fenômeno da natureza, conveniência, desejo e existência. O verbo denotamovimento, por isso sua característica de dinamicidade.

Saiba mais - Divirta-se com o verboNo princípio era o verbo. Depois, veio o sujeito e os outros predicados: os objetos,os adjuntos, os complementos, os agentes, essas coisas. E Deus ficou contente. Era aprimeira oração.(Eno Teodoro Wanke)

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No princípio era o Verbo. O verbo ser. Conjugava-se apenas no infinito. Ser, e nadamais. Intransitivo absoluto. Isto foi no princípio. Depois, transigiu e muito. Em váriosmodos, tempos e pessoas.

Ah, nem queiras saber o que as são as pessoas: eu, tu, ele,nós,vós,eles...Principalmente eles!

E, ante essa dispersão lamentável, essa verdadeira explosão do SER em seres,até hojeos anjos ingenuamente se interrogam por que motivo as referidas pessoas chamam aisso CRIAÇÃO...(Mário Quintana)

Os modos verbaisIndicativo:expressa certeza ou apresenta um fato como real.Exemplos:Faz dias frios em São Paulo.Faz 10 dias que não te vejo.Observação: Note que o verbo fazer quando indica tempo decorrido, passado

ou fenômeno da natureza é sempre impessoal por não apresentar sujeito. Devepermanecer na 3ª pessoa do singular. Em locuções verbais, o auxiliar também ficada 3ª pessoa do singular, tornando-se impessoal.

Subjuntivo: exprime atitude de dúvida, ou anuncia um fato como possível,hipotético, provável ou incerto.

Exemplo:Talvez se não fizesse tanto frio aqui, trabalhássemos menos.

Imperativo: é a expressão da ordem, do desejo, da súplica, do pedido.Exemplo:“Vem para a Caixa você também.”Observação: Note que o verbo vem não combina com o pronome você. Deveria

ser venha, mas como se trata de propaganda, vale o uso mais informal da língua.

Saiba mais - Formação do ImperativoO tu e o vós do imperativo afirmativo são tirados do presente do indicativo sem os;as demais pessoas são tiradas do imperativo negativo.O imperativo negativo é tiradodo Presente do Subjuntivo

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Presente do indicativoEu venhoTu vensEle vemNós vimosVós vindesEles vêm

Presente do subjuntivoQue eu venhaQue tu venhasQue ele venhaQue nós venhamosQue vós venhaisQue eles venham

Imperativo afirmativoVem tuVenha vocêVenhamos nósVinde vósVenham vocês

Imperativo negativoNão venhas tuNão venha vocêNão venhamos nósNão venhais vósNão venham vocês

Os tempos verbaisOuça uma narração de um jogo de futebol (na aula on-line).

A narração que você ouviu foi feita em um tempo verbal conhecido comopresente histórico, em que se utiliza o tempo presente para narrar umacontecimento histórico já passado, com o intuito de conferir mais emoção, maisdramaticidade, mais atualidade ao narrado.

Os tempos verbais do modo indicativoTempo é a situação da ocorrência do processo em relação ao momento em que

se fala, como atual ou presente; anterior ou passada; posterior ou futura.

a) presente – o processo verbal acontece no momento em que se fala. Podeindicar processos habituais.

b) pretérito – o processo verbal acontece no passado.Estavam satisfeitos com o desempenho do time. (idéia de continuidade no

passado)

c) futuro – o processo verbal acontece no futuro.Transferirei sua ligação. (ação acontecerá)

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Obs.: Evitar o uso do gerundismo (eu vou estar transferindo sua ligação) paraações que se realizarão no futuro.

Saiba mais - Tempos verbaisO Pretérito pode ser:

• imperfeito:Ex.:Amanhecia quando a escola de samba entrou na avenida. – indica processo

em desenvolvimento quando da ocorrência de outro fato.

Ex.:Gostaria de pedir-lhe ajuda – revela cortesia

Ex.:Se eu fosse você, voltava (no lugar de voltaria) para mim.- mostralinguagem coloquial ou literária

•perfeito – exprime processos concluídos em período definido do passado.Ex.:Aprendi tudo.

•mais –que-perfeito – processo que ocorreu antes de outro no passado.Quando cheguei, o ônibus já saíra/ havia saído.

O futuro pode ser:

•do Presente – processos certos que não ocorreram ainda.ex.:Recebereiaumento.

•do pretérito - expressa processos posteriores ao momento passado a quenos estamos referindo.Ex.:Não seria feliz sem estudar.

Os tempos verbais no modo subjuntivoPresente – expressa processos hipotéticos.Ex.: Espero que esteja bem. (Observe que não existe esteje nem seje)

Pretérito Imperfeito – indica condição. Ex.: Se vendesse a casa, teria mais dinheiro.Não confunda vende-se (Vende-se casa) com vendesse (pretérito imperfeito

do subjuntivo).

Futuro – revela fatos possíveis. Ex.: Quando for a São Paulo, visitará a exposição.

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Saiba mais - Divirta-se

O Verbo ForJoão Ubaldo Ribeiro

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura davida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Achoinadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário.Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário —evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora decontrole, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora etalvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia,tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo queesta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar porfora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassemdiretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, comcitações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou aEneida, dos quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca serecuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto)e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventudede hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava umamultidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano EvandroBaltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário,dicionário), o mestre não perdoava.

— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguidovestibulando.— “Catilina, quanta paciência tens?” — retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para aplatéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvirtamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma dealimária. Senhor meu Pai!

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Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou aenfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas doresde barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eufalava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa docandidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei show de português e inglês. O deportuguês até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé etomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:

— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração doHino Nacional!— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair axícara.— Por que não é indeterminado, “ouviram, etc.”?— Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margensplácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. “Nem teme quem te adoraa própria morte”: sujeito: “quem te adora.” Se pusermos na ordem direta...— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!

Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola deAdministração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca deportuguês, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hojeconsidero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moçaspálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal denervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral erabestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porquealguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivialou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas nãoperdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei notexto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto doverbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio,dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

— Esse “for” aí, que verbo é esse?

Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse aquadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

— Verbo for.— Verbo o quê?— Verbo for.

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— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando ehoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipeeconômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meutempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamentediplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza,não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.

——Esta crônica foi publicada no jornal “O Globo” (e em outros jornais) na edição dedomingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro “O Conselheiro Come”, Ed.Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.

Saiba mais - Visite os sites:- http://www.gramaticaonline.com.br- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx

O número do verboO verbo apresenta terminações ou desinências que indicam número singular e plural.É preciso fazer sempre a concordância. (Abordaremos esse assunto mais adiante)

As pessoas do verboA flexão de pessoa indica as pessoas do discurso. São elas:

a) 1ª pessoa é a que fala, também chamada de falante, emissor. Eu e nós. Euestudei, nós trabalhamos.

b) 2ª pessoa é aquela com quem se fala, ouvinte ou receptor. Tu e vós. Tuestudaste, vós trabalhastes. Ao redigir um texto de maneira impessoal, faça-o naterceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural. Não misture essaspessoas no mesmo discurso.

c) 3ª pessoa é a de quem ou que se fala ou o assunto e corresponde aos pronomespessoais ele, ela, no singular, eles e elas, no plural. Ele trabalhou, eles trabalharam.

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As vozes do verboa) Voz ativa: o sujeito pratica ação verbal.Ex.: Nós falamos de futebol.

b) Voz passiva: o sujeito recebe a ação verbal.Ex.: A casa foi destruída pelo fogo.Ex.:Comprou- se o livro (= O livro foi comprado).

c) Voz reflexiva: o sujeito pratica e recebe a ação verbal, simultaneamente.Ex.: João feriu- se. Quando se quer comunicar algo com rapidez, costuma-se

preferir a voz ativa.

Dicas sobre revisão gramaticalNa escrita, prefira o verbo haver em lugar do verbo ter. Ex.: Há pessoas

interessantes aqui.

Atente para a grafia do verbo querer: quis, quiseste, quiserem, quiseram, quiséssemos.

Os verbos abundantes são aqueles que apresentam mais de uma forma,especialmente no particípio. Exemplos: expressar – expressado – expresso.

• auxiliares ter e haver : forma regular: ter/haver expressado• auxiliares ser e estar: forma reduzida: ser/estar expresso

Exemplos:Havia imprimido o documento. O documento foi impresso.Ela havia chegado cedo. ( não existe havia chego)

Não confunda:• estudaram (pretérito perfeito do indicativo) com estudarão (futuro presente)-

Ontem, eles estudaram. Amanhã, nós estudaremos. Amanhã, eles estudarão.• perca (verbo) com perda (substantivo) –Espero que você não perca minha

aula. Bateu o carro e deu perda total.• põe, impõe( singular) com põem, impõem(plural). Ele põe o documento

sobre a mesa e elas impõem respeito.• vêm (vir) com vêem(ver), exemplo: Eles vêm cedo. Eles vêem uma saída.• tem e têm - Ele tem – eles têm• vem e vêm - Ele vem – eles vêm –(os derivados do verbo ter: ele mantém -

eles mantêm)

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2a Atividade em aulaTeste seus conhecimentos

1. Se você não ..........(manter-se) bem atualizado, correrá o risco de nãoencontrar um lugar no mercado de trabalho.

2. Se ele não.....(fazer) o trabalho, não terá promoção.3. Eu.. (capto) tudo aquilo pelo que...(optar)4. Parece inadmissível que os políticos....(agir) com ética neste país.5. ........(Correr). Você não tem mais nada a fazer aqui.6. Quando ele ......(ver) o lugar, saberá do que estou falando.7. Quando ele......(vir), visitarei você.8. Aí eu não ....(caber)9. Espero que tudo isso ...(valer) a pena.10. Não ..(cuspir) no chão, pois é feio.11. Espero que ele ...(estar) bem e...(ser) feliz.12. Agora ele ...(poder) fazer, mas até então nunca....(pode)13. O Estado não .....(intervir –pret.perf.) na economia.

Respostas1. Se você não se mantiver(manter-se) bem atualizado, correrá o risco de nãoencontrar um lugar no mercado de trabalho.2. Se ele não fizer (fazer) o trabalho, não terá promoção.3- Eu capto (capto) tudo aquilo pelo que opto(optar)4- Parece inadmissível que os políticos ajam(agir) com ética neste país.5- Corra(Correr). Você não tem mais nada a fazer aqui.6- Quando ele vir(ver) o lugar, saberá do que estou falando.7- Quando ele vier(vir), visitarei você.8- Aí eu não caibo(caber)9- Espero que tudo isso valha(valer) a pena.10- Não cuspa(cuspir) no chão, pois é feio.11- Espero que ele esteja(estar) bem e seja(ser) feliz.12- Agora ele pode(poder) fazer, mas até então nunca pôde(pode).13- O Estado não interveio(intervir –pret.perf.) na economia.

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, aprendemos vários conceitos e dicas relacionados ao verbo e

que lhes auxiliarão para uma leitura e escrita mais competente de textos narrativos.

Próxima aulaComo enunciamos na aula 7, a narração não ocorre como modalidade pura no

texto, ela vem, em geral, acompanhada pela descrição. Este será nosso assunto dapróxima aula. Para se preparar para essa nova viagem, nesta semana passe a observaras pessoas com quem convive, os lugares por onde passa, o lugar em que trabalha, acasa em que mora.

Até mais!

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Aula 09 - O ato de descrever

Na aula de hoje, você aprenderá o que é descrever e conhecerá elementos erecursos que envolvem essa modalidade textual. Assim, será capaz tanto dereconhecer quanto de produzir texto descritivo.

Além disso, você também aprenderá a empregar, adequadamente, a classegramatical que favorece a descrição: o adjetivo –o que lhe permitirá ler e escrevertextos desse tipo com mais competência.

Para que descrevemos? Quais os textos descritivos que fazem parte de nossa vida?

Faça uma busca na Internet e retire um texto publicitário que apresente ascaracterísticas do produto.

Essas características identificam o texto descritivo. Registre qual a finalidade dadescrição ali utilizada.

Saiba maisDica: Assista ao programa na hora do intervalo, no canal Multishow. Sãoapresentadas propagandas excelentes.

Observe como descrição e narração convivem no mesmo parágrafo, e até nomesmo período.

“Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Osinfelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.Ordinariamente, andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia dorio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam umasombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados dacaatinga rala”.

(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas.)

Descrevemos, em geral, para dar mais veracidade ao que queremos, para registrarcom clareza aspectos marcantes de alguém, de algum lugar, de algum objeto. Há muitostextos descritivos que fazem parte de nossa vida cotidiana: bulas de remédio, manuais decomputador, de vídeo, de aparelhos em geral, relatórios, resenhas, currículos, mapas,plantas de edifícios, retratos, naturezas-mortas,entre outros.

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1a Atividade em aulaTeste seus conhecimentos

Ouça a música “Lua de São Jorge” de Caetano Veloso, verifique a presença dadescrição, identifique as características atribuídas à lua. Escreva-as.

Agora, compare com a tela em que Debret descreve D. João VI.

Saiba mais - Jean Baptiste DebretJean Baptiste Debret nasceu na França, em 1768 -1848). Pintor, desenhista, gravador,professor, decorador, cenógrafo.

Freqüentou a Academia de Belas Artes, em Paris, entre 1785 e 1789, aluno deJacques-Louis David (1748-1825), seu primo e líder do neoclassicismo francês.

Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769-1821). Após aqueda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar aMissão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro.

Em 1818, colabora na decoração pública para a aclamação de D. João VI (1767-1826).

De 1826 a 1831, é professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas

Artes, atividade que alterna com viagens para várias cidades do país, quando retratatipos humanos, costumes e paisagens locais.Em 1829, organiza a Exposição da Classede Pintura Histórica da Imperial Academia de Belas Artes, primeira mostra pública dearte no Brasil.

Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Visite o siteitaucultural.org.br

As palavras (ou classes gramaticais) mais usadas na descrição são os adjetivos –além dos verbos, sobretudo os de ligação(ser, estar, continuar, ficar, parecer etc.).

Veja como Machado descreve a Capitu em Dom Casmurro:

“Catorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meiodesbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma àoutra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes,nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo.”

Também podem ser usadas comparações: “olhos de cigana, oblíqua e dissimulada.”

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Saiba mais - Machado de AssisMachado de Assis foi jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo,nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1839, e faleceu em 1908.

É o fundador da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Ocupou por maisde dez anos a presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casade Machado de Assis.

Filho de operário, perdeu a mãe muito cedo, foi criado no morro do Livramento.Sem condições financeiras, estudou como pôde e, em 1855, com 16 anosincompletos, publicou o primeiro trabalho literário, o poema “Ela”, na MarmotaFluminense, jornal de Francisco de Paula Brito, número datado de 12 de janeiro de1855. No ano seguinte, entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz detipógrafo, e lá conheceu Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor.

Machado de Assis se casou com Carolina Augusta Xavier de Novais. Foi companheiraperfeita durante 35 anos, tendo-lhe revelado os clássicos portugueses e váriosautores de língua inglesa.

A obra de Machado de Assis abrange, praticamente, todos os gêneros literários.Escreveu os romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) eIaiá Garcia (1878), considerados como pertencentes ao seu período romântico;Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba, entre outros nalinha realista.Visite o site:machadodeassis.org.br e saiba mais sobre o autor.

A descrição pode despertar nossos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato,paladar, tato). Sinta o poema de Cecília Meireles.

Rio na SombraSomfrio.

Riosombrio.

O longo somdo riofrio.

O friobomdo longo rio.

Tão longe,tão bom,tão frioo claro somdo riosombrio!

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Saiba maisVisite o site: http://www.secrel.com.br/jpoesia/ceciliameireles1bio.html e descubra agrande poetisa da literatura brasileira.

Quando a arte literária está em jogo, estamos diante do reino dos possíveis.

Ali tudo é permitido, inclusive romper as regras de uso do adjetivo que, emgeral, qualificam a descrição.

Só para aguçar a sua curiosidade, busque a letra da música de Chico Buarque,“Apesar de Você” e compare com o poema abaixo de Ana Cristina César.

Observe os diferentes olhares sobre um mesmo tema: o cenáriocontemporâneo do pós-golpe de 64.

Registre sua análise e tente descobrir a intencionalidade do autor com essacaracterização idealizada.

Pesquise um pouco sobre o 1964. Isso pode ajudá-lo a descobrir o que está portrás dessa construção textual.

São pistas que podem ajudá-lo a descobrir o que está por trás dessaconstrução textual.

Tu queres sono: despe-te dos ruídos, edos restos do dia, tira da tua bocao punhal e o trânsito, sombras deteus gritos, e roupas, choros, cordas etambém as faces que assomam sobre atua sonora forma de dar, e os outros corposque se deitam e se pisam, e as moscasque sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos queesqueceram teus braços e tantos movimentosque perdem teus silêncios, o os ventos altosque não dormem, que te olham da janelae em tua porta penetram como loucospois nada te abandona nem tu ao sono.

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Descrição subjetiva x Descrição objetivaHá dois tipos de descrição:objetiva - sem impressões do observador, tentando mais proximidade com o real.Ex.: livro vermelho.

subjetiva - apresenta visão do observador por meio de juízos de valor.Ex.: livro interessante.

Saiba maisVisite os sites:- http://www.gramaticaonline.com.br- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx

Dicas sobre revisão gramaticalEle é paulista, não é paulistano. De onde ele é? Da cidade de São Paulo ou do

estado de São Paulo?Resposta:do estado de São Paulo. Pesquise os adjetivos pátrios.

Você sabe o que é soteropolitano?Resposta: adjetivo pátrio referente a Salvador.

Uma empresa sino-brasileira é feita da união de quais países?Resposta: China e Brasil.

O corpo discente apoiou o corpo docente. Quem apoiou quem, respectivamente?Resposta: alunos apoiaram professores

Uma pessoa muito amiga é amicíssima. Uma pessoa muito séria é...Resposta: Seriíssima

Fique atento ao plural dos adjetivos:Cidadão luso-brasileiro = Cidadãos luso-brasileiros(2 adjetivos= o último vai para o plural)

Calça amarelo-ouro = Calças amarelo-ouro(1 adjetivo e 1 substantivo= invariável)

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Papel cor-de-rosa = Papéis cor-de-rosa ou papéis rosa(expressão cor-de explícita ou implícita – invariável)

Exceção:Blusa azul-marinho = Blusas azul-marinho.(invariável, assim como azul-celeste)Rapaz surdo-mudo = Rapazes surdos-mudos (os dois adjetivos variam)

Pode usar mais bom e mais grande?

Analise as frases:Ele é mais bom do que esperto.Minha casa é mais grande do que bonita.

Isso só é possível se houver dois adjetivos para um substantivo.Se forem 2 substantivos a serem comparados por um adjetivo, a situação é outra.

Observe:Ele é melhor do que ela. (são duas pessoas comparadas)Minha casa é maior do que a sua. (são duas casas comparadas)

A posição do adjetivo na frase, muitas vezes, pode modificar o sentido.Atribua um sentido para os adjetivos em destaque:a. O alto funcionário quer participar da vida pública.b. O funcionário alto quer participar da vida pública.c. Esse simples exercício serve para você entender que a posição do adjetivo

pode modificar seu significado.d. Esse exercício simples nunca mais será esquecido.

Respostasa. O alto funcionário quer participar da vida pública.(de posição elevada)b. O funcionário alto quer participar da vida pública.(de estatura elevada)c. Esse simples exercício serve para você entender que a posição do adjetivo

pode modificar seu significado.(mero)d. Esse exercício simples nunca mais será esquecido.(fácil)

Saber usar o adjetivo pode nos ajudar a imprimir, ao texto, uma qualidadeimportante: a concisão.

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Complete as frases com o adjetivo adequado.1. Um discurso que não tem fim é um discurso.....2. Uma letra que não se pode ler é.....3. Um texto que não se pode compreender é.....4. Lembranças que não se podem apagar são....

Respostas1.infindável2.ilegível3.ininteligível4.indeléveis

Saiba maisVisite os sites:- http://www.gramaticaonline.com.br- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx

Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, aprendemos a importância da descrição para conferir

veracidade ao que se narra, para dar imagem mais viva e detalhada ao que se expõe.

Constatamos como essa modalidade textual está presente nos diferentes textosque nos cercam, literários(poemas, romances, etc.), não-literários (manuais, bulas,plantas de casa),visuais (quadros de naturezas-mortas, retratos etc.). Percebemos queum texto será tanto mais rico e dinâmico quanto mais sua trama articular dois oumais dos processos de composição, por exemplo: a narração e a descrição.

Além disso, estudamos, também, o emprego adequado do adjetivo emdiferentes contextos.

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Saiba mais - Você pode tentar uma definição de descrição?Uma resposta possível: Descrição é o nome que se dá à enumeração ouapresentação verbal das características essenciais ou contingentes dos seres e coisas –sejam pessoas, objetos ou lugares.

Caracteriza-se por ser um “retrato verbal” de pessoas, objetos, animais, sentimentos,cenas ou ambientes.

Segundo uma definição clássica do crítico francês Gérard Genette, a descriçãopressupõe de certa forma a imobilidade (quer dizer, a ausência de movimentos)daquilo que se descreve, em sua exclusiva existência espacial, fora de qualqueracontecimento e até de qualquer dimensão temporal.

De fato, na descrição predomina a dimensão ontológica do número – na medida emque ela dá conta da extensão e da quantidade dos seres e coisas.

Próxima aulaNa próxima aula, nosso discurso se volta para o texto dissertativo.

Enquanto isso,vai pensando na seguinte pergunta: a pena de morte deve serimplantada no Brasil?

Até breve!

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Aula 10 - O ato de dissertar

Na aula de hoje, você aprenderá o que é dissertar e conhecerá a estrutura dotexto dissertativo, terá dicas para redigir essa modalidade textual.

Assim, será capaz tanto de reconhecer quanto de produzir textos desse tipo.

Além disso, identificará alguns elementos que conferem coesão e coerência ao texto.

Você se lembra de alguma vez em que precisou convencer alguém sobre seuponto de vista? Registre sua experiência.

É capaz de identificar que recurso usou para conseguir isso?

Observe como isso ocorre no discurso platônico.

Pesquise a obra “Fédon”, de Platão, in: Coleção os Pensadores, Editora Abril.

Na vida cotidiana, temos constantemente necessidade de expor idéias pessoais,opiniões, pontos de vista, convencer o outro de uma idéia nossa e, para isso, usamosa dissertação, que tanto pode ser oral quanto escrita.

Toda forma dissertativa, discursiva, necessita de regras, e a primeira delas, alémde saber ouvir, é não produzir contradição no discurso.

Toda contradição destrói e nega os argumentos. Por exemplo, não se podedefender que exercícios físicos em excesso podem prejudicar a saúde e, em outrolugar do texto, dizer que o jovem deve malhar o máximo que puder. Contradiçõesdesse tipo podem tornar o texto incoerente.

Dissertar é:• Expor um assunto - nesse caso, a dissertação é expositiva.• Defender um ponto de vista - nesse caso, a dissertação é argumentativa.

Você pode posicionar-se de modo pessoal, na primeira pessoa do singular ou demodo impessoal, na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural. Assim,produzirá uma dissertação subjetiva ou uma dissertação objetiva, respectivamente.

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Se você é brasileiro, leia a dissertação subjetiva de Cristovão Buarque, ex-governadordo Distrito Federal, durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, em quefoi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. Essa matéria foipublicada no New York Times / Washington Post, Today e nos maiores jornais da Europa eJapão. No Brasil, demorou a aparecer e não foi nos jornais.

O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta deum humanista e não de um brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristóvão Buarque:De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização

da Amazônia.Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse

patrimônio, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre aAmazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o maisque tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro O petróleo é tãoimportante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.

Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar oudiminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode serqueimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão gravequanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladoresglobais. Não podemos deixar que as Reservas financeiras sirvam para queimar paísesinteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver ainternacionalização de todos os grandes museus do mundo.

O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo éguardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.

Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio naturalamazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

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Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro deum grande mestre.

Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio,mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer porconstrangimentos na fronteira dos EUA.

Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve serinternacionalizada.

Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim comoParis, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, ada cidade, com suabeleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nasmãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Atéporque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando umadestruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nasflorestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA tem defendido aidéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenhapossibilidade de COMER e de ir a escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o paísonde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.

Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem ascrianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixaãoque elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.

Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazôniaseja nossa. Só nossa!”

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Para fazer uma boa dissertação, é necessário:1. Conhecer o assunto, ter repertório. (ler, observar fatos, conversar com

pessoas etc.).2. Refletir sobre o tema, analisar, interpretar.3. Registrar o fluxo de idéias que aparecem na mente (fatos, informações,

opiniões).4. Planejar, organizar o caos de idéias que aparecem na mente quando temos

que desenvolver um tema:a. Propor uma tese ou um tópico frasal – uma frase que aponte a idéia central

que você pretende desenvolver, expor, provar.b. Registrar idéias e argumentos importantes, não se esquecendo da lógica, do

princípio da não contradição e da continuidade.5. Executar o plano de redação com clareza, coesão, coerência e correção,

mantendo sempre fidelidade ao tema.

Para entender Lógica, pesquise L. Wittegenstein.

1o. TextoTarsila do AmaralTarsila do Amaral (1886-1973) nasceu em uma fazenda no interior de São

Paulo. Iniciou-se nas artes em Barcelona, em 1902, onde copiava imagens religiosas.Dois anos depois, já no Brasil, casou-se com André Teixeira Pinto e teve sua únicafilha, Dulce.

Separada, mudou-se para São Paulo em 1913. Conheceu Anita Malfatti (1889-1964), sua grande amiga. Em 1920, foi a Paris, onde teve o primeiro contato com aarte moderna européia, com os trabalhos de Pablo Picasso (1881-1973) e aprodução de dadaístas e futuristas.

Em abril de 1922, dois meses depois da Semana de Arte Moderna, voltou aoBrasil.Conheceu Menotti del Picchia (1892-1945), Mário e Oswald de Andrade e,junto com Anita, fundou o Grupo dos Cinco.

Nessa fase, a artista trabalhava com pinceladas mais ousadas. Em 1923, voltou aParis e retomou as aulas de artes agora não mais convencionais e acadêmicas. Paraconhecer mais telas da pintora visite o site www.tarsiladoamaral.com.br.

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2o. TextoTempos Modernos de Charles Chaplin

3o. TextoOperário em construção(Vinícius de Moraes)

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemploQue a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.

De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.

Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão –Era ele quem os faziaEle, um humilde operário,Um operário em construção.Olhou em torno: gamelaBanco, enxerga, caldeirãoVidro, parede, janelaCasa, cidade, nação!Tudo, tudo o que existiaEra ele quem o faziaEle, um humilde operárioUm operário que sabiaExercer a profissão.

[...]E foi assim que o operárioDo edifício em construçãoQue sempre dizia simComeçou a dizer não.E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:

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Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.

E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.

[...]

E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coraçãoE dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.

Veja texto na íntegra

Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemploQue a casa de um homem é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.

De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.

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Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa– Garrafa, prato, facão –Era ele quem os faziaEle, um humilde operário,Um operário em construção.Olhou em torno: gamelaBanco, enxerga, caldeirãoVidro, parede, janelaCasa, cidade, nação!Tudo, tudo o que existiaEra ele quem o faziaEle, um humilde operárioUm operário que sabiaExercer a profissão.

Ah, homens de pensamentoNão sabereis nunca o quantoAquele humilde operárioSoube naquele momento!Naquela casa vaziaQue ele mesmo levantaraUm mundo novo nasciaDe que sequer suspeitava.O operário emocionadoOlhou sua própria mãoSua rude mão de operárioDe operário em construçãoE olhando bem para elaTeve um segundo a impressãoDe que não havia no mundoCoisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensãoDesse instante solitárioQue, tal sua construçãoCresceu também o operário.Cresceu em alto e profundoEm largo e no coraçãoE como tudo que cresceEle não cresceu em vãoPois além do que sabia– Exercer a profissão –O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.

E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.

E foi assim que o operárioDo edifício em construçãoQue sempre dizia simComeçou a dizer não.E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:

Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.

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E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.

Como era de se esperarAs bocas da delaçãoComeçaram a dizer coisasAos ouvidos do patrão.Mas o patrão não queriaNenhuma preocupação– “Convençam-no” do contrário –Disse ele sobre o operárioE ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operárioAo sair da construçãoViu-se súbito cercadoDos homens da delaçãoE sofreu, por destinadoSua primeira agressão.Teve seu rosto cuspidoTeve seu braço quebradoMas quando foi perguntadoO operário disse: Não!

Em vão sofrera o operárioSua primeira agressãoMuitas outras se seguiramMuitas outras seguirão.Porém, por imprescindívelAo edifício em construçãoSeu trabalho prosseguiaE todo o seu sofrimentoMisturava-se ao cimentoDa construção que crescia.

Sentindo que a violênciaNão dobraria o operárioUm dia tentou o patrãoDobrá-lo de modo vário.De sorte que o foi levandoAo alto da construçãoE num momento de tempoMostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operárioFez-lhe esta declaração:– Dar-te-ei todo esse poderE a sua satisfaçãoPorque a mim me foi entregueE dou-o a quem bem quiser.Dou-te tempo de lazerDou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vêsSerá teu se me adoraresE, ainda mais, se abandonaresO que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operárioQue olhava e que refletiaMas o que via o operárioO patrão nunca veria.O operário via as casasE dentro das estruturasVia coisas, objetosProdutos, manufaturas.Via tudo o que faziaO lucro do seu patrãoE em cada coisa que viaMisteriosamente haviaA marca de sua mão.E o operário disse: Não!

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– Loucura! – gritou o patrãoNão vês o que te dou eu?– Mentira! – disse o operárioNão podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-seDentro do seu coraçãoUm silêncio de martíriosUm silêncio de prisão.Um silêncio povoadoDe pedidos de perdãoUm silêncio apavoradoCom o medo em solidão.

Um silêncio de torturasE gritos de maldiçãoUm silêncio de fraturasA se arrastarem no chão.E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coraçãoE dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.

Saiba mais - Marcus Vinícius de Melo MoraesMarcus Vinícius de Melo Moraes (Gávea, Guanabara 19.10.1913 - Rio de Janeiro9.7.1980) é poeta e compositor brasileiro dos mais célebres.

Formou-se em Direito em 1933 e conheceu o poeta Mário de Andrade, com quemestabelece grande amizade.

Dedica-se ao jornalismo, e apaixonado pela sétima arte, torna-se crítico de cinema.

Ingressou na carreira diplomática, foi vice-cônsul, segundo-secretário da embaixadaem Paris.

Ao lado do compositor Antônio Carlos Jobim e o cantor João Gilberto, Vinícius tevepapel importante no movimento de renovação da música popular brasileira, a que sedeu o nome de Bossa Nova.

1o. TextoTarsila do Amaral - Operários

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2o. TextoAlugue e assista os dois filmes abaixo:- Beleza Americana- Um Mundo Perfeito

3o. TextoJoséE agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?e agora, você?você que é sem nome,que zomba dos outros,você que faz versos,que ama, protesta?e agora, José?Está sem mulher,está sem discurso,está sem carinho,já não pode beber,já não pode fumar,cuspir já não pode,a noite esfriou,o dia não veio,o bonde não veio,o riso não veio,não veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou,e agora, José?E agora, José?Sua doce palavra,seu instante de febre,sua gula e jejum,

sua biblioteca,sua lavra de ouro,seu terno de vidro,sua incoerência,seu ódio – e agora?Com a chave na mãoquer abrir a porta,não existe porta;quer morrer no mar,mas o mar secou;quer ir para Minas,Minas não há mais.José, e agora?Se você gritasse,se você gemesse,se você tocassea valsa vienense,se você dormisse,se você cansasse,se você morresse...Mas você não morre,você é duro, José!Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nuapara se encostar,sem cavalo pretoque fuja a galope,você marcha, José!José, para onde?(Carlos Drummond de Andrade)

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Pesquise sobre o tema, reflita, analise.Registre o fluxo de suas idéias sem se preocupar com a ordem. Agora, organize-as.

Escreva a introdução de seu texto.A introdução pode ser feita de várias maneiras:Ex.: O intensivo aumento dos índices de violência nos grandes centros urbanos

está promovendo uma mobilização político-social.(constatação do problema)Ex.: A cidade de São Paulo aparece, nos meios de comunicação,como foco de

violência urbana.(delimitação do assunto)Ex.: Como um dos mais problemáticos fenômenos sociais, a violência está mobilizando

não só o governo brasileiro, mas também toda a população.(definição do tema)

Agora, exponha argumentos que comprovem o que você enunciou naintrodução.Escreva pelo menos três argumentos.

(Os argumentos podem ser compostos por exemplo, comparação, dado depesquisa,citação, alusão histórica,causas, consequências etc.)

Releia a introdução e conclua seu texto, confirmando a idéia principal.

Agora veja se o seu texto tem esta estrutura:1. Introdução: proposição do tema, da idéia principal, do ponto de vista a ser

defendido.

2. Desenvolvimento: desenvolvimento da matéria, argumentação.

3. Conclusão: síntese das idéias discutidas no desenvolvimento, resultado daargumentação.

1a Atividade em aulaVerifique se o texto que escreveu tem estas qualidades- Clareza- Concisão- Objetividade- Coerência- Coesão- Originalidade- Correção gramatical

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Saiba maisConcisão: consiste em expressar o máximo de informação com o mínimo de palavras.

Objetividade: consiste em expor apenas as idéias significativas.

Clareza: é decorrente de nossa capacidade de organização das idéias na mente e aadequada transposição para o material idiomático.

Coerência e coesão: qualidades resultantes da conexão harmônica entre idéias deforma a produzir sentido.

Palavras e expressões facilitam a ligação entre as idéias: Para indicaracréscimo: e, além do mais, novamente, igualmente, também, similarmente, comocomplemento, sobretudo, finalmente, primeiro, segundo, terceiro, por último, alémdo mais.Para introduzir contraste: mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto,embora, pelo contrário, ainda que, apesar de , ao contrário, por outro lado.

Para registrar conclusão, causa, ou efeito: assim, portanto, logo, concluindo,conseqüentemente, como resultado, em outras palavras, resumindo, em resumo.Para introduzir exemplo ou ilustração: assim, por exemplo, a saber, isto é,notadamente, especialmente, tal como, especificamente.

Para enfatizar: principalmente, ainda, mais importante.

Originalidade: criatividadeCorreção gramatical é o uso adequado da norma culta, sem desvios.

Dicas para dissertar bemConfira se está no caminho:1. Não use ponto após o título.2. Prefira usar palavras de língua portuguesa a estrangeirismos.3. Não use chavões, provérbios, ditos populares ou frases feitas.4. Evite utilizar palavras como “coisa” e “algo”, por terem sentido vago.5. Repetir palavras ou idéias empobrece o texto. Use sinônimos.

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Divirta-se com alguns pleonasmos viciosos:Elo de ligação (você já conheceu um elo de separação?)Acabamento final (Há acabamento inicial?)Juntamente com (se vou junto a você, vou com você, concorda?)Encarar de frente (encarar vem de cara)Multidão de pessoas ( se fossem peixes,seria cardume, certo?)Amanhecer o dia (já viu amanhecer a noite?)Criação nova (se fosse velha, não seria criação)Retornar de novo (re já significa de novo)Empréstimo temporário (tudo bem que os últimos, devido à crise, têm sido

definitivos)Surpresa inesperada (se fosse esperada, não seria surpresa)Em duas metades iguais (se não fossem iguais seriam metades?)Há anos atrás (verbo haver já indica tempo decorrido)Conviver junto(conviver é formado por com + viver)Escolha opcional (toda escolha é opção)Planejar antecipadamente (quem planejou depois faliu, certo?)Possivelmente poderá ocorrer ( o que é possibilidade pode ocorrer)repetir outra vez ( quem repete faz outra vez)voltar atrás (já voltou para frente?)Sorriso nos lábios (dá para sorrir em outro lugar?)6. Só cite exemplos de domínio público.7. Não abrevie palavras.

Divirta-se:Em certa ocasião, uma família britânica foi passar as férias na Alemanha. No

decorrer de certo passeio, os membros da referida família repararam numa pequenacasa de campo e lhes pareceu boa para passarem as férias de verão. Conversaramcom o proprietário, um pastor protestante, e pediram que lhes mostrasse a casa. Aresidência agradou muito aos visitantes ingleses, que combinaram ficar com ela para overão vindouro. Regressados a Inglaterra, discutiram muito sobre a planta da casa,quando de repente, a senhora lembrou-se de não ter visto W. C. Confirmando osenso prático dos ingleses, escreveram ao pastor para obter tal pormenor.

A carta foi assim redigida:“Gentil Pastor: - sou membro da família que há pouco tempo visitou-o com o

fim de alugar sua propriedade no próximo verão, mas como esquecemos de umdetalhe muito importante, muito agradeceria se nos informasse onde se encontra oW. C.”

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O pastor alemão, não compreendendo o sentido da abreviatura W. C. , ejulgando trata-se da Capela da seita inglesa White Chapel, assim respondeu:

- “Gentil senhora: - recebi sua carta e tenho o prazer de comunicar-lhe que olocal a que se refere fica a 12 quilômetros da casa. Isto é muito cômodo, sobretudose tem o hábito de ir lá freqüentemente. Nesse caso, é preferível levar comida paraficar lá o dia todo. Alguns vão a pé, outros de bicicleta. Há lugar para quatrocentaspessoas sentadas e cem em pé. O ar é condicionado para evitar inconvenientescomuns nas aglomerações. Os assentos são de veludo ( recomenda-se chegar cedopara arrumar lugar sentado). As crianças permanecem ao lado dos adultos e todoscantam o coro.

À entrada é fornecida uma folha de papel a cada pessoa, mas se alguém chegardepois da distribuição, pode usar a folha do vizinho. Tal folha deve ser substituída àsaída, para ser usada durante todo o mês. Tudo que se recolhe é para as criançaspobres da região.

Fotógrafos especiais tiram flagrantes para os jornais da cidade de modo quetodos possam ver seus semelhantes no cumprimento de um dever tão humano...”

(Autor desconhecido)

8. Não analise assuntos polêmicos sob apenas um dos lados da questão.9. Não utilize o texto para propagar doutrina religiosa ou política nem para fazer

propaganda.10. Evite truncar frases, deixar partes soltas. Use a pontuação correta.11. Faça argumentação em progressão. Não seja redundante nos argumentos.

Dicas sobre revisão gramaticalESTE / ESSE / AQUELEEsses pronomes podem auxiliar na redação de seu texto para conferir coesão e

coerência.

Relação de espaço: proximidade/afastamentoEste - perto de quem fala. Esta caneta aqui é minha.Esse - perto de quem ouve. Não gosto desse teu jeito de olhar.Aquele - longe dos dois. De quem é aquele caderno?

Relação de tempoEste - atual - Durante este mês, farei várias aulas.Esse - próximo/ de preferência passado. Há dois meses, viajei para a Bahia.

Nesses dias, visitei lugares magníficos.Aquele - tempo anterior mais afastado. A história versava sobre o começo do

século XX. Naqueles tempos, houve a Semana de Arte Moderna.

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Relação aos termos da oraçãoEste- refere-se ao termo mais próximoAquele - refere-se ao termo mais afastadoDe dois tipos de pessoas gosto muito: as crianças e os velhos. Estes, pela

sabedoria e aqueles, pela curiosidade.

2a Atividade em aulaExercite:Papai teve três filhos: João, Gerson e Luís. Este é medroso, esse é preguiçoso

e aquele é esforçado.

Pergunta-se:Quem é medroso?Quem é preguiçoso?Quem é esforçado?

RespostaEste(Luís) é medroso, esse (Gerson) é preguiçoso e aquele (João) é esforçado.

Relação aos termos da oraçãoEste - idéia a ser ditaEsse - idéia já ditaPrestem atenção nisto que foi dizer: seja feliz!Isso que disse há pouco é verdadeiramente o meu desejo.

Saiba maisVisite os sites:- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica/gramatica.aspx- http://www.portugues.com.br

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, aprendemos a importância da dissertação para nossa vida

pessoal e profissional. Compreendemos os tipos de dissertação, a estrutura e aqualidade dessa modalidade textual, além de dicas para dissertar bem.

Com relação aos aspectos gramaticais, aprendemos a utilizar os pronomes este,esse e aquele em diferentes situações.

Agora, repense sobre a pena de morte e escreva outro texto dissertativo.Quanto mais você exercitar, mais aperfeiçoará sua escrita.

Próxima aulaNa próxima aula, continuaremos com o texto dissertativo do tipo

argumentativo. Prepare-se: o assunto será a sedução no discurso. Enquanto isso, vaipensando que estratégias você costuma usar para seduzir uma pessoa.

Você verá que, no texto argumentativo, não é muito diferente. Se puder,pesquise sobre isso, afinal nos ensina Fernando Pessoa: “navegar é preciso, viver nãoé preciso”. Desculpe brincadeira, mas embarque nessa.

Até breve!

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Aula 11 - O ato de argumentar

Na aula de hoje, você aprenderá a importância de argumentar, saberá comoreconhecer e produzir texto dissertativo-argumentativo, identificará recursos paraseduzir no discurso.

Além disso, exercitará coesão e coerência.

Você já se perguntou por que algumas pessoas conseguem convencer outras deseu ponto de vista?

Que recursos utiliza?Como é possível argumentar com consistência e com coerência?Como se organiza a estrutura lógica do texto?Como é possível seduzir por meio do discurso?

Leia, atentamente, o trecho de um dos sermões do Padre Vieira.

Amor meninoTudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.

Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!

São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durarpouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para acircunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas.

Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino: porque não há amortão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou anatureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lheas setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhescrescer as asas com que voa e foge.

A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade àscoisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas paranão serem as mesmas.

Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?

O mesmo amar é causa de não amar e ter amado muito, de amar a menos.(Vieira, Pe. Antônio. Sermões. São Paulo, Ed. das Américas. v. 5, p. 197-70.)

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Saiba mais - Padre VieiraPadre Vieira nasceu em 1608 e morreu em 1697. Nasceu em Lisboa e, aos seis anos,veio para o Brasil.

Foi escritor e pregador. A partir de 1638, pronunciou alguns dos mais notáveis sermões.

Eis algumas de suas principais obras: Sermão de Santo António aos peixes; Sermão daSexagésima; Esperanças de Portugal - V Império do mundo; História do Futuro, entre outros.

Atividade em aulaVamos tentar um entendimento do texto?

01. O tema do texto ressalta valor:( ) real e concreto;( ) espiritual e insignificante para a vida humana;( ) espiritual e de grande significado para a vida humana;( ) material e irreal;( ) n.d.a.

02. Assinale o que for verdadeiro quanto ao texto acima:( ) Quanto mais velho o amor, mais forte.( ) Quanto mais novo o amor, mais intenso.( ) O amor pode ser transitório ou permanente.( ) O amor mais intenso é o que dura mais.( ) n.d.a.

03. O texto enfatiza o problema:( ) do tempo( ) do espírito( ) da matéria( ) da vida( ) n.d.a.

04. Podemos depreender do texto que:( ) valores humanos resistem ao tempo;( ) valores humanos são pouco importantes;( ) sentimentos e valores humanos são a mesma coisa;( ) sentimentos humanos são transitórios;( ) n.d.a.

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Atividade em aula05. Grife no texto qual a tese, a idéia que Padre Vieira defende.06. Grife 3 argumentos utilizados para defender a tese.07. Grife a conclusão do autor. Lembre-se de que ela é decorrência da

argumentação e não pode ser contraditória à tese.

Amor meninoTudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.

Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar

pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para acircunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigossabiamente pintaram o amor menino: porque não há amor tão robusto que chegue aser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma otempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que jánão fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhes crescer as asas comque voa e foge.

A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade àscoisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas paranão serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?

O mesmo amar é causa de não amar e ter amado muito, de amar a menos.

Veja as respostas na aula on-line.

Observe que argumentar é arte muito antiga. Aristóteles, na Grécia, em seu textoOrganon, conhecido por todos como Lógica, mostra como a palavra tem em siuma estrutura lógica, como a matemática e, a partir dela, podem-se construirtanto raciocínios exemplares, como raciocínios falsos, sofismas, modelosargumentativos aparentemente lógicos, porém com premissas falsas.

O célebre filósofo elaborou uma teoria do raciocínio conhecida comoinferência. Inferir é tirar uma proposição como conclusão de uma ou de váriasproposições que a antecedem e são sua explicação ou causa. O raciocínio é umaoperação do pensamento realizada por meio de juízos e enunciada lingüística elogicamente pelas proposições encadeadas, formando um silogismo A teoriaaristotélica do silogismo é o coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações oudas provas, da qual depende o pensamento científico e filosófico. Um silogismo éconstituído por três proposições. A primeira é a premissa maior, a segunda é apremissa menor e a terceira é a conclusão.

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Veja o exemplo clássico:Todos os homens são mortais.(premissa maior)Sócrates é homem.(premissa menor)Logo, Sócrates é mortal.(conclusão)

Agora, conheça o raciocínio falso:Todos os homens são loiros.Ora, eu sou homem.Logo, sou loiro.Todos os homens são vertebrados.Ora, meu gato é vertebrado.Logo, meu gato é homem.

Saiba mais - Divirta-seVocê acha que trabalha demais?Então vejamos:

O ANO TEM...................................................365 diasMenos : 8h de sono por dia............................122 diasSobram 243 dias

Menos: 8h de descanso diário.......................122 diasSobram 121 dias

Menos: domingos............................................52 diasSobram 69 dias

Menos: ½ dia por Sábado................................26 diasSobram 43 dias

Menos: feriados..............................................13 diasSobram 30 dias

Menos: Férias.................................................20 diasSobram 10 dias

Menos:Tempo gasto no cafezinho, lavatório, papinho etc....10 diasSobram........000dias

Que tal, ainda acha que trabalha demais?

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Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência deraciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípiosda lógica. As provas servem para reforçar os argumentos.

Tipos de argumento:1. comparação: confronto entre elementos, seja no tempo, seja no espaço,

seja nas características.2. alusão histórica: resgate de eventos do passado.3. provas concretas: dados de pesquisa, estatísticos, tabelas, gráficos.4. relação causa-efeito: estabelece motivos e conseqüências.5. testemunho autorizado ou argumento de autoridade: apresenta

ponto de vista de pessoa reconhecida na área debatida, utilizando idéias,pensamentos, frases célebres, citações.

6. fatos-exemplos: narração de fatos com o objetivo de exemplificar.

Reconheça o tipo de argumento utilizado por Padre Vieira nos trechos:1. “São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de

durar pouco, que terem durado muito.”Resposta > Comparação: confronto entre elementos, seja no tempo, seja no

espaço, seja nas características.

2. A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade àscoisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas paranão serem as mesmas.

Resposta > relação causa-efeito: estabelece motivos e conseqüências.

As características do texto dissertativo-argumentativo são:- Expõe ponto de vista sobre um dado assunto.- Apresenta função persuasiva.

Vale observar a diferença: argumentar não é demonstrar. Demonstrar éapresentar evidências, por meio de raciocínios lógico-formais.

Argumentar é usar técnicas para conseguir adesão dos espíritos, por meio deraciocínios persuasivos.

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Dicas para compreender o discurso da sedução1. Desperta o interesse e ganha simpatia.2. Sugere o implícito pelo explícito.3. Institui sentido figurado, com as figuras de linguagem.4. Transporta, por meio do imaginário, o receptor para o universo que se pretende.5. Direciona a comunicação para os sentidos e para os sentimentos, mais do que

para a razão.6. Faz das palavras imagens, descreve com detalhes.7. Provoca identificação do receptor com o transmitido.Para isso, é importante

conhecer o repertório pessoal do receptor.8. Oferece o inusitado, o diferente (“opostos se atraem”).9. A sedução não se faz apenas com palavras. Ela se faz também com gestos,

posturas, tons, ritmos, entonações, silêncio.

Saiba maisImportante notar que o discurso sedutor não se sustenta pela lógica, portanto se põecontra a nossa razão.

Ao primar pelo convencimento emocional, serve para vender, mas não serve, porexemplo, na relação cotidiana de trabalho, já que este tipo de estratégia, no médioprazo, quando termina seu encanto sedutor, faz com que o receptor, quando capazde operar com a razão, desmistifique tudo.

Encontre um texto publicitário e analise os argumentos (verbais e visuais)utilizados para seduzir o público a consumir o produto.

O editorial é outro tipo de texto argumentativo.

É um texto que veicula a ideologia do jornal em que é publicado. Ele expressa oponto de vista do jornal acerca de um assunto da atualidade, geralmente polêmico,com a intenção de formar a opinião do leitor.

Busque um editorial de algum jornal, como Folha de São Paulo, O Estado deSão Paulo etc. e analise os recursos utilizados para convencer o leitor do ponto devista defendido.

Comece pelo título. Depois observe adjetivos, advérbios, expressões querevelam subjetividade, adesão a um ponto de vista.

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Agora que você aprendeu como fazer para argumentar com eficácia, escreva seutexto argumentativo a partir da análise do gráfico.

Taxas de Participação, por Sexo, segundo Raça/CorRegião Metropolitana de São Paulo2003-2004Ver tabela na aula on-line

Saiba mais - Lembre-seA estrutura do texto dissertativo-argumentativo éIntrodução: tese, frase que mostra o posicionamento do autor.Desenvolvimento: argumentação, fundamentação da tese.Recursos: relação causa-efeito,comparação,depoimento, citação,dados estatísticos,dados de pesquisa,alusãohistórica, exemplificação, entre outros.Conclusão: síntese das idéias discutidas no desenvolvimento, resultado daargumentação. Pode propor soluções.

Atividade em aula:Exercícios de coesão

1. “O respeito pelo tempo dos outros aumenta a produtividade social, pois otempo de todos não é desperdiçado pelas esperas.”

( Revista Veja, 24/03/04).A relação estabelecida pelo conectivo pois é de:( ) explicação( ) conseqüência( ) fim( ) comparação( ) condição

2. A conjunção pois, no fragmento anterior, pode ser substituída sem prejuízode significado por:

( ) uma vez que( ) contudo( ) porém( ) entretanto( ) embora

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3. “ A tragédia interrompe a orquestração da vida como um maestroensandecido que resolvesse atirar nos músicos. Tal papel é desde sempre muitocumprido pelas tragédias naturais como os terremotos, e pelos grandes acidentes,como os naufrágios e quedas de aviões. Mas estamos no século XXI, e o terrorismoarrogou exercê-lo.”

(Revista Veja, 13 de março de 2004.)A palavra como é utilizada três vezes no texto. Releia-o atentamente, observe o

sentido da palavra e depois marque a alternativa verdadeira.( ) A palavra como possui exatamente a mesma função nos três momentos:

introduz comparação.( ) A palavra como apresenta funções diferentes: no primeiro caso, introduz

comparação; no segundo e no terceiro casos, serve para introduzir exemplificação.( ) A palavra como apresenta funções diferentes: no primeiro caso, introduz

comparação; no segundo caso, serve para introduzir exemplificação; no terceiro caso,introduz condição.

( ) Ela estabelece, nos três casos, a mesma relação de sentido da frase: “Comonão chegava cedo, perdeu a aula”.

( ) A palavra apresenta funções diferentes: no primeiro e no segundo casos,serve para introduzir exemplificação; no terceiro caso, introduz comparação.

4. O pronome lo (“o terrorismo arrogou exercê-lo) refere-se a :( ) maestro( ) músico( ) papel( ) terremoto( ) terrorismo

5. A palavra mas (“Mas estamos no século XXI”) tem como função:( ) Introduzir idéia de condição e pode ser substituída por talvez.( ) Introduzir idéia de explicação e pode ser substituída por portanto.( ) Introduzir idéia de oposição e pode ser substituída por entretanto.( ) Introduzir idéia de oposição e pode ser substituída por portanto.( ) Introduzir idéia de explicação e pode ser substituída por porém.

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Síntese de aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu a reconhecer e a produzir texto dissertativo-

argumentativo.

Tomou conhecimento dos recursos utilizados para seduzir o receptor eexercitou coesão e coerência - mecanismos necessários para conferir qualidade a seutexto.

Próxima aulaNa próxima aula, você fará uma avaliação dos conhecimentos adquiridos até

este momento, em uma aula lúdica e diferente.

Boa sorte!

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Aula 12 - Avalie suas habilidades e seus

conhecimentos

Olá! Hoje nossa aula será diferente. Faremos alguns exercícios em que vocêpoderá avaliar sua habilidade em ler, compreender, interpretar textos e aplicar seusconhecimentos gramaticais.

Atividade em aulaLeia, atentamente, o fragmento:“A crise de água que a Grande São Paulo vive hoje não é a primeira nem será a

última. Por causa de limites naturais na disponibilidade hídrica, da poluição de rios erepresas, da ocupação desordenada de mananciais, do descaso no uso e da falta depolíticas eficientes para reeducar o consumo e reduzir perdas, a região só tem águagarantida até 2010.”

( Folha de São Paulo, 12 de outubro de 2003)

1. Com base nas informações enunciadas, concluímos que:( ) “Gato escaldado tem medo de água fria”( ) “Quem tem boca vai a Roma”( ) “Santo de casa não faz milagre”( ) “Quem ama o feio, bonito lhe parece”( ) “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.”

O texto abaixo refere-se à questão 2.“Lula disse a empresários que José Dirceu está mais ministro do que antes do

escândalo, ficará no governo até o último dia de seu mandato e continua sendo o‘capitão do time’ do governo”.

(Revista Veja, 21/04/04).

2. Assinale a alternativa CORRETA com relação ao texto:( ) O verbo está indica situação estável e não provisória como é comum.( ) O nível de linguagem do texto é informal.( ) O texto revela um diálogo com o universo esportivo, em especial, com o futebol.( ) A expressão “capitão do time” pode ser substituída por líder da equipe

do governo.( ) Todas as alternativas estão corretas.

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3. Dependendo da nossa capacidade de sonhar e querer com competência, nóspodemos estender o campo do possível, podemos, portanto, alterar o que seriaprevisível não fosse o nosso querer e a nossa vontade. Então aí a coisa complica. Apalavra coisa é usada, neste contexto, e se torna perfeitamente compreensível porse tratar de um discurso oral. No que se refere ao texto escrito, que deve ser bemelaborado, a palavra deve ser substituída objetivamente pelo sentido a que se refere.

No caso, a palavra coisa poderia ser traduzida por:( ) mundo( ) situação( ) casamento( ) convivência( ) país

1o. TextoO texto a seguir refere-se às questões 4 a 12.

O Homem e a naturezaA idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua, se

não fosse perigosamente pretensiosa.

Essa crença lançou profundas raízes no espírito humano, reforçada por doutrinasque situam corretamente o homo-sapiens no ponto mais alto da evolução, masincidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da criação.

Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para alguma coisa,mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas.

A aquisição de características muito específicas como a linguagem, raciocíniológico, memória pragmática, noção de tempo e capacidade de acumular não fizeramdo homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais bem dotado paradeterminados fins.

Isso não confere autoridade para pretender que todo o resto do universoconhecido deva prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria daspessoas com poder decisório no mundo.

(Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde, abril de 2001)

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Atividade em aula4. Todo texto dissertativo - oral ou escrito - compõe-se de três partes: uma

introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Na Introdução, normalmentelocaliza-se a tese do autor, a idéia principal que ele busca defender ao longo do texto.

Grife a tese do texto.

5. O desenvolvimento do texto compõe-se pela argumentação - que é deextrema importância para que se tenha consistência e qualidade. O primeiroargumento apresentado é:

( ) Acreditar que o homem é finalidade da criação é equívoco.( ) O homo sapiens é a espécie mais evoluída.( ) Toda crença é reforçada por doutrinas.( ) Todo o universo deve se submeter ao homem.( ) n.d.a.

6. O segundo argumento apresentado no texto é:( ) Tudo na natureza tem uma função.( ) Deve haver troca e equilíbrio entre os seres e as coisas.( ) Tudo está em desequilíbrio na natureza.( ) Todo o universo tem que sucumbir à vontade humana.( ) n.d.a.

7. O terceiro argumento apresentado no texto é:( ) O fato de o homem ser superior não significa que ele pode mandar em tudo.( ) O fato de o homem ter linguagem não o qualifica como responsável

pela natureza.( ) O fato de o homem ter linguagem, raciocínio lógico e outras qualidades que

o diferenciam dos animais não justifica que ele seja superior.( ) O fato de o homem possuir qualidades superiores não o qualificam como cidadão.( ) n.d.a.

8. A conclusão do texto pode ser resumida:( ) ser bem dotado significa ser superior à natureza.( ) ser superior implica ser vassalo.( ) ser superior significa não ser vassalo.( ) ser bem dotado não implica ser superior à natureza.( ) n.d.a.

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9. A palavra Isso que inicia o terceiro parágrafo do texto refere-se à:( ) linguagem( ) raciocínio lógico( ) memória( ) noção de tempo( ) o fato de ser bem dotado

10. Na frase “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenasingênua, se não fosse perigosamente pretensiosa”, se trocássemos a conjunção se, osentido manter-se-ia em:

( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,embora não fosse perigosamente pretensiosa.”,

( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,caso não fosse perigosamente pretensiosa.”,

( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,porque não é perigosamente pretensiosa.”,

( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,porém não seria perigosamente pretensiosa.”,

( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,portanto, seria perigosamente pretensiosa.”,

11. A palavra dele, no fragmento “mas incidem no equívoco de fazer dele umaespécie de finalidade da criação”, refere-se:

( ) espírito humano( ) homo sapiens( ) evolução( ) ponto( ) equívoco

12. A partícula lhe, na passagem “todo o resto do universo conhecido devaprestar-lhe vassalagem”, refere-se:

( ) universo( ) resto( ) homem( ) pessoas com poder decisório( ) autoridade

O texto a seguir refere-se às questões 13 e 14.“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura

desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidadese prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leituracrítica, implica na percepção das relações dentre o texto e o contexto.”

(Paulo Freire)

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13. É possível depreender do texto que:( ) A leitura do mundo é mais abrangente do que a leitura da palavra.( ) A leitura do mundo é menos abrangente do que a leitura da palavra.( ) A leitura do mundo depende da leitura da palavra.( ) A leitura do mundo, para ser ampliada, não depende da leitura da palavra.( ) A leitura crítica independe das relações entre o texto e o contexto.

14. As palavras desta e daquele, no texto, referem-se respectivamente à:( ) do mundo / da palavra( ) da palavra / do mundo( ) leitura / mundo( ) palavra / contexto( ) linguagem / texto

15. Como reconstruir um país______ um quarto das crianças [afegãs] nãochega a completar 5 anos de idade? (National Geographic, novembro de 2003.)

A alternativa que preenche adequadamente a lacuna é:( ) cujo( ) na qual( ) que( ) onde( ) para o qual

16. Assinale a alternativa correta:( ) Se você não se opor, eu participarei da decisão.( ) Quando eu vir você, darei o recado.( ) Quando eu ver você, saberei o que dizer.( ) Se você composse uma canção, eu ficaria feliz.( ) Se você pôr essa resposta errada, vai perder pontos.

Veja as respostas na aula on-line.Avalie-se:Se você acertou todas as questões(16) : Parabéns!! Gabaritou!!Se você acertou de 13 a 15 questões: está ótimo!Se você acertou de 9 a 12 questões: está bom!Se você acertou de 5 a 8 questões: está regular!Se você acertou de menos de 4 questões: está insatisfatório!Leia mais, pesquise mais,estude mais.

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Atividade em aulaAssocie as modalidades textuais:

1. O narrador é um artesão da palavra. Confiante em si, simples e sóbrio nosgestos, equilibrado na expressão corporal, ele deve conduzir a história comcriatividade. O tom de sua voz deve ser modulado de acordo com o que conta. Acorreção da linguagem e a boa dicção são atributos importantes para o contador.

( ) Descrição( ) Narração( ) Dissertação( ) Poema narrativo

2. ”Todas as noites, depois do jantar, a molecada do bairro se amontoava noportão da minha casa: era a hora negra das histórias dos lobisomens, bruxas, almas-penadas, tinha uma procissão de caveiras que passava à meia-noite, cantando, ôDeus! Como eu tremia...”(Lygia Fagundes Teles)

( ) Descrição( ) Narração( ) Dissertação( ) Poema narrativo

3. Contar histórias é arte milenar, é necessidade humana. Nasce da tentativa deexplicar tudo o que o homem desconhece. Desde os primórdios, as histórias eramcontadas à noite e ao redor do fogo. Há muitos tipos de narrativa para se contar: mitos,fábulas, contos, lendas. Narrar é uma forma de criar diálogo com o outro e consigo.

( ) Descrição( ) Narração( ) Dissertação( ) Poema narrativo

4. João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônianum barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

BebeuCantouDançouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.( ) Descrição( ) Narração( ) Dissertação( ) Poema narrativo

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você exercitou sua leitura, seu vocabulário, identificou

elementos, textos, concluiu e resumiu idéias, ativou seus conhecimentos dos aspectosgramaticais, trabalhou com coesão e coerência, enfim, foi um momento lúdico eenriquecedor em que você pôde avaliar suas habilidades de leitura, compreensão,interpretação de textos – que lhe preparação para a vida pessoal e profissional,dando-lhe uma das competências fundamentais de nosso século: a comunicação.

Próxima aulaNa próxima aula, continuamos com nossa programação, abordando técnicas

para fazer resumo de um texto, atividade indispensável para quem pretende adquirirfacilidade na construção verbal organizada e completa.

Até lá!

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Aula 13 - Como fazer o resumo de um texto

Na aula de hoje você deverá aprender como elaborar o resumo de um texto,isto é, identificar as principais idéias e palavras-chave de um texto.

Você vai perceber que se trata de uma atividade indispensável para quem pretendeadquirir facilidade na construção verbal organizada e completa, seja oral ou escrita.

Não é apenas o estudante que precisa desenvolver essa habilidade, mas muitosprofissionais que têm, na leitura, as fontes principais de informação.

O que é resumir um texto?É reproduzir, sinteticamente, o que foi expresso de maneira ampla pelo autor.Para resumir, é necessário observar o que é essencial e o que é secundário

(repetições, explicações, exemplificações etc.).

Ao resumir, aprende-se a relacionar as idéias principais e a compreender, comclareza, o assunto do texto.

O resumo abrevia o tempo de quem faz uma pesquisa; difunde informações detal modo que pode influenciar e estimular a consulta do texto completo.

Conceitos importantes a serem pesquisados• Argumentação• Tópico frasal• Parágrafo• Conotação e denotação

Consulte as obras:• GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2000.• MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. (5ª ed.), São Paulo: Atlas, 2003.• Correspondência – técnicas de redação criativa. (16ª ed.) São Paulo: Atlas, 2002.

Consulte o site:•www.portugues.com.br/semantica/polissemia.asp

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Procedimentos gerais1. Faça, primeiramente, uma leitura atenta, sem anotações, para tomar

conhecimento das idéias principais. No final dessa leitura, você deverá ser capaz deresponder à pergunta genérica: qual o assunto do texto?

2. Faça uma segunda leitura (e outras tantas, se necessário), anotando à margemo que for importante para a compreensão mais detalhada do texto. Em umadissertação, pontue os argumentos. A parte teórica deverá figurar sempre, ao passoque os exemplos e mesmo as explicações longas poderão ser abreviadas ou atésuprimidas.

3. Sublinhe as palavras-chave no texto que marcam as idéias fundamentaispara a compreensão (essas palavras estão quase sempre na parte teórica). Utilize-sede uma ficha para as anotações.

4. Fique atento para as palavras de ligação que estabelecem a estrutura lógica dosraciocínios (assim, além do mais, pois, porque, por conseguinte, em decorrência etc.).

Dicas práticas1. Em uma dissertação, os parágrafos marcam as partes da estrutura geral que

consiste em: ponto de vista ou tópico frasal, argumentação e conclusão.Por isso, você pode fazer o resumo de cada parágrafo. Aconselhamos dois

resumos: um do parágrafo e outro do próprio resumo, a fim de encontrar a maneiramais concisa de expressão.

2. Resumidos os parágrafos, você deve ler a seqüência dos resumos, paraadequar a linguagem de acordo com o esquema geral das idéias.

3. Você não deve apresentar juízo valorativo, opinar ou criticar, pois o objetivo éapenas elaborar um resumo e não um comentário, uma interpretação ou umaresenha. Evite introduções do tipo: “o autor diz que...”, “o autor continua afirmandoque...” etc. Anote exclusivamente o pensamento expresso pelo autor.

4. Os exemplos citados para confirmar ou explicar a parte teórica devem serresumidos apenas quando imprescindíveis à compreensão do raciocínio.

5. O bom resumo deve conservar o estilo do texto original, como nível delinguagem, ironia, humor etc.

6. Evite a repetição de frases inteiras do original.

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7. Respeite a ordem em que as idéias ou fatos são apresentados.

8. Um resumo, normalmente, deve ter de dez a vinte por cento da extensão dotexto original.

1a Atividade em aulaExercite os seus conhecimentos

Leia o texto a seguir:“Se perguntarmos a qualquer brasileiro o que ele espera do novo governo, ele

diria que espera a paz. Pode ser que não use o substantivo, mas empregará um dosseus muitos sinônimos. O pão é o primeiro nome da paz.

Não é à toa que a paz está normalmente associada à abundância. Se pedirmos aqualquer criança que desenhe uma casa, ela colocará sobre o telhado chaminé efiapos de fumaça. Sem chaminé e sem chamas no fogão, a casa não é lar. Assemelha-se a um túmulo.

Para o trabalhador, a paz é um conjunto de realidades: emprego seguro, saláriojusto, comida à mesa e escola para os filhos. É também segurança: certeza de quepode deixar a mulher e os filhos em casa e que, no trajeto entre sua moradia e olugar do trabalho, as ruas serão livres e não haverá bandidos que o assaltem, nempoliciais que o metralhem, sob a desculpa da suspeita.

Para os artistas e intelectuais, o primeiro nome da paz é liberdade. Liberdade decriar e de expor os frutos de sua imaginação ou de sua descoberta. Sem liberdade,ainda que houvesse pão e houvesse segurança, não haveria paz.

A cada brasileiro a sua paz.”Revista Isto É, nº 417, p.27.

Analisando o textoQual é o assunto ou o tema do texto?O texto diz o que representa a paz para o povo brasileiro.

Qual é a palavra-chave do tema central?A paz, não é mesmo?

O conceito sobre a paz é o mesmo para todos os segmentos da sociedaderetratados no texto?

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O que significa a paz para qualquer brasileiro?“O pão é o primeiro nome da paz”.

O que significa a paz para o trabalhador?“...a paz é um conjunto de realidades: emprego seguro, salário justo, comida à

mesa, escola para os filhos, segurança...”

E para os artistas e intelectuais, o que significa a paz?“...paz é liberdade”.

ResumoQualquer brasileiro espera a paz de um governo. O pão é o primeiro nome.

Para o trabalhador, a paz é um conjunto de realidades: emprego seguro, saláriojusto, comida à mesa, escola para os filhos e segurança.

Para os artistas e intelectuais, o primeiro nome da paz é liberdade de criar eexpor os frutos da sua imaginação.

A cada brasileiro a sua paz.

Saiba mais - Resumo finalSugestãoQualquer brasileiro espera de um governo a paz, que significa pão.

Para o trabalhador, paz significa um conjunto de realidades: comida, emprego, salário,escola e segurança.

Para os intelectuais, paz é liberdade de criar e de expressar-se.

A cada um a sua paz.

2a Atividade em aulaFaça agora você o resumo deste texto. Observe os procedimentos e as dicas

que foram sugeridas.

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“Não faz muito tempo, o trabalho estava intimamente associado ao tipo depessoa que você era e ao que suas inclinações e talentos naturais o levariam a fazerpela comunidade: ferreiro, parteira, costureira, agricultor, médico e assim por diante.

Trabalho e serviço estavam mais intimamente associados.Os talentos naturais eram os elos.

A Revolução Industrial e a produção em massa acabaram com esse sistemacômodo. As fábricas empregavam milhares de trabalhadores. As pessoasabandonavam a dura e incerta luta pela vida em sua pequena comunidade para aceitarempregos monótonos, mas seguros nas cidades. Um emprego era igual a milhares deoutros; os funcionários eram considerados peças intercambiáveis – rotativas, mais oumenos permanentes.

Os trabalhadores passaram a acreditar que precisavam aderir a algumaorganização para sobreviver, ter sucesso e sustentar sua família. As pessoas perderama sensação de auto-suficiência e a confiança de que dispunham de recursos internospara fornecer valor à comunidade e, com isso, ganhar a vida. Perdeu-se também arotina diária de apoio aos vizinhos e de ser apoiado por eles também. O trabalhogirava mais em torno do dinheiro e status do que do serviço ou comunidade.

Abandonar o lar em busca de trabalho fez as pessoas perderem o contato nãoapenas com suas famílias e comunidade, mas também com suas forças, inclinações edesejos naturais. Os poucos que se conscientizaram disso muitas vezes passaram aacreditar que lhes faltavam bvcondições de “perseguir o seu entusiasmo”. Muitosperseguiam o de outra pessoa e aos poucos perdiam o ânimo, a ligação com seusverdadeiros valores e dons singulares.

Atualmente, o ânimo das pessoas está se extinguindo porque elas perderam devista sua determinação e impulso interiores. Funcionários designados apenas para umaparte de um serviço nunca têm a oportunidade de desenvolver o domínio sobre ele.

As pessoas não se sentem confortáveis ou confiantes se não dominarem algo.

FARREN, Caela. Carreira de sucesso: como administrar e garantir o emprego emtempos difíceis. São Paulo: Futura, 2000. pp.50-51.

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3a Atividade em aulaAssista a um dos três filmes sugeridos e faça o resumo dele.1. O show de Truman, o show a vida.2. Feitiço do Tempo.3. Náufrago.

4a Atividade em aulaFaça o resumo de um livro que você leu ou de um artigo de jornal ou revista

que tenha sido relevante para sua análise da sociedade.

Dicas de revisão gramaticalEmprego dos pronomes relativos

Observe as duas frases: 1. Li um livro. 2. O livro emocionou-me.

Li um livro que me emocionou.

Na frase 2, a palavra livro foi substituída pelo pronome que.

Esse pronome tem a função de substituir a palavra com a qual está relacionada.Denomina-se, por esse motivo, pronome relativo.

Pesquise sobre pronome relativo.O que é?Quais os tipos?Quando devem ser utilizados?

Consulte os sites:http://www.gramaticaonline.com.brhttp://www.priberam.pt/dlpo/gramatica/gramatica.aspx

1. Comprei o livro.2. Você se referiu ao livro.

Comprei o livro a que você se referiu.

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Os pronomes relativos devem sujeitar-se à regência dos nomes e dos verbos aque estão subordinados. Assim, antes do pronome relativo, deve ocorrer apreposição que for exigida pelo termo ao qual estiver associado.

1. A loja fazia promoções.2. Comprei o livro na loja.

A loja [comprei o livro na loja] fazia promoções.A loja [na loja comprei o livro] fazia promoções.

A loja na qual comprei o livro fazia promoções.Onde

5a Atividade em aulaEncaixe as orações secundárias no lugar adequado, empregando o pronome relativo:

1. O livro está esgotado. / O professor recomendou o livro.2. O filme é interessante. / Eu assisti ao filme.3. A janela era ampla. / Através da janela podíamos ver o mundo.4. O poeta é paulista. / Você apreciou os versos do poeta.5. É bem antiga a cidade. / Eu moro na cidade.6. Esta é a paineira. / Nós adorávamos a sombra da paineira.7. Havia um recado na portaria do hotel. / O recado estava escrito em código. /

O terrorista encontra-se hospedado no hotel.8. As revistas proporcionam ao público horas de entretenimento / As revistas

pertencem ao jornalismo. / O jornalismo é periódico. / O público lê as revistas.

Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu a fazer resumo. Exercitou a capacidade de

sintetizar idéias. Além disso, relembrou alguns aspectos da dissertação bem como ouso do pronome relativo.

Próxima aulaNa próxima aula, o assunto é leitura crítica e produção de resenha.

Até lá!

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Aula 14 - Leitura Crítica

Na aula de hoje, você deverá aprender como elaborar a resenha de um texto,ou seja, desenvolverá a capacidade de síntese, de interpretação e de crítica.

Você vai perceber que se trata de uma atividade fundamental para a formaçãode uma mentalidade científica.

Além disso, deverá aplicar adequadamente a concordância verbal.

ResenhaA resenha é um tipo de redação técnica que pode ser definida como um resumo

minucioso ou crítico. Há resenhas descritivas e resenhas críticas.

O objeto de uma resenha pode ser um acontecimento, textos, obras culturais,como romance, peças de teatro, filmes. O resenhista terá sempre um procedimentoseletivo e o relato dependerá de sua finalidade.

Seu objetivo é conduzir o leitor para mensagens referenciais, por isso alinguagem deve ser objetiva, em 3ª pessoa. Incluindo variadas modalidades de textos- descrição, narração e dissertação -, esse relato detalhado pode ser um instrumentode pesquisa ou atualização bibliográfica.

A leitura analítica é sua base.

Resenha descritivaNa resenha descritiva, é importante ressaltar a estrutura da obra (partes,

número de páginas, capítulos, assuntos, índices, nome do tradutor), o resumo dotexto, a perspectiva teórica, o gênero (crítica literária, livro de negócios, romanceteatro, ensaio), o método adotado.

Resenha críticaNa resenha crítica, acrescentam-se comentários e julgamentos do resenhista,

comparações com outras obras, avaliação da relevância do texto.

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A resenha crítica compreende uma abordagem objetiva (em que se descreve oassunto, sem emitir juízo de valor) e uma abordagem subjetiva (apreciação crítica emque se evidenciam os juízos de valor de quem a elabora).

Leia uma resenha descritiva

Arquitetura do conhecimentoThais Helena dos Santos, da Agência EducaBrasil At.: Regina Ramos

Despertar hábitos de estudo científico em estudantes para permitir odesenvolvimento de uma vida intelectual disciplinada e sistematizada. A proposta édo professor Antônio Joaquim Severino, da Faculdade de Educação da USP, em seulivro Metodologia do trabalho científico, reeditado pela Cortez Editora.

A obra, que está na 21ª edição, aborda uma iniciação metodológica ao trabalhointelectual a ser desencadeado desde o limiar da vida universitária. Segundo Severino,que leciona Filosofia da Educação, o livro traz propostas práticas, instrumentosoperacionais, técnicos ou lógicos, para o estudo visando uma organização científica emaior aprofundamento na ciência, nas artes ou na filosofia.

Em vários momentos do texto é possível perceber o objetivo do trabalho emdar subsídio para o estudante transformar seu aprendizado num criterioso processode construção do conhecimento. Diz o autor que isso só será possível se o alunoconseguir aprender apoiando-se constantemente numa atividade de pesquisa,praticando uma postura investigativa.

Em relação às edições anteriores, o texto foi acrescido de elementosmetodológicos e técnicos para o melhor aproveitamento dos recursos tecnológicos,mais precisamente o uso do computador e da Internet. A listagem das editoras, comas respectivas informações, endereços e linha de publicação, foi suprimida, com oargumento de que na Internet esses dados são facilmente encontrados.

O livro, voltado para estudantes de graduação e pós-graduação, mostra nosegundo capítulo como fazer uma documentação (bibliográfica e temática) pessoal eutilizá-la como método de estudo. “O estudante tem que se convencer de que suaaprendizagem é uma tarefa eminentemente pessoal; tem de se transformar numestudioso que encontra no ensino escolar não um ponto de chegada, mas um limiar apartir do qual constitui toda uma atividade de estudo e de pesquisa, que lheproporciona instrumentos de trabalho criativo em sua área”, argumenta o autor.

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O terceiro capítulo merece destaque por ensinar como fazer uma leitura, umaanálise textual, temática e interpretativa, além de uma síntese pessoal. Segundo oautor, a leitura analítica permite o aprofundamento do estudo científico. Por meio deum modelo apresentado no livro, o estudante pode fazer um trabalho mais rigorososobre o texto.

“A leitura, cientificamente conduzida, é instrumento fundamental para aaprendizagem no ensino superior, uma vez que todas as demais atividades, inclusive asaulas, a pressupõem. O texto é entendido como portador de uma mensagem codificada etransmitida pelo autor ao leitor. A leitura é uma atividade de decodificação destamensagem. Tal trabalho é feito pela leitura analítica”, explica o autor, argumentando queesse trabalho serve para o estudo pessoal, para preparação de seminários, paraelaboração de relatórios, roteiros de estudo, de resenhas e de resumos.

Para a realização de um seminário, o livro fornece algumas diretrizes, desde osobjetivos definidos até o esquema geral de desenvolvimento, com texto-roteiro eoutras questões. O seminário, segundo o autor, é entendido como método de estudoem grupo e atividade de classe específica aos cursos universitários. “Nesse sentido, oseminário pressupõe e desenvolve tanto a leitura analítica como a leitura dedocumentação, alimentando também a reflexão e criando contextos e problemassobre os quais versarão futuras pesquisas do universitário”, salienta.

A elaboração de uma monografia também é tratada no texto de Severino. Todasas etapas — determinação do tema-problema-tese do trabalho, levantamento dabibliografia, leitura e documentação, construção lógica do trabalho, redação, construçãodo parágrafo — são apresentadas e discutidas. Os aspectos técnicos da redação e asformas de trabalhos científicos são abordados numa linguagem prática e acessível.

Segundo Severino, tanto a pesquisa quanto a reflexão são os objetivos finais davida científica universitária. “Se isso se concretiza quase que só na pós-graduação, nãose pode perder de vista que a graduação deve ser, irrefutavelmente e apesar de todosos fatos em contrário, uma rigorosa iniciação à pesquisa e à reflexão”, alerta. Econtinua: “Ao universitário cabe adquirir disciplina rigorosa para a expressãocodificada de seu pensamento, qualquer que seja sua área de estudo”.

O capítulo sobre a Internet como fonte de pesquisa garante ao aluno umprimeiro contato à iniciação e ao manuseio dos recursos tecnológicos na busca deinformações para seus trabalhos de pesquisa. O texto apresenta orientações para oacesso à Internet e aos demais equipamentos de informática e multimídia. O registrodocumental dos dados colhidos também é abordado.

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Os trabalhos de pós-graduação são tratados no sétimo capítulo. O autor fazobservações metodológicas, fala sobre qualidade e forma, comenta o processo deorientação, do projeto de pesquisa e as exigências éticas do trabalho acadêmico.

No último capítulo do livro, os pré-requisitos lógicos do trabalho científico sãoapresentados, abordando a formação dos conceitos, das demonstrações, dos juízos edos raciocínios. O livro traz ainda anexo de revistas, dicionários especializados,bibliografias e metodologia de pesquisa e uma bibliografia comentada.

Livro: Metodologia do trabalho científicoAutor(es): Antônio Joaquim SeverinoEditora: Cortez N° páginas: 278

Saiba maisVisite o site:http://www.educabrasil.com.br/eb/exe/texto.asp?id=45

Agora, leia uma resenha crítica.

Amnésia, o tempo como construção

Resenha do filme Amnésia (título original, Memento). Direção e roteiro,Christopher Nolan, EUA 2001, distribuidora Paris Filmes

Por NORMA CÔRTES Historiadora, Mestre em História Social pela PUC-Rio eDoutora em Ciências Humanas (ciência política) pelo IUPERJ.

É bolsista recém-doutor pelo CNPq junto ao Departamento de História e aoPPGH da UERJ, onde leciona disciplina na área de Teoria e Metodologia da História edesenvolve pesquisa sobre Nelson Werneck Sodré e João Cruz Costa Amnésiaprovocou mais espanto que boa crítica.

E quase passou despercebido pelo grande público.Nos cinemas do Rio de Janeiro não teve uma temporada expressiva, mas

quando foi lançado em vídeo passou a ser bastante procurado.É desses filmes cult, divulgados informalmente, que se pode ver em casa, na

telinha da televisão.Não exige uma sala de projeção especial — o seu forte não são imagens, mas a

lógica do seu enredo.

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A história é banal. Após o estupro seguido do assassinato da esposa, homemperdeu a habilidade de memorizar qualquer acontecimento recente e iniciou umasaga de vingança.

Não se tornara um completo desmemoriado; sabia quem era, lembrava-se doseu nome (Leonard), onde havia nascido e permanecera consciente do seu passadoaté o momento do acidente.

O problema é que a partir daí virou um prisioneiro do presente.

Vivia cada instante como se fosse o único, sendo incapaz de lembrá-los ou deconcatenar a sucessão das suas experiências rotineiras. Sua memória não guardavacoisa alguma por mais de uns poucos minutos.

Condenado à vida vegetativa, Leonard perdeu a faculdade de dar sentido às suasvivências. O filme consiste neste imbróglio: o protagonista sofre de amnésia recente;quer encontrar os assassinos da mulher; e tenta superar sua deficiência mnemônicacom a mesma obstinação que alimenta pela vingança. Para isso se impôs umadisciplina férrea e sistemática registrando todos os acontecimentos cotidianos.

Munido de máquina Polaroid e caneta, ele fotografava a tudo e a todos,anotando qualquer pequeno fato que lhe acontecesse. Não satisfeito, adotou umasolução ainda mais radical e tatuou no próprio corpo a seqüência ordenada dosresultados da sua investigação. Pensava que através desse curioso sistema de notaçõessupriria suas falhas de memória. Afinal, se o continuum do real lhe escapava, inventouum artifício que mantivesse e fixasse a ordem dos fatos.

É no roteiro que está a originalidade do filme. Obedecendo à percepçãotemporal do protagonista esquecido, a narrativa fílmica desconstrói o sentido naturaldo tempo e se apresenta de trás para frente. Quer dizer, em vez de as tomadasseguirem o encadeamento cronológico padrão vindo do passado para o presente —diretamente, ou mesmo em flashsback que geralmente retornam aos fatos anteriorespara reconstituírem linear e cumulativamente a sucessão de eventos —, Amnésiaconta seu enredo na ordem temporal inversa. A história começa pelo fim.

Em sua primeira cena, a revelação de um negativo Polaroid, a imagemfotografada de um cadáver empalidece lentamente. No avesso do sentido usual, afoto não se torna nítida e aos poucos vai sumindo até desaparecer. Apesar de fugaz,a cena insinua toda a estrutura do roteiro. Desde o início sabe-se que o protagonistamatou um homem, mas tal como desmemoriados, desconhecemos os fatos préviosque conduziram àquela situação.

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Contra toda obviedade, Amnésia desmonta os elos do raciocínio linear e impedeque se estabeleçam vínculos fáceis entre a contigüidade temporal e a explicaçãocausal. Na marcha ré do tempo, o filme é uma dramática perseguição às causas dasações do seu protagonista.

No limite, trata-se de uma tentativa desesperada para oferecer sentido às ações deum homem que mesmo sem conseguir entender o significado dos seus próprios atos,quer obstinadamente alcançar uma meta futura. Entre a memória de um passado perdidoe a perseguição de um destino que, sendo realizado ou não, será inexoravelmenteesquecido, o protagonista está preso em um tempo eternamente atual.

Sua consciência não registra a experiência da mobilidade temporal e, portanto, opresente se lhe parece inalterado. Não que tivesse desaprendido o significado daspalavras antes/passado, durante/presente, depois/futuro. Leonard não perdeu oentendimento ou a razão; e algumas de suas faculdades intelectuais permaneciam intactas.

O que ele não possuía mais era a capacidade de reunir os fragmentos das suasações emprestando-lhes algum sentido. Sabia quem era e aonde queria chegar, masnão entendia se o que acabara de fazer era compatível com sua identidade e intenção.Refém do esquecimento, Leonard perdeu a natural habilidade de compreender eexplicar o fluxo do tempo.

É por esta razão que Amnésia contém um desafio aos historiadores. Além deser um engenhoso quebra-cabeça, o filme tangencia as indagações sobre quaiscritérios avaliam os atos humanos. A questão é clássica.

E nos tempos modernos foi Maquiavel quem primeiramente fixou seus termosao polarizar fortuna e virtude. Desde então, os estudiosos vêm se perguntando qual éo foco do juízo racional sobre as ações, ou seja, sob qual aspecto se interpreta aconduta dos homens? Considerando a intenção dos agentes ou os efeitos dos atos?

A virtú ou as circunstâncias casuais? Levando em conta o livre arbítrio ou adeterminação das escolhas? Valorizando os princípios morais ou as conseqüênciaspolíticas? Chamando os homens à responsabilidade ou deixando-os entregues à suasconvicções? Pólos indissociáveis — a despeito dos esforços de Max Weber pararacionalizar a questão —, esses dilemas exprimem as múltiplas faces de um lentoprocesso de alteração cognitiva. Eles encerram o simultâneo processo de dissoluçãoda idéia de uma natureza humana eterna, a conformação do indivíduo como cidadelalivre e voluntária e a valorização da História e da mobilidade temporal comoprincípios de compreensibilidade dos assuntos humanos. Em outras palavras, trata-sedo esvaziamento dos paradigmas atemporais junto ao surgimento da visão de mundomoderna cujas fórmulas explicativas da vida dos homens são historicizantes.

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Nesse sentido, o filme interessa aos historiadores não apenas porque enfrenta odilema dos efeitos perversos envolvidos nas nossas escolhas — situações em que aação ou a omissão pode resultar em malefícios infinitamente piores que o previstopelas (boas) intenções —, mas principalmente porque sugere que a inteligibilidadedesse dilema supõe a construção em retrocesso de uma seqüência causal, ouseja, implica em resgatar uma História que compatibilize fins e meios, conseqüênciascom intenções. Em outras palavras, a força dramática de Amnésia não residesomente no fato de o protagonista hesitar em agir. Mais que a imprevisibilidadeinscrita nas suas decisões (o que, de resto, é comum a todos os mortais), Leonard sedepara como a perda da faculdade de lembrar e reconhecer suas próprias ações.

Portanto, mesmo que estivesse orientado por todos os manuais de boa condutaou animado pela mais maquiavélica das astúcias, sem memória, tornara-se incapaz dedar sentido àquilo que fizera. E tal como fazem os historiadores (os profissionais damemória), se viu obrigado a escolher e fixar os fatos dignos de serem lembradospara, a partir deles, forjar retrospectivamente uma série causal.

Afinal, quando perdeu o entendimento espontâneo da sucessão temporal, seusesforços para compreender a marcha dos acontecimentos e enquadrá-los numanarrativa minimamente convincente passaram a ser tão arbitrários e artificiais quantosuas (in)decisões de agir.

Sob esse aspecto, o filme é uma lição de teoria da História — digo, é uma aulade como o historiador lida com sua matéria prima: o tempo. Igual à personagem dofilme, o historiador está preso ao presente e aborda o passado a partir dessacircunstância. A História, disse Marc Bloch, é elaborada do presente. Inescapável, talpertencimento ao presente não é, contudo, um interdito à inteligibilidade do passado.Justo o contrário. Pois se guarda os limites, também reúne as condições depossibilidade (epistêmicas e ônticas) da inteligência historiadora. Diálogo entrehorizontes temporais díspares, a História consiste numa relação complexa,mútua e reciprocamente constitutiva do presente, do passado, do futuro.

Em outras palavras, o passado é reinterpretado constantemente pelo presenteque, por sua vez, se reordena a cada atualização do ontem e reelabora novasprojeções de futuro que, mais uma vez, reforçam (ou não) a necessidade de outrasvisões da História.

É claro que não se inventa o tempo passado. Trabalhando com documentos,registros, arquivos, provas testemunhais etc, os historiadores em geral estãosinceramente vocacionados a buscar a verdade dos fatos e procuram, nos limites danossa falibilidade, comprovar suas investigações. (E caso façam inferências pouco

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convincentes, considerando que pertencem a uma comunidade de intelectuaisatentos, competitivos e prontos a lançar dúvidas sobre as conclusões uns dos outros,vale lembrar que o debate interpares consiste numa instância limite para aferição doque é social e historicamente aceito como verdadeiro.) Portanto, dificilmenteconcordariam com a hipótese de que são ficcionistas, artífices inventivos de ummundo imaginário, fantasioso e irreal.

O que importa, porém, não é contrapor o “realismo histórico” à admissão daliberalidade construtiva do historiador. A questão não se cinge à oposição entre asevidências empíricas e a margem de autonomia do intérprete da História. Trata-se,antes, de enfatizar a artificialidade do empreendimento historiográfico.Diferentemente do memorialista, o historiador mesmo que seja protagonista dosacontecimentos não os lembra espontaneamente.

Na oficina da História, a montagem de uma continuidade qualquer de eventosnão é um dado natural, mas resulta de pesquisa (cujos princípios metódicospertencem a um corpus disciplinar reconhecido) e também de muito trabalho eesforço intelectual.

Trata-se de uma empresa cognitiva que critica e seleciona fatos, define seussignificados, estabelece as séries seqüenciais em que se encaixam e, por fim, conectatodo esse material sob uma escrita literariamente arbitrária. Além disso, e a despeitodas suas inclinações teórico-metodológicas, os historiadores se entregam a tal tarefana contramão do fluxo temporal.

Quer dizer, à semelhança do roteiro de Amnésia, não se lançam ao passadosaltando sobre um vácuo de tempo. O retorno ao passado não é um simplestransplante do hic et nunc para o período histórico que pretendem investigar. Aoinvés disso, os historiadores recuperam os atuais vestígios do passado e, numregresso às avessas, reconstroem (no limite, inventam) a ordem da contigüidadefactual estabelecendo suas conexões causais.

Esta aproximação artificial e regressiva é nítida quando, por exemplo, antesmesmo de lidar mais estreitamente com as fontes primárias, o historiador cerca odebate historiográfico em torno do seu objeto de pesquisa. Ele visita os clássicos, osautores consagrados e o círculo de idéias que ao longo dos tempos se produziu sobreseu objeto de interesse não só por cautela, mas porque nesse reconhecimento àtradição intelectual reside seu caminho de aproximação com o passado. Afinal, casoestude a antiguidade oriental, não será catapultado do hoje à civilização babilônica.Com efeito, seus passos de pesquisa (leia-se método) em vez de serem meras

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técnicas de investigação, devem ser considerados em si mesmos como um modo deresgatar a própria historicidade dos elos que vinculam o presente ao passado. Dessaforma, a historicidade da investigação — o pertencimento da razão histórica aotempo presente — se expressa nos procedimentos metódicos que foram sendoadotados e o historiador precisa tornar essa dimensão do seu trabalhointelectualmente produtiva (em Verdade e Método, Gadamer explora tal questão).

Prisioneira do presente, a inteligência historiadora é artífice do tempo. Aoregistrar o sentido das ações, estabelecer início e fim dos processos factuais, conectarintenções e conseqüências e descrever o rumo dos acontecimentos, os historiadoresemprestam ritmo e significado à experiência da mobilidade temporal.

Não que o tempo seja criatura da consciência histórica.

Justo o contrário — para usar os termos de Heidegger, se pode dizer que elaencontra no tempo a sua morada. Todavia, assim como em Amnésia, a faculdademnemônica não existe a priori do próprio empreendimento que busca compreendera ordem dos fatos.

E o filme encerra essa lição: descreve os passos de (des)construção do sentidodo tempo, convidando os historiadores a refletirem sobre seu ofício.

Saiba maisVisite o site:http://www.espacoacademico.com.br/022/22ccortes.htm

1a Atividade em aulaDepois de ter lido as resenhas, você deve estar apto para escrever a sua.

Escolha se quer fazer a descritiva ou a crítica. Selecione um objeto (textos,obras culturais, como romance, peças de teatro, filmes).

Faça várias leituras para ganhar familiaridade com o texto.

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Procedimentos para elaborar resenha científica:

1. Na introdução, deve-se apresentar o assunto de forma genérica até chegarao foco de interesse, ou ao ponto de vista que será focalizado. Uma vez apresentadoo foco de interesse, procura-se mostrar a importância dele, a fim de despertar ointeresse do leitor.

Cabe, nesse momento, expor:a) Referência bibliográfica (autor, título da obra, local da edição, editora, data,

número de páginas, formato).b) Credenciais do autor _ informações, nacionalidade, formação universitária,

títulos, livro ou artigos publicados.

2. No desenvolvimento, devem ser apresentados os seguintes itens:a) Resumo da obra – resumo das idéias principais. De que trata o texto? Qual a

característica principal? Descrição do conteúdo e dos capítulos ou partes da obra.Para facilitar a descrição do assunto, sugere-se a construção dos argumentos porprogressão, que consiste no relacionamento dos diferentes elementos, masencadeados em seqüência lógica, de modo a haver sempre uma relação evidenteentre um elemento e o seu antecedente.

b) Conclusões da autoria – A quais conclusões o autor chegou?c) Metodologia da autoria – Que métodos utilizou? Dedutivo? Indutivo?

Histórico? Comparativo? Estatístico? Que técnicas utilizou? Entrevistas?Questionários?

d) Quadro de referência do autor – que teoria serve de apoio ao estudoapresentado? Qual o modelo teórico apresentado?

3. Na conclusão, é importante (principalmente na resenha crítica)a) Crítica ou apreciação do resenhista – julgamento da obra.Qual a contribuição da obra?As idéias são originais?Como é o estilo do autor: conciso, objetivo, simples, objetivo, realista, idealista?O autor atingiu os objetivos propostos?O texto supera a pura retomada de textos de outros autores?Há profundidade na exposição das idéias?A tese foi demonstrada com eficácia? A conclusão está apoiada em fatos?

b) Indicações do resenhistaA quem é dirigida a obra?A obra é endereçada a qual área do conhecimento?

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Dica importanteA apreciação crítica deve ser feita em termos de concordância ou discordância,

com base em uma leitura racional, não apenas emocional (gosto/ não gosto), levandoem consideração a validade ou a aplicabilidade do que foi exposto pelo autor. Parafundamentar a apreciação crítica, deve-se levar em conta a opinião de autores dacomunidade científica, além da visão de mundo.

A resenha bem redigida é uma valiosa ferramenta de pesquisa, mas se a críticaapresentada é impressionista (gosto/não gosto), ela deixa de ter interesse para opesquisador.

Pesquise:Metodologia científicaReferências bibliográficas - ABNT

Consulte as obras:• GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2000.• MEDEIROS, João Bosco. Redação científica – a prática de fichamentos,

resumos e resenhas. 3ed., São Paulo: Atlas,1997.• MEDEIROS, João Bosco. Redação científica. São Paulo: Atlas, 2002.• SEVERINO, Antonio J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2003.

Dicas de revisão gramaticalConcordância Verbal

1.O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.Abaixo estão os nomes dos participantes.

2. Se o sujeito for um pronome de tratamento - verbo na 3ª pessoa.Vossa Senhoria não é justo. / Vossas Senhorias estão de acordo comigo.

3. Sujeitos ligados por ou – verifique a idéia.Pedro ou Paulo será eleito. (idéia de exclusão – verbo no singular)O calor forte ou o frio excessivo prejudicam a saúde (idéia de inclusão –

verbo no plural)

4. A maioria, a maior parte de, grande parte de - verbo no singular ou plural.Grande parte dos eleitores votou/votaram.

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5. Com a expressão mais de + numeral - verbo concorda com o numeral.Mais de um candidato prometeu melhorar o país. Mais de duas pessoas

vieram à festa

6. Nomes só usados no plural - a concordância depende da presença ou nãode artigo.

Os Estados Unidos são uma nação poderosa. Estados Unidos é uma naçãopoderosa.

Os Lusíadas são/é a obra de Camões. (facultativo para nome de obra)

7. Com o pronome relativo quem - verbo na 3ª pessoa do singular,concordando com o pronome quem ou com o antecedente.

Fui eu quem falou/falei. Fomos nós quem falou/falamos.

8. Com o pronome relativo que - verbo concorda sempre com o antecedenteFomos nós que falamos.

9. Com sujeito composto posposto ao verbo - concordância normal ou atrativa(com o núcleo mais próximo)

Está ausente a família e a escola. Estão ausentes a família e a escola.

10. O verbo ser é impessoal quando indica data hora e distância, concordandocom a expressão numérica ou a palavra a que se refere.

Eram seis horas. Hoje é dia dez.

11. Com sujeito composto por:• núcleos em gradação - verbo singular ou plural.Um minuto, uma hora, um dia passa/passam rápido.Mas, se houver um pronome síntese, concordância com o pronome.Risos, gracejos, piadas, nada a alegrava.

12. Com a expressão um e outro - verbo no singular ou no plural.Um e outro falava/falavam a verdade.

13. Com a expressão um ou outro - verbo no singular.Um ou outro rapaz virava a cabeça para nos olhar.

14. Com a expressão nem um nem outro - verbo no singular.Nem um nem outro falava a verdade.

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15. Com sujeito composto ligado por nem - verbo no plural.Nem o poder, nem a glória lhe trouxeram a felicidade.

16. Com a expressão um dos que - verbo no singular (um) ou plural (dos que)Ele foi um dos que mais falou/falaram.

17. Se o sujeito é número percentual - observar a posição do número percentualem relação ao verbo. O verbo concorda com o termo posposto ao número.

Sabe-se que 80% da população tinha mais de 21 anos. Dez por cento dossócios saíram da empresa.

18. Se o sujeito for composto ligado por com - observar presença ou não de vírgulas.o verbo no plural sem vírgulas. Eu com outros amigos limpamos o quintal.o verbo no singular com vírgulas, idéia de companhia. O presidente, com os

ministros, desembarcou em Brasília.

19. Sujeito indeterminado + SE (IIS) - verbo no singular.Precisa-se de balconistas.

20. Com sujeito paciente ao lado de um verbo na voz passiva sintética - verboconcorda com o sujeito

Alugam-se casas.

2a Atividade em aulaVamos exercitar?

Complete as lacunas com os verbos entre parênteses no tempo indicado.1. _________________ o vento e a chuva. (vir- Pret.perf.ind)2. O vento e a chuva _____________ a plantação. (destruir-pret.perf.ind)3. Chocolates, balas, sorvetes, nada ____________ .(agradar-pret.imperf.ind)4. Napoleão com seus soldados ___________a Europa.(invadir- pret.perf.ind.)5. Cerca de duzentas pessoas ____________________(morrer-pret.perf.ind.)6. O professor, com seus alunos _______________ao teatro. (ir-fut.pret.ind)7. Você ou ele ____________________ com o cargo.(ficar-fut.pres.ind.)8. __________________-se apartamentos. (vender-pres.ind.)

Veja as respostas na aula on-line

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu a fazer resenha descritiva e resenha crítica.Exercitou a capacidade de ler analiticamente, exercitou sua capacidade de juízo

crítico e sua habilidade para produzir texto científico.

Além disso, relembrou regras de concordância verbal – assunto importante paraque você não cometa “gafes” quando se apresentar para as pessoas, em entrevistas,em reuniões, em palestras, em provas de concurso, entre outros.

Próxima aulaNa próxima aula, o assunto é texto literário e texto não literário.

Prepare-se para viver grandes emoções!

Até lá!

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Aula 15 - Função referencial e função

poética da linguagem

Na aula de hoje, você deverá identificar a função referencial e a função poéticada linguagem, distinguir as duas e empregá-las adequadamente na elaboração dotexto.

Para que você saiba o que é função referencial e função poética dalinguagem e perceba as diferenças entre elas, é importante distinguir dois níveis delinguagem: denotativo e conotativo.

Procure no dicionário o sentido da palavra “noite”, por exemplo.

Uma palavra empregada no sentido usual, comum, literal, naquele em que osdicionários registram em primeiro lugar, dizemos que está empregada em seu valordenotativo.

Saiba maisNoite = Espaço de tempo em que o Sol está abaixo do horizonte. Obscuridade quereina durante esse tempo; escuridão, trevas.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O dicionário dalíngua portuguesa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 1412.

Leia agora este trecho do poema e traduza o sentido que o autor procurouestabelecer à palavra “noite”:

“É noite. Sinto que é noitenão porque a sombra descesse(bem me importa a face negra)mas porque dentro de mim,no fundo de mim, o gritose calou, fez-se desânimo.Sinto que nós somos noite,que palpitamos no escuroe em noite nos dissolvemos,Sinto que é noite no vento,noite nas águas, na pedra.”ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p. 88.

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Qual é o sentido da palavra “noite”?Será o mesmo definido nos dicionários?Com certeza, não. A palavra “noite”, nesse caso, assume significados

múltiplos e subjetivos.

Uma palavra usada no sentido figurado, afetivo, transcendendo ao sentidocomum, sugerindo outras idéias de ordem abstrata, relacionadas com emoções,sentimentos ou conceitos, dizemos que é usada no valor conotativo.

1a Atividade em aulaColoque nos parênteses a letra D, quando a palavra destacada em itálico estiver

empregada no valor denotativo; coloque a letra C, caso a palavra estiver empregadano valor conotativo:

a. O entardecer é exuberante nos dias de outono.b. O que sentirei quando se aproximar o entardecer de minha vida?c. As grandes metrópoles envolvem o homem em seus braços frios.d. Os braços dela eram sensuais.e. No rosto do rapaz transparecia a fúria de uma tempestade interior.f. Após a tempestade ter acalmada, continuaram a viagem.g. O Vale do Jequitinhonha expressa a aflita face da miséria.h. Ao chegar à festa, ela me deu um delicioso beijo na face.i. Uma flor, o Marcos!j. Uma flor às mulheres, no seu dia.

Veja as respostas na aula on-line

A ciência e o jornal: mensagens referenciaisPesquise:• Função referencial da linguagem.• Linguagem denotativa ou denotação.

Função referencial da linguagemA linguagem denotativa é construída em bases convencionais, elaborada em função

das normas do código, produzindo informações definidas, claras, transparentes, semambigüidades. Essa linguagem caracteriza a mensagem referencial.

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Por ser uma forma de comunicação direta, a função referencial da linguagemestá presente em quase todas as mensagens do nosso cotidiano, quando nosreferimos a situações que nos rodeiam e quando conversamos.

É a mensagem que se propõe informar o leitor, transmitindo-lhe dados econhecimentos precisos. O uso da função referencial é dominante no discurso científico,que tem intenção de produzir uma informação teórica. Organiza, também, a estrutura damensagem dos noticiários de rádio e televisão e a comunicação nas empresas.

Está centrada sobre o referente, a informação.O uso da função referencial marca-se, lingüisticamente, com o traço da 3ª

pessoa do verbo, ou seja, de quem ou do que se fala.

O plano de expressão de um texto referencial não tem nenhuma relevância,pois sua finalidade é apenas veicular conteúdos.

A linguagem não apresenta nenhuma combinação nova ou inesperada de palavras.

Saiba mais - Bibliografia:• ARMELLEI, Walter Júnior & FRANK, Genice & BASEIO, Dora Fontana. ColeçãoLeitura & Escrita: Funções da Linguagem. São Paulo: Editora Esetec, 2004, volume II.• CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, Série Princípios.• VANOYE, Francis. Usos da linguagem. São Paulo, Ed. Martins Fontes.

Leia este artigo publicado na Revista Isto É e observe esses elementos:Faça o registro no seu caderno.

“Os vivos, de repente, começariam a invejar os mortos. Sobre a Terra devastadarestariam alguns poucos hospitais. Metade do corpo médico teria desaparecido e nasfarmácias todo o estoque de medicamentos do mundo não bastaria para aliviar osofrimento de apenas um terço das vítimas. Em meio ao apocalipse, ressurgiriamepidemias extintas desde a Idade Média, e por longos anos se multiplicariam os casosde câncer e aberrações genéticas, mesmo em países distantes.

Aterradoras, mas verossímeis, estas são algumas das conclusões a que chegaram23 cientistas da Europa Ocidental, Estados Unidos e Rússia, a quem a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), órgão das Nações Unidas, encomendou um estudo sobreas conseqüências médicas de uma guerra nuclear.

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Para chegar a tão sinistras previsões, os especialistas contratados pela OMSvaleram-se de conhecimentos científicos e do saldo da terrível experiência deHiroshima e Nagasaki – as cidades japonesas onde, em agosto de 1945, se utilizoupela primeira vez uma bomba nuclear contra seres humanos. (...)”

A literatura e a função poéticaPesquise, utilizando-se da mesma indicação bibliográfica citada na página 144:•Função poética da linguagem•Linguagem conotativa ou conotação.

Função poética da linguagemNa função poética da linguagem, o plano de expressão articula-se com o plano

do conteúdo, contribuindo também para a significação global. O texto não procuraapenas informar o leitor, dizer o mundo, mas recria-lo nas palavras, de modo que,nele, importa não apenas o que se diz, mas o modo como se diz.

Na elaboração da mensagem, utilizam-se recursos de forma e de conteúdo queinvocam o nosso olhar para a própria mensagem, causando-nos surpresa,estranhamento e prazer estético.

Essa função se manifesta a partir da exploração de certos recursos expressivosda linguagem, que criam efeitos sonoros e rítmicos no texto e desenvolve o sentidoconotativo das palavras – o chamado sentido figurado ou metafórico.

Há predominância da função poética nos textos literários – prosa ou verso.Podemos encontrá-la também em textos de propaganda, slogans publicitários,

canções populares e em outras produções verbais.

A literatura e a função poéticaCompare este poema com o texto anterior, o artigo da Revista Isto É, e perceba

as diferenças.

A rosa de HiroshimaPensem nas criançasMudas telepáticasPensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas cálidasMas oh não se esqueçam

Da rosa da rosaDa rosa de HiroshimaA rosa hereditáriaA rosa radioativaEstúpida e inválidaA rosa com cirrose a anti-rosa atômicaSem cor sem perfumeSem rosa sem nada.(Vinícius de Moraes)

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2a Atividade em aulaO texto a seguir é um texto literário, em que predomina a função poética da

linguagem. Empregando a função referencial da linguagem, isto é, a linguagemdenotativa, reescreva o texto de forma que simule uma notícia de jornal.

Lembre-se de que uma notícia de jornal é relato de um fato novo que despertao interesse da comunidade e deve, portanto, informar ao leitor: o que aconteceu?,quem estava envolvido?, quando?, onde?, como ocorreu? E por quê?

O grande desastre aéreo de ontemPara Portinari“Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com

a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com suacabeleira negra e seu estradivário.

Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corposirreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuvade sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo anadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.

Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo alouca braçada ao ramalhete de rosas, que ela pensou ser o pára-quedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa.

E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobresmortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tãotranqüila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como umaestrela cadente, vem com as pernas do vento.

Chove sangue sobre as nuvens de Deus.

E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.”(Jorge de Lima)

3a Atividade em aulaDesta vez, proceda inversamente ao exercício anterior. Selecione, em revistas

ou jornais, uma notícia de jornal, um texto não-literário.

Empregando a função poética da linguagem, isto é, a linguagem conotativa,reescreva o texto de forma que envolva o leitor, despertando-lhe emoções.

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Lembre-se de que uma narrativa literária deve conter alguns elementos como:personagens, ação, enredo, tempo-espaço e um narrador, que conta a história emprimeira ou terceira pessoa.

As palavras possuem vários sentidos e valores, como já vimos.

Mas só adquirem um valor e sentido precisos dentro do contexto fraseológicoem que estão inseridas.

A adequação entre a exigência do contexto e a escolha certa do vocábulo e oconhecimento de seu significado preciso revelam um eficiente uso do vocabulário.

Denomina-se polissemia o fenômeno ocorrido com a palavra que é capaz desimbolizar várias idéias, dependendo do contexto lingüístico em que se encontra, queé a frase.

Dissociar uma palavra da frase é despojá-la de seu sentido.

4a Atividade em aulaLeia este artigo publicado na Revista Isto É

Constate o caráter polissêmico da palavra linha, conceituando com umaexplicação o sentido que assume nas seguintes frase:

a. No cesto de costura, havia vários carretéis de linha.b. A linha telefônica ficou interrompida após a tempestade.c. Quando puxei a linha, surgiram dois peixes grandes.d. Os territórios foram separados por uma linha divisória.e. Inicialmente, foi definida a linha básica da discussão.f. Ao longe, com muita nitidez, percebia-se a linha do horizonte.g. Ela perdeu a linha ao ouvir a minha resposta.h. Escreva bem em cima da linha.i. Este ônibus faz a linha Centro – Santo Amaro.j. Ele caminha em linha reta.

E assim, você deve buscar no dicionário, ou em meio às inúmeras expressõesque constituem nossa linguagem, outros exemplos do valor polissêmico de certaspalavras igualmente ricas em significado.

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Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu vários conceitos importantes como:função referencial e função poética da linguagem, conotação e denotação e o

valor polissêmico das palavras.

Procure pesquisar todas as funções da linguagem na bibliografia indicada.

Você perceberá que a linguagem oferece recursos ricos para que você expressesuas idéias e suas emoções. Vale a pena!

Próxima aulaNa próxima aula, iremos trabalhar com a elaboração do seu currículo.

Até breve!

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Aula 16 - Como elaborar um currículo

moderno

O objetivo da aula de hoje é oferecer instrumentos e informações para que vocêelabore o seu currículo. Um currículo objetivo e atualizado.

Você deverá também adquirir alguns conceitos básicos sobre a concordâncianominal e utilizá-los corretamente em seus textos.

Elaborar o seu currículo, significa apresentar, de forma resumida, as suasprincipais habilidades e competências, o seu perfil profissional e traços marcantes desua personalidade. Significa, enfim, escrever sobre si mesmo, sobre seu próprio Eu.

Com o objetivo de criar sensibilização para essa tarefa, leia estes dois poemasque expressam, de forma poética, o desafio de escrever sobre o Eu.

Saiba mais - Caçador de mimPor tanto amorPor tanta emoçãoA vida me fez assimDoce ou atrozManso ou ferozEu caçador de mim

Preso a cançõesEntregue a paixõesQue nunca tiveram fimVou me encontrarLonge do meu lugarEu caçador de mim

Nada a temer senão o correr na lutaNada a fazer senão esquecer o medoAbrir o peito à força, numa procuraFugir as armadilhas da mata escuraLonge se vai sonhando demaisMas nunca se chega assimVou descobrirO que me faz sentirEu caçador de mim

Autor desconhecidoMúsica de Milton Nascimento

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Traduzir-seUma parte de mimé todo mundo:outra parte é ninguém:fundo sem fundo.

Uma parte de mimé multidão:outra parte estranhezae solidão.

Uma parte de mimpesa, pondera:outra partedelira.

Uma parte de mimalmoça e janta:outra partese espanta.

Uma parte de mimé permanente:outra partese sabe de repente.

Uma parte de mimé só vertigem:outra parte,linguagem.

Traduzir uma partena outra parte- que é uma questãode vida ou morte –será arte?

Ferreira Gullar

Atividade em aula1º - Elabore, resumidamente, uma biografia em que sobressaiam aspectos

expressivos e pitorescos de sua vida. Procure traduzir, em palavras, a personagemEU, desvendando-se em sentimentos e idéias.

2º - Narre um fato de sua infância que você considere significativo para suaformação.

Objetivos de um currículoAo redigir o currículo, tente imaginar, com detalhes, o caminho que ele deve

percorrer dentro de uma empresa. As qualificações descritas serão julgadas paradefinir se o candidato se adapta ou não à cultura do empregador.

O currículo, salvo raríssimas exceções, será apenas mais um entre os muitos que vãoser selecionados pelos recrutadores. O método de trabalho desses profissionais, em geral,varia entre as seguintes opções: alguns selecionam o candidato pelos pontos positivosobservados; outros, fazem por eliminação, sempre de olho nos aspectos negativos.

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Os empregadores, em geral, buscam combinação entre as características docandidato à vaga, as exigências do trabalho e, ainda, em relação à cultura da empresa.

Quanto maior o equilíbrio entre os fatores, maior a chance de ser bem sucedidona seleção.

Estabeleça os seus objetivosQuanto mais direcionados forem os seus objetivos profissionais, melhores serão

as chances de sucesso na procura de um novo emprego. Para isso, identifique todosos itens que julgar fundamentais para alcançar o seu objetivo. Avalie também a suasituação atual, o que pode melhorar, quais as suas virtudes e defeitos e,principalmente, o ponto aonde pretende chegar.

Pergunte-se:1. Ao ler meu currículo, fico feliz com minha descrição?2. Posso ser contatado em meu atual emprego ou isso pode causar

complicações?3. A linguagem adotada é compreensível mesmo para quem não é da área?4. Deixei de lado alguma informação pessoal que tenha importância específica

para meu currículo?5. As informações pessoais e profissões que escolhi passam uma impressão

satisfatória e fiel à realidade?

Como preparar o seu currículo• Seu nome, experiência profissional, empresas onde já trabalhou, além de

outros itens julgados importantes, devem receber tratamento especial. Cuidado paranão exagerar. A letra maiúscula não é recomendável e letras muito pequenasdificultam a leitura.

• Seja objetivo (duas páginas são o suficiente), mas procure mostrar que você éo profissional adequado à vaga oferecida, personalizando o documento de acordocom a empresa.

• Cuidado com a apresentação: o documento deve estar em bom estado, semerros de português e perfeitamente legível. Nunca envie xerox.

• Não use papel de tamanho fora do comum, e tome cuidado para a margem nãoficar muito estreita. O ideal é papel branco liso, tipo A4, recomendado pela ABNT.

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• Evite abreviar os nomes das empresas onde já trabalhou e das escolas ondeestudou. Números de documentos e filiação, por exemplo, são dados de poucaimportância no currículo, interessam quando você for admitido pela empresa.

• Nunca assine o currículo. Encare-o como um “cartão de visitas” ampliado. Casoqueira, redija uma carta de apresentação, ressaltando suas qualidades e seus planos.

Dez itens que são avaliados em currículos1. O candidato tem outras habilidades pertinentes?2. Há muitos erros de gramática e/ou digitação?3. O currículo contém alguma informação que dê uma idéia da personalidade do

entrevistado?4. O currículo demonstra a velocidade e direção do progresso da carreira do

candidato?5. Há lapsos de cronologia no currículo?6. As qualificações são pertinentes com as instituições descritas no currículo?7. Qual a permanência média do candidato nos empregos?8. O candidato está fazendo um movimento lógico na carreira?9. Há evidências de ascensão profissional no currículo?10. O estilo do currículo indica um candidato bem organizado?

3a Atividade em aulaElabore, agora, o seu currículo, com base nas informações e orientações sugeridas.

Pesquise antes os sites:- www.conteudoescola.com.br- www.unic.br/ciee/pages/curriculo.asp- www.bibli.fae.unicamp.br/cv.htm- www.catho.com.br/elaboracaocv

Dicas sobre revisão gramaticalPrincípio geral sobre concordância nominal

Observe estes exemplos:“Alta noite, lua quietaadjetivo subst subst adjetivo

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Muros frios, praia rasa” (C. Meireles) subst adjetivo subst adjetivo

“Não serei o poeta de um mundo caduco” (Drummond) art subst art subst

“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo” (Drummond) numeral subst art subst

“Toca essa música de seda,...” (C. Meireles) pronome subst

O adjetivo e as palavras adjetivas, o artigo, o numeral e o pronome são palavrasmodificadoras do nome (substantivo), e concordam com os substantivos a que sereferem em gênero e número.Pesquise as regras de concordância nominal nos livros:

1. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional.2. CUNHA, Celso Ferreira. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Fename.3. LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo.]4. MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. São Paulo: Atlas.

Anexo(s), anexa(s), quite(s)

Envio-lhe anexo meu currículo para análise. adjetivo substantivo

Seguem anexas as cópias do contrato. adjetivo substantivo

Estamos quites com a Receita Federal. adjetivo

Anexo, incluso, apenso são adjetivos, devem, portanto, concordar com ogênero e o número do nome (substantivo) a que se referem.

Embora sejam comuns, na linguagem comercial e jurídica, as expressões “em anexo”e “em apenso” devem ser evitadas, pois tais palavras são adjetivos e não advérbios.

Quite, adjetivo, significa “livre”, “desobrigado”, e deve concordar com onúmero do nome a que se refere.

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4a Atividade em aulaCorrija as frases incorretas:

1. Anexo, seguem as cópias que você solicitou.2. As cópias apensas devem ser juntadas ao processo.3. Incluso, seguem os documentos ainda não assinados.4. Pago o último boleto bancário, estaremos quite.5. A lista de preço anexa entrará em vigor no próximo mês.6. Minha advogada providenciará para que as cópias incluso sejam juntadas ao processo.7. As fotos enviadas anexo são da viagem de formatura.8. Estou quite com os meus antepassados?

Veja as respostas na aula on-line

Muito obrigada, eu mesma, eu própria

Muito obrigada, disse a jovem.

Muito obrigada, disse a jovem. adjetivo substantivo

Nós mesmas queremos agradecê-lo pela oportunidade.

Obrigado com significado de “agradecimento”, “grato”, “reconhecido” éadjetivo. Deve, pois, concordar com o gênero e número da pessoa que faz oagradecimento.

Se forem duas ou mais mulheres: obrigadas.Se forem dois ou mais homens: obrigados.

Obrigado pede a preposição por, e não de. Portanto, a um “obrigado” seresponde “por nada”, e não “de nada”. Se preferir, responda “não há de quê”.

A um “obrigado” ou a um “obrigada”, a resposta adequada deverá ser:“obrigado (a), digo eu a você”.

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5a Atividade em aulaComplete as frases com a forma correta da palavra entre parênteses:

1. A cliente já quitou sua dívida, ela________pagou a duplicata. (mesma/mesmo)

2. O diretor disse à recepcionista:- Quando receber a doação, você deve agradecer, dizendo:_______________

(muito obrigado / muito obrigada)

3. “________________- falou a jovem aos rapazes.E acrescentou: podem deixar,__________________costurarei o maiô”.(muito obrigado / muito obrigada; eu mesmo / eu mesma)

Veja as respostas na aula on-line

Meio / meia

Achou um meio de ganhar a vida. art subst.

Não era homem de meias palavras. adjetivo substantivo

Bebeu meia dúzia de cervejas. numeral ———> substantivo

Ela anda meio preocupada. advérbio ———> adjetivo

A palavra meio pode variar ou não, dependendo de sua função.• Meio é substantivo e varia, portanto, quando vem precedido de artigo,

pronome, numeral (determinantes).• Meio é adjetivo e, assim, varia, quando vem acompanhando um substantivo.• Meio é numeral e, por isso, varia, quando indica a metade.• Meio é advérbio e, como tal, não varia, quando se relaciona a um verbo,

adjetivo ou outro advérbio.

Pesquise as classes gramaticais das palavras: palavras variáveis e invariáveis.

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6a Atividade em aulaComplete com a palavra meio, promovendo a concordância adequada:

1. Hoje a professora está _____________nervosa.2. Ela não usa de _____________palavras.3. Precisamos descobrir um _____________de acalmá-la.4. A despesa ficou _____________elevada.5. Este é o único _____________ que eu conheço.6. Já era meio-dia e _____________ quando ela chegou.7. A sala de aula estava _____________caótica.8. As ondas estão _____________ bravas hoje.9. Ela comprou _____________ preta.10. Bebeu _____________ garrafa de cachaça e não caiu.

Veja as respostas na aula on-line

Síntese da aula de hojeVocê aprendeu hoje a elaborar o seu currículo, com clareza, objetividade e

atualização. É um instrumento importante para que o mercado de trabalho conheça oprofissional que você é.

Aprendeu, também, os princípios básicos de concordância nominal e, comcerteza, você saberá aplicá-los em cada situação cotidiana.

Até a próxima aula. Você aprenderá a redigir alguns documentos empresariais.

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Aula 17 - Redação empresarial

Na aula de hoje, você aprenderá a redigir alguns documentos empresariais.

Além disso, reconhecerá alguns vícios de linguagem que não devem ocorrer emsua produção escrita.

Com as novas exigências de comunicação rápida e eficaz, decorrentes doprocesso de globalização e do aparecimento da mídia e da informática, a culturaempresarial tem se modificado sensivelmente.

A modernização dos textos empresariais tornou-se necessidade urgente.

Diferente do texto jornalístico ou literário, o texto empresarial precisa tereficácia, a fim de obter resposta imediata do receptor.

Um texto mal escrito pode:• Desmotivar para a leitura;• Gerar confusão de informações;• Provocar falta de credibilidade;• Causar retrabalho;• Produzir conflitos;• Causar perdas lucrativas.

A correspondência empresarial é o conjunto de documentos por meio dos quaisé estabelecida a comunicação interna e externa das empresas. É, ao mesmo tempo,meio de comunicação e instrumento de marketing.

São características do moderno texto empresarial:• Concisão• Objetividade• Clareza• Coerência• Coesão• Linguagem formal e simples• Correção gramatical

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Saiba maisConcisão consiste em expressar o máximo de informação com o mínimo depalavras.Objetividade consiste em expor apenas as idéias significativas.Clareza é decorrente de nossa capacidade de organização das idéias na mente e aadequada transposição ao material idiomático.Coesão e Coerência são as qualidades resultantes da conexão harmônica entreidéias de forma a produzir sentido.Linguagem formal e simples refere-se ao nível e estilo de linguagem que segue anorma gramatical vigente e deve ser compartilhado com o destinatário a fim degarantir a comunicação e assegurar uma boa imagem da empresa.Correção gramatical é o uso adequado da norma culta, sem desvios.

Dicas para escrever correspondência eletrônica• Seja objetivo no campo assunto de seu e-mail, resuma em poucas palavras o

que será tratado;• Use mensagens breves e diretas - o correio eletrônico é caracterizado pela

versatilidade e rapidez. A mensagem inteira deve ser lida em uma única tela. Se formaior, anexe;

• Prefira as fontes Times New Roman ou Arial para garantir que será lida;• Cuide do português. Evite gírias e abreviações;• Faça saudações;• Assine a mensagem;• Só use parênteses em formas combinadas, se possívelEx.: senhor(es)/ Diretor(a)/ Não é possível :Datilógrafo(a) – datilografoa;• Identifique e numere anexos;• Revise;• Pesquise sobre netqueta.

Vejamos fragmentos de textos, cartas, relatórios, correspondências que contêmexpressões inadequadas:

São Paulo, 02 de agosto de 2005.À Vitória EditoraAt.: Regina RamosComunicamos que o serviço solicitado poderá ser executado a curto prazo se os

documentos requeridos na carta anterior forem providenciados o mais rápido possível.

A curto prazo é inadequado. Use “em curto prazo”. Pergunta-se: em queprazo será efetuado o serviço?

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A resposta deve ser “em curto prazo, em longo prazo, em médio prazo”.

Maiores informações podem ser obtidas através do telefone 9987-5634.Atenciosamente.Estela Fontana

Evite maiores informações. O adequado é mais informações, pois o quese deseja são informações melhores, mais informações e não maiores ou menores.

Através só deve ser utilizado com as seguintes acepções:-> de um lado para o outro : Viajou através do país.-> ao longo de: Andava através dos jardins.-> por entre: Estudou através de anos.

No sentido de meio, usa-se por meio de, portanto a expressão “através dotelefone” deveria ser “por meio do telefone”, já que o telefone é o meio pelo qual aempresa poderá entrar em contato.

Saiba mais - Consulte os links:http://www.espirito.org.br/portal/palestras/klickeducacao/http://www.mariopersona.com.br/redacao.htmlhttp://www.mp.sp.gov.br/Diretoriageral/Estudos/Guia2.htmhttp://www.sk.com.br/sk-write.html

Outras dicas para escrever carta• A/C (aos cuidados de) deve vir no envelope e não dentro da carta, a não ser

que o envelope seja janelado. At.: ( à atenção de) e não Att.: (attention), por favor,estamos no Brasil.

• Evite iniciar a carta com “venho por meio desta”, “venho através desta”,“venho pela presente”, pois não agregam informação. Prefira: Informamos que...Solicitamos...

• Evite terminar a carta com “sem mais”, pois, geralmente, você necessitaráfalar novamente com a pessoa.

• Antes de lhe e lhes, a forma verbal não perde a terminação s, mas antes denos cai o s no final do verbo.

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• Os pronomes de tratamento (Vossa Senhoria, Senhor, Vossa Excelência)exigem verbos e pronomes na terceira pessoa. Vossa é usado em relação à pessoacom quem se fala e Sua em relação à pessoa de quem se fala.

São Paulo, 08 de março de 2005.

Prezados clientes,

Comunicamos que o nosso horário de atendimento foi alterado.À partir de segunda-feira, 10 de agosto, atenderemos das 8h30min às 18h, sendo

nosso horário de almoço meio-dia e meio e passamos a fazer entregas a domicílio.

Atenciosamente,

Em a partir: não há acento indicador de crase, pois a preposição vem seguidade verbo, portanto, não há encontro da preposição a com o artigo a.

O adequado é meio-dia e meia: meia refere-se à hora (meio dia e meia hora).

Existem as duas expressões - em domicílio / a domicílio, porém são utilizadas emsituações diferentes.

Em domicílio é utilizada quando o verbo ou nome que o precede foremestáticos. Ex.: Fazemos entrega em domicílio (em casa).

A domicílio é utilizada com verbos de movimento, que peçam a preposição a.Ex.: Vamos a domicílio executar o serviço (vamos a casa).

Mais dicasHomem diz OBRIGADO.Mulher diz OBRIGADA.

A NÍVEL DE NÃO EXISTEAO NÍVEL DE: à mesma altura de alguma coisa. (ao nível do mar)EM NÍVEL DE: em nível estadual, no nível municipal, em nível de supervisão.

EM CORES (não a cores)

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ENQUANTO - significa ao passo que. Enquanto você canta, eu trabalho.Não se usa enquanto que. Não é possível usar: Enquanto professor, acho que

deveria melhorar sua postura. (Correto: Como professor, acho que deveria melhorarsua postura.)

MESMO(s) E MESMA(s) - não podem ser usados para substituir substantivos (comfunção pronominal – nomes e pronomes).Ex.: Chegou o material que eu aguardava. Omesmo trouxe idéias novas. Correto: Chegou o material que eu aguardava.

Ele trouxe idéias novas.

ASPIRARAspirava a um cargo melhor.(desejar)- aspirar a algoAspirava o pó.(respirar) – aspirar algo

ASSISTIRAssisti ao jogo (presenciar)- assistir a algoO médico assistiu o doente. (socorreu, ajudou)- assistir alguémEla assiste aqui (morar)

OBEDECER/DESOBEDECERObedeceram aos pais. Obedecemos às leis.- obedecer a alguém ou a algo

PAGAR /PEDIR/ PERDOAR –algo a alguémPaguei os honorários ao advogado.Pedi que minha mãe viesse.Perdoei ao meu pai.

PREFERIR – uma coisa a outraPrefiro ir ao shopping a ficar em casa.

VISARVisamos à realização profissional.(desejar)- visar a algoVisei o cheque.(pôr visto) – visar algo

IMPLICAR – uma coisa implica outraA conquista implica trabalho.

SEJA/ESTEJANão existe seje nem esteje.

EM FÉRIAS: um funcionário entra “em período de férias”.

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JUNTO A - ao lado deEntão não é possível conseguir um empréstimo junto ao banco. Consegue-se

empréstimo no banco.

Cuide da pronúncia• Advogado(d mudo)• recorde – recordes• rubrica• gratuito – intuito - circuito• impregna-designa-estagna-consigna-impugna-repugna- resigna ( g mudo)• subsídio (som de s) como subsolo

Cuide da grafia• Reivindicar• asterisco• beneficente• privilégio• sobrancelha

1a Atividade em aulaComplete as lacunas:1. Estou _____________ convidá-lo para a festa. (a fim de/ afim de)2. O professor havia _____________ o presente.(aceitado/aceito)3. O convite foi _____________ (aceitado/aceito)4. _____________ chovia, inundava tudo. (À medida que / Na medida em que)5. _____________ não existiam provas, optou-se pela absolvição. (À medida

que / Na medida em que)6. Estão _____________ as faturas. (anexo)7. Está _____________ o documento. (anexo)8. O dólar, _____________ cair, subiu. (ao invés de, em vez de)9. Usei dólar _____________ real. (ao invés de, em vez de)10. _____________, abordaremos a questão da identidade cultural. (a

princípio/ em princípio)11. _____________, toda teoria deve ser comprovada na prática. (a princípio/

em princípio)12. Nenhum presidente pode ir _____________ desejo da população. (de

encontro a/ao encontro de)13. Saí _____________ minhas necessidades. (de encontro a/ao encontro de)14. O caso passou _____________ (despercebida/desapercebida)

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15. _____________ o uso da maconha. (Descriminou/ Discriminou)16. _____________ os habitantes das favelas. (Descriminou/ Discriminou)17. A minha _____________ na capital foi excelente.(estada/estadia)18. Estava ________ de saúde, por isso ficava de __________humor. (mal/mau)19. Visitei a _________ de esportes da loja; depois fui a uma _____________

de cinema.(seção/sessão)20. __________ tiver dinheiro, não irei viajar. (se não/ senão)21. Assuma uma nova postura, ________ teremos problemas. (se não/ senão)22. Espero que você não _____________ tempo. (perca/perda)23. Bateu o carro de deu _____________ total. (perca/perda)24. Ele sempre _____________ boas notícias. (traz/trás)25. Ficaram para _____________ todas as mágoas. (traz/trás)26. Espero que vocês façam uma boa _____________ (viagem/viajem)27. Espero que vocês _____________ bem. (viagem/viajem)

Veja as respostas na aula on-line

Síntese da aula de hojeFalar e escrever bem são ferramentas importantes para quem precisa e quer

caminhar rapidamente na vida profissional. Escrever com correção e com clareza éfundamental para o sucesso profissional e pessoal.

Essas foram as habilidades que você exercitou na aula de hoje.

Próxima aulaNa próxima aula serão apresentadas outras dicas sobre situações profissionais,

como entrevista, elaboração de currículos, técnicas de comunicação oral, postura,apresentação pessoal, a linguagem do corpo entre outras curiosidades.

Até breve!

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Aula 18 - Entrevista

Na aula de hoje, serão apresentados vários aspectos importantes que compõemuma entrevista: técnicas de comunicação oral, postura, apresentação pessoal, alinguagem do corpo e outros detalhes.

Ao receber o currículo, o selecionador analisa as qualificações descritas paradefinir se o candidato se adapta à cultura da empresa, buscando equilíbrio entre ascaracterísticas do candidato e as exigências do trabalho.

Preenchidos esses requisitos, o candidato é chamado para entrevistas, momentode perguntas abertas, que pedem respostas elaboradas e não monossilábicas, porémcom linguagem simplificada, sem rodeios que tornam as frases longas e semobjetividade.

Antes de ir à entrevista, é necessário um estudo detalhado dos negócios daempresa, dos concorrentes do mercado em que atua, dos produtos que fabrica, desua cultura, pois, as perguntas, além de pessoais, serão direcionadas ao conhecimentoprofissional e à organização.

É necessário, também, que o candidato vista-se de acordo com a vaga disputadae com a cultura da empresa – não é conveniente, por exemplo, vestir terno para umaentrevista em uma agência de publicidade que adote um estilo bem informal, ouvestir-se descontraidamente para uma entrevista conservadora.

Sobre a maneira correta e adequada de vestir-se para uma entrevista, a revista VocêS/A, da Editora Abril tem sugerido em várias edições recentes. Faça uma pesquisa.

Consulte o site: www.vocesa.abril.com.br

O entrevistador não deve ser tratado com intimidade, porém, muito formalismoou timidez podem ser interpretados como arrogância ou dificuldade de socialização.

Os entrevistadores estão treinados para “ler” os sinais do corpo, que podemser tão reveladores quanto às palavras, já que “o corpo fala”. Portanto, é importanteenfrentar a entrevista com calma e tranqüilidade, evitando roer as unhas, passar amão constantemente no cabelo, colocar os cotovelos na mesa, esparramar-se nacadeira, mascar chiclete; contudo gestos de apoio, como olhar nos olhos ou balançara cabeça para quem está falando, cria empatia.

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O entrevistador questiona o candidato com o objetivo de identificar habilidadesprofissionais, técnicas e práticas. Geralmente são analisadas as habilidadesorganizativa, analítica decisória, social e comunicativa e, para isso, o candidato écolocado em situações hipotéticas.

Algumas perguntas são básicas nas entrevistas, como as que seguem.Consulte o livro HINDLE, Tin. Como fazer entrevistas. São Paulo: Editora

Publifolha, série Sucesso Profissional.• Por que você deseja mudar de emprego?• Quais são as suas principais qualidades?• Como foi sua relação com outras empresas?• Qual foi o ponto alto de sua carreira até agora?• Que experiência você tem em resolver problemas?• Quais são as suas metas de longo prazo e como você supõe poder alcançá-las

nesta empresa?• Como você acha que contribuiria para esta empresa?• O que você considera ser a maior conquista de sua vida?• O que você está procurando antes de tudo no emprego?• Onde você se vê dentro de cinco anos?• Como você lida com pressões de prazo?• Você gosta de ser parte de uma equipe ou prefere trabalhar sozinho?• Como o seu melhor amigo o descreveria?

É preciso apresentar-se de forma persuasiva, considerando as modernas técnicasdo marketing pessoal. Para isso, são necessários argumentos que convençam aempresa da necessidade da contratação, mostrando os benefícios e a contribuiçãopara o sucesso dos negócios que essa contratação lhe fará.

As pessoas que vendem bem seus conceitos e idéias tendem a obter sucesso.

Visite os sites:- www.etiquetaempresarial.com.br- www.catho.com.br

A linguagem do corpoEm uma entrevista, os entrevistadores estão treinados para ler os sinais do

corpo que podem ser tão reveladores quanto as palavras. Seu corpo fala o tempotodo, mas nem sempre passa mensagem igual ao que você está dizendo.

No trabalho, onde a negociação está sempre presente, entender essa linguagempode ajudá-lo a conseguir seu objetivo.

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Há uma obra clássica, O corpo fala, cuja leitura é indispensável para quemdeseja, efetivamente, aprender a ler o outro e a si mesmo.

Saiba mais - Consulte as obras:WEIL, Pierre & TOMPAKOW, Roland. O corpo fala. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.DAVIS, Flora. A comunicação não-verbal. São Paulo: Summus Editorial, 1973.

A comunicação oralÉ fato que as empresas modernas buscam pessoas criativas, multifuncionais e

capazes de se comunicar satisfatoriamente.

Uma comunicação oral bem realizada é tão fundamental quanto umacomunicação escrita eficaz para o sucesso de uma empresa hoje.

Sabe-se que a comunicação oral envolve tanto aspectos verbais quanto não-verbais.

É necessário equilibrar essas duas linguagens: a linguagem das palavras e alinguagem do corpo. Formas de escrita, expressão do rosto, gestos, olhar, entonação,maneira de vestir-se – tudo envolve a comunicação.

A expressão oral é uma habilidade a ser desenvolvida ou aperfeiçoada, poisprojeta a imagem de quem a domina e propicia a abertura de canais para ocrescimento profissional e social. Há muitas técnicas para isso.

Elementos da comunicaçãoTodo texto, seja ele oral ou escrito, envolve:- Emissor- Canal- Receptor- Código- Referente- Mensagem

Saiba MaisConsulte o livro: VANOYE, Francis. Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

Visite o site: www.vocesa.abril.com.br/1edicao/ponto1.html

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Dicas para falar bemO orador é aquele que diz o pensa e pensa no que diz. (Brian)

1. Prepare-se para falar (abasteça-se com conteúdo para expor bem maistempo que o combinado).

2. Seja você mesmo: use a naturalidade e drible o medo. Saiba o que vai dizer.Use roteiro, se necessário.

3. Pronuncie bem as palavras: não omita a pronúncia do /r/ e /s/ finais e do /i/intermediário. Evite as indesejáveis repetições “hum”, “ah”, “né”, “ta”, “certo”, entre outras.

4. Fale com boa intensidade (nem alto para não irritar, nem baixo para quetodos ouçam).

5. Fale com boa velocidade (não fale rápido demais, nem devagar demais).

6. Fale com bom ritmo: alterne altura.

7. Tenha um vocabulário adequado: não use termos pobres ou vulgares, gírias,palavrões, nem palavras muito rebuscadas e jargões. Analise as características eexpectativas dos ouvintes.

8. Cuide da gramática.

9. Tenha postura adequada: não coloque mãos nos bolsos, nas costas; não cruzeos braços, deixe-os soltos naturalmente ao longo do corpo. Evite gesticulação excessiva.Não se movimente de um lado para o outro. Não levante muito a cabeça e o tórax.Deixe o semblante descontraído e seja sorridente. Ao falar, olhe para todas as pessoas.

10.Tenha início, meio e fim.

11.Fale com emoção.

Saiba maisConsulte as obras:POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente e sem inibições. São Paulo: Saraiva,2001.____ Um jeito de falar bem. São Paulo: Saraiva, 2001.Visite os sites:- http://noticias.aol.com.br/negocios/colunistas/reinaldo_polito/2005/0018.adp- http://www.aol.com.br/carreiras/fornecedores/aol/2005/12/01/0001.adp

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Atividade em aulaTeste suas habilidades de falar em público.

Responda apenas uma das alternativas de cada questão a seguir. De formasincera, diga como você é e não gostaria de ser. Assim, poderá avaliar melhor suacapacidade de comunicação.

1. Como você se sente ao falar em público?a) natural, sem tensões;b) tenso, mas com o controle da situação;c) muito tenso, com dificuldades para lidar eficientemente com a situação.

2. Ao ser convidado para falar em público:a) você prepara sua fala, seguindo um esquema seu, independentemente do

público que vai ouvi-lo;b) você prepara sua fala de acordo com seus objetivos e o interesse do público;c) você não prepara sua fala.

3. Se você for convidado para falar sobre um assunto que não conhece comprofundidade:

a) você recusa;b) você aceita, desde que tenha tempo suficiente para se preparar;c) você aceita, mesmo sem ter tempo de se preparar.

4. Ao organizar sua fala, você pensa em um início, meio e fim:a) às vezes;b) sempre;c) nunca.

5. Como você inicia sua fala:a) entra direto no assunto, de forma objetiva;b) tenta conquistar os ouvintes;c) inicia de qualquer maneira.

6. Como você encerra suas apresentações:a) com uma frase forte, mesmo que não tenha muita ligação com o assunto;b) recapitula a essência da mensagem e pede ação ou reflexão;c) termina secamente, com a frase “era isso o que eu tinha para dizer, obrigado”.

7. Como você estabelece a intensidade (volume) da voz diante do público:a) de acordo com o seu potencial;b) de acordo com o ambiente;c) não tem preocupação com a intensidade.

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8. Que tipo de vocabulário você usa:a) o que conhece, próprio da sua profissão, atividade ou estudo;b) simples e objetivo, de acordo com o público;c) bem informal, até com gírias.

9. Ao falar, você:a) não gesticula, sente-se amarrado;b) gesticula com moderação, reforçando o que está dizendo;c) gesticula demais.

10. Qual é o ritmo de sua fala:a) nem rápido nem devagar, sempre com a mesma velocidade;b) alterna, com velocidade normal, rápida e lenta;c) fala sempre muito rápido ou muito devagar.

11. Como você pronuncia as palavras:a) corretamente, com certo exagero;b) corretamente, sem exagero;c) sumprimindo algumas letras e sílabas de algumas palavras.

12. Como é sua comunicação visual:a) olha para algumas pessoas;b) olha para todas as pessoas;c) não olha para o auditório.

13. Como você constrói suas frases:a) saem truncadas, mas completas;b) saem completas e ordenadas;c) às vezes costuma interrompe-las na metade.

14. Em uma reunião, como você se comporta:a) nem sempre fala, mas fica sempre atento;b) fala com objetivo e fica sempre atento;c) fica calado e com receio de que peçam as sua opinião.

15. Qual é o seu estilo de comunicação:a) controlado, objetivo, sem grandes emoções;b) natural, com emoção;c) afetado.

Faça o teste na aula on-line e verifique sua pontuação.

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Próxima aulaPasquale Cipro Neto, o professor de português mais famoso do Brasil, diz que

os novos tempos exigem que se abra a boca.

“O abrir a boca é dominar o idioma, com conteúdo, com clareza, é serconvincente, saber estruturar as informações. Quem não abre a boca hoje estáperdido. E quem abre a boca melhor, sai-se melhor”, afirma.

Espero que a aula de hoje tenha contribuído para que você se saia melhor navida, como profissional, como pessoa.

Até a próxima!

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Aula 19 - Relatório

No final desta aula, você deverá saber o que é um relatório, distingui-lo de umrelato, conhecer sua estrutura, seus diversos tipos e elaborar um de acordo com assuas necessidades profissionais.

Deverá saber, também, empregar a crase corretamente.

O que é um relato de atividade?É simplesmente a notícia que se dá sobre a execução de um trabalho de que nos

encarregaram. Um condutor de obras, por exemplo, fará o relato do avanço dostrabalhos da construção de um edifício.

Pode tratar-se também de inventariar, por ordem expressa, certa quantidade deferramentas ou de material novo; ou de relatar circunstancialmente um debate, areunião de uma comissão ou os resultados de uma visita ou entrevista particular e doque nela se disse, viu e ouviu.

O redator, nesses casos, limita-se a descrever o que observou. Procura ser omais exato e completo possível, de forma a satisfazer que lhe confiou a missão e que,normalmente, não está a par do assunto. A objetividade é indispensável.

Não se interpreta, não se analisa nem se fazem propostas de ação. Um relato é,usualmente, curto.

O que é um relatório?Um relatório é uma descrição de fatos passados, analisados com o objetivo de

orientar o interessado para determinada ação. Isso significa que, se o relatório devepossuir todos os predicados de um relato de atividades, é, no entanto, bem mais ricoe complexo do que ele: tem de juntar-lhe as vantagens de uma lúcida análise e daconsideração do objetivo a atingir.

Saiba Mais - Consulte os livros:ARMELLEI, Walter Júnior & BASEIO, Dora Fontana & OLIVEIRA, Sueli Cain de.Comunicação empresarial. Coleção Leitura & Escrita. São Paulo: Esetec, 2005.

BOUSQUIÉ, G. Como redigir um relatório. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1984.

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MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

LEIGH, Andrews. Como fazer propostas e relatórios. São Paulo: Nobel, 2002

1a. Atividade em aulaAssinale, com R, o que é tipicamente característico de um relato; e, com RR, o

que caracteriza o relatório e o distingue do simples relato:

1. Contém, apenas, informações sobre a execução de um trabalho de que nosencarregaram.

2. O redator deve limitar-se a descrever o que viu, observou ou escutou,conforme a tarefa.

3. As informações relatadas devem ser detalhadas e claras e, o quanto possível,completas. O estilo deve ser objetivo.

4. O redator não deve incluir apreciações de caráter pessoal, interpretações dosfatos relatados e, muito menos, propostas de ação.

5. As informações contidas destinam-se a informar quem solicitou o trabalho.6. Contém, além das informações sobre fatos passados, também uma análise

que tem como objetivo orientar os superiores hierárquicos para determinada ação.7. A análise feita sobre os fatos relatados deve ser competente e muito clara,

baseada em argumentos sólidos, de preferência de caráter técnico ou científico.8. Conforme o caso, pode conter soluções de problemas levantados, desde que

tais soluções tenham cunho técnico ou científico.

Veja as respostas na aula on-line

Seja qual for a área, o profissional prepara mensagens, escreve textos e entreeles, um dos mais elaborados, é o relatório.

O relatório varia de acordo com o assunto e com as finalidades; classifica-se,então, em executivo, operacional, de auditoria, contábil, científico, de cobrança, devendas, de reuniões, de controle.

O primeiro passo para sua elaboração é a fixação dos objetivos, dos métodosde trabalho e da definição do destinatário. Esses dados ajudam a escolher opções queatingem mais eficazmente quem irá ler e avaliar.

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Em seguida, é conveniente esquematizar, planificar. Essa estrutura variaconforme o objetivo e o tipo de relatório, porém qualquer que seja o tipo, sãoaconselháveis cabeçalhos breves, que facilitem a leitura e despertem interesse,numeração progressiva, pois ordena as seções e permite visão mais clara do todo elinguagem clara, concisa, simples, adequada ao destinatário.

Algumas dicas para redigir um relatório1. Qualquer que seja a estrutura, os parágrafos não devem ser muito longos, o

texto deve ser fácil de ler, a estética deve despertar atenção, deve-se evitar pronomepessoal de 1ª pessoa e frases subjetivas.

2. Conforme o tipo de mensagem – informativa, persuasiva, de orientação –que se queira passar, o desenvolvimento poderá ser um texto narrativo oudissertativo, em forma de itens ou em forma de texto contínuo.

3. Dividir o relatório em seções e subseções realça as idéias e facilita a leitura.Os títulos devem ser curtos e escritos de modo semelhante, portanto, se o primeirodeles for um substantivo, todos os outros também devem ser; se forem usadas letrasmaiúsculas no primeiro, em todos os outros também, devem ser.

4. É aconselhável o uso de tabelas para tornar as informações mais visíveis, fáceise acessíveis ao leitor, além de economizar espaço.

5. Deve-se trabalhar, também, a aparência, a apresentação do relatório,cuidando de aspectos como disposição e espaçamento, gráficos e ilustrações, papel,encadernação e capa.

6. Aconselha-se deixar margens amplas e entrelinhas de 1,5 ou 2 linhas, inserirgráficos sempre que apresentar doze ou mais números, encadernar o material eapresentar uma capa com ilustração simples e com título em negrito.

Como sugestão, segue esquema para elaboração de relatório administrativo.Nem todos os dados apresentados precisam ser utilizados; o objetivo do textodetermina a organização.

CapaDocumentos com mais de 6 páginas devem apresentar uma capa e nela devem

conter: título do relatório, nome do relator ou do setor, cidade e ano.

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Folha de rosto• Título do relatório• Para quem se destina• Elaborado por• Assunto• Local• Data da elaboração• Tipo de relatório (parcial, total, inicial, final)• Natureza (normal, confidencial, reservado, secreto)

ResumoSe o relatório for longo, aconselha-se fazer um resumo, de poucas linhas,

destacado em um quadro, após a folha de rosto.

SumárioQuando muito longo e com muitos itens, é recomendável o sumário, que

organiza o texto por temas, facilitando a leitura.

Desenvolvimento• Objetivo (o que se pretende)• Métodos (entrevista, questionário, testes etc.)• Meios (instrumentos)• Duração (tempo)• Pessoal envolvido• Fatos, constatações, problemas• Causas e efeitos• Recomendações (medidas a serem tomadas)• Conclusões (resultados esperados)

AnexosÉ composto pelo material acessório. Gráficos podem ser colocados entre os

anexos, porém deve-se estudar a conveniência de seu uso no corpo do texto.

Bibliografia

Local e data

Assinatura

Nome legível

Identificação funcional

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2a Atividade em aulaCom base no roteiro apresentado, elabore um relatório, voltado à sua área de

trabalho, que contemple as três modalidades textuais: descrição, narração e dissertação.

Dicas de revisão gramatical

Uso da craseCrase = preposição + artigo definido feminino À = A + A(S)

Nós iremos a a praia.Nós iremos à praia.

Eles assistem a as aulas.Eles assistem às aulas.

Não pode haver crase nos seguintes casos:1. Os alunos chegaram a pé carregando as mochilas. antes de nomes masculinos

2. A Sessão começará a partir das 18 horas. antes de verbos

3. O casal chegou a certa ilha por força do destino. antes de pronomes indefinidos

4. Aquele livro causou a ti e a mim boas impressões. antes de pronomes pessoais

Saiba mais - Consulte as gramáticas:1.BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional.2.CUNHA, Celso Ferreira. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Fename.3.LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo.4.MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. São Paulo: Atlas.

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3a Atividade em aulaPreencha as lacunas com a, às, as, os, ao, aos, ou às:

1. Fui a o show, depois voltei a a cidade.Fui ____ show, depois voltei _____ cidade.

2. A sentença foi desfavorável a o réu.A sentença foi desfavorável _____ réu.

3. O atraso será prejudicial a os objetivos e a as pesquisas.O atraso será prejudicial _____ objetivos e _____ pesquisas.

4. O jovem escreveu a carta a a namorada.O jovem escreveu a carta ______ namorada.

5. Isto se destina a homens ou a mulheres.Isto se destina a homens ou ______ mulheres.

Veja as respostas na aula on-line

4a Atividade em aulaPreencha as lacunas com a, às, as, os, ao, aos, ou às:

1. Assim não irá _____ nenhuma festa, disse a mulher ciumenta.

2. Dei _____ ela uma flor, e ela ofereceu _____ mim um presente quejamais esquecerei.

3. Tinha um profundo amor _____ certa jovem.

4. Não gosto de comprar ____ prazo, sempre compro ____ dinheiro.

5. Bebida é nociva ____ crianças.

6. Promoveremos sessões _____ partir da meia-noite.

7. Os soldados iam ____ pé, mas o sargento viajava ____ cavalo.

8. Depois da viagem, os professores chegaram _____ casa exaustos.

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9. Graças _____ Deus, vivemos em liberdade.

10. O terremoto atingiu ____ vila e ____ cidades próximas.

Veja as respostas na aula on-line

Síntese da aula de hojeNa aula de hoje, você aprendeu a elaborar um relatório, optando por uma

estrutura adequada às necessidades do seu trabalho profissional; a diferenciar umrelatório de um relato e, aprendeu também, empregar a crase corretamente.

Assim, estamos chegando ao final deste curso. Destinaremos a próxima aulapara avaliação geral e auto-avaliação.

Até lá!

Saiba maisO editor de texto Word, possui uma série de recursos de escrita que podem ajudar,desde a formatação, até a escolha da apresentação.

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Aula 20 - Conclusão do curso

O objetivo dessa última aula é resgatar e avaliar os principais conceitos,habilidades e competências desenvolvidos durante o curso.

Leia o texto a seguir e responda as questões:

Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num

barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.(Manuel Bandeira)

Atividade em aula

1. No “Poema tirado de uma notícia de jornal” predomina que função da linguagem?a. ( ) metalingüística, centrada no código, que define elementos da própria

linguagem.b. ( ) referencial, centrada no referente, produzindo informações definidas,

claras, denotativas.c. ( ) poética, centrada na mensagem, sendo o que importa não é apenas o

que se diz, mas o modo como se diz.d. ( ) emotiva, centrada no emissor, exprimindo emoções.e. ( ) conativa ou apelativa, centrada no receptor, tem o objetivo de

influenciar, convencer alguém.f. ( ) fática, centrada no canal da comunicação, tem o objetivo de estabelecer

contato entre emissor e receptor.

2. O conteúdo do texto de Manuel Bandeira apresenta elementos de qual modalidade?a. ( ) descritivab. ( ) dissertativac. ( ) narrativad. ( ) musical

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3. Observe que o autor do texto utilizou intencional e predominantemente osverbos no tempo:

a. ( ) pretérito perfeito do indicativob. ( ) presente do indicativoc. ( ) pretérito imperfeito do indicativod. ( ) pretérito mais-que-perfeito do indicativoe. ( ) pretérito imperfeito do subjuntivo

4. Na expressão “Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreuafogado.”, quanto à colocação do pronome se, pode-se afirmar que:

a. ( ) está incorreta, o correto é “atirou-se”, pois não há palavra que atraia opronome se.

b. ( ) está incorreta, porque reproduz a língua informal do grupo social dapersonagem João Gostoso.

c. ( ) está correta, porque o autor tem licença poética para reproduzir a línguainformal da personagem.

d. ( ) está correta, porque o advérbio depois atrai o pronome se, portanto elefica antes do verbo.

e. ( ) é indiferente, segundo às normas gramaticais.

5. Compare esse texto com uma notícia de jornal qualquer. Lembre-se de quecomparar é identificar semelhanças e diferenças. Consulte os sites e selecione uma notícia.

www.uol.com.brwww.folha.com.brwww.estado.estadao.com.br

6. No texto de Manuel Bandeira predomina objetividade ou subjetividade?Espera-se que o aluno perceba que o texto de Bandeira é mais subjetivo

comparado a uma notícia de jornal.

7. O texto analisado apresenta todos os elementos que compõem uma notíciade jornal?

Espera-se que o aluno perceba que esse texto está incompleto para ser umanotícia de jornal.

8. O que falta ao poema para ser tratado como uma autêntica notícia de jornal?Acrescente os dados.

Espera que o aluno perceba que faltam mais informações concretas e precisascomo a data e as possíveis razões do aparente suicídio, menção às pessoas quetestemunharam o fato etc.

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9.Transforme o texto de Bandeira, de natureza literária, em outro de naturezanão-literária, jornalística. (Transformar significa mudar a forma) Não se esqueça deincluir os dados levantados anteriormente.

Espera-se que o aluno crie um texto, explorando a função referencial da linguagem.

10. Escreva, agora, um parágrafo descritivo, explorando as características físicase psicológicas de João Gostoso sugeridas no texto.

Não se esqueça de que em uma descrição predominam os adjetivos e os verbosque expressam qualidade, estado ou mudança de estado.

11. Com base, na descrição elaborada por você, crie um diálogo entre JoãoGostoso e uma outra personagem de seu meio social, evidenciando marcaslingüísticas dos interlocutores a partir de seu contexto sócio-cultural.

Espera-se que o aluno utilize o discurso direto na elaboração do diálogo e nívelde linguagem coloquial, adequado ao perfil da personagem.

12. O nível de linguagem em que o texto é escrito retrata a realidade docarregador de feira-livre?

Espera-se que o aluno perceba que apesar de o texto retratar a realidadesociolingüística de um carregador de feira-livre, há poucas marcas lingüísticas dessarealidade no texto. Predomina o nível culto ou formal da linguagem.

13. Há rupturas da norma culta na construção sintática de Manuel Bandeira? Porquê? Quais? (Pesquise sobre estilo)

Há algumas rupturas da norma culta, como por exemplo: “João Gostoso”,“...ele chegou no bar...”, a ausência de pontuação interna.

14. O poema de Bandeira apresenta apenas informações sobre a realidade decarregadores de feira-livre ou intencionalmente apresenta um olhar crítico sobreessa realidade?

15. Escreva um parágrafo dissertativo posicionando-se em relação a esse tema,concordando ou discordando de Bandeira.

Sobre os conceitos, as habilidades e as competênciasdesenvolvidos neste curso

Você penetrou no mundo misterioso das palavras e percebeu o quanto acomunicação é complexa: ela possui vários elementos que interagem entre si.

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Viajou pela linguagem e conheceu os diversos fatores que provocam asvariações lingüísticas. Constatou que para cada situação e contexto, há uma formaadequada para expressar o que se pensa e o que se sente.

Você aprendeu a distinguir um texto dissertativo de um texto narrativo e de umdescritivo, bem como a escrever com criatividade, organização e coerência,utilizando-se das três modalidades.

Aprendeu, também, a elaborar textos fundamentais para sua vida profissional,como: o seu currículo, uma carta empresarial, relatório, a técnica de resumir e aresenha. Viu a importância da comunicação oral numa entrevista, processo decisivode uma contratação.

Transitou pela gramática – temida por muitos – de forma suave, prática edidática, deparando-se com casos e questões do nosso cotidiano.

Síntese do cursoApós percorrer esse caminho traçado na primeira aula, você chegou, enfim, ao

final de mais uma etapa de um processo em que se constrói o conhecimento, pois abusca é permanente.

A trilha exigiu leitura atenta, pesquisa, consulta a obras, navegação em sites,elaboração de exercícios, produção de textos, releitura dos textos, enfim,dedicação, disciplina intelectual e muita prática. Relembrando as palavras de ClariceLispector, “escrever aprende-se escrevendo”.

Com certeza, as aulas tornaram seu olhar sobre a realidade, sobre a vida, maiscrítico, e despertaram emoções e paixões que só a palavra, a literatura, a arteconseguem fazê-lo.

Parabéns!