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Incumprimento das obrigações Bruno Mestre IPCA

7 - Incumprimento Das Obrigações

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Incumprimento das obrigações

Bruno Mestre

IPCA

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• Conceito: quando o devedor não realiza adequadamente a prestação a que se encontra obrigado

• O credor pode não cumprir em virtude de um simples retardamento no cumprimento ou ser totalmento impossível cumprir; num caso e noutro, pode ser ou não imputável ao devedor.

• A lei regula a matéria em conformidade com a imputibilidade da mesma ao devedor

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Não-imputável ao devedor• Trata-se de situações em que o

devedor não pode ser censurado por não ter realizado a prestação a que se encontrava obrigado.

• Pode ser devido a facto do credor, terceiro, caso fortuito ou força maior

• A lei comina a extinção (parcial) da obrigação em alguns casos.

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• Incumprimento– Não-imputável ao devedor (790-797)

• Impossibilidade de cumprimento• Mora • Mora creditória

– Imputável ao devedor (798-808)• Incumprimento• Impossibilidade de cumprimento• Mora

– Nota: mora = retardamento da prestação

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Não-imputável devedor• 792: impossibilidade temporária

– Se o devedor estiver transitoriamente impedido de cumprir a obrigação sem culpa sua, mantendo-se o interesse do credor, a obrigação mantém-se mas o devedor não responde pela mora no cumprimento

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• 793: impossibilidade parcial– Tornando-se a prestação parcialmente

impossível, o devedor mantem-se vinculado a prestar o que for possível, sendo proporcionalmente reduzida a contraprestação.

– O credor pode resolver o negócio se provar comprovada falta de interesse no cumprimento parcial.

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• 790: impossibilidade objectiva– Trata-se de um evento não-imputável ao

devedor que torna o cumprimento objectivamente impossível.

– E.G: uma derrocada impossibilita um guia de passear turistas pelas montanha

– A impossibilidade originária produz a nulidade do negócio (401); a superveniente produz a extinção da obrigação.

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• 790/2: se o negócio tiver sido celebrado sob condição/termo e a prestação se tornar impossível após a celebração e antes da verificação da condição/termo, a impossibilidade é considerada superveniente e não se aplica o 401

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• 791: impossibilidade subjectiva– Trata-se de situações em que a

impossibilidade reside na própria pessoa do devedor.

– E.G: um pintor fica sem dedos– Apenas produz a extinção da obrigação se

este não se puder fazer substituir por terceiro (828 - prestação facto infungível)

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• 794: commodum de representação– Se o devedor adquirir um direito sobre

uma coisa ou contra terceiro em substituição do objecto da prestação, o credor pode exigir a prestação da coisa ou substituir-se ao devedor na titularidade do direito contra terceiro.

– E.G: (inserir exemplo)

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• 795: contratos bilaterais– Impossib não-imputavel nenhuma das

partes (795/1): o credor fica desobrigado da contraprestação e pode exigi-la nos termos do ESC se já a tiver realizado.

– Impossib imputável ao credor (795/2): o credor não fica liberto da contraprestação mas desconta nela o benefício que o devedor consiga com a exoneração.

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• 796: risco (+408)– 408: em regra, a transmissão de direitos

reais dá-se por mero efeito do contrato– (1): o risco da perda ou deterioração da

coisa por causa não-imputável ao alienante corre por conta do adquirente.

– (2) se o alienante tiver permanecido na posse da coisa em consequência de termo constituído a seu favor, o risco só se transfere com o vencimento do termo ou entrega da coisa; aplica-se o 807

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Mora creditória• 813: se o credor, injustificadamente,

não aceitar a prestação que lhe é oferecida nos termos legais nem praticar os actos necessários ao seu cumprimento, incorre em mora.

• 814: responsabilidade do devedor– Responde apenas pelo seu dolo

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• 815: inversão do risco– O risco resultante de facto não-imptvl a

dolo do devedor recai sobre o credor

• 816: indemnização– O credor deve indemnizar o devedor das

maiores despesas que este tenha com o cumprimento

• 841/1,b): o devedor pode exonerar-se mediante consignação em depósito

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• (3) contrato sujeito condição – resolutiva: o risco, na pendência da

condição, corre por conta do adquirente mas só se a coisa lhe tiver sido entregue.

– suspensiva: o risco corre por conta do alienante

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Imputável ao devedor• Trata-se de uma situação em que o

incumprimento da prestação é da responsabilidade do devedor

• A lei equipara - em alguns efeitos - a impossibilidade culposa do incumprimento culposo.

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• 799: presunção de culpa– A lei coloca uma presunção de culpa sobre o

devedor; se não cumprir, tem que provar que não teve culpa no incumprimento, o credor apenas tem que provar o incumprimento e o dano.

• 800: representantes legais e auxiliares– Se o devedor utilizar representantes ou auxiliares

no cumprimento, responde pelos actos dessas pessoas como se fossem o próprio devedor

– Não se confunde com responsab comitente (500)

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• 798 + 801/1– A lei equipara a impossibilidade culposa ao

incumprimento– Se o devedor não cumprir a obrigação ou esta se

tornar impossível por sua culpa, o credor tem o direito de exigir indemnização por todos os danos provocados.

• 817 + 827-830– O credor pode exigir:

• o cumprimento coactivo da prestação (sendo possível) e;

• uma indemnização pelos danos causados

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• 801/2: contratos bilaterais– Se a obrigação tiver por fonte um contrato

bilateral, o credor pode optar por: • Resolver o contrato e;• Pedir uma indemnização pelos danos

causados

– Nota: este preceito aplica-se mesmo que a prestação seja possível em virtude de o legislador ter equiparado ambas as hipóteses

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Mora• Antes de a prestação se dar por não-

cumprida, o devedor entra em mora

• 804: a mora constitui o devedor na obrigação de reparar danos causados

• 805: momento da constituição em mora

• 806: obrigações pecuniárias

• 807: risco

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• 808: conversão da mora em incumprimento definitivo– A obrigação considera-se incumprida:

• Se o credor perder o interesse na prestação em consequência da mora

• Se o devedor não realizar a prestação no prazo fixado pelo credor

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• E.G: A deve €5000 a B pagáveis em data certa; na data, B não paga. – B constitui-se em mora por força do

805/2,a); para que a obrigação se dar por não-cumprida, A tem que interpelar B e pedir-lhe para cumprir num determinado prazo sob pena de A considerar a obrigação não-cumprida. Só nesta última hipótese é que a obrigação se tem por não cumprida

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• Portanto: se a obrigação se der por não-cumprida e ainda for possível, o credor tem duas hipóteses:

• (1) cumprimento específico + indemnização (817 + 798)

• (2) resolução do contrato + indemnização (801/2)

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• Questão: como calcular a indemnização?– Interesse contratual positivo: dano de

cumprimento; o devedor tem que colocar o credor na posição em que estaria se não fosse o incumprimento (562)

– Interesse contratual negativo: dano de confiança: o devedor tem que colocar o credor na posição em que estaria se não tivesse celebrado o contrato

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• Posições tradicionais– Se optar por cumprimento específico +

indemnização, entende-se que o dano se calcula pelo interesse contratual positivo.

– Se optar por resolução + indemnização, entende-se que o dano se calcula pelo interesse contratual negativo

– Alguma doutrina - minoritária - entende que se aplica sempre o interesse contratual positivo.

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• E.G:A e B acordam trocar um piano no valor de €5000 por um quadro no valor de €6000. B destroi o quadro dolosamente.– A pode entregar o piano e exigir 1000 de

indemnização (icp)– A pode resolver o contrato e pedir uma

indemnização pelas despesas com o mesmo (icn)

– Posição minoritária: A pode resolver o contrato e pedir 1000 de indemnização (Icp)

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• A doutrina equipara ao incumprimento, o designado cumprimento defeituoso (799)

• O cumprimento da obrigação tem que ser realizado de boa fé; neste caso, o devedor cumpre de uma forma que frustra os fins do negócio: – Eg: A vende a B animais doentes que

contagiam os demais.

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• A questão não tem uma solução directa na lei, temos que atender aos objectivos do negócio e à gravidade do defeito.

• Se frustrar completamente o negócio, aplicam-se as regras do incumprimento; se frustrar parcialmente, aplicam-se as regras da impossibilidade parcial.

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• 802: impossibilidade parcial– O credor pode:

• Resolver o negócio + indemnização• Reduzir a sua prestação proporcionalmente +

indemnização

– Nota: a impossibilidade parcial tem que ter alguma importância para justificar impossibilidade.

• 803: commodum de representação