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OS 7 PILARES DO APRENDIZADO Usando a ciência para aprender mais e melhor PAULO RIBEIRO

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  • OS 7 PILARES DOAPRENDIZADO

    Usando a cincia para aprender mais e melhor

    PAULO RIBEIRO

  • A meus pais, que me criaram para amar a educao e respeitar ao prximo. Sem eles no seria quem eu sou.

    A Sebastian Marshall, um mentor, que com um exemplo de vida, me fez acreditar na construo de um mundo melhor e de uma vida significativa.

  • sumrioIntroduo 08

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    Captulo 1 1. A Arquitetura da mente: como o conhecimento armazenado

    1.1 A teoria do multiarmazenamento

    1.2 Conhecimento declarativo

    1.2.1 Reconhecimento sensorial

    1.2.2 Strings: associaes simples como a base

    1.2.3 Ideias

    1.2.4 Schemas: como as ideias se relacionam

    1.2.5 Modelos mentais: executando realidades virtuais

    1.3 Conhecimento procedural

    Para relembrar e pr em prtica

    2.1 O poder de uma base slida

    2.1.1 Como ativar e acelerar o aprendizado

    2.1.2 O perigo de saber sem saber

    2.2 O impacto de organizar o conhecimento da maneira correta

    2.2.1 O que fazemos (de errado) no automtico

    Captulo 2 2. Os principais fatores que influenciam o aprendizado

  • sumrio2.2.2 Diferenas entre o modo de um expert e de um principiante

    2.3 A motivao e o aprendizado

    2.3.1 Como desativar o modo automtico de enrolao

    2.3.2 Alinhando os valores de sua jornada

    2.3.3 Criando confiana de modo saudvel

    Para relembrar e pr em prtica

    Captulo 33. A caixa de ferramentas do autodidata

    3.1 O que possvel fazer sozinho?

    3.2 Desenvolvendo hbitos e rotinas de sucesso

    3.2.1 Fora de vontade no infinita

    3.2.2 Os 4 passos para criar qualquer hbito

    3.2.2.1 Identifique a rotina

    3.2.2.2 Experimente com as recompensas

    3.2.2.3 Isole a deixa e possveis barreiras

    3.2.2.4 Tenha um plano

    3.2.3 Desenvolvendo os sistemas ideias

    3.3 A mentalidade certa importa. E muito

    3.

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  • sumrio

    4.2 Modulando seu objetivo

    4.2.1 Duas tcnicas para modular seus objetivos

    4.2.1.1 Referncias

    4.2.1.2 Entrevistas

    4.3 A regra de pareto acelerando o aprendizado

    4.3.1 Selecionando para acelerar

    4.3.2 Utilizando os critrios certos

    4.4 A ordem importa?

    4.4.1 Aprendendo a falar antes de escrever

    4.4.2 Dominando as finalizaes antes das aberturas

    Para relembrar e pr em prtica

    Captulo 44. A arte de estudar o problema certo 4.1 Trazendo a eficincia para o mundo do aprendizado

    3.4 Um guia para superar a sobrecarga cognitiva

    Para relembrar e pr em prtica

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    Captulo 55. A captura eficiente do conhecimento

    5.1 Tomando notas de maneira eficiente

    5.1.1 Erro comum ao fazer anotaes

  • sumrio

    Captulo 66. Como processar o conhecimento

    6.1 Flip Learning ou "indo de fora para dentro"

    6.2 Transferncia e a busca por conexes

    6.3 Tcnicas mnemnicas

    6.3.1 Tcnicas para processar conceitos

    6.3.1.1 Metforas

    6.3.1.2 Tcnica Goldfish

    6.3.1.3 Mapas mentais

    6.3.2 Tcnicas para processar informaes

    6.3.2.1 Sistema Link

    6.3.2.2 Sistema Peg

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    5.1.2 Duas tcnicas para melhorar suas anotaes

    5.2 Como extrair o mximo de um livro

    5.2.1 Os quatro tipos de leitura

    5.3 Um guia para extrair o mximo da leitura

    Para relembrar e pr em prtica

  • 2.1 O poder de uma base slida

    2.1.1 Como ativar e acelerar o aprendizado

    2.1.2 O perigo de saber sem saber

    2.2 O impacto de organizar o conhecimento da maneira correta

    2.2.1 O que fazemos (de errado) no automtico

    sumrio

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    6.3.2.3 Palcios de memria

    Para relembrar e pr em prtica

    Captulo 77. Desenvolva a maestria e crie a memria perfeita

    7.1 O significado da maestria

    7.2 A mente de um expert

    7.2.1 Conhecimento em chunks

    7.2.2 Padres significativos

    7.2.3 Automatismo por causa da experincia

    7.2.4 Schemas e modelos mentais

    7.3 As 3 caractersticas da prtica deliberada

    7.4 Repetio espaada e a memria perfeita

    7.4.1 Como esquecemos das coisas

    7.4.2 Usando um sistema para maximizar lembranas

    Para relembrar e pr em prtica

    Concluso

    Agradecimentos

    Referncias

  • 3.1 O que possvel fazer sozinho?

    3.2 Desenvolvendo hbitos e rotinas de sucesso

    3.2.1 Fora de vontade no infinita

    3.2.2 Os 4 passos para criar qualquer hbito

    3.2.2.1 Identifique a rotina

    3.2.2.2 Experimente com as recompensas

    3.2.2.3 Isole a deixa e possveis barreiras

    3.2.2.4 Tenha um plano

    3.2.3 Desenvolvendo os sistemas ideias

    3.3 A mentalidade certa importa. E muito

    3.

    introduo

    Grande parte dos resultados vem dos mtodos e das tcnicas de estudo.

    Todo mundo quer aprender melhor e mais rpido. Seja para melhorar o desempenho em escolas e faculdades, passar em concursos e certificaes, aprender novas lnguas ou dominar hobbies: aprender melhor traz resultado direto em nossas vidas.

    O problema que parecemos estar fadados a depender de escolas, cursos e materiais cada vez mais caros a fim de aprender melhor. Afinal de contas, todo mundo estuda da mesma maneira e o que vai diferenciar os resultados a qualidade dos materiais de sua preparao, certo?

    Errado. Aprender uma habilidade como outra qualquer e depende muito pouco de sua capacidade original; grande parte dos resultados vem dos mtodos e das tcnicas de estudo. No conhecimento comum, mas h um corpo inteiro de pesquisas cientficas em torno do aprendizado, em busca de entender como o processo acontece e como podemos faz-lo melhor.

    Grande parte dosresultados vemdos mtodos edas tcnicas deestudo.

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  • Comecei, ento, uma jornada pesada de estudos. E no apenas de contedo do colgio, mas tambm um tema incomum: aprendizado. Eu comecei a ativamente experimentar com tcnicas diferentes de aprendizado em busca dos melhores resultados, para que eu pudesse absorver e aplicar na minha jornada de preparao. Experimentei bastante, principalmente com meus (ento) calcanhares de Aquiles: histria e redao.

    Hoje, olhando para trs, eu vejo como essa fase de experimentao com o aprendizado foi importante. Usei o conhecimento que adquiri para ser aprovado em 1 lugar nas duas maiores universidades do meu estado, o que me permitiu cursar engenharia.

    Meu interesse pelo aprendizado comeou h mais de seis anos e tem permeado minha vida desde ento. Na poca, eu era um estudante prestes a entrar no terceiro ano do ensino mdio e em um ponto-chave da vida: a preparao para entrar na universidade. Como eu venho de uma famlia humilde, no tinha escolha: ou aprendia da melhor maneira possvel para entrar numa (concorrida) faculdade pblica, ou no faria ensino superior. No teramos dinheiro para uma faculdade particular.

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  • E tem sido assim desde ento. De l para c, j usei essas tcnicas para: aprender ingls por conta prpria ao nvel de fluncia, estudar negcios e marketing, tendo trabalhado com empreendedores de sucesso ao redor do mundo em startups e organizaes filantrpicas, melhorar minha escrita a um nvel profissional, aprender programao, dana de salo e tudo aquilo que me interessa. At que chegou o momento de ensinar o que aprendi s outras pessoas, de modo que elas pudessem ficar mais perto de seus sonhos como eu fiquei. Sempre tivesse essa vontade de causar impacto, o que se traduziu em alguns projetos e blogs que se acabaram com o tempo.

    Os resultados obtidos depois de eu ter refinado as melhores tcnicas de estudo que encontrei no teriam existido se eu no tivesse investido tempo nesse garimpo. Saber a melhor forma de aprender foi essencial naquele momento da minha vida.

    Exceto um, desde 2011, escrevo em um portal sobre estilo de vida e sucesso chamado Estrategistas, onde compartilho o conhecimento que tem funcionado na minha vida e na vida de mentores. No final de 2012, em uma conversa com Eduardo, com quem eu fundei o Estrategistas, durante o evento TEDxRecifeAntigo, algo clicou na minha cabea.

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  • A partir dali, mergulhei na cincia do aprendizado. Minha ideia foi refinar todos os conceitos e tcnicas que eu tinha adquirido ao longo dos anos com o conhecimento cientfico, atual, a respeito do processo. Fiz cursos, li vrios livros, dezenas de artigos cientficos, sites na internet, vi palestras, enfim, mergulhei de cabea na rea.

    Oficialmente, o Aprendizado Acelerado nasceu no segundo semestre de 2013. Desde ento, tem sido uma jornada fantstica. Tenho conhecido muita gente, levado esse conhecimento sobre aprendizado para dezenas de milhares de pessoas pelo Brasil e pelo mundo e impactado muitas vidas no processo.

    Eu j tinha um projeto sobre desenvolvimento pessoal para causar impacto na forma como as pessoas vivem suas vidas. Eu poderia fundar um projeto sobre aprendizado, agora para compartilhar conhecimento e tcnicas a fim de ajud-las a aprender melhor, um passo essencial na busca de qualquer objetivo.

    Nossa comunidade no para de crescer e as pessoas esto aplicando as tcnicas do Aprendizado Acelerado nas mais diversas reas e obtendo resultados reais. Desde faculdades, escolas, concursos at aprendizado de lnguas, de msica e hobbies como o pquer. Essa semana at recebi a excelente notcia que Fbio, um de nossos leitores assduos, foi aprovado em engenharia na terceira melhor faculdade do pas! Um email que fez meu dia.

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    7.1 O significado da maestria

    7.2 A mente de um expert

    7.2.1 Conhecimento em chunks

    7.2.2 Padres significativos

    7.2.3 Automatismo por causa da experincia

    7.2.4 Schemas e modelos mentais

    7.3 As 3 caractersticas da prtica deliberada

    7.4 Repetio espaada e a memria perfeita

    7.4.1 Como esquecemos das coisas

    7.4.2 Usando um sistema para maximizar lembranas

    Para relembrar e pr em prtica

    Concluso

    Agradecimentos

    Referncias

  • Se eu fosse escrever um livro recheado sobre aprendizado, ele precisaria ter:

    - Uma linguagem acessvel. Afinal de contas, uma barreira grande para o acesso ao conhecimento cientfico atual sobre o aprendizado o fato dele ser, bem, cientfico. H muitas pesquisas e resultados interessantes na rea, mas eles esto espalhados e escritos em artigos acadmicos pela internet. Se fosse para escrever um livro, eu teria que reunir essas informaes em um s lugar e fazer uso de uma linguagem acessvel.

    - Fundamentao cientfica. A rea do aprendizado vastamente povoada por mitos e confuses a respeito de conceitos importantes, ocorridos principalmente quando eles vo para a mdia pelas mos de jornalistas sem uma background cientfico. No adiantaria escrever um livro com base em "achismo", por isso fui refinar minhas tcnicas com uma pesquisa profunda na rea.

    No final de 2013, as pessoas comearam a me pedir por um livro. Um livro sobre aprendizado, que falasse da cincia por trs do processo e contivesse as tcnicas de melhor resultado em um lugar s, praticamente um manual. Comecei, ento, a trabalhar na pesquisa e na escrita desse projeto.

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  • - Uma abordagem prtica. Conhecimento terico importante para entendermos como as coisas funcionam, mas a pegada de um livro til sobre aprendizado a parte prtica. Esse livro teria que ter sido preparado, desde a concepo, com a ideia de que o leitor, ao conclu-lo, tivesse uma compreenso geral e fosse capaz de aplicar na hora o que aprendeu.

    Este exatamente o e-book que voc est lendo agora. Espero que ele seja til, ajudando-o a aprender melhor, deixando voc mais perto de seus sonhos.

    Um grande abrao,Paulo Ribeiro

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  • A ARQUITETURA DA MENTE:COMO O CONHECIMENTO ARMAZENADO

    CAPTULO 01

  • Um homem deve manter seu pequeno crebro-sto abastecido com todos os mveis que so de provvel uso e o resto ele pode pr de lado na sala de sua biblioteca, onde ele pode peg-los se quiser. Arthur Conan Doyle

    A melhor maneira de estudar qualquer atividade entender os princpios por trs dela. Enquanto raciocnio por comparaes e a partir de exemplos algo extremamente til se quisermos fazer avanos significativos em qualquer rea, preciso raciocinar com base em princpios para dominar os fundamentos. Construir nossa imagem mental do que estamos estudando a partir de suas bases, de modo que obtenhamos o modelo mais realista possvel e possamos trabalhar dentro dele.

    Para nosso estudo do aprendizado, no vai ser diferente. Comearemos mergulhando em um dos modelos mais bem aceitos pela academia para explicar o armazenamento de informaes no crebro e ento estudamos a prpria estrutura do conhecimento em nossa mente. Esse captulo essencial para compreender em que as tcnicas apresentadas ao longo do livro so eficientes e por que elas funcionam.

    Um homem deve manter seu pequeno crebro-sto abastecido com todos os mveis que so de provvel uso e o resto ele pode pr de lado na sala de sua biblioteca, onde ele pode peg-los se quiser

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  • 1.1 A teoria domultiarmazenamento

    H dezenas de teorias que visam a explicar o funcionamento da memria humana e suas particularidades. Conforme nosso entendimento de psicologia cresceu no sculo passado, especialmente com o surgimento do campo de estudo cognitivo e com os avanos em neurocincia, as teorias inadequadas foram ficando para trs e as mais eficientes continuaram a ser selecionadas.

    O modelo do multiarmazenamento, tambm conhecido como modelo modal ou multimemria, foi apresentado pela primeira vez em 1968 por Richard Atkinson e Richard Shirin . Ele prope que possumos no um, mas alguns tipos de memria, que so diferentes em termos de durao e capacidade de armazenamento de informaes.

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  • Memria sensorialest relacionada com atransformao dosestmulos externos, que existem em vrias formas.

    Essa memria sensorial est relacionada com a transformao dos estmulos externos, que existem em vrias formas (ftons, vibraes, cheiros, etc.) em impulsos eltricos, a "linguagem" dos neurnios. Para a viso, a durao extremamente curta, entre meio e um segundo, at sumir da sua mente. Para a memria auditiva, a durao entre 1 e 3s.

    O segundo tipo de memria a de curto prazo, tambm chamada de memria de trabalho. Embora os termos sejam utilizados como significassem a mesma coisa, h uma pequena diferena: aquela se refere a nossa capacidade biolgica e esta ao que o crebro faz com essa capacidade.

    O primeiro nvel a memria sensorial, a mais externa, cuja existncia foi demonstrada por Sperling (1960). Ela a nossa conexo com a realidade, ou seja, uma pequena regio onde nossos sentidos, principalmente o sistema auditivo e o visual, mantm um grande volume de informaes antes de ocorrer a filtrao para a regio de ateno consciente, como sugerido por Coltheart em 1974.

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  • A memria de trabalho est diretamente relacionada nossa conscincia sobre as coisas, ao nosso foco de ateno. Ela s consegue manter entre 5 e 9 itens ao mesmo tempo, dependendo da familiaridade com eles. O fato dela ser to reduzida apenas um dos problemas; outra dificuldade o tempo curto que a informao passa dentro do sistema, entre 5 e 20 segundos.

    Isso explica o porqu das coisas escaparem de nossa ateno quando somos distrados tentando memorizar um nmero de telefone, por exemplo. Para reter a informao, voc precisa mant-la ativa dentro de um buer chamado ciclo articulatrio. Estudos de laboratrio mostram que o loop natural da mente dura 1,5s, ou seja, o que voc conseguir repetir para si mesmo em blocos de 1,5s vai ficar gravado indefinidamente. A alternativa, muito mais prtica, fazer a transferncia da informao para a memria de longo prazo.

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  • Quanto mais informaes absorvemos,mais fcil ser absorver mais.

    Tudo o que voc j vivenciou, fez ou pensou na vida est guardado l. No s contedo relacionado a conhecimento/estudo explcito, mas experincias de vida, situaes, pessoas, em suma, seu entendimento geral do mundo.

    No h limitaes conhecidas capacidade de armazenamento de informaes nessa memria. Na realidade, o princpio do conhecimento de base (que veremos no captulo 2) nos leva a concluir que quanto mais informaes absorvermos, mas fcil ser absorver mais. Se essa capacidade ilimitada e dura indefinidamente, por que ela no resolve todos os problemas? Ou seja, por que esquecemos coisas?

    A memria de longo prazo o lugar de armazenamento permanente de informaes na sua mente. Embora certamente ela esteja a merc de doenas e acidentes com o crebro, ela no passa pelos mesmos problemas de transincia nem de limitao da memria de trabalho. Mesmo o processo natural de envelhecimento no causa danos per se ao volume de informaes que voc guarda, apenas reduz a velocidade de recuperao das memrias.

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  • H dois grandes problemas: a dificuldade em carregar contedo nessa memria, nos obrigando a desenvolver estratgias para codificar a informao de maneira adequada a conectar com o que j est armazenado, e a necessidade de utilizar estratgias para recuperar o que foi guardado l. O principal motivo pelo qual as pessoas esquecem o fato delas no terem aprendido direito em primeiro lugar. natural as pessoas serem super confiantes em suas capacidades de lembrar o que preciso, mesmo sem entender como funciona o processo de memorizao ou sem nunca ter desenvolvido estratgias para codificar a informao da maneira adequada.

    As principais estratgias para processar o conhecimento, ou seja, transferi-lo permanentemente da memria de trabalho para a memria de longo prazo envolvem um C.R.I.M.E .

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  • Chunking Agrupar informaes de uma maneira original de modo a fazer sentido Repetio Sim, repetio uma das formas pela qual podemos fazer essa transferncia. Toda tcnica tem um pouco de repetio, mas focaremos nesse tpico em si no captulo 7 deste livro. Imagens Criar imagens mentais envolvendo a informao a ser guardada. Mnemnicos Qualquer metodologia que aplicamos de modo consciente a formar memrias de melhor qualidade, como criao de msicas, uso de siglas e afins. Elaborao Explanar, explicar, abordar o mesmo tpico por vrios ngulos, aprofundando o entendimento a respeito.

    Para ficar mais claro, podemos comparar o crebro com um computador.

    No existe um equivalente direto para a memria sensorial, mas digamos que haja um termmetro medindo a temperatura da sala conectado ao computador. O espao em que as informaes obtidas pelo termmetro so convertidas em sinais eltricos e enviadas maquina seria o equivalente memria sensorial.

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  • Por fim, h o HD do computador, responsvel pelo armazenamento permanente. L, as informaes esto guardadas de modo organizado e h protocolos de busca e recuperao de dados, fazendo do processo algo totalmente controlado. No caso da memria de longo prazo, a organizao do contedo no nem de perto to estruturada e a busca um processo pouco conhecido. A grande vantagem : uma vez que voc aprender a dominar o sistema, voc tem uma capacidade ilimitada a sua disposio.

    A memria apenas o espao em si onde as informaes so guardadas. Se h tipos diferentes de memria, a prxima pergunta : h tipos diferentes de informaes? Como elas se organizam dentro da memria?

    Indo alm, a memria RAM da mquina seria nossa memria de trabalho. No entanto, embora voc sempre possa adicionar mais memria RAM a um PC, isso no acontece com a memria de trabalho, que severamente limitada para novas informaes (quando trabalhando com informaes retiradas da memria de longo prazo, essas limitaes somem).

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  • Os tipos de conhecimento

    classe

    Procedural

    Declarativo

    ConhecimentoProcedural

    Reconhecimentosensorial

    Strings

    Ideias

    - Memria visual- Julgamento Tctil

    - Sequncias- Cadeias

    - Associaes simples

    - Proposies- Sujeito e Predicado

    - Fatos

    - Habilidades- Anlise de tarefas- Conhecimento

    Condicional

    Para qualquer situao no ambiente, voc precisa desenvolver uma srie de

    respostas, a fim de alcanar seus objetivos

    Voc faz uso das informaes sensoriais para fazer julgamentos

    especfico sobre estmulos externos.

    Acessar pedaos de informaes

    sem a necessidade de elaborao.

    Permite que unidades de informaes sejam

    armazenadas como relacionamento entre

    entidades discretas.

    - Churrasco feito com carne.

    - O Brasil um pas em desenvolvimento.

    - Recife a capital de Pernambuco.

    - Saber como nadar- O que fazer quando se tem febre

    - Como trocar uma lmpada.

    - Conhecer a textura e o formato dos objetos comuns

    - Diferenciar gua morna para banho e gua fervente

    - Saber julgar distncias

    - Versos de poemas- Nmeros de telefones

    - Tbuas de multiplicao

    tipo termos relacionados funes exemplos

    23

  • Os tipos de conhecimento

    classe

    Declarativo

    Schemas

    Modelos Mentais

    - Soluo de problemas

    - Pensamento hipottico

    - Conceitos- Abstraes- Viso geral

    Ideias no esto isoladas, mas organizadas em torno de estruturas

    abstratas de alto nvel, que fornecem uma

    estrutura para armazenamentodos fatos.

    Ideias e schemas so usados para simular

    diferentes possibilidades, a fim de se resolver

    problemas.

    - Todos os pases tm povos, leis, dinheiro, capitais etc.

    - Qualquer ferramenta usada para envio e recebimento de mensagem um meio de comunicao. Como

    celulares e pombos correios.

    - O que acontece com o motor se eu demorar para

    passar marcha?- O que pode acontecer

    quando o gelo dos plos derreterem?

    tipo termos relacionados funes exemplos

    Visible learning and the Science of How We Learn, John Hattie and Gregory Yates.

    24

  • 1.2 Conhecimento declarativo

    importante saber separar o conhecimento declarativo do conhecimento procedural (este mais ligado pergunta como?). Um problema comum que atrapalha o aprendizado, como veremos, o estudante reter um tipo inadequado de conhecimento.

    Por exemplo, ele pode precisar fazer uma prova de soluo de problemas sabendo o assunto, mas s de modo declarativo; ele no sabe o como e por isso se d mal. Ou o contrrio, ele sabe a parte operacional do assunto, aplicar as frmulas para resolver os problemas, mas no entende o porqu ou quando aplica-las, tendo dificuldades em questes tericas ou muito contextualizadas.

    Em termos simples, conhecimento declarativo envolve sempre as respostas para as perguntas O qu?, Por qu? e Quando?. Fatos, sensaes, ideias... tudo se encaixa sob a classe declarativa. atravs dessa base de informaes que conhecemos um pouco sobre a realidade externa (fatos, estmulos sensoriais) e interna (ideias, sensaes).

    ?25

  • 1.2.1 Reconhecimento sensorial

    A tendncia natural discriminar informaes que possuem significado pessoal para ns, filtrando tudo de irrelevante do plano de fundo. Nossos sentidos funcionam como qualquer outro equipamento que precisa de calibragem, o que s pode vir de experincias anteriores. Ao tocar algo muito quente ou algo muito frio, somos capazes de identificar tons entre os extremos e aprendemos o significado daquela informao sensorial.

    Com experincia, podemos fazer julgamentos extremamente precisos, como saber qual o "ponto em neve" de batida da clara de ovo, o quanto girar um volante para fazer uma curva e prever a trajetria de uma bola de futebol ao observar um chute.

    O conhecimento de reconhecimento sensorial se refere a como nossa mente se relaciona com as informaes dentro de nossa experincia sensorial imediata. No temos dificuldade em diferenciar azul de preto, liso de spero ou at processar tarefas como "preste ateno, quando o pr do sol assumir essa tonalidade, pode bater a foto".

    Reconhecimentosensorial se referea como nossa mente se relaciona com as informaes.

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  • Por isso algumas instrues como "bata a massa do bolo at desenvolver a consistncia certa" parecem no fazer sentido para principiantes, pois elas fazem referncia a um conhecimento sensorial que eles no possuem.

    1.2.2 Strings: associaes simples como a base.

    O Brasil o ______ pas mais populoso da Terra.A E I O _____A seleo brasileira tem ____ ttulos da copa do mundo.O tomo de carbono faz ______ ligaes.

    O aprendizado dessa rea tipicamente no verbal. Voc no consegue falar a uma pessoa que nunca cozinhou qual exatamente o ponto em que um peru est pronto para sair do forno. A habilidade de reconhecimento sensorial depende da estimulao progressiva do estmulo (tocar na gua cada vez mais quente) com o feedback correspondente (gua boa, morna, quente, perigosa).

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  • Para aprender uma associao, usamos repetio simples de modo focado. Com a mente vazia, repetimos a informao em nossa memria de trabalho vrias vezes, em diferentes momentos, de diferentes modos e velocidades. O velho mtodo do olhe-diga-cubra-escreva-cheque vem a ser til aqui.

    Justamente por no compreender como o aprendizado se processa em um nvel global, as pessoas utilizam tcnicas ineficientes de estudo. Elas cometem o erro de "quebrar" reas inteiras do conhecimento a um punhado de associaes a serem memorizadas. isso que acontece quando tentamos apenas decorar o assunto: selecionamos pedaos de contedos e repetimos ad nauseum. De longe, um dos modos mais ineficientes de estudar.

    Strings, tambm conhecidas como ordenamento serial ou associaes, so informaes guardadas de modo breve, com um ponto de comeo e um pequeno fluxo de dados. A habilidade de guardar informaes na sequncia correta essencial para sobrevivncia e, ao longo da vida, adquirimos centenas de milhares de associaes, como exemplificado acima.

    A habilidade de guardar informaesna sequncia correta essencial para sobrevivncia

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  • Primeiro, repetio em massa no a melhor maneira de garantir que a memria seja duradoura. A comunidade cientfica j tem uma boa ideia de como as informaes so esquecidas e a que velocidade. Com um modelo matemtico com base nesses estudos, h aplicativos que te ajudam a prever quando voc vai esquecer as coisas e te auxiliam a revisar.

    Essa prtica de repetir a associao de modo espaado no tempo (para atingir a memria quando ela est prestes a ser esquecida) consiste o sistema de repetio espaada, o qual discutiremos com profundidade no captulo 7.

    Segundo, dividir o conhecimento em (dezenas ou at centenas de) associaes no o modo timo de fazer seu crebro process-lo. Como veremos a seguir, as informaes so organizadas de uma maneira bem mais abstrata do que uma simples sequncias de dados. Para que voc maximize o aprendizado, necessrio aprender a organizar o assunto de outra, normalmente mais de uma, maneira (discutiremos isso no captulo 2).

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  • Por isso, frases normalmente contm vrias ideias em conjunto. Dizer "O maior centro populacional do oeste da Austrlia a bela cidade de Perth" transmitir vrias ideias: a Austrlia tem vrias cidades, populaes vivem em cidades, Perth uma cidade, da em diante.

    A noo de ideia implica conexes no nvel conceitual, algo que vai muito alm de simplesmente informao encadeada, como o caso das associaes. As coisas precisam fazer sentido para serem uma ideia, ao contrrio de simplesmente memorizar frases inteiras, como fazemos ao abordar um assunto em termos de strings.

    1.2.3 Ideias Ideias so o prximo nvel de complexidade. Elas so transmitidas atravs de sentenas que tm propriedades como sujeito e predicado. Ideias so proposies sobre coisas, normalmente descritivas, explicitando caractersticas do 'algo' estudado ou relacionamentos daquele algo com outras partes da realidade. Por exemplo, a sentena "a bola azul" contm uma ideia, mas "minha bola azul" contm duas: a cor da bola e o fato de que eu possuo uma bola.

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  • Um fato interessante que as pessoas processam as informaes no nvel das ideias quando elas no lembram as palavras exatas que foram usadas na ocasio. Ou seja, quando a memria exata (de uma string, por exemplo) falha, lembramos da ideia que ela queria dizer.

    Para aprendermos ideias, precisamos ser expostos a informaes factuais. No importa se nos dada de modo verbal ou escrito, mas importante que se respeite o limite de ateno, j que o foco requerido. O quanto voc pode processar uma funo do modo como voc vai processar: o fator de conexo relevante aqui.

    Quando relatamos ideias para outras pessoas, usamos nossa linguagem - conjunto de palavras com as quais estamos acostumados - e no exatamente como estava escrito. Esse o motivo de dar tanto trabalho memorizar algo palavra por palavra: precisamos quebrar em strings e usar "fora bruta".

    Por exemplo, voc pode ler agora que "A maior cidade do oeste da Austrlia Perth, que um lugar amvel". Voc pode ver como a mesma sentena que leu mais cedo, mas se olhar de perto e comparar, ver que so diferentes.

    Para aprendermosideias, precisamosser expostos ainformaes factuais

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  • Pense sempre em nosso conhecimento como algo ativo, nunca como estantes vazias esperando livros. Cada pedao novo de informao pode ser explicado e relacionado ao que sabemos de uma alguma forma. Qualquer esforo feito para empurrar a ideia mais fundo nessa rede de informaes recompensado com o aumento da resistncia ao esquecimento.

    O truque para criar ideias persistentes se perguntar "por que isso verdade?". Ao responder essa pergunta, voc est adensando as conexes entre o novo e o velho e "explicando com suas prprias palavras" aquele conceito.

    Novas ideias se tornam significativas ao passo que elas se relacionam com o conhecimento prvio, o que permite uma certa elaborao ser aplicada nova sentena.

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  • 1.2.4 Schemas : como as ideias se relacionam

    H um schema para vrias coisas em sua mente, desde objetos, situaes, lugares ou qualquer coisa que precise de abstrao baseada em partes. Exemplo: voc tem um schema para descrever um pas, de modo que quando voc l a ideia "Braslia a capital do Brasil", fica mais fcil de guardar como parte de seu conhecimento sobre o Brasil.

    Schemas no so facilmente aprendidos, j que o nvel de organizao se torna mais complexo. Enquanto que ideias so facilmente aprendidas depois de, digamos, explicaes dentro de 3 ou 4 diferentes contextos, schemas implicam um refinamento do que j sabemos, que adquirimos com nossas experincias passadas, em descries mais fiis do mundo a nossa volta.

    Schemas so a unidade bsica atravs da qual organizamos nosso conhecimento. Eles fornecem a estrutura necessria que precisamos para extrair sentido de nossas ideias e fatos que de outro modo existiriam como pontos isolados, como ilhas de conhecimento.

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  • 1.2.5 Modelos mentais: executando realidades virtuais.

    Movendo-se um nvel acima na hierarquia da organizao do conhecimento no crebro, chegamos aos modelos mentais. Eles so o equivalente a um programa de computador, algo que voc pode simular exclusivamente em sua mente, te permitindo simular a realidade. Esse o tipo de conhecimento que te permite engajar em resoluo de problemas de verdade extraindo contedo de todos os schemas disponveis.

    Por exemplo, se voc da rea de direito, tem um modelo mental de como se procede o julgamento de um recurso, de modo que voc pode adicionar informaes pertinentes ao

    Por exemplo, quanto mais informaes sobre geografia voc estuda, mais seu schema de pas refinado e melhor voc entende aquilo; o que leva a surgir um schema para nao e outro para povo, refinando seus conceitos anteriores. A maneira de organizarmos a informao influencia tambm, discutiremos mais a respeito no captulo 2.

    34

  • Por outro lado, pessoas diferentes possuem modelos mentais com refinamentos diferentes sobre o mesmo assunto. Enquanto para crianas, carros so pequenos brinquedos, para um cidado mediano algo em que colocamos gasolina e que responde se movendo quando aceleramos. J para um mecnico, um sistema complexo composto pela interao de outros sistemas separados: hidrulico, mecnico, eltrico, da em diante. As condies sob as quais os modelos mentais so adquiridos no so claramente compreendidas. Com certeza voc precisa de fatos e schemas sobre os quais construir os modelos, mas exposio a experincias de desafio e exposio a indivduos com

    caso que est trabalhando no momento e "rodar o programa". Assim, voc poder simular o que pode acontecer e agir de acordo. Claro, enquanto que modelos mentais permitem que as pessoas liberem o pensamento hipottico, o processo s ser acurado na medida em que voc dispuser de bastantes dados a respeito de sua situao. Por mais que voc modele, digamos, a biosfera, voc nunca vai conseguir extrair fatos sobre localidades especficas pois isso iria requerer informao demais.

    Pessoas diferentes possuem modelos mentais com refinamentos diferentes sobre o mesmo assunto

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  • 1.3 Conhecimento procedural

    Como o nome sugere, conhecimento procedural a habilidade de realizar algum procedimento. Por exemplo, uma pessoa que nunca trocou um pneu de carro mas j leu a respeito no tem o conhecimento procedural, mas um conjunto de instrues. Se ela for trocar um pneu sozinha, bem provvel que se machuque. O conhecimento procedural vem da experincia de primeira mo em realizar alguma coisa.

    De um certo modo, isso termina implicando um conjunto de submetas. Cada submeta corresponde a certas atividades que precisam ser realizadas, com uma cadeia de cenrios se-ento.

    avanado nvel de abstrao de raciocnio (algo para voc emular) parece ajudar. Conforme voc se torna expert em uma rea com o tempo, voc se torna capaz de ativar seus modelos mentais com certa facilidade e manipular modelos inteiros na memria de trabalho, j que esta no possui limitaes quando as informaes so extradas do prprio crebro.

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  • No s de atividades fsicas composto o conhecimento procedural; o conceito se expande para habilidades cognitivas. Resolver equaes matemticas, por exemplo, ou realizar diferentes procedimentos enquanto se l diferentes tipos de gneros(uma maneira de ler poesia, outra para ler histria, outra para matemtica).

    Como ocorre a aquisio do conhecimento procedural? Atravs de experincia de primeira mo na qual a pessoa responde a problemas reais. Ajuda bastante a interao social, observar outras pessoas realizando, para clarificar pontos que no foram bem explicados durante a instruo.

    Se o pneu furou, ento encoste em uma rea segura. Se voc consegue chegar mala, ento cheque a presso do pneu reserva. Se a presso est boa, ento remova o estepe e busque pelo macaco no carro. Da em diante.

    Em termos de procedimentos cognitivos, exemplos resolvidos tm um impacto grande no aprendizado, como mostram vrios estudos, como aqueles de Sweller e Cooperem em 1985, e edePaas e Van Merrienboer em 1994. Em certos cenrios, eles dispensam at a utilizao do professor para adicionar instruo verbal extra.

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  • PARA RELEMBRAR EPR EM PRTICA

    Uma das teorias mais bem aceitas divide a memria humana em trs tipos: sensorial, curto-prazo e longo prazo.

    A memria sensorial est ligada aos sentidos; muito curta, durando apenas alguns segundos.

    A memria de curto-prazo, tambm chamada de memria de trabalho, onde reside nossos pensamentos. Ela retm poucas informaes ao mesmotempo, de 4 a 7 coisas diferentes, e no durvel.

    A memria de longo prazo onde fica armazenado tudo que sabemos.

    - -

    -

    -

    -

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    -

    -

    Como no um lugar bem organizado como um computador, facilita o aprendizado desenvolvermos mtodos para guardar e buscar informaesnela claramente.

    Saber os tipos diferentes de conhecimento importante para entender como as memrias se organizam no crebro.

    O conhecimento pode ser dividido em procedural, relacionado com procedimentos e passo-a-passos, e declarativo, relacionado com fatos e informaes.

    O conhecimento declarativo se divide em: reconhecimento sensorial, strings, ideias, schemas (unidade bsica da memria) e modelos mentais.

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  • OS PRINCIPAIS FATORES QUEINFLUENCIAM O APRENDIZADO

    CAPTULO 02

  • Para aprender melhor, essencial saber o que voc pode fazer para melhorar o processo. Ao entender como o sistema funciona e quais so suas partes principais, voc pode fazer um esforo consciente nas atividades que traro os melhores resultados no estudo. E, como Aristteles colocou de modo perspicaz, o esforo separado em melhorar cada um dos fatores, j que eles interagem positivamente entre si, vai dar em retorno mais do que a soma de suas partes. Um investimento e tanto.

    Neste captulo, estudaremos os principais fatores que influenciam no aprendizado de modo aprofundado e o que voc pode fazer de melhor em cada ponto.

    O todo mais do que a soma de suas partes Aristteles

    2. Os principais fatores que influenciam o aprendizado

    So eles: a influncia do conhecimento de base, a forma de organizar as informaes enquanto as aprende e a relao da motivao com o aprendizado.

    Para aprender melhor, essencial saber o que voc pode fazer para melhorar o processo.

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  • Um grande determinante da velocidade do aprendizado o conhecimento prvio, o que a mente j sabe. muito mais fcil trazer novas informaes para um conhecimento bem organizado e j construdo do que comear do zero. O conhecimento prvio mais importante do que QI ou estilos de aprendizado em termos de efeitos sobre o aprendizado.

    Um estudo focado em memria, feito por Peter Morris e sua equipe em 1981, contou com estudantes com vrios nveis de conhecimento sobre futebol. Ao serem pedidos para memorizar placares de jogos, os estudantes com mais conhecimento prvio sobre o jogo tiveram maiores taxas de sucesso.

    "Se eu tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a apenas um princpio, eu diria que o fator mais importante influenciando o aprendizado o que o aprendiz j sabe. Averigue isso e ensine de acordo." David Ausubel

    Em outra pesquisa, por Alice Healy e James Cole em 2007, estudantes de universidade mostraram uma taxa de memorizao 100% maior quando pedidos para memorizar a mesma quantidade de fatos sobre pessoas conhecidas do que sobre pessoas desconhecidas.

    2.1 O poder de uma base slida

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  • Digamos, por exemplo, que eu pergunte a algum o que preciso saber para resolver uma equao do 2 grau. A resposta algo como "ah, essa fcil, s saber fazer conta e usar a frmula de Bhskara". Bem, no s isso. Voc precisa estar confortvel com expresses numricas, potenciao, sistemas de equaes, fatorao de expresses e operaes bsicas. Uma pessoa com todas essas reas cobertas se torna muito mais eficiente ao resolver equaes do 2 grau, possuindo um schema mais acurado do processo.

    Isso s um exemplo de como as pessoas no pensam at o final quando se trata de conhecimento de base. Alm de servir como terreno sobre o qual as ideias futuras sero sedimentadas, ele serve, ao mesmo tempo, como filtro de informaes importantes.

    As pessoas entendem a importncia de ter uma base bem feita, mas parecem ser incapazes de determinar o quo importante . Normalmente s levam em considerao quando a ausncia da base est incapacitando o aprendizado; no conseguem imaginar o quanto o processo pode ser acelerado se o conhecimento priori for reforado.

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  • Afinal de contas, com base no que sabemos, realizamos julgamentos a respeito da relevncia de novos fatores durante o momento do estudo. No entanto, no ter o conhecimento necessrio, ou t-lo de modo deficiente, pode se provar desastroso. Estudaremos como contornar esses casos a seguir, comeando por como ativar o conhecimento prvio caso voc j o tenha.

    2.1.1 Como ativar e acelerar o aprendizado

    Mesmo que tenhamos o adequado conhecimento de base, nem sempre o ativamos como deveramos ou quando precisamos. Por exemplo, em um famoso estudo feito por Gyck e Holoyakem 1980, estudantes de faculdade foram apresentados a dois conjuntos de problemas para serem resolvidos aplicando o conceito de convergncia. Mesmo sabendo a soluo para o primeiro problema, os estudantes no aplicavam o princpio automaticamente para a segunda situao. Contudo, quando foram solicitados para pensar como o segundo problema se relacionava com o primeiro, 80% dos estudantes foram capazes de resolv-lo.

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  • Durante o processo do estudo, se perguntar o porqu de algo ser verdadeiro ou inesperado, se for o caso, foi o modo como os experimentadores conseguiram que adultos lembrassem mais fatos de pargrafos estudados.

    Esse procedimento auxiliou estudantes a gerar conhecimento prvio condizente com o material, melhorando a performance em comparao com os demais.

    No apenas basear-se em conhecimento passado, mas tambm em prvias experincias pessoais trouxe resultados interessantes ao processo do aprendizado, como mostra o estudo feito por Joan Garfield e sua equipe em 2007. Perguntar-se como aquele conceito se aplica a situaes pelas quais voc passou ou que so prximas a voc tambm ajuda gerar conhecimento prvio relevante, acelerando o processo do aprendizado.

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  • Esse efeito ocorreu mesmo com os estudantes sendo apresentados s situaes no mesmo dia, com menos de uma hora de diferena. O modo de resolver estava ali, s no havia sido ativado. algo que faz voc se perguntar: "Quantos problemas eu conseguiria resolver se ativasse o conhecimento que j tenho? Obtido dois anos atrs, ou em outra disciplina, ou em um livro perdido que li em algum lugar?". Seu conhecimento est ali, s precisa ser usado. A pergunta : como ativ-lo?

    Uma quantidade grande de pesquisas mostra como pequenos empurres, lembretes simples (como a feita por Bransford & Johnson, 1972), ou perguntas elaboradas (estudo feito por Woloshyn, Paivio, e Pressleyem 1994) ajudam a ativar o conhecimento prvio do estudante. Interessante, sem dvida, quando estamos na posio de estudante, com algum competente para nos guiar no processo. Todavia, o que fazer quando estamos estudando sozinhos para obter efeitos parecidos?

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  • Adaptamos essa estratgia, chamada elaborao interrogativa, e aplicamo-na a ns mesmos. Durante o processo do estudo, se perguntar o porqu de algo ser verdadeiro ou inesperado, se for o caso, foi o modo como os experimentadores conseguiram que adultos lembrassem mais fatos de pargrafos estudados. Esse procedimento auxiliou estudantes a gerar conhecimento prvio condizente com o material, melhorando a performance em comparao com os demais. No apenas basear-se em conhecimento passado, mas tambm em prvias experincias pessoais trouxe resultados interessantes ao processo do aprendizado, como mostra o estudo feito por Joan Garfield e sua equipe em 2007. Perguntar-se como aquele conceito se aplica a situaes pelas quais voc passou ou que so prximas a voc tambm ajuda gerar conhecimento prvio relevante, acelerando o processo do aprendizado.

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  • 2.1.2 O perigo de saber sem saber

    A situao a seguinte: voc est fazendo uma prova importante e, no meio dos questionamentos, se depara com uma pergunta sobre um assunto que voc estudou, mas no sabe como responder. aquela sensao familiar de "eu sei isso, estudei dia tal e tal", mas por algum motivo, voc no consegue lembrar exatamente o ponto perguntado. Sensao bastante frustrante.

    O que no conhecimento geral que 'competncia' em determinado tpico varia numa escala que vai alm da binria (sabe/no sabe). Varia de familiaridade superficial ("Eu j ouvi falar sobre isso"), a conhecimento factual ("Eu poderia definir esse ponto"), a conhecimento conceitual ("Eu poderia explicar a algum"), a aplicao("Eu consigo usar para resolver problemas").

    No caso do exemplo anterior, apenas familiaridade no suficiente para resolver questes objetivas, aquelas de marcar X - exceto as mais triviais, claro. Ter visto algo sobre aquilo em algum lugar no domnio suficiente para acertar uma pergunta.

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  • No caso de provas discursivas, quando voc estar respondendo por extenso aos questionamentos, o requerimento ainda maior: preciso um domnio no nvel conceitual e, caso sejam contextualizadas, no de aplicao.

    essencial saber qual o seu nvel de conhecimento nos tpicos de base para julgar se ser preciso refor-lo ou no. Ter um tipo de conhecimento e precisar de outro pode ser igualmente um problema. o perigo de achar que sabe sem saber.

    comum, por exemplo, estudantes possurem conhecimento declarativo, mas no saber executar (procedural). Estudos na cincia do aprendizado, como o realizado por John Clement, em 1982, mostram que mesmo se estudantes dominam fatos, por exemplo, sendo capaz de afirmar "Fora igual a massa vezes acelerao", normalmente so fracos em aplic-los. Esses estudantes ao seguirem para outro assunto, como o estudo de polias, sero incapazes de aprender. Insistncia,nesse caso, no vai ajudar, mesmo que eles "saibam" a segunda lei de newton, pois eles possuem o conhecimento no nvel errado.

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  • Para lidar com isso, uma boa estratgia:

    1

    2

    3

    4

    Faa uma pesquisa bem feita do conhecimento necessrio para abordar o tpico que voc est tentando aprender. Conversar com professores e pessoas que j aprenderam o que voc deseja ajuda.

    Faa uma lista de tudo o que preciso saber junto com o respectivo nvel requerido (Conceitual? Factual? Procedural?).

    Para cada tpico necessrio, faa uma avaliao correspondente. Se for preciso um nvel factual, basta checar as informaes mais importantes. Se uma compreenso conceitual requerida, monte explicaes como se estivesse ensinando o contedo a algum; da em diante. Desse modo, voc poder julgar se detm o nvel necessrio para estudar o que deseja.

    D um passo atrs, corrija o que encontrou de deficincia para ento comear o assunto alvo.

    49

  • Claro, voc no precisa realizar o procedimento acima de modo detalhado para tudo que quiser aprender (embora esse seja cenrio ideal). Se voc est na faculdade estudando Fisiologia 3 porque foi aprovado nos pr-requisitos existentes, ento se assume que voc tem o estudo prvio preciso. Voc encontrar o mtodo acima mais til quando sair de sua rea direta. Por exemplo, um estudante de servio social que precisa estudar uma disciplina de estatstica (e h anos no estuda matemtica).

    Outro problema em potencial com o conhecimento que voc j possui utiliz-lo de modo errado. O raciocnio anlogo (comparao com o que voc j sabe) til e uma ferramenta poderosa, mas precisa ser acompanhado de limites; caso contrrio, torna-se contraproducente.

    Por exemplo, msculos esquelticos e cardacos so parecidos em sua constituio; logo, extrair analogias entre eles faz sentido at certo ponto. Contudo, as diferenas no funcionamento deles so sensveis e vitais para entender melhor suas respectivas operaes e isso precisa ser destacado; o que normalmente no .

    50

  • Tanto que a equipe de pesquisa de Rand Spiro em 1989 descobriu que muitos estudantes de medicina possuem uma informao incorreta sobre uma potencial causa de falha cardaca que pode ser rastreada distino deficiente entre esses dois tipos de msculos.

    A boa notcia que, mesmo sendo um erro comum que passa despercebido, a soluo simples. Os estudos, como o trabalho do prprio Spiro, mostram que garantir que os estudantes conheam os limites para as analogias, sabendo onde falham e quando no podem ser utilizadas, ajuda a evitar o erro.

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  • Se o conhecimento prvio um fator relevante ao aprendizado pois determina a base sobre a qual se absorve novos contedos, a maneira como organizamos esse conhecimento prvio e o novo est relacionada facilidade com que aprendemos. O crebro humano anseia por padres e sentidos em todo tipo de informao que encontra; ele evoluiu para isso.

    2.2 O impacto de organizar o conhecimento da maneira correta

    Quer um exemplo simples? Olhe para cima em um dia ensolarado e observe o cu por alguns instantes. No vai levar um minuto para observar alguma nuvem com formato conhecido passando. A parte curiosa? Nuvens no possuem forma intrnseca, elas no foram desenhadas; ao olhar para uma configurao aleatria, nosso crebro automaticamente imprime algum tipo de sentido naquilo que vemos. Da surgem as nuvens com formato de sorvete, de passarinho e afins.

    Como vimos no captulo passado, a unidade bsica de organizao das informaes no crebro so os schemas, estruturas de abstrao que contm fatos e ideias para representar pedaos da realidade.

    O crebro humano anseia por padres e sentidos em todo tipo de informao que encontra; ele evoluiu para isso.

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  • Se manipulamos a informao de modo a ficar mais similar ao nosso "formato padro", temos muito mais chance de lembrar o que desejamos. Ou seja, a forma como organizamos, caracterizamos e conectamos os fatos entre si influencia diretamente nossa taxa de aprendizado e memorizao.

    Por exemplo, em 1982, Gary Bradshaw e Jonh Anderson pediram para um grupo de estudantes memorizar vrios fatos sobre algumas figuras histricas. Metade do grupo recebeu fatos histricos no-relacionados, como "Newton se tornou emocionalmente inseguro e instvel quando criana","Newton foi nomeado diretor do London Mint" e "Newton participou da Trinity College em Cambridge".A outra metade recebeu fatos relacionados entre si de alguma forma, como "Newton se tornou emocionalmente inseguro e instvel quando criana", "O pai de Newton morreu quando ele nasceu" e "a me de Newton se casou novamente e deixou-o com a av".

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  • Resultado? O grupo que recebeu as informaes que possuam alguma relao significativa entre si teve uma taxa de memorizao muito maior. Olhando mais de perto, vemos o resultado como a diferena entre tentar memorizar fatos como strings, e fatos relacionados, como schemas.

    2.2.1 O que fazemos (de errado) no automtico.

    Durante o aprendizado no dia a dia, no prestamos muita ateno consciente a questes como "organizao do conhecimento". No modo automtico, assumimos que a maneira apresentada pelo livro que escolhemos a nica e pronto; lemos, tentamos memorizar, fazemos exerccios e seguimos em frente sem entender porque esquecemos a informao to facilmente.

    O fato que organizao no s ajuda, mas organizao deficiente ou inadequada atrapalha.

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  • No modo automtico, terminamos por juntar os fatos em contiguidade temporal (uma coisa depois da outra em termos de quando aconteceram) porque, de algum modo, isso intuitivo para gerar relaes de causa e consequncia (apertou o interruptor, a luz apagou). Contudo, isso nos causa bastante dor de cabea quando fazemos de modo impensado.

    Digamos, por exemplo, que voc quer estudar os pensadores iluministas. A lista enorme (vrias dezenas) e cada um possui um perodo associado, um pas de origem, ideias principais e obras importantes. A pior maneira de fazer isso seria sem organizao alguma, simplesmente memorizando a lista completa e os atributos relacionados (um punhado de strings). Separar os pensadores por pases seria menos ruim, mas s isso no ajuda tanto.

    J categorizar pelo foco das ideias - separar o grupo que se concentrou em refutar religies, do grupo que questionou os valores sociais, daquele preocupado com o avano cientfico - bem mais til para entender a relao entre os participantes e conectar o conhecimento aprendido (alguns schemas bem ricos).

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  • Um estudo clssico feito pelo conhecido Anders Ericsson e sua equipe em 1980 (falaremos mais dele no captulo 7) demonstra isso, ainda que numa escala menor. Ele documentou como alguns estudantes de faculdade com memrias normais puderam desenvolver a habilidade incrveis de memorizar longas sequncias de dgitos ao organizar o que estavam aprendendo em uma estrutura hierrquica de vrios nveis.

    Os estudantes eram tambm competidores de atletismo, ento ao se deparar com uma sequncia de nmeros, eles quebravam em pedaos e davam sentido a eles (uma tcnica chamada chunking, falamos dela no captulo 1), organizando-os depois disso. Por exemplo, "....3432..." podia ser lembrado como "34:32, o recorde mundial para ..." e "...12456..." como "1:24:56, o recorde olmpico feminino de ...".

    A seguir, eles organizavam isso em grupos, como "recordes olmpicos", "recordes nacionais para a prova z", etc.. Esse procedimento empoderou estudantes normais a lembrar sequncias de at 100 dgitos sem auxlio externo algum!

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  • Outro estudo com resultados impressionantes sobre o poder da organizao adequada foi feito por Gordon Bower e sua equipe em 1969. Ao receberem uma lista de minerais a ser memorizada, os estudantes aos quais os itens foram fornecidos em hierarquia (metais versus pedras como categorias, e subcategorias dentro delas) tiveram resultados de 60 a 350% melhores do que aqueles com apenas a lista de minerais.

    A pergunta, ento, fica no ar: como podemos replicar esse tipo de resultado quando estudamos por conta prpria, sem ter quem nos fornea diretamente esse tipo de organizao?

    A resposta para isso est em entender as diferenas entre as mentes de experts e de principiantes, replicando tcnicas teis desde o princpio.

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  • Os quadros A e B so exemplo de organizaes mentais que provavelmente utilizamos quando comeamos a estudar um assunto. Ou no integramos os conceitos, fatos e exemplos o suficiente, como no quadro A, ou utilizamos categorizaes simples, lineares (como a separao temporal de nosso exemplo sobre iluminismo), que so insuficientes para nos dar uma compreenso aprofundada do assunto.

    J os quadros C e D so exemplos de como experts organizam o conhecimento (ainda que inconscientemente).

    2.2.2 Diferenas entre o modo de um expert e de um principiante

    A figura acima representa alguns exemplos de organizaes do conhecimento em nossa mente.

    DC

    A B

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  • Dois grandes fatores chamam ateno: a quantidade e a densidade de conexes. Na hora de estudar, podemos conscientemente fazer uso de procedimentos que nos permitam, como iniciantes na rea, desenvolver mais rapidamente esse tipo de organizao e, por conseguinte, obter resultados mais rpidos no aprendizado.

    Como fazer isso? O procedimento : focar primeiro no cenrio geral e s ento buscar absorver detalhes.

    Vejamos a aplicao disso em nosso exemplo. Um grupo de estudantes, como vimos, est estudando os pensadores iluministas.

    Na figura C, vemos uma hierarquia clara, de modo que fcil entender como os pontos se relacionam. J a figura D, embora possa parecer o mais aleatrio de todos os quadros, na realidade o mais poderoso: o fato de tudo estar conectado fornece ao expert a possibilidade de usar mltiplas organizaes, adequando-se situao e usando o contedo de modo mais eficiente.

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  • Eles j descobriram que certos modos de agrupar os pensadores so melhores do que outros (que so melhores do que estudar sem organizao). O que eles podem fazer para abordar o tema como experts e acelerar o aprendizado? Eles poderiam comear analisando fatores histricos e geopolticos dos pases envolvidos durante o perodo do Iluminismo.

    Como estavam economicamente? Qual era o estado geral da populao, havia guerras externas, guerras civis? O que levou certos pensadores a se revoltarem especificamente contra religies, as crenas predominantes eram opressoras? Os pensadores focados em cincia viviam em pases com mais recursos a serem destinados a pesquisas?

    Ao investir um pouco de energia estudando o cenrio no qual os iluministas estavam imersos ao invs de pular direto para a memorizao, os estudantes tero uma viso muito mais rica dos pensadores e a necessidade de memorizao direta vai cair porque haver compreenso. "Quais os principais cones do Iluminismo na Alemanha?".

    60

  • "Motivao faz referncia ao investimento pessoal que um indivduo tem em buscar um estado ou objetivo desejado" Martin Maehre Heather Meyer, 1997.

    2.3 A motivao e o aprendizado

    No contexto do aprendizado, a motivao influencia a direo, a intensidade, a persistncia e a qualidade dos comportamentos de aprendizado nos quais os estudantes se engajam.

    No necessrio espressar o quo importante alinhar a motivao do estudante , pois no final das contas, ela controla o grau de esforo (consciente e inconsciente) investido no processo.

    Para quem est estudando por conta prpria, a motivao assume uma importante dimenso. Enquanto quem est usando escolas, cursos e treinamentos tambm precisa ajustar a motivao para melhorar o processo de aprendizado, quem estuda sozinho precisa estar motivado at mesmo para sentar e estudar, j que no h presso externa para isso.

    Portanto, trataremos da motivao cuidadosamente.

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  • Uma das maneiras mais comuns (e desconhecidas) de autossabotagem a sinalizao. A pior parte que ela est to enraizada em nosso crebro primitivo que difcil julgar quando est acontecendo, afetando a vida de muita gente sem nem que elas saibam.

    2.3.1 Como desativar o modo automtico de enrolao

    Sinalizar, como a palavra sugere, dar alguma forma de indicao que voc est realizando determinada atividade, para si mesmo e para os outros. Por exemplo, um adolescente pode passar a tarde inteira na internet, navegando a esmo e se distraindo nas redes sociais, mas quando os pais passam pelo corredor para checar seu quarto, ele fecha tudo e abre os livros. Desse modo, ele sinaliza para os pais que est estudando sem realmente faz-lo.

    O modo como isso afeta nossas vidas que normalmente engajamos em atividades que sinalizam caractersticas desejadas, que nos fazem parecer fazer algo, sem ser necessariamente o melhor caminho para alcanar o objetivo.

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  • Esse fenmeno pode, inclusive, assumir o formato de autossinalizao, quando inconscientemente sinalizamos para ns mesmos alguma caracterstica desejada, sem persegui-la de verdade.

    Nina Mazar e Chen-bo Zong, em 2009, trouxeram tona um caso interessante de autossinalizao. Eles mostraram que pessoas que compram produtos "verdes" (ambientalmente saudveis) so mais propensas a trapacear e roubar depois da compra, o que supostamente ocorre porque elas j fizeram a "boa ao moral" do dia. Richard Beck, um teologista experimental, encontrou um fenmeno similar entre os religiosos: eles so menos propensos a fazerem boas aes depois de irem igreja, por exemplo, pelo mesmo motivo.

    No fundo, a necessidade de nosso crebro social em busca de validao externa. O adolescente precisa que os pais pensem que ele est estudando, por isso ele engaja em atividades que envolvem mais sinalizar do que realmente estudar.

    63

  • Outra quando as pessoas preferem vdeo-aulas a livros, j que elas so mais 'fceis' de consumir e passam a impresso de que o aprendizado est ocorrendo.

    Para corrigir esse problema, no h um antdoto bvio. necessrio que voc esteja analisando constantemente as tarefas nas quais se engaja em busca do melhor mtodo para fazer aquilo. No o mais tradicional, no o que esperado de voc no processo, mas o melhor mtodo para fazer a coisa acontecer.

    O curioso que as evidncias apontam que nosso estado natural seja essa enrolao.

    No aprendizado, isso se manifesta de diversas formas. Ir para aulas em escolas, faculdades ou cursos uma delas: a maioria das pessoas no aprende tanto quanto poderia nesses contextos, mas continua frequentando pois o "papel" esperado pela sociedade de um estudante.

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  • O objetivo final, o aprendizado, passa a ser coadjuvante no processo de sinalizar aprendizado, dar a entender que est fazendo o que se espera, o que um problema considervel para quem est de fato interessado em alcanar o que se props.

    Felizmente, a correo para o problema fcil. Ao invs de focar apenas no objetivo, valorize a jornada. Claro, isso no quer dizer deixar de querer passar naquele concurso de seus sonhos. No! Isso quer dizer entender que para passar no concurso, voc precisa aprender bem o que for necessrio estudar, seja portugus, direito ou matemtica. Voc passa a cultivar um interesse real pelo que estuda, a nutrir a vontade de ficar bom naquilo, no apenas se concentrar aonde quer chegar.

    Em um estudo feito por Carol Dweck e Ellen Leggett em 1988, foi observado que que quando guiados por objetivos de performance (foco em tirar boas notas ou ser aprovado em concursos), que o caso mais comum, estudantes se preocupam com padres normativos e tentam fazer o que necessrio para demonstrar competncia a fim de parecer inteligente, ganhar status e adquirir reconhecimento.

    Ao invs de focar apenas no objetivo, valorize a jornada

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  • 2.3.2 Alinhando os valores de sua jornada

    Se fssemos desconstruir a motivao para o processo de aprendizado, o que encontraramos como espinha dorsal? Embora haja vrias teorias para tratar disso, boa parte delas contm dois fatores principais: o valor subjetivo da meta e as expectativas de ter sucesso no objetivo (como apontado por John Atkinson em 1964 e outros pesquisadores).

    Comecemos, ento, discutindo o valor subjetivo de uma meta. A importncia de um objetivo, frequentemente referida como seu valor subjetivo, influencia a motivao, j que s perseguimos metas com alto valor percebido.

    E isso funciona. As evidncias so amplas de como usar objetivos de aprendizado, ao invs de objetivos de performance, melhora o rendimento do estudante. mais provvel que eles usem estratgias de estudo que levem a uma compreenso profunda do tpico, que busquem ajuda quando precisam e que se sintam confortveis com tarefas desafiadoras, como mostram os estudos de Carter e Elliot em 2000 e de Mcgregor e Elliot em 2002.

    A importncia de um objetivo, frequentemente referida como seu valor subjetivo, influencia a motivao.

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  • 'Valor' em si pode ser derivado de vrias fontes diferentes. Allan Wigfield e Jacquelynne Eccles sugerem trs categorias amplas: de obteno, intrnseco e instrumental. Estudemos cada uma separadamente e vejamos como alinh-las para maximizar nossa motivao durante os estudos.

    Primeiro, o valor de obteno representa a satisfao que a pessoa obtm da maestria e do alcance do objetivo ou da tarefa. aquela sensao boa que temos quando conclumos algo difcil, seja passar de nvel no jogo do computador ou a resoluo de um problema complicado de fsica.

    A segunda fonte o valor intrnseco, que representa a satisfao que obtemos em realizar a tarefa em si, independente do resultado final do processo.

    Por exemplo, voc estar bem mais motivado para estudar ingls, se for requisito para ser promovido, do que para estudar uma lngua aleatria, como o esperanto, sem razo alguma.

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  • Ele aparece quando estamos fazendo algo que gostamos, como gastar horas para aprender aquela msica na bateria ou quebrar a cabea estudando astronomia.

    A fonte final o valor instrumental, que representa o quanto uma atividade ou um objetivo ajuda a alcanar outros objetivos importantes, levando ao recebimento de recompensas extrnsecas. Reconhecimento, dinheiro, bens materiais, carreiras interessantes ou bons salrio so todos objetivos de longo prazo que podem fornecer valor instrumental para objetivos de curto prazo (esudar ingls curto prazo a fim de se mudar para Londres longo prazo).

    Vejamos um exemplo para classificar o alinhamento dos trs valores. Digamos que eu objetive ser aprovado em uma prova de certificao, a fim de aplicar para uma nova posio na empresa em que trabalho. Para tanto, preciso estudar vrias disciplinas, algumas das quais no me interessam nem um pouco. Como alinhar meus valores para me manter motivado ao mximo enquanto estudo?

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  • Para tanto, eu vou atrs das "frutas mais baixas da rvore"; em outras palavras, persigo as vitrias fceis.

    Comeando debaixo, com os conceitos mais simples, eu inicio um ciclo de vitrias para me manter motivado. Eu ataco o tpico mais simples da disciplina, domino-o, e uso a sensao boa de estar progredindo para alimentar meu avano a tpicos um pouco mais complicados. Aos poucos, eu vou cobrindo o assunto inteiro, mantendo o moral alto.

    Quanto ao valor intrnseco, parece no haver muito o que fazer. Afinal de contas, ou voc sente prazer executando uma tarefa ou no, certo?

    Em primeiro lugar, eu preciso extrair o mximo de valor de obteno possvel (o prazer que temos ao alcanar coisas), principalmente no que toca s disciplinas que no gosto.

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  • Os resultados de alguns estudos dizem que no. Suzanne Hidi e Ann HIDI &Renninger, em 2006, mostraram que uma tarefa que inicialmente s possui valor instrumental para o estudante (aprender para passar na certificao e obter aumento) pode vir a desenvolver valor intrnseco (prazer em praticar) com o tempo, conforme ele absorve conhecimento e fica melhor naquilo. Em palavras simples, no gostar no desculpa para no comear; voc vai comear a aproveitar a atividade uma vez que comece a ficar bom naquilo. Ento comece!

    Resta-nos cobrir o conjunto de valores instrumentais. Por que voc quer essa certificao? Pense at o final. Seu objetivo de vida, qual ? Se voc deseja melhorar sua renda pois est se preparando para ter um filho, tirar a certificao faz todo sentido.

    Voc est fadado a gostar de estudar as matrias que te agradam e no apreciar as matrias que no te interessam?

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  • Porm, se seu interesse apenas financeiro, j que voc nem gosta mais da carreira que persegue e quer apenas aumentar a renda, por mais que voc se force a estudar, bem provvel que sua motivao quebre ao longo do caminho. Afinal de contas, as motivaes no esto muito bem alinhadas, voc precisa pensar num objetivo que conecte tudo de modo a se manter motivado a vencer as adversidades naturais de aprender uma grande quantidade de contedo para obter uma certificao.

    2.3.3 Criando confiana de modo saudvel

    Confiana genuna uma maneira de pensar sobre si mesmo e suas habilidades. sua percepo de seu prprio potencial; um tipo de pensamento de longo prazo que te empodera atravs de obstculos e momentos difceis, te ajudando a resolver problemas e te colocando no caminho do sucesso. John Eliot

    John Eliot um expert mundial da rea de performance de alto nvel. Ele trabalha com atletas campees, homens de negcio de grandes empresas, mdicos respeitados e msicos famosos. Dentro de minhas pesquisas, ele uma das poucas pessoas que realmente entendem o que confiana.

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  • Confiana se trata de olhar objetivamente para o que voc quer alcanar, reconhecer a dificuldade real do caminho e acreditar que, se voc colocar o esforo necessrio, possvel. No tem nada de esotrico ou surreal a respeito; algo bem conectado com a realidade.

    Todo esse conceito de confiana se conecta bem com a ideia de expectativas em torno de sua meta de aprendizado. Como vimos, motivao pode ser resumida a alto valor esperado (que aprendemos como alinhar os vrios tipos de modo a maximiz-lo) mais expectativas ajustadas em relao linha de chegada.

    No se tratar de repetir para si mesmo que possvel ou que aquilo vai dar certo. No, voc no bobo o suficiente para acreditar em algo s porque repetido vrias vezes.

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  • S acreditar que possvel no suficiente para manter a motivao de p.

    Aquela ttica de "encorajamento reverso", quando voc diz pessoa que ela est tentando algo difcil demais para o potencial dela no funciona se a pessoa realmente acreditar no que voc est dizendo.Ela no se sentir extramotivada por ser julgada incapaz como nos filmes.

    Por outro lado, s acreditar que possvel no suficiente para manter a motivao de p.Albert Bandura, em seu livro Self-ecacy: The exercise of control confirma isso, que o estudante precisa desenvolver o que chamamos de expectativa de eficcia; em outras palavras, ele precisa se sentircapaz de identificar, organizar, iniciar e executar um plano que vai trazer o resultado esperado.

    Se voc no acredita ser possvel, vai desenvolver comportamento 'vitimista' na situao.

    O ponto que a motivao para aprender no acontece se o estudante no possui uma expectativa de resultado positivo, ou seja, se ele no acredita que possvel conseguir o que deseja, como explicado por Charles Carvere Michael Scheierem 1998.

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  • Se acredita que possvel mas no confia na sua capacidade de executar, vai atrapalhar com sua autoestima.

    Se acredita que possvel mas no confia na sua capacidade de executar, vai atrapalhar com sua autoestima. Novamente, esse no um tipo de situao com antdoto claro, mas boas prticas incluem (1) procurar pessoas que j alcanaram algo parecido com o que voc almeja e (2) buscar entender a eficcia das estratgias delas para montar a sua de modo adequado.

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  • PARA RELEMBRAR EPR EM PRTICA

    Ter um conhecimento de base robusto e aplic-lo de maneira adequada o fator de maior influncia no aprendizado. Por isso, tente sempre buscar algo que voc j sabe que possa ajudar no estudo do novo assunto.

    Interrogar-se a respeito do porqu de algo acontecer ou ser diferente do esperado tem um impacto grande em ativar o conhecimento de base e solidificar o aprendizado.

    preciso ser capaz de classificar o quanto voc domina o assunto, caso contrrio voc pode no alcanar seu objetivo mesmo sabendo o assunto, como algum que conhece a teoria, mas incapaz de resolver questes.

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    - Ao fazer uso de comparaes para entender melhor certo tpico, faa o possvel para entender as limitaes da comparao, ou seja, o que os pontos comparados tm de diferente.

    No se prenda a organizar conceitos de modo temporal (em que ordem as coisas surgem), algo que realizamos do modo automtico. Busque a melhor maneira de organizar as informaes, de modo que os pontos faam sentido juntos. O uso de categorias bem vindo, com resultado comprovado na taxa de memorizao.

    A diferena do expert para o principiante que aquele usa mltiplas organizaes de conceitos e escolhe a mais adequada para cada situao.

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  • PARA RELEMBRAR EPR EM PRTICA

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    Motivao parte essencial do aprendizado e precisa ser estabelecida de modo consciente.

    Retire o foco exclusivo do objetivo final e valorize tambm a jornada. Revise seu mtodo de estudo para se certificar que ele realmente promova o aprendizado, ao invs de apenas parecer promover aprendizado (o perigo da sinalizao).

    Busque alinhar os valores da meta e sua expectativa de alcan-la, criando confiana de modo sustentvel para te mover na jornada.

    - preciso acreditar que possvel e que voc consegue fazer o que necessrio para alcanar o que deseja. Conversar com pessoas que j sucederam em seu objetivo e realizar uma preparao bem so boas maneiras de internalizar isso.

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